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ISSN 2317-661X Vol. 17 – Num. 01 – Maio 2019
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UM OLHAR PARA AS DIFICULDADES DE INTERPRETAÇÃO
TEXTUAL
Iris Regis SILVA1; Kelly Lucyanny Moreira SABINO1; Isabelle de Araújo Pires2
RESUMO:O objetivo deste artigo é apresentar as considerações de uma investigação sobre as dificuldades enfrentadas no processo de leitura e interpretação textual com alunos do 5º ano do ensino fundamental. A pesquisa foi realizada em uma escola particular, localizada na cidade de Campina Grande-PB, visto que, ultimamente, tem-se notado uma profunda dificuldade pelos alunos e professores quanto à leitura e interpretação textual. Com isso, apresentam-se neste trabalho as possíveis hipóteses para o surgimento desta problemática, como a falta do hábito da leitura, interpretação e produção textual nas séries iniciais do ensino fundamental, perpassando os anos seguintes sem soluções plausíveis. Portanto, o estudo realizado é de cunho bibliográfico, fundamentado no pensamento de alguns teóricos, como Abramovich (2006), Dalvi, Resende e Jover-Faleiros (2013), Kleiman (2004), Silva (1993), Cosson (2014), os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa, entre outros, visando à compreensão de questões fundamentais sobre a aprendizagem do aluno, sequenciada da análise, síntese e recreação das ideias, e, em seguida, fez-se o uso da pesquisa qualitativa, através de entrevistas e questionários subjetivos aplicados aos alunos e à professora para investigar a questão em tese. No desenvolvimento do trabalho, realizou-se a pesquisa das formas de abordagem da leitura e interpretação de textos em sala de aula, ponderando e discutindo os dados coletados, apontando caminhos para desenvolver leitores proficientes, capazes de interpretar e produzir textos com eficácia. Palavras-Chave: Leitura. Dificuldades. Interpretação Textual. ABSTRACT: The objective of this article is to present the considerations of an investigation about the difficulties faced in the process of reading and textual interpretation, with students of the 5th year of elementary school. The search was conducted in a private school, located in the city of Campina Grande-PB, since, lately, it has been noticed to deep difficulty for students and teachers about reading and textual interpretation. This paper presents possible hypotheses for the emergence of this problem, such as the lack of reading habit, interpretation and textual production in the initial grades of elementary school, going through the following years without plausible solutions. Therefore, the study carried out is of a bibliographic nature, based on the thought of some theorists, such as Abramovich (2006), Dalvi, Resende and Jover-Faleiros (2013), Kleiman (2004), Silva (1993), Cosson (2014), the National Language Curricular Parameters, among others, with the purpose of understanding fundamental questions about student learning, sequenced from the analysis, synthesis and recreation of ideas, and then using qualitative research, through interviews and questionnaires applied to the students and the teacher to investigate the question in thesis. In the development of the work, the research carried out is about the search of the ways of reading and interpretation of texts in the classroom, pondering and discussing the collected data, pointing out ways to develop proficient readers capable of interpreting and producing texts with efficiency. Keywords: Reading. Difficulties. Textual interpretation.
1 Alunas do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UVA/UNAVIDA. [email protected] 2 Orientadora. Professora. Professora de Letras - Língua Portuguesa da UVA/UNAVIDA. [email protected]
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1. INTRODUÇÃO
As dificuldades de interpretação, compreensão textual e escrita vêm sendo
um problema muito debatido e preocupante na educação brasileira. Suas causas
podem estar relacionadas não só à escola, nos métodos que o professor trabalha,
mas também aos fatores externos, sobrevindo de situações adversas, como a falta
do hábito de leitura pelos pais.
A interpretação textual é um processo que exige concentração, entendimento
do sentido que as palavras expressam dentro de um contexto, também uma série de
fatores que estimulam a imaginação e a criatividade do sujeito e está vinculada,
principalmente, à disciplina de Língua Portuguesa. Sendo assim, as dificuldades de
interpretação textual são um grande desafio diante dos alunos e professores.
Notamos ainda, uma fragilidade no desenvolvimento do hábito pela leitura no
tocante ao estímulo dessa prática, que deveria se iniciar em casa, através dos
familiares e continuar nas práticas aplicadas em sala de aula pelo professor. Em
virtude dessas lacunas, os docentes necessitam estar sempre repensando e
inovando suas metodologias para que possam atender as necessidades de acordo
com a realidade e as dificuldades do aluno.
O presente trabalho, tendo como procedimento a análise e revisão de obras
que discutem a temática abordada, tem fundamentação teórica em alguns autores
como Abramovich (2006), Dalvi, Resende e Jover-Faleiros (2013), Kleiman (2004),
Silva (1993), Cosson (2014), perpassou pelos Parâmetros Curriculares Nacional de
Língua Portuguesa, entre outros estudos.
A pesquisa é qualitativa, bibliográfica e descritiva, sendo relevante por se
tratar de um conhecimento necessário à formação pessoal e à carreira profissional,
uma vez que leitura e interpretação textual são intermediações para o processo do
ensino-aprendizagem. Versará, portanto, acerca das dificuldades enfrentadas pelos
alunos, dos fatores que resultam nessa problemática, suas principais causas e as
metodologias que podem ser trabalhadas para diminuir esses problemas que
interferem sobremodo no processo da leitura e interpretação textual.
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2. DESENVOLVIMENTO
É comum as pessoas restringirem o conceito sobre as dificuldades da leitura
e interpretação textual somente aos fenômenos que ocorrem na escola, como
resultado do ensino. Entretanto, essa problemática tem um sentido amplo, pois
abrange os hábitos que formamos durante o nosso convívio em casa, também os
valores culturais e incentivos externos que o indivíduo pode receber no decorrer do
processo de aprendizagem.
O educando precisa ser capaz de ler e refletir profundamente um texto,
compreendendo o sentido que as palavras expressam nele, para possivelmente,
começar a adquirir habilidades na interpretação e compreensão textual,
desenvolvendo, assim, a sua criatividade e aprimorando a produção do
conhecimento.
Para entender alguns pressupostos, iniciaremos abordando a falta de leitura
no Brasil como um hábito cultural de (des) incentivo. Depois perpassar pelas
discussões sobre o objeto de ensino de língua portuguesa nas escolas de educação
básica, que deveria ser o texto, mas vemos ainda hoje, aulas pautadas nos aspectos
linguísticos e na estrutura da técnica do idioma, com aulas sistematizadas em
atividades descontextualizadas e irrelevantes, muitas vezes.
Para finalizar o desenvolvimento, mostramos a análise dos dados, a partir da
metodologia aplicada nesta pesquisa e aludimos alguns caminhos para que o
professor atente em práticas que sejam de fato relevantes e consistentes para o
processo de aprendizagem dos alunos, sugerindo atividades possíveis e
metodologias que façam sentido no contexto da educação básica da qual aspiramos.
2.1. O problema da não leitura no Brasil
A dificuldade na leitura está acarretada por uma série de problemas, que se
inicia dentro do próprio ambiente familiar, quando a criança percebe que os pais não
possuem esse hábito, e perfaz-se durante a trajetória escolar. Também, temos o
grande desafio dos professores da educação básica em ensinar a leitura de modo
significativo, não apenas os levando a decifrar códigos, mas à prática da leitura, cujo
texto seja o foco principal, sua função social, suas muitas leituras quando literário,
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sua musicalidade, quando poético, o aprimoramento do vocabulário e a dinamização
do raciocínio e interpretação. Rezende3 (2014, p.01), afirma que:
A leitura é um hábito e como tal deve ser cultivado. Há quem diga que até que é um valor, mas os valores também devem ser cultivados, enraizados, implantados. Cultivar a valorização da cultura, do conhecimento por meio do hábito da leitura, este é o desafio. O problema vem de berço, da formação do leitor, das ações e interferências para que este leia e se habitue a ler. (REZENDE, 2014, p.01).
Como posto pela autora, a criança quando está inserida em um ambiente
familiar, onde os pais não possuem o hábito pela leitura, e, consequentemente não o
estimula, possivelmente também não desenvolverá essa habilidade, porquanto os
costumes e ensinamentos iniciam-se em casa, através do convívio, pois as crianças
costumam copiar e imitar as ações e condutas das pessoas que estão mais
próximas. Então se quisermos formar indivíduos leitores, precisa-se cultivar mais
esse hábito, a começar de casa, para que assim possa ser aprofundado na escola.
Rezende (2014, p.02), ainda elenca algumas dificuldades agravadoras dessa
não leitura no Brasil, tais quais:
O controle do livro didático, a valorização dos professores, a polêmica do consumo da merenda escolar pelos professores, a falta de bibliotecas, laboratórios, computadores, enfim, infraestrutura, são desafios que necessitam do envolvimento da sociedade nas políticas públicas voltadas para enfrentar esse quadro. (REZENDE, 2014, p.02).
Como visto, faz-se necessária uma série de recursos para colocar em prática
a educação, começando pelas metodologias aplicadas pelos docentes em sala de
aula, também a valorização destes, e políticas públicas que desenvolvam projetos
com o intuito de formar bons leitores.
Outro problema que enfrentamos por falta da leitura é o da compreensão e
interpretação textual, devido a uma fragilidade no ensino nas séries iniciais,
3 Especialista em Gestão Estratégica da Informação e Bibliotecária pela UFMG, Coordenadora do centro de Informação, documentação e Biblioteca por mais de 15 anos. Autora do Artigo “Retratos da Leitura no Brasil” e palestrante na área de Biblioteconomia Jurídica. Disponível em: www.administradores.com.br-Retratos da Leitura no Brasil- mais reflexões-artigos. Acesso em: 05/06/2018.
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compatibilizado com uma sequência de problemas culturais, metodologias mal
colocadas, professores despreparados, alguns pais que não participam ou ajudam
os seus filhos nesse processo juntamente com a escola.
Nesta perspectiva, os alunos com a faixa-etária de dez a catorze anos têm
dificuldades em responder questionários de acordo com o texto lido e interpretar as
questões, não somente de português, mas de outras matérias como matemática.
Isso pode acarretar consequências futuras, tanto no campo cognitivo quanto no
campo social.
De acordo com Rodrigues (2016, p.01), observamos que houve um aumento
de 50% para 56% de leitores, desde 2011 até 2015, entretanto, vimos que ainda é
um número muito baixo, pois além de abrir mentes transmitindo conhecimento, a
leitura está inserida na perspectiva histórico-cultural do desenvolvimento humano.
Portanto, um indivíduo que gosta de ler tem maior facilidade na comunicação
oral ou em público, bem como na escrita, quando for organizar suas ideias para
formar um texto.
Ainda, Rodrigues4 (2016, p.02) aponta sobre os resultados da preferência dos
brasileiros, enfatizando que “A leitura ficou em 10º lugar na pesquisa dos Retratos
da leitura no Brasil [...]”, enquanto em primeiro lugar, a pesquisa assinala assistir
televisão, em sequência, ouvir músicas, usar as redes sociais através da internet,
reunir-se com os amigos, ir ao cinema, praticar esportes, entre outros. Nota-se que o
brasileiro ainda não possui o hábito pela leitura, sendo necessário começarmos
desde logo a incentivar as crianças a ler, conhecer novas obras literárias e a viajar
no mundo da imaginação e riqueza de informações que é a leitura.
2.2. O objeto de estudo da aula de língua portuguesa: o texto.
O processo de leitura e interpretação textual exige do leitor um conhecimento
de mundo, pois não se pode interpretar ou mesmo produzir um texto sem base, isto
exige do estudante uma atenção e atualização dos conhecimentos que o cerca, só é 4 Formada em Jornalismo pela Universidade Católica de Santos/SP, repórter de literatura do caderno 2 e colunista da Babel - Literatura, publicada aos sábados no Estadão. Também foi responsável pela Pesquisa dos Retratos da Leitura no Brasil e escreveu sobre Mercado Editorial e Livreiro, eventos literários, livros, literatura, leitura, livro digital e best-sellers. Disponível em: https://cultura.estadao.com.br. Acesso: 05/06/2018.
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possível fazer uma boa leitura, interpretação e produção textual quando se tem
conhecimento amplo de mundo e de situações.
Além disso, também é necessário que se tenha um bom acervo de palavras e
noção de como as mesmas serão utilizadas, tal como a observância das regras de
regência e concordância verbal, para que o texto apresente sentido conciso e
coerente. De acordo com Lajolo (1991, p.59):
Ler é não decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir de um texto, ser capaz de atribuir-lhe significação, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista. (LAJOLO, 1991, p.59).
Como visto, para se desenvolver bons leitores, com capacidade em
compreender e interpretar textos, seria necessário familiarizar a criança desde cedo
com os gêneros textuais, mesmo que elas não saibam ler, mas podemos iniciar esse
processo contando histórias, ou seja, o primeiro contato da criança com o texto é
feito oralmente, através da voz da mãe, do pai, dos avós, da professora, contando
contos de fada, poesia, histórias inventadas (tendo a criança ou os pais como
personagens), história em quadrinhos, poemas sonoros, receitas culinárias, entre
outros, pois escutá-las e ver as ilustrações das historinhas é o início da
aprendizagem para ser um leitor.
Nessa perspectiva, ser um bom leitor é ter um caminho absolutamente infinito
de descobertas e de compreensão do mundo. Isso poderá motivar e despertar o
gosto dos pequenos pela leitura, com o intuito de evitar a aversão à língua
portuguesa, ao mesmo tempo em que poderá facilitar a interpretação, compreensão
e a produção textual futuramente.
Silva (1993, p.62) argumenta que a prática da leitura a partir de interpretações
pré-estabelecidas, sem análise e reflexão do grupo envolvido na atividade, sem
mobilização do conhecimento prévio, sem, portanto, qualquer chance de formular
inferências, permite apenas que o leitor decodifique um enunciado que já está
elaborado, pronto e embalado para uso, não havendo a possibilidade de construção
de significado para o texto lido.
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Então, lendo histórias para os alunos, poderemos proporcionar sorrisos,
momentos de divertimento, também cultivando a imaginação deles através dos
personagens e do cenário, sendo também uma possibilidade de descobrir o mundo
imenso dos conflitos, das soluções dos problemas que vão sendo construídos e
desconstruídos pelas personagens de cada história, isso pode resultar em seres
capazes de esclarecer melhor as próprias dificuldades ou encontrar um caminho
para solucionar conflitos e problemas ao longo da vida, se caso houver.
Assim, ouvindo histórias podem-se sentir emoções importantes, como a
tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a
tranquilidade, tantos outros mais e viver profundamente tudo o que as narrativas
provocam em quem as ouve com toda a amplitude, significância e imaginação que
cada uma delas transmite.
Sobre a leitura de gêneros textuais em sala de aula, Abramovich (2006,
p.140) nos informa que:
A literatura infanto-juvenil foi incorporada à escola e, assim, imagina-se que por decreto todas as crianças passarão a ler... Até poderia ser verdade, se essa leitura não viesse acompanhada da noção de dever, de tarefa a ser cumprida, mas sim de prazer, de deleite, de descoberta, de encantamento. (ABRAMOVICH, 2006, p.140).
Deste modo, o educador precisa repensar as suas práticas, mostrando que
através da leitura e interpretação de um texto, os alunos podem descobrir outros
sentidos e significados concernentes ao estudo em tese, bem como conhecer outros
lugares, tempos e formas de agir, aprendendo a literatura sem a preocupação
apenas com a didática, mas como uma atitude espontânea do indivíduo leitor.
Quando esse hábito passa a ser uma forma de descobertas e encantamento,
a pessoa possivelmente buscará conhecer mais textos e assim terá mais
curiosidade em ler e pesquisar outras obras. Além disso, Abramovich (2006, p.140)
acrescenta que:
[...] há uma obrigatoriedade de prazo, uma espécie de maratona, onde um livro tem que ser lido num determinado período, com data marcada para término da leitura e entrega de uma análise, e não conforme a necessidade, a vontade, o ritmo, a querência de cada criança-leitora. (ABRAMOVICH, 2006, p.140).
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Por isso, devemos estar atentos para a questão em tese, em virtude de evitar
um embaraço na leitura e interpretação textual por parte dos discentes, em
consequência de uma metodologia ineficaz, sendo aplicada com rigor e podendo
fazer com que o aluno sinta-se pressionado a simplesmente ler tal obra, e em
seguida, fazer um resumo ou responder um questionário no final.
Ademais, essa forma mais rígida do professor abordar o aluno pode contribuir
para o início das possíveis dificuldades na leitura e da aversão quanto à língua
portuguesa; em síntese, devemos respeitar o ritmo de cada criança, cultivando neles
o gosto e o encantamento pela leitura.
Diante do desafio em ministrar aulas de Literatura, o professor deve ser o
facilitador e precisa trabalhar com os diversos gêneros textuais para que os alunos
conheçam a forma e o que cada gênero pretende transmitir como, por exemplo, os
contos de Fada (mostrando a narrativa com todos os seus detalhes, encantos e
tramas), o poema, receitas, histórias em quadrinhos (dando ênfase a linguagem não
verbal), a lenda, o romance, a piada, entre outros.
Nesse contexto, caberia à escola no seu papel de ensinar a ler, interpretar e
produzir textos escritos, garantir ao aluno o desenvolvimento da sua capacidade de
criar e organizar bem as ideias, dominar a gramática e ter acesso a modelos de
escrita. Ao aluno, de posse de tais elementos, caberia imitar tais modelos até
apropriar-se de suas estruturas e, a partir daí, construir-se um leitor proficiente, que
interpreta e produz textos com fluidez.
2.3. Leitura, interpretação e compreensão textual: abordagem na sala de
aula.
Como visto, devemos utilizar diversificados tipos de gêneros textuais em sala
de aula, pois envolvem e auxiliam bastante os alunos a compreenderem que existem
diferentes tipos textuais e estruturas, onde os quais serão escritos de acordo com
uma determinada situação, que fará com que o aluno comece a distinguir
analogamente cada gênero e sua finalidade. É o que apontam Fávero e Andrade
(2000, p.82) a respeito dessa questão:
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A aplicação de atividades de observação que envolve a organização de textos falados e escritos, permitem que os alunos cheguem à percepção de como efetivamente se realizam, se constroem e se formulam esses textos escritos e orais. (FÁVERO E ANDRADE, 2000, p.82).
Logo, o docente ao utilizar os variados tipos textuais nas aulas, poderá está
construindo conhecimentos e desenvolvendo habilidades nos alunos, para assim
prepará-los com o intuito de solucionar questões/problemas futuramente. Para isso,
faz-se necessário o investimento na formação continuada do docente, visando rever
suas práticas e metodologias de ensino com a finalidade de dinamizar suas aulas,
despertando a atenção e o aproveitamento dos conteúdos pelos alunos. Esse
pensamento reafirma-se de acordo com o PCN de Língua Portuguesa, quando:
A importância e o valor dos usos da linguagem são determinados historicamente segundo as demandas sociais de cada momento. Atualmente exigem-se níveis de leitura e de escrita diferentes e muito superiores aos que satisfazem as demandas sociais até bem pouco tempo atrás [...] Para a escola, como espaço institucional de conhecimento, a necessidade de atender a essa demanda, implica uma revisão substantiva das práticas de ensino que tratam a língua como a constituição de práticas que possibilitem ao aluno aprender linguagem a partir da diversidade de textos que circulam socialmente. (BRASIL, 1997, p.25).
Nesta perspectiva, consideramos a abordagem dos gêneros textuais na
escola uma necessidade, já que a multiplicidade de textos orais e escritos compõe
um conjunto de manifestações socioculturais que merece ser conhecido, apreciado,
recriado, valorizado. Esses são passos fundamentais para a inserção dos alunos,
como sujeitos autônomos e críticos, nas diversas práticas de letramento.
O prazer (hábito) da leitura é o início para melhorar o desenvolvimento
cognitivo, principalmente das crianças e adolescentes; e o facilitador pode estar
cultivando esse gosto durante suas aulas. De acordo com Tardif (2002, p. 118), “ao
entrar em sala de aula, o professor penetra em um ambiente de trabalho construído
de interação humana.” Por isso, o docente deve verificar a realidade dos alunos,
para assim poder adequar suas metodologias às expectativas e necessidades deles.
Entre a turma, o professor tem uma maior facilidade em influenciar reflexões;
destarte, incentivar a leitura através de projetos e novas metodologias pode
favorecer o desempenho educacional dos alunos, bem como ampliar a capacidade
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de raciocínio, análise e debate sobre os diversos assuntos aos quais precisarem
abordar.
O professor pode ir introduzindo os modelos textuais numa sequência que vai
da descrição, passando aos poucos para a narração e a dissertação. Trabalhando
primeiro com textos mais simples, o facilitador estará possivelmente contribuindo
para o progresso no desenvolvimento dos alunos quanto à leitura, interpretação e
produção textual, pois, desta forma, eles poderão habituar-se mais com os textos e
consequentemente progredir nos resultados, continuar aprendendo e
acompanhando o processo de ensino-aprendizagem estabelecido na escola.
Dessa maneira, de acordo com o PCN de Língua Portuguesa:
[...] o conhecimento dos caminhos percorridos pelo aluno favorece a intervenção pedagógica e não a omissão, pois permite ao professor ajustar a informação oferecida às condições de interpretação em cada momento do processo. Permite também considerar os erros cometidos pelo aluno como pistas para guiar sua prática, para torná-la menos genérica e mais eficaz. (BRASIL, 1997, p. 28).
Então, o educador pode iniciar analisando a sua metodologia, observando as
principais dificuldades enfrentadas pelos alunos durante o processo de ensino-
aprendizagem da leitura, interpretação e compreensão textual na sala de aula,
desse modo seria possível repensar suas práticas e adequá-las de acordo com os
erros mais frequentes detectados através dos alunos na problemática em questão,
com a finalidade de torná-las mais eficazes e produtivas.
Uma das questões relevantes a serem abordadas é o papel dos livros
paradidáticos adotados nas salas de aula. Estes constituem uma das ferramentas
mais utilizadas pelos professores da língua portuguesa. No entanto, sabemos das
dificuldades que alguns alunos possuem em entender determinados assuntos, além
disso, o uso exclusivo do livro (e das fichas de leitura, muitas vezes agregadas a
eles) não transforma o aluno em um leitor crítico, mais ainda não permite o estudo
da língua por meio de texto discursivo. Em suma, o aluno precisa tornar-se
capacitado a entender, compreender e interpretar diversos gêneros e tipos de textos,
por meio das metodologias e estratégias de leitura que o professor usa em sala de
aula.
De acordo com Kleiman (2004, p.24):
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A prática de sala de aula, não apenas de aula de leitura, não propicia a interação entre professor e aluno. Em vez de discurso que é construído conjuntamente por professor e alunos, temos primeiro uma leitura silenciosa, ou em voz alta do texto, e depois, uma série de pontos a serem discutidos, por meio de perguntas sobre o texto, que não levam em conta se o aluno de fato o compreendeu. Trata-se, na maioria dos casos, de um monólogo do professor para os alunos escutarem. Nesse monólogo, o professor tipicamente transmite para os alunos uma versão que passa a ser a versão autorizada do texto. (KLEIMAN, 2004, p.24).
Sendo assim, em princípio os alunos precisam ter uma relação com o texto
para poder haver uma melhor compreensão e interpretação, os professores da
língua materna, também precisam levar os alunos a dialogar, pensar e refletir mais
profundamente sobre o texto lido, antes que se faça qualquer comentário e
interpretação na aula.
Os professores devem trabalhar com estratégias de interpretação de texto,
proporcionando aos alunos formação crítica do leitor atuante e criador de múltiplos
significados. Dessa maneira, Dalvi, Rezende e Jover-Faleiros (2013, p.23) fazem
referência em como poderemos escolher as obras de literatura a serem trabalhadas
nas aulas: “[...] sabemos que o professor deve levar em conta os programas e as
prescrições oficiais, mas muitas vezes lhe é permitido escolher, de uma lista dada,
as obras para ler e estudar em sala [...]”.
Sabemos em regra, que devemos seguir as prescrições oficiais, todavia o
professor precisa de um olhar mais profundo para a realidade e a necessidade dos
alunos, de acordo com o contexto social em que estejam inseridos e das
particularidades vivenciadas no momento. Se, por exemplo, houve problemas de
preconceito ou bullying5 na sala de aula, então poderemos selecionar um texto
abordando essa temática, ressalvando aos alunos que devemos sempre respeitar as
diferenças, saber ouvir o outro e deixar que todos exponham as suas ideias e
críticas.
Outra possibilidade de abordagem na sala de aula seria utilizando a Literatura
de Cordel, onde apresentaríamos primeiro dois folhetos com poemas e em seguida,
5 Palavra inglesa, que indica um conjunto de agressões, ameaças, intimidações e maus-tratos físicos e psicológicos, direcionados a uma pessoa considerada mais fraca, para humilhar, intimidar e maltratar de forma repetitiva.
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uma peça teatral. A proposta seria observar os textos e confrontar as ideias e
informações. É o que vem sugerindo Dalvi, Rezende e Jover-Faleiros (2013, p.42):
Os folhetos são os seguintes: As proezas de João Grilo_ João Ferreira de Lima; O dinheiro e o cavalo que defecava dinheiro_ Leandro Gomes de Barros; e O auto da compadecida_ Ariano Suassuna. A leitura dos folhetos e da peça permite ao leitor observar como o dramaturgo articulou e resignificou cenas, falas e episódios presentes nos folhetos de Cordel. [...] A discussão pontual dos folhetos pode apontar para as condições sociais, [...]. (DALVI; REZENDE; JOVER-FALEIROS, 2013, p.42).
Nesta perspectiva, apresentaríamos aos alunos os dois gêneros textuais, os
poemas e a peça teatral, expondo as suas diferenças e particularidades quanto à
forma de produção e estrutura, no entanto, quanto ao conteúdo e a mensagem
principal transmitida pelo texto, deixaríamos que eles refletissem e identificassem a
semelhança abordada na história principal entre os textos.
Essa metodologia, que prioriza o texto, favorece que eles possam perceber
como as cenas, falas, episódios e cada detalhe formulado dentro da peça teatral,
foram criados através das ideias contidas nos poemas. Ademais, é interessante
dizer que todo o contexto tratado nas obras, em tese, aponta para a realidade da
situação econômica e social de grande parte da sociedade, do sofrimento
enfrentado, do preconceito, da fome, entre outras.
Os alunos têm que discutir e perceber o contexto de produção das obras, a
literalidade dos textos, o estilo dos autores, o gênero textual e suas características, a
criatividade do autor, os intertextos e tudo o que cada leitura pode proporcionar em
sua profundidade. É o que vem reafirmando Dalvi, Rezende e Jover-Faleiros (2013,
p.42) sobre essa temática: “É importante também propor obras das quais eles
extrairão um ganho simultaneamente ético e estético, obras cujo conteúdo
existencial deixe marcas”.
Para entender o que as autoras expõem, podemos citar como exemplo o filme
o Auto da Compadecida, do grande Ariano Suassuna, que diante da grande
repercussão e sucesso que teve devido à sua adaptação para o cinema, ficando
assim de fácil alcance e acesso popular, torna-se uma “porta aberta” para a leitura
da obra e possam refletir sobre toda a problemática tratada no filme.
Através dessa leitura comparativa e observando os textos, possivelmente
poderemos formar leitores capazes de articular diferentes perspectivas de leitura, de
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aprofundar as ideias e construir pensamentos, de discutir questões sociais
suscitadas nos folhetos, e, sobretudo, que saibam contar essas histórias para outras
pessoas com a entonação devida e o entusiasmo de um recitador de histórias, com
o intuito de procurar reativar uma prática cultural que anda cada vez mais em
desuso depois da chegada das tecnologias, da internet e das redes sociais.
Também, poderíamos acrescentar aos alunos que os folhetos escritos
nasceram da oralidade, provavelmente alguém ouviu essas histórias, romances,
tramas e mitos, sejam contados ou cantados, e quis eternizá-los escrevendo em
forma de folhetos, para que assim outras pessoas pudessem ler e conhecer mais
cada história. Doravante, poderemos sugerir para que cada aluno escreva um
folheto de Cordel com algum assunto ou acontecimento que ache interessante e
queiram compartilhar ou levar ao conhecimento de demais pessoas, seja algo que
ocorreu na vida deles ou mesmo alguma história que ouviram e chamou atenção.
Dalvi, Rezende e Jover-Faleiros (2013, p.23) ainda enfatizam que “é
importante confrontar os alunos com a diversidade do literário (cujo conhecimento
afina os julgamentos de gosto) [...].” Como posto pelos autores, devemos trabalhar
com os diversos gêneros textuais, pois dessa forma o aluno passará a conhecer
melhor cada texto, confrontando ideias e informações, ampliando a fantasia,
articulando críticas e defesas para os seus projetos, para possivelmente poder
identificar-se com algum gênero, ou até mesmo poder inventar um ao seu próprio
gosto e de acordo com a sua criatividade.
A leitura e a interpretação textual é um processo lento e delicado que requer
tática na abordagem em sala de aula desde as primeiras séries do ensino infantil, e
necessita também de uma dedicação maior na escolha do gênero a ser estudado.
Dessa forma, o professor precisa estudar e procurar a melhor forma possível
de aplicar uma metodologia diligente, que seja atinente e venha atender a cada tipo
de aluno, e assim, diante dos desafios, eles possam ser cativados a fazer uma boa
leitura, desenvolvendo a interpretação e compreensão do texto de acordo com as
suas habilidades.
Portanto, o importante é que todos os alunos participem do processo de
ensino-aprendizagem e que possivelmente desenvolvam o potencial de
aprendizagem necessário para resolver problemas e desenvolver seus projetos
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durante a vida, de acordo com a habilidade existente em cada sujeito. Cosson
(2014, p.66) afirma que:
As atividades da interpretação como entendemos aqui, devem ter como princípio a externalização da leitura, [...] O professor de português pode sentir necessidade de aproveitar a ocasião para que os alunos demonstrem suas habilidades de escrita e solicitar uma resenha para o jornal da escola. A turma mais desinibida pode realizar uma performance dramatizando trechos ou vestindo-se como as personagens. Os mais tímidos podem preferir o registro em um diário anônimo a serem expostos em um varal no fundo da sala. (COSSON, 2014, p.66).
Nesta perspectiva, o professor precisa trabalhar com estratégias
metodológicas eficazes de forma flexível, de acordo com a idade e a necessidade
das crianças; desta forma, o desempenho delas na interpretação e escrita
provavelmente irá avançar. Nessa estratégia de Cosson, os alunos compreenderam
o texto trabalhando de formas diferentes e mantiveram o caráter de registro do que
foi lido.
2.4. Discussão, análise e sugestão de atividades
A fim de alcançar o objetivo proposto por nossa pesquisa, que tem cunho
qualitativo, utilizamos como instrumentos de coleta de dados a observação do
ambiente escolar, a entrevista e o questionário subjetivo.
Nosso campo de investigação foi uma escola particular, localizada na cidade
de Campina Grande-PB. A visita à escola foi realizada na turma do 5º ano, no turno
da tarde, porém, devido a algumas adversidades políticas no nosso país, alguns
transtornos no cronograma da escola nos impediram de fazer um trabalho mais
prolongado.
Para coletar as informações, foram realizadas entrevistas com três sujeitos,
sendo dois alunos e uma professora de Língua Portuguesa. Os dois alunos
supracitados serão referidos como A e B. Estão matriculados no 5º Ano do Ensino
Fundamental e apresentam idade entre nove e doze anos. A estes, fizemos quatro
perguntas subjetivas, que dizem respeito ao envolvimento deles durante as aulas de
Língua Portuguesa.
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A professora regente da turma que entrevistamos é graduada em Pedagogia
e está atuando em sala de aula há vinte e oito anos. A esta, aplicamos um
questionário com nove perguntas subjetivas para investigar a metodologia
trabalhada em sala de aula.
Em consonância com as respostas obtidas através da entrevista e do
questionário realizados com a docente, pudemos observar melhor as práticas e
métodos utilizados em sala de aula, para tentar compreender e discutir acerca dos
problemas que emergiram da pesquisa sobre as dificuldades de leitura e
interpretação textual.
Ressalvamos que a docente age como uma facilitadora do conhecimento.
Quando ao questioná-la sobre qual metodologia era utilizada com os alunos para
trabalhar leitura e interpretação textual, a mesma nos respondeu: “Utilizo as
estratégias de leitura: hipótese, antecipação. Organizo e faço a leitura
compartilhada.” (Professora regente da turma). Essas estratégias de leitura
utilizadas pela professora beneficiam a maior compreensão do texto pelos alunos e
exige a participação ativa deles, possibilitando-os ultrapassarem as dificuldades
quanto à leitura e interpretação textual. No debate de sala de aula, trocam-se ideias,
conceitos e experiências, e isso é muito válido, em que outra metodologia não
alcança.
Observamos que o aluno A não apresentou dificuldades na metodologia
aplicada pela docente, diferente do aluno B que mostrou desinteresse na aula
devido não gostar dos textos mais longos, pois o mesmo por não ter o hábito da
leitura, mostra abnegação ao desafio de textos mais longos, geralmente para leitores
mais proficientes.
Também, quando a criança não é estimulada em casa pelos pais ou
responsáveis, não concebe a leitura como algo prazeroso a partir de momentos de
troca afetiva, como a leitura na hora de dormir, o que, pela criança, é associada ao
descanso e ao relaxamento, a formação do gosto literário será mais custosa.
Quando a criança não observa que a leitura faz parte do hábito dos pais, que ela
não está presente do cotidiano da família, não se sente estimulada, desafiada a se
aventurar. Nessas condições, o professor torna-se um estimulador em potencial e a
escola o espaço de oportunidades para alcançar esse aluno.
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O professor pode trabalhar com os alunos as possibilidades e os recursos
disponíveis para que eles possam estudar e produzir em sala de aula sem perder o
foco da leitura como, por exemplo, uma diversidade de atividades: recitação de
histórias, debates, histórias narradas e encenadas, dramatização, jogos,
depoimentos, hora do conto, teatro de fantoches, entre outros. Ademais, a
professora estará aproximando os alunos dos livros e desenvolvendo o gosto pela
leitura desde pequenos. Quando a professora pesquisada nos respondeu que
trabalhava uma carga de leitura bem elaborada, percebemos seu posicionamento
sobre o que seria necessário para ajudar os alunos a superarem as dificuldades na
leitura e interpretação textual. Para esta, uma seleção de obras relevante e variada
conta para a formação do gosto em ler.
Assim sendo, é necessário que o educador aprofunde sempre os seus
conhecimentos, procurando melhorar e adequar as suas práticas de acordo com as
dificuldades apresentadas pelos alunos, pois este passa a buscar a construção de
conceitos a partir dos seus conhecimentos e das informações lançadas previamente
pelo professor. Por isso, os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua
Portuguesa (1997, p.15) afirmam que “as crianças sabiam muito mais do que se
poderia supor até então, que elas não entravam na escola completamente
desinformadas, que possuíam um conhecimento prévio”.
Nesta perspectiva, sugerimos que o professor seja dentro da sala de aula, um
criador de novidades e inovador em sua metodologia, para que assim as crianças
possam ter uma maior oportunidade de aprimorar e desenvolver os seus
conhecimentos, e, assim, possam bem realizar no ambiente social e fora da escola,
o que elas aprendem de forma contextualizada dentro da mesma.
Quando interrogamos se o aluno B gostava da aula de Língua Portuguesa,
tivemos como resposta: “Gosto dos textos pequenos, mas quando é a parte da
Gramática, não gosto. É muito chato.” Vemos claramente aqui certa confusão sobre
o objeto de estudo da aula de língua portuguesa. O aluno atrelou a aula de
português em algum momento à aula de gramática. Isso é ainda uma recorrência
nas salas de aula. Sabemos que a Gramática é apenas a estrutura do idioma, a
técnica para que ele se realize, mas é no discurso, na construção do texto e na
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contextualização que a comunicação se efetiva, ou seja, na leitura textual (e
consequente interpretação).
A prioridade de uma aula de linguagem deve ser a leitura textual, o
conhecimento dos diversos gêneros, a discussão das funções sociais destes, a
circulação social que deles fazemos, as suas produções e não o aprendizado das
estruturas linguísticas de modo “solto” e descontextualizado do uso da língua. São
nas produções textuais que efetivamos as regras gramaticais pela refacção textual,
pela reescrita dos textos mediante a formalidade ou informalidade de cada um deles
diante do uso da situação da língua.
Podemos perceber que em algum momento da aula a professora desse aluno utiliza
o texto como pretexto para trabalhar os aspectos gramaticais, visto que ele aponta
ser “muito chato”, e, de fato, o é, já que o uso da gramática dessa maneira
descaracteriza a linguagem já que esta será trabalhada de modo fragmentado e sem
um sentido lógico associado à situação comunicativa de interação de sujeitos
linguísticos que se comunicam em determinada situação.
Portanto, é necessário o empenho e dedicação dos professores nesse
processo, sobretudo, a compreensão que essa não é a forma correta de trabalhar a
língua. Obviamente que esse método se torna chato, enfadonho e não ajuda na
formação do hábito leitor, já que todas as vezes que se propuser ler em sala de aula,
implicará em fazer exercícios gramaticais, o que fora de um contexto, torna a aula
um momento de desprazer.
Deve-se também promover a participação ativa dos alunos nas aulas, sendo
que ainda entra nesse processo a participação dos familiares, que é muito
importante no processo de desenvolvimento e formação do aluno, bem como o
apoio e acompanhamento de toda a Equipe pedagógica e funcionários da escola. O
apoio de todos é fundamental para que o professor consiga atingir os seus objetivos
em sala de aula.
Ao examinarmos se a metodologia utilizada pela professora estava sendo
eficiente, ela nos explicou: “Preparo exercícios com questões mais complexas, para
observar o grau de entendimento do meu aluno.” (Professora regente da turma).
Entendemos que a professora utiliza suas práticas de ensino com o intuito de levar
os alunos a refletirem e terem um pensamento mais aprofundado para poder obter
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as respostas dos seus questionários aplicados em sala de aula. Mas cabe perguntar,
a que “questões complexas” ela se refere? Será que menciona aqui àquelas das
quais o aluno B caracterizou como “chatas”?
E outra, é de se questionar o motivo da complexidade das questões, visto que
o professor, sendo um facilitador do aprendizado, deve elaborar questões de
interpretação que levem, claro, o aluno a refletir, construir conceitos e críticas, mas
que sejam acessíveis, desafiadoras, instigantes e relevantes, coerentes com a
necessidade que o texto, em seu gênero, demanda.
A professora ainda acrescentou: “Utilizo a aula invertida” para analisar se o
processo de ensino está tendo progresso ou regresso. Nesta perspectiva, a aula
invertida consiste na professora escolher um gênero textual e pedir aos alunos que
pesquisem um texto em casa através da internet, com o intuito de levar os alunos a
investigar, estudar e refletir acerca daquele gênero solicitado e, no outro dia, mostrar
o que aprenderam e possam compartilhar as informações absorvidas com toda a
turma.
Analisando de forma crítica essa metodologia aplicada pela docente,
sabemos que muitos pais não acompanham as atividades dos filhos e alguns alunos
se perdem no emaranhado de possibilidades de navegação, não procurando o que
foi combinado com a professora, deixando-se arrastar para áreas de interesse
pessoal e acessando conteúdos impróprios. É preciso cautela.
Ademais, defendemos a inovação das práticas utilizadas em sala de aula,
para que, assim, possamos melhorar o ensino e suprir as dificuldades enfrentadas
durante a leitura e interpretação textual. Também precisamos despertar e incentivar
os nossos discentes ao gosto pela leitura, pois o aluno que tem o hábito de ler,
provavelmente sentirá facilidade em interpretar melhor um texto, responder
questionários e escrever.
Perguntamos ao aluno A, se ele gostava da aula de português, ao que nos
respondeu: “Sim, porque gosto de estudar, ler e fazer as atividades. Os textos que a
professora leva são bons”. Neste ponto de vista, a metodologia que a professora
aplica torna os textos bons. Esse aluno, provavelmente mais proficiente e habituado
às leituras mais elaboradas, não sente dificuldade em avançar. No entanto, julgar os
textos como bons aponta para a atitude que vimos anteriormente da professora fazer
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a prévia seleção das obras para a sala de aula, e isso é positivo e pertinente. Mas o
aluno ainda comenta que gosta das atividades, as quais o aluno B reprova.
Rematamos, então, que este aluno, por ser bom leitor, não sente dificuldade com a
estrutura da língua, mas, talvez não tenha compreendido que a gramática só se
efetiva no texto de modo contextual.
Ela nos falou de uma das formas que trabalha, fazendo com que os alunos
fiquem motivados a ler o texto escolhido. Depois do texto lido, solicita que eles
formulem perguntas para que todos participem da aula respondendo os
questionários feitos pelos alunos. Essa atividade estimula o grupo de alunos, eles
ficam surpresos com o desafio de questionar os colegas, colocando-se numa
posição diferente de não apenas responder perguntas feitas pela professora, mas
formular as suas, desenvolvendo, assim, o senso crítico e o parâmetro de
comparação dos pontos de vista.
Percebemos que a partir do momento em que eles elaboram perguntas,
mostram um melhor entendimento sobre o assunto abordado. Dessa forma, é
importante que o professor esteja sempre refletindo sobre as suas metodologias e
possa criar situações que permitam aos alunos vivenciar os gêneros textuais através
das diversas abordagens, aprimorando suas leituras, interpretação, escrita e uma
linguagem adequada a diferentes contextos comunicativos.
Kleiman (2004, p.36) nos explica que para o aluno ter maior facilidade na
leitura e interpretação de um texto, ele precisa ser capaz de reconhecer as palavras
e o seu significado dentro do texto. Segundo a autora, aquele que “lê mais
vagarosamente, sílaba por sílaba, terá dificuldades para lembrar o que estava no
início da linha quando chegar ao fim”.
No nosso ponto de vista, atentando para o que a autora aponta, o aluno B tem
um contexto diferente do aluno A, pois a dificuldade dele acompanhar textos mais
longos pode referir-se à pouca familiaridade com a leitura no que diz respeito à
formação do hábito leitor, pois como vimos, esse hábito é desenvolvido também a
partir de estímulos familiares, inicialmente, e, posteriormente a escola torna-se
responsável por oferecer a diversidade de gêneros e suportes textuais, ou esse
aluno específico está saturado das aulas com a gramática atrelada ao texto, quando
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a leitura deveria ser livre de exercícios gramaticais; assim, prefere os texto curtos,
pois são mais práticos, simples e não dão vazão a exercícios gramatiqueiros.
Ainda, talvez, a aquisição da leitura do aluno B tenha se dado de modo
descontextualizado ou os professores não atentaram para as dificuldades
apresentadas pelo mesmo, ou que esse aluno tenha um senso crítico tão aguçado a
ponto de não aceitar uma metodologia descontextualizada que para ele, não faz
sentido algum. Aprende-se ler, lendo, não fazendo exercícios gramaticais. Os
exercícios textuais devem ser de interpretação da obra, do contexto de produção do
livro, das aventuras da história, da musicalidade do poema, da criatividade dos
personagens, da beleza do cenário, ou seja, da obra em si, não da estrutura da
língua em que a obra está escrita ou traduzida.
Portanto, observamos que o ensino da Língua Portuguesa nas escolas ainda
carrega lacunas que urgem para serem sanadas, visto que a leitura é a base de todo
o aprendizado e compreensão dos saberes diversos, sendo essencial ao sujeito a
aquisição dessas habilidades para poder avançar em seus conhecimentos. Assim, o
processo de ensino-aprendizagem, através da leitura e interpretação textual, deve
viabilizar a produção e o aprimoramento do conhecimento.
Sendo assim, o professor precisa propiciar meios pelos quais os alunos
sintam-se motivados na busca desse conhecimento, deixando de serem sujeitos
passivos e tornando-se ativos nesse processo. Portanto, o docente poderia trabalhar
em sala de aula a leitura compartilhada, sacola viajante, contação de histórias e
dramatização, caracterizando os alunos de acordo com os personagens do texto,
teatro de fantoches, leitura e análise comparativa de textos, trabalhar datas
comemorativas, culturas diversas, levar os alunos para visitar a biblioteca e
proporcionar uma aula recreativa, recitais, aventuras pela escola, reconto do texto,
reelaboração de histórias, adaptações literárias, feira de livros, produção de álbuns e
livros construídos pelos próprios alunos com dia de autógrafos, palestras com
escritores, recitação ao ar livre, cinema na escola, teatro de contação dos filhos para
os pais, receitas culinárias, entre outras metodologias, proporcionando aulas
práticas e transformando a sala de aula em um espaço de oportunidades que
fomente criatividade, interação, criticidade e transformação de posturas.
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entendemos que a prática da leitura deve proporcionar uma relação com o
saber criativo e desafiador, para reconhecer os vários sentidos que o texto pode
trazer de acordo com o ponto de vista de cada aluno e sua forma de pensar. É
nesse sentido que compactuamos com Silva (1993, p.25) ao afirmar que “[...] não é
preciso mudar o mundo, mas a sua posição diante do mundo”.
Percebemos que a formação e desenvolvimento do hábito pela leitura ainda
têm percalços, e que grande parte da responsabilidade está em proporcionar ao
aluno, na escola, a oportunidade de vivenciar diversas leituras e discutir sobre elas,
pois, através da leitura, as crianças poderão desenvolver com mais facilidade a
capacidade de interpretação e produção textual, como também serão seres
esclarecidos e capazes de transmitir os seus conhecimentos e ideias, utilizando um
léxico de acordo com cada situação vivenciada.
Em princípio, é de extrema importância o empenho do professor em sala de
aula em utilizar metodologias adequadas para trabalhar os textos de acordo com as
necessidades e dificuldades dos alunos. Ademais, precisamos da contribuição dos
pais e familiares, tentando incentivar esse hábito desde cedo em casa, o qual pode
ser alcançado contando histórias e depois presenteando os pequenos com livros de
historinhas interessantes, lendo com eles e lendo para que vejam esse evento como
algo natural e parte do cotidiano, com o propósito de cultivar bons leitores.
Devemos seguir as normas oficiais quanto à escolha dos gêneros textuais a
serem trabalhados, mas por que não fazer uma exceção e trabalhar um texto de
acordo com a preferência dos alunos em um ciclo de leitura? Nesta perspectiva, os
alunos poderão contribuir de forma ativa na aula, mostrando a sua preferência,
ideias e hipóteses.
Portanto, o professor, para trabalhar construtivamente com seus alunos,
precisa avaliar suas características e necessidades concretas, preocupando-se em
escutar o que eles oferecem, os seus pensamentos e suas dificuldades; desta
forma, o professor estará motivando e estimulando o pensamento crítico dos alunos,
aprimorando os conhecimentos, adquirindo habilidades na leitura, escrita e
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interpretação textual, formando sujeitos ativos e capazes de idealizar projetos e
realizá-los em prol da coletividade.
4. REFERÊNCIAS
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