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7º Encontro Paulista de Professores de Jornalismo
Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Bauru
20 e 21 de maio de 2016
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Uma análise das escolas de pensamento adotadas na disciplina
Teoria(s) da Comunicação em cursos de Comunicação Social: o caso do Espírito Santo1
Gabriel de Lima Alves CORTEZ2
(Universidade Estadual Paulista, Bauru, São Paulo)
Resumo Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa acerca das principais correntes teóricas ou escolas de pensamento adotadas na disciplina Teoria(s) da Comunicação por instituições de ensino superior de graduação em Comunicação Social do Brasil. Analisam-se as ementas e as referências bibliográficas básicas de Teoria(s) da Comunicação de três instituições do estado do Espírito Santo (ES): a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes); a Faculdade Pitágoras de Linhares (FPL); e a Faculdade Espírito Santense (Faesa). Reforça-se, com o estudo, a tendência a uma dificuldade de sistematização das correntes teóricas da pesquisa em Comunicação e a existência de uma multiplicidade de escolas de pensamento e de autores com os quais os cursos de Comunicação Social analisados trabalham na disciplina Teoria(s) da Comunicação. Palavras-chave Teoria(s) da Comunicação; Metodologia de ensino; Ensino superior espírito-santense; Correntes teóricas da comunicação.
Introdução
Esta pesquisa é parte de um estudo, de âmbito nacional, acerca do ensino da
disciplina Teoria(s) da Comunicação3 em instituições de graduação em Comunicação
Social do Brasil. Consideram-se cursos de graduação em Comunicação Social as
habilitações em Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas e
Radialismo (ou Rádio e TV), oferecidas em instituições públicas (federais, estaduais ou
municipais), privadas, confessionais (metodistas, presbiterianas, anglicanas, etc.) e ou
comunitárias.
1 Trabalho apresentado no GP 6 – Projetos Pedagógicos e Metodologia de Ensino, do 7º Encontro Paulista de Professores de Jornalismo, realizado na Universidade Estadual Paulista (UNESP/Bauru), em 20 e 21 de abril de 2016. 2 Mestrando no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista (UNESP/Bauru) e integrante do GECEF (Grupo de Estudos em Comunicação Esportiva e Futebol). E-mail: [email protected] ou [email protected]. 3 Para uma discussão a respeito do título da disciplina, ver: REIMÃO, Sandra. Teoria ou Teorias da Comunicação. INTERCOM – Rev. Bras. De Com., São Paulo, Vol. XVII, n.2, pág. 146-170, jul/dez 1994. Por conta do impasse (Teoria ou Teorias da Comunicação), optar-se-á pelo uso de Teoria(s) da Comunicação, com a letra “S” entre
parênteses.
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O estudo foi desenvolvido por mestrandos do Programa de Pós-graduação em
Comunicação (PPGCOM), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no segundo
semestre de 2015, com o objetivo de responder aos seguintes problemas empíricos: 1)
quais são os principais teóricos adotados nas disciplinas de Teoria(s) da Comunicação
oferecidas nos cursos de Comunicação Social do Brasil e 2) a quais correntes teóricas
ou escolas de pensamento estes autores “pertencem”?
Ao todo, 239 instituições de ensino superior brasileiras foram pesquisadas, por
mais de trinta (30) mestrandos do PPGCOM. Este artigo apresenta, especificamente, os
dados coletados em quatro (4) instituições de ensino superior do estado do Espírito
Santo (ES) (localizado na região Sudeste do Brasil) nas quais há cursos de graduação
em Comunicação Social. As quatro instituições pesquisadas foram destacadas de um
grupo de onze (11) instituições destinadas pela Prof.ª Dr.ª Maria Cristina Gobbi
(idealizadora do estudo em âmbito nacional) ao pesquisador responsável por este texto4.
Etapas da Pesquisa
A primeira etapa da pesquisa consistiu em analisar as onze (11) instituições
delimitadas ao pesquisador responsável por este artigo, a fim de verificar quais destas
instituições ofereciam os cursos de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo,
Publicidade e Propaganda, Radialismo ou Relações Públicas – nesta etapa, foi possível
descartar instituições apenas pelo nome (por exemplo: Faculdade de Direito X),
procedimento ao qual se seguiu uma checagem nos sites das instituições, por meio de
pesquisa exploratória.
Definida a amostra válida, isto é, os quatro (4) cursos – da lista inicial de onze
(11) – que possuíam graduação em Comunicação Social, o passo seguinte foi verificar
quais cursos a instituição pesquisada oferecia na área de Comunicação Social, etapa
também realizada por meio de pesquisa exploratória nos sites das unidades. Neste
momento, buscaram-se, ainda, os dados que serão apresentados adiante (no tópico
Dados gerais, análises e fundamentação teórica), os quais, após a etapa exploratória,
foram organizados em uma planilha (Planilha 1)5 constituída pelos seguintes campos:
4 Gabriel de Lima Alves Cortez é mestrando no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista (UNESP/Bauru). E-mail: [email protected]. 5 As planilhas frutos da pesquisa de campo serão apresentadas em formato de tabelas nos itens 3.1 e 3.2 deste texto, a seguir.
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1) Ano de criação do curso;
2) Carga horária da disciplina Teoria(s) da Comunicação;
3) Ementa da disciplina;
4) Bibliografia básica da disciplina;
5) Nome do professor da disciplina;
6) Curso de formação do professor (graduação);
7) Ano de formação do professor;
8) Instituição de formação do professor;
9) Titulação do Professor (Livre-docente, Doutor, Mestre, etc);
10) Instituição de titulação do professor;
11) Ano da última titulação do professor.
Muitas destas informações, contudo, não estavam disponíveis nos sites das
instituições pesquisadas, o que se tornou um obstáculo à pesquisa exploratória e,
consequentemente, à pesquisa analítica (para as quais se apresentarão os resultados nos
tópicos Análise das ementas e Análise das referências bibliográficas). A título de
exemplo, nenhuma das quatro unidades de ensino integrantes do corpus incialmente
delimitado apresentava o plano de ensino (com as referências bibliográficas, o nome do
professor responsável, os objetivos e a ementa da disciplina) em seus sítios eletrônicos.
O que se pôde encontrar na pesquisa exploratória aos sites das instituições foram
informações gerais sobre o curso (Jornalismo, Publicidade, etc), dados gerais acerca da
disciplina Teoria(s) da Comunicação (como a carga horária e a periodicidade da
disciplina), e a ementa da disciplina (porém, apenas no sítio da Universidade Federal do
Espírito Santo).
Com o intuito de complementar, então, estas informações disponíveis nos sites
das instituições, o pesquisador responsável fez contato com os coordenadores de curso
das unidades selecionadas, via e-mail – a fim de obter os dados necessários ao
preenchimento da Planilha 1 (listados acima) que não foram encontrados nos sites das
instituições, bem como a fim de encontrar as referências bibliográficas utilizadas nos
cursos (Planilha 2).6 Fez-se, ainda, contato com as professoras de Teoria(s) da
6 O primeiro e-mail foi enviado aos coordenadores das quatro instituições em 16 de novembro de 2015. Após o pesquisador reforçar a solicitação, ainda por e-mail (seguidas vezes), e também por telefone (mais algumas vezes),
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Comunicação da FPL e da Faesa, via Facebook (respectivamente, Thayse Ghuizani dos
Santos Beckner e Ana Meguelli), uma vez que ambas não possuem currículos
cadastrados na Plataforma Lattes nem no Google Acadêmico
(https://scholar.google.com.br/). Contudo, as professoras não responderam às
solicitações (como previstas na Planilha 1).
Explicados estes procedimentos, passar-se-á à exposição e à confrontação
empírica dos dados coletados nas etapas de pesquisa de campo com a teoria de autores
fundamentais à compreensão da pesquisa e do ensino de Teoria(s) da Comunicação na
contemporaneidade. Estabelecem-se, portanto, a partir daqui, as primeiras análises e
reflexões teórico-empíricas acerca do corpus analisado, com base em uma revisão de
literaturas fundamentais à compreensão das Teoria(s) da Comunicação – a exemplo das
obras de Mauro Wolf (1985) e Antônio Hohlfeldt, Luiz Carlos Martino e Vera Veiga
França (2001).
Dados gerais, análises e fundamentação teórica
Apresentam-se, na tabela a seguir (Tabela 1), e nos dois tópicos subsequentes
(Análise das ementas e Análise das referências bibliográficas), os dados obtidos nas
etapas da pesquisa de campo, como descritos no item anterior. As informações, na
Tabela 1, estão com os nomes das instituições pesquisadas, as habilitações oferecidas
por estas unidades de ensino e o ano de criação dos cursos disponibilizados pelas
mesmas.
Na sequência da apresentação destes dados gerais (ver Tabela 1), seguir-se-á
com a exposição das ementas obtidas na pesquisa de campo, ao mesmo tempo em que
se encaminharão as primeiras inferências e proposições a respeito do ensino da
disciplina Teoria(s) da Comunicação em instituições de graduação em Comunicação
Social do Brasil – notadamente, em três instituições do estado do Espírito Santo (ES) –,
a fim de que estas inferências sirvam de hipóteses e de encaminhamentos para a
pesquisa que se desenvolverá em âmbito nacional.
após dois meses e dez dias (no dia 26 de janeiro de 2016), duas instituições – a Faculdade Pitágoras de Linhares e a Faculdade Espírito Santense (Faesa) – responderam à demanda e enviaram o plano de ensino da disciplina Teoria(s) da Comunicação. Todavia, os coordenadores de curso da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e da Faculdade Pitágoras de Guarapari não responderam às solicitações.
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Tabela 1
Nome da Instituição: Habilitações oferecidas:
Faculdade Pitágoras de Linhares Publicidade e Propaganda (2002/03)
Universidade Federal do Espírito Santo
(Ufes - Vitória/ campus de Goiabeiras)
Jornalismo (*)7
Publicidade e Propaganda (*)
Faculdade Espírito Santense (Faesa) Jornalismo (1995)
Publicidade e Propaganda (2001)
Faculdade Pitágoras de Guarapari Publicidade e Propaganda (*)8
Análise das Ementas
Passar-se-á, neste tópico, à exposição das diferentes ementas da disciplina
Teoria(s) da Comunicação utilizadas pelas instituições delimitadas para este artigo.
a) A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) utiliza a seguinte ementa
para disciplina a qual denomina Teorias da Comunicação: Perspectivas
históricas (oferecida aos alunos de graduação em Jornalismo e Publicidade e
Propaganda no 2º semestre de cada curso):
“Panorama das diversas correntes teóricas da comunicação de massa.
Contribuições interdisciplinares para a constituição de uma teoria da
comunicação.”.
Já a disciplina Teorias da Comunicação: Perspectivas contemporâneas,
ofertada aos alunos no 3º semestre dos cursos, trabalha com a ementa que se
segue:
7 Utilizaremos o * para sinalizar as informações às quais não obtivemos acesso. 8 O site da instituição apresentou poucas informações úteis à pesquisa e o único número de telefone indicado no sítio não atendeu (após diversas tentativas, e em dias diferentes). Também não constou, no site, o nome da coordenadora ou do coordenador do curso, nem o e-mail do mesmo. Por isso, optou-se por não considerar a Faculdade Pitágoras de Guarapari nas análises subsequentes. Ver link: http://www.faculdadepitagoras.com.br/Paginas/Detalhes-do-Curso.aspx?UID=17&DID=58&Unidade=Pit%C3%A1goras%20de%20Guarapari.
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“Panorama das diversas correntes teóricas da comunicação
contemporâneas. As teorias latino-americanas. Os principais estudos
brasileiros.”.
É importante ressaltar que ambas as disciplinas são oferecidas
semestralmente, com carga horária de 60h, para os cursos de Jornalismo e de
Publicidade e Propaganda.9
b) A Faculdade Espírito Santense (Faesa) apresenta a seguinte ementa aos
alunos da disciplina a qual denomina Teorias da Comunicação:
“Modelos do processo de comunicação. Comunicação interpessoal,
segmentada e de massa. Correntes teóricas da Comunicação Social: Teoria
Hipodérmica, Abordagem Empírico-experimental (ou da Persuasão), Teoria
Funcionalista, Teoria da Influência Seletiva, Teoria Crítica, Teoria
Culturológica e Estudos Culturais.”. A disciplina é ofertada aos alunos no 2º
semestre do curso.10
c) A Faculdade Pitágoras de Linhares (FPL) utiliza a ementa apresentada
abaixo na disciplina a qual denomina Teoria da Comunicação, oferecida aos
alunos no 3º semestre do curso:
“A Escola de Chicago e a pesquisa administrativa. A teoria crítica e o
conceito de indústria cultural. A pós-modernidade e os Estudos Culturais.
Virtualidades e Cibercultura.”.11
d) A Faculdade Pitágoras de Guarapari (FPG12), como já informado, não
forneceu dados à presente pesquisa e, por isso, não fará parte das análises
que se desenvolvem neste artigo.
9 Os dados foram obtidos no site da Ufes. Ver link: http://comunicacaosocial.ufes.br/grade-curricular-0. Acesso em 02 de novembro de 2015. 10 Dados extraídos do plano de ensino da disciplina Teorias da Comunicação, fornecido pela coordenadora de curso da Faesa, Marilene Lemos, via e-mail, em 26 de janeiro de 2016. 11 Dados retirados do plano de ensino da disciplina Teoria da Comunicação, fornecido – via e-mail, no dia 26 de janeiro de 2016 – pela profa. Jussara de Oliveira, coordenadora de curso de Publicidade e Propaganda da FPL (sigla não oficial que será utilizada pelo autor até o término deste artigo). 12 Sigla não oficial que será utilizada pelo autor até o término deste artigo.
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A partir, então, da observação das ementas coletadas, nota-se que alguns termos
aparecem mais de uma vez, em mais de uma ementa. Estes termos serão expostos, na
Tabela 2, no formato de quatro (4) palavras-chave (Correntes Teóricas; Comunicação de
Massa; Teoria Crítica e Estudos Culturais), a partir das quais se poderá refletir adiante.
Tabela 2
Palavras-chave: Ocorrências:
Correntes Teóricas 3x
Comunicação de Massa 2x
Teoria crítica 2x
Estudos culturais 2x
De antemão (e como uma fundamentação teórica a partir da qual se embasarão
as análises do tópico Análise das referências bibliográficas), é interessante observar a
preponderância do termo “Correntes Teóricas” no momento em que as ementas –
notadamente, as ementas da Ufes e a ementa da Faesa – esboçam uma tentativa de
agrupar as vertentes de pensamento em Comunicação e as teorias comunicacionais
elaboradas até o contexto presente. Tal preocupação – com a heterogeneidade das
correntes teóricas e com uma dificuldade de sistematização das mesmas – é lembrada
por Vera Veiga França (2011), em artigo no qual, embasada pelo pensamento de Mauro
Wolf (1985), a autora:
[...] pretendeu indicar e enfatizar o quanto o estudo da comunicação, a orientação da pesquisa, a seleção das temáticas e a construção dos modelos teóricos acompanham e refletem a dinâmica global e as diferentes fases vividas pela sociedade em momentos sucessivos (FRANÇA, 2001, p. 57).
Por isso, continua França, “[...] a apresentação das mesmas [fases da pesquisa
em Comunicação] esbarra em uma dificuldade de sistematização” (p. 57). Na tentativa
de suprir esta “lacuna”, ela indica seis agrupamentos possíveis com os quais se tentou,
em algum momento da história das pesquisas em Comunicação, sistematizá-las.
A primeira tentativa (1) de sistematização das teorias da Comunicação ocorreu
no contexto da Guerra Fria, segundo França, período em que dois grandes “paradigmas”
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se estabeleceram: o “Paradigma da Ordem” (ou “Pesquisa Administrativa”, nas palavras
de Wolf), desenvolvida nos Estados Unidos, e o “Paradigma do Conflito” (ou “Pesquisa
Crítica”, na acepção de Wolf), desenvolvida na Europa. Ademais, em momentos
históricos posteriores, argumenta a autora, buscaram-se um (2) agrupamento
“ideológico” (subdividido em três correntes: Funcionalista, Marxista e Estruturalista);
(3) um agrupamento de “base geográfica” (Escola Americana, Escola Francesa, etc.);
(4) um agrupamento “disciplinar” (Psicologia da Comunicação, Sociologia da
Comunicação, etc.); (5) um agrupamento com base nas universidades (Escola de
Birmingham, Escola de Frankfurt, etc.); e (6) um agrupamento com base no “objeto ou
processo de comunicação” (isto é, um agrupamento com o foco no emissor, no receptor,
na mensagem, etc.).
Desta maneira, as ementas dos cursos analisados podem indicar uma evidência
empírica inicial à hipótese de Vera Veiga França, para quem o campo de estudos em
comunicação está envolto em uma série de conflitos e antagonismos teóricos, os quais –
além da dificuldade de sistematização – passam pelo “protagonismo da prática”, pela
“diversidade empírica do objeto”, pela “mobilidade do objeto”, por uma “tendência aos
modismos” e, finalmente, por uma “heterogeneidade teórica”, fatores que podem
justificar esta dificuldade de agrupamento e esta multiplicidade de correntes de
pensamento, de autores e de teorias estudados na disciplina de Teoria(s) da
Comunicação.
Neste contexto, como se pode observar na Tabela 3, percebe-se que outros
termos representativos às pesquisas em comunicação, e ao ensino da disciplina Teoria(s)
da Comunicação, apareceram nas ementas analisadas (apesar de não se repetirem, em
mais de uma ementa).
Tabela 3
Termo: Ementa:
Interdisciplinaridade Ufes
Modelos do Processo de Comunicação Faesa
Comunicação interpessoal, segmentada e de massa Faesa
Pós-modernidade FPL
Virtualidades e Cibercultura FPL
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Pesquisa Administrativa FPL
Indústria Cultural FPL
Ademais, na Tabela 4, pontuam-se quais instituições utilizam determinadas
correntes/escolas em suas ementas – momento em que já se consegue identificar uma
diversidade de correntes teóricas e de escolas de pensamento com as quais as
instituições operam (o que aproxima as ementas observadas da hipótese de Vera Veiga
França de que existe uma dificuldade de sistematização e uma multiplicidade de
correntes teóricas de pesquisa em Comunicação).
Tabela 4
Escolas/Correntes: Ocorrências: Ementa(s):
Teoria Crítica 2x Faesa/FPL
Estudos Culturais 2x Faesa/FPL
Teoria Latino Americana 1x Ufes
Estudos Brasileiros 1x Ufes
Teoria Hipodérmica 1x Faesa
Abordagem Empírico Experimental 1x Faesa
Teoria Funcionalista 1x Faesa
Teoria das Influências Seletivas 1x Faesa
Teoria Culturológica 1x Faesa
Escola de Chicago 1x FPL
Pesquisa Administrativa 1x FPL
Deste modo, e com a devida cautela (por conta do limitado escopo de
instituições pesquisadas), pode-se inferir preliminarmente – a partir do que também já
apontava Mauro Wolf, em 1985 (WOLF, 1999)13 – que o ensino da disciplina Teoria(s)
da Comunicação, no Brasil, ocorre a partir de um amplo “leque” de autores e de
correntes teóricas que norteiam as pesquisas em Comunicação contemporâneas.
13 Wolf lembra que os meios de comunicação de massa são uma realidade feita de muitos aspectos diferentes e argumenta que “tudo isso se reflete naturalmente na forma de estudar um objeto que muda tantas vezes de forma”
(WOLF, 1999, p. 4).
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Ao que parece, portanto, não há uma tendência de predomínio de uma escola de
pensamento, ou de uma corrente teórica, nos cursos de graduação em Comunicação
Social brasileiros – este, aliás, é um dos pontos que se tenciona observar adiante, ainda
neste artigo, uma vez que a força desta hipótese poderá aumentar ou dirimir-se a seguir,
quando se passarão à apresentação e à análise das referências bibliográficas básicas
fornecidas pelas instituições de graduação em Comunicação espírito santenses
delimitadas a esta pesquisa.
Análise das referências bibliográficas
Antes de se apresentarem as referências bibliográficas as quais serão analisadas
a seguir, é importante reiterar que apenas duas instituições – entre as três cujas ementas
foram analisadas – informaram especificamente as referências bibliográficas básicas
com as quais trabalham em suas disciplinas de Teoria(s) da Comunicação: são elas a
Faculdade Pitágoras de Linhares (FPL) e a Faculdade Espírito Santense (Faesa).
Na Tabela 5, apresentam-se as referências bibliográficas básicas utilizadas pela
Faculdade Espírito Santense (Faesa) nas habilitações em Jornalismo e Publicidade e
Propaganda:
Tabela 5
Autor(es):
Nome do livro:
Escola/ Modelo:
BERLO, David Kenneth. O processo da comunicação:
Introdução à teoria e à
prática.
Escola Norte-
americana /
Funcionalista
MATTELART, Armand;
MATTELART, Michele.
História das teorias da
comunicação.
Escola Francesa /
Teoria Crítica /
Marxistas
WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação de
Massa.
Escola Italiana /
Estruturalista
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Observando-se os autores utilizados pela Faesa, bem como as suas respectivas
escolas de pensamento (sobretudo, a partir de uma análise de “base geográfica” e a
partir de uma análise “ideológica”, na acepção de Vera Veiga França), é possível
constatar a heterogeneidade e a multiplicidade de teorias e de autores com os quais a
instituição trabalha no ensino da disciplina Teorias da Comunicação, uma vez que não
há correspondência teórica entre as perspectivas de David Berlo (Pesquisa Funcionalista
Norte-americana; Escola de Chicago; discípulo de Wilbur Schcramm), Mauro Wolf
(Escola Italiana; semiólogo e sociólogo; discípulo de Umberto Eco) e do casal Mattelart
(Marxistas; Escola Francesa; Teoria Crítica).
Fenômeno semelhante, porém, não pode ser observado no plano de ensino da
Faculdade Pitágoras de Linhares (FPL) – sobretudo do ponto de vista de uma análise de
“base geográfica”, uma vez que há um predomínio de autores brasileiros e pertencentes,
portanto, à Escola Latino-americana (ou, especificamente, a uma vertente de “Estudos
Brasileiros” da Comunicação), como se pode notar na Tabela 6:
Tabela 6
Autor(es): Nome do livro: Corrente/ Escola:
CITELLI, Adílson. Linguagem e Persuasão. Estudos Brasileiros /
Escola Latino-
Americana
MELO, José Marques de. Teoria da comunicação:
paradigmas latino-
americanos.
Estudos Brasileiros /
Escola Latino-
Americana
PEREIRA, Jose Haroldo. Curso básico de teorias da
comunicação.
Estudos Brasileiros /
Escola Latino-
Americana
Considerações Finais
É possível, então, constatar – provisoriamente – que a hipótese de Vera Veiga
França (quando fala em uma dificuldade de sistematização e em uma heterogeneidade
das Teorias da Comunicação), faça-se presente no ensino da disciplina Teoria(s) da
Comunicação nas instituições de graduação de ensino superior da área de Comunicação
Social do Brasil. Provisoriamente, pois, a análise das ementas de Teoria(s) da
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Comunicação de três instituições do estado do Espírito Santo (ES) indicou a
multiplicidade de autores e a heterogeneidade de correntes teóricas com as quais as
instituições trabalham; porém, em um segundo momento, na análise da bibliografia
básica da disciplina oferecida pela Faculdade Pitágoras de Linhares (FPL), houve
divergência nos resultados da análise das referências bibliográficas em relação à análise
da ementa da disciplina oferecida pela instituição. Ademais, houve incoerência na
comparação da análise das referências bibliográficas básicas da FPL e da Faesa, na
medida em que, sobretudo do ponto de vista de uma análise de “base geográfica”, a
primeira instituição utiliza referências de escolas distintas, enquanto a segunda utiliza
referências de uma única escola (Estudos Brasileiros / Escola Latino-americana).
Suspeita-se, no entanto, que esta divergência nos resultados possa ser explicada pelo
fato de a FPL trabalhar apenas com autores brasileiros em sua bibliografia básica, mas,
em sua bibliografia complementar, indicar autores de outras nacionalidades e de outras
escolas de pensamento – ilação a qual se denota força à medida que se comparam a
ementa e as referências bibliográficas complementares da disciplina oferecida pela
instituição (ver print screens dos planos de ensino, com a bibliografia complementar,
em anexo, ao final do artigo).
De todo modo, é importante que, em um próximo momento, aprofundem-se as
pesquisas a respeito da hipótese de haver uma multiplicidade e uma heterogeneidade, ou
não, de correntes teóricas e de autores no ensino da disciplina Teoria(s) da
Comunicação em nível de graduação no Brasil, a fim de que se consigam certezas
“menos” provisórias do ponto de vista quantitativo, já que, neste trabalho, o número de
instituições analisadas foi pouco expressivo (apenas duas instituições, ressalta-se, por
conta da dificuldade enfrentada pelo pesquisador nas pesquisas de campo realizadas
junto às instituições de graduação em Comunicação Social do Espírito Santo). Neste
sentido, é importante pontuar que a pesquisa indicou a dificuldade metodológica com a
qual os pesquisadores em Comunicação podem se deparar ao trabalhar com a pesquisa
de campo em instituições universitárias do país, as quais, raramente, disponibilizam
informações em sites e/ou portais institucionais.
Por fim, é necessário que se diga que este momento futuro para novas reflexões
acerca das Teoria(s) da Comunicação pode ocorrer quando da comparação entre os
artigos escritos pelos demais alunos da disciplina Teorias da Comunicação, do
Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCOM) da Unesp; artigos nos quais
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– a exemplo deste – analisam-se as ementas e as referências bibliográficas de disciplinas
de Teoria(s) da Comunicação ofertadas por instituições de graduação em Comunicação
Social de todas as cinco regiões do Brasil (Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-
oeste).
Importaria, nestas próximas pesquisas, reflexionar acerca dos benefícios ou dos
malefícios que esta provável multiplicidade de abordagens e de autores pode trazer aos
estudantes de graduação em Comunicação Social do país. Isto é, seria importante
interrogarmo-nos a respeito de como “integrar” (Wolf, 1999, p.58) estas perspectivas
tão difusas no processo de ensino-aprendizagem dos alunos de graduação em
Comunicação Social e, consequentemente, nas pesquisas em Comunicação (às quais
serão produtos destas reflexões teóricas em sala). Ou seja, é preciso optar por uma
vertente, por uma teoria, ou por uma escola de pensamento? Deve-se passar
rapidamente por todas as escolas e teorias da comunicação, para que os alunos se
aprofundem nos autores que mais os interessam, em períodos extraclasse? Enfim, como
sistematizar as Teoria(s) da Comunicação no exercício da docência em nível de
graduação? São questões que podem ser feitas adiante – e que nos auxiliaram nos
questionamentos presentes. Fica o convite às próximas reflexões!
Referências FRANÇA, V. V. Primeiros estudos de Comunicação: breve panorama histórico. In: HOHLFELDT, A. et. al. (Org.). Teorias da comunicação: Conceitos, escolas e tendências. Petrópolis: Vozes, 2001. REIMÃO, S. Teoria ou Teorias da Comunicação. INTERCOM – Rev. Bras. De Com., São Paulo, Vol. XVII, nº 2, pág. 146-170, jul/dez 1994. WOLF, M. Teorias da Comunicação. 1ª ed. 1985. 5ª ed. Lisboa: Editora Presença, 1999.
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Anexos Anexo 1 – Bibliografia Complementar FAESA (print screen da ementa original):
Anexo 2 – Bibliografia Complementar FPL (print screen da ementa original):