uma pequena introspeção sobre as políticas de distribuição de dividendos (relatório)

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       Mestrado em Economia e Administração de Empresas Finanças Empresariais   Uma pequena introspeção sobre as políticas de distribuição de dividendos      Cláudio Carvalho ‐ n.º mecanográfico 200500442     Porto, maio de 2014 

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Maio de 2014 | “Uma pequena introspeção sobre as políticas de distribuição de dividendos”, no âmbito da unidade curricular de Finanças Empresariais do Mestrado em Economia e Administração de Empresas da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP). Autor: Cláudio Carvalho. Avaliação: 16 em 20 valores.

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Page 1: Uma pequena introspeção sobre as políticas de distribuição de dividendos (relatório)

 

 

 

 

 

   

Mestrado em Economia e Administração de Empresas 

Finanças Empresariais 

 

 

Uma pequena introspeção sobre as políticas de distribuição de 

dividendos   

 

 

 

Cláudio Carvalho ‐ n.º mecanográfico 200500442 

 

 

 

 

Porto, maio de 2014 

Page 2: Uma pequena introspeção sobre as políticas de distribuição de dividendos (relatório)

II 

 

Resumo 

O  dividendo  trata‐se  do  pagamento  de  resultados  líquidos  gerados  por  uma  empresa  num 

determinado  período  temporal  e  são  pagos,  geralmente,  em  dinheiro.  Para  se  efetuar  este  pagamento 

devem‐se respeitar alguns procedimentos, nomeadamente atentar para quatro períodos temporais, entre as 

quais a relevante ex‐dividend date. Apesar do enorme estudo das políticas de distribuição de dividendos, não 

existe  consenso científico quanto a esta matéria,  como  se verifica pela apresentação de  seis  teorias. Não 

obstante  esta  diversidade  e  a  falta  de  consenso,  existem  algumas  recomendações  à  escala  nacional  e 

internacional que vão sendo são seguidas pelas empresas. 

     

 

 

Page 3: Uma pequena introspeção sobre as políticas de distribuição de dividendos (relatório)

III 

 

Índice 

Introdução ........................................................................................................................................................... 1 

Conceptualização inicial ...................................................................................................................................... 1 

Conceito de dividendo e diferentes tipos de dividendos ................................................................................ 1 

Cronologia de pagamento de dividendos ........................................................................................................ 2 

As políticas de distribuição de dividendos: a diversidade teórico‐literária......................................................... 3 

Teoria da irrelevância da política de dividendos ............................................................................................. 3 

Teoria da relevância da política de dividendos ............................................................................................... 3 

Teoria residual dos dividendos ........................................................................................................................ 3 

Teoria de preferência tributária ...................................................................................................................... 4 

Teoria de sinalização ....................................................................................................................................... 4 

Teoria de custo de agência .............................................................................................................................. 5 

O normativo nacional, as recomendações e sugestões inerentes ...................................................................... 6 

Outras considerações: a recompra de ações próprias e os dividendos em ações .............................................. 7 

Conclusões ........................................................................................................................................................... 8 

Referências bibliográficas .................................................................................................................................... 8 

 

 

   

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Introdução   

No  âmbito  da  unidade  curricular  de  Finanças  Empresariais  do  Mestrado  em  Economia  e 

Administração  de  Empresas  da  Faculdade  de  Economia  da  Universidade  do  Porto,  apresenta‐se  este 

documento que consubstancia uma breve revisão de  literatura e de cariz marcadamente teórico relativa a 

políticas de distribuição de dividendos. Neste trabalho académico,  inicialmente, apresentar‐se‐ão conceitos 

iniciais  sobre o  significado de dividendo(s) e os  tipos de dividendos existentes,  incluindo  a  cronologia de 

pagamento  dos  mesmos,  seguindo‐se  fundamentos  teóricos  que  alicerçam  as  políticas  de  distribuição. 

Posteriormente,  apresentar‐se‐á  uma  pequena  secção,  onde  que  se  abordará  o  normativo  nacional  e, 

particularmente, as recomendações e sugestões que constam do “Livro Branco sobre Corporate Governance 

em  Portugal”  publicado  em  2006.  Findar‐se‐á  com  algumas  considerações  adicionais  e  com  algumas 

conclusões do trabalho. 

Conceptualização inicial  

Não  se pode deixar de atentar ao  tema  central das  “políticas de distribuição de dividendos”  sem 

deixar de  referir  alguns  conceitos  iniciais, nomeadamente  sobre o  conceito  simplificado de dividendo, os 

tipos de dividendos existentes e a cronologia de pagamento. 

Conceito de dividendo e diferentes tipos de dividendos 

Quando  uma  dada  empresa  procura maximizar  o  seu  valor  e,  em  resultado  disso,  obtém  lucros, 

podem  distribuir  os  resultados  gerados  pelos  acionistas  da  empresa,  incorporar  os  lucros  no(s)  seu(s) 

negócio(s)  através  de  reinvestimento  dos  referidos  lucros  (e.g.  por  via  de  desenvolvimento  de  novos 

projetos,  procurando  reduzir  a  sua  dívida  ou  recomprando  ações),  ou  adotando  ambos  os mecanismos 

(Farinha e Soro 2012:33)1. De forma genérica, habitualmente, o termo “dividendo” é usado para descrever o 

pagamento de resultados líquidos gerados por uma empresa num determinado período temporal (Ross et al. 

2008:435 e Farinha e Soro 2012:34), sendo que os dividendos podem tomar diversas formas, entre as quais 

se  destacam:  (i)  dividendos  regulares:  pagamentos  em  dinheiro  efetuados  diretamente  aos  acionistas, 

durante o curso normal do(s) negócio(s) de uma dada empresa; (ii) dividendos extraordinários: pagamentos 

efetuados a título extraordinário, que podem ou não repetir‐se no futuro; (iii) dividendos especiais: similar 

aos dividendos extraordinários, os dividendos especiais são  indicativos de que o dividendo tem um caráter 

verdadeiramente  invulgar  ou  que  não  se  repetirá  futuramente;  e  (iv)  dividendos  de  liquidação:  são 

pagamentos  de  dividendos  relativos  à  liquidação  de  parte  de  uma  empresa  e  dos  seus  negócios  ou  da 

empresa na sua totalidade (Ross et al. 2008:436). Como reforçaremos mais adiante, “o valor dos dividendos 

                                                            1 Em  linha com estes autores, segundo Ross et al.  (2008:435 e 2008:439), a questão central é se uma empresa deve efetuar o pagamento de dividendos aos seus acionistas ou, alternativamente, deve  investir o resultado  líquido obtido para um dado período económico. 

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é  definido  pelo  conselho  de  administração  da  empresa”  (Brealey  et  al.  2007:416)  ‐  sendo  expresso  em 

unidades  de moeda  por  ação2,  ou  pelo  dividend  yield3  ou  pelo  rácio  de  payout4  ‐,  sendo  que  depois  de 

declarado o dividendo a pagar tal torna‐se uma responsabilidade da empresa e esta não pode ser rescindida 

com facilidade (Ross et al. 2008:436).  

Cronologia de pagamento de dividendos   

Para  efeitos  de  pagamento  de  um  dividendo,  deve‐se  respeitar  alguns  procedimentos  ou 

mecanismos que se associam, essencialmente, a quatro períodos temporais, que podem ser descritos como: 

data de anúncio  (declaration date), ex‐dividend date, data de registo (record date) e a data de pagamento 

(payment date) (Brealey et al. 2007:416‐417 e Ross et al. 2008:436‐437).  

A data de anúncio é a data em que o órgão de gestão ou o conselho de administração passa uma 

resolução para pagar ‐ na data de pagamento ‐ um dividendo (e.g. definido em 1 euro por ação) a todos os 

detentores ou titulares de ações até uma determinada data, designada por data de registo.  

A ex‐dividend date é a data  ‐ segundo a  literatura supra  referida, dois dias úteis antes da data de 

registo ‐ que estabelece e clarifica quem tem direito ao dividendo. Se um  investidor comprar uma ou mais 

ações antes desta data, o acionista  tem direito ao  respetivo dividendo  (diz‐se que a ação é  transacionada 

com dividendo). Alternativamente,  se  o  investidor optar pela  compra depois da  ex‐dividend  date,  será o 

proprietário  anterior  que  obtém  o  devido  dividendo  (diz‐se  que  a  ação  é  transacionada  "ex‐dividend"). 

Atentando à variação de preço antes e depois desta data,  seriam de esperar variações no preço da ação 

associadas ao dividendo pago  (Ross et al. 2008:437‐438). Por exemplo, se  for anunciado um dividendo de 

3,08  dólares  por  ação,  esperar‐se‐ia  um  descida  do  preço  da  ação  na mesma  grandeza,  todavia  há  que 

atentar para as diferenças existentes ao nível da tributação fiscal (nível da tributação e regulamentação) e 

esse decréscimo ser inferior, como é demonstrado pelo exemplo da Microsoft em novembro de 2004 e que 

consta de Ross et al. (2008:438). 

 De  seguida, na data de  registo, ocorre  a preparação da  lista onde  constam os  indivíduos que  se 

acreditam que são os acionistas da empresa. Como faz notar Ross et al. (2008:437), o termo "se acreditam" é 

relevante,  visto  que  a  compra  de  ações  imediatamente  antes  desta  data  pode  não  estar  refletida  nos 

registos da empresa e é por esta razão que está convencionada a existência da ex‐dividend date.  

A última data a considerar é a data de pagamento, em que o pagamento é enviado aos acionistas 

que constam do registo anteriormente referido. 

                                                            2 e.g. dólares ou euros por ação da empresa em causa. 3 Dividend  yield,  ou  ganho  em  dividendos,  é  tido  como  o  "valor  dos  dividendos  pagos  aos  acionistas  comuns,  nos anteriores 12 meses, dividido pelo valor de mercado no final do mês anterior" (Fernandes et al. 2013:414). 4 Rácio de payout, payout ratio ou, por vezes, meramente payout refere‐se à proporção ou percentagem dos resultados líquidos que são distribuídos aos acionistas sob a forma de dividendo (Silva et al. 2006:128 e Fernandes et al. 2013:510). 

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As políticas de distribuição de dividendos: a diversidade teórico‐literária 

A adoção de políticas de distribuição de dividendos não são uniformes e não estão “rodeadas” de 

consenso  científico  (Barreto 2011:13), pelo que  "a  literatura oferece um  conjunto diverso de  teorias que 

tentam explicar o comportamento das empresas em termos da sua política de dividendos" (Barreto 2011:4), 

nomeadamente as seguintes: (i) teoria da  irrelevância da política de dividendos; (ii) teoria da relevância da 

política de dividendos; (iii) teoria residual dos dividendos; (iv) teoria de preferência tributária; (v) teoria de 

sinalização; (vi) teoria de custo de agência. De seguida, atentar‐se‐á um pouco mais detalhadamente a cada 

uma destas teorias. 

Teoria da irrelevância da política de dividendos   

Segundo  a  teoria  da  irrelevância  da  política  de  dividendos,  advogada  por Miller  e Modigliani,  a 

política de dividendos é irrelevante para determinar o valor de mercado de uma empresa, sendo que o valor 

depende apenas do potencial de geração futuro de cash‐flow e do risco associado a este mesmo cash‐flow 

(Barreto 2011:9). Todavia, esta teoria foi desenvolvida numa  lógica de mercado perfeito, considerando um 

mundo sem impostos, sem custos de transação ou outras imperfeições de mercado (Brealey et al. 2007:422 

e Ross et al. 2008:451) e, ainda, sob os pressupostos de que os investidores têm expetativas homogéneas e 

de que as decisões relativas ao pagamento de dividendos não influenciam as decisões de financiamento e de 

investimento (estas são definidas de forma antecipada) (Barreto 2011:5). Esta teoria "é, de uma forma geral, 

aceite  como  correta, e a preocupação passou a  ser outra,  [isto é:] até que ponto os  impostos ou outras 

imperfeições de mercado podem alterar a situação" (Brealey et al. 2007:422). 

 

Teoria da relevância da política de dividendos   

De  acordo  com  a  teoria da  relevância da política de dividendos,  também denominada  “teoria do 

pássaro na mão”  ‐ defendida por  John Lintner e outros  ‐, advoga que deve ser executada uma política de 

distribuição de dividendos generosa pois esta maximiza o valor de mercado da empresa, fruto da redução da 

incerteza  dos  investidores  face  à  possibilidade  de  obterem  um  rendimento  garantido,  em  prejuízo  dos 

ganhos de capital que são de caráter mais incerto (Barreto 2011:9). 

 

Teoria residual dos dividendos 

Por  sua  vez,  a  teoria  residual  dos  dividendos  advoga  que  só  se  procede  a  uma  determinada 

distribuição de dividendos, após as oportunidades de investimento serem atendidas ‐ i.e. projetos com valor 

atual  líquido positivo  (doravante apenas VAL)  ‐ e que maximizem o valor da empresa, pelo que apenas o 

resultado  líquido  remanescente pode ser distribuído como dividendo  (dito  residual)  (Ross et al. 2008:444; 

Barreto 2011:6; Barreto 2011:9). Logo, "enquanto as necessidades de capital da empresa excederem o valor 

do  lucro  gerado pela mesma, nenhum dividendo  em dinheiro deve  ser pago"  (Barreto  2011:6).  Sob  esta 

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abordagem, o objetivo da empresa é satisfazer as suas necessidades de  investimento e manter a desejada 

relação  passivo‐capital  próprio  (endividamento)  antes  do  pagamento  de  dividendos,  pelo  que,  sob  este 

objetivo,  é  expectável  que  aquelas  empresas  com muitas  oportunidades  de  investimento  paguem  uma 

percentagem menor  dos  seus  resultados  líquidos  em  dividendos  e  o  inverso  ocorra  nas  empresas  com 

menos  oportunidades  de  investimento  (Ross  et  al.  2008:444).  Segundo  os mesmos  autores,  tal  ocorre 

efetivamente: empresas com um rápido crescimento aplicam um rácio de payout mais baixo e as empresas 

com maior  tempo  de  atividade  e menores  taxas  de  crescimento  em  indústrias  em  fases  de maturidade, 

aplicam um rácio de payout superior. 

Teoria de preferência tributária 

Na  teoria  da  preferência  tributária  o  foco  é  dado  ao  tratamento  fiscal  diferenciado  entre  os 

dividendos  pagos  e  os  ganhos  de  capital  realizados  (Barreto  2011:6)  e  a  tendência  legislativa,  à  escala 

mundial, é de favorecer os ganhos de capital, i.e. a tributação é maior sobre os dividendos relativamente às 

mais‐valias  bolsistas,  como  referem  Brealey  et  al.  (2007:432)  e  Barreto  (2011:6).  Segundo  os  mesmos 

autores, importa ainda atentar para o facto de ser possível diferir o pagamento de impostos resultantes das 

mais‐valias de capital (i.e. efetuar o pagamento de imposto, apenas, quando os acionistas decidirem vender 

as ações que possuem e daí resultarem ganhos de capital) face aos  impostos sobre os dividendos que têm 

que  ser  pagos  no  "imediato".  Em  suma,  esta  teoria  "defende  que  a  remuneração  dos  acionistas  deve 

prioritariamente ser assegurada através da apreciação do valor de mercado das ações pois  tal minimiza a 

carga  fiscal  a  incidir  sobre  os  acionistas  e  logo  aumenta  a  remuneração  líquida  dos mesmos"  (Barreto 

2011:9). Assim, se a tributação sobre os dividendos for superior à tributação sobre os ganhos de capital, as 

políticas de distribuição de dividendos deverão assentar em  rácios de payout baixos; em alternativa,  se a 

tributação  sobre  os  ganhos  de  capital  for  superior  à  imposta  sobre  os  dividendos,  o  que  pode  ocorrer 

associado a benefícios jurídico‐fiscais, as empresas deverão priorizar rácios de payout mais elevados (Ross et 

al. 2008:441‐443). 

Teoria de sinalização 

Esta  teoria advoga que os dividendos possuem  "conteúdo  informativo", que podem  influenciar as 

decisões tomadas pelos  investidores  (Barreto 2011:10). Brealey et al.  (2007:419) assinalam o secretismo e 

tendência  para  se  estabelecerem  organizações  empresariais  com  vários  níveis,  a  opacidade  existente  na 

informação  emitida  pelas  empresas,  em  alguns  países,  assim  como  a  existência  de  mecanismos  de 

"contabilidade criativa", que  fornecem uma  imagem de uma certa  insignificância  sobre os dados  relativos 

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aos  lucros e ativos. Neste sentido e sobretudo numa perspetiva de  longo prazo5, os  investidores guiam‐se 

pelas  políticas  de  distribuição  de  dividendos.  Os  gestores  podem,  assim,  também  utilizar  a  política  de 

dividendos para sinalizar ao mercado as suas perspetivas sobre a evolução da(s) empresa(s) e com o intuito 

de maximizar  o  valor  de mercado  da(s)  empresa(s)  (Barreto  2011:7).  Assim,  um  aumento  no  valor  dos 

dividendos  transmite que  os  gestores  estão  confiantes quanto  à  capacidade da  empresa  gerar  cash‐flow 

futuramente, o que é  tido pelo mercado como uma "boa notícia" e que  resulta, consequentemente, num 

aumento no valor da empresa; por sua vez, uma redução no valor de dividendos, proporciona o inverso do 

exposto  (Brealey et al. 2007:419 e Barreto 2011:7). Brealey et al.  (2007:420) destacam que os estudos de 

Healey e Palepu –  relativos a empresas que distribuíam dividendos pela primeira vez  ‐ mostraram que os 

anúncios  de  aumentos  de  dividendos  tiveram  um  aumento  de  4%  no  preço  das  ações,  ao  passo  que  as 

empresas que “deixaram” de pagar dividendos tiveram uma descida de 9,5% no preço das suas ações, sendo 

que os lucros reduziram‐se nos quatro trimestres seguintes. Os mesmos autores destacam, todavia, que “os 

investidores não costumam ficar muito excitados com o nível do dividendo pago por uma empresa [e] que 

ficam mais preocupados com a mudança, que consideram ser um indicador importante da sustentabilidade 

dos  lucros”  (Brealey et al. 2007:420), sendo  feita a ressalva que tal não acontece em  todos os países  (e.g. 

Japão, onde a relação entre gestores e acionistas é tida como mais próxima e a informação mais partilhada6). 

Teoria de custo de agência 

Uma relação de agência é tida como uma contratualização em que uma ou mais pessoas (o principal 

ou principais) "delegam" a realização de um determinado serviço, em nome delas, ao(s) agente(s) (que toma 

decisões  em  nome  do  principal)  (Jensen  e Meckling  1976:5).  Segundo  os mesmos  autores,  se  ambas  as 

partes ‐ i.e. agente(s) (gestores) e principal ou principais (acionistas) ‐ procurarem maximizar a utilidade de 

cada  um,  pode‐se  admitir  que  o  agente  nem  sempre  atuará  no  sentido  de  salvaguardar  os  melhores 

interesses  do  principal,  resultando  em  problemas  de  conflitos  de  interesses  ou  de  conflitos  de  agência 

(Jensen e Meckling 1976:12 e Barreto 2011:8). Deste conflito resultam os chamados custos de agência e são 

definidos como: (i) os monitoring expenditures, isto é, os custos de monitorização da atividade dos agentes 

pelo  principal  (incluindo  os  esforços  no  sentido  de  controlar  o  comportamento  do  agente  por  via  de 

restrições  orçamentais,  políticas  compensatórias  e  estabelecimento  de  regras  de  funcionamento);  (ii)  os 

                                                            5 vd. "(...) A curto prazo, as empresas podem fazer batota,  inflacionando os  lucros e arranjando fundos para pagarem um  dividendo  generoso. Mas  é  difícil  fazer  batota  durante muito  tempo.  Uma  que  não  esteja  a  ganhar  dinheiro suficiente não  terá  fundos para distribuir. Se uma empresa escolher um  rácio elevado de distribuição de dividendos sem  ter  fluxos  de  tesouraria  a  sustentá‐los,  acabará  inevitavelmente  por  ter  de  diminuir  os  seus  planos  de investimentos ou tentar obter financiamento através de investidores, emitindo novas obrigações ou ações. Todas essas consequências saem caro. Por isso, a maior parte dos gestores não aumenta os dividendos enquanto não tiver a certeza que irá ter fluxos de tesouraria suficientes para os pagar." (Brealey et al. 2007:419) 6 Vd. “(…) As empresas japonesas estão mais inclinadas a reduzir os seus dividendos quando há uma quebra nos lucros, mas os investidores não fazem o preço das ações cair tanto como nos EUA” (Brealey et al. 2007:420) 

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bonding  costs  (ou  bonding  expenditures),  tido  como  os  custos  realizadas  pelo  agente  para  garantir  que 

certas ações não vão prejudicar o principal ou para assegurar que o principal será compensado se o agente 

tomar  decisões  prejudiciais;  (iii)  perdas  residuais  (residual  loss),  concebidas  como  as  demais  perdas 

decorrentes da  redução de bem‐estar do principal  resultante da divergência de  interesses entre agente e 

principal  (Jensen  e  Meckling  1976:5‐6).  Perante  este  enquadramento,  a  política  de  dividendos  pode 

promover a minimização de conflitos de agência, visto que as empresas com um  free cash‐flow elevado e 

reduzida necessidade de  financiamento de projetos criadores de valor têm tendência para tomar decisões 

ineficientes  (Barreto  2011:8).  Perante  o  exposto,  para  reduzir  os  custos  de  agência,  é  recomendável  a 

adoção  de  um  rácio  de  payout  mais  elevado,  minimizando  o  custo  de  capital  próprio,  e,  portanto, 

maximizando  o  valor  de mercado  de  uma  determinada  empresa  (Barreto  2011:8).  Não  obstante,  como 

salienta Barreto (2011:8‐9), podem derivar daqui outros conflitos e inerentes custos de agência, desta feita 

entre  credores  ‐ que preferem  a  retenção de  resultados  ‐  e  acionistas  ‐ que preferem  a distribuição. Na 

senda deste conflito, poderá aumentar o custo de capital alheio da empresa e reduzir‐se, por  inerência, o 

seu valor de mercado. Daqui resulta a necessidade de conciliar‐se a definição de rácios de payout de forma 

adequada e atendendo às diferentes realidades empresariais existentes. 

O normativo nacional, as recomendações e sugestões inerentes 

O regulamento n.º 07/2001 da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) consagra que 

as  sociedades  devem  descrever  as  suas  políticas  de  distribuição  de  dividendos  nos  Relatórios  sobre  o 

Governo da Sociedade (Silva 2006:128): 

"Artigo 1.º  Informação sobre práticas de Governo das Sociedades  1.  As  sociedades  emitentes  de  acções  admitidas  à  negociação  em mercado  regulamentado,  sujeitas  a  lei pessoal portuguesa, devem publicar, em capítulo, elaborado especificamente para o efeito, do relatório anual de gestão ou em anexo a este relatório, um relatório sobre as práticas de governo societário de onde constam:  [...] f) Descrição da política de distribuição de dividendos adoptada pela sociedade;" 7 

 

Atente‐se  que  o  “Livro  Branco  sobre  Corporate  Governance  em  Portugal”  considera  que  a 

distribuição  de  dividendos  "deve  ocorrer  sempre  que  se  registem  resultados  positivos  e  a  empresa  não 

tenha  oportunidades  de  investimento  suficientemente  atrativas"  (Silva  et  al.  2006:160).  O  mesmo 

documento  recomenda  que  os  conselhos  de  administração  das  empresas  submetam  à  aprovação,  das 

respetivas  assembleias  gerais,  uma  política  de  dividendos  de  horizonte  temporal  de  longo  prazo. 

Concomitantemente,  é  sugerido  que  eventuais  alterações  sejam  submetidas  às  assembleias  gerais,  com 

justificativos detalhados sobre "quais os objetivos de investimento e as perspetivas de rentabilidade sempre 

                                                            7  vd.  Regulamento  da  CMVM  n.º  7/2001,  relativo  ao  "Governo  das  Sociedades  Cotadas",  em 

http://www.cmvm.pt/CMVM/Legislacao_Regulamentos/Regulamentos/2001/Documents/bebc67751c1e4df29cef171284e08a32Regulamento07_2001.pdf. 

 

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que  se  trate  de  distribuir  dividendos  em  nível,  relativo  ou  absoluto,  inferior  ao  previsto"  (Silva  et  al. 

2006:160).  Pode‐se,  então  afirmar  que  aqui  se  observam  alguns  dos  desígnios  referentes  às  diferentes 

correntes  teórico‐literárias  que  se  apresentou  no  ponto  anterior.  Tal  vem  também  em  linha  com  o 

consagrado  em  Ross  et  al.  (2008:445‐446)  de  que,  na  prática, muitas  empresas  parecem  seguir  alguns 

princípios ou objetivos de base quando assumem uma determinada política de dividendos, nomeadamente: 

(i)  evitam  reduzir  investimentos  com  VAL  positivo  –  i.e.  oportunidades  de  investimento  atrativas  como 

também  se  viu  pela  análise  do  “Livro  Branco  sobre  Corporate Governance  em  Portugal”  ‐  para  efetuar, 

alternativamente, pagamento de dividendos;  (ii) evitam “cortes” nos dividendos; evitam a necessidade de 

vender capital próprio; (iv) procuram manter um rácio de (endividamento) passivo‐capital próprio adequado, 

definido  e  assente  num  objetivo  de  longo‐prazo;  (v)  e  procuram  igualmente,  também,  manter  um 

determinado  target quanto ao  rácio de payout. Os mesmos autores  salientam, ainda, que uma  forma de 

minimizar a  instabilidade associada ao pagamento de dividendos é  recorrendo a um mix de aplicação de 

algumas  das  tipologias  de  dividendo  que  foram  até  apresentadas,  anteriormente,  neste  documento: 

dividendos regulares  (em menor proporção) e dividendos extraordinários  (em maior expressão, sobretudo 

quando os lucros aumentam mas de forma que se considera temporária). 

Ainda no nível normativo, apesar de não se ter a possibilidade de detalhar a temática neste trabalho, 

não se poderia deixar de assinalar para a  importância de se atentar para o disposto nos artigos 31.º, 32.º, 

33.º, 217.º, 294.º e 297.º do Código das Sociedades Comerciais. Respetivamente, os artigos dizem respeito a: 

"deliberação de distribuição de bens e o seu cumprimento"; "limitação da distribuição de bens aos sócios"; 

"lucros e reservas não distribuíveis"; "direito aos lucros do exercício" em sociedades por quotas; "direito aos 

lucros  do  exercício"  em  sociedades  anónimas;  e,  por  fim,  "adiantamentos  sobre  lucros  no  decurso  do 

exercício". 

Outras considerações: a recompra de ações próprias e os dividendos em ações 

Como consideração adicional,  importa ainda referir que as empresas podem utilizar os fundos para 

recomprarem as suas próprias ações, ao invés de pagarem dividendos (que é, geralmente, feito em dinheiro) 

aos  seus  acionistas,  sendo  que  estas  ações  readquiridas  podem  ser mantidas  em  carteira  e  revendidas 

quando a empresa o necessitar (Brealey et al. 2007:417 e Ross et al. 2008:446). Neste sentido, ocorre uma 

diminuição do número de ações disponíveis ou em circulação no mercado (face a uma situação em que se 

distribuem  dividendos)  e  ocorre  um  aumento  da  cotação  da  ação.  Para  realizar  esta  recompra,  existem 

quatro  métodos  que  se  destacam:  (i)  anunciar  a  intenção  de  recomprar  ações  no  mercado  como  um 

qualquer  outro  investidor;  (ii)  através  de  uma  oferta  pública  de  recompra;  (iii)  leilão  holandês  (dutch 

auction); (iv) negociação direta com um acionista  importante (Brealey et al. 2007:417). Esta estratégia tem 

também efeito de sinalizar a confiança do(s) gestor(es) no  futuro da empresa, sendo que existe evidência 

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que  relaciona o  anúncio de  recomprar  ações  acima do preço de mercado  e  a  subida do preço de  ações 

(Brealey et al. 2007:420‐421). Referência final para a existência de dividendos pagos em ações, sendo que o 

seu  efeito  é  aumentar  o número  de  ações  de  cada  acionista,  valendo  cada  uma menos, mas  o  valor de 

mercado da empresa mantém‐se (Ross et al. 2008:448‐449). 

Conclusões   Como  se  constatou  não  existe,  de  facto,  consenso  científico  e  uma  teoria  unificada  quanto  às 

políticas de distribuição de dividendos, pelo que, geralmente, as empresas seguem algumas práticas, entre 

as  quais:  não  prejudicar  investimentos  com  VAL  positivo  para  efetuar  distribuição  de  dividendos;  evitar 

"cortes" nos dividendos; evitar a venda de capital próprio; manter níveis de endividamento adequados no 

longo‐prazo; e seguir um determinado rácio de payout. Os dividendos são pagos, geralmente, em dinheiro 

mas as empresas também recorrem a mecanismos de pagamento de dividendos em ações ou à recompra de 

ações  próprias.  Concomitantemente,  as  teorias  não  devem  ser  vistas  isoladamente  e,  portanto,  deve‐se 

atender à situação particular de cada empresa (e.g. oportunidades de investimento disponíveis, ciclo de vida 

da empresa e da  indústria onde  se  insere,  conflitos de agência, etc.) e do ambiente onde  se  insere  (e.g. 

regime tributário) e aplicar, consequentemente, a política que melhor se ajuste. 

Referências bibliográficas 

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das  empresas  cotadas  na  Euronext  Lisbon  ‐  Portugal.  Universidade  do  Algarve,  Faculdade  de 

Economia.  Dissertação  de  mestrado.  Acedido  a  6  de  maio  de  2014,  em 

http://hdl.handle.net/10400.1/2110.  

Brealey, R. A.; Myers,  S. C.; Allen,  F.  (2007); Princípios de  Finanças Empresariais. McGraw‐Hill. 8ª 

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Farinha, J.; Soro, M. (2012). Dividendos e Recompra de Ações: da teoria à prática. Vida Económica. 

Fernandes, A. L. C.; Mota, P. R.; Alves, C. A.; Rocha, M. D. (2013). Mercados, Produtos e Valorimetria 

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