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UMA PROPOSTA DE MODELAGEM E
GESTÃO DE PROCESSOS DE NEGÓCIO
DE SISTEMAS PRODUTO SERVIÇO
Fernanda Hansch Beuren (UFSC)
Cristiano Tolfo (UFSC)
Marcelo Gitirana Gomes Ferreira (UFSC)
Aguinaldo dos Santos (UFPR)
A concepção de produtos e modelos de negócio com apelo ecológico e
sustentável tem sido foco de atenção nos âmbitos acadêmico e
empresarial, o mesmo ocorre nos demais setores da sociedade que
englobam os potenciais clientes e consumidores. Neste contexto,
iniciativas de sistemas produto serviço (PSS) tem se apresentado como
uma alternativa a formulação de modelos de negócio que considerem o
consumo racional e as questões ecológicas. Por outro lado, tem-se
ressaltado que ao atentar para estas questões, os setores produtivos
devem considerar inclusive a viabilidade técnica e econômica do
empreendimento, pois não basta uma alternativa ser ecologicamente
correta se não é viável técnica ou economicamente. Neste sentido, o
presente trabalho propõe a investigação de técnicas e conceitos da
gestão e modelagem de processos de negócio como uma ferramenta
auxiliar na modelagem de sistemas produto-serviço tendo em vista a
verificação da viabilidade em questão. A partir desta proposição, são
apresentadas representações de um sistema produto-serviço em
técnicas de modelagem de PSS e de modelagem de processos de
negócio.
Palavras-chaves: Sistemas Produto Serviço, Sustentabilidade,
Modelagem de Processos de Negócio.
XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.
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1. Introdução
Desde a Revolução Industrial, onde o crescimento econômico mostrou perspectivas de
geração de riquezas e maior qualidade de vida pela aquisição de produtos que tornam a vida
mais prática (DIAS,R; ZAVAGLIA,T; CASSAR,M, 2003), empresas competem para
conquistar clientes através de produções elevadas de produtos para atingir custos competitivos
e facilidades nas aquisições. Com isso, o consumo de bens materiais vem degradando o meio
ambiente e causando impactos ambientais preocupantes para a sociedade que tenta buscar
alternativas para minimizar este problema, como o design para a sustentabilidade, que
apresenta atividades para o desenvolvimento de produtos e serviços sustentáveis. (MANZINI,
VEZZOLI, 2002). Contudo, de acordo com Mont (2002), as questões ambientais não tem sido
devidamente tratadas no contexto da sustentabilidade. Mont(2002) relaciona a crescente
degradação do meio ambiente a três tendências que agravam esta situação: a superpopulação,
que excede cerca de 30% da capacidade regenerativa do planeta e continua crescendo (WWF,
2008), a desordenada exploração de recursos naturais, apresentando contínuas agressões ao
meio ambiente e o crescente consumo, que com a exploração dos recursos da natureza
apresenta um déficit ecológico em vários países e que com as quantidades elevadas de
produtos fabricados, mais produtos são descartados no meio ambiente. Associado a este
problema está a baixa equidade ambiental no planeta, caracterizado pela severa diferença de
padrões de consumo. No Brasil, com a redução da desigualdade econômica tem-se o desafio
de conduzir a camada ascendente da população para patamares mais elevados de
sustentabilidade, sem passar pelos mesmos erros observados no processo de consumo das
faixas de renda mais elevadas.
Considerando as tendências de desordenada exploração de recursos naturais e de crescente
consumo, entende-se que não basta reduzir a exploração de matérias-primas do meio
ambiente, estender a vida do produto, reutilizá-lo ou reciclá-lo, mas sim, desenvolver
produtos e serviços adequados ao estilo de vida sustentável (TISCHNER; VERKUIJL, 2006).
É necessário desenvolver novos modelos de negócio permitindo com que os clientes vivam
melhor consumindo menos.
Para isso, propõe-se a mudança no comportamento social por meio dos sistemas produto-
serviço (PSS), o qual apresenta uma estratégia de negócio com foco na desmaterialização de
produtos, oferecendo a satisfação e não necessariamente propriedade física material (UNEP,
2004). Com isso, ocorre a redução dos impactos ambientais e melhor qualidade de vida dos
consumidores. Todavia, cabe ressaltar que apesar do potencial viés de sustentabilidade
vislumbrado em aplicações de PSS, o tema é recente e ainda dispõe de poucos trabalhos
científicos quando comparado com o desenvolvimento de produtos sustentáveis (MONT,
2002). Alguns métodos tem sido propostos para projetar PSSs, porém os mesmos apresentam
poucos estudos de caso publicados. (BAINES et al, 2007)
Diante da crescente atenção a questões que envolvem a produção e o consumo sustentável,
aliada à potencialidade das aplicações PSS configurarem alternativas para a concepção de
serviços e produtos que vão ao encontro dos princípios da sustentabilidade, este artigo
apresenta uma proposta de verificação da modelagem e gestão de processos de negócio como
uma forma de auxiliar na concepção, representação e aplicação de PSSs. A partir desta
proposta, elegeu-se para a análise uma metodologia de concepção de sistemas PSS e uma
técnica de modelagem de processos de negócio para verificar-se a possível
complementaridade entre as diferentes abordagens e os potenciais ganhos com a aplicação
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conjunta no âmbito dos PSSs.
2. Sistemas produto-serviço (PSS)
Mont (2002) afirma que a economia dos produtos se deslocou para os serviços há mais de 40
anos, tendo Becker (1962) como percursor. Pesquisas foram desenvolvidas sobre o
deslocamento da economia baseada na aquisição de produtos para a economia baseada na
utilização dos mesmos, propondo a redução de material por unidade de serviço.
Tradicionalmente produtos estão separados de serviços, no entanto Morelli (2002) apresenta
uma convergência na evolução destes fatores, os quais vão do “produto puro” , onde a
propriedade e custos de manutenção são do usuário, ao “serviço puro”, onde a função é
oferecer apenas o serviço.
Goedkoop et al (1999) define sistemas produto-serviço (PSS) no artigo “Product Service-
Systems – Ecological and Economic Basics”, onde o autor associa o conceito de PSS com um
sistema que possui uma infra-estrutura de produtos, serviços e interação entre stakeholders
com o objetivo de satisfazer os usuários através do valor de uso e minimizar o impacto
ambiental. Alguns autores como Brandsotter (2003), Manzini e Vezzoli (2003) e Unep (2004)
dizem que o PSS é uma estratégia de inovação, tornando-o um modelo de negócio de
destaque entre outros modelos de negócio tradicionais.
Os atuais modelos de negócio como produção sob encomenda, produção em lotes e produção
contínua oferecem o produto onde o mesmo é de propriedade e responsabilidade do
consumidor. O sistema produto-serviço busca a desmaterialização do consumo, novas formas
de atender o cliente e satisfazê-lo cumprindo suas necessidades (HALEN, VEZZOLI e
WINNER, 2005). Consequência do PSS é a minimização do impacto ambiental, pois são
retirados menos recursos ambientais para a fabricação dos produtos e são fabricados,
utilizados e descartados menos produtos no meio ambiente. O PSS tem potencial para ser uma
solução mais sustentável, mas não tem nada que comprove. (MANZINI e VEZZOLI, 2002).
Pesquisas estão sendo desenvolvidas para verificar esta hipótese.
Analisando o contexto atual sobre sistemas produto-serviço, verifica-se na literatura poucas
informações sobre ferramentas e metodologias bem desenvolvidas para representar o PSS na
prática. A seguir, no item 3.1 apresenta-se alguns estudos já realizados que necessitam
contribuições de autores de diferentes áreas como engenharia e design para maior
conhecimento sobre a utilização do PSS na prática
2.1 Metodologias e ferramentas para o desenvolvimento de sistemas produto-serviço
Foi identificado que sistemas produto-serviço apresentavam potencial para contribuir para o
desenvolvimento sustentável e para a competitividade, levando a União Européia, com apoio
do 5º Framework Programme (FP5), a investir no tema entre o ano de 1998 e 2004. Uma
variedade de projetos de pesquisa e metodologias para o desenvolvimento de PSS foram
apoiados pelos mesmos, os quais tinham como objetivo atingir prioridades em pesquisa e
desenvolvimento tecnológico, conforme Tukker e van Halen (2003). Formou-se então uma
rede de parceiros de empresas européias e instituições de pesquisa apresentando para a
indústria o novo negócio de transferir produtos para serviços. Denominou-se este grupo de
SUSPRONET (Sustainable Product Development Network), que possuía a responsabilidade
sobre os métodos iniciais para PSS.
Entre as metodologias mais disseminados encontram-se:
2.1.1 PROSECCO (Product & Service Co-design)
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Um dos objetivos é uma metodologia para gerenciar o desenvolvimento de sistemas produto-
serviço (PSS). Destinada a gestores que queiram implementar o PSS no processo de
desenvolvimento em sua empresa (TUKKER; TISCHNER, 2004). Possui um kit de
ferramentas de apoio para as empresas chamado de ID ProSer (Integrated design of products
and services) composta por três módulos conforme Tukker e Tischner (2004):
Módulo de reconhecimento de oportunidade: Contribui na identificação de novas
oportunidades no mercado, tendências, novas idéias para a redefinição da estratégia para a
empresa.
Processo de implementação do módulo: Apóia na redefinição do processo de inovação
da empresa, tornando-o adequado para o desenvolvimento de novas soluções de produtos e
serviços integrados.
Módulo de diagnóstico: Apresenta uma interação com ambos os módulos anteriores e tem
como objetivo determinar as necessidades das empresas.
A metodologia desenvolvida é genérica para o desenvolvimento de produtos, serviços e PSS.
Pode-se obter apenas um produto ou um serviço, mas direciona o usuário para o PSS, focando
na inovação e direcionando para ser utilizado nas empresas. A metodologia apresenta
soluções a curto prazo e uma plataforma on-line para auxílio às empresas na execução do
processo de desenvolvimento.
2.1.2 HICS (Highly Customerised Solutions)
Seu principal objetivo é fornecer soluções de valor agregado para produtos e serviços, tendo
como base a busca por inovações que atendam as necessidades específicas de cada cliente
respeitando suas questões culturais, contribuindo para a melhor qualidade de vida da
sociedade. As soluções são adquiridas através do envolvimento dos atores produtivos, os
quais conduzem o projeto de forma integrada. As ferramentas para o desenvolvimento dos
sistemas que representam as soluções baseadas em parcerias são apresentadas por Manzini et
al. (2004) e Jégou e Joore (2004).
2.1.3 MEPSS (Methodology for Product Service System)
O MEPSS é uma metodologia para o desenvolvimento de PSSs proposta por Halen, Vezzoli e
Wimmer (2005) e proposições de Vezzoli (2008) para sistemas sustentáveis. Tem como
objetivo implementar novas oportunidades de negócio para empresas através do
desenvolvimento de novos produtos e serviços relacionados com os negócios da empresa,
oferecendo qualidade para os consumidores e ao mesmo tempo minimizando os impactos
ambientais. Conforme Tukker e Tischner (2004), como o assunto é relativamente novo, tem
sido discutido e submetido a testes e workshops para refinar suas ferramentas e estrutura.
Alguns exemplos de trabalhos realizados no Brasil: SAMPAIO (2008) e SILVA (2010).
Através do endereço eletrônico (http://www.mepss.nl) e de um manual, pode-se entender o
MEPSS onde ambos introduzem o conceito e instrumentos relevantes à uma abordagem para
sistemas produto-serviço (PSS). As ferramentas e procedimentos são pouco aplicados na
prática. As principais fases do MEPSS que compõem a metodologia são (Figura 1):
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Figura 1: Etapas do modelo MEPSS. Fonte: MEPSS (2010).
Fase 1- Análise estratégica: mapeamento do sistema original da empresa (mercado,
produção, ciclo de vida do produto, pontos fortes e fracos). O objetivo é criar novos
negócios baseados no PSS;
Fase 2- Explorando oportunidades: identificação de possíveis rotas de inovação em PSS:
geração de novas idéias, elaboração de cenários de cadeia de valor, aumento do
engajamento dos stakeholders internos e externos no processo, gestão da geração de idéias,
seleção de processos e coleção de idéias propostas;
Fase 3- Desenvolvimento do conceito do PSS: desenvolvimento da idéia de PSS,
selecionada na fase anterior. Os principais resultados desta fase são: o mapa do sistema de
stakeholders, o diagrama de funcionalidades do PSS, a tabela de interação e avaliação da
sustentabilidade, a visualização da lucratividade e o impacto da idéia;
Fase 4- Desenvolvimento do design PSS: consiste em detalhar o design de cada dimensão
do PSS e a elaboração das especificações para a implementação do mesmo;
Fase 5- Implementação: o projeto de PSS é colocado em prática, no entanto requer
administração e controle pois o mesmo é composto por processos com fluxos contínuos.
As fases propostas pelo MEPSS podem ser aplicadas na íntegra e sequencialmente ou
elegendo-se apenas uma fase específica tal como a de exploração de novas oportunidades. A
metodologia é composta de um conjunto de 23 ferramentas de apoio a elaboração de cenários
de PSS. Dentre estas ferramentas destaca-se o System map, que é direcionado a representação
de um cenário de PSS por meio de uma linguagem de representação própria e apresentado na
próxima subseção.
2.1.3.1 Ferramenta System Map
O System map é uma representação do sistema de atores do PSS, sendo utilizada em cada fase
da metodologia MEPSS. Na fase de análise estratégica é utilizada para mapear o sistema atual
e as fases seguintes é usada para representar o sistema PSS novo.
A ferramenta é projetada para ser usada por qualquer pessoa do desenvolvimento, pois não
necessita habilidades gráficas, somente uma biblioteca no power point com ícones pré-
desenvolvidos. Cada ator é representado por um ícone:
FORMA DESCRIÇÃO ATOR (FIGURA)
Estrutura
modular
Representa o
tipo de
instituição do
autor
Empresa Industrial Empresa de serviços Loja local
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Casa coletiva Instituição pública Associação local
Casa individual etc.
Atores
primários
Ícones
maiores que os
atores
secundários
Atores
secundários
Ícones
menores
Biblioteca de
caracterização
de ícones
Pictogramas
para
caracterizar
os atores das
atividades
etc.
Estruturas
montadas
Processo de
construção dos
ícones + + fornecedor de comida biodegradável =
fornecedor de comida biodegradável
Fluxos
representados
por setas
Fluxo de
material
Fluxo de
informação
Fluxo
financeiro
Fluxo de
trabalho
Tabela 1: Ícones do System Map. Fonte: MEPSS (2010).
A Tabela 1 apresentou alguns ícones utilizados para o desenvolvimento de PSSs através da
ferramenta system map. Segue na Figura 2 um exemplo de um cenário PSS com os ícones
comentados anteriormente:
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Figura 2: Exemplo de um cenário PSS utilizando a ferramenta system map. Fonte: MEPSS (2010).
A Figura 2 é um cenário PSS utilizando a ferramenta system map. Nele, o cliente está se
tornando fiel à empresa, adquirindo o serviço personalizado de móveis corporativos para seu
ambiente, sem preocupar-se com manutenção, re-utilização ou descarte. Para isso, ele paga
uma mensalidade e adquire o serviço.
O cliente entra em contato com o atendimento que por sua vez encaminha um vendedor até o
cliente para verificar suas necessidades. Com o projeto pré-definido, o vendedor solicita o
projeto, o orçamento e informa o cliente sobre os mesmos. Aprovado o projeto e orçamento, é
feito o pedido para a indústria, a qual desenvolve os produtos a partir da matéria-prima
adquirida e encaminha junto de montadores o pedido. Após utilização do serviço, o cliente
entra em contato com o atendimento da empresa e solicita renovação do contrato ou finaliza o
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mesmo. Os móveis são encaminhados para a assistência técnica que faz a manutenção,
atualização, reparação e envia novamente para o cliente anterior ou para novos clientes. Caso
alguma material não possa ser reparado, é enviado para a coleta de lixo reciclável.
O cenário exemplificado é para mostrar como utilizar a ferramenta system map no
desenvolvimento de um PSS, com objetivo de facilitar o entendimento entre os envolvidos no
negócio. Com ela, os stakeholders podem visualizar de forma clara a situação que está sendo
analisada para então buscar melhorias.
Com isso, optou-se em utilizar o system map nesta pesquisa, para contribuir para o
desenvolvimento de processos de negócio PSS.
3. Modelagem de processos de negócios (BPM)
Para uma melhor compreesão de modelagem de processos de negócios é importante entender
o que é modelo. Para Vernadat apud Souza et al (2009), modelo é uma forma de representar
algo formalmente, através de maquetes, fluxogramas, desenhos e mesmo através da escrita.
Pidd (1998) afirma que as características desejáveis em um modelo é se tornar uma
ferramenta para servir de suporte ao raciocínio, não somente para registrar todas as
informações mas também para incentivar o raciocínio a organizar da melhor maneira o
processo de modelagem da empresa.
Entretanto, é importante entender também o que é processo de negócio. Para Souza et al
(2009), processo de negócio é uma referência comum entre todos os envolvidos no negócio,
sejam pessoas, sistemas ou recursos.
Conforme Zancul (2000), para modelar os processos de negócio em uma empresa, é preciso
descrever os elementos que contém no processo de modo que seja entendido por todos os
envolvidos no negócio. São descritas as atividades realizadas, os recursos utilizados, os
responsáveis por cada etapa do processo, as informações geradas e outros dados importantes
para a representação do negócio. Zancul (2000) afirma que o BPM é a união entre a gestão
dos negócios e tecnologia de informação com objetivo de melhorar os processos de negócio.
Entretanto, conforme mencionado no item 2.1 (Metodologias e ferramentas para o
desenvolvimento de sistemas produto-serviço), optou-se em utilizar o MEPSS nesta pesquisa,
mesmo com abordagens relevantes para a representação de sistemas produto-serviço, é pouco
estudado e utilizado na prática. Baines et al apud Vezzoli e Ceschin (2009) afirmam que as
metodologias e ferramentas para aplicação do PSS nas empresas apresentam limitações.
Com isso, propõe-se utilizar a modelagem de processos de negócio (BPM) para orientar os
fabricantes na aplicação desse sistema. O BPM possui ferramentas de fácil aprendizado e
utilização, que facilitam o entendimento entre os stakeholders, criando uma linguagem padrão
entre os envolvidos no negócio contribuindo para um novo sistema ou para melhorar o
sistema atual e projetar um sistema ideal para o negócio (SOUZA et al, 2009).
O próximo item 3.1 apresenta algumas técnicas de modelagem de processos de negócio.
3.1 Técnicas de modelagem de processos de negócio
Encontra-se na literatura uma variedade de técnicas para modelagem de processos de negócio,
entre elas destacam-se, conforme Souza et al. (2009):
BPMN (Business Process Modeling Notation): O BPMN é resultado de um conjunto de
ferramentas de modelagem de diversas empresas, tendo como objetivo criar uma
linguagem padrão para a modelagem de processos de negócio de fácil entendimento entre
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os stakeholders. A técnica é rica em elementos de modelagem: atividades, eventos,
gateways (decisões) e sequência de fluxos (sequence flows) ou rotas. Com isso, torna-se
uma ferramenta fácil de aprender e utilizar.
UML (Unified Modeling Language): a UML trata-se de uma forma de representação que
permite visualizar, especificar, construir e documentar softwares orientados a objetos, com
qualidade na identificação dos requisitos funcionais (necessidades do procedimento de
negócio em análise) e não funcionais (usabilidade, arquitetura, segurança, etc.). A UML
tem capacidade de modelar processos de negócios caracterizando os aspectos conceituais e
requisitos, atuando como uma técnica padrão de modelagem.
IDEF (Integration DEFinition): a IDEF tem como objetivo criar um método para a
modelagem de requisitos para sistemas. Permite analisar processos por meio da construção
de modelos que refletem sua funcionalidade atual e assim projetar a situação ideal para o
negócio.
EPC (Event-Driven Process Chain): O EPC trata-se da modelagem de processos
essencialmente baseados no controle de fluxos de atividades e eventos e suas relações de
dependência.
Entre as técnicas mencionadas anteriormente, a presente pesquisa irá abordar o BPMN, pois
conforme White (2004) se trata de uma técnica que possui um mecanismo simples para a
criação de modelagens de negócio e ao mesmo tempo tem competência para lidar com a
complexidade dos processos de negócio. Como a proposta é fazer com que os sistemas
produto-serviço façam parte dos modelos de negócio das empresas, é importante que a
modelagem possua um mecanismo simples para que o leitor visualize e reconheça facilmente
os elementos contidos no diagrama.
3.2 BPMN (Business Process Modeling Notation)
O objetivo do BPMN é criar um mecanismo simples para o desenvolvimento de modelos de
processos de negócio. Com isso devem constar nele informações compreensíveis por todos os
envolvidos no negócio (utilizadores, analistas e técnicos do negócio), deve apresentar uma
linguagem expressa visualmente com uma notação comum do processo de negócio, tudo em
um diagrama único chamado de diagrama de processos de negócio - BPD (Business Process
Diagram). (WHITE,2004)
O BPMN é formado por um conjunto de elementos gráficos facilmente compreensíveis e
familiares para a maioria dos modeladores como as atividades serem retângulos, decisões são
diamantes. Pode-se verificar as categorias básicas do BPMN a seguir:
a) Objetos de fluxo
OBJETO DESCRIÇÃO FIGURA
Evento Representado por um círculo;
Há três tipos de eventos: start, intermediate e end;
Acontece durante um processo de negócio.
Atividade Representado por um retângulo com bordas arredondadas;
Termo genérico para trabalho executado.
Gateway Representado por um diamante;
Usado para controlar a divergência e convergência da
sequência de fluxo;
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Determina decisões.
Tabela 2: Objetos de fluxo. Fonte: WHITE, 2004
Os objetos de fluxo são representados pelos elementos gráficos facilmente compreensíveis:
evento com forma de círculo, atividade é representada por um retângulo com bordas
arredondadas e o gateway com forma de um diamante. Cada um deles tem um objetivo
específico no processo de negócio.
b) Objetos de conexão
OBJETO DESCRIÇÃO FIGURA
Fluxo de
sequência
Representado por uma linha sólida com uma seta sólida;
Usada para representar uma sequência com que as
atividades são realizadas em um processo;
Fluxo de
mensagem
Representado por uma linha tracejada com uma seta aberta;
Usada para representar o fluxo de mensagem ente dois
participantes do processo.
Associação Representado por uma linha pontilhada com uma seta linha ;
Usada para associar dados, textos e outros artefatos com
objetivos de fluxo;
São utilizados para mostrar entradas e saídas de atividades.
Tabela 3: Objetos de conexão. Fonte: WHITE, 2004
Os objetos de conexão são representados por linhas e setas onde cada uma tem uma função no
processo. São elas: fluxo de sequência, fluxo de mensagem e associação.
c) Swinlanes
OBJETO DESCRIÇÃO FIGURA
Pool Representa um participante em um processo;
Atua como participante para dividir um conjunto de
atividades de outros pools.
Lane Lane é a subdivisão de um pool tanto verticalmente quanto
horizontalmente;
Usadas para organizar e categorizar as atividades.
Tabela 4: Swinlanes. Fonte: WHITE, 2004
Os swinlanes representam os participantes no processo.
d) Artefatos
OBJETO DESCRIÇÃO FIGURA
Objetos de
dados
Objetos de dados são usados para mostrar como os dados
são requeridos ou produzidos por atividades;
Estão ligados às atividades através das associações.
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Grupo Representado por um retângulo com canto arredondado e
linha tracejada;
Pode ser usado para documentação e análise.
Anotações Anotações são usados para adicionar informações ao leitor
de um diagrama BPMN.
Tabela 5: Artefatos. Fonte: WHITE, 2004
Nos artefatos são incluídos os dados, as anotações, a documentação, as análises para cada
atividade.
Como exemplo para representar um cenário PSS utilizando a técnica BPMN, segue Figura 3:
Figura 3: Diagrama de processos de negócio de um PSS para móveis corporativos
A Figura 3 é um exemplo de processo de negócio de um PSS para móveis corporativos, o qual
foi desenvolvido a partir da técnica BPMN utilizando o software BizAgi. O processo é o
mesmo apresentado na Figura 2 mas neste caso, utilizando a técnica BPMN. Primeiro dividiu-
se as swinlanes em indústria, cliente e atendimento. Em seguida iniciou-se o processo com a
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necessidade do cliente identificada e encaminhada para a primeira atividade e assim seguindo
por todas as etapas do processo, cada um em seu respectivo swinlane até o encerramento do
contrato. É importante ressaltar que entre as atividades existem: os gateways, os quais
indicam um caminho ou outro a ser seguido no processo e artefatos que podem contribuir para
arquivar informações e facilitar o entendimento entre os stakeholders.
7. Considerações finais
Tendo em vista que o estudo realizado faz parte de uma etapa inicial de uma proposta de
verificação de viabilidade da modelagem e gestão de processos de negócio como uma forma
de auxiliar na concepção, representação e aplicação de PSSs. Chama-se a atenção para o fato
de que as ferramentas e metodologias projetadas para a concepção de PSSs observadas neste
trabalho não contemplarem a integração com a TI nas suas formas de representação, sendo
assim, não se vislumbra a implantação de sistemas a partir das representações geradas pelas
mesmas. Por outro lado, esta integração faz parte dos fundamentos de técnicas de modelagem
de processos de negócios como a que envolve a notação BPMN e fazem parte do conjunto de
ferramentas comercializadas para este propósito.
Neste sentido, a partir da gestão de processos de negócio (BPM) é possível identificar
processos de negócio de um PSS, representá-lo por meio da notação BPMN e utilizar-se de
softwares e tecnologias (BPMS) que permitem converter diagramas BPMN em sistemas de
controle, monitoramento e gestão de processos que envolvem um PSS. Entretanto, é
necessário ponderar que o custo e complexidade envolvida na automação de processos de
negócio de um PSS deve ser analisado em cada caso especifico, pois há casos em que seja
necessária apenas uma mais visão ampla do PSS a ser desenvolvido e o system map possa ser
a alternativa mais adequada.
Analizando o BPMN e o system map sob a ótica da comunicabilidade entende-se que apesar
do system map apresentar um conjunto de ícones mais representativos e do BPMN representar
um padrão para modelar processos do negócio, há espaço para a evolução de ambas no que
diz respeito as suas formas de representar e comunicar para diferentes stakeholders.
Identificou-se também que ambos primam pela simplicidade em suas formas de
representação. Contudo, deve-se notar que enquanto o system map foi idealizado para ser
utilizado por designer que pretendem projetar PSSs, o BPMN está mais voltado para gerentes,
analistas de negócio e profissionais de TI que buscam automizar seus processos com vista a
agilidade e lucratividade do negócio. Assim, a integração de propósitos destas diferentes
abordagens possivelmente resultaria num ferramental mais completo e ajustado tanto ao viés
das questões ambientais e de sustentabilidade como das preocupações com agilidade e
retabilidade do negócio.
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