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UMA PROPOSTA DO EMPREGO DO PELOTÃO DE DESCONTAMINAÇÃO DACIA DE DEFESA QUÍMICA, BIOLÓGICA, RADIOLÓGICA E NUCLEAR NASOPERAÇÕES ESPECIAIS EM APOIO A UM TIME TÁTICO DO DESTACAMENTODE CONTRATERRORISMO NUMA ENTRADA TÁTICA EM AMBIENTECONTAMINADO
Klaus dos Santos Wippel*
Fabio dos Santos Moreira**
RESUMO
Após a Segunda Guerra Mundial, os povos ficaram temerosos sobre a utilização do armamentonuclear em um novo conflito. Com o passar dos anos as grandes potências mundiais, detentoras datecnologia de fabricação de armamentos de destruição em massa ratificaram acordos de nãoutilização destes armamentos, bem como a não transferência desta tecnologia para outros países,tudo com a finalidade de evitar a disseminação deste tipo de armamento de grande poder letal.Contudo, com a evolução dos conflitos sendo o reflexo da globalização, onde a facilidade decomunicação e o conhecimento mudam o espectro do campo de batalha passando a sociedade acompor o cenário destes conflitos. A chamada Guerra de 4ª Geração, onde não se configura por umconflito beligerante por estados, mas sim por uma guerra assimétrica em que os atores não estataistêm o controle das ações. Passando todos os tratados de não-proliferação de armamentos dedestruição em massa a não ter efeito para estes novos atores. E que torna o uso deste armamentosalgo possível em alguma ação terrorista.
Neste pior cenário onde se encontram terroristas, vítimas e armamentos com um grande poder dedestruição, que os Estado-Nação tem que estarem preparados para atuar. O presente trabalho sepropõe a estudar a aplicação dos grupos DQBRN da Cia de Defesa Química, Biológica, Radiológica eNuclear em apoio a um time tático do destacamento de contra-terrorismo numa entrada tática emambiente contaminado.
Palavras-chave: Terrorismo. Armamento de destruição em massa. Guerra de 4ª geração. DefesaQuímica, Biológica, Radiológica e Nuclear.
ABSTRACT
After World War II, people were fearful about the use of nuclear weapons in a new conflict. Withthe passing of the years, the great powers of the world, owners of the technology of manufacturingweapons of mass destruction, have ratified agreements not to use these weapons, as well as the nontransfer of this technology to other countries, all with the purpose of avoiding the spread of this typeweapons of great lethal power. However, with the evolution of conflicts being the reflection ofglobalization, where the ease of communication and knowledge change the spectrum of the battlefield,passing the society to compose the scene of these conflicts. The so-called 4th Generation War, whereit is not shaped by a belligerent conflict by states, but by an asymmetric war in which non-state actorshave control of actions. Turning all non-proliferation treaties into weapons of mass destruction wouldhave no effect on these new actors. And that makes the use of this weaponry possible in someterrorist action.
In this worst scenario where terrorists, victims and armaments with a great power of destructionare found, the nation-states must be prepared to act. The present work intends to study the applicationof the DQBRN groups of the CIA of Chemical, Biological, Radiological and Nuclear Defense in supportof a tactical team of the counter-terrorist detachment in a tactical entrance in contaminatedenvironment.
Keywords: Terrorism. Weapons of mass destruction. 4th Generation War. Chemical, Biological,Radiologic and Nuclear Defense.
*Capitão da Arma de Infantaria. Bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das AgulhasNegras (AMAN) em 2008 e Pós- Graduado em Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear pelaEscola de Instrução Especializada (EsIE) em 2013.** Capitão da Arma de Infantaria. Bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das AgulhasNegras (AMAN) em 2004. Mestre em Ciências Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais(AMAN) em 2014.
1 INTRODUÇÃO
Com a Revolução Industrial do século 19 e o avanço da tecnologia bélica,
tornou-se praticamente inevitável que se utilizassem em combate os agentes
químicos de guerra. No dia 3 de janeiro de 1915, o exército alemão utilizou na
região de Langemark, perto de Ypres, o gás cloro, gerando assim uma densa
névoa verde-cinza. Este gás expelido para as trincheiras do regimento franco-
argelino fez com que os soldados conhecessem, pela primeira vez, este
instrumento da morte. Desde então, nada mais provoca no homem tamanha fobia
do que morrer por ter inalado algum gás venenoso.
O período entre guerras foi um momento em que se desenvolveu a industria
bélica. Foram criadas plantas de produção de agentes químicos nos Estados
Unidos para produzir: fosfogênio, cloro, cloropicrina e agente mostarda, destaca-se
ainda a criação de um exército especialista em agentes químicos. Por outro lado
Alemanha e Japão tornaram-se referências mundiais na produção de armamentos
químicos, destacando-se a criação dos agentes neurotóxicos.
Após a 2ª Guerra Mundial, o mundo tornou-se polarizado onde os Estados
Unidos e a União Soviética tornaram-se adversários pelo monopólio mundial. Um
conflito real entre as duas superpotências jamais ocorreu, pois ambos os lados
sabiam que uma guerra total em que cada potência utilizasse todos os seus
recursos, seria uma guerra sem vencedores e uma ameaça à própria continuidade
da espécie humana no planeta. Uma característica deste conflito foi o
desenvolvimento bélico e a transferência dos conflitos militares para as áreas
periféricas do mundo, onde, destacam-se o continente africano e o Oriente Médio.
No Exército Brasileiro, a origem da Defesa Química, Biológica, Radiológica e
Nuclear remonta ao ano de 1953, quando da criação da Companhia Escola de
Guerra Química, originalmente subordinada ao Grupamento de Unidades- Escola
no Rio de Janeiro. No ano de 1968, é criado, também no Rio de Janeiro, o
Destacamento de Forças Especiais, pertencente à Brigada de Infantaria Para-
quedista. Não obstante, no ano de 2003, foi criada, em Goiânia, a Brigada de
Operações Especiais face à atual conjuntura política internacional e a natureza dos
conflitos atuais, integrando o 1° Batalhão de Forças Especiais às organizações
militares recém-formadas como o 1° Batalhão de Ações de Comandos,
Destacamento de Apoio às Operações Especias, Destacamento de Operações
Psicológicas e o 1° Pelotão de Defesa Química, Biológica e Nuclear.
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Com os tempos modernos, caracterizados por conflitos de 4ª geração onde
novos atores não estatais tornam-se protagonistas em conflitos beligerantes,
passando estas forças irregulares, com diferentes objetivos sejam, separatistas,
extremistas políticos ou religiosos e o crime organizado, a utilizar-se de táticas,
técnicas e procedimentos de guerra irregular para tentar alcançar seus propósitos.
A utilização de agentes QBRN pode potencializar possíveis ataques destes
novos atores, pois após o desmembramento da antiga União Soviética o controle
do estoque deste armamento não foi eficaz e a possível aquisição de algum agente
QBRN por estes grupos não está descartada.
Cabe salientar que as Atividades da Defesa QBRN não são executadas
isoladamente. Elas fazem parte de um todo e os seus resultados e dados levantados
são repassados ao escalão superior e aos elementos de combate por meio do
Sistema QBRN.
1.1 PROBLEMA
A presente pesquisa tem como objetivo geral propor o emprego dos grupos
orgânicos da Cia DQBRN em apoio às ações do destacamento de contra- terrorismo
do 1° Batalhão de Forças Especiais nas intervenções em ambientes confinados com
a presença de agentes QBRN, uma vez que ainda não existem manuais doutrinários
no âmbito Exército Brasileiro que padronizem as ações a serem realizadas neste
tipo de atividade.
1.2 OBJETIVOS
O presente trabalho tem como objetivo geral propor o emprego do pelotão de
descontaminação da Cia DQBRN em apoio às ações do destacamento de contra-
terrorismo do 1° Batalhão de Forças Especiais nas intervenções em ambientes
confinados com a presença de agentes QBRN.
Para viabilizar a consecução do objetivo geral de estudo, foram formulados os
objetivos específicos, os quais permitiram o encadeamento lógico do raciocínio
descritivo apresentado neste estudo:
a) Do ponto de vista teórico, conceituar o emprego do Pel Descon da Cia
DQBRN aos times táticos do Destacamento de Contra- Terrorismo do 1° Batalhão
de Forças Especiais;
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b) Analisar qual o efetivo mínimo satisfatório do Pel de Descontaminação
empregado para realizar o apoio direto a um DCT em uma ação de contra-
terrorismo reativo em um ambiente de operações interagências;
c) Propor as ações a serem executadas pelo Grupo de Descontaminação
Técnica do Pelotão de Descontaminação da Cia DQBRN em apoio direto às ações
de um time tático do destacamento de contraterrorismo;
d) Propor as ações a serem executadas pelo Grupo de Descontaminação
Física do Pelotão de Descontaminação da Cia DQBRN em apoio direto às ações de
um time tático do destacamento de contraterrorismo;e
e) Propor as ações a serem executadas pelo Grupo de Descontaminação de
Pessoal do Pelotão de Descontaminação da Cia DQBRN em apoio direto às ações
de um time tático do destacamento de contraterrorismo.
1.3 JUSTIFICATIVAS
Tendo em vista o crescente emprego das tropas do Exército Brasileiro em
ambiente interagências, se faz cada vez mais necessário uma padronização das
táticas, técnicas e procedimentos a serem utilizados pelas unidades de Defesa
Química, Biológica, Radiológica e Nuclear do Exército Brasileiro em apoio aos times
táticos do Destacamento de Contra- terrorismo.
Por ocasião dos grandes eventos realizados pelo Brasil ao longo dos anos de
2013 a 2016, a tropa DQBRN foi amplamente dispersa pelo território nacional, não
sendo possível somente a Cia DQBRN realizar o apoio DQBRN às Operações
Especiais. O 1° Batalhão de Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear
também teve este encargo. Ao padronizar os procedimentos para este apoio, será
possível que seja prestado o mesmo apoio da DQBRN aos times táticos do
Destacamento de contra-terrorismo independente da unidade designada para tal
fato.
A realização de um apoio da DQBRN eficaz face a um perigo QBRN aumenta a
proteção da tropa apoiada, reduz os efeitos dos agentes QBRN a esta tropa e
principalmente reduz o número de vítimas.
1.4 CONTRIBUIÇÕES
A consolidação do emprego dos grupos de DQBRN da Cia de Defesa Química,
Biológica, Radiológica e Nuclear facilitará o treinamento e integração das equipes
táticas com os elementos em apoio da Cia DQBRN.
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A aquisição de material de emprego militar para as tropas da Cia de Defesa
Química, Biológica, Radiológica e Nuclear, por parte do Exército Brasileiro pode ser
assessorada de maneira eficaz, se existir uma consolidação da doutrina desta
unidade em apoio às ações táticas do Destacamento de Contraterrorismo do 1°
Batalhão de Forças Especiais.
2 METODOLOGIA
Para subsidiar uma possível resposta à hipótese e aos problema levantados,
o delineamento desta pesquisa tomou como base a leitura analítica e fichamento
das fontes, questionários, argumentação e discussão de resultados.
Quanto à forma de abordagem do problema, utilizaram-se, principalmente, os
conceitos de pesquisa quantitativa e qualitativa, pois a tabulação dos resultados
obtidos através dos questionários foi fundamental para a compreensão do
entendimento que os militares que participaram das Operações da prevenção e
combate ao terrorismo na Copa do Mundo de 2014 e Jogos Militares de 2016, como
elementos de um time tático e como elementos de um destacamento DQBRN,
precisam de uma maior integração entre os mesmos.
Quanto ao objetivo geral, foi empregada a modalidade exploratória, tendo
em vista a que mais se adéqua ao produto final desejado e ao moderado
conhecimento disponível publicado sobre a temática.
2.1 REVISÃO DE LITERATURA
Inicialmente, para nortear a pesquisa proposta, procurou-se definir termos e
conceitos, a fim de viabilizar a solução do problema de pesquisa, sendo baseada em
uma revisão de literatura no período de junho de 2013 a dezembro de 2016. Essa
delimitação foi utilizada por englobar o período de preparação para os grandes
eventos, cumprimento da missão propriamente dita e a confecção de relatórios.
Enquanto o antiterrorismo é fundamentado na ação de proteção e
caracterizada pela presença ostensiva, de caráter eminentemente preventivo, o
Contra- terrorismo requer a execução de ações diretas de contato, eminentemente
repressivas/retaliatórias contra as organizações terroristas em presença.(EB 20-MC
-10.212 Operações Especiais,5.2.6.2, p 70).
O Contraterrorismo subdivide-se nas vertentes que se seguem:
5
- Proativo: esforços de caráter eminentemente ofensivo e repressivo,
despendidos por Agências de Inteligência (AI) e forças de segurança estatais
especializadas com o propósito deliberado de impedir a consecução de um ataque
terrorista, antecipando-se ao ato hostil; e
- Reativo: esforços de caráter eminentemente ofensivo e repressivo,
despendidos por AI e forças de segurança estatais especializadas com o propósito
explícito de responder a um ato terrorista. (EB 20-MC -10.212 Operações
Especiais,5.2.6.4, p 71).
Em relação à proteção QBRN, a Companhia de Defesa Química, Biológica,
Radiológica e Nuclear (Cia DQBRN) é a SU orgânica do COpEsp especificamente
capacitada para a realização do apoio específico em proveito das FOpEsp. Para
tanto, deve ser capaz de:
- prestar assessoramento especializado ao COpEsp e a suas U/SU Subrd nos
aspectos relativos à defesa QBRN e ao uso de agentes não letais;
- proporcionar treinamento específico às FOpEsp;
- realizar a análise das possibilidades QBRN do oponente, a fim de identificar as
vulnerabilidades das FOpEsp;
- monitorar o risco QBRN das FOpEsp, identificando os agentes QBRN presentes no
interior da área de operações;
- proporcionar proteção física aos integrantes das FOpEsp contra agentes QBRN;
- realizar a detecção, coleta de amostras, identificação limitada e monitoramento de
agentes QBRN;
- dar o alarme e relatar a ameaça QBRN;
- realizar o gerenciamento do dano QBRN;
- executar varredura QBRN; e
-controlar os níveis de proteção QBRN da tropa em operações;
- assessorar no planejamento da segurança QBRN nas áreas de interesse das
FOpEsp;
6
- realizar a neutralização e a desativação de dispositivos de dispersão radiológicos.
(EB 20-MC -10.212 Operações Especiais,5.3.6.3, p 77).
O ambiente operacional contemporâneo apresenta novos desafios, no que
tange a ameaças que exigem conhecimentos peculiares e técnicos altamente
especializados. Destacam-se, neste contexto, os artefatos explosivos – dispositivos
explosivos improvisados (DEI), engenhos falhados e restos de guerra, que requerem
competências especiais para a neutralização, particularmente os vinculados aos
agentes QBRN, as denominadas “bombas sujas”. (EB 20-MC -10.212 Operações
Especiais,5.3.7.1, p 77).
Para operações com a possibilidade do emprego de agentes QBRN por parte
do inimigo deve-se sempre pensar na proteção Operacional da tropa e evacuação
de civis do local:
Considere opções para a proteção de forças operacionais, meios e não-combativos para incluir a evacuação de não-combativos do teatro deoperações, estabelecendo medidas de proteção química, biológica,radiológica e nuclear (QBRN) e coordenando operações de recuperação depessoal.(ESTADOS UNIDOS,Operações Conjuntas e tarefas das ForçasEspeciais 2007, p. 97, tradução do autor).
O apoio entre tropas é fundamental para o cumprimento da missão, uma vez
que supre a necessidade da missão com elementos especializados focados apenas
em suas especialidades.
Forças de operações especiais apoiadas por outras forças. Às vezes, aForça de Operações Especiais pode ser apoiada por outras forças parafacilitar o cumprimento de sua missão. Para garantir que uma força deoperações especiais possa ser efetivamente suportada, os seguintescritérios devem ser levados em consideração:(1) Execute uma avaliaçãodetalhada para determinar se a missão atribuída é adequada para o uso deforças que não sejam operações especiais.(2) Defina quais tarefas são maisapropriadas para as forças que eles suportam.(3) Determine se os meiosnecessários estão disponíveis.(4) Incorporar as forças que apoiam o iníciodo processo de planejamento e coordenação.(5) Avalie as características,capacidades e limitações de cada força, incluindo mobilidade, capacidadede sobrevivência, poder de fogo e comunicações.(6) Estabeleça relações decomando claras no nível tático.(ESPANHA,Doutrina conjunta para asOperações Especiais 2009, p. 31, tradução do autor).
A DQBRN é composta de ações que realizam o preparo do material e o
adestramento de pessoal diante da ameaça QBRN. Compreende a dispersão tática,
o afastamento das áreas contaminadas, a descontaminação e as medidas para
evitar a contaminação.(EB 20-MC -10.233 Defesa Química, Biológica, Radiológica e
Nuclear, 1.3.1, p 11).
A ambientação sobre as Ameaças e Perigos QBRN deve ser compreendida
como a probabilidade de ocorrência de um evento que envolva agentes químicos,
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materiais biológicos, radioisótopos e artefatos nucleares. Todos estes são definidos
e classificados como ameaças QBRN, de acordo com os efeitos nocivos à saúde
que podem causar. (EB 20-MC -10.233 Defesa Química, Biológica, Radiológica e
Nuclear, 1.3.3, p 12).
A Capacidade Operativa (CO) de DQBRN é a reunião das atividades que
permitem à F Ter realizar ações de não-proliferação de armas de destuição em
massa (ADM), Contraproliferação de ADM e gerenciamento de consequências
químicas, biológicas, radiológicas e Nucleares (G Con QBRN) . (EB 20-MC -10.233
Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear, 3.2.1, p 25).
São as operações realizadas com o objetivo de combater a proliferação e o
emprego das ADM, bem como os efeitos do Perigo QBRN no TO. As Atividades da
DQBRN (Sensoriamento, Segurança e Sustentação QBRN) contribuem com os
seguintes objetivos das operações CADM:
a) reduzir, destruir ou reverter a posse de ADM;
b) prevenir, dissuadir ou impedir a proliferação, a posse ou o emprego de ADM;
e
c) realizar a defesa, a resposta e a recuperação advinda do uso de ADM. (EB
20-MC -10.233 Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear, 3.3.1, p 26).
Os Princípios da DQBRN são os seguintes:
a) evitar a contaminação por perigos QBRN;
b) proteger indivíduos, unidades e equipamentos ante os perigos QBRN que
não possam ser evitados; e
c) descontaminar com o intuito de restaurar a capacidade operacional. (EB 20-
MC -10.233 Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear, 3.5.2.1, p 28).
As Atividades da DQBRN são: o sensoriamento QBRN, a segurança QBRN e a
sustentação QBRN. As atividades são integradas pelo Sistema QBRN. A Figura 1
representa a interrelação entre os Princípios e Atividades da DQBRN. (EB 20-MC
-10.233 Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear, 3.5.2.1, p 29).
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Figura 1: Princípios da atividade DQBRN
Fonte: EB 20-MC -10.233 Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear,2016 p 29
A estrutura da OM DQBRN deve permitir o emprego flexível e adequado à
demanda oriunda do Perigo QBRN. Seus elementos serão empregados de forma
elástica, demandando sustentabilidade com variação dos módulos por Atividade de
Defesa QBRN.(EB 20-MC -10.233 Defesa Química, Biológica, Radiológica e
Nuclear, 3.5.3.2, p 29).
A OM DQBRN possui módulos para atender as 4 (quatro) Atividades
apresentadas (Sensoriamento QBRN, Segurança QBRN ,Sustentação QBRN e
Comando e Controle DQBRN). A Fig 2 representa esta estruturação.(EB 20-MC
-10.233 Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear, 3.5.3.3, p 30).
Figura 2: Organização da OM DQBRNFonte: EB 20-MC -10.233 Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear,2016 p 30
A proteção QBRN é uma das formas de evitar a contaminação e deve ser
adotada quando da iminência ou da presença confirmada de substâncias QBRN.
Pode ser de ordem individual, coletiva e tática. (EB 70-CI -11.409 Caderno de
Instrução de Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear, 4.2.1, p 25).
Caso não seja possível saber se o perigo é químico, biológico ou
radiológico/nuclear, deverá ser adotado o nível máximo de proteção disponível:
princípios da proteção radiológica, máscara, luvas, botas e roupa/cobertura
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protetora. Apenas após o conhecimento do tipo do perigo, o nível de proteção
poderá ser reduzido. (EB 70-CI -11.409 Caderno de Instrução de Defesa Química,
Biológica, Radiológica e Nuclear, 5.3.1, p 52).
Caso não seja possível saber se o perigo é químico, biológico ou
radiológico/nuclear, deverá ser adotado o nível máximo de proteção disponível:
princípios da proteção radiológica, máscara, luvas, botas e roupa/cobertura
protetora. Apenas após o conhecimento do tipo do perigo, o nível de proteção
poderá ser reduzido. (EB 70-CI -11.409 Caderno de Instrução de Defesa Química,
Biológica, Radiológica e Nuclear, 5.3.1, p 52).
2.2 COLETA DE DADOS
Na sequência do aprofundamento teórico a respeito do assunto, o
delineamento da pesquisa contemplou a coleta de dados pelo seguinte meio:
Entrevista exploratória.
2.2.1 Entrevistas
Com a finalidade de ampliar o conhecimento teórico e identificar experiências
relevantes, foram realizadas entrevistas exploratórias com os seguintes
especialistas, em ordem cronológica de execução:
Nome Justificativa
FELIPE GORGEN REIS – Cap EBExperiência como SCmt DAI na Operação de
segurança da Copa do mundo 2014 e dosJogosOlímpicos 2016
MATHEUS CABEIRA BRITO – Cap EBMilitar servindo na Cia DQBRN com experiência naOperação de segurança da Copa do mundo 2014 e
dosJogos Olímpicos 2016
FÁBIO DE SANTOS PAULA - 1o SgtEB
Militar servindo na Cia DQBRN com experiênciaem operações de descontaminação de agentesquímicos e com experiência na Operação de
segurança da Copa do mundo 2014 e dosJogosOlímpicos 2016
QUADRO 1 – Quadro de Especialistas entrevistadosFonte: O autor
3 ENTRADA TÁTICA EM UM AMBIENTE FECHADO
O combate em ambientes confinados é uma ação militar que se emprega
diversas técnicas e táticas militares onde o espaço do combate é extremamente
pequeno. O ambiente urbano local mais comum para este tipo de ação, onde
prédios, casas, galpões, apartamentos e quartos existem em grande quantidade. A
velocidade, surpresa e a ação de choque são fundamentais para o sucesso deste
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tipo de ação. Contudo, existe uma variante neste combate que pode
indiscutivelmente adicionar um fator a mais de perigo: a presença de alguma
substância química, biológica ou radiológica de posse dos perpetradores.
3.1 CONTAMINAÇÃO DE UM AMBIENTE FECHADO
A reduzida ventilação proporcionada pelo ambiente interno pode potencializar o
efeito do perigo QBRN. Percebesse facilmente tal fato quando ao estar no banheiro
e fazer uso de algum perfume, as notas do odor produzidas pelo perfume
permanece por um bom tempo no ambiente devido a pouca circulação de ar do
local. Tal fato também ocorre se houver uma disseminação de algum agente
químico, biológico ou radiológico dentro de cômodos, ocasionando assim a
contaminação de todos os que estão naquele ambiente.
Para ilustrarmos o perigo de uma contaminação em ambientes fechados
podemos citar o ataque com gás sarin, em 20 de março de 1995, por Aum Shinrikyo,
uma seita autodenominada verdade suprema no sistema de metrô de Tóquio com o
uso de um agente químico neurotóxico, resultando em 12 óbitos e 50 intoxicados
graves, num total de 5.500 vítimas1. Desde então, já foram utilizados como armas
químicas materiais de uso legítimos, tais como pesticidas, venenos e produtos
químicos industriais2, os quais são de fácil obtenção e de baixo custo, porém tendo
seus efeitos reduzidos, com limitação do número de vítimas e, assim, não
configurando como uma arma de destruição em massa (ADM).
No ano de 2001, nos Estados Unidos, em um ataque biológico foi utilizada uma
cepa de alta virulência, que foi disseminada por meio de cartas contaminadas com
antraz resultando na morte de cinco pessoas e 17 infectados.
3.1.1 CONTAMINAÇÃO QUÍMICA
Agentes químicos podem ser classificados, pelos seus efeitos em pessoal, em
agentes letais se eles produzem morte, e em agentes incapacitantes quando eles só
produzem uma incapacidade transitória.
Esses agentes podem afetar o moral das tropas devido à fadiga e ao efeito
psicológico que resulta de ter que carregar o equipamento individual de proteção
_________________
1 DEPARTMENT OF THE ARMY, 2009, p. 3-2.2 OFFICE OF THE COORDINATOR FOR COUNTERTERRORISM, 2009, p. 189.
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física e adotar as medidas de proteção necessárias face à agentes químicos.
Devido aos seus efeitos fisiológicos, os agentes letais são classificados como
sufocantes, vesicantes, neurotóxico e hematóxico.
Os agentes sufocantes atacam o tecido pulmonar produzindo edema pulmonar.
A característica desses agentes é o fosgênio, um agente extremamente volátil
e não persistente. A exposição a este agente sem proteção física adequada pode
causar anormalidades cardíacas.
Agentes vesicantes produzem queimaduras profundas. Estes reduzem a
capacidade de lutar já que eles forçam as unidades a usarem o equipamento de
proteção individual.
Os agentes nerotóxicos são particularmente tóxicos, sendo quimicamente
relacionados compostos organofosforados. Eles podem ser absorvidos por qualquer
superfície do corpo. Quando liberados por meio de vaporizadores ou aerossóis
podem ser absorvidos através da pele, olhos e vias respiratórias.
Os agentes hemotóxicos produzem seus efeitos interferindo na oxigenação das
células. O caminho normal da entrada é a inalação. A morte geralmente ocorre
devido à insuficiência respiratória.
Os agentes hemotóxicos produzem seus efeitos interferindo na oxigenação das
células. O caminho normal da entrada é a inalação. A morte geralmente ocorre
devido à insuficiência respiratória.
Os agentes incapacitantes são classificados como:
- agentes incapacitantes físicos: são os agentes químicos letais utilizados em
doses não suficiente para causar a morte dos afetados, deixando-os apenas
incapacitados por um período.
- agentes incapacitantes psíquicos: são agentes químicos que produzem um
distúrbio transitório no comportamento do indivíduo afetado, tendo essas reações
ilógicas e irracional, bem como alucinações; em doses muito pequenas (1 mg) pode
produzir no combatente um delírio que pode durar vários dias.
- agentes neutralizantes: são aqueles agentes que produzem uma deficiência
no sistema neuromuscular imediatamente após a exposição com o agente e que os
seus efeitos duram até a pessoa afetada deixa de ser exposta.
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3.1.2 EXPOSIÇÃO E CONTAMINAÇÃO RADIOATIVA
Irradiação é a exposição à radiação, mas não a material radioativo (nenhuma
contaminação envolvida). A exposição à radiação pode ocorrer sem que a fonte da
radiação (material radioativo, equipamento de raios X) entre em contato com a
pessoa. Quando a fonte da radiação é removida ou desligada, a exposição termina.
A irradiação pode acometer todo o corpo e, se a dose for grande, pode resultar em
sintomas sistêmicos e síndromes radioativas, se acometer uma pequena região do
corpo pode causar sintomas focais. As pessoas não emitem radiação (não se
tornam radioativas) após a irradiação.
Contaminação externa ocorre em pele ou roupas, de onde pode cair ou ser
retirada por atrito, contaminando outras pessoas e objetos. A contaminação interna é
o material radioativo dentro do corpo, o qual pode entrar por ingestão, inalação ou
através de lesões na pele. Uma vez dentro no corpo humano, o material radioativo
pode ser transportado para vários locais do corpo, onde continua liberando radiação
até ser removido ou se desintegrar.
A contaminação interna é mais difícil de ser removida. Embora a contaminação
interna com qualquer radionucleotídio seja possível, historicamente, a maioria dos
casos nos quais a contaminação representava um risco significativo ao paciente
envolvia um número relativamente pequeno de radionucleotídios, como fósforo-32,
hidrogênio-3, cobalto-60, estrôncio-90, césio-137, iodo-131, iodo-125, urânio-235 e
238, plutônio 238 e 239, polônio-210 e amerício-241.
3.1.3 DISPOSITIVO DE DISPERSÃO RADIOLÓGICA
É definido como qualquer dispositivo que dissemine material radioativo ou
radiação para causar vítimas, poluição ou destruição. Um adversário poderia usar
este tipo de dispositivo, principalmente para fins de guerra psicológica por causa de
seus efeitos de propaganda sobre a opinião pública, em vez de seus efeitos
imediatos ao atentado ou sua capacidade destrutiva.
Os materiais radioativos usados nestes tipos de dispositivos podem ser obtidos
em instalações nucleares para o fabrico de combustível nuclear ou de armas
nucleares e de aplicações civis que usam materiais radioativos para uso médico ou
industrial.
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A disseminação desses materiais poderia ser feita com a ajuda de explosivos,
com um dispositivo mecânico ou abandonar uma fonte radioativa em algum ponto
estratégico.
Atualmente, as ações criminosas com uso de explosivos têm se intensificado.
São comuns notícias veiculadas na imprensa, de diferentes regiões do país,
referentes ao uso de artefatos explosivos improvisados para arrombamento de
caixas eletrônicos e cofres de agências bancárias.
3.1.4 TIPOS DE CONTAMINAÇÃO
Quando as medidas tomadas antes de um incidente QBRN não impedem a
contaminação, você deve seguir para a descontaminação de pessoal, material e solo
que foram contaminados. A contaminação da ameaça QBRN é definida como a
deposição, absorção e adsorção de material radioativo, de agentes biológicos ou
químicos sobre pessoal, material ou equipamento e terreno quando tão determinado.
As maneiras pelas quais a contaminação pode ocorrer são as seguintes:
- Sólido: partículas radioativas, esporos biológicos e agentes em pó.
- Líquido: agentes químicos ou biológicos.
- Vapor ou aerossol: agentes químicos ou biológicos para sua rápida dispersão.
A contaminação QBRN sob a forma de vapor ou aerossol acarreta um perigo
implícito de espalhar por transferi-lo de um lugar para outro que você tem que ter em
conta.
3.2 DESCONTAMINAÇÃO
Descontaminação QBRN é definida como o processo pelo qual os agentes
químicos, biológicos e radiológicos são neutralizados ou removidos do pessoal,
material ou terreno. Isso é feito absorvendo, adsorvendo, destruindo, neutralizando,
inertizando ou extraindo agentes biológicos e químicos, ou removendo o material
radioativo que está anexado ou está ao redor deles.
Os tipos de descontaminação QBRN podem ser passivos ou ativos e seu uso
dependerá da urgência da situação e do agente contaminante:
Neutralização: é o método mais utilizado na descontaminação, principalmente
para Perigos Químicos. A Neutralização é reação do agente contaminante com
materiais descontaminantes, tornando-o menos tóxico ou atóxico, formando os
chamados produtos de reação. Os materiais descontaminantes podem ser
14
facilmente encontrados (alvejantes) ou especialmente desenvolvidos (agentes
descontaminantes de sistemas de descontaminação).
Remoção Física: é a realocação da contaminação de uma superfície
importante para outra de menor importância para a missão. A Remoção Física
normalmente deixa o contaminante com propriedades tóxicas, necessitando,
portanto, de métodos adicionais de descontaminação. No entanto, dependendo da
situação tática encontrada, ela pode ser considerada um método bastante eficiente e
adequado.
Ação Ambiental: consiste na ação da evaporação e irradiação no processo de
remoção ou destruição do contaminante. Ao ser exposto a elementos naturais (sol,
chuva, vento ou calor), o material contaminado tem sua contaminação diluída ou
destruída a níveis reduzidos ou negligenciáveis. A Ação Ambiental é a mais simples
e a mais indicada para a descontaminação de área e locais não-essenciais para as
operações.
Figura 3: Descontaminação através do processo de Neutralização
Fonte: Autor,Op Punhos de Aço 2017- Campo de Saicã
3.2.1 O PELOTÃO DE DESCONTAMINAÇÃOO pelotão de descontaminação é responsável por conduzir as atividades da
tarefa de sustentação QBRN, possuindo as seguintes atribuições:
a) descontaminação de pessoal;
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b) descontaminação física;
c) descontaminação técnica; e
d) controle da contaminação.
Sua constituição em módulos operativos facilita o cumprimento de sua missão
que é de restaurar o poder dos elementos de emprego contaminados. Estes
Módulos podem ser configurados da seguinte forma, como apresentam as Figuras
abaixo:
Figura 4:Proposta do módulo Descontaminação de PessoalFonte: Artigo FAMES na Defesa QBRN,2015
Figura 5:Proposta do módulo Descontaminação de MaterialFonte: Artigo FAMES na Defesa QBRN, 2015
Figura 6:Proposta do módulo Descontaminação TécnicaFonte: Artigo FAMES na Defesa QBRN, 2015
16
Figura 7:Proposta do módulo Descontaminação TécnicaFonte: Artigo FAMES na Defesa QBRN, 2015
3.3 AÇÕES DE SUSTENTAÇÃO DQBRN NO EXÉRCITO ESPANHOL
Para o Exercito de Terra da Espanha, a descontaminação deve ocorrer quando
a contaminação afetar negativamente a capacidade operativa das unidades. A
descontaminação é uma operação progressiva na qual, para ser eficaz, necessita
considerar alguns fatores para o planejamento e execução desta operação.
O exército espanhol adota alguns princípios para tornar a operação de
descontaminação mais eficaz:
- Descontaminar tão rápido quanto possível- quanto antes seja realizado o
processo de descontaminação, menos contaminação será absorvida pela superfície
dos materiais e mais efetivo será o processo, reduzindo assim o esforço e os meios
desprendidos para a operação. Ou seja, o exército espanhol realiza a
descontaminação o mais à frente possível.
- Realizar a descontaminação tão perto dela quanto o possível- a operação
de descontaminação necessita ser realizada tão próximo quanto possível do local
contaminado para evitar a propagação da contaminação.
-Descontaminar somente o necessário- os procedimentos de
descontaminação demandam uma grande quantidade de recursos materiais (água e
agentes descontaminantes) e tempo. Por isso, deve-se selecionar o que realmente
importa a ser descontaminado.
-Prioridade para a descontaminação- deve haver prioridades para a
realização da descontaminação e estas devem ser estabelecidas pelo comandante
da operação. Contudo, a descontaminação de pessoal normalmente se dará antes
que a do material.
17
Figura 8:Descontaminação operativa do exército da EspanhaFonte: PD4-803 DESCONTAMINACION NBQ, Ejercito de Tierra Espanha
A descontaminação operacional será realizada com os meios específicos
(Batalhão / Grupo NBQ Team) da unidade, sendo o nível equipe ou esquadrão a
unidade mínima mais apropriada para iniciá-lo. Sendo a unidade totalmente
responsável por esta operação, sua execução deve ser perfeitamente detalhada nas
regras de operação do mesmo. Trata-se de limitar os efeitos da contaminação no
combatente e nos equipamentos essenciais para a missão, evitando riscos por
contato e transferência, para que a unidade possa continuar a atender cometido sem
causar danos tanto ao pessoal como ao material, são de tal magnitude que a
unidade pode estar incapacitada para o combate.
O propósito deste nível de descontaminação é recuperar ou manter a
capacidade operacional, minimizar o risco por contato e evitar a propagação de
contaminação. Iniciar a descontaminação operacional é uma decisão do
comandante da unidade, já que, durante o desenvolvimento desta possível
descontaminação a unidade vê restringidas as suas capacidades e aumenta sua
vulnerabilidade, então esta é uma operação complexa que requer planejamento
detalhado e proteção de elementos externos à unidade.
A linha de descontaminação de pessoal normalmente contará com os pontos
de deslocamento com as seguintes estações de descontaminação:
1.Limpeza das sobrebotas: A poluição está concentrada em maior nível
medido no chão, tornando-se a primeira área a ser descontaminada.
18
Figura 9: Limpeza das SobrebotasFonte: PD4-803 DESCONTAMINACION NBQ, Ejercito de Tierra Espanha
2. 1º Controle: O pessoal pertencente à linha fará uma primeira detecção e
identificação de contaminação; para este efeito, utilizará os meios específicos de
detecção. O pessoal não contaminado seguirá a sinalização em uma rota limpa e irá
para a área de reunião. Bem como o pessoal contaminado seguirá para a
descontaminação.
Figura 10: Detecção de controleFonte: PD4-803 DESCONTAMINACION NBQ, Ejercito de Tierra Espanha
3. Identificação: Em que o pessoal contaminado fornecerá os dados pessoais,
sua unidade de destino e seus equipamentos individuais (capacete, armamento e
eletrônica individual).
4.Equipamento Individual: Neste ponto, a equipe se desvincula do
equipamento individual (armamento, capacete, materiais eletrônicos, etc).
Figura 11: Entrega do equipamento individualFonte: PD4-803 DESCONTAMINACION NBQ, Ejercito de Tierra Espanha
5. Retirada do Uniforme QBN: O pessoal será liberado do uniforme de proteção
NBC, com exceção da máscara para o risco de vapor dentro do chuveiro.
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6. 2º Controle: O pessoal técnico pertencente à estação realizará uma segunda
detecção e identificação de contaminação para verificar se a contaminação
respingou no Roupa de Proteção QBN. O pessoal não contaminado seguirá a
sinalização para uma rota limpa e irá para a área de reunião.
7. Ducha do Pessoal: A equipe vai tirar suas roupas e depositá-las em
recipientes colocados para o efeito, tomar banho com a máscara e seguir as
seguintes recomendações:
a. Será completamente ensaboado, enxaguando com água abundante e
o procedimento será repetido três vezes.
b. Atenção especial será dada aos cabelos, unhas e dobras do corpo
que podem reter mais facilmente a contaminação.
c. As mãos serão lavadas com mais atenção, pois podem ser mais
contaminadas do que o resto do corpo.
8. Remoção da máscara e 3º Controle: Depois do banho, para verificar se o
agente contaminante ainda está no corpo do militar, será realizado o último controle.
Se a contaminação persistir, um novo procedimento será necessário, até se livrar da
contaminação.
A linha de descontaminação de materiais e equipamentos, conta com a divisão
em equipamentos individuais e coletivos, sendo outra equipe responsável por
mobiliar esta atividade.
Para a equipe de descontaminação de materiais coletivos, destacada pela
unidade na área de espera, e Caso a equipe de detecção decida sua
descontaminação, será realizada uma primeira detecção de controle da
contaminação e a catalogação deste material, uma vez que este material não ficará
de posse da equipe que o trouxe durante os procedimentos de descontaminação. A
Unidade a ser descontaminada irá entregar o material coletivo, para sua posterior
transferência pelo pessoal da linha de descontaminação. No caso de o material ser
"não contaminado", vai passar diretamente através de uma rota limpa para a área
reunião. Existem materiais que, por suas características, não podem ser
descontaminados, ou sua descontaminação não é economicamente viável.
20
Figura 12: Limpeza dos equipamentos sensíveisFonte: PD4-803 DESCONTAMINACION NBQ, Ejercito de Tierra Espanha
3.4 PROPOSTA DE AÇÕES DE SUSTENTAÇÃO NA CIA DQBRN
Nas ações de apoio a órgãos governamentais, a descontaminação de pessoal
é realizada prioritariamente no Nível Completo e Liberação. Além de preservar vidas
de civis e não-combatentes, estas ações visam prioritariamente a impedir o
espalhamento da contaminação por áreas limpas. Contudo, a tarefa de
descontaminar pode ocorrer de forma descentralizada e difusa. Desta forma, ela
pode ser realizada em qualquer parte do TO onde o perigo QBRN se configure.
Com a atualização da Doutrina DQBRN, surgiram novas técnicas, táticas e
procedimentos utilizados nas ações de sustentações realizadas pelo pelotão de
descontaminação da Cia DQBRN. Segundo o Capitão Felipe Görgen Reis,
entrevistado neste artigo científico e que serviu no Batalhão de Forças Especiais de
2012 até o ano de 2017, os procedimentos para a descontaminação dos operadores
especiais modificou bastante do ano de 2014 por ocasião da operação de segurança
da Copa do Mundo de 2014, para a operação de segurança dos Jogos Olímpicos de
2016, tornando-se os processos mais fáceis de serem executados pelo operador de
Forças Especiais.
As respostas do capitão Reis, vão ao encontro das respostas do capitão
Matheus Cabreira Brito, que serve na Cia DQBRN desde 2013, comandou o pelotão
de descontaminação e participou da segurança dos grandes eventos ao longo
destes anos. O militar, quando questionado sobre a evolução a percepção da
evolução da doutrina, afirmou que treinamentos e ajustes foram realizados ao longo
de 2015 de forma a otimizar os trabalhos de descontaminação dos operadores
especiais. Fazendo com que a Cia DQBRN atinja uns dos princípios da defesa
química, biológica, radiológica e nuclear que é descontaminar com o intuito de
restaurar a capacidade operacional.
21
Após serem colhidas as experiências das operações dos grandes eventos
realizados entre o período de 2007 a 2016, o pelotão de descontaminação
desenvolveu as seguintes técnicas, táticas e procedimentos para a
descontaminação dos operadores especiais e seu material, procedimentos estes
que vão ao encontro da doutrina utilizada pelo nosso exército e também já testada
por outros exércitos que já estiveram em contato com agentes QBRN em combate.
A missão da descontaminação é permitir que tropas ou civis possam continuar
a cumprir suas tarefas, sem que sofram os efeitos nocivos de contaminantes QBRN,
sendo que a proposta para o emprego para a descontaminação dos Operadores
Especiais contemplaria um módulo de descontaminação com 4 militares, sendo 1
cabo e 3 soldados que seriam responsáveis pelas seguintes funções:
- Montar os equipamentos do grupo de descontaminação técnica, entre eles
a. sistema de descontaminação QBRN multipropósito transportável;
b. tenda de descontaminação individual multipropósito transportável;
c. sistema de descontaminação QB portátil de 1,5 L;
d. sistema de descontaminação QB portátil de 10 L;
e. equipamento de descontaminação de material sensível transportável;
f. descontaminante QBRN para pessoal;
- Operar os equipamentos do grupo de descontaminação técnica, sendo capaz
de operar as seguintes estações de descontaminação:
a. Lavagem das sobrebotas- o militar ao chegar no local da
descontaminação técnica realizará primeiro o procedimento de lavagem dos pés;
b. Secagem das sobrebotas- em seguida, o militar encontrará uma caixa
de areia que servirá para secagem dos pés;
c. Lavagem da máscara e da luva de proteção- na segunda caixa de
areia o militar encontrará um militar que irá auxiliá-lo na descontaminação das mãos
calçadas com luvas e máscara;
d. Retirada da roupa parte superior- o militar neste processo retirará
primeiramente suas luvas de proteção QBRN e em seguida, sua gandola;
e. Retirada da roupa parte inferior – nesta fase o objetivo é retirar a
calça sem que haja sua contaminação, para isto o militar abaixará sua calça até a
22
altura dos joelhos e sentará em um banco, para que possa retirar suas sobrebotas.
Primeiramente o militar retira uma de suas sobrebotas e depois sem encostar os pés
no chão, retira uma perna da calça e assim passando essa perna para o outro lado
sem deixar o coturno tocar o solo, fará o mesmo com a outra perna;
f. Retirada da roupa de baixo- retiram-se o coturno, meias, short e
cueca, ficando apenas com camisa e máscara.;
g. Retirada camisa e máscara- o militar realizará o procedimento final de
retirar sua camisa e sua máscara e depositará em um recipiente para futura
descontaminação de sua máscara;
h. Deteção de entrada- será realizada a medição radiológica e química
do militar já despido, com equipamentos de detecção química e equipamentos de
detecção radiológica;
i. Banho com agentes descontaminantes – confirmada a presença de
algum agente químico ou radiológico no corpo do militar, o mesmo passará para
banho com agentes descontaminantes. Atualmente o Exército Brasileiro adota como
descontaminante de pessoal o BX 29 (de origem italiana) e água.
j. Detecção de saída- após o militar fazer uso do descontaminante
passará por uma nova detecção química ou radiológica com a finalidade de verificar
se o agente químico ou radiológico ainda se faz presente no corpo.
O tempo médio para a montagem da linha de descontaminação técnica não
deverá exceder os 20 minutos.
Figura 13: Posto de Descontaminação Técnica.Fonte: Autor, adestramento julho 2017
Para os trabalhos de descontaminação neste posto de descontaminação
técnica, somente será admitido os seguintes descontaminantes:
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- Descontaminates artificiais patenteados (fabricante CRISTANINI FOR
DEFENSE ) :
- BX 24 → QB para vtr e material em geral
- BX 29 → pessoal
- BX 30 → versão de treinamento do BX 24
- BX 40 → radiológico e para aeronaves
- SX 34 → QBRN para eqp sensíveis
- BX 60 → biológico para eqp CRISTANINI
- Descontaminantes artificiais diversos:
- Soda cáustica – solução a 5%.
- Amônia
- Cal doméstica
- Hipoclorito de Sódio
- Bicarbonato de Sódio
Abaixo poderemos constatar uma ilustração de como deve ser realizado a
operação do posto de descontaminação técnico:
Figura 14: Operação do Posto de Descontaminação Técnica.Fonte: 1o Ten Damasceno, adestramento julho 2016
4 CONCLUSÃO
A Cia DQBRN como responsável por prover a defesa química, biológica,
radiológica e nuclear Comando de Operações Especiais, após ser reestruturada no
ano de 2013, possuí plenas condições de pôr em prática as propostas de ações de
para o pelotão de descontaminação, constantes neste Artigo Científico. Estas
propostas que objetivam aumentar o poder de combate dos destacamentos de
contra-terrorismo do Batalhão de Forças Especiais.
Sabendo que o Ambiente Operacional contemporâneo possui desafios difusos
e variados, esta tropa deve estar apta a realizar operações militares sob quaisquer
Figura 14: Procedimentos no Posto de Descontaminação Técnica.Fonte: Autor, adestramento julho 2017
Ao se realizar um apoio a um time tático do destacamento de contra-terrorismo
numa entrada tática em ambiente contaminado conclui-se que o militar, bem como
24
seus equipamentos e materiais também estarão contaminados. Pela doutrina
atualmente utilizada pelas operações especias do exército brasileiro, os militares da
Cia DQBRN não adentram em ambiente contaminado por ocasião da ação inicial da
entrada tática. Sua entrada será após o limpo do aparelho, tal fato por vezes,
prejudica a identificação dos locais contaminados, ocasionando que a tropa DQBRN
que realizará o apoio de descontaminação já considere que os militares que
adentraram no ambiente contaminado estarão com alguma contaminação.
Buscando soluções factíveis a este desafio e utilizando-se das alterações
doutrinárias trazidas pelo Processo de Transformação do Exército na Era do
Conhecimento, este Artigo buscou trazer uma solução para a lacuna existente no
Exército Brasileiro, que é de não possuir um manual de nível tático para as
operações de defesa química, biológica, radiológica e nuclear, sendo esta atividade
carente de fontes de consulta para os executores desta atividade. Este artigo
científico não se furtou de propor uma técnica, tática e procedimento a ser utilizados
pelos módulos de descontaminação técnica do pelotão de descontaminação em uma
operação de apoio a descontaminação de uma equipe tática que adentra em um
ambiente contaminado.
Proteger indivíduos, unidades e equipamentos ante perigos QBRN que possam
ser evitados é um princípio da defesa QBRN. Contudo, ao não utilizar o militar da
Cia DQBRN em uma entrada tática fica o time tático fica exposto e vulnerável face
os perigos QBRN.
Não se pode descuidar da preparação e da atualização constante de novos
conhecimentos doutrinários para os combatentes, tornando-os aptos a verem um
novo Teatro de Operações (TO) que já é uma realidade nos conflitos modernos, com
os melhores meios disponibilizados pela moderna tecnologia militar.
Que haverá um ataque químico, biológico e nuclear haverá. Só não se sabe
onde, quando, porque e como. As Forças Armadas não podem, jamais, serem pegas
de surpresa, sofrendo as consequências e os reflexos em instalações logísticas e
operações militares conjuntas, dessa guerra lenta e insidiosa, que poderá retirar o
combatente e os meios empregados do campo de batalha, e levar a tropa a perder a
impulsão do ataque ou a manutenção de uma posição defensiva ou até mesmo
perder a guerra.
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