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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
JOGOS NO PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO DE
EDUCANDO/AS COM DÉFICIT DE ATENÇÃO E
HIPERATIVIDADE.
CONTRIBUIÇÕES E REFLEXÕES PARA O PROCESSO DE
APRENDIZAGEM.
Lizier Ferreira Batista
Professora Orientadora Carly Machado
Rio de Janeiro
2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
JOGOS NO PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO DE
EDUCANDO/AS COM DÉFICIT DE ATENÇÃO E
HIPERATIVIDADE.
CONTRIBUIÇÕES E REFLEXÕES PARA O PROCESSO DE
APRENDIZAGEM.
Este trabalho de conclusão de curso apresentado
como requisito final para a obtenção do grau de
especialista em Psicopedagogia Institucional,
pela Universidade Candido Mendes -Instituto a
Vez do Mestre.
Orientadora: Prof. Carly Machado
Psicopedagogia Institucional
Lizier Ferreira Batista
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AGRADECIMENTOS
A grande Essência Divina que possibilitou a conclusão de mais uma etapa na
minha vida.
Meus sinceros agradecimentos a duas pessoas com quem tenho a grande
honra de conviver: meu marido, Paulo Corrêa; e minha amiga Tereza Falcão.
Este trabalho não poderia ter sido escrito sem o generoso auxílio de vocês.
Manifesto meu profundo apreço.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a meu marido, que tanto
colaborou para que eu pudesse confeccionar
e aperfeiçoar esta pesquisa.
À minha professora Magaly Vasques que
contribuiu para a construção de uma nova
pessoa.
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Pelo brincar, a criança reorganiza suas experiências. Oferecer oportunidades
para a criança brincar é criar espaço para a reconstrução do conhecimento.
VYGOTSKY
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RESUMO
Essa pesquisa tem como objetivo refletir sobre a utilização psicopedagógica
dos jogos como estratégia de colaboração ao enfrentamento dos distúrbios de
aprendizagem, tentando responder a alguns questionamentos que surgiram no
decorrer dessa reflexão. A indagação central, portanto, é se jogos propostos
por educadores/as estimulam de fato as capacidades cognitivas, sociais e
afetivas dos educando/as com déficit de atenção e hiperatividade levando-os a
um melhor desempenho escolar. Investigações levadas adiante por diferentes
pesquisadores(as), junto a alunos(as) com dificuldades de aprendizagem
apontam a significativa contribuição desses instrumentos -os jogos-, no
estímulo e desenvolvimento das capacidades cognitivas, sociais e afetivas dos
educandos. Estruturadas, sobretudo, a partir dos referencias teóricos
desenvolvidos por Vygotsky e Piaget, os resultados advindos dessas pesquisas
enfatizam que, o resultado na vida escolar interfere diretamente na vida
pessoal, social e profissional dos indivíduos. Mais que isso, destacam ainda, a
importância da atuação mediadora do educador(a), caracterizada pela
valorização e respeito às características individuais dos alunos e pela utilização
dos jogos como canal de construção facilitador para a aprendizagem de
educandos com dificuldades de atenção e hiperatividade.
Palavras-chave: Distúrbio de Aprendizagem - Jogos -TDAH
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METODOLOGIA
Optou-se para a realização desse trabalho pela utilização da pesquisa
bibliográfica, como forma de fundamentação teórica da abordagem do
conteúdo aqui apresentado. O conteúdo aqui desenvolvido resulta ainda dos
temas estudados e trabalhos realizados ao longo do curso, durante as aulas.
A proposta principal do presente trabalho é, portanto, contribuir para a reflexão
de educadores(as), quanto à utilização dos jogos no cotidiano do processo de
escolarização de educandos(as), com déficit de atenção e hiperatividade.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO. 9 CAPÍTULO I EDUCAÇÃO E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM. UMA QUESTÃO DE SALA DE AULA. 13
CAPÍTULO II
TRANSTORNO DE DEFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE. O TDAH
NO COTIDIANO DA SALA DE AULA. 21
CAPÍTULO III
JOGOS EM SALA DE AULA. UMA ALTERNATIVA PEDAGÓGICA
NA INTERAÇÃO COM O PORTADOR DE TDAH. 25
CONCLUSÃO. 29 BIBLIOGRAFIA. 31
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INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta um estudo relacionado a indivíduos com
dificuldade de aprendizagem, especificamente Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade -TDAH e as intervenções ocasionadas por jogos no
processo educativo desses alunos(as).
No âmbito escolar, concomitantemente ao desenvolvimento das
habilidades cognitivas, quando a criança é solicitada a cumprir metas, seguir
rotinas e executar tarefas, concretiza-se um “ajuste” às regras e à estrutura de
uma educação continuada e permanente.
Nesse processo de socialização, próprio da espécie humana, no qual a
educação, de acordo com Durkhein, reveste-se de caráter especial, os
indivíduos experimentam, em diferentes graus, dificuldades em adequar-se a
rotinas esquematizadas e constantes.
Assim, o presente trabalho relacionado ao universo escolar de
educando/as do primeiro segmento do ensino fundamental, aborda a utilização
dos jogos como estratégia de colaboração ao enfrentamento das dificuldades
de aprendizagem de TDAHs, identificando ainda, a contribuição que
proporcionam para a melhoria da qualidade das interações sociais, ao mesmo
tempo em que minimizam a desorganização da aprendizagem no que se
relaciona à compreensão, execução e conclusão de tarefas solicitadas em
sala de aula.
O jogo, portanto, pode se configurar como agente facilitador para que os
alunos estabeleçam vínculos sociais com seus semelhantes, descubram sua
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personalidade, sintam-se mais seguros quanto à vida social e se prepararem
para as funções que assumirá na vida adulta.
Uma olhada mais detalhada no interior do universo escolar permite
identificar que o mesmo guarda características próprias. Afinal, lá convivem
simultaneamente aquilo a que Durkhein denominou como aspectos uno e
múltiplo da educação, bem como, o embate entre o caráter mantenedor e o
caráter renovador do conhecimento humano.
Isso não é tudo, porém. Mais que isso, o espaço escolar é principalmente,
a tradução dos aspectos sociais, econômicos e políticos, com os quais
determinada sociedade planeja seu futuro e, por conseqüência, traça a
formação pedagógica de seus educadores(as). Logo, o atendimento a alunos
portadores de TDAH será também fruto dessa visão social.
Se inegavelmente temos experimentado avanços acadêmicos no que se
relaciona à inclusão e atendimento de portadores de TDAH, por outro lado, a
expectativa de grande parte de alguns educadores, inclusive também aqueles
da educação infantil, ainda reflete a idéia de que melhor seria se os alunos(as)
permanecessem “quietinhos” em sala de aula.
Conseqüência dessa expectativa, educadores(as) esquecem-se ou dão
pouca importância, ao fato de que as crianças descobrem o mundo através da
relação ativa que com ele estabelecem. Acabam também, muitas vezes,
desconsiderando que crianças precisam ser compreendidas enquanto um todo,
um complexo bio, psíquico e social.
Para Freire(1989)1, contudo, assim agindo os educadores não o fazem por
opção ou crueldade pessoal, ao contrário, apenas explicitam “(...) a malvadez
da ideologia autoritária [do sistema] que termina por tomar conta (....) [dos
professores] e não lhes permite formarem-se melhor”.
1 Freire, Paulo. Formar Professores é um Ato Político. Rio de Janeiro, 1989. Palestra. Mimeografado.
11
Assim, apesar das exceções é lícito afirmar que ainda predomina no
universo escolar, a expectativa e preferência por salas de aula onde os alunos
fiquem em silêncio, passivos, prestando atenção, sentados e quietos em suas
carteiras. Para esses educadores é válida a idéia dicotômica, segundo a qual,
para que a mente seja exercitada é possível - e preferível-, que o corpo
permaneça estático. Como conseqüência da crença nessa separação corpo e
mente, a escola, na maioria das vezes, acaba por tornar-se lugar pouco
interessante e atraente, dificultando ou até mesmo, impossibilitando a
sistematização da aprendizagem formal. Desconsideram assim, interpretações
construtivistas acerca da educação, que destacam como fundamental para o
aprendizado, uma sala de aula enquanto espaço de situações prazerosas e
lúdicas, na qual alunos(as), a todo o momento estimulados, sintam-se
encorajados e desafiados a inserirem-se ativamente no processo de
aprendizagem.
Sendo assim, os jogos têm papel fundamental na construção e no
desenvolvimento do individuo como um todo. No entanto, não podemos
esquecer que todo e qualquer jogo deve ter objetivos e configurar-se como
conseqüência de um trabalho de planejamento e avaliações sistemáticas.
Na busca de respostas às questões aqui apresentadas, o presente estudo
encontra-se estruturado em três partes. Inicialmente, buscou-se referencial
teórico em autores como Vygotsky, Piaget e Maturana, por suas contribuições
na área da educação e nas implicações próprias das dificuldades de
aprendizagem.
A seguir aborda-se especificamente o individuo com TDAH, as dificuldades
cognitivas por ele vivenciadas, o papel da escola e da família. Buscou-se,
ainda, conhecer sobre a implementação de estratégias de apoio a esse
educando/a.
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No capitulo posterior ressalta-se a contribuição dos jogos, como canal de
construção e facilitação da aprendizagem no processo de escolarização de
educando/as diagnosticados como portadores(as) de TDAH e finaliza-se,
abordando a importância da atuação mediadora do educador/a, caracterizada,
sobretudo, pela valorização e respeito às características dos alunos/as.
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CAPÍTULO I
Educação e Dificuldades de Aprendizagem. Uma questão de sala de aula.
A trajetória de desenvolvimento da espécie humana teve no processo
educativo, informal inicialmente e posteriormente formal, sua mais importante
base. Situação bastante diferentemente daquela experimentada pelos animais,
que por características próprias de sua espécie, se adaptam ao meio.
Conseqüência dessa diferença que, se também nos caracteriza como animais
ressalva, porém, que “racionais” (!?), em nossa sociedade, acumuladora de
conhecimentos e intervenções no meio ambiente, educar-se se tornou,
portanto, uma ferramenta essencial para a vida em grupo.
Especificamente em relação ao processo formal de escolarização, foco
desse trabalho é importante observar, que ao longo dos séculos,
independentemente da cidade onde ocorria (Grécia, Egito, China ou Roma
dentre outras) e mesmo ainda, do local onde era ministrada (palatina ou
monástica), caracterizou-se por atender a um grupo restrito, privilegiado e,
sobretudo, masculino. Para Aranha (2006, p.45):
“Quando as sociedades se tornaram mais complexas, vimos
que a divisão se instalou no seio delas: as mulheres, confinadas
no lar, passaram a ser dependentes dos homens, os segmentos
sociais se especializaram entre governantes sacerdotes,
mercadores, produtores e escravos, criando-se uma hierarquia
de riqueza e poder. Essas mudanças exigiram uma revolução na
educação, que deixou de ser igualitária e difusa, portanto
acessível a todos, como nas tribos. Enquanto alguns eram
privilegiados, o restante da população não tinha direitos políticos,
nem acesso ao saber da classe dominante.”
Também em Brandão (2007, p. 37-38) encontramos a indicação desse
processo de exclusão:
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“A primeira educação que houve em Atenas e Esparta foi
praticada entre todos, nos exercícios coletivos da vida, em todos
os cantos onde as pessoas conviviam na comunidade. Quando a
riqueza da polis grega criou na sociedade estruturas de oposição
entre livres e escravos, entre nobres e plebeus, aos meninos
nobres da elite guerreira e, mais tarde, da elite togada é que a
educação foi dirigida”.
A história da educação no Brasil também não fugiu à regra e também aqui,
nas escolas, apenas bem mais tarde chegariam as representantes do sexo
feminino. Sobre a exclusão de meninas e mulheres em nosso país, Barbosa
(2006), destaca que:
“Numa época em que poucas escolas existiam e nem era
obrigatório que crianças estudassem, (...) meninas de famílias
tradicionais recebiam instrução em casa mesmo, por intermédio
de um tutor, ou nos internatos religiosos (...) no Império, em
1881, no Rio de Janeiro, o Liceu de Artes e Ofícios, duas
décadas após sua fundação, inaugura as classes
profissionalizantes, voltadas às meninas de menor poder
aquisitivo”.
De fato, podemos afirmar que escolarizar massas é processo recente em
nossa história. Segundo Ferreiro (2002, p.11) é resultado da Revolução
Francesa, quando “(...) se decidiu, que escrever não era uma profissão, mas
uma obrigação, e que ler não era marca de sabedoria, mas de cidadania”.
Nos dias atuais a crença na importância da escolarização é idéia universal.
O Brasil em sua constituição, inclusive, assegura esse direito e enfatiza sua
importância, caracterizando comprometimento e um salto de qualidade em
comparação aos instrumentos anteriores. Em seus artigos 205 e 206 especifica
ser a educação um direito de todos e dever do Estado e da família,
assegurando que será ministrado com base nos princípios da gratuidade, no
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nível do ensino fundamental, nos estabelecimentos públicos, inclusive, para
jovens e adultos que não tiveram acesso na idade apropriada.
Assim, em uma cultura que cada vez mais, por lei ou em tese, valoriza a
escolarização, enfatizando que a escola é um lugar de direito, o “não aprender
satisfatoriamente” promove angústia, resultando em tensões emocionais
naqueles adultos que lidam no cotidiano da sala de aula. Contudo, não
podemos esquecer que também as crianças que não conseguem atingir o
esperado em termos de cognição também acabam, muitas das vezes,
experimentando o sentimento de rejeição.
É importante considerar na reflexão que buscamos estabelecer nesse
trabalho, a existência de diferentes pesquisas, que apontam a forma como
essas crianças caracterizadas como “fracassadas”, se relacionam com o
próprio “fracasso” por não haverem aprendido “como deveriam”. Muitas se auto
atribuem a incapacidade, como demonstram Chakur e Ravagnani (2001) e
Carraher (1995). Reforça-se assim, portanto, a ideia de que a ideologia do
dominador acaba por ser assimilada e afiançada pelo dominado.
Os caminhos encontrados para tentativas de superação desse problema
são variados e, por conseqüência, distintas as mobilizações empregadas nesse
sentido. Sem repostas definitivas, duas certezas, contudo, se apresentam. A
primeira refere-se ao aspecto que, dentre os muitos fatores que influenciam a
qualidade e os resultados da escola, o professor é, sem dúvida, o mais
importante; e o segundo, a certeza que crianças com dificuldades de
aprendizagem não apresentam necessariamente baixa inteligência. Tais
percepções já representam, por si só, grande avanço no trato da questão.
Na prática, a complexidade de uma explicação a pais e responsáveis
quanto a não aprendizagem de suas crianças, torna-se cada vez mais
evidente. Há reações e cobranças por parte de muitos desses responsáveis,
que não compreendem as notas baixas e repetências. Por outro lado, o truque
político, de promover suas crianças às séries seguintes sem que estejam em
condições adequadas, também já não seduz incondicionalmente a população.
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Na verdade, podemos afirmar que, diante do quadro, também os adultos se
sentem fracassados.
Como vimos em Ferreiro (2002), não devemos perder de vista, que a
escolarização universal é resultado do desenvolvimento capitalista ocidental. A
expectativa na sociedade contemporânea e pós-moderna é que todos
aprendam a escrever e ler e possam, assim, inserir-se no mundo da cidadania
e do trabalho.
De fato, hoje, cada vez mais, atualmente, encontramos no universo escolar
reflexões acerca da a questão da dificuldade da aprendizagem,
simultaneamente atrelada às tentativas de superação de dificuldades da ação
docente, ambas apresentando como conseqüência o baixo rendimento escolar.
Felizmente, no contraponto da acomodação docente e pedagógica, que
acaba por culpabilizar a própria vítima, por seu fracasso escolar, pesquisas
realizadas no desenvolvimento e construção da aprendizagem trazendo novos
indicadores à questão e contribuindo para a superação de dificuldades na
escola. Dentre os teóricos que muitas contribuições têm apresentado
destacamos Piaget, Vygotsky e Maturana, para quem a aprendizagem
caracteriza-se como a ação do sujeito sobre o meio.
Na teoria piagetiana compreende-se que as formas de pensamento
constroem-se na interação da criança com os objetos, sempre através da ação.
O individuo conhece o objeto, assimilando-o a seus esquemas. Ao longo de
seu desenvolvimento, as crianças passam a reorganizar e reconstruir esses
esquemas, diversificando-os, distinguindo-os e combinando-os. Sua teoria
destaca-se ainda, justamente por chamar atenção ao fato de que os indivíduos,
que são distintos, também de maneira distinta concretizam suas
aprendizagens. Segundo Piaget (1988, p.61):
“Na realidade, a educação constitui um todo indissociável, e não se
pode formar personalidades autônomas [...] se por outro lado o
indivíduo é submetido a um constrangimento intelectual de tal
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ordem que tenha de se limitar a aprender por imposição sem
descobrir por si mesmo a verdade: se é passivo intelectual(...) “
Para Piaget(1998), a assimilação, definida como um mecanismo de
incorporação das particularidades, qualidades dos objetos aos esquemas ou
estruturas intelectuais que o sujeito dispõe em certo momento; a acomodação,
que se refere ao mecanismo complementar em que os esquemas ou estruturas
do sujeito devem se ajustar às propriedades e particularidades do objeto e a
equilibração, processo no qual indivíduo deve compensar de maneira ativa as
interferências que o meio apresenta em relação ao objeto a ser compreendido,
são conceitos centrais na contribuição ao estudo dos problemas de
aprendizagem.
Tendo como foco o aspecto que aprendizagem é conseqüência de uma
interação dinâmica da criança com o meio social ao qual pertence, segundo
Vygotsky(1991), a constituição da capacidade cognitiva é fruto da associação
pensamento e da linguagem, traduzindo-se no nível mais complexo de
funcionamento cognitivo, envolvendo reflexão, o planejamento e a organização,
todos resultados do pensamento verbal construído pela mediação simbólica ou
social.
Importante contribuição aos educadores, os estudos de Vygotsky
enfatizam que as funções psicológicas superiores - percepção, atenção e
memória-, próprias dos seres humanos, são desenvolvidas pelas crianças ao
longo da existência e não nascem com elas. Assim a escola, através de uma
prática pedagógica mediadora por parte do educador, em muito facilitará - ou
não - que essas funções sejam desenvolvidas pelas crianças, durante os anos
em que freqüentam salas de aula.
Uma grande contribuição de Vygotsky, portanto, refere-se à compreensão
desse caráter mediador do professor, proporcionando a possibilidade de uma
intervenção efetiva para com alunos que apresentem dificuldades de
aprendizagem. Para ele, a qualidade da mediação é quem faz toda a diferença,
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nos resultados alcançados pelas crianças em seu processo cognitivo. Segundo
o autor (2001, p.456):
No fim das contas só a vida educa, e quanto mais amplamente ela
irromper na escola mais dinâmico e rico será o processo educativo. O
maior erro da escola foi ter se fechado e se isolado da vida com uma
cerca alta. A educação é tão inadmissível fora da vida quanto a
combustão sem oxigênio ou a respiração no vácuo. Por isso o trabalho
educativo do pedagogo deve estar necessariamente vinculado ao seu
trabalho criador, social e vital.
Chegamos agora a Maturana que, assim como os autores anteriormente
destacados, também entende ser a educação um processo contínuo que
envolve o individuo em toda sua existência. Para Maturana(1999) “ Como
vivermos é como educaremos e conservaremos no viver o mundo que
vivermos como educandos.”
O autor, ao apresentar aos educadores o conceito de autopoiese - palavra
que deriva do grego, e que em seu sentido literal, traduz fazer-se ou produzir-
se a si mesmo-, ressalta que não se trata apenas de falar de auto-referência,
mas, de acreditar na existência de processos pelos quais passa o individuo, em
sua formação como um sujeito, uma unidade viva. Como conseqüência, devem
os educadores(as), portanto,
Logo, o contato com Maturana, nos permite refletir sobre a importância de
que, na busca de caminhos para a superação de dificuldades de
aprendizagem, tão importante quanto focar o individuo é considerar a
importância de atuar também na e para reestruturar o processo educativo, ou
seja, romper com aquilo a que Freire denominava educação Bancária e
mecanicista. A atuação docente, portanto, precisa acreditar nas possibilidades
de contribuir efetivamente para a construção de um aluno ativo e critico que,
em sua relação com a sociedade seja capaz de somar na construção de um
mundo harmônico e ecologicamente justo.
MATURANA (2002) nos chama a atenção dos educadores para que
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reflitam que educar é:
“(...) recuperar essa harmonia fundamental que não destrói, que
não explora, que não abusa, que não pretende dominar o mundo
natural, mas que deseja conhecê-lo na aceitação e respeito para
que o bem-estar humano se dê no bem-estar da natureza em que
se vive. Para isso é preciso aprender a olhar e escutar sem medo
de deixar de ser, sem medo de deixar o outro ser, em harmonia,
sem submissão”.(p.34)
Assim, apenas o verdadeiro o enfrentamento das dificuldades de
aprendizagem, entre avanços e recuos experimentados, é condição essencial
para o estabelecimento de uma educação crítica, para toda a vida e não restrita
ao ambiente escolar, onde, o papel dos educadores se estabeleça não como
transmissor de conhecimentos, mas, mediadores e articuladores da
aprendizagem.
Como destaca Fonseca (1995), a reflexão sobre a questão implica que
professores adotem uma postura de interação e dialética, na qual os déficits e
dificuldades de aprendizagem levem em consideração as condições internas e
sócio-culturais e escolares nas quais estão inseridos os alunos(as).
Um resultado satisfatório na aprendizagem implica a vivencia de
oportunidades cognitivas adequadas, ou seja, estimulantes, prazerosas e de
acordo com o desenvolvimento do aluno. É importante considerar, que um
espaço escolar pouco estimulante acaba por contribuir para que seus alunos
não consigam inserir-se no processo e, por conseqüência, não desenvolvam
todas as potencialidades que possuem.
Diante disso, cabe perguntar, quantos alunos sem qualquer
comprometimento cognitivo, por falta de oportunidades de aprendizagem
adequadas, tenham sido rotulados como incapazes? Quantos, de fato, tenham
assumido “que têm problemas” e evadido definitivamente do processo escolar?
Quantos teriam sido descartados apenas por não reproduzirem de maneira
idêntica os conteúdos tais como lhes foram apresentados?
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Concretamente, não são poucas as muitas vítimas das condições
inadequadas oferecidas pelo ambiente escolar.
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CAPÍTULO II
TRANSTORNO DE DEFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE. O TDAH NO COTIDIANO DA SALA DE AULA.
Dentre as várias dificuldades de aprendizagem identificadas pelos
educadores no universo escolar, destaca-se o Transtorno de Déficit de Atenção
e Hiperatividade, o TDAH, descrito pela primeira vez em 1902, pelo pediatra
George Still, e ao longo dos anos estudado e ampliado em sua definição.
Alunos portadores de TDAH apresentam, segundo seus professores e
demais profissionais da educação que com eles lidam, grandes dificuldades de
ajustamento diante das demandas apresentadas pela escola. Também comum,
são as dificuldades apresentadas em relação ao relacionamento pessoal com
professores e colegas.
Contudo, se por um lado, o TDAH é uma realidade nas escolas,
igualmente real são as limitações de toda a equipe escolar. E essa limitação,
cabe esclarecer, centra-se fundamentalmente em uma formação pedagógica
insuficiente para lidar com a questão, bem como, com a existência de salas de
aula superlotadas e ausência de infra-estrutura adequada.
Koch e Rosa (2009) destacam que a hiperatividade e déficit de atenção
são um problema mais comumente visto em crianças. Para os autores, o
transtorno tem como base sintomas de desatenção e hiperatividade,
caracterizando indivíduos extremamente ativos e agitados, que destacam-se do
comum.
Mais comum na infância, o TDAH pode resultar em sérias conseqüências
sociais e pedagógicas para seus portadores, dentre elas, um baixo rendimento
escolar/profissional; dificuldade de manter e estabelecer relacionamentos;
baixa auto-estima e maior incidência de repetência e evasão escolar. Logo,
considerando-se ser o espaço da sala de aula como aquele em que o problema
se evidencia mais explicitamente, torna-se de fundamental importância que
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professores(as) tenham conhecimento da questão e possam identificar
sintomas.
Embora se manifeste de múltiplas formas, resultado da resistência e
dificuldade de concentração apresentada pelas crianças, sobretudo, na
realização e demandas das tarefas individuais, o TDAH geralmente é traduzido
pelos professores(as) como “as crianças que têm bicho carpinteiro e não
param quietas”. Também a atenção dos professores(as) é despertada pelo fato
que essas crianças apresentam interesse por atividades lúdicas e prazerosas,
que exijam esforço para resolução e chamem a atenção.
Contudo, há também aqueles alunos “distraídos”, que apresentam
dificuldades quanto a organizar-se para a resolução de tarefas e, comumente,
reclamam por haver perdido objetos. Não é incomum ainda, que fiquem
rotulados como aqueles que não escutam o que é dito pelo professor(a) e “
falam pelos cotovelos”. Em ambos os casos, contudo, uma coisa é certa:
dificuldade de concentração.
Descartando a idéia de um profissional mágico e capaz de solitariamente
resolver todas as questões que se apresentem é, portanto, importante
destacar, que para uma intervenção docente, o professor precisa contar com o
auxílio de uma equipe multidisciplinar e que necessariamente envolva os
familiares. Sobre isso destacamos Perrenoud (2000), para quem “o ideal seria,
em uma organização de equipe, encontrar os recursos para atender a esses
alunos, se fosse o caso com ajuda externa, mas sem excluí-los”.
Importante lembrar, que se as dificuldades dos portadores de TDAH não
estão restritas à escola, contudo, nela se acentuam. Afinal, desde a
alfabetização, o aluno(a) tem que lidar e obedecer regras e os limites propostos
pelo professor. Terá que manter a concentração e ficar atento- e calado- diante
da explanação dos conteúdos que ocuparão seu trajeto escolar, sem contudo,
ter a garantia de um boletim satisfatório ao final .
Logo, é fundamental lembrar constantemente, que também responsáveis e
parentes convivem com o problema e, portanto, precisam e devem ser aliados
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da escola. Importante ainda considerar que, seja por desconhecimento ou
mesmo preparo para lidar com a questão, a tendência de muitos pais é encarar
as crianças como malcriadas e de difícil trato, criando situações que, muitas
vezes, acabam por dificultar ainda mais a intervenção feita pela escola. Tê-los,
portanto, como aliados, sem dúvida, em muito facilitará o trabalho dos
educadores.
Além disso, no que se relaciona à cobrança sobre o chamado “sucesso
escolar”, é bom lembrar que muitos desses pais e mães o entendem e reduzem
à mera reprodução, pelos filhos, do conteúdo escolar transmitido. Como
conseqüência, em detrimento da qualidade, muitas vezes os responsáveis
vislumbram, apenas, a quantidade de notas e acertos obtidos pelos filhos.
Dessa forma, a articulação escola, pais e comunidade em muito contribuiriam
para o enfrentamento da questão. E, essa articulação permitirá ainda, que os
responsáveis compreendam melhor, não apenas a engrenagem do sistema
escolar, mas as razões pelas quais seus filhos não atendem ao que deles se
espera e como podem colaborar efetivamente.
Por que não considerar que muitos professores, constantemente se
sentem tão frustrados quanto os responsáveis, diante das dificuldades de suas
crianças?
De certo é difícil para um professor, diante das reais condições da escola
brasileira, sobretudo aqueles da rede pública, a tarefa de lecionar e dar conta
de diferentes expectativas a ele imposta pela sociedade. A começar,
certamente, pelo processo formativo que, na maioria das vezes, limita-se aos
aspectos técnicos do magistério. Contudo, é preciso estar atento ao que
destaca Ayres(2004, p. 90):
“Embora alguns professores, não concordem que devam exercer
em sala da aula qualquer atividade que não seja a de lecionar, a
verdade é que aqueles que desenvolvem a capacidade de fazer
diagnósticos entre seus alunos; alem de servirem como importantes
vetores para correção de possíveis problemas, acabam
impreterivelmente sendo mais bem sucedidos”.
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Para o enfrentamento da questão é de fundamental importância, portanto,
que alunos com TDAH sejam motivados e encontrem um espaço de sala de
aula estimulante e desafiador. Infelizmente, não é incomum identificar no meio
acadêmico, aqueles(as) que pelo desconhecimento das características e
fatores que ocasionam o TDAH, defendem a separação das crianças em
turmas específicas e especiais. Sobre isso é importante que educadores
compreendam que abordadas adequadamente, crianças com TDAH
apresentam resultados cognitivos satisfatórios e conseguem desenvolver-se da
mesma forma que as demais crianças.
Assim, tão importante quanto não rotular crianças, pois, afinal, um
diagnóstico satisfatório não pode ou não deve ser traçado sem fundamentação
e confirmação dos fatores que envolvem a criança com TDAH, é não ser
indiferente aos sintomas por elas apresentados. Além disso, como vimos
anteriormente em Piaget e Vygotsky, indivíduos são seres únicos e, portanto,
reagem de maneira diferente em seu processo de construção do
conhecimento. É papel da escola tratar suas divergências com respeito e
auxiliá-los em suas dificuldades.
Escolas e famílias que convivem com crianças e adolescentes com
TDAH, precisam compreender que, mais que um problema, têm uma situação
para encaminhar com competência e interesse. A forma e os
encaminhamentos que vierem a ser dados é que podem no futuro, criar um
transtorno na vida de seus alunos e filhos.
Buscar alternativas que contribuam para a minimização do problema é
possível. Além da fundamentação teórica e da reflexão com demais
profissionais da escola, alguns recursos podem ser utilizados como agentes
estimuladores para a aprendizagem de alunos portadores de TDAH. Dentre
esses recursos destacam-se os jogos, que abordaremos no capítulo seguinte.
25
CAPÍTULO III
Jogos em sala de aula. Uma alternativa pedagógica na interação com o portador de TDAH.
Jogos e brincadeiras são universais. Há muito acompanham a espécie
humana em sua trajetória e fazem parte da vida das crianças,
independentemente de classe social, etnia e nacionalidade.
Através dos jogos e brincadeiras, as crianças descobrem o mundo,
divertem-se, socializam-se e descobrem o mundo que as cerca. Além disso,
extremamente importante, o fato que permitem ainda que aprendam regras e
descubram a importância de respeitá-las. O processo de aprendizagem lúdica.
Assim como o processo cognitivo que proporciona, se traduz na prática como
uma preparação para o futuro.
Na interpretação de Vygotsky, o ato de brincar se origina em uma situação
imaginária criada pela criança. Através dos jogos, desejos irrealizáveis podem
ser concretizados contribuindo para reduzir a tensão e simultaneamente
construir uma maneira de acomodação a conflitos e frustrações da vida real.
Entretanto, ele só se configurará como de fato educativo quando for
desenvolvido pelo educado(a), com objetivo e intencionalidade, pois, caso
contrário, se constituirá apenas como uma brincadeira. Diante disso, podemos
afirmar que o jogo encontra-se intimamente ligado ao próprio funcionamento da
inteligência, considerando-se que, sua construção depende de uma série de
assimilações e acomodações que o individuo realiza ao longo da vida.
Também Piaget ocupou-se da importância dos jogos, que para ele, podem
ser classificados a partir da evolução e desenvolvimento mental das crianças,
em: Jogos de exercícios - de zero a 2anos; Jogos de Símbolos - 2 a 7anos e
Jogos de Regras - a partir dos 7anos.
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Na análise Piagetiana, a atividade de jogar consiste em rituais ou
manipulações dos objetos em função de desejos e hábitos motores da própria
criança. Parcialmente a criança vai ampliando seus esquemas, adquirindo
assim, cada vez mais, prazer através de suas ações. E, destaca Piaget, é esse
prazer é que traz significado para as suas ações. Contudo, também aqui a
preocupação com a utilização consciente do recurso, afinal, cada jogo
dependerá da etapa de desenvolvimento em que se encontre o aluno.
Por tudo isso, pela importância e significância dos jogos, o presente estudo
tem como um de seus objetivos entendê-los, enquanto uma estratégia de
intervenção pedagógica junto a crianças portadoras de TDAH. A opção pela
utilização desse recurso, jogos, deve-se à compreensão de que a utilização de
estratégias adequadas em salas de aula, resultam em um processo de ensino
vivo, prazeroso e dinâmico, capaz de proporcionar no aluno, mudanças de
comportamento e de qualidade na aprendizagem.
Cabe esclarecer, entretanto, que várias são as intervenções possíveis em
sua utilização junto aos alunos com diferentes sintomas de TDAH. Além disso,
não se pode perder de vista que não é o jogo, por si, que permitirá
desenvolvimento e aprendizagem. Na verdade é a ação de jogar, a execução
propriamente dita, que permitirá o desenvolve da compreensão por parte do
aluno(a).
Sobre isso, é importante considerar que games, tão amplamente
difundidos entre crianças e jovens de diferentes segmentos sociais, são
capazes de lhes prender a atenção, simultaneamente exigindo que entendam
mecanismos de complexidade e recursos (complexidade) que podem vir a
dispor durante a brincadeira. Outro aspecto importante a salientar aqui seria o
fato de que a tecnologia, cada vez mais desenvolvida, pode ser uma
ferramenta útil e importante no trato com alunos portadores de TDAH. Afinal,
ao envolver operações entre indivíduos, além de propiciar o contato social, a
situação problema que o jogo oferece apresenta ao participante a oportunidade
de empregar procedimentos cooperativos para alcançar o objetivo final da
atividade.
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Contudo, não se pode esquecer, que também os jogos de tabuleiros,
cartas e dominós, dentre outros, despertam a atenção tanto quanto as
brincadeiras realizadas ao ar livre. Aqui, mais que o tipo de jogo, o importante é
que possua regras claras que possam ser entendidas pelas crianças que se
quer envolver.
Para o portador de TDAH, o jogo envolve operações entre pessoas,
contato social, e a situação problema que o jogo oferece dá ao participante
oportunidade de empregar procedimentos cooperativos para alcançar os
objetivos aos quais se propõe.
Assim, acreditamos que esse recurso seja adequado e traga bons
resultados a professores e alunos(as), quando empregados em sala de aula,
junto a alguns dos alunos portadores de TDAH. Contudo, é bom destacar que a
opção por jogos, precisa levar em conta as diversidades existentes na questão
do TDAH, seja em relação as manifestações, seja em relação aos sintomas
apresentados.
Através dos jogos, atividades que envolvam a escrita, a leitura e o cálculo,
a sociabilidade, dentre outras, podem ser apresentadas e trabalhadas com as
crianças de maneira diferente da metodologia tradicional.
Os jogos constituem-se ainda, como importantes aliados para a
observação sobre a simbolização e as relações que a criança estabelece com
os conteúdos, permitindo aos educadores, a formulação de hipóteses e
diagnósticos, visando a realização de intervenções no processo cognitivo das
crianças portadoras de DAH.
É importante que o educador tenha clareza do que destaca Fernández
(2001), para quem não existe uma única causa, e, por conseqüência, soluções
determinantes para o sintoma do TDAH na aprendizagem. Logo, o que se deve
buscar é compreender a relação do sujeito com o conhecimento e o significado
particular do aprender algum conhecimento. Segundo Maturana, apud (Moraes,
2003), “ o conhecimento é sempre ação efetiva em determinado domínio”
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Certamente, que como os demais recursos pedagógicos, também os jogos
precisam ser utilizados de maneira organizada, planejada e fundamentada.
Suas regras devem ser de fácil assimilação e objetivas, apresentadas
anteriormente às crianças. Logo, é imprescindível que o professor conheça
seus alunos, suas possibilidades e limitações. Afinal, qualquer estratégia
proposta só apresentará resultados, se adequada ao nível do grupo ao qual se
destina. Pedagogicamente, nenhuma atividade deve encerrar-se em si mesma.
Contudo, de maneira inversa, também como um instrumento diagnóstico
para o educador, devemos lembrar que, através da realização de uma
atividade lúdica, será possível perceber em uma criança, a manifestação de
dificuldades físicas, de memória, e/ou sociais, facilitando uma intervenção
precoce e positiva. Assim, a utilização dos jogos pode vir a se configurar como
uma via de mão dupla, permitindo identificar e interferir no TDAH.
Finalizando, podemos afirmar que os jogos, quando utilizados de maneira
consciente e planejada pelo educador, com a orientação competente do
psicopedagogo, em muito pode contribuir para a reconstrução do processo de
ensino e da aprendizagem de crianças portadoras de TDAH.
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CONCLUSÃO
Segundo MORIN (2000, p.20) “A educação é, pois, um constante trabalho de
saber traduzir e reconstruir sinais codificados pelos sentidos. Traduzindo e
reconstruindo, educador e educando se auto-constroem no processo
educacional.”
Sinais, sentidos e, sobretudo reconstrução de educandos e educador no
processo educativo foi o que o presente trabalho buscou enfatizar. Como e de
que maneira, esses sinais podem contribuir para o trabalho pedagógico junto a
crianças portadoras de TDAH ?
Como vimos, a identificação de TDAH é complexa e, se feita de maneira pouco
cuidadosa, pode acabar por rotular crianças, segregando-as no ambiente
escolar. Igualmente importante aqui é esclarecer, que nessa identificação,
também as condições reais de muitas escolas, bem como, a qualidade da
formação dos educadores(as), têm enorme interferência.
Assim, duas certezas se apresentaram ao longo desse estudo. A primeira
relaciona-se ao fato que não adianta apenas diagnosticar o problema, sem que
se pense em formas de intervenção. E, a segunda, o fato que intervenções
exigem disposição e envolvimento dos diferentes profissionais da área de
educação atuantes na escola.
Ao afirmarmos que o enfretamento do TDAH não é tarefa solitária do
educador(a), enfatizamos simultaneamente a importância do papel do
psicopedagogo(a) nesse processo. Como resultado de sua formação teórica, o
psicopedagogo tem plenas condições e conhecimentos de agir como mediador,
junto ao professor em sua atuação junto a crianças com TDAH.
Assim, dentre muitas outras, uma das tarefas que cabem ao psicopedagogo,
relaciona-se ao pensar de metodologias que possam – e consigam!- romper
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com a prática tradicional de repasse de conteúdo, tão responsável também
pelo fracasso escolar de muitos alunos.
Dentre essas metodologias, buscou-se no presente estudo destacar a
utilização os jogos, ou seja, o resgate e uso do lúdico como uma importante
técnica na atuação junto aos alunos portadores de TDAH.
A busca de respaldo teórico realizada, a partir dos autores consultados ao
longo da elaboração desse estudo (Piaget, Vygotsky e Maturana), permitiu
verificar ser o lúdico, para crianças, uma excelente possibilidade de
desenvolver aspectos cognitivos, afetivos, motores e sociais. Junte-se a isso,
no caso específico do portador de TDAH, o aspecto da facilitação da
aprendizagem, também essencial ao trabalho do educador.
Contudo, importante aqui observar que os jogos não se constituem a solução
mágica para todos os problemas de aprendizagem. E, justamente por isso, a
importância da atuação do psicopedagogo, que poderá sinalizar aos
professores as implicações, os limites e os cuidados necessários em sua
utilização para uma construção do conhecimento de forma prazerosa e
motivadora à aprendizagem.
Cabe destacar que, provavelmente, a primeira grande tarefa a ser enfrentada
pelo psicopedagogo, quanto à relação aos jogos e os portadores de TDAH, se
relacione a convencer os educadores sobre a importância de seu uso. Ou seja,
o convencimento- elemento essencial na educação, como destaca Freire-, das
possibilidades que se apresentam ao trabalho pedagógico, a partir do uso dos
jogos para a superação das dificuldades de aprendizagem.
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