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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
A PRÁTICA DOCENTE NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA:
UMA VISÃO SOBRE AS DIFICULDADES DOS
PROFESSORES.
DANEE ELDOCHY GOMES SOARES
Orientadora
Mary Sue Pereira
Rio de Janeiro
2009
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
A PRÁTICA DOCEN TE N A EDUCAÇÃO IN CLUSIVA:
UMA VISÃO SOBRE AS DIFICULDADES DOS
PROFESSORES.
OBJETIVOS:
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez
do Mestre – Universidade Cândido Mendes
como requisito parcial para obtenção do grau
de especialista em Educação Inclusiva.
Por: Danee Eldochy Gomes Soares
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, a força maior que nos guia.
Aos meus pilares de sustentação: meus pais
Elizabete e Rui e a Denise e Bruna irmãs que
tanto amo.
Ao Mendel Cesar, aquele que torna os meus
dias mais felizes. Te amo!
As amigas do curso de Educação Inclusiva:
Claudia Coutinho, Danielle Martins, Cris
Regallo e Heleonora que muito me ajudaram e
não me deixaram desanimar.
À família Aleluia, por sempre me acolher com
muito carinho.
Aos meus alunos pelo aprendizado mútuo.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, que muitas
vezes abdicaram dos seus sonhos em prol dos
meus. A vocês minha admiração eterna.
5
RESUMO
Nós professores somos vistos, na maior parte das vezes com boa
intenção, como pessoas abnegadas, que trabalham por amor e vivem numa
espécie de missão. Até nós mesmos às vezes nos esquecemos de que somos
trabalhadores e profissionais. Ainda que seja saudável ter amor pelo que
fazemos, é imprescindível possuirmos condições dignas de trabalho em todas
as circunstâncias. Isto inclui também a nossa própria formação. É mais notável
para os profissionais do segundo segmento do ensino fundamental e do ensino
médio que nas licenciaturas que cursamos pouco ou nada se falou sobre
educação especial. Esta é uma lacuna grave. Aí nossa ânsia entra em campo:
o que fazer com esse aluno? Quais os tipos de deficiência e como direcionar
minha atuação para cada um deles? Como avaliá-los? Até que ponto eles
devem ter atividades direcionadas somente para eles?
A escola hoje não reúne condições de mudar o mundo, ela precisa
antes mudar a si própria, e mudando a si própria acaba mudando o mundo
também. São muitas as barreiras, variados os obstáculos. Obstáculos esse que
só serão superados a partir do momento em que a educação for enxergada de
forma mais aprofundada. Somente inserir um aluno portador de necessidades
especiais em uma classe “regular” não é inclusão.
6
METODOLOGIA
A realização deste trabalho envolveu basicamente três momentos
distintos, mas interdependentes. A primeira etapa consistiu na realização de
uma revisão bibliográfica sobre o tema da educação inclusiva e dos
percursos institucionais da escola no Brasil. Após foram redigidas reflexões
sobre a prática do professor na educação e as condições existentes para ela.
Ainda nesta etapa foram aplicados questionários a professores do 2º
segmento do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Por fim a partir dos
resultados verificados buscamos analisar o problema colocado e apontar
possíveis soluções.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
A escola e a Educação Inclusiva 10
CAPÍTULO II
A Prática Docente Frente à Educação Inclusiva 29
CAPÍTULO III
Caminhos Possíveis: Por uma Inclusão de Verdade! 33
CONCLUSÃO 42
BIBLIOGRAFIA 43
ÍNDICE 44
ANEXO 45
FOLHA DE AVALIAÇÃO 46
8
INTRODUÇÃO
No início eles foram chegando, da mesma forma que todas as crianças
chegam à escola. Tudo era considerado dentro da normalidade, mas não
demorou muito para que se percebesse que o instrumental escolar existente
até então, seria insuficiente para resolver todos os desafios surgidos, e os que
ainda estavam por vir.
Instalou-se a perplexidade. O que fazer? Como fazer? Quem vai
fazer? Por que fazer?... Por muitas e muitas vezes as propostas apresentadas
se afunilaram de tal forma, que a alternativa da segregação se evidenciava
como única via de solução, mas apesar de todas as convicções, aparentes
evidências e a "lógica" pedagógica apontarem esse caminho, na contramão
dos acontecimentos os números de crianças "especiais" que chegavam à
escola, era cada vez maior, tanto oriundo das escolas especiais, como
diretamente da comunidade.
Neste estudo pretendemos apontar alguns desafios e polaridades que
permeiam o discurso de todos aqueles que estão envolvidos com a
problemática da educação inclusiva no Brasil e temos a pretensão de validar
teoricamente as constatações e inferências construídas a partir da vivência de
pessoas que trabalham com crianças portadoras de necessidades especiais
em sala.
A educação especial de forma inclusiva se tornou “moda” na
pedagogia dos últimos tempos. Nas redes privada e pública se discute a
melhor forma de implantação da chamada inclusão. O que assusta é o
“simplismo” na forma de execução dessa inclusão. Não basta colocar os alunos
com necessidades especiais em salas comuns e achar que assim teremos
todos aprendendo normalmente, tanto os especiais como os ditos “normais”.
Esquece-se que são variadas as dificuldades que cada aluno especial pode
apresentar, omite-se a notável falta de estrutura das escolas, privadas
inclusive, para lidar com a questão. Aí chegamos também no objetivo desta
9reflexão: esconde-se o fato de nós professores, na grande maioria das vezes,
não nos sentimos preparados para trabalhar com estes alunos, dando vez a
sentimentos como angústia e ansiedade, atrapalhando o trabalho docente
como um todo.
A inclusão escolar é o processo pelo qual uma escola procede,
permanentemente, à mudança do seu sistema, adaptando suas estruturas
físicas e programáticas, suas metodologias, tecnologias e capacitando
continuamente seus professores, especialistas, funcionários e demais
membros da comunidade escolar, inclusive todos os alunos e seus familiares e
a sociedade em seu entorno.
Qualquer escola, comum ou especial, que se convencer da
necessidade de se adequar aos novos tempos e novos valores sociais estará
iniciando uma desafiadora jornada da inclusão escolar, cuja principal
mensagem é a de que a educação de alunos com deficiências e alunos não-
deficientes, juntos, desenvolvendo relacionamentos positivos através de
experiências educacionais e sociais, é fundamentalmente vantajosa.
Em que medida um processo de inclusão com todas estas deficiências
não é ainda mais excludente? O aluno portador de necessidades especiais
ficaria numa turma com os “normais” fazendo as mesmas atividades com suas
dificuldades sendo levadas em conta somente na hora das avaliações. E o
professor, ávido por fazer um bom trabalho, pode não dar conta de suprir as
dificuldades dos especiais e nem de cumprir seu cronograma com os sem
necessidades especiais.
Nesta perspectiva, procuramos destacar os principais problemas,
dificuldades e impasses presentes no cotidiano do trabalho dos educadores.
Para isso foi aplicado um questionário, onde o principal objetivo era descobrir
onde estão as principais dificuldades enfrentadas por nós professores ao
trabalharmos com alunos de inclusão.
10
CAPÍTULO I
A ESCOLA E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA
A Educação Especial foi tradicionalmente concebida como destinada a atender o deficiente mental, visual, auditivo, físico e motor, além daqueles que apresentam condutas típicas, de síndrome e quadros psicológicos, neurológicos e psiquiátricos. Também estariam inseridos nessa modalidade de ensino os alunos que possuem altas habilidades e superdotação (GURGEL, 2007, p. 39).
A educação inclusiva é muito mais do que a simples introdução dos
alunos portadores de necessidades especiais nas classes regulares de ensino.
É preciso romper com preconceitos e trabalhar a diversidade. Segundo
Mantoan (1997) É preciso preparar a escola para incluir nela o aluno especial
e não ao contrário.
1.1 - A instituição escola no Brasil.
A instituição escola no Brasil foi implantada pelos jesuítas, quase
cinquenta anos após o descobrimento com a chegada do padre Manoel de
Nóbrega e mais dois jesuítas que o ajudariam no processo de catequização
dos indígenas. Mais tarde com a necessidade crescente de formar padres
esses jesuítas desenvolveram as escolas de ordenação voltadas a atender
filhos de colonos e mestiços, nem todos tinham a intenção de tornarem-se
padres, mas essa era a única escola que existia. No entanto o acesso à escola
era extremamente restrito e cheio de dificuldades.
Desde então o processo educacional passou por grandes mudanças e
hoje ele é regido pelos seguintes princípios:
11Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de
liberdade
e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.
Art. 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o
pensamento, a arte e
o saber;
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
VII - valorização do profissional da educação escolar;
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação
dos
sistemas de ensino;
IX - garantia de padrão de qualidade;
X - valorização da experiência extra-escolar;
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
(LDB, 1996)
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional criada em 1996,
institui que a educação escolar é composta pela educação básica e educação
superior, onde a educação básica subdividi-se em três níveis: educação infantil,
12ensino fundamental e ensino médio. Sendo dever do Estado assegurar o
ensino fundamental e oferecer com prioridade, o ensino médio. Os municípios
ficarão encarregados de oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas
e com prioridade, o ensino fundamental podendo atuar em outros níveis de
ensino desde que as necessidades da sua área de atuação estejam
plenamente atendidas.
Apesar de ser papel do poder público oferecer à população educação de
qualidade e gratuita, não é isso que observamos em nossa sociedade. Visto
que é comum ouvirmos notícias negativas sobre as nossas instituições públicas
de ensino, o que tem gerado uma “fuga” em direção as instituições particulares
de ensino, contribuindo assim para “guetificação” nas escolas públicas que
passam a ser frequentadas quase que exclusivamente por alunos pertencentes
às classes sociais mais baixas, dificultando a convivência e integração entre as
classes sociais existentes.
A LDB não fala sobre educação inclusiva, mas sim sobre a educação
dos portadores de necessidades especiais. Mas então o que seria educação
inclusiva? Segundo Fernando Siqueira A educação inclusiva se caracteriza
como processo de incluir os portadores de necessidades educacionais
especiais ou com distúrbios de aprendizagem na rede regular de ensino, em
todos os seus graus, pois nem sempre a criança que é esse aluno é
considerados portador de necessidades educativas especiais. A educação
inclusiva não é voltada somente para os alunos portadores de necessidades
especiais com patologias definidas, mas sim para todos que precisam de
atenção especial, por exemplo: temos a idéia pré-concebida de que os
superdotados não necessitam de atenção ou atividades próprias destinadas a
eles. Ou seja, todos aqueles indivíduos que de alguma forma encontram-se a
margem do processo educacional devem ser trabalhados a fim de sanar as
suas dificuldades e serem incluídos de fato.
13
Veja abaixo o que a LDB fala sobre educação especial:
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a
modalidade de
educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para
educandos portadores de necessidades especiais.
§ 1º. Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola
regular, para
atender às peculiaridades da clientela de educação especial.
§ 2º. O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços
especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos,
não for
possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular.
§ 3º. A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início
na faixa
etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades
especiais:
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização
específicos, para
atender às suas necessidades;
II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível
exigido para a
conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e
aceleração para
concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados;
14III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior,
para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular
capacitados para a
integração desses educandos nas classes comuns;
IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na
vida em
sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem
capacidade de
inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais
afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas
áreas artística, intelectual ou psicomotora;
V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares
disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão critérios
de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas
e com atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e
financeiro pelo Poder Público.
Parágrafo único. O Poder Público adotará, como alternativa preferencial, a
ampliação do
atendimento aos educandos com necessidades especiais na própria rede
pública regular de ensino, independentemente do apoio às instituições
previstas neste artigo.
(LDB, 1996)
Como podemos observar a LDB, não estabelece critérios claros sobre a
educação inclusiva, o que acaba tornando o trabalho dos professores ainda
mais complicado. A ideia de que o processo educacional deve ser inclusivo, é
relativamente novo. Surgiu nos Estados Unidos na década de 1970, através da
Lei Pública 94.142, de 1975.
15Mas o que uma escola inclusiva deveria oferecer? Segundo Leny
Magalhães professora da Faculdade de Educação da Universidade de São
Paulo deve-se privilegiar alguns critérios, critérios estes que serão citados
abaixo.
1. Um direcionamento para a Comunidade - Na escola inclusiva o
processo educativo é entendido como um processo social, onde todas
as crianças portadoras de necessidades especiais e de distúrbios de
aprendizagerm têm o direito à escolarização o mais próximo possível
do normal. O alvo a ser alcançado é a integração da criança
portadora de deficiência na comunidade.
2. Vanguarda - Uma escola inclusiva é uma escola líder em relação
às demais. Ela se apresenta como a vanguarda do processo
educacional. O seu objetivo maior é fazer com que a escola atue
através de todos os seus escalões para possibilitar a integração das
crianças que dela fazem parte.
3. Altos Padrões - há em relação às escolas inclusivas altas
expectativas de desempenho por parte de todas as crianças
envolvidas. O objetivo é fazer com que as crianças atinjam o seu
potencial máximo. O processo deverá ser dosado às necessidades de
cada criança.
4. Colaboração e cooperação - há um privilegiamento das relações
sociais entre todos os participantes da escola, tendo em vista a
criação de uma rede de auto-ajuda.
5. Mudando papéis e responsabilidades - A escola inclusiva muda os
papéis tradicionais dos professores e da equipe técnica da escola. Os
professores tornam-se mais próximos dos alunos, na captação das
suas maiores dificuldades. O suporte aos professores da classe
comum é essencial, para o bom andamento do processo de ensino-
aprendizagem.
6. Estabelecimento de uma infraestrutura de serviços -
gradativamente a escola inclusiva irá criando uma rede de suporte
para superação das suas maiores dificuldades. A escola inclusiva é
uma escola integrada à sua comunidade.
167. Parceria com os pais - os pais são os parceiros essenciais no
processo de inclusão da criança na escola. 8. Ambientes
educacionais flexíveis - os ambientes educacionais tem que visar o
processo de ensino-aprendizagem do aluno.
9. Estratégias baseadas em pesquisas - as modificações na escola
deverão ser introduzidas a partir das discussões com a equipe
técnica, os alunos , pais e professores.
10. Estabelecimento de novas formas de avaliação - os critérios de
avaliação antigos deverão ser mudados para atender às
necessidades dos alunos portadores de deficiência.
11. Acesso - o acesso físico à escola deverá ser facilitado aos
indivíduos portadores de deficiência.
12. Continuidade no desenvolvimento profissional da equipe técnica -
os participantes da escola inclusiva deverão procurar dar continuidade
aos seus estudos, aprofundando-os.
(http://www.geocities.com/Athens/Styx/9231/educacaoinclusiva.htm,
acessado em 18/06/2009)
O início da inclusão no Brasil teve influência de dois eventos
educacionais que discutiram o fracasso escolar. O primeiro evento, a
Conferência Mundial de Educação para Todos, ocorreu na Tailândia em 1990.
Durante esse encontro discutiu-se a necessidade do desenvolvimento de uma
política educacional de qualidade, a qual possibilitasse o atendimento efetivo a
um maior número de crianças na escola. Além disso, nesse evento, destacou-se
a importância de serviços que atendessem aos alunos, tanto aqueles
considerados normais, quanto aqueles com necessidades especiais.
O segundo evento, a Conferência de Salamanca, ocorreu em 1994, na
Espanha. Foi durante esse evento que o conceito de escola inclusiva passou a
ser discutido de forma mais sistemática. Seu principal objetivo, segundo Borges
(2004), era o desenvolvimento de um trabalho pedagógico de qualidade,
centrado no aluno, oferecendo a oportunidade de aprendizagem a todos. De
acordo com a Declaração de Salamanca, estabelecida durante a conferência,
qualquer aluno que apresentasse dificuldades em sua escolarização seria
17considerado com necessidades educativas especiais, cabendo a escola
adequar-se às especificidades de cada aluno.
Com relação à inclusão de alunos com necessidades especiais, a
legislação contida na Constituição Federativa do Brasil de 1988, artigo 208,
define que o atendimento aos deficientes deve ser dado, preferencialmente, na
rede regular de ensino. Além disso, a Lei de diretrizes e Bases (LDB), de 1996
(BRASIL, 1996), também prevê que a educação seja a mais integrada possível,
propondo a inclusão dos alunos com necessidades especiais na rede regular de
ensino.
Apesar de as leis do sistema educacional brasileiro garantirem a
inclusão de alunos com necessidades especiais na rede regular de ensino,
Mendes (2002/2003) constata que na atualidade, para uma estimativa de cerca
de seis milhões de crianças e jovens com necessidades educacionais especiais,
não chega a quatrocentos mil o número de matriculados, considerando o ensino
especial e o ensino regular. Portanto, a maior parte desses alunos ainda está
fora de qualquer tipo de escola. Tal autora comenta que esse quadro indica que
uma exclusão generalizada dos sujeitos com necessidades educacionais
especiais ainda faz parte da realidade brasileira. Esse fato apenas evidencia que
um número significativo de alunos com necessidades educativas especiais que
têm acesso à escolaridade, não estão recebendo uma educação apropriada,
seja pela falta de profissionais qualificados, seja pela falta de recursos.
1.2 – A inserção dos portadores de deficiência na sociedade.
As primeiras escolas de Educação Especial foram voltadas em
primeiro plano para os deficientes sensoriais, porque, à época, eram comuns
os cegos e surdos, assim como era relativamente fácil encontrar cegos com
memória excepcional, que cantavam, que conheciam música, que faziam uma
série de maravilhas.
18Em meados do século XX, observa-se um movimento que tende a
aceitar as pessoas portadoras de deficiência e a integrá-las tanto quanto
possível à sociedade.
À luz deste princípio, novos conhecimentos foram surgindo e o
conceito de excepcional, estático e permanente, deu lugar a uma visão mais
dinâmica e humanística destes indivíduos, que passaram a ser reconhecidos,
pelo menos no plano de idéias, como pessoas com direitos e deveres iguais
aos demais seres humanos, precisando que lhes sejam oferecidas as mesmas
condições de acesso aos bens culturais e materiais produzidos historicamente
pela humanidade.
Qual o significado da Educação Inclusiva, nas leis:
" Toda pessoa tem direito à educação"
(Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948)
" Universalizar o acesso à educação e promover a eqüidade".
(Declaração Mundial sobre Educação para todos, 1990)
" Todas as crianças, de ambos os sexos, têm o direito fundamental à educação
e a elas deve ser dada a oportunidade de obter e manter um nível aceitável de
conhecimentos".
(Declaração de Salamanca, 1994)
" ... atendimento educacional especializado gratuito a educandos com
necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino".
(LDBEN; 1996, art. 4º - III).
" A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno
desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e
qualificação para o trabalho." (Estatuto da Criança e do Adolescente, 1990, art.
53)
" A política de inclusão de alunos que apresentam necessidades educacionais
especiais na rede regular de ensino não consiste apenas na permanência física
desses alunos junto aos demais educandos, mas representa a ousadia de
19rever concepções e paradigmas, bem como desenvolver o potencial dessas
pessoas, respeitando suas diferenças e atendendo suas necessidades"
(Conselho Nacional de Educação/Câmara Educação Básica, Parecer
Nº 17, de 03/07/01)
" Ao se construir uma proposta pedagógica, é fundamental a revisão de alguns
paradigmas que, tradicionalmente, têm norteado a escola pública brasileira. Em
primeiro lugar, é preciso compreender a educação como um processo de
formação do ser humano em todas as suas múltiplas dimensões:
conhecimento, afetividade, sexualidade, cidadania e ética."
(Escola Sagarana: Educação para a vida com Dignidade e Esperança, 1999. p.
39).
A integração é um processo de inserção do PNE (Portadores de Necessidades
Especiais) no ensino regular e pode ser conceituada como um fenômeno
complexo que vai muito além de colocar ou mantê-los em classes regulares. É
parte do atendimento que atinge todos os aspectos do processo educacional.
De acordo com a Lei Federal 7.853 de 24 de outubro de 1989. é direito
das pessoas portadoras de deficiência:
NORMAS GERAIS
Artigo 1. - Ficam estabelecidas normas gerais que asseguram o pleno exercício
dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiência, e sua
efetiva integração social, nos termos desta Lei.
Parágrafo l. - Na aplicação e interpretação desta Lei, serão considerados os
valores básicos da igualdade de tratamento e oportunidade, da justiça social,
do respeito à dignidade da pessoa humana, do bem-estar, e outros, indicados
na Constituição ou justificados pelos princípios gerais de direito.
Parágrafo 2. - As normas desta Lei visam garantir às pessoas portadoras de
deficiência as ações governamentais necessárias ao seu cumprimento e das
demais disposições constitucionais e legais que lhes concernem, afastadas as
20discriminações e os preconceitos de qualquer espécie, e entendida a matéria
como obrigação nacional a cargo do Poder Público e da sociedade.
RESPONSABILIDADES DO PODER PÚBLICO
Artigo 2. - Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas
portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive
dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao
amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da
Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico.
Parágrafo único - Para o fim estabelecido no caput deste artigo, os órgãos e
entidades da administração direta e indireta devem dispensar, no âmbito de
sua competência e finalidade, aos assuntos objeto desta Lei, tratamento
prioritário e adequado, tendente a viabilizar, sem prejuízo de outras, as
seguintes medidas:
NA ÁREA DA EDUCAÇÃO
a) a inclusão, no sistema educacional, da Educação Especial como modalidade
educativa que abranja a educação precoce, a pré-escolar, as de 1º e 2º graus,
a supletiva, a habilitação e reabilitação profissionais, com currículos, etapas e
exigências de diplomação próprios;
b) a inserção, no referido sistema educacional, das escolas especiais, privadas
e públicas;
c) a oferta, obrigatória e gratuita, da Educação Especial em estabelecimentos
públicos de ensino;
d) o oferecimento obrigatório de programas de educação Especial a nível pré-
escolar e escolar, em unidades hospitalares e congêneres nas quais estejam
internados, por prazo igual ou superior a 1 (um) ano, educandos portadores de
deficiência;
e) o acesso de alunos portadores de deficiência aos benefícios conferidos aos
demais educandos, inclusive material escolar, merenda escolar e bolsas de
estudo;
21f) a matrícula compulsória em cursos regulares de estabelecimentos públicos e
particulares de pessoas portadoras de deficiência capazes de se integrarem no
sistema regular de ensino.
NA ÁREA DA SAÚDE
a) a promoção de ações preventivas, como as referentes ao planejamento
familiar, ao aconselhamento genético, ao acompanhamento da gravidez, do
parto e do puerpério, à nutrição da mulher e da criança, à identificação e ao
controle da gestante e do feto de alto risco, à imunização, às doenças do
metabolismo e seu diagnóstico e ao encaminhamento precoce de outras
doenças causadoras de deficiência;
b) o desenvolvimento de programas especiais de prevenção de acidentes do
trabalho e de trânsito, e de tratamento adequado a suas vítimas;
c) a criação de uma rede de serviços especializados em reabilitação e
habilitação;
d) a garantia de acesso das pessoas portadoras de deficiência aos
estabelecimentos de saúde públicos e privados, e de seu adequado tratamento
neles, sob normas técnicas e padrões de conduta apropriados;
e) a garantia de atendimento domiciliar de saúde ao deficiente grave não
internado;
f) o desenvolvimento de programas de saúde voltados para as pessoas
portadoras de deficiência, desenvolvidos com a participação da sociedade e
que lhes ensejem a integração social.
NA ÁREA DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL E DO TRABALHO
a) o apoio governamental à formação profissional, à orientação profissional, e a
garantia de acesso aos serviços concernentes, inclusive aos cursos regulares
voltados à formação profissional.
b) o empenho do Poder Público quanto ao surgimento e à manutenção de
empregos, inclusive de tempo parcial, destinados às pessoas portadoras de
deficiência que não tenham acesso aos empregos comuns;
22c) a promoção e ações eficazes que propiciem a inserção, nos setores público
e privado, de pessoas portadoras de deficiência.
d) a adoção de legislação específica que discipline a reserva de mercado de
trabalho, em favor das pessoas portadoras de deficiência, nas entidades da
Administração Pública e do setor privado, e que regulamente a organização de
oficinas e congêneres integradas ao mercado de trabalho, e a situação, nelas,
das pessoas portadoras de deficiência.
NA ÁREA DOS RECURSOS HUMANOS
a) a formação de professores de nível médio para a Educação Especial, de
técnicos de nível médio especializados na habilitação e reabilitação, e de
instrutores para formação profissional.
b) a formação e qualificação de recursos humanos que, nas diversas áreas de
conhecimento, inclusive de nível superior, atendam à demanda e às
necessidades reais das pessoas portadoras de deficiência;
c) o incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico em todas as áreas
do conhecimento relacionadas com a pessoa portadora de deficiência.
NA ÁREA DAS EDIFICAÇÕES
a) a adoção e a efetiva execução de normas que garantam a funcionalidade
das edificações e vias públicas, que evitem ou removam os óbices às pessoas
portadoras de deficiência, e permitam o acesso destas aos edifícios, a
logradouros e a meios de transporte.
1.3 – A inclusão na escola.
Em nossa sociedade, existem crianças portadoras de necessidades
especiais que são conhecidas como incapazes de aprender e produzir. Mas
essas crianças são capazes de realizar tarefas, quanto a outras que não
apresentam problema algum. Toda pessoa tem potencial, não importa o grau
de suas dificuldades. É claro que a assimilação não será tão rápida. Eles
23necessitam de mais tempo e de materiais pedagógicos, que possam auxiliar na
aprendizagem, sem contar com um fator muito importante também que é a
paciência. O objetivo da inclusão escolar é transformar as escolas, criando
espaços de formação e de ensino de qualidade para todos os alunos. Toda
inovação implica em mudanças, quebras de paradigmas, de conceitos e
posições que fogem as regras tradicionais, e com a inclusão, não poderia ser
diferente. Existem muitas escolas que ainda resistem à inclusão, mas há
muitas que já estão aceitando a idéia e modificando seus procedimentos.
Diante do que foi pesquisado, podemos observar que cada criança tem um
ritmo próprio, seu potencial, e que ninguém é igual ao outro. Cabe ao professor
conhecê-lo e trabalhar suas dificuldades sempre respeitando sua cultura,
linguagem, dificuldades e capacidade.
As diferenças devem ser trabalhadas com diversidades, pois são nelas
que construímos o conhecimento. Os preconceitos devem ficar de lado,
mostrando a todos os envolvidos (pais, amigos e escola) que todos são
capazes de desenvolver e aprender e para que isto seja possível é necessário
modificar a sociedade e fazer com que todos sejam inseridos nela, de forma
autônoma e atuando como cidadão. Inclusão é mais do que criar condições
para os “diferentes’’. A inclusão é um desafio que implica em mudar a escola
como o todo, no projeto pedagógico, na postura diante dos alunos na filosofia.
"A situacao do Ensino Especial no Brasil ainda é de transicao de um modelo de ensino integrador para inclusivo", avalia Maria Salete. "No modelo integrador, não há nenhuma mudanca no projeto pedagogico da escola", explica ela: "O deficiente deve se adaptar a uma estrutura existente. E essa realidade ainda predomina em todo o país". (SALETE, 1995)
A inclusão impõe uma mudança de perspectiva educacional, pois não
se limita àqueles que apresentam deficiências, mas se estende a qualquer
aluno que manifeste dificuldades na escola, ainda que contribuindo também
para o crescimento e desenvolvimento de todos na escola, profissionais e
alunos. A inclusão envolve a reestruturação das práticas de nossas escolas,
24que, como “sistemas abertos” necessitam revisar suas ações, que até então
são elitistas e excludentes.
“Trabalhar, inovar e ousar implementar a educação, numa perspectiva inclusiva, não é, missão impossível. É, sim, um desafio superável. É uma questão de pensar e mudar. Querer “pensar e construir” uma escola que inspire e promova a troca entre alunos, que confronte formas desiguais de pensamento e de estilo de vida, busque metodologias interativa e faça, do reconhecimento e da convivência com as diversidades, estratégias e alternativas para uma nova aprendizagem, voltada para o educando. Uma escola, enfim, que reconheça as diferenças e, respeitando-as, possa conviver com elas.” (FERREIRA & GUIMARÃES, 2006:p.154).
Hoje se fala muito em inclusão, e sabemos que ela não ocorrerá da
noite para o dia. É um processo que acontecerá gradualmente a começar pela
conscientização de um modo geral da sociedade em relação ao deficiente. A
resistência existe desde tempos remotos e em todo o mundo.
Ao final do século XIX, ocorreu o período da institucionalização.
Deparamos aqui com o retrocesso das conquistas educacionais. Os alunos
pobres não tinham acesso à educação, os com deficiência, muito menos.
Vários grupos de crianças como negros e deficientes eram segregados. Alguns
líderes da educação especial desta época defendiam que toda criança deveria
ter direito ao ensino, mas era um número pequeno. Tinha-se a idéia que o
deficiente tinha tendência criminosa e isto seria genético. Eles eram colocados
em asilos em um regime ditador. Surgem as classes especiais para deficientes,
pois esses eram indesejados no ensino regular. Houve nessa época, a
evolução de asilos, manicômios, escolas especializadas e classes especiais
nas escolas públicas. Os tratamentos eram realizados em instituições próprias,
segregadas e específicas para que cada pessoa diferente fosse mais bem
cuidada e protegida, assim, esta forma de aprisionamento, garantia também
uma suposta proteção para a sociedade.
Na década de 70, houve mudanças que direcionaram a educação de
acordo com a filosofia da integração, onde passaram a incorporar crianças ou
adolescentes deficientes em classes comuns. Assim,
25“... só eram passíveis de integração escolar aqueles estudantes que conseguissem se adaptar à classe comum, portanto, sem modificações no sistema, sendo que aqueles que não conseguiam se adaptar ou acompanhar os demais alunos eram excluídos“. (OMOTE, 2004: p.63)
As escolas apresentavam uma forte tendência homogeneizadora e
seletiva com relação aos alunos que não se adaptavam ao padrão
estabelecido.
A necessidade de uma política de educação especial foi se delineando
nos anos 70, quando o MEC assumia que a clientela da educação especial é a
que "requer cuidados especiais no lar, na escola e na sociedade”.
“O trabalho com o portador de deficiência mental exige que o professor, além das condições inerentes a todo educador, apresente também criatividade ao propor soluções que visem a atender aos objetivos educacionais indicados para a educação do portador de deficiência mental. Exige-se, também, uma atitude de estudo e pesquisa diante dos problemas da área, um bom nível de expectativa em relação aos planos e resultados da educação especial, bem como persistência e capacidade para trabalhar em equipe”. (MEC, 1995, 37p)
Por volta dos anos de 1990 surgem as discussões sobre a inclusão,
tendo como idéia central reestruturar a sociedade para que ela possibilitasse
uma educação de qualidade para todos, isto é, considerando às diferenças,
sejam elas raciais, sociais, culturais, com deficiências e/ou necessidades
especiais. A inclusão estabelece a aceitação das diferenças humanas e
reconhece que as escolas fomentam as desigualdades associadas à existência
de origem pessoal, social, cultural e política. Segundo Sassaki uma educação
inclusiva bem sucedida implicará na reestruturação de todo o sistema
educacional em seus níveis político-administrativo, escolar e na própria sala de
aula.
Temos observado ao longo dos últimos anos, grande debate acerca
das vantagens e desvantagens da integração e/ou inclusão dos alunos com
necessidades especiais. Mantoan (1997, 50-57p.), afirma que na integração
escolar toda a estrutura da escola se mantém não havendo mudança naquilo
que já está instituído. Cabe ao aluno adequar-se a ela. Já a inclusão é uma
26opção mais radical no sentido que é o sistema que precisa ser revisto,
adequando-se às demandas do aluno. Para tanto, recursos físicos e meios
materiais necessitam ser priorizados juntamente com a informação ao
professor sobre o aluno com necessidades educacionais especiais
esclarecendo esta condição, desenvolvendo novas atitudes e formas de
interação que repercutam nos processos de aprendizagem de todos os alunos.
Muitos desses alunos estão fora de qualquer tipo de escola, enquanto
alguns outros estão inseridos em classes ou escolas especiais, ou se
encontram ao acaso nas classes comuns das escolas públicas. Esta realidade
é mais condizente com o quadro da exclusão escolar. Sabe-se que uma
mudança de paradigma requer ações efetivas de atitudes e esforços coletivos
para se constituir uma prática. Ainda não conseguimos verificar práticas
eficazes da política de integração, quanto menos de inclusão. Paralelamente a
estas mudanças, vemos que a exclusão social se intensifica de forma
mascarada, por determinantes políticos e econômicos que direcionam suas
ações de acordo com o interesse próprio dentro do contexto político, social e
econômico que estão inseridos.
“ O conceito se refere à vida social e educativa, e todos os alunos devem ser incluídos nas escolas regulares e não somente coloca-los na “corrente principal”. O vocábulo “integração” é abandonado, uma vez que o objetivo é excluir um aluno dou um grupo de alunos que já foi anteriormente excluído; a meta primordial da inclusão é a de não deixar ninguém no exterior do ensino regular, desde o começo. As escolas inclusivas propõem um modo de se construir o sistema educacional que considera as necessidades de todos os alunos e que é estruturado em função dessas necessidades. A inclusão causa uma mudança de perspectiva educacional, pois não se limita a ajudar somente os alunos que apresentam dificuldades na escola, mas apóia a todos –professores, alunos, pessoal administrativo – para que obtenham sucesso na corrente educativa geral”. (GUIMARÃES & FERREIRA, 2003: p.116).
Em nossas escolas hoje, podemos observar várias ações
democráticas, procurando garantir o acesso a todos, sem nenhuma forma de
distinção ou discriminação e uma educação voltada para esta diversidade. Na
27verdade, o acesso é garantido e regulamentado em leis. Já a educação, que
vem sendo praticada em favor da inclusão educacional, será que está
garantindo a permanência e o sucesso dos seus alunos com o respeito e
compromisso que eles merecem? A Constituição Federal garante
expressamente o direito à igualdade (art.5º), e trata, nos artigos 205 e
seguintes, do direito de todos à educação. Esse direito deve visar o “pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício a cidadania e sua
qualificação para o trabalho” (art.205). É verdade que apenas leis e
declarações, por mais apropriadas que sejam por si só não revertem às
representações e práticas desenvolvidas, pois mudanças requerem ações
efetivas de reconhecimento.
No nosso cotidiano, não é fácil construir uma escola inclusiva numa
sociedade tão excludente, pois direcionar um trabalho que abrange a escola, a
comunidade, depende de uma ação coletiva preparada, informada e
empenhada na busca deste ideal. É um caminho longo já iniciado que se vêm
percorrendo com sucessos e insucessos, com divergências teóricas,
ideologias, crenças e descrenças, mas enfim, com um mesmo propósito de
concretizar a escola inclusiva.
Sendo o professor o profissional que está em linha de frente com o
papel de educar e orientar, é ele o responsável direto pela formação acadêmica
dos seus alunos. Planejar e colocar em ação as suas propostas metodológicas,
exige a tarefa de: ouvir, ver, conhecer e avaliar. Saber ouvir para melhor
compreender o outro. Ver para estar presente e em contato com a realidade.
Conhecer para planejar, levantar hipóteses e traçar metas. O saber e o não
saber são relevantes para a compreensão dos mecanismos que possibilitam a
construção do sucesso. E, avaliar é necessário para consertar os erros e
comemorar o sucesso (sabemos bem que o sucesso é fator motivador e
indispensável). Dentro do processo de inclusão, cabe ao professor acreditar no
potencial de cada aluno e promover o seu auto crescimento, buscando exigir o
que ele é capaz de fazer, com respeito ao tempo e o ritmo de cada um. O perfil
para este professor engloba coragem, discernimento e paciência. Resgatar os
valores e as capacidades, organizar as ações para o desenvolvimento das
28potencialidades mentais com respeito ao desenvolvimento psíquico-intelectual,
dão um conteúdo novo à ideia de como deve ser o papel deste profissional.
Como nos ensinou Paulo Freire (1978), o professor que participa da caminhada
do saber com seus alunos, consegue entender melhor as dificuldades e as
possibilidades de cada um e provocar a construção do conhecimento com
maior adequação. Para o professor é um grande desafio superar todas as
dificuldades que encontra no trabalho com as crianças nas escolas, portanto, é
a sua ação pedagógica que pode abrir um leque de oportunidades para a
superação do fracasso escolar.
29
CAPÍTULO II
A PRÁTICA DOCENTE FRENTE À EDUCAÇÃO
INCLUSIVA
Ainda que consideremos os mais diversos aspectos de influência no
cotidiano da sala de aula, é inegável a primazia do professor enquanto
mediador entre os estudantes e os conteúdos a serem trabalhados. De nada
adianta um projeto de escola comprometido com a transformação da realidade
se os profissionais que nela atuam não possuem tal consciência. Do mesmo
modo a prática do professor, quando comprometida com os ideais de uma
educação inclusiva libertária e transformadora pode amenizar as eventuais
dificuldades que as instituições, públicas ou privadas, enfrentam nesta questão.
Apesar da centralidade do papel do docente na lida diária com os
alunos portadores de necessidades específicas, esta prática é construída por
diversos fatores. Daí decorre a necessidade de refletirmos sobre a formação do
professor, os recursos disponíveis e ainda analisar o que os professores
pensam sobre esta temática.
2.1 – A formação precária
“Nos últimos anos, muito se tem discutido sobre indivíduos que apresentam deficiências, seja em congressos, fóruns, seja por meio de leis e decretos, porém, quando voltamos o nosso olhar para dentro da sala de aula, observamos que o lugar deles no contexto educacional ainda é um espaço a ser conquistado. De modo geral, as práticas pedagógicas efetivadas por professores, seja da escola regular, seja da escola especial, precisam ser revistas e discutidas do prisma de um modelo mais democrático e humanitário de compreensão da pessoa com deficiência mental.” (MIRANDA, 2005: 74p)
Cabe destacar também, a luta dos professores por condições dignas
de trabalho (salário, jornada de trabalho e a carreira docente) e adequar essa
30escola inclusiva com materiais e recursos suficientes para a concretização de
seus objetivos.
São essas práticas que devemos repensar, pois toda mudança de
paradigma não acontece espontaneamente, é dever de todos, do estado, da
escola e da comunidade. É a escola que tem o papel fundamental de elencar o
envolvimento de conscientização dessa prática transformadora. A prática
pedagógica é o elemento-chave na transformação da escola.
A discussão da educação inclusiva como já vimos é recente. No
entanto ela ainda é pouco debatida nas universidades o que não contribui para
que a inclusão na educação seja efetivamente realizada, já que os professores
chegam despreparados para trabalhar com os alunos de inclusão. Isso acaba
criando certo incômodo aos professores que por falta de preparo não sabem
lidar com esses alunos e muitas vezes acabam os excluindo por não saber lidar
com eles, quando isso não acontece o aluno é submetido somente à interação
social com os outros alunos e não a inclusão de fato.
Ao enfocar a questão da situação atual que as escolas públicas e/ou
particulares vivenciam, é sem duvida reconhecer a necessidade de mudança
em suas práticas. Almejamos alcançar a escola inclusiva com o envolvimento e
a responsabilidade de todos os profissionais da educação. A busca que aqui
estamos empreendendo trata-se de levarmos a diante esta discussão
coletivamente a fim de construirmos um projeto de inclusão consciente, dentro
das possibilidades e das estruturas educacionais disponíveis atualmente.
Construir um modelo que respeite nossas bases históricas, legais, filosóficas e
políticas, reestruturando assim, todo o sistema educacional.
2.2 – A falta de recursos.
A falta de recursos alternativos para trabalhar com alunos de inclusão,
dificulta o aprendizado, visto que muitos desses alunos possuem dificuldade
para entender assuntos que necessitam de um certo grau de abstração.
31Infelizmente algumas escolas não entenderam a necessidade de investir em
material de auxílio aos professores.
Para colher informações sobre as condições de trabalho que muitos
professores enfrentam, foi aplicado um questionário de pesquisa. O modelo do
questionário segue como anexo no final deste trabalho.
Foram entrevistados cinquenta e quatro professores de diversas redes
de ensino (particular, municipal e estadual) ambas do estado do Rio de Janeiro,
somente três responderam que encontram no local onde trabalham condições
ideais para atender aos alunos de inclusão. Os outros cinquenta e um
professores responderam que as escolas onde trabalham não atendem ou
atendem parcialmente essas necessidades. Por mais básico que possa
parecer, em algumas escolas faltam matérias básicos como por exemplo uma
Televisão e aparelho de DVD.
Cabe ressaltar que a falta de recursos não dificulta apenas o trabalho
com os alunos de inclusão, visto que matérias como mapas diversos, filmes,
músicas, charges podem e devem ser utilizados para ilustrar as aulas de
diversas disciplinas e a falta desses materiais prejudica toda a turma.
2.3 – O que pensam os professores.
Com base nos questionários respondidos, 100% dos entrevistados
disseram que somente o professor presente em uma turma mista, composta
por alunos de inclusão e alunos “normais”, não dá conta de sanar as
dificuldades de cada aluno, sendo necessária a presença de um auxiliar, pois
enquanto o professor tira a dúvida dos alunos que por ventura não
compreenderam o assunto, o auxiliar realiza uma outra atividade com os
alunos que apresentam mais facilidade de aprendizagem.
Também foi possível constatar que 100% dos entrevistados não
tiveram contemplado em sua formação a temática da inclusão, o que torna
ainda mais difícil a prática pedagógica esses alunos. Profissionais
32despreparados não contribuem para que o processo de inclusão seja
efetivamente alcançado.
Infelizmente as lacunas existentes na formação dos professores não é
o único problema enfrentado por eles. Salas lotadas, escolas fisicamente
despreparadas e mal coordenadas dificultam ainda mais o trabalho desses
profissionais.
Na opinião dos professores entrevistados se faz necessário uma
mudança estrutural e conjuntural nas escolas e sociedade. Estrutural por quê?
Porque muitas escolas que se dizem inclusivas não possuem estruturas
básicas como, por exemplo, falta de rampas de acesso, banheiros não
adaptados, biblioteca com livros, interprete de sinais entre outras adaptações.
No âmbito conjuntural é fundamental a mudança de tratamento da sociedade
com os portadores de necessidades especiais. Atitudes paternalistas,
preconceituosas e o sentimento de pena que muitas vezes as pessoas
“normais” sentem em relação aos especiais devem ser evitadas, pois os
portadores de necessidades especiais são capazes de possuírem vida normal
e independentes.
33CAPÍTULO III
CAMINHOS POSSÍVEIS: POR UMA INCLUSÃO DE
VERDADE!
Para alcançar uma inclusão de verdade, é preciso alcançar todas as
esferas da sociedade, desde as famílias que muitas vezes representam um
empecilho no tratamento dos portadores de necessidades, a escola,
inserindo a ideia de que incluir é muito mais do que integrar e por fim acabar
com os estigmas relacionados aos portadores de necessidades especiais,
mostrando que eles não são um ”encosto” para a sociedade e que se forem
bem orientados poderão tornar-se independentes e produtivos.
3.1 – As mudanças necessárias na formação dos professores.
Para que haja uma melhor interação entre pessoas com necessidades especiais e as pessoas sem deficiências, o primeiro passo seria sensibilizar e capacitar todos os funcionários da instituição, professores, orientadores, enfim todos os profissionais. É importante também sensibilizar os pais, sobretudo os dos não deficientes, uma vez que eles devem desempenhar um papel ativo no processo de inclusão (JOVER, 1999, p. 12).
A relação entre pensar e sentir nos leva a acreditar que o ato de
pensar envolve aspectos racionais, afetivos, emocionais e relacionais. Desta
forma, evidencia-se que o funcionamento psíquico do ser humano engloba
cognição e afetividade, razão e emoção.
Em suma não dá para ensinar pensando somente na razão, pois o
coração é extremamente importante neste contexto. O afeto e a emoção
desempenham um papel essencial no funcionamento da inteligência do
homem.
Atualmente, o grande desafio da educação é ajudar o aluno a refletir
sobre o mundo no qual está inserido, priorizando o ser e não o ter, levando-o a
34ser crítico e construir uma sociedade melhor. Para isso, o educador deve dar
ênfase a questões como a interação social e o desenvolvimento afetivo-moral,
que são elementos fundamentais na construção do pensamento, durante o
processo ensino-aprendizagem.
A necessidade de construir essa nova idéia de professor pode ser
mais ou menos consciente. Pode ser fruto intencional da reflexão criteriosa.
Mas pode ser também, apenas a resposta às pressões da sociedade e ao
aparecimento de situações não previstas. Vale salientar, porém, que estas
últimas podem levar à primeira, isto é, a pressão da realidade pode provocar a
reflexão.
Sem dúvida, os professores estão fazendo a sua própria história, mas
a partir de condições dadas, concretas do cotidiano.
É fundamental que seja desvendado o contexto onde o professor vive.
A análise da realidade, das forças sociais, da linguagem, das relações entre as
pessoas, dos valores institucionais é muito importante para que o professor
compreenda a si mesmo como alguém contextualizado, participante da história.
A formação do professor é um processo, que vai acontecendo no
interior das condições históricas em que ele mesmo vive. Faz parte de uma
realidade concreta determinada, que não é estática e definitiva. É uma
realidade que se faz no cotidiano histórico-social. Por isso, é importante que
este cotidiano seja desvendado. O retorno permanente da reflexão sobre a sua
caminhada como educando e como educador é que pode fazer avançar o seu
fazer pedagógico.
O ambiente deve permitir, uma interação muito grande do aprendiz
com o objeto de estudo. Esta interação deve ir alem de suas condições, de
forma a estimulá-lo e desafiá-lo, mas ao mesmo tempo permitindo que as
novas situações criadas possam ser adaptadas às estruturas cognitivas
existentes, propiciando o seu desenvolvimento. A interação deve abranger, não
só o universo aluno, mas também o aluno - aluno e aluno - professor.
353.2 – As mudanças necessárias na escola.
Temos por definição, em vários dicionários, que escola é um
estabelecimento de ensino coletivo que propicia experiência e vivência.
Portanto, é neste lugar que o indivíduo inicia a construção do seu caráter e da
personalidade, bem como a apropriação do conhecimento. È também neste
lugar que se constrói conhecimentos significativos e úteis para serem aplicados
nas diversas situações da vida cotidiana, melhorando com isso a condição de
vida pessoal e grupal.
A inclusão impõe uma mudança de perspectiva educacional, pois não
se limita àqueles que apresentam deficiências, mas se estende a qualquer
aluno que manifeste dificuldades na escola, ainda que contribuindo também
para o crescimento e desenvolvimento de todos na escola, profissionais e
alunos. A inclusão envolve a reestruturação das práticas de nossas escolas,
que, como “sistemas abertos” necessitam revisar suas ações, que até então
são elitistas e excludentes.
“Trabalhar, inovar e ousar implementar a educação, numa perspectiva inclusiva, não é, missão impossível. É, sim, um desafio superável. É uma questão de pensar e mudar. Querer “pensar e construir” uma escola que inspire e promova a troca entre alunos, que confronte formas desiguais de pensamento e de estilo de vida, busque metodologias interativa e faça, do reconhecimento e da convivência com as diversidades, estratégias e alternativas para uma nova aprendizagem, voltada para o educando. Uma escola, enfim, que reconheça as diferenças e, respeitando-as, possa conviver com elas.” (FERREIRA & GUIMARÃES, 2006:p.154).
Temos observado ao longo dos últimos anos, grande debate acerca
das vantagens e desvantagens da integração e/ou inclusão dos alunos com
necessidades especiais. Mantoan (1997, 50-57p.), afirma que na integração
escolar toda a estrutura da escola se mantém não havendo mudança naquilo
que já está instituído. Cabe ao aluno adequar-se a ela. Já a inclusão é uma
opção mais radical no sentido que é o sistema que precisa ser revisto,
36adequando-se às demandas do aluno. Para tanto, recursos físicos e meios
materiais necessitam ser priorizados juntamente com a informação ao
professor sobre o aluno com necessidades educacionais especiais
esclarecendo esta condição, desenvolvendo novas atitudes e formas de
interação que repercutam nos processos de aprendizagem de todos os alunos.
Muitos desses alunos estão fora de qualquer tipo de escola, enquanto
alguns outros estão inseridos em classes ou escolas especiais, ou se
encontram ao acaso nas classes comuns das escolas. Esta realidade é mais
condizente com o quadro da exclusão escolar. Sabe-se que uma mudança de
paradigma requer ações efetivas de atitudes e esforços coletivos para se
constituir uma prática. Ainda não conseguimos verificar práticas eficazes da
política de integração, quanto menos de inclusão. Paralelamente a estas
mudanças, vemos que a exclusão social se intensifica de forma mascarada,
por determinantes políticos e econômicos que direcionam suas ações de
acordo com o interesse próprio dentro do contexto político, social e econômico
que estão inseridos.
Em nossas escolas hoje, podemos observar várias ações democráticas, procurando garantir o acesso a todos, sem nenhuma forma de distinção ou discriminação e uma educação voltada para esta diversidade. Na verdade, o acesso é garantido e regulamentado em leis. Já a educação, que vem sendo praticada em favor da inclusão educacional, será que está garantindo a permanência e o sucesso dos seus alunos com o respeito e compromisso que eles merecem? A Constituição Federal garante expressamente o direito à igualdade (art.5º), e trata, nos artigos 205 e seguintes, do direito de todos à educação. Esse direito deve visar o “pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício a cidadania e sua qualificação para o trabalho” (art.205). É verdade que apenas leis e declarações, por mais apropriadas que sejam, por si só não revertem às representações e práticas desenvolvidas, pois mudanças requerem ações efetivas de reconhecimento. As escolas públicas não têm conseguido cumprir sua função socializadora do conhecimento humano acumulado e nem sequer garantido seu acesso. (MELO E SILVA, 2004)
37No nosso cotidiano, não é fácil construir uma escola inclusiva numa
sociedade tão excludente, pois direcionar um trabalho que abrange a escola, a
comunidade, depende de uma ação coletiva preparada, informada e
empenhada na busca deste ideal. É um caminho longo já iniciado que se vêm
percorrendo com sucessos e insucessos, com divergências teóricas,
ideologias, crenças e descrenças, mas enfim, com um mesmo propósito de
concretizar a escola inclusiva.
Vislumbramos a implantação de uma política de educação inclusiva,
com ações capazes de atender às necessidades de formação dos alunos para
a vida. Assim, são nestes espaços que se devem consolidar os projetos
políticos pedagógicos idealizados pelos seus próprios profissionais, de acordo
com a realidade que a escola está inserida e com a participação de
representantes da comunidade e de seus alunos. Ressaltamos que, na
elaboração de qualquer projeto deve-se envolver pessoas conscientes,
informadas e esclarecidas para que se possa refletir e redigir propostas
possíveis de serem efetivadas. Isto é, ter definido o que se entende por escola
inclusiva, o seu papel, os seus obstáculos e o que e como desenvolver suas
práticas, sensibilizando e preparando a escola para a busca de soluções. Criar
ações coletivas de conhecimento e convivência direcionadas ao respeito a
todos. Considerando a importância de projetos políticos pedagógicos dentro da
escola, estes devem vir de encontro a promover qualidade de vida, preparando
e ajustando o processo de inclusão.
“A inclusão envolve a reestruturação das culturas, políticas e práticas de nossas escolas que, como sistemas abertos precisam rever suas ações, até então, predominantemente elitistas e excludentes”. (...) “Partindo da premissa que a escola é um sistema aberto, na elaboração do projeto político pedagógico devem ser valorizados os aspectos estruturais (a organização que o sistema elege para seu funcionamento); os processuais ( as formas de comunicação interna e com a comunidade, as regras que se estabelecem), e os contextuais ( a cultura da escola e a cultura na escola, sua trajetória, sua história)”. (CARVALHO, 2004, 158p)
38O grande desafio das escolas hoje é reconhecer as potencialidades do
desenvolvimento individual de cada aluno (as descoberta de capacidades), e
como lidar e traçar metas para alcançar esse público alvo. Não basta
reconhecer a diversidade, mas saber que todas as pessoas têm
potencialidades para desenvolver. Medo e insegurança quanto às suas
possibilidades, são sentimentos presentes principalmente nas pessoas que
necessitam de um acompanhamento especial, como os deficientes auditivos,
visuais, os que possuem comprometimentos neurológicos e motores entre
outros. Contudo, conduzir um trabalho de reconhecimento e estímulo às
diversas potencialidades, sempre requer o cuidado, a sensibilidade e a
coerência de atitudes frente às limitações de cada um, não deixando de
considerar a realidade, as experiências sensoriais, motoras e cognitivas que
estão envolvidas no processo da aprendizagem.
No espaço escolar, todos são educadores, portanto todos precisam
compartilhar os mesmos objetivos e terem as mesmas condutas coerentes com
a filosofia de trabalho. Assim, as atitudes inclusivas devem ser percebidas no
porteiro ao receber a comunidade escolar, nos próprios alunos ao se
relacionarem uns com os outros, nos professores e demais funcionários,
buscando com esta coletividade perceber a amplitude dos valores que se
desenvolverão no ambiente escolar.
A escola proporcionando este espaço de interações estará constituindo um dos mais importantes ambientes sociais de inserção dos seus alunos. Assim, faz-se necessário adequar o ambiente escolar de forma mais estruturado e planejado. O convívio neste ambiente que propiciará a formação dos vínculos afetivos, a formação de valores éticos e morais, a socialização dos conhecimentos, a compreensão dos direitos e deveres e acima de tudo, o respeito pelo outro. Sabemos, entretanto, que é nessa interação que acontece o desenvolvimento cognitivo, afetivo motor e sensorial, tornando assim cada pessoa apta para desenvolver seus projetos pessoais, sendo valorizado pelo seu desempenho e consciente do seu papel social. (CARVALHO, 2004 )
39Outro ponto a ser pensando pelos sistemas que buscam propiciar a
educação inclusiva é o processo de avaliação adequado à diversidade. Para
Carvalho (2004), é indispensável que se mude o olhar, levando-se em conta as
peculiaridades de cada aluno. O resultado escolar pode negar ou confirmar
suas expectativas em relação a si mesmo. As avaliações devem oportunizar
cada aluno expressar seu conhecimento até onde foi capaz de alcançar com as
sua possibilidades. As metodologias, os instrumentos de avaliação, o como e
quando aplica-los, é o professor regente, com ou sem parcerias de outros
profissionais que venham a acompanhar seus alunos, que saberá com
discernimento e bom senso como promover o acesso dos seus alunos para as
outras séries. Avaliar dentro da diversidade implica no ato de conhecer o aluno
através do entrosamento, compreendendo o seu contexto bio-psico-social e os
processos envolvidos na aquisição das aprendizagens. Ao avaliar, o professor
não estará classificando os seus alunos em relação ao que e/ou quanto
aprenderam, mas estará buscando entender esta relação e o que ela poderá
contribuir para a vida escolar e social de cada um deles.
As escolas inclusivas devem reconhecer e responder às diversas
dificuldades de seus alunos, acomodando os diferentes estilos e ritmos de
aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade para todos
mediante currículos apropriados, modificações organizacionais, estratégias de
ensino, recursos e parcerias com suas comunidades. A inclusão, na
perspectiva de um ensino de qualidade para todos, exige da escola brasileira
novos posicionamentos que implica num esforço de atualização e
reestruturação das condições atuais, para que o ensino se modernize e para
que os professores se aperfeiçoem, adequando as ações pedagógicas à
diversidade dos aprendizes.
Dentro do contexto escolar, é importante envolver também os
profissionais da educação com estudos de experiências bem sucedidas de
inclusão de crianças e jovens com deficiências, no intuito de diagnosticar
pedagogicamente e intervir favoravelmente nesse processo da inclusão.
Proporcionar cursos de formação continuada e o estabelecimento de contatos,
parcerias e convênios com outros profissionais e instituições, em um trabalho
40conjunto de atendimento e acompanhamento a estas crianças e jovens e às
suas famílias.
3.3 – As mudanças necessárias na sociedade
Até o século XV, as crianças deformadas eram jogadas nos esgotos
da Roma Antiga. Na Idade Média, deficientes encontram abrigo nas igrejas,
como o Quasímodo do livro O Corcunda de Notre Dame, de Victor Hugo, que
vivia isolado na torre da Catedral de Paris. Na mesma época, os deficientes
ganham uma função: bobos da corte. Martinho Lutero defendia que deficientes
mentais eram seres diabólicos que mereciam castigos para ser purificados.
Do século XVI ao XIX, os portadores de deficiências físicas e mentais
continuam isoladas do resto da sociedade, mas agora em asilos, conventos e
albergues. Surge o primeiro hospital psiquiátrico na Europa, mas todas as
instituições dessa época não passam de prisões, sem tratamento especializado
nem programas educacionais.
No século XX, os portadores de deficiências passam a ser vistos como
cidadãos com direitos e deveres de participação na sociedade, mas sob uma
ótica assistencial e caritativa.
A primeira diretriz política dessa nova visão aparece em 1948 com a
Declaração Universal dos Direitos Humanos "Todo ser humano tem direito à
educação".
Nos anos 60 pais e parentes de pessoas deficientes organizam-se.
Surgem as primeiras críticas a segregação. Teóricos defendem a
normalização, ou seja, a adequação do deficiente a sociedade para permitir
sua integração. A educação especial no Brasil aparece pela primeira vez na Lei
de Diretrizes e Bases (LDB) nº. 4.024, de 1961. A lei aponta que a educação
dos excepcionais deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral da
educação.
Os Estados Unidos, nos anos 70, avançam nas pesquisas e teorias de
inclusão para proporcionar condições melhores de vida aos mutilados na
41Guerra do Vietnã. A educação inclusiva tem início naquele país via Lei 94.142,
de 1975, que estabelece a modificação dos currículos e a criação de uma rede
de informação entre escolas, bibliotecas, hospitais e clínicas.
Pela primeira vez, em 1978, uma emenda à Constituição brasileira
trata do direito da pessoa deficiente: "É assegurado aos deficientes a melhoria
de sua condição social e econômica especialmente mediante educação
especial e gratuita."
A história em defesa da inclusão é muito longa e passa por várias
etapas, a discriminação era grotesca, começando por Roma que jogavam as
crianças deformadas no esgoto. Na Idade Média, os deficientes eram
abrigados nas igrejas, como é o caso do Corcunda de Notre Dame ou, se
tornavam diversões ao povo sendo bobos da corte. Segundo Martinho Lutero,
os portadores eram seres diabólicos e que precisavam de castigos para
tornar-se purificados. O Plano Nacional de Educação (PNE) continuam isolados
da sociedade naquela época, mesmo com a fundação do primeiro hospital
psiquiátrico eles continuam com a mesma mentalidade. No século XX, muda a
visão de como eram tratados os portadores de necessidades especiais,
passam a ter Direitos e Deveres como qualquer ser Humano, porém sob uma
ótica asssitencialista e caritativa. Em 1978, surge a diretriz política com a
Declaração dos Direitos Universal dos Seres Humanos declarando direitos
iguais a todos. Na maioria dos países, ocorre um novo momento devido a
alguns fatores, tais como: avanço tecnológico e científico, crescente pensar
sociológico sobre as práticas discriminatórias e avanço no sistema educacional.
Claro que as mudanças ocorridas na sociedade foram imensas e que
preconceitos vêm sendo quebrados e a sociedade aos poucos começa a
enxergar a importância de não esconder os portadores de necessidades
especiais e sim prepará-los para serem autônomos e capazes de gerirem suas
vidas com independência e dignidade, no entanto a sociedade ainda caminha
lentamente em prol de uma sociedade justa e igualitária, quando falamos de
justiça e igualdade não nos referimos somente aos portadores de necessidades
42especiais, mas sim a todos aqueles que de alguma forma encontram-se à
margem da sociedade.
43
CONCLUSÃO
Podemos concluir que o processo de educação inclusiva está longe de
ser satisfatório, passos largos foram dados em direção à inclusão de fato e não
somente a integração social. Muitos profissionais ainda confundem integração
com inclusão. Essa confusão é feita muitas vezes pela falta de preparo dos
profissionais da educação, visto que na pesquisa realizada cerca de 90% dos
entrevistados não tiveram informações nos seus cursos de formação sobre
como trabalhar com os alunos de inclusão.
No entanto os entrevistados entendem a importância que a educação
inclusiva vem exercendo em nossa sociedade e que a necessidade de
aperfeiçoar a formação dos professores ainda na academia e fundamental para
a inclusão se realize.
Por isso é preciso refletir sobre a formação dos educadores, pois essa
formação não é para preparar alguém para a diversidade, mas para a inclusão,
porque a inclusão não traz respostas prontas, não é uma multi habilitação para
atender a todas as dificuldades possíveis na sala de aula, mas uma formação
em que o educador irá olhar seu aluno de uma outra dimensão tendo assim
acesso as peculiaridades desse aluno, entendendo e buscando o apoio
necessário.
Finalizando, cabe refletirmos sobre que é ser igual ou diferente? Pois
se olharmos em nossa volta, perceberemos que não existe ninguém igual, na
natureza, no pensamento, nos comportamentos, nas ações etc. e as diferenças
não são sinônimos de incapacidade ou doença, mas de equidade humana.
44
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n. 9394, 20 de
dezembro de 1996. Brasília, Ministério da Educação, 1996.
BRASIL. Constituição de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Senado, 1988.
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Gebara, Jamile & Marin, Conceição A. (2005). Representação do professor: um
olhar construivista. Ciências & Cognição; Ano 02, Vol.06, nov/2005.
GURGEL,Thais, Inclusão, só com aprendizagem. In: Revista Nova Escola.Editora Abril, nº 206, 2007.
JOVER, Ana, Preparando a escola inclusiva. In: Revista Nova Escola. Editora
Abril, nº123,1999.
FERREIRA, M.E.C., GUIMARÃES, M.. Educação Inclusiva. Rio de Janeiro:
DP&A, 2003.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia – Saberes Necessários à Prática
Educativa.São Paulo: Paz e Terra, 2007.
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Educação Especial – Área de Deficiência Mental. Brasília: MEC/SEESP,
1995.
MENEZES, E.T. e SANTOS, T.H. Declaração de Salamanca: verbete. In:
Dicionário Interativo da Educação Brasileira- EducaBrasil. São Paulo: Midiamix
Ed.,
OMOTE, SADAO. Inclusão: Intenção e Realidade. Marília: Fundepe,p.63,
2004.
SASSAKI, ROMEU KAZUMI. Inclusão: Construindo uma sociedade para
todos. Rio de Janeiro: WVA,1997.
45
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I 10
A Escola e a Educação Inclusiva. 10
1.1 – A instituição escola no Brasil. 10
1.2 – A inserção dos portadores de deficiência na sociedade. 17
1.3 – A inclusão na escola. 22
CAPÍTULO II 29
A Prática Docente Frente à Educação Inclusiva 29
2.1 – A formação precária. 29
2.2 – A falta de recursos. 30
2.3 – O que pensam os professores. 31
CAPÍTULO III 33
Caminhos Possíveis: Por uma Inclusão de Verdade! 33
3.1 – As mudanças necessárias na formação dos professores 33
463.2 – As mudanças necessárias na escola. 35
3.3 – As mudanças necessárias na sociedade. 40
CONCLUSÃO 43
BIBLIOGRAFIA 44
ÍNDICE 45
ANEXO 47
FOLHA DE AVALIAÇÃO 48
47
AN EXO
Questionário de pesquisa
1) Qual modalidade de ensino você atende? ( ) Ensino Fundamental 2° segmento ( ) Ensino Médio
2) Você trabalha em qual rede de ensino?
( ) Rede pública municipal ( ) Rede pública estadual ( ) Rede particular
3) Você atende alunos portadores de necessidades específicas (necessidades especiais)?
( ) sim ( ) não ( ) há alunos com comportamento típico, mas sem diagnóstico
4) Você se sente em condições de atender plenamente estes alunos?
( ) sim ( ) não
Por que? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
5) A sua formação contemplou esta temática?
( ) sim ( ) não ( ) parcialmente
6) Quais condições necessárias o local de trabalho deveria oferecer para o atendimento a esses alunos?________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
7) Nos locais onde trabalha, você encontra tais condições?
( ) sim ( ) não ( ) parcialmenteEspecifique a rede: ________________________________________________________________________________________
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes
Título da Monografia: A PRÁTICA DOCENTE NA
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UMA VISÃO SOBRE AS
DIFICULDADES DOS PROFESSORES
Autor: Danee Eldochy Gomes Soares
Orientador: Mary Sue Pereira
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito: