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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS – GRADUAÇÃO LATU SENSU IAVM O PSICOPEDAGOGO E AS INTERVENÇÕES EM CRIANÇAS COM TDAH Por: Patrícia Atila Nunes Orientador Prof. Marcelo Saldanha Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS – GRADUAÇÃO LATU SENSU

IAVM

O PSICOPEDAGOGO E AS INTERVENÇÕES EM CRIANÇAS COM TDAH

Por: Patrícia Atila Nunes

Orientador

Prof. Marcelo Saldanha

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS – GRADUAÇÃO LATU SENSU

IAVM

O PSICOPEDAGOGO E AS INTERVENÇÕES EM CRIANÇAS COM TDAH

Apresentação de Monografia ao Instituto a Vez do Mestre – Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia.

Por: Patrícia Atila Nunes

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AGRADECIMENTO

Agradeço em primeiro lugar a Deus, pelo privilégio de poder dar continuidade aos estudos. Agradeço ao meu marido Moisés por ter me proporcionado a oportunidade de cursar a especialização, pela paciência e dedicação a nossa filha enquanto eu estava em sala de aula. Agradeço a minha filha Nicole que por várias vezes assistiu às aulas em minha companhia. Ao professor Marcelo Saldanha pela orientação.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho monográfico a minha família: Moisés e Nicole, que mesmo diante de tantas dificuldades estiveram ao meu lado.

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RESUMO

Crianças com Transtorno de Déficit de Atenção (TDA) costumam ser taxadas injustamente de preguiçosas, desorganizadas, irresponsáveis, rebeldes e intelectualmente deficitárias. Esses rótulos demonstram que ainda há um grande desconhecimento sobre o tema no nosso cenário socioeducacional. E é justamente na escola que todas as dificuldades dessas crianças se afloram, uma vez que a família não está presente para ajudá-las a se organizar ou a cumprir as tarefas solicitadas.

Neste trabalho vamos verificar como essas crianças podem ser ajudada a despertar o seu potencial criativo e inovador, principalmente dentro do Ambiente Escolar, com a intervenção do psicopedagogo, profissional qualificado que está apto a trabalhar na área da educação, dando suporte aos professores e a outros profissionais da Instituição Escolar, buscando intervenções adequadas para atenuar os problemas causados pelo TDAH e visando suprir a defasagem causada pelas características inerentes a esse transtorno.

O TDAH afeta crianças na escola, em casa e na comunidade onde a criança está inserida, muitas vezes, prejudicando seu relacionamento com professores, colegas e familiares. Por isso a importância de uma intervenção de qualidade, direcionada a toda comunidade escolar e não somente ao aluno.

TDAH é realmente um transtorno e como tal, merece e deve ser tratado, visto que, na maioria dos casos, a criança pode obter mais sucesso se for acompanhada de uma ação multidisciplinar, que poderá envolver professores, pais, terapeutas, médicos e até medicamentos.

O psicopedagogo deve ser o elo principal entre a família e os especialistas envolvidos durante o tratamento do TDAH. Dentro da Instituição Escolar o psicopedagogo deve identificar os problemas de

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aprendizagem e analisar as intervenções psicopedagógicas a serem aplicadas.

Na verdade, a intervenção psicopedagógica é prática comum na vida de qualquer educador. Ao preparar uma aula, ao pensar em processos de coordenação e gestão escolar, ao refletir sobre os problemas comuns à escola o educador intervêm psicopedagogicamente. Esta dimensão ampla da intervenção psicopedagógica ocorre o tempo todo, especialmente ao considerarmos o movimento dinâmico que caracteriza uma instituição escolar.

Mesmo sem planejar, o educador atua psicopedagogicamente todos os dias, resolvendo problemas e procurando soluções criativas para os desafios cotidianos. Mas, e quando vem à tona o problema de aprendizagem? O fracasso escolar? Quando o aluno é visto como o elemento focal, como o centro do problema, como o responsável por uma situação de não aprendizagem?

A proposta desta monografia é de oferecer uma reflexão sobre o papel do Psicopedagogo que é o especialista que vai realizar o trabalho de avaliação, intervenção e regulação das situações relacionadas às dificuldades de aprendizagem, no contexto escolar. Por meio de meticuloso trabalho de planejamento e estruturação, ação específica do especialista em psicopedagogia e voltada para a solução de dificuldades de aprendizagem ou contextos onde se evidencia o fracasso escolar.

A intervenção psicopedagógica tem caráter próprio, tem características específicas e metas pré-estabelecidas. E, quando há uma suspeita ou confirmação de caso(s) de TDAH em sala de aula, o psicopedagogo precisa informar à família de suas suspeitas o quanto antes, para que possam buscar um diagnóstico preciso e, consequentemente, o tratamento adequado.

Confirmado o diagnóstico, o psicopedagogo deve focalizar sua ação especificamente neste sentido: o de prevenir o fracasso escolar e auxiliar alunos, professores e famílias a superarem as queixas e os impedimentos à construção do conhecimento. Ele não atua sozinho. É sua responsabilidade chamar todos os envolvidos em uma queixa de aprendizagem para participarem de sua solução. Ele é o orquestrador desta equipe que vai trabalhar para prevenir e amenizar os transtornos causados pelo TDAH.

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METODOLOGIA

Este trabalho trata de uma pesquisa bibliográfica. Os principais autores utilizados na realização desta pesquisa foram Thomas Phelan, Russell A. Barkley, Paulo Mattos, Alicia Fernandez, Edith Rubinstein entre outros pesquisados em livros.

A pesquisa trata do TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e as possíveis intervenções psicopedagógicas no ambiente escolar.

É comum existirem crianças e adolescentes mais ativos, mais excitados, menos atentos e mais impulsivos. A dificuldade está quando essas características causam problemas sérios em vários contextos, considerando principalmente a escola e o ambiente familiar.

Este trabalho tem como objetivo principal definir o papel do Psicopedagogo no ambiente escolar, identificar problemas de aprendizagem e analisar as intervenções psicopedagógicas dentro da instituição escolar.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................10

CAPÍTULO I – Mas, o que é TDAH? ..........................................11

CAPÍTULO II – A escola e o aluno com TDAH...........................21

CAPÍTULO III – O Psicopedagogo, a escola e as intervenções psicopedagógicas........................................................................31

CONCLUSÃO..............................................................................43

BIBLIOGRAFIA............................................................................45

ANEXOS......................................................................................47

ÍNDICE........................................................................................50

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INTRODUÇÃO

O tema deste trabalho é: O Psicopedagogo e as Intervenções em crianças com TDAH. Uma visão psicopedagógica sobre crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade dentro do Ambiente Escolar.

A Psicopedagogia busca intervenções adequadas para atenuar os problemas causados pelo TDAH em crianças. Este tema é de alta relevância para que profissionais da educação saibam identificar o transtorno em seus alunos e não mais cometam erros rotulando crianças que sofrem com o TDAH de indisciplinadas, preguiçosas, com baixo QI, etc.

Ou, rotulem crianças realmente indisciplinadas, como hiperativas, portadoras de um transtorno do qual não existe, não possuem.

São objetivos principais deste trabalho:

• Definir o papel do Psicopedagogo no ambiente escolar

• Identificar os problemas de aprendizagem • Analisar as intervenções psicopedagógicas dentro

da Instituição Escolar

O trabalho irá dar definição ao transtorno, como deve ser feito seu diagnóstico, seus sintomas, o papel da escola, do professor, da família junto ao portador de TDAH, as comorbidades que podem acompanhar o transtorno. E, as possíveis intervenções do Psicopedagogo para que a defasagem decorrente do transtorno no processo de aprendizagem seja suprida, atenuada.

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CAPÍTULO I

1. TDAH pode acreditar ele existe.

Muito tem se falado sobre o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, mas, afinal o que é? Quem são os portadores? Tem cura? Como ajudar os envolvidos que têm suas vidas afetadas por esse transtorno? Qual o profissional mais indicado para intervir junto às pessoas diagnósticas com esse distúrbio dentro do ambiente escolar?

No decorrer deste trabalho, vamos analisar algumas questões que envolvem os portadores de TDAH dentro da Instituição Escolar e todos envolvidos no processo de acolher e ajudar os portadores deste transtorno.

Mas, o que é TDAH?

1.1 Definição

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é uma síndrome caracterizada por desatenção, hiperatividade e impulsividade causando prejuízos a si mesmo e aos outros em pelo menos dois contextos diferentes (geralmente em casa e na escola).

Segundo Mattos (2004), “um dos transtornos mais bem estudados na medicina e os dados gerais sobre sua validade são muito mais convincentes que a maioria dos transtornos mentais e até mesmo que muitas condições médicas” (p.17) e sua predominância é encontrada em estudos epidemiológicos em torno de 3% a 7% na população infantil.

Algo que chama a atenção quando falamos de portadores de TDAH são os rótulos que esses sujeitos recebem até serem diagnosticados: mal-educados, preguiçosos, desinteressados, sem limites, os que vivem no “mundo da lua”,... E o quanto isso influencia a auto-estima e seu desempenho social e escolar.

É importante também ressaltar que esse transtorno pode estar associado a outras síndromes e dificuldades, o que se chama de

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comorbidades, e o quanto isso torna o diagnóstico particular e individual, precisando ser tratado caso a caso, idealmente por uma equipe multidisciplinar.

Para Vygotsky (1993), o cérebro é “plástico”, pois tem a capacidade de se desenvolver, mas para que isso ocorra, é necessário que haja intervenção pedagógica, quer dizer, o espontaneísmo não existe para Vygotsky e a intervenção do professor e/ou psicopedagogo tem um importante papel para a aprendizagem, principalmente em crianças com TDAH, o que veremos em outro capítulo.

Quem são os portadores de TDAH?

1.2 Diagnóstico

Não existe exame para diagnosticar TDAH, por isso o diagnóstico é um processo de múltiplas facetas e de avaliação ampla. É preciso estar atento à presença de sintomas que são concomitantes a outros transtornos (comorbidades). Ansiedade, depressão e certos tipos de problemas de aprendizagem causam sintomas semelhantes aos provocados pelo TDAH.

O mais importante é fazer um cuidadoso histórico clínico e de desenvolvimento, onde se inclui dados recolhidos de professores, pais e de adultos que interagem de alguma maneira com a criança avaliada, um levantamento do funcionamento intelectual, social, emocional e acadêmico e exame médico, geralmente com neuropediatra, bem como testes psicológicos, neurológicos e psicopedagógicos.

Para se diagnosticar um caso de TDAH é necessário que o indivíduo em questão apresente pelo menos seis dos sintomas de desatenção e ou seis dos sintomas de hiperatividade (em anexo); além disso, os sintomas devem manifestar-se em pelo menos dois ambientes diferentes e por um período superior a seis meses. Nem todas as características, habilidades serão encontradas em um único indivíduo, este transtorno depende muito da particularidade de cada um.

O diagnóstico de TDAH é dimensional, pois todo mundo tem alguns sintomas de desatenção e inquietude. O que determina se existe ou não o problema é o “quanto” você tem daqueles sintomas.

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Não existe o grupo dos “completamente atentos” e dos “completamente desatentos”.

Belli (2008), informa que a partir de alguns critérios e sintomas, é possível identificar três tipos de TDAH:

Tipo Combinado:

É o indivíduo que se encaixa em seis ou mais itens de ambas as listas.

Essas pessoas têm problemas para se concentrar e também são excessivamente ativas (TDA com hiperatividade).

Tipo Predominantemente Desatento:

É o indivíduo que se encaixa em seis dos nove itens de desatenção, mas não se encaixa nos seis dos nove critérios de Hiperatividade/Impulsividade.

As pessoas não são inquietas nem desordeiras, mas têm problemas para se concentrar em tarefas, manter a atenção e organizar e terminar as coisas (TDA sem hiperatividade).

Tipo Predominantemente Hiperativo-Impulsivo:

Uma versão mais nova do tipo combinado, normalmente usado para crianças mais novas, de 4 a 5 anos, onde o traço de desatenção é difícil diagnosticar.

Segundo Mello (2008), do Laboratório de Terapia Comportamental da USP, temos também que alertar para o fato de que o TDAH tem-se tornado um rótulo de quase toda criança que exibe algum tipo de comportamento inadequado em sala de aula e no ambiente social, além de constar uma alta taxa de problemas educacionais e psicológicos sendo rotulados como TDAH, o que não é correto.

O TDAH é legítimo mesmo sem qualquer evidente doença ou patologia subjacente. É um distúrbio neurológico, pois o córtex pré-

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frontal, uma das áreas do cérebro, parece estar envolvido com o transtorno. Várias são as pesquisas que evidenciam isso:

Sabe-se que o córtex pré-frontal está associado tanto com a inibição comportamental (capacidade de parar, olhar e ouvir) quanto com as outras quatro funções executivas.

Estudos a respeito do metabolismo da glicose (tomografias de emissão positrônica) mostram que essas áreas frontais do cérebro estão na verdade, subativas em pacientes com TDA.

As áreas pré-frontais do cérebro são ricas em dopamina, e sabemos que as medicações mais potentes anti TDA (os estimulantes) melhoram o funcionamento da dopamina.

“Estudos recentes de neuroimagem sugeriram que essas regiões do cérebro são menores do que o normal em pessoas com TDA”. (Phelan, 2005, p. 60-61).

O que sentem os portadores de TDAH

1.3 Sintomas

É importante convencermo-nos que “crianças não aprendem a ser TDA, elas são TDA”. De acordo com Sam Goldstein (2006), o TDAH é com frequência apresentado, erroneamente, como um tipo específico de problema de aprendizagem. Ao contrário, sabe-se que as crianças com TDAH são capazes de aprender, mas têm dificuldades em se sair bem na escola devido ao impacto que os sintomas deste transtorno têm sobre uma boa atuação. Porém, por outro lado, 20% a 30% das crianças com TDAH também apresentam um problema de aprendizagem, o que complica ainda mais a identificação correta e o tratamento adequado.

Segundo Barkley (2002):

Hoje a maioria dos profissionais clínicos, médicos, psicólogos, psiquiatras e outros, acreditam que o TDAH consiste de três problemas primários na capacidade de um indivíduo controlar seu comportamento: dificuldades em manter sua atenção, controle e inibição dos impulsos e da atividade excessiva. Outros

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profissionais reconhecem que aqueles com TDAH possuem dois problemas adicionais: dificuldades para seguir regras e instruções e variabilidade extrema em suas respostas a situações (particularmente tarefas ligadas ao trabalho). Acredito que todos esses sintomas estão associados a um déficit primário na inibição do comportamento, que é o símbolo do TDAH (p.50).

Portanto, para Barkley (2002), o TDAH é fundamentalmente um déficit na capacidade da pessoa de se autoregular ou de se autocontrolar. As pessoas com TDAH reagem impulsivamente e não têm capacidade de se acalmar e refletir, não usam as funções executivas que incluem a memória operacional (manter fatos relevantes em mente), o discurso interno (falar consigo mesma), a regulação emocional (acalmar-se ou motivar-se) e a reconstituição (criar uma solução ou resposta útil).

Em recente congresso sobre “Atualização em TDAH - da infância à idade adulta, do diagnóstico à reabilitação multidisciplinar”, vários palestrantes, como o Prof. Mauro Muszkat, comentaram que muitos profissionais da área da saúde, hoje, questionam alguns dos critérios do DSM-IV, (Manual Diagnóstico e Estatístico dos Distúrbios Mentais), pois acreditam que os sintomas têm que estar presentes antes da idade de 12 anos e não mais 07 anos.

Portanto os portadores de TDAH têm muitas coisas em comum, mas não são, necessariamente, iguais no seu comportamento, podem apresentar alguns sintomas e outros não.

Segundo Mattos (2004), todos os sujeitos com TDAH têm facilidade de desviar-se de uma tarefa provocado por algum outro estímulo, porém são capazes de prestar atenção por longo tempo em situações que envolvam novidades, alto valor de interesse pessoal, intimidação ou se ficarem a sós com um adulto; é o que chamamos de hiper foco.

Para Phelan (2005) existem quatro tipos de distrações, porém a maior distração para o TDAH é a conversa humana. Seguem descritos os tipos de distração:

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Distrações visuais: são as coisas dentro do campo de visão da criança que atraem sua atenção.

Distrações auditivas: são os sons que a criança ouve que a incomodam.

Distrações somáticas: são sensações corporais que desviam a atenção da criança.

Distrações de fantasia: são os pensamentos ou imagens que passam pela mente da criança (p.19-20).

Assim, no convívio social, são comuns aqueles momentos desagradáveis, as brigas e os “bate-bocas”, se machucam frequentemente e para se protegerem as crianças com TDAH sempre culpam as outras pelo problema. Não avaliam as conseqüências de seus atos.

“O TDA não é um problema de não saber a que fazer é um problema de fazer o que se sabe. A questão é desempenho, não conhecimento” (Phelan, 2005, p.27).

A maioria das crianças com TDA, a despeito de manterem alguns dos seus sintomas, vai crescer e se transformarem em adultos empregados, casados, fisicamente normais, e capazes de se autosustentar. E os problemas que persistem podem ser tratados (Phelan, 2005, p.50).

Para Libâneo (1994), há fatores hereditários que determinam diferentes tipos de inteligência, mas a maioria das crianças é intelectualmente capaz. Além disso, a influência do meio pode facilitar ou dificultar o desenvolvimento da inteligência. A maturidade, segundo este autor, não depende só do aluno, pois o professor tem um papel importante, na medida em que o desenvolvimento das capacidades mentais pode ser estimulado justamente pelos conhecimentos e experiências sociais, pelas condições ambientais e pelo processo educativo organizado.

É de consenso dos profissionais da área da saúde que pode existir mais de um caso de TDAH na mesma família, pois é hereditário e causado por desequilíbrios químicos entre a dopamina e a noradrenalina, que estão deficitárias. Todas as culturas e grupos éticos possuem crianças com o TDAH. É um distúrbio bidimensional, que envolve a atenção e a hiperatividade e a impulsividade.

Muitos pais percebem por si próprios que seus filhos se comportam de forma diferente de outras crianças, outros são alertados

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pela escola ou até mesmo por uma reportagem ou um artigo sobre esse assunto que os levam a reconhecer os sinais citados em seus filhos.

Segundo Barkley (2002), os pais também podem se alertar para esse transtorno caso vivenciem as seguintes condições:

a) A criança exibe vivacidade, desatenção e impulsividade bem maior do que as outras crianças da mesma idade há, no mínimo, seis meses.

b) Há alguns meses alguns responsáveis sugerem aos pais do aluno com TDAH que o filho tem um autocontrole mais precário ou é muito mais ativo, impulsivo e desatento se comparado a crianças normais.

c) É necessário muito mais do tempo e energia para conduzir a criança e mantê-la segura do que outros pais.

d) Outras crianças não gostam de brincar com a criança TDAH e a evitam por seu comportamento hiperativo, emocional ou agressivo.

e) Um membro da creche ou professor da escola informa ao responsável que o aluno tem apresentado problemas significativos de comportamento há vários meses.

f) Os pais costumam perder o controle dos seus filhos frequentemente; sentem-se como no limite para usar disciplina física excessiva ou para agredir a criança, ficam extremamente fatigados, exaustos, ou mesmo deprimidos por conduzir e criar essa criança.

Então é chegado o momento de pedir ajuda, há necessidade de uma avaliação por um profissional de saúde mental ou médico treinado e experiente em TDAH ou um profissional que esteja familiarizado com a literatura científica e profissional sobre o transtorno, que buscará informações em várias fontes, além da própria criança, como a escola, casa e meio social, para realizar o diagnóstico.

Para Rubinstein (2003), levar em consideração as questões

existenciais do sujeito da aprendizagem permite compreender os movimentos de aproximação e distanciamento presentes no processo de construção do conhecimento, para poder compreender seu modo peculiar de aprender. Por outro lado, a construção do saber traz consigo a condição para a emancipação do sujeito que, ao colocar suas marcas singulares nessa apropriação, pode dispensar à falsa, porém necessária, segurança da alienação no outro. Ao colocar essas marcas

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próprias, o sujeito da aprendizagem irá construindo um estilo próprio de aprender, o qual o distinguirá na relação que estabelecerá com o saber e o conhecer.

As pesquisas mostram que muitas crianças com TDAH foram

bebês adoráveis e tiveram uma infância conturbada. Na adolescência tiveram uma redução na hiperatividade motora, contudo, na maior parte das vezes, na faixa de 13 aos 19 anos o transtorno pode significar “uma adolescência a todo vapor e ao pé da letra” (Phelan, 2005, p. 47).

Segundo alguns escritores como: Barkley (1999), Mattos (2004),

Phelan (2005), entre outros, é possível listar algumas características e habilidades presentes em grande parte dos portadores de TDAH, como as seguintes:

Impulsivos, agem sem pensar e fazem o que quer que venha à cabeça, sem se preocupar com as consequências. Muito criativos, inventam situações inesperadas e inusitadas. São incapazes de planejar, selecionar com antecedência, para depois executar algo. Insensíveis a insinuações sociais (verbais e não verbais), não percebem a expressão de desprezar no rosto das outras pessoas, não percebem o tom negativo da voz, nem mesmo ouvem o que está sendo dito. Esquecidos, eles perdem a noção do tempo e do lugar. Segundo Phelan (2005), “elas não são apenas esquecidas, elas são espantosamente esquecidas” (p.29). Eles normalmente esquecem instruções, direções, lições e designações. Desorganizados com seu material escolar, sua mochila, sua mesa, gavetas e principalmente com o planejamento de suas tarefas, estudos, empurrando-os sempre para a última hora. Às vezes, mentirosos, pois mentir também é uma atitude impulsiva, o exemplo mais comum é quando a mãe pergunta se a lição de casa está pronta, a resposta sempre é sim. São relutantes em relação a tarefas que exijam esforço mental por muito tempo. Mais lentos na cópia e na execução dos deveres.

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Vidrados por brincar, muitas vezes chegam a urinar nas calças por não conseguir deixar de lado a brincadeira. Tão espertos quanto quaisquer outras crianças. Isso significa que alguns serão brilhantes, a maioria está na média e alguns estarão abaixo da média, pois a maioria tem nível de inteligência normal. Não possuem capacidade bem desenvolvida de visualizar consequências ou de “conversar consigo mesmo” sobre o que resultará a sua ação. Não têm tolerância a frustrações. Nos jogos não gostam de perder, usam trapaças, brigas ou mudanças de regra no meio do jogo, apenas para que tudo saia do seu jeito. Não conseguem se estimular sozinhas para fazer as coisas. Não conseguem manter um estímulo por um tempo longo sem perder o interesse e a energia. Não param, olham, ouvem e pensam antes de responder. Têm dificuldades em seguir regras. Há um grau de imaturidade inferior ao de sua idade cronológica. Eles gostam de brincar com crianças mais novas. Como seu tamanho físico é maior do que o dessas crianças, elas o deixam ser líder e isso os agrada. Gostam de se relacionar com crianças mais velhas e do sexo oposto. A grande dificuldade é se dar bem com crianças do mesmo sexo e da mesma idade. Têm grande capacidade de se divertir. Precisam ler mais de uma vez para fixarem o que leram. Apresentam dificuldades com a leitura e a escrita. Não conseguem ler por muito tempo, não gostam de textos longos, gostam de ir saltando partes.

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Têm, geralmente, um autoconceito pobre e baixa autoestima, especialmente quando de 80% a 90% do feedback que a pessoa recebe de seus pais e professores é negativo. Apresentam mudanças de interesse o tempo todo. Possuem problemas de memória em curto prazo. Tem muita dificuldade em notar, interpretar dicas e regras sociais: sempre querem fazer tudo “do seu jeito, no seu tempo”. Apresentam variações frequentes de humor. Têm dificuldades na manutenção de amizades e relacionamentos afetivos.

Muitas são as características das crianças com TDAH. Foram listadas as principais características que podem ser observadas dentro da Instituição Escolar, que é nosso ambiente principal de estudo e observação. O TDAH como qualquer outro assunto, deve ser pesquisado, estudado e profissionais da saúde e educação devem estar sempre atualizados sobre este assunto.

Planejamos, pensamos inevitavelmente no desenvolvimento que

está por vir e consideramos as nossas ações do presente e do passado, e, para intervir e promover a aprendizagem de maneira democrática, isto é, de forma que todos tenham acesso a ela, é preciso avaliar-planejar-avaliar, analisando a totalidade da prática pedagógica.

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CAPÍTULO II

2. A escola e o aluno com TDAH

2.1 O papel da escola em relação aos alunos com TDAH

Na maior parte das vezes os alunos portadores de TDAH chamam muita a atenção dentro da sala de aula devido a sua maneira impulsiva, agitada e agindo, muitas vezes, de forma inadequada. Na realidade precisamos olhá-los como eles são e ajudá-los a caminhar em seu processo de aprendizagem. Como afirmou Mattos: “Lembre-se de que justiça não é dar a todo mundo a mesma coisa, mas dar a qualquer um o que cada um precisa”. (MATTOS, 2004, p.111).

Hoje o ensino tende a padronizar os alunos, caracterizado pela homogeneização e inflexibilidade, baseia-se na realidade de que todos têm que fazer o mesmo ao mesmo tempo. A grande parte das escolas desconsidera as diferenças individuais e está pouco aberta às diversidades.

Mas, a escola precisa estar atenta as diversidades sim, as diferenças no ritmo de aprendizagem dos seus alunos, eles não são iguais. É necessário auxiliá-los diferentemente e desenvolver inúmeras estratégias para que se consiga alcançar a todos e ao seu objetivo de educar. Fernandez afirma:

“Aprendemos de quem recebe o caráter de ensinante. Aprendemos quando podemos confiar (nos outros, em nós e no espaço). Aprendemos com quem nos escuta. Aprendemos se nos escuta. Aprendemos quando o ensinante nos reconhece (nos vê como pensantes)”. (Fernandez, 2007, p.219).

A escola, primeiro campo de socialização, depois da família, é, por excelência, o lugar onde os maiores desafios vão estar presentes na vida da criança. Os desafios são inúmeros e uma pergunta que ronda o ambiente escolar relacionado ao aluno com TDAH é: Por que ele ou ela não consegue aprender?

Ao analisar a questão, procuramos as causas no próprio aluno, muitas vezes atribuindo seus resultados à falta de interesse, à

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ausência de investimentos na aprendizagem e até mesmo à existência de alguma deficiência que impede a aprendizagem de transcorrer normalmente.

É comum também, que o problema seja atribuído ao contexto familiar, às condições sociais do aluno e, à privação cultural. Todos esses fatores podem representar, certamente, causas para o não aprender. No entanto a escola precisa fazer sentido na vida do aluno e, principalmente no aluno diagnosticado com TDAH.

O planejamento escolar é uma das atividades mais privilegiadas do cotidiano escolar, pois ele representa um momento de reflexão sobre o que vamos ensinar, sobre os conteúdos que precisam ser fixados, revisados ou, ainda, ensinados de uma forma diferente, com uma metodologia distinta. O papel da Psicopedagogia no planejamento escolar é refletir sobre ações pedagógicas e suas interferências no processo de aprendizagem do aluno.

No momento de formular objetivos, deve-se ter o cuidado para que eles não se resumam a execução de atividades, já que devemos promover o crescimento cognitivo de nossos alunos de forma a promover o ensino a todos que estão envolvidos no processo de ensino e de aprendizagem de forma igualitária, incluindo os portadores de TDAH e, também, construindo competências e habilidades de utilização permanente em suas vidas.

Temos que entender a importância do professor em relação ao desempenho do aluno com TDAH na escola, que fica aquém de seus pares que não possuem o transtorno, devido, principalmente, à dificuldade de se concentrar, comprometendo assim a sua aprendizagem. Mesmo para aqueles que o QI (quociente de inteligência) esteja na média ou acima da média, “o desempenho escolar da criança com TDAH será inexplicavelmente irregular” (PHELAN, 2005, p.36).

Alguns professores reforçam o sentimento de rejeição que os alunos com TDAH sofrem diante dos colegas, discriminando-os, colocando-os na condição de mal-educados, preguiçosos.

Pichon-Riveère, na Teoria do Vínculo, ressalta a importância do professor para a aprendizagem. Quando um aluno apresenta dificuldades para aprender, segundo a Psicopedagogia, uma das primeiras tarefas do educador é o resgate da autoestima do educando, pois ninguém consegue aprender se não conseguir investir no ato de aprender, e ninguém consegue investir na própria aprendizagem se não tiver o desejo de aprender e acreditar nas suas possibilidades.

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2.2 O professor e o aluno com TDAH

Intervenções no âmbito escolar também são importantes. Idealmente, os professores deveriam ser orientados para a necessidade de uma sala de aula bem estruturada, com poucos alunos. Rotinas diárias consistentes e ambiente escolar previsível ajudam essas crianças a manterem o controle emocional. Estratégias de ensino ativo, que incorporem a atividade física com o processo de aprendizagem, são fundamentais.

As tarefas propostas não devem ser demasiadamente longas e necessitam ser explicadas passo a passo. É importante que o aluno TDAH receba o máximo possível de atendimento individualizado. Ele deve ser colocado na primeira fila da sala de aula, próximo à professora e longe da janela, ou seja, em local onde ele tenha menos probabilidade de distrair-se.

Cabe ao professor oferecer aos seus alunos TDAH oportunidades de acerto, experiências positivas que os conduzam ao desejo de aprender. Será necessário que o professor presenteie o aluno com um recurso valioso e que nada custa: o elogio. Elogiar é altamente reforçador do binômio ensino/aprendizagem.

Segundo Belli (2008), algumas orientações e atitudes por parte dos educadores, podem facilitar muito a vida dos alunos diagnosticados com o transtorno e certamente ajudarão professor e aluno a enfrentar essa realidade. Lembre-se que o professor é o ator principal nesta arte de ensinar.

Segue abaixo algumas indicações que ajudam o aluno TDAH em sala de aula:

• Use todos os recursos disponíveis para descobrir o estilo de aprendizagem da criança. Neste momento terão que explorar em sala de aula todos os recursos e técnicas de aprendizagem para que consiga, através de vários instrumentos de avaliação,

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perceber como essa criança consegue melhor aprender. Ela, normalmente, tem um apelo intrínseco a novidades.

• Explore bastante os recursos visuais, pois o aluno com TDAH aprende melhor visualmente, o que facilita a organização de suas ideias.

Isso exige do educador um trabalho exaustivo, porém se torna muito compensador quando se atingem os objetivos educacionais.

• Dentre os inúmeros recursos podemos citar:

1. Uso de retroprojetor: Utilizam-se pequenas frases, palavras-chaves, imagens e figuras coloridas e a apresentação deve utilizar no máximo 30 minutos.

2. Aulas apresentadas em PowerPoint: Utilizam-se pequenas frases, palavras chaves, imagens e figuras coloridas, slides com animação e a apresentação deve utilizar no máximo 30 minutos.

3. Filmes com curta duração.

4. Desenhos: Podem ser já prontos ou serem elaborados pelos alunos, incluindo a confecção de desenhos com materiais que possam ser feitos em diferentes perspectivas.

5. Histórias, fatos históricos, contos, histórias em quadrinhos,... Já redigidos que possam ouvir, cortar, montar, recriar ou então redigidos e inventados por eles. Lembrem-se: eles são indivíduos bastante criativos.

6. Computadores: Pesquisas na Internet, jogos, programas de aulas já prontos sobre determinados assuntos.

7. Músicas: Podem somar a uma determinada aula como forma de acalmar ou criar determinada atmosfera ou podem-se confeccionar letras, raps com o assunto desenvolvido em sala de aula.

8. Jogos: Por ser uma atividade divertida, atraente que gera entusiasmo, deve ser muito usada para ajudá-los a desenvolver suas habilidades sociais, além de transformar conhecimento em saber. Segundo Platão: “As crianças devem aprender pelo entretenimento, não pela força.”

9. Aulas ao ar livre e em laboratórios (de física, química, biologia, robótica, língua, etc.), pois se estimulam com a novidade.

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10. Manuseio de sucatas para a representação concreta de determinado conteúdo.

Um alerta importante cabe fazer: não é para começar a usar todos esses recursos de maneira aleatória e excitada. É preciso levar em conta alguns fatores, como o horário das aulas, o conteúdo a ser desenvolvido, a quantidade de crianças e/ou adolescentes em sala de aula, enfim o principal é ser criativo e sensível à criança e/ou adolescente.

Phelan (2005) expressa muito bem à sensação que o portador de TDAH sente em face da escola, “é preciso muito esforço para fazer algo que você detesta o tempo todo” (p. 135), e as tarefas escolares estão incluídas, “tarefa é apenas se livrar dessa coisa idiota tão rápido quanto possível” (p. 23).

Billi também apresenta algumas ações que os professores devem tomar em relação ao aluno TDAH que vão favorecer as estratégias de aprendizagens.

Abaixo algumas instruções:

• Professor seja proativo: analise o contexto, selecione alternativas antecipe-se aos acontecimentos, planeje uma ação.

• Seja democrático, amigo e empático: coloque-se no lugar do aluno com TDAH, introduza-se na vivência escolar do seu aluno. Converse e procure ouvi-lo.

• Planeje e organize o ambiente em sala de aula: procure manter a rotina e estabeleça regras bem claras na sala de aula. Reduza a presença de estímulos. Na decoração devem constar apenas dicas, lembretes, planejamentos.

• Determine prioridades: Organize a agenda dos alunos, ensine-os a priorizar atividades.

• Seja otimista, solícito e compreensivo: mostre-se confiante, esteja pronto para ajudar o aluno, tenha mais disposição e flexibilidade para ajudar o aluno com TDAH.

• Mantenha contato com os pais da criança e/ou adolescente: através de um simples recado na agenda, por email, enfim, o

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importante é que esse contato aconteça sempre e não apenas em momentos extremos.

• Dê respostas consistentes e rápidas para o comportamento inadequado da criança: não deixe passar algum tempo para falar sobre determinado comportamento, não manifeste raiva.

• Provoque sinergia: trabalho em equipe, criação conjunta.

• Tente acordos: pergunte ao aluno como ele acha que pode aprender melhor, normalmente ele dá a direção, pois é intuitivo.

• Oriente o aluno previamente sobre o que é esperado dele, em termos de comportamento e aprendizagem.

• Informe-se sobre os transtornos e se atualize frequentemente: leia livros, artigos de profissionais especializados no assunto.

• Evite aulas repetitivas: pode e deve repetir inúmeras vezes o conteúdo, mas usando estratégias e técnicas diferentes a cada momento.

• Tenha uma dose extra de paciência: ter paciência não significa ser permissivo e tolerante em excesso. Procure ser mais generoso, menos duro do que normalmente seria com os demais alunos.

• Converse sobre o cronograma: essas conversas têm que ocorrer com a orientação educacional e coordenação pedagógica do colégio.

• Conscientize-se que você é o principal elemento norteador do processo de adaptação e construção do conhecimento em sala de aula.

• Procure desenvolver sinais “secretos” com o aluno portador de TDAH: essa prática é muito interessante, pois passa a avisá-lo de

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que está desligado ou agindo inadequadamente, Sem que os demais colegas percebam, evitando brincadeiras desagradáveis.

• Use giz de cores diferentes e valorize a intensidade de sua voz.

• Olhe para os olhos dele para atraí-lo e chamar sua atenção.

• Simplifique as instruções.

• Utilize o TDAH como assistente de classe.

Os professores têm que estar atentos aos alunos com TDAH em sala de aula, afinal muitos deles poderão ter associados ao transtorno, dificuldades de aprendizagem, que Mattos (2004) classifica como: os transtornos do aprendizado e os transtornos de linguagem. Vale ressaltar que não cabe ao professor fazer diagnóstico, nem é seu trabalho, apenas deve solicitar o encaminhamento desse aluno a profissionais da área da saúde, notificando a família de suas desconfianças.

2.3 Comorbidades que podem estar associadas ao TDAH

As crianças e adolescentes com TDAH apresentam com maior frequência outros problemas de saúde mental, como problemas de comportamento, ansiedade e depressão que são chamados de comorbidades.

Comorbidade é a ocorrência em conjunto de dois ou mais problemas de saúde. O TDAH é acompanhado com uma frequência alta de outros problemas de saúde mental. Para entendermos como isso acontece é simples: se pensamos no cérebro como uma rede interligada, torna-se fácil imaginar que um dano possa atingir diferentes partes da rede.

Um exemplo, do ponto de vista emocional, uma criança que apresenta TDAH e têm dificuldades de relacionamento e de

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aprendizagem pode desenvolver sentimentos de ansiedade, baixo autoestima e depressão como consequência.

Para Billi, existem comorbidades que são mais frequentementes associadas ao Transtorno de Déficit de atenção/Hiperatividade. Os dados foram extraídos do manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM – IV – TR, 2000).

Alguns dos transtornos mais identificados no ambiente escolar são:

• Transtorno de Desafio e Oposição: tem um padrão de comportamento negativista, hostil e desafiador com duração mínima de seis meses, durante os quais, quatro (ou mais) das seguintes características podem estar presentes:

1. Frequentemente perde a calma 2. Frequentemente discute com os adultos 3. Com frequencia desacata ou se recusa ativamente a obedecer a

solicitações ou regras dos adultos 4. Frequentemente adota um comportamento deliberadamente

incomodativo 5. Frequentemente responsabiliza os outros por seus erros ou mau

comportamento 6. Mostra-se frequentemente suscetível ou se irrita com facilidade 7. Frequentemente enraivecido e ressentido 8. Frequentemente rancoroso ou vingativo

• Transtorno de Conduta: um padrão repetitivo e persistente de comportamento no qual são violados os direitos individuais e dos outros ou normas, regras sociais importantes próprias da idade, manifestado pela presença de três (ou mais) dos seguintes critérios nos últimos 12 meses, com presença de pelo menos um deles nos últimos 06 meses:

1. Agressão a pessoas e animais 2. Destruição de patrimônio 3. Defraudação ou furto 4. Sérias violações as regras

• Transtorno de Ansiedade de Separação: ansiedade imprópria e

excessiva em relação ao nível de desenvolvimento, envolvendo o afastamento do lar ou de figuras de vinculação, evidenciada por três (ou mais) dos seguintes aspectos:

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1. Sofrimento excessivo e recorrente frente à ocorrência ou previsão de afastamento de casa ou de figuras importantes de vinculação.

2. Preocupação persistente e excessiva acerca da possível perda ou

perigo envolvendo figuras importantes de vinculação.

3. Preocupação persistente e excessiva de que um evento indesejado leve a separação de uma figura importante de vinculação (exemplo: perder-se ou ser sequestrado).

4. Relutância persistente ou recusa a ir à escola ou a qualquer outro lugar, em virtude do medo da separação.

5. Temor excessivo e persistente ou relutância em ficar sozinho ou sem figuras importantes de vinculação em casa ou sem adultos significativos em outros contextos.

6. Relutância ou recusa persistente a se recolher sem estar próximo a uma figura importante de vinculação ou a pernoitar longe de casa.

7. Pesadelos repetidos envolvendo o tema separação.

8. Repetidas queixas de sintomas somáticos (tais como cefaleias, dores abdominais, náuseas ou vômitos) quando a separação de figuras importantes de vinculação ocorre ou é prevista. • Transtorno de Leitura ou Dislexia: o rendimento em leitura,

medido por testes padronizados, de correção ou compreensão da leitura, administrados individualmente, está acentuadamente abaixo do nível esperado.

Considerando a idade cronológica, a inteligência média e o nível

escolar próprio da idade do indivíduo. Interferindo significativamente no rendimento escolar ou em atividades da vida diária que exigem habilidades de leitura.

• Transtorno de Expressão Escrita ou Disgrafia: as habilidades de

escritas, medidas por testes padronizados (ou avaliações funcionais das habilidades de escrita) individualmente administrados, estão acentuadamente abaixo do nível esperado.

Considerando a idade cronológica, a inteligência medida e o nível

escolar próprios da idade do indivíduo. Interferindo significativamente no

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rendimento escolar ou em atividade da vida diária que exigem a composição de textos escritos (por exemplo, escrever frases gramaticalmente corretas e parágrafos organizados).

• Transtorno de Matemática ou Discalculia: a capacidade

matemática medida por testes padronizados individualmente administrados está abaixo do nível esperado, considerando a idade cronológica, a inteligência média e o nível escolar próprios da idade do indivíduo. Interfere significativamente no rendimento escolar ou nas atividades da vida diária que exigem habilidades matemáticas.

• Transtorno da Linguagem Expressiva: o transtorno pode se

manifestar por sintomas que incluem um vocabulário acentuadamente limitado, erros nos tempos verbais ou dificuldades com a evocação de palavras ou com a produção de frases de extensão ou complexidade próprias do estágio evolutivo. As dificuldades com a linguagem expressiva interferem no desempenho escolar ou profissional ou na comunicação social.

• Transtorno Misto da Linguagem Receptivo Expressiva: os

sintomas do transtorno incluem os do transtorno da linguagem expressiva, acrescidos de dificuldade para compreender palavras, frases ou tipos específicos de palavras, tais como termos espaciais.

Vários são os estudos que falam da alta prevalência de

comorbidades entre portadores de TDAH. Precisamos compreendê-las e tratá-las. Um outro aspecto a ser considerado é o afeto. Isso mesmo é o amor incondicional. Ao abraçarmos as funções maternas, paternas, de educadora, abraçamos o sujeito, independentemente das suas características. A Psicopedagogia entende que, com base principalmente na afetividade

do sujeito e na sua relação com o ato de aprender, por meio do vínculo afetivo e de intervenções de qualidade, o portador de TDAH terá sua aprendizagem facilitada por essa mediação.

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CAPÍTULO III

3. O Psicopedagogo, a escola e as intervenções psicopedagógicas

3.1 O Psicopedagogo na Instituição Escolar

Um Psicopedagogo, cujo objeto de estudo e trabalho é a problemática da aprendizagem, não pode deixar de observar o que sucede entre a inteligência e os desejos inconscientes. Diz Piaget (1970, p.20):

“O estudo do sujeito “epistêmico” se refere à coordenação geral das ações (reunir, ordenar, etc.) constitutivas de lógica, e não ao sujeito “individual”, que se refere às ações próprias e diferenciadas de cada indivíduo considerado à parte”.

O que caracteriza uma atuação como psicopedagógica é a sua especificidade, ou seja, o campo de atuação voltado para o processo de aprendizagem e seus fatores intervenientes.

O conceito de aprendizagem com o qual trabalha a Psicopedagogia remete a uma visão de homem como sujeito ativo num processo de interação com o meio físico e social. Nesse processo interferem o seu equipamento biológico, as suas condições afetivas e emocionais e as suas condições intelectuais. A Psicopedagogia entende, ainda, que essas condições afetivas, emocionais e intelectuais são geradas no meio familiar e sociocultural no qual nasce e vive o sujeito. O produto de tal interação é a aprendizagem.

Desse modo, podemos dizer que a formação em Psicopedagogia deve permitir ao profissional reconhecer a aprendizagem nessa dupla vertente, qual seja, sujeito/meio, e, especialmente, compreender como ocorre essa interação.

O trabalho psicopedagógico, portanto, pode e deve ser pensado a partir da Instituição Escolar, a qual cumpre uma importante função social: a de socializar os conhecimentos disponíveis, promover o

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desenvolvimento cognitivo e a construção de regras de conduta, dentro de um projeto social mais amplo. A escola, afinal, é responsável por grande parte da aprendizagem do ser humano.

E, é através da aprendizagem que o sujeito é inserido, de forma mais organizada, no mundo cultural e simbólico, que o incorpora à sociedade. Sendo a instituição escolar responsável por grande parte dessa aprendizagem, cumpre-lhe o papel de mediadora nesse processo de inserção no organismo do mundo. A escola é produto da sociedade em que o sujeito vive e participa da inclusão deste nessa mesma sociedade.

Visca (1991, p.15) afirma:

“Eu não acho que a aprendizagem esteja restrita à escola. Eu acho que esta é a melhor forma de transmitir algumas aprendizagens, mas não e só na escola que se aprende. A aprendizagem acontece no sujeito (...). a cultura, o que faz é, de todos os objetos culturais, selecionar alguns e os transformar, então, em objetos pedagógicos, no sentido de que são geradores de conduta ou estimulantes para fazer este sujeito ingressar na cultura”.

A escola é, então, participante desse processo de aprendizagem que inclui o sujeito no seu mundo sociocultural. Ela é, com efeito, a grande preocupação da Psicopedagogia em seu compromisso de ação preventiva. Cada sujeito tem uma história pessoal, da qual fazem parte várias histórias: a familiar, a escolar e outras, as quais, articuladas, condicionam-se mutuamente.

A Psicopedagogia, no âmbito da sua atuação preventiva, preocupa-se especialmente com a escola. Dedica-se às áreas relacionadas ao planejamento educacional e assessoramente pedagógico, realizando diagnóstico institucional e propostas operacionais pertinentes.

O campo de atuação da modalidade preventiva é muito amplo, mas pouco explorado. Sobre o trabalho psicopedagógico na escola muito se tem a fazer. Grande parte da aprendizagem ocorre dentro da instituição escolar, na relação com o professor, com o conteúdo e com o grupo social escolar enquanto um todo.

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Pensar na escola, à luz da Psicopedagogia, significa analisar um processo que inclui questões metodológicas, relacionais e socioculturais, englobando o ponto de vista de quem ensina e de quem aprende, abrangendo a participação da família e da sociedade.

E, quando, além da dificuldade de aprendizagem normalmente apresentada por alunos sem nenhum comprometimento neurológico, a instituição escolar se deparar com alunos portadores de TDAH? Até então, neste cenário, professor e aluno eram os únicos protagonistas desta história. Mas, agora entra em cena o Psicopedagogo, com um papel igualmente importante.

O Psicopedagogo é o especialista que vai realizar o trabalho de avaliação, intervenção e regulação das situações relacionadas às dificuldades de aprendizagem, no contexto escolar

Ele tem muitas outras funções na escola, mas neste trabalho será focalizada sua ação especificamente neste sentido: o de prevenir o fracasso escolar de alunos portadores de TDAH e auxiliar alunos, professores, educadores e famílias a superarem as queixas e os impedimentos a construção do conhecimento.

Lembrando que o trabalho do Psicopedagogo é, por natureza, interdisciplinar. Ele não trabalha sozinho. Não pode e não deve realizar intervenções psicopedagógicas sem a participação da comunidade escolar. É sua responsabilidade chamar todos os envolvidos em uma queixa de aprendizagem para participarem de sua solução.

3.2 O Psicopedagogo e a intervenção psicopedagógica

O TDA associado ou não a hiperatividade compromete o rendimento escolar e consequentemente a autoestima. O Psicopedagogo busca possibilitar ao aluno a redescoberta do “desejo” de aprender, resultando numa melhora significativa de sua aprendizagem, pois sem essa vontade não se chegará à conquista do conhecimento.

Para tanto se realiza um diagnóstico e estabelece-se uma intervenção no processo de aprendizagem da criança e do

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adolescente, mediante a utilização de instrumentos e técnicas próprios da Psicopedagogia e da Pedagogia.

Não há receitas para intervir do ponto de vista psicopedagógico. Há indicativos, orientações, premissas e sugestões de modelos de intervenção. O Psicopedagogo vai elaborar suas estratégias de intervenção a partir de todo cabedal de conhecimentos que adquiriu e sabendo que algumas questões são primordiais para que uma intervenção psicopedagógica possa ser construída, como:

Sem uma avaliação psicopedagógica de qualidade não é possível intervir psicipedagogicamente, de modo planejado.

A intervenção surge da avaliação psicopedagógica, portanto, é preciso avaliar corretamente. O momento da avaliação psicopedagógica é, por excelência, a hora de conhecer o aluno com dificuldades de aprendizagem. O Psicopedagogo vai construir uma abordagem investigativa para saber quem é este sujeito, suas características, suas competências, suas dificuldades e, especialmente, suas potencialidades.

Tudo é intervenção, ou seja, no momento em que ocorre contato entre o psicopedagogo, a escola e o aluno, a intervenção inicia.

Nem tudo é intervenção, ou seja, o contato não é suficiente para solucionar problemas de aprendizagem, ele é parte do contexto. Para intervir é necessário saber construir estratégias de intervenção.

Para elaborar estratégias de intervenção psicopegagógicas é preciso os pontos nodais que deram origem ao impedimento da aprendizagem, os focos centrais e periféricos da intervenção. É preciso distinguir quais caminhos a tomar. Uma intervenção psicopedagógica institucional vai necessitar deste repertório de saberes sobre a escola, sobre o aluno para decidir quais estratégias irá utilizar para auxiliá-lo na reconstrução de sua aprendizagem.

A tarefa primordial do psicopedagogo é a de afastar o sintoma e inserir a aprendizagem lúdica. Por exemplo: se o aluno não sabe formar frases, deve-se detectar o que sabe e o que deve ser inserido para assimilação. Segundo Chamat (2008, p.59-60), a forma lúdica do conhecimento formal deve ser inserida na primeira parte da sessão e outros elementos lúdicos como jogos, na segunda. Esses últimos podem ser utilizados como estímulos reforçadores da primeira parte.

Essa autora aponta que todo trabalho deve começar pela relação vincular, paralelamente à comunicação, com desenhos, pinturas, que desenvolve a auto-estima e as relações vinculares,

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iniciando assim, a aprendizagem. As técnicas mais utilizadas são os jogos de exercícios sensório motores, ou de combinações intelectuais, como damas, xadrez, carta, memória, quebra-cabeça, entre outros.

Os jogos com regras permitem à criança, além do desenvolvimento social quanto a limites, à participação, o saber ganhar, perder, o desenvolvimento cognitivo, e possibilita a oportunidade para a criança detectar onde está, o porquê e o tipo de erro que cometeu, tendo a chance de refazer, agora, de maneira correta. Algumas Intervenções Psicopedagógicas simples podem ajudar bastante o portador de TDAH.

Duas práticas pedagógicas que podem ser desenvolvidas na instituição escolar e são recomendadas como acompanhamento psicopedagógico são os jogos, os contos de fadas e as histórias, que oferecem ao aluno desatento, hiperativo e impulsivo a oportunidade de ressignificar e transformar a sua aprendizagem.

• Jogos: Através de jogos se experimenta o

desenvolvimento das relações sociais e emocionais, pois estamos constantemente envolvidos com as situações de vitória e derrota, acerto e erro, cooperação e competitividade.

Desenvolve-se também o raciocínio e a lógica, mas principalmente o respeito e a prática das regras (habilidade pouco desenvolvida no portador de TDAH). Trabalha-se o desenvolvimento cognitivo e a possibilidade de a criança e/ou adolescente visualizar o seu erro, o porquê do erro e ter a chance de refazer numa próxima jogada a maneira correta.

• Contos de fadas e histórias: Quando trabalhamos os contos e histórias temos a oportunidade de trabalhar com a linguagem, é através dela que podemos dizer quem somos, como somos e de como nos relacionamos com o outro, é a maneira de se expressar, se expor ao mundo.

Envolve muito a relação social do indivíduo com o outro, traz a angústia e o sofrimento que o portador de TDAH tem em face dos relacionamentos sociais conflitantes, devidos principalmente a sua impulsividade, que precisa ser treinada.

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Normalmente esse trabalho traz à tona as pressões internas que esses indivíduos estão vivendo e passam a ter oportunidade de ressignificá-las. A leitura, a escrita e a narrativa podem ser trabalhadas com prazer a partir da leitura de contos de fadas e histórias, e, ao mesmo tempo propiciar equilíbrio entre a realidade e o eu subjetivo de cada um.

Podem ser usadas técnicas que envolvam escritas, como escrever um livro e ilustrá-lo, pode despertar nela o interesse em criar algo seu e admirar seu trabalho final, podendo isso, ser estendido às lições em sala de aula.

Neste momento entra a capacidade de tomar decisões do especialista em Psicopedagogia, sua competência em traduzir modelos teóricos estudados em práticas psicopedagógicas. A dimensão do fazer exige autonomias, coragem e iniciativa, por isso não há receita pronta. Lajonquière, 1992 diz:

“O filhote humano, à diferença dos animais, quando nasce não tem a seu favor o savoir-faire natural do instinto... Assim, o recém nascido deve aprender tudo; para sustentar-se na vida, deve aprender a viver”.

Algumas sugestões podem auxiliar na construção de estratégias de intervenção psicopedagógicas. Analisemos algumas:

Para começar a pensar em quais estratégias psicopedagógicas devem ser construídas é importante dissecar a avaliação psicopedagógica. Questionar os dados encontrados na avaliação psicopedagógica elaborada. Como por exemplo:

• Onde está o foco do problema de aprendizagem? Quem é o sujeito (ou sujeitos) que delata o problema? Qual o nível de desenvolvimento da escola e de seus atores no problema? Qual o papel da família neste contexto? Como o sujeito que apresenta a dificuldade de aprendizagem (TDAH) age e reage ao que está acontecendo? Onde e como esta dificuldade de aprendizagem se apresenta? Faça com que a avaliação psicopedagógica diga quais os espaços onde deve ocorrer intervenção.

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• A escola é parte do problema. É preciso verificar onde e como a

escola colabora na construção das dificuldades de aprendizagem e monte ações para desconstruir este contexto e construir novos. Estruture trabalhos específicos para alunos TDAH com gestores, coordenadores e professores. Atue onde há maior necessidade. Peça auxilio e trabalhe interdisciplinarmente. Veja o que precisa ser modificado, se são valores e crenças ou práticas e métodos. Avalie o trabalho sempre. Deixe claro que um aluno que não aprende significa uma escola que não ensina. Tenha coragem de enfrentar, junto com os outros educadores, a parte que cabe a cada um com relação ao problema em questão.

• E o papel do professor nesta história? Uma avaliação psicopedagógica de qualidade vai identificar o papel do professor na situação de não aprendizagem investigada. Uma estratégica de intervenção competente vai trabalhar esta questão com o professor. É indispensável identificar as estratégias de ensino do professor. Mais ainda, é muito importante compreender o que o professor pensa sobre ensinar, aprender e educar alunos com TDAH. É necessário identificar como ele lida com as dificuldades de aprendizagem. O psicopedagogo precisa desenvolver estratégias para trabalhar com o professor para auxiliá-lo a enfrentar suas limitações e suas dificuldades com os alunos TDAH e a desenvolver suas potencialidades.

• E a importância do currículo, que dificuldades ele apresenta e representa. É preciso verificar em qual área curricular a queixa de aprendizagem situa-se. Por exemplo, o aluno consegue ler, escrever e interpretar textos? Ou, ele não estrutura raciocínios lógicos? O que é necessário rever, em termos curriculares? É necessário repor conteúdos? É necessário ensinar, novamente, estratégias cognitivas que permitam à aquisição de competências intelectuais que facilitam a aprendizagem dos conteúdos curriculares para os alunos TDAH? Para dar conta dos desafios postos pelo currículo o psicopedagogo tem que conhecer como o sujeito se apropria da escrita, da leitura, do raciocínio lógico, enfim do conhecimento.

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• A família é a instituição que organiza a construção da identidade

do sujeito. Depois, quando este sujeito chega à escola, a família passa a compor, junto com a instituição, um sistema que define o desenvolvimento e aprendizagem de suas crianças. A família sempre está envolvida em uma queixa de aprendizagem, assim como o professor e a escola. Trabalhar com a família é fundamental e muito difícil. Nem sempre contamos com sua boa vontade ou desejo de assumir suas responsabilidades com relação ao transtorno do seu filho. Mas é indispensável tentar envolver a família nas ações psicopedagógicas, sempre. A família precisa ser orientada, ser convidada a participar do cotidiano escolar do seu filho, compartilhar o seu sucesso (e não só o fracasso), participar ativamente das atividades escolares, ser encaminhada para outras ações preventivas e ou terapêuticas, enfim, há muita coisa para se trabalhar com a família. Cabe ao psicopedagogo desenvolver estratégias para que isto aconteça. 3.3 Orientações de Intervenções para a família e o aluno TDAH

As crianças e adolescentes com transtorno apresentam dificuldades importantes de manter a atenção focalizada em um único estímulo, principalmente em ambientes não - estruturados. Algumas estratégias podem ajudar estes jovens. O tratamento de crianças com TDAH exige um esforço coordenado entre os profissionais das áreas médica, saúde mental e pedagógica, em conjunto com os pais. Esta combinação de tratamentos oferecidos por diversas fontes é denominada de intervenção multidisciplinar. Um tratamento com esse tipo de abordagem inclui:

• treinamento dos pais quanto à verdadeira natureza do TDAH e desenvolvimento de estratégias de controle efetivo do comportamento;

• um programa pedagógico adequado; • aconselhamento individual e familiar, quando necessário,

para evitar o aumento de conflitos na família; • uso de medicação, quando necessário.

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Segundo Billi (2008), todos os portadores de TDAH precisam dos famosos 3R: rotina, regularidade e repetição. Sempre observando a singularidade da criança portador de TDAH, a família, ou responsável pelo ensino do aluno fora da escola, deve procurar mostrar para a criança ou adolescente o que é estudar e como estudar. Afinal, estudar é transformar as informações e conhecimentos transmitidos em sala de aula em saber, é um trabalho que requer empenho, dedicação e perseverança, habilidades, muitas vezes, difíceis para quem é portador de TDAH.

Segundo Barkley (2008, p. 207), as reações

de pais de crianças com TDAH parecem se caracterizar por um estilo de disciplina mais frouxo e com táticas de controle ineficientes. A criança com TDAH geralmente viola as regras, negligência tarefas doméstica, opõe-se as tarefas de casa e definitivamente perturba a paz. Existem alguns princípios que os pais podem trabalhar com seus filhos para melhorar o comportamento deles, seus relacionamentos sociais e o ajuste geral em casa.

Segue abaixo algumas orientações:

• É interessante que o espaço físico seja cercado por orientações

escritas, desenhos e fotos. Normalmente, indica-se o uso de um mural, de uma lousa (de qualquer modelo), de um móbile com pregador em sua ponta colocado no lustre do quarto, onde poderão ser afixados tais “orientações ou lembretes”. Usam-se poucas palavras e um discurso direto. Esses “lembretes” são extremamente úteis para um TDAH se organizar e devem estar visíveis e em destaque, porém temos de ter cuidado para não sobrecarregar e provocar um cansaço visual.

• Um roteiro contendo o que ele deverá providenciar diante das atividades do seu dia a dia. Essa orientação precisa ser feita e, normalmente quem faz esse tipo de orientação é a mãe ao filho com TDAH. Isso acarreta um desgaste muito grande na relação entre os dois, portanto com os lembretes quem faz a cobrança na cabeça da criança é um pedaço de papel, desprovido de uma carga emocional associada a alguém, por isso ele responde muito melhor, mas ainda é necessário muito treino.

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• Calendário do mês

• Agenda do mês

• Arrumação da mochila escolar: arrumar o estojo, olhar as aulas

do dia seguinte, separar os livros e os cadernos, verificar na agenda se há alguma anotação, colocar na ordem esse material.

• Arquivar e guardar o material de escola: uma sugestão é

providenciar caixas etiquetadas com os nomes das matérias, de preferência que sejam de cores diferentes ou então que o escrito seja diferenciado pela cor, para que o aluno com TDAH guarde em um único lugar todo material referente àquela determinada matéria. Ou um armário com divisórias ou gavetas etiquetadas.

• Arquivar e guardar o material de estudo: é necessário uma pasta

arquivo com divisões para cada matéria ou pasta catálogo com sacos plásticos, dividindo, também, por matéria ou caixa arquivo com pasta suspensa para cada matéria. Serão arquivados nesses espaços os resumos, esquemas, fichamentos, desenhos, etc., realizados os momentos da revisão do conteúdo e estudo diário feito em casa.

• Como organizar um espaço: uma das maneiras mais práticas é

arrumar e tirar uma foto do local. Anexar essa foto ao lado desse espaço para que sirva de referência. Esta técnica pode ser usada para gavetas, armários, estantes, caixas organizadoras, entre outros espaços.

• Canetas coloridas devem ser usadas para anotações e estudo.

Destaque os temas, as palavras chaves e os símbolos utilizando cores, pois isso ajuda a memorização.

• Organize a cada dia a sequência de trabalho (coloque em uma folha a sequência de trabalho a ser realizada naquele dia de estudo em casa). Exemplo: 1. Olhe todo o material que voltou da escola; 2. Faça correções e complete os cadernos com o conteúdo dado

em sala de aula (às vezes, o tempo das aulas daquele

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determinado dia não foi o suficiente para copiar tudo e fazer as anotações necessárias). Nesses casos ligue para um amigo ou traga o caderno de um amigo para casa;

3. Olhe a agenda; 4. Separe o que tem para ser feito de atividades e estudo; 5. Faça a atividade de matemática; 6. Faça a pesquisa de geografia; 7. Estude sobre substantivos para português; e 8. Arrume a mochila para o dia seguinte.

TÉCNICAS DE ESTUDO

• Pratique a leitura Certifique-se de que entendeu o que leu, para isso:

Consulte um dicionário sempre que encontrar palavras desconhecidas. Verbalize com suas palavras o que leu. Leia quantas vezes forem necessárias para conseguir uma compreensão exata do texto. Leia em voz alta sempre que o texto lhe parecer sem sentido, pois a entonação ajuda a compreensão.

• Pratique a escrita Elabore pequenas histórias, pelo menos, uma vez por semana. Escreva um diário. Escreva e-mails para amigos.

• Procure explicar e ensinar a alguém o que aprendeu. Dê aulas sobre o assunto do seu estudo aos colegas e aos pais. Se não tiver para quem falar, fale para as paredes, mas fale, ensine.

• Faça associações. Relacione o conteúdo de estudo com números, palavras, situações engraçadas, acontecimentos pessoais importantes ou pessoas queridas.

• Revise periodicamente a matéria, isso faz com que seu estudo seja armazenado na memória de longo prazo.

• Faça estudo da matéria, utilizando palavras-chaves, itens, assuntos em fluxogramas, cores, formas, porque lhe ajudará na

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memorização e lhe facilitará nas revisões, pois é muito mais fácil resgatar da memória a imagem do fluxograma, desenhos, palavras-chaves do que páginas e páginas escritas.

Além disso, considera-se de fundamental importância os pais colocarem limites para as crianças em todas as situações necessárias. Isso é necessário para que ela possa transferir suas atitudes positivas para o ambiente escolar. Os pais devem ser constantemente trabalhados com orientações e questionamentos nas atitudes errôneas e a criança com jogos, mostrando o erro e causa deles (Chamat, 2008).

Chamat (2008, p. 84) afirma que “a disciplina constitui-se em elemento direcionador e organizador do pensamento da criança. As mensagens não podem ser ambíguas nem contraditórias, o que deixaria a criança ainda mais desorganizada e sem limites”. Portanto, o aspecto mais importante em qualquer estratégia ou programa de redução do comportamento hiperativo e/ou impulsivo é a orientação aos pais.

E, acima de tudo, os pais devem ter sempre em mente que toda melhora de comportamento leva tempo e somente o treinamento repetido torna a criança apta a “administrar” seu TDAH.

Disciplinar uma criança, especialmente uma criança com TDAH, torna-se muito mais complicado pela própria reação emocional ao que consideramos mal comportamento ou outras falhas sociais. Quanto mais consumidos emocionalmente com o comportamento dos filhos, mais os pais ficam propensos a usar estratégias disciplinadoras ineficientes ou inadequadas, como bater, gritar, ameaçar, incomodar ou não demonstrar amor e atenção.

Quando a emoção toma conta, o resultado é tipicamente inferior ao desejado, talvez até passível de arrependimento. Escolher a maneira de disciplinar é um dos aspectos mais importantes ao educar uma criança com TDAH. Um aspecto essencial ao aprender como disciplinar um filho de maneira eficiente é compreender o que ele é capaz de fazer e quando está mais preparado para fazê-lo.

Uma criança com TDAH precisa se apoiar em seu pai nas ocasiões em que não consegue se controlar. Se ele ficar zangado, aborrecido ou fora de controle, não vai poder propiciar o tipo de apoio emocional e disciplinar necessários para resolver o problema.

Muitas vezes a família segue uma linha desorientada, sem saber quais ações devem ser tomadas com seu filho TDAH. Por isso o trabalho com a

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família é essencial e a parceria é primordial. Quando a família investe seu tempo e dedicação a criança TDAH, todo caminho que deverá ser percorrido por ela se torna mais significativo e aprazível.

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CONCLUSÃO

Elaborar estratégias de intervenção psicopedagógicas não é tarefa fácil. Para isto, o especialista em Psicopedagogia tem que ter preparo, ousadia e certo grau de autorização pessoal para construir seu instrumento de trabalho.

A literatura da área é a base para a construção da prática. A experiência é o mecanismo que refina esta prática e a coragem é o comportamento que permite o “ir adiante”, sem receitas, com criatividade e ética, porque educamos seres humanos e não há nada mais importante e precioso na existência que isto.

Todas as fases do processo de intervenção são importantes: o diagnóstico, a compreensão dos sintomas, as intervenções. Tudo se completa, porém, o foco é e deve ser sempre o bem estar do portador do Transtorno de Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade.

Uma intervenção psicopedagógica tem como meta atender ao aluno, seja qual for a queixa escolar em questão. O aluno é o princípio, o meio e o fim da ação psicopedagógica. É em benefício dele que todo trabalho se organiza. O Psicopedagogo necessita conhecer o aluno, principalmente o aluno TDAH e sua situação. Precisa entender seus motivos e quais as funções do não aprender em sua história escolar e pessoal.

No âmbito escolar, a intervenção psicopedagógica tem uma natureza preventiva, reguladora e enriquecedora. Cabe ao Psicopedagogo não só auxiliar o aluno TDAH a superar dificuldades, mas também enriquecer suas experiências de aprendizagem, tornando a escola em um local que faça sentido para o ele.

É necessário um olhar preciso sobre o aluno, principalmente o aluno portador do Transtorno do Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade, no sentido de orientá-lo da melhor forma possível, de

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atender às suas demandas em consonância com seus momentos desenvolvimentais e de aprendizagem.

O sujeito que vivencia uma situação de dificuldade de aprendizagem não é uma pessoa incapaz de aprender, mas uma pessoa que, por diversas circunstâncias, está impedida de construir seus conhecimentos.

Não existe dúvida que o TDAH é um transtorno genuíno. Existe suficiente evidência científica que esse transtorno compromete mecanismos físicos e psicológicos que são comuns a todas as pessoas. O diagnóstico e o tratamento adequado e multidisciplinar é indispensável para o equilíbrio de todos.

A autoestima de todos os envolvidos neste “panorama TDAH” modifica-se muito se nos deixarmos contaminar por um espírito fraternal. Não existe prática familiar ou psicopedagógica de sucesso sem o olhar e o acolher. A emoção precisa ser trabalhada ao passo que a aprendizagem é construída.

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BIBLIOGRAFIA

BARKLEY, Russell. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade: guia completo e autorizado para os pais, professores e profissionais da saúde. Porto Alegre: Artmed, 2002.

BELLI, Alexandra Amadio. TDAH! E agora? A dificuldade da escola e da família no cuidado e no relacionamento com crianças e adolescentes portadores de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. São Paulo: STS, 2008.

CHAMAT, Leila Sara José. Técnicas de intervenção psicopedagógica: para dificuldades e problemas de aprendizagem. São Paulo, Vetor, 2008.

FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência aprisionada: Abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua família. Porto Alegre: Artmed, 2007.

GOLDSTEIN, Sam. Hiperatividade: Compreensão, avaliação e atuação: Uma visão geral sobre TDAH. Artigo: Publicação, novembro, 2006.

LAJONQUIÈRE, L. De Piaget a Freud: para repensar as aprendizagens. A (psico)pedagogia entre o conhecimento e o prazer. Petrópolis: Vozes, 1992.

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LIBÂNEO, J.C. Didática. São Paulo: Cortez, 1984.MATTOS, Paulo. No Mundo da Lua: Perguntas e respostas sobre Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade em crianças, adolescentes e adulto. 4 ed. São Paulo: Lemos, 2004.

MELO, Márcia Helena da Silva. Tratamento psicoterápico para os distúrbios de atenção. In: Atualização em TDAH, da infância à idade adulta, do diagnóstico à reabilitação multidisciplinar. São Paulo, Auditório da UniFMU-Universidade Metropolinas Unidas, 2oo8.

MUSZKAT, Mauro. Procedimentos, diagnóstico e intervenções junto ao paciente portador de TDAH. In: Atualização em TDAH, da infância à idade adulta, do diagnóstico à reabilitação multidisciplinar. São Paulo, Auditório da UniFMU-Universidade Metropolitanas Unidas, 2008.

PHELAN, Thomas W. TODA/TDAH-Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – Sintomas, diagnósticos e tratamentos: crianças e adultos. São Paulo: M. Books, 2005.

PIAGET, Jean. A construção do real na criança. Rio de janeiro: Zahar, 1970.

PICHON-RIVIÈRE. Enrique. O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

RUBINSTEIN, Edith Regina. O estilo de aprendizagem e a queixa escolar: entre o saber e o conhecer. São Paulo: Artes médicas, 2003.

VISCA, Jorge. Psicopedagogia novas contribuições. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.

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VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

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ANEXOS

É preciso que o aluno apresente seis dos sintomas de desatenção ou seis dos sintomas de hiperatividade. Além disso, os sintomas devem manifestar-se em dois ambientes diferentes e por um período superior a seis meses.

• Forma Hiperativa/Impulsiva: é caracterizada por pelo menos seis dos seguintes sintomas, em pelo menos dois ambientes diferentes.

( ) DIFICULDADE EM PERMANECER SENTADO OU PARADO

( ) CORRE SEM DESTINO OU SOBE EXCESSIVAMENTE NAS COISAS

( ) OU SE REMEXENDO NA CADEIRA

( ) AGE COMO SE FOSSE MOVIDO A MOTOR, “ELÉTRICO”

( ) FALA EXCESSIVAMENTE

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( ) TEM DIFICULDADE DE ENGAJAR-SE NUMA ATIVIDADE

SILENCIOSAMENTE

( ) RESPONDE A PERGUNTAS ANTES MESMO DE SEREM FORMULADAS TOTLAMENTE

( ) INTERROMPE FREQUENTEMENTE AS CONVERSAS E ATIVIDADES ALHEIAS

( ) SENTE DIFICULDADE DE ESPERAR SUA VEZ EM FILAS, BRINCADEIRAS

• Forma Desatenta: a criança apresenta, pelo menos seis das seguintes características:

( ) TEM DIFICULDADE EM MANTER A ATENÇÃO

( ) CORRE SEM DESTINO OU SOBE EXCESSIVAMENTE NAS COISAS

( ) DISTRAI-SE COM FACILIDADE, “VIVE NO MUNDO DA LUA”

( ) NÃO ENXERGA DETALHES OU COMETE ERROS POR FALTA DE CUIDADO

( ) PARECE NÃO OUVIR

( ) TEM DIFICULDADES EM SEGUIR INSTRUÇÕES

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( ) EVITA OU NÃO GOSTA DE TAREFAS QUE EXIGEM UM ESFORÇO

MENTAL PROLONGADO

( ) TEM DIFICULDADE NA ORGANIZAÇÃO

( ) FREQUENTEMENTE PERDE OU ESQUECE OBJETOS NECESSÁRIOS PARA UMA ATIVIDADE

( ) ESQUECE RÁPIDO O QUE APRENDE

• Forma Combinada ou Mista: é caracterizada quando a criança apresenta os dois conjuntos das formas hiperativa/impulsiva e desatenta. Existem ainda outros critérios que devem ser levados em conta, tais com:

( ) DEMONSTRA ESSES COMPORTAMENTOS HÁ PELO MENOS SEIS MESES

( ) O INÍCIO DESSES COMPORTAMENTOS FOI PRECOCE (ANTES DOS 7 ANOS)

( ) ESSES SINTOMAS TÊM REPERCUSSÃO NA VIDA PESSOAL, FAMILIAR, ESCOLAR

( ) DEMONSTRA ESSE COMPORTAMENTOS EM CASA E ESCOLA

( ) A FREQUENCIA E GRAVIDADE SÃO MAIORES EM RELAÇÃO A CRIANÇAS DA MESMA IDADE

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• Tipo não especificado: a pessoa apresenta algumas características, mas em número insuficiente de sintomas para chegar a um diagnóstico completo. Esses sintomas, no entanto, desequilibram a visa diária.

( ) CHORO INEXPLICÁVEIS NOS PRIMEIROS MESES

( ) MAIOR RISCO DE ACIDENTES

( ) BAIXA AUTO ESTIMA

( ) DEPRESSÕES FREQUNTES

( ) CALIGRAFIA DE DIFÍCIL ENTENDIMENTO

( ) MUDANÇAS RÁPIDAS DE INTERESSE (COMEÇA VÁRIAS COISAS E NÃO TERMINA)

( ) DIFICULDADE DE RELACIONAMENTO COM OUTRAS CRIANÇAS

OBS.:____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO............................................................................09

CAPÍTULO I – Mas, o que é TDAH? ..........................................10

1.1 – Definição.............................................................................10

1.2 – Diagnóstico..........................................................................11 1.3 – Sintomas.............................................................................13

CAPÍTULO II – A escola e o aluno com TDAH...........................20

2.1 – O papel da escola em relação aos alunos com TDAH......20

2.2 – O professor e o aluno com TDAH......................................22

2.3 – Comorbidades que podem estar associadas ao TDAH....26

CAPÍTULO III – O Psicopedagogo, a escola e as intervenções psicopedagógicas........................................................................30

3.1 – O Psicopedagogo na Instituição Escolar............................30

3.2 – O Psicopedagogo e a intervenção psicopedagógica.........32

3.3 – Orientações de intervenções para a família e o aluno

TDAH...........................................................................................37

CONCLUSÃO..............................................................................43

BIBLIOGRAFIA............................................................................45

ANEXOS......................................................................................48

ÍNDICE.........................................................................................52