universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo … · a criminologia poderia ser definida como o...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
SELETIVIDADE DO SISTEMA PENAL
Por: Larissa de Lacerda Schmütz Goumma
Orientadora
Prof. Ana Abreu
Rio de Janeiro
2012
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
SELETIVIDADE DO SISTEMA PENAL
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Psicologia Juridica.
Por: . Larissa de Lacerda Schmütz Goumma
3
AGRADECIMENTOS
Aos meus amigos Maria Izabel Gomes,
Rafael Garrido, Fatima Rodrigues e
Katlene Melicio e ao meu amado Yuki
Schmütz.
4
DEDICATÓRIA
Dedico a minha mãe querida que sempre
esteve ao meu lado.
5
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo debater atual sistema penal,
fazendo uma reflexão sobre os tipos de Criminologia, dando ênfase a
Criminologia Crítica e sua teoria do Labelling Approach. Essa teoria dispõe
sobre o etiquetamento feito ao desviante e todos as conseqüências desse
etiquetamento. Relata também sobre o controle social feito especialmente
pelo sistema penal, além dos outros órgãos de controle. Dissertando por
final sobre os erros e acertos da Criminologia Crítica e os novos rumos do
sistema penal.
.
6
METODOLOGIA
Os métodos de pesquisa foram livros e artigos na internet dedicados ao
assunto. Livros sobre criminologia e o criminoso. Artigos sobre a seletividade
do sistema e o porquê a sociedade sempre “culpa” os “excluídos” assim como
debate e conversas com professores da área em questão.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Teorias criminológicas 09
1.1 – Criminologia Tradicional 10 1.1.1- Escola Clássica 11 1.1.2- Escola Positivista 14
1.2 –Criminologia Crititica 19 CAPÍTULO II - Seletividade do sistema penal denunciada pela
Criminologia critica 21
2.1 – Breves considerações sobre a seletividade do sistema 21
2.2 – Controle social e suas formas 27 CAPÍTULO III – Outros rumos do sistema penal 34
3.1 – Breves comentários sobre o sistema penal 34 3.2 – O abolicionismo penal 38 3.3 – O novo realismo critico 43 CONCLUSÃO 47
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 49
FOLHA DE AVALIAÇÃO 50
8
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como principal foco a seletividade do sistema
penal e suas causas e conseqüências.
O primeiro capítulo disserta sobre as teorias criminológicas, que tem
como objeto de estudo o criminoso, as condutas criminais e suas causas. A
primeira escola, que é a tradicional, não apresentou nada novo à ciência do
crime. A escola clássica nasceu durante o iluminismo e seus autores
resgataram as idéias dos filósofos clássicos como Platão. A escola positivista
tem como principal expoente Cesare Lombroso, cuja tese principal é o
atavismo que perdurou por longo período. Esta tese ficou famosa por
descrever as características físicas e psíquicas do criminoso. Este capitulo
trata, por derradeiro, da Criminologia Crítica. Esta tese originada nos Estados
Unidos, cuja maior característica é o Etiquetamento, perversa rotulação que
leva à estigmatização do desviante.
Em continuidade, o segundo capitulo trata da seletividade penal trazida
pela Criminologia Crítica, dando ênfase à analise do labelling approach,
abordando as suas subdivisões, quais sejam, criminalização primária e
secundária. Este capitulo discorre, também, do controle social e suas formas.
O terceiro capitulo aponta os erros e acertos da Criminologia Crítica, por
meio de uma análise desta, destacando a importância do surgimento
Abolicionismo penal a partir desta análise. Ao seu término, o terceiro capitulo
traça um paralelo entre a Criminologia Crítica e as escolas antecessoras,
prevendo novos rumos do sistema penal.
9
CAPÍTULO I
1- TEORIAS CRIMINOLÓGICAS.
A criminologia poderia ser definida como o estudo do crime e do
criminoso, porém seu objeto é mais amplo, podendo ser considerada a ciência
que estuda o crime em geral e seus problemas, ou seja, é o estudo aplicado
das condutas criminais seja diretamente ou indiretamente, estuda os
fenômenos e as causas da criminalidade.
É uma ciência de conduta, pois estuda tanto a comportamento
quanto a biografia do causador da conduta.
Para Molina, “reúne uma informação válida, confiável e
contrastada sobre o problema criminal, que é obtida pelo método empírico que
se baseia na analise e observação da realidade.”(2002, p 40)
Enfim, criminologia é a disciplina que estuda a questão criminal
do ponto de vista biopsicossocial, ou seja, integra-se com as ciências da
conduta aplicadas às condutas criminais. (ZAFFARONI E PIERANGELI, 2004.
p 153)
Esta ciência social que estuda a natureza, a extensão e as
causas do crime, possui dois objetivos básicos: a determinação de causas,
tanto pessoais como sociais, do comportamento criminoso e o
desenvolvimento de princípios válidos para o controle social do delito. (SILVA.
L. 2008,p 34)
Qualquer teoria pode ser considerada como um conjunto de
hipóteses para explicar um fenômeno natural perante a sua relação com outro
ou outros fenômenos naturais (VOLD Y BERNARD apud
GARRIDO,STANGELAND E REDONDO, 1999, p 154).
Na expressão de Garrido,Stangeland e Redondo
“La relación que la teoría establece entre factores teóricos explicativos(por ejemplo, la anomía social) y explicados (la conducta delictiva) debe ser, finalmente, avalada o falsada empíricamente a partir de la observación estructurada y sistemática de la realidad delictiva” (1999,p154)
10
Desde do século XVII foram formuladas teorias para ajudar no
estudo dessa ciência, explicando assim as causas do delito. Diversos
estudiosos já tentaram explicar os criminosos e suas razões, tais como: Franz
Joseph Gall, médico alemão que relacionou as ações criminosas com a
estrutura cerebral do criminoso, Montesquieu, mais conhecido por sua filosofia,
buscou relacionar o criminoso com seu ambiente, seja ele natural ou físico.
Porém, dessas teorias, a que se destacou como ponto inicial da
criminologia foi a de Cesare Lombroso, que consagrou as idéias defendidas
pelos positivistas e depois contestadas por Charles Goring, que constatou que
não existia um “tipo” criminal, um tipo exato de criminoso.
Com isso surgiu a Teoria do Fator Múltiplo, que diz que o crime
surge como conseqüência de vários fatores, entre eles, fatores psicológicos,
biológicos, econômicos, sociais, políticos e culturais.
1.1-Criminologia tradicional.
O termo criminologia teria sido usado por Topinard em 1879, mas
foi em 1875 que ele apareceu como título de uma obra científica. Por causa
dessas datas, alguns autores fazem coincidir as origens da criminologia como
ciência, com a Escola Positivista. Não podemos considerar correto a afirmação
acima , pois é sabido que só com o Positivismo ganhou a criminologia
consciência de si e procurou apresentar-se como tal, usando critérios
metodológicos e epistemológicos próprios e se definindo assim como estudo
etiológico- explicativo do crime.
A Criminologia tradicional estuda as causas do crime e as formas
de prevenções. Ela enfatiza que simplesmente pelo fato de existirem normas,
sendo estas compostas por um consenso de toda a sociedade,
comportamentos destoantes de tais normas devem ser punidos.
11
Concentra-se em estudar apenas os fatores que levaram o
indivíduo a comentar tal conduta ilícita, e não se importa com possíveis
soluções para tal pratica.
Percebe-se que tal ciência segue as regras de uma democracia
burguesa. Como já diria Orlando Moraes: “A Criminologia Tradicional não fez
outra coisa senão endossar, legitimar e manter o status quo.” (FRANÇA,
2008,p123)
1.1.1- Escola Clássica.
A Escola Clássica marca o início de uma nova ciência. Antes
disso é impossível falar de criminologia, por causa da ausência de dimensão
sistemática, não obstante o crime ter sido sempre a preocupação de todas as
sociedades. Este sempre esteve presente nas diversas manifestações
culturais: folclore, contos, no drama, e etc.
Dentre os autores anteriores à Escola Clássica, alguns merecem
referência, a começar por Platão que definiu o crime como sintoma de uma
doença, cujas causas seriam as paixões (inveja,ciúme,ambição, cólera) , a
procura do prazer e por último a ignorância. Aristóteles considera o criminoso,
um inimigo da sociedade e que deveria ser castigado como um animal. São
Tomas de Aquino dizia que o crime era um reflexo da própria sociedade. Para
ele a miséria era a causa do crime. (MOLINA,2002, p 170)
A Escola Clássica surgiu a partir do Iluminismo assumindo ,assim, seu
legado racionalista, liberalista e humanista, projetando-se na razão dos
crimes, na filosofia dos atos ilícitos, questionando a legitimidade e o sentido
da utilização de reações criminais (DIAS; ANDRADE, 1997, p 7).
12
Para a escola clássica , o crime não é uma entidade de fato, mas
de direito. O homem, dotado de razão e livre-arbítrio, atua movido pela procura
do prazer (hedonismo) e assim a ordem social resulta de um consenso em
torno de valores fundamentais, visando o bem-estar de todos (contrato social).
(SILVA JR. 2008,p 26)
Na obra dos Delitos e Das penas, um clássico de Beccaria, o
autor faz uma abordagem totalmente liberal, sem contar um tanto quanto
sentimental a criminologia, afirmando que:
“A MORAL política não pode proporcionar à sociedade nenhuma vantagem durável, se não for fundada sobre sentimentos indeléveis do coração do homem. Toda lei que não for estabelecida sobre essa base encontrará sempre uma resistência à qual será constrangida a ceder. Assim,a menor força, continuamente aplicada.destrói por fim um corpo que pareça sólido, porque lhe comunicou um movimento violento. Consultemos, pois, o coração humano; acharemos nele os princípios fundamentais do direito de punir. “(1764, p 26)
O contrato social originária a solidariedade de todos os cidadãos
em torno dos valores fundamentais; o consenso assim criado determinaria uma
igualdade de deveres , assim como uma igualdade de interesses, mas que no
final corresponderia a uma desigualdade real de oportunidade (BECCARIA
apud DIAS E ANDRADE, 1997,p 8).
Assim como FOUCAULT, BECCARIA já questionava
inflexibilidade para com o criminoso, visto como "monstro", "inimigo" e outros.
Temos então, como pressupostos principais da Escola Clássica:
- As ações humanas, assim como as criminosas têm em sua
essência a busca pelo prazer a e fuga da dor, assim formando
o principio da utilidade do comportamento.
- Todos os seres humanos, a principio, tem capacidade de
decidir por si mesmos seus atos, ate mesmo os delitivos.
- Quando alguém comete um crime, essa ação se deve aos
benefícios que espera ter com essa ação.
13
- A principal finalidade da Justiça é compensar com um castigo
esse beneficio que o delinqüente espera obter. Então a pena
deve ser maior do que o beneficio do delito.
- Os castigos aplicados motivam o delinqüente a não cometer
mais os delitos praticados anteriormente, por causa da
experiência que ele tem perante o castigo, ou seja, perante a
sanção aplicada. (GARRIDO,STANGELAND E REDONDO,
1999. p 182 e 183)
Entre outros representantes da Escola Clássica podemos citar
Romagnosi que via o direito como algo natural, imutável e anterior ás
convenções humanos, prevê o jusnaturalismo e com isso a punição dos delitos
passados para prevenir os futuros. Jeremias Bentham prezava o bem da
coletividade, e por isso achava que o criminoso deveria ser intimidado para que
não cometesse mais crimes. Já Anselmo Von Feuerbach afirma que o Estado
deve cuidar para que a convivência do homem seja exatamente de acordo com
as leis. Com isso a sanção penal coagiria o criminoso não só fisicamente, mas
também psicologicamente.
A Escola Clássica possui três teorias para a pena: a Absoluta,
que entendia a pena como exigência da justiça; a Relativa, que via a pena
como uma prevenção tanto geral e especial; e a Mista, que é uma fusão das
duas primeiras, e diz que a pena se dá tanto como uma utilidade como uma
exigência da justiça.
Outro grande Mestre da Escola Clássica é Francisco Carrara,
para quem o crime é um ente jurídico, constituindo- se por duas forças, a física
(força que empregada no dano causado pelo crime) e a moral (vontade livre e
consciente do criminoso) . (DUARTE, 2008,p 156)
A Escola Clássica concebe assim o crime como fato isolado, fora
da questão causal. Vê como uma mera infração das regras . Não concilia as
diferenças existentes entre o homem comum e o homem delinqüente, ou seja,
todos são iguais, todos tem a mesma potencialidade de cometer o delito.
Exatamente porque tecnicamente todos têm o poder de discernir, têm a razão
14
ao seu lado, sendo este o ponto fraco da teoria, pois para o estudo do crime é
necessário estudar o criminoso.
Com essa defasagem, a Escola Clássica não trouxe nenhuma
solução para a prevenção dos delitos. Como cita Antonio Gárcia-Pablos Molina
, a Escola Clássica optou por especular os sistemas filosóficos e metafísicos,
assim como os dogmas deduzidos de seus próprios postulados. (2002,p 177)
1.1.2- Escola Positivista
O nascimento dessa escola se deu através da falência das
expectativas depositadas nas reformas penais e penitenciárias conduzidas
pelo Iluminismo. As propostas iluministas não só tinham falhado como não
conseguiram reduzir a criminalidade, tendo esta se diversificado e aumentado.
Nessa época, havia uma certa atração pela filosofia e a lógica. O
êxito no domínio dessas e outras ciências empíricas era ilimitado, ficando a
relação entre o plano da natureza e o homem mais estreita.
Essa escola, produto do naturalismo, sofreu influência da doutrina
evolucionista (Darwin, Lamarck); materialista (Buchner, Haeckel e
Molenschott); sociológica (Comte, Spencer, Ardig e Wundt); frenológica (Gall);
fisionômica (Lavater) e ainda dos estudos de Villari e Cattaneo (PRADO,
1999,p 123)
Em 1876 a obra de Lombroso inaugurou a Escola Positivista
Italiana, concomitantemente com a Criminologia científica. Cesare Lombroso
com seus estudos classificou fisicamente e psicologicamente o criminoso,
fazendo tal sujeito destoar-se dos demais, pregando que o criminoso era
revelado por suas ações e essas eram inconscientes, intensificando o estudo
da Antropologia Criminal. Do ponto de vista tipológico Lombroso classificava
os delinqüentes em seis grupos: o “nato” (atávico), o louco moral (o doente), o
15
epilético, o louco, o ocasional e o passional.Porem essa tipologia só servia
para o sexo masculino. (MOLINA,2002, p 191)
Sua tese principal é o Atavismo, sendo o criminoso atávico um homem
menos civilizado do que seus contemporâneos representando um grande
anacronismo.
Lombroso apontava as seguintes características corporais do
homem delinqüente: protuberância occipital, órbitas grandes, testa fugidia,
arcos superciliares excessivos, zigomas salientes, prognatismo inferior, nariz
torcido, lábios grossos, arcada dentária defeituosa, braços excessivamente
longos, mãos grandes, anomalias dos órgãos sexuais, orelhas grandes e
separadas, polidactia. As características anímicas, segundo o autor, são:
insensibilidade à dor, tendência a tatuagem, cinismo, vaidade, crueldade, falta
de senso moral, preguiça excessiva, caráter impulsivo (ALBERGARIA, op. cit,
p. 131-132).
Percebemos, assim , que desde Lombroso havia uma
discriminação do criminoso por suas características físicas.
“Com todas essas características o delinqüente, conseqüentemente sofre de estigmas não só sociais mas degenerativos, comportamentais e psicológicos.”(2002,p 20)
Além disso, outra grande contribuição de Lombroso foi o método
usado em suas pesquisas, qual seja , o método empírico. Como cita Molina:
“Sua teoria do” delinqüente nato “foi formulado com base nos resultado de mais de quatrocentas autópsias de delinqüentes e suas mil análises de delinqüentes vivos; e o atavismo conforme seu ponto de vista, caracteriza o tipo criminoso - ao que parece - contou com o estudo minucioso de vinte cinco mil reclusos de prisões européias.”(2002. p 191)
Os postulados da Escola Positivista eram o extremo oposto da
Escola Clássica. Sugerindo mudanças em relação às representações
“metafísicas” da velha Escola.
Pode se considerar positivista toda investigação conduzida por
métodos que não dependendo de conteúdo antropológico, psicológico ou
sociológico de suas hipóteses. Leva-se em conta as exigências fundamentais
do positivismo, que é a negação do livre-arbítrio, a crença no determinismo
16
separação entre a ciência a e moral a neutralidade axiológica da ciência e
ainda o uso do método indutivo/ quantitativo.
O Delito na Escola Positivista é concebido como um fato real e
histórico não é uma mera abstração jurídica, sendo a pena é algo inútil pois o
crime é uma doença, e deve ser tratada para o bem da sociedade (MOLINA,
2002. p 189).
A Teoria bioantropológicas prega que esse ser, que seria
predisposto a cometer crimes, por uma disposição genética, seria inferior aos
outros seres humanos, sendo, pois, organicamente diferente dos outros.
Para a Teoria psicodinâmica a diferenciação do criminoso para o
não criminoso não se dá através da genética, e sim através de falhas nos
processos de aprendizagem e de socialização . Ou seja, o criminoso é a-social.
Entende a causa do crime como um conflito interior entre impulsos naturais e
a resistência a aprender o sistema de normas e leis.
Discípulos de Lombroso, FERRI e GARÓFALO continuaram a
pregar seus postulados, porém Ferri acentua os condicionamentos
sociológicos, enquanto Garófalo os elementos psicológicos.
Segundo Molina, Ferri representa a diretriz sociológica do
positivismo, defendendo a tese muito equilibrada sobre a criminologia, pois
tinha uma ênfase sociológica, buscando as causas do crime. Assim
contrariava a Criminologia Clássica que achava que a sociedade nada tinha a
ver com o crime. (MOLINA, 2002, p 195)
Ferri não acreditava na tese antropológica de Lombroso, pois
pregava os fatores antropológicos e os individuais. Os individuais eram o
organismo do individuo, seu psíquico e características pessoais como: sexo,
raça, idade, estado civil e etc. Mas Ferri não atribuía apenas aos fatores
individuais as causas do crime, mas também a fatores físicos e sociais. Os
físicos incluíam clima, estações, temperatura e etc, e os sociais seriam a
densidade da população, a opinião pública, família,moral,religião,educação e
etc. (MOLINA, 2002. p 196)
Outra tese bem conhecida de Ferri é a do “substitutos penais”.
Seria uma tese que dispensa o Direito Penal, defendendo que a prevenção do
17
crime deve ser feita através de ações reais , efetivas e cientificas dos poderes
públicos, antecipando o crime .
A pena para Ferri era ineficaz se não houvesse uma reforma na
sociedade. Por isso ele propôs que o crime fosse combatido com a Sociologia
Criminal e não com o Direito penal. Essa Sociologia Criminal não era simples e
pura, seria conjunta com a Psicologia Positiva, antropologia Criminal e
Estatística Social. (FERRI apud MOLINA, 2002, p 197).
Defendia piamente a justiça social nem que isso significasse o
sacrifício dos direitos sociais, da humanidade das penas ou mesmo da
segurança jurídica, confiando num sistema fascista, e admitindo em alguns
casos a pena de morte. Essa seria uma inclinação Totalitária para o
positivismo.
A Sociologia criminal enfatiza os fatores exógenos na busca do
porquê da conduta delituosa do criminoso, tendo como outros ícones como
Augusto Comte e Adolphe Quetelet.
De acordo com Roberto Lyra as teorias sociológicas podem ser
classificadas em três grupos:
“1) teorias antropossociais: buscam relacionar os princípios de Lombroso com os sociais então sob enfoque. Assim, o delinqüente dito nato sofreria influência do meio social, que o predisporia a cometer delitos; negando a teoria do delinqüente nato, prefere o termo "predisposto". Seus defensores maiores foram Manouvrier e Lacassagne;
2) teorias sociais propriamente ditas: elas enfatizam tão somente os fatores exógenos, deixando de lado qualquer fator endógeno. Seus principais defensores foram Gabriel Tarde e Vaccaro;
3) teorias socialistas: defendendo a influência dos fatores sociais, atribuem maior influência ao econômico. Menos aceita, destacaram-se Turati e Colajanni”(DUARTE, 2008,p.202)
Além disso temos outras teorias da Sociologia Criminal: teorias
ecológicas ou da desorganização social, que prega a ruptura dos mecanismos
tradicionais de controle e a pluralidade das alternativas de conduta; teorias da
subcultura delinqüente. “As teorias da subcultura partem do princípio de que
18
delinqüentes são as culturas e não as pessoas.” E teorias da anomia ou da
estrutura da oportunidade, “O crime é o resultado normal do funcionamento do
sistema e da atualização dos seus valores”. (DUARTE, 2008,p.203)
Em outra corrente temos Garófalo, que sustentou uma
moderação ao positivismo, reformulando seus postulados sem excessos
dogmáticos e numa visão que possibilitava a comunicação com as leis.
Garófalo deu um novo sentindo a Criminologia usando a
denominação para Ciências Penais.
Seu pensamento foi dividido basicamente em três partes: “Delito
Natural” que falava sobre o delito em si; a “teoria da criminalidade” que
comentava sobre os criminosos e o “fundamento do castigo ou teoria da pena”
que estudava as sanções impostas pelo Estado.
O Delito Natural consiste numa série de condutas que são
nocivas em qualquer sociedade independente de valor imposto pela mesma.
Garófalo não descarta inteiramente a tese de Lombroso, mas faz alguns
adendos. O criminoso teria uma capacidade psicológica e sua base moral
diminuídas assim como outros fatores do tipo. Seria uma mutação psíquica
que seria transmitida geneticamente. Distingue assim como Lombroso o
criminoso em tipos, porém diferentes de seu antecessor classificou-os em : O
“assassino”, o criminosos “violento”, o “ladrão” e o “lascivo”.
Mas a principal contribuição de Garófalo a Criminologia foi sua
filosofia sobre o castigo, os fins das penas e sua fundamentação. (MOLINA,
2002, p 200). Basicamente se resumia aos princípios da Responsabilidade
moral e a proporção penal, que foram reduzidas em duas pequenas frases:
“ 1º- Não existe crime quando o agente não é moralmente responsável pelo ato praticado.
2º- A quantidade da pena deve ser proporcionada à gravidade do delito.” (GARÓFALO,1997, p 184 e 185)
Entre a Escola Positivista e a Criminologia Crítica houveram
algumas Escolas intermediárias, como a Escola de Lyon que explicava o
19
delinqüente com “ o símil do micróbio” , e tinha a celebre frase “ As sociedades
têm os criminosos que merecem”. ; as Escolas Ecléticas era uma série de
escolas que pretendiam amenizar os dogmas do positivismo no plano
metodológico e ideológico e o Pensamento de Tarde que foi definido como
psicossociológico, antecipando os postulados da criminologia crítica norte
americana. (MOLINA, 2002, p 200 a 209)
1.2 Criminologia Crítica.
Um dos motivos da falência da criminologia tradicional foi o
permanente “estado de sítio” no EUA, que era deveras dispendioso e não
funcionava. E das novas alternativas apresentadas surgiu a Criminologia
Crítica, também chamada de criminologia do Conflito, pois a explicação do
crime terá como tese central o topo do conflito.
Esta criminologia é um reflexo da sociedade da época, abalada com
conflitos, guerra fria, revoltas estudantis e etc. Esse tipo de criminologia fez
com que houvesse uma revolução, tanto teoria quanto prática, simplesmente
pela natureza das questões levantadas. Não se questiona o porquê da conduta
criminosa do indivíduo, pois as principais indagações giram em torno do por
quê determinadas pessoas são tratadas como criminosas, quais as
conseqüências desse tratamento e qual a fonte de sua legitimidade.
Assim, haverá uma ampliação do campo de investigação, fazendo
com que efetivamente haja um melhor controle da criminalidade. Em resumo,
não são as razões do delinqüente, mas os critérios que constituem tais
razões,a preocupação principal desta nova criminologia.
Ela rompe com o paradigma etiológico – determinista (sobretudo
no plano individual) e propõe um modelo dinâmico e contínuo substituindo a
antiga, estática e descontinua criminologia tradicional, passando as normas
penais passam a serem estudadas sob o prisma do pluralismo axiológico.
20
O pensamento principal desta matéria se resume na rejeição à
teoria funcionalista e mostra a sociologia como uma ciência mais atuante, além
de transformar esta em sociologia reflexiva, dotada de elementos para criticar
o alvo preferencial, que é a sociedade capitalista.
Essa teoria engloba outras teorias como, por exemplo, a Teoria
da rotulação ou labeling approach, que seria a rotulação dada ao criminoso
pelas instituições de controle formal, distinguindo se assim o criminoso do
homem normal. Seria um controle preventivo, tanto no campo normativo
quanto no campo de prevenção a criminalidade.
Temos também a Etnometodologia que estuda a interatividade do
cotidiano da coletividade. O crime é visto como uma construção social
realizada na interação entre o desviante e as agências de controle. (SILVA,
2008,p 124) .
Essa intersubjetividade engloba regras, atitudes, linguagem,
significados e expectativas do homem.
Existe ainda a Teoria da Criminologia radical, que critica as duas
teorias anteriores, por não se diferenciarem tanto da criminologia tradicional,
pois continuam funcionando para oprimir a sociedade. Para que o crime tenha
solução, a criminologia radical prega que a sociedade deve mudar, pois não há
solução para o crime numa sociedade capitalista.
21
CAPÍTULO II
2- A SELETIVIDADE DO SISTEMA PENAL DENUNCIADA PELA
CRIMINOLOGIA CRÍTICA.
2.1. Breves comentários sobre a Seletividade do Sistema.
A Seletividade do sistema pode ser considerada como
segregação de uma parcela da sociedade em relação ao processo de
criminalização. Analisando a construção da criminalidade dentro da sociedade
podemos ver claramente a exclusão dos pobres, pretos e “estranhos”.
De acordo com Francisco Bissoli Filho:
“O termo “estranho” é empregado tanto para identificar os indivíduos que são julgados pelos outros como desviados e que estão fora do círculo dos membros “normais” do grupo, como também, do ponto de vista da pessoa etiquetada como desviada referindo-se às pessoas que fazem as regras.” (1998, p 172)
Essa seletividade ocorre por vários motivos, alguns explicados
pela Criminologia critica, como a Teoria do Labelling Approach, que vai de
encontro à visão tradicional de que o criminoso deve ser investigado por sua
personalidade e seus hábitos. Também é contra a tradicional escola positivista
que diz que criminosos podem ser identificados como uma classe homogênea
apenas por ter cometido tais infrações.
O desvio cometido pelo infrator não seria decorrente dos fatores
sociais ou mesmo do impulsionamento que esses fatores dariam a ação
criminosa, o desvio ocorre devido a grupos sociais que criam regras e as
aplicam a determinadas pessoas classificando-as e as rotulando-as. (FILHO,
1998, p 172).
A Teoria do Labelling approach trabalha com a criminalização
primária e secundária. A criminalização primária se daria no momento da
22
criação de regras, da criação das condutas a serem punidas.Já a
criminalização secundária se dá justamente quando se rotula o autor dessa
conduta delitiva, quando se impõe uma etiqueta sobre o desviado, através da
sanção.
As regras são criações de grupos sociais específicos. As
sociedades modernas são diferenciadas de acordo com grupos étnicos,
ocupacionais e culturais. Sendo essas organizações um tanto quanto
complexas, cada uma delas terá sua história e tradição, levando assim a criar
suas próprias regras. O que pode acarretar algum conflito é a divergência entre
regras de grupos distintos, como por exemplo, na época da Lei seca dos EUA
os imigrantes italianos continuavam a produzir vinho para si e para seus
amigos. O que era uma conduta correta perante as regras italianas era a
quebra de uma lei em seu novo país. (BECKER apud FILHO, 1998, p 172)
Como colocado por Vera Regina Pereira Andrade, a tese central
do labelling é :
“que o desvio e a criminalidade não é uma qualidade intrínseca da conduta ou uma entidade ontológica preconstituída à reação social e penal, mas uma qualidade (etiqueta) atribuída a determinados sujeitos através de complexos processos de interação social; isto é, de processos formais e informais de definição e seleção. “ ( 2000,p 169)
Para Becker o desvio surge da interação da pessoa que comete o ato e
aqueles que reagem perante o mesmo e não da qualidade presente na
conduta. (FILHO,1998. p 173)
O processo de etiquetamento não surge com o processo penal,
surge em lugares de controle social como a escola, a família, o local de
trabalho entre outros. Um exemplo bem claro de etiquetamento é o aluno que
não se destaca entre os demais e chamado de “difícil” ou mesmo a velha
expressão conhecida por todos, a “ovelha negra” da família. Daí vem a
estigmatização à margem e o sentimento de exclusão da sociedade.
(HASSEMER, 1984, p 82; CONDE, 1985, p 37)
23
Como podemos ver, a seletividade também prejudica os mais
fracos, aqueles das classes mais prejudicadas. Ela prejudica os mais pobres
exatamente porque estes não têm como se defender, porque já foram
estigmatizados e rotulados e não porque são delinqüentes natos. Essas
pessoas são estereotipadas como “más” tendo em vista não o seu
comportamento mais sua classe, sendo esta a mais indefesa.
A criminalização secundária é feita pelos órgãos policiais assim
como pelo poder judiciário e pelo Ministério Público. A polícia tem como base
para a prisão não àqueles que cometeram a conduta, mas sim aqueles que
aparentemente a teriam cometido. O Ministério Público tem o poder de
arquivar ou não o inquérito policial, fazendo assim outro tipo de seleção,
enquanto o Poder Judiciário tem de proferir as sentenças condenatórias e
absolutórias escolhendo assim quem vai ou não para a prisão. A seleção não
pára no poder judiciário, continuando na execução das penas, assim como os
benefícios penitenciários, onde o critério para o cumprimento das mesmas fica
a mercê da polícia. (FILHO, 1997, p 181)
Desses três órgãos, o que é mais hostil em relação aos
discriminados é a Polícia, que os pune de uma forma violenta que por
conseqüência tem em retorno a não cooperação dos “etiquetados” fazendo
disso um circulo vicioso.
Percebemos então, que o sistema penal não está montado para
funcionar de acordo com a legalidade processual, e sim para exercer seu
poder com alto grau de seletividade, dirigida principalmente aos setores
vulneráveis. ( ZAFFARONI E PIERANGELI, 1989, p 27)
A etiqueta imposta pela sociedade faz com que o indivíduo perca
sua característica própria, perca sua própria personalidade e acabe
incorporando o rótulo que a sociedade lhe deu.
Há uma grande diferença entre cometer a conduta uma única vez
e cometê-la reiteradamente. Porém a sociedade e seu etiquetamento fazem
com que as duas coisas sejam a mesma, pois uma vez etiquetado o indivíduo
se perde dentro do que ele achou que era, importando-se apenas com o que
os outros vêem a partir da sua conduta.
24
A criação de um auto-etiquetamento se dá através da reação
social em relação a esse indivíduo e então a partir da consciência e da
interpretação dessa reação social feitas pelo próprio.
Conforme um rótulo, essa etiqueta vai gerar expectativas sociais
existente, como faz a “garrafa”, moldando-o, pois exatamente o que está
descrito em seu rótulo e o que está dentro dela. Ou seja, a sociedade espera
que o etiquetado se comporte conforme a etiqueta. (FILHO, 1998, p 184)
O labeling approach se desenvolve em três níveis. Um nível que
investiga o processo de definição da conduta desviada, que seria a
criminalização primária, um que investiga o processo que atribui o status de
criminoso, chamado de criminalização secundária ou processo de seleção, e
outro que investiga a atribuição do status de criminoso na identidade do
criminoso, que se define como desvio secundário. (BARATTA; PABLOS DE
MOLINA apud ANDRADE,2003, p 44)
A criminalização primária conduz a distribuição de poder e
controle social. Esse níveo do labelling approach que se conecta com as
teorias do conflito. (BARATTA; PABLOS DE MOLINA apud ANDRADE, 2003, p
45)
SACK conclui que a etiqueta de criminoso é um “bem negativo”
que a sociedade faz como controle social e com o mesmo critério dos outros
bens positivos ( Fama, status patrimônio e etc) porém em relação inversa e
em prejuízo as classes menos favorecidas. (ANDRADE, 2003, p 54)
O desvio não é uma qualidade da infração cometida pelo
individuo,e sim uma conseqüência da aplicação que os outros fazem das
regras e sanções para um ‘ofensor’. O desviante seria aquela pessoa que
possa ser rotulada, qualificada com êxito. (BECKER apud ANDRADE, 2003, p
41).
A criminalidade seria uma interação entre ação e reação social. A
conduta vai ser considerada desviante considerando-se em parte sua natureza.
(BECKER apud ANDRADE,2003 p 42)
A Criminologia Tradicional deu uma justificativa etiológica para a
seletividade afirmando que a criminalidade era apenas atributo da minoria
25
socialmente perigosa (anormais), ou daqueles com anomalias físicas
(biopsicológicas) ou fatores ambientais e sociais, ou seja, esses três
estereótipos tinham uma maior tendência a serem delinqüentes. Essa
justificativa deu ensejo a uma seleção desigual , qualificando assim os
criminosos dentro de um certo grupo da população.(FERRI apud ANDRADE,
2003, p 50).
A seleção do processo ocorre em duas fases: a seleção dos bens
jurídicos penalmente protegidos e dos comportamentos ofensivos a estes bens
previamente descritos no código penal e a seleção dos indivíduos
estigmatizados entre todos aqueles que praticam tais comportamentos.
(ANDRADE apud FILHO, 1998, p 180)
Pode ser que não haja um consenso prévio em torno dos bens a
serem tutelados , ou mesmo quais condutas devem ser tipificadas . Por isso,o
processo de criminalização que deveria tratar todos os interesses e pessoas de
forma igual, acaba tratando de modo desigual e seletivo.
O objetivo da teoria da seletividade é indicar as variantes e
determinantes que irão operar dentro do processo de criminalização, seja ele
primário ou secundário. De acordo com Baratta (1997,p106) por trás desses
processos encontram-se mecanismos de interação, de antagonismos e de
poder que dão conta, em uma dada estrutura social, da desigual distribuição
de bens e de oportunidades entre os indivíduos. (FILHO, 1998. p180).
Citando Francisco Bissoli Filho:
“Na seletividade do processo de criminalização primária a escolha dos bens jurídicos a serem penalmente tutelados e das condutas socialmente danosas, uma vez vencedores os que detêm mais poder (os fortes), obviamente que recairá sobre os interesses destes. As condutas mais afeitas aos fracos, por certo, serão mais consideradas e as penas mais agravadas, enquanto aquelas das classes mais altas serão mais relevadas”. (1998, p 181)
A seletividade do sistema se baseia no fato de que as classes
altas não são punidas enquanto a minoria pobre é extremamente
criminalizada. E isso se dá por duas razões.
26
A primeira questão a ser levantada é a falta de capacidade do
sistema penal de se estruturar. Tantos as agências policiais quanto judiciais
administram o mínimo do mínimo das infrações, mesmo com sua abrangência.
(Baratta apud Andrade, 2003, p 50). Porém se o sistema conseguisse prender
todos os desviantes , e se todos os crimes fossem punidos , todos as condutas
criminais fossem devidamente sancionadas haveria uma catástrofe social.
Parte-se do princípio de que praticamente quase toda população seria
criminalizada e obviamente o sistema penal foi feito para que a legalidade
processual não opere em sua extensão. ( ZAFFARONI apud ANDRADE, 2003
p 51)
A segunda questão é que a seletividade do sistema acontece pela
especificidade da conduta e das conotações sociais dos infratores.
A impunidade e a criminalização acontece pela seleção desigual
de pessoas de acordo com seu status social, e não pela incriminação
igualitária de condutas objetiva e subjetivamente consideradas em relação ao
fato-crime.
A crientela do sistema penal é a mesma em todo mundo, são
pessoas do mais baixo nível social, assim exposto por Vera Regina Pereira
Andrade:
“ O sistema penal se dirige quase sempre contra certas pessoas, mais que contra certas condutas legalmente definidos e acende suas luzes sobre o seu passado para julgar no futuro o fato-crime presente, priorizando especulação de “quem” em detrimento de “que”. De modo que a gravidade da conduta criminal não é, por si só, condição suficiente deste processo, pois os grupos poderosos na sociedade possuem a capacidade de impor ao sistema uma quase total impunidade das próprias condutas criminosas. “ (2003, p 52)
Alessandro Baratta finaliza o pensamento afirmando que o sistema
subestima e imuniza as condutas em que há um dano social mais alto porém
mais difuso. Além disso, superestima infrações relativamente de menor dano
social, mas com grande visibilidade. (ANDRADE, 2003, p 52)
A seletividade do sistema pode ser qualitativamente quando passa
a levar em conta a especificidade das infrações e das conotações sociais dos
27
autores das condutas (ou vítimas) e desconsidera assim a capacidade
operacional do sistema penal. (FILHO, 1998, p182)
A Seletividade assim como a violência dá margem para outras
condutas lesivas como a corrupção, a concentração de poder, a verticalização
social e etc. Tudo isso são características conjunturais do sistema penal e não
estrutural. ( ZAFFARONI E PIERANGELI, 1989, p 15)
Segundo Nilo Batista:
“No Brasil, não temos a pena de morte na legislação, mas ela é aplicada largamente, tolerada e estimulada por discursos que ou desqualificam o acusado (“ ele é bandido “), liberando-o à senha dos esquadrões da morte a soldo de grupos sociais bem caracterizados ou exercem a apologia do extermínio (“ bandido bom é o morto “)” (1990, p 103)
Sendo assim, a seletividade é totalmente intrínseca a
sociedade, pois desde dos tempos remotos, a exclusão e a marginalização
é realizada de modo descarado e sem nenhum tipo de controle. Sempre
tivemos o parias da sociedade, como os negros, os ciganos, e os pobres em
geral. O preconceito é gerado pela alta sociedade que dita o que deve ou
não ser regra, assim como quem deve ou não ser excluído, assim como que
bem jurídico deve ser tutelado.
2.2 – O Controle Social e suas formas.
A sociedade se reúne em vários grupos cada um com suas
expectativas e interesses, sendo a estrutura de poder de uma sociedade um
reflexo da forma com que cada grupo resolve seus conflitos. E essa
estabilização pode ser institucionalizada ou difusa.
28
Toda sociedade possui esta estrutura de poder, e com ela
nascem as classes dominantes, que estão mais próximas do centro de
decisões e as classes dominadas que estão mais afastadas do centro de
decisões. Com essa estrutura, a classe dominante tem o poder de
“controlar” não só as classes dominadas, mas também a própria classe.
Essa estrutura é imposta para que o indivíduo não seja desviado, e atue de
acordo com a decisão da classe dominante sobre o que é melhor para
todos.
A teoria do controle social baseia-se na disciplina estabelecida
por determinado grupo ou sociedade onde se procura assegurar a
obediência de seus membros por intermédios de padrões de natureza
jurídica, moral, religiosa, etc, de acordo com o interesse das classes fortes e
dominantes. (SOARES, 2003, p 49)
Segundo Freud, desde infância temos um órgão de controle
interno, que é denominado “superego”, que vigia as próprias emoções e
rege a conduta do ser humano conforme as exigências do mundo em que
ele vive.(CONDE, 2005, p 16)
A estrutura do poder tanto político quanto econômico faz com
que aconteça em toda sociedade a centralização e marginalização. E
dessas duas características vão surgir inúmeras formas do “controle social”
(ZAFFARONI E PIERANGELI , 2004, p 61)
Uma dessas formas de controle social de massa se dá através
dos meios de comunicação. Embora a população pense ser um mero
instrumento de recreação, a mídia consegue passar para a massa o que ela
deve ou não fazer, o que é certo, o que é errado, além de outras noções de
moral. Temos como exemplo forte, a manipulação dos meios de
comunicação em casos criminais, onde o clamor público, veiculado por tais
meios, falou mais alto, e a prisão foi realizada sem argumentos plausíveis.
Eugenio Raúl Zaffaroni descorre em seu livro da seguinte
maneira:
29
“Qualquer Instituição social tem uma parte de controle social que é inerente a sua essência, ainda que também possa ser instrumentalizada muito além do que corresponde a essa essência. O controle social se exerce, pois, através da família , da educação , da medicina, da religião, dos partidos políticos, dos meios massivos de comunicação, da atividade artística, da investigação científica, etc.”
(2004,p 61)
Percebemos que o controle social se dá por qualquer tipo de
meio, seja ele difuso ou não, sendo, obviamente, o sistema penal é um meio
de controle social. Não devendo ser analisado sozinho, e sim num contexto
político, social, econômico e histórico. .
Não podemos deixar de afirmar que as ações do homem são
limitadas pelo controle social de acordo com o direito penal, sendo o
principal meio de coação jurídica a pena, que além de ser um elemento da
norma penal, serve para motivar os comportamentos. Do mesmo modo que
o pai castiga o filho para reprimir alguma coisa que ele tenha feito errado,
assim a norma penal age igualmente.
Antonio García- Pablos de Molina, sobre o controle social penal
da afirma:
“ O Controle Social Penal é um subsistema dentro do sistema global do controle social; difere deste último por seus fins (prevenção ou repressão do delito), pelo meios dos quais se serve (penas ou medidas de segurança) e pelo grau de formalização que exige” (2002, p 135)
Para Francisco Muñoz Conde as normais penais não são
suficientes, declara da seguinte maneira:
“Verdadeiramente, as normas penais por si só são insuficientes e, paradoxalmente, demasiado débeis para manter o sistema de valores sobre o qual descansa uma sociedade. De nada serviriam, nem a cominação penal contida nas mesmas, nem a imposição de penas, nem sua execução, se não existisse
30
previamente outros sistemas de motivação de comportamento humano em sociedade. A consciência moral, o supergo e a ética social se formam desde da infância, em referência primariamente a situações e comportamentos de outras pessoas e só secundariamente a partir de um determinado grau de desenvolvimento intelectual, em referência às normas penais.”
(2005,p 24)
O controle Social está intimamente ligado ao sistema de
prêmios e castigos. Em resumo, o bem e o mal se interligam em suas
origens mais primitivas, conforme o pensamento filosófico hindu e ao
maniqueísmo. Daí se originou o sistema de prêmios e castigos. Ao que
merece, a concessão de regalias melhores vencimentos, medalhas e
honrarias. Para quem comete infração, punição, sofrimento e reprimenda.
(SOARES, 2003, p 52)
Do ponto de vista socioeconômico, também os socialistas
pregam o seguinte: “De cada um segundo sua capacidade, a cada um
segundo a necessidade”. Como se pode perceber com critério darwinista
fica claro que é improvável a igualização humana, uma vez que o indivíduo
será julgado pelos seus atos. Os mais capazes serão distinguidos daqueles
menos capazes. (SOARES, 2003, p 52)
Uma idéia que temos dentro de nós é que conhecimento é poder,
e quanto maior o saber maior o poder. Porém o que percebemos na
sociedade atual é que o saber vem com o poder, ou seja, o poder
condiciona o saber. Todo saber é ideológico. (ZAFFARONI E PIERANGELI,
2004, p 62).
Toda sociedade, seja ela oriental, ocidental, capitalista, socialista,
vai usar o poder para fomentar e validar a sua versão da realidade. Eles
detêm o conhecimento e só é passado para a massa o que a classe
dominante deseja impor sobre a classe dominada, descartando as
ideologias que não lhe são conveniente e assim ocorrendo à manipulação
ideológica da massa.
31
Outra idéia perceptiva dessa manipulação ideológica é a descrita
por Zaffaroni :
“ o Autoritarismo não tomou de Hegel a parte liberal, e sim a exaltação do Estado; o racismo não tomou do evolucionismo as advertências prudentes, mas ostentou uma “ ortodoxia” evolucionista jamais sustentada com seriedade por seus criadores (...) ; o psicologismo quietista toma de Freud ou das outras correntes psicanalíticas o seu aspecto de “técnica”, mas passam por alto os contextos sociológicos originários etc. “ ( 2004. p 64)
O controle social total é pertinente aos regimes políticos
totalitários, tais como o da Alemanha Nazista, da Itália Fascista e da mesma
forma o da Era Vargas no Brasil, que também se caracterizou por práticas
totalitárias. Práticas estas que retratam momento de opressão e intensa
exploração econômica do ser humano. (SOARES, 2003, p 50)
Algumas ideologias foram criadas para explicar esses grandes
fenômenos da humanidade, além de tentarem explicar os grandes crimes,
as grandes atrocidades cometidas por tais regimes políticos. Porém as
ideologias que acobertavam tais atos tão perversos não possuem mais
embasamento em nosso contexto social e político.
Muitas das atrocidades cometidas foram designadas pelo bem
da humanidade, ou mesmo por sua liberdade, sendo tais ações cometidas
para a prática de tal ideologia. Um exemplo fortíssimo disso foi o holocausto
criado pelo Nazismo.
Dentro do controle social institucionalizado temos o sistema
penal, que seria uma forma punitiva que não se reduz apenas ao “punir”.
Os meios de controle social institucionalizados são meios que operam
punitivamente, porém que não tenham o discurso punitivo. É uma forma de
controle social punitivo (realmente punitivo) com o discurso não punitivo
(formalmente não punitivo) . (ZAFFARONI E PIERANGELI, 2004, p 68)
32
O que acontece é a institucionalização das pessoas para que
ocorra o controle social, sejam em manicômios, asilos, orfanatos, assim
revelando a punição de tais indivíduos, ou porque não se portam como as
outras pessoas (“loucos”), ou porque não são mais úteis as sociedades
(velhos) ou mesmo porque foram abandonados.
O controle social é entendido como conjuntos de instituições,
estratégias e sanções sociais que pretendem promover e garantir o
entendimento dos indivíduos aos modelos e normas comunitários. (MOLINA,
2002, p 134)
Assim, para que a conformidade e adaptação do indivíduo aos
postulados normativos sejam alcançadas, a comunidade serve-se de duas
classes de portadores de controle social: as instâncias formais e as
informais. Os agentes informais são: a família, escola, profissão, opinião
pública. Os agentes formais são:a polícia, a justiça, a administração
penitenciária, e etc. Os agentes informais condicionam o individuo e o
disciplinam através de um processo delicado, começando nos núcleos
primários. Quando as instâncias informais falham, as instâncias formais
entram em funcionamento. Elas atuam de modo coercitivo e impõe sanções
qualitativamente distintas das sanções sociais. Essas sanções que
estigmatizam e atribuem ao infrator o status de desviado, perigoso,
delinqüente e etc. (MOLINA, 2002, p 134)
O Controle Social fica dividido assim:
- Difuso (meios de massa, medicina, educação e etc)
- Institucionalizado que se divide em Não punitivo, Punitivo e
Realmente punitivo.
O não punitivo seria por exemplo o direito privado. O punitivo é
formalmente punitivo ou com o discurso não punitivo. Seriam as práticas
psiquiatras, institucionalização dos velhos e etc. O realmente punitivo é
aquele formalmente punitivo ou com discurso punitivo que é o sistema
penal. (ZAFFARONI E PIERANGELI, 2004, p 69)
33
Então podemos concluir exatamente como Francisco Muñoz
Conde :
”O controle social é condição básica da vida social. Com ele se asseguram o cumprimento das expectativas de conduta e o interesse das normas que regem a convivência, conformando-os e estabilizando- os contrafaticamente , em caso de frustração ou descumprimento, com a respectiva sanção imposta por uma determinada forma ou procedimento ” . (2005, p 22)
34
CAPÍTULO III
3- OUTROS RUMOS DO SISTEMA PENAL 3.1- Breves comentários sobre o sistema penal. A Criminologia Crítica trouxe inúmeras alterações ao sistema
penal e suas teorias, além de destacar a análise da conduta desviante e do
delinqüente e conseqüentemente uma profunda crítica ao controle social.
Alguns Autores da Criminologia Crítica tinham soluções pouco
prováveis para solucionar o problema dos delitos. Taylor, Walton e Young
(1975) chegaram à conclusão que se a opressão e a diferença entre as
classes fossem eliminadas, a criminalidade desapareceria,vendo como
principal inimigo o Capitalismo. (GARRIDO; STANGELAND E REDONDO,
1999, p 380).
Criminalistas socialistas como FERRI e BONGER estudaram a
influência dos fatores econômicos na conduta criminal. BONGER chegou à
conclusão de que não é a pobreza em si que causa a delinqüência e sim a
distribuição desigual de “riquezas” que determina o nível social. (GARRIDO;
STANGELAND E REDONDO, 1999, p 380)
Atualmente existem diferentes perspectivas sobre os conflitos e
suas teorias.
Algumas teorias têm como ponto de vista geral o contrário do
consenso, e acreditam que a organização social é baseada em um acordo de
normas e valores cujo propósito é proteger o interesse da sociedade.
Ao contrário, as perspectivas do conflito sustentam que a
sociedade está formada por grupos distintos com valores e interesses
contrapostos, sendo assim o Estado não poderia representar valores e
interesses do conjunto, da sociedade. (GARRIDO; STANGELAND E
REDONDO, 1999, p 381)
35
Na década de 60, o surgimento da Criminologia Crítica
desencadeou uma crise que quebrou o cimento positivista. Baseou-se no
fracasso da tradição positivista, colocando como objeto da Criminologia o
legado do etiquetamento, ao invés do estudo do crime e do criminoso como é
feita na posição tradicionalista. (GARRIDO; STANGELAND E REDONDO,
1999, p 381)
Na Criminologia há de se destacar o modo que os órgãos de
definição e controle do delito buscam eternizar o sistema econômico e poder
das classes dominantes. (PAVARINI apud GARRIDO; STANGELAND E
REDONDO 1999, p 381)
Pavarini presume o abandono do paradigma causal e empírico da
criminologia e a adoção da análise interpretativa histórica e jurídica como
únicos métodos válidos para desvendar os verdadeiros fins da justiça penal
(GARRIDO; STANGELAND E REDONDO, 1999, p 381 e 382)
A Criminologia Crítica trouxe alguns pontos positivos ao sistema
penal, e com isso podemos realizar um paralelo entre a Criminologia Crítica e a
Criminologia tradicional.
Primeiramente a Criminologia Crítica faz uma crítica às
perspectivas e contradições tradicionalistas que declaravam que a justiça
deveria ser “igual para todos” e ainda aquele velho paradigma de que os
crimes de colarinho branco ficam sempre impunes. Denunciou também a
notável influência dos grupos de pressão no legislativo, e na criação das leis.
(GARRIDO; STANGELAND E REDONDO, 1999, p 382)
Outro ponto positivo foi a reflexão feita sobre o funcionamento do
poder e da posição marginal dos desviados e excluídos do sistema
(BARBERO, 2002,p 78)
Como visto anteriormente, o controle social trata-se do poder
exercido pelas classes dominantes. Essas classes dominantes determinam a
criação de normas tanto jurídicas como sociais. Todo tipo de controle social
pode influenciar nesse processo de criação. A Criminologia Crítica trouxe à
tona a teoria de que a criminalidade é uma resposta da tensão causada pelo
conflito entre as classes sociais. (BARBEIRO, 2002,p79)
36
A solução para tal paradigma seria a citada por Horacio Roldán
Barbero:
“En lugar de un ordenamiento jurídico opresor, algunos de los teóricos de la idea de conflicto propugnaron un “ derecho descentralizado” basado en la autogestión de os diferentes grupos sociales. Dichos grupos, no representados en el orden oficial, reclamaban, para no verse en un permanente conflicto con el sistema, un marco jurídico propio.” (2002,p 80)
A Criminalização secundária, num estudo aprofundado, feito pelo
sociólogo Americano Lemert diferencia as causas originárias das causas
dependentes da criminalização. As causas originárias se fundamentam num
conjunto de fatores culturais, fisiológicos ou psicológicos , já as causas
dependentes se baseiam no modo de definir o status do desviantes através
das reações sociais. (BARBERO, 2002,p 80)
A criminalização secundária ajudou na luta pelos direitos civis das
classes dominadas. Lemert também alertou aos estigmatizados para a defesa
de seus direitos, porém sem colocar em cheque a legitimidade do sistema e
sua auto – proteção, preconizando uma limitação das reações daquelas
pessoas. (BARBERO, 2002,p,87)
A partir dos anos 70 encontram-se novas formas de pesquisa na
área criminal. Com essas, aliadas as estatísticas percebeu-se um aumento nos
delitos patrimoniais e nos delitos chamados de “colarinho branco”. Com isso se
construiu uma nova teoria que ajuda no labelling approach. A delinqüência não
depende tanto da criminalidade ou da criminalização.
Podemos citar o exemplo de SACK, onde afirma:
“Los datos oficiales y su estructura no reflejan la delincuencia, sino la actividad de las personas e instituciones que se ocupan en nuestra sociedad de la notoriedad y registro de este fenómeno, es decir, los órganos del control social, la policía, la justicia, etc” (BARBERO, 2002,p 89)
Na atividade seletiva constatava apenas a vigência de uma justiça
das classes. Isso se dá da seguinte forma: as classes inferiores cometem
37
delitos mais convencionais como roubo, furto, etc. Além de terem maiores
números de reincidência, dentro das prisões são mais castigados. Já nas
classes superiores os crimes mais comuns são: falsidade ideológica,
documental, estelionato e etc e são privilegiados no sistema carcerário. A
maior evidencia dessa justiça está nas decisões de suspensão condicional e
substituição de pena, essas regalias são condicionadas ao desviante
geralmente de classe alta, peticionadas por seu advogado, que por sinal é
muito bem pago. (BARBERO, 2002,p 89)
Porém a Criminologia Crítica não se preocupou com a
delinqüência comum e suas vítimas. Nas décadas de 60 e 70 houve um
grande aumento de novos conflitos sociais, em razão de problemas vinculados
as drogas e aumento da imigração do terceiro mundo. O resultado disso
foi o acréscimo deliberado de crimes contra a propriedade e contra a pessoa.
Todavia, este fato nunca foi reconhecido pelos criminalistas críticos. Enquanto
a sociedade se desesperava com os problemas advindos do aumento de
consumo de drogas, do racismo e dos crimes comuns, a criminologia críticas
se dedicava a seus estudos teóricos e históricos. (GARRIDO; STANGELAND E
REDONDO, 1999, p 382)
Os criminalistas críticos diziam que as reformas para melhorar o
sistema penal só serviam para estender e fortalecer a rede de controle social.
Muitos deles não eram contra o sistema carcerário em si, mas contra tipos
alternativos de prisão.
O problema foi que, ao invés de criarem novas soluções para o
cárcere e o sistema penal, os criminólogos críticos se limitavam a criticar as
alternativas existentes sendo que o ápice da crise a proposta abolicionista.
3.2) O Abolicionismo penal.
A idéia do Abolicionismo é para muitos autores uma idéia lógica,
que dá continuidade as idéias sobre o conflito e a criminalização secundária.
Os abolicionistas são contra o controle social, porém este instrumento é
38
extremamente necessário para a garantia da coexistência entre os cidadões de
diferentes classes.
Para Ferrajoli o abolicionismo penal constituí em:
“um conjunto tanto heterogêneo de doutrinas, teorias e posturas ético-culturais, cuja característica comum é a negação de qualquer justificação de legitimidade externa à intervenção punitiva do Estado sobre a desviança. “ (2002, p 201)
As doutrinas abolicionistas radicais não justificam as penas e
também as proibições em si e os julgamentos penais, deslegitimando a
coerção penal e social inconstitucionalmente. (FERRAJOLI, 2002, p 201)
A versão mais radical do abolicionismo postulou a
desinstitucionalização de três níveis do sistema penal. São eles a) o conceito
de delito, para eles seria a tradução de “atos lamentáveis” ou “eventos
problemáticos”; b) O modelo de justiça penal seria participativo, conciliador e
reparador; c) As penas mais coercitivas seriam as medidas de custódia.
(BARBOSA, 2002,p 87)
As doutrinas abolicionista que reivindicam a supressão da pena
enquanto medida aflitiva e coercitiva, sem sustentar a abolição de toda e
qualquer forma de controle social são mais difundidas. (FERRAJOLI, 2002, p
200)
As doutrinas mais atuais são a de Louk Hulsman e Nils Christie.
Hulsman propõe o abolicionismo total do sistema penal, pois
pauta seu pensamento de que o sistema penal caracteriza-se como um
problema social e não numa instituição que possa resolver os problemas
sociais. Assim, há uma ineficácia total para resolver os conflitos existentes na
convivência civil.(SILVA, 2008,p 145)
Diz ainda que um sistema que causa sofrimentos desnecessários,
e mais ainda, numa distribuição socialmente injusta, acarreta diversos efeitos
negativos sobre as pessoas recrutadas, e, apresenta uma ausência total de
39
controle por parte de seu gestor. Por isso a abolição penal teria que ser
imediata afastando o Estado de qualquer tipo de conflito (SILVA, 2008,p 144)
Nils Christie tem uma concepção abolicionista que é
fenomenológico-historicista, enxergando assim a verticalização do poder como
maneira destrutiva das relações coletivas entre os entes do ambiente social,
causando assim danos de difícil reparação. Christie tem como forte a dura
crítica a Durkhein, dizendo que sua doutrina era impregnada de preconceitos,
só enxergando a igualdade entre os brancos. Ainda questiona a afirmação de
Durkhein que os processos de modernização sofridos pela sociedade
provocam uma inevitável progressão. (SILVA, 2008,p 144)
Outro abolicionista é Mathiesen, que sustenta que o Estado é
detentor de uma extraordinária capacidade de sedução, de transmutação e a
exerce criando pólos ou posições de aceitação ou recusa, seria o
estabelecimento do dentro e do fora, de maneira a controlar e manipular suas
passagens de acordo com a sua política de dominação e controle. Baseado
em uma teoria Marxista, sua tese vai construir elementos para desenvolver um
novo sistema, que seria uma permanente situação de oposição e competição
com o poder dominante. (SILVA,2008,p 144)
Francisco Bissoli Filho, se mostra um reducionista quando
propões as seguintes alterações em nosso sistema penal:
a) Da abolição dos institutos dos antecedentes e da reincidência criminal, por
serem instrumentos claros de estigmatização e estereotipação, assim como o
banco de dados de antecedentes.
b) Caso permaneçam, que a sua influência seja minimizada ao máximo, se
submetendo ao rigoroso disciplinamento legislativo, observando sempre o
princípio da legalidade.
c) Se utilizados em desfavor do acusado, que se respeite o princípio da
presunção da inocência, sendo os institutos apenas levados em consideração
apenas após o transito em julgado da decisão condenatória, fazendo-se
constar tais circunstâncias nas peças acusativas, para que se observe o devido
processo legal e para que o acusado possa exercer seu direito de defesa.
40
d) Aos operadores jurídicos-penais, em homenagem ao princípio da legalidade,
seja evitada a influência dos antecedentes. (1998, p 219)
Luigi Ferrajoli considera abolicionistas:”apenas aquelas doutrinas
axiológicas que acusam o direito penal de ilegítimo” . Exatamente porque estas
doutrinas não admitem nenhum tipo de objetivo para justificar a abolição das
normas penais. Não podem ser consideradas abolicionistas aquelas que
apenas consideram vantajosa a abolição da forma jurídico- penal , para que
ocorra sua substituição por meios pedagógicos ou instrumentos de controle
informal. Para Ferrajoli estas doutrinas seriam substitutivas . Seriam doutrinas
reformadoras que apóiam a redução da esfera da intervenção penal em favor
de sanções penais menos efetivas e aflitivas. (2002, p 200)
O reducionismo é sem dúvidas, a solução mais próxima da ideal, já que
não é uma solução radical, e cabível a nossa realidade. A nossa sociedade
ainda não possui estrutura pra ser abolicionista, ao mesmo tempo que
evoluímos o suficiente para não aceitarmos mais as penas injustas,
exacerbadas e a falta de reciprocidade da pena.
Deve-se ater ao caráter coercitivo da pena e abandonar a característica
vingativa da pena, pois se utilizar do mecanismo punitivo do Estado e “jus
puniendi” como forma de obter vingança é um ato imoral e anti-ético. É por
meios lícitos constranger alguém a uma ofensa, é violentar alguém se
utilizando da legalidade.
Tais doutrinas possuem dois méritos: a deslegitimação dos
ordenamentos existentes ou de seus componentes considerados
individualmente, a justificação dos delitos referidos por tais doutrinas
evidenciam causas sociais ou psicológicas e ainda legitima suas motivações
políticas assim como a ilegitimidade moral dos interesses daqueles que foram
lesados. Outro mérito seria a autonomia da Criminologia Crítica, legitimando
as pesquisas feitas sobre a origem cultural e social do delito e a relatividade
histórica e política dos interesses penalmente protegidos, vindo
conseqüentemente a contrastar o latente “legitimismo” das doutrinas penais
dominantes. (FERRAJOLI,2002, p 203 e 204)
41
As doutrinas abolicionistas possuem dois defeitos, resumidos por
Ferrajoli.
O primeiro defeito é que as sociedades perseguidas por essas doutrinas
são sociedade selvagens, sem nenhum tipo de ordem, abandonadas, e
sobrevivendo de acordo com a lei natural do mais forte, ou mesmo de um jeito
alternativo, uma sociedade disciplinar, pacificada e totalizando onde os
conflitos sejam controlados e resolvidos e prevenidos por meio de mecanismos
éticos e pedagógicos de interiorização da ordem, e outros meio assim
parecidos. (FERRAJOLI,2002, p 203)
O segundo defeito seria a desvalorização de toda e qualquer orientação
garantista, confundido em uma rejeição única de modelos penais autoritários e
modelos penais liberais, não oferecendo nenhuma contribuição à solução dos
conflitos e dos problemas ligados a limitação do poder punitivo do Estado.
(FERRAJOLI,2002, p 203)
Para que o abolicionismo penal ocorra é necessário que seja uma
criminologia baseada em princípios morais, políticos e sociais; que a teoria e a
pratica atendam melhor os fracos e oprimidos porque os outros estão em
vantagem; uma metodologia etnográfica para conhecer de forma natural o
grupo humano, objeto da investigação; e enfim uma revisão sobre tudo que
concerne ao controle social e o sistema penal não pode desaparecer de
imediato, assim a proposta é que isto seja feito gradativamente. (BARBOSA,
2002,p 34)
Douglas Dias Torres conclui que :
“Sendo o Direito Penal coativo, cuja principal sanção é a pena privativa de liberdade, que atinge diretamente a liberdade do ser humano, há que se existir o debate a respeito dos rumos a serem traçados para os fins do Direito Penal, pois é necessário traçar diretrizes básicas que delimitem e regulem o alcance das normas penais, não simplesmente abolindo a pena, mas apenas, evitando-se, destarte, a constante ameaça a liberdade.”(2001,p 89)
Com certeza o abolicionismo penal é uma proposta deveras ousada e radical.
Mesmo com todas os novos tipos de conflitos, com as novas problemáticas
42
sociais, como o terrorismo ainda podemos concluir que o abolicionismo levaria
a um caos jurídico, não havendo condições de procedibilidade. Mesmo que o
garantismo penal esteja em decadência a solução não seria abolir o sistema
penal e sim novas alternativas para a prevenção do crime além das clássicas
reformas sociais.
3.3) O novo realismo crítico.
Nos anos 60 e 70 surgiu uma nova teoria crítica no campo das ciências sociais
à respeito da sociedade e ao Estado com forte influência na criminologia.
Essa teoria de origem marxista, ao mesmo tempo se baseia em fontes de
movimentos alternativos anti-sistema. (BARBOSA, 2002,p 92)
Traz a contestação da classe trabalhadora em face das vantagens do sistema
capitalista. Procura ressaltar a situação dos excluídos sociais, tentando
soluções para incluí-los na sociedade. (BARBOSA, 2002,p 93)
Nos anos 60 e 70 também surgiu uma cultura chamada iconoplasta, que trata
de desmistificar uma grande parte dos dogmas das ciências sociais e na
realidade política. (BARBOSA, 2002,p 94)
A Criminologia crítica trouxe novas realidades políticas e novas prioridades
acadêmicas. Apresentou também princípios críticos baseados no fenômeno
conhecido como “realismo de esquerda”. (BARBOSA, 2002.p 98)
No realismo de esquerda a criminologia crítica torna-se oposição permanente
ao sistema, esquecendo de focar mais diretamente nos problemas relativos a
criminalidade, a delinqüência e ao controle social.
Os principais enfoques da Criminologia Crítica foram: o conflito, a
criminalização secundária, a justiça de classes, atenção ao delinqüente e
abolição do sistema penal. (BARBOSA,2002,p 100)
43
Desde da década de 80 a Criminologia Crítica faz uma seleção de propostas,
algemas baseadas na nova estrutura geopolítica e outras na existência das
novas prioridades jurídicas . Há de se levar em conta também novos
acontecimentos políticos, avanços tecnológicos e novos conceitos da moderna
criminologia. (BARBOSA, 2002,p 101)
O movimento feminista teve como principal feito relevar o
androcentrismo de vários discursos jurídicos considerados críticos, uma vez
que são baseados em experiências masculinas e a interpretação que estes
fizeram do mundo social sem levar em consideração a experiência das
mulheres, tanto autoras quanto vitimas do delito (GARRIDO, STANGELAND E
REDONDO, 1999, p. 391).
Um dos maiores discursos jurídicos afetados foi o da Criminologia
Crítica. A Criminologia foi omissa em suas análises em relação às mulheres, e
em seus discursos ainda se escondem valores patriarcais. Carmem Hein de
Campos dá o exemplo de que,: “originalmente, a tese da seletividade não
contemplava a desigualdade de gênero. Igualmente, a crítica feminista
demonstrou que tecnicismo e assepcia jurídica escondiam valores masculinos“
(2008)
Fato é que com o movimento muitas mulheres começaram a ser
mais atuantes, ganhando mais espaço na sociedade e no mercado de
trabalho, chegando a cargos que antes não eram preenchidos por estas. Hoje,
as mulheres ocupam cargos públicos, em meio a um universo que antes era
majoritariamente ocupado por homens. Isto conferiu às mulheres o poder de
interpretar, manejar e aplicar o direito, o que deu a elas a chance de
conhecerem seus direitos que antes eram conferidos aos homens, e, com isto,
surgiram muitas críticas e discussões em relação à abordagem do papel das
mulheres nos setores da vida social.
Segundo Garrido, Stangeland e Redondo,
“Las perspectivas feministas suponen tanto una nueva visión sobre la organización social presente, estructurada sobre la división entre hombres e mujeres, como un movimiento social dirigido a mejorar la situación de las mujeres(Simpson, 1989). Sus tres principales ámbitos de estudio en criminología han
44
sido la delincuencia feminina, la victimatión de las mujeres e el ánalisis del funcionamiento del sistema de justicia en relación con el género. “ (1999, p 391)
Ainda segundo Garrido, Stangeland e Redondo, a delinqüência
da mulheres só pode ser entendida se levado em conta a vida, os interesses,
os problemas e as expectativas das jovens da nossa sociedade. Muitas dos
problemas e preocupações de caráter econômico tem a ver com a
discriminação que elas sofrem em relação ao seu sexo. (1999, p 391)
O grande antagonismo entre as teorias criminológicas é que as
teorias mais antigas tinham como principal objetivo o estudo do
comportamento do delinqüente, enquanto a Criminologia Crítica estuda o
comportamento da sociedade em relação ao desviante. A nova criminologia
não se importa com as causas do crime ou do criminoso, e sim com o efeito
social do crime e o rótulo que a sociedade lhe impõe.
Outro destaque da Criminologia Crítica é o alerta que ela faz para
o controle social. O controle social que se torna essencial para a vida social,
tem exercido sem poder de controle desde sempre, e por isso a Criminologia
Crítica denuncia o etiquetamento feito em razão desse controle e os grandes
problemas causados por esse etiquetamento.
A principal diferença entre o novo realismo crítico e a Criminologia
Crítica é que o realismo crítico não analisa os fatos da sociedade, ela dá novas
soluções, mesmo que drásticas ao etiquetamento e ao problema carcerário. A
criminologia atualmente traz soluções como a abolição do sistema penal, e
mesmo as teses derivadas do abolicionismo trazem a redução e modificação
do sistema. Essas teorias vão além da analise pro problema, aponta medidas a
serem realizadas que poderiam gerar a redução dos problemas.
Este estudo comparativo pode ser feito em analogia a legitima
defesa excessiva. Em que o ofendido estaria se aproveitando da situação de
legitima defesa para ocasionar um mau excessivo, em retribuição a violência
sofrida.
Porém, a Criminologia Crítica definitivamente precisa de correções,
principalmente em relação a idéia de querer mudar a sociedade, tentando uma
45
igualdade socioeconômica. Ao invés disso deve-se lutar para que a sociedade
seja mais justa para uma grande maioria. (BARBOSA, 2002,p 101)
Em resumo, a teoria ideal seria uma mistura das idéias difundidas no contexto
dos anos 60 e 70; da psicologia (com base na inteligência emocional);
socialismo humanista de Fromm; a filosofia despojada de atos de fé ou um
cristianismo não institucionalizado. Ou seja, essa teoria ideal é uma utopia.
46
CONCLUSÃO
À primeira vista visualizamos as diferenças e a evolução das
Teorias criminológicas, concluindo que as teorias tradicionais têm um foco
muito diferente das novas teorias, pois aquelas têm o seu foco no estudo do
crime e do criminoso, enquanto estas têm seu foco no estudo das causas do
crime na sociedade A criminologia crítica cuida das desigualdades sociais
enfatizando o etiquetamento.
A segunda parte do trabalho tem como desfecho a seletividade
do sistema e a rotulação do individuo feita pelo controle social denunciada pela
teoria do Labelling approach. A classe dominante detém o poder de controle
em suas mãos, com isso, ela tutela os bens que são do seu interesse, além de
assegurar que os demais membros da sociedade sigam suas regras, deixando
a classe dominada sem nenhum tipo de reação. A estigmatização feita pelo
sistema perdura e faz com que o individuo passa a se enxegar como o
rotularam.
Derivado da Criminologia Crítica, o abolicionismo traz uma tese
radical que propõe a abolição do sistema penal. Porém não vejo condições de
procedibilidade para que isso ocorra visto que medidas educativas não
asseguram a ausência de crimes na sociedade ou mesmo. Além do que o
garantismo penal não pode ser extinto de uma só vez. Toda mudança ocorre
vagarosamente, sendo o reducionismo a melhor solução para a seletividade do
sistema.
Na sociedade atual, percebemos a influência de movimentos que
começaram na década de 60 perdurando até a década de 80. Movimentos
como o feminismo fizeram com que ocorresse uma revolução no sistema e nas
perspectivas sobre os crimes.
Com isso, percebemos exatamente a questão problema deste
trabalho. O sistema é seletivo pois prende apenas os excluídos e os que são
“estranhos”. Concluo então, que o sistema pune apenas as camadas mais
pobres da sociedade, que abarca a população negra brasileira, sendo que
nesta leva entra também as prostitutas, devido ao etiquetamento feito pela
47
sociedade, através do controle social. A rotulação que nos é imposta recai de
modo pejorativo apenas para os segregados sociais. É evidente que estas
pessoas são desfavorecidas neste sentido, também, por possuírem poucas
condições de arquitetarem uma defesa justa dentro dos moldes legais.
Existem classes sociais que se beneficiam com essa
seletividade, que continuam cometendo os desvios de conduta natural do ser
humano, desfrute do produto de sua ganância. Um grande exemplo é visto
entre os nossos governantes, que se aproveitam da ignorância da população e
também do controle social para cometer suas “falcatruas”, uma vez que o
Estado está preocupado em combater a “bandidagem” como está
massivamente difundido na mídia.
Concluindo , o Sistema Penal é seletivo, punindo apenas os
desprivilegiados, deixando impune a classe dominante da população, esta
seletividade se dá pelo discurso feito diariamente pela mídia, que estigmatiza
os desviantes acobertando os tão chamados “poderosos” da sociedade, que
cometem as maiores “atrocidades” contra o sistema, desviando verbas
públicas contribuindo para a perpetuação da pobreza e do subdesenvolvimento
de nosso país.
48
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Sistema penal Máximo X Cidadania
Mínima: códigos da violência na era da globalização. Porto Alegre: Livraria
do Advogado Editora, 2003.
ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Do paradigma etiológico ao paradigma
da reação social: mudança e permanência de paradigmas criminológicos
na ciência e no senso comum. In: Revista CCJ. Nº 30, 1995, p 24 – 36.
BARBERO, Horacio Róldan. ¿Qué queda de la contestación social de los
años 60 y 70 en la criminología actual? In: Revista de Derecho Penal u
Criminología. Nº 10, 2002 p 217 – 264 .
BATISTA, Nilo. Punidos e maus pagos. Rio de Janeiro: Editora Revan, 1990.
CAMPOS, Carmem Hein de. Direitos humanos, Violência de gênero e
Direito Penal: primeiras considerações sobre a lei 11.340 /2006.
Disponível em <
http://www.articulacaodemulheres.org.br/amb/adm/uploads/anexos/DH_VG_e_
DP_Lei_Maria_da_Penha.pdf > Acesso em: 14 de Maio de 2008.
CONDE, Francisco Muñoz; tradução CHAVES, Cíntia Toledo Miranda: Direito
penal e controle social. 1.ed. Rio de Janeiro:Forense, 2005.
DUARTE, Maércio Falcão. Evolução Histórica do Direito Penal. Disponível
em < http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=932 > Acesso em 8 de Março
de 2008.
49
FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão: Teoria do Garantismo Penal. São Paulo:
Edito Revista do Tribunais,2002.
FILHO, Francisco Bissoli. Estigmas da criminalização: dos antecedentes à
reincidência criminal. Florianópolis: Editora Obra Jurídica LTDA, 1998.
FRANÇA, Marcelo Sales. Personalidades psicopáticas e delinqüentes:
semelhanças e dessemelhanças. Disponível em <
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6969 > Acesso em: 5 de Março de
2008.
GARRIDO, Vicente; STANGELAND, Per; REDONDO, Santiago. Princípios de
Criminología.Valencia: Tirant lo blanch, 1999.
MIRABETE, Julio Fabrrini. Manual de Direito Penal. 12 . ed. São Paulo:
Editora Atlas, 1997.
SOARES, Orlando. Curso de Criminologia. Rio de janeiro: Editora Forense,
2003.
MOLINA, Antonio García- Pablos de; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia. 4.ed.
São Paulo:Editora Revista dos Tribunais,2002.
SILVA JR, Edson Miguel. Teorias Cientificas sobre o Problema do Crime.
Disponível em < http://www.direitoufba.net/mensagem/josebarroso/cr-
teoriascientificas.doc > Acesso dia : dia 13 de Março de 2008.
SILVA, Leonardo Rabelo de Matos. A Criminologia e a Criminalidade.
Disponível em < http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4137 > Acesso
em : 1 de Março de 2008.
50
SILVA, Luciano Nascimento. Manifesto Abolicionista Penal: ensaio acerca
da perda de legitimidade do sistema de Justiça Criminal . Disponível em <
http://jus2.uol.com.br
/doutrina/texto.asp?id=3556 > Acesso em : 8 de Maio de 2008.
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas. Rio de Janeiro:
Editora Renavan,1991.
ZAFFARONI, Eugenio Raul & PIERANGELI, Jose Henrique. Manual de direito
penal brasileiro. parte geral. 5.ed.São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2004.