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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO
Para quem?
Por Sebastiana Alves Rodrigues
Orientado por Celso Sánchez
Rio de Janeiro
2003
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO
Para quem?
OBJETIVOS:
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a
conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato
Sensu” em Docência do Ensino Superior.
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus através do Mestre dos
mestres, Jesus Cristo. A todos os mestres do
Projeto “A Vez do Mestre”, com os quais estudei
e faço questão de consignar os nomes, Marcelo,
Nilson, Sandra, Lourenço, Sheila e Celso. À
Universidade Candido Mendes por implantar
esse projeto e tornar acessível o curso de pós-
graduação. A minha sócia e companheira de
escritório Jany de Almeida Dutra, pela
compreensão quanto as minhas ausências para
realização deste trabalho.
Ao orientador deste trabalho, Celso Sánchez,
pela inteligência, praticidade e atenciosidade,
virtudes com as quais conduziu a realização
deste.
Aos professores, Larosa e Fernando, por tornar
mais ameno a montagem deste trabalho, através
da edição do livro “Como produzir uma
monografia passo a passo.”
4
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho as minhas filhas Ariadna e
Nádia, pessoas a quem amo com a força do ódio,
pelas quais me fiz forte na fraqueza, lutei sem ter
armas, enfim sonhos inacabados da minha vida.
A quem desejo que a conclusão deste curso dê
estímulo e exemplo.
Sebastiana Alves Rodrigues.
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Resumo
Este trabalho de pesquisa tem por objetivo defender a democratização do
acesso ao ensino superior público, que como teremos a oportunidade de
constatar, tem se dado de forma elitizada. Na primeira parte traz uma
demonstração sucinta de como o ensino de alto nível se instalou no país,
comparando a história da evolução da educação no mundo e no Brasil. Num
segundo momento revela como o capitalismo agiu de forma perversa impedindo
que o conhecimento chegasse aos indivíduos, bem como, a problematização
sobre a qualidade dos ensinos fundamental e médio em nosso país e a falta de
implementação de programas nas áreas social e educacional resultando na
exclusão. Na terceira parte, traz um breve relato sobre a lei de diretrizes e bases
da educação que vigia, e uma visão crítica sob a ótica de Pedro Demo da lei
vigente. Num quarto momento, uma exposição sobre políticas educacionais e
políticas educacionais alienantes, abordando ainda, a democratização das
políticas educacionais impostas por organismos alienígenas e cidadania. Na quinta
parte, abordamos as desigualdades e as ações afirmativas implementadas pelo
Estado em prol da minoria étnica, e as conseqüências de uma péssima qualidade
do ensino. E concluindo, fazemos uma convocação à conscientização para
mudanças e implementação de esforços, para caminhar em direção a
democratização do ensino para a igualdade e inclusão.
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SUMÁRIO
RESUMO 05
CAPÍTULO I 08
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 09
CAPÍTULO II 19
ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO DESAFIOS 20
CAPÍTULO III 27
ENSINO FUNDAMENTAL E BÁSICO SEGUNDO A LDB 28
CAPÍTULO IV 31
POLÍTICAS EDUCACIONAIS 32
CAPÍTULO V 43
RESERVA DE VAGAS PARA ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO 44
CONCLUSÃO 53
BIBLIOGRAFIA 55
ÍNDICE 57
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1.1. No Mundo
Na Antigüidade clássica como exemplos à Grécia e Roma, formavam
especialistas em escolas de alto nível, os alunos escolhiam seus mestres e
seguiam as idéias do mestre por eles eleito, como Aristóteles e outros. Os mestres
serviam de espelho e aperfeiçoamento e cada mestre conduzia a sua escola
segundo suas convicções baseadas em pesquisas e estudos. De forma que ao
conquistar a Grécia, os romanos introduziram em Roma o modelo da educação
grega.
Na idade média, mas precisamente no final, entre os séculos XI e XV, que o
ensino superior passou a ser ministrado em universidades propriamente ditas
como se conhece hoje, identificando-se com o tipo de sociedade e cultura da
época, tornando-se efetivamente o órgão de elaboração do pensamento medieval.
A Igreja Católica desse tempo foi a responsável pela unificação do ensino
superior em um só órgão, a universidade. Isso ocorreu como resultado de todo um
esforço da Igreja Católica no sentido de preparar o clero, fundamentando sua
política religiosa para fazer frente ao avanço do movimento religioso protestante.
Em Portugal a igreja católica através da Companhia de Jesus, fundou as
Universidades de Coimbra e Évora.
Nessa época, de dogmatismo católico, a igreja impunha as “verdades”, e foi
nessa época que, nas escolas de nível superior, nasceu o hábito das discussões
abertas, dos debates públicos. Sendo que esses debates sempre aconteciam sob
a fiscalização de um professor para garantir os princípios da doutrina católica
apostólica romana.
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O objetivo maior da igreja era o de propagar a fé, nesse período ainda não
se podia falar de conhecimento científico da forma como é entendido
hodiernamente, embora muitas das qualidades hoje requeridas para o trabalho
científico, como por exemplo, o rigor, seriedade, responsabilidade, lógica do
pensamento etc, se organizaram nessa época.
No século XVI, início da Idade Moderna, destaca-se o
individualismo/racionalismo, a ciência como nova proposta de ensino. Nessa
época de numerosas descobertas, pouco ou nada se acrescenta aos valores do
passado tornando o conceito de universidade inconsistente com a realidade e os
dogmas eram impostos através de teses autoritariamente demonstrativas. Os
princípios doutrinários da Igreja estavam constantemente sob vigilância e em
conseqüência levando à fogueira, prisão, afastamento das funções, perda da
cátedra, excomunhão etc. qualquer um que ousasse contestar as ditas “verdades
incontestáveis”.
No século XVIII, destacam-se os enciclopedistas/iluministas cujos filósofos
crêem somente no que a razão pode provar e é esse movimento iluminista que
veio questionar fortemente o tipo de saber medieval presente nas universidades.
Mas foi finalmente, no século XIX, com o processo de industrialização, com um
conseqüente desenvolvimento e avanço, dentre outros fatores, o responsável pelo
golpe na Universidade Medieval e pela chegada da Universidade Napoleônica,
quando se deixa o sentido unitário da alta cultura e acrescenta aquisição de
caráter profissional.
A Universidade Napoleônica surge então pelas necessidades profissionais
estruturadas por escolas superiores fragmentadas cada uma das quais isolada em
seus objetivos práticos, específicos de cada área profissional. Além dela surge
também, pelas transformações do mundo, uma outra mentalidade, a da pesquisa.
Nesse contexto a universidade tenta retomar a liderança do pensamento para
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tornar-se o centro de pesquisa, modelo alemão, onde a universidade se torna
independente para pesquisar o que desejar. Modelo que procura preparar o
homem para descobrir, formular e ensinar a ciência, considerando as mudanças
da época, representando a grande filosofia do mundo.
1.2. No Brasil
No Brasil, a educação ocorreu de forma diferente de outros países também
colonizados, atravessou praticamente todo o período colonial sem escolas de nível
superior; por várias razões, eram não só impossíveis como também indesejáveis
em nosso meio. No Brasil, o colonizador deparou com uma população indígena
desprovida de cultura desenvolvida, os índios eram iletrados, se encontravam nas
etapas mais primitivas do desenvolvimento humano, por isso os colonizadores não
precisavam se opor à cultura nativa.
Para entendermos os rumos que tomaram a história da educação no Brasil,
principalmente a do ensino superior é preciso ressaltar a educação ministrada
pelos jesuítas, desde o descobrimento do Brasil, com propósito de atender a uma
ordem patrimonialista que se implantara desde o descobrimento, com o objetivo
de catequizar de forma a firmar na mentalidade do catequizado sobre quem
manda e quem obedece. Os jesuítas eram muito dinâmicos no trabalho com
educação e seguiam um sistema didático o “Ratio Studiorum” (finalidade dos
estudos), no qual eram estabelecidas as diretrizes educacionais, filosóficas e
pedagógicas para a educação.
A partir de 1599, quando foi aprovado o Ratio Studiorum, os jesuítas
reorientaram suas instituições educacionais e passaram a preocupar-se
prioritariamente com a educação das famílias da elite a quem proporcionavam
ensinamentos clássicos, humanísticos e literários. A elite possui forte tendência a
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atribuir status elevado à formação e cultura acadêmica. Enquanto que a formação
para o trabalho não encontrou espaço, porquanto o trabalho era realizado pelo
serviço escravo e, por isto, desvalorizado.
No Brasil sempre existiram dois tipos distintos de escola: a secundária e a
superior para a elite e a escola de primeiras letras ou escola primária para as
classes populares. No entanto, durante a maior parte da nossa história a maioria
dos brasileiros não tiveram acesso à escola nenhuma, mesmo hodiernamente, há
um enorme contingente de analfabetos entre a população adulta e milhares de
crianças fora da escola, e uma grande parte das que se iniciam no estudo
permanecem apenas quatro anos na escola.
Neste tipo de necessidade é que se fundamentam as bases do sistema de
escolarização formal no Brasil. Assim fica mais fácil entender por que até hoje o
ensino técnico-profissional é pouco valorizado em confronto com a formação
humanística, com destaque ao bacharelismo. Os filhos dos senhores estudavam
na Universidade de Coimbra completando os seus estudos de preparação para o
sacerdócio, medicina ou direito, estudos esses iniciados aqui no Brasil pelos
jesuítas, (como dito nos parágrafos anteriores), alheios às necessidades da
colônia e destinados, apenas, a proporcionar cultura básica, sem a mínima
qualificação para o trabalho.
O Brasil era uma colônia que tinha sua cultura baseada, totalmente na
agricultura, com o cultivo da cana de açúcar e do café, não havia, naquela época,
nenhum investimento em educação para a população rural. O homem do campo
era na totalidade analfabeto e alienado e assim seguiu pelos séculos.
Por decreto da lavra do Marquês de Pombal, em 1579, os jesuítas foram
expulsos do Brasil, época em que, os jesuítas, haviam se apossado da educação,
mantinham em funcionamento 36 missões, bem como escolas de alfabetização
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em praticamente todas as povoações onde se encontravam suas 25 residências,
além de 18 estabelecimentos de ensino secundário, entre colégios e seminários,
localizados nos pontos mais importantes do país.
Após a expulsão dos jesuítas foram criadas as aulas régias de latim, grego
e retórica o ensino passou a ser ministrado por leigos ou seminaristas de outras
ordens religiosas desencadeando uma queda quantitativa e qualitativa do ensino.
Concluindo, nem com os jesuítas nem pelos demais, foi instituído no Brasil um
sistema de educação escolar com características do ensino público para toda a
população. Mister se faz ressaltar que no Brasil, enquanto colônia, o ensino
superior era proibido.
Considerando os atritos da Corte Portuguesa com Napoleão, em 1808 a
família real portuguesa se muda para o Brasil colônia, sob a proteção da
Inglaterra. A cidade do Rio de Janeiro precisa então, adaptar-se rapidamente ao
grande número de cortesãos que invadem suas casas e ruas pacatas. Assim, com
a instalação da corte portuguesa no Brasil, além das adaptações administrativas
necessárias, houve o incremento das atividades culturais, antes inexistentes ou
simplesmente proibidas. Em conseqüência surgiram inovações no campo da
cultura como, a criação da Imprensa Régia, em 1818, até então as publicações
eram proibidas.
Desta forma surge sob a proteção oficial a Gazeta do Rio de Janeiro em
1808 e na Bahia, a idade de ouro no Brasil em 1811, e o Correio Braziliense,
impresso em Londres, que era o único jornal de oposição à política de D. João VI.
Em 1810 surgiu “A biblioteca”, futura Biblioteca Nacional, franqueada ao público.
Ainda, no mesmo ano inaugurou-se o Jardim Botânico do Rio, incentivava os
estudos de botânica e zoologia, Em 1818 Museu Real, depois Museu Nacional e
em 1816, Missão cultural francesa, convidam-se artistas franceses, como
Lebreton, Debret, Taunay, Montigny e outros, que influenciaram a criação da
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Escola Nacional de Belas Artes, interrompendo a tradição da arte colonial
brasileira, que era, na época, o estilo barroco.
No século XIX, influenciados pelas idéias européias, tentam imprimir novos
rumos à educação, ora apresentando projetos de leis, ora criando escolas. Idéias
quase nunca satisfatórias devido a situações contraditórias consoante à passagem
de uma sociedade rural-agrícola para urbano-comercial. Assim, forças
conservadoras de uma sociedade feudal-agrícola e escravocrata, resistiram às
idéias liberais implantadas e importadas da Europa, onde a economia capitalista
se encontrava em expansão.
Na Assembléia Constituinte, em 1823, os liberais aspiram a um sistema
nacional de instrução pública, no entanto a assembléia constituinte foi dissolvida e
a constituição outorgada pela coroa, que manteve o princípio da liberdade de
ensino sem restrições de intenção de “instrução primária gratuita para todos os
cidadãos”. Finalmente em 1827 a lei determina a criação de escolas de primeiras
letras em todas as cidades, vilas e lugarejos, porém fracassou por várias causas
como, econômicas, técnicas e políticas.
O Ensino Superior foi introduzido no Brasil por D. João VI, que, para
atender as necessidades do momento, como a defesa da colônia, ordenou, em
1808, a criação de cursos superiores para formar oficiais do exército e da marinha,
como engenheiros militares e médicos. Assim surgem na Bahia e no Rio, em
1808, cursos médico-cirúrgicos, visando formar médicos para a marinha e o
exército. Após a independência surgem em São Paulo e em Recife 1827, cursos
jurídicos, mas só se tornam faculdades em 1854.
Mesmo no ensino superior, os cursos às vezes transformados em
faculdades, permanecem como institutos isolados, sem que haja interesse na
formação de universidades. De qualquer forma, as medidas reforçam o caráter
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elitista e aristocrático da educação brasileira, ou seja, as que têm acessos os
nobres, os proprietários de terras e uma camada intermediária, surgida da
ampliação dos quadros administrativos e burocráticos em razão da instalação da
coroa no Brasil.
O destaque dado por D. João VI ao ensino superior não é estendido aos
demais graus de educação, as poucas medidas tomadas a respeito são
desastrosas, deixando sob a responsabilidade das províncias o ensino elementar
e secundário. Não existia unidade ou seqüência entre o ensino primário e o
secundário. Enquanto todos os países do mundo caminham promovendo a
educação nacional, nosso ensino perde ainda mais a unidade da ação.
Sem vinculação entre os currículos dos diversos níveis, nem há
propriamente currículo devido à escolha aleatória das disciplinas, sem qualquer
exigência de se completar um currículo para iniciar um outro. Ao contrário, são os
parâmetros do ensino superior que determinam a escolha do ensino secundário,
obrigando-o a se tornar cada vez mais propedêutico, ou seja, destinado a preparar
os jovens para a faculdade.
Não havia a exigência de conclusão do curso primário para o acesso a
outros níveis, ocorrendo assim, que a elite educava seus filhos em casa e para os
demais segmentos sociais, o que restava era a oferta de pouquíssimas escolas
cuja atividade se achava restrita a educação elementar como, ler, escrever e
contar.
O ensino superior brasileiro só veio a ser consolidado, em forma de
faculdades ou escolas superiores, por volta de 1900. Em 1932, um grupo de
lideres educacionais publicou o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, que
entre outras propostas destacavam as seguintes:
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1)que a Educação fosse uma reação sistemática e categórica contra a
velha estrutura do serviço educacional artificial e verbalista:
2)que a Educação fosse considerada pelo Estado com função social e
eminentemente pública; por isso, de responsabilidade do Estado, em
cooperação com todas as instituições sociais;
3)que o Estado garantisse “escola comum e única” para todos, não
admitindo, “dentro do sistema escolar do Estado, quaisquer classes ou
escolas, as quais só tenha acesso uma minoria, por um privilégio
exclusivamente econômico”. Admitia-se a existência de instituições
educacionais privadas, mas defendia-se, da educação infantil à
universidade, a todos os brasileiros, uma formação idêntica;
4)que a educação escolar fosse laica, gratuita, obrigatória, além de
respeitar o princípio da co-educação;
- laicidade, para colocar o ambiente escolar acima de disputas e crenças
religiosas;
- gratuidade, para que todos os brasileiros pudessem ter acesso à
Educação e para garantir o cumprimento do princípio da obrigatoriedade;
- co-educação, para evitar que houvesse entre alunos de sexos
diferentes outras “separações que não aquelas que aconselham suas
aptidões psicológicas e profissionais”. Co-educação também, para
colocar em pé de igualdade estudantes do sexo masculino e do sexo
feminino.
5)que a direção e administração da função educacional tivessem
assegurados os meios materiais para realiza-la. Para tanto, defendia-se a
autonomia técnica, administrativa e econômica, mediante a instituição de
um “fundo especial ou escolar”, constituído de patrimônio, impostos e
rendas próprias. Este fundo deveria ser administrado e aplicado
exclusivamente no desenvolvimento da obra educacional, pelos próprios
órgãos do ensino;
6)que o governo central, pelo Ministério da Educação, fosse encarregado
de supervisionar o cumprimento das orientações gerais estabelecidas na
Constituição e leis ordinárias, além de auxiliar Estados, quando houvesse
insuficiência de recursos, e de promover o intercâmbio pedagógico e
cultural dos Estados;
7) que o currículo escolar se dinamizasse e orientasse para atender aos
interesses dos estudantes; que estimulasse o próprio esforço dos alunos
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e que a escola se transformasse em uma comunidade em miniatura,
preparando o educando “com o trabalho em grupos e todas as atividades
pedagógicas e sociais, para fazê-la penetrar na corrente do progresso
material e espiritual da sociedade da qual proveio e na qual vai viver e
lutar;
8)que todos os professores, de todos os graus, tivessem formação
universitária e remuneração equivalente;
9) que todas as escolas, independente do grau de ensino, reunissem, em
torno de si, as famílias dos alunos, estimulando e aproveitando as
iniciativas dos pais em favor da Educação; ao mesmo tempo que
constituíssem sociedades de ex-alunos, para mantê-los em constante
relação com as escolas. Por outro lado, propunha-se o “desenvolvimento
do poder de iniciativa e o espírito de cooperação social entre os pais, os
professores, a imprensa e as demais instituições interessadas na obra da
Educação”.
A divulgação deste Manifesto causou grande impacto nos meios
educacional e político, pois propunha verdadeira revolução na educação escolar
brasileira e, mais do que isso, uma política educacional na verdadeira acepção da
palavra. O Manifesto questionava também a situação do ensino superior no Brasil
que até então era voltado apenas para a formação de profissionais liberais.
Como vimos, no Brasil, foi mantido o privilégio de classe, valorizando o
ensino superior em detrimento dos demais níveis, sobretudo, o elementar e o
técnico, isso sem falar é claro, na desprezada educação da mulher e a história nos
mostra que a sociedade sempre se organizou e reorganizou para atender às
necessidades de cada época e que essas necessidades sempre foram satisfeitas
com o intuito de garantir a hegemonia das elites sendo que, sua garantia requer a
miserabilidade do corpo e da alma de um povo que tem a mente cauterizada por
valores impostos pela elite através de Política Educacional alienante.
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2.1 – Desafios sócio-econômicos
“Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum.
Vendiam suas propriedades e fazendas e repartiam com todos,
segundo cada um tinha necessidade.”
Atos dos Apóstolos 2: 44 e 45
A desigualdade sócio-econômica não é fatalidade e sim uma questão
política. Um percentual pequeno da população brasileira detém a maior fatia da
renda nacional e uma fatia de menos de dez porcento fica para os mais pobres.
Esse processo faz com que os ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres.
Podíamos explanar, para exemplificar esse processo com a forma de aquisição da
propriedade imposta no Brasil. Nos Estados Unidos a população adquiria a
propriedade apenas pela posse, desbravando as matas, enquanto que no Brasil, a
propriedade sempre teve que ser adquirida por pagamento, como a maioria da
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população era de trabalhador braçal, sempre trabalhou para suprir as
necessidades básicas, não havia nenhuma possibilidade de aquisição da
propriedade. Mais um artifício eficaz da classe dominante para manter o poder.
Analisando o fato do rico sempre ficar mais rico, e o pobre sempre mais pobre,
chegamos a conclusão de que nenhuma possibilidade existe de mudança neste
quadro em razão do capitalismo.
Segundo Marx, o capital é o trabalho acumulado, em conseqüência do
fenômeno da mais-valia, isto é, o suplemento do trabalho não remunerado,
suplemento esse do qual o capitalista se apropria de maneira espoliativa, sob a
forma de lucro e garantido por lei as quais são elaboradas pelos representantes
dos interesses das classes exploradoras, economicamente fortes e politicamente
dominantes. Nesse sentido temos um pequeno exemplo, que é o fato de que as
empresas contribuem para a Previdência Social, sem que, com essas
contribuições gozem de algum benefício concedido pela Previdência Social. Certo
é que, as empresas contribuem para a previdência, porque utilizam o trabalho
humano.
O desenvolvimento do capitalismo surgiu no final da idade média com o
desenvolvimento do comércio e o aumento da produção, tem por base um sistema
econômico da aplicação do capital com o objetivo de obter sempre mais lucro.
Neste sistema o trabalhador é encarado como mercadoria pelo capitalista e o
trabalhador é dono apenas de sua força de trabalho, o lucro e a riqueza são do
capitalista. Donde se depreende que quanto menos o capitalista pagar ao
trabalhador maior lucro ficará em suas mãos, portanto, estamos diante de duas
classes sociais opostas, a burguesia e o proletariado.
Se o trabalho é visto pelo capitalista como mercadoria, decerto também
entra na disputa da oferta e da procura. Assim, no campo social, as
conseqüências do capitalismo estão à vista de todos, especialmente nos países
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subdesenvolvidos: salário de fome, condições precárias de moradia, de trabalho,
desemprego, falta de assistência à saúde, educação insuficiente e deficiente,
condições miseráveis de vida, desrespeito à pessoa humana. Além da aplicação
da tecnologia em prejuízo do próprio homem trabalhador, na medida em que
máquinas substituem o trabalho humano, sem qualquer programa de
compensação dessa perda, tirando de forma sumária, o meio de subsistência do
trabalhador e seus dependentes.
No campo político, o capitalismo transformou o Estado em instrumento de
dominação de uma classe sobre outra. Nas lutas trabalhistas, o governo
geralmente toma o partido dos patrões, reprimindo as manifestações dos
trabalhadores, prendendo seus líderes, embora as leis trabalhistas são inflexíveis
na intenção de dar proteção ao trabalhador que, em razão da lei, fica impedido de
liberar direitos, os quais lhes garante a lei, com o objetivo de permanência no
emprego. Inobstante a inflexibilidade das leis trabalhistas, o Estado é um braço
armado do capitalismo. Neste sistema, também se encontram os bacharéis, que
não têm outra alternativa senão colocar a disposição do capitalismo toda a sua
capacidade intelectual.
As desigualdades sócio-econômicas fazem com que nem todos tenham
acesso a grande parte dos bens culturais. Pesquisas demonstram que grande
parte da população não tem acesso à leitura de livros, jornais ou revistas, mais de
noventa porcento que iniciam o ensino fundamental não chegam ao ensino
superior. Cinema, teatro, pintura são atividades só acessíveis a uma pequena
minoria, é a marginalização cultural. A marginalização cultural é segregadora e, é
meio de controle social, serve para manter a ordem vigente, na qual o indivíduo
precisa lutar com unhas e dentes para sobreviver. A prioridade é matar a fome,
não sobrando espaço ou condições para que o indivíduo pense sua existência
enquanto sujeito passivo da marginalização, para se engajar na luta por mudanças
sociais.
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Inobstante as frases “Todo poder emana do povo”, parágrafo único do
artigo 1º, e ainda, que “Todos são iguais perante a lei” artigo 5º caput ambos da
constituição federal vigente, que até emocionam, na prática parece que o poder é
exercido por uma minoria capitalista e, é obvio em seu próprio benefício, os
recursos públicos são encaminhados para áreas de interesse dos grupos
dominantes, um exemplo marcante disto, já que o tema é a educação, ou melhor,
“a problemática do acesso ao ensino superior”, observamos que as universidades
públicas em nosso país funcionam, e funcionam bem, por que lá estão os filhos da
minoria dominante, que têm acesso porque são melhores preparados, não vem de
ensino básico e fundamental públicos, têm boa alimentação, são assistidos por
bons profissionais da área de saúde que podem detectar problemas e implementar
tratamentos eficazes, alguns exemplos em meio a tantos outros é a dislexia,
deficiência visual e auditiva. São pessoas que têm acesso a esporte, ao
conhecimento cultural, a escolas particulares de boa qualidade, portanto o melhor
preparo lhes garante o acesso ao ensino superior público.
A segregação não permite uma visão revolucionária. Mas como vimos no
capítulo anterior sobre a história da educação no Brasil, a educação em nosso
país, desde o início foi de forma a incluir apenas as elites dominantes, onde
imperou a exclusão, sem educação o homem não possui mente reflexiva, não
analisa sua existência enquanto cidadão. O homem, sem educação, não
transforma o mundo, não forma suas convicções, quadro tranqüilizador para o
setor capitalista. Como citado por Mann (1998) apud Aranha, (2002, p.138). :
“Nada, por certo, salvo a educação universal, pode contrabalançar a
tendência à dominação do capital e a servilidade do trabalho. Se uma
classe possui toda a riqueza e toda a educação, enquanto o restante da
sociedade é ignorante e pobre, pouco importa o nome que dermos à
relação entre uns e outros: em verdade e de fato, os segundos serão os
dependentes servis e subjugados dos primeiros. Mas, se a educação for
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difundida por igual, atrairá ela, com a mais forte de todas as forças,
posses e bens, pois nunca aconteceu e nunca acontecerá que um corpo
de homens inteligentes e práticos venha a se conservar
permanentemente pobre”.
2.2 – Qualidade dos ensinos básico e médio
Como vimos no capítulo primeiro, nos primórdios da educação no Brasil, a
educação ficava restrita à alfabetização que, em outras palavras representava as
técnicas de ler, escrever e contar. As civilizações passadas sempre fundadas em
elites cultas e povos ignorantes estes sempre prescindiram de escola primária.
Com o passar do tempo, nos países economicamente desenvolvidos, até o ensino
médio passou a fazer parte da educação comum e básica. Enquanto no Brasil,
mesmo inserido na globalização a obrigatoriedade, gratuidade e a essencialidade
se restringem ao ensino fundamental, de primeira à oitava série, oferecido nas
escolas públicas e garantido por lei.
Alguns programas educativos estão sendo implementados e são veiculados
através de rádio, televisão e outros meios, visando levar a população de baixa
renda e baixo nível de escolaridade e menor acesso às informações educacionais,
informações sobre educação e aulas do ensino básico, no entanto, num país de
grande área geográfica como o Brasil e algumas de difícil acesso como, por
exemplo, a região norte e nordeste, os programas são acanhados, ficando grande
parte dessa população de fora do processo educacional.
Quanto à educação iniciante, segundo Demo, na obra A Nova LDB -
Ranços e Avanços, há um pomposo texto constitucional que só falta garantir o
paraíso na terra às crianças e um dourado estatuto de proteção que em nada
alteram na realidade para a população carente e sofrida.
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Verdade é que, nosso país é um país de leis, legislamos em todas as áreas
e para todos os problemas que surgem, no entanto, somos um país da
impunidade, que é causa afiançadora para o não cumprimento das leis. Muitas leis
não têm praticidade porque são irreais as nossas condições na prática.
Existem nos ensinos básico e médio do setor público fatores que acarretam
dificuldade na aprendizagem e em conseqüência impedem ou dificultam o acesso
ao ensino superior, um deles é que a clientela desse setor pertence a famílias de
nenhuma condição cultural, Muitas dessas famílias acham desnecessário e até
luxo o ensino superior, bastando apenas que seus filhos saibam o mínimo, para
que possam trabalhar, que a satisfação está presente, isso ocorre por que, sem
que se tenha cultura, não existe o pensamento de lutar pela educação de seus
filhos.
Outro fator que garante o baixo nível de qualidade dos ensinos fundamental
e médio, em nosso país é a péssima qualificação do professor, que tem formação
de pior nível sócio-econômico, levando-se em conta que também vem de família
de baixo nível de escolaridade. Esses professores por certo estão lotados em
escola na qual está presente o nível social mais baixo, fator que cria um ciclo de
condições desfavorável ou simplesmente não cria nenhuma condição ao acesso
ao ensino superior público. E, ainda, se um desses educandos conseguem atingir
o nível superior de ensino não têm competência para competir com alunos que
tiveram melhor preparo, oriundos de classes mais favorecidas economicamente.
Como exemplifica Piletti, (1995, p.91). :
“Os professores da rede básica brasileira escrevem mal, lêem pouco e
atribuem aos alunos a culpa pela reprovação. Esse perfil, que aparece
em uma pesquisa concluída em janeiro pela Fundação Carlos Chagas, é
suficiente para apagar de vez a imagem que muitos ainda têm do
professor: sacerdotes idealistas, alimentados só pelo amor aos alunos.”.
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Para que as crianças não apenas consigam iniciar o ensino fundamental,
mas concluí-lo com proveito e mesmo vencer os outros graus de ensino
necessário se faz, que o ensino não esteja resumido apenas no sonho dourado da
nossa Carta Magna, mas que o ensino seja de qualidade.
Outro fator da deficiência na aprendizagem que impede o acesso ao ensino
superior, além dos acima citados é a condição cultural, inexistente, da família e o
processo pedagógico. Para evitar o fracasso escolar é necessário que o processo
pedagógico seja eficaz, o que inclui implementar aos educandos o domínio da
leitura e escrita, ou seja, a conscientização do aprendizado. Os órgãos
encarregados em fiscalizar e promover a educação no Brasil, estão alheios às
falhas apresentadas, e continuam a recomendar que suas escolas coloquem os
analfabetos para ler e produzir textos.
A rede oficial de ensino deve promover a igualdade de oportunidades e a
melhoria continua dos padrões de qualidade do ensino. A educação pública com a
lei de reserva de vagas para o acesso ao ensino superior promove o fracasso, a
exclusão e a desigualdade de oportunidades futuras, podemos denunciar que é o
fim da escola pública. Sim, porque se considerarmos que na opção de melhorar a
qualidade do ensino ou simplesmente garantir o acesso, foi mais cômodo aos
governantes garantir o acesso é o fim do ensino público.
Pensem, pesquisas nos jornais e revistas demonstram que 80% das vagas
de medicina na Uerj foram preenchidas pelo sistema de reserva de cotas. Será
que queremos agradar aos interesses dos deuses e troianos ao mesmo tempo,
atendendo as necessidades da população carente sem sacrificar em nada os
interesses das elites dominantes, porque ensino de melhor qualidade, entre outras
coisas, interfere no orçamento, produz indivíduos críticos. Mas sem ensino
26
fundamental e médio de qualidade o acesso ao ensino superior público é
impossível.
CAPÍTULO III
ENSINO FUNDAMENTAL E BÁSICO SEGUNDO A LDB
27
3.1. Ensino fundamental e médio segundo a LDB
Para melhor entendimento da Lei de Diretrizes e Bases, atualmente em
vigor, e estabelecer diferenças, vamos fazer uma síntese da lei anterior. A lei
5692/71 foi elaborada sem a participação da sociedade e não era completa porque
tratava apenas dos ensinos da pré-escola, 1º e 2º graus. Nesta lei foi transformado
o curso primário e o ginasial ambos de quatro anos cada em ensino de 1º grau de
oito anos e o ensino médio colegial em 2º grau. Foi marcante a inclusão do ensino
profissionalizante, com as ofertas de muitas habilitações profissionais, essa lei
sofre alteração em 1982 pela lei 7044, a qual revogou dispositivos que tornavam a
profissionalização obrigatória.
No entanto a lei 5692, no tocante a obrigatoriedade na educação é dirigida
à família e quanto ao sistema de ensino distribui responsabilidade e não se
preocupa em instituir um sistema nacional de ensino. Prevê a pré-escola, mas não
obriga o Estado a oferecê-la. Quanto ao ensino religioso, a oferta é obrigatória e a
freqüência facultativa, não define quem paga os professores dessa disciplina e o
28
ensino de 2º grau é posto a cargo do CNE e MEC, existindo a previsão do ensino
supletivo.
Com o advento da constituição federal de 1988, surgiu a necessidade de
elaboração de uma nova lei de diretrizes e bases da educação, sancionada em
dezembro de 1996, denominada lei Darcy Ribeiro, nº 9394. Analisando a LDB,
observa-se que ocorre uma mudança nos níveis de educação, que passam a ser
dois, educação básica e educação superior. A educação básica está dividida em
ensino fundamental e médio.
As modalidades de educação são de jovens e adultos, educação
profissional e educação especial. Deixa claro que o ensino fundamental é
obrigatório e gratuito, inclusive para os que não tiveram acesso ao ensino na idade
própria. Prevê uma progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao
ensino médio, atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com
necessidades especiais e estabelece sistema de avaliação das instituições de
ensino.
A nova LDB quanto à questão da educação para o trabalho envolve a
família, a escola, as empresas e comunidade. A família por ser a célula-mater da
sociedade, a escola deve estar envolvida porque se trata de educação para o
trabalho produtivo, a empresa tem importância neste processo no tocante a
direção de uma educação para o trabalho e a comunidade em razão de que é a
própria comunidade que educa as gerações.
Em 1997 a lei 9475 altera o dispositivo que prevê que o ensino religioso
obrigatório é parte integrante da formação básica do cidadão, suprimindo a frase
que desobriga os cofres públicos.
29
Concluindo a síntese, essa lei estabelece a obrigatoriedade qualificação dos
educadores, exigindo o preparo em nível superior. Apresenta um espaço de
flexibilidade para que os sistemas de ensino atuem com criatividade.
3.2. LDB segundo Pedro Demo
Segundo Demo a nova LDB demonstra como positivo o compromisso com
a avaliação, visão alternativa da formação dos profissionais da educação,
direcionamento de investimentos financeiros para valorização do magistério.
O princípio da avaliação consagrado na LDB, a qual determina a avaliação
dos ensinos superior, médio e fundamental, é uma novidade que traduz o princípio
fundamental da organização dos sistemas, colocando em foco a melhoria da
qualidade do ensino, embora entenda que as resistências existirão e serão
demonstradas pelos próprios educadores que não se sentirão à vontade sendo
sujeitos passivos da avaliação. A visão alternativa da formação dos profissionais
da educação o que favorece grandes avanços, porque trata o professor como o
eixo central da qualidade da educação.
Direciona investimentos financeiros para valorização do magistério, a
educação dispõe de receita vinculada orçamentária, além do salário-educação,
desde a constituição federal de 1988 a união é obrigada a aplicar 18% no mínimo
na educação e os estados e municípios 25%, definindo assim, o que será aplicado
na educação.
Outros aspectos segundo Demo, que são positivos da nova LDB, diz
respeito à parte reservada a educação infantil, como no capítulo sobre o direito à
educação e o dever de educar, acesso à educação fundamental como direito em
qualquer idade, atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de
30
zero a seis anos. Tratou o acesso ao ensino fundamental como “direito público”
subjetivo, esses são alguns avanços segundo Demo. No entanto, a nova LDB
conta com uma visão relativamente obsoleta da educação, a velha universidade
continua resistindo, atrasos eletrônicos e alguns problemas com mundo do
trabalho.
CAPÍTULO IV
POLÍTICAS EDUCACIONAIS
31
4.1 - O que é política educacional e política educacional alienante
Educação – verbo educar, vem do latim educare, derivado de educere, que
quer dizer eduzir, conduzir, revelar valores e capacitar o espírito humano a cria-
los. O processo de educação escolar envolve salas, docentes e métodos
pedagógicos, é todo um processo que exige objetivos e uma certa direção para
atingi-los, ai surge política educacional. A política educacional é um processo, e
dessa forma ela deve ser elaborada de acordo com cada momento histórico a ser
aplicada.
Segundo o filósofo Aristóteles o ser humano tem uma força para modificar o
meio, por isso o Estado ideal seria aquele governado por um povo bem educado e
preparado na juventude. Nesta concepção, política educacional pode ser
associada à educação ampla e igual para todos os homens.
Mas a política educacional se processa e desenvolve onde há pessoas
imbuídas da intenção de gradativamente conduzir a criança a ser, no futuro, o
adulto idealizado pelo grupo social a qual pertence. Mas, toda política educacional
é estabelecida e definida através de um exercício prático do poder.
Explicando o processo pelo qual passa a política educacional, Martins
(1994, p.8). :
“A política educacional é um processo que só existe quando uma
educação assume uma forma organizada seqüencial, ditada e definida de
32
acordo com as finalidades e os interesses que se tem em relação aos
aprendizes evolvidos nesse processo”.
Definindo a política educacional como instrumento do qual se utiliza a
sociedade para produzir, no futuro, tipos de homens e mulheres idealizados por
essa sociedade, Martins, (1994,p.10) conceitua:
“A política educacional é um dos instrumentos para se projetar à
formação dos tipos de pessoas de que uma sociedade necessita. Ao
contrário da educação que ajuda a pensar tipos de homens e mulheres, a
política educacional ajuda a fazer esses tipos, definindo a forma e o
conteúdo do saber que vai ser passado de pessoa a pessoa...”.
Nessa ordem, com a leitura das intenções contidas nas políticas
educacionais, teremos a capacidade de entender que tipo de pessoas a sociedade
deseja produzir.
Nessa concepção temos que lembrar a existência da política educacional
alienante. Uma política educacional alienante é a que canaliza para fins
específicos e acaba por fragilizar o processo pedagógico, impossibilitando uma
ação criadora e reflexiva. A política educacional dos jesuítas, com os índios
brasileiros, é exemplo de política educacional alienante e resultou em um processo
de aculturação e dominação, essa política educacional foi considerada um
sucesso, porque era exatamente o objetivo da igreja católica apostólica romana.
No entanto, muitos que se envolveram no processo da política educacional
dos jesuítas imaginaram que serviam ao saber, é preciso que a política
educacional não estabeleça uma relação ambígua com a ideologia dos grupos
sociais aos quais ela será desenvolvida. Porquanto as conseqüências de uma
política educacional podem ser indivíduos melhores pela educação ou podem
desencadear um processo de deseducação.
33
A educação das meninas em nosso país foi por muito conduzida por um
processo político-educacional alienante, na intenção de produzir mulheres
alienadas e dependentes. O aspecto marcante dessa política educacional era que
envolvia a retenção do poder nas mãos do sujeito homem, poder este que o
homem desejava possuir sobre a mulher, e no desenvolvimento dessa política
educacional a menina era criada sem estudos, aprendendo a cuidar da casa do
marido e dos filhos para apenas serem servas.
Sendo uma política educacional alienante, portanto, operando com o
processo de deseducação, acaba por formar indivíduos que não terão capacidade
de pensar a própria existência, quanto mais o processo político econômico de seu
país. A política educacional alienante forma indivíduos catequizados, incapazes de
reação, serão sempre servos, obedientes ao querer da classe dominante.
A característica marcante desses indivíduos é que nunca contrariam o
grupo social com o qual vivem, esse tipo de pessoa é a ideal no sistema
capitalista, no qual serão explorados, com um conformismo que deixa qualquer
capitalista tranqüilo. Porquanto são indivíduos, educados para não esboçar
qualquer contrariedade ao sistema.
4.2. Democratização das políticas educacionais e cidadania
“É à sociedade que devemos interrogar, são suas necessidades
que devemos conhecer, já que é a essas necessidades que
devemos satisfazer.”
Durkheim (sociólogo francês, 1858-1917)
34
Como dissertado no capítulo anterior depreende-se que, pensar política
educacional é pensar nos seres humanos de hoje e do futuro que a política
educacional produzirá.
Quanto à crise da educação e suas causas, as idéias de urgentes reformas,
entre os profissionais da área, insatisfeitos com o sistema imposto, resta
questionar, como é constituído esse consenso em torno do discurso sobre as
urgências das reformas educativas. Se na verdade, a unanimidade em torno dele
é mesmo tão forte ou se não existe uma “outra reforma” em curso. Moreira, (1998,
p.32), esclarece:
“Nos últimos anos, foram realizadas, praticamente na totalidade dos
países latino-americanos diagnósticos sobre os sistemas educativos,
orientados por técnicos de organismos internacionais e por profissionais
locais, geralmente com base em enfoques economicistas e centrados no
tema da produtividade e da necessidade de gerar reformas educativas
que favoreçam a inserção dos respectivos países na lógica da
competitividade, imprescindível num mundo cada vez mais globalizado e
regido pelo livre mercado.”
Sobre o Programa de Promoção de Reforma Educativa na América Latina –
PREAL – Temos que toda abertura que traz modernidade e melhoria da qualidade
de vida, como a abertura do comércio internacional é algo necessário e positivo,
ocorre que em nossa sociedade segundo Moreira (1998, p.34), o raciocínio é:
“Para a definição das competências necessárias no mundo do trabalho,
quem deve ser consultado são os empresários, particularmente os
melhores, o que têm sucesso na concorrência do mercado. Nesse
sentido, a lógica empresarial passa a direcionar a educação.” .
35
Em nosso país o sistema público de ensino está muito debilitado, formou-se
uma mentalidade geral de que o ensino privado tem mais valor, é mais eficaz
porque oferece um ensino de melhor qualidade, razão pela qual não importando o
grau de sacrifício, mesmo os menos favorecidos na escala sócio-econômica,
preferem a escola particular. Assim, de forma sutil a educação está sendo retirada
da esfera dos direitos, ocorrendo um verdadeiro retrocesso no reconhecimento
dos direitos sociais reconhecido pela nossa Carta Magna.
A população não é bastante esclarecida para reconhecendo seus direitos,
unindo-se, reivindicá-los. Deixando, por isso, escapar sem perceber, os direitos
conquistados no passado histórico do país.
Os ensinos fundamental e médio ministrados pelas escolas públicas, não
são eficazes de forma a preparar o educando a possibilitar o acesso ao ensino
superior público. Falando em democratização das políticas educacionais, temos
que analisar o papel desempenhado pelo Banco Mundial, opinando em nossa
educação escolar.
O Banco Mundial conta com 176 países membros é composto por um
conjunto de instituições lideradas pelo BIRD (Banco Internacional para
Reconstrução e Desenvolvimento). Os estatutos prevêem que o peso da votação
é proporcional a participação no aporte de capital, tem os EUA maior capital
investido o que garante sua presidência desde a fundação. O BM foi criado em
1944 e tem cinco países líderes EUA, Japão, Alemanha, França e Reino Unido.
Quanto ao papel desempenado pelo Banco Mundial em nossa educação,
Moreira (1998, p.35) questiona:
“Poderíamos pensar que o papel do Banco Mundial, como seria próprio
de uma organização dessa natureza, deveria estar centrado no
36
financiamento de projetos da área educativa. Entretanto, atualmente, o
financiamento não é sua função principal. Apenas 0,5% das despesas
totais dos países de “ renda baixa e média”, de acordo com a expressão
utilizada por esse organismo, são por ele financiados. Daí poderemos
perguntar qual e o papel que essa entidade desempenha atualmente na
área educativa.”
E conclui que:
“Sem dúvida, esse organismo possui uma equipe ampla e competente de
profissionais e exerce notável influência na construção da
homogeneidade discursiva das políticas educativas do continente”.
Segundo alguns autores sobre o assunto, desde a década de 80, até os
hodiernos, a educação sofreu algumas mudanças, ampliou-se o investimento na
área de educação, deu-se uma importância crescente à educação fundamental e,
nos últimos anos deu-se maior atenção às primeiras séries do ensino médio, e
ainda, passou-se a dar atenção específica à educação das meninas, por
comprovado que um pai culto não significa resultar filhos cultos, mas uma mãe
culta resulta a criação de filhos cultos, evidenciando que a mulher-mãe produz
relações positivas com a educação objetivando o bem-estar dos filhos.
Moreira, (1998, p.36): enfoca as reformas indicadas pelo Banco Mundial
para o setor educativo, estabelecendo as prioridades e objetivos.
“Para o Banco Mundial, a reforma educativa, centrada na reforma do
sistema escolar, é urgente e imprescindível para o desenvolvimento
econômico, político e social dos países latino-americanos. A proposta
atual para os países do sul está pautada nos seguintes aspectos:
1. Educação básica como principal prioridade.
2. Qualidade da educação como eixo da reforma educativa.
37
3. Ênfase nos aspectos relativos ao financiamento e à
administração da reforma educativa, no contexto amplo da
reforma do Estado. Nessa perspectiva, a descentralização tem
uma grande importância.
4. Descentralização e instituições escolares autônomas e
responsáveis pelos seus resultados.
5. Promoção de uma maior participação dos pais e da comunidade
nas questões educativas.
6. Estímulo ao setor privado e aos organismos não governamentais
(ONGs), como agentes ativos no âmbito educativo, no nível das
decisões e da implantação das reformas.
7. Mobilização e adequada distribuição de recursos adicionais para
a educação fundamental.
8. Redefinição do papel tradicional do Estado em relação à
educação e à maior participação das famílias e das comunidades
no financiamento da educação.
9. Enfoque setorial, centrado na educação formal.
10. Definição de políticas e prioridades com base em análises
econômicas.”
Analisando os itens acima, precisamos trazer a este trabalho o
entendimento de quem está à frente da educação no país, o discurso do Ministro
da Educação em aula inaugural nesta Universidade, datado de 10.03.2003,
oportunidade em que discursou, além de outros itens da educação, sobre a
necessidade da implantação do ensino a distância como destino de toda a
universidade, e, em produzir alfabetizadores entre os universitários, de forma que
os alunos das universidades públicas engajem no projeto de alfabetização.
Em seu discurso o Ministro defendeu que quanto aos descontos que são
permitidos no imposto de renda para o financiamento do estudo próprio e dos
dependentes fosse remanejado para o setor educacional, para financiar o ensino
público. Recentemente está sendo veiculado pela internet e por outros meios de
comunicação, sobre o apoio do Ministro da Educação ao projeto de lei que obriga
38
o estudante de ensino público, já formado, que ganha, por ano, mais de trinta mil
reais possa contribuir com cinqüenta porcento da mensalidade para a instituição
na qual estudou.
O Banco Mundial tem sua política orientada para reduzir os gastos públicos
no ensino superior. Segundo Coraggio (1996, p.77) apud Moreira, (1998, p,37).
“é urgente saber quais os limites e as possibilidades ainda inexploradas
dessa relação entre o Banco Mundial, os governos e as sociedades da
América Latina, porque dela continuarão decorrendo as políticas
educativas capazes de promover ou bloquear o desenvolvimento
sustentável de nossas sociedades.” .
O Banco Mundial propõe modelos para reformas educativas no Brasil e
estabelece para o ensino fundamental o que considera importante para a
aprendizagem que são em ordem de prioridade: bibliotecas, tempo de instrução,
dever de casa, livros didáticos, conhecimento do professor, experiência do
professor, laboratório, salário do professor e número de alunos por turma.
Analisando as determinações e imposições do Banco Mundial em nossa
educação, no que concerne a elaboração da política educacional, podemos
questionar, se a única hipótese para a renovação educativa em nosso país está
nas propostas do Banco Mundial e por que a elaboração da nossa política
educacional, não está ao nosso encargo?
Partindo do princípio no qual a educação supõe a formação de sujeitos
históricos, ativos, criativos, capazes não apenas de se adaptar à sociedade em
que vivem, mas de transformá-la e de reinventá-la, acreditamos que nós mesmos
devemos propor as mudanças as quais necessitamos no setor educativo, sem
precisar que sejam essas mudanças impostas por um organismo alienígena. Não
39
podemos esquecer que fomos capazes de, no exercício da nossa cidadania,
elaborar a nossa Constituição, que é a lei mãe e traduz a vontade de um povo.
A história demonstra a nossa capacidade em propor e promover as
transformações que o setor educacional necessita, reinventar a nossa política
educacional através de todos os seguimentos da sociedade compromissados com
a educação. Somos capazes tanto quanto fomos para elaborar e publicar o
manifesto de 1932, transcrito em parte no capítulo I deste trabalho, e que traduz a
expressão, o querer e adequação das necessidades de uma sociedade. Porque só
a sociedade na qual será desenvolvida a política educacional, pode saber as suas
necessidades.
A política educacional ditada por organismos estrangeiros, corre o risco de
não se adequar ao querer e as necessidades da sociedade na qual será
desenvolvida. No caso do Banco Mundial e o movimento de reformas educativas
nos países latino-americanos, pode culminar com o extermínio do ensino público,
conforme nos traz Moreira, (1998, 40);
“Para Arroyo (1997), educador fortemente comprometido com propostas
educativas alternativas implementadas em nosso país e em outros países
latino americanos, o movimento de reformas educativas promovido pelo
Banco Mundial tem caráter de modernização conservadora e, caso
continue a reforçar-se e a ampliar sua penetração
no tecido social, o futuro da escola pública na América Latina está
ameaçado”.
Para afirmar a competência dos educadores do nosso país em propor
eficientemente, a própria reforma educativa, Moreira (1998, p.40) denuncia outro
movimento de propostas de reforma educativa.:
40
“Entretanto, o outro movimento de reformas educativas, segundo o
mesmo autor, é mais nosso, emerge de nossas próprias raízes e de
nossa própria experiência histórica e fundamenta-se na defesa do
público, da educação como direito, que somente pode ser garantida na
esfera pública.”.
A política educacional só é democrática quando elaborada de conformidade
com os indivíduos aos quais será desenvolvida. A política educacional idealizada
por indivíduos ou organismos alienígenas pode resultar em deseducação,
(exemplo a educação dos jesuítas com os índios), mesmo que a política
educacional ditada, esteja imbuída de sentimentos de obter bons resultados, só
que os bons resultados podem não ser bons para a sociedade na qual será
desenvolvida a política educacional.
Com a situação precária sócio-econômica de nosso país, é necessário
defender o ensino público e compulsório, além de idealizarmos a política
educacional, que será desenvolvida numa sociedade em que, apenas dez por
cento do lucro do capital está concentrado nas mãos da população.
Nunca é demais lembrar que o ensino público é direito conquistado após
longos anos de luta e espera, desde o período do império, como relatado neste
trabalho no capítulo I, título história da educação no Brasil. Outro fato de não
menos importância que não pode ser esquecido é que no Brasil, a distribuição de
renda não existe, a riqueza concentra-se nas mãos de poucos e a maior parte da
população “sobrevive”, enquanto um percentual grande vive abaixo da linha da
pobreza, ou seja, na linha da miséria, causas que obrigam seja o ensino
obrigatório e público.
42
CAPÍTULO V
RESERVA DE VAGAS PARA ACESSO AO ENSINO SUPERIOR
PÚBLICO
5.1. Acesso pelo sistema de reserva de vagas.
43
A Constituição da República de 1988 estabeleceu a redução da pobreza e
desigualdade no país, benefícios que só serão possíveis com a colocação em
prática de uma gama de projetos nos diversos seguimentos da sociedade, que
visem o equilíbrio das classes, até que se atinja a igualdade de oportunidades.
A lei 3524/2000 estabelece o sistema de reserva de vagas para alunos
oriundos da rede pública e para afros-descendentes, no que tange o acesso ao
ensino superior público.
O sistema de cotas não resolve problemas de profundidade, trata-se de
benefício paliativo do qual virão as conseqüências, caso não se tenha uma política
forte e atuante quanto a melhoria da qualidade dos ensinos básico e médio, e que
esse ensino seja propedêutico, preocupado em formar cidadãos plenos e não
apenas trabalhadores dos quais o capitalismo necessita.
No Brasil os indivíduos pertencentes às camadas pobres da população,
raramente rompem com a barreira da exclusão sejam brancos, negros ou pardos.
Todos os indivíduos de baixo poder aquisitivo, vindo de famílias compostas de
indivíduos que não tiveram acesso ao estudo básico, não importando se oriundos
de escolas públicas ou particulares, têm a mesma dificuldade ao acesso ao ensino
superior público. Podemos dizer mais, a dificuldade vai além do acesso.
Porquanto a dificuldade está presente também na manutenção do graduando no
ensino público; dificuldades como, despreparo, transporte, alimentação, material
didático e pesquisas.
O sistema de reserva de vagas, introduzido em nosso ordenamento jurídico
recentemente, vem causando muitas polêmicas, para entendemos devemos
possuir uma visão primeiramente de amor ao próximo, de inclusão socialista e
44
com o espírito imbuído de resolução das desigualdades. Já vimos no capítulo II,
que a inclusão deve ter início no ensino fundamental, e essa inclusão deve ser
para negros e brancos, para que todos possam concorrer em igualdade de
condições, não só quanto ao acesso ao ensino superior público, bem como quanto
à concorrência na vida profissional após a graduação.
Outro aspecto também que deve ser analisado, é quanto ao nível escolar,
considerando que, com o sistema de reserva vagas o processo seletivo
obrigatoriamente deverá ser flexível na análise acatando alunos de nível escolar
mais baixo, o que refletirá na qualidade do ensino superior. Este fator pode
acarretar em diminuição da qualidade do ensino superior público, neste momento
lembramos que as faculdades públicas funcionam bem, e funcionam bem porque
lá estão os filhos dos ricos, que estão em busca da qualidade do ensino. A perda
da qualidade do ensino superior público será fator desmotivante, podendo surgir à
figura do ensino superior em faculdades particulares de melhor nível e o
sucateamento do ensino superior público, fato ocorrido nos ensinos fundamental e
médio da rede pública.
Necessário é que os poderes públicos ministrem ensinos fundamental e
médio com qualidade, e promovam a cultura entre os educandos, para
proporcionar a todos, igualdade, sem que nenhuma classe social ou raça
necessite de reservas de vagas para os indivíduos que vem de escolas públicas
com péssima qualidade de ensino que não permite a competição verdadeira e em
igualdade.
“tratar os iguais com igualdade, e os desiguais com desigualdade, na
exata medida em que se desigualam”.
Rui Barbosa.
45
Alguns estudiosos que defendem a lei de reserva de vagas adotam o
entendimento de que o sistema de reserva de vagas satisfaz o que estabelece a
constituição quanto à redução da pobreza e desigualdade no país e que a lei de
cotas não é discriminatória porque satisfaz o interesse social, razão pela qual é
lícita, porque conserta ou tenta reparar a vulnerabilidade que sempre
apresentaram os preconceitos e discriminações raciais, assim nada mais justo que
a diferença da lei lhe seja benéfica para a inclusão de um bem público.
Assim o fazem, sem perceber que a lei de reserva de vagas esconde uma
deficiência e omissão do estado em ministrar um ensino público de qualidade e
fiscalizar a qualidade do ensino particular. Caso não haja urgentes implementos
de reformas consideráveis no ensino a desigualdade perdurará e refletirá mais
fortemente no mercado de trabalho.
5.2. Sistema de Reserva de Vagas para Afros-descendentes
“Se queremos ficar felizes e seguros, todos têm
que estar felizes e seguros”.
Numa sociedade, quando a igualdade não é possível, surge a revolta a
violência, devendo a sociedade e estado implementarem programas com a
finalidade de exterminar as desigualdades, mas será que a reserva de vagas é a
solução?.
O sistema de cotas deve ser analisado sobre o prisma da igualdade,
proteção, discriminação e responsabilidade. O ordenamento jurídico, está de
forma ordenado para impedir qualquer arbitrariedade por parte do poder público,
impossibilitando com isso, que os legisladores elaborem leis em proteção de
46
determinadas classes em detrimento de outras, situação que não satisfaz o
interesse social.
Verdade é que existe uma dívida para com a raça negra, que foi explorada
e sacrificada pela raça branca ante o insustentável e cruel regime escravocrata
que se instalou no país por séculos. Sabemos também que a abolição da
escravatura ocorreu de forma aleatória, sem que houvesse um programa de
proteção e inserção do negro liberto na sociedade. Que livres continuavam
escravos, porque não tinham como prover o próprio sustento, ficaram aos
arredores das grandes cidades no intuito de sobrevivência pelos favores em forma
de trabalho ou esmolas vindos da classe dominante, criando assim as favelas.
Passados mais de um século da publicação da lei áurea, nenhuma medida
estatal de inclusão social do negro foi implementada. É evidente que se faz
necessário implementar medidas de inserção do negro, mas a lei de reserva de
vagas ao acesso ao ensino superior público é a solução?
A reserva de 40% das vagas no ensino superior da rede pública deste
Estado, para os afros-descendentes pela lei 3524/2000, é denominada pela
própria lei como ação afirmativa, em que o legislador se espelhou nas leis
elaboradas nos EUA.
Gomes (2001, p.40), define ação afirmativa como:
“Atualmente, as ações afirmativas podem ser definidas como um
conjunto de políticas públicas e privadas de caráter compulsório,
facultativo ou voluntário, concebidas com vistas ao combate à
discriminação racial, de gênero e de origem nacional, bem como para
corrigir os efeitos presentes da discriminação praticada no passado,
tendo por objetivo a concretização do ideal de efetiva igualdade de
acesso a bens fundamentais como a educação e o emprego”.
47
Nos Estados Unidos a ação afirmativa na área da educação teve início nos
anos 60, como noticia Gomes, (2001, p.103);
“-No campo da Educação, os primeiros programas de ação afirmativa
foram postos em prática no início dos anos 60, logo após o Presidente
Kennedy haver determinado, através de decreto executivo, que fossem
tomadas medidas positivas no sentido de promover a inserção dos
negros no sistema educacional de qualidade, historicamente reservado
às pessoas de raça branca”.
Do texto que podemos concluir que, nos Estados Unidos, o racismo
imperou a ponto de que o ensino de qualidade fosse reservado apenas para a
raça branca, não é o caso que ocorre em nosso Estado.
A nossa Constituição da República de 1988, impõe princípios de igualdade
como:
“Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:”
“Art. 206, O ensino será ministrado com base nos seguintes
princípios:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;”
“Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado
mediante a garantia de:
V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da
criação artística, segundo a capacidade de cada um. ”
Os que defendem o sistema de reserva de vagas para os afros-
descendentes como, ação afirmativa do Estado em prol do negro, o fazem porque
48
entendem que esse é o único caminho que dá direito ao acesso à universidade
para uma parte da população que nunca teve esse direito. Desconsiderando o fato
que essa população não tem acesso apenas pelo fato de pertencer à raça negra,
e, classificam os que são contra a lei, como racistas.
Como citado nos primeiros parágrafos deste título, a raça branca tem uma
dívida para com a negra, mas não é com um sistema de reserva de vagas para o
acesso ao ensino superior público que a quitação se dará.
A pensar assim, a sociedade deveria reservar vagas para os afros-
descendentes em todos os seguimentos da sociedade, como nos concursos a
todos os cargos públicos, nas eleições para o executivo e o legislativo, para as
vagas de emprego no setor privado e outros. A reserva apenas no setor da
educação é traduzida como demagogia, porque não temos escolas só para
brancos, temos sim, um ensino público deficiente e ineficaz, porque é de baixa
qualidade, bem como desigualdade na distribuição de renda, fatores que colocam
a maioria negra e branca num mesmo patamar de desigualdade.
Falta leitura e reflexão sobre o tema, como exemplo; porque então o Estado
não dirige esforços para a área da educação e aumenta a oferta de vagas no
ensino superior do setor público? Ou, ainda, talvez seja de bom alvitre acabar
com o vestibular. Fazendo melhor, direciona esforços e implementa ensinos
fundamental e médio de qualidade de forma tal que negros e brancos poderão
concorrer em igualdade de condições. Porque na verdade, não se trata de “negros
e brancos” e sim capacitados e incapacitados, independente da etnia de origem.
Melhor seria se todo o ensino no país fosse de responsabilidade única do
Estado, o que justificaria o projeto do Ministro da Educação em acabar com a
dedução no imposto de renda, do valor gasto com a educação do próprio
49
declarante ou de seus dependentes, e, criando imposto para a implementação e
manutenção da educação pública, semelhante ao imposto das grandes heranças,
e ainda, que as empresas contribuíam de forma mais incisiva com o ensino, nesse
sistema tributará os desiguais de melhor situação sócio-econômica. Talvez assim,
“um dia”, quem sabe seremos sujeitos da mesma igualdade?
Ademais, o cobrado nas provas de acesso ao ensino superior público não
corresponde ao ensino ministrado nos graus de ensino antecedentes, até mesmo
porque o sistema de aprovação nas primeiras séries é compulsório, então,
questiona-se, e o aprendizado onde está?
A forma de democratizar o acesso ao ensino superior só pode estar na
melhoria do nível de ensino, com a qualificação dos educadores e a
conscientização das famílias dos educandos e de toda a sociedade quanto à
necessidade urgente do ensino de melhor qualidade, portanto, na reformulação do
ensino, bem como, no estímulo ao educando, porque a incapacidade para o
acesso não está na raça e sim no ensino ineficaz e de péssima qualidade,
ministrado em nossas escolas, tanto da rede pública como da rede privada.
Quais as outras medidas de inclusão dos negros foram impostos pelo
Estado para acabar com a desigualdade social, motivo determinante da
elaboração da lei de reserva de vagas?
Imprescindível que o Estado implemente uma política de inserção sócio-
econômica para os negros, para que estes não dependam eternamente de uma lei
de reservas de vagas que lhes garantam ao ensino superior público e dessa forma
sejam “equiparados” aos brancos. Inconcebível que os afros-descendentes
dependam, eternamente, de uma lei tutora inclusiva nos direitos, aos quais a
constituição já lhes garante.
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5.3. Sistema de Reserva de Vagas para Alunos da Rede Pública
A lei 3524 de 2000 prevê reserva de vagas para o acesso ao ensino
superior público, também para alunos oriundos do ensino da rede pública. O
Instituto de Opinião Pública e Estatística (Ibope), já mostrou que os alunos
brasileiros são os piores em leitura, lideram a repetência na América Latina e
estão entre os nossos 74% de analfabetos funcionais. O Exame Nacional de
ensino Médio (Enem), vem registrando a queda na qualidade da educação.
Como já vimos e revimos neste trabalho, a péssima qualidade do ensino é a
grande vilã da educação, isto porque reflete diretamente na competitividade dos
bens e serviços que cada indivíduo é capaz de produzir, bem como no acesso ao
ensino superior público. Assim, caso não ocorra mudanças de forma a promover a
eficácia do processo pedagógico, a desigualdade vai continuar imperando.
Se o ensino público promove o fracasso, quando ministra ensino de
péssima qualidade, promove também a evasão e a exclusão. Dessa forma, a
sociedade pode denunciar o fim do ensino público.
A qualidade do ensino promove a igualdade, e essa só pode ser com
previsão de atingir as massas, se for implementada através da rede oficial de
ensino. No que chegamos a inarredável conclusão de que a sociedade deve
primar pelo aumento, melhoria e qualidade do ensino público, seja ele de qualquer
nível.
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A lei que reserva vagas para alunos da rede pública de ensino vai de
encontro à constituição federal e não promove a igualdade. É uma lei tutora que
reflete a incompetência do Estado na aplicação do ensino fundamental e básico.
Bastasse um programa sério de qualificação, melhoria de salário do educador e
conscientização e cooperação de todos os seguimentos da sociedade, que
automaticamente a qualidade do ensino seria eficaz para a competição em
igualdade de condições com qualquer outro indivíduo.
Importante ressaltar, que a melhoria na qualidade do ensino público inclui
assistência a alimentação, acesso aos livros pedagógicos e demais material
escolar, transporte, bibliotecas e acesso aos mais variados seguimentos da
cultura. Só assim, teremos uma sociedade mais justa cumprindo a igualdade
garantida em nossa lei mãe.
Conclusão
Do estudo feito e narrado neste trabalho, depreende-se que chegar aos
bancos das faculdades públicas é coisa incomum às camadas pobres da
população, e as causas da exclusão são: Exploração do trabalho humano pelo
capitalismo dominante, que impõe falta de interesse em implementar melhorias
sócio-econômicas para a população carente; A falta de política educacional
implementando ensino de qualidade nas escolas da rede pública; A falta de
acesso à cultura; A falta de conscientização da família.
52
Os indivíduos que, com muito sacrifício, conseguem romper as barreiras da
exclusão, têm que enfrentar a concorrência desleal com inúmeros outros que não
fazem parte do setor inclusivo.
Assim concluímos sem medo de errar, que o ensino é seletivo, portanto
desigual, formando-se aqueles que têm condições financeiras para tanto. Nesse
contexto não podemos perder a capacidade de indignação pelas coisas erradas.
Verifica-se também, neste quadro, um desenvolvimento seletivo, mas
sabemos que a igualdade econômica não está na pauta de nosso sistema político,
a igualdade é uma categoria da cidadania. Todo o indivíduo tem direito à
cidadania, e para a formação do cidadão pleno se faz necessário que as camadas
que fazem parte do nível sócio econômico baixo tenham à sua disposição, os
estudos fundamental e médio de qualidade.
Sabemos também que a capacidade de trabalho é o único capital do
trabalhador, e que o aumento dessa capacidade só se dá com o estudo, portanto,
é de extrema necessidade a implementação urgente do ensino eficaz.
Para que haja qualidade desse ensino, é imprescindível que as
necessidades dos indivíduos, enquanto sujeitos do processo de aprendizado,
sejam satisfeitas, tais como: assistência à alimentação e a saúde, acesso aos
livros didáticos por fornecimento a título gratuito e ainda, instalação de bibliotecas.
Necessário também que se implemente um projeto de capacitação dos
educadores, facilitando o acesso a qualificação específica, com a renovação do
saber e, principalmente, salários dignos, capazes de suprir as necessidades.
53
Ainda é necessário que os professores estejam motivados, não só pelo fato
de salários dignos, como pela valorização do ofício pelos órgãos públicos
competentes e pela sociedade.
Só assim será dispensável a elaboração de leis visando à inclusão, na qual
os legisladores acreditam estar imbuída da onipotência, como a do sistema de
reserva de vagas para alunos oriundos da rede pública de ensino e alunos afros-
descendentes.
Destarte, devem ser implantadas políticas educacionais idealizadas e
elaboradas por indivíduos inseridos no contexto educacional. Tudo isso, sem
esquecermos que a educação como direito, somente pode ser garantia se pública
e só assim o direito ao acesso ao ensino superior público será democratizado, e,
portanto, “para todos”.
BIBLIOGRAFIA
PILETTI, Nelson. Sociologia da Educação. 15ª ed. SP: Editora Ática, 1995.
CARNEIRO, Moaci Alves. LDB fácil. 8ª ed. Petrópolis, Editora Vozes, 2002.
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FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 33ª ed. RJ,Editora Paz e Terra, 2002.
54
TOMMASI, Lívia De; WARDE, Mirian Jorge e HADDAD, Sérgio. O Banco Mundial
e as Políticas Educacionais, 4º ed. SP. Editora Cortez, 2003.
SHIROMA, Eneida; MORAES, Maria Celis M. de e EVAGELISTA, Olinda. Política
Educacional, 2ª ed. RJ. Editora DP & A, 2002.
GOMES, Joaquim B. Barbosa. Ação Afirmativa & Princípio Constitucional da
Igualdade (O Direito Como Instrumento de Transformação Social. A Experiência
dos EUA), RJ. Editora Renovar, 2001.
NÉRICI, Imídeo G. Didática do Ensino Superior, SP, Editora Ibrasa, 1993.
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ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando
Introdução à Filosofia. 2ª ed. SP. Editora Moderna, 1993.
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. 9ª ed. Editora Saraiva, 1994.
OLIVEIRA, Dalila Andrade e ROSAR, Maria de Fátima Felix. Política e Gestão da
Educação. BH, Editora Autêntica, 2002.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. 2ª ed. SP. Editora
Moderna, 1996.
SOARES, Orlando. Comentários à Constituição da República Federativa do Brasil.
3ª ed. RJ. Editora Forense, 1990.
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ÍNDICE
RESUMO 05 CAPÍTULO I 08
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 08
1.1 – No Mundo 09
1.2 – No Brasil 11
CAPÍTULO II 19
ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO DESAFIOS 19
2.1 – Desafios sócio-econômicos 20
2.2 – Qualidade dos ensinos básico e médio 23
CAPÍTULO III 27
ENSINO FUNDAMENTAL E BÁSICO SEGUNDO A LDB 27
3.1 – Ensino Fundamental a Básico Segundo a Ldb 28
3.2 – LDB segundo Pedro Demo 29
CAPÍTULO IV 31
POLÍTICAS EDUCACIONAIS 31
4.1 – O que é Política Educacional e Política Educacional alienante 32
4.2 – Democratização das políticas educacionais e cidadania 34
CAPÍTULO V 43
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RESERVA DE VAGAS PARA ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO 43
5.1 – Acesso pelo sistema de reservas de vagas 44
5.2 – Sistema de reserva de vagas para Afros-descendentes 46
5.3 – Sistema de reserva de vagas para alunos da rede pública 51
CONCLUSÃO 53
BIBLIOGRAFIA 55
ÍNDICE 57
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Pós-Graduação “Lato Sensu”
Docência do Ensino Superior
Título: Acesso ao Ensino Superior Público.
Autora: Sebastiana Alves Rodrigues
Orientador: Celso Sánchez
Data da entrega: _______de_______________ de_________
Avaliado por:____________________________Grau:_______
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Grau final:__________________________________________