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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A memória como fundamental na construção da cultura organizacional de uma empresa: O caso TAM Por: Fabiana Vieira dos Santos Orientador: Prof. Fernando Alves Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A memória como fundamental na construção da cultura

organizacional de uma empresa: O caso TAM

Por: Fabiana Vieira dos Santos

Orientador:

Prof. Fernando Alves

Rio de Janeiro

2012

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A memória como fundamental na construção da cultura

organizacional de uma empresa: O caso TAM

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Comunicação Empresarial.

Por: Fabiana Vieira dos Santos.

3

AGRADECIMENTOS

...aos meus pais em especial ao meu

marido, Bruno Avila, Eliane Belleza e

Priscila Paes do Saúde em Pauta e as

queridas Sheyla e Jacqueline do

Centro de Memórias da TAM.

4

DEDICATÓRIA

...dedico este trabalho a Bruno Avila e

Luísa Santos Avila.

5

RESUMO

Quando o comandante Rolim começou sua trajetória empresarial, o

Brasil era um país de economia fechada e o consumidor era identificado como

um chato indispensável na opinião de todas as empresas que aqui se faziam

presentes. Porém, Rolim descobriu no consumidor a única fonte real de

sucesso e, passou a tratá-lo como rei, estendeu tapetes vermelhos e sua

simpatia foi repassada a todos os escalões da TAM.

Quando teve início a abertura da economia brasileira e o “foco no

cliente” passou a ser o tema de todo o planejamento empresarial moderno, o

comandante se tornou referência neste campo e passou o grande aruto dos

novos tempos. Percorrendo todo o território nacional em palestras, como o

portador dos segredos dos novos tempos empresariais. Suas cartas de bordo,

comunicação mensal que eram distribuídas nos voos da TAM e a linha direta

com seus clientes estabeleceram um novo e eficiente padrão de comunicação

empresarial.

Para uma nação que iniciava sua incursão econômica, que temia a

competição com empresas multinacionais e que se curvava diante do complexo

de inferioridade que sempre nos marcou, a atuação do comandante Rolim foi

uma verdadeira bússola, que veio nos orientar em meio as mudanças

pungentes do novo cenário econômico que estava por vir. Ele mostrava como

era possível ter padrão internacional de qualidade, atendimento, gestão

financeira responsável e visão estratégica de longo prazo. Quando a cultura da

TAM ganhou visibilidade, no início dos anos noventa, não existia nenhuma

empresa multinacional no Brasil, que nem de perto, atingisse seu grau de

excelência em prestação de serviços.

Com o tempo, outras empresas de âmbito nacional e internacional

entenderam e descobriram a importância do atendimento ao consumidor. Os

programas de qualidade total conquistaram corações e mentes das principais

empresas brasileiras.

6

METODOLOGIA

Pesquisa bibliográfica e documental através da análise de quatro livros,

devidamente citados em bibliografia descrita ao final deste trabalho. Além de

documentos cedidos pelo centro de memória da empresa TAM, localizado em

São Paulo.

Toda documentação foi estudada, analisada e trabalhada a fim de trazer

subsídios à contextualização do proposto trabalho.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A História de um herói 10

1.1) Garoto pobre e sonhador

1.2) A figura do homem trabalhador

1.2.1) O diferente

1.3) Visão de futuro

CAPÍTULO II - A construção de uma imagem 15

2.1) Entendendo a cultura organizacional

2.2) A construção da cultura

2.3) O segredo. Visão e relacionamento com as pessoas

2.4) TAM e comandante Rolim.

CAPÍTULO III – Perpetuação e estabilidade da imagem 24

3.1) Modelo de gestão

3.2) Relação com o funcionário.

3.3) Marketing.

3.4) Referência para o mundo coorporativo

3.5) Consolidação e fidelização dos steakholders

CAPÍTULO IV – As frases que nortearam a trajetória 31

CONCLUSÃO 33

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 35

ÍNDICE 36

8

INTRODUÇÃO

A surpreendente história de superação e persistência, de Rolim Adolfo

Amaro, idealizador e fundador da companhia aérea mais bem sucedida do

Brasil, a TAM Linhas Aéreas. Ao dedicar-me ao estudo dessa história pude

observar a construção de uma linha de atuação empresarial muito peculiar e

inovadora para seu tempo. O que rende uma memória e referências

inquestionáveis, não apenas do sucesso da empresa, mas com certeza, da

visão e empreendedorismo de Rolim, um empresário sem comparação para

sua época. Mesmo após dez anos de sua morte, o Comandante Rolim (como

gostava de ser chamado) é o símbolo maior de referência desta grande

corporação.

A relação entre a memória da TAM Linhas Aéreas, tal como a

conhecemos nos dias de hoje foi baseada na construção de uma cultura

organizacional sólida com um símbolo mor e de referência até os dias de hoje,

o comandante Rolim Adolfo Amaro.

Como uma pessoa comum transformou-se em “herói”, símbolo

inquestionável de uma grande corporação, influenciando de forma tão

marcante a cultura organizacional de uma empresa através de seu exemplo de

superação, sem esmorecer diante dos percalços passados ao longo de sua

incrível e brilhante trajetória.

Analisar como pessoas comuns tornam-se referência no mundo dos

negócios a ponto de, através de uma memória, criar uma cultura organizacional

tão sólida, como Rolim Adolfo Amaro. E entender, como os “heróis

institucionais” são criados, suas características e formas de atuação foram à

base para construção deste trabalho, tentando compreender como uma pessoa

simples como qualquer outra, se torna referência, a ponto de através de uma

memória construída, criar a cultura organizacional de uma empresa como a

TAM.

Através da análise da criação da instituição até a morte de seu

fundador (1977 – 2001).

9

CAPÍTULO I

A História de um herói

A história do Comandante Rolim Amaro

“Eu começaria minha biografia com uma exclamação de

Napoleão: Ah! Que belo livro daria minha vida!¨” (Rolim

Adolfo Amaro).

O comandante Rolim Adolfo Amaro, dono da TAM, iniciou sua história

de empresário de sucesso abrindo caminho num país onde a aviação, que era

extremamente dependente do poder público, sempre subsistira à sombra de

favores e negociatas. No entanto, construiu seu caminho e se tornou

personagem dessa história, a seu modo, pelo caminho inverso. Lutou contra o

poder arbitrário no terreno econômico e, associou seu progresso a uma

empresa independente, ao culto ao cliente-amigo e à prestação de contas do

dinheiro que recebia da sociedade através do pagamento de impostos e da

prestação de serviço honesto, a partir de uma empresa que se orgulhava do

seu lucro.

“Personagem carismático, visionário dos negócios,

administrador esperto, criador célebre de aforismos,

participante ativo da história econômica do país, Rolim era

ainda sedutor. Cativava amigos instantaneamente, das

pessoas simples que achava nos bares em suas viagens

de motocicleta a reis e vendedores de armas, Sabia,

como poucos, alimentar a mitologia que corria em torno

de si mesmo.” (GUARACY, 2003, p.15).

10

1.1) Garoto pobre e sonhador.

Nascido em 15 de setembro de 1942, em Pereira Barreto, interior de

São Paulo, filho mais velho de uma família de origem humilde, Rolim Adolfo

Amaro, sempre foi acometido por grandes sonhos e vislumbrava uma vida

diferente de seus pais.

Rolim era um homem cheio de sabedoria popular e, uma característica

eram seus “causos”, que tinham como base histórias populares e sua prórpia

experiência de vida. Dentre elas, algumas viravam lições que levou por toda

sua vida. A primeira e importante lição de vida que aprendeu foi no internato

Dom Bosco, de padres salesianos, onde estudou até seus 13 anos e era assim

que ele colocava: “dizer o sim, mas fazer o não como forma de sobrevivência.”

(GUARACY, 2003, p.27).

O tempo que passou no internato marcou o relacionamento de Rolim

com seus pais. Ele sabia que precisava de educação, mas achava que a

escola era um desperdício de si mesmo. “A síntese de minha vida foi o ato de

ganhar tempo” e a realização de sonhos, mas na escola, segundo ele: “Não

encontrava a realização dos meus sonhos”. (GUARACY, 2003, p.27).

O irmão de sua mãe, Etelvina, Joaquim Pereira da Rosa, sempre fora

seu tio preferido e grande ídolo. Jovem empreendedor, político, músico, de

espírito alegre, era um homem versátil – conjunto de características que Rolim

admirava e que mais tarde adotaria para si, como formadores de sua

personalidade marcante.

Em 1948, quando Rolim estava com seis anos, Joaquim comprou um

avião Paulistinha, cujo espaço dava conta apenas do piloto na frente e um

passageiro atrás.

Aos sete anos de idade, já no primeiro ano do grupo escolar, Rolim

voou com o tio pela primeira vez. Joaquim sentou no banco do piloto, colocou o

sobrinho no colo e decolou. Ele nunca se esqueceu daquele momento mágico!

Rolim e seu irmão João idolatravam o tio Joaquim. Mas, o destino do

herói de Rolim foi bastante trágico. E, em 1954, enquanto (ele e o irmão João)

passavam férias na casa do tio, receberam a notícia de que seu tio havia

sofrido um acidente aéreo. Que o avião caíra em virtude das fortes chuvas na

11

rota para Campinas. Naquele momento ele aprendeu algo estranho e triste, ao

mesmo tempo: o sonho de sua vida também matava!

Mais tarde, em virtude das dificuldades financeiras de sua família, aos

treze anos de idade, deixou os estudos e passou a trabalhar no comércio de

seu pai para ajudar com as despesas da casa. Mas, desde os dez anos de

idade, Rolim Adolfo Amaro, já sabia que queria uma única coisa: ser piloto de

avião!

1.2) A figura do homem trabalhador

Anos depois, mesmo com os percalços da vida financeira, sempre

muito difícil, passando por situações humilhantes e de total falta de dignidade

humana gerada pela falta de dinheiro. Rolim conseguiu fazer seu curso de

piloto, onde conquistou o seu brevê, mas acumulou inúmeras dívidas para

realização de seu sonho.

Durante seu curso de piloto, quando não estava nas aulas, à noite,

ficava no Aeroclube oferecendo-se, de graça, para trocar óleo, encher os

pneus, completar a água da bateria e lavar os aviões.

“(...) ganhava a boa vontade dos pilotos, que gostavam do

rapaz falante, vivaz, que já tinha o dom de conquistar

simpatias instantaneamente, talvez à virtude mais útil em

sua carreira. Acabava sendo convidado para voar como

segundo piloto, o que contava para o curso. Dessa forma,

completou mais que às 45 horas necessárias para tirar o

brevê.” (GUARACY, 2003, p.35).

Como todo jovem piloto, Rolim sonhava em ter o seu próprio avião.

“Pensava que seria dono de seu próprio nariz”, explicava. Mas, descobriu que

na vida real, sofreria muito para chegar a esta conquista. Mais tarde,

entenderia que mesmo sendo proprietário de uma aeronave, não seria assim

tão dono do seu nariz, pois em jogo haviam muitas outras coisas envolvidas,

que só ter o avião, não resolveriam, pelo contrário complicariam ainda mais.

12

Aos 18 anos, Rolim não tinha noção disso, mas era um inconformado.

No esforço para pagar suas aulas no Aeroclube e se sustentar, vendeu seus

poucos pertences, entre eles: uma adorada jaqueta de couro e até o radinho de

pilhas de estimação.

Mesmo com essa suada conquista, faltava-lhe ainda um emprego. Em

1964 ele conseguiu, após abrir uma vaga na T.A.M. (Táxi Aéreo Marília). Foi

contratado como o último piloto da escala. Isso significava que quando não

houvesse nenhum outro piloto para voar, ele seria o escolhido. Uma ideia que

era completamente inviável para quem precisava de dinheiro para pagar as

dívidas, em especial, os empréstimos que fez para conseguir o brevê e para se

manter longe de casa durante todo o tempo em que se dedicou ao curso.

Então, Rolim, que sempre foi um exímio observador, vivendo uma

situação delicada percebeu que precisava de algo diferente, uma forma de

conquistar o passageiro. E, ele entendeu que a única diferença possível,

naquela situação, seria personalizar o atendimento ao cliente. Ele precisava de

alguma forma ser a escolha deste, no momento de locação do jato. Ele

precisava criar um elo, um vínculo de relacionamento, ou seja, ser o preferido

na escolha. Quem optasse por fretar o jato na Transportes Aéreos Marília (já

conhecida por suas iniciais T.A.M., também, o escolheria como comandante.

Assim, criaria uma fidelização com os passageiros. Idéia que mais tarde ele

trabalhou, tornando-se, a sua marca e a receita para o sucesso da TAM Linhas

Aéreas.

1.2.1) O diferente

Quando faleceu (em 2001), a TAM tinha 98 aeronaves, dos quais 58

jatos com mais de cem lugares a bordo, e já transportava um milhão e meio de

passageiros a cada mês. Naquele momento, Rolim nunca esteve tão longe da

sua liberdade tão sonhada e esperada. Isso porque, para chegar aonde

chegou, se transformou em um escravo dos clientes, por se considerar seu

eterno devedor.

Antes de ingressar na T.A.M., o comandante Rolim já observava os

seus prospects e, entendia que os passageiros de monomotores do táxi aéreo

13

tinham características empreendedoras. Seu público era formado por:

fazendeiros, compradores de café, vendedores de automóveis e empresários

que desbravavam novas fronteiras. Homem de conversa fácil, que precisava

apenas de um segundo para puxar assunto e dois para fazer o próximo, Rolim

passou a conquistar os passageiros da Aéreo-Rancho, pois sabia que

precisava deixar as portas abertas. Para ele, o ato de fazer amigos era, na

verdade, “criar moeda de troca”. De certa forma, ele já começara a enriquecer,

mesmo antes de ter dinheiro. Como não tinha tempo de enraizar amizades,

aprendeu a fazê-las depressa.

Percebeu que, por ser o último da lista dos pilotos, só voaria se o

cliente, realmente, solicitasse que o vôo fosse feito por ele. Essa seria a única

forma de pular os outros pilotos que tinham preferência na vez.

Todas as vezes que voava com algum passageiro, tratava de agradá-lo

e bajulá-lo. Como sua carreira e salários passaram a depender disso, Rolim

não esqueceria nunca a lição e a levaria por toda a sua vida, tornando-a sua

marca empresarial e sinônimo de sucesso no mundo dos negócios. Carregou

pela vida inteira a obsessão na conquista individual do cliente, o que continuou

a fazer mesmo quando passou a transportar mais de um milhão de pessoas ao

mês.

As histórias de vida e de trabalho deste homem mostram através de

suas atitudes ao longo de sua vida, que os sonhos se consolidam quando

alinhados a planos e objetivos, para Rolim:

“O sucesso acontece quando a oportunidade encontra a

vontade. Surgiu a oportunidade, eu tinha a vontade e a

agarrei ” (GUARACY, 2003, p.62).

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1.3) Visão de futuro

Durante toda sua vida, não só a facilidade que tinha em conquistar

pessoas, mas principalmente em observá-las, fez com que Rolim aprendesse

muito. E, diante das inúmeras lições acumuladas, começou a criar sua própria

filosofia de vida e administração. Seu tino, aptidão e visão para os negócios

sempre foi extremamente arrojada e sua intuição o acompanhava em tudo o

que fazia.

Por sua característica visionária nata, estava sempre atento as

necessidades que apareciam à sua volta. Criando soluções aparentemente

simples que o fizeram estar sempre à frente de seu tempo e, claro, de seus

concorrentes.

Um caso clássico da característica visionária de Rolim foi ao final dos

anos sessenta, início dos anos setenta, quando o comandante e seu irmão

João Amaro conseguiram comprar seus próprios aviões e passaram a atender

região próxima ao Rio Araguaia, com seu serviço de táxi aéreo. Percebeu que

a comunicação naquela região, em virtude das distâncias, era extremamente

precária, então Rolim foi a São Paulo e comprou alguns rádios transmissores.

Daí em diante criou uma linha direta com as fazendas, que quando precisam

recorriam a ele. Surgiu uma relação de dependência e comodidade, o que o

permitia cobrar valores diferenciados, uma vez que era o único a atender a

região de maneira tão focada e inovadora, criando uma relação de

interdependência e, atrelando as necessidades da região à solução encontrada

por ele para suprir as necessidades na falta de comunicação, características da

região. Para Rolim:

“Só existe um jeito de fazer a roda girar. É trabalhar e

ganhar mais que os outros.” (GUARACY, 2003, p.82).

Em abril 1972, Rolim assinou um contrato pelo qual poderia vir a ficar

com 50% da T.A.M., além de uma pilha de promissórias. Para ele tornar-se

sócio da TAM era abrir a porta para um futuro em que tudo era possível. Para

Rolim, na verdade era fazer o que já fazia há anos, bastava continuar a

trabalhar.

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CAPÍTULO II

A construção de uma imagem

“Empresa aérea precisa ter a cara do dono”. (Rolim Adolfo

Amaro).

2.1) Entendendo Cultura Organizacional

A preocupação constante em estar cada vez mais próximo ao

passageiro, de escutá-lo de todas as formas e em criar um vínculo de

confiança, respeito e credibilidade com o cliente, sempre foram preocupações

recorrentes de Rolim, suas maiores obsessões. Com a criação do canal direto

com o cliente, o Fale com o Presidente, isso fico ainda mais claro e possível.

Ele sempre acreditou que ninguém melhor que o próprio usuário do

serviço para indicar o que realmente o agrada ou, em contrapartida, o

desagrada.

Segundo Kátia Keller:

“A nova ordem, agora é a das ações estratégicas e

integradas. (consequentemente, eficazes), capazes de

encantar os públicos de interesse, captá-los e retê-los, por

meio do estabelecimento de uma verdadeira relação de

parearia, regida pela troca de valores. Estas ações, que

também são preventivas (afastam ameaças ou antevêem

possíveis crises ou riscos), estão baseadas na missão da

organização (seu papel social, suas metas e seus

objetivos) e a fortalecem, tornando-a apta a enfrentar um

novo mercado, cada vez mais competitivo e exigente”

(Keller, 2005, p.15).

16

2.2) A construção da cultura.

A transformação de Rolim em empresário foi bem sutil. Ele

intuitivamente já havia desenhado a filosofia que caracterizaria a trajetória de

sua carreira de sucesso, segundo a qual, ele afirmava que não havia diferença

entre clientes e amigos.

Em 1975, o surgimento da nova aviação regional brasileira foi a

oportunidade que Rolim esperava para alcançar seu grande objetivo e alçar

vôos muito mais altos, ou seja, a receita em vôos regulares. Experimentara

fazer este tipo de rota, com vôos regulares nos aviões de táxi aéreo entre São

Paulo e cidades do interior, embora não pudesse oficialmente anunciá-los

como tais. As reuniões que definiram a nova aviação aérea regional

aconteceram entre junho e outubro de 1975. Em 11 de novembro, o então,

presidente Ernesto Geisel assinou o decreto, com força de lei, criando o

Sistema Integrado de Transporte Aéreo Regional, SITAR. No pátio da fábrica

da Embraer em São José dos Campos, Geisel anunciou oficialmente as cinco

empresas regionais a serem formadas. Uma delas, pela TAM.

Rolim assinou o estatuto da TAM Linhas Aéreas Regionais em 13 de

março de 1976, em sociedade com Orlando Ometto (que fora seu cliente no

passado), com participação de um terço da VASP. A companhia entrou em

operação em 07 de julho.

A partir desse momento, Rolim colocou em prática sua crença, na

filosofia de atendimento ao cliente, com ênfase no atendimento diferenciado, na

fidelização deste. Os vôos que eram os menos rentáveis e, portanto o patinho

feio da empresa, da VASP receberam tratamento adequado: Rolim melhorou o

serviço de bordo, colocou jornais em todos os vôos, numa pequena amostra de

que, no futuro, seria sua ênfase na qualidade do serviço.

Rolim deu nova vida às antigas linhas da VASP. A média de

passageiros transportados pela estatal com o Bandeirante era muito baixa.

Numa de suas principais linhas, na rota de São Paulo a Ribeirão, eram

transportados apenas de dez pessoas por dia. E, para mostrar que o serviço

era extremamente confiável, Rolim não cancelava nenhum dos vôos vazios, ao

contrário do que era praticado pela VASP. Com a pontualidade britânica e a

17

melhora surpreendente no atendimento, a média de passageiro quintuplicou

rapidamente.

Algum tempo depois Orlando Ometto e Rolim romperam e, daí como

de costume, o comandante saiu com uma decepção e novas convicções que

passaram a fazer parte de suas tão marcantes falas:

“Fazer qualquer coisa com pessoas boas, capazes de

avaliar erros, era melhor do que entrar em um bom negócio

com pessoas ruins. Um bom negócio era, inclusive,

passível de passar por crises. Contudo, só os negócios

dirigidos por bons homens sairiam delas.. ” (GUARACY,

2003, p.117).

2.3) O segredo. Visão e relacionamento com as pessoas.

Rolim passou a não mais enxergar unicamente a empresa, mas sim as

pessoas com quem iria se relacionar, daquele momento em diante. Cada vez

que iniciava um negócio, do mais simples ao mais complexo, como a aquisição

de aviões de milhões de dólares, preferia tratar sempre com interlocutores que

o tratavam como ele tratava os outros.

E, a partir daí, surge a máxima do famoso “Espírito de Servir da TAM”,

que foi o alicerce para construção da cultura organizacional que perpetuou e,

ainda continua (sem a mesma força) dentro da filosofia empresarial da TAM.

Pois, para Rolim, não bastava o presidente da empresa falar com os outros, ele

precisaria ser realmente igual aos outros. Isso significava também que devia

ser o primeiro servidor do cliente, o exemplo maior do que acreditava e do

império que erguia. E, se o dono, o presidente da companhia servia

pessoalmente ao cliente até o limite de suas forças, os funcionários não

poderiam exigir menos de si mesmos. Esse foi o segredo que implantou na

TAM.

Aproveitando-se dos vícios, de péssimo atendimento ao passageiro,

das empresas de aviação, encobertos por período em que a concorrência era

anulada pelo controle estatal, Rolim nunca deixou sua filosofia de lado e

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continuou investindo no bom tratamento ao cliente. Queria instaurar nas linhas

regulares o mesmo atendimento personalizado que criara e se acostumara a

prestar no táxi aéreo. Num tempo em que os passageiros faziam fila nos

balcões e eram tratados com indiferença no embarque, isso era uma grande

novidade.

A idéia de se voltar para o cliente tomava a cada dia mais corpo e

consistência. O que Rolim precisava, era garantir que os aviões decolariam e

que ofereceriam as melhores condições aos passageiros. Em essência, era

nisso que se tornava especialista.

Dessa forma, Rolim foi o primeiro empresário brasileiro a colocar em

prática a atual noção contemporânea da empresa de serviços. Consolidou na

TAM a idéia de investir maciçamente, sem descanso, na atividade-fim. Por esta

razão, deixou a aquisição de aviões para as grandes empresas de asset

management do setor. Seu patrimônio não eram os aviões, e sim os

passageiros, os seus clientes - amigos. Aqueles por quem havia se empenhado

tanto e por tanto tempo, sem cessar e sem medir seus esforços. “Tudo que eu

faço é para o cliente”.

O objetivo do comandante Rolim era o estreitamento das relações com

as pessoas, receita que foi seguida como religião. Ele desligou a empresa dos

meios de produção, focando unicamente na atividade-fim, de transportar

pessoas, com excelência e qualidade. Para ele, o representante da TAM tinha

de ter prestígio e reconhecimento não por suas relações, mas tão unicamente

pela “excelência da nossa postura, pela seriedade do nosso negócio”.

(GUARACY, 2003,p. 140). E, sua máxima, para esta questão, era:

“Não fazemos comida, nem compramos ou vendemos o

avião. Nós somos transportadores de passageiros.”

(GUARACY, 2003, p.140).

A qualidade no atendimento era um fator preponderante, marcante e

gritante, mais até do que o próprio produto. Esse foi o conceito inovador e o

19

diferencial marcante que Rolim introduzia no mercado, alterando

definitivamente, a forma de enxergar e tratar o cliente.

Rolim entendia que a TAM, precisava de uma identidade, identificar a

companhia com algo. Em sua concepção ela era fundamentalmente uma

companhia paulista, de São Paulo. Até mesmo em virtude das escolhas feitas,

nas rotas regionais que tinham como ponto de apoio o aeroporto de

Congonhas. Enquanto as grandes companhias transferiam seus vôos para fora

dos grandes centros (aeroportos como Galeão e Cumbica), Rolim queria fazê-

lo para Congonhas porque entendia que o futuro (com a correia cada vez mais

acentuada, tempo cada vez mais escasso e as pessoas com mais e mais

pressa) estava nos aeroportos centrais.

“O tempo é a única coisa que não se recupera”. (Rolim

Adolfo Amaro).

A opção por centralizar suas operações em Congonhas aconteceu

porque desde a criação da TAM, o seu nicho de mercado tinha como foco

principal, executivos, que tinham como característica viajar constantemente e

que buscavam rapidez e agilidade, sem ter como principal preocupação o

preço. Nessas circunstâncias, o preço menor significava embarque em

aeroportos mais distantes, o que não compensava o tempo de deslocamento

para estes.

Assim, após sucessivas e graves crises econômicas, a TAM recebeu

autorização para trabalhar na ponte aérea (Rio de Janeiro x São Paulo x Rio de

Janeiro). E, mais uma vez, a TAM vem com suas idéias inovadoras e passa a

chamar seus vôos de “Primeira Classe”. Sem fila, com serviço de bordo e

atendimento impecáveis, além da pontualidade extrema, direito a reserva de

assento e de horário de vôo. Detalhes que não eram permitidos aos

passageiros das empresas concorrentes da época (Varig, VASP e Transbrasil).

O resultado positivo veio rápido. Em três semanas, os seis vôos da TAM

tinham noventa e cinco por cento de ocupação.

20

Todo pensamento que originou a essência da cultura organizacional da

TAM tem como principal pilar o comandante Rolim e sua obsessão em fidelizar

e trazer para perto de si as pessoas. Não obstante a isso, quando tomou a

decisão de trazer o Fokker 100 para operar na ponte aérea ele foi

pessoalmente ao aeroporto, conversar com cada passageiro que embarcava

na aventura de conhecer aquela nova máquina e, a partir daquele momento ele

mudava completamente sua relação com o cliente. Como ele mesmo disse:

“Quando tomei a decisão de posicionar os aviões em

Congonhas, fui embarcar cada passageiro que se

aventurasse a entrar naquela máquina com 39metros de

comprimento que ninguém conhecia. E fui contar o que

era o avião, como era silencioso, moderno, e o que tinha

sido a sobrevivência da empresa para chegar ali. Eu

contava nossa história a todos quantos podia. E ao fazê-lo

recebi um apoio enorme. Uma solidariedade fantástica.

Assim, começamos a criar um relacionamento novo com o

cliente e com o mercado” (GUARACY, 2003, p.207).

2.4) TAM e comandante Rolim.

A imagem daquele homenzinho sempre com um sorriso largo nos

lábios ao lado do avião, a idéia inimaginável do presidente da companhia que

fazia questão de receber pessoalmente seus passageiros e o modo encantador

com que Rolim sabia enfeitiçar e seduzir seus interlocutores, como era de se

esperar, produziram seu efeito. Lentamente, os aviões foram ficando menos

vazios.

Neste momento, surgia o efeito da propaganda boca-a-boca, cuja força

Rolim ainda teria oportunidade de comprovar.

Nos contatos regulares que tinha com os executivos que viajavam em

seus aviões, Rolim sempre lhes deixava um cartão de apresentação, como

forma de demonstrar que estava sempre ao alcance de qualquer queixa ou

sugestão. E ganhava de volta, também, um cartão. Assim, nas manhãs de

21

Congonhas, quando recebia os passageiros na sala de embarque da TAM e

mais tarde os cumprimentava na escada dos aviões, colecionava um montinho

diário de cartões, novos contatos que mais tarde iriam se transformar num

banco de dados, seu mailing. Uma forma extremamente inteligente de criar sua

rede, seu networking.

Essa atitude deu origem à criação de um produto inovador,

revolucionário dentro da TAM, o Fale com o Presidente. Que até hoje é um

meio de comunicação efetivo e poderoso dos passageiros junto ao mais alto

escalão da companhia. E isso foi defendido ferrenhamente pelo comandante

Rolim que tinha como um trabalho diário, rotineiro mesmo após o encontro com

os passageiros em Congonhas:

“Todas as manhãs, depois que eu soltava os dois

Fokkers-100 e os aviões mais antigos, voltava ao meu

escritório sempre com cinco, seis cartões de visita de

cada cliente. Comecei a trocar correspondência com

todos. Passei a perguntar a eles se tinham feito boa

viagem, se estavam felizes com o vôo, se tinham alguma

sugestão de horário. Resultado: Começamos a criar um

vínculo direto com o cliente“. (GUARACY, 2003, p.208).

Rolim era extremamente versátil, podia comportar-se de forma teatral,

mas de uma maneira ou outra, sempre estivera ao lado do cliente. Aquele voto

de confiança que o passageiro dava à companhia era para ele como uma

dívida de gratidão eterna. Ele levava isso muito a sério e de certa forma

permitia que esse sentimento transparecesse. Mais uma vez, Rolim fazia dos

passageiros seus amigos.

A essência da política de Rolim foi sempre perguntar como era possível

criar identificação e um relacionamento duradouro baseado na fidelização com

o cliente. Quando ele se aproximava para conversar, destacava o cartão de

embarque no momento que o passageiro se dirigia ao avião, ou abaixava para

pegar um papel de bala no chão, ou mesmo limpava um tapete para

22

recepcionar seus clientes ou até apanhava a mala de alguém para ajudar.

Queria demonstrar o que ele chamava e intensificava como comportamento

adequado de seus funcionários para com os clientes do “espírito de servir”. Sua

satisfação traduzia-se, necessariamente, na satisfação do passageiro. E esse

era um sentimento verdadeiro, era muito perceptível o seu prazer em estar ali.

Mas, ele queria que o “espírito de servir”, um conceito cristão aplicado

na administração”, se espalhasse e penetrasse por toda a companhia, dos

diretores aos atendentes no balcão. Pregava a solidariedade e o espírito de

participação exacerbados. E, fazia isso com maestria através da força do seu

exemplo.

O ponto auge de toda essa ação era para ele a identificação do

passageiro com a companhia, e como os fazia se sentir seguros. Essa

identificação vinha com a personalização do presidente. Era ele quem garantia

tudo, da limpeza à segurança, era ele que fazia questão de ser o amigo dos

passageiros. Não havia melhor efeito tranquilizador do que saber que o próprio

presidente da companhia estava ali, zelando pela segurança e conforto de

todos a ponto de carregar pessoalmente os volumes trazidos pelas senhoras.

O que o fez ficar conhecido pela máxima de ser o carregador de malas mais

bem pago do aeroporto de Congonhas.

Era seu desejo que todos os colaboradores da companhia agissem e

pensassem como ele. Que colocassem o cliente em primeiro lugar, sempre. E

que sempre fizessem por quem escolhera a TAM, algo que nunca seria

esquecido.

Toda vez que resolvia o problema de alguém, Rolim entendia e tinha a

certeza de que conquistava sua confiança, além de sua fidelidade. Não por

coincidência, mas ele nunca chamava alguém que comprava um bilhete da

TAM de “passageiro”, ou seja, aquele que está somente de passagem. Para

ele, o passageiro era sempre o “cliente”, aquele que volta e, que junto com

eles, traz sua opinião, ajuda a companhia a crescer, e claro, faz a famosa

propaganda boca-a-boca. Trazendo mais e mais clientes, que precisam ser

encantados diariamente.

23

Em 1992, Rolim colocou um novo produto a serviço, com a roupagem

de produto e procedimento próprios, o Fale com o Presidente. Que aos poucos

se transformou num radar, passível de medição, por meio do qual o

comandante controlava a companhia de uma forma única e completamente

diferente. Passou a comandá-la não a partir do que achava certo ou do que os

diretores lhe traziam como informação, mas do que lhe dizia o cliente, o

consumidor e, maior interessado no serviço prestado, literalmente, o

consumidor. Ele se dispunha a ouvir qualquer coisa, das reclamações mais

sérias as mais simples. Transformava-se num “resolvedor” de problemas dos

seus clientes, daqueles para quem trabalhava sem descanso. Dava garantia de

que o presidente estava ali para resolver tudo. Acreditava que não havia

investimento supérfluo na hora de obter a fidelidade do cliente, tudo era válido.

24

CAPÍTULO III

Modelo de gestão

“Ganhar ou não é conseqüência da competição, da

oportunidade e até mesmo do caráter. O mais importante,

contudo, é a união em torno de um objetivo“. (Rolim

Adolfo Amaro).

3.1) Modelo de Gestão.

O ano de 1978, após uma turbulenta crise econômica de âmbito

nacional, foi dedicado a reorganizar, reestruturar a TAM. Rolim implantou um

modelo de gestão baseado no seu autodidatismo. Somou o que aprendera dos

ases dos negócios (fazendeiros e empresários com os quais teve contato na

sua época de piloto de táxi aéreo) com uma boa dose de esperteza própria,

inerente a sua personalidade. Fincou nesse ano a linha que norteou os rumos

da TAM para sempre. Cortou funcionários, reduzindo o tamanho da companhia.

O que o movia era a noção da empresa de serviços contemporânea, totalmente

dedicada à sua atividade-fim, que sempre foi o transporte de passageiros.

Procurou assim dispensar tudo o que era sinônimo de atividade-meio

tais como: alimentação (comida), representação comercial, publicidade. Rolim

demitiu da empresa todos e quaisquer funcionários que não estavam

envolvidos com a atividade central da empresa, alem de ter dispensado os

advogados. Ele acreditava que uma companhia que precisa de advogados tem

problemas demais. E, a solução para não contratar uma legião de bacharéis

em direito era nunca gerar problemas com os seus clientes, uma solução

simples e a melhor possível.

Rolim foi um pioneiro das terceirizações, no Brasil, quando a palavra

nem sequer existia.

Por ser um visionário, ele foi o maior incentivador para formação de

empresas em torno da TAM. Chegou a emprestar dinheiro aos funcionários

para que se desligassem da companhia e continuassem a lhe prestar serviços.

Era um modo de formalizar a terceirização de atividades, focar no que

25

realmente era o interesse principal da empresa e, ao mesmo tempo premiar

aqueles de quem gostava.

Ao terceirizar, Rolim orientou seus melhores esforços para onde

interessava o atendimento diferenciado ao cliente. O resultado foi um serviço

melhor e, simultaneamente, muito mais economia (com corte efetivo de

custos). Para ele, essas idéias sempre foram vitais. Como não tinha

mecanismos de controle da receita, já que a demanda era dada pelo mercado

e a política tarifária regida pelo governo, a única chance que tinha era de

administrar a companhia através das despesas, com a diminuição de aviões e,

consequentemente das rotas.

Rolim sempre administrou a TAM como empresa pequena mesmo

quando se tornou grande, com mais de oito mil funcionários. Contava com um

braço direito operacional e um grupo de diretores que participavam das

reuniões decisórias. E, o número deles nunca superou os dedos de uma mão.

3.2) Relação com o Funcionário.

Mesmo com o número crescente de contratações e, quando passaram

a se formar turmas de funcionários em admissão, Rolim nunca os deixava

ingressar na TAM sem antes passar por ele. Obrigava todos a um programa de

“integração”, para conhecimento da companhia como um todo, com diversas

palestras e cases, em que a atividade principal era assistir a uma palestra do

próprio comandante, do presidente-fundador da TAM, uma oportunidade.

Assim, ele firmava uma aliança não só com os clientes como com sua

força de trabalho, sua presença entre os funcionários, em todos os lugares e

em todos os momentos, além de parceiros e fornecedores.

A idéia de que o funcionário devia colocar a empresa em primeiro lugar

não tinha sido inventada por Rolim, mas era defendida por ele como forma de o

funcionário trazer para si e, entender a importância de uma vida inteira de

trabalho árduo para criação, construção e tentativa de se manter no mercado

mesmo diante de muitas turbulências que ainda estariam por vir.

26

Um de seus traços marcantes sempre foi o gosto pela pontualidade e

autoridade, características que para ele eram pontos fundamentais no seu

notório dom de liderança.

“Trate de incutir em cada empregado a noção da empresa

como um todo. Se o empregado pensa como empresa, a

empresa não tem empregados, tem empresários”. (Rolim

Adolfo Amaro).

Para Rolim, numa organização, as pessoas precisam saber como os

diretores, aqueles domadores de decisão, pensam, agem e reagem, Porque a

partir desse momento elas passam a resolver os problemas. Sem isso, elas

não acreditarão em si mesmas e, não terão condições de fazer o precisa ser

feito.

Nas palavras do comandante:

“Todo mundo pensa que a TAM é uma empresa de um

homem só. É burrice desgraçada. Eu fiquei um ano fora

da TAM, doente, não aconteceu nada. Ela cresceu mais

do que se eu estivesse aí. Dizem, essa empresa é do One

Man Show. Mas as equipes têm de tomar a gestão e levá-

la a peito”. (GUARACY, 2003, p.413).

“Por isso, eu aprendi uma coisa muito cedo. Se você quer

tratar bem o cliente e não pode estar em todos os lugares

onde ele está, só há um jeito. Trate bem as pessoas que

o fazem em seu nome”. (GUARACY, 2003, p.415).

Para que as suas coordenadas fossem bem entendidas, Rolim criou

algumas regras, que ele chamou de: Os 7 mandamentos da TAM.

1) Nada substitui o lucro – o lucro é legítimo, produto do trabalho e, se

tiver lucro pode-se pagar um salário melhor para seus funcionários;

27

2) Em busca do ótimo não se faz o bom – O comandante Rolim

acreditava que deveria buscar sempre o bom. Pois, acreditava que

numa cadeia de serviços era sempre muito difícil fazer o bom.

3) Mais importante que o cliente é a segurança – Para ele o cliente

deveria escolher sempre uma empresa aérea lucrativa, pois essa

não vai fazer economia na manutenção das aeronaves.

4) A maneira mais fácil de ganhar dinheiro é parar de perder – Se fazia

importante entender que de cada situação, mesmo que negativa,

uma situação positiva. E, enxergar o que pode ser evitado é

fundamental.

5) Pense muito antes de agir – A precipitação pode causar estragos

irreparáveis.

6) A humildade é fundamental – Todos precisavam ter o mesmo

comportamento. Para Rolim, não existia nada que não pudesse ser

feito melhor, para isso todos, sem exceção, deveriam interagir e

entender os propósitos da empresa e, se sentirem, se tratarem

como iguais.

7) Quem não tem inteligência para criar tem que ter coragem para

copiar- “Em produto, em preço, alguém sempre vai estar te

superando. Mas uma relação construída com o cliente, essa

ninguém vai tirar”. (GUARACY, 2003, p.427).

28

3.3) O Marketing

Rolim tinha como objetivo que a TAM tivesse a cara de São Paulo,

mais precisamente do aeroporto de Congonhas. Para tanto, apostou e investiu

em rotas que nasciam neste aeroporto central, que acreditava ser o mais

importante do país e, para firmar ainda mais essa idéia em 1993 passou a

patrocinar o São Paulo Futebol Clube, seu clube de coração e símbolo paulista.

A imagem construída, de modo a passar uma identidade clara e

objetiva, pela TAM, transformou-se em uma enorme vantagem competitiva,

percebida a olhos vistos com a sua crescente participação no mercado nos

anos noventa.

Aos pouco, as ações de marketing multiplicaram-se vertiginosamente

dentro da companhia. O comandante Rolim, não perdia oportunidade de fazer

barulho e mostrar que sua companhia era diferente. Os jatos da TAM eram

aproveitados e se transformaram em outdoors, com brincadeiras, homenagens

ou pura informação publicitária.

O seu conselheiro publicitário, Mauro Salles, foi um dos principais

articuladores da associação do comandante Rolim como símbolo da TAM,

companhia aérea mais lucrativa do país naquele momento. Ele reforçava a

insistentemente a idéia de que a TAM tinha que ser “A TAM do Rolim”. Além de

ajudar Rolim a aproveitar as pequenas idéias que produziam grandes

resultados. Com o publicitário, Rolim começou a refletir mais sobre o papel

desempenhado pelo líder, por ele próprio, em suas empresas, pois são

instituições que dependem da credibilidade de suas lideranças, para com a

imprensa e a aviação.

Rolim tinha uma faceta de astro popular. Com isso, Mauro Salles

acreditava que o grande poder da TAM era essa imagem que Rolim já

construíra perante os seus públicos. E, isso reforçava ainda mais a teoria de

que devia identificar companhia com seu dono, o que ela tinha de único e

original.

Quando o processo de fidelização começou a ter relevante importância

na venda de bilhetes aéreos, foi Salles quem sinalizou para o comandante a

idéia de criar um Cartão Fidelidade. Cujo mecanismo deveria ser diferente das

29

demais companhias. A idéia era de que a cada dez trechos voados, o cliente

ganhasse um, sem restrição de destino ou época. Não havia troca de

milhagens para receber o benefício. O cliente só poderia voar TAM, ou seja,

ser fiel.

Rolim gastava uma pequena fortuna para que o cliente ganhasse

segundos no balcão porque mantinha sua fé na força dos detalhes. Apesar do

empenho em trazer novos aviões e investir em tecnologia, o tratamento

dedicado ao cliente ainda era o seu grande trunfo.

3.4) Referência no mundo cooporativo.

Muito mais que do que pelos resultados, prêmios que ganhou ou

charme que eram exibidos em seus discursos, era, principalmente, pelo tipo de

relacionamento que Rolim cultivava e mantinha que o transformava em uma

verdadeira celebridade nacional. A imagem construída de forma sólida pela

TAM transformou-se em uma enorme vantagem competitiva, percebida a olhos

vistos com a sua crescente participação no mercado nos anos 90.

Os prêmios recorrentes e repetitivos de excelência empresarial

atraíram a tensão da imprensa. Para os jornalistas, Rolim era muito mais que

um exemplo de empresário brasileiro reconhecido em território nacional e no

exterior pela maneira de obter grandes resultados. A imprensa o percebia como

um homem ousado, cheio de golpes de criação, talento nato para o marketing e

que lutara obstinadamente e como ninguém pela abertura de mercados

brasileiros. Em resumo, era um herói nacional do empresariado, do tipo feito

por si mesmo como havia poucos no Brasil.

Personagem cativante com seus aforismos desconcertantes e seus

métodos originalíssimos, tudo nele se tornara extraordinário. O simples fato de

levanta-se cedo, ficar a espera dos passageiros com o tradicional e

inconfundível tapete vermelho, seu gosto por motocicletas - cada detalhe

ganhava um toque de excentricidade que os jornais e revistas de negócios

adoravam e, tinham como ponto auge para produção de suas matérias.

Embora voltadas para públicos diferentes, suas palestras sempre

tinham um ponto de interesse em comum: o papel principal da empresa de

30

serviços. Assunto em que ele se tornara o mestre e, em especial uma

referência do mercado brasileiro.

Comparecia um tanto por vaidade, como também pela oportunidade de

consolidar entre executivos, empresários e vendedores – afinal, o seu público

alvo, seus steakholders – a imagem que construíra ao longo de sua trajetória.

Os resultados da TAM tinham endossado, verdadeiramente, sua fama. Todos

estavam interessados na fórmula mágica com que Rolim criara a companhia

mais brilhante do país.

3.5) Consolidação da fidelização dos steakholders.

A consolidação real do apoio e confiança que o público depositava na

TAM foi mais que percebida quando houve o acidente do Fokker-100 no

Jabaquara, em 1996.

Nos dias que se seguiram ao acidente, apesar do enorme barulho que

se ouvia fora da empresa, a TAM ficou em silêncio. Não a TAM enquanto

companhia aérea perante os parentes das vítimas, mas sim os telefones do

serviço “Fale com o Presidente” que emudeceram instantaneamente. Além das

caixas de correio que esvaziaram.

Neste momento, Rolim entrou totalmente em pânico. Para ele, perder o

contato que cultivara durante anos com o cliente era como chegar ao fundo do

poço. Sem muitas opções, sentiu-se abandonado pelos passageiros, cuja

proximidade tanto cultivara. Isso o liquidava.

Porém a postura de encarar e não fugir de suas responsabilidades, que

foi adotada por Rolim diante da tragédia e, a sólida relação que havia

construído com seus clientes se mostraram poderosíssimas em um momento

tão inusitado, como foi o do acidente. Que após confirmação de falha na

construção do Fokker e, comprovação a inocência da TAM, os clientes foram

ainda mais solidários e presentes da companhia, ou seja, do comandante

Rolim.

31

CAPÍTULO IV

As frases que nortearam a trajetória da empresa

Célebres “ditos” de Rolim Adolfo Amaro

“Empresa aérea precisa ter a cara o dono” (Guaracy, 2003, p.431)

“Para ganhar credibilidade, é preciso uma interminável série de ações corretas

diariamente. Para perdê-la, basta um erro” (Guaracy, 2003, p.431)

“Trabalhe na causa, não no efeito” (Guaracy, 2003, p.431)

“O salário justo e a recompensa são essenciais à vida e ao futuro da empresa”

(Guaracy, 2003, p.433)

“Procure caracterizar sempre a estabilidade na empresa; o medo do

desemprego é mau companheiro” (Guaracy, 2003, p.433)

“O melhor vendedor é o homem motivado” (Guaracy, 2003, p.433)

“As empresas de prestação de serviços ao público precisam,

intensamente,levar em conta aquilo que chamo de espírito de servir. Por isso,

selecionamos aqui pessoas que trabalham com o espírito servidor” (Guaracy,

2003, p.434)

“Ganhar ou não é conseqüência da competição, da oportunidade

e até mesmo do caráter. O mais importante, contudo, é a união em torno de

um objetivo” (Guaracy, 2003, p.434)

“O pior cliente que existe é o cliente silencioso. Esse não costuma ser fiel a

nada. Nós queremos que o cliente interaja conosco, nos escreva, nos critique”

(Guaracy, 2003, p.434)

32

“A única forma de se perpetuar uma empresa a longo prazo é fazer negócios

de maneira ética” (Guaracy, 2003, p.435)

“O limite de nosso crescimento deve ser a qualidade dos nossos serviços”

(Guaracy, 2003, p.435)

“Quando você dia não a uma proposta, você não está priorizando o produto.

Quando você não responde,não está priorizando as pessoas”

(Guaracy, 2003, p.436)

“É preciso encontrar na imaginação uma fonte permanente para criar novos

serviços, sedimentar uma postura correta junto ao mercado e adotar

internamente uma política motivadora do nosso pessoal, de forma a executar o

trabalho com entusiasmo” (Guaracy, 2003, p.435)

33

CONCLUSÃO

Rolim, grande homem, empresário brilhante e de qualidades

incomparáveis desapareceu como viveu, no limite entre a audácia e a

imprudência, como piloto e empresário, características que o acompanharam

durante toda sua vida. Um homem impulsivo, incansável, que fazia do

movimento, a sua própria vida. Sempre que algum desafio insuperável se

pusera na sua frente, sua atitude fora a de seguir adiante, jamais recuar e

mostrar que tudo era possível.

Ele sempre pensou na única coisa que realmente importara em sua

vida: a construção de relacionamentos com as pessoas fossem os clientes a

quem fazia questão de receber pessoalmente ao sopé das escadas dos seus

aviões ou mesmo os seus colaboradores. O comandante Rolim sempre deu ao

ser humano um supremo valor. E isso ficou explícito naquilo que, para ele,

devia ser indissociável da existência de um homem, e que ele fizera ao longo

de toda a vida... Sonhar!

Para ele, conquistar, seduzir e fidelizar seus clientes fazia parte do que

realmente se tornou a essência da cultura organizacional da TAM, que através

da figura de seu herói mor imprimiu sua marca de modo irrevogável no

mercado nacional. A imagem da TAM e de Rolim sempre estiveram associadas

de modo que em muitos momentos chegaram a se confundir.

A construção de um império completamente voltado ao atendimento

diferenciado ao cliente, com foco em entender a sua necessidade e trazer uma

solução a contento, marcou a linha de administração da TAM que se “rolinizou”,

a ponto de mesmo após uma década de sua morte continuar como sinônimo de

qualidade e referência de excelência no que se refere ao atendimento ao seu

público, seus clientes.

34

Isso foi o que de mais real o comandante Rolim deixou como legado

para o mercado nacional, revolucionando o mundo corporativo brasileiro e,

deixando para sempre a sua marca de maior força, uma filosofia de vida e

empresarial que permeia até hoje a companhia e seus colaboradores, o tão

famoso e defendido “Espírito de Servir.” Não apenas para com os clientes, mas

também com os colaboradores da empresa.

“É preciso mostrar o que é possível realizar” (Rolim Adolfo

Amaro).

35

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

GUARACY, Thales. O sonho brasileiro. Como Rolim Adolfo Amaro criou a TAM

e sua filosofia de negócios. 4ª. ed., São Paulo: Girafa Editora, 2003

KELLER, Kátia. Comunicação Organizacional, sobrevivência empresarial. 2ª.

ed., São Paulo: Olho d`agua, 2006.

YANAZE, Mitsuru Higuchi. Org. Marketing & Comunicação. Funções, conceitos

e aplicações. São Paulo: Editora STS, 2006.

AMARO, Noemy A. O. Comadante Rolim. A magia da palavra. A estratégia do

homem que revolucionou o atendimento ao cliente no Brasil. São Paulo:

Futura, 2001.

36

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

A História de um herói 09

1.1) Garoto pobre e sonhador 10

1.2) A figura do homem trabalhador 11

1.2.1) O diferente 12

1.3) Visão de futuro 14

CAPÍTULO II

A construção de uma imagem 15

2.1) Entendendo a cultura organizacional 15

2.2) A construção da cultura 16

2.3) O segredo. Visão e relacionamento com as pessoas 17

2.4) TAM e comandante Rolim. 20

37

CAPÍTULO III

Perpetuação e estabilidade da imagem 24

3.1) Modelo de gestão 24

3.2) Relação com o funcionário 25

3.3) Marketing 28

3.4) Referência para o mundo coorporativo 29

3.5) Consolidação e fidelização do steakholders 30

CAPÍTULO IV

As frases que nortearam a trajetória 31

CONCLUSÃO 33

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 35

ÍNDICE 36