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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
O SOFRIMENTO MENTAL E AS POSSIBILIDADES DO PLANO
DE QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
Por: Tatiana Guimarães do Espírito Santo
Orientador
Prof. Vinicius Calegari
Rio de Janeiro
2012
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
O SOFRIMENTO MENTAL E AS POSSIBILIDADES DO PLANO
DE QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Gestão de Recursos Humanos.
Por: Tatiana G. do E. Santo
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pelas circunstâncias
que possibilitaram a continuidade do meu
aprendizado, ao meu pai e irmão que
sempre me incentivam, ao meu namorado
pela compreensão, às minhas amigas
Daniele, Mariana, Raquel, Helane e
Débora que compartilharam comigo essa
experiência, e aos meus eternos colegas
da Psiquiatria do Hospital Universitário
Pedro Ernesto, Tânia, Gabriela e Luiz
Villano.
4
DEDICATÓRIA
Dedico essa monografia a memória do
meu eterno anjo Angelita...
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RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo propor reflexões na relação
trabalho, saúde e sofrimento mental e qualidade de vida. Em nossa sociedade,
quando a organização do trabalho é favorável, as exigências intelectuais,
motoras ou psicossensoriais da tarefa e do posto de trabalho, ficam em
consonância com as necessidades do trabalhador, assim o desempenho do
trabalho flui melhor, contribuindo de forma positiva para a saúde do indivíduo.
Com isso, a Qualidade de Vida no Trabalho busca, atualmente, resgatar a
humanização do ambiente da empresa, com destaque para o cargo, interações
e políticas de organização. A elaboração de um plano de Qualidade de Vida
busca além dos limites da empresa, mas o bem-estar geral do trabalhador em
todos os ambientes que freqüenta, procurando, numa visão institucional,
monitorar as variáveis que determinam o ambiente tecnológico, psicológico,
sociológico, político e econômico do trabalho.
Palavras - chave: Sofrimento mental – Trabalho – Qualidade de Vida -
Satisfação
6
METODOLOGIA
A metodologia utilizada para esse trabalho foi constituída por pesquisa
bibliográfica através de livros e sites para obtenção do referencial teórico.
Tais recursos me garantiram material para desenvolver a pesquisa
supracitada.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - A loucura 10
CAPÍTULO II - Saúde Mental e Trabalho 16
CAPÍTULO III – Trabalho, Loucura e Qualidade de Vida 21
CONCLUSÃO 33
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 37
ÍNDICE 39
8
INTRODUÇÃO
A escolha da temática se deu devido, especialmente, à minha
experiência na área da Psiquiatria, a minha formação em Serviço Social e a
incidência de casos na saúde mental com questões voltadas para o mundo do
trabalho. Dessa forma, considerando as motivações mais especificas que
envolvam a escolha por essa temática, o processo de loucura e trabalho e a
elaboração de um Plano de Qualidade de Vida, esse é um assunto que me
interessa pessoalmente e que busca alguns nortes para uma temática cada
vez mais presente na vida dos trabalhadores.
E como o departamento de Recursos Humanos deve elaborar um plano
de qualidade de vida no trabalho que amenize o sofrimento mental dos
funcionários? Considera-se o trabalho fundamental para a qualidade de vida
dos sujeitos, pois contribui para a manutenção da saúde física, mental e social
do indivíduo. Ou seja, quando a organização do trabalho é favorável, as
exigências intelectuais, motoras ou psicossensoriais da tarefa e do posto de
trabalho, ficam em consonância com as necessidades do trabalhador, assim, o
desempenho do trabalho flui melhor, contribuindo de forma positiva para a
saúde do indivíduo. A qualidade de vida e a produtividade desenvolvem-se de
forma alinhada. Por outro lado, quando não há essa consonância, o trabalho
pode provocar um sofrimento atribuído ao choque de uma história individual
com a da organização do trabalho. Portanto, a análise da organização do
trabalho (formas de gestão até a organização temporal do trabalho e as
relações inter-hierárquicas e interpessoais) vem ocupando um lugar central,
buscando entender as vinculações entre saúde mental e trabalho, para, assim,
identificar perspectivas preventivas. Com isso, a Qualidade de Vida no
Trabalho busca, atualmente, resgatar a humanização do ambiente da
empresa, com destaque para o cargo, interações e políticas de organização. A
elaboração de um plano de Qualidade de Vida busca além dos limites da
empresa, mas o bem-estar geral do trabalhador em todos os ambientes que
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freqüenta, procurando, numa visão institucional, monitorar as variáveis que
determinam o ambiente tecnológico, psicológico, sociológico, político e
econômico do trabalho. que muitas vezes são excluídos do mercado de
trabalho, sem grandes possibilidades de reinserção.
E esse é meu objetivo com esse trabalho, promover uma analise sobre a
importância do planejamento do Plano de Qualidade de Vida no Trabalho para
a saúde dos funcionários.
Para responder a pergunta do problema que norteou a pesquisa, ou
seja, é possível elaborar um plano de qualidade de vida no trabalho que
amenize o sofrimento mental dos funcionários, é preciso levar em
consideração o fato que o plano de qualidade de vida no trabalho amenizará o
sofrimento mental dos trabalhadores a partir do momento que forem
desenvolvidas estratégias de prevenção e intervenção que gerem satisfação
ao trabalhador.
O primeiro capítulo, denominado a Loucura, traz a trajetória desse
campo e os principais significados que ela ocupa socialmente até os dias
atuais. O Capítulo 2, Saúde Mental e Trabalho, problematiza o referido campo
Saúde Mental e Trabalho, a partir da construção social do campo da Saúde do
Trabalhador e a tensa relação entre saúde mental do trabalhador e a
centralidade do trabalho no cotidiano da existência social como sujeitos em
relação de produção econômica e social. E o Terceiro capítulo, chamado de
Trabalho, Loucura e Qualidade de Vida, aponta a possibilidade de oferecer
aos funcionários a vivência do trabalho de forma mais positiva, através da
elaboração do Plano de Qualidade de Vida.
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CAPÍTULO I
A LOUCURA
O CONCEITO
O presente capítulo tem como objetivo realizar o resgate teórico acerca
dos conceitos relacionados à temática da loucura, proporcionando um breve
histórico do significado desse conceito em nossa sociedade.
1.1 – A História da Loucura
A loucura é algo variável na sociedade conforme são também, os
costumes, o que é normal numa sociedade, pode ser doença na outra. É assim
que ao longo dos anos se percebe uma variação em relação ao trato da
loucura.
Durante muito tempo, a loucura ocupou o papel das significações
religiosas e mágicas. Ou seja, o louco era considerado como possuído, um
doente ignorado. Existem relatos que por vezes a medicina interferiu no
problema da possessão, já que de fato ela não estava associada a historia da
loucura, mas sim das idéias religiosas.
No entanto, segundo Foucault (1991), desde a medicina grega já havia
estudos sobre noções de patologia e das práticas ligadas à loucura. E apesar
disso, os loucos viviam livres na sociedade.
É na Idade Média que ocorre o rompimento da cultura ocidental com a
concepção hospitaleira da loucura. A desestruturação da economia feudal e o
advento do capitalismo fizeram surgir uma nova concepção sócio-histórica,
dando espaço para novos tipos de problemas. Surge um grande número de
11
desempregados que se juntam a vagabundos, ladrões e loucos, e criam-se os
hospitais gerias (internação) como forma de reprimir essa população. Assim,
não só o louco, mas todos aqueles que não se enquadravam na ordem moral
(leprosos, prostitutas, ladrões, vagabundos, loucos) eram internados, e surgia
assim a idéia de exclusão.
Nesse período, além disso, os estabelecimentos de internação não
tinham vínculo com o cuidado médico, eram destinados apenas a prestar
assistência aos indivíduos que deviam ser “retirados” do convívio social, já que
essa população abrigada era “incapaz” de produzir riquezas para a sociedade
capitalista.
No século XVIII, com a Revolução Francesa, o lema de “Liberdade,
Igualdade e fraternidade” ganha força e questões ligadas à cidadania passam
a ser discutidas. Neste período ocorrem também diversas denúncias sobre a
assistência que era prestada nas instituições de internação. Pensa-se então
em novas formas de auxílio financeiro aos pobres e a prestação de assistência
a grupos específicos. Toda aquela população de indivíduos excluídos se torna
importante, menos os loucos. Estes continuam sobrando e encarcerados já
que eram considerados violentos.
É nesse contexto que a loucura se transforma em "doença mental" e a
internação assume uma nova significação, de caráter médico. Assim, a
medicina se põe como detentora de um saber, que é a cura da alienação
mental. E com Philippe Pinel, nasce a ciência psiquiátrica. A proposta de
tratamento terapêutico do louco apresentada por Pinel passa a ser o
asilamento.
O século XVII representou um momento de mudança na forma como o mundo percebia a loucura, surgiu uma nova modalidade de hospitais, não mais exclusivamente filantrópicos, mas que passaram a cumprir uma função de ordem social e política mais explicita (Amarante, 2007, p.23).
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Nesse contexto, o manicômio se tornou parte essencial do tratamento já
que a cura e a internação eram indissociáveis do tratamento. Justificava-se
que apenas com a observação dos sinais e dos sintomas é que o médico
poderia conhecer melhor a doença e tratá-la. Data desta época o paradigma
que dura até hoje: a suposta distinção entre loucura e normalidade.
Após a 2ª Guerra Mundial, no século XX, surgiam na Europa e nos
Estados Unidos os primeiros movimentos que buscavam uma transformação
mais efetiva do modelo de tratamento manicomial. As novas propostas de
tratamento visavam romper com esse paradigma criado na época de Pinel,
propondo a substituição do tratamento manicomial e questionando o saber
psiquiátrico.
Entre as propostas de Reforma Psiquiátricas mais importantes no que
diz respeito a sua inovação ou impacto na sociedade estão: as Comunidades
Terapêuticas (Inglaterra) que tinham como proposta chamar a atenção da
sociedade para a realidade dos manicômios onde a situação dos internos
lembrava aquela dos campos de concentração. Teve também a proposta da
Psiquiatria de Setor (França) que tem uma particularidade, pois ela acreditava
que o hospital psiquiátrico correspondia a apenas uma etapa do tratamento,
antes do principal momento, que é a própria comunidade. A Psiquiatria
Preventiva (Estados Unidos) foi uma proposta que representou um nível de
superação das reformas restritas ao espaço asilar, caracterizando um novo
território para a psiquiatria. A Antipsiquiatria (Inglaterra) foi outro modelo de
grande importância para essa transformação do cuidado com o portador de
transtorno mental. E por último, a Psiquiatria Democrática Italiana (Itália) que
deu um novo sentido para o conceito de desinstitucionalização.
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1.2 – A Loucura no Brasil
Um grande marco na história da loucura brasileira é o período chamado
de Reforma Psiquiátrica que ocorreu no final do século XX. Embora, a
aparição do louco no cenário brasileiro tenha se dado em contexto de
sociedade rural e colonial.
Nos séculos XVI e XVII, foram criadas as Santas Casas de Misericórdia
e outras instituições de caridade para receberem os loucos que perambulavam
pelas ruas, e eram considerados uma ameaça. Nessas casas, os loucos
ficavam misturados com criminosos, mendigos, e não recebiam nenhuma
espécie de assistência médica. Além disso, havia maus tratos e essas casas
funcionavam para abrigar qualquer individuo que perturbasse a paz social.
Nas famílias abastadas, os loucos ficavam escondidos em suas próprias
casas. Nesse contexto de sociedade escravocrata e rural, no século XIX, com a
vinda da Família Real para o Brasil, o Estado passa a se preocupar com a
loucura e cria o primeiro hospital psiquiátrico brasileiro, Hospício de Pedro ll,
inaugurado pelo imperador Pedro II.
A influência dos alienistas era notável em todas as instituições da
época. Nesses lugares, os médicos podiam ampliar seus conhecimentos e
sugerir ao Estado a adoção de novas técnicas psiquiátricas.
Ainda no governo de Getúlio Vargas (de 1930 até 1945), médicos
brasileiros, influenciados pelas práticas de Pinel, reivindicavam mudanças no
tratamento aos loucos, na tentativa de algo mais “humano”. A partir daí, o
louco passa a ser considerado como enfermo, porém, ainda destituído da
razão, alienado e não considerado como sujeito. Neste período, os
ambulatórios e dispensários de higiene mental e assistência social passam a
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ser destinados a realizar o trabalho de aplicação de meios tendentes a evitar a
doença mental ou a sua propagação.
No Brasil, é só a partir da década de 70, segundo Resende (1987), que
se pensou em realmente tratar o louco. O discurso da época condenava o
macro-hospital, e propunha a regionalização do tratamento além de
alternativas à hospitalização integral e prolongada, ações dirigidas aos
egressos dos hospitais psiquiátricos e campanhas para a reabilitação dos
crônicos.
Neste período (até o final da década de 80), a assistência médica
brasileira caracterizava-se por ser um sistema que garantia o privilégio de
direitos apenas para alguns segmentos da população. O acesso à saúde,
assim, era limitado apenas àqueles que estavam formalmente ligados ao
mercado de trabalho através do pagamento da previdência social. Ao resto da
população, oferecia-se um serviço baseado apenas na promoção de saúde e
prevenção de doenças, o que se configurava como as ações de saúde pública.
Na década de 80, no entanto, o Brasil viveu uma forte crise econômica,
o que piorou as condições de vida da população, e fez com que muitos
movimentos sociais e políticos se manifestassem pela construção de uma
sociedade democrática, como foi o caso da Reforma Sanitária que possibilitou
um novo contexto institucional, definindo seus novos atores no campo da
política de saúde.
Após um longo período de intensa repressão pelo regime militar, esse
momento também permitiu a criação do Movimento dos Trabalhadores em
Saúde Mental. Este movimento trouxe o questionamento sobre as políticas da
época, lutando por uma “sociedade sem manicômios” e remetendo á
sociedade, a discussão sobre a desinstitucionalização. Paralelo a isso, surgem
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diversas denúncias de violência e maus-tratos aos pacientes internados nos
grandes hospícios do país.
No ano de 1980, inicia-se no Rio de Janeiro, um processo entre o
Ministério da Saúde e o Ministério da Previdência para a administração dos
hospitais públicos, permitindo a abertura de um importante espaço de luta do
Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MSTM).
Ainda no final da década de 80, ocorre a I Conferência Nacional de
Saúde Mental ganha forte expressão o Movimento Nacional da Luta
Antimanicomial (desdobramento do Movimento dos Trabalhadores em Saúde
Mental), ao chamar toda a sociedade para discutir as questões da loucura.
Agora a loucura e os cuidados com ela são discutidos em encontros e
conferências, do âmbito local ao nacional.
Nos anos de 1987 e 1989, são criados os primeiros serviços
substitutivos brasileiros, chamados de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial)
ou de NAPS (Núcleos de Atenção Psicossocial).
Somente em abril de 2001, há a aprovação da Lei da Saúde Mental, a
Lei no. 10.216/01, com diversas alterações em relação ao texto original, a lei
representou um avanço na luta pelos direitos dos usuários no campo da saúde
mental.
É importante mencionar que o período de reforma na área da saúde no
país, na década de 80, foi essencial para o desdobramento de tantas outras
questões, tanto para o campo da saúde mental como para o da saúde do
trabalhador.
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CAPÍTULO II
SAÚDE MENTAL E TRABALHO
O CONCEITO
O presente capítulo tem como objetivo abordar a relação da concepção
de saúde mental com os impactos causados pelo trabalho ao sujeito que é
constituído de uma história pessoal e sócio-cultural.
2.1 – Saúde Mental e Trabalho: Apontamentos Necessários
Pode-se dizer que a Saúde do Trabalhador tem muito a contribuir com
os estudos sobre o processo de saúde-doença dos trabalhadores, no entanto,
para dar conta de como determinadas organizações de trabalho afetam a
saúde mental dos trabalhadores, surge a Saúde Mental no Trabalho.
Segundo Seligmann (1996), as relações entre Saúde Mental e Trabalho
tendem a estruturar-se como um novo campo de estudos que, talvez pela
complexidade da interdisciplinaridade a que envolve, ainda não obteve uma
denominação definitiva. Assim, utilizar a denominação Saúde Mental do
Trabalho como campo de estudos, seria focalizar também a Saúde Mental
como processo onde as agressões dirigidas à mente pela vida laboral são
confrontadas pelas fontes de vitalidade e saúde, representadas pelas
resistências de natureza múltipla, individuais e coletivas, que funcionam como
preservadoras da identidade, dos valores e da dignidade dos trabalhadores.
Portanto, para Seligmann (1994), o trabalho, conforme a situação pode
fortalecer a saúde mental como também levar a distúrbios que se expressarão
coletivamente em termos psicossociais e/ou individuais, em manifestações
psicossomáticas ou psiquiátricas.
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É por isso que aprofundaremos neste trabalho a discussão sobre os
impactos do trabalho na saúde dos trabalhadores. Para que a partir dessas
reflexões, possamos pensar um Plano de Qualidade de Vida que amenize os
impactos negativos do trabalho.
Em alguns casos, o trabalho contribui para a manutenção da saúde
física, mental e social do indivíduo, isso se a organização do trabalho for
favorável, quando as exigências intelectuais, motoras ou psicossensoriais da
tarefa e do posto de trabalho estão em consonância com as necessidades do
trabalhador, assim, o desempenho do trabalho flui melhor, contribuindo de
forma positiva para a saúde do indivíduo.
Dessa forma,
a análise da organização do trabalho (formas de gestão até a organização temporal do trabalho e as relações inter-hierárquicas e interpessoais) vem ocupando um lugar central, buscando entender as vinculações entre saúde mental e trabalho, para, assim, identificar perspectivas preventivas. As situações de trabalho, compreendem, além dos aspectos organizacionais, os aspectos do ambiente físico, químico e biológico, que tradicionalmente eram os únicos estudados em Medicina do Trabalho; analisam ainda as múltiplas interações existentes, por um lado, entre os componentes internos destas situações de trabalho e, pelo outro, as conexões destes componentes ao contexto sócio-político e econômico (SELIGMANN, 1997:96).
Segundo Dejours (1992), a organização do trabalho exerce, sobre o
homem, uma ação específica, cujo impacto é o aparelho psíquico. Em certas
condições, emerge um sofrimento que pode ser atribuído ao choque entre uma
história individual, portadora de projetos, de esperanças e de desejos, e uma
organização do trabalho que os ignora. Esse sofrimento, de natureza mental,
começa quando o homem, no trabalho, já não pode fazer nenhuma
modificação na sua tarefa, no sentido de torná-la mais conforme às suas
necessidades fisiológicas e a seus desejos psicológicos – isso é, quando a
relação homem-trabalho é bloqueada.
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Para dar conta da análise do processo saúde-doença, do significado do
trabalho para o trabalhador, da possibilidade do mesmo indivíduo poder
exercer ou não sua criatividade, encontrando ou não prazer na atividade
desenvolvida, obter um reconhecimento, enfim, de suas implicações na vida
psíquica de cada individuo, o campo da saúde mental no trabalho conta com
saberes de algumas disciplinas socialmente reconhecidas.
Neste trabalho, apresentaremos os modelos de explicação das relações
entre saúde mental e trabalho utilizados por autores Fernandes (2006). Este
destaca como principais: a corrente de abordagem do desgaste, das condições
gerais de vida e trabalho, do estresse, da ergonomia e da psicopatologia do
trabalho.
Na abordagem do desgaste, adota-se o processo de trabalho como
elemento fundamental de análise. Dessa forma, o processo de trabalho e a
carga de trabalho são visualizados como categorias analíticas na
compreensão dos aspectos biopsicossociais que exercem influência no
processo saúde-doença (mental), buscando-se a superação da noção de risco.
Os estudos que buscam a abordagem do desgaste na demarcação da
relação entre trabalho e saúde (mental) encontram, portanto, dificuldades na
sua concretização, uma vez que o mesmo deve ser mensurado através de
sinais e sintomas inespecíficos e que, muitos deles, são ocasionados por
inúmeros fatores ao longo da vida dos indivíduos.
Na abordagem das condições gerais de vida e trabalho, a ocupação é o
elemento central para a compreensão do processo saúde-doença. Neste
processo tem-se, por um lado, fatores vinculados ao modo de vida e, por outro,
a inserção do indivíduo na estrutura ocupacional.
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Dessa forma,
As condições gerais de trabalho, considerando a diversidade de ocupações e sua heterogeneidade estrutural, ocorrem concomitantemente a problemas relacionados às condições de vida. Portanto, uma série de aspectos da situação de trabalho e do sobretrabalho podem atuar de forma conjunta no desencadeamento de transtornos mentais, onde vários aspectos se interrelacionam (FERNANDES, 2006: 4).
Outra abordagem, analisada por Fernandes (2006), é a do estresse.
Nesta, o estresse aparece como um desequilíbrio entre as demandas do
trabalho e a capacidade de resposta dos trabalhadores.
A abordagem ergonômica é entendida como um campo multidisciplinar
(engenharia, medicina, psicologia, sociologia, psicofisiologia e economia).
Nesta abordagem, adota-se os fatores psicossociais como eixo de análise no
processo saúde-doença.
Os ergonomistas contribuem para o planejamento, projeto e a avaliação
de tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas, de modo a
torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das
pessoas em ambiente de trabalho.
A ergonomia colabora ao desenvolver um conceito muito utilizado na
saúde mental no trabalho. Este recebe a denominação de “carga de trabalho”,
e refere-se aos esforços específicos, referidos ao trabalho, no qual estariam
contidos, basicamente, três aspectos: o físico, o cognitivo e o psicoafetivo.
A última abordagem adotada por Fernandes (2006) é a da
psicopatologia do trabalho. Esta abordagem tem, como categoria central de
análise, a organização do trabalho e o sofrimento mental. Nela, enfatiza-se o
papel das defesas adotadas pelos trabalhadores, como mecanismos de
manutenção do equilíbrio psíquico. A psicopatologia do trabalho enfatiza a
centralidade do trabalho na vida dos trabalhadores, analisando os aspectos
dessa atividade que podem favorecer a saúde ou a doença.
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A partir dessa revisão teórico-conceitual, podemos notar que o campo
da Saúde do Trabalhador e da Saúde Mental e Trabalho possuem muitos
elementos que nos ajudam a compreender as questões postas pelos
trabalhadores no cotidiano dos serviços de saúde mental quando demandam
atendimento. Por isso, ao conhecermos vertentes analíticas da saúde mental
no trabalho, percebemos que além das condições de trabalho, outras
condições sociais da vida dos sujeitos estão implicadas na sua existência,
como alimentação, moradia, saneamento, transporte. E como tudo isso
influencia no desgaste e cansaço desses trabalhadores.
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CAPÍTULO III
TRABALHO, LOUCURA E QUALIDADE DE VIDA
O CONCEITO
O último capítulo deste presente trabalho chama atenção para o desafio
do setor de Recursos Humanos ao atuar na implantação de Planos de
Qualidade de Vida diante das diversas abordagens que essa temática pode ter
e apresentar um breve estudo de caso exemplificando uma situação real de
intervenção.
3.1 – O trabalho e a satisfação
O trabalho já foi algo necessário apenas para suprir as necessidades
básicas de subsistência do homem. Com o tempo, passou a ser o ponto central
da vida do homem, chegando este a disponibilizar mais tempo no trabalho do
que com seus amigos e família. Junto a isso, aumentaram o nível de pressão
por resultados, a concorrência e a complexidade por um espaço no mercado,
fazendo com que o trabalho seja uma constante na vida do homem moderno.
Por outro lado, as organizações percebem a importância do homem
para o alcance de resultados. Já que vem deles, e não das máquinas, a
capacidade de raciocínio, de criatividade, de solucionar problemas. Assim, as
organizações passam a se preocupar em oferecer um ambiente propício e que
favoreça o uso das capacidades dos indivíduos.
Segundo Vasconcelos, “os ensinamentos de Euclides (300 a. C) de
Alexandria sobre os princípios da geometria serviram de inspiração para a
melhoria do método de trabalho dos agricultores à beira das margens do Nilo,
assim como a Lei das Alavancas, de Archimedes, formulada em 287 a. C, veio
a diminuir o esforço físico de muitos trabalhadores”.
22
Portanto, pode-se notar que a preocupação com a Qualidade de Vida
dos trabalhadores é antiga. Nesse contexto, diversos pesquisadores ganham
importância na discussão sobre a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT),
confrontando a preocupação com o trabalhador com a eficácia organizacional.
A QVT é vista como um conceito polêmico e complexo, pois, pressupõe
também mudanças nas condições de vida, bem-estar e necessidades
humanas.
A satisfação no trabalho é um fenômeno amplamente estudado e esse interesse decorre da influência que a mesma pode exercer sobre o trabalhador, afetando sua saúde física e mental, atitudes, comportamento profissional, social, tanto com repercussões para a vida pessoal e familiar do indivíduo como para as organizações. (Martinez e Paraguay, 2003, p.59)
Para a Organização Mundial de Saúde, Qualidade de Vida é definida
como a “percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura
e sistema de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações”. Portanto, é um conceito que trata da
realidade que abrange objetivos de vida, valores éticos, capacidades de
transformação, condições de emprego, habitação, consumo, renda e questões
mais subjetivas.
Baseado nas afirmativas acima, podemos notar que a Qualidade de
Vida no trabalho interfere não somente no trabalho em si, mas gera
implicações no campo familiar e social dos indivíduos. A partir dessa
concepção, a Qualidade de Vida no Trabalho passa a ser analisada através da
ótica biopsicossocial.
O posicionamento biopsicossocial representa o fator diferencial para a realização de diagnóstico, campanhas, criação de serviços e implementação de projetos voltados para a preservação e desenvolvimento das pessoas, durante o trabalho na empresa. (França apud Vasconcelos (2001, p.25)
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Toda pessoa é um complexo biopsicossocial, ou seja, é afetada por
condições biológicas, psicológicas e sociais, podendo se combinar das formas
mais variadas e mais intensas. Nesse contexto, o fator biológico estaria
associado às características físicas herdadas ou adquiridas ao longo da vida,
o fator psicológico estaria associado aos processos afetivos, emocionais e de
raciocínio, e o fator social, estaria associado aos valores e crenças, papel na
família, no trabalho, o meio e as condições em que vive.
Nesse sentido, podemos fazer uma analogia entre a percepção do
indivíduo como um complexo biopsicossocial e o conceito atualmente utilizado
em saúde. A saúde não apenas como ausência de doenças, mas também
como um completo bem-estar biológico, psicológico e social.
Esta compreensão do ser humano, em que o indivíduo é o seu corpo, revela condições de vida e marcas das experiências vividas e desejadas. Situa-se na mesma proposta conceitual da visão holística de homem. Daí ele ser o eixo conceitual na Qualidade de Vida no Trabalho. (França, 1996, p.19)
Segundo Cardoso (2001), na década de 90, World Bank estimou-se
“que o impacto econômico e social gerado pelos transtornos mentais no mundo
do trabalho estaria em torno de 9% de todas as perdas econômicas devidas a
doenças de um modo geral.
Isso demonstra como é extensa a população ativa de trabalhadores que
tem problemas ligados à saúde mental. Diante dessa população trabalhadora,
é possível notar a insuficiência de políticas de saúde integradas e eficientes no
seu enfrentamento. Nesse sentido, é necessário favorecer um programa de
saúde mental do trabalhador que priorize as condições de prevenção e que
possam garantir estratégias produtivas de intervenção.
Portanto, podemos notar que a qualidade de vida no trabalho não deve
se limitar apenas a prevenir acidentes de trabalho, ela deve abranger todas as
esferas do sujeito e da organização. É por isso, que tem se intensificado os
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Locke, a satisfação e insatisfação no trabalho não são fenômenos distintos,
mas situações opostas de um mesmo fenômeno.
3.2 – O setor Recursos Humanos e o Plano de Qualidade de Vida
Como este trabalho tem como proposta levantar possibilidades de
intervenção do setor de Recursos Humanos com o Plano de Qualidade de
Vida, apresentamos neste capítulo diferentes conceitos de satisfação/
insatisfação no trabalho para os indivíduos. A partir disso, apresentaremos
modelos de QVT que podem ser utilizados como ferramentas para demonstrar
como determinados fatores afetam a qualidade de vida no trabalho. Tal
ferramenta possibilita o levantamento de material (insatisfação) para a
implantação de um programa de bem-estar social voltado para os funcionários.
O primeiro modelo a ser apresentado seria o de Nadler e Lawler. Neste
modelo, a QVT está fundamentada na participação dos funcionários nas
decisões; na reestruturação do trabalho através do enriquecimento das tarefas
e de grupos autônomos de trabalho; na inovação no sistema de recompensas
para influenciar o clima organizacional e na melhoria no ambiente de trabalho
quanto às condições físicas e psicológicas, horário de trabalho etc.
Para Cavassani, Barbieri e Biazin (2006, p. 4), “os pontos abordados
neste modelo “demonstram que o ser humano passa a ser parte integrante das
organizações e mostra a evolução da importância dos mesmos.”
Para Hackman e Oldhan abordam um modelo de QVT, onde as
dimensões do cargo são fundamentais na QVT. Estes aspectos produzem
estados psicológicos críticos que conduzem a resultados pessoais e de
trabalho que afetam diretamente a qualidade de vida no trabalho.
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Segundo Chiavenato, 1999 Apud Cavassani, Barbieri e Biazin, 2006, p.
4, os aspectos baseados nos cargos são: as variedades de habilidades (o
cargo exercido deve exigir várias e diferentes habilidades e conhecimento); a
identidade da tarefa (importância do indivíduo sobre as suas tarefas);
significado da tarefa (a pessoa deve ter uma clara percepção de que forma o
seu trabalho produz conseqüência e impactos sobre o trabalho dos demais);
autonomia ( defende-se a responsabilidade pessoal para planejar e executar
as tarefas e independência para desempenhá-las); feedback (refere-se às
informações, pode ser dividido em retroação do próprio trabalho e retroação
extrínseca) e inter-relacionamento (contato interpessoal do ocupante com
outras pessoas ou clientes devera ser estimulado e possibilitado).
Walton também desenvolve um modelo no qual propõe a divisão em oito
fatores e cada um deles abrange várias dimensões. Os fatores de QVT
avaliados são: Compensação justa e adequada; Condições de segurança e
saúde no trabalho; Utilização e desenvolvimento de capacidades;
Oportunidades de crescimento contínuo e segurança; Integração social na
organização; Garantias constitucionais; Trabalho e espaço total de vida e
Relevância social da vida no trabalho
A partir disso, é possível notar que as dimensões da QVT são
abrangentes e envolvem a vida tanto organizacional como social, o que
confirma a visão biopsicossocial apontada acima.
Os planos de QVT ainda enfrentam muitos desafios a serem vencidos
para que possam ser implementados com a colaboração de todos os
envolvidos pelo programa. Para o gestor, basta pensar que a baixa qualidade
de vida nas organizações causa alienação e insatisfação do trabalhador, além
do declínio da produtividade. Incentiva também o aumento de comportamentos
como o absenteísmo, greves, alcoolismo, entre outros, Certamente não é esse
o ambiente que produzirá mais.
30
O ideal é que cada organização perceba as reais necessidades da sua
empresa ao elaborar o Plano de Qualidade de Vida para que tal investimento
tenha resultados esperados e eficácia.
Nesse sentido, a cultura e a mentalidade da organização são
fundamentais para a implementação de programas de qualidade, já que a
cultura pode ser favorável ou um obstáculo para que não ocorra a
implementação.
Portanto, pensar em possibilidades de Qualidade de Vida implica em
pensar a saúde mental dos sujeitos. Elaborar um Plano de Qualidade de Vida
diante das variáveis requer pensar num:
bom lugar para se trabalhar que possibilite, entre outras coisas, que as pessoas tenham, além do trabalho, outros compromissos em suas vidas, como família, os amigos entre outras atividades. A importância da QVT é mais que mera política de redução de custos, pois a mesma possibilita o bom convívio do indivíduo com a organização em que trabalha. Ter um bom ambiente e benefícios que satisfaçam seus anseios podem garantir um clima de confiança entre empresa e empregado. (Levering, 1986 Apud Cavassani, Barbieri e Biazin, 2006, p. 7),
3.3 – Estudo de Caso
A partir das diversas abordagens e possibilidades de um plano de
Qualidade de Vida apresentados no capítulo anterior, será apresentado um
Estudo de Caso que indica como fatores ligados ao psicológico afetam a
qualidade de vida do trabalhador, e como o Plano de QVT pode oferecer
estratégias que reduzam os impactos negativos do trabalho na vida dos
sujeitos.
Caso:
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A empresa pesquisada é do ramo farmacêutico de grande porte,
localizada no Méier, RJ. A pesquisa foi realizada com a participação de 10
voluntários, nos quais houve a divulgação apenas dos cargos.
Na fase 1, foram aplicados 10 questionários de acordo com a Escala de
Avaliação de Qualidade de Vida no Trabalho, segundo as orientações do
modelo de Walton.
Neste questionário, os voluntários pontuaram com notas de 0 a 10, sua
opinião sobre questões que abordavam os seguintes aspectos da empresa:
compensação justa e adequada, condições de trabalho, uso e
desenvolvimento das capacidades, oportunidades de crescimento e
segurança, integração social na organização, constitucionalismo, trabalho e
espaço total de vida e relevância social.
Na fase 2, foram elaboradas entrevistas semi-estruturadas baseadas
nos 3 piores indicadores apontados nos questionários quantitativos. Os piores
indicadores concentravam-se em sua maioria no aspecto Uso e
Desenvolvimento das capacidades, apontando a ausência de reconhecimento
e feedback sentido pelos funcionários.
Para os colaboradores desta empresa, o reconhecimento estaria
associado ao fato de ser lembrado pelo trabalho bem feito, pelo
comprometimento exercido, pela sua força de vontade, pelo seu empenho. É
ter gratidão, agradecer e reconhecer o que se foi feito. O feedback estaria
associado ao retorno sobre os resultados obtidos pelo empregado no seu
trabalho. Os questionários apontam que esses aspectos não vem ocorrendo.
O reconhecimento e o feedback podem ser vistos como os principais
fatores da motivação. Não havendo reconhecimento e feedback pelo trabalho,
haverá insatisfação e desmotivação.
32
Plano de Qualidade de Vida
Área Investigada Indicador Exemplos de Programas específicos
Setores Responsáveis
Psicológica
Ações que promovam a
autoestima e o desenvolvimento de capacidades
pessoais.
Feedback • Treinamento com os Gestores;
• Avaliação de desempenho;
• Gestão mais participativa.
• Desenvolvimento de gestores de todos os setores
• Treinamento de Pessoal
Psicológica
Reconhecimento • Avaliação de desempenho;
• Plano de Carreira;
• Programas participativos.
• Recrutamento e Seleção interno
• Treinamento de Pessoal
• Cargos e Salários
A partir desse exemplo simplório, é possível notar o quanto a carga
psicológica é pode ser afetada no ambiente de trabalho. Basta lembrar que os
sujeitos vivem muito mais em função do trabalho, do que das atividades que
proporcionem prazer. Portanto, o desafio do setor de Recursos Humanos é
apresentar um Plano de Qualidade de Vida no Trabalho que amenize esses
impactos e proporcione um ambiente agradável e de satisfação para o
funcionário. Dessa forma, tanto o empregado fica mais satisfeito quanto o
empregador, que tem um funcionário motivado e disposto a produzir mais por
aquela organização.
33
CONCLUSÃO
Com a globalização econômica, as organizações têm percebido a
necessidade de se tornarem mais competitivas no mercado, precisando adotar
mudanças caracterizadas pela flexibilidade de produção, decisões rápidas e
assertivas, ausência de desperdícios, crescimento tecnológico, entre outras.
Nesse sentindo, as empresas passam a buscar incessantemente a qualidade
total, os resultados.
Neste contexto, as organizações percebem cada vez mais, a
importância do ser humano para o alcance desses resultados. Com isso, o
trabalho adquire uma importância na qual o homem passa a ficar a maior parte
de sua vida no local de trabalho, dedicando sua força, energia e esforços para
as organizações.
Junto a isso, o homem passa a viver baseado num nível de pressão
causado pela busca por resultados, pela concorrência e pela complexidade
que se torna o trabalho, além da ameaça constante de desemprego. Essa
conjuntura se transforma numa constante na vida do homem moderno. Este
mesmo homem traz consigo, também, sentimentos, ambições, expectativas, ou
seja, busca o crescimento dentro daquilo que desenvolve e realiza. E se não
encontra isso, se frustra.
A organização do trabalho exerce, sobre o homem, uma ação
específica, que tem impacto sobre o aparelho psíquico. Esse trabalho pode
gerar sofrimento se houver choque entre a história individual do sujeito (com
projetos, esperanças, desejos,...) e a da organização do trabalho, que ignora
tudo isso. O sofrimento mental passa a surgir no momento em que o homem,
no trabalho, sente que sua tarefa não atende suas necessidades fisiológicas e
psicológicas, e não pode fazer nada para mudar isso.
34
Essas situações configuram fatores psicossociais do trabalho que
podem gerar sobrecarga de trabalho física e mental, trazendo conseqüências
para a saúde, bem-estar e qualidade de vida dos trabalhadores.
É possível afirmar que há um aumento crescente na prevalência e
incidência dos transtornos mentais e do comportamento associados ao
trabalho, constatado em estatísticas oficiais e não oficiais. Pode-se dizer que o
ambiente de trabalho tem afetado cada vez mais a saúde física e mental do
trabalhador.
Apesar disso, a manifestação do sofrimento mental associado ao
trabalho ainda encontra dificuldade de identificação no momento de uma
avaliação clínica, apesar da alta prevalência entre a população trabalhadora.
Essa dificuldade ocorre, pois, parte dos distúrbios psíquicos são mascarados
por sintomas físicos e não é definido claramente a associação entre os
distúrbios e o trabalho desenvolvido pelo indivíduo.
Os serviços disponíveis na rede pública de saúde do trabalhador ainda
baseam-se no modelo médico (perícia “médica”) e reparador. Isso gera muitos
impasses, visto que o indivíduo é composto por um todo, não devendo ser
visto apenas com foco na sua doença. Já na política de Saúde Mental,
podemos dizer que houve um grande investimento inicial na transformação da
assistência, no entanto, com o tempo essas políticas públicas, por falta de
investimento e interesse público, voltaram a estar emperradas.
O sofrimento mental, além de possuir o desgaste da doença em si, traz
o estigma de anos de conclusões equivocadas sobre a loucura. E apesar da
Reforma Psiquiátrica já ter seus quase 30 anos, o homem em sofrimento
mental ainda carrega o peso do preconceito. A loucura, apesar de apresentar
relatos de séculos anteriores, ainda parece nova e sempre em busca de novas
respostas. A relação da saúde mental com o trabalho visará então buscar
35
superar o sofrimento mental, concebido como um espaço intermediário entre o
conforto ou bem-estar psíquico e a doença mental.
A satisfação no trabalho passa a ser uma área bastante investigada
devido à busca por mecanismos que proporcionem qualidade de vida ao
trabalhador. E nesse sentido, a compreensão da situação de trabalho não se
dá apenas a partir das condições de trabalho ou das características do
trabalhador, mas também pela análise da organização do trabalho.
Concluímos nesse trabalho que o setor de Recursos Humanos pode
contribuir com a saúde mental do trabalhador, elaborando um plano de QVT
que atue na promoção da saúde psíquica, optando pela adoção de estratégias
preventivas e visando a saúde mental dos trabalhadores. Os planos de
Qualidade de Vida, como estratégia organizacional, surgem então como
proposta para amenizar os impactos negativos causados pelo desgaste do
trabalho.
Neste trabalho foram apontadas diferentes concepções teóricas de
satisfação e de instrumentos de QVT que podem ser adotados para termos
possibilidades na elaboração de Planos de Qualidade de Vida do Trabalhador.
Isso se faz necessário, pois o adoecimento mental e situação de trabalho se
apresentarão com especificidade para cada indivíduo, que tem sua história de
vida e de trabalho.
Foi possível também exemplificar a abordagem do Plano de Qualidade
de Vida a partir de um caso e demonstrar que a organização que realiza seu
trabalho pensando na satisfação do empregado, deve tomar algumas medidas
básicas. São elas: incluir um sistema de detecção precoce dos possíveis
agravos na empresa, envolver os participantes no gerenciamento do projeto,
integrar a saúde mental na filosofia de gerenciamento, ou seja, adotar medidas
36
que façam os empregados terem o sentimento de pertencimento e
recompensação.
Portanto, para responder a pergunta do problema que norteou a
pesquisa, ou seja, é possível elaborar um plano de qualidade de vida no
trabalho que amenize o sofrimento mental dos funcionários,podemos concluir
que, a partir das diferentes possibilidades de QVT, a organização deve
escolher a opção que melhor integre as diferentes necessidades “empresa-
funcionário”, refletindo sobre o processo de trabalho, a inserção ocupacional, o
ambiente de trabalho, o crescimento da empresa, processo saúde-doença
menta, lucros, entre outros. É a partir de uma escolha bem feita, que a
organização possibilitará o sucesso da organização, com tanto o empregado
quanto o gestor, satisfeitos.
Segundo Fernandes et al (2006), “o trabalho e suas conseqüências
sobre a saúde mental dos indivíduos devem, também, fazer sentido para quem
o faz, isto é, dar prazer e alguma satisfação”.
37
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
A LOUCURA 10
1.1 - A história da loucura 10
1.2 – A loucura no Brasil 12
CAPÍTULO II
SAÚDE MENTAL E TRABALHO 16
2.1 - Saúde Mental e Trabalho: Apontamentos Necessários 16
CAPÍTULO III
TRABALHO, LOUCURA E QUALIDADE DE VIDA 21
3.1 – O trabalho e a satisfação 21
3.2 – O setor do Recursos Humanos e o Plano de Qualidade de Vida 28
3.3 – Estudo de Caso 30
CONCLUSÃO 33
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 37
ÍNDICE 39