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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PSICOPEDAGOGIA
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
REFLEXÃO SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL NAS ESCOLAS
PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE MAGÉ E A AUSÊNCIA DO
PSICOPEDAGOGO
Por
Marcia Fátima Ferreira de Oliveira
Rio de Janeiro Julho de 2005
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REFLEXÃO SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL NAS ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE MAGÉ E A AUSÊNCIA DO
PSICOPEDAGOGO
Por
Marcia Fátima Ferreira de Oliveira Monografia apresentada ao Curso de Pós-graduação “lato Sensu” em Psicopedagogia como requisito para obtenção do grau de psicopedagogo Orientador: Celso Sanchez
Rio de Janeiro Julho de 2005
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AGRADECIMENTOS
A Deus pela oportunidade de viver e pela força na
realização dos meus sonhos, que me permitiu chegar até
aqui com o entusiasmo e a lucidez de quem, após uma
conquista, percebe que está apenas começando.
Aos professores desta Universidade.
A todos que indiretamente colaboraram com meu
sucesso.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus familiares, meus filhos
Decio Junior e Denison, que com carinho e paciência
entenderam a minha ausência e em especial ao meu
marido que esteve sempre ao meu lado incentivando e
ajudando nos trabalhos.
A todos os meus professores e colegas desta
Universidade, que tanto ajudaram nesta caminhada rumo
a minha especialização.
A Universidade Cândido Mendes, suporte do meu
aperfeiçoamento profissional.
5
RESUMO
O objetivo deste estudo é efetuar reflexões acerca da prática docente nas
escolas da rede pública da esfera municipal do município de Magé, numa
perspectiva de despertar no profissional da Educação Infantil a reflexão sobre a
relevância do seu trabalho e da falta do psicopedagogo para orientá-lo acerca
do crescimento do aluno, buscando torná-lo cidadão consciente de seus
direitos e deveres, pois através desta prática consciente de educação
significativa fará florescer nestes pequenos seres a essência humana e valores
que tanto buscamos para o crescimento do homem. O estudo teve como
contexto nas Unidades de prestação de serviços educacionais públicos
voltados à Educação Infantil da Rede Municipal sendo todas elas na cidade de
Magé. Durante a pesquisa de campo, na qual foram consultados os
profissionais da área de Educação, especificamente professores de escola
pública, da Educação Infantil. Na pesquisa bibliográfica contamos com
estudiosos como Sonia Kramer e Maristela Angoti com suas contribuições na
Educação Infantil e em Psicopedagogia contamos com o aporte teórico de
Maria Lúcia L. Weiss e Nadia A. Bossa propiciando um novo compromisso com
a educação.
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“Todo pensamento,
todo comportamento humano,
remete-nos à sua estruturação inconsciente,
como produção inteligente e,
simultaneamente, como produção simbólica.”
“A interpretação do discurso não pode ser feita
sem levar em conta o nível da realidade,
pois a realidade é a prova;
sem levar em conta a leitura inteligente
dessa realidade que lhe dá sua coerência;
sem levar em conta a dimensão do desejo,
que é sua aposta;
sem levar em conta sua modalidade simbólica,
que lhe dará sua paixão.” Sara Paín
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SUMÁRIO
Introdução ........................................................................................................... 09
CAPÍTULO III – Uma visão da Educação Infantil: Os educadores e suas Propostas ................................................................................. 11
CAPÍTULO III – Discutindo a Educação Infantil no Município de Magé: Política e Legislação ............................................................... 17
CAPÍTULO III – O psicopedagogo frente as demandas educacionais no
município de Magé. ................................................................ 22
Conclusão ............................................................................................................ 29
Bibliografia .......................................................................................................... 32 Anexos:
• Dinâmica do Barbante ............................................................................. 35 • Texto “calo ou falo? (Jacira B. Medeiros) ................................................. 36 • Atividades Extra-Classe............................................................................. 37
Índice.................................................................................................................... 40
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INTRODUÇÃO
Considerando que os primeiros anos de vida são de fundamental
importância para o desenvolvimento subseqüente da criança, fica mais do que
evidente a relevância e o papel da Educação Infantil, na formação integral do
indivíduo para uma sociedade em contínua mudança.
A educação, não só prepara o indivíduo para a vida ou para ter uma
profissão, como também visa a uma formação integral, por isso é necessário
que o objetivo educacional não seja apenas transmitir conteúdos, mas formar o
educando como cidadão crítico, capaz de julgar as situações conscientemente
e proposto a modificar, a partir de uma nova visão de mundo.
Portanto, a necessidade de conhecer o trabalho realizado na Educação
Infantil, sua importância na construção de cidadania da criança e como se dá o
processo ensino-aprendizagem na rede pública municipal de ensino, é que nos
leva a elaborar um trabalho voltado para evidenciar a importância da ação
educativa no ensino de Educação Infantil e a contribuição da psicopedagogia
relacionadas ao desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo, implícitas nas
situações de aprendizagem, objetivando aprofundar nossos conhecimentos e
descobrir como o educador trabalha com a ausência do psicopedagogo.
Este problema merece ser investigado, no sentido de buscar a
compreensão e construção de um quadro favorável à efetivação de melhores
índices de qualidade ao ensino ofertado na Educação Infantil, especialmente
na esfera pública onde as implicâncias se revelam em proporções mais
acentuadas.
O estudo teve como contexto nas Unidades de prestação de serviços
educacionais públicos voltados à Educação Infantil da Rede Municipal sendo
todas elas na cidade de Magé.
Durante a pesquisa de campo, na qual foram consultados os profissionais
da área de Educação, especificamente professores de escola pública, da
Educação Infantil, que puderam contribuir com o resgate de episódios
9
significativos para a compreensão dos fatos relacionados ao trabalho.
Buscou-se desta forma, uma reflexão acerca da psicopedagogia
como orientação constante ao professor. Na tentativa de ampliar o
entendimento das questões utilizamos também a pesquisa bibliográfica,
fundamentada em teóricos como Sonia Kramer, que ressalta que é preciso que
os profissionais de educação infantil tenham acesso ao conhecimento
produzido na área da educação infantil e da cultura em geral, para repensarem
sua prática, se reconstruírem enquanto cidadãos e atuarem enquanto sujeitos
da produção de conhecimento. E para que possam, mais do que "implantar"
currículos ou "aplicar" propostas à realidade da creche/pré-escola em que
atuam, efetivamente participar da sua concepção, construção e consolidação”.
Cujas reflexões trazem experiências e convicções que contribuem para
promover o crescimento do professor de Educação Infantil.
A Pré-escola passou a sofrer consideráveis mudanças nas propostas
pedagógicas destinadas à promoção do ensino às crianças nas faixas etárias
de zero a seis anos, o que permitiu lançar novos olhares nas perspectivas
pedagógicas, e o avanço da Educação Infantil em nosso país se revela
principalmente com a contribuição de Maristela Angotti quando enfatiza que
além das visões froebelianas sobre a educação, o caminho da educação
infantil contou com Maria Montessori (1871 – 1932), com seus princípios de
liberdade e adaptação do ambiente às crianças; Celestin Freinet (1896–1966)
incitando a livre expressão, as aulas de passeio e a correspondência
interescolar e Ovide Decroly (1871 – 1932), com seus centros de interesse.
Estes são os pioneiros, mas existem dezenas de outros pedagogos que
dedicaram sua vida ao aprimoramento de Educação Infantil na pré-escola.
E no campo da psicopedagogia contamos com Maria Lúcia L. Weiss
e Nádia Bossa, que mostram, claramente, a complexidade do fazer
psicopedagógico dentro da ampla questão da aprendizagem humana.
A educação pré-escolar, a partir do trabalho desses pensadores,
tomou um rumo voltado a funcionar como meio propiciador de condições que
possibilitem o poder de manifestação e expressão externa crítica, enfim, o
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desenvolvimento da criança de forma global, respeitando as limitações e
necessidades de cada indivíduo e a psicopedagogia comporta a partir de uma
visão abrangente para chegar, de um modo mais objetivo, mais
contextualizado, a uma resposta para a queixa escolar.
O que motivou o estudo foi à constatação de que as práticas
pedagógicas necessitam mudanças para que possam se adaptar ao proposto
na LDB, que preconiza para o professor um novo papel, ou seja, o do professor
comprometido com o ensino, com o futuro das nossas crianças, enfim, um
professor profissional. E para que esse profissional venha realmente acontecer
é necessário trabalhar as questões pertinentes às relações vinculares
professor-aluno e redefinir os procedimentos pedagógicos, destacando as
diferentes formas de intervenção psicopedagógica.
O primeiro capítulo apresenta de forma breve, contribuições valiosas
de educadores a partir do século XVIII, realizando uma incursão no contexto
histórico, procurando localizar e situar nele os últimos questionamentos acerca
da pré-escola, no sentido de uma maior democratização.
O segundo capítulo está centrado na legislação e nas propostas
pedagógicas dentro da prática do professor da Educação Infantil no município
de Magé.
O terceiro capítulo ficou reservado para o estudo de caso e
intervenção psicopedagógica em uma escola da rede pública municipal de
Magé.
Concluindo, a educação na escola pública em Magé está passando
por uma reestruturação, e uma redefinição na formação do profissional, nesta
fase em que a criança começa a formação de valores que vão formar o seu
caráter, e nessa reestruturação faz-se necessário inserir em seu plano de
trabalho o atendimento psicopedagógico.
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CAPÍTULO I
UMA VISÃO HISTÓRICA DA EDUCACAO INFANTIL:
OS EDUCADORES E SUAS PROPOSTAS
Este capítulo apresenta de forma breve, contribuições valiosas de
educadores a partir do século XVIII, realizando uma incursão no contexto
histórico, procurando localizar e situar nele os últimos questionamentos acerca
da pré-escola, no sentido de uma maior democratização.
1.1. Educadores e filósofos que influenciaram a pré-escola
O aparecimento de pré-escola no Brasil se deu sob as bases da
herança de percussores europeus e foram os homens que começaram a se
preocupar com a educação infantil, uma tarefa hoje atribuída, quase que
exclusivamente a mulher .
Homens como: João Amós Comênio (1592-1657) que apresentou
aspectos importantes que, até hoje são essenciais no desenvolvimento de
propostas educativas junto a criança. Ressaltava o valor afetivo no ato de
planejar e ainda a importância da saúde, sono, alimentação e vida ao ar livre,
para um crescimento completo e sadio. Jean Jacques Rousseau (1712-1772)
que centralizou a questão da infância na educação, evidenciando a
necessidade de não mais considerar a criança como um homem pequeno, mas
que ela vive em um mundo próprio cabendo ao adulto compreendê-lo e
chamou a atenção ao afirmar que:
“Procuramos sempre o homem no menino, sem cuidar no que ele é antes de ser homem. Cumpre, pois, estudar o menino. “não se conhece a infância, com as falsas idéias que se tem dela, quanto mais longe se extraviam”. A infância, tem maneira de ver, de pensar, de sentir, que lhes são próprias. (Luzuriaga, 1998, p.166)
Destacamos ainda a figura de Johann Heinrich Pestalozzi (1746-
1827) defendeu a educação da criança no lar dada pela mãe, pois acreditava
que a criança começa sua aprendizagem desde o nascimento. Considerado o
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“educador da humanidade”, seu exemplo concreto e suas intuições de
pedagogia infantil e didática constituíram um dos pontos de partida de toda
nova pedagogia. Já Friedrich Fröebel (1782-1852) foi notadamente
reconhecido pela criação dos Kindergates (Jardim de Infância) enfatizou seu
papel ativo no processo de desenvolvimento na infância, isto é, destacou a
auto-atividade como caminho mais viável para a determinação do processo
educacional.
Foi no final do Século XIX e no decorrer do Século XX, que
aconteceram, na Europa e nos Estados Unidos da América, mudanças
significativas no campo educacional. As escolas laicas marcaram a ruptura do
domínio da Igreja sobre a educação, reafirmando a hegemonia da burguesia
liberal. Um grande movimento de renovação pedagógica denominado
“movimento das escolas novas.
Surge a figura feminina da italiana Maria Montessori (1870-1952) na
perspectiva de fundamentar, teoricamente, suas idéias aprofunda-se em
psicologia e no início do século XX fundou em Roma a primeira casa “Del
Bambini”, para abrigar crianças normais, carentes, onde realizou várias
experiências que deram sustentação a seu método, fundamentado na
concepção biológica de crescimento e desenvolvimento. Enquanto Ovide
Declory (1871-1932) alicerçou sua proposta nas atividades individual e coletiva
da criança, sustentada em princípios da psicologia. Seu método, conhecido
como “Centro de Interesse” consistia em atividades práticas dentro da
realidade das crianças que poderia surgir de algo simples vivenciado pelas
crianças explorando o conhecimento de acordo com a curiosidade estimulada
na criança, envolvendo assim noções das diversas áreas de ensino. Foi
denominado como o máximo teórico da escola ativa e progressista. Já John
Dewey (1859 – 1952) foi considerado um dos mais importantes na educação
contemporânea. Em sua abordagem sobre educação considerava que o
método cientifico deveria subsidiar o trabalho em sala de aula, de tal maneira
que o conhecimento fosse trabalhado de forma experimental, socialmente,
desde a infância, com intuito de torná-la um bem comum, partia do princípio
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que o caminho mais viável para o aprender era o fazer, isso significava superar
a visão de que cabia ao professor a responsabilidade integral pelo
conhecimento a ser adquirido pelo aluno. Um dos pontos culminantes da
contribuição de Dewey pode ser hoje encontrado em um grande número de
escolas infantis, trata-se do “método dos projetos”.
A medida que lemos as obras de Celestin Freinet (1896 – 1966)
vamos constatando que suas preocupações podem ser direcionadas à
educação das crianças pequenas. Freinet foi considerado um educador
revolucionário, o cultivo na educação do aspecto social foi um dos grandes
feitos desse educador. Contribui com sua pedagogia renovada na educação
das crianças, baseando-se na experimentação e documentação, onde
considerava a criança como centro de sua própria educação. Desenvolveu uma
prática fundamentada no trabalho cooperativo, em que cada atividade era
considerada um trabalho útil e criativo, decidido e organizado coletivamente
pêlos estudantes.
As importantes contribuições deixadas por Jean Piaget (1896 –
1980), com seus estudos sobre a evolução do pensamento dando ênfase ao
processo de interação indivíduo ambiente. Piaget procurou caracterizar cada
fase do desenvolvimento da criança na interação com a realidade, destacando
a fase pré-escolar como merecedora de estudos mais profundos, por ser nesta
fase considerada épocas de aquisições lógicas. Em seus estudos acerca das
estruturas mentais da criança na trajetória de seu desenvolvimento, assegurou
que o processo de desenvolvimento pressupõe uma secessão de etapas em
que suas funções mentais vão se organizando e se estruturando adquirindo
maturação, experiência, equilibração numa interação social.
A preocupação com o desenvolvimento cultural da humanidade,
levou Lev Semenovich Vygotsky (1896 – 1934) a envolver-se com a infância,
através de alguns estudos que lhe permitissem compreender o comportamento
humano, justificou que “a necessidade do estudo da criança reside no fato de
ela estar no centro da pré-história do desenvolvimento cultural devido ao
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surgimento do uso de instrumentos da fala”.(Rego, 1995, p.25). Destacamos
ainda a teoria referente a relação entre o desenvolvimento e aprendizagem,
contribuição deixada a respeito da “zona de desenvolvimento próxima”.
Não é possível falar em educação atualmente sem citar Emilia
Ferreiro (1980 – aos dias atuais) que realizou um trabalho de investigação a
respeito do processo de alfabetização o que necessariamente envolve a
Educação Infantil. E revolucionou o conhecimento sobre a aquisição da leitura
e da escrita, segundo os pressuposto construtivista/ interacionista de Piaget e
Vygotsky. Seus trabalhos experimentais deram origem a Psicogênese do
Sistema da Escrita e ao chamado construtivismo pós-piagentiano, junto com
Ana Teberosky, analisou as interpretações que as crianças dão à escrita, e
descobriu que eles constroem seu próprio processo de alfabetização, vivendo
conflitos cognitivos para chegar ao sistema alfabético. Suas idéias não
pretendem ser um guia para o professor. Ao contrário, fornecem elementos de
reflexão e dão fundamentação teórica ao processo evolutivo de descoberta da
criança. A educadora considera que as limitações e condições
socioeconômicas têm influencia decisiva no processo de aprendizagem das
crianças.
Visando reforçar a colocação até aqui apresentadas, aproveitamos a
afirmação de DROUT (1990), no que se refere a importância dos métodos e
descobertas desses estudiosos na prática da educação infantil no século XXI.
“A importância da contribuição de todos esses educadores dentro da educação pré-escolar nos faz compreender a grande influência que a interação entre o indivíduo e o meio exerce sobre o desenvolvimento integral da criança”. (Drouet, 1990, p.19)
1.2. O atendimento a infância no Brasil
A educação infantil nasce no Brasil dissociada de intencionalidade
educativa explicitada num currículo preestabelecido, portanto desvinculada da
escola. O atendimento a criança de 0 a 6 anos esteve, historicamente, a cargo
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dos Ministérios da Saúde, da Previdência e Assistência Social, da Educação e
da Justiça.
A partir da década de 30, com o estado de bem estar social e
aceleração dos processos de industrialização e urbanização manifestam-se
diversos graus de nacionalização das políticas sociais assim como a
descentralização do poder. Mas somente a partir da década de 40 começaram
a serem criados diversos órgãos de amparo assistencial e jurídico voltados
para a infância.
A maioria das creches e pré-escolas destinadas às classes
populares funcionavam com base numa concepção compensatória e o discurso
oficial brasileiro proclamou a educação compensatória como solução de todos
os problemas educacionais. A própria coordenação de educação Pré-escolar
do MEC optou por programas pré-escolares de tipo compensatórios. Esse
programa partia da idéia de que a família não consegue dar as crianças
condições para o seu bom desempenho na escola e dentro desta visão, a pré-
escola serviria para prever estes problemas (carências culturais, nutricionais,
afetivas) proporcionando a partir daí a igualdade de chances a todas as
crianças, garantindo seu bom desempenho escolar.
Ocorre um período de inovação nas décadas de 60 e 70 nas áreas
de educação, saúde a assistência social, mas a constituição de 1967 não fez
menção às creches, sinal que ainda não constituíam dever do Estado. O II
congresso Brasileiro de Educação Pré-Escolar foi um ponto de partida para o
trabalho pedagógico, onde a criança é vista como sujeito da educação e a
educação pré-escolar é reconhecida como necessidade. Algumas creches
comunitárias começam a receber o apoio governamental, e na constituição de
1988 deu início a municipalização do ensino.
De acordo com GOHN:
“ Em 1989, a ANPED (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação) elaborou um documento segundo o qual: “A educação da criança de 0 a seis anos é dever do Estado e será integrada ao sistema de ensino, respeitadas as características das crianças desta faixa etária e será oferecida em creches para crianças de zero a quatro anos e em pré-escolas para criança de quatro a seis anos”. (Gohn, 1990, p.8)
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A partir de então as creches foram incluídas na política educacional,
seguindo uma concepção pedagógica e não mais assistencial passando a se
constituir-se em um dever do Estado e direito da criança e do trabalhador.
Assim, a educação infantil passou a ter a função de “proporcionar condições
para o desenvolvimento físico, psicológico e intelectual da criança em
complementação a ação da família” (Gohn,1990, p.13).
A expressão educação infantil e sua concepção como primeira etapa
da educação básica está agora na lei maior da educação do país, a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), sancionada em 20 de
dezembro de 1996.
Esta foi uma conquista histórica, pois tirava as crianças pequenas e
pobres de seu confinamento em instituições vinculadas a órgãos de assistência
social. A LDB atribuiu flexibilidades ao funcionamento da creche e pré-escola,
permitindo a adoção de diferentes formas de organização e práticas
pedagógicas.
Assim, por trás do interesse oficial podemos ver um avanço no
sentido de uma maior democratização a pré-escola, é preciso, mais do que
nunca, apontarmos para um tipo de pré-escola que esteja a serviço das
crianças das classes populares. Nem deposito, nem corretora de carências, a
pré-escola tem uma função, que necessita ser explicitada e concretizada; a
função pedagógica. E quando falamos que a pré-escola tem uma função
pedagógica, estamos nos referindo, portanto, a um trabalho que toma a
realidade e os conhecimentos infantil como ponto de partida e os amplia
através de atividades que têm um significado concreto para a vida das crianças
e que, simultaneamente asseguram a aquisição de novos conhecimentos.
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CAPÍTULO II
DISCUTINDO A EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNICÍPIO
DE MAGÉ: POLÍTICAS E LEGISLAÇÃO
O presente capítulo está centrado na legislação e nas propostas
pedagógicas dentro da prática do professor da Educação Infantil no município
de Magé.
2.1. O educador infantil em sua prática educacional: proposta
pedagógica ou tarefas a cumprir
É importante ressaltar que o Projeto Político Pedagógico, apesar de
ser palavra corrente nos debates, ainda é uma temática recente tanto no
interior das escolas, como na literatura acadêmica.
No Brasil, este debate é fruto de reivindicações de mais de duas
décadas entre educadores que vêem a escola como um espaço de construção
de autonomia.
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional, ele
deverá explicitar:
as disposições e organização das atividades escolares, abrangendo, entre outros aspectos, os correspondentes ao calendário escolar e ao currículo: os conteúdos programáticos e as formas de aprendizagem, os processos de avaliação, promoção, reprovação, recuperação, todo o regime escolar, quer das atividades, em geral, quer das ações didático-pedagógicas a serem desenvolvidas durante o ano escolar, seja, ainda, dos procedimentos para o atendimento de condições especiais de seus alunos. (LBD 9394/96, Art.4º)
O projeto pedagógico deverá ser o eixo norteador e detonador do
planejamento da ação educativa.
Reconhecendo que os termos proposta pedagógica, proposta
educativa, projeto pedagógico, projeto educativo tem sido utilizado com
significados similares na literatura sobre a criança de zero a seis anos, para
indicar o conjunto de princípios e ações que rege o cotidiano das instituições.
Segundo Veiga (1998, p.13),
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“O Projeto Político Pedagógico (PPP) não é mais um documento construído no espaço escolar com o objetivo de realizar uma tarefa simplesmente burocrática, que, ao final da sua elaboração, é arquivado pela escola ou remetido às autoridades educacionais. Muito pelo contrário, o PPP deve ser construído e vivenciado em todos os momentos e por todos os envolvidos no projeto da escola”
A responsável pela área de Educação Infantil da rede municipal de
Magé está totalmente de acordo com o autor ao afirmar que:
Foi necessário elaborar uma (Re) construção do Projeto Político Pedagógico nas escolas da rede municipal de ensino de Magé, para que ele pudesse ser construído e vivenciado em todos os momentos e por todos os envolvidos no projeto da escola. E com base nesse projeto pedagógico coerente com o contexto de escola, cada professor poderá então, planejar atividades que favoreçam à criança viver experiências ricas e de seu interesse, que promovam o acesso a diferentes linguagens, de forma que todas as crianças possam atuar com autonomia e liberdade de expressão, interagindo com os colegas de forma cooperativa e solidária.
Os projetos pedagógicos precisam ser elaborados em conjunto e de
forma criativa, que atenda a todos, para que não haja a obrigação em cumpri-
la. As professoras da rede municipal entrevistadas em nossa pesquisa
formaram a seguinte opinião:
Para a elaboração dessas estratégias e definição do tema e as metas à atingir, é preciso que cada um envolvido nele doe um pouco do seu tempo para a realização de reuniões semanalmente onde estão todos os Professores presentes e a Coordenação, tornando importante este momento para definir práticas futuras do Projeto, para que ele não seja apenas uma obrigação a cumprir.
E a equipe técnico-administrativa pedagógica acredita que:
“O Projeto indica o caminho a ser seguido nas áreas administrativas e pedagógicas pelas instituições de ensino do município e a sua elaboração conta com o apoio de professores e especialistas, que através de vários eixos, discutiram as questões que envolvem a educação no município. Fazendo com que o PPP, traga a concepção de uma nova escola pública muito mais competente e produtiva, com apoio de todos envolvidos na Educação de qualidade.”
É necessário que os profissionais envolvidos na construção do PPP
estejam atentos às transformações, busquem alternativas para vencer
obstáculos e que, sobretudo, ousem como Gadotti (1997, p. 36) afirma: “(...) O
projeto da escola depende sobretudo de ousadia dos seus agentes, da ousadia
de cada escola em assumir-se como tal, cara a cara que tem e que deseja ter
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com seu cotidiano, com o seu tempo-espaço”.
O projeto tem como proposta reavaliar as atividades desenvolvidas
na escola, refletindo sobre a sua atuação diante dessa sociedade tão injusta e
desigual, procurando a todo o momento fazer uma releitura sobre o papel da
escola, a formação do educando, a sua integração com a sociedade, as
relações interpessoais e etc, buscando alternativas que possam torná-la mais
próxima aos objetivos que se pretende alcançar
O projeto precisa se desenvolver de forma que possibilite as
crianças e educadores a se expressarem através de linguagens, gestos,
fazendo com que a arte e as crianças sejam o centro do processo de educar. É
a pedagogia da escuta como conceito e a documentação como ferramenta de
trabalho, e esse trabalho tem que ser feito com espontaneidade, com prazer,
não simplesmente porque faz parte de uma proposta da escola.
Para a elaboração dessas estratégias e definição do tema e as
metas à atingir, é preciso que cada um envolvido nele doe um pouco do seu
tempo para a realização de reuniões semanalmente onde estão todos os
Professores presentes e a Coordenação, tornando importante este momento
para definir práticas futuras do Projeto, para que ele não seja apenas uma
obrigação a cumprir.
2.2. Um olhar sob o Referencial Curricular Nacional de
Educação Infantil
Percebe-se que o Referencial Curricular Nacional de Educação
Infantil - RCNEI atentou para a importância da criança no contexto social e
cultural e sua maneira particular de vivenciar o estar no mundo e com o mundo.
Portanto faz-se de grande importância o espaço educacional direcionado à
educação infantil, e todos os envolvidos no processo pedagógico, onde:
" Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que
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possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança e o acesso pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural." (RCNEI, 1998, p.23).
Nesse sentido, o referencial curricular infantil, apresenta um conceito
claro em defesa da construção do conhecimento, utilizando-se de toda a
bagagem social, cultural e cognitiva da criança em função da aprendizagem,
usando mecanismo que a mesma, está acostumada a vivenciar e utiliza no seu
dia-a-dia, respeitando e valorizando sentimentos. O sentido da educação
infantil é oportunizar condições à criança de ter uma aprendizagem significativa
que possibilite seu ingresso no universo social de forma crítica e participativa.
As professoras entrevistadas concordam e acrescentam que:
Para que no ambiente escolar ocorra uma aprendizagem com sucesso, é preciso que o professor considere na organização do trabalho educativo, o perfil social, físico, cognitivo e emocional de seus alunos, objetivando uma relação de troca e confiança, onde se realizará um trabalho sério e comprometido com a liberdade de expressão.
O currículo deve ser organizado por objetivos, por considerar que seu eixo central é a formação da pessoa, do aluno cidadão que acredita na escola como um meio de melhor compreensão do mundo e não apenas acúmulo de conhecimentos”
Como define, o Referencial Curricular de Educação Infantil, para que
no ambiente escolar ocorra aprendizagem com sucesso é preciso que o
professor considere na organização do trabalho educativo o conhecimento da
criança que irá trabalhar, mediante um prévio-sondagem, diante de cada
criança que compõe sua turma para que o mesmo possa fazer um perfil sócio-
físico cognitivo e emocional de seus alunos e a partir das informações colhidas
poderá realizar um trabalho educativo sério e comprometidas com a liberdade
de expressão.
" Para que as aprendizagens infantis ocorram, é preciso que o professor considere, na organização do trabalho educativo: - A interação com crianças da mesma idade e de idades diferentes em situações diversas como fator de promoção da aprendizagem e do desenvolvimento e da capacidade de relacionar-se; - Os conhecimentos prévios de qualquer natureza, que as crianças já possuem sobre o assunto, já que elas aprendem por meio de uma construção interna ao relacionar suas idéias com as novas
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informações de que dispõem e com as interações que estabelece; - A individualidade e a diversidade; - O grau de desafio que as atividades apresentam e o fato de que devem ser significativas de maneira integrada para as crianças e o mais próximas possíveis das práticas sociais reais; - A resolução de problemas como forma de aprendizagem."
(RCNEI, 1998, v.1, p.30).
Logo, educar na Educação Infantil, é dar a criança condições de ter
uma aprendizagem significativa que possibilite seu ingresso no universo social
de forma crítica e participativa. Respeitando o indivíduo e seus limites, que vive
em constante processo de nascimento, um “ser” singular, na busca de um
desenvolvimento harmonioso. Construindo, inventando, sempre dentro das
necessidades e do campo de possibilidades.
Temos consciência que a educação infantil é muito complexa.
Contudo, cabe a nós educadores atuarmos com comprometimento, falando no
momento oportuno e calando para poder ouvir, na luta por melhores condições
de trabalho, sem acomodação e em constante reflexão.
O RCNEI, não tem valor legal, constitui-se apenas num conjunto de
sugestões para professores de creches e pré-escolas. Não devendo ser usado
como receita e sim, sugestões que podem servir de subsídios para o trabalho
docente em educação infantil. O desafio é tornar o RCNEI real, junto aos
profissionais da área e a própria produção do conhecimento.
"Como é sabido, existe uma grande defasagem entre o que é postulado na legislação e o que efetivamente acontece na relações entre os indivíduos na sociedade. Como diz Saviani (2000, p.7) “... o Estado brasileiro não se revelou, ainda, capaz de democratizar o ensino, estando distante da organização de uma educação pública democrática de âmbito nacional.” (Leite Filho, 2001, p.46)
Assim, observa-se que o direito da criança em ser um cidadão e ter
acesso a educação infantil está garantido. O que não assegura, que a
realidade das crianças brasileiras tenha mudado, nem mesmo que as creches
e pré-escolas tenham modificado sua postura e seus trabalhos pedagógicos,
seguindo os regimentos legais e constitucionais que regem o país.
22
CAPÍTULO III
A AUSÊNCIA DO PSICOPEDAGOGO FRENTE ÀS
DEMANDAS EDUCACIONAIS NO MUNICÍPIO DE MAGÉ
As informações que guiaram esta pesquisa foram adquiridas em
uma instituição escolar pública situada no município de Magé. Os critérios para
a escolha dessa instituição foi a dificuldade que a comunidade escolar tinha
para realizar qualquer tipo de trabalho que tivesse como objetivo atender
crianças com dificuldades de aprendizagem.
Na fase de diagnóstico preliminar, o objetivo principal era identificar
os aspectos que o grupo da instituição escolar considerava como barreiras ao
sucesso educacional das crianças que lá estudavam. Só que ao chegarmos
deparamos com uma realidade crítica a falta de comprometimento de direção
era um dos principais problemas que levavam as dificuldades na
aprendizagem.
Dessa forma, o trabalho voltou-se para a relação existente entre
fatores “externos” a gestão e a prática pedagógica da instituição; trazendo a
discussão o papel de cada elemento do grupo.
3.1. Estudo de caso
O mundo de hoje muda com uma rapidez impossível de ser acompanhada pelo ser humano. Isto às vezes nos deixa com a sensação de impotência para atuar, porém não pode nos paralisar. (Fagali e Vale, 2003).
Neste estudo de caso espero contribuir para melhor refletirmos e
pensar sobre a construção do olhar do psicopedagogo. Pois o caminho que
estamos por trilhar exige nova compreensão, remete-nos e repensar nossas
próprias práticas e condutas, nos estimula a seguir propondo-nos a pensar que
a autonomia de pensamento é fundamental para que possamos ter um contato
23
pleno com a liberdade (Beauclair, 2004, p. 43)
Algumas escolas do município de Magé tem se mostrado um
desafio para a psicopedagogia. Talvez porque não está inserido em sua
realidade a presença desse profissional cujo papel principal é o de assessorar
a escola na forma de acompanhamento e apoio a professores, alunos,
familiares, equipe de direção, coordenador pedagógico e demais funcionários.
Onde espera-se que o profissional psicopedagogo possua um sólido
conhecimento específico, que seja capaz de oferecê-lo a outros profissionais
para a adequada resolução de problemas e para otimizar, em geral, os
processos de ensino e aprendizagem.
É interessante ressaltar que a “Psicopedagogia nasceu de uma
necessidade: contribuir na busca de soluções para a difícil questão do
problema de aprendizagem (...) a Psicopedagogia vem caminhando no sentido
de contribuir para a melhor compreensão desse processo” (Bossa, 2000, p.13).
Hoje, com o processo de democratização e universalização do
ensino fundamental, a escola pública atende principalmente às populações
carentes economicamente.
Sem levar em conta a da classe social ou do regime de manutenção
institucional, uma boa escola é aquela que consegue produzir o resultado para
o qual foi criada: a aprendizagem de seus alunos. Infelizmente não
encontramos em nossa pesquisa essa realidade. Encontramos vários
problemas na Unidade Escolar, o principal de todos foi a falta de educação dos
alunos, que se mostram agressivos praticamente em todas as classes.
Uma boa escola não é aquela que ensina, mas aquela que permite
que o aluno aprenda e, para isso, é preciso que possua algumas condições:
§ Clima ético e moral compatível com a dignidade da pessoa
humana, que permita a inclusão social em todas as suas formas;
§ Ambiente que permita a dúvida, a curiosidade e a imaginação,
possibilitando a criatividade.
O prédio da escola é bem localizado no centro da cidade, a
24
paisagem ao redor é agradável, pois vemos a mata atlântica com todo o seu
esplendor verdejante.
Ao serem investigados o porquê deste comportamento notamos os
professores apáticos e sem grande entusiasmo ao lidar com seus alunos, que
devido a este sentimento tornam-se também avessos às aulas, mostrando-se
muitos agressivos entre si e eventual com os próprios professores, agredindo
com palavrões, ao que não há uma intervenção da equipe pedagógica ou da
direção.
Notamos ainda que a falta de capricho no próprio prédio, com
pintura suja, pátio cheio de capim, na altura da cintura das crianças, janelas e
vidros quebrados, portas sem fechadura (as mesmas foram roubadas), paredes
das salas de aula sem nenhum atrativo, quadro de giz quebrados e mal
conservados e sala de aulas sujas e empoeiradas.
Nesta instituição escolar identificamos que é necessário a presença
do psicopedagogo para realizar uma assessoria junto a pedagogos,
orientadores e professores, “com objetivo de trabalhar as questões pertinentes
às relações vinculares professor-aluno e redefinir os procedimentos
pedagógicos integrando o afetivo e cognitivo, através da aprendizagem dos
conceitos, nas diferentes áreas de conhecimento” (Fagali e Vale, 1993, p. 10).
As salas de aulas são amplas, claras, o pátio (muito sujo) é amplo
podendo ser bem explorado pelos alunos. Há duas saídas na escola o que
possibilitaria o fluxo de alunos nos horários de entrada e saída.
Notamos também que a falta de comprometimento é geral, vimos o
pessoal de apoio sem nenhum carinho ou zelo pela sua parte no serviço que é
o da limpeza e distribuição de merenda. O que vimos que estavam desleixadas
com roupas não adequadas ao serviço, já que a Prefeitura Municipal através da
Secretaria de Educação envia uniformes específicos para cada setor. Os
calçados que deveriam ser tênis, foram deixados de lado com as mesmas
lavando banheiros descalças ou de chinelos sem se preocupar com a sua
própria higiene.
25
Segundo Bossa (2000) A psicopedagogia assume um compromisso
com a melhoria da qualidade do ensino sua atuação para o espaço escolar,
atendendo, sobretudo, aos problemas cruciais da educação (...) as
intervenções para a melhoria da qualidade do ambiente escolar. (p.68)
Na cozinha vimos cozinheiras sem toucas ou aventais que é uma
das principais orientações dadas pela supervisão de merenda e setor de
nutrição, que dentro da Secretaria de Educação é um dos mais organizados e
competentes. Notamos também a falta de carinho com os alunos na hora da
distribuição da merenda em si.
A psicopedagogia no âmbito da sua atuação preventiva, preocupa-
se especialmente em buscar a identidade da escola. E por não haver esse
profissional para elaborar um diagnóstico do que é preciso ser melhorado no
próprio ambiente escolar notamos o incomodo que toda essa situação causa,
tanto aos alunos, como para eles próprios, que se sentem abandonados e sem
estímulo, principalmente por parte da Orientadora Pedagógica e Direção, as
mesmas são muito faltosas e praticamente a escola fica sem direção como um
barco sem timoneiro.
A psicopedagoga Maria Lucia Leme Weiss (2000, apud Bossa) diz
que:
o trabalho preventivo junto à escola, deve-se levar em consideração, inicialmente, quem são os protagonistas dessa história: professor e aluno. Porém, estes não estão sozinhos: participam, também, a família e outros membros da comunidade que interfere no processo de aprendizagem – aqueles que decidem sobre as necessidades e prioridades escolares. (p.91)
A Orientadora Pedagógica não se mostra interessada em conhecer
profundamente a comunidade escolar, tratando seu trabalho superficialmente,
não reconhecendo os problemas, nem tomando atitudes que a ela compete,
pois a mesma é conivente com o mau procedimento da direção, pois “leva”
vantagem em alguns casos.
De acordo com a fala de alguns professores, a diretora não tem o
mínimo comprometimento com esse trabalho tão importante dentro da
26
sociedade, que é transformar as crianças em cidadãos críticos e conscientes
dos seus direitos e deveres e sobretudo humanos.
As escolas existem para agir no mundo, na sociedade e na história.
Agir planejadamente, intencionalmente, e, por isto, com direção. A escola
constitui-se em uma organização sistêmica aberta, conjunto de elementos, que
interagem e se influenciam mutuamente, conjunto esse relacionado, na forma
de troca de influências, ao meio em que se insere. Isso é tudo que falta nessa
escola.
Diante de todos esse fatos demos início a intervenção onde
primeiramente foi analisado o Projeto Político Pedagógico da Unidade Escolar,
onde foi verificado o planejamento das atividades se correspondem com tudo o
que vimos.
Posteriormente partimos para as ações que nos competem como
psicopedagogas, onde procuramos resgatar a auto-estima dos docentes,
discentes, pessoal de apoio, família, comunidade e mesmo a direção. Que
acreditamos não ser uma tarefa fácil, será para a prática psicopedagógica um
grande desafio.
“o desafio que define quem somos nem o que somos capazes de
ser, mas como enfrentamos esse desafio: podemos incendiar ruínas ou
construir, através delas e passo a passo um caminho que nos leve a
liberdade.1”
3.2. A intervenção
Para VISCA (1987),
A intervenção psicopedagógica, que acontece após o processo diagnóstico, denomina-se Processo Corretor por ser um caminho que supõe um constante “devenir” e por conceber a busca do correto a partir da relação entre o aprendiz e o agente corretor. É da cooperação entre ambos que nasce a possibilidade de superação das dificuldades2.
1 BACH, Richard. De nada por acaso. Citado por ARANTES, Andréa. O processo de supervisão grupal psicopedagógico: um olhas lúdoco em educação. IN: BEAUCLAIR, João. Psicopedagogia: Trabalhando competências, criando habilidades. Rio de Janeiro: WAK, 2004 2 http://www.psicopedagogia.pro.br/Ambito_do_Individuo/Artigos/Caixa_de_trabalho/caixa_de_trabalho.html
27
A intervenção psicopedagógica buscará não se limitar à
compreensão da dificuldade, mas à aquisição de novos comportamentos que
levem à sua superação, buscando não se limitar à compreensão da dificuldade,
mas à aquisição de novos comportamentos que levem à sua superação.
Desta forma analisamos o Projeto Político Pedagógico da Unidade
escolar junto a equipe (professores, apoio, comunidade, orientação e direção).
Neste trabalho que foi aberto principalmente aos responsáveis pelos alunos,
onde verificamos que o teor do documento não condiz com a realidade local.
Era apenas mais um documento inserido na mesma.
A intervenção psicopedagógica voltada também para a família
poderá ajudar no real conhecimento delas, caso não estiverem claras ou forem
apenas parcialmente compreendidas, criando a possibilidade de compreensão
do outro, a adequação de papéis e de limites.
Demos início a um trabalho de conscientização de que o PPP
deverá ser consultado e praticado por todos os que estão envolvidos com a
educação dentro desta Unidade Escolar.
Na reunião com todos foi realizado a dinâmica do barbante (anexo
I), onde mostramos a importância da união entre todos os membros da escola
e o seu compromisso unidos uns aos outros. O compromisso do
psicopedagogo é com a transformação da nossa realidade escolar, e só
através desse exercício reflexivo superaremos os obstáculos que se nos impõe
(Bossa, 2000, p.15).
Na leitura do texto “calo ou Falo” ? de Jacira B. Medeiros, (anexo II)
mostrando a importância de dá liberdade as pessoas em se expressar através
da linguagem e então discutimos a problemática das relações dentro da
Unidade Escolar.
Dentro dessas discussões e reuniões fizemos a sugestão para a
construção de um projeto onde todos os seguimentos da unidade escolar e
comunidade participam juntos, dando opiniões, sugestões e divisão de tarefas.
Este projeto deverá trazer a união e a auto-estima, culminando numa
28
festividade esperada com entusiasmo por todos onde serão expostos os
trabalhos confeccionados pelos alunos, a exposição será aberta a comunidade
vizinha.
A atuação psicopedagógica, enquanto protetora e facilitadora das
relações, repercutirá em envolvimento na manutenção de um sistema familiar
com uma saudável circulação do conhecimento, possibilitando o equilíbrio de
poder entre seus membros, clareza na definição de papéis e de limites.
Os projetos que serão realizados em conjunto, deverão trazer para
a unidade escolar um retorno da auto-estima dos alunos e professores. Com a
ajuda e o comprometimento do pessoal de apoio, que se sentirão mais
valorizados, a sua auto-estima também se elevará, fazendo com que os
mesmos trabalhem com mais carinho e dedicação, tendo plena certeza que o
seu trabalho é de grande relevância dentro da Unidade Escolar e que ele
também é um educador.
Ao deixarmos a Unidade Escolar procuramos fazer uma reflexão do
quanto é importante a presença do psicopedagogo em uma situação tão difícil
como a que experimentamos e realmente entendemos o quanto se faz
necessário refletir num modo de intervenção psicopedagógica que possa olhar
para o todo, isto é, para o discurso social escolar amplo e para as partes
simultaneamente, para os conflitos existenciais mais amplos, sem deixar de
lado os conflitos focais inerentes à escolaridade e à singularidade do sujeito.
29
CONCLUSÃO
Falar sobre Educação Infantil hoje e, em especial, suas professoras
exige que se destaquem tanto os avanços, quanto os retrocessos e impasses
que a área vive, uma vez que esta Educação como direito da criança é recente
no Brasil.
As legislações recentes (Constituição de 88, LDB 96) trouxeram
deliberações, sendo uma das mais significativas a inclusão das instituições de
Educação Infantil no capítulo da Educação a partir da definição de sua função
de “educar e cuidar de forma indissociável e complementar as crianças de 0 a
6 anos”. Ou seja, faz parte da Educação básica, mas não tem como objetivo o
“ensino” e, sim, a “educação” das crianças pequenas. Mais do que simples jogo
de palavras, a escolha pelas palavras “educar e cuidar” estava relacionada à
forma como creches e pré-escolas surgiram e se consolidaram no Brasil.
Vivemos um novo momento, que exige dos educadores consciência
sobre a necessidade de um espaço que contemple todas as dimensões do
humano, sem esquecer que toda intervenção educativa (inevitável enquanto
processo de constituição de novos sujeitos na cultura) mantém em si um
movimento contraditório e dinâmico entre indivíduo e cultura, movimento este
que precisa ser mantido sobre estreita vigilância por aqueles que se pretendem
educadores, para evitar que se exacerbe o poder controlador das
características hegemônicas da cultura em detrimento do exercício pleno das
capacidades humanas, sobretudo a criação.
No contexto das instituições de Educação Infantil, ainda se constata
uma separação entre o educar e o cuidar que tem que ser questionada. Ou
seja, o que parecia na década de 90 como solução para a área hoje pode e
precisa ser questionado.
Se o cuidado faz parte da vida humana e é constitutivo de todas as
relações entre seres humanos, será que é necessário utilizá-lo na Educação
Infantil? Que benefícios e que prejuízos a expressão “educar e cuidar de forma
30
indissociável” têm trazido para o trabalho com as crianças? A educação infantil
na escola pública ainda tem caráter assistencialista na esfera familiar, a creche
ainda é o lugar onde as mães deixam os filhos para poderem trabalhar, e
acreditam que eles estão lá apenas para brincar, descompromissados com a
aprendizagem.
O resgate da qualidade do ensino da escola pública se faz
necessário e urgente, pois esse é um dos elementos mais importantes para
que se conquiste a credibilidade da população na escola pública.
Em Magé a SMECEL – Secretária Municipal de Esporte Cultura e
Lazer não incluiu em seu quadro funcional o psicopedagogo. Desta forma, há
um desequilíbrio não apenas no que se diz ao processo de deficiência na
aprendizagem, como também nas habilidades e competências, pois não se
encontra reforçada a idéia do aprendizado permanente, não há constituição de
uma intervenção psicopedagógica, nem tem em mente as finalidades de
proposta de inclusão em educação, nem a construção de um projeto político
pedagógico. Para assistir a escola, os professores, os pais, não para
resolverem o problema imediato, mas sim a desenvolverem, por meio da
resolução desse problema, novas habilidades, percepções, entendimentos.
Consideramos que a Educação Infantil deve ser a mais bem
estruturada, tanto na formação dos professores, bem como na escolha
profissional especializada, pois é nesta fase que a criança começa a formação
de valores que vão formar o seu caráter.
O enfoque de intervenção psicopedagógica a gestão escolar,
trabalhando a liderança profissional do diretor e cada membro de sua equipe. A
gestão escolar tendo como alvo projetos educativos, através de um processo
participativo e com apoio positivo e contínuo aos agentes.
Dessa forma, a dinâmica e o texto, na realidade, eram pretextos para
desencadear diálogos, trocas de experiências, emoções, numa verdadeira
ação de repensar a prática que temos e a prática que queremos, numa
abordagem de educação de qualidade para todos, que nem expulse e nem
31
segregue nenhum aluno. O papel do psicopedagogo sendo o de integrar os
agentes.
As atividades apresentadas foram o início para uma proposta
estruturada, apresentada a uma escola que estava voltada para a inércia, o
abandono, o descompromisso dos seus gestores. Alguns professores
comprometidos com a educação queriam uma mudança; porém, sem saber
como iniciar, pois como já ressaltamos anteriormente a educação pública
municipal do município de Magé ainda não conta com a presença do
psicopedagogo. Mas acreditamos que a nossa passagem por essa Unidade
Escolar sirva para reflexão sobre uma proposta de intervenção
psicopedagógica institucional. Como cada instituição constitui uma experiência
singular, a vivência desse processo se concretiza como material de estudo e
não de modelo a ser seguido. Uma vez gestores, discentes, pessoal de apoio
encontrando o caminho para identificar suas barreiras à aprendizagem e à
participação e, promovendo sua superação, encontrar-se-á finalizado o
trabalho da intervenção psicopedagógica.
32
BIBLIOGRAFIA
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33
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34
ANEXOS
35
ANEXO I
DINÂMICA DO BARBANTE
• Pedaços de barbante serão distribuídos entre os participantes. • Em seguida pedir para que dêem nóis, só com a mão esquerda e desfazê-
los com a mão direita. • Logo após pedir para que façam o mesmo com as duas mãos.
OBJETIVO DA DINÂMICA
• Evocar sensações e percepções.
36
ANEXO II TEXTO
CALO OU FALO?
Jacira B. Medeiros
Agora eu estou aqui e me mandam falar e me pedem para escrever. Eu, que só aprendi a ficar estagnado, a ficar preso ao passado. Eu que só aprendi a dizer sim porque o “não” trazia confusão! Querem que eu escreva, que eu abra as portas de mim. Querem que eu pense e reflita... E eu me perco no fim. Aprendi a ficar quieta sem protestos, sem revolução. E hoje todos me gritam – não! Aprendi a viver sem saber quem era, qual era a minha história. E hoje me pedem que eu escreva sobre mim. Eu, que não falei em tantas vezes que quis falar. Eu que aprendi a ouvir calado dizendo sempre sim. Fico entre o não sei se falo e o não sei se calo. Tenho medo de explodir. Tenho medo de mudar. E quando me dizem: - Fale, reflita! Eu paro. Parece tarde para falar. E me perco de novo. Fecho todas as portas e vejo a engrenagem que me consumiu. De tijolo em tijolo paredes se construíram sem eu poder abrir as portas de mim sem eu poder ver brilhar nas janelas o sol de minhas idéias. E hoje me vejo num mundo, como escravo mudo, onde senhores da voz roubaram ou tentam roubar o meu “EU”. _________________________________ Reflexão de uma ex-aluna da Filosofia da Educação, representando a 1a turma do curso de férias que iniciou a produção de textos nesta disciplina. “Calo ou Falo” foi lido publicamente durante o seminário “Do Silêncio à Palavra” realizado em fevereiro de 1984 na FIDENE.
1. Manifestações do falar ou do calar na sociedade. Por que?
2. O significado do Calar ou Falar? 3. Como a educação pode influenciar o
calar ou o falar?
37
ANEXO III
38
39
40
ÍNDICE
Introdução ............................................................................................................. 08
CAPÍTULO III – Uma visão da Educação Infantil: Os educadores e suas propostas 1.1. Educadores e filósofos que influenciaram a Educação Infantil .................. 11 1.2. O atendimento a infância no Brasil ............................................................ 14
CAPÍTULO III – Discutindo a Educação Infantil no Município de Magé: Política e Legislação 2.1. O educador infantil em sua prática educacional : proposta pedagógica ou dever a cumprir. ..................................................................................... 17 2.2. Um olhar sob o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil ....... 19
CAPÍTULO III – O psicopedagogo frente as demandas educacionais no
município de Magé. 3.1. Estudo de caso ......................................................................................... 22 3.2. A intervenção ............................................................................................ 26
Conclusão ............................................................................................................ 29
Bibliografia ........................................................................................................... 32
Anexos: • Dinâmica do Barbante ............................................................................. 35 • Texto “calo ou falo? (Jacira B. Medeiros) ................................................. 36 • Atividades Extra - Classe........................................................................... 37
Índice.................................................................................................................... 40
41
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PSICOPEDAGOGIA
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
REFLEXÃO SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL NAS ESCOLAS
PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE MAGÉ E A AUSÊNCIA DO
PSICOPEDAGOGO
Elaborada por: Marcia Fátima Ferreira de Oliveira
Foi analisada e aprovada com
Grau: ...................................
Rio de Janeiro, _____ de ____________ de 2005.
___________________________________ Profor Celso Sanchez
(Orientador)
Rio de Janeiro Julho 2005.