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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO “A VEZ DO MESTRE” A RESPONSABILIDADE CIVIL DO PROFISSIONAL LIBERAL E O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR POR: LUIZ RENATO NUNES DE SOUZA ORIENTADOR: PROFESSOR WILLIAM ROCHA Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO “A VEZ DO MESTRE”

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO PROFISSIONAL LIBERAL E O CÓDIGO

DE DEFESA DO CONSUMIDOR

POR: LUIZ RENATO NUNES DE SOUZA

ORIENTADOR: PROFESSOR WILLIAM ROCHA

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO “A VEZ DO MESTRE”

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO PROFISSIONAL LIBERAL E O CÓDIGO

DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Objetivo: o presente trabalho tem como objetivo o estudo da

responsabilidade civil sob múltiplos aspectos, especificamente a

responsabilidade do profissional liberal sob a ótica da legislação

consumerista.

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Dedico o presente trabalho a minha família,

pelo amor incondicional e apoio nos momentos

difíceis.

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“De tanto ver triunfar as

nulidades,

De tanto ver crescer as

injustiças,

De tanto ver agigantarem-se os

poderes nas mãos dos maus, o

homem chega a desanimar-se

da virtude, a rir-se da honra,

a ter vergonha de ser honesto!”

Rui Barbosa

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RESUMO

A presente monografia apresenta como objeto de pesquisa a

responsabilidade civil dos profissionais liberais à luz do Código de

Defesa do Consumidor.

Tem-se por escopo o estudo da responsabilidade civil sob

múltiplos aspectos, especificamente a responsabilidade do

profissional liberal sob a ótica da legislação consumerista, uma vez

que se trata de tema de suma importância nas relações de consumo,

especialmente em tempos atuais, e cuja discussão se faz

necessária.

O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90)

implementou um sistema equânime de regras jurídicas e, com

relação à temática da responsabilidade civil, procurou-se oferecer ao

ente tutelado efetiva prevenção e reparação de danos que possam

advir das relações de consumo.

Nesse sentido se faz necessário o estudo, procurando-se,

com sustentação nos estudos bibliográficos existentes sobre

responsabilidade civil nas relações de consumo e nas decisões dos

tribunais pátrios, propor meios e possíveis soluções para que o

consumidor seja devidamente ressarcido por fornecedores, através

do fortalecimento dos princípios trazidos pela Legislação Especial e

do incentivo à sua aplicação imediata, como forma de se alcançar

justiça social.

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METODOLOGIA

A presente pesquisa terá, em sua essência, um caráter

eminentemente analítico, ao passo que buscará analisar, examinar o

tema objeto do trabalho de monografia, seus requisitos e distingui-la

de outros institutos e afins, pretendendo encontrar respostas às

questões norteadoras que motivaram a pesquisa.

Buscar-se-á, como fonte de pesquisa bibliográfica, livros e

artigos, inicialmente, de autores consagrados que abordam o tema.

Em derradeiras considerações, serão investigados, nos

órgãos do Poder Judiciário, julgados (sentenças e acórdãos) que

enfrentaram o tema, com vistas a perceber a tendência jurisdicional.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................... p. 07

CAPÍTULO I - DA RESPONSABILIDADE CIVIL......................................... p. 09

1.1 - Noções gerais........................................................................ p. 09

1.2 - Componentes da relação jurídica à luz do CDC................... p. 10

1.3 - Da responsabilidade civil no CDC......................................... p. 15

CAPÍTULO II - O PROFISSIONAL LIBERAL............................................... p. 19

2.1 - Conceito................................................................................ p. 19

2.2 - A responsabilidade civil do profissional liberal no CDC........ p. 20

2.3 - As obrigações assumidas pelo profissional liberal................ p. 29

CAPÍTULO III - RESPONSABILIDADE CIVIL: CAUSAS EXCLUDENTES.. p. 33

3.1 - A inexistência de defeito no serviço prestado....................... p. 33

3.2 - Culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros.................... p. 35

3.3 - Caso fortuito e força maior.................................................... p. 37

3.4 - Cláusula de não indenizar..................................................... p. 39

3.5 - Decadência e prescrição....................................................... p. 40

CAPÍTULO IV - ENTENDIMENTOS JURISPRUDENCIAIS........................... p. 42

CONCLUSÃO ............................................................................................... p. 48

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... p. 50

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INTRODUÇÃO

A responsabilidade civil nas relações de consumo é um dos temas que

comportam mais discussão na seara do Direito Privado e, notadamente, no

Direito do Consumidor. Com o Código de Defesa do Consumidor (Lei

8.078/90), implementou-se um sistema equânime de regras jurídicas e, com

relação à temática da responsabilidade civil, procurou-se oferecer ao ente

tutelado efetiva prevenção e reparação de danos que possam advir das

relações de consumo.

O estudo aprofundado da responsabilidade civil dos profissionais liberais

sob o aspecto do direito do consumidor é de extrema e inquestionável

relevância para os operadores do Direito, pois se trata de questão vivenciada

no cotidiano não apenas destes, mas de toda a sociedade, que participa das

diversas relações consumeristas diariamente.

Partindo-se do pressuposto de que o Direito do Consumidor está

intimamente ligado ao desenvolvimento das relações econômicas e que a

prática de tais atos de consumo se faz necessária e, uma vez que se busca

uma relação de consumo satisfatória e harmoniosa, necessária se faz,

também, a proteção dessa relação.

O Código de Defesa do Consumidor constitui um diploma legal com

estruturas e conteúdos modernos que se encontram em sintonia com a

realidade brasileira. As inovações trazidas por ele vieram para atender aos

anseios da sociedade consumidora, um exemplo disto foi a adoção da

responsabilidade objetiva como regra para a reparação de danos.

Ocorre que, decorridos vinte anos de sua instituição, verifica-se que a

população consumidora ainda não se conscientizou de todos os seus direitos e

deveres. A prática de atos de consumo é inerente a elas e isto passou a ser

uma das maiores dificuldades daqueles que lutam pelos direitos dos

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consumidores: proporcionar a esta boa parcela da sociedade o acesso ao

conhecimento de seus direitos e deveres.

Depois de verificar a amplitude de tal diploma legal, chegamos à

conclusão de que devemos melhor analisar o parágrafo 40, artigo 14, que trata

especificamente da responsabilidade dos profissionais liberais. Os estudos

sobre o tema são diversos, contudo há ainda necessidade de alguns

esclarecimentos para ajudar que as disposições do Código de Defesa do

Consumidor tornem-se mais sólidas.

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CAPÍTULO I

DA RESPONSABILIDADE CIVIL

1.1. Noções gerais

Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou

imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem fica obrigado a reparar

o dano.

Por ilustrativo, transcrever-se-ão os artigos 186 e 927 do Código

Civil: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,

violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete

ato ilícito” e “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,

fica obrigado a repará-lo”. Sendo que, “Haverá obrigação de reparar o dano,

independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a

atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua

natureza, risco para os direitos de outrem” (parágrafo único do artigo 927

CC/2002).

Em um esquema didático, pode-se dizer que a responsabilidade civil

classifica-se em direta e indireta; contratual e extracontratual, além da objetiva

e subjetiva. Diz-se direta, quando ela recai sobre a própria pessoa do infrator, e

indireta, naturalmente, quando incide sobre uma pessoa física ou jurídica (tanto

de direito privado quanto público) por ato praticado por seus agentes, quer

sejam empregados, representantes ou mandatários.

A responsabilidade contratual decorre, obviamente, de um pacto e

manifesta-se quando ocorre o inadimplemento do ajuste; já a extracontratual

decorre de ato ocorrido em hipótese em que não haja convenção escrita. Em

outras palavras, que resulte de prescrições legais. A responsabilidade

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extracontratual, também se denomina responsabilidade aquiliana ou culpa

aquiliana.

Quanto à responsabilidade subjetiva e objetiva, tem-se como

parâmetro a culpa. Na segunda, basta a demonstração do dano e do nexo

causal entre a conduta e o resultado. Pouco importará se o agente atuou com

negligência, imperícia ou imprudência, pode inclusive ter tomado todo o

cuidado possível para que o dano não ocorresse, mas se este se deu, deverá

repará-lo. Na responsabilidade objetiva há um dever de incolumidade, de

segurança. Assim, só afastará sua responsabilidade se provar a ocorrência de

caso fortuito, força maior ou culpa exclusiva da vítima. Tem por base que

aquele que tem o proveito de certa atividade deve suportar os riscos que esta

proporciona.

A Constituição vigente, em seu art. 37, §6°, preconiza que: “As

pessoas jurídicas de direto público e as de direito privado prestadoras de

serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa

qualidade, causarem a terceiros (...)”. Como se observa, tal dispositivo

agasalha a responsabilidade objetiva, sendo o bastante realçar que o regresso

só caberá se houver dolo ou culpa do agente causador do dano.

Neste passo, urge destacar uma outra vertente do instituto em voga:

a responsabilidade extrapatrimonial. Esta se encontra diretamente relacionada

ao dano moral, que é um consectário dos direitos da personalidade. Os danos

morais, observa Rui Stoco, ‘“são apensos aos direitos da personalidade, assim

como o direito à imagem constitui um direito da personalidade, ou seja, àqueles

direitos da pessoa sobre ela mesma, no dizer de Teresa Aurora””1.

1.2. Componentes da Relação Jurídica à luz do Código de

Defesa do Consumidor

1 O dano estético, São Paulo, Rt, 1980, página 24.

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O Código de Defesa do Consumidor regula a responsabilidade civil

de duas formas, ambas inseridas no Capítulo IV, mas em seções distintas. A

primeira é a responsabilidade pelo fato do produto e do serviço, constante na

Seção II - a que nos interessa neste trabalho; a segunda é a responsabilidade

por vícios do produto ou do serviço, disposta na Seção III.

Tanto uma forma de responsabilidade, quanto outra, adotam a

Teoria Objetiva, ou seja, quando se fala em relação de consumo, foge-se à

regra do artigo 159 do atual Código Civil, que exige o elemento culpa para

indenizar o dano causado. Assim, tal previsão do CC torna-se inaplicável nas

relações de consumo, exceto quando se fala da relação entre advogado e

cliente, onde se aplica a responsabilidade subjetiva.

Conclui-se, portanto, que se uma obrigação nasce de uma relação

de consumo, aplica-se a regra do CDC, sem se questionar se proveniente de

uma celebração contratual ou não.

Destarte, não há que se falar em confusão quanto ao âmbito de

incidência do CDC, haja vista a concomitante existência do Código Civil e do

Código Comercial, pois aquele dispõe, em seu artigo 10, sobre o seu âmbito de

incidência, quando visa a proteção e a defesa do consumidor. Para isto,

conceitua nos artigos 20 e 30, para os seus efeitos, o que vem a ser

consumidor, fornecedor, produtos e serviços.

Segundo os ensinamentos de Odete Novais Carneiro de Queiroz2:

Vê-se, pois, que a primeira preocupação do legislador de 1990 foi a de estabelecer parâmetros para a identificação dos componentes da relação jurídica de consumo, que é justamente o objeto de que trata primordialmente a lei sob comento.

2. QUEIROZ, Odete Novais Carneiro de. Da responsabilidade por vício do produto e do serviço. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 28.

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Para conduzir nosso estudo, torna-se mister definir brevemente o

que vem a ser fornecedor, consumidor, serviço e produto, pois sabendo-se

identificar os componentes da relação jurídica, não há que se falar em invasão

de um Código em outro.

Importante salientar que toda relação jurídica é composta por um

sujeito ativo, que se beneficia da norma; um sujeito passivo, sobre o qual

incidem os deveres impostos pela norma; um objeto, qual seja, o bem sobre o

qual recai o direito, e um fato propulsor. Este último vem a ser o vínculo que

liga o sujeito ativo ao sujeito passivo. Cada um destes componentes da relação

jurídica equivale a um componente da relação jurídica de consumo, que são

respectivamente: o consumidor, o fornecedor, o produto ou serviço, e o seu

fato propulsor, seja ele contratual ou extracontratual.

O conceito de consumidor foi colocado de forma expressa e geral no

artigo 20. E, no decorrer do CDC, foram inseridos desdobramentos conforme as

necessidades de cada matéria abordada.

Trata-se o art. 20 de um conceito minucioso e objetivo, pois para se

ter a titularidade de consumidor, depende-se de um dado fático, qual seja, o

destino final, extrínseco ao sujeito. Desta forma, o produto ou serviço deve

cumprir todas as etapas da cadeia econômica, chegando ao seu destinatário

final. Aí então, com a utilização e aquisição do bem por este (destinatário final)

caracteriza-se a figura do consumidor e sua incidência.

O art. 17 do mesmo texto legal equipara “aos consumidores todas as

vítimas do evento”. Não se trata de novo conceito de consumidor, mas sim de

uma equiparação. As pessoas contempladas pelo art. 17 são tratadas como

consumidores, pois o dispositivo visa proteger aqueles, que não sendo

consumidores, sofrem um dano em decorrência de acidente de consumo.

Podem ser pessoas que mantenham relação com o consumidor ou estranhos.

O art. 29 equipara aos consumidores, pessoas, determináveis ou

não, expostas à prática comercial ou para efeito de proteção contratual.

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Contudo, há uma autolimitação às práticas comerciais, incluindo a publicidade,

capítulo no qual o dispositivo se insere, e a proteção comercial, capítulo

seguinte.

As pessoas jurídicas de cunho empresarial são incluídas como

consumidoras, desde que sejam destinatárias finais. Desta forma, a Lei

8.078/90 admite que a pessoa jurídica seja beneficiada por suas normas

protetivas, desde que destinatária final do produto ou serviço.

A coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que tenham

intervindo na relação de consumo, também pode ser tratada como

consumidores. Isto acontece para que haja tutela dos interesses

metaindividuais das categorias potenciais de consumo.

No outro pólo da relação jurídica de consumo encontra-se o

fornecedor. O CDC o classificou como todo e qualquer praticante de uma

atividade econômica dirigida ao mercado de consumo. Abrange, desta forma, o

produtor, o fabricante, o importador, o exportador, o comerciante, o prestador

de serviços. Enfim, todo aquele que aliena bem ao consumidor, cede-lhe o uso

de bem a qualquer título ou presta-lhe serviços é fornecedor. A

profissionalidade é que determina a incidência da norma jurídica. Trata-se

então, de qualquer pessoa física - qualquer um que, a título singular, mediante

desempenho de atividade mercantil ou civil e de forma habitual coloque no

mercado produtos ou serviços; ou jurídica que faça parte de uma associação

mercantil ou civil e da mesma forma que a pessoa física desenvolva a atividade

já falada.

O fornecedor pode também, ser público ou privado, nacional ou

estrangeiro (conforme dispõe o art. 30). Público, se se tratar do próprio Poder

Público (caracterizando-se como fornecedor este, suas empresas públicas que

desenvolvem atividade de produção ou suas concessionárias de serviços

públicos).

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Insta ressaltar que a despersonalização constitui importante

característica do fornecedor. Ou seja, embora não dotados de personalidade

jurídica, seja no âmbito mercantil ou civil, exercem atividades produtivas de

bens e serviços.

O art. 12 amplia a caracterização do que vem a ser fornecedor de

acordo com a atividade econômica desenvolvida para, assim, responsabilizá-lo

pelo evento danoso. O fabricante é aquele que realiza atividade econômica de

transformação de produtos, enquadra-se neste conceito o manufaturador final,

o manufaturador de componentes, de matérias-primas e o montador. O

produtor é quem desenvolve atividade econômica extrativa ou agropecuária, ou

seja, no âmbito do CDC é o fornecedor de produtos não industrializados. O

construtor coloca no mercado um produto imobiliário. Estes três são colocados

pelo CDC como responsáveis reais pelo dano. O importador é responsável

presumido e é aquele que introduz, de forma lícita ou ilícita, mercadorias de

origem estrangeira no mercado nacional. Cabe lembrar, que se trata de

importador tanto aquele que introduz produto final como o de componente, no

mercado nacional. O comerciante é aquele que realiza atividades de

intermediação com o intuito lucrativo.

O produto tem o sentido de bem, seja este móvel ou imóvel, material

ou imaterial, conforme define a Lei 8.078/90. Seria, como esclarecem os

autores do anteprojeto, melhor falar-se em bem e não produtos. Isto ocorre

pelo seguinte motivo: o termo bem é mais abrangente e se haverá de cuidar de

bens como efetivos objetos das relações de consumo.

Com a genialidade costumeira, o eminente professor Sílvio

Rodrigues diz que bens ““são coisas que, sendo úteis aos homens, provocam a

sua cupidez e, por conseguinte, são objeto de apropriação privada”” 3. Desta

maneira, para o CDC, qualquer objeto de interesse para a relação jurídica e

destinado a satisfazer uma necessidade do consumidor, é entendido como

bem.

3 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil. 18. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 5. v. 4: Responsabilidade Civil.

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A questão atinente aos serviços, conforme preceitua o parágrafo 20

do artigo 30 é de extrema importância para este estudo vez que, o advogado,

na relação de consumo, constitui-se um prestador de serviços. O conceito de

serviços fornecido pelo CDC gera algumas confusões quando dispõe que

podem ser atividades de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária.

Mas, em suma, trata-se do trabalho prestado pelo fornecedor, inclusive

serviços públicos e serviços prestados por concessionárias e permissionárias

de órgãos públicos, sem o caráter trabalhista.

Depois de brevemente falar sobre os elementos pertencentes à

relação jurídica de consumo, é chegada a hora de adentrar na questão da

responsabilização do evento danoso na mesma.

1.3 – Da Responsabilidade Civil no Código de Defesa do

Consumidor

A responsabilidade no CDC é tratada de maneira específica em dois

artigos. O artigo 12 dispõe:

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

O artigo 14 declara de igual maneira a adoção à Teoria Objetiva:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação, bem como por

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informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

O que prevalece na questão em estudo é a reparação do dano

causado ao consumidor. Não importa se há má-fé ou boa-fé, a

responsabilidade do Código de Defesa do Consumidor é do fabricante,

produtor, construtor, nacional ou estrangeiro, e do importador que prestaram

serviços defeituosos. A culpa é excluída nesta relação, ou seja, ela não é mais

caracterizada como fato gerador da responsabilidade, os seus três aspectos

não são considerados, importando apenas o dano.

Consoante nos ensina Moitinho Almeida4:

Consagrada a responsabilidade objetiva do fornecedor, não se perquire a existência de culpa; sua ocorrência é irrelevante e sua verificação desnecessária, pois não há interferência na responsabilização. Para a reparação de danos, do particular, basta a demonstração do nexo causal e do dano ressarcível e sua extensão.

Ao consumidor cabe apenas provar o defeito e o dano, abstendo-se

de provar o nexo causal. O que se dispensa é a prova da negligência ou

imprudência do fornecedor e não a existência do dano.

A responsabilidade pelo fato do produto e do serviço, constante na

Seção II, consagra, como já dito, a Teoria da Responsabilidade Objetiva.

A responsabilidade pelo fato do produto responsabiliza o fornecedor,

sendo este colocado em sentido amplo como todos aqueles que participam do

ciclo produtivo-distributivo pertencente na relação de consumo. Como já

anteriormente comentado, fazem parte deste elenco todos aqueles aludidos

pelo artigo 12 do CDC, quais sejam: o fabricante, o produtor, o construtor, o

importador.

4 ALMEIDA. L P. Moitinho. Responsabilidade civil dos advogados. 2. ed: Coimbra, 2008. p. 65

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Há que se falar que, apesar de desconsiderar-se a investigação

sobre a existência de culpa por parte do fornecedor, não significa que o

eventus damni, defeito do produto e a relação de causalidade entre ambos,

estão excluídos. Por isto que o dispositivo alude aos danos causados aos

consumidores por defeitos decorrentes de projetos, etc.

A segurança é o ponto máximo explicitado pelo legislador. Destarte,

um produto é defeituoso quando não atender à segurança que dele se espera,

levando, sempre, em consideração os aspectos extrínsecos (como

apresentação do produto) e intrínsecos (como a utilização e a época em que foi

colocado em circulação, pois dependendo desta época, o fornecedor poderá ou

não se eximir da responsabilidade).

O parágrafo 20 do artigo em menção fala das inovações tecnológicas

e desconsidera que um produto é defeituoso pelo simples fato de outro de

melhor qualidade ter sido colocado no mercado.

O parágrafo 30 é de extrema importância, uma vez que traz as

causas excludentes da responsabilidade. Desta forma, se o fornecedor não

colocou o produto no mercado, ou se embora haja-o colocado no mercado, o

defeito inexistir ou se provar que a culpa foi exclusiva do consumidor ou de

terceiro, se exime da responsabilização. Muito embora o CDC não tenha

disposto nos incisos do parágrafo 30 do artigo 12, as hipóteses de caso fortuito

ou força maior podem ser consideradas como excludentes de

responsabilidade. Isto pode se dar desde que se instale antes ou durante o

processo produtivo. Se o caso fortuito ou força maior ocorrer após a introdução

do produto no mercado de consumo, ocorre uma ruptura do nexo de

causalidade que liga o defeito ao dano.

Cabe lembrar que, em alguns casos o comerciante também se

responsabiliza pelo dano causado ao consumidor. Trata-se da

responsabilidade subsidiária. Configura-se quando não for possível identificar o

fabricante, produtor, e importador dos produtos que causaram o dano, quando

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o produto ou serviço não trouxer identificação clara ou quando o comerciante

não conservar adequadamente os produtos perecíveis.

Nos dois primeiros casos caberá ao comerciante, caso ele queira,

ação de regresso em face do fabricante, produtor, construtor ou importador.

Quanto a não conservar adequadamente os produtos perecíveis cabe uma

ressalva uma vez que, o comerciante não possui neste caso responsabilidade

objetiva e sim subjetiva.

Quanto à responsabilidade pelo fato do serviço, há que se falar que

se trata da responsabilização pelos danos causados aos consumidores em

razão da prestação de serviços defeituosos mediante o concurso do defeito do

serviço, o evento danoso e a relação de causalidade entre ambos. Ocorrem os

defeitos intrínsecos e os defeitos extrínsecos quando os contratos de prestação

de serviços ou os meios publicitários não prestam informações claras e

precisas a respeito da fruição.

Entende-se por serviço defeituoso aquele que gera insegurança ao

consumidor quanto ao seu modo de fornecimento, os riscos de sua fruição e a

época em que foi prestado.

A responsabilidade objetiva impera neste dispositivo como em todo o

CDC. As hipóteses de exclusão da responsabilidade são as mesmas já

enumeradas anteriormente, inclusive ao que se refere às hipóteses de caso

fortuito ou força maior. Vale lembrar que, os órgãos públicos, também são

responsáveis pelos serviços prestados inadequadamente, cabendo-lhes a

mesma responsabilidade das empresas privadas.

Por fim, o parágrafo 40 abre exceção à responsabilidade objetiva do

CDC, quando dispõe que os profissionais liberais respondem pessoalmente

pelos danos causados mediante a verificação da culpa. Quanto a este

parágrafo, reportamo-nos a um capítulo posterior para melhor explicitação.

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CAPÍTULO II

O PROFISSIONAL LIBERAL

2.1. Conceito

Primeiramente, torna-se necessária a definição de profissional liberal

para um posterior estudo de sua colocação do CDC.

Entende-se por profissional liberal todo aquele que desenvolve

atividade específica de serviços, com independência técnica, e com

qualificação e habilitação determinadas pela lei ou pela divisão social do

trabalho. Nesse conceito estão abrangidas profissões: a) regulamentadas ou

não por lei; b) que exigem graduação universitária, ou apenas formação

técnica; c) reconhecidas socialmente, até mesmo sem exigência de formação

escolar. Na hipótese c) apenas estão incluídos os tipos sociais reconhecíveis.

As profissões liberais são melhor identificadas quando regulamentadas e

fiscalizadas pelo Estado (ou fiscalizadas por entidades, com delegação estatal

específica). A Constituição brasileira (art. 5º, XIII) prevê que é livre o exercício

de qualquer profissão, “atendidas as qualificações profissionais que a lei

estabelecer”. Essa regra é da liberdade de profissão, sendo a regulamentação

excepcional, nos casos de profissões já consolidadas e tradicionais, no

interesse maior da coletividade. As mudanças econômicas e tecnológicas

levam ao surgimento de novas profissões e ao fenecimento ou extinção de

outras.

A expressão liberal surgiu para identificar a profissão livre, que se

libertou das corporações de ofícios, no trânsito do Medievo para o Estado

Moderno.

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De acordo com o entendimento de Paulo Luiz neto Lobo5, ao

abordar o conceito de profissional liberal:

É caracterizado como “aquele que desenvolve atividade específica de serviços, com independência técnica, e com qualificação e habilitação determinadas pela lei ou pela divisão social de trabalho”.

As profissões reguladas pela lei ou não, que exigem formação

universitária ou técnica, reconhecidas socialmente, determinam a existência de

um profissional liberal.

A Constituição Federal de 1988 determina em seu art. 50, XIII que é

livre o exercício de qualquer profissão, desde que atendidas as qualificações

profissionais que a lei estabelecer. No que diz respeito ao advogado o artigo 18

da Lei 8.096/94 dispõe que a relação de emprego na qualidade de advogado,

não retira a isenção técnica muito menos reduz a independência profissional

inerentes à advocacia. O que identifica o profissional liberal é a independência

técnica e não sua autonomia.

2.2 – A responsabilidade civil do profissional liberal no CDC

O art. 14, "caput", do CDC, tal qual o art. 12 do mesmo diploma,

albergou de maneira inconteste o princípio da responsabilidade objetiva do

fornecedor, seja ele de serviços ou de produtos. Contudo, estabeleceu uma

exceção, prevista no § 4º do art. 14: "a responsabilidade pessoal dos

profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa".

5 LOBO, Paulo Luiz Neto. Comentários ao novo estatuto da advocacia e da OAB. Brasília: Brasília Jurídica, 1998, p. 162.

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A razão da imposição dessa exceção cinge-se ao fato de que os

profissionais liberais realizam habitualmente contratos com obrigações de meio

e não de resultado. E isso, porque não podem garantir a perfeição dos seus

serviços, pois os resultados destes estariam sempre na dependência de fatores

alheios ao seu empenho e dependência.

Acertada, pois, a opção do legislador em atribuir a verificação de

culpa para responsabilizar esses profissionais, já que não poderiam ser

responsabilizados caso não conseguissem efetivamente o resultado pretendido

pelo consumidor. Contudo, a teoria da culpa já não se mostra adequada para

ser aplicada em todos os casos de responsabilidade civil de ordem pessoal dos

profissionais liberais, principalmente nos casos em que se assume uma

obrigação de resultado.

Disso, porém, não se deve extrair que deve ser abolida tal exceção.

É preciso adaptá-la.

Temos, dessa forma, o surgimento da chamada Teoria do

Resultado, a qual entende que a questão está em estabelecer a quem incumbe

o ônus da prova quando a obrigação for de meio ou de resultado.

Importante se faz ressaltar que em nenhum momento, com a adoção

da Teoria do Resultado, será afastada a verificação da culpa, ou melhor, é

imprescindível a culpa para a responsabilização do profissional liberal. Logo, a

Teoria do Resultado não rompe com a Teoria da Culpa.

Além do mais, Rui Stoco6 esclarece que:

[...] a Teoria do resultado encontra aplicação plena aos profissionais liberais, tendo em vista que o art. 14, § 4º, do Código de Defesa do Consumidor reafirmou sua responsabilidade pessoal mediante a verifição de culpa.

6 STOCO, Rui. Responsabilidade civil e sua interpretação jurisprudencial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 84.

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Outrossim, adotando ou não a Teoria do Resultado, será ônus do

consumidor provar a existência do serviço prestado bem como o dano sofrido

em virtude do defeito ou vício desse serviço. A inversão do ônus probatório se

dará somente na verificação do elemento culpa.

Pois bem, a questão pode ser cindida em dois pontos: a apuração

da responsabilidade quando a obrigação assumida for de meio e quando for de

resultado.

Em grande parte dos serviços prestados por profissionais liberais é

assumida uma obrigação de meio, assegurando somente o emprego de todos

meios necessários para alcançar determinado objetivo.

Nesses casos, de obrigações de meio, restará ao consumidor provar

a culpa do profissional, isto é, que ele não agiu com atenção, diligência e

cuidados adequados na execução do contrato.

Por outro lado, o CDC elencou como direito básico do consumidor a

facilitação de sua defesa, inclusive com a inversão do ônus da prova, desde

que preenchido um dos requisitos pré-estabelecidos (art. 6º, VIII).

Assim, mesmo na obrigação de meio poderá ser invertido o ônus

probatório. Contudo, Oscar Ivan Prux 7 ressalta que deve o julgador ter extremo

cuidado ao inverter o ônus da prova, pois somente em situações especiais,

quando o juiz verificar que a produção de prova é muito difícil ou

absolutamente impossível para o consumidor é que se poderá utilizar desse

recurso.

Superada essa questão, passa-se à análise da responsabilidade do

profissional liberal nas obrigações de resultado.

Sendo a obrigação de resultado, a inversão do "onus probandi" é

automática, devendo o fornecedor de serviços (no caso, o profissional liberal)

responder com presunção de culpa, fórmula cujos efeitos práticos são 7 PRUX, Oscar Ivan. Responsabilidade civil do profissional liberal no Código de Defesa do Consumidor. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. p. 65.

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semelhantes aos da responsabilidade objetiva. Ocorre no caso uma presunção

"juris tantum" da culpa do fornecedor.

Embora não seja objetivamente considerada, a responsabilidade

com base na presunção da culpa cumpre também o escopo social de não se

deixar o dano sem reparação, interessando menos a culpa de quem causou

efetivamente o dano, para imputar a alguém a responsabilidade pela

indenização.

Assim sendo, para eximir-se da responsabilidade, deverá o

profissional provar, além das hipóteses comuns da exclusão da

responsabilidade, que não agiu com culpa. Caso não consiga, será

responsabilizado.

Em suma, Rui Stoco8 destaca que:

[...] em ambas [obrigações de meio e de resultado] a responsabilidade do profissional está escorada na culpa, ou seja, na atividade de meios culpa-se o agente pelo erro de percurso mas não pelo resultado, pelo qual não se responsabilizou. Na atividade de resultado culpa-se pelo erro de percurso e também pela não obtenção ou insucesso do resultado, porque este era o fim colimado e avençado, a "meta optata".

E conclui:

No primeiro caso (obrigação e meio) cabe ao contratante ou credor demonstrar a culpa do contratado ou devedor. No segundo (obrigação de resultado) presume-se a culpa do contratado, invertendo-se o ônus da prova, pela simples razão de que os contratos em que o objeto colimado encerra um resultado, a sua não obtenção é "quantum satis" para empenhar, por presunção, a responsabilidade do devedor.

8 STOCO, Rui. Op. cit. p. 87.

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Pode ocorrer também que uma mesma obrigação contenha

obrigações que sejam de meio e outras que sejam resultado. Assim

sucedendo, deverão ser aplicados, a cada uma das obrigações, os critérios

correspondentes.

Não podemos esquecer que a exceção é somente de ordem pessoal

do profissional liberal. Caso ele faça parte de uma pessoa jurídica formada por

médicos ou advogados, v.g., não terá aplicabilidade o referido § 4º, devendo,

no caso, haver tratamento idêntico aos demais fornecedores de serviços;

perdem, pois, o privilégio, aplicando, por conseguinte, a regra do "caput" do art.

14.

Conclui-se, portanto, que em relação ao fato do serviço, a

responsabilidade do profissional liberal será apurada mediante a verificação de

culpa, devendo, para tanto, distinguir a obrigação assumida. Sendo de meio,

deverá o consumidor provar a culpa do profissional liberal, salvo se for caso de

inversão do ônus da prova; já se a obrigação for de resultado, a inversão se dá

automaticamente, devendo o profissional provar que não laborou com culpa.

Outra forma do consumidor ser prejudicado com a má prestação de

um serviço é em relação a sua incolumidade econômica, ou melhor, em seu

patrimônio. São os chamados incidentes de consumo (vício do serviço),

regulados no art. 20 do "Codex" consumerista.

Diferentemente dos serviços defeituosos (art. 14), no vício do

serviço, o eventual dano não será considerável ao consumidor; tanto é verdade

que se afastou a preocupação com sua incolumidade físico-psíquica e passou-

se a demonstrar maior interesse na proteção de seu patrimônio.

Com efeito, dispôs o art. 20 que fornecedor de serviços responde

pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes

diminuam o valor (vício de qualidade), assim como por aqueles decorrentes da

disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária

(vício de informação).

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O § 2º do art. 20 proclama que serão impróprios os serviços que se

mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem

como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade.

Igualmente, salienta Oscar Ivan Prux 9, e com razão, que para saber

realmente os fins que razoavelmente se esperam do serviço deve ser buscado

o que realmente foi contratado, a verdadeira expectativa do consumidor.

Somente se não for possível é que se deverão buscar os padrões de um

"homem médio".

Nesse último caso, deverá o magistrado valer-se das regras da

experiência comum (art. 335 do Código de Processo Civil), não se afastando

do critério da razoabilidade para decidir se o serviço se mostra inadequado

para os fins que dele se espera. Não terá, porém, a mesma liberdade para

decidir sobre a adequação ou não de normas regulamentares de

prestabilidade.

Estas por sua vez, são de cunho oficial e se referem exatamente a

espécie do serviço contratado. São normas regulamentares instituídas pelo

próprio Estado.

De qualquer modo, a prestação de um serviço adequado passa a ser

regra, não bastando que o fornecedor tenha prestado o serviço com diligência.

De qualquer sorte, ocorrendo um incidente de consumo o negócio

jurídico não precisa necessariamente cessar; com alguns reparos pode

persistir. Desse modo, visando satisfazer os interesses do consumidor, de

maneira prática e célere, foi instituído um sistema para eles mesmos –

fornecedor e consumidor – encontrarem uma solução ao problema.

Nesse diapasão, foram postas à disposição do consumidor várias

alternativas para que se pudesse solucionar eventual vício do serviço. As

alternativas são no número de três e estão previstas nos incisos I a III do art.

20. 9 PRUX, Oscar Ivan. Op. cit. p. 71.

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A primeira delas permite ao consumidor escolher a reexecução dos

serviços, sem custo adicional e quando cabível (inc. I). Note-se que, no caso,

se o serviço não puder ser efetuado novamente deverá o consumidor optar por

outras alternativas.

Além do mais, podem existir situações em que não há necessidade

da reexecução total do serviço. Assim, se a reexecução parcial do serviço for

suficiente para sanar o vício, não poderá o consumidor optar pela sua

reexecução total. Seria um abuso do direito.

Estabelece também o § 2º do art. 20 que a reexecução dos serviços

poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do

fornecedor. Se a escolha desse terceiro for do próprio consumidor, o

fornecedor, cujo serviço gerou o vício, estará desobrigado em face de eventual

vício ocasionado pelo novo prestador de serviço.

A segunda alternativa estabelece que o consumidor poderá optar

pela restituição imediata da quantia paga monetariamente atualizada, sem

prejuízo de eventuais perdas e danos (inc. II). Do mesmo modo que a

alternativa do inciso I, deve-se fazer uma interpretação restritiva.

Assim, não poderá o consumidor pleitear a totalidade do valor pago

se o serviço teve, de algum modo, utilidade. Para haver a restituição "in totum"

do valor pago, deve também ser necessária a reexecução total do serviço

prestado.

Em relação às perdas e danos, entendemos que elas somente

nascem após constatar a impossibilidade ou a desistência do saneamento do

vício. Podendo ser o vicio sanado e efetivamente for não poderão ser

pleiteados.

Contudo, caso o consumidor tenha deixado de lucros e, comprovada

essa situação, poderão ser pleiteados os lucros cessantes.

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Por fim, o inc. III prevê o abatimento proporcional do preço.

Normalmente ocorre quando o fornecedor não cumpriu parte de sua obrigação,

e é uma maneira para que o serviço não fique inteiramente perdido.

Essas alternativas são de opção exclusiva do consumidor; não

precisando apresentar justificativa ou fundamento para tanto; basta a

manifestação de vontade. Também não será possível o consumidor escolher

duas alternativas, nem mesmo combiná-las parcialmente.

Para melhor visualização das hipóteses de vício do serviço, traz-se a

lume a seguinte hipótese: o engenheiro que projeta de modo ineficaz as

instalações elétricas de uma casa, de modo que a iluminação acaba se

demonstrando falha ou insuficiente.

O consumidor poderá sofrer lesões tanto em seu aspecto físico-

psíquico (acidentes de consumo) quanto no aspecto econômico (incidentes de

consumo). E quando, diante de um mesmo fato, vier o consumidor a sofrer

ambas as lesões? Assim, um dentista, ao colocar, v.g., um aparelho

ortodôntico, mas escolhido ou mal colocado, pode gerar tanto prejuízo

econômico (necessidade de refazimento do serviço) e até mesmo dores, certa

deformidade ou até a perda de um dente.

Diante de tal situação, em face da simultaneidade de lesões, deve-

se extrair qual delas se sobrepõe a outra em nível de importância ao lesado.

Deve, pois, valer-se do critério da preponderância, de modo a identificar se o

tratamento adequado do problema deve ser feito segundo o disposto no art. 14

ou no art. 20.

Pois bem, definido o que seja vício do serviço, passa-se à análise da

responsabilidade pessoal do profissional liberal ante tal circunstância.

Diferentemente da Seção II (Da responsabilidade pelo fato do

produto e do serviço), a Seção III, que trata da responsabilidade por vício do

produto ou serviço, não se manifestou quanto ao tipo de responsabilidade a ser

aplicada, se objetiva ou subjetiva.

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Entende Jorge Alberto Quadros de Carvalho10 que, embora não haja

disposição semelhante na Seção III, o profissional liberal, seja pelos vícios de

qualidade como por aqueles decorrentes da disparidade (art. 20 "caput"), deve

responder somente por dolo ou culpa. Ou seja, deve ser aplicada a previsão do

§ 4º (art. 14), sendo a responsabilidade do profissional subjetiva.

Oscar Ivan Prux11 raciocina de modo idêntico a prestação de

serviços defeituosos. Segundo ele, se a obrigação assumida pelo profissional

liberal for de resultado, a exceção não deve ser aplicada nem mesmo nos

casos de responsabilidade pelo fato do serviço. Contudo, caso a obrigação

assumida for de meio, a exceção deverá prevalecer também nos casos fora da

responsabilidade pelo fato do serviço.

Porém, melhor razão assiste àqueles que entendem que a

responsabilidade por vício do serviço deve ser apurada objetivamente, sem a

análise da culpa.

Nesse sentido, Fernando Antônio de Vasconcelos12 leciona que,

embora não conste a expressão "sem culpa", nos artigos 18 a 25 do CDC,

deve-se apurar a responsabilidade por vício do serviço, independentemente de

culpa. Basta, portanto, para caracterizar a responsabilidade, que se constatem

o fato danoso e o prejuízo.

Corroborando tal entendimento, o saudoso hermeneuta, Carlos

Maximiliano13 já preconizava a muito que as disposições excepcionais são

estabelecidas por motivos ou considerações particulares e, por isso, não se

estendem além dos casos e tempos que designam expressamente.

10 SILVA, Jorge Alberto Quadros de Carvalho. Código de defesa do consumidor anotado. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 366. 11 PRUX, Oscar Ivan. Ob. cit. p. 95. 12 VASCONCELOS, Fernando Antônio de. Responsabilidade do Profissional Liberal nas Relações de Consumo. Curitiba: Juruá, 2003. p. 87. 13 MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. 19ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 342.

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Além do mais, caso o legislador tivesse a real intenção de estender

a aplicação da exceção a Seção III, poderia tê-la colocada de modo geral, nos

princípios fundamentais do Código, mas não o fez.

Embora não seja pacífico, há forte corrente doutrinária no sentido de

que a responsabilidade civil do profissional liberal, nos casos de vício, será

apurada independentemente de culpa; e, pelos motivos expostos, deve essa

doutrina prevalecer.

2.3 – As obrigações assumidas pelo profissional liberal

Nada obstante ao tipo de serviço prestado pelo profissional liberal,

ele assumirá contratualmente uma obrigação, seja comprometendo-se com um

certo resultado ou apenas a usar da prudência e diligência para atingi-lo, sem

compromisso de obtê-lo. Assim, aplicam se aos profissionais as noções de

obrigação de meio e de resultado.

A distinção entre essas obrigações, atribuída ao jurista francês René

Demogue, é de suma importância para a aferição da responsabilidade do

profissional liberal, como se verá adiante. E foi através dessa distinção que

surgiu a Teoria do Resultado.

Inicialmente, a teoria foi esboçada no Direito Romano e

desenvolvida pelas doutrinas italiana, francesa e alemã. Para o jurista, o cerne

da teoria consiste em estabelecer a quem incumbe o ônus da prova; e isso

será verificado de acordo com a obrigação assumida, se de meio ou de

resultado.

Será o objeto de estudo dos próximos tópicos.

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2.3.1 – As obrigações de meio

Na maioria dos serviços prestados por profissionais liberais é

assumida uma obrigação de meio e isso pelo tipo de atividade que exercem, já

que em grande parte das situações não poderá ser garantido um determinado

resultado.

São essas as obrigações que normalmente assumem os médicos, já

que eles não podem garantir a cura do paciente; é também, de regra, o tipo de

obrigação assumida pelo dentista na prestação de serviços odontológicos; do

psicanalista que não poderá garantir que seu paciente será curado do distúrbio

mental que sofre; do veterinário no tratamento de um animal que tenha saúde

debilitada etc.

É bastante comum também no caso dos advogados, pois não

poderão garantir a vitória em uma demanda, visto que o resultado dependerá

de circunstâncias alheias à sua vontade. O que lhes cumpre é representar em

juízo o cliente, defendendo pela melhor forma possível os interesses que este

lhe confiou.

Desse modo, infere-se que a prestação do serviço deve pautar-se

numa atividade prudente e diligente, sem a obrigação de se atingir um

resultado. Deveras, o profissional somente será responsável quando atuar com

a total ausência do comportamento exigido, ou com um comportamento pouco

diligente e leal; logo, estará liberado se agiu com prudência diligência e

escrúpulo, independentemente da consecução do resultado.

2.3.2 – As obrigações de resultado

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Pode ocorrer que o profissional liberal, ao ser contratado para a

prestação de um serviço, obrigue-se a atingir um resultado, ou seja, ele, além

de atuar com a devida prudência e diligência, garante ao consumidor que se

alcançara o pretendido. São as chamadas obrigações de resultado.

Nesse sentido, com a precisão de sempre, Maria Helena Diniz 14

prescreve que esse tipo de obrigação é “"aquela em que o credor tem o direito

de exigir do devedor a produção de um resultado, sem o que se terá

inadimplemento da relação obrigacional"”.

Assim sendo, o fornecedor de serviços só se considerará livre da

obrigação quando esta for adimplida, com a efetiva produção do resultado

colimado. Caso contrário, será constituído em mora, o que é suficiente para

determinar a responsabilidade do profissional liberal; somente se exonerará se

provar que não agiu culposamente.

Caso bastante comentado pela doutrina e decidido pelos Tribunais,

em relação às obrigações de resultado, diz respeito às cirurgias estéticas.

Normalmente, tem se entendido que, quando o paciente for saudável e apenas

pretende melhorar a sua aparência (cirurgia estética embelezadora), estar-se-á

diante de uma obrigação de resultado.

Contudo, entende a doutrina que, no caso de atendimento a vítimas

deformadas por queimadas em acidentes, ou no tratamento de varizes e de

lesões congênitas, a obrigação será de meio.

Em relação ao anestesista entende-se que ele assume uma

obrigação de resultado desde que tenha tido oportunidade de avaliar o paciente

antes da intervenção, e concluir pela existência de condições para a anestesia,

assumindo a obrigação de anestesiá-lo e de recuperá-lo.

Outros exemplos que também podem ser citados como obrigações

de resultado são: a obrigação do engenheiro ou do arquiteto contratado para

14 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. 18. ed. rev. e at. de acordo com o novo Código Civil (Lei nº 10.406, de 10.01.2002). São Paulo: Saraiva, 2004, 7 v. p. 648..

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realização de projeto (planta) da construção de uma casa, a fiscalização por

parte de desses profissionais das quantidades e tipos de materiais utilizados na

obra; o professor contratado para entregar a tradução de um texto em data

certa; o veterinário contratado para a castração de um animal; o radiologista

que contrata a feitura ou análise de uma ultra-sonografia ou tomografia

computadorizada; o contabilista que contrata um parecer fiscal ou a elaboração

de um balanço; o economista que contrata a feitura de um projeto econômico; a

contratação de análise de exames de sangue, fezes, urina; a realização de um

contrato de locação pelo advogado ou o ajuizamento de uma ação depois de

recebidos honorários.

Outrossim, em todo serviço prestado há sempre o dever de

informação, que sem dúvidas é uma obrigação de resultado. Desse modo,

deve o médico comunicar ao seu paciente que deverá permanecer em repouso

durante um número certo de dias, sob pena de haver complicações em sua

cirurgia.

Carlos Roberto Gonçalves 15 entende que o fato do profissional

liberal assegurar um resultado não irá definir a natureza de sua obrigação, que

continua sendo sempre a obrigação de prestar um serviço que traz consigo o

risco.

Para saber se uma obrigação pode ou não ser garantida,

classificando-a como de resultado, é necessário examinar o estado da técnica

relativa à área a que está adstrito o caso concreto.

Por fim, não há como estabelecer um rol das obrigações que sejam

de resultado. Talvez no futuro, o número dessas obrigações aumente ainda

mais, já que com as técnicas e tecnologias existentes, a quase totalidade dos

serviços poderá ser garantida; contudo, frise-se: sempre haverá exceções.

15 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 8 ed. rev. de acordo com o novo Código Civil (Lei nº 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003. p. 940.

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CAPÍTULO III

RESPONSABILIDADE CIVIL: CAUSAS EXCLUDENTES

O princípio da inversão do ônus da prova é um dos esteios do

sistema jurídico de proteção do consumidor. Sem ele, a efetividade do sistema

fica comprometida. Não foi por acaso que se transformou em um dos principais

alvos dos adversários do Código do Consumidor, quando o projeto de lei

tramitava no Congresso Nacional.

O princípio transfere ao responsável pelo dano o ônus de provar que

não foi culpado pelo dano, ou que não houve dano, ou que o culpado foi

exclusivamente a vítima, ou que houve fato que pré-excluiu a contrariedade a

direito. Não é novidade no direito brasileiro, como já se demonstrou à outrance,

tendo o próprio Código Civil, ao início deste século, se rendido a sua evidência,

em determinadas situações de responsabilidade civil.

O Código do Consumidor, no artigo 6º, VIII, elevou a inversão do

ônus da prova a direito básico do consumidor, positivando o princípio em regra

geral e estruturante, a que se subordina qualquer operação hermenêutica. De

um modo geral, o juiz poderá determiná-lo, mesmo quando não seja exigível,

sempre que se convencer da verossimilhança das alegações do consumidor.

Porém, deixa de depender do convencimento do juiz, tornando-se obrigatório,

quando resultar de responsabilidade por culpa presumida ou de

responsabilidade objetiva.

No caso do fornecedor de serviços, em geral, cabe-lhe o ônus da

contraprova, nas hipóteses a seguir elencadas.

3.1 – A inexistência do defeito no serviço prestado

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A primeira causa prevista no § 3º do art. 14, que isenta o profissional

de ser responsabilizado, é que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste (inc.

I).

Com efeito, a existência do dano não é garantia automática da

obrigação de indenizar para o fornecedor, mesmo que sua origem tenha sido

apurada no serviço. É mister a presença do defeito no serviço.

Há, assim, uma falta de correspondência entre defeito e dano,

porquanto a norma deixa evidente que a inexistência do defeito, não significa

inexistência de dano para o consumidor. E mesmo que haja dano, o fornecedor

poderá se eximir, provando a inexistência do defeito nos serviço prestado.

Nesse diapasão, o Código de Defesa do Consumidor não exige que

o profissional liberal (fornecedor) demonstre que o serviço prestado esteja

perfeito; basta que, segundo a somatória das circunstâncias que o Código

manda avaliar (§ 1º, incisos, I, II e III), o serviço não seja considerado

defeituoso.

No mesmo sentir, Zelmo Denari 16 aduz:

Os acidentes de consumo supõem, como um "prius", a manifestação de um defeito do produto ou serviço, e como um "posterius", um evento danoso. O defeito do produto ou serviço é um dos pressupostos da responsabilidade por danos nas relações de consumo. Se o produto não ostentar vício de qualidade, ocorrerá ruptura da relação causal que determina o dano, ficando afastada a responsabilidade do fornecedor.

Portanto, restando provado que o serviço não é considerado

defeituoso, fica sem relevância para o profissional, o fato de o dano existir para

seu consumidor; não haverá, pois, o nexo causal.

16 GRINOVER, Ada Pellegrini [et. al.]. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. 7ª Ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, p. 176.

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3.2 – Culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro

Prevista no inc. II, (art. 14, § 3º), a culpa exclusiva do consumidor ou

de terceiro, exclui qualquer responsabilidade do fornecedor de serviço, já que o

dano advém de fatores externos ao seu comportamento; é rompido o nexo

causal.

Pois bem, no primeiro caso, quando se tratar da culpa exclusiva do

consumidor, deverá este arcar sozinho com o prejuízo experimentado.

Com efeito, se a vítima (consumidor, no caso) contribui com ato seu

na construção dos elementos do dano, o direito não se pode conservar

estranho a essa circunstância.

É o caso, v.g., do consumidor que não entrega os documentos ao

advogado no prazo certo e vê sua ação extinta sem julgamento do mérito,

perdendo as custas anteriormente recolhidas; a pessoa que não segue as

orientações do dentista e bebe água quando não podia, de modo a estragar a

restauração feita; a falta de comunicação do paciente ao médico, quando o

estado de saúde daquele se agrava.

Em relação à culpa exclusiva de terceiro, o prestador de serviços

também estará exonerado, devendo o terceiro ser responsabilizado pelo dano

ocasionado ao consumidor. Será necessário o nexo causal entre o dano e a

ação do terceiro; uma relação de causa e efeito.

Deve-se entender por terceiro todo pessoa estranha à relação

existente entre o consumidor e o prestador do serviço, relação esta que é

estabelecida pela aquisição do serviço. Sendo assim, não pode ser

considerado como terceiro, o empregado, o estagiário, a secretária e outros

que estiverem de algum modo envolvido com a prestação do serviço; tanto é

que o CDC já estabeleceu em seu art. 34 que o fornecedor do produto ou

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serviço é solidariamente responsável pelos atos de seus propostos ou

representantes autônomos.

Cumpre salientar que o texto legal prevê apenas a culpa exclusiva,

seja do consumidor ou de terceiro. Nesse passo, Zelmo Denari17, em excelente

escólio, anota:

A culpa exclusiva é inconfundível com a culpa concorrente: no primeiro caso, desaparece a relação de causalidade entre o defeito do produto e o evento danoso, dissolvendo-se a própria relação de responsabilidade; no segundo, a responsabilidade se atenua em razão da concorrência de culpa, e os aplicadores da norma costumam condenar o agente causador do dano a reparar pela metade o prejuízo, cabendo à vítima arcar com a outra metade.

Porém, alerta:

A doutrina, contudo, sem vozes discordantes, tem sustentado o entendimento de que a lei pode eleger a culpa exclusiva como única excludente de responsabilidade, como fez o Código de Defesa do Consumidor nesta passagem. Caracterizada, portanto, a concorrência de culpa, subsiste a responsabilidade integral do fabricante e demais fornecedores arrolados no "caput", pela reparação dos danos.

Contudo, importante se faz levar em consideração o comportamento

do consumidor no caso de dano, pois se este também agiu de forma culposa,

não deve o fornecedor arcar com todas as despesas que aquele tiver.

Malgrado o CDC não tenha disciplinado a culpa concorrente, o novo

Código Civil o fez, tendo este, no caso, aplicação subsidiária, conforme

analisado alhures. E assim pronunciou o Código:

17 Op. cit. p. 208.

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Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.

Além do mais, não admitindo a culpa concorrente o consumidor, no

caso, estaria se locupletando ilicitamente, vedado pelo ordenamento jurídico

pátrio (artigos 884 a 886 do Código Civil).

Assim, quando ambas as partes agirem culposamente, hipótese de

culpa concorrente, não deverá o prestador de serviço – fornecedor – reparar os

danos de modo integral, não obstante haja opiniões em sentido diferente.

3.3 – Caso fortuito e força maior

Antes mesmo de analisar o caso fortuito e a força maior é preciso

analisar se eles podem ser aplicados nas relações de consumo, ou seja, se

podem ser considerados como causas exonerativas de responsabilidade,

especificamente no caso de fornecimento de serviços.

O § 3º do art. 14, que trata das causas excludentes de

responsabilidade, não prevê as hipóteses de caso fortuito e força maior; e

mais, ainda insere o advérbio "só", tudo indicando que não poderá ser

acrescida qualquer outra forma de exclusão de responsabilidade, a não ser

aquelas previstas (incisos I e II).

Rizzato Nunes18 entende que o responsável pelo serviço não pode

alegar essas causas de excludentes. Primeiro porque o advérbio "só" não deixa

margens a dúvida, devendo ser aplicada somente aquelas causas previstas no

§ 3º - trata-se rol taxativo; segundo, por questão de risco de empreendimento.

18 NUNES, Luiz Antonio Rizzato. Curso de Direito do Consumidor. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 776.

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Por outro lado, há quem admita a aplicabilidade dessas cláusulas.

Oscar Ivan Prux19, um deles, assinala que o sistema tradicional não foi

afastado, devendo estas ser aplicadas às obrigações do profissional liberal

como fornecedores.

Nesse passo, Zelmo Denari20, também favorável a aplicação do caso

fortuito e força maior, explana:

[...] as eximentes do caso fortuito e da força maior atuam como excludentes de responsabilidade do prestador de serviços. E de uma forma muito mais intensa, por isso que podem se manifestar durante ou após a prestação de utilidade ou comodidade ao consumidor (v.g., um hospital pode se eximir de responsabilidade pelo fato do serviço, alegando corte no fornecimento de energia elétrica ocorrido durante ou após o ato operatório). Jamais, contudo, quando forem anteriores à prestação dos serviços.

Ultrapassada essa celeuma, é mister o entendimento do caso

fortuito e força maior, já consagrada em nosso direito como causa de isenção

da responsabilidade.

Inicialmente, Rui Stoco21 entende que essas expressões são

sinônimas, não havendo necessidade de distingui-las; de fato, o Código Civil

também não as distingue (art. 393). Apenas a doutrina a faz, já que na prática

os efeitos são os mesmos.

Na força maior há um elemento humano, ação das autoridades

("factum principis"), como o furto, o roubo, a desapropriação. Já o caso fortuito

é o acontecimento natural, derivado da força da natureza, ou do fato das

coisas, como o raio, a inundação, o terremoto ou temporal.

19 Op. cit. p. 367. 20 Op. cit. p. 223. 21 STOCO, Rui. Op. cit. p. 89.

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Carlos Roberto Gonçalves22 enumera três requisitos para a

configuração dessas causas, a saber: a) o fato deve ser necessário, não

determinado por culpa do devedor, pois, se há culpa, não há caso fortuito, e

reciprocamente, se há caso fortuito, não pode haver culpa, na medida em que

um exclui o outro; b) o fato deve ser superveniente e inevitável, e; c) o fato

deve ser irresistível, fora do alcance do poder humano.

Tais causas excludentes de responsabilidade deverão ser

devidamente comprovadas e examinadas de modo minucioso pelo órgão

judicante, forte no fato de importarem exoneração do fornecedor, deixando o

consumidor (lesado) sem reparação do dano sofrido.

3.4 – Cláusula de não indenizar

As cláusulas de não indenizar, também chamadas de cláusulas de

irresponsabilidade, são normalmente inseridas nos instrumentos contratuais,

sob a alegação de serem permitidas pelo direito que as partes têm de estipular

o que lhes convierem ("pacta sunt servanta"), salvo se ferir norma de ordem

pública ou os bons costumes.

O Código de Defesa do Consumidor vedou a estipulação das

cláusulas de não indenizar, pois, na verdade, estariam renunciando eventual

direito de reparação; e isso vem prescrito no art. 25 do CDC, que veda

qualquer estipulação contratual de cláusulas que impossibilitem, exonerem ou

atenuem a obrigação de indenizar.

Nesse diapasão o art. 51, inc. I, primeira parte, do mesmo Diploma,

trata esse tipo de cláusula, caso inserida no contrato, como abusiva, sendo

nula de pleno direito.

22 GONÇALVES, Carlos Roberto. Op. cit. p. 947.

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Outrossim, as normas elencadas no CDC são de ordem pública (art.

1º) não podendo, assim, ser afastadas pela vontade das partes.

Há, contudo, apenas uma exceção, prevista na segunda parte do

inc. I, art. 51 do CDC. Ocorre nos casos em que o consumidor for pessoa

jurídica. Nesse caso poderá ser limitado o "quantum" indenizatório em

situações justicáveis, cabendo a magistrado decidir pela sua possibilidade.

Note-se: apenas limita, não exonera o fornecedor.

De mais a mais, é mister estar alerta a todas as cláusulas inseridas

nos contratos, pois algumas, embora não exonerativas, acabam por restringir

os deveres do fornecedor, que acabam produzindo efeitos idênticos ou

assimilados aos das cláusulas de não indenizar.

3.5 – Da decadência e da prescrição

Ocorrida determinada situação, mormente naquelas em que há

violação de algum direito, como nos casos de dano, surge para a parte lesada

um prazo para apuração e constituição de eventual direito, sob pena de

decadência, ou seja, de caducidade do respectivo direito. E o propósito é

simples: não interesse ao Direito que se eternize a faculdade de o titular da

relação jurídica poder constituir, em definitivo, o respectivo direito subjetivo.

Com efeito, duas maneiras de se obstaculizar essa perpetuação do

direito são a decadência e a prescrição e, embora semelhantes, não se

confundem, a não ser ontologicamente.

Clóvis Beviláqua23 assim expõe:

A prescrição suspende-se, interrompe-se, e é uma conseqüência da inércia do titular do direito; a

23 Apud STOCO, Tratado de Responsabilidade Civil., p. 198.

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decadência, ou caducidade, resulta, simplesmente, do decurso do tempo, porque o direito já nasce com esse destino de extinguir-se num lapso limitado de tempo, se dentro dele não for posto em atividade.

Tais institutos também foram previstos no CDC, sendo que o art. 26

trata dos prazos decadenciais relacionados aos vícios, e o art. 27 do prazo

relativo à prescrição, quando o dano resultar do fato do produto ou serviço.

O início da contagem dos prazos decadenciais se dá a partir da

entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços (§ 1º, art.

26), ressalvado os casos vício oculto, cuja contagem se inicia no momento em

que ficar evidenciado o defeito (§ 3º).

O prazo decadencial pode ser obstado em duas hipóteses, quais

sejam: quando o consumidor formula, comprovadamente, reclamação perante

o fornecedor de produtos ou serviços até a resposta negativa correspondente,

que deve ser transmitida de forma inequívoca (§ 2º, inc. I), ou até o

encerramento de inquérito civil, se instaurado (§ 2º, inc. II).

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CAPÍTULO IV

ENTENDIMENTOS JURISPRUDENCIAIS

A seguir, a fim de ratificar a importância que o tema que ora se

explicita apresenta, vejamos alguns julgados do Tribunal de Justiça do Estado

do Rio de Janeiro, no sentido de corroborar com todo o exposto:

0040913-17.2003.8.19.0001 – APELACAO

DES. CUSTODIO TOSTES - Julgamento:

22/06/2010 - PRIMEIRA CAMARA CIVEL

CONSUMIDOR. TRATAMENTO

ODONTOLÓGICO MAL SUCEDIDO.

RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DOS

PROFISSIONAIS LIBERAIS, CUJA

NATUREZA É SUBJETIVA. ARTIGO 14, §4º

DA LEI 8.078/90. RAZÕES RECURSAIS

CONCENTRADAS NA ALEGAÇÃO DO

SOFRIMENTO DE QUE PADECEU A

AUTORA. ARGUMENTOS INSUFICIENTES

PARA SUPRIR A AUSÊNCIA DE PROVA DA

CONDUTA CULPOSA DA PROFISSIONAL,

ATESTADA POR LAUDO DO PERITO DO

JUÍZO. MANIFESTA IMPROCEDÊNCIA.

DESPROVIMENTO LIMINAR DO RECURSO.

0001478-61.2007.8.19.0206 – APELACAO

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DES. INES DA TRINDADE - Julgamento:

17/06/2010 - DECIMA TERCEIRA CAMARA

CIVEL

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE

RESPONSABILIDADE CIVIL PROPOSTA EM

FACE DOS MÉDICOS E DO HOSPITAL LIDE

COM FULCRO EM SUPOSTO ERRO MÉDICO

EM CIRURGIA DE HÉRNIA E SUPOSTA

INFECÇÃO HOSPITALAR - SENTENÇA DE

IMPROCEDÊNCIA - APELAÇÃO DA AUTORA

-MANUTENÇÃO PERÍCIA CONCLUIU PELA

AUSÊNCIA DE ERRO NO PROCEDIMENTO

CIRÚRGICO POR PARTE DOS MÉDICOS.

PORTANTO, INEXISTENTE A CULPA

NECESSÁRIA À CONFIGURAÇÃO DA

RESPONSABILIDADE DO PROFISSIONAL

LIBERAL QUE É SUBJETIVA CONFORME

§4º, DO ART. 14, DO CDC - PERÍCIA

TAMBÉM CONCLUIU QUE A INFECÇÃO

DECORREU DO PRÓPRIO PROCEDIMENTO

CIRÚRGICO PORTANTO, AUSENTE O NEXO

CAUSAL ENTRE A CONDUTA DO HOSPITAL

E O DANO SOFRIDO - NÃO CONFIGURADA

A RESPONSABILIDADE DO HOSPITAL QUE

É OBJETIVA, COM BASE NO ART. 14,

CAPUT, DO CDC - RECURSO IMPROVIDO,

ART. 557, §1º-A, DO CPC.

020440-37.2009.8.19.0021 – APELACAO

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DES. VERA MARIA SOARES VAN

HOMBEECK - Julgamento: 26/05/2010 -

PRIMEIRA CAMARA CIVEL

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO.

PROCESSO QUE PERMANECEU

PARALISADO APÓS A RESCISÃO DO

CONTRATO DO PROFISSIONAL COM

ASSOCIAÇÃO PRESTADORA DE SERVIÇO.

DANO E CONDUTA CULPOSA NÃO

COMPROVADOS. DANOS MORAIS. MERO

ABORRECIMENTO. SENTENÇA DE

IMPROCEDÊNCIA QUE SE MANTÉM. O

artigo 14, § 4º do Código de Defesa do

Consumidor estabelece como regra para os

profissionais liberais prestadores de serviço

a responsabilidade subjetiva, com culpa

comprovada. Logo, para a configuração do

dever de indenizar, além do dano e do nexo

causal, há de se ter presente a conduta

culposa. No caso, verifica-se que a ação de

prestação de contas ajuizada pela Autora

através dos advogados contratados pela

Associação foi julgada procedente. Sendo

assim, ainda que o processo tenha paralisado

por algum tempo, não se pode afirmar que fora

por desídia da Associação ou do Réu.

DECISÃO MONOCRÁTICA COM FULCRO NO

ART. 557, CAPUT, DO CPC, QUE NEGA

SEGUIMENTO AO RECURSO.

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172616-32.2007.8.19.0001 – APELACAO

DES. CARLOS EDUARDO PASSOS -

Julgamento: 02/06/2010 - SEGUNDA CAMARA

CIVEL

RESPONSABILIDADE CIVIL. Profissional

liberal. Reumatologista. Responsabilidade

subjetiva. Prescrição de medicação para

tratamento de reumatismo crônico. Efeitos

colaterais severos, jungidos ao período do

tratamento. Lesões iatrogênicas.

Superveniência de enfisema pulmonar.

Correlação com a utilização do medicamento

não comprovada. Elemento subjetivo e nexo de

causalidade indemonstrados. Adoção das

cautelas devidas e emprego da técnica

adequada. Violação, contudo, do dever de

informação. Teoria do consentimento

informado. Não- comprovação de fato

desconstitutivo do direito da autora. Ônus do

demandado. Dano moral configurado. Verba

compensatória fixada em conformidade com o

princípio da razoabilidade. Sucumbência

recíproca reconhecida. Apelo provido em parte.

0000518-40.2003.8.19.0079 (2006.001.31557)

– APELACAO

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DES. LETICIA SARDAS - Julgamento:

13/04/2010 - OITAVA CAMARA CIVEL

"RESPONSABILIDADE CIVIL DOS

DENTISTAS. NEGLIGÊNCIA EM

ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO. CRITÉRIO

SUBJETIVO. DANO MORAL. PRINCÍPIO DA

RAZOABILIDADE. ARBITRAMENTO. 1. Trata-

se de demanda fundada na responsabilidade

civil dos dentistas, regulamentada no artigo

14, § 4º do Código de Defesa do

Consumidor 2. Os profissionais liberais,

dentre eles os dentistas, respondem

subjetivamente, com prova da culpa lato

sensu, pelos danos causados a seus

contratantes, de modo a gerar o dever de

indenizar. 3. Presentes os requisitos exigidos

para a responsabilidade civil subjetiva, resta

evidente o dever de indenizar.4. O juiz, ao

valorar o dano moral, deve arbitrar uma quantia

que, de acordo com seu prudente arbítrio, seja

compatível com a reprovabilidade da conduta

ilícita, a intensidade e duração do sofrimento

experimentado pela vítima, a capacidade

econômica do causador do dano, as condições

sociais do ofendido, e outras circunstâncias

mais que se fizerem necessárias.5. O valor

arbitrado pela monocrática decisão é suficiente

para cumprir a finalidade de restaurar a justa

medida das coisas; encontra-se em sintonia

com o princípio da lógica do razoável;

reparando o dano e servindo de freio ao

ofensor.6. Desprovimento dos dois recursos."

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0014175-48.2010.8.19.0000 - AGRAVO DE

INSTRUMENTO

DES. MARIA INES GASPAR - Julgamento:

30/03/2010 - DECIMA SETIMA CAMARA

CIVEL

"AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO DO

CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL

DE CIRURGIÃO DENTISTA. TRATAMENTO

DE IMPLANTES. OBRIGAÇÃO DE

RESULTADO INVERSÃO DO ÔNUS DA

PROVA. POSSIBILIDADE. Alegação de

atuação imprudente/negligente do profissional

liberal. Decisão agravada que aplicou a

inversão do ônus da prova em favor do

consumidor. Inobstante seja a

responsabilidade do profissional liberal

subjetiva, a teor do disposto no art. 14, §4º

do CDC, em se tratando de obrigação de

resultado, revela-se perfeitamente possível

a inversão do ônus probatório em favor do

consumidor, quando presentes os

requisitos de verossimilhança e

hipossuficiência técnica, hipótese dos autos.

Decisão mantida. Negativa de seguimento ao

inconformismo."

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CONCLUSÃO

Após a gratificante jornada, através da qual pudemos estudar o instituto

da responsabilidade civil do profissional à luz do Código de Defesa do

Consumidor, esperamos ter alcançado nosso objetivo, com as conclusões

acerca do tema que passamos a expor.

Conforme visto no decorrer do nosso estudo, a responsabilidade

aplicada às relações de consumo, em regra, é a responsabilidade objetiva.

Desse modo, o fornecedor de bens ou serviços responderá,

independentemente de culpa, por todos os prejuízos porventura causados ao

consumidor, sendo tais prejuízos decorrentes de vícios ou defeitos nos

produtos ou serviços pelo fornecedor ofertados.

Entretanto, nossa legislação consumerista prevê expressamente uma

exceção a tal regra da responsabilidade objetiva, quando dispõe a Lei n.º

8.078/90, em seu artigo 14, §4º, a respeito da responsabilidade subjetiva do

profissional liberal.

Destarte, consoante demonstrado através dos entendimentos

doutrinários e jurisprudenciais, caso haja qualquer dano advindo da relação de

consumo e que envolva o profissional liberal, o consumidor deverá comprovar

em juízo a culpa ou o dolo do agente causador do dano, além de demonstrar a

lesão, bem como o nexo de causalidade.

Cumpre ressaltar, contudo, que, não obstante a aplicação da

responsabilidade subjetiva quando se tem como fornecedor um profissional

liberal, em cuja relação de consumo deve-se observar o elemento subjetivo da

culpa, o profissional liberal deve obedecer a todos os demais princípios e

normas legais previstas no Código de Defesa do Consumidor.

Esperamos ter logrado êxito quando da explanação acerca da

importância do instituto da responsabilidade civil do profissional liberal,

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demonstrando sua finalidade em nossa sociedade. Em suma, a legislação,

objeto de nosso estudo, estabelece um maior equilíbrio na relação

consumerista.

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