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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE AÇÃO RESCISÓRIA E COISA JULGADA Por: Elizabeth Maria Rios Cunha Orientador Prof. Jean Alves Pereira Almeida. Rio de Janeiro 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

AÇÃO RESCISÓRIA E COISA JULGADA

Por: Elizabeth Maria Rios Cunha

Orientador

Prof. Jean Alves Pereira Almeida.

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

AÇÃO RESCISÓRIA E COISA JULGADA

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Direito Processual Civil.

Por: Elizabeth Maria Rios Cunha

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AGRADECIMENTOS

Esta é a primeira monografia que realizo.

Agradeço a Deus que me permitiu chegar até este ponto da minha vida e

principalmente a coragem de ter ficado dias e mais dias, horas e mais horas da

noite pesquisando sobre o tema do presente trabalho tendo em vista estar mais

de uma década sem estudar.

Agradeço aos professores Marco Antonio Larosa e Fernando Ardini

Ayres pela iniciativa brilhante de publicarem livro “Como produzir uma

monografia passo a passo... siga o mapa da mina”, que muito contribuiu para a

realização deste trabalho.

Agradeço aos professores de pós-graduação do Instituto A Vez do

Mestre que durante as aulas passaram exemplos de profissionalismo e

dedicação.

Agradeço, ainda, a todas as pessoas que de forma direta ou

indiretamente contribuíram para a realização do trabalho

Obrigada Senhor.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu esforço por ter ficado dias e noites,

pesquisando e deixando de usufruir os fins de semana para apresentar de

maneira clara e objetiva esta pesquisa.

Esta monografia, por ser a primeira que realizo, foi muito útil, pois ao

longo das consultas científicas, observei que houve um enriquecimento do meu

vocabulário e serviu de inspiração para prosseguir com a leitura.

Dedico também, a minha coragem de cursar uma pós-graduação após

mais de uma década sem estudar. A conclusão deste curso significa para mim,

uma vitória.

Obrigada, Senhor.

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RESUMO

“Toda a ação é designada em termos do fim que procura atingir.”(Nicolau

Maquiavel).

Não se revestem de caráter absoluto os apontamentos e pesquisas

deste trabalho, eis que, sobre o tema, pesa várias hipóteses jurídicas que

podemos verificar na própria Constituição Federal, artigo 5ºXXXiV.

Desta forma, resolve-se facilmente a questão, observando-se que a

mesma Constituição se refere, expressamente, à ação rescisória, nos artigos

102, I, j, e 105, I, e.

É plenamente viável, que no ordenamento jurídico, se faça presente, um

instrumento que enfatize sua conjuntura e oportunize que o Supremo Tribunal

Federal (STF), analise questões relevantes para o ordenamento constitucional.

Uma das principais peças de sustentação do ordenamento jurídico esta

presente do artigo 485, do Código de Processo Civil. Mesmo que haja

controvérsias a respeito do assunto, não se descarta o valor relevante no que

diz respeito à ação rescisória. Por conta disso, na medida em que lemos sobre

um determinado tema, descobrimos que temos muito mais a vislumbrar para

melhor aprender e ensinar.

Todas as situações e caminhos de resoluções da problemática foram

examinados durante o processo de pesquisa e focados exatamente no que

foram propostos no tema eleito.

Em síntese, todo o conteúdo pesquisado, suas informações relevantes,

os apontamentos essenciais e as diretrizes para as futuras pesquisas sobre o

tema representam o fechamento do estudo. Todos os tópicos pertinentes ao

tema foram suficientemente dissertados.

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METODOLOGIA

“Os leitores servem-se dos livros como os cidadãos dos homens. Não vivemos

com todos os nossos contemporâneos, escolhemos alguns amigos.” Voltaire

A metodologia a ser adotada consistirá na pesquisa bibliográfica, bem

como pesquisas no site do STF (jurisprudências, súmulas e acórdãos) servindo

de subsídio para a pesquisa pertinente ao tema eleito.

Utilizei mecanismos partindo da utilização dos instrumentos de coletas

de dados (leitura de livros, revistas, decisões judiciais, notícias de jornais,

como também, sites de livrarias e afins, para a certificação da existência de

bibliografias, periódicos que me serviram de inspiração.

Tal inspiração foi fundamental para a criação de uma redação própria

que, mesmo se baseando em princípios já postulados, resultou em

aprendizado para outras monografias.

Os recursos tecnológicos de inserção de gráficos, e anexos, foram

dispensados, tendo em vista que o tema escolhido pode ser levado a cabo

pela simples opção expositiva.

Todos esses pontos relativos à “ação rescisória e a coisa julgada” nos

oferecem uma visão sistêmica do instituto no Brasil, especialmente quando

fixamos os olhos sobre a questão no âmbito do direito positivo

infraconstitucional.

É sob esse ângulo que a ação rescisória e a coisa julgada foram tratadas

neste trabalho.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO. 8

Capítulo I – Ação Rescisória. 11

CAPÍTULO II – Entendimentos na visão de alguns doutrinadores. 36

CAPÍTULO III – Quais são os efeitos e impactos da ação rescisória. 38

CAPÍTULO IV – Da coisa julgada, art. 467 do Código de Processo Civil. 40.

CAPÍTULO V- Um breve histórico da relativização da coisa julgada no Brasil -

Aspectos Constitucionais. 52

CONCLUSÃO 54

FONTES CONSULTADAS. 56/57

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INTRODUÇÃO

“Toda reforma interior e toda mudança para melhor dependem exclusivamente

da aplicação do nosso próprio esforço.” (Kant).

No presente trabalho de conclusão de curso, será abordado tema

referente à ação rescisória, seus pressupostos processuais, sua aplicação e

principalmente as diversas discussões sobre as condições da ação no direito

processual civil. Apresento também, algumas considerações a respeito do tema

na visão de alguns conceituados doutrinadores. Dito isso, esta dissertação não

tem a pretensão, nem poderia ter, de dissecar o tema, mas tem o intuito de

descrever de forma clara e objetiva os pontos relevantes, a importância da

pesquisa que versa sobre o tema, incentivando e motivando a leitura do

presente trabalho acadêmico, de forma a torná-lo interessante e eficiente aos

olhos aos leitores

A hipótese proposta é que o cabimento da ação rescisória tem sua

aplicabilidade como previsto no caput do artigo 485, que descreve quando na

sentença definitiva houver qualquer um dos pressupostos ensejados no

presente artigo.

No passado, existia grande controvérsia acerca da aplicabilidade, uma

vez que, ao buscar o teor da sentença pretendida, não havia ainda,

entendimento dos doutrinadores e magistrados, cuja solução não violasse o

interesse subjetivo das partes e que não se pronunciasse em outros processos.

Podemos dizer que a ação rescisória emana da necessidade de um

efetivo interesse social.

Num primeiro momento, pretende-se estabelecer uma linha de

raciocínio, enfatizando conceitos do tema em questão e uma visão geral da

problemática que norteia a pesquisa apresentada.

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Na oportunidade, exponho, de forma clara, concisa e em linguagem

simples, as diversas etapas, quer ativa, quer passiva merecem sempre a

garantia legal no tratamento jurídico.

No mais, algumas considerações previstas nas hipóteses de cabimento

previstas no preceito substanciado do artigo 485 do Código de Processo Civil.

Posteriormente, serão apresentados diversos comentários de cada um dos

pressupostos processuais vislumbrados pela doutrina, aspectos e questões

controvertidas.

Cito algumas Súmulas do STF com a finalidade de identificar os fatos

relevantes e propondo sobremaneira o processo de pesquisa e

aprofundamento do assunto aqui ora estudado.

O Supremo Tribunal Federal, enquanto guardião da Constituição, e bem

assim, de seus valores mais intrínsecos, não se pode deixar levar por

interesses políticos nem tampouco se render aos mandos e desmandos das

classes dominantes. Pelo contrário, a Corte Suprema representa a proteção à

ordem e à justiça pretendidas pelo Constituinte, devendo, assim, buscar nas

suas decisões a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a garantia

do desenvolvimento nacional, a erradicação da pobreza e da marginalização, a

redução das desigualdades sociais e regionais, a promoção do bem de todos,

sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas

de discriminação, conforme preceitua nosso texto Constitucional (artigo 3º).

(BRASIL, 1988).

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CAPÍTULO I

AÇÃO RESCISÓRIA.

"Dá-me o fato e dar-te-ei o Direito", diziam os romanos, cujo gênio jurídico tem

ultrapassado os séculos e de tal forma e com tal força que a maioria dos países

tem como base, em muitas de suas disposições, os ensinamentos daqueles

prístinos tempos.

PRECEDENTE:

SÚMULA Nº 514 - Situação: Vigente

Admite-se ação rescisória contra sentença transitada em julgado, ainda que

contra ela não se tenham esgotado todos os recursos.

O artigo 485 descreve os fundamentos (rol taxativo) que podem

ensejar a ação rescisória, quando na sentença definitiva houver:

I) prevaricação, concussão ou corrupção do juiz da causa;

II) juiz impedido ou absolutamente incompetente;

III) dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou conluio com

objetivo de fraudar a lei;

IV) ofensa à coisa julgada;

V) violação literal à disposição de lei;

VI) baseada em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal,

ou seja, provada na própria ação rescisória;

VII) fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação, em que

baseou a sentença;

VIII) documento novo, depois da sentença, cuja existência a parte ignorava ou

não pode fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento

favorável.

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1- Conceito.

“A força do direito deve superar o direito da força.” (Rui Barbosa)

A finalidade da Ação Rescisória é depurar o resultado do processo de

conhecimento, eliminando sentenças com "vícios" particularmente graves e,

conseqüentemente, aprimorando a própria justiça.

“Ela é, portanto, o remédio processual que serve como fator de equilíbrio

entre dois ideais opostos em nosso sistema processual: a garantia da

estabilidade social representada pela coisa julgada e a eliminação das

injustiças através da sanação dos vícios tidos pelo legislador como graves.” (1)

Segundo Rafael Damasceno de Assis: “A sentença pode ser atacada

por dois remédios processuais distintos: pelos recursos e pela ação

rescisória.”.

Configura-se como uma ação que não se confunde com o recurso

justamente por atacar uma decisão já sob o efeito da res iudicata. Estamos

diante de uma ação contra a sentença, diante de um remédio com que se

instaura outra relação jurídica processual.

A ação rescisória tem como objeto a invalidação da sentença “viciada”.

Não haverá discussão, conforme se observará pela leitura dos incisos do art.

485, acerca da “correta” valoração da prova produzida ou da lei aplicada-

Súmula 343 do STF

A ação rescisória é, justamente, uma ação. Mais especificamente, uma

ação constitutiva negativa, que tem por objetivo desconstituir a coisa julgada

material formada em processo anterior

Desta feita, depois de esgotadas todas as possibilidades de se recorrer

da sentença, porque todos os recursos foram interpostos e julgados ou porque

a parte não recorreu, ocorre o trânsito em julgado formal da sentença

terminativa que extingue o processo sem resolução do mérito ( que julga

questões processuais) possibilitando a propositura de nova demanda.

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A mesma possibilidade de trânsito em julgado ocorre com a sentença

definitiva que resolve o mérito da causa, art.269, tornando-a imutáveis e

indiscutíveis os seus efeitos, art.467 ocorrendo o trânsito em julgado material,

impossibilitando nova demanda

1.2 – Competência.

“Não penses mal dos que procedem mal; pensa somente que estão

equivocados.” (Sócrates)

Precedente:

SÚMULA Nº 515 - Situação: Vigente

A competência para a ação rescisória não é do Supremo Tribunal Federal,

quando a questão federal, apreciada no recurso extraordinário ou no agravo de

instrumento, seja diversa da que foi suscitada no pedido rescisório.

Quando se tratar de sentença, a competência é do tribunal competente

para julgar o recurso de apelação.

A competência para este tipo de ação é originária, ou seja, deve ser

proposta no juízo hierarquicamente superior ao juízo que proferiu a sentença

ou acórdão rescindendo.

Em outras palavras: somente os tribunais têm competência para

rescindir sentença ou acórdão. O tribunal que apreciaria o recurso da ação.

Se a rescisão é de acórdão, é competente o próprio tribunal que o

proferiu, com alteração dos julgadores, (normalmente as câmaras cíveis

reunidas), segundo critérios da Organização Judiciária do Estado, Lei Orgânica

da Magistratura Nacional e Regimento Interno dos Tribunais

Dentro do princípio do duplo grau de jurisdição, quando um tribunal

conhece do recurso (juízo de admissibilidade) dando-lhe ou não provimento, é

fixada neste instante a competência para a rescisória que será deste tribunal

“ad quem”; em caso contrário, a competência é do tribunal “a quo” que

proferiu o acórdão.

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Ação de competência originária dos tribunais por meio do qual se pede

a anulação ou desconstituição de uma sentença ou acórdão transitado

materialmente em julgado e a eventual reapreciação do mérito.

Ex.- Se o STF não conhece do recurso extraordinário oferecido contra

acórdão proferido por tribunal estadual, a competência para a rescisória é do

tribunal estadual que proferiu o acórdão.

O efeito normal da rescisória é ex-nunc (após trânsito em julgado) do

acórdão que julgou esta ação, podendo ser ex-tunc, no caso de juros e

correção a partir da sentença rescindida.

A ação rescisória, nos termos da Lei 11.280/2006 que reformou o art.

489, não impede o cumprimento da sentença ou acórdão rescindendo,

ressalvada a concessão de medida cautelar ou antecipação de tutela (273-461-

461-A) que tenha sido deferida por existir um “periculum in mora” que motive a

suspensão do cumprimento da sentença até a decisão da ação rescisória ou

enquanto perdurar a ameaça ao direito do autor.

Esta possibilidade do autor da ação rescisória requerer medida

cautelar ou antecipação de tutela para suspender a execução da sentença

rescindenda, foi motivada porque o art. 489 original, não previa nenhuma

possibilidade de suspensão do cumprimento da sentença, fazendo com que

fosse interposto mandado de segurança com a finalidade de paralisar a

execução, ou, o juiz de ofício, suspendia o seu cumprimento.

Os recursos contra o acórdão que decide a ação rescisória são os

embargos infringentes, os recursos extraordinários e o especial e os embargos

de declaração.

Cabem também agravo de instrumento contra decisão interlocutória

do relator que nega a subida de recurso e agravo regimental em 5 dias para o

mesmo tribunal.

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1. 3 - Prazo para a propositura da ação rescisória.

“O mal da grandeza é quando ela separa a consciência do poder.”

(Shakespeare)

Precedente

SÚMULA Nº 264 - Situação: Vigente

Verifica-se a prescrição intercorrente pela paralisação da ação rescisória por

mais de cinco anos.

Reza o artigo 495 do CPC: "O direito de propor ação rescisória se

extingue em 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado da decisão."

Destarte, este prazo é decadencial.

1.4-Requisitos de admissibilidade da ação rescisória.

“A leitura engrandece a alma.” (Voltaire).

Tereza Arruda Alvim Wambier e José Miguel Garcia Medina, por sua

vez, afirmam que: A coisa julgada é instituto cuja função é a de estender ou

projetar os efeitos da sentença indefinidamente para o futuro.

Com isso, pretende-se zelar pela segurança extrínseca das relações

jurídicas, [...]. Esta segurança extrínseca das relações jurídicas gerada pela

coisa julgada material traduz-se na impossibilidade de que haja outra decisão

sobre a mesma pretensão.

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Desta sorte, tal instituto visa a proporcionar à sociedade a segurança e a

certeza jurídica acerca de determinado direito, na medida em que encerra e

pacifica os litígios instaurados pelas partes no que diz respeito aos

pressupostos para a propositura da ação rescisória, esta, para ser admitida

pressupõe dois fatos básicos indispensáveis: uma sentença de mérito

transitada em julgado, à invocação de algum dos motivos de rescindibilidade

dos julgados taxativamente previstos no código em seu art.485.

A pretensão processual necessariamente deve se enquadrar nas

hipóteses de rescindibilidade expressamente previstas em lei (CPC, art. 485).

Nesse sentido, o processualista e professor HUMBERTO THEODORO

JÚNIOR adverte que é indispensável ao autor demonstrar a presença desses

requisitos: a) possibilidade jurídica do pedido; b) interesse de agir e c)

legitimidade de parte.

É válido dizer que as condições processuais da ação rescisória

vislumbram-se nas mesmas condições da ação civil em geral, ou seja,

admissibilidade no direito objetivo, pertinência subjetiva e interesse.

"Em regra, a ação rescisória não suspende a execução da sentença

rescindenda. Entretanto, presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora, a

suspensão se impõe como garantia de eficácia da decisão a ser proferida na

rescisória. Em nome da instrumentalidade e efetividade do processo, presentes

o fumus boni iuris e o periculum in mora, a providência cautelar é sempre

cabível."

1.5- Natureza jurídica.

“Ainda que fôssemos surdos e mudos como uma pedra, a nossa própria

passividade seria uma forma de ação.” (Sartre).

O mestre BARBOSA MOREIRA ensina que a ação rescisória tem

natureza jurídica de ação autônoma de impugnação ou ação impugnativa

autônoma (constitutiva negativa), "por meio da qual se pede a desconstituição

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de sentença transitada em julgado, com o eventual rejulgamento, a seguir, da

matéria julgada".

A ação rescisória tem por finalidade a alteração de um estado jurídico

alcançado pela autoridade da coisa julgada material, medida admitida tão-

somente em caráter excepcional, nas hipóteses relacionadas no artigo 485 do

CPC.

A natureza desta ação é constitutiva negativa porque modifica a

sentença, podendo inclusive conter outra eficácia quando a parte pede novo

julgamento em substituição ao rescindido.

Na percepção o ilustre, MOACYR AMARAL SANTOS, conceitua a coisa

julgada formal como “Não mais suscetível de reforma por meio de recursos, a

sentença transita em julgado, tornando-se firme, isto é, imutável dentro do

processo. A sentença, como ato processual, adquiriu imutabilidade. E aí se tem

o que se chama coisa julgada formal, que consiste no fenômeno da

imutabilidade da sentença pela preclusão dos prazos para recursos”.(3).

Quando a sentença é meramente homologatória, para desfazê-la será

ação ordinária no mesmo juízo que a homologou com fundamento nos defeitos

dos atos jurídicos (erro, dolo, coação-estado de perigo-lesão-arts.

138/145/151/156/157 CC). Quando é sentença que homologa com mérito a

transação ou a conciliação (269-III), é ação rescisória, porque definiu o direito

material que foi posto em juízo.

1.6- Algumas considerações a respeito dos pressupostos da

ação rescisória.

“Nada é tão poderoso no mundo como uma idéia cuja oportunidade chegou.”

(Victor Hugo)

Resumo baseado no esquema apresentado pelo Desembargador Elpídio

Donizetti, no livro “Curso Didático de Direito Processual Civil”, Editor Del Rey:

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a) a propositura da ação rescisória não suspende a execução da sentença

rescindenda;

b) na ação rescisória a revelia não opera seus efeitos;

c) admite-se rescisória de rescisória;

d) MP funcional como fiscal da lei;

e) quando o tribunal rescinde a sentença, se for o caso, proferirá novo

julgamento;

f) a citação do réu será de 15 a 30 dias para responder aos termos da ação;

f) após a instrução, o relator abrirá o prazo de 10 dias para manifestação do

autor e do réu;

g) ação rescisória não é recurso;

h) o autor tem que depositar 5% da ação rescisória;

i) o juiz de primeiro grau não tem competência para rescindir a sentença;

j) a competência para julgar a ação rescisória é especificada nos regimentos

internos dos tribunais;

l) ação rescisória visa desconstituir coisa julgada material, na coisa julgada

formal cabe recurso;

m) a sentença rescindível, não é nula, apenas anulável;

n) o fundamento da ação rescisória é o vício formal ou substancial da sentença

de mérito.

Ocorrendo falhas no julgamento da sentença de mérito transitada em

julgado, é permitida até dois anos após o trânsito e dentro de certas condições

fixadas em lei (art. 485) que haja uma revisão desta sentença por intermédio

de uma ação com procedimento ordinário e requisitos do art. 282,(não sendo

portanto recurso), com o objetivo de rescindir esta sentença, sendo uma

tradição do direito português, pois em muitos países esta possibilidade não

existe.

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A ação rescisória possui a natureza jurídica de meio de impugnação

judicial. Nesse sentido, lecionam Fredie Didier Jr. E Leonardo José Carneiro da

Cunha:

“A ação rescisória não é recurso, por não atender ao princípio da

taxatividade, ou seja, por não estar prevista em lei como recurso. Ademais, os

recursos não formam novo processo, nem impugnam uma nova relação jurídica

processual, ao passo que as ações autônomas de impugnação assim se

caracterizam por gerarem a formação de nova relação jurídica processual,

instaurando-se um processo novo. Eis por que a ação rescisória ostenta a

natureza jurídica de uma ação autônoma de impugnação: seu ajuizamento

provoca a instauração de um novo processo, com nova relação jurídica

processual. (5)

Liebman, reconhecendo os méritos da formulação de Chiovenda,

pretendeu aperfeiçoá-la. Iniciou distinguindo a autoridade da coisa julgada dos

efeitos da sentença, para, em seguida, definir a primeira como uma qualidade

que torna o imutável o comando emergente sentença, tanto no seu conteúdo

como nos seus efeitos.

. - Prevaricação. Conceito

Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou

praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou

sentimento pessoal:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de

cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio

ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente

externo: (Incluído pela Lei nº 11.466, de 2007).

Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Este pressupsoto diz respeito a um dos crimes praticados por

funcionário público contra a administração em geral que consiste em retardar

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ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra

disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.

Os funcionários Públicos também podem responder por esse crime, pelo

uso indevido das ferramentas públicas de trabalho, como: carros, telefones,

internet, documentos e tudo o que possa executar ou auxiliar o trabalho de um

servidor público dentro ou fora do horário de expediente, inclusive.(6)

Conforme bem pondera BARBOSA MOREIRA:

“Parece-nos que a interpretação do inciso ora comentado deve ater-se

aos conceitos penalísticos de prevaricação, concussão e corrupção passiva”

(15).

Por Rafael Damaceno de Assis “A prevaricação consiste em retardar

ou deixa de praticar, indevidamente, ato de oficio ou praticá-lo contra

disposição expressa de lei para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.

Segundo a boa doutrina criminal, no que é seguida pela jurisprudência,

o tipo subjetivo da prevaricação, que é capitulada no art. 319 do CP, exige o

‘dolo específico’, sendo necessário, pois, que a prova revele que a omissão

decorreu de afeição, ódio, contemplação, ou para satisfazer interesse (7).

- Concussão. Conceito

Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda

que fora da função, ou antes, de assumi-la, mas em razão dela, vantagem

indevida:

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

Analisaremos, então, um dos crimes praticados contra a Administração

Pública, qual seja o crime de concussão, que é aquele crime praticado pelo

Funcionário Público contra a Administração Pública, previsto Capítulo l, do

Título XI, do Código Penal (art. 316, caput).

Evidencia-se o crime de concussão pela exigência, para si ou para

outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função, ou antes, de assumi-

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la, mas em razão dela, de vantagem indevida, por parte do funcionário público,

na espécie, o militar do Estado.

A conduta típica é exigir, impor como obrigação, ordenar, reclamar

vantagem indevida, aproveitando-se o agente do metus publicae potestatis, ou

seja, do temor de represálias a que fica constrangida a vítima.

Nessa esteira, comete o delito de concussão aquele que, em razão da

função de policial militar, exige vantagem indevida para relaxar prisão de

indivíduos implicados em porte de cigarros de maconha [01]. Da mesma forma

comete o delito de concussão o policial que exige dinheiro de preso para

libertá-lo

No caso da concussão, este vem a ser a exigência, "para si ou para

outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função, ou antes, de assumi-

la, mas em razão dela", de vantagem indevida (art. 316 do Código Penal).

- Corrupção. Conceito.

Já no que respeito à corrupção e definida como solicitar ou receber para

si ou para outrem, direta ou indiretamente, vantagem indevida ou aceitar

promessa de tal vantagem. Para que a rescisão seja favoravelmente acolhida

não é necessário que o juiz tenha sido previamente condenado no juízo

criminal. Permite que a prova do vicio seja feita no curso da própria rescisória”.

Ao contrário da redação do diploma processual anterior, que

mencionava tão somente o termo “peitado”, a lei vigente optou por uma

abordagem de caráter técnico.

Destarte, prevaricação consiste em "retardar ou deixar de praticar,

indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei

para satisfazer interesse ou sentimento pessoal" (art. 319 do Código Penal).

- Corrupção ativa. Conceito.

Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público,

para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:

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21

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada

pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003)

Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da

vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o

pratica infringindo dever funcional.

É dever de todos os advogados e magistrados éticos, que são a grande

maioria, colaborar para o saneamento do Judiciário, denunciado a má conduta

daqueles que, juízes ou não, concorrem com seus atos para o descrédito da

classe e da entidade a que pertencem.

“Os que cientes de práticas atentatórias à dignidade da Justiça, calam,

contribuem para a impunidade e manutenção do atual estado de coisas,

facilitam a corrupção, incentivam a degradação da instituição” (8)

- Corrupção passiva. Conceito.

É definida como "solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou

indiretamente, ainda que fora da função, ou antes, de assumi-la, mas em razão

dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem" (art.317do CP).

- Juiz impedido ou absolutamente incompetente.

O impedimento proíbe o juiz de atuar no processo e invalida os seus

atos, ainda que não haja oposição ou recusa da parte, na medida em que a

imparcialidade do juiz é condição essencial para o exercício da jurisdição.

A suspeição, por seu turno, obsta à atuação do juiz apenas quando

alegada pelos interessados ou acusada pelo julgador ex officio.

Só o impedimento, e não a suspeição torna rescindível a sentença. Se

a alegação é de impedimento de membro do Tribunal, que antes julgou a causa

originária e agora julga a rescisória, a procedência do pedido permite que se

prossiga no novo julgamento, fazendo-se juízo rescisório, desde que o órgão

seja competente e seus integrantes não sejam eles próprios impedidos.

Por outro lado, se a alegação é de impedimento do julgador de órgão

singular, a procedência do pedido importará em cassação da decisão e

remessa ao substituto legal.

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De se ressaltar, contudo, que o Tribunal poderá partir para o juízo

rescisório e proferir novo julgamento, desde que não haja impedimento e a

causa esteja madura para julgamento, conforme preleciona FLÁVIO LUIZ

YARSHELL: “Sendo o tribunal (que julga a ação rescisória) competente para o

novo julgamento, não havendo, obviamente, causas de impedimento ou

suspeição dentre seus julgadores, sendo a matéria controvertida

exclusivamente de direito e havendo elementos suficientes para tanto, poder-

se-ia supor que o tribunal prosseguisse no julgamento, considerando a ratio do

art. 515, §3º, do CPC”.

- Dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou de colusão entre

as partes, a fim de fraudar a lei, vejamos exemplo:

EMENTA

Ação rescisória. Dolo da parte

vencedora. Art. 485, iii, do CPC.

Inviabilidade da utilização da ação

rescisória como sucedâneo de recurso

ordinário. O dolo a que se refere o art.

485, inciso III, 1ª parte, do Código de

Processo Civil é o dolo processual,

representado pela má-fé ou

deslealdade com o que, no processo

rescindendo, a parte induziu o julgador

à decisão objurgada. Fonte TRT (13)

Jouberto de Quadros Pessoa Cavalcante advogado, professor de Direito

da Faculdade Mackenzie, ex-procurador chefe do Município de Mauá mestre

em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie,

mestrando em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo

(USP)

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São duas hipóteses distintas: dolo da parte vencedora e colusão entre

as partes. Ocorre dolo quando a parte vencedora, faltando com seu dever de

lealdade e boa-fé, impeça ou dificulte a atuação processual da outra parte,

como de produção de provas, reduzindo-lhe a capacidade de defesa e

afastando o juiz de uma decisão de acordo com a verdade.

Não caracteriza dolo processual o simples fato de a parte vencedora

haver silenciado a respeito de fatos contrários a ela (O.J. n. 125, SDI-II).

As partes e seus procuradores devem proceder, no processo, com

lealdade e boa-fé (art. 14, II, CPC), sendo considerado litigante de má-fé

aquele que: a) deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato

incontroverso; b) alterar a verdade dos fatos; c) usar do processo para

conseguir objetivo ilegal; d) opuser resistência injustificada ao andamento do

processo; e) proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do

processo; f) provocar incidentes manifestamente infundados; g) interpuser

recurso com intuito manifestamente protelatório (art. 17).

Ocorre processo simulado "quando as partes, sem a vontade de

aproveitar-se do resultado da demanda e sem interesse em obter os efeitos

jurídicos advindos da prestação jurisdicional, simulam a existência de lide entre

elas, com o fim de prejudicar terceiros ou mesmo de desviar o processo de sua

finalidade constitucional e ontológica de servir de instrumento à paz social.

São exemplos de processo simulado: a) ação possessória em conluio

entre autor e réu, sem contestação ou oposição deste, às falsas alegações de

posse longa, com a finalidade de fazer prova pré-constituída para futura ação

de usucapião (simulação de existência do ato jurídico de ofensa à posse do

autor); b) ação de despejo com intuito de demonstrar posse indireta do autor,

visando a pré-constituição de prova para futura ação possessória ou de

usucapião (simulação da existência do negócio jurídico de relação locatícia)"

Processo fraudulento se dá "quando as partes pretendem utilizar-se do

processo para obter resultado vedado pela lei. Por exemplo: a) ação de

anulação de casamento com conluio dos cônjuges, que fazem crer um vício do

matrimônio que não existe, porque ambos pretendem valer-se dos efeitos da

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sentença (Rizzi, Ação rescisória, 1979, n. 59, p. 95); b) ação de alimentos de

mãe contra filho, com o objetivo de criar dedução ilegal do imposto de renda,

em detrimento do erário. A sentença proferida em processo fraudulento pode

ser rescindida (CPC, 485, III).

- Violação Literal à disposição de Lei.

A expressão "literal disposição de lei" está mais pacificada, mesmo

assim, sua aplicação está sendo deturpada como veremos a seguir. Mas antes,

devemos verificar questões específicas deste inciso em comento.

Como por exemplo, a desnecessidade de prequestionamento das

normas violadas na decisão rescindenda, já que o inciso V só fala em violação

a literal dispositivo de lei, por isso, se a decisão violar a literalidade da lei,

independentemente de se referir a esta explicitamente, caberá a ação.

A possibilidade de rescisória em rescisória pelo inciso "V" ocorrerá

quando a decisão da primeira rescisória contrariar dispositivo literal de lei.

A outra rescisória não poderá ser ajuizada com causa de pedir idêntica

da ação originária, mas sim, com causa de pedir originada pela decisão da

rescisória anterior. Isto porque a decisão da rescisória é uma decisão como as

outras, podendo ser rescindida se ocorrer qualquer hipótese do artigo 485 do

CPC. Além disso, a lei não exclui esta possibilidade.

Com relação a causa de pedir da rescisória, cada norma, possivelmente

violada, deve ser indicada na inicial pelo autor, como nos ensina Barbosa

Moreira, e serão causas de pedir diversas.

O órgão julgador deverá julgar apenas as causas pedidas pelo autor,

sob pena de julgamento extra petita.

Por fim, cabe ressaltar os apontamentos do ilustre jurista Teotônio

Negrão, onde cola jurisprudência que defende não caber rescisória pelo inciso

V, quando a violação a literal dispositivo de lei seja causada por omissão

ardilosa da parte interessada na rescisória (RT 625/125).

Esta teoria deverá ser aplicada em quase todos os casos, se as

jurisprudências que geraram a decisão não forem contra legem. Mas se foram,

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não deverá ser aplicada, já que uma decisão, que feriu a lei com base numa

jurisprudência manifestamente contrária o dispositivo literal de lei, ou outra

decisão, que feriu uma lei sem base em jurisprudência, têm o mesmo vício e

poderão ser rescindidas por ação rescisória com esteio no artigo 485 V do

CPC.

Como podemos observar o enunciado 343 da súmula do E. STF não tem

aplicação absoluta. O importante para aplicação ou não da hipótese de

cabimento em questão é se a decisão realmente violou ou não a literal

disposição de lei, já que, mesmo se a decisão rescindenda tenha se apoiado

em jurisprudência controvertida, poderá ter violado dispositivo literal de lei se

aquela for contra legem.

Por outra via, decisão que vai contra súmula ou jurisprudência não é

obrigatoriamente contrária a lei ou fere o dispositivo literal da mesma, já que

súmula ou jurisprudência não são lei, desta forma, se a decisão rescindenda

não ferir a lei, esta deverá prevalecer e a rescisória não ser conhecida.

Esta tese possibilita um maior espírito crítico ao Judiciário, de modo que

não fique engessado no entendimento da jurisprudência, mas sim, que se

verifique a real aplicação de uma lei.

É mesmo que cabe ação rescisória por violação de literal disposição de

lei (CPC, art. 485, V). Os tribunais temperaram essa regra.

Em sua Súmula 134, disse o antigo Tribunal Federal de Recursos: "Não

cabe ação rescisória por violação de literal disposição de lei se, ao tempo em

que foi prolatada a sentença rescindenda, a interpretação era controvertida nos

tribunais, embora posteriormente se tenha fixado favoravelmente à pretensão

do autor". A Súmula 343 do STF estatuiu: “Não cabe ação rescisória por ofensa

a literal disposição de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em

texto legal de interpretação controvertida nos tribunais”.

O STF uniformizou a jurisprudência, ainda que a propósito de lei

ordinária, cabe rescindir-se os acórdãos que adotaram a posição vencida.

Nessa linha, a seguinte decisão:

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“RESCISÓRIA –” Violação a literal disposição de lei - Julgamento em

desacordo com o que veio a ser assentado em incidente de uniformização de

jurisprudência - Ação procedente.[“

Agravo Regimental na Ação Rescisória. Violação a literal disposição de lei. Erro

de fato. Dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida.

EMENTA 19.05.09 – Processual Civil – Ação rescisória -

Violação Literal Disposição de Lei.

1. A viabilidade da ação rescisória por ofensa à literal

disposição de lei pressupõe violação frontal e direta, contra

a literalidade da norma jurídica.

2. O erro de fato, que enseja a propositura da ação

rescisória, não é aquele que resulta da má apreciação da

prova, mas sim o que decorre da ignorância de

determinada prova, face à desatenção na apreciação dos

autos.

3. Não colhe a alegação de dolo da parte vencedora em

detrimento da parte vencida desconectada da realidade dos

autos. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.

(STJ - AgRg-AR 3.427 - PA - Proc. 2005/0171393-6 - 2ª S.

- Rel. Desemb. Vasco Della Giustina - DJ 19.05.2009) (21)

Tem-se, porém, negado a aplicação dessas súmulas nas hipóteses de

controvérsia envolvendo matéria constitucional.

Exponho, para reflexão dos leitores, algumas de suas considerações:

"Permitir a rescisão de decisões anteriores à consolidação de uma

jurisprudência torna toda sentença transita em julgado condicionada a

acontecimentos futuros. Implica atribuir, a toda a sentença transitada em

julgado, caráter precário e provisório, hábil a criar incerteza do direito.”

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"Sendo certo que o legislador não pode atingir retroativamente à coisa

julgada, mais razão existe para que seja inadmissível que um julgador aplique,

de modo retroativo, decisão posterior a uma decisão judicial já transitada em

julgado. Se, ao legislador, que tudo pode dentro dos limites constitucionalmente

previstos, não se permite a retroatividade de uma lei, é lícito não permitir que a

corte possa aplicar decisão posterior a decisão proferida anteriormente.”

- Se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal,

ou seja, provada na própria ação rescisória.

Por Artur Fonseca Alvim “novamente a lei dispõe a necessidade de que

a prova apurada como falsa tenha servido de fundamento para a decisão.

Existindo outros elementos de convicção, não será admitido, portanto, o pleito

rescisório.

No caso da apuração pela via criminal, afigura-se irrelevante o momento

em que a condenação tenha transitado em julgado, seja antes ou após o

trânsito da decisão rescindenda, constituindo-se, de todo modo, em

fundamento de rescindibilidade.

A absolvição criminal não impede o reexame da falsidade em sede de

ação rescisória, excepcionando-se, claro, o caso onde o juízo penal reconhece

a inexistência material do fato, conforme nos mostra os arts. 66 e 386 do

Código de Processo Penal.

Excluem-se, no entanto, as alegações relativas à falsidade de

presunções, já que estas não se constituem como meio de prova.

A decisão rescindenda deve estar fundamentada essencialmente na

prova viciada, de modo que não encontre sustentação sem a utilização da

mesma. Subsistindo outra prova que venha a fundamentar a sentença,

descaberá a rescindibilidade aqui prevista.

O termo “prova” deve ser lido em sentido amplo, abrangendo as

espécies documentais, testemunhais e periciais, por exemplo. No que se refere

aos depoimentos das partes, cumpre observar que o caso da confissão já é

tratado no inciso VIII do art. 485.

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No que se refere à falsidade documental, é preciso registrar que a

mesma pode ocorrer sob duas formas. A falsidade material se verifica quando

se discute a autenticidade do documento e o modo pelo qual o mesmo foi

produzido ou firmado.

Em outras palavras, a falsidade se refere aos aspectos intrínsecos do

mesmo, à materialidade do documento. A falsidade ideológica, por outro lado,

dirige-se ao conteúdo constante no mesmo, quando se questiona a veracidade

do que ali foi consignado.

Outra questão controversa diz respeito à sentença de natureza civil,

visto que a norma menciona somente o processo criminal ou a apuração via

ação rescisória.

Outro ponto observado por Barbosa Moreira, defende que a declaração

de falsidade na sentença civil, seja através de ação declaratória ou de incidente

de falsidade no curso de um processo, não constitui fundamento para a

rescindibilidade da sentença, embora represente inegável elemento de

convicção.

- Depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência

ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar

pronunciamento favorável.

O termo “documento” deve ser compreendido em sentido amplo,

comportando, além dos tradicionais documentos escritos, as novas formas de

tecnológicas de armazenamento, tais como meios magnéticos e eletrônicos.

Quanto à expressão “autor”, a lei se refere ao autor da ação rescisória,

independentemente do papel exercido no processo da ação rescindenda

(autor, réu, sucessor, terceiro ou Ministério Público.

A qualidade de “novo” se relaciona com a qualidade do documento em

relação ao seu uso no processo e não ao momento em que o mesmo foi

produzido.

É necessário, portanto, que o documento já exista ao tempo do processo

em que se proferiu a decisão rescindenda. Merece destaque interpretação

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dada para a utilização de exame de DNA como documento novo apto a ensejar

a rescisória com base no inciso VII do art. 485. Tal exame revelaria prova já

existente, mas desconhecida até então.

A prova do parentesco já existia no código da célula: trata-se apenas de

uma obtenção posterior, em vista da evolução tecnológica nos exames

médicos.

O autor deverá provar que ignorava a existência do mesmo à época do

processo ou que, ao tomar conhecimento do mesmo, não pôde utilizá-lo. Tal

impossibilidade pode resultar tanto de questões de ordem processual

(pendência de recurso especial ou extraordinário, onde não são analisadas

questões de fato, por exemplo) como de ordem material (dificuldade de acesso

ao mesmo ou posse por terceiro, por exemplo).

Descabe o ajuizamento de rescisória quando o documento “novo”

constava de livros e documentos de repartições públicas ou cartórios, visto que

os mesmo estariam efetivamente à disposição das partes.

Sinale-se que a hipótese de rescindibilidade em análise refere-se

exclusivamente a documento, em nada se relacionando com eventual

descoberta de fato cuja existência o autor ignorava ou não tenha alegado.

- Fundamento par invalidar confissão, desistência ou transação, em que se

baseou a sentença. (22)

“Por Rafael Damaceno de Assis:” Cabe rescisória quando houver

fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação em que se

baseou a sentença.

Para êxito da rescisória não é suficiente que o ato jurídico seja passível

de invalidação. É indispensável que a sentença tenha tido como base o ato

viciado. Nas hipóteses de resistência ou transação, nenhuma dificuldade se

encontra para a rescisória, porque a sentença, em tais casos, se limita a

homologar uma auto composição da lide. O negocio jurídico realizado pelos

interessados será, sempre e forçosamente, a base da sentença.

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Já com relação à confissão, torna-se imperiosa a demonstração de que

a sentença rescindenda a deve por fundamento. Se a conclusão do julgador for

extraída de convicção que preside da confissão ou vicio desta não atinge a

sentença.

Quando a desistência a de se notar que se trata da causa de extinção

do processo sem julgamento do mérito. Como a rescisória só é admissível

contra sentenças de mérito, a desistência só pode ser entendida com o sentido

de renuncia ao direito em que se funda a ação ou seja, de desistência ao

direito material.

- Existência de documento novo.

Considera-se "documento novo" o que seja preexistente ao julgado

rescindendo, mas que não fora apresentado em juízo em razão de alguma das

hipóteses previstas no supracitado dispositivo legal.

Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser

rescindida quando:

Vll - depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência

ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de Ihe assegurar

pronunciamento favorável;

Note-se que para fundamentar a rescisória, o documento terá que ser de

relevante significado diante da sentença. Sua existência, por si só, deve ser

causa suficiente para assegurar ao autor da rescisória um pronunciamento

diverso daquele contido na sentença impugnada e que, naturalmente, lhe seja

favorável.

EMENTA- Ação rescisória. Documento novo. Artigo 485,

VII, do Código de Processo Civil. Para que se admita a

apresentação de documento novo nos termos do artigo

485, VII do Código de Processo Civil, capaz de alterar o

resultado da decisão rescindenda, faz-se imprescindível

que sua existência, antes da prolação da sentença, fosse

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ignorada pelo autor da rescisória, ou que dele não pudesse

fazer uso. A Autora deve arcar com as conseqüências dos

atos que tenha dado causa./ TRT-AR-

00091.2002.000.23.00-8 – Ac. TP. n 2168/2002.

Documento novo é o cronologicamente velho, já existente ao tempo da

decisão rescindenda, mas ignorado pelo interessado ou de impossível

utilização, à época, no processo. Deve o mesmo, deve o mesmo viabilizar a

desconstituição de julgado.

Destarte, poder-se-ia dizer, em um primeiro momento que o novo

estatuto processual admitiu mais uma hipótese de rescindibilidade da sentença,

que consiste na obtenção pelo autor da rescisória, após a existência da

decisão rescindenda, de documento novo, cuja existência ignorava, ou de que

não pode fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento

favorável.

A não exibição do “documento novo” no processo principal pode ocorrer

em virtude até por negligência da parte, quando poderia e deveria louvar-se do

documento já existente e não ignorado quando emitida a decisão rescindenda.

1.7 - Ação rescisória por violação da Constituição

Cabe ação rescisória por violação de literal disposição de lei (CPC, art.

485, V). Os tribunais temperaram essa regra. Em sua Súmula 134, disse o

antigo Tribunal Federal de Recursos: "Não cabe ação rescisória por violação de

literal disposição de lei se, ao tempo em que foi prolatada a sentença

rescindenda, a interpretação era controvertida nos tribunais, embora

posteriormente se tenha fixado favoravelmente à pretensão do autor". A

Súmula 343 do STF estatuiu: “Não cabe ação rescisória por ofensa a literal

disposição de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto

legal de interpretação controvertida nos tribunais”. (14)

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CAPÍTULO II

ENTENDIMENTOS NA VISÃO DE ALGUNS

DOUTRINADORES.

“Não fazemos o que queremos e, no entanto, somos responsáveis pelo que

somos: eis a verdade.”- (Sartre)

Apresento em primeiro lugar, um conceito genérico da coisa julgada

para depois tratar do assunto das suas pecularidades deste instituto,

demonstrando e trazendo suas modalidades e limites como forma de melhor

caracterizá-lo no seu todo.

O professor Ovídio A. Baptista da Silva2 chama atenção sobre a

necessidade vital de se atentar que a coisa julgada é particular ao Poder

Judiciário, assim explicando: A coisa julgada é peculiar e exclusiva a um tipo

especial de atividade jurisdicional.

Se nem todo o ato, ou processo jurisdicional, produz coisa julgada, é

certo que não a produzem os atos dos demais poderes do Estado: Executivo e

Legislativo. (4)

Em termos históricos, o instituto da coisa julgada passa, em uma

primeira fase e especialmente no direito romano, pela ineficácia do ato, ou seja,

mesmo tendo transitado em julgado a sentença, uma vez constatando-se uma

nulidade no processo que havia uma grande importância das formas e por isso

o número de nulidades era alto e pelos mais variados e menos importantes

defeitos, poder-se-ia recorrer a instituto adequado de declaração de

inexistência da sentença, pois a mesma não produzia efeitos enquanto

perdurasse o vício.

PERELMAN ao fazer a sua análise sobre a coisa julgada, compara

inicialmente a liberdade que tem o cientista independente em suas pesquisas

com o juiz que não possui essa mesma liberdade, pois não escolhe os

processos que terá de analisar, ficando encarregado de julgar uma lide e, ao

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fazê-la, realiza um ato de soberania, cuja meta é estabelecer a paz judiciária,

dizendo o que é conforme ao direito.

Segundo PERELMAN, suas “decisões terão a autoridade da coisa

julgada, após a expiração dos prazos previstos para interpor apelação e

recurso de cassação. A coisa julgada é tida como verdadeira, e as partes

devem submeter-se às conclusões do tribunal. Aliás, são essas conclusões que

o mais das vezes lhes importam, bem mais do que a realidade dos fatos, que

constituem apenas um meio de fundamentar as consequências jurídicas que

deles decorrem”.

O instituto encontra fundamento no artigo 5º, XXXVI, da CF, tendo como

objetivo propiciar segurança jurídica, dar estabilidade às relações sociais e

evitar julgados conflitantes. Uma das características da jurisdição é exatamente

a coisa julgada/imutabilidade das decisões, pois de nada adiantaria submeter

uma pretensão ao Estado-Juiz se a decisão por este proferida não fosse

imperativa e imutável.

Em razão da descoberta do Brasil por Portugal, durante a colonização,

todo o sistema aqui aplicado foi trazido daquele país. Quando vimos a coisa

julgada em Portugal, verificamos que ali foi adotado por muito tempo o sistema

romano, o qual foi albergado pelas Ordenações Afonsinas, Manuelinas e

Filipinas. Esse foi o sistema vigorante no Brasil colônia.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes: XXXVI - a lei não prejudicará o direito

adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.

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CAPÍTULO III

QUAIS SÃO SEUS EFEITOS E IMPACTOS DA AÇÃO

RESCISÓRIA?

“Temos o poder de mudar vidas com simples ações. Por isso devemos praticá-

las com discernimento, responsabilidade e, acima de tudo, muito AMOR.” (Rui

Barbosa)

Ação rescisória é a forma de impugnar uma ação judicial transitada em

julgado, para desconstituir a coisa julgada material.

A sentença de mérito não pode ser anulada por ação anulatória,

sentença de mérito deve ser impugnada por ação rescisória, conforme prevê o

artigo 485 do Código de Processo Civil.

A sentença meramente homologatória e a sentença terminativa não

podem ser impugnadas por meio de ação rescisória, nesses casos, cabem

apenas os recursos conforme previsto na lei.

Destarte, a ação rescisória é aquela "que colima reparar a injustiça da

sentença transita em julgado, quando o seu grau de imperfeição é de tal

grandeza que supera necessidade de segurança tutelada pela res iudicata". (2)

No que concerne à ação rescisória, o professor Ovídio Baptista dá

importante contribuição a este instituto e ensina que:

[...] trata-se de uma ação autônoma, que não só tem lugar noutra relação

processual, subseqüente àquela onde fora proferida a sentença a ser atacada,

como pressupõe o encerramento definitivo dessa relação processual.

A ação rescisória (art. 485 do CPC), em verdade, é uma forma de

ataque a uma sentença já transitada em julgado, daí a razão fundamental de

não se poder considerá-la um recurso. Como toda ação, a rescisória forma

uma nova relação processual diversa daquela onde fora prolatada a sentença

ou o acórdão que se busca rescindir

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CAPÍTULO IV

DA COISA JULGADA, ART. 467 DO CÓDIGO DE

PROCESSO CIVIL

1- Conceito.

Art. 467. Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna

imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou

extraordinário.

Para Humberto Theodoro Junior, esta é a eficácia que torna imutável e

indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso “ordinário ou extraordinário”

(art. 467 do CPC). Diz também que a coisa julgada é instituto processual de

ordem pública, de sorte que a parte não pode abrir mão dela.

Já para Alexandre Câmara, pode-se conceituar coisa julgada como se

faz a Lei de Introdução do Código Civil, em seu art. 6º, § 3º, onde se lê que

“chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba

recurso. Põe também que a coisa julgada tornaria imutável a sentença, fazendo

com que aquele ato processual se tornar-se insuscetível de alteração em sua

forma, e faria ainda imutáveis os seus efeitos (todos eles: declaratórios,

constitutivos e condenatórios).

Aqui neste papel fundamentarei as idéias, voltado ao grande embate da

atualidade que é a flexibilização da coisa julgada, ou seja, tornar uma

sentença, depois de decorrido seu lapso temporal, mutável e discutível.

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2.1 - Ofender a coisa julgada, art. 485, IV, do Código de

Processo Civil.

Com o advento da Carta Magna em 1988, o legislador constituinte

incluiu, com o intuito de garantir segurança e estabilidade (Preâmbulo e art. 5º,

caput, da CRFB/88) às decisões judiciais, o inc. XXXVI ao art. 5º.

XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a

coisa julgada;

Ressalta as diversas interpretações doutrinárias e jurisprudenciais na

extensão do cabimento da ação rescisória e aponta aspectos relevantes da

coisa julgada .

No âmbito do ordenamento jurídico brasileiro a ação rescisória é usada

como instrumento para rescindir sentenças de mérito transitadas em julgado,

na forma do artigo 485 do CPC.

A ação rescisória, prevista no art. 485, do CPC, é o único meio previsto

no Direito Brasileiro para impugnação de decisões transitadas em julgado.

Através desse instrumento pode-se desconstituir a sentença, bem como

requerer o rejulgamento da causa. O art. 485, do CPC, prevê nove hipóteses

de cabimento, mas a ação rescisória, com base no inciso V, é aquela de maior

incidência nos Tribunais, apresentando também considerável dificuldade

solucionar, devido às interpretações controversas da expressão ofender a coisa

julgada

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2.2 - Coisa julgada formal.

Ex: PROCESSO TRT 15377.2003.000.14.00-8

AÇÃO RESCISÓRIA. ACORDO HOMOLOGADO NOS AUTOS DE

OUTRO PROCESSO. QUITAÇÃO GERAL EM RELAÇÃO AO OBJETO DO

PEDIDO E AO EXTINTO CONTRATO DE TRABALHO. COISA JULGADA. A

transação produz efeito de coisa julgada (art. 831 da CLT) e tendo havido

cláusula expressa de quitação geral e plena ao objeto do pedido e ao extinto

contrato de trabalho, a decisão que deferir pedido constante em reclamação

trabalhista ajuizada posteriormente, em relação ao mesmo pedido quitado

mediante acordo, viola o instituto da coisa julgada, ensejando rescisão nos

termos do art. 485, inc. IV, do CPC. Ação rescisória procedente. - PROCESSO

TRT 15377.2003.000.14.00-8

Com o advento da Carta Magna em 1988, o legislador constituinte

incluiu, com o intuito de garantir segurança e estabilidade (Preâmbulo e art. 5º,

caput, da CRFB/88) às decisões judiciais, o inc. XXXVI ao art. 5º.

XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a

coisa julgada;

Ressalta as diversas interpretações doutrinárias e jurisprudenciais na

extensão do cabimento da ação rescisória e aponta aspectos relevantes da

coisa julgada .

No âmbito do ordenamento jurídico brasileiro a ação rescisória é usada

como instrumento para rescindir sentenças de mérito transitadas em julgado,

na forma do artigo 485 do CPC.

A ação rescisória, prevista no art. 485, do CPC, é o único meio previsto

no Direito Brasileiro para impugnação de decisões transitadas em julgado.

Através desse instrumento pode-se desconstituir a sentença, bem como

requerer o rejulgamento da causa. O art. 485, do CPC, prevê nove hipóteses

de cabimento, mas a ação rescisória, com base no inciso V, é aquela de maior

incidência nos Tribunais, apresentando também considerável dificuldade

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solucionar, devido às interpretações controversas da expressão ofender a coisa

julgada

A coisa julgada formal não analisa o mérito da causa, apenas põe fim ao

processo nos termos do art. 267 do CPC, o que não impede nova propositura

da demanda.

Esse novo remédio que o pretor concedia excepcionalmente contra

sentenças formalmente válidas, ao contrário daqueles dois outros meios de

revogação da sentença (infitiatio e revocatio in duplum), apresentava-se com

as características e eficácia da moderna ação constitutiva negativa

O tema é explicado também por JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA

ao dizer que o art. 468 reproduz, sem as deformações do art. 287, caput

(Código de 39), a fórmula carneluttiana: “A sentença, que julgar total ou

parcialmente a lide, tem força de lei nos limites da lide e das questões

decididas”. “

Apenas a lide é julgada; e, como a lide se submete à apreciação do

órgão judicial por meio do pedido, não podendo ele decidí-la senão “nos limites

em que foi proposta” (art. 128), segue-se que a área sujeita à autoridade da

coisa julgada não pode jamais exceder os contornos do petitum”.1

Na realidade a coisa julgada formal faz extinguir o processo nos casos

previstos em lei e após esgotamento dos prazos ou da utilização de todos os

recursos cabíveis, sem que o direito material ali discutido seja atingido.

Assim, esse direito não pode mais ali ser analisado, porém pode

qualquer dos litigantes buscar a via de novo processo para rediscutir a

controvérsia.

Diz-se com isso que a coisa julgada formal não afeta o mérito, porém

extingue o processo ou a relação jurídica instrumental em razão de algum

defeito processual, no campo meramente formal ou instrumental.

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2.3- Coisa julgada material.

Entende-se como coisa julgada material a decisão que extingue o

processo, mas sem entrar no mérito da discussão das partes.

O juiz apenas encerra o processo por existir algum vício que

impossibilite o prosseguimento, como ilegitimidade de parte ou falta de

representação, por exemplo. Neste caso, a decisão, mesmo que transite em

julgado, valerá apenas para aquele processo, pois ataca a "forma" do

processo, por isso "coisa julgada formal".

A coisa julgada formal, por valer somente naquele processo e para

aquela relação processual não impede que, sanado o vício ou a irregularidade,

o autor intente novamente a ação para discutir a mesma coisa, buscando que o

juiz, então, entre no "mérito" da discussão e prolate uma sentença de mérito,

que fará, finalmente, coisa julgada material. (15)

A coisa julgada material é entendida sempre quando o juiz analisa o mérito da

controvérsia, ou a lei impõe essa condição por haver as partes chegado a uma

solução do conflito, ou a sentença haja refletido de forma tal no mérito que

venha a impossibilitar o reexame da matéria.

Vislumbra-se que na coisa julgada material a decisão de mérito que

transitou em julgado. Resolvendo definitivamente (sentença definitiva) o conflito

entre as partes, entrando no mérito da discussão, a sentença faz coisa julgada

material que, por sua vez, tem força de LEI entre as partes (autor e réu). A

matéria decidida não poderá mais ser discutida pelos envolvidos.

Desta mesma decisão como afirmara o italiano. “O que transita em

julgado é apenas a declaração que o magistrado faz na sentença de que tal ou

qual preceito de lei incidiu, transformando-se na ‘lei do caso concreto” (16)

2.4- Coisa julgada Inconstitucional.

Um tema extremamente polêmico na doutrina brasileira é o afeto à

relativização da coisa julgada inconstitucional.

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Muitos doutrinadores defendem a tese da intangibilidade da coisa

julgada, dentre eles José Carlos Barbosa Moreira, Leonardo Greco, Luiz

Guilherme Marinoni e Nelson Nery Júnior.

Esse último ensina que: A coisa julgada material tem força criadora,

tornando imutável e indiscutível a matéria por ela acobertada,

independentemente da

Haverá coisa julgada inconstitucional quando a decisão judicial transita

em julgado for contrária à aplicação de preceito, princípio ou norma

constitucional, assim declarada pela Corte Constitucional.

Ovídio Baptista afirma que a coisa julgada é, ao contrário do que

apregoara Liebman em sua obra clássica, uma qualidade que se une apenas

ao efeito declaratório da sentença, isto é, ao efeito produzido externamente à

sentença.

Assim, é o efeito declaratório de determinada sentença que seria

acobertado pela autoridade da coisa julgada, e não o conteúdo e os efeitos

A coisa julgada formal está ligada a idéia de término do processo.

Consiste na imutabilidade da sentença da sentença pela preclusão dos prazos

para recurso.

Decorre que, da impossibilidade de interposição de recursos, seja pelo

decurso de prazo, seja porque não cabíveis, seja pelo desinteresse do vencido,

a sentença se torna imutável naquele processo onde foi proferida.

Com isto, o Estado cumpre seu dever na entrega da prestação

jurisdicional. Desse modo, ao seu tempo, todas as sentenças, sejam

terminativas ou definitivas, fazem coisa julgada formal. A coisa julgada formal

pode incidir, sem que incida a coisa julgada material.

É o caso das sentenças terminativas, que somente extinguem o

processo, sem conhecer do mérito. Razão por que, nesses casos, em que atua

somente dentro do processo, não impede que se o discuta em outro processo.

(17)

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É possível afirmar assim que as sentenças – todas elas – produzem a

denominada coisa julgada formal, quando se tornam irrecorríveis, por

esgotados todos os recursos ou por não se ter intentado a impugnação

porventura cabível. (18)

2.5- Conceito de sentença.

“Quem comete uma injustiça é sempre mais infeliz que o injustiçado.”-

(Platão)

Quanto ao que seja sentença, diz o Código ser “o ato pelo qual o juiz

põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da causa (art. 162, § 1º).

“Esclarece José Carlos Barbosa Moreira que o conceito de sentença, no

art. 485, caput, abrange” a decisão do Presidente da Corte Suprema, que

acolha ou rejeite o pedido de homologação de julgado estrangeiro.

Se tal decisão não for impugnada pelo agravo regimental, ou deste não

conhecer o Plenário, para reformá-la ou para ‘confirmá-la’, será passível de

ataque por meio de ação rescisória. (...). Tratamento análogo aplica-se à

decisão do relator de recurso que o rejeite por motivo de mérito, nos termos do

art. 557, caput, na redação da Lei nº 9.139, de 30.11.1995"[1].

José Carlos Barbosa Moreira. Comentários ao Código de Processo Civil.

‘As sentenças constitutivas podem ser positivas ou negativas, conforme

somem algo novo ao momento anterior ou simplesmente alterem a situação

extinguindo-a ou modificando-a. “

O estágio atual da evolução da ciência processual não permite aceitar

que a sentença constitutiva seja vinculada à chamada classe dos direitos

potestativos ou formativos. Isso ocorre porque a ação é autônoma e abstrata,

não depende de direito preexistente. A esta afirmação soma-se o fato de que o

direito é criado na sentença, que é atividade de ‘vontade’, exercício de poder, e

não mero raciocínio lógico formal, sendo o direito material apenas tomado in

status assertionis quando do ajuizamento da ação.

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A sentença constitutiva traz uma satisfação completa da pretensão do

autor, sendo comum falar-se em uma “executividade” inerente ao processo

constitutivo, um efeito próprio de sua constitutividade.

Objetivando o processo judicial em uma perspectiva criadora em todas

as sentenças de mérito existe, no mínimo, a constituição decorrente da criação

do direito para o caso concreto.

2.6- Sentença e coisa julgada.

A coisa julgada, qualidade dos efeitos da sentença por Cândido Rangel

Dinamarco: “Sem ser um efeito da sentença, mas especial qualidade que

imuniza os efeitos substanciais desta, a bem da estabilidade da tutela

jurisdicional, a coisa julgada não tem dimensões próprias, mas as dimensões

que tiverem os efeitos da sentença.

O árduo problema dos limites objetivos e subjetivos da coisa julgada tem

sua razão de ser nas limitações que, por imposição dos valores políticos

representados pela garantia constitucional do contraditório, impedem que a

sentença projete eficácia direta ultra partes ou além do objeto do processo.

Repugnaria à ordem político-constitucional a imposição dessa eficácia

direta a sujeitos que, não tendo sido partes, não participaram do procedimento

e não puderam exercer sua legítima influência no espírito do juiz - daí a

limitação subjetiva da coisa julgada material, da qual se diz que allis non

prodest nec noce..

Seria também ilegítimo impor às próprias partes os efeitos de uma

sentença projetados sobre os bens ou relações jurídicas que não foram objeto

do decisum - e daí a limitação objetiva da coisa julgada, a qual não vai além do

objeto do processo (Streitgegenstand), como tal reconhecido e decidido na

sentença4.

Texto redigido a partir do roteiro elaborado para exposição que fiz sobre

o tema nas VIII Jornadas Nacionales de Derecho Procesal, em La Paloma,

Departamento de Rocha, Uruguai, aos 20 de abril de 1955.

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Para a publicação no Brasil reduzi a comparação jurídica Uruguai-Brasil

e incluí referência ao Código de Processo Civil Tipo Para a América Latina, que

é a fonte direta do vigente Código General de Processo uruguaio. O título da

exposição então proferida foi Alcance de Ia cosa julgada em relación a la

intervención de terceiros.(19)

A coisa julgada defendida por alguns doutrinadores como efeito da

sentença, mas por outros, no entanto, uma especial qualidade imunizadora dos

efeitos substanciais da sentença, trazendo em seu bojo a necessidade de

estabilidade da tutela jurisdicional.

Cândido Rangel Dinamarco aponta em suas premissas que a coisa

julgada não possui dimensões próprias, mas somente as dimensões que

tiverem os efeitos da sentença. (20)

Por outro lado, Ovídio A. Baptista da Silva infere que: A gravidade da

injustiça como condição para “confrontar”, [...], a coisa Julgada acabaria, sem a

menor dúvida, destruindo o próprio instituto da res iudicata. [...]. Pretender que

a coisa julgada seja desconsiderada quando a sentença seja “injusta” não é,

seguramente, um ideal da modernidade. [...].

Suponho desnecessário sustentar que a “injustiça da sentença” nunca

foi e, a meu ver, jamais poderá ser, fundamento para afastar o império da coisa

Julgada.

Por Hermes Zaneti Junior - Advogado, Mestre e doutorando pela

UFRGS, Professor de Direito Processual Civil nos Cursos Jurídicos de Pós-

Graduação Lato Sensu junto à UFRGS e ULBRA, e de graduação junto à

PUC/RS e ULBRA/RS.

Far-se-á neste tópico apenas algumas resenhas sobre a constância da

eficácia constitutiva na sentença, que se entende possível, sob determinada

ótica, em todas as sentenças de mérito. Neste sentido vale citar a expressão

de três renomados autores.

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FAZZALARI:

No pensamento do autor italiano ELIO FAZZALARI, responsável por

uma nova feição ao conceito de natureza jurídica do processo – visto como

procedimento em contraditório -, tem-se, como sentença de mérito, aquela que:

“Irroga verdadeira medida jurisdicional, com conteúdo típico ‘condenação’,

‘declaração’ ou ‘constituição’ e desenvolve, portanto, eficácia na esfera

substancial, id est no patrimônio das partes”.

Insiste FAZZALARI que a sentença “declaratória”, “condenatória” ou

“constitutiva”, no senso da incidência na esfera substancial do litigante atua

criando uma nova situação jurídica, e é, portanto, sempre constitutiva;

reafirmando, ainda e dentro desta mesma lógica, o caráter de “vontade”,

hiperatividade do comando judicial.

PONTES DE MIRANDA:

Para PONTES DE MIRANDA, “Todas as sentenças declarativas

constituem porque, com a sentença, se têm a eficácia de coisa julgada material

e algo novo.

Todas as sentenças condenatórias constituem, porque há o título de

condenação, que se firma na eficácia de coisa julgada e, em geral, algo novo,

que se liga à dívida.

Todas as sentenças mandamentais constituem, porque a decisão do

próprio mandado foi elemento que fez o momento b ser diferente do momento

a todas as sentenças executivas constituem, porque a execução supõe

alteração, no tempo.”, portanto, “em toda a sentença há, pelo menos, a

constitutividade que resulta de ter sido proferida.”

KELSEN:

De acordo com KELSEN, “Uma decisão judicial não tem, como por

vezes se supõe, um simples caráter declaratório. O juiz não tem simplesmente

de descobrir e declarar um direito já de antemão firme e acabado, cuja

produção já foi concluída.

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A função do tribunal não é simples ‘descoberta’ do Direito ou juris-‘dição’

(‘declaração’ do Direito) neste sentido declaratório. A descoberta do Direito

consiste apenas na determinação da norma geral a aplicar ao caso concreto.

“E mesmo esta determinação não tem um caráter simplesmente

declarativo, mas um caráter constitutivo.” Para que não se enganem os

incautos cultores da simples aplicação da lei ao estilo subsuntivista, KELSEN

pretendia que na atividade jurisdicional: “A interpretação feita pelo órgão

aplicador do Direito é sempre autêntica. Ela cria Direito.”

Infere-se, portanto que é comum às sentenças, quer sejam constitutivas,

querem condenatórias, mandamentais, declaratórias ou executivas lato sensu,

a peculiaridade de, por se tratarem de ato de vontade, criar a norma jurídica no

caso concreto. Esta criação é atividade constitutiva.

Na sentença o ato que constitui (criando, modificando ou extinguindo o

direito) é preponderantemente criação jurídica e não mera declaração de um

direito anteriormente verificado.

A sentença constitutiva se caracteriza por ser aquela que contém,

preponderantemente, o ato de modificar a situação ou relação jurídica anterior,

eficácia modificativa. Esta modificação lato sensu pode ocorrer, criando,

alterando ou extinguindo uma situação ou relação jurídica. Os efeitos da

modificação ocorrem fora da sentença, como conseqüência desta eficácia e

são externos a ela.

As sentenças constitutivas, em geral, apresentam eficácia para o futuro

(ex nunc), ou seja, criam, modificam ou extinguem o direito a partir da

sentença; porém, existem sentenças constitutivas com eficácia produtora de

efeitos pretéritos, v.g., a eficácia constitutiva negativa das sentenças quanto

aos negócios jurídicos bilaterais. Nesses casos em que a eficácia se dá ex

tunc, são apagadas e retornam ao estado anterior as conseqüências jurídicas

anteriores à sentença, ou seja, da data do ato a ser anulado ou alterado.

Portanto, apesar de não existir um nexo causal entre o direito material e

a eficácia constitutiva, existe um nexo de instrumentalidade e adequação para

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a efetividade; assim, a eficácia será ex tunc, nos casos em que a situação

jurídico-material afirmada exigir uma prestação jurisdicional nesse sentido.

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CAPÍTULO V

UM BREVE HISTÓRICO DA RELATIVIZAÇÃO DA COISA

JULGADA NO BRASIL- ASPECTOS CONSTITUCIONAIS.

“O mau comportamento dos homens vive no bronze; as suas

virtudes, / nós as escrevemos sobre a água.” (William Shakespeare)

O presente trabalho tem por finalidade estudar o instituto da

relativização da coisa julgada à luz da ação rescisória. É fácil perceberque

nessa fase do direito que a relativização da coisa julgada é dada a segurança

jurídica.

Para Tereza Arruda Alvim Wambier e José Miguel Garcia Medina “a

relativização da coisa julgada se faz necessária para evitar a estabilização de

situações indesejáveis, imposta por decisões definitivas do judiciário ao caso

concreto”.

Dão dois caminhos para se relativizar a coisa julgada. O primeiro

consiste em reconhecer situações que a coisa julgada não se teria nem mesmo

formado, ou seja, seria inexistente porque emanada de um vício de origem.

Exemplos seriam as sentenças juridicamente inexistentes, pois

prolatadas por uma pessoa que não fosse magistrado.

O remédio processual cabível seria a ação declaratória de inexistência.

O segundo consiste em se dar uma nova interpretação ao inciso V do art. 485

do CPC (violar literal disposição de lei), alcançando-se os princípios

constitucionais, pois “uma violação a um princípio é muito mais nociva e

prejudicial ao direito, porque potencialmente mais danosa do que uma ofensa à

letra de um dispositivo legal”.

Portanto, concluí-se que por maior que seja o prestígio que é dado à

segurança jurídica, conseqüentemente à coisa julgada, ‘impossível será

recusar a possibilidade de superveniência de sentenças substancialmente

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nulas, mesmo depois de esgotada a viabilidade recursal ordinária e

extraordinária’ (THEODORO JÚNIOR, FARIA 202, p. 166)

É necessário sem dúvida que a fundamentação que rege a boa

convivência entre os homens, vise tão somente que os conflitos não figurem

para sempre.

A segurança jurídica é um bem protegido pelo Estado em defesa da

sociedade como um todo.

É justamente, deste modo que a relativização da coisa julgada veio

trazer segurança para relações jurídicas.

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CONCLUSÃO

“Toda a ação é designada em termos do fim que procura atingir.”(Nicolau

Maquiavel).

Não se revestem de caráter absoluto os apontamentos e pesquisas

deste trabalho, eis que, sobre o tema, pesa várias hipóteses jurídicas que

podemos verificar na própria Constituição Federal, artigo 5ºXXXiV.

Desta forma, resolve-se facilmente a questão, observando-se que a

mesma Constituição se refere, expressamente, à ação rescisória, nos artigos

102, I, j, e 105, I, e.

Ressalta-se que atualmente vêm crescendo a percepção de que a

celeridade da Justiça desempenha papel fundamental na reforma do Judiciário

brasileiro.

É importante frisar, que as novas formas de oferecer agilidade nas

questões relevantes do ponto de vista jurisprudenciais, importam para o

desenvolvimento do País.

É plenamente viável, que no ordenamento jurídico, se faça presente, um

instrumento que enfatize sua conjuntura e oportunize que o Supremo Tribunal

Federal (STF), analise questões relevantes para o ordenamento constitucional.

Uma das principais peças de sustentação do ordenamento jurídico esta

presente do artigo 485, do Código de Processo Civil.

Mesmo que haja controvérsias a respeito do assunto, não se descarta o

valor relevante no que diz respeito à ação rescisória.

Proposta a apresentação do tema e com base em declarações de alguns

doutrinadores, digo, que o universo das relações entre os homens não se

esgota em poucas folhas de papel.

Por conta disso, na medida em que lemos sobre um determinado tema,

descobrimos que temos muito mais a vislumbrar para melhor aprender e

ensinar.

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Todas as situações e caminhos de resoluções da problemática foram

examinados durante o processo de pesquisa e focados exatamente no que

foram propostos no tema eleito.

Em síntese, todo o conteúdo pesquisado, suas informações relevantes,

os apontamentos essenciais e as diretrizes para as futuras pesquisas sobre o

tema representam o fechamento do estudo. Todos os tópicos pertinentes ao

tema foram suficientemente dissertados.

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BIBLIOGRAFIA

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2- JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 41.

ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004, pág. 612;

3- SANTO Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. 3º

volume. Saraiva. 8ª edição. São Paulo. 1.985, pág. 43;

4- SILVA, Ovídio Araújo Baptista do Curso de processo civil. vol. 1.Rio de

Janeiro. Forense: 2005, p. 479.

5- Curso de Direito Processual Civil, vol. 3, Salvador – Bahia: Editora Podivm,

2007, p.293.

6- Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Acessado em:27062009-

http://pt.wikipedia.org/wiki/Prevarica.

7- Tribunal Federal de Recursos, RC 895, DJU 14.10.82, p. (10363), como bem

trazido a lume por CELSO DELMANTO-Ob. Cit., p. 484/POR / Emerson O.

Sandim/Procurador do INSS/MT/ Especialista em Direito Processual Civil e

Conferencista.

8 - Tribunal Regional do Trabalho da 24º Região - Serviço de Documentação.

“Juiz Valentin Carrion” Ponto de Vista nº 21/2007.

9- http://www.trt24.gov.br/arq/download/biblioteca/pontoVista/Em 27062009;

10-Fonte: clipping TRF-1 / http://www.ro.trf1.gov.br/noticias/2008/ Acessado

em: 28062009;

11-http://www.portalaz.com.br/noticia/municipios.Acessado:270609;

12- http://www.jurisway.org.br/v2/sumula. Acessado em 28062009;

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13- Disponível em: jus2. uol.com.br/doutrina/texto – Acessado em: 280609;

14-Fonte :JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil.

(Forense, 2005, p. 458);

15-SILVA, Ovídio Araújo Baptista da . Curso de Processo Civil: Processo de

Conhecimento. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. v. 1. p. 470;

17-Disponível em: http://www.webartigos.com/articles/2505/1/coisa-julgada-no-

processo-civil/pagina1.html

18-SILVA, Ovídio Araújo Baptista,. Curso de Processo Civil: Processo de

Conhecimento. / 7. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. v. 1. p. 456;

19-http://www.tj.ro.gov.br/emeron/revistas/revista1/04.htm-Acessado: 20062009

20-http://www.baptistadasilva.com.br/artigos002.htm). Acessado em: 20/06/09;

21-Disponível em; http://www.jornaldaordem.com.br//Fonte: STJ. Acessado em

20062009;

22- http://www.webartigos.com/articles/1085/Publicado 05/02/2007.

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