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Universidade Cândido Mendes Pós Graduação Lato Sensu Instituto à Vez do Mestre Os desafios do Serviço Social na Política de Segurança Pública do Rio de Janeiro Por: Antonia Francismary Paredes Celleri Orientador Prof. Eduardo Brandão Rio de Janeiro 2011

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Universidade Cândido Mendes

Pós Graduação Lato Sensu Instituto à Vez do Mestre

Os desafios do Serviço Social na Política de Segurança

Pública do Rio de Janeiro

Por: Antonia Francismary Paredes Celleri

Orientador

Prof. Eduardo Brandão

Rio de Janeiro 2011

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Universidade Cândido Mendes Pós Graduação Lato Sensu

Instituto à Vez do Mestre

Os desafios do Serviço Social na Política de Segurança

Pública do Rio de Janeiro

Apresentação de Monografia ao Instituto à Vez do Mestre – Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção de grau de especialista em Psicologia jurídica. Por: Antonia Francismary Paredes Celleri

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Agradecimento

Ao Poder Superior por assegurar minha força, quando o desgaste físico e

mental, pareciam atrapalhar o desenvolvimento desse estudo.

A minha família, pelo apoio e incentivo todo esse tempo, em especial a minha

mãe, a quem eu devo muito.

Aos colegas de trabalho e aos usuários da Política de Segurança Pública, que

permitiram que o exercício do meu trabalho, fosse um laboratório de estudo. Em

especial a Supervisora Sônia Magalhães que compartilha comigo dos mesmos

ideais.

Aos meus amigos e colegas de profissão que sempre me incentivaram a

buscar novos horizontes.

Aos companheiros e amigos da ONG Preservando o Amanhecer que

compreenderam minha ausência durante todo esse tempo.

Agradeço aos colegas de turma que se tornaram grandes companheiros, aos

profissionais da instituição de ensino, em especial ao meu orientador, Eduardo

Brandão pela paciência e colaboração para a realização desse trabalho.

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Dedicatória

Aos profissionais da segurança pública com quem

tive a oportunidade de conviver, em especial a um

policial que me ensinou significado do lema “força e

honra”. Profissionais estes, que entregam suas

vidas na árdua missão de servir e proteger a

sociedade, enfrentando situações de perigo, a

desvalorização com baixos salários e a deteriorada

imagem da corporação.

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Oração da Serenidade

Concedei-nos senhor, a serenidade necessária,

para aceitar as coisas, que não podemos modificar.

Coragem para modificar aquela que podemos e

sabedoria para distinguir, uma das outras.

Autor desconhecido.

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Resumo

Trata-se de um estudo de caso, que objetiva analisar os desafios do Serviço Social na Política de Segurança Pública do Rio de Janeiro, bem como a compreender a dinâmica da sociedade no enfrentamento do fenômeno da violência. Ele apresenta serviços das políticas atuais e potencialidades da prática profissional para garantir a promoção social.

Palavras – Chave:

Política de Segurança Pública; Serviço Social e Desafio.

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Metodologia

O Método Geral utilizado para proporcionar as bases lógicas da investigação

é o Método Dialético. Vale ressaltar que esse método permite bases para uma

interpretação dinâmica e total da realidade, pelo fato de estabelecer que os fatos

sociais não podem ser observados isoladamente, sendo necessário considerar os

fatores externos, para compreender todo o contexto, privilegiando mudanças

qualitativas não permitindo que o quantitativo se estabeleça como norma, de acordo

com Gil (1999).

O método de Pesquisa escolhido para o trabalho é o Estudo de Caso,

realizado através da observação sistemática da prática empírica e pesquisa

bibliográfica relacionadas ao assunto.

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Sumário

Introdução 9

Capítulo 1 - Política de Segurança Pública 10

1.1 - Contexto Histórico 10

1.2 – Políticas Pontuais da Polícia Civil e da Polícia Militar 12

Capítulo 2 – Sociedade Contemporânea 18

2.1- Aspectos da Globalização 19

2.2 – Criminalização da Pobreza 19

2.3– Violência Urbana 20

Capítulo 3 – Os Desafios e potencialidades do Serviço Social 23

3.1 – Atuação do Serviço Social no campo Sócio Jurídico 25

3.2 – Prática do Profissional de Serviço Social no Programa Delegacia Legal 24

3.3 – Os desafios do Serviço Social 26

Considerações Finais 29

Referências Bibliográficas 30

Outras Fontes 31

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Introdução

O presente trabalho tem por objeto de estudo, a análise dos desafios do

Serviço Social na política de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Deste modo,

vamos explorar a dimensão da política pública no enfrentamento das questões da

sociedade tendo o profissional de Serviço Social como principal mediador.

Nessa análise, vamos compreender o que é política pública, o que se destina

a segurança pública e quais os desafios e potencialidades do Assistente Social no

atendimento aos usuários dentro desse contexto.

O interesse por esse estudo surgiu através da percepção da conjuntura atual

da sociedade por intermédio da experiência profissional como Técnica de

Atendimento Social no Programa Delegacia Legal onde foi possível observar que a

segurança pública, ela deve ser de fato encarada como uma política de direitos,

fazendo cumprir o seu papel nessa sociedade contemporânea que vê na polícia um

mediador de conflitos sociais.

Nele podemos observar, que Segurança Publica, é uma política social que

garante a proteção dos direitos individuais para o pleno exercício da cidadania

através do respeito às leis assegurando a ordem pública. Nesse contexto, o

profissional de Serviço Social fica incumbido de estabelecer a relação com as

demais redes para satisfazer as novas demandas da sociedade na mediação dos

conflitos sociais.

No trabalho, também vamos poder observar as potencialidades do trabalho do

Assistente Social dentro dessa dinâmica da sociedade no enfrentamento do

fenômeno da violência, ressaltando a importância da sua atuação para a garantia da

promoção social.

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Capítulo 1 – Política de Segurança Pública

1.1 - Contexto Histórico

Reza no Artigo 144 da Constituição Federal de 1988, que a “Segurança

Publica é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida a

prevenção da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”

(BRASIL, 2008, p.74).

No Brasil ela se aplica através dos seguintes órgãos:

I – Polícia Federal

II – Polícia Rodoviária Federal

III – Polícia Ferroviária Federal

IV – Polícias Civis

V – Polícias Militares e Corpo de Bombeiros Militares

No Estado do Rio de Janeiro as instituições policiais onde se aplicam as

políticas de Segurança Pública é a Polícia Civil do Estado de Rio de janeiro (PCERJ)

e a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) que tem desde o seu

surgimento, uma imagem de repressão diante da sociedade e que são subordinadas

ao Governo do Estado.

O surgimento das forças policiais aconteceu no Brasil no início do séc XIX

devido às arbitrariedades cometidas pelo Exército para dar uma resposta civilizada e

para a disseminação da violência. No ano de 1808, Dom João VI cria a Intendência

Geral da Polícia da Corte, formada por moradores locais atuando como milícias

atendendo as elites brasileiras. Ela não tinha como objetivo principal a repressão aos

crimes e sim de atuar como um corpo político que informaria a corte sobre as

possíveis manifestações de movimentos dos revolucionários franceses e de

disciplinar o comportamento das pessoas que fugiam dos “padrões” aceitos,

garantindo a ordem pública. Mais tarde essa força policial vem a se denominar

Polícia Civil.

Com a chegada da Família Real no país se cria uma nova polícia,

denominada Guarda Real da Polícia, militarmente organizada agindo de forma

ostensiva com a finalidade de repressão aos crimes e com o objetivo de coibir

atitudes de “desvio de condutas”, para garantir a ordem social. Para tal finalidade, a

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instituição implantou políticas que exacerbaram a relação com as comunidades,

devido ao uso de força em suas ações. Essa instituição, mais tarde foi denominada

Policia Militar.

Diante da Constituição de 1988, foi consolidado os marcos jurídicos dos

papéis de cada instituição:

§ 4º - às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia Judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. § 5º – às policias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbem a execução de atividades de defesa civil.(BRASIL, 2008, p.74)

Nesse berço histórico de violência as forças policiais, tiveram um caráter

repressor de braço armado com o Estado, garantindo a idéia de que as forças de

segurança pública foram criadas para manter as condições de produção e

reprodução de desigualdades, dos privilégios e de dominação política de acordo

com Minayo (2003). Esses aspectos criam um distanciamento com a sociedade

devido a sua imagem de instituição violenta e de controle social, transmitindo uma

falsa idéia de segurança.

A Política de Segurança Pública está enraizada nas estruturas políticas,

sociais e culturais da conjuntura histórica do nosso país. Deste modo podemos

compreender como se constituem os fenômenos da violência e da criminalidade

resultantes das consequências de um sistema capitalista, em paralelo com as

políticas de enfrentamento e controle desses fenômenos, onde se observa uma falta

de investimento do Estado nas políticas das demais esferas que deveriam amenizar

essas consequências.

Essa política, pertence à esfera do Poder Executivo do nosso Estado e suas

instituições, atuam como aparelhos de repressão e controle social, e

consequentemente, os policiais muitas vezes acabam se tornando um profissional

alienado pelo sistema.

Na década de 1980, após um longo período de ditadura com o

estabelecimento da democracia a partir da promulgação da Constituição Federal,

essa nova sociedade não permitia mais que ações violentas e repressivas fossem

aplicadas para o controle social, começando uma exigência por mudanças nas

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políticas públicas.

1.2 – Políticas Pontuais da Polícia Civil e da Polícia Militar

Programa Delegacia Legal

No ano de 1998, foi decretada a falência da Polícia Civil do Estado do Rio de

Janeiro, sendo necessária uma reformulação da Política de Segurança Pública para

enfrentar essa “turbulência”.

Como saída, o Governo do Estado do Rio de Janeiro cria um Projeto de

Política de Segurança Pública Integrada (PSPI), abrangendo uma série de sub

projetos entre eles o Programa Delegacia Legal com a finalidade de remodelar a

Polícia Civil com uma instituição democrática, baseada na inovação na tecnologia,

nos direitos humanos, na inteligência e na informação.

Este Projeto surgiu a partir de uma análise realizada por um grupo

multidisciplinar formado por policiais, delegados e técnicos do meio acadêmico,

integrantes da Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos

Tecnológicos (Coppetec-UFRJ). A parte técnica dos programas e sistemas do

Programa Delegacia Legal ficou sobre a responsabilidade dos sociólogos,

antropólogos e cientistas políticos, que elaboraram o Projeto e pertenciam a UERJ.

Em 22 de setembro de 1999 através do decreto nº 25.599, foi criado o Grupo

Executivo do Programa Delegacia Legal pelo Governador do Estado do Rio de

Janeiro, Anthony Garotinho que inaugurou no bairro do Centro do Rio de Janeiro o

Projeto Piloto do Programa Delegacia Legal, e a fim de gerenciar a implantação do

projeto.

Com o objetivo de reformular radicalmente a atuação da Polícia Civil, desde a

estrutura física até a rotina interna das delegacias, a criação desse programa teve

três bases para modificar o modelo da polícia, sendo: a confiança, o que depende de

resultados e esforços visíveis de moralização institucional; coleta e processamento

de informações, o que exige tecnologia e a modernização do aparato policial; e a

agilização das investigações, o que requer uma nova forma de gestão como

apresentado por Soares (2000).

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Atualmente, os policiais lotados nas Delegacias Legais, recebem uma

gratificação e para a permanência na unidade, os profissionais fazem regularmente

cursos online sobre diversos temas.

A estrutura física das delegacias integrantes do Programa tem um modelo

unificado e toda a sua arquitetura foi projetada para dar visibilidade ao trabalho dos

policias e de todas as ações realizadas naquele ambiente, talvez com o objetivo de

coibir alguma conduta violenta dos policiais. Esse método pode ser analisado a partir

do modelo arquitetônico panóptico de Bentham onde a sensação de vigilância traz

uma nova postura da prática institucional.

O panóptico funciona como uma espécie de laboratório de poder. Graças a seus mecanismos de observação, ganha em eficácia e em capacidade de penetração no comportamento dos homens: um aumento de saber vem se implantar em todas as frentes do poder, descobrindo objetos que devem ser conhecidos em todas as superfícies onde este se exerça. (FOUCUALT, 2009: 194)

A rotina de trabalho das delegacias era toda segmentada por setores, mas o

mais inovador nesse programa foi à introdução de profissionais e estudantes de

Serviço Social e Psicologia que realizavam um trabalho de Atendimento Social

tratando das demandas que não tinham cunho policial, dando uma humanização ao

atendimento das delegacias.

Inegavelmente, essa reformulação, trouxe uma melhor aceitação da polícia

Civil na nossa sociedade, na medida em que foi desconstruída aquela imagem de

ambiente perigoso e desagradável da delegacia, a população se aproximou mais do

policial.

Programa DEDIC (Dedicação Integral ao Cidadão)

Em 1 de março de 2010, na unidade da 12ªDP - Copacabana, foi inaugurado

o Projeto da Delegacia de Dedicação Integral ao Cidadão, com o objetivo de

proporcionar conforto e rapidez no atendimento à população. Modelo inovador no

atendimento policial do país, as unidades que contam com o Programa, tem um

diferencial em estrutura de equipes e equipamentos.

O Programa permite o agendamento de atendimento policial na residência

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dos usuários que residam na circunscrição das unidades onde o Programa é

implantado ou se preferir, já deixar marcada data e hora para fazer Registro de

ocorrência na Delegacia, desde que o crime também tenha ocorrido na mesma

circunscrição, através do site do Programa.

Com atendimento de 8:00 às 00:00 h em escala de expediente de segunda à

sexta feira nas Delegacias correspondentes, as equipes que atuam no programa,

tem um treinamento específico para esse tipo de atendimento ao público,

regularmente fazem cursos de qualificação, incluindo de idiomas como inglês e

espanhol e para tal permanência, recebem uma gratificação junto ao salário. E como

objetivo principal do trabalho é a eficácia da investigação policial, o efetivo trabalhará

totalmente descaracterizado.

“Segundo o Chefe de Polícia Civil, delegado Allan Turnowski, o cidadão que fizer o registro na internet solicitando a visita de agentes, das delegacias que participam do programa, recebe um e-mail com a identificação dos policiais e o modelo do veículo que irá até sua residência ou no endereço de sua preferência. O chefe de polícia afirmou ainda que após o atendimento, um delegado entrará em contato com a vítima para saber se ela foi bem atendida, além de mantê-la informada por telefone ou pela internet sobre o andamento do seu registro de ocorrência1”.

O que permite a eficácia do trabalho são os recursos em equipamentos como

laptop e impressora e com equipes policiais com várias especialidades técnicas. Por

exemplo: se acontece um Homicídio, uma equipe vai até o local fazer o registro de

ocorrência e no mesmo momento um perito que pertence a equipe vai poder emitir

um laudo, se a vítima não tiver identificação, já tem um papiloscopista para colher a

digital, enfim todo um trabalho que habitualmente leva horas para ser feito, pode ser

resolvido num espaço menor de tempo.

Unidades Policiais que o Programa já está instalado:

12ª DP - Copacabana

14ª DP – Leblon

15ª DP – Gávea

16ª DP – Barra

19ª DP – Tijuca

35ª DP – Campo grande

1- Declaração de Allan Turnowski, Chefe da Polícia Civil do RJ no lançamento do Programa DEDIC. Disponível em: http://www.policiacivil.rj.gov.br/exibir.asp?id=8666

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41ª DP - Inhaúma

77ª DP – Icaraí

Unidade de Polícia Pacificadora

A primeira Unidade de Polícia Pacificadora foi inaugurada no dia 19 de

dezembro de 2008 na Comunidade Santa Marta, atendendo aos bairros Botafogo e

Humaitá na Zona Sul do Rio de janeiro.

Comandada pela Capitã PM Priscilla, a unidade foi à primeira experiência da

Secretaria de Segurança Pública nesse novo modelo de polícia “comunitária”, com

mais “proximidade” da população, com o objetivo de pacificar e manter a ordem

pública em comunidades populares.

O projeto consiste na retomada de território, visto que os locais onde se

propõem a implantação das unidades são locais onde o poder paralelo se faz

presente pelo comando do tráfico. Poder esse, que fazia os moradores reféns dos

confrontos pelo domínio de vendas de droga e como o Estado era “impedido” de

atuar dentro das comunidades, os moradores muitas vezes eram largados a própria

sorte.

Em geral a população aceita bem a implantação das unidades, mas outras

pessoas descrentes da polícia e das políticas públicas acham que isso é um trabalho

eleitoreiro e que não vai se solidificar, mudando em nada a realidade daquelas

pessoas que estão esquecidas pelo poder público.

Há relatos de moradores das comunidades dizendo que ainda é possível ver

venda de drogas no interior das comunidades onde as UPP estão instaladas, mas os

policiais garantem que o tráfico com aquela presença de homens fortemente

armados, já não existe mais. O que fica claro, é que muitas atitudes estão

enraizadas no cotidiano daquelas pessoas e que só a entrada da polícia não vai

resolver o problema é necessário a entrada de outros serviços para trazer novas

oportunidades para aquela população.

Nesse contexto, surge o projeto UPP Social a ser implantada nas Unidades

de Polícia Pacificadora para dar entrada ao poder público nas ações de políticas

sociais além das ações de segurança pública com o objetivo de garantir uma

integração das comunidades a cidade do Rio de Janeiro.

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Atualmente treze comunidades receberam a implantação das unidades, sendo

elas:

No Centro:

UPP Providência – No bairro Gamboa, Santo Cristo e Saúde

compreendendo as comunidades: Providência, Morro do Pinto e Pedra Lisa.

Na Zona Norte:

UPP Andaraí – No bairro Grajaú e Andaraí compreendendo as

comunidades: Nova Divinéia, João Paulo II, Juscelino kubitscheck, Jamelão, Santo

Agostinho, Borda do Mato, Rodo e Arrelia.

UPP Borel – No bairro Tijuca compreendendo as comunidades: Morro

do Borel, Chácara do Céu, casa Branca, Indiana, Catrambi e Bananal.

UPP Formiga – No bairro Tijuca compreendendo a comunidade: Morro

da Formiga.

UPP Macacos – No bairro Vila Isabel compreendendo as comunidades:

Morro dos Macacos, Pau da Bandeira e Parque Vila Isabel.

UPP Salgueiro – No bairro Tijuca compreendendo a comunidade:

Morro do Salgueiro.

UPP Turano – No bairro Tijuca e Rio Comprido compreendendo as

comunidades: Turano, Chacrinha, Matinha, 117, Liberdade, Pedacinho do Céu,

Paula Ramos, Rodo e Sumaré.

Na Zona Oeste:

UPP Batam – No bairro Realengo compreendendo a comunidade:

Jardim Batam.

UPP Cidade de Deus – No bairro Jacarepaguá compreendendo a

comunidade: Cidade de Deus.

Na Zona Sul:

UPP Santa Marta – No bairro Botafogo e Humaitá compreendendo a

comunidade: Santa Marta.

UPP Babilônia/Chapéu-Mangueira – No bairro Leme compreendendo

as comunidades: Babilônia e Chapéu-Mangueira.

UPP Pavão-Pavãozinho / Cantagalo – No bairro Ipanema e

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Copacabana compreendendo as comunidades: Pavão-Pavãozinho e Cantagalo.

UPP Tabajaras / Cabritos – No bairro Copacabana e Botafogo

compreendendo as comunidades: Ladeira dos Tabajaras, Morro dos Cabritos, Pico

do Papagaio e Mangueira (em Botafogo).

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Capítulo 2 – Sociedade Contemporânea

2. 1 - Aspectos da Globalização

A globalização traz a idéia de expansão e igualdade dos países, seja pelo

mercado ou pelos serviços, garantindo o acesso de toda a população global, porém

a estrutura de alguns países como o Brasil, impede a efetivação do propósito.

Dentro desse processo de globalização, nos deparamos com o sistema

político econômico denominado como capitalismo que tem os meios de domínios da

propriedade privada com fins lucrativos, determinando sobre a relação de oferta,

demanda e preço, com a concentração de capital na mão de poucos. Isso traz uma

relação de poder sobre as classes trabalhadoras, menos favorecidas. Deste modo

ele incentiva o crescimento econômico, mas causa desigualdade na medida em que

ele tem uma diferente distribuição de renda, não permitindo que o desenvolvimento

social acompanhe.

Nos países periféricos existe um grande número de indivíduos excluídos do

sistema, pois não estão ligados ao mercado produtivo e consumidor, visto a

acentuação de capitais e tecnologia nas mãos da elite global que compreende pouca

parte da população mundial.

A desqualificação da mão-de-obra, a redução do número de empregos, o

encarecimento dos serviços básicos e o aumento do crescimento demográfico (seja

pelo aumento da natalidade ou acentuação dos fluxos migratórios). São os principais

pontos para o aumento da exclusão da população do Brasil.

Com isso o crescimento das atividades ilícitas tornam-se inevitáveis, tanto

para alimentar as elites locais e globais como: a produção da droga, a falsificação de

CD's (Pirataria), Tráfico de órgãos, entre outras atividades.

O Estado do Rio de Janeiro é a segunda maior Metrópole do nosso país e

devido essa dimensão ela não consegue garantir o desenvolvimento social para toda

a sua população.

Dentro desse contexto, o nosso Estado historicamente atrai imigrantes de

outros estados brasileiros que estão à procura de emprego e de uma melhor

qualidade de vida, acreditando que aqui é mais fácil.

Chegando ao Estado sem condições de se manter, esses imigrantes

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procuravam locais “esquecidos” pelo Governo, onde construíam de forma ilegal,

pequenas casas para morar, trazendo assim a expansão das favelas, denominadas

hoje como comunidades e a expansão delas, está diretamente ligada à imigração

que é atraída pelo processo de industrialização e urbanização.

Essas pessoas que vinham para o Estado, em sua maioria não tinham estudo

e qualificação profissional dificultando o acesso ao emprego fazendo com que as

pessoas partissem para o trabalho informal para a sua subsistência.

Por conta dessa instalação “ilegal” das favelas, o Estado não se faz presente

através dos serviços públicos, como se aquele fosse um lugar à margem do Estado

aumentando a vulnerabilidade dos moradores, que estão entregues à própria sorte.

Com essa ausência do poder público, o poder paralelo encontra nas favelas

um excelente território para o tráfico de drogas que traz consequências para a

segurança e a saúde pública de toda a população.

2. 2 – Criminalização da Pobreza

A pobreza não é a causa da violência, mas quando aliada a dificuldade dos

governos em oferecer melhor distribuição dos serviços públicos, torna os bairros

mais pobres mais atraentes para a criminalidade e para a ilegalidade.

Para analisarmos os aspectos da pobreza, devemos compreender que antes

de ser “classificado” como pobre, o indivíduo deve ser visto como cidadão e como

tal, é necessário que a sociedade tenha ciência que cidadania é um conjunto de

direitos e deveres da pessoa, não é uma concessão do Estado mas uma conquista

do povo.

A cidadania só se constrói dentro do Estado de direito democrático,

respeitando-se as instituições estabelecidas pelo povo nas suas constituições, e não

é isso que pretendem os segmentos mais conservadores da sociedade brasileira.

A classe menos favorecida, classificada como a classe pobre, passa por um

processo de criminalização na medida em que ela não se encaixa nos padrões

exigidos pela classe econômica dominante, com relação ao seu comportamento o

seu modo de viver e das suas instituições.

Pessoas com menor poder aquisitivo e que em sua maioria, moram em

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comunidades, que não tem possibilidade de usufruir de determinados serviços e

produtos, acabam sendo excluídos de determinadas práticas, ficando a margem da

sociedade e nesse contexto, podemos nos questionar por qual motivo as pessoas

são incriminadas, quando na verdade elas são as primeiras vítimas desse modelo de

sociedade que vivemos.

O que podemos compreender é que esse julgamento acontece pelo conjunto

de saberes que formam os nossos conceitos dentro da subjetividade particular de

cada indivíduo. Na verdade somos efeito do meio em que vivemos, e na medida em

as situações passam pelos nossos conceitos, deixamos o senso comum falar mais

alto.

De acordo com Bicalho (2005) o que constrói esse perfil, é a sensação de

perigo que as pessoas, dotados de poder e saber tem sobre essa classe da

sociedade e atrelados a falha das políticas públicas, facilitam o julgamento e a

“punição” dessas pessoas

A criminalização vem do ciclo de vitimização e uma sociedade justa e

igualitária é impossível nesse sistema que está aliado a uma exploração midiática

sobre as mazelas da miséria formando uma opinião pública generalizada.

“Esse código jornalístico, com as exceções de praxe, não funciona, quando o tema tratado é complexo, pouco conhecido e, por sua natureza, rebelde ao modelo de explicação corrente. Modelo que não nasceu na mídia, mas que orienta as visões aí predominantes2”.

2. 3 – Violência Urbana

Violência é uma palavra ícone da modernidade em crise, uma expressão do

novo modelo comportamental da sociedade. A violência existe como uma unidade

exterior ao campo social, ela é a própria negação da sociabilidade.

Não é só no Brasil que a violência cresce. Nos países como África do Sul,

Colômbia e Estados Unidos também aumenta a violência. No Brasil, Recife é a 2- A crise no Rio e o pastiche midiático. Disponível em: http://luizeduardosoares.blogspot.com/2010/11/crise-no-rio-e-o-pastiche-midiatico.html?spref=fb

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cidade mais violenta, mas o Rio de Janeiro ganha visibilidade devido sua influência

externa.

Existem vários tipos de violência, dentre elas: a falta de assistência do Estado

com saneamento básico, saúde, educação, energia elétrica, lazer/cultura, segurança

pública, transporte, sistema viário, entre outros serviços; as impessoalidades das

relações nas grandes metrópoles, como violência no trânsito, contra animais

domésticos, entre outras; a desestruturação familiar provoca a violência doméstica

conjugal, contra criança, adolescente e idoso, entre outras e a violência armada pelo

domínio do tráfico de drogas.

“O diagnóstico das causas da violência é conhecido. Passa pela desigualdade de renda, pela impunidade, pela corrupção. As saídas são apontadas pelos especialistas: é preciso atacar as raízes sociais e econômicas do problema. A curto prazo, é necessário frear o colapso na segurança com ações inteligentes no âmbito da polícia” (LUCENA, 2002).

O fenômeno da violência, cada vez mais está presente em nossa sociedade

por diversos motivos, quando ela acontece no ambiente privado, as pessoas que

estão próximas, preferem não se envolver, porém quando ela acontece num

ambiente coletivo, à intervenção da segurança pública se torna uma exigência da

sociedade.

”A violência, em todos as suas manifestações é hoje, sem dúvida alguma, o principal problema que estamos enfrentando. Deixou de ser um fato exclusivamente policial para ser um problema social que afeta a sociedade como um todo. A criminalidade elevou a níveis intoleráveis. O fenômeno criminal está presente no âmago do corpo social, por ele gerado, dele nasce e nele produz os seus efeitos. Estudar e pensar sociedade” (OLIVEIRA, 2002)

Muitos ligam o fenômeno da violência e da criminalidade como consequência

do rápido crescimento econômico causado pelo sistema capitalista e da

globalização, onde não há tempo hábil o desenvolvimento social acompanhar,

estabelecendo a desigualdade social.

Num Estado como o Rio de Janeiro, as políticas públicas intersetoriais

funcionam muito mais na prevenção a violência, pois cada região tem a sua

estruturação e particularidades.

“Caso não se implementem políticas públicas inteligentes,

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pluridimensionais, intersetoriais e sensíveis às especificidades locais, em larga escala, capazes de interceptar as microdinâmicas imediatamente geradoras da criminalidade violenta, sobretudo de natureza letal, em um cenário caracterizado pela manutenção dos atuais indicadores de desigualdade, pobreza, qualidade de vida degradada, deficiências na escolaridade e precariedade no acesso aos direitos, facilitando crises familiares, e gerando vulnerabilidade, baixa auto-estima, sentimento de exclusão, estigmatizações, invisibilidade social e dupla mensagem cultural, as conseqüências só podem ser o agravamento do atual quadro de violência criminal, que já constitui uma tragédia, particularmente quando afeta a juventude pobre e negra, do sexo masculino, provocando verdadeiro genocídio3”.

Recentemente em novembro do ano passado, tivemos na cidade do Rio de

Janeiro um grande acontecimento na área de segurança pública, que surgiu a partir

de uma onda de ataques violentos comandados pelo crime organizado que

modificou toda a rotina da população carioca, ocasionando em uma retomada de

território do Complexo do Alemão, uma das maiores áreas dominadas pelo poder

paralelo que impedia a entrada do poder público, deixando os seus moradores

órfãos do Estado.

Nesse episódio, ficou claro que a união das polícias na luta contra o crime, foi

de grande aceitação da população que estava cansada de ser refém de um sistema

perverso.

“Traficantes se rebelam e a cidade vai à lona. Encena-se um drama sangrento, mas ultrapassado. O canto de cisne do tráfico era esperado. Haverá outros momentos análogos, no futuro, mas a tendência declinante é inarredável. E não porque existem as UPPs, mas porque correspondem a um modelo insustentável, economicamente, assim como social e politicamente4”.

3- Segurança Pública: presente e futuro – Luiz Eduardo. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/r20n56/28629 – Acesso em: 16/05/2010. 4- A crise no Rio e o pastiche midiático. Disponível em: http://luizeduardosoares.blogspot.com/2010/11/crise-no-rio-e-o-pastiche-midiatico.html?spref=fb

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Capítulo 3 – Os Desafios e potencialidades do Serviço Social

3. 1 – Atuação do Serviço Social no campo Sócio Jurídico

A história da atuação do Serviço Social no Campo Sócio Jurídico é

considerada recente. Ela tem início a partir das atividades desenvolvidas nos

Juizados dos Menores desde quando vigorava o Código de Menores na década de

1930 nos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo. No sistema Penal, ela tem início

na de década de 1950, mas sua expansão e reconhecimento, só veio no começo do

século XXI, onde se percebe a importância dessa intervenção profissional.

A denominação desse campo de atuação como Sócio Jurídico, surge no 10º

Congresso brasileiro de Assistentes Sociais realizado no ano de 2001 sobre a

discussão da temática “Serviço Social e Sistema Sócio Jurídico”. Nesse encontro,

todos os assuntos discutidos resultaram na Revista Serviço Social e Sociedade

nº67, aprovando uma agenda política nacional sobre o tema.

Desde então, muitas iniciativas foram realizadas com o objetivo de consolidar

a atuação desse campo, como a criação da Comissão Sócio Jurídica do CRESS – 7ª

Região (Conselho Regional de Serviço Social do RJ) no ano de 2002, para que os

profissionais que atuam na área possam discutir questões relacionadas; a

deliberação no Encontro Nacional CFESS / CRESS, realizado no Estado da Bahia

no ano de 2003; Encontro Nacional no campo de Serviço Social no Campo Sócio

Jurídico em 2004; a incorporação da disciplina sobre o campo sócio jurídico no curso

de graduação de Serviço Social que se iniciou na UERJ (Universidade do Estado do

Rio de Janeiro); entre outras.

Com o reconhecimento da atuação, surgiram outros desafios para os

profissionais que trabalham nesse campo, como as próprias questões que permeiam

essa área direcionando as práticas realizadas. Se analisarmos esse campo como

uma área ligada a Justiça, e o Assistente Social como um profissional responsável

pela garantia de direitos num país carente de políticas públicas eficazes,

favorecendo a lógica do “favor” ligada ao assistencialismo e a politicagem, onde se

estabelecem as desigualdades sociais como efeito do contexto neoliberal em que a

nossa sociedade vive, de acordo com Peovens (2004), vamos compreender as

dificuldades dessa prática.

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Nas instituições desse campo, o papel do Assistente Social é a redução de

danos através da garantia de direitos, muitas vezes ele exerce um poder “moral” na

instituição, devido a proximidade com o usuário que geralmente está em conflito com

a lei através da humanização do seu atendimento, trazendo confiança ao trabalho do

profissional que auxiliando na resolução dos processos de um Estado que deixa de

ser Providência para ser Penal.

Atualmente, é possível encontrar o Assistente Social no campo sócio jurídico,

nas instituições:

DEGASE (Departamento Geral de Ações Sócio Educativas)

MP (Ministério Público)

OAB (Ordem dos Advogados Brasileiros)

SEAP (Secretaria do Estado de Administração Penitenciária)

TJ (Tribunal da Justiça)

3. 2 – Prática do Profissional de Serviço Social no Programa Delegacia

Legal

O profissional de Serviço Social que atua no Programa Delegacia Legal

recebe a denominação de Técnica de Atendimento Social. A seleção dos

profissionais acontece através de uma seleção pública, e seu contrato segue o

regime da CLT de forma terceirizada.

Para atuar como Técnico de Atendimento Social, é necessário ter o curso de

graduação em Serviço Social ou Psicologia, já para os estagiários de Atendimento

Social, é preciso estar cursando a graduação de psicologia, pedagogia ou ciências

sociais.

O setor de Atendimento Social das delegacias do Estado do Rio de Janeiro,

surgiu a partir da percepção de que muitos fatos que chegam as delegacias, não

eram de cunho policial e sim fruto de conflitos sociais e também para auxiliar na

reconstrução da imagem da polícia através da humanização do atendimento aos

usuários.

“com problemas que nada têm a ver com o trabalho policial. Nessas situações os esclarecimentos necessários são dados pelos atendentes que só encaminham aos agentes

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os casos que realmente são casos de polícia” (GAROTINHO, 2005: 16)

Durante a prática como Técnica de Atendimento Social, foi possível notar que

a população em geral, procura a delegacia por ser o único órgão público disponível

24h por dia durante todos os dias do ano. Muitos fatos que chegam à delegacia não

envolvem crimes, eles são oriundos de conflitos sociais e a sociedade espera da

polícia uma intervenção como mediador da questão, talvez pela imagem autoritária

que a polícia construiu ao longo da sua história.

“O trabalho cotidiano da polícia, em diversos países do mundo consiste em intervir em problemas ou dificuldades diversas que não se constituem necessariamente, em problemas legais ou penais, para os quais nem a legislação, nem quaisquer outras instituições da sociedade oferecem respostas satisfatórias para as demandas desejadas. Na quase totalidade dos casos, a polícia é o único serviço ao qual qualquer pessoa pode recorrer em caso de necessidade urgente, em particular o segmento mais pobre da população. Ela é um serviço público, ou seja, é um serviço gratuito e é ininterrupto, funcionando 24h por dia. Em países como o Brasil, onde a pobreza e a inoperância das organizações de instituições de “bem-estar” e de justiça são parte significativa da vida social..., o trabalho diário da polícia volta-se para suprir as carências existentes nos demais serviços públicos” (MOTA, 1995: 25-26).

Essa situação, de forma geral traz uma insatisfação a classe policial que

alienado pelo “sistema” institucional, não está preparada para conciliar as suas reais

tarefas com a resolução das chamadas “feijoadas”, que é denominação dada pela

classe para os assuntos de conflitos sociais que não envolvem área criminal.

Como citado anteriormente, sobre o modelo da estrutura predial que traz uma

sensação de vigilância, seguindo o modelo arquitetônico panóptico de Bentham.

Podemos avaliar que nessa dinâmica organizacional, a atuação do Atendimento

Social, fica um pouco prejudicada no que se refere a privacidade do atendimento ao

usuário. Muitas vezes ele quer expor uma situação delicada, e que por mais que ele

seja levado a uma sala reservada, essa sala tem portas e janelas em vidro, que

permite visualização externa. È como se tudo que fosse feito, tinha que ser

controlado e isso é tão ruim para quem está sendo atendido, como para quem está

atendendo.

O trabalho da equipe de atendimento é destinado aos usuários da delegacia

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que necessitam de acolhimento, informações de serviços, direitos e orientações

sobre os trâmites institucionais. Mas observando a dinâmica da delegacia, poderia

afirmar que os primeiros usuários do nosso serviço são os próprios policiais que

precisam de um mediador para certas situações e de acolhimento, pois também são

vítimas do sistema.

No trabalho, são realizadas atividades como:

recepção personalizada aos usuários,

triagem de ocorrências policiais,

registros e comunicações dos fatos as autoridades policiais,

encaminhamento à instituições específicas,

orientações psicológicas e sociais aos usuários e seus familiares,

treinamento e supervisão aos estagiários de Atendimento Social.

3.3 – Os desafios do Serviço Social

O Assistente Social é um profissional multidisciplinar que atua com a

perspectiva da totalidade e de maior contato com as políticas públicas de saúde,

assistência Social e de educação, que pertencem a esfera de prevenção primária

dentre as mazelas da sociedade criando possibilidades de enfrentamento para as

demais questões evitando maiores consequências.

“O Assistente Social se defronta, cotidianamente, com “candidatos” a cidadãos, que buscam ajuda para satisfação de necessidades básicas de sobrevivência. Trata – se de uma profissão que lida com as misérias humanas, com produto da exploração do homem pelo homem, fazendo aflorar e trazendo para o confronto reflexões sobre os valores de nossa realidade, exigindo um posicionamento ético e político frente à realidade, em todas as suas possibilidades, na tentativa de buscar a sua transformação”. (PAVEZ e OLIVEIRA, 2002: 89).

O objetivo dos profissionais de Serviço Social nas Instituições executoras da

Política de Segurança Pública pode ser visto em primeiro momento, para oferecer

um atendimento de qualidade, possibilitando que os usuários tenham um maior

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conhecimento sobre os seus direitos civis, políticos e sociais através, fortalecendo o

usuário no acesso e no processo de mudança da realidade na qual se insere, com

vista à ampliação dos seus direitos e efeitos da cidadania.

Seus maiores desafios consistem em:

Contribuir para melhoria da imagem dos serviços prestados nessa

política assegurando um atendimento humanizado e ético ao cidadão;

Propiciar uma intervenção reflexiva das problemáticas sociais para que

os usuários dos serviços possam ampliar suas informações acerca dos seus direitos

sociais e encontrar alternativas de enfrentamento das suas demandas;

Propiciar um espaço privilegiado para atendimento, orientação e

reflexão das problemáticas relacionadas aos conflitos sociais como: crise nas

relações, violência intra familiar;

Estabelecer uma articulação entre Instituições da Rede e com os

movimentos da sociedade civil para garantir um melhor atendimento as

problemáticas trazidas as instituições;

Desenvolver atividades de Mediação de conflitos e desenvolver a

Técnica da Resiliência no indivíduo que procura essas instituições amenizando o

seu sofrimento.

Entre esses desafios apresentados, podemos destacar o uso da mediação e o

desenvolvimento da Resiliência no trabalho com os usuários. A presença da

mediação no cotidiano da atuação do Serviço Social como instrumento de trabalho é

muito importante, e não sendo uma técnica reconhecida, acaba caindo num discurso

sobre a prática assistencialista. Contudo, a categoria profissional luta para ressaltar

a sua importância, pois ela acredita no seu poder sobre a resolução de conflitos, ser

estabelecida uma comunicação funcional entre as partes envolvidas no processo e

em muitos casos, que envolvem famílias e casais, tentando estabelecer uma relação

harmônica para resgatar e preservar os vínculos afetivos.

“Mediação portanto é a categoria que dá direção e qualidade à pratica, baseada no método dialético marxista, resultado de um processo dinâmico e ativo desenvolvido pela interação entre as pessoas, objetos, conceitos, preconceitos, instituições, enfim uma rede de associações em que o usuário é tido como sujeito engajado na

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construção de sua própria história5”.

Já a Resiliência, que é uma terminologia usada na Física, sobre a capacidade

que os materiais tem de resistirem aos choques, nas ciências humanas e em

específico na cadeira do Serviço Social, pode ser utilizado como instrumento de

trabalho para auxiliar as pessoas a criar no seu íntimo, condições de superar

traumas vividos e desenvolver capacidade de sobreviver a situações adversas

buscando sempre algo melhor, trazendo uma qualidade de vida e bem estar físico,

mental e social, na medida em que ele funciona como mecanismo de proteção.

“Trata-se do desenvolvimento do capacidade de resistir e construir estratégias em ambientes desfavoráveis e condições difíceis e estressantes que auxiliam o indivíduos a superar as adversidades e problemas cotidianos, construindo mecanismos de proteção6”.

Nas instituições executoras da Política de Segurança Pública, é comum a

presença do sofrimento, afinal seus usuários são vítimas da violência, e essa

aplicada em diversas segmentos, e ter um profissional para dar Assistência faz todo

o diferencial.

5- Eva Maria, Assistente Social: O significado da categoria mediação no Serviço Social. Disponível

em: http://cac-php.unioeste.br/projetos/gpps/midia/seminario1/trabalhos/Assistencia%20 6- Afirmação feita no artigo: Resiliência, Serviço Social e o CRAS: Traçando caminhos para a construção de redes de proteção. Disponível em: http://intertemas.unitoledo.br/index.php/ETIC/article/view/1354/1293

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Considerações Finais

Segurança Pública é um assunto atual e muito intrigante, analisado como

política pública, ele se torna ainda mais complexo. Tendo as instituições policiais

como os principais aparelhos executores dessa política, a sua discussão na

sociedade, tem uma posição distinta visto que historicamente, temos uma imagem

violenta sobre a prática policial, que está enraizada em nossos conceitos e

desconstruí-lo é uma tarefa difícil e necessária.

Nessa dinâmica da sociedade de enfrentamento do fenômeno da violência, a

Política de Segurança Pública se desdobra em realizar ações que atendam as

necessidades de apelo geral como o controle da violência, fruto do crime organizado

e que para tal, somente a atuação da força policial não é suficiente, visto que é

necessário ações de investimento social em vários segmentos; e desenvolver

trabalhos que reaproximem a polícia da população, trazendo confiança e

cooperação com o trabalho desenvolvido pelas instituições.

O serviço Social nesse contexto surge para auxiliar nessa reformulação da

prática das instituições policiais, mas seguindo os princípios da sua ética

profissional, ele busca efetivar sua atuação para garantir um espaço de promoção

social no atendimento aos usuários, para desenvolver suas potencialidades com os

indivíduos, permitindo que estes possam criar condições de superar condições

adversas e serem os próprios “autores de suas histórias”.

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GIL, Antonio Carlos; Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 1999.

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ideal e a realidade de ser policial. Rio de Janeiro: Garamond, 2003.

MOTA, Paula Poncioni. A Polícia e os pobres: representações sociais e praticas

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Mestrado em Serviço Social de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de

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PAVEZ, Graziela Acquaviva e Isaura Isolde de Mello Castanho e Oliveira. Vidas

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SOARES, Luiz Eduardo. “Delegacia Legal: uma guerra sem quartel”. In: Meu

Casco de General: 500 dias front da segurança pública no Rio de Janeiro. São

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Outras fontes

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