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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA Mosaico e Arteterapia: uma transformação através da construção. Carla Delgado Cunha Orientador Profa Ms: Fátima Alves Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Mosaico e Arteterapia: uma transformação através da

construção.

Carla Delgado Cunha

Orientador

Profa Ms: Fátima Alves

Rio de Janeiro

2012

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Mosaico e Arteterapia: uma transformação através da

construção.

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de Especialista em Arteterapia em Educação e

Saúde.

Por: Carla Delgado Cunha

3

AGRADECIMENTOS

...a minha mãe, mulher guerreira, que

me deu tanto amor sendo severa e

protetora quando necessário. Obrigada

por tudo!

4

DEDICATÓRIA

...dedico ao meu irmão e familiares, que

sempre estiveram presentes, em cada

momento da minha vida.

5

RESUMO

Esta monografia tem como objetivo apresentar o Mosaico como um

recurso arteterapêutico, auxiliando a materialização de imagens do

inconsciente, revelando um Universo Simbólico pessoal. Baseado na Teoria

de Piaget – assimilação, acomodação e equilibração. Será apresentado um

estudo de caso descrevendo o caminhar de uma pessoa em todo esse

processo. Evidenciando suas escolhas, sua criação e sua análise. Processo

esse com intervenção do arteterapeuta, levando a pessoa a objetivar sua

produção, ocorrendo assim uma reflexão e reorganização interna, podendo

auxiliar uma reconstrução e transformação de sua realidade.

6

METODOLOGIA

A metodologia que fundamentará esta pesquisa será a análise

bibliográfica a partir de publicações anteriores sobre o assunto em documentos

impressos como livros, artigos, teses e uma analise de um caso concreto.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

• Arteterapia 10

CAPÍTULO II

• A Arte do Mosaico 17

CAPÍTULO III –

• Teoria de Piaget associado a um estudo de caso 24

CONCLUSÃO 31

ANEXOS 32

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42

ÍNDICE 44

8

INTRODUÇÃO

Fazer arte é uma necessidade humana na qual precisamos expressar

de diferentes formas nossos pensamentos, emoções, ideias, desejos,

curiosidades, sensações. Expressão essa que é única, resultado de todo um

processo pessoal, em que ficam evidentes nossos pontos de vista, nossa

personalidade, nossas vivencias, nosso tempo histórico. Estamos em

constante transformação, escrevendo e criando nossa própria história.

Somos início, meio e fim de algo maior. Ao criar estamos de fato vivos,

ativos, nos construindo e nos reinventando a todo o momento.

Com o desenvolvimento tecnológico associado a forte pressão dos

meios de comunicação numa valorização exacerbada de um mundo

capitalista e extremamente consumista. Acrescido do progressivo fracasso da

instituição familiar, o homem está cada vez mais envolto em um mundo

externo no qual é valorizado a posse de coisas materiais, em detrimento de

valores morais, éticos e humanos, ou seja, os elementos mais importantes de

uma sociedade fraterna.

Além disso, as grandes explorações dos recursos naturais, provocados

pela ambição do homem e associado ao intenso crescimento demográfico,

principalmente nas regiões urbanas, nos trouxeram um dos maiores

problemas da sociedade moderna, ou seja, o aquecimento global.

Acarretando uma tragédia que provoca problemas para as atuais e futuras

gerações. Exemplo disso foram os desastres naturais que acometeram as

cidades Serranas no mês de janeiro do corrente ano.

Sendo assim, impulsionado pela necessidade de pesquisar algo que de

alguma forma possa ajudar as pessoas que estão sofrendo com esse

acontecimento, que gerou sentimentos de tristeza, perda, depressão, luto,

entre outros, será desenvolvido um trabalho com Mosaico em Arteterapia que

9

poderá auxiliar nesse processo de reconstrução de suas vidas e de sua

autoestima. Uma transformação através da construção.

Desta forma, no capítulo I, será abordada a importância do trabalho

com Arteterapia, seu histórico, sua fundamentação metodológica, suas

possibilidades e seu trabalho.

No capítulo II, será apresentada a Arte do Mosaico como técnica

plástica facilitadora do processo de materialização de imagens do

inconsciente. Apresentando seu histórico, sua função na Arte Bizantina e sua

justificativa para essa escolha, haja vista o público pretendido.

No capitulo III, fundamentaremos essa pesquisa com a Teoria de

Piaget - assimilação, acomodação e equilibração. Expondo uma pesquisa de

caso fazendo um paralelo entre os três eixos Arteterapia, Mosaico e a Teoria

de Piaget.

Esperamos que a realização dessa pesquisa possa de alguma forma

dá um passo efetivo em um trabalho significativo e atuante, juntamente com

as pessoas que vivenciaram de alguma forma essa tragédia.

Proporcionando assim, uma ferramenta que poderá ser útil na reconstrução

de suas vidas.

10

CAPÍTULO I

Arteterapia

“A vida é um processo, não é um estado de ser. É uma

direção, não um destino.” (Rogers,1970, p.146)

1.1 Arteterapia e seu histórico.

A arte como forma de expressão sempre foi uma necessidade

humana. Na Grécia, já era usada como recurso terapêutico. Desenvolveu-se

como instrumento na Inglaterra após a 2ª Guerra Mundial baseada nas obras

de Jung e influenciada por uma nova visão de Arte, e hoje espalhou-se pelo

mundo.

Psiquiatras, desde o final do século XIX, estavam interessados nas

obras de doentes mentais. Facilitaram suas produções, colecionaram-nas e

estudaram-nas. Podemos citar como exemplos Max Simon (1876 e 1888),

Mohr (1906) e Prinzhorn (1922).

Durante a segunda metade do século, surgiram outras terapias, como

as diversas técnicas de mediação: musicoterapia, dançoterapia e terapias

através da expressão plástica.

No Brasil, Osório Cesar (1923) começa a desenvolver estudos sobre a

arte dos alienados, no Hospital de Juquerí, São Paulo.

Na década de 20, havia mantido correspondência com Freud e, a partir

de seus estudos de observações na linha freudiana, analisa a simbologia

sexual existente nos trabalhos artísticos de seus pacientes. Seus pacientes

dedicaram-se a trabalhos como modelagem, desenho e artesanato.

11

Propiciando assim “a cura por si” através dos trabalhos com arte, por ser

um veículo de acesso ao conhecimento do mundo interior.

Em 1941, Margareth Naumburg foi a primeira sistematizar a arteterapia.

Reconheceu e colocou em prática a própria observação e a de Freud, surgidas

no início do século XX, na qual as imagens viriam antes das palavras.

“O pensamento simbólico não é a área exclusiva da

criança, do poeta ou do desequilibrado: ela é

consubstancial ao ser humano; precede a linguagem e a

razão discursiva. O símbolo revela certos aspectos da

realidade – os mais profundos – que desafiam qualquer

outro meio de conhecimento. As imagens, os símbolos e

os mitos são criações irresponsáveis da psique; elas

respondem a uma necessidade e preenchem uma

função: revelar as mais secretas modalidades do ser. Por

isso, o seu estudo nos permite melhor conhecer o

homem, o homem simplesmente, aquele que ainda não

se compôs com as condições da historia”. (ELIADE, 1991,

p. 8 e 9)

Outros trabalhos foram surgindo como os de Freud e Jung que também

se desenvolveram a partir da produção artística de seus pacientes psiquiátricos

de grande importância para os diagnósticos da época.

A diferença básica entre os dois é, para Freud, toda pessoa reprime

impulsos não aceitos socialmente e a arte funciona como uma forma saudável

de sublimar esses impulsos evitando a neurotização. Já para Jung, a arte tem

um sentido muito além do que apena a sublimação, contribui e auxilia no

processo de individuação da pessoa.

Em 1946, se destaca o trabalho inovador realizado pela Drª Nise

Silveira, no Centro Psiquiátrico Dom Pedro II, situado no Engenho de Dentro,

no Rio de Janeiro, criou a Seção de Terapia Ocupacional. Ela introduziu nas

décadas de 1930 e 1940, na sua pratica psiquiátrica, a pintura leve e

12

espontânea, na tentativa de substituir os tratamentos clássicos, como por

exemplo, os eletrochoques em hospital público. Em 1952 cria o Museu do

Inconsciente, único acervo existente no Brasil e um dos mais importantes do

mundo.

Por volta dos anos 50 surgiu o termo Arteterapia, através de duas

correntes distintas: A arte em terapia representada por Margareth Naumburg e

a arte como terapia representada por Edith Kramer, as mesmas reconhecidas

como as “fundadoras” da Arteterapia.

Janie Rhyne, em 1973, aplica princípios da Teoria da Gestalt ao

trabalho com arte. Enfatiza a atenção na vivência do presente, ao total

momento; o dar-se conta de fazer consciente; o reaprender a confiar nos

dados da experiência pessoal.

Em São Paulo, em 1980-1981, surge o primeiro curso de arteterapia na

Sedes Sapientae criado Maria Margarida M. J. de Carvalho que desenvolve

um trabalho em arteterapia.

Angela Phillipini, em 1982 organiza um curso em arteterapia no Rio de

Janeiro, inicialmente um estudo em arteterapia de orientação Junguiana. A

partir de 1983, começa a oferecer curso de formação.

Joya Eliezer, em 1999 funda a Associação Paulista e Brasileira de

Arteterapia, no Museu de Artes de São Paulo.

Atualmente existem congressos, publicações de livros e revistas e

associações de arteterapia.

1.2 Fundamentação Metodológica.

A Arteterapia recorre a diferentes mediadores: Pintura, Desenho,

Modelagem, Escultura, Colagens, Drama e Jogos Dramáticos, Música, Canto,

Poesia, Escrita Livre Criativa e Contos.

O fenômeno psicológico em Arteterapia deverá levar em conta as

perspectivas afetiva, existencial e cognitiva. O processo de expressão e o seu

resultado são de extrema importância, pois através dessa criação temos

acesso a conteúdos internos.

13

Através das produções artísticas, arte como função cognitiva, temos

acesso a muitas informação e registro, para o arteterapeuta, sobre o que é,

acerca de quê e para quê, como e porquê, sentimentos antes, durante e

depois do processo, benefícios para o próprio e para os outros.

A arte tem o papel de ser um recurso mediador da expressão, como um

veículo de elaboração, ensaios da criação. No trabalho arteterapêutico, o

contexto do processo não é usado para analise. As partes separadas irão

muito além do todo. A criatividade precisa ser fomentada, saindo da zona de

conforto, em direção à autodescoberta e auto enriquecimento, descobrindo e

assumindo uma atitude lúdica para com a vida, podendo resolver sua

problemática existencial.

“Se é da natureza do ato criador inovar, a recíproca não é

verdadeira; A inovação nem sempre é criação. Criar

significa mais do que inventar, mais do que produzir

algum fenômeno novo. Criar significa dar forma a um

conhecimento novo que é ao mesmo tempo integrado a

um contexto normal, nunca se trata de um fenômeno

separado ou separável, é sempre questão de estruturas.

Através da forma criada, se intensifica um aspecto da

realidade nova e com isso se reformula a realidade toda.”

(OSTROWER, 1987, p.134)

Na arteterapia a função do imaginário é fundamental, pois a pessoa

criativa, sua curiosidade é fertilíssima, acedendo a pensamentos, sentimentos,

memórias, aspectos da personalidade e do Self, alguns dos quais sem

representação mental consciente e carecendo de serem integradas, ela

demonstra-se mais segura mediante aos conflitos já que sua compreensão do

sentimento é mais profunda e intensa, é aberta a experiência e apresenta

grande aceitação negando –se a captar a realidade através de categorias pré

determinadas.

14

“ Implica uma perda de rigidez, uma permeabilidade maior

nos conceitos, nas opiniões, nas percepções e nas

hipóteses. Implica uma tolerância pela ambiguidade

quando a ambiguidade existe. Implica uma capacidade

para receber a informação contraditória sem se fechar à

experiência da situação.” (ROGERS, 1970, p.154)

Essas experiências artísticas podem intensificar a expressão de

vivência, bem como incrementar a consciencialização do sensorial e do

equilíbrio estético. Neste processo ocorre uma tomada de consciência

importante, promovendo a riqueza, a vitalidade e a qualidade de vida.

“Assim, a auto-realização do “Self” (do si mesmo), dado

pelo exercício de “fenômenos efetivos” (os trabalhos com

as técnicas expressivas, possibilita a realização de

energia arquetípica em direção à individuação”.

(URRUTIGARAY, 2008 p.144)

1.3 Processo Arteterapêutico.

“Quem pretende se aproximar do próprio passado

soterrado deve agir como um homem que escava. Antes

de tudo, não deve temer voltar sempre ao mesmo fato,

espalhá-lo como se espalha a terra, revolvê-lo como se

revolve o solo. Pois “fatos” nada além de camadas que

apenas à exploração mais cuidadosa entregam aquilo

que recompensa a escavação. Ou seja, as imagens que,

desprendidas de todas as conexões mais primitivas, ficam

como preciosidades nos sóbrios aposentados de nosso

entendimento tardio, igual a torsos na galeria do

15

colecionador. E certamente é inútil avançar em

escavações segundo planos. Mas é igualmente

indispensável à enxada cauteloso e tateante na terra

escura. E se ilude, privando-se do melhor, quem só faz o

inventário dos achados e não sabe assinalar no terreno

de hoje o lugar no qual é conservado o velho.”

(BENJAMIN, 1986, p.239)

Em um processo arteterapêutico é necessário proporcionar ao paciente

um ambiente acolhedor e facilitador.

Existem diferentes técnicas para trabalhar no primeiro momento. Esta

sensibilização tem como objetivo; criar um ambiente favorável, buscar uma

maior concentração, quebrar barreiras, promover relaxamento psíquico e

corporal abrindo um canal para atingir nosso consciente e nosso inconsciente.

Como exemplo, podemos desenvolver exercícios físicos de relaxamento e ou

dança com movimentos arquetípicos, desencadeando um processo de

conquista do seu eixo pessoal e a compreensão do limite entre si e o outro,

distribuindo a energia e centrando-se, ampliando sua a consciência corporal e

também como forma de baixar as tensões, promovendo uma “volta a calma”

antes do inicio da sessão.

Podemos usar a música como elemento relaxante. Para isso é comum o

uso de músicas suaves com sons harmônicos que propiciam um ambiente

tranquilo. A respiração é levada a níveis mais lentos, de calma levando o

individuo em contato de si mesmo, com o ambiente despindo-se de seus

problemas e pensamentos até chegar a um nível de relaxamento onde já não

há tantas defesas, o que permite acesso mais livre a camadas do inconsciente.

Assim, pessoas que por algum motivo apresentam dificuldades em

comunicar verbalmente seus conflitos internos ou até mesmo porque ainda não

são capazes de enxergar o que realmente está acontecendo. Usamos a

Arteterapia.

Às vezes, a linguagem verbal pode ser limitada e racional, dificultando

uma tradução limpa de sentimentos e sensações em palavras, já que podemos

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filtrar ou manipular aquilo que seria dito, organizando suas ideias, impedindo

que o mais importante seja falado, tocado e trabalhado. É neste momento que

a arte entra como desbloqueadora e libertadora, através dela e seus materiais,

escolhidos previamente tanto pelo cliente e em um trabalho mais complexo

pelo arteterapeuta, a sua utilização aproxima a pessoa da sensação e da

emoção, acessando conflitos não ditos e não explicados pela linguagem

verbal.

“As línguas constituem sistemas de comunicação verbal.

Conquanto a fala seja de maior importância, fator

fundamental de humanidade no homem, a nossa

capacidade de comunicar conteúdos expressivos não se

restringe a palavras, nem são elas o único modo de

comunicação simbólica.” (OSTROWER, 1987, p. 24)

Nessa produção com materiais artísticos em um ambiente facilitador, o

paciente produz; imagens, gestos, formas, símbolos trazendo conteúdos

inconscientes com consciente, que através da Arteterapia serão desvendados.

O auto conhecimento e a transformação do individuo é orientada por

símbolos, sob a visão junguiana, nos quais assimilam e informam estágios da

jornada da individuação de cada um.

A interpretação do que foi produzido é e sempre será do paciente, o

papel do arteterapeuta é de um mediador entre a obra e seu criador, levando-o

a reflexão, relacionando-a e subjetivando-a, desde que já seja possível.

17

CAPÍTULO II

A Arte do Mosaico

“O Mosaico é uma forma de arte decorativa que utiliza

tesselas (tesserae, pequenos bocados de vidro, mármore,

cerâmica ou pedra) para formar imagens ou padrões. È

um processo de grande adaptabilidade e variações sem

fim de motivos, materiais, cores e aplicações têm sido

exploradas ao longo dos tempos. O método de

construção de mosaico não sofreu alterações

significativas ao longo dos séculos e, apesar de ser uma

antiga forma de arte, aguentou o teste do tempo e tem,

presentemente, uma crescente popularidade como

processo artesanal versátil e contemporâneo.” (Soler,

2003, p.7)

2.1 A Arte Bizantina

O estilo bizantino procede de Bizâncio (Constantinopla), capital do

Império Romano do Oriente e baluarte da civilização cristã. Nesta cidade,

herdeira da glória de Roma, do conhecimento e da sabedoria do mundo

antigo, da arte e das tecnologias mais refinadas, os costumes e as formas

de vida eram muito influenciadas pelo Próximo Oriente Asiático e pela

fabulosa Pérsia. A arte bizantina constituiu numa mistura de influências

helênicas, romanas, persas, armênias e de várias outras fontes orientais,

18

cabendo-lhe, durante mais de um milênio, preservar e transmitir a cultura

clássica grega.

Com fases alternadas de crise e esplendor, a arte bizantina se

desenvolveu do Século 5º, com o desaparecimento do Império Romano do

Ocidente enquanto unidade política, até 1453 quando Constantinopla capital

do Império Romano do Oriente, instituída sobre a antiga cidade grega de

Bizâncio, foi ocupada pelos exércitos otomanos.

Quase sempre estreitamente vinculada à religião cristã, teve como

objetivo principal exprimir o primado do espiritual sobre o material, da

essência sobre a forma, e a elevação mística decorrente dessa proposição;

expressando a autoridade absoluta e sagrada do imperador, considerado o

representante de Deus, com poderes temporais e espirituais.

O aspecto grandioso das figuras frontais, vigentes nas primeiras obras

da arte bizantina, deu lugar a formas que, embora ainda solenes e

majestosas, mostravam-se mais vivazes e variadas.

A história da arte bizantina pode ser dividida em cinco períodos, que

coincidem aproximadamente com as dinastias que se sucederam no poder

do império.

• Período Constantiniano;

• Período Justiniano;

• Período Macedoniano;

• Período Comneniano;

• Período Paleologuiano.

A influência bizantina repercutiu ainda em meados do Século 14,

sobretudo na obra dos primeiros expoentes da pintura veneziana.

2.2 – Mosaico e seu histórico.

A história dos mosaicos está entre as primeiras manifestações do ser

humano, sendo um pouco fragmentada, tendo florescidos em certos períodos

19

e desaparecendo em seguida durante séculos e ressurgindo mais tarde com o

favorecimento de civilizações aparentemente desconexas.

Existem referências dessa técnica que datam de 3mil anos a.C. sendo

os sumérios seus criadores. Assim como os sumérios, os gregos também

utilizaram a técnica do mosaico como expressão artística e uso decorativo.

Os mais antigos eram constituídos por motivos simples feitos com

seixos, como alguns descobertos na Ásia Menor e nos jardins da China antiga.

Com o passar do tempo, os seixos maiores foram substituídos por mais

pequenos, dando origem a padrões e figuras mais aperfeiçoadas. Os seixos

tinham uma disposição mais aproximada para melhorar o pormenor, alguns

eram pintados alargando a paleta de cores, e posteriormente os contornos

foram acentuados com chumbo.

No século IV a.C. as tesselas foram introduzidas pela primeira vez

.Eram pedaços de pedra natural cortados em cubos, que possibilitavam uma

montagem mais aproximada das peças e melhor definição das imagens. Na

antiga Grécia, começaram por utilizar seixos para fazer pisos, paredes e

pavimentos de prédios públicos. Os Astecas utilizaram o mosaico para revestir

objetos cerimoniais com pedras preciosas. Acreditam que em Pompeia

mosaico feitos santuários e no exterior, foram construídos para provocarem

ilusão de espaço nos pequenos pátios das traseiras. As igrejas bizantinas

utilizaram a técnica para descreverem episódios da Bíblia, cenas do Paraíso e

ícones religiosos.

Conforme os impérios subsequentes iam alastrando pela conquista,

trocas comerciais ou religião, aumentava também sua procura. Com a troca de

conhecimento entre os artesãos as técnicas foram melhorando à medida que

viajavam até que, eventualmente, os mosaicos se espalharam pelos diferentes

continentes à sua volta do mundo. Micromosaicos, feitos com tesselas

minúsculas e muito juntinhas, foram populares durante a Renascença. Apesar

de serem tecnicamente brilhantes, parece que lhes falta algo, sendo utilizados

pelos artistas como um processo alternativo.

Tornando-se novamente popular, no início deste século na arte

decorativa, o mosaico foi utilizado tanto por artistas como arquitetos. Um dos

20

arquitetos mais famosos deste século, Antoni Placid Gaudí (1852- 1926)

aparece trazendo novas concepções plásticas ligadas ao modernismo catalão.

Durante as duas guerras mundiais, a arte do mosaico foi negligenciada.

Ressurgindo na década de 1950, em todo o tipo de espaços utilitários

conseguiram sobreviver à moda de revestir toda e qualquer superfície de

parede disponível, com ladrilhos de piscina , monótonos e sem vida,

alcançando presentemente uma nova popularidade, transformando-se numa

visão familiar em projetos de arquitetura e obras de arte pública.

No Brasil, a Imperatriz Teresa Cristina, em 1852, tomou a iniciativa de

quebrar cacos de porcelana da casa Imperial, para revestir bancos, fontes e

paredes dos Jardim, das Princesas na área externa do Palácio da Quinta da

Boa Vista , nos Rio de Janeiro.

O Brasil, por volta de 1900 tomou a iniciativa de adquirir pisos em

mosaicos nos ateliês de Roma, Paris e Veneza para ornar prédios públicos no

Rio de Janeiro, como o Palácio Tiradentes, a escola de Belas Artes, o Teatro

Municipal entre outros. Em São Paulo temos o Centro Cultural Banco do

Brasil, o Palácio Elias Chaves e o Edifício da Politécnica. Esta difusão também

ocorreu em outros estados.

Mas, o mosaico tornou-se popular no Brasil em 1905, através do

Prefeito Pereira Passos, que mandou importar as chamadas “pedras

portuguesas” usadas nas calçadas da Avenida Rio Branco, no Centro do Rio

de Janeiro. Em Copacabana, o desenho das ondas, imitando o mar, ficou para

sempre com a cara do bairro, tornando-se um logotipo internacional. O

desenho foi trazido pelos calceteiros portugueses, mas não tinha então a

volúpia curvilínea que se nota, o paralelismo só foi adotado no inicio dos anos

30, depois que mais uma ressaca das grandes arrebentou com boa parte do

piso.

O período de maior difusão do mosaico foi nos anos 50, vários prédios

de Copacabana exibem esse registro em sua portaria ou nas fachadas,

assinadas por nomes ilustres como Portinari, Di Cavalcanti, Clóvis, Athos

Bulcão e outros.

21

O arquiteto-paisagista Roberto Burle Max (1909-1994) deixou também

sua contribuição com várias obras em praças brasileiras, utilizando-se de

pedras para compor mosaicos, entre elas a responsabilidade de refazer a orla

de Copacabana.

Oscar Niemeyer (15/12/1907) arquiteto brasileiro, considerado um dos

nomes mais influentes na Arquitetura Moderna Internacional, inclui em muitos

de seus projetos o mosaico.

Ocupando um lugar de arte complementar na arquitetura, dos anos 90

para cá, hoje temos uma legião de artistas e artesãos que aderiram ao

movimento musivo.

2.3 – Mosaico e sua técnica.

O mosaico é uma técnica que qualquer pessoa pode aprender a fazer,

é um trabalho manual relativamente simples, mas que utilizando as técnicas

corretas e fazendo com amor pode atingir resultados surpreendentes. Consiste

na colocação lado a lado de pequenos pedaços de pedras de cores diferentes

sobre uma superfície de gesso ou argamassa. Essas pedras coloridas são

dispostas de acordo com um desenho previamente determinado. A seguir, a

superfície recebe uma solução de cal, areia e óleo que preenche os espaços

vazios, aderindo melhor os pedacinhos de pedra.

Essa técnica deve ser proposta não com o objetivo de fragmentar uma

imagem, mas de buscar as vibrações coloridas. Dá-se um tema simples e

suscita-se o interesse, mostrando reprodução de verdadeiros mosaicos, tais

como os de Ravenne, por exemplo. Salienta-se o que é próprio a essa técnica,

a multiplicidade das nuanças trabalhadas em justapostas e que se fazem valer

reciprocamente, o ritmo do posicionamento das pedras próprios para ressaltar

as formas, os vazios que, também, colocam o desenho em evidência.

Há três tipos de técnicas para aplicação do mosaico: Técnica direta -

onde as tesselas são aplicadas no cimento fresco, uma a uma; Técnica indireta

– as tesselas são coladas de cabeça para baixo em um papel ou tecido e são

22

transportadas ao local exato. O mosaico é acimentado na parede ou no piso e

após seco, o papel ou o tecido é retirado; Técnica semidireta – o mosaico é

feito em uma tela flexível. A tessela é colada na posição normal. A tela é

transportada ao local e acimentada.

Podemos trabalhar com os seguintes materiais: cerâmica, papel, vidro,

plástico, tecido, elementos naturais.

2.3.1– Mosaico e sua técnica em arteterapia.

A palavra mosaico tem origem na palavra alemã mouseen, a mesma

que deu origem à palavra música, que significa próprio das musas, algumas

fontes traduzem como “paciência das musas”. Mosaico, a arte da paciência e

da paixão.

A maneira de propor a consigna é determinante, pois o arteterapeuta

precisa levar em conta as necessidades e intenções apresentadas dentro do

ateliê terapêutico, escolhendo a melhor maneira para aplicar a técnica, já que

existem diferentes formas e materiais, para objetivação das representações,

trazendo assim em ordem de um código (signo) compreensível para o sujeito,

tendo este uma simbologia (significante) pessoal. Provocando um efeito, um

estímulo, uma possibilidade, enfim uma emoção.

“... precisamos entender os efeitos plásticos produzidos

pela manipulação dos elementos visuais, tais como a

utilização de linhas, as formas, a presença de volume, de

massa, o uso das cores, a composição de novas formas,

por introdução e mistura de diferentes materiais etc. Mas

não com a intenção de julgamento de padrão estético, ou

seja, avaliando a forma pela forma, mas sim a forma pelo

conteúdo que expressa...“ (Urrutigaray, 2008, p.95)

Desencadeando um movimento que apresenta-se como

desestruturador, sendo que em seguida chega-se a possibilidade real e

23

imediata de dar a cada pedaço, cada caco uma nova estrutura. O ato de colar

exerce um papel definitivo, dando sentido e indicação à forma final. A emoção

de encontrar-se através da obra que é produzida ultrapassa o momento de

desconstrução, representa a medida exata da intensidade simbólica da

atividade.

“A partir da análise da forma, o individuo vai efetuando

pontes entre seus aspectos individuais (como

necessidades a serem compreendidas) e os aspectos

culturais incorporados (como os ideais sociais)”.

(Urrutigaray, 2008, p.91)

Durante o processo, o mosaico possibilita a ordenação, integração,

resignificação, reestruturação e transformação pessoal.

“O profissional em arteterapia destina-se, assim, como

agente facilitador do processo de busca pela “totalidade

psicológica”, ou realização do Self, ao exercício de

estimulação da criação e ao de observar e acompanhar o

processo de criação. De maneira que seu “atentar” deve

dirigir-se para o que vê e ouve durante a dita execução da

obra.” (Urrutigaray, 2008, p.101)

24

CAPÍTULO III

Teoria de Piaget associado a um estudo de caso.

“... uma integração à estruturas previas, que podem

permanecer invariáveis ou são mais ou menos

modificadas por esta própria integração, mas sem

descontinuidade com o estado precedente, isto é, sem

serem destruídas, mas simplesmente acomodando-se à

nova situação.” (Piaget, 1996, p.13)

3.1 Jean William Fritz Piaget e sua obra.

Jean William Fritz Piaget nasceu dia 09 de agosto de 1886 em

Neuchâtel – Suiça e faleceu no dia 17 de setembro de 1980, em Genebra.

Sua formação superior e universitária foi em Ciências Naturais – Biologia

estudou também Filosofia. Trabalhou como psicólogo experimental em

Zurich. Considerado um dos pensadores mais importantes do século XX,

escreveu livros, monografias e artigos. Desenvolveu diversos campos de

estudos científicos: a psicologia do desenvolvimento, a teoria cognitiva e a

epistemologia genética, com o objetivo de entender como o ser humano

evolui. Explica o desenvolvimento intelectual a partir da ideia que os atos

biológicos são atos da adaptação ao meio físico e ao meio ambiente,

sempre tentando manter equilíbrio. Defendeu uma abordagem

interdisciplinar para a investigação epistemológica e fundou a Epistemologia

Genética.

25

Formulou sua teoria defendendo que o conhecimento evolui

progressivamente por meio de estruturas de raciocínio que substituem umas

às outras através de estágios. Cada estágio é um período caracterizado por

uma forma especifica de conhecimento e raciocínio. São 4 estágios:

sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal.

Seus estudos tiveram grande impacto sobre os campos da Psicologia e

Pedagogia. Modificou a teoria pedagógica tradicional, na qual acreditavam

que a mente da criança era vazia, esperando ser preenchida, mudando

assim a forma de trabalhar com as crianças, já que estas na sua visão são

as próprias construtoras ativas de seu conhecimento.

Nos últimos anos de sua vida centrou seus estudos no pensamento da

Teoria de Equilibração das Estruturas Cognitivas.

3.2 – Estudo de caso – Sujeito.

Após a tragédia várias pessoas e entidades sentiram a necessidade de

oferecerem cursos, oficinas, terapias, atendimento psicológico e até mesmo

sua atenção para as famílias atingidas em um trabalho voluntário. Foi

visitando um grupo desses que conhecei a senhora K.

Senhora K, nasceu em 1962, apresenta boa aparência, magra, morena

clara, alta e educada. Precisou começar a trabalhar nova para sua

sobrevivência, não pode estudar. Mãe solteira de 2 filhos adultos, criados e

formados, trabalhava em uma casa de família como empregada doméstica há

mais de 20 anos. Morava em uma casa ampla de 2 quartos, sala, cozinha,

banheiro, área, quintal, com jardim. Amava sua casa e suas flores. Com a

tragédia do dia 12/01 deste ano, sua casa foi interditada com risco de ser

atingida por deslizamento, pois 7 casas de vizinhos deslizaram e atingiram 2

casas ao lado da sua. Casas essas de seus irmãos que perderam tudo, num

total de 4 irmãos, onde todos moravam perto e que da noite para o dia ficaram

sem moradia.

26

Sendo assim, precisou sair da sua casa, seu bairro e ir morar com sua

filha, que a abrigou com seu irmão, um tio e um primo. Viu sua família ser

totalmente afastada, apesar de saber que todos saíram com vida, ficou muito

triste, pois sua casa era tudo que tinha materialmente.

Acompanhando essa e outras estórias, ofereci para o grupo diferentes

oficinas de Artes na qual a Senhora K. interessou-se pelo Mosaico. Logo me

chamou atenção e pedi se poderia acompanhá-la e desenvolver um trabalho

de Arteterapia, contemplando meu estudo para minha monografia, ela se

sentiu muito honrada e permitiu.

3.2.1 Sujeito e Paralelo entre a Teoria de Piaget:

Desequilíbrio

Na madrugada do dia 12 de janeiro de 2011, as cidades da Região

Serrana do Rio de Janeiro sofreram com fortes chuvas. Em Teresópolis por

volta das 2hs até às 4hs30 da madrugada choveu o equivalente a mais de 30

dias. Atingindo bairros que receberam mais de 10 trombas d’águas, que vieram

trazendo pessoas, casas, árvores, pedras, o que tinha pela frente. Um

fenômeno jamais visto e assustador. Mudando completamente a vida de todos

aqueles que sobreviveram e de uma forma em geral de toda comunidade

envolvida.

Senhora K, perdeu nesta madrugada sua maior segurança, a única

coisa material que tinha, que era a sua casa, herança de seus pais. Casa onde

sua mãe deu a luz aos 11 filhos no qual somente 7 sobreviveram. Onde viveu

feliz com seus filhos, casou sua irmã mais nova e recebia toda sua família em

todas as datas festivas, pois era como a casa de todos. As lembranças que em

cada pedacinho de terra, em cada tijolo, em cada cerâmica contava uma

história da luta daquela família que após tantas dificuldades estavam vencendo

juntos na vida e com muita honestidade. Perdeu também a vida de alguns

27

queridos vizinhos e saudosos amigos, a convivência diária com seus irmãos e

familiares e seus projetos como a reforma da casa entre outros.

Um momento difícil como este afeta profundamente todos os

envolvidos, o sentimento de tristeza, perda e luto predomina a qualquer outro

pensamento.

Iniciei às atividades, no dia 06/02 deste ano com a Senhora K.

apresentei as diferentes possibilidades com os diferentes materiais para se

fazer Mosaicos. Para minha surpresa e alegria ela escolheu o Mosaico com

material reciclado. Disse que sua filha gosta que ela separe o lixo reciclável e

que seria interessante ver como isso funciona.

Então combinamos de lavar e guardar embalagens plásticas coloridas.

Pegamos essas embalagens e começamos a cortar as peças. A cada

embalagem, novas estórias de sua família, lágrimas se faziam presente

durante as narrações, a tristeza pelo momento se misturava com a alegria das

lembranças. Ela chorava muito, mas não parava de cortar.

3.2.2 Sujeito e Paralelo entre a Teoria de Piaget:

Assimilação

“... a assimilação constitui um processo comum à vida

orgânica e à atividade mental, portanto, uma noção

comum à fisiologia e à psicologia.” (Piaget, 1996, p.47)

Senhora K. precisou tentar pegar algumas coisas na casa interditada e

aceitar o convite de sua filha ou ir para um abrigo municipal. Aceitou o convite

de sua filha e foi com seu filho, levando também um sobrinho, que depois

levou seu pai, irmão mais velho da Senhora K.

Todos tiveram que enfrentar a situação, repensar e refazer seus planos

para uma nova forma de viver.

28

No momento de organizar as peças cortadas, ela pediu para separar

por cor e seus tons, em potinhos diferentes, para facilitar na hora da colagem.

Iniciamos o processo e novas estórias foram divididas, mas agora o assunto

era sobre a nova moradia. Falou-me que nunca pensou em morar em um

apartamento, mas que este, era bem arejado, claro e de frente para uma rua

movimentada. Detalhou sua organização, onde ela está dormindo, a filha, o

filho, o sobrinho, o irmão, quais são as tarefas de cada um e como ficou divido

os gastos.

“A assimilação não se reduz (...) a uma simples

identificação, mas é construção de estruturas ao mesmo

tempo que incorporação de coisas a essas estruturas.”

(Piaget, 1996, p.364)

Sendo a matriarca da casa, ela queria fazer tudo com muito carinho

para todos, muito trabalho em casa, além do trabalho no emprego. A senhora

k. já tinha dimensão do que lhe acometeu, não olhava mais só para seus

problemas, conseguia ver que tudo aquilo que tinha acontecido com ela e que

perto de outras estórias, o dela não era tão pesado. Já tinha em mente que

precisava superar para a vida continuar e crescer.

Estava ansiosa para começar sua produção, levou diferentes figuras

para poder trabalhar, queria produzir. Lixou e pintou diferentes peças em

madeira MDF, sempre comentando onde ela usaria na casa nova.

3.2.3 Sujeito e Paralelo entre a Teoria de Piaget:

Acomodação

29

“... a assimilação e a acomodação são (...) os dos polos

de uma interação entre o organismo e o meio, a qual é a

condição de todo funcionamento biológico e intelectual.”

(Piaget, 1996, p.309)

Senhora K. decidiu fazer sua primeira peça, escolheu uma caixa

média, não sabia direito se queria uma figura ou apenas colar as pecinhas, até

que ao organizar algumas peças na tampa da caixa lembrou-se do seu jardim

e suas flores, e assim começou a tentar fazer, mesmo sem desenho.

Disse que na frente de sua casa tinha uma linda roseira, que seus

vizinhos pediam suas rosas, principalmente as crianças no horário da escolar.

Pela primeira vez nesses contatos a Senhora K. não chorou!

Demonstrando naquele momento que a vida continua, que ela é capaz

de entender o que aconteceu, se adequar as novas possibilidades, moldar

essa situação a sei favor.

Criar uma peça para sua casa nova com lembranças da antiga, apesar

de parecer uma simples reação, não é um processo simplesmente mecânico; a

acomodação é a origem da aprendizagem.

Demonstrando pouca habilidade com o trabalho manual, fez sua

colagem com muito interesse e carinho, prestando atenção em todas as

instruções e detalhes, apresentando muito orgulho e alegria pela sua

produção.

Minha Querida Roseira, foi o título da sua primeira produção e ao

concluí-la, não quis mais parar. Sua técnica foi se aperfeiçoando, seus temas

um paralelo de sua vida.

Seus comentários tomaram um novo sentido, deixou de ficar

lamentado e chorando, passou a planejar e querer mudar.

3.2.4 Sujeito e Paralelo entre a Teoria de Piaget:

Equilibração

30

“... em um certo sentido, uma equilibração progressiva,

uma passagem contínua de um estado de menor

equilíbrio a um estado de equilíbrio superior.” (Piaget,

1976, p.123)

Durante esses (10) meses de acompanhamento, a Senhora K. relatou

como a sua vida era difícil e sofrida, e como aqueles momentos fazendo

mosaico estavam lhe ajudando. Parecia que ali ela tinha o controle, e que na

vida isso já não é possível. Falou que como no Mosaico tudo depende de

quem cria, na vida também é assim, tudo depende da gente, no momento de

nossas escolhas.

Comentou que em uma de suas produções, na qual se lembrou da

infância, sentiu a necessidade de voltar a fazer doces, para família e também

para vender. No dia seguinte, pegou um dinheirinho que estava guardando foi

ao supermercado e comprou o material. Chegando em casa fez seus famosos

brigadeiros. Sua família ficou muito feliz e todos a incentivaram, sua filha levou

para vender no trabalho, suas irmãs compraram, e seus novos vizinhos

também. Conseguiu 2 lojas de doces, perto de sua casa, para revender e

varias encomendas, até para um casamento.

Apesar de tudo que havia passado, ela estava feliz. Disse que assim

como no Mosaico que precisa ser construído, ela reconstruiu sua vida, peça

por peça e vai modificar seu futuro. Suas expectativas ampliaram! Tudo

mudou, mas foi para melhor, pretende sair do seu emprego, pois está com

muitas encomendas fixas, para mais 2 lojas, fora as encomendas avulsas, que

são muitas. O filho, está fazendo um curso em outra cidade. Seu irmão

conheceu uma senhora e casou- se, foi morar com ela e levou o filho. Ensinou

a técnica do Mosaico para sua filha, que com maior habilidade está fazendo

para vender. Todos estão crescendo. A vida está com uma nova forma, uma

nova cor!

Mosaico e Arteterapia: uma transformação através da

construção.

31

CONCLUSÃO

O mosaico como ferramenta no processo arteterapêutico, facilitou a

concretização de forma material, aquilo que é inatingível. Trabalhando

efetivamente fatores cognitivos, motores e principalmente emocionais.

Possibilitando autoconhecimento, integração e organização, afirmação,

independência e capacidade de escolher.

O material simbólico registrado nos permitiu acompanhar a trajetória da

individuação, na qual consciente e inconsciente se encontram e formam a

totalidade, traduzindo o que nenhuma palavra pode falar.

Recurso terapêutico que foi de grande importância na vida da Senhora

K. já que este respeitou seus limites, seu próprio tempo, em um momento de

grande tristeza e transformação. Na qual, devido a sua grande vida interior,

como as cores por ela usadas, nos mosaicos, foi capaz de enfrentar e buscar

uma reestruturação e transformação pessoal e material juntamente com toda

sua família. Dos cacos a forma, ou do caos a forma, ou até mesmo, do que

restou da sua antiga vida a uma vida nova. A princípio tendo como maior

objetivo de trabalhar com o mosaico para lhe proporcionar bem-estar, pôde

acompanhar no decorrer dos meses todo seu crescimento e fortalecimento,

enfrentando, refletindo e criando novas possibilidades. Ordenava as peças

para colagem manualmente e compartilhava como sua nova casa estava

sendo organizada. Um paralelo rico, cheio de significado para quem

acompanha terapeuticamente.

Um exercício prático, com mediação de instrumentos plásticos para

comunicação, proporcionado à transformação pessoal, isso é, arteterapia.

32

ANEXOS

Índice de anexos

Registros importantes para compreensão do trabalho.

Anexo 1 >> Internet

Anexo 2 >> Arquivo pessoal de fotos da Senhora K.I;

Anexo 3 >> Arquivo pessoal de fotos da Senhora K.II;

Anexo 4 >> Arquivo pessoal de fotos da Senhora K.III;

Anexo 5 >> Internet; Anexo 6 >> Registro fotográfico do trabalho com Mosaico; Anexo 7 >> Internet.

33

ANEXOS 1

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Chuvas causam a maior tragédia da região serrana do Rio de Janeiro

Número de mortos já passou de 300; desabrigados chegam a quase mil �

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Do R7, com Rede Record I 13/01/2011 às 07h24�

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35

ANEXOS 2

ARQUIVO PESSOAL DE FOTOS DA SENHORA K. I

36

ANEXOS 3

ARQUIVO PESSOAL DE FOTOS DA SENHORA K. II

37

ANEXOS 4

ARQUIVO PESSOAL DE FOTOS DA SENHORA K. III

38

ANEXO 5

Internet

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/chuvas-no-rj/noticia/2011/01/depois-da-

tragedia-da-chuva-teresopolis-sofre-com-saques.html

Portal G1 RJ. – Bernardo Tabak e Thamine Leta - �������������� ��������

Depois da tragédia da chuva, Teresópolis sofre com saques Prefeito da cidade confirma dois assaltos no Centro da cidade. Comerciantes chegaram a fechar as portas.

Um tumulto foi provocado por criminosos no Centro da cidade de Teresópolis na

manhã desta sexta-feira (14). De acordo com informações da assessoria de

comunicação da prefeitura, houve dois assaltos a lojas do Centro, próximas à Calçada

da Fama, a mais importante área de comércio de Teresópolis.

A cidade foi uma das mais afetadas pela chuva que cai nos últimos dias na Região

Serrana. Mais de 200 pessoas já morreram no município. Ao todo, a tragédia já

deixou mais de 500 mortos em Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis.

Assustados, muitos comerciantes chegaram a fechar as portas. “O coronel do batalhão

da PM acabou de me dizer que houve um assalto em duas lojas do Centro de

Teresópolis. A polícia está no local”, afirmou o prefeito de Teresópolis, Jorge Mário.

“Não houve arrastão, nem saques em demais estabelecimentos. Só que as pessoas

entraram em pânico e isso gerou confusão. Mas foi um boato que gerou pânico, só

isso”, complementou.

Segundo a assessoria da prefeitura, o comandante do 30º BPM (Teresópolis)

informou que o policiamento está reforçado no Centro. Ainda segundo a assessoria,

Guardas Municipais também foram deslocados para patrulhar a Calçada da Fama e as

ruas próximas.

39

ANEXO 6

REGISTRO FOTOGRÁFICO DO TRABALHO COM

MOSAICO

40

ANEXO 7

INTERNET

http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2012/01/regiao-serrana-do-rj-sofre-

com-tragedia-que-completa-um-ano.html

Edição do dia 12/01/2012

13/01/2012 00h46 - Atualizado em 13/01/2012 00h46

Região Serrana do RJ sofre co tragédia que completa um ano

Segundo o Ministério público, são mais de 200 desaparecidos,

e muito mais de acordo com os moradores. Centenas de

famílias ainda não encontraram os parentes. Pra elas, dor se

mistura à incerteza. �

Mônica Teixeira Teresópolis, RJ��

Um ano atrás, quase 1.000 pessoas morreram na Região Serrana do Rio de Janeiro na maior catástrofe natural do país, causada pelas chuvas. A reportagem do Jornal da Globo visitou Teresópolis, uma das cidades mais atingidas pela tragédia de janeiro de 2011.

Márcia de Jesus Amorim perdeu o marido, a sogra, cinco filhos e um neto. Não pôde participar dos enterros. “Só consegui ver nesse o dia o meu filho, o Igor, de seis anos. Mesmo assim, não pude nem chegar perto, porque estava com a minha perna estraçalhada”, diz. Os corpos de dois filhos ainda estão desaparecidos.

As cicatrizes da tragédia estão por toda a parte. Em uma casa, móveis e objetos estão exatamente onde ficaram quando a água baixou. Na cozinha, ainda há louça em cima da pia. O que era lama, agora é terra seca. Caminhando pela casa, a sensação é de que o tempo parou. Nada foi feito.

Em outro cômodo, ficou o que restou de uma mesa, do sofá e, no chão, um controle remoto. Na casa da vizinha, Shirley, ainda é possível ver até onde a água chegou. O que não chegou até hoje foi ajuda.

“Nenhum tipo de ajuda. Nem o dinheiro do aluguel recebi. Até hoje, nada. A sensação é de perda total, e de um vazio da pessoa não ter. Parece que não tem ninguém para ajudar”, afirma a dona de casa Shirley Cruz Sousa.

41

Foram resgatados 918 corpos dos escombros e da lama, mas existem outras vitimas da tragédia: são os desaparecidos. Cerca de 200, segundo o Ministério Público. e muito mais, de acordo com os moradores. Centenas de famílias ainda não encontraram os parentes. Para elas, a dor se mistura à incerteza.

A praça da cidade virou ponto de encontro de gente que compartilha a mesma angústia, como a de uma mãe com esperança de encontrar a filha. “Eu não consigo viver, não consigo comer. Não ouço uma música, não vou a uma festa. Eu só vivo em busca de Ana Clara. Para amenizar minha busca, eu preciso da resposta”, diz Cláudia de Oliveira, dona de casa.

Verônica Dutra e Fernando perderam quatro filhos. Eles mesmos encontraram dois, mas Hiasmin, de dez anos, e Cauan, de um ano, continuam desaparecidos. A esperança agora é a chegada de Ana Luiza.

42

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA E CITADA

1 - ELIADE, Mircea. Imagens e Símbolos. Ensaios sobre o simbolismo

mágico-religioso. SP: Martins Fontes, 1991

2 -BENJAMIN, W. Escavar e lembrar; o narrador; testes sobre a filosofia da

história. SP: Brasiliense, 1986.

3 - CIORNAI, S (org.). Percursos em Arteterapia: arteterapia gestaltica, arte em

psicoterapia, supervisão. SP: Summus, 2004.

4 - GRINBERG, Luiz Paulo. Jung: O Homem Criativo. SP: FTD, 2003.

5 - JUNG, Carl G. O Homem e seus Símbolos. Nova Fronteira, 1964.

6 - OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos criativos. Petrópolis, Vozes.

1987

7 - PAIN, S. e JARREAU, G. Teoria e Técnica da Arteterapia. SP, Artes Médica

Sul. Ltda

8 - PHILIPPINI, Ângela. Cartografia da Coragem – Rotas em Arteterapia. RJ:

Clínica Pomar, 2001.

9 - PIAGET, Jean. A equilibração das estruturas cognitivas. Rio de Janeiro:

Zahar, 1976.

10 - PIAGET, Jean. Biologia e conhecimento: ensaio sobre as relações entre

as regulações orgânicas e os processos cognoscitivos. Petrópolis: Vozes,

1996.

11 - PROENÇA, Graça. História da Arte. SP: Ática, 1999.

43

12 - SOLER, Fran. Artes e Ofícios dos Mosaicos: Técnicas e projetos

clássicos. Livros e Livros, 2003.

13 - URRUTIGARAY, Maria Cristina. Arteterapia. Rio de Janeiro: Wak, 2008.

44

ÍNDICE

CAPA 1

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Arteterapia 10

1.1 – Arteterapia e seu histórico 10

1.2 – Fundamentação Metodológica 12

1.3 - Processo Arteterapêutico 14

CAPÍTULO II

A Arte do Mosaico 17

2.1 – A Arte Bizantina 17

2.2 – Mosaico e seu histórico 18

2.3 - Mosaico e sua técnica 21

2.3.1 – Mosaico e sua técnica em arteterapia 22

CAPÍTULO III Teoria de Piaget associado a um estudo de caso 24

3.1 – Jean William Fritz Piaget e sua obra 24

3.2 – Estudo de caso - Sujeito 25

3.2.1 – Sujeito e Paralelo entre a Teoria de Piaget: Desequilíbrio. 26

3.2.2 – Sujeito e Paralelo entre a Teoria de Piaget: Assimilação 27

3.2.3 - Sujeito e Paralelo entre a Teoria de Piaget: Acomodação 28

3.2.4 - Sujeito e Paralelo entre a Teoria de Piaget: Equilibração 29

45

CONCLUSÃO 31

ANEXOS 32

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA E CITADA 42

ÍNDICE 44