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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES P-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE P S I C O M O T R I C I D A D E E A IMPORTÂNCIA DE SUA PRÁTICA NO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM DE A SÉRIE Por: Elisangela Fialho de Araújo Orientador: Marco Antonio Chaves Rio de Janeiro, julho de 2001.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

P S I C O M O T R I C I D A D E E A IMPORTÂNCIA DE SUA PRÁTICA

NO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM DE 1ª A 4ª SÉRIE

Por: Elisangela Fialho de Araújo

Orientador: Marco Antonio Chaves

Rio de Janeiro, julho de 2001.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

P S I C O M O T R I C I D A D E E A IMPORTÂNCIA DE SUA PRÁTICA

NO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM DE 1ª A 4ª SÉRIE

Por: Elisangela Fialho de Araújo Orientador: Marco Antonio Chaves

Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Psicomotricidade.

Rio de Janeiro, julho de 2001.

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AGRADECIMENTO Agradeço aos professores do Curso de Pós-Graduação

em Psicomotricidade da Universidade Candido Mendes e a todos

aqueles, em especial aos meus familiares, que compartilhando e

alimentando os meus objetivos, me incentivaram a prosseguir nesse

caminho.

OBRIGADA.

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“Se é verdade que tenho consciência do meu corpo,

através do mundo, que ele está no centro do mundo,

termo não descoberto para o qual todos os objetos se

voltam, é verdade, pela mesma razão, que meu corpo é o

pivô do mundo, e eu tenho consciência do mundo por

intermédio do meu corpo”.

(Le Boulch)

iii

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R E S U M O Assunto dos mais atuais na área educacional, a psicomotricidade – educação pelo movimento – tem se constituído num fator de maior importância no desenvolvimento global da criança e no processo ensino-aprendizagem. O presente trabalho se volta para o tema e tenta mostrar dados sobre o mesmo, no sentido de tentar apresentar conceitos que a psicomotricidade tem operado no processo educativo, fornecendo à escola elementos para que a criança possa construir seu desenvolvimento global, através de seu próprio e da relação com o meio. O trabalho está estruturado em uma introdução e o desenvolvimento que se compõe de três partes. A introdução delineia as principais questões discutidas no texto, a primeira parte do desenvolvimento fornece subsídios para a compreensão do conceito, objetivos, incidências sobre a escolaridade, mostrando que os pré-requisitos para uma boa aprendizagem constituem a estruturação psicomotora. A Segunda parte, assinala a importância da psicomotricidade, no cotidiano da escola, sendo que da escola se espera uma posição de constante estimuladora do potencial que a criança tem e traz desde o nascer, no sentido de prevenir, educar e/ou auxiliar a criança a superar possíveis dificuldades que prejudicam por vezes, definitivamente o seu rendimento escolar, sua adaptação e sucesso social; como fator de desenvolvimento harmônico e integral da criança, a psicomotricidade mostra que ele é um todo em sua integridade, e como tal, não se pode nem se pretende mais usar a psicomotricidade tão somente como um recurso reeducativo mas sim, como parte de uma educação integral do homem; por último fala sobre o movimento em que a reeducação psicomotora se faz necessária, mostrando que a mesma, além de terapêutica, é educativa, pretendendo uma meta morfológica, funcional e socializante. A terceira parte é dedicada às conclusões. Após enfatizar o papel do professor, ao qual cabe facilitar a organização social que permitirá à criança e ao grupo desejar, alcançar e participar dos conhecimentos e dos valores da cultura e fazê-los evoluir, mostra que isto só é possível por uma educação integral, onde a unidade do ser condiciona a unidade da ação educativa.

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S U M Á R I O INTRODUÇÃO DESENVOLVIMENTO CAPÍTULO I - Psicomotricidade

1

4

4

1.1 – Conceitos 1.2 - Objetivos da Psicomotricidade 1.3 - Incidências sobre a Escolaridade

456

CAPÍTULO II – A Psicomotricidade e a importância de sua prática no

processo ensino-aprendizagem nas séries iniciais 8

2.1 – Fator de desenvolvimento Harmônico e Integral da Criança

2.2 – Ferramenta para Reeducação Psicomotora 1523

CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

28

30 v

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I N T R O D U Ç Ã O

O fenômeno educação, tão estudado, pesquisado, analisado,

criticado e avaliado, ainda não é, na sua totalidade, compreendido e resolvido,

dando margem às diversas indagações e problemas encontrados.

Sendo a educação, um processo de culturalização ensino-

aprendizagem dirigida ao homem, torna-se impossível definir um caminho

base, para se alcançar a meta proposta pela mesma. Sendo o homem, um

indivíduo, pessoa única, indefinida na sua totalidade, na sua essência

existencial, torna-se difícil traçar uma meta uniforme para educá-lo.

Assim, num processo sistêmico, a interdisciplinaridade foi

constituindo-se numa necessidade básica para o atendimento do homem como

ser educável. Hoje, para responder a muitos dos problemas que afligem o

processo educacional, a psicomotricidade busca em outras ciências

constituídas (biologia, psicologia, psicanálise, sociologia e lingüística) apoio

pedagógico.

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A preocupação da psicologia educacional estava dirigida para a

aprendizagem, como um fenômeno mental, tendo suas implicações nas áreas

emocionais. Os estudos de Piaget vieram despertar novos anseios, métodos,

para o atendimento de crianças defasadas em alguma área, seja sensório-

motora seja emocional.

Entrou em cena, na década de 60, a psicomotricidade, que teve

sua estruturação na França, nos anos 50. A difusão dessa nova ciência, veio de

encontro às buscas de uma resposta-solução para os diversos problemas que

surgem nas escolas.

Uma escola ciente de seu papel de educador e da sua função de

vanguarda, observando o desenvolvimento tecnológico, compreende que seus

métodos e processos estão ultrapassados, e torna-se necessário acelerar o

ensino, causando com isto “desastres” educacionais, como disse Chazaud

(1976 p. 45) “Querer ganhar tempo é, com freqüência, uma forma de chegar

atrasado: é preciso que a criança possa integrar cada um dos processos

antes de adquirir um novo”.

Na psicomotricidade, o indivíduo vai reencontrar-se com seu

corpo, liberar seu potencial expressivo, conceber-se numa totalidade corpórea,

psicossomática, definir-se, explorar-se, analisar e avaliar suas interrelações

com espaço tempo, conferir aos símbolos seu significado, significando e

compreendendo enfim a linguagem do corpo.

Por isso, tem-se hoje, a educação voltada para a psicomotri-

cidade, buscando subsídios para suas dificuldades, tentando estabelecer uma

linha de ação eficiente para o processo ensino-aprendizagem.

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Deste modo o objetivo deste trabalho será:

Mostrar a importância da psicomotricidade no processo ensino-

aprendizagem.

Definir o desenvolvimento harmônico e integral da criança.

Demonstrar a aplicação da mesma como fator de reeducação psicomotora.

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DESENVOLVIMENTO

Capítulo I

PSICOMOTRICIDADE

A psicomotricidade desenvolve as possibilidades intelectuais, por

intermédio do movimento.

“ a soma e a psique integram a unidade individual do

homem. A psico- motricidade, como ciência da educação, enfoca essa unidade, educando o movimento ao mesmo

tempo que põe em jogo funções intelectuais”. (Costallat, 1976:1)

1.1 - Conceito Para Le Boulch (1982:26),

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“a psicomotricidade é uma prevenção das dificuldades escolares; menosprezar a influência de um bom

desenvolvimento psicomotor, seria limitar a importância da educação do corpo e recair numa atitude intelectualista”.

A psicomotricidade é uma técnica que se dirige, pelo exercício

do corpo e do movimento, considerando o ser em sua totalidade. Os

exercícios psicomotores não são um fim em si mesmo mas um meio para

atingir a integração do sujeito, num meio físico e social.

A psicomotricidade é, também, uma terapia: A terapia

psicomotora que dispõe-se a desenvolver as faculdades expressivas do

indivíduo.

1.2 – Objetivos da Psicomotricidade

De acordo com L. Picq. E P. Vayer, (1973, p. 13) é objetivo da

psicomotricidade: “melhorar o comportamento geral da criança e favorecer

sua integração social”.

Os objetivos da psicomotricidade dividem-se em gerais e

específicos.

Gerais - Desenvolver as condutas psicomotoras de todos os

indivíduos, conforme o nível motor e o nível intelectual de cada um.

Específicos - Formar atitudes desejáveis, utilizando processo

de observação, técnicas apropriadas e recursos específicos.

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Adquirir prontidão necessária para um desenvolvimento

adequado de linguagem oral e escrita.

Proporcionar uma motricidade espontânea, coordenada e rítmica,

que será o melhor aval para evitar problemas futuros.

1.3 – Incidência sobre a Escolaridade

Para a maioria das crianças que passam dificuldades de

escolaridade, a causa do problema não está no nível da classe a que chegaram,

mas bem antes, no nível das bases. Os elementos básicos ou “pré-requisitos”,

condições mínimas necessárias para uma boa aprendizagem, constituem a

estrutura da educação psicomotora.

Uma criança, cujo esquema corporal é mal constituído, não

coordena bem os movimentos. Vemos que é atrasada quando despe, que as

habilidades manuais lhe são difíceis, na escola, a caligrafia é feita e a leitura

inexpressiva, não harmoniosa, o gesto vem após a palavra, a criança não

segue o rítmo da leitura ou então para no meio de uma palavra.

Outras deficiências, seja na lateralidade que envolve o

conhecimento da esquerda-direita e do corpo como um todo; seja na

percepção espacial onde a distinção das letras se torna complexa; seja em

relação a orientação temporal e espacial, haverá dificuldade em ordenar os

elementos de uma sílaba e reconstruir frases.

Será preciso mais para compreender que a psicomotricidade pesa

consideravelmente sobre o rendimento escolar? O professor que analisa os

erros de seus alunos geralmente descobrirá as causas nas lacunas precipitadas

e nas perturbações psicomotoras.

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Poderá sanar:

- Baseando seu curso na medida do possível na manipulação;

- Fazendo regularmente exercícios psicomotores em diversas

atividades tais como a de despir-se, as de ginástica, nas de matemática, de

canto, de habilidades manuais.

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Capítulo II

A PSICOMOTRICIDADE

E A IMPORTÂNCIA DE SUA PRÁTICA

NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM NAS SÉRIES INICIAIS

Quais serão as causas do fracasso escolar na 1ª série?

- Métodos inadequados? Professor incompetente? Tempo escolar

insuficiente? Pais analfabetos? Alimentação deficiente? Hereditariedade?

Escassez de recursos? Política educacional inadequada? Má remuneração dos

Professores?

Provavelmente, no fracasso escolar das crianças nas primeiras

séries do 1º grau, há um pouco de cada uma das causas citadas acima e muitas

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outras que não foram mencionadas, inclusive pequenas disfunções cerebrais,

que fazem com que as crianças revelem inúmeros distúrbios na aprendizagem.

De fato, hoje, em setores de campo médico, psicológico,

pedagógico e nas famílias, vem se dando singular destaque às pequenas

disfunções cerebrais, que em si não constituem um quadro patológico mas que

repercutem de várias formas no processo de aprendizagem, ocasionando

distúrbios de linguagem, de percepção e de coordenação manual e digital, o

que determina, por exemplo, o retardo na aprendizagem da leitura e da escrita.

Diante de quadro tão problemático, torna-se evidente o empenho

daqueles que trabalham em educação, no sentido de se encontrar uma forma

de atenuar a situação. Em decorrência surgem novos experimentos, são feitas

pesquisas sobre diferentes processos e técnicas entre as quais se inclui a

psicomotricidade.

Os espaços ocupados atualmente pela psicomotricidade dentro da

escola, como recurso auxiliar do processo ensino-aprendizagem se

fundamentam em estudos da nossa realidade que demonstram que somente

uma minoria das nossas crianças recebe os estímulos necessários para atingir

o amadurecimento dos neurônios, das funções psiconeurológicas

indispensáveis para atingir seu desenvolvimento físico e mental, base para as

operações cognitivas.

Em nossa realidade educacional, poucas vezes, se tem dado

oportunidade aos alunos das quatro primeiras séries do 1º grau de

desenvolverem atividades psicomotoras. Os movimentos utilizados na

educação física têm sido, em vários casos, direcionados a gestos técnicos

competitivos, não favorecendo a livre expressão da criança. Prova-se também

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que pouca importância vem sendo dispensada a sua função no processo

ensino-aprendizagem, desestimulando o professor de Educação Física a

buscar caminhos que o conduzam a uma prática racional em suas aulas,

estimulando-os (alunos) a reprodução do sistema que se traduz numa

Educação Física tradicional que mais cuida de um adestramento do que uma

prática de libertação. Por outro lado, a educação psicomotora ressalta a

importância do problema relacionado e o interesse em favorecer o

desenvolvimento de determinadas funções perceptivas, motoras e sua relação

estreita com as funções mentais.

Para melhor compreensão do trabalho com a psicomotricidade

acha-se necessário definir as expressões “função psiconeurológica e

operações cognitivas”, já que elas são utilizadas nos trabalhos que abordam o

tema.

Em psicologia e fisiologia, “função” e qualquer atividade que o

organismo faz para realizar uma tarefa. Por exemplo: respirar, digerir,

desenhar e cheirar são funções do organismo. As funções chamadas

psiconeurologicas são aquelas que servem para realizar atividades

psicológicas e não simplesmente as atividades físicas que o organismo realiza

de forma automática e involuntária.

Dentre as funções psiconeurológicas, podemos citar:

- a percepção e a discriminação visuais;

- a percepção e a discriminação auditivas;

- a coordenação motora;

- a orientação espacial;

- a orientação temporal;

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- o esquema corporal (lateralidade, equilíbrio...)

“Cognição” significa conhecimento. As operações cognitivas são

as diversas atividades, as diversas maneiras de se adquirir conhecimento; são

as operações mentais que se usa para aprender, para raciocinar. Pode-se citar,

como exemplo: memorizar, concentrar a atenção, classificar, ordenar, analisar

e sintetizar, solucionar problemas.

A maioria das funções humanas começa a se desenvolver desde o

momento do nascimento da criança e/ou desde a concepção e somente

atingirão o nível adequado se o meio oferecer à criança os estímulos que ela

necessita para o seu desenvolvimento.

Segundo Piaget (1973), “é a própria criança, através de seu

organismo, que constrói: é ela que aprende, conhece, realiza seu próprio

desenvolvimento.” (p. 130)

Daí a importância da escola, da qual se espera uma posição de

constante estimuladora do potencial que a criança trazia, ao nascer, no sentido

de prevenir, educar e/ou auxiliar a criança a superar possíveis dificuldades

que prejudicam, por vezes, definitivamente, o seu rendimento escolar e sua

adaptação e sucesso social.

Deve-se ressaltar nesse processo o papel do professor, que será

da maior relevância se este, ao invés de ensinar, de transmitir conhecimentos

já estabelecidos, assumir o papel de facilitador do desenvolvimento da

capacidade de aprender, dando à criança tempo para suas próprias

descobertas, oferecendo situações e estímulos, cada vez mais variados,

proporcionando experiências concretas e plenamente vividas com o corpo

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inteiro; nunca transmitidas apenas verbalmente, para que ela própria possa

construir seu desenvolvimento global.

Quando se refere à expressão “desenvolvimento global”

transmite-se a idéia de que a psicomotricidade, anteriormente vista como uma

série de exercícios que tenham por função levar a criança a adquirir as

habilidades cognitivas para a aquisição da leitura e da escrita, hoje é vista em

uma dimensão mais ampla. Estudiosos e pesquisadores chegaram à conclusão

de que não pode haver um trabalho de psicomotricidade que não seja pautado

nos princípios do desenvolvimento global da criança.

O homem é um todo em sua integridade e a sua divisão em áreas

motora, afetiva, social, intelectual, somente se processa como metodologia

para estudiosos. É uma falha pretender desenvolver isoladamente qualquer

uma delas, pois o favorecimento de um irá influir positivamente na outra,

como se pode verificar:

*

*

*

O intelecto se constrói, a partir das ações que o corpo

desenvolve;

O conhecimento, por sua vez, não é adquirido como finalidade

em si mesmo, mas como forma do indivíduo atender às

expectativas do meio social em que vive, satisfazendo assim,

suas necessidades de admiração e afeto;

As ações desenvolvidas, a exploração do ambiente, oportuniza-

rão ao aluno a percepção das características das pessoas, suas

semelhanças e diferenças e através de um processo de

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*

comparação irá formando a consciência de si mesmo;

Através da observação das reações em relação ao seu desempe-

nho das atividades físicas, intelectuais, vai se formando o seu

auto-conceito, sua confiança em si mesmo.

Podemos perceber que a afetividade é o centro do processo de

crescimento e que sem a sua presença no relacionamento entre o adulto e a

criança, não se pode esperar resultados satisfatórios.

Para que o trabalho com a psicomotricidade atinja resultados, é

necessário ficar alerta para aspectos que podem ser considerados da maior

importância.

*

*

*

*

A psicomotricidade não deve ser considerada como uma

matéria estanque, não deve dispor apenas de um momento

específico na programação escolar. Qualquer que seja a

atividade ou tema utilizado, a psicomotricidade deve estar

presente;

O que caracteriza um bom programa de psicomotricidade e sua

sistematização, seqüência e dosagem determinadas para que a

aprendizagem seja bem sucedida; o indivíduo não aprende a

correr antes de ficar em pé e para poder correr, todo um sistema

de músculos e de funções apropriadas, deve Ter sido exercitado

e se desenvolvido adequadamente;

Não se pode forçar uma antecipação das etapas;

O conjunto de atividades psicomotoras deve envolver todos os

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*

*

*

*

elementos em um planejamento único; não se pretendendo

generalizar o que se observa nas escolas é o desenvolvimento

de atividades isoladas – professores regente trabalhando com

mecanismos básicos de leitura e escrita desvinculada das

atividades do professor de educação física e de artes e os

especialistas desconhecendo tal situação;

As atividades têm de partir da realidade da vida da criança. Não

adianta introduzir conhecimentos novos se ela não possui os

conhecimentos básicos anteriores para assimilar novas situa-

ções que nada representam no seu universo. Isto pode

representar um grande empecilho para a aprendizagem das

crianças que vêm de um meio social onde os padrões são

diferentes dos da escola;

A natureza é a fonte mais rica de estímulos para a criança – é o

movimento, cor, som, cheiro, calor, tato, observação, enfim, é a

oportunidade maior para a formação de seus conceitos;

A ansiedade bloqueia a aprendizagem, trazendo a sensação de

incapacidade e bloqueia a formação do auto-conceito. Talvez aí

esteja uma das razões para explicar o alto índice de evasão das

escolas pelas crianças nas 1ª séries, sendo que a causa dessa

ansiedade tem muitas vezes a origem nos próprios professores

e pais, também ansiosos por um progresso acelerado por parte

das crianças;

Os exercícios gráficos com lápis e papel deverão ser vistos

como uma avaliação de outros já anteriormente treinados,

tendo o próprio corpo da criança como referência.

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Estas são algumas das considerações que foram levantadas

através de observações na prática da psicomotricidade, dentro das escolas,

certamente, serão enriquecidas por outras, percebidas pelas professoras na

prática do dia-a-dia.

2.1 – Fator de Desenvolvimento Harmônico e Integral da Criança

O desenvolvimento humano se processa de modo inseparável nas

três áreas: motora, intelectual e afetiva. Seria um absurdo, querer aprimorar

qualquer uma dessas áreas, sem levar em consideração as outras.

A criança é um todo em sua integridade e qualquer falha,

inadequação no seu crescer, implicará em problemas em diversas áreas de seu

desenvolvimento. Não se pode, nem se pretende mais usar a psicomotricida-

de, tão somente, como um recurso reeducativo mas sim como parte de uma

educação integral do homem.

Se, se pretende educar a criança, esse processo deve acontecer

através do movimento do corpo que se manifesta em relação ao meio

ambiente em que se vive. Toda atividade que a criança necessita executar

deve estar vinculada às funções psicomotoras, motoras, perceptivas e

cognitivas. A capacidade intelectual da criança se constrói através do

exercício físico que favorece a parte psiquica e emocional. E todo exercício

que a criança executa, implica numa ativação de todas as células, visto que o

processo respiratório e o circulatório propulsionam o metabolismo das

mesmas.

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Toda atividade da criança conduz a um experienciar situações

novas que se dão através da exploração do meio ambiente, das aprendizagens,

integrando processos variados onde o corpo e mente, como uma só unidade,

age, participa.

Assim, os professores deverão estar atentos em proporcionar à

criança atividades, exercícios adequados ao seu nível de desenvolvimento. E

que estes exercícios psicomotores sejam dosados de acordo com as

necessidades a que se propõem.

Nas escolas, as reclamações são as mais diversas quanto às

dificuldades de aprendizagem das crianças. Em geral, enumeram-se algumas

como constantes no processo ensino-aprendizagem. São elas:

a) crianças carenciadas de estímulos sensório-motores; b) crianças com falta de atenção e concentração; c) crianças imaturas.

Necessário se torna, promover uma ação no ensino, usando de

recursos apropriados para sanar e prevenir problemas. A psicomotricidade

propõe uma série de exercícios que possibilitam o desenvolvimento

harmonioso e integral da criança. Ela aprende a experimentar e vivenciar o

seu corpo, integrando-se num processo auto-exploratório, oportunizando-se

transar o seu corpo em busca de um equilíbrio natural.

A psicomotricidade estabelece que, conhecer o corpo, é antes de

tudo, percebê-lo como um todo, não em partes como querem muitos, para

melhor estudo. Um corpo que se locomove, para equilibrar-se harmoniza-se

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nos gestos, nos movimentos direcionais dos braços, quadris, olhos, ouvido e

boca, adquire o equilíbrio homeostático da pele, do cérebro, e a dominância

do corpo. A lateralidade se desenvolve conforme as funções determinantes

dos hemisférios cerebrais, e a criança desempenhará com maior desenvoltura

certas ações com um lado do seu corpo.

A liberdade que se dá à criança em confirmar esta predominância

é a garantia de seu desenvolvimento e desempenho normal equilibrado. A

energia, o tônus usado no agir, no querer, determina as nuances de seu

controle sobre os movimentos, estimulando áreas corticiais na captação de

ordens, seqüências, rítmo, atenção e concentração.

Isto dependendo do modo como controla sua respiração,

oxigenando seu sistema circulatório. As tensões emocionais serão reduzidas,

tônus muscular equilibrado, se o domínio respiratório se fizer presente nas

reações e ações do indivíduo. A respiração controlada, equilibrada, possibilita

um relaxamento dos órgãos, músculos, facilitando a distensão de todas as

tensões, ponto culminante da psicomotricidade.

Atendendo a estes princípios básicos da ciência psicomotora

propõe-se alguns exercícios, vinculados a realidade das crianças. Diga-se de

passagem, que o homem é um espaço-temporal, e a percepção deste espaço e

tempo em relação ao mundo é que dá significado aos significantes que o

envolvem.

Assim, para melhor atendimento da criança, é preciso que cada

exercício proposto e executado, seja bem assimilado e que a acomodação do

mesmo seja conseqüência básica para a reorganização de suas atividades

posteriores.

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Diferentes metas são propostas pela psicomotricidade para o

desenvolvimento da criança, segundo D. Meur e A. Staes (1984, p. 45).

“- do esquema corporal; - do equilíbrio; - da lateralidade; - da tonicidade; - da percepção temporal; - da percepção espaço temporal; - da coordenação motora; - da coordenação viso-motora; - da pré-escrita”.

* Esquema Corporal:

Conceito – Esquema corporal é definido como a organização das

sensações relativas ao próprio corpo em relação aos dados do mundo exterior.

Sua construção é elaborada progressivamente com o desenvolvimento e

amadurecimento do Sistema Nervoso Central, e acontece paralela às

evoluções sensório-motora e psicológica.

Atividades:

“- movimentar todo o corpo, através de músicas, mímicas, panto-

mimas, etc.; - tocar parte do corpo do aluno e ele vai falando o nome da parte

tocada; - identificar partes do corpo, em gravuras, etc.”

(Idem, p. 53).

* Equilíbrio:

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Fundamentação – é um estado particular, no qual o indivíduo,

pode manter uma atividade ou gesto, ficar imóvel ou lançar seu corpo no

espaço utilizando-se da gravidade ou pelo contrário resistindo-a.

Um mau equilíbrio, afeta a construção do esquema corporal

porque traz, como conseqüência, a perda de consciência de algumas partes do

corpo. Quanto mais defeituoso é o equilíbrio, mais energia se gasta,

resultando conseqüências psicomotoras tais como ansiedade e insegurança.

O equilíbrio divide-se em:

Equilíbrio Dinâmico (movimento) e Equilíbrio Estático (parado).

Atividades:

* Equilíbrio Dinâmico:

- andar livremente; - andar sobre linhas, retas e curvas (olhos fechados e olhos

abertos); - andar com elevação de joelhos; - andar nas pontas dos pés e calcanhares, etc.

* Equilíbrio Estático:

- ficar num pé só; - de pé, em frente ao espelho, segurar na cabeça um saco de

areia; - pular corda, etc.” (Castro, 1984: 146)

* Lateralidade:

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Conceito – entende-se por lateralidade o uso que as pessoas

fazem de uma das partes de seu corpo, lado direito ou esquerdo, mas com uma

dominância de um sobre o outro lado.

Atividades:

* Equilíbrio Dinâmico:

- manter, no ar, uma bola, golpeando-a com uma das mãos: Um golpe com a mão direita, outro com a esquerda;

- crianças sentadas em semicírculo, e o professor, numa distân- cia de 2 a 3 metros, lança uma bola, rente ao chão sucessi- vamente para cada uma; a criança que a recebe manda-a de volta rente ao chão, com a mão direita ou com a esquerda, a pedido do professor. Se os alunos ainda não discriminam a direita e esquerda, o professor dará um ponto de referência;

- bater bola na parede, apanhando-a ora com uma mão ora com outra; etc.” (Meur e Staes, 1984: 92)

* Tonicidade:

Conceito – É a dosagem adequada da tensão muscular, para cada

gesto. É indispensável um controle sobre o tônus no sentido de uma

diminuição da tensão muscular, a fim de que a criança possa sentir seu corpo

melhorar seu comportamento tônico emocional.

Atividades:

“- brincadeira de estátua;

- boneco de pano e boneco de ferro; - lançamento de objetos; etc.” (Le Boulch, 1982: 164)

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* Percepção Temporal:

Conceito – Para uma criança, o tempo e o espaço vivido, quer

dizer, a duração de uma ação. É brincando com seu corpo e dessa forma,

multiplicando as sensações que ela toma consciência do desenrolar das

experiências numa determinada duração. Para adquirir o conceito de tempo, é

importante que a criança seja levada a viver diferentes rítmos, pois através da

regularidade de sua sucessão, é uma maneira concreta de vivenciar o tempo.

Atividades:

“- noção de seqüência ordenada: dia – noite – tarde – manhã - madrugada – semana – parentesco – avô – pai – filho - neto; - andar de dois modos diferentes, conforme se escuta um som ou

outro; ao som do tambor, andar depressa; ao som do apito, devagar; ao som fraco, levantar, ao forte, assentar.” (Meur Staes, 1984: 181)

* Do espaço-temporal:

Conceito – Toda nossa percepção do mundo é uma percepção

espacial, na qual o corpo é o ponto de referência. O espaço e o tempo formam

um todo indissociável, uma vez que todo e qualquer ato se desenrola num

tempo e num espaço dados.

Para desenrolar a organização temporal, há necessidade de

vivenciar situações e experiências que contenham em si os elementos que

caracterizam o tempo, como: duração, sucessão e orientação.

Atividades:

“- enfiar a agulha: perceber a perna da agulha, a linha, o espaço

do buraco, a direção;

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- ao assentar, a pessoa tem que perceber a distância do corpo em relação à cadeira, para não cair, etc.” (Meur e Staes, 1984: 76);

* Coordenação Motora:

Conceito – É a capacidade de utilizar os movimentos corporais

de maneira harmoniosa, ampla; após demonstrar domínio sobre todo o corpo a

criança irá controlando os movimentos localizados para a execução da escrita.

Atividades:

“- arrastar-se como animal: cobra, jacaré; - andar equilibrando saco de areia; - separar grãos de diversas espécies; - encaixar pinos em orifícios, colocar chaves em chaveiros”

(Castro, 1984: 109)

* Coordenação Viso-Motora:

Conceito – Treina o uso de um espaço limitado e reduzido,

coordenado à visão, que observa a direção do movimento, e a mão, que

executa os movimentos.

Atividades:

“- andar sobre linhas traçadas no chão; - focalizar a vista num ponto e andar até lá; - atirar uma bola para o ar e recebê-la de volta, primeiro com as

duas mãos, depois com uma só mão; etc.” (Le Boulch, 1982: 130)

* Pré-Escrita:

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Conceito – Exercícios de pré-escrita e grafismo são necessários

para a aprendizagem das letras, dos números. Através desses exercícios a

criança atinge o domínio do gesto e do instrumento, a percepção e a

compreensão da imagem a reproduzir.

Atividades:

“- Brincar com meteoro; (ombros) - jogo de iôiô; (punho) - brincar com bolinhas de gude; (dedos) - traçar linhas em diferentes posições; - traçar linhas formando desenhos, sem tirar o lápis do lugar”

(Meur e Staes, 1984: 193)

2.2 – Ferramenta para Reeducação Psicomotora

O movimento mesmo reflexo ou o automático da respiração

(primeiro e último movimento dos seres vivos), é sinônimo de vida, de

presença, de conhecimento.

Considerando assim o enfoque atual do movimento parte de um

conceito neogenético, onde o indivíduo é visto como portador de relações

com o seu meio e com sua própria corporalidade.

Daí pode-se definir que:

“ a psicomotricidade na unidade dinâmica das atividades, dos gestos, das atitudes e das posturas, enquanto sistema

expressivo, realizador e representativo do “ser-em-situação” e da “coexistência” com outrem”. (Chazaud, 1976: 18)

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O corpo não é apenas uma máquina posta em movimento por um

psiquismo que habilita o cérebro. A simples descrição e a exposição formal

são insuficientes para explicar todo o complexo comportamental que é o

movimento humano, o qual não pode ser equacionado nos mesmos moldes do

movimento de uma máquina.

Até pouco tempo, concebia-se o homem como uma “espécie de

máquina físico-química, cuja movimentação era explicada apenas

mecanicamente” (Bee, 1987: 32).

O desenvolvimento, quando harmonioso, tem a eficiência

psicomotora – adaptação à realidade vivenciada, dos potenciais motores.

Qualquer alteração dessa eficiência, será o que se chama de distúrbio

psicomotor, que se manifesta em aspectos globais ou específicos.

É quando a reeducação psicomotora entra em ação; sendo

terapêutica, é educativa, pretendendo uma meta morfolótica, funcional e

socializante.

Um programa de Reeducação

Quando se deve empreender uma reeducação?

A reeducação psicomotora é dirigida às crianças que sofrem

perturbações instrumentais (dificuldades ou atrasos psicomotores).

A reeducação psicomotora – como qualquer outra reeducação –

deve começar o mais cedo possível: quanto mais nova for a criança sob nossa

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responsabilidade, menos longa será a reeducação. É relativamente fácil fazer

com que uma criança bem nova adquira as estruturas motoras ou intelectuais

corretas: mas se a criança já assimilou esquemas errados, o reeducador deverá

primeiro fazer com que os esqueça, antes de poder inculcar-lhes os esquemas

corretos.

A reeducação é urgente sobretudo para os problemas afetivos.

Quanto mais o tempo passa, mais a criança se bloqueia em tipo de reações,

sente-se mais angustiada, e as punições ou as observações só agravam essa

angústia. A reeducação a ajudará a adotar um outro comportamento e, pouco a

pouco, os que a cercam a verão de forma mais positiva.

Embora não exista uma “escala de idades” real, podemos dar

algumas indicações:

* a reeducação pode começar em idade que varia entre 18 a 24

meses para as crianças que acusam atraso motor, grande deficit

motor ou bloqueio afetivo. Será mais educado, ou melhor, será

mais educação do que reeducação mas como trata das

“dificuldades psicomotoras”, será orientada segundo o modelo

da reeducação.

* quanto aos problemas de esquema corporal e de estruturação

espacial, trabalharemos com crianças aproximadamente de 5

anos.

* certas dificuldades motoras e certos casos de instabilidade

psicomotora podem, desde a idade de 4 anos, construir objeto

de uma reeducação.

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* a idade de 6 anos é a mais comum para as reeducações, “é na

primeira série que o professor constata mais seguramente as

deficiências de organização espacial ou temporal da criança,

sua lentidão no trabalho, sua falta de concentração”.

As idades citadas são as “ideais” para o início de uma

reeducação, mas é freqüente termos de reeducar crianças com mais idade, às

vezes até jovens de 16 ou 17 anos. Deve-se esse fato à negligência: os pais ou

os educadores deixaram que as dificuldades se acumulassem (e até as

reprovações escolares), por não terem compreendido que o problema estava

na própria base das aprendizagens, ou por não terem se convencido bem cedo

da pertinência de uma reeducação.

As mais tolas idéias encontram sempre ouvidos complacentes,

por exemplo: “a técnica psicomotora pode criar anormais”. Na verdade, essa

técnica divulgou dificuldades que sempre existiram mas que alguns quiseram

ignorar, ou pensarem que se resolveriam por si mesmas (o que é raramente

verdadeiro).

Uma reeducação bem dirigida ajuda a criança a resolver seu

problema, a partir do momento em que surge, a perder menos tempo para se

desenvolver afetiva e intelectualmente, em suma, a torná-la feliz na escola e

na sociedade.

* O relacionamento entre o reeducador e a criança.

Observemos bem isto: “nenhuma técnica, por mais apropriada

que seja, resolverá um problema, mesmo puramente intelectual, na criança”.

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A qualidade de relacionamento entre o reeducador e a criança é

um dado essencial. Um bom relacionamento estabelece-se com o correr do

tempo: jamais se consegue previamente. Entretanto os primeiros encontros

são muito importantes: provocam uma reação de simpatia e de confiança ou,

pelo contrário, uma atitude de temor, timidez, de “fechamento”.

Para favorecer os primeiros contatos, nada como os exercícios

motores em que o reeducador e a criança brincam juntos.

Estabelecido o primeiro contato, seria ingenuidade acreditar que

a criança vai se desenvolver copiando o modelo de comportamento que lhe é

proposto, segundo a personalidade de cada uma. Portanto, o reeducador deve

aceitar questionar-se novamente quanto às suas formas de reagir diante de

uma alegria, uma decepção, uma reação agressiva da criança.

Um diálogo verdadeiro implica que a criança tenha o direito de

dizer o que pensa, de calar-se, de fazer pergunta. O reeducador responderá,

sem falar demais a respeito, mas o suficiente para alimentar o intercâmbio.

Assim, poderá colocar a criança frente à obrigação de refletir com ele sobre

determinados comportamentos: “Como exprimir isto sem ser agressiva? ou

“Por que não ousar dizer: não entendo?”

O reeducador desconfiará de sua concepção de

“ a criança como deveria ser, uma imagem ideal que

tentaria impor à criança. Certamente proporá um modelo à criança (os modelos constituem uma necessidade

fundamental) mas que poderá ser questionado: a criança deve sentir-se livre para aderir a ele ou mudá-lo”. (Meur e

Staes, 1984:24)

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C O N C L U S Ã O

A Psicomotricidade é o trabalho mental do corpo, isto é, tenta

trabalhar o corpo através da mente. Estuda a conduta motora, reações do

indivíduo para com o meio, preocupada com o amadurecimento integral do

homem. Ela existe nos menores gestos, em todas as atividades que

desenvolvem a motricidade da criança, visando o conhecimento e o domínio

de seu próprio corpo.

Para a criança a escola é um mundo novo e deve atender ao seu

desenvolvimento global. A criança aprende com o corpo todo, e aprende mais

brincando.

A Psicomotricidade é um meio educativo fundamental que utiliza

o movimento humano em todas as suas formas, para promover o

desenvolvimento da criança. Não se faz totalmente na escola e sim na ação

educacional (é permanente em casa, na rua, na escola).

Quando o professor tiver se conscientizado de que a educação

pelo movimento é uma peça mestra no edifício pedagógico, que permite a

criança resolver mais facilmente os problemas atuais de sua escolaridade e a

prepara por outro lado à sua existência futura de adulto, essa atividade não

ficará mais relegada a segundo plano, sobretudo por que o professor

constatará que esse material educativo não verbal, constituído pelo

movimento, por vezes, um meio insubstituído para afirmar certas percepções,

desenvolver certas formas de atenção, por em jogo certos aspectos da

inteligência.

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Emocionalmente, a criança conseguirá todas as possibilidades

para movimentar-se e descobrir o mundo, tornar-se feliz, adaptada, livre,

socialmente independente.

Para poder educar o homem é preciso que o ensinemos a dominar

sua própria consciência e corpo com senso de equilíbrio.

Deseja-se com este trabalho chamar a atenção de pais,

professores, educadores... para a importância e conscientização da validade da

aplicação da Psicomotricidade nas séries iniciais e em especial de 1ª a 4ª

séries do ensino fundamental da necessidade do movimento para as crianças.

Assim ajudar todos aqueles que estão envolvidos no processo ensino-

aprendizagem chegando ao sucesso almejado.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEE, Helen. A Criança em Desenvolvimento. São Paulo: Harper e Rowdo

Brasil, 1987.

CASTRO, Jacy M. Correa e. Sidepinho: Sistema de Estimulação Pré-Escolar,

para crianças menores. São Paulo: Cortes, 1984.

CHAZAUD, Jacques. Introdução à Psicomotricidade. Porto Alegre: Globo,

1976.

COSTALLAT, Dalila M. Psicomotricidade. Porto Alegre: Globo, 1976.

DE MEUR, A. e STAES, L. Psicomotricidade, Educação e Reeducação. São

Paulo: Monole Ltda., 1984.

LE BOULCH, Jean. O Desenvolvimento Psicomotor: do nascimento aos 6

anos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.

____________, Educação Psicomotora. A psicocinética na idade escolar.

PIAGET, T. A Linguagem e o Pensamento da Criança. Rio de Janeiro: Fundo

Cultural, 1973.

PICA, Louis e VAYER Pierre. Educação Psicomotora – Retardo Mental.

Aplicação aos diferentes tipos de inadaptação.