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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E
DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
A IMPORTÂNCIA DA AUDITORIA INTERNA FRENTE ÀS
FRAUDES CONTÁBEIS
Por: Fábio Maia da Silva Lopes
Orientador
Prof.ª Ana Cristina Guimarães
Rio de Janeiro
2004
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DA AUDITORIA INTERNA FRENTE ÀS
FRAUDES CONTÁBEIS
Apresentação de monografia ao Conjunto
Universitário Cândido Mendes como condição
prévia para a conclusão do Curso de Pós-
Graduação “Lato Sensu” em Auditoria e
Controladoria.
Por: Fábio Maia da Silva Lopes.
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AGRADECIMENTOS
Gostaria de deixar registrado meu
agradecimento especial ao pessoal do Centro
de Estudos Empresariais da FGV – Fundação
Getúlio Vargas, dos funcionários da biblioteca
da UCAM, pelo apoio na preparação deste
trabalho e, especialmente a professora Ana
Cristina, cuja dedicação e o apoio não tiveram
limites.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho de pesquisa a todos
aqueles que estão envolvidos nos ideais da
educação.
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RESUMO
Os problemas observados, em 2002, em grandes empresas
americanas no que tange a fraudes contábeis, com reflexos imediatos sobre o valor
da empresa, têm levado ao meio acadêmico e empresarial uma série de dúvidas
sobre a validade do conceito de maximização do valor da empresa como objetivo a
ser perseguido pelos administradores. Com relação à auditoria interna, esta constitui
um instrumento de fundamental importância na organização de uma empresa, pois
além de fornecer informações importantes sobre o andamento operacional da
empresa, também auxilia a administração quando sugere modificações nos métodos
e procedimentos da empresa, de modo que impactuem, de forma positiva nos seus
resultados. Nesse contexto, a pesquisa tem a finalidade de analisar a importância da
auditoria interna no combate às fraudes contábeis, demonstrar que a auditoria
interna visa controlar a eficiência e a eficácia dos controles internos do órgão ou da
entidade na busca da apuração de fraudes; determinar as espécies de fraudes; e,
apurar a responsabilidade civil do auditor quando da descoberta de fraudes
contábeis.
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METODOLOGIA
A metodologia utilizada nesta pesquisa quanto aos meios trata-se de
uma pesquisa bibliográfica, posto que será elaborada a partir de material já
publicado; quanto aos fins, é uma pesquisa explicativa e descritiva, pois tem a
finalidade de descrever, a partir dos dados fornecidos pela literatura pesquisada
sobre o assunto, as principais formas de ocorrência da fraude contábil e a
importância da Auditoria como uma forma de auxílio à Administração na descoberta
da mesma. Utilizou-se como fonte de dados, entre outros, as obras dos principais
contabilistas do país, como por exemplo: Antonio Loureiro Gil, Maria Goreth Miranda
Almeida Paula e Antonio Lopes de Sá, entre outros. A análise dos dados coletados
foi realizada a partir de uma metodologia descritiva, procurando descrever através
do embasamento teórico pesquisado, o que vem a ser a auditoria, como ocorrem as
fraudes contábeis, e que papel a auditoria desempenha na identificação dessas
fraudes e como esta pode ser tornar uma ferramenta de fiscalização para a
administração.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................. 08 CAPÍTULO I AUDITORIA INTERNA: CONCEITOS E OBJETIVOS.................................... 11 CAPÍTULO II DAS FRAUDES CONTÁBEIS......................................................................... 17 CAPÍTULO III AUDITORIA INTERNA E FRAUDES NA CONTABILIDADE........................... 27 CONCLUSÃO ................................................................................................. 32 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 34 ÍNDICE ............................................................................................................ 36 FOLHA DE AVALIAÇÃO ................................................................................ 37 ANEXOS ......................................................................................................... 38
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INTRODUÇÃO
Desde as origens da economia (alguns milhares de anos atrás) existem
no mundo dos investimentos e dos negócios vários tipos de fraudes, armadilhas e
sistemas para roubar o investidor. Obviamente com o progresso tecnológico e a
evolução do mundo também estes sistemas evoluíram.
Fraude em uma empresa é qualquer ato ilícito voluntário, segundo a
legislação, provocado por funcionários ou terceiros agindo de forma isolada ou em
conjunto para obter alguma vantagem. Nesse aspecto, todas as organizações estão
vulneráveis, porque o problema está no indivíduo e o avanço tecnológico vem
contribuindo cada vez mais para facilitar a ação do fraudador.
Nos últimos anos, as fraudes na contabilidade da WorldCom e da
Enron, por afetarem o mercado mundial, apresentam, de certa forma, lado positivo:
passou-se a discutir a importância da contabilidade das empresas para a economia.
Sobretudo, ganhou foro mais amplo a discussão sobre um assunto que
os contadores brasileiros já há tempos discutem: a contabilidade deve seguir apenas
os princípios técnicos ditados pelas Ciências Contábeis ou deixar-se influenciar por
orientações políticas e interesses econômicos? O uso das técnicas contábeis há
muito tempo deixou de estar a serviço da sociedade para atender aos interesses
econômicos das grandes empresas.
É indiscutível que as cinco maiores empresas de contabilidade norte-
americanas (a PwC, a Deloitte Touche Tohmatsu, a KPMG, a Ernst & Young e a
Andersen), por assessorarem e auditarem as grandes empresas multinacionais,
influem órgãos governamentais e privados que elaboram e consolidam as normas
contábeis de aplicação obrigatória às empresas a aprovar procedimentos que
propiciam a "flexibilização" (maquiagem) nos balanços.
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Nesse contexto, portanto, transferir toda a responsabilidade pela
maquiagem feita nas informações contábeis das empresas ao profissional contábil é
uma simplificação que em nada contribui para a solução do problema. A
possibilidade de fraude é ampliada por uma legislação um tanto quanto frágil.
A justiça é muito benevolente nesse sentido, fazendo com que poucos
fraudadores cheguem à prisão. Nem mesmo no código da Consolidação das Leis
Trabalhistas a fraude está prevista, o que deixa a empresa numa posição
desfavorável diante dessa situação. Embora essa impunidade faça com que esse
procedimento ilícito se propague pelo País, a fraude existe no mundo todo, uma vez
que os especialistas asseguram que ela surge de um conflito triangular, que está na
mente de qualquer pessoa, formada pela oportunidade, pela necessidade e pela
racionalidade.
A partir dessas concepções, o presente estudo pretende responder às
seguintes questões sobre o problema das fraudes contábeis: Quais as formas de
ocorrência de fraudes contábeis dentro de uma organização? Qual o papel do
auditor interno na apuração das fraudes contábeis? Em que implica o seu silêncio?
Até que ponto a Auditoria Interna torna-se uma ferramenta de suma importância para
a Administração no que diz respeito à descoberta das fraudes contábeis?
Conforme esses questionamentos foram traçados os seguintes
objetivos: analisar a importância da auditoria interna no combate às fraudes
contábeis; examinar a integridade, adequação e eficácia dos controles internos e das
informações físicas, contábeis, financeiras e operacionais de uma empresa;
demonstrar que a auditoria interna visa controlar a eficiência e a eficácia dos
controles internos do órgão ou da entidade na busca da apuração de fraudes;
determinar as espécies de fraudes; apurar a responsabilidade civil do auditor quando
da descoberta de fraudes contábeis.
Esta abordagem torna-se relevante por ser a contabilidade o espelho
da situação financeira e patrimonial de qualquer entidade. Nas empresas serve para
atestar a veracidade das suas contas. Todos sabem que as grandes companhias
comercializam ações no mercado, através das bolsas de valores. O valor de cada
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uma é mais ou menos um extrato das suas contas, lucros, patrimônio etc. Contudo,
quando “manipulada”, a Contabilidade pode não dizer nada ou, o que é pior, dizer
coisa diversa da situação fática. Determinada empresa em sérios apuros, com riscos
de concordata ou até falência, poderá exibir saudáveis indicadores de solidez e
lucratividade. Os casos de fraudes na contabilidade de Cias americanas, que vieram
a tona em 2002, maquiavam seus balanços, transformando despesas em aplicações
em ativos inexistentes, pode colocar em xeque todo o sistema capitalista.
Empresas como Enron, Xerox e WorldCom, esta última controladora da
Embratel, fraudaram ou apresentaram erros crassos na sua contabilidade,
mostrando aos investidores e ao mundo, situação bem diferente da realidade, muito
mais amarga, que aponta para o caminho da insolvência.
Daí, a importância da utilização da Auditoria como uma ferramenta de
suma importância para a Administração no que diz respeito à descoberta das
fraudes contábeis, posto que o erro ou a fraude que distorcem a realidade das
finanças da empresa pode levá-la a um caminho sem volta, da desconfiança do
investidor, do fornecedor, do empregado e até do cliente.
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CAPÍTULO I
AUDITORIA INTERNA: CONCEITOS E OBJETIVOS
A auditoria interna foi criada e desenvolvida em conseqüência do
reconhecimento dos administradores em geral quando aos benefícios de um bom
controle interno diante da crescente complexidade dos sistemas operacionais das
grandes empresas. A auditoria interna seria, portanto, uma forma de controle sobre
todos os outros controles internos de uma empresa.
As companhias de estrada de ferro foram as primeiras organizações a
empregar auditores internos, com a denominação de “auditores viajantes”. Sua
função principal era visitar os postos de venda de passagens nas estações e
determinar se todos os bilhetes foram devidamente controlados e contabilizados.
Como veremos mais adiante, a atividade de auditoria interna desenvolveu-se
consideravelmente a partir desse objetivo inicial.
Em 1941 apareceu o primeiro tratado formal quanto ás funções da
auditoria interna e também naquele ano formou-se uma organização nacional, nos
Estados Unidos - O Instituto de Auditores Internos. Somente em 1956 aquele
Instituto emitiu a declaração que veio definir a extensão das funções e
responsabilidades da auditoria interna, segundo um modelo adequado ao
desenvolvimento técnico-administrativo atual.
O objetivo geral da auditoria interna consiste em prestar assistência a
todos os membros da administração no cumprimento eficiente de suas
responsabilidades, proporcionando-lhes análises objetivas, avaliações,
recomendações e comentários pertinentes às atividades examinadas. A consecução
desse objetivo de prestação de serviço à administração deve envolver atividade tais
como:
- Revisar e avaliar os controles contábeis, financeiros e operacionais quanto a sua
solidez, adequabilidade e aplicabilidade;
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- Certificar-se quanto à extensão com que as políticas, planos e procedimentos
estabelecidos são cumpridos;
- Certificar-se quanto ao grau com que os ativos da organização são controlados e
salvaguardados contra perdas de qualquer espécie;
- Certificar-se quanto a fidedignidade dos dados contábeis e de outras informações
geradas dentro da organização;
- Avaliar a qualidade do desempenho funcional na execução das responsabilidades
atribuídas.
Verifica-se, assim, que a auditoria é muito importante ao mercado de
capitais e a todos os usuários das demonstrações contábeis auditadas para suportar
determinadas transações e decisões, pela confiança que gera à todo processo,
quanto a qualidade das informações prestadas.
1.1 Conceituação
Com a evolução da auditoria, a mesma deixou de servir apenas para
comprovar a exatidão dos registros contábeis de uma entidade. Hoje, a auditoria
representa uma crítica muito mais profunda e sistemática de todos os fatos e
registros, contábeis ou não, que fazem parte do dia-a-dia de uma instituição, a fim de
fornecer a seus usuários uma visão imparcial, baseada em princípios legais que
facilitem a tomada de decisões.
SÁ (1999, p. 22) conceitua auditoria da seguinte forma: “Auditoria é a
técnica contábil do sistemático exame dos registros, visando apresentar conclusões,
críticas e opiniões sobre as situações patrimoniais e aquelas dos resultados, quer
formadas, quer em processo de formação.”
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Grande parte dos administradores vê a auditoria, de um ponto de vista
generalista, como um instrumento de proteção da empresa, que tem por finalidade a
prevenção e detecção de atos fraudulentos evitando, assim, que a empresa venha a
adquirir custos fiscais por causa dessas fraudes.
MIRANDA (1999, p. 38) entende que “a identificação de erros e desvios
seria, portanto, uma conseqüência de uma ação mais ampla e não um objetivo em si
mesmo.”
FRANCO e MARRA (1982, p. 20) definem auditoria da seguinte forma:
“A técnica contábil que – através de procedimentos específicos que lhes são peculiares, aplicados no exame de registros e documentos, inspeções, e na obtenção de informações e confirmações, relacionados com o controle do patrimônio de uma entidade – objetiva obter elementos de convicção que permitam julgar se os registros contábeis foram efetuados de acordo com os princípios de Contabilidade geralmente aceitos e se as demonstrações contábeis deles decorrentes refletem adequadamente a situação econômico-financeira do patrimônio, os resultados do período administrativo examinados e as demais situações nelas demonstradas”.
Para ATTIE (1998, p. 24), a “Auditoria Interna constitui o conjunto de
procedimentos técnicos que tem por objetivo examinar a integridade, adequação e
eficácia dos controles internos e das informações físicas, contábeis, financeiras e
operacionais do órgão ou entidade.”
O controle interno faz parte das atividades rotineiras da organização. A
auditoria interna até pode fazer parte das atividades rotineiras da organização.
Contudo, geralmente é centralizada num órgão à parte e atua de forma sistêmica e
autônoma.
Para CRUZ, (1997, p. 35),
“a Auditoria Interna se constitui em uma atividade de extrema responsabilidade, que exige dos auditores conhecimentos multidisciplinares, principalmente conhecimentos Contábeis e Jurídicos, necessários para a realização dos trabalhos de auditoria e elaboração dos Relatórios e Decisões de Auditoria.”
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De acordo com o CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE – CFC,
através de sua Resolução 780/95:
“A auditoria interna constitui o conjunto de procedimentos técnicos que tem por objetivo examinar a integridade, adequação e eficiência dos controles internos e das informações físicas, contábeis, financeiras e operacionais da Entidade.”
MIRANDA, (1999, p. 32) define auditoria interna como sendo:
“...uma atividade de avaliação independente, que atuando em pareceria com administradores e especialistas, deverá avaliar a eficiência a eficiência dos sistemas de controle de toda a entidade, agindo proativamente, zelando pela observância às políticas traçadas e provocando melhorias, fornecendo subsídios aos proprietários da missão da entidade.”
Atualmente, a auditoria apresenta-se extremamente evoluída
prestando-se, por exemplo, através da análise dos registros patrimoniais de uma
empresa, a detectar falhas de gestão, dinamizando setores administrativos e
produtivos e, conseqüentemente, gerando maior satisfação entre seus clientes.
1.2 Fundamentos de auditoria interna
Saber sobre riscos, desvios e relação causal do processo decisório é
preocupação atual de gestores comprometidos com os resultados. Por intermédio da
pessoa do auditor interno, segundo TEIXEIRA (1989), a administração pode
examinar e acompanhar todos os registros e operações da Organização como um
todo, ou Departamento/Setor em particular, de forma continuada.
A auditoria interna, portanto, se constitui em importante instrumento
auxiliar da Gestão de empreendimentos públicos e privados, procurando mantê-la
bem informada a respeito das suas múltiplas atividades, mediante a elaboração e
manutenção de sistemas de informações gerenciais segmentados em seus
processos constitutivos que na forma como são desenvolvidos, atribuem-lhe
personalidade própria e característica.
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Segundo ATKINSON et al (2000, p. 47), as organizações podem ser
entendidas em seus sentidos mais abrangentes mediante a utilização de
mecanismos que propiciem o auto-conhecimento:
“A empresa não é uma máquina, mas um organismo vivo e, bem à semelhança de uma pessoa, pode ter um senso coletivo de identidade e propósito fundamental. É este o equivalente organizacional do auto-conhecimento – um entendimento compartilhado do que a empresa representa, para onde ela está rumando, em que tipo de mundo ela quer viver, e, o que é mais importante, como ela tenciona tornar este mundo uma realidade.”
Com este entendimento, a auditoria se postula um instrumento capaz
de propiciar o auto-conhecimento da organização, em suas particularidades
operacionais que ao contrário do que possa ser esperado, a auditoria jamais deverá
se confundir com atividades de fiscalização ou se constituir em instrumentos de
controles.
A auditoria interna se reveste de extrema utilidade para o processo
decisório de instituições públicas que, segundo ALMEIDA (1997), experimentam
transições turbulentas, acompanhando a ordem mundial, no contexto social, na base
técnica de elaboração de produtos e prestação de serviços.
A auditoria interna deve, portanto, se fazer presente no âmbito da
gestão municipal, municiando gerentes e tomadores de decisões com informações
úteis sobre a gestão, processos de transformação e prestação de serviços.
Com este entendimento, torna-se pertinente a percepção de que o
processo decisório de instituições públicas carece de mecanismos auxiliares de
gestão, em cujos trabalhos a auditoria contempla, em conformidade às suas funções
precípuas.
1.3 Funções da auditoria interna
A Auditoria Interna possui como propósito operacional auxiliar todos os
membros da Gestão no desempenho de suas funções e responsabilidades, de forma
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tal que os oriente para os seus êxitos gerenciais, atuando nos distintos e diversos
setores da organização propiciando-lhes uma visão completa e abrangente sobre as
diversas operações que possam estar submetidas a exames.
Sendo assim, a Auditoria Interna constitui-se em parte integrante das
estruturas organizacionais, possuindo funções específicas e independentes em cada
setor distinto, abrangendo, segundo TEIXEIRA (1995):
1. exame, comprovação, análise, avaliação, recomendações, assessoria e
informações relativas à estrutura da organização;
2. análise dos fluxos operacionais, sistemas de processamento, registro e
informações de dados contábeis, financeiros e operacionais;
3. apreciação dos planos, orçamentos, diretrizes, normas, metas, objetivos e
regulamentos da empresa.
A auditoria interna deve, portanto, possuir autoridade necessária para
revisar todos os registros e documentos da empresa bem como avaliar as suas
políticas, planos, sistemas, procedimentos e técnicas.
Desta forma, as funções da auditoria interna devem estar voltadas para
sugerir aos gestores, soluções para os problemas detectados, ao invés de somente
informar sobre a existência destes.
No tocante às suas responsabilidades, deve a auditoria gozar de
independência em relação às atividades que examina, de forma a possibilitar o
desempenho das suas funções de maneira livre e objetivamente.
Deve tornar-se responsável pela exatidão das análises, apreciações,
avaliações e informações que transmitir à gestão sobre as atividades então
examinadas como também pelas declarações de opiniões que expressar sobre o
controle interno e o grau de exatidão, adequação e eficiência do desempenho da
Empresa, nas áreas especificamente por ela examinadas.
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CAPÍTULO II
DAS FRAUDES CONTÁBEIS
Segundo SÁ (2002), o termo fraude refere-se a ato intencional de
omissão ou manipulação de transações, adulteração de documentos, registros e
demonstrações contábeis. A fraude pode ser caracterizada por: manipulação,
falsificação ou alteração de registros ou documentos, de modo a modificar os
registros de ativos, passivos e resultados; apropriação indébita de ativos; supressão
ou omissão de transações nos registros contábeis; registro de transações sem
comprovação; e aplicação de práticas contábeis indevidas.
A responsabilidade primeira na prevenção e identificação de fraudes
e/ou erros é da administração da entidade, mediante a manutenção de adequado
sistema de controle interno, que, entretanto, não elimina o risco de sua ocorrência.
2.1 Espécies de fraudes
As fraudes podem ser divididas em duas espécies, a saber:
a) Desfalques: que envolvem a malversação de dinheiro ou bens e que são
normalmente dissimulados através da falsificação dos registros.
b) Falsificação das contas e manipulação fraudulenta: que são feitas para obter
benefícios diferentes daqueles relativos aos desfalques, por exemplo, a obtenção de
empréstimos bancários com base na apresentação de demonstrações contábeis
falsas.
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2.2 Fraudes em contabilidade
Antes de adentrarmos às principais ocorrências de fraudes em
Contabilidades faz-se relevante apresentar alguns conceitos contábeis, a saber:
a) Ativo – representa a parte positiva do Patrimônio, formado pelos bens e direitos
da empresa.
b) Passivo – representa parte negativa do Patrimônio, formado pelas obrigações e
dívidas da empresa.
c) Patrimônio Líquido – representa a diferença entre o Ativo e o Passivo da entidade.
A seguir, tem-se um breve comentário das principais ocorrências de
fraudes, e como estas podem se manifestar, na Contabilidade.
2.2.1 Capital circulante e fraude
O maior índice de fraudes ocorre nos elementos do capital circulante
da empresa, ou seja: dinheiro, estoques e créditos a receber. Geralmente, a fraude
de Caixa fica dificultada quando a empresa só paga por cheques nominativos aos
beneficiários e deposita tudo o que recebe, integralmente. Dificulta, mas, não
impede a fraude.
Para cobrir saldos de caixa, o fraudador pode emitir um cheque
pré-datado de terceiro (falso) ou mesmo alegar que o numerário foi entregue a
funcionário para ocorrer o pagamento. A maioria das fraudes passa pelo Caixa da
empresa.
Entradas "a menor" e saídas "a maior" são algumas das fraudes
comuns que mascaram saldos de caixas. As "saídas fictícias de caixa", traduzidas
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por pagamentos que não correspondem à realidade, podem ser muitas, mas entre
elas, segundo SÁ (2002, p. 218-219) encontram-se:
“a) funcionários "fantasmas" ou não existentes, em folha de pagamento da empresa; b) compras com "notas frias" (existe a nota, mas a mercadoria não entrou); c) compras com "notas calçadas", ou seja, com preço falso de compra, a maior que o realmente pago; d) notas de serviços pagas sem a correspondente prestação do serviço e liquida da por um valor simbólico com o emitente; e) duplo lançamento em Caixa de um mesmo pagamento; f) notas fiscais adulteradas para maior valor; g) comissões pagas sobre vendas não realizadas; h) descontos oferecidos ao cliente, mas só ficticiamente, ou seja, o cliente pagou pelo valor real, mas atribuiu-se um desconto que, de fato, não existiu; i) notas de vendas adulteradas, considerando valor a menor que o efetivamente recebido; j) notas de vendas "calçadas", ou seja, ao cliente se deu o valor que ele pagou (la via) e na segunda via se colocou um valor a menor, para dar menor entrada no Caixa; k) guias de recolhimento de tributos com falsificação das mesmas (documento não autêntico); l) juros pagos a fornecedores, bem como correção monetária, simulando pagamento atrasado, que realmente foi feito em dia; m) pagamento de multa contratual inexistente; n) pagamento de reparos e conservação obtidos por notas de favor de oficinas mecânicas; o) pagamento de combustíveis feito com notas de favor de postos de gasolina; p) registros de saída de Caixa com simples comprovante interno; q) registros de saída de caixa mediante Notas de “adiantamento por conta de pagamentos”, sem, todavia, comprovação dos referidos pagamentos; r) saques de sócios por conta de lucros, quando os lucros não estão apurados ou não existem; s) aquisição de títulos de participação em sociedades já em quebra, por valor notoriamente superior à realidade (registra-se pelo valor nominal e paga-se pelo real, com enorme deságio); t) aquisição de bens por valores fictícios, registrados por valor maior e pagos por valor menor; u) venda de bens por valor muito maior, mas registrados por valor mais baixo; v) compra de material usado como se fosse novo, pagando-se teoricamente um valor maior e recebendo bens por valor muito inferior; x) omissão de receitas extraordinárias; w) simulação de pagamento de indenizações; y) baixa de bens do ativo, vendidos como sucata, mas em verdade negociados pelo valor real; z) simulação de alcances de Caixa, com queixas simuladas.”
São muitas as fraudes que se praticam e que passam pelo Caixa. A
forma como se realizam varia de acordo com a criatividade do fraudador. Assim, por
exemplo, umas são de grosseira forma e outras altamente sofisticadas. Detectar tais
anomalias não é difícil a um bom profissional.
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No que tange a fraudes nos estoques, também, não menos variadas se
apresentam:
“a)sub-avaliações traduzidas por alterações querem quantidades, querem valores; b) sub e superfaturamentos; c) adulterações de qualidades; d) consideração como estoque válido, mas, na realidade, de bens obsoletos; e) consideração de bens usados como se novos fossem; f) controles de entradas de estoques adulterados; g) controles de saídas de estoques adulterados; h) substituição de materiais e mercadorias; i) falsificação de notas de transferências; j) cálculos adulterados na computação de entradas; l) cálculos adulterados na computação de saídas; m) notas de entradas por quantidades inferiores às reais (valor certo e quantidade de errada); n) notas de entradas por valores certos ou reais mas, por quantidades erradas; n) notas de saída por valores certos e quantidades erradas; p) notas de saída por quantidades certas e valores errados; q) subtração de mercadorias com adulteração de saldos; r) alteração de qualidades; s) vendas de mercadorias com o preço muito inferior ao real para beneficiar pessoa ligada; t) compras de mercadorias por valor notoriamente superior ao de mercado; u) baixas de mercadorias como obsoletas quando na realidade estavam sem qualquer defeito de qualidade; v) aplicação falsa de materiais etc.” (SÁ, 2002, p. 218-219)
As fraudes em estoques são deveras variadas e criativas e podem
operar-se como de empregados ou do proprietário. Não menores são os casos de
fraudes em duplicatas a receber. Entre elas destacam-se, principalmente:
“a) recebimento da duplicata sem a baixa (não se dá a entrada do numerário e o título continua como se fosse a receber); b) emissão de duplicata sem venda real; c) emissão de duplicata por valor notoriamente inferior ao da venda; d) emissão de duplicata por valor notoriamente superior ao da venda; e) novação de duplicata sem a realidade da operação; f) endosso falso; g) duplicata vencida há muito tempo e considerada como a receber etc.” (SÁ, 2002, p. 220)
As fraudes nas duplicatas a receber são semelhantes às que se podem
realizar em “créditos diversos”, ou seja, naqueles não oriundos de vendas. Muitas
manipulações podem ser realizadas para mascarar a situação de caixas, créditos e
estoques.
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As fraudes mais freqüentes e fáceis de serem realizadas são as que se
operam no ativo circulante. Por esta razão, também, para o perito, a matéria de
exame de fraudes que mais interessa é a que se refere ao Ativo Circulante, embora
não seja ele a única fonte de tais anomalias (também no ativo fixo e comum a
realização de fraudes, notadamente em casos pré-falimentares).
2.2.2 Ativo permanente e fraude
As imobilizações técnicas e aquelas de rendimento também são fonte
de fraudes. Muitos interesses podem existir "reduzir" ou em "aumentar" os valores
dessa parte do capital quer por efeitos qualitativos quer quantitativos. Entres as
fraudes mais comuns, na "área das imobilizações técnicas ou de produção",
acham-se:
“a) aquisição fictícia de bens; b) produção de bens pela própria empresa e com os investimentos registrados como "despesas" do exercício, sem débito às contas do imobilizado; c) venda ruinosa de bens para produzir recursos, com o prejuízo de credores; d) depreciações exageradas; e) reparações não realizadas; f) reformas registradas como "despesas"; g) trocas de bens, com recebimento de elementos de menor qualidade e dinheiro sem entrada no caixa; h) venda de parte de um conjunto de bens de produção, sem registro e sem baixa; i) venda ruinosa de imóveis a pessoas ligadas; j) demolição de prédios sem baixa no valor patrimonial do mesmo; l) destruição de bem em acidente e sem a baixa respectiva; m) bens obsoletos que constam como se de plena utilidade fossem etc.” (SÁ, 2002, p. 221)
Embora menos freqüentes, as fraudes podem ocorrer no
"Permanente".Também causam preocupações as relações "intersocietárias"
(Imobilizações de Renda), em que um sem-número de fraudes, com freqüência,
ocorre. Em geral, é deveras comum, entre empresas do mesmo grupo, operarem-se
sub-avaliações, superavaliações, movimentos falsos de créditos, vendas, débitos,
cumpras etc. Uma empresa, de um grupo, pode ser utilizada pela controladora para
uma serie fraudes a terceiros. No exame da fraude, pois, do Ativo Permanente, tanto
22
as imobilizações técnicas quanto as demais devem ser examinadas com o máximo
cuidado.
Embora a preferência, no caso de fraudes de funcionários, seja a de
fraude através do ativo circulante, as fraudes de empresários, contra terceiros,
podem, conforme o caso, ter preferência pelo Ativo Permanente.
2.2.3 Passivo de dívidas e fraudes
O empresário que necessita de crédito pode praticar a fraude de
"esconder" ou "mascarar" dívidas.O empresário que está preparando a empresa
para a falência pode ter interesse dívidas fictícias.Geralmente, as dívidas que se
escondem são substituídas por "longo prazo" (quando são a curto prazo), ou não
são registradas.
As dívidas que se "inventam" são resultantes de contratos fictícios,
notas frias de fornecedores, notas promissórias, empréstimos de sócios etc. O
mascaramento de dívidas vem sempre acompanhado de mascaramento de valores
nas despesas ou em ativos inexistentes.
O passivo de obrigações é fraudado mais em casos de concordatas e
falências, quase sempre, mas também quando se deseja prejudicar partilha de
herdeiros. Para fraudar os registros, fraudam-se, também, os títulos de crédito,
criando-se, "fantasmas credores".
Na quase totalidade dos casos, falsificam-se, pois, cambiais, mas
também utilizam-se "créditos de sócios", e de "associados", em "suprimentos
fantasmas". Em geral, as fraudes de Passivo são especificamente volvidas ao
prejuízo de credores, que não são só fornecedores, bancos e financiadores, mas
também sócios e associados.
As obrigações, como fonte, representando o "capital de terceiros", têm
prioridade no resgate, quando das liquidações, concordatas, falência, daí havendo o
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interesse "criá-las", para que se promova "desvio de dinheiro"; ou seja, busca-se
com a fraude "reduzir a capacidade de recebimento" dos demais credores.
2.2.4 Patrimônio Líquido e fraudes
Também no patrimônio líquido podem ocorrer fraudes.Em geral,
embora não freqüentemente, defluem de falsas constituições de capital, ou melhor,
de suas integralizações.
Alguns capitais se formam apenas "nominalmente", ou seja, por
exemplo, no contrato social consta que a integralização poderá ser com
"mercadorias", "títulos de crédito", ou outros bens - fato absolutamente legal. Pode
ocorrer, por exemplo, a integralização com "notas promissórias" a receber, de
pessoas não existentes, ou empresas "associadas" (que nunca liquidam o título); tal
prática, contabilmente, faz integralizado um capital, mas sem corresponder à entrada
efetiva de bens no patrimônio da empresa, representando uma falsa forma de
constituição de capital. Esta é uma das razões pelas quais os Planos Oficiais de
Contas, na Comunidade Européia, exigem que as Associadas ou empresas ligadas
tenham "Contas Próprias" e evidentes.
Reservas falsas também podem ocorrer, quer por reavaliações
fantasiosas, quer por inserção falsa de valores no Ativo; também pode ocorrer o
caso de "reservas ocultas" derivadas tanto de sub-avaliações do Ativo como de
superavaliações do Passivo. Estas, embora não evidentes, não deixam de ser
contribuições à falsidade dos balanços. Podem, ainda, alterar o valor de patrimônio
líquido falsas produções de lucros (quer constem como acumulados, quer tenham
sido incorporados ao capital). Tal fraude, por onerosa (resulta em pagamento de
tributos), nem sempre é preferida, mas pode ocorrer para "compensar perdas" e,
nesse caso, não têm ônus.
Em hipóteses mais raras, mas não de todo inviáveis, estão as
decorrentes de alterações processadas nas correções monetárias.
24
2.2.5 Fraudes nos Custos
Os custos são fontes de fraudes, quer para alterar os lucros, quer para
evitar cargas tributárias (também alterando os lucros). Também se alteram custos
para mascarar “preços”. Fraudes, cometidas pelos empresários, quase sempre,
visam a interesses, pois em pagar menos imposto de renda, iludir credores (por
redução de custos), iludir controles de preços governamentais (por majoração de
valores dos custos) etc.
Para fraudar o valor do custo, frauda-se o valor dos seus componentes,
ou seja, matérias, mão-de-obra, gastos indiretos (energia, transportes, conservação,
manutenção etc.).
As fraudes em matérias (matérias-primas, matérias auxiliares, matérias
de consumo, ingredientes) processam-se por várias maneiras, como:
“a) aquisição mediante notas frias (existe a nota, mas não entra o material); b) aquisição mediante "nota calçada" (o valor da nota é diferente daquele que é pago ao fornecedor); c) baixa de matérias sem que sejam empregadas produção; d) consideração de matérias como deterioradas ou não eficazes para a produção (sem que isto tenha ocorrido); e) incidência de altos fretes no transporte (sem que tenham ocorrido pelo valor que é considerado); f) consideração de beneficiamentos sobre matérias sem que tais não tenham ocorrido e que nem sejam necessários; g) consideração de comissões sobre compras que não foram pagas nem são devidas; h) inclusão de armazenagens ou ensilamentos que não foram feitos etc.” (SÁ, 2002, p. 224)
A constatação e a investigação da fraude nos custos demandam não
só a análise documental, mas também, algumas vezes, a observação do "processo
de produção". Isto porque é através do exame direto que se consegue concluir sobre
as falsidades.
Comum, também, é a inserção no custo dos produtos de valores de
"pesquisa" e royalties; a pesquisa é, ao se inserir no custo uma parcela de
amortização do diferimento que foi gasto para obter-se uma fórmula vitoriosa (por
25
exemplo); o royaltie é o que se paga para utilizar o que terceiros concederam como
uso. Muitos custos são elevados a partir de amortizações falsas e royalties
fantasiosos.
Também, como custos indiretos, incluem-se algumas vezes gastos
realizados em “formas e modelos”, ou seja, coloca-se como "custo" o que na
realidade tem sua utilidade perdurada e que deveria ser imobilização. Também
ocorrem, como fraudes nos custos, embora em casos não muito comuns,
amortizações indevidas de valores de patentes de invenção. As fraudes, nos custos,
pois, não são apenas as que passam pelo "Caixa", mas também as que se realizam
através de "ajustes de valores".
2.2.6 Fraudes nas Despesas
As despesas possuem um campo vasto para a prática da fraude, pois
abrangem as administrativas, comerciais, financeiras, tributárias e as extraordinárias.
Podem, geralmente, resultar de "pagamentos", mas também de ajustes. Em geral,
nos casos empresariais, podem, até, estar documentadas. Devem, por isso,
merecer análise não só "documentais", formais, mas, especialmente, de suas
justificativas. Conforme o "interesse", pratica-se a fraude; se o interesse é lesar
sócios, herdeiros, credores, pode-se simular uma "má situação", produtora de
perdas, quando, na realidade, o dinheiro escoa para a mão dos fraudadores. Para
tanto é preciso “Aumentar Despesa”. O aumento tanto pode ser suprido por
documentos especiais falsificados, como pode defluir de "aproveitamento indevido
da situação".
Podem simular grandes contratos de publicidade, gerando até dívidas
para sustentá-los, bem como empregar pessoal da família, ou ligado, com altíssimos
salários e privilégios.
Dentre os muitos casos de fraudes em despesas podem, por exemplo,
ocorrer:
26
“a) aquisição de notas frias de bens e serviços (existe só a nota, mas nada foi suprido); b) Pagamento de salários a pessoas inexistentes, mas com plena cobertura de registros falsos de pessoal; c) contratos de publicidade, organização, pesquisa de mercado etc. sem a produção dos serviços; d) gastos com reparações de veículos com notas de serviços frias (existe a nota, mas o serviço não foi prestado); e) simulação de gastos de recepção ou relações públicas (existem as notas de despesas, mas sem que tivessem correspondido a reais gastos operados); f) consideração de gastos pessoais de sócios dirigentes como se fossem da empresa; g) uso da empresa para cobrir gastos de dirigentes (em veículos, viagens, ligações telefônicas etc.); h) registros, em dobro, de gastos (lançamento da mesma nota em datas diferentes). i) pagamentos de comissões sem a ocorrência do fato, ou seja, sem que tivesse havido interveniência real de vendedor etc.” (SÁ, 2002, p. 226)
Em geral, quase a maior parte das fraudes de Caixa aplicam-se às
fraudes nas despesas. As intenções dos fraudadores são sempre as mesmas, ou
seja, defenderem ilicitamente o interesse próprio, sempre com a lesão do direito de
terceiros. As fraudes nas despesas em sua quase totalidade são as mesmas que se
processam no caixa, porque se baseiam em interesse de extravio de dinheiro.
Também na área das despesas financeiras se promovem simulações,
notadamente com a manobra de títulos e o uso faccioso de descontos e simulações
de perdas. As manobras de títulos como ações de outras empresas promovem-se
através de aquisições por valores maiores, mas resultando em pagamentos
menores; assim, por exemplo, adquirem-se $100.00 de ações de uma companhia,
cujo valor nominal da ação é $ 500.000, mas eles são registrados por $ 500.00; o
deságio, no caso, não registrado, de $ 400.000 representa a fraude praticada (SÁ,
2002, p. 226).
O oposto também se pratica, ou seja, vendas a maior são registradas a
menor, tudo dependendo do interesse que a fraude representa em cada caso. A
fraude pode ser preparada, antecipadamente, fazendo-se provisões para perdas
sobre títulos, que na realidade não se justificam. Muitos são também os casos de
descontos fictícios, ou seja, não oferecidos, mas registrados.
27
CAPÍTULO III
AUDITORIA INTERNA E FRAUDES NA CONTABILIDADE
Muito se discute sobre o papel da auditoria, ou seja, seu campo de
atuação, responsabilidades, limites e outros. De acordo com o IFAC (1997, p. 23): "É
expressar uma opinião sobre se as demonstrações contábeis foram preparadas, em
todos os aspectos relevantes, de acordo com uma estrutura conceitual identificada
para relatórios contábeis."
O auditor deve conduzir seus trabalhos de acordo com as normas
internacionais ou locais de auditoria, com as leis e regulamentações. Essas normas
contêm os princípios básicos e procedimentos essenciais, em conjunto com as
respectivas diretrizes.
Esses princípios, ditados pelo Código de Ética dos Contadores que
atuam como Profissionais Liberais, são: independência; integridade; objetividade;
competência e devido zelo profissional; confidencialidade; comportamento
profissional; e normas técnicas.
Dessa forma, pode-se afirmar que as demonstrações contábeis,
quando auditadas, apresentam um grau de comparabilidade maior em relação à
observância dos procedimentos técnicos dos princípios contábeis geralmente
aceitos.
Embora o parecer de auditoria aumente a credibilidade das
demonstrações contábeis, o usuário dessas demonstrações não pode presumir que
o parecer seja uma maneira de viabilidade futura segura da empresa e nem da
eficiência e eficácia de que a administração conduziu os negócios da empresa
durante o período coberto pelo parecer. E a responsabilidade de preparar e
apresentar as demonstrações contábeis cabe à administração da empresa, não o
isentando de suas responsabilidades.
28
3.1 Controle interno e fraude
A administração de uma entidade não pode ter plena certeza de que
pelo simples fato de possuir um sistema de controle interno bem estruturado, estará
completamente livre da ocorrência de fraudes ou irregularidades.
De acordo com o que escreve ATTIE (1998, p. 215): “Bons controles
internos previnem contra a fraude e minimizam os riscos de erros e irregularidades,
porque, por si só, não bastam para evita-los.”
Um sistema de controle interno eficiente deve ser capaz de detectar
tanto irregularidades intencionais, como erros cometidos sem intenção alguma. Tais
erros são:
- de interpretação, por aplicação errada dos princípios contábeis quanto da
contabilização das contas;
- da omissão, pela aplicação dos procedimentos estabelecidos em normas;
- pela má aplicação, seja de normas ou procedimentos.
Dentre os vários tipos de fraude, já conhecidos, alguns merecem ser
explanados:
- Não encobertas: neste tipo de fraude, o autor, se vale da fraqueza do controle
interno, tanto que não se dá ao trabalho de encobri-la. Um exemplo é a retirada do
dinheiro do caixa sem que seja feita a contabilização.
- Encobertas temporariamente: não alteram os registros contábeis. O dinheiro tirado
sem registro, em um momento, será compensado com o registro de outras
cobranças.
29
- Encobertas permanentemente: neste caso o autor da fraude altera os registros
contábeis a fim de encobrir seus atos ilícitos.
3.2 Da descoberta de fraude
Quando o exame feito pelo auditor independente, com a finalidade de
emitir parecer sobre demonstrações financeiras, revela circunstâncias peculiares que
o fazem suspeitar da possibilidade de existências de fraude, ele deverá decidir se a
fraude, caso realmente exista, é de magnitude tal que afeta seu parecer sobre as
demonstrações financeiras.
O auditor deverá avaliar criticamente os sistema contábil, incluindo o
controle interno, tanto em termos de concepção quanto de funcionamento efetivo,
concedendo especial atenção às condições ou eventos que representem aumento
de risco de fraude ou erro, que incluem: estrutura ou atuação inadequada da
administração da entidade auditada ou de algum dos seus membros; pressões
internas e externas; transações que pareçam anormais; problemas internos no
cumprimento dos trabalhos de auditoria; fatores específicos no ambiente de
sistemas de informação computadorizados.
Se o auditor supõe que haja ocorrido fraude suficientemente
significativa, a ponto de afetar seu parecer, deverá chegar a entendimento com os
próprios representantes da empresa, para determinar quem deverá proceder às
investigações necessárias, para ser apurado se houve fraude e, em caso positivo, o
montante envolvido.
Se, por outro lado, o auditor concluir que a fraude não é
suficientemente significativa para afetar seu parecer, deverá comunicar o fato aos
próprios representantes da empresa, com a recomendação de que ela seja
investigada até que se chegue a uma conclusão.
30
O Código de Ética Profissional do Contabilista (Resolução CFC nº
290/70) e os Princípios de Ética Profissional baixados pelo Instituto dos Auditores
Independentes do Brasil (hoje IBRACON), estabelecem as normas éticas que devem
ser observadas pelos profissionais que se dedicam à auditoria externa.
3.3 Prevenções
Para prevenir fraudes, é de suma importância reconhecer as áreas
perigosas. A forma mais eficaz que uma empresa tem para prevenir fraudes é ter um
sistema eficaz de controles internos. É uma responsabilidade da gerência assegurar-
se que os sistemas estabelecidos são práticos e úteis para sua empresa. Cada
sistema deve estar em perfeito funcionamento, muitas vezes a gerência estabelece
um sistema, porém nunca verifica se ele está funcionando corretamente.
Entre os meios mais eficazes para se combater as fraudes internas
tem-se os seguintes:
- Realização de freqüentes e rigorosas auditorias nas áreas de negócios sensíveis
as fraudes.
- Troca periódica (a cada dois ou três anos no máximo) dos auditores.
- Estruturação de um sistema de administração e monitoramento eficientes com
troca e verificação constante e redundante de informações entre vários
departamentos.
- Rotação freqüente, quando possível, de funcionários em posições sensíveis a
fraudes.
- Criação de equipes para condução de funções chave e sensíveis a fraudes,
eliminando estruturas de decisão e centros de controle independentes.
31
- Monitoramento de mudanças repentinas e/ou injustificadas no estilo de vida ou
comportamento de funcionários responsáveis por posições sensíveis.
- Comparação periódica de dados e informações administrativas e operacionais com
as medias de mercado para as áreas equivalentes e homogêneas.
- Prestar atenção a reclamações de fornecedores ou clientes que possam ter origem
em comportamentos fraudulentos de funcionários.
A prevenção desses riscos compreende as medidas tomadas pela
administração por meio de um sistema contábil adequado e um controle interno
eficaz, a fim de desencorajar sua perpetração e limitar sua possibilidade de
ocorrência. A adoção de controles que previnam a ocorrência de fraudes contra o
patrimônio, ou permitam detectá-las quando ocorrem, é responsabilidade tanto
gerencial quanto diretiva. A constatação da existência de fraudes contra o patrimônio
é responsabilidade da administração, mediante a estrutura de controle por ela
determinada.
Os exames da Auditoria Interna têm, entre outros, o escopo de
assessorar a administração na prevenção de fraudes, porquanto são efetuados com
bases em testes, de tamanho e periodicidade apropriados. Se o auditor tivesse a
responsabilidade específica de descobrir todas as fraudes, teria de ampliar seu
trabalho a tal ponto que seu custo poderia vir a se tornar proibitivo. Assim mesmo,
ele não poderia garantir que todos os tipos de fraude teriam sido descobertos, ou
que nenhuma outra existisse, porque as transações não-contabilizadas, as fraudes
em custeio e as falsificações não seriam necessariamente descobertas.
32
CONCLUSÃO
As discussões sobre controle interno tornaram-se cada vez mais
freqüentes nos círculos empresariais. Os casos de fraude de um lado e o fracasso
de multas empresas ou atividades econômicas de outro lado, tornaram-se os fatores
que impulsionaram o clima de discussões sobre esse assunto que anteriormente
aparentava ser um tópico de uso exclusivo ou preferido somente pelos auditores. Os
movimentos voltados à melhoria da qualidade das empresas de sua modernização e
sobrevivência, também motivaram a abertura dessas discussões sobre o valor
agregado e importância dos controles internos.
O fato importante a destacar, nesse ambiente criado pelo
reconhecimento pelas empresas e entidades da necessidade de uma boa estrutura
de controle, foi a valorização da auditoria, porém, exigindo dela uma qualificação e
atuação, condizentes com as características da operação empresarial e seus riscos;
em última análise, a exigência da participação do auditor como elemento de
esclarecimento das partes e impulsionador da busca de soluções.
No que diz respeito a auditoria interna em relação as fraudes
contábeis, todo o pessoal de auditoria precisa cultivar um espírito de ceticismo
positivo no seu trabalho. Um procedimento é necessário para canalizar informações
de atividades fraudulentas a este setor. É usual que o escopo dos trabalhos
rotineiros de auditoria seja sensível a fraude e permita que todos os sinais de alerta
sejam investigados.
A auditoria deverá identificar as áreas de risco e acompanhar os
controles estabelecidos para providenciar uma cobertura adequada. Acima de tudo,
a auditoria precisa ter flexibilidade na programação de seus trabalhos para poder
atender as situações inesperadas.
33
A auditoria moderna precisa ter habilidade em investigações que lhe
permita cumprir o seu papel nos exames de atividades fraudulentas e fazer
recomendações para fortalecer controles e reduzir as possibilidades de perdas.
Ademais, as ocorrências de erros e fraudes podem tornar-se
verdadeiros gargalos no atingimento dos objetivos das empresas e cabe ao auditor a
grande responsabilidade de identificar estes fatos e sugerir as medidas corretivas
necessárias.
Assim, tem-se que o desempenho profissional, na atualidade, não pode
ficar restrito somente aos conhecimentos e técnicas relativas à profissão
desenvolvida, devendo, sempre que possível, a utilização de técnicas e
conhecimentos de outras atividades profissionais, para obtenção de melhores e mais
efetivos resultados.
34
BIBLIOGRAFIA
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Paulo: Atlas, 1997.
ATKINSON, Anthony A.; BANKER, Rajiv. D.; KAPLAN, Robert S.; YOUNG, S. Mark.
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ATTIE, William. Auditoria: conceito e aplicações. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
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Cristina Vaz dos Santos Windt. 37.ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Normas brasileiras de contabilidade.
COOK, John W. e WINKLE, Gary M. Auditoria: filosofia e técnica. São Paulo:
Saraiva, 1993.
FIPECAFI. Ética Geral e Profissional em Contabilidade. São Paulo: Atlas, 1997.
FRANCO, Hilário; MARRA, Ernesto. Auditoria contábil. São Paulo: Atlas, 1982.
GIL, Antonio Loureiro. Como evitar fraudes, pirataria, conivência. 2. ed. São Paulo:
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MOTA, João Maurício. Auditoria: Princípios e Técnicas. São Paulo: Atlas, 1998.
PAULA, Maria Goreth Miranda Almeida. Auditoria interna: embasamento conceitual e
suporte tecnológico. São Paulo: Atlas. 1999.
35
RESOLUÇÃO CFC nº 803/93, de 10/10/1996 - Aprova o Código de Ética Profissional
do contabilista – CEPC.
SÁ, Antonio Lopes de. Perícia Contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
__________.Curso de auditoria. 7. ed. rev. ampl. e atual. São Paulo: Atlas, 1999.
__________.Auditoria interna. 2. ed. rev. ampl. e atual São Paulo: Atlas,1993.
SANTI, Paulo Adolpho. Introducão à auditoria. São Paulo: Atlas, 1998.
TEIXEIRA, Ivandi Silva. A Auditoria Interna e o Gerenciamento da Qualidade. Textos
p/Discussão.UFSC/dez/95.
____________. Uma análise da atuação da auditoria operacional em empresas de
transformação na cidade do Rio de Janeiro – um estudo de casos. Dissertação
(Mestrado em Ciências Contábeis - Auditoria) Rio de Janeiro: Fundação Getúlio
Vargas, 1989.
36
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS.................................................................................. 03 DEDICATÒRIA............................................................................................ 04 RESUMO..................................................................................................... 05 METODOLOGIA ......................................................................................... 06 SUMÁRIO................................................................................................... 07 INTRODUÇÃO........................................................................................... 08 CAPÍTULO I AUDITORIA INTERNA: CONCEITOS E OBJEIVOS.................................. 11
1.1 Conceituação.................................................................................... 12 1.2 Fundamentos de auditoria interna.................................................... 14 1.3 Funções da auditoria interna............................................................ 15
CAPÍTULO II DAS FRAUDES CONTÁBEIS..................................................................... 17
2.1 Espécies de fraudes......................................................................... 17 2.2 Fraudes em contabilidade................................................................ 18
2.2.1 Capital circulante e fraude....................................................... 19 2.2.2 Ativo permanente e fraude....................................................... 21 2.2.3 Passivo de dívidas e fraudes................................................... 22 2.2.4 Patrimônio líquido e fraudes.................................................... 23 2.2.5 Fraudes nos custos.................................................................. 24 2.2.6 Fraudes nas despesas............................................................. 25
CAPÍTULO III AUDITORIA INTERNA E FRAUDES NA CONTABILIDADE...................... 27
3.1 Controle interno e fraude.................................................................. 28 3.2 Da descoberta de fraude.................................................................. 29 3.3 Prevenções....................................................................................... 30
CONCLUSÃO ............................................................................................. 32 BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 34 ÍNDICE ....................................................................................................... 36
37
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
Projeto A Vez do Mestre
Pós-Graduação “Lato Sensu”
Título da Monografia:
A IMPORTÂNCIA DA AUDITORIA INTERNA FRENTE ÀS FRAUDES CONTÁBEIS
Data da entrega: _______________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Avaliado por:_______________________________Grau______________.
Rio de Janeiro_____de_______________de 2004.
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ANEXOS