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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM GESTÃO DA PREVENÇÃO DE LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS (LER/DORT). Por: Fernando Viana Soares Orientador Prof. Nelsom Magalhães Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

GESTÃO DA PREVENÇÃO DE LESÕES POR ESFORÇOS

REPETITIVOS (LER/DORT).

Por: Fernando Viana Soares

Orientador

Prof. Nelsom Magalhães

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

GESTÃO DA PREVENÇÃO DE LESÕES POR ESFORÇOS

REPETITIVOS (LER/DORT) EM UMA INDÚSTRIA DE BEBIDAS

DA ZONA OESTE DO RIO DE JANEIRO.

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Engenharia da

Produção. Por: Fernando Viana Soares.

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AGRADECIMENTOS

Dedicamos este trabalho a minha família, a

Élida e aos meus amigos, pelas várias horas

de ausência, falta de atenção, pelo apoio

constante e a Deus em especial por toda

força a mim dada, para que fosse possível a

realização deste trabalho, a todos o meu

muito obrigado.

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DEDICATÓRIA

Agradeço aos meus professores pelo auxílio

às pesquisas e ao desenvolvimento do

trabalho, e à Deus, por tudo que deste, e

continua dando. A todos que contribuíram,

direta ou indiretamente, para realizar este

grande sonho. O meu muito obrigado.

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo analisar os programas de prevenção de casos de

LER/DORT em uma empresa de bebidas da Zona Oeste da Cidade do Rio de Janeiro,

buscando compreender o significado das lesões conhecidas pelas siglas acima, através

dos aspectos históricos, fisiológicos, ambientais, além de perceber, após a análise da

pesquisa descritiva realizada junto aos funcionários da referida empresa, de que forma a

incidência das LER/DORT têm contribuído para os casos de afastamentos dos

colaboradores, interferindo diretamente no lucro das empresas e na qualidade de vida

dos funcionários. Analisaram-se, também, algumas medidas de prevenção adotadas pela

empresa, que demonstraram uma significativa redução nos casos de LER/DORT entre

seus funcionários.

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METODOLOGIA

Para a realização deste trabalho, estabeleceu-se como necessária uma

metodologia investigativa, utilizando instrumentos estatísticos para a análise dos

resultados; fez-se uso de uma abordagem Descritiva, em razão da não manipulação ou

modificação dos fatos e informações pesquisados,valendo-se somente da descrição de

sua ocorrência.

O instrumento de coleta de dados da pesquisa foi um questionário

apresentado aos colaboradores, com perguntas simples, mas que foram validadas pela

empresa observada para este trabalho. Os dados apresentados estavam em forma de

perguntas e respostas. Para a análise deste trabalho, foram elaborados gráficos, tabelas e

organogramas que demonstram a estimativa da respostas apresentadas.

O objeto de estudo deste trabalho compreende o foco desta pesquisa, qual

seja, uma pesquisa realizada pela própria empresa, no ano de 2005, que buscou, a partir

do alto índice de afastamentos de funcionários por causas relacionadas às LER/DORT,

entender as causas destes afastamentos e, de acordo com os resultados, modificar a

estrutura de trabalho da empresa, instaurando medidas de prevenção das LER/DORT.

As perguntas do questionário, com respostas fechadas e semifechadas,

permitiram a elaboração de uma escala de valores clara para a análise dos dados

coletados. por serem simples e diretas.

O sujeito deste estudo é o funcionário e/ou colaborador de uma empresa de

bebidas da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Escolheram-se, por amostragem, os

650 funcionários que participaram desta pesquisa.

Para fundamentar teoricamente o que foi observado, utilizou-se a referência

bibliográfica referente à área de estudo, bem como pesquisas em páginas da internet. A

pesquisa bibliográfica com aplicação de teoria foi focada em leitura e análise de livros

voltados especificamente para o objetivo do trabalho.

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Os procedimentos de análise foram elaborados utilizando-se como

referência Kotler (1998).

.

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SUMÁRIO

CAPITULO 1 – Introdução................................................................................09

CAPITULO 2 – Compreendendo Melhor as LER/DORT ..................................13

CAPÍTULO 3 – Análise de resultados...............................................................30

CAPÍTULO 4 – CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES................................................47 ANEXOS .........................................................................................................50

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ......................................................................51

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CAPITULO 1 - INTRODUÇÃO

No mundo capitalista em que vivemos, a otimização da produção é o grande

objetivo das organizações. Altos investimentos na área tecnológica e capacitações

constantes da mão-de-obra estão dentre as ações desenvolvidas para que este objetivo

seja alcançado.

Além disso, pesquisas recentes demonstram que a qualidade de vida e de

trabalho dos profissionais pode contribuir para uma maior produtividade destes, além de

representar economia em relação a afastamentos e licenças de profissionais qualificados

pela empresa.

Entretanto, o tipo de trabalho desenvolvido por estes profissionais envolve,

geralmente, ações repetitivas por longos períodos, gerando as chamadas lesões

ocupacionais. Elas são responsáveis por um grande número de afastamentos médicos do

trabalho, tendo influência direta na redução da capacidade laborativa dos trabalhadores.

Tais distúrbios são mais conhecidos pelas siglas DORT (Distúrbios

Osteomusculares Relacionados ao Trabalho), e LER (Lesões por Esforços Repetitivos).

O controle das LER e DORT tem sido considerado um dos maiores desafios

para os profissionais de saúde que atuam direta ou indiretamente em empresas. Isto

ocorre devido a diversos fatores que acabam levando a existência de um ciclo vicioso:

taxas de produção, medo do desemprego, descuido e descaso, economia a qualquer

preço...

Entre as ações utilizadas na busca por melhorias de qualidade de vida dos

trabalhadores, as Terapias Alternativas e a Massoterapia têm tomado lugar de destaque

em vários segmentos industriais, através de programas terapêuticos que visam a

prevenção e o tratamento dos distúrbios osteomusculares relacionados com o trabalho.

A prevenção de lesões osteomusculares e articulares por parte das empresas

pode ser o fator diferencial para o sucesso das organizações. Afinal, um ambiente de

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trabalho adaptado ergonomicamente e trabalhadores saudáveis e preparados para as

solicitações musculares diárias podem refletir beneficamente no desempenho das

empresas e na qualidade de vida de seus trabalhadores.

No mundo capitalista em que vivemos, a otimização da produção é o grande

objetivo das organizações. Altos investimentos na área tecnológica e capacitações

constantes da mão-de-obra estão dentre as ações desenvolvidas para que este objetivo

seja alcançado.

Além disso, pesquisas recentes demonstram que a qualidade de vida e de

trabalho dos profissionais pode contribuir para uma maior produtividade destes, além de

representar economia em relação a afastamentos e licenças de profissionais qualificados

pela empresa.

Entretanto, o tipo de trabalho desenvolvido por estes profissionais envolve,

geralmente, ações repetitivas por longos períodos, gerando as chamadas lesões

ocupacionais. Elas são responsáveis por um grande número de afastamentos médicos do

trabalho, tendo influência direta na redução da capacidade laborativa dos trabalhadores.

Tais distúrbios são mais conhecidos pelas siglas DORT (Distúrbios

Osteomusculares Relacionados ao Trabalho), e LER (Lesões por Esforços Repetitivos).

O controle das LER e DORT tem sido considerado um dos maiores desafios

para os profissionais de saúde que atuam direta ou indiretamente em empresas. Isto

ocorre devido a diversos fatores que acabam levando a existência de um ciclo vicioso:

taxas de produção, medo do desemprego, descuido e descaso, economia a qualquer

preço...

Entre as ações utilizadas na busca por melhorias de qualidade de vida dos

trabalhadores, as Terapias Alternativas e a Massoterapia têm tomado lugar de destaque

em vários segmentos industriais, através de programas terapêuticos que visam a

prevenção e o tratamento dos distúrbios osteomusculares relacionados com o trabalho.

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A prevenção de lesões osteomusculares e articulares por parte das empresas

pode ser o fator diferencial para o sucesso das organizações. Afinal, um ambiente de

trabalho adaptado ergonomicamente e trabalhadores saudáveis e preparados para as

solicitações musculares diárias podem refletir beneficamente no desempenho das

empresas e na qualidade de vida de seus trabalhadores.

1.1 Hipótese

Uma vez que o problema gerado pelas Lesões por Esforços Repetitivos

(LER/DORT) tem gerado um alto número de afastamentos entre colaboradores, a

aplicação de programas de prevenção das LER/DORT pode contribuir para uma redução

gradual destas incidências.

1.2 Justificativa

Acredito poder contribuir para a visão que já existe nos países

desenvolvidos, de que o bom funcionário merece tratamento diferenciado para que os

problemas, tanto de ordem profissional quanto pessoal, não interfiram nas suas

atividades na empresa.

1.3 Objetivo geral

Avaliar o ambiente de trabalho de uma indústria de bebidas da Zona Oeste

da Cidade do Rio de Janeiro, identificando e analisando a gestão de prevenção das

LER/DORT entre seus funcionários visando reduzir o absenteísmo.

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1.4 Objetivos específicos

• Estudar e compreender as LER/DORT;

• Realizar uma análise histórica do tema proposto, entendendo como

estes tipos de lesões vêm sendo vistas no decorrer dos anos;

• Demonstrar a recuperação do indice de absenteismo da empresa após

aplicação de um programa de prevenção de LER/DORT.

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CAPÍTULO 2 – COMPREENDENDO MELHOR AS LER/DORT

Para compreender melhor os efeitos das LER/DORT nas instituições, faz-se

necessário, inicialmente: realizar uma análise histórica do desenrolar destas; analisar as

diferentes visões sobre as mesmas; buscar definições para estas lesões na bibliografia

disponível; identificar os principais fatores causais, individuais, biomecânicos,

psicossociais, organizacionais e ambientais, relacionados às referidas lesões.

A seguir, utilizarei a bibliografia disponível para definir o que se entende

por Trabalho e Carga de Trabalho, buscando compreender, dentre outros, que fatores

podem estar ligados ao estabelecimento de condições favoráveis de trabalho para o

Homem.

Por último, mas não menos importante, abordarei a importância do

comprometimento da Gerência para com os fatores apresentados neste trabalho, bem

como de propiciar uma participação dos trabalhadores na prevenção das mesmas, de

forma individual ou coletiva.

2.1 Doença Osteomuscular Relacionada ao Trabalho (DORT) e Lesão por Esforço Repetitivo (LER)

2.1.1 Contexto histórico

O papel das atividades ou dos movimentos repetitivos no desenvolvimento

de DORT/LER vem sendo relatado desde o antigo Egito, onde foram encontrados sinais

de osteófitos marginais em ossos de punhos e joelhos de múmias de populações pré-

Hispânicas, que permaneciam de joelhos por tempo prolongado, executando

movimentos de flexão e extensão dos membros superiores na atividade de moer grãos

(Consejo Nacional para la Cultura y las Artes (1996)).

Bernardino Ramazzini, considerado o pai da medicina do trabalho, já

descrevia em 1700, que há cerca de 2000 anos existia a doença dos escribas, que por

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vezes cursava com um quadro dramaticamente doloroso, bastante compatível como

quadro de DORT/LER, atribuindo-a a três fatores básicos: vida sedentária, movimento

contínuo e repetitivo da mão e atenção mental para que não manchasse os livros,

refletindo situações de constante tensão (BRAVERMAN apud RIBEIRO, 1997).

Verifica-se que, desde 1700, além da repetitividade da atividade, a questão da

sobrecarga mental tornava-se um fator importante envolvido na gênese da doença

ocupacional.

Desta forma, constata-se que as DORT/LER não podem ser encaradas como

doenças da industrialização e da modernidade, mas como distúrbios relacionados

diretamente com as condições de trabalho inadequadas, no que tange principalmente as

características da organização do trabalho, que de forma geral privilegiam o paradigma

da alta produtividade e qualidade do produto em detrimento da preservação do trabalho

e da qualidade de vida do trabalhador (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA E

ASSISTÊNCIA SOCIAL, 2001).

O Japão foi o país que mais precocemente evoluiu em termos de

industrialização e automação, sendo o primeiro também a detectar a gravidade das

doenças ocupacionais, relacionadas, principalmente, a fatores físicos do posto de

trabalho e a fatores organizacionais, como à sobrecarga do trabalho, jornadas longas de

trabalho contínuo, aumento das tarefas associadas a movimentos repetitivos,

empobrecimento do conteúdo do trabalho, controle rígido das chefias e redução do

repouso e do lazer (NAKASEKO, 1982 apud RIBEIRO, 1997; BARREIRA, 1994).

Na Austrália, a década de 70 foi marcada por um acentuado aumento no

número de doenças do trabalho, principalmente em digitadores, operadores de linhas de

montagem e embaladores. No início, estes quadros eram denominados como “lesão

ocupacional por sobreesforço” (Ocupational Overuse Injury), mudando a partir de 1980,

para “lesões por esforços repetitivos” (MENDES, 1995).

Nos Estados Unidos, segundo dados do seguro de acidentes do trabalho, as

lesões por esforços repetitivos (Cumulative Trauma Disorders), vêm sendo

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acompanhadas de altos índices de incapacidade laborativa, e que essa proporção vêm

aumentando (FEUERTEIN et al, 1993 apud MENDES, 1995).

A ocorrência das DORT/LER em um grande número de pessoas, em vários

países e em tipos diferentes de trabalho, provocou uma mudança no conceito tradicional

de que o trabalho pesado, envolvendo esforço físico, é mais desgastante que o trabalho

leve, envolvendo esforço mental, com sobrecarga dos membros superiores e relativo

gasto de energia.

No Brasil, as DORT eram conhecidas, inicialmente, como Lesões Por

Esforços Repetitivos (LER) e foram descritas como tenossinovite ocupacional no XII

Congresso Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho em 1973 abrangendo um

número insignificante de atividades laborais (MINISTÊRIO DA PREVIDÊNCIA E DA

ASSISTÊNCIA SOCIAL, 2001). Posteriormente, observou-se o surgimento de casos em

diferentes ocupações, exercendo atividade de risco, principalmente em digitadores.

A partir de 1986, as DORT/LER assumem importância crescente nas

estatísticas relativas à ocorrência de doenças profissionais, devido, principalmente, as

inovações tecnológicas associado a intensa fragmentação do trabalho, divisão de tarefas

e sobretrabalho, expondo os trabalhadores aos esforços repetitivos. O surgimento

abrupto dos casos defrontou-se, também, com um sistema de saúde e de profissionais

despreparados, levando ao tratamento e ao desenvolvimento de condutas inadequadas

(MENDES, 1995).

Em 1990, o Ministério do Trabalho, através da NR-17 da Portaria número

3214/78, regulamentou alguns aspectos da ergonomia, introduzindo a obrigatoriedade

da realização da análise ergonômica dos postos de trabalho, objetivando estabelecer

parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às condições

psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto,

segurança e desempenho eficiente (MIRANDA et al, 2001).

Ainda segundo o autor, somente em 1998, na revisão da Norma Técnica

(NT), ocorreu a alteração do nome LER para DORT, com o objetivo de torná-la mais

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abrangente e para evitar que na própria denominação já ocorresse caracterização de

causas e efeitos definidos, como no caso da denominação LER.

Atualmente, as DORT/LER representam um dos grupos de doenças

ocupacionais mais polêmicos no Brasil e em outros países. Segundo estatísticas do

Instituto Nacional do Seguro Social, referente à população trabalhadora segurada, nos

últimos anos, as mesmas têm sido as mais prevalentes dentre as doenças ocupacionais

registradas, acarretando em gastos previdenciários, comprometimento da produção e da

saúde do trabalhador (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000).

2.1.2 Aspectos conceituais

A denominação utilizada para caracterizar a doença ocupacional tem relação

com a história de reconhecimento da doença em diferentes países. LER/DORT são

termos utilizados como sinônimos de Lesões por Traumas Repetitivos, Distúrbios

Cervicobraquiais Ocupacionais, Síndrome Ocupacional do Overuse, entre outros.

Segundo o Ministério da Saúde (2000), a tendência mundial é utilizar cada

vez mais à denominação Work Related Musculoskeletal Disorders (WRMD), traduzida

como Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT).

Segundo a Norma Técnica do Instituto Nacional do Seguro Social, sob o

rótulo de “LER” abrigam-se formas clínicas como: as tenossinovites (CID 727.0/2), que

incluem a tenossinovite de De Quervain; as epicondilites (CID 726.3/0); as bursites

(CID 727.2/9); a tendinite do supra-espinhoso (CID 726.1/3) e bicipital (CID 726.2/1);

os cistos sinoviais (CID 727.4/5); o dedo em gatilho (CID 727.0/2); a contratura ou

moléstia de Dupuytren (CID 729.4/0); a compressão de nervos periféricos: síndrome do

túnel do carpo (CID 354.0/8), síndrome do canal de Guyon (CID 354.2/4), síndrome do

pronador redondo (CID 354.1/6), síndrome cervicobraquial (CID 723.3/8), síndrome do

desfiladeiro torácico (CID 723.4/6), e a síndrome da tensão do pescoço ou mialgia

tensional (CID 723.8/9) (MPS-INSS,1993). Couto et al (1998), descreve a DORT/LER

da seguinte forma:

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As DORT/LER são transtornos mecânicos e lesões de músculos

e/ou de tendões e/ou de fáscias e/ou de nervos e/ou de bolsas

articulares e pontas ósseas nos membros superiores

ocasionadas pela utilização biomecanicamente incorreta dos

membros superiores. Resulta em fadiga, queda da performance

no trabalho, incapacidade temporária e, conforme o caso,

podem evoluir para uma síndrome dolorosa crônica, nesta fase

agravada por diversos fatores psíquicos (inerentes ao trabalho

ou não) capazes de reduzir o limiar de sensibilidade do

indivíduo.

No Diário Oficial da União (DOU de 19/08/1998, p. 27) encontra-se o

seguinte conceito para LER:

[...] Patologias, manifestações ou síndromes patológicas que se

instalam insidiosamente em determinados segmentos do corpo,

em conseqüência de trabalho realizado de forma inadequada, o

nexo é parte indissociável do diagnóstico que se fundamenta

numa boa anamnese ocupacional e em relatórios de

profissionais que conhecem a situação de trabalho, permitindo

a correlação do quadro clínico com a atividade ocupacional

efetivamente desempenhada pelo trabalhador.

Infelizmente este conceito dificilmente é aplicado na prática, onde as causas

são reais e, portanto, o nexo não é estabelecido, devido à profissionais despreparados e,

principalmente, alheios a realidade do trabalhador. As DORT/LER são doenças do

trabalho provocadas pelo uso inadequado e excessivo do sistema que agrupa ossos,

nervos, músculos e tendões atingindo, principalmente, os membros superiores. Afecções

típicas de trabalho intenso e repetitivo, são causadas por diversos tipos de pressões

existentes no trabalho tanto física quanto psíquicas. Resultando, portanto da

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superutilização do sistema musculoesquelético, geralmente associado à sobrecarga

psíquica e a condições de trabalho inadequadas. (GAIGHER & MELO, 2001).

As DORT/LER caracterizam-se como uma síndrome clínica caracterizada

por dor crônica acompanhada ou não por alterações objetivas, apresentando geralmente

os seguintes sintomas: dores, sensação de formigamento, dormência, fadiga muscular,

perda de força muscular em conseqüência de alterações nos tendões, musculatura e

nervos periféricos (LECH et al,1998). Esses sintomas acabam repercutindo na vida

pessoal e profissional, comprometendo o desempenho no trabalho e a saúde do

trabalhador.

A partir da conceituação de diversos autores, constata-se que as DORT/LER

podem ser definidas como um conjunto de lesões crônicas que afetam o indivíduo como

um todo, comprometendo sua saúde física e mental. São causadas por diversos fatores

laborais e extra-laborais, que interligados potencializam a ocorrência da doença.

No Brasil, o conceito ergonômico foi rapidamente absorvido. Foi

oficializado através da Portaria 40062/1987 e das "Normas Técnicas para a Perícia

Médica do INSS" (NTPMINSS) de 1991, revistas em 1993 e recentemente em agosto de

19987. Na elaboração das normas participaram sindicatos, empregadores, órgãos de

classe, Ministérios do Trabalho, da Previdência Social e da Saúde, não sendo, portanto,

normas puramente técnicas.

As NTPMINSS destacam várias patologias reumáticas, ortopédicas e

neurológicas que acometem os tecidos moles dos membros superiores e passam ao largo

do grande grupo de pacientes sem sinais físicos que suportem as queixas dolorosas. As

NTPMINSS dão a impressão de que as queixas dolorosas são geralmente conseqüências

de diversas patologias, para as quais estabelece critérios diagnósticos muito liberais.

Relaciona as queixas e patologias ao trabalho e ignoram a ocorrência delas na população

em geral. Estabelecem que a queixa de dor isolada, sem sinais clínicos de lesão, pode

ser suficiente para o diagnóstico de LER, com todos os desdobramentos médicos e de

benefícios sociais, desde que tenham um nexo com a atividade laboral.

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2.1.3 Fatores causais da DORT

As teorias atuais sobre os distúrbios osteomusculares relacionados ao

trabalho indicam que a sua causa é devida a diversos fatores, que agem conjuntamente

no desenvolvimento da doença. Vários fatores de risco associados as DORT/LER

podem não causar a doença diretamente, mas favorecer seu aparecimento, através de

sobrecargas impostas ao trabalhador, como: repetitividade de movimentos, manutenção

de posturas inadequadas por tempo prolongado, esforço físico, invariabilidade de

tarefas, pressão mecânica sobre determinados segmentos do corpo, em particular

membros superiores, trabalho muscular estático, choques e impactos, vibração, frio,

fatores organizacionais e psicossociais.

Considerando que as patologias ocupacionais são multifatoriais, faz-se

preciso entender, também, algumas das principais causas do seu surgimento, as quais

segundo o Sindicato dos bancários de Guarulhos e Região (SBGR, 2005) são:

1) Trabalho automatizado - Em busca do “raciocínio ágil” as empresas de

hoje adotaram as maquinas e os computadores como forma aumentar sua eficácia e

garantirem a principais vantagens para combater a concorrência e as dificuldades de um

mundo globalizado. Dessa forma o empregado se submete a um trabalho “automático”,

com repetições de movimentos, sem controle de suas atividades, uma vez que o esforço

intelectual já está sendo realizado pela maquina.

2) Obrigatoriedade de manter o ritmo acelerado para garantir a produção -

Além de ter que realizar movimentos repetitivos, o trabalho muitas vezes fragmentado,

induz a manutenção de um ritmo acelerado, que pode acarretar dores musculares

enquanto se executa a tarefa.

3) Trabalho rigidamente hierarquizado - Levando em consideração que as

dimensões humanas se relacionam entre si, podemos concluir que um individuo sob

pressão permanente, poderá apresentar também, como reflexos da sua condição

psicológica, distúrbios fisiológicos acompanhados por dor, fadiga e estresse. Assim,

LER/DORT seria uma manifestação da falência dos mecanismos de práticas

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administrativas e gerenciais autoritárias, rígidas e opressivas existentes nas

organizações. (LONGEN, 2003)

4) Jornadas prolongadas de trabalho e ausência de pausas durante a jornada

– É importante para qualquer pessoa, ao desempenhar rotineiramente qualquer

atividade, um período de descanso para que sejam repostas as suas energias e

restabelecidas as suas condições física e psicológica.

5) Trabalho realizado em ambientes ergonomicamente inadequados -

Lugares demasiadamente frios ou quentes, com ruídos, mal ventilados, mal iluminados,

com mobiliário inadequado (cadeiras, mesas, dentre outros) que obrigam a adoção de

posturas incorretas do corpo possibilitam a maior propensão de LER/ DORT.

Esses fatores geralmente apresentam-se interligados, intensificando o risco

de desenvolver DORT/LER.

O processo de psicossomatização das DORT/LER parte de um marco

conceitual do processo de percepção do trabalho determinado pela influência de

diferentes variáveis, como ambiente físico do trabalho, ritmo de trabalho, problemas

organizacionais e fatores psicossociais. Essas variáveis irão influenciar a percepção, o

processo de adoecimento e o nível de estresse, repercutindo na qualidade de vida e de

trabalho do indivíduo (MERLO, 2001).

As diversas formas de sobrecargas do trabalho (psíquicas e físicas), as

condições de trabalho e a forma de organização do trabalho têm sido fontes geradoras de

doenças ocupacionais. Várias pesquisas sobre as DORT/LER, vêm reforçando o dado

subjetivo da doença, indicando que os fatores psicológicos geradores de estresse ou

fadiga crônica efetivam a dor e a incapacidade.

Segundo Smith (1996),

“os fatores psicossociais aumentam o risco de DORT/LER por meio da

tensão no trabalho e da fadiga psicológica e fisiológica correlata, afetando as reações

hormonais e circulatórias e influenciando as atitudes e o comportamento pessoal.”.

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Inúmeras atividades já foram analisadas objetivando-se o estabelecimento

do anexo causal da DORT/LER evidenciando que a doença prevalece em ambientes de

trabalho que combinam entre vários fatores atividades repetitivas, movimentos

biomecanicamente inadequados, fatores psicossociais (pressão da supervisão, pressão do

tempo, falta de controle sobre a produção, falta de autonomia), fatores pessoais

(patologias associadas, condições psicológicas, atividades domésticas) e os

organizacionais (pausas programadas, treinamentos, pagamento por produção, horas

extras) (MAZZONI; MARÇAL, 2001).

Os fatores de risco para o desenvolvimento de DORT/LER indicam que a

doença pode atingir qualquer pessoa, desde que as condições psicossociais e físicas em

que o trabalhador atue, sejam desfavoráveis. As causas da DORT/LER representam uma

associação de fatores biomecânicos, psicossociais e organizacionais que irão repercutir

de maneira única sobre cada trabalhador.

2.1.4 Fatores individuais

Geralmente, os fatores de risco se apresentam associados a fatores

individuais, comprometendo ainda mais o trabalhador, agravando ainda mais a situação

de trabalho e dificultando o diagnóstico e tratamento da doença. Quanto à idade e sexo,

dados do Ambulatório de LER/DORT do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do

Hospital das Clínicas da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, entre o

período de março de 1993 à dezembro de 1998, mostraram que 91,8% dos pacientes

com diagnóstico de LER/DORT eram do sexo feminino com uma média de idade de

38,5 anos. Esta evidência também é confirmada no Centro de Referência em Saúde do

Trabalhador da Secretária de Saúde do Estado de São Paulo (CEREST/SP), onde em

uma amostra de 620 pacientes atendidos, entre 1990 e 1995, 87% eram mulheres, com

faixa etária predominante entre 26 a 35 anos (SETTIMI et al, 1995 apud MINISTÉRIO

DA SAÚDE, 2000).

No Núcleo de Referência em Doenças Ocupacionais da Previdência Social

de Belo Horizonte (NUSAT), mais de 70% dos casos atendidos são de mulheres entre

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30 e 39 anos de idade (CUNHA et al, 1992). Estes dados remetem a um questionamento

à respeito da alta incidência de DORT/LER no sexo feminino, o que segundo a literatura

existente se atribui principalmente à fatores hormonais, de composição corporal, a

fatores psicossociais e a dupla jornada de trabalho. De acordo com Sommerich et al

(1993), além dos fatores já citados, os autores relacionam fatores não-ocupacionais,

como o pouco tempo de lazer e outras características demográficas (estado civil e

filhos), e hábitos pessoais como prática de esportes. Alguns indivíduos apresentam uma

propensão maior para desenvolver DORT/LER por serem portadores de condições

predisponentes tais como diabetes, artrite reumatóide, gota, hipotirioidismo,

colagenoses vasculares, tuberculose e infecções por fungos (MIRANDA E DIAS, 2001).

Sabe-se que os aspectos referentes a características pessoais e da qualidade

de vida do trabalhador também repercutem na saúde/doença do mesmo, sendo um fator

de relevância e que deve ser levado em conta durante o tratamento do paciente.

2.1.5 Fatores biomecânicos

As principais causas da DORT/LER mencionadas, são as relacionadas aos

fatores biomecânicos, que levariam aos “micro” traumas nos tecidos, que seriam

acumulados ao longo do tempo e produziriam problemas mais sérios. Estes fatores

associados às questões psicossociais desempenham papel importante na problemática da

doença ocupacional (SMITH E CARAYIN, 1996 apud SMITH, 1996).

A repetitividade é sem dúvida o fator de risco mais freqüentemente referido,

mas não é o único fator biomecânico determinante, pois às DORT/LER podem ocorrer

devido sobrecargas e manutenção de posturas estáticas por tempo prolongado

(KUORINKA, 1995).

Segundo Santos Filho & Barreto (1998), fatores biomecânicos como

contrações musculares prolongadas e posturas inadequadas, freqüência e força

empregada no movimento repetitivo, inadequações do posto de trabalho, desenho e

manutenção dos equipamentos e tensão muscular associada ao estresse são fatores

associados ao surgimento e agravamento dos quadros de DORT/LER.

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Segundo Smith (1996), quanto maior o esforço físico, maior o risco de

desenvolver DORT/LER. A duração da exposição pode ser classificada em ações

diárias, longos períodos de ações semelhantes e exposições devido à profissão,

desencadeando um ciclo evolutivo de fadiga muscular localizada, fadiga geral sistêmica

e micro lesões nos músculos, tendões e ligamentos.

2.1.6 Fatores Psicossociais

Os fatores psicossociais do trabalho compreendem as percepções subjetivas

que o trabalhador tem do trabalho. A percepção psicológica que o indivíduo tem das

exigências do trabalho seria resultado das características físicas da carga de trabalho, da

personalidade do indivíduo, das experiências anteriores e da situação social do trabalho

(SANTOS FILHO E BARRETO, 1998).

Há várias maneiras pelas quais os fatores psicossociais podem aumentar o

risco de DORT/LER. Ao nível pessoal, através de tensão no trabalho, a natureza das

atividades, do treinamento, da disponibilidade de relações de assistência e supervisão

podem afetar a exposição, a satisfação, a atitude e o comportamento do indivíduo. Ao

nível organizacional, as políticas e os procedimentos da companhia podem afetar a

exposição, por meio da definição de projetos de cargos, através de especificação da

duração do tempo gasto em atividades específicas, estabelecendo-se os ciclos de pausas,

definindo-se o grau de pressão no trabalho e estabelecendo-se o clima psicológico em

relação à socialização, à carreira e à segurança no emprego. Esses fatores poderão

influenciar à disposição psicológica afetando a motivação, a atitude, o comportamento e,

principalmente, a saúde do trabalhador, aumentando a suscetibilidade para desenvolver

as DORT/LER, ou a sensibilidade à dor e ao desconforto (SMITH, 1996).

Ainda, segundo Smith (1996), os fatores pessoais aumentam a

suscetibilidade à DORT/LER. Isso inclui os danos musculoesqueléticos anteriores, os

túneis do carpo mais estreitos, o sexo e o uso de certos tratamentos com hormônios, tais

como estrogênio. Além disso, algumas pessoas são mais propensas a esse tipo de

problema devido à sua personalidade e ao seu comportamento na execução do seu

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trabalho. Fatores de natureza psicossocial como pressão excessiva no trabalho, ambiente

tenso, problemas de relacionamento e questões relativas à carreira, carga, ritmo,

segurança e ambiente social, irão influenciar o aparecimento das DORT/LER (MERLO

et al, 2001).

O estresse constitui-se num conjunto de respostas inerentes a cada

indivíduo, frente aos estímulos externos e internos, exigindo que o organismo humano

se adapte a estes estímulos, através de reações de alarme e de tensão. O estresse

constitui-se em um componente importante no processo de adoecimento por doença

ocupacional, bem como na ocorrência de acidente e incidentes de trabalho. Segundo

Antonalia (2001), o estresse pode ser definido como “qualquer situação de tensão aguda

ou crônica que produz uma mudança no comportamento físico e no estado emocional do

indivíduo, sendo uma resposta psicofisiológica que pode ser positiva ou negativa no

organismo”. O mesmo autor discorre à respeito de estresse ocupacional como: Um

estado em que ocorre um desgaste anormal da máquina humana e/ou diminuição da

capacidade de trabalho, ocasionados por incapacidade prolongada do indivíduo tolerar,

superar ou se adaptar às exigências de natureza psíquica existentes no seu ambiente de

trabalho. Desta forma, evidencia-se que o estresse juntamente com os demais fatores de

risco, exerce influência direta no processo de adoecimento por DORT/LER, sendo que o

mesmo vem se tornando um problema de saúde pública, acometendo grande parte da

população e sobrecarregando o sistema de saúde, principalmente pelas complicações

que provoca.

2.1.7 Fatores organizacionais

Os fatores organizacionais representam importantes fatores de risco para o

desenvolvimento de doenças ocupacionais. Entre eles, pode-se citar: ritmo de trabalho,

pausas, hierarquia, horas-extras, estímulo à produção, rotatividade de mão-de-obra,

relacionamento interpessoal, falta de treinamento, supervisão inadequada, pressões de

tempo e produtividade. Dejours (1980), refere-se a forma com que o trabalho é

organizado, da seguinte maneira:

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Para transformar um trabalho fatigante em um trabalho equilibrante precisa

se flexibilizar a organização do trabalho, de modo a deixar maior liberdade ao

trabalhador para rearranjar seu modo operatório e para encontrar os gestos que são

capazes de lhe fornecer prazer, isto é, uma expansão ou uma diminuição de sua carga

psíquica. Faz-se necessária uma organização do trabalho que respeite as aptidões e as

necessidades individuais, possibilitando ao trabalhador o julgamento e a percepção de

seu trabalho de maneira prazerosa. As evidências epidemiológicas apontam para uma

associação de fatores causais que interagem nos processos agudos e na cronificação da

DORT/LER. É difícil quantificar a parcela de cada fator na determinação da doença,

visto que ocorre a interação de vários fatores associados à história de vida de cada

trabalhador (MERLO et al, 2001). Contudo, verifica-se que os fatores relacionados à

organização do trabalho juntamente com as características psicossociais tornam-se

fatores de importância no agravamento da doença.

2.1.8 Fatores ambientais

As condições ambientais presentes no local de trabalho interferem

diretamente sobre o conforto do trabalhador ao executar sua tarefa, contribuindo no

aparecimento da doença ou em agravos à saúde, podendo influenciar na qualidade da

tarefa a ser realizada (COUTO, 1995).

Sorock & Courteney (1996) apud Silva (2001), relatam que temperaturas

elevadas no ambiente de trabalho podem provocar sudação excessiva, cardiopatias,

prostração térmica, cãibras, fadigas, entre outros. Da mesma forma que, temperaturas

muito baixas, além de desconfortáveis, exigem uma maior atividade cardiovascular,

provocando a diminuição da sensibilidade tátil, podendo levar a resfriados; redução da

capacidade motora, tornando os movimentos mais lentos. Esses fatores irão favorecer a

ocorrência de incidentes ou acidentes de trabalho.

Segundo Smith (1996), os ambientes de trabalho frios podem aumentar o

risco de fadiga muscular e de distorções nos processos neuro-sensoriais. Ambientes

quentes, também podem levar à um aumento da fadiga muscular e outros fatores

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ambientais como vibrações podem aumentar os riscos de DORT/LER. A temperatura e

a umidade ambiental influem diretamente no desempenho do trabalho humano. A

sensação térmica depende não só da temperatura externa, mas também do grau de

umidade do ar e da velocidade do vento. A partir destas variáveis, determina-se a “zona

de conforto térmico”, situada entre as temperaturas efetivas de 20 a 24° C, com umidade

relativa de 40 a 60%, com uma velocidade do ar moderada, da ordem de 0,2 m/s, para o

organismo adaptado ao calor. Em organismo adaptado ao frio, essa zona de conforto

situa-se entre 18 e 22° C para a mesma taxa de umidade e velocidade do vento. A

variação não deve ser superior a 4° C (IIDA, 1998).

A presença de ruídos elevados (acima de 85db), no ambiente de trabalho

industrial podem perturbar e com o tempo comprometer a audição do trabalhador (NR-

15). O primeiro sintoma é a dificuldade cada vez maior para entender a fala em

ambientes barulhentos, provocando interferência nas comunicações e redução da

concentração, aumentando a tensão psicológica e diminuindo o nível de atenção (DUL

& WEERDMEESTER, 2000).

Este fator poderá influenciar no aparecimento de incidentes ou acidentes de

trabalho, bem como de DORT/LER, pois reflete um agente provocador do estresse,

tensão no trabalho, além de outras doenças psicossomáticas. Outro fator ambiental

importante diz respeito a iluminação do local de trabalho, fator este que interfere no

mecanismo fisiológico da visão e também na musculatura que comanda os olhos. A

iluminação inadequada no local de trabalho poderá levar a fadiga visual, ocasionando

tensão, desconforto, lacrimejamento excessivo, dores de cabaça, náuseas, depressão e

irritabilidade emocional (IIDA, 1998).

Nos trabalhos realizados a céu aberto, é obrigatória a existência de abrigos,

ainda que rústicos, capazes de proteger os trabalhadores contra intempéries (NR-21). Da

mesma forma que se faz necessário medidas especiais de proteção aos trabalhadores

contra a insolação excessiva, o calor, o frio, a umidade, os ventos e a contaminação

proveniente do ar e do local em que a atividade está sendo desenvolvida.

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2.2 Trabalho e Carga de trabalho

Segundo Schuler (1995) apud More (1997), o trabalho humano é visto como

uma ação que leva à transformações físicas e mentais do trabalhador, podendo ser visto

de forma benéfica quando realizado de maneira saudável e com prazer e maléfico,

quando o trabalhador fica exposto à condições insalubres e a sobrecarga física e/ou

psíquica em seu local de trabalho.

O trabalho é uma atividade inerente ao indivíduo enquanto ser social, visto

que o homem passa grande parte de sua vida dentro do ambiente de trabalho, estando

sujeito a diversos tipos de interocorrências, que poderão repercutir negativamente ou

positivamente, sobre sua saúde física e mental.

Segundo Dejours (1993), “o trabalho pode ser um fator de deterioração, de

envelhecimento e de doenças graves, mas pode, também, constituir-se em um fator de

equilíbrio e de desenvolvimento”. O resultado prazer ou sofrimento no trabalho estará

na dependência do trabalhador encontrar um trabalho equilibrado, fonte de realização

profissional ou um trabalho fatigante, fonte de insatisfação, desmotivação, estresse e de

doenças ocupacionais.

O comportamento do homem no trabalho está em constante evolução e

diretamente ligado à natureza e seus meios de produção. Este comportamento pode ser

manifestado por insatisfação, quando relacionado com sofrimento físico e/ou psíquico, e

à satisfação e sucesso, quando desenvolvido em condições saudáveis. Vários fatores

estão ligados ao trabalho e são importantes no estabelecimento de condições de trabalho

favoráveis como: posto de trabalho, ambiente de trabalho, questões organizacionais,

tarefa prescrita, jornada, relações interpessoais, valorização do trabalho, interação com

chefia, entre outros (MORE, 1997). Estes fatores influenciarão o comportamento do

homem frente ao trabalho, que poderá ser manifestado por insatisfações induzindo ao

fracasso, quando relacionado com penalizações e sofrimento, ou prazeroso, induzindo

ao sucesso, se desenvolvido em condições satisfatórias, que não agridam a integridade

física e psíquica do trabalhador. A situação de trabalho compreende um sistema

interrelacionado, entre a atividade prescrita (as exigências econômicas, sócio-técnicas e

organizacionais, caracterizadas na tarefa) que determinam os comportamentos do

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homem no desenvolvimento de suas atividades laborais e, atividade realizada

efetivamente (onde serão vistos os resultados da produção e da saúde do trabalhador).

Segundo Ferreira et al (2001), no campo da ergonomia, o trabalho é visto

como uma interação entre o sujeito e sua atividade de trabalho, resultando em um

processo de interpretação, transformação e releitura do que foi prescrito pela

organização do trabalho. A forma como o trabalho é realizado permite a percepção da

carga de trabalho envolvida.

Segundo Fachinni, (1994) apud Greco et al, (1995), as cargas de trabalho

são definidas como: Exigências ou demandas psicobiológicas do processo de trabalho,

gerando ao longo do tempo as particularidades do desgaste do trabalhador. Em outras

palavras, as cargas são mediadoras entre o processo de trabalho e o desgaste

psicobiológico.

As cargas de trabalho podem ser agrupadas segundo sua característica, em

cargas que têm materialidade externa e que se modificam na interação com o corpo,

como as físicas, químicas, biológicas e mecânicas e aquelas que adquirem materialidade

no corpo humano e se expressam internamente por meio dele, como as fisiológicas e

psíquicas.

Segundo Dejours (1980), costuma-se separar a carga de trabalho em carga

física e carga psíquica. A noção de carga psíquica é subjetiva e qualitativa, pois reflete o

prazer, a satisfação, a frustração, a agressividade e o comportamento do trabalhador,

frente ao trabalho.

Facchini (1994) apud Greco (1995), refere-se a carga psíquica como aquelas

que derivam principalmente dos elementos do processo de trabalho que são fonte de

estresse, como nível da organização e divisão do trabalho. As cargas psíquicas se

relacionam com todos os elementos do processo de trabalho, sendo influenciada pelas

demais cargas de trabalho envolvidas.

Segundo Rio & Pires (2001), a carga de trabalho representa a quantidade de

exigências que são impostas sobre o trabalhador. Essa carga é constituída por um

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conjunto de exigências que atuam conjuntamente, mas que didaticamente, podem ser

sub-divididas em carga sensorial, carga cognitiva, carga afetiva, carga visual e carga

musculoesquelética. Adequar a carga de trabalho às características individuais do

trabalhador é fundamental, e daí derivam as principais contribuições da ergonomia no

sentido de promover melhorias nas condições de saúde e produtividade das pessoas e

organizações. As cargas de trabalho estão presente no processo de trabalho e interagem

com o indivíduo, podendo gerar no trabalhador algum tipo de dano. Por exemplo:

trabalho realizado em condições ambientais inadequadas, sobrecarga mecânica e

fisiológica, condições de trabalho insalubres, problemas organizacionais, estresse, entre

outras.

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CAPÍTULO 3 – ANÁLISE DE RESULTADOS

Neste capítulo, irei analisar a Gestão da Prevenção da LER/DORT por parte

das organizações, utilizando como ponto de referência uma pesquisa realizada junto aos

trabalhadores de uma empresa de bebidas da Zona Oeste da Cidade do Rio de Janeiro,

analisando-a segundo a bibliografia disponível sobre o assunto. Além disso, irei abordar

as formas de Investigação e Controle dos fatores de risco dessas lesões e a importância

da capacitação de funcionários para a redução das LER/DORT.

3.1 Gestão da Prevenção da LER e DORT

Na antigüidade as (LER/DORT) eram descritas na literatura como doença

dos escribas. Entretanto, somente a partir da década de 80 os casos de (LER/DORT)

passaram a ter maior importância, acometendo trabalhadores de diferentes profissões

(todas envolvendo algum tipo de esforço repetitivo ou longos períodos de imobilização

postural), tais como: digitadores, caixas bancários, escriturários, ultrassonografistas e

outras profissões que exigem movimentos repetitivos.

Segundo pesquisa do DIESAT (1989, p.57), o conceito de doença

profissional e de trabalho, no Brasil, é restrito e expõe o descaso com que são tratados

os trabalhadores doentes:

Sabendo-se como é restrito o conceito de doença profissional e

de trabalho no Brasil e como muitas vezes o estabelecimento do

nexo causal com o trabalho é negado pelo INSS, ficam as

empresas facilmente desobrigadas de responsabilizar-se pelos

danos que causam à saúde dos trabalhadores, demitindo-os

sempre que começam a apresentar sinais de doença.

Tal atitude parece pressupor uma ação racional e científica, segundo a qual o trabalho não afetava o corpo, e a saúde presumia ausência de doença e capacidade para o trabalho.

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Dessa maneira, era imputada ao sujeito a responsabilidade do adoecer. A doença seria decorrência de descuidos que as pessoas teriam com relação a si mesmas. Nessa visão, simplesmente não existia o vínculo entre a doença e a condições de trabalho.

Segundo o estudo realizado pela companhia de bebidas da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, verificou-se que a (LER/DORT) causa um alto índice de absenteísmo. (figura 1)

(FONTE - Pesquisa interna em julho de 2005 com 650 colaboradores)

Já ficou afastado alguma vez?

36%

15%

4%

24%

6%

14%

64%SIM

1 vez

2 vezes

3 vezes

4 vezes

5 vezes ou mais

NUNCA FOI AFASTADO

Esses sintomas prejudicam ou não o desempenho no trabalho?

64%

Sim, muito

23%

Sim, um

pouco

41%

Não prejudica

36%

(FIGURA 1 - Indice de Trabalhadores que apresentaram diagnóstico de LER/DORT e afirmaram que os sintomas prejudica o desempenho no trabalho.)

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Desse modo, o custo econômico e social dessa doença chama atenção, pois

o problema gera uma baixa produtividade, o que pode ser crítico, uma vez que

atualmente a sociedade está voltada para a competitividade e a produção global. Ainda

segundo esse estudo, chegou-se a estimativa que 14% dos trabalhadores, na época da

pesquisa, possuíam LER/DORT. (ver figura 2)

Segundo COSTA (2000, p.43): “A ampliação da noção de defesa e proteção

da saúde se dá com a apropriação social da abrangência do conceito de saúde como

também da dimensão coletiva e do ambiente, a ser protegido e defendido de agressões

resultantes do modo de operação do sistema produtivo.”

O objetivo da prevenção é interromper o processo de adoecimento. No

período em que a doença ainda não se instalou, cabem as ações de promoção e proteção

da saúde. No início do período da doença, a prevenção consiste no diagnóstico precoce,

no pronto atendimento e na limitação dos danos e seqüelas, por meio do tratamento

adequado. Durante a convalescença, e na eventualidade de cronificação ou invalidez,

surgem as medidas de reabilitação.

(FONTE - Pesquisa interna em julho de 2005 com 650 colaboradores)

23% dos que receberam diagnóstico de LER/DORT apresentam inchaço em alguma parte do corpo, 19% costumam sentir dormência e 15% sentem dores

freqüentes.

5%

3%

5%

6%

14%

9%

12%

16%Doenças

nervosas/pscicológicas

LER/DORT

Problemas na coluna

Doenças cardio-vasculares

Tendinite

Cansaço físico

Dor de cabeça

Problemasmusculares

(FIGURA 2 - Diagnóstico de sintomas médicos apresentados nos locais de trabalho.)

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Ainda segundo o autor acima citado, tradicionalmente, as ações preventivas,

de caráter coletivo implicam, por um lado, o monitoramento da ocorrência de agravos e

o controle da propagação desses agravos e, por outro, o controle, anterior à ocorrência

de qualquer agravo, de fatores que direta ou indiretamente podem constituir risco à

saúde individual ou coletiva.

Contudo, a complexidade que envolve o aparecimento da doença, na

coletividade, exige que se encare a prevenção de forma integral, e se busque articular os

vários espaços de atuação das ações preventivas.

Desse modo, prevenir LER/DORT significa eliminar ou neutralizar os

eventos ou condições que levam ao seu aparecimento. Portanto, é preciso investigar

quais são as causas ou condições de trabalho que estão associadas ao aparecimento das

LER/DORT. Tendo especificado quais são essas causas, pode-se, então, partir para sua

eliminação ou neutralização.

Uma vez que as causas da LER/DORT estão relacionadas ao trabalho

realizado, para prevenir é necessário mudar o trabalho, isto é, modificar as condições de

trabalho que podem potencialmente causar a doença.

Para WÜNSCH (1995. p.289-330), prevenir a LER/DORT não é o mesmo

que prevenir uma doença ocupacional de causa única, como por exemplo, intoxicação

por chumbo, onde se sabe exatamente que uma determinada dose causa a contaminação,

apesar de que, mesmo nesses casos, pode existir outras condições que agravem a

moléstia.

Por se tratar de afecções multicausais não é possível determinar com

precisão, antes da análise, quais são as causas específicas daquela determinada situação

de trabalho e seu peso relativo na origem do problema. Em vista disso, é praticamente

impossível prevenir a LER/DORT sem realizar a análise das atividades do posto de

trabalho suspeito.

No estudo realizado junto à companhia, nos casos onde registrou-se alta

incidência da doença foram detectados falha na qualidade dos ambientes de trabalho, a

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saber: utilização de móveis desconfortáveis (24%), falta de ventilação nos locais de

trabalho (23%), exposição a vibrações (20%); desconforto de postura (19%); e falta de

luminosidade (18%).

Segundo MACIEL (2000, p.67), são sete os elementos para o desenvolvimento de um bom programa de prevenção de LER/DORT:

1. Investigação de indicadores de problemas de (LER/DORT) nos locais de trabalho, tais como queixas freqüentes de dores por parte dos trabalhadores, trabalhos que exigem movimentos repetitivos ou aplicação de forças.

2. Comprometimento da gerência e direção com a prevenção e com a participação dos trabalhadores para a solução dos problemas.

3. Capacitação dos trabalhadores, incluindo a gerência, sobre a (LER/DORT), para que possam avaliar os riscos potenciais dos seus locais de trabalho.

4. Coleta de dados, através da análise das atividades dos postos de trabalho, para identificar as condições de trabalho problemáticas, incluindo a análise de estatísticas médicas da ocorrência de queixas de dores ou de (LER/DORT).

5. Investigação de controles efetivos para neutralização dos

riscos de lesões por esforços repetitivos e avaliação e

acompanhamento da implantação dos mesmos.

6. Desenvolvimento de um sistema efetivo de comunicação, enfatizando a importância da detecção e tratamento precoce das doenças para evitar o seu agravamento e a incapacidade para o trabalho.

7. Planejamento de novos postos de trabalho ou novas funções, operações e processos de tal maneira a evitar condições de trabalho que coloquem os trabalhadores em risco.

Dessa maneira, apesar de não ser possível esquematizar um programa de

prevenção de LER/DORT totalmente especificado, com critérios ou valores máximos e

mínimos de cada condição de trabalho que levaria à eliminação do problema, é possível

descrever quais os passos necessários e condições mínimas para uma efetiva prevenção.

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3.1.1 INVESTIGAÇÃO E CONTROLE DOS FATORES DE RISCO DE LER/DORT

Os programas de prevenção de LER/DORT devem ter uma maneira de

investigar e determinar as causas das afecções. Para isso, a ergonomia possui uma série

de técnicas que ajudam a realizar a análise das atividades com o objetivo de diagnosticar

os aspectos inadequados do posto de trabalho que podem levar ao aparecimento das

doenças.

Para CARMO (1995, p.56), a coleta de informações sobre os postos de

trabalho começa com uma investigação de indicadores gerais. Os principais são os

indicadores de saúde dos funcionários:

• Análise de Comunicações de Acidentes de Trabalho

(CATs) ou estatísticas médicas;

• Questionários e entrevistas;

• Investigações clínicas de todos os funcionários; e

• Exames médicos periódicos.

A existência de dados médicos fidedignos é essencial para o

desenvolvimento de um programa de prevenção. Uma investigação em profundidade das

CATs pode trazer informações sobre a natureza das doenças e indicar possíveis fatores

de risco. A análise das estatísticas médicas e de prontuários deve ser realizada com o

mesmo objetivo.

Uma maneira mais sensível de levantar quais os postos de trabalho que

podem estar expondo os trabalhadores a riscos de LER/DORT é realizar um

levantamento de sintomas através de questionário ou entrevista, interna ou externamente

à empresa.

Segundo LAURELI & N0RIEGA (1989, p.333)

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A análise das CATS, dos dados médicos e dos levantamentos

podem indicar a natureza dos problemas musculoesqueléticos.

Entretanto, a análise das atividades é que fornecerá

informações sobre os aspectos críticos do posto de trabalho,

determinando as causas dos problemas. Essa identificação é

essencial para a modificação das condições de trabalho e

portanto à prevenção dos problemas. Mesmo quando não existe

indicação, pelos dados médicos, da existência de problemas, a

análise das atividades pode ter uma função proativa,

eliminando o risco antes que ele se instale.

Os indicadores de risco fornecem uma idéia da necessidade de esforço para

a prevenção. Por exemplo, indicadores de que o problema está distribuído em vários

departamentos e vários postos de trabalho e que uma grande porcentagem de

trabalhadores está com suspeita de problemas, mostra a necessidade de um programa de

prevenção em larga escala.

A pesquisa realizada pela companhia em 2005, demonstrou a falta de ações

de prevenção, nos ambientes de trabalho, contra a (LER/DORT). (figura 3).

(FIGURA 3 - Fatores de Riscos)

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A análise das atividades focalizando os casos de LER/DORT permite o

posterior desenvolvimento de medidas de controle que eliminem ou diminuam os riscos

encontrados.

Segundo MONTEIRO (1995, p.251-320), a ordem de aplicação das medidas

de controle deve seguir as seguintes abordagens:

• Reduzir ou eliminar os riscos potenciais modificando os

ambientes e postos de trabalho;

• Modificar os processos de trabalho e políticas de gestão.

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Nesse caso, a primeira abordagem para prevenir os problemas das

(LER/DORT) através do replanejamento dos postos de trabalho, inclui mudanças no

"layout" do posto de trabalho, o que pode ser feito através de um estudo ergonômico

deste, desenvolvido da seguinte forma:

• Observações dos trabalhadores quando realizam as tarefas através

de filmagens, fotografias ou técnicas de observação sistemáticas para determinar o

ciclo de trabalho, adoção de posturas, "layout" da estação de trabalho, etc;

• Medições da estação de trabalho, por exemplo, medidas da altura

de bancadas, cadeiras, máquinas, etc;

• Determinação das características da superfície de trabalho;

• Cálculos biomecânicos, tais como forças exigidas ou pressões

sobre grupos musculares ou articulações, baseados na manipulação de teclados;

• Questionários e entrevistas especiais para determinar aspectos das

condições de trabalho que impactam o trabalhador, influenciam seu conforto ou

desempenho.

A segunda abordagem deve ser implementada através de mudanças nas

práticas ou normas de trabalho para reduzir ou eliminar os riscos de (LER/DORT).

Esses controles incluem:

• Mudanças nas normas ou processos de produção;

• Rodízio de trabalhadores entre diferentes atividades;

• Variação das tarefas para evitar a repetição ou a manutenção

prolongada da mesma postura;

• Aumento na freqüência de pausas para permitir a recuperação;

• Redução da jornada ou diminuição de horas extras;

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39

• Rotação dos trabalhadores entre diferentes funções com demandas

diferentes sobre a musculatura;

• Ajuste do ritmo de trabalho para aliviar os efeitos dos

movimentos repetitivos e permitir ao trabalhador um melhor controle sobre seu

trabalho;

• Treinamento no reconhecimento dos fatores de risco e instruções

para alívio do stress e da carga de trabalho; e

• Designação de funcionários como responsáveis da implantação de

medidas de controle, além do estabelecimento de um cronograma de implantação e a

consideração com a logística necessária para a implantação em larga escala.

A implantação do programa de prevenção de (LER/DORT) é um processo

participativo. O acompanhamento e a avaliação das soluções e modificações realizadas

são necessários para assegurar que os controles eliminem ou diminuam os fatores de

risco.

3.2 CAPACITAÇÃO DE FUNCIONÁRIOS PARA A REDUÇÃO DE LER/DORT

A capacitação visa identificar e resolver problemas relacionados à

(LER/DORT), isso requer algum nível de conhecimento de ergonomia.

A capacitação dos trabalhadores permite que estejam bem informados sobre

os riscos e que possam participar ativamente das comissões de saúde ou equipes

localizadas. Os treinamentos podem ser realizados por consultorias ou assessorias

externas. Entretanto, nesse caso, os instrutores devem se familiarizar primeiro com as

políticas e operações da empresa ou do ramo de atividade em questão. Além disso,

devem adequar o curso às preocupações e interesses específicos dos grupos

participantes.

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Desse modo, o acesso à informação, por parte dos funcionários, é um passo

importante na construção de um programa de prevenção, para o reconhecimento e

solução dos problemas relacionados à saúde dos trabalhadores. (figura 4)

Segundo ODDONE (1986, p.133),

Com relação à ergonomia, a meta global dos cursos, dentro de

um programa de prevenção de LER/DORT, é capacitar os

participantes para identificar aspectos do trabalho que podem

expor os trabalhadores a riscos de afecções

musculoesqueléticas, reconhecer sinais e sintomas das afecções

e participar no desenvolvimento de estratégias para controlá-

los ou preveni-los.

Os cursos devem ser desenvolvidos de maneira diferente para diferentes

categorias de funcionários. Eles podem variar desde a conscientização de todos os

empregados, especialmente os que trabalham em tarefas com suspeita de exposição a

risco, até cursos especializados, intensivos, para aqueles que participam de processos

participativos de prevenção de (LER/DORT).

Sim16%

Não84%

Já ouviu falar de um problema de saúde conhecido como LER/Dort ?

Figura 4: Desconhecimento da (LER/DORT) entre os trabalhadores. Base: Entrevistados que não foram diagnosticados com LER/DORT. (fonte: Pesquisa interna, julho de 2005)

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Para DEJOURS (987, p.163) Os objetivos de uma conscientização em

ergonomia, em geral, realizada por meio de cursos de curta duração para a grande

maioria dos empregados, devem ser os seguintes:

• Reconhecer os fatores de risco de (LER/DORT) e entender as

medidas de controle;

• Identificar os sinais e sintomas de (LER/DORT), que podem ser o

resultado da exposição a tais fatores e estar familiarizado com os procedimentos e

cuidados de saúde;

• Conhecer o processo utilizado para controlar os fatores de risco e

as possíveis formas de participação;

• Conhecer os procedimentos para informar os fatores de risco e

afecções relacionadas à (LER/DORT), inclusive os canais formais e informais para onde

as informações devem ser encaminhadas.

Para ODDONE (1986, p.133),

A formação de multiplicadores, empregados designados para

cuidar da prevenção é uma maneira interessante de lidar com

os problemas internos de (LER/DORT);Os multiplicadores têm

por função estimular a participação e formar outros

empregados nas técnicas básicas de análise das atividades dos

postos de trabalho, para detecção e controle de riscos de

(LER/DORT), além de terem a função de iniciar o processo de

prevenção, realizando eles mesmos a análise das atividades de

alguns postos de trabalho.

É importante que os multiplicadores sejam capacitados em técnicas de

entrevista individual e em grupo e sejam capazes de assumir o papel de facilitadores na

interação com os trabalhadores.

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Para MONTEIRO (1995, p.251-320), “(...) esses cursos não devem ter a

pretensão de treinar os trabalhadores para diagnosticar ou tratar a (LER/DORT). O

propósito é levar a uma compreensão dos tipos de problemas de saúde relacionados ao

trabalho e quando os empregados devem ser levados para uma avaliação médica.”

Os trabalhadores conhecem suas condições de trabalho e possuem boas

idéias de como melhorá-las. Portanto, deve-lhes ser dada a oportunidade de discutir os

problemas das condições de trabalho, e realizar exercícios de solução de problemas

pertinentes.

3.3 COMPROMETIMENTO DA GERÊNCIA E PARTICIPAÇÃO DOS TRABALHADORES NA PREVENÇÃO DE LER/DORT.

Os programas de controle de riscos e prevenção de acidentes de trabalho

necessitam do comprometimento dos níveis hierárquicos mais altos da empresa. Sem

essa aprovação, a prevenção não será seguida corretamente pelos gerentes médios ou

supervisores. Assim, a prevenção só é efetiva quando a meta de não existência de casos

de doenças ocupacionais for tão importante quanto as metas de produção.

Por outro lado, quando a empresa não está interessada na prevenção, cabe

aos sindicatos, mostrar a sua importância e exigir o comprometimento da empresa na

prevenção de LER/DORT.

A participação dos trabalhadores ou seus representantes também é

importante em qualquer programa de prevenção. Esse processo é ainda mais efetivo

quando os trabalhadores participam nas várias fases da implantação do programa, desde

a detecção de postos de trabalho problemáticos, análise das atividades, sugestão de

meios de controle dos riscos, até a implantação e avaliação de modificações das

condições de trabalho. (figura 5)

S im2 6%

Não6 6%

Não tem che fe9%

Acham que correm algum risco de ficar sem emprego(70%)

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A participação pode se dar de forma direta e individual ou através de

representantes. Em geral, a representação ocorre nas comissões de saúde da empresa

como um todo.

Para WÜNSCH (1995, p.289-330),

A participação direta pode ocorrer nas equipes de prevenção do departamento ou setor (equipes localizadas). A participação pode se dar através dos membros da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), ou na falta dela, pelo responsável designado pela prevenção na organização. Quando existem comissões de saúde da empresa, essas comissões trabalham em:

• Discussão de formas de solucionar as questões de saúde e

segurança;

• Elaboração de recomendações de ações preventivas; e

• Aprovação de recursos para realização de ações.

O trabalho das equipes localizadas, em geral, envolve a realização de ações

específicas nos postos de trabalho de uma determinada área da empresa. Nesses grupos,

a participação pode ser de todos os trabalhadores envolvidos, dependendo do tamanho

da organização e do departamento, ou de alguns trabalhadores representantes do

departamento em questão.

Quando se estabelece um sistema de equipes ou grupos participativos na

prevenção de (LER/DORT), as soluções devem partir do grupo e não serem colocadas

de cima para baixo, o que poderia causar frustração e diminuir os benefícios decorrentes

do processo participativo.

De acordo com o tipo ou nível de participação, dois fatores são críticos para

um envolvimento efetivo dos trabalhadores. Um deles é a capacitação no

Figura 5: Índice de trabalhadores que apresentaram sintomas iniciais de (LER/DORT) (formigamento ou dormência), mas não informaram à gerência superior. Base: Entrevistados que não têm diagnóstico de (LER/DORT). (fonte: Pesquisa interna, julho de 2005)

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reconhecimento dos riscos e nas formas de controle dos mesmos. O segundo é o

fornecimento de informações por parte da direção.

Há várias formas de participação sendo que a forma escolhida depende da

cultura da empresa em questão, bem como da natureza dos problemas a serem

resolvidos e da capacidade dos participantes.

3.4 PROGRAMA DE PREVENÇÃO QUE DÁ CERTO

A empresa analisada por este trabalhado, após a pesquisa realizada

internamente, concluiu que programas de prevenção deveriam ser implementados para

que os casos de LER/DORT fossem reduzidos.

Descreveremos a seguir, um destes programas, para demonstrar de que

forma os programas de prevenção representam um ganho, tanto financeiro quanto de

qualidade de vida para a empresa e para os funcionários.

Inicialmente, a empresa iniciou um projeto de conscientização dos

funcionários, para que os mesmos percebam a importância de se respeitar as normas de

prevenção instituídas. Este ponto é de fundamental importância, pois sem o

envolvimento dos trabalhadores, as medidas de prevenção não alcançariam um de seus

objetivos principais, qual seja, melhorar a qualidade de vida de seus funcionários.

Outro programa implementado pela companhia é o de Ginástica Laboral,

uma ferramenta disponível dentro da ergonomia desenvolvida na empresa, com o

objetivo de prevenir as doenças ocupacionais, contribuindo para melhoria da qualidade

de vida dos funcionários. O Programa de Ginástica Laboral permite colaborar e orientar

as pessoas, para viverem melhor exercendo seu papel no setor em que estão inseridas,

em parceria com a Atividade Física Orientada, ou seja, cada profissional dentro da

empresa, independente de sua posição hierárquica ou função exercida, pode analisar e

reavaliar seu modo de pensar, agir, organizar seu tempo e espaço, prevenindo os grandes

vilões que causam males a saúde, aos quais chamamos de estresse.

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Como o próprio nome sugere, a Ginástica Laboral caracteriza-se por uma

atividade desenvolvida no ambiente de trabalho, atuando de forma preventiva e

terapêutica, através de exercícios que vão compensar as estruturas utilizadas durante a

função e ativar outras que não estejam sendo solicitadas. Durante esta atividade o

objetivo maior é prevenir o LER/DORT.

A Ginástica Laboral não sobrecarrega nem cansa o funcionário, porque é

leve e de curta duração. Seu objetivo é promover adaptações fisiológicas, físicas e

psíquicas, por meio de exercícios dirigidos que:

- Trabalham a reeducação postural,

- Aliviam o estresse,

- Diminuem o sedentarismo;

- Aumentam o ânimo para o trabalho;

- Promovem a saúde e uma maior consciência corporal;

- Aumentam a integração social;

- Melhoram o desempenho profissional;

- Diminuem as tensões acumuladas no trabalho;

- Previnem lesões e doenças por traumas cumulativos, como as LER/DORT;

- Diminuam a fadiga visual, corporal e mental por meio das pausas para os

exercícios.

Após a implantação do programa, em janeiro de 2006, a empresa vem reduzindo o

número de afastamentos por LER/DORT, como pode ser visto na figura 6.

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Já ficou afastado por LER/DORT alguma vez?

71%

0%

2%

4%

8%

15%

30%

36%

15%

5%

6%

14%

24%

64%

NUNCA

5 vezes ou mais

4 vezes

3 vezes

2 vezes

1 vez

SIM

Após Implantação Antes da Implantação

Figura 6: Comparação dos índices de Trabalhadores que apresentaram diagnóstico de LER/DORT antes e após

implantação do programa de ginástica laboral. Base: Entrevistados que foram diagnosticados com

LER/DORT. (fonte: Pesquisa interna de julho de 2005 e outubro de 2007)

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CAPÍTULO 4 – CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

Após estudar e compreender os conceitos de LER/DORT identificamos que

estes distúrbios estão diretamente relacionados ao movimento contínuo e repetitivo na

execução de uma determinada atividade, que podem se agravar caso inexista uma

posição ergonômica adequada.

Um dos principais intuitos, ao se estudar a história de determinadas

incidências e/ou ocorrências, é o de analisar os erros cometidos e evitar, assim, repeti-

los, como o que ocorreu no Japão, que foi o país que mais precocemente evoluiu em

termos de industrialização e automação, e que teve como conseqüência o aumento das

identificações das doenças ocupacionais, hoje conhecida como lesões por esforços

repetitivos. A partir da análise histórica, observamos que as lesões por esforços

repetitivos configuram-se como a principal causa de afastamento no Brasil, vindo ao

encontro do que foi pesquisado em uma indústria de bebidas da zona oeste da cidade do

Rio de Janeiro.

Podemos perceber que só na modernidade o homem começou a se importar

com este tipo de lesão, criando normas regulamentadoras para preveni-las, não com o

intuito único de prevenir problemas dos trabalhadores, mas sim, para se evitar o ônus

que estas lesões têm representado para as indústrias na atualidade.

Apesar de entendermos que a preocupação deveria ser, em primeiro lugar, o

bem estar do funcionário, sabemos que o aspecto financeiro apresenta um peso maior.

De uma forma ou de outra, medidas de prevenção beneficiam diretamente aos

trabalhadores, o que foi demonstrado pela pesquisa.

No decorrer dos anos, a relação homem-máquina, que já trouxe enormes

benefícios para a humanidade, também traz um grande números de vítimas, sejam elas

os portadores de doenças incapacitantes ou aquelas cuja integridade física foi atingida

por Lesões por Esforços Repetitivos (LER/DORT)

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Após avaliação dos índices causais, observou-se que (LER/DORT)

representa não só uma doença, mas um fenômeno social, com repercussões importantes

tanto na esfera social, na relação de trabalho e nos custos, onde se deve conhecer e

controlar os riscos, com uma política de segurança e saúde do trabalho que tenha como

base a ação de profissionais especializados atuando identificação e eliminação dos

fatores causais.

Dentre os principais fatores causadores no âmbito organizacional, destacam-

se na Industria de bebidas da Zona Oeste do Rio de Janeiro a ausência de pausas

durante a jornada de trabalho, a freqüência excessiva de horas extraordinárias e a

exigência de produtividade. Entre os fatores de natureza ergonômica, podemos ressaltar

a falta de flexibilidade postural, a ausência de revezamento nas tarefas, a ocorrência de

movimentos repetitivos, especialmente os de flexão e extensão dos tendões, músculos e

articulações do corpo humano. Apesar das dificuldades em sua comprovação,

destacavam-se a existência de excesso de pressão por parte das chefias e as dificuldades

nos relacionamentos interpessoais entre os próprios trabalhadores.

Verifiquei que a incidência de LER/DORT é responsável por um alto índice

de absenteísmo dentro da Indústria de Bebidas da zona Oeste do Rio de Janeiro. Este

número não é maior porque a maioria dos colaboradores contidos no quadro funcional

desconhecia o problema de LER/DORT, e até mesmo os que possuíam o conhecimento

necessário para identificar tal mal, não comunicavam a sua liderança com receio de

retaliações futuras. Percebemos, assim, que a falta de informações representa um

aspecto relevante nas medidas de prevenção que a indústria precisa implementar para

que a ocorrência de casos de LER/DORT tenham uma redução considerável.

A prevenção é a principal medida que a empresa pode adotar em relação às

lesões por esforços repetitivos e consiste basicamente na adequação do ambiente de

trabalho e na conscientização dos funcionários para que os mesmos possam contribuir

com a redução dos fatores antiergonômicos, que podem ser capazes de desencadear uma

lesão. O trabalho de conscientização deve contar com o comprometimento dos níveis

estratégicos para que se passe uma maior credibilidade ao programa, tendo assim

resultados relevantes.

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Baseando-se no exposto, o primeiro passo da empresa para reduzir índice de

afastamentos deve ser o de implantar o programa de conscientização dos colaboradores,

pois estes são peças fundamentais no processo de redução dos casos de LER/DORT, por

serem os maiores conhecedores das necessidades/dificuldades durante a execução de

uma determinada tarefa. Após a conscientização, o passo seguinte será a implantação da

ginástica laboral que no primeiro momento pode, geralmente, apresentar resultados

significativos, embora ainda não sejam suficientes para eliminar os casos de

LER/DORT.

Na Indústria analisada por este trabalho, observou-se uma redução dos

casos, o que vem comprovar e fundamentar o aumento das medidas de prevenção, além

de estimular cada vez mais a participação consciente dos colaboradores nestas medidas.

Conclui, portanto, que com estes programas, conquistamos ambientes de

trabalho mais saudáveis, o que pode elevar a motivação e o moral dos colaboradores e,

por conseqüência, aumentar a produtividade, o que justifica os investimentos realizados

com prevenção.

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ANEXOS

Índice de anexos

GRAFICO 1 - Índice de Trabalhadores que apresentaram diagnóstico de LER/DORT e

afirmaram que os sintomas prejudicam o desempenho no trabalho

.........................................................................................................................................29

GRAFICO 2 - Diagnóstico de sintomas médicos apresentados nos locais de

trabalho............................................................................................................................30

GRAFICO 3 – Fatores de risco......................................................................................34 GRAFICO 4 - Desconhecimento da (LER/DORT) entre os trabalhadores...................37

GRAFICO 5 – Índice de trabalhadores que apresentaram sintomas iniciais de

(LER/DORT) (formigamento ou dormência), mas não informaram à gerência

superior............................................................................................................................39

GRAFICO 6 – Comparação dos índices de Trabalhadores que apresentaram

diagnóstico de LER/DORT antes e após implantação do programa de ginástica

laboral..............................................................................................................................43

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INDICE

FOLHA DE ROSTO.........................................................................................02

AGRADECIMENTOS.......................................................................................03

DEDICATÓRIA................................................................................................04

RESUMO.........................................................................................................05

METODOLOGIA..............................................................................................06

SUMÁRIO........................................................................................................08

CAPITULO 1 – Introdução................................................................................09

1.1Hipótese......................................................................................................11

1.2Justificativa ................................................................................................11

1.3 Objetivo Geral............................................................................................11

1.4Objetivo Especifico......................................................................................12

CAPITULO 2 – Compreendendo Melhor as LER/DORT...................................13

2.1 Doença Osteomuscular Relacionada ao Trabalho (DORT) e Lesão por Esforço Repetitivo (LER)................................................................................................................13

2.1.1 Contexto histórico.........................................................................13

2.1.2 Aspectos conceituais....................................................................15

2.1.3 Fatores causais da DORT.............................................................18

2.1.4 Fatores individuais ...................................................................... 21

2.1.5 Fatores biomecânicos ................................................................. 22

2.1.6 Fatores Psicossociais ................................................................. 22

2.1.7 Fatores organizacionais .............................................................. 24

2.1.8 Fatores ambientais ...................................................................... 25

2.2 Trabalho e Carga de trabalho ......................................................... 26

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CAPÍTULO 3 – Análise de resultados ............................................................. 30

3.1 Gestão da Prevenção da LER e DORT.................................................... 30

3.1.1 Investigação e Controle dos Fatores de Risco de LER/DORT .... 35

3.2 Capacitação de Funcionários para a Redução de LER/DORT........

38

3.3 Comprometimento da Gerência e Participação dos Trabalhadores na

Prevenção de LER/DORT............................................................................... 41

3.4 Programa de prevenção que dá certo............................................ 43

CAPÍTULO 4 – Conclusão e Recomendações..................................... 47

ANEXOS ...............................................................................................50

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ............................................................51

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FOLHA DE AVALIAÇÃO Nome da Instituição:

Titulo da Monografia:

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Avaliado por: Conceito: