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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
ARTE: UM CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO
Por: Ana Cristina Francisco de Barros
Orientador
Profª. Maria Esther de Araújo Oliveira
Rio de Janeiro
2003
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
ARTE: UM CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a
conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato
Senso” em Arteterapia para a Educação e Saúde.
Por: Ana Cristina Francisco de Barros.
AGRADECIMENTO
À minha mãezinha por toda a
dedicação, força e compreensão
em todos os momentos da minha
vida.
À todos os professores, que tanto
auxiliaram e incentivaram.
À professora Claudia Brasil por
toda contribuição;
Às minhas irmãs, Rita, Eliane e
Marília, por compreenderem a
minha ausência;
Ao meu grande amigo Roberto pelo
incentivo e pelos papos na
madrugada;
A todas as crianças que tive a
oportunidade de conhecer e de
conviver, por terem dado um novo
sentido à minha vida.
DEDICATÓRIA
A Deus por ter me dado
condições físicas e psicológica
para a conclusão deste
trabalho.
À minha mãe, por tudo que temos
vivido juntas;
A todos que de uma forma ou de
outra me forneceram idéias, textos
e principalmente, o apoio solidário
tão necessário neste momento.
RESUMO
A arte é encarada, nos dias de hoje, como processo utilizado para
conduzir o desenvolvimento do ser em todos os seus campos.
Desta forma, ela é analisada como fator de desenvolvimento infantil,
de aprendizagem e como meio de expressão.
Em seguida, é abordado o teatro atuando no corpo, na aprendizagem
e também nas suas funções terapêuticas em instituições psiquiátricas.
É realizada uma análise do jogo como ferramenta essencial e a sua
importância na organização do pensamento.
A exploração necessária do brincar nas suas formas e facilidades
para o desenvolvimento através das brincadeiras, brinquedos e jogos, são
objetos desse estudo, pela sua pertinência.
São apresentadas a música e a dança como instrumentos
facilitadores do desenvolvimento, bem como a expressão corporal, utilizada
no contexto terapêutico, através da biodança.
É apresentado também, considerações da arte na educação e sua
fundamentação.
Finalmente, é abordado a importância da arteterapia, seus
objetivos, técnicas e os trabalhos desenvolvidos em suas oficinas.
METODOLOGIA
Este estudo foi confeccionado a partir de uma vasta pesquisa
bibliográfica de autores renomados, que assumiu um profundo caráter
exploratório e foi desenvolvida embaçando-se em leituras de textos
indicados por docentes especialistas.
Utilizou-se diversas experiências pessoas observadas nos campos
de atuação pedagógica, do magistério e da psicomotricidade.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
07
CAPÍTULO I Arte 09
CAPÍTULO II Teatro – O corpo e a Aprendizagem 20
CAPÍTULO III Jogo – Ferramenta Essencial 24
CAPÍTULO IV Brincar – Exploração Necessária 29
CAPÍTULO V Música e Dança – Instrumentos Facilitadores 42
CAPÍTULO VI Arte – Educação 47
CAPÍTULO VII Arteterapia
50
CONSIDERAÇÕES FINAIS
61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
64
ÍNDICE
66
FOLHA DE AVALIAÇÃO 68
“ Não há transição que não implique
um ponto de partida, em ponto de
chegada. Todo amanhã se cria num
ontem, através de um hoje. De modo
que nosso futuro baseia-se no
passado e se corporifica no
presente. Temos de saber o que
fomos e somos, para saber o que
queremos “.
Paulo Freire
“ A ARTE não é um estudo. É a beleza
que suscita o entusiasmo e a simpatia. É
simplesmente uma questão de
sentimento”.
Gilbran Kahlil
CAPÍTULO I
“ É através das relações dialéticas com o
meio físico e social que a criança constrói
seu pensamento, transformando os
processos psicológicos elementares em
processos complexos, fazendo com que a
cultura torne-se parte de cada pessoa”.
Vygotsky
CAPÍTULO II
“ A imaginação é um processo
psicológico novo para a criança (...). Ela
surge primeiro em forma de jogo, que é a
imaginação em ação”.
Vygotsky
CAPÍTULO III
“ Cada criança em suas brincadeiras
comporta-se como um poeta, enquanto
cria se mundo próprio ou, dizendo
melhor, enquanto transpõe os elementos
formadores de seu mundo para uma nova
ordem, mais agradável e conveniente
para ela “.
Freud
CAPÍTULO IV
“ A música é um corpo etéreo, cuja alma
é um suspiro e cuja mente é uma
emoção”.
Gilbran Kahlil
CAPÍTULO V
“ Educar é mais do que ensinar a ler,
escrever ou calcular; é preparar o
indivíduo para o mundo, para que ele
possa vê-lo, julgá-lo e transformá-lo “.
Solange Guimarães Mussi
CAPÍTULO VI
“ O uso da arte como terapia implica que
o processo criativo pode ser meio tanto
de reconciliar conflitos emocionais, como
de facilitar a auto-percepção e o
desenvolvimento pessoa “.
American Art Therapy Association
CAPÍTULO VII
“ É preciso estarmos abertos
constantemente ao novo e ao diferente
para podermos crescer e aprender. É
preciso aceitar a mudança, a novidade
venha ela de onde vier “.
Paulo Freire
“ Temos o direito de ser iguais sempre
que as diferenças nos inferiorizam.
Tempos o direito de ser diferentes
sempre que a igualdade nos
descaracteriza “.
Boaventura Souza Santos
De tudo ficaram três coisas:
“A certeza de que estava sempre começando.
A certeza de que era preciso continuar.
A certeza de que seria interrompido antes de terminar.
Fazer da interrupção um caminho,
da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sonho uma ponte,
da procura um reencontro”.
Charles Chaplin
INTRODUÇÃO
O Ser Humano tem distintos níveis de dominância de aptidões que
varia de indivíduo para indivíduo. Este possui todas as competências
necessárias a realização de diferentes tarefas. Mesmo que tenha dois
indivíduos com a mesma aptidão, o resultado do trabalho realizado será
qualitativamente diferente, pois dependerá de suas experiências,
informações acumuladas e pelo QI.
Esse trabalho refere-se ao estudo e a reflexão a cerca das artes em
toda sua magnitude na influência do desenvolvimento do ser como um todo.
Tem por objetivo dar luz à importância das atividades artísticas, bem
como sua utilização como meio de expressão, descrevendo, para melhor
elucidar o leitor as funções psíquicas que a norteiam.
As expressões artísticas, teatro, dança e música que pela sua
relevância aqui estudadas, são objetos de uma análise minuciosa.
O jogo, ferramenta utilizada no processo de desenvolvimento trás em
seu bojo a importância na organização do pensamento.
Enquanto o brincar apresenta-se como mecanismo de relevante
importância no trabalho com artes.
Nesse contexto, no que diz respeito ao jogo, a brincadeira e ao
brinquedo é oportuno uma revisão conceitual dentro da visão de Piaget,
Vygotsky, Winnicott e Benjamin, para a promoção de um melhor
esclarecimento.
A arte inserida no processo educacional, isto é, nos currículos
escolares é de suma importância, haja vista, permitir uma visão do mundo
não de forma pragmática, mas sim segundo as características inatas de
cada um.
A arteterapia, processo terapêutico, faz parte desse estudo devido as
inúmeras contribuições no desenvolvimento do ser, através de expressões
artísticas em suas diversas formas.
Para melhor compreensão do texto, dividiu-se o trabalho em sete
blocos temáticos apresentados num encadeamento lógico que permite ao
leitor uma visão ampla e abrangente de um tema tão complexo.
1. ARTE
A historicidade do homem sempre
esteve relacionada com a arte, a ponto
de seu ensino-aprendizagem participar
das normas e valores estabelecidos nos
ambientes culturais da produção
artística de todos os tempos.
A palavra "arte" deriva do latim ars − talento, saber fazer. Alguns
filósofos isolam determinadas características encontradas em todas as artes
e a percebem, sob o olhar da ciência da arte, na estética e na metafísica.
Platão, por exemplo, percebeu uma distinção entre Arte e Ciência.
Arte, para Platão, é o raciocínio, como a própria filosofia no seu grau
mais alto, isto é, a dialética. Arte é tudo, é todo e qualquer conhecimento. É
a poesia, embora a esta seja indispensável uma inspiração delirante. É
política, guerra, medicina. Arte é respeito e justiça, sem os quais os homens
não podem viver juntos nas cidades. Desse modo, para Platão, a arte
compreende todas as atividades ordenadas.
Aristóteles restringiu notavelmente o conceito de arte. Ele afirmava
que "a natureza é princípio da coisa mesma; a arte é o principio em outra
coisa". (apud JUPIASSU, 1990, p. 26). Tal ótica baseia-se na arte pré-
artística, isto é, a natureza existe e, por conseguinte, a arte foi criada a partir
da natureza.
Na verdade, a arte não esgota os poderes da imaginação, mesmo que
se satisfaça a necessidade normal da expressão estética.
A arte não tem importância para o homem somente
como instrumento para desenvolver sua criatividade,
sua percepção etc., mas tem importância em si mesma,
como assunto, como objeto de estudo. (BARBOSA,
1975, p. 90)
A afirmação "a arte começa onde apenas começa", (VIGOTSKY,
1998, p. 249) significa que a verdadeira arte se revela nos elementos ínfimos
pincelados num quadro, acrescidos a um texto, marcados numa escultura.
Vygotsky diz também que a arte é uma catarse. Transmutando os
sentimentos no seu contrário, na direção inversa à habitual, ela se converte
em poderosíssimo instrumento de descargas nervosas, e esse caráter
contraditório é a sua alma.
A arte manifesta-se nas chamadas artes plásticas ou visuais, da
palavra e da música. Qualquer que seja seu enfoque, sempre estão
presentes os pressupostos da estética, da filosofia da arte, da psicologia da
arte e da ciência da arte, fundamentados, de um modo ou de outro, na
harmonia. Toma-se como exemplo a música e compara-se o músico com o
arquiteto. Ambos trabalham com a harmonia. O músico, com a harmonia dos
sons e o arquiteto, com a harmonia do espaço.
Deve-se ter uma visão ampla, pois a arte está em toda parte, na vida
que passa. Até onde a mão e a presença humana alcançam, o ato criador
está presente.
O processo de criação efetiva-se em duas vertentes. Como
educadores, percebe-se pelo lado de fora; como artistas, ele é visto por
dentro; e ambos os processos integrados, constituem o ser humano
completo. Educa-se para promover a inteligência, para promover a atividade,
para assegurar o progresso.
Arte-educação é epistemologia da arte e, portanto, é a investigação
dos modos como se aprende arte na escola, quer seja no ensino
fundamental, médio ou superior, ou mesmo na intimidade dos ateliers.
Criar e conhecer são indissociáveis, e a flexibilidade é condição
fundamental para aprender. Não conhecer arte é ter uma aprendizagem
limitada. A arte produz conhecimentos e envolve a experiência de refletir
como objeto do conhecimento.
Ao contrário do que se pensa, o conhecimento, muitas vezes, é obtido
pelas observações efetivadas pelos sentidos:
Daquilo que eu sei
Nem tudo me deu clareza
Nem tudo foi permitido
Nem tudo foi concebido Daquilo que eu sei.[...]
(LINS, 1980).
Por outro lado, as propriedades psicológicas da arte importam,
sobretudo, pelos efeitos que exercem sobre o comportamento do indivíduo.
Das relações entre a arte e os homens resultam três diferentes
concepções da arte: a arte como ciência; a arte como experiência estética e
a arte como conhecimento. Assim sendo, questiona-se: Que relações
existem entre a reação estética e as demais reações do homem? Como se
relacionam arte e vida? Numa complexidade de inter-relações, diz Vygotsky,
(1998, p. 259):
Dependendo daquilo que libere ou reprima, ela pode nos
impulsionar a aspirar além da vida. Surgindo da vida e para
ela se dirigindo, o papel da arte é fundamental como atitude
dialética de edificação da vida, tanto que era exercida por
curandeiros ou sacerdotes que compreendiam o mundo de
forma mítica.
1.1 Arte no Desenvolvimento Infantil
O ensino da arte é de suma importância no processo de
aprendizagem, pois ela trabalha na perspectiva do desenvolvimento integral
da criança, seguindo a linha Pedagógica Construtivista.
A linha pedagógica Construtivista surgiu em meados da década de
80, baseada nos estudos da educadora argentina Emília Ferreiro. Essa
linha de ensino foi institucionalizada no Brasil, em 1996, a partir da
publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais ( PCN ). O
Construtivismo propõe que o aluno participe ativamente do próprio
aprendizado, mediante a experimentação, a pesquisa em grupo, o estímulo
à dúvida e o desenvolvimento do raciocínio e afirma que o aluno aprende
melhor ao tomar parte de forma direta na construção do conhecimento que
adquire, considerando o social e o cultural como constitutivos do processo
de construção do conhecimento, sem dispensar, é claro, o papel do
professor enquanto mediador dos conteúdos, acompanhando e intervindo de
forma adequada.
1.2 Arte no Desenvolvimento da Aprendizagem
Partindo do pressuposto que a criança olha, cheira, toca, ouve, se
move, experimenta, sente, pensa... e que o corpo é ação e pensamento,
pode-se afirmar que ela é um todo em relação ao mundo que a cerca, pois
precisa interagir com o meio para que possa construir o seu conhecimento e
fazer novas descobertas. A criança está atenta e aberta às experiências e ao
mundo, sem medo dos riscos, por isso arrisca-se... Vive intensamente,
maravilha-se com tudo que está ao seu redor.
Neste sentido, o pensamento se dá na ação, na sensação, na
percepção, através do sentimento. Através deste processo de construção e
de descoberta do mundo, ela vai ampliando seus horizontes de sonhos e
conhecimentos na relação com outras pessoas, com o mundo, com os
objetos, adquirindo com isso as percepções iniciais que influenciarão toda a
sua subseqüente compreensão do seu contexto de vida.
Assim é a Arte em todo seu contexto. Pensar o ensino de arte é
também pensar o processo de poetizar, fruir e conhecer Arte. Poetizar no
sentido de se encantar com tudo que nos rodeia, sendo capaz de se
emocionar, criar, imaginar, fantasiar. Fruir é sem dúvida nenhuma, aproveitar
o momento da descoberta como se fosse único e todo seu, a única
possibilidade de prazer e encantamento. Já o conhecer é algo que
simplesmente se une para dar sentido e significado a tudo, seria a razão das
descobertas, das vivências, das experiências, da evolução, do progresso, da
transcendência. O ensino de arte é, então, pensar na leitura e produção na
linguagem da arte, o que, por assim dizer, é um modo único de despertar a
consciência e novos modos de sensibilidade, emoção, medos,
conhecimentos.
A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento
artístico e da percepção estética, que caracterizam um modo próprio de
ordenar e dar sentido à experiência humana. Este componente curricular
favorece ao aluno relacionar-se criadoramente com outras disciplinas do
currículo. Podem-se estabelecer relações mais amplas quando estuda um
determinado período histórico, exercitar sua imaginação construindo textos,
desenvolver estratégias pessoais na resolução de problemas, conhecer
outras culturas, valores, além de perceber, valorizar e problematizar a sua
realidade cotidiana.
A arte solicita a visão, a escuta e os demais sentidos como portas de
entrada para uma compreensão mais significativa das questões sociais,
valores que governam os diferentes tipos de relações entre os indivíduos na
sociedade. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), a Arte é
assim vista:
O conhecimento da arte abre perspectivas para que o
aluno tenha uma compreensão do mundo na qual a
dimensão poética esteja presente: a arte ensina que é
possível transformar continuamente a existência, que é
preciso mudar referências a cada momento, ser flexível
Isso quer dizer que criar e conhecer são indissociáveis
e a flexibilidade é condição fundamental para aprender.
(p.20 e 21).
A Arte como componente curricular precisa ser trabalhada
observando alguns critérios fundamentais, que são seus campos
fundamentais:
a) O conhecimento artístico como produção e fruição. O conhecimento
artístico não tem como objetivo definir leis e compreender como as
coisas são, nem mesmo conceituar como elas se encontram ou se
formaram. A intenção da arte é que através das formas artísticas,
combinações de imagens, a criança possa ter o domínio do imaginário,
da criatividade. A produção neste sentido tem a intenção de desafiar o
cotidiano para revelar como as coisas que estão ao nosso redor
poderiam ser, expressando desta forma através da linguagem da arte
seus pensamentos, idéias, emoções. A obra de arte apresenta o
resultado da experiência humana, é o seu produto histórico/cultural.
A fruição acontece no momento em que os espectadores ao
apreciarem uma obra de arte, posicionam-se e dão sentido e significado às
obras observadas. A significação, a compreensão, está na interação entre o
espectador e a obra de arte.
O conhecimento através da fruição se dá a partir das relações
significativas, das percepções das qualidades de linhas, texturas, cores,
sons, movimentos. O sentimento, a intuição, a apropriação da obra de arte
como elemento seu, faz com que a criança perceba-se como sujeito parte
daquele contexto, conseguindo desta forma que ela possa imaginar-se
dentro deste processo, além de conceber idéias e situações novas.
Tanto na produção quando na fruição – apreciação – estão presentes
habilidades de relacionar e solucionar questões propostas pela organização
dos elementos que compõem as formas artísticas. Conhecer arte envolve o
exercício conjunto do pensamento, da intuição, da sensibilidade e da
imaginação.
b) conhecimento artístico como reflexão. Para que aconteça a produção de
sentidos e assim o enriquecimento do seu conhecimento sobre a arte, é
necessário que aconteça o processo de investigação sobre o campo
artístico como atividade humana. É a partir deste momento que o
conhecimento que está sendo construído começa a ser contextualizado
no tempo, num sentido histórico, e no espaço.
A experiência de refletir sobre a arte como objeto de
conhecimento, onde importam dados sobre a cultura
em que o trabalho artístico foi realizado, a história da
arte e os elementos e princípios formais que constituem
a produção artística, tanto de artistas quanto dos
próprios alunos.(PCN, 1997, p.43 e 44).
O repensar no já pensado, que é o processo de reflexão, proporciona
uma aprendizagem rica em significados para o processo de construção do
conhecimento.
Aprender arte, nesta perspectiva envolve não apenas uma atividade
de produção artística pelas crianças, mas também a conquista da
significação do que fazem, pelo desenvolvimento da percepção estética,
tendo o contato com o fenômeno artístico visto e estudado.
A criança que passa por este processo de aprendizagem, consegue
desenvolver potencialidades que podem ser alicerçadas a consciência do
seu lugar no mundo e também contribui para sua capacidade de relacionar
os conteúdos dos outros componentes curriculares a sua construção do
conhecimento.
Gardner, autor da teoria das inteligências múltiplas, afirma que os
primeiros conhecimentos realizados pelas crianças são de certa forma
intuitivos, pois, são construídos a partir das interações com objetos físicos e
com outras pessoas, adquirindo através de sistemas de percepções
sensoriais e interações motoras, estimuladas pelo mundo externo. Relações
de causa-efeito, compreensões da natureza e da constituição de objetos e
do mundo, também dos números, formarão a base de teorias que surgirão
depois. Neste sentido, a criança passa por um processo de construção para
a elaboração do seu conhecimento baseada nas descobertas e experiências
vividas. No livro Didática do Ensino de Arte, as autoras contextualizam este
processo da seguinte maneira:
modo intuitivo de estar no mundo
A imitação é também um dos fatores que são necessários nesta fase,
pois é através dela que a criança produz ações (gestos, escrever, pintar,
agir, desenhar, recortar, cantar, dançar, tocar...) e começa a interessar-se
pelas coisas que a rodeia.
modo simbólico de mostrar o mundo
A função simbólica é o centro do processo de ensino-aprendizagem.
A criança constrói seus símbolos através de suas ações e de diferentes
formas de linguagem, representa os objetos e as ações sobre eles,
representando também seus conceitos. São representações sobre as
representações, buscando dar significado sobre as ações verbais, visuais,
gestuais, sonoras. A linguagem verbal é um sistema simbólico fundamental,
mas não o único. A arte tem um papel prioritário no exercício dessa
competência, pois é através das experiências artísticas que o significado e o
sentido vão dando asas à imaginação e ao conhecimento.
modo noticioso de mostrar o mundo
A criança vive intensamente a leitura e a produção sígnica do mundo.
Apresenta a realidade de maneira a noticiar o que viveu, experienciou,
de forma que, aos poucos, dentro de um processo de observação, vá
enriquecendo seus registros para que este fique com a mais “pura” realidade
do que ocorreu.
Neste sentido, o desenho, o registro, vai ganhando vida própria, pois
fica completamente rico de detalhes, de percepções, de observações, de
sentimentos e de pensamentos que irão ser demonstrados para todos
aqueles que o lerem a partir da sua construção.
modo de pensar sobre o pensar
O pensar sobre o pensar seria a reflexão do que já foi pensado, isto é,
é a abstração e a compreensão maior dos fatos e acontecimentos que estão
ao nosso redor. Este pensamento acontece quando as crianças começam a
problematizar, analisar, observar o que está ao seu redor, com um olhar
mais crítico, investigativo e criterioso em busca do saber “verdadeiro”.
Neste sentido, o prazer de manejar e explorar, a ótica de ver-pensar-
sentir o mundo, a maneira de se expor, de se sentir e se posicionar nas mais
diversas situações do dia-a-dia fazem com que as crianças comecem a
perceber idéias de formas diferentes.
A Arte nos possibilita a junção entre pensamento e sentimento que
nos ajuda a significar o mundo. Assim, o ser humano é a soma de suas
percepções singulares, únicas que buscam o constante despertar, no
sentido da constante busca do conhecimento.
1.3 Arte como meio de Expressão
Em geral, o adulto não desenvolve seu potencial artístico e assim, sua
necessidade de expressão estética não se realiza plenamente.
Quando ele se defronta com a possibilidade de se expressar
artisticamente fica inibido e, muitas vezes, recusa-se a participar da
atividade artística; quando o faz, faz como uma criança; regredindo e usando
traços esquemáticos e estilizados.
Quando se propõe uma atividade artística a um paciente adulto com
câncer, a primeira reação, em geral, é a inibição típica de um adulto.
Cabe ao profissional tentar romper esta barreira e criar um ambiente
favorável, oferecendo materiais amplos, como argila, ou menos
comprometedores, como colagem etc.
A atividade artística funciona como um canal de auto expressão e
criatividade.
Para um paciente com câncer, este espaço de criação pode ser
fundamental como fonte de prazer e auto conhecimento.
Por meio da arte, o paciente desenvolve uma linguagem plástica que
utiliza, não apenas para expor sua sensibilidade estética, mas para
estabelecer um diálogo interno, onde pode fazer opções formais de
equilíbrio, cores, materiais etc.
Ao travar este diálogo, o paciente abre as portas para sua percepção
e se enriquece em um momento difícil e doloroso.
A arte pode funcionar como terapia, onde as emoções se apresentam
e podem ser trabalhadas, quando o paciente permite e um profissional o
acompanha.
Gardner ressaltou, “a total imersão num trabalho de arte” é uma forma
de o indivíduo sentir e se expressar com respeito às questões básicas da
vida. Qualquer uma das linguagens de arte nos revela a preocupação com
estas, como o significado da vida e morte, do sofrimento e de outras
questões existenciais. Contemplar obras plásticas, assistir a peças teatrais,
filmes, vídeos, ouvir música, enfim, apreciar essas dimensões mais sutis da
arte proporcionam recursos para o aluno expressar suas preocupações
existenciais. Essas podem ser inseridas num contexto terapêutico
desenvolvendo-se a integração a outras capacidades. Integrando assim, os
hemisférios direito e esquerdo de nosso cérebro, propiciando uma satisfação
estética interna, e uma gradativa expansão da consciência.
Alguns aprendizados, como a ortografia das palavras, podem ser
melhorados pelo vínculo das capacidades e inteligências, lembrando que
pode-se, nesse momento, associá-las às funções psíquicas descritas por
Jung como o “pensamento” (lógico - dedutiva), “sentimento” (espacial,
musical), “sensação” (corporal – cinestésica), “intuição” (existencial).
É relevante descrever um pouco sobre às funções psíquicas para
melhor esclarecer o leitor do seu importante papel diante do
desenvolvimento concomitante ao trabalho com as artes.
Os elementos indicam como a pessoa vivência o mundo, através das
quatros possibilidades básicas (funções psicológicas fundamentais):
pensamento, sentimento, intuição e sensação. Na realidade, uma delas
predominará, determinando a atitude da consciência.
Segundo Jung, cada função pode ser experienciada tanto de uma
maneira introvertida quanto extrovertida.
O pensamento e o sentimento eram vistos por Jung como maneiras
alternativas de elaborar julgamentos e tomar decisões. O pensamento está
relacionado com a verdade, com julgamentos derivados de critérios
impessoais, lógicos e objetivos. Sentir é tomar decisões de acordo com
julgamentos de valores próprios.
Jung classifica a sensação e a intuição, juntas, como as formas de
apreender informações, ao contrário das formas de tomar decisões. A
sensação refere-se a um enfoque na experiência direta, na percepção de
detalhes, de fatos concretos, o que uma pessoa pode ver, tocar, cheirar.
A intuição é uma forma de processar informações em termos de experiência
passada, objetivos futuros e processos inconscientes. Pessoas intuitivas dão
significado às suas percepções com tamanha rapidez que via de regra não
conseguem separar suas interpretações dos dados sensoriais brutos. Os
intuitivos processam informação muito depressa e relacionam, de forma
automática, a experiência passada e informações relevantes à experiência
imediata.
Para o indivíduo, uma combinação das quatro funções resulta em
uma abordagem equilibrada do mundo: uma função que nos assegure de
que algo está aqui (sensação); uma segunda função que estabeleça o que é
(pensamento); uma terceira função que declare se isto nos é ou não
apropriado, se queremos aceitá-lo ou não (sentimento); e uma quarta função
que indique de onde isto veio e para onde vai (intuição). Entretanto,
ninguém desenvolve igualmente bem todas as quatro funções. Cada pessoa
tem uma função fortemente dominante, e uma função auxiliar parcialmente
desenvolvida. As outras duas funções são em geral inconscientes e a
eficácia de sua ação é bem menor. Quanto mais desenvolvidas e
conscientes forem as funções dominante e auxiliar, mais profundamente
inconscientes serão seus opostos. Jung chamou a função menos
desenvolvida em cada indivíduo de "função inferior". Esta função é a menos
consciente e a mais primitiva e indiferenciada.
2. TEATRO – O CORPO E A APRENDIZAGEM
Quando se fala em trabalhar as técnicas teatrais na educação de
crianças, o objetivo não é formar atores, mas sim fazer com que elas se
expressem livremente usando o seu corpo. Teatro é livre expressão. A
prática do teatro na educação tem
que partir do princípio de que todos têm a capacidade de dramatizar, a
metodologia de ensino a ser utilizada precisa acreditar que a fonte de toda
atividade educativa está nas ações e atitudes impulsivas da criança. Pois,
as atividades de expressão liberam a personalidade pela espontaneidade e
as atividades artísticas permitem que o aluno se auto expresse, explorando
todas as formas de comunicação.
De que forma o teatro contribui para o desenvolvimento infantil ?
Em primeiro lugar, o teatro deve ser entendido como uma disciplina
que tem um conteúdo a ser ensinado, exigindo o detalhamento de objetivos
específicos para a sua operacionalização.
A contribuição do teatro para o desenvolvimento infantil está
intimamente ligada as formas pelas quais a interpretação se dá através das
mensagens que seus movimentos transmitem.
O teatro quando mediado, oportuniza a socialização, viabilizando
relações de cooperação, partilha de idéias e tolerância recíproca,
exercitando o hábito de fazer crítica com objetividade e de recebê-la com
discernimento, e principalmente de respeitar o outro.
O aluno libera suas potencialidades afetivas, intelectuais e físicas,
somente em um clima de liberdade. O meio natural de estudo, para a
criança dramatizar é o jogo cênico ( relativo a cena ). O aluno aprende
atuando.
Segundo Jean Piaget, é preciso garantir a toda criança o inteiro
desenvolvimento de suas funções mentais e a aquisição de conhecimentos e
valores morais correspondentes ao exercício de suas funções até a
adaptação à vida social atual.
O processo teatral na escola colabora na formação de pessoas
criativas, que participam e cooperam com mais segurança na elaboração do
próprio conhecimento. Através do jogo durante o processo de apropriação
da linguagem teatral, ocorre uma diminuição da super valorização dos erros
e um enriquecimento da conscientização da ação , fortalecendo a
autoconfiança na criança. Elas tornam-se mais comunicativas e objetivas, e
o hábito de absorção conseguido com esse treino é uma das melhores
maneiras de desenvolver a concentração.
O professor poderá, sem dúvida, aplicar as técnicas teatrais no ensino
de qualquer disciplina do currículo pedagógico. Os alunos ao
desenvolverem essas capacidades de expressão mostrar-se-ão atentos a
todo tipo de aprendizagem, que no tange à assimilação dos conteúdos
pedagógicos sem sofrerem avaliações tradicionais de ensino.
Todas as atividades de expressão propostas devem culminar na
solução de problemas que, estimulem o aluno a encontrar a descoberta
através da ação. O aluno desenvolve suas capacidades de relacionamento
social, espontaneidade, imaginação, observação, percepção e auto
avaliação, atuando.
Na prática, todos poderão observar as positivas mudanças de
comportamento dos alunos pelo exercício das atividades dramáticas.
Logo, fica claro que através de atividades artísticas trabalhadas
concomitantemente ao conteúdo pedagógico, a criança se desenvolve
integralmente.
Participando de jogos teatrais, a criança tem a oportunidade de se
desenvolver dentro de um grupo de maneira responsável, legitimando seus
direitos e estabelecendo relações entre o individual e o coletivo, aprendendo
a ouvir, a acatar e a ordenar opiniões, respeitando as diferentes
manifestações e organizando a expressão do grupo. O jogo teatral permite
recomeçar, fazer outra vez.
Devido as linguagens e formas alternativas de comunicação, o teatro
diminui a timidez de algumas crianças, lhes dando segurança, autonomia e
expressividade.
É interessante que se preparem as crianças, utilizando-se de jogos ,
antes de iniciá-las nas técnicas teatrais, porque é muito legal quando elas
percebem que na vida real, elas são elas e no teatro não, às vezes são mais
velhas, mais chatas, mais falantes, mais ricas, esnobes, pobres ou humildes,
e podem se gagas ou andar diferente ( ótima ocasião para se trabalhar o
preconceito diante do outro diferente ).
Enfim, com o teatro a criança transmite sentimentos e emoções ao
mudarem para o personagem, principalmente quando há mudança no corpo
e na fala. Logo, o teatro surge no processo educacional como um meio para
a educação estética e um facilitador do processo das relações destas, além
de contribuir para a formação da personalidade de cada criança envolvida.
Considero oportuno relatar duas experiências que tive com a arte do
teatro em sala de aula.
“Como professora regente de uma turma de 3ª série ( 46 alunos ),
resolvi tornar os dias dos meus alunos menos tediosos, por terem que estar
na maior parte do tempo com uma única professora. Pensando assim, criei
quatro professoras, que nomeei a partir do meu nome : Anicotinha,
professora de Ciências com forte sotaque nordestino e de andar engraçado;
Tina Barros, professora de Matemática que fala muito rápido ( para estimular
o raciocínio ), veste guarda pó e costuma usar um coque no alto da cabeça;
Cris Crow, professora de Estudos Sociais (História e Geografia ), um tanto
espalhafatosa, adora falar de suas descobertas nas viagens que fez por
todo o território brasileiro (forma que encontrei para trabalhar as regiões
com seus estados e capitais ) e Cristina, professora da Língua Portuguesa,
fala corretamente de forma poética; utiliza letras de música para melhor
explorar a interpretação.
Tomei o cuidado de utilizar penteado, roupa, forma de falar e de andar
diferentes, como forma de dar vida a meus personagens.
Foi um sucesso. Os resultados foram os melhores possíveis.
A outra experiência, foi com os próprios alunos: Nós montávamos
uma peça teatral para cada conteúdo da história estudado. Os alunos eram
divididos em subgrupos e trabalhavam com a criação do roteiro e forma de
apresentação de acordo com o tema sorteado.
2.1 Teatro Terapêutico
O teatro terapêutico é um teatro em profunda reflexão consigo
mesmo, onde os mitos são ultrapassados por relações que fazem ao final
do drama. Logo, ele passa a ser a reconstituição simbólica de fantasias
recalcadas que a cena dramática permite refletir e analisar, e, com isso,
nova liberdade para refazer o real. É uma forma de psicoterapia de caráter
institucional ( clínicas psiquiátricas).
Ao questionar através dos papéis, o teatro terapêutico, produz uma
nova linguagem. Esta introduz novos conteúdos. Estes procuram integrar-
se numa realidade onde já não seja necessário imaginar, mas seja possível
viver. Isto quer disse, que a sua tática está na revelação da linguagem
inconsciente do grupo através da linguagem e da técnica do teatro, e sua
elaboração através do próprio teatro. Porque o que se tenta a priori, é
utilizar a orientação dramática como reveladora dos conteúdos inconscientes
não acessíveis em uma pessoa com problemas psiquiátricos.
O teatro terapêutico tenta propor um novo caminho, ele se propõe a
recuperar para a psicoterapia na instituição psiquiátrica sua necessária luta
contra a morte, imposta pelo hospital psiquiátrico.
Ele pretende mostra a possibilidade de uma terapia que, ao
denunciar o drama institucional, possa recuperar a individualidade do ser e a
liberdade de estar inclusive com outros: possibilidades novas de ser, frente a
cada um e junto de todos
Tenta colocar também a possibilidade de ser fiel não a um modo de
viver, mas à vida e, portanto, não à maneira de uma instituição. Com isso
pretende mostrar o caráter necessário desta que deverá servir, e não,
obrigar, dispor e perguntar, ao contrário de mandar e prender.
A meta definitiva do trabalho com teatro terapêutico é recuperar a
vida para quem vive.
3. JOGO – FERRAMENTA ESSENCIAL
É grande a importância que o jogo assume no desenvolvimento humano, uma
vez que surge como possibilidade natural na preparação da criança para enfrentar as
diferentes situações problemáticas com as quais irá se defrontar durante a vida.
Através das atividades lúdicas a criança libera e canaliza suas energias, dá
vazão à fantasia, além de ser uma grande fonte de prazer.
No jogo, o desafio sempre existe – isto porque não se sabe onde ele levará
nem como as coisas acontecerão. Há sempre um caráter novo e a novidade é
fundamental para despertar o interesse e a curiosidade infantil.
O desenvolvimento integral da criança é favorecido, já que há o envolvimento
emocional, o convívio social e a possibilidade de realizar operações mentais; tudo
isto acontece de uma formalidade agradável, em que a criança despende energia,
imagina, constrói normas e cria alternativas para resolver os impasses que surgem.
A medida que joga, a criança vai se conhecendo melhor e interagindo com
seus pares e adultos, daí o jogo assumir um caráter por excelência integrador. São
descobertas novas maneiras de explorar o corpo e de resolver problemas, estando
toda a personalidade envolvida também.
Autoconfiança é continuamente desenvolvida, pois à medida que é desafiada
a desempenhar habilidades operatórias que envolvam a identificação, a comparação,
a análise, a síntese, a generalização, a criança vai conhecendo suas próprias
possibilidades.
Face a importância que o jogo assume no desenvolvimento infantil, parece-
me bastante compreensível que o professor deva se preocupar com a inclusão de
jogos, tais como os de reasseguramento profundo - são os jogos de
construção/destruição, de perseguição, de queda, de rotação, de aparecer/desaparecer,
de se agarrar, de se balançar, etc. ( Estas brincadeiras estão, assim, relacionadas aos
fantasmas sensoriomotores originários, que nascem da ação, ou seja, do prazer de
agir e transformar ).
Estes jogos são transformados mais tarde, nos “jogos de identificação ao
agressor”, descritos por Anna Freud e ligados aos fantasmas de devoração (são as
brincadeiras de lobo, de crocodilo, de tubarão, de monstro, de bruxa, etc. ).
De acordo com a teoria piagetiana do desenvolvimento, o jogo como
movimento predominante assimilativo do organismo constitui a possibilidade
primeira do processo de desenvolvimento cognitivo, ou seja, o desenvolvimento se
dá através do jogo ( Iniciação Escolar e Alfabetização p.13,1981 ).
Na moderna concepção pedagógica, o jogo é toda e qualquer
atividade lúdica da criança através da qual ela está descobrindo,
aprendendo alguma experiência, desenvolvendo sua dimensão física,
psíquica e afetivo – social.
A inteligência se constrói através da ação realizada pelo indivíduo no
seu meio. Esta ação não é um ato isolado, ela está envolvendo não só o
corpo como também a mente e a emoção da criança.
Através do jogo, estimulam-se as funções respiratórias e circulatória,
proporcionando uma melhor alimentação das células e uma eliminação mais
eficaz de detritos: é essa atividade motora que permite à criança a
exploração do ambiente externo, proporcionando-lhe experiências concretas
indispensáveis ao seu desenvolvimento intelectual e é através dessa
exploração que ela passa a se descobrir, a se respeitar e a respeitar os
colegas.
Os jogos também tem importância no desenvolvimento
socioemocional, pois estimulam a autoconfiança, o companheirismo, o senso
crítico, a responsabilidade e a liderança.
O jogo como regra leva a todos à um objetivo comum e a realizar o
que deseja. Regras são criadas e aceitas pelo grupo e não impostas, o que
permite estabelecer uma ponte entre o lugar onde gostaria de viver e a
realidade onde vivi, com isso ajuda a entender as regras do mundo real.
Logo, é oportuno ressaltar que a formação de um educador preocupado com a
construção do pensamento e a aquisição do conhecimento de seus alunos, o trabalho
com o jogo, que vejo como instrumento primeiro de pensamento no enfrentamento
da realidade e as linguagens artísticas que darão forma às experiências vividas e as
transformarão em elemento de pensamento interiorizado, é de suma importância.
3.1 IMPORTÂNCIA DO JOGO NA ORGANIZAÇÃO DO
PENSAMENTO
A criança precisa ter um meio de cultura que favoreça o seu
desenvolvimento, o seu amadurecimento. Aquela que não sabe brincar ou
tem bloqueada sua atividade lúdica, possui conflitos em sua interação com o
mundo e empobrece seu mundo mental.
O bebê por ser totalmente incapaz de sobreviver por si só necessita
de importantes condições que estão diretamente vinculadas ao acolhimento
e afeto que ele recebe no seio familiar para que estas favoreçam o seu
processo de desenvolvimento, até que atinja a plenitude da maturidade, de
ser que pensa, que reflete e que utiliza de sua criatividade para superar suas
deficiências e frustrações de ser limitado.
Betty Garma, afirma em seu livro Criança em Análise que: “ É
mediante o jogo que o ser humano descobre, investiga, se comunica e
consegue viver no mundo que o rodeia. O jogo e os brinquedos cumprem a
função de veículo para que a criança possa projetar-se no mundo e ao
mesmo tempo conhecê-lo, em um inter – jogo enriquecedor de sua
personalidade. Assim, o brincar é o trabalho fundamental da criança, é um
ensaio e a expressão de uma vida saudável “.
A capacidade de utilização simbólica e a organização do pensamento
são favorecidas pelo ambiente e por sua capacidade continente de receber
as projeções emocionais da criança realizadas através do brinquedo.
Segundo Winnicott, as pessoas saudáveis experimentam três áreas:
A vida no mundo
A vida da realidade psíquica própria
A área de experiência cultural
Através desta afirmação ele valoriza o papel da família no
desenvolvimento saudável da personalidade do indivíduo e da sociedade.
“ O brinquedo, além de estimular a fantasia, permite à criança
aprender a realidade e conhecer o mundo dos adultos. É uma atividade
exploratória que facilita a elaboração de ansiedades e conflitos, ajuda a
configurar noções de espaço, tempo, relações e funcionamento social. Pelo
movimento que realiza ao brincar, a criança também aumenta sua destreza
muscular e com ela sua auto confiança, afirma a Dra. Raquel Soifer.
A atividade lúdica acompanha e ajuda todas as etapas do
desenvolvimento da criança. Pois, a criança com capacidade de jogo é o
adulto com capacidade de trabalho.
Existe um ciclo de jogo que adquire evolutivamente diferentes formas
de expressão, diante disso J. Chateau considera diferentes tipos de jogo de
acordo com o desenvolvimento e a idade. São eles:
Jogos funcionais ( de 0 até 6 ou 7 anos ).
Jogos hedonísticos ( a vida toda ).
Jogos com novidades ( de 0 até 3 anos ).
Jogos de destruição ( de 0 até 11 ou 12 anos ).
Jogos de desordem ou impulsos ( de 0 até 11 ou 12 anos ).
Jogos figurativos ( de 0 até 11 ou 12 anos ).
Jogos de construção ( de 2 até 11 ou 12 anos ).
Jogos de regras arbitrárias ( de 3 até 11 ou 12 anos ).
Jogos de proezas ( de 3 – 4 anos até 9 – 10 anos ).
Jogos de disputa ( de 9 anos em diante ).
Danças ( de 4 – 5 anos em diante ).
Cerimônias ( de 7 – 8 anos em diante ).
Cada ser humano nasce com uma força integrativa, geneticamente
herdada, que é a força da vida.
O indivíduo inicia sua vida dominado pelo Princípio do Prazer
Absoluto e evolui para o Princípio da Realidade ( adaptação com aceitação
de seus limites ) passando para o Narcisismo Secundário, o que permite o
desenvolvimento da auto – estima e maturidade. O brinquedo favorece
muito este processo e com a sua utilização é permitido a criança sentir-se
capaz de produzir, por meio do domínio do corpo, do movimento, da
comunicação, da criatividade, o que desenvolve a sua auto estima,
aprendendo pela própria atividade lúdica a lidar com seus conflitos e
experiências negativas mais primitivas.
Logo, fica claro o papel fundamental do brinquedo em psicanálise de
crianças, pois utiliza-se técnicas que trabalham a expressão da vivências
traumáticas precoces e sua elaboração.
4. BRINCAR – EXPLORAÇÃO NECESSÁRIA
É através das brincadeiras que crianças constróem uma ponte entre a
realidade e a fantasia.
Brincando, a criança assume papéis que podem ser fictícios ( vistos
em filme ou desenhos da TV ) ou reais ( imitação de alguém que teme ou
admira ) e é diante disso que ela passa do papel passivo para o ativo com a
maior facilidade.
O brincar permite que as crianças sejam capazes de lidar com
complexas dificuldades, tais como as experiências de dor, medo e perda,
além de trabalharem conceitos de bem e mal.
Na representação de papéis, que a medida que a criança amadurece
tornam-se mais definidos, a criança tem a possibilidade de resolver
problemas passados e representar seus sentimentos ambivalentes com o
ciúme do irmãozinho que recebe os cuidados da mãe e os elogios da sua
professora (tia) para com seu coleguinha.
É relevante disser que o brincar não pode ser segmentado na
Educação Infantil, isto quer disser que ele não pode ter uma hora pré
determinada para acontecer e que se faz necessário a troca de brinquedos
devido a falta de estímulos que a criança acostumada a eles pode ter, por
não ter novas possibilidades de movimentos.
O primeiro princípio do brincar é a exploração, porque brincar é uma
forma de experimentação e de apropriação da cultura. É por meio dele que
a criança experimenta, organiza-se, regula-se, constrói normas para si e
para o outro. Ela cria e recria a cada nova brincadeira o mundo que a
cerca. O brincar é a forma de linguagem que cada uma usa.
O desenvolvimento da criatividade, a competência intelectual, a força
e a estabilidade emocional, o sentido de alegria e o prazer de ser feliz estão
intimamente ligados ao brincar que pode ser livre ( orientado, mediado e
auto iniciado pela criança – por isso é livre ) e dirigido ( tem o jogo, as
normas e as regras ).
Enfim, brincando a criança tem a oportunidade de :
⇒ Comunicar, questionar, interagir.
⇒ Conhecer e valorizar a si mesma e entender as limitações
pessoais.
⇒ Adquirir novos conhecimentos, habilidades, pensamentos
coerentes e lógicos.
⇒ Criar, observar, experimentar, movimentar-se, cooperar, sentir,
pensar, memorizar.
⇒ Praticar, escolher, perseverar, imitar.
⇒ Imaginar, dominar, adquirir competências e confiança.
Quando se fala em brincar, é importante lembrar a oferta de
brinquedos eletrônicos e os atraentes jogos à disposição no mercado, que
desmerecem o artesanato, colocando no lugar da satisfação de criar o gosto
pelo consumo exacerbado, trocando os valores entre ter e o fazer . Digo
isso porque, constato a todo instante que muitas crianças desconhecem
seus potenciais porque não tiveram a oportunidade de experenciá-los.
Logo, o professor deve ser um elemento integrante das brincadeiras,
deve agir ora como observador, ora como organizador. A sua intervenção
tem que ser vital, tanto para explicar e demonstrar quanto para apoiar
afetivamente e intelectualmente as tentativas dos alunos. Ele deve fazer da
brincadeira uma atividade social que garanta a interação e a construção da
realidade pelos alunos. Além de tentar passar conteúdos e realizar
avaliações de forma mais atraente e motivadora, e, pela confecção de jogos,
atingir diferentes objetivos simultaneamente.
Para uma criança pequena, brincar é um meio de converter poderes
adormecidos em várias habilidades e perícias. A abordagem brincalhona das
crianças em relação a pessoas, objetos e situações, permite-lhes testá-los
sem assumir a responsabilidade pelas conseqüências. “Eu estava apenas
brincando” é a desculpa freqüente da criança quando alguma coisa sai
errada.
Brincar é uma modalidade-chave de aprender a respeito da natureza,
bem como sobre os relacionamentos entre pessoas. Brincar também serve
ao propósito de adaptação às situações frustradoras de vontades e desejos
não satisfeitos. Quando uma criança brinca e tem prazer nisso, ela é
completamente uma criança.
4.1 De que maneira o brincar é facilitador do
desenvolvimento ?
A maior facilidade em um crescente repertório de habilidades motoras
ajuda a criança a adquirir competência nas atividades cotidianas. A partir de
dois anos e meio, a criança pode folhear uma revista, construir uma torre de
cubos e, consequentemente, tomar conta de algumas das necessidades
fisiológicas e expressar verbalmente alguns de seus desejos. Agora, a
criança tem “mais tempo” para conseguir e refinar os controles
neuromusculares. Pode se empenhar em atividades físicas e de divertimento
mais diferenciadas do que antes.
Atividades psicomotoras como nadar, patinar e tocar piano, também
podem ser adquiridas se forem apropriadamente introduzidas e a atenção e
esforço da criança forem sustentadas por um reforço interno ou social. A
facilidade em executar perícias motoras básicas e específicas leva a
configurações rítmicas e graciosas que começam a marcar a criança nesta
fase.
A criança em idade pré-escolar gosta de ser percebida por todos e
mostra grande satisfação no que quer que realize. Sente-se orgulhosa de
mostrar o que pode fazer a fim de receber atenção e reconhecimento. Uma
criança de cinco anos que desenha uma figura e traz para a mãe dizendo: É
você!, ainda que a mãe não perceba suas características na figura, deve
reconhecer a realização. Embora “os produtos” da brincadeira, como os
desenhos, figuras da massa de modelar, suas historinhas sejam
rudimentares, o valor de sua experiência é grande. A falta de reforço
reduzirá a produtividade da criança quanto a esse tipo de coisa. Nesta idade,
de cinco anos, sua busca de caminhos para o sucesso ainda é limitada e ela
precisa de sucesso para manter seu ajustamento.
Desde o início deste período, a criança reage com muita excitação às
brincadeiras de esconde-esconde e de pega-pega. A partir dos quatro anos,
certos jogos, inclusive os de argola exercem muita atração. Brincar de pega
e amarelinha atrai as de cinco anos. Estes e outros jogos sociais contribuem
em muito para o sucesso da criança em relacionar-se com os outros.
Dos dois aos seis anos, as atividades lúdicas tornam-se cada vez
mais criativas e dramáticas à medida que a imaginação da criança floresce.
Ao imitar adultos e outras crianças, tipos da televisão, a criança utiliza sua
imaginação e cria várias situações de “faz-de-conta” com instrumentos como
boneca, argila, miniaturas de animais e o que quer que haja em
disponibilidade. O equipamento de uma criança precisa estar relacionado
com a idade e ser bastante variado para não restringir o “faz-de-conta”. Para
a criança é bom ser capaz de imitar as atividades da brincadeira de acordo
com suas preocupações e interesses do momento.
As crianças em idade pré-escolar balanceiam as atividades físicas
como correr com algum brinquedo passivo e sedentário. Os primeiros anos
da meninice são de vida muito ativa. A criança possui um anseio natural
para brincar, isto é, para aplicar seus poderes e habilidades que
desabrocham em uma crescente variedade de maneiras para explorar a si
própria e ao ambiente em que vive.
Para ilustrar e exemplificar a importância do brincar para o
desenvolvimento, deixei para falar por último do desenvolvimento cognitivo.
Segundo Piaget, brincando, os meios muitas vezes se tornam fins e muitas
respostas são emitidas apenas para serem emitidas. Os esquemas dos
modos de brincar freqüentemente são ritualizados e a acomodação –
processo de modificar esquemas para resolver problemas que resultam de
experiências novas dentro do ambiente – torna-se subordinada a
assimilação – processo de incorporação de objetos ou experiências novas.
Um único objeto como uma caixa pode ser tratado como mesa ou cama,
depende da atividade lúdica em que a criança está empenhada e dos meios
a seu alcance para retratar os objetos significativos para a continuação do
esquema simbólico da brincadeira.
Ao se observar crianças pequenas brincando, pode-se vê-las
construindo torres com blocos de armar, conversando com bonecas (fazem
papel materno, alimentando, dando banho), dirigindo carros e se vestindo
como adultos. Estas atividades não são triviais nem vazias e é disso que
parece depender grande parte do desenvolvimento cognitivo. Seguindo os
estágios de Piaget, a forma desse brincar sofre mudanças do primeiro ao
sexto ano de vida:
1) Brincar sensório-motor ( nascimento até 2 anos): não existe ainda um
brincar simbólico. A criança de 12 meses explora e manipula objetos
colocando coisas na boca, sacudindo-as, etc.…No estágio sensório-
motor, o bebê apresenta um tipo de funcionamento intelectual
inteiramente prático, vinculado à ação.
2) Brincar simbólico ( 2 a 6 anos) : corresponde ao estágio pré-operacional
onde a criança começa a entrar no mundo dos símbolos; é capaz de
reproduzir música que alguém cantou e de reconhecer objetos. As
crianças começam a fazer-de-conta em suas brincadeiras. E usando a
imaginação, onde uma vassoura se transforma num cavalo, pode-se
observar a capacidade cada vez melhor da criança de manipular
internamente esses símbolos.
3) Grupo de jogos com regras: corresponde ao estágio das operações
concretas( 6 aos 12 anos). A criança descobre uma série de regras para
interagir com o mundo. Aos 7 anos, a criança não só agrupa criaturas em
classe de gato e cachorro, como também compreende que ambas são
classes de animais.
Piaget propôs uma etapa final de desenvolvimento cognitivo que se
inicia por volta dos 12 anos e continua durante a adolescência que é o
estágio operacional formal. A mudança mais importante é que o adolescente
agora é mais capaz de aplicar operações mentais complexas não apenas a
objetos ou experiências, mas também a idéias e pensamentos.
Observa-se através desta seqüência proposta por Piaget que a
criança, através do brincar, resolve problemas, desenvolve a linguagem e
suas relações pessoais. Através do brincar, a criança é um agente ativo em
seu próprio desenvolvimento, construindo e adaptando-se ao ambiente ao
modificar seus esquemas básicos. As habilidades cognitivas da criança não
só dependem do conhecimento e perícia específicos, mas também do
ambiente que facilitará o brincar da criança.
5.2. Brincadeira, Brinquedo e Jogo
É através do brincar que a criança se encontra com o mundo de corpo
e alma. Percebe como ele é e dele recebe elementos importantes para a sua
vida, desde os mais insignificantes hábitos, até fatores determinantes da
cultura de seu tempo.
A pergunta feita pelo professor: “- Vamos brincar? “ ou ainda: “-
Vamos jogar?” pode surtir o mesmo efeito em seus alunos por se tratar,
afinal, de duas palavras com o mesmo significado, ou ele está propondo
duas atividades, que por serem distintas, podem dividir o grupo entre os que
responderão: “eu prefiro brincar” e os que dirão “eu prefiro jogar”?
Certamente encontrei professores que utilizam as palavras jogo,
brinquedo e brincadeira como sinônimos. Outros, no entanto, marcam uma
diferença entre elas que remonta à sua própria história de vida.
Posso pensar, portanto, que há pelo menos dois aspectos implicados
nessa questão. O primeiro diz respeito às palavras poderem assumir
diferentes significados desde a nossa infância, bem como ao longo da fase
adulta. Ou seja, antes mesmo da formação profissional e com ela possíveis
reflexões desde o ponto-de-vista de Piaget, Winnicott e outros, tais conceitos
já estavam marcados pelas vivências de cada um, desde o lugar de crianças
que nomeavam o seu brincar.
O segundo aspecto refere-se aos diferentes significados que uma
mesma palavra pode assumir ao longo dos tempos. Se pegarmos um
dicionário de 50 anos atrás certamente a acepção das palavras jogo,
brinquedo e brincadeira estarão impregnadas de uma visão da época. Nos
dias de hoje, observamos que há uma clara diferença entre jogo e brinquedo
e entre brincadeira e brinquedo. No entanto, tanto jogo e brincadeira, podem
ser sinônimos de divertimento. Vejamos como esses termos são definidos no
novo dicionário Aurélio:
“Jogo = atividade física ou mental organizadas por um sistema de regras que
definem a perda ou o ganho. Seguem-se alguns exemplos: “jogo de futebol;
Jogos Olímpicos; jogo de damas; jogos de azar; jogo de palavras; jogo de
empurra”.
“Brinquedo = objeto que serve para as crianças brincarem”.
“Brincadeira = ação de brincar, divertimento. / Gracejo, zombaria. / Festinha
entre amigos ou parentes. / Qualquer coisa que se faz por imprudência ou
leviandade e que custa mais do que se esperava: aquela brincadeira custou-
me caro”.
A ambigüidade entre os termos se consolida com o uso que as
pessoas fazem dela. A primeira e talvez mais forte imagem que vem à mente
a quase todos, quando se fala em jogo, consiste em duas pessoas sentadas
jogando (xadrez, cartas, damas, etc.). Ou seja, dentro dessa idéia não há
movimento. No entanto, o jogo por si só, se constitui em ação e, assim,
associado ao movimento.
É claro, porém que, além das diferenças, esses conceitos também
possuem pontos em comum. Um deles é o de que tanto o jogo quanto a
brincadeira são culturais. É difícil encontrarmos exemplos de um jogo ou
uma brincadeira que sendo originário de uma cultura, tenha sido assimilado
por outra. Não fosse assim, de tanto assistirmos filmes norte-americanos e
convivermos com pessoas que viajam constantemente aos Estados Unidos
trazendo “novidades” de lá, nós já estaríamos hoje jogando beisebol, e
nossas crianças estariam brincando de “doces ou travessuras” na noite de
Halloween.
Face a estes distintos paradigmas proponho contribuir com algumas
reflexões sobre o assunto e, paralelamente, realizar uma revisão conceitual
quanto ao jogo, a brincadeira e o brinquedo, na visão de Piaget, Vygotsky,
Winnicott e Benjamin.
Piaget
Piaget estrutura o jogo em três categorias: o jogo de exercício – onde
o objetivo é exercitar a função em si; o jogo simbólico – onde o indivíduo se
coloca independente das características do objeto, funcionando em
esquema de assimilação, e o jogo de regra, no qual está implícita uma
relação inter. Individual que exige a resignação por parte do sujeito. Piaget
cita ainda uma quarta modalidade, que é o jogo de construção, em que a
criança cria algo.
Esta última situa-se a meio caminho
entre o jogo e o trabalho, pelo
compromisso com as características do
objeto. Tais modalidades não se
sucedem simplesmente acompanhando
as etapas das estruturas cognitivas,
pois, tanto o bebê pode fazer um jogo
de exercício, como também uma
criança poderá fazer sucessivas
perguntas só pelo prazer de perguntar.
Para ele, a origem do jogo está na
imitação que surge da preparação
reflexa. Imitar consiste em reproduzir
um objeto na presença do mesmo. É
um processo de assimilação funcional,
quando o exercício ocorre pelo simples
prazer. A essa modalidade especial de
jogo, Piaget denominou de jogo de
exercício. Em suas pesquisas ele
mostra que a imitação passa por várias
etapas até que, com o passar
do tempo, a criança é capaz de representar um objeto na ausência do
mesmo. Quando isso acontece, significa que há uma evocação simbólica de
realidades ausentes. É uma ligação entre a imagem (significante) e o
conceito (significado), capaz de originar o jogo simbólico, também chamado
de faz-de-conta.
Para Piaget, o símbolo nada mais é do que um meio de agregar o real
aos desejos e interesses da criança.
Paulatinamente, o jogo simbólico vai cedendo lugar ao jogo de regras,
porque a criança passa do exercício simples às combinações sem finalidade
e depois com finalidade. Esse exercício vai se tornando coletivo, tendendo a
evoluir para o aparecimento de regras que constituem a base do contrato
moral.
As regras pressupõem relações sociais ou interpessoais. Elas
substituem o símbolo, enquadrando o exercício nas relações sociais. As
regras são, para Piaget, a prova concreta do desenvolvimento da criança.
Vygotsky
O brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal (capacidade
que a criança possui), pois na brincadeira a criança comporta-se num nível
que ultrapassa o que está habituada a fazer, funcionando como se fosse
maior do que é.
O jogo traz oportunidade para o preenchimento de necessidades
irrealizáveis e também a possibilidade para exercitar-se no domínio do
simbolismo. Quando a criança é pequena, o jogo é o objeto que determina
sua ação.
Na medida em que cresce, a criança impõe ao objeto um significado.
O exercício do simbolismo ocorre justamente quando o significado fica em
primeiro plano.
Do ponto de desenvolvimento da criança, a brincadeira traz vantagens
sociais, cognitivas e afetivas.
Ainda, segundo esse autor, a brincadeira possui três características: a
imaginação, a imitação e a regra. Elas estão presentes em todos os tipos de
brincadeiras infantis, tanto nas tradicionais, naquelas de faz-de-conta, como
ainda nas que exigem regras. Podem aparecer também no desenho, como
atividade lúdica.
Do ponto de vista psicológico, Vygotsky atribui ao brinquedo um papel
importante, aquele de preencher uma atividade básica da criança, ou seja,
ele é um motivo para a ação.
Segundo ele, a criança pequena, por exemplo, tem uma necessidade
muito grande de satisfazer os seus desejos imediatamente. Quanto mais
jovem é a criança, menor será o espaço entre o desejo e sua satisfação. No
pré-escolar há uma grande quantidade de tendências e desejos não
possíveis de ser realizados imediatamente, e é nesse momento que os
brinquedos são inventados, justamente para que a criança possa
experimentar tendências irrealizáveis.
A impossibilidade de realização imediata dos desejos cria tensão, e a
criança se envolve com o ilusório e o imaginário, onde seus desejos podem
ser realizados. É o mundo dos brinquedos.
Segundo Vygotsky, a imaginação é um processo novo para a criança,
pois constitui uma característica típica da atividade humana consciente. É
certo, porém, que a imaginação surge da ação, e é a primeira manifestação
da emancipação da criança em relação às restrições situacionais. Isso não
significa necessariamente que todos os desejos não satisfeitos dão origem
aos brinquedos.
Winnicott
Para Winnicott, a brincadeira é universal e própria da saúde: o brincar
facilita o crescimento e, portanto, a saúde. O brincar conduz aos
relacionamentos grupais, podendo ser uma forma de comunicação na
psicoterapia. Portanto, a brincadeira traz a oportunidade para o exercício da
simbolização e é também uma característica humana.
Conforme Outeiral (1998), o trabalho de Winnicott: “Por que brincam
as crianças?” (1942), apresenta algumas motivações da atividade lúdica:
para buscar prazer, para expressar agressão, para controlar a ansiedade,
para estabelecer contatos sociais, para realizar a integração da
personalidade e, por fim, para comunicar-se com as pessoas.
Sua contribuição mais original ao tema, entretanto, é o
desenvolvimento dos aspectos dos objetos transicionais e fenômenos
transicionais (1951, 1971), para descrever a experiência de viver em uma
área de transição da experiência, isto é, transição com respeito à realidade
interna e externa.
Benjamin
Benjamim fez algumas reflexões importantes sobre o lúdico,
considerando o seu aspecto cultural. Brinquedo e brincar, para ele, estão
associados, e documentam como o adulto se coloca em relação ao mundo
da criança.
Seus estudos mostraram como, desde as origens, o brinquedo
sempre foi um objeto criado pelo adulto para a criança.
Ainda segundo ele, acreditava-se erroneamente que o conteúdo
imaginário do brinquedo é que determinava as brincadeiras infantis, quando
na verdade quem faz isso é a criança. Por esta razão, quanto mais atraentes
forem os brinquedos, mais distantes estarão do seu valor como instrumentos
do brincar.
É através do brincar que a criança se encontra com o mundo de corpo
e alma. Percebe como ele é e dele recebe elementos importantes para a sua
vida, desde os mais insignificantes hábitos, até fatores determinantes da
cultura de seu tempo.
Também é através do brincar que a criança vê e constrói o mundo,
expressa aquilo que tem dificuldade de colocar em palavras. Sua escolha é
motivada por processos e desejos íntimos, pelos seus problemas e
ansiedades. É brincando que a criança aprende que, quando se perde no
jogo, o mundo não se acaba.
Com base no que foi citado, posso afirmar que tanto a brincadeira,
como o brinquedo e o jogo podem ser englobados em um universo maior,
chamado de ato de brincar. Não sou muito favorável a uma rigidez dos
termos, pois se por um lado a discussão sobre os mesmos pode ampliar a
perspectiva lúdica de nossa prática pedagógica, por outro pode secionai-la
em hora do jogo ou hora da brincadeira.
Observo que brincar não significa simplesmente recrear-se, isto
porque é a forma mais completa que a criança tem de comunicar-se consigo
mesma e com o mundo.
Nesse brincar está a verbalização, o pensamento, o movimento,
gerando canais de comunicação.
A presente idéia vem ao encontro da minha crença que a linguagem
cultural própria da criança é o lúdico. A criança comunica-se através dele e
por meio dele irá ser agente transformador, sendo o brincar um aspecto
fundamental para se chegar ao desenvolvimento integral da criança.
Portanto, o ato de brincar é importante, é terapêutico, é prazeroso, e o
prazer é ponto fundamental da essência do equilíbrio humano. Logo, posso
dizer que a ludicidade é uma necessidade interior, tanto da criança quanto
do adulto. Por conseguinte a necessidade de brincar é inerente ao
desenvolvimento.
No brincar, quanto mais papéis a criança representar, mais amplia
sua expressividade, entendida como uma totalidade. A partir do brincar ela
constrói os conhecimentos através dos papéis que representa, amplia ao
mesmo tempo dois vocabulários – o lingüístico e o psicomotor – além do
ajustamento afetivo emocional que atinge na representação desses papéis.
A criança brinca porque tem um papel, um lugar específico na
sociedade, e não apenas porque o faz-de-conta – como o brincar de cavalo,
em que a criança se utiliza do cabo de vassoura – parte da natureza de tal
criança.
Além disso, o ato de brincar pode incorporar valores morais e culturais
em que as atividades lúdicas devem visar a auto-imagem, a auto-estima, o
auto conhecimento, a cooperação, porque estes conduzem à imaginação, à
fantasia, à criatividade, à criticidade e a uma porção de vantagens que
ajudam a moldar suas vidas, como crianças e como adultos. E sem eles a
criança não irá desenvolver suficientemente o processo de suas habilidades.
O modo como ela brinca revela o seu mundo interior , proporcionando
o aprender fazendo, entendido aqui por aquelas ações concretas da criança.
O brincar de médico, por exemplo. Implica apropriar-se de algumas
características do ato da realidade. É a reprodução do meio em que a
criança está inserida.
Através do lúdico, a criança realiza aprendizagem significativa. Assim,
concluo que o jogo propõe à criança um mundo do tamanho de sua
compreensão, no qual ela experimenta várias situações, entre elas o fazer
comidinha, o limpar a casa, o cuidar dos filhos, etc.
O ato de brincar proporciona às crianças relacionarem as coisas umas
com as outras, e ao relacioná-las é que elas constróem o conhecimento.
Esse conhecimento é adquirido pela criação de relações e não por
exposição a fatos e conceitos isolados, e é justamente através da atividade
lúdica que a criança o faz.
O brincar é o meio de expressão e
crescimento da criança.
A criança sempre brinca, mas esse ato depende do contexto em que
está inserida, independente de época, classe social e outros fatores.
No brincar, ocorre um processo de troca, partilha, confronto e
negociação, gerando momentos de desequilíbrio e equilíbrio, e propiciando
novas conquistas individuais e coletivas. Constata-se, então, que a ação de
brincar é fonte de prazer e ao mesmo tempo, de conhecimento.
Acredito, assim, que a criança vai construindo seu conhecimento do
mundo de modo lúdico, transformando o real com os recursos da fantasia e
da imaginação. Tem a chance de dar vazão a uma afetividade que,
freqüentemente, é tolhida na difícil luta pela sobrevivência enfrentada dia-a-
dia por seus pais.
A criança que brinca, precisa ser respeitada, pois seu mundo é
mutante, e está em permanente oscilação entre fantasia e realidade. Precisa
tanto de brinquedos como de espaço, o suficiente para que se sinta à
vontade e dona do mesmo.
É através da atividade lúdica que a
criança prepara-se para a vida,
assimilando a cultura do meio em que
vive, a ele se integrando, adaptando-se
às condições que o mundo lhe oferece e
aprendendo a competir, cooperar com
seus semelhantes, e conviver como um
ser social.
5. MÚSICA E DANÇA INSTRUMENTOS FACILITADORES
Diante das diversas formas teatrais: fantoches, sombra,
dramatização improvisadas, autos populares, etc., a música é
fundamentalmente um meio para a criança adquirir determinadas
competências.
Com a música, a criança desenvolve a sensibilidade, a percepção, a
observação, a atenção, a memória auditiva e é este conjunto de habilidades
que fica na cabeça do indivíduo, que o capacita a empregá-lo em qualquer
profissão que venha a exercer.
Os brinquedos cantados, as músicas em fileiras como a “De marré de
si“ ou da “ Rosa juvenil “ que podem ser dramatizadas, a parte de “ trava –
língua” ( Um tigre, dois tigres, três tigres ), as “ parlendas folclóricas “ ( Hoje
é domingo, pé de cachimbo... ), os “ folguedos “ ( Bumba meu boi ) e
“reizadas” são algumas das atividades que podem ser bem trabalhadas,
além das músicas ligadas a temas que por ventura estejam sendo
trabalhados em sala de aula (independente da disciplina).
A dança dá à criança a sensação de liberdade, pois a criança se
movimenta de acordo com a forma que acha certo diante da música que
ouve. Através dela pode-se observar problemas de coordenação motora,
lateralidade, ritmo, controle respiratório, equilíbrio, espaço e tempo.
A música e a dança, como todas as linguagens devem dar lugar à
descoberta e a criação e não apenas a repetição. Não devem ser utilizadas
para estabelecer gestos mecânicos que impeçam a espontaneidade da
criança.
É importante lembrar que o ritmo é música. A dança é ritmo e
música. Através da música, a criança entra em contato com seu corpo e
aprende a reconhecer mais facilmente seus segmentos.
Como já foi dito, tanto a música quanto a dança são instrumentos
colaboradores no desenvolvimento de potencialidades no sentido da
socialização, da coordenação motora, da expressão corporal, do senso
rítmico, da percepção auditiva e visual, no estímulo da sensibilidade e da
criatividade.
É válido ressaltar que as artes da música e da dança unidas nos
brinquedos cantados são fortes contribuições para a formação integral da
criança, principalmente se bem utilizados junto aos jogos teatrais.
Como professora do 1º ciclo do ensino Fundamental, utilizei muitas
vezes o recurso do brinquedo cantado de Bia Bedran, para melhor alcançar
os objetivos, além de tornar a aula mais prazerosa e dinâmica.
No CD ( As Aventuras da Menina Bia ), trabalhei simultaneamente
com os dois hemisférios cerebrais através de “Jogo Cantar”( Bia Canta /Bia
Calada ).
As aventuras da menina Bia tem como pano de fundo a história de
uma menina que perde seu anel no mar , para ajudar a encontrar seu anel ,
a criança passa por jogos de memória , de pensamento antecipatório ( Resta
1 da Bia) e quebra – cabeças objetivando a construção da imagem total e
estimulando a área de reconhecimento do cérebro .
A música Desengonçada ( A Caixa de Música da Bia ) é funcional
tanto para clínica como para a escola , além de trabalhar conceitos de
lateralidade , a criança pode construir sua imagem corporal e o
conhecimento do seu corpo e do seu colega através da dinâmica (Gepeto x
Pinóquio ). Dessa forma a aprendizagem se dá de uma forma lúdica e
prazerosa, resgatando e ressignificando o vínculo: aluno x escola x
conhecimento .
A música : É bom cantar ( A Caixa de música da Bia ) é um convite a
reflexão, pois no mundo globalizado e “congestionado” que vivemos é
necessário voltarmos: a ouvir , sentir, pensar, para agirmos de forma mais
humanizada . A escola pode trabalhar a questão filosófica com a música na
forma de texto e estimular as crianças o porquê e o benefício de pensar ,
cantar , ouvir e sentir . Bia nos traz uma leitura crítica na música Videodinha
sinalizando para as crianças a importância da leitura além dos jogos de
vídeo game e televisão . Todas as suas produções tem um caráter Educativo
e Transdisciplinar , sua grande obra passa por conceitos de ética , verdade ,
fidedignidade , respeito entre outros .
Com a música, o meu trabalho ao longo dos anos foi se tornando
mais lúdico e reflexivo. Sempre gostei de colocar nas avaliações de Língua
Portuguesa letras de música, tais como : O caderno; Aquarela; Lua de
Cristal, etc. Além de colocar como forma de relaxamento algumas músicas
instrumentais ( temas de cinema, sons da natureza, sons atuais trazidos
pelos alunos ), porém o relaxamento vinha em forma de movimento contínuo
do corpo.
Quanto ao trabalho da dança concomitante à música, acho relevante
relatar a apresentação em uma festa junina, cujo a música escolhida foi uma
coletânea feita pelos alunos. Dançamos todos os ritmos, finalizando com a
bela frase do cantor e compositor, Gonzaguinha : “ eu fico com a pureza das
respostas das crianças. É a vida é bonita e é bonita”.
Aprendemos ( eu e as crianças ) muito e o que pude constatar foi a
valorização da troca constante existente entre docente e discente.
5.1 Biodança
Biodança é um sistema de integração e desenvolvimento, baseado
em vivências corporais induzidas pela música, através de integração afetiva,
renovação orgânica e reaprendizagem das funções originárias da vida e da
comunicação grupal. Produz saúde Psíquica.
Este sistema foi desenvolvido por Rolando Toro. Chileno, nascido em
1924, Psicólogo e Antropólogo. Iniciou suas pesquisas com Biodança em 65
no Hospital Psiquiátrico de Santiago. É também pintor e poeta.
O sistema baseia-se no princípio biocêntrico, que diz que tudo que
existe no universo: plantas, animais, elementos, pessoas são componentes
de um sistema vivente maior. A biodança se orienta no sentido de resgatar a
vida que se encontra oprimida. É uma técnica catártica e holística, que
facilita o desenvolvimento, não se prende às dificuldades, à doença.
Corpo e mente são sistemas integrados, o que acontece a um, reflete
no outro.
Freud estudou a manifestação das neuroses, que surgia do bloqueio
da energia primordial, a que chamava de libido. Wilhelm Reich descobriu
que o bloqueio de energia, repressão de instintos, enfraquecia o homem,
tornava-o subserviente a manobras do poder. Esses estudos paralelos
mostram que a repressão a qualquer nível, faz com que o homem não se
desenvolva. O Instinto é inato. E o impulso de sobrevivência é o instinto
básico, de onde se organizam outros instintos. A expressão deles é
fundamental, ou criamos pessoas passivas e conformistas. A aprendizagem
pode permitir ou obstruir os instintos.
Quando se fala em instintos, se fala sobre sexualidade. Ela não se
restringe a genitalidade. É contato, prazer em vivenciar, entrega a vida. A
repressão causou a restrição do contato a genitalidade. O Homem precisa
de contato físico, visual, vinculação afetiva para desenvolver-se a nível
motor, intelectual, psicológico e espiritual. Temos que desfazer o que Jung
chamava de Persona, as máscaras que usamos para nos relacionar, por
termos medo do outro. Temos que desfazer a inibição, o medo da crítica,
medo de concretizar. A insegurança vem da perda da confiança em si. Uma
pessoa que está mergulhada no fluxo vital não teme, porque confia
principalmente na vida.
O ser humano possui o instinto de fusão - que leva a transcendência.
A Biodança trabalha:
AFETIVIDADE:
. Perda do medo das pessoas, Capacidade de amar
. Aumento da tolerância e compreensão
. Capacidade de dar, receber, cooperar e pedir ajuda
VITALIDADE:
. Descoberta da existência da energia vital, Relaxamento
. Melhoria do sono, Disposição para o trabalho e lazer
. Flexibilidade nas tarefas cotidianas
. Desaparecimento das enfermidades psicossomáticas
. Alegria de viver, aumento da auto estima
. Capacidade p/ superar o stress e a depressão
SEXUALIDADE:
. Despertar da energia sexual
. Aceitação do corpo, perda de sentimentos de culpa
. Medo de ser rejeitado, prazer de viver
. Aumento do magnetismo pessoal e sensualidade
CRIATIVIDADE:
. Espontaneidade, mais saídas, abertura a mudanças
. Maior influência do ambiente, ousadia de correr riscos
. Viver o presente, visar o futuro
TRANSCENDÊNCIA:
. Descoberta do sentimento de gratidão a vida
. Valorização das pequenas coisas
. Diminuição dos medos, sentir-se parte do todo
. Aumento da fé na vida, percepção e uso da intuição
6. ARTE – EDUCAÇÃO
Um indivíduo aprende a crescer e a desenvolver-se baseado nas suas
vivências em diversas esferas. Por isso é cada vez mais necessário encarar
a educação como um todo, permitindo que o desenvolvimento intelectual e
emocional caminhem juntos, em equilíbrio. Esta educação global representa
a integração dos aspectos físicos, intelectuais, espirituais e sociais da vida
da criança, promovendo o conhecimento de si mesma. Ao aprender a
relacionar-se com sua própria personalidade a criança pode, então, partir
para a descoberta do mundo exterior.
A Arte, por estar em permanente transformação, ampliando-se,
possibilita ações que valorizam a produção e a transmissão do
conhecimento. Proporcionar às crianças e adolescentes vivências que
permitem liberar a criatividade, experiências na pintura, na modelagem, na
música, na dança, na dramatização, estimulam seu sentido crítico e
conduzem a formas diferentes de ver o mundo. A construção do saber torna-
se desafiadora e prazerosa, ao mesmo tempo em que rompe as barreiras da
exclusão, porque está baseada na capacidade de experenciar de cada um.
6.1 Fundamentos da Arte – Educação
A escola veicula a todos,
indistintamente, o dever de aprender
conceitos já “prontos”, sem levar em
conta as características existenciais,
inatas de cada um. Com isso, os
educandos não têm oportunidade de
elaborar sua “visão do mundo”, com
base em suas próprias percepções e
sentimentos. E é através da arte que se
pode despertar a atenção de cada um
para sua maneira particular de sentir,
sobre a qual se elaboram todos os
outros processos racionais.
Da mesma forma que o pensamento lógico, racional, se apropria com
a utilização constante de símbolos lógicos ( lingüisticos, matemáticos etc. ),
os sentimentos se refinam pela convivência com os símbolos da arte.
Segundo Langer:
O treinamento artístico é, portanto, a educação do
sentimento, da mesma maneira como nossa educação
escolar normal em matérias fatuais e habilidades
lógicas, tais como o “cálculo” matemático ou a simples
argumentação..., é a educação do pensamento.
Poucas pessoas percebem que a verdadeira educação
da emoção não é o “condicionamento” efetuado pela
aprovação e desaprovação social, mas o contato tácito,
pessoal, iluminador, com símbolos de sentimento.
(1971, p. 90)
O processo do conhecimento articula-se entre aquilo que é
simbolizado (pensado) e o que é vivido (sentido). A simples transmissão de
conhecimentos verbais, que não se ligam de alguma forma aos sentimentos
dos indivíduos não garante que ocorra uma aprendizagem real.
É relevante citar o ditado popular “o que os olhos não vêem o coração
não sente” acrescido de “e a cabeça não apreende”.
Para abranger o processo da aprendizagem como um todo, e não
apenas em sua dimensão simbólica, palavresca, verbosa, como acontece
nas escolas tradicionais é permitindo, através da arte, uma maior vivência
dos sentimentos.
Se faz necessário entender que a arte – educação não significa, de
forma alguma, o treino para alguém se tornar um artista. O que ela pretende
é abordar de maneira mais ampla o fenômeno educacional não apenas
como transmissão simbólica de conhecimentos, mas como um processo de
se formar o ser humano.
Não há, hoje, um espaço na escola para que os educandos elaborem
a sua visão de mundo, a partir de sua situação existencial. Ela se
caracteriza pela imposição de verdades já prontas, ensina respostas.
Respostas que na maioria dos casos, não correspondem às perguntas e às
inquietações de cada um. Portanto a escola cria um “mundo teórico,
abstrato”, que serve apenas para fazer provas e “passar de ano”, e que não
se articula à vida vivida dos estudantes. Logo, há um fosso profundo entre o
que se fala e o que se faz, isto é, entre a teoria e a prática.
No entanto, pela arte, o indivíduo pode elaborar seus sentimentos
além de expressar aquilo que o inquieta e o preocupa.
A finalidade da arte – educação deve ser, sempre o desenvolvimento
de uma consciência estética.
A consciência estética, compreende uma atitude mais harmoniosa e
equilibrada perante o mundo, em que os sentimentos, a imaginação e a
razão se integram, onde os valores e sentidos dados à vida são assumidos
no agir cotidiano.
Arte - educação não deve significar a mera inclusão da “educação
artística” nos currículos escolares. Ela tem a ver com um modelo
educacional fundado na construção de um sentido pessoal para a vida, que
seja próprio de cada educando.
Torna-se oportuno, concluir este capítulo com a citação do pensador
inglês que deu as primeiras diretrizes à arte – educação, Herbert Read.
Deve compreender-se desde o começo que o que
tenho presente não é simplesmente a “educação
artística” como tal, que deveria denominar-se mais
apropriadamente educação visual ou plástica: a teoria
que enunciarei abarca todos os modos de expressão
individual, literária e poética (verbal) não menos que
musical ou auditiva, e forma um enfoque integral da
realidade que deveria denominar-se educação estética,
a educação desses sentidos sobre os quais se fundam
a consciência e, em última instância, a inteligência e o
juízo do indivíduo humano. Somente na medida em
que esses sentidos estabelecem uma relação
harmoniosa e habitual com o mundo exterior, se
constrói uma personalidade integrada. (1997, p.33).
7. ARTETERAPIA
É um processo terapêutico que utiliza vários recursos de expressão
artística e corporal para auxiliar as pessoas a conhecer a si mesma e ao
mundo que a rodeia. A partir disto, é possível facilitar seu
desenvolvimento como um todo e as transformações internas que ocorrem
diariamente.
A arteterapia trabalha com as imagens simbólicas, que ordenam e
dão significado às nossa vidas.
Estes símbolos são difíceis de verbalizar, porque eles se expressam
por analogias e metáforas. Eles são forma de energia psíquica que vem do
inconsciente e, com o auxílio das técnicas expressivas verbais e não
verbais, são trazidos para o consciente e trabalhados através das imagens.
As imagens simbólicas vão ganhando significado, permitindo assim,
a cada pessoa que a esperencie viver mais plenamente, através de um
processo de individuação
Neste processo somos forçados a nos confrontar com diversas
facetas de nosso íntimo que estão geralmente em conflito com nossas idéias
e comportamento consciente, que segundo Jung, é a capacidade que uma
pessoa tem de tornar-se si mesma, inteira, indivisível e distinta de outras
pessoas.
Diante disto, é correto dizer que a arteterapia é o uso da arte como
terapia e que ela consiste na criação de material sem preocupação estética
e sim da expressão de sentimento. Esta catarse é muito sadia e faz com
que o indivíduo se reorganize internamente, além de favorecer, através da
estimulação da expressão e do desenvolvimento da criatividade:
• A libertação de emoções, de conflitos internos, de imagens perturbadoras
do inconsciente.
• Contato com ansiedade, conteúdos reprimidos, medos.
• Coordenação motora.
• Mais e melhor “saídas” no dia a dia.
• O processo de individuação.
• Equilíbrio físico / mental / espiritual.
O instrumento utilizado pela Arteterapia é a arte em todas as sua
manifestações expressivas: pintura, desenho, toda expressão plástica, bem
como a música, a dança, a expressão corporal e dramática ( teatro ).
Cabe aqui ressaltar que a arteterapia resgata o potencial criativo do
homem, buscando o psique saudável e estimulando a autonomia e
transformação interna, para estruturação de ser.
Partindo do princípio, de que muitas vezes não consegue-se falar de
conflitos pessoais, a Arteterapia possui recursos artísticos para que sejam
projetados e analisados, todos esses processos, obtendo uma melhor
compreensão de si mesmo, e podendo ser trabalhado no intuito de uma
libertação emocional.
7.1 Objetivos
A arteterapia não objetiva uma preocupação estética, como já foi
falado acima. Não é necessário “fazer bonito” porque o que importa é o
significado do que se fez, e como se faz. Não há julgamento do trabalho, do
fazer, do ponto de vista arrumado, belo formal, mas facilitar a elaboração de
situações vividas.
Cada manifestação artística diz quem a produziu, como o fez, o que
pensa, sente, deseja ou sofre.
Tem como objetivo, favorecer o processo terapêutico, de forma que o
indivíduo entre em contato com conteúdos internos e muitas vezes
inconscientes, que foram barrados por algum motivo expressando assim
sentimentos e atitudes, até então desconhecidos.
Ela tem como finalidade, utilizando os recursos artísticos (pincéis,
cores, papéis, argila, cola, figuras, desenhos, recortes, ...) a mais pura
expressão do verdadeiro self (eu interior), se preocupando com o conteúdo
pessoal implícito em cada criação e explícito como resultado final.
O que se pretende com esse processo terapêutico, chamado
Arteterapia é ativar a criatividade de maneira livre, porém direcionada ao
crescimento e ao desenvolvimento.
São muitos os instrumentos utilizados na arteterapia. São eles: água,
argila areia, corpo (considerados primários), desenho, pintura, colagem,
sucata, escultura (massa, papel marchê, durepox, etc.), costura tricô,
culinária, teatro, dança, literatura, enfim todas as formas de arte.
Existem duas linhas trabalhadas por ela: A interpretativa, onde se
interpreta todo o material produzido. E a não interpretativa, onde o terapeuta
não interpreta, embora entenda o conteúdo da criação.
Ela pode ser aplicada à empresa ou instituições que neste caso o
trabalho visa o desenvolvimento da criatividade, desenvolver o potencial
pessoal e a diminuição de stress. Quando é aplicada à escola, o trabalho é
o desenvolvimento da criatividade, e o processo que o criar envolve: medo
da expressão, do julgamento, ansiedade, auto estima, segurança em grupo
... . Já ao consultório vai trabalhar com o processo criativo e o produto da
expressão, entendendo de integração de si mesmo, o equilíbrio.
A Arteterapia visa atender crianças, adolescente, adultos, terceira
idade, excepcionais em geral, tanto em grupo quanto individual, abordando
temas como: auto – estima, amor incondicional, valores expressão dos
sentimentos bloqueados, perdão, capacidade de entrega, afeto, ternura
agressividade, contato com o Divino, limites, medo, produtividade
imortalidade intuição, sexualidade / sensualidade, autocrítica, maldade x
bondade, masculino x feminino, etc.
7.2 Técnicas
Para cada técnica utilizada é muito importante o estudo detalhado do
material que será usado. Cada um em particular, tem propriedades que
mobilizam emoções e sentimentos de maneiras diversificadas a cada
indivíduo.
Ao estudar as técnicas se fez relevante apontar as cinco mais
aplicadas e conhecidas, com o material utilizado para o seu manuseio e as
diferentes formas de trabalho desenvolvido.
Desenho Podem ser utilizados o giz de cera, pastel a óleo, pastel seco, lápis de
cor, lápis de cor aquarelado, hidrocor, carvão e lápis grafite. Todos tem
significado terapêuticos semelhantes.
No desenho, a coordenação motora fina é bastante trabalhada,
portanto o controle é essencial, não só o motor, mas principalmente o
intelectual. A atenção, a concentração e o contato com a realidade são
explorados.
O desenho de cópia, enfoca a atenção na realidade exterior, e é
indicado em pessoas que fantasiam, sonham, obrigando-as a perceber e
reproduzir a realidade tal como ela é. A imensa dificuldade que encontram
em reproduzir, não é só o medo de errar, é a própria dificuldade de dar
direcionamento em sua vida. É indicado para pessoas dispersas,
sonhadoras, confusas e adolescentes.
No desenho livre, as pessoas entram em contato com sua realidade
interna, deixando fluir conteúdos que estejam ao ponto de emergir.
Nos desenhos dirigidos, aqueles feitos a partir de um tema que o
Arteterapeuta escolhe, os indivíduos entram em contato com sua realidade,
mobilizando emoções bloqueadas que precisam vir à tona. Indicados para
pessoas deprimidas, com tônus vital rebaixado.
Quando se dá preferência os desenhos monocromáticos, trabalha - se
com emoções superficiais, a nível periférico; e quando se utiliza o colorido,
lida - se com os profundos.
Não é necessária análise do desenho, e sim a análise da
interpretação do indivíduo com relação ao feito.
Pintura
Quando a pintura flui, fluem ali, emoções e sentimentos. A esfera
afetivo emocional está mais abrangente, pois as pinceladas lembram o fluxo
respiratório, a vida. As tintas geralmente utilizadas são: guache, aquarela,
anilina, óleo, acrílica e nanquim.
A tinta guache exige maior controle de movimentos, libera emoções e
incentiva a imaginação.
A aquarela, devido a sua leveza, e o uso obrigatório da água, mobiliza
ainda mais o lado afetivo. Indicada para pessoas muito racionais e com
dificuldade afetiva.
Contra indicada para deprimidos. Devido a dificuldade de fazer
figuras por ser muito aguda, a anilina é ótima para pessoas que tem medo
de perder o controle das coisas.
A tinta óleo, é recomendada para pessoas com depressão, pois
possibilita maior equilíbrio da situação.
O nanquim, quando puro é de fácil controle, mas exige agilidade e
sensibilidade. Quando usado com água, é mais fluída, exigindo muito mais
habilidade, atenção e concentração.
Quanto mais expressão, mais auto - conhecimento e mais
autoconfiança. A pintura, assim como o desenho, pode ser livre, de cópia, ou
dirigida.
Com a pintura, trabalha-se a estruturação e a área afetiva emocional,
chegando ao equilíbrio das emoções. E quanto mais diluída for a tinta, mais
emocional é o resultado.
Modelagem
A modelagem pode ser feita com massa caseira, argila, cera de
abelha, plasticina, papel machê e massa de modelar.
O efeito da modelagem atua nas sensações físicas e viscerais, como
também no sentimento e cognição. A técnica exige uma canalização de
energia adequada, por partir do nada para a criação de algo podendo ser
livre ou dirigida.
A sensação de estar em contato com o barro, pode ser muito
gratificante ou não. A argila age como transformadora, de um estado de
desencontro para um estado de equilíbrio, podendo trazer à tona conflitos
internos indesejáveis. Por ser moldável, integra o ser com o mundo exterior,
mostrando-o que pode adaptar-se às situações, sendo fluida, recebe
projeções e é dominada, favorecendo ao manipulador, a libertação das
tensões, fadigas e depressões, pois é um material vivo e de ação calmante.
No físico, trabalha questões ligadas a estruturação e coordenação
motora. No emocional mobiliza sentimentos e emoções primitivas, para que
possam ser conhecidas e trabalhadas.
Nos casos de negação e resistência à argila, oferta-se o papel machê
ou a massa de farinha de trigo, pois de início não se deve forçar, e com a
adaptação a estes recursos, aos poucos inclui-se o barro.
O papel machê é um material frio e viscoso, mas que também oferece
retornos, pois pode - se moldá-lo e criar, não chegando aos efeitos da argila,
por não ser um produto natural primitivo.
A massa de farinha de trigo, é feita pelo próprio terapeuta, com ou
sem ajuda do paciente, variando cores. E ao contrário do papel machê, é
utilizada estando morna, para melhor manuseio. Em termos terapêuticos,
pode levar os adultos, a recordações maternas, ou da infância. Proporciona
também a capacidade criadora, auto-estima, catarse emocional, auto-
confiança.
Sucata
O trabalho com a sucata estimula a reconstrução, a criatividade, as
percepções, a atenção, a construção, a transformação, o concreto e a
mudança.
É um material transformador, pois dá-se uma nova utilidade ao que
antes era lixo. É a mudança através do concreto, é a busca de
possibilidades de transformação e do reaproveitamento.
Por poder aliá-lo a pintura, a colagem e a modelagem, é uma
atividade rica e complexa, que mobiliza o conteúdo interno, e já transforma-
o, reaproveitando-o de forma benéfica. O terapeuta deve ficar atento, para
que nenhum detalhe escape, pois é um trabalho de muita sutileza.
Materiais diversos devem ser utilizados ( plásticos, vidros, papéis,
madeira, tecidos) de forma livre ou dirigida.
Colagem
É uma atividade estruturante que pode ser realizada com materiais
diversos: recortes de revistas, jornais, pedaços de papéis coloridos, diversos
grãos, serragem, cortiça, purpurina, tecidos...
Nesta atividade, o cliente busca nos materiais, idéias que possam
expressar e comunicar seus sentimentos, emoções e idéias em relação ao
tema. O planejamento, o direcionamento, e a atenção do paciente, ajudam
na estruturação de sua vida.
É um recurso rico, pois o indivíduo planeja, analisa, fica atento,
concentrado, organizado e paciente.
É importante apontar mais cinco técnicas muito utilizadas em escolas
ou no trabalho psicopedagógico.
Fantoches – São ótimos para construir personagens, dando a cada
um o papel que lhe corresponde na vida real.
Tapeçaria – O uso de fios, lãs ou linhas, simbolizando o que temos
dentro de nós.
Contos de fada – A estrutura de conto ilustra a psique humana e
assim tem uma função terapêutica.
Mitologia – Fala do inconsciente coletivo e da individuação de herói.
Ë uma técnica muito usada pelos Arteterapeutas Junguianos.
Origami – É a arte tradicional japonesa de dobrar papel,
transformando-o em figuras diversas como flores, animais, objetos
decorativos, utilitários como caixas e figuras geométricas, simétricas ou
assimétricas.
Qualquer pessoa, independente da idade, do sexo, da profissão, raça
ou religião, pode transformar um simples pedaço de papel e interpretar o
mundo à sua volta através de dobraduras. Esta é a razão pela qual, hoje, é
considerada uma arte universal, praticada por pessoas do mundo todo, por
sua aplicabilidade tanto na área educacional como na terapêutica.
Além de um passatempo agradável,
tem a vantagem de poder ser feito em
qualquer lugar, desde que se tenha um
papel a mão. No núcleo familiar
propicia momentos repletos de poesia e
afetividade, podendo reunir gerações
diferentes em torno de uma mesma
atividade.
Pode - se aprender, de forma descontraída, a desenvolver a
criatividade, o raciocínio e a visualização espacial, pois Origami implica em
método, seqüência, ordenação, atenção e concentração.
Como dizia Gandhi "Toda arte verdadeira é uma expressão da alma".
Se uma forma de arte sobrevive milernarmente, ela faz sentido, tem
significado e deve ser incorporada ao cotidiano de todas as pessoas
sensíveis
7.3 Oficinas de Arteterapia
As oficinas de arteterapia constitui um instrumento facilitador no
processo terapêutico conjugado a um trabalho verbal cujos resultados
possuem um alcance ilimitado.
Objetivo:
Promover a prevenção e a saúde psíquica e física.
Facilitar o contato e o desenvolvimento de potenciais da
personalidade, a inteligência emocional, a criatividade, a motivação, a auto-
estima, a capacidade relacional tendo como meta à qualidade de vida na
vida pessoal e profissional.
Público Alvo:
Não tem contra-indicação. Pode ser praticada por pessoas de todas
as idades ou necessidades. As técnicas e atividades são selecionadas e
adequadas ao perfil do grupo e objetivos do trabalho.
Definição das Oficinas de Arteterapia:
Atividades em grupo ou individual conjugadas a um trabalho verbal,
tendo como finalidade criar um espaço para a expressão criativa, a
comunicação, o contato com potenciais da personalidade em seus aspectos,
cognitivo, emocional e sensório através dos órgãos do sentido (visão,
audição, tato, olfato, paladar), favorecendo a integração de conteúdos
emocionais, despotencializando assim a atuação autônoma/negativa desses
conteúdos na personalidade trazendo maior harmonia, saúde física e
emocional para a realização de metas construtivas.
Campo de atuação das oficinas de Arteterapia:
Na saúde:
X para pacientes em geral, em encontros individuais e/ou grupos
semi-abertos.
X como triagem, avaliação e encaminhamentos de pacientes.
X familiares e amigos dos participantes.
X profissionais que atuam nos atendimentos com objetivo do suporte
no trabalho inter e multidisciplinar.
X grupo misto.
X workshops vivenciais abertos ao público ou funcionários de
instituições, com intuito terapêutico e preventivo.
Na educação:
didáticas, como complemento cognitivo em palestras e programas
empresariais e educacionais.
orientação vocacional e capacitação profissional para adultos ou
adolescentes através da abordagem clínica vivencial.
Em RH:
• para dinamizar equipes e potenciais da personalidade, a
capacidade relacional e a realização de metas.
• realizar avaliações, encaminhamentos, desenvolvimento de
projetos, re-direcionamento profissional (proporcionar motivação
para a empregabilidade).
Metodologia:
Música, relaxamento, imaginação ativa, técnicas com a utilização de
materiais gráficos, plásticos e cênicos, trabalhos corporais e verbais.
Utilização de Materiais:
- Gráficos (desenho, gravura, pintura).
- Plásticos (escultura e modelagem com: barro, sucata, papiêr
marche, etc.).
- Cênicos (expressão corporal, psicodrama, teatro, música, poesia).
Classificação dos materiais:
- duros (lápis em geral, canetas esferográficas, lápis cera);
- de transição (giz cera seco, lápis aquarela);
- fluídos (tintas em geral, cola colorida);
- de regeneração (escultura e modelagem);
- de vínculos (gravura, colagens, expressão corporal, contos).
Segundo a tipologia junguiana e as funções reguladoras da
consciência, os materiais como elementos alquímicos são classificados
como:
- intuição (fogo): lápis cera quente, contos, argila, caixa de areia;
- pensamento (ar): lápis e lápis cera em geral, corte-colagem,
leitura-escrita;
- sentimento (água): tinta, poesia, música, cores;
- sensação (terra): argila, colagem, texturas, sucata, tecidos, grãos,
comida, trabalhos corporais.
Segundo Humberto França, as práticas artísticas e suas influências:
- a pintura é libertadora;
- o desenho é ordenador;
- a escultura é estruturadora;
- a gravura é multiplicadora.
Obs: A técnicas corporais, o teatro e a argila são indicados para o trabalho
com pacientes psiquiátricos por estimular o contato com o corpo e a função
sensação através dos órgãos dos sentidos, facilitando o fortalecimento da
identidade, a integração de conteúdos inconscientes e a delimitação mundo
interno e externo. Contudo essas técnicas são favoráveis para todos; o
teatro estimula a livre-expressão e a capacidade relacional, a argila é o
material mais completo por conter os 4 elementos: terra, água, ar, fogo; ao
ser manuseada, esquenta, dando forma as sensações e emoções.
Exemplos de alguns temas que podem ser desenvolvidos nas
oficinas:
- Os órgãos do sentido e a estimulação senso-perceptiva.
- Vínculos e identificações através do corte e colagem e do trabalho
corporal.
- Construção e re-construção através da modelagem.
- Trabalhando o sentimento e o feminino na pintura e poesia.
- Cuidando do corpo através dos sentidos, alimentos e expressão
corporal.
- Imagem do corpo e identidade. Trabalhando com máscaras.
- A respiração, o sentimento e a auto-estima. Trabalhando com as
mãos e o corpo.
- A alquimia dos sons e das cores.
- Expressão, comunicação e criatividade através do teatro.
- O dar e o receber. Trabalhando vínculos.
- O velho sábio e a sabedoria interior.
- O grande herói, coragem e força no caminho do Ser e na
construção de metas.
- Trabalhando os sonhos oníricos.
- Os quatro elementos da natureza. A lapidação da alma.
- O casamento do sol e da lua - Trabalhando o masculino e o
feminino na personalidade.
- O mito de "Eros e Psiqué" - O casamento da alma e do amor.
- As Deusas interiores. Trabalhando e tecendo aspectos do
feminino.
- A Criança interior. Trabalhando os aspectos lúdicos da
personalidade.
- Trabalhando a auto-estima através do conto "bruxas e como
desfaze-las" (medo, raiva, crítica, inveja).
- Alquimia da Terra. Nascer, florescer e frutificar. Realizar sonhos.
- Trabalho e Prazer. Conhecendo potenciais e habilidades na
construção de objetivos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao concluir este trabalho pude constatar algo que a muito tempo
venho observando e refletindo sobre a importância da Arte e suas múltiplas
faces. Principalmente nas áreas referentes ao teatro, música e dança.
O ensino da arte é importante para desenvolver a consciência de
cidadania e a cumplicidade de novas gerações. Logo, é oportuno citar o
que dizem dois professores ligados a Arte – Educação :
Anísio Teixeira em entrevista concedida a “ A Gazeta “ – Vitória ( ES )
– 1996, diz que : “ A arte é a forma de expressão do sentimento humano e
fazê-la é excepcional, mas senti-la é comum, geral e universal “.
Angela Macedo professora de artes da Escolinha de Arte do Brasil diz
que : “ A arte é o prazer da livre expressão através da prática da criação. É
através dela que a criança se expressa “.
Cabe destacar também que a atual prática educacional baseada no
Construtivismo, considera a descoberta e a criatividade, que não é apenas
originalidade, é também transformação, como sendo os aspectos mais
importantes na aprendizagem.
Fazendo a ponte entre a Arte e o Desenvolvimento é importante dizer
que não há aprendizagem que não esteja registrada no corpo. A
participação do corpo no processo de aprendizagem se dá pela ação e
representação. Todo conhecimento tem um nível de ação ( fazer
movimentos ) e um nível figurativo ( dado pela imagem, pela configuração )
que se inscreve no corpo.
Diante disso, fica fácil entender a importância do teatro junto ao
desenvolvimento e a aprendizagem, pois ele é um dos mais diretos e ativos
meios de cultura.
A arte do teatro modificou-se através do tempo, ator e espectador
passam a ter uma integração sensorial completa, ao invés do mero estímulo
audiovisual.
Pode-se dizer que o teatro é o reflexo da vida e o ator a matéria viva
que a reflete.
A criança que participa da arte do teatro torna-se um indivíduo ativo,
capaz de captar informações da forma mais completa possível ( sentidos /
corpo ), desenvolvê-las em todas as suas combinações ( corpo / mente ) e
transmiti-las, já elaboradas criativamente, através de todos os meios
possíveis ( corpo / mente / sentido ).
É através da arte que o aluno pode expressar-se e dar à professora
oportunidade de perceber sua interpretação do mundo, enriquecendo seu
âmbito de experiência e seu conhecimento sobre pessoas, sentimentos e
acontecimentos.
Toda criança tem necessidade de se expressar livremente, mesmo
quando a motivamos para este ou aquele tema. Fazê-la participar da alegria
criadora, através de um clima de compreensão e confiança, é a melhor
recompensa que lhe pode dar o educador, pois melhor que o prêmio ou a
distinção especial é fazer a criança encontrar-se a si própria, através do
exercício, em liberdade, de seu inesgotável poder inventivo.
Constantin Stanislavski ¹ resume de forma bastante clara e poética o
Teatro : “ Só esta arte pode absorver completamente o homem, e fazê-lo
entender interiormente os acontecimentos do mundo, enriquecendo sua vida
interior e suas impressões transcendentais, que não se desvanecerão com o
tempo “.
É igualmente importante frisar que, o grande sucesso da música em
nossos tempos deve-se exatamente ao fato de ser uma das poucas formas
de expressão artística que procura atingir o indivíduo como um todo
(exigindo inclusive, a participação do corpo, na dança ).
A música educa de modo integral, principalmente porque desenvolve
a sensibilidade e percepção.
Já a dança nos permite observar problemas psicomotores, além de
contribuir com a beleza de um belo espetáculo teatral, onde se materializa
toda a espontaneidade.
É relevante lembrar da importância do jogo para o desenvolvimento
cognitivo da criança, principalmente antes da iniciação de técnicas teatrais, e
que o importante não é a obra e sim o processo de criação para a aquisição
do conhecimento, respeitando as limitações de cada um.
O processo terapêutico, arteterapia é de capital importância não por
basear-se nas expressões artísticas em todas as suas manifestações , mas
sim, por fazer liame entre o significado do que é feito e de como é feito,
permitindo assim, o desenvolvimento da criatividade concomitante a
libertação emocional.
Cabe ressaltar, que a arteterapia resgata o potencial criativo do
homem, buscando o psique saudável e estimulando a autonomia e
transformação interna para reestruturação do ser, logo, fica claro que os
indivíduos em seu processo de auto conhecimento e transformação, são
orientados por símbolos.
É através de técnicas expressivas que as imagens simbólicas, que
ordenam e dão significado às nossas vidas, ganham significados permitindo
à pessoa que a experencie viver mais plenamente através do processo de
individuação.
Enfim, desenvolver as potencialidades humanas, a criatividade nos diversos
campos de atividades, promovendo a expansão dos conhecimentos com
vistas à promoção social de todos, tornará o mundo mais humano e criativo.
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¹Citação copiada de um pôster do Teatro Clara Nunes no Shopping da
Gávea.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 01
AGRADECIMENTOS 02
DEDICATÓRIA 03
RESUMO 04
METODOLOGIA 05
SUMÁRIO 06
INTRODUÇÃO
07
CAPÍTULO I
ARTE 09
2 1.1 Desenvolvimento Infantil 11
1.2 Desenvolvimento da Aprendizagem 12
1.3 Como meio de Expressão 17
CAPÍTULO II
TEATRO – O CORPO E A APRENDIZAGEM 20
2.1 Teatro Terapêutico 23
CAPÍTULO III
3 JOGO – FERRAMENTA ESSENCIAL 24
3.1 Importância do jogo na organização do pensamento 26
CAPÍTULO IV
BRINCAR – EXPLORAÇÀO NECESSÁRIA 29
4.1 De que maneira o brincar é facilitador do desenvolvimento 31
4.2 Brincadeira, Brinquedo e Jogo 34
CAPÍTULO V
MÚSICA E DANÇA – INSTRUMENTOS FACILITADORES 42
5.1 Biodança 44
CAPÍTULO VI
ARTE – EDUCAÇÃO 47
6.1 Fundamentos da Arte – Educação 47
CAPÍTULO VII
ARTETERAPIA 50
7.1 Objetivos 51
7.2 Técnicas 52
7.3 Oficinas de Arteterapia
57
CONSIDERAÇÕES FINAIS 61
REFERÊNCAIS BIBLIOGRÁFICAS 64
ÍNDICE 66