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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
ENOTURISMO: COMO TRANSFORMAR VINHOS EM DESTINOS
TURÍSTICOS
Por: Mayana Cosendey Aguiar
Orientador
Prof. Mario Luiz
Niterói
2012
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
ENOTURISMO: COMO TRANSFORMAR VINHOS EM DESTINOS
TURÍSTICOS
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Gestão Empresarial
Por: Mayana Cosendey Aguiar
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AGRADECIMENTOS
A minha família, sempre junto comigo
quando precisei.
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DEDICATÓRIA
Dedica-se a todos que acreditam que algo
pode dar certo, que um sonho é possível.
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RESUMO
Os Vinhos sempre foram uma fascinação do ser humano. Com o tempo
eles passaram a significar muito mais do que uma simples bebida. Com esse
trabalho coloca-se uma nova finalidade para os vinhos: o enoturismo.
Como esse fenômeno que vem crescendo cada vez mais
conscientemente na Europa e nos países como Estados Unidos e Austrália
pode ser inserido no Brasil.
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METODOLOGIA
A metodologia empregada baseia-se no aumento do número de viagens
pelo Brasil e pelo mundo nos últimos anos.
Os viajantes estão buscando novidades e o enoturismo associa diversas
qualidades em um único lugar.
Com o objetivo de ajudar as empresas brasileiras do setor de vinhos a
descobrir seu potencial, foi realizado um estudo bibliográfico com os principais
autores do setor de turismo e planejamento de destinos turísticos.
Uma visita a uma vinícola em Bordeaux, uma das principais regiões de
vinhos do mundo também foi realizada para fins de instrução.
Para coleta de material sobre a atual situação no Brasil foi realizada uma
visita a Feira Nacional da Associação Brasileira dos Agentes de Viagens –
ABAV e a um lançamento de material sobre vinhos dos Andes, realizada no Rio
de Janeiro.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Vinhos 09
CAPÍTULO II - Turismo e Vinhos 18
CAPÍTULO III – Planejamento e gestão de destinos turísticos 26
CAPÍTULO IV – Planejamento de destinos de vinhos 37
CONCLUSÃO 52
ANEXOS 53
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 58
BIBLIOGRAFIA CITADA 59
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INTRODUÇÃO
O mundo dos vinhos sempre encantou o ser humano. Desde os
tempos mais remotos se tem registros do encantamento do homem a essa
bebida.
Atualmente, os vinhos criaram todo um novo mundo ao redor deles. É
impossível conhecer uma pessoa que não aprecie um bom vinho. E dessa
forma, os vinhos viraram um negocio lucrativo e prospero.
Porém o ser humano sempre quer aprender, conhecer mais daquilo
que o fascina, e dessa forma, surgem as visitas as vinícolas.
Nos países da Europa, atualmente essas visitas são organizadas e
movimentam milhões de pessoas o ano todo para os seus destinos. Alguns
outros países como Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia estão
desenvolvendo maneiras novas de adequar essas viagens as suas vinícolas.
O enoturismo se tornou um negocio favorável em todo o mundo, porém
no Brasil ainda não possui uma estrutura muito forte e eficiente.
Esse estudo tem como objetivo ajudar as empresas do setor de vinhos
a entender seu potencial turístico e como ele pode e deve ser utilizado.
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CAPÍTULO I
VINHOS
E começou Noé a ser lavrador da terra, e plantou uma vinha.
(Gênesis 9:20)
Registros sobre o vinho, sua plantação e sua utilização são muito
antigos, na verdade, não se sabe exatamente como que essa bebida foi
descoberta. Acredita-se que foi esquecido um pouco de uva amassada em um
barril e com o tempo descobriu-se a bebida.
Os homens sempre sentiram grande atração pelo vinho, talvez esse
fosse causado pela euforia causada pela bebida. Mas principalmente pela
hierarquia de sabores, que estimulam o olfato e o paladar num nível
dificilmente alcançado por qualquer alimento.
Apesar de pouco se saber a cerca de sua descoberta, desde que ela
ocorreu muito se evoluiu sobre sua fabricação, venda e consumo.
Hoje, o mundo dos vinhos é extremamente complexo, onde um grande
número de consumidores, fabricantes e pessoas da área se envolvem com a
questão. Gerando dessa forma toda uma estrutura em volta do vinho.
Para entender melhor todo o contexto do vinho, deve-se compreender
um pouco mais a cerca de como ocorre à produção do mesmo.
As uvas amassadas constituem o mosto, a levedura contida nas cascas
das uvas transforma o açúcar existentes nas uvas em álcool etílico e gás
carbônico.
Todo esse processo é chamado fermentação alcoólica. E pode ser
demonstrado da seguinte forma:
Açúcar + Leveduras àààà Álcool Etílico + Gás Carbônico
Porém essa reação desencadeia milhões de outras substancias, em
menor quantidade. Essas substâncias aderem sabor único ao vinho. Por isso
uma garrafa de vinho nunca será exatamente igual à outra.
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Fatores como solo, clima, tipo de uva, tempo de fermentação, entre
outros também fazem com que o sabor do vinho mude completamente.
1.1 – Tipos de uva
Existem em média 500 tipos de uva no mundo. As vinhas são plantas
trepadeiras e que possui raízes, troncos e ramos longos e flexíveis. Elas
reagem melhor ao clima temperado, possibilitando o seu plantio em boa parte
do mundo.
Cerca de somente 50 tipos de uvas são utilizadas para fabricação de
vinhos, segundo Santos et. al. (2003) isso ocorreu devido a uma seleção
natural das melhores uvas, principalmente nos países com grande tradição
vinícola. Esses países, por sua vez, espalharam as uvas pelo mundo, algumas
se adaptaram e mantiveram a qualidade, outras não.
Alguns dos principais tipos de uva utilizados no mundo para a fabricação
de vinhos, assim como suas características e localização onde são
encontradas, seguem na tabela abaixo:
Uvas Tintas
Nome: Característica: Localização:
Cabernet
Sauvignon
Uva mais nobre do mundo, cor
bem escura e pele grossa
Itália, França, Espanha,
EUA, Austrália, Chile,
Argentina e Brasil
Merlot Menos grossa que a Carbenet,
é usada nos grandes cortes de
Bordeaux
França, Califórnia,
Austrália, Chile,
Argentina e Brasil
Cabernet Franc Compõe alguns dos mais
famosos tintos do Loire
França e Brasil
Pinot Noir É um dos componentes do
champanhe
França
Syrah Vinhos com grande durabilidade França e Austrália
Grenache Uma das mais plantadas do França, Espanha,
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mundo Califórnia e Austrália
Gamay Vinhos leves e devem ser
consumidos novos
França
Malbec Variedade pouco usada França e Argentina
Tannat Uva dos melhores vinhos do
sudoeste da França
França, Uruguai e Brasil
Sangiovese Um dos supertoscanos, vinhos
que revolucionaram a indústria
vinícola da Itália
Itália
Nebbiolo Considerada a melhor uva da
Itália
Itália
Barbera Nativa da Itália, onde tem
grande produção
Itália
Tempranillo Uma das principais uvas da
Espanha
Espanha
Tabela I: Tipos de uvas tintas. SANTOS et.al. 2003. Adaptado pela autora.
Uvas Brancas
Nome: Característica: Localização:
Chardonnay Fácil de cultivar e resistente,
conhecida como a rainha das
uvas brancas
França, Califórnia,
Austrália, Chile,
Argentina e Brasil
Riesling Uma das principais uvas
brancas do mundo
Alemanha, França,
Alsácia, Austrália, Chile,
Brasil
Sauvignon Blanc Principais vinhos brancos e
secos de Bordeaux
França, Chile e Brasil
Sémillon Base dos vinhos secos e doces
de brancos de Bordeaux
França, Austrália e Chile
Chenin Blanc Vinhos brancos que
envelhecem bem
França
Gewürztraminer A mais aromatizada das uvas Alsácia e Alemanha
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Moscatel A mais prolixa das uvas
brancas
França, Portugal, Itália,
Austrália e Brasil
Tabela II: Tipos de uvas brancas. SANTOS et.al. 2003. Adaptado pela autora.
O tempo do plantio da uva possui fases muito bem definidas. Os
períodos se dividem em Hibernação, Abrolho, Floração, Veraison, Maturidade e
Colheita. Na América do Sul, por exemplo, esses períodos se dividem nos
seguintes meses:
Meses: Fases: Característica:
Maio
Junho
Julho
Hibernação
Período que ocorre após a queda das folhas,
a planta deve ser limpa e ela acumula
reservas para o próximo ciclo.
Agosto
Setembro
Abrolho
Inicio da germinação dos brotos e da poda,
sendo essa essencial para a qualidade dos
vinhos. A poda muda de acordo com o clima,
solo, tipo de uva e tipo de vinho a ser
produzido.
Outubro
Novembro
Dezembro
Janeiro
Floração
Veraison
Maturidade
Floração: Fertilização e inicio de frutos;
Veraison: Amadurecimento dos frutos que
necessitam de muito sol e pouca chuva, que
pode gerar o apodrecimento;
Maturidade: Fruto atinge o máximo
desenvolvimento.
Fevereiro
Março
Abril
Colheita
Concretização do trabalho dos vinhedos, pode
ocorrer de forma mecânica ou manual.
Tabela III: Período dos vinhedos. Santos et.al. (2003) Adaptado pela autora.
Após o processo ocorrido nos vinhedos, a uva ainda está longe de se
tornar um bom vinho. Ela ainda irá passar por diversos processos, chamados
vinificação, ou seja, as diversas operações as quais a uva irá passar para se
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tornar vinho. Porém, esses processos mudam, para cada tipo de vinho que se
deseja alcançar.
1.2 – Tipos de vinhos
Existem diversos tipos de vinho, cada um com uma especificação
diferente. O tipo de uva e o processo de vinificação tornam cada tipo de vinho
único.
Como já colocado, os tipos mais famosos e comuns de vinho são os
vinhos tintos e os vinhos brancos.
Eles se diferenciam a partir da estrutura taninosa (transmitida pelo barril,
que adere ao vinho um sabor mais amargo) e da cor. A cor é obtida a partir do
tipo de uva, como já mostrado, e do processo de maceração das peles no
sumo de fermentação. Se a maceração não ocorrer, pode-se obter um vinho
branco a partir de uvas negras (GAYON, 2001).
Os vinhos rosados quando bem feitos são equivalentes aos vinhos
brancos devido ao frescor. Porém eles possuem um leve aroma de frutas,
bastante delicado. Nesse tipo de vinho a maceração das peles também ocorre,
porém ela não é tão longa como no vinho tinto.
Outro tipo de vinho muito conhecido são os vinhos espumosos, que se
opõem aos vinhos tranqüilos por liberar gás carbônico na abertura da garrafa.
Esse gás carbônico é inserido na garrafa a partir de uma segunda
fermentação. Os vinhos mais conhecidos desse tipo são os “Champanhes”,
devido ao seu alto teor de perfeição alcançado por um método criado onde
essa segunda fermentação ocorre já na garrafa final.
Os vinhos secos são os que possuem pouca quantidade de açúcar
(4g/l), eles compõem todos os vinhos tintos e grande parte dos vinhos brancos.
Os vinhos doces são aqueles que possuem maior concentração de açúcar
(entre 10 e 80 g/l) porém esse açúcar não é adicionado ao vinho, é somente o
açúcar que não é transformado em álcool pelas leveduras.
Os vinhos licorosos são extremamente doces e são obtidos pela adição
de álcool neutro ou aguardente de vinho ou mosto de uva, ou um conjunto
desses produtos.
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Os vinhos de mesa são os vinhos que podem ser utilizados todos os
dias. São os tipos de vinhos mais encontrados para consumo. Eles são menos
alcoólicos e mudam de região para região. Dessa forma, em grande parte do
mundo são denominados “Vinhos de região”, porém nem todos os vinhos de
mesa são vinhos de região. Somente quando a região mantém qualidade nas
uvas que produz.
Os vinhos de reservas são os vinhos mais nobres das colheitas, aqueles
que demoram mais tempo para serem produzidos, os que recebem os barris
mais novos. São os vinhos detalhadamente produzidos.
Na França, para manter a qualidade excepcional dos vinhos, foi criado
uma legislação para a produção deles. São os “Vinhos de Denominação e
Origem Controlada”. São vinhos gerados brilhantemente, e inspecionados
constantemente, para manter a qualidade e a tradição regional (RIBÉREAU-
GAYON, 2001).
1.3 – Consumo de vinho no Brasil e no Mundo
A história do vinho no Brasil teve início em 1532, quando Martim Afonso
de Sousa trouxe as primeiras mudas de vinho de Portugal. (SANTOS, 2006).
Desde então o vinho vem ganhando força no país. Sua produção
aumentou com a colonização italiana e hoje ganha cada vez mais força.
A área Sul do Brasil conta com o clima temperado ideal para plantação
de uvas o clima é extremamente parecido com o clima de Champagne. O que
torna os vinhos espumantes brasileiros muito parecidos em qualidade com os
da famosa região francesa.
A região nordeste também tem crescido muito na produção de vinhos. O
vale do Rio São Francisco está colocando ótimos vinhos no mercado. As
regiões sudeste e centro-oeste também estão começando a investir na
produção de vinhos, porém com menor intensidade.
As vinícolas brasileiras tem-se especializado e investido cada vez mais
para poder aprimorar a produção de vinhos. Inclusive trazendo especialistas
internacionais para transmitir seus conhecimentos.
O consumo de vinho mundial tem aumentado espantosamente desde os
anos 70. Atualmente vemos que o consumidor de vinho não somente tem
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consumido mais vinho, como está consumido mais vinhos de alta qualidade,
como exemplo deve-se notar o consumo de vinhos na França.
Segundo Ribéreau-Gayon, 2001 a produção dos Vinhos de
Denominação de Origem Controlada aumentou de 37% da produção para 51%
em 10 anos. É um aumento de 14% em toda a produção francesa.
A produção de vinhos da França em 1999, segue na tabela abaixo,
estimada em hectolitros:
Tipo de vinhos Milhões de hectolitros
Vinho de Denominação de Origem Controlada
Tintos e rosados: 17,9
Brancos: 8,5
Total: 26,4 / 51%
Vinhos de Mesa com menção aos vinhos de região
Tintos e rosados: 13,4
Brancos: 2,8
Total: 16,2 / 31%
Vinhos de Mesa sem menção aos vinhos de região
Tintos e rosados: 6,8
Brancos: 2,4
Total: 9,2 / 18%
Total
Tintos e rosados: 38,1 / 73%
Brancos: 13,7 / 27%
Total: 51,8 / 100%
Tabela IV: Produção de vinhos na França 1999. Ribéreau-Gayon (2001)
Adaptado pela autora.
A França ainda é um dos maiores produtores de vinhos do mundo. Junto
com os demais países da Europa, eles produzem cerca de 80% do vinho
mundialmente consumido.
Porém os vinhos dos países colonizados, como Chile, Argentina, Brasil,
estão ganhando cada dia mais espaço na produção. Em 10 anos a
16
porcentagem desses países passou de 8% para 17% de todos os vinhos
produzidos (RIBÉREAU-GAYON, 2001).
De toda a produção francesa de vinhos, 35 milhões de garrafas são
consumidas no próprio país, os demais 15 milhões são exportados para os
demais países da Europa e do Mundo (RIBÉREAU-GAYON, 2001).
Observa-se então que grande parte da produção francesa é consumida
pelos próprios franceses. A cultura de consumo de vinhos na Europa é muito
antiga e já se tornou uma tradição.
No Brasil o consumo é de forma muito diferente. Quando na Europa os
vinhos competem somente com outros vinhos, aqui no Brasil, o principal
concorrente dos vinhos é a cerveja.
Segundo Mello (2011), o consumo no Brasil da cerveja é de 50litros per
cápta em quanto de vinho de mesa é somente de 1,5 litro. Grande parte dessa
diferença é cultural. O brasileiro ainda pensa que vinhos são artigos de luxo e
que custam muito. Porém quanto mais forte fica a produção nacional de vinhos,
mais acessíveis esses vinhos se tornam para o consumidor final.
Sobre o consumo de vinhos no Brasil, Mello (2011) retira as seguintes
conclusões:
“Apesar de o mercado do vinho ser instável, os resultados
permitem as seguintes conclusões:
- Dos vinhos nacionais, os espumantes apresentaram
maiores perspectivas de mercado.
- A abertura de mercado não foi favorável ao aumento no
consumo de vinhos finos, mesmo com a tendência
crescente de consumo dos vinhos importados.
- Na categoria de vinhos finos, os tintos apresentam
melhores perspectivas.
- Os vinhos de mesa (de consumo corrente) elaborados a
partir de uvas americanas e híbridas, vêm conquistando
seu espaço no mercado, e apresentam perspectivas de
crescimento.” (MELLO, 2011, p.07)
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O mercado brasileiro tem apresentado significativo aumento de consumo
de vinhos, apesar desse consumo ainda ser relativamente baixo em relação
aos demais países.
Os principais tipos de vinho produzidos no Brasil como os espumantes e
os vinhos de mesa tiveram crescimento de produção e consumo nos últimos
anos. Porém deve-se observar que os espumantes ainda possuem sua
utilização ligada fortemente a épocas festivas no Brasil.
O consumo de vinhos no Brasil tem crescido, porém a competição com a
cerveja e demais bebidas alcoólicas ainda são um desafio. A cultura brasileira
em relação ao vinho também. Mas o mercado encontra-se aquecido e otimista
aos novos consumidores que estão largando de mão velhos tabus de que
vinhos são para ocasiões especiais ou que um bom vinho é muito caro e estão
acrescentando essa bebida no seu cotidiano.
As vinícolas brasileiras devem encontrar maneiras de aumentar a sua
visualização na população e, dessa forma, aumentar as vendas.
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CAPÍTULO II
Turismo e os vinhos
Wine tourism is a significant component of both the wine and tourism
industries.
(Michael Hall)
Para se entender a relação entre os vinhos e o turismo, deve-se primeiro
entender o que é turismo.
O turismo é caracterizado por um deslocamento, uma viagem, na qual a
pessoa permaneça menos de um ano no local visitado. De acordo com a
Organização Mundial de Turismo:
“O turismo compreende as atividades que realizam as
pessoas durante suas viagens e estadas em lugares
diferentes ao seu entorno habitual, por um período
consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer,
negócios ou outras.” (OMT, 2001, p.38)
Porém não somente o deslocamento é considerado quando se trata de
turismo, o motivo e toda a estrutura gerada para esse deslocamento também
interferem no turismo, segundo a OMT:
• Turistas são os que se deslocam para fora do seu entorno
habitual;
• A estada no destino deve ser durante um determinado período
não permanente;
• O turismo compreende não somente a viagem, mas também as
atividades realizadas durante a estada;
• O turismo inclui os serviços e produtos criados para satisfazer as
necessidades dos turistas. (OMT, 2001)
19
Diversos motivos podem gerar o deslocamento, como, por exemplo,
diversão, negócios, repouso, entre outras.
A relação do turismo com a alimentação é muito forte, até mesmo pois a
alimentação é essencial para a existência do ser humano.
2.1 - O turismo e a alimentação
Sempre que se planeja fazer uma viagem, mesmo que o objetivo
principal dela não seja a comida ou a bebida da região, o viajante pensa na
alimentação que terá no lugar que está viajando. Ele sempre planeja onde irá
comer, o horário, o custo com alimentação e outras questões.
Krippendorf (2001) apresenta uma série de atividades realizadas pelos
turistas em suas viagens, muitas dessas atividades não são de causar grande
surpresa, como caminhadas pela praia, realizar um passeio, ler livros, ouvir
rádio, ver televisão, praticar esportes, jogar baralho, entre outros. Uma dessas
atividades listadas pelo autor é a alimentação, seja freqüentando restaurantes
e bares ou consumindo comidas típicas
Segundo Beni (2006) o setor da alimentação está tão relacionado com o
turismo que se um deixasse de existir o outro perderia significante produção ou
até mesmo acabaria.
Na tabela abaixo se consegue verificar parte dessa interação. Nela estão
relacionados os principais gastos turísticos, sendo esses “todo gasto de
consumo efetuado por um visitante ou por conta de um visitante, durante seu
deslocamento e sua estada no lugar de destino (OMT,2001, p.44)”.
Gastos Sem Pacote (%) Com Pacote (%) Total (%)
Pacote -- 71,1 17,3
Transporte 43,9 1,7 35,6
Hospedagem 12,4 1,0 10,1
Alimentação 28,9 11,6 25,5
20
Lembrança/Souvenir 8,2 9,2 8,1
Outros 6,6 5,4 6,4
Total: 100 100 100
Tabela V: Estimativa de gastos dos turistas. Fonte: BENI (2006, p. 204)
De acordo com essa tabela, a alimentação está em segundo lugar nos
gastos totais dos turistas, passando somente do transporte. Ou seja, sempre
que se viaja grande parte dos gastos são reservados para esse fim.
A alimentação e o turismo estão tão ligados, que mesmo quando o
principal objetivo da viagem não é a alimentação ela é planejada. Uma
atividade não existiria sem a outra.
Para compreender melhor essa relação, Beni (2001), coloca a relação
entre as duas atividades no ano de 1999, pesquisado através do produto
interno bruto – PIB do ano. Deve-se colocar que nesse ano, o turismo teve uma
importância de 5,3% do PIB. A tabela está estimada em milhões de reais.
Atividade Total do
Setor
Parte do
Turismo
% do Turismo
no total do setor
% no Valor
agregado
total do
turismo
Serviços de
Alimentação
10086,5 3967,2 39,3 22,6
Tabela VI: Relação entre os setores de Alimentação e Turismo. Fonte: BENI
(2001). Adaptado pela autora
Observa-se então que as duas atividades são dependentes. No setor de
alimentação, caso o turismo deixasse de existir, ele perderia 39,3% de toda a
sua produção.
Essa interação fica mais nítida quando falamos em viagens as quais o
principal objetivo é a comida ou o vinho da região. Virando dessa forma, o foco
principal para toda a estrutura turística.
21
2.2 – Enoturismo
Como já colocado o ser humano sempre foi fascinado pelo vinho. Essa
fascinação gera o anseio por conhecimento sobre o vinho, para entender como
ele é feito, ou seja, toda a estrutura que gera em torno dessa bebida.
O enoturismo é basicamente todo o deslocamento realizado para visitar
todo e qualquer ambiente que faça parte da estrutura vinícola. Visitas a Lojas
de vinho, vinhedos, fábricas, festivais de vinhos também são classificadas
como enoturismo, porém elas devem ser o motivo principal pelo qual o
deslocamento ocorreu.
Viagens desse tipo são tão antigas quanto à fascinação do homem pelo
vinho. Na antiga Grécia e Roma já existiam relatos de andarilhos que
buscavam visitar vinícolas e entender mais sobre a produção. Porém esse tipo
de viagem começou a ganhar mais força somente na metade do século 19.
Vários motivos geraram esse aumento no número de viagens:
• Os veículos, o transporte ficou mais fácil e acessível, facilitando o
deslocamento;
• A revolução social que fez com que a classe média buscasse
melhores vinhos pelo mundo;
• O lançamento do Classification of the wines of the Gironde um
guia que mostrava onde encontrar os melhores vinhos. Foi o primeiro
guia dessa forma a ser lançado, classificando as melhores regiões de
vinhos. (Hall et all, 2000)
Esse guia foi a base para uma discussão na França sobre a qualidade
de seus vinhos, e gerou a classificação dos vinhos de denominação de origem
controlada, o sistema de qualificação dos melhores vinhos.
O enoturismo na Europa começou há muito tempo. Porém ainda hoje ele
é um produto que está em grande crescimento. Cada dia mais pessoas se
interessam em visitar as vinícolas e o mercado está sempre aquecido.
22
Até mesmo países que não possuem tanta tradição vinícola como a
Alemanha, passou a investir nesse setor, em 1920. E até os dias de hoje
recebe visitantes de todas as partes do mundo.
Atualmente certas regiões vinícolas mudaram completamente devido ao
turismo realizado nas regiões, porém nenhuma delas deixou de ser tipicamente
rural, ou seja, não perderam as suas características.
Devido ao ambiente rural, não somente a fabricação do vinho atrai os
visitantes, diversos motivos podem gerar o interesse por viajar até uma região
de vinhos, Hall et all, (2000, p.86) lista alguns desses fatores:
• Relacionados diretamente ao vinho (compra, busca por
qualidade);
• Festivais de vinhos ou qualquer outro evento relacionado ao
vinho;
• Socializar com amigos / aproveitar um dia;
• Aproveitar a área rural, a vista do vinhedo;
• Conhecer um produtor de vinho;
• Aprender sobre vinho;
• Comer numa adega, fazer um picnic;
• Visitar uma adega (para aprender mais sobre vinhos);
• Visitar e conhecer outras atividades;
• Entretenimento.
O tipo de consumidor do enoturismo é muito exigente, pois precisa sentir
toda a estrutura e estar em contato direto com ela. Por isso, nem todas as
pessoas tem interesse em fazê-lo. O perfil desse viajante vai além de um
simples apreciador de vinho, ele precisa sentir toda a estrutura, fabricação,
ambiente e população que está envolvido com o vinho.
2.2. 1 – Perfil da demanda geral do enoturismo.
Compreender o perfil da demanda é essencial para influenciá-la no momento
da compra e direcionar as ações de marketing para o público alvo.
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Por mais que o enoturismo seja antigo, as pesquisas em relação ao seu
público é recente. Até pouco tempo não se tinha a preocupação de identificar o
turista.
Nos dias de hoje não somente o perfil do turista é pesquisado mas
também todas as questões relacionadas a compra de um pacote de vinhos. O
que levou o turista a comprar esse pacote, quais foram as influencias que ele
teve.
As principais e primeiras pesquisas sobre perfil da demanda do
enoturismo ocorreram de acordo com a visão dos visitados, ou seja, de acordo
com o que os produtores, guias e população local visitada via sobre os seus
turistas.
Isso gerou uma grande gama de informação sobre alguns aspectos da
demanda, como fatores geográficos, os tipos de turistas que visitam as
vinícolas e alguns aspectos motivadores para a compra (Hall et all, 2000).
Essa falta de informação vinda dos viajantes em questão gera uma falta
de dados para algumas questões envolvidas a área.
De forma geral o turista que pratica o enoturismo é aquele que sai do
seu entorno habitual para visitar vinícolas, fábricas de vinho, festivais de vinhos
ou shows que envolvem a bebida (Hall et all, 2000).
As pesquisas encontradas a cerca do perfil da demanda são de alguns
poucos lugares da Oceania e Estados Unidos. E também o número da amostra
de visitantes não é muito grande, o que permite uma maior variação entre as
informações.
Abaixo segue um quadro, retirado do livro Wine Tourism Around the
World. Nele se tem um perfil demográfico médio para os turistas:
Figura 1 – Perfil da demanda do Enoturismo. Hall et all, 2000 p. 123
24
De acordo com essa tabela, o perfil do turista gira em torno de uma
pessoa que possui em média 30-50 anos, que vai para vinícolas próximas de
sua região local, ou seja, que não viajam grandes distâncias.
Segundo Hall et all (2000) o turista possui um habito muito forte de
vinhos em sua vida. Consome vinho praticamente todos os dias, chegando até
02 garrafas por semana, conhece razoavelmente o assunto e visita vinícolas
várias vezes por ano.
Sobre a motivação do turista para a visita, Hall et all (2000) expõe a
seguinte figura. Nela estão descritas algumas atividades que atraem os
turistas, o número de pessoas pesquisadas está indicado pela letra n. E no final
é colocado se o motivo é interno ou externo.
Figura 2 – Motivações para visita. Hall et all (2000 p. 127)
De acordo com essa figura, não se consegue verificar um motivo mais
forte que os demais. Dependendo da região os motivos mudam.
Um fato importante colocado por Hall et all (2000) é que em regiões
onde o consumo de vinho não era tão forte, como Austrália, Nova Zelândia e
Estados Unidos, a visitas guiadas a vinícolas, festivais e shows tem servido
como um introdutor da cultura do vinho na população.
25
Nesses casos os turistas entendem quase nada sobre vinhos e não
possuem o habito do consumo da bebida. Porém eles possuem uma grande
vontade de conhecer o assunto, uma grande curiosidade, a visita então torna-
se mais uma aula sobre vinhos, educando as pessoas sobre o consumo e os
hábitos dessa bebida.
Essas visitas, quando bem planejadas geram grande conhecimento
sobre vinhos nesses consumidores, que acabam escolhendo e comprando os
melhores produtos.
Esse meio de introduzir o produto através das visitas dá tantos
resultados que em 2005, já se coloca o vinho como uma das bebidas de
consumo principal na Austrália. Um país que antes não possuía uma cultura de
consumo de vinhos passou a ser uma das principais produtoras e
consumidoras do produto através dessas aulas dadas durante as visitas.
26
CAPÍTULO III
Planejamento e gestão de destinos turísticos
O planejamento fornece a direção.
(Stephen P. Robbins)
Foi-se o tempo quando o viajante se satisfazia somente com praia e sol.
O amadorismo desses viajantes acabou. Hoje quando se viaja se busca
sempre presenciar novas estruturas, hábitos, alimentação, transito, modo de
vida, em resumo o turista busca se envolver, cada vez mais com o ambiente.
Porém esse envolvimento nem sempre ocorre de uma maneira positiva,
o impacto de culturas pode fazer com que uma delas se sinta menor e
menosprezada, perdendo suas características e até mesmo acabando com
hábitos os quais antes eram tradicionais.
Devido a esse motivo, busca-se, cada dia mais, planejar
minuciosamente cada passo. Pois “o planejamento estratégico determina qual
é a direção em que se deve mover uma empresa para que seja possível
conseguir seus objetivos a longo prazo” (MARTÍN et al., 1997, p.41).
O planejamento estratégico do turismo deve ser feito juntamente com a
população autóctone, eles devem participar juntamente com os planejadores,
para que delimitem espaços e ações para os visitantes.
O planejador, nesse caso, deve agir como um intermediador entre os
interesses da população, dos visitantes e das empresas públicas e privadas da
localidade. Tentando achar um consenso entre as partes e gerar um acordo.
Valls (2006) lista alguns requisitos para a ocorrência do planejamento
estratégico em destinos turísticos:
• Identificar oportunidades de mercado, ou seja, identificação de
consumidores de lazer e turismo;
• Capacidade do destino de se tornar efetivamente um atrativo turístico,
combinando recursos e estruturando produtos realizáveis no destino;
• Apresentar uma oferta diferencial;
• Definir aspectos estratégicos;
27
• Presença de agentes (públicos e privados) com disposição de investir e
alcançar o consenso;
• Existência de valores e aspirações, tanto pessoais quanto institucionais,
que se baseiem no planejamento;
• Fixar objetivos e estabelecer prioridades que permitam criar as
condições de desenvolvimento desejáveis, assim como um crescimento
ordenado e não compulsivo;
• Definir políticas, atuações e capacidade para executar aquelas que
conduzem ao cumprimento dos objetivos e também para gerenciar as
mudanças; e
• Selecionar os instrumentos de gestão adequados.
O plano estratégico então pode ser tido como um instrumento que define
as condições gerais para o desenvolvimento do território em um prazo de
tempo.
Porém deve-se ter em mente que o plano nunca é algo definitivo, as
mudanças vão sempre ocorrer e o planejador deve estar pronto para elas.
Segundo Valls (2006) somente 56% dos planos turísticos chegam a ser
executados, ele lista uma série de motivos explicando a não aplicação:
• Custos altos;
• Falta de harmonização entre os interessados;
• A falta de um planejamento conciso;
• Falta de um contexto favorável e distorção de situações;
• A falta de estrutura para receber grupos exigentes de turistas.
Grande parte desses problemas podem ser resolvidos se eles forem
pensados e analisados previamente.
Um bom planejador, sempre busca orientar a sua equipe para implantar
os planos cada vez melhor, passando por cima dos erros e se adequando as
mudanças.
3.1 – Fases do planejamento estratégico do turismo
28
Diversos autores criaram roteiros para o planejamento estratégico de
destinos turísticos, porém todos eles são muito parecidos, mudando muitas
vezes as ênfases dadas a cada fase.
Petrocchi (2002) coloca que o roteiro possui duas fases distintas, uma
em nível estratégico e a outra em nível tático.
A de nível estratégico seria a fase na qual ocorrem as definições de
rumos, ou seja, onde se é organizado as idéias e levantado dados para basear
e estabelecer estratégias e objetivos.
Essa fase seria uma fase de definição, onde os seguintes itens seriam
estabelecidos:
• Visão;
• Missão;
• Análise Macroambiental;
• Estratégias;
• Objetivos; e
• Estratégias de marketing do turismo.
Após essa fase, seria dado inicio a fase de nível tático. Que é quando
tudo o que foi planejado é colocado em prática. É quando os planos são
colocados em ação para obter os objetivos.
Os planos de ações são divididos em Planos setoriais, que se dividem
em programas e que por sua vez se dividem em projetos.
3.1.1 – Visão
Visão é composto pelo o que a localidade pretende ser no futuro. Ou
seja, como eles se imaginam em alguns anos.
Determinar a validade do plano é essencial nesse ponto. O plano pode
ser de 5, 10 anos, assim como pode ser de somente alguns meses. Tudo
depende da visão que se tem, e o tempo que levará para conquistá-lo.
29
A visão em si é o sonho. Um sonho compartilhado por todos, ou seja, a
visão deve ser compartilhada. Ela é transformada em motivação dentro das
empresas, ou seja, todos devem trabalhar em conjunto para conseguir aquela
visão, por isso ela deve ser dividida e até mesmo esperada ansiosamente.
Segundo Petrocchi (2002) a visão deve ser:
• Enunciada pela liderança;
• Compartilhada e apoiada;
• Uma direção e um ponto a ser alcançado no futuro;
• Expressada de maneira objetiva, positiva e inspiradora.
A visão é o ponto de partida. Onde se deseja chegar, é a visão de futuro
de tudo o que a localidade pode transformar-se e baseará todos os passos do
plano, servindo sempre como inspiração.
3.1.2 – Missão
A missão é a razão pelo o qual o destino turístico existe. Seu motivo de
desenvolvimento.
Ela deve ser formada focando principalmente o mercado. A missão da
industria canadense de turismo, descrita por Petrocchi (2002, p. 195) é a
seguinte: “O Canadá prestará serviços culturais e de lazer de classe mundial,
preservando o meio ambiente. O turismo observará valores como respeito,
integridade e empatia.”
A partir dessa missão observa-se que a missão direciona as ações do
presente, estabelece padrões a serem seguidos e motiva principalmente o
publico interno.
3.1.3 – Análise Macroambiental
É uma analise minuciosa de todos os aspectos, tanto internos quanto
externos a localidade.
Essa etapa é essencial, pois somente após o levantamento pode-se
focar nas forças e diminuir os pontos fracos.
30
Valls (2006) lista uma série de pontos que devem ser levantados nessa
etapa, incluindo os elementos do entorno imediato, que segundo o autor
“elementos do setor em que compete o destino e em que pode influenciar
através da sua atividade” (2006, p 66):
Análise interna Análise Externa Elementos do
entorno imediato
Recursos:
-Tangíveis;
-Intangíveis.
Competências
da organização:
-Conhecimento,
tecnologias etc;
-Competências-
chave;
-Objetivos
econômico,
financeiros;
-Objetivos
Sociais;
-Objetivos do
conhecimento;
-Vantagens
Competitivas.
Stakeholders
Valores do
destino:
- Raízes que
provocam
satisfação;
- Cultura;
-Modelos;
-Sustentabilidade;
- Hospitalidade.
Carteira de
produtos:
-Estabelecimento;
-Estruturação e
coordenação no
interior de cada
produto;
-Relação entre
produtos e
mercados;
-Autenticidade;
-Atração;
-Especialização;
-Ciclo de vida;
-Ciclo dos
clientes;
-Rentabilidade.
Econômico;
Social;
Geopolítico;
Tecnológico;
Demográfico;
Ambiental;
Jurídico;
Cultural.
Concorrentes;
Fornecedores e
intermediários;
Turistas internos e
externos;
Cidadãos;
Associações
setoriais;
Grupos de pressão;
Administradores
locais, regionais,
nacionais e
intermediários;
Instituições
reguladoras
internacionais.
Tabela VII: Dados da Analise Macroambiental. Fonte: Valls (2006). Adaptado
pela autora
31
Alguns exemplos do que deve ser analisado no ambiente externo, são
colocados por Petrocchi:
“Aeroportos que são da alçada do governo federal
Rodovias federais ou estaduais
Suprimento de energia elétrica, que é concessão federal
Mudanças cambiais que afetam os fluxos turísticos
Sistema de telefonia, que também são concessão federal
Segurança pública, geralmente no âmbito dos governos
estaduais
Organizações nacionais ou multinacionais
Mercados, etc.” (2002, p. 201)
De acordo com o colocado por Petrocchi, pode-se observar que o
mercado também entra como fator a ser fortemente analisado. Segundo Vall
(2006) deve-se:
• Eleger o posicionamento estratégico em relação aos elementos:
o Produtos e mercados;
o Capacidades do destino;
o Barreiras de entrada e saída do setor;
o Demanda;
o Destinos substitutos ou complementares;
o Mercado-alvo e segmentos;
o Conhecer os atrativos de compra do destino em relação a outros;
o Delimitar a capacidade de satisfazer melhor que os demais
destinos, sendo assim único.
Petrocchi (2002) ainda ressalta a importância de se realizar uma analise
SWOT para agrupar os dados levantados entre pontos fortes, pontos fracos,
oportunidades e ameaças, para que dessa forma, eles estejam de forma clara
e organizada.
32
Identificar essas potencialidades ajuda a lidar com as futuras mudanças
que possam ocorrer.
Todos esses dados, além de levantados devem ser cautelosamente
estudados, pois são eles que vão basear as estratégias. Não tem como saber
onde se vai chegar no futuro se não se sabe o que tem no presente.
3.1.4 – Estratégias
Essa é a fase onde tudo o que se foi visto, levantado, analisado e
esperado se une para formar ações.
As estratégias a serem tomadas devem ser muito bem pensadas. Muitos
autores colocam que nessa fase é importante fazer um brainstorne onde todas
as idéias são lançadas para depois serem filtradas.
Valls (2006) coloca três qualidades que as estratégias devem possuir:
• Coerência;
• Capacidade de realização; e
• Aceitabilidade.
Petrocchi ressalta em seu livro que as estratégias devem possuir acima
de tudo ética. Por isso a tomada de decisão deve ser participativa. Ouvir o que
a população tem a dizer é crucial.
Nessa fase será descrita toda a iniciativa do plano como seu modelo de
ação e o posicionamento que se deseja do destino perante o mercado.
3.1.5 – Objetivos
Os objetivos são os fins, em torno deles se dirigem todas as atividades.
Eles devem ser alcançáveis, consistentes e ordenados, isso tudo em um
espaço de tempo predeterminado.
Quando se refere aos objetivos, deve-se pensar em toda a estrutura
turística. De acordo com Petrocchi (2002), no momento de traçar os objetivos,
deve-se adotar um senso comum de direção.
33
É nesse momento que a participação da população é mais valiosa. Pois
toda a estrutura da cidade estará envolvida e sofrerá alterações.
Valls (2006) coloca que os objetivos podem ser quantitativos ou
qualitativos:
• Quantitativos: cumprimento dos indicadores econômicos, sociais e
ambientais em determinados prazos; volume esperado de vendas,
pernoites, de permanência média; estabelecimento de preços; e
previsão de cota de mercado;
• Quantitativos: alcançar notoriedade ou reconhecimento da marca; uma
determinada posição através de um ou vários canais de distribuição; e
capacidade de implantar novas marcas sob a marca guarda-chuva
(aquela que abriga as demais).
Como colocado por Petrocchi (2002) todas as atividades da localidade
devem ser pensadas, não somente as que se envolvem diretamente com o
turismo, mas as que vão se envolver indiretamente também.
Todos os objetivos devem ser traçados de acordo com a visão que se
quer alcançar e com a participação da população para que todos se envolvam
para alcançar-los.
Os objetivos além de traçados devem ser mensurados, ou seja, devem-
se criar parâmetros para medir a evolução dos objetivos com o tempo. Cada
um dos objetivos deve ser medido de uma forma. É a maneira de controlar a
sua evolução.
3.1.6 – Estratégia de marketing do turismo
As estratégias de marketing nem sempre são formuladas pelas
localidades, eles acabam jogando o produto e esperando que ele atraia
espontaneamente os turistas, como colocado por Petrocchi “A maioria trabalha
com o turismo espontâneo e pratica promoção de caráter institucional” (2002,
p. 235).
Porém os destinos que se planejam vêem nas estratégias de marketing
um ponto muito importante em relação às demais fases percorridas.
34
A estratégia de marketing é orientada pelas fases já percorridas, e elas
passarão a influenciar as fases que estão por vir, ou seja, as fases táticas e
operacionais.
De acordo com Petrocchi:
“As estratégias de marketing devem ser referenciadas
pelos objetivos desejados no futuro e por todas as
condições existentes no presente, em termos de mercado,
bem como pela ambiência econômica, política, social e
cultural,... e todos os demais fatores levantados na
análise macroambiental. Ao ser formuladas, transformam-
se em diretrizes para as ações táticas de estruturação do
produto e processo de venda, da sua promoção, da
qualificação profissional e demais aspectos
operacionais...” (2002, p.235)
Em questão ao marketing, o turismo não se difere tanto de outros
setores, ou seja, todas as ferramentas podem ser utilizadas sem nenhuma
adaptação.
Petrocchi ressalta três estratégias entre todas as existentes que se
destacam no turismo. A Estratégia de conceituação do produto, a de
produto/mercado e a de segmentação. Suas principais características estão
descritos na tabela abaixo:
Estratégia: Característica:
Conceituação
do produto
• Foco no mercado, relação entre o que se oferta e o que
a demanda quer, compatibilizar oferta e demanda;
• Dar um rosto, apresentar o produto, um conceito que
será agregado ao produto, uma marca;
• Um mesmo destino pode ter diferentes conceitos e
marcas, variando de acordo com a demanda;
• Criação de slogan e logomarca.
Produto / • Estruturação do mercado que se pode alcançar,
35
Mercado posicionamento consciente do produto no mercado;
• Um mesmo destino pode alcançar diversos mercados,
tendo diversos produtos;
• Fase ligada fortemente a analise macroambiental, o
levantamento de possíveis atrativos e produtos;
• O mesmo produto pode atrair um mercado novo e um
produto novo pode fidelizar o mercado atual e
conquistar novos.
Segmentação • Agrupar consumidores em subgrupos semelhantes;
• Fica entre o marketing de massa e o individual;
• Ajuda a diminuir a sazonalidade;
• Predomina os segmentos por motivos de viagens, como
religioso, de aventura, desportivo, GLS, entre outros.
Tabela VIII: Estratégias de Marketing.
Diversas outras estratégias podem e devem ser utilizadas, o planejador
deve estar atento a qual estratégia mais combina com o tipo de produto e
mercado que ele possui e deseja alcançar.
O planejador também deve estar atento que o mercado muda
constantemente, há 20 anos o consumidor comprava viagens somente através
de um agente de viagens de confiança, atualmente existem tantos sites e
maneiras de interagir com o consumidor final que as estratégias de marketing
devem estar voltadas para todos os lados.
Assim como a forma de compra mudou, o consumidor mudou com ele.
Dessa forma, o planejador se encontra diante de um público cheio de
informação e vontades, que conhece seus direitos e não vai se deixar ser
enganado.
3.1.7– Implementação
Essa é a fase em que se coloca em prática tudo o que foi planejado nas
fases anteriores.
36
Essa é a fase onde todas as pessoas envolvidas devem agir de forma
ordenada e programada. Deve-se ter em mente que cada ação está
completamente ligada a outra, dessa forma, caso uma não ocorra da forma
esperada, todas as outras também não vão ocorrer.
Todo cuidado e precaução nessa fase é crucial, porém mudanças de
plano e alterações no planejamento sempre vão ocorrer, elas são normais em
qualquer processo de implementação.
Compreender as alterações e transformá-las em pontos positivos para a
chagada ao objetivo é essencial. A questão é manter a cabeça no objetivo
principal.
37
CAPÍTULO IV
Planejamento de destinos de vinhos
Wine tourism has become big business.
(Michael Hall)
Com o passar dos anos, o enoturismo vem ganhando cada vez mais
espaço, principalmente nas regiões chamadas “Novo Mundo”, o investimento
feito por esses países para aumentar o número de visitantes é grandioso.
O Brasil produziu em 1996 cerca de 2.320 hectolitros de vinhos. Nesse
ano ficou em 17º maior produtor de vinhos, vencendo países como Inglaterra,
Nova Zelândia e Canadá (Hall et. al., 2000).
Porém dois desses países, Inglaterra e Nova Zelândia, já possuem
políticas voltadas para o enoturismo,ou seja, já o planejam.
Isso pode ser causado pelo baixo consumo dessa bebida pelos
brasileiros, que em 1996 foi de somente 1,58 litros per capita, ou também pode
ser causado pela baixa faixa de terra reservado para a plantação da uva no
Brasil, que chegava, no mesmo ano, a 61 hectares (Hall et all., 2000).
Na Europa, o enoturismo vinha se desenvolvendo sozinho, sem grande
alardes, quando foram criados três órgãos que cuidariam somente dessa área:
A Assenblia das Regioes Europeias Viticolas, o RECEVIN e o Dionysus
multimedia network of European wine-producing region.
Todas essas três pensam não somente na atividade vinícola, mas
também no bem estar dos residentes e a boa relação entre eles e os visitantes.
A Assenblia das Regioes Europeias Viticolas, tem como direção, 05
chaves de pensamento, são elas:
• Realização de um inventário de estradas e trilhas existentes vinho na
Europa;
• Desenvolvimento de sinalização padronizada e representação
pictográfica de rotas de vinho e seus componentes em todos os países e
regiões;
• Desenvolvimento de padrões de roteiros de vinho e requisitos de
acreditação;
38
• Facilitação da estrada do vinho e desenvolvimento trilha;
• Comercialização do enoturismo através da produção de materiais de
marketing tais como guias de trilha e do desenvolvimento de uma
extensa presença na internet, permitindo a troca de informações ampla e
networking entre os participantes. (Hall et all, 2000, p. 36)
Resumidamente, eles se preocupam em criar um roteiro conciso e
padronizado de vinho. Para que o viajante consiga se interar com toda a
região. Formulam maneiras de deixar os participantes sempre em contato, para
troca de experiências e novas viagens.
Dessa forma, eles criam laços entre a região vinícola e o viajante. Eles
se sentem ligados o tempo todo, mesmo após o término da viagem.
Certas questões devem ser levadas em consideração quando se está se
desenvolvendo a rota de vinhos numa região. Todas as fases de planejamento
turístico devem ser muito bem feitas.
Porém cada região tem suas peculiaridades, então não existe uma
receita certa para o sucesso. O planejador deverá sempre adequar as fases a
região.
Algumas questões devem ter a atenção redobrada, pois são essenciais
para o bom funcionamento das atividades. Algumas delas são:
• Analise do macroambiente;
• Imagem da vinícola;
• Atividades oferecidas;
• Guias;
• Marketing e Vendas.
Grande parte dos exemplos colocados abaixo foram retirados durante a
visita a vinícola Château d’Arsac na região de Boedeaux, na França.
A visita foi realizada em novembro de 2012. A vinícola possui cerca de
54hectares, 60% de sua plantação são das uvas tipo Carbenet Sauvignon e
40% das Merlot Noir.
39
Durante a visita, com um grupo de aproximadamente 25 pessoas, foi
possível verificar toda a estrutura da cidade e da vinícola para receber os
visitantes.
4.1 – Analise do macroambiente
As vinícolas ficam em regiões rurais, que em alguns casos não estão
prontas para receber visitantes. Dessa forma a analise do macroambiente deve
ser detalhada sobre, principalmente a infra-estrutura da cidade para receber os
turistas.
Muitas vezes o turista que faz o enoturismo está realmente em busca de
contato com a natureza, então a estrutura não deve ser muito grandiosa e
muito menos distorcer dos demais aspectos da cidade.
Alguns pontos devem ser cuidadosamente estudados, entre eles:
• Restaurantes;
• Estradas;
• Hotéis;
• Agencias e operadores de viagens;
• Escolas;
• Demais empresas de ecoturismo;
• Fornecedores.
Ressaltando os dois primeiros pontos, restaurantes e estradas. Muitas
cidades rurais não possuem essa estrutura.
Os restaurantes devem ser mais do que simples restaurantes, devem
possuir gastronomia de alta qualidade, pois grande partes dos turistas de
vinhos apreciam uma boa comida, principalmente para apreciar juntos com o
vinho que eles acabaram de conhecer.
Muitas vinícolas possuem um espaço reservado, como um pequeno
restaurante, junto a vinícola, onde os turistas podem apreciar diversos pratos
com os vinhos da casa. Além de fidelizar o paladar do cliente, ainda prolonga a
estadia dele na vinícola.
40
Acessibilidade é uma palavra crucial quando se fala em turismo rural,
pois muitas vezes ela atrapalha o bom andamento da região turística. As
estradas devem estar bem pavimentadas e principalmente sinalizadas, de
forma fácil de ser compreendida.
Caso o local fique muito longe de um aeroporto, pontos estratégicos
para paradas devem ser construídos. E os caminhos devem ser divulgados,
como na imagem abaixo, onde no folheto da rota turística “Vales da Serra”, foi
inserido um mapa indicando as estradas, e o mais importante, informando
quais são pavimentadas e quais não são.
Imagem III: Mapa estradas Vales da Serra
Esse mapa mostra as principais estradas da rota, fala qual delas é
pavimentada e quais não são, além de informar onde fica o aeroporto mais
próximo.
Além desses pontos colocados, diversos outros devem ser analisados,
como citado no capitulo anterior. O fluxo de pessoas na cidade irá aumentar, e
os preparativos devem ser feitos de acordo com essa mudança.
41
Petrocchi (2002) coloca a imagem de um iceberg que demonstra bem
que para a estrutura turística funcionar bem, diversos fatores devem ser
cuidadosamente analisados.
Imagem 4 – Iceberg do turismo. Petrocchi, 2002, p. 210.
Com essa imagem conseguimos ver que até mesmo serviços gráficos,
têxtil, mecânica, entre outros, devem ser verificados para o bom andamento do
turismo.
Esses serviços servem de apoio para a atividade turística, e sem elas a
atividade não poderá ocorrer.
4.2 – Imagem da vinícola
A imagem da vinícola a ser visitada é um dos pontos a serem estudados
com cautela.
Primeiramente pode-se observas a maneira com a qual as videiras estão
dispostas no solo. Videiras são plantas trepadeiras, que podem crescer de
diversas formas.
Falcadi (2002) existem as seguintes tipologias de paisagens vinícolas:
42
Tipo: Características:
Monocultura
em encosta
• Terraços de vinhedo: vinhedos em linhas horizontais
ou curvas, seguindo as curvas de nível;
• Marchetaria de vinhedos: vinhedos em diversos
pontos, seguindo as linhas de orientação;
• Ondas de vinhedos: vinhedos em linhas verticais no
sentido da declividade.
Monocultura
em planos
• Mar de vinhas: vinhedos a perder de vista.
Policultura em
encostas ou
planos
• Mosaico de vinhedos: vinhedos misturados com
outras plantações, criando ilusão de abertura ou
fechamento da imagem.
Tabela IX: Tipo de paisagem em vinícolas. Falcade, 2002. Adaptado pela
autora.
O tipo de imagem utilizada na vinícola visitada é o mar de vinhas, como
a região é plana, dá a impressão de ser infinita o tamanho da plantação. Como
o período visitado foi no início do inverno, foi presenciado o período de
hibernação das plantas, onde elas perdem suas folhas.
A imagem capitada foi de névoa, com os vinhedos infinitos e as folhas
caídas. Como pode ser observado na imagem que segue abaixo:
Imagem 5: Vinícola Château d’Arsac. Arquivo pessoal da autora.
43
Além desse cenário o vinhedo do Château d’Arsac ainda conta com
diversas obras de arte contemporânea espalhadas por toda a propriedade. São
obras do dono da vinícola e tornam o ambiente bem aconchegante, numa
mistura do rural com o moderno.
Os vinhedos brasileiros, segundo Falcade (2002) são de pequena
extensão, e o terreno é muito acidentado, dessa forma, as videiras são
plantadas nas encostas.
Como a extensão não é grande, em muitas áreas ela se mistura com a
mata local e até mesmo com a horta, gerando dessa forma, um mosaico de
vinhedos.
Porém com a inserção do enoturismo, esse cenário vem mudando em
algumas regiões, como Santa Catarina, onde com a criação de espaços para
degustação, pavimentação de estradas e aumento de visitantes, as imagens
das vinícolas vem sofrendo alterações.
Porém o relevo do Brasil é muito diversificado, causando, dessa forma,
diversas imagens diferenciadas.
Falcade coloca que:
“A vitivinicultura brasileira, quando comparada à européia,
é recente. No entanto, há elementos nas paisagens
vitícolas brasileiras que devem ser preservados, pois são
partes da identidade cultural dessa sociedade. Por
exemplo, na Serra Gaúcha, entre esses elementos,
destacam-se as cantinas e casas feitas em basalto e o
uso dos plátanos como sustentação na periferia dos
vinhedos.” (2002 p. 136)
A importância de preservar a atividade vinícola acima da atividade
turística, manter as raízes intactas e preservar a cultura devem ser
preocupações constantes quando se planeja. Se a localidade perder sua
identidade não somente a atividade turística não irá suportar, como a vinícola
também não.
44
4.3 – Atividades oferecidas
Sabe-se que o roteiro de vinhos é capaz de trazer muitos benefícios
para os visitantes e para os produtores de vinhos, quando bem organizado.
Hall et. al. (2000) coloca alguns desses benefícios:
• Aumentar o prestígio e a imagem do vinho, principalmente os de alta
qualidade;
• Proporciona um aumento do conhecimento de vinho dos consumidores
e dos consumidores potenciais, encorajando o consumo consciente da
bebida;
• Aumenta as possibilidades comerciais de venda do vinho, tanto
diretamente ao cliente quanto em outros setores, como restaurantes;
• Adere valor para as tradições locais, divulgando-as.
A localidade onde ficam as vinícolas são locais que atraem os turistas, o
clima ameno, a boa comida, a calma do campo, e até mesmo, pessoas
interessadas em fazer ecoturismo, que estão sempre procurando novas
alternativas para ampliar os horizontes.
O planejador deve ver nesses atrativos todos juntos, formar um roteiro
para todos os tipos de turistas e inserir a visita naturalmente, como um
amplificador das possibilidades, ou até mesmo como um carro chefe.
Pensar no roteiro a ser feito, número de noites, e atividades a serem
feitas depende muito do tamanho da vinícola. Porém o planejador deve estar
atento que existem diversos tipos de turistas que o enoturismo pode trazer,
entre eles:
• Os turistas enólogos, que em geral, são muito exigentes, gostam de ter
qualidade nos serviços prestados, viajam para interar com o meio de
vinho, gostam de aumentar seu conhecimento e interagir com o meio;
• Os turistas de aventura, os que buscam sempre conhecer coisas novas,
estar em contato com a natureza e entender seus processos, não
conhecem muito sobre vinhos em si, mas gostam da experiência.
45
• Os turistas que não conhecem nada sobre vinhos, provavelmente foram
a cidade por outro motivo e acharam que conhecer a vinícola seria um
passeio ideal.
• Os que conhecem as vinícolas mas não se interessam tanto pelo
processo de fabricação. Esses turistas, são aqueles que visitam as
vinícolas mais pelo ambiente, gostam de apreciar a vista, sentir o clima,
o cheiro, ter uma refeição, fazer um picnic e voltar para casa. Eles não
estão interessados em saber mais sobre vinhos, somente de apreciá-
los.
Esses são alguns dos tipos de turistas que podem aparecer em uma
vinícola. Com tanta diversidade o planejador deve estar atento as exigências
de cada um deles.
Preparar as atividades que vão ser dadas nas vinícolas é difícil, pois a
quantidade de públicos é muito diversa.
A principal atividade que deve ser desenvolvida é a prova dos vinhos.
Diversos espaços podem ser reservados para esse fim, mas eles devem ser
harmonizados. Entre os espaços mais comuns utilizados para a prova são:
• Um celeiro, um ambiente construído somente para esse fim, quase
sempre acompanha um pequeno restaurante onde os clientes podem
apreciar a harmonia entre o vinho e a comida;
• Uma loja, construída somente para a apreciação e compra de vinhos.
Nela se encontram todos os tipos de produtos ligados aos vinhos;
• A casa do produtor. Quando a estrutura e o tamanho da vinícola não
permitem a construção de mais um espaço, a própria casa do produtor
pode ser utilizada para a degustação.
Cada lugar tem seu lado positivo e negativo quanto a degustação. O
ideal é que o espaço seja designado também para pequenos cursos sobre as
uvas e os vinhos fabricados para os interessados.
Os cursos devem ser rápidos e em diversos níveis de conhecimento,
pois a vinícola deve estar pronta para receber desde os visitantes com maior
46
conhecimento em vinhos até aqueles que não entendem absolutamente nada
sobre o produto.
A duração dos cursos dependerá do quanto o turista pretende sair
sabendo dele.
Durante a visita no Château d”Arsac, a visita realizada foi na seguinte
ordem:
1. Recepção e reconhecimento da área externa;
2. Visita a fabrica, visualização dos barris de aço para o mosto e de
madeira para envelhecimento do vinho;
3. Visita a loja, onde foi feita a degustação de vinhos.
Durante a visita a guia nos deu um mini curso de vinhos, explicando sua
fabricação e maneiras de degustar.
Na loja, onde a degustação foi feita, foi observado o aparecimento de
muitas pessoas da região. Nem todos eram turistas, muitos estavam indo a loja
para comprar um vinho para apreciar em casa.
Dessa forma, verifica-se que a vinícola não fica restrita somente aos
visitantes, mas também a população passa a frequentar. O ambiente da loja
era amplo e divertido, apesar de ninguém oferecer nada para venda em
nenhum momento.
Seguem fotos da visita, onde foi efetuada a degustação. Deve-se colocar
que essa loja não ficava dentro da vinícola, ela é uma loja separada cerca de
uns 10 minutos da vinícola, o que também propicia a conhecer a cidade.
Imagem 6: Barril de aço e carvalho Vinícola Château d’Arsac. Arquivo pessoal
da autora.
47
Imagem 7: Espaço interno da loja e momento da degustação Vinícola Château
d’Arsac. Arquivo pessoal da autora.
A loja servia pequenos lanches que acompanhavam os vinhos da casa.
O espaço era bem amplo e todo decorado com os barris de carvalho que não
são mais usados na fabricação dos vinhos.
Outras atividades também podem ser oferecidas para que os visitantes
fiquem mais tempo na cidade. Tais como:
• Picnic ao ar livre, no gramado dentro da vinícola;
• Arvorismo, tirolesa e outros esportes radicais;
• Caminhadas, passeios e cavalgadas;
• Auxilio com as vinhas, como podar, colher frutos.
Quanto mais serviços a vinícola puder oferecer, mais tempo o turista
ficará na localidade, e mais investirá na cidade.
Para diminuição da sazonalidade é possível realizar um festival, ou
evento relacionado ao vinho, ele também poderá servir como uma ação de
marketing para poder divulgar o nome da localidade e da vinícola.
48
4.4 – Guias
Para guiar em uma região vinícola, o guia tem que ser mais do que
somente um guia, ele deve ser um especialista em vinhos, conhecer todo o
processo de fabricação e de qualidade dos vinhos.
Nos cursos oferecidos, quase sempre quem os guias são quem vão
fazer os cursos, eles quem vão fazer toda a aula, aplicar conceitos e
desenvolver técnicas para aprendizado.
Dessa forma, recomenda-se que o guia tenha um treinamento especial,
que ele seja muito mais que um guia, seja um enólogo.
Os guias devem estar preparados para todos os tipos de turistas que
possam surgir, desde os menos conhecedores dos vinhos, até aqueles que
sabem tudo sobre a bebida e estão buscando informações adicionais.
No Château d’Arsac a guia foi muito atenciosa, o pequeno grupo não
tinha nenhuma pessoa com conhecimento muito profundo sobre vinho, mas ela
conseguiu explicar muito bem todo o processo e os tipos de vinhos
encontrados na região.
Outra barreira que o guia deve sempre ultrapassar com facilidade é a
lingüística, conhecer os termos em diversos idiomas e estar preparado para
encontrar turistas de diversas regiões do mundo, conseguindo interagir
perfeitamente bem com eles.
O guia é a principal ligação entre o lugar e o visitante, é ele quem vai
trilhar junto com o visitante todas as barreiras da vinícola. Por isso, ele deve
conhecer inteiramente toda a cultura da região e todas as atividades da
vinícola.
4.5 - Marketing e Vendas
As vinícolas brasileiras não possuem grande divulgação, o que acaba
causando o não conhecimento das atividades feitas por elas pelos
consumidores.
Na feira do ano de 2011 da Associação Brasileiras das Agências de
Viagens – ABAV, foi coletado material de divulgação da localidade que mais
havia informações sobre vinhos: Caxias do Sul.
49
No material coletado consegue-se observar que esse destino já
encontra-se organizado e focado em conquistar mais consumidores de vinhos
brasileiros.
Nessa cidade ocorre a famosa Festa da Uva, que atrai milhões de
visitantes a cidade todos os anos. Essa festa também ajudou muito a incentivar
o enoturismo na região, que hoje possui até uma rota de vinhos estruturada.
A Rota Turística Vales da Serra junta as cidades de Antonio Prado,
Caxias do Sul, Flores da Cunha, Nova Pádua, Nova Roma do Sul e São
Marcos.
A idéia de criar uma rota de vinhos no Brasil significa que esse setor
está cada dia ganhando mais força. Para as cidades essa rota é boa pois
possibilita que o visitante conheça toda a região.
Porém o que é observado nas agências de viagens e operadores é o
crescimento do marketing dos vinhos Chilenos e Argentinos no Brasil.
No ano de 2011, a operadora de viagens Knowhow lançou um catalogo
somente com roteiros de enoturismo nos Andes. Um evento para o lançamento
do catalogo foi realizado no Rio de Janeiro, onde um representante da Viña
Santa Cruz.
Durante esse evento o representante, informou que grane parte dos
visitantes que recebem são brasileiros e que eles sabem que nem metade do
potencial que o nosso país tem nesse tipo de viagem foi alcançado.
Por isso algumas novas estratégias de marketing devem ser realizadas
pelas vinícolas brasileiras. Atingir o público é imprescindível.
4.5.1 – Guia de estradas brasileiro
Como já colocado, a acessibilidade é muito importante quando se trata
de destinos rurais. É de conhecimento geral que as estradas no Brasil são
perigosas e muitas vezes mal preservadas.
Criar um guia de enoturismo, das principais estradas e vinícolas
brasileiras ajudaria ao visitante a encontrar novas regiões e visitar novos
espaços.
No guia as estradas deveriam estar sinalizadas e seu nível de
preservação deveria ser comentado.
50
Durante a visita ao Château d’Arsa, um guia resumido da região foi
encontrado, nele se consegue informações de diversas vinícolas regionais,
como chegar até elas e todas as atividades que elas possuem.
Esse guia deveria ser distribuído nas principais agências de viagens,
operadoras, feiras, eventos, lojas especializadas em vinhos e cursos sobre
vinhos.
4.5.2 – Site
A criação de um site que, assim como o guia, juntasse informações
sobre os principais destinos de vinho do Brasil.
Nesse site, além das informações, os visitantes poderiam conversar
sobre viagens já realizadas, avaliar os serviços das vinícolas e programar
novas visitas.
Os planejadores também teriam espaço para entrar em contato com o
público, fazendo perguntas, trocando idéias e até mesmo, vendendo um novo
destino.
Esse site também poderia ajudar na divulgação do enoturismo nas redes
sociais.
Seria um site basicamente para troca de idéias entre os fornecedores e
clientes, uma linha direta para comunicação entre eles.
Ele deveria ser divulgado durante as visitas, assim como em cursos de
vinhos e no guia.
4.5.3 – Agentes e operadores de viagens
Fazer um trabalho diretamente com os agentes de viagens e com os
operadores, dando informações sobre as possíveis atividades nas vinícolas é
muito importante, pois, muitas vezes eles que recomendam o lugar para qual o
viajante deve ir.
Por mais que o meio de compra do consumidor de turismo esteja
mudando drasticamente após a inserção dos sites de compras online, esses
profissionais ainda são muito importantes no momento da venda.
51
Eles conseguem influenciar na escolha do destino do viajante, vendendo
sempre a melhor relação entre custo e benefício.
Dar informações sobre acessibilidade, meio de hospedagem e valores é
essencial para gerar um bom relacionamento e a divulgação do destino.
4.5.4 – Divulgação local
Os visitantes nem sempre precisam estar longe de casa para se
tornarem atrativos para as vinícolas, pessoas que morem próximo a região e
estejam buscando uma opção variada do que fazer pode ser um cliente
potencial para o enoturismo.
Como a vinícola irá dar opções de almoços, passeios de cavalo, picnic e
passeios de um dia, essas pessoas podem se sentir mais a vontade para se
deslocar para o local e ter um dia agradável.
Além de aumentar o consumo de vinho, dessa forma, a vinícola acaba
tendo consumidores fieis ao seu vinho, mesmo quando estão longe.
Hall et all (2000), coloca que mesmo quando o viajante volta para o seu
entorno habitual, se ele realmente se sentiu parte do destino ele continuará a
consumir o mesmo produto que consumiu no local.
Dessa forma, as vendas dos vinhos não aumenta somente no momento
da visita, mas também depois que o viajante volta para casa.
52
Conclusão
O Brasil é um país que possui grande quantidade de vinícolas, tornando-
se dessa forma, um destino ideal para a inserção do enoturismo.
Planejar o enoturismo no Brasil é essencial para poder divulgar mais o
nosso produto e aumentar o nível de consumo dessa bebida, que atualmente
compete diretamente com o mercado cervejeiro.
Saber desenvolver esse mercado novo é um desafio e o auxilio de toda
a população local, junto com uma estruturação da localidade e uma estratégia
boa, não há nada que o brasileiro não consiga alcançar.
O mercado de vinhos é competitivo, e as campanhas de marketing das
vinhas chilenas estão cada vez mais fortes no país, o que acaba prejudicando
a inserção nesse mercado das novas vinícolas.
Por isso a importância de se criar algumas estratégias de marketing com
todas as vinícolas brasileiras, como o guia e o site. Quando uma vinícola tenta
se divulgar sozinha ela não vai ter tanta força como se divulgando junto com
todas as outras.
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ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 >> Folhetos das vinícolas brasileiras;
Anexo 2 >> Catálogos de roteiros das vinícolas chilenas e argentinas;
Anexo 3 >> Folhetos da região de vinhos Bordeaux.
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ANEXO 1
Folhetos das vinícolas brasileiras
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ANEXO 2
Catálogos de roteiros das vinícolas chilenas e argentinas
57
ANEXO 3
Folhetos da região de vinhos Bordeaux
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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