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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE O RESGATE SOCIAL ATRAVÉS DO TEATRO Por: ANILIA FRANCISCA MERCIO DA SILVEIRA Orientador Prof. Dra. Mary Sue Rio de Janeiro 2008

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  • UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

    PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

    PROJETO A VEZ DO MESTRE

    O RESGATE SOCIAL ATRAVÉS DO TEATRO

    Por: ANILIA FRANCISCA MERCIO DA SILVEIRA

    Orientador

    Prof. Dra. Mary Sue

    Rio de Janeiro

    2008

  • 2

    UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

    PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

    PROJETO A VEZ DO MESTRE

    O RESGATE SOCIAL ATRAVÉS DO TEATRO

    Apresentação de monografia à Universidade Candido

    Mendes como requisito parcial para obtenção do grau

    de especialista em ARTETERAPIA E SAÚDE

    Por: . Anilia Francisca Mércio da Silveira

  • 3

    AGRADECIMENTOS

    ....aos meus alunos de teatro e colegas

    de profissão......

  • 4

    DEDICATÓRIA

    ...a minha querida Avó Lúcia e meus

    queridos mestres sem os quais seria

    impossível esta árdua caminhada no

    mundo das Artes.

  • 5

    RESUMO

    Este trabalho visa demonstrar a utilização as ARTES CÊNICAS como

    ferramenta na ARTE TEARAPIA no resgate social de crianças e adolescentes

    que encontram-se em situação de risco.

    Como o teatro pode auxiliar na questão da auto-estima dessas crianças e

    adolescentes revertendo o quadro de abandono, violência e criminalidade que

    permeiam suas vidas ?

    O Teatro e os exercícios de ARTES CÊNICAS aliados aos fundamentos

    da ARTE-TERAPIA e PISCOPEDAGOGIA são inquestionavelmente eficazes no

    desenvolvimento psíquico e motor de determinadas crianças e adolescentes,

    mas até que ponto algumas dificuldades como problemas de relacionamento,

    envolvimento com drogas e tráfico, baixo estima e agressividade podem ser

    resolvidos e solucionados a partir do envolvimento e desenvolvimento artístico ?

    O profissional capacitado com as ferramentas da terapia através da ARTE é

    facilitador desse desenvolvimento ?

    A partir desse ponto, investigaremos quais as melhores ferramentas em

    ARTES CÊNICAS e ARTE-TERAPIA, para que se dê o resgate social desses

    jovens envolvidos, com estudo de casos bem sucedidos, a abordagem inicial

    com tais jovens as melhores técnicas didáticas para alcançar o objetivo

    proposto, e os principais exercícios cênicos que possam re-trabalhar a auto-

    estima para o eventual resgate social do grupo .

  • 6

    METODOLOGIA

    O trabalho prático do teatro em comunidades de baixa renda e periferia,

    foi crucial na escolha da temática e é tal trabalho vivencial que trazemos como

    ponto de partida. A pesquisa em ONGS e instituições que também trabalham o

    resgate dos jovens pela ARTE, como o “NÓS DO MORRO e o “TEATRO DO

    OPRIMIDO” , fará nossa ponte com o ‘mundo real’ e o estudo de casos que

    alcançaram os resultados esperados e que foram bem sucedidos. Também

    faremos a pesquisa em livros, jornais, revistas de artes-cênicas e arte-terapia.

  • 7

    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO 08

    CAPÍTULO I

    PROBLEMAS DE AUTO ESTIMA : FATOR

    PRINCIPAL DAS SITUAÇÕES DE RISCO 11

    CAPÍTULO II

    O TEATRO COMO FERRAMENTA DE

    AUTO-CONHECIMENTO 20

    CAPÍTULO III

    TÉCNICAS MAIS UTILIZADAS E

    CASOS BEM-SUCEDIDOS 39

    CONCLUSÃO 47

    BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 52

    BIBLIOGRAFIA CITADA (opcional) 55

    ANEXOS 58

    ÍNDICE 59

    FOLHA DE AVALIAÇÃO 63

  • 8

    INTRODUÇÃO

    Segundo Augusto Boal (1931), todo mundo atua, age, interpreta :

    “Somos todos atores Até mesmo os atores ! Até mesmo os

    atores ! Teatro é algo que existe dentro de cada ser

    humano, e pode ser praticado na solidão de um elevador,

    em frente a um espelho, no maracanã, ou em praça pública

    para milhares de espectadores. Em qualquer lugar... até

    mesmo dentro dos teatros.” (JOGOS PARA ATORES E

    NÃO ATORES – AUGUSTO BOAL 1999 , p 09)

    Todos concordamos que o teatro é uma invenção humana bem antiga, e

    seu surgimento está intimamente ligado com o surgimento do homem e sua

    necessidade de se comunicar. Talvez porque o ser humano é o único animal

    capaz de se observar. E como também ressalta Boal ele se vê num “espelho

    imaginário1 .” Sendo então essa a essência do teatro : o ser humano que se

    auto-observa, temos aí uma motriz extremamente terapêutica – já que um dos

    focos da terapia é o auto-conhecimento, para solução de problemas.

    O trabalho com adolescentes e crianças que já trazem a situação-

    problema desde a sua gestação e quando o problema encontra-se muito mais

    externamente do que internamente ( como é o caso das crianças e

    adolescentes em situação de risco, ou seja que moram em favelas,

    comunidades dominadas pelo tráfico, com condições de miserabilidade

    acentuadas ), é um trabalho muito mais árduo e o resgate de auto-estima para

    seres humanos que praticamente desconhecem até mesmo o que seria

    1 Como diz Boal, em O ARCO-ÍRES DO DESEJO, 2002, p 27 : “Ao ver-se percebe o que é, descobre o que não é, e imagina o que pode vir a ser. Percebe onde está, descobre onde não está e imagina onde pode ir. Cria-se uma tríade : Eu observador, EU em situação , e o NÃO-EU, isto é , o OUTRO. (...) o espaço estético, (ou seja o teatro) fornece o espelho imaginário.”

  • 9

    “estima”, e a dignidade humana em sua totalidade é desconhecida, o contato

    com o teatro, e suas ferramentas torna-se uma espécie de tratamento de

    choque.

    No teatro, o mais importante é o processo, e aqueles que têm intimidade

    com as artes cênicas , sabem, que são os exercícios durante o processo, que

    constroem o produto final. O grupo é importantíssimo no desenvolvimento dessa

    tarefa, já que é ele quem “joga”, quem “cria”, e quem produzirá o produto final.

    Não que o “produto final” seja algo esperado, e sempre deverá acontecer. Nos

    processos de auto-conhecimento através do jogo teatral, nem sempre há uma

    montagem teatral, ou uma peça pronta para apresentação final – aliás, existe os

    pós e os contras dos processos com montagem – por esse motivo, o simples

    processo, na prática terapêutica, já são suficientes para alcançarmos os

    benefícios adquiridos através do jogo-cênico.

    A despeito de tudo isso, nosso estudo irá centrar-se nessa magnífica

    ferramenta terapêutica que é o TEATRO, para trabalharmos um problema que é

    “vala” comum em crianças/adolescentes de comunidades carentes e que possui

    um tratamento terapêutico extremamente delicado e dedicado : a baixo-estima.

    Problemas de auto-estima atingem nossa sociedade como um todo, e

    podem ter diversos motivos. É notório o quão se torna prejudicial na vida de um

    indivíduo que busca felicidade em vários setores da vida : sentimentais

    profissionais, familiares. A baixo-estima em seu alto-grau associa-se ao ciúme,

    inveja, intolerância, desrespeito a si próprio e ao outro. Pode provocar desde

    suicídio, no seu patamar mais grave até a depressão, em graus leves.

    Experiências bem sucedidas das artes cênicas no resgate de jovens não

    é uma novidade. Muitos renomados artistas de hoje, confessam suas humildes

    origens e como seu contato com a arte transformou-os e direcionou de maneira

    mais correta a sua vida . E embora não se tenha qualquer pretensão de revelar

    qualquer talento, o trabalho visa apenas demonstrar como podemos extrair o

    melhor de cada um, e, este indivíduo, observando-se, tenha a total

  • 10

    compreensão do seu valor, da sua totalidade e da sua importância para si

    próprio e para o mundo ao seu redor.

  • 11

    CAPÍTULO I

    PROBLEMAS DE AUTO-ESTIMA : FATOR PRINCIPAL

    DAS SITUAÇÕES DE RISCO

    1.1 – BAIXO–ESTIMA, SEUS SINTOMAS E PREJUÍZOS

    A BAIXO-ESTIMA é um sentimento procede da infância, é causado pelo

    excesso de repressão, exigências, comparações e desqualificações feitas por

    pais, professores e outros adultos.

    "Auto-estima é o julgamento que fazemos de nós mesmos,

    a avaliação de nossas limitações, defeitos pessoais e

    outras negatividades que formam a nossa sombra, nosso

    lado menos exposto", psicóloga Lúcia Portugal, filiada à

    Cooperativa dos Psicólogos da Bahia (Coopsico).

    A forma como lidamos com essa sombra determina o grau de nossa

    auto-estima, como afirma Jung, um dos maiores pesquisadores da alma.

    Esse grau de auto-estima varia da autocondenação à compreensão e

    aceitação de quem somos. Onde há, por exemplo, sentimentos de culpa,

    inadequação, inferioridade, medo, orgulho e obstinação, a auto-estima está

    baixa.

    Quando a autocondenação não é muito severa, é difícil avaliar até onde

    percebemos nossa baixo-estima. Somente uma percepção aguçada com

    relação ao nosso eu, produz sentimentos como o de que “eu não me prezo”,

    “não me respeito”, e outros assim. Se tais sentimentos, surgem na nossa

    infância, pode haver crianças com problemas de auto-estima ? Sim, sem dúvida,

    e o caso agrava-se mais na adolescência, onde muitos jovens são inseguros e

    tendem a todo momento se deixar levar pelo grupo social onde vivem, com a

    intenção de serem “aceitos”. Os problemas de estima são, muitas vezes,

    causados pelo excesso de repressão, exigências, comparações e

    desqualificações feitas por pais, professores e outros adultos.

  • 12

    1.1.1 - SOMBRAS E DEFEITOS

    Sombra, em psicologia analítica, refere-se ao arquétipo que é o

    nosso ego mais sombrio. É, por assim dizer, a parte animalesca da

    personalidade humana. Para Jung, esse arquétipo foi herdado das formas

    inferiores de vida através da longa evolução que levou ao ser humano. A

    sombra contém todas aquelas atividades e desejos que podem ser

    considerados imorais e violentos, aqueles que a sociedade, e até nós mesmos,

    não podemos aceitar. Ela nos leva a nos comportarmos de uma forma que

    normalmente não nos permitiríamos. E, quando isso ocorre, geralmente

    insistimos em afirmar que fomos acometidos por algo que estava além do nosso

    controle. Esse "algo" é a sombra, a parte primitiva da natureza do homem. Mas

    a sombra exerce também um outro papel, possui um aspecto positivo, uma vez

    que é responsável pela espontaneidade, pela criatividade, pelo insight e pela

    emoção profunda, características necessárias ao pleno desenvolvimento

    humano. Devemos tornar a nossa sombra mais clara possível. Procurando um

    trabalho partindo do interior para o exterior. A sombra é freqüentemente

    projetada em outra pessoa, que aparece ao indivíduo como negativa.

    A baixa auto-estima se expressa na falta de confiança, no medo de

    expormos nossas idéias e sentimentos, de sermos quem realmente somos. A

    pessoa perde o contato consigo mesmo, com o seu potencial, suas virtudes.

    Tende a identificar-se apenas com as sombras, os defeitos pessoais, o lado que

    intimamente considera incapaz, mau, mesquinho, etc.

    Há os que reagem à baixo-estima pondo uma máscara. Estes encenam

    a imagem que idealizam para si - bom, perfeito, o maior, etc. Assim, conduzem

    sua vida. Mas sempre ouvem uma voz secreta dizendo: "Não mereço, não sou

    capaz, não é para mim ". Recuam sempre diante da oportunidade, não arriscam,

    não exploram o potencial, renunciando à grandeza da vida.

    A maioria das pessoas sentem abalo na auto-imagem durante algumas

    fases da sua vida. Não sendo um problema decorrente, sendo quase sempre

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Psicologia_anal%C3%ADticahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Arqu%C3%A9tipohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Egohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Junghttp://pt.wikipedia.org/wiki/Proje%C3%A7%C3%A3o_%28psicologia%29http://truques-dicas.com/../../../../mensagens-de-auto-estima/

  • 13

    passageiro, derivado, de um momento de insegurança e dúvidas na sua vida.

    Não sendo agradável, não é um sentimento raro, da mesma forma que a

    depressão ou stress.

    O que origina a baixa temporária da auto estima pode ser um

    tratamento desagradável por parte de alguém ou mesmo um julgamento interior

    depreciativo em alturas mais difíceis. Este comportamento acaba por ser normal

    devido à intensidade a que o mundo hoje nos obriga a viver.

    O problema surge quando uma baixa auto estima é o sentimento

    normal de uma pessoa. Quem mais sofre com este problema são pessoas que

    já tiveram depressões, fobias, doenças ou algum defeito físico. Muitas dessas

    pessoas acabam por levar vidas infelizes por não darem o devido valor a elas

    mesmas. Isto faz com que não gozem a vida e não procurem concretizar os

    seus objetivos e sonhos.

    1.1.2 – AUTO ESTIMA E DEPRESSÃO

    A baixa auto estima, pode ser considerada um SINTOMA da depressão.

    Ou pode sinalizar um início de processo depressivo. Está ligada a depressões,

    que por sua vez também estão ligadas a outros acontecimentos ou doenças.

    Segundo Dr. Dráuzio Varella:

    “Depressão é uma desordem psiquiátrica muito mais

    freqüente do que se imaginava. Estudos recentes mostram

    que 10% a 25% das pessoas que procuram os clínicos

    gerais apresentam sintomas dessa enfermidade. Essas

    porcentagens são semelhantes ao número de casos de

    hipertensão e infecções respiratórias que os clínicos

    atendem em seus serviços. Ao contrário dessas doenças,

    entretanto, eles não costumam estar preparados para

    reconhecer e tratar depressões.”

  • 14

    (Dr. Dráuzio Varella, artigo sobre depressão, fonte : SITE

    IG , ARTIGOS MÉDICOS)

    A pessoa com sentimentos negativos há algum tempo, sem razão

    aparente, que não consegue ver-se livre de uma tristeza constante e tem

    alterações de comportamento, como comer mais ou menos do que comia, não

    conseguir dormir, provavelmente estará num estado que o pode levar a uma

    depressão.

    Especialistas criaram alguns parâmetros para diagnosticar a depressão

    de forma mais objetiva :

    “Critérios para diagnóstico de depressão

    · Estado deprimido: sentir-se deprimido a maior parte do

    tempo;

    · Anedônia: interesse diminuído ou perda de prazer para

    realizar as atividades de rotina;

    · Sensação de inutilidade ou culpa excessiva;

    · Dificuldade de concentração: habilidade freqüentemente

    diminuída para pensar e concentrar-se;

    · Fadiga ou perda de energia;

    · Distúrbios do sono: insônia ou hipersônia praticamente

    diárias;

    · Problemas psicomotores: agitação ou retardo psicomotor;

    · Perda ou ganho significativo de peso, na ausência de

    regime alimentar;

    · Idéias recorrentes de morte ou suicídio.”

    (Segundo o DSM-IV, Diagnostic and Statistical Manual of

    Mental Disorders, 4ª edição).

  • 15

    Os sintomas da depressão interferem drasticamente com a qualidade de

    vida e estão associados a altos custos sociais: perda de dias no trabalho,

    atendimento médico, medicamentos e suicídio. Pelo menos 60% das pessoas

    que se suicidam apresentam sintomas característicos da doença.

    Embora possa começar em qualquer idade, a maioria dos casos tem seu início

    entre os 20 e os 40 anos. Tipicamente, os sintomas se desenvolvem no decorrer

    de dias ou semanas e, se não forem tratados, podem durar de seis meses a

    dois anos. Passado esse período, a maioria dos pacientes retorna à vida

    normal. No entanto, em 25% das vezes a doença se torna crônica.

    Ainda segundo Dr. Dráuzio Varella :

    “ O número de casos entre mulheres é o dobro dos

    homens. Não se sabe se a diferença é devida a pressões

    sociais, diferenças psicológicas ou ambas. A

    vulnerabilidade feminina é maior no período pós-parto:

    cerca de 15% das mulheres relatam sintomas de

    depressão nos seis meses que se seguem ao nascimento

    de um filho. A doença é recorrente. Os que já tiveram um

    episódio de depressão no passado correm 50% de risco de

    repeti-lo. Se já ocorreram dois, a probabilidade de recidiva

    pode chegar a 90%; e se tiverem sido três episódios, a

    probabilidade de acontecer o quarto ultrapassa 90%.

    (...)

    A maioria dos autores concorda que a psicoterapia pode

    controlar casos leves ou moderados de depressão. O

    método oferece a vantagem teórica de não empregar

    medicamentos e diminuir o risco de recidiva do quadro,

    desde que a pessoa aprenda a reconhecer e lidar com os

    problemas que a conduziram a ele. A grande

    desvantagem, no entanto, está na lentidão e

    imprevisibilidade da resposta. A psicoterapia não deve ser

    indicada como tratamento exclusivo nos casos graves.

    Embora reconheçam os benefícios da psicoterapia, a

  • 16

    maioria dos autores admite que a tendência moderna é

    empregar medicamentos para tratar quadros depressivos.”

    (Dr. Dráuzio Varella, artigo sobre depressão, fonte : SITE

    IG, ARTIGOS MÉDICOS)

    A DEPRESSÃO , tende por tanto a ser um desdobramento agravado

    dos problemas de estima, e se estes forem sanados certamente o quadro

    depressivo não se instalará. O ser humano tem o direito (e o dever) de se

    sentir bem consigo mesmo. Tem o direito de se divertir, de ter sonhos. Pode ser

    difícil conseguir pensar nisso quando se está numa fase complicada em sua

    vida, a tendência em momentos de crise é deixar-se levar por essas emoções

    contraditórias e começar a falar negativamente consigo mesmo. Refugiar em

    casa, ou em bebidas e drogas e vingar-se em pessoas de quem gosta – são

    ataques comuns em pessoas com crise de estima. As atividades que o façam

    sentir-se bem e melhorem a auto estima são as recomendadas.

    2 – DEPRESSÃO NA INFÂNICA E ADOLESCÊNCIA

    Como nosso estudo se focará em casos de jovens com problemas de

    auto-estima, percebe-se que seu agravamento tende para o quadro depressivo,

    segundo Dr. Dráuzio :

    ”Depressão é uma doença crônica, recorrente, muitas

    vezes com alta concentração de casos na mesma família,

    que se manifesta não só em adultos, mas também em

    crianças e adolescentes. Qualquer criança ou adolescente

    pode ficar triste, mas o que caracteriza os quadros

    depressivos nessas faixas etárias é o estado

    persistentemente irritado, tristonho ou atormentado que

    compromete as relações familiares, as amizades e a

    performance escolar.

  • 17

    Em pelo menos 20% dos pacientes com depressão

    instalada na infância ou adolescência, existe risco de

    surgirem distúrbios bipolares, nos quais fases de

    depressão se alternam com outras de mania,

    caracterizadas por euforia, agitação psicomotora,

    diminuição da necessidade de sono, idéias de grandeza e

    comportamentos de risco.

    Antes da puberdade, o risco de apresentar depressão é o

    mesmo para meninos ou meninas. Mais tarde, ele se torna

    duas vezes maior no sexo feminino. A prevalência da

    enfermidade é alta: depressão está presente em 1% das

    crianças e em 5% dos adolescentes.

    Ter um dos pais com depressão aumenta de 2 a 4 vezes o

    risco da criança. O quadro é mais comum entre portadores

    de doenças crônicas como diabetes, epilepsia ou depois de

    acontecimentos estressantes como a perda de um ente

    querido. Negligência dos pais ou violência sofrida na

    primeira infância também aumenta o risco.”

    (Dr. Dráuzio Varella, artigo sobre depressão, fonte : SITE

    IG, ARTIGOS MÉDICOS)

    Por tanto, crianças em situação de risco estão mais sujeitas à violência,

    ao abandono e via de regra humilhações e conflitos que as de classe média-

    alta. Por isso, sentem-se em desvantagem para competir de igual para igual

    com outros jovens de adolescentes no mercado de trabalho e em quaisquer

    outras situações da vida.

    2.1 – TERAPIA COMPORTAMENTAL E TERAPIA INTERPESSOAL

  • 18

    Varella ainda ressalta :

    ” É muito difícil tratar depressão em adolescentes sem os

    pais estarem esclarecidos sobre a natureza da

    enfermidade, seus sintomas, causas, provável evolução e

    as opções medicamentosas.

    Uma classe de antidepressivos conhecida como a dos

    inibidores seletivos da recaptação da serotonina

    (fluoxetina, paroxetina, citalopran, etc.) é considerada

    como de primeira linha no tratamento da depressão em

    crianças e adolescentes. Os estudos mostram que 60%

    desses pacientes respondem ao tratamento. Esses

    medicamentos apresentam menos efeitos colaterais e risco

    de complicações por overdose menor do que outras

    classes de antidepressivos. A recomendação é iniciar o

    esquema com 50% da dose e depois ajustá-la no decorrer

    de três semanas de acordo com a resposta e os efeitos

    colaterais. Obtida a resposta clínica, o tratamento deve ser

    mantido por seis meses, no mínimo, para evitar recaídas.

    A terapia comportamental mostrou eficácia em ensaios

    clínicos, e parece dar resultados melhores do que outras

    formas de psicoterapia. Através dela os especialistas

    procuram ensinar aos pacientes como encontrar prazer em

    atividades rotineiras, melhorar relações interpessoais,

    identificar e modificar padrões cognitivos que conduzem à

    depressão.”

    (Dr. Dráuzio Varella, artigo sobre depressão, fonte : SITE

    IG, ARTIGOS MÉDICOS)

    A ARTE - TERAPIA pode ser considerada uma terapia

    comportamental?

  • 19

    A TERAPIA COMPORTAMENTAL é uma abordagem aos problemas

    psicológicos baseada na filosofia de ciência conhecida como Behaviorismo

    Radical e na ciência do comportamento, Análise Experimental do

    Comportamento2. Para o terapeuta comportamental, pensamentos e

    sentimentos são considerados comportamentos, diferentes apenas pela forma

    como se pode ter acesso a eles, pois este se dá através do relato verbal

    daquele que pensa e sente. Sendo assim, pensamentos e sentimentos,

    também, são levados em consideração, analisados e passíveis das intervenções

    do terapeuta.

    Assim, um transtorno como a depressão passa a ser entendido como

    um conjunto de comportamentos, tais como, alterações no sono e apetite,

    desesperança, choro excessivo, ideação suicida e outros.

    O terapeuta comportamental entende que o cliente é único e seus

    problemas ou dificuldades são produto de uma história particular. Isso humaniza

    o processo de terapia, pois busca-se entender cada cliente e cada história,

    antes de propor qualquer intervenção. O principal instrumento do terapeuta

    comportamental é a análise funcional, ou o levantamento criterioso das variáveis

    (eventos, acontecimentos) que estejam funcionalmente relacionados aos

    comportamentos desejáveis e indesejáveis do cliente. Tendo este entendimento,

    que nem sempre é fácil, é possível propor uma estratégia eficaz no alcance do

    bem-estar e da melhora. “Combate-se” os comportamentos-problema, ao

    mesmo tempo em que busca-se instalar e aumentar a freqüência de

    comportamentos adequados ao contexto, desejáveis, funcionais e geradores de

    satisfação e felicidade. A terapia comportamental tem um conjunto considerável

    de técnicas derivadas de pesquisas, em laboratório ou no próprio consultório.

    É a soma de pesquisa científica, rigor no levantamento de informações

    no momento inicial do processo e a utilização de técnicas e intervenções

    2 A proposta do Behaviorismo Radical defende que o comportamento dos organismos é ordenado, passível de ser estudado cientificamente na mesma forma das ciências naturais. Esta proposta influencia e orienta o trabalho do terapeuta comportamental, que sempre busca descobrir, com seu cliente, os eventos no meio-ambiente que determinam os seus comportamentos-problema e o que os mantém. Tais comportamentos são analisados à luz de episódios históricos que os determinaram e situações presentes que os mantém. ( ARTIGO DE

    http://www.inpaonline.com.br/artigos/artigos_1.asp?quem=17http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/matos.htm

  • 20

    consolidadas que faz com que as pessoas tenham se beneficiado, de forma

    considerável, quando buscam a Terapia Comportamental.

    Nesse sentido, a ARTE – TERAPIA utiliza-se de TERAPIA

    COMPORTAMENTAL para fundamentar seu trabalho, já que é o

    comportamento do paciente que determinará a trabalho prático terapêutico a ser

    executado.

    Ainda sobre a depressão em adolescentes Varella conclui :

    “Outro tipo de psicoterapia eficaz em ensaios clínicos é

    conhecida como terapia interpessoal. Nela, os pacientes

    aprendem a lidar com dificuldades pessoais como a perda

    de relacionamentos, as decepções e frustrações da vida

    cotidiana. O tratamento psicoterápico deve ser mantido por

    seis meses, no mínimo.

    Como o abuso de drogas psicoativas e suicídio são

    conseqüências possíveis de quadros depressivos, os

    familiares devem estar atentos e encaminhar os doentes a

    serviços especializados assim que surgirem os primeiros

    indícios de que os problemas da depressão possam estar

    presentes.”

    (Dr. Dráuzio Varella, artigo sobre depressão, fonte : SITE

    IG, ARTIGOS MÉDICOS)

    A terapia interpessoal segundo Saint-Clair Bahls Médico Psiquiatra e

    Mestre em Psicologia , Professor da Universidade Tuiuti do Paraná,

    Universidade Federal do Paraná e Unicenp :

    “A terapia interpessoal (TIP) é uma terapia de formato

    breve que foi desenvolvida para o tratamento de pacientes

    ambulatoriais adultos e, com depressão. Tem como foco as

    TERAPIA COMPORTAMENTAL DO INpA – Instituto de piscologia Aplicada -

  • 21

    relações sociais do indivíduo e a condição atual destes

    relacionamentos. Os objetivos principais são o alívio da

    sintomatologia e a melhora das relações interpessoais. A

    sua eficácia já foi estabelecida em vários estudos clínicos

    controlados e parece ser uma forma de terapia simples,

    breve e eficaz.”

    (ARTIGO: FUNDAMENTOS DA TERAPIA

    INTERPESSOAL – Dr. Saint-Clair Bahls )

    Os relacionamentos sociais do individuo têm uma estrutura, e esta

    estrutura é sustentada pela posição do individuo no sistema social, mais

    precisamente pelos papéis que desempenha. Cada pessoa tem múltiplas

    posições hierárquicas no sistema social e desempenha papéis específicos,

    apropriados a estas posições. A abordagem interpessoal vê a relação entre os

    papéis sociais e a psicopatologia de duas formas: dificuldades para exercer um

    papel social podem estar ligadas ao inicio da depressão e, por outro lado, como

    conseqüência da depressão pode ocorrer um sério prejuízo na capacidade do

    individuo em desempenhar papéis sociais (Klerman et al,1999;

    Weissman,1999).

    “Para a terapia interpessoal, dificuldades nos

    relacionamentos interpessoais podem estar presentes não

    apenas após o inicio da depressão, mas antes mesmo

    disto.

    Responder com pesar e tristeza a problemas nos

    relacionamentos interpessoais é uma resposta normal e

    praticamente universal, mas pode haver uma desproporção

    nesta reação, que pode se prolongar e se intensificar

    chegando a depressão como patologia.”

    (ARTIGO: FUNDAMENTOS DA TERAPIA

    INTERPESSOAL – Dr. Saint-Clair Bahls )

    http://www.inpaonline.com.br/clinica)

  • 22

    Mas como explicar que algumas pessoas conseguem lidar com a

    tristeza e seguir suas vidas, enquanto outras se tornam significativamente

    afetadas pela depressão? O papel das experiências infantis é sempre foco de

    discussões neste sentido. Geralmente considera-se que as experiências infantis

    predispõem o desenvolvimento de psicopatologias na vida adulta. Tais

    experiências têm seu valor especialmente por constituírem a história de relações

    interpessoais do individuo. Outro fator costumeiramente considerado como

    responsável pelo inicio da depressão são os acontecimentos estressantes na

    vida adulta. Um exemplo é o casamento, uma convenção social para suprir as

    necessidades de apego do adulto,3 mas também é fator de geração de stress.

    “A terapia interpessoal foi, inicialmente, desenvolvida como

    uma proposta de psicoterapia breve para o tratamento de

    pacientes deprimidos tendo como foco as dificuldades nas

    relações interpessoais. Visa uma compreensão dos

    conflitos interpessoais que estão relacionados com o inicio

    ou manutenção da depressão e a busca de melhores

    meios de manejar tais conflitos. Os

    objetivos do tratamento são a remissão dos sintomas e a

    melhora da qualidade nas relações com as pessoas

    significantes de modo que o paciente possa não apenas

    recuperar-se do episódio atual, como também ter uma vida

    social melhor e assim evitar a recaída ou a recorrência da

    depressão. ”

    (Mufson et al,1993; Markowitz,1999; Schetatsky &

    Fleck,1999; Klerman et al,1999).

    3 Em um nível ideal, o casamento propicia segurança econômica e social para a criação dos filhos e é a

    possibilidade de troca de afeto, carinho e compreensão. Pesquisas, entretanto, revelam que há um número

    maior de dificuldades em relacionamentos conjugais entre pacientes deprimidos do que em pessoas não

    deprimidas, indicando uma possível relação entre dificuldades no casamento e o surgimento da depressão.

    (Klerman et al,1999; Weissman,1999).

  • 23

    Nesse sentido a terapia interpessoal também é utilizada na ARTE-

    TERAPIA e está bastante associada ao Teatro, já que este tem por bases as

    relações interpessoais do indivíduo para o trabalho cênico. Teatro é relação. O

    Jogo teatral visa sem dúvida um melhor relacionamento com o outro consigo

    mesmo e com o a sociedade.

    Quando começamos a utilizar métodos terapêuticos ou clínicos para

    aumentar a auto estima, existem alguns sentimentos de resistência que podem

    ser complicados de ultrapassar, e é aí que deverá entrar a auto motivação para

    conseguir iniciar / concluir essas atividades. A resistência desaparece à medida

    que o jovem for conseguindo avançar no seu caminho até ao objetivo. A

    presença e ajuda dos familiares a amigos mais próximos é fundamental no

    processo terapêutico, mas isso nem sempre é possível. O trabalho em jovens e

    crianças, sempre encontra mais sucesso pois estes tendem a ultrapassar a fase

    negativa mais facilmente e a melhorarem a sua auto estima na maioria dos

    casos.

    Atividades como meditação, banho de imersão e esporte são muito

    importantes para relaxar e ganhar forças para aliar ao processo terapêutico.

    Em todo o processo para aumentar a sua auto estima, pensamentos

    positivos e conversas interiores, motivam a continuar o tratamento e o contato

    com a ARTE , vai ajudar a perceber o paciente é uma pessoa única e especial

    para si e que merece o melhor da vida.

    2.2 - SOFRIMENTO E PRAZER

    A saída para essa situação tormentosa, afirma Lúcia Portugal, é a

    verdadeira busca de si mesmo, pensar, querer, sentir, expressar, agir, decidir

    identificar e questionar as crenças e preconceitos que produziram efeitos

    negativos na nossa vida, escavar a alma em busca do potencial reprimido,

    liberar as forças criadoras.

    Só assim, a consciência nos põe em contato com o nosso potencial,

    com nossa essência, com o prazer.

    "Viver no sofrimento é negar a essência da vida", conclui Lúcia.

  • 24

    Ser jovem, ser adolescente, já traz um agravante dentro do processo de

    baixa auto-estima, pois mudanças ocorridas no próprio organismo deste, altera

    seus estados de humor e potencializa suas emoções.

    Adolescência é uma das etapas do desenvolvimento humano

    caracterizada por alterações físicas, psíquicas e sociais, sendo que estas duas

    últimas recebem interpretações e significados diferentes dependendo da época

    e da cultura na qual está inserida.

    Segundo a Organização Mundial da Saúde, adolescente é o indivíduo

    que se encontra entre os dez e vinte anos de idade. No Brasil, o Estatuto da

    Criança e do Adolescente estabelece outra faixa etária: dos doze aos dezoito

    anos. Daniel Sampaio define adolescência como sendo uma etapa do

    desenvolvimento, que ocorre desde a puberdade à idade adulta, ou seja, desde

    a altura em que as alterações psicobiológicas iniciam a maturação sexual até à

    idade em que um sistema de valores e crenças se enquadra numa identidade

    estabelecida.

    Muitas culturas reconhecem pessoas como “tornando-se adultas” em

    variadas idades. Por exemplo, a tradição judaica considera como adultos

    (membros da sociedade) os homens aos 13 e as mulheres aos 12 anos de

    idade, sendo a cerimônia de transição chamada Bat Mitzvah para as garotas e

    Bar Mitzvah para os rapazes. Os jovens católicos de ambos os sexos recebem o

    sacramento da Crisma por volta da mesma idade. No Japão a passagem para a

    idade adulta é celebrada pelo Seijin Shiki (ou “cerimônia adulta” em tradução

    literal).

    A legislação de cada país prevê sua idade formal de maioridade,

    quando adolescentes passam a ser tratados como adultos.

    “Os aspectos físicos da adolescência (crescimento,

    maturação sexual) são os componentes da puberdade,

    vivenciados de forma semelhante por todos os indivíduos.

    Quanto às dimensões psicológica e social, estas são

    vivenciadas de maneira diferente em cada sociedade, em

    cada geração e em cada família, sendo singulares até

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Desenvolvimentohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Humanohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Culturahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_Mundial_da_Sa%C3%BAdehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Brasilhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Estatuto_da_Crian%C3%A7a_e_do_Adolescentehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Estatuto_da_Crian%C3%A7a_e_do_Adolescentehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Daniel_Sampaiohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Puberdadehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Matura%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sexohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Valorhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cren%C3%A7ahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Identidadehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Adultohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Homenshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mulherhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Bat_Mitzvahhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Bar_Mitzvahhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cat%C3%B3licohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sacramentohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Crismahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jap%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Maioridadehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Crescimentohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Puberdadehttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Gera%C3%A7%C3%A3o&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Fam%C3%ADlia

  • 25

    mesmo para cada indivíduo. É neste contexto de alteração

    do próprio corpo e também de uma maturação ao nível do

    intelecto (operações formais e abstratas), que o

    adolescente procura entender quem é e qual o seu papel

    na sociedade em que vive: interessa-se por problemas de

    ordem moral e ética e, por vezes, adopta ideologias.”

    (ARTIGO SOBRE ADOLESCÊNCIA, AUTORIA

    DESCONHECIDA http://pt.wikipedia.org )

    Atualmente, o conceito mais aceito é o de que não existe adolescência,

    e sim adolescências em função do político, do social, do momento e do contexto

    em que está inserido o adolescente. A adolescência guarda ainda

    especificidades em termos de gênero, classe e também etnia.

    2.3 – PISCOLOGIA DOS ADOLESCENTES

    Granvillle Stanley Hall (1844-1924), famoso psicólogo e educador

    americano, primeiro presidente da Universidade de Clark em Massachusetts,

    EUA, definiu este período como sendo de “tempestades e stress”, posto que

    conflitos nesse estágio de desenvolvimento podem ser considerados normais.

    A antropóloga Margaret Mead (1901-1978) atribuía o comportamento

    adolescente à cultura em que o jovem está inserido. Em complemento, a Teoria

    do Processamento de Informação não enxerga a adolescência como um estágio

    diferente, mas somente como parte da escalada do ganho de experiência.

    Jean Piaget, entretanto, observou no comportamento adolescente um

    grande incremento nas habilidades cognitivas, o que pode levar a conflitos,

    posto que o indivíduo tem acrescidas, ainda, a razão, a necessidade de

    competição e a habilidade de teorizar em termos adultos - pensamento formal e

    pensamento abstracto.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Intelectohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Moralhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ideologiahttp://pt.wikipedia.org/http://pt.wikipedia.org/wiki/G%C3%A9nero_%28sociedade%29http://pt.wikipedia.org/wiki/Etniahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Piagethttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Pensamento_formal&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Pensamento_abstracto&action=edit&redlink=1

  • 26

    A busca por uma identidade única é um dos problemas que

    adolescentes frequentemente encaram, desafiando autoridades e regras como

    um caminho para se estabelecerem como indivíduos. Nesse estágio,

    desportistas e artistas (entre outros) servem como modelos de comportamento

    e, por esta razão, suas atitudes são bastante criticadas pela sociedade, como

    numa forma de controle de seus efeitos. Isto não significa, entretanto, que a

    criação adequada, por pais ou outros tutores, e uma vida inspirada sejam

    contradições, mas discute-se o quando uma deve ceder lugar à outra.

    A dualidade entre o amadurecimento do corpo e amadurecimento

    psicológico, frequentemente causa certa susceptibilidade à instabilidade

    emocional que pode levar ao consumo de drogas ou álcool, problemas mentais

    como esquizofrenia ou distúrbios alimentares (como anorexia e bulimia), e a

    problemas sociais como a gravidez adolescente. Além disso, cientistas da

    Universidade da Califórnia em Los Angeles e do Instituto Nacional de Saúde

    Mental, ambos nos EUA, descobriram, usando técnicas de ressonância

    magnética, que cérebros adolescentes mudam drasticamente, inclusive com

    redução de massa cinzenta e aumento do volume de massa branca, o que

    poderia explicar boa parte dos desvios mencionados. Cabe salientar, entretanto,

    que estes problemas não são exclusivos de adolescentes, e que nem todas as

    pessoas nessa fase estão sujeitas a eles.

    A Psicologia Positiva é frequentemente trazida a termo quando

    discutimos a psicologia adolescente. Foi observado um grupo

    surpreendentemente grande de adolescentes entediados, desmotivados e

    pessimistas quanto a seus futuros. A aproximação pela Psicologia Positiva tenta

    acender suas chamas interiores, auxiliando-os a desenvolver destrezas

    complexas dando carga às suas vidas, tornando-se socialmente competentes,

    compassivos e adultos psicologicamente vigorosos.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizofreniahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Anorexiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Bulimiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Resson%C3%A2ncia_magn%C3%A9ticahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Resson%C3%A2ncia_magn%C3%A9ticahttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Psicologia_Positiva&action=edit&redlink=1

  • 27

    3 - O QUE SIGNIFICA “SITUAÇÕES DE RISCO” ?

    De acordo com Masten e Garmezy (1985), os fatores de risco podem

    estar presentes tanto em características individuais como ambientais. Entre os

    fatores de risco individuais, encontram-se características como sexo, fatores

    genéticos, habilidades sociais, intelectuais e características psicológicas. Entre

    os fatores de risco ambientais encontram-se o baixo nível sócio-econômico,

    eventos de vida estressantes, características familiares e ausência de apoio

    social (Masten & Garmezy, 1985).

    Tradicionalmente, o risco era concebido unicamente em termos

    estáticos, como um fator que predispunha a um resultado negativo (Cowan e

    cols., 1996). Deste modo, a simples presença de um fator de risco já era

    suficiente para se prever conseqüências indesejáveis. A pobreza, por exemplo,

    era considerada um fator de risco relacionado com conseqüências negativas

    para famílias e crianças. Atualmente, uma visão mais dinâmica sobre o risco

    emerge, atribuindo a ele uma conotação de processo (Cowan e Cols., 1996).

    Desta forma, o risco passa a ser percebido como uma variável vinculada

    diretamente ao resultado provocado. Esta visão proporciona o entendimento de

    como a variável risco causa determinado resultado em uma pessoa e em outra

    não, ou ainda, como a mesma variável provoca resultados diferentes para a

    mesma pessoa em momentos diferentes do seu desenvolvimento (Cowan e

    cols., 1996). Neste sentido, a pobreza pode desempenhar um papel de risco

    para determinadas famílias e para outras não, dependendo da existência de

    fatores que moderem seus efeitos.

    Alguns fatores tendem a desencadear vulnerabilidade nas famílias.

    Vulnerabilidade refere-se a uma predisposição individual para

    apresentar resultados negativos no desenvolvimento. A pobreza vem sendo

    explorada em muitas pesquisas como um fator de risco potencial para o

  • 28

    desenvolvimento das pessoas. Viver na pobreza constitui-se, muitas vezes, em

    um fator de risco que ameaça o bem-estar das pessoas, limitando suas

    oportunidades de desenvolvimento (Nunes, 1994; Zimmerman & Arunkumar,

    1994). A pobreza influencia o desenvolvimento das pessoas e, em determinadas

    situações, não vem desacompanhada: nas famílias, ela tende a afetar a relação

    conjugal, contribuindo para o aumento da incidência de conflitos entre os pais,

    produzindo, também, um efeito no relacionamento dos pais com a criança

    (Nunes, 1994; Zimmerman & Arunkumar, 1994).

    “O baixo nível sócio-econômico é uma das variáveis sócio-

    demográficas mais investigadas em pesquisas sobre

    fatores de risco (Luthar, 1991). De acordo com Garmezy e

    Masten (1994), o baixo nível sócio-econômico constitui

    uma forma de adversidade crônica. Para os autores, uma

    adversidade crônica manifesta-se lenta e gradualmente e

    sua intensidade pode variar de moderada à alta, porém,

    sua duração é longa. Outros exemplos são: desvantagens

    biológicas e físicas, problemas familiares intensos e

    características individuais. A adversidade crônica difere da

    aguda, cuja manifestação é repentina e rápida,

    de severa intensidade, com efeitos avassaladores. Uma

    pessoa que é acometida por um evento deste tipo (por

    exemplo, a morte de um dos pais) pode permanecer

    imobilizada em função da falta de recursos imediatos para

    lidar com a situação (Garmezy & Masten,1994).”

    ( RESILIÊNCIA E VULNERABILIDADE EM FAMÍLIAS EM

    SITUAÇÃO DE RISCO - Alessandra Marques Cecconello -

    Tese de Psicologia - Universidade Federal do Rio Grande

    do Sul - Instituto de Psicologia - 2003. )

    Um evento agudo, entretanto, pode se tornar um fator de risco crônico.

    Se, por exemplo, a morte de um dos pais resultar em cuidados inadequados

    para a criança, pode trazer danos para o seu desenvolvimento em longo prazo.

  • 29

    Quando eventos agudos não se tornam crônicos, a tendência é que seus efeitos

    declinem com o passar do tempo, não trazendo prejuízos ao desenvolvimento.

    Esta constitui uma das diferenças entre o evento agudo e o crônico. A

    adversidade crônica é caracterizada pela possibilidade de trazer efeitos

    cumulativos para o desenvolvimento.

    Estudos sobre fatores de risco identificaram variáveis constituindo

    adversidades crônicas em nível familiar, cujos efeitos cumulativos demonstraram

    estar significativamente associados com o desenvolvimento de alguma patologia

    infantil, tais como:

    (1) discórdia conjugal severa;

    (2) baixo nível sócio-econômico;

    (3) famíliasnumerosas;

    (4) criminalidade paterna;

    (5) doença mental materna;

    (6) institucionalização da criança ;

    (Garmezy & Masten, 1994; Rutter, 1987, 1993, 1996).

    Segundo estas pesquisas, a probabilidade de uma criança que vivencia

    apenas um destes fatores apresentar algum problema é baixa (Garmezy &

    Masten, 1994). Contudo, a probabilidade dela apresentar problemas vivenciando

    mais de um fator aumenta, e, no caso de três ou mais fatores, o risco para

    apresentar alguma doença mental é ainda mais significativo (Garmezy &

    Masten, 1994). É importante ressaltar, no entanto, que, para que esta

    probabilidade se concretize, é necessária uma predisposição individual para o

    desenvolvimento de alguma doença, ou seja, para que o risco tenha efeito, a

    pessoa precisa estar fragilizada diante dele.

    Vulnerabilidade refere-se a uma predisposição individual para apresentar

    resultados negativos no desenvolvimento (Masten & Garmezy, 1985). Ela está

    relacionada com uma predisposição para desenvolver uma desordem específica

    ou com uma susceptibilidade geral ao stress. A vulnerabilidade aumenta a

    probabilidade de um resultado negativo ocorrer na presença de um fator de

  • 30

    risco. Contudo, ela opera somente na presença dele, ou seja, sem o risco, ela

    não tem efeito (Cowan e cols., 1996).

    “Risco e vulnerabilidade são processos relacionados com

    resultados negativos ou indesejados. O risco pode ser

    identificado tanto em nível individual como em nível

    ambiental. A vulnerabilidade, por outro lado, está

    relacionada com uma característica pessoal, inata ou

    adquirida. Contudo, somente na interação com os eventos

    de vida é que podem ser observadas, tanto as influências

    do risco, como as manifestações da vulnerabilidade.”

    (Cowan e cols., 1996).

    Cabe destacar que, apesar das semelhanças entre estes dois

    conceitos, eles diferem em um aspecto essencial: o risco está associado com

    uma probabilidade estatística presente em grupos e populações, a

    vulnerabilidade, por outro lado, está relacionada, estritamente, à pessoa e às

    suas predisposições a respostas ou conseqüências negativas.

    Famílias em “Situações de Risco”, são, portanto, aquelas mais

    suscetíveis à danos, à violência urbana, à marginalidade, à pobreza e à

    desfragmentação.

    Várias pesquisas em Psicopatologia do Desenvolvimento demonstram

    que, apesar da influência do risco, algumas pessoas parecem superar os

    desafios impostos por ele, não sendo vulneráveis (Rutter, 1985, 1987, 1993,

    1996; Werner & Smith, 1992; Zimmerman & Arunkumar, 1994). Estas pessoas

    foram consideradas pelos teóricos do assunto, inicialmente, como invulneráveis

    (Masten & Garmezy, 1985). Atualmente, pesquisadores têm se referido a elas

    como resilientes (Cowan e cols., 1996; Rutter, 1987, 1993).

    De acordo com Masten e Garmezy (1985), a invulnerabilidade ou

    resistência ao stress está relacionada com uma grande probabilidade de

    adaptação bem sucedida apesar da influência do risco, resultando em uma

    baixa susceptibilidade ao impacto de futuros estressores. No entanto, Rutter

  • 31

    (1993) afirma que a invulnerabilidade denota uma idéia de resistência absoluta

    ao stress, quando a realidade demonstra que ninguém, na verdade, apresenta

    esta condição. Segundo este autor, o termo também sugere que pode ser

    aplicado em todas as condições de risco, entretanto, sabe-se que a capacidade

    para adaptação varia de acordo com cada situação, podendo ser alterada, tanto

    em função de características e habilidades individuais, como de aspectos do

    contexto.

    3.1 – SIGNIFICÂNCIA SOCIAL : O QUE BUSCAM OS JOVENS DE HOJE

    Os adolescentes são um alvo cobiçado pelo comércio.

    Eletrodomésticos, música contemporânea, jogos eletrónicos e roupas "da moda"

    são populares entre adolescentes, desde os últimos anos do século XX. Da

    mesma forma, a propaganda utiliza a imagem do próprio adolescente para

    vender seus produtos, buscando mostrar a idéia de jovialidade, mudança e

    independência.

    Em muitas culturas há cerimônias que celebram a passagem da

    adolescência ao mundo adulto, geralmente ocorrendo na adolescência. Na

    África, muitos grupos étnicos indígenas praticam ritos de iniciação, por vezes

    associada à circuncisão masculina ou feminina, esta com aspetos que têm sido

    postos em causa, por alegadamente atentarem contra a saúde física ou mental

    das jovens, como a excisão do clitoris e a infibulação.

    De qualquer maneira a sociedade já dá importância ao jovem, como ser

    consumista e de representatividade em diversos setores : politico (já pode-se

    votar aos 16 anos), civil ( atos civis e penais para maiores de 18 anos). Este

    mesmo jovem, em contra-partida, se vê imbuído de seguir aquilo que a

    sociedade de consumo assim determina, para tentar “se enquadrar”. Nem

    criança, nem adulto, o jovem dilacera-se com essa eterna busca de

    enquadramento e aceitação. É claro que seres individuais que somos, jamais

    seremos uns idênticos aos outros, e certamente esse não-enquadramento e

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Com%C3%A9rciohttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XXhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Propagandahttp://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81fricahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ind%C3%ADgenahttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ritos_de_inicia%C3%A7%C3%A3o&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Circuncis%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sa%C3%BAdehttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Excis%C3%A3o&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Clitorishttp://pt.wikipedia.org/wiki/Infibula%C3%A7%C3%A3o

  • 32

    não-aceitação, pode levar os mais sensíveis a problemas de auto-estima e

    confiança.

    O que buscam os jovens de hoje ? Basicamente aceitação social. Como

    um adolescente com família de baixa renda, que está inserido em uma

    SITUAÇÃO DE RISCO, segue as normas sociais e de consumo ? Consegue

    acompanhar os ditames do comercio desenfreado ? Obviamente não consegue.

    Sua tentativa inútil, pode levar à violência, descaminhamento através de

    grupos marginais e até à depressão, gerada principalmente pela insegurança e

    abalo de estima presentes desde o seu nascimento.

    3 .2 - RAIZES SOCIAIS DA VIOLÊNCIA

    Outro estudo (Black & Ricardo, 1994), sugere que em sociedades

    altamente violentas do ponto de vista estrutural também se nota violência

    noutros contextos, como, por exemplo, no familiar e interpessoal. A violência

    estrutural costuma ser considerada algo natural e por isso não é contestada, e

    expressa os esquemas de dominação de classe, grupos e do Estado (Cruz

    Neto, 1999).

    Utilizando-nos do campo filosófico para problematizar um pouco mais o

    tema violência, recorremos ao inglês Thomas Hobbes (1588-1679) e ao francês

    Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Duas máximas fundamentais sintetizam o

    pensamento de Hobbes (1983), a respeito do estado natural em que vivem os

    homens: "O homem é o lobo do homem" e "Guerra contra todos". Segundo este

    pensador, o gênero humano, naturalmente egoísta e violento, tem um perpétuo

    desejo de poder. Daí sempre se valer da violência, elaborando novos meios de

    destruição do próximo. Levado por suas paixões o homem busca conquistar o

    bem, aquilo que lhe dá prazer. Só quando a preservação de sua vida (instinto de

    autopreservação) se encontra ameaçada é que ele se socializa. Por outro lado,

  • 33

    segundo Rousseau (1983), a civilização degenera as exigências morais da

    natureza humana. O homem primitivo, ao contrário, vivia feliz de acordo com

    suas necessidades inatas. As ações agressivas do homem selvagem são

    contrabalançadas pelo inato sentimento de piedade que o impede de fazer mal

    aos outros desnecessariamente.

    “A idéia de que a violência faz parte da natureza humana e

    tem raízes biológicas vem sendo atualmente contestada

    pela maioria dos estudiosos (Minayo, 1994). Por se tratar

    de um fenômeno histórico construído socialmente, a

    violência precisa ser compreendida por intermédio da

    observação das relações cotidianas associadas ao âmbito

    político, econômico e cultural (Minayo & Souza, 1999).

    Segundo Velho (1996), as transformações ocorridas no

    Brasil de hoje, principalmente em termos econômicos, e o

    aumento populacional das cidades, afetaram

    profundamente o sistema de valores éticos e morais,

    reforçando a impessoalidade, o individualismo e,

    conseqüentemente, diminuindo a reciprocidade nas

    relações.”

    (Dr. Dráuzio Varella, artigo : Raízes orgânicas e sociais da

    violência urbana, fonte : SITE IG , ARTIGOS MÉDICOS)

    Os adolescentes vítimas de violência estrutural e familiar muitas vezes

    as perpetram nos ambientes que freqüentam, com as pessoas com quem se

    relacionam. Na esfera da psicanálise, Levisky (1997) afirma que a perversidade

    humana pode aflorar em determinadas circunstâncias. Segundo este autor, os

    adolescentes têm maior tendência a descarregar seus impulsos agressivos e

    sexuais diretamente, buscando satisfação imediata dos desejos. Primeiro agem,

    depois pensam. Portadores de um ego instável que busca auto-afirmação, eles

    são extremamente vulneráveis às pressões pulsionais e às influências externas.

  • 34

    Levando-se em conta que a violência também possui determinantes bio-

    psico-sociais em oposição ao determinismo inato e biológico da natureza

    violenta do ser humano, entendemos que é possível ao jovem derivado do meio

    violento, conseguir romper o círculo vicioso de crimes e desestruturação

    emocional,em que está inserido, se, tiver ferramentas próprias para romper tal

    circulo.

    Partindo do pressuposto de que sociedades violentas, estruturalmente

    restringem o acesso da grande maioria da população às condições essenciais a

    uma vida digna, interferindo negativamente no âmbito familiar e interpessoal dos

    jovens, a quebra do circulo : pobreza - baixa-estima – violência caberá ao

    professor ou arte-terapeuta que utilizará o teatro como ferramenta básica nessa

    luta. Para isso é preciso entender o que é a violência e como lidar com jovens

    de natureza essencialmente violenta.

    A violência urbana é uma enfermidade contagiosa. Embora acometa

    indivíduos vulneráveis em todas as classes sociais, é nos bairros pobres que ela

    se torna epidêmica. A prevalência varia de cidade para cidade, e de um país

    para outro. Como regra, a epidemia começa nos grandes centros e se

    dissemina pelo interior. A incidência nem sempre é crescente; a mudança de

    fatores ambientais pode interferir em sua escalada.

    Sabe-se que os genes herdados exercem influência

    fundamental na estrutura e função dos circuitos de neurônios envolvidos nos

    mecanismos bioquímicos da agressividade. É bom ressaltar, porém, que os

    fatores genéticos não condicionam o comportamento futuro: o impacto do meio

    ambiente é decisivo. Os mediadores químicos liberados e a própria arquitetura

    das conexões nervosas que constituem esses circuitos são dramaticamente

    modelados pelos acontecimentos sociais da infância.

    As estratégias que as sociedades adotam para combater a violência

    flutuam ao sabor das emoções; o conhecimento científico raramente é levado

    em consideração. Como reflexo, o tratamento da violência evoluiu muito pouco

    no decorrer do século XX. Tudo fica à critério governamental, mas é

  • 35

    inquestionável que o fator social e econômico agravam as ações violentas nas

    famílias e nas sociedades.

    3.21- VIOLÊNCIA HISTÓRICA/CIENTÍFICA

    A explicação para o atraso no desenvolvimento de técnicas eficazes

    para tratar a violência está nos erros do passado. No século XVIII, um

    anatomista austríaco chamado Franz Gall desenvolveu uma teoria em torno da

    seguinte idéia: a maioria das características humanas, inclusive o

    comportamento anti-social, seria regulada por regiões específicas do cérebro.

    Cada comportamento estaria sob o comando de um centro cerebral específico.

    Quanto mais robusto fosse o centro mais intensa seria a expressão do

    comportamento controlado por ele. Essa teoria ganhou o nome de frenologia.

    Franz Gall imaginava que, ao crescer, os centros cerebrais exerciam pressão

    contra os ossos da cabeça, deixando neles saliências que poderiam ser vistas

    ou palpadas.

    As pessoas com tendências criminosas poderiam, então, ser

    reconhecidas pelo exame cuidadoso dessas protuberâncias e depressões

    ósseas presentes no crânio.

    Com o tempo, a frenologia caiu em descrédito, mas a tentação de

    identificar a aptidão para o crime por meio de características físicas persistiu.

    Cerca de cem anos depois da frenologia, um italiano especialista em

    antropologia criminal chamado Cesare Lombroso criou uma nova doutrina que

    ressuscitou a associação das características físicas com uma suposta índole

    criminosa. Tais características constituiriam os "stigmata". De acordo com

    Lombroso, os tipos humanos com testa achatada e assimetria nos ossos da

    face, por exemplo, seriam criminosos potenciais. Quem tivesse esses traços era

    classificado como tipo lombrosiano e visto com extrema desconfiança nos

    tribunais.

  • 36

    Em 1949, Egas Muniz, neurocirurgião português, ganhou o prêmio

    Nobel de medicina em reconhecimento por haver introduzido a lobotomia, na

    prática médica. 4

    Nos últimos 50 anos, essas teorias caíram gradativamente em

    descrédito, até se tornarem execradas pelos estudiosos.

    Hoje, são consideradas exemplos típicos de ideologias pseudocientíficas

    que foram utilizadas para justificar arbitrariedades graves.

    Paralelamente ao abandono dessas idéias, criou-se em certos setores da

    sociedade um medo generalizado de que os cientistas realizassem pesquisas

    laboratoriais,capazes de conduzir à obtenção de medicamentos apaziguadores

    dos instintos violentos.

    Imaginava-se que essas drogas poderiam ser administradas

    preventivamente às comunidades carentes de recursos, para acabar com a

    violência milagrosamente, sem que as classes dominantes precisassem abrir

    mão de seus privilégios.

    Pensamentos desprovidos de bases científicas como esses, trouxeram

    péssima reputação aos estudos do comportamento anti-social. A politização

    afastou a comunidade acadêmica da área e a violência urbana passou a ser

    entendida como um fenômeno de raízes exclusivamente sociais. Qualquer

    tentativa de caracterizar um substrato orgânico para a agressividade física

    gerava debates carregados de emoção e até manifestações políticas.

    O panorama começou melhorar a partir da década de 1970, quando os

    americanos tomaram consciência de que as dificuldades enfrentadas com as

    minorias do centro deteriorado das grandes cidades de seu país não

    desapareceriam espontaneamente. Ao contrário, a violência aumentava apesar

    4 Na lobotomia, são seccionados os feixes nervosos que chegam e os que saem do lobo frontal, localizado na parte anterior do cérebro, estrutura responsável pela tomada de decisões a partir das informações captadas pelos sentidos. Inicialmente indicada apenas nos casos de pacientes muito agressivos, as lobotomias se popularizaram segundo critérios de indicação duvidosos e, muitas vezes, serviram como instrumento de poder ou castigo, especialmente nos estados totalitários (mas não apenas neles).

  • 37

    do maior rigor em puni-la. Os institutos oficiais começaram, então, a financiar

    pesquisas para conhecer melhor o lado biológico da violência.

    As informações científicas acumuladas nos últimos 30 anos permitem afirmar

    que a violência tem um substrato biológico, de fato.

    O comportamento humano, no entanto, não se acha condicionado às

    características que herdamos de nossos pais. Ele é resultado de interações

    sutis entre genes, condições ambientais e experiências de vida.

  • 38

    CAPÍTULO I I

    O TEATRO COMO FERRAMENTA DE

    AUTOCONHECIMENTO

    1 - VALORIZAÇÃO DO INDIVÍDUO PARA VENCER AS

    SITUAÇÕES DE RISCO

    “Uma vez que a natureza humana é igual em todos os

    homens, é evidente que, segundo o direito natural, cada

    um deve apreciar e tratar os outros como seres que por

    natureza são iguais a ele próprio, ou seja, que são tanto

    homens como ele.

    Deste princípio da igualdade natural dos homens resultam

    várias consequências. Resulta deste princípio que todos os

    homens são naturalmente livres, e que a razão os tornou

    dependentes para sua felicidade. Que, apesar de todas as

    desigualdades que há no governo político resultantes da

    diferença de condições, da nobreza, do poder e da riqueza,

    aqueles que estão acima dos outros devem tratar os

    inferiores como seres que lhes são naturalmente iguais [...].

    [...] No estado de natureza, os homens nascem mesmo em

    igualdade, mas não podem nela permanecer; a sociedade

    fá-los perdê-la, e é unicamente pelas leis que tornam a

    ficar iguais.”

    Cavaleiro de Jaucourt, artigo:Igualdade Natural, na

    Enciclopédia

    O indivíduo que já nasce em situação de risco parece ter poucas

    chances de ‘evoluir’ na vida, nasce com uma pré-destinação mórbita para o

    crime ou a vida escassa. A valorização do homem, torna-se aí medida principal,

    já que é a partir dessa valorização, que cada um percebe sua relevância no

  • 39

    mundo, percebe o outro, e vendo o outro como a sua imagem e semelhança,

    afasta-se da violência e da criminalidade.

    1.1 – SITUAÇÃO DE RISCO : MUNDO RICO E MUNDO POBRE

    Na sociedade antiga, o homem vivia em comunidade e sua

    personalidade era influenciada por interesses práticos e sociais, com base em

    uma economia natural, enquanto na sociedade moderna surge a economia

    centrada no dinheiro em que há um caráter objetivo nas relações sociais,

    havendo autonomia da personalidade uma vez que o dinheiro se impõe entre a

    posse e o proprietário. Com isso, a modernidade faz a ruptura do sujeito e o

    objeto, do sujeito e a posse, como fruto do processo de diferenciação presente

    nessa economia.

    A modernidade desenvolve, portanto, a economia do dinheiro, que

    fornece um caráter impessoal às atividades e relações sociais, conferindo - lhes

    um caráter efêmero, havendo um dado objetivo, o lucro, formando, assim, uma

    totalidade objetiva, ou seja, a sociedade moderna segue conforme um padrão, o

    monetário.”A atividade se mostra totalmente objetiva e independente diante de

    um acionário singular” (SIMMEL, 1998,p.25).

    A modernidade influi, dessa forma, na cultura à medida que desenvolve

    o dinheiro, que padroniza e tudo nivela, estabelecendo o interesse comum ou

    uma comunidade totalmente universal, globalizada. A cultura moderna gesta

    uma nivelação social, com a independência da pessoa enquanto indivíduo

    autônomo. Tudo fruto, no entanto, da conhecida divisão do trabalho que, como

    se sabe, instituiu o pagamento em dinheiro, refletindo diretamente na

    personalidade, que passa a ser moldada através de “... algo totalmente abstrato

    e livre de toda relação interna com o indivíduo” (SIMMEL,1998,p. 29).

    O mundo então divide-se em dois : o mundo rico e o mundo pobre, onde

    privilegiados e excluídos compartilham o mesmo espaço, cada um com um

  • 40

    pouco de liberdade, a que julgam ter direito, só que o tamanho dessa liberdade

    vai depender do valor econômico de cada indivíduo.

    A liberdade se entende como a liberdade de escolha, de comprar e

    vender o que estiver disponível nessa cultura baseada no dinheiro. O que acaba

    por permitir uma substituição dos valores qualitativos pelos quantitativos que,

    muitas vezes, promove uma desvalorização ou desigualdades incontornáveis. A

    motivação do homem moderno resume-se ia, então, ao ganhar dinheiro,

    entretanto, em sociedades em contato com a cultura ocidental, mas ainda

    mantendo formas culturais diferentes da sociedade ocidental, onde a idéia do

    dinheiro inaugura o individualismo, parece haver, exceções à regra. Geertz

    afirma, por exemplo,que “o homem racional, prudente, sábio, não luta pela

    felicidade, mas, por um desprendimento tranqüilo que o liberta de suas

    infindáveis oscilações entre gratificação e frustração” (GEERTZ,1978,p. 153).

    Dentro de tudo isso, verificamos que o homem – ser social – afasta-se

    de seus reais interesses : que é a imersão social com outros indivíduos, a

    constituição de família e a busca da sua dignidade como cidadão, que são

    valores morais e éticos buscados pela maioria dos seres desde os primórdios

    dos tempos. E com a inversão de valores, valerá mais quem tem dinheiro, e não

    pelo seu real valor. Os excluídos, desesperados, farão qualquer coisa para se

    tornarem “visíveis”, para terem poder de compra, poder de consumo, e

    consequentemente mais “liberdade”.

    Nossa prática parte de um corpo uno onde cada pessoa percebe e

    significa o mundo, é percebida e significada, relaciona-se, expressa-se, assume

    posturas e papéis. Existe uma valorização do indivíduo, sua individualidade e

    subjetividade, suas necessidades, direitos, obrigações, etc. seguindo uma lógica

    de alternativas mais participativas e inclusivas. Desta forma acredita-se numa

    intervenção que através do corpo possibilite a constituição de subjetividades. A

    metodologia utilizada para isso, que é o contato com a arte, e desenvolvimento

    da corporeidade tem cunho exploratório e pesquisa-ação a partir do

    desenvolvimento de trabalhos com comunidades já realizados .

  • 41

    1.2 – SITUAÇÃO DE RISCO : TRÁFICO E CRIME ORGANIZADO

    De maneira geral, é possível estabelecer três níveis de criminalidade e

    violência associadas ao narcotráfico:

    1. Nível sofisticado: são aqueles contatos mantidos entre criminosos e

    parceiros influentes em nível nacional, regional e internacional para

    negociar a compra de grandes quantidades de drogas e armas. Também

    envolve corrupção e lavagem de dinheiro. Esses criminosos reciclam o

    dinheiro obtido com a venda de drogas por meio de empresas laranjas e

    corrompem políticos e funcionários públicos graduados. Também

    desviam produtos químicos para fabricar substâncias ilícitas.

    2. Nível médio: são empresários da economia informal que trocam bens

    roubados por drogas (principalmente maconha e cocaína), armas e

    contrabando. A maioria dessas operações não envolve dinheiro vivo.

    Nessa categoria também estão incluídos o desmonte de carros e a venda

    de peças de segunda mão roubadas, CDs e passaportes falsificados,

    entre outros.

    3. Nível inferior: esse nível de criminalidade é representado por gangues

    que compram, estocam e distribuem drogas. A população envolvida

    nessa atividade é composta principalmente por jovens entre 10 e 24 anos

    de idade, o que representa entre 0,5% e 3% da comunidade local que

    vive em áreas pobres por absoluta falta de opções e oportunidades.

    Essas gangues controlam seus territórios porque estão fortemente

    armadas. Seus integrantes são normalmente da própria comunidade e, por isso,

    acabam sendo protegidos pela chamada “Lei do Silêncio”. A presença do

    Estado nessas áreas é quase inexistente e a comunidade acaba se apoiando

    mais nos traficantes do que no próprio Estado para resolver seus problemas.

    É neste nível inferior que a violência física, em termos de homicídios, é muito

    alta. Aproximadamente 15.000 jovens brasileiros perdem suas vidas anualmente

    por causa do tráfico de drogas. Esse verdadeiro genocídio é normalmente

  • 42

    associado às guerras entre gangues pelo controle de territórios, queima de

    arquivos e morte de pessoas que não seguem ordens ou roubam drogas e

    dinheiro dos traficantes.

    Muitas são as soluções que podem ser adotadas pelos diferentes níveis

    governamentais para reduzir a violência e a criminalidade associadas ao

    narcotráfico e ao crime organizado. O governo federal tem dito claramente que,

    dentro do contexto nacional, cabe a ele essa tarefa. E, por parte do Ministério da

    Justiça, vemos que os mecanismos de combate ao crime organizado estão

    sendo fortalecidos _principalmente em relação ao confisco de recursos

    financeiros e bens obtidos com o tráfico de drogas e outras atividades

    criminosas. A prevenção também é parte das ações do governo federal, e as

    Nações Unidas reconhecem e estimulam esses esforços.

    Mas os governos estaduais e municipais também têm um importante papel

    nessa questão. Um dos pilares para a ação governamental nas esferas do

    Estado e do município deve ser a redução da demanda por drogas ilícitas. Por

    meio do investimento adequado de recursos humanos e financeiros em

    programas integrados, é possível educar a população sobre as conseqüências

    das drogas e oferecer bons serviços de tratamento para os usuários de drogas

    que estão interessados em se livrar da dependência química. E é claro, o

    esclarecimento desde a infância e adolescência. Nosso esforço aqui é fazer

    com que a ARTE CÊNICA seja uma das alavancas sociais a quebrarem a

    barreira da desigualdade social e salvar os jovens do tráfico e da morte.

    1.3 – MOSTRANDO AO JOVEM SEU VALOR

    O que diferencia grandes empresas de identidade institucional e o que

    as perpetua nas suas atividade ou as torna transitórias, é a sua atitude diante da

    Valorização do Ser Humano no processo organizacional.

    Se o proprio mercado já entendeu isso, e sempre que pode aplica essa

    máxima, ao estado, essa máxima, só a poucos anos vem sendo adotado em

    escolas e instituições públicas.

  • 43

    Quando nos referimos a valorização do individuo dentro da sociedade, a

    sua criatividade e participação decisória, devemos lembrar que não se é livre

    quando não se pode criar e não se permite que se tomem decisões, no nível de

    conhecimento, maturidade e competência.

    O jogo cênico proporciona todas essas atitudes : liberdade, criatividade,

    participação decisória.

    Desenvolvendo pessoas e equipes para um trabalho integrado no qual o

    desafio básico é a cooperação e a solidariedade entre os grupos, e

    principalmente a Visão do Líder no sentido de valorizar, entender, saber ouvir e

    acompanhar os seus liderandos , onde o reconhecimento vem de encontro da

    valorização de pessoas se sentindo seguras, motivadas e não tendo medo de

    serem ameaçadas dentro do processo organizacional vem permitir fazer

    presente a segurança no desenvolvimento dos processos.

    Falar de Ser Humano valorizado, compreendido e acompanhado, vem

    reforçar a uma nova visão na implantação de uma NOVA SOCIEDADE. Os

    grupos se sentindo reconhecidos e seguros na condução de um processo, darão

    origem à uma sociedade mais justa, mais solidária e cooperativa – não tão

    competitiva e selvagem. Aquilo que é trabalhado com um só jovem, pode se

    dissiminar e alcançar sua familia, a família do seu vizinho e até mesmo toda a

    sua comunidade.

    Explicação de Fromm:

    "O importante em uma pessoa não é o conjunto de idéias

    ou opiniões que ela aceita porque lhe foi exposta desde a

    infância ou porque são padrões convencionais de

    pensamento, mas o caráter, a atitude e a raiz visceral de

    suas idéias e convicções".

  • 44

    Sem espírito solidário, sem sentimento de equipe e sinergia, prevalece o

    individualismo heróico o apelo ao brilhantismo pessoal como técnica de

    motivação. Só pessoas felizes são realmente produtivas e a felicidade é, não só

    possível, com imprescindível à produtividade sustentada e à perpetuidade de

    uma sociedade.

    2 - A ARTE NA SOMBRA

    Ao trabalhar a arte pelo viés da resignificação social, possibilitamos ao

    indivíduo o contato com suas potencialidades inconscientes, que em estado ‘bruto’

    tomam forma a partir das várias linguagens artísticas: seja através de um desenho,

    do contorno de uma escultura, da imagem plasmada de uma fotografia, da fantasia

    cinematográfica, do tornar-se eterno pela efemeridade de um gesto, da música que

    preenche espaços vazios e do teatro que recria a realidade. Assim, a arte pode

    levá-lo a uma nova PERSPECTIVA de CONTORNO de sua IMAGEM, a partir do

    contato com suas FANTASIAS, ao mesmo tempo ETERNAS E EFÊMERAS, que

    preenchem seus ESPAÇOS VAZIOS, ao recriar uma nova REALIDADE de contato

    consigo mesmo e com seu grupo social.

    Buscamos um questionamento acerca do êxito dos inúmeros trabalhos

    existentes, que enxergam a arte para “além da estética”, que priorizam uma estética

    social inclusiva, e têm a consciência da necessidade de acesso e permanência da

    arte também nos setores segregados pela própria sociedade.

    As considerações sobre o significado da arte, sua inserção no contexto cultural,

    suas relações com o meio social e, principalmente, as razões que justificam sua

    existência e sua dimensão “utilitária” – afinal, para que serve a arte? – têm

    preocupado os intelectuais desde o século XX.

    Há ainda espaço para a arte num mundo cada vez mais aviltado pelas forças

    econômicas, regido pelo consumo, padronizado pela produção industrial em massa?

    Que tipo de arte se justifica nos dias de hoje? Para quem ela deve se destinar?

  • 45

    O campo da cultura humana contempla necessariamente a ciência e a

    tecnologia, a ética e a estética. Impulsionada pelo sentimento de sobrevivência, a

    cultura é, no conteúdo e na origem, criação do corpo e do espírito. Datada histórica e

    socialmente, é instrumento de auto-conhecimento e de constituição da cidadania.

    Desta forma, a produção artística não se reduziria, no nosso ponto de vista, ao seu

    produto final, mas privilegiaria o processo criativo como agente de transformação

    social.

    Mas como a arte opera em suas relações com a sociedade? Quais as

    suas atribuições, e o que ela pode proporcionar? Quais os benefícios de torná-la

    acessível a todos? A arte para que?

    ”A arte ou o objeto artístico tem diferentes funções. A arte pode

    servir à ética, à política, à religião, à ideologia, pode se

    transformar em mercadoria ou proporcionar meramente prazer.

    A arte pode mesmo revelar as contradições da sociedade,

    prestando-se, desse modo, a uma crítica social. Ela pode

    revelar ou representar tanto a vida interior do homem como a

    cultura. Pode também vir a ser uma forma de conhecimento ou

    revelação. Freud remeteu a arte à esfera do desejo e não da

    realidade. No entanto, a arte oscila entre desejo e realidade, é

    sempre a realidade alargada ao imaginário ou a realidade não

    mitigada.”

    (JUSTINO, Maria José - A Utilidade da Arte – 2000).

    Já GRAMCI não acreditava no intelectual “desinteressado”, envolvido

    apenas com seu objeto de investigação e alheio ao mundo circundante. Em sua

    opinião,

  • 46

    “(...) o modo de ser do novo intelectual não pode mais consistir

    na eloqüência, motor exterior e momentâneo dos afetos e das

    paixões, mas num imiscuir-se ativamente na vida prática, como

    construtor, organizador, persuasor permanente”

    (GRAMCI, Antonio - Os intelectuais e a organização da Cultura

    – 1991).

    Dessa forma, a produção do artista não se reduziria, a nosso ver, ao seu

    produto artístico, mas incluiria também a contribuição para a ampliação do acesso à

    arte de modo geral, por meio da qual é possível alguma transformação social.

    Segundo a critica Aracy Amaral,

    “a problemática do artista contemporâneo se configura em três

    direções: como fazer com que o produto de seu trabalho tenha

    uma comunicação com um público mais amplo; que sua obra

    possa refletir uma participação direta em seu contexto social; e,

    eventualmente, a participação dessa obra para uma eventual e

    desejável mudança da sociedade”. (AMARAL, Aracy - Arte

    Para Que? – 1987).

    Considerando que tanto a produção artística quanto o acesso à sua fruição

    devem estar a serviço do bem comum, considerando a importância da experiência

    artística no processo de formação humana e de humanização do homem, e

    advogando por uma arte para todos é que, entendemos que a “A Arte no Social – A

    Arte na Sombra”, é uma inserção efetiva dos grupos sociais, de indivíduos que vivem

    à margem dos processos econômicos corporativos, mas que existem como serem

    humanos e cidadãos pensantes do mundo.

  • 47

    3 – Teatro = Espelho

    Se para o próprio Aristóteles a arte, era a imitação da natureza o teatro tinha

    ou tem via de regra ser uma imitação do homem e sua sociedade.

    “ Para Nós a palavra “imitar” significa fazer cópia mais ou menos

    perfeita de um modelo original. Sendo assim, a arte sria então

    uma cópia da natureza. E “natureza” siginifica ,para nós o

    conjunto das coisas criadas. A arte seria pois uma cópia das

    coisas criadas” –( Boal – O teatro do oprimido e outras poéticas

    políticas, 5ª ed – 1988 )

    Só que Aristóteles quis dizer uma coisa completamente diferente, a Boal,

    afirma que esta seria uma ‘má’ tradução da poética, e que, na verdade, o que ele

    queria dizer era : ‘ a arte recria o princípio criador das coisas criadas’.

    Para que serve então a ARTE ? Elas serviriam segundo Aristóteles, par

    corrigir as falhas da natureza utilizando-se para isso as p´roprias sugestões da

    natureza. A Tragédia imitaria as ações humanas, Ações, e não meramente atividades

    humanas . Para Aristóteles, a alma do homem se compunha de uma parte racional e

    de outra irracional. A alma irracional podia produzir certas atividades como comer,

    andar, mover-se sem que esses atos físicos tivessem maior significado A tragédia,

    porém devia imitar tão somente as ações determinadas pela alma racional do

    homem. Nem todas as paixões servem de matéria para tragédia. Se um homem ,

    em determinado momento, exerce casualmente uma paixão, esta não será uma ação

    digna de uma tragédia. É necessário que essa paixão seja constante nesse homem.

    Isto é : por sua incidência deve ter-se convertido em um hábito.

    Segundo ele, ainda, a apresentação do vício e do “erro ou debilidade” não

    era feita para provocar nos espectadores repugnância ou ódio. Pelo contrário

    sugeria que se tratasse o erro ou debilidade com certa compreensão.

  • 48

    A “catarse” seria uma metáfora médica, uma purgação que denota o efeito

    patológico sobre a alma análogo ao efeito de um remédio sobre o corpo. Bernays

    toma a definição de Tragédia dada por Aristóteles (“imitação de ações humanas que

    excitem a piedade e o terror”), justamente porque essas emoções se encontram nos

    corações de todos os homens, o ato de excita-las oferece , depois, um agradável

    relaxamento., Hipótese confirmada por Aristóteles que declara que “nós sentimos

    piedade pelo destino não merecido do herói, e terror porque esse infortúnio acontece

    com alguém que parece com nós mesmos”. A palavra empatia , que justamente se

    baseia nessas duas emoções. Assim o teatro oferece uma descarga inofensiva e

    agradável, para os instintos que exigem satisfação e podem na ficção do teatro ser

    tolerados muito melhor que na vida real.

    Nesse aspecto Boal enfatiza :

    “ Os maus dramaturgos de todas as épocas não compreendem

    a enorme import^ncia das transformações ocorridas diante do

    espectador : teatro é transformação, movimento, e não simples

    apresentação do que existe. É tornar-se e não ser .” ( Boal – O

    teatro do oprimido e outras poéticas políticas, 5ª ed – 1988 )

    Sendo assim o teatro é o espelho do homem, mais que isso o espelho da

    alma do homem. O homem purga seus erros através do teatro. E essa purgação é

    sem dúvida terapeutica. Se apenas ao assistir uma peça teatral, um indivíduo pode

    promover mudanças em sua vida, que dirá, quando passa para o outro lado do

    tablado : vira motor da conscientização política, uma vez que retira os indivíduos da

    posição passiva de consumidores e receptores da arte, e os converte em seres

    autônomos criadores da arte e protagonistas da expressão de suas individualidades

    e vontades.

    E embora essa qualidade do teatro incontestável para mudar as pessoas

    seja realmente revolucionária, mais revolucionário é Augusto Boal, que vê o teatro e

    os meios de mídia, como arma tão poderosas, que já estão sendo usadas há tempos

    pelos mais poderosos :

  • 49

    “A burguesia descobriu recentemente , talvez ajudada pelas

    estatísticas de Hollywood, o enorme poder persuasivo do teatro

    e das artes afins. O teatro, no entanto influencia espectadores

    não apenas no que se refere à indumentária , como nos valores

    espirituais que lhes pode incutir, através do exemplo. Surgiu

    assim um novo tipo de peça e de filme “exemplar”, que procura

    reiterar alguns valores consagrados da sociedade capitalista

    como por exemplo a arte e a faculdade de subir na vida, através

    da livre iniciativa. São peças e filmes biográficos que mostram a

    trajetória fulgurante de determinados cidadãos que galgaram as

    escadas da fama e da fortuna, partindo das condições de vida

    mais humildes. “Se J.P. Morgam amealhou tão considerável

    fortuna, iates, mansões etc, porque você não poderá fazer o

    mesmo ? Claro que você também pode. A sua única obrigação

    é respeitar as regras do jogo “ Isto é, do jogo capitalista” .” (

    Boal – O teatro do oprimido e outras poéticas políticas, 5ª ed –

    1988 )

    O teatro, usado de maneira certa pode fazer muito mais que incutir ambição (

    que em excesso pode virar crime, como já visto anteriormente), mas pode fazer com

    que seja promovido o autoconhecimento .É através dele que se pode curar a maioria

    dos males humanos.

    3.1 – Conhece-te a ti mesmo e transforma-te.

    Em filosofia, o autoconhecimento ou conhecimento de si é ou um objeto

    de investigação epistemológica ou é a finalidade de uma busca de natureza ética.

    Quando visto como objeto da investigação epistemológica, o que se busca é a

    explicação de como e o que é conhecido. Quando visto como projeto ético, o que se

    busca é a realização de algo que leve o sujeito a ser mestre de s