universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo ...o resgate social atravÉs do teatro por: anilia...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O RESGATE SOCIAL ATRAVÉS DO TEATRO
Por: ANILIA FRANCISCA MERCIO DA SILVEIRA
Orientador
Prof. Dra. Mary Sue
Rio de Janeiro
2008
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O RESGATE SOCIAL ATRAVÉS DO TEATRO
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como requisito parcial para obtenção do grau
de especialista em ARTETERAPIA E SAÚDE
Por: . Anilia Francisca Mércio da Silveira
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AGRADECIMENTOS
....aos meus alunos de teatro e colegas
de profissão......
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DEDICATÓRIA
...a minha querida Avó Lúcia e meus
queridos mestres sem os quais seria
impossível esta árdua caminhada no
mundo das Artes.
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RESUMO
Este trabalho visa demonstrar a utilização as ARTES CÊNICAS como
ferramenta na ARTE TEARAPIA no resgate social de crianças e adolescentes
que encontram-se em situação de risco.
Como o teatro pode auxiliar na questão da auto-estima dessas crianças e
adolescentes revertendo o quadro de abandono, violência e criminalidade que
permeiam suas vidas ?
O Teatro e os exercícios de ARTES CÊNICAS aliados aos fundamentos
da ARTE-TERAPIA e PISCOPEDAGOGIA são inquestionavelmente eficazes no
desenvolvimento psíquico e motor de determinadas crianças e adolescentes,
mas até que ponto algumas dificuldades como problemas de relacionamento,
envolvimento com drogas e tráfico, baixo estima e agressividade podem ser
resolvidos e solucionados a partir do envolvimento e desenvolvimento artístico ?
O profissional capacitado com as ferramentas da terapia através da ARTE é
facilitador desse desenvolvimento ?
A partir desse ponto, investigaremos quais as melhores ferramentas em
ARTES CÊNICAS e ARTE-TERAPIA, para que se dê o resgate social desses
jovens envolvidos, com estudo de casos bem sucedidos, a abordagem inicial
com tais jovens as melhores técnicas didáticas para alcançar o objetivo
proposto, e os principais exercícios cênicos que possam re-trabalhar a auto-
estima para o eventual resgate social do grupo .
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METODOLOGIA
O trabalho prático do teatro em comunidades de baixa renda e periferia,
foi crucial na escolha da temática e é tal trabalho vivencial que trazemos como
ponto de partida. A pesquisa em ONGS e instituições que também trabalham o
resgate dos jovens pela ARTE, como o “NÓS DO MORRO e o “TEATRO DO
OPRIMIDO” , fará nossa ponte com o ‘mundo real’ e o estudo de casos que
alcançaram os resultados esperados e que foram bem sucedidos. Também
faremos a pesquisa em livros, jornais, revistas de artes-cênicas e arte-terapia.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
PROBLEMAS DE AUTO ESTIMA : FATOR
PRINCIPAL DAS SITUAÇÕES DE RISCO 11
CAPÍTULO II
O TEATRO COMO FERRAMENTA DE
AUTO-CONHECIMENTO 20
CAPÍTULO III
TÉCNICAS MAIS UTILIZADAS E
CASOS BEM-SUCEDIDOS 39
CONCLUSÃO 47
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 52
BIBLIOGRAFIA CITADA (opcional) 55
ANEXOS 58
ÍNDICE 59
FOLHA DE AVALIAÇÃO 63
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INTRODUÇÃO
Segundo Augusto Boal (1931), todo mundo atua, age, interpreta :
“Somos todos atores Até mesmo os atores ! Até mesmo os
atores ! Teatro é algo que existe dentro de cada ser
humano, e pode ser praticado na solidão de um elevador,
em frente a um espelho, no maracanã, ou em praça pública
para milhares de espectadores. Em qualquer lugar... até
mesmo dentro dos teatros.” (JOGOS PARA ATORES E
NÃO ATORES – AUGUSTO BOAL 1999 , p 09)
Todos concordamos que o teatro é uma invenção humana bem antiga, e
seu surgimento está intimamente ligado com o surgimento do homem e sua
necessidade de se comunicar. Talvez porque o ser humano é o único animal
capaz de se observar. E como também ressalta Boal ele se vê num “espelho
imaginário1 .” Sendo então essa a essência do teatro : o ser humano que se
auto-observa, temos aí uma motriz extremamente terapêutica – já que um dos
focos da terapia é o auto-conhecimento, para solução de problemas.
O trabalho com adolescentes e crianças que já trazem a situação-
problema desde a sua gestação e quando o problema encontra-se muito mais
externamente do que internamente ( como é o caso das crianças e
adolescentes em situação de risco, ou seja que moram em favelas,
comunidades dominadas pelo tráfico, com condições de miserabilidade
acentuadas ), é um trabalho muito mais árduo e o resgate de auto-estima para
seres humanos que praticamente desconhecem até mesmo o que seria
1 Como diz Boal, em O ARCO-ÍRES DO DESEJO, 2002, p 27 : “Ao ver-se percebe o que é, descobre o que não é, e imagina o que pode vir a ser. Percebe onde está, descobre onde não está e imagina onde pode ir. Cria-se uma tríade : Eu observador, EU em situação , e o NÃO-EU, isto é , o OUTRO. (...) o espaço estético, (ou seja o teatro) fornece o espelho imaginário.”
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“estima”, e a dignidade humana em sua totalidade é desconhecida, o contato
com o teatro, e suas ferramentas torna-se uma espécie de tratamento de
choque.
No teatro, o mais importante é o processo, e aqueles que têm intimidade
com as artes cênicas , sabem, que são os exercícios durante o processo, que
constroem o produto final. O grupo é importantíssimo no desenvolvimento dessa
tarefa, já que é ele quem “joga”, quem “cria”, e quem produzirá o produto final.
Não que o “produto final” seja algo esperado, e sempre deverá acontecer. Nos
processos de auto-conhecimento através do jogo teatral, nem sempre há uma
montagem teatral, ou uma peça pronta para apresentação final – aliás, existe os
pós e os contras dos processos com montagem – por esse motivo, o simples
processo, na prática terapêutica, já são suficientes para alcançarmos os
benefícios adquiridos através do jogo-cênico.
A despeito de tudo isso, nosso estudo irá centrar-se nessa magnífica
ferramenta terapêutica que é o TEATRO, para trabalharmos um problema que é
“vala” comum em crianças/adolescentes de comunidades carentes e que possui
um tratamento terapêutico extremamente delicado e dedicado : a baixo-estima.
Problemas de auto-estima atingem nossa sociedade como um todo, e
podem ter diversos motivos. É notório o quão se torna prejudicial na vida de um
indivíduo que busca felicidade em vários setores da vida : sentimentais
profissionais, familiares. A baixo-estima em seu alto-grau associa-se ao ciúme,
inveja, intolerância, desrespeito a si próprio e ao outro. Pode provocar desde
suicídio, no seu patamar mais grave até a depressão, em graus leves.
Experiências bem sucedidas das artes cênicas no resgate de jovens não
é uma novidade. Muitos renomados artistas de hoje, confessam suas humildes
origens e como seu contato com a arte transformou-os e direcionou de maneira
mais correta a sua vida . E embora não se tenha qualquer pretensão de revelar
qualquer talento, o trabalho visa apenas demonstrar como podemos extrair o
melhor de cada um, e, este indivíduo, observando-se, tenha a total
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compreensão do seu valor, da sua totalidade e da sua importância para si
próprio e para o mundo ao seu redor.
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CAPÍTULO I
PROBLEMAS DE AUTO-ESTIMA : FATOR PRINCIPAL
DAS SITUAÇÕES DE RISCO
1.1 – BAIXO–ESTIMA, SEUS SINTOMAS E PREJUÍZOS
A BAIXO-ESTIMA é um sentimento procede da infância, é causado pelo
excesso de repressão, exigências, comparações e desqualificações feitas por
pais, professores e outros adultos.
"Auto-estima é o julgamento que fazemos de nós mesmos,
a avaliação de nossas limitações, defeitos pessoais e
outras negatividades que formam a nossa sombra, nosso
lado menos exposto", psicóloga Lúcia Portugal, filiada à
Cooperativa dos Psicólogos da Bahia (Coopsico).
A forma como lidamos com essa sombra determina o grau de nossa
auto-estima, como afirma Jung, um dos maiores pesquisadores da alma.
Esse grau de auto-estima varia da autocondenação à compreensão e
aceitação de quem somos. Onde há, por exemplo, sentimentos de culpa,
inadequação, inferioridade, medo, orgulho e obstinação, a auto-estima está
baixa.
Quando a autocondenação não é muito severa, é difícil avaliar até onde
percebemos nossa baixo-estima. Somente uma percepção aguçada com
relação ao nosso eu, produz sentimentos como o de que “eu não me prezo”,
“não me respeito”, e outros assim. Se tais sentimentos, surgem na nossa
infância, pode haver crianças com problemas de auto-estima ? Sim, sem dúvida,
e o caso agrava-se mais na adolescência, onde muitos jovens são inseguros e
tendem a todo momento se deixar levar pelo grupo social onde vivem, com a
intenção de serem “aceitos”. Os problemas de estima são, muitas vezes,
causados pelo excesso de repressão, exigências, comparações e
desqualificações feitas por pais, professores e outros adultos.
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1.1.1 - SOMBRAS E DEFEITOS
Sombra, em psicologia analítica, refere-se ao arquétipo que é o
nosso ego mais sombrio. É, por assim dizer, a parte animalesca da
personalidade humana. Para Jung, esse arquétipo foi herdado das formas
inferiores de vida através da longa evolução que levou ao ser humano. A
sombra contém todas aquelas atividades e desejos que podem ser
considerados imorais e violentos, aqueles que a sociedade, e até nós mesmos,
não podemos aceitar. Ela nos leva a nos comportarmos de uma forma que
normalmente não nos permitiríamos. E, quando isso ocorre, geralmente
insistimos em afirmar que fomos acometidos por algo que estava além do nosso
controle. Esse "algo" é a sombra, a parte primitiva da natureza do homem. Mas
a sombra exerce também um outro papel, possui um aspecto positivo, uma vez
que é responsável pela espontaneidade, pela criatividade, pelo insight e pela
emoção profunda, características necessárias ao pleno desenvolvimento
humano. Devemos tornar a nossa sombra mais clara possível. Procurando um
trabalho partindo do interior para o exterior. A sombra é freqüentemente
projetada em outra pessoa, que aparece ao indivíduo como negativa.
A baixa auto-estima se expressa na falta de confiança, no medo de
expormos nossas idéias e sentimentos, de sermos quem realmente somos. A
pessoa perde o contato consigo mesmo, com o seu potencial, suas virtudes.
Tende a identificar-se apenas com as sombras, os defeitos pessoais, o lado que
intimamente considera incapaz, mau, mesquinho, etc.
Há os que reagem à baixo-estima pondo uma máscara. Estes encenam
a imagem que idealizam para si - bom, perfeito, o maior, etc. Assim, conduzem
sua vida. Mas sempre ouvem uma voz secreta dizendo: "Não mereço, não sou
capaz, não é para mim ". Recuam sempre diante da oportunidade, não arriscam,
não exploram o potencial, renunciando à grandeza da vida.
A maioria das pessoas sentem abalo na auto-imagem durante algumas
fases da sua vida. Não sendo um problema decorrente, sendo quase sempre
http://pt.wikipedia.org/wiki/Psicologia_anal%C3%ADticahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Arqu%C3%A9tipohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Egohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Junghttp://pt.wikipedia.org/wiki/Proje%C3%A7%C3%A3o_%28psicologia%29http://truques-dicas.com/../../../../mensagens-de-auto-estima/
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passageiro, derivado, de um momento de insegurança e dúvidas na sua vida.
Não sendo agradável, não é um sentimento raro, da mesma forma que a
depressão ou stress.
O que origina a baixa temporária da auto estima pode ser um
tratamento desagradável por parte de alguém ou mesmo um julgamento interior
depreciativo em alturas mais difíceis. Este comportamento acaba por ser normal
devido à intensidade a que o mundo hoje nos obriga a viver.
O problema surge quando uma baixa auto estima é o sentimento
normal de uma pessoa. Quem mais sofre com este problema são pessoas que
já tiveram depressões, fobias, doenças ou algum defeito físico. Muitas dessas
pessoas acabam por levar vidas infelizes por não darem o devido valor a elas
mesmas. Isto faz com que não gozem a vida e não procurem concretizar os
seus objetivos e sonhos.
1.1.2 – AUTO ESTIMA E DEPRESSÃO
A baixa auto estima, pode ser considerada um SINTOMA da depressão.
Ou pode sinalizar um início de processo depressivo. Está ligada a depressões,
que por sua vez também estão ligadas a outros acontecimentos ou doenças.
Segundo Dr. Dráuzio Varella:
“Depressão é uma desordem psiquiátrica muito mais
freqüente do que se imaginava. Estudos recentes mostram
que 10% a 25% das pessoas que procuram os clínicos
gerais apresentam sintomas dessa enfermidade. Essas
porcentagens são semelhantes ao número de casos de
hipertensão e infecções respiratórias que os clínicos
atendem em seus serviços. Ao contrário dessas doenças,
entretanto, eles não costumam estar preparados para
reconhecer e tratar depressões.”
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(Dr. Dráuzio Varella, artigo sobre depressão, fonte : SITE
IG , ARTIGOS MÉDICOS)
A pessoa com sentimentos negativos há algum tempo, sem razão
aparente, que não consegue ver-se livre de uma tristeza constante e tem
alterações de comportamento, como comer mais ou menos do que comia, não
conseguir dormir, provavelmente estará num estado que o pode levar a uma
depressão.
Especialistas criaram alguns parâmetros para diagnosticar a depressão
de forma mais objetiva :
“Critérios para diagnóstico de depressão
· Estado deprimido: sentir-se deprimido a maior parte do
tempo;
· Anedônia: interesse diminuído ou perda de prazer para
realizar as atividades de rotina;
· Sensação de inutilidade ou culpa excessiva;
· Dificuldade de concentração: habilidade freqüentemente
diminuída para pensar e concentrar-se;
· Fadiga ou perda de energia;
· Distúrbios do sono: insônia ou hipersônia praticamente
diárias;
· Problemas psicomotores: agitação ou retardo psicomotor;
· Perda ou ganho significativo de peso, na ausência de
regime alimentar;
· Idéias recorrentes de morte ou suicídio.”
(Segundo o DSM-IV, Diagnostic and Statistical Manual of
Mental Disorders, 4ª edição).
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Os sintomas da depressão interferem drasticamente com a qualidade de
vida e estão associados a altos custos sociais: perda de dias no trabalho,
atendimento médico, medicamentos e suicídio. Pelo menos 60% das pessoas
que se suicidam apresentam sintomas característicos da doença.
Embora possa começar em qualquer idade, a maioria dos casos tem seu início
entre os 20 e os 40 anos. Tipicamente, os sintomas se desenvolvem no decorrer
de dias ou semanas e, se não forem tratados, podem durar de seis meses a
dois anos. Passado esse período, a maioria dos pacientes retorna à vida
normal. No entanto, em 25% das vezes a doença se torna crônica.
Ainda segundo Dr. Dráuzio Varella :
“ O número de casos entre mulheres é o dobro dos
homens. Não se sabe se a diferença é devida a pressões
sociais, diferenças psicológicas ou ambas. A
vulnerabilidade feminina é maior no período pós-parto:
cerca de 15% das mulheres relatam sintomas de
depressão nos seis meses que se seguem ao nascimento
de um filho. A doença é recorrente. Os que já tiveram um
episódio de depressão no passado correm 50% de risco de
repeti-lo. Se já ocorreram dois, a probabilidade de recidiva
pode chegar a 90%; e se tiverem sido três episódios, a
probabilidade de acontecer o quarto ultrapassa 90%.
(...)
A maioria dos autores concorda que a psicoterapia pode
controlar casos leves ou moderados de depressão. O
método oferece a vantagem teórica de não empregar
medicamentos e diminuir o risco de recidiva do quadro,
desde que a pessoa aprenda a reconhecer e lidar com os
problemas que a conduziram a ele. A grande
desvantagem, no entanto, está na lentidão e
imprevisibilidade da resposta. A psicoterapia não deve ser
indicada como tratamento exclusivo nos casos graves.
Embora reconheçam os benefícios da psicoterapia, a
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maioria dos autores admite que a tendência moderna é
empregar medicamentos para tratar quadros depressivos.”
(Dr. Dráuzio Varella, artigo sobre depressão, fonte : SITE
IG, ARTIGOS MÉDICOS)
A DEPRESSÃO , tende por tanto a ser um desdobramento agravado
dos problemas de estima, e se estes forem sanados certamente o quadro
depressivo não se instalará. O ser humano tem o direito (e o dever) de se
sentir bem consigo mesmo. Tem o direito de se divertir, de ter sonhos. Pode ser
difícil conseguir pensar nisso quando se está numa fase complicada em sua
vida, a tendência em momentos de crise é deixar-se levar por essas emoções
contraditórias e começar a falar negativamente consigo mesmo. Refugiar em
casa, ou em bebidas e drogas e vingar-se em pessoas de quem gosta – são
ataques comuns em pessoas com crise de estima. As atividades que o façam
sentir-se bem e melhorem a auto estima são as recomendadas.
2 – DEPRESSÃO NA INFÂNICA E ADOLESCÊNCIA
Como nosso estudo se focará em casos de jovens com problemas de
auto-estima, percebe-se que seu agravamento tende para o quadro depressivo,
segundo Dr. Dráuzio :
”Depressão é uma doença crônica, recorrente, muitas
vezes com alta concentração de casos na mesma família,
que se manifesta não só em adultos, mas também em
crianças e adolescentes. Qualquer criança ou adolescente
pode ficar triste, mas o que caracteriza os quadros
depressivos nessas faixas etárias é o estado
persistentemente irritado, tristonho ou atormentado que
compromete as relações familiares, as amizades e a
performance escolar.
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Em pelo menos 20% dos pacientes com depressão
instalada na infância ou adolescência, existe risco de
surgirem distúrbios bipolares, nos quais fases de
depressão se alternam com outras de mania,
caracterizadas por euforia, agitação psicomotora,
diminuição da necessidade de sono, idéias de grandeza e
comportamentos de risco.
Antes da puberdade, o risco de apresentar depressão é o
mesmo para meninos ou meninas. Mais tarde, ele se torna
duas vezes maior no sexo feminino. A prevalência da
enfermidade é alta: depressão está presente em 1% das
crianças e em 5% dos adolescentes.
Ter um dos pais com depressão aumenta de 2 a 4 vezes o
risco da criança. O quadro é mais comum entre portadores
de doenças crônicas como diabetes, epilepsia ou depois de
acontecimentos estressantes como a perda de um ente
querido. Negligência dos pais ou violência sofrida na
primeira infância também aumenta o risco.”
(Dr. Dráuzio Varella, artigo sobre depressão, fonte : SITE
IG, ARTIGOS MÉDICOS)
Por tanto, crianças em situação de risco estão mais sujeitas à violência,
ao abandono e via de regra humilhações e conflitos que as de classe média-
alta. Por isso, sentem-se em desvantagem para competir de igual para igual
com outros jovens de adolescentes no mercado de trabalho e em quaisquer
outras situações da vida.
2.1 – TERAPIA COMPORTAMENTAL E TERAPIA INTERPESSOAL
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Varella ainda ressalta :
” É muito difícil tratar depressão em adolescentes sem os
pais estarem esclarecidos sobre a natureza da
enfermidade, seus sintomas, causas, provável evolução e
as opções medicamentosas.
Uma classe de antidepressivos conhecida como a dos
inibidores seletivos da recaptação da serotonina
(fluoxetina, paroxetina, citalopran, etc.) é considerada
como de primeira linha no tratamento da depressão em
crianças e adolescentes. Os estudos mostram que 60%
desses pacientes respondem ao tratamento. Esses
medicamentos apresentam menos efeitos colaterais e risco
de complicações por overdose menor do que outras
classes de antidepressivos. A recomendação é iniciar o
esquema com 50% da dose e depois ajustá-la no decorrer
de três semanas de acordo com a resposta e os efeitos
colaterais. Obtida a resposta clínica, o tratamento deve ser
mantido por seis meses, no mínimo, para evitar recaídas.
A terapia comportamental mostrou eficácia em ensaios
clínicos, e parece dar resultados melhores do que outras
formas de psicoterapia. Através dela os especialistas
procuram ensinar aos pacientes como encontrar prazer em
atividades rotineiras, melhorar relações interpessoais,
identificar e modificar padrões cognitivos que conduzem à
depressão.”
(Dr. Dráuzio Varella, artigo sobre depressão, fonte : SITE
IG, ARTIGOS MÉDICOS)
A ARTE - TERAPIA pode ser considerada uma terapia
comportamental?
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A TERAPIA COMPORTAMENTAL é uma abordagem aos problemas
psicológicos baseada na filosofia de ciência conhecida como Behaviorismo
Radical e na ciência do comportamento, Análise Experimental do
Comportamento2. Para o terapeuta comportamental, pensamentos e
sentimentos são considerados comportamentos, diferentes apenas pela forma
como se pode ter acesso a eles, pois este se dá através do relato verbal
daquele que pensa e sente. Sendo assim, pensamentos e sentimentos,
também, são levados em consideração, analisados e passíveis das intervenções
do terapeuta.
Assim, um transtorno como a depressão passa a ser entendido como
um conjunto de comportamentos, tais como, alterações no sono e apetite,
desesperança, choro excessivo, ideação suicida e outros.
O terapeuta comportamental entende que o cliente é único e seus
problemas ou dificuldades são produto de uma história particular. Isso humaniza
o processo de terapia, pois busca-se entender cada cliente e cada história,
antes de propor qualquer intervenção. O principal instrumento do terapeuta
comportamental é a análise funcional, ou o levantamento criterioso das variáveis
(eventos, acontecimentos) que estejam funcionalmente relacionados aos
comportamentos desejáveis e indesejáveis do cliente. Tendo este entendimento,
que nem sempre é fácil, é possível propor uma estratégia eficaz no alcance do
bem-estar e da melhora. “Combate-se” os comportamentos-problema, ao
mesmo tempo em que busca-se instalar e aumentar a freqüência de
comportamentos adequados ao contexto, desejáveis, funcionais e geradores de
satisfação e felicidade. A terapia comportamental tem um conjunto considerável
de técnicas derivadas de pesquisas, em laboratório ou no próprio consultório.
É a soma de pesquisa científica, rigor no levantamento de informações
no momento inicial do processo e a utilização de técnicas e intervenções
2 A proposta do Behaviorismo Radical defende que o comportamento dos organismos é ordenado, passível de ser estudado cientificamente na mesma forma das ciências naturais. Esta proposta influencia e orienta o trabalho do terapeuta comportamental, que sempre busca descobrir, com seu cliente, os eventos no meio-ambiente que determinam os seus comportamentos-problema e o que os mantém. Tais comportamentos são analisados à luz de episódios históricos que os determinaram e situações presentes que os mantém. ( ARTIGO DE
http://www.inpaonline.com.br/artigos/artigos_1.asp?quem=17http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/matos.htm
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consolidadas que faz com que as pessoas tenham se beneficiado, de forma
considerável, quando buscam a Terapia Comportamental.
Nesse sentido, a ARTE – TERAPIA utiliza-se de TERAPIA
COMPORTAMENTAL para fundamentar seu trabalho, já que é o
comportamento do paciente que determinará a trabalho prático terapêutico a ser
executado.
Ainda sobre a depressão em adolescentes Varella conclui :
“Outro tipo de psicoterapia eficaz em ensaios clínicos é
conhecida como terapia interpessoal. Nela, os pacientes
aprendem a lidar com dificuldades pessoais como a perda
de relacionamentos, as decepções e frustrações da vida
cotidiana. O tratamento psicoterápico deve ser mantido por
seis meses, no mínimo.
Como o abuso de drogas psicoativas e suicídio são
conseqüências possíveis de quadros depressivos, os
familiares devem estar atentos e encaminhar os doentes a
serviços especializados assim que surgirem os primeiros
indícios de que os problemas da depressão possam estar
presentes.”
(Dr. Dráuzio Varella, artigo sobre depressão, fonte : SITE
IG, ARTIGOS MÉDICOS)
A terapia interpessoal segundo Saint-Clair Bahls Médico Psiquiatra e
Mestre em Psicologia , Professor da Universidade Tuiuti do Paraná,
Universidade Federal do Paraná e Unicenp :
“A terapia interpessoal (TIP) é uma terapia de formato
breve que foi desenvolvida para o tratamento de pacientes
ambulatoriais adultos e, com depressão. Tem como foco as
TERAPIA COMPORTAMENTAL DO INpA – Instituto de piscologia Aplicada -
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relações sociais do indivíduo e a condição atual destes
relacionamentos. Os objetivos principais são o alívio da
sintomatologia e a melhora das relações interpessoais. A
sua eficácia já foi estabelecida em vários estudos clínicos
controlados e parece ser uma forma de terapia simples,
breve e eficaz.”
(ARTIGO: FUNDAMENTOS DA TERAPIA
INTERPESSOAL – Dr. Saint-Clair Bahls )
Os relacionamentos sociais do individuo têm uma estrutura, e esta
estrutura é sustentada pela posição do individuo no sistema social, mais
precisamente pelos papéis que desempenha. Cada pessoa tem múltiplas
posições hierárquicas no sistema social e desempenha papéis específicos,
apropriados a estas posições. A abordagem interpessoal vê a relação entre os
papéis sociais e a psicopatologia de duas formas: dificuldades para exercer um
papel social podem estar ligadas ao inicio da depressão e, por outro lado, como
conseqüência da depressão pode ocorrer um sério prejuízo na capacidade do
individuo em desempenhar papéis sociais (Klerman et al,1999;
Weissman,1999).
“Para a terapia interpessoal, dificuldades nos
relacionamentos interpessoais podem estar presentes não
apenas após o inicio da depressão, mas antes mesmo
disto.
Responder com pesar e tristeza a problemas nos
relacionamentos interpessoais é uma resposta normal e
praticamente universal, mas pode haver uma desproporção
nesta reação, que pode se prolongar e se intensificar
chegando a depressão como patologia.”
(ARTIGO: FUNDAMENTOS DA TERAPIA
INTERPESSOAL – Dr. Saint-Clair Bahls )
http://www.inpaonline.com.br/clinica)
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Mas como explicar que algumas pessoas conseguem lidar com a
tristeza e seguir suas vidas, enquanto outras se tornam significativamente
afetadas pela depressão? O papel das experiências infantis é sempre foco de
discussões neste sentido. Geralmente considera-se que as experiências infantis
predispõem o desenvolvimento de psicopatologias na vida adulta. Tais
experiências têm seu valor especialmente por constituírem a história de relações
interpessoais do individuo. Outro fator costumeiramente considerado como
responsável pelo inicio da depressão são os acontecimentos estressantes na
vida adulta. Um exemplo é o casamento, uma convenção social para suprir as
necessidades de apego do adulto,3 mas também é fator de geração de stress.
“A terapia interpessoal foi, inicialmente, desenvolvida como
uma proposta de psicoterapia breve para o tratamento de
pacientes deprimidos tendo como foco as dificuldades nas
relações interpessoais. Visa uma compreensão dos
conflitos interpessoais que estão relacionados com o inicio
ou manutenção da depressão e a busca de melhores
meios de manejar tais conflitos. Os
objetivos do tratamento são a remissão dos sintomas e a
melhora da qualidade nas relações com as pessoas
significantes de modo que o paciente possa não apenas
recuperar-se do episódio atual, como também ter uma vida
social melhor e assim evitar a recaída ou a recorrência da
depressão. ”
(Mufson et al,1993; Markowitz,1999; Schetatsky &
Fleck,1999; Klerman et al,1999).
3 Em um nível ideal, o casamento propicia segurança econômica e social para a criação dos filhos e é a
possibilidade de troca de afeto, carinho e compreensão. Pesquisas, entretanto, revelam que há um número
maior de dificuldades em relacionamentos conjugais entre pacientes deprimidos do que em pessoas não
deprimidas, indicando uma possível relação entre dificuldades no casamento e o surgimento da depressão.
(Klerman et al,1999; Weissman,1999).
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Nesse sentido a terapia interpessoal também é utilizada na ARTE-
TERAPIA e está bastante associada ao Teatro, já que este tem por bases as
relações interpessoais do indivíduo para o trabalho cênico. Teatro é relação. O
Jogo teatral visa sem dúvida um melhor relacionamento com o outro consigo
mesmo e com o a sociedade.
Quando começamos a utilizar métodos terapêuticos ou clínicos para
aumentar a auto estima, existem alguns sentimentos de resistência que podem
ser complicados de ultrapassar, e é aí que deverá entrar a auto motivação para
conseguir iniciar / concluir essas atividades. A resistência desaparece à medida
que o jovem for conseguindo avançar no seu caminho até ao objetivo. A
presença e ajuda dos familiares a amigos mais próximos é fundamental no
processo terapêutico, mas isso nem sempre é possível. O trabalho em jovens e
crianças, sempre encontra mais sucesso pois estes tendem a ultrapassar a fase
negativa mais facilmente e a melhorarem a sua auto estima na maioria dos
casos.
Atividades como meditação, banho de imersão e esporte são muito
importantes para relaxar e ganhar forças para aliar ao processo terapêutico.
Em todo o processo para aumentar a sua auto estima, pensamentos
positivos e conversas interiores, motivam a continuar o tratamento e o contato
com a ARTE , vai ajudar a perceber o paciente é uma pessoa única e especial
para si e que merece o melhor da vida.
2.2 - SOFRIMENTO E PRAZER
A saída para essa situação tormentosa, afirma Lúcia Portugal, é a
verdadeira busca de si mesmo, pensar, querer, sentir, expressar, agir, decidir
identificar e questionar as crenças e preconceitos que produziram efeitos
negativos na nossa vida, escavar a alma em busca do potencial reprimido,
liberar as forças criadoras.
Só assim, a consciência nos põe em contato com o nosso potencial,
com nossa essência, com o prazer.
"Viver no sofrimento é negar a essência da vida", conclui Lúcia.
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Ser jovem, ser adolescente, já traz um agravante dentro do processo de
baixa auto-estima, pois mudanças ocorridas no próprio organismo deste, altera
seus estados de humor e potencializa suas emoções.
Adolescência é uma das etapas do desenvolvimento humano
caracterizada por alterações físicas, psíquicas e sociais, sendo que estas duas
últimas recebem interpretações e significados diferentes dependendo da época
e da cultura na qual está inserida.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, adolescente é o indivíduo
que se encontra entre os dez e vinte anos de idade. No Brasil, o Estatuto da
Criança e do Adolescente estabelece outra faixa etária: dos doze aos dezoito
anos. Daniel Sampaio define adolescência como sendo uma etapa do
desenvolvimento, que ocorre desde a puberdade à idade adulta, ou seja, desde
a altura em que as alterações psicobiológicas iniciam a maturação sexual até à
idade em que um sistema de valores e crenças se enquadra numa identidade
estabelecida.
Muitas culturas reconhecem pessoas como “tornando-se adultas” em
variadas idades. Por exemplo, a tradição judaica considera como adultos
(membros da sociedade) os homens aos 13 e as mulheres aos 12 anos de
idade, sendo a cerimônia de transição chamada Bat Mitzvah para as garotas e
Bar Mitzvah para os rapazes. Os jovens católicos de ambos os sexos recebem o
sacramento da Crisma por volta da mesma idade. No Japão a passagem para a
idade adulta é celebrada pelo Seijin Shiki (ou “cerimônia adulta” em tradução
literal).
A legislação de cada país prevê sua idade formal de maioridade,
quando adolescentes passam a ser tratados como adultos.
“Os aspectos físicos da adolescência (crescimento,
maturação sexual) são os componentes da puberdade,
vivenciados de forma semelhante por todos os indivíduos.
Quanto às dimensões psicológica e social, estas são
vivenciadas de maneira diferente em cada sociedade, em
cada geração e em cada família, sendo singulares até
http://pt.wikipedia.org/wiki/Desenvolvimentohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Humanohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Culturahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_Mundial_da_Sa%C3%BAdehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Brasilhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Estatuto_da_Crian%C3%A7a_e_do_Adolescentehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Estatuto_da_Crian%C3%A7a_e_do_Adolescentehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Daniel_Sampaiohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Puberdadehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Matura%C3%A7%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sexohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Valorhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cren%C3%A7ahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Identidadehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Adultohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Homenshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mulherhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Bat_Mitzvahhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Bar_Mitzvahhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cat%C3%B3licohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sacramentohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Crismahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jap%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Maioridadehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Crescimentohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Puberdadehttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Gera%C3%A7%C3%A3o&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Fam%C3%ADlia
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25
mesmo para cada indivíduo. É neste contexto de alteração
do próprio corpo e também de uma maturação ao nível do
intelecto (operações formais e abstratas), que o
adolescente procura entender quem é e qual o seu papel
na sociedade em que vive: interessa-se por problemas de
ordem moral e ética e, por vezes, adopta ideologias.”
(ARTIGO SOBRE ADOLESCÊNCIA, AUTORIA
DESCONHECIDA http://pt.wikipedia.org )
Atualmente, o conceito mais aceito é o de que não existe adolescência,
e sim adolescências em função do político, do social, do momento e do contexto
em que está inserido o adolescente. A adolescência guarda ainda
especificidades em termos de gênero, classe e também etnia.
2.3 – PISCOLOGIA DOS ADOLESCENTES
Granvillle Stanley Hall (1844-1924), famoso psicólogo e educador
americano, primeiro presidente da Universidade de Clark em Massachusetts,
EUA, definiu este período como sendo de “tempestades e stress”, posto que
conflitos nesse estágio de desenvolvimento podem ser considerados normais.
A antropóloga Margaret Mead (1901-1978) atribuía o comportamento
adolescente à cultura em que o jovem está inserido. Em complemento, a Teoria
do Processamento de Informação não enxerga a adolescência como um estágio
diferente, mas somente como parte da escalada do ganho de experiência.
Jean Piaget, entretanto, observou no comportamento adolescente um
grande incremento nas habilidades cognitivas, o que pode levar a conflitos,
posto que o indivíduo tem acrescidas, ainda, a razão, a necessidade de
competição e a habilidade de teorizar em termos adultos - pensamento formal e
pensamento abstracto.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Intelectohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Moralhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ideologiahttp://pt.wikipedia.org/http://pt.wikipedia.org/wiki/G%C3%A9nero_%28sociedade%29http://pt.wikipedia.org/wiki/Etniahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Piagethttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Pensamento_formal&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Pensamento_abstracto&action=edit&redlink=1
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26
A busca por uma identidade única é um dos problemas que
adolescentes frequentemente encaram, desafiando autoridades e regras como
um caminho para se estabelecerem como indivíduos. Nesse estágio,
desportistas e artistas (entre outros) servem como modelos de comportamento
e, por esta razão, suas atitudes são bastante criticadas pela sociedade, como
numa forma de controle de seus efeitos. Isto não significa, entretanto, que a
criação adequada, por pais ou outros tutores, e uma vida inspirada sejam
contradições, mas discute-se o quando uma deve ceder lugar à outra.
A dualidade entre o amadurecimento do corpo e amadurecimento
psicológico, frequentemente causa certa susceptibilidade à instabilidade
emocional que pode levar ao consumo de drogas ou álcool, problemas mentais
como esquizofrenia ou distúrbios alimentares (como anorexia e bulimia), e a
problemas sociais como a gravidez adolescente. Além disso, cientistas da
Universidade da Califórnia em Los Angeles e do Instituto Nacional de Saúde
Mental, ambos nos EUA, descobriram, usando técnicas de ressonância
magnética, que cérebros adolescentes mudam drasticamente, inclusive com
redução de massa cinzenta e aumento do volume de massa branca, o que
poderia explicar boa parte dos desvios mencionados. Cabe salientar, entretanto,
que estes problemas não são exclusivos de adolescentes, e que nem todas as
pessoas nessa fase estão sujeitas a eles.
A Psicologia Positiva é frequentemente trazida a termo quando
discutimos a psicologia adolescente. Foi observado um grupo
surpreendentemente grande de adolescentes entediados, desmotivados e
pessimistas quanto a seus futuros. A aproximação pela Psicologia Positiva tenta
acender suas chamas interiores, auxiliando-os a desenvolver destrezas
complexas dando carga às suas vidas, tornando-se socialmente competentes,
compassivos e adultos psicologicamente vigorosos.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Esquizofreniahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Anorexiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Bulimiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Resson%C3%A2ncia_magn%C3%A9ticahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Resson%C3%A2ncia_magn%C3%A9ticahttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Psicologia_Positiva&action=edit&redlink=1
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3 - O QUE SIGNIFICA “SITUAÇÕES DE RISCO” ?
De acordo com Masten e Garmezy (1985), os fatores de risco podem
estar presentes tanto em características individuais como ambientais. Entre os
fatores de risco individuais, encontram-se características como sexo, fatores
genéticos, habilidades sociais, intelectuais e características psicológicas. Entre
os fatores de risco ambientais encontram-se o baixo nível sócio-econômico,
eventos de vida estressantes, características familiares e ausência de apoio
social (Masten & Garmezy, 1985).
Tradicionalmente, o risco era concebido unicamente em termos
estáticos, como um fator que predispunha a um resultado negativo (Cowan e
cols., 1996). Deste modo, a simples presença de um fator de risco já era
suficiente para se prever conseqüências indesejáveis. A pobreza, por exemplo,
era considerada um fator de risco relacionado com conseqüências negativas
para famílias e crianças. Atualmente, uma visão mais dinâmica sobre o risco
emerge, atribuindo a ele uma conotação de processo (Cowan e Cols., 1996).
Desta forma, o risco passa a ser percebido como uma variável vinculada
diretamente ao resultado provocado. Esta visão proporciona o entendimento de
como a variável risco causa determinado resultado em uma pessoa e em outra
não, ou ainda, como a mesma variável provoca resultados diferentes para a
mesma pessoa em momentos diferentes do seu desenvolvimento (Cowan e
cols., 1996). Neste sentido, a pobreza pode desempenhar um papel de risco
para determinadas famílias e para outras não, dependendo da existência de
fatores que moderem seus efeitos.
Alguns fatores tendem a desencadear vulnerabilidade nas famílias.
Vulnerabilidade refere-se a uma predisposição individual para
apresentar resultados negativos no desenvolvimento. A pobreza vem sendo
explorada em muitas pesquisas como um fator de risco potencial para o
-
28
desenvolvimento das pessoas. Viver na pobreza constitui-se, muitas vezes, em
um fator de risco que ameaça o bem-estar das pessoas, limitando suas
oportunidades de desenvolvimento (Nunes, 1994; Zimmerman & Arunkumar,
1994). A pobreza influencia o desenvolvimento das pessoas e, em determinadas
situações, não vem desacompanhada: nas famílias, ela tende a afetar a relação
conjugal, contribuindo para o aumento da incidência de conflitos entre os pais,
produzindo, também, um efeito no relacionamento dos pais com a criança
(Nunes, 1994; Zimmerman & Arunkumar, 1994).
“O baixo nível sócio-econômico é uma das variáveis sócio-
demográficas mais investigadas em pesquisas sobre
fatores de risco (Luthar, 1991). De acordo com Garmezy e
Masten (1994), o baixo nível sócio-econômico constitui
uma forma de adversidade crônica. Para os autores, uma
adversidade crônica manifesta-se lenta e gradualmente e
sua intensidade pode variar de moderada à alta, porém,
sua duração é longa. Outros exemplos são: desvantagens
biológicas e físicas, problemas familiares intensos e
características individuais. A adversidade crônica difere da
aguda, cuja manifestação é repentina e rápida,
de severa intensidade, com efeitos avassaladores. Uma
pessoa que é acometida por um evento deste tipo (por
exemplo, a morte de um dos pais) pode permanecer
imobilizada em função da falta de recursos imediatos para
lidar com a situação (Garmezy & Masten,1994).”
( RESILIÊNCIA E VULNERABILIDADE EM FAMÍLIAS EM
SITUAÇÃO DE RISCO - Alessandra Marques Cecconello -
Tese de Psicologia - Universidade Federal do Rio Grande
do Sul - Instituto de Psicologia - 2003. )
Um evento agudo, entretanto, pode se tornar um fator de risco crônico.
Se, por exemplo, a morte de um dos pais resultar em cuidados inadequados
para a criança, pode trazer danos para o seu desenvolvimento em longo prazo.
-
29
Quando eventos agudos não se tornam crônicos, a tendência é que seus efeitos
declinem com o passar do tempo, não trazendo prejuízos ao desenvolvimento.
Esta constitui uma das diferenças entre o evento agudo e o crônico. A
adversidade crônica é caracterizada pela possibilidade de trazer efeitos
cumulativos para o desenvolvimento.
Estudos sobre fatores de risco identificaram variáveis constituindo
adversidades crônicas em nível familiar, cujos efeitos cumulativos demonstraram
estar significativamente associados com o desenvolvimento de alguma patologia
infantil, tais como:
(1) discórdia conjugal severa;
(2) baixo nível sócio-econômico;
(3) famíliasnumerosas;
(4) criminalidade paterna;
(5) doença mental materna;
(6) institucionalização da criança ;
(Garmezy & Masten, 1994; Rutter, 1987, 1993, 1996).
Segundo estas pesquisas, a probabilidade de uma criança que vivencia
apenas um destes fatores apresentar algum problema é baixa (Garmezy &
Masten, 1994). Contudo, a probabilidade dela apresentar problemas vivenciando
mais de um fator aumenta, e, no caso de três ou mais fatores, o risco para
apresentar alguma doença mental é ainda mais significativo (Garmezy &
Masten, 1994). É importante ressaltar, no entanto, que, para que esta
probabilidade se concretize, é necessária uma predisposição individual para o
desenvolvimento de alguma doença, ou seja, para que o risco tenha efeito, a
pessoa precisa estar fragilizada diante dele.
Vulnerabilidade refere-se a uma predisposição individual para apresentar
resultados negativos no desenvolvimento (Masten & Garmezy, 1985). Ela está
relacionada com uma predisposição para desenvolver uma desordem específica
ou com uma susceptibilidade geral ao stress. A vulnerabilidade aumenta a
probabilidade de um resultado negativo ocorrer na presença de um fator de
-
30
risco. Contudo, ela opera somente na presença dele, ou seja, sem o risco, ela
não tem efeito (Cowan e cols., 1996).
“Risco e vulnerabilidade são processos relacionados com
resultados negativos ou indesejados. O risco pode ser
identificado tanto em nível individual como em nível
ambiental. A vulnerabilidade, por outro lado, está
relacionada com uma característica pessoal, inata ou
adquirida. Contudo, somente na interação com os eventos
de vida é que podem ser observadas, tanto as influências
do risco, como as manifestações da vulnerabilidade.”
(Cowan e cols., 1996).
Cabe destacar que, apesar das semelhanças entre estes dois
conceitos, eles diferem em um aspecto essencial: o risco está associado com
uma probabilidade estatística presente em grupos e populações, a
vulnerabilidade, por outro lado, está relacionada, estritamente, à pessoa e às
suas predisposições a respostas ou conseqüências negativas.
Famílias em “Situações de Risco”, são, portanto, aquelas mais
suscetíveis à danos, à violência urbana, à marginalidade, à pobreza e à
desfragmentação.
Várias pesquisas em Psicopatologia do Desenvolvimento demonstram
que, apesar da influência do risco, algumas pessoas parecem superar os
desafios impostos por ele, não sendo vulneráveis (Rutter, 1985, 1987, 1993,
1996; Werner & Smith, 1992; Zimmerman & Arunkumar, 1994). Estas pessoas
foram consideradas pelos teóricos do assunto, inicialmente, como invulneráveis
(Masten & Garmezy, 1985). Atualmente, pesquisadores têm se referido a elas
como resilientes (Cowan e cols., 1996; Rutter, 1987, 1993).
De acordo com Masten e Garmezy (1985), a invulnerabilidade ou
resistência ao stress está relacionada com uma grande probabilidade de
adaptação bem sucedida apesar da influência do risco, resultando em uma
baixa susceptibilidade ao impacto de futuros estressores. No entanto, Rutter
-
31
(1993) afirma que a invulnerabilidade denota uma idéia de resistência absoluta
ao stress, quando a realidade demonstra que ninguém, na verdade, apresenta
esta condição. Segundo este autor, o termo também sugere que pode ser
aplicado em todas as condições de risco, entretanto, sabe-se que a capacidade
para adaptação varia de acordo com cada situação, podendo ser alterada, tanto
em função de características e habilidades individuais, como de aspectos do
contexto.
3.1 – SIGNIFICÂNCIA SOCIAL : O QUE BUSCAM OS JOVENS DE HOJE
Os adolescentes são um alvo cobiçado pelo comércio.
Eletrodomésticos, música contemporânea, jogos eletrónicos e roupas "da moda"
são populares entre adolescentes, desde os últimos anos do século XX. Da
mesma forma, a propaganda utiliza a imagem do próprio adolescente para
vender seus produtos, buscando mostrar a idéia de jovialidade, mudança e
independência.
Em muitas culturas há cerimônias que celebram a passagem da
adolescência ao mundo adulto, geralmente ocorrendo na adolescência. Na
África, muitos grupos étnicos indígenas praticam ritos de iniciação, por vezes
associada à circuncisão masculina ou feminina, esta com aspetos que têm sido
postos em causa, por alegadamente atentarem contra a saúde física ou mental
das jovens, como a excisão do clitoris e a infibulação.
De qualquer maneira a sociedade já dá importância ao jovem, como ser
consumista e de representatividade em diversos setores : politico (já pode-se
votar aos 16 anos), civil ( atos civis e penais para maiores de 18 anos). Este
mesmo jovem, em contra-partida, se vê imbuído de seguir aquilo que a
sociedade de consumo assim determina, para tentar “se enquadrar”. Nem
criança, nem adulto, o jovem dilacera-se com essa eterna busca de
enquadramento e aceitação. É claro que seres individuais que somos, jamais
seremos uns idênticos aos outros, e certamente esse não-enquadramento e
http://pt.wikipedia.org/wiki/Com%C3%A9rciohttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XXhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Propagandahttp://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81fricahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ind%C3%ADgenahttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ritos_de_inicia%C3%A7%C3%A3o&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Circuncis%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sa%C3%BAdehttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Excis%C3%A3o&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Clitorishttp://pt.wikipedia.org/wiki/Infibula%C3%A7%C3%A3o
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não-aceitação, pode levar os mais sensíveis a problemas de auto-estima e
confiança.
O que buscam os jovens de hoje ? Basicamente aceitação social. Como
um adolescente com família de baixa renda, que está inserido em uma
SITUAÇÃO DE RISCO, segue as normas sociais e de consumo ? Consegue
acompanhar os ditames do comercio desenfreado ? Obviamente não consegue.
Sua tentativa inútil, pode levar à violência, descaminhamento através de
grupos marginais e até à depressão, gerada principalmente pela insegurança e
abalo de estima presentes desde o seu nascimento.
3 .2 - RAIZES SOCIAIS DA VIOLÊNCIA
Outro estudo (Black & Ricardo, 1994), sugere que em sociedades
altamente violentas do ponto de vista estrutural também se nota violência
noutros contextos, como, por exemplo, no familiar e interpessoal. A violência
estrutural costuma ser considerada algo natural e por isso não é contestada, e
expressa os esquemas de dominação de classe, grupos e do Estado (Cruz
Neto, 1999).
Utilizando-nos do campo filosófico para problematizar um pouco mais o
tema violência, recorremos ao inglês Thomas Hobbes (1588-1679) e ao francês
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Duas máximas fundamentais sintetizam o
pensamento de Hobbes (1983), a respeito do estado natural em que vivem os
homens: "O homem é o lobo do homem" e "Guerra contra todos". Segundo este
pensador, o gênero humano, naturalmente egoísta e violento, tem um perpétuo
desejo de poder. Daí sempre se valer da violência, elaborando novos meios de
destruição do próximo. Levado por suas paixões o homem busca conquistar o
bem, aquilo que lhe dá prazer. Só quando a preservação de sua vida (instinto de
autopreservação) se encontra ameaçada é que ele se socializa. Por outro lado,
-
33
segundo Rousseau (1983), a civilização degenera as exigências morais da
natureza humana. O homem primitivo, ao contrário, vivia feliz de acordo com
suas necessidades inatas. As ações agressivas do homem selvagem são
contrabalançadas pelo inato sentimento de piedade que o impede de fazer mal
aos outros desnecessariamente.
“A idéia de que a violência faz parte da natureza humana e
tem raízes biológicas vem sendo atualmente contestada
pela maioria dos estudiosos (Minayo, 1994). Por se tratar
de um fenômeno histórico construído socialmente, a
violência precisa ser compreendida por intermédio da
observação das relações cotidianas associadas ao âmbito
político, econômico e cultural (Minayo & Souza, 1999).
Segundo Velho (1996), as transformações ocorridas no
Brasil de hoje, principalmente em termos econômicos, e o
aumento populacional das cidades, afetaram
profundamente o sistema de valores éticos e morais,
reforçando a impessoalidade, o individualismo e,
conseqüentemente, diminuindo a reciprocidade nas
relações.”
(Dr. Dráuzio Varella, artigo : Raízes orgânicas e sociais da
violência urbana, fonte : SITE IG , ARTIGOS MÉDICOS)
Os adolescentes vítimas de violência estrutural e familiar muitas vezes
as perpetram nos ambientes que freqüentam, com as pessoas com quem se
relacionam. Na esfera da psicanálise, Levisky (1997) afirma que a perversidade
humana pode aflorar em determinadas circunstâncias. Segundo este autor, os
adolescentes têm maior tendência a descarregar seus impulsos agressivos e
sexuais diretamente, buscando satisfação imediata dos desejos. Primeiro agem,
depois pensam. Portadores de um ego instável que busca auto-afirmação, eles
são extremamente vulneráveis às pressões pulsionais e às influências externas.
-
34
Levando-se em conta que a violência também possui determinantes bio-
psico-sociais em oposição ao determinismo inato e biológico da natureza
violenta do ser humano, entendemos que é possível ao jovem derivado do meio
violento, conseguir romper o círculo vicioso de crimes e desestruturação
emocional,em que está inserido, se, tiver ferramentas próprias para romper tal
circulo.
Partindo do pressuposto de que sociedades violentas, estruturalmente
restringem o acesso da grande maioria da população às condições essenciais a
uma vida digna, interferindo negativamente no âmbito familiar e interpessoal dos
jovens, a quebra do circulo : pobreza - baixa-estima – violência caberá ao
professor ou arte-terapeuta que utilizará o teatro como ferramenta básica nessa
luta. Para isso é preciso entender o que é a violência e como lidar com jovens
de natureza essencialmente violenta.
A violência urbana é uma enfermidade contagiosa. Embora acometa
indivíduos vulneráveis em todas as classes sociais, é nos bairros pobres que ela
se torna epidêmica. A prevalência varia de cidade para cidade, e de um país
para outro. Como regra, a epidemia começa nos grandes centros e se
dissemina pelo interior. A incidência nem sempre é crescente; a mudança de
fatores ambientais pode interferir em sua escalada.
Sabe-se que os genes herdados exercem influência
fundamental na estrutura e função dos circuitos de neurônios envolvidos nos
mecanismos bioquímicos da agressividade. É bom ressaltar, porém, que os
fatores genéticos não condicionam o comportamento futuro: o impacto do meio
ambiente é decisivo. Os mediadores químicos liberados e a própria arquitetura
das conexões nervosas que constituem esses circuitos são dramaticamente
modelados pelos acontecimentos sociais da infância.
As estratégias que as sociedades adotam para combater a violência
flutuam ao sabor das emoções; o conhecimento científico raramente é levado
em consideração. Como reflexo, o tratamento da violência evoluiu muito pouco
no decorrer do século XX. Tudo fica à critério governamental, mas é
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35
inquestionável que o fator social e econômico agravam as ações violentas nas
famílias e nas sociedades.
3.21- VIOLÊNCIA HISTÓRICA/CIENTÍFICA
A explicação para o atraso no desenvolvimento de técnicas eficazes
para tratar a violência está nos erros do passado. No século XVIII, um
anatomista austríaco chamado Franz Gall desenvolveu uma teoria em torno da
seguinte idéia: a maioria das características humanas, inclusive o
comportamento anti-social, seria regulada por regiões específicas do cérebro.
Cada comportamento estaria sob o comando de um centro cerebral específico.
Quanto mais robusto fosse o centro mais intensa seria a expressão do
comportamento controlado por ele. Essa teoria ganhou o nome de frenologia.
Franz Gall imaginava que, ao crescer, os centros cerebrais exerciam pressão
contra os ossos da cabeça, deixando neles saliências que poderiam ser vistas
ou palpadas.
As pessoas com tendências criminosas poderiam, então, ser
reconhecidas pelo exame cuidadoso dessas protuberâncias e depressões
ósseas presentes no crânio.
Com o tempo, a frenologia caiu em descrédito, mas a tentação de
identificar a aptidão para o crime por meio de características físicas persistiu.
Cerca de cem anos depois da frenologia, um italiano especialista em
antropologia criminal chamado Cesare Lombroso criou uma nova doutrina que
ressuscitou a associação das características físicas com uma suposta índole
criminosa. Tais características constituiriam os "stigmata". De acordo com
Lombroso, os tipos humanos com testa achatada e assimetria nos ossos da
face, por exemplo, seriam criminosos potenciais. Quem tivesse esses traços era
classificado como tipo lombrosiano e visto com extrema desconfiança nos
tribunais.
-
36
Em 1949, Egas Muniz, neurocirurgião português, ganhou o prêmio
Nobel de medicina em reconhecimento por haver introduzido a lobotomia, na
prática médica. 4
Nos últimos 50 anos, essas teorias caíram gradativamente em
descrédito, até se tornarem execradas pelos estudiosos.
Hoje, são consideradas exemplos típicos de ideologias pseudocientíficas
que foram utilizadas para justificar arbitrariedades graves.
Paralelamente ao abandono dessas idéias, criou-se em certos setores da
sociedade um medo generalizado de que os cientistas realizassem pesquisas
laboratoriais,capazes de conduzir à obtenção de medicamentos apaziguadores
dos instintos violentos.
Imaginava-se que essas drogas poderiam ser administradas
preventivamente às comunidades carentes de recursos, para acabar com a
violência milagrosamente, sem que as classes dominantes precisassem abrir
mão de seus privilégios.
Pensamentos desprovidos de bases científicas como esses, trouxeram
péssima reputação aos estudos do comportamento anti-social. A politização
afastou a comunidade acadêmica da área e a violência urbana passou a ser
entendida como um fenômeno de raízes exclusivamente sociais. Qualquer
tentativa de caracterizar um substrato orgânico para a agressividade física
gerava debates carregados de emoção e até manifestações políticas.
O panorama começou melhorar a partir da década de 1970, quando os
americanos tomaram consciência de que as dificuldades enfrentadas com as
minorias do centro deteriorado das grandes cidades de seu país não
desapareceriam espontaneamente. Ao contrário, a violência aumentava apesar
4 Na lobotomia, são seccionados os feixes nervosos que chegam e os que saem do lobo frontal, localizado na parte anterior do cérebro, estrutura responsável pela tomada de decisões a partir das informações captadas pelos sentidos. Inicialmente indicada apenas nos casos de pacientes muito agressivos, as lobotomias se popularizaram segundo critérios de indicação duvidosos e, muitas vezes, serviram como instrumento de poder ou castigo, especialmente nos estados totalitários (mas não apenas neles).
-
37
do maior rigor em puni-la. Os institutos oficiais começaram, então, a financiar
pesquisas para conhecer melhor o lado biológico da violência.
As informações científicas acumuladas nos últimos 30 anos permitem afirmar
que a violência tem um substrato biológico, de fato.
O comportamento humano, no entanto, não se acha condicionado às
características que herdamos de nossos pais. Ele é resultado de interações
sutis entre genes, condições ambientais e experiências de vida.
-
38
CAPÍTULO I I
O TEATRO COMO FERRAMENTA DE
AUTOCONHECIMENTO
1 - VALORIZAÇÃO DO INDIVÍDUO PARA VENCER AS
SITUAÇÕES DE RISCO
“Uma vez que a natureza humana é igual em todos os
homens, é evidente que, segundo o direito natural, cada
um deve apreciar e tratar os outros como seres que por
natureza são iguais a ele próprio, ou seja, que são tanto
homens como ele.
Deste princípio da igualdade natural dos homens resultam
várias consequências. Resulta deste princípio que todos os
homens são naturalmente livres, e que a razão os tornou
dependentes para sua felicidade. Que, apesar de todas as
desigualdades que há no governo político resultantes da
diferença de condições, da nobreza, do poder e da riqueza,
aqueles que estão acima dos outros devem tratar os
inferiores como seres que lhes são naturalmente iguais [...].
[...] No estado de natureza, os homens nascem mesmo em
igualdade, mas não podem nela permanecer; a sociedade
fá-los perdê-la, e é unicamente pelas leis que tornam a
ficar iguais.”
Cavaleiro de Jaucourt, artigo:Igualdade Natural, na
Enciclopédia
O indivíduo que já nasce em situação de risco parece ter poucas
chances de ‘evoluir’ na vida, nasce com uma pré-destinação mórbita para o
crime ou a vida escassa. A valorização do homem, torna-se aí medida principal,
já que é a partir dessa valorização, que cada um percebe sua relevância no
-
39
mundo, percebe o outro, e vendo o outro como a sua imagem e semelhança,
afasta-se da violência e da criminalidade.
1.1 – SITUAÇÃO DE RISCO : MUNDO RICO E MUNDO POBRE
Na sociedade antiga, o homem vivia em comunidade e sua
personalidade era influenciada por interesses práticos e sociais, com base em
uma economia natural, enquanto na sociedade moderna surge a economia
centrada no dinheiro em que há um caráter objetivo nas relações sociais,
havendo autonomia da personalidade uma vez que o dinheiro se impõe entre a
posse e o proprietário. Com isso, a modernidade faz a ruptura do sujeito e o
objeto, do sujeito e a posse, como fruto do processo de diferenciação presente
nessa economia.
A modernidade desenvolve, portanto, a economia do dinheiro, que
fornece um caráter impessoal às atividades e relações sociais, conferindo - lhes
um caráter efêmero, havendo um dado objetivo, o lucro, formando, assim, uma
totalidade objetiva, ou seja, a sociedade moderna segue conforme um padrão, o
monetário.”A atividade se mostra totalmente objetiva e independente diante de
um acionário singular” (SIMMEL, 1998,p.25).
A modernidade influi, dessa forma, na cultura à medida que desenvolve
o dinheiro, que padroniza e tudo nivela, estabelecendo o interesse comum ou
uma comunidade totalmente universal, globalizada. A cultura moderna gesta
uma nivelação social, com a independência da pessoa enquanto indivíduo
autônomo. Tudo fruto, no entanto, da conhecida divisão do trabalho que, como
se sabe, instituiu o pagamento em dinheiro, refletindo diretamente na
personalidade, que passa a ser moldada através de “... algo totalmente abstrato
e livre de toda relação interna com o indivíduo” (SIMMEL,1998,p. 29).
O mundo então divide-se em dois : o mundo rico e o mundo pobre, onde
privilegiados e excluídos compartilham o mesmo espaço, cada um com um
-
40
pouco de liberdade, a que julgam ter direito, só que o tamanho dessa liberdade
vai depender do valor econômico de cada indivíduo.
A liberdade se entende como a liberdade de escolha, de comprar e
vender o que estiver disponível nessa cultura baseada no dinheiro. O que acaba
por permitir uma substituição dos valores qualitativos pelos quantitativos que,
muitas vezes, promove uma desvalorização ou desigualdades incontornáveis. A
motivação do homem moderno resume-se ia, então, ao ganhar dinheiro,
entretanto, em sociedades em contato com a cultura ocidental, mas ainda
mantendo formas culturais diferentes da sociedade ocidental, onde a idéia do
dinheiro inaugura o individualismo, parece haver, exceções à regra. Geertz
afirma, por exemplo,que “o homem racional, prudente, sábio, não luta pela
felicidade, mas, por um desprendimento tranqüilo que o liberta de suas
infindáveis oscilações entre gratificação e frustração” (GEERTZ,1978,p. 153).
Dentro de tudo isso, verificamos que o homem – ser social – afasta-se
de seus reais interesses : que é a imersão social com outros indivíduos, a
constituição de família e a busca da sua dignidade como cidadão, que são
valores morais e éticos buscados pela maioria dos seres desde os primórdios
dos tempos. E com a inversão de valores, valerá mais quem tem dinheiro, e não
pelo seu real valor. Os excluídos, desesperados, farão qualquer coisa para se
tornarem “visíveis”, para terem poder de compra, poder de consumo, e
consequentemente mais “liberdade”.
Nossa prática parte de um corpo uno onde cada pessoa percebe e
significa o mundo, é percebida e significada, relaciona-se, expressa-se, assume
posturas e papéis. Existe uma valorização do indivíduo, sua individualidade e
subjetividade, suas necessidades, direitos, obrigações, etc. seguindo uma lógica
de alternativas mais participativas e inclusivas. Desta forma acredita-se numa
intervenção que através do corpo possibilite a constituição de subjetividades. A
metodologia utilizada para isso, que é o contato com a arte, e desenvolvimento
da corporeidade tem cunho exploratório e pesquisa-ação a partir do
desenvolvimento de trabalhos com comunidades já realizados .
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1.2 – SITUAÇÃO DE RISCO : TRÁFICO E CRIME ORGANIZADO
De maneira geral, é possível estabelecer três níveis de criminalidade e
violência associadas ao narcotráfico:
1. Nível sofisticado: são aqueles contatos mantidos entre criminosos e
parceiros influentes em nível nacional, regional e internacional para
negociar a compra de grandes quantidades de drogas e armas. Também
envolve corrupção e lavagem de dinheiro. Esses criminosos reciclam o
dinheiro obtido com a venda de drogas por meio de empresas laranjas e
corrompem políticos e funcionários públicos graduados. Também
desviam produtos químicos para fabricar substâncias ilícitas.
2. Nível médio: são empresários da economia informal que trocam bens
roubados por drogas (principalmente maconha e cocaína), armas e
contrabando. A maioria dessas operações não envolve dinheiro vivo.
Nessa categoria também estão incluídos o desmonte de carros e a venda
de peças de segunda mão roubadas, CDs e passaportes falsificados,
entre outros.
3. Nível inferior: esse nível de criminalidade é representado por gangues
que compram, estocam e distribuem drogas. A população envolvida
nessa atividade é composta principalmente por jovens entre 10 e 24 anos
de idade, o que representa entre 0,5% e 3% da comunidade local que
vive em áreas pobres por absoluta falta de opções e oportunidades.
Essas gangues controlam seus territórios porque estão fortemente
armadas. Seus integrantes são normalmente da própria comunidade e, por isso,
acabam sendo protegidos pela chamada “Lei do Silêncio”. A presença do
Estado nessas áreas é quase inexistente e a comunidade acaba se apoiando
mais nos traficantes do que no próprio Estado para resolver seus problemas.
É neste nível inferior que a violência física, em termos de homicídios, é muito
alta. Aproximadamente 15.000 jovens brasileiros perdem suas vidas anualmente
por causa do tráfico de drogas. Esse verdadeiro genocídio é normalmente
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associado às guerras entre gangues pelo controle de territórios, queima de
arquivos e morte de pessoas que não seguem ordens ou roubam drogas e
dinheiro dos traficantes.
Muitas são as soluções que podem ser adotadas pelos diferentes níveis
governamentais para reduzir a violência e a criminalidade associadas ao
narcotráfico e ao crime organizado. O governo federal tem dito claramente que,
dentro do contexto nacional, cabe a ele essa tarefa. E, por parte do Ministério da
Justiça, vemos que os mecanismos de combate ao crime organizado estão
sendo fortalecidos _principalmente em relação ao confisco de recursos
financeiros e bens obtidos com o tráfico de drogas e outras atividades
criminosas. A prevenção também é parte das ações do governo federal, e as
Nações Unidas reconhecem e estimulam esses esforços.
Mas os governos estaduais e municipais também têm um importante papel
nessa questão. Um dos pilares para a ação governamental nas esferas do
Estado e do município deve ser a redução da demanda por drogas ilícitas. Por
meio do investimento adequado de recursos humanos e financeiros em
programas integrados, é possível educar a população sobre as conseqüências
das drogas e oferecer bons serviços de tratamento para os usuários de drogas
que estão interessados em se livrar da dependência química. E é claro, o
esclarecimento desde a infância e adolescência. Nosso esforço aqui é fazer
com que a ARTE CÊNICA seja uma das alavancas sociais a quebrarem a
barreira da desigualdade social e salvar os jovens do tráfico e da morte.
1.3 – MOSTRANDO AO JOVEM SEU VALOR
O que diferencia grandes empresas de identidade institucional e o que
as perpetua nas suas atividade ou as torna transitórias, é a sua atitude diante da
Valorização do Ser Humano no processo organizacional.
Se o proprio mercado já entendeu isso, e sempre que pode aplica essa
máxima, ao estado, essa máxima, só a poucos anos vem sendo adotado em
escolas e instituições públicas.
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Quando nos referimos a valorização do individuo dentro da sociedade, a
sua criatividade e participação decisória, devemos lembrar que não se é livre
quando não se pode criar e não se permite que se tomem decisões, no nível de
conhecimento, maturidade e competência.
O jogo cênico proporciona todas essas atitudes : liberdade, criatividade,
participação decisória.
Desenvolvendo pessoas e equipes para um trabalho integrado no qual o
desafio básico é a cooperação e a solidariedade entre os grupos, e
principalmente a Visão do Líder no sentido de valorizar, entender, saber ouvir e
acompanhar os seus liderandos , onde o reconhecimento vem de encontro da
valorização de pessoas se sentindo seguras, motivadas e não tendo medo de
serem ameaçadas dentro do processo organizacional vem permitir fazer
presente a segurança no desenvolvimento dos processos.
Falar de Ser Humano valorizado, compreendido e acompanhado, vem
reforçar a uma nova visão na implantação de uma NOVA SOCIEDADE. Os
grupos se sentindo reconhecidos e seguros na condução de um processo, darão
origem à uma sociedade mais justa, mais solidária e cooperativa – não tão
competitiva e selvagem. Aquilo que é trabalhado com um só jovem, pode se
dissiminar e alcançar sua familia, a família do seu vizinho e até mesmo toda a
sua comunidade.
Explicação de Fromm:
"O importante em uma pessoa não é o conjunto de idéias
ou opiniões que ela aceita porque lhe foi exposta desde a
infância ou porque são padrões convencionais de
pensamento, mas o caráter, a atitude e a raiz visceral de
suas idéias e convicções".
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Sem espírito solidário, sem sentimento de equipe e sinergia, prevalece o
individualismo heróico o apelo ao brilhantismo pessoal como técnica de
motivação. Só pessoas felizes são realmente produtivas e a felicidade é, não só
possível, com imprescindível à produtividade sustentada e à perpetuidade de
uma sociedade.
2 - A ARTE NA SOMBRA
Ao trabalhar a arte pelo viés da resignificação social, possibilitamos ao
indivíduo o contato com suas potencialidades inconscientes, que em estado ‘bruto’
tomam forma a partir das várias linguagens artísticas: seja através de um desenho,
do contorno de uma escultura, da imagem plasmada de uma fotografia, da fantasia
cinematográfica, do tornar-se eterno pela efemeridade de um gesto, da música que
preenche espaços vazios e do teatro que recria a realidade. Assim, a arte pode
levá-lo a uma nova PERSPECTIVA de CONTORNO de sua IMAGEM, a partir do
contato com suas FANTASIAS, ao mesmo tempo ETERNAS E EFÊMERAS, que
preenchem seus ESPAÇOS VAZIOS, ao recriar uma nova REALIDADE de contato
consigo mesmo e com seu grupo social.
Buscamos um questionamento acerca do êxito dos inúmeros trabalhos
existentes, que enxergam a arte para “além da estética”, que priorizam uma estética
social inclusiva, e têm a consciência da necessidade de acesso e permanência da
arte também nos setores segregados pela própria sociedade.
As considerações sobre o significado da arte, sua inserção no contexto cultural,
suas relações com o meio social e, principalmente, as razões que justificam sua
existência e sua dimensão “utilitária” – afinal, para que serve a arte? – têm
preocupado os intelectuais desde o século XX.
Há ainda espaço para a arte num mundo cada vez mais aviltado pelas forças
econômicas, regido pelo consumo, padronizado pela produção industrial em massa?
Que tipo de arte se justifica nos dias de hoje? Para quem ela deve se destinar?
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O campo da cultura humana contempla necessariamente a ciência e a
tecnologia, a ética e a estética. Impulsionada pelo sentimento de sobrevivência, a
cultura é, no conteúdo e na origem, criação do corpo e do espírito. Datada histórica e
socialmente, é instrumento de auto-conhecimento e de constituição da cidadania.
Desta forma, a produção artística não se reduziria, no nosso ponto de vista, ao seu
produto final, mas privilegiaria o processo criativo como agente de transformação
social.
Mas como a arte opera em suas relações com a sociedade? Quais as
suas atribuições, e o que ela pode proporcionar? Quais os benefícios de torná-la
acessível a todos? A arte para que?
”A arte ou o objeto artístico tem diferentes funções. A arte pode
servir à ética, à política, à religião, à ideologia, pode se
transformar em mercadoria ou proporcionar meramente prazer.
A arte pode mesmo revelar as contradições da sociedade,
prestando-se, desse modo, a uma crítica social. Ela pode
revelar ou representar tanto a vida interior do homem como a
cultura. Pode também vir a ser uma forma de conhecimento ou
revelação. Freud remeteu a arte à esfera do desejo e não da
realidade. No entanto, a arte oscila entre desejo e realidade, é
sempre a realidade alargada ao imaginário ou a realidade não
mitigada.”
(JUSTINO, Maria José - A Utilidade da Arte – 2000).
Já GRAMCI não acreditava no intelectual “desinteressado”, envolvido
apenas com seu objeto de investigação e alheio ao mundo circundante. Em sua
opinião,
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“(...) o modo de ser do novo intelectual não pode mais consistir
na eloqüência, motor exterior e momentâneo dos afetos e das
paixões, mas num imiscuir-se ativamente na vida prática, como
construtor, organizador, persuasor permanente”
(GRAMCI, Antonio - Os intelectuais e a organização da Cultura
– 1991).
Dessa forma, a produção do artista não se reduziria, a nosso ver, ao seu
produto artístico, mas incluiria também a contribuição para a ampliação do acesso à
arte de modo geral, por meio da qual é possível alguma transformação social.
Segundo a critica Aracy Amaral,
“a problemática do artista contemporâneo se configura em três
direções: como fazer com que o produto de seu trabalho tenha
uma comunicação com um público mais amplo; que sua obra
possa refletir uma participação direta em seu contexto social; e,
eventualmente, a participação dessa obra para uma eventual e
desejável mudança da sociedade”. (AMARAL, Aracy - Arte
Para Que? – 1987).
Considerando que tanto a produção artística quanto o acesso à sua fruição
devem estar a serviço do bem comum, considerando a importância da experiência
artística no processo de formação humana e de humanização do homem, e
advogando por uma arte para todos é que, entendemos que a “A Arte no Social – A
Arte na Sombra”, é uma inserção efetiva dos grupos sociais, de indivíduos que vivem
à margem dos processos econômicos corporativos, mas que existem como serem
humanos e cidadãos pensantes do mundo.
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3 – Teatro = Espelho
Se para o próprio Aristóteles a arte, era a imitação da natureza o teatro tinha
ou tem via de regra ser uma imitação do homem e sua sociedade.
“ Para Nós a palavra “imitar” significa fazer cópia mais ou menos
perfeita de um modelo original. Sendo assim, a arte sria então
uma cópia da natureza. E “natureza” siginifica ,para nós o
conjunto das coisas criadas. A arte seria pois uma cópia das
coisas criadas” –( Boal – O teatro do oprimido e outras poéticas
políticas, 5ª ed – 1988 )
Só que Aristóteles quis dizer uma coisa completamente diferente, a Boal,
afirma que esta seria uma ‘má’ tradução da poética, e que, na verdade, o que ele
queria dizer era : ‘ a arte recria o princípio criador das coisas criadas’.
Para que serve então a ARTE ? Elas serviriam segundo Aristóteles, par
corrigir as falhas da natureza utilizando-se para isso as p´roprias sugestões da
natureza. A Tragédia imitaria as ações humanas, Ações, e não meramente atividades
humanas . Para Aristóteles, a alma do homem se compunha de uma parte racional e
de outra irracional. A alma irracional podia produzir certas atividades como comer,
andar, mover-se sem que esses atos físicos tivessem maior significado A tragédia,
porém devia imitar tão somente as ações determinadas pela alma racional do
homem. Nem todas as paixões servem de matéria para tragédia. Se um homem ,
em determinado momento, exerce casualmente uma paixão, esta não será uma ação
digna de uma tragédia. É necessário que essa paixão seja constante nesse homem.
Isto é : por sua incidência deve ter-se convertido em um hábito.
Segundo ele, ainda, a apresentação do vício e do “erro ou debilidade” não
era feita para provocar nos espectadores repugnância ou ódio. Pelo contrário
sugeria que se tratasse o erro ou debilidade com certa compreensão.
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A “catarse” seria uma metáfora médica, uma purgação que denota o efeito
patológico sobre a alma análogo ao efeito de um remédio sobre o corpo. Bernays
toma a definição de Tragédia dada por Aristóteles (“imitação de ações humanas que
excitem a piedade e o terror”), justamente porque essas emoções se encontram nos
corações de todos os homens, o ato de excita-las oferece , depois, um agradável
relaxamento., Hipótese confirmada por Aristóteles que declara que “nós sentimos
piedade pelo destino não merecido do herói, e terror porque esse infortúnio acontece
com alguém que parece com nós mesmos”. A palavra empatia , que justamente se
baseia nessas duas emoções. Assim o teatro oferece uma descarga inofensiva e
agradável, para os instintos que exigem satisfação e podem na ficção do teatro ser
tolerados muito melhor que na vida real.
Nesse aspecto Boal enfatiza :
“ Os maus dramaturgos de todas as épocas não compreendem
a enorme import^ncia das transformações ocorridas diante do
espectador : teatro é transformação, movimento, e não simples
apresentação do que existe. É tornar-se e não ser .” ( Boal – O
teatro do oprimido e outras poéticas políticas, 5ª ed – 1988 )
Sendo assim o teatro é o espelho do homem, mais que isso o espelho da
alma do homem. O homem purga seus erros através do teatro. E essa purgação é
sem dúvida terapeutica. Se apenas ao assistir uma peça teatral, um indivíduo pode
promover mudanças em sua vida, que dirá, quando passa para o outro lado do
tablado : vira motor da conscientização política, uma vez que retira os indivíduos da
posição passiva de consumidores e receptores da arte, e os converte em seres
autônomos criadores da arte e protagonistas da expressão de suas individualidades
e vontades.
E embora essa qualidade do teatro incontestável para mudar as pessoas
seja realmente revolucionária, mais revolucionário é Augusto Boal, que vê o teatro e
os meios de mídia, como arma tão poderosas, que já estão sendo usadas há tempos
pelos mais poderosos :
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“A burguesia descobriu recentemente , talvez ajudada pelas
estatísticas de Hollywood, o enorme poder persuasivo do teatro
e das artes afins. O teatro, no entanto influencia espectadores
não apenas no que se refere à indumentária , como nos valores
espirituais que lhes pode incutir, através do exemplo. Surgiu
assim um novo tipo de peça e de filme “exemplar”, que procura
reiterar alguns valores consagrados da sociedade capitalista
como por exemplo a arte e a faculdade de subir na vida, através
da livre iniciativa. São peças e filmes biográficos que mostram a
trajetória fulgurante de determinados cidadãos que galgaram as
escadas da fama e da fortuna, partindo das condições de vida
mais humildes. “Se J.P. Morgam amealhou tão considerável
fortuna, iates, mansões etc, porque você não poderá fazer o
mesmo ? Claro que você também pode. A sua única obrigação
é respeitar as regras do jogo “ Isto é, do jogo capitalista” .” (
Boal – O teatro do oprimido e outras poéticas políticas, 5ª ed –
1988 )
O teatro, usado de maneira certa pode fazer muito mais que incutir ambição (
que em excesso pode virar crime, como já visto anteriormente), mas pode fazer com
que seja promovido o autoconhecimento .É através dele que se pode curar a maioria
dos males humanos.
3.1 – Conhece-te a ti mesmo e transforma-te.
Em filosofia, o autoconhecimento ou conhecimento de si é ou um objeto
de investigação epistemológica ou é a finalidade de uma busca de natureza ética.
Quando visto como objeto da investigação epistemológica, o que se busca é a
explicação de como e o que é conhecido. Quando visto como projeto ético, o que se
busca é a realização de algo que leve o sujeito a ser mestre de s