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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE A INCLUSÃO DE CRIANÇAS AUTISTAS NO ENSINO REGULAR TERESA CRISTINA DUARTE ALVES ORIENTADOR: ANTÔNIO FERNANDO VIEIRA NEY RIO DE JANEIRO, ABRIL/2002

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE

A INCLUSÃO DE CRIANÇAS AUTISTAS NO ENSINO REGULAR

TERESA CRISTINA DUARTE ALVES

ORIENTADOR: ANTÔNIO FERNANDO VIEIRA NEY

RIO DE JANEIRO, ABRIL/2002

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A INCLUSÃO DE CRIANÇAS AUTISTAS NO ENSINO REGULAR

TERESA CRISTINA DUARTE ALVES

Trabalho monográfico como requisito parcial para a obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia.

RIO DE JANEIRO, ABRIL/ 2002 DEDICATÓRIA

Ao meu filho Eduardo, cuja existência é fundamental para o meu amadurecimento como pessoa e como educadora.

AGRADECIMENTOS

A Deus que nos guiou nesta jornada.

A meus filhos e esposo que contribuíram para a realização deste curso.

A todos os professores e amigos pelo

companheirismo e amizade durante o curso.

Há o sofrimento do corpo, em si mesmo: dores, incapacidades, limitações.

Mas há a dor terrível do olhar das outras pessoas. Se não houvesse olhos, se todos fossem cegos,

Então a diferença não doeria tanto. Ela dói porque, no espanto do olhar dos outros,

está marcado o estigma-maldição: “Você é diferente”.

Rubem Alves

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................. 07 à 10 1. O TRANSTORNO AUTISTA................................................................11 1.1 Transtornos Globais do Desenvolvimento............................................11 à 13 1.2 Os Sintomas do Autismo .....................................................................13 à 16 1.3 A Etiologia ...........................................................................................16 à 18 2. DEFICIÊNCIA MENTAL ......................................................................18 2.1 O Deficiente Mental e a História da Humanidade...............................18 à 19 2.2 A Educação dos Deficiente Mentais....................................................19 à 20 2.2.1 Nos Países Desenvolvidos................................................................. 20 à 22 2.2.2 No Brasil .............................................................................................23 à 25 2.3 A Educação dos Portadores de Distúrbios de Conduta...................... 25 à 28 3 A EDUCAÇÃO ESPECIAL................................................................28 à

29 3.1 A Educação Especial no Brasil...........................................................30 à 32 3.2 Educação Especial: Legislação e Normas..........................................32 3.2.1 de 1961 à 1971...................................................................................32 3.2.2 de 1972 à 1985 ..................................................................................32 à 33 3.2.3 de 1986 à 1993...................................................................................33 à 34 3.2.4 a partir de 1994 ..................................................................................34 à 35 4 A INCLUSÃO DOS PORTADORES DE NECESSIDADES

ESPECIAIS NO ENSINO REGULAR ................................................35 à 36 4.1 A Integração dos Portadores de Necessidades Especiais nas

Classes do Ensino Regular..................................................................36 à 38 4.1 A Realidade da Inclusão .....................................................................38 à 40 4.1.1 A Formação dos Professores .............................................................40 à 41 4.1.2 A Adaptação do Espaço Físico ..........................................................41

4.1.3 A Fixação do Tempo e do Espaço Escolar ........................................41 à 42 4.2 A Inclusão do Autista no Ensino Regular ...........................................42 à 43 CONCLUSÃO ................................................................................................44 à 46 BIBLIOGRAFIA..............................................................................................47 à 48

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo estudar as dificuldades encontradas pelos portadores de necessidades especiais, em particular os autistas, em ingressar numa escola, seja ela especial ou regular, e os obstáculos do dia-a-dia numa sociedade preconceituosa e injusta. O levantamento histórico apresentado foi extremamente necessário para que fosse feito uma apreciação de como surgiu a questão da inclusão no Brasil e de como era visto o portador de deficiência no mundo desde a Antigüidade até os dias de hoje. A pesquisa foi realizado tendo como objeto principal a consulta de vasta bibliografia sobre o assunto, através de observações realizadas em algumas escolas da rede municipal de Duque de Caxias e em cursos de capacitação realizados a partir do ano de 1998, quando passei a me interessar pelo tema.

INTRODUÇÃO

Esse trabalho de pesquisa faz uma

análise da trajetória da educação

dos portadores de necessidades

especiais, em particular das

crianças com autismo infantil

moderado e outros distúrbios

comportamentais, desde o sistema

manicomial até a inclusão destas

nas turmas do ensino regular.

O indivíduo autista sinaliza algumas

atitudes comportamentais como:

problemas de linguagem, tendência

a estipulação de uma rotina,

obstáculo nas relações sociais e

dificuldade de abstração. Estas

características exigem um

acompanhamento clínico, através

de um atendimento conjunto entre

psicólogos e fonoaudiólogos. Um

trabalho competente e consciente

destes profissionais será de grande

importância para o seu

desenvolvimento psicomotor e

cognitivo. Isto permitirá que a

criança freqüente e classe regular

de ensino, mediante o preparo do

professor e a avaliação

diferenciada.

Desta maneira, para compreender melhor a questão do autista é

necessário mostrar como a deficiência mental foi vista durante toda a história da

humanidade, o preconceito, a discriminação e o isolamento familiar e social sofridos

por esses seres humanos que chegaram a ser considerados como o “demônio” para

a Igreja e um “entrave” ao desenvolvimento do homem para os pensadores.

Antes de surgir o desenvolvimento da psiquiatria, o cárcere domiciliar ou

manicomial era a forma de tratamento mais usual. Isto provocava um distanciamento

cada vez maior entre o portador de deficiência, a família e a sociedade em geral.

Apesar de todo desenvolvimento da Medicina, nos dias atuais ainda é

desconhecida ou fundamentada, a causa de algumas entidades nosológicas, como é

o caso do autismo, fato esse que atrasa o diagnóstico e, consequentemente, o

tratamento.

A base deste trabalho não está pautada na questão clínica, apesar de em

alguns momentos haver necessidade de comentar sobre as características

comportamentais da criança portadora da síndrome autística, mas sim a presença,

garantida pela Constituição da República Federativa do Brasil, destas no sistema

educacional, que pode ocorrer pela Educação Especial, pela Integração ou pela

Educação Inclusiva. A mesma não sugere somente que a criança nesta condição

esteja inserida no ambiente escolar, mas indica caminhos para que a escola seja

agradável e contribua para o seu desenvolvimento social e pessoal, assim como

suas habilidades e competências.

Para a compreensão da política educacional brasileira no decorrer do

século XX e as tendências de cada período é necessário conhecer todo o processo

histórico, do aprisionamento à inclusão. As conquistas dos pais e pessoas

simpatizantes da causa dos deficientes foi relevante em todo esse percurso. A luta

contra o preconceito e a segregação tiveram que alcançar o poder Legislativo, a

normatização de toda a estrutura destinada a esses indivíduos precisou ser

regulamentada para que as demais pessoas entendessem que os “direitos humanos”

se destinam a todos e não aos que se consideram “normais”.

A Educação Especial surgiu como uma forma de mostrar à população que

os deficientes, inclusive os mentais, têm condições de alcançar uma vida, até certo

ponto, independente. Segundo esta prática é necessário utilizar linguagem, técnicas

e métodos educacionais próprios para cada deficiência. Esses alunos devem

freqüentar escolas próprias para esse fim – as escolas especiais. Nestas o

atendimento educacional é acompanhado pela assistência terapêutica, havendo uma

subordinação da proposta pedagógica às determinações de psicólogos, terapeutas

ocupacionais e fonoaudiólogos. Segundo os opositores desta linha educacional estas

instituições na realidade determinam a separação das crianças e adolescentes

deficientes das demais e a sua exclusão do ambiente escolar da maioria.

A Integração propõe desfazer as mazelas das escolas especiais. Os

portadores de deficiência são integrados em classes especiais na escola regular.

Quando atingem as condições determinadas pela proposta pedagógica são

colocados na classe regular e recebem em outro horário atendimento especializado

nas salas de recursos. O planejamento do professor não é adaptado para receber o

deficiente, assim como a estrutura física e o quantitativo de alunos em sala de aula

não sofre alterações. A criança “diferente” tem que se adaptar às condições

estabelecidas pela maioria e, segundo os pedagogos contrários a essa prática,

acabam se isolando dos colegas e do professor que, por outro lado, não tem tempo

de atendê-lo separadamente e sofre a pressão de pais dos demais alunos. A

frustração é comum por parte do professor, da família e do deficiente.

Atualmente propõe-se a Educação Inclusiva, no qual o aluno é incluído na

classe regular. A escola se adapta para recebê-lo em termos de espaço físico e de

proposta pedagógica, ao contrário da Integração. Ao ser elaborado o Projeto Político

e Pedagógico dá-se prioridade a esses indivíduos.

O problema da inclusão dos portadores de necessidades especiais é a

formação dos professores e o preconceito enraizado na comunidade escolar – pais,

corpo docente, corpo discente e pessoal de apoio – em relação as “diferenças”.

A proposta de inclusão ainda é recente e precisa ser mais trabalhada.

Tudo que é novo causa polêmica e as discussões sobre o assunto se fazem

necessárias, pois um dos principais objetivos dos educadores é preparar os seus

alunos para exercer a cidadania e não é coerente formar cidadão preconceituoso e

injusto.

1. O TRANSTORNO AUTISTA

O distúrbio autista foi delimitado pela primeira vez pelo psiquiatra

austríaco Leo Kanner em 1943, que o definiu como um tipo de psicose muito

semelhante a esquizofrenia adulta. Em seu trabalho, Kanner descreveu onze

crianças que exibiam uma incapacidade aparentemente congênita de conviver com

outras pessoas, o que contrastava acentuadamente com sua capacidade de

relacionar-se com objetos. Kanner notou que este era o oposto do padrão

tipicamente observado, ou seja, lactentes se interessavam muito mais pelo ambiente

social, opostamente ao não-social. Ele também observou que, quando se

desenvolvia a linguagem nestas crianças, era notavelmente ecolálica, tinha inversão

de pronomes e era concreta. Elas também exibiam atividades incomuns, repetitivas e

aparentemente sem finalidade(esteriotipias). Em sua escolha do nome para o

transtorno, “autismo infantil precoce”, enfatizou a distinção da afecção.

Por muitos anos, a confusão girou em torno da possibilidade de que o

autismo fosse a primeira manifestação de esquizofrenia. No entanto, várias linhas de

pesquisa esclareceram que autismo e esquizofrenia infantil diferem em muitos

aspectos, como a clínica, a evolução e os antecedentes familiares.

1.1 Os Transtornos Globais do Desenvolvimento

Essa síndrome está classificado entre os Transtornos Globais do

Desenvolvimento (TGDs), que correspondem a indivíduos que se caracterizam por

prejuízo severo e invasivo em diversas áreas do desenvolvimento: habilidades de

comunicação ou presença de comportamento, interesses e atividades estereotipados

e habilidades de interação recíproca. São eles: Transtorno Autista, Transtorno de

Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância (TDI), Transtorno de Asperger e

Transtorno Global do Desenvolvimento não especificado de outra forma / autismo

atípico(TGD-NEOF).

Apesar das características básicas dos transtornos estarem presentes

entre todos, a maior ou menor intensidade ou o aparecimento de outros sinais

determinam a classificação de cada uma. Comparando-se crianças autistas com

outras crianças com outro tipo de Transtorno Global do Desenvolvimento podemos

observar diferenças.

O Transtorno de Rett tem sido observado no sexo feminino, enquanto

que o Transtorno Autista acomete em maior freqüência no sexo masculino. No

primeiro há um padrão característico de desaceleração do crescimento craniano,

perda de habilidades manuais voluntárias adquiridas anteriormente e o aparecimento

de marcha pouco coordenada ou movimentos do tronco, o que não ocorre no

autismo. Durante os anos pré-escolares, meninas com Transtorno de Rett podem

exibir dificuldades na interação social similares àquelas observadas na Segunda

característica, mas estas tendem a ser temporárias.

O que difere uma pessoa portadora de Transtorno Autista da criança com

Transtorno Desintegrativo da Infância é o fato de mostrar sinais já no primeiro ano de

vida, enquanto que caso desintegrativo há a aquisição, considerada normal, de

habilidades e, entre dois e dez anos, começa a apresentar uma regressão com a

perda de habilidades na linguagem social, verbal e escrita.

A diferença entre o autista de alto funcionamento, aqueles que

apresentam os sintomas menos persistentes, e o Transtorno de Asperger é o fato do

autista apresentar mais esteriotipias e um maior apego a rotina. Quanto as aptidões

o autista demonstra em geral uma única área de habilidade, enquanto que o portador

do Transtorno de Asperger pode ter interesse por várias áreas.

Os Transtornos Globais do Desenvolvimento não-especificado de outra

forma ou autismo atípico engloba casos subliminares, por exemplo, nos quais há

acentuado comprometimento da interação social, da comunicação e/ou padrões de

comportamento ou interesse estereotipados, mas em que não são preenchidas as

características completas para autismo em cada um desses domínios ou mesmo

para outros TGDs definidos explicitamente. Os indivíduos com TGD-NEOF têm

melhor prognóstico do que as pessoas com autismo, mas os problemas sociais,

comunicativos ou adaptativos e comportamentais podem ser proeminentes durante

os anos escolares.

Logo, algumas semelhanças entre os Transtornos Globais do

Desenvolvimento, nos primeiros anos de vida do indivíduo, levam os médicos e

terapeutas a um período prolongado de avaliação antes de confirmar o diagnóstico.

É comum relatos de pais que viveram um processo de peregrinação para conseguir

uma denominação da patologia de seus filhos e iniciar um tratamento.

1.2 Os Sintomas do Autismo

O autismo infantil é uma síndrome de etiologia orgânica. Está presente

desde o nascimento e se manifesta invariavelmente antes dos trinta meses de idade.

Caracteriza-se por respostas anormais a estímulos auditivos e visuais e por

problemas graves quanto a compreensão da linguagem falada.

Entre os principais sintomas do autismo infantil está, segundo a American

Psychiatric Association e a National Society Autistic Children, a anormalidade no

ritmo de desenvolvimento e na aquisição de habilidades físicas, sociais, e de

linguagem.

O diagnóstico do autismo requer desequilíbrios em cada um dos três

domínios: relações sociais, comunicação e recreação e interesses e atividades

restritas. Por definição, o início se dá por volta dos 3 anos de idade. Áreas de

desequilíbrio social incluem acentuado comprometimento dos comportamentos não-

verbais de interação social, fracasso no desenvolvimento de relações com os pares

da maneira apropriada para o nível de desenvolvimento, falta de busca do

compartilhar de alegrias e de interesses e falta de reciprocidade social ou emocional.

Os comprometimentos da comunicação incluem atraso ou falta total da linguagem

falada (sem tentativa de compensação por meio de outros meios) ou, para indivíduos

verbais, acentuada dificuldade de sustentar ou iniciar conversas, linguagem

estereotipada e repetitiva (ou idiossincrática) e falta de “faz-de-conta” ou brincadeiras

sociais de maneira apropriada para o nível de desenvolvimento. A categoria de

comportamento, interesses e atividades restritos, repetitivos e estereotipados, inclui

preocupações e objetivos, adesão a rotinas ou rituais não-funcionais, estereotipias e

maneirismos motores (bater as mãos ou os dedos ou balançar do corpo) e

preocupação persistente com partes de objetos. O início antes dos 3 anos de idade

é determinado na dependência de um indivíduo ter ou não funções anormais ou

atrasadas nas áreas de interação social, uso social da linguagem ou recreação

simbólica ou imaginativa naquele momento. Atraso ou anormalidade em qualquer

uma das áreas são típicos e suficientes para o diagnóstico.

Kanner definiu o autista em seu artigo Distúrbios Autísticos de Contato

Afetivo (Autistic Disturbances of Affective Contact) como “crianças que têm inaptidão

para estabelecer relações normais com o outro; um atraso na aquisição da

linguagem e, quando ela se desenvolve, uma incapacidade de lhe dar um valor de

comunicação”.

O fato de não conseguir expressar o que deseja e a interpretação

equivocada das pessoas que cercam o autista, levam-no a um comportamento

agressivo ou de aparente descontrole emocional.

O indivíduo apresenta usualmente uma necessidade imperiosa de manter

imutável seu ambiente material. As mudanças, mesmo as mais simples, podem ser

motivo para atitudes hostis. O apego por determinados objetos que seguram durante

muito tempo em suas mãos ou utilizam em suas brincadeiras e guardam sempre no

mesmo lugar, dando provas de uma memória freqüentemente notável, é uma

característica que está ligada aos seus rituais e aos movimentos estereotipados

como de rodar objetos ou o seu próprio corpo, bater os braços (flappin). Algumas

dessas crianças têm uma destreza muito grande para rodar moedas, dados, roda de

carrinhos, mas não conseguem segurar um lápis para pintar.

Um fator característico no autismo é

a tendência ao isolamento e a

dificuldade de interagir com as

outras pessoas. É como se o

indivíduo criasse o seu próprio

“mundo” e de vez em quando fosse

visitar o mundo maior.

Esta síndrome infantil é um

distúrbio do desenvolvimento a tal

ponto complexo que nenhum

modelo, nenhuma abordagem

clínica, metodológica ou terapêutica

poderá por si mesmo abranger a

verdade. A exemplo disso temos a

ausência, até hoje, de um exame

que detecte a deficiência, como o

exame do pezinho, o mapeamento

cerebral, a tomografia

computadorizada ou a ressonância

magnética. Isso dificulta um

diagnóstico, retarda o tratamento e,

na maior parte das vezes, influencia

no ambiente escolar.

Atualmente é considerado como

uma síndrome complexa, sendo

incluído pelo DSM-IV (APA, 1994) no

grupo dos distúrbios generalizados

do desenvolvimento, isto é , um

conjunto de sintomas que ocorre

simultaneamente num mesmo

indivíduo. Mas inicialmente Kanner

o definiu como um adjetivo,

distúrbios autísticos do contato

afetivo; como um sintoma, retardo

mental com traços autísticos e, por

último, como uma subcategoria da

esquizofrenia.

Segundo Laboyer autismo infantil e

deficiência mental podem estar

simultaneamente presentes num

mesmo cidadão, mas esses dois

estados são totalmente diferentes.

Alguns estudos de Ruther e

Lockier (Rutther 1967, Lockier e

Rutter 1969, 1970) que compararam

autistas as crianças de mesma

idade, do mesmo sexo e do mesmo

nível intelectual mostraram que

estas tem maiores capacidades

visuo-espaciais, manipulatórias

(tarefas de montagem, por exemplo)

e uma memória notável. As menos

prejudicadas podem ter capacidade

de realizar operações matemáticas,

já que essas operações obedecem

regras que elas podem aprender.

Entretanto eles não têm capacidade

de abstração e nem de

generalização, e não sabem utilizar

conceitos.

Quando comparamos as particularidades de desenvolvimento da criança

autista com os deficientes mentais notamos que destes últimos é mais lento, atinge

um nível inferior ao dos normais, mas permanece sempre regular com uma boa

coordenação entre os três eixos do desenvolvimento motor, cognitivo e social. Já nos

autistas ele é irregular, faz progressos, passa por período de estagnação e de

regressão, sem nenhum paralelismo entre os eixos.

É muito difícil diferenciar autistas daqueles que têm distúrbio do

desenvolvimento da linguagem do tipo receptivo. As crianças disfásicas conseguem

se exprimir por gestos, de brincar com jogos imaginativos e quando aprendem a

falar, mostram desejo de participar do diálogo. Já nos autistas a linguagem é mais

retardada e inadequada como: a ecolalia, repete o que acaba de dizer e o que o

outro disse; comenta em voz alta as suas ações. Segundo Rutter depois dos dez

anos os traços específicos da linguagem dos autistas de inteligência não-verbal

costumam desaparecer e se aproximam do normal em forma e conteúdo.

1.3 A Etiologia

Tanto os modelos etiológicos do

autismo, como a história clínica

refletem as grandes correntes

psiquiátricas contemporâneas.

Esquematicamente, podemos

distinguí-los em: psicodinâmico,

orgânico e intermediário. Os

teóricos psicodinâmicos afirmam

que a criança é biologicamente

normal ao nascer, e que o

desenvolvimento dos sintomas é

secundário, atribuível, portanto, às

condutas parentais inadequadas.

As teorias orgânicas partem de um

postulado oposto: os pais

contribuem muito pouco para a

patologia de seu filho, que é

congênita. Num esforço de síntese

dos dois esquemas anteriores, um

modelo intermediário foi proposto:

a criança é biologicamente

deficiente e vulnerável e os pais têm

dificuldade em ajudá-la.

As discussões concernentes à

existência da contribuição de

fatores psicogênicos à gênese do

autismo infantil dominaram a

pesquisa nesse campo durante

mais de vinte anos.

Kanner, em 1943, em sua primeira

descrição de autismo, reúne as

características clínicas comuns aos

seus onze primeiros pacientes e

nota que os pais têm, eles também,

um certo número de pontos

comuns: pertencem a uma classe

sócio-econômica elevada, possuem

uma inteligência superior à normal,

são preocupados sobretudo com o

pensamento abstrato, falta-lhes

calor humano, são introvertidos,

pouco emotivos e obsessivos.

Essa observação aliada a outras

pesquisas deram origem a três

hipóteses sobre os fatores

psicogênicos responsáveis pela

origem do autismo: o primeiro item

sugere que o funcionamento

patológico dos pais gera a

síndrome do autismo em seus

filhos, a segunda propõe a

existência de dois grupos de

autistas, um associado a uma

patologia neurológica e outro a um

fator orgânico, a terceira sugere que

o autismo se situa à conjunção de

um acidente orgânico inato e de

stress psicogênico.

As pesquisas genéticas foram

inauguradas pelo próprio Kanner,

ele sugere, em 1954, num artigo

intitulado: “Até que ponto o autismo

infantil é determinado por uma

anomalia constitucional?” (“To

what extent is early infantile autism

determined by constitutional

inadequacies?”), a existência de um

distúrbio constitucional ou

genético, tendo por conseqüência

um defeito de relação entre a

criança e o mundo externo, que

provocaria a aparição do autismo.

Segundo estudos neste sentido

alguns casos estão associados à

rubéola, fenilcetonúria não tratada,

viroses durante a gestação,

principalmente durante os três

primeiros meses (inclusive

citomegalovirus), toxoplasmose,

anoxia, traumatismo no parto e o

patrimônio genético.

Na realidade o autismo ainda

representa uma incógnita, mas é

unanimidade por parte dos médicos

que não ocorre por bloqueios ou

razões emocionais, como insistiam

os psicanalistas, mas pode ser

agravado por elas.

Uma das características é um

severo comprometimento do

comportamento, facilmente

percebido pelos estudantes. Os

comportamentos habitualmente

apresentados pela criança autista

(esteriotipias, rituais, agressividade,

raiva, auto-agressão, hiperatividade,

problema na alimentação, no sono,

respostas não adequadas aos

estímulos geradores, respostas de

pânico etc.) podem provocar, como

primeira reação, espanto e

sensação de incompetência nos

professores, sendo necessário

compreendê-la para poder ajudá-

las.

Segundo Herrero a modificação de

comportamento é uma arma eficaz

para conseguir a diminuição ou

eliminação das alterações de

atitudes do autista e incrementar

condutas funcionais. A partir daí há

possibilidade de desenvolver

atividades que permitam um quadro

evolutivo no processo educativo da

criança.

O quadro comportamental

apresentado pelas crianças

portadoras de Transtornos Globais

do Desenvolvimento (TGDs)

levaram-nas durante muito tempo a

serem enquadradas no grupo dos

deficientes mentais.

Em 1994 o Diagnostic and

Statistical Manual for Mental

Disorders (DSM-IV) adotou o termo

Distúrbio de Conduta para os

padrões persistentes e repetitivos

de comportamentos que violam os

direitos de outros, atuando por um

período de seis meses, contra as

normas apropriadas para sua idade

ou regras sociais. Conforme

Baptista e Rangé, citado por Nunes

(1999), ainda estão incluídos nesse

rótulo toda a sorte de indesejáveis e

interferentes no processo

educativo, envolvendo

agressividade, falta de atenção,

agitação, impulsividade e postura

desafiadora. Carr e Panzo (1993)

acrescentam a esse quadro a falta

de habilidade para trabalhar

independentemente e a dificuldade

de manter-se envolvido nas tarefas

escolares e completá-las em tempo

previsto.

Levando em conta a visão que a

sociedade civil e científica tinha dos

portadores de Transtornos Globais

do Desenvolvimento até as

primeiras décadas do século XX ,

incluiremos, de início, estes no

grupo dos deficientes mentais.

2. DEFICIÊNCIA MENTAL

O quadro comportamental

apresentado pelas crianças

portadoras de Transtornos Globais

do Desenvolvimento (TGDs)

levaram-nas durante muito tempo a

serem enquadradas no grupo dos

deficientes mentais.

Em 1994 o Diagnostic and

Statistical Manual for Mental

Disorders (DSM-IV) adotou o termo

Distúrbio de Conduta para os

padrões persistentes e repetitivos

de comportamentos que violam os

direitos de outros, atuando por um

período de seis meses, contra as

normas apropriadas para sua idade

ou regras sociais. Conforme

Baptista e Rangé, citado por Nunes

(1999), ainda estão incluídos nesse

rótulo toda a sorte de indesejáveis e

interferentes no processo

educativo, envolvendo

agressividade, falta de atenção,

agitação, impulsividade e postura

desafiadora. Carr e Panzo (1993)

acrescentam a esse quadro a falta

de habilidade para trabalhar

independentemente e a dificuldade

de manter-se envolvido nas tarefas

escolares e completá-las em tempo

previsto.

Levando em conta a visão que a sociedade civil e científica tinha dos

portadores de Transtornos Globais do Desenvolvimento até as primeiras décadas do

século XX , incluiremos, de início, estes no grupo dos deficientes mentais.

2.1 O Deficiente Mental e a História da Humanidade

Na Antigüidade as pessoas

deficientes eram consideradas

como a degeneração da raça

humana e por isso deviam ser

abandonados ou eliminados pelo

incomodo que representavam aos

seus familiares e a sociedade.

Com o Cristianismo o deficiente

mental começou a ser pensado de

forma contraditória: em um período

era tido como um feiticeiro e por

isso era repudiado e em outro como

um anjo trazido por Deus, que

deveria ser adorado por todos.

Na Idade Média a deficiência mental

era considerada como uma forma

do familiar direto (mãe, pai, irmãos)

pagar seus pecados e, como não

tinham culpa de sua situação, eram

dignos de caridade por parte da

família e da sociedade.

Até o século XVIII, as noções a respeito da deficiência eram basicamente

ligadas a misticismo e ocultismo, não havendo base científica para o

desenvolvimento de noções realísticas.

Nesse período não existia na sociedade humana noções de igualdade e

democracia. O Cristianismo exercia uma influência cultural muito forte na sociedade

ocidental e pregava que o homem era a “imagem e semelhança de Deus”,

determinando a condição humana como a própria perfeição física e mental. E não

sendo “parecidos com Deus”, os portadores de deficiência eram postos à margem da

condição humana, sendo marginalizados ou ignorados.

A sociedade entendia que a

condição de “deficiente” ou

“incapacitado” era imutável e por

isso não se empenhava em

organizar serviços para atender as

necessidades individuais

específicas dessa população.

As primeiras iniciativas de atendimento em instituições (autênticos guetos,

depósitos e reserva de segregados) partiram de pessoas leigas ou profissionais, que

se identificavam com os problemas enfrentados por esses indivíduos. Eram em sua

maioria instituições filantrópicas, que na sua trajetória, a despeito de se constituir um

grande esforço dos segmentos sociais mantinham resquícios do habitual isolamento.

Apesar disso foram passos importantes para a ampliação do conhecimento e da

busca de alternativas de atuação, com vistas à melhoria das condições de vida

dessas pessoas.

2.2 A Educação dos Deficientes Mentais

Toda a trajetória do homem no decorrer de sua história levou-o a buscar o

conhecimento e o desenvolvimento tecnológico. Em relação aos deficientes mentais

não foi diferente, a família destes e os profissionais da área de saúde mental não se

acomodaram e lutaram para que conquistassem a sua independência através de

métodos diferenciados.

2.2.1 Nos Países Desenvolvidos

A Europa foi a precursora no atendimento aos excepcionais com

objetivos educacionais. Foram criadas instituições especializadas para portadores de

deficiência mental, mas até o século XX esses locais geravam a segregação das

pessoas atendidas já que estas ficavam separadas do resto da sociedade. Tais

medidas foram se expandindo, tendo sido primeiramente levadas para os Estados

Unidos e Canadá e posteriormente para outros países, inclusive o Brasil, como

veremos em um capítulo a parte.

Jean Marc Itard (1774-1838) foi a primeira pessoa a usar métodos

sistematizados para o ensino de deficientes mentais, através de experiência de

aprendizagem e da motivação e recompensas.

Edward Séguin (1812-1880) estabeleceu o primeiro internato público na

França para crianças retardadas, e imaginou um currículo para elas, baseado na

crença de que o sistema nervoso podia ser reeducado pelo treinamento motor e

sensorial.

A incapacidade apresentada pelo aluno deficiente mental para o

aprendizado da matemática preocupava Séguin, levando-o em 1846 a publicar seu

trabalho: “Traitment moral, hygiène et éducation des idiots et des autres enfants

arriérés”. Segundo ele o ensino da iniciação à matemática para o deficiente mental

tinha como objetivo familiarizá-lo com as quantidades observáveis na vida prática.

Assim, denominou a aritmética por ele ensinada ao aluno deficiente mental como a

ciência dos números sensíveis. E mais explicitamente afirmou: “Para meus alunos

um, dois, três, quatro devem ser coisas antes de ser quantidades; a idéia do número

deve preceder sempre o símbolo assim como a criança fala as palavras antes de ler”

(Séguin, 1846, p. 480). Esta frase expressa, exatamente, como Séguin procedeu

para ensinar matemática para o aluno deficiente mental.

Outra importante educadora que contribuiu para a evolução da educação

dos portadores de necessidades especiais foi Maria Montessori (1870-1956), médica

italiana que desenvolveu um programa de treinamento para crianças retardadas

mentais nos internatos de Roma. Montessouri enfatizou a “auto-educação” pelo uso

de materiais didáticos que incluíam, dentre outros, blocos, encaixes, recortes, objetos

coloridos e letras em relevo.

Uma importante contribuição de

Montessouri foi a confecção de um

material específico para o ensino da

matemática como, por exemplo, dez

barras que entre si mantém uma

relação de um a dez. A menor tem

dez centímetros, equivale ao

primeiro segmento, é vermelha e

representa a quantidade um. A

Segunda tem vinte centímetros,

contém um primeiro segmento com

dez centímetros na cor vermelha e

um segundo segmento com dez

centímetros na cor azul e

corresponde a quantidade dois. A

terceira de trinta centímetros de

comprimento possui o primeiro

segmento de dez centímetros na cor

vermelha, o segundo segmento de

dez centímetros na cor azul e o

terceiro segmentos de dez

centímetros na cor vermelha e

equivale a quantidade três. E, assim

sucessivamente, até a barra com

um metro de comprimento que

representa a quantidade dez.

Podemos citar também Alice

Descoeudres (1928), médica belga,

que elaborou uma proposta

curricular para os retardados

mentais leves. Na sua concepção as

atividades educativas deveriam ser

desenvolvidas em ambiente natural,

mediante instrução individual e

grupal, focalizando deficiências

sensoriais e cognitivas.

Nos Estados Unidos o primeiro

internato público para deficientes

mentais foi criado no ano de 1848,

em Massachusetts. Este utilizava o

método desenvolvido por Séguin.

No período de 1850 a 1920, nos

Estados Unidos, houve um aumento

crescente das escolas residenciais,

que eram um modelo europeu. Na

última década do século XIX,

entretanto, os colégios residenciais

não eram mais consideradas

instituições apropriadas para a

educação do deficiente mental.

Passaram a ser vistas como

instituições para tutela de crianças

e adultos sem esperança de vida

independente e, portanto, sem

possibilidades de educação. Em

razão disso, começaram a ser

desenvolvidos os programas de

externato. Assim é que, em 1896,

foi aberta a primeira classe especial

diária para retardados mentais, em

Providence, Rhode Island.

Até 1940 os pais de deficientes

ainda não se organizavam em

associações, mas um anúncio

publicado pelo pai de uma criança

com paralisia cerebral no Times de

Nova York levou alguns a fundarem

a New York State Cerebral Palsy

Association. Este grupo conseguiu

levantar fundos tanto para centros

de tratamento quanto para

pesquisa, além de estimularem

organizações governamentais para

uma nova legislação que

proporcionasse recursos para

pesquisa, treinamento profissional

e tratamento de seus filhos.

Da mesma maneira que os fundadores da New York State Cerebral Palsy

Association, por volta de 1950 os pais de crianças com desenvolvimento mental

retardado começaram a se organizar. Até então, principalmente as retardadas

mentais treináveis, eram excluídas da escola, em virtude da existência de leis e

regulamentos obstaculizadores. Com o objetivo principal de proporcionar

atendimento a fase infantil e jovens nas escolas públicas primárias, os pais de

retardados mentais se organizaram na National Association for Retarded Children –

NARC.

A NARC exerceu grande influência em vários países, tendo sido a

inspiradora da criação das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais –

APAEs – no Brasil.

Importantes modificações se procedem nos anos 40 e 50, onde questiona-

se amplamente a origem constitucional e a incurabilidade do distúrbio predomina as

posições ambientalistas e constitutivas, que eram dominantes no campo da

psicologia, ou seja, começa-se levarem consideração também as influências sociais

e culturais na determinação do funcionamento intelectual mais deficiente. Com isso

firma-se a concepção de que a deficiência podia ser motivada pela ausência de

estimulação adequada ou por processos de aprendizagem incorretos.

2.2.2 No Brasil Inspirados em experiências concretizadas na Europa e nos Estados

Unidos da América do Norte, alguns brasileiros iniciaram, já no século XIX, a

organização de serviços para atendimento a cegos, surdos, deficientes mentais e

deficientes físicos. Durante um século, tais providências caracterizaram-se como

iniciativas oficiais e particulares isoladas, refletindo o interesse de alguns educadores

pelo atendimento educacional de portadores de deficiências.

Como exemplos podemos citar a criação em 1854, na cidade do Rio de

Janeiro, do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, cuja fundação deveu-se a luta de

um deficiente visual brasileiro que estudara no Instituto dos Jovens Cegos de Paris e

que obtivera grande êxito em sua formação. Atualmente o Instituto denomina-se

Instituto Benjamin Constant (IBC).

A criação, em1957, na cidade do Rio de Janeiro, do Imperial Instituto dos

Surdos-Mudos, atual Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) deveu-se a

iniciativa do francês Ernesto Hüet, diretor e professor do Instituto de Bourges.

Ainda no Segundo Império há

registros de ações voltadas para o

atendimento pedagógico ou

médico-pedagógico aos deficientes

como no Hospital Estadual de

Salvador, na Bahia, hoje

denominado Hospital Juliano

Moreira, que prestava assistência

aos deficientes mentais.

No início do século Dr. Carlos Eiras apresentou durante o 4º Congresso

Brasileiro de Medicina e Cirurgia, no Rio de Janeiro, a monografia intitulada Da

Educação e Tratamento Médico-Pedagógico dos Idiotas, mostrando sua

preocupação com a educação dos deficientes mentais. Mais tarde outros trabalhos

sobre a educação de deficientes mentais foram publicados, entre eles: A Educação

da Infância Anormal e das Crianças Mentalmente Atrasadas na América Latina e

Tratamento e Educação das Crianças Anormais da Inteligência, escritas por Basílio

de Magalhães.

Segundo dados do Cadastro Geral dos Estabelecimentos de Ensino

Especial (MEC/CENESP,1975) na primeira metade do século XX havia quarenta

estabelecimentos de ensino regular mantidos pelo poder público e três instituições

especializadas (uma estadual e duas particulares) que prestavam atendimento

escolar especial a deficientes mentais.

As seqüelas catastróficas das duas Grandes Guerras Mundiais criaram

movimentos de caráter sócio-político (eliminação das práticas discriminatórias) e

éticos (movimentos em favor dos direitos civis), que caminham visando o processo

de democratização. Este fator fundamental fez com que, aos poucos, a sociedade

passasse a tolerar as diferenças, a semelhança indiferenciada deu lugar a

semelhança diferenciada.

Na sociedade brasileira este movimento, embora interrompido por longo

período ditatorial, pautou a educação como direito de todos, a exemplo da Lei de

número 8069/90 que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente no § 1º do

Artigo 2º “a criança e o adolescente portadores de deficiências receberão

atendimento especializado”. E o artigo 5º “nenhuma criança ou adolescente será

objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, violência, crueldade e

opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus

direitos fundamentais.

A inclusão da educação de deficientes na política educacional brasileira só

aconteceu no final da década de cinqüenta e início dos anos sessenta do século XX.

A Sociedade Pestalozzi do Brasil (1948) e a Associação de Pais e

Amigos dos Excepcionais - APAE (1954), no Rio de Janeiro foram instituições que

induziram as autoridades do Executivo e do Legislativo a buscarem alternativas de

melhorarem a qualidade de vida dos deficientes mentais, através de apoio

terapêutico ou educacional. Assim em 1960 o decreto número 48.961, de 22 de

setembro de 1960, instituiu, junto ao Gabinete do Ministro da Educação e da Cultura,

a Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes Mentais _

CADEME, cuja finalidade era promover, em todo território nacional, a educação,

treinamento, reabilitação e assistência educacional das crianças retardadas e outros

deficientes mentais de qualquer idade ou sexo.

Com a instituição da CADEME, foi criado um Fundo Especial, de natureza

bancária, em conta do Banco do Brasil S. A. sob responsabilidade do diretor

executivo. Tal Fundo Especial deveria ser constituído por dotações e contribuições

previstas nos orçamentos da União, Estados e Municípios e de entidades

paraestatais de economia mista; donativos, contribuições e legados particulares;

contribuições de entidades públicas e privadas, nacionais e estrangeiras; venda

eventual de patrimônio da Campanha, além de dotações orçamentárias referentes a

serviços educativos, culturais e de reabilitação.

Após a aprovação da Lei nº 5.692/71, que em seu artigo 9º previa

“tratamento especial aos excepcionais”, numerosas ações passaram a se

desenvolver com vistas à implantação das novas diretrizes e bases para o ensino de

1º e 2º graus. No âmbito da educação especial, uma dessas ações pode ser

identificada no Parecer nº 848/72, do Conselho Federal de Educação _ CFE. O

referido parecer registra uma solicitação do Ministro da Educação ao Conselho

Federal de Educação “no sentido de que forneça subsídios para o equacionamento

do problema relacionado com a educação dos excepcionais”. Tal solicitação estava

acompanhada de carta do Presidente da Federação Nacional das APAEs, Dr. Justino

Alves Pereira, encarecendo “a adoção de medidas urgentes para que também o

campo do ensino e amparo ao excepcional seja dinamizado numa hora em que

todos os outros setores educacionais são reformulados e acionados”.

2.3 A Educação dos Portadores de Distúrbios de Conduta

O conceito de distúrbio de conduta é muito complexo. Os

comportamentos desadaptativos que compõem esse quadro são variados, por

vezes pouco se assemelham ou passam desapercebidos em uma sala de aula.

Duas crianças de comportamentos opostos, uma que fala muito, briga durante o

recreio e já foi suspensa várias vezes e outra que é muito tímida, solitária e se

senta no fundo da sala, na realidade se assemelham no baixo rendimento escolar.

O portador de Distúrbio de Conduta Severo * exibe uma ou mais das

seguintes características:

a) Inabilidade para aprender que não pode ser explicada por problemas

intelectuais, sensoriais ou de saúde;

b) Inabilidade para iniciar ou manter interação social com colegas ou

professores;

c) Condutas ou sentimentos desadaptativos em circunstâncias “normais”;

d) Depressão ou constante sentimento de infelicidade;

e) Tendência para desenvolver sintomas físicos ou medos associados a

problemas pessoais ou escolares.

Na literatura científica são encontrados uma pluralidade de modelos

conceituais aplicados aos Distúrbios de Conduta. Nesses constructos teóricos

evidenciam-se discordâncias relativas à natureza, etiologia, definição e formas de

abordagem de questões comportamentais. Essa diversidade de modelos teóricos

denuncia, além de outros fatores, a escassez de pesquisa, a formação deficitária

de recursos humanos, a inadequação dos sistemas de classificação, o uso de

rótulos e a fragilidade de instrumentos de medidas para identificação dos

portadores do distúrbio.

a) Modelo biofísico

Denominado de modelo clínico ou patológico, postula que

pensamentos ou comportamentos desviantes derivam de patologias cerebrais.

Seriam resultado de uma transmissão genética; de uma disfunção neurológica

(danos no sistema nervoso central); de uma anomalia bioquímica ou do próprio

temperamento inato do indivíduo. Em última análise os seguidores desse modelo

compreendem os distúrbios de conduta como “doenças orgânicas” e propõem a

utilização de medicamentos para o combate dos “sintomas”.

b) Modelo Psicanalítico

Baseado na teoria psicanalítica de Freud, esse modelo postula que o

comportamento desadaptativo tem suas origens nos fatores intrapsíquicos; ou

seja , as três entidades que compõem o psiquê (id, ego e supergo). Padrões

inadequados de desenvolvimento ou superdependência dos mecanismos de

defesa do ego favorecem o surgimento de condutas patológicas. O

comportamento agressivo, por exemplo, representaria a incapacidade do ego em

reprimir os impulsos do id. Seguidores dessa corrente advogam a necessidade de

desenvolvimento da sensitividade para enfrentar as crises experienciadas por

crianças e jovens.

c) Modelo Comportamental

Embora considerem como fatores predisponentes as variáveis

genéticas e o condicionamento das respostas, proponentes do modelo

comportamental postulam que o comportamento humano, tanto normal quanto

atípico, é aprendido. nesse sentido, os distúrbios de conduta, são tratados como

problemas de aprendizagem e resultam do fracasso social da criança em aprender

a interpretar as dicas sociais ou exibir comportamentos adequados. O

tratamento consiste em manipular as variáveis ambientais mantenedoras do

comportamento e planejar procedimentos capazes de modificá-las.

d) Modelo Cognitivo-comportamental

A incapacidade da teoria da aprendizagem em fornecer explicações

satisfatórias para determinados comportamentos propiciou, no final da década de

60, o surgimento do modelo cognitivo-comportamental. Considerando as

variáveis cognitivas e afetivas, o presente modelo determina que distúrbios de

pensamento favoreceriam distúrbios de comportamento. Assim, com o objetivo

de modificar repertórios comportamentais desadaptativos, as técnicas de

intervenção utilizadas neste modelo visam à reestruturação cognitiva.

e) Modelo Ecológico

O modelo ecológico enfoca a

relação existente entre o indivíduo e

o meio. Para os defensores dessa

Escola, a normalidade é

determinada pelo equilíbrio ou

adaptação mútua entre a pessoa e

seu ecossistema. As condutas

diruptivas são aquelas

caracterizadas pelo desequilíbrio

entre as variáveis que compõem a

relação indivíduo-meio. Este

modelo propõe intervenções de

amplo espectro, envolvendo não

apenas a criança-problema, mas

também o meio onde está inserida.

3. EDUCAÇÃO ESPECIAL

Como foi apresentado

anteriormente os deficientes foram

durante a maior parte da história da

humanidade, condenados ao

desprezo, extermínio ou isolamento.

Esta atitude provinha da

preocupação do grupo social no

sentido do “não ver” o que na

realidade desconhecia.

Com a busca do homem em torno da resposta mais científica para

fenômenos sociais, ocorreram as primeiras tentativas de “classificar” os deficientes a

partir de conceitos provenientes da biologia.

Surgiram as primeiras iniciativas de atendimento em instituições

(autênticos guetos, depósito e reserva de segregados) assumidas pela sociedade

civil, representada em sua maioria por instituições filantrópicas, que na sua trajetória,

a despeito de se constituírem um grande esforço dos segmentos sociais, mantiveram

resquícios do habitual isolamento. Entre essas instituições apareceram as Escolas

Especiais.

Ainda hoje existem instituições de educação especial que

predominantemente, fundamentam sua prática na guarda e assistência.

As seqüelas catastróficas das duas Grandes Guerras Mundiais criaram

movimentos de caráter sócio-político (eliminação das práticas discriminatórias) e

éticos (movimentos em favor dos direitos civis), que caminham visando ao processo

de democratização.

A sociedade passou a tolerar as diferenças, a semelhança indiferenciada

deu lugar a semelhança igualitária.

Na sociedade brasileira este movimento, embora interrompido por longo

período ditatorial, pautou a educação como direito de todos, a exemplo da Lei de

número 8069/90 que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente no § 1º do

Artigo 2º “a criança e o adolescente portadores de deficiências receberão

atendimento especializado”. E o artigo 5º “nenhuma criança ou adolescente será

objeto de qualquer forma de negligência,, discriminação, violência, crueldade e

opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus

direitos fundamentais.

Segundo Lepot-Froment (1996) educação especializada entende-se como

“a educação especificamente projetada para sujeitos em situação de deficiência ou

dificuldade de vida”.

A Organização Mundial da Saúde classifica deficiência em três

dimensões: o eixo das deficiências, o das incapacidades e o das desvantagens. As

relações entre as três dimensões parecem relativamente claras em alguns casos

como, por exemplo, ligada à presença de uma deficiência auditiva profunda e

precoce. Esta característica; reside na alteração grave de um órgão (o ouvido

interno) e da função que permite exercer (a percepção auditiva). As incapacidades

maiores acarretadas são conhecidas: umas delas é a impossibilidade de adquirir a

linguagem oral sem o recurso a equipamentos específicos (aparelhos, educação

audio-oral). As desvantagens que podem ser acarretadas pela própria deficiência

bem como pelas incapacidades dela resultantes são: restrição do acesso aos

recursos culturais do ambiente, limite do leque de escolhas profissionais oferecidas

estigma do qual a pessoa pode ser vítima.

No caso de um distúrbio relacionado a uma deficiência intelectual, é

problemático: a natureza da alteração orgânica não é necessariamente conhecida

(como é o caso do autismo) a mudança da função cognitiva só pode ser objetivada

em termos psicométricos. Ora, as apreciações psicométricas são realizadas com o

uso de instrumentos (“testes”) que apreendem apenas as funções intelectuais

socialmente valorizadas.

Em relação às dimensões da deficiência a missão da educação

especializada consiste em agir sobre as “incapacidades”. Reduzi-las ou remediá-

las, contudo, demanda inelutavelmente uma base nas capacidades da pessoa. Isto

implica transformar o olhar dirigido em sua direção: não se trata mais apenas de

determinar seus limites e sim, além disso, de ressaltar aquilo de que de fato é capaz.

Outra missão da educação

especializada menos evidente, mas

igualmente essencial, consiste em

intervir no eixo das desvantagens:

trata-se de diminui-las agindo sobre

a interação entre o indivíduo e o

meio.

Podemos concluir então que a Educação Especial destina-se aos

portadores de necessidades educativas especiais, ou seja, todas as pessoas que

precisam de métodos, recursos e procedimentos especiais durante o seu processo

de ensino-aprendizagem. Portadores de deficiência motora, sensorial, (auditiva ou

visual), cognitiva, altas habilidades, transtornos psicomotores, doenças crônicas,

transtornos de personalidade, autismo, psicoses, Síndrome de Down, deficiência

múltipla, inadaptação social, dependência química, dentre outros.

3.1 A Educação Especial no Brasil

No Brasil, o atendimento educacional aos excepcionais foi explicitamente

assumido, nacionalmente, pelo governo federal, com a criação de Campanhas

especificamente voltadas para este fim, a partir de 1957.

O primeiro projeto destinada aos portadores de deficiência mental e

condutas típicas ocorreu em 1960 com a criação da CADEME (Campanha Nacional

de Educação e Reabilitação de Deficientes Mentais). Esta tinha como finalidade

“promover em todo o território nacional, a educação, treinamento, reabilitação e

assistência educacional das crianças retardadas e outros deficientes mentais de

qualquer idade ou sexo”.

Em 03 de julho de 1973 foi criado pelo Decreto nº 72 425, do Presidente

Emílio Garrastazu Médici, o CENESP, Centro Nacional de Educação Especial, cuja

“finalidade é planejar, coordenar e promover o desenvolvimento da Educação

Especial no período pré-escolar, nos ensinos de 1º e 2º graus, superior e supletivo,

para os deficientes da visão, da audição, mentais, físicos, portadores de deficiências

múltiplas, educandos com problemas de conduta e os superdotados, visando a sua

participação progressiva na comunidade, obedecendo aos princípios doutrinários,

políticos e científicos que orientam a Educação especial”.

Em 1986 o órgão foi transformado na Secretaria de Educação Especial

(SESPE) e a sua coordenação transferida do Rio de Janeiro para Brasília.

Em 1990 o Ministério da Educação foi reestruturado e a SESPE extinta.

Suas atribuições relativas à Educação Especial foram passadas para a Secretária

Nacional de Educação Básica (SENEB).

O Decreto de nº 99 678, de 8 de novembro de 1990 incluiu como órgão da

SENEB o Departamento de Educação Supletiva e Especial (DESE) com

competências específicas com relação à Educação Especial.

Após a queda do Presidente Fernando Collor de Mello os ministérios

foram reorganizados e como órgão específico do Ministério da Educação e do

Desporto reapareceu a Secretaria de Educação Especial (SEESP).

Quanto à posição do órgão específico de educação especial na estrutura

administrativa do MEC, fica patenteada uma oscilação muito importante, no breve

espaço de dois anos (1990 – 1992). Tais alterações refletem, sem dúvida, opções

políticas diferentes que, por sua vez, criam desdobramentos nos campos financeiro,

administrativo e pedagógico.

Historicamente, os pais têm sido

uma importante força para as

mudanças no atendimento aos

portadores de deficiência. Os

grupos de pressão por eles

organizados têm seu poder político

concretizado na obtenção de

serviços e recursos especiais para

esses grupos, particularmente para

os portadores de distúrbios mentais

e auditivos.

Observa-se uma busca dos pais dos portadores de necessidade especiais

em recorrer a instituições especializadas gerenciadas pelos próprios pais, a exemplo

das APAEs (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e Sociedades

Pestalozzi.

Por outro lado, mais recentemente se tem registrado a organização dos

movimentos de portadores de deficiência. Segundo Mazzota, “tais grupos têm levado

suas necessidades ao conhecimento dos organismos governamentais em todos os

níveis do grupo social e pouco a pouco vêm-se fazendo esforços para assegurar

que, de alguma forma, suas carências sejam satisfeitas de modo mais eficiente”.

Reconhecer a evolução de atitudes dos não-deficientes e dos portadores

de deficiência em busca do conhecimento e aceitação mútua, bem como a

importância da organização de tais movimentos sociais, implica não cometer o

equívoco de concordar com posições tais como aquela segundo a qual “quem

entende de deficiente é o deficiente”. Agindo segundo esta posição, tanto os

“deficientes” quanto os “não-deficientes” solidificam, cada vez mais, a abordagem

estática das relações entre as pessoas e o ambiente. Identificar a importância da

participação dos mesmos no planejamento e na execução dos serviços e recursos a

eles destinados é, sem dúvida, um imperativo de uma sociedade que pretende ser

democrática. A capacidade de pressão dos grupos organizados por portadores de

deficiência tem sido evidenciada na própria elaboração da legislação sobre os vários

aspectos da vida social, nos últimos dez anos no Brasil. Exemplo maior está nas

conquistas efetivadas na Constituição Federal de 1988 e nas Constituições

Estaduais a partir dela. Na área da educação não são, ainda, tão objetivos os

resultados de tais movimentos, mas em reabilitação, seguridade social, trabalho e

transporte elas são facilmente identificadas.

3.2 Educação Especial : Legislação e Normas

Podemos dividir as políticas da educação especial ao longo de sua

evolução em quatro fases: de 1961 a 1971; de 1972 a 1985; de 1986 a 1993

3.2.1 De 1961 a 1971

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 4 024/61reafirmando o

direito dos excepcionais à educação, indica em seu Artigo 88 que, para integrá-los na

comunidade, sua educação deverá, dentro do possível enquadrar-se no sistema

geral de educação. Tem como princípio básico que a educação dos excepcionais

ocorra com a utilização dos mesmos serviços educacionais organizados para a

população em geral ou através de serviços especiais quando aquela situação não for

possível.

A Lei nº 5 692/71define como objetivo geral para os 1º e 2º graus de

ensino como o de “proporcionar ao educando a formação necessária ao

desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto-realização,

preparação para o trabalho e para o exercício consciente da cidadania”. No Artigo 9º

assegura “tratamento especial” aos “alunos que apresentem deficiências físicas ou

mentais, os que se encontrem em atraso considerável quanto à idade regular de

matrícula e os superdotados”.

3.2.2 De 1972 a 1985

O Parecer do Conselho Federal de Educação nº 848/72 aprovado em 10

de agosto de 1972 a respeito do Artigo 9º da Lei 5 692/71, o Conselheiro Valnir

Chagas diz que o “ tratamento especial de forma nenhuma dispensa o tratamento

regular em tudo o que deixe de referir- se à excepcionalidade”.

Em 1978 a Portaria Interministerial nº 186 estabelece que o atendimento

educacional será prestado em estabelecimentos dos sistemas de ensino (via

regular), cursos e exames supletivos adaptados, em Instituições Especializadas ou

simultaneamente em mais de um tipo de serviço. Recomenda que “sempre que

possível, as classes especiais deverão ser orientadas por professor especializado”.

O que não define uma exigência, mas uma recomendação.

Em tais diretrizes é atribuído um sentido clínico e/ou terapêutico à

educação especial, na medida em que o atendimento educacional assume o caráter

preventivo/corretivo. O encaminhamento dos excepcionais ao “sistema educacional”

fica condicionado a um diagnóstico a ser realizado, sempre que possível, em

serviços especializados da LBA/MPAS..

3.2.3 De 1986 a 1993

Em 28 de agosto de 1986, o Centro Nacional de Educação Especial, edita

a Portaria CENESP/MEC nº 69 usa pela primeira vez a expressão ‘educando com

necessidades especiais” em substituição à expressão “aluno excepcional”, que, daí

para frente é praticamente abolida dos textos oficiais.

A Lei 7853, de 24 de outubro de 1989, que estabelece “normas gerais

para o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de

deficiência e sua efetiva integração social”. No Inciso I define as medidas a serem

tomadas pelos órgãos da administração direta e indireta na área de educação:

a) A inclusão, no sistema educacional, da Educação Especial como

modalidade educativa que abranja a educação precoce, a pré-escolar,

as de 1º e 2º graus, a supletiva, a habilitação e reabilitação

profissionais, com currículos, etapas e exigências de diplomação

próprios;

b) A inserção, no referido sistema educacional, das escolas especiais,

privadas e públicas;

c) A oferta, obrigatória e gratuita, da Educação Especial em

estabelecimentos públicos de ensino;

d) O oferecimento obrigatório de programas de Educação Especial a nível

pré-escolar e escolar, em unidades hospitalares e congêneres nas

quais estejam internados, por prazo igual ou superior a um ano,

educando portadores de deficiência;

e) O acesso de alunos portadores de deficiência aos benefícios conferidos

aos demais educandos, inclusive material escolar, merenda escolar e

bolsas de estudo;

f) A matrícula compulsória em cursos regulares de estabelecimentos

públicos e particulares de pessoas portadoras de deficiência capazes

de se integrarem no sistema regular de ensino.

A Lei 8069, de 13 de julho de 1990 estabelece o Estatuto da Criança e do

Adolescente. Esta prescreve sua aplicação a crianças (de 0 a 12 anos incompletos),

adolescentes (de 12 a 18 anos) e, excepcionalmente, os cidadãos entre 18 e 21

anos. No seu Artigo 11 Parágrafos 1º e 2º que “a criança e o adolescente portadores

de deficiências receberão atendimento especializado”.

3.2.4 A partir de 1994

A Lei 9394 de 1996 no Artigo 59 define que os sistemas de ensino

assegurarão aos educandos com necessidades especiais:

I. Currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos,

para atender às suas necessidades;

II. Terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido

para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e

aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os

superdotados;

III. Professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para

atendimento especializado, bem como professores de ensino regular capacitados

para a integração desses educandos nas classes comuns;

A Lei 10172 de 2001 aprova o Plano Nacional de Educação e estabelece

objetivos e metas para a educação das pessoas com necessidades especiais. Metas

que tratam do desenvolvimento de programas educacionais em todos os municípios

– inclusive parceria com as áreas de saúde e assistência social – visando à

ampliação da oferta de atendimento desde a educação infantil até a qualificação

profissional dos alunos; das ações preventivas nas áreas visual e auditiva até a

generalização do atendimento aos alunos na educação infantil e no ensino

fundamental; do atendimento extraordinário em classes e escolas especiais ao

atendimento preferencial na rede regular de ensino; e da educação continuada dos

professores que estão em exercício à formação em instituições de ensino superior.

4. A INCLUSÃO DOS PORTADORES DE NECESSIDADES

ESPECIAIS NO

ENSINO REGULAR

Percorrendo os períodos da história universal, desde os mais remotos

tempos, evidenciam-se teorias e práticas sociais segregadoras, inclusive quanto ao

acesso ao saber. Poucos podiam participar dos espaços sociais nos quais se

transmitiam e se criavam conhecimentos. A pedagogia da exclusão tem origens

remotas, condizentes com o modo como estão sendo construídas as condições de

existência da humanidade em determinado momento histórico.

Os indivíduos com deficiências, vistos como “doentes” e incapazes,

sempre estiveram em situação de maior desvantagem, ocupando, no imaginário

coletivo, a posição de alvos da caridade popular e da assistência social, e não de

sujeitos de direitos sociais, entre os quais se inclui o direito à educação. Ainda hoje,

constata-se o preconceito na aceitação do “diferente” no seio familiar e social,

principalmente do portador de deficiências múltiplas e graves, que na escolarização

apresenta dificuldades acentuadas de aprendizagem.

Além desse grupo, determinados segmentos da comunidade permanecem

igualmente e à margem do sistema educacional. É o caso dos superdotados,

portadores de altas habilidades, “brilhantes” e talentosos que, devido a necessidades

e motivações específicas – incluindo a não aceitação da rigidez curricular e de

aspectos do cotidiano escolar – são tidos por muitos como trabalhosos e

indisciplinados, deixando de receber os serviços especiais de que necessitam, como

por exemplo o enriquecimento e aprofundamento curricular. Assim, esses alunos

muitas vezes abandonam o sistema educacional, inclusive por dificuldades de

relacionamento.

Outro grupo que é comumente excluído do sistema educacional é

composto por alunos que apresentam dificuldade de adaptação escolar por

manifestações condutuais peculiares de síndromes e de quadros psicológicos,

neurológicos ou psiquiátricos que ocasionam atrasos no desenvolvimento, problemas

acentuadas de aprendizagem e prejuízo no relacionamento social.

Certamente, cada aluno vai requerer diferentes estratégias pedagógicas,

que lhe possibilitem o acesso à herança cultural, ao conhecimento socialmente

construído e à vida produtiva, condições essenciais para a inclusão social e o pleno

exercício da cidadania. Entretanto, devemos conceber essas estratégias não como

medidas compensatórias e pontuais, e sim como parte de um projeto educativo e

social de caráter emancipatório e global.

A construção de uma sociedade inclusiva é um processo de fundamental

importância para o desenvolvimento e a manutenção de um Estado democrático.

Entende-se por inclusão a garantia, a todos, do acesso contínuo ao espaço comum

da vida em sociedade, onde a mesma deve estar orientada por relações de

acolhimento à diversidade humana, de aceitação das diferenças individuais, de

esforço coletivo na equiparação de oportunidades de desenvolvimento, com

qualidade, em todas as dimensões da vida.

Como parte integrante desse processo e contribuição essencial para a

determinação de seus rumos encontra-se a inclusão educacional.

4.1 A Integração dos Portadores de Necessidades Especiais nas classes do

ensino regular

Um longo caminho foi percorrido entre a exclusão e a inclusão escolar e

social. Até recentemente, a teoria e a prática dominantes relativas ao atendimento às

necessidades educacionais especiais de crianças, jovens e adultos, definiam a

organização de escolas e de classes especiais, separando essa população dos

demais alunos. Nem sempre, mas em muitos casos, a escola especial desenvolvia-

se em regime residencial e, consequentemente, a criança, o adolescente e o jovem

eram afastados da família e da sociedade. Esse procedimento conduzia,

invariavelmente, a um aprofundamento maior do preconceito.

Essa tendência, que já foi senso comum no passado, reforçava não só a

segregação de indivíduos, mas também os preconceitos sobre as pessoas que

fugiam do padrão de “normalidade”, agravando-se pela irresponsabilidade dos

sistemas de ensino para com essa parcela da população, assim como pelas

omissões e/ou insuficiência de informações acerca desse alunado nos cursos de

formação de professores. Na tentativa de eliminar os preconceitos e de integrar os

alunos portadores de deficiências nas escolas comuns do ensino regular, surgiu o

movimento de integração escolar.

Esse movimento caracterizou-se, de início, pela utilização das classes

especiais (integração parcial) na “preparação” do aluno para a “integração total” na

classe comum. Ocorria, com freqüência, o encaminhamento indevido de alunos para

as classes especiais e, consequentemente, a rotulação a que eram submetidos.

O aluno, nesse processo, tinha que se adequar à escola, que se mantinha

inalterada. A integração total na classe comum só era permitida para aqueles alunos

especiais que alcançassem os níveis mais elevados de ensino, dessa forma, a lista

dos excluídos do sistema educacional crescia assustadoramente.

A noção de integração tem sido compreendida de diversas maneiras,

quando aplicada à escola. Os diversos significados que lhe são atribuídos devem-se

ao uso do termo para expressar fins diferentes, sejam eles pedagógicos, sociais,

filosóficos e outros. O emprego do vocábulo é encontrado até mesmo para designar

alunos agrupados em escolas especiais para deficientes, ou mesmo em classes

especiais, grupos de lazer, residências para deficientes.

Por tratar-se de um constructo histórico recente, que data dos anos 60, a

integração sofreu a influência dos movimentos que caracterizaram e reconsideraram

outras idéias, como as de escola.

Os movimentos em favor da integração de crianças com deficiência

surgiram nos países nórdicos, na década de 60, quando se questionaram as práticas

sociais e escolares de segregação, assim como as atitudes sociais em relação às

pessoas com deficiência intelectual.

Uma das opções de integração escolar denomina-se mainstreaming, ou

seja, “corrente principal” e seu sentido é análogo a um canal educativo geral, que em

seu fluxo vai carregando todo tipo de aluno com ou sem capacidade ou necessidade

específica. O aluno com deficiência mental ou com dificuldade de aprendizagem,

pelo conceito referido, deve ter acesso à educação, sua formação sendo adaptada

às suas necessidades específicas. Existe um leque de possibilidades e de serviços

disponíveis aos alunos, que vai da inserção nas classes regulares ao ensino em

escolas especiais. Este processo de integração se traduz por uma estrutura intitulada

sistema de cascata, que deve favorecer o “ambiente o menos restrito possível”,

oportunizando ao aluno, em todas as etapas da integração, transitar no “sistema”, da

classe regular ao ensino especial. Trata-se de uma concepção de integração parcial,

porque a cascata prevê serviços segregados que não ensejam o alcance dos

objetivos da normalização. De fato, os alunos que se encontram em serviços

segregados muito raramente se deslocam para os menos segregados e, raramente

às classes regulares. A crítica mais forte ao sistema de cascata e às políticas de

integração do tipo mainstreaming afirma que a escola oculta seu fracasso, isolando

os alunos e só integrando os que não constituem um desafio à sua competência.

4.2 A Realidade da Inclusão

A outra opção de inserção é a inclusão, que questiona não somente as

políticas e a organização da educação especial e regular, mas também o conceito de

integração – mainstreaming. A noção de inclusão não é incompatível com a

integração, porém institue a inserção de uma forma mais radical, completa e

sistemática. O conceito se refere à vida social e educativa e todos os alunos devem

ser incluídos nas escolas regulares e não somente colocados na “corrente principal”.

O vocábulo integração é abandonado, uma vez que o objetivo é incluir um aluno ou

um grupo de alunos que já foram anteriormente excluídos; a meta primordial da

inclusão é a de não deixar ninguém no exterior do ensino regular, desde o começo.

As escolas inclusivas propõem um modo de se constituir o sistema educacional que

considera as necessidades de todos os alunos e que é estruturado em função das

diversidades.

A inclusão causa uma mudança de perspectiva educacional, pois não se

limita a ajudar somente os alunos que apresentam dificuldades na escola, mas apóia

a todos: professores, alunos, pessoal administrativo, para que obtenham sucesso na

corrente educativa geral.

O impacto dessa concepção é considerável, porque ela supõe a abolição

completa dos serviços segregados.

Na era atual, batizada como a era dos direitos, pensa-se diferentemente

acerca das necessidades educacionais de alunos. A ruptura com a ideologia da

exclusão proporcionou a implantação da política de inclusão, que vem sendo

debatida e exercitada em vários países, entre eles o Brasil.

A educação tem hoje, portanto, um grande desafio: garantir o acesso aos

conteúdos básicos que a escolarização deve proporcionar a todos os indivíduos –

inclusive àqueles com necessidades educacionais especiais, particularmente alunos

que apresentam altas habilidades, precocidade, superdotação; condutas típicas de

síndromes/quadros psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos; portadores de

deficiências, ou seja, alunos que apresentam significativas diferenças físicas,

sensoriais ou intelectuais, decorrentes de fatores genéticos, inatos ou ambientais, de

caráter temporário ou permanente e que, em interação dinâmica com fatores

socioambientais, resultam em necessidades muito diferenciadas da maioria das

pessoas.

Hoje, a legislação brasileira posiciona-se ao atendimento dos alunos com

necessidades educacionais especiais preferencialmente em classes comuns das

escolas, em todos os níveis, etapas e modalidades de educação e ensino. Esta

opção pelo sistema educacional inclusivo ocorreu quando o governo brasileiro

concordou com a Declaração Mundial de Educação para Todos, firmada em Jomtien,

na Tailândia, em 1990, e mostrou consonância com os postulados produzidos em

Salamanca (Espanha, 1994) na Conferência Mundial sobre Necessidades

Educacionais Especiais: Acesso e Qualidade.

Neste documento foram traçadas algumas metas importantes para o

processo de inclusão, como o direito fundamental à educação para todas as crianças

garantindo a oportunidade de obter e manter um nível aceitável de conhecimento;

recognição das características, interesses, capacidades e necessidades de

aprendizagem próprias do indivíduo; projeção de sistemas educacionais e de

propostas pedagógicas que alcancem as peculiaridades de cada indivíduo; direito

dos deficientes e de seus pais em manifestar os desejos quanto a educação.

A questão da inclusão dos portadores de necessidades especiais no

ambiente escolar precisa ser debatida pela sociedade. Não basta simplesmente tirar

uma criança da classe especial e introduzi-la na turma do ensino regular, é preciso

que toda a comunidade escolar - professores, alunos, pais, deficientes, sua família e

o pessoal de apoio – estejam preparados para conviver com essas crianças e,

principalmente reconhecer suas dificuldades e suas características próprias. O

incluir por si pode provocar sérios problemas para o portador de necessidades

especiais e, consequentemente, gerar a sua exclusão.

Tornar a educação inclusiva em nosso país uma realidade, representa

implantar gradativamente seus mecanismos, para que tanto a educação especial

como o ensino regular se adaptem a nova proposta. Construindo políticas, práticas

institucionais e pedagógicas que garantam o incremento da qualidade do ensino, que

envolve alunos com ou sem necessidades educacionais especiais.

Para que se avance nessa direção, é essencial que os sistemas de ensino

busquem conhecer a demanda real de atendimento a alunos com necessidades

educacionais especiais, mediante a criação de sistemas de informação – que, além

do conhecimento da demanda, possibilitem a identificação, análise, divulgação e

intercâmbio de experiências educacionais inclusivas – e o estabelecimento de

interface com os órgãos governamentais responsáveis pelo Censo Escolar e pelo

Censo Demográfico, para atender a todas as variáveis implícitas à qualidade do

processo formativo desses alunos.

4.2.1 A formação do professor

O princípio democrático da

educação para todos só se

evidencia nos sistemas

educacionais que se especializam

em todos os alunos, não apenas em

alguns deles, os portadores de

deficiência. A inclusão, como

conseqüência de um ensino de

qualidade para todos os alunos

provoca e exige da escola brasileira

novos posicionamentos e é um

motivo a mais para que o ensino se

modernize e para que os

professores aperfeiçoem as suas

práticas. É uma inovação que

implica num esforço de atualização

e reestruturação das condições

atuais da maioria de nossas escolas

de nível básico.

O professor deve ser preparado

para trabalhar com todos os alunos,

através de cursos de

aperfeiçoamento, grupos de estudo,

palestras, trocas de experiências

com docentes de outras escolas e

intercâmbio com os profissionais

da área de saúde. Desta forma ele

terá condições de trabalhar a

proposta pedagógica adequada ao

portador de necessidade especial

de sua classe, visando sempre não

segregá-lo.

Uma das grandes dificuldades do

processo de inclusão no Brasil tem

acontecido a partir da 5ª série do

ensino fundamental quando as

disciplinas são separadas e

ministradas por professores

diferentes. As chances de todos os

professores aceitarem a inserção

do deficiente são mínimas e pode

repercutir na postura da turma de

forma negativa e excludente.

4.2.2 A Adaptação do Espaço Físico

Para um portador de necessidades

educacionais especiais a espaço

físico pode ter uma importância

fundamental em sua mobilidade

(deficiência física ou visual) e

concentração (autistas, TDAH). é

necessário adaptar o espaço para

que este se torne mais seguro e

estimulante.

4.2.3 A fixação do tempo e do espaço escolar

A fixação do tempo e do espaço tem

contribuído de forma negativa para

o processo de reconhecimento e

auto-estima dos indivíduos

considerados deficientes. Uma

coisa é circular, dividir e conviver

com a diversidade humana no

espaço, outra é nesse espaço, ser

constantemente comparado e

avaliado a partir do tempo de

aprendizagem e desempenho do

outro. A escola regular

convencional dilui a história dos

seus alunos, balizando suas ações

e seus desempenhos. A

particularidade do desenvolvimento

que envolve o elemento tempo, fica

relegado a segundo ou terceiro

plano pois, afinal de contas, no

ideário dessa escola, somos todos

iguais concreta e abstratamente

representados. Essa “cultura

escolar” que parece ter “vida

própria” tem contribuído de forma

decisiva para excluir os

“diferentes”. É necessário a

reformulação curricular e das

práticas pedagógicas antes de

iniciar uma processo de inclusão,

para que não ocorra o oposto, a

discriminação.

4.3 A Inclusão do Autista no Ensino Regular

No Brasil, em especial no Rio de Janeiro, ainda é raro a inclusão de crianças

autistas no ensino regular, seja em instituições de ensino privadas ou públicas. A

questão do distúrbio de linguagem dificulta o diagnóstico e muitas vezes, atrasa o

ingresso destas na escola. Por outro lado, a necessidade de trabalhar a socialização

leva muitos professores a desistirem e acabam por encaminhá-las para classe

especial e sala de recursos. Mas existem meios de ensinar esse indivíduo, basta que

o professor esteja preparado para adequar o seu planejamento às necessidades do

autista e promover entre os demais alunos o sentido de solidariedade.

Para receber esta criança o professor deve organizar a sala a fim de,

efetivamente, conseguir ensinar os alunos, pois os autistas respondem bem aos

sistemas organizados. É necessário que o mestre compreenda que as dificuldades

de linguagem receptiva (compreensão das mensagens ouvidas) são características

deste distúrbio e que muitas vezes o aluno pode não entender a mensagem quando

o professor está acreditando que ele esteja entendendo, causando, assim, uma

reação de agressividade ou de falta de iniciativa. Pode acontecer também que a

criança não possua linguagem suficiente para comunicar verbalmente ao professor

que está cansado, com fome, com sede, exceto através de birras ou pirraças.

Ele pode ter uma memória seqüencial pobre (memória da seqüência dos fatos,

sons) e não conseguir manter a ordem dos eventos, mesmo que os cotidianos, ou

não ter certeza quando algo diferente irá acontecer. Geralmente ele se sente mais

confortável permanecendo em atividades que “já conhece” resistindo em aprender as

novas. Muitas vezes ele é incapaz de se organizar ou impor limites a seu próprio

comportamento e não tem noção das regras sociais. Isso pode resultar na tentativa

de “chamar atenção” dos outros de forma imprópria ou de se isolar.

A hipersensibilidade sensorial pode levar, com freqüência, a distúrbios de

comportamento. A distraibilidade e falta de noção e organização da temporalidade

podem também causar comportamentos que interferem na aprendizagem.

O educador que tem uma criança autista em sua classe deve manter contato

com os terapeutas e os pais, pois o trabalho conjunto pode levá-lo a compreender

determinados tipos de alterações no comportamento de seu aluno.

É imprescindível a paciência e a percepção das pessoas que convivem com o

portador da síndrome autística. Ao mesmo tempo que mostram ter um certo grau de

inteligência, alguns aparentemente acima do normal, se fecham no seu “mundinho” e

se negam ao afeto. É preciso aprender a dar carinho e não esperar receber em troca

um olhar diferente ou um beijo. Na realidade o autista é uma pessoa muito especial.

CONCLUSÃO

A exclusão social é uma realidade.

Sua origem está no processo de

ocupação do território brasileiro.

Durante a colonização, os índios,

elementos com traços, hábitos e

visão de vida diferentes, foram

submetidos e dizimados, pois,

segundo o opressor, eram seres de

uma raça inferior. Mais tarde os

negros chegaram forçadamente e o

tratamento foi o mesmo, foram

escravizados e impedidos de

praticar suas crenças e toda a sua

cultura foi quase que podada.

Afinal, era uma sub-raça. O mundo

evoluiu e, aos poucos, o homem

mudou a sua forma de pensar, mas

a segregação, o preconceito e as

injustiças continuaram a existir.

O deficiente mental, assim como os índios e negros o foram no processo

de conquista do país, continua a ser excluído, apesar dos avanços da tecnologia

aplicada à educação e a reabilitação.

Numa sociedade democrática, onde a Legislação assegura direitos iguais

para todos, é necessário mudar essa situação, principalmente na base de toda a

estrutura social – a educação. O isolamento destas pessoas em escolas especiais ou

manicômios, impede que as nossas crianças percebam as diversidades da vida. É

como se elas fossem conviver por toda a sua existência com tudo arrumadinho, sem

problemas.

A escola precisa trabalhar a heterogeneidade para se tornar mais real.

Isso representa incluir no ensino regular os portadores de necessidades especiais. A

proposta de inclusão visa inserir esses indivíduos em vários segmentos da

sociedade, como educação, saúde, lazer, trabalho e justiça. Isso implica acolher a

todos os membros de um dado grupo, independentemente de suas peculiaridades; é

considerar que as pessoas são seres únicos, diferentes uns dos outros e, portanto,

sem condições de serem categorizados.

Para que a inserção ocorra de forma coerente e sem deixar seqüelas em

todos os envolvidos no processo, é preciso que todo o sistema educacional seja

reformulado, a começar pela formação do professor. Este deve ser capacitado no

sentido de compreender que é professor de qualquer pessoa. Não deve ser

preparado para trabalhar apenas com um determinado grupo. Todo professor deveria

aprender, no seu curso de formação, a leitura dos sinais, um pouco de Braille,

conhecer as características de cada um dos distúrbios que podem ocorrer na

infância, como a dislexia, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, o

autismo, a esquizofrenia. No caso de surgir na escola uma criança com uma

determinada deficiência o regente da classe teria condições de detectar o tipo de

necessidade especial e traçar planos para trabalhar com ela e ao mesmo tempo com

os demais alunos. Poderia montar um plano para inseri-lo no grupo impedindo,

assim, a discriminação.

Para que a inclusão não traga prejuízos severos ao deficiente e à sua

família é necessário mudar concepções antigas e preconceitos enraizados por toda

uma história. É preciso que os pais dos alunos ditos “normais” entendam as

limitações de cada indivíduo e possam ajudar os professores a mostrar aos seus

filhos novos valores, como a solidariedade e amizade.

Não adianta criar decretos que mudem a proposta pedagógica da escola

com o objetivo de defini-la como uma instituição inclusiva, se não ocorre a mudança

de toda a estrutura física e pessoal dos estabelecimentos de ensino. É necessário

adequar o ambiente à deficiência. No caso do autista não deve existir na sala de aula

muitos estímulos, que desviem a sua atenção; determinados tipos de sons pode

deixá-los irritados e devem ser evitados, pois podem culminar em um processo de

agressividade.

A Educação Inclusiva deve ser uma

realidade nacional tanto na rede

pública como na rede privada de

ensino, para que haja realmente um

espaço amplo e democrático,

destinado a todos. A perspectiva é

que a educação se concretize na

escola, contemplando sempre à

diversidade que compõe o corpo

escolar, não só nos debates

políticos, acadêmicos,

profissionais, mas contando com

uma clareza de diretrizes e provisão

de meios para que a ação

educacional se torne abrangente,

integradora, inclusiva, em todos os

níveis da administração

educacional e, particularmente no

interior das escolas e em suas

relações dinâmicas com a

sociedade.

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