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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO-CAMPUS I
CURSO DE PEDAGOGIA-ANOS INICIAIS
ERICA DE JESUS MIRANDA
O TRABALHO DOCENTE: UM ESTUDO DE CASO NA ESCOLA
MUNICIPAL DA ENGOMADEIRA
Salvador 2011
ERICA DE JESUS MIRANDA
O TRABALHO DOCENTE: UM ESTUDO DE CASO NA ESCOLA
MUNICIPAL DA ENGOMADEIRA
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia-Anos Iniciais no Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus I, sob Orientação da Prof.ª Dr.ª Tânia Regina Dantas.
Salvador
2011
FICHA CATALOGRÁFICA
Sistema de Bibliotecas da UNEB
Miranda, Érica de Jesus
O trabalho docente: um estudo de caso na Escola Municipal da Engomadeira / Érica de
Jesus Miranda. – Salvador, 2011.
53f.
Orientadora: Profª. Tânia Regina Dantas
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia.
Departamento de Educação. Colegiado de Pedagogia. Campus I. 2011.
Contém referências e apêndice.
1. Prática pedagógica. 2. Professores de ensino fundamental - Salvador (BA). 3. Prática de
ensino. 4. Aprendizagem. I. Dantas, Tânia Regina. II. Universidade do Estado da Bahia,
Departamento de Educação.
CDD: 370.71
ERICA DE JESUS MIRANDA
O TRABALHO DOCENTE: UM ESTUDO DE CASO NA ESCOLA
MUNICIPAL DA ENGOMADEIRA
Salvador_____de______________de______.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________
Prof.ª Drª Tânia Regina Dantas
_______________________________________________________
Prof.ª Ms. Rilza Cerqueira Santos
_______________________________________________________
Prof.ª Ms. Claudia Silva de Santana
Dedico este trabalho aos meus pais que
acreditaram em mim e às pessoas que estão
de alguma forma envolvidas na área de
Educação.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter me concedido força nessa caminhada e sabedoria para
desenvolver este trabalho.
À minha família que me incentivou nessa jornada, em especial aos meus pais
queridos, Claudia Miranda e Manoel Miranda e ao meu namorado Kleber, pelo
auxílio, conselho e palavras de amor e força que me impulsionaram a não desistir
jamais do meu propósito e seguir em frente.
Agradecimento especial, a minha tia Tatiana que esteve sempre presente com suas
palavras maravilhosas que soavam aos meus ouvidos como bálsamo encorajador.
À Professora Tânia Regina Dantas pelas orientações que proporcionaram maiores
esclarecimentos, pelas críticas e sugestões que foram bastante enriquecedoras para
o desenvolvimento deste trabalho.
A todos da turma, em especial a Ana Claudia, Viviane, Valdelice, Rosa e Fátima pela
convivência durante o processo de construção deste trabalho.
À Escola Municipal da Engomadeira por ter permitido o acesso para o
desenvolvimento da pesquisa.
E a todos os professores que contribuíram nessa caminhada para a graduação.
“Não há docência sem discência, as duas se
explicam e seus sujeitos apesar das diferenças
que os conotam, não se reduzem à condição
de objeto, um do outro”.
Paulo Freire
(1996, p. 23)
RESUMO
Esta monografia estuda o trabalho docente em sua relação com o processo de ensino e aprendizagem. O presente trabalho de pesquisa tem como objetivo analisar os fundamentos teóricos do trabalho docente e assim, estabelecer a relação com o ensino e a aprendizagem. A pergunta norteadora da pesquisa é: de que forma se dá a relação entre o trabalho docente e o processo de ensino-aprendizagem? Inicialmente, é desenvolvida uma consulta bibliográfica sobre o trabalho docente como uma profissão de interações humanas, dando ênfase aos aspectos importantes como concepções sobre trabalho docente, desafios do trabalho do professor, relação professor-aluno e o papel do professor no processo de ensino e aprendizagem, estabelecendo um diálogo com diversos autores que abordam o tema em estudo. Em seguida, são apresentadas as trilhas percorridas na pesquisa, partindo da escolha da abordagem qualitativa por permitir uma maior aproximação entre o pesquisador e o objeto de pesquisa, dando ênfase aos aspectos qualitativos e priorizando o sujeito. Por fim, apresenta-se a análise dos dados da pesquisa, tomando como base a prática docente na Escola Municipal da Engomadeira. Os resultados desta pesquisa foram divididos em três categorias de análise: concepções dos professores sobre a natureza do trabalho docente, interatividade: fator essencial no trabalho docente e a relação entre o trabalho docente e o processo de ensino-aprendizagem. O trabalho docente, objeto desse estudo, é uma profissão de interações humanas, uma vez que o trabalhador em questão, que é o professor, é um ser humano e dedica-se a outro ser humano, que é o aluno. Portanto, percebe-se nessa pesquisa a importância da interação humana para o trabalho docente, pois fica comprovado que a relação entre o trabalho docente e o processo de ensino-aprendizagem ocorre num contexto de interações humanas, onde professores e alunos participam conjuntamente como atores ativos que interagem para construir conhecimento. Palavras chave: Trabalho docente - Interações humanas - Ensino-aprendizagem.
ABSTRACT
This monograph examines the teaching in its relation to the teaching and learning. This research work aims to analyze the theoretical foundations of teaching and thus establish the relationship with the teaching and learning. The guiding research question is: how to give the relationship between teaching and teaching-learning process? Initially, a query is developed literature on teaching as a profession of human interactions, emphasizing the important ideas about how teachers' work, work challenges the teacher, teacher-student relationship and the role of the teacher in teaching and learning, establishing a dialogue with other authors on the topic under study. Then the tracks are presented in the survey covered, starting from the choice of a qualitative approach to allow a closer relationship between the researcher and research subject, emphasizing the quality and prioritizing the subject. Finally, we present the analysis of survey data, based on teaching practice at the Municipal School of ironing. The results of this research were divided into three categories as follows: teachers' conceptions about the nature of teaching, interactivity, a key factor in teaching and the relationship between teaching and teaching-learning process. The work of teachers, the object of this study, is a profession of human interactions, since the worker in question, which is the teacher, is a human being and dedicated to another human being, which is the student. Therefore, it can be seen in this study the importance of human interaction for teachers' work, as it is shown that the relationship between teaching and teaching-learning process occurs in a context of human interactions, where teachers and students participate together as actors assets interact to construct knowledge. Keywords: Teaching work - Human interactions - Education and learning.
LISTA DE SIGLAS
Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd)
Centro Universitário Jorge Amado (UNIJORGE)
Ciclo de Estudos Básicos (CEB)
Faculdade Católica de Ciências Econômicas da Bahia (FACCEBA)
Faculdade de Afonso Cláudio (FAAC)
Faculdades Integradas Olga Mettig (FAMETTIG)
Programa de Educação de Adultos (PEA)
Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................11
2. TRABALHO DOCENTE: UMA PROFISSÃO DE INTERAÇÕES HUMANAS......15
2.1 CONCEPÇÕES SOBRE TRABALHO DOCENTE...............................................16
2.2 DESAFIOS DO TRABALHO DO PROFESSOR...................................................20
2.3 RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO.......................................................................23
2.4 O PAPEL DO PROFESSOR NO PROCESSO DE ENSINO E
APRENDIZAGEM.......................................................................................................26
3. TRILHAS PERCORRIDAS NA PESQUISA...........................................................30
3.1 A ESCOLHA DA ABORDAGEM QUALITATIVA E SUAS CARACTERÍSTICAS
BÁSICAS....................................................................................................................30
3.2 OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA.............................31
3.3 ESPAÇO ESCOLAR E PARTICIPANTES DA PESQUISA..................................35
4. A PRÁTICA DOCENTE NA ESCOLA MUNICIPAL DA ENGOMADEIRA............39
4.1 CONCEPÇÕES DOS PROFESSORES SOBRE A NATUREZA DO TRABALHO
DOCENTE .................................................................................................................39
4.2 INTERATIVIDADE: FATOR ESSENCIAL NO TRABALHO DOCENTE...............42
4.3 A RELAÇÃO ENTRE O TRABALHO DOCENTE E O PROCESSO DE ENSINO-
APRENDIZAGEM ......................................................................................................47
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................50
REFERÊNCIAS..........................................................................................................52
APÊNDICE.................................................................................................................54
11
1. INTRODUÇÃO
A temática do presente trabalho de pesquisa pontua o trabalho docente em
sua relação com o processo de ensino e aprendizagem. O trabalho docente, objeto
desse estudo, requer constante reflexão e aprofundamento porque é complexo e
interativo, uma vez que produz resultados sobre o humano. Este tema é de suma
importância, pois a interação é um fator que deve ser considerado quando se
pretende compreender os fundamentos teóricos e as dimensões do trabalho
docente.
Este trabalho tem como objetivo geral analisar os fundamentos teóricos do
trabalho docente e, assim, estabelecer a relação com o ensino e a aprendizagem.
Como objetivos específicos pretende identificar concepções sobre trabalho docente;
reconhecer a relação entre o trabalho docente e o processo de ensino-
aprendizagem.
O enfoque deste tema deve-se ao reconhecimento da relevância que o
trabalho docente tem no processo de ensino-aprendizagem e surge das
observações da prática docente, realizadas ao longo do período de estágio
supervisionado.
A escolha do tema se justifica na inquietação sobre a inaceitável forma que
muitos docentes desenvolvem o seu trabalho em sala de aula, estabelecendo uma
relação fria, sem interação, sem mediação, fragilizando a construção do
conhecimento para com os discentes e influenciando negativamente no processo de
ensino-aprendizagem. Para esses docentes, tem faltado a conscientização de que
não há docência sem discência (FREIRE, 1996, p. 21); essa conscientização
capacita a reflexão de que o trabalho docente, na relação que o educador
desenvolve com o educando, influencia diretamente no processo de ensino e
aprendizagem.
Este tema tem bastante importância para a formação de professores, pois a
forma que o docente desenvolve seu trabalho numa sala de aula tem notável
influencia no processo de aprendizagem. Portanto, é necessária uma reflexão sobre
o que os docentes têm feito para que haja um ambiente harmonioso, de valorização
de conhecimentos, de troca, onde se preza a interatividade, desenvolvendo práticas
12
educativas onde todos possam construir juntos e gerar uma aprendizagem
significativa.
A forma que o professor conduz o seu trabalho, pode influenciar positiva ou
negativamente no processo de ensino-aprendizagem. Percebe-se atualmente que
muitos profissionais docentes desenvolvem o seu trabalho em sala de aula de uma
forma autoritária, desumana, colocando-se sempre em posição elevada, distante dos
alunos, agindo como se fossem detentores do saber, que estão ali para transferir
conhecimentos e os alunos como folhas de papel em branco a serem preenchidas.
Esses profissionais não valorizam a interação e desenvolvem uma relação fria,
distante, cheia de entraves e barreiras que acabam prejudicando o processo de
aprendizagem. Partindo dessa reflexão, surge a questão problema: de que forma se
dá a relação entre o trabalho docente e o processo de ensino-aprendizagem?
Pensar sobre o trabalho docente é uma atividade importantíssima que se
intensifica nos últimos anos. Percebe-se atualmente que o tema proposto tem
ocupado boa parte das discussões em seminários, palestras, cursos de extensão
sobre educação, impulsionando a investigar, discutir, analisar e identificar fatores
que giram e estão inteiramente ligados ao trabalho docente. Autores como Tardif e
Lessard, Libâneo, Arroyo, Charlot, Freire, entre outros, se debruçam sobre este
tema apresentando concepções relevantes.
Este trabalho monográfico adotou a abordagem qualitativa, por permitir uma
maior aproximação entre o pesquisador e o objeto de pesquisa, dando ênfase às
qualidades e priorizando o sujeito. Dentre as estratégias de pesquisa que podem ser
utilizadas em uma abordagem qualitativa, foi escolhido o estudo de caso, uma vez
que este pode ser centralizado na relação que se dá entre o trabalho docente e o
processo de ensino-aprendizagem diante da amplitude de fatores que rodeiam a
educação. A análise de dados seguiu um processo indutivo, pois partiu de situações
minuciosas, particulares, singulares, das mais concretas para as mais gerais, mais
globais.
Inicialmente, o trabalho estava centrado em uma consulta bibliográfica,
desenvolvendo-se a investigação e os estudos sobre autores como Tardif e Lessard,
Pimenta, Freire, Zabala, Arroyo, Vallejo, Nóvoa, Charlot, Libâneo, entre outros, que
abordam teorias relevantes sobre o tema em estudo. Em seguida, para embasar e
favorecer a pesquisa foi realizado um trabalho de campo na Escola Municipal da
Engomadeira, que teve como finalidade proporcionar maiores esclarecimentos de
13
como se dá a relação entre o trabalho docente e o processo de ensino e
aprendizagem na referida escola.
Este estudo monográfico abordará o tema em três capítulos. O primeiro
capítulo discute o trabalho docente como uma profissão de interações humanas,
dando ênfase aos aspectos importantes como concepções sobre o trabalho docente,
onde apresenta-se concepções de vários autores acerca do trabalho docente; em
seguida, discute-se os desafios do trabalho do professor, a relação professor-aluno
e, por fim, o papel do professor no processo de ensino e aprendizagem, por
entender que esses são aspectos relevantes no trabalho docente.
O segundo capítulo relata as trilhas percorridas na pesquisa. Partindo da
escolha da abordagem qualitativa e de suas características básicas, foi realizada
uma entrevista com três professoras. Em seguida, aborda-se os procedimentos
metodológicos da pesquisa e, por fim, são apresentados o espaço em que ocorreu a
investigação e as características dos participantes.
O terceiro capítulo aborda a análise dos dados da pesquisa, tomando como
base a prática docente na Escola Municipal da Engomadeira. Essa análise será
dividida em três categorias, sendo elas: concepções dos professores sobre a
natureza do trabalho docente, interatividade: fator essencial no trabalho docente e a
relação entre o trabalho docente e o processo de ensino-aprendizagem.
Pretende-se considerar também novas perspectivas, para que seja possível
adotar posturas mais abertas e mais humanas em relação às formas que muitos
docentes desenvolvem o seu trabalho em sala de aula, pois o trabalho docente pode
influenciar diretamente no processo de ensino e aprendizagem, além de
acrescentar, aprofundar e inovar teorias e conhecimentos que estão ligados à essa
temática.
Espera-se que esse trabalho de pesquisa possa contribuir para que os
docentes despertem e reflitam sobre o papel da docência “como uma forma
particular de trabalho sobre o humano, ou seja, uma atividade em que o trabalhador
se dedica ao seu “objeto” de trabalho, que é justamente um outro ser humano, no
modo fundamental da interação humana.” (TARDIF e LESSARD, 2011, p.8)
É fundamental reconhecer que o trabalho docente, onde são envolvidos
professores e alunos, requer um olhar voltado para a construção não apenas de
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conhecimento, mas de sujeitos autônomos, que devem interagir durante o processo
de ensino-aprendizagem e desenvolver uma prática escolar que propicie esta
realidade.
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2. TRABALHO DOCENTE: UMA PROFISSÃO DE INTERAÇÕES
HUMANAS
Neste capítulo, apresenta-se o trabalho docente como uma profissão de
interações humanas, dando ênfase aos aspectos importantes como concepções
sobre o trabalho docente, desafios do trabalho do professor, relação professor-aluno
e o papel do professor no processo de ensino e aprendizagem, estabelecendo um
diálogo com diversos autores que abordam esses temas.
O trabalho docente, objeto desse estudo, pode ser considerado como uma
profissão de interações humanas, uma vez que o trabalhador em questão, que é o
professor, dedica-se a outro ser humano, que é o aluno. Isso pode ser verificado em
Tardif e Lessard (2011, p. 8) quando conceituam docência “como uma forma
particular de trabalho sobre o humano, ou seja, uma atividade em que o trabalhador
se dedica ao seu “objeto” de trabalho, que é justamente um outro ser humano, no
modo fundamental da interação humana.” Quando se fala em profissão de
interações humanas é justamente porque o trabalho docente é uma atividade
interativa, um trabalho sobre e com o humano.
Esse trabalho interativo é importante e ao mesmo tempo complexo porque é
uma relação entre pessoas. É um trabalho ativo onde tanto o trabalhador quanto o
sujeito a quem o trabalho está sendo dedicado, agem e interagem entre si, visto que
são seres humanos, seres pensantes, críticos, reflexivos, com desejos, emoções e
sentimentos, diferente do trabalho desenvolvido com o objeto material como, por
exemplo, as máquinas, no caso do trabalho industrial que são manipuladas
fisicamente, manejadas, trabalhadas e no máximo podem ter reações materiais. Isso
foi constatado e explicado por Tardif e Lessard.
(...) o objeto material não oferece nenhuma resistência ao trabalhador: sua substância material é apenas reativa e não ativa; além disso, esse objeto é fundamentalmente serial, o que significa que não se trata de um indivíduo que possui suas próprias autodeterminações, mas do exemplar de uma série, a qual define suas características ontológicas. Enfim, esse objeto material pode ser tratado conforme uma lógica puramente instrumental e axiologicamente neutra: ele pode ser desfeito, refeito, consumido, vendido, etc. (TARDIF e LESSARD, 2011, p. 32).
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O professor trabalha em favor do crescimento pessoal do indivíduo e para
isso tem que haver o contato e a interação pessoal. Pimenta quando conceitua o
professor destaca essa humanização:
O professor é um profissional do humano que: ajuda o desenvolvimento pessoal / intersubjetivo do aluno; um facilitador do acesso do aluno ao conhecimento (informador informado); um ser de cultura que domina de forma profunda sua área de especialidade (científica e pedagógico / educacional) e seus aportes para compreender o mundo; um analista crítico da sociedade, portanto, que nela intervém com sua atividade profissional; um membro de uma comunidade de profissionais, portanto científica (que produz conhecimento sobre sua área) e social. (PIMENTA, 2002, p. 44).
Essa perspectiva direciona a pensar o trabalho docente na prática educativa
por conta da grande influência que exerce sobre o desenvolvimento do aluno e a
inquestionável responsabilidade que tem o professor no sentido de estar preparado
em sua área de especialidade.
Pensar acerca do trabalho docente como uma profissão de interações
humanas impulsiona a discutir vários assuntos, visto que do próprio tema pode-se
levantar aspectos relevantes para a vida de um educador e direcionar o trabalho
docente na prática educativa, repensar os desafios encontrados pelo professor na
sua prática.
Refletir sobre o trabalho docente é uma atividade importantíssima, pois,
atualmente, tem havido muitos debates sobre esse tema. Autores como Tardif e
Lessard, Libâneo, Arroyo, Charlot, Freire, entre outros, se debruçam neste tema
apresentando concepções relevantes que merecem ser apresentadas. Diante disso,
percebe-se a importância de discutir sobre concepções a respeito do trabalho
docente.
2.1 CONCEPÇÕES SOBRE TRABALHO DOCENTE
Antes do diálogo com os autores a respeito das concepções sobre o trabalho
docente é importante o destaque ao conceito de trabalho. Uma das possíveis
definições é a do trabalho como exercício de atividade humana, quer seja manual ou
intelectual. Entende-se o trabalho como uma ação que exige algum tipo de esforço,
seja ele físico ou intelectual, para produzir algo, para alcançar objetivos. Até
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alcançar seus objetivos, o homem pode criar diversos meios que o possibilitem, ou
seja, o homem é capaz de projetar o seu próprio trabalho.
Landini (2008, p. 123) entende o trabalho como “um processo de objetivação,
que tem como base a ação consciente do homem frente às necessidades e às
condições concretas”. A autora encara o trabalho como ações para alcançar
objetivos. Realmente é uma ação consciente do homem para alcançar objetivos,
onde ele pode até projetar o seu trabalho como foi dito anteriormente. Landini vai
além e relata que:
O trabalho humano é um processo que contém em si as formas por meio das quais os homens se auto-realizam, transformam conscientemente o mundo objetivo e a si mesmos, ativando uma série de conexões que expressam a materialidade e a subjetividade e agem na direção do desenvolvimento humano. (LANDINI, 2008, p. 123).
O conceito que Landini apresenta sobre o trabalho humano agindo na direção
do desenvolvimento humano remete ao trabalho docente, que é um trabalho
humano. O trabalho do professor tem como objetivo, além da aprendizagem, o
desenvolvimento humano. Landini demonstra também ter essa concepção quando
declara que “o significado da ação docente está relacionado ao desenvolvimento do
gênero humano”. (LANDINI, 2008, p. 123).
De acordo com Tardif e Lessard, trabalhar é:
agir num determinado contexto em função de um objetivo, atuando sobre um material qualquer para transformá-lo através do uso de utensílios e técnicas. No mesmo sentido, ensinar é agir na classe e na escola em função da aprendizagem e da socialização dos alunos, atuando sobre sua capacidade de aprender, para educá-los e instruí-los com a ajuda de programas, métodos, livros, exercícios, normas, etc. (TARDIF e LESSARD, 2011, p. 49).
Tardif e Lessard fazem uma correlação entre o trabalho e o ensino quando
mencionam a ação em função da aprendizagem e da socialização dos alunos e a
atuação sobre sua capacidade de aprender, já que o trabalho é entendido como uma
ação em função de um objetivo, atuando sobre algo.
O trabalho docente é parte integrante do processo educativo, portanto o
professor tem a função de educar, que segundo Charlot (2008, p. 28) “é possibilitar
que advenha um ser humano, membro de uma sociedade e de uma cultura, sujeito
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singular e insubstituível”. Libâneo apresenta uma concepção sobre o trabalho
docente como parte integrante do processo educativo.
O trabalho docente é parte integrante do processo educativo mais global pelo qual os membros da sociedade são preparados para a participação na vida social. A educação – ou seja, a prática educativa – é um fenômeno social e universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e funcionamento de todas as sociedades. (LIBÂNEO, 1994, p. 16)
Nesta mesma concepção do trabalho docente como um processo educativo,
pois tem como objetivos a socialização, o desenvolvimento humano e a
aprendizagem dos educandos, Arroyo concorda com Libâneo quando diz que:
Em uma visão mais humanista e personalizada, toda relação educativa é uma relação de pessoas, de gerações. A pedagogia tem no seu cerne a figura e o papel do pedagogo, de alguém que aprendeu o viver humano, seus saberes e valores, os significados da cultura, a falar, a dominar a fala, a razão, o juízo. Consequentemente, está capacitado a formar a infância, os “in-fans” não falantes, os aprendizes de humanos. Toda relação educativa será o encontro dos mestres do viver e do ser, com os iniciantes nas artes de viver e de ser gente. (ARROYO, 2000, p. 10)
Concorda-se com Libâneo quando ele apresenta o trabalho docente como
parte integrante do processo educativo e pelo qual os membros da sociedade são
preparados para a participação na vida social, pois o docente tem a função de
educar. Arroyo vai além e traz o professor como uma pessoa capacitada a
influenciar seus alunos, onde sempre que há o encontro entre o mestre e o aprendiz,
haverá a experiência de alguém que traz consigo saberes e valores, passados para
alguém que, sendo ainda criança, precisa aprender esses conteúdos para a vida.
Esse conjunto de idéias conceitua o trabalho docente, já que o mesmo realmente
está inserido na educação, é o trabalho do professor que tem a função de educar e
contribuir para o desenvolvimento humano, estabelecendo uma relação professor-
aluno, para construir conhecimento.
Tardif e Lessard, (2011, p. 20) enfatizam que “as pessoas não são um meio
ou uma finalidade do trabalho, mas a “matéria-prima” do processo do trabalho
interativo e o desafio primeiro das atividades dos trabalhadores”. Aqui os autores se
referem às relações interativas existentes entre os trabalhadores e as pessoas, que
são sujeitos desse trabalho humano. Transpondo esse pensamento de Tardif e
Lessard para o tema em estudo, vale ressaltar que é um tema de bastante
relevância para todos aqueles que já são ou estão se tornando docentes. Os
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trabalhadores, aos quais os autores se referem, são os professores que
desenvolvem uma relação de interação com os alunos, pessoas pensantes,
reflexivas, críticas, que interagem com os profissionais docentes para tentar alcançar
objetivos como a aprendizagem e o desenvolvimento humano.
Quando Tardif e Lessard (2011, p. 35) conceituam a docência como “um
trabalho cujo objeto não é constituído de matéria inerte ou de símbolos, mas de
relações humanas com pessoas capazes de iniciativa e dotadas de uma certa
capacidade de resistir ou de participar da ação dos professores”, pode-se entender
que o docente precisa olhar o discente não como uma máquina, mas como um
sujeito possuidor de potencialidades e portanto, na condição de interagir no
processo de ensino-aprendizagem.
O trabalho docente é abrangente e interativo, uma vez que produz resultados
sobre o humano, exige reflexão, aprofundamento sobre a teoria e a prática,
requerendo também uma formação continuada. Como diz Freire: “Sua experiência
docente, se bem percebida e bem vivida, vai deixando claro que ela requer uma
formação permanente do ensinante. Formação que se funda na análise crítica de
sua prática”. (FREIRE, 2008, p. 28)
A formação é um fator primordial para o professor. Não apenas a graduação
universitária ou a pós-graduação, mas a formação continuada, ampla e o
aperfeiçoamento. Segundo Fullan e Hargreaves (2000, apud DANTAS, 2008, p.
121), “deve-se ter uma visão da formação dos professores como um processo
contínuo, ao longo de toda a carreira profissional”. É fundamental que o professor
reconheça a importância de uma formação permanente e que a sua identidade
profissional esteja sempre em processo de formação, ou seja, um bom profissional
não deve ter a concepção de uma identidade acabada e formada, mas reconhecer
que está em processo de formação e que a sua identidade profissional se forma a
cada dia com cada nova experiência, cada nova aprendizagem, com os outros
profissionais, com os autores, com os educadores e, principalmente, com seus
alunos no dia a dia da sala de aula.
Afirmar o trabalho docente como complexo e interativo se justifica no próprio
espaço de execução do trabalho, que é a escola, onde vários sujeitos como
exemplo, os docentes, discentes, funcionários, diretores, família, etc. estão
20
presentes e interagindo para o desenvolvimento educacional. Diante disso, destaca-
se que o trabalho do professor com e sobre os seres humanos, numa escola,
caracteriza-se de forma mais específica, pela tarefa de ensinar. Libâneo apresenta o
trabalho docente como uma tarefa de ensinar quando relata que: “o trabalho docente
– isto é, a efetivação da tarefa de ensinar – é uma modalidade de trabalho
pedagógico e dele se ocupa a Didática”. (LIBÂNEO, 1994, p. 23)
Da mesma maneira, Landini relata que “o trabalho docente tem como
pressuposto a ação voltada à condução dos processos de ensino com a finalidade
de proporcionar aos alunos a apropriação, assimilação e generalização do
conhecimento científico”. (LANDINI, 2008, p. 123).
Os dois autores destacam que o trabalho docente tem uma ação voltada ao
ensino, à tarefa de ensinar, que segundo Tardif e Lessard (2011, p. 49) “é agir na
classe e na escola em função da aprendizagem e da socialização dos alunos,
atuando sobre sua capacidade de aprender, para educá-los e instruí-los com a ajuda
de programas, métodos, livros, exercícios, normas, etc.”
Tardif e Lessard (2011, p. 31) vão além e caracterizam o ensino de uma
forma mais geral dizendo que “ensinar é trabalhar com seres humanos, sobre seres
humanos, para seres humanos”. O trabalho docente, por tratar com seres humanos,
deveria ser valorizado e provido de condições que auxiliassem na formação do
educando.
O professor tem enfrentado diversos desafios na sua prática docente, dentre
eles, a falta de valorização da profissão, a falta de recursos, a falta do apoio familiar,
gerando muitas vezes, uma desmotivação para o exercício da profissão. Dessa
forma, torna-se indispensável a necessidade de refletir acerca dos desafios do
trabalho do professor.
2.2 DESAFIOS DO TRABALHO DO PROFESSOR
O professor na sua prática educativa enfrenta diversos desafios, os quais o
estimulam a repensar continuamente sua prática. Atualmente, ouve-se muito essa
21
frase: “Ser professor é um desafio”, esta se refere aos muitos desafios que essa
profissão acarreta e que os professores com muita força e sabedoria devem vencer.
O primeiro desafio a ser refletido é a falta do apoio, do acompanhamento da
família aos educandos. Este é reconhecido como um desafio muito grande a ser
enfrentado pelo professor.
A falta do acompanhamento familiar aos educandos, representa um desafio a
ser enfrentado pelo docente, pois a ausência da família interfere no desenvolvimento
do aluno. Sendo assim, o trabalho e a responsabilidade do professor aumentam,
pois ele tenta suprir essa falta da família, como por exemplo, no que diz respeito ao
desenvolvimento das atividades propostas que auxiliam na aprendizagem dos
alunos e que muitas vezes os familiares não dão o apoio necessário para o
desenvolvimento destas. Outro exemplo é o não comparecimento dos pais em
reuniões com professores ou até mesmo a falta dos pais na escola para saber como
está o desenvolvimento dos filhos e como podem contribuir para isso, deixando,
assim o professor sozinho nessa tarefa de educar. Dessa forma, o professor sente-
se sobrecarregado, desenvolvendo um trabalho solitário sem o apoio familiar.
Outro desafio que merece ser tratado é a falta de formação docente para
atuar com um ensino individualizado de acordo com as diferenças dos educandos.
Este é um fato verdadeiro na educação e um desafio que muitos professores têm
enfrentado atualmente. É importante refletir sobre essa realidade, pois é a partir daí
que se criam as possibilidades para a mudança. Porém, isso é reconhecido na
teoria, mas na prática será que a escola e os profissionais docentes estão sendo
preparados, especializados e formados para atuar com esse ensino individualizado?
Charlot demonstra essa inquietação quando afirma que “na escola
contemporânea, o professor deve, também respeitar as diferenças dos seus alunos
e individualizar o seu ensino. Mais uma vez, a idéia é simpática, mas qual é o seu
significado exato?” (CHARLOT, 2008, p. 27). O autor continua a refletir e a indagar:
“O que significa “individualizar” o ensino de princípios e saberes universais e das
normas estruturando a atividade intelectual? Quem o explica à professora? A
professora que se vire...” (CHARLOT, 2008, p. 27). Esta frase remete-se ao desafio
que o docente enfrenta de “se virar” para desenvolver um ensino individualizado. Ou
seja, o professor não recebe a formação necessária para desenvolver esse ensino
22
individualizado, mas tenta atuar de acordo com suas concepções ou informações
que procura adquirir.
O desafio está justamente na falta de preparo, de formação do professor para
atuar com um ensino individualizado. Quando, por exemplo, o docente tem em sua
turma um aluno com determinada necessidade especial, ele busca por seus próprios
meios realizar um trabalho diferenciado que atenda satisfatoriamente às
necessidades desse aluno. Entretanto, de um modo geral, os professores não
recebem nenhum tipo de formação específica que leve em conta as diferenças de
cada sujeito participante do contexto escolar.
Outro fator que dificulta a realização desse trabalho individualizado é a grande
quantidade de alunos na sala de aula. Este também é um desafio a ser enfrentado
pelo professor. A superlotação nas salas é uma realidade facilmente vista em
escolas públicas e acaba prejudicando o aprendizado dos alunos e o trabalho do
professor, que tem a responsabilidade de proporcionar a todos um ensino de
qualidade. Nessa situação, a qualidade do ensino cai, pois fica difícil o professor
oferecer um atendimento mais individualizado, tentando suprir as necessidades de
aprendizado dos educandos.
Dentre os desafios do trabalho do professor, destaca-se a desvalorização
social da profissão docente. Nóvoa salienta que os professores têm sofrido uma
situação de mal-estar na profissão, que causa insatisfação, indisposição,
desmotivação pessoal com a docência e muitas vezes provoca o abandono da
profissão.
Paralelamente à desvalorização salarial produziu-se uma desvalorização social da profissão docente. Há vinte anos, o professor do ensino primário era uma figura social relevante, sobretudo no meio rural. Os professores do ensino secundário eram, amiúde, figuras literárias e científicas pelas quais se pautava a vida cultural de muitas cidades. Em qualquer dos casos, eram unanimemente respeitados e socialmente considerados. Mas, no momento actual (sic), poucas pessoas estão dispostas a dar valor ao saber, à abnegação no trabalho com crianças e ao culto silencioso das ciências. (NÓVOA, 1999, p. 105)
No mesmo pensamento que Nóvoa, Dantas afirma que:
Debater, pensar e realizar a profissão docente hoje no Brasil implica em rever historicamente o processo de desprofissionalização que vem sofrendo a docência há muitos anos e que se reflete nas péssimas condições de trabalho dos professores, nos salários defasados, na alta rotatividade na contratação de docentes, tanto no
23
âmbito público como no âmbito privado, na falta de autonomia do professorado, na desmotivação do docente, dentre outros fatores, o que vem provocando o abandono da profissão pelos professores mais qualificados e mais experientes. (DANTAS, 2008, p. 132)
Percebe-se atualmente que a profissão docente não está sendo bem vista
socialmente pela maioria, os professores não estão sendo considerados e
valorizados de forma íntegra e digna. O salário, muitas vezes, não dá para o
sustento sendo necessário trabalhar três turnos, gerando o desgaste físico e mental
além da falta de tempo para a formação continuada e aperfeiçoamento profissional.
Diante dessa desvalorização social e financeira, muitos profissionais docentes
abandonam a profissão e vão em busca de uma promoção social em outras
profissões. Como constata Nóvoa:
De acordo com a máxima contemporânea “busca o poder e enriquecerás”, o professor é visto como um pobre diabo que não foi capaz de arranjar uma ocupação mais bem remunerada. A interiorização desta mentalidade levou muitos professores a abandonar a docência, procurando uma promoção social noutros campos profissionais ou em atividades exteriores à sala de aula. (NÓVOA, 1999, p. 105)
É importante que os docentes não abandonem a profissão por causa desses
desafios que foram apresentados, mas reflitam sobre estes, desenvolvam motivação
pessoal e criem métodos para enfrentá-los.
Assegurando que outro elemento que dificulta o bom desenvolvimento do
trabalho docente, está no relacionamento entre professor e aluno, pois muitas vezes
a relação que é desenvolvida entre ambos se mostra fria, severa, autoritária e hostil,
sendo que esta deveria ser desenvolvida de forma mais humana, constata-se a
necessidade de refletir a relação professor-aluno já que esta se faz presente e
influencia diretamente no trabalho docente.
2.3 RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO
Discutir a relação professor-aluno é de fundamental importância no trabalho
docente, já que, “as relações entre professores e alunos, as formas de comunicação,
os aspectos afetivos e emocionais, a dinâmica das manifestações na sala de aula
fazem parte das condições organizativas do trabalho docente”. (LIBÂNEO, 1994, p.
249)
24
Vallejo constata a existência da relação entre o professor e o aluno quando
relata que:
Toda a vida na classe é relação de um tipo ou de outro: o professor explica, pergunta, responde, informa; comunica-se verbalmente e não verbalmente de muitas maneiras. Os alunos, por sua vez, escutam, perguntam, respondem e também se comunicam não verbalmente de muitas maneiras; dizem algo enquanto aguardam e também estão dizendo algo quando estão distraídos. (VALLEJO, 2001, p. 10)
Concorda-se com Vallejo sobre a constatação de relação na classe, pois esta
é formada por professores e alunos que são seres humanos e estão ali interagindo
para juntos alcançarem objetivos, logo há uma relação.
A relação professor-aluno é um aspecto muito relevante para o trabalho
docente e é um fator decisivo na aprendizagem, pois sem interação, mediação,
trocas mútuas, não há construção de conhecimento. Quando educadores e
educandos se encontram e passam a conviver, a interagir, logo se estabelece uma
relação e esta, por sua vez, se torna o cerne do processo educativo. Zabala
menciona essa relação entre o professor e o aluno como a chave de todo o ensino:
As sequências didáticas, como conjuntos de atividades, nos oferece uma série de oportunidades comunicativas, mas que por si mesmas não determinam o que constitui a chave de todo o ensino: as relações que se estabelecem entre os professores, os alunos e os conteúdos de aprendizagem. (ZABALA, 1998, p. 89)
Assim, fica claro que é essencial o contato humano, essa interatividade entre
docentes e discentes, mediante os conteúdos de aprendizagem, para que haja
construção de conhecimento.
Freire analisa a relação entre a educadora e os educandos e declara que:
Passo a me centrar na análise das relações entre educadora e educandos. Elas incluem a questão do ensino, da aprendizagem, do processo de conhecer-ensinar-aprender, da autoridade, da liberdade, da leitura, da escrita, das virtudes da educadora, da identidade cultural dos educandos e do respeito devido a ela. Todas essas questões se acham envolvidas nas relações educadora-educandos. (FREIRE, 2008, p. 75)
Nessa linha de consideração, Freire comenta acerca das questões que
envolvem a relação professor-aluno, as quais precisam ser efetivamente
consideradas na prática docente, a fim de produzir um resultado satisfatório no
processo de ensino-aprendizagem, onde deve ser considerado não apenas e
25
puramente os conteúdos, mas questões que estão além do quadro e dos livros
didáticos.
A atitude do educador em sala de aula é decisiva para a conquista da
convivência harmoniosa dos alunos e para o fluxo tranquilo das atividades
desenvolvidas durante as aulas. “As relações nas escolas mudaram, tornando-se
mais conflituosas, e muitos professores não souberam encontrar novos modelos,
mais justos e participados, de convivência e de disciplina” (NÓVOA, 1999, p. 107).
Percebe-se essa situação nos dias atuais. Charlot afirma que “a “violência escolar” é
um dos maiores problemas que os professores devem enfrentar hoje em dia”
(CHARLOT, 2008, p. 28). Verificam-se muitas situações de violência, discórdia,
conflitos nas escolas e muitas vezes o professor, o corpo docente e a equipe diretiva
não sabem lidar com essas situações. Uma forma de tentar amenizá-las é trabalhar
os valores humanos com os educandos. Como afirma Lage:
Se a ferramenta “professor”, num ato de amor pelo oficio, pelo outro, trabalhar valores, uma vez que a mente da criança, do adolescente e do jovem está aberta e voltada para absorver o novo, essa interação pode transformar o ambiente escolar num local agradável, acolhedor e inclusivo. (LAGE, 2011, p. 9)
O professor deve estar atento e consciente de sua responsabilidade como
educador. Muitas vezes o meio escolar se mostra frio, severo, autoritário e hostil
para os alunos, mas isso precisa ser revisto, recolocado e reapresentado aos
mesmos de forma mais humana. É importante que o relacionamento entre professor
e aluno seja harmonioso, de trocas pessoais, respeito e solidariedade, a fim de que
haja um ambiente estável composto por indivíduos que interagem com um mesmo
propósito: construir conhecimento.
Neste sentido, Vallejo comenta sobre a importância da relação do professor
com os alunos:
Uma influência específica vem da relação do professor com os alunos (disponibilidade, interesse, paciência, boa preparação das aulas, etc.) Além disso, quer se pretenda conscientemente quer não, os métodos utilizados na sala de aula podem influenciar notavelmente não só no aprendizado dos conteúdos ou habilidades dos alunos, mas também em suas atitudes com relação a matéria, ao estudo e ao trabalho, assim como a respeito de si mesmos. (VALLEJO, 2001, p. 25)
Tratar da relação professor-aluno dentro da sala de aula impulsiona falar do
processo de ensino-aprendizagem, que permeia o trabalho docente. Diante disso,
percebe-se a importância de discutir e refletir o papel do professor no processo de
26
ensino e aprendizagem, já que o trabalho do docente com e sobre os seres
humanos, numa escola, caracteriza-se de forma mais específica, pela tarefa de
ensinar.
2.4 O PAPEL DO PROFESSOR NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Refletir sobre o papel do professor no processo de ensino e aprendizagem é
uma ação importante para quem pesquisa a respeito do trabalho docente. Nesse
processo de ensino-aprendizagem, o papel do professor é fundamental. “A escola é
uma comunidade especializada na aprendizagem entre todos os seus membros. É
uma comunidade de aprendizes que se apóiam uns nos outros, de aprendizes
mútuos, com o professor como mediador, orquestrando os procedimentos”.
(ARROYO, 2000, p. 167) De acordo com Arroyo a escola é um ambiente de
aprendizagem onde existem pessoas interagindo mutuamente para construir
conhecimento e o docente tem grande responsabilidade nesse processo.
O professor tem um importante papel no processo de ensino e aprendizagem,
pois ele tem a função de direcionar, mediar, promover situações para a construção
do conhecimento. O docente deve conduzir o aluno de forma que a aprendizagem
seja mútua. “A relação entre ensino e aprendizagem não é mecânica, não é uma
simples transmissão do professor que ensina para um aluno que aprende. Ao
contrário, é uma relação recíproca na qual se destacam o papel dirigente do
professor e a atividade dos alunos”. (LIBÂNEO, 1994, p. 90). Da mesma maneira
concorda Freire quando diz que:
Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar e não a de transferir conhecimento. (FREIRE, 1996, p. 47)
Tanto Libâneo quanto Freire defendem que o processo de ensino-
aprendizagem não é uma transferência de conhecimento onde só o professor é um
sujeito ativo, mas existem ações conjuntas dos professores e dos alunos como
sujeitos ativos que interagem para construir conhecimento. Os autores apresentam
concepções importantes, pois os educandos não são “recipientes vazios que vão à
27
escola para serem cheios”, não são “folhas de papel em branco a serem
preenchidas”, mas, eles levam consigo conhecimentos prévios que são importantes
na aprendizagem. Portanto, os docentes devem estimular, instigar, questionar,
suscitar, discutir, colher os conhecimentos prévios e criar situações que
proporcionem o aprendizado. Da mesma maneira, concorda Zabala quando se
refere ao educador:
É ele quem dispõe as condições para que a construção que o aluno faz seja mais ampla ou mais restrita, se oriente num sentido ou noutro, através da observação dos alunos, da ajuda que lhes proporciona para que utilizem seus conhecimentos prévios, da apresentação que faz dos conteúdos, mostrando seus elementos essenciais, relacionando-os com o que os alunos sabem e vivem, proporcionando-lhes experiências para que possam explorá-los, compará-los, analisá-los conjuntamente e de forma autônoma, utilizá-los em situações diversas, avaliando a situação em seu conjunto e reconduzindo-a quando considera necessário, etc. (ZABALA, 1998, p. 38).
Visto de outra forma, em muitas escolas o que ainda prevalece é o chamado
ensino tradicional. Aquele que é baseado na memorização, onde “o professor
“passa” a matéria, os alunos escutam, respondem o “interrogatório” do professor
para reproduzir o que está no livro didático, praticam o que foi transmitido em
exercícios de classe ou tarefas de casa e decoram tudo para a prova”. (LIBÂNEO,
1994, p. 78). Nessa prática, o professor apresenta o conteúdo partindo de definições
já produzidas, segue para exercícios de fixação e espera que o aluno reproduza da
mesma maneira na prova e se tiver algo diferente considera-se a questão como
errada. Nessa perspectiva, uma reprodução correta é evidência de que ocorreu
aprendizagem, mas essa prática mostra-se ineficaz, pois a reprodução correta pode
ser apenas indicação de que o aluno aprendeu a reproduzir, a memorizar, mas não
aprendeu a construir conhecimento. Libâneo demonstra não concordar com essa
prática tradicional de ensino baseado na memorização, quando afirma que:
A unidade entre ensino e aprendizagem fica comprometida quando o ensino se caracteriza pela memorização, quando o professor concentra na sua pessoa a exposição da matéria, quando não suscita o envolvimento ativo dos alunos. Esta atitude não faz parte do sentido que temos dado ao papel de dirigente do professor, pois não leva a empenhar as atividades mentais dos alunos. (LIBÂNEO, 1994, p. 91).
De acordo com Libâneo há um comprometimento da unidade entre o ensino
e a aprendizagem quando o ensino é baseado na prática da memorização, pois
dessa forma, o professor não proporciona o envolvimento ativo dos educandos. O
28
docente precisa ter o compromisso de conduzir o discente ao aprendizado, através
de um ambiente de trabalho que estimule o aluno a pensar, criar, comparar, discutir,
rever, perguntar e ampliar idéias. Além de proporcionar o aprendizado humano, já
que é um processo que se desenvolve em interações humanas, o educador e o
educando trabalham juntos e ativamente na construção do conhecimento.
É importante reconhecer o papel que o professor tem e não limitá-lo à função
de transmitir conhecimentos, competências, informações, porque isso as novas
tecnologias podem fazer. Arroyo apresenta uma concepção sobre as novas
tecnologias e a transmissão de conhecimentos:
As novas tecnologias poderão transmitir conhecimentos, competências, informações com maior rapidez e eficiência do que o professor, porém um vídeo, uma parabólica, um computador... não darão conta do papel socializador da escola, do encontro de gerações, da intersubjetividade, do aprendizado humano que se deu sempre no convívio direto de pessoas, nas linguagens e nas ferramentas da cultura, nos gestos, nos símbolos e nas comemorações. (ARROYO, 2000, p. 168)
As novas tecnologias são importantes recursos de transmissão de
conhecimentos, porém o papel do professor não pode ser comparado a estas, pois a
função do professor vai além da transmissão do conhecimento. Juntamente com a
escola ele possui um papel socializador, tem a função de formar cidadãos críticos,
autônomos, reflexivos, pensantes, enfim seres humanos. Além de ter um “papel
insubstituível” (ARROYO, 2000, p. 167) como mediador na construção do
conhecimento. Nesse contexto, o professor é um dirigente, um problematizador, um
organizador do conhecimento e da aprendizagem. O docente assume um papel
muito importante neste processo, pois media e conduz o fazer pedagógico de
maneira que atenda às necessidades dos educandos.
Na concepção de Libâneo sobre o papel do professor:
A tarefa principal do professor é garantir a unidade didática entre ensino e aprendizagem, através do processo de ensino. Ensino e aprendizagem são duas facetas de um mesmo processo. O professor planeja, dirige e controla o processo de ensino, tendo em vista estimular e suscitar a atividade própria dos alunos para a aprendizagem. (LIBÂNEO, 1994, p. 81).
De acordo com Libâneo, o papel do professor é o de dirigir e orientar o
ensino, a atividade de construção dos alunos, de modo que cada um deles seja um
sujeito consciente, ativo e autônomo. Falar em sujeito remete-se tanto ao aluno
29
quanto ao professor, pois estes devem ser sujeitos ativos no processo de ensino e
aprendizagem. Freire reconhece o educador e o educando como sujeitos desse
processo, quando ele diz que “nas condições de verdadeira aprendizagem os
educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução
do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo”. (FREIRE,
1996, p. 26).
Discutir sobre o papel do professor no processo de ensino e aprendizagem é
uma ação relevante no trabalho docente, já que este é o trabalho do professor que
tem como objetivos principais: educar, contribuir para o desenvolvimento e
aprendizagem dos alunos.
Para existir uma verdadeira aprendizagem é necessário que o professor
exerça de forma correta o seu papel. Este, por sua vez, é a mediação para a
construção do conhecimento, onde o docente deve criar possibilidades, apresentar
caminhos, proporcionar um ambiente de aprendizado, oferecer atividades
significativas, desafiadoras, contextualizadas, levando em conta os conhecimentos
prévios dos educandos e incentivando-os para a aprendizagem e desenvolvimento
pessoal do educando.
Neste capítulo, apresentou-se o trabalho docente como uma profissão de
interações humanas, enfatizando fatores que são de fundamental importância para o
bom desenvolvimento do trabalho docente. Os fatores enfatizados foram: as
concepções dos vários autores sobre o trabalho docente, os desafios do trabalho do
professor, a relação professor-aluno e o papel do professor no processo de ensino e
aprendizagem.
No próximo capítulo, serão apresentadas as trilhas percorridas no
desenvolvimento desse trabalho de pesquisa.
30
3. TRILHAS PERCORRIDAS NA PESQUISA
Neste capítulo, relata-se as trilhas percorridas na pesquisa. Primeiramente
apresenta-se a escolha da abordagem qualitativa e suas características básicas, em
seguida os procedimentos metodológicos da pesquisa e por fim, o espaço em que
ocorreu a pesquisa e as características dos participantes da pesquisa.
3.1 A ESCOLHA DA ABORDAGEM QUALITATIVA E SUAS CARACTERÍSTICAS
BÁSICAS
Por permitir um maior conhecimento da realidade, uma maior aproximação
entre o pesquisador e o objeto de pesquisa, dando ênfase às qualidades e
priorizando o sujeito, adotou-se a abordagem qualitativa. Visto que essa abordagem
está sendo muito usada nas pesquisas em educação e por ser esta perspectiva a
escolhida na pesquisa, nota-se a importância de destacar suas características.
Bogdan e Biklen (1982, apud Ludke e André, 1986, p.11-13) apresentam cinco
características sobre essa abordagem:
A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados
e o pesquisador como seu principal instrumento. Portanto, o pesquisador como
principal instrumento, frequenta o local de estudo e mantém o contato direto com o
ambiente e a situação que está sendo investigada, através do trabalho intensivo de
campo, pois só o contato presente e direto permite verificar o real, o natural,
mantendo assim a originalidade e o contexto da situação.
Os dados coletados são predominantemente descritivos, ou seja, os materiais
coletados nas pesquisas descrevem pessoas, situações, acontecimentos. Os dados
obtidos incluem transcrições de entrevistas e de depoimentos assim como
fotografias, desenhos e extratos de diversos modelos de documentos. O
pesquisador deve ficar atento, pois todos os dados da realidade são considerados
importantes.
31
A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto. Nessa
abordagem, o pesquisador se preocupa em estudar e verificar como a situação
problema se manifesta nas atividades, nos procedimentos, nas interações cotidianas
e não nos resultados quantificáveis e imediatos.
O “significado” que as pessoas dão às coisas à sua vida são focos de atenção
especial pelo pesquisador, sendo que, neste estudo, sempre existe a pretensão de
capturar a “perspectiva dos participantes”, sua maneira de serem informantes e
como vêem as questões que estão sendo focalizadas. Ao considerar os diferentes
pontos de vista dos participantes, os estudos qualitativos permitem iluminar o
dinamismo interno das situações, geralmente inacessível ao observador externo. O
pesquisador deve ter o cuidado com os pontos de vista dos participantes, precisa ter
a preocupação de checar, discutir e confrontar abertamente com os outros
participantes para que as informações possam ser ou não confirmadas.
A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo, pois parte de
situações minuciosas, particulares, singulares, partindo-se das mais concretas para
as mais gerais, mais globais. Nessa abordagem, os pesquisadores não recolhem
dados com o objetivo de confirmar hipóteses, eles não se preocupam em buscar
evidências que comprovem hipóteses definidas antes do início dos estudos, mas as
abstrações se formam a partir do agrupamento e da inspeção dos dados obtidos.
A abordagem qualitativa da pesquisa pode ainda ser etnográfica ou estudo de
caso. “Ambos vêm ganhando crescente aceitação na área de educação, devido
principalmente ao seu potencial para estudar as questões relacionadas à escola”.
(LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 13).
Diante da abordagem escolhida e das características apresentadas, serão
relatados os procedimentos metodológicos, ou seja, os caminhos percorridos para o
desenvolvimento da pesquisa.
3.2 OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA
Ludke e André entendem que “para se realizar uma pesquisa é preciso
promover o confronto entre os dados, as evidências, as informações coletadas sobre
32
determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a respeito dele. Em geral
isso se faz a partir do estudo de um problema”. (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 1). No
caso deste trabalho, é de que forma se dá a relação entre o trabalho docente e o
processo de ensino-aprendizagem? O interesse por este problema foi despertado
diante da observação de que muitos professores têm conceitos incorretos sobre o
trabalho docente e agem de forma inadequada influenciando negativamente o
processo de ensino e aprendizagem.
O estudo qualitativo “se desenvolve numa situação natural, é rico em dados
descritivos, tem um plano aberto e flexível e focaliza a realidade de forma complexa
e contextualizada”. (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 18). Visto que o trabalho docente é
complexo e interativo, fez-se necessário a presença do pesquisador no local de
análise para investigar diretamente os dados através do processo e não visando
resultados imediatos.
Dentre as formas que pode assumir uma abordagem qualitativa, adotou-se o
estudo de caso para subsidiar a pesquisa. Este, por sua vez, é caracterizado por ter
um objeto como uma unidade que se analisa profundamente. Segundo Goode e Hatt
(1968, apud Ludke e André, 1986, p. 17), “o caso se destaca por se constituir numa
unidade dentro de um sistema mais amplo”.
Ludke e André conceituam o estudo de caso como:
(...) o estudo de um caso, seja ele simples e específico, como o de uma professora competente de uma escola pública, ou complexo e abstrato, como o das classes de alfabetização (CA) ou o do ensino noturno. O caso é sempre bem delimitado, devendo ter seus contornos claramente definidos no desenrolar do estudo. O caso pode ser similar a outros, mas é ao mesmo tempo distinto, pois tem um interesse próprio, singular. (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 17).
Segundo essas autoras, o estudo de caso é fundamentado em características
básicas. Visando à descoberta, fundamentando o conhecimento como algo
inacabado, que se faz e refaz constantemente. Sendo assim, o ato de pesquisar
será sempre uma busca, um processo de construção e reconstrução. Enfatiza ainda
a complexidade natural das situações buscando retratar a realidade de forma
completa e profunda. O estudo de caso também dá ênfase à interpretação em
contexto, ou seja, é importante considerar os significados, as ações, percepções,
comportamentos e as interações dos participantes que estão relacionadas à
33
situação específica onde ocorre a pesquisa. O pesquisador ao desenvolver o estudo
de caso recorre a uma variedade de fontes de informação e por fim, procura relatar
suas experiências de modo que ele próprio possa fazer as suas “generalizações
naturalísticas”.
O estudo de caso foi adotado, pois a pesquisa está centralizada na relação
que se dá entre o trabalho docente e o processo de ensino-aprendizagem diante da
amplitude de fatores que rodeiam a educação. Por conta disso, o método utilizado
para a pesquisa foi o indutivo.
Primeiramente foram feitas consultas bibliográficas, com investigação e
estudos sobre os autores Tardif e Lessard, Pimenta, Freire, Zabala, Arroyo, Morales,
Nóvoa, Charlot, Libâneo, que tratam conceitos relevantes a respeito do tema
proposto e que o diálogo com os mesmos contribuíram bastante para o
desenvolvimento desse trabalho. Também foram realizadas consultas em revistas e
internet, estas, por sua vez, foram importantes recursos para a pesquisa, pois
proporcionaram o acesso a teses, monografias, artigos, livros que foram úteis para
facilitar o entendimento já que tratavam de assuntos relacionados ao tema.
Em seguida, para embasar e favorecer o trabalho de pesquisa foram
adotadas como estratégias de coleta de dados, a observação e a entrevista. Esta
última, “desempenha importante papel não apenas nas atividades científicas como
em muitas outras atividades humanas” (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 33). Entrevistas
são usualmente desenvolvidas em situações frente-a-frente, ou seja, há uma
interação do entrevistador com o entrevistado. Ludke e André constatam essa
interação:
É importante atentar para o caráter de interação que permeia a entrevista. Mais do que outros instrumentos de pesquisa, que em geral estabelecem uma relação hierárquica entre o pesquisador e o pesquisado, como na observação unidirecional, por exemplo, ou na aplicação de questionários ou de técnicas projetivas, na entrevista a relação que se cria é de interação, havendo uma atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem responde. (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 33).
Porém, essa interação existente numa entrevista não deve ser confundida
com um diálogo, uma simples conversa. Thompson respalda essa afirmação quando
diz que “uma entrevista não é um diálogo, ou uma conversa”. (THOMPSON, 1992, p.
270). A entrevista é um procedimento interativo, pois está presente o entrevistador
34
frente ao entrevistado e é uma estratégia de coleta que permite o contato direto e
imediato com as respostas às perguntas do entrevistador de acordo com o tema
proposto.
Dentre as formas de registrar os dados coletados, foram utilizados como
instrumentos na entrevista a gravação direta (usando um MP3) e a anotação
(utilizando um caderno e uma caneta). “A gravação tem a vantagem de registrar
todas as expressões orais, imediatamente, deixando o entrevistador livre para
prestar toda a sua atenção ao entrevistado”. (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 37).
Apesar do registro feito através de anotação apresentar um fator negativo, pois o
entrevistador deixa de cobrir muitas das coisas ditas, esse instrumento apresenta
uma vantagem, “as notas já representam um trabalho inicial de seleção e
interpretação das informações emitidas”. (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 37).
O cenário natural da pesquisa foi a Escola Municipal da Engomadeira. A
entrevista foi realizada com três professoras que atuam nessa escola. O espaço
escolar e os participantes da pesquisa serão tratados de forma particular no próximo
tópico ainda nesse capítulo.
Foram identificadas concepções sobre o trabalho docente, os principais
desafios encontrados nessa profissão e a opinião de docentes sobre o tema:
“Trabalho Docente: uma profissão de interações humanas”. Os pontos levantados
durante todo o trabalho de pesquisa, tais como: conceitos de teóricos como Tardif e
Lessard, Arroyo, e outros, as entrevistas realizadas com as professoras, as
observações efetuadas durante o período de estágio supervisionado, dentre outros
pontos, foram de suma importância para analisar os fundamentos teóricos do
trabalho docente e, assim, estabelecer a relação com o ensino e a aprendizagem.
Primeiramente, para investigar como se dá a relação entre o trabalho docente
e o processo de ensino-aprendizagem, foi necessário discutir as concepções sobre
trabalho docente, levando a refletir os desafios que atualmente os docentes têm
enfrentado na sua prática, pois é certo que, estes, se não enfrentados corretamente
podem influenciar negativamente no processo de ensino-aprendizagem.
As perguntas que direcionaram a pesquisa foram:
Qual é a sua concepção sobre o Trabalho Docente?
35
Quais são os principais desafios que você enfrenta na prática docente?
O que acha do tema - “Trabalho Docente: uma profissão de interações
humanas”?
De que forma se dá a relação entre o trabalho docente e o processo de
ensino-aprendizagem?
Inicialmente, foi realizada a apresentação relatando o motivo da pesquisa de
campo, em seguida, foi apresentado para cada entrevistado de forma particular, o
objetivo da pesquisa. Todos entrevistados foram receptivos e demonstraram prazer
e satisfação em realizar a entrevista.
Contudo, afirma-se que a metodologia utilizada alcançou o objetivo proposto
de investigar como se dá a relação entre o trabalho docente e o processo de ensino-
aprendizagem.
3.3 ESPAÇO ESCOLAR E PARTICIPANTES DA PESQUISA
A pesquisa foi realizada na Escola Municipal da Engomadeira que fica
localizada na Rua Direta da Engomadeira S/N - Bairro da Engomadeira. Fundada
em maio de 1989 para atender aos alunos da comunidade da Engomadeira, Cabula
e adjacências.
Essa escola foi escolhida para o trabalho de campo porque nela foi realizado
o estágio supervisionado, mais especificamente em uma das turmas de
alfabetização dessa escola.
O estágio foi uma experiência peculiar que trouxe muitos benefícios. Implicou
uma maior compreensão da rotina em sala de aula, trazendo a percepção de
entraves e acertos no processo de ensino e aprendizagem e proporcionou um
melhor entendimento das ações da prática docente.
É na atuação, na sala de aula que o estagiário aprende a exercitar um olhar
pedagógico e atento para entender o que há de comum e incomum, coerente e
incoerente, isto é, quando se está atento para o movimento da sala e seu cotidiano,
pode-se verificar tanto as particularidades de cada sujeito em suas manifestações,
quanto as incompatibilidades entre a teoria e a prática docente.
36
Um dos aspectos relevantes da prática do estágio foram as observações da
vivência professor-aluno, que contribuíram para uma compreensão mais ampla
acerca do trabalho docente na Escola Municipal da Engomadeira.
Inicialmente, essa escola possuía quatro salas de aula, uma quadra esportiva,
diretoria, secretaria, sala de professores, cozinha, pátio e sanitários. Devido à
grande demanda de alunos, no ano de 1998, a escola foi ampliada construindo mais
quatro salas na área em que ficava a quadra de esportes, totalizando assim, oito
salas de aula. Atualmente, a escola possui uma sala de informática, que é
devidamente utilizada pelos educandos, oito salas de aula amplas que estão
localizadas no andar superior do prédio, contendo cadeiras apropriadas, armário
para guardar materiais e quadro branco. Além de possuir diretoria, secretaria, sala
de professores, copa, pátio, um sanitário para meninas com três acentos, um para
meninos com três acentos e um sanitário exclusivo para professores.
A escola é ampla, possui uma rampa para cadeirantes e no turno da manhã
tem uma aluna cadeirante. Há também um espaço para recreação, este é o mesmo
espaço onde está situada a copa, as mesas com cadeiras e os bancos com quinas,
apresentando perigo, já que é um espaço para recreação. A merenda é servida
neste espaço e os horários para recreação são separados por turma.
A escola funciona nos três turnos. Turmas de ensino fundamental, sendo CEB
- Ciclo de Estudos Básicos (1º e 2º séries) e (3º à 4º séries) no turno diurno e turmas
de PEA - Programa de Educação de Adultos subdividido em PEB I (1º e 2º séries) e
PEB II (3º e 4º séries) no turno noturno.
O material necessário para o andamento das aulas é suficiente e adequado,
sendo oferecido pela Prefeitura no início do ano letivo. A equipe diretiva procura
sempre suprir as necessidades materiais dessa instituição.
Na escola já foram desenvolvidos alguns projetos em anos anteriores, como
por exemplo: “Ideais Zumbi de Palmares”, “A Copa do Mundo”, “Viagem fantástica
ao mundo da leitura”. Recentemente, foi desenvolvido o projeto “Família, Escola eu
e você tudo a ver”. Este projeto visava trabalhar todas as áreas de conhecimentos
de formas diversificadas. O tema escolhido foi de suma importância já que a família
e a escola devem formar uma equipe onde é fundamental que ambas sigam os
37
mesmos princípios e critérios, bem como a mesma direção em relação aos objetivos
que desejam atingir, de contribuir para o desenvolvimento humano do educando, de
construção de valores e de uma sociedade humanizada. O propósito era construir
essa parceria através de uma intervenção planejada e consciente, em que a escola
pudesse criar espaços de reflexão e experiências de vida numa comunidade
educativa, estabelecendo acima de tudo a aproximação entre as duas instituições.
O acesso ao Projeto Político Pedagógico da escola, que seria de grande
importância a verificação e a análise, não foi possível, pois está em processo de
desenvolvimento.
Os participantes da pesquisa foram três professoras1 do ensino fundamental.
Professora Maria fez Magistério e é graduada em Pedagogia-Anos Iniciais
pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB. Tem vinte e três anos de serviços na
área de educação, sendo que já trabalhou como coordenadora em escola particular.
Já trabalhou em seis escolas, sendo cinco particulares e uma pública que é a atual.
É concursada e já possui onze anos na rede pública. Sempre gostou muito da área
de educação, mas nos últimos anos tem sentido muita dificuldade na prática do
trabalho docente, pois tem feito um trabalho solitário, sem o apoio da família. Para
ela, o apoio da família é o primeiro passo para a educação.
Professora Joana é graduada em Pedagogia-Anos Iniciais pelo Centro
Universitário Jorge Amado - UNIJORGE e faz pós-graduação em Psicopedagogia na
Faculdade Católica de Ciências Econômicas da Bahia - FACCEBA. Tem vinte e nove
anos na profissão, começou a atuar na área de educação com dezenove anos, já
trabalhou em três escolas privadas, mas na parte administrativa. É concursada e já
trabalhou em cinco escolas públicas. Está satisfeita com a profissão, mas reconhece
que esta precisa de algumas reformas. Relata que essa é uma profissão digna. Para
esta professora, “ser professor é uma honra”.
Professora Ana é graduada em Pedagogia com especialidade em Supervisão
pela Faculdade Integrada Olga Mettig – FAMETTIG e está concluindo a pós-
graduação em Psicopedagogia na Faculdade de Afonso Cláudio - FAAC. Tem
1 Nesta pesquisa, adotou-se nomes fictícios para as entrevistadas, sendo a primeira chamada de
Maria, a segunda de Joana e a terceira de Ana.
38
quinze anos de serviços na área de educação, já atuou como professora em três
escolas privadas. É concursada e já trabalhou como docente em três escolas
públicas. Está satisfeita com a profissão, porém angustiada e decepcionada por
alguns desafios que tem enfrentado, como: a falta do apoio e do acompanhamento
da família para com os educandos e a violência na escola.
No próximo capítulo, será apresentada a análise dos dados da pesquisa. Esta
será dividida em três categorias, sendo elas: concepções dos professores sobre a
natureza do trabalho docente, interatividade: fator essencial no trabalho docente e a
relação entre o trabalho docente e o processo de ensino-aprendizagem.
39
4. A PRÁTICA DOCENTE NA ESCOLA MUNICIPAL DA
ENGOMADEIRA
No trabalho de campo foi feita uma entrevista com três professoras do ensino
fundamental da rede municipal. Por reconhecer a relevância do tema em estudo,
essa pesquisa teve como principal objetivo analisar o trabalho docente em sua
relação com o processo de ensino e aprendizagem. Diante disso, apresenta-se a
análise dos dados referente à pesquisa de campo realizada na Escola Municipal da
Engomadeira.
Segundo Ludke e André (1986, p. 48) “o primeiro passo nessa análise é a
construção de um conjunto de categorias descritivas”. Dessa maneira, a análise dos
dados da pesquisa foi dividida em três categorias, sendo elas: concepções dos
professores sobre a natureza do trabalho docente, interatividade: fator essencial no
trabalho docente e a relação entre o trabalho docente e o processo de ensino-
aprendizagem.
4.1 CONCEPÇÕES DOS PROFESSORES SOBRE A NATUREZA DO TRABALHO
DOCENTE
Essa categoria teve como questão norteadora: “Qual é a sua concepção
sobre o Trabalho Docente”?
As respostas das entrevistadas foram as seguintes:
“Eu acho que o trabalho docente é um trabalho em que o professor tem a
função de educar. Primeiramente o professor deve instrumentalizar seus alunos para
que eles assumam os desafios do mundo moderno, para que eles possam ter o
conhecimento, ter a formação não só a nível intelectual, mas a formação como ser
humano, uma formação global”. (Maria)
Da mesma maneira, numa concepção do trabalho docente como um trabalho
educativo, uma das professoras entrevistadas acentuou:
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“Eu acho que é um trabalho que tem uma relevância muito grande porque
todo mundo precisa de professor na vida. É um trabalho cujo professor tem uma
função muito importante que é a de educar para a vida”. (Ana)
A professora Joana apresenta uma concepção sobre o trabalho docente
diferente das demais, pois enfatiza a função de ensinar:
“É um trabalho recompensador, pois o professor tem a função de ensinar e ao
mesmo tempo é recompensado, pois ele vê o conhecimento sendo construído pelo
aluno, vê o desenvolvimento dele”. (Joana)
Arroyo (2008, p.50) afirma que “nos vemos mais como docentes do que como
educadores e vemos a escola como tempo de ensino, mais do que como tempo de
educação”. Percebe-se que o autor se refere à falta de reconhecimento por parte
dos professores, de que a docência é um trabalho educativo e a escola um tempo de
educação, de construções.
Diante dos relatos das professoras entrevistadas, verifica-se que dois deles
não se enquadram no universo citado por Arroyo, pois as professoras Maria e Ana
vêem o docente como educadores já que afirmam que o trabalho docente tem uma
função importante: a de educar. Portanto, as professoras Maria e Ana não fazem
parte desse grupo de professores que se vêem mais como docentes do que como
educadores.
A professora Maria declara que o professor deve instrumentalizar seus alunos
para que eles possam ter a formação não só a nível intelectual, mas a formação
como ser humano, uma formação global. Quanto a essa humanização, Arroyo
(2008, p.53) declara que “nosso ofício se situa na dinâmica histórica da
aprendizagem humana, do ensinar e aprender a sermos humanos. Por aí
reencontramos o sentido educativo do nosso ofício de mestre, docentes.
Descobrimos que nossa docência é uma humana docência”.
De acordo com a fala de Arroyo o trabalho docente é desenvolvido em meio a
relações humanas, já que professores e alunos se relacionam para a aprendizagem
humana. A docência é vista como um trabalho relacional, pois desenvolve-se num
contexto de relações humanas. Verifica-se essa afirmação no próprio espaço de
execução do trabalho docente, que é uma escola, onde vários sujeitos como os
41
docentes, discentes, funcionários, diretores, família, etc. estão presentes,
relacionando-se, ou seja, convivendo, estabelecendo ligações, contatos para
favorecer o desenvolvimento educacional.
Tardif e Lessard (2011, p. 33) afirmam que “quanto ao trabalho sobre e com
os seres humanos, esse leva antes de tudo a relações entre pessoas”, portanto a
docência é essencialmente um trabalho relacional, pois é um trabalho sobre e com
seres humanos.
A docência contribui para o desenvolvimento humano do educando. Quanto a
isso, Arroyo destaca a importância da relação e do convívio com humanos:
Podemos aprender a ler, escrever sozinhos, podemos aprender geografia e a contar sozinhos, porém não aprendemos a ser humanos sem a relação e o convívio com outros humanos que tenham aprendido essa difícil tarefa. Que nos ensinem essas artes, que se proponham e planejem didaticamente essas artes. Que sejam pedagogos, mestres desse humano ofício. (ARROYO, 2000, p. 54)
Arroyo demonstra a importância que a relação e o convívio com seres
humanos têm para o desenvolvimento humano, pois constata que só “aprendemos a
ser humanos em uma trama complexa de relacionamentos com outros seres
humanos”. (ARROYO, 2000, p. 54) Percebe-se que a docência age na direção do
desenvolvimento humano, contudo, fica comprovada a docência como um trabalho
relacional.
A professora Ana em seu relato afirma que o professor tem em seu trabalho a
função de educar para a vida. Essa concepção também é percebida por Zabala:
A capacidade de uma pessoa para se relacionar depende das experiências que vive, e as instituições educacionais são um dos lugares preferenciais, nesta época, para se estabelecer vínculos e relações que condicionam e definem as próprias concepções pessoais sobre si mesmo e sobre os outros. A posição dos adultos frente à vida e às imagens que oferecemos aos mais jovens, a forma de estabelecer as comunicações na aula, o tipo de regras de jogo e de convivência incidem em todas as capacidades da pessoa. (ZABALA, 1998, p. 28)
Os indivíduos são inevitavelmente influenciados pelos conteúdos e
experiências vividas nos lugares onde passam. Via de regra, a escola é um
ambiente frequentado por eles durante longo tempo da sua vida, daí a importância
de se refletir e entender a responsabilidade do trabalho docente ante essa realidade.
42
A elaboração de conceitos e significados que o discente constrói para a vida
estão em parte relacionados ao “poder” de influência que o docente e a escola têm
sobre esses aspectos. Assim, o trabalho docente em toda sua prática deve ser
elaborado e desenvolvido com atenção especial e com a importância que merece,
por conta dos resultados que exerce no que tange às concepções pessoais de cada
indivíduo participante da escola.
Foi comentado pela professora Joana que o docente tem a função de ensinar.
É o que também afirma Nóvoa, quando relata que é um saber-fazer do professor:
Uma acepção clássica e muito divulgada de ensino consiste em entendê-lo como um ofício que se apóia em saberes adquiridos pela experiência, cuja essência se centra no “saber-fazer” dos professores, sabedoria acumulada através da prática pessoal e colectiva, que só ocasionalmente é codificado. (NÓVOA, 1999, p.78)
A tarefa de ensinar está diretamente relacionada ao trabalho docente,
devendo ser, pela abrangência que lhe cabe, tratada de forma importante pelas
instituições de ensino.
Esse ofício está ligado ao saber-fazer dos professores. Daí surge a
necessidade do docente desprender uma atenção especial quando da aquisição de
conteúdos que serão mediados em sala de aula e reconhecer que os saberes
adquiridos por suas experiências serão de suma relevância no processo de ensino
e aprendizagem.
O acúmulo de saberes do docente por meio da vivência pessoal e coletiva
incidirá inevitavelmente nas construções de conhecimentos para a vida do aluno. O
ofício do professor não vai deixar de ser cumprido por conta da condição que ele se
encontre, ou seja, quer possua, quer não possua as competências necessárias para
a docência, ele continuará a exercer influência sobre o discente, sejam elas positivas
ou negativas.
4.2 INTERATIVIDADE: FATOR ESSENCIAL NO TRABALHO DOCENTE
A pergunta que direcionou a criação dessa categoria foi: “O que acha do tema
- Trabalho Docente: uma profissão de interações humanas”?
Para essa questão, foram obtidas as seguintes respostas:
43
“O tema quer dizer tudo. Quem trabalha com gente tem sempre que estar
interagindo. Para que as crianças avancem é preciso desse trabalho de interação
humana”. (Maria)
“Ninguém constrói nenhum conhecimento sozinho. Interagir com o outro é
essencial. Precisamos do outro em tudo, principalmente na área docente”. (Joana)
“O tema é verdadeiro, porque você sozinho não tem como realizar o trabalho
docente. Precisa dos funcionários da escola, do apoio dos pais, dos colegas
docentes e do próprio aluno”. (Ana)
Veiga2 (2011) afirma que o “trabalho docente é uma prática social marcada
pela interação”. A interatividade é, portanto, um fator essencial no trabalho docente,
já que este se desenvolve num contexto de interações com pessoas. O relato da
professora Ana ampara-se em Tardif e Lessard quando declaram que “o trabalho
docente não consiste apenas em cumprir ou executar, mas é também a atividade de
pessoas que não podem trabalhar sem dar um sentido ao que fazem, é uma
interação com outras pessoas: os alunos, os colegas, os pais, os dirigentes da
escola, etc.”. (TARDIF e LESSARD, 2011, p. 38) O trabalho docente desenvolve-se
numa escola, portanto há uma interação entre todo pessoal que se faz presente na
mesma.
Quando a professora Maria declara que “quem trabalha com gente tem
sempre que estar interagindo” e a professora Joana relata que “interagir com o outro
é essencial”, ambas estão tratando de uma realidade que deve fazer parte do
contexto escolar, e os sujeitos inseridos nesse contexto precisam interagir entre si.
Porém, contraditoriamente aos comentários expostos, na observação de estágio
supervisionado, foram vistas algumas cenas que inibiam ou não valorizavam a
interação dos alunos.
Uma dessas cenas foi a de uma professora que estava desenvolvendo sua
aula com base em leituras no livro didático. No decorrer da leitura um aluno fez um
comentário que não fugia ao tema exposto, mas a professora mandou ele se calar,
2 Conforme curso realizado na 34ª Reunião Anual da ANPEd - Associação Nacional de Pós-
graduação e Pesquisa em Educação, no Mini-curso: Trabalho docente: a aula e as didáticas especiais, assistido pela Profª. Dr. Tânia Regina Dantas e ministrado por Ilma Passos Alencastro Veiga, em outubro de 2011.
44
dizendo que seu comentário estava atrapalhando a aula. É importante que a
professora promova a interação e não iniba o aluno, entretanto, ela desprezou o seu
comentário, quando poderia tê-lo aproveitado e envolvido toda a turma, colhendo os
conhecimentos prévios dos discentes e realizando uma discussão onde todos
participassem.
Outra cena observada na prática docente que não condiz com o comentário
feito pela professora foi durante a realização de um trabalho em equipe. Notou-se
que não havia total interação, tanto entre os alunos, quanto da professora para com
a turma, pois dois alunos foram rejeitados e excluídos das equipes e um outro aluno
não queria se envolver em nenhuma equipe. A professora Maria diz que para que as
crianças avancem é preciso que haja um trabalho de interação humana, porém não
foi visto a realização desse trabalho nessa situação. Não houve por parte da
professora uma atenção e uma postura que valorizassem a interação; não foi feita
intervenção no sentido de conversar com as equipes sobre a exclusão dos dois
alunos, bem como com o educando que se negava a participar das equipes, para
que fosse resolvida a situação. Ao contrário disso, a professora agiu como se nada
tivesse acontecido; ela ficou sentada na sua cadeira lendo revistas, enquanto os
referidos alunos ficaram excluídos das atividades.
O trabalho em equipe é muito importante porque estimula a troca de
informações e a aprendizagem, porém é necessário que haja interação de todos os
participantes, afinal o trabalho é em equipe. A docente deveria dialogar com as
equipes para descobrir o motivo das exclusões, fazendo-as entender que esse não é
um caminho que gera construção conjunta de conhecimentos. Deveria também
reincluir os alunos outrora excluídos e ficar atenta aos fatos que ocorressem na aula,
e assim, realizar as mediações necessárias promovendo contatos humanos.
Interatividade em sala de aula se faz necessário, pois o professor não está
sozinho, mas os alunos estão presentes e esses são seres ativos, pensantes,
críticos e reflexivos. Portanto, o trabalho do professor “é centrado nos alunos e se
desenvolve concretamente no contexto de interações com eles”. (TARDIF e
LESSARD, 2011, p. 71).
O professor tem a função de mediar, oferecer possibilidades, apresentar
caminhos, criar um ambiente de aprendizado, gerar atividades significativas,
45
desafiadoras e contextualizadas, pois como afirmou a professora Joana, “ninguém
constrói nenhum conhecimento sozinho”. A interação está justamente nesse
envolvimento e troca entre professores-alunos e alunos-alunos, proporcionando a
construção do conhecimento.
O docente deve proporcionar liberdade ao aluno para expressar sua vivência
sobre os conteúdos e interagir com o meio. Para Veiga (2011), “a participação ativa
dos estudantes sugere a adoção de um enfoque globalizador do ensino que rompe
com o ensino demonstrativo, transmissivo e reprodutor”. O professor não é mais o
detentor da construção dos conhecimentos; não é uma “torneira que se abre” para
jorrar conteúdos sobre os alunos. O docente precisa incentivar a participação e
comunicação do aluno em sala de aula, possibilitando o surgimento de novas idéias,
conceitos e construções.
A interatividade é um fator relevante no trabalho docente, pois a docência se
desenrola concretamente dentro das interações, como relatam Tardif e Lessard:
A interatividade caracteriza o principal objeto do trabalho do professor, pois o essencial de sua atividade profissional consiste em entrar numa classe e deslanchar um programa de interações com os alunos. Isto significa que a docência se desenrola concretamente dentro das interações: estas não são apenas alguma coisa que o professor faz, mas constituem, por assim dizer, o espaço – no sentido do espaço marinho ou aéreo – no qual ele penetra para trabalhar. Por isso, como já mencionamos várias vezes, ensinar é um trabalho interativo. (TARDIF e LESSARD, 2011, p. 235).
Na fala de Tardif e Lessard, percebe-se a interatividade como um fator
essencial no trabalho docente, pois caracteriza o principal objeto do trabalho do
professor, já que o desenrolar de uma aula consiste no desenvolvimento de um
programa de interações, ou seja, o professor deve planejar a aula com base em
interações com os alunos e ao entrar numa classe deve deslanchar seu
planejamento sempre interagindo com os educandos.
Quanto a esse programa de interações que o professor deve planejar e
desenvolver na aula, Zabala se refere ao conjunto de relações interativas:
Do conjunto de relações interativas necessárias para facilitar a aprendizagem se deduz uma série de função dos professores, que tem como ponto de partida o próprio planejamento. Podemos caracterizar essas funções da seguinte maneira: a) Planejar a atuação docente de uma maneira suficientemente flexível para permitir a adaptação às necessidades dos alunos... b) Contar com as contribuições e os conhecimentos dos alunos... c) Ajudá-los a
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encontrar sentido no que estão fazendo... d) Estabelecer metas ao alcance dos alunos... e) Oferecer ajudas adequadas, no processo de construção do aluno... f) Promover atividade mental auto-estruturante que permita estabelecer o máximo de relações com o novo conteúdo... g) Estabelecer um ambiente e determinadas relações presididos pelo respeito mútuo e pelo sentimento de confiança, que promovam a autoestima e o autoconceito. h) Promover canais de comunicação... i) Potencializar progressivamente a autonomia dos alunos... j) Avaliar os alunos conforme suas capacidades e seus esforços... (ZABALA, 1998, p. 92)
Percebe-se a importância do destaque a essas funções dos professores, as
quais são ações fundamentais para tornar o ambiente interativo. É importante que o
docente já planeje a aula com base em cada uma delas.
Todas as funções citadas por Zabala são importantes, porém uma delas será
enfatizada por ter uma importância crucial no processo de interação: “Promover
canais de comunicação que regulem os processos de negociação, participação e
construção”. (ZABALA, 1998, p. 92)
O trabalho docente, que é parte integrante do processo educativo, deve ser
baseado na interatividade onde se desenvolve uma construção conjunta, uma rede
comunicativa entre professor e alunos. A comunicação é um fator importante, pois
leva à interação. Zabala demonstra a importância crucial que a rede comunicativa e
o tecido de interações tem a partir do entendimento da educação como uma
construção conjunta:
Entender a educação como um processo de participação orientado, de construção conjunta, que leva a negociar e compartilhar significados, faz com que a rede comunicativa que se estabelece na aula, quer dizer, o tecido de interações que estruturam as unidades didáticas, tenham uma importância crucial. (ZABALA, 1998, p. 101)
Dessa maneira, entende-se que a interação é um fator essencial no trabalho
docente, já que este é um trabalho de relações humanas, um trabalho sobre e com
seres humanos, onde estão presentes professor e alunos estabelecendo uma rede
de comunicação.
As respostas das professoras entrevistadas estão de acordo com a
concepção de Tardif e Lessard (2011, p. 191) quando afirmam que “o trabalho
docente repousa quotidianamente sobre inúmeras e variadas interações com os
alunos”. Contudo, a prática docente dessas professoras também deveria estar
quotidianamente voltada à interatividade.
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4.3 A RELAÇÃO ENTRE O TRABALHO DOCENTE E O PROCESSO DE ENSINO-
APRENDIZAGEM
A pergunta que direcionou a criação dessa categoria foi: “De que forma se dá
a relação entre o trabalho docente e o processo de ensino-aprendizagem”?
Essa é a questão problema desse trabalho de pesquisa e é muito relevante
para o tema em estudo. As respostas das professoras para essa questão foram as
seguintes:
“Eu acho que estão totalmente relacionados, porque o trabalho do professor é
fundamental no processo de aprendizagem dos alunos. Ele é quem vai dar ao aluno
alguns instrumentos para que ele possa construir conhecimentos”. (Maria)
“Em todos os sentidos, a começar da metodologia que ele vai usar para
ensinar, porque o professor é quem vai criar estratégias para possibilitar que os
alunos aprendam”. (Joana)
“Eu vejo que o papel do professor é fundamental no processo de
aprendizagem, pois o aluno não tem como aprender sozinho, tem que ter a situação
de ensino e aprendizagem, tem que ter o aluno e tem que ter o professor mediando,
tentando promover situações em que o aluno venha concretizar a aprendizagem. A
função do professor é fundamental porque ele que vai propiciar desafios, situações
que faça com que o aluno possa construir conhecimento”. (Ana)
De acordo com os relatos das professoras percebe-se que o trabalho docente
está relacionado ao processo de ensino-aprendizagem, uma vez que o professor
tem a função de ensinar. O papel do professor é fundamental no processo de ensino
e aprendizagem, como declararam as professoras Maria e Ana, porém o aluno
também tem um importante papel.
O processo de ensino-aprendizagem não é uma transferência de
conhecimento onde só o professor é um sujeito ativo, mas existem ações conjuntas
dos professores e dos alunos, que interagem para construir conhecimento.
Conforme Veiga (2011), o trabalho docente “é uma prática centrada na inovação, na
diversidade, na partilha de experiências”. Essa partilha de experiências deve ser
feita exatamente pelos sujeitos que estão inseridos no ambiente da aprendizagem,
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porque sendo sujeitos ativos, todos eles dispõem de algum tipo de contribuição para
a construção de conhecimentos.
Em determinado momento da observação da prática docente, notou-se que a
professora Maria tratou do tema: a água e sua utilização, trazendo anotações e
usando o quadro para fazer demonstrações acerca do assunto. De forma restrita,
utilizando perguntas objetivas para apenas um aluno, a docente não envolveu a
turma, e não permitiu aos discentes a expressão dos seus conhecimentos prévios. A
ação da professora quando fez a pergunta ao aluno foi um ponto positivo, porque
promoveu a sua participação, entretanto o restante da turma ficou “de fora”. Ela
poderia ter fomentado o envolvimento coletivo, que proporcionaria uma maior
riqueza no processo de ensino-aprendizagem, por conta das expressões das
vivências trazidas por cada aluno, associadas aos conteúdos e às experiências
vividas pela própria professora.
É importante que ao início da abordagem de qualquer conteúdo, os
professores busquem os conhecimentos prévios dos alunos para fazerem uma
ligação com os novos conteúdos. Isso remete a Zabala (1998, p. 38) quando diz
que: “O ensino tem que ajudar a estabelecer tantos vínculos essenciais e não
arbitrários entre os novos conteúdos e os conhecimentos prévios quanto permita a
situação”. Assim, durante o processo de ensino e aprendizagem, o docente deve
considerar não só os conteúdos que traz para o aluno, mas deve valorizar também
os conhecimentos prévios dos discentes, para a construção de conhecimentos.
Arroyo percebe a escola como um espaço para troca de conhecimentos, para
um intercâmbio de gerações onde tanto os docentes quanto os discentes têm papéis
insubstituíveis:
A escola foi inventada como um espaço especializado na troca de conhecimentos, ou na aprendizagem de competências, onde os mestres-docentes têm um papel insubstituível, mas também como uma instituição de intercâmbio de gerações e de semelhantes e diversos, onde tanto os mestres-adultos quanto os aprendizes têm papéis também insubstituíveis. (ARROYO, 2008, p. 167)
Fica claro que o aluno não é um ser inerte, mas um ser ativo com um papel
insubstituível e capacidade de interação. O professor deve saber conduzir essa
interação de forma que envolva os alunos numa relação educativa e construtiva.
Porém, percebe-se que muitas vezes, “a interação fica empobrecida pelo
49
formalismo, pelo silêncio dos alunos. Até pela ordem das carteiras e pelo tom
magistral, onisciente da docência”. (ARROYO, 2008, p. 165) Tais entraves precisam
ser superados. Zabala apresenta algumas atividades que podem ser desenvolvidas
pelos professores para favoreçer o relacionamento e a interação:
É imprescindível prever propostas de atividades articuladas e situações que favoreçam diferentes formas de se relacionar e interagir: distribuições grupais, com organizações internas convenientemente estruturadas através de equipes fixas e móveis com atribuições de responsabilidades claramente definidas; espaços de debate e comunicação espontâneos e regrados, como resultado da resolução de um conflito determinado nas assembléias periódicas; trabalhos de campo, excursões e visitas que situem os alunos frente à necessidade de resolver situações de convivência diferentes das que habitualmente lhes oferece a escola, a família ou o grupo de amigos; conjuntos de atividades e tarefas que gerem e favoreçam uma multiplicidade de situações comunicativas e de inter-relação que possam ser orientadas e utilizadas educativamente por parte dos professores. (ZABALA, 1998, p. 93)
Percebe-se que o(a) docente tem a função de direcionar e promover
situações que possibilitem a interatividade. As professoras Maria e Ana afirmaram
que o professor deve dar ao discente alguns instrumentos, mediando e
proporcionando desafios, situações que permitam ao aluno a construção do
conhecimento. O trabalho do professor é muito relevante no processo de ensino e
aprendizagem, pois ele tem a responsabilidade de conduzir o educando de uma
forma ativa à construção e interação.
50
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tema foi escolhido diante das observações sobre as formas que muitos
docentes desenvolvem o seu trabalho em sala de aula, estabelecendo uma relação
fria e não valorizando a interação com os discentes. Este trabalho monográfico foi de
suma importância, pois proporcionou um olhar para a docência como uma profissão
de interações humanas.
Foram desenvolvidas consultas bibliográficas, investigação e estudos sobre
autores como Tardif e Lessard, Pimenta, Freire, Zabala, Arroyo, Vallejo, Nóvoa,
Charlot, Libâneo, e outros, que abordam teorias importantes sobre o tema em
estudo. A análise desses conceitos contribuiu de forma relevante para o
desenvolvimento desse trabalho.
Os objetivos propostos para esse trabalho de pesquisa foram alcançados,
pois foi possível analisar os fundamentos teóricos do trabalho docente e, assim,
estabelecer a relação com o ensino e a aprendizagem. A partir da fundamentação
teórica realizada, dos relatos das professoras entrevistadas, das observações do
estágio supervisionado e da análise dos dados da pesquisa, encontra-se a resposta
para a questão problema: de que forma se dá a relação entre o trabalho docente e o
processo de ensino-aprendizagem? Constata-se que essa relação se dá num
contexto de interações humanas, onde existem ações conjuntas dos professores e
dos alunos como sujeitos ativos que interagem para construir conhecimento.
Para existir uma verdadeira aprendizagem é necessário que o professor
exerça de forma correta o seu papel. O docente tem a função de mediar, criar
possibilidades, apresentar caminhos, proporcionar um ambiente interativo de
aprendizagem, oferecer atividades significativas, desafiadoras, contextualizadas,
levando em conta os conhecimentos prévios dos alunos e incentivando para a
aprendizagem e o desenvolvimento pessoal do educando.
Percebe-se atualmente que muitos docentes conduzem o seu trabalho de
forma inadequada sem valorizar a interação. Estes professores não visam a
construção do conhecimento, não interagem com os alunos para juntos
estabelecerem um processo de construção, mas conduzem seu ensino como se
fossem detentores do saber e estivessem ali para transferir conhecimentos. Porém,
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nota-se com esse trabalho de pesquisa que o processo de ensino-aprendizagem
não é uma simples transferência onde só o professor é um sujeito ativo, mas
pressupõe participação dos professores e alunos como sujeitos ativos no processo
educativo.
O docente deve reconhecer a importância da interação, conduzindo seu
trabalho de forma interativa, conscientizar-se de que não há docência sem discência
(FREIRE, 1996, p. 21) e essa conscientização capacita à reflexão de que o trabalho
docente e a relação que ele desenvolve com o educando influenciam, diretamente,
no processo de ensino e aprendizagem.
Espera-se que esse trabalho tenha contribuído para que os docentes reflitam
sobre a sua prática, reflitam sobre a profissão que estão exercendo como sendo
uma profissão de interações humanas e que as formas que eles conduzem seus
trabalhos influenciam diretamente no processo de ensino e aprendizagem.
52
REFERÊNCIAS
ARROYO, Miguel G. Ofício de mestre: imagens e auto-imagens. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
ABNT- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724: Informação e documentação – Trabalhos acadêmicos – Apresentação. Rio de Janeiro, 2011.
CHARLOT, Bernard. O professor na sociedade contemporânea: um trabalhador da contradição. Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade/ Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação – v. 17. n. 30 (jul/dez), 2008, p. 17-31.
DANTAS, Tânia Regina. Práticas de Formação em EJA e Narrativas Autobiográficas de professores de Adultos. Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade/ Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação – v. 17. n. 29 (jan/jun), 2008, p. 119-136.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra (Coleção Leitura), 1996.
FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Editora Olho d’água. 19. ed. 2008.
LAGE, Nildo. Afeto não paga imposto. Revista Construir Notícias: Afeto não paga imposto. Ano 10, n. 58 (maio/junho), 2011, p. 5-10.
LANDINI, Sonia Regina. Trabalho Docente, precarização e quadros de adoecimento. Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade/ Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação, v. 17. n. 30 (jul/dez), 2008, p. 117-128.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. Sao Paulo: Cortez, 1994. (Coleção Magistério 2° grau. Série formação do professor).
53
LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: Abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
NÓVOA, António (org). Profissão Professor. Porto / Portugal: Porto Editora, 1999.
PIMENTA, Selma Garrido. Pedagogia e Pedagogos: caminhos e perspectivas.
São Paulo: Cortez, 2002.
TARDIF, Maurice e LESSARD, Claude. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Tradução de João Batista Kreuch. 6. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Tradução Lólio Lourenço de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
VALLEJO, Pedro Morales. A relação professor-aluno: o que é, como se faz. São Paulo, 3. ed. Edições Loyola, 2001.
ZABALA, Antoni. A Prática Educativa: como ensinar. Tradução Ernani F. da F. Rosa, Porto Alegre: Artmed, 1998.
54
APÊNDICE A – Entrevista para as professoras
Universidade do Estado da Bahia - UNEB Departamento de Educação – DEDC/Campus I Disciplina: TCCII Curso: Pedagogia – Anos Iniciais Prof.ª Drª Tânia Regina Dantas Discente: Érica de Jesus Miranda
1) Qual é a sua concepção sobre o Trabalho Docente?
2) Quais são os principais desafios que você enfrenta na prática docente?
3) O que acha do tema: “Trabalho Docente: uma profissão de interações
humanas”?
4) De que forma se dá a relação entre o trabalho docente e o processo de
ensino-aprendizagem?