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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEBDEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I
CURSO DE PEDAGOGIA
MARIA FERNANDA VIEIRA ROSA
O SENTIDO DA POESIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL:A FUNÇÃO SOCIAL E ALGUMAS POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS
Salvador2009
MARIA FERNANDA VIEIRA ROSA
O SENTIDO DA POESIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL:A FUNÇÃO SOCIAL E ALGUMAS POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, Campus I, como requisito final para obtenção do grau de Pedagogia com Habilitação em Magistério para Educação Pré-escolar, sob orientação do professor Dr Raphael Rodrigues Vieira Filho
Salvador2009
MARIA FERNANDA VIEIRA ROSA
O SENTIDO DA POESIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL:A FUNÇÃO SOCIAL E ALGUMAS POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS
Monografia apresentada ao Curso de graduação em Pedagogia Pré-escolar, do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, Campus I, para avaliação, em ____ de ____________ de 2009, e ___________________________ pela seguinte banca examinadora.
Orientador: Professor Dr Raphael Rodrigues Vieira Filho
Departamento de Educação — UNEB/Campus I
Banca:
Professora Cleide Magali dos SantosDepartamento de Educação — UNEB/Campus I
Professor Otoniel Rocha CavalcanteDepartamento de Educação — UNEB/Campus I
Salvador2009
Mariposas lilases
Todas as doces pessoas que conheciNo meio-fio da vida
E que me escaparam das mãosDe uma maneira ou de outra
Como um pássaro escapaComo um sopro escapa
De dentro dos ossosVoltem me enlacem me envolvam
Me ajudem a suportarO peso quieto das palavras
O rumor invisível das águiasPor que se perderam de mim
Essas doces pessoas?Tragam de volta seus rostos
Como frutas de seda numa bandejaComo mariposas lilases
(Roseana Murray)
Dedico este pequeno trabalho monográfico, a Camila Carvalho pequena mariposa de asas quebradas colega do curso de Pedagogia-Campus I UNEB, forçada a abandonar a graduação. Consciência de nós não bastou, a minha vontade enfraquecida, confessamento meu. Também a deixei ir. A Camila que nos surpreende lutando contra as adversidades, persiste, faz o vestibular pela segunda e vez e retoma o curso de Pedagogia.
A Cleide Magali, em princípio pela presença feminina cujos adjetivos cabem sim, é uma linda mulher, educadora, ela não ameniza a crueza da realidade e nem as veleidades de nossas ações, no processo formativo. As situações, provocadas por ela em sala de aula tornam a sua docência crítica, questionadora e reflexiva.
Instigadora, consciente e parcial. A relação com seus alunos é permeada pela ética e criticidade apreendidos no campo de sua formação e trazidos para a sala de aula, excetuando o favoritismo e a condescendência. Afeita a desordenar, a suscitar questionamentos. Magali... a vejo como a personagem de Saramago e presente constante em Neidson Rodrigues. Cada dia verei menos. Em Magali... Será? O que podemos fazer?... Intentou nos fazer ver, para além de toda e qualquer afetação, e superficialidade.
AGRADECIMENTO
De todo o meu passado, boas e más recordações!Quero viver meu presente e lembrar tudo depois,Nesta vida passageira eu sou eu você é vocêIsto é o que mais me agrada, isto é o que me faz dizerQue vejo flores em você! Que vejo flores em você!Que vejo flores em você! (SCANDURRA, 1986).
Ao encerrar a minha labiríntica jornada acadêmica na graduação de
pedagogia, lembro das pessoas, com as quais convivi e que contribuíram de forma
significativa durante o período em que estive a lutar pela minha aprendizagem, e
permanência, na Graduação.
O aprendizado foi intenso e enriquecedor, também doloroso, árduo
intrinsecamente contraditório e conflituoso, e na base desses conflitos foi onde pude
resistir e transformar essa resistência em afirmação das minhas escolhas, em não
deixar que o meu espírito, se atingido, não o fosse corrompido ou levado por
ideologias e interesses alheios aos desejos e sonhos que aqui me trouxeram. Essa
percepção também me manteve receptiva para admirar muitas pessoas que
conhecei nesse espaço.
Muito embora a construção de uma monografia — por suas características
intrínsecas — seja um trabalho de realização individual, expresso aqui meus
agradecimentos à disponibilidade científica e pessoal ao tempo em que também
reconheço a orientação atenda e dedicada do Professor Doutor Raphael Rodrigues
Vieira Filho circunstâncias através das quais meus escritos tomaram um norte.
Tauana, Custódio, Maria Fernanda. Encontro único. Amigos. As minhas
mariposas mais frágeis e queridas, as nossas trocas infindáveis, os risos e as
nossas diferenças, diferenças tão difíceis e ao mesmo tempo compreensíveis de
lidar. Tauana, uma valkiria/mariposa que esteve ao meu lado, desde o começo e com
a qual pude contar. Não traçamos a travessia, mas estivemos amparadas, nas
diferenças, e semelhanças, que somos e nos une, na amizade surgida naquele
instante em que nos conhecemos, no caminho permeado por muitos percalços,
contrastes, entendimentos e desentendimentos. Aprendemos a nos apoiar e
respeitar. Custódio o colega, apoio, o encontro, o distanciamento. Custódio o
reencontro, a descoberta. O encantamento.
Ao professor Alan Sampaio, cujo temor em relação a mim predizia, as coisas
não condensavam idéias. Mesmo ante as suas ignorãças1 de mim, agradeço-o pelo
seu olhar e dedicação.
Aos professores começo pelos que não esquecerei, todo o meu respeito ao
professor Otoniel Rocha Cavalcante, cuja integridade, e experiência o mantém livre
da perversa e ambígua postura de orientar, delimitar e avaliar os seus alunos,
segundo uma ótica narcísica. Criterioso, perspicaz, metódico e, sobretudo honesto.
Cumpre o seu papel de mestre dentro dos padrões que são exigidos para o
exercício docente na instituição: a metodologia, a ementa, a mediação, a
responsabilidade e o cumprimento ao calendário acadêmico, e avaliação criteriosa.
À Ângela Maria Camargo pelo incentivo e reconhecimento. À professora
Nadja Maria Nunes Bittencourt por ter sido a primeira a nos apresentar à educação
infantil brasileira, seus aspectos, autores finalidades e incongruências, e finalmente
onde nos situávamos nesse patamar, o que teríamos a aprender, e o que podemos
fazer para a construção da nossa docência como educadoras na educação infantil
norteando e dando sentido ao curso.
Patrícia Carla da Hora Correa e professora Virginia Vaz Pimentel, a primeira
por ter orientado a Regência e pôs-me diante da escolha mais significativa para o
meu aprendizado sem dúvida, tê-lo feito numa Instituição que não estivesse
esfacelada pôde preencher lacunas que o espaço acadêmico não favoreceu. A
interação dialógica, e o aprendizado na escola por ela indicada tornaram possível
um aprendizado verdadeiro e enriquecedor, que de outra forma não ocorreria. Pude
aliar o meu conhecimento e acervo pessoal, ao aprendido na Graduação, ao que a
escola e as crianças esperavam que eu tivesse a oferecer. Não fui podada ou
engessada. Desfiz-me de alguns receios e fui incentivada a poder fazer, a criar a
poder propor, a defender o que tinha a oferecer, e compartilhar o que era possível,
portanto este agradecimento à Patrícia da Hora estende-se à escola Baronesa de
Sauípe, e todos profissionais que atuam nesta escola.
1 Auto-retrato: Venho de um Cuiabá garimpo e de ruelas entortadas. Eu pai teve uma venda de bananas no beco da Marinha, onde nasci. Me criei no Pantanal da Corumbá, entre bichos do chão pessoas humildes aves e rios.Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar entre pedras e lagartos. Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz. Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto como que desonrado e fujo para o Pantanal onde sou abençoado a garças. Me procurei a vida inteira e não me achei - pelo que fui salvo. Descobri que todos os caminhos levam à ignorância.Não fui para a sarjeta porque herdei uma fazenda de gado.Os bois me recriam.Agora eu sou tão ocaso! Estou na categoria de sofrer do moral, porque só faço coisas inúteis. No meu morrer tem uma dor de árvore. BARROS, Manoel. O Livro das Ignorãças. Rio de Janeiro: Record, 2008.
À Rosana Rocha, pelo encontro de idéias e as possibilidades de dividir falas
e questionamentos, de poder se indignar.
O meu carinho pelas colegas Ângela, Solange e Fernanda Cristina por não se
deixarem contaminar ou abater. A essa última com quem estive na regência, todo o
meu respeito por ela cresceu diante do fato, de poder mais uma vez perceber a sua
dedicação e companheirismo, com as colegas. Às colegas Mônica Carvalho e Ana
Simone que lutaram árdua e sabiamente, conseguindo captar a essência das coisas,
libertando-se dos entraves.
Agradeço às turmas, que me receberam como aluna remanescente, tanto nas
turmas em fui afetuosamente acolhida quanto nas quais prevaleceu o olhar
distanciado e desconfiado sinal de nossos tempos embrutecedores, em que
prevalece o cotidiano frio e distante, e no qual nossa luta se torna individual pelas
necessidades, tenho boas lembranças de todas as turmas pelas quais passei, muito
aprendi, mesmo que algumas reflexões tenham se concretizado depois.
A remanescência pôde favorecer o contato com outras colegas e me
aproximou de pessoas muito queridas como a Iolanda, a Ivone, e tantas outras.
Ao Daniel Viveiros, um ser humano, essencialmente, maravilhoso. E que
alimenta os meus silêncios, angústias e alegrias, com a sua escrita e os seus
achados. E pela forma surpreendente de expor o seu senso comum. Sendo
humanamente divertido, quando não me conforta com a sua escrita densa e
apaixonada pela vida.
Dentre as tantas pessoas que pude amar, durante esta trajetória, muitas
deixarão impressões em mim, lembranças que jamais se perderão. Agradeço aos
que me foram mais caros e amados, aos que me envolvem me enlaçam, com seus
gestos e atitudes de amor, nas situações que se nos apresentam mais adversas
assim como também naquelas circunstâncias que nos proporcionam prazer, alegria.
Primeiramente gostaria de agradecer aos servidores e dentre eles, agradeço
especial e afetuosamente a Edmilson Claudionor dos Santos, coordenador do setor
administrativo, por ter suportado todo o peso dos meus excessos, humilde, solidário
e amigo. Em suas funções sempre encontramos nele, a responsabilidade, e atenção
devida ao atendimento junto aos estudantes, e professores.
Aos funcionários da secretaria acadêmica, assim como aos funcionários do
Departamento de Educação, tenho muito a agradecer, foram e serão pessoas muito
especiais para mim cada rosto e sorriso, são doces lembranças.
Especialmente ao Jéferson, funcionário do SEIN, nosso centro de informática,
à época, diante das fragilidades evidenciadas na área de metodologia e à minha
inépcia ou quase total ignorância no uso das ferramentas virtuais, pude com o seu
apoio construir, o meu primeiro projeto, sim o fizemos juntos, a interação pode, por
outro lado, instigar em Jéferson o que adormecia nele, o desejo de estudar, na
construção do meu projeto, o gesto de solidariedade demonstrado por ele em
abdicar de suas horas pra dedicá-las a mim, me proporcionaram o prazer de
descobrir em um funcionário, um amigo.
A Rosana “uma secretária de futuro”. Agradeço-a e muito por ter me ensinado
a produzir algumas atividades que poderão ser úteis na minha profissão docente,
agradeço pelo lindo sorriso, a generosidade e a delicadeza.
Especialmente também a Ramona Jatobá Macedo Menezes que aprendeu
com as perdas, a fazer o novo, e como mãe brava e carinhosa a um só tempo,
manda a gente ir em frente. Incentiva-nos a prosseguir.
O equilíbrio e ponderação de Ednelza Ribeiro Badaró, como pude constatar
um fruto da Instituição na qual trabalha, conduz o seu trabalho com ética, respeito no
trato com as coisas e com as pessoas.
Ao querido, e introspectivo, Jailton Lopes da Silva o coordenador da
secretária acadêmica, de sorriso tímido e sincero. Tenho plena consciência do seu
apoio sutil e criterioso. Lembrarei sempre.
Agradeço também a dedicação de Jucira Santos Nunes, cuja paciência e
atenção, estiveram em consonância com o seu trabalho, sem deixar de atender aos
nossos inúmeros e constantes pedidos.
À Maria Rute Leal Fontes e aos que ingressaram posteriormente junto ao
grupo, à nova coordenadora da Secretaria Acadêmica Solange dos Santos Fraga, ao
Diego Severiano de Amorim e ao Sergio Eduardo de Fraga.
Muito importante também foi o apoio do coordenador de informática o Helton
Araújo de Jesus que por inúmeras vezes me socorreu ante as minhas ignorâncias
virtuais, e com apoio amigável todas as vezes que se fazia presente em sala de aula
para dar suporte técnico.
Olham os poetas as crianças das vielas, mas não pedem cançonetas mas não pedem baladas o que elas pedem é que gritemos por elas as crianças sem livros sem ternura sem janelas as crianças dos versos que são como pedradas (MURALHA, 2009).
Para além de qualquer intenção específica que a poesia possa ter, [...] há sempre comunicação de alguma nova experiência, ou uma nova compreensão do familiar, ou a expressão de algo que experimentamos e para o que não temos palavras - o que amplia nossa consciência ou apura nossa sensibilidade (ELLIOT, 1991, p. 29).
Faça o novo!!!
“Enquanto o sol faz o novo”.a cada dia faz o novo
mais um uma vez faz o novo" (KUNG FUTSÉ, 551- 479 A.C.)
Este poema já havia sido traduzido anteriormente por Ezra Pound, dando na sua famosa composição “Make it new”, e por Augusto de Campos, que o recriou da seguinte maneira: “renovar/ dia sol/ a/ sol dia/ renovar”. O ideograma habitualmente traduzido por “renovar” ou “novo”, é formado pelo radical de “ereto” sobre o de “árvore”, ao lado do de “machado”: ao cortar a árvore que está de pé, o machado permite o seu renascimento. Nesse sentido nos pareceu mais próprio apreender esse ideograma pela tensão “nascer/nascente”, evidenciando a dinâmica do poema, que se dá na relação entre o momento de presentificação (nascer) e o processo constante que esse momento oculta (nascente). Tradução de Márcio-André e Manuel Antônio de Castro. Disponível em: <http://www.marcioandre.com/texto3.htm>
RESUMO
Este trabalho monográfico traz por tema a poesia. Poesia infantil. Caracteriza-se por ser uma pesquisa bibliográfica cuja tentativa maior é a de descobrir o(s) sentido(s) da poesia na educação infantil. Parte da premissa que, hoje, em sua generalidade, a função social da poesia infantil objetiva a aquisição da leitura e da escrita, dessa forma o sistema de educação a utiliza como subsídio às disciplinas escolares objetivando reforçar moralmente os laços familiares, patrióticos e eclesiásticos, tudo com o intuito de formar o cidadão para ocupar seu lugar no espaço social e não como possibilidade crítica à estrutura estabelecida. Nosso olhar — fundamentado antes em uma pedagogia crítica na qual, através da transdisciplinaridade se estabelece contatos com poetas de correntes diversas de pensamentos — tenta realizar uma breve crítica ao histórico da poesia infantil no Brasil ao tempo em que fazemos uma reflexão acerca dos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, por ser esse um instrumento normativo e regulador do ensino destinado não só às instâncias governamentais de ensino como às escolas municipais e do Estado, e também às creches atreladas ao Estado. Por fim, identificamos algumas possibilidades pedagógicas da poesia infantil na escola. Considerando a função sociopoética antagônica à techné constante no percurso histórico da poesia infantil brasileira.
Palavras-chave: Educação. Literatura infantil. Poesia infantil. Sociopoética.
ABSTRACT
Monographic work whose theme is nursery rhymes. It is characterized as a literature search which is the largest attempt to find direction of poetry in early childhood education. Part of the premise that, today, in its generality, the social function of poetry for children aims to acquire reading and writing, so the education system to use as a subsidy for school subjects aiming morally strengthen family ties, patriotic and church, all with the aim of educating the citizen to occupy its place in social space as possible and not critical to the structure established. Before our eyes — based on a critical pedagogy in which, through transdisciplinarity is established contacts with poets from different currents of thought — try to hold a brief history of poetry criticism of the child in Brazil to the time when we thought about Reference of the National Curriculum for Children's Education, which is a legislative instrument for teaching and regulator not only to government bodies of education and to the state and municipal schools, kindergartens and also linked to the state. Finally, we identified some possibilities of poetry teaching children in school, considering the function poetics techne constant antagonistic to the historical path of the brazilian children's poetry.
Keywords: Education. Children's literature. Nursery rhymes. Socio-poetic.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 142 TEMATIZANDO................................................................................................ 182.1 A gênese da poesia: do mito-poético a suas determinantes ideológi- cas.................................................................................................................. 182.2 Poesia infantil no Brasil............................................................................... 213 POESIA E O REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCA- ÇÃO INFANTIL (RCNEI)................................................................................. 313.1 Há poesia no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil? 323.2 Poesia na dimensão da leitura e da escrita pelo RCNEI........................... 334 POESIA E EDUCAÇÃO................................................................................. 384.1 Poesia para a criança ou criança para a poesia?...................................... 394.2 Poesia na escola: algumas possibilidades pedagógicas......................... 40 A INCONCLUSÃO.......................................................................................... 45 REFERÊNCIAS............................................................................................... 50 GLOSSÁRIO................................................................................................... 54 APÊNDICE...................................................................................................... 57
1 INTRODUÇÃO
Faz de tua vida mesquinha um poema. E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir. Esta fonte é para uso de todos os sedentos. Toma a tua parte. Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede (CORALINA , 1981).
Quais seriam os sentidos a serem referenciados na construção de uma
educação poética diante de fatores que historicamente atrelou a poesia unicamente
num patamar de suporte para complementar a aprendizagem? É possível
sensibilizar os professores de educação infantil para uma formação sociopoética?
Diante da tarefa que assumem, de cuidar e educar crianças de 0 a 6 anos, as
experiências poéticas, propiciadas às crianças em sala de aula nessa etapa da
educação tornam esta aprendizagem significativa? Em qual sentido? Educamos as
crianças para ocupar o seu espaço dentro da sociedade, com fins a torná-lo um
cidadão em um sentido restrito e limitado?Tornar-se um ser competitivo, útil e
individualista.
Ou por outra via, acreditamos no ideal, de sermos aptas a conduzir de modo
eficaz e sistemático, o chamado pleno desenvolvimento de suas potencialidades
cognitivas, acreditando assim, que o fim a ser alcançado seja educá-los de modo
que o potencial cognitivo os permita assumir um novo status.
Quer no âmbito da Arte, quer em suas demais manifestações sóciopolítico-
culturais a literatura infantil vêm desempenhando, através dos tempos, as mais
variadas funções. No Brasil ela serviu, e serve ao desenvolvimento de aspectos da
lingüística, para uma melhor compreensão, principalmente, das disciplinas de língua
portuguesa e de literatura e serve, também, ao poder estatal quando utilizada como
instrumento ideológico no sentido de, por assim dizer, aperfeiçoar a educação da
sociedade de maneira tal que os “educandos” desde tenra idade possuam um
referencial para quando se tornarem adultos, ocupar, sem questionamento, seu lugar
devido na estratificação social. Os elementos que abordaremos, segundo Gaultier
(1999), têm um ponto em comum com as afirmações de Helena Frantz (2001)
quando esse afirma sobre o ser humano não ser apenas razão e intelecto. É
também sentimento, emoção, imaginação. Distinguindo dois aspectos diferenciados
entre o universo infantil e o adulto, no qual o primeiro, prima por viver a fantasia e a
imaginação e embora o segundo não excetue esta dimensão, tende a privilegiar o
racional em virtude da vida contemporânea em suas determinantes de lucratividade,
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tecnicismo, e conseqüências que esta vida exige dos adultos. Racionalizar, objetivar,
produzir.
Entenda-se por educação sociopoética uma prática de pesquisa ou ensino
cujas atividades pressupõem a corporeidade nas quais se incluem a emoção, a
sensibilidade, a intuição e a razão como fonte do conhecimento (GAULTIER, 1999).
O conhecimento artístico, a criatividade, a espiritualidade, os valores
humanos aqui ele os relaciona ao processo poético no poien (fazer, produzir) de
construção do conhecimento. Destaca ainda a importância das culturas dominadas,
e que estas no interior deste domínio dialeticamente constroem uma cultura de
resistência das categorias que elas produzem. E o quanto é fundamental a atuação
reflexiva e co-responsável dos sujeitos pelos conhecimentos produzidos. As
categorias elencadas por Gaulthier (1999), trazem para o campo da pedagogia, uma
visão mais abrangente quanto à construção do conhecimento, no que diz respeito a
este ao trabalho com a poesia e as crianças e o próprio educador, pois é esse é um
ponto fundamental para a sua formação literária –poética.
A insensibilidade frente a descobertas e valorização da poesia, que poderiam
uni-la a outras linguagens e possibilidades de junção com outras disciplinas,
ampliando o senso de beleza e harmonias ficam restritas a práticas ditas
pedagógicas por vezes limitadas. Ainda que o caráter lúdico seja contemplado ou, a
priori, considerado, no planejamento das atividades que incluem a poesia.
No Brasil o surgimento de uma nova pedagogia que influenciou a escola,
através da escola nova que pode se nutrir de uma poesia dogmática, moralista, e
por vezes, puerilmente reducionista.
E parece que a isso não se ultrapassa. O avanço para o ponto de um pensar
crítico reflexivo ainda está suspenso. Mantêm, ainda, seu escopo original, isso é
alcançar a cidadania plena e algumas pequenas abstrações. Nesse sentido, dentro
do sistema educacional que hoje se vivencia, no qual toda sua estrutura está
voltada, em sua generalidade, apenas ao formar e informar, não se pode negar que
uma parcela ínfima da literatura infantil consegue — para além da construção da
identidade sócio-cultural da criança — apresentar também seu âmbito estético e
sociopoetico. Todavia, é forçoso reconhecer que, quase em sua totalidade, a
literatura infantil e sua poesia não aportaram, ainda, no universo infantil. Pelo
menos, não em todas as camadas das infâncias sociais. A literatura infantil está
envolta em um invólucro.
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Este ensaio monográfico é uma tentativa de identificar a relevância da poesia
na educação infantil entendendo a educação infantil enquanto situações de
interação socialmente construídas e vivenciadas com as crianças dentro e fora da
escola, sua função social e algumas possibilidades pedagógicas, seu tema central,
portanto já dá mostra da relevância que a poesia infantil possa alcançar. É a poesia
nas escolas um mero recurso pedagógico utilizado pelo sistema na educação formal
da criança? Ocorre em algum momento a conjunção dessa função pedagógica com
aquilo que a poesia infantil mais deve à Arte da literatura, a sua estética?
Parece ser nesse instante mágico, nessa simbiose entre o artístico e o
pedagógico, que deve firmar-se a relevância de toda a literatura infantil e sua poesia
e assim alcançar a complexidade do universo das crianças.
Ao pesquisar a trajetória da poesia infantil brasileira primeiramente encontra-
se a poesia didática e de caráter essencialmente moralista, evoluir, ou melhor,
expressando, adquiri contornos saudosistas até emergir num campo conceitual
primando pela estética. Atualmente, ser expressa nas mais variadas formas: nos
meios eletrônicos, em criações coletivas orientadas nos meios escolares, oficinas
pedagógicas, músicos letrando poemas de autores consagrados, livros e
encadernações criativas, algumas luxuosas e, principalmente, a poesia não mais
demarcada por um texto cuja linguagem seja direcionada apenas ao entendimento
da criança. Os livros de poesia infantil na contemporaneidade irrompem — no mais
amplo sentido estético — livre da responsabilidade de instruir as crianças.
A seguir, trata da leitura dos Referenciais Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil (RECNEI, MEC, 1998). Reconhecendo que, enquanto profissional
na educação infantil, tal leitura se torna obrigatória no processo formativo
pedagógico, haja vista as discussões no âmbito político e estrutural, que nortearam
novas definições no campo conceitual e social da Educação Infantil no Brasil. Tal
leitura fornece subsídios teóricos servindo para identificar, em qual eixo temático é
abordada a poesia e quais dimensões ele aborda.
Verificar se a poesia nos Referenciais Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil (1998) é reconhecida em sua função pedagógica e social. E ainda
quais as orientações destinadas aos educadores em relação à sua formação, quanto
ao que preconiza o eixo temático Linguagem Escrita e Oral. Nesse quesito, cabe
uma leitura para identificar, quais as orientações referentes ao trabalho com a
poesia.
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Pelo lugar secundário, e ao mesmo tempo aparentemente elitista que a
poesia ocupa na literatura, buscamos referências bibliográficas distintas, dando
prioridade, aos educadores e poetas brasileiros, mas recorrendo a outras fontes
para a composição do trabalho. Vale pontuar que, referências de outras áreas,
devem ser consideravelmente, acrescidas, à formação educativa, para que se possa
pensar a educação do ser poético, o que temos a conhecer sobre a criança, e sobre
a poesia infantil que possa ressignificar o trabalho. Tal leitura nos fornece subsídios,
para que se possa ter outro olhar nos trabalhos a serem realizados em sala de aula.
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2 TEMATIZANDO
A poesia não poder nem deve ser um luxo para alguns iniciados: é o pão cotidiano de todos. Uma aventura simples e grandiosa do espírito (MENDES, 1972, p. 165 apud PINHEIRO, 2007, p.17).
A pedagogia, na virada do século XVIII para o XIX, difundiu o poema como
meio educativo. A diferenciação da criança do adulto se deu pela emergência da
burguesia, que para consolidar sua posição, retirou as crianças das fábricas, e as
colocou em uma condição de infante com necessidades de cuidados e proteção, por
parte dos pais (BORDINI, 2009, p. 140).
Nesse sentido, à época, essa pedagogia estabelece alguma conexão
enquanto meio didático. Com relação às crianças que descendem das camadas
populares menos favorecidas, na ausência de linguagem poética adequada, leia-se
as crianças pobres e miseráveis mesmo, a elas a escola pública burguesa destinava
livretos ilustrados com quadrinhas e versos da tradição oral. No outro extremo da
linha, às crianças das classes abastadas, segundo Bordini (2009), eram destinados
a leitura dos clássicos como Esopo ou o romance da Rosa.
Dessa forma houve inicialmente a aproximação entre a poesia e a criança. A
seguir apresentamos uma breve introdução histórica da poesia e também a poesia
infantil no Brasil.
2.1 A gênese da poesia: do mito-poético aos ciberpoemas. E suas determinantes ideológicas.
Poesia advém do grego poiesis que em sua acepção significa criar, fazer. Em
todos os momentos históricos no mundo, houve e há alguém que através de
evocações imagéticas, impressões e emoções por meio de sons e ritmos
harmônicos criou, recriou e fez da poesia, a linguagem dos sentimentos e das
emoções.
Na Grécia, a poesia de Homero era fundamentada nos mitos através de
narrativas, longas, heróicas e com raiz na cultura popular dos trovadores que
tocavam a lira.
As apresentações poéticas se faziam acompanhar por um instrumento
musical, a lira, e eram divididas em Cantos líricos. Daí passando a ser denominada
de poesias líricas.
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Homero, através da Ilíada relata a Guerra de Tróia ocorrida por volta de 1.250
AC. Na epopéia Odisséia o poeta narra as aventuras de Ulisses, rei de Ítaca, que ao
retornar de uma guerra que durou vários anos ainda terá que enfrentar outras
aventuras para retomar o reino de Ítaca e sua esposa Penélope.
Historicamente em torno da figura de Homero pairou discussões pondo em
dúvida se ele existiu ou não. Totalmente contrário a essa idéia o alemão Heinrich
Schliemann2 encontrou em 1871, depois de dois anos de pesquisas, a cidade de
Tróia, baseado nos relatos de Homero.
Os atenienses educavam os meninos tornando-os fortes e aptos, para
proteger a cidade. Os meninos (as meninas eram relegadas ao serviço doméstico)
ficavam aos cuidados de um pedagogo, para aprender lições de aritmética, literatura
música, escrita e educação física. Só que o senso estético da poesia estava longe,
de serem expressos durante este aprendizado. Os meninos tinham que decorar
longos e exaustivos poemas coma as narrativas heróicas, e com as lições que
tinham de memorizar. Eis a poesia que lhes eram ministradas, em doses cavalares
que nada se assemelham à forma como se apresenta a poesia atualmente para as
crianças, e coordenadas pelo pedagogo/escravo. O ideário era o de lhes incutir, o
senso de virtuosidade que lhes forjaria o caráter de bom cidadão para a polis.
Com o advento do capitalismo, o lirismo e a poesia trovadoresca mitológica e
epopéica, legado de tradição popular que teve em Homero o mais conhecido
representante, praticamente desaparecem sem a lira (música) para acompanhar. A
poesia começou a ganhar um ritmo próprio, necessitando um trabalho maior com as
palavras.
O sentimento foi mais reforçado na poesia palaciana do que na trovadoresca.
Tal poesia recebe esse nome “palaciano” em vista do fato de ser feita por nobres
presentes apenas nos palácios. A língua utilizada, praticamente não apresentava
dificuldade de compreensão. Predominância do lirismo sentimental, sutil e
sofisticado.
2 Heinrich Schliemann (1822-1890) foi um arqueólogo clássico alemão, um defensor da realidade histórica dos topônimos mencionados nas obras de Homero e um importante descobridor de sítios arqueológicos micênicos, como Tróia e a própria Micenas. Nos anos 1870, Schilemann viajou à Anatólia e escavou o sítio arqueológico do Hissarlik, revelando várias cidades construídas em sucessão a cada outra. Uma das cidades descobertas por Schliemann, nomeada Tróia VII, é freqüentemente identificada como a Tróia Homérica. In: ítaca, o Peloponeso e Tróia. Disponível em: <http://www.inteligenciadinamica.com.br/php/conteudos/textos/itaca.pdf > Acesso: 23 jun 2009; e <http://gl.wikipedia.org/wiki/Guerra_de_Troia>
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Diferente das narrativas Homéricas e Camonianas3, o advento do capitalismo
assim como na República de Platão também propagou seus ideais pondo em ordem
de natureza poética o humanismo no qual o mito homérico foi substituído pelo
debate ou assuntos de natureza amorosa, e pitoresca.
Assim encontramos o caráter ideológico determinado por um sistema político
ser expresso na poesia, teve voz também em Platão:
Sócrates - Assim, pois se um homem perito na arte de tudo imitar viesse á nossa cidade para exibir-se com os seus poemas, nós o saudaríamos como a um ser sagrado, extraordinário, agradável; porém lhe diríamos que não existe homem como ele em nossa cidade e que não pode existir; em seguida manda-lo-íamos para outra cidade, depois de lhe termos derramado mirra na cabeça e o termos coroado com fitas. Por nossa conta, visando á utilidade, recorreremos ao poeta e ao narrador mais austero e menos agradável que imitará para nós o tom que estabelecemos logo de inicio, quando empreendíamos a educação dos nossos guerreiros (PLATÃO, 1977, p. 90).
A poesia ao longo do tempo foi ganhando e perdendo estilos, formas, e
temas. Desde a poesia trovadoresca até hoje existiram várias formas de poesia.
Hoje a poesia se moderniza e se reflete em nossa mídia. Com a chegada do termo
hipertexto4, a poesia começou a receber figuras, sons, filme. A poesia ocupa
espaços e formas distintas, sem, contudo deixar de ser poesia, ou desvincular-se
completamente de sua origem, pois mantém algumas de suas características e
elementos que a constitui como a voz e o ritmo. Uma referência que pontua a poesia
contemporânea e distingue o plano da linguagem poética para as crianças nos traz o
seguinte:A noção de verso para crianças acompanha as modificações introduzidas pelas vanguardas, que desestruturam a linearidade, aproveita o branco para criar intervalos de silêncio ou duplo sentido, fragmentam as palavras com parênteses ou cortes, fugindo dos ritmos regulares. Todavia para crianças menores a ênfase sobre a sonoridade e a repetição mantém seu prestígio, bem como a brincadeira com a montagem de palavras sem sentido dicionarizado ou as cenas ou ações regidas pelo absurdo cômico (ZILBERMAN & RÖSING, 2009, p. 140).
A impressão de que um sentido é percebido como sensação de outro, a
sinestesia, encontra-se presente na veiculação e exploração da poesia. Com o
advento do moderno aparato tecnológico e a facilidade de conexão com a Internet
3 Narrativas camonianas referem-se à epopéia portuguesa descrita por Luís Vaz de Camões (1525-1580) em sua obra prima denominada Os Lusíadas, publicada no século XVI.4 Hipertexto, em computação, é o termo que nos remete a um texto em formato digital, ao qual se agrega outros conjuntos de informação na forma de blocos de textos, imagens ou sons. O acesso ocorre através de referências específicas que são chamadas de hiperlinks ou links.
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pode-se ouvir, ver e ler uma poesia, todavia, em geral, o ciberespaço prescinde da
oralidade, e essa é fundamental, pois como nos alerta Pinheiro (2007) cada geração
escreve o mesmo poema, conta com o mesmo conto. Com uma pequena diferença:
a voz.
2.2 Poesia infantil no Brasil
Nos três séculos imediatos ao que se convencionou chamar de
descobrimento do Brasil não havia sido ainda instalada nesses territórios a
imprensa. Após a invasão napoleônica a Portugal ocorre a fuga de D João VI e sua
real família para o Brasil, deixando de ser colônia. Tais fatos têm por conseqüência a
criação da imprensa régia responsável pela impressão dos primeiros livros
destinados às crianças e também a criação da biblioteca nacional, tendo como
primeira publicação As aventuras do barão de Münchausen e Leitura para meninos
do senador José Saturnino da Costa Pereira. Esse livro tinha por teor histórias de
cunho moral e com ensinamentos sobre geografia, cronologia, história de Portugal e
história natural (PIEDADE, 2006).
Uma das referências, buscadas para analisar o poetizamento no Brasil foi o
de Luís Camargo (1998) em seu artigo intitulado A poesia infantil no Brasil5. O autor
faz um levantamento histórico no qual podemos perceber alguns aspectos que
atrelaram a evolução da poesia infantil no Brasil. Exaltação ufanista, e vínculo direto
com a escola em virtude de ter surgido com o consentimento do Império, que se
arraigou durante a República. A poesia no período do império tinha como
características o adultocêntrismo na voz temática poética, sendo essencialmente de
caráter moral.
Luís Camargo (1998) cita o soneto de Alvarenga Peixoto (1744-1792) com o
título de Amada filha que foi escrito para sua filha Maria Efigênia pela comemoração
de seu aniversário de sete anos.
O poema de Alvarenga Peixoto Amada filha assim como também Conselhos a
meus filhos, de sua esposa Bárbara Eliodora (1759–1819), apresentam um traço
que será dominante na poesia infantil brasileira até a primeira metade do século XX,
isso é; a presença de uma voz poética adulta, que se dirige a um leitor infantil,
5 Escritor e ilustrador de livros infantis, nascido em São Paulo, Brasil, em 1954. Desenvolve pesquisas sobre a poesia infantil no Brasil, tendo defendido dissertação de mestrado junto à Unicamp – Universidade de Campinas –, Campinas, Brasil, em 1998, com o título “Poesia infantil e ilustração: estudo sobre ‘Ou isto ou aquilo’ de Cecília Meireles”, além de ter publicado diversos artigos.
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utilizando o poema como veículo de educação moral.
Conselhos a meus filhos
Meninos, eu vou ditarAs regras do bem viver;Não basta somente ler,È preciso ponderar,Que a lição não faz saber,Quem faz sábios é o pensar [...]
Sempre vos deixeis guiarPelos antigos conselhos,Que dizem que os ratos velhosNão há modo de os caçar;Não batam ferros vermelhos,Deixem um pouco esfriar.
Poetas como Gonçalves Dias (1823-1864) Casimiro de Abreu (1839-1860)
escrevem alguns poemas dedicados às crianças incluindo os em seus livros
dirigidos ao leitor adulto (CAMARGO, 1998).
A poesia de Casemiro de Abreu se caracterizou pela sensibilidade quase
infantil, pelo saudosismo do seu tempo de infância, a simplicidade e amor pela
natureza. Assim vemos ao longo do poema Meus oito anos:Oh! Que saudades que tenhoDa aurora da minha vidaDa minha infância queridaQue os anos são trazem mais!Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueirasAs sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais!
O poema de Casemiro de Abreu ganhou uma publicação atual, com belíssima
ilustração, o poema ainda que não figure entre as escolhas dos educadores nas
listas dos livros “adotados”, a publicação consegue comprovar a atemporalidade do
poema. Assim como o Menino poeta de Henriqueta Lisboa (1903-1985), tais
publicações renovam e enriquecem o conhecimento acerca do trabalho desses
poetas, permitindo que o seu trabalho seja visto em sua atemporalidade, beleza, e
espaço na história da poesia infantil brasileira (CAMARGO, 1998).
A leitura dessa poesia ainda, nos faz conhecer admirar, e incorporar ao nosso
acervo poético, a linguagem e buscar compreender o contexto, histórico que
influenciou os poetas que estão sendo reeditados.
A poesia infantil surge em consonância com a escola. A escola brasileira
utilizava-se da poesia para significar a aprendizagem de Português. Surgem as
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antologias organizadas ou escritas por professores em prosa e verso como material
de apoio para leitura. Em 1874 o professor João Rodrigues da Fonseca Jordão
publica o Florilégio6 brasileiro da infância, no qual se reuniram poemas que não
foram escritos originalmente para o leitor infantil e continha os elementos
designativos poéticos: ode, alegoria, sátira, poemas (CAMARGO, 1998).
Os livros com poesia — assim como os demais livros — eram destinados à
escola com uma perspectiva moral. Essa, por assim dizer, orientação pedagógica
adentra ao século XX e alcança sua década de 60, momento no qual o trabalho com
a poesia infantil, ainda mantém integralmente seus conteúdos objetivando exaltar o
ensino da moral e do civismo.
Podem-se perceber dois aspectos da poesia infantil ao longo desse período: a
poesia concebida como meio para fixar a disciplina de Português e como modelo
para sensibilizar as crianças quanto ao trabalho e valores morais da época. O Trabalho
É preciso, desde a infância,Ir preparando o futuro;Para chegar à abundância,É preciso trabalhar (BILAC, 2009).
A MocidadeA Mocidade é como a Primavera!A alma, cheia de flores, resplandece,Crê no Bem, ama a vida, sonha e espera,E a desventura facilmente esquece.É a idade da força e da beleza:Olha o futuro, e inda não tem passado:E, encarando de frente a Natureza,Não tem receio do trabalho ousado.Ama a vigília, aborrecendo o sono;Tem projetos de glória, ama a Quimera;E ainda não dá frutos como o outono,Pois só dá flores como a Primavera! (BILAC, 2009).
O livro Poesias infantis (1904), de Olavo Bilac (1865-1918), assim como o de
Casemiro de Abreu (1839-1860) é apontado como um dos mais significativos é
apontado como um dos mais significativos representantes da poesia que era
produzida para as crianças, desde o período do Governo imperial, até a República.
Foi encomendado, como um livro escolar. O que rendeu ao livro várias edições, e
menção honrosa. Os critérios para o conteúdo do livro foram ditados pelo governo.
O livro trazia ilustrações, e poemas simples segundo o próprio autor destinado para
6 Nome dado ao livro, por assemelhar-se a uma variedade de flores. O florilégio continha uma “variedade” de poemas destinados ao público em geral.
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os professores aplicarem às lições escolares.
De acordo com Nelly Novaes Coelho (2000, p 227) o poeta do período
parnasiano, Olavo Bilac7 escrevia versos métricos, com rimas simples, e cenas
pitorescas, da vida cotidiana prevaleciam, sobretudo, uma educação moral, na qual
a linguagem no poema era dirigida à criança por uma voz adulta, sempre a incutir
conselhos sobre como se portar, e tornar-se obediente perante a escola, os pais, e
de amor por sua pátria. Vejamos no poema abaixo denominado A pátria:
Pátria, latejo em ti, no teu lenho, por ondeCirculo! e sou perfume, e sombra, e sol, e orvalho!E, em seiva, ao teu clamor a minha voz responde,E subo do teu cerne ao céu de galho em galho! (BILAC, 2009)
A Henriqueta Lisboa (1904-1985) coube o mérito, através do livro O menino
poeta (1943), de romper com o didatismo escolar, e com o crivo, inclusive o selo,
indicativo do governo, algo começa a se quebrar:ConsciênciaHoje completei sete anos.Mamãe disse que eu já tenho consciência.Disse que se eu pregar mentira,Não ir domingo à missa por preguiça,Ou bater no irmãozinho pequenino,Eu faço pecadoFazer pecado é feioNão quero fazer pecado, juroMas se eu quiser eu faço.Última flor do Lácio, inculta e bela
Então na década de 60 do século XX, com o surgimento da poesia de Cecília
Meireles (1901-1964), que remetia às questões relacionadas à criança, a poesia
infantil, finalmente adquiriu contornos infantis.
Embora preocupada com as questões pedagógicas e em alguns de seus
poemas estejam presentes os elementos lingüísticos reforçadores da aprendizagem
da língua, a poesia de Cecília desvela o olhar para a ligação entre o ser e as coisas,
a dinâmica de sua poesia confronta a vida os adventos e situações de sua época,
explora os recursos estilísticos diversos, desde os poemas com fins didáticos aos
imagéticos e onomatopéicos como no poema seguinte:
7Alguns títulos da poesia infantil de Bilac e sua orientação positiva para com as instituições: A avó. A borboleta; A boneca; A vida; A mocidade; As estrelas; As formigas; A vida; A madrugada; Ano bom; A pátria; As flores; A velhice; Ave-maria; A coragem; A casa a rã e o touro; Domingo; Deus; Infância; Junho; Justiça; Meio-dia; Meia-noite; Modéstia; Natal; Os pobres; O universo (paráfrase); O tempo; O rio; O pássaro cativo;O Sol; O boi; O avô; O remédio; O credo; O soldado e a trombeta; O leão e o camundongo; O lobo e o cão; Os reis magos; O trabalho; Plutão; Velhas árvores. Disponível em (http://www.colegiosaofrancisco.com.Php).
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A canção dos tamanquinhos:Troc... troc... troc... troc...Ligeirnhos, ligeirinhos,Troc... troc... troc... troc...Vão cantando os tamanquinhos...Chove. Troc... troc... troc...No silêncio dos caminhosAlagados, troc... troc.Vão cantando os tamanquinhos.E até mesmos, troc... troc...Os que tem sedas e arminhos,Sonham troc... troc... trocCom seu par de tamanquinhos (1934).
Cecília traz para a poesia infantil a musicalidade, explorando versos
regulares, a combinação de diferentes metros, o verso livre, a aliteração, a
assonância e a rima. Os poemas infantis de Cecília Meireles não ficam restritos à
leitura infantil, permitindo diferentes níveis de leitura. A insatisfação com os limites e
o desejo de plenitude está presente no poema “Ou Isto Ou Aquilo”, que dá título ao
seu livro de poesia infantil, publicado em 1964 (CAMARGO, 1998).
O chamado universo infantil passa a ter uma voz lírica, um contorno próprio
das crianças, esquemas modelares do período anterior, preso à métrica, por lições
de moral, datas festivas e ensinamentos sobre higiene, dão lugar ao nonsense, ao
inusitado, aos sentimentos da criança, remetem ao prazer lúdico dos sons e das
imagens.
Nos anos 60 foi de suma importância para a educação escolar a
regulamentação da Lei nº 5.692/1971, cuja principal determinação foi a de incluir
textos literários obrigatórios para o ensino da Língua portuguesa nas escolas
(COELHO, 2000, p. 239).
A poesia de Cecília surge em pleno período político desenvolvimentista, e do
surgimento da Escola nova no Brasil, e mais o crescimento do mercado editorial no
ramo das publicações destinadas às crianças. No Brasil, na área de Literatura
infantil, esse mercado é impulsionado seja pela conjunção desses fatores, seja pela
qualidade dos livros publicados para a criança agora reconhecida em sua condição
de criança, distinção notada por Philippe Áries (1981)Sob a influência desse novo clima moral, surgiu uma literatura infantil distinta dos livros para adultos. Entre a massa de tratados de civilidade redigidos a partir do século XVIII, é muito difícil reconhecer os que se dirigiam aos adultos e os que se dirigiam às crianças. Essa confusão se explica por razões ligadas à estrutura da família e às relações entre a família e a sociedade (ARIES, 1981).
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Se por um lado Cecília inaugura um período fértil e arrazoadamente livre para
a poesia infantil, por outro, há uma interdependência, inegável no que diz respeito à
questão política. Sua poesia, assim como a escola, reflete à época e o modelo de
educação, preconizado, tanto pelo que dita a sociedade quanto o que dita o ideário
de infância (CAMARGO, 2009).
Como vemos na reflexão de Philipe Áries:No momento em que se consolidam as instituições que pretendiam formar os pequenos, o gênero aparece com a finalidade de prepará-los para o convívio com os adultos, retirando-os da promiscuidade que tinham com os mais velhos (ARIES, 1981, grifo nosso).
Surge uma Literatura com distinção entre Literatura para adulto e Literatura
para a criança. A literatura denominada Literatura Infantil. As discussões em torno
desta pairam acerca do seu pertencimento se à arte Literária ou à Pedagogia.
Nelly Novaes Coelho (2000, p. 46) defende que a literatura infantil pertença às
duas categorias tanto a arte e ação educativa. A própria Cecília, poeta-educadora
pretendia em seu trabalho com a poesia, dar um sentido que atentasse para o
significado das palavras e da mensagem que a sua poesia, dirigia às crianças, não
fosse destituído de esvaziamento tanto de sentidos quanto de elementos que
propiciasse uma decodificação de valores e sentimentos que educassem as
crianças, marcada pelos ideais da escola moderna, a esse respeito ela afirma:
O livro de literatura infantil cumpre outra função. Nas sociedades modernas, ele substitui o aprendizado pela transmissão oral. Compete a ele, no processo educacional, transmitir a tradição literária, base cultural dos diferentes povos. Ocupa o espaço da aprendizagem não formal (Cecília Meireles).
A literatura infantil deve estar marcada pelo interesse literário. e deve,
também, propiciar à criança o exercício da imaginação, exemplos de moral e
momentos de prazer espiritual além de destacar o belo. É um livro de literatura
infantil, portanto, aquele que reúne essas características.
A partir disso para se escrever ao público infantil preconiza-se que é
necessário antes conhecer a criança em suas características de desenvolvimento e
pensamento, distinguindo os interesses dos adultos dos interesses infantis. Como no
poema abaixo:CoisasCoisas boas:Bombom, bolinho, bolachaPastel, pipoca, pitanga.
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Coisas lindas:Barquinho, balão, boneca,Palhaço, pião, poema.Coisas de todos:Lagoa, estrada, folhagem,Luar, estrela, farol.Coisas de poucos:Mel, moeda, medalha,Milagre, amigo, amor (DINORAH, 1984).
Outros nomes como Manuel Bandeira, Vinicius de Moraes, José Paulo Paes,
Sergio Capparelli, Tatiana Belinky, Sidónio Muralha, Manoel de Barros, Maria
Dinorah merecem destaque no cenário da poesia infantil brasileira, por terem
conseguido com a poesia estabelecer um elo que, rompendo com o adultocêntrismo,
tornou-a mais próxima da criança, mais leve, mais divertida, e com certeza menos
didático-moralizante, com várias possibilidades em sua forma, linguagem, e modo de
dizer o mundo o real e o possível de ser imaginado pela criança, e pelo poeta
através de sua sociopoética.
Vale ressaltar que Sidónio Muralha (1920-1982) Poeta português que se
exilou8 e, por opção, se estabeleceu aqui no Brasil. Onde funda — juntamente com
dois sócios o pintor Fernando de Lemos, e o escritor Fernando Correa da Silva — a
editora Giroflé e criam um novo padrão para as publicações dirigidas às crianças
(COELHO, 2000, p. 243).
Sidónio Muralha, ao dedicar-se à poesia infantil, segundo Pinheiro (2007),
produz alguns dos mais importantes livros para a poesia infantil brasileira. Dentre
eles A televisão da bicharada (1962) que conquistou o 1º Prêmio da II Bienal
Internacional do Livro de São Paulo e do qual destaco o poema mais conhecido
abaixo:Boa noite.A zebra quis ir passear,Mas a infeliz foi pra cama Teve que se deitarPorque estava de pijama (MURALHA,1962 ).
O livro de Sidónio Muralha traz para o universo infantil, o senso estético no
sentido de oferecer ao leitor infantil, um livro ilustrado com imagens coloridas e que
remetem aos poemas.
Pinheiro (2007) ao analisar o livro Poemas para crianças descreve algumas
características dos poemas de Sidónio Muralha. São diferenças básicas entre os
8 Sidónio era filho de um jornalista socialista português, que veio morar no Brasil em 1961 por motivos políticos (Ditadura Salazar).
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dois livros, no primeiro os poemas são curtos e no segundo são poemas mais
longos, o humor, o diálogo entre os animais é estabelecido. A semelhança, o valor
de sua poesia consiste, tanto em sua relação com a literatura quanto com o ser
humano. Observe-se a presença da miscigenação e a quebra do preconceito racial
na poesia Xadrez.É branca a gata gatinhaé branca como a farinha.É preto o gato gatãoé preto como o carvão.E os filhos, gatos gatinhos, são todos aos quadradinhos.Os quadradinhos branquinhosfazem lembrar mãe gatinhaque é branca como a farinha.Os quadradinhos pretinhosfazem lembrar pai gatãoque é preto como o carvão.Se é branca a gata gatinhae é preto o gato gatão,como é que são os gatinhos?— os gatinhos eles são, são todos aos quadradinhos (MURALHA, 1962).
Pinheiro (2000, p. 16) afirma que a poesia de Sidónio Muralha é de grande
valor e foi possivelmente quem explorou a fauna aliando fantasia, poética, humor e
profundo senso humanístico.
O sentido que Sidónio Muralha imprime à sua poesia transcende o próprio
valor estético, alia-o ao sentido de educar as crianças para a relação com a vida
com os animais, a lidar com imagens, sensoriais e afetivas.
O riso, as descobertas da amizade, da musicalidade, das brincadeiras com as
parlendas e trava-línguas, as canções de ninar ainda lembradas por muitos de nós,
cantadas por nossas mães, avós, o acervo cultural da tradição oral herdados na
primeira infância de rua cantigas de roda a exemplo de:
Quem vai ao ar,Perde o lugar.Chuva com sol,Casa raposa com rouxinol.Sol e chuva:Casamento de viúva
Um, dois, feijão com arrozTrês, quatro, feijão no prato,Cinco, seis, feijão, pra nos três,Sete oito feijão com biscoito,Nove, dez feijão com pastéis (MURALHA, 1962).
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É também de grande relevância o pioneirismo de Vinicius de Morais, o vigor
de sua poesia, ainda contempla elementos de parlendas do folclore brasileiro
incorporado à poesia. Sobre Vinicius, destacamos o livro a Arca de Noé, feito por ele
para os seus filhos, e mais tarde transposto para disco e um programa na tv no qual
artistas e cantores reconhecidos no cenário da música escolhidos pelo próprio
poeta, interpretaram os poemas musicados, e que fez da Arca de Noé, de Vinicius, o
livro de poesia infantil mais conhecido no Brasil.Coitada da galinha
Coitada, coitadinhaDa galinha-d'AngolaNão anda ultimamenteRegulando da bolaEla vende confusãoE compra brigaGosta muito de fofocaE adora intrigaFala tantoQue parece que engoliu uma matracaE vive reclamandoQue está fracaTou fraca! Tou fraca! Tou fraca! Tou fraca! Tou fraca!Coitada, coitadinhaDa galinha-d'AngolaNão anda ultimamenteRegulando da bola (MORAIS, 1970).
O girassol
O girassol é o carrossel das abelhas.Roda, roda, roda carrosselGira, gira, gira girassol (MORAIS, 1970).
É também de grande relevância o registro da linguagem folclórica em
parlendas e cantigas do folclore brasileiro realizada por Câmara Cascudo (2002)
como a seguir:Bão-balalãoSenhor capitãoEspada na cintaGinete na mãoMoço bonito do meu coração.
Para Câmara Cascudo as cantigas de roda provavelmente sempre estarão
presentes na sociedade e compõem umas “das mais admiráveis constantes sociais,
transmitidas oralmente, abandonadas em cada geração e reerguidas pela outra,
numa sucessão ininterrupta de movimento e de canto” (2002).
Zilberman & Rösing (2009) mencionam no livro Escola e leitura... que na
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leitura dos livros infantis de poesia, não existem tabus quanto aos temas, pontuando,
algumas das diferenças entre os livros que eram produzidos para crianças no século
xix, até emergir, numa produção mais dirigida ao leitor infantil, considerando os seus
estágios de desenvolvimento psicológico, o aspecto cultural , pois os livros infantis
são ricos tanto em ilustrações , quanto às temáticas que abordam , assuntos de
natureza social como a preservação do meio ambiente e proteção aos animais
como no poema de Elias José (2007):O rodízioBoi, boiPra onde você foi?
Frágil frangoVirou rango
Pobre do porco,Tudo é pouco.
E o coração da galinha?Tão romântica coitadinha
E o senhor peixeNem gritou: - me deixe!...Por que não o urubu,Pra comer com chuchu?
No intróito dessa subseção abordamos a origem da poesia, considerando que
o mundo ocidental tem suas bases civilizatorias plantadas nos império greco-latino,
momento no qual apresentamos algo de Homero e seus mitos.
Com relação à presença da poesia no Brasil podemos depreender que por
mais de três séculos sua existência deu-se, principalmente, no âmbito religioso.
Após esse longo caminho percorrido no tempo, desde a não existência da imprensa
até o inicio do século XIX quando ocorreu o advento político no qual o Brasil passa a
compor o Reino-unido de Portugal e dá seus primeiros passos ainda que,
reconhecidamente, em, em um contexto de total dependência ao Reino. Nesse
transcurso, e também adentrando ao século XX, o que se pode constatar é a
presença da literatura poética em uma perspectiva cívico-morais.
Esta orientação pedagógica visa antes enaltecer os bons e bem direcionados
costumes e, diga-se de passagem, da sociedade que por ventura pudesse realizar
qualquer forma de critica social.
A seguir veremos as propostas em que se dá a poesia na educação infantil de
acordo com o referencial curricular.
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3 A POESIA E O REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL
A unidade entre o intelectivo e o sensitivo não se dissocia da linguagem e, assim da dimensão poética a poesia é ao mesmo tempo, raiz e utopia das palavras seu nascimento e sua terra prometida. A palavra poética religa o pensar, o sentido, o viver e o expressar (SEVERINO, 2008. p. 94).
Poderia — ao leitor que já se encontra no nível das inferências — haver algo
de significativo no fato de se ler sistematicamente os três volumes da obra do
Ministério da Educação e do Desporto intitulada Referencial Curricular Nacional para
a Educação Infantil (1998) em busca da palavra poesia e ao final da pesquisa se
comprovar que a ocorrência desse vocábulo não se dá senão em uma dezena de
vez? Isso mesmo: dez vezes. Que se deixe aqui, por oportuno, bem caracterizado
que no volume I e II do citado documento governamental tal palavra nem mesmo
faz-se presente. E na primeira ocorrência aparece como na epigrafe acima, isso é;
referindo-se à canção.
Reconhece-se que o político é fundamental e, nesse âmbito, o amor ao
príncipe maquiavélico9 e suas ações, com certeza, se faz presente, no entanto, é
forçoso que se reconheça com justa imparcialidade a fala de outro príncipe, Hamlet,
que, em sua tragédia, não nos permite esquecer que “há algo de podre [em nossa]
república” (SHAKESPERE, 2009). Traduzindo o desabafo de alguns educadores que
se permitem escrever sobre a poesia quando dizem que esta é considerada por
muitos com a prima pobre da literatura.
Parece-nos que, com relação à educação infantil, na proposta estabelecida no
referencial curricular nacional prevalece o currículo oculto10, todavia, infelizmente
para os infantes, desta feita, oculto aqui não quer significar alguma orientação,
comportamento, atitude ou valor sócio-poético que alcançarão em contato com seus
educadores, antes quer significar mesmo a ausência do acesso ao bem cultural:
poesia.
9 Referência à obra O Príncipe, de Nicolaus Maclavellus (03-05-1469/21-06-1527).10 Conceitualmente o currículo oculto é constituído por todos aqueles aspectos do ambiente escolar que, sem fazer parte do currículo oficial, explícito, contribuem, de forma implícita para aprendizagens sociais relevantes [...] o que se aprende no currículo oculto são fundamentalmente atitudes, comportamentos, valores e orientações (SILVA, 2001 apud CORTELAZZO, 2004).
31
3.1 Há poesia no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil?
Diante do tema proposto a poesia a enquanto objeto de estudo, cabe,
perfazer uma busca no documento normativo que rege a educação infantil brasileira.
Ester documento serve de base para orientar o trabalho docente na educação
infantil.
Se a poesia ocupa um espaço na literatura, qual espaço ela ocupa no
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI)?
Para atender às exigências da Lei de Diretrizes e Bases 9.394/96 que
reconhece a Educação Infantil como primeira etapa do ciclo da Educação Básica o
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, foi planejado tendo como
um de seus objetivos incorporar as atividades pedagógicas aos cuidados com as
crianças. Outro dos objetivos trata da realidade social e cultural vivenciada pelas
crianças.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, no volume 3 -
Conhecimento de mundo aponta a linguagem oral e escrita como um dos eixos
básicos na educação infantil. E reconhece que a educação infantil deva promover
experiências significativas de aprendizagem através de trabalhos com a linguagem
oral e escrita que irão ampliar o modo como as crianças irão descobrir as
regularidades da linguagem oral, se apropriando das convenções da língua.
E posteriormente além de falar com fluência, produzir atos e situações de
linguagem criada a partir das relações socializadas:
Além de produzir construções mais complexas as crianças são mais capazes
de explicitações verbais... O desenvolvimento da fala e da capacidade simbólica
amplia significativamente os recursos intelectuais. Porém, as falas infantis ainda são
produtos, de uma perspectiva muito particular de um modo próprio de ver o mundo
(RCNEI, 2009, p. 126).
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil define, a língua
como um sistema de signos histórico e social que possibilita ao homem significar o
mundo e a realidade cuja abordagem da linguagem escrita e oral, indica o
desenvolvimento de quatro competências lingüísticas: falar, escutar, ler escrever.
Através de brincadeiras e trocas de experiências, as crianças expressam seus
desejos, opiniões, idéias, preferências. E gradativamente alcança níveis formais de
uso da linguagem, a exemplo da leitura de textos variados.
32
Neste capítulo, a partir das orientações didáticas, podemos localizar em
diversos parágrafos a indicação do uso de poemas nas atividades.
Cabe ressaltar, que embora conste, a indicação para o trabalho com a poesia
nas sugestões, há uma ênfase direcionada para o texto em prosa, privilegiando a
contação de história. O que coloca o trabalho com o texto em prosa em um patamar
privilegiado.
3.2 A poesia na dimensão da leitura e da escrita pelo Referencial Curricular Na- cional para a Educação Infantil
Ao referir-se a duas dimensões, indispensáveis, na atuação dos educadores (as) a
pratica de leitura e a prática de escrita, o Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil destaca o uso da linguagem pela criança, e como elas ao falar e
escutar; brincam, conversam, trocam experiências, expressam desejos,
necessidades, opiniões, idéias, preferências e sentimentos. Numa troca infindável e
permeada de significados. Podemos verificar no poema de Duda Machado (1997):
Uma turma inesquecível
Conheci um gatoChamado Lencim,Toda vez que miavaEspirrava atchim.Conheci uma vacaChamada Quilate,Dava um leite branquinhoSabor chocolate.Conheci um jumentoChamado Merlim,Comia poeiraCuspia capim.Conheci, conheci,Não sei mais, esqueci.Ei e você tambémNão conhece mais ninguém? (1997, p. 10).
No que diz respeito à prática de leitura, essa colocação, evidencia que o
conhecimento é adquirido nos ambientes nos quais as crianças vivem e freqüentam,
e nos quais lhes enriquecem e fornecem informações acerca das manifestações
culturais e dos modos de lidar com as emoções relacionadas a questões éticas, que
influenciam e contribuem com a construção da sua subjetividade e sensibilidade.
Entretanto em relação a prática de leitura, o Referencial Curricular Nacional
para a Educação Infantil sugere apenas o trabalho com a reprodução oral de jogos
33
verbais, trava-línguas, parlendas, adivinhas, quadrinhas, e poemas e canções, não
mencionando o trabalho de criação poética pelas crianças, em consonância com as
atividades sugeridas.
Mesmo quando o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
reconhece que no processo de aquisição da linguagem a criança, ouve, fala e utiliza
fragmentos, da fala do adulto em sua linguagem. As crianças elaboram jogos
lingüísticos, piadas, frases engraçadas, palavras cantadas.
Quando a escola direciona as atividades apenas para a reprodução oral,
ainda que essa tenha seu imenso valor reconhecido, tal direcionamento limita a
relação com a poesia. Esse fato impede que haja uma maior capacidade de reflexão
que poderia advir desse contato. É possível incitar o conhecimento poético na escola
e em conseqüência disso pode ocorrer a ampliação nas escolhas e nos gostos pela
leitura de poesia.
Quanto à prática de escrita, convém citar Bachelard quando afirma que “nos
poemas, manifestam-se forças que não passam pelo circuito do saber” (1984, p.
187). Um poema no qual podemos observar esta reflexão foi poetizado por uma
criança ao brincar com as palavras, a imaginação criadora na criança se revela, na
livre criação de um poema onde o lúdico, prevalece, e não necessariamente ocorre
numa situação de co-dirigidas para objetivar o aprendizado.A palavra que eu mais gostoé bundidex,porque eu inventei agora e gostei (Janaína Marques, 4 anos)11.
Daí poder compreendê-la (a poesia) entendendo-a também como uma
escrita não convencional e que o seu uso não implica necessariamente, na
obrigatoriedade da intervenção pedagógica com fins direcionados unicamente para
desenvolver as potencialidades cognitivas das crianças. O poema a seguir, nos
chama a atenção para a nossa sensibilidade, Nos fazendo refletir, sobre o aspecto
imagético contidos na poesia, e que não prescindem de um conhecimento específico
tal qual afirma anteriormente Bachelard (1984).Pra fazer uma campina
Pra fazer uma campinaÉ preciso um trevo e uma abelhaUm trevo e uma abelha,
11 In: Francisco Marques, (Chico dos Bonecos). Galeio: Antologia Poética para crianças e adultos, São Paulo: Peirópolis, 2004.
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E a fantasia.Só a fantasia chegaSe falta a abelha (DICKINSON apud CAPPARELLI, 1998).
Acerca do poema, o sentido pedagógico, aqui consiste em educarmos os
nossos sentidos para buscarmos a interioridade, do poema, as sensações e
imagens que ele evoca. Assim precisamos levar em conta o que nos diz Maria
Helena FrantzO ser humano não é só razão, intelecto, ele é também, e antes de tudo, sentimento, emoção, imaginação.o mundo adulto tende a não valorizar muito esses aspectos e a privilegiar o material, o racional, o técnico, o útil, o lucrativo (2001, p. 82).
Contudo, no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil há um
indicativo da poesia como tarefa pedagógica, considerando que nesse contexto as
crianças podem conhecer e saber de cor os textos a serem escritos como uma
parlenda, uma poesia ou letra de música.
Nessa atividade as crianças precisam pensar sobre quantas e quais letras
colocar para escrever o texto, usar o conhecimento disponível sobre o sistema de
escrita, buscar material escrito que possa ajudar a decidir como grafar (RCNEI,
1998, p. 148).
Entre muitos destaco o poema de Elias José (2007, p. 23) em seu livro Lua
no Brejo que oferece esta possibilidade:A casa e o seu dono Essa casa é de cacoQuem mora nela é o macaco.
Essa casa é de cimentoQuem mora nela é o jumento.
Essa casa é de telhaQuem mora nela é a abelha.
Essa casa é de lata Quem mora nela é a barata.Essa casa é eleganteQuem mora nela é o elefante.
E descobri de repenteQue não falei em casa de gente.
Tais atividades tanto de leitura quanto de produção de escrita, apóiam-se em
contexto de interação, que valorizam tanto a diversidade quanto a individualidade
das crianças em seus momentos de construção da leitura e da escrita.
Sobre poesia infantil assim como qualquer outro elemento da literatura infantil,
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não há um capítulo específico ou subtítulo no Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil. O que ocorre é uma distinção entre a poesia e a contação de
história, posto que a respeito desta última, pese o seu valor histórico para a
humanidade, por nos trazer o encantamento, a experiência com o irreal que evoca
memórias antigas e pessoais.
Existe uma variada gama de publicações com orientações didáticas de como
elaborar trabalhos com a contação de história, e os diversos gêneros que encantam
as crianças e os adultos: contos populares, contos de anedotas, contos de fadas... A
poesia também nos oferece gêneros variados. Contudo, não há na mesma
proporção ou aproximadamente publicações voltadas para orientar o trabalho com a
poesia infantil. São poucas, se comparadas, a outro gênero literário as publicações
com orientações didáticas e voltadas para orientar o trabalho com a poesia.
O que pode gerar ou intensificar mais ainda a distância entre a criança e a
apropriação, o desenvolvimento do gosto pela leitura de poemas, e o que esta
descoberta traz em seu conjunto, o conhecimento, a produção autoral da criança, o
prazer da leitura a oralização de poemas, de conhecer autores nacionais, regionais e
internacionais, e o reconhecimento de seu ser poético.
Para os educadores o Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil, reserva no capítulo referente à linguagem oral e escrita um tópico, intitulado
Organização do tempo - Atividades permanentes, a serem desenvolvidas em sala de
aula, apontando um conjunto de sugestões numa das quais, salienta, que são
práticas nas instituições de educação infantil.
A primeira atividade citada pelo Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil é a contação de história, sugerindo o conto, o reconto, falando
sobre o prazer da leitura o acesso ao livro, com uma observação das mais
pertinentes sobre o contato pela criança com um texto mais longo.
Entre outros o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil,
sugere: a organização de saraus literários nos quais as crianças podem escolher
textos de poesia, de histórias, parlendas para contar ou recitar no dia do encontro
(1998, p.154).
Em seguida acerca dos eventos de escrita destaca os projetos, cuja produção
pode levar a organização de coletâneas de um mesmo gênero exemplificando entre
outros a poesia. E mais, outra sugestão que envolve a poesia, consiste em gravar
em fita cassete (consideremos quanto a isto que o Referencial Curricular Nacional
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para a Educação Infantil foi elaborado em 1998) de poesias recitadas pelas crianças
e disponibilizar no espaço escolar livros de poesia.
As estratégias pedagógicas sugeridas pelo Referencial Curricular Nacional
para a Educação Infantil, podem ser adotadas numa perspectiva prática no contexto
das aulas, em consonância com o estudo dos pressupostos teóricos, embora não, o
sugira.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil enfatiza que a
Linguagem oral e escrita possibilita comunicar idéias pensamento e intenções de
diversas naturezas, além de influenciar o outro e estabelecer relações interpessoais.
Propicia à criança construir um conhecimento de natureza conceitual para que ela
possa reconhecer, não só o que está escrito, mas compreender de que forma gráfica
a linguagem está representada.
Nesse sentido, Elie Bajard salienta que “o grande desafio consiste em utilizar
a atração de um meio não para nele encerrar a criança, mas, ao contrário, para
sensibilizá-la e treiná-la ao uso de outros” (p. 114, 1994).
Ao pensarmos na relação entre a criança, e a poesia através do RCNEI,
pode-se refletir, numa perspectiva em que torne tais preceitos, como um suporte
para o trabalho educativo, e não como condição modelar.
Na premissa de Bajard, podemos minimamente perceber o entrelaçamento,
entre a condição da aprendizagem e valorização da subjetividade em comuns.
Visto desse modo, a poesia não serve apenas para a decodificação de
símbolos gráficos, nem apenas para ser recitada na escola, ela pode configurar-se
em uma forma educativa para além do uso e aquisição da língua. A poesia assim
pode ser subentendida como inerente à própria infância, sejam pela musicalidade,
metáforas, e o lirismo tanto quanto o é pelo humor que apresenta e elementos
humanizadores que constituem os poemas infantis.
As experiências poéticas na escola, favorecem desse modo a aquisição da
leitura, da escrita, através da leitura e poetizamento das palavras propiciando o
descortinar da leitura do mundo.
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4 POESIA E EDUCAÇÃO
Ao bosque fui, sim eu fui lá. E tinha vontade de nada achar. Uma florzinha avistei, então, brilho de estrela, na minha mão. Eu quis colhê-la e a ouvi falar: “se tu me quebras eu vou murchar”. Com toda raiz a flor puxei e ao meu jardim então a levei. Logo a plantei em um canteiro e ela floresce o ano inteiro (GOETHE apud CAPPARELLI, 1989).
O poético na educação. O que poderia ser ou vir a ser? Seria atribuir sentido
aos atos pedagógicos? A esse respeito, Moisés (2007, p. 17), pondera que tanto o
poeta quanto o educador ensinam a conhecer ou a compreender.
O primeiro como não detém o conhecimento de nenhum objeto específico,
atém-se ao ato que pode conduzir à apreensão de objetos em geral; o segundo, por
se definir em razão do conhecimento especializado concentra-se em ensinar esse
mesmo conhecimento.
Moisés (2007) ao tempo em que reconhece a relação indissociável da poesia
e a educação tece críticas à moderna ciência pedagógica e o faz numa acepção
histórica, inferindo que a poesia e a insubmissão são irmãs. Nesse sentido a poesia
em sua insubmissão, através de um ensinamento que se presume poético, torna-se
uma educação antipedagógica, visto que a lógica formal, não comunga com a lógica
poética. Esse pensador reconhece que a poesia, em sua natureza semântica, pode
levar o educando a adquirir um conhecimento mais humanizador, pois a poesia é
prenhe em sonoridade, encantamento e significados podendo também revelar o
léxico e o sintático.
Araújo (1997) a respeito da linguagem afirma que se origina com o
surgimento do ser humano através da expressão de seus primeiros balbucios
reveladores de sua intuição, crenças sentimentos e desejos. Desde os desenhos
rupestres à escrita mais contemporânea os indivíduos expressam-se com ternura e
vigor na composição de imagens poéticas. Vico afirma que na poesia está a origem
das línguas (apud FAUSTINO, 1997, p. 66).
Especificamente com relação à linguagem poética Heiddeger (1994, p. 114)
afirma que se trata de uma experiência originária da abertura do ser humano em seu
processo de doação ao mundo no advento de seu sentido primordial. A origem do
pensamento manifesta-se em tons poéticos a poesia trança fios de logos e mithos12,
12 Logos: em grego – λόγος (palavra) – significava, inicialmente, a palavra escrita ou falada, isso é; o
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palavra e imagem, razão e intuição, luz e sombras.
O poema é o espelho da fraternidade cósmica, nos ensina a reconhecer as
diferenças e a descobrir as semelhanças. A linguagem poética nos põe em sintonia
com os valores de solidariedade, fraternidade com os outros, no surgimento de
nossos sentimentos mais nobres, nos ensina a reconhecer as diferenças e a
descobrir as semelhanças (ARAUJO apud PAZ, 1990, p. 138).
Com relação a linguagem T. Giles Ranson (1987) traz uma contribuição para a
formação dos educadores e compreensão para o alargamento do universo da poesia
na escola ao afirmar que a poesia une o lúdico e o lúcido nos processos de
aprendizagem no desenvolvimento de inteligências meditativas, flexíveis e
audaciosas. Ultrapassa os instrumentos ordinários da linguagem retilínea, cujos
instrumentos têm exercido predominância na rotina das salas de aula, levando aos
horizontes do extraordinário que renova, transmuta e vivifica.
Mas e quanto à criança e o poético na educação infantil escolar?
Considerando as reflexões de Heiddeger (1994) a respeito da linguagem e da
imaginação criadora e também se levando em conta a sociopoética de Gaultier
(1999) — salvo as experiências intrafamiliar e cotidiana das crianças qual linguagem
a inicia ao universo poético — como se dá esta aproximação poética?
4.1 Poesia para criança ou criança para a poesia?
De acordo com Febvre Martin (1992, p. 155 apud Bordini 2009) a
aproximação entre a poesia e a criança ocorreu no século XVIII adentrando o século
XIX. A Pedagogia estabeleceu esta conexão, como um meio didático. A escola
pública burguesa destinava às crianças pobres livretos ilustrados com quadrinhas e
versos da tradição oral. Enquanto que às crianças das classes abastadas era
destinada a leitura dos clássicos como Esopo ou o romance da Rosa.
A poesia não representa e significa apenas um período da infância, por sua
manifestação folclórica. Visto assim tais manifestações culturais não permeariam o
nosso acervo imaginário e cultural, quando deixássemos de ser crianças.
verbo. Em Heráclito logos passou a ter uma significação filosófica mais ampla, traduzida como razão. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Logos. Acesso em 27 jun 2009. Mithos: Mito: em grego – μυθος ("mithós") – trata-se de narrativa tradicional com caráter explicativo e/ou simbólico. Tem relação com a cultura e/ou religião da sociedade e procura explicar os acontecimentos da vida assim como também os demais fenômenos naturais, como a origem do mundo e do homem, por meio de deuses, semideuses e heróis (criaturas sobrenaturais). Nesse sentido o mito é a primeira tentativa do Homo sapiens para tentar explicar a sua realidade. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mito. Acesso em 27 jun 2009.
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Então há que se considerar que a escola tem uma parcela contributiva para o
afastamento da criança e a poesia, uma vez que estabelece regras dicotomizantes
entre ler o ouvir poesia, e utilizá-la como mais um recurso didático. Um dos
problemas levantados por Helder Pinheiro (2007) diz respeito a formação dos
professores, ao afirmar que durante os cursos de graduação não foram e não são
(com raras exceções) sensibilizados para a literatura e especialmente para a leitura
de poesia ao que afirma ele:”os professores precisam ser seduzidos pela poesia e
pela literatura de um modo geral, pois assim despertará nos alunos o gosto pela
leitura”.
Ocorre justamente o contrário, os professores tendem a escolher autores
conhecidos nacionalmente (autores da região Sul) e ou veiculados pela mídia,
excetuando a busca e o reconhecimento por autores de sua região de origem, e as
manifestações que acontecem no espaço onde vivem as crianças.
A poesia entendida assim é referenciada a partir dos nomes de alguns
autores, Cecília, José Paulo Paes, Elias José, Vinicius de Morais só para citar os
mais conhecidos. Este embora não pareça é precisamente um dos problemas, dos
mais comuns, o trabalho de caráter didático e por vezes atrelado apenas ao caráter
lúdico, como afirma Moisés (2007, p. 22) o trabalho pedagógico é guiado Por uma
techné utilitarista. O que faz com que a busca pelos resultados, enquadre e limite, o
despertar da sensibilidade, pois o contato com a poesia só irá operar num campo
familiar e produtivista. por vezes também, não é dado à criança o direito de escolha,
e so critérios ficam exclusivamente a cargo do professor, que teme ou não tem
condições de aprimorar o seu acervo material e cultural.com tendências a restringir o
campo de escolha da criança.
4.2 A poesia na escola: algumas possibilidades pedagógicas
Essas são as regras humanas da criação e do amor:Fazer de novo, refazer, inovar, recuperar, retomar o antigo e a tradição, de novo inovar, incorporar o velho no novo e transformar um com o poder do outro. (Carlos Rodrigues Brandão).
Poesia na sala de aula: o que fazer? Os atos “pedagógicos” em sala de aula,
ainda tendem a serem essencialmente conteudistas e curriculares? Os temas
abordados nos poemas infantis estão mais próximos do universo infantil. As
cirandas, os brincos, as parlendas e letras de músicas, constituem o acervo
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que as crianças adquirem em casa e aprendido nas canções ouvidas fora do
contexto escolar, nem sempre as músicas estão próximas ou enriquecidas
com o nonsense, o cômico ou criador universo infantil.
Entretanto, esse é um ponto de partida para que em sua formação e
práxis os professores procurem um itinerário a seguir que possa oferecer às
crianças outros poemas, atividades e eventos de leituras e produção textual
diversificando assim, o repertório poético das crianças. A esse respeito
Verbena Cordeiro (1992) nos traz esta reflexão:
Pensar no itinerário de milhares de crianças, jovens e adultos, que não foram sequer tocados ou seduzidos pelas narrativas, pela poesia, por fadas e bruxas,heróis e vilões que habitam o imaginário da humanidade,é o grande desafio (CORDEIRO, 1992, p. 96, grifo nosso).
Na educação infantil são ofertados uma gama de autores e textos e os
educadores se esforçam em variar as atividades tendo como ponto principal o
cuidado com o lúdico e o jogo.
José Paulo Paes (1990) sugere que a poesia destinada às crianças ou aos
leitores mirins precisa ter por característica de ser em versos curtos com ritmos e
rimas que toquem de imediato a sensibilidade e chamem a atenção das crianças. E
assim provocam a todos:Convite
Poesia / é brincar com palavras / como se brinca /com bola, papagaio, piãoSó que / bola, papagaio, pião /de tanto brincar / se gastam.As palavras não: / quanto mais se brinca / com elas /mais novas ficam.Como a água do rio / que é água sempre nova.Como cada dia / que é sempre um novo dia.Vamos brincar de poesia? (PAES, 1990).
Com relação às funções da poesia o poeta T. S. Eliot (1971) em um ensaio
seminal intitulado A função social da poesia assim se pronunciaQuero distinguir entre funções gerais e particulares, para que saibamos do que não estamos falando. A poesia pode ter um propósito social deliberado e consciente. Em suas formas mais primitivas esse propósito é muitas vezes bastante claro. Há, por exemplo, runas e cantos antigos, alguns dos quais possuíam fins mágicos um tanto práticos – livrar de mau olhado, curar alguma doença ou aplacar algum demônio. A poesia é usada desde os primeiros tempos em rituais religiosos e, quando cantamos hinos, ainda estamos usando poesia para um propósito social particular. As formas primordiais de épicos e sagas podem ter transmitido o que se tinha por história, antes de sobreviverem apenas para entretenimento comunitário; e, antes do uso da linguagem escrita, uma forma regular de versos deve ter
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sido extremamente útil à memória – e a memória dos primitivos bardos, contadores de estórias e estudiosos deve ter sido prodigiosa (1971, grifo nosso).
Propondo-nos evitar o julgamento dos pontos de vista expressos por diversos
autores, nos convidando a vivenciarmos o prazer da leitura dos poemas.
Para além de qualquer intenção específica que a poesia possa ter, [...] há
sempre comunicação de uma nova experiência ou uma nova compreensão do
familiar (PINHEIRO, 1999).
O alargamento da visão do que está sendo vivido, além da descoberta de
outras possibilidades de vivência afetiva. O risco de moralizar o que está sendo
vivido deve ser evitado. O texto poético não deve servir de pretextos moralizantes.
Assim educação continuada é fundamental como constituinte para mudanças
no metabolismo social, sendo parte integrante no inicio da fase de formação dos
indivíduos, e provocando o que ele chama de feedback, nos indivíduos
educacionalmente enriquecidos (MESZAROS, 2005, p. 75). Essa acepção se refere
tanto à formação das crianças quanto à dos professores.
A poeta-educadora Nelly Novaes Coelho indica-nos em sua obra Literatura
infantil que os conteúdos dos poemas deveriam ser narrativos, expressando uma
situação interessante (2000, p. 223).
A exemplo disso veja a narrativa poética de Tatiana Belinky (2008) que
oferece tanto ao leitor infantil quanto ao leitor adulto a possibilidade de
enriquecimento da linguagem e do pensamento nos três campos o semântico, o
sintático e o léxico, como em Cocanha:
Você sabe o que é Cocanha?Cocanha é uma terra estranha,País que se escondeNinguém sabe onde -Lugar misterioso, a Cocanha.A vida ali é um deleiteSuave tal qual puro azeite -Na bela CocanhaO povo se banhaEm rios de mel e de leite.Cocanha é o país que enfeitiça, Atrai pela santa preguiçaDa tal vida airadaDo "não fazer nada”, Do "nada importa" por premissa.
Agora, responda ligeiro, Não leve um dia inteiroPara decidirSe quer residirNaquele país, tão maneiro!
Então eu respondo ao assédio:Se não houver outro remédioEu vou desistirDe lá residir -Pois lá morreria... De tédio!(BELINKY, 2008).
Cocanha possui uma abordagem própria da poesia, trazendo em seu cerne a
afirmação e a negação, o país das maravilhas, que é a Cocanha, tão deliciosamente
42
ofertado pela autora/narradora, ao final alcança uma dimensão filosófica e sutilmente
hábil que traz à tona importantes questionamentos tanto ao leitor mirim quanto ao
adulto.
No que concerne a possibilidade pedagógica a autora identifica que os
mediadores devem ter por objetivo interligar poeticamente a função pedagógica em
seus objetivos múltiplos que sejam como o desenvolvimento da linguagem e do
pensamento a questões filosóficas despertando a sensibilidade das crianças.
O acesso a aquisição dos livros de literatura infantil, e neste caso
excepcionalmente, os de poesia infantil, levam desvantagem, pois as pessoas
tendem a valorar o livro pela quantidade de texto, e acabam por compara-lo às
narrativas.Acabam por atribuir um juízo de valor ao livro de poesia que o encerra
numa categoria de caro, julgam as ilustrações sobressaem a quantidade de palavras
parece prevalecer o que podemos denominar de valor capitalizado por quantidades
de palavras, outro fator é a crença de que o livro de poesia por ter poucas palavra,
concluir sem coesão.
E o que dizer então dos poemas haicai — posto que sua narrativa é curta e
não apresentam rimas — não seriam eles então destinados às crianças pequenas?
Três gotas de poesia.
Mil vezes ao diaTrês gotas de poesia. UsoInterno somente (Ângela Leite p. 12)
Por vezes também, não é dado à criança o direito de escolha, e os critérios
ficam exclusivamente a cargo do professor, que teme ou não tem condições de
aprimorar o seu acervo material e cultural tendendo a restringir orientar o campo de
escolha da criança. As narrativas assim são preferências na escolha dos professores
e dos pais que escolhe o que as crianças lêem. Esquecendo-se inclusive que
existem narrativas poéticas em prosa, tanto pais quanto professores delimitam e
restringem a leitura para as crianças. A esse respeito observemos, pois a refutação
de Tatiana Belinky:
Uns pais me perguntam: ‘Eu mando meu filho ler, mas ele nãoLê! O que eu faço?’ — Comece por não mandar.Livro não é castigo, não é tarefa, não é chateação.Tem de ser curtição, prazer (BELINKY, 2009).
Quanto aos elementos, estão entre eles as músicas, as brincadeiras de roda,
43
As parlendas, os jogos sonoros, as dramatizações, reflexão para trabalhar a poesia
com crianças pequenas como sugere Nelly Novaes Coelho (2000) requer rum olhar
mutirreferencial, para ver para além do jogo sonoro, das rimas e da construção do
poema. Enfatiza que a crianças e adolescentes sejam estimuladas a desenvolver o
se potencial intuitivo e criativo para que possas contribuir e reestruturar o mundo no
qual irão viver, reinventado novas formas e valores que contribuam para a existência
e convívio no planeta.
Numa época em que as crianças estão expostas o todo tipo de estímulos
visuais e sensoriais, a literatura, e nesse caso experiências e leitura de poesia, pode
vir a fazer parte do desenvolvimento das crianças pelo prazer e fruição podem,
compor o didático.
Nesse sentido Severino (2008) afirma que Cotidianamente estamos inundados de correntezas de informações sem sem contexto, sem significação. Escasseiam os espaços vazios, para a criação. Espaços de silêncio, espaços livres em que as idéias e as imagens possam dançar e conceber. A criatividade pessoal está gravemente ancorada. Nestes dias ultratecnológicos e ultraconsumistas, com mídias onipresentes, as imagens chegam a nós quase manipuladas (SEVERINO, 2008).
Aliás, em sua generalidade, manipuladas! Sugere-se nessa torrente de
informações que o sistema faz cair por sobre as pessoas, em especial as crianças,
que a poesia se apresente em especial pelo prazer de ler e ouvir poesia. Pelo prazer
de conhecer as pessoas que escreveram os poemas.
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A INCONCLUSÃO
Não cessaremos a exploraçãoE o fim de todo o nosso explorarSerá chegar ao ponto de onde partimosE conhecer o lugar pela primeira vez (ELIOT, 1970, 96).
Nesse ensaio monográfico procurou-se, após breve histórico, fazer uma
reflexão a respeito da poesia infantil brasileira. Em seu percurso reconhece-se que a
poesia — enquanto componente da Arte da Literatura — encontra-se inserida no
contexto histórico da sociedade que a realiza. A despeito de até um poeta
reconhecido como Drummond não reconhecer a Literatura infantil com uma
categoria, em sua especificidade, compreendendo-a como inter-relacionada a
literatura, não caberia a esta aglutinar os todos elementos sócio-culturais de que
trata a literatura infantil, seja pela linguagem quanto pela temática.A separação entre
a infância e a adultez da qual Áries (cf.capitulo anterior) estudou, destaca a criança
agora reconhecida em seu estado de infante, mesmo que este seja resultado do
processo histórico capitalista.
Dessa forma, considerando a subordinação total do Brasil-colônia ao reino de
Portugal, pode-se identificar que a poesia surge em nosso território, ainda de forma
muito tênue, apenas no século XIX e possui, inicialmente, uma dimensão
pedagógica fundamentada na visão de mundo do idealismo pré-determinando sua
aplicabilidade como meio escolástico e servindo como suporte para fixar e modelar
os valores, sociais ligados interesses correspondente a cada período histórico, e
difundidos pela escola. . Em tais circunstâncias o ideal positivo encontra-se presente
e o objetivo da poesia infantil, quando aparece uma poesia dedicada às crianças,
não é senão incutir valores religiosos, morais e familiares aos homens em
miniaturas, aos homens do amanhã, como são, à época, consideradas as crianças.
Nesse momento pode-se identificar, por exemplo, em Bilac, os valores político-
ideológicos que dão sustentação àquela sociedade e que também lhes são caros: o
culto apologético ao pensamento positivo, principalmente, à família, à pátria, à nação
e ao deus cristão, não a um deus qualquer ou uma representação mitológica, mas a
esse.
Neste sentido a função social da poesia no séc XIX ao período XXI, portanto
limita-se, as diretrizes determinadas pela lógica dos interesses sócio-econômicos
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Em vista dessas características depreende-se que a relevância da poesia na
educação infantil, e também adulta, sua função social e as múltiplas possibilidades
pedagógicas nesse momento histórico parecem não possuir um outro objetivo senão
a construção de uma sociedade estável e segura, que na República de Platão
(1997) teve seu papel pré-determinado assim como a figura do escravo cabia nutrir o
espírito dos pequenos com ensinamentos necessários, para tornar-se um bom
cidadão, cônscio de seus deveres para com a polis, e nisso valiam-se de letras de
longos e repetitivos textos poéticos, acompanhados pela lira.
Hodiernamente conseguiu-se ainda que não tanto quanto se é útil, necessário
e desejável ultrapassar esse modelo e já se encontra poesia lúdica, rítmica, cômica,
melancólica,livre do conservadorismo formal tanto na escrita quanto na forma.
Nessas circunstâncias a literatura poética infantil pode levar os leitores–mirins como
assim os chamavam José Paulo Paes a ter seu processo de ensino-aprendizado
estimulado na medida em que ocorra uma maior interação entre o sentido
pedagógico da ficção proposta em seus textos e sua ludicidade. Tal possibilidade
interativa motiva à criatividade da criança por unir seu próprio imaginário, seu mundo
de fantasias às manifestações populares no contexto social em que vivem. É
importante recordar que os escritos poéticos enquanto arte da literatura e da
literatura infantil não tem por objetivo primeiro a transmissão de uma mensagem
para reforçar um determinado conteúdo disciplinar ou mesmo apresentar um
paralelo com a vida pessoal, aos moldes das fábulas13 e sua moral da história.
Finalizo deixando não resultados surpreendentes e inovadores, que possam
servir de instrumento para a docência quando decide por escrever sobre a poesia
infantil a única pretensão foi de trazer-lhes um pouco da água de peneira, para que
pudesse ser provada. Decerto muitos fatos históricos ocorreram no mundo, guerras,
revoluções, e que tais mudanças afetaram e mudaram a escola, o sabemos que o
transcurso da história pré-determina o rumo das diretrizes escolares mesmo quando
a escola torna-se aparentemente democrática e renovada, traz em sua essência a
marca indelével de atrelamento aos interesses socioeconômicos.
Decerto também que algo significativo surgiu na educação, a burguesia ao
criar o conceito de infância e como tudo, mais também vive em contradição, mesmo
13 Jean La Fontaine (1621-1692) elevou a fábula ao nível que a conhecemos hoje. Seus argumentos foram buscados na Grécia e Roma, em textos bíblicos, no imaginário popular, na idade média e mesmo nos renascentistas. Tem por característica fundamental o fato de encerra sempre suas fábulas com uma lição de moral objetivando os costumes e o comportamento moral em sociedade.
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que a infância seja classificada de acordo com as camadas sociais nas quais as
crianças se encontram e conseqüentemente, isto se reflete também na formação
dos educadores de crianças pequenas dadas as condições de formação e meios de
acesso aos bens culturais materiais que estes possam ter, no meio em que estão
inseridos(empregos que ocupam) sejam instituições, escolas particulares ou redes
de ensinos governamentais e que irão definir a qualidade de seu trabalho,a
contradição reside no fato de que nenhum sistema político, consegue impedir, o
entendimento que muitos adquirem, e consequentemente pode vir a causar
mudanças no interior da escola.Ao tempo em que o mercado de trabalho os força a
uma constante e apressada ” formação continuada” , neste conflito pode coexistir, a
transfiguração do ser, e esta mudança ainda que possa se refletir num plano
individual,o crescimento o que pode advir desta relação,os fará questionar, e buscar
discutir em m conjunto a sua práxis.Poderá haver ruptura ou não.Mas irão se
confrontar com novos itinerários aí interpostos, na contemporaneidade, que nos
obriga a refletir.
Os itinerários de leitura tornaram-se os mais diversificados, novos olhares
sobre o que é escrever e ler, novos hábitos de leitura foi incorporado. Contínuas
discussões e promissoras formas de educar são discutidas e postas em cheque, a
filosofia, a literatura e mesmo a economia e estudo da história constituem objetos de
pesquisa dos mais relevantes, os movimentos sociais na educação discutem e
reivindicam para si não só melhorias e leis que a coloquem num patamar favorável e
digno do trabalho, e condizente com as necessidades de se efetivar uma educação
de qualidade significativa e se não eqüitativa, pelo menos acessível, eis o que se
apresenta no panorama escolar.
Quanto aos sentidos de propiciar à educação de crianças a possibilidade de
tornar esse itinerário sensível e extraordinário é possibilitando que neste espaço,
haja um tempo que há muito foi premido, pela rigidez do tempo, do capital social que
exige, que este tempo “pedagogize” os sentidos com fins, que se prestam
basicamente ao plano cognitivo, pois em primeira instância, somos forçados a nos
preocupar com a educação das crianças, par torna-las aptas, competitivas, e úteis
para a sociedade de consumo, exploração, e individualismo.
Mas a palavra, a linguagem, resiste, transmudada em arte, em poesia, a
humanidade que há em homens e mulheres, nos tornam a um só tempo
instrumento, corpo e espíritos dotados de vontades, vontades estas de mudanças e
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na poesia se não descobrimos em nós os poetas escritores, descobrimos os poetas
ledores, ledores de vida, dos sentidos múltiplos, sóciopolíticos, que compartilhamos
com outros seres, que nos oferecem a sua poesia. Como muito bem nos sugere o
pensamento eliotiano quando apresenta a idéia de que se a poesia não estiver
atrelada obrigatoriedade de cumprir qualquer função alheia ao caráter lúdico, afetivo
e poético, estará livre de qualquer jugo e motivação ideológica que se
autodenominem justificáveis.
E quanto a poesia infantil na contemporaneidade oferecida às crianças —
não esqueçamos de seu acervo cultural — ainda que não as alcancem em termos de
sociais igualitários, o que seria utópico, encontra vozes, corpo e espíritos os mais
dedicados e apaixonados, prova destes seres poéticos são as referências que
constam neste trabalho. E os que se juntam e caminham neste itinerário, quando
bebem desta água de peneira e respondem ao convite de José Paulo Paes (1990)
para brincar de poesia.
Sabemos que a infância dividida em classes sociais torna as crianças, e
todos os que convivem nela, sujeitos às condições que são impostas e arbitradas.
A situação se apresenta grave, a reboque do Estado a escola se mostra
insuficiente seja para propiciar uma educação significativa, justa e apropriada para o
pleno desenvolvimento das crianças em vários aspectos, seja para sanar ou mesmo
minimizar algumas mazelas, sofridas por elas, não há futuro para essas crianças,
não há motivação mesmo para que os seus professores possam e tenham o que
lhes oferecer uma educação que prime culturalmente, por uma educação que
presentifique a criança em sua imaginação criadora, em seu processo de
desenvolvimento psicossocial, independente de qual classe social a que pertença a
criança.
Quanto aos itinerários, diversificados, que as diferentes infâncias apresentam
como poder ter acesso, aos mais variados livros, a viagens, a interatividade a que
estão sujeitas os interlocutores que promovem uma intermediação enriquecedora,
criativa, e diversificada, faz sim muitas diferença. Não há como negar! Por outro lado
aí é que percebemos o quanto é importante a formação dos educadores.
Justamente na contemporaneidade em que a poesia encontra o tom infantil, e a
experiência criadora das crianças, a fragilidade está na formação dos educadores, e
esta não é uma crítica, é antes de tudo, uma observação, extraída desse apanhado
histórico, do que era entendido como poesia, ora doutrinária, ora repetitiva
48
escolástica, ora puro entretenimento e “pueril”, e na contemporaneidade encontrar-
se envolta num invólucro mercadológico.
A poesia infantil apesar do cunhado “ boom” literário e novos poetas, e dos
meios virtuais ainda se encontra num patamar secundário na literatura infantil. Há
mais publicações, porém a proporcionalidade, ainda não é equiparativa a outros
gêneros. Os professores ainda receiam ou desconhecem o quanto podem
simplesmente gostar de poesia.
O livro que representa o meio mais palpável, e deveria correr entre pequenas
mãozinhas curiosas, atualmente é uma realidade que se constitui em um luxo para
poucos iniciados. No entanto, do lugar em que falamos, de onde temos a nossa
visão alargada e os nossos sentidos ampliados pela exploração que nos leva a
primar por uma educação sociopoética livre de qualquer amarra, que esteja em seu
percurso histórico.
A formação literária dos educadores de crianças pequenas, a leitura de
poesia, os eventos de criação e a fantasia certamente farão uma imensa diferença.
Em tempo, este explorar, nos leva ao encontro de um legado histórico, no qual nos
deparamos com seres poéticos, incluindo as crianças, e o resultado deste explorar,
não é o fim, é poder refazer o novo a cada dia, do velho refazer o novo e nisso há
um sentido poético. Há um sentido pedagógico. Em ambos há o sentido humano!!!
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REFERÊNCIAS
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GLOSSÁRIO
Aliteração – figura de linguagem que consiste em repetir sons de vogais verso ou numa frase, especialmente as sílabas tônicas. A assonância é largamente utilizada em poesia mas também pode ser empregada em prosa, especialmente em frases curtas. Trata-se da reiteração de fonemas consonantais idênticos ou semelhantes. Aliteração como a seqüência de fonemas consonantais idênticos ou congêneres, dentro da mesma unidade métrica. O fenômeno serve para efeitos de harmonia imitativa ou onomatopéia. Para exemplificar o fato, cita dois versos de Augusto Meyer: As ondas roxas do rio rolando a espuma/ Batem nas pedras da praia o tapa claro...
Alegoria (do grego αλλος, allos, "outro", e αγορευειν, agoreuein, "falar em público") – é uma representação figurativa carnavalesca que transmite um outro significado que o da simples adição ao literal. É geralmente tratada como uma figura da retórica. Uma alegoria não precisa ser expressa na linguagem: pode dirigir-se aos olhos e, com freqüência, encontra-se na pintura, escultura ou noutra forma de arte mimética. O significado etimológico da palavra é mais amplo do que o que ela carrega no uso comum. Embora semelhante a outras comparações retóricas, uma alegoria sustenta-se por mais tempo e de maneira mais completa sobre seus detalhes do que uma metáfora, e apela a imaginação da mesma forma que uma analogia apela à razão. A fábula ou parábola é uma alegoria curta com uma moral definida.
Animismo – termo cunhado pelo antropólogo inglês Sir Edward B. Tylor, em 1871, na obra Primitive Culture (A Cultura Primitiva). Tylor, por animismo, designou a manifestação religiosa imanente a todos os elementos do cosmos (Sol, Lua, estrelas), a todos os elementos da natureza (rio, oceano, montanha, floresta, rocha), a todos os seres vivos (animais, árvores, plantas) e a todos os fenômenos naturais (chuva, vento, dia, noite); é um princípio vital e pessoal, chamado de "ânima", o qual apresenta significados variados: cosmocêntrica significa energia; antropocêntrica significa espírito e teocêntrica significa alma.
Conotação – a conotação remete para as idéias e as associações que se acrescentam ao sentido original de uma palavra ou expressão, para as completar ou precisar a sua correta aplicação num dado contexto. Por outras palavras, tudo aquilo que podemos atribuir a uma palavra para além do seu sentido imediato e dentro de uma certa lógica discursiva entra no domínio da conotação. Uma mesma expressão pode aplicar-se a coisas iguais e produzir diferentes associações, ou seja, diferentes conotações
Denotação – a denotação é aquilo a que uma palavra ou expressão se aplica no seu stricto sensu. Normalmente, opõe-se à conotação. Não se confunde com o conceito de sentido, porque várias expressões denotativas podem-se aplicar às mesmas coisas e variar o seu significado: "solípede" e "quadrúpede doméstico" podem-se aplicar ao termo "cavalo", mas significam em si coisas diferentes. Se um termo não se aplicar a coisa nenhuma, podemos dizer que não denota nada, ou, em linguagem matemática, podemos dizer que denota um conjunto vazio, por exemplo "raiz quadrada de p (pi)". A denotação é muitas vezes tomada como o sentido literal de uma palavra, por causa da universalidade desse sentido e pelo reconhecimento imediato que dele fazemos.
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Estrofe – modernamente diz-se de uma série ou de um grupo de versos que partilham relações de sentido, de ritmo e/ou de métrica entre si constituindo uma unidade na estrutura de uma composição poética. O termo usa-se quase indistintamente com a designação mais clássica de estância (do italiano stanza, aposento, divisão, quarto), que alguns autores preferem para nomear as estrofes regulares nas composições que seguem à risca os cânones de versificação clássica. Neste sentido, podemos dizer que Os Lusíadas tem 1102 estâncias, devido à uniformidade da sua estrutura (a oitava-rima).
Intertextualidade – como se pode notar na constituição da própria palavra, intertextualidade significa relação entre textos. Considerando-se texto, num sentido lato, como um recorte significativo feito no processo ininterrupto de semiose cultural, isto é, na ampla rede de significações dos bens culturais, pode-se afirmar que a intertextualidade é inerente à produção humana. O homem sempre lança mão do que já foi feito em seu processo de produção simbólica. Falar em autonomia de um texto é, a rigor, improcedente, uma vez que ele se caracteriza por ser um “momento” que se privilegia entre um início e um final escolhidos. Assim sendo, o texto, como objeto cultural, tem uma existência física que pode ser apontada e delimitada: um filme, um romance, um anúncio, uma música. Entretanto, esses objetos não estão ainda prontos, pois se destinam ao olhar, à consciência e à recriação dos leitores.
LIRISMO (Lira + ismo, doutrina, tendência, corrente) – Vocábulo cunhado no interior do Romantismo francês (lyrisme, 1834), para designar o caráter acentuadamente individualista e emocional assumido pela poesia lírica a partir do século XIX.
Literatura Infantil – medida contra a literatura em geral, (para adultos), a literatura infantil enferma de um estatuto de menoridade e de marginalização dos cânones, que encontra expressão na sua tripla concepção como ficção popular, como material pedagógico, e/ou como mercado do livro para crianças. Para a literatura infantil confluem os interesses adultos de didatizar e controlar a criança, pela transmissão cultural de certos textos e de certos valores, bem assim como os interesses econômicos de uma indústria de comercialização de livros para crianças que floresce com a imprensa, a partir do século XVIII, e se revela, no século XX, muito rentável.
Metalinguagem – a palavra metalinguagem, formada com o prefixo grego meta, que expressa as idéias de comunidade ou participação, mistura ou intermediação e sucessão, designa a linguagem que se debruça sobre si mesma. Por extensão, diz-se também: metadiscurso, metaliteratura, metapoema e metanarrativa.
Mimese – do gr. mímesis, “imitação” (imitatio, em latim), designa a ação ou faculdade de imitar; cópia, reprodução ou representação da natureza, o que constitui, na filosofia aristotélica, o fundamento de toda a arte. Heródoto foi o primeiro a utilizar o conceito e Aristófanes, em Tesmofórias (411), já o aplica. O fenômeno não é um exclusivo do processo artístico, pois toda atividade humana inclui procedimentos miméticos como a dança, a aprendizagem de línguas, os rituais religiosos, a prática desportiva, o domínio das novas tecnologias, etc. Por esta razão, Aristóteles defendia que era a mímesis que nos distinguia dos animais.
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Métrica – disciplina que busca estabelecer as normas da versificação tradicional, fixando as regras pelas quais deve reger-se o verso. Assim, a medida e o ritmo dos versos são determinados por um sistema de metrificação ou versificação. A noção de metro pertence à língua, encarada como sistema, enquanto a noção de verso propriamente dita pertence ao discurso poético. O verso, portanto, é o resultado da realização de um metro. Daí a definição de verso como uma sílaba ou sucessão de sílabas sujeita a medida e a ritmo pré-estabelecidos. Por medida, entende-se um determinado número de sílabas métricas ou poéticas; e, por ritmo, o resultado de uma distribuição cadenciada e harmonia de acentos intensivos (também chamados acentos tônicos) no verso, de tal forma que a sensação rítmica se percebe pelo retorno da sílaba tônica, após intervalos regulares. A métrica (ou versificação) estuda, entre outros elementos, a contagem silábica dos versos, dando especial atenção aos encontros vocálicos intervocabulares; os tipos de verso, em geral de uma a doze sílabas; o ritmo de cada verso e a variedade rítmica dentro do verso; a estrofe e sua estruturação; a rima em suas diferentes e determinadas formas; e o elenco de poemas de forma fixa.
Neologismo – Termo utilizado para classificar uma palavra nova que surge numa língua devido à necessidade de designar novas realidades - novos conhecimentos técnicos, objetos gerados pelo progresso científico (neologismos técnicos e científicos) e até por questões estilísticas e literárias, tornando a língua mais expressiva e rica (neologismos literários). Disponível em: <http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/N/neologismo.htm>
Onomatopéia – termo de origem grega (onomatopoiía - criação de palavras, pelo latim onomatopoeia - invenção de palavras) que significa simultaneamente um fenômeno lingüístico e uma figura da retórica que consistem na semelhança, através da imitação ou reprodução, existente entre o som de uma palavra e a realidade que representa, seja o canto dos animais, o som dos instrumentos musicais ou o barulho que acompanha os fenômenos da natureza.
Poesia popular14 – No nordeste a poesia popular se divide em dois grupos: o tradicional e a improvisada. As estrofes mais usadas são as sextilhas, a décima de sete sílabas e o martelo agalopado, que é uma décima de dez sílabas. Tanto na poesia tradicional como na improvisada, são essas as estrofes mais importantes, embora haja, além desses, o mourão, o galope-à-beira-mar, o martelo gabinete “sextilha de dez sílabas”, e outras. O desafio ou cantoria é o medo de se expressar da poesia improvisada. Dois cantores improvisam na viola, em tom jocoso, satírico e as vezes atravessam a noite.
Ritmo – deriva do grego rhythmós, associado ao verbo reÎn (correr), proveniente do movimento dos rios. Ritmo significa, de uma maneira geral, a repetição periódica de elementos no tempo ou no espaço, mas, enquanto termo científico, designa um movimento apresentado de uma maneira particular.
REFERÊNCIAS
http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/
14 CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. São Paulo: Global. 2002.
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APÊNDICE
AUTORES E AUTORAS CONTEMPORÂNEOS E SUAS OBRAS
Fátima MiguezCarioca, formada pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Desde menina sonhava em ser professora; passava horas brincando de dar aulas usando cadernos velhos e riscando o portal de sua casa. Fátima foi crescendo, sonhando em transformar aquela brincadeira em verdade, e assim aconteceu. Dá aulas para o Departamento de Ciências da Literatura na UFRJ e sua paixão pela literatura é tão grande que além de aulas ela faz pesquisas sobre o assunto para ajudar outros professores a melhorarem suas aulas. Seus livros encantam muitos jovens e crianças, sendo considerados pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil altamente recomendáveis.
Disponível em: http://www.edukbr.com.br/leituraeescrita/maio03/iautores.asp.
OBRASEm boca fechada não entra moscaQuando o sabiá canta, nossos males espantaNas arte-manhas do imaginário infantil: o lugar da literaturaCom o coração na mãoPaisagens brasileirasA cama que não lava o péPerto dos olhos, perto do coração
Onde está a margarida?Brasil-meninoInventário do lobo mauBrasil-folião (Fatima Miguez & Victor Tavares)Paisagens da Infância (Fatima Miguez & Victor Tavares)Bucha de Balão ou Bruxa de Vassoura na Mão? (Fatima Miguez & Victor Tavares)
Manoel Wenceslau Leite de Barros (1916-)
Auto-retrato falado - “Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas entortadas. Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha, onde nasci. Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão, aves, pessoas humildes, árvores e rios. Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar entre pedras e lagartos. Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto meio desonrado e fujo para o Pantanal onde sou abençoado a garças. Me procurei a vida inteira e não me achei
— pelo que fui salvo. Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado. Os bois me recriam. Agora eu sou tão ocaso! Estou na categoria de sofrer do moral porque só faço coisas inúteis. No meu morrer tem uma dor de árvore”. (Disponível em http://www.releituras.com/manoeldebarros_autoretrato.asp).Mudou-se para Corumbá (MS), onde se fixou de tal forma que chegou a ser considerado corumbaense. Atualmente mora em Campo Grande (MS). É advogado, fazendeiro e poeta. Mais de trinta obras publicadas desde a década de trinta. Mais de uma dezena de prêmios recebidos desde a década de sessenta. Citamos uma obra - Exercício de ser criança – que fez jus ao Prêmio Academia Brasileira de Letras do ano 2000. (Disponível em: http://www.releituras.com/manoeldebarros_bio.asp. Acesso em 22 de junho de 2009).
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Ulisses Tavares — (1950-)Nasce em Sorocaba (SP) em 1950. Fez sua estréia literária em 1959, com a publicação de poemas nos jornais Folha de Sorocaba e Diário de Sorocaba. Em 1963 realizou exposição de poemas em varais, em praças públicas de São Paulo SP. Publicou, em 1977, Pega Gente, livro de poesia independente. Em 1978 lançou o jornal/movimento Poesias Populares - O Jornal do Poeta, reunindo 350 poetas em todo país. Entre 1978 e 1990 foi editor do Núcleo Pindaíba Edições e Debates, com Aristides Klafke, Arnaldo Xavier e Roniwalter Jatobá, em São
Paulo. No período de 1982 a 1989 publicou os livros de ficção Garcia Quer Brincar, Dias Azuis Claros e Escuros e Sete Casos do Detetive Xulé, além do álbum de quadrinhos SUBS, com desenhos de Julio Shimamoto. Está com 62 livros publicados em diferentes gêneros (16 de poesia), sendo hoje um dos poetas mais lidos do Brasil, principalmente por publicar há 12 anos em uma agenda poética do grupo anarquista Tribo, com 120 mil exemplares/ano.Disponível em: <http://www.revista.agulha.nom.br/utavares1.html>
Laurabeatriz (Laura Beatriz de Oliveira Leite de Almeida)
É uma artista-plástica carioca que vive em São Paulo e desde 1984 ilustra livros infantis. Seu grande parceiro é o escritor Lalau, que aparece com ele na lista dos 30 Melhores Livros Infantis 2007/2008, com o livro Boniteza Silvestre (Ed. Peirópolis). O nome da dupla já estampa 17 capas de livro e, por si só, já imprime sua marca e musicalidade aos títulos. Algumas obras: Qual é que é Bem
brasileirinhos: poesia para bichos mais especiais da nossa fauna O caçador de palavras Faz e acontece no faz-de-conta Faz e acontece no circo Diário de um papagaio Boniteza silvestre: poesia para os animais ameaçados pelo homem. (Imagem de Laura disponível em:http://editora.globo.com/especiais/crescer_cuca_bacana/img_upload/laurabeatriz_peq.jpg. Acesso em 22 jun. 2009).
Ingrid Biesemeyer Bellinghausen
É de São Paulo. Formada em Artes Plásticas, fez pós-graduação em História da Arte e tantos outros cursos de especialização e aperfeiçoamento. A artista gosta de trabalhar com vários materiais, criando novas experiências, pinturas, objetos, esculturas etc., além de brincar com cores, formas e contrastes, como faz nos livros que escreve e ilustra para crianças. Além de escrever e desenhar seus próprios livros, encontra tempo para ilustrar projetos de outros autores.
Cria e coordena oficinas de arte sobre livros, o que aproxima a artista de seus pequenos leitores. Algumas obras: 1,2,3 Era uma vez...e; A evolução da vida na Terra; As famílias do mundinho; Cachinhos dourados e os três ursos; Chapeuzinho Vermelho; De mãos dadas - às crianças de toda parte do mundo; De olho na Amazônia; João e o pé de feijão; O Curumim; O mundinho; O mundinho azul; O patinho feio.Disponível em: http://www.editoradcl.com.br/2009/midia/foto_Ingrid.jpg. Acesso em 22 junho 2009
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Roseana Murray
Nasceu no Rio de Janeiro em 1950. Graduou-se em Literatura e Língua Francesa em 1973 (Universidade de Nancy/ Aliança Francesa). Publicou seu primeiro livro infantil em 1980 (Fardo de Carinho, ed. Murinho, RJ). Em 2007 tem mais de 50 livros publicados. Tem dois livros traduzidos no México (Casas, ed. Formato e Três Velhinhas tão velhinhas, ed. Miguilim/ Ibeppe) . Seus poemas estão em antologias na Espanha. Tem poemas traduzidos em seis linguas (in Um Deus para 2000, Juan Arias, ed. Desclée e Maria, esta grande desconhecida, Juan Arias, ed. Maeva). Recebeu o Prêmio O Melhor de Poesia da FNLIJ nos
anos 1986 (Fruta no Ponto, ed. FTD), 1994 (Tantos Medos e Outras Coragens, ed. FTD) e 1997 (Receitas de Olhar, ed. FTD). Recebeu o Prêmio Associação Paulista de Críticos de Arte em 1990 para o livro Artes e Ofícios, ed. FTD, S.P. Entrou para a Lista de Honra do I.B.B.Y em 1994 com o livro Tantos Medos e Outras Coragens tendo recebido seu diploma em Sevilha, Espanha. Recebeu o Prêmio Academia Brasileira de Letras em 2002 para o livro Jardins ed. Manati, R.J como o melhor livro infantil do ano. Participou ao longo destes anos de vários projetos de leitura. Implantou em Saquarema, em 2003, junto com a Secretaria Municipal de Educação, o Projeto Saquarema, Uma Onda de Leitura (Disponível em: http://www.roseanamurray.com/biografia.asp. Acesso em 22 de junho de 2009).
Poesia para crianças e jovens
Fardo de Carinho, ed. Lê, 2009Poemas de Céu, ed. Paulinas, 2009Kira, ed. Lê, 2009Arabescos no Vento, ed. Prumo, 2009Fábrica de Poesia, ed. Scipionne, 2008Poemas e Comidinhas, com o Chef André Murray, ed. Paulus, S.P, 2008Residência no Ar, ed. Paulus, 2007No Cais do primeiro Amor, ed. Larousse, 2007Desertos, ed. Objetiva, 2006. ( Finalista do Prêmio Jabuti ) - Altamente Recomedável FNLIJ, 2006O traço e a traça ed. Scpionne, 2006.O xale azul da sereia, ed. Larrousse, 2006.O que cabe no bolso? ed. DCL, 2006.Paisagens, ed. Lê, 2006.Pêra, uva ou maçã ed. Scipione, 2005. (Catálogo de Bolonha 2006 e Acervo Básico, F.N.L.I.J).Rios da Alegria, ed. Moderna, 2005. (Altamente Recomendável, F.N.L.I.J).Poemas de Céu ed. Miguilim, 2005. (Antigo "Lições de Astronomia").Maria Fumaça Cheia de Graça, ed. Larousse, 2005.Duas Amigas, ed. Paulus, 2005 (reedição).Lua Cheia Amarela, ed. Dimensão 2004.Caixinha de Música, ed. Manati, 2004. (Catálogo de Bolonha 2005)Um Gato Marinheiro, ed. DCL, 2004.Todas as Cores Dentro do Branco, ed. Nova Fronteira, 2004.Recados do Corpo e da Alma, ed. FTD, 2003. (Altamente Recomendável F.N.L.I.J)Luna, Merlin e Outros Habitantes, ed. Miguilim/ Ibeppe, 2002. (Altamente Recomendável, F.N.L.I.J. )Jardins, ed. Manati, 2001. (Prêmio Academia Brasileira de Letras de Literatura Infantil 2002. )
Poesia para crianças e jovens
Caminhos da Magia, ed. DCL, 2001.Manual da Delicadeza, ed. FTD, 2001.O Silêncio dos Descobrimentos, com Elvira Vigna. Paulus, 2000.Receitas de Olhar, ed. F.T.D, 1997, ( Prêmio O Melhor de Poesia, F.N.L.I.J. )Carona no Jipe, ed. Memórias Futuras, 1994 e ed. Salamandra, 2006No final do Arco-Íris, ed. José Olímpio, 1994.O Mar e os Sonhos, ed. Miguilim,1996, (Altamente Recomendável para a Criança, F.N.L.I.J. )Paisagens, ed. Lê, 1996.Felicidade, ed. F.T.D, 1995, (Altamente Recomendável para a Criança, F.N.L.I.J. )De que riem os palhaços ed. Memórias Futuras, 1995. EsgotadoTantos Medos e Outras Coragens, ed. F.T.D, 1994 ( Prêmio O Melhor de Poesia F.N.L.I.J e Lista de Honra do I.B.B.Y. ) Reedição com novas ilustrações em 2007Qual a Palavra? ed. Nova Fronteira, 1994.Casas, ed. Formato, 1994. Editado no México, ed. AlfaguaraDia e Noite, ed. Memórias Futuras, 1994. EsgotadoArtes e Ofícios, ed. F.T.D, 1990, (Prêmio A.P.C.A. e Altamente Recomendável para a Criança, F.N.L.I.J. ) Reedição com novas ilustrações em 2007Falando de Pássaros e Gatos, editora Paulus, 1987.Fruta no Ponto, ed. F.T.D, 1986. (Prêmio O Melhor de Poesia. F.N.L.I.J.
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Poesia
Variações sobre Silêncio e Cordas, com desenhos de Elvira Vigna. E-BOOK, edição artesanal Maurício Rosa, Visconde de Mauá, maio de 2008.Poesia essencial, ed. Manati, 2002.15 poemas no livro Um Deus para Dois Mil, de Juan Arias, ed. Vozes (em seis línguas) 1999.Caravana, inédito, vencedor do Concurso Cidade de Belo Horizonte, 1994.Pássaros do Absurdo, ed. Tchê ,1990, vencedor do Concurso da Associação Gaúcha de Escritores.Paredes Vazadas, ed. Memórias Futuras, 1988. Esgotado
Contos para crianças e jovens
Território de Sonhos, ed. Rocco, Altamente Recomendável FNLIJ, 2006.Sete Sonhos e um Amigo, ed. FTD, 2004.Pequenos Contos de Leves Assombros, ed. Quinteto, 2003.Um Avô e seu Neto, ed. Moderna, 2000.Terremoto Furacão ed. Paulus, 2000.Um cachorro para Maya, ed Salamandra, 2000.Uma História de Fadas e Elfos, ed. Miguilim / Ibeppe, 1998, (Acervo Básico da F.N.L.I.J - criança ).
Marcus Vinitius da Cruz e Mello Moraes - (19/10/1913 - 09/07/1980)
O biógrafo de Vinicius, José Castello, autor do excelente livro "Vinicius de Moraes: o Poeta da Paixão - uma biografia" nos diz que o poeta foi um homem que viveu para se ultrapassar e para se desmentir. Para se entregar totalmente e fugir, depois, em definitivo. Para jogar, enfim, com as ilusões e com a credulidade, por saber que a vida nada mais é que uma forma encarnada de ficção. Foi, antes de tudo, um apaixonado — e a paixão, sabemos desde os gregos, é o terreno do indomável. Daí porque fazer sua biografia era obra ingrata.
Dele disse Carlos Drummond de Andrade: "Vinicius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da poesia em estado natural". "Eu queria ter sido Vinicius de Moraes". Otto Lara Resende assim o definiu: "Manuel Bandeira viveu e morreu com as raízes enterradas no Recife. João Cabral continua ligado à cana-de-açúcar. Drummond nunca deixou de ser mineiro. Vinicius é um poeta em paz com a sua cidade, o Rio. É o único poeta carioca". Mas ele dizia nada mais ser que "um labirinto em busca de uma saída". O que torna Vinicius um grande poeta é a percepção do lado obscuro do homem. E a coragem de enfrentá-lo. Parte, desde o princípio, dos temas fundamentais: o mistério, a paixão e a morte. Quando deixa a poesia em segundo plano para se tornar show-man da MPB, para viver nove casamentos, para atravessar a vida viajando, Vinicius está exercendo, mais que nunca, o poder que Drummond descreve, sem conseguir dissimular sua imensa inveja: "Foi o único de nós que teve a vida de poeta" (Disponível em: http://www.releituras.com/viniciusm_bio.asp. Acesso em 23 de junho de 2008).(Disponível em: http://www.viniciusdemoraes.com.br/vida/index.php. Acesso em 23 de junho de 2009).
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José Paulo Paes – (1926-1998)
Poeta, tradutor, ensaísta. Nasceu em Taquaritinga, São Paulo. Na casa em que veio ao mundo havia livros de seu avô para lera desde criança... Estudou química industrial em Curitiba e se iniciou na literatura nos círculos paranaenses em voga em meados dos anos 40 que freqüentavam o Café Belas Artes. Publicou seu primeiro livro de poema em 1947 – O aluno. Mas é em São Paulo, a partir de 1947, que amadurece em convivência com personalidades fulgurantes como Oswald de Andrade e outros modernistas, depois pela amizade com os concretistas sem nunca chegar a filiar-se a tais grupos.
Lalau (Lázaro Simões Neto)É paulista, nasceu no bairro do Cambuci em 1954. Formado em Comunicação Social, trabalha com criação publicitária e projetos literários especiais. Começou a escrever poesia para crianças a partir de 1994, incentivado pelo seu grande mestre José Paulo Paes. Já publicou mais de duas dezenas de títulos em diversas editoras, sempre em parceria com a ilustradora Laurabeatriz. A preocupação com o meio ambiente está presente em quase toda a obra da dupla, que publicou, também pela Editora Peirópolis, inaugurando a coleção Bicho-Poema, o livro Boniteza Silvestre, considerado pela revista Crescer um dos 30 melhores títulos infantis
publicados em 2007. Frequentemente, Lalau visita escolas e feiras de livros com Laurabeatriz, para conversar, se divertir e conhecer de perto seus pequenos leitores. Quem quiser trocar idéias com ele, é só escrever para [email protected] obras: Bem-te-vi, Faz e acontece no circo, Faz e acontece no faz-de-conta, Fora da gaiola, Futebol!, Girassóis, Quem é quem, Uma cor, duas cores, todas elas(Disponível em: http://www.editorapeiropolis.com.br/biografia.php?id=182. Acesso em 22 de junho de 2009).
André Neves
Formou-se em relações públicas no Recife, mas sua paixão pelas artes e o levou ao Rio Grande do Sul, onde atualmente desenvolve atividades relacionadas à literatura infantil e, em especial, à arte de ilustrar imagens para a infância. Entre outros prêmios recebidos, contam o Prêmio Luís Jardim, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, Prêmio Jabuti 2003 e o Prêmio Açorianos RS 2004, de melhor ilustração. Em 202, participou da La immagini Della Fantasia, mostra internacional de ilustração infantil. É, autor e ilustrador dos livros infantis:
"Um pé de vento"; "Caligrafia e Dona Sofia"; "Colecionador de Pedras"; "O enigma das caixas"; Menino chuva na rua do sol"; " Mestre Vitalino"; "O ovo e vovô"; "A seca"; "O segredo da arca de Troncoso"; "Uma história sem pé nem cabeça"; "Vira, vira, vira lobisomem"; "Maria Peçonha"; "Sebastiana e Severina", entre outros. Disponível em: < http://www.sarapiqua.g12.br/index. php?option=com_ content&view=article&id=215&Itemid=60>
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Cecília Benevides de Carvalho Meireles — (1901–1964)
Cecília Meireles (1901–1964) — Jornalista, educadora, cronista, realizou poesia das mais altas de nossa língua. Teve ainda importante atuação como jornalista, com publicações diárias sobre problemas na educação, área à qual se manteve ligada fundando, em 1934, a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro. Observa-se ainda seu amplo reconhecimento na poesia infantil com textos como Leilão de Jardim, O Cavalinho Branco, Colar de Carolina, O mosquito escreve, Sonhos da menina,
O menino azul e A pombinha da mata, entre outros. Ela traz para a poesia infantil a musicalidade característica de sua poesia, explorando versos regulares, a combinação de diferentes metros, o verso livre, a aliteração, a assonância e a rima. Os poemas infantis de Cecília Meireles não ficam restritos à leitura infantil, permitindo diferentes níveis de leitura. Em 1923, publicou Nunca Mais... e Poema dos Poemas, e, em 1925, Baladas Para El-Rei. Após longo período, em 1939, publicou Viagem, livro com o qual ganhou o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras. A autora publicou regularmente, até à sua morte, no ano de 1964, dois dias após ter completado 63 anos. Algumas de suas publicações neste período foram Vaga Música (1942), Mar Absoluto e Outros Poemas (1945), Retrato Natural (1949), Romanceiro da Inconfidência (1953), Metal Rosicler (1960), Poemas Escritos na Índia (1962), Solombra (1963) e Ou Isto ou Aquilo (temática infantil, 1964). (http://pt.wikipedia.org/wiki/Cec%C3%ADlia_Meireles)
Emily Dickinson — (1813-1886)
Emily Dickinson (1813-1886) — Proveniente de uma família abastada teve formação escolar irrepreensível, chegando a cursar durante um ano o South Hadley Female Seminary. Abandonou o seminário após se recusar, publicamente, a declarar sua fé. Quase tudo que se sabe sobre a vida de Emily Dickinson tem como fonte as correspondências que ela manteve com algumas pessoas. Entre elas: Susan Dickinson, que era sua cunhada e vizinha, colegas de escola, familiares e alguns intelectuais como Samuel Bowles, o Dr. e a Mrs. J. G.
Holland, T. W. Higginson e Helen Hunt Jackson. Nestas cartas, além de tecer comentários sobre o seu cotidiano, havia também alguns poemas. A partir de 1864, surpreendida por problemas de visão, arrefece um pouco o ritmo de sua escrita. Uma curiosidade na obra de Emily Dickinson é que apesar de ter escrito em torno de 1800 poemas e quase 1000 cartas, ela não chegou a publicar nenhum livro de versos, enquanto viveu. Os registros que se tem, é que apenas anonimamente, publicou alguns poemas. Toda a sua obra foi editada postumamente, sendo reconhecida e aclamada pelos críticos (http://pt.wikipedia.org/wiki/Emily_Dickinson).
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Jacinta Veloso Passos — (1914-1973)
Nasceu em 30 novembro de 1914 na fazenda Campo Limpo, município de Cruz das Almas, filha de Manoel Caetano da Rocha Passos e de Berila Eloi Passos. Diplomou-se pela Escola Normal da Bahia, onde lecionou no curso secundário ao mesmo tempo em que colabora em jornais e revistas de Salvador, São Paulo e Rio. Filiando-se ao Partido Comunista, foi militante política, tendo exercido atividade jornalística diária no jornal Estado da Bahia, durante a última Guerra Mundial. Após uma vida tumultuada, veio a falecer em Sergipe no ano de 1973. (http://www.escritorasbaianas.ufba.br/jacinta/entrada.html).
Johann Wolfgang von Goethe — (1749-1832)
Escritor, pensador e também incursionou pelo campo da ciência. Como escritor, Goethe foi uma das mais importantes figuras da literatura alemã e do Romantismo europeu, nos finais do século XVIII e inícios do século XIX. Juntamente com Friedrich Schiller foi um dos líderes do movimento literário romântico alemão Sturm und Drang. Algumas obras: Götz von Berlichingen (1773) Prometheus (poesia) (1774). Os So-
frimentos do Jovem Werther (1774) Egmont (1775) Iphigenie auf Tauris (1779) Torquato Tasso (1780) Reineke Raposo (1794) Xenien (escrito com Friedrich Schiller) (1796) Hermann e Dorothea (1798) Fausto (1806) Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister (1807).(http://pt.wikipedia.org/wiki/Johann_Wolfgang_von_Goethe).
Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho — (1886-1968)
Poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro. Possui um estilo simples e direto e é considerado o mais lírico dos poetas. Aborda temáticas cotidianas e universais, às vezes com uma abordagem de "poema-piada", lidando com formas e inspiração que a tradição acadêmica considera vulgares. Mesmo assim, conhecedor da Literatura, utilizou-se, em temas cotidianos, de formas colhidas nas tradições clássicas e medievais. Em sua obra de estréia (e de curtíssima tiragem) estão composições poéticas rígidas, sonetos em rimas ricas e métrica perfeitas, na mesma linha onde, em seus textos posteriores, encontra-
mos composições como o rondó e trovas. Algumas poesias: A cinza das horas, 1917; Carnaval, 1919; O ritmo dissoluto, 1924; Libertinagem, 1930; Estrela da manhã, 1936; Lira dos cinquent'anos, 1940; Belo, belo, 1948; Mafuá do malungo, 1948; Opus 10, 1952; Estrela da tarde, 1960; Estrela da vida inteira, 1966.
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Bartolomeu Campos de Queirós — (1944-)
Pelo rigor na configuração de seu trabalho, sua obra tem sido reconhecida pelos críticos especializados e tomada como objeto para teses em várias universidades brasileiras pela leveza invulgar e uma transparência que não se traduz em superficialidade. Antes, constitui abertura para regiões profundas da comunicação poética. Por isso, sua expressão consegue ser, ao mesmo tempo, simples e densa. Ler o seu texto é envolver-se de imediato com a magia das palavras, é seduzir-se com a beleza e a musicalidade da prosa (http://www.caleidoscopio.art.br/bartolomeuqueiros/).
Elias José (1936-2008)
Nasceu em Santa Cruz da Prata, distrito do município de Guaranésia, em Minas Gerais. Casou-se com Sílvia Monteiro Elias, teve três filhos (Iara, Lívia e Érico) e viveu em Guaxupé (MG) desde os 13 anos. Começa a trabalhar com o pai a partir dos sete anos, aprendendo o ofício de alfaiate. Mais tarde, torna-se "dono de loja", tradição entre as famílias sírias. Só iniciou o Ensino Médio aos 15 anos e alcança seu objetivo: ser professor. Possui mais de cem livros publicados divididos em romances, novelas, contos e didáticos, Elias preferiu escrever para crianças e adolescentes. “Se me perguntarem se gosto mais de escrever para adultos, para jovens ou para crianças,
não tenho dúvidas. Escrever histórias e poesias infantis faz o menino que fui vir à tona, querendo brincar, rir e fazer novos meninos entrarem na brincadeira que é o texto da literatura infantil”. http://www.educarede.org.br/educa/index.cfm?pg=biblioteca.biografia&id_autor=63
Sérgio Capparelli — (1947-)Escritor de literatura infanto-juvenil, jornalista e professor universitário brasileiro. Viveu, trabalhou ou estudou em Uberlândia, Pará de Minas, Goiânia, Curitiba, Porto Alegre, Munique, Paris, Londres, Grenoble e Montreal. Estabeleceu-se em Porto Alegre em 1966 e, desde 2005, vive em Beijing, na China, onde trabalha na agência de notícias Xinhua News Agency. Formado em jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Fez doutorado em Comunicação pela Universidade de Paris e pós-doutorado pela Universidade de
Grenoble na França. Tem mais de trinta livros publicados, entre eles Os meninos da Rua da Praia (36ª edição), Boi da cara preta (29ª edição), Vovô fugiu de casa (17ª edição), 33 ciberpoemas e uma fábula virtual (7ª edição), As meninas da Praça da Alfândega (9ª edição) e O velho que trazia a noite (7ª edição). É autor do ensaio Televisão e Capitalismo no Brasil, com o qual ganhou o prêmio Jabuti em Ciências Humanas, em 1983. Traduziu do chinês para o português, em parceria com Márcia Schmaltz, o livro 50 fábulas da China fabulosa.
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Sylvia Orthof — (1932-1997)Sylvia Orthof nasceu no Rio de Janeiro, em 1932, filha de um casal de judeus austríacos que deixou Viena entre as duas guerras, para buscar paz e trabalho. Filha única de imigrantes pobres, teve uma infância difícil. Aprendeu a falar primeiro alemão e falava português com sotaque e errado até a idade escolar. Aos 18 anos, foi estudar teatro em Paris. Um ano depois, voltou ao Brasil e trabalhou como atriz no Teatro Brasileiro de Comédias, em São Paulo (o TBC), e, no Rio, atuou com grandes nomes do teatro e da TV. Escritora muito amada, com a sua irreverência poética inesquecível,
publicou mais de 100 livros para crianças e jovens e teve 13 títulos premiados pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil com o selo Altamente Recomendável para Crianças. Sylvia morreu em 1997, mas até hoje exerce grande influência sobre um grande número de autores infantis. Entrar numa história de Sylvia Orthof é encher os olhos de susto, mas não um susto de tremer perna ou bater queixo. O susto que as histórias de Sylvia dão na gente são carregados de perplexidade, arregalam a gente por dentro, dão largura no pensamento. Ganhadora do Prêmio Jabuti, por A Vaca Mimosa e a Mosca Zenilda (1997), Sylvia teve vários trabalhos adaptados para o teatro e quebrou tudo quanto é estereótipo na literatura infantil brasileira, com o seu texto desobediente, esmerado, abusado, feito de riso, provocação e arrepio. Afinal, a criatividade de Sylvia Orthof jamais coube em rótulos. Como ela mesma já disse, as histórias clássicas da literatura infantil sempre tiveram um ponto de vista muito machista. “Ninguém pergunta à Cinderela se ela quer casar com o príncipe. Cinderela casa com o príncipe porque ele tem dinheiro e poder. Ela se prostitui”, disse a autora. Mas, ao mesmo tempo, a autora defendia a leitura dos contos tradicionais, desde que houvesse uma reflexão. “Se Chapeuzinho Vermelho tem tanta força até hoje, é porque tem o seu valor. Só precisamos tomar cuidado para não apresentarmos essas histórias com uma mensagem moralista”.
Almir CorreiaÉ natural de Ponta Grossa e atualmente reside em Curitiba. Mestre em Teoria da Literatura e especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, o escritor desenvolveu o gosto pela literatura infantil. Tem vários livros infanto-juvenis publicados, alguns inclusive premiados. Escreve também roteiros de longa e curta metragem, faz vídeos e agora está entrando no mundo da animação. Entre seus principais livros estão: Poemas malandrinhos (Atual/Saraiva), O menino com
monstros nos dedos (Nova América), Anúncios amorosos dos bichos (Editora Biruta), Blog do sapo frog (Formato/Saraiva), Trava-língua quebra-queixo rema rema remelexo (Editora Cortez), Lugares Incríveis para brincar antes de crescer” (Editora Nova Alexandria), Coisas que a garotada pode fazer para o mundo não acabar” (Editora Novo Século). Poemas sapecas rimas traquinas (Formato/Saraiva); livro pelo qual recebeu o prêmio de melhor Poesia Infantil da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) e também foi incluído no “Brazilian Book Magazine”.Disponível em: <http://www.souzafranco.com/?tag=almir-correia>
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Maria Dinorah Luz do Prado (1925-2007)
Nasceu em Porto Alegre e passou a infância em Colônia de São Pedro, distrito de Torres. Professora por formação foi uma pioneira na literatura infantil e infanto-juvenil do Estado e na própria aproximação dos autores para crianças com as escolas. Tem mais de cem livros publicados entre prosa e poesia. Estreou na literatura nos anos 1960, e se tornaria um das autoras mais lidas pelas crianças e jovens em idade escolar. Em seus livros abordou questões como leitura, questões sociais e eco-
logia. Merecendo destaque A Coragem de Crescer, Panela no Fogo, Barriga Vazia, Poesia Sapeca, Dobrando o Silêncio e Giroflê Giroflá. Disponível em:<http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1§ion=Geral&newsID=a1709678.xml>
Tatiana Belinky (1919-)
Nasceu na Rússia e chegou ao Brasil aos dez anos de idade quando já falava três idiomas. Aos dezoito anos trabalha como secretaria bilíngüe e aos vinte entra para faculdade de Filosofia tendo abandonado a seguir quando se casou com o médico e educador Júlio Gouveia. O casal tem dois filhos. No ano de 1948 começa a trabalhar em adaptações, traduções e criações de peças infantis para a prefeitura de São Paulo em parceria com o marido. Em 1952 encenam "Os Três Ursos" em pedido da TV Tupi que
atinge grande sucesso. O êxito deste trabalho foi definitivo para a carreira da escritora iniciante: o casal é convidado a ter um programa fixo na emissora. Dentro da casa, Tatiana e Júlio fazem a primeira adaptação de o “Sítio do picapau amarelo” de Monteiro Lobato. O trabalho do casal na Tupi seguiria até 1966. Neste ínterim, Tatiana Belinky recebe seus primeiros prêmios como escritora, além de tornar-se presidente da CET (Comissão Estadual de Teatro de São Paulo). Em 1972 passa a trabalhar na TV Cultura em grandes jornais do estado de São Paulo, como a Folha de São Paulo e o Jornal da Tarde e O Estado de São Paulo, escrevendo artigos, crônicas e crítica de literatura infantil. Finalmente, em 1985, Tatiana Belinky desponta como escritora de livros, colaborando em uma série infanto-juvenil. Em 1987 publica o primeiro livro: "Limeriques", pela editora FTD, baseando-se nos limericks irlandeses. A partir desta publicação passa a trabalhar em novas criações e escreveu mais de cem obras tenho ganhado o Prêmio Jabuti em 1989. São destaquem em sua obra: "Coral dos Bichos", "Limeriques", "O Grande Rabanete", "Di-versos russos", "Limerique das Coisas Boas", entre outros. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Tatiana_Belinky>
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Paulo Leminski Filho (1944 – 1989)
Em 1964, publica poemas na revista "Invenção", porta voz da poesia concreta paulista. Casa-se, em 1968, com a poeta Alice Ruiz. Teve dois filhos: Miguel Ângelo, falecido aos 10 anos; Áurea Alice e Estrela. De 1970 a 1989, em Curitiba, trabalha como redator de publicidade. Compositor, tem suas canções gravadas por Caetano Veloso e pelo conjunto "A Cor do Som". Publica, em 1975, o romance experimental "Catatau". Traduziu, nesse período, obras de James Joyce, John Lenom, Samuel Becktett, Alfred Jarry, entre outros, colaborando, também, com o suplemento
"Folhetim" do jornal "Folha de São Paulo" e com a revista "Veja". No dia 07 de junho de 1989 o poeta falece em sua cidade natal. Paulo Leminski foi um estudioso da língua e cultura japonesas e publicou em 1983 uma biografia de Bashô. Sua obra tem exercido marcante influência em todos os movimentos poéticos dos últimos 20 anos. Seu livro "Metamorfose" foi o ganhador do Prêmio Jabuti de Poesia, em 1995. Em 2001, um de seus poemas ("Sintonia para pressa e presságio") foi selecionado por Ítalo Moriconi e incluído no livro "Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século", Editora Objetiva — Rio de Janeiro. Literatura infantil: Guerra dentro da gente. São Paulo, (Scipione, 1986) e A lua foi ao cinema. São Paulo, (Pau Brasil, 1989). Disponível em: <http://www.releituras.com/pleminski_menu.asp>
Angela Leite de Souza
Nasceu e mora em Belo Horizonte. Viveu, porém, grande parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde se formou em Jornalismo pela PUC. De 1969 a 1975 exerceu regularmente a profissão, trabalhando na revista Veja e jornais O Globo, Jornal do Brasil entre outros. Faz crítica literária, especialmente de literatura infanto-juvenil Mãe de três filhos, a carreira literária iniciou-se em 1982 quando, de volta com a família a Belo Horizonte, seu livro de poemas Amoras com açúcar foi premiado e publicado pela Imprensa Oficial de Minas Gerais. Os quinze anos de literatura foram comemorados com um outro prêmio - desta vez internacional - e também para um livro de poesia:
Estas muitas Minas, onde a autora canta sua terra, foi o Prêmio Casa de Las Américas de Literatura Brasileira, de Cuba, em 1997, conquistando unanimemente o júri. Angela é também ilustradora e com Os elefantes e Medo de escola participou da Bienal de Ilustração de Bratislava em 1997 e 1999. Foi uma das vencedoras do Prêmio Carioquinha de Literatura Infantil de 1997 com o livro Meus rios.Disponível em: http://www.ftd.com.br/v4/Biografia.cfm?aut_cod=544&tipo=A
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Eva Furnari
Eva Furnari (Roma, 15 de novembro de 1948) é uma ilustradora e escritora ítalo-brasileira. Sua família mudou-se para o Brasil em 1950, quando Eva tinha dois anos. Cresceu na nova pátria, formando-se em Arquitetura pela Universidade de São Paulo, e a partir de 1976 dedicou-se inicialmente a livros com ilustrações, sem texto. Colaborando com a Folhinha, suplemento infantil do jornal paulistano Folha de S. Paulo, criou sua personagem mais famosa: a Bruxinha. Como autora infanto-juvenil. e como ilustradora recebeu o Prêmio Jabuti , nos anos de 1986, 1991, 1993, 1995, 1998 e
2006. Em 2002 foi escolhida para ilustrar a reedição de seis livros da obra infantil de Érico Veríssimo. A obra de Furnari, composta essencialmente de pequenos livros, é uma das mais profícuas na Literatura infantil brasileira atual. Como a própria autora revelou, numa entrevista, a ilustração precedeu a produção literária - mas foi nesta última que veio efetivamente a se destacar. Disponível em: <http://www.oyo.com.br/ autores/infantojuvenil/eva-furnari/>
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