universidade do mindelo departamento de ciÊncias … · 2017. 8. 9. · universidade do mindelo...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE DO MINDELO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS, JURÍDICAS E SOCIAIS
Mindelo, 2016
Autor: Dénis Franklin Santos Évora Oliveira, N.º2720
CURSO DE LICENCIATURA EM PSICOLOGIA
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
ANO LETIVO 2015/2016 – 4º ANO
UNIVERSIDADE DO MINDELO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS, JURÍDICAS E SOCIAIS
CURSO DE LICENCIATURA EM PSICOLOGIA
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
ANO LETIVO 2015/2016 – 4º ANO
Autor: Dénis Franklin Santos Évora Oliveira, N.º2720
Mindelo, 2016
Dénis Franklin Santos Évora Oliveira, autor do presente Relatório Intitulado “Ser Um
Pai Suficientemente Bom: O Legado Do Desejo e da Distância” declara que, salvo as
fontes devidamente citadas, este relatório é um trabalho pessoal, individual e original,
sob a orientação da Mestre Zaida Morais De Freitas.
Mindelo, Outubro de 2016
____________________________________________________
Trabalho de conclusão de Curso apresentado à Universidade do
Mindelo como parte dos requisitos para a obtenção do Grau de
Licenciatura em Psicologia, vertente Clínica e da Saúde.
Resumo
O presente relatório é o culminar de um estágio académico em Psicologia Clínica e da
Saúde, realizado no Instituto Caboverdiano da Criança e do Adolescente (ICCA), na sua
Delegação em São Vicente. Durante o estágio teve-se a oportunidade de pôr em prática
todas as teorias e técnicas aprendidas durante os quatro anos do curso de psicologia,
através de observações, avaliações e intervenções junto às crianças e familiares
acompanhados por esta instituição.
A descrição de um conjunto de atividades realizadas durante esse período, tais como, I.
A realização de estudos de casos, com o objetivo de compreender os processos
psicológicos subjacentes ao funcionamento das crianças, bem como a dinâmica das suas
relações familiares; II. A realização de actividades de grupo com as crianças acolhidas
no Centro Juvenil Nhô Djunga, “O Poder das Emoções”; III. Actividades com os
familiares, com o objetivo de melhorar as competências parentais; IV. Actividades com
os monitores, visando melhorar e desenvolver competências para lidar com os conflitos
e problemas de comportamento, prevenindo assim, a ocorrência de possíveis situações
de risco, serão aqui apresentados de uma forma sucinta.
Palavra-chave: Estudo de caso; observação; avaliação; intervenção; Internos;
comportamentos.
Abstract
This report is the culmination of an academic probationary in Clinical Psychology and
Health, held in Cape Verdean Institute for Children and Adolescents (ICCA) in its
delegation in São Vicente. During this stage had the opportunity to put into practice
most of the theories and techniques learned during the four years of my psychology
graduation, through observations, assessments and interventions with children and
families accompanied by this institution.
The description of a set of activities carried out during this period, such as, I.
Conducting case studies in order to understand the psychological processes underlying
the functioning of children, as well as the dynamics of family relations; II. Conducting
group activities with children welcomed the Nhô Djunga Center, "The Power of
Emotions"; III. Activities with the family, in order to improve parenting skills; IV.
Activities with the monitors in order to improve and develop skills to deal with conflicts
and behavior problems, thus preventing the occurrence of possible risk situations, will
be presented here in a succinct way.
Keyword: Case study; observation; evaluation; intervention; internal; behaviors.
Dedicatória
A minha família, com um carinho especial, pelo apoio incondicional:
Alcino Diniz Évora Oliveira
Eugénia Filipa dos Santos Oliveira
Leila Marisa Santos Évora Oliveira
Helize Virgínia Santos Évora Oliveira.
Agradecimentos
Em primeiro lugar queria agradecer, a Cláudia Lima Fonseca, pelas palavras de
incentivo, sem ter a consciência, foi a impulsionadora para que eu retomasse os estudos.
A Kaza d´Ajinha Cultura e Convívio, na pessoa do administrador Kiki Lima.
A Universidade do Mindelo, em especial ao contínuo: Anselmo, na secretaria: Dora
Alice e Luciana Ferreira, na biblioteca: a Adalgiza Lima, Celestino Duarte, e Evaristo
Dias.
A todos professores, pelos conhecimentos transmitidos, serão lembrados para sempre.
Um agradecimento especial a professora e orientadora, Mestre Zaida Morais de Freitas,
pela disponibilidade, orientações, e pelos “insights” proporcionado nas supervisões.
Ao ICCA, e toda a equipa do Centro Juvenil Nhô Djunga.
Por último, e não menos especial, com estima especial, a todos os meus colegas, um
beijinho a Dulce e a Romira.
Aos colegas de estágio, um carinho especial, a Romina e Romira, pelos momentos de
partilha e aquisição de conhecimentos, que passamos juntos.
E a todos aqueles que de uma forma ou de outra me ajudaram, a concretizar mais uma
etapa da minha vida.
“Necessitamos de um grande conhecimento só para
apercebermos da enormidade da nossa ignorância”
(Thomas Sowell)
Índice Lista de siglas e abreviaturas ....................................................................................................... 12
Introdução ................................................................................................................................... 13
Capitulo I - Histórico e Caracterização da Instituição do Estágio............................................... 14
Instituto Caboverdiano da Criança e do Adolescente (ICCA) ................................................ 14
Delegação do ICCA em São Vicente ...................................................................................... 16
Serviço de Psicologia do ICCA ............................................................................................... 17
Centro Juvenil “Nhô Djunga” ................................................................................................. 18
Organigrama da Instituição ..................................................................................................... 19
Capítulo II – Atividades desenvolvidas durante o estágio .......................................................... 20
Avaliação Geral do Projeto de Estágio........................................................................................ 22
Capítulo III - Estudo de Caso ...................................................................................................... 23
Justificação da escolha dos casos ............................................................................................ 23
Fundamentação teórica – Caso 1 ............................................................................................. 23
História Clínica ....................................................................................................................... 27
Descrição das técnicas utilizadas ............................................................................................ 28
Análise das técnicas/instrumentos utilizados .......................................................................... 31
Compreensão do caso .............................................................................................................. 37
Hipótese Diagnostico .............................................................................................................. 40
Proposta de Intervenção .......................................................................................................... 40
Fundamentação teórica – Caso 2 ................................................................................................. 41
História Clínica ....................................................................................................................... 45
Compreensão do caso .............................................................................................................. 48
Hipótese Diagnostico .............................................................................................................. 49
Estratégias de Intervenção ....................................................................................................... 50
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 52
Recomendações ....................................................................................................................... 52
Conclusão ................................................................................................................................ 54
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 55
Web-Grafia .................................................................................................................................. 56
ANEXOS..................................................................................................................................... 57
APÊNDICES ............................................................................................................................... 58
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 12
Lista de siglas e abreviaturas
ICCA - Instituto Cabo-verdiano da Criança e do Adolescente
CJND - Centro Juvenil Nhô Djunga
CAT-H - Teste de Apercepção Infantil Humano
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
CEI - Centro de Emergência Infantil
COF - Centro Orlandina Fortes
Sd - Sem data
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 13
Introdução
O presente trabalho consubstancia-se num relatório de estágio académico em
Psicologia, na vertente Clínica e da Saúde, realizado no Instituto Cabo-verdiano da
Criança e do Adolescente (ICCA), mais precisamente na Delegação de São Vicente.
O processo de estágio teve duração de 09 meses e foi dividido em 03 fases distintas,
inicialmente este processo passou por um período de adaptação, com leituras de vários
documentos recomendadas pela orientadora, visitas aos três centros (Centro Juvenil Nhô
Djunga, Centro Emergência Infantil, e Centro Orlandina Fortes), contatos com os
internos e monitores.
A estrutura do relatório encontra-se deste modo dividida em três capítulos, a saber:
-Capítulo I – Histórico e Caraterização da Instituição;
-Capítulo II - Atividades desenvolvidas durante o estágio, dessas atividades
desenvolvidas durante o período de estágio constam a avaliação psicológica individual
(foram selecionados dois casos, que serão apresentados ao longo do trabalho),
intervenções em grupos e outras sugeridas pela instituição, no que diz respeito às
intervenções em grupo, foi realizado um Projeto de Estágio em conjunto com outro
colega, direcionado às crianças, aos pais e aos monitores, deste projeto com as crianças
foi elaborado um Poster Científico que foi exposto no II Congresso Nacional de
Psicologia realizado na Cidade da Praia.
-Capítulo III – Considerações Finais, que está dividida, na conclusão e recomendações,
partindo do pressuposto que poderão ser útil aos futuros estagiários e também a própria
instituição.
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 14
Capitulo I - Histórico e Caracterização da Instituição do Estágio
Instituto Caboverdiano da Criança e do Adolescente (ICCA)
O ICCA é uma instituição coletiva de direito público com autonomia administrativa,
financeira e patrimonial, tutelado pelo Ministério da Juventude, Emprego e
Desenvolvimento dos Recursos Humanos, e tem como missão promover e executar a
política governamental para a criança e o adolescente, com o objetivo de os proteger
contra situações que possam de alguma forma pôr em risco o seu desenvolvimento.
Criada em 1982 pelo decreto-lei nº89/82, de Setembro de 1982, o Instituto Cabo-
verdiano de menores iniciou as suas actividades em 1989, tendo mais tarde a sua
denominação alterada em Julho de 2006, de acordo com a publicação no Boletim
Oficial, I Série, nº 20, passando a se denominar de ICCA - Instituto Cabo-verdiano da
Criança e do Adolescente.
De carácter não-governamental, mas sob tutela do Ministério da Juventude, Emprego e
Desenvolvimento dos Recursos Humanos, o ICCA é a instituição responsável pela
promoção e execução da política social para infância e o adolescente em Cabo Verde.
Com sede na ilha de Santiago, mais precisamente na cidade da Praia, o ICCA estrutura-
se da seguinte forma:
05 Delegações (São Vicente, Sal, Fogo, Santo Antão, e no Concelho de Santa
Catarina de Santiago);
05 Centros de Proteção e Reinserção Social (Centro Proteção Social de Além
Cachorro - Santiago; Centro Juvenil dos Picos – Santiago, Centro Juvenil de
Assomada – Santiago, Centro de Chã Matias – Sal, Centro Juvenil Nhô Djunga -
São Vicente);
03 Centros “Nôs Kaza” (Praia, Santa Maria – Sal, Santa Catarina - Santiago);
06 Centros/Dia (Santiago, São Filipe – Fogo, São Vicente, Santo Antão, Boa Vista,
São Nicolau);
03 Centros de Emergência Infantil (Praia, São Vicente e em Santo Antão).
Adicionalmente, conta ainda com 17 Comités Municipais de Defesa dos Direitos da
Criança e do Adolescente, e uma série de parcerias institucionais, como sejam, com o
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 15
Ministério da Educação e Desporto, Câmaras Municipais, Delegacias de Saúde, Polícia
Nacional, Tribunais e Procuradoria da República. Conta ainda com o apoio dos
Escritórios dos Fundos e Programas das Nações Unidas, da Cooperação Portuguesa e
Espanhola, do CCS-Sida, CCS-Droga, das Associações da Sociedade Civil, e das
Organizações Não-Governamentais e Embaixadas.
No âmbito das suas atribuições, compete ao ICCA:
Contribuir para formação de uma política de atendimento aos direitos da criança e
do adolescente;
Decretar medidas de proteção, assistência e educação para os menores em situações
de risco;
Programar, supervisionar, coordenar e executar atividades e projetos para crianças e
adolescentes em situação de risco;
Promover ações de prevenção que visam a sensibilização e mobilização da
comunidade para as problemáticas das crianças e dos adolescentes e para a defesa
dos seus direitos;
Supervisionar as instituições de atendimento a menores;
Coordenar e promover o desenvolvimento da cooperação nacional e internacional
na defesa dos direitos da criança e do adolescente, e promover estudos a nível
nacional sobre as crianças e adolescentes.
Vários são os programas e projetos que a instituição desenvolve como forma de
proporcionar às crianças e aos adolescentes caboverdianos um serviço de qualidade que
lhes é de direito, nomeadamente:
Promoção e Divulgação dos Direitos da Criança;
Dinamização Comunitária;
Serviço Social;
Emergência Infantil;
Família Substituta/de Acolhimento;
Proteção e Reinserção Social/Centros de Acolhimento;
Educação em Ambiente Aberto;
Estudo, Pesquisas e Planeamento;
Formação /Reforço Institucional /Cooperação e Articulação;
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 16
Programa Disque Denúncia.
Em 2014 foi constituído um Comité Pró-Criança e Adolescente - Prevenção e Combate
ao Abuso Sexual de crianças e adolescentes, e também foi aprovado o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA) lei nº 50/VIII/201\3, do B.O.I série, nº70, de 26 de
Dezembro. Tem como principal função, zelar pelo cumprimento da legislação
caboverdiana aplicável às crianças e o adolescente, consagra os direitos da criança como
prioridade absoluta, define as Liberdades e Garantias Fundamentais e estabelece o
respectivo Sistema de Protecção da Criança e do Adolescente, envolvendo e
responsabilizando o Estado e a Sociedade em todos o processo de desenvolvimento da
Criança e do Adolescente.
Delegação do ICCA em São Vicente
Localizada na rua 12 de Setembro e dirigida por um Delegado, conta com um serviço de
Psicologia com apenas uma Psicóloga, um serviço social com 3 Educadoras Sociais e
uma técnica de Serviço Social, sendo que ao nível dos recursos humanos conta ainda
com 1 Condutor e uma ajudante dos Serviços Gerais.
Quanto à funcionalidade, os casos que chegam à instituição passam pelas Educadoras
Sociais, e estas por sua vez fazem a triagem e dão o devido encaminhamento aos
serviços especializados, podendo ser dentro ou fora da Instituição. Trabalham
igualmente em parceria com o Centro Irmão Unidos, Câmara Municipal de São Vicente,
Hospital Baptista de Sousa, Delegacia de Saúde de São Vicente, e Aldeias Infantis SOS.
Esta Delegação tem ainda sob a sua dependência 3 Centros, a saber:
Centro Juvenil “Nhô Djunga” (CJND)
Centro de Emergência Infantil (CEI)
Centro Orlandina Fortes (COF)
A Delegação tem atuado ainda ao nível de prevenção, através campanhas de
sensibilização nas comunidades (Campanha Cidadania Móvel) com os familiares, para
melhorar e desenvolver suas competências parentais, prevenindo assim a ocorrência de
outras situações de risco e intervindo para minimizar os efeitos negativos das
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 17
problemáticas nas crianças, também como complemento criou-se o projeto que funciona
no CJND, escola de família, que trabalha aspetos mais específicos, procurando uma
melhor forma de lidar com os comportamentos e problemas das crianças.
Em Abril de 2015 iniciou um projeto denominado “Desporto para a Cidadania”, com o
objetivo de promover a inclusão social, saúde e educação das crianças e adolescentes
em situação de risco, através da prática da atividade desportiva. O referido projeto
abrange as crianças e adolescentes com idades compreendidas entre 9 e os 16 anos e
tem a duração de 12 meses, e nelas estão incluídas as crianças que estão sob a tutela
desta Instituição, como das outras comunidades.
Serviço de Psicologia do ICCA
Este serviço atende os casos encaminhados pelas Educadoras Sociais, dos centros
(CJND, CEI, COF), pelas escolas, Procuradoria e também pelos pedidos de
pais/encarregados de educação preocupados com alguns comportamentos apresentados
pelos seus filhos como dificuldades de aprendizagem, problemas relacionados com a
violência doméstica, abuso sexual, maus-tratos, furtos, fugas de casa, enurese, ideação
suicida, entre outros.
Dentro das suas atribuições estão definidas:
Avaliação psicológica;
Intervenção psicológica de grupo e individual com as crianças dos centros;
Elaboração de Laudos Psicológicos para tribunais;
Intervenção com as famílias/encarregados de educação através do Projecto Escola
de Família;
Intervenção com os monitores;
Intervenção psicoterapêutica e apoio psicossocial;
Realização de palestras;
Realização de ações de formação.
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 18
Dado à crescente procura, este serviço conta com apoio de estagiários de Psicologia
durante um período de 6/7 meses, o que acaba por contribuir para uma melhor prestação
de serviço às pessoas que procuram o ICCA, um grupo ao qual me encontro inserido.
Centro Juvenil “Nhô Djunga”
Fundado pelo então Governador de Cabo Verde, o Capitão Mota Carmo, este Centro,
antigamente localizado na Zona de Ribeirinha, funcionou neste espaço desde a sua
abertura nos anos 60/70 até 1974. Tendo na génese do seu fundador a sensibilização
para com os problemas sociais das crianças desfavorecidas e abandonadas em São
Vicente, este centro juvenil foi dirigido pelo Filantropo João Cleófas Martins, mais
conhecido por Nhô Djunga.
Mais tarde ficou sob a responsabilidade da então Comissão de Proteção de Menores sob
a tutela do Tribunal e a partir de 1975 o Lar foi substituído pela Aldeia Juvenil, que
funcionou em antigas instalações militares. Em 1987 deu início à construção de um
novo centro, e em Agosto de 1988 o Centro Juvenil foi inaugurado na Avenida 12 de
Setembro dando o nome de Centro Juvenil “Nhô Djunga” em homenagem ao trabalho
efectuado pelo Filantropo João Cleófas Martins - Nhô Djunga sob a tutela do Ministério
da Saúde, Trabalho e Assuntos Sociais, mas actualmente está vinculado ao Ministério
da Juventude, Emprego e Desenvolvimento dos Recursos Humanos, trabalhando assim
sob a dependência do ICCA.
Ao nível dos recursos humanos, há uma equipa composta por 18 profissionais
distribuídos em regime burocrático e de turnos sendo 1 Gestora, 1 Educadora Social, 6
Monitores de Educação de Infância, 3 Mestres de Oficinas, 1 Técnico Administrativo, 1
Ajudante de Serviços Gerais, 1 Condutor, 2 Ajudantes de Cozinha, e 2 Guardas.
Admissão e Apoio Psicológico dos Internos
O processo de admissão dos internos, antigamente era feito através de inscrição e
estudos de casos, visitas domiciliárias, contato com a rede social da criança, seleção ou
encaminhamento de casos, sensibilização das crianças em situação de rua.
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 19
Atualmente funciona em regime semifechado e a admissão é feita através do Tribunal, a
pedido dos casos que chegam ao ICCA e analisados pela equipa constituída por 1
Psicóloga, 1 Educadora Social e 1 Assistente Social. Há casos urgentes em que a
Instituição acolhe a criança e depois submete o pedido de tutela ao Tribunal. Também
as famílias podem diretamente fazer o pedido ao Tribunal e este avalia se a criança se
encontra ou não em situação de risco/perigo.
Durante o estágio, integraram na instituição 10 crianças com idades compreendidas
entre os 9 e 17 anos, sendo que o motivo do internamento acaba por ser na maioria
casos de negligência e maus tratos. O apoio psicológico individual dessas crianças é
feito através do Serviço de Psicologia da Delegação, a pedido da Gestora, mas também
os casos podem ser identificados através das sessões de grupo. Nos períodos onde há
estagiários de Psicologia, esse apoio também é feito pelos estagiários.
Organigrama da Instituição
Sede ICCA
Santiago
Delegação de
São Vicente
Serviço
Social
Serviço de
Psicologia
Centros de Acolhimento
(CEI, CJND, COF)
Serviços
Gerais
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 20
Capítulo II – Atividades desenvolvidas durante o estágio
Das atividades desenvolvidas durante o período de estágio de oito meses e meio, entre
22 de Outubro de 2014 a 30 de Junho de 2015, constam a avaliação psicológica
individual, intervenções em grupos, e outras sugeridas pela instituição. Inicialmente este
processo passou por um período de adaptação, com leituras de vários documentos da
Instituição, manuais de testes psicológicos, bibliografia recomendadas pela orientadora,
visitas aos três centros, contactos com os internos e monitores de forma também a levá-
los a conhecer os estagiários e assim criar uma relação empática, capaz de facilitar o
desenvolvimento das atividades.
No âmbito dos atendimentos psicológicos individuais alguns casos tiveram
acompanhamento, e desses casos, dois foram seleccionados e serão apresentados no
capítulo seguinte. No que diz respeito às intervenções em grupo, foi realizado um
Projeto em conjunto com outro colega, direcionado às crianças, aos pais e aos
monitores. Deste projeto com as crianças foi elaborado um Poster Científico e exposto
no II Congresso Nacional de Psicologia realizado na Cidade da Praia.
Das outras atividades constam:
Participação no projeto da estagiária de Serviço Social, realizado na sala de
leitura, que tinha como objetivo estimular o interesse e motivação dos internos
pela leitura. As atividades foram realizadas 3 vezes por semana durante uma
hora, de Novembro de 2014 a Fevereiro de 2015;
Preparação das festas de Natal, Dia do Pai, da Mãe e da Criança através de
confeções de cartões postais e decorações das salas;
Distribuição de convites às famílias dos internos para a participação no projeto
Escola de Família e em outras atividades;
Participação em vários momentos de lazer das crianças como jogos, visualização
de filmes, desenhos animados, etc.;
Colaboração na aplicação do Teste projetivo “Era Uma Vez…”, da tese de
Mestrado da professora, Zaida Freitas, no Jardim Nosso Amiguinho e Escola
Salesiana;
Participação na Campanha Contra Exploração do Trabalho Infantil, onde foram
distribuídos folhetos e sensibilização das populações no centro da Cidade contra
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 21
esse mal que afeta as crianças, demonstrando quais as consequências dessa
exploração;
Participação na Divulgação através de uma palestra (do qual eu fui palestrante)
para pais, estudantes do ensino básico, enquadrada na Campanha Cidadania
Móvel que foi realizada no Jardim Bom Pastor, sobre a prevenção do abuso e
exploração sexual nas Crianças e Adolescentes, bem como a sensibilização,
junto da Orientadora e de Uma Educadora Social, as escolas do ensino básico,
na sensibilização para participarem na mesma campanha.
Visitas domiciliárias juntamente com a monitora do CJND, visando sensibilizar
os familiares dos internos a participarem na Escola de Família, bem como na
sensibilização no sentido dos internos passarem os fins-de-semana em casa.
Visitas domiciliárias, acompanhando as Educadoras Sociais, atendendo a casos
de denúncias anónimas;
Participação no lançamento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA);
Participação numa formação na área de crianças institucionalizadas e em risco,
administrada por um perito na área da protecção de crianças e jovens em risco
(Psicólogo, Manuel Branco Mendes);
Participação numa equipa de técnicos do ICA, durante uma semana, na
identificação, e monitorização da rotina diária, bem como, do levantamento dos
lugares frequentados pelas crianças de e na rua, com o intuito de encontrar uma
melhor estratégia para os proteger;
Participação no lançamento do Guia Educativo, Violência e Abuso Sexual,
Contra Criança e Adolescente (identificar, prevenir e combater).
Acompanhamento da Orientadora a audiência no tribunal com o Procurador de
menores, em relação a um caso de suspeita de violação. Bem como da Audição
com o Juiz no mesmo caso;
Participação no Fórum – 25º Aniversário da Convenção dos Diretos das
Crianças – CDC – Onde Estamos? O que queremos? Realizado no Centro
Cultural do Mindelo tinha como objectivo geral estimular o direito a
participação, através da promoção de um espaço público de debate e reflexão
sobre o estado da implementação da CDC em Cabo Verde e debater sobre os
obstáculos que impedem ainda a plena realização desses mesmos direitos, tendo
como protagonistas, as crianças e os adolescentes. Foi proporcionado as crianças
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 22
e adolescentes de todas as Escolas Secundárias e dos e das crianças internas dos
centro de SV., a oportunidade de expressarem as suas opiniões sobre a situação
da infância em CV – Onde Estamos? O que queremos?
Avaliação Geral do Projeto de Estágio
No referido relatório constam as sessões de intervenções em grupo, relativamente ao
projeto de estágio “O Poder das Emoções”. Fazendo uma avaliação geral, pode-se dizer
que em relação às crianças, elas precisam de mais treino para conseguirem chegar a uma
plena educação emocional, pois, trata-se de algo novo para elas.
No entanto, verifica-se que começaram a desenvolver um vocabulário emocional que
aumenta a capacidade de expressão para além da fúria e da agressão, reconhecem as
próprias emoções e os seus efeitos, compreendem as ligações entre os seus sentimentos
e aquilo que pensam, fazem e dizem, aumentam o nível pessoal de comportamentos
assertivos e desenvolvem a empatia.
No que diz respeito ao trabalho desenvolvido com os monitores, pode-se dizer que foi
enriquecedor para ambas as partes. Conseguiu-se ainda estabelecer uma relação positiva
de forma a levar aos estagiários a entenderem o funcionamento do centro, o dia-a-dia
das crianças e bem como os comportamentos dos mesmos. No entanto, convém de
realçar que existem algumas limitações, sendo a mais observável os vários anos de
experiências dos monitores, que apesar de ser benéfico para o trabalho que fazem, tem
um senão que é o fato de os deixarem cristalizados e resistentes às novas abordagens em
lidar e compreender os comportamentos dessas crianças.
Com a família conclui-se que vários são os fatores que estão na origem do abandono
dos filhos, pois tendo em conta a história de vida, e ausência de suporte social, acaba
por refletir diretamente nos seus filhos (falta de afeto e apoio familiar, negligência,
maus tratos, etc.). Daí que a criação de um grupo de ajuda mútua, em que entre eles (os
pais), têm a possibilidade de partilhar suas dificuldades e encontrarem, conjuntamente,
estratégias de resolução de problemas também com o apoiado de um técnico).
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 23
Capítulo III - Estudo de Caso
Justificação da escolha dos casos
Os dois casos foram escolhidos pela pertinência e natureza dos mesmos, no caso 1,
recebemos uma denuncia de maus tratos físico e psicológico, através de uma Educadora
Social, e sendo a instituição responsável para dar proteção as crianças e adolescentes,
foi solicitado nossa intervenção, no caso 2, atendemos ao pedido de uma mãe quase que
em desespero por não saber dar resposta as questões de conflitos entre o filho e os
colegas de escola e da comunidade de residência, sendo que o nosso papel é ajudar e
proteger, foi com muito apreço que decidimos dar seguimento a análise e consequente
devolução dos casos.
Fundamentação teórica – Caso 1
Num estudo de Bettelheim (1989) diz que, para se criar bem um filho não se deve tentar
ser um pai ou uma mãe perfeito, assim como não se deve esperar que o nosso filho seja
perfeito ou venha a tornar-se num indivíduo perfeito. Bettelheim afirma ainda que, é
perfeitamente possível ser-se um pai suficientemente bom, ou seja um pai que educa
bem o seu filho, ainda que erros frequentemente cometidos apenas em virtude da
intensidade do nosso envolvimento emocional com o filho, devem ser então
compensados por aqueles muitas ocasiões em que fazemos bem ao nosso filho.
Crescer numa família onde existe um bom relacionamento entre os pais, e entre os pais
e os filhos, torna um indivíduo capaz de formar relações duradouras, satisfatória e
íntimas com outros, que dão um sentido à sua vida e à deles (Bettelheim, 1989).
A Ideologia do Vínculo Familiar
Na área da vinculação tem subjacente a ideia de que as crianças desenvolvem um
conjunto de expectativas acerca de si próprio, dos outros e do mundo, designadas por
modelos representacionais ou modelos internos dinâmicos (Carnavaro cit. in Silva et al.
2014).
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 24
A vinculação é uma relação emocional profunda e duradoura que liga uma pessoa a
outra no tempo e no espaço. Os seres humanos nascem com um sistema psicobiológico
(sistema comportamental de vinculação) que os motiva a procurar proximidade de
outros (figuras de vinculação) (Ainsworth, & Bowbly, cit. in Silva, 2014).
Silva (2014) é da opinião que, o comportamento de Vinculação compreende os
comportamentos que são despoletados por condições do ambiente como separação ou
por ameaças de separação ou distância da figura de vinculação a uma criança
previamente vinculada. Berge (1998) acredita que, há vínculos positivos que fornecem o
apoio necessário ao desenvolvimento psíquico da criança, e lhe permite organizar o seu
mundo inteiro. Reforça que, existe vínculos negativos, traumáticos, causadores de
excitação violenta, brusca, prematura, numa palavra, fortemente desorganizadores e que
apenas permitem que se construam mecanismos patológicos de apego e de identificação.
Para Zagury (sd), um dos pontos básicos no processo de educação infantil refere-se ao
desenvolvimento da autoestima (é a maneira pela qual uma pessoa se sente em relação a
si mesma; é o juízo geral que faz de si mesma, o quanto gosta de sua própria pessoa), a
autoestima da criança e o afeto familiar estão interligados. Para Berger (1998), pensar
que uma criança deve a todo custo viver com os pais é não entender que o único vínculo
utilizável para o psiquismo é um vínculo de pensamento, o que importa é a
representação que se faça do outro e das experiências, boas ou más, vividas com ele e
não o vínculo de proximidade corporal. Chama a atenção que, é uma teoria pessoal e de
uma posição de princípio. Manter a predominância da identificação com a criança é uma
posição que só se consegue sustentar se tiver o apoio de um grupo ou uma equipa.
Sedução Narcísica
Freud (cit. in Greenberg, & Mitchell, 2003) introduz o conceito de narcisismo, e
começou a modificar as suas perspetivas sobre o papel do objecto na economia psíquica
e adaptar uma perspetiva mais articulada sobre o desenvolvimento. Segundo Greenberg,
& Mitchell (2003), na teoria Freudiana, o objecto é simplesmente uma representação
interna das figuras parentais ou de uma série de interacções com ele ou com ela.
Reforçam que para Freud, e como para a maioria dos teóricos psicanalíticos, o indicador
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 25
de desenvolvimento bem-sucedido é a capacidade para estabelecer relações consistentes
com um objecto. Sá (2009) partilha da opinião que todo o narcisismo resulta da falência
do amor objetal, todo o narcisismo é, potencialmente maligno. Realça que, em rigor,
institui no psiquismo uma potência para amar, permanentemente insatisfeita e,
permanentemente, idealizada (a que ele chama “amor sem objecto”).
Racamier (cit. in Berge, 1998) diz que, a sedução narcísica se designa por uma relação
de sedução exercida sobre um filho por um adulto que, em vez de o apoiar de uma
forma vitalizadora e lhe dar a ajuda necessária para enfrentar o mundo, tem o objectivo
de o manter cativo numa relação de dependência, e evitando assim que ele se distancie
psiquicamente. Isto num clima muitas vezes sexualizado, excitante, portanto, incestuoso
para o filho (sem incesto concretizado). Já o autor Berger (1998), defende uma
dimensão de sedução narcísica por trás das graves patologias da função parental, e
chama a atenção para os elementos traumáticos quantitativo, da questão dos maus tratos,
das carências educativas, do abandono disfarçado, da violência física, da criança em
risco, caindo no erro de menosprezar um dos aspectos qualitativos que é o prazer que
muitos pais sentem na sua relação com os filhos.
Matos (2012) realça que, “Sadicamente” o abusador impõe a lei do mercado, diminuir a
oferta para valorizar o produto: dando pouco afeto estimula o desejo e mantém a
dependência. A força da necessidade de adaptação ao objecto culmina num masochismo
relacional (e sexual no caso do abuso sexual). Berge (1998) defende que, nunca se
compreenderá suficientemente até que ponto a conceção que os pais têm do mundo e da
vida, conceção sem dúvida fundada na sua experiência pessoal e infantil, intervém nesta
intenção explícita que eles têm de fornecer a criança aquilo que chamam de “uma justa
apreciação” do universo exterior. Ainda o próprio Berge, reforça que, cada ato (dos
intervenientes no caso), terá uma dimensão psíquica importante que ajudará ou não a
criança a progredir.
Depressão
A depressão é um estado de abatimento do humor. No plano afetivo, existe uma tristeza
com fastio pela vida, sentimento de fracasso, remorsos e ruminações coloridas de
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 26
ansiedade. (Ritzen, Bidault, Bursztejn, Caillard, Charlet, Debary, Durning, Mattlinger,
Vacola, 1984).
Kindlon, & Thompson (1999) concordam que, a depressão pode ter o aspecto do
desgosto: dias arrastando-se sem cor. Os factores que a desencadeiam também podem
ser semelhantes: uma perda ou uma desilusão, mas são da opinião que, a depressão tem
outros sintomas, e que muitas vezes, é acompanhada de ansiedade, uma espécie de
pressentimento de que alguma coisa má está à nossa espera.
Para Matos (2012), a vulnerabilidade depressiva é grande na infância porquanto o locus
de regulação da auto-estima é externo, segundo o autor, é como ter um “self”
dependente, que depende do olhar do outro, e não ter um narcisismo autárquico,
autogovernado, com locus de regulação da autoestima. Kindlon, & Thompson (1999),
concordam que, uma pessoa deprimida sente-se muitas vezes só e mal-amada, e que a
depressão é muitas vezes acompanhada por culpa, vergonha e a sensação de que não se
vale nada - de que se é culpado da situação.
Matos (2012) defende que, a depressão está associada ao valor pessoal e à agressividade
objetal, à autoestima e à culpa: depressão narcísica ou de inferioridade; depressão de
culpa e masochismo. A depressão simples é a reacção direta á perda do amor objetal.
Para o autor será perpétuo, o clima familiar de violência e outras condições de maus
tratos infantis. O autor chama a atenção também, que quando é assim, a criança vive
aterrorizada e o medo leva à submissão, vivenciando uma permanente angústia de
morte, alivia-se submetendo à castração (antes o abuso e violência física, a tortura, que
a morte). Num estudo, Coimbra de Matos (2001, ci. in Sá, 2009) observou que numa
relação “narcísica, narcizante”, em que a “falha básica” que, numa relação dominada
pela “ambivalência original” se organiza como resultado da bi-facialidade do objeto,
mascara (através de uma atmosfera dominada pela “depressividade”, pela sensação de
vazio, pela angustia de abandono, e através da vitimização recorrente), um mundo
interior que, por falência de triangulações objectais, se traduz num “quase-nada objetal”.
Reforça que essa vitimização que esconde um tom maníaco do género “eu sou o maior
dos coitadinhos”.
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 27
História Clínica
Identificação do paciente
Nome: - - - - - - - - - -
Data de Nascimento: 00/00/0000
Idade: 09 anos Estuda: 6º ano de escolaridade
Fretaria: é o primogénito
Mãe: F. Idade: 00 anos Profissão: - - - - - - - - - -
Pai: J. Idade: 00 anos Profissão: - - - - - - - - - -
Residência: - - - - - - - - - -
Historia Pessoal
O caso que apresentamos é de uma criança do sexo masculino de nove anos de idade
que frequenta o sexto ano do ensino básico, numa escola da cidade do Mindelo, é o
primogénito dos pais, sendo que a mãe tem um filho de 18 anos fruto de um outro
relacionamento, os pais não vivem juntos, o paciente vive com a mãe por opção do
casal, segundo o Paciente o ambiente familiar é calmo mas com alguns conflitos. E foi
por motivo de um conflito (uma agressão física por parte da mãe ao Paciente que foi
solicitado a intervenção do ICCA do Mindelo no caso.
Registaram-se alguns episódios de violência física e psicológica por parte da mãe e do
irmão, os dois irmãos tem pouca liberdade porque a mãe, pratica um estilo educativo
autoritário. Na casa mora ainda a avó materna (que não tem um bom relacionamento
com a filha, mãe do Paciente) e um tio materno.
A mãe é funcionária pública, e professora universitária, demostra ser uma pessoa
educada, e revela ter um estilo educativo autoritário, impõe normas e regras rígidas,
deixando pouca abertura para negociações, demostrando ser uma pessoa muito
funcional, a sua rigidez faz com que ela valoriza os aspetos práticos do dia-a-dia,
deixando de lado a parte afetiva e emocional do Paciento, ela demostrou sempre
disponível a colaborar desde que o assunto vá de encontro aos seus ideais. É de realçar
que a mãe teve acompanhamento psicológico, depois que aconteceu o caso, mas
interrompeu o processo, sem justificar o motivo.
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 28
Nas entrevistas, o pai revela um estilo educativo permissivo, trata-se de uma pessoa
calma educada, tranquila e sempre disponível para ajudar no processo terapêutico, e
colabora na procura de uma solução para o caso, ele tem um bom nível académico, e é
empregado numa empresa privada.
O casal antes do sucedido, mesmo não morando junto frequentava a casa, um do outro
normalmente, e tinham o hábito, aos fins-de-semana passearem o filho (no parque
infantil, restaurantes, Pizzarias etc.), partilhavam as despesas (do filho), os brinquedos,
ou materiais escolares e não só tanto podiam estar na casa do pai como da mãe.
Depois da separação (devido a agressão por parte da mãe) o Paciente passou a morar
com o pai por decisão judicial, a mãe por sua vez passou a não permitir que nada que
fosse comprado por ela, fosse levado para a casa do pai mesmo que fosse algo que o
Paciente necessita-se, bem como as aulas de reforço com o professor do ensino básico,
as aulas de inglês também foram cortadas, o uniforme escolar os brinquedos, tudo foi
cortado. Ela não queria ter nenhum contacto com o companheiro, ignorando as
necessidades do filho.
O Paciente é uma criança afável, tranquila, num primeiro momento pouco disponível
para relação terapêutica, com respostas bem curtas, demostrando com o passar das
consultas conseguiu-se estabelecer o “Rapport”. Apresenta um desenvolvimento
adequado às crianças da sua faixa etária (10 anos), refletindo nos bons resultados a nível
académico. Tem um aspecto geral bem cuidado, porem apresenta um olhar triste
(preocupado) e uma voz meiga quase que impercetível, e com pouca energia.
Da anamnese, constatamos que o Paciente nasceu de parto normal, sem nenhuma
complicação aparente. Apresenta um histórico de desenvolvimento dentro dos
parâmetros considerados normais.
Descrição das técnicas utilizadas
Para além da entrevista clínica, no processo de avaliação psicológica também foram
utilizadas algumas técnicas para melhor entendimento dos casos: observação; o desenho
(família real e imaginária); ludodiagnóstico; o CAT-H.
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 29
Entrevista
Bauer e Gaskell (cit. in Júnior, A. Júnior, N. 2011) “verificaram que compreensão em
maior profundidade oferecida pela entrevista qualitativa pode fornecer informação
contextual valiosa para explicar alguns dados específicos”.
Ribeiro (sd cit. in Júnior, A. et al. 2011) “trata a entrevista como: A técnica mais
pertinente quando o pesquisador quer obter informações a respeito do seu objeto, que
permitam conhecer sobre atitudes, sentimentos e valores subjacentes ao comportamento,
o que significa que se pode ir além das descrições das ações, incorporando novas fontes
para a interpretação dos resultados pelos próprios entrevistadores”.
Observação
A observação pode definir-se como o uso sistemático dos nossos sentidos na procura
dos dados necessários para resolver um problema de investigação (Vilelas, 2009).
Segundo Gil (sd cit. in Vilelas, 2009) “a observação é um processo que consiste em
seleccionar, provocar, registar e codificar um conjunto de comportamento e de
ambientes que estão ligados ao objeto que se pretende estudar”.
“A observação ganha cariz científico, se servir a um objetivo formulado de pesquisa; for
sistematicamente planeada; for submetida a verificação e controle de validade e
precisão” (Gil sd cit. in Vilelas, 2009).
Desenho
Corman (sd) defende que, o teste do Desenho da Família é um teste de personalidade
que pode ser usado na prática clínica com o objetivo de avaliar o estado afetivo da
criança e a estruturação da personalidade, permitindo ao psicólogo perceber a sua
representação do contexto familiar. Fornece também dados acerca da maturidade
psicológica e da formação do esquema corporal. Llaneza (2007) é da opinião que, os
desenhos oferecem informações cruzadas e se complementam acerca das necessidades
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 30
que tem o indivíduo para consigo mesmo e sua própria família. Reforça que a família
imaginária fornece dados sobre os desejos, o que se quer ter, e o que está em falta, as
carências afetivas, as frustrações, os sonhos, e que a análise da família real, aponta para
uma imagem de si mesmo, do seu lugar na família ou o lugar que se sente que tem na
sua família, suas frustrações, medos e apreensões e como os dirige, se sente bem, e
como é aceite no seio familiar.
Ludodiagnóstico
A teoria do brincar parte da consideração de que a brincadeira é primária, e não produto
da sublimação dos instintos. É uma forma básica de viver, universal e própria da saúde,
que facilita o crescimento e conduz aos relacionamentos grupais. O brincar surge no
contexto da relação mãe-bebé, a qual segue uma sequência no processo de
desenvolvimento (Winnicott 1975 cit. in Trapiá, Tagliapietra, Usui, Hammoud, Coelho,
2012).
De acordo com Afonso (2012), o ludodiagnóstico é um instrumento de investigação
clínica no qual, por meio da utilização de brinquedos, estruturados ou não, o
profissional procura estabelecer um vínculo terapêutico com a criança, visando um
diagnóstico de sua personalidade. Para Trapiá (et al. 2012), o lúdico no processo de
psicodiagnóstico permite ao psicoterapeuta compreender a natureza do pensamento
infantil, onde há fornecimento de informações significativas que possibilitam a
formulação de conclusões diagnósticas e intervenções terapêuticas. Afonso (2012)
chama a atenção ainda, da importância dos materiais estruturados sejam uma miniatura
da realidade, para que a criança possa encontrá-los e reconhecê-los como representantes
da sua realidade.
Para Winnicott (1975 cit. in Trapiá et al. 2012), é necessário estudar o brincar como um
fenómeno de formas diferenciadas, onde a brincadeira facilita o crescimento,
desenvolvendo o potencial criativo, que conduz para relacionamentos grupais. A autora,
entende ainda que o brincar é uma terapia com possibilidade auto curativa, único
veículo possível de expressão para as crianças, como meio privilegiado de expressão e
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 31
de apreensão da realidade, onde o brincar permite o acesso ao simbólico e aos processos
complexos da vida.
CAT-H
É de realçar que o C.A.T.H não esta aferido a população cabo-verdiana, mas a
interpretação do mesmo serviu para melhor entender o caso1.
No entender de Bellak, L. & Bellak, S. (sd), este teste foi idealizado para facilitar o
entendimento do relacionamento infantil quanto as suas figuras e desejos mais
importantes. Reforçam que, trata-se de um teste aperceptivo temático: um método para
investigar a personalidade estudando a dinâmica significativa das diferenças individuais
na percepção de estímulos padronizados. E que as ilustrações foram desenhadas para
provocar respostas especificamente a problemas de alimentação e em geral a problemas
orais; para investigar problemas de rivalidade entre irmãos; para esclarecer atitudes
perante as figuras paternais e o modo como essas figuras são apercebidas; para
apreender o relacionamento da criança no tocante aos pais tecnicamente falando,
referente ao complexo do édipo culminando na cena principal.
Análise das técnicas/instrumentos utilizados
Teste de Apercepção Infantil Humano (C.A.T. H)
Em relação ao CAT-H deparamos com uma recusa da parte do paciente em continuar o
teste ao chegarmos a placa cinco (V). Também no Desenho da família real/imaginária, o
paciente recusou participar, optando apenas pelo desenho libre.
Na aplicação do CAT-H, foi solicitado a criança sua participação num jogo, de contar
histórias em que ele tinha de criar uma história para cada desenho, composto por 10
cartões.
Analisando o material, cartão a cartão que compreenderá: - Resposta Dadas, e Conteúdo
Latente, nas primeiras placas, o paciente demostrou pouco investimento, com histórias
curtas limitando apenas a descrever o conteúdo Manifesto das placas, com uma postura
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 32
bastante defensiva, e na placa V. (remete a criança a cena primaria) dá-se um bloqueio
em que ele recusa a continuar o teste. Mas mesmo assim deixou alguns indícios que
complementa a entrevista.
Prancha: I
Respostas dadas: “Neste desenho mostra os meninos a comer, três meninos a comer e a
falar”.
Conteúdo latente: “Remete para uma relação com a imagem materna da ordem da
oralidade” - A resposta diz respeito à oralidade versus gratificação, em torno da qual se
centra a rivalidade fraterna, nessa placa remete a sua incapacidade de interiorizar um
“bom” objeto, e numa atitude defensiva, limita-se a descrever as imagens da prancha
(não projetou), omitiu a imagem do adulto esbatido, presente na placa.
Na falta desta interiorização, em virtude de uma experiencia fantasmática oral onde
predomine componentes destrutivas, a relação com a imagem materna é regida pela
inveja (Boekholt, 2000).
Num estudo sobre a presença/ausência da imagem parental (Boekholt, 2000) sugerida
pelo caráter esbatido do adulto, questiona a sua capacidade continente e de suporte
ligada às primeiras relações de objecto. A sua falha pode suscitar a angústia depressiva,
ou até uma vivência de abandono. A autora entende ainda que, para além da evidente
evocação da comida, a actividade oral remete para o conjunto de representações
inconsciente de gratificação ou frustração associadas à relação com a imagem materna.
Nas consultas verificamos, que em nenhum momento, a mãe demostrou um gesto de
afecto nem proferiu qualquer palavra que traduzia-se numa demostração de carinho
afeto, e sim uma crescente preocupação pelas questões práticas do dia-a-dia (se tem
estudado, se te arrumado as suas coisas nos devidos lugares etc.), faltando assim uma
gratificação emocional, afetiva, e esse abandono afetivo pode ser visto na ausência da
figura materna na história.
Prancha: II
Respostas dadas: “Este parece meninos a puxar uma corda para verem quem cai”.
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 33
Conteúdo latente: “Mais uma vez evidencia a fraca relação triangular – filho num
contexto agressivo e/ou libidinal” - A resposta deixa transparecer o conflito entre os
pais (quem ficará com a guarda). Um a querer derrubar o outro, para ver quem cai.
O cartão convida a criança a situar-se, por um lado, em relação à dialética
grande/pequeno, forte/fraco, primeiro esboço de distinção identitária e depois
identificativa, e por outro lado, relativamente à perceção da aproximação libidinal ou
conflitual no sei do casal parental, identificado ou não (Chabert, 1983 cit. in Boekholt,
2000).
Prancha: III
Respostas dadas: “Estou a ver uma senhora sentado com uma bengala e um cachimbo
na mão, e um menino sentado no chão a observar o senhor (foi-lhe perguntado sobre o
que o rapaz estava a fazer) ”.
- “O senhor não está a dizer nada (foi-lhe perguntado se o senhor estava a conversar
com o menino) ”.
Conteúdo latente: “Remete para a relação com uma imagem de potência fálica” -
Remete para a passividade do pai, a partida nós sabemos que a figura paterna é frágil,
esse conteúdo surge nessa prancha, demostrando que a criança, olha para o senhor
(neste caso o pai) a espera que tome uma posição, mas esse não reage.
Boekholt (2000) diz que, o acesso às oposições dialéticas potência/omnipotência,
grande/pequeno, dominador/dominado, activo/passivo, forte sugeridas pela
desproporção relativa dos dois animais, contribui para as diferenciação identitária. A
potência pode ser assimilada a uma omnipotência destrutiva propícia à confusão dos
papéis e das inferências. Admite que, embora a imagem esteja saturada de elementos
significativos pela própria escolha do bestiário e pelos seus atributos viril, potência e
omnipotência podem ser associadas quer à imagem paterna, quer à imagem materna
quer à sua combinação monstruosa e diferenciada.
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 34
Prancha: IV
Respostas dadas: “Uma senhora com uma criança no colo e um sexto com umas
garrafas na mão, e atrás vem uma criança numa bicicleta. Estão a ir para casa, foram
para loja (foi-lhe perguntado onde eles vinham).
- Estavam a passear (foi-lhe perguntado onde foram antes).
Conteúdo latente: “Remete para a imagem materna evidenciando um contexto de
abandono, e evidente evocação da comida (a criança anda a trás da mãe com o sexto de
comida) que nos leva as representações inconsciente de gratificação associadas a
ligação com o objeto”.
Quando a rivalidade fraterna é evocada neste contexto, ela parece absolutamente
secundária, sendo o essencial o regresso fantasmático a posição mais gratificantes no
seio materno a fim de abolir as tensões pulsionais (Boekholt, 2000).
Prancha: V
Respostas dadas: com uma expressão de choro, e uma expressão de angústia, inclinou
a cabeça e não disse uma única palavra, apenas gesticulava com a cabeça
negativamente, recusando encarar a prancha, e a responder. Ocorre um bloqueio,
deixando transparecer sinais de alguma desorganização, os recursos anteriormente
utilizados deixam de funcionar. Se entender o conteúdo latente dessa placa talvez
consigas compreender o motivo desse bloqueio, a placa remete as fantasias da cena
primaria (triangulação), entendemos que nas placas que antecedem a placa (v) ele
conseguiu se distanciar, mas chegando na placa (V), o conteúdo é muito intenso (a uma
identificação com o conteúdo da prancha), que leva-o a desorganizar-se, isso porque a
relação de sedução exercida pela mãe não o fortalece, e sem as ferramentas necessárias
(vinculação), ao deparar com a imagem da placa não consegue organizar-se. Sá (2009)
elege a triangulação como eixo de desenvolvimento mental. Reforça que, a competência
para a triangulação é inata e indissociável da natureza humana. Reforça que, sempre que
há triangulação há identificação, sendo a triangulação que funda o “self” e, através das
identificações, cria um “aparelho de pensar”.
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 35
Conteúdo latente: “Remete para a cena primitiva e para os jogos sexuais entre
crianças”.
Em 2000, o estudo de Boekholt sobre as produções, onde a inibição, a agitação, ou até a
recusa, se relacionam de forma transparente com a cena primitiva, em que as
componentes fóbicas do acme (auge) edipiano acentuam. O autor entende que, quando a
depressão se exprime no registo edipiano, trata-se de um afeto doloroso, associado à
vivência de exclusão relativamente ao casal parental. Segundo Freud (1915/1996, cit in
Incião, Brend, et al. 2012) a cena primária não precisa necessariamente, ter ocorrido na
realidade, isto porque faz parte de um conjunto que “fantasias primitivas”, “primevas”
ou “originárias” (urphantasien), chama tais fantasias da observação do ato sexual do
pais, da sedução, da castração.
Desenhos (família real e imaginária)
Houve uma incapacidade de investimento no teste, traduzido através da negação, uma
clara inadaptação ao real, onde a angústia e a culpabilidade estão bem presentas. Sá
(2009) diz que para além dos sinais de angústia que decorrem da experiência
filogenética ou da vivida representa a falência dos objectos internos no metabolismo das
emoções.
Corman (sd) A afetividade pode assumir dois tipos de valência: positiva e negativa. Os
afetos negativos mostram sentimentos de desvalorização, ódio, agressividade e
conduzem criança a desinvestir na pessoa em questão, isto á, a desvalorizá-la no seu
desenho. Diz que a criança adota a negação como mecanismo de defesa, o que nas
idades avançadas revela imaturidade afectiva e inadaptação ao real: “negar uma
realidade à qual se sente incapaz de se adaptar”. A angústia e a culpabilidade estão
geralmente associados.
Ludodiagnóstico
Levando em consideração a limitação por parte do Paciente em conseguir reconhecer e
lidar com os conflitos inerentes ao conteúdo latente das pranchas, relevantes no
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 36
entendimento do caso 1, foi no ludodiagnóstico que o Paciente conseguiu projetar as
experiências (vivenciadas) (ver Apêndice VII pág. 25). De todos os brinquedos,
presente na Caixa de lúdico, ele preferiu brincar com os legos. E durante várias sessões
ele passou a projetar através dos legos toda a situação por ele vivenciado, fez a casa do
pai (onde ele passou a viver depois do sucedido), ele fez dois bonecos que representa,
ele e o pai (colocou os bonecos na sala a ver televisão) ver desenhos animados, era uma
atividade de eleição entre ele e o pai, depois fez uma varanda na entrada da casa
(entende-se que essa é a varanda onde a mãe o deixou depois de o agredir). Nas
próximas sessões passou a brincar também com uma ambulância e um carro de polícia,
fez uma garagem onde estacionava o carro de polícia, entende-se que a ambulância
representa o hospital, visto que ele teve de receber cuidados médico no hospital depois
de sofrer a agressão por parte da mãe, e o carro de polícia representa, os tribunais,
também ele construiu uma prisão, e fechou um boneco de uma senhor dentro da prisão,
ele projetou na brinquedo toda a situação vivenciado, por ele, e a ambivalência da mãe
ser presa ou não.
Afonso (2012) acredita que ludodiagnóstico, embora seja uma técnica consista na
utilização da brincadeira infantil, o objetivo não é brincar com a criança, e sim
proporcionar que ela manifeste, por meio de brinquedos ou brincadeiras, as dificuldades
que poderá estar a enfrentar. O Autor sublinha que, é uma técnica projetiva que permite
a compreensão de aspectos da personalidade infantil – motor, cognitivo, afetivo, social,
favorecendo uma avaliação mais rápida da personalidade do indivíduo. Trapiá (et. al
2012) entende-se que a criança por meio do brinquedo tem a possibilidade de projetar as
angustia, os seus conflitos, podendo vivenciar novas experiências para a resolução dos
seus conflitos internos. Já a Autora Klein (sd, cit. in Trapiá et. al 2012) acredita que a
personificação do brinquedo é uma amostra da não inibição das suas fantasias. Diz
ainda que as figuras que aparecem no brinquedo são intermediárias entre os aspectos
ferozes do superego e as identificações próximas da realidade, entre as imagens
progénitas e as imagens edípicas. Se analisar as citações a cima, como sendo a descrição
da história de vida do Paciente, suscita, que o cenário (das brincadeiras) projetado pelo
Paciente nas sessões, representa as experiências por ela vivenciadas.
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 37
Compreensão do caso
Tendo em conta todo o processo de avaliação, entendemos que existe uma frágil ligação
ao objeto que pode estar na origem de uma Falha Narcísica por parte da mãe, que
desencadeia momentos de agressão, falta de afeto, vemos na mãe uma pessoa prestável
e zelosa, apenas irritável e pouco tolerante (leva-a agredir os filhos), agressões essas que
segundo o paciente ocorrem sem motivo aparente (basta a mãe estar mal humorado),
gosta de impor regras, e vive muito focado no prático e funcional, percebemos uma
dificuldade da mãe em expressar emoções positivas, a base para uma boa ligação com o
objeto (o filho), o edificador da autoestima, as emoções conferem a capacidade de
amarmos e sobretudo a disponibilidade e destreza para seremos amados. Entendemos
que a mãe é a figura de autoridade, o pai por sua vez, tenta agradar a mãe (tentando
salvar a relação), e tenta ajudar o filho, mas desde que use algo que não prejudica a mãe,
ela por sua vez aproveita para “jogar” com o filho e com o pai (sedução narcísica).
Os fatos levam a associar essa Falha Narcísica, aos frequentes conflitos entre a mãe do
paciente tem com a avó, com o irmão, com os filhos, e pela forma como se refere, e se
relaciona com o companheiro (pai do paciente), Numa postura defensiva típica dos
Narcísicos, demostra uma grandiosidade exagerada, egocêntrica, apática, ofensiva e
desvalorizando o parceiro ou aqueles que o rodeiam.
Nota-se que é muito difícil ela colocar-se em causa e aceitar ser criticada, ou de
reconhecer os seus erros, não compreendendo a importância de um pedido de desculpa
ao seu filho.
O paciente encontra-se num quadro depressivo, é preciso dar seguimento ao caso
ajudando-o a elaborar positivamente os possíveis conflitos. Tendo os pais um papel
importante a busca dum consenso diferenciando os “papéis” enquanto pais e casal.
Matos (2012) diz que compreender que esta excrescência (inútil, que desequilibra a
harmonia) maligna é o resultado de uma reação à perseguição sofrida na infância e uma
muralha erguida ou um escudo contra o perigo de um desastre/afundamento Psicótico.
Para Freud (1917 cit. in Greenberg, & Mitchell, 2003) doentes deprimidos, notou a
relação entre a perda de um objeto na realidade (ou perda de caraterísticas do objeto às
quais era dado especial valor, tal como o seu amor) e uma perda percebida do Ego (isto
é, perda de auto-estima). O próprio Freud admite ainda que, uma perda de objeto foi
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 38
transformada numa perda do Ego e o conflito entre o Ego e a pessoa amada transforma
numa divisão entre a atividade crítica do Ego e o Ego tal como foi alterado pela
identificação.
Tendo em devida conta as desproporções entre as necessidades secundarias do Paciente
e os cuidados que recebe, estão longe de um ganho narcísico, a necessidade de amor e
proteção por parte da figura do objeto, é um engano, sedução, ameaça, coerção, e uma
constante pressão traduzido em castração da autoestima. Todo esse funcionamento
quase que patológico acaba por refletir diretamente no Paciente, a ambivalência, entre a
representação que faz dos objetos e a realidade, o sentimento de culpa de gostar de um
objeto implica não gostar do outro, da angústia, tristeza, leva-o a um sentimento de
vazio. Sá (2009) afirma que na depressividade, o sentimento de vazio surge como forma
de se proteger de um nada objetal. Para Pesce, Assis, & Avanci (2008) a separação dos
pais pode constituir em um problema para criança, no entanto, quando ela mantém um
bom relacionamento com estes pais, e quando os próprios pais mantêm uma
cordialidade, este problema pode ser superado.
A Alienação Parental, por parte materno, cria uma ambivalência no Paciente passando a
acreditar que amar um objeto, implica “matar” a outro. Também numa tentativa
dissimulada de convencer o paciente de ser ele o culpado de todo o sucedido. Por outro
lado temos um pai submisso ambivalente, aos “caprichos” da mulher, deixa em segundo
plano o filho, negligenciado de certa forma inconscientemente todo o estado psicológico
que o filho vivencia em relação aos fatos. Para Berge (1998) sendo filho único do casal,
é a criança que faz a passagem do casal sem filhos para o casal com um filho. Poder-se-
á avançar a hipótese de que esta criança viveu na ilusão, no sentido criativo e positivo o
termo, de ter fundado o casal parental. Greenberg, & Mitchell (2003) a mais importante
perda do objeto que uma criança experiência é, de longe, a perda do objeto edípico ou,
mais precisamente, das suas fantasias sobre o mesmo. É esta perda que dá maior ímpeto
ao Ego e, especialmente, à formação do superego; e deste modo, o complexo de Édipo
constitui a pedra angular do desenvolvimento quer saudável quer neurótico.
Na aplicação do CAT-H, entende-se que, a uma falta de criatividade nas histórias, o
Paciente não acrescenta nada de fantasia que é próprio das crianças, compreende-se que
isso tem haver, com os mecanismos defensivos, utilizados pelo Paciente para distanciar,
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 39
evitando entrar em contacto, com algo que lhe traz sofrimento psíquico, limitando-o a
sua capacidade de sonhar.
Matos (2012) aponta que a clivagem afetiva resulta da alternância e imprevisibilidade
da resposta afetiva do objeto (em regra, ele mesmo uma personalidade borderline), o
que gere no sujeito uma ambivalência insuportável; da qual defende pela clivagem. Sá
(2009) afirma que a clivagem é uma defesa contra a ambivalência.
A recusa na placa “V” e de fazer o desenho da família real/imaginária, concede-lhe
tempo ao “ego” para dedicar a outras tarefas psíquicas, tornando-se cada vez mais apto
para enfrentar o mundo exterior, dado a variabilidade das reações ou os estados de
humor patológico da mãe, (projeta as sua frustrações e conflitos internos no filho, que
por sua vez faz uma introjeção negativa) e pela incompreensão por parte do Paciente
(esta introjeção será) é por sua vez geradora de angustia, criando estados de ansiedade e
insegurança.
Jean Laplannche (19988 cit. in Incião, Brend, Recktenvald, Detoni, Graña, 2012) a
“fantasia da cena primitiva” é, de alguma forma, “a versão triangular da fantasia de
sedução”. Em ambas as fantasias “a criança é iniciada, introduzida em algo que lhe é
estranho e reencontramos a dupla vertente: uma vertente negativa, e uma Positiva.
Incião (et al. 2012) são de acordo que, a cena primária representa o cerne da experiência
de exclusão, reatualizada constantemente ao longo da vida. Os autores acrescentam
ainda que, “Esta cena amorosa dos pais, da qual um filho está excluído por princípios,
será vivida, infinitamente, pelo sujeito de estar ou não incluído, ser ou não importante
ao outro. Central ao narcisismo: o indivíduo não foi convidado ao banquete de sua
própria criação. Os estudos de Freud (1918/1996 cit. in Incião, Brend et al. 2012)
apontam que, a criança constrói teorias a fim de tentar dar conta da intensidade dos
afectos despertados pela percepção da cena primária. E Freud diz que, “Fantasias
primitivas” é o acervo de fantasias inconsciente de todos os neuróticos, e que pode ser
revelada pela analise, e que a fantasia de observar as relações sexuais dos pais, Freud
chama de sedução, da castração. Segundo os estudos Mucchielli (1976) em certos casos
com pais que agem desta forma patogénica, será necessário afastar a criança, a fim de
evitar que mais tarde a transforma num neurótico.
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 40
Hipótese Diagnostico
Quanto à hipótese diagnóstica, os dados das técnicas utilizadas, sugerem que o paciente
apresenta um funcionamento depressivo, que advém de uma Falha Narcísica.
Proposta de Intervenção
Salvaguardando a criança, será pertinente, …
- Intervir junto da Procuradoria, com o intuito de proteger o Paciente da prevalência de
episódios de violência que se sobrepõem e o envolve, até que a avaliação psicológica,
esclarecesse o caso, restabelecendo a integração psíquica do Paciente, evitando que
prevaleça a confusão.
- Ajudar os país a compreenderem o impato das agressões físicas/psicológicas e a
interpretarem corretamente os problemas comportamentais que estão por trás disso.
- Propor uma terapia familiar, porque o importante é a criança e a família surge como o
“elemento” primordial para ajudar a criança.
- É importante que a mãe continua o acompanhamento psicológico que vinha tendo,
tendo em conta a sua rigidez, fragilidade afetiva e emocional, que o leva constantemente
a adotar uma postura defensiva e agressiva.
- Levar o casal a compreender a importância da separação de “papéis”, enquanto casal, e
enquanto pais, e chegarem a um acordo onde os modelos parentais (autoritário,
permissivo) se aproximam, e ver como isso se conjuga em relação ao estilo educativo,
não a nível de casal, mas sim enquanto pais, proporcionando um percurso construtivo,
reparadora, e fortalecedora da autoestima do filho. Maia (2001) é da opinião que,
qualquer criança que nasce numa família mais ou menos “normal” é adulada. É o bebé
mais bonito do mundo, e é amado incondicionalmente. Pouco a pouco, a criança vai
assimilando esta imagem maravilhosa de si próprio, imagem essa que ira então construir
o narcisismo.
- Trabalhar com o Paciente o sentimento de culpa, visto que durante a avaliação
percebemos que em alguns momentos, a mãe disse que o filho é o culpado de toda essa
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 41
situação porque, ele sabe que errou ao atravessar a estrada a correr, e o Paciente por sua
vez acha que a mãe esta certa.
- Levar o paciente a viver experiencia em que ele sinta um certo poder sobre o mundo
exterior (sempre acompanhado de um reforço positivo de palavras).
- Trabalha a parte emocional do Paciente, ajudando-o a gerir e expressar as suas
emoções.
Fundamentação teórica – Caso 2
É importante dizer que a família constitui o núcleo elementar de toda a organização
social. Rigorosamente, porém, a família não constitui tanto uma forma elementar de
sociedade, e sim a forma elementar de articulação do indivíduo na sociedade (Cf. Julian
Marias cit. in Silva, et al. 2012).
Zagury (sd) diz que, porque ninguém, ao vir ao mundo, sabe o que é certo e o que é
errado. O ser humano, ao nascer, não tem ainda a ética definida, e somos nós,
especialmente nós pais/educadores que tem esta tarefa fundamental e espectacular de
passar para as novas gerações esses conceitos tão importantes e que conferem ao
homem sua humanidade. Silva (et al. 2012) partilha da opinião que, a família deve
afirmar-se como um lugar de amor, afetividade, de realização/construção do eu, de
transmissão de princípios e valores entre gerações. Moniz (2002) reforça essa linha de
pensamento ao concorda que, a observação dos outros e a imitação desempenham, pois,
um papel fundamental na aquisição e regulação dos comportamentos sócio afetivos.
Segundo Matos (2012) o mal não está dentro do individuo (à partida), más fora, no
ambiente perturbado.
Silva (et al. 2012) chama a atenção que, é preferível que nasçam e cresçam juntos de um
pai e uma mãe biológicos. Nesse caso tal família deverá estar dotada de razoável
estabilidade. O autor ainda chama atenção para dois aspetos com implicações
importante, o Realismo e a Renúncia:
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 42
Realismo, porque ter filhos hoje não pode contar com condições de vida que já não
existem e muito menos pode enveredar por experimentalismo que penaliza os nossos
seres. As implicações de ter filhos têm de ser à luz do tempo presente, o qual, não
tenham dúvidas, não se modificará do dia para a noite.
Renúncia, porque a estabilidade da relação conjugal tem de servir, pelo menos, as
necessidades de formação inicial dos filhos. Por outro lado, essa estabilidade não é algo
que possa acontecer ou não acontecer, ao sabor da duração de um certo estado efetivo
que se elegeu como único interessante. Evidentemente que a estabilidade da relação
conjugal passa também por uma construção dos cônjuges, geralmente feita de renúncias
mútuas.
Pesce (et al. 2008) partilha da opinião que, depois da família, a escola tem o papel de
socialização, promoção da cidadania, formação de atitudes e opiniões, podendo ser um
espaço tanto de construção positiva da criança ou jovem, quanto um espaço de
reprodução de dificuldades vivenciadas na família e na comunidade. Defende que a
escola é um ambiente onde a ocorrência de conflitos interpessoais é constante, e
segundo ele podem ser compreendidos e manejados de modo a contribuir para a saúde
mental dos que ali estão se formando. Nunes, & Abramovay (2003, 2002 cit. in Pesce,
et al. 2008) estão de acordo que, uma escola protetora é aquela que cuida do seu corpo
Docente e Discente. Reforçam que, o desempenho académico e o desenvolvimento
pessoal do aluno crescem, quando a escola é capaz de ensinar valores e criar um
ambiente de respeito que proporciona a confiança não apenas para aprender, mas para
tornar-se maduro e autoconfiante. Andrade (2007 cit. in Pesce, et al. 2008) acrescenta
que, é crescente a preocupação de pais e professores em relação a comportamento
agressivo e transgressores apresentados por crianças na primeira e segundo infância,
pois se trata de uma alteração de conduta que habitualmente apresenta evolução
constante e demostra resistência às tentativas de controlo da família e da escola.
Pesce (et al. 2008) diz que, não é difícil perceber a grande dificuldade de todos nós,
atores envolvidos no atendimento de crianças, para lidar com esses comportamentos
rebelde que nos é tão familiar e tão estranho ao mesmo tempo. O autor admite que, o
entendimento desses atos como carregados somente de destrutividade tem levado a
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 43
medidas de contenção ou repressão, e que sua eliminação deve ocorrer por correcção ou
ajuste.
Disciplina
Quando referimos ao termo “disciplina” devemos defini-la não de forma negativista e
punitiva, mas como um método de ensino de uma criança, de forma a ajuda-la a
diferenciar a natureza “boa” ou “má” das suas acções (Xiong 1995, cit. in Maia, 2001).
Maia diz que, para Xiong, a “disciplina” funciona como uma ferramenta para ajudar a
criança a aprender a autocontrolar-se (Xiong 1995, cit. in Maia, 2001).
Em 1989, a experiência de Bettelheim com crianças diz que, a grande maioria dos pais
que lhe interrogava acerca da disciplina queriam ouvir a sua opinião sobre como haviam
de castigar os seus filhos, quando e como os deveriam castigar. O autor reforça que, se
os pais tivessem ido procurar num dicionário teriam descoberto que apenas a última das
definições dada sugere que a palavra também pode significa castigo, e que disciplina é
sinónimo de, aprendizagem; educação; uma sessão de conhecimento; autocontrolo;
correção etc. Jonet (et al. 2012) realçar que qualquer tipo de violência, na criança, está
relacionado com o abuso de poder, realizado através da relação entre agressor
(indivíduo mais velho e com poder sobre o menor) e vítima (criança). A autora reforça
que, os castigos físicos e psicológicos são aplicados por um adulto, ou alguém com
poder, que recorre ao uso da força com o objectivo de disciplinar a criança para a
corrigir ou para modificar um comportamento indesejável. Conclui dizendo que, “Em
psicologia, a punição é a redução de um comportamento através da aplicação de um
estímulo negativo (punição positiva) ou a remoção de um estímulo agradável (punição
negativa). Tarefas extras ou palmadas são exemplos de punição positiva, quando uma
criança perde privilégio falamos de punição negativa.
Estilos Parentais (Permissivo)
Segundo Darling, & Steinberg (1993, cit. in Maia, 2001) estilo parental não é mais do
que o conjunto de atitudes, valores, formas de lidar com seu filho na árdua tarefa de
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 44
criar de uma forma educada. De acordo com Baumrind (1967 cit. in Maia, 2001) o estilo
permissivo (passivo), procura adotar uma atitude não punitiva, procurando aceitar
incondicionalmente, de uma forma afirmativa e intencional, os impulsos, desejos e
comportamentos dos seus filhos. E que estes progenitores tendem a apresentar poucas
exigências relativamente a responsabilidades domésticas (como arrumar o quarto,
ajudar, na limpeza de casa, arrumar os pertences da criança, etc. Maia (2001) na mesma
linha de pensamento diz que, não é permitido à criança regular o seu próprio
comportamento, bem como o desejo pelas suas próprias atividades, desta forma, a
criança não é encorajada a obedecer e a sujeitar-se a influencias externas, que a ajudam
a maturar-se e regular-se por padrões definidos externamente. Afirma que estes pais
procuram, muitas vezes, utilizar estratégias de manipulações de engano dos filhos, mais
do que apresentar uma posição de autoridade, respeito, amorosa, mas firme.
Estilo Autoritário
Zagury (sd) diz que, de maneira geral, a criança não aceita logo nem as explicações que
a nós, adultos, nos parecem as mais claras, límpidas e portanto, as mais simples de
serem atendidas. Mas, como nem o que é mais límpido e claro é atendido
imediatamente, muito pelo contrário, às vezes você repete anos a fio um mesmo e
simples objetivo até alcança-lo. O autor afirma que, ao ouvir falar em limites muita
gente, interpreta logo como licença para exercer uma postura autoritária, de controlo
total ou até de violência. Ele diz que realmente é difícil saber quando acaba e quando
começa o autoritarismo. Baumrind (1967 cit. in Maia, 2001) é da opinião que, o
progenitor autoritário, procura formar de controlar e avaliar o comportamento e as
atitudes dos seus filhos, de acordo com os seus próprios padrões de conduta, que muitas
vezes, se apresentam como um padrão restrito e básico de conduta
Zagury (sd) defende que, autoritário é aquele que exerce o poder utilizando como
referencial apenas o seu ponto de vista (que é sempre visto como o único correto), a
força física ou o poder que lhe confere sua posição ou o cargo que ocupa, nunca levando
em conta o que o outro deseja ou pensa. Matos (2012) partilha da opinião que, o sujeito
submetido a uma autoridade prepotente e privilegiada, sente-se profundamente
humilhado e revoltado, não ousa contra-atacar, reconhece que as condições prenunciam
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 45
a derrota. Reforça que quando é assim só lhe resta sujeitar-se, aceitar-se alguns
sacrifícios para evitar o pior, utilizando manobras de apaziguamento, que representam
para o agressor a vontade de se conformar. E assim desenvolve uma síndrome de
adaptação ao mau. E a pouco a pouco vai-se habituando ao que é maléfico, acabando
por dele gostar, e assim se instala o masochismo.
Matos (2012) diz que, é neste quadro de carência, que se desenvolve a vitimização da
criança. Privada na satisfação das suas necessidades, torna-se exigente e revoltada.
Porém a sua justa e justificada agressividade não é compreendida pelos pais
(infelizmente pelos próprios técnicos de saúde mental e educação). O autor afirma que,
é assim que se começa o círculo infernal da agressão gerando agressão; e a sua
reprodução transgeracional: filho maltratado dá, frequentemente, pai maltratante. Pesce,
(et al. 2008) a violência psicológica ocorre quando a criança é diminuída em suas
qualidades, capacidades, desejos e emoções, ou cobrada excessivamente por pessoas
significativas durante o período de crescimento e desenvolvimento
Premiar é sempre melhor do que castigar
Zagury (sd) aposta no prémio, como uma forma muito boa de começar a dar limites. É
importante, porém, agir com equilíbrio; exageros sempre soam de forma falsa; tanto o
elogio quanto o prémio devem ser adequados à dimensão do ato. Nem de mais, nem de
menos. A autora chama a atenção, para os pais não exagerarem na dose, e sejam
autêntico, sejam verdadeiros, elogiem, premiem, mas para não tornarem falsa ou
artificial a relação.
Já dizia o filósofo Aristóteles, “a justiça está no meio-termo”.
História Clínica
Identificação do paciente
Nome: - - - - - - - - - -
Data de Nascimento: 00/00/0000
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 46
Idade: 10 anos Estuda: º ano de escolaridade
Fratria: é o primogénito
Mãe: F. Idade: 52 anos Profissão: - - - - - - - - - -
Pai: J. Idade: 51 anos Profissão: - - - - - - - - - -
Residência: - - - - - - - - - -
Motivo da consulta
Segundo a mãe, há muito que tem sido aconselhada pelos professores do filho a
procurar apoio de um psicólogo, pelas constantes queixas de comportamento agressivo
para com os colegas e professores, por parte do filho. Também dos constantes conflitos
na comunidade onde moram.
História pessoal
É o primogénito, sendo que cada um dos progenitores tem 4 filhos de outras relações,
nasceu de parto normal sem nenhuma complicação aparente, não sofre de nenhuma
doença, tem um aspecto cuidado, porém apresenta-se de vez em quando com pequenas
feridas nas pernas, e micose (nome científico, Tinha) na cabeça, apresenta com roupas e
os pés um pouco sujo, ao falar usa gírias, e algumas expressões agressivas tais como
(“mi sum pegal um te ba caba kel”; “mi é que bom pes mete ma mi”) (sic), deixa
enteder que faz chantagem emocional e manipula as estratégias educativa utilizada pela
mãe, não ajuda nos deveres doméstica (arrumar o quarto, ir a mercearia, etc.), e exige a
mãe que lhe satisfaça todos os desejos (brincar na rua, dinheiro para jogar game,
levantar tarde da cama, etc.), a mãe satisfaz toda as suas vontades. O pai é totalmente ao
contrário da mãe, a criança não tem voz e não tem espaço para negociar, como faz com
a mãe. A relação com o pai é pautada por momentos de agressão verbal e física, e de
ameaças (“se não fizeres tal coisa ou se eu receber mais alguma queixa, eu te dou é de
soco na cara”) (sic), segundo o paciente o pai costuma dizer que (“se pancada que
matame e olime li vive, bo te bem continua te pronta, é pancada que bo te bem tema, até
bo pô ne camim”) (sic), isso faz com que muitas vez a mãe queira intervir, só é
desautorizada pelo esposo na frente do filho, instalando, um clima de conflitos entre o
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 47
casal, na frente do filho (paciente), com tentativa de agressão física na frente do filho
(chorava ao relatar esse tipo de incidente), entende-se que a mãe adota uma postura de
vitima, pela dependência financeira e pelos próprios recursos internos fragilizados, que
ao invés de posicionar de forma a protagonizar a sua vida e o do filho de uma melhor
forma, é o marido quem dita as regras (de forma autoritário), pautada muitas vezes pela
violência doméstica.
O pai é segurança noturno e a mãe doméstica (trabalha sempre que aparece uma
oportunidade), e neste momento mora somente o casal e o Paciente numa casa, moram
numa comunidade considerada problemática pelos frequentes casos de guerras de
“Gang”, sendo que há um ano atrás moravam numa comunidade com a mesma
problemática, tem sido constante os conflitos físicos com os colegas/adolescentes da
comunidade de residência, e na escola com os colegas e professores, também
constatamos o interesse para a convivência com os jovens (mais velhos) denominados
de “Gang”.
Estuda o ensino básico (6ª classe), e segundo constatamos com a professora tem tido
bom aproveitamento, registando ligeiras dificuldades (baixou as notas nos testes) no
ultimo trimestre (5º classe) no final do ano letivo, foi então que a mãe sentindo sem
recursos e sem a ajuda do conjugo, decidiu procurar os serviços de psicologia do ICCA.
Quanto ao contexto escolar, pelo que a mãe relatou e foi confirmado pela professora, o
comportamento era de total perturbação do normal funcionamento das aulas, com
registo de vários conflitos com os colegas (inclusivo tentativa de agressão com uma
pedra de calçada) e professores, tendo sido punido com uma suspensão das aulas de três
dias, segundo a professora levantava do seu lugar interrompendo a aula, para pegar
material emprestado nos colegas (sem permissão), ou para brigar, para piorar a sua
situação ele foi mudado de lugar, passando a sentar nos fundos e com uma colega que
tinha problema de aprendizagem, (isso segundo a mãe, confirmado pela professora).
Não apresenta problemas em relação as matérias leccionadas, e até participa nas aulas.
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 48
Compreensão do caso
Levando em consideração todo o processo de avaliação, entendemos que o Paciente
carrega uma ambivalência em relação ao estilo educativo, a uma falta de consenso no
estilo educativo dos pais (autoritário) pouco afetuoso, e uma mãe (permissiva) super-
protetora, acabam por facilitar o desencadear desses comportamentos.
Um dos grandes entraves encontrado foi a total indisponibilidade do pai em colaborar
na avaliação psicológica do filho (Paciente), foram feitas várias tentativas de conseguir
um encontro (telefonemas, convite da mulher etc.), tudo sem êxito, segundo as palavras
da mãe do Paciente, o esposo dizia não saber o porque do filho ser acompanhado por
um psicólogo, desta forma leva-nos a entender um distanciamento (negligência,
carência afetiva da figura paterna na tarefa da educação do filho, não havendo essa
colaboração entendeu-se que dificultaria no processo de avaliação e intervenção.
Houve uma colaboração incondicional por parte da mãe, aparecendo em todas as
consultas, e demostrando disponibilidade para experimentar algumas estratégias, com o
objetivo de encontrar melhorias a curto espaço (reforço positivo, sistema de crédito,
tentar ignorar ao máximo todo e qualquer comportamento não desejado, etc.), por mais
que fosse a compreensão da mãe em relação disparidade do estilo educativo praticado
pelo casal, para termos sucesso em relação a mudança de comportamento, havia
necessidade de um envolvimento do pai que entendemos ter um papel fundamental por
ser o figura Modelo (autoritário), e uma certa fragilidade, por parte da mãe pela
vitimização sofrida e pelos episódios de violência doméstica, faz com que ela adota uma
postura submissa na tomada de decisão nos assuntos do casal.
Entende-se que os comportamentos agressivos, demostrado (na escola e na comunidade
de residência etc…) pelo Paciente, não são mais do que uma representação de tudo o
que tem vindo a aprender com os seus modelos (Pai, e os rapazes com quem se
identifica na comunidade de residência). Moniz (2002) afirma que, a criança ou recruta
são convidados a imitarem o “exemplo”, mesmo se não compreendem exactamente a
utilidade da ação. Reforça que, a criança demostra diariamente a importância da
aprendizagem por imitação e os pais ficam deliciados (ou embaraçados…) quando
constatam que o seu “caráter” se assemelha tão fielmente ao deles. O que constatou-se é
que posteriormente aos comportamentos (pouco assertivo) demostrado pelo Paciente,
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 49
ele é alvo de uma “avalanche” de cortes, castigos e ou punições (sem uma explicação
dos motivos dessas atitudes), leva com que, a carga emocional é transformada e
expressa por meio de agressividade. Acredita-se que existe uma certa, ambivalência por
parte do Paciente, visto que o modelo resolve os conflitos com agressividade, e sendo
ele o seu tutor, simplesmente reproduz o que aprende.
Devidas as discussões (tentativa de agressão) a frente do filho, a mãe perdeu autoridade
perante este, a ambivalência dos estilos educativos, faz com que o Paciente tenha
dificuldade em respeitar as regras. Moniz (2002) acredita que, todos concordam que não
se vai ensinar uma criança a ser educada e meiga, berrando-lhe as instruções a esse
respeito. Um comportamento paterno de cortesia é muito mais eloquente e eficaz.
Um outro factor não menos importante e que acaba por complementar todos os outros
aspetos analisados a cima, é o meio (zona de residência) que pertence, desde pequeno a
família pertence a comunidades problemáticas e conflituosa (Ribeirinha e Cova Monte-
sossego), zonas com adolescentes referenciadas pela polícia como sendo pertencentes a
grupos de “Gang”, a sua fragilidade egoica, leva-o a juntar a esses grupos, onde possa
sentir, seguro (acolhido, valorizado, etc.), mas na verdade não é esse tipo de apoio que
ele precisa (família), se analisarmos a fase de desenvolvimento que se avizinha-se
(adolescência), corre-se o risco dos conflitos tomarem contornos pouco desejáveis.
Todo o historial de ambivalência em relação, a inflexibilidade do Modelo (pouco
afetuoso, agressivo), a permissividade da mãe (super-protetora, não impõe limites),
dificulta a elaboração e aquisições de valores socialmente aceitos.
Hipótese Diagnóstico
Na área da saúde mental, educação e assistência social estamos mais acostumados a
identificar problemas mentais e atuar sobre eles do que a investir na promoção da saúde
mental das crianças, o que deveria ser nossa principal meta (Pesce, et al. 2008).
É neste sentido, que deixa-se o prognóstico reservado, porque entende-se que o Paciente
tem um conjunto de sintomas que podem evoluir no sentido de um transtorno desafiador
opositivo, bem como Transtorno de conduta. Então optou-se por focar, e tentar
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 50
amenizar os conflitos, e trabalhar as competências pessoais e interpessoais, encontradas
no decorrer da avaliação.
Estratégias de Intervenção
Com a avaliação e compreensão do caso, viu-se ser de urgência uma intervenção, como
forma de prevenir e travar, complicações comportamentais graves no futuro próximo,
sendo assim passamos a dotar a mãe de estratégias de enfrentamento de problemas (com
esposo), baseada sempre no diálogo e busca de um consenso;
A mãe teve incentivos no sentido de, utilizar técnicas educativas pautadas pelo diálogo,
utilizar regras simples, explicando ao filho as razões das decisões, definir limites das
ações do filho, dar voz ao filho para opinar sobre as regras, visando comportamentos
assertivos.
Reforçar positivamente o filho cada vez que um comportamento desejado for expresso,
demostrar afeto (beijos, abraços, elogios, etc.), e dizer o quanto lhe ama.
No caso de ter que criticar alguma aspeto que o filho tenha feito, criticar os
comportamentos de que não gosta, e nunca o seu filho, isso porque a mãe, nas consultas
demostrou que costuma criticar o filho (“esse moss li um que sabe kem kel sei, ma esse
brabeza d´seu” etc). (sic) (isso aconteceu no decorrer da avaliação).
Se os pais, considerarem que os castigos são de todo necessário, optar por castigos em
que o filho possa experimentar as consequências naturais do seu comportamento (mais
do que castigos físicos).
A importância do filho ter um sentimento de pertença (perceber que pertence a algo, e
que é importante), que pode confiar nos pais, desenvolvendo uma percepção de respeito
mútuo e de encorajamento (isso aconteceu no decorrer da avaliação).
Procurar ter objetivos a longo prazo e não apenas no imediato, adaptando a seu mundo
em constante mudança, ajuda-lo a desenvolver competências sociais e de vida em geral.
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 51
Em relação ao paciente recorreu-se a uma estratégia utilizando um urso de pelúcia (bem
grande) para treinamento de demostração de carinho/afeto, onde ele pode demostrar
carinho (ao urso) visto que tem carência afetiva, incentivando-o a por na prática em casa
e com os colegas, por várias vezes foi-lhe dado a oportunidade de libertar a carga
emocional negativa (agressividade) no urso (ver anexo - IV)
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 52
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Recomendações
No decorrer do estágio, deparou-se com muitas dificuldades, e sendo assim, importa não
só pensar nos problemas, mas pensar também nas soluções, neste âmbito, importante
refletir sobre algumas questões, no sentido de dar o meu contributo com o intuito de
ajudar na forma de lidar com as crianças, bem como, de entender o comportamento dos
mesmos.
Em relação à universidade levar com que os alunos comecem desde o primeiro ano a
terem oportunidade de irem para o terreno, desenvolvendo pequenos projectos, e a
terem assim o contato com a realidade, facilitando-os no processo de estágio, e visando
uma psicologia que atua fora do consultório.
- Criar, formar uma equipa multidisciplinar, direccionada para os centros (CJND, CEI),
visando um maior apoio aos internos e famílias;
- Criar uma mini biblioteca dentro da instituição, com livros temáticos a forma de lidar
com as crianças e adolescentes, bem como, a aposta em mais formações de reciclagem a
todos os funcionários da instituição.
- Orientar os internos na escolha do projeto de vida;
- Reestruturar os deveres e as atividades diárias, levando com que os internos ajudem
nas tarefas diárias do centro, estabelecendo equipas de dois a três internos, no auxílio
das empregadas, na higiene dos quartos, pátio, cozinha (preparação das refeições), e
oficinas (etc.), visando a complementação do projeto de vida;
- Trabalhar com os internos visando um sistema de reforço positivo em vez de um
sistema baseado em cortes e punições, tendo em conta que provêem de famílias
desestruturadas, com marcas de violência, cortes e punições;
- Lançar uma campanha um cidadão um interno, ou uma empresa um interno, fazendo
que cada um apadrinha uma criança institucionalizada;
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 53
- Estreitar os laços ainda mais com os tribunais no sentido de agilizarem os processos
referente aos menores;
- Criar forma de responsabilizar os pais, em relação às várias problemáticas (violência,
abandono, etc.) que envolvem as crianças;
- Reabilitar a sala de lazer e convívio para que os internos possam aproveitar melhor os
tempos livres e de alguma forma dar asas as suas fantasias;
- Lançar um concurso para criação de um hino do ICCA;
- Criar um logótipo de uma mascote (boneco) do ICCA, e uma versão no tamanho real
que seria usado nas comemorações da instituição (exemplo o mascote Gil, Lisboa expo´98).
Espero que esses pontos sejam verificados para ajudar melhorar a integração dos futuros
estagiários, bem como para facilitar os profissionais do ICCA.
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 54
Conclusão
É do contato com a realidade com o mundo laboral, é que todo o conhecimento
Psicológico, adquirido ao longo desses quatro anos fez sentido (conciliação da teoria
com a prática), conseguindo assim o essencial para continuar o longo percurso que se
avizinha. Cabe ao Psicólogo, ter uma boa base académica, e ponderar sobre a ética
deontológica, na avaliação dos limites pessoais, para uma melhor atuação na prática. É
de realçar a importância de se ter sempre sessões de supervisão, e ou aconselhamento,
por um colega da profissão, de preferência com anos de experiência.
É com sentimento de satisfação, e dever comprido, mas também com uma certa
frustração, que parto em relação a alguns pacientes que não deram continuidade as
consultas, entendo que não é possível fazer milagres se o Paciente não colaborar (nos
meus casos em específicos, os pais, e/ou familiares), mas por outro lado vesse que
alguma coisa de bom eles levarão com os breves momentos terapêuticos (escola de
família, projeto “Poder das emoções”), que possa desperta-los, “insights”
enriquecedoras nas suas vidas.
“Cada um eduque com verdade e espontaneidade, cada um eduque com a prata da casa,
com o bom, e com o mau, com a sua realidade interior” (Silva, et al.2012).
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 55
REFERÊNCIAS
Afonso, M.R.L (2012). Ludodiagnóstico: investigação clinica através do brinquedo.
Porto Alegre: Artmed.
Bellak, L. & Bellak, S. (1961) C.A.T. – A: Teste de Apercepção Infantil com figuras de
animais. São Paulo: editora Mestre Jou.
Berge, M (1998). A Criança e o Sofrimento da Separação. Lisboa: Climepsi Editora.
Bettelheim, B. (1989). BONS PAIS; O Sucesso na Educação dos Filhos. Portugal:
Bertrand editora.
Boekholt, M. (2000). Provas temáticas na clínica infantil. Lisboa: Climepsi Editora.
Greenberg, J. & Mitchell, S. (2003). Relação de objeto na terapia Psicanalitica. Lisboa:
Climepsi editora.
Kindlon, D. & Thompson, M. (2000). Criando Caim: Proteger a vida emocional dos
rapazes. Lisboa: Ambar.
Llaneza, F.M.G (2007). Instrumentos de Evaluación Psicológicas. La Habana: Editorial
Ciências Médicas.
Maia, L. (2001). Educar Sem Bater; Uma guia prático para pais e educadores. Lisboa:
Editora Pactor. 3º edição.
Matos, A. (2012). Mais amor Menos doença: a psicossomática revisitada. Lisboa:
Climepsi editora. 2º edição.
Moniz, L. (2002). A Modificação do comportamento: Teoria e Pratica da Psicoterapia
e Psicopedagogia Comportamentais. Lisboa: Livros Horizonte. 4ª edição.
Mucchielli, R. (1976). A Personalidade da Criança, Sua Formação do Nascimento até
ao Fim da Adolescência. Lisboa: Clássica Editora. 5º edição.
Pesce, R. & Assis, S. & Avanci, J. (2008). Agressividade em Crianças; um olhar sobre
comportamentos externalizantes e violência na infância. Rio de Janeiro: editora
Carlota Rios.
Ritzen, P. & Bidault, H. & Bursztejn, C. & Caillard, V. & Charlet, A. & Debary, Q. &
Durning, P. & Mattlinger, M. & Vacola, G. (1984). Psicologia Moderna: dicionário
de psicologia da criança. Lisboa: Verbo.
Sá, E. (2009). Esboço para uma nova psicanálise. Coimbra: Almedina.
Silva, F. & Breyner, G. & Moura, J. & Godinho, J. & Larcher, L. & Barata, O. &
Teixeira, R. & Jonet, R. & Agulas, R. & Oliveira Sandra. (2012). A VIOLÊNCIA
SOBRE CRIANÇAS. Lisboa: Editora arcádia.
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 56
Vilelas, J. (2009). Investigação; O Processo de construção do Conhecimento. Lisboa:
Edição Sílabo.
Zagury T. (sd). Limites sem Traumas; Construindo Cidadões. Brasil: Editora Record.
Web-Grafia
Corman L. (sd) O TESTE DO DESENHO DA FAMÍLIA. Disponível em
<docslide.com.br_teste-do-desenho-familia-louis-corman> [consultado em 21-05-
2016 11h08]
Incião, D. & Brend, F. & Recktenvald, K. & Detoni, M. & Graña, R. (2012). Revisando
a sena primária, Porto Alegre: Disponível em <www.revistacontemporanea.org.br>
Consultado em 23-03-15 - 19h02.
Junior, A. & Junior, N. (2011). A utilização da técnica da entrevista em trabalhos
científicos Disponível em
<www.uniaraxa.edu.br/ojs/index.php/evidencia/article/download/200/186>
[consultado em 21-05-2016 11h42]
Silva, N. (2014) Teoria da Vinculação. Disponível em
<https://sigarra.up.pt/fmup/pt/pub_geral.show_file?pi_gdoc_id=543645
[consultado em 19-05-16 - 18h48].
Trapiá, A. & Tagliapietra, C. & Usui, E. & Hammoud, M. & Coelho, T. (2012) O
PSICOTERAPEUTA E A ESCOLHA DO MATERIAL NO PROCESSO DE
LUDODIAGNÓSTICO Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/eip/v3n2/a07.pdf 28-05-2016 11h04> [Consultado
em 28-05-2016 11h04].
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 57
ANEXOS
SER UM PAI SUFICIENTEMENTE BOM: O LEGADO DO DESEJO E DA DISTÂNCIA
Universidade do Mindelo. Dénis Oliveira Página 58
APÊNDICES