universidade do minho instituto de educação · aos meus filhos, mesmo com a falta do calor...
TRANSCRIPT
abril de 2016
UMin
ho|2
016
Farissai Pedro Campira
Construção e validação de uma escala de autoconceito: Estudo com alunos universitários do 1ºano da Universidade Pedagógica de Moçambique
Faris
sai P
edro
Cam
pira
Co
nst
ruçã
o e
va
lida
ção
de
um
a e
sca
la d
e a
uto
con
ceit
o:
Est
ud
o c
om
alu
no
s u
niv
ers
itá
rio
s d
o 1
ºan
o d
a U
niv
ers
ida
de
Pe
da
gó
gic
a d
e M
oça
mb
iqu
e
Universidade do MinhoInstituto de Educação
Trabalho realizado sob a orientação doProfessor Doutor Leandro Silva Almeidae daProfessora Doutora Alexandra Maria Dantas de Castro Araújo
Tese de Doutoramento em Ciências da EducaçãoEspecialidade Psicologia da Educação
abril de 2016
Farissai Pedro Campira
Construção e validação de uma escala de autoconceito: Estudo com alunos universitários do 1ºano da Universidade Pedagógica de Moçambique
Universidade do MinhoInstituto de Educação
iii
iv
v
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, pela vida que me deram e os primeiros passos da minha vida
escolar;
A minha esposa Ester, que considero a mulher mais compreensiva, paciente e carinhosa,
por esse tempo que, mesmo distante, soube reconhecer o esforço. Mesmo em condições
críticas da vida, deu conta da família tendo encorajado bastante na execução deste
trabalho final;
Aos meus filhos, mesmo com a falta do calor afectivo do pai, conseguiram esperar o
suficiente para usufruir desse direito inalienável. Lembro-me dos abraços calorosos a
cada regresso duma viagem de estudo, o meu muito obrigado filhos;
Ao Professor Doutor Leandro S. Almeida e a Professora Alexandra M. Araújo, pela sábia
orientação, mesmo distante a pesquisa foi possível. Pela prontidão nas respostas às
minhas dúvidas e incertezas souberam com mestria orientar a presente dissertação;
A Direcção da Universidade Pedagógica de Moçambique, vai o meu profundo
agradecimento pela bolsa atribuída, sem a vossa confiança provavelmente não teria
concluído esta tese. Este esforço também contou com a prontidão de mestre Carla
Karagianis que acompanhou o processo da atribuição da bolsa de estudo, o meu muito
obrigado;
Aos estudantes dos cursos de Ciências da Educação; Ensino Básico; Administração e
Gestão Educacional; Filosofia; Física; Matemática; Geologia; Biologia; Português;
Psicologia Educacional; Educação de Infância; Gestão de Recursos Humanos;
Sociologia; História; Educação Física; e Educação Visual. Estendemos os
agradecimentos aos directores dos cursos acima referidos pela mobilização e o sucesso
alcançado na aplicação dos questionários.
Aos meus colegas do Curso, pela convivência e troca de experiência que tivemos durante
a formação. Em especial ao mestre Manuel Bucuto, Prof. Argentil do Amaral, Vilane,
Ana Martins, Ana Filipa que sempre estiveram presente nos grandes momentos desse
percurso académico.
Aos colegas da Universidade Pedagógica da Beira, muito em especial aos mestres
Evaristo Vicente, Américo Toca, Paulo Zebo Bulaque, Celso Miambo, Carlos Parafino e
dra Avaida Abel Achicala, pelo encorajamento na frequência deste doutoramento.
A todos que directa ou indirectamente fizeram com que essa tese se tornasse uma
realidade. Muito obrigado!
vi
vii
RESUMO
O autoconceito é um constructo ligado à identidade, sendo relevante em diferentes
domínios de realização humana. Apesar de alguma confusão terminológica na área e da
diversidade de instrumentos para a sua avaliação, vários autores consideram o
autoconceito como uma variável psicológica multidimensional e com impacto no
desempenho académico. Em Moçambique desconhecemos a existência de instrumentos
de avaliação do autoconceito, por isso o presente estudo centrou-se na construção e
validação de um Questionário de Autoconceito para Estudantes do Ensino Superior de
Moçambique. A construção do questionário partiu de entrevistas semiestruturadas e da
consulta de outros instrumentos de avaliação do autoconceito. A análise do conteúdo
dessas entrevistas seguiu a perspectiva de Gordon (1986), procurando identificar as
dimensões mais valorizadas pelos estudantes moçambicanos na descrição de si mesmo.
Neste sentido, de início foram identificadas sete dimensões do autoconceito (autoconceito
religioso, autoconceito artístico, autoconceito académico, autoconceito físico,
autoconceito social ou interpessoal, autoestima, e gestão de emoções e sentimentos), mas
apenas as cinco primeiras integram a versão definitiva do questionário dada a
inconsistência dos resultados com as dimensões de autoestima e a dimensão de gestão de
emoções e sentimentos. Junto de uma amostra de 510 alunos com idades entre 17 a 59
anos (M = 25.50; DP = 6.80), sendo 269 (52.7%) do sexo masculino e 241 (47.3%) do
sexo feminino, a análise fatorial exploratória permitiu reter um conjunto de 24 itens
distribuídos nas cinco dimensões: autoconceito religioso (5 itens), autoconceito artístico
(5 itens), autoconceito académico (5 itens), autoconceito físico (4 itens) e autoconceito
social (5 itens), explicando 57.8% da variância dos itens da escala. Para a validade de
critério, tomamos as classificações finais dos estudantes e outras escalas de avaliação
psicológicas (Escala de Autoestima, Escala de Autoeficácia Geral, Escala de Satisfação
com Vida, e Questionário de Dificuldades Antecipadas). As relações destas com as
dimensões do autoconceito apresentaram níveis diferenciados de correlação (e.g., fraco,
moderado e forte) enquanto as classificações dos alunos apresentam correlação fraca e
apenas com a dimensão académica do autoconceito. Em relação a diferenciação do
autoconceito em função género e idade, os resultados aponta alguma diferenciação apenas
na dimensão religiosa a favor das estudantes, sendo que as mais velhas pontuam mais, em
comparação com as mais novas, nas dimensões social e religiosa.
Palavras-chave: autoconceito, adolescentes e jovens-adultos, Ensino Superior,
adaptação académica, Moçambique.
viii
ix
ABSTRACT
Self-concept is a central construct for identity and relevant for different dimensions of
human achievement. Although there is some confusion in the definition of the term and
a diversity of measures for its assessment, various authors describe self-concept as a
multimensional psychological variable and one that influences academic performance.
As we are not aware of assessment measures for higher education students’ self-concept
in Mozambique, the present study aims to develop and validate a Self-Concept Scale for
Higher Education Students in Mozambique. The first phase of the development of the
questionnaire was the evaluation of instruments for the assessment of self-concept as well
as semi-structured interviews to students. Content analysis of these interviews followed
Gordon’s (1986) perspective, attempting to identify the most valued dimensions of self-
concept by Mozambican students in their self-descriptions. Following, we identified
seven dimensions of self-concept (religious, artistic, academic, physical, social or
interpersonal, self-esteem, and emotion management), although only five of these
dimensions were included in the final version of the questionnaire, due to inconsistencies
in the results in the dimensions of self-esteem and emotion management. The exploratory
factor analysis was conducted with a sample of 510 students with ages ranging from 17
to 59 years (M = 25.50, SD = 6.80), 269 (52.7%) males and 241 (47.3%) females. Results
showed a factor structure of five dimensions, with a total of 24 items: religious self-
concept (5 items), artistic self-concept (5 items), academic self-concept (5 items),
physical self-concept (4 items) and social self-concept (5 items), which explained 57.8%
of the total variance of the items results. Criterion validity was assessed with students’
academic achievement and other scales for related constructs (Rosenberg Self-Esteem
Scale, The Generalized Self-Efficacy Scale, Satisfaction With Life Scale, and Anticipated
Difficulties Scale). The relations between the self-concept dimensions and these scales
presented different magnitudes (e.g., weak, moderate, and strong), while students’ grades
presented a weak correlation and only with the academic dimension of self-concept. The
results also showed that differences in self-concept with age and gender were only
observable for the religious dimension, with higher results for female students, while
older students presented higher scores when compared to younger students in the social
and religious dimensions of self-concept.
Keywords: self-concept, adolescents and young adults, Higher Education, academic
adaptation, Mozambique.
x
xi
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS ..................................................................................................... v
RESUMO ....................................................................................................................... vii
ABSTRACT .................................................................................................................... ix
ÍNDICE ............................................................................................................................ xi
ÍNDICE DE TABELAS ................................................................................................ xiii
ÍNDICE DE FIGURAS .................................................................................................. xv
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 17
CAPÍTULO 1 O ENSINO SUPERIOR EM MOÇAMBIQUE: EVOLUÇÃO,
TRANSFORMAÇÕES E DESAFIOS ........................................................................ 23
Introdução ................................................................................................................. 23
Antecedentes históricos ............................................................................................ 24
1.2.1 O Ensino Superior em Moçambique ................................................................... 26
1.2.2 A Universidade Pedagógica: expansão e transformações curriculares ............... 34
1.2.3 Universidade Pedagógica de Moçambique, Delegação da Beira ....................... 38
Regulação interna do Ensino Superior em Moçambique ......................................... 40
Considerações Finais ................................................................................................ 41
CAPÍTULO 2 ADAPTAÇÃO DOS ESTUDANTES AO ENSINO SUPERIOR:
EXPECTATIVAS, TRANSIÇÃO E INTEGRAÇÃO ............................................... 43
Introdução ................................................................................................................. 43
Expectativas, satisfação e sucesso nos estudantes do Ensino Superior .................... 44
2.2.1 Satisfação e sucesso escolar no Ensino Superior ................................................ 46
Adaptação ao Ensino Superior ................................................................................. 47
2.3.1 As teorias de adaptação do estudante no Ensino Superior ................................. 50
2.3.2 Teorias contextuais ou de impacto institucional ................................................. 51
2.3.3 Teorias de desenvolvimento psicossocial do estudante ...................................... 62
2.3.4 Teoria de desenvolvimento da identidade .......................................................... 62
Considerações finais ................................................................................................ 70
CAPÍTULO 3 AUTOCONCEITO: DEFINIÇÃO, AVALIAÇÃO E RELEVÂNCIA
........................................................................................................................................ 73
Introdução ................................................................................................................. 73
Autoconceito: Delimitação do constructo ................................................................ 74
Perspetivas teóricas do autoconceito ........................................................................ 77
3.3.1 Teoria fenomenológica de Carl Rogers .............................................................. 77
3.3.2 Abordagem psicossocial de Eric Erickson.......................................................... 80
3.3.3 Teoria de desenvolvimento sociocognitivo de Susan Harter .............................. 82
Estrutura, organização e conteúdo do autoconceito ................................................. 84
Avaliação do autoconceito........................................................................................ 93
Autoconceito no ensino superior .............................................................................. 96
Relação do autoconceito e outras variáveis psicológicas ......................................... 97
Relação entre autoconceito e o rendimento escolar.................................................. 98
Estudos diferenciais do autoconceito ..................................................................... 100
xii
Considerações finais ............................................................................................. 102
CAPÍTULO 4 CONSTRUÇÃO E VALIDAÇÃO DE UMA ESCALA DE
AUTOCONCEITO ..................................................................................................... 103
Introdução ............................................................................................................... 103
Motivação para a construção de uma escala de autoconceito ................................ 104
4.2.1 Estudo Qualitativo ............................................................................................ 105
4.2.2 Estudos quantitativos da escala de autoconceito .............................................. 111
4.2.3 Estudo Quantitativo 4 ....................................................................................... 118
CAPÍTULO 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ................ 127
Introdução ............................................................................................................... 127
Considerações metodológicas................................................................................. 128
Descrição da amostra .............................................................................................. 129
Procedimentos ........................................................................................................ 132
5.4.1 Validade do constructo: Análise fatorial exploratória ...................................... 132
5.4.2 Precisão das subescalas do autoconceito .......................................................... 134
5.4.3 Sensibilidade dos resultados nas subescalas ..................................................... 136
5.4.4 Correlação entre as dimensões do autoconceito ............................................... 136
Validação de outros instrumentos .......................................................................... 137
5.5.1 Escala de autoeficácia Geral ............................................................................. 138
5.5.2 Escala de Satisfação com a vida ....................................................................... 140
5.5.3 Dificuldades antecipadas .................................................................................. 141
5.5.4 Escala de autoestima ......................................................................................... 144
Validade externa da escala de autoconceito ........................................................... 147
5.6.1 Correlação com outras medidas de identidade e dificuldades académicas ....... 147
Estudos diferenciais do autoconceito em estudantes universitários de Moçambique
148
5.7.1 Diferenças em função do género e idade .......................................................... 149
5.7.2 Diferenças em função da residência e da ocupação do estudante .................... 150
5.7.3 Diferenças do autoconceito em função da área disciplinar dos estudantes ...... 151
Variáveis pessoais e rendimento académico dos estudantes .................................. 152
5.8.1 Factores associados ao abandono ..................................................................... 156
Considerações Finais .............................................................................................. 158
CAPÍTULO 6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÃO ................... 161
Introdução .............................................................................................................. 161
Construção da Escala de Autoconceito ................................................................. 161
Correlação entre as dimensões do autoconceito .................................................... 165
Relação entre autoconceito e as variáveis psicológicas ........................................ 166
Estudos diferenciais do autoconceito .................................................................... 169
Conclusões ............................................................................................................. 173
REFERÊNCIAS BIBILOGRÁFICAS ..................................................................... 177
xiii
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1.1 Corpo docente e discente por cada instituição de Ensino Superior .............. 28
Tabela 1.2 Caracterização de Estudantes por Região e Província de Naturalidade ....... 30
Tabela 1.3 Distribuição dos Estudantes por Áreas de Formação. .................................. 33
Tabela 2.1 Desenvolvimento Psicossocial de Chickering e Reisser (1993) ................... 64
Tabela 3.1 Instrumentos de Avaliação do Autoconceito ................................................ 93
Tabela 4.1 Exemplo de Categorização das Respostas em Função do Polo Positivo ou
Negativo ....................................................................................................................... 106
Tabela 4.2 Categorização das respostas dos estudantes em função do pólo positivo ou
negativo ........................................................................................................................ 107
Tabela 4.3 Exemplo de Classificação do Conteúdo das Respostas dos Estudantes ..... 108
Tabela 4.4 Classificação do Conteúdo das Descrições de Si de Estudantes Universitários
Moçambicanos .............................................................................................................. 109
Tabela 4.5 Análise Fatorial do Estudo 1....................................................................... 112
Tabela 4.6 Itens Modificados ou Acrescentados da Escala de Autoconceito .............. 114
Tabela 4.7 Extração da Estrutura Fatorial dos 56 Itens da Escala ................................ 116
Tabela 4.8 Estrutura Fatorial da Terceira Aplicação .................................................... 117
Tabela 4.9 Estrutura Fatorial da Quarta Aplicação ...................................................... 119
Tabela 4.10 Análise da Consistência Interna dos Itens da Escala de Autoconceito ..... 120
Tabela 4.11 Estrutura Fatorial do Estudo 5 com 30 Itens da Escala de Autoconceito Para
Estudantes Universitário de Moçambique .................................................................... 122
Tabela 4.12 Análise da Consistência Interna nas Cinco Dimensões da Escala de
Autoconceito ................................................................................................................. 124
Tabela 5.1 Descrição da Amostra do Estudo ................................................................ 130
Tabela 5.2 Análise Fatorial Exploratória dos Itens da Escala de Autoconceito Para
Estudantes Universitários de Moçambique .................................................................. 133
Tabela 5.3 Análise da Consistência Interna nas Subescalas do Autoconceito ............. 134
Tabela 5.4 Análise da Sensibilidade nas Dimensões do Autoconceito ........................ 136
Tabela 5.5 Correlação nas Dimensões do Autoconceito .............................................. 137
Tabela 5.6 Análise Fatorial da Escala de Autoeficácia Geral ...................................... 138
Tabela 5.7 Análise da Consistência Interna dos itens da Escala de Autoeficácia ........ 139
Tabela 5.8 Análise Fatorial da Escala de Satisfação com Vida.................................... 140
Tabela 5.9 Análise da Consistência Interna da Escala ................................................. 141
Tabela 5.10 Análise Fatorial Exploratória dos Itens da Escala de Dificuldades
Antecipadas com Estudantes Universitários de Moçambique ...................................... 142
Tabela 5.11 Análise Fatorial dos 7 Itens Retidos na Escala de Dificuldades Antecipadas
...................................................................................................................................... 143
Tabela 5.12 Análise da Consistência Interna da Escala reduzida de Dificuldades
Vivenciadas .................................................................................................................. 143
Tabela 5.13 Análise Fatorial Exploratória dos Itens da Escala de Autoestima ............ 144
Tabela 5.14 Aova Análise Fatorial dos Itens da Escala de Autoestima de Rosenberg 145
Tabela 5.15 Análise Fatorial da Escala de Autoestima Reduzida a 5 Itens.................. 146
Tabela 5.16 Consistência Interna dos Itens Positivos da Escala de Autoestima .......... 146
Tabela 5.17 Correlação entre Autoconceito e Outras Variáveis Psicológicas ............. 147
Tabela 5.18 Diferenças de Autoconceito nos Estudantes Universitários em Função do
Género e Idade .............................................................................................................. 149
xiv
Tabela 5.19 Estudo de Diferenças nas Dimensões do Autoconceito Tomando as
Variáveis Contextuais dos estudantes .......................................................................... 150
Tabela 5.20 Diferenças do Autoconceito em Função das Áreas Disciplinares ............ 152
Tabela 5.21 Sensibilidade das Variáveis de Rendimento Académico.......................... 153
Tabela 5.22 Correlação entre Autoconceito e as Medidas de Rendimento Escolar ..... 153
Tabela 5.23 Análise da Correlação entre as Medidas de Rendimento Escolar e o
Autoconceito ................................................................................................................. 154
Tabela 5.24 Análise da Regressão do Autoconceito e o Desempenho Escolar dos
Estudantes Universitários de Moçambique .................................................................. 155
Tabela 5.25 Correlação entre o Autoconceito e Grau de Satisfação dos Estudantes com o
Curso, Universidade e Resultados Escolares ................................................................ 156
Tabela 5.26 Correlação entre Autoconceito e a Intenção de Abandonar o Curso e a
Universidade ................................................................................................................. 157
xv
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 4.1 Representação Gráfica de Extração de Componentes Principais da Escala de
Autoconceito ................................................................................................................. 123
Figura 5.1 Representação Gráfica das Idades e Género dos Estudantes ...................... 131
Figura 5.2 Representação Gráfica dos Participantes em Função do Curso ................. 131
Figura 5.3 Efeito das Variáveis Pessoais dos estudantes nas Dimensões do Autoconceito
...................................................................................................................................... 150
Figura 5.4 Efeito das Variáveis Contextuais dos estudantes nas Dimensões do
Autoconceito ................................................................................................................. 151
Figura 5.5 Diagrama de Dispersão do Autoconceito em Função das Notas Finais
Obtidas Pelos Estudantes Universitários ...................................................................... 156
xvi
17
INTRODUÇÃO
O estudo do autoconceito tem recebido uma atenção crescente na área da
Psicologia, sendo a sua relevância reconhecida em vários campos (e.g., saúde, educação,
trabalho) (Marsh, 2005; Veiga, 2006), e assumindo-se como um constructo complexo,
quer na sua delimitação conceptual, como na sua avaliação (Barisa, Alberg, & McSparrin,
1991; Marsh, 2005; Shavelson, Hubner, & Stanton, 1976). A maioria dos instrumentos
de avaliação tem seguido uma perspetiva sociocognitiva e fenomenológica, recorrendo
ao método autodescritivo (Gordon, 1968; Veiga, 1996), que consiste em solicitar
descrições ou autorrelatos aos indivíduos. Por outro lado, o conteúdo e a estrutura, do
autoconceito vai variando em função dos contextos de vida destes indivíduos (Campira,
Araújo, & Almeida, 2015; Oyserman, Elmore, & Smith, 2012; Pipa & Peixoto, 2014).
Por exemplo, as vivências no contexto familiar, contexto escolar e contexto laboral
podem influenciar o desenvolvimento do autoconceito.
Neste sentido, o Ensino Superior (ES) surge como um dos contextos de vida que
influencia o desenvolvimento e a organização do autoconceito. Com efeito, a vivência
neste contexto de vida universitária pode favorecer o desenvolvimento de diferenças no
conteúdo e na estrutura do autoconceito. Nesta fase, algumas dimensões poderão assumir
maior relevância para jovens e adultos universitários (e.g., competências académicas,
relacionamento interpessoal) do que em outros contextos de vivências (e.g., família,
trabalho, igreja) (Campira et al., 2015).
Dada a relevância deste constructo para estudantes do contexto universitário,
vários instrumentos foram desenvolvidos para a sua avaliação (e.g., Self Questionnaire
Description III, Autoconceito Forma 5; Multidimensional Self Concept Scale). A
emergência de instrumentos para a avaliação do autoconceito no contexto universitário
reflete a importância das transformações que os estudantes operam nesta fase de
desenvolvimento e na construção da sua identidade. Com frequência, nos referidos
estudos, constata-se: i) estudos que exploram a validade do constructo (e.g., estudo da
dimensionalidade do autoconceito recorrendo à análise fatorial exploratória e análise da
consistência interna das referidas escalas; e ii) estudo da validade externa ou de critério
recorrendo a outras variáveis externas ao constructo (e.g., rendimento escolar, género,
idade dos participantes, outras variáveis psicológicas como autoestima, autoeficácia,
entre outras). O ES assume, efetivamente, maior interesse no estudo do autoconceito
18
tendo em conta que as vivências académicas, com os seus desafios, passam a ser fatores
decisivos na sua permanência ou abandono, na consolidação da identidade, no
desenvolvimento psicossocial e na decisão sobre a carreira profissional (Astin, 1999;
Briggs, Clark, & Hall, 2012; Faria, 2005; Taveira, 2000; Tinto, 2006/2007).
Nesta perspetiva, a educação superior tem vindo a ganhar maior atenção no seio
dos investigadores interessados em compreender o desenvolvimento psicossocial e o
ajustamento dos estudantes a este nível de escolaridade (Alves, Gonçalves, & Almeida,
2012; Briggs et al., 2012; Ferreira, Almeida, & Soares, 2001; Garrido, 2015; Goulão,
Seabra, Melaré, Henriques, & Cardoso, 2015; Marinho-Araújo, Fleith, Almeida,
Bisinoto, & Rabelo, 2015; Martínez-Lópes et al., 2014; Monteiro, Barros, & Moreira,
2015). Tal preocupação parece resultar da constatação de que o próprio ES, tendo em
conta as suas exigências académicas, tem contribuído para a transformação dos estudantes
que o frequentam.
Um volume significativo de investigações centra-se nas mudanças
desenvolvimentais dos estudantes, mudanças nos processos de aprendizagem, e na
construção da sua identidade (Costa, Araújo, Diniz, & Almeida, 2014; Ferreira et al.,
2001; Valadas, Araújo, & Almeida, 2014). Estes estudos têm sido conduzidos, na sua
maioria, no primeiro ano da universidade (Alves, Gonçalves, & Almeida, 2012; Ferreira
et al., 2001; Garrido, 2015), uma vez que este tem sido reconhecido como um período
que exige maior adaptação dos estudantes a uma nova realidade, caracterizada por
mudanças nas abordagens de ensino-aprendizagem e de alterações que implicam a gestão
pessoal de recursos, exigindo maior autonomia por parte do estudante (Soares, Almeida,
Diniz, & Guisande, 2006; Nunes & Garcia, 2010). Assume-se que estas transformações
que os estudantes experienciam ao longo das suas vivências no contexto universitário
afetam a sua perceção de si, uma vez que este novo contexto de interações sociais,
incluindo o desempenho alcançado, afetam o autoconceito (Barros & Morreira, 2011;
Santos & Faria, 1999).
Tendo em conta a relevância do autoconceito no ajustamento e no desempenho
dos estudantes no ES, são vários os estudos que têm procurado perceber a sua relação
com as vivências académicas dos estudantes (Nunes & Garcia, 2010; Stocker & Faria,
2009), com a carreira profissional (Bardagi & Boff, 2010; Costa, 2002), com a satisfação
académica (Santos, Polyodoro, Scortegagna, & Linden, 2013), e com o desempenho
escolar (Lópes, Esteban, Peris, Ros, & Carbonell, 2008; Véliz-Burgos & Urquijo, 2012).
Veiga (1996) ampliou a importância do autoconceito ao reconhecer as rápidas mudanças
19
do mundo atual que exigem a cada indivíduo a definição da sua identidade, respondendo
à questão “Quem sou eu?”. Por outro lado, Marsh (2005) reconheceu o autoconceito como
um fator mediador que facilita a concretização de resultados desejáveis em diversas áreas
de atuação (e.g., educação, saúde, desenvolvimento humano, atividades físicas, serviços
sociais).
A importância do estudo desta variável torna-se cada vez maior em contextos
universitários com história muito recente e ainda menos estruturados. Em Moçambique
por exemplo, o ingresso ao ES tem vindo a registar, nos últimos anos, um crescimento
significativo, como consequência da abertura de cada vez mais instituições deste nível,
estima-se um total de 46 instituições de ES entre públicas e privadas, e mais de 150 mil
estudantes (Langa, 2014), para além de um conjunto de pressões sociais características
da dinâmica da realidade atual, que têm impelido nesse sentido. Em face deste número
elevado de ingressos, Moçambique é um dos países africanos que apresenta maior
diversidade sociocultural da sua população estudantil. Tal diversidade em termos de
projetos de vida, objetivos e proveniência dos estudantes deve ser tomada em
consideração pelas Instituições de Ensino Superior (IES), dada a sua influência no
ajustamento psicossocial e académico (Almeida, Guisande, Soares, & Saavedra, 2006;
Alves et al., 2012). Neste sentido, o autoconceito surge como variável moderadora do
ajustamento e do desempenho escolar dos estudantes neste nível de escolaridade. Com
frequência, alguns estudantes que ingressam na Universidade Pedagógica (o nosso foco
de estudo) pedem a mobilidade do curso ou mesmo o abandonam, quer porque o curso
não se adequa às suas capacidades e interesses, quer pela falta de clareza do perfil do
curso que escolheram, traduzindo alguma dificuldade de ajustamento destes estudantes
ao contexto universitário. Por outro lado, verifica-se nas IES de Moçambique uma
multiplicidade de cursos, por vezes sem projetos e perfil consistentes e, muitas vezes,
desajustados a realidade do contexto.
Tendo em conta a relevância do autoconceito no desenvolvimento dos estudantes
universitários, o principal objetivo da presente tese visa a construção e a validação de
uma escala de autoconceito para estudantes do ES em Moçambique. A relevância deste
estudo prende-se com a necessidade de contribuir com um instrumento que possa avaliar
as perceções que os estudantes deste contexto educativo têm de si mesmo. Por outro lado,
dada a importância do autoconceito para o ajustamento dos estudantes ao ES, e no
desempenho académico, acreditamos que este instrumento poderá ajudar na avaliação e
intervenção psicológica neste contexto educativo. Para além disso, a escassez de estudos
20
sobre o autoconceito no contexto universitário moçambicano justifica o desenvolvimento
de um instrumento sensível a esta variável, bem como, à diversidade sociocultural e
sociodemográfica desta população.
Pretendemos também com este estudo recuperar a experiência sobre a adaptação
de um instrumento de avaliação do autoconceito para adolescentes moçambicanos (Piers-
Harris Self-Concept Scale - PHSCS), realizado no âmbito do mestrado (Campira, 2012;
Campira, Araújo, & Almeida, 2013) que, tendo evidenciado muitas dificuldades
culminou na construção de um novo instrumento mais adaptado à realidade
moçambicana. O referido estudo permitiu constatar quatro dimensões de autoconceito
importantes para os adolescentes moçambicanos: autoconceito académico, autoconceito
social, ansiedade e autoestima. Estas quatro dimensões comportam um total de 21 itens,
na sua maioria, formulados pela negativa. Tendo em conta a necessidade de alargar o
estudo para abarcar a população de estudantes jovem-adultos do ES que, em que também
se verifica escassez de instrumentos de referência no contexto moçambicano, tomamos
como principal objetivo da presente tese de doutoramento a construção e validação de um
instrumento de autoconceito para estudantes universitários de Moçambique. Estamos
cientes de que os referidos instrumentos (ainda por consolidar), poderão ajudar nas
investigações e intervenções psicopedagógicas neste contexto educativo. Por outro lado,
este trabalho também se enquadra num projeto pessoal centrado na investigação do
autoconceito junto de uma população de adolescentes e jovem-adultos moçambicanos,
tendo iniciado este projeto no mestrado. Desde essa altura tenho vindo a concretizar várias
publicações sobre o autoconceito junto de adolescentes (e.g., Campira et al., 2013,
Campira, Araújo, & Almeida, 2014a; 2014b), e jovem-adultos universitários (e.g.,
Campira, Araújo, & Almeida, 2014c; Campira et al., 2015).
O trabalho está organizado em seis capítulos. No primeiro capítulo apresentamos
uma breve descrição da evolução do ES em Moçambique, começando por apresentar os
antecedentes históricos que influenciaram a criação das universidades em África e, em
particular, em Moçambique. Neste capítulo estivemos atentos às grandes transformações
e como estas influenciaram o ajustamento e a aprendizagem dos estudantes. No final do
capítulo centramos a nossa atenção na Universidade Pedagógica de Moçambique, no seu
percurso histórico, na sua expansão e nos desafios que enfrenta.
No segundo capítulo procuramos discutir a adaptação dos estudantes ao ES. O
capítulo começa por descrever as expectativas e a satisfação dos estudantes neste nível de
ensino. Posteriormente, são descritas as principais teorias do desenvolvimento do
21
estudante no ES, nomeadamente, a teoria de investimento de Astin (1999), a teoria de
persistência de Vicent Tinto (2006), a teoria de desenvolvimento psicossocial de
Chickering (1969) e a teoria de identidade de Eric Erickson (1959).
No terceiro capítulo apresentamos o quadro teórico relacionado ao autoconceito.
Discute-se a delimitação conceptual do constructo, apresenta-se a sua dimensionalidade
e as teorias que o descrevem e explicam o seu desenvolvimento: a teoria psicossocial de
Carl Rogers (1959), a teoria de Erickson (1959) e a teoria de desenvolvimento do
autoconceito de Susan Harter (1999). Ao longo deste capítulo discutimos também a
avaliação do autoconceito, descrevendo os vários instrumentos usados na sua medição.
Finalmente, tendo em conta o principal objetivo da presente investigação, apresentamos
um tópico sobre o autoconceito no ES, descrevendo alguns estudos desenvolvidos e a
importância deste constructo para o desenvolvimento psicossocial dos estudantes
universitários.
Num quarto capítulo apresentamos o estudo sobre a construção da escala de
autoconceito, descrevendo os sucessos estudos desenvolvimentos e as decisões tomadas
em cada momento do estudo. A construção da escala engloba duas etapas fundamentais:
i) um estudo qualitativo com base numa entrevista semiestruturada junto de estudantes da
Universidade Pedagógica de Moçambique, e ii) estudos quantitativos com uma amostra
diversificada de estudantes universitários. Tomando os resultados alcançados neste
capítulo, o quinto capítulo reporta todo o processo de validação da referida escala,
começando com o estudo da validade do constructo, avançando com a validação externa
ou de critério, recorrendo a um conjunto de outras variáveis psicológicas (e.g., autoestima,
autoeficácia, satisfação com a vida) e variáveis pessoais dos estudantes (e.g., idade,
género) e de contexto (e.g., situação do estudante). Ainda neste processo de validação da
escala recorremos às classificações finais dos estudantes de dois semestres letivos e outras
variáveis que predizem o desempenho escolar e abandono dos estudantes (e.g.,
motivação, satisfação com o curso, com a instituição).
Num último capítulo descrevemos as principais conclusões alcançadas no
presente trabalho, apresentando também as limitações da presente investigação e
elaboramos sugestões para futuros estudos, assim como algumas implicações de cariz
prático quanto à forma como as IES podem favorecer o autoconceito dos seus estudantes.
22
23
CAPÍTULO 1
O ENSINO SUPERIOR EM MOÇAMBIQUE: EVOLUÇÃO,
TRANSFORMAÇÕES E DESAFIOS
Introdução
Toda a reflexão sobre a educação, para ser completa, deve incluir um olhar
sobre as transformações da sociedade e sobre o futuro. Deve ser
prospetiva. Quanto mais importantes e rápidas as mudanças, mais
necessário se torna o apelo à pedagogia prospetiva, pois é total o tempo da
educação (Sobrinho, 2000, p. 19).
Moçambique é um país com uma história de ES bastante recente, e tal como
muitos outros países africanos, iniciou-se no período colonial. Foi assim que na década
de 60 o país contava com uma única universidade, a Universidade de Lourenço Marques,
designada, após a independência, como Universidade Eduardo Mondlane (UEM).
Progressivamente, e já na década 80, principalmente na década de 90, assiste-se a um
número expressivo de IES que procuram responder à maior heterogeneidade sociocultural
e económica de moçambicanos que pretendiam frequentar este nível de escolaridade.
Após a referida expansão na década de 80, as IES no continente e no país
enfrentaram uma crise no financiamento. Aliás, essa crise, para Moçambique, precipitou
a expansão das instituições privadas dada a fragilidade do financiamento do Estado. No
presente capítulo pretendemos discutir a evolução do ES em Moçambique, partindo da
história da sua criação. Com efeito, recorremos ao período da colonização do continente
observando, de seguida, os movimentos de libertação africana como referenciais na
criação das atuais universidades do continente e, em particular, das universidades
moçambicanas.
Na descrição da evolução do ES em Moçambique tomaremos os diferentes
momentos históricos da sua evolução, analisando as políticas introduzidas nestas IES e o
seu impacto para o próprio crescimento, desenvolvimento e a qualidade de vida
académica dos estudantes (e.g., no seu desenvolvimento psicossocial, na sua
aprendizagem). Estaremos atentos aos dados estatísticos sobre a evolução do ES,
nomeadamente a evolução do número de alunos, qualificação do corpo docente e
infraestruturas, em diferentes momentos históricos. Finalmente, analisaremos as
principais reformas introduzidas na história da evolução da Universidade Pedagógica
24
(UP), procurando explorar a influência das políticas educativas introduzidas no
desenvolvimento institucional e dos estudantes.
Antecedentes históricos
Em África, as primeiras IES surgem entre o século IX e X no norte do continente,
nomeadamente em Marrocos e Egipto (e.g., Universidade de Karneein, cidade de Fez e
Universidade de Al Azhar, no Cairo) (Taimo, 2010). De acordo com o referido autor, as
colónias inglesas e francesas organizaram o ES suportado no ensino secundário, que era
ministrado nas igrejas. A maioria das universidades africanas, com exceção do norte de
África e da África do Sul, surgem entre o fim dos regimes coloniais e os anos pós-
coloniais (Silva, 2010).
A implantação da maior parte das universidades africanas, e particularmente as
moçambicanas, tem a sua história marcada na instabilidade colonial verificada em África
na década de 1960, altura em que muitos países africanos alcançaram a independência,
tendo como impulso as sucessivas guerras mundiais e a crise financeira mundial que
fragilizou as potências coloniais, principalmente Portugal (Rosário, 2013). Tendo em
conta essa crise e a consequente instabilidade, Portugal mudou a sua estratégia política
(Rosário, 2013; Silva, 2010; Taimo, 2010). Na conceção de Rosário (2013), essa mudança
estratégica envolveu a criação das duas universidades nas ex-colónias portuguesas, em
Angola e Moçambique, que tinham como objetivo travar o movimento das lutas armadas
de libertação nesses dois países africanos, colocando o povo destas colónias a frequentar
essas IES. Tal situação não ocorreu porque este ensino tinha um carácter seletivo que
permitia apenas a poucos alunos africanos frequentar esse nível de escolaridade (em
Moçambique por exemplo, de 280 alunos matriculados no primeiro ano em Lourenço
Marques, os alunos moçambicanos não chegavam a uma dúzia) (Taimo, 2010).
As universidades de Luanda e de Lourenço Marques eram conhecidas por Escolas
de Educação Superior de Estudos Gerais criadas através do decreto nᵒ 44.530 (Rosário,
2013; Taimo, 2010). A instalação destas duas IES constituiu para Portugal a extensão da
universidade portuguesa nas suas províncias ultramarinas nomeadamente, Angola e
Moçambique (Taimo, 2010). Logo depois das independências nacionais em África, os
países passaram a gerir as IES procurando responder às exigências do momento,
mantendo-se o carácter elitista, pois continuavam a ser poucos os alunos africanos que
frequentavam esse nível de escolaridade (Rosário, 2013).
25
As grandes transformações nas universidades africanas devem ser entendidas no
quadro das políticas neoliberais implementadas nos finais do século XX, década de 1980,
através do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional que assumiram o papel de
agências financiadoras da educação em África (Silva, 2010; Taimo, 2010). Nesta altura
“os governos africanos ficaram reféns das organizações financeiras internacionais (…), e
foram obrigados a adotar novas diretivas económicas e políticas” (Silva 2010 p. 214). Na
opinião desta autora, essas reformas conduziram a privatização de serviços sociais básicos
incluindo a educação, e, por conseguinte, essas reformas afetaram também as IES.
No caso de Moçambique, por exemplo, a introdução de instituições privadas de
ES começou nos anos 90 quando se sentia a abertura para os processos democráticos
(Rosário, 2013; Silva, 2010). Aqui importa referir a introdução de critérios de avaliação
de qualidade impostos pelos financiadores, que incluem número de alunos inscritos e
graduados. Neste sentido, a democratização do ES não foi acompanhada de critérios que
garantissem a qualidade desejada. Analisando a legislação do ES em Moçambique, pode-
se compreender que a abertura aos operadores privados se concretizou através da
aprovação da Lei 1/93 e, em 1995 a Comissão Comiche procurava refletir e sugerir ao
Governo as normas de expansão destas instituições, mesmo sem terem sido avaliadas na
prática (Rosário, 2013). O mesmo autor refere que a Comissão Comiche procurava
discutir e definir os critérios de expansão que tomassem em consideração as outras
universidades mais antigas do continente e as mais internacionais, colocando o cenário
das universidades moçambicanas na linha dessas universidades. Neste sentido, essa
comissão atuaria como uma das instâncias de regulação interna do funcionamento das
IES em Moçambique. A inobservância desses critérios resultou na expansão fragmentária
e desordenada das IES no país.
A influência das políticas impostas pelos doadores estrangeiros (e.g., Banco
Mundial, FMI) nas universidades africanas foi visível entre 1980 à 1990, tendo-se
observado o seu impacto na: i) redução de fundos institucionais e a dependência crescente
de financiamento externos; ii) fragilidade na produção e publicação de resultados de
investigações, e, em consequência, iii) baixa qualidade de ensino que influencia também
o ensino pré-universitário associada a expansão do ES; e iv) excessiva valorização do
ensino em detrimento da pesquisa (Silva, 2010). Procurando explicar o impacto das
políticas externas para o ES em Moçambique, observa o mesmo autor que a introdução
do processo de Bolonha não observou as especificidades locais e não foram envolvidos
os académicos na discussão desta política. Contudo, se no período pós-colonial os países
26
africanos tinham no mínimo uma IES de referência nacional, num outro momento,
caracterizado pela fraca capacidade de financiamento das universidades estatais, muitos
países africanos privatizaram os serviços da educação superior, reduzindo assim a sua
intervenção no ES (Langa, 2012).
1.2.1 O Ensino Superior em Moçambique
Em Moçambique o ES esteve presente desde o período colonial com uma única
instituição superior (Universidade de Lourenço Marques) apenas funcionando na capital
do país ex-Lourenço Marques, atual Maputo (Rosário, 2012; 2013; Taimo, 2010). Após
a proclamação da independência nacional, a antiga Universidade de Lourenço Marques,
com as nacionalizações, passou a ser designada por Universidade Eduardo Mondlane
continuando a funcionar na cidade capital do país, Maputo. Na altura existia uma única
IES pública para responder à formação de quadros superiores para diferentes áreas
científicas e laborais em todo o país. Essa instituição era muito seletiva, conservando
assim a elitização desse nível de ensino, pois eram poucos os alunos moçambicanos que
a frequentavam. Para Rosário (2013), a Universidade Eduardo Mondlane (UEM), desde
a sua criação, procurou responder aos ideais da Revolução moçambicana. De acordo com
o mesmo autor, a UEM não podia ser autónoma, produzir livremente o conhecimento e
defender a liberdade de expressão correndo o risco de minar o sentido patriótico
defendido pelo Governo da época. Para explicar a defesa dos ideais revolucionários foram
encerradas as Faculdades de Letras e de Direito nos anos 70 e 80, respetivamente, por se
perceber que atentavam aos ideais patrióticos. Esta situação foi mais evidente com o
sistema monopartidário, já com o regime multipartidário década 90, registou-se alguma
mudança, porém não significativa no que diz respeito à liberdade académica e à
autonomia das universidades moçambicanas (Rosário, 2013).
Tomando as razões acima expostas, a UEM resistiu bastante à expansão, mesmo
confrontada com as questões sociopolíticas no que se refere a assimetrias regionais, pois
a maior parte dos estudantes que a frequentavam eram da região sul do país. Procurando
responder a essas questões de equilíbrio regional, o Governo procurou responder à
pressão para a expansão das IES no país (Rosário, 2013). Nesta altura, 1985/1986, duas
outras instituições públicas foram abertas, nomeadamente o Instituto Superior
Pedagógico (atual Universidade Pedagógica) e o Instituto Superior das Relações
Internacionais - ISRI (Matos & Mosca, 2010; Rosário, 2012; 2013). Estas instituições,
27
apesar de assumirem o estatuto de IES independentes, na prática não passavam de
ramificações da UEM que ministravam os mesmos cursos e formavam quadros para as
mesmas áreas (Rosário, 2013). Progressivamente foram abertas outras IES privadas. A
primeira foi em 1995, através do decreto 43/95 de 14 de setembro, autorizando a
Universidade Católica de Moçambique com duas faculdades, nomeadamente, a de
Economia e Gestão na Beira e a de Direito em Nampula. Na mesma época foi aberto o
Instituto Politécnico (Apolitécnica), com sede em Maputo.
De acordo com Brito, Ferasso e Brito (2015), a evolução do ES em Moçambique
pode ser sintetizada em 4 fases: i) em 1962 surge o ES em Moçambique através dos
Estudos Gerais Universitários, mais tarde Universidade de Lourenço Marques (ULM),
que resultou dos movimentos nacionalistas das colónias portuguesas. Nesta altura exigia-
se às colónias portuguesas que fizessem algo de benefício ao povo colonizado; ii) 1976
com a passagem de ULM para a Universidade Eduardo Mondlane (UEM), tornando-se
na primeira universidade de Moçambique independente. Mais tarde surge o Instituto
Superior Pedagógico (ISP), passando em 1995 a designar-se Universidade Pedagógica
(UP). Na mesma altura foi aprovada a introdução de operadores privados; iii) 1995, este
período caracteriza-se por um aumento de IES e de estudantes. Contudo, apesar do
crescimento de número de estudantes e de IES, eram poucos os docentes qualificados
para este nível de ensino; e iv) 2000, regista-se um crescimento rápido e desregrado de
IES, passando de 5 para 38 em 2010 e de cerca de 12000 para 101300 estudantes, no atual
momento (2016), o país conta com 49 IES, sendo 18 públicas e 31 privadas.
Para Matos e Mosca (2010) foi a partir dos anos 90, período pós-independência
nacional, que as IES no país se expandiram. Em consequência dessa expansão, o número
de alunos aumentou bastante, situação semelhante aconteceu com a pós-graduação que
inicialmente era realizada no exterior. Mais recentemente, vários cursos de mestrado e
doutoramento estão a ser ministrados no contexto moçambicano mesmo que, em muitos
casos, com a colaboração de instituições estrangeiras. O Estado permitiu também que as
instituições públicas alargassem a sua atuação para outras áreas vocacionais e na mesma
altura discutia-se a alteração da duração dos cursos de licenciatura de 5 anos para 3 ou 4
anos (Rosário, 2013), procurando responder desta forma à pressão externa dos doadores
como FMI e Banco Mundial.
Na mesma perspetiva da pressão externa foi introduzido o processo de Bolonha e
Moçambique, em 2009, implementou o sistema de três ciclos de ensino superior,
nomeadamente licenciatura, mestrado e doutoramento que, na perspetiva de Silva (2010,
28
p. 220), estão desconectados da realidade local, pois o processo de Bolonha foi
introduzido numa altura em que o país se debatia com: a) um ensino pré-universitário
frágil associado ao desenvolvimento desigual do país e consequente acesso à formação;
b) falta de fundos para pesquisa e para o ensino, recursos humanos e infraestruturas
incompatíveis; e c) descontentamento generalizado do corpo docente face às condições
de trabalho e à liderança universitária burocrática e autoritária. Por outro lado, Laita
(2015), reconhece haver céticos no sucesso da implementação do processo de Bolonha
em Moçambique, pois, i) não foram observadas as especificidades locais na sua
implementação, ii) as universidades não se tinham organizado o suficiente para acomodar
essa reforma, o que culminou com a estruturação dos ciclos e programas de ensino e os
créditos académicos só para cumprir a lei, mas na prática nada de significativo se alterou.
Apesar desta situação, o plano Estratégico do Ministério da Educação 2012-2016
(MEC, 2012) revela uma subida bastante acentuada de IES no país: as instituições
públicas subiram de 9 em 2004, para 17 em 2011, um crescimento de cerca de 89% e as
instituições privadas de 8 em 2004, para 21 em 2011, uma subida em 163%. Por outro
lado, estas instituições estão espalhadas em todas províncias do país. Em termos de
efetivo escolar, no período acima indicado, evoluiu-se significativamente tendo, em
termos gerais, subido em 355%, 2004 (22256; 31,6%), 2007 (63476; 38,1%), e 2011
(113464; 38,3%). Especificamente, a diferença entre o sector público e privado registou
evolução bastante expressiva tendo-se situado em 381% para o sector público (15113
alunos em 2004, para 72636 alunos em 2011), e para o setor privado a subida é de 302%
(7143 alunos em 2004, para 28726 alunos em 2011). De seguida apresenta-se o efetivo
escolar e o corpo docente por instituição em 2009, na Tabela 1.1.
Tabela 1.1
Corpo docente e discente por cada instituição de Ensino Superior
Sigla Nome Estudantes
matriculados
Docentes
efetivos
Docentes
parcial
Públicas
ACIPOL Academia de Ciências Policiais 725 22 75
AM Academia Militar 407 45 36
ESCN Escola Superior de C. Náuticas 712 - -
ISAP Instituto S. de Administração Pública 550 10 70
ISCAM Instituto Superior de Contab. Auditoria de
Moçambique
355 5 58
ISCISA Instituto Superior de Ciências de Saúde 616 19 184
ISPG Instituto Superior Politécnico de Gaza 252 28 29
ISPM Instituto Superior Politécnico de Manica 243 22 18
29
ISPT Instituto Superior Politécnico de Tete 343 8 14
ISRI Inst. Superior das Relações Internacionais 703 54 28
UEM Universidade Eduardo Mondlane 21333 1037 449
UP Universidade Pedagógica 33093 557 382
Unilúrio Universidade Lúrio 584 - -
Unizambeze Universidade Zambeze 1035 37 57
Subtotal 60949 1844 1400
Privadas
APolitécnica Universidade Politécnica 2763 45 276
ESEG Escola Superior de economia e Gestão - - -
ISC Instituto Superior Cristão 56 8 7
ISCTEM Inst. Sup. de Ciências e Tecnologia de
Moçambique
1547 - -
ISDB Instituto Superior Dom Bosco 570 16 65
ISET Instituto Superior de Ciências e Tecnologias 227 17 4
ISMMA Instituto Superior Maria Mãe de África 568 15 20
ISUTC Instituto Superior de Transporte e
Comunicações
511 14 101
UCM Universidade Católica de Moçambique 6730 - -
UDM Universidade Técnica de Moçambique 944 15 135
UJPM Universidade Jean Piaget de Moçambique 513 16 40
UMBB Universidade Mussa Bin Bique 919 12 76
ISCIM Instituto Superior de Comunicação e Imagem 53 1 15
ISCTAC Inst. Sup. Ciências e Tecnologias Alberto
Chipande
679 11 49
ISGECOF Instituto. Sup. Gestão, Comércio e Finanças 135 5 14
ISM Instituto Superior Monitor 306 4 48
ISTEG Instituto Superior de Tecnologia e Gestão 816 - 99
USTM Universidade São Tomás de Moçambique 2967 46 289
Subtotal 20301 225 1238
Fonte: Ministério da Educação (2011)
Em termos de graduações, e de acordo com o mesmo documento, em função de
expansão e criação de mais IES no país, o número de graduados aumentou tendo passado
de 2878 em 2004, para cerca de 8600 em 2010, e para 113464 em 2011, crescimento em
250%. Mesmo assim, da avaliação realizada, notou-se uma regressão da taxa anual de
graduados em 2005 no sector público, baixando de 13,4% para 11,3% e para o sector
privado de 11,4% para 8,4%, situação que reflete a baixa eficiência interna das IES em
Moçambique associada ao numerus clausus que definem o número de alunos a
ingressarem em cada ano para frequentar uma faculdade ou curso. Essas limitações em
termos de acesso no ensino público explicam a maior explosão da camada estudantil nas
IES privadas. Mesmo assim, dada a desigualdade socioeconómica e cultural de
Moçambique (Campira & Araújo, 2012) ainda continua a se verificar as desigualdades
em termos de acesso ao ES. Por outro lado, regista-se um número reduzido de ingressos
nas instituições públicas. Mais ainda, estes estudantes estão condicionados pelas questões
financeiras para pagarem as propinas nas instituições de ensino privado. Essa situação
parece ainda, condicionar a política de democratização ou equidade social no acesso ao
30
ES. Mesmo assim, o Plano de Desenvolvimento Institucional da Unizambeze reconhece
o esforço do Governo na criação de mais IES que contribuam para a redução das
assimetrias regionais, socioeconómicas, geográficas e de género ao reduzir a exclusão de
jovens, principalmente de camada feminina que se via impedida de deslocar para locais
mais distantes das suas famílias para frequentar o ES. Por exemplo, os dados estatísticos
de distribuição dos alunos por província apresentados pelo Ministério da Educação de
Moçambique, referentes ao ano 2009, reportam ainda maior número de ingresso na região
sul do país do que nas restantes regiões (centro e norte) como pode se observar na Tabela
1.2.
Tabela 1.2
Caracterização de Estudantes por Região e Província de Naturalidade
Proveniência Total
Região Províncias Públicas Privadas Total % / Província % / Região
Norte
Cabo delgado 159 442 601 9,0
21,2
Nampula 208 202 410 6,1
Niassa 362 44 406 6,1
Centro
Manica 169 84 253 3,8
23,7
Sofala 368 326 694 10,4
Tete 213 72 285 4,3
Zambézia 244 103 347 5,2
Sul
Maputo Província 115 698 813 12,2
55,2
Maputo Cidade 183 2095 2275 34,1
Gaza 181 137 318 4,8
Inhambane 93 179 272 4,1
Total 2295 4382 6674
Fonte: Adaptado de dados estatísticos do Ministério da Educação (2011).
Como se pode constatar, um número expressivo de estudantes nascidos na região
sul frequentam as universidades públicas e privadas no país. Contudo, esses dados não
representam a totalidade dos estudantes que frequentam o ES no período em análise, os
estudantes estrangeiros ou nascidos em regiões não identificadas não fazem parte desta
amostra. Mais ainda, algumas universidades não forneceram os dados no estudo realizado
pelo Ministério da Educação. Contudo, tomando os resultados da tabela em análise, os
estudantes das regiões centro e norte são em número reduzido em relação ao número de
estudantes da região sul do país. Tal situação reforça a ideia de desequilíbrios no ingresso
31
ao ES quando tomamos a naturalidade dos estudantes.
Refletindo a evolução do ensino superior em Moçambique, Matos e Mosca (2010)
verificaram que a expansão das universidades no país é uma resposta ao maior número
de estudantes que, tendo concluído o ensino secundário, pretendiam continuar com os
seus estudos. De acordo com os mesmos autores, a fraca capacidade de resposta do ensino
público para a elevada procura destes estabelecimentos levou à abertura de instituições
privadas tendo os investimentos sido concentrados nas infraestruturas, e a preocupação
com o corpo docente qualificado, bibliotecas, laboratórios, gestão universitária e
equipamentos pedagógicos não constituíram grande preocupação. Mais ainda, os poucos
docentes que existiam lecionavam em várias universidades além de outras atividades
económicas por eles desenvolvidas, fragilizando a investigação científica, além da criação
de cursos sem projeto pedagógico e com fracas condições de sustentabilidade.
Sustentando a ideia defendida por Matos e Mosca (2010), o maior número do
corpo docente em IES em Moçambique tem o nível de licenciatura. Mais ainda, regista-
se ainda um corpo docente com o nível de bacharelato e um número menos expressivo
tem o nível de mestrado e doutoramento. Tal situação condiciona a qualidade de ensino
desejado, fazendo sentir que a expansão das IES deve ser criteriosa assegurando os
requisitos fundamentais para o seu funcionamento (e.g., infraestruturas, corpo docente).
Nesta perspetiva, Rosário (2012) explica a expansão incluindo os problemas daí
decorrente, por exemplo as motivações políticas violando a lei do ES de Moçambique
(Lei 1/93) que regulamentava a abertura para operadores privados de forma cuidadosa e
criteriosa tomando como referência a situação das universidades a nível mundial e da
África, particularmente. A referida lei não foi observada como o referido autor refere:
“em nenhum momento se discutiu realmente a inserção da universidade moçambicana no
contexto do pensamento universitário mundial, o processo foi sobretudo endógeno”
(Rosário, 2012, p. 93).
As razões da expansão do ES em Moçambique não são consensuais, por um lado
a UEM como a maior e mais antiga IES do país era a favor da criação de outras IES, mas
a direção do partido no poder (FRELIMO) acreditava que o problema de expansão devia
ser resolvido criando delegações da UEM noutros pontos das províncias (Rosário, 2012,
2013). Entretanto, refere o mesmo autor que a expansão envolvendo outras instituições
diferentes da UEM ganhou peso quando o Governo se viu confrontado com as
reivindicações em relação à assimetria regional que colocava a UEM, com sede em
Maputo, incapaz de responder à formação de muitos moçambicanos. Mesmo com essa
32
abertura, o Estado mostrou-se incapaz de regular a expansão, como nos refere Matos e
Mosca (2010, p. 299) “o Estado não esclarece sobre as áreas prioritárias de formação e
investigação (…), sobre o financiamento do ensino e a disponibilidade de bolsas de
estudo, a aplicação de uma carreira docente e de investigação, a democratização das
instituições de ES, entre outras”. Mais ainda, há um desconhecimento por parte dos
gestores das universidades da essência do ES em Moçambique, o conhecimento que se
exige não se restringe ao domínio de disciplinas científicas, inclui também a apreensão
da complexidade da universidade como uma instituição social (Langa, 2014). O referido
desconhecimento aumenta o problema não só da expansão fragmentária, como também a
qualidade do ensino ministrado.
O MEC (2012), reconhecendo essa fragilidade, reconhece que o resultado do
processo educativo não depende apenas dos recursos disponibilizados, mas sim de um
conjunto de fatores internos, incluindo as condições físicas, psicológicas e socioculturais
onde a educação tem lugar, bem como o processo de ensino e de aprendizagem na sala de
aula. Inclui também fatores externos como as condições socioeconómicas das famílias, a
distância casa-escola, o cometimento dos pais e encarregados de educação, entre outros,
que não apenas podem contribuir para a exclusão na participação, mas também na
aprendizagem.
Assim, de acordo com o mesmo documento, um melhor desempenho no futuro
exige melhorias através de: um(a) aluno(a) predisposto(a) para aprender em termos do
seu desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e social;um professor melhor
preparado, motivado e apoiado para assegurar a aprendizagem dos seus alunos;um
ambiente na escola e em casa que estimula a aprendizagem;eum sistema de
acompanhamento e monitoria que mostra evidências do desempenho do aluno, do
professor e da escola na base de um conjunto de indicadores (MEC, 2012, p. 38).
Outro fator importante a tomar em consideração é a qualificação do corpo docente,
reconhecendo-se que grande parte dos professores do ES em Moçambique possui apenas
o nível de bacharelato e/ou licenciatura (MEC, 2011, 2012; Brito, 2010), o que significa
falta de corpo docente qualificado para esse nível de escolaridade, poucos docentes em
tempo integral dificultando a aprendizagem de qualidade dos alunos, associado aos
fatores externos e internos anteriormente apontados. Mais ainda, “uma parte significativa
dos docentes não investigam e poucos assistem aos estudantes (…), os estudantes não
encontram um ambiente de exigência e rigor que faça a diferença com o ensino secundário
33
e, por conseguinte, uma elevada percentagem pouco estuda” (Matos & Mosca, 2010, p.
298).
Em termos de distribuição dos estudantes por áreas de formação, a área das
ciências sociais, gestão e direito é a mais destacada (cf. Tabela 1.3).
Tabela 1.3
Distribuição dos Estudantes por Áreas de Formação.
Área de formação Ingressos % Matriculados % Graduados %
Educação 2529 11,1 28333 25 4236 42,1
Letras e Humanidades 1197 5,3 8048 7,1 577 5,7
Ciências sociais, Gestão e Direito 12707 56,1 50386 44,4 3210 31,9
Engenharias, Industria e Construção 2103 9,3 8523 7,5 549 5,5
Agricultura 1242 5,5 5213 4,6 446 4,4
Saúde e bem-estar 1112 4,9 4760 4,2 294 2,9
Serviços 832 3,7 2568 2,3 411 4,1
Total 22634 100 113464 100 10070 100
Fonte: Ministério da Educação (2012), dados estatísticos referentes ao ano 2011.
Tomando a distribuição dos alunos por área de estudos no ES em Moçambique, a
área das ciências sociais, gestão e direito apresenta maior número de ingressos e maior
número de alunos matriculados nesta área de formação seguido da área de educação.
Contudo, quando verificamos os resultados da Tabela 1.3, contrariamente ao que acontece
em termos de efetivo escolar e de ingressos, a área da educação gradua mais quadros
superiores do que a área de ciências sociais, gestão e direito. Mais ainda, tomando a
realidade do contexto educativo moçambicano em que a agricultura e, mais recentemente,
a área da indústria extrativa e mineração, constituem as áreas prioritárias em termos de
formação, essas são as áreas com menos ingressos e, em consequência, menos graduados.
Por outro lado, e como adverte Langa (2014), as universidades que introduziram cursos
ligados a indústria extrativa não se questionaram sobre a qualidade e competências da
mão-de-obra necessária, sugerindo um possível desenquadramento nas atividades que
esperam desempenhar.
Entretanto, o crescimento e os desafios que as IES em Moçambique enfrentam são
comuns, mas cada uma vivência de forma específica. Apresentamos os desafios da
Universidade Pedagógica de Moçambique.
34
1.2.2 A Universidade Pedagógica: expansão e transformações curriculares
A Universidade Pedagógica (UP) foi fundada em 1985 enquanto Instituto Superior
Pedagógico através do diploma ministerial nᵒ 73/85 de 4 de dezembro, com a principal
missão de formar quadros para o sector da educação. A UP começou a funcionar com
apenas três faculdades, nomeadamente, a Faculdade de História e Geografia, a Faculdade
de Matemática e Física, e a Faculdade de Pedagogia e Psicologia (UP, 2010). De acordo
com o mesmo documento, a instituição teve três momentos de reforma curricular: i) de
1994, que procurava responder à necessidade de formação de professores das EFEP’s e
IMP’s, acelerar a formação de professores para o ensino secundário facilitando a
expansão da rede escolar, e aumentar a profissionalização dos cursos; ii) em 2003 foi
concluída a revisão curricular e as principais mudanças consistiram na adoção do modelo
integrado, a transformação dos cursos de bivalentes para monovalentes, a organização
dos cursos de licenciatura em duas etapas, sendo 3 anos para bacharelato (mais um para
completar o nível de licenciatura), a introdução das práticas pedagógicas, e a redução do
tempo de formação dos cursos de licenciatura para 4 anos; iii) em 2009 foi concluída a
revisão curricular que permitiu a construção de um currículo por competências tornando-
o mais flexível, incorporou também a interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e
transversalidade, orientação dos cursos para a profissionalização, a organização dos
cursos por áreas de concentração (major e minor) e adoção dos princípios do Sistema do
Sistema Nacional de Acumulação e Transferência de créditos Académicos (SNATCA).
A UP, hoje surge como uma universidade que acompanha a diversidade
sociocultural do país, estando presente em quase todas as Províncias. Nesta altura, Langa
(2014) lança a advertência para os custos dessa expansão desordenada para os fundos do
Estado moçambicano. Com efeito, parece que essa advertência começa a ter alguma
resposta por parte do Governo moçambicano admitindo a possibilidade de regionalizar a
UP (e.g., UP sul; UP centro, UP norte). A ser uma realidade, essa mudança deverá
merecer a aprovação do Conselho de Ministros nos próximos tempos.
Em termos de evolução do efetivo escolar a UP registou um crescimento muito
rápido da população estudantil que em algum momento reconhece-se ser um crescimento
desordenado (UP, 2011). Os dados do Plano Estratégico 2011-2017 da instituição
permitem observar uma explosão do efetivo escolar em três anos (em 2005, 5539 alunos;
em 2006, 16700 alunos; e em 2007, 31695 alunos), o efetivo escolar em 2006 é 3 vezes
maior em relação a 2005, o mesmo acontece com o corpo docente (números que incluem
35
os docentes a tempo parcial dos cursos pós-laborais). O efetivo escolar é quase o dobro
do efetivo em 2007 quando comparado com o efetivo do ano 2006. Essa situação levou a
instituição a regular os ingressos (UP, 2011), o que permitiu a sua estabilidade a partir de
2008. Mais ainda, a mesma instituição reconhece que o rápido crescimento do efetivo
escolar criou dificuldade de gestão das infraestruturas, sendo que a preocupação desde
2008 passou a estar concentrada na construção de infraestruturas para acomodar esse
efetivo escolar. Essa situação requereu uma intervenção rápida dada a expansão desta
instituição por todo o país, pois a expansão não estava acompanhada com a existência de
infraestruturas, muitas das instituições (delegações) passaram por muito tempo a
funcionar em instalações impróprias e arrendadas, dificultando o processo de ensino-
aprendizagem dos estudantes e o trabalho dos professores.
Uma outra preocupação foi o apetrechamento das bibliotecas existentes e sua
modernização para facilitar a pesquisas para estudantes e professores. Essas dificuldades
são reconhecidas por Ferreira (2009), MEC (2012) e Brito (2010) como fatores
condicionantes do rendimento académico no ES, nomeadamente, o elevado número de
alunos no ES, a deficiente qualificação académica dos professores e a falta de
infraestruturas para responder à explosão do efetivo escolar.
Recorda-se que muitas IES no país, e mais especificamente na UP, funcionam na
sua maioria com professores com o nível de licenciatura para formar quadros do grau de
licenciatura; muitos desses professores foram formados na mesma instituição, sem
alguma experiência de lecionação no ES e sem competências para a investigação.
Reconhecendo a fraca qualificação do corpo docente, a UP introduziu o mestrado em
2008, preferencialmente para professores desta instituição, visando elevar o nível
académico e a qualificação do seu corpo docente. Porque esse mestrado inicialmente
funcionou em Maputo, dificultando a frequência dos professores dadas as suas atividades
normais de ensino foram abertos cursos de mestrados nas delegações da Beira e, mais
tarde, em Nampula e Quelimane.
De acordo com a UP (2013), a introdução dos cursos de mestrado foi impulsionada
por dois fatores: i) internos, há uma preocupação de elevação do nível de qualidade na
docência; ii) externos, a necessidade de se adaptar ao contexto regional, adotando a
estrutura de bachelor/masters. Por outro lado, o mesmo documento estruturou os seus
cursos de mestrado em três princípios básicos: 1) princípio de linha de investigação que
possibilita a orientação dos trabalhos académicos e os trabalhos de mestrado nesta linha
de investigação; 2) princípio de estreita ligação entre ensino, pesquisa e ação,
36
possibilitando a melhoria da prática docente e o envolvimento dos docentes em projetos
de investigação. Por outro lado, possibilita que, com os resultados alcançados na
investigação, se possa melhorar a vida das comunidades; e 3) princípio de integração entre
as componentes de formação, este princípio assegura que a organização dos cursos
comece com o tronco comum da universidade que integram as partes de especialização
em áreas específicas (e.g., Ensino de Biologia, Psicologia Educacional, Ensino de
Matemática). Todo este movimento visava responder ao lema “academia de volta” tendo
ultrapassado o lema “de volta a academia” que procurava colocar os estudantes em
instalações próprias da UP, no segundo lema as preocupações são mais com a qualidade
de ensino e a cientificidade que devem caracterizar as IES, preocupações que eram
difíceis de serem respondidas com poucas infraestruturas, baixa qualificação do corpo
docente ou bibliotecas sem acervo bibliográfico suficiente.
Quanto ao processo de ensino-aprendizagem, com a introdução da Declaração de
Bolonha houve a revisão curricular na UP e, em 2009, aparecem novas exigências
pedagógicas e didáticas no aprender e no ensinar nesta IES. Os planos temáticos exigem
aos professores uma planificação das horas de contato com os estudantes e as horas
independentes, ou seja, o tempo de trabalhos individuais dos estudantes. Mesmo assim,
continuou-se com o número de horas excessivas nos planos temáticos (mínimo 48 horas
de contacto) o que não possibilita a investigação dos docentes e maior sobrecarga dos
alunos; mais ainda, as horas de trabalho independente nem sempre são melhor
aproveitadas e a sua avaliação não parece clara. E ainda não está claro para os professores
acerca de o que deve ser considerado horas de contacto e, principalmente, as horas de
trabalho independente. Tal situação tem culminado numa aprendizagem superficial dos
conteúdos (Ferreira, 2009), e menor aproveitamento do tempo de estudo dos alunos, o
que não reflete a filosofia da aprendizagem centrada no estudante tal como preconiza a
Declaração de Bolonha.
Uma outra inovação introduzida na UP é a organização dos cursos em áreas de
concentração (maior e menor), major e minor, sendo os minor’s comummente conhecidos
por habilitações. A filosofia destas áreas é fornecer ao estudante mais uma saída na sua
formação, por exemplo o indivíduo pode ser formado em Psicologia Educacional tendo
habilitações em Educação de Infância ou em Assistência Social. O principal problema
dessa filosofia é o facto de que a UP não organizou suficientemente as condições para sua
efetivação. Por exemplo, não existe recursos humanos e materiais para a materialização
de algumas das habilitações disponibilizadas, muitos professores acabam se adaptando
37
para lecionar as disciplinas sem competências suficientes o que fragiliza a qualidade dos
formandos. Entretanto a UP (2010) reconhece os principais problemas que enfrenta:
Na situação atual identificam-se problemas, que afectam a qualidade
institucional, entre eles: a insuficiente capacidade para responder a atual
demanda; o insuficiente número de docentes qualificados para o ensino
superior (8% do total dos docentes são doutorados, 14% de mestres e os
restantes 78% são licenciados, muitos dos quais com poucos anos de
experiência de docência no ensino superior); a fraca articulação entre
ensino pesquisa e extensão; a fraca capacidade institucional para
monitorização e implementação do currículo; a fraca capacidade para
tutoria; elevado número de docentes não efetivos (aproximadamente a
40%) e a elevada carga horária dos docentes (UP, 2010, p. 40).
Tal situação tem colocado em causa alguns desafios da Universidade. Por
exemplo, um dos maiores desafios colocado pela Declaração de Bolonha foi a introdução
de um currículo flexível e a aprendizagem por unidades de competências. Depreende-se
daqui que se trata de uma organização curricular bastante exigente, requerendo dos
professores capacidades para definir com clareza as competências que devem ser
desenvolvidas pelos estudantes na sua área de atuação, tanto através das horas de
contacto, como através das horas de trabalho independente. Entretanto, há resistência para
abandonar o currículo baseado em objetivos educacionais para um currículo baseado nas
competências. O currículo baseado em competências sugere a participação de todos atores
envolvidos no processo académico (alunos, professores, gestores), e de especialistas na
matéria (Laita, 2015). As referidas dificuldades na transposição de um currículo baseado
em objetivos para um currículo centrado nas competências reflete, de alguma forma, a
fraca preparação dos professores para trabalhar com esse modelo curricular. Tal pode
dever-se a: a) não há compreensão sobre que competências devem ser desenvolvidas
pelos alunos em cada área de saber; e b) mesmo com as formações rápidas que têm sido
desenvolvidas anualmente pela UP para os seus docentes, este aspeto não merece devido
tratamento e, por isso, pouco ou nada se exige na planificação dos professores. Neste
sentido, mesmo estando plasmado no currículo, a aprendizagem por competências não é
observada senão a aprendizagem baseada nos objetivos educacionais.
Refletindo acerca da área de investigação e extensão, a UP continua a debater-se
com a fraca produção científica. Muitos docentes estão mais preocupados com o ensino
e manifestam pouca preocupação com a investigação por três razões já avançadas e que
passamos a resumir: 1) a fraca preparação científica - muitos destes docentes têm o nível
38
de licenciatura possuindo apenas a iniciação à investigação e têm fraco acompanhamento
de professores seniores o que dificulta a sua própria investigação; 2) o excesso de carga
horária e número elevado de disciplinas lecionadas pelo mesmo docente, o que não
favorece a sua dedicação à investigação científica; alguns docentes trabalham em mais do
que uma instituição mesmo com a sobrecarga que tem na universidade em que é efetivo;
e 3) são poucas as Faculdades com uma Revista Científica em que esses docentes possam
publicar os seus trabalhos. Os poucos docentes que fazem investigação não conseguem
publicar os seus trabalhos, sendo para tal necessário recorrer a publicação em revistas
internacionais com mais ênfase em Portugal e no Brasil. Neste sentido, Langa (2014) não
reconhece sequer uma IES no país que tenha colocado a pesquisa como prioridade nas
suas atividades académicas, aliás, o autor sublinha que 95% dos docentes das IES em
Moçambique foram selecionados de entre estudantes de graduação sem competências
científicas suficientes para a investigação.
1.2.3 Universidade Pedagógica de Moçambique, Delegação da Beira
A Delegação da Beira é a primeira e mais antiga da UP, fundada em 1989. Esta
Delegação inaugurou o desafio da expansão desta IES pelo país. De acordo com o
relatório da instituição (2014), a Delegação conta na atualidade com 5938 estudantes
distribuídos por 8 departamentos existentes, nomeadamente: Departamento de Ciências
Naturais e Matemática (1040 alunos), Geociências (79 alunos), Ciências Sociais (1348
alunos), Ciências de Linguagem Comunicação e Artes (655), Ciências de Educação e
Psicologia (1486 alunos), Educação Física e Desportos (179), Escola Superior de
Contabilidade e Gestão (880), e Escola Superior Técnica (271 alunos).
Tendo em conta esse efetivo escolar, o Departamento de Ciências da Educação e
Psicologia apresenta o maior número de alunos, sendo que na sua maioria são do sexo
feminino. Por outro lado, os Departamentos de Ciências Sociais e o de Ciências Naturais
e Matemática apresentam também números significativos de alunos matriculados, mas
desta vez com maior número de alunos do sexo masculino. Tal situação deve-se à natureza
dos cursos, na sua maioria mais das áreas de ciências exatas que não tem sido a
preferência dos alunos do sexo feminino que mostram maior preocupação que cursos
ligados a área da Educação e da Psicologia, com alguma tendência para os cursos de
Sociologia e História.
Procurando comparar os alunos matriculados em relação aos ingressos e
39
graduados (os graduados referem-se aos que participaram na cerimónia de graduação),
os dados fornecidos pelo Departamento de Registo Académico indicam um total de 1563
novos ingressos e 814 graduados. Os dados apresentados mostram tendência de equilíbrio
do género, mesmo permanecendo uma taxa superior de estudantes do sexo masculino.
Quando analisamos o equilíbrio do género tomando já as modalidades de ensino ou turnos
de lecionação desenvolvidas nesta instituição, nomeadamente ensino laboral (diurno),
pós-laboral (noturno) e ensino à distância, verificamos que não há grandes desníveis em
termos numéricos, entre o sexo masculino e sexo feminino, nos alunos da modalidade do
ensino à distância. Assim, as diferenças situam-se nas duas outras modalidades ou turnos
de lecionação (diurno e noturno). Por exemplo, o sexo masculino é mais expressivo no
período laboral (masculino=1843; feminino= 935), nas outras modalidades predomina o
sexo feminino: pós-laboral (masculino=855; feminino= 1450); e Ensino à distância
(masculino =417; feminino=438).
Os alunos que frequentam o regime diurno são na sua maioria do sexo masculino
já para o regime pós-laboral a maioria dos alunos que frequenta é do sexo feminino. De
salientar que apesar do elevado número de alunos que esta delegação da UP tem, o
crescimento deste efetivo escolar está condicionado às infraestruturas. Na atualidade a
maioria dos cursos pós-laborais funcionam nas instalações dos Caminhos de Ferro de
Moçambique (alugadas pela UP-Beira), estando já em curso a construção das instalações
no distrito de Dondo (30 km da cidade da Beira), que se prevê acomodar um maior
número de estudantes. Além do elevado número de estudantes, o corpo docente não cobre
a totalidade dos estudantes matriculados, exigindo-se uma contratação para cobrir a
quantidade dos estudantes. principalmente no regime pós-laboral. Este crescimento
rápido faz com que a maioria dos docentes desta Delegação tenha o nível de licenciatura
(100); o número de docentes com o grau de mestrado é razoável (72) e o número de
docentes com grau de doutoramento é bastante inferior (apenas 6). Essa situação torna-se
mais preocupante, ainda, com o elevado número de estudantes (5938), mesmo com o
reforço dos docentes contratados a tempo parcial ou a tempo inteiro, pois antecipam-se
dificuldades no processo de ensino-aprendizagem.
Os dados do relatório da Delegação, apresentados aquando da visita do Magnífico
Reitor desta instituição (outubro de 2014), referem que “91 docentes em formação (81%)
são do sexo masculino e os restantes 19% do sexo feminino. Deste número (91), 71% se
encontram a frequentar o nível de Mestrado e 29% o nível de Doutoramento, dentro e
fora do País” (UP-Beira, 2014, p. 69). O mesmo documento explica que 78 (43.8%) dos
40
docentes do quadro têm o nível de Pós-Graduação (Mestrado ou Doutoramento) e os
restantes 56.2% apresentam o nível de Licenciatura, sendo que grande parte deles se
encontra a frequentar algum curso de Pós-Graduação.
Em relação às bolsas de estudos para os estudantes que frequentam esta IES, o
relatório avalia uma subida de 4%, o dobro do ano 2013. Mesmo assim, mais esforços
são necessários tendo em conta as baixas condições financeiras da maioria dos alunos
desta instituição.
Regulação interna do Ensino Superior em Moçambique
A rápida expansão das IES públicas e privadas que se tem registado nos últimos
tempos, principalmente no período pós década 90 e as críticas que têm vindo a ser
avançadas pelos intelectuais moçambicanos, parecem estar a despertar o papel do Estado
na regulação deste nível de ensino, mesmo porque cabe ao Estado decidir a autorização
ou não de abertura de uma IES dentro dos padrões e normas instituídas.
As críticas são bastante insistentes na questão da qualidade oferecida pelas IES
em Moçambique. Um exemplo destas críticas está presente no artigo de Langa (2012),
com o título bastante claro “A mercantilização do Ensino Superior e a relação com o
saber: a qualidade em questão”. O autor chega mesmo a falar de capitalização das IES
que vendo a participação do Estado bastante reduzida, estas instituições encontraram a
solução para a sua sobrevivência no mercado, abrindo mais universidades e cursos,
mesmo que em muitos casos tais cursos não estejam a refletir as reais necessidades do
país. A incapacidade do Estado para responder à formação superior dos cidadãos,
precipitou o reforço a política de privatização. As IES foram incentivadas a oferecer
cursos de curta duração que fornecesse, o mais rápido possível, a mão-de-obra necessária
ao mercado de trabalho (Taimo, 2010), daí o perigo da mercantilização do ES (Langa,
2012).
Moçambique passou cerca de três décadas num crescimento “desordenado” das
IES, numa lógica de liberalização do ES e que se tem refletido no não cumprimento de
exigências para abertura e funcionamento dessas instituições (Rosário, 2013). Ciente dos
perigos que isto pode causar para o desenvolvimento do país, o Estado tem vindo a
divulgar, nos últimos anos, mecanismos de avaliação da qualidade das IES. Refira-se que
esta preocupação não é recente, pois em 2000 criou-se o Ministério de Ensino Superior e
procurou-se lançar os primeiros passos para conferir qualidade às IES, tendo-se
41
implementado o Plano Estratégico 2000-2009. Dada a complexidade do Ensino Superior,
o mesmo Ministério alterou a lei 1/93 e implementa a lei 5/2003 e mais tarde a lei 27/2009
de 29 de setembro, lei de ensino superior, que visavam garantir a qualidade e o seu
controlo (Premugy, 2012). Mais recentemente, para assegurar a qualidade das IES, vários
instrumentos foram introduzidos nomeadamente,
O Sistema Nacional de Avaliação, Acreditação e Garantia de Qualidade
do Ensino Superior, Decreto nº 63/2007, a Lei do Ensino Superior, Lei nº
27/2009, o Regulamento do Quadro Nacional de Qualificações do Ensino
Superior, Decreto nº 30/2010, o Sistema Nacional de Acumulação e
Transferência de Créditos Académicos, Decreto nº 32/2010, o
Regulamento do Conselho Nacional de Ensino Superior, Decreto nº
29/2010, Qualificadores Profissionais de Funções Específicas do Conselho
Nacional de Avaliação de Qualidade do Ensino Superior, Resolução nº
23/2009, o Regulamento de Licenciamento e Funcionamento das
Instituições de Ensino Superior, Decreto nº 48/2010, e o Regulamento de
Inspecção às Instituições de Ensino Superior, Decreto nº 27/2011
(Premugy, 2012, p .6).
Apesar do volume expressivo de instrumentos reguladores das IES
moçambicanas, parece ainda não ocorrer uma melhoria de funcionamento destas
instituições, como refere Langa (2014). Depois de meia década de funcionamento de
SNAQ e Sistema Nacional de Avaliação, Acreditação e Garantia de Qualidade de Ensino
Superior (SINAQES), os resultados do estudo sobre a avaliação da qualidade das IES não
surgiram. Mesmo assim, acreditamos que este constitui um dos primeiros esforços para
que o setor se desenvolver visando assegurar um ES consistente, sustentável e de
qualidade. Assim, compete ao SINAQES: i) desenvolver e promover a cultura e procura
de qualidade dos serviços prestados nas IES; ii) identificar, desenvolver e implementar
normas e indicadores de qualidade; iii) informar à sociedade da qualidade do ensino
superior; iv) identificar os problemas de ensino superior e propor mecanismos da sua
resolução, bem como da definição de políticas de Estado para o sector; e, finalmente v)
concorrer para a integração do ensino superior moçambicano na região e no mundo
(Decreto nᵒ 63/2007).
Considerações Finais
A história do ES em África nasce da própria história de colonização. Nesta altura,
eram poucos os africanos a frequentar este nível de ensino. De certa forma o ES conservou
o caráter seletivo, ou seja, apesar de se instalar em contexto africano, a maioria dos alunos
42
eram estrangeiros, sugerindo que a instalação dessas instituições traduzia alguma
estratégia de travar a luta contra a dominação colonial. Em Moçambique, a Universidade
Eduardo Mondlane (UEM), a primeira e mais antiga, passou muito tempo sem admitir a
sua expansão para outras zonas do país. A resistência da UEM a expansão tardou, mas
nos meados dos anos 80, e principalmente na década 90, assistiu-se a uma verdadeira
expansão do ES no país. A referida expansão não foi criteriosa (Langa, 2014; Rosário,
2013), verificando-se uma sobreposição dos aspetos políticos aos académicos nesse
processo. Com efeito, a expansão não regulamentada das IES no país trouxe várias
consequências negativas, nomeadamente a abertura de IES sem projetos concretos, sem
condições de funcionamento normal, sem corpo docente suficientemente qualificado, a
par de uma fragilidade da legislação que regula o ES.
Por outro lado, Langa (2014) aponta que a expansão da Universidade Pedagógica
estava marcada por emoções políticas, em nome da unidade nacional, e não se preocupou
suficientemente com a qualificação do seu corpo docente, nem com a qualidade do ensino.
Nesta altura, o autor fala de fragilidade do quadro legal que regula a abertura e
funcionamento das IES no país. Por outro lado, a Universidade Pedagógica tentou, sem
muito sucesso, a implementação do processo de Bolonha. Esta tentativa não passou de
um esforço institucional pois que ainda não se traduziu em prática efetiva. Por exemplo,
a passagem de aprendizagem por objetivos para a aprendizagem baseada por
competências ainda não é uma realidade, ao mesmo tempo que o sistema de creditação
da formação continua bastante aquém do desejado. De qualquer forma, a UP continua
com o esforço de implementação do processo de Bolonha, assumindo-se ser um processo
de determinação e persistência institucional.
43
CAPÍTULO 2
ADAPTAÇÃO DOS ESTUDANTES AO ENSINO SUPERIOR:
EXPECTATIVAS, TRANSIÇÃO E INTEGRAÇÃO
Introdução
Participation in higher education is voluntary and is based on individual
decisions to remain in or leave college. Institutional policies and practices
do affect rates of student retention and institutions are far from helpless
when it comes to creating programs and environments that attract or repel
students. Retention rates are the collective result of individual decisions.
If retention programs are to work, they must work for each student
involved in the program. We believe that the factors affecting retention are
ultimately individual and that individual psychological processes form the
foundation for retention decisions (Bean & Eaton, 2001, p. 73).
O estudo da adaptação e desenvolvimento do estudante no ES tem reconhecido
inúmeros avanços na procura do ajustamento académico, social e psicológico dos
estudantes. A maioria destes estudos é desenvolvida no momento de transição do ensino
secundário para o ES, reconhecendo-se, desde longo, um leque de dificuldades que estes
estudantes enfrentam ao ingressar nas universidades, podendo ser influenciada por
variáveis de ordem pessoal ou da natureza organizacional destas instituições superiores.
A este respeito, vários modelos teóricos são formulados para explicar os fatores que
concorrem, positiva ou negativamente, para o ajustamento e desenvolvimento do
estudante no ES, de igual forma vários programas são desenvolvidos em diferentes
instituições com a finalidade de facilitar a integração dos estudantes.
O presente capítulo teórico procura discutir a adaptação dos estudantes no ES
mostrando os desafios inerente e as modificações ou transformações que estes estudantes
passam e enfrentam ao ingressarem no ES. Neste sentido, recorremos a um conjunto de
teorias que explicam o desenvolvimento e ajustamento do estudante no ES. Neste sentido,
dada a multiplicidade de teorias que explicam este complexo processo de adaptação, e
face os objetivos desta tese, neste capítulo apresentamos dois grandes grupos de teorias
que explicam a adaptação dos estudantes ao ES nomeadamente, as teorias de impacto
institucional e as teorias de desenvolvimento psicossocial do estudante. O primeiro grupo
de teorias, as teorias institucionais ou de impacto, assumem uma explicação do
desenvolvimento e da adaptação dos estudantes tomando as variáveis das instituições do
44
ES, pressupondo, desde logo, uma estrutura organizacional das universidades mais
ajustada aos objetivos, aspirações, necessidades dos estudantes que nelas ingressam. Por
outro lado, as teorias de desenvolvimento psicossocial, explicam o desenvolvimento dos
estudantes a partir das variáveis mais pessoais (e.g., inteligência, motivação, satisfação,
autoconceito) enquanto preditoras de integração ou evasão escolar.
Expectativas, satisfação e sucesso nos estudantes do Ensino
Superior
Este tópico procura descrever, a partir da literatura consultada, as características
dos estudantes antes de ingressarem na universidade (e.g., o que pensam da vida
universitária, o que esperam) e na forma como essas representações se associam às suas
vivências ou se dissociam delas.
As expectativas podem ser definidas como sendo um conjunto de cognições e
motivações, desejos e aspirações que reforçam as crenças dos estudantes nas suas
vivências académicas e na superação de obstáculos para o alcance dos objetivos
previamente definidos (Almeida, Costa, Alves, Gonçalves, & Araújo, 2012; Araújo,
Costa, Casanova, & Almeida, 2014; Costa, Araújo, Diniz, & Almeida, 2014). Assim,
podemos observar que um conjunto de predisposições, perspetivas, anseios e desejos são
desenvolvidos nos estudantes que procuram ingressar uma instituição de ES. Um
conjunto de autores reconhece o papel das predisposições, ou “condutas prévias”, como
facilitadoras do abandono escolar ou da persistência dos estudantes no ES (Bayrón &
Piedras, 2012; Donoso & Schiefelbein, 2007; Riquelme et al., 2012; Tinto, 1993). As
expectativas desempenham aqui o papel central ao afetarem o nível de investimento e de
desenvolvimento psicossocial nos estudantes que ingressam a este nível de escolaridade,
afetando a qualidade das suas vivências (Almeida et al., 2012; Araújo & Almeida, 2015;
Riquelme et al., 2012).
Enquanto conjunto de cognições, afetos e emoções que os estudantes apresentam
ao ingressarem no ES, as expectativas são formadas na interação entre as experiências
vivenciadas no ensino secundário e as projeções em termos de formação dos jovens
pressupondo um conjunto de interesses e desejos, podendo afetar as suas vivências e
desempenho escolar (Araújo & Almeida, 2015; Araújo, Almeida, Costa, Alfonso, Conde,
& Deaño, 2015) Desta forma, haverá alguma exigência para os gestores das universidades
para o fornecimento de informação clara sobre os cursos e a própria vida universitária
45
para os candidatos ao ES (Costa et al., 2014). Por outro lado, a literatura tem apontado
para o declínio das expectativas dos estudantes no final do primeiro ano (Araújo et al.,
2014; Costa et al., 2014), sugerido algum ajustamento das expectivas iniciais à realidade
da vida universitária.
Na atualidade, vários autores (Almeida et al., 2012; Costa et al., 2014; Riquelme
et al., 2012; Rosário, 2003) reconhecem o suporte familiar que os estudantes têm recebido
como fator que predispõe os estudantes a abandonar ou a persistir, ou seja, o referido
suporte familiar atuaria como inibidor ou facilitador do envolvimento do estudante na
vida universitária. Por outro lado, parece que a congruência entre as expectativas e as
vivências dos alunos no contexto universitário está associada a níveis elevados de
motivação, ajustamento e sucesso académico (Araújo & Almeida, 2015; Araújo et al.,
2015). Se as expectativas forem realistas estes estudantes tendem a adaptar-se com maior
facilidade, ao contrário das expectativas que assentam em ilusões e irrealismo e que
concorrem para o abandono escolar (Almeida et al., 2012; Araújo & Almeida, 2015;
Araújo et al., 2015; Soares et al., 2014).
Soares et al. (2014) recorrendo a vários estudos realizados principalmente no
contexto português constataram a relação entre as expectativas e o desempenho escolar.
Assim, de acordo com estes autores, o desempenho académico tende a ser fraco quanto
maior é expectativa que o estudante tem sobre a vida institucional e os serviços aí
disponíveis, mas quando a expectativa é mais focalizada nos aspetos curriculares e
vocacionais estes estudantes tendem a revelar melhor desempenho. Mais ainda, quando
as variáveis pessoais se sobrepõem às condições da instituição os estudantes sentem-se
mais autoconfiantes na conquista dos resultados escolares (Soares et al., 2014). Neste
sentido, importa desenvolver nos estudantes expetativas realistas, caso contrário podem
desenvolver sentimentos de desilusão ou frustração, sugerindo alguma dificuldade no
ajustamento ao ES (Araújo & Almeida; Quadros et al., 2010).
Por outro lado, as relações interpessoais na sala de aula jogam um papel
importante, pois parece que os professores do ES tendem a concentrar a sua atenção no
conteúdo e não nas relações afetivas, o que contraria a experiência que os estudantes
levam dos anos escolares anteriores. A este respeito importa referir que o envolvimento
afetivo parece influenciar na decisão de abandonar ou permanecer no curso (Costa,
Araújo, & Almeida, 2014), observando-se assim que o envolvimento dos estudantes
apresenta um impacto positivo sobre o seu desempenho académico. Os estudantes que
não sentem proximidade dos professores têm a sensação de terem sido abandonados
46
enquanto para o professor isso pode significar a atribuição de autonomia aos estudantes.
Neste sentido, a deceção sentida por alguns estudantes no decurso do primeiro ano parece
decorrer, assim, das ilusões ou das expetativas em relação ao ensino e à vida académica
(Costa et al., 2014; Soares et al., 2014). Assim, a literatura tem reconhecido as
expectativas efetivamente como fatores que influenciam na trajectória académica dos
estudantes no ES, nomeadamente no desempenho e no ajustamento académico (Araújo et
al., 2014; Costa et al., 2014).
Os projetos familiares também entram em jogo (Bardagi & Hutz, 2008) porque a
evasão pode acontecer quando o jovem vê que a formação universitária não vai de
encontro ao projeto sociofamiliar, o que significa reconhecer, mais uma vez, a
importância do suporte familiar neste processo decisório (Almeida et al., 2012; Riquelme
et al., 2012; Rosário, 2003). Por outro lado, estudantes de famílias com pouca tradição na
frequência ao ES poderão vivenciar maiores dificuldades de ajustamento académico
(Costa et al., 2014), por terem menos informação prévia acerca da realidade da vida
quotidiana em contexto universitário. Com efeito, no estudo sobre as perceções dos
estudantes que abandonaram o ES, Bardagi e Hutz (2009) recorrendo a metodologia
qualitativa constataram representações irrealistas dos estudantes quanto à natureza e
funcionamento do seu curso. Trata-se de escolhas carregadas de sonhos e ilusões e pouca
realidade.
2.2.1 Satisfação e sucesso escolar no Ensino Superior
Uma maior preocupação assinalada por Almeida e Soares (2003), apesar das
grandes dificuldades que os estudantes enfrentam ao ingressarem no ES, é a falta de
preocupação na organização destas instituições para atender ou responder à adaptação
destes estudantes à sua vida universitária. Assim, permanecem os currículos fechados, os
métodos de ensino ineficazes e as instalações sem as condições desejadas para a prática
de ensino, pesquisa e extensão (Schleich, Polydoro, & Santos, 2006). Esta situação
assume a devida atenção na investigação quando reportada a contextos de vida
universitária menos desenvolvidos como acontece em países em vias de
desenvolvimento, onde além do problema de instalações, se associa a fraca qualificação
do corpo docente, o deficiente acervo bibliográfico e um número reduzido de bolsas de
estudos para uma população estudantil economicamente desfavorecida. Estas situações
concorrem para a insatisfação e insucesso escolares dos estudantes envolvidos.
47
Refletindo sobre a satisfação escolar, Astin (1993) refere que a satisfação dos
estudantes envolve a sua experiência de vida universitária, a qualidade do ensino (nível
de exigência, a correspondência entre as expectativas e os resultados da aprendizagem),
o currículo e os aspetos de relacionamento interpessoal. Deste modo, a satisfação dos
estudantes na vida universitária deve ser percebida como uma correspondência entre as
suas aspirações, desejos e interesses e a possibilidade de ver satisfeitas na sua maior parte,
que se reflete no envolvimento do estudante no ES (Astin, 1993; Almeida, Soares, &
Ferreira 1999; Schleich et al., 2006), e no sucesso escolar (Almeida, Soares, & Ferreira,
1999).
A relação entre a satisfação académica e o desempenho escolar parece confirmar
a confluência destes dois constructos. Por exemplo, Schleich et al. (2006) apontam para
pesquisas que reconhecem a interferência da perceção dos estudantes quanto à sua
satisfação nos índices de envolvimento e sucesso escolar. No contexto português Ribeiro,
Almeida e Gomes (2006) reconhecem que o insucesso académico está condicionado pela
estrutura do currículo escolar, manuais escolares e equipamentos escolares, mas também
pelas variáveis pessoais (motivação, interesses) e interpessoais (relacionamentos como os
colegas e com os professores).
A satisfação académica assume a sua maior relevância na educação e,
principalmente, no contexto universitário, possibilitando aos gestores das IES planificar
e melhorar os serviços e programas para o ajustamento dos estudantes à vida universitária.
Astin (1993) reclamou a fraca investigação na área, tendo reconhecido que as
investigações sobre o constructo tardaram e só na década 60 foi possível observar uma
preocupação com a satisfação dos estudantes neste contexto educativo.
Adaptação ao Ensino Superior
A crescente procura do ES é acompanhada por um aumento significativo das
instituições e por uma maior heterogeneidade sociocultural e económica dos seus
estudantes. Essa situação tem influenciado a transição dos estudantes para este nível de
ensino, transição encarada por muitos teóricos como o momento de grandes desafios e de
profundas modificações no estudante (Almeida et al., 2012; Costa & Leal, 2008; Cunha
& Carrilho, 2005; Fernandes & Almeida, 2005; Fernandes, Silva, & Meneses, 2012; Seco,
Casimiro, Pereira, Dias, & Custódio, 2005). Por exemplo, Moçambique é um país
caracterizado por uma diversidade sociocultural (Campira & Araújo, 2012),
48
acompanhada por evidentes desigualdades económicas. No contexto português, dados do
Instituto Nacional da Educação em 2011 indicam que a quantidade de jovens que
ingressam no ES subiu de 190 mil para 390 mil estudantes (Almeida et al., 2012). A par
desta situação, e em função da exigência destes contextos, aumenta o número de IES que
procuram garantir uma formação sólida para responder a essas exigências mais
contextuais (e.g., culturais, socioeconómicas, político-ideológicas).
O ingresso dos jovens nestas instituições tem modificado as suas vidas e a das
suas famílias. Assim, o suporte familiar é reconhecido como um dos importantes fatores
do ajustamento escolar dos estudantes na vida universitária (Costa & Leal, 2008; Rosário,
2003). Apesar do investimento das famílias e dos jovens no ingresso no ES, alguns
estudantes enfrentam muitas dificuldades que podem resultar da natureza da organização
do ensino ou das novas condições de vida que estes estudantes passam a ter (Fernandes
& Almeida, 2005; Soares et al., 2006). A saída do jovem para o ES exige uma mudança
na estrutura familiar, assim como as expetativas pessoais que o estudante traz para esse
nível de escolaridade influenciam a sua adaptação. Com efeito, a frequência no 1º ano no
ES é caracterizada como um momento crítico para muitos estudantes, menos preparados
para lidarem com os desafios e exigências deste contexto académico (Almeida et al.,
2012; Fernandes & Almeida, 2005). Esse momento crítico avaliado pelo elevado nível de
ansiedade e stress (Costa & Leal, 2008) pode ser relevante, sendo que quando bem-
sucedida a transição possibilita a progressão de uma etapa de dependência para a outra de
maior autonomia (Seco et al., 2005). O stress pode ser elevado quando a expectativa que
o estudante traz para a universidade não é correspondida e, por conseguinte, este pode
desenvolver atitudes de evitamento nas tarefas que a instituição dispõe para o
desenvolvimento das suas competências. Aqui, e mais uma vez, o suporte familiar é um
fator muito relevante para explicar o ajustamento do adolescente, jovem-adulto ao ES
(Campira, Araújo, & Almeida, 2014b; Peixoto, 2004; Pinheiro, 2003).
Vários autores salientam que mesmo com o reconhecido suporte familiar é
importante tomar em consideração as dificuldades que as próprias instituições de ES
impõem aos estudantes no processo de integração na vida académica, traduzindo-se em
dificuldades sérias de adaptação (e.g., as distâncias percorridas casa-escola e vice-versa,
condições de alimentação) (Silva & Ferreira, 2009; Soares et al., 2006). As dificuldades
vivenciadas pelos estudantes na sua adaptação à universidade poderão estar associadas a
variações na forma como estes se percebem a si próprios, corroborando assim a ideia de
Faria e Santos (1999), que caracteriza esta fase como apresentando enormes desafios e
49
transformações, sobretudo para os estudantes do 1º ano. Os desafios são percebidos de
acordo com a natureza de cada estudante, as suas características pessoais, as suas
capacidades e a sua história de desenvolvimento (Costa & Leal, 2008). De acordo com
Faria e Santos (1999), se o desafio for percebido como sendo muito elevado provoca
inibição (e.g., fraco envolvimento ou evitamento na tarefa escolar), pelo contrário,
quando o desafio é percebido como sendo menos ameaçador pode resultar em maior
comprometimento com a tarefa, maior segurança e maior adaptação do estudante a este
contexto universitário.
Estas exigências e desafios influenciam a autoconstrução do sujeito, que se faz
através da forma como ele percebe ou representa e estrutura cognitivamente o mundo
(Marsh & Hattie, 1996). De acordo com a teoria de transição de Chickering, descrita por
Seco et al. (2005) “estamos perante uma situação de transição quando um acontecimento
ou a sua ausência produz mudanças ao nível dos relacionamentos, das rotinas, dos papéis
do indivíduo, podendo afetar a ideia ou o conceito acerca de si e/ou do mundo que o
rodeia” (2005, p. 23).
Procurando explicar a adaptação dos estudantes no ES, Soares et al. (2006),
assumindo outros estudos, apontam dois grupos de desafios que os estudantes enfrentam
ao ingressarem no ES: (i) de natureza social (sair de casa, separação com da família e dos
amigos, tornar-se autónomo e responsável); e (ii) de natureza académica (ambiente de
aprendizagem menos estruturado, normas, expectativas e exigências mais instáveis). Tal
situação tem exigido às IES que se organizem e se restruturem quer do ponto de vista
físico (administrativo) como pedagógico “seus métodos, suas práticas, objetivos,
currículo e até metodologias de aprendizagem” para responder as exigências de adaptação
dos estudantes a esse nível de escolaridade (Cunha & Carrilho, 2005, p. 216). Ao mesmo
tempo, algum esforço terá que ser feito pelo próprio estudante, e logicamente, programas
de intervenção que promovam a integração social e o ajustamento psicossocial dos
estudantes que sentem maior dificuldades de adaptação devem ser tomados em
consideração pelas IES (Almeida et al., 2012).
Diversos autores reconhecem que uma das consequências destas dificuldades na
adaptação os estudantes universitários é o baixo rendimento académico (Soares &
Almeida, 2005; Cunha & Carrilho, 2005; Fernandes & Almeida, 2005), caracterizado por
reprovações, abandono e mudanças de curso. O autoconceito aparece aqui, mais
precisamente, como variável mediadora do ajustamento e do rendimento escolar, ao
influenciar os comportamentos dos estudantes que podem evidenciar condutas de
50
evitamento ou de efetivo envolvimento académico (Neves & Faria, 2009). Diante de
vivências académicas acolhedoras ou stressantes, podemos afirmar que o contexto
“condiciona a forma como os indivíduos se adaptam às transições de vida” (Barros &
Morreira, 2011, p. 201).
2.3.1 As teorias de adaptação do estudante no Ensino Superior
Os autores que estudam a adaptação dos estudantes no ES têm sugerido modelos
teóricos que procuram explicar as transformações que os estudantes sofrem nesta etapa
de vida. Estas transformações resultam na autoconstrução que acompanham o processo
formativo destes estudantes.
Neste sentido, a multiplicidade das teorias está acompanhada de alguma
dificuldade na sua classificação, mesmo reconhecendo o esforço que estes teóricos têm
desenvolvido. Assim, dentre as teorias que têm recebido destaque para estudar o estudante
em transição inclui-se o modelo psicossocial de Erick Erickson (1959) e de Chickering
(1969), a perspetiva cognitiva de William Perry, também conhecida por Modelo de
Desenvolvimento Intelectual e Ético (Santos, 2008; Seco et al., 2005), os modelos de
impacto institucional com destaque para o modelo de integração de Tinto (1975), o
modelo de envolvimento do estudante de Astin (1999) e o Modelo de impacto dos
ambientes universitários de Pascarella (Ferreira et al., 2001; Silva, 2003, 2012).
Noutros estudos, podemos verificar três grandes grupos de modelos teóricos para
a explicação da adaptação dos estudantes no ES: primeiro, as teorias e modelos estruturais
e psicossociais do desenvolvimento; segundo, os modelos de impacto do meio ambiente
nas vivências do estudante; e terceiro, a linha teórica do modelo multidimensional de
ajustamento. Neste sentido, as teorias e os modelos desenvolvimentais que explicam a
adaptação tomam as transformações operadas no indivíduo em termos maturacionais,
enquanto que as teorias de impacto apontam para a influência do meio vivenciado pelo
estudante como fator essencial para explicar a sua adaptação. Já o modelo
Multidimensional de Ajustamento Universitário (MMAU) reconhece a pertinência de se
observar as potencialidades individuais e as exigências do contexto como variáveis
importantes para a compreensão das vivências académicas dos estudantes no contexto
universitário. Nesta classificação, Long (2012) acrescenta mais um grupo de teorias, as
teorias humanistas-existenciais que descrevem como as decisões que o estudante toma o
afetam a si mesmo e aos outros. Essas teorias explicam a progressiva mudança que se
51
espera do estudante do ES resultante da ascensão de papéis que assume e que espera
assumir, embora de forma transitória, exigindo a saída da fase de menor responsabilidade
para a fase de elevada autonomia, de maior autocontrolo e de maior compromisso (Santos,
2008).
No presente estudo descrevemos as teorias de impacto ou contextuais (teoria de
envolvimento de Alexander Astin e a teoria de retenção de Vicent Tinto) e as teorias de
desenvolvimento psicossocial do estudante (a teoria de identidade de Eric Erickson e a
teoria de vetores de Chickering). Estas quatro teorias ajustam-se melhor aos objetivos da
presente tese, dado o seu enfoque no envolvimento, abandono e desenvolvimento da
identidade dos estudantes do ES.
2.3.2 Teorias contextuais ou de impacto institucional
A crescente procura do ES tem sido acompanhada com dificuldades de adaptação
dos estudantes ao contexto universitário. Neste sentido, o modelo de impacto, apesar de
reconhecer as influências das características desenvolvimentais dos estudantes, considera
que a integração dos estudantes nos ambientes institucionais não é determinada apenas
pelas características intrapessoais do estudante. Essas teorias reconhecem os estímulos
ambientais como variáveis relevantes na explicação da integração dos estudantes nesses
ambientes académicos.
Assim, as teorias de impacto institucional assumem duas dimensões
fundamentais para explicação da integração do estudante nas instituições superiores: 1)
dimensão de natureza académica, que se refere ao compromisso do estudante com a
realização das tarefas académicas, tais como a gestão de tempo de estudo, a realização de
exames e as pesquisas académicas; e 2) dimensão sociocultural que se fundamenta na
interação do estudante com os pares, professores e a interação com as exigências do
contexto institucionais. Nessa perspetiva reconhece-se o papel ativo do estudante como
elemento construtor do seu percurso académico tanto na aprendizagem como na
participação em atividades académicas e socioculturais da instituição Astin (1999).
2.3.2.1 Modelo de desenvolvimento do estudante de Astin
Alexander Astin é considerado um dos percursores do estudo das variáveis
ambientais através da sua teoria de envolvimento que foi uma das teorias influentes na
52
explicação da integração dos estudantes nos ambientes institucionais. O referido autor
procura estudar as influências das características ambientais e institucionais (e.g.,
ambiente do grupo de pares, currículo oferecido, características dos estudantes,
quantidade e qualidade do envolvimento) que podem promover ou inibir o
desenvolvimento do estudante (Roberts & McNeese, 2010; Silva 2012). Neste sentido, é
fundamental promover o envolvimento dos estudantes nas instituições de ES (Roberts &
McNeese, 2010).
Astin (1999) aponta algumas razões que explicam a relevância da sua teoria para
o estudo do desenvolvimento do estudante no ES: 1) ser uma teoria mais simples para
explicar o envolvimento do estudante; 2) a teoria pode explicar a maioria do
conhecimento empírico acerca das influências ambientais sobre o desenvolvimento do
estudante que os investigadores acumularam durante anos; 3) é capaz de abarcar
princípios a partir das fontes largamente divergentes como a psicanálise e a teoria de
aprendizagem clássica; finalmente 4) esta teoria pode ser aplicada pelos investigadores
para orientarem os seus trabalhos no desenvolvimento do estudante e pelos
administradores da faculdade por lhes permitir planificar ambientes de aprendizagem
mais efetivos.
A teoria do envolvimento é explicada por três variáveis importantes: (i) os dados
que descrevem as características dos estudantes no momento de entrada ao ES, antes de
serem expostos às experiências desses ambientes académicos, inputs; (ii) informação
sobre as experiências e vivências dos estudantes e a qualidade e quantidade do seu
envolvimento neste contexto, environment; e (iii) informação sobre os resultados que
descrevem o estudante após a exposição ao ambiente e às experiências institucionais,
outcomes (Pinheiro, 2003; Silva, 2012). Para Astin, é o ambiente construído pela
instituição e pelos estudantes o mais importante e não o tipo de instituição em si mesmo
(Silva, 2012). Assim, para se compreender as mudanças operadas no estudante em termos
do seu desenvolvimento, torna-se necessário comparar os inputs e os outcomes dos
estudantes e verificar se essas mudanças diferem em função das diferentes exigências
institucionais que lhe são apresentadas.
Neste sentido, verificam-se quatro resultados em função dos dados psicológicos e
comportamentais (Pinheiro, 2003; Silva, 2012). O primeiro grupo, afetivo, de natureza
psicológica, inclui o autoconceito, os valores, as atitudes, e a satisfação com o ES sentida
pelos estudantes na interação com as características institucionais. O segundo grupo,
cognitivo, de natureza psicológica, inclui os conhecimentos, aptidões básicas e
53
específicas e o investimento académico (e.g., capacidade crítica, leitura e interpretação
de textos). O terceiro grupo é afetivo-comportamental e engloba hábitos pessoais dos
estudantes, ocupação dos tempos livres, comportamentos ligados à cidadania e o
desenvolvimento das competências de relacionamento interpessoal. O último grupo
corresponde ao cognitivo-comportamental: neste grupo enquadram-se as atitudes
comportamentais em relação à profissão e à responsabilidade com as tarefas sociais (e.g.,
participação em atividades políticas, culturais).
Mais tarde, Astin sentiu a necessidade de modificar o seu modelo (I-E-O) que
antes pressupunha a separação temporal entre os inputs (características do estudante antes
de ingressar ao ES) e outcomes (resultados obtidos das vivências e experiências do
contexto institucional e ambiental). Assim, compreende o autor que as variáveis
ambientais podem atuar umas antes das outras e a ocorrência de algumas variáveis
ambientais podem determinar a ocorrência de outras variáveis, tendo introduzido a
variável de resultados intermédios (intermediate outcomes) que atuam como variáveis
mediadoras de outras variáveis ambientais (Astin, 1997; Pinheiro, 2003; Silva, 2012).
O conceito de envolvimento na teoria de Astin
Um dos conceitos centrais da teoria é o envolvimento, que mais tarde se passou a
designar engajamento, “engagement” (Junco, Heiberger, & Loken, 2010). O
envolvimento refere-se à energia física e psicológica que o estudante despende para
realizar as atividades académicas (Astin, 1999; Gardner & Bames, 2007; Junco et al.,
2010; Rust, Dhanatya, Furuto, & Kheiltash, 2007; Silva, 2012), incluindo as atividades
extracurriculares como as dos clubes desportivos, atividades sociais e organizações
honorárias dentro do campus ou fora deste (Astin, 1999; Gardner & Bames, 2007).
Ressalta-se aqui um dado interessante em Astin, o facto de explicar o envolvimento em
termos de comportamento observável. Mesmo reconhecendo a importância da motivação
no envolvimento, não é somente o que a pessoa pensa e sente, mas o que a pessoa faz,
como se comporta, e é isso que define e identifica o envolvimento (Astin, 1999; Foubert
& Grainger, 2006). Aliás, Astin (1999) reconhece outras variáveis que interferem no
envolvimento (e.g., motivação, stress, valores); mesmo assim, defende que a motivação
não pode confundir-se com o envolvimento, sendo mais difícil responder à questão “como
motivar os estudantes” do que à questão “como envolve os estudantes”.
Na conceção de Astin (1997), o envolvimento é um conceito multidimensional
54
que abarca a dimensão académica, a dimensão social e as dimensões políticas. Nesta
perspetiva, e para este autor, um maior envolvimento não depende apenas das
contingências do contexto universitário: devem também ser observados outros elementos
fora da instituição como o suporte familiar e a interação com os outros elementos
significativos, como os colegas e os amigos que podem elevar os níveis de envolvimento
dos estudantes (Garcia, 2010; Pinheiro, 2003; Rust et al., 2007). Estes autores reforçam a
ideia de que o envolvimento não só facilita a persistência do estudante, mas também o
torna mais ativo e engajado socialmente na instituição. Assim, um maior nível de
envolvimento explica-se pela participação ativa do estudante nas atividades académicas,
maior tempo despendido pelo estudante no campus universitário, a utilização de mais
tempo para estudar e a interação com outros elementos dentro e fora da instituição (Astin,
1999; Gadner & Bames, 2007; Long, 2012). Inversamente, observa Astin (1999), os
estudantes menos envolvidos não participam nas atividades académicas, não gostam de
estudar, apresentam pouco de permanência na instituição, não participam nas atividades
extracurriculares e têm pouco tempo de contato com membros da faculdade e com outros
estudantes desta instituição.
O maior envolvimento do estudante nas atividades dentro da instituição, embora
verificada em termos de comportamento observável, remete-nos para a presença de níveis
elevados de motivação que permitem ao estudante persistir e manter um maior tempo de
permanência nas atividades, quer sejam académicas ou sociais, dentro da instituição. Com
efeito, o envolvimento do estudante nas atividades académicas ou sociais seria preditor
da motivação numa proporção direta, isto é, maior envolvimento explicaria níveis
elevados de motivação e baixos níveis de motivação explicariam o fraco envolvimento
(pouco esforço despendido e menor tempo de permanência do estudante na instituição).
Para clarificar o conceito de envolvimento, Astin (1999) recorre a cinco
pressupostos ou postulados:
a) O primeiro postulado refere-se à energia física e psicológica; trata-se da
energia ou esforço despendido pelo estudante para se dedicar às tarefas
académicas. O estudante prepara-se física e psicologicamente para realizar
as atividades atribuídas, como pesquisas, realização de testes e
participação em fóruns académicos;
b) O segundo postulado refere-se ao envolvimento, que ocorre num
continuum e que varia em função da tarefa ou objetos numa progressão
diferenciada. Isto é, o mesmo estudante mostra graus diferentes de
55
envolvimento em objetos diferentes e momentos diferentes (e.g., quando
se trata de estudar matérias escolares e quando se trata de atividades
desportivas);
c) O envolvimento pode ser avaliado qualitativa ou quantitativamente, por
exemplo, as horas que o estudante precisa para estudar, mas também se
pode verificar a qualidade do seu trabalho em termos de perfeição, grau de
profundidade da leitura, capacidade de análise e síntese.
d) O quarto postulado defende que o desenvolvimento do estudante e a sua
aprendizagem são influenciados pelos programas educacionais. Aqui o
envolvimento qualitativo e quantitativo do estudante ocorre em função da
forma de estruturação dos programas educativos; e
e) O último postulado desta teoria defende que a qualidade dos resultados de
qualquer programa educacional é expressa pela capacidade que estes
programas apresentam para envolver os estudantes.
Os dois últimos postulados são considerados por Astin (1999) como sendo chave
ao permitir elaborar programas mais efetivos para os estudantes. Neste sentido, dois
elementos são necessários tomar em consideração: o primeiro diz respeito à oferta de uma
variedade de atividades académicas e sociais por parte do ambiente institucional, que
pode favorecer o desenvolvimento do estudante; e o segundo está no papel ativo do
estudante, procurando explorar as oportunidades oferecidas pelo ambiente institucional
(Astin, 1999; Rust et al., 2007).
Estudos desenvolvidos a partir do Modelo de Astin
Tomando os resultados do estudo longitudinal, Astin (1999) procurou identificar
os fatores institucionais que concorrem para o abandono nas instituições de ES. A análise
não se limitou às diferenças das IES, mas preocupou-se também com as diferenças
verificadas ao nível das experiências dos estudantes nestas instituições. Dentre os fatores
de abandono destacam-se o local de residência do estudante, a participação do estudante
em grupos de associação estudantil, a participação em atividades curriculares, o exercício
de uma ocupação profissional (part-time ou full-time) e o tipo, tamanho e financiamento
da instituição (Astin, 1999).
O referido estudo tomou como variáveis o local de residência, a participação do
56
estudante nos programas de honra, a participação em projetos de investigação, a
participação em convívios e outros grupos de associação estudantil, o envolvimento
académico, a interação com outros membros da instituição, o envolvimento em atividades
desportivas e o envolvimento em órgãos da instituição. Os resultados apontam,
genericamente, que os estudantes que residiam no campus e que participavam em
programas de honra, estudavam regularmente, interagiam com os pares, professores e
órgãos de gestão e estavam envolvidos em atividades extracurriculares, estavam mais
aptos para o desenvolvimento cognitivo e para a aprendizagem (Astin, 1999; Silva, 2012).
De acordo com este estudo longitudinal do desenvolvimento do estudante, o mesmo autor
verificou que as desistências são substancialmente superiores no segundo ano de
frequência universitária do que no quarto ano. Tal poderá ser explicado pelo facto dos
que chegam ao quarto ano de escolaridade já terem a clareza do que querem e por isso
persistem no curso e na instituição, porque melhor se adaptaram às condições e às
exigências académicas da instituição. Por outro lado, Foubert e Grainger (2006) tomando
o modelo de Astin, verificaram uma relação entre o envolvimento e o desenvolvimento
psicossocial dos estudantes, quer os do primeiro ano como os finalistas. Num outro estudo
ainda, Astin, Vogelgesang, Ikeda e Yee (2000) observaram que a participação noutras
atividades sociais mostra efeitos positivos sobre o desempenho académico (habilidades
na escrita, pensamento crítico), valores (compromisso com ativismo), escolha da carreira,
sugerindo ganhos significativos por possibilitar o alargamento da sua experiência.
Para Astin (1999; Silva, 2012) o local de residência também exerce influência no
desenvolvimento do estudante, sendo que os estudantes que vivem no lar tendem a
envolver-se mais e a mostrar maior satisfação, especificamente, na relação com a
instituição, vida social, reputação institucional, do que aqueles que vivem fora da
instituição. Os reconhecimentos institucionais têm elevado a autoestima interpessoal, a
autoestima intelectual e o interesse artístico. Com efeito, estes estudantes são persistentes
e aspiram concluir os seus níveis escolares e os graus profissionais (Astin, 1999). Por
outro lado, Garcia (2010) descrevendo outros estudos, verificou uma correlação entre o
envolvimento dos estudantes dentro e fora da sala de aulas com o sucesso académico. Os
estudantes que se dedicam mais tempo a estudar tendem a isolar-se dos seus colegas,
embora existam estudos que revelam efeitos interativos entre a dimensão social e
académica no envolvimento dos estudantes (Garcia, 2010). O mesmo autor refere que
alguns estudso sugerem que dedicar mais tempo a atividades extracurriculares prejudica
os estudos, enquanto outros estudos constatam uma relação positiva entre o envolvimento
57
neste tipo de atividades e o envolvimento académico dos estudantes.
Outro dado relevante da investigação de Astin está relacionado com o alargamento
do espaço universitário. O referido autor percebe que o desenvolvimento não se dá apenas
pelas aprendizagens situadas em contextos formalmente estruturados, mas também é
preciso considerar as condições não formais. Nesta particularidade, sugere que, a nível
administrativo, se observem os horários, os regulamentos e outras atividades que possam
contribuir para a adaptação do estudante a este nível de escolaridade, pois podem afetar
a forma como os estudantes investem o seu tempo e energia nestas atividades (Silva,
2012).
2.3.2.2 Modelo de integração de Tinto
Tomando o modelo de envolvimento de Astin (1999), Vicent Tinto (2006/2007),
na mesma linha das teorias contextuais ou de impacto do desenvolvimento do estudante
no ES desenvolveu um modelo de integração do estudante que procurasse explicar com
alguma clareza as motivações do abandono, integração e envolvimento nas IES.
A retenção do estudante tem merecido importante consideração na vida das
comunidades universitárias (Wild & Ebbers, 2002). Reconhece-se que a forma como as
instituições de ES se organizam (em termos de currículo, atividades extracurriculares,
relacionamento, estrutura física e serviços oferecidos) tem impacto na forma como o
estudante se envolve na vida académica e, por conseguinte, constitui uma fonte de
integração ou de abandono. Apesar de tanto esforço teórico, muitas instituições não
conseguem traduzir, na prática, o que as teorias explicam sobre a retenção e isso tem
resultado em ganhos superficiais na persistência e graduação dos estudantes (Tinto,
2006/2007). Contudo, o modelo de Tinto é o de maior expressão no estudo da retenção
procurando explicar as decisões que os estudantes tomam de permanecer, transferir ou
desistir do curso e das IES (Bayrón & Piedras, 2012; Donoso & Schiefelbein, 2007).
Nestas decisões entram em jogo as características da instituição e as particularidades
individuais do estudante, duas variáveis importantes na compreensão do modelo teórico
de Vicent Tinto.
Origens do modelo teórico
Com os primeiros estudos e a partir dos anos 40, a visão sobre o abandono era
58
atribuída ao próprio estudante como reflexo dos seus atributos pessoais (capacidade e
habilidades). Assim, o abandono era atribuído às capacidades do estudante podendo estas
ser boas, quando consegue obter sucesso, e más quando não alcança êxitos: “são os
estudantes que chumbam e não a instituição” (Tinto, 2006/2007 p. 2).
De acordo com Tinto (2006/2007), essa conceção mudou consideravelmente, e
em 1970, procurou-se estudar a relação entre o indivíduo e a sociedade. Neste sentido, a
perspetiva de retenção busca as explicações do insucesso do estudante não só nas
capacidades dos estudantes, mas também da estruturação e funcionamento do contexto
social (e.g., familiar, académico, institucional) (Tinto, 2006/2007; Donoso &
Schiefelbein, 2007), justificando a consideração de perspetivas psicológicas,
sociológicas, económicas, organizacional e interacionista na abordagem do insucesso
escolar (Donoso & Schiefelbein, 2007; Riquelme et al., 2012). Muitas das práticas atuais
têm focalizado o primeiro ano da universidade e, especialmente, a transição para a
universidade, a natureza das interações entre o estudante e a instituição, sugerindo a
necessidade de introdução de “programas para enriquecer as experiências através da
expansão e extensão de serviços de orientação, seminários e programas extracurriculares”
(Tinto, 2006/2007, p. 3)
O mesmo autor reconhece que ao estudo sobre a retenção faltou complexidade e
detalhe. Grande parte dos trabalhos foi conduzida através de estudos quantitativos em
várias residências e estudantes de várias origens, não tendo sido conduzidos estudos (no
2º e 4º anos) com estudantes de outras instituições e de estudantes de diferentes etnias,
género e estatuto social. No início, o estudo da retenção incidia na responsabilidade dos
profissionais de assuntos estudantis, a eles cabia a decisão do estudante permanecer ou
abandonar em função do cumprimento, ou não, dos programas ou atividades académicas
da instituição. Esta situação ficou mais evidente nos tipos de programas de primeiro ano
estabelecidos na época, em particular o batismo de caloiros, onde as faculdades ficaram
distanciadas. Por essa razão a maioria das atividades sobre a retenção foram anexadas ao
invés de integradas ao principal curso da vida académica e institucional. Isto porque os
modelos organizacionais que explicam o abandono focalizam as características da
instituição universitária, atendem aos serviços oferecidos aos estudantes e às
oportunidades e benefícios oferecidos pela instituição aos estudantes como, por exemplo,
a saúde, o desporto, a cultura e o apoio académico e docente (recursos bibliográficos,
laboratórios, e número de estudantes por docente) (Donoso & Schiefelbein, 2007).
Desde então, o estudo e a prática de retenção dos estudantes observaram algumas
59
mudanças: primeiro, a compreensão da experiência de estudantes de diferentes origens
foi muito valorizada atendendo às dimensões cultural, económica, social e institucional.
Se antes a ideia era de rompimento dos estudos com as comunidades de onde estes
estudantes provinham, atualmente percebe-se a necessidade de uma ligação com estas
comunidades, família, igreja ou tribo, que se constituem fundamentais para a sua
permanência universitária; segundo, tomou-se consciência que o processo de retenção dos
estudantes varia de acordo com os contextos institucionais, residenciais ou não
residenciais. Por exemplo, procura-se compreender não só o impacto da vida externa,
acontecimentos na vida do estudante, mas também o envolvimento do estudante na sala
de aula. Isso explica porque “a sala de aula é, para muitos estudantes, o único lugar, talvez
o único onde eles se encontram uns com os outros e também com o corpo docente. Se o
envolvimento lá não ocorre é improvável que ocorra em outro lugar” (Tinto, 2006/2007
p. 4); terceiro, pela maior compreensão sobre a complexidade do abandono dos estudantes
e apreciando os limites dos primeiros modelos de retenção; na atualidade, existe uma
gama de modelos, alguns sociológicos, outros psicológicos e ainda os de natureza
económica que têm sido propostos como sendo os mais adequados para a explicação do
abandono dos estudantes, principalmente, no ES.
Integração e abandono na teoria de Tinto
Uma das grandes preocupações de Tinto no seu modelo teórico é explicar as
principais fontes que proporcionam o abandono ou a integração do estudante no ES. Tinto
(1993) sugere que o grau em que o estudante se integra na vida académica e social da
instituição é decisivo para a sua permanência ou abandono. O mesmo autor avança para
as variáveis que entram em jogo para explicar a evasão ou permanência do estudante,
nomeadamente, as características individuais como a família, o nível educativo dos pais
e o status social; os atributos pessoais que incluem as capacidades, a carreira, a raça e o
género; os recursos financeiros; as disposições, como a motivação e a experiência
educativa na escola. A par destes fatores, Silva (2012) sintetiza os fatores de integração
ou de abandono em três fontes principais a saber: pessoais (intenção e compromisso),
institucionais (ajustamento, dificuldade, congruência, isolamento e envolvimento) e
externas (responsabilidades e finanças). Vamos de seguida analisar as fontes de abandono
e integração nesta perspetiva teórica.
60
Fontes pessoais: Intenção e compromisso
As variáveis pessoais como a motivação, as aspirações e o compromisso
assumem-se como importantes fontes pessoais de integração e/ou abandono dos
estudantes no ES (Silva, 2012). Tal como defendido no enfoque psicológico, a retenção
refere-se aos traços de personalidade que diferenciam e identificam os estudantes que
completam os seus estudos. A proposta de Fishbein e Ajzen (1975, citado por Donoso &
Schiefelbein, 2007) é uma das pioneiras neste campo. Desta forma, a decisão de
abandonar ou continuar os estudos está influenciada (i) pelas condutas prévias, (ii) as
atitudes sobre o abandono e/ou persistência e, (iii) por normas subjetivas acerca destas
ações, as que geram a intenção condutual, que é um comportamento definido. Este último
contribui tanto com a modificação das suas crenças sobre as consequências da sua
atuação, como as suas convicções (Donoso & Schiefelbein, 2007). Tinto e Pusser (2006)
apontam igualmente para o compromisso, as expectativas, o suporte e o feedback como
variáveis condicionantes do sucesso académico de estudantes na universidade. Nesta
linha de pensamento, os autores são unânimes na ideia de que as expetativas que os
estudantes trazem para a universidade influenciam o nível de investimento na sua
atividade curricular e no seu desenvolvimento psicológico e social (Almeida et al., 2012).
Portanto, é relevante que se tome em consideração as variáveis pessoais no estudo da
integração e abandono escolar, pois, se as metas e expectativas que os estudantes trazem
ao entrar na universidade estiverem muito aquém do que vivenciam na instituição, a
probabilidade de abandonar é maior. Pelo contrário, estudantes que veem as suas
expectativas bem enquadradas e correspondidas pela instituição que frequentam, sentem-
se bem integrados e, portanto, maior é o envolvimento nas atividades escolares. Nesta
perspetiva e clarificando, Donoso e Schiefelbein (2007) referem que quando o estudante
percebe que o benefício em permanecer na instituição é maior do que os custos pessoais
(como por exemplo o esforço e a dedicação), estes permanecerão. Contrariamente, os
estudantes que percebem que existem outras atividades como fontes de maior recompensa
do que aquelas que teriam se permanecesse na instituição então desistem.
Fontes institucionais
A natureza da organização das instituições de ES pode conduzir ao ajustamento
do estudante ou o seu abandono. Este ambiente interacional dentro da instituição (por
exemplo, estudantes, professores, funcionários, etc.) pode ser decisivo na permanência
ou desistência do estudante na instituição superior (Silva, 2012). Nesta abordagem
61
teórica, Tinto (2006/2007) reconhece a importância das variáveis pessoais para explicar
a permanência ou abandono do estudante no ES, mas acredita que a própria natureza da
instituição associado a variáveis mais pessoais, pode explicar o abandono escolar.
Tomando as expetativas pessoais e os interesses que os estudantes trazem na entrada no
ES, quando estas expetativas forem bem correspondidas, então o estudante ajusta-se com
mais facilidade nesta instituição. Por outro lado, se as expectativas não encontram
correspondência, maior é a dificuldade de adaptação e maior a probabilidade do estudante
desistir de frequentar o curso (Magalhães, 2013). Nesta altura, e de acordo com Tinto
(1993), os estudantes tendem a excluir-se, a afastar-se dos colegas, a isolar-se e, portanto,
não se envolvem em atividades académicas. Assumindo essa posição teórica Magalhães
(2013), reconhece a importância do envolvimento do estudante na comunidade
universitária: quanto mais se identifica com a instituição, mais se compromete com as
atividades aí desenvolvidas. Daqui depreende-se, mais uma vez, que a interação entre os
estudantes e os restantes membros da comunidade universitária é fundamental para
explicar a qualidade de integração do estudante nesta instituição.
Fontes externas
Segundo Tinto (1993), as variáveis externas são relevantes para explicar o
abandono no ES, embora esta influência seja indireta, ou seja, pode influenciar antes da
entrada ou nos momentos iniciais da frequência universitária. A relevância destas
variáveis está no reconhecimento de que os eventos externos à instituição ligados aos
estudantes (família, trabalho, comunidade) assumem um papel importante no abandono
escolar. Contextos familiares mais estáveis parecem influenciar positivamente o
ajustamento dos estudantes no ES (Silva & Ferreira, 2009). Mais ainda, o grau de
instrução dos membros da família assume também a referida importância na explicação
do abandono. Por outro lado, alguns estudantes ingressam no ES com certas
responsabilidades (e.g., família, trabalho) que podem influenciar negativamente o seu
envolvimento académico e social na instituição (Silva, 2009). De acordo com a perspetiva
teórica de Tinto, a interação entre as características individuais dos estudantes e as
características da instituição de ES serviram de ponto de partida para todas as formulações
teóricas a respeito do abandono (Magalhães, 2013). Neste sentido, o abandono deve ser
entendido numa perspetiva longitudinal, não se resume às características presentes da
instituição, mas abarca o conjunto de antecedentes familiares, de motivações, de
necessidades, de aspirações e de dificuldades que os estudantes apresentam e sentem à
62
entrada na universidade.
2.3.3 Teorias de desenvolvimento psicossocial do estudante
As teorias de desenvolvimento psicossocial do estudante sustentam que o
desenvolvimento dos estudantes universitários deve ser compreendido tomando as
variáveis pessoais ou as predisposições dos próprios estudantes (e.g., expectativas,
motivação, interesses) e as variáveis mais sociais que incluem a família e o próprio
ambiente relacional da universidade. A universidade não só desenvolve no indivíduo a
capacidade intelectual, mas também se deve comprometer com o pleno desenvolvimento
(envolvendo as dimensões físicas, cognitivas, psicológicas, social, cultural e espiritual).
Nesta perspetiva, as teorias do desenvolvimento de jovens-adultos, principalmente do ES
reconhecem existir desafios e tarefas específicas para esta fase de desenvolvimento e a
investigação centra-se nos aspetos intrapessoais e interpessoais (Silva, 2012).
Assumindo a relevância do estudo do desenvolvimento de adolescentes e jovens-
adultos, as teorias procuram identificar as categorias ou dimensões a estudar.
Naturalmente, a dimensão psicológica e social assume maior relevância para explicar o
desenvolvimento do indivíduo quando o objetivo é estudar os jovens-adultos no ES. Neste
sentido, e em função do objetivo do presente trabalho, serão discutidas duas teorias de
desenvolvimento do estudante no ES (a teoria do desenvolvimento por vetores de
Chickering e a teoria de identidade de Erickson). Mesmo que esta última não constitua a
teoria específica para explicar o desenvolvimento dos estudantes no ES, justifica-se pela
fundamentação do desenvolvimento que nos propõe, principalmente, abarcar três grandes
tarefas desenvolvimentais (identidade vs confusão de papéis; intimidade vs isolamento e
generatividade vs estagnação). Mais ainda, estes pressupostos teóricos permitem uma
melhor compreensão da segunda proposta teórica de desenvolvimento psicossocial
proposta para esta discussão (a teoria de vetores de Chickering) que tem por base os
fundamentos da teoria de formação de identidade de Erickson sem, contudo, assumir o
corte temporal proposto para cada estágio de desenvolvimento.
2.3.4 Teoria de desenvolvimento da identidade
A teoria psicossocial de Erickson inaugura um momento de extensão no estudo
do desenvolvimento humano ao apresentar uma proposta que atravessa a fase da
adolescência e se estende à fase adulta. Neste sentido, esta teoria baseia-se num
63
continuum conflito de papéis ou tarefas que explicam o complexo desenvolvimento
humano. Assim, de uma fase de dependência o indivíduo passa progressivamente para
uma fase de relativa autonomia. Erickson (1959) reconhece o contexto de vivências
sociais que influencia a adaptação ou o desenvolvimento do indivíduo que percorre oito
estágios nomeadamente ao longo da vida: i) confiança vs desconfiança; ii) autonomia vs
vergonha; iii) iniciativa vs culpa; iv) realização vs inferioridade; v) identidade vs confusão
de identidade; vi) intimidade vs isolamento; vii) produção vs estagnação; e viii)
integridade vs desespero. As duas etapas correspondentes à adolescência e jovens-adultos
(identidade vs confusão de identidade; intimidade vs isolamento) merecem alguma
atenção no presente trabalho. Assim, reservamos a descrição detalhada da teoria no
próximo capítulo (capítulo 3) na abordagem sobre o autoconceito.
2.3.4.1 Teoria de desenvolvimento psicossocial por vetores
Tal como Erickson, Chickering (1969) propõe uma explicação do
desenvolvimento psicossocial em etapas sucessivamente organizadas, que denominou de
vetores. Assim o vetor seria a direçãoou magnitude do desenvolvimento do estudante
(Chickering & Reisser, 1993; Abiddin & Ismail, 2012). Neste sentido, o objectivo desses
vetores é de evidenciar como ocorre o desenvolvimento do estudante do ponto de vista
emocional, intelectual, social e físico. Diferentemente de Erickson, a teoria de
desenvolvimento psicossocial defendida por Chickering (1976) focaliza a faixa etária do
adulto voltado para o ES com toda a sua diversidade de contextos (Chickering, 1969;
Chickering & Reisser, 1993). Assumindo-se como um período de desenvolvimento
específico, com tarefas específicas, que são colocados como desafios para explicar o
desenvolvimento psicossocial, nomeadamente, a busca de identidade, o desenvolvimento
da autonomia, o desenvolvimento da competência de relacionamento interpessoal, o
desenvolvimento da integridade (Ferreira et al., 2001) e, nesta altura, assume-se o ES
como contexto de mudança (Gonçalves, 2012; Pinheiro, 2003). De acordo com Abiddin
e Ismail (2012), à medida que os estudantes progridem em termos de desenvolvimento
nos diferentes vetores, o seu desenvolvimento torna-se cada vez mais complexo e
integrado. Nesta altura, cada estudante vivencia as tarefas de cada vetor de forma
diferenciada. Retomando a organização deste modelo teórico, embora estes vetores se
estruturem numa sequência de atividades, estes organizam-se em núcleos de atividades
ou desafios e não pressupõem atividades lineares e fixas, sugerindo apenas estradas
64
principais que se percorrem e que favorecem a individualização (Chickering, 1969;
Chickering & Reisser, 1993).. Para explicar o seu modelo teórico, Chickering (1969;
Chickering & Reisser, 1993), que assenta nos desafios que são colocados aos estudantes
e às IES, propõe sete vetores que possuem uma ordem gradativa específica. A teoria de
desenvolvimento psicossocial de Chickering (que antes pressupunha uma organização
dos desafios em tarefas específicas), sofre a sua alteração em 1993 com a participação de
Reisser, passando a explicar o desenvolvimento humano a partir de vetores, em termos
de magnitude e dinamismo (Chickering & Reisser, 1993; Pinheiro, 2003; Silva, 2012).
Tabela 2.1
Desenvolvimento Psicossocial de Chickering e Reisser (1993)
Vetores Descrição
Desenvolver o sentido de
competência
Competência intelectual (capacidade de análise, síntese e compreensão da
informação)
Competência física e manual (realização atlética ou artística,
autodisciplina, capacidade para criar usando as mãos)
Competência interpessoal (capacidade para escutar, para cooperar, para
trabalhar em grupo, para se relacionar com o outro)
Desenvolver e integrar
as emoções
Aprender a controlar emoções como a raiva e o amor
Reconhecer e a canalizar as emoções de forma apropriada
Equilibrar o autocontrolo e a expressão das emoções
Desenvolver a
autonomia em direção à
independência
Independência emocional: aumento das convicções, a afeição, a
aprovação;
Independência instrumental: capacidade para resolver problemas de forma
autodirigida;
Interdependência: compreender o efeito das suas ações sobre os outros,
percebendo que os relacionamentos são baseados na igualdade e na
reciprocidade;
Desenvolver as relações
interpessoais
Significa respeitar as diferenças, evidenciando competências para
interagir com os outros de forma mais aberta e empática;
Capacidade para desenvolver relações de intimidade, baseadas na
honestidade e na consideração incondicional
Desenvolver a identidade
Conforto com corpo e a aparência, cuidados com a saúde;
O bem-estar com o género e a orientação sexual;
A articulação do autoconceito com os papéis sociais e estilo de vida (a
estabilidade e integração pessoais).
Desenvolver um sentido
de vida
Descobrir os interesses que mobilizam o indivíduo (família, carreira,
vocação)
Desenvolver a
integridade
Significa optar por valores que resultam de escolhas pessoais, procurando-
se a congruência entre estes e o comportamento manifestado, na condição
de que se trata de opções pelas quais o indivíduo é socialmente
responsável
65
Como se pode se observar na tabela 2.1, esta teoria é fundamentalmente voltada
para explicar o desenvolvimento psicossocial de jovens adultos em contextos de ensino
universitário. Por isso, mesmo dentre as teorias psicossociais, esta é a mais atrativa por
apresentar maior riqueza na explicação do desenvolvimento humano nesta fase de vida
universitária. Por outro lado, sendo uma teoria que assenta a sua explicação no
desenvolvimento especificamente de estudantes universitários interessa a presente
pesquisa. A par das mudanças sugeridas no quadro conceptual ou teórico, de seguida
apresentamos de forma detalhada os sete vetores desta teoria:
1° Vetor: Desenvolver o sentido da competência
Este vetor apresenta três aspetos importantes a ser desenvolvidos pelo estudante
no ES nomeadamente, a competência cognitiva, a física, manual, e a competência
interpessoal (Chickering & Reisser, 1993; Larrosa, 2000; Torres, Howard-Hamilton, &
Cooper, 2003). A competência cognitiva refere-se à necessidade de desenvolver no
estudante a capacidade de análise, crítica e compreensão da informação para posterior uso
a outros contextos e realidades na solução de problemas (Brown et al., 2012; Lien, 2002).
Atualmente, acredita-se que esta competência é mais estudada, pela forma mais
tradicional com que os currículos são concebidos e avaliados, talvez porque as
competências intelectuais sejam facilmente avaliadas do que as competências
interpessoais. Por outro lado parece que a competência física e manual assume a sua
relevância na vida universitária, sendo que esta população estudantil jovem valoriza a
atracão física, os cuidados com a saúde, os exercícios físicos e as destrezas manuais, o
autocontrole e o sentido artístico, como elementos fundamentais para o desenvolvimento
do self. A par desta competência, está a necessidade de desenvolver nos jovens adultos a
cooperação, a capacidade de interagirem debatendo e resolvendo em conjunto tarefas
escolares, e a capacidade para escutar o outro.
No contexto universitário atual parece que a competência cognitiva é mais
desenvolvida do que as restantes (física, manual e a interpessoal). De alguma forma, tal
é evidente, pois é a preocupação central das universidades desenvolver conhecimentos,
mais do que a socialização e a participação em atividades extracurriculares que tanto
contribuiu para o desenvolvimento psicossocial do estudante (Torres et al., 2003). O
próprio espaço universitário deve estar organizado para desenvolver essas três
competências. A competência física e interpessoal raramente se aprende na sala de aula,
elas alcançam-se a partir da própria organização do espaço universitário (e.g., ginásios,
66
campos para desporto, convívios, passeios escolares, atividades desportivas e culturais).
2.º Vetor: Desenvolver a capacidade de gerir emoções
Os estudantes universitários são confrontados com a necessidade de gerir as suas
emoções. Mais ainda, estes estudantes deverão conhecer-se em termos emocionais, ou
seja, conhecer o seu autoconceito emocional. O referido conhecimento é fundamental
para poderem gerir com eficiência e alcançar a maturidade emocional desejada, passando
por situações desafiadoras concretas para avaliar a maturidade atingida neste domínio de
desenvolvimento psicossocial (Chickering & Reisser, 1993; Torres et al., 2003).
Conhecendo a expressividade das suas emoções, o estudante deverá passar à
gestão das suas emoções: (i) aprendendo a controlar emoções como a raiva e amor, isto
é, saber identificar que sentimento ou emoção sente em cada situação específica para, (ii)
reconhecer e canalizar as emoções de forma apropriada, e iii) equilibrar o autocontrolo e
a expressão das emoções. E como se depreende, não é apenas o facto de ser estudante do
ES a quem essa exigência é colocada, mas trata-se da etapa evolutiva do indivíduo que
coincide com a entrada na universidade. Nesta altura, a universidade enquanto um espaço
educativo deverá desenvolver no jovem adolescente essa maturidade emocional.
3.º Vetor: Desenvolver a autonomia em direção à interdependência
A autonomia remete-nos para a ideia de liberdade, independência emocional e
instrumental, mas entre a independência e liberdade deve incluir-se a interdependência,
que é uma das preocupações nas investigações dos estudantes do ES. Efetivamente, a
saída do nível secundário para o ES faz-se acompanhar de mudanças difíceis, ainda que
necessárias. A vivência de muitos jovens com os pais, antes de ingressarem na
universidade, não possibilita grandemente o desenvolvimento da autonomia, mas com a
entrada na universidade esse jovem passa a enfrentar novos desafios, tem de gerir as suas
economias, poderá ter necessidade de encontrar algum emprego, e estas tarefas
possibilitam a designada independência instrumental (Soares et al., 2014; White, 1986).
A par da independência emocional e instrumental, acrescenta-se o suporte familiar
que, aliás, aparece como elemento significativo para explicar estas independências. O
desenvolvimento da autonomia implica um ajustamento gradativo ou o progresso do
jovem rumo à independência, em que a família e amigos significativos são fundamentais
para explicar a sua adaptação. No contexto universitário é importante reconhecer o papel
dos professores, estudantes, funcionários na forma como estes interagem com os seus
67
estudantes. Nesta perspetiva Chickering (1969) expõe as principais dificuldades que os
estudantes do ES vivenciam buscando a autonomia e interdependência.
4.º Vetor: Desenvolver as relações interpessoais
Este vetor procura desenvolver nos estudantes do ES a tolerância, o respeito e a
aceitação das diferenças individuais e também, a capacidade do indivíduo de estabelecer
relações interpessoais, mais íntimas e empáticas. O respeito pelas diferenças individuais
é um princípio importante para aqueles contextos de vida em que a diversidade
sociocultural e económica se sobrepõe à vida e convivência universitária, como é o caso
do contexto universitário de Moçambique (Campira & Araújo, 2012).
Nesta altura, os estudantes universitários despendem mais tempo com os amigos,
explorando os pontos de interesses, a intimidade, a confiança, e relacionamentos
maduros. Segundo Chickering e Reisser (1993), o estudante deixa de lado o narcisismo e
passa a desenvolver relacionamentos saudáveis e compromissos interpessoais baseados
na honestidade, na empatia e na aceitação incondicional do outro. Mais ainda, as relações
interpessoais são relevantes para os estudantes do ES porque assumem um papel decisivo
na desistência ou permanência do ES (Riquelme et al., 2012). Neste sentido, e de acordo
com estes autores, a universidade assume-se como a instituição que se poderá organizar
para desenvolver esta competência nos estudantes, por exemplo, oferecendo serviços
estudantis, espaços livres, de intercâmbio e atividades desportivas.
5.º Vetor: Desenvolver a identidade
Se para Erickson (1968) a adolescência exigia uma luta constante de conciliação
de papéis sociais que refletisse o que o adolescente é (em termos do seu autoconceito), a
definição da identidade é corolário deste processo construtivo de fusão de vários papéis
sociais experimentados ou explorados. A relevância deste vetor para explicar a adaptação
dos estudantes no ES e o seu desenvolvimento psicossocial está na estabilidade e
integração pessoal. O jovem aceita o que é (o seu corpo, tem a consciência na vida social
e pessoal), o que significa também ter uma articulação coerente do seu autoconceito com
os diferentes papéis sociais e o seu estilo de vida. Neste sentido, a construção de
identidade no ES assume a maior relevância e sendo a tarefa mais importante nesta fase
de desenvolvimento (Chickering & Reisser, 1993).
Assumindo ainda a relevância desta teoria, e principalmente desta fase, para
explicar o desenvolvimento dos estudantes no ES, esta fase é crucial por permitir aos
68
estudantes explorarem o sentido real da vida, compreendendo as suas limitações e
potencialidades, fundamentais para a escolha da carreira e da formação profissional.
6.º Vetor: Desenvolver o sentido da vida
Este vetor inclui a descoberta do sentido da vida (e.g., os interesses, os objetivos,
tais como carreira, família). Nesta fase, o indivíduo assume um comprometimento e até
deverá dar prioridade a esses objetivos na sua vida (Chickering, 1969).
Nesta fase de desenvolvimento já não constituem preocupação para os jovens as
questões colocadas na teoria de Erickson como “quem sou eu?” ou “onde estou?”, pois a
identidade já está construída e revela alguma estabilidade. No entanto, as questões “o que
virá?” e “como devo encarar?” constituem as principais preocupações dos jovens nesta
fase de desenvolvimento. Habitualmente, esta fase coincide com a fase final de formação
universitária, em que o estudante é confrontado com alguma ansiedade face ao que poderá
surgir no futuro trabalho. Nesta altura, o nível de ansiedade poderá ser reduzido se
realmente o jovem-estudante desenvolver suficientemente a sua identidade (o self).
7.º Vetor: Desenvolver a integridade
A integridade significa optar pela defesa e desenvolvimento de valores que
resultam de escolhas pessoais, garantido a correspondência entre estes e o comportamento
manifesto. Essa correspondência reflete a responsabilidade do indivíduo relativamente às
opções e decisões que tomam na vida, podendo estas decisões afetar o curso da sua vida,
assim como da vida dos outros membros da família. De acordo com Chickering (1969),
os indivíduos passam pela humanização dos valores,que se refere à substituição das suas
crenças como absolutas, passando a olhar para elas com um maior relativismo e
flexibilidade, olhando mais para as situações e circunstâncias do que para as informações
isoladas. Há também uma personificação dos valores, isto é, o indivíduo orienta a sua
vida através de um código flexível de valores pessoais. Os mesmos indivíduos não
assumem com firmeza os seus valores e as suas decisões, podendo com facilidade ajustar
esses mesmos valores, caso constatem que os valores dos outros são superiores aos seus.
É certo que cada pessoa possui valores que orientam a sua vida, que se vão atualizando e
mudando, substituindo-os por novos ideais e novas referências. Porém, os valores não
devem ser instáveis, devem ter subjacente uma evolução, que pode influenciar a direção
da vida, colocando em risco a sua integridade.
69
O desenvolvimento da identidade no Ensino Superior
A identidade constitui uma das variáveis que interfere no desenvolvimento e
desempenho escolar dos estudantes do ES (Buckler & Adams, 2005; Was, Al- Harthy,
Stack-Oden, Isaacson, 2009). Estudos têm reconhecido a multidimensionalidade do
constructo (Araújo et al., 2014; Blasi & Glodis, 1995; Fadjukoff, 2007; Torres, Jones, &
Renn, 2009), tendo recebido maior atenção na adolescência e, mais tarde, o conceito
ganhou relevância na fase adulta. Neste sentido, várias perspetivas teóricas têm procurado
explicar o desenvolvimento da identidade, assumindo-se como importante constructo no
desenvolvimento psicossocial dos indivíduos. Entretanto, a maioria dos estudantes que
ingressam no ES sentem algumas mudanças desenvolvimentais (Torres et al., 2003). De
acordo com esses autores, a teoria do desenvolvimento do estudante e do self surge para
explicar essas mudanças que poderão influenciar o desenvolvimento e ajustamento de
jovem-adultos.
Para Erickson (1972), a identidade reflete o que o individuo é ou, como refere
Blasi e Glodis (1995), é uma resposta formulada sobre a questão “quem sou eu?”. Assim,
a identidade na perspetiva destes autores é a conceção que o indivíduo tem de si mesmo,
integrando valores, metas e crenças. Por outro lado, tomando a teoria de Erickson, Torres
et al., (2003) concordam que a identidade é constituída por aquilo que somos, ou seja, é
a teoria do self, mas acredita que deverá incluir aquilo que pretendemos descobrir, o que
ainda não somos, envolvendo elementos conscientes e inconscientes (Blasi & Glodis,
1995). Nesta altura, o self seria um conjunto de identidades (Terry, Hogg, & White, 1999),
refletindo os papéis sociais que o indivíduo desempenha. Essa última perspetiva traduz a
noção de exploração da identidade (Kerpelman et al., 2012), que é entendido como um
constructo em contínuo desenvolvimento (Blasi & Glodis, 1995).
Na teoria de Erickson, a identidade é descrita em termos de desenvolvimento do
ego, que constitui a manifestação da identidade (Torres et al., 2003). Neste sentido, ao
longo do desenvolvimento o indivíduo vai passar por diferentes estágios de
desenvolvimento da identidade, desde a exploração até a estabilização do ego. Assim, ao
longo deste percurso desenvolvimental os indivíduos deverão resolver diferentes crises.
As crises ao longo do desenvolvimento assumem a devida importância na direção do
desenvolvimento (Torres at al., 2003), podendo justificar o seu ajustamento ou
desajustamento psicológico ao contexto das suas vivências. Por outro lado, Pinheiro
(2003) verifica que o desenvolvimento da identidade ocorre acompanhado pela noção de
70
continuidade e permanência, ou ainda, de coesão e unidade. Esta polaridade poderá
justificar a existência de crises ao longo do desenvolvimento. A vivência de crises é
considerada uma característica extensível à idade jovem-adulta à medida que os jovens
são confrontados com a necessidade de escolher o curso, carreira, sugerindo maior solidez
do eu neste processo (Pinheiro, 2003).
Tomando como base a teoria de identidade de Erickson, Marcia (1966, 1967),
explorou o desenvolvimento da identidade em duas dimensões: i) ter ou não vivenciado
uma crise ao longo do desenvolvimento; e ii) o grau de compromisso em relação às suas
escolhas. Nesta teoria, o desenvolvimento da identidade não é descrito em termos de
estágios, pois acredita o autor que o compromisso pode ser manifesto, mesmo sem
observar a estrutura da identidade, e a própria identidade pode existir sem que vejamos
os compromissos que assumimos.
A identidade no ES é importante ao permitir aos estudantes descobrir as suas
habilidades e objetivos, e permitir o seu maior envolvimento académico, pois ao descobrir
os objetivos e habilidades vai desenvolvendo o senso de identidade (Torres et al., 2009).
Para Pinheiro (2003), apesar da teoria de Chickering concentrar a sua atenção no ES, os
vetores não sendo exclusivos desta etapa, são fundamentais para os estudantes tendo em
conta a necessidade do desenvolvimento de autonomia, de estabilidade emocional e de
consolidação da sua identidade.
Considerações finais
A entrada no ES é vivida pelo estudante com uma série de expetativas, fruto das
suas vivências anteriores ao ingresso e do seu contexto de vivência social prévio. Estas
expetativas dos estudantes que ingressam na universidade assumem um papel importante,
sendo alvo de inúmeras investigações científicas, por poderem influenciar a integração
dos estudantes ou o seu abandono (Bayrón & Piedras, 2012; Donoso & Schiefelbein,
2007; Riquelme et al., 2012; Tinto, 1993). Com efeito, alguns autores sugerem que
quando as expectativas são realistas, ou vão de encontro às exigências do contexto
universitário, os estudantes vivenciam poucas dificuldades, ao contrário dos estudantes
que vivem uma incongruência entre o que esperavam encontrar na universidade e o que
realmente encontram, que vivem maiores dificuldades de integração neste contexto
académico (Almeida et al., 2012; Riquelme et al., 2012).
Entretanto, para estudar o ajustamento dos estudantes no ES foram desenvolvidas
71
várias teorias, sendo fundamentais para os objetivos da presente pesquisa as teorias de
impacto institucional (e.g., envolvimento académico de A. Astin, teoria da retenção de V.
Tinto) e as teorias de desenvolvimento psicossocial do estudante (e.g., E. Erickson, a de
Chickering). As primeiras teorias explicam o grau de envolvimento do estudante no ES
(incluindo as suas dificuldades de ajustamento) e as razões que explicam a sua
permanência ou desistência neste contexto académico. Por outro lado, as teorias
psicossociais procuram explicações do desenvolvimento do indivíduo tendo em conta os
desafios que são colocados nestes contextos de vida académica. Neste sentido, Erickson
(1959) e Chikering (1969) acreditam que existem tarefas específicas que deverão ser
desenvolvidas pelo indivíduo em cada etapa do seu desenvolvimento. No caso do ES, a
principal tarefa dos jovens e adultos é o estabelecimento da identidade (Pinheiro, 2003).
Neste sentido, o conceito de identidade abre as nossas discussões no próximo capítulo
sobre o desenvolvimento do self (autoconceito).
72
73
CAPÍTULO 3
AUTOCONCEITO: DEFINIÇÃO, AVALIAÇÃO E
RELEVÂNCIA
Introdução
O autoconceito é hoje uma das variáveis mais destacadas no estudo da
personalidade ou da identidade humana. Dada a sua relevância na aprendizagem e na
realização humana, este constructo assume um papel importante nas teorias psicológicas
que procuram explicar o comportamento e o desenvolvimento dos indivíduos, em
particular a aprendizagem e o desempenho.
O presente capítulo discute a natureza, organização e avaliação do autoconceito,
concluindo com uma sistematização da investigação sobre a relação do autoconceito com
outras variáveis psicossociais e a sua relevância na explicação da aprendizagem e
rendimento académico. Igualmente na parte final do capítulo, e em suporte do estudo
empírico realizado, apresentaremos os resultados de alguns estudos que sugerem uma
diferenciação do autoconceito com ao longo da idade dos sujeitos e em função de outras
variáveis psicossociais dos indivíduos.
Neste sentido, inicialmente abordaremos o autoconceito descrevendo o constructo
em função de diferentes perspetivas teóricas e autores. Apresentam-se também as teorias
que melhor explicam a construção e desenvolvimento do autoconceito, nomeadamente a
teoria humanista e fenomenológica de Carl Rogers, a teoria de desenvolvimento
psicossocial de Eric Erickson e a teoria de desenvolvimento cognitivo de Susan Harter.
Ainda ao longo do capítulo apresenta-se a organização do autoconceito enquanto
constructo multidimensional tomando a perspetiva hierárquica de Shavelson et al.. Por
outro lado, tomando os objetivos da presente tese, descreve-se algumas das dimensões
que compõem o autoconceito, nomeadamente o autoconceito social, autoconceito
académico, autoconceito artístico, autoconceito físico, e autoconceito religioso. Importa
referir que as dimensões de autoconceito artístico e de autoconceito religioso não são
tradicionais no estudo do autoconceito, contudo emergiram nos nossos estudos junto dos
estudantes do Ensino Superior de Moçambique.
Adicionalmente, apresentamos e descrevemos alguns dos instrumentos para a
avaliação do autoconceito, identificando as dimensões avaliadas e os respetivos itens. Na
74
descrição dos instrumentos de avaliação do autoconceito centramos a nossa atenção
naqueles que avaliam o autoconceito no contexto universitário pois constitui o foco da
nossa pesquisa. Neste sentido, apresentamos um tópico sobre o autoconceito no ensino
superior, assumindo a relevância desta variável psicológica no ajustamento académico
dos estudantes do Ensino Superior.
Finalmente, e procurando suporte à análise dos resultados do nosso estudo
empírico da tese, sistematizamos a investigação internacional analisando as relações entre
o autoconceito e outras variáveis psicológicas das pessoas, nomeadamente outras
variáveis descritivas da identidade (e.g., autoestima, autoeficácia). Igualmente
analisamos a relação entre autoconceito e a aprendizagem e sucesso escolar, descrevendo
ainda alguns estudos diferenciais analisando possíveis diferenças de acordo com a idade
e as experiências de vida dos sujeitos.
Autoconceito: Delimitação do constructo
I cannot think of a single psychological problem- from anxiety to
depression, to under-achievement at school or at work, to fear of intimacy,
happiness or success, to alcohol or drug abuse, to spouse battering or child
molestation, to co-dependency and sexual disorders, to passivity and
chronic aimlessness, to suicide and crimes of violence – that is not
traceable, at least in part, to the problem of deficient self-esteem.
(Nathaniel Branden, 1994, citado em Marsh, 2005, p. 6).
A preocupação com o autoconceito é bastante antiga. Com frequência autores
reconhecem que o estudo do self teve o seu início nas ciências filosóficas (Campira et al.,
2015; Vieira, Vieira, Ferraz, & Oliveira, 2010; Tamayo et al., 2001). Dado o seu
contributo na integração do autoconceito no domínio da Psicologia, William James
(1890) é reconhecido, como pioneiro no estudo do Self (Campira et al., 2013, 2015;
Cazalla-Luna & Molero, 2013; Costa, 2001; Epstein, 1973; Harter, Bresnick, Bouchey,
& Whitesell, 1997; Marsh, 2005; Suls & Krizan, 2005). Adicionalmente, James assumiu
uma perspetiva multidimensional do autoconceito ao distinguir entre o eu-sujeito (I) e o
eu-objeto (Me), e propôs a existência de três categorias de Self, nomeadamente Self
material, Self social e Self espiritual (Campira et al., 2013; Costa, 2002; Epstein, 1973;
Fuentes, García, Garcia, & Lila, 2011; Harter et al., 1997; Wang, 2013). Nesta altura,
James admitiu a existência do autoconceito na sua dimensão social (Tamayo et al., 2001),
sendo por isso considerado um constructo eminentemente social (Cazalla-Luna &
75
Molero, 2013).
Desde então o autoconceito assumiu a centralidade nos estudos da Psicologia
(Craven & Marsh, 2008; Epstein, 1973; Marsh, 2005; Tamayo et al., 2001). Com efeito,
os estudos do autoconceito desenvolveram-se a partir da fenomenologia existencial
(Tamayo et al., 2001). Para Costa (2001) existem três momentos de evolução do estudo
do autoconceito nomeadamente: i) a psicologia enquanto ciência que se preocupa com o
estudo da consciência, ii) o período em que a Psicologia se afasta do estudo da consciência
para se centrar na objetividade dos fenómenos psicológicos (o behaviorismo), e iii) o
behaviorismo mais subjetivo, ao que denominou “revolução cognitiva”.
Reportando-nos ao segundo momento do seu estudo, o autoconceito perdeu algum
interesse entre os investigadores dado o seu carácter subjetivo (Craven & Marsh, 2008;
Epstein, 1973; Marsh, 2005; Tamayo et al., 2001). Entretanto, após esse período de
estagnação os estudos do autoconceito ressurgiram. Neste sentido, vários estudos e
instrumentos para a sua avaliação foram amplamente desenvolvidos (Marsh, 2005), sendo
por isso reconhecida a sua importância nos vários domínios da realização humana (e.g.,
saúde, desporto, escolar, carreira) (Elosua & Muniz, 2010; Fuentes et al., 2011; Marsh,
2005; Oyserman, Elmore, & Smith, 2012; Veiga, 2006).
Dada a multiplicidade de perspetivas teóricas para o seu estudo, o autoconceito é
dos constructos que menos consenso reúne na sua definição e avaliação. Por exemplo,
Novaes (1985, citado em Costa, 2002) destaca uma multiplicidade de terminologias a
respeito do mesmo constructo nomeadamente, autoconceito, autoestima, autoimagem.
Por sua vez, outros autores (Dörner, 2006; Peixoto, 2003) elencaram outras expressões
também associadas ao autoconceito (e.g., identidade, autoconhecimento, autodescrição,
autossistema, autoteoria).
A maioria dos autores define o autoconceito como a perceção que o indivíduo tem
de si mesmo (Barros & Morreira, 2011; Faria & Santos, 2006; Shavelson & Bolus, 1982;
Silva & Vendramini, 2005; Souza & Brito, 2008). Nesta perspetiva, o autoconceito
assume uma componente mais descritiva das capacidades, sentimentos e conhecimentos
acerca de si próprio. Mais ainda, e numa perspetiva mais cognitiva o autoconceito, é o
conjunto de esquemas cognitivos (incluindo perceções, valorações, crenças e atitudes)
formados pelas componentes afetiva, avaliativa, atitudinal e cognitiva (Saldanha,
Oliveira, & Azevedo, 2011; Tamayo et al., 2001).
Assumindo já uma perspetiva social, Fuentes et al. (2011) consideram que o
autoconceito é a perceção que o indivíduo tem de si mesmo enquanto ser social, físico e
76
espiritual. Trata-se de um conjunto de crenças subjetivas que se desenvolvem a partir
daquilo que os outros reportam de nós mesmos. Neste sentido o autoconceito exerce a
função mediadora entre o indivíduo e o meio social que o envolve (González, Leal,
Segovia, & Arancibia, 2012; Villarroel, 2001). Assume-se que o contexto e a comparação
sociais (e.g., relações sociais, as interações e o feedback fornecido por outros
significativos) são importantes fontes de construção e desenvolvimento do autoconceito
(Andersen & Chen, 2002; Arnaiz & Guillen, 2012; Waugh, 2000). Adicionalmente,
alguma atenção tem sido prestada às dinâmicas relacionais na família e, principalmente,
ao suporte emocional pela família (Campira et al., 2014a, 2014b; Peixoto, 2004; Tamayo
et al., 2001; Waugh, 2000).
Apesar da multiplicidade de teorias e definições sobre o autoconceito, as
características do autoconceito parecem-nos consensuais e podem informar sobre a sua
natureza e organização. Assim, Shavelson et al. (1976) resumem as sete características
fundamentais do autoconceito:
i. O autoconceito é organizado e estruturado. O indivíduo organiza a diversidade
de informação que tem de si de acordo com as experiências já existentes (essa
experiência atuaria como uma espécie de filtro perante novas informações a
respeito de si);
ii. É multidimensional, congregando as várias dimensões particulares que o
compõem; e como refere Byrne e Shavelson (1996), estruturalmente o
autoconceito na adolescência é multifacetado e à medida que assumimos novos
papéis sociais, muitos autoconceitos vão emergindo, tornando-o mais
multifacetado.
iii. Apresenta uma estrutura hierárquica, podendo as dimensões que o compõem
estruturarem-se em função de domínios específicos. Por exemplo, no topo da
hierarquia situa-se o autoconceito geral e mais abaixo, os diferentes domínios
que o compõem (autoconceito académico e não académico);
iv. No topo da hierarquia, o autoconceito geral apresenta-se estável, mas em
domínios mais específicos este autoconceito mostra-se instável. Apesar da sua
estabilidade apresenta-se como um constructo dinâmico e não como uma
entidade estática e independente (Costa, 2002);
v. O autoconceito torna-se multifacetado quando o indivíduo passa da infância
para a vida adulta (Harter et al., 1997; Peixoto, 2003);
vi. O autoconceito apresenta, simultaneamente, uma componente descritiva e
77
avaliativa. Esta última componente representa a autoestima (Tamayo et al.,
2001);
vii. O autoconceito diferencia-se de outros constructos. Por exemplo, o
autoconceito académico diferencia-se do desempenho académico e o
autoconceito físico difere de desempenho físico.
Perspetivas teóricas do autoconceito
Dada a complexidade do autoconceito, diversas perspetivas teóricas procuram
explicar a sua natureza e desenvolvimento. Neste sentido, dentre as perspetivas teóricas
do autoconceito apresentamos a teoria fenomenológica de Carl Rogers, a teoria
psicossocial de Erick Erickson e a teoria sociocognitiva de Susan Harter. Estes dois
últimos autores foram considerados nesta síntese em virtude dos seus contributos no
âmbito da identidade, que nos permitirão uma maior aproximação ao constructo central
do nosso estudo: o autoconceito.
3.3.1 Teoria fenomenológica de Carl Rogers
A teoria do campo fenomenológico de Carl Rogers considera que é através da
experiência que o indivíduo se desenvolve e toma consciência de si mesmo (Oliveira,
2004; Vieira et al., 2010), assumindo centralidade na construção e desenvolvimento do
autoconceito. É no referido campo que o indivíduo procura satisfazer os seus desejos e as
suas necessidades, mais numa visão desenvolvimental e de personalidade humana. Nesta
perspetiva teórica “ser homem-pessoa é ser o que realmente se é, é aceitar-se e aceitar a
sua experiência, é compreender-se a si e aos outros, é ser congruente e é crescer,
desenvolvendo, aperfeiçoando, atualizando e realizando…” (Fonseca, 2009, p. 2). A
experiência na teoria de Carl Rogers (Frager & Fadiman, 2001) corresponde a tudo o que
sucede no organismo do indivíduo e que a qualquer momento tem a possibilidade de
aceder à consciência. De acordo com estes autores, trata-se de um conjunto de perceções,
sensações e sucessos que o indivíduo ainda não tem consciência. Esta definição aproxima-
se do conceito freudiano sobre o inconsciente, ao defender que grande parte da nossa
essência se encontra nesse reservatório (inconsciente).
Para Rogers nesse processo de tornar-se pessoa, há uma tendência de o
“organismo mover-se em direção a autonomia, independência, autogoverno” (Oliveira,
78
2004, p. 22), em busca de metas que não são fixas (Hansenne, 2004; Hoppenstedt, 2005).
De acordo com estes autores é neste movimento de mudanças experimentadas pelo
indivíduo que vai emergindo a consciência de si, ou seja, a tomada de consciência do que
é o self, enquanto “entidade instável e mutável” (Frager & Fadiman, 2001, p. 419). Vieira
et al. (2010) e Hansenne (2004) referem, com base nesta teoria, que existe um potencial
no indivíduo logo à nascença que pode concorrer para a sua adaptação ou desadaptação.
Neste sentido, e de acordo com os mesmos autores, o fracasso no alcance deste potencial
é atribuído aos elementos do contexto social (e.g., pais, professores, outros significativos)
e o seu ajustamento depende da superação das dificuldades pelo indivíduo.
Nesta perspetiva a teoria de Rogers parece reconhecer a importância dos outros,
do contexto e de vivências sociais como referências na construção e desenvolvimento do
autoconceito, sendo os feedbacks fornecidos por outros fatores responsáveis pela
flutuação da perceção que os indivíduos têm de si mesmo. De salientar que a teoria
reconhece que o desenvolvimento do autoconceito é um processo que começa na infância
e ocorre ao longo da evolução em que as experiências vivenciadas assumem papel
fundamental na construção do que os indivíduos sentem, pensam e acreditam que são.
Por conseguinte, e em oposição a teóricos que consideram o autoconceito como um
constructo estável e imutável, para Rogers (1959) o autoconceito é um processo, um
sistema, uma gestalt que muda constantemente. O self seria o conceito de si mesmo, a
forma como os indivíduos se entendem com base nas experiências, as vivências e
expectativas do futuro (Evans, 1975, citado em Frager & Fadiman, 2001, p. 420). Mais
ainda, o autoconceito é “um padrão organizado, consciente de características percebidas
do [eu] ou do [mim]” (Davidoff, 2004, p. 522).
A presente teoria distingue o self real do self ideal, entendendo-se que o self real
corresponde à perceção ou atributos que o indivíduo considera possuir naquele momento
(por exemplo, “eu sou gordo”) o que o diferencia do self ideal que seria aquilo que o
indivíduo desejaria que fosse (por exemplo, “eu posso ser 5kg mais magro do que sou”)
(Frager & Fadiman, 2001). Estes dois níveis de self procuram explicar a coerência,
conteúdo e desenvolvimento do self (Hansenne, 2004). Neste sentido, o desenvolvimento
do indivíduo faz-se por duas fontes, por um lado as experiências diretas e por outro os
feedbacks e simbolizações que recebe dos outros que passa a assumir como se fossem as
próprias experiências (Oliveira, 2004). Assim sendo, para que ocorra um
desenvolvimento saudável é necessário que haja uma congruência entre a experiência
vivenciada pelo indivíduo e a tomada de consciência dessas vivências na sua estrutura
79
cognitiva (Frager & Fadiman, 2001; Hansenne, 2004; Hoppenstedt, 2005; Oliveira, 2004;
Santos 2004). Sendo assim,
A capacidade do ser humano de ter consciência de si próprio, de reflexão
sobre as suas próprias escolhas, vai marcar decisivamente os seus
processos de actualização. A diferenciação da estrutura do self,
funcionando como um instrumento da tendência actualizante, vai abrir
novas vias para uma maior complexidade e autonomia do organismo na
relação que estabelece com o meio. Uma das possibilidades adquiridas
consiste na faculdade de conhecer e avaliar o seu próprio funcionamento
e, em certas condições, reestruturar-se de forma a melhor realizar as
potencialidades de actualização do organismo (Santos, 2004, p. 20).
O termo tendência atualizante refere-se, nesta teoria, a todas as motivações,
necessidades ou impulsos, são uma expressão da tendência do organismo para a
atualização das suas capacidades e das suas potencialidades, sugerindo desde já que a
consciência de si ou o autoconceito é uma contínua construção do indivíduo ao longo da
vida (Santos, 2004).
De qualquer forma, vários autores (Cazalla-Luna & Molero, 2013; Frager &
Fadiman 2001; Hansenne, 2004; Hoppenstedt, 2005; Friedman & Shustack, 2004;
Oliveira, 2004) referem que quando se verifica uma maior distância entre o self real e o
self ideal a pessoa pode experimentar a insatisfação e apresentar problemas psicológicos.
Neste sentido, a maturidade de um indivíduo é alcançada na aceitação de si mesmo, sem
recorrer a mecanismos de defesa, ou seja, deve haver equilíbrio entre as suas experiências
e o que realmente perceciona (Cazalla-Luna & Molero, 2013; Hansenne, 2004;
Hoppenstedt, 2005).
Tomando já os estudantes do ES, nosso foco de interesse no presente estudo,
podemos assumir a necessidade destes estudantes definirem as suas metas (aquilo que
desejam e que definem como ideal) de acordo com convicções reais, o que poderá
diminuir o desencontro entre o que são e o que desejariam que fossem. Parece-nos
interessante sublinhar que os estudantes que experimentam a sensação de congruência
destes selves tendem a ser mais coerentes consigo mesmo. Pelo contrário, os estudantes
que percebem maior incongruência, tendencialmente experimentam maior insatisfação
com a vida, sendo maior a probabilidade de desistirem no investimento desse ideal.
80
3.3.2 Abordagem psicossocial de Eric Erickson
A dimensão social na teoria de Erickson é fundamental na explicação do
desenvolvimento humano. Neste sentido, o termo psicossocial busca uma explicação do
desenvolvimento psicológico do indivíduo a partir do contexto social ou de vivência dos
indivíduos (Hansenne, 2004). Com efeito, parecem existir crises (um conflito que existe
no interior de cada estágio de desenvolvimento que o indivíduo terá de resolver, sugerindo
a existência de uma negociação permanente. O indivíduo vai enfrentando dois polos: i)
no sentido positivo, que reporta a saúde mental e ii) no sentido negativo, que explica o
desajustamento psicológico (Davidoff, 2004). A mesma autora refere que a saúde mental
e o desajustamento psicológico dependem das experiências que o indivíduo viverá. Para
explicar o desenvolvimento humano, Erickson propôs 8 estágios de desenvolvimento que
passamos a descrever:
a) Confiança versus desconfiança: as crianças nascem com as suas necessidades
que deverão ser satisfeitas, são necessidades fisiológicas (Hansenne, 2004). A
satisfação das necessidades dos bebés confere-lhes uma confiança básica, mas
quando não recebem o conforto e segurança elas desenvolvem a insegurança ou
desconfiança (Davidoff, 2004). Neste sentido a figura da mãe é fundamental no
desenvolvimento do bebé. Mais ainda, além da mãe, os outros membros da
família ajudam a criança a satisfazer essas necessidades. Nesta fase de
desenvolvimento não há ainda a distinção do eu em relação aos objetos e às
pessoas que rodeiam as crianças.
b) Autonomia versus vergonha: as crianças entre os 2 a 3 anos exploram o mundo
que as rodeiam. Nesse processo, as conquistas adquiridas desenvolvem a
autonomia e o sentimento de que são capazes, permitindo a sua autodescoberta.
Porém, quando não realizam tais tarefas desenvolvem o sentimento de
incompetência, dando lugar à vergonha ou dúvida (Davidoff, 2004). Tal ocorre
graças a esse processo exploratório que a criança inicia com o processo de
diferenciação de si com o mundo e com as pessoas que a rodeia. Parece-nos
fundamental esta conquista na construção da noção de si mesma, a criança nesta
fase passa a ter controlo sobre as coisas e sobre as ações que desenvolve
(Friedman & Schustack, 2004; Hansenne, 2004).
c) Iniciativa versus culpa: A partir das conquistas da fase anterior, as crianças entre
os 3 e 5 anos tomam iniciativas e passam a confiar nas suas capacidades de
81
resolução de problemas, elevando a sua autoestima. Caso não consigam ser
capazes a este nível, sentem-se culpadas pelas aventuras e fantasias
desenvolvidas (Davidoff, 2004; Hansenne, 2004).
d) Diligência versus inferioridade: com a entrada na vida escolar, por volta dos 6
até 11 anos, a criança encontra um contexto com determinados desafios e
objetivos. Nesta altura, emerge o processo de comparação social que resulta da
competitividade na realização das atividades escolares. Neste sentido, as
crianças que realizam as atividades com sucesso desenvolvem o sentimento de
competência e diligência enquanto as crianças que fracassam ou apresentam
falhas desenvolvem o sentimento de inferioridade (Davidoff, 2004; Hansenne,
2004).
e) Identidade versus confusão: corresponde à fase da adolescência, entre 12 a 20
anos. Nesta etapa surgem as modificações físicas, sociais e psicológicas. Os
adolescentes sentem-se diferentes do que eram antes, o que afeta a sua
autoimagem (Hansenne, 2004). Para alcançar a identidade os jovens-
adolescentes experimentam vários papéis sociais que lhes permite integrar as
várias autoimagens. Quando as fases anteriores são bem desenvolvidas, eles
solidificam a noção de si e do que desejam ser, incluindo as suas escolhas
profissionais ou vocacionais (Davidoff, 2004). A identidade constitui-se na
síntese de si respondendo à questão “quem sou eu?”. Por oposição, a confusão
de identidade surge quando os jovens não conseguem integrar os vários papéis
sociais num só eu (Davidoff, 2004; Hansenne, 2004). Neste sentido, Hansenne
(2004) assinala dois elementos fundamentais nesta fase de desenvolvimento: i)
consolidar as experiências e perceções de si mesmo já adquiridas, e ii) que haja
correspondência entre a visão que tem de si mesmo e a perceção que os outros
têm de si, produzindo assim uma síntese do eu percebido por si mesmo e o eu
que os outros têm de nós mesmos.
f) Intimidade versus isolamento: já na fase jovem adulta, entre os 20 e os 45 anos,
um novo desafio emerge. Os jovens adultos parecem demonstrar alguma
preocupação com relacionamentos sérios, maduros e relacionamentos com
indivíduos de sexo oposto (Davidoff, 2004). Trata-se de uma predisposição de
fundir a sua identidade com a da outra pessoa sem medo de perder a sua
identidade (Hansenne, 2004), o que reflete o sentimento de confiança. Neste
sentido, as pessoas que não apresentam a fase anterior bem desenvolvida tendem
82
a demostrar dificuldades em desenvolver relacionamentos sérios e podem
desencadear o isolamento (Davidoff, 2004).
g) Generatividade versus estagnação: Trata-se da idade adulta que corresponde a
faixa etária de 45 a 65 anos. Nesta fase do desenvolvimento o indivíduo
apresenta preocupações com aspetos mais sociais (Hansenne, 2004). De acordo
com o autor, os indivíduos que resolvem positivamente a crise deste estágio são
menos egoístas, preocupam-se menos consigo mesmos, estando mais abertos ao
mundo exterior e sendo mais altruístas. Quando a crise não é bem resolvida, há
uma estagnação. Ainda nesta fase, os adultos enfrentam o conflito de produzir
ou não (e.g., filhos, livros, obras artísticas) (Davidoff, 2004; Friedman &
Schustack, 2004; Hansenne, 2004).
h) Integridade versus desespero: já na fase de velhice a partir dos 65 anos em diante,
os indivíduos fazem o juízo de valor sobre a sua vida, as suas realizações ou as
suas criações. Este juízo acerca das vivências pode desencadear dois tipos de
sentimentos: i) de satisfação, considerando que valeu a pena viver pois,
alcançaram os objetivos principais da vida, e ii) a frustração, quando sentem que
não conseguiram alcançar os objetivos e projetos da sua vida (Davidoff, 2004).
Esses sentimentos de satisfação ou de insatisfação influenciam a autoestima e
explicam o que realmente foram e são. A satisfação traduz o sentimento de
integridade enquanto a insatisfação reflete-se no desespero (Friedman &
Schustack, 2004; Hansenne, 2004).
No presente estudo, interessa-nos as duas fases do desenvolvimento de Erickson
nomeadamente, identidade versus confusão de papéis e generatividade versus estagnação
por serem as que melhor poderão enquadrar os jovens-adultos que frequentam o ES, ou
seja, a amostra do nosso estudo.
3.3.3 Teoria de desenvolvimento sociocognitivo de Susan Harter
As bases deste modelo teórico encontram-se nos trabalhos de William James (na
sua caracterização de eu conhecedor e de eu conhecido) e Cooley que enfatiza a
linguagem e o contexto social no desenvolvimento do autoconceito (Almeida, 2005). A
teoria de Harter (1999) refere que na infância o autoconceito se apresenta menos
organizado e caracteriza-se pelas descrições mais observáveis e concretas. De acordo com
83
o Peixoto (2003) o autoconceito é influenciado pelo desenvolvimento cognitivo, ou seja,
quanto mais sofisticada a estrutura cognitiva mais complexo e diversificado se torna o
autoconceito. Por exemplo, nas crianças em idade pré-escolar, dada a limitação cognitiva,
elas não conseguem distinguir totalmente o real do ideal (Almeida, 2005; Peixoto, 2003;
Pinto, Gatinho, Fernandes & Veríssimo, 2015), sendo por isso que as suas autoavaliações
na primeira infância são irrealistas.
Tal como na teoria fenomenológica de Carl Rogers, Harter sublinha o papel da
congruência entre as experiências que o sujeito tem e o significado que atribui a essas
experiências, ou seja, a congruência entre a perceção de competência e o valor atribuído
a essa área de atuação (Almeida, 2005; Oliveira, 2004). Um aspeto a considerar na teoria
de Susan Harter é a importância atribuída aos outros significativos. As crianças são
influenciadas pelas pessoas mais próximas e significativas, sendo elas assumidas como
referência de atuação social (Pinto et al., 2015). Assim, não conseguem realizar
julgamentos sociais, porque as suas comparações são ainda situacionais e imediatas,
devido ainda à necessidade de aprimoramento cognitivo.
Neste sentido, será com o desenvolvimento da linguagem, que também o
autoconceito se desenvolverá, sendo a linguagem uma aquisição fundamental no
desenvolvimento do autoconceito (Almeida, 2005; Peixoto, 2003). As limitações
cognitivas típicas da primeira infância passam progressivamente a ser ultrapassadas com
o desenvolvimento da linguagem. Os progressos registados na sua estrutura cognitiva
permitem às crianças representarem o real a partir dos símbolos e conceitos suportados
na linguagem. Entretanto, sendo a linguagem um produto social, é nesta interação com os
outros membros do contexto social que a criança desenvolve as suas narrativas e permite
também desenvolver as suas autodescrições (Harter, 1999).
Segundo Almeida (2005), para explicar o desenvolvimento cognitivo do
autoconceito, Harter recorreu aos estádios de desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget
nomeadamente: i) estágio pré-operatório, em que as crianças se autodescrevem de forma
mais simples e global dada a sua limitação cognitiva; neste estágio as crianças
caracterizam-se por apresentar a dicotomia na sua perceção, por exemplo a criança pode
perceber-se em termos globais enquanto boa ou má. Mais tarde, e de forma progressiva,
vai percebendo que pode ser boa numa situação e na outra não; ii) no estágio operatório
concreto, as descrições são feitas em forma de traços pessoais ou objetos concretos. Neste
estágio já existe a diferenciação, mas ainda não ocorre a integração; iii) no estágio das
operações formais as descrições passam progressivamente de descrições em termos de
84
traços concretos para abstrações simples. Ocorre a primeira integração, mas não de
abstrações. Mesmo assim, as abstrações vão-se diferenciando, permitindo a avaliação
mais específica de si mesmo; finalmente iv) no estágio operatório pós-formal as
abstrações passam de simples a mais complexas, de ordem superior. Tais abstrações
começam por ser globais e progressivamente passam a diferenciações mais específicas.
Estrutura, organização e conteúdo do autoconceito
Os estudos iniciais do autoconceito assumiram uma perspetiva unidimensional,
um autoconceito global ou autoestima (Arnaiz & Guillen, 2012; Craven & Marsh, 2008;
Craven, Marsh, & Burnett, 2004; Epstein, 1973; Marsh, 2005; O’Mara, Green, & Marsh,
2006; Peixoto, 2003). Nesta perspetiva teórica, o autoconceito seria o todo e indivisível
do conjunto de perceções que os indivíduos têm de si mesmo (Cazalla-Luna & Molero,
2013), ou o resultado do somatório das várias facetas ou domínios que compõem o
autoconceito global (Nunes & Garcia, 2010).
Na atualidade admite-se várias formas de organização do autoconceito “a par de
definições conceptuais variadas (unidimensionais vs. multidimensionais; taxionómicas
vs. hierarquizadas; dimensões independentes vs. correlacionadas; e estáveis ou não)”
(Faria, 2005, p. 361). Entretanto foi a partir do modelo teórico proposto por Shavelson
et al. (1976) que os estudos do autoconceito passaram a assumir uma perspetiva
multidimensional, que se apresenta como o modelo mais dominante na atualidade. De
acordo com este modelo teórico, o autoconceito geral situa-se no topo da hierarquia. Por
sua vez, este autoconceito geral subdivide-se em autoconceito académico e autoconceito
não académico, mais abaixo da hierarquia situam-se os domínios específicos do
autoconceito (Marsh, 2005; Peixoto, 2003; Peixoto, & Almeida, 2011; Shavelson &
Bolus, 1982). Por exemplo, o autoconceito académico subdivide-se em autoconceito
matemático, autoconceito de línguas, autoconceito de ciências e autoconceito de história
enquanto o autoconceito não académico subdivide-se em autoconceito social,
autoconceito físico e autoconceito emocional.
De acordo com Hattie (1992) o autoconceito é simultaneamente estrutura e
estrutura/processo. Isto é, o autoconceito é uma estrutura dinâmica que se vai
modificando com o tempo e é passível de sofrer mudanças em função de novos papéis e
selves que vão emergindo ao longo do processo evolutivo do indivíduo. Com efeito,
McConnell e Strain (2007) no seu capítulo Content and Structure of Self-Concept,
85
assumindo uma perspetiva mais cognitiva, descreve o Self como uma instância cognitiva
estando o seu conteúdo reservado na memória. Entretanto Sisto e Martinelli (2004)
analisando o conteúdo do autoconceito constataram três componentes que estruturam o
autoconceito, nomeadamente, a componente cognitiva (as descrições que os indivíduos
fazem de si mesmos em termos daquilo que acreditam ou pensam que são), a componente
afetiva (envolve os sentimentos, atitudes e valores que acreditam serem seus) e a
componente comportamental (ajustam o comportamento em função do que pensam e dos
valores que assumem).
Na perspetiva de L’Écuyer (1978) propõe um modelo em que o autoconceito é
definido como sendo “um sistema multidimensional hierárquico, composto de estruturas
fundamentais que se desdobram em categorias e subcategorias que caracterizam suas
múltiplas facetas” (citado em Costa, 2002, p. 76). Neste sentido, o autoconceito assume
a sua organização hierárquica e multidimensional. De acordo com este modelo teórico, o
autoconceito apresenta cinco dimensões nomeadamente self material, self pessoal, self
adaptativo, self social e self e não self. Por sua vez, estes domínios de autoconceito
subdividem-se em outros específicos. Por exemplo, o self material integra o self somático
e self possessivo; o self pessoal é constituído pela imagem do próprio self (aspirações,
interesses, emoções, qualidades e defeitos) e a identidade do self (inclui identidade
abstrata, papel e status, ideologia); o self adaptativo é composto pelo valor do self
(competência e valor pessoal) e atividade do self (autonomia, dependência, estilo de vida);
o self social seria composto por duas dimensões, preocupações e atividades sociais e
referências ao sexo; finalmente o self não self seria constituído também por duas
dimensões, referência aos outros e pela opinião dos outros sobre si (Costa, 2002).
Retomando a estrutura e conteúdo de autoconceito Tamayo et al. (2001),
consideram que o autoconceito é uma estrutura cognitiva que permite organizar as
informações do self assumindo apenas aquelas informações que são coerentes com a
imagem do indivíduo. Os mesmos autores descrevem o autoconceito como sendo uma
estrutura dinâmica composta por esquemas e auto-esquemas e permitem integrar aquelas
informações que se consideram relevantes e consistentes na estrutura já existente do
esquema do indivíduo. Assumindo a teoria fenomenológica de Rogers (Oliveira, 2004;
Vieira et al., 2010), o autoconceito seria constituinte do campo fenomenal (as
experiências conscientes – simbolizadas, e inconscientes – não simbolizadas). Neste
sentido, o autoconceito enquanto descrição daquilo que o indivíduo faz de si mesmo, em
função das suas perceções, sentimentos e atitudes, seria a parte consciente deste campo
86
fenomenológico.
Por sua vez, Oyserman et al. (2012) retomando a perspetiva cognitiva, assumem
o autoconceito como uma estrutura cognitiva, reconhecendo, no entanto, que o self é
produto do contexto social influenciando o comportamento dos indivíduos nestes
contextos. Neste sentido, o indivíduo carrega consigo o que sabe que é, permitindo
assumir o sentido do mundo que o rodeia e os seus projetos de vida (por exemplo, o que
é; o que foi e o que será) (Oyserman et al., 2012). Ampliando o conteúdo do autoconceito,
este constructo inclui conhecimentos e atitudes avaliativas (Sisto & Martinelli, 2004).
Assim, tendo em conta a complexidade na organização do autoconceito e os objetivos do
nosso estudo apresentamos algumas dimensões de avaliação do autoconceito, dando
maior atenção aquelas dimensões do presente estudo.
Autoconceito social
Para alguns autores a dimensão social assume grande influência na explicação do
desenvolvimento do autoconceito (Fuentes et al., 2011; González et al., 2012; Villarroel,
2001). A dimensão social parece traduzir uma das mais importantes facetas a tomar em
consideração no estudo do autoconceito. A referida importância tem trazido alguma
preocupação em reconhecer as diferenças socioculturais no estudo do autoconceito tendo
em conta a aquilo que se considera específico e relevante nestes contextos de vida dos
indivíduos (Esnaola, Goni, & Madariaga, 2008; Véliz-Burgos & Urquijo, 2012).
Inicialmente, o autoconceito social foi estudado tomando uma visão mais geral
(perspetiva unidimensional). Mais recentemente Harter (2012) tomando a perspetiva
multidimensional no estudo do autoconceito e integrou no seu questionário (The Self
Perception Profile for Adolescents) a subescala de competência social. Por um lado,
instrumentos como o Self-Description Questionnaire (SDQ) I, II, e III desenvolvidos por
Marsh et al. tem dedicado especial atenção aos domínios de autoconceito social (Esnaola
et al., 2008). Por exemplo, o SDQI integra uma subescala de relação com os iguais, o
SDQII faz menção à aceitação social, à sociabilidade, às habilidades sociais e à agressão
por iguais. Finalmente, o SDQIII focaliza as habilidades sociais mais na lógica da
aceitação social.
Por outro lado, alguns autores têm distinguido a dimensão familiar da dimensão
social no estudo do autoconceito (Cerrato et al., 2011; Francisco, Pompa, Meza, Ancer,
González, 2010; Mella & Bravo, 2011). Por exemplo, na escala AF5 de García e Musitu,
os itens da dimensão familiar reportam alguma preocupação com aceitação familiar (e.g.,
87
“Me sinto querido pelos meus pais”), suporte familiar percebido (e.g., “Meus pais me dão
confiança”) e a satisfação ou insatisfação com a família (e.g., “Me sinto feliz em casa”;
“Minha família está dececionada comigo”). Em relação à dimensão social, nesta escala
os itens são formulados para avaliar principalmente a popularidade e aceitação (e.g., “Sou
uma pessoa amigável”; “Faço facilmente amigos”).
Neste sentido a dimensão familiar do autoconceito, embora várias vezes se
enquadre no autoconceito social, enquanto dimensão mais global, aparece como a
dimensão que se considera fundamental dada a relevância do contexto familiar na infância
e no desenvolvimento do autoconceito (Carneiro, 2003; Parker, Morin, Seaton, & Zanden,
2015; Sepúlveda, Londoño & Lubert, 2012). Mais ainda, a relevância do contexto familiar
explica-se pela influência direta que as atitudes e comportamentos demonstrados pelos
pais no desenvolvimento do autoconceito dos jovens-adolescentes (Carneiro, 2003;
Vallejo & Risoto, 2013).
A demostração da importância do autoconceito familiar é visível no Self-
Description Questionnaire III adaptado ao contexto português por Faria e Fontaine
(1992). Na referida escala, além das subescalas de autoconceito de pares do mesmo sexo
e autoconceito de pares de sexo opostos, integra a subescala de autoconceito de pais,
sugerindo a importância dos pais e encarregados de educação no desenvolvimento do
autoconceito das crianças e jovens-adolescentes.
De qualquer modo, é com o modelo de Byrne e Shavelson (1996) que se esclarece
a organização do autoconceito social. Neste modelo o autoconceito social divide-se em
autoconceito social da escola e autoconceito social da família. Por sua vez, o autoconceito
social da escola subdivide-se em autoconceito social de companheiros e autoconceito
social de professores; finalmente, o autoconceito social da família subdivide-se em
autoconceito social de irmãos/irmãs e autoconceito de pais (Zabala, 2010). Depreende-se
assim, que o autoconceito familiar é uma dimensão específica do autoconceito social.
Adicionalmente, autores têm sugerido uma associação positiva entre o
autoconceito familiar e o bem-estar dos indivíduos, podendo esse autoconceito
influenciar outras dimensões como social, emocional, académico (Francisco et al., 2010;
Parker et al., 2015). O apoio fornecido pela família e a comunidade em geral, influencia
o autoconceito do indivíduo sendo que um elevado suporte social tende a desenvolver
níveis elevados de autoconceito e menor suporte desenvolve também níveis baixos de
autoconceito (Baptista, Rigotto, Cardoso, & Rueda, 2012).
88
Autoconceito físico
O autoconceito físico é definido como um conjunto de ideias, crenças e perceções
que o indivíduo tem sobre o seu aspeto físico, nomeadamente a sua habilidade, a forca, a
atracão, a condição física, ou competência desportiva (Martínez, Llorca & Tello, 2013).
Neste sentido, para Marchago (2002, citado em Fernández-Bustos, González-Martí,
Contreras, & Cuevas, 2015) o autoconceito físico é um constructo multidimensional que
os indivíduos têm sobre a sua realidade corporal incluindo os elementos percetivos,
cognitivos, afetivos e emocionais da realidade física. Por sua vez, País-Ribeiro e Ribeiro
(2003) definem o autoconceito físico como a perceção da capacidade física, da capacidade
de realizar atividades físicas e satisfação com a sua aparência.
O autoconceito físico tem recebido especial atenção no estudo da satisfação e da
qualidade de vida dos indivíduos (Fernández, 2008; Fernández-Bustos et al., 2015; Goñi
& Infante, 2010; Martínez et al., 2013; Murgui, García, García, & García, 2012; Pais-
Ribeiro & Ribeiro, 2003; Videra-García & Reigal-Garrido, 2013). Mais especificamente,
o autoconceito físico relaciona-se com a satisfação com a vida e o afeto positivo, sendo
mais significativa essa relação com a dimensão de condição física (Fernandéz, 2008).
Entretanto, apesar da relevância que o autoconceito físico tem na vida dos
indivíduos, prevalecem as dúvidas em relação às dimensões que compõem este
constructo. Por exemplo, o questionário proposto por Pais-Ribeiro e Ribeiro (2003),
avalia três dimensões nomeadamente: i) dimensão funcional que reporta a promoção da
saúde, bem-estar e qualidade de vida; ii) a dimensão da satisfação com a aparência física,
mais na lógica da perceção da sua aparência física, e iii) a perceção física pelos outros
que descreve a perceção que a sua imagem corporal causa nos outros.
Um outro instrumento, Questionário de Autoconceito Físico (CAF), desenvolvido
por Martínez et al. (2013) para jovens chilenos apresenta cinco dimensões. A primeira
dimensão, habilidade física, inclui a perceção de habilidade para a prática de desporto,
segurança, predisposição e capacidade de aprender o desporto; a segunda dimensão,
condição física, avalia a energia, força física, resistência e a confiança no estado físico; a
terceira dimensão refere-se à atração física que reporta a aparência física e a satisfação
com a própria imagem; a quarta refere-se à força, inclui o sentir-se forte, a capacidade
de levantar peso, a capacidade de realizar atividades que exigem força; e a quinta é a
dimensão de autoconceito físico geral, que se refere à autoperceção física geral.
Tendo em conta o referido, o modelo que ganhou maior popularidade no estudo
do autoconceito físico é o modelo de Fox (1988, citado em Baltasar, 2014). Este modelo
89
pressupõe que na sua organização hierárquica, a autoestima está situada no topo da
hierarquia. A nível intermédio fica a dimensão de autoconceito físico e mais abaixo estão
as dimensões mais específicas, nomeadamente, a competência desportiva, atracão física,
força física e condição física. Com efeito, e de acordo com esta autora, o autoconceito
físico aparece com frequência associado à autoestima e também à dimensão de
autoconceito académico.
Autoconceito académico
O autoconceito académico refere-se à forma como a pessoa se percebe
relativamente à sua vida escolar, são crenças em alcançar metas académicas ou
capacidade de superar as dificuldades enfrentadas no contexto escolar (Baltasar, 2014).
Para Silva e Vendramini (2005), a definição de autoconceito académico não está
totalmente esclarecida, mas acreditam que seria um conjunto de representações que os
estudantes têm sobre o seu desempenho, incluindo o julgamento que fazem das suas
capacidades. Neste sentido Wang (2013) sublinha as duas características do autoconceito
académico nomeadamente: i) ser descritivo e avaliativo, e ii) focalizar nas competências
escolares e não nas atitudes que os indivíduos apresentam.
Entretanto as investigações na área do autoconceito têm mostrado a influência de
outras variáveis no desempenho escolar dos estudantes. Por exemplo, dada a relevância
do contexto social, a dimensão social do autoconceito aparece fortemente associada ao
desempenho escolar, sendo a dimensão que mais influi na motivação e nas expectativas
dos estudantes no contexto escolar (Baltazar, 2014), e na adaptação académica (Barros &
Moreira, 2013; Urquijo, 2002). Neste sentido, o sucesso escolar requer um equilíbrio
entre o êxito escolar, social e pessoal exigindo um trabalho conjunto entre os pais, os
professores e os estudantes (Urquijo, 2002; Vallejo & Risoto, 2013). Deste modo, o
desempenho dos estudantes não depende apenas das suas habilidades cognitivas ou
pessoais, mas também das variáveis sociais e ambientais que os estudantes vivenciam.
A relação entre o autoconceito e o desempenho escolar é reconhecida por muitos
autores (Baltasar, 2014; Barros & Moreira, 2013; Campira et al., 2015, 2014a, 2014b;
Carneiro, 2003; Marsh, 2005; Neves & Faria, 2009; Peixoto, 2003; Peixoto & Almeida,
2010; Silva & Vendramini, 2005). Assim, o sucesso e fracasso vivenciados pelos
estudantes ao longo da sua vida académica permitem construir o seu autoconceito que vai
sofrendo modificações durante o processo formativo (Barros & Moreira, 2013; Silva &
Vendramini, 2005; Vallejo & Risoto, 2013).
90
Neste sentido, procurando uma relação causal entre o autoconceito e o rendimento
escolar em estudantes universitários, os resultados do estudo de Lópes et al. (2008)
sugerem que o rendimento académico se relaciona fortemente com o autoconceito
académico, com o autoconceito familiar, e apresentando uma relação fraca com o
autoconceito físico e com o autoconceito social. Entretanto, os mesmos autores, numa
análise de regressão, constataram que o autoconceito académico é o melhor preditor do
rendimento escolar seguido do autoconceito familiar e finalmente autoconceito físico.
O interesse em estudar a relação entre o autoconceito académico e o desempenho
escolar parece traduzir a ideia de que o desempenho do indivíduo é influenciado por
aquilo que o indivíduo acredita que é, assim como a sua autoimagem pode ser
influenciada pelos resultados obtidos na vida escolar, sendo fundamental essa
compreensão para melhor intervenção na organização das atividades escolares e na
própria aprendizagem dos estudantes (Vallejo & Risoto, 2013).
Autoconceito artístico
O autoconceito artístico não é uma dimensão tradicional no estudo do
autoconceito. Mesmo assim, há um reconhecimento desta dimensão por alguns autores.
Por exemplo o estudo de Voespel (citado em Casalla-Luna & Molero, 2013; Pipa &
Peixoto, 2014) reconhecem a existência da dimensão de autoconceito artístico de primeira
ordem na estrutura hierárquica proposta por Shavelson et al. (1976). De acordo com estes
autores, o autoconceito artístico estaria subdividido em autoconceitos específicos, por
exemplo, autoconceito de música, autoconceito de dança, autoconceito de artes visuais,
autoconceito das artes dramáticas e autoconceito de representação.
Apesar dos estudos do autoconceito artístico aparecerem mais tarde na abordagem
do self, dentro da Psicologia, o seu contributo remonta ao século XIX (e.g., na arte, na
psicologia, na psiquiatria e na psicanálise) (Vasconcellos & Giglio, 2007). Nesta altura,
de acordo com estes autores, a arte era usada como meio de diagnóstico e de tratamento
dos problemas mentais entre os terapeutas e psiquiatras. Adicionalmente, Wedekin e
Zanella (2013) descrevendo os trabalhos de Vigostky (1929-2000) reconhecem o drama
como elemento fundamental na compreensão da personalidade humana. Neste sentido, o
drama aparece como instrumento de expressão de emoções cabendo à Psicologia atribuir
um papel destas emoções no estudo da personalidade humana (Junior, 2008; Wedekin &
Zanella, 2013). Concordando com esse pensamento, “o processo de perceber a forma
artística exige um determinado modo do funcionamento do psiquismo e humanização dos
91
sentidos” (Barroco & Superti, 2014, p. 26). Dada a relevância da arte na expressão e
desenvolvimento da individualidade, esta é uma dimensão a ser tida em conta no estudo
do autoconceito.
Autoconceito religioso
O autoconceito religioso é uma dimensão que se enquadrada no estudo da
espiritualidade. O seu reconhecimento é muito antigo. Desde os estudos de William James
se destacou a espiritualidade como uma das dimensões do self (Campira et al., 2015;
Costa, 2001; Costa, 2002; Epstein, 1973; Fuentes et al, 2011; Harter et al., 1997; Wang,
2013). Contudo não têm sido desenvolvidos estudos específicos sobre o respetivo
constructo, ou seja, nesta dimensão específica do autoconceito.
Como referido anteriormente, existem benefícios que explicam a importância da
religião ou da espiritualidade na vida do indivíduo em estudos na área da Espiritualidade
(Alminhana & Moreira-Almeida, 2009; Calvetti, Muller, & Nunes, 2008; Costa & Leal,
2008; Guimarães & Avezum, 2007; Júnior, 2008; Martinez & Custódio, 2014; Sánchez-
Herrera, 2009; Taunay et al., 2012), na área da Psicologia Positiva, mais concretamente
na Psicologia Transpessoal (Nunes & Garcia, 2010; Santos & Sousa, 2012; Simão &
Saldanha, 2012). Neste sentido, a espiritualidade pode ser definida como sendo um
conjunto de sentimentos, crenças e valores ligados à religiosidade, reportando a paz
espiritual, o sentido da vida, o relacionamento com semelhantes e a transcendência
(Santos & Sousa, 2012; Guimarães & Avezum, 2007; Taunay et al., 2012).
A preocupação com a espiritualidade no estudo do self faz sentido nas
investigações na área da Psicologia, uma vez que o indivíduo é um ser biológico, social,
psicológico, cultural e espiritual (Costa et al., 2008; Simão & Saldanha, 2012). Neste
sentido, a dimensão espiritual constitui a parte supraconsciente do homem e o
autoconceito surge como a entidade de reconhecimento da consciência humana, incluindo
uma dimensão transpessoal que vai além da dimensão física e transpõe o
autoconhecimento. Assim, a espiritualidade é uma dimensão que está além da consciência
e que influencia significativamente a vida dos indivíduos (e.g., na saúde, bem-estar,
convivência social) (Nunes & Garcia, 2010).
Adicionalmente, Simão (2010) refere que a espiritualidade além de ser a dimensão
do psiquismo humano, é também merecedora de valor crítico reforçando a sua
importância na compreensão e desenvolvimento humano. Com efeito, procurando
explicitar a distinção entre o espiritual e o religioso compreende-se que a espiritualidade
92
é mais ampla que a religião, sendo a primeira ligada ao mítico e ao cosmo enquanto a
segunda, mais sistematizada e ligada aos templos e que por vezes escapa à vida mística e
espiritual (Calvetti et al., 2008; Junior, 2008).
Por um lado, acreditamos que o autoconceito artístico e principalmente o
autoconceito religioso não receberam a devida atenção nos estudos do self desde o início
do estudo do autoconceito. Contudo, essas dimensões do self sempre fizeram parte do
homem e que nos parece importante tomar em consideração dada a sua relevância na vida
humana. Desta forma, parece-nos que tais áreas têm recebido alguma atenção nos estudos
da inteligência, principalmente com o contributo de Gardner no estudo das inteligências
múltiplas, onde dentre as várias inteligências constam a inteligência espacial, a corporal
(reportando alguma sensibilidade estética ou artística), e a inteligência existencial (que
traz alguma preocupação com a espiritualidade e religião) (Shannon, 2013; Silva, 2001).
A relevância da dimensão espiritual na compreensão da personalidade humana foi
reconhecida desde os trabalhos de Abraham Maslow (1968). Nesta altura, de acordo com
estes autores, Maslow designou esta dimensão como transhumanismo, reportando a
assuntos transcendentais e a metavalores. Trata-se de uma preocupação com a busca de
valores elevados e espirituais para a expressão do indivíduo enquanto ser existencial e
transcendental (Simão & Saldanha, 2012). Neste sentido, Maslow reabriu as discussões
em torno da espiritualidade no estudo da personalidade ao admitir que o ser humano busca
constantemente valores mais elevados para a sua realização incluindo a espiritualidade.
Alguns trabalhos desenvolvidos na área da espiritualidade têm sugerido alguma
associação positiva entre a espiritualidade/religiosidade com o bem-estar dos indivíduos
(Calvetti et al., 2008; Costa et al., 2008; Guimarães & Avezum, 2007; Sánchez-Herrera,
2009). Dada a sua relevância na vida das pessoas este constructo ganha maior
preocupação tendo-se desenvolvido instrumentos para a sua avaliação, principalmente em
contextos clínicos, com doentes padecendo de HIV/SIDA (Calvetti et al., 2008), com
incapacidades (Sánchez-Herrera, 2009) e com perturbações mentais (Alminhana &
Morreira-Almeida, 2009; Martínez & Custódio, 2014). Com efeito, para a sua avaliação
em contexto universitário, é reconhecida a escala de religiosidade Duke Religious Index
de DUREL, traduzida para o contexto brasileiro (Taunay et al., 2012) e para o contexto
português (Moreira-Almeida, Peres, Aloe, Neto, & Koenig, 2008). A referida escala
possui cinco itens distribuídos em três dimensões, nomeadamente, a religiosidade
organizacional que reporta à frequência de encontros religiosos em espaços estruturados
e organizados (e.g., missas, cultos); a religiosidade não organizacional que se relaciona
93
com a frequência de atividades religiosas privadas menos estruturadas (e.g., orações,
meditação, assistir programas religiosos na televisão) e a religiosidade intrínseca que se
reporta à vivência da religiosidade enquanto objetivo central do indivíduo (Taunay et al.,
2012).
Avaliação do autoconceito
O estudo do autoconceito tem traduzido um volume expressivo de instrumentos
para a sua avaliação. Muitos destes avaliam o autoconceito na sua globalidade (Campira
et al., 2013, 2015; Harter, 2012; Marsh, 2005) e outros avaliam algumas das dimensões
que o compõem. Apresentaremos de seguida (cf. Tabela 3.1) uma listagem de
instrumentos de avaliação do autoconceito referindo a designação dos instrumentos,
respetivo(s) autor(es), número de itens e dimensões avaliadas.
Tabela 3.1
Instrumentos de Avaliação do Autoconceito
Nome da escala Autor(es) e Ano de
Publicação
Número de
itens Dimensões avaliadas
Piers-Harris Children
Self Concept Scale
(PHCSCS)
Piers-Harris (1964) 80 itens
dicotómicos
Status intelectual e académico (17
itens), Comportamento (16 itens),
Ansiedade (14 itens), Aparência
(13), Popularidade (12 itens) e
Satisfação (10 itens)
Self Profile
Perception Scale
(SPPS)
Susan Harter
(1985)
36 itens de tipo
Likert (4
opções
alternadas)
Competência Escolar, Aceitação
Social, Competência Atlética,
Aparência Física e Atitude
Comportamental, e Autoestima
Global
Self-Concept of
Ability Scale
Brookover (1959) 40 pares de
afirmações
opostas, com
escala de
resposta
Likert, com 5
opções
Relacionamento com colegas;
Relacionamento com os professores;
Relacionamento com os pais;
Relacionamento com o próprio
corpo; e Controle emocional
Arts Self-Perception
Inventory (ASPI)
Vispoel (1993) 40 itens do
tipo Likert,
com 6 níveis
de resposta
Música, Artes, Dança e Drama
94
Satisfação com a
imagem corporal
Sisto e Martinelli
(2004)
20 itens do
tipo Likert,
com 3 opções
de respostas
Familiar, Social, Escolar e Pessoal
Escala de avaliação
da satisfação com a
imagem
corporal(EASIC)
Ferreira e Leite
(2002)
25 itens Likert,
com 5 opções
de respostas
Satisfação com a aparência e
Preocupação com o peso
Escala de
Autoconceito
Peixoto e Almeida
(1999)
45 itens do
tipo Likert,
com 4 opções
de respostas
Competência Académica, Aceitação
Social, Competência Atlética,
Aparência Física, Atração
Romântica, Comportamento,
Amizades Íntimas, Competência
Matemática e Competência a Língua
Materna
Self-Description
Questionnaire III
(SDQ III)
Marsh, Barnes,
Cairns e Tidman
(1984)
136 itens do
tipo Likert, de
8 pontos
Matemática, Língua materna ou
verbal, Assuntos escolares em geral,
Aparência física, Competência
física, Estabilidade emocional,
Social (pais), Social (pares do
mesmo sexo), Social (pares do sexo
oposto), Honestidade, Resolução de
problemas, Valores espirituais, e
uma Dimensão global. As 13
dimensões organizam-se em três
grandes domínios: académico, não
académico e auto- conceito global
Questionário de
Autoconceito físico
Goni et al. (2006)
36 itens Likert
com 5 opções
de respostas
Habilidade física, Condição física,
Atração física, Força, Autoconceito
físico geral, e Autoconceito geral
Escala Fatorial de
Autoconceito
Tamayo (1981) 51 itens do
tipo Likert,
com escala de
resposta de
sete pontos
Atitude social, Recetividade social,
Segurança, Autocontrole, Self ético-
moral e Self somático
Fonte: Campira et al. (2014)
Um dos maiores desafios associado à multiplicidade de instrumentos de avaliação
do autoconceito é a sua validade. Até que ponto os instrumentos apresentam as
propriedades psicométricas recomendadas para o estudo? Mesmo assim, os níveis de
precisão dos instrumentos variam de contexto para contexto sendo necessário testar a sua
estabilidade. Mais ainda, como avaliar um constructo em constante mudanças como o
autoconceito?
95
O Questionário de autoconceito AF5
Este questionário foi desenvolvido por García e Musitu (2001) e avalia o
autoconceito de estudantes em contexto universitário. O instrumento é bastante difundido
em diferentes países de língua espanhola, como por exemplo, no Chile (Mella & Bravo,
2011; Véliz-Burgos & Urquijo, 2012), na Colombia (Sepúlveda, Londoño, Lubert, &
Botero, 2014), em Espanha (Cerrato et al., 2011; Fuentes et al., 2011; Reigal-Garrido,
Becerra-Fernández, Hernández-Mendo, & Martin-Tamayao, 2014) e no México
(Francisco et al., 2010).
O AF5 avalia 5 dimensões do autoconceito nomeadamente, autoconceito
académico/laboral (6 itens) que avalia o autoconceito no contexto escolar e laboral (e.g.,
Faço bem os trabalhos escolares/profissionais); autoconceito emocional (6 itens) reporta
alguma preocupação, medo ou ansiedade com as situações sociais (e.g., Tenho medo de
algumas coisas); autoconceito familiar (6 itens) trata-se da satisfação ou não com o
ambiente familiar (e.g., Me sinto feliz em casa); autoconceito físico (6 itens) reporta
alguma preocupação com a saúde física, aparência física (e.g., Me considero elegante); e
autoconceito social (6 itens) integra itens com alguma preocupação com a popularidade,
aceitação social (e.g., Sou uma pessoa amigável), comportando um total de 30 itens.
Relativamente à precisão do instrumento, refere-se que os valores de alfa se
situam entre .69 para a dimensão do autoconceito social à .88 para a dimensão do
autoconceito académico/ laboral e a variância total explicada pela escala é de 51%.
Self-Description Questionnaire III (SDQ III)
Este instrumento de avaliação do autoconceito para jovens-adultos foi
desenvolvido por Marsh et al. (1984, citado em Barros & Moreira, 2013). O questionário
comporta 136 itens (metade dos quais são formulados pela negativa) que se organizam
em 13 dimensões e se distribuem em três grandes domínios: académico, não académico
e autoconceito global. Algumas dimensões que compõem o questionário são: Matemática,
Língua materna ou verbal, Assuntos escolares em geral, Aparência física, Competência
física, Estabilidade emocional, Social nas relações com os pais, Social nas relações com
pares do mesmo sexo, Social nas relações com pares do sexo oposto,
Honestidade/fiabilidade, Resolução de problemas, Valores espirituais/religião, e uma
Dimensão global.
O questionário é do tipo likert com 8 opções de respostas variando desde
1(discordo totalmente) a 8(concordo totalmente). Em termos de consistência interna os
96
valores de alfa situam-se entre .80 a .94, apenas as dimensões de honestidade e a dimensão
de resolução de problemas apresentam os índices mais baixos da escala .74 e .75,
respetivamente.
Autoconceito no ensino superior
O estudo do autoconceito no ES tem recebido pouca atenção sendo que a maioria
dos estudos sobre o constructo são desenvolvidos na infância e na adolescência (Campira
et al., 2013; Faria, 2005; Peixoto & Almeida, 2011; Sisto & Martinelli, 2004). Acredita-
se que a centralidade dos estudos do autoconceito na infância e adolescência pode estar
associada às transformações pessoais mais ricas e significativas nesta etapa de
desenvolvimento (Campira et al., 2015).
Mais recentemente, autores defendem que o ES, com a sua exigência e forma de
organização, traz desafios que exigem adaptação dos estudantes neste contexto de vida
académica (Campira et al., 2014; 2015; Barros & Morreira, 2011; 2013; Cerrato et al.,
2011; Mata, Pimentel, & Pereira, 2011; Silva, 2003; Stocker & Faria, 2009; Wang, 2013).
São precisamente estes desafios que explicam as mudanças no desenvolvimento
psicossocial do estudante e, mais especificamente, no seu autoconceito (Freitas, Raposo,
& Almeida, 2007). Contudo, parece existir um certo acordo de que, com a idade, as
dimensões do autoconceito vão assumindo diferentes pesos e a sua importância difere em
função da forma como essa dimensão explica a sua individualidade (Cazalla-Luna &
Molero 2013; Pipa & Peixoto, 2014).
Por outro lado, o domínio físico torna-se menos importante para explicar o
autoconceito de jovens adultos, passando a competência académica e social a assumir-se
como domínios mais importantes no desenvolvimento do autoconceito (Campira et al.,
2015; Faria & Santos, 2006; Lópes et al., 2008; Mata et al., 2011). Com efeito, reconhece-
se o papel das contingências sociais, principalmente as familiares na transição para o ES
e no desenvolvimento do autoconceito (Freitas at al., 2007; Lópes et al., 2008; Peixoto,
2004; Peixoto & Silva, 2003). Por exemplo, as mudanças de residência para frequentar o
ES, a autonomia na gestão das despesas pessoais, as mudanças na forma de aprendizagem
vão-se espelhando nas mudanças na sua autoimagem (Freitas et al., 2007; Stocker &
Faria, 2009).
Nesta fase, o autoconceito do jovem-adulto aparece como elemento facilitador da
adaptação dos estudantes a esse nível de escolaridade, sugerindo uma correlação positiva
97
entre o autoconceito, adaptação e desempenho escolar dos universitários (Barros &
Moreira, 2013; Lópes et al., 2008; Stocker & Faria, 2009; Vallejo & Risoto, 2013).
Contudo, Lópes et al. (2008), utilizando a Escala AF5 de autoconceito, encontrou uma
associação mais significativa entre o desempenho escolar dos estudantes universitários
com as dimensões académica e familiar do autoconceito, mostrando-se fraca essa
associação com as dimensões social e física.
Relação do autoconceito e outras variáveis psicológicas
O estudo de Véliz-Burgos (2010) permitiu constatar que o autoconceito de
aparência física dos homens correlaciona-se com a medida de autoeficácia (r=.42; p< .05).
A relação entre o autoconceito e o bem-estar psicológico é fraca, embora a dimensão
física (aparência física), apresente correlação significativa, porém baixa com o bem-estar
psicológico. Num outro estudo de Fernandéz (2008), foi encontrada uma associação entre
o autoconceito físico e a satisfação com a vida (r=.50; p< .001), sendo a dimensão da
atração física a mais expressiva ao correlacionar-se com todas dimensões do bem-estar
psicológico.
Neves e Faria (2009), verificaram no seu estudo que a autoeficácia apresenta
correlações fortes com o autoconceito académico. Resultado semelhante foi encontrado
por Véliz-Burgos (2010), onde o autoconceito social e autoconceito académico
apresentam correlações com a autoeficácia, numa magnitude baixa (r=.15; p< .05).
Procurando explorar a relação em função do género, o estudo revelou que as mulheres
apresentam uma associação positiva com a autoeficácia no autoconceito de aparência
física e autoconceito académico. Por outro lado, as mulheres apresentam uma associação
moderada entre autoconceito e o bem-estar psicológico. Um estudo de validação da escala
de Rosenberg realizado em Moçambique (Patrão, McIntyre, & Costa, 2014), constataram
associação entre a autoestima e a autoeficácia em mulheres em risco de HIV-SIDA (r=.19;
p< .05). No estudo de Santos (2014), junto de uma amostra de mulheres na sua maioria
casadas, verificou-se que a autoestima estava correlacionada positivamente com o
autoconceito e o bem-estar psicológico.
Stocker e Faria (2009), constataram uma correlação positiva entre o autoconceito
e adaptação dos estudantes ao Ensino Superior, tendo sublinhado a importância do
autoconceito na adaptação, na integração social e no bem-estar psicológicos dos
estudantes. Num outro estudo com estudantes do Ensino Secundário (Stocker & Faria,
98
2009), foi constatada uma correlação forte entre autoconceito e autoeficácia (r=.44).
Entretanto, Chaves et al. (2015) constatou que quanto maior for a importância
atribuída à religiosidade, maior é o nível de autoestima dos indivíduos, apresentando um
nível de significância de p< .01. De acordo com os mesmos autores, a religiosidade pode
ser usada como recurso de enfrentamento face às adversidades da vida, e tal como a
autoestima, associa-se à satisfação com a vida.
Relação entre autoconceito e o rendimento escolar
Estudos sobre a relação entre o autoconceito e o desempenho escolar, não são
conclusivos, suscitando diversas teorias e modelos explicativos dessa interação. Neste
sentido, reconhecem-se três modelos que tentam explicar a relação causal entre essas
variáveis (Campira, 2012; Ghazvini, 2011; Peixoto, 2003), nomeadamente: i) Modelo de
auto-valorização (self-enchacement model) que pressupõe o impacto do autoconceito no
rendimento escolar, ii) Modelo de desenvolvimento de competências (skill development
model), que defende a influência do rendimento escolar no autoconceito, e iii) Modelo
recíproco (reciprocal effects model) que defende a influência mútua, isto é, o autoconceito
ao influenciar o rendimento escolar, este sofre mudanças em função dos resultados
alcançados. Por outro lado, os estudos indicam a existência de outras variáveis que
interferem na interação entre o autoconceito e o desempenho escolar. Por exemplo,
Ghazvini (2011) reconhece que as variáveis pessoais, ambientais, académicas e não
académicas tendem a influenciar a relação entre o autoconceito e o desempenho
académico dos estudantes.
Apesar da diversidade de modelos para explicar a associação ou o impacto do
autoconceito no rendimento escolar, há um consenso generalizado de que o autoconceito
tem relação com o rendimento escolar (Batican, 2011; Baltasar, 2014; Barros & Moreira,
2013; Ghazvini, 2011; Peixoto, 2003; López et al., 2008; Marsh, 2005; Marsh & O’Mara,
2008; Shavelson & Bolus, 1982; Veiga, 2006; Wang, 2013). Por exemplo, o estudo de
Véliz-Burgos (2010), aponta para a existência de associação entre o autoconceito e o
desempenho escolar dos estudantes. Mais ainda, tomando resultados do estudo de
Ghazvini (2011), a relação entre o desempenho escolar e o autoconceito académico é mais
forte do que com o autoconceito geral. Por outro lado, estudos encontraram alguma
relação entre o autoconceito nos domínios académico, físico e social e o desempenho
escolar (López et al., 2008; Véliz-Burgos & Urquijo, 2012). López et al. (2008),
99
encontraram nos seus estudos uma associação positiva entre o autoconceito académico e
o rendimento escolar, e uma associação negativa com autoconceito físico e com o
autoconceito social. Os mesmos autores recorrendo a uma análise de regressão
constataram que o melhor preditor do desempenho escolar é o autoconceito académico
com 6.6% de 10.5%, quando tomadas três dimensões do autoconceito (autoconceito
académico, autoconceito físico e autoconceito familiar), sendo que o autoconceito social
não apresenta associação com o rendimento escolar dos estudantes.
Apesar dessa constatação, a maioria dos estudos que associam o autoconceito e o
desempenho escolar tem focalizado o autoconceito académico (Anitha & Parameswari,
2013; Matovu, 2014; Flowers, Raynor, & White, 2013; Srivastava & Joshi, 2011), pois
parece que indivíduos com autoconceito académico elevado são mais capazes de perceber
e desenvolver as competências escolares (Lawrence, & Vimala, 2013). Com efeito,
alguns estudos são desenvolvidos tomando o autoconceito académico em domínios mais
específicos. Por exemplo, o autoconceito em inglês (Wang, 2013), autoconceito em
Matemática (Silva & Vendramini, 2005), ou estudam a relação entre autoconceito
académico e o desempenho em disciplinas específicas (Ghazvini, 2011). Verifica-se que
a correlação é mais forte entre o rendimento escolar e uma área específica do
autoconceito, do que quando se associa o autoconceito não académico com uma medida
global do autoconceito e com o rendimento escolar.
Considerando a variável aprovação/reprovação académica, Baltasar (2014)
constatou que a reprovação dos estudantes no curso que frequentam correlaciona-se com
todas as dimensões do autoconceito (exceto o autoconceito social), com maior intensidade
nas dimensões do autoconceito emocional e da dimensão académica. Procurando estudar
as diferenças do rendimento escolar em função do género (Vallejo & Risoto, 2013), não
foi constatada nenhuma diferença estatisticamente significativa.
Por sua vez, a variável motivação tem sido alvo de estudos para explicar a relação
entre autoconceito e desempenho escolar (Gupta, 2014; Lawrence & Vimala, 2013;
Veiga, García, Reeve, Wentzel, & García, 2015) e aparece como variável moderadora do
desempenho escolar dos estudantes. Por exemplo, o estudo de Lawrence e Vimala (2013),
reconhecendo a importância entre o autoconceito e a motivação para o desempenho
escolar, constatou que as mulheres apresentam um maior nível de autoconceito do que os
homens e, portanto, maior motivação para o estudo. Veiga e et al. (2015) constataram no
seu estudo com adolescentes, níveis mais elevados de autoconceito estavam associados a
níveis elevados de motivação para o estudo.
100
Estudos diferenciais do autoconceito
No que diz respeito a estudos diferenciais, podemos assumir que não têm sido
constatadas diferenças significativas em função do género no autoconceito (Baltasar,
2014; Barros & Morreira, 2013; Garcia & Lujan, 2003; Garcia, Musitu, Riquelme, &
Riquelme, 2011; Faria & Santos, 2006; Véliz-Burgos & Urquijo, 2012). Por outro lado,
algumas diferenças são constatadas em domínios específicos do autoconceito, embora
alguns estudos atribuam essas diferenças a estereótipos construídos socialmente (Baron,
Schmader, Cvencek, & Meltzoff, 2014; Peixoto, 2003; Mwamwenda, 2004; Were,
Indoshi, & Yalo, 2010). Especificando, estudos diferenciais tomando a variável género
como referência (Fernandéz, 2008; Véliz-Burgos & Urquijo, 2012), constataram os
homens apresentam níveis mais elevados de autoconceito físico do que as mulheres.
Estudos similares sugerem que as mulheres apresentam níveis de autoconceito baixo em
relação aos homens em quase todas dimensões do autoconceito (Vallejo & Risoto, 2013).
Garcia et al. (2011), constataram que para as mulheres, as dimensões específicas do
autoconceito físico, autoconceito académico e autoconceito social são as dimensões que
melhor explicam o seu autoconceito global. Por sua vez, os homens apresentam o
autoconceito académico como dimensão mais forte, seguida da dimensão física,
finalmente a dimensão social.
Um outro estudo de Stocker e Faria (2009), mostra diferenças significativas no
autoconceito a favor dos rapazes em todas dimensões do autoconceito, com exceção da
dimensão social (relação com pares do sexo oposto), sendo nesta dimensão social a favor
das raparigas. Usando o Self Description Questionnaire III com estudantes do final do
Ensino Secundário, Faria e Azevedo (2004), verificaram diferenças significativas no
autoconceito académico de Matemática, na aparência física e na competência física a
favor dos rapazes enquanto as raparigas apresentam pontuações altas nas dimensões de
autoconceito verbal e autoconceito de valores espirituais e religiosos.
Reportando especificamente ao contexto africano, Marjoribanks e Mboya (2001)
revelaram diferenças a favor dos homens no autoconceito físico, emocional e relações
com pares, enquanto as mulheres apresentam níveis superiores de autoconceito apenas na
dimensão do autoconceito de habilidades musicais. Num outro estudo realizado com uma
amostra de 200 adolescentes do contexto urbano não constatou diferenças no
autoconceito geral entre rapazes e raparigas (Pauriyal, Sharma, & Gulati, 2010). Contudo,
em domínios específicos como o autoconceito físico e autoconceito intelectual, os rapazes
101
pontuam mais elevado do que as raparigas. Já as raparigas apresentam níveis mais
elevados de autoconceito nas relações interpessoais e na moral. Resultados similares
foram constatados por Gabelko, Roth e Worrell (1997) em que o autoconceito global e
atlético é mais elevado nos homens, enquanto as mulheres pontuam melhor no
autoconceito social.
Também Carmona, Gómez e Ortega (2010), num estudo de diferenças de
autoconceito junto de adolescentes do Ensino Secundário, verificaram que os meninos
apresentavam níveis de autoconceito superior nas dimensões emocional, físico, social e
global, enquanto as meninas pontuam mais elevado nas dimensões familiar e académica.
Estes autores avançaram a necessidade de realizar estudos mais aprofundados dessas
diferenças com amostra de adultos. Por outro lado, Vicente et al. (2015) usando o SDQII,
verificaram que no autoconceito verbal, aparência física, sinceridade/honestidade e
autoestima as meninas superam os meninos, que se posicionaram melhor no autoconceito
matemático, habilidades físicas, estabilidade emocional e relações com os pais.
Utilizando uma escala de autoconceito físico (CAF) para adolescentes, Bustos, Jordán,
Martí e Hernández (2011), verificaram que as mulheres pontuam mais elevado do que os
homens em todas as dimensões da escala, com maior destaque nas dimensões de força e
na dimensão de habilidade desportiva.
Relativamente às diferenças no autoconceito em função da idade, os mais novos
apresentam níveis elevados de autoconceito do que os mais velhos sobretudo na dimensão
académica (Faria & Azevedo, 2004). Por outro lado, Pauriyal et al. (2010), verificaram
que nos rapazes não existem diferenças tomando o autoconceito global, enquanto nas
raparigas o autoconceito evolui com a idade. Mais ainda, as diferenças de género foram
constatadas nas idades inferiores enquanto na amostra de adolescentes mais velhos não
foram registadas tais diferenças. De acordo com os estudos de Véliz-Burgos (2010), os
adultos apresentam níveis de autoconceito superior aos adolescentes, principalmente no
autoconceito familiar. No estudo de Faria e Santos (2006), constataram que os estudantes
mais velhos apresentam níveis superiores de autoconceito social. Por outro lado, Véliz-
Burgos e Urquijo (2012), constataram que os estudantes mais velhos apresentam um
autoconceito ligeiramente superior em comparação com os adolescentes, enquanto os
estudantes mais novos apresentam um autoconceito físico superior aos mais velhos.
Estudo de Marjoribanks e Mboya (2001), verificaram que as mulheres mais novas
apresentam autoconceito superior na aparência física, habilidades musicais, relações com
os pares, enquanto as mais velhas pontuam melhor na estabilidade emocional.
102
Considerações finais
O autoconceito é um constructo que não reúne consensos na sua definição e
avaliação, sendo que a sua abordagem varia em função das perspetivas teóricas assumidas
pelos investigadores. Contudo há um consenso de que o autoconceito sofre modificações
desde a infância até à idade adulta e, desta forma, vai assumindo diferentes pesos ao longo
desse processo evolutivo dos indivíduos. Por outro lado, apesar do início o autoconceito
assumir uma perspetiva unidimensional na sua avaliação, na atualidade há um consenso
de que este constructo é de natureza multidimensional. Mesmo assim, persistem as
dúvidas sobre as dimensões que compõem o autoconceito, divergindo os instrumentos de
avaliação do constructo em termos das dimensões que avaliam.
Tradicionalmente o autoconceito recebeu maior atenção na infância e
adolescência. Na atualidade, além da infância e adolescência, um volume expressivo de
estudos tem centrado a sua atenção na transição para o Ensino Superior. Esta etapa de
transição e desenvolvimento de jovem adulto é uma fase que vários autores reconhecem
como sendo uma etapa de muitos desafios e transformações na definição da identidade e
conquista de maior autonomia. Com efeito, essas mudanças são acompanhadas de
flutuações na perceção que os jovem-adultos têm de si mesmos, sendo que o autoconceito
surge como variável moderadora do ajustamento e sucesso académico desses estudantes.
Neste capítulo descrevemos alguns estudos que evidenciam alguma associação
entre o autoconceito e o desempenho escolar. Em particular, a maioria destes estudos
evidenciam a relevância da dimensão académica do autoconceito no desempenho escolar,
sendo esta dimensão aquela que avalia as competências cognitivas e escolares dos
estudantes.
Por último, foram apresentados alguns estudos diferenciais relativamente ao
autoconceito. Por exemplo, a maioria dos estudos sobre as diferenças de género no
autoconceito não têm constatado diferenças com significância estatística. Entretanto, em
domínios específicos, estas diferenças surgem, ora a favor dos homens, ora a favor das
mulheres. Por outro lado, tomando as diferenças em função da idade, os estudos mostram
que algumas dimensões do autoconceito são mais valorizadas na infância e adolescência
enquanto outras assumem maior relevância nos jovens-adultos, justificando uma maior
investigação em torno dos contextos de vida e dos processos associados ao
desenvolvimento do autoconceito na vida dos indivíduos, nomeadamente nas faixas
escolares pela importância atribuída à escola.
103
CAPÍTULO 4
CONSTRUÇÃO E VALIDAÇÃO DE UMA ESCALA DE
AUTOCONCEITO
Introdução
Ao longo deste capítulo iremos apresentar os principais estudos conduzidos para
a construção do questionário multidimensional de autoconceito para estudantes
universitários de Moçambique. O referido estudo partiu de uma consulta a vários
instrumentos para avaliação do autoconceito, procurando analisar a dimensionalidade dos
instrumentos e o número dos itens. Para o estudo inicial foram desenvolvidas entrevistas
semiestruturadas a uma pequena amostra de estudantes universitários, solicitando que
respondessem à pergunta “Quem sou eu?”. Trata-se de um instrumento clássico
desenvolvido por Gordon (1968), solicitando que cada estudante fornecesse 20 porções
de respostas a esta única questão.
Com os resultados das entrevistas conduzidas junto dos estudantes avançámos
para a análise seguindo a dupla categorização sugerida por este autor (tomando a
tendência das respostas enquanto positivas ou negativas, depois procedemos a uma
análise do conteúdo dessas respostas procurando enquadrar cada conteúdo numa
categoria do self). Desse processo resultou a organização das dimensões do autoconceito
e a organização dos itens tomando o conteúdo das respostas fornecidas.
Posteriormente, após consulta de especialistas e juízes, conduzimos estudos
quantitativos com o objetivo de explorar a estrutura fatorial da escala. Com efeito, foram
conduzidos cinco estudos quantitativos e qualitativos. Neste processo as dimensões de
gestão de emoções e sentimentos e a dimensão de autoestima não emergiram com
suficiente estabilidade, passando de 7 dimensões iniciais para 5 dimensões na fase final.
Ao longo dos cinco estudos quantitativos fomos alterando os itens nas dimensões da
escala, principalmente na dimensão de autoconceito social, autoconceito académico e
autoconceito físico tendo em conta a emergência de alguns itens bastante fortes nestas
dimensões.
Assim, na apresentação dos resultados do estudo começamos por descrever i) os
estudos qualitativos obtidos através de entrevistas semiestruturadas junto de 15 estudantes
da Universidade Pedagógica na Beira, e ii) estudos qualitativos com pequenas amostras
e um estudo final da escala com 250 estudantes da Universidade Pedagógica de
Moçambique.
104
Motivação para a construção de uma escala de autoconceito
Em avaliação psicológica a construção e/ou adaptação de um instrumento de
avaliação de constructos psicológicos exige o reconhecimento das características dos
sujeitos e das condições socioculturais em que esses indivíduos vivem, tais condições
influenciam a forma como percebem e respondem ao questionário. Especificamente, na
avaliação do autoconceito, torna-se essencial considerar este aspeto porque o
desenvolvimento do indivíduo não pode ser compreendido fora do contexto das suas
vivências (Campira et al., 2014a, b), sendo igualmente uma forma de respeitar a
diversidade sociocultural moçambicana nas suas expressões regionais e locais (Campira
& Araújo, 2012).
A opção pela construção de uma escala de autoconceito para o contexto
universitário em Moçambique explica-se primeiro pela escassez de instrumentos para
avaliar este constructo no ES em Moçambique. Por outro lado, os vários instrumentos de
avaliação do autoconceito desenvolvidos a nível nacional e internacional têm-se centrado
na infância e na adolescência, junto de estudantes do ensino primário e secundário. A
saber, o Self Perception Profile for Adolescents de Susan Harter (Faria, 2005; Peixoto,
2003), a EACA - Escala de Autoconceito para Adolescentes moçambicanos (Campira,
Araújo, & Almeida, 2013), o Piers-Harris children’s self concept scale (Veiga, 2006), o
Self Description Questionnaire –SDQI e II, (Marsh, 1988). Por sua vez, para o nível
universitário conhece-se poucos instrumentos, como o Self Description Questionnaire –
SDQIII (Marsh & O’Niell, 1984, adaptado ao contexto português por Faria & Fontaine,
1992); a Escala de Autoconceito Estatístico (Silva & Vendramini, 2005) e o AF5 (Garcia
& Musuti, 2001).
Considerando a adaptação do Piers-Harris children’s self concept scale realizada
por Veiga (2006) para a população portuguesa, quando usada no contexto moçambicano
apresenta muitas dificuldades, levando-nos à necessidade de construção de um novo
instrumento de avaliação do autoconceito que respondesse às especificidades culturais de
estudantes moçambicanos (Campira et al., 2013). Pelas razões acima descritas o principal
objetivo desta tese é a construção e validação do instrumento que avalia o autoconceito
dos estudantes universitários de Moçambique. Apresentaremos de seguida os principais
momentos e as decisões tomadas em cada fase do processo de construção da respetiva
escala.
105
4.2.1 Estudo Qualitativo
Para o primeiro estudo de construção da escala de autoconceito (estudo
qualitativo) foram realizadas 15 entrevistas com estudantes da Universidade Pedagógica
de Moçambique, delegação da Beira dos cursos de Psicologia Educacional, Ensino
Básico, Educação de Infância, Administração e Gestão Escolar, Matemática e Física.
Destes estudantes, 9 são do sexo feminino e 6 do sexo masculino. As entrevistas foram
conduzidas partindo de uma pergunta aberta: “Quem sou eu?”. O objetivo era recolher as
verbalizações dos estudantes sobre as perceções e a descrição que fazem de si mesmos.
Os estudantes responderam por escrito, descrevendo os atributos ou as perceções que têm
de si mesmos. Durante esta tarefa de autoavaliação reforçamos o caráter voluntário da
participação no estudo, expondo o objetivo desta atividade de autoavaliação e garantindo
a confidencialidade e o anonimato no tratamento das informações. As entrevistas foram
concedidas no tempo extracurricular, num espaço devidamente organizado e preparado
para o efeito, após a aceitação do convite para a participação. Depois das entrevistas
seguiu-se a categorização das respostas em função do polo positivo e o polo negativo
tomando o critério de Gordon (1968), atendendo às seguintes categorias:
a) Fortemente negativo, um problema ou vergonha para o respondente;
b) Moderadamente negativo, moderadamente desagradável;
c) Neutro ou não passível de avaliação;
d) Moderadamente positivo, um ponto agradável;
e) Fortemente positivo, uma fonte de satisfação ou orgulho para o
respondente.
Seguidamente, e atendendo aos objetivos deste estudo, categorizamos as respostas
incluindo-as nas categorias: a) negativo; b) moderado e c) positivo. Na Tabela 4.1
apresentamos o exemplo desta categorização.
106
Tabela 4.1
Exemplo de Categorização das Respostas em Função do Polo Positivo ou Negativo
Conteúdo da unidade codificável Negativo Neutro Positivo
“Sou alegre.” X
“Apesar de me irritar facilmente.” X
“Considero-me social.” X
“…dou-me facilmente com as pessoas.” X
“Gosto de saber quem são os outros.” X
“Não levo a vida muito sério.” X
“Quando tenho teste não fico muito preso por isso.” X
“Sou um pouco estudiosa, não muito.” X
“Eu não gosto de estudar todo o momento.” X
“Gosto de me dar tempo de relaxar.” X
“Sinto que sou forte.” X
“…por isso estou aqui mesmo diante das
dificuldades.”
X
“Acho que sou divertida.” X
“Se sentem confortáveis com a minha companhia.” X
“Fico muito angustiada.” X
“Gosto da minha família.” X
“Não me simpatizo com pessoas falsas.” X
“Sou religiosa…” X
“…posso até não seguir os mandamentos.” X
“…mas vou a igreja e acredito em Deus.” X
“O que acontece na vida é graças a Deus.” X
Após o exercício de classificação do conteúdo em função do polo (positivo ou
negativo), calculamos as respetivas frequências. Na Tabela 4.2 apresentamos as
frequências de cada categoria.
107
Tabela 4.2
Categorização das respostas dos estudantes em função do pólo positivo ou negativo
Negativo Neutro Positivo
Participante N % N % N % Total
1 35 43.8 3 3.8 42 52.5 80
2 14 20.3 5 7.2 50 72.5 69
3 24 45.3 8 15.1 21 39.6 53
4 11 18.0 4 6.6 46 75.4 61
5 25 45.5 1 1.8 29 52.7 55
6 19 36.5 4 7.8 29 55.8 52
7 22 44.9 2 4.1 25 51.0 49
8 20 33.3 3 5.0 37 61.7 60
9 16 32.0 2 4.0 32 64.0 50
10 23 45.1 2 3.9 26 51.0 51
11 6 13.0 4 8.7 36 78.3 46
12 10 24.4 2 4.9 29 70.7 41
13 4 9.5 4 9.5 34 81.0 42
14 6 15.0 2 5.0 32 80.0 40
15 9 22.5 3 7.5 28 70.0 40
Total 244 49 498 791
% 30,8 6,2 63 100
Observando a Tabela 4.2 verifica-se que as respostas dos 15 estudantes
entrevistados tendem para o polo positivo, chamando desde já a atenção para uma
descrição tendencialmente positiva de si mesmo. Esta situação foi tomada em
consideração posteriormente, na formulação dos itens da escala, contrariando os
resultados da Escala de Autoconceito para Adolescentes de Moçambique, EACA
(Campira et al., 2013) que apresentam uma tendência acentuada de itens formulados pela
negativa na respetiva escala.
Em segundo lugar, procedemos à categorização de todas as repostas em unidades
de conteúdo. Isto é, cada um dos números poderia ser codificável em mais do que uma
unidade de conteúdo codificável) atendendo ao seguinte sistema de categorias proposta
por Gordon (1968):
a) Características atribuídas pela sociedade – são características referentes a
categorias sociais conferidas desde o nascimento e que permanecerão com o
indivíduo ao longo da sua vida. São características “estruturais” que posicionam
o indivíduo em diversos eixos diferenciadores na sociedade.
b) Papéis sociais e de vida – elementos referentes a papéis sociais ou de identidade
social, sobre os quais o indivíduo terá algum tipo de controlo. Estas
características têm de ser associadas a uma escolha, isto é, o indivíduo terá
108
escolhido pertencer a estas categorias ou tipos sociais de forma voluntária, ou
pelo menos poderá ser tido como responsável pela sua participação nestas
categorias.
c) Identificação abstrata – características mais privadas e abstratas do que as
anteriores. A primeira categoria coloca o indivíduo como um ser único, com
existência. A segunda categoria coloca o indivíduo num grupo sem relações
identificáveis entre os seus membros. A terceira categoria associa a pessoa com
algum sistema de ideias relativamente compreensivo, ideológico, filosófico,
religioso ou mesmo político.
d) Interesses e atividades – reporta gostos e preferências, preocupações
intelectuais, atividades artísticas e outras atividades.
e) Referências materiais – nesta categoria o corpo ou objetos externos ao self são
assumidos como elementos de identificação do indivíduo.
f) Sentidos do self – reportam níveis de funcionamento pessoal, que vão além de
caraterísticas discretas.
g) Características pessoais – apontam características mais gerais que se referem
ao modo típico de funcionamento do indivíduo.
h) Significados externos – diz respeito a características da impressão que o
indivíduo perceciona causar nos outros, ou na situação de teste. Impressões ou
atitudes dos outros face ao indivíduo.
Apresentamos na Tabela 4.3, o exemplo da classificação do conteúdo das
descrições de si mesmos dos estudantes universitários de Moçambique.
Tabela 4.3
Exemplo de Classificação do Conteúdo das Respostas dos Estudantes
Exemplos de classificação
01. Confiante no futuro (estilo psicológico), sou estudante (situação de estudante),
jovem e solteira (idade/papel de parentesco).
02. Não tenho muitas convivências (estilo interpessoal), não gosto de me meter na
discoteca, passeios e outras diversões (gostos e preferências).
109
03. Acho que sou calma e sem muito divertimento (estilo interpessoal). Tenho
dificuldade em falar ao público, quer dizer onde há muita gente (sentido de
competência/estilo interpessoal).
04. Sou fechada, introvertida (estilo interpessoal). Tive uma educação rígida, os meus
pais (papel de parentesco) não permitiam que alguns amigos chegassem em casa (estilo
interpessoal).
05. As pessoas dizem que sou fechada e cínica (estilo interpessoal). Eu não concordo
muito (sentido de autodeterminação), mas porque frequentemente falam, passo a
acreditar (estilo interpessoal).
Depois desta categorização do conteúdo seguiu-se a estatística desta categorização
que apresentamos na Tabela 4.4.
Tabela 4.4
Classificação do Conteúdo das Descrições de Si de Estudantes Universitários
Moçambicanos
Categoria Subcategorias N %
Características
atribuídas a
sociedade
01 Sexo (homem, rapaz) 09 0.9
02 Idade 20 1.9
03 Nome 02 0.2
04 Herança racial ou étnica 02 0.2
05 Categoria religiosa 05 0.5
Papéis sociais e de
vida
06 Papel de parentesco 39 3.7
07 Papel profissional 07 0.7
08 Papel de estudante 25 2.4
10 Estatuto social 04 0.4
11 Territorialidade 04 0.4
12 Membro de um grupo 08 0.8
Identificação
abstrata
13 Existencial, individuação 06 0.6
14 Membro de uma categoria abstrata 03 0.3
15 Referências ideológicas e relativas a crenças 33 3.1
Interesses e
atividades
16 Gostos e preferências (gosto por arte, rock) 194 18.4
17 Preocupações intelectuais 50 4.7
18 Atividades artísticas (dançarino, pintor, músico) 11 1.0
19 Outras atividades 06 0.6
Referências
materiais
20 Posses, recursos 12 1.1
21 Self físico, imagem corporal 46 4.4
110
Sentido do self 22 Sentido de valor moral (respeito-próprio, pecador,
mau)
69 6.5
23 Sentido de autodeterminação (esforçado,
ambicioso)
39 3.7
24 Sentido de unidade 20 1.9
25 Sentido de competência (inteligente, talentoso,
criativo)
76 7.2
Características
pessoais
26 Estilo interpessoal (simpático, amigável, justo) 244 23.1
27 Estilo psicológico (triste, animado, sonhador,
deprimido)
93 8.8
Significados
externos
28 Juízos amputados aos outros 16 1.5
29 Referências situacionais (cansado, aborrecido) 14 1.3
Total 100
Como se pode observar na Tabela 4.4 as categorias: Características pessoais (f =
337; 31.9%); Interesses e atividades (f = 261; 24.7%); e Sentido do self (f = 204; 19.3%)
são as mais expressivas nas respostas dadas pelos estudantes. Assim para a fase preliminar
assumimos as frequências (f) iguais ou superior a 20 para a definição das dimensões
teóricas do autoconceito para estudantes universitários de Moçambique. Neste sentido,
foram encontradas sete (7) categorias ou dimensões de autoconceitos mais relevantes para
os estudantes universitários de Moçambique, a saber:
a) Dimensão académica ou intelectual - inclui verbalizações com ideias ou atitudes
em relação à escola, por exemplo, persistência ou dedicação aos estudos.
b) Dimensão social ou interpessoal - apresenta formulações que expressam a
relação do indivíduo com os outros (família, amigos e colegas, quer no contexto
escolar, como no contexto familiar);
c) Gestão de emoções e sentimentos - descrevem a capacidade que o estudante tem
de gerir as emoções e os seus sentimentos na relação com os outros;
d) Dimensão de autoestima- expressa o sentimento de satisfação consigo mesmo, o
auto-valor que sente como pessoa na relação consigo e com os outros;
e) Dimensão artística - descreve o gosto e competência artística do indivíduo e o
gosto pela arte;
f) Dimensão religiosa ou espiritual- expressa as crenças espirituais ou religiosas e
a forma como estas afetam o comportamento do indivíduo no seu quotidiano;
g) Dimensão física- reporta itens que avaliam a competência física como a forma, a
aparência física e os cuidados com a saúde física.
111
A escala piloto (versão I) de avaliação do autoconceito para estudantes
universitários de Moçambique foi composta por 77 itens distribuídos por 7 dimensões,
cada dimensão contendo 11 itens formulados tanto pela positiva, como pela negativa com
maior tendência para itens formulados pela positiva (cf. Tabela 4.2). Estes itens foram
organizados a partir dos discursos formulados pelos próprios estudantes nas entrevistas
concedidas. A escala é do tipo likert com 6 opções de respostas que varia entre 1
(absolutamente em desacordo) e 6 (absolutamente de acordo). Na fase inicial do estudo
quantitativo participam 151 estudantes da Universidade Pedagógica na cidade da Beira,
sem descriminar o ano de frequência dos estudantes.
4.2.2 Estudos quantitativos da escala de autoconceito
A construção da escala de autoconceito para estudantes universitários de
Moçambique percorreu cinco estudos quantitativos e alguns estudos qualitativos junto de
estudantes e especialistas ou juízes. Apresentamos agora os estudos realizados assim
como os resultados e as decisões tomadas em cada momento de pesquisa.
4.2.2.1 Estudo Quantitativo 1
No primeiro estudo piloto da análise quantitativa para a construção e validação da
escala de autoconceito universitário participaram 151 estudantes com idades
compreendidas entre 19 e 58 anos (M = 28.05; DP = 6.53). Destes, 62.9% são do sexo
feminino e os restantes 37.1% do sexo masculino distribuídos por diferentes cursos da
Universidade Pedagógica, delegação da Beira, dos quais 30.5% frequentando o segundo
ano, 37.5% frequentando o terceiro ano e 29.1% frequentando o quarto ano.
Antes da análise fatorial realizamos dois testes, o KMO = .648 e o teste de
esfericidade de Bartlett’s = 5588.249, p < .00. Os dados estatísticos indicam a
possibilidade de avançarmos com a análise fatorial. Solicitamos também o método de
extração através do método de componentes principais tendo fixado os 7 fatores
teoricamente previstos. Também foi assumida, nesta fase inicial do estudo, a saturação
mínima de .30 dos itens, assim como uma rotação varimax. Os resultados desta análise
são apresentados na Tabela 4.5.
112
Tabela 4.5
Análise Fatorial do Estudo 1
Fatores
1 2 3 4 5 6 7
38- Considero-me uma pessoa com gostos e competências artísticas .73
12- Sou uma pessoa com compreensão e sensibilidade artística .72
45- Considero-me competente no domínio das artes .72
7- Os meus colegas elogiam as minhas qualidades artísticas .69
32- Esforço-me por desenvolver as minhas competências artísticas .69
62- Utilizo a arte para expressar a minha identidade .59
37- Faço exercícios físicos com facilidade .53
65- Interesso-me pela arte (por exemplo: música, dança, pintura, etc.) .52
16- Sou reconhecido(a) no meu valor pelos colegas e amigos .47
17- Gosto de conhecer as artes e as tradições culturais de outros povos .46 -.32
68- Sinto que sou procurado(a) pelos meus colegas para os apoiar .41
59- Sinto que posso ser um dos melhores estudantes da minha turma .37
4- Em relação aos meus colegas, sinto-me bem-sucedido(a) na vida .37 .36
22- Gostava de aprofundar a área artística na minha vida profissional .37
25- Sou um(a) dos primeiros(as) a ser convidado(a) pelos colegas para
convívios .31
18- Preocupo-me em andar limpo(a) e asseado(a) .70
11- Tenho capacidades suficientes para concluir o meu curso com sucesso .61
33- Tenho boas capacidades de relacionamento com amigos e colegas .60
36- Sou capaz de controlar as minhas emoções quando necessário .58
49- Esforço-me por estudar para aprender mais .57
26- Considero-me forte diante de situações stressantes .57
35- Acredito na existência de Deus/Deuses .50
8- Gosto de ter momentos de reflexão e paz interior .50
29- Sinto-me uma pessoa com valor .49 .35
73- Acredito nas minhas capacidades intelectuais .48 .42 -.34
15- Tenho facilidade em me relacionar com novos colegas .45
72- Faz-me bem escutar músicas ou ver exposições de arte .44 .40
28- Sou um(a) estudante(a) dedicado(a) aos estudos .38 .43
39- Os(as) professores(as) reconhecem as minhas capacidades escolares .40 .43
1- Sou capaz de compreender os detalhes das matérias que estudo .34
46- É importante para mim ter amigos(as) de outras províncias ou países
75- Sinto-me uma pessoa fisicamente atraente .72
19- Considero-me um(a) estudante(a) inteligente .61
70- Sinto-me bem com o corpo que tenho .41 .54
43- Considero-me uma pessoa fisicamente elegante .52
6- Os meus amigos(as) falam bem da minha aparência física .51 .39
30- Sinto-me uma pessoa saudável .51
113
61- Sinto que tenho um corpo bonito .48 -.38
47- Considero-me uma pessoa feliz .30 .45 .31
71- No geral, acho que tenho muitas coisas de que me orgulhar .33 .41
13- Sinto-me uma pessoa forte fisicamente .33 .40
53- Sinto-me feliz com o percurso da minha vida até ao momento atual .39
51- Sou por natureza uma pessoa corajosa .37
76- Sinto-me satisfeito(a) com as amizades que tenho .37
74- Considero-me uma pessoa calma .34
52- Gosto de me ver ao espelho .34
9- Sou apreciado(a) positivamente pela minha família .31 .32
23- Tenho uma visão negativa de mim mesmo .70
58- Irrito-me facilmente, mesmo sem saber a causa .65
21- Considero-me impaciente com as outras pessoas .63
54- Na maior parte das vezes, não gosto de estudar as matérias escolares .55
63- Tenho dificuldade de falar em público .53 .35
44- Sinto que sou uma pessoa demasiado teimosa .53
10- Tenho dificuldades em fazer novos amigos .52
77- Sou indiferente aos assuntos da religião .52
31- Considero-me uma pessoa nervosa .45
20- Acredito na influência dos meus antepassados na minha vida
48- As minhas crenças religiosas influenciam o meu comportamento .69
60- Procuro seguir os ensinamentos sagrados da minha religião .68
5- Considero-me uma pessoa religiosa .36 .47
41- Recorro à vida espiritual para me afastar de vícios .44
27- Algumas coisas acontecem na minha vida por intervenção divina .42
50- Sou capaz de tocar algum instrumento musical .39
40- Tenho um(a) amigo(a) especial em quem posso confiar .36
14- Não guardo remorsos comigo mesmo(a) .30 .34
66- Gostava de ser diferente do que sou para melhor .69
2- Normalmente sou uma pessoa ansiosa -.37 .56
67- Tenho medo do que me possa vir a acontecer .54
24- Existem coisas no meu corpo que gostaria de mudar .46
55- Respeito as crenças e valores espirituais das outras pessoas -.36
34- Às vezes tenho dificuldade em terminar a tempo as atividades escolares
56- Reconheço que existem colegas que não gostam de conversar comigo .49
3- Sinto que sou uma pessoa agradável com os outros .47
69- Gosto de frequentar lugares sagrados .31 .44 -.47
64- Tenho capacidade de fixar os conteúdos que aprendo -.39
57- Sinto que os outros estão desiludidos comigo .38 .38
42- Olhando para trás, sinto que tomei más decisões na minha vida
Observando os resultados apresentados na Tabela 4.5, verifica-se que muitos itens
aparecem misturados, mas algumas dimensões emergem como: dimensão artística,
114
dimensão espiritual, dimensão física e a dimensão académica ou intelectual. Já as
dimensões de gestão de emoções e sentimentos, dimensão da autoestima e a dimensão
interpessoal ou social não aparecem com clareza nesta análise fatorial. Nota-se também
quatro itens com saturação abaixo de .30 (itens 46, 20, 34 e 42) e muitos itens aparecem
saturados em mais de um fator. Mais ainda, os itens que mais se deslocam dos seus
respetivos fatores (2, 10, 20, 27, 23, 31, 34, 41, 42, 44, 54, 56, 57, 63, 66 e 77) estão
formulados pela negativa. Neste sentido decidimos reformular todos estes itens pela
positiva, dando uma atenção especial à dimensão de gestão de emoções e sentimentos, à
dimensão interpessoal e à dimensão da autoestima, pois além dos itens aparecerem
misturados nos outros fatores, não emergem nesta análise com clareza (cf. Tabela 4.6).
Tabela 4.6
Itens Modificados ou Acrescentados da Escala de Autoconceito
Dimensão Itens
Dimensão artística Sinto que tenho alguma vocação artística.
Dimensão física
Sinto-me uma pessoa fisicamente forte.
Sinto que sou uma pessoa fisicamente saudável.
Há pessoas que falam bem da minha aparência física.
Dimensão académica
Os(as) meus(minhas) colegas elogiam as minhas qualidades
intelectuais.
Procuro compreender os detalhes da matéria que aprendo.
Os(as) meus(minhas) colegas da turma gostam de estudar e
aprender comigo.
Dimensão religiosa ou
espiritual
Acredito que posso comunicar com os meus antepassados.
Recorro à vida espiritual para resolver alguns dos meus
problemas.
Sinto a importância de assuntos religiosos para a minha vida.
Dimensão social ou
interpessoal
Sinto que sou uma das pessoas mais próxima dos
meus(minhas) amigos(as).
Sinto que a minha família tem-me apoiado nas minhas
atividades.
Os(as) meus (minhas) colegas gostam de conversar comigo.
Sinto que tenho habilidades de falar em público.
Dimensão de autoestima
Sinto que sou uma pessoa valorizada pelos(as) colegas.
Em parte, considero-me uma pessoa realizada.
Se me deixassem mudar, não mudaria nada em mim.
Tenho uma visão positiva de mim mesmo como pessoa.
Sinto que os outros estão orgulhosos de mim.
Do momento, sinto-me feliz com a família que tenho.
115
Dimensão de gestão de
emoções e sentimentos
Considero-me uma pessoa com estabilidade emocional.
Sou por natureza uma pessoa confiante na vida.
Normalmente sou uma pessoa menos ansiosa.
Não guardo mágoas comigo mesmo(a).
Sou otimista quanto ao que me possa vir acontecer.
Sinto que sou uma pessoa menos teimosa.
4.2.2.2 Estudo Quantitativo 2
Os resultados do estudo 1 sugeriram a reformulação dos itens olhando
principalmente para os três fatores que não emergem com clareza na análise anterior e
avançar para o estudo 2, tendo reduzido o número de itens de 77 do primeiro estudo para
56 itens no segundo estudo. De salientar que a decisão de reduzir o número de itens por
dimensão deveu-se à constatação de que nos últimos itens, talvez por cansaço, não
funcionavam tão bem. Com efeito, asseguramos que cada dimensão tenha 8 itens, tendo
em conta a estabilidade de algumas dimensões do autoconceito, mantendo o formato de
respostas com 6 opções, variando de 1 (Totalmente em desacordo) a 6 (Totalmente de
acordo).
Os resultados do segundo estudo são apresentados a seguir através de uma nova
análise fatorial. A dimensão de Gestão de emoções e sentimentos voltou a apresentar
instabilidade por isso não aparece nesta segunda análise. Assim, de 7 dimensões iniciais
passamos a apresentar 6 dimensões no segundo estudo.
Neste segundo estudo participaram 150 estudantes, nomeadamente, 50 estudantes
dos cursos de Educação de Infância (33.30%), 20 do Português (13.30%) e 17 dos cursos
de Psicologia e de Francês (11.30%). A amostra é composta na sua maioria por 86
estudantes do 3º ano (57.30%) e 33 estudantes do 4º ano (22%), sendo fraca participação
de estudantes do 1º ano, apenas 30 estudantes (20%) e 1 estudante do 2º ano (7%).
Participaram também do estudo 95 estudantes do sexo feminino, o equivalente a 63,34%
e 55 do sexo masculino, que correspondem a 36,66%. As idades variam entre 18 a 59
anos de idade (M = 28.14; DP = 8.50). Os resultados da análise fatorial realizada são
apresentados na Tabela 4.7.
Tabela 4.7
116
Extração da Estrutura Fatorial dos 56 Itens da Escala
Item Componentes
1 2 3 4 5 6
20- Tenho capacidade de fixar os conteúdos que aprendo .69
37- Relaciono-me facilmente com novos colegas e amigos .66
34- Sinto que sou uma pessoa conhecida entre amigos e colegas .65
38- Os meus colegas elogiam as minhas qualidades intelectuais .63 .33
40- Sou uma pessoa com facilidade de fazer amizades .60
28- Sou convidado(a) pelos colegas para os ajudar .60 .35
22- Considero-me uma pessoa social na interação com os outros .59 .44
25- Sinto que sou uma pessoa com muitas amizades .57 .31
31- Procuro compreender os detalhes da matéria que aprendo .51
12- Sou uma pessoa procurada pelos colegas para conversar .47
30- Sinto que sou uma pessoa fisicamente saudável .45 .36
33- Tenho uma imagem positiva de mim mesmo como pessoa .42 .31
19- Sinto-me uma pessoa fisicamente forte .39 .37
23- Os meus colegas elogiam as minhas qualidades artísticas .77
18- Esforço-me por desenvolver as minhas competências
artísticas .75
35- Sinto que tenho alguma vocação artística .74
13- Considero-me competente no domínio das artes .73
29- Utilizo a arte para expressar a minha identidade .72
7- Considero-me uma pessoa com gostos e competências
artísticas .67
1- Sou uma pessoa com compreensão e sensibilidade artística .56
8- Sinto que tenho um corpo bonito .81
2- Sinto-me uma pessoa fisicamente atraente .68
9- Sinto que posso ser um dos melhores estudantes da minha
turma .64
14- Sinto-me bem com o corpo que tenho .60 .31
36- Há pessoas que falam bem da minha aparência física .41 .42
6- Sinto que tenho boas relações com os colegas .32
39- As minhas crenças religiosas influenciam o meu
comportamento .73
10- Considero-me uma pessoa religiosa .69
4- Procuro seguir os ensinamentos sagrados da minha religião .62
16- Gosto de frequentar lugares sagrados .59
26- Acredito na existência de Deus/Deuses .44 .34
5- Considero-me uma pessoa feliz .70
11- Sinto-me feliz com o percurso da minha vida até ao momento
atual .65
21- Sinto que estou bem comigo mesmo .31 .52
15- Acredito nas minhas capacidades intelectuais .31
3- Sou um(a) estudante(a) dedicado(a) aos estudos .30 .31
27- Sinto que sou membro importante da minha família .52
32- Sinto a importância de assuntos religiosos para a minha vida .48 .50
17- Sinto que sou uma pessoa com valor próprio .47
24- Preocupo-me em andar limpo(a) e asseado(a) .31 .42
117
Com os resultados deste estudo a apresentar ainda alguma dificuldade no
agrupamento dos itens nas respetivas dimensões, nota-se que no primeiro fator agrupam-
se os itens de quase todas dimensões, nomeadamente, autoestima, autoconceito social,
autoconceito académico e autoconceito físico. Mais ainda, muitos itens continuam a
saturar em mais de um fator excetuando a dimensão artística que mostra ser a dimensão
mais forte seguida da dimensão religiosa. Recorda-se que neste estudo foi retirada a
dimensão de gestão de emoções e sentimentos tendo ficado apenas 6 dimensões em
estudo.
Com esses resultados, pelo menos conseguimos fixar os itens mais fortes em cada
dimensão. Assim, avançamos para mais um estudo procurando especificar ainda os itens
das dimensões que não emergem com estabilidade nos sucessivos estudos realizados até
então. Os resultados do terceiro estudo são apresentados de seguida no terceiro estudo.
4.2.2.3 Estudo Quantitativo 3
Neste estudo participaram 303 estudantes sendo 197 (64.7%) do sexo feminino e
107 (35.3%) distribuídos em 124 para o 1.º ano (40.9%); 35 do 2.º ano (11.6%); 79 do 3.º
ano (26.1%) e 64 estudantes do 4º ano (21.4%). Assim, participaram neste estudo
estudantes de 9 cursos, sendo maior a percentagem do curso de Educação de Infância com
118 estudantes (38.9%), e de seguida 46 estudantes do curso de Psicologia (15.2%), 33
do curso de Química (10.9%), 29 do curso de Português (9.6%), 29 do curso de Ensino
Básico (9.6%), 20 do curso de História (6.6%), 17 do curso de Ciências da Educação
(5.6%), 10 do curso de Biologia (3.3%) e, por fim, 1 estudante do curso de Geografia
(0.3%). A idade mínima dos estudantes é de 16 anos e máxima de 59 (M = 29.6; DP =
8.3). Os resultados deste estudo são apresentados na Tabela 4.8.
Tabela 4.8
Estrutura Fatorial da Terceira Aplicação
Componentes
1 2 3 4 5 6
17- Sinto que sou uma pessoa com valor .73
36- Considero que tenho boa aparência física .68
12- Sinto que tenho um corpo bonito .66
35- Tenho uma imagem positiva de mim mesmo como pessoa .61
18- Sinto-me bem com o corpo que tenho .60
6- Sinto-me uma pessoa fisicamente atraente .54
29- Sinto que sou membro importante da minha família .52
118
23- Sinto que estou bem comigo mesmo .49
27- Considero-me um (a) bom(oa) estudante(a) .41
24- Sinto-me uma pessoa fisicamente forte .41
30- Sinto que sou uma pessoa fisicamente saudável .41
20- Sinto que sou uma pessoa com boas amizades
21- Tenho capacidade de entender com facilidade os conteúdos
que aprendo
19- Considero-me competente no domínio das artes .77
31- Utilizo a arte para expressar a minha identidade .75
7- Sinto que tenho alguma vocação artística .75
25- Os meus colegas elogiam as minhas qualidades artísticas .75
1- Considero-me uma pessoa com gostos e competências
artísticas .71
13- Esforço-me por desenvolver as minhas competências
artísticas .70
16- Procuro seguir os ensinamentos sagrados da minha religião .80
4- As minhas crenças religiosas influenciam o meu
comportamento .75
10- Considero-me uma pessoa religiosa .75
22- Valorizo os aspetos religiosos na minha vida .64
28- Gosto de frequentar lugares sagrados .62
2- Relaciono-me facilmente com novos colegas .69
26- Tenho facilidade em fazer novos amigos .65
14- Sinto que sou uma pessoa popular entre amigos e colegas .63
32- Sou uma pessoa procurada pelos colegas para conversas .55
8- Sinto-me incluído(a) no meu grupo de colegas .47
9- Sou um(a) estudante(a) dedicado(a) aos estudos .74
15- Acredito nas minhas capacidades intelectuais .64
3- Sinto que posso ser um(a) estudante(a) com bom rendimento
escolar .57
33- Consigo realizar bem as minhas tarefas escolares .46
11- Sinto-me feliz com o percurso da minha vida até ao momento
atual .58
34- Acredito na existência de Deus/Deuses .47 -.54
5- Considero-me uma pessoa feliz
Realizada essa análise fatorial pode-se observar que muitos itens continuam
misturados no fator 1, verifica-se também que os itens da autoestima, o autoconceito mais
global, são os que aparecem com frequência nas outras dimensões. Sendo assim
decidimos retirar esses itens da próxima análise, reduzindo os fatores para 5 (cinco) com
um total de 30 itens (com a passagem de 8 para 6 itens em cada dimensão). Os resultados
desta análise são apresentados na Tabela 4.9.
4.2.3 Estudo Quantitativo 4
O quarto estudo de construção e validação da escala de autoconceito participaram
366 estudantes com idades que variam entre 16 a 50 anos (M = 25.6; DP = 7.3). Destes
253 (69.1%) são do sexo masculino e 113 (30.9%) são do sexo feminino, assim
distribuídos por ano: 1º ano 310 (84.7%); 2º ano 52 (14.2%); 3º ano 3 (0.8); e 4º ano
(0.3%). Procuramos abranger maior número de cursos com estudantes dos primeiros
119
níveis, assim 13 cursos participaram do estudo sendo: Curso de Física 55 (15%);
Educação visual 35 (9.6); Francês 24 (6.6); Ciências da Educação 17 (4.6%); Filosofia
39 (10.7%); Biologia 35 (9.6%); Inglês 34 (9.3%); Português 22 (6%); Administração e
Gestão Escolar 16 (4.4%); Psicologia 26 (7.1%); Geologia 12 (3.3%); Informática 8
(2.2%); e Química 43 (11.7%). A seguir apresentamos os resultados deste estudo na tabela
9 recorrendo ao método de extracção de componentes principais e uma rotação varimax,
fixando em .40 a saturação mínima dos itens.
Tabela 4.9
Estrutura Fatorial da Quarta Aplicação
Componentes
1 2 3 4 5
19- Considero-me competente no domínio das artes .79
31- Utilizo a arte para expressar a minha identidade .76
7- Sinto que tenho alguma vocação artística .75
25- Os meus colegas elogiam as minhas qualidades artísticas .72
13- Esforço-me por desenvolver as minhas competências artísticas .70
1- Considero-me uma pessoa com gostos e competências artísticas .69
16- Procuro seguir os ensinamentos sagrados da minha religião .78
4- As minhas crenças religiosas influenciam o meu comportamento .74
10- Considero-me uma pessoa religiosa .74
22- Valorizo os aspetos religiosos na minha vida .68
28- Gosto de frequentar lugares sagrados .62
34- Acredito na existência de Deus/Deuses .53
9- Sou um(a) estudante(a) dedicado(a) aos estudos .69
15- Acredito nas minhas capacidades intelectuais .65
33- Consigo realizar bem as minhas tarefas escolares .64
3- Sinto que posso ser um(a) estudante(a) com bom rendimento escolar .53
21- Tenho capacidade de entender com facilidade os conteúdos que
aprendo .50
27- Considero-me um (a) bom(oa) estudante (a) .48
2- Relaciono-me facilmente com novos colegas .71
26- Tenho facilidade em fazer novos amigos .68
14- Sinto que sou uma pessoa popular entre amigos e colegas .61
32- Sou uma pessoa procurada pelos colegas para conversas .59
8- Sinto-me incluído(a) no meu grupo de colegas .51
20- Sinto que sou uma pessoa com boas amizades
12- Sinto que tenho um corpo bonito .79
36- Considero que tenho boa aparência física .68
6- Sinto-me uma pessoa fisicamente atraente .62
18- Sinto-me bem com o corpo que tenho .62
Com esta análise do quarto estudo já é possível verificar que os itens se agrupam
de acordo com a estrutura fatorial teoricamente prevista. De seguida vamos avançar para
a análise da consistência interna dos 5 fatores: Fator I, Autoconceito artístico (6 itens);
Fator II, Autoconceito religioso (6 itens); Fator III, Autoconceito académico ou
intelectual (6 itens); Fator IV, Autoconceito social ou interpessoal (5 itens); e Fator V,
120
Autoconceito Físico (4 itens). Ficou de fora o sexto fator que seria da autoestima. De
seguida apresentamos, na Tabela 4.10, os resultados da consistência interna da escala nas
5 dimensões.
Tabela 4.10
Análise da Consistência Interna dos Itens da Escala de Autoconceito
Dimensão artística alfa = .85
Item Min - Max M DP ritc Alfa se item
eliminado
1- Considero-me uma pessoa com gostos e competências
artísticas 1 – 6 4.37 1.50 .61 .83
7- Sinto que tenho alguma vocação artística 1 – 6 3.90 1.64 .66 .82
13- Esforço-me por desenvolver as minhas competências
artísticas 1 – 6 4.24 1.55 .58 .83
19- Considero-me competente no domínio das artes 1 – 6 3.74 1.49 .69 .81
25- Os meus colegas elogiam as minhas qualidades
artísticas 1 – 6 3.58 1.58 .64 .82
31- Utilizo a arte para expressar a minha identidade 1 – 6 3.78 1.66 .61 .83
Dimensão religiosa alfa = .79 Item Min -
Max
M DP ritc Alfa se item
eliminado
4- As minhas crenças religiosas influenciam o meu
comportamento 1 – 6 4.33 1.63 .57 .75
10- Considero-me uma pessoa religiosa 1 – 6 4.71 1.41 .64 .73
16- Procuro seguir os ensinamentos sagrados da minha
religião 1 – 6 4.57 1.41 .63 .74
28- Gosto de frequentar lugares sagrados 1 – 6 4.42 1.50 .52 .76
22- Valorizo os aspetos religiosos na minha vida 1 – 6 5.00 1.11 .52 .77
34- Acredito na existência de Deus/Deuses 1 – 6 5.23 1.29 .39 .79
Dimensão académica alfa = .69 Item Min -
Max
M DP ritc Alfa se item
eliminado
3- Sinto que posso ser um(a) estudante(a) com bom
rendimento escolar 1 – 6 5.35 .87 .40 .66
9- Sou um(a) estudante(a) dedicado(a) aos estudos 1 – 6 5.23 .97 .48 .63
15- Acredito nas minhas capacidades intelectuais 1 – 6 5.26 .95 .46 .64
21- Tenho capacidade de entender com facilidade os
conteúdos que aprendo 1 – 6 4.77 1.05 .39 .66
27- Considero-me um(a) bom(oa) estudante(a) 1 – 6 4.94 1.03 .38 .66
33- Consigo realizar bem as minhas tarefas escolares 1 – 6 4.89 .97 .42 .65
Dimensão interpessoal/social Alfa = .68
Item Min -
Max
M DP ritc Alfa se item
eliminado
2- Relaciono-me facilmente com novos colegas 1 – 6 5.08 1.20 .48 .61
8- Sinto-me incluído(a) no meu grupo de colegas 1 – 6 5.12 1.11 .29 .68
14- Sinto que sou uma pessoa popular entre amigos e
colegas 1 – 6 4.60 1.38 .39 .65
26- Tenho facilidade em fazer novos amigos 1 – 6 4.95 1.24 .52 .59
32- Sou uma pessoa procurada pelos colegas para
conversas 1 – 6 4.60 1.15 .48 .61
Dimensão física alfa = .70
Item Min -
Max
M DP ritc Alfa se item
eliminado
6- Sinto-me uma pessoa fisicamente atraente 1 – 6 4.37 1.39 .41 .69
12- Sinto que tenho um corpo bonito 1 – 6 4.75 1.24 .58 .58
18- Sinto-me bem com o corpo que tenho 1 – 6 5.27 1.16 .45 .66
36- Considero que tenho boa aparência física 1 – 6 5.17 1.06 .53 .62
121
Com esses resultados das 5 dimensões de autoconceito, as suas propriedades
psicométricas são bastante promissoras. As dimensões artísticas e religiosa aparecem
nesta análise como sendo fatores fortes (alfa > .70), moderada para a dimensão física
(alfa = .70), já as dimensões de autoconceito interpessoal e académica são as dimensões
mais fracas (alfa < .70). Face aos resultados baixos nas duas dimensões do autoconceito
decidimos diversificar a amostra da nossa pesquisa e clarificar alguns itens nas dimensões
com alfa mais baixo, procurando melhorar os valores de alfa nas duas dimensões.
4.2.3.1 Estudo 5
No quinto e último estudo para a construção da escala de autoconceito
participaram 250 estudantes com idade média de 29.1 anos e desvio padrão de 7.7.
Considerando estes alunos, 147 são do sexo feminino (58.8%) e 103 do sexo masculino
(41.2%). Assim, relativamente ao ano de frequência universitária, 83 estudantes
frequentam o 1º ano (33.2%), 44 frequentam o 2º ano (17.6%); 40 frequentam o 3º ano
(16%) e 83 frequentam o 4º ano (33.2%). Nesta última análise participaram estudantes
de 9 cursos, designadamente, 67 do curso de Educação de Infância (26.8%), 20 estudantes
do curso de Ensino Básico (8%), 36 do curso de Psicologia (14.4%), 18 do curso de
Ciências da Educação (7.2%), 19 do curso de Filosofia (7.6%), 27 do curso de
Administração e Gestão Escolar (10.4%), 16 do curso de História (6.4%), 23 do curso de
Português (9.2%) e 25 do curso de Educação Física (10%). De salientar que um número
maior de estudantes, 145 estudantes, não tem outra ocupação além de estudar (58%) e
105 estudantes estudam e trabalham (42%). Nesta amostra 34% dos estudantes tiveram
que mudar de residência para frequentar o ES.
Análise da estrutura fatorial e da consistência interna
Antes de efetuar a análise fatorial solicitamos dois testes que nos permitiram
verificar se é possível realizar essa análise. Os testes de KMO = .836 e o teste de
esfericidade de Bartlett’s = 2064.39 com significado estatístico (p < .001). Com esses
resultados a indicar para a possibilidade de avançarmos com a análise fatorial fixamos a
extração de 5 fatores, recorrendo o método de componentes principais e uma rotação
varimax, fixando a saturação mínima dos itens em .50. Os resultados desta análise são
apresentados na Tabela 4.11.
122
Tabela 4.11
Estrutura Fatorial do Estudo 5 com 30 Itens da Escala de Autoconceito Para
Estudantes Universitário de Moçambique
Componentes
h² 1 2 3 4 5
16- Procuro seguir os ensinamentos sagrados da minha religião .85 .73
22- Valorizo os aspectos religiosos na minha vida .77 .62
10- Considero-me uma pessoa religiosa .76 .63
4- As minhas crenças religiosas influenciam o meu
comportamento .74
.58
28- Gosto de frequentar lugares sagrados .70 .51
7- Sinto que tenho alguma vocação artística .81 .68
19- Considero-me competente no domínio das artes .79 .69
25- Os meus colegas elogiam as minhas qualidades artísticas .75 .62
13- Esforço-me por desenvolver as minhas competências artísticas .72 .59
1- Considero-me uma pessoa com gostos e competências artísticas .66 .52
27- Considero-me um (a) bom(oa) estudante (a) nas matérias
escolares .77
.64
38- Os professores elogiam as minhas qualidades intelectuais .70 .53
33- Consigo realizar bem as minhas tarefas escolares .65 .58
21- Tenho capacidade de entender os conteúdos escolares que
aprendo .60
.44
9- Sou um(a) estudante(a) dedicado(a) aos estudos .53 .47
12- Sinto que tenho um corpo bonito .80 .68
6- Sinto-me uma pessoa fisicamente atraente .77 .63
36- Considero que tenho boa aparência física .69 .55
18- Sinto-me bem com o corpo que tenho .67 .55
8- Sinto-me aceite no meu grupo de amizades .75 .62
2- Relaciono-me facilmente com novos colegas .64 .42
14- Sinto que sou uma pessoa popular entre amigos e colegas .60 .52
20- Sinto que sou uma pessoa com boas amizades .59 .47
26- Tenho facilidade em fazer novos amigos .52 .35
Valor próprio (eigenvalues) 5.69 2.82 2.14 1.53 1.45
Variância explicada por fator 23.7 11.7 8.9 6.4 6.1
Variância total explicad 56.8%
Nesta análise os itens 32 e 37 (dimensão interpessoal), 24 e 30 (dimensão física),
3 e 15 (dimensão académica ou intelectual), estando estes itens saturados nas outras
dimensões, foram retirados da análise ficando a escala composta por 24 itens: dimensão
123
artística (5 itens), dimensão religiosa (5 itens), dimensão académica ou intelectual (5
itens), dimensão física (4 itens) e a dimensão interpessoal ou social (5 itens). Por opção
decidimos retirar os itens 31 da dimensão artística, por apresentar saturação em mais de
um fator, e o item 34 da dimensão religiosa, por apresentar níveis mais baixos de
saturação nesta dimensão. Podemos visualizar a extração de componentes principais e os
valores próprios assumidos por cada fator (eigenvalues) a partir do gráfico 4.1 de inflexão
(teste de cotovelo).
Figura 4.1 Representação Gráfica de Extração de Componentes Principais da Escala
de Autoconceito
O gráfico 4.1 ilustra a possibilidade de se reter os cinco primeiros fatores. Assim
os itens 1, 7, 13, 19 e 25 parecem traduzir o autoconceito artístico; os itens 4, 10, 16, 22
e 28 traduzem uma preocupação com aspetos religiosos na lógica da espiritualidade; os
itens 9, 15, 21, 27, 27, 33 e 38 são itens que apontam para as preocupações escolares
(competência, desempenho escolar e a dedicação com os estudos); os itens 6, 12, 18, e 36
parecem expressar uma preocupação com a aparência física, mais na lógica de atração
física, e os itens 2, 8, 14, 20 e 26 reportam uma preocupação com as relações
interpessoais. Depois desta análise fatorial avançamos para o estudo da consistência
interna dos itens e os resultados desta análise são de seguida apresentados com detalhe:
124
Tabela 4.12
Análise da Consistência Interna nas Cinco Dimensões da Escala de Autoconceito
Dimensão religiosa alfa = .83 Item Min -
Max
M DP ritc Alfa se item
eliminado
4- As minhas crenças religiosas influenciam o meu
comportamento 1 – 6 4,59 1.47 .62 .80
10- Considero-me uma pessoa religiosa 1 – 6 4,61 1.40 .65 .79
16- Procuro seguir os ensinamentos sagrados da minha
religião 1 – 6 4,63 1.34 .55 .77
22- Valorizo os aspetos religiosos na minha vida 1 – 6 5,04 1.09 .44 .80
28- Gosto de frequentar lugares sagrados 1 – 6 4,59 1.45 .32 .82
Dimensão artística alfa = .83 Item Min -
Max
M DP ritc Alfa se item
eliminado
1- Considero-me uma pessoa com gostos e competências
artísticas 1 – 6 4.11 1.51 .51 .82
7- Sinto que tenho alguma vocação artística 1 – 6 3.88 1.55 .68 .78
13- Esforço-me por desenvolver as minhas competências
artísticas 1 – 6 4.04 1.49 .63 .79
19- Considero-me competente no domínio das artes 1 – 6 3.78 1.38 .70 .77
25- Os meus colegas elogiam as minhas qualidades
artísticas 1 – 6 3.86 1.45 .61 .80
Dimensão académica = .75 Item Min -
Max
M DP ritc Alfa se item
eliminado
9- Sou um(a) estudante(a) dedicado(a) aos estudos 1 – 6 5.13 .93 .52 .70
21- Tenho capacidade de entender os conteúdos escolares que
aprendo 1 – 6 5.15 .85 .41 .74
27- Considero-me um (a) bom(oa) estudante (a) nas matérias
escolares 1 – 6 4.90 .92 .58 .68
33- Consigo realizar bem as minhas tarefas escolares 1 – 6 5.00 .86 .59 .68
38- Os professores elogiam as minhas qualidades intelectuais 1 – 6 4.25 1.16 .49 .72
Dimensão Física = .76 Item Min -
Max
M DP ritc Alfa se item
eliminado
6- Sinto-me uma pessoa fisicamente atraente 1 – 6 4.54 1.35 .55 .71
12- Sinto que tenho um corpo bonito 1 – 6 4.78 1.31 .66 .64
18- Sinto-me bem com o corpo que tenho 1 – 6 5.13 1.25 .49 .74
36- Considero que tenho boa aparência física 1 – 6 5.24 .97 .56 .71
Dimensão Interpessoal = .70 Item Min -
Max
M DP ritc Alfa se item
eliminado
2- Relaciono-me facilmente com novos colegas 1 – 6 5.14 1,11 .35 .70
8- Sinto-me aceite no meu grupo de amizades 1 – 6 5.10 1,07 .55 .61
14- Sinto que sou uma pessoa popular entre amigos e
colegas 1 – 6 4.74 1.27 .49 .64
20- Sinto que sou uma pessoa com boas amizades 1 – 6 5.15 1.09 .49 .64
26- Tenho facilidade em fazer novos amigos 1 – 6 4.97 1.12 .43 .67
A correlação dos itens com o total em cada dimensão é superior a .30 podendo
atingir em alguns casos um nível de saturação de .70 e o alfa nas cinco dimensões do
autoconceito é igual ou superior a .70, limiar exigido para esse tipo de estudos (Almeida
& Freire, 2007). A consistência interna nas dimensões estudadas do autoconceito é forte
para o autoconceito artístico, autoconceito religioso, autoconceito académico e
autoconceito físico (alfa > .70), situando-se no limiar exigido na dimensão de
125
autoconceito interpessoal ou social (alfa = .70), embora neste último caso o valor do alfa
se considere aceitável. Essa situação requer mais estudo no sentido de melhorar os índices
de consistência nesta dimensão de autoconceito do nosso questionário.
Mais ainda, a dimensão de autoestima, não aparece neste questionário o que exige
igualmente mais estudos procurando especificar os itens e recorrer a entrevistas com os
estudantes universitários das diferentes instituições de ES. Tomando este último estudo,
de validade do constructo, podemos considerar que estamos perante um instrumento de
autoconceito para avaliar o autoconceito dos estudantes universitários de Moçambique,
ainda que seja necessário realizar o estudo para testar a sua estabilidade. No capítulo 5
apresentamos estudos para a validade de critério ou validade externa da escala.
126
127
CAPÍTULO 5
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Introdução
Este capítulo apresenta os resultados alcançados na presente investigação,
começando com i) a descrição dos resultados da validação do questionário de
autoconceito, ii) a validação de outros instrumentos utilizados na investigação,
nomeadamente, a escala de autoestima, a escala de satisfação com a vida, a escala de
autoeficácia, e o questionário de dificuldades antecipadas, e iii) o estudo correlacional
com outros instrumentos utilizados na investigação. Tomando o primeiro momento do
estudo sobre a validação do questionário de autoconceito, construído e validado para a
presente investigação, este começa com apresentação da análise fatorial exploratória.
Com os resultados desta análise, realizámos uma análise fatorial exploratória. Com esta
última análise fatorial que permite agrupar os itens nos respetivos fatores previamente
definidos, apresentamos os resultados da consistência interna dos itens nas respetivas
subescalas, nomeadamente, o autoconceito artístico, o autoconceito religioso, o
autoconceito académico, o autoconceito físico, e o autoconceito social ou interpessoal.
Com efeito, ao concluir etse primeiro momento de estudo, apresentamos a correlação das
subescalas de autoconceito.
Num segundo momento do estudo, apresentamos os resultados da validação dos
questionários de autoeficácia, autoestima, satisfação com a vida e o questionário das
dificuldades antecipadas. Neste estudo, além da análise exploratória da estrutura fatorial
descrevemos a consistência interna dessas escalas. De facto, para a análise da validade
externa ou de critério da escala do autoconceito apresentamos os valores da correlação
das subescalas do autoconceito com os outros instrumentos. Exploramos também as
diferenças nas subescalas de autoconceito tomando as variáveis pessoais dos estudantes
(e.g., idade, género) e variáveis de contexto (por exemplo, situação de estudante em
relação à mudança de residência para frequentar o ES, ocupação do estudante, s atividades
escolares). Finalmente, apresentamos os resultados da análise de regressão do
autoconceito com as classificações finais do ano dos estudantes, procurando explorar
eventuais variáveis preditoras do ajustamento académico dos estudantes.
128
Considerações metodológicas
Nesta investigação de cunho quantitativo foram utilizados cinco instrumentos ou
escalas. A escala multimensional de autoconceito, construída e validada especificamente
para a realização da presente investigação, constitui o principal instrumento utilizado.
Mais ainda, tendo em conta o objetivo de estudar a associação entre o autoconceito com
o ajustamento dos alunos do ES em Moçambique, para efeito de validação externa,
integramos no estudo o questionário de dificuldades antecipadas (Araújo et al., 2013).
Trata-se de uma escala multidimensional de 4 dimensões, com um total de 14 itens com
5 opções de respostas variando desde 1 (nenhumas dificuldades) a 5 (muitas
dificuldades). De acrescentar que integramos na respetiva escala um item para o presente
estudo (D15- Suportar as minhas despesas escolares). Por um lado, atendendo às
dificuldades de fixar a dimensão de autoestima na escala de autoconceito, e assumindo a
importância desta dimensão para a população de jovens universitários de Moçambique,
incluímos também a escala unidimensional de autoestima de Rosenberg (1965). A
referida escala contém 10 itens, com 4 opções de respostas que variam de 1 (discordo
fortemente) a 4 (concordo fortemente).
Alguma literatura internacional tem sugerido alguma associação entre o
autoconceito e a autoeficácia (Bardagi & Boff, 2010; Neves & Faria, 2009; Souza &
Brito, 2008), e com a satisfação com a vida (Fernández, 2008; Gómez-Vela, Verdugo, &
González-Gil, 2015; Palacios, Echaniz, Fernández, & Barrón, 2015), acreditando na
possível influência das competências percebidas e da satisfação com a vida dos estudantes
no autoconceito e no ajustamento dos estudantes no ES, procuramos incluir as medidas
unidimensionais de autoeficácia geral (Schwarzer & Jerusalem, 1995) e a de satisfação
geral com a vida (Dienner, Emmons, Larsen, & Griffin, 1985). De referir que a escala de
autoeficácia geral apresenta 10 itens com 4 opções de resposta variando desde 1 (discordo
fortemente) a 4 (concordo fortemente). A medida de satisfação com a vida contém 5 itens
com 7 opções de respostas que variam desde 1 (discordo completamente) a 7 (concordo
completamente). As propriedades psicométricas destas escalas são apresentadas ao longo
deste capítulo.
O estudo realizado pressupunha alcançar o seguinte objetivo geral: construção e
validação de um questionário multidimensional do autoconceito para os jovens
universitários de Moçambique. Em termos de objetivos mais específicos pretendíamos:
1. Assegurar a sensibilidade e fiabilidade dos resultados nas dimensões do
129
questionário de autoconceito;
2. Assegurar a validade interna do questionário multidimensional do autoconceito
para estudantes universitários de Moçambique;
3. Avaliar a validade empírica ou de critério do questionário de autoconceito
tomando outras variáveis psicológicas: autoestima, autoeficácia e satisfação com a vida;
4. Analisar a relação entre o autoconceito dos estudantes e as suas vivências
académicas (dificuldades), permanência (versus abandono) e rendimento escolar;
5. Estudar diferenças nas dimensões do autoconceito tomando os estudantes em
função do género, idade e estatuto do estudante (trabalhador versus estudante a tempo
inteiro).
Neste sentido procuramos testar as seguintes hipóteses:
H1 - Existe uma relação significativa entre as dimensões do autoconceito,
podendo essa relação variar em função das dimensões avaliadas (e.g., correlações forte,
correlações moderadas);
H2 - Existe uma relação entre autoconceito e outras variáveis psicológicas (e.g.,
autoestima, autoeficácia, satisfação com a vida).
H3 - Encontra-se uma relação significativa entre os níveis de autoconceito dos
estudantes e o rendimento escolar, variando essa relação em função das dimensões
avaliadas do autoconceito e das disciplinas escolares;
H4 - Encontram-se diferenças nas dimensões do autoconceito tomando os
estudantes em função do género, idade e estatuto do estudante (trabalhador versus
estudante a tempo inteiro).
H5 - Existe uma relação entre o autoconceito e a retenção ou abandono escolar
dos estudantes universitários do 1º ano, tomando o curso frequentado;
H6 - Existe uma relação entre autoconceito e vivências académicas, que se
diferencia em função de algumas características dos estudantes (sexo, idade, estatuto do
estudante e curso frequentado).
Descrição da amostra
Apresentamos na Tabela 5.1 onde constam os dados da descrição da amostra.
Como pode-se observar nesta tabela, participaram no estudo 230 estudantes com idades
até 23 anos (90.9%), não têm outra ocupação para além de estudar, contrariamente aos 23
estudantes que além de estudar também trabalham (9.1%). Já na faixa etária dos
130
estudantes com idades superior a 24 anos, a maioria trabalha (70.3%). Considerando a
variável mudança de residência para frequentar o ES, a maioria dos estudantes com idade
até aos 23 anos não mudaram de residência (53%). Enquanto se verifica algum equilíbrio
na faixa etária até 23 anos, ou seja, a percentagem dos que mudam e dos que não mudam
de residência é próxima, na faixa etária acima dos 24 anos, já se verifica um maior
desequilíbrio. Nesta faixa etária 71.2% não mudaram de residência para frequentar o ES.
É ainda importante referir que a maior parte dos estudantes não tem emprego e que a
maioria também não mudou de residência para frequentar o ES.
Tabela 5.1
Descrição da Amostra do Estudo
Tem algum emprego do momento? Total
Não tem Tem
Idade * emprego Até 23 anos 230 23 253
24 em diante 70 166 236
Total 300 189 489
Mudança de residência para frequentar o ES Total
Mudou Não mudou
Idade * Mudança de
residência
Até 23 anos 119 134 253
24 em diante 68 168 236
Total 187 302 489
Tem algum emprego do momento? Total
Não tem Tem
Sexo * Emprego Masculino 166 103 269
Feminino 150 91 241
Total 316 194 510
Mudança de residência para frequentar o ES Total
Mudou Não mudou
Sexo * Mudança de
residência
Masculino 127 142 269
Feminino 67 174 241
Total 194 316 510
De salientar que participaram no estudo 510 estudantes frequentando o 1.º ano da
Universidade Pedagógica na Beira, com idades compreendidas entre 17 a 54 anos (M =
25.50; DP = 6.70). De referir que 50% dos estudantes tem até 23 anos de idade, 10% são
estudantes acima de 35 anos, sendo uma a amostra constituída na sua maioria por jovens
até 23 anos. Destes 269 são do sexo masculino (53%) e 240 são do sexo feminino (47%).
131
Figura 5.1 Representação Gráfica das Idades e Género dos Estudantes
Os estudantes frequentam diversos cursos ministrados nesta instituição de ES
nomeadamente, Ciências da Educação (5.1%), Ensino Básico (15.1%), Administração e
Gestão Educacional (25%), Filosofia (5.5%), Física (4.3%), Matemática (6.1%);
Geologia (8%), Biologia (7.8%), Português (2.9%), Psicologia Educacional (6.3%),
Educação de Infância (5.5%), Gestão de Recursos Humanos (15.3%), Sociologia (7.1%),
História (0.8%), Educação Física (1.2%) e Educação Visual (4.1%). Pode se ver a
representação gráfica desta distribuição na Figura 5.3. Em relação a mobilidade social
para frequentar o ES, grande parte da amostra não mudou de residência (62%), por
oposição aos restantes 38% tiveram que mudar de residência. De salientar que a maior
parte da amostra (68%) não tem uma ocupação profissional.
Figura 5.2 Representação Gráfica dos Participantes em Função do Curso
132
Procedimentos
Os estudantes foram convidados a participar voluntariamente nesta atividade de
avaliação, após a informação acerca dos objetivos do estudo e do tratamento dos dados
de forma a garantir a participação livre e voluntária. Os dados foram recolhidos na
instituição de ensino, em tempo extralectivo. Durante as entrevistas, conduzidas
individualmente, procurou-se anotar todas as verbalizações dos estudantes, no contexto
das descrições de si efetuadas. As entrevistas foram conduzidas pelo investigador, que
redigiu notas tendo em vista a análise do conteúdo segundo a perspetiva de categorização
de Gordon (1968) que pressupõe dois momentos: i) categorização em relação ao polo
(positivo ou negativo), por exemplo: “Sou estudante dedicado” (positivo), (…) “mas não
gosto de disciplinas teóricas” (negativo). A finalidade desta primeira categorização era
verificar a tendência da avaliação que os estudantes fazem de si mesmo (e.g., um
autoconceito tendencialmente positivo ou negativo), sendo fundamental essa tarefa para
a formulação dos itens da escala; e ii) de acordo com o conteúdo das respostas fornecidas
pelos estudantes sobre as suas descrições, por exemplo: “Sou jovem (idade) que gosta de
estudar (sentido de competência) (…). Ajuda-me o facto de estar na situação de estudante
a tempo inteiro (situação de estudante)”. A finalidade desta última categorização era
quantificar as unidades de conteúdo fornecidas pelos estudantes por cada categoria que
resultaram nas dimensões criadas para esse estudo. Trata-se de dimensões que foram mais
referenciadas e valorizadas pelos estudantes universitários.
No segundo momento do estudo, foi realizada a aplicação dos questionários,
momento em que foram expostos os objetivos do estudo aos estudantes, assim como foi
garantida a confidencialidade no tratamento da informação. Foram aplicados os cinco
instrumentos de recolha de dados, em simultâneo a uma amostra de 510 estudantes da
Universidade Pedagógica da Beira. O conteúdo dos questionários recorreu a análise
estatística com recurso ao SPSS para Windows 20.
5.4.1 Validade do constructo: Análise fatorial exploratória
Antes de avançar com análise factorial exploratória da escala a uma amostra de
510 estudantes universitários, solicitamos os testes de KMO (.88) e de esfericidade de
Bartlett’s (χ2 =4427.91), sendo este valor significativo, de p<.001. Com estes testes a
indicar a possibilidade de prosseguir com o estudo, solicitamos a análise fatorial
exploratória recorrendo ao método de extração por componentes principais e uma rotação
133
varimax, fixando em .40 a saturação mínima dos itens da escala. Os resultados dessa
análise são apresentados na Tabela 5.2.
Tabela 5.2
Análise Fatorial Exploratória dos Itens da Escala de Autoconceito Para Estudantes
Universitários de Moçambique
Item Fatores
h2 1 2 3 4 5
22-Considero-me uma pessoa com gostos e competências
artísticas. .82
.72
16-Esforço-me por desenvolver as minhas competências
artísticas. .79
.63
6-Considero-me competente no domínio das artes. .77 .64
1-Sinto que tenho alguma vocação artística. .75 .61
11-Os(as) meus(minhas) colegas elogiam as minhas
qualidades artísticas. .75
.64
24-Tenho facilidade em fazer novos amigos(as). .69 .51
20-Sinto que sou uma pessoa com boas amizades. .67 .59
19-Sinto-me bem com o corpo que tenho. .65 .50
15-Sinto que sou uma pessoa popular entre amigos(as) e
colegas. .60
.43
14-Considero que tenho boa aparência física. .58 .51
10-Relaciono-me facilmente com novos(as) colegas. .53 .43
5-Sinto-me aceite no meu grupo de amizades. .49 .41 .44
12-Considero-me uma pessoa religiosa. .81 .70
2-Procuro seguir os ensinamentos sagrados da minha
religião. .76
.67
17-As minhas crenças religiosas influenciam o meu
comportamento. .73
.61
21-Gosto de frequentar lugares sagrados. .72 .59
7-Valorizo os aspectos religiosos na minha vida. .69 .56
13-Consigo realizar bem as minhas tarefas escolares. .72 .59
23-Sou um(a) aluno(a) dedicado(a) aos estudos. .68 .64
3-Considero-me um (a) bom (oa) aluno (a) nas matérias
escolares. .65
.58
18-Tenho capacidade de entender os conteúdos escolares
que aprendo. .65
.56
8-Os professores elogiam as minhas qualidades
intelectuais. .49
.46
9-Sinto-me uma pessoa fisicamente atraente. .75 .63
4-Sinto que tenho um corpo bonito. .71 .63
Valores próprios 6.55 2.55 2.00 1.51 1.30
Variância total explicada 57.8%
134
De acordo com os resultados apresentados na Tabela 5.14, verifica-se que os itens
14 (Considero que tenho boa aparência física) e 19 (Sinto-me bem com o corpo que
tenho) da dimensão de autoconceito físico com carga fatorial acima de .50, juntam-se aos
itens da dimensão do autoconceito social ou interpessoal. Mais ainda, o item 5 (Sinto-me
aceite no meu grupo de amizades) da dimensão social apresenta saturação superior a .40
no fator 2 e no fator 5.
5.4.2 Precisão das subescalas do autoconceito
Concluída a análise fatorial exploratória, os resultados indicam para a existência
de cinco dimensões do autoconceito, nomeadamente, autoconceito artístico (5 itens),
autoconceito religioso (5 itens), autoconceito académico (5 itens), autoconceito social (5
itens), e autoconceito físico (4 itens).
De seguida, apresentamos a precisão das subescalas de autoconceito descrevendo
os resultados estatísticos por cada dimensão incluindo os valores da correlação do item
com o total da dimensão a que pertence (ritc), também são indicados os valores de alfa
por cada dimensão, e os valores do alfa se o item for eliminado, como pode se observar
na Tabela 5.3.
Tabela 5.3
Análise da Consistência Interna nas Subescalas do Autoconceito
Autoconceito artístico (alfa = .85)
Itens Min - Max M DP ritc
Alfa se item
for eliminado
1-Sinto que tenho alguma vocação
artística. 1 – 6 3.73 1.61 .64 .83
6-Considero-me competente no domínio
das artes. 1 – 6 3.87 1.39 .68 .82
11-Os(as) meus(minhas) colegas elogiam
as minhas qualidades artísticas. 1 – 6 3.62 1.48 .66 .82
16-Esforço-me por desenvolver as minhas
competências artísticas. 1 – 6 3.92 1.54 .64 .83
22-Considero-me uma pessoa com gostos e
competências artísticas. 1 – 6 3.95 1.51 .69 .81
Autoconceito religioso (alfa = .83)
Itens Min - Max M DP ritc
Alfa se item
for eliminado
2-Procuro seguir os ensinamentos sagrados
da minha religião. 1 – 6 4.67 1.33 .65 .79
7-Valorizo os aspectos religiosos na minha
vida. 1 – 6 4.99 1.23 .60 .81
135
12-Considero-me uma pessoa religiosa. 1 – 6 4.61 1.42 .71 .77
17-As minhas crenças religiosas
influenciam o meu comportamento. 1 - 6 4.60 1.45 .61 .80
21-Gosto de frequentar lugares sagrados. 1 - 6 4.72 1.29 .58 .81
Autoconceito académico (alfa = .74)
Itens Min - Max M DP ritc
Alfa se item
for eliminado
3-Considero-me um(a) bom(oa) aluno (a)
nas matérias escolares. 1 - 6 4.44 .99 .54 .68
8-Os professores elogiam as minhas
qualidades intelectuais. 1 - 6 3.88 1.20 .41 .74
13-Consigo realizar bem as minhas tarefas
escolares. 1 - 6 4.69 1.00 .55 .68
18-Tenho capacidade de entender os
conteúdos escolares que aprendo. 1 - 6 4.85 .96 .49 .70
23-Sou um(a) aluno(a) dedicado(a) aos
estudos. 1 - 6 4.90 .98 .55 .68
Autoconceito físico (alfa = .74)
Itens Min - Max M DP ritc
Alfa se item
for eliminado
4-Sinto que tenho um corpo bonito. 1 - 6 4.92 1.25 .60 .64
9-Sinto-me uma pessoa fisicamente
atraente. 1 - 6 4.44 1.37 .53 .68
14-Considero que tenho boa aparência
física. 1 - 6 4.91 1.14 .58 .65
19-Sinto-me bem com o corpo que tenho. 1 - 6 5.20 1.16 .42 .74
Autoconceito social (alfa = .73)
Itens Min - Max M DP ritc
Alfa se item
for eliminado
24-Tenho facilidade em fazer novos(as)
amigos(as). 1 - 6 5.11 1.06 .53 .68
10-Relaciono-me facilmente com novos(as)
colegas. 1 - 6 5.05 1.19 .53 .68
15-Sinto que sou uma pessoa popular entre
amigos(as) e colegas. 1 - 6 4.72 1.23 .48 .70
20-Sinto que sou uma pessoa com boas
amizades. 1 - 6 5.12 1.01 .43 .71
5-Sinto-me aceite no meu grupo de
amizades. 1 - 6 4.93 1.25 .52 .68
Os resultados mostram que as médias dos itens nas suas respectivas subescalas
são superiores, os valores de desvio padrão situam-se próximo ou superiores a uma
unidade. Verifica-se também que o valor da correlação do item com o total corrigido na
respetiva dimensão é superior a .40, podendo atingir .71, sendo níveis bastante
satisfatórios para esse tipo de estudos. Constata-se também que os valores de alfa para
cada dimensão situam-se entre .73 (dimensão do autoconceito social ou interpessoal) e
.85 (dimensão do autoconceito artístico).
136
5.4.3 Sensibilidade dos resultados nas subescalas
Na Tabela 5.4, constam os resultados da sensibilidade nas subescalas de
autoconceito. Para o efeito, apresentamos a amplitude (valores mínimos e valores
máximos), a medida de tendência central (média) e as medidas de dispersão (desvio
padrão, assimetria e cortose).
Tabela 5.4
Análise da Sensibilidade nas Dimensões do Autoconceito
Subescalas N Min –
Max M DP Assimetria Curtose
Autoconceito Artístico 510 5 – 30 19.09 5.97 -.49 -.35
Autoconceito Religioso 510 5 – 30 23.59 5.20 -1.03 .85
Autoconceito Académico 510 5 – 30 22.76 3.60 -.86 1.80
Autoconceito Físico 510 4 – 24 19.47 3.69 -.98 1.19
Autoconceito Social 510 7 – 30 24.93 4.01 -1.13 1.59
Os resultados apresentados na Tabela 5.4 sugerem uma boa dispersão nas
subescalas de autoconceito. As médias em todas as subescalas são elevadas, os valores de
desvio padrão são iguais ou superiores a 3.60. Os valores da assimetria sugerem níveis
elevados de autoconceito dos estudantes, apresentando um descaimento à esquerda. Por
outro lado, os valores de cortose, apenas na subescala de autoconceito artístico,
apresentam uma tendência de formato plano. Nas restantes subescalas apresentam um
afunilamento da curva, ou seja, um formato platicúrtica.
5.4.4 Correlação entre as dimensões do autoconceito
Depois da análise da sensibilidade dos itens nas suas respetivas dimensões e a
sensibilidade de cada dimensão do autoconceito, passamos a apresentar a correlação entre
estas dimensões. Os resultados desta análise constam na Tabela 5.5.
137
Tabela 5.5
Correlação nas Dimensões do Autoconceito
Autoconceito
Artístico
Autoconceito
Religioso
Autoconceito
Académico
Autoconceito
Físico
Autoconceito
Social
Autoconceito Artístico 1
Autoconceito Religioso .21*** 1
Autoconceito
Académico .33*** .39*** 1
Autoconceito Físico .31*** .34*** .47*** 1
Autoconceito Social .25*** .38*** .49*** .53*** 1
***correlações significativas em p < .001
Observando os resultados na Tabela 5.5, podemos constatar que existe uma
associação entre as dimensões do autoconceito avaliadas a partir do nosso questionário.
A correlação mais forte encontra-se entre as dimensões de autoconceito social, físico e
académico, esta relação tende a baixar quando se cruzam estas dimensões com a dimensão
artística e religiosa. Por exemplo, a correlação mais forte encontra-se entre o autoconceito
social e autoconceito físico (r = .53, p < .001), o autoconceito social volta a correlacionar-
se fortemente com o autoconceito académico (r = .49, p <. 001). Por sua vez, o
autoconceito académico também se correlaciona fortemente com a dimensão física (r =
.47, p < .001). A correlação entre o autoconceito religioso com autoconceito académico
(r = .39, p <. 001), social (r = .38, p < .001), e físico (r = .34, p < .001) tende a ser
moderada. Finalmente, o autoconceito artístico apresenta correlações tendencialmente
moderadas com o autoconceito religioso (r = 21, p < .001), com o autoconceito académico
(r = .33, p < .001), com o autoconceito físico (r = .31, p < .001), e autoconceito social (r
= .25, p < .001).
Validação de outros instrumentos
Para a validação da escala de autoconceito integramos no estudo a escala de
autoestima, a escala de satisfação com a vida, a escala de autoeficácia e a escala de
dificuldades antecipadas. Neste sentido, antes da sua utilização, exploramos as
propriedades psicométricas das referidas escalas.
138
5.5.1 Escala de autoeficácia Geral
A autoeficácia é um dos constructos importantes na vida dos jovens universitários.
Dada a sua importância integramos esta medida na presente investigação. Trata-se de um
instrumento unidimensional que avalia a percepção das capacidades sentidas pelos
indivíduos no desempenho das suas tarefas (e.g., escolares, profissionais). Antes da
aplicação do referido instrumento procuramos analisar as suas propriedades
psicométricas para a população de jovens universitários de Moçambique. Para o efeito,
analisamos a sua estrutura fatorial e a consistência interna.
Antes de solicitarmos a análise fatorial da escala apreciamos a adequação dos
testes de KMO = .91 e de esfericidade de Bartlett’s (χ2 = 1671.40), sendo este resultado
significativo p< .001. Em função destes resultados, que nos permitem avançar com esta
análise, apresentamos na Tabela 5.6 os resultados desta análise. De salientar que na
extração de fatores recorremos ao método de componentes principais e uma rotação
varimax, fixando em .40 a saturação mínima dos itens.
Tabela 5.6
Análise Fatorial da Escala de Autoeficácia Geral
Item Fatores h2
15-Graças às minhas competências, sei como lidar com
situações imprevistas. .72 .52
12-Mesmo que alguém se oponha, sou persistente até
alcançar o que quero. .71 .51
18-Quando sou confrontado/a com um problema, geralmente
consigo encontrar várias soluções. .70 .49
19-Se estiver com problemas, geralmente consigo pensar
numa solução. .69 .48
14-Estou confiante que poderei lidar eficazmente com
acontecimentos inesperados. .68 .47
17-Consigo manter a calma perante as dificuldades, porque
confio nas minhas capacidades. .66 .43
13-É fácil para mim agarrar-me às minhas intenções e atingir
os meus objetivos. .62 .39
16-Consigo resolver a maioria dos problemas se investir o
esforço necessário. .60 .36
11-Consigo resolver sempre os problemas difíceis se tentar o
suficiente. .59 .35
20-Geralmente consigo lidar com tudo aquilo que me surge
pelo caminho. .59 .35
Variância explicada 43.5%
139
Na Tabela 5.6 podem observar-se que as cargas fatoriais dos itens, que se situam
acima de .50 e cada item participa com mais de 30% variância na respetiva escala, sendo
a mínima percentagem situada em 35% e a máxima em 52%. A variância explicada por
esta escala unidimensional de apenas 10 itens é de 43.5%.
Face a estes resultados bastantes satisfatórios para o estudo avançámos para a
análise da consistência interna dos itens na respectiva escala.
Tabela 5.7
Análise da Consistência Interna dos itens da Escala de Autoeficácia
Autoeficácia geral alfa = .85
Item Min - Max M DP ritc
Alfa se o item
for eliminado
1-Consigo resolver sempre os problemas
difíceis se tentar o suficiente. 1 - 4 3.00 .74 .49 .85
2-Mesmo que alguém se oponha, sou
persistente até alcançar o que quero. 1 - 4 3.24 .78 .62 .83
3-É fácil para mim agarrar-me às minhas
intenções e atingir os meus objetivos. 1 - 4 3.06 .80 .52 .84
4-Estou confiante que poderei lidar
eficazmente com acontecimentos
inesperados.
1 - 4 2.99 .75 .58 .84
5-Graças às minhas competências, sei
como lidar com situações imprevistas. 1 - 4 3.00 .78 .63 .83
6-Consigo resolver a maioria dos
problemas se investir o esforço
necessário.
1 - 4 2.90 .83 .50 .85
7-Consigo manter a calma perante as
dificuldades, porque confio nas minhas
capacidades.
1 - 4 3.09 .79 .55 .84
8-Quando sou confrontado/a com um
problema, geralmente consigo encontrar
várias soluções.
1 - 4 2.95 .76 .60 .84
9-Se estiver com problemas, geralmente
consigo pensar numa solução. 1 - 4 3.04 .77 .59 .84
20-Geralmente consigo lidar com tudo
aquilo que me surge pelo caminho. 1 - 4 2.77 .81 .49 .85
Os resultados da consistência interna da escala indicam que as correlações do item
com o total corrigido na respetiva escala situam-se acima de .45 e nenhum item quando
eliminado faz subir o valor de alfa. Com estes resultados bastantes satisfatórios em termos
de validade e de precisão da escala, consideramos concluídas as análises prévias de
140
validação, tendo em vista a sua utilização na presente investigação.
5.5.2 Escala de Satisfação com a vida
A satisfação com a vida tem sido um dos constructos importantes para o
ajustamento de jovens. Tendo em conta a sua relevância no desenvolvimento e no
ajustamento dos estudantes no ES integramos a escala de avaliação da satisfação com a
vida (SWLS - Satisfaction With Life Scale) para os estudantes universitários de
Moçambique. Trata-se de uma escala unidimensional desenvolvida por Dienner et al.
(1985) com cinco itens num formato tipo likert de 7 opções de respostas que variam desde
1 (discordo completamente) a 7 (concordo completamente). Neste sentido, procuramos
avaliar as suas qualidades psicométricas recorrendo à análise fatorial e à consistência
interna dos 5 itens desta escala.
Os testes de KMO = .505), e de esfericidade de Bartlett’s (χ2 = 676,5), apesentam
um nível de significância de p < .001, que indicam a possibilidade de prosseguir com a
exploração da estrutura fatorial. Os resultados desta análise são apresentados na Tabela
5.8.
Tabela 5.8
Análise Fatorial da Escala de Satisfação com Vida
Item Fatores h2
3-Estou satisfeito/a com a minha vida. .78 .62
4-Até agora, tenho conseguido as coisas mais importantes da
vida que eu desejava. .78 .61
2-As minhas condições de vida são muito boas. .69 .48
1-Em quase tudo, a minha vida parece-se com o que eu
desejaria que fosse. .68 .46
5-Se pudesse recomeçar a minha vida, não mudaria quase
nada. .68 .46
Variância explicada 52.4%
Como se pode observar na Tabela 5.8, a existência de um único fator, sendo que
as cargas factoriais dos itens situam-se acima de .60. A comunalidade dos itens apresenta-
se com valores acima de 45% e esses cinco itens explicam 52.4% da variância total na
respetiva escala. Esses resultados sugerem que se trata de um instrumento adequado para
a população de jovens universitários de Moçambique. De seguida avançámos para a
análise da consistência dos itens da escala.
141
Tabela 5.9
Análise da Consistência Interna da Escala
Satisfação com a Vida alfa = .77
Item Min - Max M DP ritc
Alfa se o item
for eliminado
1-Em quase tudo, a minha vida parece-
se com o que eu desejaria que fosse. 1 - 7 4.51 1.81 .51 .74
2-As minhas condições de vida são
muito boas. 1 - 7 3.61 1.71 .51 .74
3-Estou satisfeito/a com a minha vida. 1 - 7 5.00 1.74 .61 .70
4-Até agora, tenho conseguido as coisas
mais importantes da vida que eu
desejava.
1 - 7 4.91 1.73 .60 .70
5-Se pudesse recomeçar a minha vida,
não mudaria quase nada. 1 - 7 3.80 2.03 .48 .75
Observando a Tabela 5.9, o valor de alfa situa-se em .77 e os valores médios de
cada item são bastantes satisfatórios, superiores a .35. Observa-se também uma boa
dispersão dos itens com excepção do item 5 (Se pudesse recomeçar a minha vida, não
mudaria quase nada) que apresenta um valor baixo (DP =.48).
Em síntese, tomando os coeficientes estatísticos obtidos em torno da validade do
constructo e da precisão dos resultados nesta escala, concluímos o estudo de validação da
escala de satisfação com a vida.
5.5.3 Dificuldades antecipadas
Estudar o ajustamento dos estudantes ao ES constitui um dos objetivos da presente
investigação. Neste sentido, procuramos validar um instrumento de medida de
ajustamento dos estudantes no 1º ano da universidade. Para o efeito, foi utilizado o
questionário de dificuldades antecipadas pelos estudantes que ingressam no 1.º ano da
universidade (na presente investigação consideramos dificuldades vivenciadas, pois a
aplicação foi no segundo semestre). Portanto, os estudantes reportaram as dificuldades
vivenciadas e não antecipadas. Trata-se de um instrumento desenvolvido no contexto
português por Araújo e al. (2013), sendo uma medida multidimensional. Na Tabela 5.23,
são apresentados os resultados da análise fatorial exploratória dos 15 itens da respetiva
escala adaptada ao contexto moçambicano com estudantes universitários, recorrendo ao
método de extração de componentes principais, com rotação varimax e fixando em .30 a
142
saturação mínima de cada item.
Tabela 5.10
Análise Fatorial Exploratória dos Itens da Escala de Dificuldades Antecipadas com
Estudantes Universitários de Moçambique
Item Fatores
1 2 3 4
D5 Interagir com os professores. .69
D9 Participar ativamente nas aulas. .65
D10 Completar atempadamente os trabalhos que me forem
pedidos. .58
D2 Gerir as minhas atividades e o meu tempo. .52 .31
D13 Sentir-me confuso com o curso que escolhi. .49
D14 Sentir-me bem psicologicamente. .47 .42 -.35
D7 Confiar nas minhas capacidades e sentir-me bem. .72
D6 Ter saudades da família ou dos amigos de sempre. .64
D8 Manter o interesse pelos conteúdos das disciplinas. .63
D4 Relacionar-me com os novos colegas. .37 .50
D11 Ter bons resultados nos exames. .34 .36 .32
D3 Suportar as despesas relacionadas com o meu dia-a-dia. .88
D15 Suportar as minhas despesas escolares. .81
D1 Aprender os conteúdos das disciplinas. .77
D12 Sentir-me saudável fisicamente. .36 -.40
Os resultados desta análise, apresentados na Tabela 5.10, apontam para alguma
dificuldade de agrupamento dos itens, tendo em conta a estrutura fatorial obtida no
contexto português. Neste sentido, pela importância que esta medida tem para o presente
estudo, procuramos reunir uma diversidade de itens reportando as diferentes
sensibilidades (em termos de dificuldades vivenciadas pelos estudantes) num único fator.
A saber, o item 5 (Interagir com os professores), item 8 (Manter o interesse pelos
conteúdos das disciplinas), item 14 (Sentir-me bem psicologicamente.), item 4
(Relacionar-me com os novos colegas), item 11 (Ter bons resultados nos exames), e item
10 (Completar atempadamente os trabalhos que me forem pedidos). Os resultados desta
análise são apresentados na Tabela 5.24. Antes de solicitar a análise fatorial recorremos
a dois testes (KMO = .81; χ2 = 539.7), sendo estatisticamente significativo para p < .001,
sugerindo o prosseguimento com essa análise. Esta análise fatorial recorreu ao método
componentes principais e uma rotação varimax, exigido a saturação mínima dos itens em
.40. Os resultados sugerem existência de um único fator como pode-se observar na Tabela
5.24.
143
Tabela 5.11
Análise Fatorial dos 7 Itens Retidos na Escala de Dificuldades Antecipadas
Item Fatores h2
D5-Interagir com os professores. .68 .46
D8-Manter o interesse pelos conteúdos das disciplinas. .66 .43
D14-Sentir-me bem psicologicamente. .66 .43
D4-Relacionar-me com os novos colegas. .59 .35
D11-Ter bons resultados nos exames. .57 .33
D10-Completar atempadamente os trabalhos que me forem
pedidos. .56
.32
D2-Gerir as minhas atividades e o meu tempo. .51 .26
Variância explicada 36.9%
Como se pode observar, apenas o item D2 (Gerir as minhas atividades e o meu
tempo) tem uma comunalidade mais baixa, de .26. Os sete itens no total conseguem
explicar no total 36.9% da variância. Após a análise fatorial, sendo satisfatórios estes
resultados, apresentamos a análise da validade interna na Tabela 5.12.
Tabela 5.12
Análise da Consistência Interna da Escala reduzida de Dificuldades Vivenciadas
Dificuldades vivenciadas alfa = .71
Item
Min -
Max M DP ritc
Alfa se o item
for eliminado
D2 Gerir as minhas atividades e o meu tempo. 1 - 5 2.44 1.01 .35 .70
D4 Relacionar-me com os novos colegas. 1 - 5 1.59 .89 .40 .68
D5 Interagir com os professores. 1 - 5 2.07 1.01 .49 .66
D10 Completar atempadamente os trabalhos que me forem pedidos.
1 - 5 1.96 1.00 .39 .69
D11 Ter bons resultados nos exames. 1 - 5 2.05 .88 .38 .69
D14 Sentir-me bem psicologicamente. 1 - 5 1.66 .92 .46 .67
D8 Manter o interesse pelos conteúdos das
disciplinas. 1 - 5 1.86 .89 .47 .67
As médias dos itens sugerem que os estudantes apresentam poucas dificuldades
de ajustamento, com exceção para a gestão das actividades a tempo (item D2), interacção
com professores (item D5), e conseguir bons resultados nos exames (item D11) que
144
tendem aproximar a valores médios. Os itens apresentam uma boa dispersão e o valor de
alfa de cronbach situa-se em .71. Diante destes resultados, consideramos que esta medida
se adequa às exigências deste estudo, assumindo a medida unidimensional encontrada e
que parece ser a mais adequada para os estudantes universitários de Moçambique no
presente estudo.
5.5.4 Escala de autoestima
Dada a importância que a autoestima desempenha na vida dos jovens
universitários, sugerimos a inclusão desta medida na presente investigação. De salientar
que esta dimensão na escala de autoconceito construída e validada para a presente
investigação, a medida de autoestima não emergiu com suficiente estabilidade. Neste
sentido, procuramos recuperar esta medida a partir da escala de autoestima de Rosenberg
(1965 citado em Sbicigo, Bandeira, & Dell’Aglio, 2010). Trata-se de um questionário
com 10 itens repartidos pela metade (sendo uns pela positiva e outros pela negativa). Para
a validação deste instrumento, solicitamos análise prévia da estrutura fatorial. Para o
efeito, verificamos a adequação dos testes KMO (.73) e de esfericidade de Bartlett’s
(χ2=685.97), sendo significativos estes valores para p< .001. Na Tabela 5.26
apresentamos os resultados da análise fatorial exploratória, recorrendo ao método de
componentes principais e uma rotação varimax fixando em .30 a saturação mínima dos
itens.
Tabela 5.13
Análise Fatorial Exploratória dos Itens da Escala de Autoestima
Item
Fatores
1 2 3
6-Por vezes sinto-me de facto um/a inútil. .75
2-Por vezes, penso que nada valho. .73
9-De um modo geral, inclino-me a achar que sou um/a falhado/a. .66
5-Sinto que não tenho muito de que me orgulhar. .46 .41
8-Gostaria de ter mais respeito por mim próprio/a. .82
10-Tenho uma atitude positiva perante mim próprio/a. .75
7-Sinto que sou uma pessoa com valor, pelo menos tanto ou igual aos
outros. .44 .32
3-Sinto que tenho um bom número de qualidades positivas. .83
4-Sou capaz de fazer as coisas tão bem como a maioria das outras pessoas. .75
1-De um modo geral, estou satisfeito/a comigo próprio/a. -.34 .43
Como podemos observar na Tabela 5.13, os resultados desta análise fatorial
145
apontam para a existência de 3 fatores, com alguns itens a saturar em mais de um fator.
Considerando estes resultados, estes não se afastam de outros junto de jovens adultos
(Rojas-Barahona et al., 2009) e de adolescentes (Sbicigo, Bandeira, & Dell’Aglio, 2010),
que identificam dois fatores, um reunindo os itens formulados pela negativa e outro com
os itens formulados pela positiva. Procurando explorar esta possibilidade na nossa
estrutura fatorial solicitamos uma nova análise tendo fixando previamente os dois factores
e uma saturação mínima de .40. Os resultados desta análise são apresentados na Tabela
5.14.
Tabela 5.14
Nova Análise Fatorial dos Itens da Escala de Autoestima de Rosenberg
Item
Fatores
1 2
8-Gostaria de ter mais respeito por mim próprio/a. .73
10-Tenho uma atitude positiva perante mim próprio/a. .69
4-Sou capaz de fazer as coisas tão bem como a maioria das outras
pessoas. .58
7-Sinto que sou uma pessoa com valor, pelo menos tanto ou igual
aos outros. .57
3-Sinto que tenho um bom número de qualidades positivas. .54
1-De um modo geral, estou satisfeito/a comigo próprio/a. .46 -.42
6-Por vezes sinto-me de facto um/a inútil. .74
2-Por vezes, penso que nada valho. .68
9-De um modo geral, inclino-me a achar que sou um/a falhado/a. .66
5-Sinto que não tenho muito de que me orgulhar. .52
Os resultados obtidos apontam então para a existência de dois fatores, agrupando,
na sua maioria, itens positivos num dos fator e itens negativos no outro fator. Contudo, o
item 8 (Gostaria de ter mais respeito por mim próprio/a) aparece junto dos itens
formulados pela positiva contrariando os estudos de Rojas-Barahona, Zegers, & Forters
(2009), e o item 1 (De um modo geral, estou satisfeito/a comigo próprio/a) apresenta
saturação superior a .40 nos dois fatores, sendo no primeiro fator no sentido positivo e no
segundo apresenta carga fatorial negativa. De salientar que a consistência interna, mesmo
retirando os itens apontados anteriormente, são bastante baixos. Perante estes resultados,
e tendo em conta um estudo de validação desta escala no contexto moçambicano (Patrão,
McIntyre, & Costa, 2014) com mulheres em risco de HIV/SIDA (Midade=24 anos),
assume-se a estabilidade dos itens formulados pela positiva, sendo que os itens
formulados pela negativa tendiam a expressar alguma desejabilidade social. Com esse
146
estudo, passamos a assumir apenas os itens formulados pela positiva. Com efeito,
avançámos para a análise estrutural só dos itens formulados pela positiva. O valor de
KMO situa-se em .68, considerado razoável, e o teste de esfericidade (χ2=241.31), sendo
estes valores estatisticamente significativos para p < .001. Os resultados desta análise são
apresentados na Tabela 5.15.
Tabela 5.15
Análise Fatorial da Escala de Autoestima Reduzida a 5 Itens
Itens Fatores h2
3-Sinto que tenho um bom número de qualidades positivas. .72 .52
4-Sou capaz de fazer as coisas tão bem como a maioria das outras pessoas. .68 .46
1-De um modo geral, estou satisfeito/a comigo próprio/a. .57 .26
7-Sinto que sou uma pessoa com valor, pelo menos tanto ou igual aos
outros. .57
.32
10-Tenho uma atitude positiva perante mim próprio/a. .51 .33
Variância explicada 37.8%
A partir dos resultados desta análise fatorial foi possível reter apenas os itens
formulados no sentido positivo (assumindo que os resultados possam explicar a realidade
cultural de jovens universitários de Moçambique). Os cinco itens de autoestima formam
um único factor explicando 37.8% da variância total da escala, situando-se as cargas
fatoriais dos itens acima de .50. De seguida, na Tabela 5.29, apresentamos os resultados
da consistência interna dos itens.
Tabela 5.16
Consistência Interna dos Itens Positivos da Escala de Autoestima
Autoestima alfa = .57
Item Min - Max M DP ritc
Alfa se o
item for
eliminado
1-De um modo geral, estou satisfeito/a
comigo próprio/a. 1 - 4 3.21 .76 .31 .53
4-Sou capaz de fazer as coisas tão bem como
a maioria das outras pessoas. 1 - 4 3.35 .67 .38 .49
7-Sinto que sou uma pessoa com valor, pelo
menos tanto ou igual aos outros. 1 - 4
3.47 .59 .31 .53
3-Sinto que tenho um bom número de
qualidades positivas. 1 - 4
3.12 .68 .42 .47
10-Tenho uma atitude positiva perante mim
próprio/a. 1 - 4
3.20 .85 .27 .56
147
Os resultados desta análise permitem observar que a média dos itens são mais
elevadas e os valores de desvio padrão aproximam-se da unidade. Contudo, o alfa situa-
se em .57, valor aquém do exigido para este tipo de estudos. Mais ainda, nenhum item
quando for eliminado melhora o valor de alfa. Essas dificuldades na validade interna da
escala poderão estar associadas ao reduzido número de itens. Em suma para o presente
estudo, assumimos os 5 itens formulados pela positiva.
Validade externa da escala de autoconceito
Nesta fase do estudo procuramos estudar a validade externa da escala de
autoconceito tomando as outras medidas psicológicas. Com efeito, apresentamos dois
estudos, nomeadamente, i) os estudos correlacionais entre o autoconceito e as medidas de
autoestima, autoeficácia, satisfação com a vida e as dificuldades vivenciadas; ii) os
estudos diferenciais do autoconceito tomando as variáveis género, idade, ocupação do
estudante e a mobilidade do estudante (ter mudado, ou não, de residência para frequentar
o ES). Finalmente, procuramos cruzar as medidas do autoconceito tomando as variáveis
pessoais (idade, género), a média das classificações dos estudantes e o abandono ou
mudança de curso.
5.6.1 Correlação com outras medidas de identidade e dificuldades académicas
Para o estudo da validade externa procuramos associar as medidas do autoconceito
nas 5 dimensões com as medidas da autoestima, autoeficácia, satisfação com a vida e as
dificuldades vivenciadas pelos estudantes no contexto universitário. Esperamos que o
autoconceito se correlacione com as restantes medidas de critério, podendo variar a
correlação em função da importância atribuída a cada dimensão do autoconceito. Neste
sentido recorremos a correlação (produto x momento), de Pearson.
Tabela 5.17
Correlação entre Autoconceito e Outras Variáveis Psicológicas
Autoconceito
Artístico
Autoconceito
Religioso
Autoconceito
Académico
Autoconceito
Físico
Autoconceito
Social
Auto- eficácia .15** .17*** .29*** .21*** .25***
Satisfação com a vida .18*** .12*** .27*** .24*** .26****
Autoestima .18*** .24*** .43*** .37*** .37***
Dificuldades vivenciadas -.09 -.10* -.37** -.15*** -.20***
*correlações significativas em p<. 05; **correlações significativas em p< .01; ***correlações significativas em p< .001
148
De acordo com os resultados da Tabela 5.17, a medida de autoeficácia
correlaciona-se de forma moderada com todas as dimensões do autoconceito. Verifica-se
também que as dimensões de autoconceito académico e autoconceito social apresentam
pontuações superiores (r ≥ .25; p < .001), já as dimensões de autoconceito físico,
autoconceito religioso e autoconceito artístico apresentam correlações fracas (r ≤ .21; p
≤ .01). A escala de satisfação com a vida correlaciona-se também com a medida de
autoconceito em todas dimensões, sendo a dimensão académica, física e social com
pontuações elevadas (r ≥ .21; p < .001), essa correlação tende a baixar para as dimensões
artística e religiosa do autoconceito.
Por outro lado, a autoestima aparece associada com todas dimensões do
autoconceito. Em todas dimensões a correlação é relativamente forte (r ≥ .24; p< .001)
com exceção da dimensão artística (r =.18; p < .001). As dificuldades vivenciadas pelos
estudantes apresentam fracas associações com as medidas do autoconceito, à exceção da
dimensão académica (r = -.37; p < .001).
As correlações mais elevadas com outras medidas psicológicas (e.g., autoestima,
autoeficácia, satisfação com a vida, dificuldades vivenciadas) encontram-se na dimensão
do autoconceito académico, social e físico, com um nível de significância de p < .001.
Estes resultados parecem traduzir a importância destes três domínios na vida dos
estudantes (na sua maioria jovens) universitários. Por outro lado, o autoconceito apresenta
maior correlação com as variáveis mais pessoais (autoestima, autoeficácia e a satisfação
com a vida) e uma baixa correlação com a variável mais contextual (dificuldades
vivenciadas). Por exemplo, a dimensão da autoestima apresenta as correlações mais
elevadas com o autoconceito, principalmente nos domínios físico, académico e social.
Verifica-se também correlações baixas entre o autoconceito e as dificuldades vivenciadas,
numa correlação negativa. Esta correlação é ainda mais baixa quando se consideram as
dimensões de autoconceito artístico e autoconceito religioso.
Estudos diferenciais do autoconceito em estudantes universitários
de Moçambique
Para o estudo das diferenças no autoconceito tomamos duas variáveis pessoais
(género e idade) e duas contextuais (ocupação do estudante e mudança de residência ou
não do estudante para frequentar o ES). Para o efeito, recorremos a análise multivariada
da variância (F-MANOVA:2x2).
149
5.7.1 Diferenças em função do género e idade
Para o estudo de diferenças no autoconceito em função do género e idade dos
estudantes repartimos a amostra em dois grupos de idades (até 23 anos; de 24 em diante),
respeitando o equilíbrio na amostra. Os resultados desse estudo são apresentados na
Tabela 5.18.
Tabela 5.18
Diferenças de Autoconceito nos Estudantes Universitários em Função do Género e
Idade
Masculino Feminino
Até 23 anos
(N = 135)
24 em diante
(N = 126)
Até 23 anos
(N = 118)
24 em diante
(N = 110)
M DP M DP M DP M DP
Autoconceito Artístico 20.53 5.83 18.43 5.90 18.98 6.08 17.99 5.84
Autoconceito Religioso 23.22 5.37 22.82 5.33 23.52 5.34 25.09 4.23
Autoconceito Académico 22.93 3.53 23.03 3.67 22.24 3.81 22.84 3.40
Autoconceito Físico 19.29 3.60 18.89 3.80 20.43 3.53 19.31 3.66
Autoconceito Social 25.13 4.25 24.68 4.14 24.53 3.94 25.55 3.76
Observando a Tabela 5.18 verifica-se que as diferenças significativas se
encontram nas dimensões de autoconceito religioso (F = 4.51; p < .05) e de autoconceito
social (F = 3.95; p < .05). Na dimensão do autoconceito religioso são os estudantes do
sexo feminino que apresentam pontuações mais elevadas, favorecendo as estudantes mais
velhas (acima de 23 anos). Em relação ao autoconceito social, as diferenças favorecem,
novamente, as estudantes do sexo feminino com idade superior (acima de 23 anos).
Nas restantes dimensões do autoconceito avaliadas a partir do questionário não se
verificam diferenças com significância estatística, ou seja, homens e mulheres não se
diferenciam nas descrições que fazem si mesmos em relação às competências ou
dedicação aos estudos, nas competências ou gostos em relação as artes, e na percepção
que têm da aparência física, quer nos estudantes mais novos, como nos estudantes mais
velhos. Na Figura 5.3 representamos graficamente os resultados das diferenças nas duas
dimensões.
150
Figura 5.3 Efeito das Variáveis Pessoais dos estudantes nas Dimensões do Autoconceito
5.7.2 Diferenças em função da residência e da ocupação do estudante
Para a realização dos estudos diferenciais nas dimensões do autoconceito
recorremos a análise da variância multivariada (F-MANOVA:2x2). Os estudantes foram
agrupados em dois subgrupos, para cada uma das variáveis contextuais (estudantes que
só estudam e os que estudam e trabalham; estudantes que mudaram de residência para
frequentar o ES e os que não mudaram de residência). Os resultados são apresentados na
Tabela 5.19.
Tabela 5.19
Estudo de Diferenças nas Dimensões do Autoconceito Tomando as Variáveis
Contextuais dos estudantes
Mudou de Residência Não Mudou de Residência
Só estuda
(N = 150)
Estuda e trabalha
(N = 44)
Só estuda
(N = 166)
Estuda e trabalha
(N = 150)
M DP M DP M DP M DP
Autoconceito Artístico 19.03 6.00 20.18 5.41 19.90 6.00 17.93 5.93
Autoconceito Religioso 23.53 4.85 23.86 4.87 23.60 5.26 23.57 5.61
Autoconceito
Académico 23.26 3.39 23.73 3.14 22.20 3.46 22.58 3.98
Autoconceito Físico 19.77 3.57 19.43 3.36 19.81 3.62 18.79 3.93
Autoconceito Social 24.98 3.78 26.66 2.46 24.58 4.36 24.77 4.10
Os resultados apresentados sugerem que os estudantes que participaram no estudo,
151
no geral, não se diferenciam no autoconceito tomando as variáveis mudança de residência
e ocupação dos estudantes. Algumas diferenças encontram-se apenas na dimensão do
autoconceito artístico em estudantes que estudam e trabalham, sendo a pontuação mais
elevada a favor dos estudantes que mudaram de residência (F=6.60; p<.05). Na Figura
5.4 encontra-se representada graficamente essa diferença.
Figura 5.4 Efeito das Variáveis Contextuais dos estudantes nas Dimensões do
Autoconceito
5.7.3 Diferenças do autoconceito em função da área disciplinar dos estudantes
Na presente investigação procuramos explorar diferenças no autoconceito
tomando o agrupamento dos cursos em áreas disciplinares, nomeadamente, área das
ciências sociais e humanidades (integrando os seguintes cursos: Ciências da Educação,
Ensino Básico, Administração e Gestão da Educação, Filosofia, Português, Psicologia
Educacional, Educação de Infância, Gestão de Recursos Humanos, Sociologia, História,
e Educação Física), e Ciências e Tecnologias (Educação Visual, Física, Matemática,
Biologia e Geologia).
Recorrendo a uma análise multivariada MANOVA (F2x2), a diferença com
significado estatístico encontra-se apenas na dimensão de autoconceito artístico (F
=14.43, p <.001). Esta diferença favorece os estudantes que frequentam cursos da área de
152
ciências e tecnologias como pode se ver na Tabela 5.20.
Tabela 5.20
Diferenças do Autoconceito em Função das Áreas Disciplinares
Áreas disciplinares N M DP F gl p
Autoconceito artístico Ciências sociais e Humanidades 355 18.43 6.02 14.43 1 .00
Ciências e Tecnologias 155 20.59 5.59
Autoconceito religioso Ciências sociais e Humanidades 355 23.70 5.27 .52 1 .47
Ciências e Tecnologias 155 23.34 5.04
Autoconceito académico Ciências sociais e Humanidades 355 22.87 3.63 1.23 1 .27
Ciências e Tecnologias 155 22.49 3.54
Autoconceito físico Ciências sociais e Humanidades 355 19.67 3.65 3.47 1 .06
Ciências e Tecnologias 155 19.01 3.77
Autoconceito social Ciências sociais e Humanidades 355 25.05 3.95 1.00 1 .32
Ciências e Tecnologias 155 24.66 4.15
Variáveis pessoais e rendimento académico dos estudantes
Passamos agora ao estudo da relação entre o autoconceito e as medidas de
rendimento escolar dos estudantes. Neste sentido, começamos o estudo cruzando as
dimensões de autoconceito com as medidas associadas as classificações académicas,
nomeadamente, notas finais dos estudantes, a média das disciplinas gerais, a assiduidade
dos estudantes, a motivação, as disciplinas concluídas com sucesso e as disciplinas em
atraso (reprovação).
De seguida avançámos com o estudo da relação entre o autoconceito e as medidas
que predispõem o abandono (satisfação com os resultados escolares, satisfação com o
curso e satisfação com a universidade).
4.1 Factores associados às classificações académicas
Antes do estudo da relação entre o autoconceito e as medidas de rendimento
escolar, apreciamos a sensibilidade das medidas de rendimento escolar. Na Tabela 34
descrevemos os resultados desta análise.
153
Tabela 5.21
Sensibilidade das Variáveis de Rendimento Académico
N Mínimo Máximo M DP
Como classifica a sua
assiduidade nas aulas? 499 1.00 5.00 4.06 1.04
Como classifica a sua
motivação para estudar
nas aulas?
498 1.00 5.00 4.18 .96
Grau de satisfação com
os resultados escolares 507 1.00 5.00 3.56 .96
Se tivesse que começar
tudo de novo escolheria
o mesmo curso para
estudar?
509 1.00 4.00 3.24 .90
Se tivesse que começar
tudo de novo escolheria
a mesma universidade
para estudar?
505 1.00 5.00 3.38 .82
Como podemos observar na Tabela 5.21, as variáveis de rendimento escolar dos
estudantes universitários que participaram na investigação nomeadamente: a assiduidade
dos estudantes nas aulas, a motivação para estar na sala de aulas, a satisfação com os
resultados escolares, a satisfação com o curso e a satisfação com a universidade
apresentam médias elevadas e um desvio padrão acima de uma unidade, sugerido níveis
elevados de assiduidade, motivação, satisfação com os resultados, com a instituição e com
o curso que escolheram para estudar no ES.
De seguida apresentamos as correlações entre o autoconceito e as medidas de
rendimento, recorrendo a correlação (produto x momento) de Pearson.
Tabela 5.22
Correlação entre Autoconceito e as Medidas de Rendimento Escolar
Autoconceito
artístico
Autoconceito
religioso
Autoconceito
académico
Autoconceito
físico
Autoconceito
social
Notas finais -.05 .04 .18*** -.04 -.00
Fundamentos da
Pedagogia -.13* .10 .11* .08 .06
Métodos de Estudo
e Investigação
Científica
-.06 .09 .03 -.04 .05
154
Psicologia Geral -.03 .02 .11* -.04 .00
Didáctica Geral -.07 .10 .09 -.02 .05
Praticas
Pedagógicas Gerais -.12* -.05 .02 .07 .06
*correlação significativa para p < .05; ***Correlação significativa para p < .001
Observando a Tabela 5.22, apenas duas dimensões do autoconceito apresentam
correlação fraca com as medidas de rendimento académico dos(as) estudantes(as). Trata-
se da dimensão académica que associa-se com a disciplina de Psicologia Geral (r =.11, p
< .05), com a disciplina de Fundamentos da Pedagogia (r =.11, p <.05) e a média geral
das disciplinas (r =.18, p < .001); e a dimensão artística que apresenta uma associação
negativa com a disciplina de Práticas Pedagógicas gerais (r = -.12, p < .05), e a disciplina
de Fundamentos da Pedagogia (r = .-13, p < .05). De referir que a relação entre esta
dimensão (autoconceito artístico) e a medida geral de rendimento (notas finais) não
apresenta não apresenta valor com algum significado estatístico. Apesar das correlações
muito baixas, e sem significado estatístico, as dimensões de autoconceito artístico,
autoconceito, físico e autoconceito social correlacionam-se negativamente com as
classificações finais dos estudantes na presente investigação A seguir, na Tabela 5.36,
apresentamos os resultados da correlação entre o autoconceito e outras medidas de
rendimento escolar dos estudantes, por exemplo, a motivação, assiduidade, as disciplinas
concluídas com sucesso e as disciplinas não concluídas com sucesso.
Tabela 5.23
Análise da Correlação entre as Medidas de Rendimento Escolar e o Autoconceito
Autoconceito
artístico
Autoconceito
religioso
Autoconceito
académico
Autoconceito
físico
Autoconceito
social
Como classifica a
sua motivação para
estudar nas aulas?
.12** .07 .26*** .14** .18***
Como classifica a
sua assiduidade nas
aulas?
-.00 .02 .18*** -.03 .07
Das disciplinas
inscritas, quantas
concluiu com
sucesso?
.01 .02 .15** .09* .04
Disciplinas em
atraso .05 .04 -.13** -.01 .01
*correlações significativas em p <. 05; **correlações significativas em p < .01; ***correlações significativas em p < .001
155
Os resultados apresentados na Tabela 5.23 reportam alguma associação do
autoconceito com as medidas do desempenho escolar dos estudantes. Neste sentido, o
autoconceito académico é a dimensão que se associa com todas as medidas de rendimento
escolar nomeadamente com a motivação (r = .26, p < .001); a assiduidade dos estudantes
(r = .18, p < .001), as disciplinas concluídas com sucesso (r = .15, p < .01), e com as
disciplinas não concluídas com sucesso (r = -.13, p < .01). O autoconceito físico apresenta
uma associação fraca com a motivação dos estudantes na sala de aulas (r = .14, p < .01),
e com as disciplinas concluídas com sucesso (r = .09, p < .01). A relação do autoconceito
com a motivação observa-se também na dimensão social (r = .18, p <.001) e com
autoconceito artístico (r = .12, p < .01). Constata-se também uma correlação negativa,
embora insignificante, entre a assiduidade e a dimensão de autoconceito físico.
De seguida apresentamos os resultados de regressão, usando o método stepwise,
das classificações finais tomando as dimensões do autoconceito. Os resultados desta
análise são apresentados na Tabela 5.24 e na Figura 5.6.
Tabela 5.24
Análise da Regressão do Autoconceito e o Desempenho Escolar dos Estudantes
Universitários de Moçambique
Modelo Variável R R2 R2
Ajustado
B Beta t
1 Autoconceito académico .18 .03 .03 .09 .18 4.00***
2
Autoconceito académico
Autoconceito físico
.22
.02
.02
-.08
-.16
-3.23**
**significativo em p< .01; ***significativo em p< .001
A exploração da regressão linear para as variáveis notas finais e o autoconceito
permitiu observar um R2 ajustado = 0.03, ß = .09, t = 4.00, p < .001 para o autoconceito
académico e R2 ajustado = 0.02; ß = -.08; t = -3.23, p < .001 para o autoconceito físico.
Assim verifica-se que 3% do desempenho escolar é explicado pela variável autoconceito
académico, seguido do autoconceito físico que explica 2%. Recorrendo ao estudo da
ANOVA de regressão, obtiveram-se valores de F = 15.98, p < .001 para autoconceito
académico e F = 13.34; p < 0.001 para o autoconceito físico, verificando-se que o modelo
é significativo para p < .001. As duas variáveis (autoconceito académico e autoconceito
físico) conseguem explicar apenas 5% os resultados escolares.
156
Figura 5.5 Diagrama de Dispersão do Autoconceito em Função das Notas Finais
Obtidas Pelos Estudantes Universitários
5.8.1 Factores associados ao abandono
Tendo em conta que o nível de satisfação do individuo pode predispor a sua
permanência ou abandono, assumimos nesta investigação que os níveis mais baixos de
satisfação predispõem ao abandono e níveis altos associam-se a sua permanência no curso
ou universidade. Desta forma, apresentamos a relação entre o autoconceito e o nível de
satisfação dos estudantes com o curso, com a universidade e com os resultados escolares
alcançados.
Tabela 5.25
Correlação entre o Autoconceito e Grau de Satisfação dos Estudantes com o Curso,
Universidade e Resultados Escolares
Satisfação
com o curso
Satisfação com a
universidade
Satisfação com os
resultados escolares
Autoconceito Artístico -.01 -.02 .00
Autoconceito Religioso .01 .07 -.02
Autoconceito Académico .17*** .11* .23**
Autoconceito Físico .09* .07 .06
Autoconceito Social .12** .10* .04
Observando os resultados da Tabela 5.25, pode-se constatar que o autoconceito
157
académico se correlaciona com a satisfação com o curso (r = .17, p < .001), satisfação
com a universidade (r = .11, p < .05) e com os resultados escolares (r=.23; p<.01),
sugerindo níveis elevados de autoconceito académico estão associados a convicção na
escolha do curso, na escolha universidade e a satisfação com os resultados alcançados.
Por outro lado, o autoconceito social apresenta correlações fracas com a satisfação com
o curso (r = .12, p < .01) e a satisfação com a universidade (r = .10, p < .05), traduzindo
a maior importância que têm as relações interpessoais entre os estudantes e destes com os
professores no curso do que na instituição, essa dimensão não apresenta associação
significativa com os resultados alcançados. Finalmente o autoconceito físico apresenta a
correlação mais baixa (r = .09, p < .05) apenas com a satisfação com o curso escolhido
pelos estudantes. Mais ainda, as medidas do autoconceito artístico e autoconceito
religioso não apresentam correlações significativas com os níveis de satisfação dos
estudantes. Na Tabela 5.26 apresentamos a relação entre o autoconceito e as respostas
dos estudantes em relação a intenção de abandonar o curso e a universidade.
Tabela 5.26
Correlação entre Autoconceito e a Intenção de Abandonar o Curso e a Universidade
Alguma vez pensou em
abandonar o curso que
frequenta?
Alguma vez pensou em
abandonar a universidade
que frequenta?
Autoconceito artístico .07 .06
Autoconceito religioso .14** .09*
Autoconceito académico .20*** .11*
Autoconceito físico .18*** .07
Autoconceito social .15** .09*
Tomando os resultados da Tabela 5.26, verifica-se que existe relação, embora
fraca, com a intenção de abandonar o curso dos estudantes universitários. Esses resultados
parecem traduzir maior dificuldades vivenciadas no curso que esses estudantes
frequentam do que com a instituição. Observando a Tabela 5.26 pode se verificar que a
correlação entre o autoconceito e as dificuldades vivenciadas pelos estudantes é mais
elevada nas mesmas dimensões de autoconceito: autoconceito académico, autoconceito
social e autoconceito físico, apesar de mostrarem algum grau de satisfação com o curso
nas mesmas dimensões de autoconceito.
158
Considerações Finais
O presente capítulo centrou-se na validação do questionário multidimensional de
autoconceito para estudantes universitários de Moçambique. O estudo começa com a
análise da estrutura fatorial através de análise fatorial exploratória do referido
questionário. Os resultados deste estudo confirmaram a multidimensionalidade do
constructo.
Por outro lado, para a validade externa ou de critério foram realizados estudos
correlacionais e diferenciais com outras variáveis psicológicas (e.g., autoestima,
autoeficácia, satisfação com a vida), variáveis ligadas a identidade dos estudantes (e.g.,
sexo, idade), e outras ligadas ao contexto (e.g., vivências académicas, ocupação dos
estudantes). Mais ainda, as variáveis ligadas ao desempenho dos alunos e de abandono
surgem como variáveis de controlo. Neste sentido, os resultados indicam que o
autoconceito se associa às outras variáveis psicológicas nomeadamente: autoestima,
autoeficácia, satisfação com a vida e dificuldades vivenciadas, sugerindo a importância
do autoconceito no ajustamento dos estudantes ao contexto universitário, passando a
influenciar também no bem-estar psicológico, nas avaliações que fazem de si mesmos, e
no fortalecimento das crenças sobre as suas competências.
Nos estudos diferenciais do autoconceito tomando as variáveis sexo, idade,
ocupação do estudante e mobilidade para frequentar o ES, surgem diferenças com
significado estatístico nas dimensões de autoconceito religioso, autoconceito social e
autoconceito artístico. Neste sentido, as pontuações elevadas nas dimensões de
autoconceito religioso e autoconceito social favorecem as estudantes mais velhas,
enquanto estudantes que mudaram de residência, sendo também trabalhadores pontuam
mais na dimensão de autoconceito artístico.
Por outro lado, as classificações finais dos estudantes apresentam associação baixa
e apenas com o autoconceito académico. Mais ainda, a dimensão do autoconceito
académico aparece associada também com outras variáveis de desempenho escolar
nomeadamente: a motivação, a assiduidade, satisfação com o curso, com a universidade
e disciplinas em atraso. Neste último caso a associação é inversa, sugerindo a influência
do autoconceito na redução das disciplinas em atraso. Tomando já as diferenças de
autoconceito em função das áreas disciplinares, os resultados sugerem que os alunos da
área de ciências e tecnologias pontuam mais em comparação com os colegas da área de
ciências sociais e humanidades apenas na dimensão do autoconceito artístico. Finalmente,
159
o estudo de regressão sugere, mais uma vez, que o autoconceito académico é o melhor
preditor do desempenho escolar dos estudantes universitários de Moçambique, seguido
da dimensão do autoconceito físico.
160
161
CAPÍTULO 6
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÃO
Introdução
Depois da apresentação dos resultados da componente empírica desta tese nos
capítulos 4 e 5, o presente capítulo centra-se na sua discussão. Focando-nos no objetivo
central do nosso estudo, centramos esta discussão (i) nos resultados da construção e
validação de uma escala multidimensional para a avaliação do autoconceito de estudantes
universitários de Moçambique, e (ii) nos resultados do cruzamento das dimensões do
autoconceito com outras variáveis pessoais e académicas dos estudantes. Neste quadro,
comentamos os resultados das análises correlacionais e diferenciais tomando as
dimensões do autoconceito avaliadas nesta escala.
Uma segunda parte deste capítulo centra-se na explicitação das conclusões do
nosso estudo empírico. A par das conclusões, indicamos algumas limitações inerentes a
esta tese, em particular na vertente da metodologia do estudo empírico, as quais merecem
ser tidas em atenção numa ponderação dos resultados e conclusões. Nesta linha,
terminamos esta tese apontando sugestões para estudos futuros na área do autoconceito
dos estudantes universitários em Moçambique, acreditando no valor heurístico desta
variável psicológica para compreendermos e intervirmos nos processos que favoreçam a
sua adaptação e sucesso académico no Ensino Superior.
Construção da Escala de Autoconceito
O estudo sobre a construção da escala de autoconceito permitiu identificar cinco
fatores: autoconceito artístico, autoconceito religioso, autoconceito social, autoconceito
académico e autoconceito físico. Estas dimensões foram inicialmente definidas a partir
dos discursos fornecidos através de entrevistas semiestruturadas junto dos alunos em
tempo extralectivo, após o seu consentimento informado. Por outro lado, foram
consultados outros instrumentos de avaliação do autoconceito em alunos/as do ES
(Batican, 2011; Garcia & Musitu, 2001; Marsh et al., 1984), procurando explorar as
dimensões que integram os respetivos instrumentos. A partir das entrevistas efetuadas
junto de alunos universitários de Moçambique foi possível identificar sete dimensões de
162
autoconceito que emergiram das análises do conteúdo das entrevistas recorrendo à
categorização de Gordon (1968). Estudos qualitativos e quantitativos permitiram
constatar que duas dimensões (autoestima e gestão de emoções e sentimentos) não
emergiram nos discursos destes universitários, tendo sido retirados da escala. A análise
fatorial exploratória permitiu reter um conjunto de 24 itens distribuídos nas cinco
dimensões do autoconceito nomeadamente: autoconceito artístico (5 itens), autoconceito
religioso (5 itens), autoconceito académico (5 itens), autoconceito social (5 itens) e
autoconceito físico (4 itens). Esse conjunto de cinco fatores explica 57.8% da variância
total da escala. Por sua vez, os alfas de Cronbach nas subescalas do autoconceito situam-
se entre .73 (autoconceito social) e .85 (autoconceito artístico), valores considerados
adequados (Almeida & Freire, 2007). Por outro lado, e tendo em conta o formato da escala
(tipo likert) de 6 opções de respostas, as médias das pontuações dos alunos são superiores
a três unidades e o desvio-padrão próximo ou superior a uma unidade.
A escala integra três fatores que com frequência encontramos em outros
instrumentos de avaliação do autoconceito: autoconceito académico, autoconceito social
ou interpessoal e autoconceito físico (e.g., Garcia & Musitu, 2001; Marsh et al., 1984;
Peixoto, 2003; Veiga, 2006). Por outro lado, emergem duas dimensões do autoconceito
raramente encontradas em outros instrumentos, nomeadamente: autoconceito religioso ou
espiritual e autoconceito artístico. Esta situação parece traduzir alguma especificidade
cultural, reportando uma maior preocupação com os assuntos religiosos ou espirituais e
artísticos nos estudantes universitários de Moçambique. Nesta linha, Hampatê Bâ (1981)
aponta a religião como fonte de superação das incertezas e sofrimento do povo africano.
Assim, a arte e as práticas religiosas surgem como instrumentos de expressão da
identidade dos alunos universitários de Moçambique, parecendo-nos relevante a sua
inclusão na avaliação do autoconceito. Acresce que alguns estudos reconhecem estas
dimensões como partes integrantes do autoconceito. Por exemplo, Vispoel (1993) propôs
a integração do autoconceito artístico como fator de primeira ordem no modelo estrutural
proposto por Shavelson et al. (1976). Mais ainda, Batican (2011), na sua tese de
doutoramento, propôs um instrumento multidimensional de autoconceito de 15
dimensões, onde a dimensão da expressão artística e uma dimensão que avalia a
moralidade-religiosidade estão incluídas. Por outro lado, o interesse pelos assuntos
religiosos ou espirituais no estudo do autoconceito já tinha sido também demostrado por
Marsh e al. (1984), através da escala Self Description Questionnaire III, em que uma das
dimensões do self avalia assuntos religiosos e espirituais, à semelhança do trabalho
163
pioneiro de William James, onde se pode encontrar a espiritualidade como uma das
dimensões do self (Campira et al., 2015; Costa, 2002; Epstein, 1973; Fuentes et al., 2011;
Harter et al., 1997; Wang, 2013). Por último, os avanços da psicologia positiva (Nunes &
Garcia 2010; Santos & Sousa, 2012; Simão & Saldanha, 2012) sobre a religiosidade
também têm demostrado a importância desta área no desenvolvimento e no bem-estar
psicológico do indivíduo.
Analisando os itens da escala nas suas cinco dimensões, pode-se constatar que a
dimensão social ou interpessoal do autoconceito parece atravessar as outras dimensões
do nosso questionário, dada a importância atribuída aos outros significativos na descrição
que os estudantes fazem de si mesmo, à semelhança do que foi verificado na construção
e validação da anterior escala de autoconceito para adolescentes moçambicanos (Campira
et al., 2013). A este respeito, alguns autores africanos reconhecem a importância da
coletividade no desenvolvimento da identidade do povo africano (Campira et al., 2013;
Castiano, 2013; Hampatê Bâ, 1981; Mwamenda, 2004). De acordo com estes autores, a
identidade do africano perde-se no seu coletivo, sugerindo que o africano ao satisfazer as
necessidades da sua comunidade estará a satisfazer também as suas necessidades
individuais. Tomando agora trabalhos descritos por Faria (2014) sobre a inteligência no
contexto africano (e.g., Quénia e Costa do Marfim), para esse povo a componente
cognitiva está subordinada à dimensão social; assim, os pais reforçam a harmonia e as
relações interpessoais como competências fundamentais de desenvolvimento dos seus
filhos. Reportando-nos aliás ao ES, a dimensão interpessoal tem vindo a receber alguma
atenção tendo em conta a sua relevância no desenvolvimento e ajustamento dos/as
estudantes (Faria & Azevedo, 2004; Faria & Santos, 2006). Por outro lado, o ingresso no
ES, parece alargar as amizades que já possuíam antes de ingressar na universidade,
traduzindo-se na sua popularidade. Mais ainda, o ES com as suas exigências parece
reforçar a maturidade dos alunos através do estabelecimento de relações interpessoais
mais seguras e estáveis (Cunha & Carrilho, 2005; Seco et al., 2005; Soares at al., 2014).
Por outro lado, a dimensão de autoconceito académico aparece bastante
estruturada e estável nos estudos desenvolvidos a propósito da construção desta escala. A
emergência desta dimensão não surpreende, pois a maioria dos instrumentos de avaliação
do autoconceito em diferentes idades tem incorporado as competências escolares ou
intelectuais (e.g., Piers- Harris; Self-profile Scale for Adolescents; Autoconceito Forma
5; Delf-Description Questionnaire I, II, III). Neste sentido, o contexto de vivência escolar
parece contribuir decisivamente na construção da identidade dos indivíduos, e desta
164
forma assume-se a importância deste constructo no desempenho escolar dos alunos
(Gupta, 2014; Lawrence & Vimala, 2013; Veiga et al., 2015), surgindo vários estudos
que associam este constructo ao desempenho escolar (e.g., Ahmed, 2011; Bacon, 2011;
Matovu, 2012, 2014; Rosen et al., 2010; Srivastava & Joshi, 2011). Mais ainda, o
autoconceito académico ganha maior relevância quando se trata de estudar ou avaliar as
competências escolares dos alunos no desempenho das suas actividades académicas
(Ahmed, 2011).
Finalmente a dimensão de autoconceito físico parece assumir alguma relevância
para os estudantes universitários de Moçambique. A inclusão desta dimensão nos
instrumentos de avaliação do autoconceito está associada às transformações físicas que
acompanha os indivíduos ao longo do seu desenvolvimento, afetando o seu autoconceito
e sua autoestima (Faria, 2005; Pais-Ribeiro & Ribeiro, 2003), ou ainda, a forma como a
condição física e a composição corporal influenciam a autoavaliação dos indivíduos
(Reigal-Garrido et al., 2014). Por outro lado, Cazalla-Luna e Molero (2013) apontam a
atração física como uma componente fundamental nas relações interpessoais dos
indivíduos. Neste sentido, parece que a dimensão física do autoconceito influi em vários
domínios de realização humana, como a saúde (Martinez et al., 2013; Pais-Ribeiro &
Ribeiro, 2003; Videra-Garcia & Reigal-Garrido, 2013) e o relacionamento interpessoal
(Cazalla-Luna & Molero, 2013; Rodríguez, Goñi, & Azúa, 2006).
Os resultados deste estudo sugerem níveis elevados de autoconceitos dos/as
alunos/as universitários/as de Moçambique, contrariando os resultados obtidos em outro
estudo realizado junto de adolescentes moçambicanos (Campira et al., 2013), que sugeria
a descrição tendencialmente negativa de si mesmos. Tais diferenças, a aprofundar nos
próximos estudos, poderão sugerir a evolução do autoconceito à medida em que os
indivíduos avançam em termos de idade. Nesta altura, os domínios de autoconceito vão
ganhando diferentes pesos (Veiga, 1996). Por exemplo, estudos de Faria e Santos (2006)
apontam que os indivíduos mais velhos apresentam níveis elevados de autoconceito social
em comparação com os adolescentes, tendo-se admitido uma maior autoaceitação dos
indivíduos à medida que evoluem com a idade. Por outro lado, Véliz-Burgos e Urquijo
(2012) verificaram que os alunos mais velhos reportam um autoconceito ligeiramente
superior em comparação com os adolescentes, enquanto os alunos mais novos apresentam
um autoconceito físico superior aos mais velhos. Apesar destas constatações mais
próximas dos resultados encontrados nos nossos estudos, importa tomar algum cuidado
na sua leitura, pois Veiga (1996) constatou que na adolescência os alunos mais novos
165
reportavam níveis elevados de autoconceito em comparação com os jovens-adultos.
Como refere o autor, os resultados deste estudo poderão ter sido influenciados pelas
vivências do insucesso escolar à medida que se avança na escolaridade. Mais ainda, como
o autor argumenta, não se tratando de estudos longitudinais, os resultados de
diferenciação do autoconceito tomando a variável idade não são conclusivos, sugerindo
estudos mais profundos controlando outras variáveis (e.g., número de reprovações).
Correlação entre as dimensões do autoconceito
As correlações entre os resultados nas dimensões do autoconceito mostram uma
relação mais forte entre as dimensões tradicionais do autoconceito, nomeadamente:
autoconceito social, autoconceito físico e autoconceito académico. As dimensões do
autoconceito artístico e autoconceito religioso apresentam uma correlação fraca com as
restantes dimensões da escala, revelando a sua maior autonomia. A correlação mais forte
encontra-se entre o autoconceito físico e social, embora em outros estudos essa relação
tenda a ser baixa (Cerrato et al., 2011; Garcia, Sarmento, & Martínez, 2011; Mella &
Bravo, 2011; Veliz-Burgos, 2010) e noutros mais forte (Bustos, Oliver, & Galiana, 2015).
Os resultados explicam a importância do aspeto físico nas relações interpessoais; aliás os
itens da dimensão física do autoconceito reportam alguma preocupação com a atração
física. Por outro lado, verifica-se que o autoconceito académico se correlaciona também
fortemente com as dimensões física e social. Em relação à associação entre o autoconceito
académico e o autoconceito social, os resultados reforçam a importância das relações
interpessoais nas competências escolares, tal como tem sido defendido em outros estudos
(Bustos, Oliver, & Galiana, 2015; Garcia, Sarmento, & Martínez, 2011; Mella & Bravo,
2011; Veliz-Burgos, 2010), pois o clima das relações estabelecidas entre os alunos e
destes com os professores pode influenciar a perceção de competência e o desempenho
dos alunos no contexto escolar. Mais ainda, a relação encontrada entre autoconceito
académico e autoconceito físico, como constatado também em outros estudos (Cerrato et
al., 2011; Garcia, Sarmento, & Martínez, 2011; Mella & Bravo, 2011; Veliz-Burgos,
2010), não tem grande suporte teórico pois não nos parece seguro afirmar que os alunos
que mais se preocupam com a aparência física apresentem níveis elevados de
competência escolar. Contudo, podemos sugerir que, sendo a dimensão física que reforça
as relações interpessoais nestes alunos, esta dimensão também pode influenciar, ainda
que de forma indireta, o interesse ou a motivação dos alunos com a escola e os estudos.
166
A correlação entre o autoconceito religioso e o autoconceito académico, social e
físico, embora moderada, parece traduzir alguma importância da religião nas atividades
académicas, na socialização e no bem estar dos alunos universitários. Por exemplo,
Calvetti et al. (2008) reconhecem a importância da religião como instrumento de apoio
social e como recurso para o ajustamento psicológico dos indivíduos. Por outro lado,
alguns autores reconhecem a religiosidade como promotora da saúde e qualidade de vida,
influenciando a construção de processos cognitivos que promovem a aceitação de si e dos
outros significativos (Santos & Sousa, 2012; Taunay et al., 2012).
Relação entre autoconceito e as variáveis psicológicas
Para a validação da escala de autoconceito desenvolvemos um conjunto de estudos
de validação de algumas escalas (e.g., escala de autoestima, escala de autoeficácia, escala
de satisfação com a vida, questionário de vivências académicas). Os resultados deste
estudo permitiram observar que as medidas psicométricas destes instrumentos são
apropriadas para a população de jovem-adultos moçambicanos na presente pesquisa. Por
exemplo, nas escalas de satisfação com a vida (Diener et al., 1985) e de autoeficácia geral
(Schwarzer & Jerusalem 1995), confirmamos a unidimensionalidade destas medidas e
índices de consistência interna adequados. Entretanto, na medida de autoestima de
Rosenberg (1965) verificamos alguma dificuldade em reter os 10 itens, sobretudo os itens
formulados pela negativa. Contudo, foi possível reter os 5 itens formulados pela positiva.
Tal situação já tinha sido constatada em outro estudo, no mesmo contexto (Patrão et al.,
2014), sugerindo uma especificidade cultural. Finalmente, a medida de dificuldades
vivenciadas (Araújo et al., 2013), mostrou também dificuldade em reter os quatro fatores
sugeridos pelos respetivos autores. Neste sentido, ficamos com um conjunto de itens que
reportam as diferentes dificuldades vivenciadas pelos estudantes universitários de
Moçambique. Pese embora as dificuldades na adaptação destes últimos instrumentos,
consideramos que as suas propriedades psicométricas são adequadas para o estudo da
validade externa ou de critério dos resultados na escala de autoconceito para estudantes
universitários de Moçambique.
Tomando as correlações com outras variáveis psicológicas, os resultados
apresentam alguma relação entre o autoconceito e a medida de autoeficácia,
nomeadamente com as dimensões de autoconceito académico, autoconceito social e
autoconceito físico. Estes resultados vão de encontro com outros estudos (Neves & Faria,
2009; Veliz-Burgos, 2010). Já as dimensões artística e religiosa apresentam alguma
167
relação, embora baixa, com a medida de autoeficácia. Não conhecendo nós estudos
prévios neste domínio, antecipamos que as crenças religiosas poderão contribuir para o
fortalecimento do sentido de competência dos alunos. Por outro lado, o gosto,
sensibilidade e competências artísticas avaliadas nesta dimensão do autoconceito podem
ter alguma ligação com o sentido de competência percebida pelos alunos.
Alguns estudos têm revelado alguma associação entre o autoconceito e a
satisfação com a vida (Bustos, Oliver, & Galiana, 2015; Fabrian & Kurniawan, 2012;
Fernandéz, 2008; Stocker & Faria, 2009), traduzindo a importância do autoconceito no
bem-estar psicológico dos indivíduos. No presente estudo, o autoconceito correlaciona-
se com a medida de satisfação com a vida ao nível das dimensões tradicionais do
autoconceito (autoconceito académico, autoconceito físico e autoconceito social), sendo
mais baixas as correlações com as dimensões de autoconceito artístico e autoconceito
religioso. Esses resultados parecem destacar a importância do esforço e dedicação, assim
como do papel das relações interpessoais e da aparência física no bem-estar psicológico
dos alunos moçambicanos. Por outro lado, os resultados do presente estudo sustentam, de
alguma forma, a relevância atribuída à religiosidade e à arte na explicação do modo de
vida e identidade dos africanos (Castiano, 2013; Hampatê Bâ, 1981).
A autoestima é a variável psicológica que se relaciona com maior intensidade com
o autoconceito no presente estudo, à semelhança de outro estudo realizado a nível
internacional (Chaves et al., 2015). Essa relação, mais forte em relação as outras variáveis
psicológicas, faz sentido se considerarmos a autoestima como uma das medidas do
autoconceito, a medida global, sugerido forte relação com o autoconceito. De qualquer
forma, a autoestima dos alunos parece estar relacionada com as competências
académicas, as relações interpessoais, a perceção da imagem corporal e os assuntos
religiosos e domínio artístico, apesar de nessas últimas dimensões com menor
intensidade.
Existem alguns estudos que têm sugerido alguma influência das vivências
académicas, em termos de sucesso ou fracasso na adaptação dos alunos que frequentam
a universidade, na construção da imagem do individuo (Sctoker & Faria, 2009; Silva,
2003), fazendo sentido estudar a relação entre o autoconceito e as vivências académicas
dos alunos. O presente estudo analisou a relação entre o autoconceito e as dificuldades
vivenciadas pelos alunos no primeiro ano da universidade. Os resultados apontam para
uma correlação negativa entre autoconceito e dificuldades vivenciadas pelos alunos.
Neste sentido, níveis elevados de autoconceito estão associados a menores dificuldades
168
sentidas pelos alunos. Os resultados obtidos na presente pesquisa vão de encontro aos
resultados de outros estudos no ES (Stocker & Faria, 2009; Silva, 2003), sugerindo uma
associação positiva entre autoconceito e ajustamento dos alunos universitários. Estes
resultados traduzem algum reforço do autoconceito na adaptação dos alunos no ES,
surgindo como variável moderadora do seu ajustamento académico. Os estudos têm
revelado que a transição para Ensino Superior é acompanhada por desafios académicos e
sociais que os alunos deverão enfrentar (Araújo & Almeida, 2015), sugerindo ganhos no
sucesso de transição que incluem crescimento intelectual, preparação para a vida
profissional, desenvolvimento do autoconceito e de novos valores (Araújo & Almeida,
2015; Araújo, Almeida, Ferreira, Santos, Noronha, & Zanon, 2014).
Por outro lado, parece que as dificuldades vivenciadas pelos estudantes são
explicadas por outras variáveis que não as dimensões do autoconceito, excetuando o
autoconceito académico (r = -.37, p < .001) e, em parte, o autoconceito social (r = -.20, p
< .001). Estes resultados parecem traduzir que as dificuldades vivenciadas pelos alunos
estão mais no domínio académico, reforçando os estudos nesta área que apontam para
uma mudança na forma de aprendizagem dos alunos na transição do ensino secundário
para o ensino superior (Costa & Leal, 2008; Cunha & Carrilho, 2005; Fernandes &
Almeida, 2005; Soares & Almeida, 2005). Por exemplo, vários autores (Almeida, 2007;
Almeida & Cruz, 2010; Joly et al., 2014; Soares et al., 2014; Stocker, Neves, & Faria,
2010) reportam uma mudança na abordagem da aprendizagem dos alunos que transitam
para o ES no que diz respeito a organização dos conteúdos escolares, atribuição de maior
autonomia na aprendizagem (e.g., organização de horários de estudos, gestão do tempo,
concluir os trabalhos a tempo), exigindo-se desde logo o desenvolvimento de estratégias
auto-regulatórias desse processo de aprendizagem. Neste sentido, essa mudança pode ser
um fator que influencia a adaptação dos estudantes a este nível de escolaridade, tendo em
conta o contexto de vivências académicas que poderá desencadear uma desadaptação
inicial (Almeida & Cruz, 2010; Seco et al., 2005). Por exemplo, Almeida e Cruz (2010)
verificaram nos seus trabalhos que os alunos reportavam mais dificuldades em relação
aos recursos económicos e à aprendizagem, enquanto as alunas sentiam mais dificuldades
de relacionamento com os colegas e professores.
Nos nossos resultados, a dimensão de autoconceito social aparece mais
correlacionada com as dificuldades vivenciadas pelos estudantes, depois da dimensão
académica. Apesar de 62% dos alunos não terem mudado de residência para frequentar o
ES, parece que o nível de exigências requer dos alunos algum investimento nas atividades
169
académicas, podendo significar redução de tempo de interação com amigos e família. Ao
mesmo tempo, o novo contexto vai exigir a exploração de novos laços afectivos, um
processo nem sempre pacífico (Araújo & Almeida, 2015; Araújo et al., 2014). Mais ainda,
diante de um público bastante diversificado em termos de idade e de caraterísticas
socioculturais e económicas, acrescem as dificuldades de relacionamento interpessoal
neste contexto de vivências académicas (Almeida, 2007; Araújo & Almeida, 2015),
principalmente para aqueles alunos que terão de enfrentar a separação da família, criar
novos amigos e adaptar-se a um novo contexto, muitas vezes desconhecido.
A autoeficácia é considerada a variável pessoal que mais se correlaciona com o
autoconceito (Neves & Faria, 2009; Véliz-Burgos, 2010). Os nossos resultados não se
diferenciam desses estudos, apresentando correlações mais elevadas nas dimensões de
autoconceito académico, físico e social. Neste sentido parece que as competências
percebidas reforçam o desempenho ou a realização do individuo nestes domínios
específicos. Por exemplo, Peinado, Ornelas, Blano e González (2015) reportam que as
experiências de fracasso nos estudos se associam a baixa autoeficácia, enquanto a
autoeficácia elevada reforça o sucesso na realização da tarefa nesta área. Nesta altura, as
crenças de autoeficácia assumem o papel de autorregulação do comportamento no alcance
das metas estabelecidas, sendo o êxito fator que reforça as crenças da autoeficácia. Por
outro lado, o autoconceito académico e a autoeficácia aparecem positivamente associadas
com as outras variáveis psicológicas, incluindo o desempenho escolar (Sctoker, Neves,
& Faria, 2010).
Estudos diferenciais do autoconceito
Os resultados do estudo diferencial do autoconceito, cruzando com as variáveis
sexo e idade, não apontam para diferenças estatisticamente significativas. Estes resultados
vão de encontro a outros estudos internacionais que também não constataram diferenças
de género no autoconceito (Ahmad, Ghazali, & Hassan, 2011; García, Sarmento, &
Martínez, 2010; Lekue, 2010; Zhang, 2010). Neste sentido, e também no presente estudo,
homens e mulheres não se diferenciam na forma como se descrevem a si próprios/as. Por
outro lado, existem estudos que defendem a diferenciação em domínios mais específicos
do autoconceito (García, Sarmento, & Martínez, 2011; Vallejo & Risoto, 2013; Silva &
Vendramini, 2005; Stocker & Faria, 2009). No presente estudo, constatamos alguma
diferenciação na dimensão religiosa e na dimensão social, a favor das mulheres com
170
idades acima dos 23 anos. Estes resultados também foram constatados em outros estudos.
Por exemplo, utilizando o Self Description Questionnaire III, Stocker e Faria (2009)
verificaram que as mulheres apresentavam uma média mais elevada na dimensão
religiosa/espiritual. Por outro lado, as mulheres parecem também apresentar níveis mais
elevados de autoconceito nas relações interpessoais (Garcia et al., 2011; Stocker & Faria,
2009; Vallejo & Risoto, 2013). Em relação à diferença constatada no autoconceito
religioso a favor das mulheres, o papel social que a mulher moçambicana tem no processo
de socialização poderá ser determinante. Assumindo essa posição social, a mulher em
Moçambique assume a religião como instrumento de socialização (Costa, 2009; Silva,
2007) e, portanto, a mulher aparece como importante protagonista desta prática, dado o
maior tempo de convivência com os membros da família.
Assumindo os valores sociais e culturais como importantes fontes na compreensão
da religiosidade (Campira, Araújo, & Almeida, 2014; Castiano, 2013), tomando o
exemplo de Moçambique, o culto dos antepassados, a estreita ligação entre vivos e mortos
e a prática da feitiçaria (Castiano, 2013; Costa, 2009; Mahumane, 2008) assumem o
referido valor religioso. Tais práticas mais frequentes entre os moçambicanos têm
influenciado o comportamento e/ou o desenvolvimento dos adolescentes e jovens,
nomeadamente na forma como lidam com os desafios do dia-a-dia. Assim, a religiosidade
ou a vivência espiritual, dada a sua centralidade na cultura Moçambicana, constituem uma
parte importante da identidade da população e dos indivíduos. Em síntese, a religião em
Moçambique parece constituir um instrumento de construção da identidade dos jovens
universitários (Guerra, 2013; Silva, 2007).
Em relação à ausência de diferença no autoconceito académico em função do
género, essa realidade merece alguma atenção especial pois os estudos apontam para uma
desigualdade de oportunidades de acesso à escolaridade segundo o género no contexto
moçambicano (Campira et al., 2012; Silva, 2007). Essa situação parece ser mais evidente
nos níveis escolares mais básicos do que no ensino superior, pois com a expansão das
universidades em todas as províncias do país, aliado ao movimento de emancipação da
mulher, testemunhado por intelectuais moçambicanos como Paulina Chiziane (2010),
Gabriela Silva (2007) e pelo MINED (1998), fazem com que essas desigualdades tendam
a reduzir. Esta situação parece estar a elevar a perceção que as mulheres mais jovens têm
das suas competências escolares, o que favorece a sua progressão no ES à semelhança
dos colegas do sexo masculino.
Quanto ao estudo de diferenças no autoconceito tomando as variáveis contextuais
171
(mudança de residência e ocupação laboral dos alunos), os resultados permitem constatar
diferenças, com significado estatístico, somente na dimensão de autoconceito artístico.
Aqui a diferença traduz uma pontuação mais elevada a favor dos/as alunos/as que
mudaram de residência, sem que encontremos explicação clara para o efeito. Mesmo
assim, ao terem mudado de residência para frequentar o ensino superior, estes estudantes
poderão ter mais disponibilidades para se dedicarem às atividades artísticas pois passam
a residir mais próximo das instituições de ensino evitando as deslocações diárias.
Em suma, na generalidade, os resultados apontam para a ausência de diferenças
significativas nos níveis de autoconceito entre os homens e mulheres na maioria das
dimensões avaliada,s como se constata em outros contextos socioculturais (Ahmad,
Ghazali, & Hassan, 2011; Baltasar, 2014; Barros & Morreira, 2013; Garcia & Lujan,
2003; Garcia et al., 2011; Véliz-Burgos & Urquijo, 2012). As diferenças encontradas em
algumas dimensões do nosso instrumento deverão merecer alguma atenção em futuros
estudos, por exemplo questionando a influência de estereótipos sociais no autoconceito
de adolescentes (Peixoto, 2003; Mwamuenda, 2004; Were et al., 2010).
6.6 - A relação entre autoconceito e as medidas de rendimento escolar
O estudo da relação entre o autoconceito e o desempenho escolar dos alunos revela
uma associação estatisticamente significativa, embora baixa e apenas com a dimensão de
autoconceito académico. Nas restantes dimensões do autoconceito não se verifica uma
relação significativa com a medida geral de rendimento. Estes resultados, em parte, vão
de encontro aos verificados em outros estudos que associam o desempenho escolar à
dimensão do autoconceito académico (Bustos, Oliver, & Galiana, 2015; Dramanu &
Balarabe, 2013; Emannuel et al., 2014; Kumari & Chamundeswari, 2013; Lopes et al.,
2008; Matovu, 2014), reforçando a importância da perceção das competências
académicas no ajustamento e rendimento académico dos alunos universitários. Por outro
lado, não surpreende a ausência da correlação entre autoconceito social e o desempenho
escolar, à semelhança do que acontece em outros estudos (Lopes et al., 2008), mesmo que
algumas vezes se tenha constatado essa relação (Véliz-Burgos & Urquijo, 2012). Por
outro lado, não foi verificada a relação estatisticamente significativa entre o autoconceito
físico e o desempenho escolar, embora apareça como um dos preditores desse
desempenho. Estes resultados que apontam para q contribuição da dimensão física do
autoconceito no rendimento escolar já foram constatados em outros estudos (Lopéz et al.,
2008; Urquijo, 2002), mesmo assim não apresentaram argumentos que justifiquem essa
172
relação. Mais ainda, o autoconceito religioso e autoconceito artístico também não se
associam com o desempenho escolar dos alunos. Não havendo estudos prévios dessa
relação nestas dimensões de autoconceito, não encontramos fundamento teórico para
explicar a ausência dessa relação.
Procurando explorar a relação entre as dimensões do autoconceito e as disciplinas
curriculares gerais dos estudantes da nossa amostra, verifica-se uma correlação baixa
entre autoconceito académico e as disciplinas de Psicologia Geral e a disciplina de
Fundamentos da Pedagogia, não se registando correlações com as outras dimensões do
autoconceito. Esta situação sai também reforçada quando apenas o autoconceito
académico aparece correlacionado com a motivação académica dos estudantes, com a sua
assiduidade e com o número de disciplinas em atraso (neste caso uma correlação
negativa). Neste último caso, estes resultados sugerem que, quanto menor for o número
de reprovações, maior é o autoconceito académico dos alunos, o que também foi
encontrado noutro estudo (Baltasar, 2014). A variável motivação surge aqui como
elemento a ter em conta quando se trata de estudar o desempenho escolar dos estudantes
como tem sido constatado em vários estudos (Lourenço & Paiva, 2010; Martinelli, 2014;
Martinelli & Genari, 2009; Pereira, 2011). Por exemplo, vários estudos têm demostrado
que o desempenho escolar apresenta uma associação forte com a motivação intrínseca
(Martinelli, 2014; Pereira, 2011), sendo fundamental a motivação na mobilização de
recursos pessoais para o sucesso.
Por último, o estudo de regressão linear, tomando as dimensões do autoconceito e
as notas finais dos alunos, de novo sugere que o autoconceito académico é o melhor
preditor do rendimento escolar, seguido do autoconceito físico. Esses resultados
aproximam-se das constatações de Lópes et al. (2008), que também verificaram que o
autoconceito académico, autoconceito familiar e autoconceito físico constituíam os
preditores do desempenho escolar dos alunos, sendo o autoconceito académico o melhor
preditor. Estes resultados reportam o impacto do autoconceito no rendimento escolar dos
alunos, principalmente o autoconceito académico.
O estudo da relação entre os níveis de satisfação dos alunos com o autoconceito
sugere uma associação entre autoconceito académico e a convicção na escolha do curso,
a escolha da universidade e a satisfação com os resultados académicos alcançados. Por
outro lado, o autoconceito social apresenta correlações fracas com a satisfação com o
curso e com a universidade. A magnitude dessa relação, embora fraca, é mais elevada na
relação com o curso do que com a instituição, o que pode refletir a maior importância das
173
relações interpessoais entre estudantes, e destes com os professores, no interior das turmas
e do próprio curso.
Finalmente, na generalidade não foram constatadas associações com significado
estatístico entre o autoconceito e as áreas disciplinares (Ciências Sociais e Humanidades
versus Ciências e Tecnologias), surgindo apenas diferença na dimensão do autoconceito
artístico, favorecendo os alunos da área de ciências e tecnologias. Podemos explicar a
ocorrência dessa diferença tendo em conta a natureza dos cursos que integram a área das
ciências e tecnologias, que poderão reforçar as competências artísticas nos seus curricula
(e.g., educação visual). Por outro lado, surpreende a ausência de diferenças no domínio
religioso do autoconceito. Pela natureza da maioria dos cursos que integram a área das
Ciências Sociais e Humanidades (e.g., filosofia, psicologia, história), antecipávamos
níveis mais elevados de autoconceito religioso nos alunos que frequentam essas áreas.
Conclusões
O presente estudo centrou-se na construção e validação de um questionário
multidimensional de avaliação do autoconceito em estudantes universitários de
Moçambique. Para o efeito, foram desenvolvidas entrevistas semiestruturadas para a
identificação das dimensões e a construção dos itens da referida escala. Neste sentido
foram identificadas sete dimensões iniciais da escala de autoconceito que foram
sucessivamente analisadas qualitativa e quantitativamente. Destes estudos, duas
dimensões (autoestima e gestão de emoções) foram retiradas dos estudos finais por não
emergirem com estabilidade suficiente nestas análises. As análises conduzidas
permitiram identificar cinco dimensões de autoconceito avaliadas com suficiente
estabilidade. Enquanto duas delas (espiritualidade e competência artística) não são tão
frequentes em questionários similares, as outras três (académica, social e física) são já
mais frequentes. Os resultados da validade de constructo confirmaram a
multidimensionalidade do autoconceito, e as propriedades psicométricas do instrumento
são adequadas para a sua utilização no contexto universitário de Moçambique.
Os resultados alcançados permitiram constatar alguma especificidade do
autoconceito na população jovem universitária de Moçambique, nomeadamente a
emergência do autoconceito religioso e do autoconceito artístico. Apesar destas duas
dimensões apresentarem uma associação fraca com as restantes dimensões do
autoconceito avaliadas (social, académico e físico), elas podem traduzir especificidades
174
culturais do povo africano e como tal justificam aprofundamento em futuros estudos, por
exemplo analisando a sua importância no desenvolvimento psicossocial dos jovens-
adultos universitários em Moçambique.
Os resultados do presente estudo permitiram constatar a relação do autoconceito
com outras variáveis psicológicas (e.g., autoestima, autoeficácia, satisfação com a vida)
justificando a validade convergente do instrumento construído. Em linha com outros
estudos, o autoconceito dos estudantes aparece associado com a autoestima, a
autoeficácia, a satisfação com a vida e as suas vivências académicas. Os níveis elevados
de autoconceito, da autoestima e de satisfação com a vida dos alunos poderão explicar
menores dificuldades de ajustamento dos alunos ao contexto académico.
Uma outra conclusão do nosso estudo é que, na amostra estudada, não se
observaram diferenças de género e de idade na generalidade das dimensões do
autoconceito avaliadas. Apenas se constataram diferenças na dimensão religiosa e na
dimensão social a favor das mulheres com idades acima de 23 anos, justificando-se a
continuidade dos estudos para aprofundamento do seu significado. Ao mesmo tempo,
dada a relevância do autoconceito na identidade e maturidade dos jovens-adultos, importa
em futuros estudos considerar outras variáveis sociofamiliares de pertença dos estudantes,
procurando-se alargar as variáveis no estudo do seu desenvolvimento na adolescência e
adultez emergente.
Dada a demostração da relevância do autoconceito no ajustamento dos estudantes
do ensino superior em Moçambique, parece-nos importante apontar algumas pistas de
intervenção para as universidades moçambicanas no sentido de favorecer o
desenvolvimento do autoconceito nos estudantes, nomeadamente: colocando desafios
académicos e sociais que possibilitem a autodescoberta dos estudantes, tomando uma
metodologia participativa e a adoção de metodologias centradas em projectos educativos
(e.g., envolver os estudantes em actividades e projectos de extensão universitária, em
atividades culturais e desportivas). Por outro lado, importa desenvolver nos estudantes o
sentido de autonomia nas suas atividades escolares (e.g., desenvolvendo hábitos de
estudos individuais, aprendizagem por descoberta individual). A par desta exigência é
importante que os professores universitários forneçam o suporte educativo necessário aos
estudantes. Por exemplo, explicando a importância do conteúdo na prática sócio-laboral,
desenvolver metodologias mais activas, orientando os estudantes na busca de ferramentas
de aprendizagem.
Finalmente, e apesar de alguns estudos apontarem para uma relação entre o
175
autoconceito e desempenho escolar, no nosso estudo tal relação é bastante baixa, e apenas
verificada em relação ao autoconceito académico. Este resultado traduz a importância do
autoconceito académico no desempenho escolar dos alunos, o que também tem sido
apontado na generalidade dos estudos. Aprofundando essa relação, verificamos no nosso
estudo que o autoconceito académico se encontra associado com a motivação escolar dos
estudantes, com a sua assiduidade e com o número de disciplinas em atraso (neste caso
correlação negativa). Este conjunto de dados justifica aprofundar a relação entre
autoconceito e rendimento académico em futuras investigações, nomeadamente
questionando as próprias medidas de rendimento académico consideradas e o seu
significado. Como salientado por Sá, Ferreira e Ramos (2015), o desempenho escolar é
um constructo multidimensional, sendo as classificações dos alunos uma das medidas
desse desempenho, porém insuficiente para aferir a globalidade do constructo. Por outro
lado, tendo em conta os resultados que sugerem alguma associação entre o autoconceito
(autoconceito académico) e as medidas de desempenho escolar, este autoconceito aparece
como preditor do desempenho escolar dos estudantes universitários de Moçambique.
Finalmente, pretendendo-se superar uma das principais limitações do presente
estudo, torna-se necessário desenvolver estudos posteriores junto de amostras mais
heterogéneas de estudantes. Dada a extensão geográfica de Moçambique e a sua
diversidade cultural, também presente nas diferentes IES que servem as populações nas
suas diferentes Províncias, interessa-nos pesquisar nesta área integrando amostras de
estudantes de outras universidades e regiões de país, aliás analisando não só os do
primeiro ano como, se possível através de estudos longitudinais, os estudantes de anos
mais avançados de formação académica. Ao mesmo tempo, junto de novas amostras,
importa testar o modelo fatorial da escala multidimensional de autoconceito, recorrendo
à análise fatorial confirmatória e a modelos mais robustos de tratamento estatístico dos
resultados, por exemplo ponderando os efeitos diretos e indiretos das variáveis em análise
na exploração do sucesso escolar. Antecipamos que com estas análises, face à sua
natureza mais dinâmica, podemos dar contributos importantes quando se pretenda intervir
institucionalmente por forma a favorecermos a adaptação dos estudantes e o seu sucesso
académico no Ensino Superior, em Moçambique.
176
177
REFERÊNCIAS BIBILOGRÁFICAS
Abrunhosa, M. A., & Leitao, M. (1998) Psicologia 12º ano. Porto: Areal Editores.
Ahmad, J., Ghazali, M., & Hassan, A. (2011). The relationship between self-concept and
response towards student’s academic achievement among student’s leaders in
university Putra Malaysia. International Journal of Instruction, 4(2), 23-38.
Almeida, A. M. (2005). Natureza da relação fraterna e desenvolvimento do self: Um
estudo exploratório em crianças pré-escolares (Dissertação de mestrado não
publicada). Universidade do Porto, Porto.
Almeida, L. S. (2007). Transição, adaptação académica e êxito escolar. Revista Galego
Portuguesa de Psicoloxia e Educación, 15, 203-215.
Almeida, L. S., & Cruz, J. F. A. (2010). Transição e adaptação académica: tensões e
possibilidades. Actas do Congresso Ibérico. Universidade do Minho. pp. 429-440.
Almeida, L. S., & Freire, T. (2007). Metodologia de investigação em psicologia e
educação (4ª ed.). Braga: Psiquilíbrios.
Almeida, L. S., & Soares, A. P. (2003). Os estudantes universitários: sucesso escolar e
desenvolvimento psicossocial. In E. Mercuri & S. A. J. Polydoro
(Orgs.), Estudante universitário: características e experiências de formação.
Taubaté: Cabral.
Almeida, L. S., Costa, A. R., Alves, F., Goncalves, P., & Araújo, A. (2012). Expectativas
académicas dos alunos do ensino superior: construção e validação de uma escala
de avaliação. Revista Psicologia, Educação e Cultura, 16(1), 70-85.
Almeida, L. S., Ferreira, J. A. G., & Soares, A. P. C. (1999). Questionário de vivências
académicas: construção e validação de uma escala reduzida (QVA-r). Revista
Portuguesa de Pedagogia, 3(33), 181-207.
Almeida, L. S., Guisande M. A., Soares, A. P., & Saavedra, L. (2006). Acesso ao ensino
superior em Portugal: questões de género, origem social e percursos académicos
dos alunos. Psicologia: Reflexão e Crítica, 19, 507-514.
Almeida, L. S., Soares, A. P. C., & Ferreira, J. A. G. (2002). Questionário de vivências
académicas (QVA-r): avaliação do ajustamento dos estudantes universitários.
Avaliação Psicológica, 2, 81-93.
Alminhana, L. O., & Morreira-Almeida, A. (2009). Personalidade e religiosidade
/espiritualidade (R/E). Revista Psicologia Clínica, 36(4), 153-161.
Alves, A. F., Gonçalves, P., & Almeida, L. S. (2012). Acesso e sucesso no ensino
superior: inventariando as expectativas dos estudantes. Revista Galego-
Portuguesa de Psicoloxía e Educación, 20(1), 1138-1663.
Andersen, S. M., & Chen, S. (2002). The relational self: An interpersonal social-cognitive
theory. Psychological Review, 4, 614-645.
Anitha, J., & Parameswari, G. (2013). Correlates of self-concept among high school
students in Chennai city. International Journal of Current Research and
Academic Review, 1(4), 30-34.
178
Araújo, A. M., & Almeida, L. S. (2015). Adaptação ao Ensino Superior: O papel
moderador das expectativas académicas. Lumen Educare - Revista Científica da
Educação, 1(1), 13-32.
Araújo, A. M., & Almeida, L. S. (2013). Escala de Dificuldades Antecipadas de
Adaptação ao Ensino Superior. Centro de Investigação em Educação, Instituto de
Educação, Universidade do Minho.
Araújo, A. M., Almeida, L. S., Costa, A. R., Alfonso, S., Conde, A., & Deaño, M.
(2015).Variáveis pessoais e socioculturais de diferenciação das expectativas
académicas: Estudo com alunos do Ensino Superior do Norte de Portugal e Galiza.
Revista Portuguesa de Educação, 28(1), 201-220.
Araújo, A. M., Almeida, L. S., Ferreira, J. A., Santos, A. A., Noronha, A. P., & Zanon,
C. (2014). Questionário de Adaptação ao Ensino Superior (QAES): Construção e
validação de um novo questionário. Psicologia, Educação e Cultura, XVIII(1),
131-145.
Araújo, A. M., Costa, A. R., Casanova, J. R., & Almeida, L. S. (2014). Questionário de
perceções académicas – expectativas: Contributos para a sua validação interna e
externa. Revista Eletrónica de Psicologia, Educacao e Saúde, 4(1), 156-178.
Arnaiz, P., & Guillen, F. (2012). Self-concept in university-level FL learners. The
International Journal of the Humanities, 4(9), 82-92.
Astin, A. W. (1997). Liberal education and democracy: the case for pragmatism. In R.
Orril (Ed.), Education and democracy: Re-imagining liberal learning in America
(pp. 2017-223). New York: College Entrance Examination Board.
Astin, A. W. (1999). Student involvement: A developmental theory for higher education.
Journal of College Student Development, 5(40), 518-529.
Astin, A. W., Vogelgesang, L. J., Ikeda, E. K., & Yee, J. A. (2000). How service learning
affects students. Higher Education Research Institute University of California, Los
Angeles.
Augel, M. P. (s/d). Desafios de ensino superior na África e no Brasil: A situação de ensino
superior na guiné-bissau e a construção da guineidade. Estudo de Sociologia:
Revista do progresso de pós-graduação em Sociologia da UFPE, 15(2), 137-159.
Bacon, L. S. C. (2011). Academic self-concept and academic achievement of african
american students transitioning from urban to rural schools. Thesis for Doctor
degree of Philosophy, University of Iowa.
Baltasar, D. M. S. (2014). Relación entre autoconcepto, ansiedade e inteligencia
emocional: eficácia de intervencione en adolescentes universitarios. Tesis
doctoral. Badajoz: Universidade de Extremadura.
Baptista, M. N., Rigotto, D. M., Cardoso, H. F., & Rueda, F. J. M. (2012). Soporte social,
familiar y autoconcepto: relación entre los constructos. Psicología desde el
Caribe, 1(29), 1-18.
Bardagi, M. P., & Boff, R. M. (2010). Auto-conceito, auto-eficácia profissional e
comportamento exploratório em universitários concluintes. Avaliação, Campinas;
Sorocaba, 15(1), 41-56.
179
Bardagi, M., & Hutz, C. S. (2008). Apoio parental percebido no contexto da escolha
inicial e da evasão do curso universitário. Revista Brasileira de Orientação
Profissional, 9(2), 31-44.
Bardagi, M., & Hutz, C. S. (2009). “Não havia outra saída”: Percepção de alunos evadidos
sobre o abandono do curso superior. Psico-USF, 14(1), 95-105.
Barisa, M., Alberg, M., & McSparrin, B. (1991). The self-concept as a learner inventory:
A cross-validation study. Paper presented at the annual meeting of the Mid-South
Educational Research Association Lexington, Kentucky, 12-15.
Baron, A. S., Schmader, T., Cvencek, K. D., & Meltzoff, A. N. (2014). The gendered
self-concept: How implicit gender stereotypes and attitudes shape self-definition.
In P. J. Leman & H. R. Tenembaum (Eds), Gender and development (pp.109-
136). East Sussex, England: Psychology Press.
Barroco, S. M., & Superti, T. (2014). Vygotsky e o estudo da psicologia da arte:
contribuições para o desenvolvimento humano. Psicologia & Sociedade, 26(1),
22-31.
Barros, R., & Moreira, J. A. M. (2013). Autoconceito global em estudantes do ensino
superior: um estudo comparativo entre iniciantes e finalistas. Psicologia em
Revista, 19(2), 232-249.
Barros, R., Moreira, J. A. M. (2011). Avaliação do autoconceito global em estudantes do
ensino superior. International Conference on New Horizons in Education, Guarda,
Portugal, 8-10 de junho.
Batican, E. D. (2011). Development of multidimensional self-concept scale (mSCS) for
Filipino college students at the Ateneo de Davao university. A dissertation for
Doctor of philosophy in clinical psychology. Ateneo de Davao University.
Bayrón, C. E., & Piedras, R. (2012). Teoria social cognitiva y teoria de retención de
Vicent Tinto: Marco teórico para el estudio y medición de la auto-eficacia
académica en estudiantes universitarios. Revista Griot, 1(5), 28-49.
Bean, J. & Eaton, S. B. (2001). The psychology underlying successful retention practices.
Journal of College Student Retention, 3(1), 73-89.
Blasi, A., & Glodis, K. (1995). The development of identity: A critical analysis from the
perspective of the self as subjective. Developmental Review, 15, 404-433.
Briggs, A. R. J., Clark, J., & Hall, I. (2012). Building bridges: understanding student
transition to university. Quality in Higher Education, 1, 1-19.
Brito, C. E. (2010). Educação a distância (EAD) no ensino superior de Moçambique:
UAM. Dissertação de Doutoramento em Engenharia e Gestão do Conhecimento.
Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina.
Brito, C. E., Ferasso, M., & Brito, S. M. P. P. L. E. (2015). Gestão universitária em
Moçambique. 5ª Conferência do Fórum de Gestão do Ensino Superior nos países
e região de língua Portuguesa, Coimbra.
Brookover, W. B. (1959). A social psychological conception of classroom learning.
School and Society, 87, 84-87.
180
Brown, A., Bryant, J., Bureau, D., Haller, A., Pierre D., Piquette, R., Pohl, J., Pryor, K.,
& Sands, T. L. (2012). Student development theory: Resource Guide. Association
of Fraternity/Sorority Advisors.
Buckler, L. M., & Adams, G. R. (2005). Gender differences in identity and intimacy
development. Ontario, Canada: University of Guelph.
Bustos, M. J. G. F., Jordán, O. R. C., Martí, I. G., & Hernández, J. A. (2011). El
autoconcepto físico en educación secundaria: diferencias en función del género y
edad. Revista Galego-Portuguesa de Psicoloxía e Educación, 19(1), 199-2012.
Bustos, V., Oliver, A., & Galiana, L. (2015). Validación del autoconcepto forma 5 en
universitários peruanos: una herramienta para la psicologia poitiva. Psicologia:
Reflexão e Crítica, 28(4), 690-697.
Byrne, B. M., & Shavelson, R. J. (1996). On the structure of social self-concept for pre-,
early, and late adolescents: A test of the Shavelson, Hubner, and Stanton (1976)
model. Journal of Personality and Social Psychology, 70(3), 599-
613. http://dx.doi.org/10.1037/0022-3514.70.3.599
Calvetti, P. U., Muller, M. C., & Nunes, M. L. T. (2008). Qualidade de vida e bem-estar
espiritual em pessoas vivendo com HIV/AIDS. Psicologia em Estudo, 13(3), 523-
530.
Campira, F. P. (2012). Autoconceito e rendimento escolar: estudo com alunos
moçambicanos do terceiro ciclo do ensino básico (6ª e 7ª classes) em função do
género e do contexto sócio-cultural. Dissertação de mestrado em Psicologia
Educacional, não publicada. Maputo: Universidade Pedagógica de Moçambique.
Campira, F. P., & Araújo, A. M. (2012). A teoria sócio-cultural de Vygotsky e o contexto
educativo em Moçambique. Psicologia, Educação e Cultura, 2(16), 171-190.
Campira, F. P., Araújo A. M., & Almeida, L. S. (2013). Construção e validação de uma
escala de autoconceito para adolescentes moçambicanos. Revista AMAzônica,
XI(1) 26-46.
Campira, F. P., Araújo, A. M., & Almeida, L. S. (2014a). Autoconceito em alunos
moçambicanos: Resultados em função do género e contexto sóciocultural. I
Seminário internacional “Cognição, aprendizagem e rendimento” Fevereiro, 3 e
4. Uminho, Braga-Portugal pp. 21-30.
Campira, F. P., Araújo, A. M., & Almeida, L. S. (2014b). Autoconceito e rendimento
escolar. I Seminário internacional “Cognição, aprendizagem e rendimento” (pp.
78-87). Braga: Uminho, 3-4 Fevereiro.
Campira, F. P., Araújo, A. M., & Almeida, L. S. (2014c). Estudo preliminar para a
construção da escala de autoconceito com estudantes universitários de
Moçambique. II Seminário Internacional Cogniçao, Aprendizagem e
Desempenho (pp.129-138). Braga: Campus de Gualtar, Instituto da Educação da
Universidade do Minho.
Campira, F. P., Araújo, A. M., & Almeida, L. S. (2015). Construção e validação de uma
escala de autoconceito para estudantes universitários de Moçambique. Psicologia,
Educação e Cultura, 2(19), 74-88.
181
Carmona, M. T. P., Gómez, S. G., & Ortega, M. S. (2010). Gender diferences in students’
general and academic self-concept at the end of compulsory education. Revista de
Educación, 352, 495-515.
Carneiro, R. G. (2003). Autoconcepto académico y percepción familiar. Revista Galego-
Portuguesa de Psicoloxía e Educación, 7(8), 359-374.
Castiano, J. P. (2013). Os saberes locais na academia. Maputo: Editora Educar.
Cazalla-Luna, N., & Molero, D. (2013). Revisão teórica sobre o self e sua importância na
adolescência. Revista Electrónica de Investigación y Docencia, 10, 43-64.
Cerrato, S. M., Sallent, S. B., Aznar, F. C., Gras, M. E., & Carrasco, M. G. (2011).
Análisis psicométrico de la escala multidimensional de autoconcepto AF5 en una
muestra de adolescentes y adultos de Cataluna. Psicothema, 23(4), 871-878.
Chaves, E. C. L., Carvalho, T. P., Carvalho, C. C., Grasselli, C. S. M., Lima, R. S., Terra,
F. S. & Nogueira, D. A. (2015). Associação entre bem-estar espiritual e autoestima
em pessoas com insuficiência renal crônica em hemodiálise. Psicologia: Reflexão
e Crítica, 28(4), 737-743.
Chickering, A. (1969). Education and identity. San Francisco: Jossey-Bass.
Chickering, A. (1976). Developmental change as a major outcome. In M. Keeton (Eds),
Experiential learning: Rationale, characteristics, and assessment. San Francisco:
Jossey: Bass.
Chickering, A. W., & Reisser, L. (1993). Education and identity. San Franscisco: Jossey-
Bass.
Chiziane, P. (2010). O alegre canto da perdiz (2ª ed.). Maputo: Editora Ndjira.
Costa, A. B. (2009). O preço da sombra: Sobrevivência e reprodução social entre famílias
de Maputo. Entográfica, 13(2) 483-493.
Costa, A. R., Araújo, A. M., & Almeida, L. S. (2014). Envolvimento académico de
estudantes de engenharia: Contributos para a validacao interna e externa de uma
escala de avaliacao. Revista Eletrónica de Psicologia, Educacao e Saúde, 4(1),
142-155.
Costa, A. R., Araújo, A. M., Diniz, A. M., & Almeida, L. S. (2014). Expectativas
académicas segundo o género dos estudantes portugueses do primeiro ano do
ensino superior. International Journal of Development and Educational
Psychology, 1(2), 325-334.
Costa, C. C., Bastiani, M., Geyer, J. G., Calvetti, P. U., & Moraes, M. L. A. (2008).
Qualidade de vida e bem-estar espiritual em universitários de psicologia.
Psicologia em Estudo, Maringá, 13(2), 249-255.
Costa, E. S., & Leal, I. (2008). Um Olhar sobre a saúde psicológica dos estudantes do
ensino superior-Avaliar para intervir. Actas do 7º Congresso Nacional de
Psicologia da Saúde. Porto: Universidade do Porto.
Costa, J. J. M. (2001). Auto-regulação da aprendizagem: para uma caracterização
multidimensional do desempenho académico. Dissertação de doutoramento em
Psicologia. Universidade de Coimbra.
182
Costa, P. C. G. (2002). Escala de autoconceito no trabalho: Construção e validação.
Psicologia: Teoria e Pesquisa, 18(1), 75-81.
Costa, P. C. G. (2002). Escala de Autoconceito no trabalho: Construção e validação.
Psicologia: Teoria e Pesquisa, 18, 75-81.
Craven, R. G., & Marsh, H. W. (2008). The centrality of the self-concept construct for
psychological wellbeing and unlocking human potential: Implications for child
and educational psychologists. Educational & Child Psychology 2(25), 104-118.
Craven, R., Marsh, H., & Burnett, P. C. (2004). Breaking the self-concept enhancement
conundrum: re-conceptualizing the next generation of self-concept enhancement
research. In NZARE/AARE Conference: Educational Research, Risks &
Dilemmas, 29 November – 3 December. Auckland, Newzeland.
Cunha, S. M., & Carrilho, D. M. (2005). O processo de adaptação ao ensino superior e o
rendimento acadêmico, Psicologia Escolar e Educacional, 2(9).
Davidoff, L. L. (2004). Introdução à psicologia (3ªed.). São Paulo: Editora Afiliada.
Dienner, E., Emmons, R. A., Larsen, R. J., & Griffin, S. (1985). The satisfaction with life
scale. Journal of Personality Assessment, 49 (1), 71-75.
Donaciano, B. (2011). Vivências académicas: métodos de estudo e rendimento escolar
em estudantes da Universidade Pedagógica. Tese de Doutoramento em Ciências
de Educação. Braga: Universidade do Minho.
Donoso, S., & Schiefelbein, E., (2007). Analisis de los modelos explicativos de retencion
de estudantes en la universidade: una version desde la desigualdad social. Estudios
Pedagógicos, 33(1), 7-27.
Dörner, J. (2006). A self-concept measure of personality growth: Self-concept maturity
(SCM). Development, validation, and age effects. A thesis for the degree of
doctors of phylosophy in psychology. International University Bremen.
Dramaru, B. Y., & Balarabe, M. (2013). Relationship between academic self-concept and
academic performance of junior high school students in Ghana. European
Scientific Journal, 9(34), 93-104.
Elosua, P., & Muniz, J. (2010). Exploring the factorial structure of self-concept: A
sequential approach using CFA, MIMIC, and MACS model across gender and
two languages. European Psychologist, 15(1), 58-67.
Emmanuel, A., Adom, E. A., Josephine, B., & Solomon, F. K. (2014). Achievement
motivation, academic self-concept and academic achievement among high school
students. European Journal of Research and Reflection in Educational Sciences,
2(2), 24-37.
Epstein, S. (1973). The self-concept revisited. American Psychologist, 28, 404-414.
Erickson, E. (1959). Identity and the life cycle. New York: Norton.
Erickson, E. (1968). Identiy, youth and crises. New York: Norton.
Erikson, E. H. (1972). Identidade, juventude e crise. Rio de Janeiro: Zahar
Esnaola, I., Goni, A., & Madariaga, J. M. (2008). El Autococepto: perspectivas de
investigación. Revista de Psicodidáctica, 13(1), 179-194.
183
Fabrian, A. A., & Kurniwan, I. N. (2012). Social self-concept and life satisfaction: A
primary study on Indonesian college students. IPEDER, 53(22), 101-104.
Fadjukoff, P. (2007). Indentity formation in adulthood. Tese de doutoramento em
Psicologia. University of Jiväskilä.
Faria, L. (2005). Desenvolvimento do autoconceito físico nas crianças e adolescentes.
Análise Psicológica, 4(23), 361-371.
Faria, L. (2014). Conceções pessoais de competência: contributos para a promoção da
aprendizagem e do desempenho académico. In: Almeida, L. S., & Araújo, A. M.
(Eds). Aprendizagem e sucesso escolar: variáveis pessoais dos alunos.
ADIPSIEDUC, Braga.
Faria, L., & Azevedo, A. S. (2004). Manifestações diferenciais do autoconceito no fim
do ensino secundário português. Paidéia, 14(29), 265-276.
Faria, L., & Fontaine, A., M. (1992). Estudo de adaptação do Self-Description
Questionnaire III (SDQ III) a estudantes universitários portugueses.
Psychologica, 8, 41-49.
Faria, L., & Santos, N. L. (2006). Autoconceito académico, social e global em estudantes
universitários. Revista da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, 3, 225-235.
Fernandes, E. P., & Almeida, L. S. (2005). Expectativas e vivências académicas: Impacto
no rendimento dos alunos do 1º ano. Education, 21(2), 167-177.
Fernandes, V., Silva, I., & Meneses, R., 2012. Adaptação académica em estudantes
universitários do 1º ciclo de estudos: O papel da autoeficácia. Revista de
Psicologia, Educação e Cultura, 16(2),100-115.
Fernandéz, A. R. (2008). El autoconcepto físico y el bienestar/malestar psicológico en la
adolescência. Tesis doctoral en Psicodidáctica. Universid del Pais Basco.
Fernández-Bustos, J., González-Martí, I., Contreras, O., & Cuevas, R. (2015). Relación
entre imagen corporal y autoconcepto físico en mujeres adolescentes. Revista
Latinoamericana de Psicología, 47(1), 25-33.
Ferreira, J. A., Almeida, L. S., & Soares, A. P. C. (2001). Adaptação académica em
estudantes do 1º ano: diferenças de género, situação de estudante e curso. Psico-
USF 1(6), 1-10.
Ferreira, J. A., & Hood, A. (1990). Para a compreensão do desenvolvimento psicossocial
do estudante universitário. Revista Portuguesa de Pedagogia, XXIV, 391-406.
Ferreira, M. (2009). Determinantes do Rendimento Académico no Ensino Superior.
Revista Internacional d´Humanitats, 15, 55-60.
Ferreira, M. C., & Leite, N. G. M. (2002). Adaptação e validação de um instrumento de
avaliação da satisfação com a imagem corporal. Revista Avaliação Psicológica,
2, 141-149.
Flowers, L. O., Raynor, J. E., & White, E. N. (2013). Investigation of Academic Self-
Concept of Undergraduates in STEM Courses. Journal of Studies in Social
Sciences, 5(1), 1-11.
184
Fonseca, M. M. (2009). Carl Rogers: Uma concepção holística do homem – da terapia
centrada no cliente à pedagogia centrada no aluno. Disponível em
http://www.ipv.pt/millenium36/4.pdf- acesso em 17/06/2015.
Foubert, J. D., & Grainger, L. U. (2006). Effects of involvement in clubs and organizatios
on the psychosocial development of first-year and senior college students. NASPA
Journal, 43(1), 166-182.
Frager, R., & Fadiman, J. (2001). Carl Rogers y la perspectiva centrada en la persona. In
Teorías de la personalidad. Ed. Alfaomega.
Francisco, T. G., Pompa G., E. G., Meza P. C., Ancer, E. L., González, M. T. (2010).
Relación entre autoconcepto y apoio social en estudantes universitários. Daena:
International Journal of Good Conscience, 5(2), 298-307.
Freitas, H. C. N. M., Raposo, N. A. V., & Almeida, L. S. (2007). Adaptação do estudante
ao ensino superior e rendimento académico: um estudo com estudantes do
primeiro ano de enfermagem. Revista Portuguesa de Pedagogia, 41, 179-188.
Friedman, H. S., & Schustack, M. W. (2004). Teorias da personalidade: da teoria
clássica à pesquisa moderna (2ªed.). São Paulo: Prentice Hall.
Fuentes, M. C., García, J. F., Garcia, E., & Lila, M. (2011). Autoconcepto y ajuste
psicosocial en la adolescencia. Psicothema, 23(1), 7-12.
Gabelko, N. H., Roth, D. A., Worrell, F. C. (1997). Age and gender differences in global,
academic, docial, and athletic self-concept. Paper presented at the annual meeting
of the American educational research association, Chicago march, 24-28.
García, F. G., & Luján, R. S. (2003). Autoconcepto en jóvenes sedentários y practicantes
desportivos. EduPsykhé. Revista de Psicología y Psicopedagogía, 2(2), 259-272.
García, F., & Musitu, G. (2001). Autoconcept forma 5. Madrid: Tea.
García, J. F., Musitu, G., Riquelme, E., & Riquelme, P. (2011). A confirmatory factor
analysis of the “Autoconcepto Forma 5” questionnaire in young adults from Spain
and Chile. Spanish Journal of Psychology, 14(2), 648-658.
Garcia, V. (2010). First-generation college students: How co-curricular involvement can
assist with success. The Vermont Connection, 31, 46-52.
Gardner, H. (1999). Intelligence reframed: Multiple intelligences for the 21st century.
New York: Basic Books.
Gardner, H., & Hatch, T. (1989). Multiple Intelligences go to school: educational
implications of the theory of multiple intelligences. Educational
Researcher,18(8), 4-10.
Gardner, S. K., & Bames, B. J. (2007). Graduate student involvement: Socialization for
the professional role. Journal of College Student Development, 4(48), 369-387.
Garrido, E. N. (2015). A experiência da moradia estudantil universitária: impactos sobre
seus moradores. Psicologia: Ciência e profissão, 35(3), 726-739.
Ghazvini, S. D. (2011). Relationships between academic self-concept and academic
performance in high school students. Procedia Social and Behavioral Sciences,
15, 1034-1039.
Gilligan, C. (1982). In a different voice: psychological theory and women’s development.
Cambridge: Harvard University Press.
185
Gómez-Vela, M., Verdugo, M., & González-Gil, F. (2007). Calidad de vida y
autoconcepto en adolescentes con necesidades educativas especiales y sin ellas,
Infancia y Aprendizaje. Journal for the Study of Education and Development,
30(4), 523-536.
Gonçalves, S. (2012). Impacto do ensino superior no desenvolvimento psicossocial do
estudante: Revisão de estudos. Educação, 35(3), 334-344.
Goni, E., & Infante, G. (2010). Actividad físico-desportiva, autoconcepto físico y
satisfacción con la vida. Eurpean Journal of Education and Psychology, 3(2), 199-
208.
González, M. L., Leal, D., Segovia, C., & Arancibia, V. (2012). Autoconcepto y talento:
una relação que favorece el logro académico. Psykhe, 21(1), 37-53.
Gordon, C. (1968). Self-conceptions: configurations of content. In C. Gordon & K. J.
Gergen, The self in social interaction, Vol I: Classic and contemporary
perspectives (pp. 115-136). New York: John Wiley & Sons, Inc.
Goulão, M. F., Seabra, F., Melaré, D., Henriques, S., & Cardoso, T. (2015). Sucesso,
Permanência e persistência dos estudantes do ensino superior a distância online.
Revista de Estudios e Investigacion en Psicología y Educación, Extr. (1), A1-022-
A26. Doi: 10.17979/reipe.2015.0.01.168.
Guerra, L. H. B. (2013). Políticas e programas para a igualdade de género em
Moçambique. Seminário Internacional Fazendo Género 10 (Anais electrónicos),
Florianópolis.
Guimarães, H. P., & Avezum, A. (2007). O impacto da espiritualidade na saúde física.
Revista Psicologia Clínica, 34(1), 88-94.
Gupta, R. (2014). Study on self-concept, academic achievement and achievement
motivation of the students. ISOR Journal of Humanities and Social Science, 19(5),
88-93.
Hampatê Bâ, A. (1981). Confrontações Culturais. Le Monde, Paris.
Hansenne, M. (2004). Psicologia da personalidade. Lisboa: CLIMEPSI Editores.
Harter, S. (1985). The Self-Perception Profile for Children: Revision of the Perceived
Competence Scale for Children. Denver, CO: University of Denver.
Harter, S. (1999). The construction of the self: A developmental perspective. New York:
The Guilford Press.
Harter, S. (2012). Self-perception profile for adolescents: Manual and questionnaires.
University of Denver, Department of Psychology.
Harter, S., Bresnick, S., Bouchey H. A., & Whitesell, N. R. (1997). The development of
role-related selves during adolescence. Development and Psychopthology, 9, 835-
853.
Hattie, J. (1992). Self-concept. Hillsdale, NJ: Erlbaum.
Hood, A. B., Riahinead, A. R., & White, D. B. (1986). Changes in ego identity during the
college years. Journal of College Student Personnel, 27 (2), 107-113.
186
Hoppenstedt, G. E. S. (2005). Autoconcepto, emociones y sentido de vida de mujeres com
câncer de mama. Tesis del maester en desarollo humano. Universidade
Iberoamericana, Mexico.
James, W. (1890). The principles of psychology, in two volumes. New York: Henry Holt
and Company.
Junco, R., Heiberger, G., & Loken, E. (2010). The effect of Twitter on college student
engagement and grades. Journal of Computer Assisted Learning, 27(2), 119–132.
DOI: 10.1111/j.1365-2729.2010.00387.x
Junior, F. G. (2008). Considerações sobre a constituição do self e da religiosidade na
pessoa humana. Estudos da Psicologia, 25(4), 527-533.
Kerpelman, J. L., Pittman, J. F., Cadely, H. S., Tuggle, F. J., Harrell-Levy, M. K., &
Adler-Baeder, F. M. (2012). Identity and intimacy during adolescence:
Connections among identity styles, romantic attachment and identity
commitment. Journal of Adolescence 35, 1427-1439.
Kumari, A., & Chamundeswari, S. (2013). Self-concept and academic achievement of
student at the higher secondary level. Journal of Sociological Research, 4(2), 105-
113.
Laita, M. S. V. (2015). A Universidade em questão: Uma leitura do processo de Bolonha
no contexto moçambicano. Fundação AIS, Nampula- Moçambique.
Langa, P. V. (2012) A mercantilização do Ensino Superior e a relação com o saber: a
qualidade em questão. Revista Científica da Universidade Eduardo Mondlane,
Serie: Ciências da Educação, 1(0), 21-41.
Langa, P. V. (2014). Alguns desafios do ensino superior em Moçambique: Do
conhecimento experiencial a necessidade de produção de conhecimento científico.
Desafios para Moçambique, 365-395.
Larrosa, L. L. (2000). Chickering’s seven vectors of student development explained. In
partial fulfillment of the requirements for the McNair Scholars Program.
Lien, L. A. (2002). The role of social integration in students’ psychosocial development.
Dissertation for the degree of doctor of philosophy. Vanderbilt University.
Lawrence, A. S. A., & Vimala, A. (2013). Self-concept and achievement motivation of
high school students. Conflux Journal of Education, 1(1), 141-205.
Lekue, P. (2010). El autoconcepto social y el rendimiento en la educación artística escolar
del alumnado preadolescente. XVII Jornadas de Psicodidáctica. University of the
Basque Country, 1-11.
Liu, H. (2010). The relation of academic self-concept to motivation among university
EFL students. Journal of Humanities and Social Sciences, 20, 207-225.
Long, D. (2012). Theory and model of student development. In L. J. Hinchlifle & M. A.
Wong (Eds.) Environments for student growth and development: Librarians and
student affairs in collaboration. Chicago: Association of College & Research
Libraries.
187
Lópes, B. G., Esteban, P. R. G., Peris, F. S., Ros, C. R., & Carbonell, B. S. (2008). La
influencia del autoconcepto el en rendimento académico en estudantes
univesitario. REOP, 20(1), 16-28.
Lópes, B. G., Rodrigues, J. M. S., Felix, E. G., & Mateo, P. M. S. (2012). Autoconcepto
en estudantes universitários excelentes y estudantes médios. Revista
Iberoamericana de Educación, 60(1), 1-13.
Lourenço, A. A., & Paiva, M. O. A. (2010). A motivação escolar e o processo de
aprendizagem. Ciências & Cognição,15(2), 132-141.
Lozano, A. B., Uzquiano, M. P., Rioboo, A. M. P., Enriquez, E. B., Paz, R. S., & Castro,
F. V. (2013). Estratégias de aprendizaje, autoconcepto y rendimento académico
en la adolescência. Psicoloxía e Educación, 21(1), 195-211.
Magalhães, M. O. (2013). Sucesso e fracasso na integração do estudante à universidade:
Um estudo comparativo. Revista brasileira de orientação profissional, 14(2),
215-226.
Mahumane, J. A. (2008). Representações e percepções sobre crenças e tradições
religiosas no Sul de Moçambique: O Caso das Igrejas Zione. Dissertação de
Mestrado em Antropologia social e cultural. Universidade de Lisboa, Portugal
Marcia, J. E. (1966). Development and validaton of ego-identity status. Journal of
Personality and Social Psychology, 3(5), 551-558.
Marcia, J. E. (1967). Ego identity status: relationship to change in self-esteem, "general
maladjustment," and authoritarianism. Journal of Personality, 35(1), 118-133.
Marinho-Araújo, C. M., Fleith, D. S., Almeida, L. S., Bisinoto, C., & Rabelo, M, L.
(2015). Adaptação da escala expectativas acadêmicas de estudantes ingressantes
na educação superior. Avaliação Psicológica, 14(1), 133-141.
Marjoribanks, K., & Mboya, M. (2001). Age and gender differences in the self-concept
of south African students. The Journal of Social Psychology, 141(1), 148-149.
Marsh, H. W, & O’Mara, A. (2008). Self-concept and performance. Disponível em
http://psp.sugepub.com/cgi/content/abstract/34/4/542, retirado a 17 de Julho de
2011.
Marsh, H. W. & Hattie, J. (1996). Theoretical perspectives on the structure of self-
concept. In B. A. Bracken, (Ed.) Handbook of self-concept. New York, NY: Wiley
Marsh, H. W. (2005). Self-concept theory, measurement and research into practice: The
role of Self-Concept in educational psychology. Durham University: The British
Psychology Society.
Marsh, H. W., Barnes, J., Cairns, L., & Tidman, M. (1984). Self-Description
Questionnaire: Age and sex effects in the structure and level of self-concept for
preadolescent children. Journal of Educational Psychology, 76, 940-956.
Martinelli S. C., & Genari, C. H. M. (2009). Relações entre desempenho escolar e
orientações motivacionais. Estudos de Psicologia, 14(1), 13-21.
Martinelli, S. C. (2014). Um estudo sobre desempenho escolar e motivação de crianças.
Educar em Revista, Curitiba, 53, 201-216.
188
Martínez, B. B., & Custódio, R. P. (2014). Relationship between mental health and
spiritual wellbeing among hemodialysis patients: a correlation study. São Paulo
Medical Journal, 132(1), 23-27.
Martínez, L. N., Llorca, J. A. S., & Tello, H. F. P. (2013). Cuestionario de autoconcepto
físico (CAF) en una muestra de estudantes chilenos. Electronic Journal of
Research in Educational Psychology, 31(11), 809-830.
Martínez-Lópes, Z., Fernández, M. F. P., Couñago, M. A. G., Vacasa, C. T., Almeida, L.
S., & González, M. S. R. (2014). Apoyo social en universitários españoles de
primer año: propriedades psicométricas del social support questionnaire-short
form y el social provisions scale. Revista Latinoamericana de Psicolgia, 46(2),
102-110.
Maslow, A. H. (1962). Towards a psychology of being. Princeton: D. Van Nostrand
Company
Mata, M. A. P., Pimentel, M. H., & Pereira, F. A. (2011). Integração e adaptação ao ensino
superior: A importância do autoconceito e da satisfação com o suporte social.
Actas do V Encontro do CIED-Escola e Comunidade. Lisboa: Escola Superior de
Educação: 18 e 19 de Novembro.
Matos, N., & Mosca, J. (2010). Desafios do ensino superior. Desafios para Moçambique.
IESE, 297.
Matovu, M. (2014). A structural equation modeling of the academic self-concept scale.
International Electronic Journal of Elementary Education, 6(2), 185-198.
McConnell, A. R., & Strain L. M. (2007). Content and structure of self-concept. In C.
Sedikies & S. Spencer (Eds.) The Self in social psychology (pp. 51-72). New York:
Psychology Press.
Mella, E. R., & Bravo, P. R. (2011). Análisis psicométrico confirmatório de la medida
multidimensional del test de autoconceito forma 5 en espanhol (AF5), en
estudantes universitários de Chile. Psicologia, Saúde & Doenças, 12(1), 91-103.
MINED (1998) Plano estratégico de educação 1999-2003 - combater a exclusão,
renovar a escola, Maputo: Mined.
Ministério da Educação. (2009). Dados Estatísticos sobre o Ensino Superior em
Moçambique, 2007. Maputo, Moçambique.
Ministério da Educação. (2011). Dados Estatísticos sobre o Ensino Superior em
Moçambique, 2009. Maputo, Moçambique.
Ministério da Educação. (2012). Dados Estatísticos sobre o Ensino Superior em
Moçambique, 2011. Maputo, Moçambique.
Monteiro, A. M. R., Barros, R. M. A., & Moreira, J. A. (2015). Novos públicos do ensino
superior: Abordagem a aprendizagem de estudantes maiores de 23 anos. Revista
Portuguesa de Pedagogia, 49(1), 131-149.
Morreira-Almeida, A., Peres, M. F., Aloe, F., Neto, F. L., & Koenig, H. G. (2008). Revista
Psicologia Clínica, 35(1), 31-32.
Murgui, S., García, C., García, A., & García, F. (2012). Autoconcepto en jóvenes
praticantes de danza y no praticantes: Análisis factorial confirmatório de la escala
AF5. Revista de Psicología del Deporte, 21(2), 263-269.
189
Mwamwenda, T. S. (2004). Psicologia educacional, uma perspectiva africana. Maputo:
Textos Editores.
Nagy, G., Watt, H. M. G., Eccles, J. S., Lu, U. T., Oliver, D., & Baumer, J. R. (2010).
The development of students’ mathematics self-Concept in relation to gender:
Different countries, different trajectories? Journal of Research on Adolescence,
20(2), 482-506.
Neves, S. P., & Faria, L. (2009). Autoconceito e auto-eficácia: Semelhanças, diferenças,
inter-relação e sua influência no rendimento escolar. Revista da Faculdade de
Ciências Humanas e Sociais, 6, 206-218.
Nunes, S. M., & Garcia, A. R. (2010). Estudantes do ensino superior: as relações pessoais
e interpessoais nas vivências académicas. Gestin, 8(8), 195-203.
O’Mara, A. J., Green, J., & Marsh, H. W. (2006). Administering self-concept
interventions in schools: no training necessary? A meta-analysis. International
Education Journal, 7(4), 524-533.
Oliveira, I. M. (2004). Preconceito e autoconceito: Identidade e interação na sala de aula
(3ª ed.). São Paulo: Papirus Editora.
Oyserman, D., Elmore, K., & Smith, G. (2012). Self, self-concept, and identity. In M. R.
Leary & J. P. Tagney, (Eds.), Handbook of self and identity (pp. 69-104). New
York: Guilford Press. ver
Pais-Ribeiro, J. L., & Ribeiro, L. (2003). Estudo de Validação de uma escala de
autoconceito físico para homens jovens adultos. Análise Psicológica, 4(XXI),
431-439.
Palacios, E. G., Echaniz, I. E., Fernández A. R., & Barrón I. C. O. (2015). Personal self-
concept and satisfaction with life in adolescence, youth and adulthood.
Psicothema, 27(1), 52-58.
Parker, P. D., Marsh, H. W., Morin, A. J. S., Seaton, M., & Zanden, B. V. (2015). If one
goes up the other must come down: Examining positive relationships between
math and English self-concept trajectories across high school. British Journal of
Educational Psychology, 85, 172-191.
Pascarella, E., & Terenzini, P. (1991). How College effect students: Findings and insights
from twenty yars of research. San Francisco: Jossey-Bass.
Patrão, A. L., McIntyre, T., & Costa, E. (2014). Características psicométricas do Self-
esteem Scale em mulheres moçambicanas em risco sexual. Psicologia, Saúde &
Doenças, 15(3), 698-706.
Pauriyal, K., Sharma, S., & Gulati, J. (2010). Developmental trends in self-concept of
urban adolescents: Gender differentials. Journal of Psychology, 1(2),113-118.
Peinado, J. E., Ornelas M., Blanco J. R., & González, M. A. (2015). Invarianza factorial
de la escala de autoeficacia en la solución de problemas y comunicación en
estudiantes universitarios. Formación Universitaria, 8(4),85-92.
Peixoto, F. (2004). Qualidade das relações familiares, autoestima, autoconceito e
rendimento académico. Análise Psicológica, 1(22), 235-244.
Peixoto, F. J. (2003). Auto-estima, auto conceito e dinâmicas relacionais no contexto
escolar: Estudo das relações entre auto-estima, autoconceito, rendimento
académico e dinâmicas relacionais com a família e com os pares em alunos do
190
7º, 9º e 11º anos de escolaridade. Tese de Doutoramento em Psicologia. Braga:
Universidade do Minho.
Peixoto, F., & Almeida, L. S. (1999). Escala de Auto-conceito e Auto-estima. In A. P.
Soares, S. Araújo, & S. Caires (Eds.), Avaliação psicológica: Formas e contextos
(Vol. 6, pp. 632- 640). Braga, Portugal: Associação dos Psicólogos Portugueses.
Peixoto, F., & Almeida, L. S. (2010). Self-concept, Self-esteem and academic
achievement: Strategies for maintaining self-esteem in students experiencing
academic failure. European Journal Psychology of Education, 25, 157-175.
Peixoto, F., & Almeida, L. S. (2011). A Organização do autoconceito: Análise da
estrutura hierárquica em adolescentes. Psicologia: Reflexão e Crítica, 24(3), 533-
541.
Pereira, A. J. F. (2011). Relação entre motivação e desempenho escolar em alunos do 1º
ciclo. Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica. Instituto Superior Miguel
Torga: Escola Superior de Altos Estudos, Coimbra.
Piers, E. V., & Harris, D. B. (1964). Age and other correlates of self-concept. Journal of
Educational and Psychology, 55, 91-95.
Pinheiro, M. R. R. (2003). Suporte social e vivências académicas na transição e
adaptação ao ensino superior. Dissertação de doutoramento em Ciências da
Educação, especialização em Psicologia da Educação. Universidade de Coimbra.
Pinto, A., Gatinho, A., Fernandes, C., & Veríssimo, M. (2015). Efeitos de idade e sexo
no autoconceito de crianças pré-escolares. Psicologia Reflexão e Crítica, 28(3),
632-638.
Pipa, J., & Peixoto, F. (2014). Tipo de ensino e autoconceito artístico de adolescentes.
Estudos de Psicologia, 31(2), 159-167.
Premugy, C. I. C. (2012). Colectânea da Legislação do Ensino Superior. Maputo,
Moçambique.
Quadros, A. L., Lopes, C. M., Silva, F. A. B., Correia, J. M. M., Pio, J. M., Torres, N.
O., Pinto, P. L., Nogueira, R. K. (2010). A percepção dos professores e estudantes
sobre a sala de aula de ensino superior: Expectativas e construção de relações no
curso de Química na UFMG. Ciências & Educação, 16(1), 103-114.
Reigal-Garrido, R. E., Becerra-Fernández, C. A., Hernández-Mendo, A., & Martín-
Tamayo, I. (2014). Relación del autoconcepto con la condición física y la
composición corporal en una muestra de adolescentes. Anales de Psicología,
30(3), 1079-1085.
República de Moçambique. (1985). Diploma ministerial n 73/85 de 4 de Dezembro.
Imprensa Nacional, Maputo.
República de Moçambique. (1995). Decreto n 43/95 de 14 de Setembro. Imprensa
Nacional, Maputo.
República de Moçambique. (2007). Sistema Nacional de Avaliação, Acreditação e
Garantia de Qualidade do Ensino Superior. Decreto nº 63/2007 Publicado no BR
nº 52, I Série, de 31 de Dezembro de 2007.
191
Ribeiro, I.; Almeida, L. & Gomes, C. (2006) Conhecimentos Prévios, Sucesso Escolar e
Trajetórias de Aprendizagem: Do 1º para o 2º Ciclo do Ensino Básico. Avaliação
Psicológica, 5(2), 127-133
Riquelme, R. A., Mujica, A. D., Villalobos, M. V. P., Almeida, L. S., Herrena, I. L.,
Puentes, J. G., & Strickland, B. (2012). Vivencias e implicación académica en
estudiantes universitarios: adaptación y validación de escalas para su evaluación.
Estudios Pedagógicos, 2(38), 7-19.
Roberts, J., & McNeese, M. N. (2010). Student involvement/engagement in higher
education based on student origin. Research in Higher Education Journal, 7, 1-
11.
Rodriguéz, A., Goñi, A., & Azúa, S. R. (2006). Autoconcepto físico y estilos de vida en
la adolescencia. Intervención Psicosocial, 15(1), 81-94.
Rodriguéz, M. G. H. (2007). Motivación, autoconcepto físico, disciplina y orientación
disposicional en estudantes de educación física. Tesis doctoral. Universidad de
Murcia.
Rogers, C. R. (1959). A theory of therapy, personality, and interpersonal relationships as
developed in the client-centered framework. In S. Koch (Series Ed.) & S. Koch
(Vol. Ed.), Psychology: A study of a science (Vol. 3, pp. 184-256). New York:
McGraw Hill.
Rojas-Barahona, C. A., Zegers, B., & Forters, C. E. (2009). La escala de auto-estima de
Rosenberg: Validacao para chile en una muestra de jovens adultos, adultos y
adultos mayores. Revista Med. Chile, 1(37), 170-800.
Rosário, L. (2012). Universidades moçambicanas e o futuro de Moçambique. Desafios
para Moçambique, 89-101.
Rosário, L. (2013). Universidades moçambicanas e o futuro de Moçambique. Desafios
para Moçambique, 10, 46-55.
Rosenberg, M. (1965). Society and the adolescent self-image. Princeton, NJ: Princeton
University Press.
Rust, V., Dhanatya, C., Furuto, L. H. L., Kheiltash, O. (2007). Student involvement as
preditive of College Freshmen Plans to Study Abroad. The Interdisciplinary
Journal of Study Abroad, 15, 1-16.
Sá, M. J., Ferreira E., & Ramos, Katia M. C. (2015). Saberes e fazeres docentes: uma
reflexão sobre autonomia e sucesso no ensino superior. Educação, 38(2), 280-288.
Saldanha, A. A. S., Oliveira, I. C. V., & Azevedo, R. L. W. (2011). O autoconceito de
adolescentes escolares. Paidéia, 21(48), 9-19.
Sánchez-Herrera, B. (2009). Bienestar espiritual en personas com y sin discapacidad.
Chía, Colombia, 9(1), 8-22.
Santos, A. A. A., Polidoro, S. A. J., Scortegagna, S. A., & Linden, M. S. S. (2013).
Integração ao ensino superior e satisfação académica em universitários.
Psicologia: Ciência e Profissão, 33(4), 780-793.
Santos, C. B. (2004). Abordagem Centrada na Pessoa - Relação Terapêutica e Processo
de Mudança. Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca,
192
Comunicação apresentada no Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando
Fonseca, 18-23.
Santos, G. M. G. (2014). Bem-estar, auto-estima e autoconceito: O que sentem as
mulheres que se maquilham? Dissertação de mestrado em Psicologia Cínica.
Universidade lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa.
Santos, G., & Sousa, L. (2012). A espiritualidade nas pessoas idosas: influência da
hospitalização. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 15(4), 755-765.
Santos, N. L., & Faria, L. (1999). O autoconceito de competência no contexto
universitário: Estudo empírico com estudantes da Universidade Fernando Pessoa.
Revista da UFP, 4, 175-188.
Sbicigo, J. B., Bandeira, D. R., & Dell’Aglio, D. D. (2010). Escala de autoestima de
Rosenberg (EAR): validade fatorial e consistência interna. Psico-USF, 15(3), 395-
403.
Sbicigo, J. B., Bandeira, D. R., & Dell’Aglio, D. D. (2010). Escala de autoestima de
Rosenberg (EAR): validade fatorial e consistência interna. Psico-USF, 15(3), 395-
403.
Schleich, A. L. R., Polydoro, S. A. J., Santos, A. A. A. (2006). Escala de satisfação com
experiência académica de estudantes de ensino superior. Avaliação Psicológica,
5(1), 11-20.
Schoen-Ferreira, T. H., Aznar-Farias, M., & Silvares, E. F. M. (2003). Construção da
identidade em adolescentes: um estudo exploratório. Estudos de Psicologia, 8(1),
107-115.
Schwarzer. R., & Jerusalem. M. (1995). Optimistic self-beliefs as a resource factor in
coping with stress. In S.E. Hobfoll & M.W. deVries (Eds.). Extremestress and
communities: Impact and inrervenrion (pp.1.59-177). Dordrecht, The
Netherlands: Kluwer.
Seco, G. M. S. B., Casimiro, M. C., Pereira, M. I., Dias, M. I., Custódio, S. M. (2005).
Para uma abordagem psicológica da transição do Ensino Secundário para o Ensino
Superior: Pontes e alçapões. Psicologia da Educação, 2(4), 7‑21.
Sepúlveda, V. E. P., Londoño, D. M. M., & Lubert, C. D. (2012). El autoconcepto familiar
en una muestra de estudantes universitários de la cidade de Manizales. Revista
Latinoamericana de Estudios de Familia, 4, 177-193.
Sepúlveda, V. E. P., Londoño, D. M. M., Lubert, C. D., & Botero, J. S. H. (2014).
Autoconcepto en una muestra de estudiantes universitarios de la ciudad de
manizales. Hacia promoc. Salud, 19(1), 114-127.
Shannon, A. M. (2013). La teoría de las inteligências múltiples en la enseñanza de
español. Dissertacion del máster universitario en lengua y cultura españolas.
Universidad d Salamanca.
Sharkness, J., & DeAngelo, L. (2011). Measuring Student Involvement: A Comparison
of classical test theory and item response theory in the construction of scales from
student surveys. Research of High Education, 52, 480-507.
Shavelson, R. J., & Bolus, R. (1982). Self-concept: the interplay of theory and methods.
Journal of Educational Psychology, 74(1), 3-17.
193
Shavelson, R., Hubner, J., & Stanton, G. (1976). Self-concept: validation of construct
interpretation. Review of Educational Research, 46(3), 401-441.
Silva, G. (2007). Educação e género em Moçambique. Centro de estudos africanos da
universidade do Porto. Porto.
Silva, L. M. K. (2001). Existe uma inteligência espiritual/existencial? Um debate entre
H. Gadner e R. H. Emmons. Revista de Estudos da Religião, 3, 47-64.
Silva, M. C. R., & Vendramini, C. M. M. (2005). Autoconceito e desempenho de
universitários na disciplina estatística. Psicologia Escolar e Educacional, 2(9),
261-268.
Silva, S. L. R. (2003). Adaptação académica, pessoal e social do jovem adulto ao ensino
superior: contributos do ambiente familiar e do autoconceito. Dissertação de
Mestrado apresentada à Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da
Universidade de Coimbra.
Silva, S. L. R. (2012). Dinâmicas de envolvimento e de desenvolvimento de estudantes
do Ensino Superior. Dissertação de Doutoramento em ciências da educação,
especialização em educação permanente e formação de Adultos. Universidade de
Coimbra (não publicada).
Silva, S. L. R., & Ferreira, J. A. G. (2009). Família e ensino superior: Que relação entre
os dois contextos de desenvolvimento? Exedra, (1), 101-126.
Silva, T. C. (2010). Liberdade acadénica e ensino superior em Moçambique. Conferência
sobre liberdades académicas, 211-234.
Simão, M. J. (2010). Psicologia transpessoal e a espiritualidade. O Mundo da Saúde,
34(4), 508-519.
Simão, M. J. P., & Saldanha, V. (2012). Resiliência e Psicologia transpessoal:
fortalecimento de valores, acções e espiritualidade. O Mundo da Saúde, 36(2),
291-302.
Sisto, F. F., & Martinelli, S. (2004). Estudos preliminares para a construção da escala de
auto-conceito infanto-juvenil. Interacção em Psicologia, 3, 181-190.
Soares, A. B., Francischetto, V., Dutra, B.M., Miranda, J. M., Nogueira, C. C. C., Leme
V. R., Araújo, A. M., & Almeida, L. S. (2014). O impacto das expectativas na
adaptação académica dos estudantes no ensino superior. Psico-USF, 19(1), 49-60.
Soares, A. P., & Almeida, L. S. (2005). Questionário de Envolvimento Académico
(QEA): Novos elementos para a sua validação. Psicologia: Teoria, Investigação e
Prática, 10(2), 139-158.
Soares, A. P., Almeida, L. S., Diniz, A. M., & Guisande, M. A. (2006). Modelo
Multidimensional de ajustamento de jovens ao contexto universitário (MMAU):
estudo com estudantes de ciências e tecnologias versus ciências sociais e humanas.
Análise Psicológica, 1 (24), 15-27.
Sobrinho, J. (2000). Avaliação da educação superior. Petrópolis: Vozes.
Souza, L. F. N. I., & Brito, M. R. F. (2008). Crenças de auto-eficácia, autoconceito e
desempenho em matemática. Estudos de Psicologia, 25(2), 193- 201.
194
Srivastava, R., & Joshi, S. (2011). The effect of school and area on academic self-concept
and academic achievement of adolescents. Delhi Psychiatry Journal, 14(2), 331-
336.
Steinberg, L. (1999). Adolescence. New York: Mc Graw-Hill.
Stocker, J., & Faria, L. (2009). Auto-conceito e adaptação ao ensino superior: estudo
diferencial com alunos da universidade do Porto. Actas do X Congresso
Internacional Galego-Português de Psicopedagogia. Braga: Universidade do
Minho, 4097-4109.
Stocker, J., Neves, S. P., & Faria, L. (2010). Competência Percebida e Realização Escolar:
Que Relações em Alunos do Ensino Secundário? Psychologia, 52(1), 427-446.
Suls, J., & Krizan, Z. (2005). On the relationships between explicit and implicit global
self-esteem and personality. The New Frontiers of Self Research. University of
Iowa.
Taimo, J. U. (2010). Ensino superior em Moçambique: história, política e gestão. Tese
de doutoramento em educação, não publicada. Universidade Metodista de
Piraciba, São Paulo.
Tamayo, A., Campos, A. P. M., Matos, D. R., Mendes, G. R., Santos, J. B., Carvalho, N.
T. (2001). A influência da actividade física regular sobre o autoconceito. Estudos
de Psicologia, 6(2) 157-165.
Taunay, T. C. D., Gondim, F. A. A., Macêdo, D. S., Morreira-Almeida, A., Gurgel, L. A.,
Andrade, L. M. S., & Carvalho, A. F. (2012). Revista Psicologia Clínica, 39(4),
130-135.
Taveira, M. (2000). Exploração e desenvolvimento vocacional de jovens: Estudo sobre
as relações entre a exploração, identidade, e a indecisão vocacional. Dissertação
de doutoramento em Psicologia. Universidade do Minho, Braga.
Terry, D. J., Hogg, M. A., & White, K. M. (1999). The theory of planned behavior: self
identity, social identity and group norms. British Journal of Social Psychology,38,
225-244.
Tinto, V. (1993). Leaving college: Rethinking the causes and cures of student attrition
(2nd Ed.). Chicago: University of Chicago Press.
Tinto, V. (1998). Taking research on student persistence seriously. The Review of Higher
Education, 21(2), 167-177.
Tinto, V. (2006/2007). Research and practice of student retention: What next? Journal of
College Student Retention, 1(8), 1-19.
Tinto, V., Pusser, B. (2006) Moving from theory to action: Building a model of
institutional action for student success. National Psychology education
Cooperative.
Tomás, R. A., Ferreira, J. A., Araújo, A. M., & Almeida, L. S. (2014). Adaptação Pessoal
e Emocional em Contexto Universitário: O Contributo da Personalidade, Suporte
Social e Inteligência Emocional. Revista Portuguesa de Pedagogia, 48(2), 87-
107.
Torres, V., Howard-Hamilton, M. F., & Cooper, D. L. (2003). Identity development of
diverse populations: implications for teaching and administration in higher
education. Higher Education, 29(6), 1-117.
195
Torres, V., Jones, S. R., & Renn, K. A. (2009). Identity development theories in student
affairs: origins, current status, and new approaches. Journal of College Student
Development, 50(6), 577-596.
UP. (2010). Plano Estratégico da Universidade Pedagógica 2011-2017. Maputo,
Moçambique.
UP. (2013). Cursos de pós-graduação/mestrado e doutoramento. Editora EDUCAR,
Maputo-Moçambique.
UP-Beira (2014). Relatório alusivo a visita do Magnífico Reitor. Beira, Moçambique.
Urquijo, S. (2002). Autoconcepto y desempeño académico en adolescentes. Relaciones
com sexo, edad e institución. Revista PSICO-USF, 6(2), 55-64.
Valadas, S. T., Araújo, A. M., & Almeida, L. S. (2014). Abordagens ao estudo e sucesso
académico no ensino superior. Revista Electrónica de Psicologia, Educação e
Saúde, 1(4), 47-67.
Vallejo, A. P., & Risoto, M. A. (2013). La variable género y su relación com el
autoconcepto y el rendimiento académico de alumnado universitário. Revista
Científica Eletrónica de Educação y Comunicación en la Sociedade del
Conocimiento, 13(1), 124-140.
Vasconcelos, E. A., & Giglio, J. S. (2007). Introdução da arte na psicoterapia: enfoque
clínico e hospitalar. Estudos de Psicologia, 24(3), 375-383.
Veiga, F. H. (1996). Transgressão e autoconceito dos jovens na escola. Lisboa: Edições
Fim do Século.
Veiga, F. H. (2006). Uma nova versão da escala de autoconceito Piers-Harris Children´s
Self-Concept Scale. (PHCSCS-2). Psicologia e Educação, 1(5), 39-48.
Veiga, F. H., García, F., Reeve, J., Wentzel, K., & García, Ó. (2015). When Adolescents
with High Self-Concept Lose their Engagement in School. Revista de
Psicodidáctica, 20(2), 305-320.
Veliz-Burgos, A. L. (2010). Dimensiones del autoconcepto en estudiantes chilenos:
Estudio psicométrico. Tesis doctoral en Psicologia y Educación. Universidade del
País Vasco.
Véliz-Burgos, A., & Urquijo, P. A. (2012). Dimensiones del autoconcepto de estudantes
chilenos: un estúdio psicométrico. Revista Educativa Hekademos, 11(5), 47-58.
Vicent, M., Martín, N. L., González, C., Inglés, C. J., García-Fernández, J. M., & Gomis,
N. (2015). Diferencias de género y edad en autoconcepto en estudantes
adolescentes chilenos. Revista de Psicología, 24(1), 1-16.
Videra-García, A., & Reigal-Garrido, R. (2013). Autoconcepto físico, percepción de
salud y satisfacción vital en una muestra de adolescentes. Anales de Paicología,
1(29), 1695-2294.
Vieira, L. F., Vieira, L. L., Ferraz, C. C., & Oliveira, L. P. (2010). Análise do autoconceito
de atletas de voleibol de rendimento. Revista Brasileira de Educação Física e
Esporte, 24(3), 315-322.
Villarroel, V. A. (2001). Relación entre autoconcepto y rendimento académico. Psykhe,
10(1), 1-18.
Vispoel, W. (1993). The development and validation of the arts self-perception inventory
for adolescents. Educational and Psychological Measurement, 53(4), 1023-1033.
196
Vispoel, W. (1993). The development and validation of the arts self-perception inventory
for adolescents. Educational and Psychological Measurement, 53, 1023-1033.
Wang, M. (2013). The study on the relationship between english self-concept and
significant others. Theory and Practice in Language Studies, 8(3), 1406-1411.
Was, C. A., Al- Harthy, I., Stack-Oden, M., & Isaacson, R. M. (2009). Academic identity
status and the relationship to achievement goal orientation. Electronical Journal
of Research in Educational Psychology, 7(2), 627-652.
Waugh, R. F. (2000). Self-Concept: Multidimensional or multifaceted, unidimensional?
Education Research and Perspectives, 2(27), 75-94.
Wedekin, L. M., & Zanella, A. V. (2013). Arte e vida em Vygotsky e o modernismo
russo. Psicologia em Estudo, Maringá, 18(4), 689-699.
Were, C. M., Indoshi, F. C., & Yalo, J. A. (2010). Gender differences in self-concept and
academic achievement among visually impaired pupils in Kenya. Educational
Research, 8(1), 246-252.
White, D. B. (1986). An assessment and validation of Chickering’s seven vectors of
student development. Unpublished doctoral dissertation. Iowa City: University of
Iowa.
Wild, L., & Ebbers, L. (2002). Rethinking student retention in Community Colleges.
Community College Journal of Research and Pratice, 26, 503-519.
Zabala, A. F. (2010). El autoconcepto social en adolescencia y juventud: dimensiones,
medida y relaciones. Tesis doctoral. Universidad del Pais Basco.
Zhang, X., & Li, C. (2010). The study of university students’ self-concept. International
Education Studies, 3(1), 83-86.