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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
HENRIQUE ROSA DE FARIAS MENDES
ACORDO DE ACIONISTAS E O DIREITO DE RETIRADA DO ACIONISTA MINORITÁRIO NAS SOCIEDADES ANÔNIMAS
Biguaçú
2011
1
HENRIQUE ROSA DE FARIAS MENDES
ACORDO DE ACIONISTAS E O DIREITO DE RETIRADA DO ACIONISTA MINORITÁRIO NAS SOCIEDADES ANÔNIMAS
Monografia apresentada à Universidade do
Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito
parcial a obtenção do grau em Bacharel em
Direito.
Orientador: Prof. MSc. Moacir José Serpa
Biguaçú 2011
2
HENRIQUE ROSA DE FARIAS MENDES
ACORDO DE ACIONISTAS E O DIREITO DE RETIRADA DO ACIONISTA MINORITÁRIO NAS SOCIEDADES ANÔNIMAS
Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e
aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de
Ciências Sociais e Jurídicas.
Área de concentração: Direito Societário
Biguaçú, 24 de novembro de 2011.
Prof. MSc. Moacir José Serpa UNIVALI – Campus de
Biguaçú
Prof. Esp. Juliano Keller do Valle UNIVALI – Campus de São José
Membro
Prof. MSc. Helena Nastassya Paschoal Pítsica UNIVALI – Campus de Biguaçú
Membro
3
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade
pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Biguaçú, 24 de novembro de 2011.
Henrique Rosa de Farias Mendes
4
RESUMO
O objetivo do presente trabalho é elucidar a questão referente à
Sociedade Anônima, no que tange à possibilidade de retirada dos sócios
não-participantes de acordos de acionistas frente às decisões tomadas pelos
referidos acordos. O direito de retirada do sócio está previsto no artigo 109,
inciso V, da Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976, também denominada
Lei de Sociedades Anônimas. Serão expostas no presente trabalho, breves
considerações sobre os tipos societários existentes na legislação brasileira
vigente. No entanto, especificar-se-á somente a Sociedade Anônima, pois é
neste tipo societário que está inclusa a problemática tratada no presente
trabalho de conclusão de curso. A Lei de Sociedades Anônimas prevê o
direito de retirada dos sócios em pontuais situações. No entanto, dentre
estas situações, a Lei não inclui a possibilidade de o sócio, que não participa
de qualquer acordo de acionistas, retirar-se da Companhia, por entender ser
prejudicado diante das decisões tomadas por acionistas inseridos nestes
acordos. O interesse na pesquisa do referido tema justifica-se pela escassa,
ou quase inexistente, quantidade de doutrina que trate sobre a matéria. Por
fim, concluir-se-á pela necessidade de reforma legislativa para inclusão de
tal direito na legislação societária.
Palavras-chaves: Companhia – Acordo – Acionistas - Retirada
5
ABSTRACT
The objective of this study is to elucidate the question of the
corporation, regarding the possibility of withdrawing the non-participating
members of shareholders' agreements in the face of decisions taken by such
agreements. The right of withdrawal from the partner is provided for in article
109, paragraph V of Law n. 6404 of 15 December 1976, also called the Law
of Corporations. Will be exhibited in this study, commented briefly on the
types of companies existing in the brazilian legislation. However, it will specify
only the Corporation, this type of company that is included the problem
treated in this work of course completion. The Corporations act provides a
right of withdrawal of the partners in specific situations. However, of these
situations, the law does not include the possibility of the member which does
not participate in any shareholders' agreement, withdraw from the Company,
before being harmed by understanding the decisions taken by shareholders
in that agreement. The interest in research of this topic is justified by the
scarce or almost non-existent amount of doctrine that addresses on the
subject. Finally, the conclusion will be the need for legislative reform to
include this right in corporate law.
Key-words: Corporation – Company – Shareholders – Agreement - Withdrawal
6
ROL DE ABREVIATURAS OU SIGLAS
CC/02 – Código Civil Brasileiro de 2002
CCom – Código Comercial de 1850
CRFB – Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
LSA – Lei de Sociedades Anônimas n. 6.404/76
CVM – Comissão de Valores Mobiliários
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9
1 SOCIEDADES EMPRESÁRIAS SEGUNDO A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ....... 11
1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONCEITO DAS SOCIEDADES COMERCIAIS . 11
1.2 TIPOS DE SOCIEDADES EMPRESÁRIAS EXISTENTES NO
ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO .......................................................... 15
1.2.1 Personalidade Jurídica ............................................................................ 15
1.2.2 Sociedade não-personificada ................................................................. 16
1.2.2.1 Sociedade em Comum ........................................................................ 17
1.2.2.2 Sociedade em Conta de Participação ................................................. 18
1.2.3 Sociedade personificada ......................................................................... 18
1.2.4 Sociedade de pessoas ............................................................................ 19
1.2.5 Sociedade contratual ............................................................................... 19
1.2.5.1 Contrato social ..................................................................................... 20
1.2.6 Sociedade institucional ........................................................................... 21
1.2.7 Sociedade de capital ............................................................................... 21
1.2.8 Sociedade Simples .................................................................................. 22
1.2.8.1 Sociedade Cooperativa ....................................................................... 22
1.2.9 Sociedade empresária ............................................................................. 23
1.3 SOCIEDADE EMPRESÁRIA............................................................................ 24
1.3.1 Tipos de Sociedades Empresárias ......................................................... 25
1.3.1.1 Sociedade em Nome Coletivo ............................................................. 25
1.3.1.2 Sociedade em Comandita Simples ............................................... 26
1.3.1.3 Sociedade Limitada ............................................................................. 27
1.3.1.4 Sociedade em Comandita por Ações .................................................. 29
1.3.1.5 Sociedade Anônima ............................................................................ 30
2 SOCIEDADE ANÔNIMA SEGUNDO A LEI N. 6.404/76 ....................................... 31
2.1 HISTÓRICO E CONCEITO DE SOCIEDADE ANÔNIMA ................................ 31
2.1.1 Histórico ................................................................................................... 31
8
2.1.2 Conceito de Sociedade Anônima ........................................................... 33
2.2 CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE ANÔNIMA .......................................... 33
2.2.1 Capital Social ........................................................................................... 34
2.2.2 Espécies de Ações .................................................................................. 34
2.2.2.1 Ações Ordinárias ................................................................................. 35
2.2.2.2 Ações Preferenciais ............................................................................. 35
2.2.2.3 Ações de Fruição ................................................................................. 36
2.2.3 Demais Classificações das Ações ......................................................... 37
2.2.3.1 Quanto à Forma .................................................................................. 37
2.2.3.2 Quanto ao valor ................................................................................... 37
2.2.4 Nome empresarial .................................................................................... 38
2.2.5 Espécies de Companhias ........................................................................ 39
2.2.5.1 Companhia de Capital Aberto .............................................................. 39
2.2.5.2 Companhia de Capital Fechado .......................................................... 40
2.3 O ACIONISTA NA SOCIEDADE ANÔNIMA E SUA RESPONSABILIDADE ... 41
2.3.1 Acionista Controlador ............................................................................. 42
2.3.2 Acionista Majoritário ............................................................................... 44
2.3.3 Acionista Minoritário ........................................................................... 44
3 ACORDO DE ACIONISTAS E O DIREITO DE RETIRADA DO ACIONISTA
MINORITÁRIO NAS SOCIEDADES ANÔNIMAS ..................................................... 46
3.1 ACORDO DE ACIONISTAS ............................................................................. 46
3.1.1 Noções Gerais .......................................................................................... 46
3.1.2 Acordo de Acionistas nas Companhias de Capital Aberto e Fechado47
3.2 TIPOS DE ACORDOS DE ACIONISTAS ......................................................... 48
3.2.1 Acordo de Bloqueio ................................................................................. 48
3.2.2 Acordo de Voto Minoritário ..................................................................... 50
3.2.3 Acordo de Controle Societário ............................................................... 51
3.3 O DIREITO DE DISSIDÊNCIA PELO ACIONISTA MINORITÁRIO NÃO
PARTICIPANTE DE ACORDOS DE ACIONISTAS ............................................... 53
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 58
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 60
9
INTRODUÇÃO
O presente trabalho de conclusão de curso tem como tema o acordo de
acionistas. Tem-se por objetivo estudar a possibilidade de retirada do sócio não-
integrante de acordo de acionistas frente às decisões tomadas pelos referidos
acordos nas Sociedades Anônimas.
O acordo de acionistas está previsto no artigo 118, da Lei n. 6.404, de 15 de
dezembro de 1976, com alterações feitas pela Lei n. 10.303, de 31 de outubro de
2001. Suas principais funções são: dirigir as atividades sociais, pactuar sobre
preferência de votos e compra e venda de ações.
Devido ao crescimento contínuo das grandes corporações sob a forma de
Sociedades Anônimas e a busca incessante de atingir seu objeto social, o acordo de
acionistas vem ao auxílio dos sócios convenentes de tais Companhias a fim de
aperfeiçoar e perfectibilizar a condução dos negócios sociais.
O interesse de pesquisar sobre o assunto se deu pelo fato de a doutrina
pouco tratar sobre o assunto, limitando-se a conceituar e pontuar as características
dos acordos de acionistas, silenciando quanto ao direito de retirada pelos possíveis
prejuízos dos demais acionistas pelas decisões tomadas pelos integrantes dos
acordos.
Para alcançar os fins propostos neste trabalho monográfico, a metodologia
aplicada será a pesquisa exploratória, mediante a adoção de investigação científica
que compreende a utilização de doutrina e legislação.
A abordagem utilizada será através do método dedutivo, qual seja, partir-se-
á do histórico das Sociedades Comerciais até alcançar as possibilidades de danos
causados aos sócios não-convenentes, diante das deliberações e decisões tomadas
pelos sócios integrantes de acordos de acionistas, dentro das Sociedades
Anônimas.
O trabalho será desenvolvido em três capítulos. No primeiro capítulo, será
realizada uma apresentação sobre a evolução histórica e o conceito das Sociedades
Empresariais, bem como especificar aquelas previstas no ordenamento jurídico
brasileiro.
10
O segundo capítulo discorrerá sobre a Sociedade Anônima, seu conceito,
evolução histórica e características.
No terceiro e último capítulo, tratar-se-á do tema do presente trabalho
monográfico, passando pelas modalidades de acordos de acionistas existentes
atualmente na legislação brasileira, apresentando seus conceitos e peculiaridades.
Por fim, tratar-se-á sobre a faculdade de retirada do sócio não-convenente da
Companhia constituída por acordos de acionistas.
11
1 SOCIEDADES EMPRESÁRIAS SEGUNDO A LEGISLAÇÃO
BRASILEIRA
Para melhor estudar o acordo de acionistas e os reflexos que este contrato
possa ocasionar ao acionista minoritário, faz-se necessário construir uma base que
possa elucidar o surgimento do Direito Comercial e, consequentemente, as
sociedades mercantis, hoje denominadas sociedades empresárias.
Neste primeiro capítulo discorrer-se-á sobre tais matérias, limitando-se, aqui,
a realizar um estudo sobre a evolução histórica e apresentar a conceituação de cada
tipo de sociedade empresária existente na legislação brasileira.
1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONCEITO DAS SOCIEDADES COMERCIAIS
O Direito Comercial surgiu dos costumes adotados pelos comerciantes na
Idade Média. Artesãos e comerciantes formavam associações com a intenção de
defenderem seus interesses econômicos, as quais eram denominadas corporações
de ofício. Em determinado momento, os membros de tais corporações vislumbraram
a necessidade de criar regras a fim de disciplinar e regular as relações de seus
associados. Essas regras, oriundas dos usos e costumes dos comerciantes, viriam a
ser consideradas o embrião do que hoje é chamado Direito Comercial1.
Para um melhor entendimento transcreve-se aqui o que disseram Bertoldi e
Ribeiro:
O direito comercial, em sua origem, assumiu um caráter consuetudinário (baseado nos costumes dos mercadores) e corporativo (surgido no seio das corporações de mercadores, como organizações profissionais, e aplicado por estas a seus membros). Com o passar o tempo estas regras ganharam tamanha credibilidade e importância que acabaram sendo adotadas pelos governos da época, tendo sua aplicação disseminada por toda a Europa, adquirindo, assim, caráter internacional. As mais conhecidas instituições do direito comercial remontam a este período, tais como
1 COELHO, Fábio U. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 06-07.
12
a matrícula dos comerciantes, o regime dos livros comerciais, o regime das instituições financeiras, a letra de câmbio etc.2 (Grifo no original)
Dentre as corporações de ofício, destacam-se as corporações de
mercadores, que obtiveram tamanho êxito que resultou na conquista da autonomia
de importantes centros comerciais como, por exemplo, Veneza, Florença e Gênova.
Conveniente citar o comentário de Requião:
Deve-se anotar que os comerciantes, organizados em suas poderosas ligas e corporações, adquirem tal poderio político e militar que vão tornando autônomas as cidades mercantis a ponto de, em muitos casos, os estatutos de suas corporações se confundirem com os estatutos da própria cidade.3
Importante ressaltar que, apesar do esforço e da intenção dos comerciantes
em regular as suas relações comerciais, ainda não se podia falar em um sistema
organizado de leis. As primeiras codificações buscavam regular a mais importante
prática comercial naquela época: o comércio marítimo. Dentre todos, o mais
importante foi o Código de Direito Marítimo de Barcelona, também chamado
Consulado do Mar, pois teria sido utilizado em todo o continente europeu.
Mais adiante, as regras de Direito Comercial foram avançando no tempo até
invadir o comércio terrestre com as Ordenanças Francesas, baixadas por Luís XIV.
Posta em 1673, a primeira dessas Ordenanças regulava a atividade de mercadores,
agentes de bancos, sociedades, notas promissórias etc. Tal lei recebeu o nome de
um dos principais comerciantes da época, vindo a se chamar Código Savary4 e teve
enorme importância no desenvolvimento do Direito Comercial:
Com a promulgação, em 1806, do Código Napoleônico, ou Code de Commerce, influenciado pela legislação de Savary e, por sua vez, influenciando toda a legislação comercial da época, inclusive o Código Comercial brasileiro (Lei n. 556, de 25-6-1850), surge o conceito objetivo de comerciante, definindo-o como aquele que pratica, com habitual profissionalidade, atos de comércio.5
2 BERTOLDI, Marcelo M; RIBEIRO, Marcia C. P. Curso Avançado de Direito Comercial. 4. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 27-28. 3 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 29. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2010. vol. 1. p. 33-34. 4 MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 31. ed. rev. atual. ampl. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2007. p. 09-10. 5 NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. vol. 1. p. 33.
13
Para Negrão, a evolução do Direito Comercial pode ser definida em
três fases distintas: I – subjetiva-corporativista: quando surgem as
corporações de ofício associando artesãos e mercadores; II – objetiva: fim
das corporações e introdução de operações de câmbio e fábricas e; III –
subjetiva-moderna ou empresarial: atual fase em se encontra o Direito
Comercial onde a atividade comercial decorre da qualidade de quem a
exerce.6
O estudo da evolução histórica do Direito Comercial mostra que, em
dado momento da História, o homem vislumbrou a necessidade de unir seus
esforços com outros pares a fim de realizar determinadas tarefas de modo
mais eficiente. Começaram, então, a agrupar-se em sociedades com o
objetivo de praticar o comércio. No início, aproximadamente na Roma Antiga,
o modo mais comum de se formar sociedade era entre irmãos quando do
falecimento do ascendente. Era necessária a união dos herdeiros a fim de
administrar os bens deixados pelo pai. O tipo de sociedade formado era
puramente intuitu personae, ou seja, o objetivo da comunhão de esforços é
unicamente em consideração especial à pessoa, de caráter personalíssimo7.
A Sociedade em Comandita Simples, a qual será estudada no item
1.3.1.2, é a mais antiga das Sociedades Comerciais que se tem notícia. Esta
data do século XII e XIII, surgida às margens dos centros comerciais
italianos.8
Em 1602, com a criação da Companhia Holandesa das Índias
Orientais, surgiram as sociedades de capital, retirando a exclusividade das
sociedades de pessoas. Por concentrar considerável quantidade de capital e
pessoas, bastava a contribuição financeira para seu ingresso e não mais a
affectio societatis.9
6 NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1. p. 46-49. 7 SILVA, De Plácido. Vocabulário Jurídico. 27. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2008. p. 772. 8 ALMEIDA, Amador P. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 121. 9 BERTOLDI, Marcelo M; RIBEIRO, Marcia C. P. Curso Avançado de Direito Comercial. 4. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 145-146.
14
A Revolução Francesa de 1789, com os seus ideais de liberdade,
fraternidade e igualdade, teve papel fundamental nas mudanças da
sociedade da época. A burguesia conquistava seu espaço reduzindo as
vantagens das corporações medievais que monopolizavam o mercado,
fazendo com que os cidadãos comuns pudessem exercer a profissão que
pretendiam.10
Posteriormente, nos séculos XIX e XX, com a organização das
fábricas no período da Revolução Industrial, foram surgindo sociedades
organizadas com estatutos próprios baseados nos usos e costumes dos
comerciantes. Daí em diante iniciou-se o processo de Codificação do Direito
Comercial, incluindo-se em tais leis, as bases das Sociedades Comerciais.11
Atualmente, mais de um século após a edição do Código Comercial
brasileiro, as Sociedades Comerciais ainda são matéria de estudo por muitos
doutrinadores. O conceito de sociedade definido por Negrão é o que mais se
aproxima da intenção do legislador ao editar o Código Civil Brasileiro12:
Sociedade é o contrato celebrado entre pessoas físicas e/ou jurídicas, ou somente entre pessoas físicas (art. 1.039), por meio do qual estas se obrigam reciprocamente a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilhar, entre si, os resultados.13
Almeida, de forma mais resumida, concluiu que “sociedade é união
de duas ou mais pessoas, físicas ou jurídicas, que somam bens ou serviços
para o exercício de atividade econômica, no âmbito empresarial, com
finalidade lucrativa”14.
10 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Empresa. 2. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 06. 11 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Empresa. 2. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 06. 12 Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados. 13 NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 1. p. 269. 14 ALMEIDA, Amador P. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 31.
15
1.2 TIPOS DE SOCIEDADES EMPRESÁRIAS EXISTENTES NO ORDENAMENTO
JURÍDICO BRASILEIRO
Após conceituar as sociedades, passa-se a especificar as existentes no
ordenamento jurídico brasileiro.
O Código Civil de 1916 previa a existência de sociedade civil e comercial.
Com a promulgação da Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002, o Código Civil (CC),
a primeira teve seu nome substituído por “sociedade simples” e a segunda pela
denominação “sociedade empresária”. Ambas serão aqui estudadas, porém com
enfoque nesta última, pois é onde o objeto do presente trabalho - sociedade
anônima - está inserido.
Diante de várias classificações societárias abordadas pela doutrina, será
este item restringido às Sociedades não-personificadas e personificadas,
Sociedades de capital e de pessoas, Sociedades contratuais e institucionais e, por
fim, às Sociedades simples e empresárias.
Todavia, para possibilitar o estudo das Sociedades Comerciais, torna-se
imprescindível tomar como ponto de partida a definição de personalidade jurídica.
1.2.1 Personalidade Jurídica
Contraposta à pessoa natural, definida no artigo 1° do Códido Civil15, a
pessoa jurídica é algo intangível, que não existe fora do mundo jurídico16. Diniz
conceitua pessoa jurídica como “a unidade de pessoas naturais (sociedade) ou de
patrimônios (fundação), que visa à consecução de certos fins, reconhecida pela
ordem jurídica como sujeito de direitos e obrigações.”17
15 Art. 1° Toda pessoa é capaz de direito e deveres na ordem civil. 16 REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 233. 17 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Empresa. 2. ed. reform. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 8. p. 138-139.
16
A sociedade empresária ganha personalidade jurídica, conforme preceitua o
artigo 45 do Código Civil18, a partir da inscrição de seu ato constitutivo – contrato
social ou estatuto – no respectivo registro. Tal ato gera alguns efeitos de
ordem prática, segundo a classificação de Ulhoa Coelho19:
a) titularidade negocial – a sociedade é parte no negócio jurídico que
pratica, por ser sujeito de direito autônomo;
b) titularidade processual – pode a sociedade ajuizar e sofrer
demanda judicial por ter capacidade para ser parte em processo; e
c) responsabilidade patrimonial – por ser sujeito de direito autônomo,
a sociedade responde com seu patrimônio pelos deveres e obrigações que
assumir.
Por outro lado, a legislação reconhece a existência de sociedades
que não possuem personalidade jurídica e, como tal, são denominadas de
sociedades não personificadas, que se passa a estudar.
1.2.2 Sociedade não-personificada
Por outro lado, o Código Civil apresenta a sociedade não-
personificada, como o próprio nome sugere, não detém personalidade
jurídica pelo simples fato de não ter seu ato constitutivo arquivado no registro
competente. Logo acima foram citados alguns efeitos que a personalidade
jurídica gera. No entanto, as sociedades não-personificadas possuem
capacidade processual, podendo ajuizar e responder ações judiciais, apesar
de não poder pleitear a recuperação judicial ou a falência de seus credores.20
18 Art. 45. Começa a existência legal as pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150). 19 COELHO, Fábio U. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 113-114. 20 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Empresa. 2. ed. reform. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 8. p. 166.
17
O Código Civil destaca como sociedades não-personificadas: as
Sociedades em Comum e as Sociedades em Conta de Participação.
1.2.2.1 Sociedade em Comum
Também denominada Sociedade Irregular ou Sociedade de Fato, a
Sociedade em Comum é aquela constituída verbalmente ou até mesmo por
escrito, mas que não foi levada a registro na Junta Comercial.21 Mamede
pontua que:
(...) é preciso observar que, mesmo antes de se levar o contrato à Junta Comercial, as partes já estão ajustadas, sendo praticados atos que realizam o contrato de sociedade estabelecido. Esse ajuste celebra-se no momento em que se acerta a sociedade, levando à realização de diversos atos que, se são preparatórios para a constituição da pessoa jurídica, são já atos de execução do contrato de sociedade: contratação de advogado para elaboração dos atos constitutivos, de contador para providenciar os livros comerciais, contratação da compra ou aluguel da sede etc. Há, nesses momentos, uma sociedade em comum que, com o registro, se converterá em sociedade personificada, simples ou empresária.22
Prevista no artigo 986 do Código Civil23, esta sociedade não detém
personalidade jurídica, portanto inexiste juridicamente. Por consequência,
não possui patrimônio próprio, fazendo com que seus sócios respondam
pelas obrigações em nome dela assumidas.24
21 ALMEIDA, Amador P. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 73. 22 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito Societário: Sociedades Simples e Empresárias. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2010. vol. 2. p. 11. 23 “Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele foram compatíveis, as normas da sociedade simples.” 24 ALMEIDA, Amador P. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 73.
18
1.2.2.2 Sociedade em Conta de Participação
A Sociedade em Conta de Participação tem como principal característica o
fato de possuir dois tipos de sócios: ostensivo e oculto. O primeiro é quem assume
toda a responsabilidade pelos negócios, ou seja, contrai em seu nome as obrigações
oriundas das atividades sociais25. Já o sócio oculto participa da sociedade com
capital, porém não possui responsabilidade alguma perante terceiros.
O Código Civil prevê, em seu artigo 992: “a constituição da sociedade em
conta de participação independe de qualquer formalidade e pode provar-se por
todos os meios de direito.” Com isso, o legislador possibilitou que esse tipo
societário possa ser constituído através de contrato verbal, devendo, contudo,
observar os requisitos indispensáveis à validade de qualquer negócio jurídico:
capacidade das partes e objeto lícito, estes previstos no artigo 10426, ainda no
Código Civil.27
1.2.3 Sociedade personificada
Sinônimo de Sociedade Empresária, as sociedades personificadas,
também denominadas regulares, são aquelas que, como o próprio nome
sugere, possuem personalidade jurídica, ou seja, nascem no mundo jurídico
a partir da regular inscrição de seus atos constitutivos nos órgãos
competentes.
25 WALD, Arnaldo. Comentários ao Novo Código Civil. Livro II – Do Direito de Empresa. Arts. 966 a 1.195. 1. ed. Coordenador: Sálvio de Figueiredo Teixeira. Rio de Janeiro: Forense, 2005. vol. XIV. p. 99. 26 “Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I – agente capaz; II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III – forma prescrita ou não defesa em lei.” 27 NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de A. Código Civil Comentado. 7. ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 854.
19
Como citado no item 1.2.1, tais sociedades adquirem titularidade
negocial e processual, além de possuírem responsabilidade sobre o
patrimônio que adquirem em seu próprio nome.28
Segundo o Código Civil, são exemplos de sociedade personificada: a)
Sociedade em Nome Coletivo; b) Sociedade em Comandita Simples; c)
Sociedade Limitada; d) Sociedade em Comandita por Ações; e) Sociedade
Anônima e f) Sociedade Cooperativa.
1.2.4 Sociedade de pessoas
Segundo Ulhoa Coelho, “as sociedades de pessoas são aquelas em
que a realização do objeto social depende mais dos atributos dos sócios que
da contribuição material que eles dão”29. Por levar em maior consideração a
pessoa do sócio, este tipo societário também pode ser denominado intuito
personae.
Constituem sociedade de pessoas as Comanditas Simples e as
Sociedades em Nome Coletivo. Já a Sociedade Limitada “dependendo da
estrutura escolhida em sua constituição, a sociedade limitada será uma
sociedade de pessoa ou de capital.”30
1.2.5 Sociedade contratual
São as Sociedades que têm como ato constitutivo o contrato social.
Este, por sua vez, é o instrumento físico que regulamenta o acordo de
vontade dos sócios. A Sociedade em Nome Coletivo, a Sociedade em
28 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 29. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2010. vol. 1. p. 443. 29 COELHO, Fábio U. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. vol. 2. p. 25. 30 NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. vol. 1. p. 275.
20
Comandita Simples e a Sociedade Limitada são os exemplos de Sociedade
contratual existentes hoje no ordenamento jurídico brasileiro.
1.2.5.1 Contrato social
Para que o contrato social seja válido deve obedecer alguns
requisitos:
a) requisitos genéricos, elencados no artigo 104, do Código Civil:
agente capaz; objeto lícito e possível e forma prescrita ou não defesa em lei;
b) requisitos específicos: contribuição de todos os sócios para a
formação do capital social e a participação de todos os sócios nos resultados
da sociedade, sejam eles positivos ou negativos.31
O artigo 997, do Código Civil, exige a existência de algumas
cláusulas essenciais no contrato social:
I – nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas; II – denominação, objeto, sede e prazo de validade; III – capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária; IV – a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la; V – as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços; VI – as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições; VII – se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.
De acordo com Coelho, “o contrato social poderá ser, também, à vontade
dos sócios, feito por instrumento público, lavrado por tabelião, ou instrumento
particular.32
31 COELHO, Fábio U. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 132. 32 COELHO, Fábio U. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 136.
21
1.2.6 Sociedade institucional
Também chamadas Sociedades estatutárias, estas são regidas por
estatuto social. Os exemplos de Sociedades institucionais ou estatutárias
presentes no Direito brasileiro são as Sociedades Anônimas, as Sociedades
em Comandita por Ações e as Sociedades Cooperativas. Portanto, com
exceção desta última, seus atos constitutivos estão previstos na Lei n. 6.404,
de 15 de dezembro de 1976.
1.2.7 Sociedade de capital
Esse tipo societário, ao contrário da Sociedade de pessoas, leva em
consideração a contribuição financeira do sócio.
Rizzardo pontua que nessa sociedade:
(...) não predomina a relação interpessoal, tendo realce o elemento capital, que se torna fator decisivo do sucesso do empreendimento objetivado. Domina a impessoalidade no relacionamento, tanto que a administração nem sempre recai em pessoas que integram a sociedade. O capital, representado por ações, é circulável, admitida a sua transferência para terceiros, que ingressam na sociedade.33
Os exemplos de Sociedade de capital existentes hoje no Direito
brasileiro são as Sociedades Anônimas e as Sociedades em Comandita por
Ações.
33 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Empresa. 2. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 37.
22
1.2.8 Sociedade Simples
Prevista no artigo 966, parágrafo único, do Código Civil34, a
Sociedade Simples é aquela que tem seu poder de atuação nas atividades
de estudo, pesquisa e divulgação nas áreas científica, literária e artística,
sendo que nenhuma destas práticas poderá constituir elemento de
empresa.35
Coelho define Sociedade Simples como aquela que explora seu
objeto social sem empresarialidade, ou seja, não há organização dos fatores
de produção profissionalmente, pois havendo, esta será Sociedade
Empresarial.36
1.2.8.1 Sociedade Cooperativa
De acordo com o parágrafo único, artigo 982, do CC37, a Sociedade
Cooperativa será sempre Sociedade Simples, por não possuir a estrutura
organizacional da Sociedade Empresária. Pode-se conceituar a Sociedade
Cooperativa como “uma sociedade de pessoas, com capital variável, que se propõe,
mediante a cooperação de todos os sócios, um fim econômico”.38
Esse modelo societário constitui-se através de contrato escrito particular ou
público e adquire personalidade jurídica a partir do arquivamento do ato constitutivo
na Junta Comercial do Estado onde estiver localizada a sua sede.
34 “Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.” 35 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 29. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2010. vol. 1. p. 472. 36 COELHO, Fábio U. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 111. 37 “Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.” 38 ALMEIDA, Amador P. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 393.
23
A principal característica da Sociedade Cooperativa é a de possuir ou
não capital social. Em nenhum outro tipo societário há essa possibilidade de
escolha, conforme o artigo 1.094, do CC39. De acordo com o artigo citado, o
capital social também poderá ser variável, isto se deve ao grande fluxo de
entrada e saída de sócios. Quando a Sociedade optar por fixar um capital
social deverá estabelecer um valor mínimo e a forma como este será
integralizado.
O número de sócios nesta Sociedade é ilimitado, porém pode o
estatuto prever a admissão, como associados, apenas de pessoas de
determinadas profissões ou classes, pois a finalidade da Cooperativa é a de
“melhorar as condições dos próprios associados, objetivando-lhes vantagens
e serviços”40, por se tratar de uma entidade classista.
Em resumo, nas palavras de Wald:
A cooperativa é, no Brasil, sociedade simples com características próprias, em que assume especial realce o espírito da mutualidade, equivalente à reciprocidade das prestações entre a cooperativa e o cooperado, em contraposição ao cunho eminentemente capitalista das demais sociedades comerciais.41
1.2.9 Sociedade empresária
O Código Comercial de 1850, hoje parcialmente revogado, previa a
existência da Sociedade Comercial que nada mais é do que a atual
Sociedade Empresária.
39 Art. 1.094. São características da sociedade cooperativa: I – variabilidade, ou dispensa do capital social; 40
ALMEIDA, Amador P. Manual das Sociedades Comercias: Direito de Empresa. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 389. 41 WALD, Arnaldo. Comentários ao Novo Código Civil. Livro II – Do Direito de Empresa. Arts. 966 a 1.195. 1. ed. Coordenador: Sálvio de Figueiredo Teixeira. Rio de Janeiro: Forense, 2005. vol. XIV. p. 603.
24
As Sociedades Empresárias, previstas no artigo 98242 c/c 96643,
caput, do Código Civil, são entes econômicos, compostas, geralmente, por
mais de uma pessoa, detentoras de patrimônio próprio, dotadas de
personalidade jurídica que visam o lucro a partir da produção ou da troca de
bens ou serviços.44
Existem, no ordenamento jurídico brasileiro, 5 (cinco) espécies de
Sociedades Empresárias: I) Sociedade em Nome Coletivo; II) Sociedade em
Comandita Simples; III) Sociedade Limitada; IV) Sociedade em Comandita
por Ações e; V) Sociedade Anônima.
Segundo o parágrafo único do artigo 982, do Código Civil 45, a
Sociedade Cooperativa é considerada Sociedade Simples e não Empresária,
motivo pelo qual não está relacionada no rol acima descrito. Todas, com
exceção desta última, serão estudadas em seguida de forma breve, pois o
objetivo do presente está em aprofundar-se, somente, na Sociedade
Anônima.
1.3 SOCIEDADE EMPRESÁRIA
A partir da introdução realizada no item 1.2.9 acima, passa-se a conceituar e
caracterizar cada uma das Sociedades Empresárias presentes na legislação
brasileira vigente, permitindo-se, contudo, a analisar de forma breve a Sociedade
Anônima, pois esta será estudada de forma detalhada no Capítulo 2.
42 “Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.” 43 “Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens e de serviços.” 44 BERTOLDI, Marcelo M; RIBEIRO, Marcia C. P. Curso Avançado de Direito Comercial. 4. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 146. 45 “Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e simples, a cooperativa.”
25
1.3.1 Tipos de Sociedades Empresárias
As Sociedades Empresárias, segundo a legislação vigente, apresentam-se
nas modalidades que serão examinadas a seguir:
1.3.1.1 Sociedade em Nome Coletivo
A Sociedade em Nome Coletivo, com previsão legal nos artigos 1.039 ao
1.044, do Código Civil, é constituída através do acordo de vontade dos sócios e
deve ser registrada mediante escritura pública ou particular. Tal escrito deve
mencionar nome, domicílio, nacionalidade, nomes dos sócios-gerentes, capital, sede
da empresa e firma ou razão social. Esta será composta pelo nome de apenas um,
de parte ou de todos os sócios. Quando não apresentar o nome de todos os sócios,
a firma deverá contar as palavras “e Companhia”, podendo ser abreviada como
“Cia”. Já no caso de figurar o nome de todos os sócios, dispensa-se o uso do
complemento mencionado.46
A principal característica desse modelo societário é a responsabilidade
solidária e ilimitada de todos os sócios. Como mencionado anteriormente, é
sociedade de pessoas, pois considera a pessoa do sócio pela responsabilidade
adquirida.47
A administração da sociedade, ou seja, o direito de usar a firma social, será
exercida por sócio designado no contrato social e, na omissão deste, tal direito
recairá sobre todos.48
Sobre Sociedade em Nome Coletivo nos dias atuais, Martins anota que:
A inadaptação da sociedade em nome coletivo à realidade so século XXI é tamanha que, sob a ótica do leigo, se trata de um tipo societário estritamente encerrado e sem a menor perspectiva de
46 MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 31. ed. rev. atual. ampl. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2007. p. 230. 47 MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 31. ed. rev. atual. ampl. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2007. p. 230. 48 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 29. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2010. vol. 1. p. 483.
26
relevo, na medida em que, ao contrário do que se propala, busca-se segurança e menor grau de responsabilidade.49
1.3.1.2 Sociedade em Comandita Simples
Regulada pelos artigos 1.045 ao 1.051, do Código Civil, a Sociedade
em Comandita Simples, como dito anteriormente no item 1.1, é a mais antiga
das Sociedades Comerciais que se tem conhecimento. Requião observa
que:
Ocorre a sociedade em comandita simples quando duas ou mais pessoas se associam, para fins comerciais, obrigando-se uns como sócios solidários, ilimitadamente responsáveis, e sendo outros simples prestadores de capitais, com a responsabilidade limitada às suas contribuições de capital. Aqueles são chamados sócios comanditados, e estes, sócios comandatários. (Grifo no original)
Ao sócio comanditado compete a administração dos negócios sociais,
assumindo, solidária e ilimitadamente, as responsabilidades por tais atos. Já
o sócio comanditário será responsabilizado no limite do valor de suas quotas
subscritas.50
O artigo 1.047, do Código Civil, veda ao sócio comanditário praticar
atos de gestão na Sociedade, podendo, no máximo, participar das
deliberações e fiscalizar as operações.
Ainda de acordo com o artigo 1.047, é defeso à Sociedade adotar
firma ou razão social em que o nome do sócio comanditário apareça. Esta
somente poderá ser composta pelo nome dos sócios comanditados seguidos
da expressão “e Companhia” ou em sua forma abreviada.51
49 MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 31. ed. rev. atual. ampl. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2007. p. 233. 50 WALD, Arnaldo. Comentários ao Novo Código Civil. Livro II – Do Direito de Empresa. Arts. 966 a 1.195. 1. ed. Coordenador: Sálvio de Figueiredo Teixeira. Rio de Janeiro: Forense, 2005. vol. XIV. p. 288. 51 ALMEIDA, Amador P. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 124-125.
27
1.3.1.3 Sociedade Limitada
Inicialmente, denominada Sociedade por Quotas de
Responsabilidade Limitada, esta Sociedade ganhou vida através do Decreto
n. 3.708 de 10 de janeiro de 1919, sendo, posteriormente, inserida no Código
Civil de 2002 em seus artigos 1.052 ao 1.087.52
Sua principal característica é a de os sócios responderem apenas
pelas partes que integralizaram no capital social. Haverá solidariedade,
porém, se um ou mais sócios não integralizar a parte a que se
comprometeu.53
Diferentemente da Sociedade Anônima, o capital social aqui se divide
em quotas, iguais ou desiguais. Os sócios deverão, no ato da constituição da
Sociedade, “subscrever parte do capital social e integralizá-lo posteriormente
em uma única ou em várias prestações, conforme constar no contrato
social”54, ou seja, adquirir quotas a partir do pagamento de valores que
correspondem ao capital social. As quotas, por sua vez, dão direito ao sócio
de participar de deliberações, fiscalização e administração da Sociedade.
Resumidamente, nas palavras de Wald:
As quotas representam frações do capital e sua importância está relacionada tanto com a contribuição dos sócios para a sociedade, quanto com a divisão interna do poder de decisão e a distribuição dos resultados. Em outras palavras, as quotas determinam o montante que o sócio está obrigado a entregar à sociedade e o percentual presumido de participação dos sócios no capital social e nos lucros.55
O sócio, portanto, que não integralizar a parcela do capital social
que subscreveu será denominado “sócio remisso”. Logo, poderá ser excluído
52 NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. vol. 1. p. 386. 53 Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social. 54 BERTOLDI, Marcelo M; RIBEIRO, Marcia C. P. Curso Avançado de Direito Comercial. 4. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 205. 55 WALD, Arnaldo. Comentários ao Novo Código Civil. Livro II – Do Direito de Empresa. Arts. 966 a 1.195. 1. ed. Coordenador: Sálvio de Figueiredo Teixeira. Rio de Janeiro: Forense, 2005. vol. XIV. p. 354.
28
do quadro societário, de acordo com o artigo 1.058, do Código Civil56, ou vir
a ser sujeito passivo numa futura Ação de Execução de Título Executivo
Extrajudicial, ajuizada pelos demais sócios, a fim de que seja forçado a
integralizar as quotas e condenado ao pagamento de juros, correção
monetária e custas judiciais mais honorários.57
Quanto à administração da Sociedade, o artigo 1.060, do Código
Civil estabelece: “a sociedade limitada é administrada por uma ou mais
pessoas designadas no contrato social ou em ato separado.” O Código Civil
ainda possibilita que tal encargo seja atribuído a pessoa estranha à
Sociedade.
Consequentemente, apenas o administrador poderá fazer uso da
firma ou denominação. Esta, por sua vez, será composta sempre pela
expressão “sociedade limitada” ou pela abreviação “Ltda” ao final do nome.
Em hipótese alguma este tipo societário poderá utilizar a palavra
“companhia” ou “Cia” antecedendo a denominação, sob pena de caracterizar
uma Sociedade Anônima.58
O Código Civil de 200259 trouxe a possibilidade do contrato social
da Sociedade Limitada instituir um Conselho Fiscal, composto por, no
mínimo, 3 (três) membros e seus respectivos suplentes, a fim de fiscalizar
os atos administrativos da Sociedade. Logo, tais membros não poderão fazer
parte de qualquer outro órgão da Sociedade, sob pena de agirem com
imparcialidade no cumprimento de suas funções.60
Note-se que a Sociedade Limitada foi estudada de forma mais
aprofundada em relação às outras Sociedades, pois é o tipo societário mais
56 Art. 1.058. Não integralizada a quota de sócio remisso, os outros sócios podem, sem prejuízo do disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, tomá-la para si ou transferí-la a terceiros, excluindo o primitivo titular e devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os juros da mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as despesas. 57 BERTOLDI, Marcelo M; RIBEIRO, Marcia C. P. Curso Avançado de Direito Comercial. 4. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 192. 58 MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 31. ed. rev. atual. ampl. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2007. p. 261. 59 “Art. 1.066. Sem prejuízo dos poderes da assembléia dos sócios, pode o contrato instituir conselho fiscal composto de três ou mais membros e respectivos suplente, sócios ou não, residentes no País, eleitos na assembléia anual prevista no art. 1.078.” 60 BERTOLDI, Marcelo M; RIBEIRO, Marcia C. P. Curso Avançado de Direito Comercial. 4. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 198.
29
comum no Brasil e “representa hoje mais de 90% das sociedades
empresárias nas Juntas Comerciais”61.
1.3.1.4 Sociedade em Comandita por Ações
A Sociedade em Comandita por Ações está prevista no Capítulo XXIII, da
Lei n. 6.404/76 e, também, nos artigos 1.090 ao 1.092, do Código Civil. Existem 2
(dois) tipos de sócios na sua composição: sócios diretores ou gerentes e sócios
acionistas. Os primeiros, necessariamente acionistas e nomeados pelo estatuto
social, possuem responsabilidade solidária, ilimitada e subsidiária ao patrimônio
social. Já os segundos respondem tão-somente pela integralização das ações
subscritas.62
A Sociedade poderá adotar firma social ou denominação, sempre seguida da
expressão “comandita por ações” ou em sua forma abreviada. De acordo com o
artigo 281, da Lei n. 6.404/7663, a presença de nome de sócio acionista na firma
social o obriga solidária e ilimitadamente, como se sócio diretor fosse.64
Quanto à administração da Sociedade, somente o sócio ou acionista tem
capacidade para geri-la, sendo denominado, desde logo, diretor ou gerente. Sua
destituição somente se dará “por deliberação de acionistas que representem 2/3
(dois terços), no mínimo, do capital social”65.
Este modelo societário possui características da Sociedade Anônima, bem
como da Sociedade em Comandita Simples, conforme palavras de Negrão:
Na responsabilidade dos sócios e na administração da sociedade, segue o modelo proposto pelas comanditas, como se fosse uma perfeita sociedade de pessoas: somente os sócios podem
61 COELHO, Fábio U. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 152. 62 NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. vol. 1. p. 421. 63 Art. 281. A sociedade poderá comerciar sob firma ou razão social, da qual só farão parte os nomes dos sócios-diretores ou gerentes. Ficam ilimitada e solidariamente responsáveis, nos termos desta Lei, pelas obrigações sociais, os que, por seus nomes, figurarem na firma ou razão social. 64 MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 31. ed. rev. atual. ampl. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2007. p. 409. 65 Art. 282, § 1°, da Lei n. 6.404/76.
30
administrá-la. Na estrutura econômica, seu capital é dividido em ações, facultando-lhe emitir outros valores mobiliários para plenamente exercer seu objeto social.66
1.3.1.5 Sociedade Anônima
Apesar de o Código Civil mencionar a existência da Sociedade Anônima,
limita-se a pontuar poucas características sobre este modelo societário, pois quando
da sua promulgação em 10 de janeiro de 2002, já havia lei específica tratando das
Sociedades por Ações – Lei n. 6.404 de 15 de dezembro de 1976.
Em resumo, nas palavras de Ulhoa Coelho:
As sociedades anônimas correspondem à forma jurídico-societária mais apropriada aos grandes empreendimentos econômicos. As suas características fundamentais são a limitação da responsabilidade dos sócios e a negociabilidade da participação societária, instrumentos imprescindíveis para despertar o interesse de investidores e propiciar a reunião de grandes capitais.67
Em linhas gerais, trata-se de uma empresa com fins lucrativos, que, como
qualquer outra sociedade empresária, está sujeita às normas de licitude, em
conformidade com a lei, os bons costumes e a ordem pública. Uma de suas
particularidades é poder ser chamada de Sociedade Anônima ou simplesmente
Companhia.68
Por tratar-se de elemento essencial ao presente trabalho, o estudo da
Sociedade Anônima será abordado de forma minuciosa a partir do próximo capítulo.
66 NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. vol. 1. p. 422. 67 COELHO, Fábio U. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. vol. 2. p. 63. 68 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 28. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 24-25.
31
2 SOCIEDADE ANÔNIMA SEGUNDO A LEI N. 6.404/76
2.1 HISTÓRICO E CONCEITO DE SOCIEDADE ANÔNIMA
2.1.1 Histórico
Apesar da divergência existente entre os diversos estudiosos das
Sociedades Anônimas quanto à sua origem, é unânime a ideia de que esta
desenvolveu-se com as companhias colonizadoras, como por exemplo, a
Companhia das Índias Orientais e a Companhia das Índias Ocidentais,
criadas, respectivamente, em 1602 e 1621. Segundo Almeida, há relatos de
que a Companhia das Índias Ocidentais acumulou enorme quantidade de
capital, chegando a distribuir dividendos de 19% ao ano.69
Tais Companhias, conforme Requião, configuraram-se como
o tipo ideal das sociedades colonizadoras do século XVII, surgindo a primeira em 1602, na Holanda. (...). Por sinal, em 1621, foi constituída nos Países Baixos a Companhia das Índias Ocidentais, que teve profunda ingerência em nossa história colonial. Seu escopo era patrocinar a conquista do Brasil, tanto que enviou expedição armada, ocupando o Nordeste e nomeando seu administrador o Príncipe de Nassau, conhecido personagem histórico.70
Inicialmente as Sociedades Anônimas constituíam-se por outorga
estatal. O Estado concedia o privilégio aos investidores como forma de
descentralização social, econômica e política. Com isso, as sociedades da
época eram formadas pela união de capital público e privado, as quais hoje
configurariam Sociedades de Economia Mista.71
69 ALMEIDA, Amador P. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 187. 70 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 28. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 26. 71 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 28. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 26.
32
Ocorre que os investidores das Sociedades, por essas terem
participação estatal, não possuíam plena liberdade de seus atos.
Concomitantemente, na Europa eclodia a Revolução Francesa do século
XVIII, que tinha por finalidade a liberdade dos indivíduos e,
consequentemente, a liberdade do comércio. Então, em 1807, o Código
Comercial francês estabeleceu que as Companhias dependiam, tão-
somente, de autorização para serem constituídas, não mais se submetendo
ao controle direto do Estado.72
No Brasil o histórico das Companhias é semelhante. As Sociedades
constituíam-se por outorga real ou imperial no período compreendido entre a
Colônia e o início do Império. O exemplo de maior destaque é o Banco do
Brasil, que foi constituído em 1808, por meio de alvará de D. João VI,
quando da vinda da família real ao Brasil.73
Semelhante ao que aconteceu na Europa, em 1849 um decreto
imperial introduziu no Brasil o sistema de autorização estatal de
funcionamento para as Sociedades Anônimas. Em 1882, tal sistema foi
extinto, nascendo assim, o sistema de regulamentação, que nada mais é do
que o registro em órgão próprio e a observância à legislação específica das
Companhias.74
Resumindo o período histórico das Sociedades Anônimas no Brasil,
Requião afirma que:
A plena liberdade de constituição das sociedades anônimas foi instituída no Brasil pelo Decreto n° 8.821, de 30 de dezembro de 1882. Mantiveram-se, porém, os sistemas anteriores, concomitantemente, pois ainda hoje existem sociedades outorgadas ou constituídas pelo poder de império do Estado, algumas até com um sócio apenas, que é a União. Outras, como as instituições financeiras, companhias de financiamento e companhias de seguros, por exemplo, dependem de autorização do governo para funcionar.75
72 BERTOLDI, Marcelo M; RIBEIRO, Marcia C. P. Curso Avançado de Direito Comercial. 4. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 219. 73 COELHO, Fábio U. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. vol. 2. p. 66. 74 COELHO, Fábio U. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. vol. 2. p. 66. 75 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 28. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 31.
33
2.1.2 Conceito de Sociedade Anônima
Almeida pontua que “o conceito de uma sociedade comercial, via de
regra, está intimamente ligado às características da própria sociedade
conceituada”76. E com a Sociedade Anônima não poderia ser diferente.
Dentre os conceitos apresentados pela doutrina para definir a
Sociedade Anônima, o de Carvalhosa é o mais amplo, pois:
(...) pode-se defini-la como pessoa jurídica de direito privado, de natureza mercantil, em que o capital se divide em ações de livre negociabilidade, limitando-se a responsabilidade dos subscritores ou acionistas ao preço de emissão das ações por eles subscritas ou adquiridas.77
Ressalta-se que no decorrer do presente trabalho será apresentado o
significado das palavras-chaves que compõe o conceito de Sociedade
Anônima.
2.2 CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE ANÔNIMA
Como afirmado anteriormente, para melhor compreender o conceito e o
sentido da expressão “Sociedade Anônima” é imprescindível analisar suas
características e peculiaridades frente às outras Sociedades Comerciais. Senão
vejamos suas principais particularidades:
76 ALMEIDA, Amador P. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 192. 77 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 6.ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 1. p. 94.
34
2.2.1 Capital Social
Segundo Coelho, o capital social refere-se à “contribuição que os sócios dão
para a sociedade desenvolver a atividade econômica dela”.78
O capital social de uma Sociedade Anônima “poderá ser formado com
contribuições em dinheiro ou em qualquer espécie de bens suscetíveis de avaliação
em dinheiro.”79
Não basta ser um bem suscetível de avaliação em dinheiro, mas que ele
tenha, realmente, alguma relação com o objeto social da empresa. Ressalta-se que
a integralização de ações com bens estranhos ao objeto social da companhia é
considerada exercício abusivo de poder pelo acionista controlador.80
Na interpretação de Carvalhosa:
Não basta que os bens conferidos ao capital sejam suscetíveis de avaliação em dinheiro. Muito mais importante do que isso é que sejam perfeitamente excutíveis e penhoráveis, sob pena de não terem os credores garantia efetiva nas suas relações com a companhia.81
Como o próprio artigo 1° da Lei 6.404/7682 prevê, a Companhia terá o
capital social dividido em ações. Estas, por sua vez, poderão ter ou não valor
nominal, como se verá a seguir.
2.2.2 Espécies de Ações
A ação é uma parcela do capital social que equivale a uma porção do acervo
da Sociedade Anônima. Sua titularidade permite o ingresso e a participação do
78 COELHO, Fábio U. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. vol. 2. p. 69. 79 Art. 7°, da Lei de Sociedades Anônimas. 80 Art. 117, § 1°, alínea h, incluída na LSA pela Lei n. 9.457 de 05 de maio de 1997. 81 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 6.ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 1. p. 203. 82 “Art. 1° A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas.”
35
chamado acionista nas questões que envolvam a Companhia. É o estatuto social
que define em quantas ações (partes), o capital social (todo) será fragmentado.83
Segundo Carvalhosa, “quando se fala em espécies de ações, está-se
referindo à natureza dos direitos ou vantagens que as mesmas conferem a seus
titulares”84.
Conforme o art. 15 da LSA85, existem 3 (três) espécies de ações: ordinárias,
preferenciais, ou de fruição:
2.2.2.1 Ações Ordinárias
As ações ordinárias são aquelas que conferem os direitos comuns e
essenciais a seus titulares. Esses direitos estão elencados no art. 109 da LSA, tais
como, a participação nos lucros sociais (I); participação no acervo da Companhia,
em caso de liquidação (II); fiscalização da gestão dos negócios sociais (III),
preferência na subscrição de ações (IV) e a possibilidade de retirar-se da sociedade
(V).86
Quanto à sua peculiaridade, as ordinárias são as únicas que tem
obrigatoriedade de emissão, ou seja, não pode haver capital social representado
apenas por ações preferenciais e/ou de fruição.
2.2.2.2 Ações Preferenciais
As ações preferenciais concedem determinadas vantagens aos seus
titulares em relação às ações ordinárias. O estatuto pode, no entanto, privar
83 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: Direito Societário: Sociedades Simples e Empresárias. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2010. vol. 2. p. 418. 84 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 6.ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 1. p. 15. 85 “Art. 15. As ações, conforme a natureza dos direitos ou vantagens que confiram a seus titulares, são ordinárias, preferenciais, ou de fruição.” 86 ALMEIDA, Amador P. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 234.
36
os titulares das preferenciais de alguns direitos concedidos aos possuidores
das ordinárias, obedecendo, obviamente, os direitos fundamentais previstos
no art. 109, da LSA87 já mencionado.88
Conforme art. 17, da Lei de Sociedades Anônimas, as ações
preferenciais também concedem: prioridade da distribuição de dividendos (I);
prioridade no reembolso do capital (II) e acumulação das vantagens
supracitadas.
Como dito anteriormente, pode o estatuto deixar de conferir às ações
preferenciais, os direitos concedidos às ações ordinárias, como por exemplo,
o direito de voto ou o exercício do voto restrito. Destaca-se que esse tipo de
restrição às preferenciais não pode ultrapassar 50% (cinquenta por cento) do
total das ações emitidas.89
2.2.2.3 Ações de Fruição
Esta espécie de ações, de acordo com a doutrina, “corresponde a um
valor que se atribui ao acionista que recebeu o valor de sua ação nas
hipóteses previstas na lei ou nos estatutos. Não representa, em
consequência, uma parcela do capital social”90.
As ações de fruição também podem ser denominadas ações de gozo
e resultam da integral amortização das ações ordinárias ou preferenciais.
Concluindo, Requião resume que:
(...) essas ações conferem o direito de participar dos lucros, de fiscalizar a sociedade, de preferência na subscrição de novas ações, pois com a amortização não foram afastadas da participação na vida social, direito esses assegurados pelo art.
87
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm>. Acesso em: 20 set. 2011. 88 Art. 111, da LSA: ”O estatuto poderá deixar de conferir às ações preferenciais algum ou alguns dos direitos reconhecidos às ações ordinárias, inclusive o de voto, ou conferi-lo com restrições, observado o disposto no artigo 109”. 89 Art. 15, § 2°, da LSA com redação dada pela Lei n. 10.303/01. 90 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 6.ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 1. p. 280.
37
109. Registre-se que não existe restrição, na companhia aberta ou fechada, na instituição das ações de fruição.91
2.2.3 Demais Classificações das Ações
2.2.3.1 Quanto à Forma
A Lei n. 6.404/76 previa a existência de ações nominativas, endossáveis e
ao portador. Entretanto, foi promulgada a Lei n. 8.021, de 12 de abril de 1990 que
alterou o art. 20 da LSA92 e revogou todas as disposições que tratavam dessas
ações, exceto as nominativas, que perduram até hoje.
Conforme Carvalhosa, estas são as ações registradas:
(...) cuja propriedade se presume pela inscrição do nome do acionista no livro próprio ou por lançamento na instituição custodiante e cuja transferência se opera também por termo lavrado em livro competente, datado e assinado pelo cedente e cessionário ou por seus legítimos representantes (art. 331).93
2.2.3.2 Quanto ao valor
As ações, a partir da Lei n. 6.404/76, passaram a ter a faculdade de
possuir ou não valor nominal.
O valor nominal é a “quantia expressa em dinheiro, determinada
pelos estatutos, constante do certificado (se houver) e que corresponde ao
91 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 28. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 125. 92
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm>. Acesso em: 20 set. 2011. 93 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 6.ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 1. p. 347.
38
preço mínimo que o subscritor pagará pela ação. Tal importância irá,
obrigatoriamente, para a conta de capital (art. 13)”.94
As ações sem valor nominal não expressam a contribuição do
acionista na constituição ou aumento do capital social, pois ela não
menciona valor em dinheiro, ao contrário das ações com valor nominal. Nas
Sociedades Anônimas que “adotam o regime de ações sem valor nominal,
outra deve ser a medida de participação do acionista no capital da
sociedade, esta se medirá em razão do número de ações de que é titular, em
proporção ao número total de ações emitidas.”95 Na constituição da
Companhia, o preço das ações sem valor nominal será determinado pelos
fundadores.
Conforme Coelho, em resumo:
A função do valor nominal é, na verdade, conferir aos acionistas uma específica e limitada garantia. Isto é, o valor nominal garante, em termos relativos, o acionista contra a diluição de seu patrimônio acionário, na hipótese de aumento de capital social com emissão de novas ações. Sempre que o preço de emissão de novas ações é inferior ao valor patrimonial das existentes, este último valor é reduzido.96 (Grifo no original).
2.2.4 Nome empresarial
As Sociedades Anônimas não possuem firma ou razão social. Estas só
podem ser usadas pelas Sociedades de Pessoas, ou seja, aquelas que se formam
pela presença da affectio societatis.
Adota-se o uso de denominação para identificar as Companhias. Nos termos
do art. 3°, da Lei 6.404/76, “a sociedade será designada por denominação
acompanhada das expressões „companhia‟ ou „sociedade anônima‟, expressas por
extenso ou abreviadamente, mas vedada a utilização da primeira ao final”.
94 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 6.ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 1. p. 237. 95 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 6.ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 1. p. 257. 96 COELHO, Fábio U. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. vol. 2. p. 84.
39
Logo, se utilizadas às palavras acima nominadas ao final do nome
empresarial, incorre-se em erro, pois estar-se-ia referindo à uma Sociedade de
Pessoas.
Complementando a ideia do art. 3°, da LSA97, veio o Código Civil de 2002
acrescentar em seu art. 1.160: “a sociedade anônima opera sob denominação
designativa do objeto social...”. Tal artigo traz mais uma característica das
Companhias: a de contemplar em seu nome a própria atividade empresarial que
desenvolverá.
Sobre o tema, Carvalhosa afirma que:
A indicação do objeto social deve ser feita de forma mais precisa possível, não se restringindo apenas as indicações genéricas como “indústria e comércio”, ou “importação e exportação”, mas contendo indicações precisas da atividade. Somente dessa forma é que a indicação do objeto social atingirá o objetivo de informar aos que contratam com a sociedade dos limites de seu objeto.98
2.2.5 Espécies de Companhias
As Companhias são classificadas em duas espécies: as abertas e as
fechadas. Conforme o art. 4°, da Lei 6.404/76, com redação dada pela Lei n. 10.303
de 31 de outubro de 2001, “a companhia é aberta ou fechada conforme os valores
mobiliários de sua emissão estejam ou não admitidos à negociação no mercado de
valores mobiliários”. Estas duas espécies serão examinadas a seguir.
2.2.5.1 Companhia de Capital Aberto
A Sociedade Anônima é considerada de capital aberto quando admite
que seus valores mobiliários sejam negociados publicamente em bolsas de
97
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm>. Acesso em: 20 set. 2011. 98 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 6.ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 1. p. 118.
40
valores ou mercado de balcão. Para melhor entendimento deste conceito,
necessário se buscar o significado das expressões “valores mobiliários” e
“mercado de balcão”.
Segundo Requião:
(...) valores mobiliários são todos os papéis emitidos pelas sociedades anônimas para captação de recursos financeiros no mercado. Mercado de balcão é atividade exercida fora das bolsas, relativas aos valores mobiliários, assim consideradas as realizadas com a participação das empresas ou de profissionais que tenham por objetivo distribuir aqueles valores.99
Para que seja considerada de capital aberto, a Sociedade deve
registrar seus valores mobiliários na Comissão de Valores Mobiliários –
órgão responsável por fiscalizar e regular o mercado dos referidos valores no
Brasil100. Trata-se de uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da
Fazenda, criado pela Lei n. 6.385 de 07 de dezembro de 1976.101
Nas palavras de Bertoldi, “ao contrário da companhia fechada, a
aberta caracteriza-se pelo fato de buscar recursos junto ao público em geral,
oferecendo os valores mobiliários de sua emissão a qualquer pessoa,
indistintamente”102.
2.2.5.2 Companhia de Capital Fechado
Apesar de não ser uma Sociedade de Pessoas, a Sociedade Anônima de
capital fechado caracteriza-se por possuir a affectio societatis na sua constituição.
99 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 28. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 54. 100 Art. 4°, § 1°, da Lei n. 6.404/76 com redação dada pela Lei n. 10.303/2001 – Somente os valores mobiliários de emissão de companhia registrada na Comissão de Valores Mobiliários podem ser negociados no mercado de valores mobiliários. 101 Art. 5°. É instituída a Comissão de Valores Mobiliários, entidade autárquica em regime especial, vinculada ao Ministério da Fazenda, com personalidade jurídica e patrimônio próprios, dotada de autoridade administrativa independente, ausência de subordinação hierárquica, mandato fixo e estabilidade de seus dirigentes, e autonomia financeira e orçamentária. 102 BERTOLDI, Marcelo M; RIBEIRO, Marcia C. P. Curso Avançado de Direito Comercial. 4. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 226.
41
Isso se deve ao fato dela restringir a negociabilidade de suas ações, selecionando
assim, sua composição societária.
Na definição de Almeida:
A affectio societatis surge nessas sociedades com toda a nitidez, como em qualquer outra das sociedades de tipo personalista. Seus interesses estão, pois, regulados pelo contrato, o que explica a pouca ingerência da fiscalização de órgãos públicos em seus negócios.103
Note-se, então, que os recursos desse tipo societário são provenientes das
contribuições dos próprios acionistas.
2.3 O ACIONISTA NA SOCIEDADE ANÔNIMA E SUA RESPONSABILIDADE
O acionista, como é chamado o sócio na Sociedade Anônima, pode ser
pessoa física ou jurídica, ressaltando-se que o número mínimo de acionistas para
constituir tal Sociedade é de 2 (dois), conforme artigo 80, da LSA104. O acionista é o
titular de uma ou mais ações, consequentemente, sua principal função na
Companhia é a de integralizar as ações que subscreveu.
Convém aqui citar a afirmação de Carvalhosa sobre a distinção entre
subscritor e acionista:
Subscritor é a pessoa natural ou jurídica que, tendo subscrito ações de uma companhia em constituição, adquirirá automaticamente a qualidade de acionista logo que esta se constitua em definitivo (art. 94). Por sua vez, acionista é a pessoa natural ou jurídica que subscreveu ações de uma companhia já constituída. Portanto, o subscritor, para adquirir a qualidade de sócio, deve aguardar a constituição efetiva da companhia. (Grifo no original)105
103 ALMEIDA, Amador P. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 57. 104 BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm>. Acesso em: 20 set. 2011. 105
CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 300.
42
Os direitos dos acionistas podem ser classificados em direitos essenciais e
direitos especiais. Conforme já mencionado no item 2.2.2.1, os direitos essenciais
dos acionistas estão previstos no artigo 109 da LSA106, quais sejam, a participação
nos lucros, a participação no acervo da Companhia, a fiscalização da gestão dos
negócios sociais, a preferência para subscrição de ações e a retirada da sociedade
nos casos previstos na lei.
Já os direitos especiais são aqueles concedidos aos detentores de
determinadas espécies de ações, como por exemplo, os titulares de ações
preferenciais. A estes estão reservadas as seguintes vantagens: prioridade na
distribuição de dividendos; prioridade no reembolso do capital, com prêmio ou sem
ele e; o acúmulo das vantagens anteriormente citadas.107
Importante frisar que o direito de voto não está elencado no rol do artigo 109,
da LSA, pois não é um direito essencial por existirem ações que não conferem tal
benefício ao seu detentor. O direito de voto pode, então, ser considerado um direito
especial.108
Traçadas as características gerais acerca do acionista, passa-se a estudar
de forma mais detalhada a figura dos 3 (três) tipos de sócios existentes na
Sociedade Anônima.
2.3.1 Acionista Controlador
Um dos exemplos de sócios encontrados nas Companhias é o acionista
controlador. Sua definição encontra-se no artigo 116, da LSA:
Art. 116. Entende-se por acionista controlador a pessoa, natural ou jurídica, ou o grupo de pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle comum, que:
106 BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm>. Acesso em: 20 set. 2011. 107 ALMEIDA, Amador P. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 281. 108 COELHO, Fábio U. Manual de Direito Comercial: Direito de Empresa. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 06-07.
43
a) é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos na deliberações da assembléia-geral e o poder de eleger a maioria dos administradores da companhia; e b) usa efetivamente seu poder para dirigir as atividade sociais e orientar o funcionamento dos órgãos da companhia.109
Ressalta-se que, para a doutrina, tal definição não merece qualquer
acréscimo ou supressão, pois conceitua esta espécie de acionista de modo claro
e objetivo110.
O artigo 116, da LSA também prevê as obrigações do controlador na
Sociedade em seu parágrafo único. Na interpretação de Carvalhosa:
O parágrafo único do presente artigo institui o dever fiduciário do controlador, cujo poder de governar autonomamente a companhia corresponde ao dever de fazê-lo visando à realização do seu objeto social, atendida a sua função social. Esse dever se estende à preservação dos direitos políticos e patrimoniais dos demais acionistas (ordinaristas e preferencialistas), além de atender aos interesses do fator trabalho da empresa, aos dos seus stakeholders e aos da comunidade em que atua. (Grifo no original)111
Ainda sobre o parágrafo único do artigo 116, da LSA, depreende-se
deste dispositivo que os sócios controladores não podem idealizar seus
interesses pessoais no comando da Sociedade em prejuízo dos interesses dos
acionistas minoritários e da própria Sociedade. Não obedecendo tal previsão, o
acionista controlador deve ser responsabilizado pelos danos que praticar com
abuso de poder, não apenas civilmente diante da Sociedade, mas também
administrativamente perante a Comissão de Valores Mobiliários, quando se
tratar de Companhia aberta.
Havendo comprovação da existência do dano, a sanção do controlador
será a de indenizar a Sociedade pelas perdas e danos ocasionados. Ressalta-
109 BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm>. Acesso em: 20 set. 2011. 110 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 576. 111 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 577-578.
44
se que o rol de atos abusivos cometidos pelos acionistas controladores previsto
na LSA, em seu artigo 117, § 1°, é exemplificativo e não exaustivo.112
2.3.2 Acionista Majoritário
O conceito de “maioria” e “minoria”, no estudo dos sócios da
Sociedade Anônima, significa o número de ações com direito a voto.
Acionista majoritário é, portanto, aquele que detém o maior número de ações
com direito a voto. Como na Sociedade Anônima atual nem todos os sócios
tem direito a voto, a maioria dos acionistas não tem acesso às disputas de
controle das Companhias.
Segundo Requião:
A perda de voto das ações se deve ao absenteísmo verificado nas companhias, onde a massa dos acionistas, mesmo com voto, não comparecia, como continua não comparecendo, às assembléias gerais. Somente os acionistas-empresários, preocupados com a detenção do controle, geralmente é que se dão ao trabalho de participar das assembléias. Da outra parte somente os que dissentem da orientação social é que comparecem.113
2.3.3 Acionista Minoritário
Consequentemente, acionista minoritário é aquele que detém menor
número de ações com direito a voto. Conforme a doutrina:
(...) não nos agrada a expressão “minoria” ou mais particularmente “proteção da minoria”, pois leva a certas ambiguidades e confusões; nem sempre, como se viu, é a maioria de acionistas que controla a sociedade, podendo perfeitamente esse controle ser detido pela minoria, capaz,
112 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 605. 113 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 28. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 178.
45
diante da dispersão e desinteresse dos acionistas-especuladores e rendeiros, de aglutinar maior número de ações inclusive através de procurações. Melhor seria se falássemos conceitualmente apenas em “proteção do acionista”, pois esta proteção sempre seria concedida ao acionista que não dispusesse do controle, ou não pertencesse ao grupo que o exerce.114
Por possuir menor poder na Companhia, ao sócio minoritário é
garantida uma série de direitos pela Lei de Sociedades Anônimas115. Um
desses direitos é a possibilidade dos acionistas minoritários se agruparem
em busca de um objetivo comum a todos. Nasce aí, uma das modalidades
de acordo de acionistas. Tal como afirma Bertoldi, “o acordo de acionistas
apresenta-se como uma ferramenta eficaz para a aglutinação dessa minoria,
por meio do qual seus signatários, não detentores do poder de controle da
companhia, procuram resguardar seus interesses em comum.”116
Tendo em vista as características e peculiaridades deste contrato
denominado acordo de acionistas, passa-se ao seu estudo de forma
pormenorizada no terceiro e último capítulo, dando-se maior ênfase ao
acordo de acionistas na modalidade “acordo de controle”, objeto do presente
trabalho.
114 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 28. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 179. 115 BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm>. Acesso em: 20 set. 2011. 116 BERTOLDI, Marcelo M. Acordo de Acionistas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 86.
46
3 ACORDO DE ACIONISTAS E O DIREITO DE RETIRADA DO
ACIONISTA MINORITÁRIO NAS SOCIEDADES ANÔNIMAS
O acordo de acionistas apresenta-se em 3 (três) modalidades: acordo de
controle societário, acordo de bloqueio e acordo de voto minoritário. A proposta
deste último capítulo é tratar do acordo de acionistas como um todo: desde seu
conceito, os tipos existentes, até o reflexo que este trará ao acionista não-
convenente e a possibilidade deste retirar-se da Sociedade.
3.1 ACORDO DE ACIONISTAS
Carvalhosa conceitua o acordo de acionistas como um contrato:
concluído entre acionistas de uma mesma companhia, tendo por objeto a regulação do exercício dos direitos referentes às suas ações, tanto no que concerne ao controle como ao voto dos minoritários ou, ainda, à negociabilidade dessas ações. Tais acordos visam à composição dos interesses dos acionistas com respeito ao exercício de seus direitos políticos, junto à companhia, e patrimoniais sobre suas ações.117
Assim como todo contrato, o acordo de acionistas deve satisfazer os
requisitos de validade para qualquer negócio jurídico, conforme o artigo 104 do
CC/02118. A seguir, algumas características deste tipo de contrato.
3.1.1 Noções Gerais
É requisito essencial do acordo que as partes devam ser,
necessariamente, titulares de ações. A Sociedade não pode ser parte no
117 CARVALHOSA, Modesto. Acordo de Acionistas. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 21. 118 BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 30 set. 2011.
47
acordo, nem mesmo seus administradores. A presença destes é considerada
fraude à lei por configurar tráfico de voto.
O acordo de acionistas produzirá efeitos perante terceiros e a própria
sociedade apenas quando for arquivado na sede social, de acordo com o
artigo 118, caput e § 1º, da LSA, com redação dada pela Lei n. 10.303/2001:
Art. 118. Os acordos de acionistas, sobre a compra e venda de suas ações, preferência para adquiri-las, exercício do direito a voto, ou do poder de controle deverão ser observados pela companhia quando arquivados na sua sede. § 1º As obrigações ou ônus decorrentes desses acordos somente serão oponíveis a terceiros, depois de averbados nos livros de registro e nos certificados das ações, se emitidos.
Ainda sobre o artigo 118, da LSA, observa-se que o objeto do acordo
de acionistas pode ser o exercício de controle societário, o exercício do
direito de voto dos sócios minoritários, bem como a compra e venda de
ações.
No entanto, pode haver acordo de acionistas que vão além destas
previsões. Sobre o tema, explica a doutrina:
(...) os acordos de acionistas podem conter cláusulas que versem sobre outras matérias que não se incluem entre aquelas próprias das três tipificações legais acima apontadas. [...] Essas cláusulas que extravasam o âmbito dos acordos de acionistas, tal como previsto na lei societária, não tem nenhuma eficácia perante a sociedade, como reiterado, restringindo-se ao âmbito das obrigações e responsabilidades afetas a eles e cuja eventual execução judicial ou arbitral não deve trazer a sociedade para a respectiva lide.119
3.1.2 Acordo de Acionistas nas Companhias de Capital Aberto e Fechado
Como já mencionado no presente trabalho, existem diferenças entre
a Sociedade Anônima de Capital Aberto e a Sociedade Anônima de Capital
Fechado. Nesta última prevalece a affectio societatis, ou seja, dá-se maior
relevância à relação pessoal entre os acionistas. Isto permite que exista uma 119 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 694.
48
maior liberdade e flexibilidade nas deliberações societárias, no que tange os
interesses dos sócios.
A Companhia de capital fechado possui, geralmente, um número
significativamente menor de sócios do que aquelas cujo capital é aberto. Por
este motivo é que a presença de acordo de acionistas nas companhias de
capital fechado é, também, inferior.
Com a junção destas características - menor número de sócios e a
presença da affectio societatis – as matérias que seriam próprias de acordos
de acionistas, já estão contidas no próprio estatuto social destas
Companhias.
A doutrina entende:
Na prática das companhias fechadas, esses acordos muitas vezes estão inseridos diretamente no estatuto social. A função, a natureza e os efeitos desses convênios constantes no estatuto são quase idênticos às avenças próprias dos acordos firmados em instrumento apartado.120
3.2 TIPOS DE ACORDOS DE ACIONISTAS
Conforme mencionado anteriormente, passa-se à análise das 3 (três)
modalidades de acordo de acionistas previstos no artigo 118, da Lei de Sociedades
Anônimas.
3.2.1 Acordo de Bloqueio
Também denominado “acordo de compra e venda de ações”, o
acordo de bloqueio nada mais é do que um pacto entre acionistas de uma
certa Sociedade Anônima, onde estes instituem determinados limites acerca
120 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 724.
49
da transmissão de suas ações, no que concerne à alienação ou preferência
para obtê-las.
No entendimento de Bertoldi, 3 (três) são os motivos pelos quais os
acionistas pactuam este tipo de acordo: a) para manter a estabilidade da
Companhia quanto aos seus membros, ou seja, restringir a entrada de
“terceiros indesejáveis”; b) para evitar o inadimplemento das ações com a
sua transmissão ilimitada e c) para manter o poder de controle da
Companhia entre os acionistas e evitar, assim, a concentração da
titularidade da maioria das ações numa só pessoa.121
Quanto ao seu objeto, conforme a doutrina, “os acordos de bloqueio,
de natureza unilateral, têm por função restringir a transmissibilidade das
ações, presentes e futuras, dos acionistas convenentes.”122 (Grifo no original)
A principal cláusula que o acordo de bloqueio prevê é a preferência
na aquisição e venda de ações. Tal cláusula gera 2 (duas) obrigações ao
contratante: a de obrigá-lo a informar aos demais participantes do acordo a
sua intenção de vender ações e a obrigação de noticiar o beneficiário da
alienação.
Nas palavras de Carvalhosa:
Há um vínculo contratual que obriga o acionista alienante e os demais pactuantes a manifestarem eficazmente sua vontade, no sentido do cumprimento das cláusulas regulares do acordo de bloqueio. [...] O objeto da cláusula de bloqueio é o de comunicar a intenção de vender ações, fazendo-o, de preferência, a favor das próprias partes contratantes, que se interpõem à realização de eventual negócio de venda das mesmas a terceiros. Os convenentes do bloqueio, na espécie, perseguem a possível realização, em futuro incerto, de um contrato principal de compra e venda de ações.123
Necessário ressaltar que, com a vontade do acionista de sair do
quadro societário da Companhia, este deverá oferecer suas ações por preço
previamente ajustado e que seja justo. Portanto, não é admitido, no caso de
121 BERTOLDI, Marcelo M. Acordo de Acionistas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 89. 122 CARVALHOSA, Modesto. Acordo de Acionistas. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 274. 123 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 707-708.
50
preferência de compra e venda de ações, a prática de especulação,
modalidade típica das negociações em bolsa de valores.
No esclarecimento da doutrina:
O objeto da cláusula de bloqueio é o de comunicar a intenção de vender ações, fazendo-o, de preferência, a favor das próprias partes contratantes, que se interpõem à realização de eventual negócio de venda das mesmas ações a terceiros. Os convenentes do bloqueio, na espécie, perseguem a possível realização, em futuro incerto, de um contrato principal de compra e venda de ações.124
Em resumo, o acordo de bloqueio não poderá, em hipótese alguma,
restringir o direito do sócio convenente de dispor de suas ações. Tal pacto
poderá, tão-somente, pontuar a preferência de ordem para a compra e venda
destas ações.
3.2.2 Acordo de Voto Minoritário
A segunda modalidade de acordo de acionistas prevista na lei
societária é o acordo de voto minoritário. Tal acordo é um pacto que, por
meio do qual, os sócios minoritários estabelecem suas intenções no que diz
respeito aos seus direitos políticos.
Importante pontuar que o acordo de voto não vincula a Sociedade
aos propósitos dos minoritários, apesar de observar o interesse social da
Companhia. Como não são os acionistas minoritários que conduzem as
atividades sociais, a Sociedade não é titular de interesse nesse tipo de
acordo.
A constituição do acordo de voto minoritário se dá através da affectio
existente entre os sócios participantes. No entanto, os direitos individuais de
cada minoritário não podem prevalecer sobre o interesse social da
Companhia.
124
CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 708.
51
As principais características dessa convenção são: a) contrato
plurilateral; b) contrato parassocial e c) contrato acessório.
É contrato plurilateral, pois é pactuado por mais de uma parte onde
estas convergem seus interesses. Diz-se parassocial haja vista que seus
efeitos são percebidos no âmbito da Sociedade. Já a acessoriedade
atribuída é definida pela ausência de interferência direta no interesse social
previsto no estatuto.
No entendimento de Carvalhosa:
Os acionistas minoritários vinculados por acordo de voto caracterizam-se pela vontade expressa de intervir eficazmente na vida da companhia, por meio de uma efetiva participação política, não apenas no interesse dos próprios convenentes, mas também na preservação do interesse social por parte daqueles que devem implementá-lo (controladores e administradores).125
3.2.3 Acordo de Controle Societário
A última modalidade de acordo que será analisado é o acordo de
controle societário. Tal modelo contratual foi inserido no Direito Societário
pela Lei n. 10.303/01, a qual alterou substancialmente o artigo 118, da LSA,
que trata do acordo de acionistas. Anteriormente à reforma, a lei societária
previa apenas os acordos de acionistas que tratavam sobre o exercício de
direito de voto e sobre a compra e venda de ações.
A doutrina ensina que controle societário é o poder de conduzir as
atividades sociais. Consequentemente, controlar uma Companhia, nada mais
é do que instituir, de forma permanente, a vontade daqueles que detém este
poder para que a Companhia alcance o seu objeto social.126
Diante de tal entendimento, Bertoldi conceitua acordo de controle
societário como:
125 CARVALHOSA, Modesto. Acordo de Acionistas. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 267. 126 CARVALHOSA, Modesto. Acordo de Acionistas. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 211.
52
aquela espécie de pacto firmado entre acionistas que, individualmente, não detém o controle da companhia, mas que, por meio do acordo, pretendem obter ou manter o seu controle, fazendo com que, dessa forma, prevaleça a vontade do grupo de acionistas vinculados pelo acordo nas deliberações da assembléia geral.127
Como visto, com a reforma da lei societária pela Lei n. 10.303/01, o
acordo de acionistas conquistou maior poder dentro da Companhia. A
inclusão do parágrafo 8º ao artigo 118128, da LSA, vinculou alguns órgãos
societários ao acordo de controle: “estão vinculados ao acordo, no que
respeita a seus votos sobre matérias relevantes e extraordinárias, os
membros do conselho de administração eleitos pela comunhão dos
controladores e também os diretores, em reunião regular da diretoria”129.
O exercício do acordo de controle se dá através das chamadas
reuniões prévias. Estas, como o próprio nome já diz, são reuniões dos
controladores que tem como função expor, debater e decidir pela vontade da
maioria dos signatários do acordo de controle.
A deliberação tomada em reunião prévia será a vontade da comunhão dos controladores, formada em decorrência do acordo de voto em bloco. Assim, a reunião prévia, regularmente instalada, representa a universalidade dos signatários do acordo de controle. O requisito de validade da reunião prévia é que tenha sido convocada e instalada consoante as normas pactuadas no respectivo acordo de controle. [...] As deliberações tomadas na reunião prévia têm como primeiro efeito a indivisibilidade interna e externa da vontade da comunhão de controle, decorrente do acordo de voto em bloco.130 (Grifo no original)
O acordo de voto em bloco, definido na reunião prévia, deve
respeitar, obrigatoriamente, o disposto no parágrafo único do artigo 116, da
LSA131, o qual trata da responsabilidade do acionista controlador. O voto em
127 BERTOLDI, Marcelo M. Acordo de Acionistas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 77. 128 § 8o O presidente da assembléia ou do órgão colegiado de deliberação da companhia não computará o voto proferido com infração de acordo de acionistas devidamente arquivado. 129 CARVALHOSA, Modesto. Acordo de Acionistas. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 214. 130 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 672. 131 Art. 116, parágrafo único. O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e tem deveres
53
bloco “atende ao interesse comum dos que compõem esse mesmo controle
e, sobretudo, ao interesse social, pois é na esfera da sociedade que esse
interesse coletivo dos acionistas vai se produzir”132.
Evidentemente, o poder originado por este tipo de controle apresenta
reflexos nos demais sócios:
Em relação aos demais acionistas, o controle apresenta-se como o poder permanente de decidir por outrem, produzindo efeitos na esfera patrimonial destes, decorrentes dos resultados da gestão societária. No aspecto patrimonial, portanto, o exercício do controle produz, quanto aos minoritários, efeitos indiretos, incidindo sobre o patrimônio acionário deles. Produz, obviamente, efeitos diretos sobre o patrimônio da companhia.133 (Grifo no original)
3.3 O DIREITO DE DISSIDÊNCIA PELO ACIONISTA MINORITÁRIO NÃO
PARTICIPANTE DE ACORDOS DE ACIONISTAS
O artigo 109, da Lei de Sociedades Anônimas134 prevê a possibilidade do
sócio se retirar da Sociedade como um direito essencial.
Conforme Requião, “o direito de recesso ou de retirada do acionista, com o
pagamento de seus haveres da companhia, nos casos previstos em lei, é
assegurado como um direito seu fundamental. Não pode ser negado nem pelo
estatuto nem pela companhia.”135
Da leitura dos artigos 109, 136 e 137, todos da LSA, observa-se as
situações que ensejam o direito de retirada por parte do sócio:
e responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nela trabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente respeitar e atender. 132 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 682. 133 CARVALHOSA, Modesto. Acordo de Acionistas. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 212. 134 Art. 109. Nem o estatuto social em a assembléia-geral poderão privar o acionista dos direitos de: V – retirar-se da sociedade nos casos previstos nesta Lei. 135 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 28. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 194.
54
I – criação de ações preferenciais ou aumento de classe de ações preferenciais existentes, sem guardar proporção com as demais classes de ações preferenciais, salvo se já previsto ou autorizado pelo estatuto; II – alteração nas preferências, vantagens e condições de resgate ou amortização de uma ou mais classes de ações preferenciais, ou criação de nova classe mais favorecida; III – redução do dividendo obrigatório; IV – fusão da companhia, ou sua incorporação em outra; V – participação em grupo de sociedades; VI – mudança do objeto da companhia; VII – cessação do estatuto de liquidação da companhia; VIII – criação de partes beneficiárias; IX – cisão da companhia; X – dissolução da companhia.136
O direito de retirada, também denominado direito de recesso, funda-se na
pretensão do acionista em não mais continuar vinculado a uma Companhia que, por
decisão de outros sócios, sofreu modificações sem a sua anuência.
Portanto, o recesso é a possibilidade concedida ao sócio em sair da
Sociedade, levando consigo a reposição do valor de suas ações. Frise-se que a
Companhia tem o dever de reembolsar o valor das ações ao acionista dissidente.
Reembolso, no presente caso, pode ser entendido como o ato da Companhia em
pagar ao acionista dissidente o valor de suas ações.
O prazo para que o sócio exerça seu direito de recesso é, segundo o
inciso IV, do artigo 137, da LSA137, de 30 (trinta) dias contados da publicação
da ata da assembléia-geral.
A doutrina expõe que o direito de recesso:
Constitui instrumento legal de proteção aos não controladores. [...] Permite, dessa forma, a lei que o acionista, por sua vontade manifestada oportunamente, deixe de suportar determinados efeitos jurídicos decorrente da decisão majoritária sobre matérias específicas.138
136 ALMEIDA, Amador P. Manual das Sociedades Comerciais: Direito de Empresa. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 277-278. 137 Art. 137. A aprovação das matérias previstas nos incisos I a VI e IX do art. 136 dá ao acionista dissidente o direito de retirar-se da companhia, mediante reembolso do valor das suas ações (art. 45), observadas as seguintes normas: IV – o reembolso da ação deve ser reclamado à companhia no prazo de 30 (trinta) dias contado da publicação da ata da assembléia-geral; 138 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 1.071.
55
Segundo Carvalhosa, existem 2 (dois) pressupostos para que seja
concedido o direito de retirada ao acionista:
O primeiro pressuposto para o exercício do direito de recesso é o de haver ocorrido modificação institucional na companhia, incluída entre as hipóteses exaustivamente tipificadas na lei. [...] O segundo pressuposto é o de não ter o acionista consentido com a deliberação tomada pela maioria a respeito. [...] O pressuposto é que a alteração tenha afetado direito patrimonial do acionista, em termos de diminuição de seus direitos decorrentes dessa alteração. Sem a demonstração dessa diminuição dos direitos patrimoniais o direito de recesso não poderá ser exercido.139
Sabe-se que a Sociedade é administrada por deliberações e decisões
tomadas pela maioria de seus sócios ou pelos detentores da maior parte das
ações. Entretanto, “entende-se que alguns direitos individuais dos
minoritários devam ser tutelados nas situações nas quais a maioria dos
sócios tenha a prerrogativa de alterar direitos fundamentais de todos os
demais sócios”.140
A doutrina também tece críticas ao direito de retirada do acionista
dissidente, dentre as quais que “tal direito restringe ou impossibilita
mudanças necessárias ao desenvolvimento social, na medida em que cria
um ônus financeiro excessivo à empresa;” ou que “configura um entrave ao
crescimento da empresa e estimula a sua descapitalização, premiando quem
sai e punindo quem permanece no negócio”; ou que o direito de recesso até
mesmo “acaba por criar um mercado especulativo de acionistas profissionais
que buscam um lucro fácil às custas da companhia e da sua
continuidade”.141
É nítida a divergência na doutrina no que tange o direito de retirada.
Porém, há que se observar uma situação não ventilada pela legislação
societária. O acionista minoritário que escolhe não participar de qualquer
acordo de acionistas da Companhia pode sofrer prejuízos patrimoniais, ou
139 CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. vol. 2. p. 407-408. 140 PRADO, Roberta N.; PEIXOTO, Daniel M. Direito Societário: Reorganizações Empresariais: Aspectos Societários e Tributários. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 96. 141 PRADO, Roberta N.; PEIXOTO, Daniel M. Direito Societário: Reorganizações Empresariais: Aspectos Societários e Tributários. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 98-99.
56
até mesmo em seus direitos políticos, pelas decisões tomadas pelos
pactuantes de acordos.
Por todo o exposto até o presente momento, verifica-se que é
facultado ao sócio da Sociedade Anônima participar de acordos de
acionistas:
[...] somente há de se falar em acordo de acionistas quando tal seja firmado por pessoas que possuam a qualidade de acionistas. Todo e qualquer pacto que venha a ser firmado com terceiro estranho as quadros sociais tratar-se-á de um contrato não classificado como acordo de acionistas, cuja validade dependerá da presença daqueles requisitos genéricos exigidos para todo e qualquer negócio jurídico [...].142
Portanto, ao acionista é concedida a possibilidade de pactuar com
outros sócios a preferência para compra e venda de ações, bem como
estabelecer o controle societário.
A partir do momento que os acionistas convenentes tem o poder de
concentrar seus votos num determinado administrador ou que tenha o poder
de controlar direta ou indiretamente as atividades sociais, o acionista
minoritário acaba por silenciar-se, não tendo voz alguma dentro da
Companhia.
Torna-se necessário reiterar aqui o que fora citado anteriormente:
Em relação aos demais acionistas, o controle apresenta-se como o poder permanente de decidir por outrem, produzindo efeitos na esfera patrimonial destes, decorrentes dos resultados da gestão societária. No aspecto patrimonial, portanto, o exercício do controle produz, quanto aos minoritários, efeitos indiretos, incidindo sobre o patrimônio acionário deles.” (Grifou-se)
A doutrina supracitada reconhece que as decisões de acordos de
controle, por exemplo, geram reflexos no acionista minoritário.
Resta a dúvida se o acionista minoritário não-convenente é,
realmente, prejudicado pelas decisões dos acordos de acionistas e, se
confirmada tal hipótese, se aquele teria o direito de recesso previsto no
artigo 137, da LSA, o qual omite-se acerca de tal situação.
142 BERTOLDI, Marcelo M. Acordo de Acionistas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 57.
57
Diante desta situação, vislumbra-se a necessidade de reforma da
legislação societária no que tange o direito de retirada e o acordo de
acionistas. O rol previsto no artigo 137 da Lei de Sociedades Anônimas é
taxativo e, portanto, não admite maiores interpretações.
Busca-se, no entanto, a modificação de tal previsão legal, sendo
fundamental a inclusão do direito de retirada do sócio minoritário não
convenente da Sociedade Anônima, quando este entender-se prejudicado
por decisões tomadas por acordos de acionistas.
58
CONCLUSÃO
Para o desenvolvimento do presente trabalho e para que houvesse
maior elucidação acerca do objeto tratado, dividiu-se o tema em 3 (três)
capítulos.
O primeiro capítulo tratou de introduzir a matéria a partir da evolução
histórica das sociedades comerciais. Após, discorreu-se sobre cada
sociedade empresária existente atualmente na legislação brasileira para que,
ao final do capítulo, houvesse a introdução do segundo capítulo. Este, por
sua vez, tratou da Sociedade Anônima como um todo, desde seu conceito,
evolução histórica, previsão legal, características e, ao final, estudou de
forma mais detalhada a pessoa do acionista, o qual seria a figura principal do
terceiro capítulo.
Já o terceiro e último capítulo fora reservado para o estudo minucioso
do acordo de acionistas, suas modalidades e efeitos perante a Companhia e
o direito de retirada do sócio não-convenente nas Sociedades Anônimas.
Também chamada de Companhia, a Sociedade Anônima é uma
espécie de Sociedade Empresária constituída através de um estatuto social.
Seu capital é fracionado em títulos denominados ações. O detentor destes
títulos é chamado de sócio ou acionista. Portanto, por possuir parte do
capital social, o acionista tem direitos e deveres dentro da Sociedade
Anônima.
Dois dos direitos facultados ao acionista são a possibilidade de
retirar-se da Sociedade quanto este entender-se prejudicado (direito de
recesso) e a possibilidade de pactuar com outros sócios sobre a compra e
venda de ações, bem como sobre a forma de administração das atividades
sociais (acordos de acionistas).
Em virtude do aumento do número das grandes Companhias e dos
acionistas investindo nestas, cada vez mais aparecem os acordos de
acionistas. Como mencionado no presente trabalho, reitera-se que a
principal função destes acordos é pactuar sobre os interesses dos membros
59
que o compõem no sentido de direcionar os negócios sociais e assegurar
seus direitos políticos dentro da Sociedade.
Frise-se que a contratação de acordos é uma faculdade concedida
aos acionistas, não tendo estes, obrigação alguma em pactuá-los. Contudo,
tendo em vista a possibilidade dos demais sócios pactuarem acordo de
controle societário, acordo de voto minoritário ou acordo de bloqueio, o sócio
que não participa de nenhum destes acordos pode vir a ser prejudicado em
virtude de decisões tomadas por estes grupos.
A Lei n. 6.404/76, também denominada Lei de Sociedades Anônimas,
prevê o direito de retirada do acionista, porém não contempla todas as
situações que possam vir a ser prejudiciais ao minoritário. O caso de
deliberações e decisões tomadas pelos acordos de acionistas é uma dessas
situações em que a lei é omissa.
No decorrer da presente pesquisa verificou-se a escassa quantidade
de doutrina acerca do tema “acordo de acionistas” e, em quantidade menor
ainda, a abrangência e profundidade com que os autores discorriam sobre o
direito de retirada na Lei de Sociedades Anônimas.
No entanto, mesmo com pouquíssimo material sobre o tema, buscou-
se, de todas as formas, explanar os principais conceitos e termos legais a fim
de ensejar um maior entendimento da matéria para que, ao final, fosse
possível identificar a omissão na legislação societária.
Observou-se, portanto, que é necessária uma maior reflexão acerca
do direito de retirada do sócio não-convenente diante das decisões tomadas
pelos acordos de acionistas e, evidentemente, a sua inclusão no rol do artigo
137, da Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976.
60
REFERÊNCIAS
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