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CFCUL – O LUGAR DA FILOSOFIA DA CIÊNCIA NA NOVA UL 14.Fevereiro.2013 1 O QUE É A UNIVERSIDADE? Universidade e Organização de Saberes 14 de Fevereiro de 2013 O que é a Universidade? A esta pergunta Bernardino Machado, lente da Faculdade de Filosofia, respondeu na oração de sapiência da abertura das aulas na Universidade de Coimbra em Outubro de 1904 “Uma Universidade deve ser escola de tudo, mas sobretudo de liberdade”. E especificou: “Uma Universidade é um laboratório, uma oficina modelo, onde professores e discípulos, como CFCUL – O LUGAR DA FILOSOFIA DA CIÊNCIA NA NOVA UL

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CFCUL – O LUGAR DA FILOSOFIA DA CIÊNCIA NA NOVA UL 14.Fevereiro.2013

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O QUE É A UNIVERSIDADE?

Universidade e Organização de Saberes

14 de Fevereiro de 2013

O que é a Universidade? A esta pergunta Bernardino

Machado, lente da Faculdade de Filosofia, respondeu na

oração de sapiência da abertura das aulas na Universidade

de Coimbra em Outubro de 1904 “Uma Universidade deve

ser escola de tudo, mas sobretudo de liberdade”.

E especificou: “Uma Universidade é um laboratório, uma

oficina modelo, onde professores e discípulos, como

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verdadeiros operários e aprendizes, não têm por ocupação

consumir ideias, mas produzi-las”.

Ortega y Gasset proferiu em 1929 uma conferência sobre a

Missão da Universidade onde explicitou que “Universidade

e Laboratório são órgãos distintos e correlativos em uma

fisiologia completa incoercível e insindicável. Como tal a

Universidade deve tratar dos grandes temas da

actualidade e ser o que foi nas suas horas melhores: um

princípio promotor da história europeia.

Neste quadro amplo de pensamento não é de admirar que

a “Magna Charta Universitatum”, assinada pelos reitores

das universidades europeias em Outubro de 1988, declare

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“perante os estados e a consciência dos povos que a

Universidade é uma instituição autónoma que, de modo

crítico, produz e transmite cultura através da investigação

e do ensino, independente de qualquer poder político,

económico e ideológico”.

Somos entretanto chegados aos anos 2000, à sociedade do

conhecimento, a novos conceitos de saber e criar, a

configurações de novos produtivismos, a desafios da

globalização e de proximidade com efeitos variáveis em

função da dimensão dos países e dos direitos sociais dos

cidadãos e, ao mesmo tempo, verificamos que a civilidade

está longe de ocupar o coração do desenvolvimento.

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A Universidade em 2013 para ser fiel às origens é chamada

à liderança não só da criação e transmissão de saberes mas

também da transformação do conhecimento em bens

económicos, sociais ou culturais. A sucessão sequencial de

primeiro saber, segundo avaliar e terceiro aplicar

desapareceu para se passar a actos de simultaneidade em

que só sabe quem faz e só faz quem sabe.

Como consequência teoriza-se sobre a “entrepreneurship

university” – a “universidade empreendedora” – na qual

predominam os ambientes “interdisciplinares” e

“pluridisciplinares complementares”, ultrapassando a

especialização limitativa. A procura da unidade teleológica

do saber volta de novo a incentivarmo-nos a entrar “com

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imaginação no interior das coisas”, parafraseando Gaston

de Bachelard. A Filosofia da Ciência é um instrumento

imprescindível para compreender essa unidade teleológica,

como mediadora entre a liberdade de imaginação e a

liberdade comprometida da razão. É nesse quadro que a

Universidade identifica “pilares de excelência”, os quais a

consolidam como suporte da comunidade, a tornam

imprescindível ao Estado-Soberano e ao Estado-

-Cliente e lhe permite abrir espaços de atracção para

financiamentos externos.

Por tudo isto, curiosamente, hoje mais do que nunca

apesar dos séculos, adquire pleno significado o termo

“educare” atribuído por Cícero em De Amicitia como

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sendo: “alimentar”, “formar”, “treinar”, “conduzir para

longe”, “empreender”…

E é na Universidade, escola de liberdade, que se encontra o

“campus fértil” para a cultura dos valores do Terceiro

Milénio tão bem expostos nas lições que Italo Calvino

ministrou em Harvard em 1984: a “leveza, do saber

pensar”, a “rapidez na agilidade do raciocínio”, a “exactidão

da linguagem precisa”, a “visibilidade que rejeita a

memória como depósito de lixo mediático” e a

“multiplicidade que permite tecer os diferentes saberes

numa visão multifacetada”, sempre consciente de que

apesar das maravilhas da evolução tecnológica são os “bits

que comandam as máquinas”. Italo Calvino não chegou a

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proferir a conferência sobre a “consistência”, a qual

estabelece a coerência entre o pensamento e a acção, o

que exige uma estrutura criativa e interactiva dos saberes.

Como consequência impõe-se que cada vez mais se dê

natural ênfase aos binómios educação-formação,

educação-cultura, educação-filosofia, educação-sociologia,

educação-economia e educação – civilidade. Acresce que

perante a continuidade e a complexidade da vida dos

cidadãos nos tempos de hoje, em que o hiato temporal

entre a criação do conhecimento e o seu uso derivado da

criação de riqueza é cada vez menor, emerge a urgência em

o poder político, o poder académico e o poder económico

ou seja Governo-Universidade-Empresa (económica e

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cultural) constituirem “Hélices Triplas” cooperativas. Elas

são impulsionadoras da inovação aberta, da inovação em

acção e bases de um modelo de desenvolvimento, que se

orienta por objectivos bem definidos. A existência de

múltiplas fontes do conhecimento exige mais do que nunca

o culto desses valores até por que não haverá “Reformas

do Estado” credíveis, nem “Anatomias de Novos Poderes”

aceites pelos cidadãos, se tais reformas apenas

significarem a captura do Estado por grupos de interesses

ora legítimos ora ilegítimos.

A Universidade não deve nem pode ser alheia a todo este

processo, pois está em causa a sobrevivência nacional e os

portugueses, apesar de todas as vicissitudes, ainda olham

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para a Universidade como Ortega y Gasset preconizou

“intrometida na vida, envolvida nas suas urgências e

paixões, posicionando-se como um “poder espiritual”,

representando a serenidade em oposição ao frenesi, a séria

perspicácia em presença da frivolidade e declarada

estupidez”.

Só assim o “conhecimento” – nosso alimento mais

soberano – será utilizado com oportunidade para bem do

cidadão e só assim, se pode cumprir a máxima de Einstein:

“quem não faz as coisas a tempo está perdido”. Está em

causa o “saber”, o “saber fazer” e o “fazer”.

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Meus Caros Companheiros:

A Universidade de Lisboa possui um património físico

invejável, associando uma riqueza cultural a um conjunto

de modernas infra-estruturas e a um património

intangível com notáveis contribuições ao longo do seu

percurso histórico para a teoria e prática do

conhecimento e para o conteúdo dos saberes. Porém,

perante os desafios anteriormente equacionados

algumas perguntas, entre outras, surgem com

naturalidade e que a nova Universidade de Lisboa não

pode ignorar:

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Que saberes existem e quais as perspectivas de criação

e de evolução? Conhecemos as coisas como são ou

como parecem? Que novos saberes se perspectivam?

A que valores devem obedecer uma reestruturação e

uma fertilização de saberes?

Que mudanças estruturais e comportamentais são

necessárias e oportunas e quais os períodos de

transição a adoptar que evitem roturas e isolamentos?

É que tais mudanças implicam aspectos de ordem

epistemológica. Afinal, de forma implícita, está em

causa o aprofundamento da missão e funções da

Universidade num mundo em mudança, com

consequências em opções de governação, na

organização de cenários de desenvolvimento, de

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cooperação orgânica e na autenticidade das várias

vertentes de uma autonomia responsável. Por outro

lado essa reorganização e fertilização de saberes

implicam outras questões:

- Que contribuição a Universidade de Lisboa se propõe

dar aos grandes desafios do Século XXI? E quais são os

que ela selecciona como cerne da sua missão?

- Qual o papel da Universidade de Lisboa na construção

de um novo modelo de desenvolvimento para o nosso

País?

Não vou naturalmente dar resposta a estas questões mas

tomo a liberdade de contribuir com um testemunho breve,

baseado no meu percurso de vida.

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Meus Caros Companheiros:

A minha sedução por desvendar segredos da estrutura da

matéria iniciou-se na juventude ao contemplar o “reino

maravilhoso do granito” com o contraste do “bate leve,

levemente dos flocos de neve e das estalactites dos beirais

dos telhados”. Essa sedução continuou na adolescência

quando amante da Física e da Química o meu professor de

Religião e Moral do Liceu Normal D. João III me desafiou

para identificar provas de origem do Universo e da

existência de Deus. De seguida as tertúlias académicas de

Coimbra proporcionaram-me camaradagens inesquecíveis

com companheiros de outras faculdades e, ao contrário da

habitual autoridade da cátedra, com professores de uma

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Escola Moderna de Física e Química. E como recordo a

“Tertúlia do Arcádia e do Parque” nas margens do

Mondego em que participavam entre outros Miguel Torga,

Afonso Queiró, Guilherme de Oliveira, Dias Pereira,

Anselmo de Castro.

Em Cambridge, no Cavendish Laboratory, sou operário e

aprendiz em experiências levadas a cabo com máquinas ao

tempo consideradas gigantescas, como o acelerador Van-

de-Graff onde com protões se bombardeavam núcleos

para provocar reacções e produzir ideias para definir

modelos de organização dos átomos. Nos dias de hoje

quedo-me perplexo perante o Grande Colisor de Hádrons

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do CERN, onde se procura afincadamente a certeza da

“partícula de Deus” e o seu significado…

Dos meus estudos em Cambridge recordo ainda as

conversas com Otto Frisch pioneiro da fissão nuclear e as

controvérsias íntimas entre a Ciência indomável no

processo do saber pelo saber e a Tecnologia domesticável

que pode conduzir a desastres civilizacionais e a ferir os

direitos humanos.

Que lições podemos então retirar da aventura humana em

prol de um conhecimento ilimitado e como deve a

Universidade proporcionar aos estudantes, aos professores

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e à sociedade reflexões oportunas sobre a filosofia da

Ciência e a filosofia do desenvolvimento?

A influência de “Conferências Interdisciplinares”, que todas

as semanas Cambridge me proporcionou, ministradas por

grandes nomes das Letras, das Ciências, das Artes, da

Política, da Economia…e a que todos os estudantes “pós-

graduados” assistiam contribuíram de modo decisivo para

a minha formação académica e para realizações políticas e

académicas em que participei. Não foi por acaso que um

dos meus primeiros artigos, após o meu doutoramento,

versou a Física Atómica e os Filósofos Gregos, publicado na

Revista “Humanitas”. E assim apreendi que a arte da

profecia científica associa a razão abstracta aos

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documentos da natureza, os factos da experiência, como

nos revelou Max Born.

Ora, a interacção entre a Física Atómica e os filósofos

Gregos reproduz-se entre as “estruturas institucionais”

entre as “múltiplas unidades orgânicas”, pelo que a

Universidade deve incentivar o “estudante” a ter contactos

vastos de interacções entre saberes e a criar novos saberes

através de investigação pluri e interdisciplinar.

Meus Caros Amigos:

No domínio da evolução educativa em Portugal os ideais

aliciantes e não cumpridos da I República; os atrasos

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irreparáveis até ao fim dos anos 50 do Estado Novo; a

abertura da Reforma Educativa dos anos 70; as oscilações

educativas entre a utopia e a anarquia entre 1974 e 1976;

a publicação de uma nova Lei de Bases da Educação em

1986 e os significativos aditamentos até 2009; as ameaças

sem racionalidade ao Estado Social em 2013 são exemplos

de “progresso” e de “turbulências contraditórias” que

devem ser estudadas em Livros Brancos, à semelhança dos

“White Papers” anglo-saxónicos, designadamente em

relação ao significado e real cumprimento da escolaridade

obrigatória, pretensamente gratuita; à não inclusão da

educação pré-escolar nessa escolaridade numa sociedade

com acentuadas desigualdades; à indefinição de redes de

ensino secundário que cultivem a igualdade social em

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paralelo com a diversidade curricular com aberturas

inteligentes ao mercado e ao ensino superior e,

naturalmente, o desafio da racionalização de instituições e

cursos do ensino superior em estreita ligação com o

modelo de desenvolvimento a definir para o nosso País.

Neste progresso e turbulência têm surgido com

naturalidade conflitualidades orgânicas entre “big is

competitive” e “small is beautiful”, sendo certo que a

“cooperação na criatividade e na inovação aberta” permite

esbater as diferenças.

Vem isto a propósito de um dos desafios maiores que

enfrentamos: o da “Competitividade de Portugal entre as

Nações”. Um desafio que está intimamente ligado à

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soberania do conhecimento, exigindo um novo modelo de

desenvolvimento, até por que os resultados do modelo

actual são desastrosos. É que numa simples análise

comparativa de Portugal com os 60 países mais

desenvolvidos no mundo verifica-se que na última década

descemos dez posições, passando do 32º para 41º lugar. E

numa primeira síntese dos factores e indicadores que

compõem a competitividade a “eficiência governativa”

situa-se actualmente no 46º lugar e a “eficiência

empresarial” em 47º lugar.

Ao contrário evoluímos positivamente da 30ª posição para

a 25ª no conjunto de infra-estruturas físicas, educativas,

científicas, tecnológicas e de saúde e ambiente. Daí que

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um desafio é claro e a Universidade não se pode alhear

dele colocando-o perante os seus estudantes e todos os

cidadãos: Trata-se de dinamizar essas infra-estruturas

colocando-as mercê de políticas públicas consistentes ao

serviço da competitividade e da coesão social,

aumentando a cadeia de valor.

E não resisto a referir de novo a oração de sapiência de

Bernardino Machado: “Lá fora vai a derrocada financeira?

Dissipam-se improdutivamente os impostos, acumulam-se

só deficits sobre deficits no Tesouro, e o dinheiro não chega

para o mais pequeno melhoramento, para acudir às

necessidades públicas mais instantes, nem sequer à

indigência, à orfandade, como o deve fazer toda a nação,

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em massa, e como o exigem os sentimentos compassivos

do coração português, que, por mais paciente que seja,

não pode ver desperdiçados os nossos bens e em perigo a

saúde e o futuro dos nossos filhos sem que o atravessem

irreprimivelmente os rebates da revolta e da raiva?”

Com a destruição do Estado inteligente ao longo dos

últimos vinte anos, designadamente dos gabinetes de

estudo e planeamento, dos laboratórios nacionais e de

agências independentes a Universidade pública emerge

como instituição de referência. Por isso não posso

conceber que ela e em particular os seus estudantes

possam agonizar em insólitas penúrias.

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O Padre António Vieira num dos seus mais belos sermões

alertou-nos para que “as flores, umas caem, outras

secam, outras murcham, outras leva-as o vento; aquelas

poucas que se pegam ao tronco e se convertem em fruto,

só essas são as venturosas, só essas são as que duram, só

essas são as que se aproveitam, só essas são as que

sustentam o mundo”. Pelo Passado, pelo Presente e pelo

Futuro estou certo de que essas flores se multiplicarão

cada vez mais no “campus da Universidade”, Escola da

liberdade.

14.2.2013

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CFCUL-O LUGAR DA FILOSOFIA DA CIÊNCIA NA NOVA UL

14/02/2013 "O Lugar da Filosofia da Ciência na Nova Universidade de Lisboa", Encontro Global de Professores e Investigadores das UL e UTL, com a presença dos respectivos Reitores. 11.00h – Abertura António da Cruz Serra, Reitor da Universidade Técnica de Lisboa António Sampaio da Nóvoa, Reitor da Universidade de Lisboa Olga Pombo, Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa 11.15h – O que é a Universidade? Moderadora - Olga Pombo (CFC-UL) José Veiga Simão (UC) Adriano Moreira (ISCSP-UTL) Jorge Ramos do Ó (IE-UL) António Sampaio da Nóvoa (Reitor da UL) 13.00h - Pausa para almoço 14.30h – Filosofia da Ciência e Cruzamentos Disciplinares Moderador - José Croca ( CFC-UL) Dinis Pestana (FC-UL) Luísa Barros (FP-UL) Luís Vicente (FC-UL) Amílcar Sernadas (IST-UTL) 16.00h - Pausa para café 16.30h – Ciência e Arte Moderadora - Cristina Tavares (FBA-UL) António Pinho Vargas (ESML-IPL) Jorge Spencer (FA-UTL) Gonçalo M. Tavares (FMH-UTL) Bracinha Vieira (CFC-UL) Organização Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa Website http://filcc-ulutl.fc.ul.pt Localização Anfiteatro do Complexo Interdisciplinar do Ist, UTL Horário 11h Links