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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA NATAN DA ROCHA LOPES AUTENTICAÇÃO DE CACHAÇAS DE SALINAS EMPREGANDO PRÉ CONCENTRAÇÃO POR “RING OVEN” E ESPECTROSCOPIA DE EMISSÃO ÓTICA EM PLASMA INDUZIDO POR LASER (LIBS). CAMPINAS 2018

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE QUÍMICA

NATAN DA ROCHA LOPES

AUTENTICAÇÃO DE CACHAÇAS DE SALINAS EMPREGANDO PRÉ

CONCENTRAÇÃO POR “RING OVEN” E ESPECTROSCOPIA DE EMISSÃO

ÓTICA EM PLASMA INDUZIDO POR LASER (LIBS).

CAMPINAS

2018

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NATAN DA ROCHA LOPES

AUTENTICAÇÃO DE CACHAÇAS DE SALINAS EMPREGANDO PRÉ

CONCENTRAÇÃO POR “RING OVEN” E ESPECTROSCOPIA DE EMISSÃO

ÓTICA EM PLASMA INDUZIDO POR LASER (LIBS).

Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de

Química da Universidade Estadual de Campinas como

parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título

de Mestre em Química na área de Química Analítica

Orientador: Prof. Dr. Celio Pasquini

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO

DEFENDIDA PELO ALUNO NATAN DA ROCHA LOPES, E ORIENTADA PELO

PROF. DR. CELIO PASQUINI.

CAMPINAS

2018

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Banca Examinadora

Prof. Dr. Celio Pasquini (Orientador)

Prof. Dr. Douglas Fernandes Barbin (FEA – UNICAMP)

Prof. Dr. Ivo Milton Raimundo Junior (IQ – UNICAMP)

A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no

processo de vida acadêmica do aluno

Este exemplar corresponde a redação final da

Dissertação de Mestrado defendida pelo aluno

NATAN DA ROCHA LOPES, aprovada pela

Comissão Julgadora em 19 de janeiro de 2018

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Agradecimentos

Gostaria de agradecer ao Prof. Celio pela oportunidade de me orientar e por todo

conhecimento adquirido nesses anos trabalho.

Aos meus pais por me apoiarem incondicionalmente nessa etapa da minha vida.

A Camila por todo companheirismo e apoio em todos os momentos.

Ao grande Denílson Show, que me ajudou com sua paciência a mexer no MatLab.

A todos os meus amigos companheiros de laboratório (Alianda, Eduardo, Eliane,

Emanueli, Rafaeis (Acayaba, Gaspar, Ribessi), e outros que não estou lembrando o

nome agora.

Aos meus amigos Eric e Gabriel por todos os momentos de descontração.

Ao Diego e a Cris por toda disponibilidade e me ajudar sempre que foi preciso.

Ao Fernando e o Prof. Felipe de Salinas pela disponibilidade de me ajudar no Festival.

A APACS, por fornecerem gentilmente todas as amostras de cachaças de Salinas.

A Luciene da Amburana por me ceder gentilmente amostras de cachaças de sua loja.

A UNICAMP e o Instituto de Química por fornecerem e disponibilizar toda

infraestrutura para que esse trabalho fosse realizado.

A CAPES pela bolsa concedida.

Um agradecimento especial para minha tia Regina Célia, que faleceu esse ano, por

me incentivar desde pequeno a ser curioso e me ajudar a me tornar a pessoa que eu

sou.

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Resumo

As cachaças artesanais produzidas na região de Salinas MG estão entres as mais

bem-conceituadas do país. São mais de 50 marcas diferentes, distribuídas nos mais

variados preços. Essa popularidade conquistada pela região trouxe também um

grande risco de falsificação das bebidas. Desta forma, este trabalho tem como objetivo

utilizar a técnica de pré concentração, ring oven, aliada a espectroscopia de emissão

em plasma induzido por laser, (LIBS), para produzir modelos quimiométricos capazes

de autenticar a procedência geográfica de cachaças. As técnicas quimiométricas

utilizadas foram: análise de componentes principais (PCA), modelagem independente

e flexível por analogia de classes (SIMCA), análise discriminante linear (LDA) e a

regressão por mínimos quadrados parciais para análise discriminatória (PLS-DA).

Foram utilizadas 101 amostras de cachaças diferentes, sendo dividas em dois grupos

contendo 45 da região de Salinas MG e 56 de outras regiões do Brasil. As medidas

foram feitas em triplicata, pré concentrando 600 L de cachaça em papel de filtro. Os

espectros foram obtidos utilizando o equipamento LIBS através do modo de aquisição

integrate on chip. Para cada anel medido integrou-se 140 pulsos de laser, utilizando

como parâmetros de medida 2 s no tempo de atraso, 1 s de integração no tempo

de integração e um ganho eletrônico no ICCD de 50. Os espectros foram pré tradados

com um filtro de suavização de Savitzky-Golay com janela de 21 pontos, uma

normalização pela linha de emissão do padrão interno de lítio e uma seleção de

variáveis. Depois de pré-tratados, esses espectros foram utilizados nas técnicas

quimiométricas para a produção de modelos. Para o modelo SIMCA, LDA e PLS-DA,

a taxa de acerto foi de 100% utilizando conjunto de validação externa. Logo foi

possível autenticar as cachaças produzidas em Salinas MG de forma satisfatória.

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Abstract

The artisanal cachaças produced in the region of Salinas MG are among the most well-

known in the country. There are more than 50 different brands, distributed in the most

varied prices. This region popularity also brought a great risk of adulterated products

in this way. The objective of this work is to use a pre-concentration technique, ring

oven, together with laser induced breakdown spectroscopy (LIBS), to produce

chemometric models capable of authenticating the geographical origin of cachaças.

For this, we used chemometric techniques such as: principal component analysis

(PCA), soft and independent modeling by class analogy (SIMCA), linear discriminant

analysis (LDA) and a partial least squares regression for discriminatory analysis (PLS-

DA). A total of 101 samples of different cachaças, were divided in two groups

containing 45 from region of Salinas MG and 56 from regions of Brazil. The

measurements were made in triplicate, pre-concentrating 600 L of cachaça in filter

paper. Spectra were obtained using the LIBS equipment through the integrate on chip

acquisition mode. For each ring measured, 140 laser pulses were integrated, using as

measurement parameters 2 s in the delay time, 1 s integration time and an electronic

gain in the ICCD of 50. The spectra were pre-treated with a Savitzky-Golay smoothing

filter with 21-point window, a normalization by the internal lithium standard emission

line and a selection of variables. After pretreatment, these spectra were used in the

chemometric techniques for the production of models. For the SIMCA, LDA and PLS-

DA model, an acceptance rate of 100% was achieved using external validation set.

This it, was possible to authenticate the cachaças produced in Salinas MG satisfactory.

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Sumário

1. Introdução ........................................................................................................... 10

1.1. História da cachaça no Brasil ....................................................................... 10

1.2. Indicação Geográfica ................................................................................... 13

1.3. Região de Salinas ........................................................................................ 14

1.4. Técnica de pré-concentração por Ring Oven ............................................... 16

1.5. Espectroscopia de emissão ótica por plasma induzido por laser (LIBS) ...... 18

1.6. Quimiometria ................................................................................................ 20

1.6.1. Técnicas de pré-processamento............................................................ 20

1.7. Modelos de classificação não supervisionados ............................................ 21

1.7.1. Análise de componentes principais ....................................................... 21

1.8. Modelos de classificação supervisionados ................................................... 22

1.8.1. Modelagem flexível e independente por analogia de classe (SIMCA) ... 22

1.8.2. Análise discriminante linear (LDA) ......................................................... 23

1.8.3. Análise discriminante pelos mínimos quadrados parciais (PLS-DA) ..... 23

1.9. Utilização de quimiometria na análise de cachaças ..................................... 24

2. Objetivos ............................................................................................................. 26

3. Parte Experimental ............................................................................................. 27

3.1. Sistema de ring oven .................................................................................... 27

3.2. Análise por espectroscopia de emissão ótica em plasma induzido por laser

(LIBS) ..................................................................................................................... 28

3.3. Amostras ...................................................................................................... 30

3.4. Pré-tratamento dos dados espectrais........................................................... 31

4. Resultados e Discussão ..................................................................................... 33

4.1. Modificações no aparato do Ring Oven ....................................................... 33

4.2. Definição do volume a ser pré concentrado ................................................. 35

4.3. Fator de pré concentração (K) ..................................................................... 36

4.4. Presença de sacarose nas cachaças analisadas ......................................... 37

4.5. Aquisição dos espectros LIBS ...................................................................... 38

4.5.1. Modo de aquisição de dados ................................................................. 38

4.5.2. Espectros LIBS ...................................................................................... 39

4.6. Análise exploratória dos dados empregando dados pré-tratados ................ 44

4.7. Modelagem Flexível e Independente por Analogia de classes (SIMCA) ...... 47

4.8. Análise Discriminante Linear (LDA).............................................................. 48

4.9. Análise Discriminante por Mínimos Quadrados Parciais (PLS-DA) ............. 50

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4.10. Autenticação das Cachaças da região de Salinas .................................... 51

5. Conclusão ........................................................................................................... 54

Referências................................................................................................................55

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1. Introdução

1.1. História da cachaça no Brasil

A história da cachaça, por muitas vezes, está entrelaçada com a história do

Brasil. Muitos dos momentos vividos no passado pelo país têm ligações íntimas com

a bebida genuinamente brasileira. A cachaça foi criada a partir dos resíduos da

produção de açúcar, durante o ciclo da cana de açúcar. O caldo azedo era destilado,

produzindo um líquido incolor e ardente com aspecto de água, características que

deram seu nome de aguardente1.

Rapidamente a bebida ganhou popularidade aumentando sua produção e

importância econômica. O tráfico de escravos foi umas das principais atividades que

impulsionaram a produção de aguardente na colônia portuguesa sendo o principal

produto utilizado no comércio de negros. Porém, essa grande popularidade alcançada

pelo destilado diminuiu o consumo dos vinhos produzidos em Portugal. Uma vez que

a cachaça produzida no Brasil não sofria com a alta carga de impostos cobrada pela

Coroa Portuguesa. Esse fato proporcionou a proibição da fabricação e

comercialização do destilado de cana no Brasil2.

A proibição da fabricação e comercialização da cachaça levou à algumas

revoltas populares, sendo a mais importante delas a Revolta da Cachaça, ocorrida no

Rio de Janeiro, nos anos de 1660 e 1661. A partir do movimento, a proibição da venda,

produção, consumo e exportação da aguardente de cana foi revogada, fazendo com

que a bebida voltasse a se ser produzida em larga escala. Apesar de muito popular,

nos séculos posteriores, a cachaça foi perdendo espaço no mercado mundial por ser

considerada bebida de escravos e com isso foi marginalizada. Ela só voltou a ter um

destaque como bebida típica brasileira na Semana de Arte Moderna de 1922, cujo

principal foco era resgatar e valorizar a identidade do povo brasileiro, criticando o

modelo de sociedade europeu instalado no Brasil naquela época2.

O preconceito com a cachaça só foi totalmente extinto em 1997 com o

decreto n° 2.314 que regulamentava a Lei n° 8.918, de julho de 19943, e determina

para o destilado de cana de açúcar produzido no Brasil, métodos de padronização,

classificação, produção, inspeção e fiscalização. Assim, a cachaça se torna um

produto genuinamente brasileiro com especificações e padrões legais para a sua

produção. O termo cachaça é utilizado para todo destilado proveniente

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exclusivamente do mosto fermentado da cana de açúcar que possui um teor alcóolico

entre 38 a 48% a 20 °C, podendo ter uma concentração de açúcar de até seis gramas

por litro expressos em sacarose. A criação de parâmetros de qualidade para esse

produto veio para ratificar a cachaça como patrimônio da cultura brasileira e

padronizar a produção da bebida em todo país.

Atualmente, a cachaça ocupa a terceira posição no ranking de bebida

destilada consumida no mundo, perdendo apenas para a vodca e o shoju (bebida

coreana destilada do arroz). São produzidos cerca de 1,7 bilhão de litros da bebida,

ficando 99% da produção no mercado interno brasileiro. Apesar das leis vigentes para

a produção de cachaça, a qualidade obtida não é suficiente para que se consiga um

volume maior da bebida para exportação. No ano de 2016, o volume de cachaça

exportado foi de 8,69 milhões de litros, gerando uma receita de U$ 13,94 milhões de

dólares. Os principais destinos da cachaça brasileira são Alemanha, Estados Unidos,

Paraguai, Uruguai e França, sendo o total de 8.384.642 litros exportados em 20164

(Figura 1).

Figura 1 - Exportação da cachaça no ano de 2016 em percentual de volume4

A produção da cachaça começa pelo tipo de cana-de-açúcar, na extração

do caldo para a produção do fermentado. Normalmente, o grau brix encontrado na

cana-de-açúcar é entre 20 e 22, porém, para a fermentação é necessário um grau

26,82%

20,51%

10,12%

7,52%

7,17%

3,80%

3,51%3,42%

2,30%

2,16%12,67%

Alemanha

Paraguai

EstadosUnidosPortugal

França

Espanha

Itália

Bolívia

Chile

Uruguai

Outros países

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entre 16 e 18. Essa diluição é feita através da adição de água potável livre de cloro

para que não influencie nas propriedades química do mosto. Outro aspecto importante

é o tipo de fermento utilizado na fermentação do mosto, a utilização de diferentes tipos

de leveduras modifica as características sensoriais fazendo com que o produto final

seja único. Os principais fermentos utilizados são: fermento natural ou caipira,

fermento prensados, fermento misto e fermento seco5.

A cachaça é destilada basicamente de duas maneiras. A primeira

utilizando colunas contínuas de destilação, que é responsável por quase toda

produção anual, aproximadamente 70% (cerca de 1,2 bilhão de litros). Essa forma de

destilação é utilizada principalmente nos Estados de São Paulo, Ceará e Pernambuco.

Os outros 30%, são obtidos empregando-se alambiques de cobre, produzindo uma

cachaça completamente artesanal, responsável por cerca 500 milhões de litros por

ano, principalmente nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás (Figura 2)6.

Figura 2 - Percentual de produção de cachaças em litros por estado no Brasil6.

O produto destilado é caracterizado por três partes: cabeça, coração e

cauda. A cabeça da cachaça corresponde a primeira fração retirada no processo de

destilação, cerca de 5 a 10% do volume total destilado, seu teor alcóolico varia entre

70 a 55% v/v e contêm principalmente substâncias voláteis presente no mosto, como

SP44%

CE12%

PE12%

RJ8%

MG8%

GO8%

PR4%

PB2%

BA2%

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o metanol, aldeídos e alguns ésteres. O coração é a cachaça propriamente dita, com

o teor alcóolico variando em 38 a 48% v/v, atingindo 80% do volume total destilado. A

última parte do destilado é a cauda, seu teor alcóolico varia entre 20 a 30% v/v é rico

em compostos menos voláteis, como ácidos orgânicos e compostos fenólicos. A

cabeça e a cauda são descartadas, sendo aproveitado somente o coração, que após

o processo de destilação vai para as dornas de madeira ou inox onde ficam

armazenadas esperando para serem engarrafas5.

A facilidade da produção da cachaça constitui o principal obstáculo para

que haja uma elevação na qualidade do produto. Na maioria dos casos, atualmente,

a cachaça produzida e comercializada se origina de alambiques clandestinos sem

fiscalização e controle de qualidade. Esse fato é um dos fatores que diminui o volume

de cachaça exportado pelo Brasil, pois não havendo fiscalização o produto não passa

no rigoroso controle de qualidade estrangeiro. Outra prática que também diminui a

qualidade da cachaça é a estandardização (ou padronização), que consiste em um

produtor comprar cachaça de outros produtores menores da região, para aumentar

seu volume de comercialização. Muitas vezes esses produtores menores não

possuem controle de qualidade rigoroso e a cachaça comprada é de baixa qualidade,

mesmo passando pelos processos de padronização do comprador, o produto final não

apresentará uma boa qualidade.

1.2. Indicação Geográfica

Segundo o Instituto Nacional de Propriedade Industrial, INPI, a indicação

geográfica, IG, é utilizada para identificar a origem de produtos quando o local tenha

se tornado conhecido, ou quando determinada característica ou qualidade do produto

pode ser atribuída a sua origem. Este é o órgão responsável por reconhecer se a

localidade receberá ou não o selo de reconhecimento. Em países como Itália, França

e Portugal este selo é dado para produtos associados a cultura e tradição local, como

vinhos e queijos que possuem qualidade reconhecida, muitas vezes,

internacionalmente. Pela legislação brasileira há dois tipos de selos diferentes: a

indicação de procedência (IP) e denominação de origem (DO). A diferença entre os

dois selos se dá no que diferencia o produto em questão. A indicação de procedência

é concedida a uma região que possui um produto com qualidade reconhecida e que

preserva as tradições do local na sua fabricação, produção ou extração. Já a

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denominação de origem é dada quando o produto comercializado possui

características exclusivas dadas pelo fator geográfico onde é produzido7.

No Brasil existem também vários produtos que possuem estes selos, como

os vinhos produzidos na Serra Gaúcha (Pinto Bandeira, Monte Belo Sul e Vale dos

Vinhedos), queijos produzidos em Minas Gerais (Serra da Canastra) e vários outros

produtos. Destes, citados apenas os vinhos produzidos no Vale dos Vinhedos

receberam o selo de DO, e os outros produtos citados receberam o selo de IP. Quando

o produto em questão é a cachaça, existem três regiões que possuem o selo de

indicação geográfica (procedência), são elas: a região de Paraty, Rio de Janeiro,

região de Abaíra, na Bahia e a região de Salinas em Minas Gerais8.

1.3. Região de Salinas

A cidade de Salinas fica localizada em Minas Gerais, na mesorregião do

Norte de Minas (Figura 3). A agropecuária é a principal atividade econômica. Porém,

a cachaça é o produto típico da região reconhecido mundialmente.

Figura 3 – Localização geográfica da cidade de Salinas MG, situada na região do

Norte de Minas Gerais.

A produção de cachaça começou no final do século XIX, apenas para

consumo nas próprias fazendas e no comércio local. Com o passar do tempo a

qualidade da cachaça artesanal foi ganhando popularidade na região e passou a ser

comercializada por tropeiros que passavam pela cidade. O grande fator que

impulsionou a produção de cachaça na região foi a utilização da variedade “Java” de

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cana-de-açúcar. A adaptação da planta ao solo e clima do local fez com que o número

de produtores aumentasse consideravelmente9.

Um dos mais importantes produtores foi Anísio Santiago, proprietário da

Fazenda Havana, dono da cachaça mais conhecida da região: a cachaça Havana

(Figura 4). Anísio Santiago começou sua produção no início da década de 1940 e

continua até os dias de hoje. Anísio foi o primeiro na região a legalizar a produção de

cachaça, seguido dos demais produtores da região, nas décadas posteriores. A

legalização da produção de cachaça ajudou a construir a fama da cachaça da região.

Figura 4 – Rótulos das cachaças produzidas na Fazenda Havana de Anísio

Santiago10.

Atualmente, a região conta com aproximadamente 100 produtores de

cachaça distribuídos em pouco mais de 50 marcas, porém, somente 30 desses

produtores são devidamente registrados. Juntos produzem cerca de 5 milhões de

litros do destilado por ano10.

Para preservar e autenticar a qualidade da cachaça de Salinas foi criado

em 2001 a Associação dos Produtores de Cachaças artesanais de Salinas (APACS).

Atualmente, a associação representa 18 produtores que comercializam 27 marcas

diferentes. A principal conquista da associação foi adquirir, em 2012, o selo de

indicação geográfica, na modalidade indicação de procedência para a cachaça

produzidas pelos associados. A delimitação da área em que o produto é produzido é

dada pela totalidade do município de Salinas, além de parte dos municípios de Fruta

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do Leite, Rubelita, Novorizonte, Santa Cruz de Salinas e Taiobeiras (Figura 5)10.

Figura 5 – (a) Mapa da região na qual a cachaça produzida recebe o índice de procedência. (b) O selo de indicação de procedência da cachaça de Salinas10.

O índice de procedência adquirido pela associação combate diretamente a

falsificação da cachaça produzida em Salinas, região que é vítima recorrente deste

crime. Quadrilhas são presas todos os anos por falsificar cachaças da região11,12.

1.4. Técnica de pré-concentração por Ring Oven

Uma das grandes limitações encontradas na química analítica é a detecção

de analitos em baixa concentração. Mesmo com o avanço das principais técnicas

analíticas, a dificuldade para analisar e/ou quantificar analitos em concentrações na

ordem de partes por milhão (ppm) ou parte por bilhão (ppb) é grande. Para contornar

esta dificuldade, são utilizadas técnicas que visam concentrar as espécies químicas

de interesse (analitos) fazendo com que sua detecção passe a ser possível através

do método analítico escolhido ou disponível. Essas técnicas são conhecidas como

técnicas de pré-concentração.

A técnica de pré-concentração por ring oven foi proposta por Weisz13 em

1954. Como não existe um nome na língua portuguesa para a técnica, neste texto

será utilizado o nome em inglês. Ela consiste em aplicar a amostra líquida contendo o

analito em um papel de filtro, ou outro tipo de substrato, de forma que a amostra migre

por capilaridade na direção da parede do forno ficando concentrado em uma linha bem

definida na forma circular (anel). Como a quantidade de amostra utilizada é muito

pequena, o ring oven pode ser considerado um tipo de spot test. A técnica é versátil,

pois pode ser utilizada para análises de substâncias orgânicas e inorgânicas, tendo

a) b)

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apenas a limitação que os analitos pré-concentrados não sejam voláteis, devido a

temperatura de trabalho que, para amostras aquosas, situa-se por volta de 110 °C.

O aparato proposto inicialmente por Weisz consistia em um bloco cilíndrico

feito de alumínio com 35 mm de altura e 55 mm de diâmetro com uma cavidade central

com 22 mm de diâmetro aquecido por uma resistência elétrica (Figura 6). Este

componente era conhecido por bloco de aquecimento. A temperatura era controlada

através da corrente passada por uma resistência ligada ao forno. Para a adição da

amostra, era utilizada uma micropipeta centrada ao bloco de aquecimento. O aparato

ainda contava com uma lâmpada embaixo do forno para acompanhar o gotejamento

da amostra e a formação do anel13.

Figura 6 – (A) Desenho esquemático do ring oven de Weisz. (B) Ring oven comercial da época13.

O substrato utilizado por Weisz era o papel de filtro quantitativo, pois as

interações das ligações de hidrogênio das cadeias de celulose que o compõe e as

interações intermoleculares com o solvente utilizado na amostra, geram o efeito de

capilaridade. O analito de interesse é arrastado juntamente com o solvente por este

efeito, quando a amostra é gotejada no papel e assim é feita a pré-concentração.

Apesar da técnica ser semelhante à cromatografia em papel, ela não é considerada

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um tipo de cromatografia, pois não ocorre a separação de substâncias por diferença

de migração e sim o arraste de todas as espécies para um ponto em comum.

O ring oven caiu em desuso a partir da década de 1970, devido ao

surgimento de técnicas de absorção e emissão atômica mais modernas. Porém, o

desenvolvimento de técnicas analíticas multielementares e micro-analíticas abriu uma

porta para a utilização da técnica novamente. A possibilidade de análise direta na

região do anel com técnicas de microanálise, como a espectroscopia por emissão

ótica em plasma induzido por laser (LIBS) ou espectroscopia Raman, traz um grande

potencial para a utilização do ring oven, pois elimina boa parte do preparo de amostras

necessários aos métodos mais utilizados de emissão e absorção atômica14.

1.5. Espectroscopia de emissão ótica por plasma induzido por laser (LIBS)

A espectroscopia de emissão ótica por plasma induzido por laser (LIBS –

do inglês Laser Induced Breakdown Spectroscopy) vem sendo amplamente estudada

nos últimos anos. O grande interesse mostrado pelos pesquisadores sobre a técnica

está associado à simplicidade das análises, uma vez que sua utilização não exige

nenhum ou muito pouco preparo da amostra, fornecendo respostas rápidas para

diversos problemas analíticos15.

A análise por LIBS, consiste em incidir um pulso de laser sobre um ponto

na área da amostra a ser analisada. Como a energia no local onde o pulso de laser

incidiu é muito alta, o material é ablado e ionizado formando um plasma, com

temperatura entre 10000 e 20000 K, excitando átomos, íons e moléculas, que após o

tempo de relaxação, voltam ao seu estado fundamental e emitem radiação

eletromagnética. Essa radiação emitida será coletada e pode ser associada à

composição qualitativa e quantitativa da amostra analisada15.

O LIBS é uma técnica multielementar que possui inúmeras aplicações

quando se refere a análises qualitativas. Por necessitar de quantidades muito

pequenas de amostras (ng ou g), a técnica é considerada não-destrutiva e associada

ao fato de necessitar de pouco ou nenhum preparo de amostras, podem ser utilizadas

diretamente em qualquer tipo de amostras (sólidas, líquidas e gasosas). Para análises

quantitativas seu uso é mais limitado, pois como a área analisada é pontual, a precisão

e o limite de detecção expresso em concentração são muito prejudicados. Há a

necessidade de uma definição do número de pontos e da área em que serão incididos

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os pulsos de laser para que se tenha uma representatividade maior da amostra para

a produção de resultados quantitativos16.

A instrumentação LIBS é relativamente simples, sendo basicamente

necessários uma fonte de laser pulsante de alta energia, uma lente de focalização na

amostra, uma lente de coleta da radiação emitida, um monocromador e um detector

como pode ser observado no esquema representado na Figura 7.

Figura 7 – Diagrama representando a instrumentação do LIBS. a - fonte e sistema de

refrigeração do laser; b – laser pulsado; c – sinal de acionamento do detector dado

pelo pulso de laser; d – espelho dicroico; e – fibra ótica; f1 – lente de focalização com

9,7 de distância focal ; f2 - lente de coleta da radiação; g – amostra; h – seletor de

comprimento de onda; i – detector; j – computador para a aquisição dos dados14.

Embora LIBS seja uma técnica com inúmeras aplicações, existe uma

dificuldade muito grande para se analisar amostras no estado líquido. Por exemplo, o

pulso de laser ao atingir a superfície de um líquido forma ondas de choque que

projetam a amostra para as lentes de focalização e coleta de radiação, levando à

necessidade de limpeza constante17.

Porém o maior problema na análise de líquidos está na formação do

plasma. Além das ondas de choque, são produzidas bolhas que atrapalham as

medidas dos pulsos subsequentes. Isso faz com que a precisão da medida diminua e

afete a repetibilidade das medidas. Uma das formas utilizadas para minimizar este

problema é a transferência da amostra líquida para um suporte sólido, dessa forma se

consegue obter o espectro de emissão da amostra no estado sólido e pode-se

também, se necessário, pré-concentrar os analitos. Assim, melhora-se a repetibilidade

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20

e o limite de detecção da técnica. Os principais suportes sólidos utilizados são

membranas poliméricas de troca iônica e papel de filtro quantitativo18,19.

1.6. Quimiometria

1.6.1. Técnicas de pré-processamento

A quimiometria surgiu para atender a necessidade de interpretar e extrair

informações relevantes da imensa quantidade de dados produzidos pelo avanço das

técnicas analíticas instrumentais. Associado ao avanço da área computacional e com

elementos estatísticos, a quimiometria vem se desenvolvendo desde o início da

década de 1970. Na atualidade muitos ramos da química aplicam esta técnica em

todas as áreas do conhecimento como em planejamentos e otimização de

experimentos, análises exploratórias e de classificação, além da produção de modelos

de regressão (quantitativos).

Para analisar esta grande quantidade de dados é necessário a organização

dos mesmos em forma de matrizes. Os dados são divididos em dois grupos, as

variáveis dependentes, que são as respostas obtidas a partir de uma técnica analítica,

e as variáveis independentes que são as propriedades ou concentrações das

amostras analisadas20. As linhas das matrizes de dados representam as amostras e

as colunas contêm os valores das suas variáveis dependentes e independentes.

A informação de interesse é obtida através da análise das variáveis

dependentes e muitas vezes elas não estão explícitas, sendo necessário utilizar

métodos de pré-tratamento para que se consiga a informação necessária. Esses

métodos visam eliminar variações experimentais que não são úteis para a análise dos

dados, como, ruídos e variação de linha base. Dentre os métodos utilizados temos a

suavização (ou alisamento) e a normalização dos dados.

A suavização dos dados é utilizada para minimizar os efeitos dos ruídos em

espectros, como aqueles obtidos por LIBS associados ao ring oven. Esta

transformação é feita percorrendo os dados espectrais através de janelas de largura

(em número de pontos) definidas. Um dos métodos utilizados para o alisamento dos

espectros é o de Savitzky-Golay, que faz o ajuste dos dados através de polinômios, a

janela escolhida percorre cada variável do espectro, substituindo seu valor pelo

resultado do polinômio naquele no mesmo ponto. A janela e o grau do polinômio

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21

utilizados são definidos a partir das características dos dados que se deseja suavizar,

devendo sempre ter cuidado com o tamanho da janela utilizada, pois informações

poderão ser suprimidas quando janelas muito amplas são utilizadas21.

A normalização é utilizada com o intuito de eliminar variações que podem

ocorrer no processo de medida a fim de se obter um conjunto de dados na mesma

escala. Os métodos para normalizar os espectros são, pela média (fazendo a média

de todas as variáveis do espectro), pela área (calculando a área sobre todas as

variáveis), ou pela divisão de uma variável conhecida e pré-determinada.

1.7. Modelos de classificação não supervisionados

1.7.1. Análise de componentes principais

A análise de componentes principais, PCA (do inglês Principal Components

Analysis), é o principal método não supervisionado utilizado pelos usuários da

quimiometria. Esta análise tem como finalidade diminuir, de maneira controlada, a

quantidade de variáveis, preservando a informação analítica presente nos dados

originais. Esta compressão acontece pela correlação normalmente existente entres as

variáveis analisadas, fazendo com que possam ser representadas por poucas

variáveis ortogonais entre si (as componentes principais, PCs).

O número de componentes principais que é necessário para descrever um

conjunto de dados é denominado “posto químico” ou “direção intrínseca” do conjunto

de dados. A separação dos grupos é feita quando se define o número de PCs que

serão utilizadas no modelo, cada componente principal captura uma parcela da

informação presente no conjunto de dados. A PC1 é a componente que explica a

maior parte da variabilidade (e, portanto, da informação) presente nos dados originais,

porém, é comum que as informações de interesse sejam capturadas também pelas

componentes de maior ordem22.

Estas PCs são descritas por meio de três matrizes: escores, loadings e

erro, que objetivam representar a matriz de dados originais. Os escores (T) indicam

as coordenadas de cada amostra no novo sistema de variáveis PCs, os loadings (P)

indicam a importância de cada variável na definição da PC e os erros (E) representam

a variabilidade que as PCs não conseguiram capturar, normalmente associada à

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ruídos presentes nos resultados experimentais. A Equação 1 indica matematicamente

como esta decomposição é feita23.

TX T P E Equação 1

onde X é a matriz de dados originais.

De uma maneira prática, os escores são responsáveis por indicar como as

amostras se agrupam quando se busca verificar a existência de classes entre as

amostras do conjunto analisado enquanto os loadings fornecem informações sobre

quais variáveis são responsáveis para que esta separação ocorra.

1.8. Modelos de classificação supervisionados

1.8.1. Modelagem flexível e independente por analogia de classe (SIMCA)

A modelagem flexível e independente por analogia de classes (SIMCA, do

inglês, soft independent modeling of class analogy), é uma técnica de classificação

baseada em PCA. Cada classe é modelada separadamente delimitando um espaço

multidimensional que será utilizado como base para a classificação de cada amostra.

Desta forma, as amostras futuras desconhecidas serão classificadas pelas

semelhanças que apresentarem com cada classe. Uma das vantagens desse método

é que se alguma amostra externa não possuir nenhuma semelhança com as classes

modeladas, ela será classificada como não sendo de nenhuma classe, indicando a

existência de outras classes além das que estão sendo modeladas.

A classificação ou não de uma amostra na classe modelada por SIMCA é

feita por meio do uso de parâmetros estatísticos, como a variância residual de cada

amostra (Si) e a variância residual total (So). Através de métodos matemáticos calcula-

se a distância entre a amostra desconhecida e a classe modelada. Um teste F é feito

com as variâncias encontradas comparando-se o Fcal com o Ftab, se Fcal<Ftab a amostra

pertence à classe estudada.

Na prática, a definição da classe da amostra é dada pela distância relativa

entre a amostra (Si/So) e o centro da classe que foi modelada (Hi). Este critério pode

ser observado na análise do gráfico Si/So x Hi onde são definidos limites com 95% de

confiança para cada classe. Além dos gráficos Si/So x Hi, podem ser empregados o

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gráfico de Coomans e a tabela de classificação que mostram os resultados da

classificação empregando-se um modelo SIMCA24.

1.8.2. Análise discriminante linear (LDA)

A análise discriminante linear (LDA, do inglês, Linear Discriminant Analysis)

é um método de classificação que se baseia na separação das classes através da

distância entre os centros de cada classe. O modo de calcular essa distância entre os

grupos pode variar, dentre outras, entre linear, quadrática e Mahalanobis. A diferença

entre a distância de Mahalanobis e a outras distâncias, consideradas como Euclidiana,

é a utilização da matriz de correlação dos dados para a produção da equação de

discriminação25. Em LDA, uma amostra desconhecida será obrigatoriamente

classificada em um grupo pré-estabelecido, pois a base da modelagem das classes

se dá pela distância em que a amostra se encontra de cada grupo, logo a amostra

pertencerá a classe em que ela estiver mais próxima.

Uma desvantagem no uso da LDA é a necessidade de o número de

amostras ser maior que o número de variáveis presentes no modelo. Esta limitação

dificulta o uso desta técnica em dados espectroscópicos, pois o número de variáveis

neste tipo de técnica analítica é muito elevado26. A maneira mais simples utilizada

para contornar essa dificuldade é reduzir a dimensão dos dados utilizando PCA e

realizar a LDA com base nos valores de scores.

1.8.3. Análise discriminante pelos mínimos quadrados parciais (PLS-DA)

A análise discriminante pelos mínimos quadrados parciais (PLS-DA, do

inglês partial least squares – discriminant analysis), é um método de classificação que

usa como princípio a regressão por mínimos quadrados parciais (PLS). O PLS tem

como princípio decompor através de algoritmos matemáticos as variáveis

dependentes (X) e independentes (Y), buscando o máximo de covariância possível

entre essas matrizes. Essas componentes que são extraídas nesta decomposição

recebem o nome de variáveis latentes e serão utilizadas para obter os melhores

valores da matriz Y através de uma regressão inversa27.

No PLS-DA, o modelo de classificação é produzido pelo princípio da

regressão PLS. As variáveis independentes (X) são decompostas juntamente com as

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variáveis dependentes (Y) de maneira que a matriz (Y) seja composta pelas classes

de interesse. Atribui-se o valor 1 para uma classe e 0 para a outra28. Desta forma o

modelo será produzido pela maior variabilidade existente nas amostras dentro de cada

grupo, o que diferencia o PLS-DA dos outros métodos citados, o SIMCA e LDA.

Assim como no PLS, por uma regressão inversa, as variáveis latentes

fornecerão valores próximos a 0 e 1 para previsão de amostras externas ao modelo,

como esses valores não serão exatos existe a necessidade de estabelecer um limite

(threshold) para classificar a amostra como pertencente ou não da classe indicada.

Este limite é dado combinando-se funções de densidade de probabilidade de cada

classe e a teoria Bayesiana. Quanto mais próximos dos valores definidos, 0 e 1, a

regressão encontrar, maior será o poder de discriminação do modelo produzido.

1.9. Utilização de quimiometria na análise de cachaças

Vários trabalhos na literatura utilizam técnicas de análise quimiométricas

para determinar propriedades da cachaça. Através dos métodos quimiométricos

citados anteriormente, associados a diferentes técnicas de análise, são produzidos

trabalhos que fornecem resultados que contribuem para a melhora das características

do destilado tipicamente brasileiro. Uma pequena amostra dos trabalhos mais

relevantes produzidos sobre o tema será mostrada a seguir.

Galinaro et alii (2007)29 utilizaram PCA, LDA e PLS para distinguir cachaças

produzidas com cana-de-açúcar queimadas e não queimadas antes da colheita. A

distinção foi feita quantificando hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA) através

de cromatografia líquida acoplada com detector de fluorescência. O resultado

encontrado quando utilizados os métodos PCA e PLS foi distinção com acerto de 60%

entre as classes propostas, já com o uso do LDA a taxa de acertos das classes ficou

acimas de 92%.

Fernandes et alii (2005)30 utilizaram o PCA associado com espectroscopia

de emissão atômica por plasma acoplado indutivamente (ICP-OES) para categorizar

cachaças de acordo com sua origem de produção. O critério para separação foi as

concentrações de metais presentes na cachaça. A caracterização esperada era a

separação pelo estado de procedência da cachaça, porém, esta não foi conseguida.

O que se conseguiu foi a criação de três classes, Nordeste, Central e Sul, indicando

apenas a região que as cachaças foram produzidas.

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Serafim et alii (2016) 31 utilizaram vários parâmetros da qualidade da

cachaça, como teor de álcoois superiores e ácido acético, teor de aldeídos e cetonas,

teor de etilcarbamato e as concentrações de ferro, chumbo e cobre, aliado a técnicas

quimiométricas, como, PCA, SIMCA, PLS-DA e KNN para classificar cachaça

produzidas em seu respectivos estados. Foram utilizadas amostras de 5 estados, São

Paulo (SP), Minas Gerais (MG), Ceará (CE), Rio de Janeiro (RJ) e Paraíba (PB). A

análise por PCA indicou que as cachaças de MG e SP têm o perfil químico semelhante

assim como a de PB e RJ, já as cachaças de CE são bem distintas das demais.

Quando utilizadas técnicas de classificação, o melhor resultado obtido foi o KNN,

acertando 86% das amostras externas.

Granato et alii (2014)32 utilizaram marcadores químicos associados com

PCA, HCA e LDA, para a separação de cachaças produzidas em alambiques e em

colunas de destilação. O PCA não foi útil nesse estudo, pois houve sobreposição de

todas as amostras utilizadas. Já o HCA foi satisfatório na separação de apenas duas

regiões produtoras. O LDA além de conseguir distinguir a produção por alambique ou

coluna, foi eficiente na separação entre cachaça envelhecida ou não em toneis de

madeira.

Até o presente momento, não foi encontrado na literatura nenhum trabalho

publicado visando distinguir as cachaças produzidas na região de Salinas MG, apenas

tentativas de classificação por estados ou regiões brasileiras.

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2. Objetivos

Utilizar a técnica de pré-concentração ring oven e o perfil de espécies

inorgânicas obtido por LIBS aliadas à análise multivariada para autenticar as cachaças

produzidas na região de Salinas (MG).

Modificar o sistema de pré-concentração por ring oven para melhorar o

desempenho do método analítico associado à espectroscopia de emissão ótica por

plasma induzido por laser (LIBS).

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3. Parte Experimental

3.1. Sistema de ring oven

A técnica de pré-concentração por ring oven, foi proposta por Weisz

(1970)13 e modificada por Pasquini e Cortez (2013)14, sendo então utilizada para a

análise de íons metálicos empregando-se a técnica LIBS. O sistema é representado

pelo esquema da Figura 8:

Figura 8- Desenho esquemático do sistema ring oven: A- Amostra de cachaça que

será pré-concentrada. B- Bomba Peristáltica. C- Injetor proporcional. D- Forno para o

aquecimento. E- Controlador de temperatura. F- Descarte33.

O forno é composto por duas peças de metal, sendo uma delas o suporte

fixado em uma plataforma e outra móvel utilizada para a fixação do papel. O papel

filtro (Whatman 40) é recortado com um diâmetro maior do forno (suporte fixo) que

mede cerca de 31 mm. O papel com diâmetro adequado é fixado no forno e espera-

se um tempo para que o equilíbrio térmico entre a parte móvel do forno, que foi retirada

para a fixação do papel e o suporte fixo, seja atingido.

Com o auxílio de uma bomba peristáltica e um injetor, a amostra é aspirada

para um tubo com o volume desejado. Após o preenchimento do volume, a amostra é

empurrada pelo ar até o ponto de gotejamento sobre o papel de filtro. A vazão de

gotejamento é mantida constante em 46,5 L min-1. Após o gotejamento de toda

amostra contida no tubo para o papel é realizada a etapa de lavagem com 150 L de

ácido clorídrico 0,05 mol L-1, com a função de transportar os íons metálicos que ficam

adsorvidos no papel para a área de pré-concentração.

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Os parâmetros do processo para a pré-concetração das cachaças foram

definidos a partir de trabalhos realizados por Cortez e Pasquini (2013)14 e Farias Filho

(2016)34. O único parâmetro que foi modificado em relação aos trabalhos anteriores

foi a vazão de gotejamento da amostra de cachaça. Esta mudança ocorreu devido as

modificações propostas no aparato do ring oven utilizado no trabalho. Esta

modificação se deu revestindo a parede do forno, que fica em contato com o papel,

com Teflon®. Tal mudança foi realizada para que o anel seja formado no encontro da

parede do forno com o papel deixando assim o processo mais parecido com o ring

oven de Wiesz, mas evitando-se possíveis contaminações. A utilização do Teflon® foi

necessária pelo fato de ser um polímero com alta temperatura de fusão e ser inerte

ao entrar em contato com o ácido usado na etapa de lavagem, dessa forma,

eliminando a contaminação do anel produzido com metal proveniente da oxidação da

parede do forno. Com esta modificação, o anel produzido apresentou diâmetro fixo de

22 mm com tempo médio gasto para a produção de cada anel de 18 minutos. Após a

produção do anel, o papel de filtro foi guardado dentro do dessecador até o momento

da análise por LIBS.

3.2. Análise por espectroscopia de emissão ótica em plasma induzido por laser

(LIBS)

As análises foram realizadas no equipamento LIBS (Figura 9) composto por

um laser Nd: YAG 1064 nm, com frequência de 20 Hz, duração de pulso de 5,5 ns e

energia máxima 90 mJ por pulso. O arranjo óptico é constituído por um espelho

dicroico colocado a 45° para o direcionamento do laser em uma lente de fluoreto de

cálcio com distância focal de 10 cm a partir do anel, porém a distância até a amostra

utilizada foi de 9,7 cm para evitar a formação do plasma no ar. Foi utilizada uma fibra

ótica de diâmetro de 100 m e faixa espectral de operação entre 160 e 1200 nm para

o transporte da radiação até um policromador echelle e depois para o detector ICCD

resfriado por uma placa de Peltier à temperatura de -10° C. A captura da radiação é

feita por uma lente e transportada para o policromador através de uma fibra ótica. A

incidência do pulso de laser sobre o anel foi assegurada empregando-se um laser

emitindo radiação vermelha (635 a 650 nm) acoplado temporariamente na outra

extremidade da fibra óptica, empregada na coleta da radiação emitida pelo micro-

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29

plasma. O modo de aquisição dos espectros foi o Integrate on chip, opção dada pelo

software do detector, na qual as intensidades de emissão são integradas no arranjo

bidimensional de sensores (CCD) antes de serem transmitidas para o

microcomputador de controle e aquisição de dados do sistema echelle.

Figura 9 – Equipamento LIBS utilizado na obtenção dos espectros das amostras de cachaça após pré-concentração por ring oven33.

Um recurso inserido na aquisição de espectros LIBS por Farias Filho

(2016)34 foi o dispositivo para automatização da medida dos anéis. Como o ring oven

fornece anéis simétricos e bem definidos, foi acoplado ao sistema uma plataforma

giratória com controle de velocidade que simplifica e acelera o processo de leitura dos

anéis no modo intregrate on chip. Os parâmetros utilizados para a medidas dos anéis

foram de 2,0 s para o tempo de delay, 1,0 s para o tempo de integração e o ganho

do intensificador de 50, além de 7 segundos no tempo total de exposição.

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Esses parâmetros que são os responsáveis pela aquisição dos espectros

LIBS. O tempo de delay é o tempo que a câmera demora para coletar a radiação em

relação ao pulso de laser dado. O tempo de integração é o tempo que a câmera fica

aberta coletando a radiação de interesse. O ganho do intensificador é um ganho

eletrônico para aumentar a intensidade das linhas de emissão. O tempo de exposição

é o que permite a amostragem de todo perímetro do anel. Dessa forma, é o tempo

que o equipamento fica disponível para que se possa fazer a medida, neste caso, uma

volta completa no anel pré-concentrado sem que haja sobreposição de pontos.

3.3. Amostras

As amostras coletadas neste trabalho tiveram origens diversas. Algumas

cachaças de Salinas foram doadas gentilmente pela APACS e coletadas na sede da

associação em Salinas (MG), outras, foram obtidas por doação no estande de

apresentação dos produtores no festival realizado na cidade. Das amostras 47

amostras colhidas, 30 são marcar associadas a APACS e as outras 17 não são. Todas

as amostras coletadas desta região são produzidas de forma artesanal, utilizando

alambiques de cobre.

O grupo de amostras “Não Salinas” é composto por cachaças produzidas

em diferentes estados do Brasil. No total, são 11 estados diferentes e mais algumas

outras regiões de Minas Gerais produtoras de cachaça. Uma parte dessas amostras

foi cedida gentilmente por uma distribuidora de bebidas da região, outra parte foi

adquirida através da compra no comércio da região. O número de estados

representados foi uma tentativa de englobar a maior variedade de fatores que possam

afetar a composição química dos metais que são encontrados na cachaça brasileira

(Figura 10). Esse grupo contém ao todo 63 amostras de cachaças diferentes,

produzidas tanto de maneira industrial (coluna de aço inox) quanto de forma artesanal.

Dessas, 25 são de regiões diferentes de Minas Gerais, como por exemplo, sul de

Minas, Serra da Bocaina, Zona da Mata, além da região metropolitana de Belo

Horizonte.

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Figura 10 – Mapa do Brasil mostrando a quantidade de amostras de cachaças por

estado empregadas para a produção de modelos quimiométricos.

A única região que não foi representada neste conjunto foi a região Norte,

devido à dificuldade de se encontrar cachaças produzidas nesta região.

3.4. Pré-tratamento dos dados espectrais

Todas as cachaças foram adicionadas de um padrão interno de lítio. 9,2 L

da solução contendo 1,08 g L-1 de lítio (na forma de nitrato) foram adicionados em 5

mL das amostras de cada cachaça. Após a adição do padrão interno, foram

confeccionados anéis em triplicata empregando-se 600 L da amostra, totalizando

303 anéis.

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Cada anel fornece, quando analisados por LIBS, um espectro contendo

25.669 variáveis distribuídas em uma faixa espectral de 200 a 1000 nm. Aplicando a

média entre as triplicatas de cada cachaça, obtém-se uma matriz com 101 linhas,

referentes a cada amostra e 25669 colunas, referentes a média das intensidades

coletadas pelo ICCD.

As cachaças foram divididas em dois grupos, Salinas composta por 45

amostras e Não Salinas composta por 56 amostras. Os modelos foram produzidos

utilizando todo espectro e realizando-se seleção prévia de variáveis. Nesta seleção

foram escolhidos os sinais de emissão com maior intensidade após avaliação visual

dos espectros originais, totalizando 69 linhas de emissão e o total de 3030 variáveis

no subconjunto selecionado, incluindo o pico de emissão do lítio (670,78 nm),

empregado como referência interna.

Os pré tratamentos utilizados nos espectros foram a aplicação de um filtro

de Savitzky-Golay (janela de 21 pontos e polinômio de segundo grau) para a

suavização dos espectros, depois foi feita a seleção de variáveis e em seguida foi

utilizado um pré-tratamento para alinhamento de cada um dos picos (peak alignment),

para minimizar o efeito de deslocamento do pico de emissão em relação ao

comprimento de onda, causado pela medida instrumental. Por último, para cada

espectro, foi realizada a normalização pela intensidade máxima da linha de emissão

do lítio, para minimizar qualquer tipo de variação no sinal analítico que possa ocorrer

no processo de pré-concentração e de medida automatizada dos anéis.

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4. Resultados e Discussão

4.1. Modificações no aparato do Ring Oven

Para a realização deste trabalho foi efetuado uma modificação no aparato

do ring oven utilizado por Farias Filho (2016)34. No trabalho anterior a produção do

anel era feita utilizando apenas o calor fornecido pelo forno, sem que houvesse

contato da amostra pré concentrada com a parede do forno. Com a substituição da

parede de metal pelos anéis de teflon, este contato pode passar a existir fazendo com

que a produção do anel seja mais rápida. No procedimento realizado no trabalho

anterior, o tempo médio para a pré concentração de uma amostra de 600 L era de

aproximadamente trinta minutos. Com as modificações feitas o tempo gasto diminuiu

para quinze minutos, havendo um ganho significativo de tempo na análise das

amostras. Outra vantagem na modificação proposta é a produção de anéis mais

simétricos e bem definidos, com diâmetro fixo em 22 mm como mostra a Figura 11.

Figura 11 – Anel produzido pelo aparato do ring oven modificado.

As modificações foram propostas com o intuito de eliminar a contaminação

dos anéis por metais. Quando a frente de difusão entra em contato com a parede do

forno a alta temperatura e o ácido clorídrico utilizado na etapa de lavagem do anel

oxida o alumínio metálico da parede do forno o que causa a contaminação do anel pré

concentrado, além de desgastar sua parede. Desta forma, foi necessário encontrar

um material com alto ponto de fusão, já que a temperatura de trabalho gira em torno

de 110º C e que fosse inerte quando é feita a lavagem com ácido. Por esses motivos

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foi utilizado o Teflon® para substituir o contato do forno com o papel utilizado como

substrato para a pré concentração mostrado na Figura 12.

Figura 12 Modificações realizadas no aparato do ring oven com a adição dos anéis de

teflon.

Na confecção dos anéis, foi notado em algumas amostras de cachaça, a

presença de uma mancha durante o processo de pré concentração, como pode ser

observado na Figura 13. Esta mancha é proveniente do tipo de madeira que foi

utilizada no processo de envelhecimento de cada cachaça.

Figura 13 – Mancha deixada no papel após a pré concentração de algumas amostras de cachaça.

Este fato não causou nenhuma interferência na análise dos metais, pois,

para o processo de arraste de íons é utilizada a lavagem com ácido, que garante que

Anéis de Teflon

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os metais de interesse sejam concentrados nos limites do anel. Isso acontece porque

o papel é formado pelas fibras de celulose que contém em sua estrutura grupos

hidroxilas, responsáveis pelos fenômenos de adsorção e dessorção no papel. O efeito

eletrostático desses grupos dá a celulose uma afinidade por prótons que em solução

aquosa formam, com os íons metálicos, os chamados aquo-complexos que ficam

retidos pelos grupos hidroxilas. Quando se utiliza a lavagem ácida a interação que

acontecia com o metal passa a acontecer com os íons H+, liberando o íon metálico

para se descolocar com o solvente.

4.2. Definição do volume a ser pré concentrado

A avaliação do volume de cachaça a ser pré-concentrado foi realizada a

partir da maior quantidade de informação (número de linhas de emissão detectadas)

proveniente dos espectros LIBS sem que houvesse perda pela saturação de outras

linhas de emissão no espectro. Foram utilizados três volumes diferentes 50, 300 e 600

L e avaliadas as intensidades de algumas linhas de emissão presentes no espectro.

Acredita-se que a classificação das cachaças se dá pela composição do

solo em que a cana-de-açúcar empregada em sua fabricação é cultivada, logo

quantidades pequenas de metais deveriam, em princípio, ser detectadas. Outra fonte

de metais seria proveniente do material de construção do alambique, que neste caso

invariavelmente, em se tratando de cachaças artesanais, é feito de cobre. Foram

escolhidas 4 linhas para esta avaliação, a do Ca (393,4 nm), Ni (585,8 nm), Al

649,3nm) e Mn (714,8) cujas intensidades estão representadas na Figura 14:

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Figura 14 - Espectros de emissão obtidos a partir de anéis resultantes de volumes

pré-concentrados de 50, 300 e 600 L de uma amostra de cachaça. Ca (393,4 nm),

Ni (585,8 nm), Al (649,3 nm) e Mn (714,8 nm).

A observação da Figura 14 indica que o volume de 600 L fornece, como

esperado, uma sensibilidade maior, visto que as intensidades dos picos são maiores

empregando-se este volume. Logo, para a continuidade deste trabalho, este foi o

volume utilizado na pré concentração das amostras de cachaça. Para volumes

maiores os as linhas de emissão de metais em maiores concentrações ultrapassam a

faixa de trabalho do ICCD, inviabilizando a utilização desses volumes.

4.3. Fator de pré concentração (K)

O fator de pré concentração, K, do ring oven é dado pela razão do volume

da amostra a ser pré concentrado, Vamostra, pelo volume do anel que será produzido

no papel pelo analito de desejo, Vanel.

amostra

anel

VK

V Equação 2

O volume do anel, Vanel, é encontrado subtraindo o volume do cilindro

formado pela parte externa do anel e o cilindro da parte interna do anel. O volume de

um cilindro é dado por:

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2V r h , logo o volume do anel é dado por:

2 2

int( )anel extV r r h , onde rext é igual ao raio formado pela parte externa

do anel de pré concentração, rint é igual ao raio formado pela parte interna do anel de

pré concentração e h é a espessura do papel utilizado, que pode ser observado na

Figura 15:

Figura 15 – Esquema de um anel obtido por pré-concentração indicando o raio externo

e interno para o cálculo do fator de pré concentração.

Considerando o diâmetro externo do anel produzido 22 mm, o diâmetro

interno de 21,6 mm e a espessura do papel de 0,21 mm, encontra-se que Vanel = 2,87

L. Logo o valor de K é igual a aproximadamente 208 vezes para um anel preparado

de 600 L de amostra. Para os volumes de 50 e 300 L, os valores de K são,

respectivamente, 17 e 104.

4.4. Presença de sacarose nas cachaças analisadas

A legislação brasileira prevê que cachaças com concentrações de até 6 g

L-1 de sacarose, não precisam da indicação, no rótulo, de cachaça adoçada. Este foi

um fator limitante da produção de anéis para este trabalho. Além da pré-concentração

dos metais, toda matéria não volátil presente na cachaça foi pré concentrada,

incluindo a sacarose, se presente.

Mesmo estando em concentração baixa o açúcar começa a cristalizar no

papel atrapalhando a formação de um anel simétrico e bem definido, como mostrado

na Figura 16. No trabalho realizado por Faria Filho et ali (2016)34, esta dificuldade não

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ocorreu, pois, o volume utilizado foi de 60 L e o fator de pré concentração foi de

aproximadamente 15, logo a quantidade de açúcar não foi suficiente para atrapalhar

a produção dos anéis.

Figura 16 – Anel produzido a partir de uma cachaça com sacarose

Devido a este problema, o número de amostras utilizadas neste trabalho foi

alterado, eliminando-se as cachaças que continham açúcar. No total foram utilizadas

101 amostras de cachaça, excluindo nove das 110 cachaças inicialmente coletadas.

4.5. Aquisição dos espectros LIBS

4.5.1. Modo de aquisição de dados

O modo de aquisição de espectros foi o Integrate on chip que foi proposto

por Farias Filho et al(2016)34 para quantificação do teor de cobre em amostras de

cachaça. Esta opção de aquisição dos dados acelera o processo de leitura dos anéis

quando comparada com o modo accumulate. Para a determinação de sódio, cobre e

ferro Cortez e Pasquini (2013)14 demoravam cerca de 15 minutos para coletar 60

pulsos de laser em cada anel no modo accumulate. Já no modo Integrate on chip

Farias Filho (2016)34 analisava cada anel com 120 pulsos em pouco menos de 1

minuto.

Para analisar os anéis neste modo, a frequência de pulsação do laser foi

associada com a velocidade de rotação de uma plataforma onde o papel de filtro

contendo o anel era colocado. Como a frequência do laser é de 20 Hz o tempo entre

um pulso e outro é de 50 ms. Para que não haja sobreposição entre os pulsos, foi

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39

estabelecida a distância de 0,5 mm entre os pontos de incidência sucessivos. Desta

forma consegue-se calcular a velocidade angular através das equações:

t

Equação 3

S

r

Equação 4

Foi encontrado que a velocidade de rotação da plataforma deve ser de 0,91

rad s-1, ou 8,7 rpm. Para determinar o número de pulsos que serão integrados para

cada anel deve-se relacionar a frequência do laser com o comprimento do anel (69,1

mm), desta forma, o número de pulsos coletados é de 140 por volta. Como o papel

utilizado é submetido à condições de alta temperatura e um pH muito baixo, sua

resistência é comprometida e assim só é possível coletar os primeiros 140 pulsos da

primeira volta.

4.5.2. Espectros LIBS

Estabelecida as condições experimentais, foram produzidos os anéis por

pré concentração. Foram produzidos 303 anéis a partir das 101 amostras de cachaça

diferentes, sendo cada amostra medida em triplicata. As medidas e confecção dos

anéis foram feitas de forma aleatória. Posteriormente, os espectros gerados foram

separados em dois grupos, Salinas e Não Salinas que contêm 45 e 56 cachaças,

respectivamente. Os espectros médios de cada triplicata são mostrados na Figura 17.

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Figura 17 – Espectros médios das triplicas de cada uma das 101 amostras de cachaça

analisadas.

Com os espectros coletados e os grupos separados, foi possível realizar

uma análise exploratória preliminar dos dados empregando PCA. O primeiro modelo

foi produzido utilizando-se apenas os espectros brutos, sem pré tratamento. O gráfico

de escores está representado na Figura 18, onde a PC1 (Componente Principal 1)

explica 65,16% da variância espectral, PC2 3,38% e a PC3 2,43%.

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Figura 18 – Gráfico de escores PC1xPC2xPC3 dos dados brutos onde () representa

o grupo de Salinas e (■) Não Salinas.

Analisando o gráfico de escores nota-se que há uma tendência na

separação dos grupos, porém insuficiente para definir uma fronteira clara entre os dois

grupos de amostras. Por isso, foi necessário aplicar alguns pré-tratamentos nos

espectros afim de minimizar fontes de variabilidade não-informativas e tentar

aumentar o grau de discriminação entre classes.

Para minimizar ruídos presentes nos espectros foi utilizado um filtro de

Savitzky-Golay com janela de 21 pontos e polinômio de segundo grau. A escolha do

número de pontos da janela se deu por uma avaliação visual do espectro, observando

a diminuição dos ruídos experimentais sem que informações dos picos menos

intensos fossem comprometidas. Ou seja, os picos e a resolução espectral foram, na

medida do possível, preservados.

Em seguida, foi realizada a normalização dos espectros pela intensidade

máxima da linha de emissão do lítio. Como em todas as cachaças foi adicionado uma

quantidade fixa de lítio, a normalização do espectro, por esse método, diminuiu a

variação experimental no sinal do LIBS causada por fatores instrumentais (energia do

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pulso, por exemplo) e/ou por deformações do anel que podem desviá-lo, durante a

medida, do ponto de incidência do pulso do laser.

A principal causa desta variação se dá pela pequena deformação na

produção do anel. Ao ser umedecido, o papel se deforma, devido à alta temperatura

e a lavagem com ácido. Este fato faz com que alguns pulsos de laser não incidam

sobre o anel provocando uma diferença na intensidade das linhas de emissão dos

metais nos espectros coletados. Quando é utilizado o padrão interno essa variação é

diminuída, pois a variação do sinal analítico é proporcional a linha de emissão do

padrão interno registrada em 670,78 nm.

Porém, ao tentar normalizar o espectro pela linha de emissão do lítio, foi

notado um problema adicional. Quando selecionado o pico do lítio para a

normalização observou-se que os espectros coletados não estavam alinhados como

pode ser observado na Figura 19. Este desalinhamento causa erro na normalização,

pois como é utilizado a intensidade máxima da linha do lítio esse deslocamento fará

com que outro ponto do seu pico de emissão seja utilizado para a normalização. A

provável causa para este deslocamento é uma alteração na calibração do

policromador echelle devido ao longo período de tempo em que o equipamento fica

em funcionamento durante a análise. Para contornar este problema foi utilizado uma

ferramenta do PLS Toolbox chamada de peak alignment (alinhamento de pico) que

tem a função de alinhar todos os espectros como demonstrado na Figura 19.

Ao analisar o restante do espectro, notou-se que esse desalinhamento

estava presente em todos os outros picos de emissão como exemplificado na Figura

19. Primeiramente, tentou-se alinhar todos os picos de emissão de uma só vez, porém

o resultado obtido não foi satisfatório, ficando ainda vários picos desalinhados. Para

contornar este problema, as linhas foram tratadas separadamente, havendo assim a

necessidade de uma seleção de variáveis. O critério utilizado para seleção foi a

utilização de linhas de emissão que estivessem acima do ruído espectral. Desta forma,

o número de variáveis espectrais utilizada diminuiu de 25669 para 3030, sendo

escolhidos 69 linhas de emissão pertencentes a 12 elementos químicos diferentes:

Ca, Na, Mn, K, Si, Fe, Ni, Cu, Mg, Zn e Al.

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Figura 19 – Picos de emissão do lítio (670,78 nm), do cobre (324,7 nm) e do cálcio

(393,6 nm) sem a aplicação do peak alingment (A, C e E) e com a aplicação do peak

alingment (B, D e F).

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Depois de alinhados e normalizados, os picos selecionados foram

concatenados em uma só linha da matriz de dados, resultando em um espectro

composto pelos segmentos, que pode ser observado na Figura 20.

Figura 20 – Espectro pré-tratados com filtro de Savitzky-Golay com janela de 21

pontos, normalizados pela intensidade máxima do pico do lítio (670,78 nm) com os

picos de maior intensidade selecionados e seus respectivos elementos e após

alinhamento.

Com esse conjunto de dados foram produzidos os modelos quimiométricos

de classificação propostos no trabalho.

4.6. Análise exploratória dos dados empregando dados pré-tratados

Com os dados pré-tratados, iniciou-se a confecção de modelos visando

verificar a separação das classes. Primeiramente, foi realizada a análise de

componentes principais (PCA), para explorar a capacidade de separação das classes

após os pré tratamentos realizados. O gráfico de escores da PC1 x PC2 e PC1xPC3,

pode ser observado na Figura 21, 84% da variabilidade espectral é explicada pela

PC1, 7% pela PC2 e 3% pela PC3, totalizando 94% explicada pelas três primeiras

PCs.

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Figura 21 – Gráfico de escores das 101 amostras de cachaças nas coordenadas PC1

x PC2 (A) e PC1 x PC3 (B) indicando a separação entre as classes Salinas (■) e Não

Salinas (●) com os dados pré tratados com suavização com filtro de Savitzky Golay

(janela 21 pontos), seleção de picos de emissão e normalização pela intensidade

máxima do pico do lítio (670,78 nm) após alinhamento dos picos.

Após os pré-tratamentos consegue-se observar claramente a distinção das

duas classes estudadas. As principais componentes responsáveis pela separação das

classes são a PC1 e a PC2, visto que para a classe Salinas há valores de escores

negativos para ambas PCs e para a classe Não Salinas valores positivos para as

mesmas PCs. É possível analisar quais são as variáveis mais significativas para a

separação observando os gráficos de loadings obtidos no PCA feito, como exibido na

Figura 22.

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Figura 22 – Gráfico de loadings das PC1 (A) e PC2 (B) no modelo PCA produzido com

as 101 amostras de cachaça.

Nota-se que as principais linhas de emissão responsáveis pela separação

das classes são as linhas correspondentes ao elemento cálcio (389,7 nm; 393,3 nm

;396,6 nm e 422,3 nm), sódio (589,0 nm; 589,9 nm; 635,8 nm e 656,3 nm). Estes

elementos apresentam diferenças relacionadas a região de produção da cachaça. O

cálcio está associado diretamente a composição do solo no qual a cana-de-açúcar foi

plantada. Para um melhor desenvolvimento, a cana-de-açúcar necessita de um pH de

5,5 até 6,5. Através de uma pesquisa de campo verificou-se que na região de Salinas

os produtores não utilizam qualquer tipo de correção de pH para o plantio da mesma,

mostrando que o nível de acidez no solo da região é baixo o que pode ter um excesso

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de cálcio na região. Já o sódio pode estar ligado a composição do solo, da água, ou

ainda alguma ação antrópica no processo de fabricação da cachaça. Essas evidências

indicam que não é a presença ou ausência de um metal que distingui as classes e sim

a quantidade dos metais presentes na cachaça.

Visto que, com os pré tratamentos realizados, consegue-se obter uma boa

separação entre as classes, foi iniciada a produção de modelos com os métodos mais

usuais de classificação, Modelagem Flexível e Independente por Analogia de Classes

(SIMCA), Análise Discriminante Linear (LDA) e Análise Discriminante por Mínimos

Quadrados Parciais (PLS-DA).

4.7. Modelagem Flexível e Independente por Analogia de classes (SIMCA)

Para a produção do modelo, utilizou-se a matriz de dados pré tratada com

a suavização por filtro de Savitzky-Golay (janela de 21 pontos), normalizada pela linha

de emissão do lítio (670,78 nm) e alinhada com a ferramenta peak alingment.

Para a produção do modelo, as amostras foram separadas por meio do

algoritmo Kennard-Stone em dois grupos: calibração com 71 amostras (30 cachaças

de Salinas e 41 cachaças de outras localidades) e validação com 30 amostras (15 de

Salinas e 15 de outras localidades. As tabelas 1 e 2 a seguir mostram os resultados

obtidos na produção e validação do modelo.

Tabela 1 – Matriz de confusão para a validação cruzada para o modelo feito com 8 PCs para a classe de Não Salinas e 3 PCs para a classe de Salinas com um nível de significância de 95%.

Classe TVP* TFP* TVN* TFN* Erro Sensibilidade Especificidade

Salinas 1,00 0,03 0,97 0,00 0,00 1,00 0,97

Não Salinas 0,97 0,00 1,00 0,03 0,03 0,97 1,00

Coeficiente de correlação de Matthew 0,97

*TVP – Taxa de verdadeiro positivo **TFP – Taxa de falso positivo *** TVN – Taxa de verdadeiro negativo ****TVP – Taxa de falso negativo

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Tabela 2 – Matriz de confusão para os conjuntos de validação externa

Classe TVP TFP TVN TFN Erro Sensibilidade Especificidade

Salinas 1,00 0,00 1,00 0,00 0,00 1,00 1,00

Não Salinas 1,00 0,00 1,00 0,00 0,00 1,00 1,00

Coeficiente de correlação de Matthew 1,00

Tabela 3 - Classificação do conjunto de validação externa quanto as suas classes

Classe Modelo de Classificação

Salinas Não Salinas

Salinas 15 0

Não Salinas 0 15

O modelo SIMCA, no nível de 95% de significância classificou (e, portanto,

autenticou) claramente as amostras externas de validação dos modelos construídos.

4.8. Análise Discriminante Linear (LDA)

Para confecção de modelos LDA, é necessário que o número de amostras

seja maior que o número de variáveis utilizado. Isso torna a utilização deste algoritmo

no conjunto de dados estudado neste trabalho inviável, pois mesmo a matriz reduzida

utilizada para confecção de modelos apresenta 3030 variáveis e o conjunto de dados

é composto por apenas 101 amostras. Porém, o UNSCRAMBLER 10.4, permite que

os scores produzidos pela PCA das variáveis, sejam utilizados para a produção do

modelo. Essa técnica é conhecia por PCA-LDA.

Para a produção do modelo as amostras foram separadas em dois

conjuntos: um de calibração, contendo 71 amostras de cachaça (30 de Salinas e 41

de Não Salinas) e um outro de validação com 30 amostras (15 de Salinas e 15 de Não

Salinas). Para a separação destes subconjuntos utilizou-se o algoritmo de Kennard-

Stone. O modelo produzido com 4 PCs, a matriz de confusão proveniente da validação

cruzada e o conjunto de validação externa estão representados respectivamente na

Figura 23, na Tabela 4 e na Tabela 5.

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Figura 23 – Modelo produzido utilizando 71 amostras cachaça, sendo, 30 de Salinas

(■) e 41 de Não Salinas (●) e com as 4 primeiras PC calculando a distância entre os

grupos pelo método quadrático.

Tabela 4 - Matriz de confusão para a validação cruzada para o modelo feito com 4 PCs através do método de PCA-LDA.

Classe TVP TFP TVN TFN Erro Sensibilidade Especificidade

Salinas 1,00 0,00 1,00 0,00 0,00 1,00 1,00

Não Salinas 1,00 0,00 1,00 0,00 0,00 1,00 1,00

Coeficiente de correlação de Matthew 1,00

Tabela 5 – Acertos na classificação das amostras sendo de Salinas ou Não Salinas na validação externa do modelo PCA-LDA.

Classe Modelo de Classificação

Salinas Não Salinas

Salinas 15 0

Não Salinas 0 15

Com esses resultados pode-se afirmar que o modelo confeccionado

utilizando a técnica PCA-LDA é capaz de distinguir a região de produção de Salinas

daquelas produzidas em grande parte do restante do país por meio do seu perfil

espectral, gerado pela presença dos elementos empregados neste trabalho e dentro

do atual conjunto de amostras representando o restante do país.

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4.9. Análise Discriminante por Mínimos Quadrados Parciais (PLS-DA)

O modelo foi construído a partir do espectro com seleção de variáveis pré

tratados com suavização por filtro de Savitzky-Golay (janela de 21 pontos),

normalização das linhas de emissão pelo pico do lítio e alinhamento dos picos. Para

a pseudo-variável representando a classe de Salinas foi utilizado o valor 1 e para

classe Não Salinas o valor 0.

Para a produção deste modelo as amostras também foram separadas em

dois conjuntos: um de calibração, contendo 71 amostras de cachaça (30 de Salinas e

41 de Não Salinas) e um outro de validação com 30 amostras (15 de Salinas e 15 de

Não Salinas). Para produzir os subconjuntos de amostras utilizou-se o algoritmo de

Kennard-Stone para seleção de amostras. Os resultados obtidos com o modelo

produzido estão nas tabelas 6, 7 e 8 a seguir.

Tabela 6 – Matriz de confusão para validação cruzada para o modelo PLS-DA produzido com 4 fatores.

Classe TVP TFP TVN TFN Erro Sensibilidade Especificidade

Salinas 1,00 0,03 0,97 0,00 0,00 1,00 0,97

Não Salinas 0,97 0,00 1,00 0,03 0,03 0,97 1,00

Coeficiente de correlação de Matthew 0,97

Tabela 7 – Matriz de confusão para o conjunto de validação externa do modelo PLS-DA

Classe TVP TFP TVN TFN Erro Sensibilidade Especificidade

Salinas 1,00 0,00 1,00 0,00 0,00 1,00 1,00

Não Salinas 1,00 0,00 1,00 0,00 0,00 1,00 1,00

Coeficiente de correlação de Matthew 1,00

Tabela 8 - Classificação do conjunto de validação externa quanto as suas classes

Classe Modelo de Classificação

Salinas Não Salinas

Salinas 15 0

Não Salinas 0 15

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O modelo classificou na validação cruzada uma amostra de fora de Salinas

como sendo de Salinas, porém na validação externa a taxa de acerto foi de 100%

indicando que o PLS-DA é adequado para a classificação de cachaças da região de

Salinas, empregando os dados obtidos por meio da técnica de pré-concentração ring

oven e da espectroscopia por LIBS.

4.10. Autenticação das Cachaças da região de Salinas

Todos os métodos de classificação utilizados produziram resultados

excelentes para a classificação das cachaças da região de Salinas, tanto na validação

cruzada quando na validação externa. Porém, o método mais indicado para a

autenticá-las, de acordo com Oliveri (2012)35, é o SIMCA. Quando são comparadas

as cachaças produzidas em Salinas com as produzidas no restante do Brasil, não se

tem apenas duas classes envolvidas na produção de modelos e sim vários grupos de

regiões diferentes sendo comparadas com as da região de interesse, Salinas.

Nos métodos discriminantes (PLS-DA e LDA) o modelo calcula a distância

entre os centros dos grupos que estão sendo analisados. Como o grupo de Não

Salinas não é bem definido a utilização desses métodos se torna inviável, pois a

definição do centro deste grupo pode induzir a classificação errônea de algumas

amostras. Quando se utiliza o modelo SIMCA, pode-se definir apenas o grupo de

interesse, logo amostras que diferem significativamente deste grupo são consideradas

como não pertencentes a ele e consequentemente pertencem ao grupo de fora da

região de interesse. Isto pode ser observado na Figura 24 e na Figura 25.

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Figura 24 – Gráfico Si/So x Hi da validação interna com o modelo SIMCA produzido

com 30 cachaças provenientes da região de Salinas. Onde as amostras (■), amostras

produzidas na região de Salinas; (●) Amostras provenientes de outras regiões (Não

Salinas).

Figura 25 – Gráfico Si/So x Hi da validação externa (30 amostras) com o modelo

SIMCA produzido com 30 cachaças provenientes da região de Salinas. Onde as

amostras (■), amostras produzidas na região de Salinas; (●) Amostras provenientes

de outras regiões (Não Salinas).

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Sabendo que Si/So é a distância relativa entre a amostra e Hi é a distância

entre o centro da classe modelada, nos gráficos de Si/So x Hi para a validação interna

e externa, nota-se que o grupo de Salinas é um conjunto de amostras com

características mais bem definidas, apesar da validação interna apresentar uma

amostra do grupo de Não Salinas no espaço destinado as amostras de Salinas. Porém

na validação externa, não houve erro quanto a classificação de nenhuma amostra. A

dispersão apresentada no grupo de Não Salinas indica o porquê da não utilização de

métodos discriminantes, baseado em duas classes, em trabalhos que buscam a

autenticação de uma amostra qualquer.

Obviamente, o conjunto de amostras representando o restante do Brasil

ainda se apresenta bastante limitado, embora tenha se tentado torná-lo o mais

representativo possível utilizando amostras de vários estados brasileiros, inclusive de

regiões variadas do estado de Minas Gerais. O sucesso atingido com a validação

externa dos modelos de classificação construídos (inclusive o modelo SIMCA) permite

afirmar que a utilização da técnica de pré-concentração ring oven aliada ao LIBS

apresenta grande potencial para serem empregadas na constatação da origem das

cachaças de Salinas que são devidamente certificadas com selo de origem.

Esta constatação indica que além do selo de indicação de procedência, a

cachaça de Salinas pode adquirir o selo de denominação de origem, pois o produto

apresenta características singulares do local onde é produzido. Este selo agrega um

valor maior ao produto gerando benefícios para os produtores locais. Um estudo com

um número maior de amostras de cachaças no grupo de Não Salinas seria necessário

para afirmar com um grau maior de confiança que a cachaça produzida em Salinas

possui um perfil inorgânico diferente das cachaças produzidas no restante do Brasil.

Uma limitação na utilização desta característica da cachaça para a sua

autenticação é que ela não atesta a qualidade do produto em si, mas, provavelmente,

apenas indica a sua procedência. Muitos outros fatores são responsáveis pela

qualidade da cachaça produzida em Salinas como, por exemplo, as propriedades

organolépticas. Como a cachaça é uma bebida muito fácil de se produzir, qualquer

produtor de cana que tiver um alambique em sua propriedade é ser capaz de produzi-

la. Mesmo a cachaça não tendo a qualidade reconhecida da região, através da sua

composição de elementos inorgânicos ela terá alta probabilidade de ser classificada

como sendo de Salinas por este modelo.

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5. Conclusão

A partir dos resultados obtidos, conseguiu-se avanços consideráveis na

utilização da técnica de pré-concentração por ring oven, associado ao LIBS.

Primeiramente, as modificações realizadas no aparato do ring oven

aceleram o processo de pré-concentração, deixando cerca de duas vezes mais rápido.

A pré-concentração de 600 L de amostra em solução aquosa, diminuiu para 15

minutos, sendo que, antes das modificações, demoravam 30 minutos. Os anéis

produzidos através do aparato modificado são mais bem definidos e reprodutíveis,

melhorando as análises através da mecanização utilizada para medidas feitas no

LIBS.

No que diz respeito a autenticação das cachaças produzidas em na

região de Salinas, a técnica se mostrou eficaz quando associada a quimiometria. Após

a utilização da suavização com filtro de Savitzky-Golay com janelas de 21 pontos,

normalização pelo linha de emissão do Li (670,78 nm), alinhamento dos picos de

emissão e uma seleção de variáveis, conseguiu-se separar as cachaças produzidas

na região das demais produzidas no Brasil com 100% de acertos através do método

SIMCA.

Desta forma, é possível afirmar que a utilização do perfil inorgânico da

cachaça, quando utilizado como referência para a distinção da região de Salina (MG)

das demais regiões produtoras de cachaça do Brasil, constitui um critério efetivo para

o combate a falsificação e assegurar a autenticidade das cachaças produzidas

naquela região.

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