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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE QUÍMICA
CECÍLIA DE CARVALHO CASTRO E SILVA
DESENVOLVIMENTO DE BIOSSENSORES DO TIPO TRANSISTOR DE EFEITO DE
CAMPO A BASE DE GRAFENO (GraFET) DECORADOS COM NANOPARTÍCULAS DE
OURO APLICADOS NA DETECÇÃO ULTRA-SENSÍVEL DE BIOMARCADORES DE
CÂNCER DE MAMA
CAMPINAS
2015
CECÍLIA DE CARVALHO CASTRO E SILVA
DESENVOLVIMENTO DE BIOSSENSORES DO TIPO TRANSISTOR DE EFEITO DE
CAMPO A BASE DE GRAFENO (GraFET) DECORADOS COM NANOPARTÍCULAS DE
OURO APLICADOS NA DETECÇÃO ULTRA-SENSÍVEL DE BIOMARCADORES DE
CÂNCER DE MAMA
Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de
Química da Universidade Estadual de Campinas
como parte dos requisitos exigidos para a obtenção
do título de Doutora em Ciências
Orientador: Prof. Dr. Lauro Tatsuo Kubota
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA
ALUNA CECÍLIA DE CARVALHO CASTRO E SILVA, E ORIENTADA PELO PROF. DR.
LAURO TATSUO KUBOTA
CAMPINAS
2015
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
“Follow your interests,
get the best available education and training,
set your sighs high,
be persistent, be flexible,
keep your options open,
accept help when offered,
and be prepared to help others.”
Profa. Dra. Mildred Dresselhaus
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
A todos aqueles que acreditam que a ciência pode ser também um
agente de transformação social,
Dedico
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
AGRADECIMENTOS
Por mais individual que o trabalho de uma tese de doutorado possa
parecer, muitas pessoas estão envolvidas direta ou indiretamente para tornar este
trabalho possível, assim agradeço:
Ao meu orientador Prof. Dr. Lauro Tatsuo Kubota, pela orientação
competente, confiança, por me permitir e incentivar a trabalhar em diferentes campos
da ciência. Muito obrigada Prof Lauro por tudo e principalmente pela oportunidade que
o senhor me deu anos atrás de ingressar em seu grupo de pesquisa!
A todos os integrantes do grupo LEEDS, tenho certeza que construí laços
de amizade para a vida toda aqui. Agradeço por todas as discussões e sugestões no
desenvolvimento deste trabalho. Em especial, à Dra. Camila Maroneze, Dr. Murilo
Santhiago e Ms. Maiuí N.de Camargo, pela amizade e trabalhos em colaboração
desenvolvidos neste período. Ao Glauco e Dênio por todas as discussões e
ensinamentos em relação à manipulação dos anticorpos e proteínas. Ao José Tiago,
pelas discussões sobre as medidas de espectroscopia de impedância eletroquímica.
A todos os amigos e colegas (membros, ex-membros e “agregados”): João Paulo,
Cátia, Victor, Thiaguinho, Emília, Fernando, Viviane, Leandrinho, Gabriela, Luciana,
Jailson, Wilney, Mariana, Maurício, Bárbara, José Ricardo, Fabrício e Ronaldo. Em
especial à Rúbia e ao Humberto, por serem pessoas sempre dispostas a auxiliar e
ajudar os alunos do grupo.
Agradeço ao Dr. Alexandre Kisner, por todo o suporte na confecção das
máscaras de alta resolução para processos fotolitográficos, amizade e palavras de
incentivo.
Ao Prof. Dr. Manish Chhowalla, meu mentor durante o período de
doutorado sanduíche na Rutgers University. Inicialmente agradeço a oportunidade
que recebi de ingressar em seu grupo e por toda a orientação durante o período do
estágio e fora deste também. Foi um período de aprendizado intenso e
amadurecimento, que muito contribuiram não só para o desenvolvimento deste
trabalho, mas para a minha formação profissional e pessoal.
A todos os integrantes do Nanodevices Group, por todo o auxílio,
discussões científicas e amizade. Foi muito importante este período em que tive a
oportunidade de conhecer pessoas de culturas tão diferentes e extremamente
solícitas e prontas a ajudar ao próximo. Em especial ao Dr. Damien Voiry, uma pessoa
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
extremamente empolgada com a ciência e pesquisa, muito obrigada por dividir seus
conhecimentos comigo, pelos trabalhos em parceria e amizade. Ao Raj Kappera, por
tudo o que me ensinou sobre o crescimento de grafeno via processo CVD e métodos
de transferência. A todos os outros amigos que fiz na Rutgers University que
contribuíram muito por trazer alegria e o sentimento de comunhão neste período longe
de casa: minhas queridas amigas Elaheh e Rut, Muharrem, Hulya, Berra, Ibrahim,
Maureen, Mariana, Franciele, Ananda, Pali, Chi-Han, Yuying e Miss Kuchinow.
Agradeço ao Dr. Warren Lai (diretor da sala limpa) por me permitir usufruir
da infra-estrutura da sala limpa do Departamento de Engenharia Elétrica e
Computação da Rutgers University e ao Bob por todos os treinamentos e auxílios que
tive durante este período.
Agradeço ao Centro de Componentes de Semicondutores (CCS) da
Unicamp, por disponibilizar toda a infraestrutura para que fosse possível dar
continuidade a este trabalho no Brasil. Em especial ao Prof. Dr. Alexandre Diniz
(diretor do CCS) por todo o auxílio e preocupação com os usuários do centro. À toda
equipe técnica que me auxiliou neste período, com todos os treinamentos e suporte.
Ao Laboratório de Pesquisa de Dispositivos (LPD) do IFGW-Unicamp, em
especial ao Antônio Augusto de Godoy Von Zuben (Totó), sempre muito solicito em
me ajudar todas as vezes em que eu precisei. Ao João Hermes Clerice, Laboratório
de Nano e Biossistemas (LNB - IFGW), por todo o suporte nos experimentos iniciais
com o laser writing. Ao Laboratório Multiusuários (LAMULT) IFGW-Unicamp, em
especial à Rosane e Eduardo, sempre muito gentis com todos os usuários. Ao CTI
Renato Archer, pelo auxílio com os processos de corte e wiring bonding dos micro-
Chips.
Grande parte deste trabalho também só foi possível ser realizada graças à
infraestrutura e apoio técnico da equipe do Laboratório Nacional de Nanotecnologia
(LNNano-Campinas). A toda equipe do Laboratório de Microfabricação (LMF), em
especial ao coordenador Ângelo Gobbi, por sempre abrir as portas de seu laboratório
todas as vezes que eu precisei e por me ajudar diretamente com a deposição de
metais nos dispositivos e Rui Murer e Luis Vieira, pelo treinamento no plasma de
oxigênio e suporte. Ao Sidnei Ramis de Araújo, do Laboratório de Microscopia
Eletrônica (LME), pelo treinamento no MEV e por toda atenção e ajuda na obtenção
das micrografias de MEV de melhor qualidade. Ao Dr. Carlos Costa e Evandro Lanzoni
do Laboratório de Ciência de Superfícies (LCS) por todo o empenho na obtenção das
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
imagens de AFM. À Dra. Cristiane Silva (LMN) pelas análises de XPS e ensinamentos
na deconvolução dos espectros obtidos e por sempre me receber tão bem durante as
sessões. À toda equipe do DSF, em especial ao Dr. Carlos César Bof Bufon por
disponibilizar também o uso do seu sistema de caracterização elétrica.
Durante o período de doutoramento, tive a oportunidade de participar do
Programa Estágio Docente (PED), que muito contribuiu para a minha formação
profissional e reafirmou a docência em meu futuro profissional. Assim agradeço o Prof.
Dr. Jarbas José Rodrigues Rohwedder, por ter sido meu supervisor durante o estágio
docência. Obrigada Prof. Jarbas por dividir seus conhecimentos comigo e por tudo o
que o senhor ensinou para mim sobre lecionar, o senhor é uma inspiração para nós
alunos de pós-graduação que queremos seguir esta carreira.
Agradeço toda a minha família, meu cerne, meu apoio em todos os
momentos. Agradeço meus pais, Adenir e Odivar, minha irmã Mariana e avós Julieta
e Sidalino (in memorian) e meu tio Nelson (Nino) por todo o amor e apoio
incondicional, por acreditarem sempre na minha capacidade, por me incentivarem a ir
atrás de meus objetivos e compreenderem os períodos longe de casa. Tudo o que
sou devo a vocês! Agradeço também ao Marcelo, pela amizade e momentos em que
precisei de sua ajuda.
Aos professores Dr. José Alexandre Diniz, Dra. Ana Flávia Nogueira, Dra.
Mônica Alonso Cotta, Dr. Eunézio Antônio de Souza (Thoroh) e Dr. Aldo Zarbin por
todas as valiosas contribuições que realizaram durante o exame de qualificação de
área e defesa de tese, que muito me auxiliaram para a preparação da versão final
desta tese.
Ao Cnpq e ao Programa Ciências Sem Fronteiras - INCT Bioanalítica pelas
bolsas de doutorado e doutorado sanduíche concedidas. Ao INCT Bioanalítica e
FAPESP, por disponibilizar os recursos gastos no desenvolvimento desta pesquisa e
a Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Química, por toda infraestrutura e
recursos humanos fornecidos.
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
RESUMO
Título: “Desenvolvimento de biossensores do tipo transistor de efeito de campo a
base de grafeno (GraFET) decorados com nanopartículas de ouro aplicados na
detecção ultra-sensível de biomarcadores de câncer de mama”
Autora: Cecília de Carvalho Castro e Silva
Orientador: Prof. Dr. Lauro Tatsuo Kubota
Palavras-chave: Transistor de efeito de campo; Grafeno, Nanopartículas de ouro,
Biossensor; Câncer de mama.
Este trabalho descreve a fabricação em grande escala de Transistores de Efeito de
Campo a base de Grafeno (GraFETs) decorados com nanopartículas de ouro e a
aplicação destes no desenvolvimento de biossensores altamente sensíveis para a
detecção dos biomarcadores de câncer de mama HER-2. O grafeno foi obtido via
processo de deposição química em fase vapor (CVD), sendo este caracterizado
através de microscopia eletrônica de varredura, de força atômica e ótica e
espectroscopia Raman, comprovando a obtenção de uma monocamada livre de
defeitos. O grafeno sintetizado foi transferido à uma lâmina de Si/SiO2 contendo as
matrizes de FET, que foram previamente fabricadas por processos convencionais de
fotolitografia e deposição de metais, sendo obtidos ao final mais de 2600 GraFETs.
Estes foram então caracterizados eletricamente em ar e em solução, exibindo assim
sensibilidade a mudanças de pH e adsorção de proteínas. Na etapa seguinte,
demonstrou-se pela primeira vez que a funcionalização da superfície do grafeno com
a p-mercaptopiridina conduz a imobilização de uma elevada densidade de
nanopartículas de ouro sobre o grafeno, de forma estável e homogênea. Além disso,
por meio do emprego da Proteína A, foi possível realizar a imobilização orientada dos
anticorpos sobre o grafeno e sobre as nanopartículas de ouro. Os GraFETs se
mostraram sensíveis a detecção da proteína HER-2, porém com a incorporação das
nanopartículas de ouro na superfície do grafeno tornou-se possível detectar níveis
extremamente baixos de HER-2, na ordem de 10-15 mol L-1. Tais magnitudes de
concentrações para este tipo de proteína não haviam até então sido detectados
empregando-se dispositivos FETs convencionais, destacando-se assim o potencial da
metodologia empregada nesta tese para a detecção precoce do desenvolvimento do
câncer de mama.
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
ABSTRACT
Title: “Development of Graphene Field Effect Transistor biosensors (GraFET)
decorated with gold nanoparticles applied on the ultrasensitive detection of breast
cancer biomarkers"
Author: Cecília de Carvalho Castro e Silva
Adviser: Prof. Dr. Lauro Tatsuo Kubota
Key-words: Field effect transistor; Graphene, Gold nanoparticles, Biosensor, Breast
cancer.
This work describes the large scale fabrication of Graphene Field Effect Transistors
(GraFETs) decorated with gold nanoparticles and their application on the development
of highly sensitive biosensors for detecting HER-2 breast cancer biomarkers.
Graphene layers were produced by the chemical vapor deposition (CVD) method, and
the obtained graphene was characterized by scanning electron microscopy, atomic
force microscopy and optical microscopy as well as Raman spectroscopy, confirming
that the obtained graphene is defect-free and formed by a single monolayer. The co-
synthesized graphene was then transferred to a Si/SiO2 wafer containing the pre-
patterned source and drain FET electrodes, which were produced by conventional
photolithography and metal deposition, generating in total more than 2600 GraFETs in
a single wafer. The devices were electrically characterized in air and in solution and
demonstrated enough sensitivity to detect pH changes and protein adsorption. In the
next step, it was demonstrated for the first time that the chemical functionalization of
graphene surface with p-mercaptopyridine leads to the homogeneous and stable
immobilization of a high density monolayer of gold nanoparticles on its surface.
Additionally, by using protein A, it was possible to carry out the oriented immobilization
of the antibodies on graphene and over the gold nanoparticles. The GraFET sensors
without the gold nanoparticles were able to perform highly sensitive detection of the
HER-2 protein, however, after the incorporation of gold nanoparticles on the graphene
surface, concentrations even lower in the range of 10-15 mol L-1 of the HER-2 protein
were detected. Such low levels of detection for this kind of biomarker using
conventional FET have not been reported before, thus, highlighting the potential of this
approach to diagnose the primary levels of breast cancer development.
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. (a) Imagem ilustrativa da estrutura hexagonal cristalina do grafeno. (b)
Estrutura de rede do grafeno mostrando em azul e amarelo os dois átomos de
carbono que compõem uma célula unitária e em (c) a correspondente zona de
Brillouin exibindo os pontos de alta simetria Γ, K e M. Adaptado da referência 3.
........................................................................................................................... 29
Figura 2. (a) Estrutura de banda do grafeno e zona de Brillouin ilustrada no plano
horizontal exibindo os pontos de alta simetria Γ, K e M. Em ampliação o encontro
das bandas de energia (BV e BC) em um dos pontos de Dirac. Adaptado da
referência6.(b) Efeito de campo elétrico ambipolar para uma folha de grafeno,
mostrando o acentuado aumento da resistividade em função da tensão de gate
em torno do ponto de Dirac. Dados obtidos a 1 K e na ausência de campo
magnético. Figura inserida exibindo o espectro de baixa energia cônico indicando
as alterações na posição da energia de Fermi com as mudanças na tensão de
gate. Adaptado da referência 2. .......................................................................... 30
Figura 3. Ilustração esquemática dos três principais estágios de crescimento do
grafeno via processo CVD sobre o substrato de cobre. (a) Folha de cobre com
óxido de cobre nativo sobre a superfície. (b) Folha de cobre exposta à atmosfera
de Ar/H2 à1000 ºC para etapa de recozimento, seguido de fluxo CH4 formando as
ilhas de grafeno e em (c) exibição dos domínios sp2 do grafeno com diferentes
orientações cristalográficas. Figura adaptada da referência11. .......................... 32
Figura 4. Ilustração exibindo um GraFET operando para medidas em ar na
configuração de back-gate (a) e em solução (b). ............................................... 35
Figura 5. Exemplo de curva de transferência de um GraFET quando uma voltagem
Vds constante é aplicada entre os eletrodos de fonte e dreno. ........................... 36
Figura 6. Efeito de campo eletroquímico no GraFET. Através da aplicação de uma
voltagem entre o grafeno e o eletrodo de referência, o nível de Fermi do grafeno
pode ser deslocado. Dessa forma, a condutividade pode ser modulada e o tipo
de portador de carga pode ser alterado entre lacunas (a) e elétrons (b). Figura
adaptada da referência28. ................................................................................. 36
Figura 7. Representação esquemática da dupla camada elétrica. Figura adaptada da
referência33......................................................................................................... 39
Figura 8. (a) Representação esquemática da interface grafeno/eletrólito e do circuito
equivalente exibindo os componentes da capacitância interfacial, capacitância de
Helmholtz (𝑪𝑯) em série com a capacitância quântica (𝑪𝒒) (adaptado da
referência36). (b) Modelo representativo da capacitância interfacial, exibindo as
duas componentes,(𝑪𝑯 e 𝑪𝒒)28 (c) (i) Constante dielétrica efetiva da água
próxima de uma superfície hidrofóbica, obtida através de simulação de dinâmica
molecular. (ii) Simulação da densidade dos íons Na+ e Cl- próximo a superfície do
grafeno. A simulação foi obtida considerando uma carga interfacial de 1012 cargas
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
negativas por cm2 em uma solução 100 mmol L-1 de cloreto de sódio e pH 7 e
com nenhuma voltagem aplicada. Adaptado da referência28 . ........................... 41
Figura 9. (a) Micrografia de MEV da superfície da folha de RGO decorada com as
nanopartículas de Au conjugadas com a proteína Anti-IgG. (b) Representação
esquemática do Biossensor FET a base do nanomaterial híbrido RGO –
Nanopartículas de Au. Adaptado da referência77. .............................................. 52
Figura 10. Representação esquemática do processo de superexpressão da
glicoproteína HER- 2 e consequentemente aumento das células cancerígenas92.
........................................................................................................................... 54
Figura 11. (a) Layout da máscara empregada na fabricação dos dispositivos exibindo
os padrões para fabricação de 49 chips. (b) Representação esquemática dos
padrões de um chip, exibindo a dimensão total deste e os 64 pares de eletrodos
de fonte e dreno organizados em uma matriz 8 x 8. Ao lado uma imagem ampliada
de um par de eletrodos de fonte e dreno. .......................................................... 59
Figura 12. Etapas empregadas no processo de obtenção do conjunto de eletrodos de
fonte e dreno dos chips fabricados. ................................................................... 61
Figura 13. Sistema empregado durante o crescimento do grafeno via processo CVD.
Composto de um forno, que fornece aquecimento constante de até 1000ºC, um
tubo de quartzo, uma bomba de vácuo conectada ao tubo de quartzo, e as linhas
de gases e controladores de fluxo. Na ampliação é mostrada a folha de cobre
inserida dentro do tubo de quartzo. .................................................................... 63
Figura 14. Diagrama exibindo o fluxo e composição dos gases, o tempo e a
temperatura empregados durante o processo de crescimento do grafeno via CVD.
........................................................................................................................... 64
Figura 15. Diagrama esquemático exemplificando o processo de transferência do
grafeno CVD para o substrato desejado. Adaptado da referência104. ................ 65
Figura 16. Imagem do dispositivo empregado a base de grafeno em substrato de
SiO2/Si, como eletrodo de trabalho para a obtenção dos espectros de EIS. ..... 72
Figura 17. (a) Imagem de microscopia ótica de um chip produzido. As diferentes
estruturas neste são indicadas pelas setas. A região dentro do retângulo branco
é mostrada em maior magnificação na Figura B. (b) Imagem de microscopia ótica
de uma região do chip mostrando alguns pares de eletrodos de fonte e dreno. (c)
Ampliação da região marcada pelo retângulo branco em B. A imagem de
microscopia ótica exibe um dos 64 pares de eletrodos formados no chip. A
distância entre cada par de eletrodos é de 12 μm e o comprimento de 20 μm. . 73
Figura 18. Imagem de microscopia ótica da folha de cobre antes (a) e após (b) o
crescimento do grafeno. Magnificação de 40x. .................................................. 74
Figura 19. Micrografias de MEV da folha de cobre antes (a) e após (b-c) o crescimento
do grafeno. ......................................................................................................... 75
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
Figura 20. Imagem de microscopia ótica (a) e de MEV (b) de uma monocamada de
grafeno obtida via processo CVD transferida sobre um substrato de Si/SiO2 com
um óxido de 300 nm de espessura, antes da etapa de recozimento. ................ 76
Figura 21. Imagens obtidas por AFM do filme de grafeno crescido via processo CVD
e transferido para um substrato de Si/SiO2 com 300 nm de espessura, antes (a)
e após (b-c) o processo de recozimento em ultra-alto vácuo. Em (d) o perfil de
sessão transversal da região de linha pontilhada exibida em (c). ...................... 77
Figura 22. Espectro Raman representativo (a) da amostra de grafeno crescido via
processo CVD transferido para um substrato de Si/SiO2 com um óxido de 300 nm
de espessura exibindo as típicas bandas G´(2692 cm-1), G* (2446 cm-1), G (1582
cm-1) e D (1351 cm-1). Em (b) espectro exibindo a banda G composta por uma
única Lorenztiana. (c) Exibe espectros Raman obtidos em áreas distintas do filme
de grafeno. (d) Razão da intensidade dos picos G´/G obtidos a partir dos
espectros de Raman exibidos em (c). Espectros obtidos com um laser com 𝝀 =514
nm. ..................................................................................................................... 79
Figura 23. Fotografia de uma lâmina de 4 polegadas de Si/SiO2/CVD-Grafeno com os
padrões de eletrodos (Ti/Pd) mostrando os 2668 GraFETs fabricados. Inserido a
imagem de um chip isolado, contendo os 64 GraFETs ao lado de uma moeda de
1 centavo de dólar. ............................................................................................. 81
Figura 24. Imagens de microscopia ótica dos eletrodos de fonte e dreno, após a
transferência do grafeno (a), do padrão de fotoresiste e corrosão por plasma de
oxigênio (b) e remoção do fotoresiste (c). .......................................................... 83
Figura 25. Micrografia de MEV exibindo o padrão de grafeno entre os eletrodos de
fonte e dreno. ..................................................................................................... 84
Figura 26. a) Curva corrente (I) em função da voltagem (V) aplicada para um típico
GraFET. (b) Histograma exibindo uma distribuição normal para os valores de
resistência extraído de diferentes conjuntos de eletrodos.................................. 85
Figura 27. Imagem de microscopia ótica dos eletrodos de fonte e dreno de Ti/Pd
contendo o grafeno após a passivação com o fotoresiste.................................. 86
Figura 28. (a) Medida de potencial de circuito aberto frente a um eletrodo comercial
de Ag/AgCl (3 mol L-1). Experimento realizado em meio de solução KCl 1 mol L-1
e empregando um eletrodo de fio de platina helicoidal como auxiliar. (b) Imagem
do microeletrodo de Ag/AgCl (3 mol L-1) fabricado para as medidas elétricas com
os GraFETs. ....................................................................................................... 87
Figura 29. Imagem da configuração empregada para as medidas elétricas com o
GraFET em solução. .......................................................................................... 88
Figura 30. Curva representativa de saída, Ids vs Vds variando Vg de -100 a 100 mV
(com resolução de 10 mV) em solução tampão fosfato de sódio pH 7,00 de
concentração 10 mmol L-1 e força iônica ajustada para 50 mmol L-1 com nitrato de
sódio para o GraFET. ......................................................................................... 89
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
Figura 31. Curva representativa de transferência (em preto), Ids em função de Vg
(resolução 10 mV) para um Vds de 100 mV para um típico GraFET obtida em 1mM
PBS pH 7,4. Ao lado a curva de transcondutância (gm) (em vermelho) em função
de Vg derivada a partir da curva de transferência. ............................................. 90
Figura 32. Curvas representativas de transferência, Ids em função de Vg (resolução 10
mV) para um Vds de 100 mV para cinco GraFETs obtidas em 1mM PBS pH 7,4.
........................................................................................................................... 91
Figura 33. Transcondutância em função de Vg (resolução 10 mV) para um típico
GraFET em diferentes voltagens de Vds (100, 50 e 10 mV) obtidas em 1mM PBS
pH 7,4. ................................................................................................................ 93
Figura 34. Curva C-V para o grafeno à uma frequência fixa de 100 Hz. ................... 94
Figura 35. Curvas representativas de transferência, Ids em função de Vg (resolução 10
mV) para um Vds de 10 mV para um típico GraFET em diferentes valores de pH
de 3 a 8 (força iônica ajustada para 50 mmol L-1 com nitrato de sódio). A figura
inserida mostra a dependência da voltagem no ponto de Dirac em função do pH.
........................................................................................................................... 95
Figura 36. Curvas representativas de transferência (Ids-Vg) para um Vds de 10 mV para
um típico GraFET em diferentes concentrações de BSA 0,010; 1,00; 10,0; 100,0
e 1000,0 µg mL-1, preparadas em solução tampão fosfato de sódio pH 7,00 de
concentração 10 mmolL-1 e força iônica ajustada para 50 mmol L-1 com nitrato de
sódio. A figura inserida mostra uma ampliação do gráfico de Ids vs Vg na região
do ponto de Dirac. .............................................................................................. 97
Figura 37. Dependência do ponto de Dirac do grafeno versus concentração de BSA
para um típico GraFET. A figura inserida exibe um gráfico da dependência do
ponto de Dirac do grafeno versus – log da concentração de BSA. .................... 98
Figura 38. (a) Estrutura molecular do ácido 1-pirenobutanóico éster succinimídico
(PASE) e em (b) curvas representativas de transferência (Ids-Vg) para um Vds de
100 mV para um GraFET obtidas em 1mM PBS pH 7,4 após a imobilização da
molécula ligante PASE, anticorpo, seguido do bloqueio com etanolamina e adição
de 1µg mL-1 da solução de antígeno. ............................................................... 100
Figura 39. Representação esquemática da estrutura de um anticorpo, mostrando as
porções Fab e Fc e a ligação específica da proteína A com a porção Fc do
anticorpo. Em baixo representação da relação entre a atividade do anticorpo e
sua imobilização. Adaptado da referência144. ................................................... 102
Figura 40. Medidas de ângulo de contato sobre um substrato de Si/SiO2 com 300 nm
de espessura (a), Si/SiO2 - grafeno (b) e Si/SiO2 – grafeno – Proteína A (c).
Medidas realizadas com gotas de água deionizada (resistividade de 18 MΩ. cm).
......................................................................................................................... 103
Figura 41. (a) Curvas representativas de transferência (Ids-Vg) para um Vds de 100 mV
para os GraFETs obtidas em 1mM PBS pH 7,4 após a imobilização da proteína
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
A, anticorpo e adições de diferentes concentrações de solução de antígenos
(10pg – 200ng mL-1). (b) Variação do potencial no ponto de Dirac do grafeno
(∆Vgmin) vs –log da concentração do antígeno, n=5. ........................................ 105
Figura 42. Curvas representativas de transferência (Ids-Vg) para um Vds de 100 mV
para um típico GraFET obtidas em 1mM PBS pH 7,4 após a imobilização da
proteína A seguido da etapa de bloqueio, após a adição de soluções de antígenos
(100 pg e 10 ng mL-1). ...................................................................................... 107
Figura 43. (a) Imagem da solução de nanopartículas de ouro preparadas e na figura
inserida o espectro de absorbância na região do UV-Visível das mesmas,
exibindo a banda de Plasmon centrada em 518 nm. Micrografia de STEM das
nanopartículas de Au depositadas sobre uma tela de transmissão de ouro com
um filme de carbono no modo campo claro (b) e campo escuro (c). (d) Histograma
de distribuição normal do diâmetro médio de 697 nanopartículas de Au. ........ 109
Figura 44. Representação esquemática das possíveis formas de orientação
esperadas da molécula de p-mercaptopiridina em relação a superfície do grafeno.
Perpendicular (a), devido a interação do par de elétrons livre do nitrogênio
piridínico com o grafeno e paralelo (b), quando as interações intermoleculares do
tipo 𝝅 − 𝝅 prevalecem. Em ambos os casos é representado também à ligação do
tipo ácido – base mole de Pearson entre a nanopartícula de ouro e o grupo tiol.
......................................................................................................................... 111
Figura 45. Espetro de XPS de alta resolução para o N 1s obtido na superfície do
grafeno CVD após a adsorção da p-mercaptopiridina. .................................... 112
Figura 46. Micrografias de MEV do grafeno CVD depositado sobre um substrato de
300 nm de SiO2 e com nanopartículas de ouro depositadas em sua superfície,
sem (A) e com (B) a funcionalização com p-mercaptopiridina. Em (C) uma imagem
de maior magnificação (200kx) de (B).............................................................. 113
Figura 47. Imagens topográficas obtidas por AFM do grafeno CVD sobre um substrato
de 300 nm de SiO2 e com as nanopartículas de ouro imobilizadas em sua
superfície após a funcionalização com p-mercaptopiridina em uma área de 5 x 5
µm (a) e 2,5 x 2,5 µm (b). (c) Mapa topográfico em 3D da imagem exibida em (b).
......................................................................................................................... 114
Figura 48. (a) Mapa de composição para o Au (Lα 9,712 eV) de uma região da
superfície da amostra de grafeno-nanopartículas de Au sobre o substrato de
Si/SiO2, exibido na Figura X (c). Inserido o espectro de EDX exibindo as linhas
espectrais para o C (Kα 0,277 eV), O (Kα 0,525 eV), Si (Kα 1,739 eV) e Au (M
2,12 eV e Lα 0,9,712 eV). (b) Espetro de XPS de alta resolução para o Au 4f.
......................................................................................................................... 115
Figura 49. (a) Espectros Raman obtidos sobre o grafeno CVD decorado com
nanopartículas de ouro em diferentes áreas da amostra. (b) Razão da intensidade
dos picos G/D obtidos a partir dos espectros de Raman exibidos em (a). Espectros
obtidos com um laser de 𝝀 = 532 nm. .............................................................. 116
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
Figura 50. (a) Curvas de transferência (Ids-Vg) para um Vds de 100 mV para dispositivos
GraFETs obtidas em 1mM PBS pH 7,4 após a imobilização das nanopartículas
de ouro, proteína A, anticorpo e adições de diferentes concentrações de solução
de antígenos (500fg – 200ng mL-1). (b) Variação da voltagem no ponto de Dirac
do grafeno (∆Vgmin) vs –log da concentração do antígeno, n=6. ...................... 118
Figura 51. Variação da voltagem no ponto de Dirac do grafeno (∆Vgmin) vs –log da
concentração do antígeno para os GraFET sem (•) e com (•) as nanopartículas
de ouro. ............................................................................................................ 120
Figura 52. Curva C-V (a) e variação da capacitância interfacial mínima (b) para o
grafeno à uma frequência fixa de 100 Hz obtidas em 1mmol L-1 de PBS pH 7,4
após a imobilização das nanopartículas de ouro, proteína A, anticorpo e adições
de diferentes concentrações de solução de antígenos (1p, 1n e 200ng mL-1).
Inserido em (b) o gráfico da variação da capacitância interfacial mínima em função
da adição dos antígenos. ................................................................................. 121
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Exemplos de GraFETs aplicados como sensores e biossensores. ........... 49
Tabela 2. Valores de limite de quantificação alcançados por diferentes biossensores
no monitoramento do biom’arcador HER-2. ............................................................ 123
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
LISTA DE ABREVIATURAS
0 D Materiais de zero dimensão
1 D Materiais unidimensionais
2 D Materiais bidimensionais
AFM Microscopia de Força Atômica
Anti-IgG Anti-Imunoglobulina G
𝑨𝒊 Área interfacial
BC Banda de condução
BSA Albumina do soro bovino
BV Banda de valência
c Velocidade da luz
𝑪𝑯 Capacitância de Helmholtz
𝑪𝒊 Capacitância interfacial
𝑪𝒒 Capacitância quântica
C(x) Concentração das espécies iônicas à uma dada distância da
superfície
CCD Charge coupled device
CCS Centro de Componentes Semicondutores
CVD Deposição química em fase vapor
𝓭 Distância da superfície eletródica
D Eletrodo de dreno
DCE Dupla camada elétrica
∆Min Variação do potencial no ponto de Dirac do grafeno
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
DFT Teoria do Funcional da Densidade
DOS Densidade de estados
𝓔 Constante dielétrica adimensional do meio
𝓔𝟎 Constante dielétrica no vácuo
EBC Nível de energia na banda de condução
EBV Nível de energia na banda de valência
EDX Espectros de energia dispersiva de raio X
Engolfes Transistores Orgânicos de Efeito de Campo com Eletrólito no
Gate
EIS Espectroscopia de Impedância Eletroquímica
ELISA Enzyme-Linked Immunosorbent Assay
𝑬𝑭 Energia do nível de Fermi
FDA Agência de Administração de Alimentos e Medicamentos dos
Estados Unidos
FET Transistores de efeito de campo
FWHM Largura à meia altura
gm Transcondutância
GraFET Transistores de efeito de campo a base de grafeno
ℏ Constante de Planck reduzida
HER-2 Receptor do fator de crescimento epidérmico humano 2
HMDS Hexametildisiloxano
HOMO Orbital molecular ocupado de mais alta energia
HOPG Grafite pirolítico altamente ordenado
Ids Corrente que flui entre eletrodo de fonte e dreno
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
IFN-γ Biomarcador Tuberculose
IHP Plano interno de Helmholtz
INCA Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva
L Comprimento geométrico do canal de condução no GraFET
𝒍𝑩 Comprimento de Bjerrum
𝝀𝑫 Comprimento de Debye
LUMO Orbital molecular desocupado de menor energia
m* Massa efetiva
MEV Microscopia Eletrônica de Varredura
𝝁 Mobilidade dos portadores de carga
n Concentrações de elétrons ou lacunas
n Portador de carga do tipo elétrons
OHP Plano externo de Helmholtz
p Portador de carga do tipo lacuna
PASE Ácido 1-pirenobutanóico éster succinimídico
PBS Tampão fosfato-salino
PDMS Polidimetilsiloxano
PI Ponto isoelétrico
PMMA Polimetil Metacrilato
PSA Biomarcador de câncer de próstata
𝓠 Densidade de carga no “canal” de condução do grafeno
𝒒 Carga do elétron
𝝆 Resistividade
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
R.F Rádio frequência
RGO Óxido de Grafeno Reduzido
𝑹𝑻 Energia térmica
S Eletrodo de fonte
STEM Scanning transmission electron microscopy
ufc mL-1 Unidades formadoras de colônia por mL
𝑽𝒄𝒉 Potencial eletrostático no “canal” de condução do grafeno
Vds Voltagem aplicada entre eletrodo de fonte e dreno
𝓿𝑭 Velocidade de Fermi
𝓥𝓓𝒊𝒓𝒂𝒄 Voltagem de Dirac
Vg Tensão no eletrodo de gate
W Largura geométrica do canal de condução no GraFET
XPS Espectroscopia de Fotoelétrons Excitados por Raios X
𝒛𝑭𝝓 Energia eletrostática
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO DA TESE .................................................................................... 26
1. CAPÍTULO I - FUNDAMENTOS ........................................................................ 28
1.1. Estrutura do Grafeno e suas Propriedades Eletrônicas .................................. 28
1.2. Obtenção do Grafeno via Deposição Química em Fase Vapor (CVD) sobre
Substratos de Cu ....................................................................................................... 31
1.3. Transistores de Efeito de Campo a Base de Grafeno Operando em Meios
Líquidos ..................................................................................................................... 34
1.3.1. A Dupla Camada Elétrica – Modelo Tradicional .......................................... 38
1.3.2. A Interface Grafeno-Eletrólito ...................................................................... 41
1.4. GraFETs : Por Quê Utilizá-los Como Biossensores? ..................................... 44
1.5. Mecanismo de Detecção nos GraFETs .......................................................... 45
1.6. GraFETs Aplicados Como (Bio)Sensores ...................................................... 47
1.7. Efeito da incorporação de Nanopartículas Metálicas em GraFETs ................ 51
1.8. Diagnóstico do Câncer de Mama ................................................................... 53
2. CAPÍTULO II - OBJETIVOS .............................................................................. 56
3. CAPÍTULO III - MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................ 57
3.1. Reagentes e Soluções .................................................................................... 57
3.2. Limpeza Orgânica das Lâminas de Si/SiO2 .................................................... 58
3.3. Fabricação dos GraFETs ................................................................................ 58
3.3.1. Configuração dos Chips Fabricados ........................................................... 58
3.3.2. Fotogravação dos Padrões de Eletrodos e Formação dos Contatos
Metálicos ................................................................................................................ 60
3.3.3. Síntese de Grafeno via Deposição Química em Fase Vapor (CVD) ........... 63
3.3.4. Processo de Transferência do Grafeno para Substratos de Si/ SiO2 .......... 65
3.4. Síntese e Imobilização de Nanopartículas de Ouro sobre o Grafeno CVD .... 67
3.5. Imobilização dos Anticorpos HER-2 nos Dispositivos GraFETs e GraFETs
modificados com Nanopartículas de Au .................................................................... 68
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
3.6. Determinação do Ângulo de Contato .............................................................. 69
3.7. Caracterizações por Espectroscopia Raman e de Fotoelétrons Excitados por
Raios X (XPS) ........................................................................................................... 69
3.8. Caracterização por Espectrofotometria Uv-Visível ......................................... 70
3.9. Micrografias .................................................................................................... 70
3.10. Caracterização por Microscopia de Força Atômica (AFM) ............................. 70
3.11. Caracterização Elétrica ................................................................................... 71
3.11.1. Fabricação do Microeletrodo de Referência de Ag/AgCl ......................... 71
3.11.2. Caracterização por Espectroscopia de Impedância Eletroquímica (EIS) 72
4. CAPÍTULO IV - RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................... 73
4.1. Caracterização dos Chips Fabricados ............................................................ 73
4.2. Imagens de Microscopia Ótica e Eletrônica de Varredura (MEV) do Grafeno
Crescido sobre Substrato de Cu ............................................................................... 74
4.3. Caracterização do Grafeno Transferido Para o Substrato de Si/SiO2 via AFM
77
4.4. Caracterização do Grafeno CVD via Espectroscopia Raman ......................... 78
4.5. Transferência do Grafeno Obtido via CVD para o Substrato de
Si/SiO2/Eletrodos e Fotogravação de Padrões sobre o Grafeno ............................... 81
4.6. Caracterização Elétrica dos Dispositivos em Ar ............................................. 84
4.7. Passivação dos Eletrodos de Fonte e Dreno .................................................. 86
4.8. Caracterização Elétrica do Microeletrodo de Referência Ag/AgCl Fabricado . 87
4.9. Caracterização Elétrica dos GraFETs em Solução Eletrolítica ....................... 88
4.10. Determinação da Capacitância Interfacial para o Grafeno ............................. 93
4.11. Sensibilidade Elétrica dos GraFETs à Mudanças de pH ................................ 94
4.12. Detecção Elétrica de BSA .............................................................................. 96
4.13. Detecção Elétrica de HER-2 nos GraFETs Através da Imobilização dos
Anticorpos via PASE ................................................................................................. 99
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
4.14. Imobilização da Proteína A Sobre o Grafeno e Medidas de Ângulo de Contato
101
4.15. Detecção Elétrica de HER-2 nos GraFETs Através da Imobilização dos
Anticorpos via Proteína A ........................................................................................ 104
4.16. Caracterização por STEM e Espectrofotometria UV-Visível das
Nanopartículas de Au Sintetizadas ......................................................................... 108
4.17. Decorando o Grafeno CVD com Nanopartículas de Au ............................... 110
4.18. Detecção Elétrica de HER-2 nos GraFETs Modificados com Nanopartículas
de Ouro ................................................................................................................... 117
5. CAPÍTULO V - CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS ......................................... 124
6. CAPÍTULO VI - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................... 126
26
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
APRESENTAÇÃO DA TESE
A detecção de espécies de importância biológica utilizando dispositivos
elétricos miniaturizados tais como transistores de efeito de campo (do inglês, field-
effect transistor, (FETs)) tem despertado, nas últimas décadas, um grande interesse
tanto do meio acadêmico quanto tecnológico. O desenvolvimento de sensores
miniaturizados, em especial sensores em escala nanométrica, os quais possuem
elevadas áreas superficiais, torna possível a detecção de biomoléculas que
apresentam dimensões comparáveis as do próprio dispositivo de sensoriamento. Tais
características resultam em uma maior sensibilidade elétrica dos sensores devido a
uma maior interação de espécies químicas/biológicas com suas superfícies1.
Neste contexto, há uma necessidade emergente pela busca por novos
materiais semicondutores de dimensões nanométricas que apresentem as seguintes
características: facilidade de integração a matrizes de dispositivos como FETs,
produção em grande escala e que apresentem propriedades elétricas superiores aos
semicondutores convencionais, podendo assim, conferir uma maior sensibilidade à
detecção elétrica destas espécies. Neste cenário, um “novo” material bidimensional a
base de carbono, o grafeno, surge como um candidato promissor para o
desenvolvimento de biossensores do tipo FET altamente sensíveis2.
Diante do exposto, neste trabalho apresentamos o desenvolvimento de
biossensores do tipo FETs a base de grafeno (GraFETs), com o objetivo de uma
produção em grande escala e sua aplicação na detecção sensível de biomarcadores
de câncer de mama. Assim, o presente trabalho foi dividido em capítulos, no sentido
de abordar detalhadamente desde os conceitos envolvidos no entendimento das
propriedades diferenciadas do grafeno, bem como os mecanismos de operação
destes dispositivos, até a obtenção e implementação do grafeno nos FETs e seu
emprego como biossensor para a detecção de biomarcadores de câncer de mama.
O primeiro capítulo apresenta os fundamentos envolvidos no entendimento
da estrutura física do grafeno e como esta influencia no desenvolvimento de suas
propriedades optoeletrônicas diferenciadas. Realizamos uma breve abordagem sobre
o método de obtenção do grafeno via processo de deposição química em fase vapor,
bem como, os principais conceitos químicos e físicos por trás da atuação dos GraFETs
como biossensores e vantagens que estes apresentam frente aos biossensores do
tipo FET convencionais. Abordamos neste capítulo também como a incorporação de
27
Silva, C. C. C Tese de Doutorado
nanopartículas metálicas pode oferecer melhorias ao desempenho dos dispositivos. A
última parte introduz a importância em se realizar o monitoramento dos biomarcadores
de câncer de mama.
No segundo capítulo são apresentados os objetivos do presente trabalho e
no terceiro são descritos: o processo de síntese do grafeno; a fabricação dos
dispositivos GraFETs; a obtenção das nanopartículas de ouro e imobilização destas à
superfície do grafeno; todas as condições experimentais adotadas nos ensaios de
caracterização e avaliação do seu desempenho do biossensor.
O quarto capítulo aborda os resultados e discussão referentes à
caracterização física e espectroscópica do grafeno sintetizado, fabricação dos
GraFETs, caracterização elétrica destes, bem como os imunoensaios realizados para
a detecção dos biomarcadores de câncer de mama e o efeito da incorporação das
nanopartículas de ouro no desempenho do biossensor.
O Capítulo 5 apresenta as conclusões e uma reflexão sobre o futuro dos
dispositivos GraFETs atuando como biossensores para a detecção de biomarcadores.
28
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
1. CAPÍTULO I - FUNDAMENTOS
1.1. Estrutura do Grafeno e suas Propriedades Eletrônicas
A estrutura idealizada do grafeno é completamente bidimensional e
compreende uma única camada de átomos de carbono ligados covalentemente entre
si, através de uma hibridização do tipo sp2 , para formar uma estrutura plana e
hexagonal, como pode ser visto na Figura 1(a)3. O grafeno pode também ser
simplesmente descrito como uma folha de grafite, que é um mineral composto de
várias folhas de grafeno empilhadas uma sobre as outras e unidas por forças de van
der Waals e interações 𝜋 − 𝜋 4. Esta última descrição enfatiza a relação entre o
grafeno e o grafite (seu material de origem natural) e é extremamente adequada, já
que o trabalho pioneiro no emprego de grafeno por Geim e Novoselov em 20042 foi à
obtenção de uma única folha de grafeno através da “clivagem micromecânica” de
cristais de grafite pirolítico altamente ordenado (do inglês Highly Oriented Pyrolytic
Graphite (HOPG))2.
O grafeno tem uma estrutura de banda peculiar devido a sua estrutura
cristalina. A célula unitária do grafeno é composta por dois átomos de carbono, que
são definidos pelos vetores a1= (√3 ac-c/2, ac-c/2) e a2= (√3 ac-c/2, - ac-c/2), onde ac-c
corresponde ao comprimento da ligação C-C que é de 1,44 Å, como pode ser visto na
Figura 1 (b) e nesta os átomos que compõem uma célula unitária estão representados
em azul e amarelo. A célula unitária recíproca também conhecida como zona de
Brillouin apresenta um formato hexagonal com três pontos, Γ, K e M de alta simetria
(Figura 1 (c)). Estes três pontos estão localizados respectivamente no centro, onde Γ
= (0;0); no vértice de um hexágono K = 1 e no centro da aresta M. A zona de Brillouin
é representada pelos vetores b1=(2𝜋
3𝑎(1, √3) ) e b2=(
2𝜋
3𝑎(1, −√3) ). Os dois pontos, K e
K’, são denominados pontos de Dirac e são de particular importância para a física do
grafeno e consequentemente suas propriedades eletrônicas diferenciadas, as quais
serão introduzidas mais adiante3.
29
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
Figura 1. (a) Imagem ilustrativa da estrutura hexagonal cristalina do grafeno. (b) Estrutura de
rede do grafeno mostrando em azul e amarelo os dois átomos de carbono que compõem uma
célula unitária e em (c) a correspondente zona de Brillouin exibindo os pontos de alta simetria
Γ, K e M. Adaptado da referência 3.
A espessura de uma única folha de grafeno é de 3,4 Å, o que corresponde
exatamente à distância interplanar encontrada no grafite. Em termos de dimensões
laterais, o comprimento de uma folha de grafeno pode chegar até algumas centenas
de micrômetros, o que significa que milhões de átomos de carbono estão expostos
em sua superfície, apresentando assim uma elevada área superficial e razão de
aspecto5. Cada átomo de carbono nesta rede compartilha uma ligação 𝜎 com os seus
outros três vizinhos. A quarta ligação, é uma ligação 𝜋, o qual é orientada no eixo z
(fora do plano). Estes elétrons 𝜋 são fracamente ligados ao núcleo e estão
delocalizados sobre a folha de grafeno; assim estes elétrons que ocupam o orbital
molecular 𝜋 ligante são os responsáveis pelas propriedades optoeletrônicas do
grafeno6 . Os orbitais moleculares 𝜋 ligante e 𝜋∗ anti-ligante formam respectivamente
as bandas de valência (BV) e de condução (BC) do grafeno. Através de um gráfico da
relação de dispersão de energia para o grafeno (Figura 2 (a)) é possível visualizar a
estrutura de banda deste material, onde podemos ver que a BC apresenta seis vales
onde esta se encontra com a BV sem se sobrepor a ela. Este encontro ocorre
coincidentemente nos pontos K da zona de Brillouin, os chamados pontos de Dirac.
Assim, o grafeno é considerado um semicondutor de band gap (do inglês) de energia
zero, ou um semimetal sem superposição de bandas. Como cada célula unitária
contribui com dois átomos de carbono e consequentemente, dois elétrons 𝜋 para a
condução, podemos dizer que em seu estado fundamental, o grafeno tem todos
estados da BV preenchidos e todos os estados da BC vazios, indicando assim, que a
30
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
energia do nível de Fermi (𝐸𝐹) se encontra no valor mínimo desses vales, que ocorre
em 𝐸 = 0 6.
Figura 2. (a) Estrutura de banda do grafeno e zona de Brillouin ilustrada no plano horizontal
exibindo os pontos de alta simetria Γ, K e M. Em ampliação o encontro das bandas de energia
(BV e BC) em um dos pontos de Dirac. Adaptado da referência6.(b) Efeito de campo elétrico
ambipolar para uma folha de grafeno, mostrando o acentuado aumento da resistividade em
função da tensão de gate em torno do ponto de Dirac. Dados obtidos a 1 K e na ausência de
campo magnético. Figura inserida exibindo o espectro de baixa energia cônico indicando as
alterações na posição da energia de Fermi com as mudanças na tensão de gate. Adaptado
da referência 2.
As propriedades dos portadores de carga do grafeno variam com o número
de folhas presentes neste material. Os portadores de carga do grafeno e de uma
bicamada de grafeno se comportam como um gás bidimensional com massa efetiva
(m*) igual a zero, sendo assim, apresentam características de partículas relativísticas,
com velocidades de Fermi (𝜈𝐹) da ordem de 106 m s-1, apenas 300 vezes menor que
a velocidade da luz (c)7,8. As características diferenciadas dos portadores de carga
do grafeno combinado com a sua estrutura cristalina “quase” perfeita são as grandes
responsáveis pelos elevados valores de mobilidade (𝜇) dos portadores de carga neste
material, que à temperatura ambiente facilmente atingem valores na ordem de 15000
cm2 V-1 s-1, mesmo em elevadas concentrações de elétrons ou lacunas (n=1013 cm-2)
2,4,5. Estas mobilidades elevadas permitem aos portadores de carga do grafeno
desenvolverem um transporte balístico, mesmo à temperatura ambiente, onde o livre
caminho médio dos portadores de carga atinge até 0,3 µm, o que significa que estes
percorrem longas distâncias na rede do grafeno antes de sofrer algum tipo de
31
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
espalhamento. Adicionalmente, medidas experimentais de condutância no grafeno,
revelaram que a mobilidade dos elétrons é praticamente à mesma das lacunas, sendo
este um comportamento totalmente diferenciado dos portadores de carga do grafeno,
o qual não é encontrado em outros materiais semicondutores convencionais5.
A possibilidade de controlar as propriedades eletrônicas de um material
através da aplicação de uma voltagem externa é o grande almejo da indústria moderna
da microeletrônica e o grafeno tem oferecido tal possibilidade. O grafeno exibe um
efeito de campo elétrico ambipolar quando é incorporado na configuração de um
transistor de efeito de campo (FET). Ao se aplicar uma tensão no eletrodo de gate (Vg)
negativa há a indução de uma grande concentração de portadores de carga do tipo
lacunas no canal de condução, enquanto, ao se aplicar um Vg positivo um grande
número de portadores do tipo elétrons é induzido. A Figura 2 (b) exibe um gráfico de
resistividade (𝜌) em função de (Vg), onde é possível visualizar um pico de
resistividade (ou um mínimo de condutividade) quando a voltagem de porta se
aproxima de 0 V, o que significa que o tipo e a concentração de portadores de carga
dependem da intensidade e da polarização de tensão de gate aplicada; assim
podemos dizer que o campo elétrico atua como um “dopante” no grafeno2,9. A figura
inserida na Figura 2 (b) exibe um diagrama esquemático da estrutura de banda do
grafeno onde, sob polarização negativa o 𝐸𝐹 se desloca para baixo do ponto de Dirac,
introduzindo uma população significativa de lacunas na BV, enquanto que sob uma
polarização positiva o 𝐸𝐹 se desloca para cima do ponto de Dirac, promovendo uma
população significativa de elétrons na BC2,10.
1.2. Obtenção do Grafeno via Deposição Química em Fase Vapor
(CVD) sobre Substratos de Cu
Existem uma infinidade de métodos descritos na literatura sobre a obtenção
de grafeno e seus derivados8,11, porém a escolha do método que será empregado
para a obtenção do grafeno está diretamente relacionada com a aplicação final que
será dada a este material. Desse modo, o desenvolvimento de dispositivos opto-
eletrônicos requer a utilização de monocamadas de grafeno de elevada qualidade e
em grandes dimensões, que possam assim, ser facilmente manipuladas e integradas
a processos em grande escala. Neste contexto, um método que possibilita a obtenção
de grafeno de elevada qualidade e em grande escala é a deposição química em fase
32
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
vapor (do inglês, chemical vapor deposition (CVD)) empregando carbono como
precursor sobre metais de transição11,12.
Nesta, o carbono é geralmente fornecido na forma de gás (hidrocarbonetos)
e um metal de transição é empregado como catalisador e substrato para que ocorra o
crescimento da camada de grafeno11,12. O emprego dos catalisadores metálicos se
faz necessário pois devido à forte ligação C-H na molécula de metano (440kJ mol-1) a
decomposição térmica desta ocorrerá em elevadas temperaturas (>1200ºC), desse
modo, além do consumo elevado de energia, esta temperatura não é trivial de ser
alcançar em um sistema CVD convencional13. Assim para reduzir a temperatura de
decomposição do metano, diferentes metais de transição vêm sendo utilizados (Cu,
Ni, Fe, Co, Pt, Ru, Rh e Au), possibilitando o crescimento em temperaturas entre 750-
1050ºC 12,14.
No ano de 2009, Xuesong Li, et al15 demonstraram pela primeira vez o
crescimento de grafeno via processo CVD. Para isso os autores utilizaram folhas de
cobre de 25 µm de espessura como substrato, obtendo 95% de uma monocamada.
Desde então, o cobre se tornou o catalisador mais empregado para a obtenção de
monocamadas de grafeno16,17. Isto está principalmente relacionado com a baixa
solubilidade dos átomos de carbono sobre o cobre (0,001-0,008 % em massa à
1084ºC)11, parâmetro chave para a obtenção de monocamadas.
A seguir será apresentado resumidamente as principais etapas do
crescimento do grafeno via processo CVD, empregando folhas de cobre como
substrato e catalisador, conforme exemplificado na Figura 3.
Figura 3. Ilustração esquemática dos três principais estágios de crescimento do grafeno via
processo CVD sobre o substrato de cobre. (a) Folha de cobre com óxido de cobre nativo sobre
a superfície. (b) Folha de cobre exposta à atmosfera de Ar/H2 à1000 ºC para etapa de
recozimento, seguido de fluxo CH4 formando as ilhas de grafeno e em (c) exibição dos
domínios sp2 do grafeno com diferentes orientações cristalográficas. Figura adaptada da
referência11.
33
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
O primeiro passo para a obtenção de monocamadas de grafeno sobre o
cobre é a realização da etapa de recozimento. Nesta etapa a folha de cobre é
submetida a um aquecimento à 1000ºC, geralmente por 30 minutos em atmosfera de
Ar/H2 (Figura 3 (a-b)), visando a remoção do óxido de cobre nativo (CuO e Cu2O), que
reduz a atividade catalítica do cobre 11,18. Além disso, a etapa de recozimento antes
da etapa de crescimento do grafeno é importante para aumentar o tamanho dos grãos
de cobre e rearranjar a morfologia da superfície, removendo também imperfeições e
eliminando impurezas. Isto é extremamente importante para a obtenção de
monocamadas de grafeno livre de defeitos, pois como será discutido posteriormente,
durante a etapa de nucleação, os átomos de carbono podem nuclear nas impurezas,
imperfeições e bordas dos grãos de cobre, produzindo assim domínios sp2
menores19,20.
Após a pré-etapa de recozimento, a etapa crescimento pode ser iniciada.
Onde primeiramente, sob atmosfera de gás metano, as moléculas de metano se
adsorvem sobre a superfície da folha de cobre seguida da etapa de decomposição
catalítica em átomos de carbono (reação de desidrogenação)12. Após esta etapa, os
átomos de carbono sobre a superfície do substrato de cobre iniciam um processo de
migração sobre a superfície, dando origem a ilhas grafíticas (domínios sp2 de formato
hexagonal), processo conhecido como nucleação Figura 3 (b). Desse modo, durante
a etapa de crescimento do grafeno, vários domínios sp2 são formados e mais átomos
de carbono migram até estes, aumentando assim progressivamente o tamanho destes
domínios (Figura 3 (c)), até que estes se coalescem dando origem a uma
monocamada de grafeno11,15. Assim que toda a folha de cobre está recoberta pela
monocamada de grafeno o processo de crescimento é praticamente interrompido, já
que não há mais catalisador exposto (folha de cobre) para promover a decomposição
do gás metano11. Desse modo o fluxo de gás metano é interrompido e pode-se iniciar
o processo de resfriamento.
Vale ressaltar que a orientação cristalográfica do grafeno crescido é
dependente da orientação cristalográfica do substrato e quanto menor o número de
sítios de nucleação sobre a folha de cobre melhor será a qualidade do grafeno
crescido, já que assim, são formados domínios sp2 maiores, evitando o ocorrência de
inúmeras regiões de união entre domínios, já que este processo induz um stress e
consequentemente, defeitos no grafeno crescido21,22
34
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
Após a etapa de crescimento, o grafeno pode ser facilmente transferido
para os mais arbitrários substratos como SiO2, vidro e até plásticos, pela dissolução
da folha de cobre via processos de corrosão com soluções de FeCl3, CuSO4 ou
ácidos11 .
As vantagens em se utilizar a técnica de CVD para a obtenção do grafeno
incluem a produção de folhas únicas com elevados valores de 𝜇 (16000 cm2 V-1 s-1)6
e em alguns casos, como foi demonstrado recentemente por Bae et al. 19 folhas com
dimensões de até 12 polegadas. Assim, este método propicia a produção industrial de
componentes semicondutores a base de grafeno para aplicações em
micro/optoeletrônica bem como o desenvolvimento de sensores do tipo FETs à base
de grafeno em grande escala.
Já as principais desvantagens do uso do grafeno obtido via processo CVD,
estão relacionadas com os inconvenientes encontrados durante o processo de
transferência do grafeno crescido sobre o catalisador metálico para o substrato de
interesse. Principalmente devido à dificuldade em se remover completamente os
resíduos de partículas metálicas provenientes do substrato metálico, bem como da
solução corrosiva empregada para dissolver este23. Estes resíduos metálicos, mesmo
que em pequenas concentrações (de 1010 à 1013 átomos cm-2), acabam por promover
o espalhamento dos portadores de carga no grafeno, podendo comprometer os
valores de 𝜇 destes.
1.3. Transistores de Efeito de Campo a Base de Grafeno
Operando em Meios Líquidos
Devido as suas propriedades eletrônicas intrínsecas, uma das aplicações
mais promissoras para o grafeno é o seu emprego em dispositivos do tipo transistor
de efeito de campo de filme fino orgânico2. Nesta configuração o grafeno é imobilizado
sobre um material dielétrico, geralmente SiO2, crescido sobre um substrato de Si
altamente dopado, e é contactado por dois eletrodos metálicos, denominados de fonte
e dreno (geralmente de Au e Pd) e um terceiro contato elétrico é ainda estabelecido
na base do silício, sendo este conhecido como back-gate, como exemplificado na
Figura 4 (a). Assim a condutância do “canal” (na verdade do próprio grafeno) entre os
eletrodos de fonte e dreno é modulada pelo eletrodo de gate, o qual está acoplado
capacitivamente através da fina camada do dielétrico19,24.
35
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
Figura 4. Ilustração exibindo um GraFET operando para medidas em ar na configuração de
back-gate (a) e em solução (b).
Os transistores de efeito de campo a base de Grafeno (GraFETs) também
podem ser configurados como sensores de moléculas ou íons em meios líquidos,
como exemplificado na Figura 4 (b). Para a operação em meios líquidos, o efeito de
campo é gerado através da aplicação de um potencial (VGS) em uma solução
eletrolítica através de um eletrodo de referência convencional como Ag/AgCl, onde o
potencial na superfície do transistor é medido então em relação a este25,26. Nesta
configuração o dielétrico de porta é estabelecido através da formação da dupla
camada elétrica de Debye-Helmholtz entre a solução eletrolítica e o grafeno25,26.
Similarmente ao que acontece com transistores convencionais aplicados
como sensores, tais como os transistores de efeito de campo sensíveis a íons 27, a
condutância no “canal” dos GraFETs (operando em meio de eletrólitos) pode ser
modulada pela voltagem do eletrodo de porta, devido ao efeito de dopagem induzido
pelo efeito de campo. O desempenho de um GraFET pode então ser avaliado através
da curva de transferência, que nada mais é que a corrente que flui entre o eletrodo de
fonte ((S), do inglês source) e dreno ((D), do inglês drain) Ids, em função da voltagem
aplicada ao eletrodo de gate (Vg) à uma tensão fixa entre eletrodo de fonte e dreno
(Vds), conforme exemplificado na Figura 5.
Back gate
36
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
Figura 5. Exemplo de curva de transferência de um GraFET quando uma voltagem Vds
constante é aplicada entre os eletrodos de fonte e dreno.
A curva em formato de V observada na Figura 5 pode ser explicada por um
modelo que descreve a interface eletrólito-grafeno, como demonstrada na Figura 628.
Figura 6. Efeito de campo eletroquímico no GraFET. Através da aplicação de uma voltagem
entre o grafeno e o eletrodo de referência, o nível de Fermi do grafeno pode ser deslocado.
Dessa forma, a condutividade pode ser modulada e o tipo de portador de carga pode ser
alterado entre lacunas (a) e elétrons (b). Figura adaptada da referência28.
VGS (V)
I ds
(A
)
Voltagem no
Ponto de Dirac
37
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
Considerando o caso em que a voltagem de gate em um GraFET é aplicada
através de um eletrodo de referência Ag/AgCl, com o nível de potencial deste eletrodo
fixado no vácuo, aplicando-se uma tensão entre este eletrodo e o grafeno, a energia
do nível de Fermi (𝐸𝐹) sofre uma mudança, que consequentemente controla o número
de portadores de carga livres induzidos eletrostaticamente. Quando o nível de Fermi
atinge o ponto de Dirac, ou seja, a energia em que a banda de condução (EBC) e de
valência (EBv) se encontram, a condutividade do filme de grafeno exibe seu valor
mínimo. A voltagem na qual isto é observado é denominada como voltagem de Dirac
(𝒱𝒟𝑖𝑟𝑎𝑐). Quando a 𝐸𝐹 encontra-se abaixo de 𝒱𝒟𝑖𝑟𝑎𝑐, os portadores de carga
majoritários na banda de valência do grafeno são as lacunas. Quando a voltagem no
eletrodo de porta é diminuída ainda mais, (VG <<0) o nível de Fermi é deslocado mais
profundamente para o interior da banda de valência, e a densidade de carga aumenta
(Figura 6 (a)), gerando uma corrente através do “canal de condução” proveniente das
lacunas. Para situações em que o 𝐸𝐹 é deslocado acima de 𝒱𝒟𝑖𝑟𝑎𝑐, a condutividade é
devida aos elétrons na banda de condução do grafeno, cuja a densidade de carga
pode ser modulada de modo semelhante (VG >>0) (Figura 6 (b))28.
Desse modo, como demonstrado na Figura 5 e 6, os GraFETs exibem uma
característica de transferência ambipolar, exibindo um “canal de condução” tanto do
tipo p (condução por lacunas) em VGS negativos, quanto um canal do tipo n (condução
por elétrons) em VGS positivos, sendo que nenhuma corrente igual a zero é observada
nos GraFETs. A corrente de Ids no GraFET, tanto para a condução por lacunas quanto
por elétrons é descrita pela equação 129,30:
𝐼𝑑𝑠 = 𝑊
𝐿𝜇𝐶𝑖|𝑉𝐺 − 𝒱𝒟𝑖𝑟𝑎𝑐| 𝑉𝑑𝑠 para |𝑉𝐺 − 𝒱𝒟𝑖𝑟𝑎𝑐| ≫ |𝑉𝑑𝑠| Equação 1
Onde W e L são respectivamente a largura e comprimento do canal, 𝜇 é a
mobilidade dos portadores de carga do grafeno (elétrons e lacunas) e 𝐶𝑖 a
capacitância interfacial, ou conhecida também como capacitância da região de gate
do transistor.
Assim, o valores de 𝐼𝑑𝑠 desenvolvidos pelos GraFETs, estão diretamente
relacionados principalmente com os valores de 𝜇 e 𝐶𝑖, que nos GraFETs apresentam
valores superiores aos FETs convencionais. Para o melhor compreendimento de
como a 𝐶𝑖 é descrita nos dispositivos GraFETs e obter uma descrição quantitativa de
38
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
como o deslocamento do nível de Fermi modula a condutividade nestes dispositivos,
a interface entre o grafeno e a solução eletrolítica deve ser explorada em maiores
detalhes. Para isso, uma breve introdução sobre o modelo tradicional da dupla
camada elétrica será introduzida e em seguida será feita uma abordagem de como
esta é formada na interface grafeno/solução eletrolítica.
1.3.1. A Dupla Camada Elétrica – Modelo Tradicional
A dupla camada elétrica (DCE) pode ser definida como um conjunto de
partículas carregadas e/ou dipolos orientados que existem na interface de todo
material31. O primeiro modelo empregado para descrever a estrutura física da DCE foi
proposto por Helmholtz em 1853. Este corresponde ao modelo de um capacitor de
placas paralelas, sendo este composto pela superfície de um eletrodo metálico, que
quando inserido em solução, provoca o alinhamento de uma única camada de contra-
íons presentes na solução à uma distância 𝒹 da superfície eletródica, de modo a
neutralizar as cargas deste 32, podendo ser descrito pela equação 2:
𝐶 = ℰℰ0𝐴𝑖
𝒹 Equação 2
Onde ℰ é a constante dielétrica adimensional do meio e ℰ0 a constante dielétrica no
vácuo e 𝐴𝑖 área interfacial.
Como demonstrado na equação 2, o modelo de Helmholtz era falho em
alguns aspectos, como o fato de que a capacitância da DCE era independente do
potencial aplicado no eletrodo. Dessa forma, o modelo mais aceito e empregado é o
de Bockris, Devanathan e Muller, de 1963 32, conforme exemplificado na Figura 7.
39
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
Figura 7. Representação esquemática da dupla camada elétrica. Figura adaptada da
referência33
A camada interna (próxima a superfície do eletrodo) é conhecida como
plano interno de Helmholtz ((IHP) do inglês, Inner Helmholtz Plane). Esta contém
moléculas do solvente e certos íons adsorvidos (que não são hidratados em soluções
aquosas). A próxima camada, denominada plano externo de Helmholtz ((OHP) do
inglês, Outer Helmholtz Plane), reflete o plano imaginário que passa através do centro
dos íons solvatados em sua maior aproximação à superfície. Os íons solvatados são
adsorvidos de forma não específica e são atraídos até a superfície por forças
eletrostáticas de longo alcance. O IHP e OHP representam uma camada compacta,
sendo que esta camada compacta de cargas é fortemente dependente da superfície
do eletrodo31,32.
A camada externa, além da camada compacta (IHP e OHP), é denominada
de camada difusa. Esta é uma região tridimensional de íons dispersos, que se estende
desde do OHP até o seio da solução. Esta distribuição de íons reflete o contrabalanço
entre as forças de ordenação do campo elétrico e as de desordem, causada pelo
movimento térmico aleatório. O equilíbrio entre estes dois fenômenos opostos, indica
que a concentração das espécies iônicas à uma dada distância da superfície, C(x),
IHP OHP
Eletrólito
Estrututa
normal da
água
Íon
completamente
solvatado
Moléculas
de água
Íons
adsorvidos
40
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
decai exponencialmente com a razão entre a energia eletrostática (𝑧𝐹𝜙) e a energia
térmica (𝑅𝑇), em acordo com a equação de Boltzmann indicada abaixo31:
C(x)= C(0) exp ((−𝑧𝐹𝜙)/𝑅𝑇) Equação 3
O modelo proposto por Bockris, Devanathan e Muller, explica também a
dependência da capacitância da DCE com o potencial da superfície. O perfil de
potencial da DCE decai linearmente dentro da camada compacta e após esta, na
camada difusa, este decaimento ocorre de modo exponencial. Dependendo da força
iônica da solução, a espessura da DCE pode se estender por mais de 10 nm e atingir
valores de capacitância na ordem de 10-40µF/cm2 31. Desse modo, o comprimento da
DCE, também conhecido como comprimento de Debye (𝜆𝐷), pode ser estimado
através da equação 4, extraída da teoria de Debye-Huckel
𝜆𝐷 =1
√4𝜋𝑙𝐵 ∑ 𝑖𝑐𝑖𝑧2𝑖 Equação 4
Sendo 𝑙𝐵 o comprimento de Bjerrum, que é definido como a distância entre
duas cargas elementares, em que a energia eletrostática começa a ser comparada
em magnitude com a energia térmica, esta distância é de 0,7 nm para a água à
temperatura de 300K34. Já o termo ∑ 𝑖 𝑐𝑖𝑧2
𝑖 é a somatória de todas as espécies iônicas
em solução, de concentração 𝑐𝑖 e valência 𝑧𝑖. Através da análise da equação 4, fica
claro que o aumento da concentração das espécies em solução, ou a presença de
espécies de elevados estados de valência, contribuem para a diminuição do
comprimento de Debye e consequentemente o gradiente de potencial da DCE. Dessa
forma, ao se trabalhar com dispositivos do tipo FET, visando a aplicação em
sensoriamento, é necessário o emprego de soluções com baixos valores de força
iônica, já que fora de 𝜆𝐷, as cargas provenientes das espécies de interesse (analítos)
serão fortemente blindadas (efeito de mascaramento) e o impacto destas em relação
a condutividade do dispositivo FET será mínimo 35.
Os conceitos introduzidos brevemente neste tópico, serão extremamente
relevantes para o melhor compreendimento sobre a estrutura e composição da dupla
camada elétrica formada na interface grafeno/solução, que será abordado a seguir.
41
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
1.3.2. A Interface Grafeno-Eletrólito
A capacitância interfacial (𝐶𝑖) desenvolvida atráves da interface grafeno-
eletrólito, relaciona a densidade de portadores de carga no grafeno com a voltagem
aplicada entre este e o eletrodo de referência. Porém a 𝐶𝑖 possuiu duas componentes
principais conectadas em série, como exemplificado na Figura 8 (a)36.
Figura 8. (a) Representação esquemática da interface grafeno/eletrólito e do circuito
equivalente exibindo os componentes da capacitância interfacial, capacitância de Helmholtz
(𝐶𝐻) em série com a capacitância quântica (𝐶𝑞) (adaptado da referência36). (b) Modelo
representativo da capacitância interfacial, exibindo as duas componentes,(𝐶𝐻 e 𝐶𝑞)28 (c) (i)
Constante dielétrica efetiva da água próxima de uma superfície hidrofóbica, obtida através de
simulação de dinâmica molecular. (ii) Simulação da densidade dos íons Na+ e Cl- próximo a
superfície do grafeno. A simulação foi obtida considerando uma carga interfacial de 1012
cargas negativas por cm2 em uma solução 100 mmol L-1 de cloreto de sódio e pH 7 e com
nenhuma voltagem aplicada. Adaptado da referência28 .
A primeira componente da 𝐶𝑖 é a capacitância oriunda da DCE, conhecida
também como capacitância de Helmholtz (capacitância eletrostática geométrica) (𝐶𝐻),
42
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
que depende principalmente da concentração dos íons no eletrólito, como discutido
anteriormente no tópico 1.3.1. A segunda componente surge em materiais de baixa
dimensionalidade (materiais 1D, 2D) e é denominada capacitância quântica (𝐶𝑞) 37,38.
Esta é proporcional à densidade de estados no grafeno38 e representa a variação da
energia no nível de Fermi com o acúmulo de carga no grafeno39,40 e é descrita pelo
modelo proposto por T Fang et al 39, segunda a equação simplificada 5.
𝐶𝑞 = 𝜕𝒬
𝜕𝑉𝑐ℎ= 𝑞2
2
𝜋
𝑞𝑉𝑐ℎ
(ℏ𝓋𝐹)=
2𝑞2
ℏ𝓋𝐹 √𝜋 √𝑛 (𝑞𝑉𝑐ℎ ≫ 𝑘𝑇) Equação 5
Onde 𝒬 é a densidade de carga no “canal” de condução do grafeno, 𝑞 é a carga do
elétron, 𝑉𝑐ℎ, é o potencial eletrostático no “canal”, 𝓋𝐹 ≈ 108 cm s-1 é a velocidade de
Fermi dos portadores de carga no grafeno, 𝑛 é a concentração de portadores de carga
no grafeno e ℏ a constante de Planck reduzida.
A 𝐶𝑞 desenvolvida possui ordem de grandeza similar à 𝐶𝐻, µF cm-2, porém
esta é muito menor próximo ao ponto de neutralidade, devido a baixa densidade de
estados (DOS) próximo a região do ponto de Dirac, limitando assim o valor da 𝐶𝑖,
segundo demostrado na Figura 8 (b)40.
Desde que a capacitância quântica e de Helmholtz são conectadas em
série, a capacitância interfacial (capacitância total) pode ser escrita como29,40:
𝐶𝑖 = (1
𝐶𝐻+
1
𝐶𝑞)
−1
Equação 6
No entanto, algumas ressalvas devem ser feitas quanto à interface grafeno-
solução eletrolítica, tanto em relação à 𝐶𝐻 quanto à 𝐶𝑞. A carga desenvolvida na
superfície do grafeno é facilmente descrita pela indução de lacunas e elétrons livre
nesta. Por outro lado, o tipo e a posição, das cargas no eletrólito requer uma descrição
mais elaborada e foge em alguns aspectos do modelo tradicional da DCE, descrito no
item 1.3.1. Inúmeros tipos de cátions e ânions estão tipicamente presentes e se
movem livremente no eletrólito. As cargas no grafeno e na sua superfície são
compensadas pelos íons presentes no eletrólito, dependendo da valência dos íons e
da carga superficial do grafeno. Devido ao consequente efeito da blindagem de carga
induzido pelos íons do eletrólito, o desequilíbrio entre os íons de cargas opostas irá
43
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
diminuir profundamente no eletrólito. Em uma primeira aproximação, esta queda pode
ser descrita como uma diminuição exponencial até o seio da solução, de modo
semelhante ao que ocorre na camada difusa no modelo tradicional da DCE, descrito
no item 1.3.1.
Porém, muito próximo da superfície do grafeno, o modelo tradicional da
DCE, que propõe que a concentração dos íons na camada compacta (IHP e OHP)
decai linearmente a partir da superfície do eletrodo até a camada difusa, não se aplica,
já que muito próximo a superfície de materiais de natureza hidrofóbica, como o
grafeno, a estrutura da água em si muda drasticamente41. Como demonstrado por
simulações de dinâmica molecular, a densidade de moléculas de água diminui
bruscamente nestas superfícies, o que é denominado de “gap hidrofóbico” entre a
superfície do sólido e o eletrólito, como demonstrado na Figura 8 ((c (i)). Nesta região,
a constante dielétrica efetiva da água é muito menor do que no seio da solução,
resultando em uma elevada queda de potencial na interface28,38. Isto também afeta a
distribuição de íons bem próximos a superfície do grafeno, como demonstrado na
Figura 8 (c (ii)), que exibe a simulação para a densidade de íons Na+ e Cl- bem próxima
a superfície do grafeno, através do modelo de Poisson-Boltzmann42.
Deste modo, a hidrofobicidade do grafeno deve ser levada em
consideração ao se descrever a capacitância interfacial desenvolvida na interface
grafeno-eletrólito. A partir disso e empregando o modelo estendido de Poisson-
Boltzmann, L. Hess et al28, também simularam como cada componente da 𝐶𝑖 se
desenvolve em função da voltagem aplicada ao grafeno, considerando um “gap
hidrofóbico” de 0,3 nm e uma constante dielétrica estática para a água de 1, conforme
exemplificado na Figura 8 (b), onde é possível ver que distante da região do ponto de
Dirac, a 𝐶𝑖 é dominada pela contribuição da DCE (𝐶𝐻 ).
Com os conceitos introduzidos acima, fica claro como a capacitância
interfacial é estabelecida na interface grafeno/solução e como esta varia em função
do deslocamento da energia do nível de Fermi no grafeno, devido a componente
quântica. Os valores de 𝐶𝑖 desenvolvidos pelos dispositivos GraFETs, estão
totalmente relacionados com a sensibilidade destes dispositivos, conforme discutido
no item 1.3. A seguir serão introduzidas as principais vantagens que os GraFETs
oferecem operando como biossensores, os mecanismos de detecção destes e
exemplos de aplicação.
44
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
1.4. GraFETs : Por Quê Utilizá-los Como Biossensores?
Devido as suas propriedades elétricas extraordinárias, discutidas
previamente na sessão 1.1, o grafeno vem possibilitando o seu emprego na
construção de sensores extremamente sensíveis, principalmente os do tipo FET.
Os GraFETs podem operar em meio de soluções eletrolíticas em contato
direto com os analítos, o que é extremamente significativo para a detecção de
inúmeras moléculas de relevância biológica e além disso, estes podem ser
empregados para o monitoramento in situ de produtos formados durante reações em
soluções aquosas.
A elevada sensibilidade elétrica de sensores do tipo GraFETs está
relacionada com uma série de fatores, sendo os principais listados a seguir.
Primeiramente, um sensor do tipo FET, pode atuar tanto como sensor, mas
também como um amplificador. Desse modo, uma pequena variação de voltagem
pode induzir a uma resposta pronunciada de corrente no “canal” de condução, devido
à função amplificadora inerente destes dispositivos 43,44.
Em segundo lugar, os portadores de carga no grafeno apresentam valores
de mobilidade extremamente elevadas em relação aos semicondutores
convencionais, como discutido anteriormente no item 1.1. Desse modo, os GraFETs
apresentam valores de transcondutância (gm) (modulação da corrente de Ids induzida
por uma pequena variação em Vg) muito mais elevados em comparação com os outros
tipos de FETs, que é um fator importante para a amplificação de sinal nestes
dispositivos44.
Os GraFETs apresentam também valores de capacitância interfacial
elevados, da ordem de µF cm-2, o que garante a possibilidade destes dispositivos
operar em baixas voltagens operacionais (Vds) (conforme demonstrado pela equação
1), normalmente menores do que 500 mV 29. Assim, os GraFETs são muito mais
sensíveis a pequenas alterações de potencial induzidas pela interação de analítos
com a superfície do grafeno. Além disso, o fato de cada átomo de carbono no grafeno
estar exposto à superfície, faz com que a sua sensibilidade elétrica em relação a
qualquer evento biológico de reconhecimento, como por exemplo, interações
antígeno-anticorpo, ou mesmo adsorção de biomoléculas, seja extremamente
elevada, tal que, pequenas concentrações destas espécies possam ser detectadas.
Os GraFETs podem ser facilmente miniaturizados sem a diminuição do desempenho
45
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
do dispositivo, isto porque a corrente no “canal” (Ids) é proporcional a razão entre a
largura (W) e o comprimento (L) do canal, em vez de do tamanho real do dispositivo.
Desse modo, os GraFETs são dispositivos promissores para o desenvolvimento de
micro-matrizes de dispositivos para a detecção simultânea ou múltipla (do inglês,
multiplex) de espécies de interesse43. Além disso, a miniaturização destes dispositivos
acarreta no uso de pequenos volumes de amostras (dezenas de µL), sendo esta uma
característica ideal para a análise de amostras biológicas.
Além de toda a sensibilidade elétrica exibida por estes dispositivos, o fato
do grafeno apresentar biocompatibilidade45, vêm possibilitando o uso destes
dispositivos na análise de células46 e atividade elétrica das mesmas 47 e o
desenvolvimento de sensores implantáveis 48,49, graças também à sua elevada
flexibilidade. A flexibilidade do grafeno e sua resistência mecânica, também o torna
um material ideal para o desenvolvimento de GraFETs em substratos plásticos
flexíveis, visando a fabricação de sensores descartáveis de baixo custo.
1.5. Mecanismo de Detecção nos GraFETs
A literatura tem reportado diferentes tipos de mecanismos para os GraFETs
atuando como sensores químicos e biossensores50-53. Em geral, a interação dos
analítos de interesse com a superfície do grafeno pode alterar um ou mais parâmetros
da Equação 1, a qual foi descrita anteriormente, que descreve a corrente desenvolvida
entre o eletrodo de fonte e dreno.
Os biossensores GraFETs, assim como os biossensores Transistores
Orgânicos de Efeito de Campo com Eletrólito no Gate (EGOFETs) (do inglês,
Electrolyte-Gated Organic Field-Effect Transistors) podem operar baseado no
princípio da alteração da queda de potencial através da interface eletrodo de porta
(Ag/AgCl)/eletrólito e/ou eletrólito/canal de condução (grafeno), sob o efeito de
analítos 44. Assim, dependendo do número de espécies químicas e biológicas na
superfície do grafeno, a corrente elétrica medida, entre o eletrodo de fonte e dreno,
sofrerá uma variação proporcional a variação de potencial na folha de grafeno26. Estas
variações de corrente ou potencial (deslocamento de 𝒱𝒟𝑖𝑟𝑎𝑐 na curva de transferência
do GraFET) podem então ser usadas como parâmetros para monitorar a concentração
de um determinado analito.
46
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
Porém, a detecção nos GraFETs pode ser monitorada também através de
outros mecanismos, como efeito de dopagem, espalhamento dos portadores de carga
e mudanças no ambiente dielétrico local.
A dopagem que pode ser empregada como um mecanismo de detecção
nos GraFETs está relacionada com o efeito de dopagem induzido por moléculas,
conhecido como dopagem molecular54-56. Em semicondutores em geral, o termo
dopagem está relacionado com a incorporação de outros tipos de átomos na rede
cristalina do material, que acabam introduzindo lacunas ou elétrons de condução extra
neste. No caso do grafeno, entretanto, este processo resulta na introdução de defeitos
na rede. Porém a dopagem também pode ser realizada através da transferência de
carga de moléculas de natureza dopante situadas na superfície dos materiais, neste
caso, do grafeno 55-57. Esta situação ocorre principalmente para moléculas do tipo
camada aberta (do inglês, open-shell) que possuem orbitais de valência parcialmente
ocupados, ou seja, com elétrons desemparelhados57. Assim, os estados ocupados e
desocupados pelos elétrons da molécula dopante são separados por uma energia de
troca de Hund da ordem de 1eV, desse modo, há sempre níveis moleculares nas
proximidades do ponto de Dirac do grafeno. Se o nível do orbital molecular ocupado
de mais alta energia ((HOMO) do inglês, highest occupied molecular orbital) possuir
energia mais elevada do que a do nível de Dirac, um elétron será transferido da
molécula para o grafeno, induzindo uma dopagem do tipo n. Mas se o nível do orbital
molecular desocupado de menor energia ((LUMO) do inglês, lowest unoccupied
molecular orbital) estiver abaixo do ponto de Dirac, um elétron será transferido do
grafeno para a molécula, gerando uma dopagem do tipo p 57. Dessa forma, nos
GraFETs, é possível utilizar os efeitos de dopagem (transferência de carga direta entre
os analítos adsorvidos e o grafeno) para o monitoramento da espécie de interesse.
Muitas moléculas, particularmente, as que possuem anéis aromáticos, podem interagir
fortemente com o grafeno56. Tais interações fortes amplificam o efeito de dopagem,
monitorado através de mudanças na voltagem do ponto de Dirac e também alteração
na condutância do “canal” e consequentemente, permitem uma detecção elétrica
extremamente sensível 54,56. Esse efeito também é observado através da adsorção
de proteínas sobre o grafeno e já elucidado em FETs a base de nanotubos de
carbono58.
O efeito de espalhamento é outro mecanismo de detecção nos GraFETs
que pode ser explorado59. Moléculas que se adsorvem na superfície do grafeno
47
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
podem causar o espalhamento dos portadores de carga (elétrons e lacunas) e
consequentemente diminuir a mobilidade destes, e desse modo, a condutância60,61.
Contrariamente, alguns analítos podem adsorver na superfície do grafeno, e diminuir
o efeito de espalhamento causado pelo substrato de suporte, resultando em um
aumento na condutância do grafeno61.
Alterações locais no ambiente dielétrico local podem também ser usadas
como um parâmetro de respostas nos GraFETs. Por exemplo, a ligação de
biomoléculas eletricamente carregadas com a superfície do grafeno pode alterar a
constante dielétrica local ou mesmo a força iônica, que por sua vez, está intimamente
relacionada com a modulação da 𝐶𝑖, e consequentemente à condutância do grafeno29.
Em alguns casos a detecção é determinada por um mecanismo dominante,
porém em outros, esta resulta da combinação de vários mecanismos. Desse modo,
uma análise criteriosa de todos os parâmetros descritos acima deve ser realizada,
para permitir uma interpretação mais acurada do mecanismo de resposta do sensor.
Por último, temos que ressaltar que os biossensores do tipo GraFETs não
apresentam seletividade. Assim, está só será alcançada através da imobilização de
agentes de bioreconhecimento específicos, como enzimas, anticorpos, aptâmeros, ou
mesmo complexos metálicos, na superfície do grafeno.
A seguir serão apresentados alguns exemplos de como os GraFETs podem
atuar como sensores e biossensores altamente sensíveis.
1.6. GraFETs Aplicados Como (Bio)Sensores
Em 2008 P. Ang et al 62 demonstraram pela primeira vez o uso de um
GraFET como um sensor para pH e comprovaram que a dupla camada elétrica
estabelecida na interface grafeno/eletrólito é sensível a adsorção de íons OH- e H+.
Este trabalho abriu um leque de possibilidades para o desenvolvimento de sensores
visando à detecção de espécies mais complexas, como por exemplo: proteínas,
interações do tipo antígenos/anticorpos, bactérias, eventos de hibridização de DNA,
células, entre outros 46,51,63-67. Estes dispositivos se mostraram capazes de realizar
detecções em baixíssimas concentrações, na ordem de ng - pg/mL, isto devido a
elevada sensibilidade do grafeno a qualquer evento biológico de reconhecimento em
sua superfície, como por exemplo, interações antígeno-anticorpo, ou mesmo adsorção
48
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
de biomoléculas. Desse modo, a aplicação dos GraFETs na área de
biossensoriamento tem se tornado extremamente promissora.
A Tabela 1 exibe uma revisão dos principais trabalhos na literatura onde os
GraFETs foram empregados na detecção sensível de diversas espécies de interesse
biológico.
Uma estratégia recente que vêm sendo empregada para tentar alcançar
uma sensibilidade ainda maior nos dispositivos GraFETs é a incorporação de
nanopartículas nestes. Assim, na próxima sessão será realizada uma breve discussão
e alguns exemplos serão levantados no sentido de buscar o entendimento de como
esses nanomateriais 0 D, podem conferir propriedades extras ao grafeno.
49
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
Tabela 1. Exemplos de GraFETs aplicados como sensores e biossensores.
Tipo do Sensor
GraFET Analito
Tipo de Grafeno
Empregado
Limite de Detecção ou
Faixa Linear
Referência,
Ano
Sensor de pH H3O+, OH- Grafeno epitaxial 99 mV/pH, pH 14,0 - 2,0 62, 2008
H3O+, OH- Grafeno esfoliado
mecanicamente
25 mV/pH, pH 4,0 - 8,2 65, 2009
H3O+, OH- Grafeno CVD 0-6mV/pH 68, 2011
Hibridização de DNA DNA Grafeno CVD 10x10-12 mol L-1 63, 2010
DNA Óxido de Grafeno
Reduzido (RGO)
2,4x10-9 mol L-1 69,2012
DNA Grafeno CVD 1x10-15 – 100 x10-12 mol L-1 70, 2015
Sensor de Glicose Glicose Grafeno CVD 3,3 – 10,9 x10-3 mol L-1 71, 2012
Glicose Grafeno CVD 0,5x10-6 – 1x10-3 mol L-1 64, 2015
50
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
Sensor de Proteína BSA Grafeno esfoliado
mecanicamente
0,3x10-9 mol L-1 65,2009
Biomarcador de câncer de
próstata (PSA)
Grafeno obtido via
expansão térmica
0,1 – 100 g mL-1 67, 2010
Imunoglobulina G RGO 0,2x10-9 g mL-1 66, 2011
Biomarcador trombina
(doenças cardiovasculares)
Grafeno CVD 30 – 300 x10-9 mol mL-1 72, 2013
Biomarcador Tuberculose
(IFN-γ)
Grafeno CVD 83 x10-12 mol mL-1 73, 2015
Sensor de Dopamina Dopamina RGO 1-60x10-3 mol L-1 74, 2010
Sensor de Bactéria Escherichia coli RGO 10 ufc mL -1 * 51,2011
Sensor de Células Hemácias infectadas com
malária
Grafeno CVD Até uma única célula 46, 2011
*ufc mL-1 = unidades formadoras de colônia por mL.
51
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
1.7. Efeito da incorporação de Nanopartículas Metálicas em
GraFETs
Nos últimos cinco anos, vêm sendo reportado na literatura que as
propriedades de sensores a base de grafeno podem ser potencializadas com a
incorporação de nanopartículas (metálicas, semicondutoras ou de óxidos) a estes,
formando assim, nanomateriais híbridos do tipo grafeno-nanopartículas75-77. Estas
nanoestruturas híbridas são particularmente interessantes não só por exibirem as
propriedades individuais das nanopartículas e do grafeno, mas também por exibir
propriedades sinérgicas adicionais, contribuindo assim para o aumento da
sensibilidade, amplificação do sinal de resposta e até estabilidade dos
biossensores75,76.
Visando a aplicação em biossensores do tipo GraFETs, geralmente os
nanomateriais híbridos grafeno-nanopartículas são preparados através da
imobilização das nanopartículas sobre a superfície do grafeno, seja através do
crescimento in situ destas sobre a folha, ou mesmo o preparo destas em uma primeira
etapa, seguido da imobilização covalente ou não destas sobre a superfície do
grafeno75.
As nanopartículas mais empregadas em biossensores do tipo GraFETs,
são as nanopartículas metálicas de metais de transição78,79. V. Tjoa et al80 demonstrou
que a imobilização de nanopartículas de Au e Ag sobre a superfície do grafeno
influencia no comportamento de transferência de carga do grafeno através da
modificação da estrutura eletrônica local80. As nanopartículas de metais de transição
exibem ainda uma elevada biocompatiblidade81,82, o que propicia que os elementos
receptores dos biossensores, como anticorpos, aptâmeros, enzimas e/ou fitas de
DNA, sejam facilmente imobilizados sobre estas, preservando assim as propriedades
elétricas do grafeno. Além disso, a imobilização das nanopartículas sobre o grafeno
aumenta a área superficial, fazendo com que mais espécies receptoras sejam ligadas
ao grafeno, resultando assim em uma amplificação do sinal de resposta dos
biossensores.
O aumento na sensibilidade dos biossensores do tipo GraFETs após a
imobilização de nanopartículas de metais de transição está relacionado também com
o aumento da capacitância interfacial destes dispositivos, devido o acoplamento
52
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
capacitivo entre as nanopartículas e o grafeno, sendo que este mesmo efeito foi
encontrado também por Lee et al83, em transistor de efeito de campo orgânicos a base
de pentaceno modificados com nanopartículas de ouro83.
No ano de 2010, Chen et al77, reportaram pela primeira vez o emprego de
um nanomaterial híbrido de óxido de grafeno reduzido termicamente e decorado com
nanopartículas de Au, para o desenvolvimento de um biossensor do tipo FET para a
detecção de proteínas77. Para isso os autores utilizaram nanopartículas de Au
(disponíveis comercialmente) com 20 nm de diâmetro, que já são covalentemente
conjugadas à Anti-Imunoglobulina G (Anti-IgG) e através da técnica de
eletropulverização estas foram imobilizadas sobre a superfície das folhas de RGO,
conforme exibido na micrografia da Figura 9 (a). Com esta configuração (Figura 9 (b)),
o biossensor se mostrou sensível a detecção de até 13 pmol L-1 da proteína IgG, que
está entre os menores limites de detecção quando comparado com outros
biossensores do tipo FET a base de grafeno ouro ou nanotubos de carbono77.
Figura 9. (a) Micrografia de MEV da superfície da folha de RGO decorada com as
nanopartículas de Au conjugadas com a proteína Anti-IgG. (b) Representação esquemática
do Biossensor FET a base do nanomaterial híbrido RGO –Nanopartículas de Au. Adaptado
da referência77.
O trabalho pioneiro de Chen et al77 inspirou também a aplicação dos
nanomateriais híbridos grafeno-nanopartículas no desenvolvimento de outros
biossensores FETs altamente sensíveis, para a detecção principalmente de proteínas
e eventos de hibridização de DNA69,84.
Nesse sentido, os sensores do tipo GraFETs e GraFETs-Nanopartículas
metálicas se mostram extremamente sensíveis para a detecção de espécies em
baixíssimas concentrações, podendo ser até mesmo utilizados para o diagnóstico
precoce de doenças.
53
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
1.8. Diagnóstico do Câncer de Mama
O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo e
o mais comum entre as mulheres, respondendo por 22% de novos casos a cada ano85.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva
(INCA), no Brasil, somente no ano de 2011, 13225 mulheres faleceram vítimas da
doença 85. O método de diagnóstico mais empregado ainda é o exame clínico das
mamas, onde um profissional da saúde especializado (médico ou enfermeira) pode
detectar através do toque tumores de até 1 cm de diâmetro, se este se encontra
localizado superficialmente. Já a mamografia (radiografia da mama) permite a
detecção um pouco mais precoce do câncer, ao identificar lesões em fases iniciais,
com dimensões de alguns milímetros (41,7% de eficácia na identificação de lesões de
até 5 mm) porém, quando o tumor já se encontra em estágio de desenvolvimento86.
Assim, novas estratégias para o diagnóstico precoce do câncer de mama necessitam
ser desenvolvidas e uma alternativa promissora é a detecção dos biomarcadores de
câncer de mama.
O Instituto Nacional de Câncer dos EUA, define como biomarcadores
moléculas biológicas encontradas no sangue, em outros fluidos corporais e ou tecidos,
que tem os seus níveis relacionados de forma específica e sensível à uma condição
de doença. Assim os biomarcadores são ferramentas valiosas tanto para o diagnóstico
precoce como para avaliação do tratamento de doenças87. Neste cenário, o receptor
do fator de crescimento epidérmico humano 2 (HER-2), aparece como um potencial
biomarcador para a detecção precoce do câncer de mama88.
O HER-2 é uma glicoproteína que é expressada em excesso no soro de
15-25% das pacientes que exibem o estágio inicial do câncer de mama e em 45,6 %
que se encontram em estágio de metástase89,90. A sua expressão tem sido associada
a maior agressividade biológica do tumor e a resistência a alguns tipos de tratamento.
O HER-2 codifica uma proteína de membrana das células tumorais que faz com que
estas se desenvolvam mais rápido e aumentem a sua duplicação, tornando os
tumores mais agressivos88,91, conforme exemplificado na Figura 10.
54
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
Figura 10. Representação esquemática do processo de superexpressão da glicoproteína
HER- 2 e consequentemente aumento das células cancerígenas92.
Estudos certificados pela Agência de Administração de Alimentos e
Medicamentos dos Estados Unidos (FDA), comprovam que quando os pacientes se
encontram nos estágios de desenvolvimento do câncer de mama I-III (o número de
células cancerosas se torna mais extenso, dando origem a tumores que vão
progressivamente aumentando de tamanho) e IV (metástase), estes exibem níveis
de HER-2 em seus soros sanguíneos bem superiores a 15 ng/mL89,93. Já os pacientes
saudáveis apresentam níveis de HER-2 em seus soros inferiores a 15 ng/mL,
conforme estudo comprovado também por S. Imuto et al 94. Os autores avaliaram por
um período de vários meses os níveis de HER-2 em mulheres saudáveis no período
pré e pós-menopausa, os dados de uma amostra representativa (12,35, 11,63, 11,49,
12,76, 11,85, e 12,42 ng mL-1) mostrou que os valores de HER-2 encontrados nas
amostras de soro foram relativamente constantes para um dado indivíduo, com uma
variação de apenas 6% ao longo de um período de vários meses94,95.
O diagnóstico do câncer de mama no estágio 0 (a quantidade de células
cancerosas é relativamente pequena e concentrada apenas no órgão no qual ele se
desenvolveu), onde não se têm ainda a formação de um tumor ou sintomas físicos de
desenvolvimento da doença é a situação ideal. Neste sentido, vários estudos indicam
que o monitoramento dos níveis de HER-2, nesse caso o aumento, pode proporcionar
um diagnóstico de até 2 à 9 meses antes que os sinais clínicos reais apareçam89.
Fehm et al relatou que 27% dos pacientes com câncer de mama tiveram seus níveis
de HER-2 gradativamente elevados seis meses antes que os sinais clínicos
aparecessem ou mesmo que o diagnóstico fosse feito. Sendo que este número
55
Silva, C. C. C FUNDAMENTOS Tese de Doutorado
aumentou ainda mais, representando 50% dos pacientes, com aumentos nos níveis
de HER-2 três meses antes do diagnóstico clínico96 . Isola et al relatou que 37% dos
pacientes poderiam ter sido diagnosticados precocemente com base no aumento dos
níveis de HER-2 6 meses antes do diagnóstico clínico real97. Nesse sentido o
monitoramento dos níveis de HER-2 no soro sanguíneo de mulheres saudáveis,
porém que fazem parte do grupo de risco98, na faixa de 12-15 ng mL-1 ou até mesmo
acima do valor limite, é uma ferramenta poderosa tanto para o diagnóstico precoce,
quanto para avaliação do tratamento da doença.
Os métodos mais comumente empregados para a detecção de HER-2 são
o ELISA (do inglês, Enzyme-Linked Immunosorbent Assay) e a imuno-
histoquímica99,100. Ambos os métodos se referem ao processo de localizar antígenos
(os biomarcadores), explorando o princípio da ligação específica de anticorpos à
antígenos, onde a visualização da interação antígeno-anticorpo se dá através da
conjugação do anticorpo com enzimas , como a peroxidase, que pode catalisar uma
reação que produzirá cor. No caso do ELISA o teste é realizado diretamente na
solução do soro sanguíneo e a adição de substrato ao complexo enzima-anticorpo-
antígeno que resulta num produto colorido, é lido por um espectrofotômetro. Já no
caso da imunohistoquímica os biomarcadores (antígenos) são localizados diretamente
nos tecidos101. Ambos os métodos possuem uma série de limitações técnicas como
baixa sensibilidade e especificidade, elevado tempo de análise e no caso da
imunohistoquímica, subjetividade no entendimento da imagem obtida99 .
Nesse contexto, o desenvolvimento de novas ferramentas analíticas para o
diagnóstico precoce e monitoramento do tratamento do câncer de mama, através da
análise altamente sensível e específica do biomarcador HER-2, principalmente na
faixa de ng mL-1, que produzam respostas rápidas, de fácil manuseio, que não utilizem
de marcadores e sem a necessidade de operadores altamente qualificados
necessitam ser desenvolvidas.
56
Silva, C. C. C OBJETIVOS Tese de Doutorado
2. CAPÍTULO II - OBJETIVOS
Baseado nos conceitos e fundamentos apresentados no capítulo anterior,
o presente trabalho tem como objetivo central o desenvolvimento em grande escala
de biossensores miniaturizados do tipo GraFETs para a detecção ultra-sensível e
seletiva de biomarcadores de câncer de mama HER-2.
Para alcançar o objetivo central desta tese, foram estipuladas as seguintes
metas:
A síntese e transferência de uma monocamada de grafeno CVD para
lâminas de Si/SiO2 de 4 polegadas seguida da fabricação dos GraFETs em escala de
lâmina e a caracterização elétricas destes.
O desenvolvimento de um novo método de imobilização de
nanopartículas de ouro altamente dispersas sobre o grafeno CVD.
A imobilização orientada dos anticorpos anti-HER-2 sobre a região de
gate dos GraFETs e GraFETs modificados com nanopartículas de Au, seguida da
detecção de biomarcadores de câncer de mama (HER-2).
57
Silva, C. C. C MATERIAIS E MÉTODOS Tese de Doutorado
3. CAPÍTULO III - MATERIAIS E MÉTODOS
Este trabalho foi desenvolvido em colaboração com o grupo de pesquisa
do Prof. Dr. Manish Chhowalla, no departamento de Engenharia de Materiais da
Rutgers University, NJ, EUA. Toda a parte de fabricação dos dispositivos e
caracterização elétrica foi realizada em sala limpa, do Departamento de Engenharia
Elétrica e Computação da Rutgers University e no Centro de Componentes
Semicondutores (CCS) da Unicamp.
3.1. Reagentes e Soluções
Para a fabricação dos dispositivos foram utilizadas lâminas de Si/SiO2
monocristalino tipo p, com diâmetro de 4 polegadas, resistividade 1–10 Ω.cm,
orientação cristalina <100> e com um óxido de silício de 300 nm de espessura que
foram adquiridas através da empresa Polishing Corporation of America (PCA). Folhas
de cobre de 25 µm de espessura e com 99,8% de pureza, ácido nítrico e o ácido
clorídrico foram adquiridos da Alfa Aesar. O Polimetil Metacrilato (PMMA) 6% em
anisol foi adquirido da Micro Chem. O fotoresistes AZ 5214-E e o revelador AZ MIF
300 (livre de metais) foram obtidos da Clariant, Muttenz, CHE. O Hexametildisiloxano
(HMDS), o ácido 1-pirenobutanóico éster succinimídico (PASE), a albumina do soro
bovino (BSA) (peso molecular 66kDa), a etanolamina, o sulfato de cobre (II) (CuSO4),
o borohidreto de sódio, ácido cloroáurico, cloreto de sódio (NaCl), dihidrogenofosfato
de sódio (NaH2PO4), hidrogenofosfato de sódio (Na2HPO4), p-mercaptopiridina e
proteína A (produzida a partir da Staphylococcus aureus) foram obtidos da Sigma
Aldrich. Os anticorpos ErbB2/HER-2 monoclonais (obtidos a partir de Imunoglobulinas
IgG2 de ratos) e antígenos recombinantes ErbB2/Her2 (massa molecular de 96,8kDa)
de linhagem celular mieloma (obtida a partir de ratos) foram adquiridos da R&D
System, EUA. O etanol e metanol anidros foram obtidos da Synth. A acetona e o álcool
isopropílico utilizados possuíam grau eletrônico CMOS com pureza equivalente a
99,9999 % e foram obtidos da J.T.Baker.
Todas as soluções aquosas foram preparadas com água deionizada
(Sistema Mili-Q de purificação de água, Millipore Inc., USA) com resistividade maior
que 18 MΩ cm.
58
Silva, C. C. C MATERIAIS E MÉTODOS Tese de Doutorado
3.2. Limpeza Orgânica das Lâminas de Si/SiO2
Antes de realizar qualquer processo de modificação ou transferência de
padrões sobre a superfície das lâminas de Si/SiO2 é realizado um processo de limpeza
conhecido como limpeza orgânica. Esta limpeza visa à remoção de possíveis
impurezas orgânicas na superfície das lâminas, auxiliando assim, os posteriores
processos de modificação de suas superfícies.
Primeiramente as lâminas foram submergidas em um recipiente contendo
acetona à 60º C por 10 minutos com agitação constante. Após este período, as
lâminas foram transferidas a outro recipiente contendo álcool isopropílico à 60º C,
onde estas também ficaram imersas por um período de 10 minutos sob agitação
constante. Terminada esta etapa, as lâminas foram lavadas repetidas vezes com água
deionizada e secas com fluxo de N2.
3.3. Fabricação dos GraFETs
3.3.1. Configuração dos Chips Fabricados
Para a fabricação dos dispositivos foi necessário fazer uso da técnica de
fotolitografia102. Desse modo, máscaras de alta resolução a base de quartzo com
camadas de cromo e óxido de cromo, necessitavam ser utilizadas para que fosse
possível a transferência dos padrões de eletrodos e padrões sobre o grafeno. Os três
níveis de máscaras empregadas para a fabricação dos dispositivos desenvolvidos
neste trabalho foram projetadas fazendo uso do software CleWin 4 (WieWeb,
Holanda) e estas foram confeccionadas pela empresa Photonics (EUA). As máscaras
possuíam dimensões de 4 x 4 polegadas e cada máscara continha os padrões para a
fabricação de 49 chips, conforme exemplificado na Figura 11 (a).
59
Silva, C. C. C MATERIAIS E MÉTODOS Tese de Doutorado
Figura 11. (a) Layout da máscara empregada na fabricação dos dispositivos exibindo os
padrões para fabricação de 49 chips. (b) Representação esquemática dos padrões de um
chip, exibindo a dimensão total deste e os 64 pares de eletrodos de fonte e dreno organizados
em uma matriz 8 x 8. Ao lado uma imagem ampliada de um par de eletrodos de fonte e dreno.
Fonte
comum
Dreno
individual 20 µm
12 µm
1,01 cm
(b)
(a)
60
Silva, C. C. C MATERIAIS E MÉTODOS Tese de Doutorado
Os chips a serem fabricados consistiam em 64 pares de eletrodos de fonte
e dreno, organizados em uma matriz de 8 x 8, com dimensão total de 1,01 cm2. Os
dispositivos eram conectados por uma fonte comum e o acesso aos eletrodos de
dreno ocorria através de contatos metálicos individuais, também conhecidos como
pads de contato. O comprimento e largura do canal entre os eletrodos de fonte e dreno
era de 12 e 20 µm respectivamente. A Figura 11(b) exibe a configuração dos padrões
do chip descrito acima, onde é possível visualizar nesta, 4 matrizes de 16 eletrodos
de fonte e dreno alinhados. Esta configuração nos permite que canais microfluídicos,
confeccionados a base de PDMS (Polidimetilsiloxano), possam ser no futuro
integrados aos dispositivos, por meio de processos de litografia-soft103 e empregados
para a entrega seletiva de soluções aos eletrodos de fonte e dreno, o que possibilita
a imobilização de diferentes tipos de anticorpos específicos aos biomarcadores de
câncer de mama em cada uma das 4 matrizes de eletrodos.
3.3.2. Fotogravação dos Padrões de Eletrodos e Formação dos
Contatos Metálicos
A fim de promover uma melhor adesão entre os eletrodos metálicos e o
substrato de Si/SiO2, optou-se por primeiro transferir os padrões de eletrodos e
depositar o metal, dando origem aos eletrodos de fonte e dreno através do processo
lift-off e depois transferir o grafeno para a superfície da lâmina de Si/SiO2/eletrodos,
como será discutido posteriormente. Assim, primeiramente foram gravados os
padrões de eletrodos de fonte e dreno.
Após a etapa de limpeza orgânica a lâmina Si/SiO2 estava pronta para a
primeira etapa de fotolitografia. Todo o processo de litografia foi desenvolvido dentro
de uma sala limpa classe 100 com luz amarela, devido a sensibilidade do fotoresiste
à luz visível.
Para a transferência dos padrões de eletrodos de fonte e dreno metálicos
foi empregado o primeiro nível de máscara, que continha a configuração ilustrada na
Figura 11 e adotou-se o procedimento exemplificado na Figura 12.
61
Silva, C. C. C MATERIAIS E MÉTODOS Tese de Doutorado
Figura 12. Etapas empregadas no processo de obtenção do conjunto de eletrodos de fonte e
dreno dos chips fabricados.
Adotou-se o seguinte procedimento para transferência dos padrões:
primeiramente a lâmina foi aquecida à 110ºC por 5 minutos em uma chapa
aquecedora, para que ocorresse a desumidificação de sua superfície. Em seguida a
lâmina foi levada até um Spin Coater onde se aplicou o HMDS (agente promotor de
62
Silva, C. C. C MATERIAIS E MÉTODOS Tese de Doutorado
aderência) e esta foi submetida a uma rotação de 5000 rpm por 40 segundos.
Aguardou-se um período de 10 minutos para a aplicação do fotoresiste AZ 5214 – E
(fotoresiste que contém como composto fotoativo uma mistura de naftoquinonas e
resina Novolak), onde a lâmina também foi submetida a uma rotação de 5000 rpm por
40 segundos para que a espessura da camada de fotoresiste fosse de apenas 1,30
µm. Após este procedimento a lâmina passou por um processo de pré-cura (do inglês
pré-bake) na chapa aquecedora à 100ºC por 1 minuto e 30 s para que ocorresse a
evaporação do solvente e fixação do fotoresiste (Figura 12 (a)). Para a fotogravação,
a lâmina foi alinhada opticamente com a máscara através da fotogravadora Karl Suss
MJB3 (Figura 12 (b)) e em seguida ambas foram colocadas no modo de contato e
exposta a luz UV com comprimento de onda fixo em 385 nm durante 25 segundos
(Figura 12 (c)). Neste processo, o fotoresiste por ser positivo, quando é exposto à luz
UV é sensibilizado, isto é, há um rompimento das ligações químicas nas cadeias
poliméricas do fotoresiste, fazendo com que as cadeias se tornem menores e mais
solúveis. Por fim a lâmina foi submetida ao processo de revelação, onde o fotoresiste
é removido das regiões que foram expostas a luz UV. Para isso utilizou-se como
revelador o AZ MIF 300, onde a lâmina foi imersa num recipiente contendo o revelador
por 12 segundos com agitação constante e posteriormente lavada com água
deionizada e seca com jato de N2 (Figura 12 (d)). Com o término deste processo
verificou-se em um microscópio ótico de luz verde que todo o resiste sensibilizado
havia sido revelado.
Para se obter eletrodos mais resistentes mecanicamente e com baixa
resistividade elétrica, optou-se por utilizar paládio como material de eletrodo. Assim
foram depositados sobre a lâmina de Si/SiO2/fotoresiste um filme metálico contendo
5 nm de Ti e 110 nm de Pd, utilizando uma evaporadora do tipo e-beam (Figura 12
(e)). Logo em seguida, para que ocorresse o processo de lift-off, a lâmina metalizada
foi inserida em um recipiente com acetona fechado por 12 horas (Figura 12 (f-g)). O
processo de lift-off faz com que o fotoresiste que demarca as regiões limites dos
padrões de eletrodos seja removido ao entrar em contato com a acetona, levando com
ele a camada de metal depositada nesta região, assim o metal só ficará aderido nas
regiões onde não havia a camada de fotoresiste. Após o período de 12 horas a lâmina
foi retirada da acetona e realizou-se uma limpeza orgânica para remover qualquer
possível resíduo de fotoresiste aderido em sua superfície.
63
Silva, C. C. C MATERIAIS E MÉTODOS Tese de Doutorado
3.3.3. Síntese de Grafeno via Deposição Química em Fase Vapor
(CVD)
O crescimento do grafeno via processo CVD foi realizado nas
dependências do laboratório do Prof. Dr. Manish Chhowalla, no departamento de
Engenharia de Materiais da Rutgers University, NJ, EUA.
Para o crescimento do grafeno via processo CVD, empregou-se como
substrato metálico e catalisador, folhas de cobre com 25 µm de espessura.
Primeiramente a folha de cobre foi inserida no interior de um tubo de quartzo, como
demonstrado na Figura 13 e foi empregado o procedimento otimizado, previamente,
como exemplificado na Figura 14.
Figura 13. Sistema empregado durante o crescimento do grafeno via processo CVD.
Composto de um forno, que fornece aquecimento constante de até 1000ºC, um tubo de
quartzo, uma bomba de vácuo conectada ao tubo de quartzo, e as linhas de gases e
controladores de fluxo. Na ampliação é mostrada a folha de cobre inserida dentro do tubo de
quartzo.
64
Silva, C. C. C MATERIAIS E MÉTODOS Tese de Doutorado
Figura 14. Diagrama exibindo o fluxo e composição dos gases, o tempo e a temperatura
empregados durante o processo de crescimento do grafeno via CVD.
Todo o processo de crescimento do grafeno foi realizado em vácuo (25
mTorr) e em atmosfera de Ar/ H2, com a razão 95%/5% a um fluxo de 100 sccm.
Inicialmente o forno foi aquecido à 1000 ºC (Etapa I) e quando atingida esta
temperatura a folha de cobre foi submetida a uma etapa de recozimento (Etapa II) por
30 minutos, esta etapa visa a redução do óxido de cobre (CuO e Cu2O) nativo na
superfície da folha de cobre, responsável por reduzir a atividade catalítica do cobre.
Além disso a fase de recozimento antes da etapa de crescimento também é importante
para o aumento do tamanho dos grãos de Cu e reorganização da morfologia da
superfície (introdução de caminhos atômicos e eliminação de defeitos estruturais na
superfície) para facilitar o crescimento da folha de grafeno e obter um material de
qualidade superior, conforme discutido anteriormente na sessão 1.2. Após esta etapa,
a folha de cobre é submetida a uma atmosfera de metano (CH4) a um fluxo de 35,5
sccm por 1 hora (Etapa III), para que o crescimento da monocamada de grafeno
ocorresse via deposição e difusão dos átomos de carbono. Logo após este período o
fluxo de CH4 foi interrompido e iniciou-se o processo de resfriamento do tubo de
quartzo (etapa IV), sendo que quando se atingiu a temperatura de 30 ºC o fluxo de
Ar/H2 foi interrompido assim como o vácuo e a folha de cobre foi retirada do interior
do tubo de quartzo e estocada sob vácuo.
1000
T(ºC)
30 Tempo (min)60
CH4
35.5sccm
H2/Ar
99sccm
(I) (II) (III) (IV)
65
Silva, C. C. C MATERIAIS E MÉTODOS Tese de Doutorado
3.3.4. Processo de Transferência do Grafeno para Substratos de
Si/ SiO2
Após o processo de crescimento do grafeno sobre a folha de cobre este
necessita ser removido e transferido para o substrato desejado, para isso utilizou-se
um procedimento baseado no trabalho de Wan et al104.
Cada etapa do procedimento empregado está exemplificada na Figura 15
(a-j).
Figura 15. Diagrama esquemático exemplificando o processo de transferência do grafeno
CVD para o substrato desejado. Adaptado da referência104.
Primeiramente a folha de cobre contendo o grafeno teve uma das suas
superfícies recobertas com o eletroresiste PMMA, no intuito de se proteger o grafeno
durante o processo de corrosão da folha de cobre. Assim o PMMA foi aplicado sobre
a folha de Cu/grafeno fazendo uso de um Spin Coater a uma rotação de 4000 rpm por
40 segundos (Figura 15 (a)) para que a espessura da camada de PMMA fosse de
Transferido
Utilizando um
vidro de relógio
Grafeno CVD /folha
de Cu
Substrato
Corrosão da
folha de Cu
Após 4 h
Transferido
Reagente MarblePré-cura a 170ºC
por 10 min.
Spin Coater
4000 rpm, 40 s
Transferido
Secagem a
temperatura
ambiente por 1h
H2O DI
20 vezes
(g) (h)Acetona
Acetona 4
vezes, 1 h cada
Transferido
Limpeza
orgânica
Seco com N2
Remoção do
PMMA
Grafeno/Substrato
66
Silva, C. C. C MATERIAIS E MÉTODOS Tese de Doutorado
apenas 300 nm. Após este procedimento a folha de Cu/grafeno passou por um
processo de pré-cura na chapa aquecedora à 170ºC por 10 minutos para que
ocorresse a evaporação do solvente e fixação do PMMA ao grafeno (Figura 15 (b)).
Como usualmente durante o processo CVD o grafeno cresce em ambos os lados da
folha de cobre, para se evitar a transferência de uma bicamada de grafeno, a folha de
Cu/grafeno/PMMA foi suspensa sobre uma solução aquosa 1:3 em ácido nítrico por 5
minutos para que ocorresse a remoção do grafeno do lado da folha de cobre exposto
a solução ácida. Logo após, esta foi transferida para uma placa de Petri contendo uma
solução do reagente de Marble, que é composto de uma solução 620 mmol L-1 de
CuSO4 em 1:1 H2O/HCl, para que ocorresse a completa corrosão e dissolução da
folha de cobre (Figura 15 (c)). Após 4 horas, todo o cobre foi eliminado do
grafeno/PMMA e assim, este foi transferido para uma placa de Petri contendo água
deionizada (Figura 15 (d)). Este processo de limpeza do grafeno/PMMA foi repetido
20 vezes para que ocorresse a completa remoção de resíduos de cobre (íons Cu2+
provenientes da solução corrosiva); em seguida o grafeno/PMMA foi transferido para
substratos de Si/SiO2 e Si/SiO2/eletrodos (Figura 15 (e)) onde aguardou-se as
amostras secarem a temperatura ambiente, em torno de 1 hora (Figura 15 (f)). As
etapas do processo de transferência do grafeno crescido via CVD para o substrato de
Si/SiO2, Figuras 15 (a-f), foram registradas e podem ser visualizadas no vídeo
acessado através do QR-Code abaixo1*. Com o término desta etapa, finalmente o
PMMA foi removido da superfície do grafeno; para isto os substratos de Si/SiO2 e
Si/SiO2/eletrodos contendo o grafeno/PMMA em sua superfície foram imersos em
placas de Petri contendo acetona, por 4 horas, sendo que a troca completa deste
solvente era realizada de 1 em 1 hora (Figura 15 (g)). A acetona promove a dissolução
e remoção do PMMA da superfície do grafeno. Após todo este processo foi realizado
novamente uma limpeza orgânica (Figura 15 (h)).
Com o intuito de se remover ainda mais qualquer resíduo de PMMA sobre
a superfície do grafeno CVD, foi realizado um processo de recozimento segundo o
procedimento empregado por van der Zande et al 105, onde as amostras foram
1
67
Silva, C. C. C MATERIAIS E MÉTODOS Tese de Doutorado
submetidas a um aquecimento de 300 ºC, em um ambiente de ultra - alto vácuo (10 -8
Torr) por 10 minutos. Assim o grafeno obtido via CVD estava pronto para ser
caracterizado e empregado na fabricação dos FETs.
3.4. Síntese e Imobilização de Nanopartículas de Ouro sobre o
Grafeno CVD
Com o intuito de se obter nanopartículas de ouro livre de agentes orgânicos
estabilizantes, utilizou-se o método de preparação de nanopartículas de ouro descrito
por Martin e colaboradores106, que se baseia na redução instantânea e direta de íons
Au3+ provenientes do ácido cloroáurico (HAuCl4) utilizando-se borohidreto de sódio
(NaBH4). Desse modo, 1,5 mL de uma solução aquosa 1 mmol L-1 de NaBH4 foram
adicionadas sob agitação vigorosa à 1 mL de uma solução 1 mmol L-1 HAuCl4, onde
imediatamente a solução desenvolveu a coloração vermelha e a agitação foi mantida
por mais 1 minuto e utilizadas em seguida.
Para realizar a imobilização de elevada densidade de nanopartículas de Au
sobre o grafeno, sem a introdução de defeitos na estrutura deste material, foi proposto
pela primeira vez por este trabalho o uso da p-mercaptopiridina como uma molécula
ponte ideal entre a superfície do grafeno e as nanopartículas de Au. Para isso, as
lâminas de Si/SiO2 contendo o grafeno CVD foram imersas por 24 horas em uma
solução 1mM de p-mercaptopiridina preparada em etanol seco. Após este período
estas foram lavadas com etanol repetidas vezes para a remoção de moléculas não
adsorvidas e secas em nitrogênio. Em seguida, estas lâminas foram inseridas na
solução de nanopartículas (preparada previamente) por 4 horas e posteriormente
lavadas com água deionizada. Experimentos controle também foram realizados, onde
as lâminas contendo o grafeno sem ter passado pelo processo de funcionalização
com a p-mercaptopiridina foram também inseridas na mesma solução de
nanopartículas de ouro e pelo mesmo período de tempo.
68
Silva, C. C. C MATERIAIS E MÉTODOS Tese de Doutorado
3.5. Imobilização dos Anticorpos HER-2 nos Dispositivos
GraFETs e GraFETs modificados com Nanopartículas de Au
Visando a imobilização direta dos anticorpos sobre a superfície do grafeno,
empregou-se primeiramente o procedimento desenvolvido por J. Chen et al107, para a
imobilização não-covalente de proteínas sobre as paredes laterais de nanotubos de
carbono e também utilizado por Y. Huang et al 51, em dispositivos do tipo GraFETs.
Neste sentido os GraFETs foram incubados por 2 horas em uma solução 5mmol L-1
de ácido 1-pirenobutanóico éster succinimídico (PASE) em meio de metanol anidro e
lavados com metanol e água deionizada por várias vezes. Em seguida os dispositivos
foram incubados por 12 horas à 4ºC em uma solução de 5 µg/mL de anticorpos
preparados em solução tampão PBS 1mmoL-1 (NaCl 1,5 mmol L-1 e pH 7,4). Após
este período os dispositivos também foram lavados com tampão PBS em excesso.
Após esta etapa os dispositivos foram incubados em uma solução 0,1 mol L-1 de
etanolamina (pH 9) por 1 hora, para desativar os grupos succinimídicos que não se
ligaram aos anticorpos e bloquear as áreas livres de grafeno expostas a solução. Após
a etapa de bloqueio, os dispositivos foram avaliados em relação ao seu potencial para
a detecção do biomarcador HER-2.
A segunda estratégia adotada para a imobilização dos anticorpos sobre o
grafeno foi o emprego da proteína A. Desse modo, os chips contendo os GraFETs
foram incubados em uma solução de 250µg/mL de proteína A em tampão PBS de
concentração 1mmoL-1 (NaCl 1,5 mmol L-1 e pH 7,4) à 4ºC por 12 horas. Após este
período os dispositivos foram lavados também com solução tampão fosfato ((PBS) do
inglês, fosfate buffer saline) 1mmoL-1 (NaCl 1,5 mmol L-1 e pH 7,4) por diversas vezes,
para remover todo e qualquer resíduo de proteína A que não adsorveu ao grafeno.
Em seguida para que ocorresse a imobilização dos anticorpos sobre a proteína A os
dispositivos foram incubados por 6 horas à 4ºC em uma solução de 5 µg/mL de
anticorpos preparados também em solução tampão PBS 1mmoL-1 (NaCl 1,5 mmol L-
1 e pH 7,4). Após este período os dispositivos também foram lavados com tampão
PBS em excesso e posteriormente incubados por 30 minutos e lavados em seguida
com a mesma solução de PBS 1mmol L-1 pH 7,4/ 0,1% de BSA, visando que a proteína
BSA recobrisse qualquer parte de grafeno exposta, evitando assim, interações não
específicas entre os antígenos e a superfície do grafeno. Após todas estas etapas, o
dispositivo estava pronto para realização do imunoensaios. Adotou-se o mesmo
69
Silva, C. C. C MATERIAIS E MÉTODOS Tese de Doutorado
procedimento para realizar a imobilização dos anticorpos HER-2 nos dispositivos
GraFETs contendo as nanopartículas de Au.
Após a imobilização dos anticorpos sobre a superfície do grafeno, os
dispositivos GraFETs que não foram empregados de imediato nos imunoensaios
foram estocados em geladeira, à 4º C, em meio de solução tampão PBS, pH 7,4.
3.6. Determinação do Ângulo de Contato
Com o intuito de se investigar se a adsorção da proteína A ocorreu de forma
efetiva sobre a superfície do grafeno CVD transferido para o substrato de Si/SiO2 300
nm de espessura, foram realizadas medidas de ângulo de contato empregando um
equipamento modelo Attension Theta, da Biolin Scientific. As medidas foram
realizadas em relação a gotas de água deionizada (18 MΩ cm de resistividade) com
um volume de 8µL, que foram depositadas através de uma seringa na superfície das
amostras. As imagens de ângulo de contato estático foram registradas 3 segundos
após a deposição das gotas, através de uma câmera CCD (do inglês, charge coupled
device). Uma reta tangente foi ajustada sobre a interface gota-substrato nas imagens
e o ângulo formado entre a reta tangente e a linha de base foi empregado para indicar
o ângulo de contato entre a interface sólido-líquido. Os valores de ângulo de contato
reportados são uma média de 14 a 20 medidas, para o substrato de Si/SiO2, Si/SiO2
– grafeno e Si/SiO2 – grafeno – Proteína A, sendo utilizado os valores de ângulo de
contato médio (da direita e esquerda).
3.7. Caracterizações por Espectroscopia Raman e de
Fotoelétrons Excitados por Raios X (XPS)
As análises por espectroscopia Raman foram conduzidas utilizando um
equipamento Renishaw 1000 equipado com um microscópio confocal com resolução
espectral de 1 cm-1 usando um laser de argônio de 514 nm à 10 mW e tempo de
aquisição de 10 s. Já os espectros de XPS foram obtidos em um espectrômetro da
Thermo Scientific K-Alpha, com uma fonte monocromatizada de Al Kα com resolução
de 0,100 eV e energia de passagem de 50 eV e tamanho de ponto de amostragem de
400 µm. Os espectros de XPS foram deconvoluídos empregando-se o software
Avantage Data System (Thermo Scientific).
70
Silva, C. C. C MATERIAIS E MÉTODOS Tese de Doutorado
3.8. Caracterização por Espectrofotometria Uv-Visível
Foram obtidos espectros de absorbância da solução de nanopartículas de
ouro sintetizadas empregando um espectrômetro da Agilent Uv-Vis, modelo 8453 em
cubetas de quartzo.
3.9. Micrografias
As análises de microscopia da superfície das lâminas de Si/SiO2 contendo
os padrões de eletrodos, o grafeno e as nanopartículas de Au foram realizadas
utilizando-se um microscópio eletrônico de varredura por emissão de campo da Zeiss
Sigma, modelo 8100 e um microscópio eletrônico de varredura por emissão de campo
de alta resolução da FEI, modelo Inspect. Foram também obtidos espectros de energia
dispersiva de raio X (EDX), das amostras de grafeno modificadas com as
nanopartículas de Au, empregando um detector de deriva de silício (SDD) modelo X-
Max 80 mm2 da Oxford Instruments.
As nanopartículas de Au sintetizadas foram caracterizadas através de
imagens obtidas no microscópio eletrônico de varredura por emissão de campo de
alta resolução da FEI (Inspect) no modo transmissão (do inglês, scanning transmission
electron microscopy (STEM)), onde as nanopartículas de Au foram depositadas em
grades de Au recobertas com um filme de carbono, obtidas da Ted Pella.
3.10. Caracterização por Microscopia de Força Atômica (AFM)
Foram obtidas imagens topográficas de AFM das amostras de grafeno CVD
antes e após a imobilização das nanopartículas de Au. Para isso utilizou-se um
Microscópio de força atômica da Nanosurf, com um controlador modelo C3000 com
24 bits, com um cabeçote modelo Flex AFM. As imagens foram obtidas através do
modo contato intermitente, empregando-se ponteiras de Si recobertas com uma liga
de Pt/Ir, de 10 nm de espessura, da marca Nanosensors, com constante de força
nominal de 2,8 N/m e frequência de ressonância de 75 kHz. O software empregado
para a aquisição das imagens foi o Nanosurf c3000, versão 3.5.0.29 e para o
tratamento das respectivas imagens o Gwyddion (32 bits).
71
Silva, C. C. C MATERIAIS E MÉTODOS Tese de Doutorado
3.11. Caracterização Elétrica
A caracterização elétrica dos dispositivos GraFETs foi realizada utilizando-
se um Semiconductor Characterization System 4200 CV analyzer 590 da Keithley,
equipado a um microscópio óptico de alto desempenho da marca Microzoom II
(Cambridge Instruments) e acoplado à três micromanipuladores modelo 600 (MM),
com pontas de tungstênio. Para as medidas em solução, uma das pontas de
tungstênio foi substituída por um microeletrodo de referência de Ag/AgCl de fabricação
própria como eletrodo de porta. Todas as medidas elétricas foram executadas à 25ºC
e na ausência de luz. Para os ensaios de monitoramento de pH e detecção da proteína
BSA e dos antígenos HER-2, aguardava-se um tempo de 10 minutos antes de se
iniciar as medidas, visando uma maior estabilidade da resposta dos biossensores
GraFETs.
3.11.1. Fabricação do Microeletrodo de Referência de Ag/AgCl
Para a fabricação do microeletrodo de referência de Ag/AgCl, utilizou-se
um potenciostato PGSTAT30 da marca Autolab, equipado com o software GPS e uma
célula eletroquímica composta por três eletrodos, sendo o eletrodo de referência de
Ag/AgCl (KCl 3 mol L-1), o auxiliar um fio de platina helicoidal e o eletrodo de trabalho
um fio de Ag de 500 µm de espessura. Uma solução de ácido clorídrico 1mol L-1 foi
empregada como eletrólito suporte e fonte de íons cloreto. Para promover a oxidação
controlada do fio de Ag, utilizou-se a técnica de cronopotenciometria galvanostática,
onde uma corrente de 50 µA foi aplicada ao fio de Ag por 30 min. Após a formação da
camada de AgCl sobre o fio de Ag, este foi inserido em um microcapilar de vidro
preenchido com solução 3 mol L-1 de KCl. Aguardou-se um período de 24 h para a
completa estabilização do eletrodo e este teve o seu potencial de eletrodo avaliado
em relação a um eletrodo de Ag/AgCl (KCl 3 mol L-1) comercial da marca Metrohm,
através de uma medida de potencial de circuito aberto realizada por 180 s em solução
de KCl 1 mol L-1 e empregando um eletrodo de fio de platina helicoidal como auxiliar.
72
Silva, C. C. C MATERIAIS E MÉTODOS Tese de Doutorado
3.11.2. Caracterização por Espectroscopia de Impedância
Eletroquímica (EIS)
A capacitância interfacial do grafeno foi determinada através de medidas
de espectroscopia de impedância eletroquímica baseado no método proposto por Xia
et al 37. Para isso utilizou-se um potenciostato PGSTAT30 da marca Autolab, equipado
com o software FRA 4.8, para o controle da frequência e potencial aplicado. Uma
célula eletroquímica composta por três eletrodos foi empregada, sendo o eletrodo de
referência de Ag/AgCl saturado, o auxiliar um fio de platina helicoidal e o eletrodo de
trabalho, uma monocamada de grafeno CVD sobre um substrato de SiO2/Si, onde
apenas o grafeno foi exposto a solução (através da delimitação de área com PDMS)
e o contato elétrico se deu através de uma fita de cobre. Os espectros de impedância
foram obtidos em solução tampão PBS 1mmol L-1 em meio de NaCl 1,5 mmol L-1,
aplicando-se uma faixa de potencial de -600 a 400 mV vs Ag/AgCl, à uma frequência
fixa de 100 Hz empregando uma amplitude de perturbação de 10 mV. Todos os
experimentos foram conduzidos no interior de uma gaiola de Faraday. A Figura 16
exibe uma foto de um dos dispositivos (eletrodo de trabalho) empregado para as
medidas de EIS.
Figura 16. Imagem do dispositivo empregado a base de grafeno em substrato de SiO2/Si,
como eletrodo de trabalho para a obtenção dos espectros de EIS.
73
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
4. CAPÍTULO IV - RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Caracterização dos Chips Fabricados
Como detalhado na seção experimental, a parte inicial deste trabalho
envolveu a fabricação de conjuntos de eletrodos metálicos sobre uma lâmina de
Si/SiO2 de 4 polegadas. A Figura 17 (a) exibe uma imagem de um chip contendo os
pads e linhas de contato e os pares de eletrodos de fonte e dreno. Como pode-se
observar, ao todo são 64 pares de eletrodos, onde cada um deles estão conectados
a um eletrodo de fonte comum e os outros eletrodos possuem separadamente seus
contatos de dreno (Figura 17 (b)). Esta configuração permite com que os 64 eletrodos
sejam analisados simultaneamente e de forma independente. A distância máxima
entre os pares de eletrodos é de 12 μm e a largura dos eletrodos é de 20 µm, assim
como demonstrado na ampliação da Figura 17 (c).
Figura 17. (a) Imagem de microscopia ótica de um chip produzido. As diferentes estruturas
neste são indicadas pelas setas. A região dentro do retângulo branco é mostrada em maior
magnificação na Figura B. (b) Imagem de microscopia ótica de uma região do chip mostrando
alguns pares de eletrodos de fonte e dreno. (c) Ampliação da região marcada pelo retângulo
branco em B. A imagem de microscopia ótica exibe um dos 64 pares de eletrodos formados
no chip. A distância entre cada par de eletrodos é de 12 μm e o comprimento de 20 μm.
É importante salientar que os pares de eletrodos foram fabricados sobre
um substrato isolante, portanto, não há passagem de corrente entre os pares de
eletrodos. Isto é, após a etapa de fabricação dos eletrodos a resistência elétrica entre
o terminal de fonte e qualquer um dos drenos é da ordem de giga ohms. Esta
observação é extremamente importante, pois a imobilização da monocamada de
grafeno entre os eletrodos de fonte e dreno permitirá a passagem de corrente elétrica
entre estes terminais.
74
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Em uma lâmina de Si/SiO2 de 4 polegadas foi possível produzir 42 unidades
de chips, sendo cada um deste composto por 64 pares de eletrodos de fonte e dreno,
que na etapa seguinte de fabricação darão origem aos GraFETs, desse modo, até ao
processo final de fabricação, será possível obter 2688 GraFETs.
4.2. Imagens de Microscopia Ótica e Eletrônica de Varredura
(MEV) do Grafeno Crescido sobre Substrato de Cu
Com o intuito de se obter as primeiras evidências sobre a eficiência do
processo de crescimento do filme de grafeno via CVD, foram realizadas imagens de
microscopia ótica (Figura 18) e eletrônica de varredura (Figura 19) da folha de cobre
antes (a) e após (b-c) o crescimento do filme de grafeno.
Figura 18. Imagem de microscopia ótica da folha de cobre antes (a) e após (b) o crescimento
do grafeno. Magnificação de 40x.
A Figura 18 (a) exibe a imagem de uma típica folha de cobre, sendo
possível observar as ranhuras do polimento. Após o crescimento do filme de grafeno
(Figura 18 (b)), é possível observar que a folha de cobre mudou de coloração, exibindo
um brilho mais intenso, já que a camada de óxido de cobre nativo foi removida durante
a etapa de recozimento15. Além disso, a Figura 18 (b) exibe os típicos grãos de cobre
(destacados pelas setas amarelas) com tamanhos que variam de 20 a 200 µm 12.
75
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 19. Micrografias de MEV da folha de cobre antes (a) e após (b-c) o crescimento do
grafeno.
As imagens de micrografia de MEV (Figura 19) permitiram uma análise
mais detalhada da folha de cobre antes (Figura 19 (a)) e após (Figura 19 (b-c) o
crescimento do filme de grafeno. Na Figura 19 (b) os grãos de cobre podem ser
claramente visualizados devido ao contraste de cor. Mais detalhes sobre a morfologia
do grafeno são revelados na imagem da Figura 19 (c), de maior magnificação. As
setas em vermelho indicam a presença de dobras ou “rugas” no filme de grafeno, que
são comumente originadas durante etapa de resfriamento, devido a diferença
significativa entre os coeficientes de expansão térmica do cobre (24x10-6 K-1) e do
grafeno (-6x10-6 K-1). Assim, o coeficiente de expansão térmica negativo do grafeno
sugere que ocorra o encolhimento significativo do cobre durante o processo de
resfriamento, o que induz um estresse mecânico sobre o grafeno, que é liberado na
forma de “rugas” 12,108,109. Estas “rugas” no grafeno são também encontradas
(b)(a)
(c)
76
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
atravessando as bordas dos grãos de cobre (indicado pelas setas em amarelo), sendo
este um indicativo que o filme de grafeno crescido é contínuo15.
A Figura 19 exibe imagens de microscopia ótica (a) e de MEV (b) do grafeno
obtido via processo CVD e transferido sobre a superfície de uma lâmina de Si/SiO2
com um óxido de 300 nm de espessura, antes da realização do processo de
recozimento.
Figura 20. Imagem de microscopia ótica (a) e de MEV (b) de uma monocamada de grafeno
obtida via processo CVD transferida sobre um substrato de Si/SiO2 com um óxido de 300 nm
de espessura, antes da etapa de recozimento.
A imagem de microscopia ótica (Figura 20 (a) exibe a típica coloração de
uma monocamada de grafeno transferida no topo de um substrato de Si/SiO2 com um
óxido de 300 nm de espessura, já a área destacada em branco, possui uma coloração
mais escura, que pode estar relacionada com o crescimento de uma bi camada de
grafeno, como reportado previamente por Blake et al. 110. A seta em amarelo, destaca
a região de interface entre o grafeno e o substrato.
Através da análise da Figura 20 (a e b) é possível se obter informações
sobre a eficiência do processo de crescimento de grafeno via CVD e transferência do
mesmo para substratos de Si/SiO2. Desse modo, é possível observar que foi obtido
um filme homogêneo e contínuo em grande extensão, não sendo possível a
visualização de grandes fissuras neste. O processo de transferência também foi
eficiente, já que o filme se mostrou “limpo” nesta escala de visualização, praticamente
isento de resíduos de partículas metálicas e de PMMA, como pode ser comprovado
na micrografia exibida na Figura 20 (b). Além disso, é possível visualizar na
micrografia exibida na Figura 20 (b) dobras (destacadas pelas setas vermelhas) no
77
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
filme de grafeno, que é um inconveniente do processo de crescimento do grafeno via
CVD em substratos de Cu.
4.3. Caracterização do Grafeno Transferido Para o Substrato de
Si/SiO2 via AFM
Apesar de as imagens de microscopia ótica e eletrônica de varredura
(Figuras 20 (a-b)) exibirem que o filme de grafeno transferido para os substratos de
Si/SiO2 se mostrou “limpo”, apenas através das imagens topográficas obtidas via AFM,
é possível se obter maiores detalhes sobre a superfície do grafeno crescido, bem
como estimar o número de camadas crescida.
Com este intuito, foram obtidas imagens topográficas de AFM do grafeno
transferido para o substrato de Si/SiO2 antes e após o processo de recozimento em
ultra-alto vácuo, conforme exibido na Figura 21.
Figura 21. Imagens obtidas por AFM do filme de grafeno crescido via processo CVD e
transferido para um substrato de Si/SiO2 com 300 nm de espessura, antes (a) e após (b-c) o
processo de recozimento em ultra-alto vácuo. Em (d) o perfil de sessão transversal da região
de linha pontilhada exibida em (c).
78
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
A imagem da Figura 21 (a) revela que o processo convencional de remoção
do PMMA via banho de acetona, seguido de limpeza orgânica, não é suficiente para
remover todo o polímero, sendo possível visualizar os resíduos de PMMA sobre a
folha de grafeno (pontos em branco). Esta mesma dificuldade, em remover os
resíduos de PMMA apenas com o protocolo convencional de limpeza em acetona,
também foi reportado por H. Park et al.111.
As Figuras 21 (b-c) exibem imagens de AFM após o processo de
recozimento, onde é possível visualizar que o filme de grafeno se encontra
praticamente livre de resíduos de PMMA, confirmando assim, a importância de se
realizar o recozimento das amostras. O processo de recozimento garante que a
superfície do grafeno esteja limpa, possibilitando assim uma melhor adsorção e
imobilização de espécies de interesse sobre a sua superfície. Além disso, a remoção
do PMMA, que é um polímero de natureza isolante, garante a manutenção da elevada
condutividade elétrica do grafeno. As imagens de AFM (Figura 21 (b-c) também
evidenciaram a presença das “dobras” típicas do filme de grafeno crescido, assim
como, sua homogeneidade, como discutido anteriormente na sessão 4.2.
A partir de uma pequena região do filme de grafeno que exibia uma
interface com o substrato de Si/SiO2 (linha pontilhada em branco na Figura 21 (c)) foi
possível estimar a espessura da camada de grafeno crescida, conforme exibido na
Figura 21 (d), senda esta de aproximadamente 0,6 nm, que é característica para uma
monocamada de grafeno crescida via processo CVD112,113.
4.4. Caracterização do Grafeno CVD via Espectroscopia Raman
A espectroscopia Raman, é uma ferramenta valiosa para caracterização da
qualidade do grafeno produzido, bem como a eficácia do processo de obtenção de
monocamadas de grafeno via CVD, já que é possível obter uma estimativa da
quantidade de camadas de grafeno presente na amostra, ou seja, se esta se trata de
uma monocamada, uma bicamada, poucas camadas ou multicamadas de
grafeno114,115.
A banda G, localizada a aproximadamente 1580 cm-1, é caracterizada como
um espalhamento Raman de primeira ordem e está presente em todos os espectros
Raman de sistemas de carbono com hibridização sp2. Esta banda é originada do
79
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
estiramento da ligação C-C no plano. Já as bandas G´(aproximadamente 2700 cm-1)
e D (1350 cm-1) são provenientes de um processo de dupla ressonância, sendo a
banda G´um harmônico de segunda ordem de um plano de vibração diferente da
banda D. A banda G* (2450 cm-1) também é caracterizada por um processo Raman
de dupla ressonância116-122.
Figura 22. Espectro Raman representativo (a) da amostra de grafeno crescido via processo
CVD transferido para um substrato de Si/SiO2 com um óxido de 300 nm de espessura exibindo
as típicas bandas G´(2692 cm-1), G* (2446 cm-1), G (1582 cm-1) e D (1351 cm-1). Em (b)
espectro exibindo a banda G composta por uma única Lorenztiana. (c) Exibe espectros Raman
obtidos em áreas distintas do filme de grafeno. (d) Razão da intensidade dos picos G´/G
obtidos a partir dos espectros de Raman exibidos em (c). Espectros obtidos com um laser
com 𝜆 =514 nm.
Como exibido na Figura 22 (a) é possível visualizar um pico a 1582 cm-
1(banda G) e outro de intensidade 3 vezes maior em relação a este (banda G´) a 2692
cm-1. O formato e intensidade da banda G´ podem trazer informações sobre o número
de camadas da amostra de grafeno, bem como a ordem de empilhamento
80
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
destas115,123,124. A partir da análise mais detalhada da Figura 22 (b) é possível
visualizar que a banda G´ é composta por uma única Lorentziana simétrica a uma
largura à meia altura (FWHM, do inglês full width at half maximum) de 34 cm-1, sendo
demonstrado por Bhaviripudi et al 112 o valor de 35 cm-1 um indicativo de uma
monocamada de grafeno crescida via processo CVD. Além disso, os autores
demonstraram também que quando a relação entre a intensidade dos picos IG´/IG
pertencer ao intervalo entre 2-5, o grafeno crescido também pode ser caracterizado
como uma monocamada, sendo que o valor extraído do espectro da Figura 22 (a) foi
de 3,2.
A banda D está relacionada com uma desordem na rede, ou seja, com a
presença de defeitos na estrutura do grafeno. A intensidade desta banda está
associada com a presença de bordas (plano edge) e limites de subdomínios sp2 122.
Como pode ser observado na Figura 22 (a) a intensidade da banda D é extremamente
baixa, de 0,01, quase não sendo visualizada, sugerindo assim, que a mostra de
grafeno CVD crescida pelas condições otimizadas por este trabalho, é praticamente
livre de defeitos.
A Figura 22 (c) exibe espectros Raman obtidos em 8 áreas distintas do filme
de grafeno crescido, onde pode ser visualizado que os espectros praticamente não
exibem a banda D. A Figura 22 (d) exibe a relação de intensidade entre os picos G´/G,
extraídas a partir dos espectros de Raman exibidos na Figura 8 (c), sendo que a
relação G´/G obtidas foram maiores que 2, caracterizando a amostra de grafeno como
uma monocamada, estando este resultado de acordo com a estimativa de espessura
obtida via sessão transversal na imagem de AFM (Figura 22 c-d). Deste modo,
através do método de crescimento de grafeno via processo CVD empregado neste
trabalho, foi possível obter grandes áreas de grafeno monocamada livre de defeitos,
sendo estas características fundamentais para o desenvolvimento de GraFETs com
elevada sensibilidade elétrica para a detecção de biomoléculas.
81
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
4.5. Transferência do Grafeno Obtido via CVD para o Substrato
de Si/SiO2/Eletrodos e Fotogravação de Padrões sobre o
Grafeno
Após a confirmação do sucesso na síntese e transferência do grafeno em
substratos de Si/SiO2, o processo de transferência descrito no item 3.3.4 foi
empregado para se obter a transferência de uma grande área de grafeno de 3 x 2
polegadas para uma lâmina de Si/SiO2 (4 polegadas) contendo os padrões de
eletrodos de Ti/Pd como pode ser visto na Figura 23.
Figura 23. Fotografia de uma lâmina de 4 polegadas de Si/SiO2/CVD-Grafeno com os padrões
de eletrodos (Ti/Pd) mostrando os 2668 GraFETs fabricados. Inserido a imagem de um chip
isolado, contendo os 64 GraFETs ao lado de uma moeda de 1 centavo de dólar.
Como pode ser visto na Figura 23 a monocamada de grafeno cobriu o topo
dos dispositivos, porém era necessário remover todo o grafeno que estava depositado
fora das regiões dos eletrodos de fonte e dreno, para evitar que ocorra um curto-
circuito entre os dispositivos. Dessa forma o processo de corrosão por plasma de O2
82
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
necessitava ser empregado. Para isso, primeiramente as regiões entre os eletrodos
de fonte e dreno com grafeno foram protegidas com um padrão de fotoresiste, através
do processo de fotolitografia, onde foi empregado o mesmo procedimento descrito no
item 3.3.2, porém desta vez utilizou-se o segundo nível de máscara, que continha
padrões retangulares exatamente alinhados ao centro dos eletrodos de fonte e dreno.
Em seguida empregou-se o processo de corrosão por plasma de O2 para a
remoção do grafeno exposto. Para este processo utilizou-se um plasma de barril
comum fluxo de oxigênio de 50 sccm de O2 a 100 mTorr e 150 W de R.F. (rádio
frequência) por 10 minutos. Após este processo a lâmina foi submetida a uma limpeza
orgânica, para remoção do fotoresiste. A Figura 24 exibe imagens de microscopia
ótica de um par de eletrodos de fonte e dreno após a transferência do grafeno (a),
após a transferência do padrão de fotoresiste entre os eletrodos e corrosão do grafeno
via plasma de O2 (b) e por fim após a remoção dos padrões de fotoresiste via limpeza
orgânica (c), onde se vê claramente o grafeno depositado entre os eletrodos de fonte
e dreno.
83
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 24. Imagens de microscopia ótica dos eletrodos de fonte e dreno, após a transferência
do grafeno (a), do padrão de fotoresiste e corrosão por plasma de oxigênio (b) e remoção do
fotoresiste (c).
(a)
grafeno
(c)
grafeno
(b)
grafeno
+
fotoresiste
84
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
A figura 25 exibe uma micrografia de MEV do grafeno depositado entre os
eletrodos de fonte e dreno, onde é possível visualizar que o grafeno se encontra
praticamente limpo e livre de resíduos de fotoresiste, confirmando assim que o
processo de remoção do fotoresiste foi eficiente.
Figura 25. Micrografia de MEV exibindo o padrão de grafeno entre os eletrodos de fonte e
dreno.
4.6. Caracterização Elétrica dos Dispositivos em Ar
Os chips fabricados foram primeiramente caracterizados eletricamente
como resistores em ar. Foram obtidas curvas corrente vs tensão (I vs V), aplicando
potenciais de -500 a 500 mV entre eletrodos de fonte e dreno, para mais de 200
conjuntos de eletrodos. A Figura 26 (a) exibe a curva I vs V representativa para um
típico GraFET e a Figura 26 (b) um histograma obtido a partir dos valores de
resistência extraídos das curvas I vs V para mais de 200 pares de eletrodos de fonte
e dreno.
85
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 26. a) Curva corrente (I) em função da voltagem (V) aplicada para um típico GraFET.
(b) Histograma exibindo uma distribuição normal para os valores de resistência extraído de
diferentes conjuntos de eletrodos.
A característica linear da curva I vs V (Figura 26 (a)), indica que o contato
estabelecido entre Pd/Grafeno é ôhmico125. Já o histograma da Figura 26 (b) mostra
que os valores de resistência elétrica dos dispositivos obedecem uma distribuição
normal, exibindo um máximo entre 1,5 a 2,0 kΩ, sendo o valor médio normal de
1,87±0,78 kΩ. Os valores de resistência podem ser considerados elevados, porém
nestes estão inseridos a contribuição da resistência de contato que surge na interface
grafeno/metal. Devido a diferença entre os valores da função trabalho do grafeno (4,5
eV) e do paládio (5,6 eV)126, há o estabelecimento de uma barreira de potencial. Esta
barreira de potencial ocasiona a diminuição da injeção de portadores de carga do
metal para o grafeno, contribuindo assim, para o aumento do valor de resistência
global dos dispositivos. Contudo, este é um problema comum para dispositivos do tipo
FET a base de grafeno. Neste sentido, inúmeros trabalhos na literatura vêm buscando
obter o entendimento aprofundado dos fatores de origem da resistência de contato
nos GraFETs, bem como, estratégias que podem ser adotadas visando a diminuição
da contribuição desta nos valores de resistência global dos dispositivos126-129.
Em geral, os dispositivos não apresentaram grandes variações nos valores
de resistência, o que pode ser um indicativo de que o grafeno produzido via processo
CVD possui homogeneidade.
(a) (b)
86
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
4.7. Passivação dos Eletrodos de Fonte e Dreno
Com o intuito de se realizar medidas em solução aquosa com estes
dispositivos, estes foram passivados com uma camada de fotoresiste AZ 5214 - E.
O processo de passivação consiste em proteger todos os contatos elétricos
dos dispositivos com uma camada de um material que não seja solúvel em água,
deixando assim uma pequena abertura entre os eletrodos de fonte e dreno exposta
para que a monocamada de grafeno possa entrar em contato com a solução aquosa,
permitindo desta forma, que medidas elétricas sejam feitas em solução sem que os
dispositivos entrem em estágio de curto-circuito, ocorra o aparecimento de elevados
valores de corrente de fuga, interações indesejadas entre o analito e os eletrodos
metálicos e ocorra também danos aos eletrodos38.
Para isso, o terceiro de nível de máscara foi empregado e através do
processo de fotolitografia, como descrito no item 3.3.2, as regiões de passivação
foram delimitadas, onde se protegeu com fotoresiste toda a superfície da lâmina,
deixando exposto somente as regiões entre os eletrodos (com uma abertura de 8 µm
de comprimento) e os pads para contato elétrico. Logo após a lâmina passou por um
processo de pós-cura (do inglês pós-bake) na chapa aquecedora à 110ºC por 20
minutos para que ocorresse o enrijecimento e maior aderência do fotoresiste ao
substrato. Figura 27 exibe uma imagem de microscopia ótica do dispositivo após a
passivação com o fotoresiste.
Figura 27. Imagem de microscopia ótica dos eletrodos de fonte e dreno de Ti/Pd contendo o
grafeno após a passivação com o fotoresiste.
87
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
4.8. Caracterização Elétrica do Microeletrodo de Referência
Ag/AgCl Fabricado
Antes de se realizar as medidas elétricas com os GraFETs em solução, foi
primeiramente realizada a caracterização elétrica do microeletrodo de referência de
Ag/AgCl saturado com 3 mol L-1 de KCl frente a um eletrodo de Ag/AgCl (KCl 3 mol L-
1) comercial da Metrohm através da medida de potencial de circuito aberto. Como
pode ser visualizado na Figura 28 (a) o micro eletrodo de fabricação própria
apresentou uma diferença de potencial de apenas aproximadamente 2 mV vs Ag/AgCl
(3 mol L-1) comercial, sendo assim este valor aceitável, já que o valor limite é de 10
mV130,131.
A Figura 28 (b) exibe uma imagem do microeletrodo fabricado em relação
a um lápis grafite com ponta de 500 µm, exemplificando as dimensões miniaturizadas
do mesmo.
Figura 28. (a) Medida de potencial de circuito aberto frente a um eletrodo comercial de
Ag/AgCl (3 mol L-1). Experimento realizado em meio de solução KCl 1 mol L-1 e empregando
um eletrodo de fio de platina helicoidal como auxiliar. (b) Imagem do microeletrodo de Ag/AgCl
(3 mol L-1) fabricado para as medidas elétricas com os GraFETs.
88
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
4.9. Caracterização Elétrica dos GraFETs em Solução Eletrolítica
Para se realizar as medidas em solução, utilizou-se da configuração exibida
na Figura 29, onde um microeletrodo de referência de Ag/AgCl foi utilizado para aplicar
a voltagem de gate.
Figura 29. Imagem da configuração empregada para as medidas elétricas com o GraFET em
solução.
Primeiramente foi avaliado se os dispositivos respondiam ao efeito de
campo em uma solução tampão fosfato de sódio pH 7,00 de concentração 10 mmol
L-1 e força iônica ajustada para 50 mmol L-1 com nitrato de sódio. Assim obteve-se a
curva característica de saída para o GraFET, corrente que flui entre o eletrodo de fonte
e dreno (Ids) vs voltagem aplicada entre fonte e dreno (Vds) de -100 a 100 mV (com
resolução de 10 mV), variando-se a voltagem no eletrodo de gate, (Vg), de -1 a 1 V,
com incrementos de 250 mV, como pode ser visto na Figura 30.
89
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 30. Curva representativa de saída, Ids vs Vds variando Vg de -100 a 100 mV (com
resolução de 10 mV) em solução tampão fosfato de sódio pH 7,00 de concentração 10 mmol
L-1 e força iônica ajustada para 50 mmol L-1 com nitrato de sódio para o GraFET.
A Figura 30 mostra que quando uma voltagem é aplicada entre os eletrodos
de fonte e dreno, uma corrente pode ser observada. Esta corrente é proporcional a
Vds e pode ser modulada com Vg, comprovando assim que os portadores de carga no
GraFETs respondem ao efeito de campo. Onde é possível observar que a corrente Ids
é desenvolvida mesmo com a aplicação de valores de Vg positivos e negativos. Desse
modo a monocamada de grafeno apresenta condução tanto por elétrons quanto por
lacunas, podendo se comportar como um semicondutor tipo n e ou tipo p28,38.
90
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 31. Curva representativa de transferência (em preto), Ids em função de Vg (resolução
10 mV) para um Vds de 100 mV para um típico GraFET obtida em 1mM PBS pH 7,4. Ao lado
a curva de transcondutância (gm) (em vermelho) em função de Vg derivada a partir da curva
de transferência.
As características de transporte dos portadores de carga no GraFET,
operando em meios líquidos, foram também demonstradas através da curva de
transferência (Ids vs Vg), para um Vds fixo de 100 mV, em meio de solução PBS 1mM
pH 7,4 (Figura 31, em preto). A curva de transferência para o GraFET exibiu o típico
formato de V encontrado em FETs a base de grafeno (monocamada)64,132. Como
discutido anteriormente na sessão 1.3, quando o GraFET está operando em meio de
eletrólitos, a condutância no grafeno pode ser modulada através da aplicação de uma
voltagem de porta entre o filme de grafeno e um eletrodo de referência, neste caso
Ag/AgCl, na solução eletrolítica. Desse modo, a voltagem aplicada à porta através do
eletrólito, desloca o nível de Fermi (𝐸𝐹) da monocamada de grafeno, provocando
assim, alterações na condutância do dispositivo. Quando o (𝐸𝐹) atravessa o ponto de
Dirac, potencial de mínima condutividade, o tipo de portador de carga é alterado,
permitindo a condução tanto por lacunas quanto por elétrons, condizente com o
comportamento ambipolar observado na Figura 31. Foram medidos 22 transistores
em diferentes Chips e estes apresentaram em média uma voltagem no ponto de Dirac
91
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
de 0,298 ± 0,077 V. A Figura 32 exibe as curvas representativas de transferência para
cinco GraFETs diferentes, onde é possível se visualizar a voltagem no ponto de Dirac
em cada dispositivo.
Figura 32. Curvas representativas de transferência, Ids em função de Vg (resolução 10 mV)
para um Vds de 100 mV para cinco GraFETs obtidas em 1mM PBS pH 7,4.
Os valores de voltagem no ponto de Dirac extraídos dos GraFETs
desenvolvidos neste trabalho, dependem de uma série de fatores, mas
principalmente, do potencial eletroquímico absoluto do eletrodo de referência
empregado nas medidas (Ag/AgCl) e da função trabalho do grafeno. Como ambos
têm valores semelhantes (4,6 eV133,134 e 4,5 eV135, respectivamente), a voltagem no
ponto de Dirac esperada seria muito mais próximo de zero do que o valor médio, de
aproximadamente 0,3 V. A razão para esta diferença é provavelmente devido a um
efeito de dopagem do tipo p no grafeno, induzida principalmente pelo substrato
-0,8 -0,4 0,0 0,4 0,8
5,0
6,0
7,0
8,0
18,0
19,8
21,6
23,4
33,6
37,8
42,0
46,2
29,1
38,8
48,5
58,2
60,0
72,0
84,0
96,0
Vg (V)
Ids
(
A)
92
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
adjacente ou contaminação na superfície do grafeno (como moléculas de água ou
oxigênio adsorvidos ou contaminação remanescente do processo de fabricação do
dispositivo).
Um dos parâmetros chave para se caracterizar a sensibilidade de
dispositivos do tipo FET e neste caso do GraFET, é a transcondutância (gm). A
transcondutância nada mais é que a modulação da corrente de Ids induzida por uma
pequena variação em Vg. Através das curvas de gm em função de Vg (Figura 31 (em
vermelho)), é possível analisar a capacidade de ganho ou amplificação da corrente
em dispositivos do tipo FET. De acordo com a equação 7 a transcondutância do
GraFET é dada por132,136:
𝑔𝑚 = Δ𝐼𝐷𝑆
Δ𝑉𝐺=
𝑊
𝐿𝜇𝐶𝑖𝑉𝐷𝑆 Equação 7
Assim a corrente que passa pelo “canal” entre os eletrodos de fonte (s) e
dreno (d) no GraFET é proporcional à mobilidade dos portadores de carga (𝜇) e à
capacitância interfacial (Ci), assim a corrente de resposta do dispositivo é diretamente
proporcional à transcondutância.
A partir da curva de gm em função de Vg (Figura 31 (em vermelho)),
derivada a partir da curva de transferência é possível visualizar que a
transcondutância máxima é atingida em ambos os regimes, o governado por lacunas
e por elétrons, atingindo valores de -91µS (lacunas) e 105 µS (elétrons), valores
próximos aos observados por C. Mackin et al38 .
O efeito da voltagem de Vds na magnitude da transcondutância nos
GraFETs também foi avaliado. A Figura 33 exibe gm em função de Vg para diferentes
valores de Vds (100, 50 e 10 mV) para um típico GraFET. É possível visualizar, que
para ambos os regimes, dominado por lacunas e elétrons, a magnitude de gm
aumenta com o aumento de Vds. Isto está associado ao fato do GraFET apresentar
uma característica de saída (Ids vs Vds) praticamente linear neste regime de operação,
comportamento observado também por Y, Lin et al 137. Assim, os GraFETs quando
submetidos a uma voltagem de Vds de 100 mV operam com a maior amplificação do
sinal de Ids.
93
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 33. Transcondutância em função de Vg (resolução 10 mV) para um típico GraFET em
diferentes voltagens de Vds (100, 50 e 10 mV) obtidas em 1mM PBS pH 7,4.
4.10. Determinação da Capacitância Interfacial para o Grafeno
Com o intuito de se caracterizar mais profundamente os biossensores
GraFETs, era necessário se extrair o valor de 𝐶𝑖 desenvolvida na interface grafeno
eletrólito. Nesse sentido foram realizadas curvas C-V à uma frequência fixa de 100
Hz, conforme a configuração apresentada no item 3.11.2. A Figura 34 exibe a curva
C-V obtida apenas para o grafeno, realizada em triplicata.
-0,8 -0,4 0,0 0,4 0,8-200,0
-160,0
-120,0
-80,0
-40,0
0,0
40,0
80,0
120,0
160,0
200,0
gm
(S
)
Vg (V)
Vds
100mV
50mV
10mV
94
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 34. Curva C-V para o grafeno à uma frequência fixa de 100 Hz.
Através da análise da Figura 34, é possível visualizar que a 𝐶𝑖 exibe a
peculiar forma de V, com um valor mínimo de 1,42 µF/cm2 em 40 mV (vs NHE) e que
esta tem seu valor aumentado linearmente, em ambos os lados, atingindo um máximo
em 600 mV de 3,14 µF/cm2. Este formato da curva C-V é devido a contribuição da
capacitância quântica que surge no grafeno e limita o valor da capacitância interfacial;
assim a 𝐶𝑖 é regulada de forma significativa pelas propriedades eletrônicas do grafeno,
em adição às propriedades da solução eletrolítica da interface, conforme demonstrado
também por H. Ji et al40, e discutido no item 1.3.2.
4.11. Sensibilidade Elétrica dos GraFETs à Mudanças de pH
Visando o emprego dos GraFETs como biossensores, estes foram
primeiramente avaliados em relação a sensibilidade a mudanças de pH do meio,
através das curvas de transferência (Ids vs Vg), para um Vds fixo de 10 mV, em meio
de soluções de diferentes valores de pH (3-8) de concentração 10 mmolL-1 e força
iônica ajustada para 50 mmol L-1 com nitrato de sódio. Sendo demonstradas as curvas
representativas na Figura 35.
95
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 35. Curvas representativas de transferência, Ids em função de Vg (resolução 10 mV)
para um Vds de 10 mV para um típico GraFET em diferentes valores de pH de 3 a 8 (força
iônica ajustada para 50 mmol L-1 com nitrato de sódio). A figura inserida mostra a dependência
da voltagem no ponto de Dirac em função do pH.
A Figura 35 mostra que a voltagem no ponto de Dirac é modulada por
mudanças nos valores de pH do meio. O insert da Figura 35, mostra claramente que
com o aumento do pH, a voltagem no ponto de Dirac sofre mudanças para valores
mais positivos, indicando assim, um aumento na dopagem tipo p no grafeno. Isto
ocorre devido a um maior acúmulo de portadores de carga do tipo lacunas em relação
aos elétrons, provenientes do aumento da concentração de íons OH- que se ligam no
plano interior de Helmholtz da dupla camada elétrica, na interface grafeno/eletrólito62,
que torna o potencial de superfície mais negativo. Dessa forma, uma voltagem
positiva maior necessita ser aplicada no eletrodo de porta para compensar este
potencial negativo de superfície, como discutido previamente por Ang et al.62. A partir
do gráfico de voltagem no ponto de Dirac em função do pH do meio, exibido na figura
inserida dentro da Figura 35, foi possível extrair o coeficiente angular da reta, que
representa a sensibilidade do dispositivos em relação a mudanças de pH do meio,
sendo que para os GraFETs desenvolvidos neste trabalho, a sensibilidade obtida foi
de 23mV por unidade de pH, sendo o valor máximo previsto pela equação de Nernst
96
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
de 59mV/pH131. Porém, Y. Ohno et al, também encontraram valores de sensibilidade
próximos a 20 mV/pH, utilizando um GraFET a base de grafeno esfoliado
mecanicamente65.
A sensibilidade de dispositivos do tipo GraFETs a mudanças de pH não
está totalmente compreendida até o momento e apresenta contradições. Enquanto
Ang et al reportaram uma resposta super-Nernstiana, de 99 mV/pH, em GraFETs com
mono,bi e tricamadas de grafeno obtido via crescimento epitaxial 62, W Fu et al68,
demonstraram que GraFETs a base de grafeno CVD, possuem uma baixa
sensibilidade à mudanças de pH, apenas 6 mV/pH e que consequentemente ligações
não específicas de íons na superfície idealizada do grafeno (limpa e livre de defeitos)
não é esperada68. Porém na prática, alguns defeitos na superfície do grafeno e ao
longo das bordas, que são introduzidos durante as etapas de transferência do mesmo
e fabricação do dispositivo, podem estar relacionados com a sensibilidade ao pH.
Estes defeitos, como grupos hidroxilas e carbonílas, podem reagir com prótons do
eletrólito, gerando a “sensibilidade” a mudanças de pH nestes dispositivos68,138.
4.12. Detecção Elétrica de BSA
Após a confirmação da sensibilidade do GraFET a mudanças do pH do
meio, o dispositivo foi avaliado em relação a adsorção e detecção da proteína
albumina do soro bovino (BSA) (peso molecular 66kDa). A BSA é um polipeptídio de
cadeia única, constituída por 583 resíduos de aminoácidos e nenhum resíduo de
carboidratos (ponto isoelétrico (PI) 5,3) e rica em grupos amino, contendo em 16% de
sua composição de átomos de nitrogênio139. Desse modo, esta é considerada uma
proteína modelo para os estudos de imobilização e detecção de biossensores do tipo
FET a base de nanomateriais de carbono65,140.
97
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 36. Curvas representativas de transferência (Ids-Vg) para um Vds de 10 mV para um
típico GraFET em diferentes concentrações de BSA 0,010; 1,00; 10,0; 100,0 e 1000,0 µg mL-
1, preparadas em solução tampão fosfato de sódio pH 7,00 de concentração 10 mmolL-1 e
força iônica ajustada para 50 mmol L-1 com nitrato de sódio. A figura inserida mostra uma
ampliação do gráfico de Ids vs Vg na região do ponto de Dirac.
Como pode ser visto na Figura 36, o GraFET se mostrou sensível a
imobilização e detecção de BSA na superfície do grafeno, onde com o aumento da
concentração de BSA no meio, a voltagem do ponto de Dirac sofreu mudanças para
potenciais menos positivos, seguido da diminuição nos valores de corrente entre fonte
e dreno. O mecanismo mais provável que pode estar governando a resposta do
GraFET em função da adição de BSA à superfície do grafeno é baseado na diminuição
da capacitância interfacial total seguida da queda de potencial na superfície em
relação ao eletrodo de referência. Neste caso, a adsorção da proteína, aumenta a
resistência elétrica e consequentemente provoca a diminuição dos valores de corrente
e deslocamento do potencial para valores menores segundo a lei de Ohm131 .
98
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 37. Dependência do ponto de Dirac do grafeno versus concentração de BSA para um
típico GraFET. A figura inserida exibe um gráfico da dependência do ponto de Dirac do grafeno
versus – log da concentração de BSA.
A Figura 37 exibe a relação entre a voltagem do eletrodo de porta (eletrodo
de gate) no potencial do ponto de Dirac em função da concentração de BSA no meio,
onde é possível se visualizar que mesmo baixos valores de concentração de BSA no
meio, como 10 ng mL-1 (151,5 pmol L-1) induzem mudanças no ponto de Dirac, sendo
que a partir de valores de concentração como 100 µg mL-1 (1,52 µmol L-1) há uma
estabilização neste potencial, ocorrendo uma saturação na superfície do grafeno. A
superfície é coberta de tal maneira que o grafeno não apresenta mais sensibilidade
para detectar a adsorção de camadas moleculares adicionais. Isto pode ser melhor
visualizado a partir do gráfico inserido de –log da concentração de BSA em função da
voltagem no ponto de Dirac, exibindo assim uma relação linear entre 10-4 a 10-8 g mL-
1, como exemplificado na equação da reta abaixo:
𝒱𝒟𝑖𝑟𝑎𝑐 (V) = 0,196 (V) + 0,0154 p [BSA] (g mL-1) Eq. 8
Desse modo, pode-se concluir que o GraFET se mostrou extremamente
sensível a imobilização e detecção de BSA e que provavelmente concentrações muito
0,0 200,0 400,0 600,0 800,0 1000,0
0,26
0,28
0,30
0,32
0,34
3 4 5 6 7 8
0,26
0,27
0,28
0,29
0,30
0,31
0,32
Voltagem
de e
letr
odo d
e p
ort
ano p
onto
de D
irac (V
)
-log [BSA] (g mL-1)
Vo
lta
ge
m d
e e
letr
od
o d
e p
ort
a
no
po
nto
de
Dir
ac
(V
)
[BSA] ( g mL-1)
99
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
menores que 10 ng mL-1 (151,5 pmol L-1) podem ser detectadas, já que o dispositivo
sofreu uma saturação na presença de 100µg mL-1 (1,52 µmol L-1) de BSA. Vale
ressaltar que o GraFET operou em baixíssimas voltagens de Vds, apenas 10 mV.
Baseado nestes estudos, os quais demonstraram que os GraFETs
apresentam uma alta sensibilidade para a detecção de BSA, sendo assim, sensíveis
a adsorção de proteínas em sua superfície, os dispositivos foram então empregados
como biossensores para detecção de biomarcadores de câncer de mama.
4.13. Detecção Elétrica de HER-2 nos GraFETs Através da
Imobilização dos Anticorpos via PASE
A Figura 38 (a) exibe a estrutura molecular do ácido 1-
pirenobutanóico éster succinimídico (PASE) empregado como molécula de ligação
entre a superfície do grafeno e os anticorpos. O PASE se liga à superfície do grafeno
através de interações do tipo 𝜋 − 𝜋 estabelecidas entre seu grupo pireno e a superfície
do grafeno. Assim, a outra extremidade de sua cadeia, que possui o grupo
éster succinimídico, fica livre para se ligar aos anticorpos através de uma reação de
substituição nucleofílica entre os grupos amino dos anticorpos e seu grupo
éster succinimídico, resultando em uma ligação covalente amida107.
A Figura 38 (b) exibem as curvas de transferência representativa para um
GraFET após cada etapa de imobilização e evento de bioreconhecimento entre os
anticorpos-antígenos.
100
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 38. (a) Estrutura molecular do ácido 1-pirenobutanóico éster succinimídico (PASE) e
em (b) curvas representativas de transferência (Ids-Vg) para um Vds de 100 mV para um
GraFET obtidas em 1mM PBS pH 7,4 após a imobilização da molécula ligante PASE,
anticorpo, seguido do bloqueio com etanolamina e adição de 1µg mL-1 da solução de antígeno.
Ao analisar a Figura 38 (b) é possível observar que inicialmente o ponto de
Dirac para o grafeno puro está localizado ao redor de 350 mV e que após a
funcionalização com PASE, ocorreu um pequeno deslocamento na voltagem no ponto
de Dirac para 370 mV, acompanhada de uma queda da intensidade de Ids,
confirmando a adsorção do PASE sobre a superfície do grafeno. Esta variação na
voltagem de Dirac para valores superiores ao encontrado para o grafeno puro após a
adição do PASE, pode estar relacionada com um processo de dopagem molecular do
tipo p, devido aos grupos ésteres succinimídicos serem grupos retiradores de
densidade eletrônica.
Após a imobilização dos anticorpos, um novo deslocamento na voltagem
no ponto Dirac foi observado, porém para valores menores, 320 mV, podendo este
ser um indicativo de que os anticorpos foram aderidos a superfície do grafeno via
ligação covalente com o PASE. Devido ao fato do anticorpo ErbB2/Her2 possuir um
ponto isoelétrico (PI) de 5,58141; ou seja, inferior ao pH da solução tampão PBS (7,4);
essas espécies encontram-se negativamente carregadas. Assim a densidade de
elétrons no “canal” do grafeno é aumentada, resultando em uma dopagem molecular
do tipo n, seguida da diminuição dos valores de corrente Ids, devido ao maior
espalhamento dos portadores de carga do tipo elétrons.
(a) (b)
101
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Após a etapa de bloqueio com etanolamina foi observado uma diminuição
na voltagem de Dirac de apenas -10 mV (310 mV) e com a adição de 1µg mL-1 (10,33
nmol L-1) da solução do antígeno (biomarcador), nenhuma mudança significativa
ocorreu, tanto nos valores de Ids como na voltagem no ponto de Dirac.
Portanto, os GraFETs, com anticorpos imobilizados por esta estratégia, não
apresentaram sensibilidade para detecção de uma concentração elevada do
biomarcador HER-2, possivelmente pela perda da atividade dos anticorpos após o
processo de imobilização. Assim, uma nova estratégia de imobilização dos anticorpos
sobre o grafeno foi adotada, fazendo uso da proteína A.
4.14. Imobilização da Proteína A Sobre o Grafeno e Medidas de
Ângulo de Contato
Existem inúmeras abordagens na literatura sobre a imobilização de
anticorpos sobre grafeno77,84, porém poucas demonstram a imobilização destes
anticorpos de forma orientada, deixando a porção Fab dos anticorpos livre para a
interação específica com os antígenos. Desse modo, optamos por utilizar pela
primeira vez, a proteína A como uma “ponte” para a imobilização orientada dos
anticorpos sobre o grafeno, preservando assim a atividade dos anticorpos. A proteína
A consiste de um polipeptídio de cadeia única e de peso molecular de 42 kDa,
contendo quatro domínios repetitivos ricos em ácido aspártico e glutâmico, com quatro
resíduos de tirosina, mas desprovidos de cisteína142,143. Cada um destes quatro
domínios se ligam com elevada afinidade a porção Fc de imunoglobulinas IgG
(Ka=108/mols)144, como no caso dos anticorpos utilizados neste trabalho. Assim, a
proteína A é classificada como uma superfície receptora estável. A Figura 39
representa a estrutura de um anticorpo e os problemas relacionados com a
imobilização randômica destes e a ligação da proteína A à porção Fc dos anticorpos.
102
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 39. Representação esquemática da estrutura de um anticorpo, mostrando as porções
Fab e Fc e a ligação específica da proteína A com a porção Fc do anticorpo. Em baixo
representação da relação entre a atividade do anticorpo e sua imobilização. Adaptado da
referência144.
Desse modo, era necessário primeiramente investigar se a proteína A
poderia se adsorver na superfície do grafeno CVD, assim, medidas de ângulo de
contato foram realizadas, conforme exibido na Figura 40.
103
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 40. Medidas de ângulo de contato sobre um substrato de Si/SiO2 com 300 nm de
espessura (a), Si/SiO2 - grafeno (b) e Si/SiO2 – grafeno – Proteína A (c). Medidas realizadas
com gotas de água deionizada (resistividade de 18 MΩ. cm).
A Figura 40 (a) exibe o formato da gota de água sobre a superfície
hidrofílica do SiO2, sendo o valor médio de ângulo de contato de 35,77 ± 0,31 º, valor
próximo ao reportado por R. Raj et al. de 36,7º 145. Quando a superfície do SiO2 foi
recoberta pela monocamada de grafeno (Figura 40 (b)), o ângulo de contato medido
aumentou drasticamente para 81,6 ±0,28 º, devido a baixa molhabilidade do grafeno,
o qual é um material de natureza hidrofóbica. O valor encontrado está de acordo com
os reportados na literatura (entre 80-90º), para uma monocamada de grafeno CVD
crescida sobre cobre e transferida para substrato de SiO2 145,146 e próximo ao do grafite
pirolítico altamente ordenado (HOPG, do inglês, highly ordered pyrolytic graphite), de
90,6º 147. Após a proteína A ficar em contato com a superfície do grafeno por 12 horas,
o substrato de SiO2 contendo o grafeno transferido foi lavado repetidas vezes com
tampão PBS pH 7,4, seguido de água deionizada e medidas de ângulo de contato
foram realizadas novamente, conforme exibido na Figura 40 (c). O ângulo de contato
diminui ligeiramente para um valor médio de 68,66 ± 0,97 º, sendo este um indicativo
104
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
que a proteína A foi adsorvida na superfície do grafeno. Esta diminuição no valor de
ângulo de contato está relacionada com o fato da proteína A ter um ponto isoelétrico
(PI) de 5,1, estando assim carregada negativamente quando em contato com a água
deionizada142. Dessa forma a superfície do grafeno se torna menos hidrofóbica devido
a adsorção da proteína A.
Com a confirmação da adsorção da proteína A sobre o grafeno CVD, os
dispositivos GraFETs foram aplicados para a detecção elétrica do biomarcador HER-
2.
4.15. Detecção Elétrica de HER-2 nos GraFETs Através da
Imobilização dos Anticorpos via Proteína A
Primeiramente os dispositivos GraFETs foram avaliados em relação ao seu
potencial para a detecção do biomarcador HER-2, baseado na interação com os
anticorpos imobilizados sobre o grafeno através da proteína A.
A Figura 41 (a) exibe as curvas de transferência para os GraFETs após
cada etapa de imobilização e evento de bioreconhecimento entre os anticorpos-
antígenos.
105
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 41. (a) Curvas representativas de transferência (Ids-Vg) para um Vds de 100 mV para
os GraFETs obtidas em 1mM PBS pH 7,4 após a imobilização da proteína A, anticorpo e
adições de diferentes concentrações de solução de antígenos (10pg – 200ng mL-1). (b)
Variação do potencial no ponto de Dirac do grafeno (∆Vgmin) vs –log da concentração do
antígeno, n=5.
(b)
(a)
106
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Ao analisar a Figura 41 (a) é possível observar que inicialmente o ponto de
Dirac para o grafeno puro está localizado ao redor de 360 mV e que após a adsorção
da proteína A este teve um deslocamento para potenciais menores, ao redor de 300
mV, confirmando assim a adsorção da proteína A sobre o grafeno, conforme
comprovado também pelas medidas de ângulo de contato (item 4.14). Estes
deslocamentos no ponto de Dirac foram observados também após a imobilização do
anticorpo (270mV) e adições de solução contendo os antígenos em concentrações
superiores a 100 pg mL-1 (1,03 pmol L-1), como pode ser melhor visualizado na Figura
41 (b). O mecanismo de detecção neste caso pode estar relacionado aos efeitos de
dopagem por cargas e alteração na mobilidade dos portadores de carga do grafeno
via espalhamento. Como no caso da proteína A, anticorpo e antígeno, possuírem seus
respectivos ponto isoelétricos (PI), 5,1; 5,58 e 5,7; menores que o pH da solução
tampão PBS (7,4), essas espécies encontram-se negativamente carregadas, assim a
densidade de elétrons no “canal” do grafeno é aumentada, resultando em uma
dopagem do tipo n, que pode ser ocasionada devido a uma ascendente mudança do
nível de Fermi, sem alterar a estrutura de banda ou um desvio do ponto de Dirac um
pouco abaixo do nível de Fermi, ou seja, o deslocamento observado do potencial no
ponto de Dirac para valores mais negativos84.
Os GraFETs se mostraram sensíveis a detecção de até 100 pg mL-1 (1,03
pmol L-1) do antígeno, porém exibindo uma faixa linear de 1ng à 200 ng mL-1 (10,33
pmol a 2,10 nmol L-1) (R=0,9854).
Visando verificar o efeito de ligações não específicas na performance dos
GraFETs, foram obtidas as típicas curvas de característica de transferência para os
GraFETs após a imobilização da proteína A, seguida da etapa de bloqueio (sem a
presença dos anticorpos) na presença de soluções de antígenos de 100 pg mL-1 e 10
ng mL-1, sendo estas exemplificadas na Figura 42.
107
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 42. Curvas representativas de transferência (Ids-Vg) para um Vds de 100 mV para um
típico GraFET obtidas em 1mM PBS pH 7,4 após a imobilização da proteína A seguido da
etapa de bloqueio, após a adição de soluções de antígenos (100 pg e 10 ng mL-1).
A Figura 42, revela que na ausência dos anticorpos, os GraFETs
praticamente não exibem sensibilidade à detecção do biomarcador HER-2, já que
após a imobilização da proteína A, seguida da etapa de bloqueio, a voltagem no ponto
de Dirac é de 315 mV e na presença de 100 pg mL-1 de solução de antígeno apenas
um pequeno deslocamento de 10 mV foi observado (305 mV). Com o aumento de
concentração de antígenos para 10 ng mL-1, nenhuma variação na voltagem de Dirac
é observada (305 mV) indicando que não ocorrem ligações entre os antígenos e a
proteína A e BSA, confirmando a efetividade da etapa de bloqueio e o papel dos
anticorpos para a detecção seletiva e sensível dos biomarcadores HER-2.
Com o intuito de se explorar ainda mais o limite da sensibilidade dos
dispositivos GraFETs para a detecção de HER-2, avaliou-se o efeito da imobilização
de nanopartículas de ouro sobre o Grafeno-CVD em relação à diminuição ou não dos
limites de quantificação para o HER-2.
108
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
4.16. Caracterização por STEM e Espectrofotometria UV-Visível
das Nanopartículas de Au Sintetizadas
A Figura 43 (a) exibe uma imagem da solução aquosa das nanopartículas
de ouro obtidas. Como pode ser visto, a solução apresenta uma coloração vermelha
típica de sistemas coloidais de ouro148. Na mesma figura é possível ver o espectro de
absorbância da respectiva solução de nanopartículas de Au exibindo a banda de
Plasmon centrada em torno de 518 nm149, confirmando assim a formação das
nanoestruturas. As nanopartículas de Au foram caracterizadas em relação ao seu
formato e tamanho através de micrografias de STEM no modo campo escuro (Figura
43 (b)) e campo claro (Figura 43 (c)), onde é possível visualizar que as nanopartículas
possuem formato esférico e são relativamente homogêneas em relação ao seu
tamanho. A partir das micrografias da Figura 43 (b e c) e empregando-se o software
Image J, realizou-se uma análise da distribuição do tamanho médio de 697
nanopartículas. Com nos valores extraídos, foi possível confeccionar um histograma
referente ao diâmetro médio destas (Figura 43 (d)), que apresentaram uma
distribuição normal, com o valor médio em 8,01±2,62 nm. Além disso, 37,7% das
nanopartículas, apresentam um diâmetro médio entre 8 a 10 nm e aproximadamente
82 % destas, possuem diâmetro entre 1 a 10 nm. Desse modo, o procedimento
adotado para a síntese das nanopartículas de Au, se mostrou eficiente para a
obtenção de partículas de tamanho considerado pequeno (1 a10 nm).
109
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 43. (a) Imagem da solução de nanopartículas de ouro preparadas e na figura inserida
o espectro de absorbância na região do UV-Visível das mesmas, exibindo a banda de
Plasmon centrada em 518 nm. Micrografia de STEM das nanopartículas de Au depositadas
sobre uma tela de transmissão de ouro com um filme de carbono no modo campo claro (b) e
campo escuro (c). (d) Histograma de distribuição normal do diâmetro médio de 697
nanopartículas de Au.
Após a confirmação de que as nanopartículas de Au foram realmente
formadas e caracterizadas em relação ao seu formato e tamanho médio, estas
estavam prontas para serem imobilizadas sobre a superfície do grafeno CVD.
(a) (b)
300 400 500 600 7000,0
0,4
0,8
1,2
1,6
Ab
so
rbân
cia
(a.u
)
(nm)
(d)
(c)
110
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
4.17. Decorando o Grafeno CVD com Nanopartículas de Au
Após o preparo das nanopartículas de ouro o grande desafio que
necessitava ser superado era como realizar a imobilização destas sobre o grafeno
CVD, sem a introdução de defeitos na rede do grafeno. Atualmente na literatura há
inúmeras estratégias de imobilização de nanopartículas metálicas, porém, em óxido
de grafeno, onde se utiliza os grupos funcionais oxigenados carregados
negativamente destes, como pontos de ancoramento dos cátions metálicos e a
formação das nanopartículas se dá pela redução in situ destes via borohidreto de
sódio ou outros agentes redutores 150,151.
J. Park e colaboradores demonstraram recentemente a imobilização de alta
densidade de nanopartículas de ouro sobre grafeno obtido via CVD e esfoliação
mecânica152, porém nesta abordagem os autores utilizaram de reações de ciclo-
adição via nitreto de perfluorofenil para ancorar as nanopartículas sobre o grafeno.
Desse modo, a estratégia adotada pelos autores para a imobilização das
nanopartículas se dá através de uma ligação covalente, interrompendo assim, a
hibridização sp2 dos átomos de carbono e a conjugação dos elétrons 𝜋 na rede,
introduzindo defeitos que podem ocasionar uma diminuição na condutividade do
grafeno153.
Com base nas dificuldades expostas acima, era preciso desenvolver um
método que possibilitasse a imobilização não-covalente e com elevada densidade e
homogeneidade das nanopartículas de ouro sobre o grafeno. Neste contexto foi
preciso encontrar alguma molécula que possuísse uma alta afinidade para interagir
com a superfície do grafeno e ao mesmo tempo apresentasse elevada afinidade para
ligações com nanopartículas de ouro. Em 2011, E. Voloshina e colaboradores154,
demonstraram pela primeira vez através de simulações baseadas no princípio da
Teoria do Funcional da Densidade (do inglês, density functional theory (DFT)) que
moléculas de piridina podem adsorver fortemente tanto de forma paralela quanto
perpendicular a superfície do grafeno devido à interações intermoleculares do tipo 𝜋 −
𝜋 e interações do par de elétrons livre do nitrogênio piridínico com o grafeno. Desse
modo, o trabalho de Voloshina e colaboradores nos inspirou em utilizar a p-
mercaptopiridina como molécula “ponte” ideal para a imobilização das nanopartículas
de ouro sobre o grafeno, pois além de apresentar o grupo piridínico que interage
fortemente com o grafeno, possuem ainda na posição 1 um grupo tiol, que tem forte
111
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
afinidade para ligar covalentemente ao ouro, configurando uma ligação ácido-base
mole de Pearson155 . A Figura 44 exibe uma representação esquemática das possíveis
formas de orientação durante a interação intermolecular entre a molécula de p-
mercaptopiridina com o grafeno, no modo perpendicular (a) e paralelo (b).
Figura 44. Representação esquemática das possíveis formas de orientação esperadas da
molécula de p-mercaptopiridina em relação a superfície do grafeno. Perpendicular (a), devido
a interação do par de elétrons livre do nitrogênio piridínico com o grafeno e paralelo (b),
quando as interações intermoleculares do tipo 𝜋 − 𝜋 prevalecem. Em ambos os casos é
representado também à ligação do tipo ácido – base mole de Pearson entre a nanopartícula
de ouro e o grupo tiol.
O efeito da interação da p-mercaptopiridina com o grafeno foi
primeiramente avaliado através do espectro de XPS em alta resolução para o
nitrogênio nível 1s, conforme exemplificado na Figura 45.
112
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 45. Espetro de XPS de alta resolução para o N 1s obtido na superfície do grafeno CVD
após a adsorção da p-mercaptopiridina.
A Figura 45 exibe o espectro de XPS de alta resolução para o N 1s, onde
é possível observar um pico proeminente em 399,2 eV, energia característica para
átomos de nitrogênio piridínicos desprotonados156. Desse modo, através da análise
por XPS, foi possível obter a confirmação de que a p-mercaptopiridina foi adsorvida
sobre a superfície do grafeno CVD.
Em seguida, através das imagens de MEV foi possível estudar o papel da
p-mercaptopiridina na imobilização das nanopartículas de Au sobre o grafeno,
conforme exibido na Figura 46 (a-c).
113
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 46. Micrografias de MEV do grafeno CVD depositado sobre um substrato de 300 nm
de SiO2 e com nanopartículas de ouro depositadas em sua superfície, sem (A) e com (B) a
funcionalização com p-mercaptopiridina. Em (C) uma imagem de maior magnificação (200kx)
de (B).
A Figura 46 (a) exibe uma micrografia de MEV do grafeno depositado sobre
uma lâmina de SiO2 após a imersão na solução contendo as nanopartículas de ouro,
porém sem a funcionalização com a p-mercaptopiridina, onde é possível visualizar
que não há nanopartículas de ouro imobilizadas sobre o grafeno. Já a Figura 46 (b)
exibe a micrografia de MEV do grafeno CVD que foi funcionalizado com p-
mercaptopiridina e que posteriormente recebeu a solução contendo as nanopartículas
de ouro, onde é possível visualizar que uma elevada densidade de nanopartículas de
ouro foi imobilizada sobre o grafeno e de forma uniforme. Na Figura 46 (c), que exibe
a micrografia de maior magnificação da mesma amostra, pode-se observar que as
(a) (b)
(c)
114
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
nanopartículas somente foram depositadas sobre o grafeno CVD e não nas regiões
contendo SiO2 exposto, salientando assim, que a p-mercaptopiridina interage apenas
com a superfície do grafeno.
Com o intuito de se obter maiores informações sobre a disposição e
densidade das nanopartículas imobilizadas sobre o grafeno CVD via p-
mercaptopiridina, imagens topográficas de AFM foram obtidas, conforme exibido na
Figura 47.
Figura 47. Imagens topográficas obtidas por AFM do grafeno CVD sobre um substrato de 300
nm de SiO2 e com as nanopartículas de ouro imobilizadas em sua superfície após a
funcionalização com p-mercaptopiridina em uma área de 5 x 5 µm (a) e 2,5 x 2,5 µm (b). (c)
Mapa topográfico em 3D da imagem exibida em (b).
As imagens topográficas (Figura 47 (a e b), assim como o mapa topográfico
em 3D, comprovam que uma elevada densidade de nanopartículas de Au foi
imobilizada na superfície do grafeno, corroborando assim com as micrografias de MEV
115
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
(Figuras 46 (b e c). Porém é possível visualizar que a imobilização destas ocorreu de
forma uniforme, praticamente uma monocamada de nanopartículas de Au, onde
regiões de aglomeração ou sobreposição destas são escassas.
A partir da análise das imagens das Figuras 46 e 47, fica claro o papel da
funcionalização com p-mercaptopiridina para a conjugação uniforme e de elevada
densidade de nanopartículas de ouro sobre grafeno CVD. Além disso, a imobilização
das nanopartículas de ouro sobre o grafeno se mostrou extremamente estável, onde
não se observou a lixiviação destas após sucessivas etapas de lavagem.
Para comprovar que as nanopartículas imobilizadas sobre a superfície do
grafeno eram mesmo de ouro, foram obtidos inúmeros espectros de EDX de uma área
da amostra selecionada a partir da micrografia de MEV exibida na Figura 46 (c). Desse
modo foi confeccionado o mapa composicional baseado na linha espectral Lα para o
elemento de Au, de energia característica de 9,712 eV157, conforme mostrado na
Figura 48 (a).
Figura 48. (a) Mapa de composição para o Au (Lα 9,712 eV) de uma região da superfície da
amostra de grafeno-nanopartículas de Au sobre o substrato de Si/SiO2, exibido na Figura X
(c). Inserido o espectro de EDX exibindo as linhas espectrais para o C (Kα 0,277 eV), O (Kα
0,525 eV), Si (Kα 1,739 eV) e Au (M 2,12 eV e Lα 0,9,712 eV). (b) Espetro de XPS de alta
resolução para o Au 4f.
A Figura 48 (a) exibe também o espectro representativo da superfície, onde
é possível identificar as linhas espectrais características para o carbono (Kα 0,277
eV), oxigênio (Kα 0,525 eV) e silício (Kα 1,739 eV), provenientes do substrato e ouro
(M 2,12 eV e Lα 0,9,712 eV)157 devido a presença das nanopartículas. No espectro
116
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
não foi possível identificar as linhas características do átomo de nitrogênio (Kα 0,392
eV) e do átomo de enxofre (Kα 2,307 eV)157, relacionadas com a presença da camada
de p-mercaptopiridina, porém isso pode estar relacionado com a baixa concentração
desta na superfície do grafeno.
Visando identificar o estado químico em que as nanopartículas de ouro se
encontravam após a imobilização na superfície do grafeno, foi obtido o espectro de
XPS em alta resolução para o Au nível 4f, conforme exibido na Figura 48 (b). Através
da análise da Figura 48 (b) é possível verificar o espectro tido como a “impressão
digital” para nanopartículas de ouro de estado de oxidação zero156, exibindo um
dubleto com energias de ligação para o Au 4f7/2 de 83,9 eV e para o Au 4f5/2 de 87,6
eV com o característico ∆ = 3,7eV.
Para averiguar que a imobilização das nanopartículas de ouro sobre o
grafeno CVD via funcionalização com p-mercaptopiridina ocorreu com a conservação
da estrutura sp2, não introduzindo assim defeitos na estrutura do grafeno; espectros
Raman foram coletados em quatro diferentes áreas da amostra, sendo exibidos na
Figura 49 (a).
Figura 49. (a) Espectros Raman obtidos sobre o grafeno CVD decorado com nanopartículas
de ouro em diferentes áreas da amostra. (b) Razão da intensidade dos picos G/D obtidos a
partir dos espectros de Raman exibidos em (a). Espectros obtidos com um laser de 𝜆 = 532
nm.
Na Figura 49 (a) é possível visualizar que as bandas G e G’, foram
preservadas e que ocorreu um pequeno aumento na intensidade da banda D. Este
aumento pode ser mais bem visualizado no gráfico da Figura 49 (b), que exibe a
relação entre a intensidade dos picos G/D, sendo esta de 3,3 a 5,7, valores bem
117
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
inferiores aos encontrados antes do processo de imobilização das nanopartículas, em
geral 19. Este pequeno aumento na intensidade da banda D, não está
necessariamente relacionado com a introdução de defeitos na rede do grafeno, mas
sim, com processos de adsorção na superfície deste, que podem aumentar a
desordem no plano basal56,123. Assim através das medidas de espectroscopia Raman
é possível afirmar que a funcionalização com a p-mercaptopiridina seguida da
imobilização das nanopartículas de Au, preservou, as propriedades elétricas do
grafeno.
4.18. Detecção Elétrica de HER-2 nos GraFETs Modificados com
Nanopartículas de Ouro
O procedimento utilizado para a imobilização das nanopartículas de ouro
sobre o grafeno CVD depositado sobre as lâminas de SiO2/Si foi realizado também
sobre os GraFETs. Após a imobilização das nanopartículas de ouro sobre os GraFETs
utilizou-se o mesmo procedimento descrito no item 3.5, porém agora a proteína A,
pode-se ligar também fortemente à superfície das nanopartículas de ouro. Horisberger
et al.158 realizou em 1985 um estudo sobre a formação de complexos entre proteína
A e nanopartículas de ouro, de diâmetro médio de 11 nm. Os autores demonstraram
que uma monocamada de proteína A é formada ao redor das nanopartículas e que o
número de proteínas adsorvidas está relacionado diretamente com o pH do meio (pH
7,2, 4-12 unidades de proteína A por nanopartícula de Au). O complexo formado entre
as nanopartículas de Au-proteína A é estável, com uma constante de associação de
108 M-1 158.
Após a imobilização da proteína A sobre às nanopartículas de Au, foram
realizados os mesmos procedimentos de imobilização dos anticorpos e etapa de
bloqueio e em seguida o imunoensaio.
118
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 50. (a) Curvas de transferência (Ids-Vg) para um Vds de 100 mV para dispositivos
GraFETs obtidas em 1mM PBS pH 7,4 após a imobilização das nanopartículas de ouro,
proteína A, anticorpo e adições de diferentes concentrações de solução de antígenos (500fg
– 200ng mL-1). (b) Variação da voltagem no ponto de Dirac do grafeno (∆Vgmin) vs –log da
concentração do antígeno, n=6.
(a)
(b)
119
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
A Figura 50 (a) exibe as curvas de transferência para os GraFETs após
cada etapa de imobilização e evento de bioreconhecimento entre os anticorpos-
antígenos. É possível observar que após a imobilização das nanopartículas de ouro
sobre o grafeno a voltagem no ponto de Dirac teve um deslocamento - 30 mV,
comprovando assim a conjugação das nanopartículas de ouro sobre o grafeno. Dong
e colaboradores63 também observaram um deslocamento na voltagem no ponto de
Dirac para valores menores após a imobilização de nanopartículas de ouro.
Também foram observados deslocamentos na voltagem no ponto de Dirac
para valores menores após a imobilização da proteína A, anticorpos e antígenos,
como visualizado anteriormente apenas para os GraFETs sem as nanopartículas
(Figura 41 (a)). O mais impressionante, é que após conjugação das nanopartículas de
ouro sobre os GraFETs, o dispositivo se mostrou sensível à detecção de apenas 500
fg mL-1 (5,17 fmol L-1) do biomarcador HER-2, sendo esta uma concentração
extremamente baixa, como pode ser mais bem visualizado na Figura 50 (b) que exibe
a relação do deslocamento no potencial do ponto de Dirac em função do –log da
concentração de HER-2 (R=0,971).
A incorporação das nanopartículas de ouro sobre os GraFETs realmente
ocasionou uma amplificação adicional no sinal de detecção dos biomarcadores HER-
2 quando comparado com o grafeno “puro”, principalmente diminuindo ainda mais o
limite de quantificação, como pode ser visualizado no gráfico da Figura 51, que
compara as regiões de detecção para o HER-2 utilizando GraFETs sem e com a
incorporação das nanopartículas de ouro.
120
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 51. Variação da voltagem no ponto de Dirac do grafeno (∆Vgmin) vs –log da
concentração do antígeno para os GraFET sem (•) e com (•) as nanopartículas de ouro.
Esta amplificação na detecção dos biomarcadores HER-2 após a
incorporação das nanopartículas de ouro possivelmente resulta da união de dois
fatores, o primeiro é o aumento da área superficial disponível para a imobilização dos
anticorpos, resultando assim, em uma maior quantidade de sítios de ligação para os
antígenos. Já o segundo pode estar relacionado com o aumento da mobilidade dos
elétrons, devido à elevada densidade de carga negativa e elétrons de condução
incorporados com a adição das nanopartículas de ouro. Desse modo, um efeito
sinérgico surge a partir da formação deste nanomaterial híbrido grafeno-
nanopartículas de ouro resultando assim em uma amplificação do sinal de detecção.
Com o intuito de se investigar se a imobilização das nanopartículas de Au,
bem como da proteína A, anticorpos e interações com os antígenos poderiam alterar
os valores de capacitância interfacial no grafeno, foram realizadas curvas C-V (em
triplicata) após cada etapa de imobilização, como exemplificado na Figura 52 (a).
0
-20
-40
-60
-80
-100
-120
-140
-160
-180
-200
Vg
min
(m
V)
Grafeno
Grafeno - Nanopartículas de ouro
Log [Antígeno] (g/mL-1
)
100fg 1g100ng1ng 10ng10pg 100pg
1pg
121
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
Figura 52. Curva C-V (a) e variação da capacitância interfacial mínima (b) para o grafeno à
uma frequência fixa de 100 Hz obtidas em 1mmol L-1 de PBS pH 7,4 após a imobilização das
nanopartículas de ouro, proteína A, anticorpo e adições de diferentes concentrações de
solução de antígenos (1p, 1n e 200ng mL-1). Inserido em (b) o gráfico da variação da
capacitância interfacial mínima em função da adição dos antígenos.
(b)
(a)
122
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
A Figura 52 (a) mostra que após a imobilização das nanopartículas de Au,
houve um aumento no valor da capacitância interfacial em relação ao grafeno puro,
que pode ser melhor visualizado no gráfico de capacitância interfacial mínima em
função da voltagem, na Figura 52 (b). Esse aumento está relacionado com o aumento
de área superficial da interface, pela adição das nanopartículas de Au, bem como a
elevada quantidade de cargas superficiais que estas partículas possuem, que são
capazes de gerar gradientes de campos elétricos, aumentando assim, o número de
dipolos formados na interface, grafeno/nanopartículas de Au e solução eletrolítica159.
Após a adição da proteína A, bem como da imobilização dos anticorpos e
evento de ligação dos antígenos, é possível visualizar na Figura 52 (a) e (b), que a
capacitância interfacial tem seu valor diminuído. Estes resultados podem ser
compreendidos considerando-se que cada espécie adsorvida e/ou ligada sobre a
superfície do grafeno forma uma camada molecular que está em série com a
capacitância interfacial total (𝐶𝑇) da superfície, como mostrado na equação a seguir:
1
𝐶𝑇 =
1
𝐶𝑃𝑟𝑜𝑡𝑒𝑖𝑛𝑎 𝐴 +
1
𝐶𝐴𝑛𝑡𝑖𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜 +
1
𝐶𝐴𝑛𝑡í𝑔𝑒𝑛𝑜 Equação 9
Assim, a capacitância total da superfície tenderá a ser menor com a adição
e formação de novos filmes moleculares sobre ela, diminuindo assim o valor da
capacitância interfacial total. Sendo assim, a capacitância interfacial é um parâmetro
que está relacionado com a resposta dos biossensores GraFETs à imobilização e
interação com proteínas.
Além disso, o gráfico inserido na Figura 52 (b), mostra que a capacitância
interfacial mínima desenvolvida pelo grafeno, é extremamente sensível a eventos de
interações com os biomarcadores HER-2, em concentrações extremamente baixas,
1pg mL-1 e exibindo uma resposta linear em uma faixa de concentração de 1pg mL-1
a 200 ng mL-1. Este resultado abre a perspectiva de empregar o monitoramento da
capacitância interfacial no grafeno, como elemento de transdução e assim,
desenvolver biossensores capacitivos a base de grafeno, de configuração simplificada
e de sensibilidade considerável.
Por fim, realizamos uma busca na literatura de modo a comparar a
performance dos biossensores GraFETs modificados com nanopartículas de Au
produzidos neste trabalho com outros biossensores para a detecção do biomarcador
123
Silva, C. C. C RESULTADOS E DISCUSSÃO Tese de Doutorado
HER-2. A Tabela 2 exibem os limites de quantificação obtidos na detecção do
biomarcador HER-2 pelos principais biossensores reportados na literatura, de
diferentes elementos de transdução. Onde é possível se visualizar que os GraFETs
modificados com nanopartículas de Au desenvolvidos por este trabalho apresentam o
menor limite de quantificação.
Tabela 2. Valores de limite de quantificação alcançados por diferentes biossensores
no monitoramento do biomarcador HER-2.
Tipo de dispositivo Limite de
Quantificação Referência
Imunosensor nanoestruturado do tipo sanduíche
preparados em eletrodos impressos em membranas de
policarbonato (Voltamétrico)
40 ng mL-1 160
Sensores a Ondas Acústicas de Superfície (do inglês,
Surface Acoustic Wave (SAW)) 10 ng mL -1 161
Imunosensor com nanopartículas magnéticas com
enzima marcada (Amperométrico) 26 pg mL-1 162
GraFETs-Nanopartículas de Au 500 fg mL-1 Este
Trabalho
124
Silva, C. C. C CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS Tese de Doutorado
5. CAPÍTULO V - CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS
O presente trabalho descreveu a fabricação de biossensores do tipo
GraFETs em grande escala e a aplicação destes para a detecção ultra-sensível do
biomarcador de câncer de mama HER-2. A elevada sensibilidade elétrica dos
dispositivos GraFETs foi alcançada devido a união de três fatores: o tipo de grafeno
empregado, a imobilização orientada dos anticorpos sobre o grafeno e a incorporação
das nanopartículas de ouro. Neste sentido, destacam-se na sequência as principais
contribuições realizadas por este trabalho.
Através do método de CVD, foi possível sintetizar grandes áreas (3
polegadas) de uma única camada grafeno livre de defeitos, fato confirmado através
dos espectros de Raman e imagens topográficas de AFM.
Exibimos a fabricação de um número massivo, aproximadamente 2668,
biossensores do tipo GraFETs através dos processos convencionais de fotolitografia
e deposição de metais. Sugerindo assim, a possibilidade de incorporação destes tipos
de biossensores em uma escala industrial, visando o desenvolvimento de sensores
para análises clínicas.
Demonstramos pela primeira vez, através da funcionalização da superfície
do grafeno com a p-mercaptopiridina, a imobilização de uma elevada densidade de
nanopartículas de ouro sobre o grafeno, de forma estável e homogênea, sem a
introdução de defeitos na estrutura do grafeno, comprovado através dos espectros
Raman.
A proteína A se demonstrou um agente de ligação ideal para a imobilização
direta e orientada de anticorpos sobre o grafeno, bem como, sobre as nanopartículas
de ouro. Desse modo, a proteína A contribuiu para a manutenção da atividade dos
anticorpos, que se refletiu diretamente na elevada sensibilidade elétrica dos
biossensores.
Assim, aliando a elevada área superficial do grafeno, com as suas
propriedades elétricas diferenciadas, bem como o emprego das nanopartículas de
ouro e da proteína A, como agente de imobilização dos anticorpos sobre estas, foi
possível demonstrar pela primeira vez o desenvolvimento de um sensor altamente
sensível para a detecção do biomarcador de câncer de mama HER-2, sendo possível
detectar concentrações de até 500fg mL-1 (5,17 fmol L-1), fato ainda não reportado na
125
Silva, C. C. C CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS Tese de Doutorado
literatura. Neste sentido o biossensor desenvolvido neste trabalho, possui
sensibilidade elétrica mais do que a necessária para determinar os níveis da proteína
HER-2 encontrados em fluídos corporais, tanto para o diagnóstico precoce do câncer
de mama, quanto para o monitoramento de pacientes que se encontram em fase de
tratamento, permitindo assim, uma avaliação da eficácia deste.
Como perspectivas deste trabalho nós buscamos empregar os sensores
GraFETs para a detecção simultânea de outros biomarcadores de câncer de mama,
já que nem todas as pessoas expressam um mesmo tipo de biomarcador, conferindo
assim uma maior confiabilidade no diagnóstico precoce desta doença. Além disso, o
fato do grafeno ser um material bidimensional e altamente flexível, permite que os
sensores GraFETs, sejam fabricados em substratos plásticos, como a poliimida,
visando assim o desenvolvimento de dispositivos descartáveis, de baixo custo e que
poderiam ser implantáveis nas camadas epiteliais mais externas e permitindo assim
um monitoramento contínuo de tais biomarcadores.
126
Silva, C. C. C REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Tese de Doutorado
6. CAPÍTULO VI - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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