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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL PAULO DA SILVA MIRANDA JÚNIOR AVALIAÇÃO DA ABSORÇÃO DE ÁGUA POR IMERSÃO E DA PERMEABILIDADE EM ARGAMASSA RECICLADA FEIRA DE SANTANA 2011

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

PAULO DA SILVA MIRANDA JÚNIOR

AVALIAÇÃO DA ABSORÇÃO DE ÁGUA POR IMERSÃO E DA PERMEABILIDADE

EM ARGAMASSA RECICLADA

FEIRA DE SANTANA

2011

PAULO DA SILVA MIRANDA JÚNIOR

AVALIAÇÃO DA ABSORÇÃO EM ÁGUA POR IMERSÃO E DA PERMEABILIDADE

EM ARGAMASSA RECICLADA

Trabalho de Conclusão de Curso apre-sentado ao Colegiado do Curso de En-genharia Civil como requisito para a ob-tenção do título de Bacharel em Enge-nharia Civil da Universidade Estadual de Feira de Santana.

ORIENTADORA: Prof.ª Dr.ª Mônica Batista Leite

FEIRA DE SANTANA

2011

PAULO DA SILVA MIRANDA JÚNIOR

AVALIAÇÃO DA ABSORÇÃO EM ÁGUA POR IMERSÃO E DA PERMEABILIDADE

EM ARGAMASSA RECICLADA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Colegiado do Curso de Engenha-

ria Civil da Universidade Estadual de Feira de Santana UEFS como requisito para a

obtenção do título de Bacharel em Engenharia Civil.

Feira de Santana, Bahia, 22 de agosto de 2011.

ORIENTADORA: Prof.ª Dr.ª Mônica Batista Leite

Universidade Estadual de Feira de Santana

Prof.ª Dr.ª Cintia Maria Ariani Fontes

Universidade Estadual de Feira de Santana

Prof. Dr. Washington Almeida Moura

Universidade Estadual de Feira de Santana

Dedico este Trabalho aos meus pais e à minha

avó paterna, que sempre me apoiaram nos

momentos mais difíceis.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a realização deste trabalho primeiramente a Deus, o Cria-

dor de toda a existência.

Aos meus familiares pelo amor, carinho e confiança.

A minha professora e orientadora Dr.ª Mônica B. Leite pelo aprendi-

zado, pela paciência e atenção ao longo do desenvolvimento deste trabalho.

As vigilantes Rosana e Suane pela atenção e palavras de apoio.

Aos colegas de turma pela confiança e torcida.

A todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste

trabalho.

RESUMO

O descarte inadequado dos resíduos de construção e demolição (RCD) é hoje um

grave problema enfrentado pela maioria das cidades brasileiras. A reciclagem deste

material para a produção de argamassas é visto como uma alternativa para a mini-

mização deste problema. Para isso são necessários estudos que avaliem o desem-

penho das argamassas produzidas com estes materiais no que tange a absorção e

permeabilidade, principalmente quando se trata de revestimentos, pois grande parte

das manifestações patológicas está associada à umidade. Desse modo, esse traba-

lho tem como objetivo principal avaliar a absorção e a permeabilidade em argamas-

sas produzidas com diferentes teores de agregado miúdo reciclado (AMR) em subs-

tituição à areia natural. Foram avaliados dois teores de substituição, 50 e 100% de

AMR e a argamassa de referência, com 100% de areia natural. O traço foi fixado em

1:6 (cimento:areia) e a relação água-cimento em 1,1, ajustada para uma consistên-

cia de 260+/- 5mm. Para as argamassas com reciclado, compensou-se em 50% a

absorção do agregado e foi feita adição de superplastificante para ajustar a consis-

tência. Em cada mistura foram avaliadas a absorção de água, índice de vazios e

massa específica (NBR 9778, ABNT, 2005), a permeabilidade pelo método do ca-

chimbo, as resistências à compressão axial e à tração na flexão (NBR 13279, ABNT,

2005). Os resultados obtidos mostram que as argamassas recicladas apresentaram

pequeno acréscimo nos resultados de absorção e índice de vazios, mas mostraram

melhor desempenho quanto à permeabilidade, quando comparadas a argamassa de

referência. Além disso, o desempenho mecânico foi melhor para as duas proprieda-

des avaliadas. Desse modo, a utilização do AMR para a produção de argamassa

mostrou-se vantajosa, sendo uma alternativa para o uso do RCD, evitando assim

seu descarte inadequado.

Palavras-chave: reciclagem; resíduo de construção e demolição; argamassa; ab-

sorção; permeabilidade.

ABSTRACT

The improper disposal of construction and demolition waste (CDW) is now a serious

problem faced by most cities. The CDW recycling for mortar production seems to be

a good alternative to minimize this problem. For this purpose studies are needed to

assess the performance of mortars produced with these materials with respect to ab-

sorption and permeability, especially when it is as wall covering mortar, because

most of the pathological manifestations is associated with moisture. Thus, this study

aims at assessing the absorption and permeability in mortars produced with different

levels of recycled fine aggregate (RFA) in replacement of natural sand. It was eva-

luated two levels of substitution (50 - 100% of RFA) and reference mortar, with 100%

natural sand. The mix was fixed at 1:6 (cement: sand) and water-cement ratio of 1.1,

adjusted to a flow table consistency of 260 ± 5mm. 50% of the absorption rate of ag-

gregate was compensated for recycled mortar, and a superplasticizer addition was

made to adjust the consistency. In each mixture were evaluated water absorption,

voids and density (NBR 9778, ABNT, 2005), permeability, that was tested using a

special tube like a “smoking pipe”, compressive strength and tensile strength (NBR

13279, ABNT, 2005). The results show that the recycled mortar showed slight in-

crease in the absorption and voids content, but showed better performance in terms

of permeability, when compared to the reference. In addition, the recycled mortar

mechanical performance was better for the two properties studied. Thus, the use of

RFA for the production of mortar was found to be advantageous as an alternative to

use CDW, thereby preventing their improper disposal.

Keywords: recycling; construction and demolition waste; mortar; absorption; per-

meability.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Resultado da permeabilidade pelo Método do Cachimbo...................................... 29

Figura 2 Etapas do trabalho de conclusão do curso de Engenharia Civil. ........................... 33

Figura 3 Composição do RCD utilizado para a produção do agregado reciclado ................ 36

Figura 4 Curvas granulométricas do AMN e do AMR .......................................................... 36

Figura 5 Ensaio de determinação do índice de consistência ............................................... 38

Figura 6 Argamassadeira utilizada para produção das argamassas ................................... 39

Figura 7 Prensa hidráulica utilizada nos ensaios de resistência .......................................... 40

Figura 8 Ensaio de tração na flexão .................................................................................... 40

Figura 9 Corpos-de-prova para o ensaio de compressão axial ........................................... 41

Figura 10 Corpo-de-prova sendo levado á ruptura no ensaio de compressão axial ............ 41

Figura 11 Apectos do ensaio de absorção por imersão. (a) balança utilizada para a

pesagem dos cps na condição seca; (b) cps imersos em água para o ensaio

de absorção; (c) momento da fervura dos cps do ensaio de absorção; (d)

pesagem de um cp na condição saturada superfície seca; (e) pesagem do

cp na balança hidrostática ............................................................................... 43

Figura 12 Aspectos do ensaio de permeabilidade: a) Cachimbos de vidro posicionados

na placa; b) Placa posicionada para o ensaio; c) Detalhe de um dos

cachimbos durante o ensaio ............................................................................ 46

Figura 13 Relação entre a resistência à compressão axial da argamassa reciclada e a

resistência à compressão axial da argamassa de referência ........................... 49

Figura 14 Relação entre a resistência à tração das argamassas com teor de reciclado e à

resistência à tração da argamassa de referência ............................................ 51

Figura 15 Relação entre a absorção por imersão das argamassas recicladas e a

absorção por imersão da argamassa de referência ......................................... 53

Figura 16 Relação entre o índice de vazios das argamassas recicladas e o índice de

vazios da argamassa de referência ................................................................. 54

Figura 17 Relação entre as massas específicas da amostra seca, saturada e real das

argamassas recicladas e as massas específicas da amostra seca, saturada

e real da argamassa de referência .................................................................. 54

Figura 18 Média da absorção de água em função do tempo das argamassas pelo Método

do Cachimbo ................................................................................................... 56

Figura 19 Resultado dos coeficientes de absorção de água das argamassas pelo Método

do Cachimbo ................................................................................................... 57

Figura 20 Relação entre a média dos tempos finais de execução do ensaio de

permeabilidade pelo método do Cachimbo das argamassas recicladas e a

média dos tempos finais de ensaio da argamassa de referência ..................... 58

Figura 21 Relação entre a taxa de absorção média pelo Método do Cachimbo das

argamassas recicladas e a taxa média de absorção da argamassa de

referência ........................................................................................................ 60

Figura 22 Resultado da taxa de absorção de água (ml/min) pelo Método do cachimbo

para as argamassas: (a) Referência; (b) 50% de AMR e (c) 100% de AMR .... 61

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Porcentagens de materiais presentes em amostras de entulho coletadas em

Ribeirão Preto (SP) ,e em Salvador (BA) pela LIMPURB, em 1999. .................. 19

Tabela 2 Composição granulometria do agregado miúdo natural e reciclado, utilizados por

Assunção, Carvalho e Barata (2007) para a avaliação de argamassas ............. 21

Tabela 3 Resistência à compressão axial das argamassas estudadas por Assunção;

Carvalho e Barata (2007) aos 7 e 14 dias de idade ........................................... 27

Tabela 4 Resultados do ensaio de absorção por imersão das argamassas estudadas por

Sampaio et al. (2001) ........................................................................................ 28

Tabela 5 Propriedades físicas do cimento CP II- Z- 32 RS da marca Nassau. ................. 34

Tabela 6 Propriedades físicas dos agregados miúdos utilizados neste trabalho .............. 35

Tabela 7 Traços unitários, em massa, e resultado do ensaio do índice de consistência ... 38

Tabela 8 Consumo de materiais em kg para produção de 1m³ de argamassa ................. 38

Tabela 9 Resultados do ensaio de compressão axial das argamassas ............................ 48

Tabela 10 Resultados do ensaio de resistência à tração na flexão das argamassas .......... 50

Tabela 11 Resultados da absorção de água, índice de vazios e massa específica das

argamassas ....................................................................................................... 52

Tabela 12 Resultado do ensaio de permeabilidade pelo Método do Cachimbo das

argamassas aos 28 dias de idade ..................................................................... 55

Tabela 13 Resultado do ensaio de permeabilidade pelo Método do Cachimbo, tempos finais

do ensaio por determinação e média dos tempos finais por teor de substituição57

Tabela 14 Resultado do ensaio de permeabilidade pelo Método do cachimbo das

argamassas aos 28 dias .................................................................................... 59

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12

1.1 OBJETIVOS 14

1.2 ESTRUTURA DO TRABALHO 15

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 16

2.1 DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DO RCD 16

2.2 O AGREGADO RECICLADO 17

2.3 PROPRIEDADES DO AGREGADO RECICLADO 18

2.3.1 HETEROGENEIDADE NA COMPOSIÇÃO E PRESENÇA DE CONTAMINANTES 18

2.3.2 GRANULOMETRIA 20

2.3.3 ABSORÇÃO DE ÁGUA 21

2.3.4 MASSA ESPECÍFICA 22

2.4 ARGAMASSA RECICLADA 22

2.4.1 DEFINIÇÕES 23

2.4.2 FUNÇÕES E PROPRIEDADES DAS ARGAMASSAS DE REVESTIMENTO 24

2.4.3 RESISTÊNCIA MECÂNICA 26

2.4.4 ABSORÇÃO DE ÁGUA, ÍNDICE DE VAZIOS E MASSA ESPECÍFICA 27

2.4.5 PERMEABILIDADE EM ARGAMASSAS 28

2.4.6 FATORES QUE INFLUENCIAM A ABSORÇÃO DE ÁGUA E A PERMEABILIDADE DE

ARGAMASSAS 30

2.4.7 MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM REVESTIMENTOS ASSOCIADAS À UMIDADE 31

3 PROGRAMA EXPERIMENTAL 33

3.1 MATERIAIS UTILIZADOS 34

3.1.1 CIMENTO 34

3.1.2 AGREGADOS MIÚDOS 34

3.2 PRODUÇÃO DAS ARGAMASSAS 37

3.3 PROPRIEDADES AVALIADAS 39

3.3.1 RESISTÊNCIA À TRAÇÃO NA FLEXÃO E RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO AXIAL 39

3.3.2 ABSORÇÃO DE ÁGUA POR IMERSÃO, MASSA ESPECÍFICA E ÍNDICE DE VAZIOS 42

3.3.3 PERMEABILIDADE PELO MÉTODO DO CACHIMBO 44

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 48

4.1 ENSAIO DE COMPRESSÃO AXIAL 48

4.2 ENSAIO DE RESISTÊNCIA À TRAÇÃO NA FLEXÃO 50

4.3 ENSAIO DE ABSORÇÃO DE ÁGUA, ÍNDICE DE VAZIOS E MASSA ESPECÍFICA 52

4.4 ENSAIO DE PERMEABILIDADE PELO MÉTODO DO CACHIMBO 55

5 CONCLUSÃO 64

6 REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS 66

12

1 INTRODUÇÃO

A grande quantidade de Resíduo de Construção e Demolição (RCD)

gerado e o descarte inadequado no ambiente urbano causam sérios problemas so-

cioambientais. Por isso é imprescindível à elaboração de programas específicos que

busquem a minimização desses problemas decorrentes do descarte do RCD no am-

biente urbano (CARNEIRO, 2001).

A Resolução nº307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONA-

MA), de 5 de julho de 2002, responsabiliza os geradores de resíduos da construção

civil pelos resíduos gerados nas atividades de construção, reforma, reparos e demo-

lições de estruturas e estradas. E diz ainda que, o RCD deverá ser reutilizado ou

reciclado como agregados, ou dispostos em aterros de resíduos de construção civil

para uma utilização ou reciclagem futura.

Existem também, de acordo com John (2001), os resíduos gerados na

produção de materiais de construção, como as escórias de alto forno e de aciaria,

resíduos cerâmicos, etc., que também podem ser utilizados ou reciclados pela cons-

trução civil.

Historicamente, existem relatos de que o Império Romano e a Grécia

antiga já reaproveitavam resíduos, como os de restos de telhas, tijolos e utensílios

de cerâmica, como agregado graúdo em concretos rudimentares para uso em cons-

trução (SANTOS, 1975, citado por LIMA, 1999).

Pinto (2001) afirma que a atividade construtiva sempre se caracterizou

como grande geradora de resíduos, mas também como potencial consumidora de

seus próprios resíduos e de resíduos gerados em outras atividades humanas de

transformação. Segundo o autor, o RCD possui uma grande predominância de fra-

ção mineral, que viabiliza a introdução de processos sustentáveis, como a recicla-

gem.

Para Miranda (2005), a reciclagem de RCD para a comercialização te-

ve início, no Brasil, entre as décadas de 80 e 90, com a instalação de máquinas ar-

gamassadeiras, em canteiros de obras. Nesta época a reciclagem foi prejudicada

pela ausência de gestão racional de resíduos que minimizasse a contaminação do

RCD com gesso, solo, aço ou madeira. Além disso, havia pouca disponibilidade de

espaço para o depósito de RCD em muitos canteiros de obra. Outra dificuldade era

o pouco conhecimento dos engenheiros da época sobre os processos de produção

13

do reciclado e suas implicações nas propriedades das argamassas. Segundo o au-

tor, em 2005 existiam pelo menos 23 usinas de reciclagem no Brasil, distribuídas

nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Para-

ná, Ceará e Brasília.

Para Souza e Franco (1997), citados por Miranda e Selmo (2001), a re-

ciclagem do RCD para a produção de argamassas de revestimento é tida como uma

solução para os problemas causados por estes materiais no ambiente urbano. Isso

porque, no Brasil, estima-se um consumo da ordem de 0,13 m³ de argamassa por m²

de construção.

Carneiro (2001) afirma que o RCD possui um elevado potencial de re-

ciclagem, podendo ser utilizado como matéria-prima para produção de materiais de

construção. O autor apresenta algumas vantagens relacionadas à reciclagem do

RCD, tais como:

redução dos impactos socioambientais devido ao descarte inadequado

e de suas consequências negativas, como, a proliferação de vetores de

doenças, poluição, entre outras;

melhor utilização dos aterros;

redução das despesas de disposição e possibilidade de faturamento

com a reciclagem do RCD;

diminuição dos custos no orçamento municipal, resultado do programa

de gestão dos resíduos;

criação de uma alternativa para mineradoras que estão, cada vez mais,

sujeitas a restrições ambientais;

perspectiva de geração de emprego e renda e de novas oportunidades

de negócios;

possibilidade de produzir materiais com melhores características tecno-

lógicas;

produção de materiais de menor custo, com redução do preço final das

habitações e de obras de infraestrutura;

subsídio a ações de minimização dos resíduos e ao gerenciamento

ambiental;

agregação de ações de educação ambiental e participação comunitá-

ria.

14

Segundo Miranda (2005, p. 62): “Entre os principais problemas que di-

ficultam a reciclagem dos resíduos da construção civil (RCC), pode-se citar sua vari-

abilidade de composição, a presença de contaminações e o preconceito pela socie-

dade com o material reciclado”.

Muitas manifestações patológicas em revestimentos de argamassas

recicladas são decorrentes da falta de estudos que definam alguns parâmetros para

as argamassas recicladas, como por exemplo, fissuração e absorção de água. Isso

porque o agregado reciclado está sujeito a sofrer variação de composição e de gra-

nulometria, inerentes do RCD e dos processos construtivos (MIRANDA E SELMO,

2001).

Segundo Bauer (1994), a absorção de água e a permeabilidade da ar-

gamassa em conjunto com a presença da umidade são os principais fatores do sur-

gimento de manifestações patológicas nos revestimentos das edificações. Dentre as

manifestações patológicas mais recorrentes estudadas pelo autor, destacam-se: a

presença de vesículas, manhas pretas e marrons e eflorescências.

Entretanto, as argamassas podem ser melhoradas com a utilização do

reciclado em substituição total ou parcial à areia natural. Entretanto ainda faltam de-

terminar algumas propriedades destas argamassas para uma aplicação racional e

segura (LIMA, 1999).

Portanto, o desenvolvimento deste trabalho mostra-se justificável à

medida que o estudo pode contribuir para a compreensão dos fatores que podem

interferir na absorção de água e da permeabilidade da argamassa reciclada. Este

trabalho visa o desenvolvimento da tecnologia de argamassa de revestimento com

agregado reciclado de RCD.

1.1 OBJETIVOS

Este trabalho tem como objetivo geral avaliar a absorção de água por

imersão e a permeabilidade de argamassas utilizando agregado de resíduo de cons-

trução e demolição (RCD). Apresenta também os seguintes objetivos específicos:

• avaliar as propriedades do agregado miúdo reciclado em estudo;

• determinar a influência de diferentes taxas de substituição da areia natural

por agregado miúdo reciclado sobre a resistência à compressão (NBR

15

13279, ABNT, 2005); a taxa de absorção, índice de vazios e a massa es-

pecífica (NBR 9778, ABNT, 2005) e sobre a permeabilidade (Método do

Cachimbo) das argamassas produzidas.

1.2 ESTRUTURA DO TRABALHO

Este Trabalho foi estruturado em cinco capítulos. O primeiro capítulo

apresenta a introdução do trabalho, a justificativa e os objetivos: geral e específicos.

Ao longo do segundo capítulo foi apresentada uma revisão bibliográfica

contendo as definições e classificações do RCD, as propriedades do agregado reci-

clado, as propriedades das argamassas e suas manifestações patológicas mais re-

correntes.

O capítulo 3 mostra o programa experimental utilizado que relata em

detalhes o material utilizado e os métodos empregados.

O quarto capítulo é composto da apresentação e discussão dos resul-

tados obtidos dos ensaios laboratoriais.

E o quinto capítulo traz a conclusão do trabalho e as sugestões para

trabalhos futuros.

16

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DO RCD

Os resíduos da construção civil (RCC), de acordo com a Resolução

CONAMA nº307(CONAMA, 2002, p. 571):

são os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições

de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da es-

cavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto

em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e

compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico,

vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chama-

dos de entulhos de obras, caliça ou metralha.

Esta resolução considera ainda que os resíduos da construção civil de-

verão ser classificados da seguinte forma:

Resíduos Classe A- são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como

agregados, tais como: de construção, demolição, reformas e reparos

de pavimentação e de outras obras de infraestrutura, inclusive solos

provenientes de terraplanagem;

Resíduos Classe B- são os resíduos recicláveis para outras destina-

ções, tais como: plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e

outros;

Resíduos Classe C- são os resíduos para os quais não foram desen-

volvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que per-

mitam a sua reciclagem/recuperação, tais como os produtos oriundos

do gesso;

Resíduos Classe D- são resíduos perigosos oriundos do processo de

construção.

Segundo a NBR 13529 (ABNT, 1995, p.4), define-se entulho reciclado

como: “Material proveniente da moagem de argamassas endurecidas, blocos cerâ-

micos, blocos de concreto ou tijolos, com dimensão máxima característica de 2,4

mm”.

17

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (NBR 10004,

ABNT, 2004) classifica os resíduos sólidos como:

Resíduos classe I – Perigosos, aqueles que apresentam periculosi-

dade, como: inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxidade,

patogenicidade;

Resíduos classe II – Não perigosos, e são subdivididos em:

o resíduos classe II A – Não inertes;

o resíduos classe II B – Inertes.

Este trabalho adotará a definição e classificação da Resolução CONA-

MA 307, (CONAMA, 2002), pois, como afirma Miranda (2005, p. 7): “[...] as siglas

adotadas pelo CONAMA são mais coerentes com as exigências de triagem e segre-

gação com que os resíduos de origem mineral precisam ser tratados para que pos-

sam ser progressivamente reciclados no Brasil [...]”.

2.2 O AGREGADO RECICLADO

O agregado reciclado é obtido através do processo de moagem ou bri-

tagem do RCD, resíduos classe A, que pode ter em sua composição argamassas,

cerâmicas, concreto e impurezas. Este amplo espectro se reflete no desempenho

das argamassas produzidas com o reciclado. De uma maneira geral, o agregado

miúdo, reciclado ou não, possui duas principais funções em argamassas: função e-

conômica - tem menor custo que os aglomerantes e é consumido em larga escala,

cerca de 1,15 m³ por m³ de argamassa fresca - e função técnica, visto que o agre-

gado funciona como um “esqueleto rígido” na argamassa, reduzindo o efeito de re-

tração inicial por secagem e contribuindo com a resistência superficial e à abrasão

(MIRANDA, 2005).

Na reciclagem de RCD geralmente são utilizados ou adaptados os e-

quipamentos provenientes do setor de mineração; com exceção dos moinhos de rolo

de pequeno porte, utilizados para a preparação de argamassas a partir de resíduos

de alvenaria para a construção de edifícios. Estes possuem boa mobilidade o que

possibilita a prática da reciclagem em diversos locais (LIMA, 1999).

De acordo com o Instituto de Tecnologia de La Construcción de Cata-

lunya, (ITEC, 1995), citado por Pinto (2001, p. 88):

18

Em uma instalação de reciclagem de resíduos de construção e de-

molição, os equipamentos trituradores são os mais importantes na li-

nha de produção. Geralmente são adotados britadores de mandíbu-

las ou britadores de impacto. Os britadores de mandíbulas geralmen-

te são considerados como os melhores produtores de agregados pa-

ra concreto, quando associados a um outro equipamento para brita-

gem secundária. São, no entanto, bastante suscetíveis à presença

de resíduos metálicos e de madeira, caso não disponham de disposi-

tivo de alívio para essas eventualidades. Os britadores de impacto

são menos sensíveis à presença desses materiais, oferecem capaci-

dade de redução de partículas muito superior à do britador de man-

díbula e são tidos como o melhor equipamento para a produção de

novos agregados destinados a serviços de pavimentação.

2.3 PROPRIEDADES DO AGREGADO RECICLADO

Para Lima (1999), os agregados reciclados diferem dos agregados

convencionais por apresentarem propriedades específicas que dependem de diver-

sos fatores, tais como: a composição do RCD, dos equipamentos utilizados na fabri-

cação, da presença de contaminantes e da granulometria. Segundo o autor, os a-

gregados miúdos reciclados (AMR) possuem grande variação em suas propriedades

o que interfere nas propriedades das argamassas produzidas com este material. En-

tre as principais diferenças com relação aos agregados miúdos naturais (AMN) des-

tacam-se: a maior absorção de água dos grãos, heterogeneidade na composição e a

menor resistência mecânica dos grãos.

2.3.1 Heterogeneidade na Composição e Presença de Contaminantes

A variabilidade do RDC pode ser observada em Zordan (1997), que es-

tudou a composição de reciclado produzido na recicladora pública de Ribeirão Preto.

O autor coletou amostras em 1996 com intervalos aproximados de uma semana en-

tre as coletas. E também, por Quadros e Oliveira (2001) que estudaram a gestão do

entulho em Salvador (BA) com base na caracterização do entulho bruto realizada

pela Empresa de Limpeza Urbana do Salvador (LIMPURB), em 1999. A Tabela 1

19

mostra a composição do reciclado avaliado por Zordan (1997) e do RCD avaliado

pela LIMPURB, citada por Quadros e Oliveira (2001), em porcentagem.

Tabela 1 Porcentagens de materiais presentes em amostras de entulho coletadas em Ri-beirão Preto (SP) ,e em Salvador (BA) pela LIMPURB, em 1999.

Material Ribeirão Preto

(%) Salvador

(%)

Argamassa 37,4 53,0

Concreto 21,1 Cerâmica 20,8 -

Cerâmica Polida 2,5 - Cerâmica Branca - 5,0

Cerâmica vermelha - 9,0 Solo e areia - 22,0

Plásticos - 4,0 Pedras 17,7 5,0 Outros 0,5 2,0 TOTAL 100 100

Fonte: Zordan (1997) e Quadros e Oliveira (2001).

Na Tabela 1 é possível observar que houve grande variação na com-

posição do RCD com predominância de argamassa em ambas as cidades. Contudo,

o RCD proveniente da cidade de Salvador possui 15,6% a mais de argamassa com-

parado com o RCD de Ribeirão Preto. Além disso, o RCD de Salvador possui 22%

de solo em sua composição, material que não foi identificado no RCD de Ribeirão

Preto.

Segundo Miranda (2005), a contaminação do agregado reciclado por

torrões de material argiloso diminui a vida útil em argamassas por provocar um maior

consumo de água e, consequentemente, uma redução na resistência mecânica, a-

lém de afetar a hidratação do cimento por tornar o meio ácido. O gesso, o vidro, a

madeira, plásticos, papéis, asfalto e o aço também são contaminantes por provoca-

rem efeitos negativos nas propriedades das argamassas e, por isso, devem ser reti-

rados do RCD antes do processo de britagem.

Para o aço, Miranda (2005) sugere que este seja separado por meio de

eletroímã ou de forma manual, para ser comercializado em empresas que compram

sucatas, aumentando assim a lucratividade da reciclagem. O RCD pode ainda estar

contaminado com sulfatos e outros sais solúveis que podem reagir com o C3A do

cimento, formando etringita e, consequentemente, causando a expansão em arga-

massas. E mesmo, a aceleração da pega do cimento, no caso de contaminação por

cloretos:

20

Em resumo, podem ser citados os seguintes problemas em concre-

tos e argamassas devido à presença de contaminações: hidratação

mais lenta do cimento (matéria orgânica), expansão devida à absor-

ção de umidade (madeira) ou à formação de etringita (gesso), reação

álcali-sílica (vidros) e redução de resistência (argila, matéria orgâni-

ca) (HENDRIKS, 2000 citado por MIRANDA, 2005, pag.65).

2.3.2 Granulometria

O processo de britagem do RCD pode ser controlado, para obter um

agregado com uma melhor distribuição granulométrica, para isto é importante de-

terminar o tipo de equipamento de britagem e o número de vezes que o RCD será

triturado. É possível em apenas uma britagem, se obter agregado com uma granu-

lometria composta de materiais finos a dimensões superiores a 50 mm (LIMA, 1999).

Assunção, Carvalho e Barata (2007) avaliaram o desempenho de arga-

massas com a utilização de entulho reciclado proveniente de construções na cidade

de Belém, no estado do Pará. Os autores estudaram argamassa de referência, com-

posta de areia natural proveniente da cidade de Santa Izabel, Pará, e dois teores de

substituição: AR 30 e AR 50, argamassas preparadas com 30% e 50% de agregado

reciclado, respectivamente. Os autores concluíram que o uso do agregado reciclado

para a produção de argamassas é viável, com resultados satisfatórios em resistência

mecânica e trabalhabilidade. As composições granulométricas dos agregados utili-

zados pelos autores são apresentadas na Tabela 2.

21

Tabela 2 Composição granulometria do agregado miúdo natural e reciclado, utilizados por

Assunção, Carvalho e Barata (2007) para a avaliação de argamassas Agregado Miúdo Natural Reciclado

Determinações

Abertura de Peneira

Porcentagem (%) Porcentagem (%)

ABNT (mm) Retida Acumulada Retida Acumulada

Composição Granu-lométrica

50.0 0 0 0 0 37.5 0 0 1 1 25.0 0 0 5 6 19.0 0 0 5 11 12.5 0 0 10 21 9.50 0 0 5 26 6.30 0 0 3 29 4.80 0 0 1 30 2.40 2 2 1 31 1.20 12 13 1 32 0.60 20 33 4 36 0.30 24 63 30 66 0.15 24 87 21 86

Fundo 14 100 12 98 DMC 2.4 mm 37.5 mm

Módulo de Finura 2.0 3.2

Fonte. ASSUNÇÃO; CARVALHO; BARATA (2007).

Na Tabela 2 a composição granulométrica do reciclado refere-se ao

RCD após o trituramento. Nesse estudo, os autores utilizaram para a produção das

argamassas apenas a faixa granulométrica dos grãos que passaram na peneira 4,8

mm e os retidos na peneira 0,15 mm.

2.3.3 Absorção de Água

Segundo Bauer (2008), a absorção de água está relacionada com a

presença de poros existentes nos grãos e é expressa pelo teor de água absorvida

no estado “saturado superfície seca” (sss) em porcentagem do peso da amostra se-

ca, conforme a norma NBR NM 30 (ABNT, 2001).

O reciclado geralmente possui maior absorção de água que os agrega-

dos convencionais. Esta propriedade depende do maior teor de cerâmicos e de ar-

gamassa presentes no RCD. Por isso, é comum saturar o reciclado antes da mistura

com o cimento, a fim de evitar que o agregado absorva parte da água de hidratação

do cimento. Agregados com maior absorção de água podem resultar em argamas-

sas com maior permeabilidade e porosidade (LIMA, 1999).

22

Santana, Carneiro e Sampaio (2001) estudaram as características do

agregado miúdo reciclado, utilizando o entulho proveniente da Salvador, Ba. Os au-

tores encontraram uma absorção de água de 8,2% para o agregado miúdo reciclado.

Um valor relativamente alto, se comparado com a absorção de água das areias na-

turais. A maior absorção do agregado diminui a relação água-cimento da mistura e

pode comprometer a trabalhabilidade da argamassa. Porém, a maior absorção do

agregado não inviabiliza o seu uso em argamassas, pois, pode-se simplesmente

ajustar o teor de água na mistura, a fim de conseguir uma boa trabalhabilidade sem

interferir de forma significativa no desempenho e durabilidade da argamassa.

2.3.4 Massa Específica

De acordo com a NBR NM 52 (ABNT, 2002), massa específica do a-

gregado miúdo: “É a relação entre a massa do agregado seco e seu volume, exclu-

indo os poros permeáveis”.

Geralmente, os agregados reciclados possuem maior porosidade e,

portanto, menor massa específica que os agregados convencionais (LIMA, 1999).

Assunção, Carvalho e Barata (2007) avaliaram argamassas produzidas

com agregado reciclado com massa específica igual a 2,48 g/cm³, pelo método pro-

posto na NBR 9776 (ABNT, 1998). A areia natural utilizada pelos autores possuía

massa específica igual a 2,60 g/cm³.

Santana, Carneiro e Sampaio (2001) encontraram massa específica i-

gual a 2,59 g/cm³, para o agregado miúdo produzido com entulho de Salvador, Ba.

Os autores avaliaram a massa específica do agregado pelo método do Picnômetro

(NBR 6508, ABNT, 1984).

2.4 Argamassa Reciclada

Historicamente, tem-se como registro mais antigo no uso da argamas-

sa em construção, um piso polido de pedra e argamassa de areia e cal, de cerca de

9000 anos, descoberto em 1985 numa cidade ao sul da Galiléia, em Israel (Europe-

na Mortar Industry Organization, 2006, citado por CARASEK, 2007).

23

As argamassas recicladas são utilizadas no Brasil desde a década de

80, em serviços, principalmente, de assentamento e revestimento. Entretanto, ainda

faltam algumas informações para que seu uso seja mais bem aproveitado, pois, sa-

be-se que o reciclado pode causar problemas como retração por secagem em ar-

gamassas (LIMA, 1999).

O revestimento de argamassa é utilizado em alvenarias, muros e tetos.

Em geral, composto por camadas de chapisco, emboço e reboco. No Brasil esta

composição já está em desuso, sendo mais usual camadas de chapisco e camada

única também chamada de “massa única” ou “reboco paulista” (CARASEK, 2007).

As definições, as funções e propriedades das argamassas de revesti-

mento, a absorção de água, a permeabilidade, os fatores que influenciam na absor-

ção e permeabilidade de argamassas e as manifestações patológicas em revesti-

mentos associadas à umidade serão discutidos nos itens subsequentes.

2.4.1 Definições

De acordo com a NBR 13281(ABNT, 2001, p. 2) define-se argamassa

como: “Mistura homogênea de agregado(s) miúdo(s), aglomerante(s) inorgânico(s) e

água, contendo ou não aditivos ou adições, com propriedades de aderência e endu-

recimento, podendo ser dosada em obra ou em instalação própria (argamassa in-

dustrializada)”.

As seguintes definições serão utilizadas neste trabalho:

Argamassa simples: “Argamassa preparada com um único aglomeran-

te” (NBR 13529, ABNT, 1995, p. 3).

Argamassa comum: “Argamassa simples ou mista, cujas propriedades

dependem, em princípio, da proporção e do tipo do(s) aglomerante(s) e

agregado(s) empregados” (NBR 13529, ABNT, 1995, p. 3).

Segundo Miranda (2005, p. 129-130):

[...] as argamassas de revestimento são misturas homogêneas de a-

glomerante(s) inorgânicos, de origem mineral, agregados miúdos e

água, podendo conter aditivos ou adições, com propriedades ade-

quadas ao fim a que se destinam, ou seja, para camadas de emboço,

reboco ou ainda como chapisco, para aumento de aderência a subs-

tratos de porosidade extremas.

24

Para efeito deste trabalho, será adotada a definição da NBR 13529

(ABNT, 1995) para argamassa comum, por ser uma definição mais geral e abran-

gente para qualquer argamassa, independente de sua função.

2.4.2 Funções e Propriedades das Argamassas de Revestimento

Segundo Carasek (2007), a função do revestimento de argamassa é

proteger a alvenaria e a estrutura da ação das intempéries, regularizar a superfície e

contribuir com o sistema de vedação em funções como: estanqueidade, isolamento

térmico e acústico, e servir de base para acabamentos decorativos.

Logo, para que o revestimento possua um desempenho satisfatório às

suas funções, faz-se necessário atentar para algumas propriedades da argamassa

no estado fresco e no estado endurecido (CARASEK, 2007; GOMES, 2008). Ambos

os autores destacam a trabalhabilidade, consistência, plasticidade, retenção de água

e adesão inicial como principais propriedades da argamassa no estado fresco. Go-

mes (2008) destaca: a retração, aderência, resistência à compressão e à tração, du-

reza superficial e durabilidade, como principais propriedades da argamassa no esta-

do endurecido.

A trabalhabilidade é a principal propriedade da argamassa no estado

plástico, ela determina a facilidade com que as argamassas são misturadas, trans-

portadas, aplicadas, consolidadas e acabadas, de forma homogênea. Uma arga-

massa de revestimento “trabalhável” permite que o pedreiro execute o serviço com

qualidade e boa produtividade. A trabalhabilidade está relacionada com diversas ou-

tras propriedades da argamassa no estado fresco, tais como: consistência, plastici-

dade, retenção de água, coesão, exsudação e aderência inicial (CARASEK, 2007).

Devido à sua complexidade, por envolver diversas propriedades, a trabalhabilidade é

uma propriedade que possui um conceito subjetivo e seu resultado depende da ava-

liação do pedreiro ou aplicador.

Pode-se ajustar a trabalhabilidade através da adição de plastificantes

naturais, os saibros (arenoso e caulim), muito utilizados na região de Salvador, Ba.

Entretanto essas adições podem acarretar em fissuras e desagregação do revesti-

mento, por conter um teor elevado de argilominerais (GOMES, 2008). Outra forma

de ajuste da trabalhabilidade é alterando a consistência da argamassa ajustando-se

25

a quantidade de água na mistura (VALDEHITA ROSELLO, 1976, citado por CARA-

SEK, 2007).

Segundo Carasek (2007), a retenção de água pode ser entendida co-

mo a capacidade da argamassa em permanecer trabalhável quando sujeita a solici-

tações que promovem a perda de água. O autor afirma ainda que a consistência e a

plasticidade são termos comumente confundidos, principalmente pelo uso do termo

“consistência plástica”, o qual poderia ser substituído pelo termo “consistência ade-

quada”. A consistência ou fluidez pode ser entendida como a facilidade com que a

argamassa se deforma com a aplicação de uma carga. Já a plasticidade é a proprie-

dade da argamassa em permanecer deformada depois de cessadas as tensões de

deformação.

No estado endurecido, a propriedade essencial para que o revestimen-

to desempenhe suas funções é a aderência (CARASEK, 2007). Para Sabbatini

(1998), a aderência é função de propriedades da argamassa no estado fresco, da

maneira como o revestimento é executado e das características da superfície de a-

plicação, bem como de sua limpeza.

Segundo Sabbatini (1998, p. 7), aderência:

É a propriedade do revestimento manter-se fixo ao substrato, através

da resistência às tensões normais e tangenciais que surgem na inter-

face base-revestimento. É resultante da resistência de aderência à

tração, da resistência de aderência ao cisalhamento e da extensão

de aderência da argamassa.

A retração é uma importante propriedade da argamassa, por ser a cau-

sa de diversas manifestações patológicas em revestimentos, com o surgimento de

fissuras que permitem a percolação da água, promovendo o aparecimento de colô-

nias de fungos e bactérias, podendo até ocasionar descolamento do revestimento

(GOMES, 2008).

A argamassa está sujeita a três tipos de retração, de acordo com Go-

mes (2008, P. 10):

[...] a retração plástica, hidráulica e autógena. A retração plástica o-

corre antes do início de pega da pasta de cimento e é resultante da

saída de água por evaporação, e sua intensidade depende da umi-

dade relativa, temperatura ambiente, velocidade do ar, localização da

área revestida, espessura da camada e dos materiais constituintes. A

retração hidráulica se dá após a pega, isto é, decorrente da saída de

26

água, na fase de endurecimento, sendo afetada pela dosagem, tipo

dos materiais empregados, condições de cura e localização do re-

vestimento. Já a retração autógena é causada pelas reações quími-

cas dos aglomerantes: se do cimento, a retração é de hidratação, e

se da cal, a retração é de carbonatação.

O revestimento deve ainda possuir boa capacidade de se deformar,

sem apresentar grandes fissuras que comprometam sua aderência e à sua estan-

queidade, esta propriedade está relacionada com o módulo de elasticidade da ar-

gamassa e sua resistência mecânica (SELMO, 1989, citado por CARASEK, 2007).

Para Sabbatini (1998), as argamassas com menor módulo de elastici-

dade possuem maior capacidade de absorver deformações. Segundo o autor, a ca-

pacidade de absorver deformações depende também de fatores como a espessura

da camada de revestimento, das juntas de trabalho e da técnica de execução de re-

vestimento.

A durabilidade é a propriedade associada à capacidade de o revesti-

mento em resistir às ações do tempo e às intempéries sem que haja o comprometi-

mento de suas funções básicas para a qualidade de vida dos usuários da edificação

(GOMES, 2008).

2.4.3 Resistência Mecânica

A resistência à compressão e à tração são propriedades secundárias

para argamassas de revestimento. Portanto, a relação água/cimento não precisa de

um controle rigoroso (CAVALHEIRO, 1997, citado por GOMES, 2008). Porém, o ex-

cesso de água para produção de argamassas pode ser evaporado superficialmente,

ou succionado pelo substrato devido à diferença de gradiente hidráulico, provocando

um aumento na porosidade do revestimento (SABATTINI, 1984, citado por GOMES,

2008).

A porosidade das argamassas pode também estar associada ao teor

de ar incorporado ou aprisionado. O aumento da porosidade provoca, em argamas-

sas, uma maior absorção de água e diminui sua resistência mecânica (CINCOTTO;

SILVA; CASCUDO, 1995, citados por SAMPAIO et al., 2001).

ASSUNÇÃO; CARVALHO e BARATA (2007) avaliaram a resistência à

compressão axial da argamassa de referência e das argamassas recicladas AR 30 e

27

AR 50 (30% e 50% de AMR em substituição a areia natural) aos 7 e 14 dias de ida-

de. As argamassas recicladas apresentaram maior resistência à compressão que a

argamassa de referência, com destaque para a AR 50, Tabela 3. Nesta propriedade

a utilização do agregado reciclado mostrou-se vantajosa.

Tabela 3 Resistência à compressão axial das argamassas estudadas por Assunção; Carvalho e Barata (2007) aos 7 e 14 dias de idade

Argamassa fc (Mpa)

Método REF AR 30 AR 50

7 dias 4,30 3,80 6,16

NBR 13279 (ABNT, 2005)

4,43 4,48 6,21 4,29 4,58 6,98

14 dias 4,59 4,74 7,74 3,97 5,70 6,40 4,97 5,20 8,10

Fonte: ASSUNÇÃO; CARVALHO e BARATA (2007).

2.4.4 Absorção de Água, Índice de Vazios e Massa Específica

Sampaio et al. (2001) estudaram a utilização do agregado reciclado,

proveniente do entulho coletado na cidade de Salvador, para a produção de arga-

massa para revestimento. As argamassas analisadas pelos autores foram: argamas-

sa de referência (Ref), composta por areia, cal e cimento; traço base, composta por

areia, arenoso e cimento; e argamassas com teores de substituição de arenoso por

AMR de 30%, 50%, 75% e 100%, em massa (AR 30, AR 50, AR 75 e AR 100, res-

pectivamente). Os autores avaliaram a absorção de água por imersão dessas arga-

massas. Os resultados estão apresentados na Tabela 4. Nota-se que a absorção de

água e o índice de vazios aumentam à medida que se acresce o AMR. Já a massa

específica foi menor somente na argamassa base. Logo, pode-se concluir que o a-

gregado reciclado pose interferir negativamente na absorção de argamassas prepa-

radas com este material.

28

Tabela 4 Resultados do ensaio de absorção por imersão das argamassas estudadas por Sampaio et al. (2001)

Propriedades Físicas das arga-massas endurecidas NBR 9778

(ABNT, 2005) Base AR 30 AR 50 AR 75 AR 100 REF

Absorção de água (%) 17,00 22,60 25,10 29,90 31,20 15,00 Índice de vazios (%) 39,40 56,30 63,30 75,40 80,40 38,40

Massa específica da a-mostra seca

(g/cm³) 1,66 1,60 1,54 1,44 1,43 1,85

Massa específica da a-mostra saturada

(g/cm³) 1,90 1,80 1,77 1,70 1,73 2,08

Massa específica real (g/cm³) 2,31 2,50 2,52 2,52 2,56 2,56

Fonte: Sampaio et al (2001).

2.4.5 Permeabilidade em Argamassas

Para Sabbatini et al. (1998), a permeabilidade é uma propriedade que

depende da porosidade da argamassa e do conjunto base-revestimento. O autor

recomenda que o revestimento de argamassa deva ser estanque à água no estado

líquido, mas deve permitir a secagem da umidade de infiltração, seja pela ação da

chuva ou pela ação de vapor de água comum em banheiros.

De acordo com Cincotto, Silva e Cascudo (1995), citado por Sampaio

et al. (2001, p. 272):

A permeabilidade é a propriedade da argamassa endurecida que ca-

racteriza a passagem de água através do material, por meio de infil-

tração sob pressão, capilaridade ou difusão de vapor de água. Os

principais fatores que influenciam a permeabilidade de uma arga-

massa são a relação água/cimento, a granulometria do agregado, a

natureza e o teor do aglomerante. A percolação de água em um re-

vestimento também depende das características do substrato, ou se-

ja, da superfície onde a argamassa é assentada.

Gomes, et al. (2011) avaliaram a permeabilidade pelo Método do Ca-

chimbo em revestimentos de argamassas produzidas com RCD reciclado em alvena-

rias de bloco cerâmico, em uma obra na cidade de Maceió, Al. Foram produzidas

argamassas de referência com traço de 1:7 (cimento: areia) e com adição de cal, no

traço de 1:1:6 ( cimento:cal:areia). Foram produzidas argamassas com os teores de

substituição de areia por AMR, com traço de 1:6:1, traço de 1:5:3 e com traço de

29

1:4:3 (cimento: areia: resíduo). Os ensaios foram realizados aos 28 dias de idade.

Os resultados do ensaio de permeabilidade pelo Método do Cachimbo são apresen-

tados na Figura 1.

Figura 1 Resultado da permeabilidade pelo Método do Cachimbo

(Fonte: Gomes, et al., 2011)

Da análise da Figura 1 observa-se que os resultados obtidos mostra-

ram-se favoráveis à argamassa de referência com adição de cal. Sua absorção foi

50% menor que a argamassa de referência sem a adição de cal. Além disso, as ar-

gamassas com teores de reciclado apresentaram resultados satisfatórios, pois todas

as argamassas recicladas apresentaram menor permeabilidade em relação à arga-

massa de referência sem cal. Observa-se ainda que a argamassa reciclada, traço

1:4:3, apresentou apenas 20% a mais de absorção que a argamassa de referência

com adição de cal.

30

2.4.6 Fatores que Influenciam a Absorção de Água e a Permeabilidade de Ar-

gamassas

Em resumo, pode-se associar a permeabilidade e absorção de água

em argamassas aos seguintes fatores descritos abaixo:

i - Dosagem Inadequada

A dosagem de argamassas para aplicação como revestimentos verti-

cais deve ser feita objetivando a produção de argamassas trabalháveis, enquanto

frescas e que, depois de aplicadas, produzam revestimentos com bom desempenho,

principalmente, quanto à aderência ao substrato e resistência à fissuração. No caso

de revestimentos externos é importante considerar também a permeabilidade do re-

vestimento e a sua resistência a variações cíclicas de temperatura e umidade (MI-

RANDA, 2000).

Para a hidratação do cimento em argamassas é necessário cerca de

0,25 a 0,30 kg de água por quilo de cimento – o excesso de água provoca retração

por secagem deixando a argamassa porosa. A resistência das argamassas depende

de fatores como o tipo de cimento, idade de hidratação, umidade e temperatura (MI-

RANDA, 2005).

ii - Natureza e granulometria dos agregados

Segundo Miranda (2005), as propriedades de argamassas e de concre-

tos são influenciadas pela natureza mineralógica dos agregados.

Para Lima (1999), argamassas mais permeáveis são constituídas por

agregados reciclados que possuem maior absorção. Algumas vezes torna-se inviá-

vel a aplicação de argamassas recicladas em serviços de impermeabilização.

A trabalhabilidade e a retração por secagem em argamassas são pro-

priedades que dependem da distribuição granulométrica do agregado. É recomen-

dável que os agregados possuam uma curva granulométrica contínua (SELMO,

1986, citado por MIRANDA, 2000). Isto porque, as argamassas produzidas com es-

31

tes agregados exigem menor quantidade de água para se obter uma boa trabalhabi-

lidade e, consequentemente, menor retração por secagem.

iii - Retenção de Água

O excesso de água adicionada para conferir boa trabalhabilidade em

argamassa pode ser evaporado superficialmente, ou succionado pelo substrato de-

vido à diferença de gradiente hidráulico, provocando um aumento na porosidade do

revestimento, e consequentemente, na permeabilidade, na capilaridade, além da

redução da resistência mecânica e na aderência. Assim sendo, a retenção de água

é uma propriedade importante por garantir a trabalhabilidade, as reações de hidrata-

ção do cimento e o bom desempenho das argamassas no estado endurecido. Entre-

tanto, por vezes é entendida, somente, como a capacidade da argamassa de reter

água quando submetida ao contato com blocos de elevada sucção (SABATTINI,

1984, citado por GOMES, 2008).

A retenção de água é uma propriedade que confere às argamassas

maior resistência mecânica, por promover hidratação do cimento de forma gradual.

A rápida perda de água compromete propriedades importantes da argamassa, como

a estanqueidade, aderência e a resistência mecânica, reduzindo a durabilidade do

revestimento (SABATTINI et al., 1998).

2.4.7 Manifestações Patológicas em Revestimentos Associadas à Umidade

Ensaios laboratoriais realizados pelo Centro Tecnológico da Argamas-

sa da Universidade Federal da Bahia (CETA) indicam que no Nordeste são recorren-

tes manifestações patológicas em revestimentos como eflorescências, e descola-

mentos, comprometendo a higiene e a estética, além de causar prejuízos (NETO;

DJANIKIAN, 1999).

Segundo levantamento acadêmico em mestrado tecnológico do IPT, as

manchas por eflorescências e as fissuras em revestimentos, são as manifestações

patológicas mais comuns em ações judiciais, seguidas por defeitos como vesículas,

bolor e descolamento de revestimento (SELMO, 2002, citado por MIRANDA, 2005).

32

Para Sabbatini et al. (1998), as microfissuras em revestimentos não

são prejudiciais, já as fissuras maiores são prejudiciais por permitirem a percolação

da água pelo revestimento, comprometendo a sua estanqueidade à água.

Para Bauer (1994), podem ser observadas as seguintes falhas em re-

vestimentos de argamassa, referentes à umidade:

Vesículas: são provenientes da contaminação do agregado por ma-

téria orgânica, mica, pirita, torrões de argila e de ferrugem ou por

pedras de cal não extintas;

Manchas: manchas pretas ou verdes são decorrentes da prolifera-

ção de microrganismos como fungos ou algas devido à presença de

umidade. Podem-se apresentar com colorações diferenciadas, como

marrom, verde e preta, entre outras, conforme a causa. Manchas

marrons são decorrentes de ferrugem;

Eflorescências: ocorrem nos revestimentos devido à migração de

sais solúveis, como sais de metais alcalinos ou alcalinos terrosos

presentes nos materiais e/ou nos componentes da alvenaria.

Para Lima (1999), podem-se obter argamassas recicladas com boa a-

derência aos substratos, consistência e coesão, e por vezes, a resistência mecânica

é maior que argamassas convencionais. Entretanto, em alguns casos têm ocorrido

algumas manifestações patológicas, mas ainda assim, o uso da argamassa recicla-

da é promissor devido à possibilidade de redução no consumo de aglomerantes.

33

3 PROGRAMA EXPERIMENTAL

Este Trabalho fundamenta-se em um estudo experimental sobre a

permeabilidade e a absorção por imersão de argamassas compostas com RCD. Os

ensaios foram realizados no Laboratório de Materiais de Construção (LABOTEC) da

Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). As etapas de estudo são apre-

sentadas de maneira esquemática na Figura 2.

Figura 2 Etapas do trabalho de conclusão do curso de Engenharia Civil.

PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

COLETA DE AMOSTRAS

ENSAIOS LABORATORIAIS

NO ESTADO ENDURECIDO:

DETERMINAÇÃO DA ABSORÇÃO

DE ÁGUA POR IMERSÃO, DA PER-

MEABILIDADE E DA

RESISTÊNCIA À TRAÇÃO E À

COMPRESSÃO

AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS

CONCLUSÕES

DEFINIÇÃO

DOS TRAÇOS

NO ESTADO FRESCO:

CONSISTÊNCIA

34

3.1 MATERIAIS UTILIZADOS

3.1.1 Cimento

Neste experimento utilizou- se o cimento CP II- Z 32 RS da marca Nas-

sau, cuja caracterização foi realizada no Laboratório de Materiais de Construção da

UEFS de acordo com as prescrições normativas da ABNT. Os resultados encontra-

dos são apresentados na Tabela 5.

Tabela 5 Propriedades físicas do cimento CP II- Z- 32 RS da marca Nassau.

Propriedades Resultados

Limites da Especificação (NBR 11578, ABNT, 1991)

Método de Ensaio

Resistência a com-pressão axial

3 dias 26,5 MPa ≥10 Mpa NBR-7215 (ABNT, 1996) 7 dias 29,1 MPa ≥20 Mpa

28 dias 34,9 MPa ≥32 Mpa Início de Pega 180 min ≥60 min

NBR NM 65 (ABNT, 2003) Fim de Pega 305 min ≤600 min

Expansão a quente 0 mm ≤5,0 mm NBR 11582 (ABNT, 1991) Finura na Peneira

75µm 0,5%

MB 3432 (ABNT, 1991)

Massa Específica 3,08 g/cm³ - NBR- NM 23 (ABNT, 2001)

Na Tabela 5 é possível observar que todas as propriedades físicas do

cimento avaliado atendem as especificações das normas vigentes.

3.1.2 Agregados Miúdos

O agregado miúdo natural (AMN) utilizado foi areia lavada quartzosa,

proveniente do Rio Jacuípe, na cidade de Feira de Santana, Bahia. As propriedades

do AMN estão presentes na Tabela 6.

O AMR utilizado foi obtido através do processamento do RCD a fim de

se obter uma dimensão máxima menor ou igual a 4,8 mm. O resultado foi um agre-

gado com granulometria mais contínua que a do AMN, com 16 % de material pas-

sante na peneira 0,15 mm e diâmetro máximo de 4,8 mm. Quanto ao módulo de fi-

nura, estes foram próximos, o AMR foi cerca de 16% maior que o ANM, conforme a

Tabela 6.

35

Tabela 6 Propriedades físicas dos agregados miúdos utilizados neste trabalho Propriedade física / (Método de

ensaio) Agregado miúdo

natural (AMN) Agregado miúdo reciclado (AMR)

Especificação NBR 7211 (2005)

Granulometria (NBR NM 248, ABNT, 2001)

Abertura peneira (mm)

% RI % RA % RI % RA

-

4,8 0,0 0,0 0,0 0,0 2,4 3,1 3,1 20,0 20,0 1,2 9,0 12,1 17,0 37,0 0,6 26,5 38,5 19,0 56,0 0,3 42,7 81,2 15,0 71,0 0,15 16,3 97,5 13,0 84,0

<0,15 2,5 100,0 16,0 100,0 Dmáx (mm) 2,4 4,8 - Módulo de

Finura 2,32 2,69 1,55 a 3,50

Massa Específica (kg/dm³) / (Méto-do Leite, 2001)

- 2,58 -

Massa Unitária (kg/dm³) / (NBR 7251, ABNT 1982)

1,45 1,31 -

Teor de matéria Orgânica / (NBR NM 49, ABNT 2003)

mais clara Igual a solução

padrão

Solução mais clara ou igual a solução

padrão Teor de Material Pulverulento (%) /

(NBR NM 46, ABNT 2003) - 12 ≤5%

Absorção (%)/ (Método LEITE, 2001)

- 4,5 -

Coeficiente de Inchamento / (NBR 6467, ABNT 2006)

- 1,32 -

Umidade Crítica (%) /(NBR 6467, ABNT 2006)

- 8,32 -

Absorção de água (%) / NBR NM 30 (ABNT, 2003)

0,76 - -

Massa específica (g/cm³)/ NBR NM 52

(ABNT, 2003)

Aparente 2,49 - -

S.S.S. 2,51 - - Agregado

Seco 2,54 - -

*S.S.S.= saturado superfície seca.

Outro ponto importante foi em relação à absorção de água do AMR,

que no agregado utilizado neste trabalho foi de 4,5%, pelo método Leite (2001), con-

forme a Tabela 6. Esta propriedade interfere diretamente na trabalhabilidade e na

relação água-cimento da argamassa.

Logo, para a composição do traço das argamassas com teor de AMR,

optou-se por ajustar a quantidade de água de cada traço, compensando apenas em

50% dos 4,5% referentes à absorção do agregado. Ou seja, para as argamassas

com AMR, foi adicionada uma quantidade de água de 2,25% em relação à massa de

AMR.

36

O RCD empregado para a produção do agregado miúdo reciclado (A-

MR) possui composição mista, com 86,2% de argamassa e 13,0% de cerâmica, con-

forme a Figura 3, que traz a composição completa. O RCD foi caracterizado no La-

boratório de Materiais de Construção da UEFS e não passou por nenhum tipo de

triagem de material ou lavagem durante a operação de beneficiamento em AMR.

Figura 3 Composição do RCD utilizado para a produção do agregado reciclado

(Fonte: Produção do Próprio Autor)

A curva granulométrica dos agregados utilizados é apresentada na Fi-

gura 4.

Figura 4 Curvas granulométricas do AMN e do AMR

(Fonte: Produção do Próprio Autor)

13,0%0,5%

0,3%

86,2%

Cerâmica

Concreto

Argamassa

Outros (madeira, material orgânico, metais, etc)

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

0,1 1 10

% R

eti

do

Acu

mu

lad

o

Log da abertura da peneira em milímetros

AMN

AMR

37

Da análise da Figura 4 é possível notar que o AMR possui uma granu-

lometria mais contínua que o AMN. Observa-se também que o AMN apresenta uma

composição granulométrica mais fina.

3.2 PRODUÇÃO DAS ARGAMASSAS

O traço utilizado neste trabalho foi de 1:6 (cimento:areia), em massa.

Foram produzidas: a argamassa de referência com 100% de AMN, e argamassas

com teores de substituição de 50% e 100% de AMN por AMR, em massa. A relação

água-cimento foi estabelecida através do resultado do ensaio de consistência NBR

13276 (ABNT, 2005), Figura 5, com espalhamento de 260 +/- 5 mm para argamassa

de referência.

A maior absorção de água do AMR interferiu negativamente na consis-

tência e na trabalhabilidade da mistura. Este efeito foi observado logo na primeira

argamassa, com teor de 50% de AMR. Mesmo se ajustando a quantidade de água

para compensar a absorção do AMR, não foi possível se chegar na consistência es-

tabelecida. Isso obrigou o uso de um aditivo superplastificante (sp), para que não

fosse alterada a relação água/cimento da mistura. Na argamassa com teor de 100%

de AMR, esse efeito foi ainda pior, a mistura tinha aspecto “seco” ou “áspero”, le-

vando ao uso de uma quantidade ainda maior de superplastificante, para se chegar

à consistência de 260 +/- 5 mm.

Neste experimento foi utilizado o aditivo superplastificante de pega

normal, Muraplast FK-25. O traço unitário e os resultados do ensaio de consistência

das argamassas avaliadas são apresentados na Tabela 7. Já os consumos de mate-

riais em kg/m³ são apresentados na Tabela 8. Percebe-se o aumento do consumo

de água para as misturas com o aumento do teor de AMR, para compensar parte de

sua absorção.

38

Figura 5 Ensaio de determinação do índice de consistência

(Fonte: Produção do Próprio Autor)

Tabela 7 Traços unitários, em massa, e resultado do ensaio do índice de consistência

Mistura Traço Uni-

tário

Traço Unitário em massa (kg) a/c

Absorção do Agregado (%)

Consistência (mm)

c:amn:amr

REF 1:6

1:6:0 1.1 - 260 50% AMR 1:3:3 1.1

4,5 263

100% AMR 1:0:6 1.1 255

*c= cimento; a= água; amn= agregado miúdo natural; amr= agregado miúdo reciclado.

Tabela 8 Consumo de materiais em kg para produção de 1m³ de argamassa

Mistura Traço

Unitário

Traço Unitá-rio em massa

(kg) a/c

Consumo de ci-mento

(kg)

AMN (kg) AMR (kg) ÁGUA (kg)

SP (kg)

c:amn:amr

REF 1:6

1:6:0 1.1 263

1578 0 289 0,00 50% AMR 1:3:3 1.1 789 801 307 0,37 100% AMR 1:0:6 1.1 0 1603 325 3,65

*sp= superplastificante.

O método de mistura adotado foi o prescrito pela NBR 7215 (ABNT,

1996), utilizando uma argamassadeira com capacidade máxima de cinco litros para

realização da mistura (Figura 6). Após a mistura, deu-se início à moldagem dos cor-

pos-de-prova e das placas para o ensaio de permeabilidade pelo método do ca-

chimbo.

39

Figura 6 Argamassadeira utilizada para produção das argamassas

(Fonte: Produção do Próprio Autor)

3.3 Propriedades Avaliadas

As propriedades das argamassas avaliadas foram: a resistência à tra-

ção na flexão, resistência à compressão axial, absorção de água por imersão, mas-

sa específica, índice de vazios e permeabilidade pelo método do cachimbo.

3.3.1 Resistência à Tração na Flexão e Resistência à Compressão Axial

As determinações da resistência à tração na flexão e da resistência à

compressão seguiram prescrições da NBR 13279 (ABNT, 2005). Os ensaios ocorre-

ram no Laboratório de Materiais de Construção da UEFS, com o auxílio de um técni-

co laboratorista da própria universidade. Foi utilizada uma prensa hidráulica servo-

controlada, da marca Contenco, modelo HD- 200, Figura 7. Foram moldados três

corpos-de-prova (cps) prismáticos, com dimensões de 4 x 4 x 16 cm, para cada teor

de substituição, totalizando 9 cps.

Estes corpos-de-prova foram ensaiados com idade de 28 dias, após

24h de cura ao ar e 27 dias de cura por imersão em água saturada com cal.

40

Figura 7 Prensa hidráulica utilizada nos ensaios de resistência

(Fonte: Produção do Próprio Autor)

Primeiro realizou- se o ensaio de tração na flexão, levando o corpo-de-

prova bi-apoiado à ruptura, utilizando-se uma velocidade de carregamento de 34

kgf/s, Figura 8.

Figura 8 Ensaio de tração na flexão

(Fonte: Produção do Próprio Autor)

41

Para o ensaio de compressão foram utilizados as metades dos três

corpos-de-prova rompidos no ensaio de tração na flexão, num total de 6 CPs para

cada teor, Figura 9. Para romper os CPs, foi utilizada a mesma prensa do ensaio de

tração.

Figura 9 Corpos-de-prova para o ensaio de compressão axial

(Fonte: Produção do Próprio Autor)

Foi necessário também o uso de um dispositivo para transmitir a carga

uniformemente ao CP, duas cantoneiras rígidas com área de contato de 4x4 cm,

dispostas na parte superior e inferior do CP, conforme pode ser visto na Figura 10.

Figura 10 Corpo-de-prova sendo levado á ruptura no ensaio de compressão axial

(Fonte: Produção do Próprio Autor)

42

A resistência à tração na flexão (Rf) foi calculada conforme a NBR

13279 (ABNT, 2005), pela expressão:

Onde:

Ff : carga localizada no centro do prisma (N);

L : distância entre os apoios (mm).

A resistência à compressão axial (Rc) foi calculada pela expressão,

NBR 13279 (ABNT, 2005):

Onde:

Fc : corresponde a máxima carga aplicada, em Newtons.

3.3.2 Absorção de Água por Imersão, Massa Específica e Índice de Vazios

A determinação da absorção, massa específica e índice de vazios se-

guiram as prescrições normativas da NBR 9778 (ABNT, 2005), após os 28 dias de

idade. Foram moldados três corpos-de-prova cilíndricos, com 5 cm de diâmetro por

10 cm de altura, para cada teor de substituição. A cura dos CPs seguiu a mesma

metodologia dos CPs do ensaio de resistência, 24 h ao ar e 27 dias de cura imersos

em água saturada com cal.

Após a cura, os CPs foram mantidos por um período de 72 h na estufa

a (105 +/- 5)°C para a secagem. Depois de secos os CPs foram pesados na balança

com precisão de 0,01g, Figura 11 (a). E imersos em água em temperatura ambiente

logo após a pesagem, Figura 11 (b). Após 72 horas de imersão, os CPs foram leva-

dos à fervura e mantidos nesta condição por 5 horas, Figura 11 (c) e depois passou

pelo processo de resfriamento, que durou cerca de 20 horas, até atingir a temperatu-

ra de 23+/- 2 °C. Os CPs foram pesados na condição saturada superfície seca, Figu-

ra 11 (d), e posteriormente, foram pesados na balança hidrostática com precisão de

0,1g, Figura 11 (e).

43

Figura 11 Apectos do ensaio de absorção por imersão. (a) balança utilizada para a pesa-gem dos cps na condição seca; (b) cps imersos em água para o ensaio de absor-ção; (c) momento da fervura dos cps do ensaio de absorção; (d) pesagem de um cp na condição saturada superfície seca; (e) pesagem do cp na balança hidrostá-tica

(Fonte: Produção do Próprio Autor)

A absorção de água de cada corpo-de-prova (Ai), em porcentagem, foi

determinada pela expressão, conforme NBR 9778 (ABNT, 2005):

Onde:

msat : massa da amostra saturada após imersão e fervura (g);

ms: massa da amostra seca (g).

O índice de vazios (Iv) de cada amostra, em porcentagem, foi calculado

pela expressão:

(c)

(a) (b)

(d) (e)

44

Onde:

mi: massa da amostra saturada imersa (em balança hidrostática)

A massa específica de cada amostra seca (ρs) foi calculada, de acordo

com a NBR 9778 (ABNT, 2005), pela equação:

A massa específica da amostra saturada (ρsat) foi calculada pela ex-

pressão:

A massa específica real (ρr) foi calculada pela fórmula:

Das expressões das massas específicas destaca-se a diferença entre a

massa específica da amostra seca e a massa específica real. O denominador da

expressão da massa específica da amostra seca refere-se ao volume de agregados

excluindo os vazios permeáveis. Já o denominador da massa específica real corres-

ponde ao volume de agregados incluindo os vazios permeáveis.

3.3.3 Permeabilidade pelo Método do Cachimbo

Para o ensaio de permeabilidade pelo Método do Cachimbo foram

moldadas três placas, uma para cada teor de substituição. As placas possuem 43 x

43 x 3 cm de dimensão e formato ligeiramente curvo. Pois este formato confere mai-

or estabilidade à placa, que precisa estar na posição vertical durante o ensaio.

A mistura das argamassas para a moldagem das placas foi realizada

seguindo as prescrições da NBR 7215 (ABNT, 1996). Após mistura, deu- se início a

45

moldagem das placas. Para a confecção das formas para as moldagens das placas,

utilizou-se:

badeja metálica;

areia;

lona plástica e

um molde de madeira.

Primeiro, espalhou-se a areia na bandeja de forma a deixá-la com o

mesmo formato do molde de madeira, em seguida cobriu-se a areia com a lona plás-

tica e por último encaixou-se o molde. As fôrmas foram preparadas previamente, e

tão logo as argamassas eram misturadas, dava-se início às moldagens. A argamas-

sa foi espalhada em toda a fôrma e adensada com o auxílio de uma colher de pe-

dreiro e a superfície regularizada com uma régua metálica.

Em seguida, o molde de madeira era retirado e a placa coberta com o

restante da lona plástica, permanecendo em repouso por 24 horas para então serem

imersas em água saturada com cal para a cura, por 20 dias. Depois, as placas foram

retiradas da imersão e postas para secar ao longo de sete dias em ambiente de la-

boratório, com temperatura de 25+/- 5°C.

Os ensaios de permeabilidade ocorreram após os 28 dias de cura das

placas. Em cada placa foram colados três cachimbos, dois na parte inferior e um na

parte superior da placa, equidistantes entre si, conforme Figura 12 a. Os cachimbos

foram colados um dia antes do ensaio, para que a cola de silicone estivesse devi-

damente seca para a realização do ensaio. Os materiais e utensílios utilizados para

realização do ensaio foram:

Cachimbo de vidro;

Cola de silicone;

Cronômetro;

Béquer;

Pipeta de plástico;

Água destilada.

Em cada placa foram realizadas três determinações do ensaio de per-

meabilidade. A metodologia adotada foi colocar a placa na vertical, Figura 12 (b),

encher os cachimbos com água destilada até a marca de 4 ml (Figura 12c) e fazer

46

uma leitura a cada minuto até os 15 minutos. Depois foram feitas leituras aos 30, 45,

60, 120, 180 e 360 minutos.

Figura 12 Aspectos do ensaio de permeabilidade: a) Cachimbos de vidro posicionados na placa; b) Placa posicionada para o ensaio; c) Detalhe de um dos cachimbos du-rante o ensaio

(Fonte: Produção do Próprio Autor)

Após a leitura dos 15 minutos da primeira determinação, iniciava-se a

segunda determinação. Do mesmo modo com a terceira respeitando um intervalo de

15 minutos entre cada determinação de modo que houvesse tempo hábil para as

leituras e anotações. E, embora o ensaio tenha sido realizado com o tempo de leitu-

ra até os 360 minutos, como resultado final do ensaio considerou-se apenas as leitu-

ras da absorção dos primeiros 15 minutos.

(a)

(b) (c)

47

Primeiro foram calculadas as taxa de absorção a cada minuto, fazendo

a subtração entre a leitura atual (marca d’água na escala graduada do cachimbo de

vidro anotada a cada minuto) e a leitura registrada no minuto anterior. Isso foi feito

para os primeiros 15 minutos de ensaio. Como resultado final de cada determinação

(cachimbo colado na placa), calculou-se a média das taxas de absorção ao longo

dos 15 minutos. E como resultado da taxa de absorção das argamassas em estudo,

calculou-se a média das três determinações.

Os tempos finais de ensaio foram registrados e compuseram uma tabe-

la com os registros de cada determinação e as médias, para cada corpo de prova.

A permeabilidade da argamassa foi também analisada fazendo a média

das três determinações a cada minuto. Ou seja, registraram-se as leituras de cada

cachimbo a cada minuto, até os 15 minutos de ensaio. Em seguida se calculou a

média dos três cachimbos em cada minuto. Os resultados são apresentados em

uma tabela que é composta também com os valores individuais de cada determina-

ção. Com os resultados médios de absorção por minuto, montou-se um gráfico de

dispersão, com linha de tendência, no qual os valores das médias estão no eixo das

ordenadas e o tempo no eixo das abscissas. Da inclinação da reta de tendência tem-

se o coeficiente de absorção para cada teor de substituição. Quanto mais agudo é o

ângulo da reta, menor é a absorção de água da argamassa ao longo do tempo. Este

método de avaliação da permeabilidade em argamassas foi utilizado por Scartezini

et al. (2002), no estudo da influência do substrato na aderência e na permeabilidade

em argamassas de revestimento.

48

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 ENSAIO DE COMPRESSÃO AXIAL

Os resultados do ensaio de resistência à compressão axial são apre-

sentados na Tabela 9.

Tabela 9 Resultados do ensaio de compressão axial das argamassas

CP fc (MPa)

REF 50% AMR 100% AMR

01 6,9 9,8* 10,9 02 8,6* 9,2* 10,8 03 7,0 10,4 11,5 04 6,7 11,3 12,5* 05 6,8 11,2 14,2* 06 6,6 7,8* 12,8*

fc médio (MPa) 6,8 11,0 11,1 Desvio Absoluto Máximo

(MPa) 0,2 0,5 -0,4

Desvio Padrão (MPa) 0,18 0,47 0,37 C.V. (%) 2,7 4,3 3,3

* Valores considerados discrepantes que foram retirados do cálculo.

Os resultados mostraram-se mais favoráveis para as argamassas com

maiores teores de agregados reciclados. Entretanto, essas argamassas apresenta-

ram maiores variações nos resultados. A resistência à compressão foi 62% maior

para a argamassa com 50% de AMR e 63% maior para a argamassa com 100% de

AMR, em relação à argamassa de referência. Isto pode ser explicado pela composi-

ção granulométrica do AMR que possui 16% de material menor que 0,15 mm. Na

mistura, os finos preenchem os vazios tornando-a mais densa. E ainda, a fração fina

do AMR pode conter uma quantidade de cimento anidro que pode vir a hidratar e

contribuir com a resistência mecânica da argamassa. Logo, esta pode ser uma ex-

plicação para o melhor desempenho das argamassas com AMR, pois o RCD utiliza-

do possui 86,2% de argamassa em sua composição.

Outro fator que pode influenciar de forma positiva no desempenho da

resistência mecânica à compressão é a redução da relação água-cimento devido à

maior absorção do agregado, uma vez que esta foi compensada apenas parcialmen-

te. Ou pela influência do superplastificante na mistura que promove melhor disper-

são das partículas de cimento na mistura.

49

Assunção, Carvalho e Barata (2007) avaliaram a resistência à com-

pressão de argamassas recicladas aos 7 e 14 dias de idade. Os resultados obtidos

pelos autores também foram favoráveis às argamassas recicladas. Foram avaliadas

duas argamassas com teores de AMR, AR 30 e AR 50. Também foi observado pelos

autores um aumento na resistência à medida que se aumentou o teor de AMR na

argamassa. O acréscimo de resistência para as argamassas recicladas foi ainda

maior aos 14 dias de idade, em relação à argamassa de referência, cerca de 15,6%

maior para AR 30 e 64,4% para AR 50. Logo, pode-se avaliar como positiva a substi-

tuição do AMN por AMR, referente ao ganho na resistência à compressão axial.

Fazendo uma relação entre a resistência à compressão média entre a

argamassa reciclada e a argamassa de referência, é possível notar que o acréscimo

na resistência à compressão axial das argamassas recicladas foi significativo. Con-

tudo, a diferença entre as argamassas recicladas foi de apenas 1%, como pode ser

observado na Figura 13.

Figura 13 Relação entre a resistência à compressão axial da argamassa reciclada e a resis-tência à compressão axial da argamassa de referência

(Fonte: Produção do Próprio Autor)

1,00

1,62 1,63

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

1,60

1,80

REF 50% AMR 100% AMR

fc r

ec/f

c r

ef

Teor de substituição

50

4.2 ENSAIO DE RESISTÊNCIA À TRAÇÃO NA FLEXÃO

Os resultados do ensaio de tração na flexão são apresentados na Ta-

bela 10.

Tabela 10 Resultados do ensaio de resistência à tração na flexão das argamassas

CP ft (Mpa)

REF 50% AMR 100% AMR

01 2,7 4,1 5,3 02 2,4 4,1 4,5* 03 3,2* 4,0 5,2

ft média (Mpa) 2,6 4,1 5,2 Desvio Absoluto Máximo

(Mpa) 0,15 0,01 0,05

Desvio Padrão (Mpa) 0,2 0,0 0,1 C.V. (%) 8,47 0,41 1,29

* Valores considerados discrepantes que foram retirados do cálculo.

A argamassa de referência apresentou resultados de resistência à tra-

ção na flexão 59% menor que a argamassa com 50% de AMR e 103% menor que a

argamassa com 100% de AMR. Nota-se também, que a resistência aumenta à me-

dida que o teor de reciclado aumenta, assim como no ensaio de resistência à com-

pressão axial. A diferença é que o ganho na resistência à tração foi muito mais signi-

ficativo à medida que se aumentou o teor de AMR na argamassa.

Através da relação entre a resistência à tração das argamassas reci-

cladas e a argamassa de referência, Figura 14, nota-se que o acréscimo na resis-

tência da argamassa reciclada com 100% de AMR foi ainda maior, cerca de 2 vezes

maior em relação à argamassa de referência.

51

Figura 14 Relação entre a resistência à tração das argamassas com teor de reciclado e à resistência à tração da argamassa de referência

(Fonte: Produção do Próprio Autor)

Em resumo, os resultados de resistência mecânica mais favoráveis às

argamassas recicladas podem estar associados à redução na relação água/cimento

devido à maior absorção de água do AMR. Isto também foi observado por Assunção,

Carvalho e Barata (2007), com argamassas preparadas com o entulho reciclado

proveniente de obras em Belém, Pa.

Outro fator que poderia alterar de forma positiva à resistência mecânica

das argamassas recicladas, é a utilização do aditivo superplastificante. Pois o aditivo

aumenta a trabalhabilidade sem a necessidade de adicionar água. Além de melhorar

a dispersão das partículas de cimento na mistura, tornando-a mais coesa e homo-

gênea.

1,00

1,59

2,03

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

REF 50% AMR 100% AMR

ft r

ec/

ftr

ref

Teor de substituição

52

4.3 ENSAIO DE ABSORÇÃO DE ÁGUA, ÍNDICE DE VAZIOS E MASSA ESPECÍ-

FICA

Os resultados do ensaio de absorção de água por imersão, índice de

vazios e massa específica são apresentados na Tabela 11.

Tabela 11 Resultados da absorção de água, índice de vazios e massa específica das ar-gamassas

Propriedades Físicas das argamassas endurecidas (NBR 9778, ABNT, 2005)

CP REF 50% AMR 100% AMR

Absorção de água (%)

01 17,6 18,3 18,4 02 17,2 18,4 18,5 03 16,6 18,1 18,2

Média 17,1 18,3 18,4 D.P 0,5 0,2 0,2

C.V. (%) 2,9 0,8 0,9

Índice de vazios (%)

01 31,3 31,9 31,2 02 30,7 31,9 31,3 03 29,2 31,5 30,8

Média 30,4 31,8 31,1 D.P 1,1 0,3 0,3

C.V. (%) 3,5 0,8 0,9

Massa específica da amostra seca (g/cm³)

01 1,8 1,7 1,7 02 1,8 1,7 1,7 03 1,8 1,7 1,7

Média 1,8 1,7 1,7 D.P 0,0 0,0 0,0

C.V. (%) 0,7 0,1 0,1

Massa específica da amostra saturada (g/cm³)

01 2,1 2,1 2,0 02 2,1 2,1 2,0 03 2,1 2,1 2,0

Média 2,1 2,1 2,0 D.P 0,0 0,0 0,0

C.V. (%) 1,1 0,1 0,2

Massa específica real (g/cm³)

01 2,6 2,6 2,5 02 2,6 2,5 2,5 03 2,5 2,5 2,4

Média 2,5 2,5 2,5 D.P 0,1 0,0 0,0

C.V. (%) 2,2 0,4 0,5

De acordo com os resultados apresentados, é possível observar que a

absorção de água foi menor na argamassa de referência. E aumenta na medida em

que se aumenta o teor de AMR na argamassa. Entretanto, o acréscimo na taxa de

absorção de água das argamassas não foi proporcional ao teor de AMR, como pode

ser observado na Figura 15.

53

Figura 15 Relação entre a absorção por imersão das argamassas recicladas e a absorção por imersão da argamassa de referência

(Fonte: Produção do Próprio Autor)

Na Figura 15 observa-se que as argamassas recicladas apresentaram

apenas 7% a mais de absorção de água que a argamassa de referência. Um resul-

tado que pode ser considerado satisfatório, visto que na composição do RCD utiliza-

do, havia 13% de cerâmica, um material poroso que poderia ser um fator negativo

para a maior absorção de água da argamassa reciclada.

Na literatura, Santana, Carneiro e Sampaio (2001) encontraram maio-

res taxas de absorção de água por imersão em argamassas recicladas em compa-

ração com a argamassa de referência. A argamassa de referência, avaliada pelos

autores, apresentou menor absorção, 15%. Enquanto a argamassa Base (com are-

noso) apresentou absorção de 17%. As argamassas recicladas AR 30, AR 50, AR

75 e AR 100 apresentaram absorção crescente à medida que se aumentou o teor de

AMR. O aumento percentual foi de 32,9% para AR 30, 47,6% para AR 50, 75,9%

para AR 75 e 83,5% para AR 100.

A Figura 16 apresenta a relação entre o índice de vazios da argamassa

reciclada e a argamassa de referência.

1,001,07 1,07

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

REF 50% AMR 100% AMR

Ab

s.

Rec./ A

bs.

Ref.

Teor de substituição

54

Figura 16 Relação entre o índice de vazios das argamassas recicladas e o índice de vazios da argamassa de referência

(Fonte: Produção do Próprio Autor)

Da análise da Figura16 nota-se que a argamassa de referência obteve

índice de vazios ligeiramente menor, cerca de 4% em relação à argamassa com

50% de AMR e 2% em relação à argamassa com 100% de AMR. Um resultado não

muito significativo, mas que está associado aos 7% a menos na absorção de água

em relação às argamassas recicladas.

A Figura 17 apresenta a relação entre as massas específicas da arga-

massa reciclada e as massas específicas da argamassa de referência.

Figura 17 Relação entre as massas específicas da amostra seca, saturada e real das arga-massas recicladas e as massas específicas da amostra seca, saturada e real da argamassa de referência

(Fonte: Produção do Próprio Autor)

1,00 1,04 1,02

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

REF 50% AMR 100% AMR

I.V

. R

ec./ I

.V.

Ref.

Teor de substituição

1,00 0,94 0,941,00 1,00 0,951,00 1,00 1,00

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

REF 50% AMR 100% AMR

M.E

.Rec./ M

.E. R

ef.

Teor de substituição

Massa Específica da Amostra Seca Relativa

Massa Específica da Amostra Saturada Relativa

Massa Específica Real Relativa

55

Na Figura 17 observa-se que os resultados das massas específicas

das amostras secas foram menores para as argamassas com teor de AMR. Já os

resultados de massa específica da amostra saturada, a argamassa com 100% de

AMR apresentou o menor resultado. Isto pode estar associado à presença de mate-

riais porosos que compõem o RCD, como por exemplo, a cerâmica vermelha. A me-

nor massa específica indica que a argamassa é mais porosa e, portanto possui mai-

or absorção de água. Quanto à massa específica real as argamassas recicladas a-

presentaram resultados iguais aos da argamassa de referência.

4.4 ENSAIO DE PERMEABILIDADE PELO MÉTODO DO CACHIMBO

Os resultados do ensaio de permeabilidade pelo Método do cachimbo

nos primeiros 15 minutos de determinação são apresentados na Tabela 12.

Tabela 12 Resultado do ensaio de permeabilidade pelo Método do Cachimbo das arga-massas aos 28 dias de idade

Tempo (min)

Leitura (ml) Tr Ref Tr 50% Tr 100%

01 02 03 Média 01 02 03 Média 01 02 03 Média

0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 1 0,60 0,30 0,40 0,43 0,35 0,50 0,45 0,43 0,25 0,20 0,10 0,18 2 0,85 0,50 0,70 0,68 0,60 0,70 0,70 0,67 0,35 0,30 0,20 0,28 3 1,10 0,70 0,90 0,90 0,80 0,85 0,85 0,83 0,45 0,40 0,25 0,37 4 1,30 0,85 1,10 1,08 0,95 1,00 1,00 0,98 0,55 0,45 0,30 0,43 5 1,50 1,00 1,25 1,25 1,10 1,10 1,10 1,10 0,60 0,55 0,35 0,50 6 1,70 1,15 1,40 1,42 1,25 1,25 1,25 1,25 0,65 0,60 0,40 0,55 7 1,85 1,30 1,55 1,57 1,35 1,35 1,35 1,35 0,70 0,65 0,44 0,60 8 2,00 1,45 1,70 1,72 1,45 1,45 1,45 1,45 0,75 0,70 0,47 0,64 9 2,15 1,60 1,80 1,85 1,60 1,55 1,55 1,57 0,80 0,75 0,50 0,68 10 2,30 1,70 1,95 1,98 1,70 1,65 1,65 1,67 0,85 0,80 0,54 0,73 11 2,45 1,85 2,05 2,12 1,80 1,75 1,75 1,77 0,90 0,85 0,57 0,77 12 2,60 2,00 2,20 2,27 1,90 1,80 1,85 1,85 0,95 0,90 0,61 0,82 13 2,70 2,10 2,30 2,37 2,00 1,90 1,95 1,95 1,00 0,94 0,65 0,86 14 2,85 2,20 2,40 2,48 2,05 2,00 2,05 2,03 1,05 0,97 0,69 0,90 15 3,00 2,35 2,50 2,62 2,15 2,10 2,15 2,13 1,10 1,00 0,71 0,94

Dos resultados apresentados na Tabela 12, nota-se que houve varia-

ções entre as determinações para todas as argamassas avaliadas. E estas varia-

ções são observadas já no primeiro minuto de ensaio. Analisando as médias das

determinações pode-se notar que há uma redução na permeabilidade para a arga-

massa com 50% de AMR e uma redução ainda maior para a argamassa com 100%

de AMR.

56

A Figura 18 apresenta o gráfico da média de absorção das argamassas

em função do tempo em minutos. Do gráfico, determinaram-se os coeficientes de

absorção através da inclinação da reta.

Figura 18 Média da absorção de água em função do tempo das argamassas pelo Método do Cachimbo

(Fonte: Produção do Próprio Autor)

Os coeficientes de determinação (R²) obtidos para cada uma das mis-

turas de argamassa (Figura 18) variaram de 0,9572 para a argamassa com 100% de

AMR a 0,9757 para a argamassa de referência. Ou seja, as retas de aproximação

representam de maneira satisfatória as variações da absorção em função do tempo.

A Figura 19 apresenta os resultados dos coeficientes de absorção de água das ar-

gamassas extraídos das inclinações das retas do gráfico de absorção em função do

tempo.

y = 0,1604x + 0,3429R² = 0,9757

y = 0,1256x + 0,3723R² = 0,9575

y = 0,0557x + 0,1616R² = 0,9572

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

Méd

ia d

a

Ab

so

rção

(m

l)

Tempo (min)

REF 50%AMR 100%AMR

57

Figura 19 Resultado dos coeficientes de absorção de água das argamassas pelo Método do Cachimbo

(Fonte: Produção do Próprio Autor)

Analisando a Figura 19 percebe-se que o coeficiente de absorção foi

menor à medida que se aumentou o teor de AMR na argamassa. Logo, pode-se

concluir que nos primeiros 15 minutos de ensaio as argamassas recicladas se mos-

traram menos permeáveis que a argamassa de referência.

Além disso, as argamassas recicladas mantiveram este desempenho

ao longo de todo o ensaio de permeabilidade. Isso pode ser observado através dos

resultados dos tempos finais de ensaio, apresentados na Tabela 13.

Tabela 13 Resultado do ensaio de permeabilidade pelo Método do Cachimbo, tempos finais do ensaio por determinação e média dos tempos finais por teor de substituição

Argamassa Determinação Tempo Final

(minutos) Média (minutos)

Ref 01 22

29,0 02 30 03 35

50% AMR 01 45

44,0 02 45 03 42

100% AMR 01 154

177,3 02 157 03 221

Dos tempos finais de ensaio, observa-se que o tempo de ensaio foi

aumentando com o teor de substituição de AMR de forma não linear. Sendo que a

argamassa com 100% de AMR apresentou baixa absorção de água durante todo

ensaio, e resultou em uma média de tempo final cerca de 6 vezes maior em relação

à argamassa de referência, de acordo com a Figura 20.

0,1604

0,1256

0,0557

0,00

0,04

0,08

0,12

0,16

0,20

Ref 50% AMR 100% AMR

Co

efi

cie

nte

de A

bso

rção

Teor de Substituição

58

Figura 20 Relação entre a média dos tempos finais de execução do ensaio de permeabili-dade pelo método do Cachimbo das argamassas recicladas e a média dos tempos finais de ensaio da argamassa de referência

(Fonte: Produção do Próprio Autor)

Para uma análise mais detalhada da absorção de água das argamas-

sas avaliadas nos primeiros 15 minutos de ensaio, calculou-se a taxa absorção de

água a cada minuto. Foi calculada também a média das taxas de absorção de cada

determinação e a média total das taxas de absorção de água. Os resultados estão

apresentados na Tabela 14.

1,001,52

6,11

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

Ref 50% AMR 100% AMR

T. F

inal

Rec./ T

. F

inal

Ref.

Teor de Substituição

59

Tabela 14 Resultado do ensaio de permeabilidade pelo Método do cachimbo das argamassas aos 28 dias

Arg. Det. Absorção de Água (ml) em Função do Tempo (min) Taxa de

Absorção (ml/min)

Taxa de Absorção

Média (ml/min) 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15

Ref

1 0,00 0,60 0,85 1,10 1,30 1,50 1,70 1,85 2,00 2,15 2,30 2,45 2,60 2,70 2,85 3,00 0,20

0,17

Taxa - 0,60 0,25 0,25 0,20 0,20 0,20 0,15 0,15 0,15 0,15 0,15 0,15 0,10 0,15 0,15

2 0,00 0,30 0,50 0,70 0,85 1,00 1,15 1,30 1,45 1,60 1,70 1,85 2,00 2,10 2,20 2,35 0,16

Taxa - 0,30 0,20 0,20 0,15 0,15 0,15 0,15 0,15 0,15 0,10 0,15 0,15 0,10 0,10 0,15

3 0,00 0,40 0,70 0,90 1,10 1,25 1,40 1,55 1,70 1,80 1,95 2,05 2,20 2,30 2,40 2,50 0,17

Taxa - 0,40 0,30 0,20 0,20 0,15 0,15 0,15 0,15 0,10 0,15 0,10 0,15 0,10 0,10 0,10

50%

1 0,00 0,35 0,60 0,80 0,95 1,10 1,25 1,35 1,45 1,60 1,70 1,80 1,90 2,00 2,05 2,15 0,14

0,14

Taxa - 0,35 0,25 0,20 0,15 0,15 0,15 0,10 0,10 0,15 0,10 0,10 0,10 0,10 0,05 0,10

2 0,00 0,50 0,70 0,85 1,00 1,10 1,25 1,35 1,45 1,55 1,65 1,75 1,80 1,90 2,00 2,10 0,14

Taxa - 0,50 0,20 0,15 0,15 0,10 0,15 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,05 0,10 0,10 0,10

3 0,00 0,45 0,70 0,85 1,00 1,10 1,25 1,35 1,45 1,55 1,65 1,75 1,85 1,95 2,05 2,15 0,14

Taxa - 0,45 0,25 0,15 0,15 0,10 0,15 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10

100%

1 0,00 0,25 0,35 0,45 0,55 0,60 0,65 0,70 0,75 0,80 0,85 0,90 0,95 1,00 1,05 1,10 0,07

0,06

Taxa - 0,25 0,10 0,10 0,10 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05

2 0,00 0,20 0,30 0,40 0,45 0,55 0,60 0,65 0,70 0,75 0,80 0,85 0,90 0,94 0,97 1,00 0,07

Taxa - 0,20 0,10 0,10 0,05 0,10 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,04 0,03 0,03

3 0,00 0,10 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,44 0,47 0,50 0,54 0,57 0,61 0,65 0,69 0,71 0,05

Taxa - 0,10 0,10 0,05 0,05 0,05 0,05 0,04 0,03 0,03 0,04 0,03 0,04 0,04 0,04 0,02

*Arg.=argamassa; Det.= determinação.

60

Analisando a Tabela 14 percebe-se que as taxas de absorção foram

menores à medida que se aumentou o teor de AMR na argamassa. Este comporta-

mento foi observado desde o primeiro minuto de ensaio. É possível observar que as

taxas de absorção inicial da argamassa com 100% de AMR são menores. E se man-

tém menores ao longo de todo o ensaio. Resultando em uma média de taxa de ab-

sorção de 0,36 em relação à argamassa reciclada. A Figura 21 apresenta a relação

entre as médias das taxas de absorção das argamassas recicladas em relação à

média das taxas de absorção da argamassa de referência.

Figura 21 Relação entre a taxa de absorção média pelo Método do Cachimbo das arga-massas recicladas e a taxa média de absorção da argamassa de referência

(Fonte: Produção do Próprio Autor)

A Figura 22 apresenta as taxas de absorção de água a cada minuto

das argamassas estudadas. Percebe-se que a taxa de absorção de água nos primei-

ros três minutos foi maior em todas as determinações. Este fator pode estar associ-

ado à sucção inicial dos poros da superfície da placa. Mas, no decorrer do tempo a

taxa de absorção tende a se manter constante.

1,00

0,82

0,36

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

REF 50% AMR 100% AMR

Taxa d

e A

bs.

Méd

ia R

ec./

Taxa d

e A

bs.

Méd

ia R

ef.

Teor de substituição

61

Figura 22 Resultado da taxa de absorção de água (ml/min) pelo Método do cachimbo para as argamassas: (a) Referência; (b) 50% de AMR e (c) 100% de AMR

(Fonte: Produção do Próprio Autor)

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

00 05 10 15 20

Taxa d

e a

bso

rção

(m

l/m

in)

Tempo (min)

CP1

CP2

CP3

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

00 05 10 15 20

Taxa d

e A

bso

rção

(m

l/m

in)

Tempo (min)

CP1

CP2

CP3

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

00 05 10 15 20

Taxa d

e A

bso

rção

(m

l/m

in)

Tempo (min)

CP1

CP2

CP3

(a)

(b)

(c)

62

Como visto nos resultados apresentados na Figura 22, as argamassas

com teor de reciclado apresentaram melhor desempenho que a argamassa de refe-

rência. Na literatura, Gomes et al. (2011) avaliaram a permeabilidade pelo Método

do Cachimbo em revestimentos com argamassas com AMR. Os resultados encon-

trados pelos autores também foram favoráveis às argamassas recicladas. Para os

15 primeiros minutos de ensaio a argamassa de referência apresentou uma perme-

abilidade de 9 ml, enquanto a argamassa com 42,9% de AMR apresentou aproxima-

damente 5,4 ml de absorção. No entanto, o melhor resultado foi obtido com a arga-

massa de referência com adição de cal, esta argamassa apresentou apenas 4,5 ml

de absorção.

Logo, se a argamassa produzida com areia natural cimento e cal, ava-

liada por Gomes, et al (2011), apresentou 50% menos absorção que a argamassa

sem a cal. Pode-se concluir que a cal além de promover melhor trabalhabilidade na

mistura, contribuiu também para um melhor desempenho quanto à permeabilidade

desta argamassa.

Então, o melhor desempenho das argamassas recicladas quanto à

permeabilidade pode estar associado à composição granulométrica do AMR, 16%

de material menor que 0,15 mm. Essa fração fina contribuiu para o preenchimento

dos vazios na argamassa tornando-a mais densa e menos permeável. E ainda existe

a possibilidade dessa fração fina possuir cimento anidro, pois o RCD utilizado possui

86,2% de argamassa em sua composição. O cimento anidro pode vir a hidratar e

contribuir significativamente na resistência mecânica e na permeabilidade da arga-

massa reciclada. Além disso, os melhores resultados de permeabilidade obtidos pa-

ra as argamassas recicladas também podem estar associados à adição de super-

plastificante. Pois como se sabe, este aditivo promove uma melhor dispersão das

partículas de cimento na mistura.

No método do Cachimbo, a água dentro do cachimbo exerce uma

pressão de 92 mm de coluna d’água sobre uma área de 5,31 cm² no revestimento.

Essa pressão simula a ação do vento com velocidade de aproximadamente 140

km/h (Centre Scientifique et Technique de la Construction, 1982 citado por ALMEI-

DA; CARASEK, 2003). Neste método, a água sob pressão percola pelo revestimento

por entre seus vazios, e tende a tomar o caminho onde houver mais falhas. Outro

aspecto importante neste ensaio é quanto à superfície de contato com a água.

63

Quanto mais lisa (menos falhas ou fissuras) for a superfície do revestimento menor

será a permeabilidade, pelo menos para os primeiros instantes.

Diferentemente, no ensaio de absorção por imersão, as amostras são

imersas por 72 horas e levadas à fervura por 5 horas. Para que todos os vazios se-

jam preenchidos com água. E se possam mensurar suas propriedades físicas (ab-

sorção, índice de vazios e massa específica). Este é um método em que se avalia a

porosidade total da argamassa, incluindo os poros presentes nos agregados. Isso

explica o fato de as argamassas apresentarem resultados próximos no ensaio de

absorção por imersão e melhor desempenho no ensaio de permeabilidade.

64

5 CONCLUSÃO

Os resultados de resistência à compressão axial obtidos neste Traba-

lho mostraram-se satisfatórios para a utilização do AMR. Houve acréscimo de resis-

tência com a substituição da areia natural pelo agregado reciclado. A argamassa

com 100% de AMR apresentou 63% a mais de resistência à compressão que a ar-

gamassa de referência.

A resistência à tração na flexão também foi mais favorável para as ar-

gamassas recicladas. A utilização do AMR resultou em grande ganho na resistência

da argamassa. Com destaque para a argamassa com 100% de AMR que teve uma

resistência 203% maior que a argamassa de referência. Logo, nesta propriedade a

substituição do AMN pelo AMR mostrou-se vantajosa.

O ensaio de absorção por imersão revelou que as argamassas com te-

or de AMR apresentaram maior absorção de água e índice de vazios que a arga-

massa de referência. As massas específicas foram menores à medida que o teor de

AMR aumentou na mistura. Contudo, pode-se considerar que os resultados obtidos

foram satisfatórios, pois a absorção de água das argamassas recicladas foi de ape-

nas 1,07 em relação que a argamassa de referência.

O resultado mais satisfatório foi do ensaio de permeabilidade pelo Mé-

todo do Cachimbo. Houve uma diminuição significativa da permeabilidade com a

substituição do AMN pelo reciclado. Os resultados da taxa de absorção mostram

que a argamassa com teor de 100% de AMR leva ampla vantagem sobre a arga-

massa de referência. A argamassa com 100% de AMR apresentou apenas 36% da

taxa de absorção da argamassa de referência. Os tempos finais também compro-

vam o quanto a argamassa reciclada foi superior neste aspecto. O tempo final médio

foi cerca de 6 vezes maior que a argamassa de referência.

A avaliação da permeabilidade foi um dos objetivos principais deste

trabalho. E neste aspecto a utilização do RCD reciclado mostrou-se muito vantajosa.

Entretanto, algumas variáveis, como a influência do superplastificante nesta proprie-

dade, ainda precisam ser estudadas para que se possa utilizar o RCD de forma pre-

cisa e segura.

Neste trabalho, a utilização do agregado miúdo reciclado em substitui-

ção à areia natural, para a produção de argamassa, mostrou-se vantajosa em todas

65

as propriedades avaliadas. Entretanto, para as argamassas com teor de AMR a con-

sistência de 260 +/- 5 mm só foi alcançada com a utilização de um aditivo superplas-

tificante. Portanto, são necessários estudos que avaliem os custos deste material

para a produção de argamassas recicladas em larga escala.

66

6 REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS

ALMEIDA, LETÍCIA D.; CARASEK, HELENA. AVALIAÇÃO DA PERMEABILIDADE E DA ABSORÇÃO DE ÁGUA DE REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA PELO MÉTODO

DO CACHIMBO. São Paulo: V SBTA, 2003. 1 CD- ROM.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7211: Agregados para Concreto- Especificação. Rio de Janeiro: ABNT, 2005.

_____. NBR 7215: Cimento Portland- Determinação da Resistência à Compres-são. Rio de Janeiro: ABNT, 1996.

_____. NBR 9778: Argamassa e Concreto Endurecidos- Determinação da Ab-sorção de Água, Índice de Vazios e Massa Específica. Rio de Janeiro: ABNT, 2005.

_____. NBR 10004: Resíduos Sólidos- Classificação. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.

_____. NBR 11578: Cimento Portland Composto. Rio de Janeiro: ABNT, 1991.

_____. NBR 13276: Argamassa para Assentamento e Revestimento de Paredes e Tetos- Preparo da Mistura e Determinação do índice de Consistência. Rio de Janeiro: ABNT, 2005.

_____. NBR 13279: Argamassa para Assentamento e Revestimento- Determina-ção da Resistência à Tração e à Compressão. Rio de Janeiro: ABNT, 2005.

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