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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA – UEPG
SOLANGE TUROLA MARCHEZINI
LETRAMENTO ATRAVÉS DE POEMAS
PONTA GROSSA
2012
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA – UEPG
SOLANGE TUROLA MARCHEZINI
LETRAMENTO ATRAVÉS DE POEMAS
Artigo final apresentado na Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG como requisito para obtenção do título de professor PDE. Professor Orientador: Doutor Fábio Augusto Steyer.
PONTA GROSSA
2012
Ficha para Catálogo Artigo Final
Professor PDE/2010
Título Letramento através de poemas
Autor Solange Turola Marchezini
Escola de Atuação Colégio Estadual Júlia Wanderley-Ensino Fundamental, Médio e Profissional
Município da Escola Carambeí
Núcleo Regional de Educação Ponta Grossa
Orientador Professor Doutor Fábio Augusto Steyer
Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Ponta Grossa
Área do Conhecimento/Disciplina Língua Portuguesa
Relação Interdisciplinar Língua Portuguesa, Arte, Sociologia e Filosofia.
Público Alvo 6ª série do Ensino Fundamental
Localização Colégio Estadual Júlia Wanderley - Carambeí - Paraná
Resumo: (no máximo 1300 caracteres,
ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)
A leitura e a escrita são ferramentas importantes de aprendizagem e comunicação, pois irão estabelecer um vínculo maior entre o leitor e o saber científico ou não, que o aluno está adquirindo em seu cotidiano. Considerando a importância da leitura, foi desenvolvido o trabalho com os alunos através da apresentação gradativa de poemas, iniciando dos mais concretos para os mais abstratos. Foram desenvolvidas atividades diversas como: leitura, análise e interpretação de textos, declamação, reescrita, mudança de gênero e produção textual. Pretendeu-se, com a implementação deste projeto, que o educando compreendesse melhor o que lê, desenvolvendo sua capacidade de análise e abstração, e demonstrando ao final dos trabalhos uma leitura mais significativa.
Palavras-chave (3 a 5 palavras) Leitura; Letramento; Poesia.
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LETRAMENTO ATRAVÉS DE POEMAS
Autor: Solange Turola Marchezini Orientador: Profº Doutor Fábio Agusto Steyer
"Viajar pela leitura sem rumo, sem intenção. Só para viver a aventura que é ter um livro nas mãos. É uma pena que só saiba disso quem gosta de ler. Experimente! Assim sem compromisso, você vai me entender. Mergulhe de cabeça na imaginação!"1
Clarice Pacheco
RESUMO Este artigo é resultado da implementação do projeto PDE- Letramento através de poemas – desenvolvido no Colégio Estadual Júlia Wanderley – Ensino Fundamental, Médio e Profissional, com os alunos da 6ª série (7º ano) do turno matutino, sendo que esta implementação foi realizada no período vespertino, no contra turno de estudo regular das crianças. O motivou este estudo foi a relevância do tema para a vida de todos, visto que a leitura e a escrita são ferramentas importantes de aprendizagem e comunicação. A escrita tem o poder de registrar e eternizar todo conhecimento, porém este registro de nada valeria sem a leitura, pois é através dela que o indivíduo se apropria deste patrimônio histórico e cultural. A leitura significativa irá estabelecer um vínculo maior entre o leitor e o saber (científico ou não) que o aluno está adquirindo, e seu cotidiano ampliará a visão e interpretação de mundo. Sabe-se que muitos alunos não possuem o hábito da leitura e isso se deve, em grande parte, ao fato de não compreenderem o que leem. Uma das queixas mais comuns de professores de todas as áreas do conhecimento no ambiente escolar refere-se à dificuldade dos alunos com a leitura. O objetivo deste trabalho é tentar diminuir essa dificuldade, alvo de críticas evidenciadas em expressões comumente ouvidas nas escolas, quando professores alegam que as dificuldades dos alunos provem do ―não saber ler‖. Assim, pela apresentação gradativa de poemas, iniciando dos mais concretos para os mais abstratos, foram desenvolvidas atividades diversas como: leitura, análise e interpretação de textos, declamação, reescrita, mudança de gênero e produção textual. A poesia é um gênero que agrada a crianças e adolescentes e então, através de atividades agradáveis e divertidas, pretendeu-se, com a implementação deste projeto, que o educando compreendesse melhor o que lê, desenvolvendo sua capacidade de análise, abstração e demonstrando ao final dos trabalhos uma leitura mais significativa.
1 Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/frase/ODEzNDE>. Acesso em 25 jun. 2012.
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Palavras Chave: Leitura; Letramento; Poesia.
INTRODUÇÃO
O presente artigo é resultado da implementação do projeto PDE sobre leitura e
letramento desenvolvido no Colégio Estadual Júlia Wanderley – Ensino Fundamental,
Médio e Profissional. O motivou este estudo foi a relevância do tema para a vida de todos,
visto que a leitura e a escrita são ferramentas importantes de aprendizagem e
comunicação. A escrita tem o poder de registrar todo conhecimento, porém este registro
de nada valeria sem a leitura, pois é através dela que o indivíduo se apropria deste
patrimônio histórico e cultural. A leitura significativa irá estabelecer um vínculo entre o
leitor e o saber, irá ampliar a visão e a interpretação de mundo.
Sabe-se que muitos alunos não possuem o hábito da leitura e isso se deve, em
grande parte, ao fato de não compreenderem o que leem, portanto não desenvolveram o
gosto por esta atividade. Uma das queixas mais comuns, de professores de todas as
áreas do conhecimento no ambiente escolar, refere-se à dificuldade dos alunos com a
leitura. Eles alegam que as dificuldades dos educandos provêm do ―não saber ler‖, ou
seja, o aluno é alfabetizado, porém não letrado o suficiente para compreender os textos
apresentados, o que, para muitos, é a causa de grande parte dos problemas de
aprendizado enfrentados pelos estudantes.
A partir dessa problemática, surgiu a intenção de realizar um trabalho efetivo de
desenvolvimento da leitura, envolvendo a compreensão ampla do que está sendo lido
pelo aluno, desenvolvendo a capacidade de abstração e compreensão de textos diversos,
e, para implementação do planejado, pensou-se na utilização de poemas, pois se sabe
que este gênero textual exige uma nova forma de leitura e, em geral, agrada as crianças e
adolescentes. Assim, algumas das questões que se objetiva investigar são: poderá o
estudo de poemas colaborar satisfatoriamente para o desenvolvimento da capacidade de
abstração? Desenvolverá a capacidade de análise no educando? Ajudará a elucidar os
mecanismos discursivos e linguísticos subjacentes do texto? Levará o leitor a identificar
referentes não explícitos na superfície textual? Poderá colaborar para a compreensão de
textos em geral, diminuindo as dificuldades com a leitura e proporcionando um
aprendizado mais sólido? Está a Literatura Infantil sendo utilizada nas escolas de maneira
a proporcionar aos estudantes a descoberta do mundo da leitura? Considerando que o
mundo nos apresenta textos verbais e não verbais, poderá a leitura de imagens colaborar
na formação do pensamento lógico e na abstração dos significados?
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Nesta linha, a presente pesquisa corrobora na perspectiva de refletir algumas
destas questões a partir do foco do trabalho de Língua Portuguesa com poemas. Trata-se
de um projeto com aplicação na prática com vistas a desenvolver a leitura significativa,
iniciando por criar hábitos de leitura/interpretação de poemas e leitura de imagens. A partir
de então, possibilitar que a Literatura passe a fazer parte da vida dessas crianças, uma
vez que quando bem orientadas são perfeitamente capazes de compreender qualquer
texto, literário ou não. E aqui, não se diferencia Literatura Infantil daquela direcionada ao
mundo dos adultos, como obra literária, embora haja opiniões diferentes sobre este
assunto.
Como já mencionado, muitos autores têm debatido sobre a Literatura Infantil.
Conforme Zilberman (2003), a Literatura Infantil foi transformada em um gênero sem
importância, pois tomou para si o caráter passageiro da infância tendo sua estética
considerada de pouca importância literária. Entretanto, não se pode esquecer a
importância de sua função social e formativa, o que motivou seu aparecimento.
Nesse sentido, cumpre dizer que uma das funções da Literatura Infantil é a
formação do leitor. Infelizmente, nem sempre ela cumpre este objetivo, pois se
considerarmos que se a criança não entende o que lê, nenhuma das funções da Literatura
se cumprirá. É justamente neste âmbito que este projeto atuou, ou seja, que através dos
poemas e atividades propostas na unidade didática desenvolvida, os alunos pudessem
desenvolver suas capacidades de abstração e compreensão de texto. Vale dizer neste
momento que esta pesquisa trabalhou com textos da Literatura dirigida aos adultos, pois
os temas encontrados nestes poemas são universais.
O poema é um texto dinâmico, cheio de sentidos que ativa o imaginário, estimula
a criatividade, provoca incitações para suscitar emoções e gerar imagens. Através dele
pode-se explorar o real descobrindo mundos, dando o poder de transformação,
prospecção e criação (EVANGELISTA; BRANDÃO; MACHADO, 2003). Se o objetivo é
desenvolver a capacidade de abstração no aluno, não se poderia deixar de trabalhar com
a leitura de imagens, pois para interpretá-las simbolicamente, precisa-se transcender a
concretude representada pela imagem.
Nessa esteira, o presente projeto foi desenvolvido no Colégio Estadual Júlia
Wanderley – Ensino Fundamental, Médio e Profissional – Município de Carambeí – PR,
com os alunos da 6ª série do Ensino Fundamental. Os alunos participantes foram aqueles
com disponibilidade em permanecer no colégio no período contrário ao de estudo regular,
pois nesta escola existem dificuldades relativas ao transporte escolar e local de moradia
de muitos estudantes, sendo que grande parte deles reside em localidades distantes da
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escola.
Através da experiência de anos de magistério, constatei que as dificuldades
apresentadas pelos alunos da 5ª série com a leitura infelizmente os acompanham durante
todo o Ensino Fundamental e, como diz Paulo Freire em a importância do ato de ler –
Três artigos que se completam (2005, p. 71), ―Não podemos duvidar de que a prática nos
ensina.‖ Este aprendizado mostra que se poderia desenvolver este projeto com qualquer
turma que estivesse interessada, pois todas poderiam ser beneficiadas com esta
implementação. Porém, como não houve problemas com o interesse da turma para a qual
este projeto foi pensado, desenvolveu-se as atividades com a 6ª série (7º ano) do turno
matutino do Colégio Estadual Júlia Wanderley de Carambeí, em período de contra turno,
portanto no turno vespertino. As atividades foram realizadas em encontros semanais (oito
no total) com a duração de 4 (quatro) horas cada um, totalizando trinta e duas horas de
estudos. No decorrer deste trabalho será comentado um pouco sobre cada um dos
encontros.
O trabalho com poemas abre possibilidades para que se introduzam outros
gêneros textuais de maneira diferenciada no universo dessas crianças, na expectativa de
que se possa ajudá-los a melhor compreenderem o que leem, passando a interessar-se
por outros tipos de livros e não apenas por aqueles que apresentem pouco texto escrito e
muita ilustração.
A metodologia de trabalho foi dividida em quatro momentos para facilitar a
aplicação do projeto. Num primeiro momento, o professor apresentou o projeto aos
estudantes, os conteúdos a serem trabalhados e objetivos a serem alcançados,
explicando-lhes os meios de avaliação e esclarecendo as dúvidas que surgiram, com o
objetivo de conseguir maior adesão e comprometimento por parte deles, pois conforme se
lê em Mara M. Monteiro (2004, p. 86), ―O primeiro passo para se evitarem problemas de
aprendizagem é criar uma relação dialógica para que tudo fique claro, para despertar o
interesse, porque deste vem o desejo.‖ Pode-se perceber que o interesse realmente
surgiu ao se explicar todos os detalhes do estudo que se pretendia para eles.
Em seguida, iniciaram-se as atividades através da aplicação de um teste
avaliativo para verificação dos níveis de compreensão textual dos alunos envolvidos. Este
teste foi, obrigatoriamente, preparado e aplicado por outro professor colaborador que
guardou estas avaliações consigo.
No terceiro momento é que se deu o trabalho com os conteúdos e textos. Foram
apresentados poemas de diversos autores, iniciando pelos mais simples e de fácil
entendimento e, gradativamente, indo aos mais complexos. A intertextualidade com outros
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gêneros foi feita através de atividades agradáveis como ouvir poemas gravados com
fundo musical, declamação, ilustração, teatralização e produção de textos, poemas ou
não, dependendo do desejo despertado nos alunos através do trabalho realizado.
Para encerrar os trabalhos, o professor colaborador aplicou novamente o mesmo
teste avaliativo realizado no segundo momento, comparando as duas avaliações a fim de
verificar se houve ou não melhora nos níveis de compreensão do texto.
A interdisciplinaridade aconteceu durante o desenvolvimento das atividades
propostas, no discorrer das discussões suscitadas pelos textos apresentados. As
atividades foram desenvolvidas em 32 horas aula, sendo distribuídas em 8 (oito)
encontros semanais de 4 (quatro) horas cada um.
Assim, na primeira parte do corpo deste trabalho será discutida a questão da
abordagem dada ao gênero poemas nos livros didáticos; num segundo momento será
abordado a implementação do material didático com os alunos, tratando dos acertos, das
dificuldades e adaptações que se fizeram necessárias durante o desenvolvimento das
atividades propostas no material com os alunos. A seguir será tratada da sondagem
realizada no início dos trabalhos com os estudantes e ao final se dará enfoque aos
resultados obtidos em relação ao conhecimento inicial levantado.
DESENVOLVIMENTO
Antes de tudo é importante dizer que os diferentes gêneros textuais apresentam
mecanismos do discurso e da linguística que devem ser descobertos e explorados
conjuntamente e, para tanto, faz-se necessário que os alunos leiam e tenham a
compreensão do que está sendo lido, desenvolvendo assim a aptidão para interpretar e
produzir seus próprios textos. A leitura significativa irá estabelecer um vínculo maior entre
o conhecimento que o aluno está adquirindo e o seu cotidiano. Como afirma Libaneo
(1985, p. 39):
A atuação da escola consiste na preparação do aluno para o mundo adulto e suas contradições. Portanto o papel da escola é adotar uma atividade mediadora através da socialização e transmissão de conteúdos, para uma participação ativa na democratização da sociedade. Nesse caso, utilizando conteúdos culturais universais que se constituíram em domínios de conhecimento relativamente autônomos, onde além de ensinados os alunos se liguem de forma indissociável.
Entre os objetivos das instituições escolares a serem atingidos está a qualidade
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de ensino, que depende diretamente de um trabalho efetivo do professor na transmissão
de conhecimento e assimilação do que e como está sendo ensinado. Ele pode garantir ao
aluno o desenvolvimento das habilidades necessárias para uma leitura significativa,
primordial para atingir essa qualidade buscada pela escola.
O mundo atual está voltado para as tecnologias informatizadas deixando, muitas
vezes, em segundo plano, as tecnologias criadas há mais tempo. Porém, para um
aprendizado amplo, é necessário que se lance mão de recursos variados, novos ou
antigos, e entre eles está o livro didático, algumas vezes criticado, como relata Magda
Soares, doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG):
As críticas que atualmente são feitas ao livro didático chegam a defender sua rejeição, sua eliminação das salas de aula, como se ele fosse um material didático recém-inventado, de existência ainda indefinida e perigosa, criado para oprimir e submeter os professores e enriquecer autores e editores. Um erro histórico, porque o livro didático surgiu já na Grécia Antiga - Platão aconselhava o uso de livros de leitura que apresentassem uma seleção do que havia de melhor na cultura grega; a partir daí, o livro didático persistiu ao longo dos séculos, sempre presente em todas as sociedades e em todas as situações formais de ensino. Um exemplo: "Os Elementos de Geometria", de Euclides, escrito em 300 a.C., circulou desde então e por mais de vinte séculos como manual escolar; outros exemplos são os livros religiosos, abecedários, gramáticas, livros de leitura que povoaram as escolas por meio dos séculos. Ao longo da história, o ensino sempre se vinculou indissociavelmente a um livro "escolar", fosse ele livro "utilizado" para ensinar e aprender, fosse livro propositadamente "feito" para ensinar e aprender. Professores e alunos, avaliadores e críticos que, hoje, manipulam tão tranquilamente os livros didáticos nem sempre se dão conta de que eles são o resultado de uma longa história, na verdade, da longa história da escola e do ensino (SOARES, 2010
2).
O livro didático, no formato atual, é um poderoso recurso para o aprendizado. Os
questionamentos levantados em relação aos temas apresentados, onde por vezes traziam
a conotação de discriminação e preconceitos, aos poucos foram, e ainda estão sendo,
reconsiderados. Autores estão reformulando conteúdos a fim de que possíveis distorções
nos livros didáticos sejam corrigidas. As possibilidades que este recurso dispõe colaboram
com o trabalho do professor, sendo necessário apenas estar atento para não fazer dele
instrumento único em sala de aula. É possível através desta ferramenta, a realização de
diversificados trabalhos com textos, explorando variados gêneros do discurso.
Colocar à disposição do aluno fartura de material é um meio de promover o
letramento, e os livros didáticos podem ajudar muito nesta tarefa. Luciano de Oliveira fala
da importância deste material em sua tese de mestrado em Educação quando diz que
2 SOARES, Magda. Livro didático Contra ou a Favor? [S.I.]: Portal São Francisco. Disponível em:
<http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/artigos/livro-didatico-contra-ou-a-favor.php> Acesso em: 19 set. 2010.
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―pelas considerações trazidas em diversos trabalhos referentes aos gêneros textuais nos
livros didáticos, percebe-se a pertinência deles para o processo de ensino aprendizagem
de língua portuguesa‖ (2011, p. 26). Apesar de facilitar o trabalho do professor no que se
refere aos objetivos de ensino da língua apresentados nos documentos oficiais, pode-se
constatar certa dificuldade do professor em complementar as atividades apresentadas,
principalmente no que diz respeito à leitura. Sendo assim, cabe ao professor o seu uso
eficaz, podendo conduzir seus alunos a uma leitura mais significativa.
Durante a implementação deste projeto de pesquisa, pode-se confirmar a
importância do livro didático para o desenvolvimento do ensino da língua e como
facilitador do ensino aprendizagem, pois no que se refere aos aspectos formais da língua,
de estrutura e especificidades dos gêneros textuais, este material foi muito útil na
complementação das atividades previstas no material didático.
Quanto aos gêneros textuais, Oliveira (2011) cita em sua dissertação um trabalho
que utilizou o Projeto Integral de Pesquisa CNPQ/IEL - UNICAMP/CEALE-UFMG, Luís
Carlos Gonçalves de Oliveira (2009, p. 23), que investigou os critérios na seleção de
textos que fizeram parte das coleções do PNLD 2007. ―O enfoque foi sobre o gênero
poema, pois o autor constatou nas obras 12 coleções analisadas, que embora houvesse a
presença de outros gêneros textuais, o poema foi o mais presente nestas coleções‖.
Deve-se concordar que este gênero textual tem recebido mais atenção dos autores de
livros didáticos, porém não vem sendo tratado com a devida importância que realmente
poderia ter nas atividades de leitura, pois, estes livros são usados apenas como fonte de
estudo dos aspectos formais da língua.
Nessa mesma perspectiva do texto como pretexto, Oliveira, Mestre em Educação,
comenta em sua Dissertação que um estudo realizado por Luís Eduardo Mendes Batista
(2008), ―problematizou a progressão didática desses gêneros nos livros analisados. O
estudo revelou que os gêneros aparecem de modo estanque e não dialógico‖ (2011, p.
25).
Magda Soares corrobora dizendo que os poemas são um dos gêneros eleitos
pelos autores de livros didáticos, porém, apesar do material ter melhorado e muito nos
últimos tempos, este gênero vem sendo abordado apenas como pretexto para o estudo
da gramática e outras questões da língua. Isso reduz a poesia a um texto onde apenas se
busca informações e/ou palavras solicitadas pelo professor, quando na verdade, o poema
é um texto dinâmico, cheio de sentidos, que deve ser lido com sensibilidade. A poesia
facilita a interação entre professor/aluno, pois ativa o imaginário, estimula a criatividade,
provoca incitações para suscitar emoções e gerar imagens. Através dela pode-se explorar
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o real descobrindo mundos, dando o poder de transformação, prospecção e criação
(EVANGELISTA; BRANDÃO; MACHADO, 2003).
De modo geral, o que mais se vê é a preocupação em levar os estudantes a
decodificarem a língua. Muitos devem agir assim por acreditarem que, num passe de
mágica, todos se tornem capazes de compreender, como por exemplo, textos de um livro
de Ciências Naturais ou de descobrir como localizar um endereço num mapa. "Isso é um
erro", resume Magda Soares, professora da Faculdade de Educação e membro do Centro
de Alfabetização, Leitura e Escrita da Universidade Federal de Minas Gerais. "Não é
porque os processos de alfabetização e de letramento são diferentes que devem ser
sucessivos. O ideal é alfabetizar letrando‖ (PELLEGRINE, 20103). Contudo, se
diagnosticada qualquer falha nesse processo, o professor deve considerar todas as
formas possíveis para levar seus alunos ao avanço necessário para atingirem um
desenvolvimento que lhes permita exercer com competência sua cidadania. Afinal,
[...] se a escola foi criada para o aluno, ele deve ser o sujeito do centro na questão
escolar, […] e muitas vezes a prioridade nas intenções e ações dos que nela
trabalham estão centradas nos programas, no currículo, nos prazos, na
manutenção do emprego, no jogo do poder, na política partidária e não
educacional. (MONTEIRO, 2004, p. 114).
Importante também, para aquisição desta competência necessária à cidadania, é
cultivar o imaginário. Cultivando o imaginário, há enriquecimento da capacidade de
conhecimento, como diz Chauí (1999, p. 133), em ―[…] Graças à imaginação, abre-se
para nós o tempo futuro e o campo dos possíveis‖. Pode-se trabalhar isso através dos
poemas, que exigem uma leitura plural, e não linear, pois de acordo com o que Josette
Jolibert expõe, ―[...] não se lê uma poesia da mesma forma como se lê um texto qualquer
em busca de informações, deve-se aprender a ler com a alma. É preciso ler vendo além
do escrito, além da arquitetura do texto e das palavras‖ (JOLIBERT, 1992, p. 195).
Ainda segundo Jolibert, para trabalhar adequadamente a leitura de poemas é
necessário um ambiente criativo, dinâmico e estimulante, que crie no aluno o desejo de
ler, de dizer e de produzir. Cabe ao professor criar um ambiente agradável e estimulante
para que as atividades sejam realizadas a contento, pois, conforme Monteiro (2004. p.
103), ―a aprendizagem passa pela emoção, por isso se o sujeito não se sentir seguro e
confiante, sua consciência vai estar tão tomada com a preocupação de se defender o
3 PELLEGRINI, Denise. Ler e escrever de verdade. [S.I.]: Revista Escola 09/2001. Disponível em:
<http://revistaescola.abril.uol.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/ler-escrever-verdade-423924.shtml>. Acesso em: 27 set. 2010.
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tempo todo que não conseguirá deixar sua curiosidade e criatividade surgirem e, com
elas, o desejo de aprender‖.
A importância do ambiente também foi reforçada por Rogers (1986, p. 11), quando
diz que deve haver ―um ambiente de confiança na sala de aula, na qual a curiosidade e o
desejo natural de aprender possam ser nutridos e realçados‖. É claro que esse ambiente
de confiança do qual fala Rogers passa pela postura do professor em sala de aula, pois,
―[...] não aprendemos com qualquer um, aprendemos com aquele a quem outorgamos
confiança e direito de ensinar‖ (FERNÁNDEZ, 2011b, p. 63).
O produzir não pode ser esquecido, uma vez que as atividades de leitura e escrita
são indissociáveis. O indivíduo que lê muito acaba por sentir necessidade e vontade de
escrever. Através da leitura adquire proficiência em produção textual, pois esta atividade é
correlata àquela, sendo fonte alimentadora de conceitos e conhecimento formal,
ampliando a memória lexical e o domínio das formas de estruturação dos enunciados. O
professor será então, aquele que planeja, implementa e dirige as atividades (JOLIBERT,
1992).
É claro que quando as crianças vêm de famílias letradas, esse processo torna-se
relativamente mais fácil, por possuírem maior contato com material para leitura, além de
presenciarem, com frequência, discussões acerca de notícias de jornais e outras leituras,
como também, ouvem a narração de histórias. Conforme Mary A. Kato, um fator
importante para o letramento é ―a consciência da escrita que ela traz para a escola, fator
esse correlacionado ao empenho dos pais na introdução da criança ao mundo da escrita,
seja através da prática regular de leitura oral, ou de respostas e perguntas sobre a
escrita‖ (2005, p. 124), pois ―é no seio da família que as primeiras aprendizagens
acontecem‖ (MONTEIRO, 2004, p. 57).
Nessas situações, onde há interação dos pais com a criança, a tarefa do
professor e da escola é facilitada. A professora do Instituto de Estudos da Linguagem da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) enfatiza que quando as famílias dos
alunos têm pouca ou nenhuma escolaridade, a responsabilidade do letramento dessas
crianças pelo professor é maior (KLEIMAN, 1999).
Cabe ao professor e à escola pesquisar as experiências de leitura vivenciadas
pelos alunos dando-lhes oportunidade de contato com todo tipo de material impresso:
livros, revistas, jornais e diversos gêneros textuais. A pedagoga e autora de obras de
Literatura Infantil Miriam Mermelstein, reforça ao falar da importância do ambiente cultural
no qual o livro esteja presente e também sobre ampliar o repertório, apresentando
diferentes gêneros textuais. Essa diversificação permite promover um melhor
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entendimento e significação da leitura, podendo desenvolver e aumentar o gosto pelo ato
de ler.
Com a leitura de poemas pode-se perceber uma melhora na capacidade de
abstração, ajudando os alunos a se apropriarem de uma leitura mais significativa,
desenvolvendo assim, o gosto por este tipo de texto e, posteriormente, por outros, já que
gostar é o primeiro passo para se habituar à leitura. Ler amplia horizontes e o mundo,
dando ao leitor emancipação para que se torne protagonista de seu aprendizado e de sua
própria vida.
Levando isso em consideração, desenvolveu-se um trabalho focado em
possibilitar aos alunos o contato com textos de gêneros textuais diversificados. Foi-lhes
dado também a oportunidade de produzir variados tipos de textos, sempre tomando por
base a leitura de poemas e também de textos poéticos escritos em prosa, criando ou
reescrevendo dentro de um gênero diferente, textos lidos e/ou ouvidos. A mudança de
gênero de um texto exige compreensão do que foi lido, sendo para todos os envolvidos
nesta implementação, uma valiosa ferramenta para avaliar a compreensão do que foi lido.
É fundamental que exercícios e atividades trabalhem elementos do texto que contribuam para um relacionamento mais intenso dos alunos com aquele texto particular e que, como uma espécie de subproduto da atividade ou do exercício, fique inspiração e caminho para o inter-relacionamento daquele texto com todos os outros conhecidos daquele leitor e – lição maior! – a instituição da quase infinita interpretabilidade da linguagem de que os textos são constituídos. (LAJOLO, 2000, p. 51).
Lajolo explica ainda que é essa interpretabilidade que dá a possibilidade da
reinterpretação e faz com que o leitor torne-se sujeito de sua leitura e seja capaz de
reescrever algo significativo com os espaços deixados pelo autor, para que o próprio leitor
os preencha de significados.
O tema escolhido para desenvolver as atividades neste projeto ajudou bastante a
despertar o interesse dos alunos pelas atividades, pois ―o amor é um dos sentimentos
mais humanos que existem‖ (RICETTO, 2003, p. 08). Todo mundo sabe como é amar,
uma vez que todos, sem exceção, sentem de algum modo o amor. Esse sentimento é um
dos temas mais recorrentes em produções artísticas, escritas ou não, por ser um
sentimento amplo e abrangente que invade os corações de adultos e jovens,
adolescentes e crianças, nas suas mais variadas formas. Ele com certeza faz parte do
cotidiano e está presente na vida de todos, e as crianças possuem conhecimento de
mundo suficiente para compreender as diferentes formas de amor.
Salienta-se ainda, a importância dada à leitura de imagens, pois se julga que
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tenha papel inegável na formação do pensamento formal. De acordo com Maria Helena
Wagner Rossi (2009), Mestre e Doutora em Educação pela UFRGS, para desenvolver um
trabalho que pretenda aprimorar a sensibilidade estética do aluno é imprescindível o uso
de imagens, que deve ter um lugar privilegiado. As imagens podem ajudar no
desenvolvimento do pensamento formal, desenvolvendo ―a habilidade cognitiva de refletir
sobre si próprio‖ e ―na leitura estética isso significa adquirir a consciência de sua atividade
interpretativa, assumindo assim um papel ativo na construção dos significados‖ (ROSSI,
2009, p. 53-54).
Por esta razão, além dos poemas, foi trabalhado também as imagens, sendo que
se o objetivo é desenvolver a capacidade de abstração no aluno, não se pode deixar de
trabalhar com a leitura de imagens, uma vez que como os poemas, para interpretá-las
simbolicamente, precisa-se transcender a concretude representada pela imagem. ―As
teorias do desenvolvimento cognitivo explicam que o pensamento formal sucede o
pensamento concreto no início da adolescência, proporcionando um acréscimo no nível
de abstração dos indivíduos‖ (ROSSI, 2009, p. 65). Essa leitura, como já mencionado é
indispensável para desenvolver esse pensamento formal tão necessário.
Nesta esteira, analisaremos aqui algumas atividades desenvolvidas com os
alunos para compreendermos melhor a importância de cada ferramenta citada acima.
Figura 01: Imagem inaugural das atividades propostas. Fonte: Tiago da Silva
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Após a apresentação desta figura às crianças, foi desenvolvido um trabalho de
discussão sobre as ideias suscitadas pela imagem, que aqui será citada como texto não
verbal, com o lançamento de questionamentos que as levassem a atribuírem significados
ao texto lido de forma crítica e participativa. Relevante é também fazer com que eles
compreendam que o importante não é saber o que o autor da obra quer dizer e sim o que
a obra diz para si. Então, foram lançadas perguntas como: o que vocês veem nesta
imagem? Por que eles têm asas? Por que apenas uma asa cada um? Por que estão
abraçados? Você já se imaginou assim? E você teria apenas uma asa também? Pessoas
podem voar? De que maneira?
Logo após essas discussões, foi solicitada uma produção de texto coletiva, onde
os alunos dão as ideias e o professor vai escrevendo no quadro de giz. Em seguida, fez-
se uma leitura do que foi produzido para verificar se necessitava de correções. Depois
esse texto foi arquivado e, ao final do estudo, foi retomado para reescrita, mas desta vez
individualmente.
Assim, os alunos escreveram algumas frases e baseados nelas construiu-se o
primeiro texto, produzido coletivamente e escrito em prosa, como se vê a seguir.
Figura 02: Exemplos das frases que originaram o texto ―As asas da imaginação‖. Fonte: O autor.
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Figura 03: Texto ―As asas da imaginação‖. Fonte: O autor.
Como podemos perceber, mesmo sem possuir conhecimento prévio formal sobre
os recursos de linguagem, as crianças os utilizam de forma correta, o que é explicado por
Sírio Possenti em Por que (não) ensinar gramática na escola, quando fala sobre a
gramática internalizada.
A terceira definição de gramática — conjunto de regras que o falante domina — refere-se a hipóteses sobre os conhecimentos que habilitam o falante a produzir frases ou sequências de palavras de maneira tal que essas frases e sequências são compreensíveis e reconhecidas como pertencendo a uma língua. (1996, p. 51).
Antes desta definição, no mesmo livro, Possenti intitula um capítulo deste material
com a frase: ―Língua não se ensina, aprende-se‖ (1996, p. 33), palavras estas, que nos
fazem pensar sobre a forma como o ensino da língua vem sendo desenvolvido em nossas
escolas. Pois se a língua simplesmente ―aprende-se‖, qual seria então o papel da escola
neste aprendizado?
Com esta preocupação em mente, procurou-se oferecer aos alunos as melhores
condições possíveis para que esse aprendizado se efetivasse de forma eficiente. Sendo
assim, acredita-se que sistematizar a gramática internalizada se faz importante para que
haja condições de aquisição de novos conhecimentos. Aproveitar as experiências
individuais dos alunos, propiciar acesso a diferentes textos sobre o assunto tratado e
concretizar de alguma forma o que é dito, faz com que a criança compreenda melhor suas
próprias ideias sobre o tema estudado.
Nisso não há novidades, mas sempre é bom relembrar algumas questões. O texto
poético é sempre muito rico em recursos de linguagem e mesmo não sendo escrito em
AS ASAS DA IMAGINAÇÃO
Anjos com uma asa só não vão a lugar algum. É preciso duas asas. Se você não tem as duas
asas, use a imaginação, porque com ela poderá voar muito mais longe do que imagina.
A imaginação é como duas asas, que libertam seus pensamentos, que como o vento, vai a
qualquer lugar, até o seu limite. No pensamento, a liberdade não tem limites.
Se você possui apenas uma asa e sua imaginação não te der a outra, pode consegui-la
através do amor. As asas do amor, são macias, são um belo aconchego para o coração.
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versos, traz uma boa bagagem de conhecimentos a serem estudados e discutidos. Um
dos aspectos interessantes é este da gramática internalizada, outro é a questão do
gênero textual e suas especificidades.
Como explicado anteriormente, o texto ―Asas da liberdade‖ foi retomado e
reescrito ao final das oficinas realizadas neste estudo. Depois da discussão e
formalização de alguns conhecimentos, o texto que era coletivo ganhou nuances
individual e houve também a mudança de gênero, como se pode ver nos exemplos a
seguir.
Figura 04: Texto ―As asas da imaginação‖ reescrito. Fonte: O autor.
No segundo encontro programado com as crianças, estudou-se os poemas ―Anjo
meu‖ e ―Mãe zelosa‖ de Marivete Solto, uma poetiza de nossa região com diversos livros
editados. A intenção destes estudos foi desencadear uma discussão sobre o significado
da mãe na vida de cada um. Esta temática foi considerada coerente com o tema geral da
unidade didática, pois esse é um tipo de amor singular, visto que é quase biológico.
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Figura 05: Poema Anjo Meu. Fonte: Marivete Solto.
Figura 06: Poema Mãe Zelosa. Fonte: Marivete Solto.
ANJO MEU
Recostar no seu ombro, sentir seu afago,
mexer no seu cabelo, decorar os traços de sua face,
todo filho tem vontade! Meu primeiro grande amor, o meu céu é o seu regaço.
Mãe querida, adorada. Mãe, palavra sem definição, quão sublime é essa missão.
Suas carícias são importantes, suas broncas são necessárias.
Como é bom sua mão a me guiar! Ter você para me orientar,
para dizer sim, e na dúvida, o não. Para me proteger e me ensinar.
Meu pilar, minha luz. Não foi à toa que Deus
Achou uma pra Jesus!...
(Marivete Solto)
MÃE ZELOSA Põe as crianças para dormir. Levanta para vigiar seus sonhos. Remedinho para doentinha. E com todo carinho... Vigia os sonhos dos seus. Se um pesadelo ocorre? Meu Deus! Ela acode. Põe as crianças para dormir. Apavora-se quando a doença ocorre. Cuida dos seus deveres. Bem cuidados são os seus amores. Mãe zelosa é sempre assim...
(Marivete Solto)
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Os textos acima explicam bem essa forma de amar que pode ser descrita como
amor ―Ágape‖, entendendo aqui ágape não apenas como amor cristão, mas como amor
sensível, incondicional, espiritual, divino, sem segundas intenções e isento de interesses
pessoais; amor que confia e protege, mas cria para ser livre. Entende o outro como parte
de si, porém sabe que deve lhe dar asas e ensinar a voar, o que remete à imagem
estudada na abertura dos trabalhos, quando se falou dos ―anjos de uma asa só‖.
Após as discussões suscitadas pelos poemas apresentados e estudo de sua
estruturação, as crianças desenvolveram uma atividade da qual gostaram muito, que foi a
montagem de um ―quebra cabeças‖ construído a partir de um poema. Nesta atividade,
elas montaram um texto que foi todo dividido em partes e expressões. Sem conhecimento
prévio deste texto, ele foi remontado, para depois se verificar quais foram as hipóteses
construídas por eles e como o poema era originalmente. Para esta atividade foi utilizado o
poema ―Se as coisas fossem mães‖ da autora Sylvia Orthof. Esta atividade foi muito bem
aceita pelos alunos, sendo que o envolvimento e entusiasmo dos mesmos superaram as
expectativas imaginadas.
Em seguida estudou-se um pouco sobre a família, ainda continuando nesta linha
do amor ―Ágape‖, como sendo o mais benéfico dos afetos, amizade e fraternidade. Foram
apresentados vários textos sobre o assunto, incluindo além de textos em prosa, textos
não verbais, poemas e clipes musicais de canções como Utopia e a Oração pelas famílias
de Padre Zezinho. Livros de poemas foram disponibilizados aos alunos para que tivessem
acesso a maior quantidade de textos para leitura. Foram também realizadas pesquisas
em revistas e na internet para obter maiores informações sobre dificuldades pelas quais
as famílias passam.
Baseado nos depoimentos dos alunos e estudos realizados sobre o tema houve a
produção de texto, acontecendo quase que naturalmente, já que depois de muitas
discussões e leituras os próprios alunos tiveram a iniciativa de escrever sobre isto. Abaixo
se podem ver alguns exemplos dessas produções espontâneas.
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Figura 07: Produção textual. Fonte: O autor.
No quarto encontro o tema escolhido foi amor a Deus, pois se consideramos que
família é uma criação divina, assim como o amor de mãe, significa que aceitamos a
existência Dele. Esta discussão foi polêmica em virtude de opiniões diferentes sobre o
assunto e logo na apresentação do texto não verbal, na introdução do assunto, as
divergências de opiniões começaram a surgir.
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Figura 08: Amor a Deus. Fonte: Tiago da Silva.
Após este debate, estudou-se alguns conceitos como onisciência, onipotência e
onipresença, e foi apresentado o vídeo da música ―O Homem de Nazareth", uma
composição de Cláudio Fontana interpretada por Antônio Marcos4.
O poema desta composição suscitou outras discussões importantes para o
crescimento das crianças como agentes formadores de opinião e cidadãos responsáveis
pelo mundo em que vivem. A história de que se tem conhecimento sobre o cantor Antônio
Marcos e de outros artistas que faleceram ainda jovens, talvez em função de seus estilos
de vida, levou ao próximo subtema que tratou sobre o amor e a vida.
Este encontro também se iniciou com apresentação de texto não verbal, assim
como em todos os outros.
4 Vídeo e dados do autor e canto disponíveis em: http://www.letras.terra.com.br/ohomemdenazareth/.
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Figura 09: Mãe e Amor. Fonte: Tiago da Silva.
A figura acima leva a ver a mãe como geradora de vida e de amor. Estas questões
foram levantadas e discutidas. Foram ainda disponibilizados textos de diferentes gêneros
para leitura a fim de que as crianças pudessem formar suas próprias opiniões sobre a
vida e sua possível fonte geradora: Mãe? Deus? Natureza? Os poemas lidos nesta fase
(quinto encontro), já começam a torna-se mais trabalhados e abstratos, exigindo,
portanto, mais esforço de interpretação para lhes dar significados. Para este encontro foi
utilizado poemas de Carlos Queiros Telles e de Florbela Espanca a fim de desencadear
algumas discussões.
Todos os alunos envolvidos no projeto tiveram oportunidade de expressar suas
ideias, argumentando sobre elas e questionando sobre suas dúvidas. Conforme o que diz
Mara M. Monteiro, em Leitura e escrita, ―O primeiro passo para se evitarem problemas de
aprendizagem é criar uma relação dialógica para que tudo fique claro, para despertar o
interesse, porque deste vem o desejo‖ (2004, p. 86).
Vale evidenciar neste momento que se não houver o desejo de aprender, não
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haverá aprendizado. Além disso, para estabelecer essa interação dialógica, é necessário
um trabalho incansável com a linguagem oral, para que haja troca de experiências e
conhecimentos de mundo, visando o desenvolvimento individual e coletivo. Constatou-se
que aprimorando a oralidade no aluno pode-se melhorar sua capacidade de planejamento
e execução, atividades necessárias também para desenvolver a escrita. De acordo com
Kato, o ato de falar envolve muitas e importantes decisões, tais como:
[...] um ato de resolução de problema [...] O falante se defronta, a todo momento, com alternativas, o que o leva a escolher a saída mais eficaz. O planejamento a nível de discurso envolve decisões hierárquicas do seguinte tipo: por onde começar, em que direção prosseguir, que pontos ressaltar e como terminar. (KATO, 2005, p. 79).
Importante lembrar que estas decisões devem ser tomadas também na escrita,
uma vez que desenvolvendo esta capacidade de planejamento na linguagem oral, pode-
se estar fazendo o mesmo para a escrita. Assim, as atividades orais tiveram lugar
especial nesta implementação. As atividades escritas sempre estiveram presentes,
embora nem sempre tenham sido espontâneas. Algumas vezes foi necessário solicitá-las.
As discussões realizadas neste quinto encontro levaram-nos a refletir sobre a
natureza e sua importância para a manutenção da vida, dando assim, início ao sexto
encontro que tratou sobre este assunto através da leitura de texto não verbal e diversos
poemas como, por exemplo, a ―Canção do Exílio‖ de Gonçalves Dias. Utilizou-se também,
várias paródias deste texto, que foram pesquisadas e apresentadas aos colegas pelas
próprias crianças.
No sétimo encontro pode-se retomar os primeiros trabalhos para refazê-los
quando seu autor julgasse necessário para melhorá-los e fechar as discussões sobre pai,
mãe, família, sociedade, com debates sobre o amor sensual. Embora em tenra idade e
sem experiência nesta forma de amar, todos puderam ver e sentir este amor, ou a falta
dele, entre seus pais, avós, ou um casal de tios, sendo que a primeira atividade deste
encontro foi desenvolvida em casa, conversando com pessoas mais experientes da
família. Reunidos, aqueles que se sentiram à vontade, contaram as histórias e relatos que
ouviram. Foram lidos e discutidos vários textos de Vinícius de Moraes, Camões, de
outros autores menos conhecidos como Marivete Solto e Thiago da Silva e também textos
bíblicos como, por exemplo, ―Gênesis 29: 15-28‖ e ―Coríntios 13: 4‖.
Ao voltar para os textos produzidos anteriormente, muitas crianças quiseram
mudar a estruturação e inclusive as ideias colocadas em seus textos, em virtude dos
conhecimentos adquiridos no decorrer das atividades.
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Num encontro, foi realizada uma avaliação com os alunos, para se dimensionar
os resultados obtidos neste estudo. Esta avaliação se deu através da análise dos
resultados obtidos pelos alunos em testes, aplicados por um professor colaborador. Esse
professor aplicou uma avaliação prévia no início das atividades programadas para
verificar o nível de compreensão de texto dos alunos. Após serem desenvolvidas todas as
atividades previstas para a implementação, esse mesmo professor avaliou os alunos
novamente, utilizando-se dos mesmos instrumentos de avaliação, a fim de verificar se
houve desenvolvimento na capacidade de abstração e compreensão de textos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Antes de tudo se faz necessário lembrar que o projeto de pesquisa Letramento
através de poemas foi pensado com a intenção de ajudar os alunos a desenvolver sua
capacidade de abstração e compreensão de texto. Para sua implementação utilizou-se de
uma unidade didática preparada para esta finalidade. Constatou-se que quando se
desenvolve um trabalho consciente com foco em um objetivo claro, fica mais fácil obter o
envolvimento dos educandos que, nesta implementação, tornaram-se companheiros de
trabalho.
Quanto aos resultados esperados, pode-se ver uma melhora real no interesse pe-
la leitura, principalmente por livros de poemas, e também um aumenta da capacidade de
compreensão de textos. O desenvolvimento obtido, porém, foi pequeno, talvez devido ao
pouco tempo de estudo, mas pode apontar um caminho a seguir.
Em relação às dificuldades encontradas nesta implementação, vale citar a falta de
um espaço apropriado e fixo para se desenvolver os trabalhos, pois a atividade com leitu-
ra, especialmente a de poemas, requer a preparação de um ambiente que estimule a cria-
tividade e as emoções, onde os alunos possam dar asas à imaginação, expor suas cria-
ções e manter a concentração nas atividades sem constrangimentos e distrações.
Para ler poemas é preciso aprender a ler com a alma, com os sentimentos, e para
isso, é necessário um ambiente tranquilo. A ambientação das atividades é fator relevante
quando se trata de leitura. A presença de pessoas estranhas ao projeto muitas vezes ini-
biu a participação mais ativa nos debates realizados.
Poemas exigem uma leitura plural, e não linear, pois de acordo com o que Josette
Jolibert expõe, ―[...] não se lê uma poesia da mesma forma como se lê um texto qualquer
em busca de informações, é preciso ler vendo além do escrito, além da arquitetura do tex-
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to e das palavras‖ (JOLIBERT, 1992, p. 195). Para isso, é necessário um ambiente criati-
vo, dinâmico e estimulante, que crie no aluno o desejo de ler, de dizer e de produzir (JO-
LIBERT, 1992). Desta forma, a falta de um espaço adequado dificultou a criação deste
ambiente tão necessário ao tipo de atividade a que se propôs o presente projeto.
A Unidade Didática preparada para a implementação necessitou complementa-
ção, pois faltaram informações biográficas sobre alguns autores utilizados e atividades
para conhecimento estrutural do gênero e suas especificidades como, por exemplo, figu-
ras de linguagem, citadas de forma genérica nos conteúdos a serem estudados, mas que
não foram contempladas no desenvolvimento da Unidade. Sendo assim, foi necessário
complementar o que havia sido planejado, precisando explicitar melhor alguns conteúdos.
Além da dificuldade descrita acima, os problemas com o transporte escolar fez
com que houvesse um significativo número de faltas nos encontros, maior do que o dese-
jado. Todavia, conseguiu-se registrar resultados positivos, como o da avaliação final, que
em comparação com os da sondagem inicial, evidenciou que o trabalho com a leitura de
poemas pode ajudar na melhora da capacidade de abstração e entendimento de textos
lidos, sejam eles literários ou não. Contudo é essencial citar que a falta de espaço físico
adequado prejudicou os trabalhos, sendo que os resultados obtidos poderiam ter sido me-
lhores.
Observou-se ainda que ao contrário do que muitos professores pensam, é possí-
vel um trabalho com a escrita sem que os alunos percebam que estão produzindo textos,
executando esta atividade de forma natural. Finalmente notou-se que a leitura por prazer
pode ser mais eficiente que qualquer outra, no que diz respeito à criação do hábito da lei-
tura, contudo mesmo na fruição e, principalmente para que essa fruição possa existir, é
necessário o entendimento e a significação do que se lê.
Por derradeiro cumpre dizer que atividades como as desenvolvidas nesta imple-
mentação continuarão a fazer parte de nossas aulas, e a pesquisa por novas maneiras de
ajudar a aprender estarão sempre presentes em nossa rotina de trabalho. Gratificante,
mais do que ensinar e orientar o aprendizado, é aprender e ver que mais do que nunca, o
termo ensino-aprendizagem descreve muito bem as atividades educacionais, sendo a re-
cíproca verdadeira.
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REFERÊNCIAS
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