universidade federal de alfenas- mg · participar diretamente da minha evolução ao longo desse...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS- MG
Instituto de Ciências da Natureza
Curso de Geografia- Bacharelado
FELIPE ROCHA LIMA
ANÁLISE FOTOGEOGRÁFICA DA GLOBALIZAÇÃO:
Revelando as faces da Globalização
Alfenas-MG
2014
FELIPE ROCHA LIMA
ANÁLISE FOTOGEOGRÁFICA DA GLOBALIZAÇÃO:
Revelando as faces da Globalização
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado como parte dos requisitos para
obtenção do título de Bacharel em
Geografia pelo Instituto de Ciências da
Natureza da Universidade Federal de
Alfenas- MG, sob orientação do Profª. Drº.
Flamarion Dutra Alves
Alfenas – MG
2014
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a minha família, em especial a minha mãe por todo o apoio e
incentivo ao longo desses anos. Aos meus irmãos pelo companheirismo e aprendizado
constante. Agradeço também a todos os amigos de alfenas que partilharam comigo da
vivência e experiência geográfica, João e Lennon.
A Thais, minha sincera gratidão por todos os anos de amizade e companheirismo, por
participar diretamente da minha evolução ao longo desse tempo e por me ensinar todos os
dias o significado de respeito carinho e dedicação.
Por fim meus agradecimentos a todos os professores do Curso de Geografia
Bacharelado aos quais tive o prazer de conhecer e aprender. Em especial ao professor
Flamarion Dutra Alves pela orientação e compreensão na elaboração deste trabalho.
LISTA DE IMAGENS
FIGURA1: Globalização Espaço e Tempo.........................................................19
FOTO 1: Terra vista do espaço ......................................................................... 21
FOTO 2: Ideologia da Globalização .................................................................23
FOTO 3: Complexidade de Mumbai .................................................................25
FOTO 4: Acessibilidade da informação.............................................................27
FOTO 5: Edward Joseph Snowden ..................................................................28
FOTO 6: Tecnologia e a Fome ..........................................................................30
FOTO 7: Globalização e Natureza ....................................................................33
FOTO 8: Produção em Bangladesh ...................................................................35
FOTO 9: Movimento Occupy Wall Street ……………………………………….....38
FOTO 10: Pôster do Movimento Occupy Wall Street ………………………….....39
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Meios de divulgação e circulação das fotografias utilizadas........................15
RESUMO
O presente trabalho apresenta um estudo sobre os processos de Globalização e
as marcas expressas na sociedade. Para melhor compreender tais transformações
buscamos analisar o fenômeno através de fotografias contemporâneas nesse
início de século XXI. Procuramos demonstrar a existência das reais
complexidades e disparidades inerentes ao processo em questão.
Palavras-chaves: Globalização – Complexidade contemporânea - Fotografia –
Transformações espaciais
ABSTRACT
This paper presents a study of the processes of globalization and brands
expressed in society. In order to understand such transformations we analyze the
phenomenon via contemporary photographs in the beginning of XXI century.
We demonstrate the existence of the real complexities and disparities inherent
in those proceedings.
Keywords: Globalization - Contemporary Complexity - Photography - Spatial
Transformations
SUMÁRIO
1 - INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 10
1.1 Justificativa..................................................................................................................... 10
2- OBJETIVO GERAL ............................................................................................................ 13
2.1- Objetivos Específicos.................................................................................................... 13
3 - METODOLOGIA ............................................................................................................... 14
4- A FOTOGRAFIA E A GEOGRAFIA................................................................................. 15
5- DISCUTINDO A GLOBALIZAÇÃO................................................................................. 17
6– REVELANDO AS FACES DA GLOBALIZAÇÃO ......................................................... 20
6.1 - A ideologia e Cultura da Globalização ........................................................................ 20
6.2 - A Dinâmica da Circulação – Sociedade em rede ......................................................... 23
6.3- A Era da Informação ..................................................................................................... 26
6.4 - Tecnologia e Ciência.................................................................................................... 29
6.5 - Natureza ....................................................................................................................... 31
6.6 - A Internacionalização da Produção ............................................................................. 33
6.7 - Capital financeiro ......................................................................................................... 35
7- CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 40
8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 41
10
1 - INTRODUÇÃO
A Globalização se faz um tema recorrente nos estudos de Geografia e em diversas
discussões quando se trata de caracterizar as transformações no mundo moderno,
especialmente nesse início de século XXI. Diversas são as opiniões sobre as causas e efeitos
na sociedade moderna que o processo em questão tem imprimido. Há quem observe na
Globalização a marca dos avanços tecnológicos, a ideia de uma economia global, ou ainda o
aumento da circulação de pessoas e mercadorias ao redor do globo. É evidente que a
Globalização se torna um processo curioso e amplo dentro do meio científico bem como fora
dele, em conversas entre amigos sobre o mundo contemporâneo, por exemplo.
Uma das razões para que o processo aqui estudado tenha nas últimas décadas
ganhado destaque, deve-se a uma de suas características fundamentais, a informação. Temos
experimentado nesse período o desenvolvimento acelerado da circulação da informação e da
comunicação. O fato se deve aos avanços tecnológicos na área das telecomunicações, capaz
de disseminar-se a nível mundial, contribuindo fortemente para que se criasse no imaginário
social a ideia da Globalização. A existência de eventos pontuais passam a ter repercussões
globais, a política, a economia, o meio ambiente, tornam-se assuntos de interesses comuns,
característica proveniente de um cenário globalizado.
Não por acaso, o estudo da Globalização decorre de uma análise em escala global, ou
seja, por natureza o processo em questão, ao tentar descrever as relações espaciais em sua
totalidade, enfrenta a complexidade e a dificuldade de compreender a interação homem-
espaço. Assim o estudo aqui realizado, pretende, através das fotografias, mostrar a existência
da complexidade nas relações espaciais e as transformações cotidianas vivenciadas pela
sociedade nos últimos anos dentro do processo da Globalização.
1.1 Justificativa
A escolha do tema aqui tratado decorre da tentativa de mostrar um caminho
alternativo para a compreensão do processo de Globalização. A temática da Globalização é
recorrente nos estudos de Geografia e das Ciências Sociais, porém, na maioria das vezes
aborda apenas aspectos econômicos. Nessa pesquisa foi feita uma interpretação da
Globalização por meio de fotografias. É de extrema importância que o geógrafo visualize
seu objeto de estudo, visualize a real existência do processo estudado e a real existência da
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geograficidade contida nas relações espaciais. É do dever geográfico estudar as
transformações na paisagem e por assim, apontar a geografia existente nessa evolução de
transformações materiais e imateriais. Assim se faz necessário um olhar direto do Geógrafo
para o mundo, para a paisagem que vem sendo desenvolvida, paisagem que vem sendo
construída e desconstruída.
Não há, na verdade, paisagem parada, inerme, e se usamos este conceito é
apenas como recurso analítico. A paisagem é materialidade, formada por
objetos materiais e não materiais. A vida é sinônimo de relações sociais, e
estas não são possíveis sem a materialidade, a qual fixa relações sociais do
passado. Logo, a materialidade construída vai ser fonte de relações sociais,
que também se dão por intermédio dos objetos. Estes podem ser sujeitos de
diferentes relações sociais - uma mesma rua pode servir a funções diferentes
em distintos momentos. (SANTOS, 1988, p.25)
A intenção é atrair o leitor para um processo de reflexão, onde a fotografia sirva
como elo ligação entre o observador e o fenômeno, entre o geógrafo e a paisagem. Muitos
estudos na geografia propõem-se a descrever o fenômeno da Globalização, e o fazem com
êxito. Há, no entanto, um problema, pois na literatura recorrente essa maneira crítica, ou não,
de discorrer sobre fenômeno social da Globalização, provoca um afastamento entre o
Geógrafo e fenômeno, e a sua real transformação na paisagem e na sociedade. A
Globalização não se trata de um fenômeno antigo ou recente, suas transformações são
presentes, são reais, materiais e imateriais.
Apoiado na Filosofia moderna de Hegel (1807) onde ele observa que a missão do
filósofo é compreender o presente, ou seja, não se trata de compreender o que foi ou o que
será, mas sim o que é. O Geógrafo deve buscar sua aproximação do objeto de estudo, e no
caso da Globalização, deve-se olhar para o mundo, compreender os movimentos provocados
pelas transformações ocorridas na paisagem e consequentemente de suas contradições, para
assim perceber a existência do real.
O nosso tempo, pleno de contradições, obriga a um contínuo esforço de
reinterpretação da realidade. A necessidade de periodização, as novas
possibilidades de cognoscibilidade do Planeta, a atual constituição do
espaço geográfico, a noção de região e as novas compartimentações do
espaço são questões que a Geografia, procurando contribuir ao
entendimento do mundo, é obrigada a abordar. (SANTOS e SILVEIRA,
1996 p.06)
A aproximação entre o geógrafo e o mundose faz através das fotografias, como
técnica e arte ao mesmo tempo, capaz de retratar o mundo real. Mundo real cheio de
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contradições e emoções e real em sua existência, pois só se pode fotografar a realidade.
Portanto, é através das fotografias que propomos a reflexão para a descoberta da realidade,
complexa e infinita, porém, capaz de aproximar o observador e o fenômeno. Através das
fotografias oferecemos um convite a explorar a realidade, e a através da Geografia nos
aproximar da sociedade, e dos processos decorrentes da Globalização.
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2- OBJETIVO GERAL
- A partir de uma análise de fotografias do século XXI, interpretar a geograficidade contida
nos processos de Globalização.
2.1- Objetivos Específicos
- Construir uma narrativa crítica sobre o processo de Globalização, utilizando-se das
fotografias para validar a discussão.
- Analisar o processo de Globalização através de temas chaves na produção do espaço
(Ideologia, Internacionalização, Circulação, Informação, Natureza, Tecnologia e
Financeirização)
14
3 - METODOLOGIA
A escolha do período analisado tem como base o início do Meio Técnico Científico-
Informacional proposto por Santos (1996) ao considerar a década de 1970 um marco na
integração entre Ciência e Tecnologia, aumento dos fluxos de pessoas e mercadorias, a
financeirização da economia, a internacionalização da produção e o aprimoramento dos
meios de telecomunicações. Entretanto, a escolha dos eventos retratados pelas fotografias
aqui inseridas decorre das transformações e eventos da Globalização no início do século XXI.
Foi realizado, primeiramente, um levantamento das posições e pensamentos dos
autores que discorrem sobre o tema da Globalização para melhor caracterizarmos o processo
em questão.
Aqui nos favorecemos de uma das características fundamentais do processo de
Globalização, a velocidade e o acesso à informação. Nas últimas décadas cada vez mais nos
vemos bombardeados por acontecimentos e eventos ao redor do mundo, muitas vezes
instantaneamente. A fotografia, então, funciona como técnica para retratar um acontecimento
e disseminá-lo, através da internet e outros meios de telecomunicações, para o mundo.
Buscamos, assim, o material que é vinculado nos meios de comunicação
considerados mais populares, como periódicos na internet e agências internacionais de
informação. Entendemos que tais meios de comunicação, por sua maior visibilidade e
consumo de informação, constroem de maneira mais generalizada um senso comum a
respeito do processo de Globalização. Porém, não pretendemos assimilar tal construção como
única e verdadeira, ao contrário, propomos uma reflexão acerca dos impactos negativos
causados pelo monopólio da construção e disseminação da informação.
As fotografias foram selecionadas a partir de sete pontos chaves que caracterizam o
processo de Globalização: A ideologia da Globalização; Internacionalização da Produção;
Dinâmica da Circulação; Informação e Cultura; Natureza; Tecnologia e Ciências; e Capital
Financeiro. Em cada um desses pontos foram selecionadas até duas fotografias para
representar as marcas impressas por tais processos no espaço.
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Tabela 1 - Meios de divulgação e circulação das fotografias utilizadas
Divulgação/Mídia
Veículo de Informação Ano
Orgão Governamental NASA 2012
Jornal Eletrônico O Globo 2012
Revista Eletrônica National Geographic 2010
Agência de Notícias Agence France Presse (AFP) 2012
Jornal Eletrônico The Guardian. 2013/2012
Jornal Eletrônico BBC 2013
Rede Social Flickr 2011
Jornal eletrônico Estadão 2010
Organização: Felipe Rocha Lima (Janeiro de 2014).
4- A FOTOGRAFIA E A GEOGRAFIA
Compreendemos a Fotografia como técnica capaz de nos proporcionar um convite ao
descobrimento dos símbolos e significados expressos através da imagem. O fato é que, a
geografia e o uso de imagens se fazem frequente há muito tempo:
Humboldt levava sempre um “time de ilustradores” para seus trabalhos de
campo e fazia isso frequentemente das imagens em seus relatos. Como
membro da Academia de Ciências, Humboldt inclusive visitou, em 1838, o
estúdio de um dos grandes inventores da fotografia, Louis Jaques Mandé
Deguerre, pois estava intensamente interessado no processo de fixação de
imagens através da “câmara obscura”. Alguns anos mais tarde, a câmara
fotográfica se tornaria “indispensável” para a realização de trabalhos de
campo pelo geógrafo. (SHCHAWARTZ, 1996. apud. NOVAES, 2011. p.
09).
Ainda,
Ao longo da história, a imagem pode descrever características daqueles que
as produziam e do meio no qual estavam inseridos. A capacidade humana
de produzir e interpretar informações visuais possibilitou tanto aos homens
Primitivos desenharem nas paredes das cavernas, quanto aos cientistas da
Contemporaneidade interpretarem tais desenhos enquanto manifestações
culturais de indivíduos dotados de certa inteligência. Antes do advento da
máquina fotográfica e das vídeo-filmadoras, a pintura, o desenho e a
escultura se configuraram como importantes registros da atividade humana e
das peculiaridades de cada organização sociocultural (Leite, 1998 p 55)
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No século XIX a fotografia manteve fortes ligações ao momento sociopolítico
vivido nesse período, a revolução industrial e os avanços técnicos que resultaram na
fotografia. Segundo Thomaz (2012) técnica originada com a economia industrial, considerada
a mais apta a mostrar a intensa modernização do período: abandona os aspectos locais para
ater-se na fixação dos marcos que mostrassem a integração do mercado internacional. Nesse
período a fotografia tratava-se de uma técnica pura e mecânica, representação perfeita da
realidade, “nua e crua” deixando totalmente de fora toda sua subjetividade e significados,
assim era a chamada Fotografia Documental.
A fotografia por reproduzir as aparências de forma mais rápida que o
desenho e a pintura, sem esconder nada, de forma mecânica tornou-se a
ferramenta que a ciência moderna precisava no final do século XIX. Seu
principal papel nesse processo de modernização das ciências é o de separar a
arte da ciência suprimindo qualquer tipo de subjetividade com o intuito de o
documento tornar-se o próprio objeto. (THOMAZ, 2012 p. 535)
A fotografia desse período era perfeitamente representada na primeira posição
epistemológica proposta por Dubois (1994) para entender o realismo fotográfico, A
Fotografia como espelho do real. Baseado no forte conceito de semelhança e índice tratava-
se da fotografia do “Isto é, Aquilo!”.
Segundo Dubois (1994, p. 30), temos nesse período, junto com o
desenvolvimento da técnica fotográfica, o desenvolvimento das ciências que
tomam a fotografia como a técnica capaz de melhor auxiliar na
compreensão do mundo. Temos, com isso, a separação da arte e da
fotografia, já que a primeira é uma “criação imaginária”, enquanto a
segunda é “um instrumento fiel de reprodução do real. (apud. THOMAZ
2012, p. 528).
Aqui temos uma separação evidente da técnica e da arte fotográfica, a fotografia
documental ignora o olhar do fotógrafo assim como os códigos passíveis de interpretação que
a fotografia nos revela. Dessa forma, contrapondo essa ideia, surge a fotografia expressão,
passível de sentimento e interpretação, uma técnica capaz de incluir eventos diversos que nos
apresenta um convite a tentar decifrar os códigos e significados existentes.
Para Rouillé (2009, p. 135), a fotografia-documento derivada da sociedade
industrial não responde mais às questões que a sociedade da informação a
coloca. Na redução da fotografia a documento e este à representação
designatória, há uma desconsideração das “infinitas mediações que se
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inserem entre as coisas e as imagens” (p. 136). A fotografia-documento
ignora os “dados extrafotográficos” (p. 159) da fotografia, o virtual,
enquanto a fotografia expressão os traz para a análise das imagens. Então, a
fotografia-documento, para Rouillé, cedeu lugar à fotografia-expressão, ou
seja, uma fotografia que não se detém apenas às coisas e a seus estados, mas
que inclui os acontecimentos envolvidos ( apud. THOMAZ, 2012 p 533)
Portanto sob o olhar da fotografia expressão validamos nossa discussão, as fotografias
apresentadas nesse trabalho não tem por objetivo criar um cenário da Globalização e por
consequência torná-lo como único e verdadeiro, pelo contrário, buscamos fornecer ao leitor
uma ferramenta onde possa ele mesmo refletir e buscar por significados que por diversas
razões não foram abordados ou percebidos no presente trabalho.
5- DISCUTINDO A GLOBALIZAÇÃO
Comecemos com uma análise rápida do termo “Globalização”, ou se preferirem
“Mundialização”, tratados como homônimos. A primeira preferida pelos Ingleses e a segunda
pelos Franceses (Haesbaert, 2007). Benko (2002) define a Globalização para o Geógrafo
como a articulação ampliada dos territórios locais com a economia mundial.
É preciso primeiramente entender que vivemos em constante transformação e
evolução. O homem, dessa forma, constantemente imprime no espaço as marcas dessas
transformações, elas podem ser notadas através da técnica ou do conjunto delas. Milton
Santos (1996) caracteriza com excelência o atual período e seus reflexos na sociedade, o
chamado Meio Técnico Científico- Informacional.
O que definiria tal momento histórico vivenciado pela nossa sociedade, e, além
disso, de que forma esse processo se constitui e quais as perspectivas futuras de seu
desenvolvimento, são algumas questões relevantes para podermos compreender o processo
em questão, queira-se ou não, chamar de Globalização, onde, novamente, bem interpretado
por Santos (2001), onde cada lugar tem acesso ao acontecer dos outros.
Em nossa época, o que é representativo do sistema de técnicas atual é a
chegada da técnica da informação, por meio da cibernética, da informática,
da eletrônica. Ela vai permitir duas grandes coisas: a primeira é que as
diversas técnicas existentes passam a se comunicar entre elas. A técnica da
informação assegura esse comércio, que antes não era possível. Por outro
lado, ela tem um papel determinante sobre o uso do tempo, permitindo, em
todos os lugares, a convergência dos momentos, assegurando a
simultaneidade das ações e, por conseguinte, acelerando o processo
histórico. (SANTOS, 2001 6ed, p 25).
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É certo que existem diversas definições para o processo político vivenciado pelo
mundo nesse final do século XX e início do século XXI, a chamada Globalização. Existem
incertezas quanto a sua real existência, se pode ser caracterizado como um fenômeno novo e
pós- moderno ou se trata de um fenômeno antigo de um passado de mais de 500 anos iniciado
com as Grandes Navegações (séc. XV e XVI). Para Singer (2000, ap. 14) o atual processo de
internacionalização mercantil mediante a superação da distância e das barreiras entre nações
começou pelo menos desde a famosa viagem de Marco Polo ao extremo oriente.
Há ainda os defensores da Globalização como processo genuinamente característico
do movimento político atual, marcado pela internacionalização da produção e pela
consolidação do sistema mundial totalmente integrado por meio da internet e de tecnologias
de telecomunicações.
Até o período anterior à globalização o capitalismo era completo apenas em
relação a duas variáveis da órbita da circulação- o comércio mundial e a
exportação de capitais. Mas, ao expandir a mundialização para as esferas
produtivas e financeira vem como para os outros setores da vida social, o
sistema unificou globalmente o ciclo do capital, fechando assim um
processo iniciado na revolução inglesa de 1640 (COSTA, 2008 p.22)
É certo que a Globalização modifica a dinâmica nas relações sociais, políticas e
econômicas, encurta e relação espaço-tempo e promove a sobreposição da escala global sobre
o local e o lugar. No entanto, a Globalização não ocorre de maneira homogênea em todo o
mundo, ao contrário, o processo se desenvolve de maneira ímpar em cada região. Podemos
considerar então que a homogeneização do processo de Globalização é um mito,
compreendendo uma dualidade, pois, ao mesmo tempo em que ela tem um caráter unificador,
integrador, modificando as relações espaciais, ela também é excludente, desigual e principal
agente no processo de mundialização da pobreza. Segundo Haesbaert (2007, pg. 40) há que
se considerar, ainda, que se há uma homogeneização pelo alto, do capital e da elite planetária,
há também uma homogeneização da pobreza e da miséria, considerando-se que, à medida que
a Globalização avança, tende a acirrar-se a exclusão socioespacial.
O final do século XX é marcado também pela expansão das redes dinâmicas e
complexas, formação das regiões polarizadas, aumento dos níveis de circulação e informação,
“diminuindo” a relação espaço-tempo (figura 1).
19
Fonte: Harvey, 1993, p. 220
É justamente no final do século XX, especialmente a partir de 1990, com o fim da
Guerra-Fria, que as relações capitalistas e a Globalização, através do discurso neoliberal, se
disseminam pelo mundo. Dessa forma, os EUA reafirmam seu papel de superpotência
econômica e imperialista. A disseminação do discurso político-econômico do neoliberalismo
é imposta às demais regiões do planeta, aumentando ainda mais as relações centro-periferia,
configurando uma hierarquização das relações comerciais e acumulação por parte dos países
centrais.
Coordenadas por centros financeiros interligados tendo como ápice da
hierarquia os Estados Unidos e Nova Iorque, essas regiões chaves da
economia mundial absorviam grandes quantidades de matérias- primas do
resto do mundo não comunista e buscavam dominar um mercado mundial
de massa crescentemente homogêneo com seus produtos. (HARVEY, 2011,
p.125)
Fica claro que o processo em estudo tende a levar-nos a diferentes caminhos,
partindo de diferentes visões, quanto sua compreensão: Real? Mito? Antiga? Nova?
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Para nós fica evidente que a Globalização não se trata de um fenômeno novo nem
antigo, mas sim, atual, presente, cotidiano, e é preciso analisar como tal fenômeno transforma
as relações humanas dentro do espaço geográfico. É preciso, portanto, considerar sua
existência, pois ao negarmos o processo em questão, fechamos os olhos para o mundo,
impedindo que o debate acerca da transformação social vivenciado pelo planeta nas últimas
décadas seja efetivado e nos impeça de elaborar reflexões futuras.
6– REVELANDO AS FACES DA GLOBALIZAÇÃO
6.1 - A ideologia e Cultura da Globalização
Integração e homogeneização caracterizam o discurso ideológico da Globalização,
que propaga o desenvolvimento a nível global, fazendo de si mesmo uma ferramenta
necessária para alcançar tal finalidade. Desse modo, o processo utilizara-se de sua principal
arma, a informação, propagando-se pelos quatro continentes a ideia de um mundo único. Há
quem prefira ainda, a chamada “Aldeia Global ou Planetária” proposta por McLuhan (1962).
Com isso a uniformização do pensamento e do desejo social global é marca registrada do
processo de Globalização, ações claramente expressas através do consumo, material e
cultural.
A complexidade constitucional do novo espaço geográfico não apareceria,
todavia, como uma preocupação central nas interpretações que como base
na geografia se empenha à compreensão da globalização. De um lado, uma
profusão de metáforas invade a nossa disciplina. As ideias da preeminência
do tempo sobre o espaço, ou do tempo desmanchando o território,
despontam como intensos vãos de explicar as acelerações contemporâneas.
Essas posições, que vêm, em toda parte uma homogeneização do espaço
ignoram o processo sempre crescente da singularização dos lugares.
(SANTOS e SILVEIRA, 1996 p.07)
A Imagem da (Foto 1) nos mostra a terra vista do espaço, podemos ver as luzes das
grandes concentrações urbanas, nesse caso a imagem foi tirada na região do hemisfério norte,
onde podemos ver a Inglaterra e mais ao norte a Irlanda. A ideia da homogeneização do
espaço fica evidente quando ampliamos nossa escala de análise e de visão. Vista de longe os
lugares nos parecem semelhantes, como na fotografia, meros pontos de luzes brilhantes, onde
talvez a única diferença seja que, em alguns pontos, as luzes se tornam mais brilhantes e
intensas do que em outras. Contrariamente inverso, ao nos aproximarmos desses pontos
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brilhantes, percebemos que a diferença entre os lugares se ampliam para além da mera
intensidade da luz, percebemos a existência de lugares escuros e ocultos, lugares que de
quanto mais longe olhamos mais eles “desaparecem”.
É como se o mundo se houvesse tornado, para todos, ao alcance da mão.
Um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de
homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são
aprofundadas. Há uma busca de uniformidade, ao serviço dos atores
hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais distante o
sonho de uma cidadania verdadeiramente universal. Enquanto isso, o culto
ao consumo é estimulado. (SANTOS, 2001, 6. Ed p. 19)
Assim, a realidade nos mostra um mundo diferente, segregado em todas as escalas de
análise possíveis, dos bairros periféricos, países, regiões, e continentes em mesma situação.
Até quanto sua mais valiosa e poderosa arma, a informação, a ideia de homogeneização se
mostra como falácia no seu discurso ideológico. Segundo dados da Organização das Nações
Unidas (2013) cerca de 4,4 bilhões de pessoas ainda permanecem sem acesso a internet. Com
isso, fica evidente o caráter excludente da Globalização, se comparar a outros dados,
relacionados ao acesso a saúde e educação, por exemplo, as condições são ainda piores.
Foto 1: As fotografias feitas pelos astronautas da Estação Espacial Internacional (ISS) revelam como é possível
ver as luzes dos países direto do espaço. Fonte: Revista Info Ano: 2012. Divulgação: NASA
Disponível: http://info.abril.com.br/noticias/ciencia/8-fotos-da-terra-durante-a-noite-feitas-pela-nasa.shtml
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Porém, podemos e devemos criticar o modo exploratório ao qual se desenvolvem as relações
econômicas, principalmente quanto ao consumo, o chamado “Américan Way of Life”.
E é justamente ai que a Globalização se mostra pluralista, ou se preferir, Híbrida. Os
movimentos de contra cultura da década de 1960 e 1970, como por exemplo, os hippies, nos
mostram claramente que o sistema capitalista e a as desigualdades inerentes encontram
opositores, que ao longo de toda história buscaram maneiras alternativas ao processo político
vivenciado. Com a Globalização, especialmente a partir de década de 1970, proliferam ao
redor do mundo movimentos culturais locais, que passam com o advento tecnológico,
especialmente a internet, a se disseminar pelo mundo validando-se do progresso tecnológico
para poder também exportar e inserir-se dentro da “Cultura Global”.
Engana-se ao pensarmos que a luta dos movimentos sociais se encerraram no mesmo
período, pelo contrário, a primeira década do século XXI nos mostra que as tensões sociais se
fazem presente, principalmente após crise econômica de 2008. O aumento nos índices de
desemprego, chegando segundo relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho) a
200 milhões de pessoas em 2012, afetando principalmente jovens escolarizados e mulheres,
criaram enormes zonas de tensão social ao redor do mundo.
Assim, ao nos depararmos com a imagem (Foto 2) notamos a real existência dos
movimentos de contra cultura agindo e transformando as relações sociopolíticas. As lutas são
diversas, destacamos nesse caso a luta dos movimentos feministas, uma marca existente da
luta por liberdade sexual e direitos iguais. A foto mostra integrantes de um banda de punk
rock russa, chamada “Pussy Riot”, presa após “show” na catedral Moscovita de Cristo
Salvador. A banda representa o descontentamento quanto ao sistema, nesse caso,
personalizado na figura de Vladmir Putin. Ao aprofundarmos nosso olhar na fotografia
podemos identificar alguns símbolos, como, por exemplo, as roupas vestidas pelas integrantes
da banda e ainda ao fato de que, ao que nos parece, se trata de uma outra mulher (policial)
“vigiando”, permitindo-nos, assim, uma reflexão quanto as diversidades e complexidades das
relações sociais, contrapondo dois pontos, liberdade e ordem.
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Podemos assim, compreender que o processo de Globalização e cultura mostra-se
complexo, e que, ao simplificarmos a discussão quanto sua perversidade econômica,
fechamos os olhos para a transformação política, que se forma através da diversidade de
conflitos e interesses, e por consequência, diversidade cultural. É necessário buscarmos
alternativas, pois, “Globalizações alternativas levam à possibilidade de modernidades
alternativas” (BERGUER e HUNTINGTON 2004, p. 23)
6.2 - A Dinâmica da Circulação – Sociedade em rede
Uma das marcas mais perceptíveis do processo de Globalização é o encurtamento
das relações espaciais. Fica evidente que os adventos tecnológicos contribuíram em muito
para se alcançar o atual nível de interação e circulação vivenciado pelo planeta nas últimas
décadas. A redução nos custos dos transportes, a informação, que percorre milhares de
Foto 2: Presas desde março, três integrantes da banda punk russa Pussy Riot foram condenadas em agosto a
dois anos de prisão cada uma por “Vandalismo, incitado por ódio religioso”. As ativistas foram detidas após
protestar contra o presidente Vladmir Putin na catedral moscovita de Cristo Salvador, a igreja ortodoxa mais
importante da Rússia. Fonte: Globo.com Ano. 2012. Foto: AP/MISHA JAPARIDZE
Disponível: http://oglobo.globo.com/mundo/as-imagens-que-marcaram-mundo-em-2012-7090500
24
quilômetros de Pequim a São Paulo em segundos, ampliaram os horizontes entre as relações
humanas.
O resultado dessa evolução histórica do capitalismo e, claro, da sociedade capitalista
nos coloca frente à novas perspectivas espaciais, novas complexidades, uma geografia de
redes. Essas redes podem ser materiais, relacionados à infraestrutura, como as redes de
transportes ou podem ser imateriais, como as redes de informação, de cultura, ou as redes de
migração.
No entanto e existência dessas redes não nos coloca em uma organização a nível
mundial de relações homogêneas.
E onde as redes existem, elas não são uniformes. Num mesmo subespaço, há
uma superposição de redes, que inclui redes principais e redes afluentes ou
tributárias, constelações de pontos e traçados de linhas. Levando em conta
seu aproveitamento social, registram-se desigualdades no uso e é diverso o
papel dos agentes no processo de controle e de regulação do seu
funcionamento. (SANTOS, 1996, p. 181)
É através das complexidades existentes que surge o conceito da multiterritorilidade,
ou seja, de justaposição ou convivência lado a lado, de tipos territoriais distintos. Partindo do
que Haesbaert (2006) chama de territorializações mais fechadas, como no caso de algumas
sociedades indígenas, à territorializações efetivamente múltiplas, como no caso de alguns
indivíduos ou grupos mais globalizados que podem ou se permitem usufruir do
cosmopolitismo multiterritorial das grandes metrópoles.
Como dissemos anteriormente, a complexidade das relações de troca, expressas
através das redes, nos mostram que a participação de economias e de pessoas em redes
depende de diversas variáveis, e suas respectivas participações podem ser hierarquizadas em
diferentes escalas e níveis de atuação.
Os núcleos urbanos podem ser considerados hoje o foco das relações capitalistas e
da sociedade em rede. A maior concentração de pessoas, a maior troca de informação, as
maiores transações econômicas são feitas nos núcleos urbanos. Identificamos, assim, dentro
do sistema de redes e relações urbanas, a complexidade agindo de maneira existencial. O
movimento da cidade pode ser considerado a mais ativa e presente expressão do processo da
25
Globalização. As multifaces da cidade representam as diferentes realidades existentes,
convivendo e conflitando-se a todo instante.
Mostra-se assim, necessário um maior comprometimento ao analisarmos a questão
da circulação. Estima-se que em 2050, 3 bilhões de pessoas estarão vivendo em favelas
devido à rápida urbanização acarretando problemas graves quanto ao transporte e saneamento
básico. Esses problemas são ainda maiores nos países em desenvolvimento como no caso da
América Latina e da Ásia, o que torna questão da circulação de pessoas e a mobilidade
urbana um desafio para as próximas gerações.
Foto 3 : Vendors, cars, and pedestrians jam the Muslim quarter of the city center near Mohammed Ali Road.
Fonte: National Geographic. Foto: Martin Roemers/Panos
Disponível:http://travel.nationalgeographic.com/travel/city-guides/mumbai-photos-2/#/mumbai-muslim-
quarter_2348_600x450.jpg
A Foto 3 nos mostra a cidade de Mumbai, na Índia, uma das cidades mais populosas
do mundo, mais de 13 milhões de pessoas, capital financeira e considerada a cidade mais
“Globalizada” do país . Mumbai, compreendida por nós, se caracteriza com excelência
quanto às complexidades das relações das redes urbanas. Considerada a cidade mais rica da
Índia, capital do cinema indiano (Bollywood), além da imensa rede de serviços, responsável
por gerar mais de 80% dos empregos, principalmente na área de telecomunicações como as
redes de telemarketing. A megalópole indiana sofre com os contrastes da Globalização, as
26
multifaces da cidade cosmopolita, aberta a investimentos, se vê de frente com a pobreza
extrema, onde, segundo dados da Mumbai Metropolitan Region Development Authority
(2008) 56% da população vivem sem saneamento básico, e a rede de transportes é caótica,
como nos mostra a foto 3. Pessoas, carros e comerciantes dividem o mesmo espaço, o mesmo
território. O número de pessoas obrigadas a viver em assentamentos urbanos informais
(bairros de lata/slums) é metade da população de Bombaim: 6.4 milhões de habitantes, quase
o mesmo valor da população da grande Londres. (GRANCHO, 2008). Outro fator marcante
de pluralidade é a questão cultural e religiosa do país, mantendo fortes laços com as raízes
religiosas e culturais locais, a grande maioria hinduísta, sem desprezar a nova dinâmica das
relações capitalistas, e suas fortes raízes ocidentais.
6.3- A Era da Informação
A questão da Informação é encarada hoje, basicamente sob duas visões amplamente
distantes, os defensores, que veem no processo a promessa de uma sociedade global e
democrática, e os céticos, que enxergam tal processo como uma artimanha do discurso
ideológico, para justificar a hegemonia econômica americana, cada vez mais perceptível em
todo globo. No entanto, é evidente que o processo em questão é muito mais complexo, e nos
apegar a visões tão simplistas nos impossibilitará de obter uma melhor compreensão dos reais
fatos. Dessa forma, o que buscamos nesse trabalho é uma visão da realidade, que se apresenta
de diversas maneiras, onde a comunicação e a internet podem ser brilhantes armas de
socialização a nível mundial, nunca imaginado, como também pode ser ferramenta de
segregação e de poder.
Primeiramente, destacaremos a formação e consolidação da troca de informações a
nível mundial. Para isso se faz necessário um breve histórico da evolução da considerada a
maior rede de circulação de informação no planeta, a internet. Inicialmente como um projeto
militar coordenados pela Agência de Projetos de Pesquisas Avançadas (ARPA), do
Departamento de defesa dos EUA, a internet ao longo no final do século XX sofre com a
popularização, devido sua facilidade na troca de informação, passando da finalidade militar
ao meio de discussão científico das grandes universidades americanas e por fim, ao sistema
integrado de compartilhamento de informação e dados, especialmente na década de 1990 com
a popularização do computador pessoal.
27
Como dissemos anteriormente não é verdade que o acesso e a circulação da
informação se faz presente de maneira homogênea ao redor do globo. Mas o fato é que nas
grandes concentrações urbanas, principalmente nos países ocidentais, tais índices atingem
valores expressivos, como é o caso da telefonia móvel com acesso as redes sociais e a
internet. Na Europa, o índice de pessoas conectadas chega a 75% (União Internacional de
Telecomunicações - UIT, 2012). A mobilidade pode ser considerada um novo marco nas
relações de acesso a informação. Estima-se, segundo dados do Banco Mundial (2012), que ao
redor do mundo haja seis bilhões de assinaturas de telefonias móveis, superando os números
de acesso a água e ao saneamento básico ao redor do globo.
Foto4 : Fãs da Apple fazem fila em frente à loja da companhia na 5ª Avenida, em Nova York, esperando o
início das vendas do iPhone 5, quatro dias antes do produto chegar às prateleiras. O mais novo smartphone da
empresa de Cupertino foi anunciado na semana passada, e chega na sexta-feira às lojas de nove países Divulgação: Terra Ano: 2013. Foto: AFP
Disponível: http://tecnologia.terra.com.br/celular/iphone-5-compradores-ja-formam-filas-em-frente-a-lojas-
da-apple,e80b4dbea5bda310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html
Há, no entanto, que se observar que não somos apenas consumidores da informação,
não somos usuários passivos, somo produtores, usuários ativos, o que torna as redes de
informações complexas e marcadas pelas relações de poder.
28
A circulação e a comunicação são duas faces da mobilidade. Por serem
complementares, estão presentes em todas as estratégias que os atores
desencadeiam para dominar as superfícies e os pontos por meio da gestão e
do controle das distâncias. [...] em todo “transporte” há circulação e
comunicação simultaneamente. Os homens ou os bens que circulam são
portadores de uma informação e, assim, “comunicam” alguma coisa. Da
mesma forma, a informação comunicada é, ao mesmo tempo, um “bem” que
“circula” (RAFFESTIN, 1993. p 179)
Dessa forma, temos observados nos últimos anos, o crescente domínio e controle da
circulação da informação ao redor do globo. Grandes corporações, como o Google, estão
sendo acusadas de fornecer os dados depositados por usuários para empresas de espionagem
dos EUA. Recentemente Edward Snowden (Foto 5) tornou-se o maior inimigo do governo
americano, após divulgar documentos confidenciais dos programas de espionagem e
vigilância eletrônica dos EUA e do Reino Unido. As denúncias ganharam as capas dos
principais jornais do mundo, como o The Guardian. As informações continham detalhes das
vantagens adquiridas pelos países nos processo de espionagem, causando grande desconforto
na comunidade internacional. No Brasil, a denúncia de espionagem contra sua principal
indústria, a Petrobrás, afetou as relações diplomáticas, fazendo com que a presidente Dilma
Rousseff cancelasse a visita de Estado programada para o dia 23 de outubro de 2013.
Anteriormente, Julian Assange, um dos fundadores do WikiLeaks, já tinha causado grande
alvoroço ao divulgar documentos confidenciais do governo americano, principalmente quanto
as atividades militares na Guerra do Iraque.
Foto 5: Edward Snowden, the NSA whistleblower. Divulgação: The Guardian. Ano. 2013
Disponível: http://www.theguardian.com/world/2014/feb/01/edward-snowden-intelligence-leak-nsa-contractor-
extract
29
6.4 - Tecnologia e Ciência
E revolução tecnológica experimentada pela sociedade a partir de 1970, a tecnologia
da informação, tem como ponto principal sua capacidade de disseminação pelo globo em
velocidade nunca antes experimentada pelo mundo. As tecnologias desenvolvidas
anteriormente, com a revolução industrial, obteve pouco êxito nessa questão. A escala de
abrangência se limitava a áreas geográficas pequenas, a utilização e a troca das tecnologias
desenvolvidas por diferentes países ocorriam apenas no campo da indústria bélica. Tais
condições perduraram até o final do século XIX.
Casttels (2006) define como característica principal da revolução tecnológica da informação a
partir do final do século XX, a aplicação imediata no próprio desenvolvimento da tecnologia
gerada, sendo capaz de conectar o mundo. Sobre esse assunto Porto-Gonçalves (2012, p.36)
“Na sociedade capitalista a técnica visa o aumento da produtividade. […] Dessa forma, ganha
um sentido mais claro ainda a ideia de que a técnica deve ser um objeto per-feito, isto é, um
objeto feito previamente para atender um fim determinado”. Compreendemos assim, o
avanço tecnológico e científico um paradoxo. Na chamada sociedade capitalista a ciência e
tecnologia tem se desenvolvido em favor da última.
A concentração das inovações tecnológicas por parte das corporações
transnacionais é fruto da privatização do conhecimento, quem vem se
consolidando desde o aparecimento dos monopólios no início do século
passado. Esse processo faz com que, cada vez mais, as tecnologias
avançadas passem a ser criada nos países centrais, restando aos países
periféricos apenas a utilização das inovações, sem a transferência dos
padrões códigos que permitem desenvolver e internalizar o conhecimento.
Dessa forma, aplica-se de maneira geométrica o fosso tecnológico entre os
países centrais e e os periféricos, fato que vem se consolidando com a maior
rapidez após os acordos do Gatt ( Acordo Geral de Tarifas e Comércio),
atualmente substituídos pela organização mundial do comércio. [...] Estes
acordos, elaborados a partir das pressões dos grandes grupos, reforçam os
direitos de propriedade, impedem o desenvolvimento de produtos
semelhantes e permitem que as corporações se apropriem, inclusive, da
biodiversidade mundial e do imenso patrimônio do saber popular acumulado
ao longo da história da humanidade. (COSTA 2008, p 124)
Porto-Gonçalves (2012) considera que a ciência ocidental moderna se encontra,
hoje, implicada até a medula nas relações de poder contemporâneas, sobretudo com o poder
econômico. Tomemos como exemplo uma das questões fundamentais ao desenvolvimento
humano na terra, a produção de alimentos. Compreendemos a questão da fome e a produção
de alimentos como um dos maiores paradoxos enfrentados pela humanidade, pois ao mesmo
30
tempo em a questão da subnutrição ao redor do mundo aparece constantemente como um
desafio para o futuro, os investimentos nas áreas de biotecnologia continuam em
desenvolvimento. Fica evidente que o desenvolvimento em tecnologias e a aplicação
científica na produção nada têm a ver com a questão dos problemas da fome enfrentados pela
humanidade, pelo contrário, o desenvolvimento visa apenas a produção mercadológica, ou
seja, preocupa-se mais com a variação do preço das commodities, e os déficits da balança
comercial do que com a subnutrição africana, por exemplo. De fato, nos países centrais, a
realidade é outra, problemas como a obesidade e doenças cardiovasculares causadas por
excesso e má alimentação são os principais problemas alimentares enfrentados.
Assim, com o conhecimento produzido em laboratórios de grandes empresas
em associação cada vez mais estreita com o Estado e, deste modo, passível
de apropriação privada, a propriedade intelectual individual (patentes) se
coloca em confronto direto com o conhecimento patrimonial, coletivo e
comunitário característico das tradições camponesas, indígenas,
afrodescendentes e outras matrizes de racionalidade distintas da
racionalidade atomístico-individualista ocidental (PORTO-GONÇALVES, 1989 apud. PORTO-GONÇALVES ,2004 p.4).
Foto 6: No Médio Norte do Mato Grosso, a alta dos preços dos alimentos impulsiona novo boom do
agronegócio local. Na foto, plantação de grãos em Lucas do Rio Verde.
Divulgação: Estadão Ano:2010 Foto: Tasso Marcelo/AE
Disponível: http://topicos.estadao.com.br/fotos-sobre-agronegocio/agronegocio,95398BEC-F6AD-4530-86AC-
4546A9FA09F0
31
O emprego das tecnologias no campo tem grandes consequências sociais, como nos
mostra a foto 6, a agricultura mecanizada despreza o emprego da mão de obra, tornando o
trabalho da colheita mais fácil e rápido. O resultado é a concentração fundiária nas mãos dos
produtores capazes de investir em tecnologia para produzirem em grande escala. A
monocultura ganha espaço e assim a homogeneização da produção se dissemina de acordo
com a demanda do mercado. Aqui percebemos a existência do chamado Mundo-Moderno-
Colonial, ou seja, exploração dos recursos naturais tem objetivamente o mercado dos grandes
centros.
6.5 - Natureza
É evidente nesse início de século que a questão ambiental se torna uma discussão
importante e central nos debates geopolíticos, e mais, se apresenta em caráter de urgência nas
tomadas de decisões presentes e futuras. Podemos, então, nos questionar qual seria o papel da
natureza dentro das perspectivas atuais. Como as Políticas Internacionais, como a sociedade,
dentro dos modos de vida e produção capitalistas se relacionariam com o meio ambiente?
Essa é apenas uma questão, dentre tantas, que nos ocorre mais claramente dentro do sistema-
mundo-moderno.
No final do século XX a temática ambiental volta ao centro do debate político, agora
não mais discutido apenas por um pequeno conglomerado de países, empresas e instituições
internacionais. Como vimos o debate ganha novos atores, com o intuito de democratizar o
debate e principalmente descentralizar a discussão do tema. É no final da década de 1980
com o Relatório Brundtland, e no início da década de 1990 com a RIO 92, parte do programa
da ONU - Conferência das Nações Unidas paras o Meio Ambiente e Desenvolvimento
(CNUMAD), que podemos perceber a maior participação da sociedade civil no processo de
discussão, e ainda, propondo alternativas aos planos de desenvolvimento disseminados ao
redor do mundo. Podemos caracterizar então a conferência internacional ECO 92 (Rio 92) um
marco na discussão do debate ambiental, pois, é a partir dela que o tema enraíza-se não
apenas dentro da política e da economia, mas também permeia pela cultura da sociedade
aprofundando-se cada vez mais entre as relações sociais e o meio ambiente em escala
planetária.
32
Como vimos, a problemática ambiental se apresenta mais fortemente na década de
1990, intensificando os debates e as divergências de como essa temática é discutida e
aplicada dentro do sistema-mundo-moderno. Ao transformar a natureza em mercadoria, os
recursos naturais adquirem papéis fundamentais dentro das discussões geopolíticas modernas.
Alocação, abundância, valor econômico passam a ser importantes nas relações entre a
natureza e a politica internacional. Gerir a demanda crescente por recursos naturais para
sustentar os modos de vida e produção capitalistas tornam-se os desafios principais das
políticas internacionais a respeito da questão ambiental.
Vale destacar a eficácia das grandes corporações transnacionais aliadas às instituições
internacionais na tentativa de mascarar e transformar os discursos desses agentes emergentes,
pra isso, ele se vale de uma poderosa força de influência que são os meios de comunicação e
a mídia, transformando e gerando novos conceitos e paradigmas como o desenvolvimento
sustentável, que surge como uma marca que agrega valor ao produto final. Desta forma, o que
se modifica não são as reais relações homem-natureza, mas sim a forma com que o discurso
da problemática ambiental é elaborado, o chamado “Ecologismo Ingênuo”.
Afinal, estamos diante, nesses últimos 30-40 anos de globalização
neoliberal, de uma devastação do planeta sem precedentes em toda a história
da humanidade, período em que, paradoxalmente, mais se falou de natureza
e em que o próprio desafio ambiental se colocou como tal (PORTO-
GONÇALVES, 2006 pág. 20).
A escolha da Foto 7 é uma tentativa de caracterizar o desafio ambiental enfrentado
pela humanidade e as consequências futuras na nossa sociedade. Na foto, uma criança
indiana brinca naquilo que seria um rio “seco” na cidade de Allahabad, Índia. A reflexão
proposta aqui é a existência do homem em mundo “branco”, como na fotografia, sem a
riqueza natural, sem a água. Os efeitos da questão climática e a escassez de recursos naturais
afetam principalmente países pobres e em desenvolvimento, devido ao crescimento urbano
descontrolado, a falta de infraestrutura em saneamento básico, acarretando em grandes
problemas de saúde nesses países.
A acessibilidade aos recursos naturais configuram as relações geopolíticas de poder
na atualidade, as fronteiras por sua vez definem os limites territoriais da circulação e do
exercício do poder. No entanto é preciso lembrar que a natureza não possui fronteiras, muito
33
menos opção política, étnica, religiosa ou econômica, ela simplesmente ocorre de maneira
natural, se distribui geograficamente e abundantemente de acordo com os processos naturais
da evolução histórica da terra.
As fronteiras, os limites territoriais, se colocam como fundamentais para
entender as relações sociais e de poder, o que implicará nas relações de
pertencimento e estranhamento (um nós e um eles), assim como relações de
dominação e exploração através do espaço pela apropriação/ expropriação
dos seus recursos. (PORTO-GONÇALVES, 2006 pág.288).
6.6 - A Internacionalização da Produção
Aqui buscamos abordagens mais geoeconômicas e geopolíticas, destacando a nova
espacialidade gerada pelo processo da Internacionalização da produção, com o surgimento de
novos centros polarizadores, a disseminação de filiais de empresas multinacionais e
transnacionais ao redor do globo. Como bem salienta Benko (2002). Verifica-se um
crescimento fenomenal dos investimentos internacionais, paralelamente à presença cada vez
mais notória das firmas transnacionais nas trocas internacionais e na atividade econômica dos
países. Destaca-se ainda o surgimento de dos oligopólios de grande poder sobre regiões e
Foto 7: An Indian street child plays in a dry river bed after floodwaters receded in the city
Fonte: The Guardian Ano: 2013. Foto: Sanjay Kanojia/AP
Disponível: http://www.theguardian.com/world/picture/2013/oct/26/eyewitness-allahabad-india
34
países, principalmente, os chamados de “Terceiro Mundo”, América Latina, Ásia e África,
que através da guerra fiscal disputam tais investimentos em busca do “progresso” e
desenvolvimento econômico.
Contudo, entende-se que os países industrializados não se limitam à
comercialização de seus produtos e serviços, mas, também, transferem suas
próprias unidades produtivas, instalando-se em outras economias. Assim, é
possível crer que o movimento de internacionalização da produção
(exportação de capital) é um passo posterior ao simples intercâmbio
comercial. (ROSSI e PELLEGRINO, 2006. p 48).
Ainda, Estas empresas são alertadas ao investimento no exterior para adquirir
recursos particulares e específicos em um custo real mais baixo do que
poderia ser obtido em seu país de origem (se, certamente, são obteníveis em
tudo). A motivação para o FDI (Foreign Direct Investiment – Investimento
Estrangeiro Direto) deve fazer a empresa investidora mais rentável (ROSSI
e PELLEGRINO 2006 p.52 apud Dunning 1993)
Nota-se que a preocupação nesse caso dá se de maior interesse na configuração
espacial dos chamados Fixos, pontos geoestratégicos da produção internacional. É, portanto
necessário chamarmos a atenção para o caráter exploratório da internacionalização da
produção, sob o discurso do progresso econômico abrem caminho pra a exploração da mão
de obra, barateando drasticamente os custos da produção. Tais lugares tornam-se estratégicos
dentro de nova economia mundial.
Em 2002 a empresa de artigos esportivos Nike foi acusada de exploração do trabalho
na Indonésia. Segundo relatório da OXFAM (Comitê de Oxford de Combate à Fome), cada
trabalhador receberia cerca de dois dólares por dia, além das péssimas condições de trabalho
e relatos de humilhação.
A Foto 8 nos mostra o relato do desmoronamento do Rana Plaza, em Bangladesh no
ano 2013, onde mais de mil pessoas morreram e cerca de duas mil pessoas se feriram. No
país o setor têxtil é responsável por movimentar US$ 20 bilhões por ano e empregar 3,2
milhões de pessoas. A foto nos mostra o resgate de umas das vítimas. Fica evidente em mais
35
um desastre industrial que, as políticas trabalhistas e sindicais desses países se tornaram
perigosamente enfraquecidas.
Os poderes das grandes corporações transnacionais superam o poder do estado.
Segundo dados da PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) o volume
total de negócios de grandes corporações internacionais, como o Wal Mart e General Motors
superam os PIB de países como Bangladesh e Indonésia.
6.7 - Capital Financeiro
É necessária aqui uma compreensão do processo político econômico mundial
iniciado no final da década de 1970, o Neoliberalismo. Tendo como expoentes Margareth
Thatcher e Ronald Reagan. O centro da questão econômica era a de um mercado livre,
Foto8: Mais de 1,1 mil pessoas morreram quando uma fábrica de roupas de oito andares desmoronou nos
subúrbios da capital de Bangladesh, Dhaka. Muitos dos sobreviventes se feriram gravemente e não puderam
voltar ao trabalho. Fonte: BBC Ano: 2013. Foto: Kevin Frayer/ AP
Disponível:http://www.bbc.co.uk/portuguese/videos_e_fotos/2014/01/131224_ano_fotos_retrospectiva_lgb.sht
ml
36
desregulamentado, onde o capital pudesse disseminar-se e por conta própria auto gerir-se. As
consequências disso foram duras perdas sociais, perdas de direitos trabalhistas e o
enfraquecimento de movimentos sociais anticapitalistas das décadas anteriores.
Engana-se ao imaginar que com a proposta do livre mercado, o Estado se tornaria
uma peça ausente dentro da questão política econômica mundial, ao contrário disso, o mesmo
tornou-se o maior facilitador e incentivador de tais políticas. O Consenso de Washington
(1989) com a expansão das políticas neoliberais ao redor do mundo, a queda do Muro de
Berlim (1989), o fim da Guerra Fria com o desmantelamento da União Soviética (1991)
caracteriza evidentemente o triunfo do sistema neoliberal, baseado no capital financeiro
mundializado. As consequências disso se refletem no aumento exponencial da dívida externa
contraída pelos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos. No entanto é válido
destacarmos que o desenvolvimento do capital financeiro acompanha a internacionalização
da produção, como reflexo da disseminação das indústrias ao redor do mundo, o capital
financeiro, caracterizado pelos Bancos e Fundos de investimentos se tornam peças
fundamentais para injetar grandes volumes de capitais em diversas partes do globo, como por
exemplo, no sudeste asiático.
Outra característica é a apropriação do capital financeiro por grandes corporações
industriais, que perceberam no capital especulativo uma fonte de renda muito mais rentável,
ampliando ás áreas de atuação.
A tendência de investimentos em ativos se tornou generalizada. Desde 1980
em diante vieram à tona periodicamente relatórios sugerindo que muitas das
grandes corporações não financeiras geravam mais dinheiro de suas
operações financeiras do que fazendo coisas. Isso foi particularmente
verdadeira na indústria automobilística. Essas corporações agora eram
administradas por contadores e não por engenheiros, e suas divisões
financeiras que tratavam de empréstimos aos consumidores foram altamente
rentáveis. (HARVEY, 2011, p. 28)
Os capitais financeiros assim com a internacionalização da produção se favorecem
do livre mercado para se instalarem em cada parte do mundo, aproveitando a guerra por
captação de investimentos em nome do progresso econômico. Com isso ao contrário do
discurso ideológico da Globalização financeira neoliberal a homogeneização torna-se um
paradoxo necessário para seu desenvolvimento.
37
A homogeneização, da qual a mundialização do capital é portadora no plano
de certos objetos de consumo e de modos de dominação ideológicos por
meio das tecnologias e da mídia, permite a completa heterogeneidade e a
desigualdade das economias. O fato de que se tenha integração para uns e
marginalização para outros, resulta do processo contraditório do capital na
busca de rentabilidade, ao mesmo tempo em que ele determina os limites.
Deixando-o por sua conta, operando sem nenhuma rédea, o capitalismo
produz a polarização da riqueza em um pólo social (que é também espacial),
e no outro pólo, a polarização da pobreza e da miséria mais “desumana”. A
polarização é uma das expressões do caráter sistêmico dos processos com os
quais se tem que negociar. (CHESNAIS, 2000. p 13)
Como explicar então o desenvolvimento do capital financeiro e de um mercado
baseado na especulação do capital?
Em um mundo dominado pelas finanças, a vida social em quase todas as
suas determinações tende a sofrer as influências daquilo que Marx designa
como a forma mais impetuosa de fetichismo. Com as finanças, tem-se
dinheiro produzindo dinheiro, um valor valorizando-se por si mesmo, sem
que nenhum processo (de produção) sirva de mediação aos dois extremos
(CHESNAIS, 2000.p.09).
Dessa forma a desregulamentação da economia, o fetichismo do capital financeiro,
torna o mercado mundial numa bomba relógio, que veio a explodir em 2008, com uma crise,
clara e exclusivamente financeira, provocada pelo excesso de investimentos em fundos
altamente especulados e de alto risco, os subprimes.
O segredo é a adesão especulativa por meio de produtos financeiros de alta
rentabilidade que atraem aplicadores cada vez mais comuns e numerosos,
porém cada vez menos esclarecidos. Para prolongar o crescimento do
mercado imobiliário norteamericano, se possível eternamente, era
necessário que as famílias fossem levadas a procurar o mercado de
empréstimos hipotecários, seduzidas pelo sonho norteamericano da
propriedade. (SALVADOR, 2010, p 613)
O que se viu na crise financeira de 2008 foi à crise da desregulamentação, a ausência
do papel regulador do Estado entra novamente em questão, quando a ideia do “livre
mercado” se desmancha. E sem surpresas o papel do estado, quando necessário se faz
presente, demonstrando claramente que o que importa é assegurar a instabilidade do mercado
a qualquer custo. O resultado disso é a socialização dos prejuízos, os investimentos do fundo
público servem como injeção de resgate para impedir a quebradeira dos bancos e dos fundos
38
de investimentos. No outro lado da moeda sem encontram a redução dos gastos públicos com
a aposentadoria, investimentos em saúde, queda na geração de emprego, ou seja, fica
evidente o fluxo do capital quando se trata de crise econômica, novamente, socializar os
prejuízos.
Foto 9: Protestors march during "Occupy Wall Street" demonstrations on Sept. 26, 2011. Divulgação: Flickr Ano: 2011. Foto: Paul Stein
Disponível: http://www.flickr.com/photos/eric99v/6380982059/in/photostream/
O reflexo das ações do Estado para salvar os bancos, somado a instabilidade social
vivenciada pelo país, devido o aumento das taxas de desempregos e uma economia em
resseção como foi o caso dos EUA levam ao surgimento de movimentos sociais contra o
domínio financeiro da economia e a influência do mercado sobre o estado. Dessa forma o
surgimento do movimento Occupy Wall Street é a evidência do descontentamento da
população em detrimento das políticas públicas. O movimento surgiu em 2011 e tem como
slogan a frase “We are 99%” (Foto 9), a ideia faz alusão a desigualdade social e da
acumulação do capital nas mãos de apenas 1% da população americana. As crises sociais
foram ainda maiores na Europa, em países como a Espanha, o desempregou chegou a 17%.
Além da Espanha os países mais afetados foram à Grécia, Irlanda, Itália e Portugal. Nesses
países também proliferam as crises e manifestações de descontentamento popular com
medidas de redução de gastos adotadas pelos países como forma de conter a crise.
39
Foto 10: Poste do movimento Occupy Wall Street
Fonte: http://occupywallst.org/ Art: Matte Finish
Disponível: http://www.openprints.com/occupywallstreet/Occupy-
Wall-Street-Poster-Firesale--Limited-Edition-
40
7- Considerações Finais
As discussões aqui realizadas não pretendem esgotar a temática da globalização por
meio das fotografias, nem dos temas tratados, pelo contrário, buscamos propor uma abertura
para maiores investigações e descobertas de novos agentes e novos processos no fenômeno
da Globalização. Assim compreendemos que os temas aqui tratados não deverão ser
compreendidos separadamente. Devem ser observados e relacionados dentro da
complexidade que se faz o estudo da Globalização. Destacamos a coexistência e a interação
das relações espaciais e consequentemente as transformações sociais.
As questões e análises aqui abordadas têm como objetivo demonstrar parte das
transformações decorrentes da Globalização no mundo, pois, como abordados anteriormente,
consideramos o processo multifacetado. Dessa forma, as fotografias têm por finalidade
relacionar o processo estudado e seus reflexos na sociedade, seja através dos movimentos
sociais, das disparidades econômicas ou das alterações ambientais ao redor do globo. A
tentativa de análise através das fotografias se fez com o objetivo de aproximar o geógrafo seu
objeto de estudo. No entanto compreendemos que o presente trabalho serve como uma
reflexão das diversas faces do processo de Globalização, deixando evidente que há uma
infinidade de alternativas e visões para as transformações ocorridas no mundo nesse início de
século XXI.
Buscamos destacar que o movimento histórico de transformações se faz presente e
cotidiano, e que a compreensão de tais fatos se torna necessariamente importante para o
estudo de Geografia. É, de fato, imprescindível que o geógrafo esteja atento as
transformações diárias das relações geográficas que como característica do processo de
Globalização se tornam cada vez mais rápidas e complexas. Cabe a geografia então imprimir
suas ideias, e de maneira crítica contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e
igualitária.
41
8 - Referências Bibliográficas
BERGER.P.L; HUNTINGTON.S.P. Many Globalizations: Cultural Diversity in the
Contemporary World, Oxford University Press, 2002. 374p.
CASTELLS. M. Sociedade em Rede. 9ªed. Vol. I. A era da informação: economia,
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CHESNAIS. F. Mundialização: o capital financeiro no comando. In. Les Temps Modernes,
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GEORGES, B. Mundialização da Economia, metropolização do mundo. Revista do
Departamento de Geografia, v.15, p.45–54, 2002.
GRANCHO, N. M, de C. P. Bombaim, a explosão urbana. Análise de assentamentos e
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