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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA KLISMAN ANANIAS DOS SANTOS Construção da Rede de Atenção as Doenças Crônicas em Cuiabá. CUIABÁ 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA

KLISMAN ANANIAS DOS SANTOS

Construção da Rede de Atenção as Doenças Crônicas em

Cuiabá.

CUIABÁ

2014

1

KLISMAN ANANIAS DOS SANTOS

Construção da Rede de Atenção as Doenças Crônicas em

Cuiabá.

Trabalho de Conclusão de Curso,

apresentado a disciplina de Trabalho de

Conclusão III como requisito parcial e

obrigatório para obtenção do grau de

Bacharel em Saúde Coletiva.

Área de concentração: Saúde Coletiva.

Orientador: Prof.º Me. Marco Aurélio

Bertúlio das Neves.

CUIABÁ

2014

2

3

DEDICATÓRIA

A minha mãe Selma da Silva Ananias que sempre esteve ao meu lado para que eu pudesse

conquistar meus objetivos.

Ao meu avô Valmir da Silva Ananias (In memoriam) que sempre me incentivou a

conquistas, e ainda contribui, para a minha formação pessoal que determina eticamente o

profissional que sou.

A minha orientadora inicial Prof.ª Me. Janil Leite de Oliveira que confiou e sempre esteve

presente durante o meu processo de formação acadêmica e por motivos de saúde teve que

deixar a minha orientação.

A minha professora, hoje amiga, Dr.ª Wildce Costa Graça Araujo que além da formação

acadêmica me oportunizou construção de conhecimentos precoce nos serviços de saúde.

Ao meu orientador, professor e amigo Marco Aurélio Bertúlio das Neves que desde o

primeiro momento em minha iniciação acadêmica sempre esteve pronto em ajudar e

nunca hesitou com sua experiência a me auxiliar e incentivar.

4

AGRADECIMENTOS

A Deus por sempre iluminar e guiar o meu caminho.

Ao meu pai, Gonçalo dos Santos, e irmão, Ronan Ananias dos Santos que sempre me

incentivaram e orientaram nas minhas decisões.

Aos meus tios, Prof. Dr.º Aroldo José de Oliveira e Prof.ª Dr.ª Joelma Ananias de Oliveira

a quem me espelho academicamente que incentivaram e contribuíram com orientações e

ações sempre que necessário.

A minha namorada Glaucia Cristina da Silva Almeida pelo carinho, atenção, paciência e

incentivo quando necessitava.

Aos meus professores durante a minha formação acadêmica, em especial a Dra. Márcia

Lotufo, pela paciência e compreensão ao longo desse processo.

Aos colegas de movimento estudantil em saúde coletiva de diversos lugares do Brasil,

colegas de turma e também do Instituto de Saúde Coletiva, em especial a Regiane Trajano

de Oliveira pela amizade e companheirismo ao longo desses anos.

Aos funcionários da Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá que me oportunizaram

crescer com a experiência vivida no serviço.

5

RESUMO

Em 04 de Abril de 2014, a Portaria do Ministério da Saúde de Nº 483 redefiniu a Rede de

Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas (RAS/PDC) no Sistema Único de

Saúde (SUS) e estabeleceu diretrizes para a organização das suas linhas de cuidado. A

rede tem por finalidade realizar a atenção de forma integral aos usuários com doenças

crônicas, em todos os pontos de atenção, com realização de ações e serviços de promoção

e proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução

de danos e manutenção da saúde. Adotando o modelo organizativo de Redes, o Ministério

da Saúde chama estados e municípios à adotarem o mesmo modelo por ser o ordenador

macro da política de saúde do país. O estudo tem objetivo de descrever o processo de

construção da Rede de Atenção as Doenças Crônicas em Cuiabá: ênfase no grupo

condutor. Os dados foram coletados a partir de entrevistas não estruturadas e de fonte

secundária, a proposta em elaboração pelo grupo condutor, com a finalidade de auxiliar

na descrição de todo o processo. O grupo condutor contemplou todas as áreas da

Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá de maneira a construir a rede, definindo a

frequência de reuniões semanais para a organização da mesma. As linhas de cuidado

definidas foram: Obesidade, Hipertensão Arterial, Diabetes e Neoplasias. Proposta de

atenção às doenças crônicas na atenção primária e secundária, ações para efetivação, de

educação em saúde e estratégia para efetivação da rede. Ainda está em fase de elaboração.

Em sua maioria, na proposta há consonância com o definido pelo Ministério da Saúde.

Nota-se dificuldade de mudança de modelo, de maneira que ainda é muito tímida ação de

promoção à saúde, educação permanente e participação popular.

Palavras Chave: Redes, Doenças Crônicas, Atenção à Saúde, Modelos de Atenção e

Serviços de Saúde.

6

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................7

LISTA DE ABREVIATURAS...................................................................................................8

1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................10

2 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................................12

3 OBJETIVO ............................................................................................................................14

4.1 GERAL ............................................................................................................................ 14

4.2 ESPECÍFICOS ................................................................................................................. 14

4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................................15

5 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................................20

5.1 TIPO DE ESTUDO .......................................................................................................... 20

5.2 LOCAL DO ESTUDO ..................................................................................................... 20

5.3 COLETA DE DADOS ..................................................................................................... 21

5.4 PROCESSAMENTO E ANÁLISE DE DADOS .............................................................. 22

5.5 ASPECTOS ÉTICOS ....................................................................................................... 22

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO...........................................................................................24

6.1 GRUPO CONDUTOR E METODOLOGIA DE TRABALHO ....................................... 24

6.2 DESENVOLVIMENTO E PROPOSTAS ........................................................................ 26

6.3 – FACILIDADES E DIFICULDADES ............................................................................ 39

7 CONCLUSÃO .......................................................................................................................41

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................43

ANEXOS ...................................................................................................................................45

7

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Elementos necessários para melhoria das práticas de saúde, com vistas ao

modelo de atenção à saúde organizado em redes............................................................ 26

Figura 2 – Ações de promoção na rede de atenção as doenças crônicas........................ 28

Figura 3 – Estrutura de funcionamento de uma linha de cuidado................................... 29

Figura 4 – Demonstração dos possíveis campos de abrangência de uma linha de cuidado

em relação às redes de atenção à saúde........................................................................... 29

Figura 5 – Proposta de atenção as doenças crônicas na atenção primária e secundária,

ferramenta de mudança............................ ..................................................................... 30

8

LISTA DE ABREVIATURAS

ABS – Atenção Básica em Saúde

ACS - Agente Comunitário de Saúde

APS – Atenção Primária em Saúde

CAB – Coordenadorias de Atenção Básica

CBA - Cuiabá

CNS – Conferência Nacional de Saúde

CNES – Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde

CNS – Conselho Nacional de Saúde

DAB – Diretoria de Atenção Básica

DAS – Diretoria de Atenção Secundária

DCNT – Doenças Crônicas Não Transmissíveis

DM – Diabetes Melitus

ESF – Equipe de Saúde da Família ou Estratégia de Saúde da Família

ERSBC – Escritório Regional de Saúde da Baixada Cuiabana

GDP – Gerência de Desenvolvimento de Pessoas

HÀ – Hipertensão Arterial

MT – Mato Grosso

MCDC - Modelo de Cuidados de Doenças Crônicas

POP – Procedimento Operacional Padrão

PTA – Plano de Trabalho Anual

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PST – Projeto Singular Terapêutico

QDD – Quadro Demonstrativo de Detalhamento de Despesas

RADC – Rede de Atenção às Doenças Crônicas

RAS – Redes de Atenção à Saúde

RAS/PDC - Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas

SAD - Sistemas de Apoio e Diagnóstico Terapêutico

SES – Secretaria de Estado de Saúde

SISREG – Sistema de Regulação

SMS – Secretaria Municipal de Saúde

SUS - Sistema Único de Saúde

UBS – Unidade Básica de Saúde

10

1 INTRODUÇÃO

O Estado brasileiro é detentor da responsabilidade de prover políticas de saúde a sua

população, responsabilidade essa afirmada com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS)

(Brasil, 1990). Fruto de lutas sociais, a conquista do acesso à saúde a todos os cidadãos como

direito constitucional, sem dúvida foi passo extremamente importante e positivo não só como

política de saúde, mas para o início de uma política social brasileira. Porém é importante

observar que ainda há um longo caminho a ser percorrido para sua consolidação quanto sistema

fundamentalmente Universal, Integral e Equânime.

Desde a sua instituição por meio da “Lei nº 8.080, de 19 de Setembro de 1990, que

dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e

o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências” (Brasil, 1990), o SUS

tem enfrentado dificuldades de maneira que exige mudanças para responder às necessidades

em saúde da população e principalmente para garantir de fato o direito constitucional à saúde

de responsabilidade do Estado brasileiro.

O sistema de saúde brasileiro traz consigo características importantes que requer das

gestões conhecimentos e habilidades específicas, por se tratar de um modelo organizativo entre

entes federados (Municípios, Estados e União), participação popular e de trabalhadores,

arranjados em ferramentas como conselhos de saúde, comissões intergestoras e dos poderes

constituídos além do Executivo (Legislativo e Judiciário), chamadas por Santos e Andrade

(2011) de Redes Interfederativas de saúde.

Além das redes inter federativas de saúde, que são os arranjos de gestão já mencionados,

ganharam forças as Redes de Atenção à Saúde (RAS) que dizem respeito ao modelo de atenção

(assistencial) em saúde. As chamadas RAS tem como principais características a integração

horizontal e vertical de maneira a produzir melhores organizações dos serviços de saúde

alcançando o atendimento integral individual e coletivo do usuário (Mendes, 2011).

Houve significativa mudança no quadro epidemiológico no mundo, com o aumento das

doenças crônicas, fatores determinantes do aumento das condições crônicas são as mudanças

demográficas, as mudanças nos padrões de consumo e nos estilos de vida, a urbanização

11

acelerada e as estratégias mercadológicas. Assim temos uma tripla carga de doenças:

Infecciosas, Parasitárias e Problemas de Saúde Reprodutiva, e as Causas Externas e Crônicas

(Mendes, 2011). Em Mato Grosso e no município de Cuiabá as tendências não são diferentes

(Cuiabá, 2013a).

Nesta visão, o Ministério da Saúde do Brasil tem usado a lógica da RAS como estratégia

para superar a fragmentação da atenção e da gestão nas Regiões de Saúde e aperfeiçoar o

funcionamento político-institucional do SUS, com vistas a assegurar ao usuário o conjunto de

ações e serviços que necessita, com efetividade e eficiência (Brasil, 2010). Em 19 de Fevereiro

de 2013 foi publicada no Diário Oficial da União a Portaria do Ministério da Saúde de Nº 252

que instituiu a Rede de Atenção à Saúde das Pessoas Com Doenças Crônicas no Âmbito do

SUS que tem por finalidade realizar a atenção de forma integral aos usuários com doenças

crônicas, em todos os pontos de atenção, com realização de ações e serviços de promoção e

proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de

danos e manutenção da saúde (Brasil, 2013). Em 04 de Abril de 2014, a Portaria do Ministério

da Saúde de Nº 483 redefiniu a Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas

(RAS/PDC) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e estabeleceu diretrizes para a

organização das suas linhas de cuidado (Brasil, 2014).

A portaria estabeleceu ainda a cooperação regional de saúde para a implantação da rede,

seja entre os componentes da região de saúde a qual o município pertença ou de várias regiões

de saúde. Além disso, ficaram estabelecidas responsabilidades dos Governos Federal, Estadual

e dos Municípios a partir de diretrizes e linhas de cuidados específicas a serem estruturadas

para o funcionamento da rede (Brasil, 2014).

Adotando o modelo organizativo de Redes, o Ministério da Saúde chama estados e

municípios à adotarem o mesmo modelo por ser o ordenador macro da política de saúde do

país. Nessa perspectiva, este estudo propõe em realizar a descrição do processo de construção

da Rede de Atenção as Doenças Crônicas em Cuiabá, contribuindo no processo de gestão do

SUS, além de documentar a experiência para que possa servir de auxílio em outros processos

que dizem respeito a essa estratégia.

12

2 JUSTIFICATIVA

As desigualdades em saúde referem tanto em relação à morbimortalidade da população

quanto em relação à organização dos serviços de saúde e resultam tanto das condições de vida

definidas por fatores socioeconômicos, condições de trabalho, comportamentos de riscos nos

quais os indivíduos têm pouca escolha em relação ao modo de vida, como também do acesso a

bens e serviços essenciais, em especial os serviços de saúde. Nessa perspectiva, o estado de

saúde da população cuiabana é agravado, não somente pelas condições de vida, mas também

pela organização dos serviços de saúde no território municipal (Cuiabá, 2013a).

Em relação ao estado de saúde da população, a primeira causa de mortalidade em adultos

no primeiro quadrimestre de 2013 foram as doenças do aparelho circulatório (47,6 / 100.000

hab.) que incluem o infarto do miocárdio e os acidentes cerebrovasculares, seguida por

neoplasias, destaque para o câncer de mama, colo de útero e próstata, (31,2 / 100.000 hab.), por

causas externas (25,8 / 100.000 hab.) com destaque para acidentes de trânsito e homicídios,

doenças do aparelho respiratório (20,7 / 100.000 hab.), e por último, as doenças infecciosas e

parasitárias (9,1 / 100.0000 hab.). A constatação de que o risco de morrer em Cuiabá por

doenças crônicas é maior que por doenças agudas, impõe demandas ao sistema de saúde, uma

vez que deve dispor de serviços de alta complexidade (ambulatorial e hospitalar), e modalidades

de atenção alternativas aos serviços hospitalares. (Cuiabá, 2013a)

Observamos que a morbimortalidade por doenças crônicas em Cuiabá torna necessário

uma melhor organização dos serviços de saúde, ou seja, políticas públicas visando melhorias

das condições de saúde da população. O fortalecimento das Redes de Atenção à Saúde de

Cuiabá e fomento a Política Municipal de Promoção à Saúde são principais respostas traçadas

para o enfrentamento deste quadro (Cuiabá, 2013a), além do desafio pactuado tripartite da

Política Nacional de Atenção Básica como prioritária nas ações em saúde no país (Brasil, 2011).

O Plano Municipal de Saúde 2014 – 2017, apresenta como meta efetivar cinco Redes

Temáticas de Atenção à Saúde (Cegonha, Urgência e Emergência, Psicossocial, Deficiência e

Doenças Crônicas) até o ano 2017, sendo que até dezembro de 2014 deverá estar estruturada a

Rede de Atenção às Doenças Crônicas (RADC) como resposta eficaz para reduzir o Coeficiente

de Mortalidade Prematura (30 a 69 anos) por Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT)

13

de 339,50/100.000 hab. em 2011 para 249,80/100 mil hab. até dezembro de 2017 (Cuiabá,

2013a, 2013b).

Especificamente no que diz respeito às responsabilidades cooperadas para a implantação

da rede, o município acaba tendo forte carga de maneira que é responsável único pela

operacionalização dos serviços de saúde em seus diversos níveis de complexidade. Logo o

desafio de organizar desde porta de entrada, ser orientador do cuidado, ofertar serviços

especializados, urgência e emergência, média e alta complexidade fica a cargo de um ente

somente.

Na perspectiva de se pensar serviços para prover saúde e não apenas tratar doenças, a

constatação de um serviço voltado a média e alta complexidade traz uma inquietação e estimula

a busca por ações que possam transformar esse quadro, ainda mais justificados pela situação

epidemiológica presente em nosso município. Destacamos que a estratégia de Redes busca o

desenvolvimento do cuidado em saúde integral, inclusive reafirmando a necessidade de ações

de promoção da saúde como resposta para melhoria da condição de saúde da população

cuiabana. Diante deste quadro, identificamos a importância do estudo com esta temática,

necessária e relevante, no processo de implantação da rede no município de Cuiabá.

14

3 OBJETIVO

4.1 GERAL

Descrever o processo de construção da rede de atenção as doenças crônicas: ênfase no

grupo condutor da rede.

4.2 ESPECÍFICOS

Identificar rotina de trabalho do grupo condutor da rede, ações desenvolvidas e

propostas para a implantação da rede em conformidade com a portaria Ministério da

Saúde (MS) Nº 483/2014;

Detectar as facilidades e dificuldades enfrentadas no processo de implantação da Rede.

15

4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Antes de qualquer discussão a respeito das estratégias adotadas para a consolidação de

uma política de saúde, é importante compreender como se dá e qual a definição de uma política

de saúde.

Neste contexto, partimos do pensamento de Viana e Baptista (2009) de que uma política

de saúde deve responder a questões como:

Quem Proteger? Todos os Cidadãos? Apenas aqueles que contribuem para o

financiamento da política? Somente os mais necessitados?

Quanta proteção oferecer? Todos os tipos de assistência médica? Somente ações de

prevenção e promoção? Apenas ações coletivas?

Como financiar ações de saúde? Com impostos? A partir das contribuições coletivas e

individuais daqueles que trabalham? Com recursos individuais das pessoas?

Quem deve ser o prestador de serviços de saúde? A responsabilidade pela prestação de

serviços é de um sistema público e estatal ou de prestadores privados regulados pelo

Estado?

Como organizar a oferta de serviços? Quais os serviços que precisam estar próximos

aos usuários? Qual deve ser a porta de entrada para o sistema de saúde? O centro de

Saúde? O hospital?

Portanto, para analisarmos uma política de saúde, é imprescindível definir sobre qual o

papel do Estado nessa política, discutida historicamente e enfrentada em alguns países com

pouca ou muita participação do estado. Ainda nesta linha, é indiscutível que nos últimos tempos

tem ganhado força a ideia de que a saúde deve ser uma política pública, logo impreterivelmente

deve ser controlada pela esfera que detém o poder de organizar, regular e definir os interesses

públicos. Temos exemplos de vários sistemas de saúde no mundo com características privadas,

outras públicas e público-privadas. Porém em todos os diferentes modelos mundiais, temos o

Estado como grande regulador do mercado (Viana e Baptista, 2009).

No Brasil houve grandes mudanças em relação à política de saúde desde a instituição

das caixas de assistência perpassando por unificação delas, porém posteriormente temos como

16

grande marco o movimento chamado de Reforma Sanitária que transformou os rumos da saúde

no Brasil:

“Movimento de profissionais de saúde – e de pessoas vinculadas ao setor –

que compartilha o referencial médico – social na abordagem dos problemas

de saúde e que, por meio de determinadas práticas políticas, ideológicas e

teóricas, busca a transformação do setor saúde no Brasil em prol da melhoria

das condições de saúde e de atenção à saúde da população brasileira, na

consecução do direito de cidadania.” (Escorel, 2009, Pág. 385)

A convocação da 8º Conferência Nacional de Saúde (CNS) aprovou a unificação do

sistema de saúde e diversas diretrizes que estão presentes até hoje na maneira organizativa

desses sistemas nos estados e municípios (Escorel, 2009). A 8º Conferência Nacional de Saúde

fora passo extremamente importante, porém ainda havia caminhos a percorrer para garantir o

que fora discutido e aprovado na conferência. Houve idas e vindas do processo constituinte no

percurso pela Subcomissão de Saúde, Seguridade e Meio-Ambiente, passando pela Comissão

de Ordem Social e pela comissão de Sistematização até as votações em primeiro e segundo

turno do plenário do Congresso Constituinte (Escorel, 2009).

Apesar de ser um sistema único de saúde, notamos que existe grande fragmentação em

diversos pontos da atenção resultando na não garantia do cuidado integral ao usuário. Mesmo

diante dos avanços, não se conseguiu responder como um sistema fundamentalmente capaz

daquilo que se propõe. Com essa fragmentação surge a proposta do Ministério da Saúde de

adoção de organização do modelo de atenção de todo o sistema em redes, que tem como lógica

justamente diminuir essa fragmentação e responder de forma mais equânime a atenção à saúde.

(Mendes, 2011)

Mendes (2007) destaca que as redes de atenção à saúde tenham surgido nos anos 20 no

Reino Unido, e toma forma, contemporaneamente, nos anos 90, nos Estados Unidos com a ideia

de Sistemas Integrados de Saúde. É importante localizar então que ela tem sua gestação em um

sistema privado de saúde. Em sua análise o autor coloca três momentos importantes para tratar

sobre o tema:

“[...] os fundamentos da construção de redes de atenção à saúde, importantes

para uma compreensão das bases teórico -conceituais que sustentam a

formação de redes de atenção à saúde; o papel da atenção primária à saúde nas

redes de atenção à saúde, para sustentar a proposta de rede de atenção à saúde

com o centro de comunicação nesta estratégia; e o relato de experiências de

redes de atenção à saúde em vários países, agrupadas em Estados Unidos,

Europa, Canadá, América Latina, outros países e Brasil” (Mendes, 2007).

17

Na revisão teórico-conceitual, encontraremos além da integração como defesa desse

modelo organizativo, a chamada economia de escala e escopo como forma de agregar valores

tanto financeiros para quem presta o serviço, quanto de integralidade para quem recebe a

prestação desse serviço.

Em meio a toda essa discussão surge o conceito de uma nova visão de tipificações de

enfermidade, uma divisão inovadora que necessitaria de mudanças radicais nos modelos de

saúde: as condições crônicas. Organizacionalmente os sistemas foram desenhados justamente

para enfrentar as condições agudas, com o surgimento deste novo conceito baseado na realidade

da condição de saúde da população, explica-se o novo desenho em redes de atenção à saúde.

(OMS, 2003 apud Mendes, 2007)

Vemos que as condições crônicas necessitam de um cuidado mais integral, que requer

não somente intervenções biomédicas. É preciso uma nova arquitetura dos serviços de saúde

que possibilitem acompanhar melhor esse usuário, ou seja, um serviço eficaz nas suas ações,

mas é preciso fundamentalmente profissionais preparados para essa nova arquitetura, por isso

é essencial a capacitação, educação permanente em saúde para que tenhamos um rompimento

de práticas já não mais eficazes dentro do serviço para responderem a essas demandas surgidas.

Nesta perspectiva, Pinheiro (1999) destaca que as instituições de saúde assumem papel

essencialmente estratégico na absorção dos conhecimentos de novas formas de agir e produzir

integralidade em saúde, ao passo em que reúnem, no mesmo espaço, diferentes perspectivas e

interesses de distintos atores sociais (médicos, dirigentes e usuários). Agem para a construção

e reprodução de saberes e práticas integrais de cuidado e atenção à saúde, assim como para a

avaliação dos efeitos de uma política que o Estado desenvolve, face ao nível de saúde da

população.

O Ministério da Saúde (2010) defini os atributos de uma RAS de maneira a considerar:

população e território definidos com amplo conhecimento de suas necessidades e preferências

que determinam a oferta de serviços de saúde; extensa gama de estabelecimentos de saúde que

presta serviços de promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento, gestão de casos, reabilitação

e cuidados paliativos e integra os programas focalizados em doenças, riscos e populações

específicas, os serviços de saúde individuais e os coletivos; Atenção Primária em Saúde (APS)

estruturada como primeiro nível de atenção e porta de entrada do sistema, constituída de equipe

multidisciplinar que cobre toda a população, integrando, coordenando o cuidado, e atendendo

as suas necessidades de saúde; prestação de serviços especializados em lugar adequado;

existência de mecanismos de coordenação, continuidade do cuidado e integração assistencial

por todo o contínuo da atenção; atenção à saúde centrada no indivíduo, na família e na

18

comunidade, tendo em conta as particularidades culturais, gênero, assim como a diversidade da

população; sistema de governança único para toda a rede com o propósito de criar uma missão,

visão e estratégias nas organizações que compõem a região de saúde; definir objetivos e metas

que devam ser cumpridos no curto, médio e longo prazo; articular as políticas institucionais;

desenvolver a capacidade de gestão necessária para planejar, monitorar e avaliar o desempenho

dos gerentes e das organizações; participação social ampla; gestão integrada dos sistemas de

apoio administrativo, clínico e logístico; recursos humanos suficientes, competentes,

comprometidos e com incentivos pelo alcance de metas da rede; sistema de informação

integrado que vincula todos os membros da rede, com identificação de dados por sexo, idade,

lugar de residência, origem étnica e outras variáveis pertinentes; financiamento tripartite,

garantido e suficiente, alinhado com as metas da rede; ação intersetorial e abordagem dos

determinantes da saúde e da equidade em saúde e gestão baseada em resultados.

Mendes (2011) define RAS como arranjos organizativos de ações e serviços de saúde,

de diferentes densidades tecnológicas, que integradas por meio de sistemas técnico, logístico e

de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado.

No Brasil, além da mortalidade, as doenças crônicas apresentam forte carga de

morbidades relacionadas. Elas são responsáveis por grande número de internações, bem como

estão entre as principais causas de amputações e de perdas de mobilidade e de outras funções

neurológicas. Tudo isso resulta significativamente sobre a qualidade de vida daqueles

acometidos a situação crônica (Brasil, 2012). Esse aumento crescente fez com que fosse

elaborado o Plano de Ações Estratégicas para Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT)

ao qual em seu terceiro eixo trata de cuidado integral. Justificando-se no eixo do plano, o

Ministério da Saúde por meio da Secretaria de Atenção à Saúde propõe a Rede de Atenção à

Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas em 2012 que viria a ser instituída em 2013 pela

Portaria 252/2013 e redefinida pela Portaria 483/2014.

Essa rede tem por objetivos quanto ao cuidado, de garantir atenção integral aos doentes

crônicos por meio de ações proteção à saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento,

reabilitação, redução de danos e manutenção à saúde e o fomento no modelo de atenção à saúde

com ampliação de ações de promoção à saúde com vistas a diminuir a incidência de doenças

crônicas e suas implicações na população (Brasil, 2014).

A portaria estabeleceu ainda, responsabilidades específicas de cada esfera de gestão,

sinalizando que as secretarias municipais de saúde são responsáveis no que diz respeito às

pessoas com doenças crônicas quanto ao: planejamento e programações de ações e serviços

observando disponibilidade dos serviços, territorialidade, perfil e necessidades locais; organizar

19

linhas de cuidado componentes a rede; pactuação de linhas de cuidados com os municípios da

região de saúde a qual pertence; organizar e pactuar diretrizes, fluxos e regulação dentro e fora

do município das ações e serviços da rede de maneira a garantir o acesso; implantar sistemas

de informações que visem garantir o registro quanto ao cuidado com o paciente dentro da rede

e garantia de insumos e medicamentos (Brasil, 2014).

Todos os serviços da rede devem ser organizados nos seguintes componentes: Atenção

Básica; Atenção Especializada (que se divide em ambulatorial especializado e hospitalar);

Urgência e Emergência; Sistemas de Apoio; Sistemas Logísticos; Regulação e Governança

(Brasil, 2014).

20

5 MATERIAIS E MÉTODOS

5.1 TIPO DE ESTUDO

O presente estudo tem caráter descritivo de abordagem qualitativa, que segundo Gil

(2002) tem como objetivo descrever o fenômeno ou o estabelecimento de relações entre

variáveis. Salienta-se ainda que pesquisas desse caráter que tem por objetivo conhecer as

características de um grupo ou até mesmo conhecer o nível de atendimento de um determinado

órgão a uma comunidade.

Existem pesquisas descritivas que vão além do caráter de descrever a existência de

relações entre variáveis, trazendo à tona fatores determinantes nessa relação. Neste caso são

pesquisas descritivas que se aproximam da explicativa (Gil, 2002).

5.2 LOCAL DO ESTUDO

O estudo foi realizado no município de Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso (MT),

que possui 551.098 habitantes (20% do total de habitantes de MT), segundo censo realizado em

2010, pertencente a região metropolitana da baixada cuiabana juntos aos municípios de Várzea

Grande, Nossa Senhora do Livramento e Santo Antônio do Leverger que somados abrigam

833.766 habitantes (IPDU, 2012 apud Cuiabá, 2013a).

Em 2013 a capital mato-grossense possuía 96 unidades de atenção primária em saúde,

32 serviços de atenção especializada, urgência e apoio diagnóstico/terapêutico, 1 pronto socorro

e 2 hospitais que compunham a sua rede própria de serviços (Cuiabá, 2013a).

Ainda segundo dados de estudo de capacidade instalada, feito pela Secretaria Municipal

de Saúde (SMS) em 2013, colocava que no município existia 7,3% de sua população residente

sem cobertura da rede no que se refere a serviços de atenção primária e ainda que a cobertura

21

de unidades de Estratégia de Saúde da Família era de 45,0% (Cuiabá, 2013a). O referido estudo

ainda apontou a necessidade para atender a demanda de residentes no município, bem como de

referenciados, uma necessidade de ampliação em 380 leitos no Hospital e Pronto Socorro

Municipal de Cuiabá. Historicamente em se tratando de recursos financeiros, Cuiabá gasta em

torno de 45,13% de seu orçamento anual com Média e Alta Complexidade, sendo que grande

parte ainda desse volume destinado a convênios com a rede complementar em saúde com

contratualizações (Cuiabá, 2013a).

5.3 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados de fonte secundária, ou seja, documento com a proposta da

rede ainda em fase de finalização, com a finalidade de auxiliar na descrição de todo o processo

bem como entrevistas não-estruturadas com os componentes a partir dos tópicos:

1. Critérios para constituição do grupo condutor (Qualificação, área de atuação,

função/cargo).

2. Frequência de encontro do grupo condutor durante implantação da Rede.

3. O grupo adotou alguma metodologia para a realização dos trabalhos?

4. Facilidades e dificuldades vivenciadas no processo de implantação da rede.

5. Realizou-se levantamento da capacidade física e de recursos humanos, para a rede?

6. Articulação do nível municipal com o nível Estadual no processo de implantação da

rede.

7. Perfil de agravos relacionados a rede.

8. Encaminhamentos relacionados a adequação da Atenção Básica para a rede?

9. Há previsão de capacitação/educação permanente/continuada para os profissionais que

trabalharam no cuidado as pessoas com doenças crônicas?

22

10. Ocorreu a identificação dos serviços necessários para o cuidado a pessoa com doenças

crônicas? Se sim, fale a respeito.

11. O que foi feito para estruturar a rede municipal frente os componentes propostos na

Portaria 483 de 1 de abril de 2014 (AB, AE, U.E, Sistemas de Apoio e Logística,

Regulação)

Para as entrevistas tivemos como critério de inclusão ser membro titular do grupo

condutor da rede e coordenador das redes temáticas, e de exclusão o retorno em tempo hábil

dos contatos feitos para agendamento das mesmas. Desta forma as únicas respostas que tivemos

para a realização da entrevista foi com a Coordenação de todas as redes temáticas do município,

bem como com a coordenação específica da Rede de Atenção as Doenças Crônicas. Optou-se,

embasados pelos aspectos éticos deste trabalho, que os envolvidos seriam referidos como

informantes A e B, aleatoriamente, bem como por somente entrevistados nos resultados deste

trabalho. As entrevistas ocorreram na sede da SMS e foram gravadas para que pudesse auxiliar

na posterior análise das respostas.

Obtivemos do grupo condutor uma cópia da proposta para a rede em Cuiabá, com todo

o trabalho realizado até aqui, ainda não finalizado até o fechamento deste estudo.

5.4 PROCESSAMENTO E ANÁLISE DE DADOS

Os dados foram apresentados e discutidos de forma descritiva, conforme a ordem dos

objetivos ao qual queria-se chegar, aliando-os ao conjunto de respostas informadas pelos

entrevistados, a proposta da rede em fase de elaboração, e apreciados à luz da Portaria MS Nº

483, de 1º de Abril 2014.

5.5 ASPECTOS ÉTICOS

23

O trabalho está de acordo com a Resolução do Conselho Nacional de Saúde Nº 466 de

12 de dezembro de 2012 (Brasil, 2012) que define as diretrizes e normas regulamentadoras de

pesquisas envolvendo seres humanos.

O trabalho tem anuência do Secretaria Municipal de Saúde através de autorização sob

processo 169551-1/2 informada através de Oficio 054/SAA/GAB/SMS/2014 datado de 22 de

Julho de 2014 (ANEXO I). Todos os envolvidos receberam um Termo de Consentimento

explicando sobre seus direitos nesta pesquisa, bem como os deveres assumidos pelos

pesquisadores, tais como confidencialidade da identidade dos entrevistados, não prejuízos de

quaisquer naturezas para os mesmos, risco mínimo pela participação e direito de desistir a

qualquer momento de participar do presente trabalho.

O presente trabalho foi encaminhado ao Comitê de Ética em pesquisa do Hospital

Universitário Júlio Muller onde foi aprovado sob o Nº 37585114.0.0000.5541 (ANEXO II).

24

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1 GRUPO CONDUTOR E METODOLOGIA DE TRABALHO

Para o processo de implantação da Rede de Atenção as Doenças Crônicas (RADC), foi

formado um grupo condutor na Secretaria Municipal de Saúde por meio da Portaria Nº

05/GAB/SMS/2014 de 05 de Maio de 2014, que segundo o informante B, teve como critério

contemplar as diversas áreas e níveis de atenção necessárias para a implantação da rede de

maneira a envolver todos e principalmente a área assistencial que é quem vai operacionalizar

as ações e atividades. O grupo adotou a frequência de se reunir semanalmente para os trabalhos

de elaboração da rede.

A composição do grupo que foi publicada na portaria é de representantes dos seguintes

setores:

A. Coordenação Geral das Redes Temáticas no Município de Cuiabá

B. Secretaria Adjunta de Atenção à Saúde (Coordenação da Rede)

C. Diretoria de Atenção Secundária

D. Secretaria Adjunta de Planejamento e Operações

E. Diretoria de Atenção Primária

F. Diretoria de Vigilância à Saúde

G. Superintendência de Atenção Hospitalar

As atribuições deste grupo condutor foram definidas como:

1. Elaboração da RADC a partir da fundamentação teórica e realidade local, analisando os

indicadores de saúde e construção coletiva conhecendo e envolvendo vários saberes;

2. Organização da atenção às crônicas partindo das metas, ações previstas no Plano de

Trabalho Anual (PTA);

3. Dar suporte à implantação do modelo;

4. Desenvolver as atividades no grupo de forma que integre o modelo nos programas de

qualidade na organização;

25

5. Identificação da oferta programada e não programada;

6. Integrar a Atenção Primária com as especialidades que darão suporte ás suas ações;

7. Dar suporte na elaboração dos protocolos clínicos, Procedimento Operacional Padrão (POP)

das unidades assistenciais bem como a implantação da sistematização da assistência de

enfermagem;

8. Estabelecer instrumentos de supervisão em conjunto com as equipes técnicas das Diretorias

ligadas a assistência;

9. Elaborar o instrumento técnico de supervisão da RADC;

10. Dar suporte à Programação Pactuada Integrada (PPI);

11. Fazer interação com a equipe da Secretaria de Estado de Saúde (SES) e Escritório Regional

de Saúde da Baixada Cuiabana (ERSBC);

12. Realizar seminários de avaliação da RADC.

A partir destas atribuições, para o desenvolvimento do trabalho, o grupo partiu para uma

revisão bibliográfica afim de conhecer e fazer reflexões sobre Redes de Atenção à Saúde (RAS)

e a Rede de Atenção às Doenças Crônicas (RADC), ainda relatado pelo informante B,

parametrização e conhecimento do perfil epidemiológico do município, a partir do estudo que

o mesmo informa ser feito a alguns anos pela Secretaria Municipal de Saúde e também fora

usado um estudo da Capacidade Instalada da Rede Assistencial de Cuiabá como subsídio de

estrutura física e de serviços para a implantação da rede, o qual inclusive, afirmou o informante,

que observou ociosidade na rede assistencial do município, porém sem entrar em detalhes de

quais serviços especificamente.

Foram divididos em duas etapas o trabalho de elaboração da proposta, conforme

atribuições do grupo:

A Primeira Etapa consistia em:

Revisão bibliográfica, referencial teórico;

Descrição dos fluxos, busca ativa dos grupos de risco para cada agravo;

Organização administrativa com elaboração das normas e rotinas das diretorias de Atenção

Básica (DAB) e Atenção Secundária (DAS);

Parametrização das ações, por linha de cuidado por agravo;

Levantamento pela DAS, das referências do serviço público;

Levantamento das referências dos serviços contratados e conveniados;

26

Envio a Central de Regulação à parametrização da necessidade do atendimento por linha de

cuidado;

Atualização do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) na DAB e DAS para

implantação do Sistema de Regulação (SISREG);

Garantia das ações no Plano de Trabalho Anual (PTA);

Desdobramento do PTA.

Foram traçadas para a Segunda etapa:

Interação com a equipe da SES para identificar a referência dos serviços sobre a gerencia

estadual;

Atualização da contratualização (pela equipe do setor Controle/Avaliação) para o desenho da

rede assistencial conforme os parâmetros e linhas de cuidado, perfil epidemiológica,

disponibilidade orçamentária, financeira prevista no Quadro Demonstrativo de Detalhamento

de Despesas (QDD);

Apresentação da regulação do acesso e assistencial pela equipe da Central de Regulação;

O Ministério da Saúde orienta, respeitando as especificidades e negociação de cada rede

temática, fases para seu processo de implantação: Diagnóstico (análise situacional) e Adesão

(política e técnica com definição de grupo condutor); Desenho da rede (Pactuação dos fluxos,

dos pontos de atenção e suas missões); Contratualização dos pontos de atenção; Qualificação

dos componentes da rede e Certificação da rede (Brasil, 2014a).

6.2 DESENVOLVIMENTO E PROPOSTAS

Dentro da proposta da RADC/CBA, fora delineado preliminarmente como objetivo

geral:

1. Fomentar a mudança do modelo de atenção à saúde, fortalecendo o cuidado às pessoas com

doenças crônicas;

2. Garantir o cuidado integral às pessoas com doenças crônicas;

3. Impactar positivamente nos indicadores relacionados às doenças crônicas;

4. Contribuir para a promoção da saúde da população e prevenir o desenvolvimento das doenças

crônicas e suas complicações

27

O MS define como objetivos da rede:

“I – realizar a atenção integral à saúde das pessoas com doenças crônicas, em

todos os pontos de atenção, através da realização de ações e serviços de

promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento,

reabilitação, redução de danos e manutenção da saúde; e

II – fomentar a mudança no modelo de atenção à saúde, por meio da

qualificação da atenção integral às pessoas com doenças crônicas e da

ampliação das estratégias para promoção da saúde da população e para

prevenção do desenvolvimento das doenças crônicas e suas complicações.”

Brasil, 2014b.

E ainda a RADC tem como objetivos específicos:

1. Identificar a partir do quadro epidemiológico priorizando a organização da rede os eixos

temáticos;

2. Desenvolver as linhas de cuidado para as doenças/fatores de risco mais prevalentes:

Doenças renocardiovasculares;

Diabetes;

Obesidade;

Doenças respiratórias crônicas;

Câncer (de mama e colo de útero).

O MS definiu como objetivos específicos:

“I - ampliar o acesso dos usuários com doenças crônicas aos serviços de saúde;

II - promover o aprimoramento da qualidade da atenção à saúde dos usuários

com doenças crônicas, por meio do desenvolvimento de ações coordenadas

pela atenção básica, contínuas e que busquem a integralidade e

longitudinalidade do cuidado em saúde;

III -propiciar o acesso aos recursos diagnósticos e terapêuticos adequados em

tempo oportuno, garantindo-se a integralidade do cuidado, conforme a

necessidade de saúde do usuário;

IV - promover hábitos de vida saudáveis com relação à alimentação e à

atividade física, como ações de prevenção às doenças crônicas;

V - ampliar as ações para enfrentamento dos fatores de risco às doenças

crônicas, tais como o tabagismo e o consumo excessivo de álcool;

VI - atuar no fortalecimento do conhecimento do usuário sobre suas doenças

e ampliação da sua capacidade de autocuidado e autonomia; e

VII - impactar positivamente nos indicadores relacionados às doenças

crônicas.”

Brasil, 2014b.

Estabeleceu-se que são princípios da Rede, conforme o MS: Acesso e Acolhimento;

Humanização da atenção (modelo centrado no usuário, necessidades em saúde); Respeito às

28

diversidades étnico-raciais, culturais sociais, religiosas, e locais; Realização por equipes

multiprofissionais; Articulação dos serviços e ações de saúde construindo integração e

conectividade entre os pontos de atenção; Atuação Territorial a partir das necessidades de saúde

das respectivas populações, seus riscos e vulnerabilidades específicas; monitoramento e

avaliação da qualidade dos serviços, indicadores de estrutura, processo e desempenho da

efetividade e resolutividade da atenção; Articulação interfederativa; Participação e controle

social; Autonomia dos usuários; Equidade; e Formação profissional e educação permanente

(Brasil, 2014).

Em Cuiabá, a rede no município tem por princípios definidos: Organização da atenção

à saúde; Recursos da comunidade; Auto-cuidado apoiado; Desenho da linha de cuidado;

Suporte às decisões clínicas; e Sistema de informações clínicas.

Na elaboração da RADC, há diretrizes importantes a serem observadas de maneira que

contribuam para a implantação da mesma, principalmente na questão da mudança de modelo

que se propõe:

1. Territórios “vivos” (identidades) com responsabilidade sanitária bem definida;

2. Ampliar as atribuições da “Prima Rede”, Atenção Primaria, em suas

possibilidades ilimitadas de produzir saúde;

3. Necessidades de saúde como estruturante das redes e financiamento global per-

capita ao invés de por procedimento;

4. Reforma dos Sistemas de Apoio e Diagnóstico Terapêutico (SADT), da Atenção

Especializada e Hospitalar considerando: acesso, resolutividade (adensamento),

responsabilização, continuidade do cuidado, economia de escala e qualidade a

partir da análise singular de cada região de saúde, racionalizando o existente e

completando o que falta;

5. Valorizar redes intersetoriais que trabalham saúde, desenvolvimento e

cidadania, articulando a assistência a prevenção e promoção.

29

Conforme proposta em fase de elaboração pelo grupo condutor, a Rede conta com

estruturação em: Atenção básica à saúde: ordenadora da rede e coordenadora do cuidado;

Pontos de atenção ambulatorial especializada e hospitalar (atenção complementar); Sistemas

logísticos; Organização dos processos de trabalho: Acolhimento, Atenção centrada na pessoa e

na família, Cuidado continuado/Atenção programada, Atenção Multiprofissional e Projeto

Singular Terapêutico (PST); Regulação da rede de atenção; Apoio Matricial: Acompanhamento

não presencial, Acolhimento coletivo e Autocuidado.

A proximidade da atenção básica com o usuário, faz com que a mesma tenha papel

extremamente estratégico e determinante no sentido de ser o fluxo e contra-fluxo, ou seja, tenha

um papel de centro de comunicação com outros pontos de atenção compostos na rede. Mais do

que isso, capacidade de ações mais efetivas, principalmente de promoção e proteção da saúde

(Brasil, 2012).

Neste sentido, as equipes da Atenção Básica em Saúde (ABS) são de fundamental

importância, pois necessitam estar preparadas para desempenhar seu papel. É importante que

haja estímulo e preparo a nível local para romper com o modelo hegemônico ainda muito

presente. É necessário ter profissionais capazes de práticas renovadas em saúde que permitam

alcançar a mudança de modelo compreendida pela adoção das redes de atenção à saúde de

maneira a produzir saúde (Brasil, 2012). Conforme uma das mais fortes justificativas para o

modelo em redes, seus processos mais importantes acontecem a partir das práticas dos

profissionais como podemos observar na Figura 1:

30

Fonte: Redes de Atenção à Saúde no Sistema Único de Saúde. Brasil, 2012.

Figura 1 – Elementos necessários para melhoria das práticas de saúde, com vistas ao

modelo de atenção à saúde organizado em redes.

Avaliando como importante a atuação profissional, foram considerados pontos

importantes, pela RADC, de incorporação nas práticas profissionais em suas rotinas nas

unidades:

1) Promover a inclusão de usuários e familiares em atividades comunitárias identificadas no

território;

2) Oferecer ao usuário e sua família avaliação e apoio psicológico;

3) Disponibilizar material educativo aos usuários;

4) Incluir nas atividades de Educação em Saúde estagiários ou residentes de Nutrição,

Educação Física, Psicologia, entre outros;

5) Verificar a qualidade dos registros nos prontuários clínicos (claros e completos);

6) Documentar todas as atividades desenvolvidas pelas Equipes de Saúde da Família (ESF),

Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e Educação/ grupos;

7) Elaborar relatórios e discutir resultados de cada equipe;

8) Apoiar as supervisões e avaliar seus resultados.

O Ministério da Saúde diz que compete a ABS realizar ações de promoção da saúde e

de prevenção das doenças crônicas de forma intersetorial, envolvendo diversos setores como

por exemplo parcerias com instituições de educação, esporte, lazer etc. Também desenvolver

31

ações de maneira a envolver a participação popular, considerando os fatores de risco mais

prevalentes na população, isso ressaltando os planejamentos locais de acordo com o território

(Brasil, 2014).

Nesta perspectiva a estratégia de Educação em Saúde se faz fundamental de maneira

que incorpora práticas inovadoras e principalmente centradas na prevenção e promoção da

saúde. A construção e troca de saberes, experiências, entre usuários e profissionais em grupos

na AB, são consideradas grande potência dessa estratégia (Brasil, 2013).

A proposta da RADC coloca aspectos a serem definidos para efetivação de ações de

educação em saúde no município:

1) Definir quais grupos serão instituídos:

a) Temas serão padronizados ou livres;

b) Periodicidade (semanal/quinzenal/mensal);

c) Gênero, faixa etária e agravo.

2) Estruturar os grupos formados;

3) Coordenar e definir o papel de cada profissional;

4) Definir os objetivos do grupo;

5) A formação dos grupos nas unidades será processual e padronizada pela Atenção Primária,

seguindo um cronograma;

6) Planejamento dos temas a serem abordados no grupo:

a) Levantamento de materiais necessários (folders, banners, vídeos educativos entre

outros);

b) Estar sensível às demandas levantadas pelo grupo;

c) Incluir atividades de dispersão com outros profissionais (educador físico, fisioterapeuta,

nutricionista);

7) Terapia Comunitária Sistêmica – estratégia de abordagem e empoderamento do usuário;

32

8) Mapear os recursos formais e informais da área de abrangência da unidade (serviços sociais,

educação, igrejas, centro comunitário) para a construção de redes sociais para oferecer apoio

aos usuários;

9) Criar um instrumento de acompanhamento e monitoramento das atividades realizadas pela

unidade.

As ações propostas de promoção da saúde estão expressas em um fluxo na Figura 2:

Fonte: Rede de Atenção às Doenças Crônicas/SMS/Versão Setembro.

Figura 2 – Ações de promoção na rede de atenção as doenças crônicas.

Foram definidas linhas de cuidados específicas, observadas de estudos epidemiológicos

no município, de maneira que atenda de fato as necessidades regionais. As linhas de cuidado

expressam os fluxos assistenciais que devem ser garantidos ao usuário, no sentido de atender

às suas necessidades de saúde, ou seja, todo o caminho daquele usuário quando acessa o serviço.

As linhas definem as ações e os serviços que devem ser desenvolvidos nos diferentes pontos de

atenção de uma rede (nível primário, secundário e terciário) e nos sistemas de apoio, bem como

utilizam a estratificação para definir ações em cada estrato de risco (Brasil, 2013). Dessa forma,

a linha de cuidado desenha o itinerário terapêutico dos usuários na rede conforme ilustrado na

Figura 3:

Demanda

Espontânea

Demanda

Referenciada

33

Fonte: Redes de Atenção à Saúde no Sistema Único de Saúde. Brasil, 2012.

Figura 3 – Estrutura de funcionamento de uma linha de cuidado

Essas linhas inclusive podem estar instituídas de maneira a perpassarem mais de 1 rede

de atenção específica se necessárias de acordo com as necessidades (Figura 4).

Fonte: Redes de Atenção à Saúde no Sistema Único de Saúde. Brasil, 2012.

Figura 4 – Demonstração dos possíveis campos de abrangência de uma linha de cuidado

em relação às redes de atenção à saúde.

34

HÁ – Hipertensão Arterial

DM – Diabetes Melítus

Fonte: Rede de Atenção às Doenças Crônicas.

Figura 5 – Proposta de atenção as doenças crônicas na atenção primária e secundária, ferramenta de mudança.

Linha de cuidado para HÁ

e DM prevenção das

neoplasias e controle

nutricional

Capacitação e

implementação

de protocolos

clínicos e POP

Gestão de

medicamentos e

insumos

Programa de educação

em saúde para o usuário

Sistema de

informação

Alcançar metas

terapêuticas

Prevenção de

complicações

Melhoria do cuidado à HÁ e

DM, neoplasias e vigilância

nutricional

30

35

A rede tem por finalidade a expansão da capacidade da Estratégia de Saúde da Família

(ESF) em Cuiabá e a qualificação a rede de atenção à saúde através da gestão integral de linhas

de cuidado e ainda o fortalecimento das ações de promoção e prevenção dos grupos

identificados como de risco. Fortalecer e qualificar o cuidado às pessoas com obesidade,

hipertensão, diabetes, prevenção de câncer mama, colo, próstata, intestino, estômago, cólon,

boca e de pele na Atenção Básica, gerindo e regulando de forma integrada suas ações com os

serviços especializados, de Urgência e Emergência, garantindo a avaliação contínua e a

melhoria da gestão do cuidado, através do enfoque multiprofissional e integral, por meio de

cooperação técnica e compartilhamento de experiências; Possibilitar o diagnóstico precoce das

neoplasias na atenção básica e secundária na rede de atenção.

As linhas de cuidado que serão instituídas, pela proposta do grupo são: Obesidade, Hipertensão

Arterial e Diabetes e Neoplasias.

Objetivos Específicos das linhas de cuidado:

1) Utilização do conceito de território como base para a gestão municipal de saúde na linha de

cuidado de hipertensão e diabetes: identificar debilidades, planejamento local e para o

enfrentamento dos principais problemas de saúde;

2) Atualizar e qualificar os profissionais de saúde da atenção primária na prevenção e cuidado

a obesidade, ao diabetes e à hipertensão e promover a disseminação de informações sobre

a doença e seus fatores de risco para a população visando promoção da saúde e prevenção

primária;

3) Avaliar continuamente a qualidade do cuidado em diabetes e hipertensão na atenção

primária;

4) Estimular a formulação de soluções através da colaboração dos profissionais das equipes de

saúde locais, com elaboração de modelos para a gestão do cuidado para a prevenção e

controle de hipertensão e diabetes com base no Modelo de Cuidados de Doenças Crônicas

(MCC);

5) “Empoderar” usuários e familiares: implementar programa de educação em saúde para o

auto-cuidado às pessoas com HA e DM e estimular a participação em grupos de apoio

(terceira idade, atividade física, etc) na comunidade de forma a contribuir com aspectos

emocionais e estimular hábitos de vida saudáveis;

36

6) Buscar o controle dos níveis glicêmicos e pressóricos entre os usuários (A1c < 7% e pressão

arterial < 130X85mmHg) para prevenir ou retardar o desenvolvimento de complicações

crônicas.

Estratégias de mudanças a serem implementadas:

1) Organizar capacitação das equipes de saúde utilizando atividades presenciais e à distância:

a) Médicos e enfermeiros

b) Técnicos e auxiliares de enfermagem

c) Agentes Comunitários de Saúde (ACS)

2) Priorizar educação em saúde aos usuários em cada Unidade Básica de Saúde (UBS) e

elaborar um programa de educação e monitorar as atividades desenvolvidas.

3) Identificar grupos de pacientes com maior risco de complicações e oferecer cuidado

diferenciado (obesos, alto valor de glicemia, não adesão ao tratamento, alto Framinghan ou

risco renal).

4) Fazer a gestão do cuidado na APS, registrando e monitorando as referências e Contra

referência.

5) Implantar apoio matricial com especialista para os casos de difícil manejo;

6) Distribuir e monitorar o seguimento dos protocolos estabelecidos pelo MS;

7) Contribuir para a construção de redes sociais, identificando recursos comunitários para

oferecer apoio aos usuários.

8) Incentivar todos os usuários HÁ, DM, obesidade, mu em acompanhamento na UBS a

participarem de programas de educação em saúde, e outras atividades desenvolvidas na

unidade – atividade física, alimentação saudável, etc.

9) Monitorar os indicadores do sistema informatizado, para verificação da melhoria da

qualidade da atenção e emitir relatórios a cada 6 meses.

Outras estratégias que poderão ser implementadas nas UBS:

1) Prevenção de complicações

a) Dialogar e pactuar com o usuário em cada consulta suas metas terapêuticas;

b) Garantir seu controle mensal: glicose capilar ou Pressão Arterial (PA) nas atividades de

educação em saúde ou consultas médicas ou enfermagem;

c) Garantir o acesso a medicamentos e insumos e monitorar a adesão ao tratamento;

37

d) Garantir a realização anual exames de urina (Creatinina/ Proteinúria) assim como perfil

lipídico;

e) Realizar Exame dos pés dos diabéticos nas consultas médicas ou de enfermagem;

f) Encaminhar o usuário para consulta especializada quando necessário;

g) Orientar e anotar no prontuário, em cada consulta, as mudanças de estilos de vida

(Alimentação e atividade física).

2) Integração da equipe

a) Garantir, na medida do possível, a presença de um paciente nas reuniões • Nomear um

relator que anote acordos e compromissos nas reuniões;

Linhas de Cuidados: Hipertensão Arterial, Diabetes, câncer de mama, próstata, câncer de boca,

pele cólon, intestino, estômago e doença renal crônica.

1) Apoio ao usuário

a) Promover a inclusão de usuários e familiares em atividades comunitárias identificadas

no território;

b) Incluir nas atividades de Educação em Saúde estagiários ou residentes de Nutrição,

Educação Física, Psicologia, ou do Pro saúde etc;

c) Oferecer ao usuário e sua família avaliação e apoio psicológico;

d) Disponibilizar material educativo aos pacientes;

e) Implementar consultas coletivas utilizando os grupos de auto-ajuda.

2) Vigilância e monitoramento de informação

a) Verificar a qualidade dos registros nos prontuários clínicos (claros e completos);

b) Documentar todas as atividades desenvolvidas pelas ESF, ACS e Educação/ grupos;

c) Elaborar relatórios e discutir resultados de cada equipe;

d) Apoiar as supervisões e avaliar seus resultados;

Pode-se observar pela proposta que foram descritas, até o presente documento ainda em

fase de elaboração, exatamente fluxos desde o acolhimento na atenção básica e protocolos

clínicos, bem como serviços de referências disponíveis e necessários para cada tipo de situação

específica das linhas de cuidado desenhadas.

38

Ainda conforme relatos dos informantes A e B, serão necessários alguns serviços que

ainda não compõe a rede de serviços próprios do município e nem contratualizados, conforme

informação fornecida pelo setor de controle e avaliação da secretaria, principalmente na área

de Oncologia por exemplo. Segundo o informante B todas essas necessidades estão sendo

levantadas e serão levadas a conhecimento da gestão para que possa incorporar a rede de

serviços pois são necessárias para a RADC.

As ações de educação permanente/capacitação para os profissionais que irão atuar

diretamente na RADC estão, segundo o informante B, sendo colocados por meio do Plano de

Trabalho Anual (PTA) da Secretaria Municipal de Saúde para o ano de 2015.

Importante salientar que o modelo de atenção em rede, especificamente das Doenças

Crônicas, implica mudanças nos processos de trabalho, é fundamental e imprescindível por

tanto, uma educação permanente que supere também os modelos tradicionais de educação dos

profissionais e estratégias educacionais que valorizam o trabalhador, seu conhecimento prévio

e sua experiência profissional. Sugere-se aproveitamento maior com base na aprendizagem por

problemas, na aprendizagem significativa e organizada em pequenos grupos, sempre tendo

como referência e ponto de partida as questões do mundo do trabalho, em seu dia-a-dia no

cuidado (Brasil, 2013).

O projeto consiste ainda em definições que tratam quanto a efetivação da rede, em como

se dará e definindo responsabilidades. A organização do projeto consistirá de grupos técnicos

com um Coordenador geral dos grupos para elaboração dos protocolos e fluxos de acesso e

assistencial bem como de equipe técnica para organização interna das unidades básicas e

especializadas da rede pública. Durante os primeiros três meses, conforme a proposta, será

criada a infraestrutura necessária para o desenvolvimento das atividades propostas e a

elaboração do plano de trabalho.

Coordenação Geral:

Terá a função de assegurar a sustentabilidade política-estratégica do projeto no município e

articular com as diferentes instâncias da SMS.

Grupo Apoio Técnico:

Terá como função planejar e tomar as decisões sobre o projeto e assegurar o cumprimento dos

processos de acordo ao cronograma de atividades estabelecido. Os grupos terão como membros

DAP, CAB, DAS, Regulação e Planejamento

39

Membros dos grupos incluem especialistas da área de diabetes, hipertensão, nefrologia,

nutrição, educação, etc. Este grupo apoiará o grupo técnico na elaboração e tomada de decisões

relativas ao projeto, proporcionará e validará materiais técnicos, educativos, entre outros

necessários para o desenvolvimento do projeto.

Diretores AP/DAS:

Terá como funções coordenar as diferentes ações e atividades estabelecidas pelo grupo técnico

relacionadas aos resultados esperados, de forma a garantir o cumprimento do cronograma,

supervisionar as atividades dos apoiadores, elaborar os relatórios técnicos do projeto e garantir

a disseminação dos resultados por meio de diferentes veículos de comunicação.

Grupo de execução:

Profissionais da Coordenadoria de Atenção Básica (CAB) responsáveis pelos programas e pelo

desenvolvimento de atividades com as Unidades de Saúde, como oficinas e levantamentos

locais. Darão assessoria aos profissionais do nível local na supervisão e monitoramento dos

compromissos e metas assumidos pelas UBS, apoio aos profissionais de UBS no preenchimento

dos relatórios mensais.

Pontos Focais:

Profissionais de saúde das Unidades Básicas de Saúde, Gerência de Desenvolvimento de

Pessoas (GDP), profissionais da equipe de educação em saúde inseridos no projeto e terão como

função desenvolver as atividades no nível local, coordenando os planos de ação, as estratégias

de capacitações locais, os grupos terapêuticos de pacientes.

A previsão é que após a conclusão da proposta, como informa o entrevistado B, ela seja

levada ao conhecimento do Secretário bem como toda a gestão, Conselho Municipal de Saúde

(CMS) e posteriormente se realize um fórum com os profissionais da rede para o estudo da

proposta.

6.3 – FACILIDADES E DIFICULDADES

Conforme as entrevistas, a principal dificuldade no processo, até aqui, foi o interesse

dos representantes das áreas no grupo condutor para a elaboração da proposta. Foi apontado

que as pessoas somente entregavam as informações da área, do que estava ofertado, e não

40

participavam ativamente da construção de todas as fases de elaboração do desenho da rede.

Ainda foi colocada a dificuldade de articulação com o estado, visto que somente recentemente

foram instituir os grupos condutores das redes a nível regional e estadual.

Em seu conceito, as redes buscam não só resultados operacionais como também de

gestão nas organizações. As redes não são, pura e simplesmente, um arranjo poliárquico entre

diferentes atores dotados de certa autonomia, mas um sistema que busca, deliberadamente, no

plano de sua institucionalidade, aprofundar e estabelecer padrões estáveis de inter-relações

(Mendes, 2011). Destacando-se a dificuldade imposta pelo modelo hierarquizado.

A dificuldade em produção coletiva de conhecimento é um nó a ser superado, de

maneira que haja construção de “um para um e muitos para muitos” e não só daquele que “sabe”

para aquele que “não sabe” presentes nas relações de hoje. A capacidade de aprendizagem, o

funcionamento como canais de difusão de conhecimentos, a utilização das informações

existentes para produzir novos conhecimentos, a criação de vínculos diversificados entre atores

e organizações permite reduzir as incertezas nas políticas e nos programas (Mendes, 2011).

Não foram observadas facilidades na construção da proposta da RADC, percebidas

pelos entrevistados.

41

7 CONCLUSÃO

Conforme documento analisado, a metodologia adotada para a elaboração da proposta

da rede, é capaz de resultar em uma proposta de implantação substancial e dentro das

necessidades do município. O embasamento teórico, bem como as informações levantadas

(Epidemiológicas, Capacidade Instalada etc.) dão sustentação suficiente e clareza quanto as

necessidades em saúde da população cuiabana, em específico as doenças crônicas, na linha para

a mudança de modelo de atenção propostos pela rede.

Foram propostas linhas de cuidados que expressam a realidade do município de acordo

com as necessidades em saúde locais, conforme dados epidemiológicos, contemplando a

responsabilidade da gestão em saúde local estabelecida pela rede.

A mudança de modelo de atenção proposta pela estratégia de redes, reafirmando a

Atenção Básica como centro de comunicação, está bastante contemplada na proposta, porém

ainda não muito claros os mecanismos a serem lançados para efetivação, visto principalmente

que em número de unidades na AB é a maior.

Detecta-se significativa dificuldade em comunicação interna e externa para a

implantação da rede, principalmente no que diz respeito ao quesito governança que envolve

outros entes federados.

O processo de elaboração da mesma se encontra bem fundamentado e principalmente

cumprindo, majoritariamente, os requisitos estabelecidos pelo Ministério da Saúde.

Observa-se ainda, não exclusivamente da rede específica, a dificuldade em mudança de

modelo, de forma que ainda tem timidamente propostas mais claras de promoção da saúde,

participação social, educação permanente e intersetorialidade.

Não foi apontado na percepção dos entrevistados, porém nos leva a concluir como

facilidade para a construção da rede, o fato da secretaria possuir acompanhamento

epidemiológico, indicadores de acompanhamento nos PTA’s e estudo de sua capacidade

instalada possibilitando a fundamentação necessária, aos quais tivemos acesso.

42

O estudo pretendia caracterizar o perfil do grupo condutor de maneira a descrever as

características dos mesmos quanto a formação acadêmica e vivência nos serviços de saúde, fato

sem dúvida relevante, mas não conseguiu atingir significativo número de componentes que

possibilitasse essa descrição.

Conclui-se por fim que o presente trabalho concluí seu objetivo e documenta processo

importante e ainda embrionário no país, e que pode contribuir significativamente, pela

experiência, com a implantação da rede específica local, bem como em outros municípios do

país. Ainda reforça a característica, em suas habilidades e competências, que o profissional

graduado em Saúde Coletiva seja importante ator a contribuir para a consolidação e mudanças

de modelos que esperamos para o nosso sistema de saúde, capaz de produzir conhecimento e

agir conforme.

43

REFERÊNCIAS

Brasil. Lei nº 8.080 de 19 de Setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção,

proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços

correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 set. 1990.

Seção 1, p. 18055.

Brasil, Ministério da Saúde. Portaria nº 4.279, de 30 de Dezembro de 2010. Estabelece diretrizes

para a organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Brasília: 2010.

Brasil. Decreto-Lei nº 7.508, de 28 de Junho de 2011. Regulamenta a Lei no 8.080, de 19 de

setembro de 1990, para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde - SUS, o

planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa, e dá outras

providências. Brasília: 2011.

Brasil, Conselho Nacional de Saúde. Resolução Nº 466 de 12 de Dezembro de 2012 que define

as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília:

2012.

Brasil. Ministério da Saúde. Curso de autoaprendizado redes de atenção à saúde no sistema

único de saúde. Brasília:2012. 81 p.

Brasil, Ministério da Saúde. Documento de diretrizes para o cuidado das pessoas com

doenças crônicas nas Redes de Atenção à Saúde e nas linhas de cuidado prioritárias.

Brasília: 2013; 34 p. Série B. (Textos Básicos de Saúde.)

Brasil, Ministério da Saúde. Portaria nº 252, de 19 de Fevereiro de 2013. Instituí a Rede de

Atenção à Saúde as Pessoas com Doenças Crônicas no âmbito do Sistema Único de Saúde

(SUS). Brasília: 2013.

Brasil, Ministério da Saúde. Implantação das redes de atenção à saúde e outras estratégias

da SAS. Brasília:2014. 160 p.

Brasil, Ministério da Saúde. Portaria nº 483, de 1 de Abril de 2014. Redefini a Rede de Atenção

à Saúde as Pessoas com Doenças Crônicas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e

estabelece diretrizes para a organização das suas linhas de cuidado. Brasília: 2014.

44

Cuiabá, Secretaria Municipal de Saúde. Plano Municipal de Saúde de Cuiabá – MT, 2014 –

2017. Cuiabá: 2013; 65 p.

Cuiabá, Secretaria Municipal de Saúde. Plano de Trabalho Anual 2014. Cuiabá: 2013; 61 p.

Escorel, S. História das Políticas de Saúde no Brasil de 1964 a 1990: do golpe militar a reforma

sanitária. In. Giovanella, L. (Org.). Políticas e Sistemas de Saúde no Brasil. Rio de Janeiro:

FIOCRUZ, 2009. p. 385 – 434.

Gil, Antônio Carlos, 1946- Como Elaborar Projetos de Pesquisa. - 4. ed. - São Paulo: Atlas,

2002

Mendes, E.V. As Redes de Atenção à Saúde. 2º Edição. Brasília: OPAS, OMS, CONASS,

2011; 549 p.

______. Revisão Bibliográfica sobre Redes de Atenção à Saúde. Belo Horizonte: Maio de

2007; 154 p.

Pinheiro, R. Modelos ideais x práticas eficazes: um desencontro entre gestores e clientela

nos serviços de saúde. Rio de Janeiro: IMS/UERJ, 1999; 17 p.

Santos L.; Andrade L.O.M. Redes interfederativas de saúde: um desafio para o SUS nos seus

vinte anos. Ciência & Saúde Coletiva, 16(3):1671-1680, 2011.

Universidade de São Paulo. Sistema Integrado de Bibliotecas da USP. Diretrizes para

apresentação de dissertações e teses da USP: documento eletrônico e impresso Parte I

(ABNT) / Sistema Integrado de Bibliotecas da USP; Vânia Martins Bueno de Oliveira Funaro,

coordenadora ... [et al.]. - - 2. ed. rev. ampl. - - São Paulo: Sistema Integrado de Bibliotecas da

USP, 2009. 102 p. - - (Cadernos de Estudos; 9) Viana, L.A.V.; Baptista, T.V.F. Análises de Políticas de Saúde. In: Giovanella, L. (Org.).

Políticas e Sistemas de Saúde no Brasil. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2009. p. 65 – 105.

45

ANEXOS

ANEXO I – AUTORIZAÇÃO PARA A COLETA DOS DADOS

46

ANEXO II – AUTORIZAÇÃO PARA A COLETA DOS DADOS

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

JÚLIO MULLER-

UNIVERSIDADE FEDERAL DE

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

DADOS DO PROJETO DE PESQUISA Título da Pesquisa: Estruturação da Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças

Crônicas em Cuiabá Pesquisador: MARCO AURÉLIO BERTÚLIO DAS NEVES Área

Temátic

a:

Versão:

1

CAAE: 37585114.0.0000.5541 Instituição Proponente: Instituto de Saúde Coletiva da UFMT Patrocinador Principal: Financiamento Próprio

DADOS DO PARECER

Número do Parecer: 869.600 Data da Relatoria: 11/11/2014

Apresentação do Projeto: A presente pesquisa tem caráter descritivo, que segundo Gil (2002) tem como objetivo descrever o

fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Salienta-se ainda pesquisas desse

caráter que tem por objetivo conhecer as características de um grupo ou até mesmo conhecer o nível

de atendimento de um determinado órgão a uma comunidade.

Objetivo da Pesquisa: Objetivo Primário: Descrever o processo de implantação da Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças

Crônicas: enfase no grupo condutor. Objetivo Secundário: Caracterizar o perfil dos integrantes do grupo condutor do processo de implantação da rede;

Identificar rotina de trabalho do grupo condutor da rede; Identificar as ações desenvolvidas e propostas para a implantação da rede em conformidade com a

portaria MS 483 e Detectar as facilidades e dificuldades enfrentadas no processo de implantação da

Rede.

47

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

JÚLIO MULLER-

UNIVERSIDADE FEDERAL DE

Continuação do Parecer: 869.600 Avaliação dos Riscos e Benefícios: Riscos: Mínimo. Benefícios: A descrição de estruturação da RAS/PDC em Cuiabá, pretende contribuir para sua implantação, no

planejamento e gestão do SUS, além de documentar a experiência para que possa servir de auxílio em

outros processos que dizem respeito a essa estratégia.

Comentários e Considerações sobre a Pesquisa: Pesquisa de relevância Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória: falta telefone do CEP Recomendações: colocar o telefone do CEP no TCLE Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações: colocar o telefone do CEP no TCLE Situação do Parecer: Aprovado Necessita Apreciação da CONEP: Não Considerações Finais a critério do CEP: Projeto aprovado em relação à análise ética.

CUIABA, 12 de Novembro de 2014

Assinado por:

SHIRLEY FERREIRA

PEREIRA (Coordenador)

Endereço: Rua Fernado Correa da Costa nº 2367 Bairro: Boa Esperança CEP: 78.060-900

UF: MT Município: CUIABA Telefone: (63)3615-8254 E-mail: [email protected]