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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
ESCOLA DE ARQUITETURA
GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
INTERVENÇÕES URBANAS NO CENTRO DE BELO HORIZONTE:
REABILITAÇÃO QUE PROMOVE GENTRIFICAÇÃO?
ISABELA BRAGA MARTINS
Belo Horizonte
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
ESCOLA DE ARQUITETURA
GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
INTERVENÇÕES URBANAS NO CENTRO DE BELO HORIZONTE:
REABILITAÇÃO QUE PROMOVE GENTRIFICAÇÃO?
Belo Horizonte
2016
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado pela aluna
Isabela Braga Martins, matrícula 2011001395, à disciplina
Trabalho de Conclusão de Curso do Programa de
Graduação da Escola de Arquitetura da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), como um dos requisitos
para a obtenção do Grau de Arquiteta e Urbanista, sob a
orientação da Professora Doutora Jupira Gomes de
Mendonça.
ARADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais e ao meu irmão pela companhia e apoio não só ao
longo deste trabalho e durante o período da faculdade, mas desde sempre; à Jupira pela
orientação, sugestões e ensinamentos; à Paula Barros, Daniel Medeiros, Mauro Cesar
Ribeiro, Tiago Costa e Maria Caldas pela disposição e atenção nas entrevistas concedidas;
à Luciana Andrade e ao Rogério Palhares pelas contribuições dadas na banca da primeira
etapa deste trabalho (pré- TCC); aos amigos pela força durante essa jornada; Àquele que
cuida do meu caminho.
RESUMO
O presente trabalho é um estudo sobre as intervenções, projetos e programas
desenvolvidos para a região central de Belo Horizonte ao longo das últimas quatro
décadas. Desde 1980 Belo Horizonte apresenta propostas urbanísticas para a área central,
sendo possível perceber alterações nas estratégias e no caráter das intervenções com o
passar dos anos, especialmente devido a diferenças nos objetivos e pautas abordadas nos
planos, disponibilidade de verba e decisões políticas.
Busca-se aqui analisar a evolução dessas intervenções de reabilitação, o
contexto em que foram planejadas e executadas, considerando os princípios do emergente
Urbanismo Neoliberal. Essa modalidade de planejamento tem como mecanismo
fundamental a gestão urbana dentro de uma lógica empresarial, potencializado pela
intensificação da relação entre Estado e o poder privado.
Dentro desta discussão destaca-se a investigação acerca da ocorrência ou não
do processo de gentrificação - expulsão dos moradores e usuários originais da área e a
consequente substituição das camadas sociais locais por outras de maior renda. A análise
mostrou que até o momento não se apresentam evidências de gentrificação no centro
principal da cidade.
Palavras-chave: Hipercentro de Belo Horizonte. Intervenções em áreas centrais.
Urbanismo Neoliberal. Gentrificação.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Mapa de Belo Horizonte, com destaque para a área central. ..................................... 16
Figura 2- Zoneamento elaborado pela Comissão Construtora de Belo Horizonte. ..................... 17
Figura 3 - Delimitações do Hipercentro de Belo Horizonte ........................................................ 18
Figura 4 - Obras Realizadas no programa Centro Vivo. ............................................................ 35
Figura 5 - Praça Sete. ................................................................................................................. 36
Figura 6 - Praça da Estação. . ...................................................................................................... 37
Figura 7 - Praça Raul Soares. ...................................................................................................... 39
Figura 8 Diretrizes das sub-áreas do Plano de Reabilitação do Hipercentro de Belo Horizonte 44
Figura 9 - Localização edifícios que passaram por retrofit. ....................................................... 46
Figura 10 - Requalificação de vias na área central - 2012. ......................................................... 52
Figura 11 - Mapa do MOVE - Rotas passando pelo centro de Belo Horizonte. ......................... 54
Figuras ANEXO I
Figura 12 – Proposta de Complementação do complexo da Lagoinha. ...................................... 72
Figura 13 – Proposta de intervenções para desvio do tráfego de passagem. . ............................. 73
Figura 14 – Proposta de reordenação da Circulação Viária no Hipercentro. ............................. 73
Figura 15 – Proposta de intervenções voltadas à priorização da circulação de pedestres. . ........ 74
Figura 16 – Proposta de vias preferenciais para transporte coletivo: Faixas exclusivas. ........... 74
Figura 17 – Proposta de vias preferenciais para pedestres e transporte coletivo. ....................... 75
Figura 18 – Proposta de circuitos cicloviários. ........................................................................... 75
Figuras ANEXO II
19 Edificação usada como estacionamento - uso recorrente no hipercentro. .............................. 76
20 Estacionamento e loja de artigos populares. .......................................................................... 76
21 Faixa elevada para pedestres e incrementos paisagísticos no entorno da Praça da Estação. . 77
22 Reforma da antiga Escola de Engenharia da UFMG, localizado à rua Guaicurus ................. 77
23 Apropriação de espaço público na Praça Sete - jogo de dama. .............................................. 78
24 Apropriação de espaço público na Praça Sete - música ao vivo. ........................................... 78
25 Edificação com térreo ocupado por lojas de artigos populares e parte superior do edifício
com salas para aluguel. ............................................................................................................... 79
26 Edifício Chiquito Lopes, localizado à rua São Paulo, que passou por reforma (empresário
Teodomiro Diniz). ....................................................................................................................... 79
27 Edifício em reforma. Rua Caetés. .......................................................................................... 80
28 Faixas exclusivas dos ônibus BRT ......................................................................................... 80
29 Edifícios desocupados e em baixo estado de conservação. .................................................... 81
30 Shopping Popular, localizado à rua Caetés. ........................................................................... 81
31 Imóvel reformado com anúncio de aluguel. Rua Caetés. ....................................................... 82
32 Edifícios de uso comercial e serviços - dentista (uso recorrente no hipercentro). ................. 82
33 Grande concentração de pessoas em pontos de ônibus. Lojas de artigo popular e lanchonetes
próximas aos pontos de ônibus. ................................................................................................... 83
34 Visão geral da paisagem urbana no hipercentro – edifícios altos, de padrão baixo/médio. ... 83
35 Edificações desocupadas, em baixo estado de conservação e degradadas. Rua Goitacazes. . 84
LISTA DE QUADROS
Quadro 1- Propostas PACE 80. ................................................................................................. 21
Quadro 2- Propostas do concurso BH Centro.. ........................................................................... 23
Quadro 3- Propostas PACE 99. ................................................................................................... 24
Quadro 4 - Propostas BHBUS. .................................................................................................. 25
Quadro 5 Fonte: Projeto Quatro Estações. .................................................................................. 28
Quadro 6- Obras urbanísticas realizadas no hipercentro de Belo Horizonte - 2003 a 2013 ........ 55
Quadro 7 - Parecer de licenciamento Urbanístico da OUC-ACLO.. .......................................... 60
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 9
2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA AS DISCUSSÕES PROPOSTAS ....... 10
2.1 Urbanismo Neoliberal ..................................................................................................... 11
2.2 Gentrificação ................................................................................................................... 12
2.3 Área Central e Hipercentro de Belo Horizonte ........................................................... 15
3. INTERVENÇÕES URBANÍSTICAS NO HIPERCENTRO DE BELO HORIZONTE 19
3.1 Primeira fase de estudo - 1980 a 2003: Elaboração de planos e projetos para o
Hipercentro de Belo Horizonte. ........................................................................................... 19
3.1.1 Projeto da Área Central – PACE 80 ........................................................................... 20
3.1.2 Concurso BH Centro .................................................................................................... 22
3.1.3 Projeto da Área Central – PACE 99 ........................................................................... 24
3.1.4 Concurso Ruas Da Cidade e Projeto Quatro Estações ............................................. 25
3.1.5 Considerações sobre o período de 1980 a 2003 .......................................................... 28
3.2 Segunda fase de estudo – 2003-2009: Maior efetividade na implantação das obras de
intervenção no Hipercentro de Belo Horizonte. ................................................................. 30
3.2.1 Programa Centro Vivo ................................................................................................. 30
3.2.2 Programa Centro Vivo: Gestão dos projetos ............................................................ 33
3.2.3 Obras Realizadas .......................................................................................................... 34
3.3 Planos de Reabilitação .................................................................................................... 40
3.3.1 Atuação do Governo Federal no planejamento urbano e o Plano de Reabilitação. 42
3.3.2 Plano de Reabilitação do Hipercentro de Belo Horizonte ........................................ 43
3.4 Considerações sobre o período de 2003 a 2009 ............................................................. 49
3.5 Terceira fase de estudo - 2009- Atual: Movimento no sentido de alteração no caráter
das intervenções urbanísticas em Belo Horizonte. ............................................................. 50
3.5.1 Contratação e gerenciamento de projetos e obras de intervenção para o
Hipercentro ............................................................................................................................ 50
3.5.1.1 Requalificação das Vias de Pedestres do Hipercentro ........................................... 52
3.5.1.2 Requalificação dos Corredores Viários ................................................................... 53
3.6 Considerações sobre o período de 2009 - Atual ............................................................ 54
4. CONTEXTUALIZAÇÃO: IMPACTOS DAS INTERVENÇÕES NO HIPERCENTRO
DE BELO HORIZONTE.......................................................................................................... 56
4.1 Gentrificação no Hipercentro ........................................................................................ 56
4.2 Intervenções e a apropriação dos espaços pela população .......................................... 61
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 64
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 65
ANEXO I: DIRETRIZES DO PLANO DE REABILITAÇÃO DO HIPERCENTRO DE
BELO HORIZONTE ................................................................................................................ 68
ANEXO II: FOTOS TIRADAS DURANTE A VISITA À CAMPO.....................................76
9
1. INTRODUÇÃO
A primeira parte deste trabalho foi desenvolvida no primeiro semestre de
2016. Realizou-se um estudo sobre Urbanismo Neoliberal e a possível implementação
desse modelo de planejamento no centro de Belo Horizonte. Dentro dessa perspectiva foi
desenvolvida uma pesquisa sobre assuntos relacionados à esse tipo de planejamento,
como gentrificação, empreendedorismo urbano, planejamento estratégico e as dinâmicas
do mercado imobiliário em centros urbanos.
A hipótese de que instrumentos do chamado urbanismo neoliberal estariam
sendo usados no planejamento da região central de Belo Horizonte estava muito ligada à
presença de planos, programas e projetos desenvolvidos pela prefeitura para a
requalificação do centro metropolitano. Essa é uma clássica estratégia para unir o Estado
ao mercado privado, uma das bases do neoliberalismo, dentro de um contexto maior de
requalificação de centros urbanos, mecanismo amplamente utilizado nesse tipo de
planejamento.
Na primeira etapa, foi realizado ainda um levantamento acerca dos projetos,
intervenções e programas desenvolvidos pela Prefeitura de Belo Horizonte para o
hipercentro: Projeto da Área Central - PACE 80 (1980), Projeto da Área Central - PACE
99 (1999), Programa de Requalificação Centro Vivo (2004) e o Plano de Reabilitação do
Hipercentro (2007).
Nesse momento do trabalho o objetivo é aprofundar o conhecimento acerca
dos programas e projetos realizados pela prefeitura para o centro principal, a fim de
compreender o contexto em que foram implementados e discutir se há ou não uma relação
com princípios do chamado urbanismo neoliberal. Busca-se ainda deixar mais clara a
evolução das intervenções propostas e executadas no centro de Belo Horizonte e a
maneira como os projetos foram sendo elaborados e tratados ao longo do tempo.
Nessa etapa foi realizado um levantamento de dados relacionados ao
planejamento urbano para o centro metropolitano desde os anos 1980. Desenvolveu-se
um olhar mais aprofundado acerca dos processos de gestão e execução dos projetos para
a área a partir do ano de 2003, ano anterior ao lançamento do Programa de Requalificação
Centro Vivo, em que se implementou muitos projetos que já haviam sido propostos.
10
O resultado do trabalho está apresentando em 3 capítulos, além desta Introdução e das
Considerações Finais.
Primeiramente serão apresentados alguns conceitos básicos para as
discussões desenvolvidas neste trabalho: urbanismo neoliberal, gentrificação e termos
referentes à região central de Belo Horizonte.
Em seguida, trataremos da periodização dos projetos e obras de intervenção
no centro de Belo Horizonte, estabelecida em três fases: anos 1980-2003 (Elaboração de
planos e projetos); 2003-2009 (Maior efetividade na implantação das obras); e 2009- atual
(Movimento no sentido de alteração no caráter das intervenções urbanísticas em Belo
Horizonte).1 Foi elaborada uma tabela com as obras de âmbito urbanístico realizadas no
centro de Belo Horizonte entre os anos de 2003 e 2013.
No quarto capítulo serão feitas considerações a respeito do fenômeno da
gentrificação no contexto da área de estudo e sobre a apropriação das intervenções
executadas.
Para a realização desta fase da pesquisa houve um resgate e aprofundamento
da base teórica sobre temas ligados ao urbanismo neoliberal e intervenções em centros
urbanos. Paralelamente, foram desenvolvidas atividades de visitas a campo (ver fotos no
Anexo II) e entrevistas com acadêmicos, técnicos funcionários e ex-funcionários da
Prefeitura de Belo Horizonte, que estiveram envolvidos nas intervenções em estudo, além
de algumas conversas com comerciantes durante os trabalhos de campo.
2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA AS DISCUSSÕES PROPOSTAS
Nesta seção serão apresentados conceitos básicos relacionados às discussões
propostas neste trabalho: a noção de Urbanismo Neoliberal, com destaque para o
processo de gentrificação e a definição de termos que descrevem a região central de Belo
Horizonte.
1 Destacam-se os anos 2003 e 2009 por serem a data prévia ao lançamento do Programa de Requalificação Centro
Vivo e o início do mandato do prefeito Márcio Lacerda, respectivamente ; esta última marcou uma mudança na
gestão municipal.
11
2.1 Urbanismo Neoliberal
Desde o final da década de 1980, os debates sobre o neoliberalismo têm
ganhado relevância no cenário mundial e também no Brasil. De acordo com o geógrafo
David Harvey, o neoliberalismo é, a princípio, uma teoria de política econômica que
propõe que o bem-estar coletivo é alcançado a partir da liberação das liberdades
empreendedoras e criativas individuais dentro de um arcabouço institucional de “Estado
Mínimo”, que assegure a propriedade privada plena, a abertura dos mercados e o livre
comércio entre os países (Harvey, 1989)
Em palestra sobre o neoliberalismo, Harvey sintetiza: o capital precisa se
expandir sempre, com a ideia de “gerar lucro no fim do dia”. A partir da década de 1970
se inicia o processo de financeirização e a mobilidade do capital. O fluxo de capital móvel
aumenta e o que se notou, de modo geral, foi que os Estados começaram a perder o
controle sobre ele.
Nos anos 90 o capitalismo começa a se atrelar mais fortemente à urbanização
e à reforma de cidades, como maneira de manter a circulação e acumulação do capital,
essenciais para o funcionamento do modelo. Tornam-se mais recorrentes os planos de
requalificação urbana e os grandes projetos de infraestrutura nas cidades.
Uma consequência comum decorrente de empreendimentos em áreas
requalificadas é a valorização daquela área, causando, muitas vezes, a expulsão de
moradores e usuários locais, que não possuem condições econômicas de se manterem ali.
Além da expulsão, nota-se muitas vezes a atração de grupos sociais de maior renda, em
um movimento de substituição dos grupos originais. Esse fenômeno foi chamado de
gentrificação e será tratado mais adiante neste trabalho.
Do ponto de vista do planejamento urbano, a ascensão do neoliberalismo nas
décadas de 1980 e 1990 substituiu o planejamento compreensivo tradicional associado ao
Estado keynesiano de bem-estar social (Brenner e Theodore, 2003). Emerge então um
novo tipo de planejamento, o chamado planejamento estratégico.
O planejamento estratégico traz consigo o ideário de atuação em planos de
curto prazo e pontuais, sobre áreas fragmentadas e/ou degradadas do espaço urbano. O
objetivo é inserir as cidades competitivamente no mercado global. Nota-se ainda, a partir
desse momento, uma maior flexibilização da regulação urbanística e o enfraquecimento
do planejamento a longo prazo, acompanhado de investimentos públicos.
12
Dentre as críticas ao planejamento estratégico neoliberal estão a maior
restrição da participação popular e o enfraquecimento do poder do Estado sobre o
território- ao mesmo tempo que o poder privado ganha destaque nas decisões.
(Magalhães, 2015)
Com o neoliberalismo há a emergência de um novo fator: o caráter
empreendedor é adotado não apenas pelo setor privado, mas também pelo Estado. Desde
a década de 1970, nos países desenvolvidos (e anos mais tarde também em países em
desenvolvimento, como é o caso do Brasil) foi possível observar o papel empreendedor
do Estado - que antes era limitado à administração e regulamentação. Surge nesse
momento uma nova estratégia de governança urbana, o chamado “novo
empreendedorismo” (Harvey, 1989).
São características do novo empreendedorismo urbano a parceria público –
privada e o caráter especulativo dos empreendimentos – normalmente o setor privado
entra como maior beneficiário, enquanto o Estado arca com os riscos. Além disso, os
empreendimentos são justificados pelo discurso de “melhoria da imagem” de uma
determinada área, promovendo o seu marketing e visando a atração de novos
investimentos para o entorno.
O neoliberalismo urbano entra em cena como um conjunto de ações, políticas
públicas e projetos que potencializam o ciclo de valorização imobiliária, gentrificação e
aprofundamento da economia imaterial dos serviços avançados e têm se apresentado em
grandes centros urbanos. (Magalhães, 2015)
2.2 Gentrificação
O fenômeno fundamentalmente urbano conhecido como gentrificação
consiste em uma série de melhorias físicas ou materiais e mudanças imateriais –
econômicas, sociais e culturais – que ocorrem em determinadas áreas, as quais
experimentam uma apreciável elevação de seu status social (Bataller, 2000). Como
consequência, a população moradora e usuária daquele local se encontra pressionada a
sair dali, por não possuir condições econômicas para manter-se. Essa situação foi
analisada pela primeira vez em 1964, na Inglaterra, pela socióloga Ruth Glass, que a
denominou de gentrificação.
“Um por um, muitos dos quarteirões de classe
trabalhadora de Londres foram invadidos pelas classes médias,
13
alta e baixa(...). Uma vez que esse processo de “gentrification”
começa, ele vai rapidamente se espalhando até que a maioria dos
ocupantes trabalhadores originais são deslocados, e todo o
caráter social do bairro é alterado”. (Vilela, 2006, apud Glass,
1964).2
Estudos indicam que o processo de gentrificação não é homogêneo e possui
formas distintas de implementação e expressão. Pode-se destacar o papel gentrificador da
nova classe média, com seu estilo de vida, padrão de consumo e formação cultural, que
atrai um tipo de comércio e serviço de maior status- seguindo a linha descrita por Ruth
Glass. Existe ainda uma outra ótica acerca da gentrificação, que enfatiza o papel das
construtoras, empreendedores imobiliários e a indústria cultural no investimento de
capital em áreas abandonadas, com imóveis vazios ou subutilizados, que levam à
valorização do preço da terra- ideia defendida pelo geógrafo Neil Smith.
Outra forma de gentrificação foi nomeada de “gentrificação marginal”, pelo
geógrafo e sociólogo Van Criekingen, (Mendes, 2013 apud Van Criekingen e Decroly
2003)3, que é aquela que atrai uma população predominantemente jovem, escolarizada,
mais abastada que aquela que ocupava o local anteriormente, mas nem por isso podem
ser classificados como os ricos. Em um artigo sobre gentrificação marginal o geógrafo
português Luis Mendes aponta que esses gentrificadores fazem oposição à
homogeneidade social desenvolvida nos subúrbios e dos novos produtos imobiliários do
urbanismo moderno. Esse grupo busca nos centros das cidades as noções de vivência
urbana e de diversidade. (Mendes, 2013)
Apesar de possuir diferentes vertentes e tomar diferentes formas, é possível
chegar a uma raiz do que é a gentrificação. Em seu trabalho, Mendes retoma a síntese
feita por Savage e Warde de que, para que aconteça a gentrificação é necessário:
i) uma reorganização da geografia social da cidade, com
substituição, nas áreas centrais da cidade, de um grupo social
por outro de estatuto mais elevado; ii) um reagrupamento
espacial de indivíduos com estilos de vida e características
2 GLASS, Ruth. “Introduction: Aspects of change”, em “Centre for Urban Studies. London: MacGibbon and Kee. 3 VAN CRIEKINGEN, Mathieu; DECROLY, Jean-Michel. “Revisiting the Diversity of Gentrification: Neighbourhood Renewal Processes in Brussels and Montreal”, em Urban Studies, 40.
14
culturais similares; iii) uma transformação do ambiente
construído e da paisagem urbana, com a criação de novos
serviços e uma requalificação residencial que prevê importantes
melhorias arquitetônicas; iv) por último, uma mudança da ordem
fundiária, que, na maioria dos casos, determina a elevação dos
valores fundiários e um aumento da quota das habitações em
propriedade. (Mendes, 2013)
É comum atrelar a gentrificação à requalificação e revitalização de áreas e
imóveis. Esse tipo de atividade pode, por consequência, selecionar os moradores e
usuários de certa área, ao mesmo tempo que mantém a circulação de capital, ponto
essencial para a vitalidade do modelo neoliberal. No Brasil, essa prática tem se tornado
cada vez mais recorrente, especialmente em centros históricos de grandes cidades como
Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Salvador.
Ainda no contexto nacional, a partir da década de 1950, diversas cidades
passam pela experiência de expansão do espaço urbano. Com isso (e paralelamente a
isso), novas áreas começam a atrair atividades tanto habitacionais quanto de comércio e
serviços. Esse fator colabora para acentuar o processo de abandono pelos grupos de maior
renda do centro, que passa a ser mais ocupado por pessoas de renda mais baixa e por
atividades econômicas cada vez mais “populares”. Uma das consequências dessa
substituição da camada social e de renda nos centros é a diminuição da arrecadação de
impostos, acompanhada pela redução do interesse do poder público em investir em
serviços de limpeza e segurança e na preservação e manutenção destas áreas. (Vargas;
Castilho, 2006)
No caso de Belo Horizonte, a partir de 1960 novas centralidades começaram
a surgir e o centro vai dividindo suas funções com outras áreas da cidade, como a Savassi,
que foi se consolidando como centralidade a partir dos anos 60 (LEMOS, 2005). Novas
áreas passam a atrair famílias e jovens, o que causou, em algum nível, o deslocamento da
classe média que morava no centro. Além disso essas áreas passaram a induzir o
desenvolvimento de atividades econômicas e espaços de lazer fora do centro da cidade.
Décadas mais tarde surge um interesse em “melhorar a imagem” dos centros
urbanos e recuperá-los. A retomada da atenção para o valor histórico destes centros se
lançou em pauta. Outro ponto que colaborou para o despertar do interesse para as áreas
centrais foi o fato de já haver uma infraestrutura consolidada (pavimentação, saneamento,
15
instalações elétricas e edificações, por exemplo), além de facilidades de acesso e
mobilidade (especialmente o atendimento do transporte público).
Está também associado à retomada dos centros a necessidade de expansão do
capital, como já mencionado anteriormente. Nesse contexto podemos destacar a atuação
do mercado imobiliário, que vê como oportunidade de aquecimento dos seus negócios a
reocupação dos centros. Este é um dos principais setores que se interessam pela reforma
da imagem degradada das áreas centrais e pela sua revalorização. Pode-se mencionar
também os setores ligados ao turismo e construtoras ligadas a obras de infraestrutura.
2.3 Termos relacionados à região central de Belo Horizonte
Cabe aqui fazer a apresentação de termos relacionados à região central de
Belo Horizonte, que estarão presentes ao longo do trabalho.
Belo Horizonte, fundada em 1897, foi planejada sob o modelo racionalista,
tecnicista e funcionalista. Projetada para ser a nova capital de Minas Gerais,
representando a força da modernidade frente à tradição colonial – estampada na então
capital Ouro Preto- um ponto marcante da cidade é o seu traçado ortogonal, geométrico.
(Lemos, 2005)
16
Figura 1 - Mapa de Belo Horizonte, com destaque para a área central. Fonte: Portal da Prefeitura de Belo Horizonte,
com alterações feitas pela autora.
O engenheiro-chefe da Comissão Construtora, Aarão Reis, apresentou o
plano da cidade em 1895, enfatizando “os aspectos da boa circulação, da higiene, da
beleza e do conforto”. (Bahia, 2005).
Em 1933 foi normatizado o zoneamento da cidade, que fazia a seguinte
delimitação:
I) Zona Central ou Comercial: é limitada a partir da Av. 17 de Dezembro- atual
Av. do Contorno- pelas Avenidas Bias Fortes, Paraopeba, Praça da República,
Álvares Cabral, Afonso Pena, Rua da Bahia, Av. Tocantins (viaduto), Rua Aarão
Reis até a Av. do Contorno e por esta até a Av. Bias Fortes.
Além da Zona Central estavam demarcadas ainda a zona Urbana ou Residencial,
a Suburbana e a Rural. (Decreto Municipal n° 165/1933, Art. 449).
17
Figura 2- Zoneamento elaborado pela Comissão Construtora de Belo Horizonte. Fonte:
http://curraldelrei.blogspot.com.br/2010/04/construcao-da-nova-capital-e-o.html Blog Curral Del Rei
Com o passar dos anos, a cidade foi se expandindo, ficando mais dinâmica e
as legislações referentes ao zoneamento receberam alterações. O Plano Diretor de Belo
Horizonte, aprovado em 1996, traz uma redefinição da Área Central:
“Cap 2, Art. 7°, § 2º - Entende-se por área central a delimitada
pela Avenida do Contorno”.
O Plano Diretor determina, dentro da área central, uma área mais específica,
o Hipercentro:
“Cap 2, Art. 7°, § 1º - Hipercentro é a área compreendida pelo
perímetro iniciado na confluência das avenidas do Contorno e
Bias Fortes, seguindo por esta, incluída a Praça Raul Soares, até
a Avenida Álvares Cabral, por esta até a Rua dos Timbiras, por
esta até a Avenida Afonso Pena, por esta até a Rua da Bahia, por
esta até a Avenida Assis Chateaubriand, por esta até a Rua
Sapucaí, por esta até a Avenida do Contorno, pela qual se vira à
esquerda, seguindo até o Viaduto da Floresta, por este até a
18
Avenida do Contorno, por esta, em sentido anti-horário, até a
Avenida Bias Fortes e por esta até o ponto de origem”.
A área do Hipercentro sofreu uma alteração, de acordo com redação dada pela
Lei nº 9.959, de 20/7/2010 (Art. 1º), quando deixou de incluir a Praça Raul Soares no
limite legal –apesar de ainda fazer parte do imaginário da população como pertencente ao
Hipercentro. (Lei 7.165/96 – Plano Diretor).
No ano de 2008, para efeitos do Plano de Reabilitação do Hipercentro –que
será tratado mais detalhadamente adiante nesse trabalho- foi realizada uma nova
demarcação do Hipercentro, como mostra a figura a seguir.
Figura 3 - Delimitações do Hipercentro de Belo Horizonte
Nota-se que existem diferentes nomenclaturas, de acordo com limites
espaciais estabelecidos e registrados em momentos distintos. Contudo, para efeitos de
descrição da localização das intervenções que são objeto deste trabalho, tanto o conceito
de “Hipercentro” e ainda outros como centro principal ou metropolitano - são válidos, já
que essas intervenções são espacialmente contempladas pelas delimitações mencionadas.
Já a “Área Central”, estabelecida no Plano Diretor, se refere à uma área mais ampla.
Vale destacar a expressão “Hipercentro” por ter sido utilizada no Plano de
Reabilitação do Hipercentro, que teve impacto relevante do ponto de vista urbanístico em
Belo Horizonte.
19
3. INTERVENÇÕES URBANÍSTICAS NO HIPERCENTRO DE BELO
HORIZONTE
Neste trabalho foi realizada a periodização das intervenções urbanísticas no
centro de Belo Horizonte cronologicamente em três fases, de acordo com a abordagem
das propostas: dos anos 1980 a 2003 (Elaboração de planos e projetos para o Hipercentro
de Belo Horizonte); anos 2003 a 2009 (Maior efetividade na implantação das obras de
intervenção no Hipercentro de Belo Horizonte); e 2009 aos anos atuais (Movimento no
sentido de alteração no caráter das intervenções urbanísticas em Belo Horizonte).
3.1 Primeira fase de estudo - 1980 a 2003: Elaboração de planos e projetos para o
Hipercentro de Belo Horizonte.
É possível perceber um foco na elaboração de planos, projetos e concursos
para o hipercentro de Belo Horizonte por parte da prefeitura, no período que foi de 1980
a 2003. Destaca-se nesse período o Projeto para a Área Central -PACE 80, PACE 99,
Concurso BH Centro e Projeto Quatro Estações (1889) e Concurso Ruas da Cidade
(2000).
Desde a década de 1970 temas como metropolização, expansão do tecido
urbano e o papel dos centros urbanos começaram a ser discutidos mais fortemente no
Brasil. Em 1973 foi instituída a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH)
(naquela época eram 14 os municípios participantes, atualmente são 34), a partir da Lei
Complementar n° 14/1973, que levou à criação de outras 7 Regiões Metropolitanas no
país. Nesse momento ficou em evidência o processo de crescimento das cidades,
adensamento populacional e intensificação das dinâmicas econômicas nos centros
urbanos, bem como as relações entre esses grandes centros e os municípios do entorno.
Em 1970 Belo Horizonte já era um importante polo concentrador de comércio
e serviços da Região Metropolitana, tendo a área central como ponto de convergência de
grande parte dessas atividades. Em 1972 foi realizada uma Pesquisa de Origem e Destino
da Região Metropolitana de Belo Horizonte, que traz dados que reforçam a importância
do centro da capital, especialmente para as dinâmicas de comércio e serviços na RMBH.
20
Dados deste estudo serão retomados mais à frente, no momento da apresentação do
Projeto da Área Central – PACE 80.
Além da relevância do hipercentro de Belo Horizonte no âmbito do
desenvolvimento econômico e de serviços, ressalta-se a sua importância do ponto de vista
do transporte. Belo Horizonte foi planejada com um sistema viário concêntrico, de forma
que importantes avenidas que seguem para diferentes regiões da cidade e para outros
municípios passam pelo centro. Essa aglomeração de linhas de ônibus, automóveis –e
também de pedestres- demandou soluções de mobilidade e motivou projetos de
intervenções realizados pela prefeitura municipal, que serão abordados adiante. Observa-
se ainda que a área central de Belo Horizonte exerce função habitacional desde os anos
iniciais da cidade.
3.1.1 Projeto da Área Central – PACE 80
O primeiro projeto em destaque com proposições para o hipercentro de Belo
Horizonte foi o Projeto da Área Central (PACE), desenvolvido em dois momentos: o
primeiro com início em 1980 e o segundo em 1999. Esse programa voltou-se para
intervenções no transporte e trânsito.
Para compreender melhor esse projeto é importante voltar ao ano de 1972,
quando foi realizada a primeira edição da Pesquisa de Origem e Destino, organizada e
executada pela Fundação João Pinheiro em parceria com Secretaria de Estado e
Planejamento de Minas Gerais e a prefeitura de Belo Horizonte. A Pesquisa de Origem e
Destino, realizada a cada 10 anos, tem sido utilizada como instrumento de planejamento
de mobilidade e ainda como referência sobre dados de moradia e fluxo do movimento
pendular na Região Metropolitana de Belo Horizonte e teve papel relevante na
consolidação do PACE 80.
Essa pesquisa apontou uma intensa aglomeração no hipercentro de Belo
Horizonte, que representava 3,3% da área urbanizada da Região Metropolitana e
concentrava 8% de sua população residente. O descompasso da aglomeração se mostra
ainda maior quando se analisa dados sobre atividades de serviço, comércio e indústria: a
área central, naquela época, concentrava 60,4% dos empregos no comércio da Região
Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), 39,7 % dos empregos nos serviços e de 16,7%
dos empregos na indústria. (Vilela, 2006)
21
Foi identificado ainda um fluxo extremamente alto de linhas de ônibus
municipais e intermunicipais no centro metropolitano. Paralelamente a isso, foi levantado
que os terminais de transporte coletivo distanciavam entre si, em média, 500 metros. Essa
disposição dos terminais forçava os usuários a caminharem durante cerca de 10 minutos
para realizar a baldeação, induzindo uma quantidade muito alta de pedestres a se deslocar
em diversos pontos do centro da cidade. Essa situação atraía o “comércio de transbordo”,
popular, em detrimento a outros tipos mais “nobres” de comércio e serviços. (Vilela,
2006)
Tendo em vista este cenário de intensa concentração de pedestres e o
congestionamento de veículos cada vez maior na área central – acentuado pelo sistema
viário concêntrico da cidade- o PACE 80 trouxe propostas para melhorar a organização
do intenso tráfego de veículos e pedestres no hipercentro de Belo Horizonte. O objetivo
era realizar intervenções físicas nas principais vias da área central, com a implementação
de corredores de ônibus (faixas e pistas exclusivas).
Com relação ao trânsito de pedestres, foi proposta a eliminação de terminais
de ônibus da área, adequação dos itinerários e horários, como medidas para evitar longos
percursos nas baldeações. Foram definidas “Áreas Ambientais”, que receberiam
melhorias na qualidade paisagística nos locais de maior fluxo de passagem – o que mostra
uma certa preocupação do projeto com a qualidade do percurso dos pedestres.
Abaixo segue um quadro com as principais propostas do PACE 80.
Quadro 1 – Propostas do PACE80
Fonte: Vllela, 2006.
22
O PACE 80 se apresenta como um primeiro impulso dado pela prefeitura para
tratar a questão da mobilidade na região central de Belo Horizonte. As intervenções e
obras propostas estavam ligadas majoritariamente ao sistema viário e à circulação de
automóveis. Contudo, a questão da melhoria na qualidade do percurso dos pedestres foi
levantada com a proposta da criação de “Áreas Ambientais” e o reconhecimento de que
o intenso fluxo de transbordo poderia trazer impactos negativos na segurança e circulação
dos próprios pedestres.
Já no que se refere ao “comércio de transbordo” em detrimento ao comércio
menos popular –seguindo uma ideia de que o centro da cidade é uma área privilegiada e,
portanto, deveria receber atividades de comércio e serviço mais nobres- o que se percebeu
com as visitas a campo e relatos de diferentes períodos é que o centro não perdeu seu
caráter popular, consolidado nos anos 70, com o deslocamento das atividades mais nobres
em direção à Savassi. Ao que tudo indica não há um processo significativo de
enobrecimento e expulsão de moradores e usuários originais do local, a partir das
intervenções propostas e efetivamente realizadas. (Esse assunto será retomado
posteriormente neste trabalho).
3.1.2 Concurso BH Centro
Nove anos após o lançamento do PACE 80, em 1889, a prefeitura de Belo
Horizonte, promoveu o concurso BH Centro, com o intuito de promover a requalificação
ambiental e paisagística da área central de Belo Horizonte. As diretrizes apontavam para
intervenções de circulação e tráfego que gerassem melhorias na qualidade físico-
ambiental da área. A ideia era promover projetos que abordassem diversos âmbitos, como
patrimônio histórico, a requalificação de áreas verdes, diminuição da poluição sonora e
visual e valorização das condições do espaço para pedestres e usuários de transporte
público.
A princípio foram eleitas quatro áreas de importância – Parque Municipal,
Complexo da Lagoinha, Praça Rui Barbosa (Praça da Estação) e Praça Raul Soares.
Posteriormente houve uma nova subdivisão, que elegeu 14 polos a serem trabalhados.4
4 Praça Sete de Setembro, Praça Rio Branco (da Rodoviária), conjunto rua Guarani-avenida Paraná-rua Rio Grande do
Sul, avenida Santos Dumont-rua dos Caetés, rua Curitiba, Praça Raul
Soares, Minascentro-Mercados, avenida Augusto de Lima, Praça Afonso Arinos, Parque
23
O concurso premiou três equipes que se uniram dois anos depois, em 1991,
para a elaboração de um projeto específico para a Praça Sete, que resultou no redesenho
dos quarteirões fechados das ruas Carijós e Rio de Janeiro (obra de fechamento dos
quarteirões foi concluída em 1973) e implementação de novo mobiliário urbano. 5, As
obras foram concluídas em 2003, tendo incorporado algumas modificações propostas
pelas diferentes gestões municipais em curso ao longo dos 12 anos de intervalo entre a
conclusão do projeto e das obras.
Quadro 1- Propostas do concurso BH
Centro. Fonte: Vilela, 2006.
Houve propostas de revitalização do patrimônio histórico (edificações da rua
Caetés) e integração dessa rua com outros pontos de interesse, como o trecho que inclui
a avenida Santos Dummont e rua Guaicurus. Foi feito também um projeto de
Municipal, rua da Bahia (trecho Praça Rui Barbosa /viaduto Santa Tereza), Praça Rui Barbosa, rua
Guaicurus/Antárctica, Casa do Conde de Santa Marinha e Complexo da Lagoinha. (Fonte: Vilela, 2006).
5 Equipe formada pela fusão de escritórios que tinham como arquitetos Maurício Andrés, Gustavo Penna, Álvaro
Hardy, Mariza M. Coelho, Jô Vasconcellos, Éolo Maia, João Diniz, Graça Moura, Márcia Moreira, sob coordenação
geral de Flávio Grillo. (Fonte: Portal Vitruvius <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.054/529>)
24
requalificação do espaço público articulando o eixo que conecta a Praça Sete à Praça da
Estação, em especial o trecho da Alameda das Palmeiras da Avenida Amazonas.
Dentre todas as proposições levantadas, algumas foram de fato executadas,
mas não de imediato. 6 Os projetos foram retomados anos mais tarde, como será
explicitado na seção que trata do Segundo período de estudo: 2003-2009 (maior
efetividade na implantação das obras).
3.1.3 Projeto da Área Central – PACE 99
Essa edição com novas propostas para o Projeto da Área Central realizada em
1999, foi desenvolvida pela Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte
(BHTrans). Seu objetivo foi novamente propor uma reformulação da circulação de
pedestres e veículos no hipercentro, e o foco das intervenções estava na criação de
condições para a implantação do novo sistema de transporte coletivo de Belo Horizonte,
o BHBUS.
Quadro 3 - Propostas PACE 99
Fonte: Vilela,2006
6 (Os projetos executados posteriormente foram os da rua Caetés, Museu de Artes e Ofícios na Praça da Estação,
Praça Sete e tratamento paisagístico da avenida Afonso Pena)
25
Quadro 4 - Propostas BHBUS
Fonte: Vilela, 2006.
Como apresentado nos quadros acima, foram propostas intervenções
estruturais no sistema viário e de circulação, com destaque para a presença de obras
viárias impactantes, como a recuperação e ampliação dos principais viadutos de acesso
ao centro da cidade. Essas obras estavam associadas à viabilização do BHBUS. Também
estavam no escopo alterações nos sentidos de vias, visando ao descongestionamento de
veículos.
Mais uma vez observa-se uma preponderância de obras viárias nos projetos,
ao passo que se nota novamente o discurso de valorização de pedestres, a partir de
intervenções como o incremento de mobiliário urbano, acessibilidade das calçadas e a
intenção de otimizar o transporte público para os seus usuários. Além disso, foi indicada
a criação de trechos de vias compartilhadas entre pedestres e automóveis – com a
circulação de automóveis permitida apenas para trânsito local, acesso a estacionamentos
e garagens – reforçando o intuito da pedestrialização, desenvolvido ao longo dos anos.
3.1.4 Concurso Ruas Da Cidade e Projeto Quatro Estações
No ano 2000 foi lançado o Concurso Ruas da Cidade, que foi um concurso
público nacional para seleção de propostas para a melhoria da qualidade de áreas urbanas
vinculadas ao PACE 99, promovido pela prefeitura de Belo Horizonte. Seu objetivo era
26
realizar a requalificação de três áreas consideradas referência na cidade: Savassi, Área
Hospitalar e Hipercentro.
Dentre essas regiões, o hipercentro foi a que recebeu maior destaque e exigiu
maior grau de detalhamento projetual, incluindo o projeto preliminar das estações de
embarque e desembarque do BHBUS. Foram premiados os três melhores projetos -um
para cada área demarcada.7
As propostas deveriam apresentar melhorias na qualidade ambiental e de vida
para moradores e pessoas que circulavam pelas regiões, tratar da questão de segurança da
população, além de levar em consideração as alterações no trânsito promovidas pelo
PACE e priorizar o conforto dos pedestres e usuários do transporte público.
De acordo com o arquiteto e urbanista Flávio Carsalade, que participou da
comissão julgadora do Concurso Ruas da Cidade, essa foi uma “(...)tentativa de, juntos
[governo e sociedade belo horizontina], de maneira crítica, mas propositiva,
equacionarem os problemas, estabelecerem diretrizes e oferecê-las como motivação aos
urbanistas de todo o Brasil”. Carsalade reforça ainda o “(...) riquíssimo potencial de
transformação e qualidade de vida que o espaço urbano de Belo Horizonte - se bem
planejado - pode oferecer aos seus cidadãos”. (Entrevista concedida ao portal Vitruvius,
em 01 de março de 2001).
Na mesma época desenvolveu-se na capital o Projeto Quatro Estações, que
tinha como objetivo inicial intervir na Praça da Estação, partindo do Parque Municipal e
seguindo até a Rodoviária. As propostas do concurso Ruas da Cidade foram então
incorporadas às do Projeto Quatro Estações e, como resultado, foi estabelecido o foco na
requalificação da Praça Sete e da Praça da Estação, dois pontos simbólicos para a cidade.
É possível notar a partir do enfoque do concurso que a estratégia naquele
momento era propiciar o planejamento em nível local. As propostas envolviam aspectos
como incremento de áreas verdes, melhoria do mobiliário urbano e medidas no campo da
política urbana e alterações na legislação, em detrimento ao investimento em grandes
obras ou mega projetos.
7 Equipe coordenada pela arquiteta-urbanista Fabiana Generoso de Izaga, do Rio de Janeiro, obteve o primeiro lugar,
para a região do Hipercentro. A Comissão Julgadora deu o primeiro lugar ao trabalho da equipe coordenada pelo
arquiteto-urbanista Mário Ceniquel, também do Rio de Janeiro, para a região da Área Hospitalar, e o primeiro lugar
para a região da Savassi, à equipe coordenada pelo arquiteto-urbanista Rogério Braga Assunção, de Belo Horizonte.
Fonte: (Vilela, 2006).
27
Podemos remeter à ideia da “acupuntura urbana”- intervenções em menor
escala e de custo reduzido em relação a obras de grande porte- para promover
transformações em favor da melhoria da qualidade urbanística para a população que vive
e circula em um determinado local. Nota-se ainda que esse tipo de intervenção já havia
sido discutido anteriormente, nas propostas do concurso BH Centro.
Uma ex-técnica da prefeitura, em entrevista, ressaltou que nesse momento
houve um esforço em promover parcerias entre diferentes órgãos da prefeitura, no sentido
de alcançar um projeto mais integrado e sistemático. Na elaboração do termo de
referência do concurso participaram representantes de instâncias ligadas ao transporte,
cultura, patrimônio e desenho urbano, visando a um projeto mais rico e que respondesse
melhor às diferentes demandas da área.
Observa-se que o Projeto Quatro Estações sintetizou em suas propostas esses
dois princípios: abrangência e articulação entre diferentes campos de interesse e
intervenções em pequena escala, a nível local. Estavam previstas ações como alterações
no fluxo do trânsito, implantação de medidas moderadoras de tráfego, requalificação
urbanística a partir da padronização e reabilitação do mobiliário urbano e paisagismo –
criação e requalificação de áreas verdes-, incentivo ao comércio e serviços formais
locais, regularização do comércio informal, policiamento, recuperação de imóveis
históricos na avenida do Contorno e rua dos Caetés e incentivos fiscais para imóveis com
esse caráter, incentivo à despoluição visual e possibilidade de alteração na legislação para
permitir uso residencial em torres comerciais subutilizadas. (Tabela 5, a seguir)
As intervenções contemplam questões levantadas pelos setores reguladores
de trânsito, patrimônio e de desenho urbanístico, buscando favorecer os moradores,
pedestres e usuários de transporte público da área central.
28
Quadro 2 - Propostas do Projeto Quatro Estações
Fonte: Projeto Quatro Estações. Fonte:Vilela,2006
3.1.5 Considerações sobre o período de 1980 a 2003
Desde os anos 1980 uma discussão levantada em âmbito internacional foi a
importância da valorização dos pedestres em relação aos veículos automotores. Havia
sido pontuado em documento elaborado na Conferência Internacional sobre Transportes
Urbanos em 1980 que "(...) o andar deve ser considerado como um meio de deslocamento
tão importante como os meios motorizados. (...) O melhoramento da mobilidade e da
29
segurança dos pedestres deve ser objetivo fundamental de toda política de transportes
urbanos nos países em vias de desenvolvimento" (CODATU, Relatórios da Conferência
de Dacar sobre Transportes Urbanos, Revista dos Transportes Públicos, ANTP, 1980).
Como veremos mais adiante, esse preceito ficou na pauta de discussão do planejamento
urbano não só na década de 80, mas sustentou-se no decorrer dos anos.
Nota-se que houve apropriação dessa discussão na elaboração dos projetos,
desde o PACE 80 até os concursos BH Centro e Ruas da Cidade. É interessante pontuar
que o tráfego foi o fator motivador das primeiras intervenções no hipercentro de Belo
Horizonte e as propostas tinham o intuito de organizar o trânsito de veículos –
especialmente com a criação de pistas e faixas exclusivas para ônibus- e de pedestres, em
conjunto com a melhoria da qualidade do percurso para estes últimos. As chamadas
“Áreas Ambientais”, a intenção de diminuir o percurso dos usuários do transporte
coletivo e reduzir o chamado “fluxo de passagem” tinham esse sentido.
Ressalta-se que o embrião da ideia da priorização dos pedestres esteve
presente desde o PACE 80, de forma ainda tímida, sem muitas diretrizes específicas, e
que esse princípio foi ganhando força ao longo dos anos.
Proposições relativamente vagas, como a criação de “bolsões de áreas
reservadas para o fluxo de passagem”, foram evoluindo para intervenções mais concretas
no sentido de melhorar as condições para as pessoas que passam pelo centro, com as vias
compartilhadas, incremento do mobiliário urbano e medidas de segurança para o pedestre.
Foram incluídos também planos de recuperação do patrimônio histórico, ampliando assim
o escopo das intervenções.
Como destacado no princípio dessa seção, o período que foi de 1980 a 2003
foi rico em projetos para o Hipercentro de Belo Horizonte. Além daqueles desenvolvidos
diretamente por órgãos vinculados à prefeitura – PACE 80 e 99- é interessante destacar
a qualidade e variedade de projetos propostos via Concurso –BH Centro e Ruas da
Cidade. Apesar de não terem sido executadas de imediato, várias propostas que surgiram
nessa época foram retomadas e implementadas –ainda que com algumas alterações- anos
mais tarde, como será tratado mais adiante.
30
3.2 Segunda fase de estudo – 2003-2009: Maior efetividade na implantação das
obras de intervenção no Hipercentro de Belo Horizonte.
Nesse período destaca-se o lançamento do Programa de Requalificação
Centro Vivo (2004), o Plano de Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais, desenvolvido
pelo Governo Federal (2003), o Plano de Reabilitação do Hipercentro de Belo Horizonte
(finalizado em 2007). Ainda que este período apresente dois novos planos que se somam
aos outros elaborados anteriormente em Belo Horizonte, é possível identificar que foi
nessa fase que a maioria dos projetos que foram sendo desenvolvidos desde os anos 1980
“saíram do papel” e foram implementados.
3.2.1 Programa Centro Vivo
Como foi visto, o preceito da valorização dos pedestres já estava em debate
tanto no cenário internacional como municipal desde os anos 80, com o PACE e os
concursos BH Centro e Ruas da Cidade. Nos anos 2002 e 2003, a II Conferência de
Política Urbana de Belo Horizonte reforçou a falta de medidas implementadas nesse
sentido, destacando “(...) a precariedade dos espaços públicos de circulação de pedestres
(...), ausência de tratamentos para os usuários portadores de necessidades especiais, falta
de propostas específicas para orientação e educação dos pedestres, má utilização das
calçadas (camelôs, botecos, bares, placas, estacionamentos), más condições de
conservação, falta de estrutura de fiscalização, falta de política de priorização do pedestre
e a falta de sanitários públicos na Área Central e nos bairros da periferia". (II Conferência
de Política Urbana de Belo Horizonte, 2003, Diagnóstico Aprovado—Portal da
BHTrans).
Nesse momento achou-se necessário “implementar programas e projetos que
favoreçam a circulação segura e confortável, preferencialmente dos pedestres,
priorizando grupos específicos tais como idosos, pessoas com mobilidade reduzida e
crianças, conforme parâmetros de acessibilidade ambiental". (II Conferência de Política
Urbana de Belo Horizonte, 2003, Diagnóstico Aprovado—Portal da BHTrans).
Outra ideia que também estava em pauta no início dos anos 2000 no Brasil
era a reabilitação de centros urbanos. Em 2003 o Governo Federal, por meio do
Ministério das Cidades lançou o “Plano de Reabilitação das Áreas Centrais”. Esse
31
programa foi responsável por disponibilizar verba federal para Estados e Municípios para
investirem em obras com esse caráter.
Foi nesse contexto que a equipe da Secretaria de Planejamento Urbano de
Belo Horizonte viu a oportunidade de transformar essas demandas e potenciais num
programa de requalificação do hipercentro: o Programa Centro Vivo, lançado
oficialmente em 2004.
O Programa Centro Vivo é um conjunto de obras e projetos sociais da
prefeitura que prevê a requalificação de espaços coletivos da área central de Belo
Horizonte. O plano tem como objetivo reforçar o centro como região simbólica da cidade,
valorizando a diversidade de suas atividades e consolidando-o como local de encontro de
todos. Ele busca ainda recuperar as características originais dos espaços aliando
preservação, funcionalidade e segurança para todos. (Belo Horizonte, 2004).
De acordo com uma entrevistada que trabalhou na Secretaria Municipal de
Políticas Urbanas em meados dos anos 2000, “as intervenções públicas estavam
acontecendo de forma desarticulada no hipercentro de Belo Horizonte. O Programa
Centro Vivo surge numa tentativa de articulação. Então tudo o que estava acontecendo
foi colocado dentro do ´pacote Centro Vivo´, sob a coordenação da Secretaria Municipal
de Políticas Urbanas (SMURBE)”. A entrevistada pontuou ainda que o Programa Centro
Vivo foi lançado oficialmente em 2004, mas inclui obras anteriores a essa data. A ideia
era reforçar a intenção da Prefeitura em requalificar o centro e que obras já estavam
acontecendo nesse sentido e iriam seguir, agora sob o “selo” de um programa.
Foi realizado um diagnóstico compreensivo do hipercentro de Belo Horizonte
e, a partir dele foram elaboradas propostas integradas para sua valorização e preservação.
Dentre as propostas está a revisão da Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo, com
a finalidade de flexibilizar parâmetros para viabilizar adaptação em edifícios, visando ao
uso e ocupação de edifícios desativados. Essa lei prevê a regulamentação da função social
da propriedade urbana, colocada como “garantia do direito a cidades sustentáveis,
entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-
estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as
presentes e futuras gerações” (Estatuto da Cidade, Lei Federal n° 10.257/01- Art. 2,
inciso I)8. A Lei de Parcelamento endossa o estímulo ao uso residencial no centro da
capital. Como será visto mais adiante, na seção sobre o Plano de Reabilitação do
8 O Art. 2° da Lei Federal n° 10.257/01, o Estatuto da Cidade possui ao todo 18 incisos.
32
Hipercentro de Belo Horizonte, uma Lei específica nesse sentido passou a vigorar em
2007 (Lei n° 9.326/2007, de “Flexibilização dos Imóveis”).
Ainda no campo legislativo foram realizadas alterações nos parâmetros do
Código de Obras e a promulgação do novo Código de Posturas. O Código de Obras
modificou o dimensionamento dos cômodos, pé-direito, iluminação e ventilação, além de
proposição de usos residenciais e mistos em edificações já existentes.
O Código de Posturas (Lei n° 8.681, de 14 de julho de 2003) permitiu um
avanço no sentido da diminuição da poluição visual, com restrições à instalação de placas
e anúncios e da “liberação” das calçadas para os pedestres, antes ocupadas por vendedores
ambulantes. Abaixo estão alguns trechos da lei.
Art. 263 - Constituem diretrizes a serem observadas no
disciplinamento da instalação do engenho de publicidade:
I - garantia de livre acesso à infraestrutura urbana;
II - priorização da sinalização pública, de modo a não confundir
o motorista na condução de seu veículo e a garantir a livre e
segura locomoção do pedestre;
III - participação da população e de entidades no
acompanhamento da adequada aplicação desta Lei, para
corrigir distorções causadas pela poluição visual e seus efeitos;
IV - combate à poluição visual e à degradação ambiental;
V - proteção, preservação e recuperação do patrimônio cultural,
histórico, artístico e paisagístico, bem como do meio ambiente
natural ou construído da cidade;
VI - não obstrução de elementos de ventilação e iluminação das
edificações;
VII - compatibilização técnica entre as modalidades de engenho
e os locais aptos a receber cada uma delas, nos termos desta Lei.
Cabe ressaltar a relevância da implementação desse novo Código de Posturas,
visto que ele possibilitou intervenções que trouxeram grande impacto para o hipercentro.
A questão dos vendedores ambulantes já havia sido levantada alguns anos antes, durante
a elaboração do PACE, em que se discutia sobre qualidade do espaço para pedestres –
tanto em questão de aumento do espaço físico livre das calçadas, como a questão da
segurança, afetada pelo tumulto e grande movimentação de pessoas nos passeios.
33
Para tanto havia um embate a ser solucionado: a situação dos camelôs que
trabalhavam nas ruas. Com relação aos camelôs, o Código de Posturas dispõe que:
Art. 118-A - O passeio poderá ser utilizado por ambulante
somente para exercício de atividade de comércio:
I - em veículo de tração humana;
II - por deficiente visual.
Art. 118-A com redação dada pela Lei nº 10.520, de 30/7/2012
(Art. 3º)
Art. 119 - O regulamento deste Código poderá:
(...)
III - definir locais específicos para a concentração do comércio
exercido por ambulantes.
Uma ex-técnica da Secretaria de Políticas Urbanas da prefeitura de Belo
Horizonte relatou em entrevista que havia uma preocupação em manter esses
trabalhadores na área, já que aquele era o seu local de trabalho original e não era o objetivo
expulsá-los da região permanentemente. Depois de conversas e negociações entre agentes
públicos municipais e os próprios trabalhadores ficou estabelecida a criação dos
chamados Shoppings Populares, para onde os vendedores seriam realocados. Eles teriam
seus stands e poderiam armazenar e comercializar suas mercadorias.
Pelo Programa Centro Vivo foram realizadas ainda obras de alargamento de
passeios, incremento de mobiliário urbano, arborização, requalificação de praças, obras
viárias e de trânsito no Hipercentro de Belo Horizonte, como será apresentado mais
adiante.
3.2.2 Programa Centro Vivo: Gestão dos projetos.
A organização das instâncias públicas municipais responsáveis pelo
Planejamento Urbano em Belo Horizonte passou por alterações ao longos dos últimos
anos. A partir de 2005 (gestão do prefeito Fernando Pimentel), momento em que estava
em curso o Programa Centro Vivo, o poder executivo municipal estava subdivido em 16
secretarias (Lei 9.011/2005), das quais pode-se destacar para os fins deste trabalho a
34
Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Informação e Secretaria Municipal
de Políticas Urbanas.9
A gestão e acompanhamento das obras nesse momento estava a cargo da
Secretaria Municipal de Políticas Urbanas. Foi relatado em entrevistas com ex-técnicos
deste órgão que havia reuniões com diferentes secretarias a fim de fazer uma articulação
mais concreta entre os pontos de interesse desses diferentes setores. Eram realizados
debates com representantes da BHTrans, Secretaria de Patrimônio Histórico, Regional
Centro-Sul, Secretaria de Meio Ambiente e Limpeza Urbana. Segundo uma entrevistada,
“esse é um aspecto novo, diferente do que vinha acontecendo até então. Essa tentativa de
articulação. Aos meus olhos foi uma tentativa real de colocar em prática o discurso.
Tentativa de criar espaços públicos que respondam melhor às demandas dos usuários,
priorizar o pedestre. Não posso afirmar que aconteceu de fato, mas houve uma
preocupação nesse sentido”.
3.2.3 Obras Realizadas
Cada projeto e cada obra tinha uma história, um contexto diferente. A seguir
foram listadas as obras que foram de fato executadas entre os anos de 2003 e 2008 no
Hipercentro. A seguir é apresentado um mapa com a localização das obras realizadas,
bem como a listagem delas. 10
9 As Secretarias do poder executivo municipal à época eram: Secretaria Municipal de Governo; Administração e
Recursos Humanos; Finanças; Planejamento, Orçamento e Informação; Políticas Sociais; Secretaria Municipal de Políticas Urbanas; Educação; Saúde; Segurança Urbana e Patrimonial; Administração Regional Municipal; Meio Ambiente; Desenvolvimento; Obras e Infraestrutura; Serviços Urbanos; Assuntos Institucionais e Esporte e Lazer.
10 Os dados foram retirados do site da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, na seção sobre o Programa Centro
Vivo e de entrevistas com acadêmicos, técnicos e ex-técnicos da Secretaria Municipal de Políticas Públicas e da
Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento Urbano.
35
Obras realizadas no Programa Centro Vivo
Figura 4 - Obras Realizadas no programa Centro Vivo. Elaboração própria, a partir de base cartográfica da Praxis
(2006), a partir de levantamentos documentais e entrevistas.
Instalação de Shoppings Populares (a partir de 2003). Com o novo Código de
Posturas, promulgado em 2003, e a determinação de que os camelôs não poderiam mais
vender seus produtos nas calçadas do hipercentro, a solução adotada foi a criação dos
Shoppings Populares. Os vendedores que antes eram ambulantes passaram a armazenar e
comercializar seus produtos nesses estabelecimentos. Como mencionado anteriormente,
essa solução buscava deixar os passeios livres para os pedestres e não expulsar os camelôs
do seu local original de trabalho. A proposta era evitar a geração de mudança brusca no
cotidiano e dinâmica de trabalho desses vendedores e também a alteração do tipo de
comércio no centro da cidade.
Requalificação Praça Sete de Setembro (finalizada em 2003). Os quarteirões fechados
das ruas Carijós e Rio de Janeiro (obra finalizada em 1973) foram redesenhados e
passaram a contar com novo mobiliário urbano e tiveram tratamento das calçadas.
36
Propostas nesse sentido já haviam sido feitas no momento do Concurso BH Centro, em
1889 e foram executadas nesse momento, com algumas modificações.
Figura 5 - Praça Sete. Fonte: Portal da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
Adequação viária da rua Mato Grosso (outubro/2003 – abril/2004). Cobertura de
cerca de 80 metros do ribeirão Arrudas e construção de nova pista de rolamento. Essa foi
uma das obras de caráter viário na área central, no intuito de aumentar a fluidez no
trânsito.
Requalificação da Praça da Estação (Praça Rui Barbosa) (finalizada em 2007).
Recuperação da calçada, paisagismo, mobiliário urbano, fontes de água. Esse ponto
simbólico de Belo Horizonte recebeu tratamento urbanístico e passou a sediar o Museu
de Artes e Ofícios. O museu teve suas obras iniciadas em 2001 e foi inaugurado em
dezembro de 2005. Foi fruto de uma iniciativa do Instituto Cultural Flávio Gutierrez, em
parceria com Ministério da Cultura e da CBTU – Companhia Brasileira de Trens Urbanos.
(Site do museu de Artes e Ofícios de Belo Horizonte). A proposta de requalificação da
praça da Estação já existia desde o fim dos anos 1980, explícita no Concurso BH Centro
e mais tarde no Concurso Ruas da Cidade.
37
Figura 6 - Praça da Estação. Fonte: Portal da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.
Tamponamento de trecho do ribeirão Arrudas em frente à Praça da Estação
(Boulevard Arrudas) (2006). Ampliação do número de faixas para veículos na avenida
dos Andradas, parte do projeto do Boulevard Arrudas, ligando o centro da cidade à
Confins.
De acordo com uma entrevistada esse foi projeto polêmico, pelo fato de
representar um movimento de valorização da motorização, mas houve um empenho em
priorizar o pedestre. A partir do momento em que se tomou a decisão de fazer o
tamponamento do Arrudas, houve a preocupação em instalar semáforos na frente da Praça
da Estação, para dar segurança aos pedestres.
A BHTrans alertou para o aumento do congestionamento do tráfego com a
instalação dos semáforos, mas o fator da segurança do pedestre prevaleceu. Esse é um
exemplo da tentativa da Prefeitura de colocar o discurso em prática -que aconteceu
também em outros projetos.
Revitalização da Rua dos Carijós (agosto/2005 - abril/2006). Manutenção de redes de
drenagem em esgoto, alargamento e recuperação de calçadas, elevações de pista nos
cruzamentos. Esta obra tinha como objetivo favorecer a segurança dos pedestres, com
instalação de faixas elevadas nos cruzamentos e recuperação de calçadas em mau estado
38
de conservação. Para aumentar o conforto dos pedestres foi feito o alargamento das
calçadas.
Requalificação da rua Rio de Janeiro (dezembro/2006 – outubro/2007). Alargamento
e tratamento de calçadas, paisagismo, mobiliário urbano, iluminação pública, sistema de
drenagem. A intenção do projeto partiu da BHTrans e foi anunciado como uma nova etapa
do projeto Caminhos da Cidade (fruto do concurso realizado em 2000), que tinha como
objetivo priorizar o pedestre. Uma entrevistada relatou que a requalificação da Rua
Carijós havia acabado de ser concluída e a ideia era escolher um novo trecho para
intervenção.
A BhTrans organizou uma reunião com representantes de diferentes
secretarias para apresentar trechos com potencial para serem requalificados. O que levou
à escolha da rua Rio de Janeiro foi o volume significativo de pessoas que passavam pelo
lugar e a tentativa de reforçar a importância da Praça Sete.
Requalificação da Avenida Amazonas e da rua Caetés e adjacências (2004 -2008).
Alargamento e tratamento de calçadas, paisagismo, mobiliário urbano, iluminação
pública, sistema de drenagem e revitalização de fachadas de edifícios.
A escolha da avenida Amazonas como captadora de obras de requalificação
teve como um dos pontos iniciais a sua relação com a Praça Sete e a intenção de reforçar
esse ponto simbólico da cidade. O trecho próximo à praça da Estação, por exemplo,
sempre atraiu grande número de pessoas, especialmente a noite, com mesas na rua, além
de muito movimento de pedestres durante o dia. A partir de uma conversa entre
representantes de diferentes secretarias municipais foi reconhecido que esse local seria
adequado para receber obras de requalificação. (Informações de uma ex-técnica da
prefeitura, que participou de discussões intersetoriais no período abordado).
A Rua Caetés também se apresentou como local interessante para a realização
de obras de requalificação pela sua proximidade com a Praça Sete e o valor histórico de
diversas edificações, que tiveram suas fachadas restauradas.
Requalificação da Praça Raul Soares (2007). Recuperação da calçada, paisagismo,
mobiliário urbano e implantação de faixas elevadas para pedestres nos cruzamentos. O
projeto foi fruto do Orçamento Participativo Digital, tendo sido assim uma resposta às
demandas diretas da população.
39
A requalificação da Praça Raul Soares foi destacada pelos entrevistados pelo
seu grau de complexidade. Eram muitos os setores envolvidos e várias reuniões foram
realizadas para a exposição dos diferentes pontos de vista e reivindicações.
A obra final foi fruto de diversas negociações, especialmente entre membros
da BHTrans, Secretaria de Patrimônio Histórico, Secretaria do Meio Ambiente e
Secretaria de Políticas Urbanas. Uma das pessoas entrevistadas relatou esses debates:
“Existia a questão da BHTrans, com uma preocupação de gerar uma retenção muito
significativa de veículos com os semáforos e faixas elevadas. Além disso, a proposta para
o projeto era que a praça voltasse a ser como antes, o que implicaria na retirada de muitas
árvores”. A Secretaria do Meio Ambiente se manifestou contra essa decisão - o clima no
centro da cidade já é hostil e quente especialmente pela diminuição das áreas verdes e não
faria sentido diminuir ainda mais. Havia ainda a questão das visadas para os edifícios a
partir da praça e as árvores de grande porte propostas, que foi levantada pelos
representantes do Patrimônio Histórico”.
“Ao final, pode-se dizer que foi alcançada uma solução intermediária para a
situação da arborização – foram retiradas apenas algumas árvores da praça, foi proposto
o plantio de árvores nas calçadas do entorno e um plano de arborização para ser seguido
na área. Já com relação ao trânsito, a prioridade dos pedestres prevaleceu e as faixas
elevadas e semáforos foram implantados. Um dos entrevistados complementou que a
equipe dos técnicos que defendia a pedestrialização foi posteriormente criticada pela
equipe da BHTrans, que acabou ‘deixando passar todas aquelas mudanças que afetariam
o fluxo do trânsito de veículos no entorno da praça’”.
Figura 7 - Praça Raul Soares. Fonte: Portal da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
40
Requalificação ambiental do entorno do Mercado Central e adjacências (2008).
Foram realizadas obras de alargamento de calçada, implantação de calçadões nos
quarteirões adjacentes ao mercado, elevação de pista na avenida Augusto de Lima e rua
dos Goitacazes, instalação de novo mobiliário urbano e iluminação pública. O resultado
representou um movimento em direção à valorização do pedestre e sua segurança, além
do impacto visual na área.
3.3 Planos de Reabilitação
No ano de 2003 o Governo Federal, por meio do Ministério das Cidades,
lançou um Curso de Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais, com o intuito de capacitar
técnicos em diferentes cidades do país para elaborar Planos de Reabilitação para seus
municípios, em especial para áreas centrais. Antes de seguirmos adiante com os estudos
sobre este Plano em si, faremos uma breve visita a alguns conceitos ligados à intervenções
em áreas urbanas e que se relacionam ao urbanismo neoliberal. São eles reabilitação,
requalificação, renovação e revitalização.
Reconhece-se o fato de haver diversas definições para estes conceitos, mas
para esse trabalho, utilizou-se aqueles disponibilizados pelo Ministério das Cidades, no
material do Curso de Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais.
O termo reabilitação foi utilizado pela primeira na Declaração de
Amsterdam, em 1975: “A reabilitação dos bairros antigos deve ser concebida e realizada
tanto quanto possível, sem modificações importantes da composição social dos habitantes
e de uma maneira tal que todas as camadas da sociedade se beneficiem de uma operação
financiada por fundos públicos”. (Declaração de Amsterdam, 1975).
A renovação urbana prevê a demolição de edificações antigas em áreas
consideradas degradadas, promovendo uma substituição no padrão de moradores e
usuários, que passa a ser mais elevado. Gera expulsão da população local original.
Já a revitalização traz a ideia de retomada da vida econômica e social de uma
determinada área considerada decadente e em estado de abandono.
O conceito de requalificação envolve ações que visam a melhoria das
condições de uma área considerada degradada, aumentando a atratividade da área.
Também está ligada a um viés de dinamismo das atividades econômicas e aumento da
competitividade de uma determinada área (Ministério das Cidades, 2003).
41
Em um contexto mais amplo, é possível verificar que esses termos são
frequentemente utilizados como forma de promover o “marketing” de uma determinada
área e assim atrair investimentos da iniciativa privada e fomentar parcerias público-
privadas.
Planos de requalificação – principalmente aqueles ligados a grandes
projetos- ganham força especialmente pelo fato de gerarem um retorno financeiro. As
cidades tendem cada vez mais a virar palco para a acumulação do capital. Harvey
menciona a “maneira insana de se fazer urbanização”, como as que aconteceram em Paris
em 1850, Londres em 1870 e Nova York em 1945: as cidades se reconstroem, refazem
sua imagem, e isso é interessante do ponto de vista do capital, que tem oportunidade de
circular e se expandir. (Harvey, 1989)
Projetos de requalificação, revitalização, reabilitação e renovação são cada
vez mais comuns nas cidades, abrindo espaço para a circulação do capital e atração de
investimentos. Esses projetos podem servir como instrumento para o urbanismo
neoliberal na medida em que cria-se um campo para mais investimentos direcionados a
determinados locais específicos e a realização de obras nesses locais, fortalecendo o
empreendedorismo urbano e a relação entre Estado e iniciativa privada.
Esse movimento é notado mais claramente e com maior força em grandes
cidades do mundo, onde estão instaladas grandes empresas multinacionais que exercem
considerável poder de influência sobre as decisões municipais, incluindo diretrizes de
planejamento urbano. Destacam-se empresas ligadas ao mercado imobiliário e à
construção civil, que visam expandir seus negócios: edificações (especialmente as de alto
padrão, que geram maior retorno financeiro) e obras viárias (viadutos, pontes, túneis), por
exemplo.
Belo Horizonte, apesar de ser uma capital com relevância no cenário nacional
em termos populacionais (é a sexta cidade mais populosa do país, e a Região
Metropolitana é a terceira maior em população) e de extensão territorial, ainda não possui
altos volumes de investimento do capital privado, tampouco se consolidou como um
importante centro financeiro, como os casos de São Paulo, Rio de Janeiro, Londres, Nova
York e outras grandes cidades no contexto mundial.
42
3.3.1 Atuação do Governo Federal no planejamento urbano e o Plano de
Reabilitação.
O Governo Federal tem se envolvido no tema da reabilitação urbana,
tradicionalmente atuando em ações relacionadas à preservação do patrimônio cultural, de
habitação e de planejamento urbano, há décadas. As iniciativas governamentais, a
princípio, estavam muito ligadas à preservação e recuperação do patrimônio histórico,
especialmente em parceria com o Serviço Histórico e Artístico Nacional- atual Iphan,
criado em 1937. Havia também um esforço em preservar áreas de interesse histórico e
turístico –como foi o caso do Programa Integrado de Reconstrução de Cidades Históricas,
lançado em 1973 para cidades do Nordeste e posteriormente em municípios no Rio de
Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. Houve também programas com o apoio do próprio
Ministério do Turismo, como os Programas Regionais de Desenvolvimento do Turismo
(PRODETUR).
Com o tempo, o espectro de atuação do Governo Federal nesse tipo de
investimento foi sendo ampliado, considerando também “potencialidades sociais,
econômicas e funcionais que melhoram a qualidade de vida da população residente e que
mantém a identidade do lugar” (Ministério das Cidades 2003). Esse tipo de investimento
passou a ser mais recorrente a partir dos anos 2000, mais especificamente com o
lançamento do Programa de Reabilitação Urbana do governo no âmbito da Política
Nacional de Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais. O objetivo do programa é “(...)
enfrentar os problemas de degradação urbana relacionados ao abandono de territórios
consolidados e/ou com infraestrutura subaproveitada, com foco no cumprimento da
função social da propriedade”.
O Plano de Reabilitação fornece aos municípios subsídios e ferramentas para
definir e elaborar projetos, bem como executar ações e obras previstas. É composto por
quatro etapas: Metodologia, Diagnóstico, Participação Social e Proposições de ações. Foi
ainda reforçada a ideia da necessidade de integração entre diferentes planos e legislações
–como Plano Diretor, Lei de Uso e Ocupação do Solo, Plano de Mobilidade- para a
eficiência nas intervenções nos perímetros demarcados. (Ministério das Cidades, 2003).
A especial atenção para os centros da cidade veio com a observação de que
essas áreas consolidadas estavam sofrendo um abandono, intensificado pela expansão
urbana e surgimento de novas centralidades.
43
3.3.2 Plano de Reabilitação do Hipercentro de Belo Horizonte
Com a admissão da relevância do papel dos planos voltados para a
reabilitação de áreas centrais, como pontuado pelo Governo Federal, Belo Horizonte
também contou com a elaboração de uma Plano nesse sentido para o hipercentro.
O plano foi desenvolvido pela Secretaria Municipal de Políticas Urbanas,
com consultoria da empresa Práxis, e concluído no ano de 2007, quatro anos após o
lançamento do Curso de Reabilitação de Áreas Centrais, disponibilizado pelo Ministério
das Cidades. “É um pacto entre administração pública municipal e a comunidade por um
Hipercentro melhor: ambientalmente mais qualificado, socialmente mais plural e mais
dinâmico do ponto de vista econômico”. (Práxis, 2006).
Segundo a equipe responsável pela elaboração do plano, o objetivo foi
“apontar soluções de planejamento, desenho urbano e paisagismo que permitam
dinamizar usos e ocupação, implementar a melhoria do ambiente urbano e a valorização
das áreas públicas, conferindo às mesmas condições de vida compatíveis com o seu
potencial e sua importância na cidade” (Prefeitura de Belo Horizonte e Práxis, 2007).
O plano seguiu diversos pontos levantados pelo Plano de Reabilitação
lançado pelo Governo Federal. Houve uma intersetorialidade na elaboração das
propostas, com a participação de representantes de diferentes órgãos e sociedade civil,
técnicos da Secretaria Municipal de Políticas Urbanas (SMURBE), do Patrimônio
Histórico, Secretaria de Meio Ambiente, BHTrans, comerciantes e moradores.
Considerou-se pontos de vista dessas diferentes “vozes”, buscando fazer um plano que
integrasse esses setores e que fosse de fato efetivo para a área.
Como registrado na primeira etapa da monografia, foi realizado um
diagnóstico minucioso da área - a macrozona do Hipercentro legal (Lei n° 7.166/96) com
acréscimo do Parque Municipal, parte dos quarteirões que margeiam o Rio Arrudas, dois
quarteirões da área hospitalar e quarteirões adjacentes à Avenida Bias Fortes (Figura 2).
Traçou-se o perfil socioeconômico da população residente e houve o levantamento de
aspectos urbanísticos, econômicos (tipos de uso e ocupação), de acessibilidade e
mobilidade.
De acordo com a análise detalhada da área, foram determinadas diretrizes
gerais e específicas, que abordam diversos âmbitos. Foi realizada uma setorização em 5
44
sub-áreas: Mercado Central, Praça Raul Soares, Praça Sete de Setembro, Praça da Estação
e Área Hospitalar. Abaixo foram pontuadas as diretrizes do plano (PRAXIS, 2007).
Dentre as diretrizes gerais estavam a melhoria do ambiente urbano e
valorização das áreas públicas do hipercentro, ordenação do tráfego de veículos,
valorização do patrimônio cultural, dinamização dos usos e atividades urbanas –
estimulando o uso residencial e promovendo a diversificação de atividades e públicos e a
atração de novos investimentos da área- e promoção de formas de gestão visando a
integração de políticas públicas. (Anexo I) Nota-se que essas diretrizes vão de encontro
àquelas propostas pelo Ministério das Cidades, no Plano de Reabilitação.
Diretrizes sub-áreas – Plano de Reabilitação do Hipercentro de Belo Horizonte.
Figura 8 – Diretrizes das sub-áreas do Plano de Reabilitação do Hipercentro de Belo Horizonte. Fonte: Mapa base -
PRAXIS, 2006. Alterações elaboradas pela aluna
Já as diretrizes setoriais trataram da gestão e legislação urbanística, habitação,
apropriação de espaços públicos, desenvolvimento econômico, acessibilidade e
mobilidade. É relevante salientar que uma das diretrizes era a institucionalização do
Programa Centro Vivo, o que comprova a relação entre esses dois planos.
O plano trata ainda de temas que foram sendo discutidos desde os anos 1980.
A questão da mobilidade foi retomada, reforçando o plano de instalação de faixas
45
exclusivas para transporte coletivo, a valorização do pedestre e alternativas para desviar
o intenso fluxo de veículos na área central (tráfego de passagem), como colocado no
PACE e nos Concursos BH Centro e Ruas da Cidade.
Além das questões voltadas para a melhoria da qualidade urbanística para
pedestres e alterações para otimizar o trânsito de veículos, o Plano trata também da
habitação e do desenvolvimento econômico do hipercentro. A dinâmica dos usos e
ocupação se mostrou uma alternativa interessante para assegurar a vitalidade da área. Em
termos legislativos foi indicada a criação da Lei n° 9.326/2007 de “Flexibilização dos
Imóveis” que estimula o uso residencial e abre melhores condições para a instalação de
Habitação de Interesse Social, que se apresenta como uma medida de tratar a desigualdade
social e mostra a intenção de se comprometer com o princípio da função social da
propriedade.
As diretrizes para as atividades de comércio e serviços no hipercentro buscam
incentivar o desenvolvimento econômico na área. Vale ressaltar a menção ao “plano de
marketing para reverter a imagem negativa do centro” feita no documento; Essa é uma
estratégia do urbanismo neoliberal para a atração de investimentos, como referido
anteriormente.
Contudo, há certas diferenças notadas no caso do Hipercentro de Belo
Horizonte que fizeram com que essa estratégia não resultasse em modificações profundas
na estrutura e dinâmicas da área -fato que normalmente ocorre com a entrada de grandes
investimentos privados em determinados locais da cidade. A escala das intervenções, de
caráter mais local, pontual, buscando o conforto dos moradores e usuários da área, ao que
parece, não se mostra atrativa o suficiente para a entrada do “grande capital”.
Na opinião de uma das entrevistadas “(...) o mercado imobiliário, por
exemplo, não demonstrou muito interesse em investir no local, uma vez que a área já
estava fisicamente consolidada e não havia grande quantidade de terrenos vagos para a
construção de novos empreendimentos”. Além disso, a lei que permitiu a adaptação de
imóveis não foi vista como um grande incentivo aos empreendedores do ramo
imobiliário.
Foram realizados alguns investimentos em obras de “retrofit”, que são
reformas de edificações no intuito de customizá-las e adaptá-las para ampliar e melhorar
46
as possibilidades de uso, em prédios antigos. O empresário Teodomiro Diniz Camargos
esteve à frente de três projetos desse tipo na área. Em 2004 começaram os projetos para
o edifício Chiquito Lopes, localizado à rua São Paulo, próximo à esquina da rua Caetés,
antiga sede da empresa Vale do Rio Doce, que havia ficado 8 anos inutilizada. O segundo
foi o edifício Tupis, popularmente conhecido como “Balança mas não Cai”, na esquina
da avenida Amazonas com rua Tupis, originalmente de uso comercial e que ficou por
mais de 20 anos em baixo estado de conservação. O terceiro edifício com projeto de
retrofit foi o antigo hotel Exclesior, que estava desativado havia 15 anos, na rua Caetés,
entre avenidas Afonso Pena e Paraná, em frente à rodoviária.
Figura 9 - Localização edifícios que passaram por retrofit. Fonte: Mapa base PRAXIS, 2006. Alterações feitas pela
autora.
Em entrevista dada à revista Finestra, em dezembro de 2003, Teodomiro
Diniz revelou alguns incentivos à realização de obras de retrofit no centro da cidade.
Ações previstas no Plano Diretor de 1996 para o Hipercentro, que apontavam para a
criação da lei que flexibilizaria os usos dos edifícios (oficializada em 2007), e planos de
requalificação com propostas para tornar a região mais dinâmica e segura reforçaram o
investimento nesse tipo de reforma.
47
O empresário pontuou desafios desse tipo de projeto: “De forma geral, nos
prédios da área central a arquitetura, mesmo com a flexibilização obtida na nova
legislação, oferece dificuldades, pela deficiência das aberturas em prédios comerciais,
comparativamente com as exigências dos residenciais (...). Isso dificulta a adoção de novo
Layout, produzindo unidades com áreas incompatíveis com a demanda do mercado e
impondo limitações ao atendimento das normas mínimas de iluminação e ventilação”
(Portal da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura do Rio de Janeiro, 2013).
O “mercado” a que se refere o empresário é claramente aquele voltado para
pessoas de rendas médias e altas que veem como um empecilho as condições de dimensão
e layout dos apartamentos. Essa declaração aponta que houve realmente uma alteração na
lei para fomentar o uso habitacional no centro de Belo Horizonte, mas mostra que se ela
não propiciou a atração de grupos de maior renda, também não chegou a atingir as
camadas de renda mais baixa e que se beneficiariam de fato do cumprimento da função
social da propriedade.
Outro motivo que possivelmente colaborou para a falta de atratividade do
mercado imobiliário voltado para segmentos de maior renda para a área foi o fato de a
legislação não incentivar esse tipo de habitação. A Lei n° 9.326/2007, popularmente
chamada de “Lei de Flexibilização de Imóveis”, que dispõe sobre normas para a
adaptação e implantação de atividades específicas situadas no hipercentro, foi mais um
instrumento para auxiliar na promoção da requalificação da área.
Esta lei permite a adaptação de edificações para o uso residencial e misto,
incentivando outros tipos de apropriação das unidades desocupadas em torres de prédios
originalmente comerciais. A Lei N° 9.326/2007 propõe algumas alterações possíveis
possibilitando o uso residencial, como mostra os trechos a seguir:
Cap. II, Art. 8°: § 1º - Os cômodos da unidade residencial
poderão ocorrer em espaço sem compartimentação física,
excetuado o banheiro.
§ 2º - Os equipamentos constantes do Anexo I para a Área
de Serviço poderão estar previstos no compartimento do
banheiro.
48
A “Lei de Flexibilização de Imóveis” estabelece condições especiais para a
instalação de unidades residenciais de Empreendimento Habitacional de Interesse Social,
ou seja, aqueles voltados para uma população de renda mais baixa, como destacado nos
trechos abaixo:
Cap. II, Art. 12 - A adaptação de edificação que resultar em
unidades residenciais de Empreendimento Habitacional de
Interesse Social - EHIS - deverá atender às normas definidas nos
Capítulos I e II desta Lei.
§ 1º - Para os casos de que dispõe o caput deste artigo, poderá
ser acrescida área líquida à edificação até o limite de 20% (vinte
por cento) acima do coeficiente praticado, desde que a área
acrescida se destine a unidades habitacionais de interesse social
ou à área de uso comum do condomínio.
Art. 13 - Para os casos de que dispõe esta Seção, o Executivo
Municipal deverá definir procedimentos específicos para
facilitar a aprovação de projetos.
Art. 14 - Não será cobrado preço público referente à aprovação
de projeto de edificação no caso de Empreendimento
Habitacional de Interesse Social - EHIS -, nos termos desta Lei.
Art. 15 - Fica cancelada multa decorrente da Lei nº 9.074, de 18 de janeiro de
2005, incidente sobre edificação adaptada para EHIS, vedada a restituição dos valores
pagos a esse título. Em entrevista, uma ex-funcionária da Secretaria Municipal de
Políticas Urbanas frisou a influência dessas condições colocadas pela Lei N° 9.326/2007
na consolidação dos tipos de uso e ocupação no Hipercentro. Observa-se que houve uma
conservação do uso residencial de classe média e do comércio e serviço popular. Existe
um predomínio de lojas de pequeno porte, produtos de baixo custo, lanchonetes e serviços
como “dentistas populares” na área. (Anexo II)
Com relação à habitação, o público alvo é uma população de classe média e
baixa, especialmente idosos e estudantes, que encontram no centro as facilidades de
mobilidade, comércio e serviço a um preço mais baixo que aquele cobrado em outros
bairros da cidade.
49
Esses fatores reforçam a ideia de que houve a manutenção dos moradores e
usuários locais, o que vai no caminho contrário ao processo de gentrificação, que pode
acontecer com a entrada de investimentos de requalificação urbana. Estudos apontam que
esse processo ocorreu em grandes centros de outras cidades brasileiras, como na zona
portuária do Rio de Janeiro, na Avenida Paulista em São Paulo ou no entorno do
Pelourinho em Salvador. O assunto da gentrificação no hipercentro de Belo Horizonte
será tratado com mais detalhe posteriormente.
3.4 Considerações sobre o período de 2003 a 2009
Percebe-se que o Plano de Reabilitação do Hipercentro de Belo Horizonte e
o Programa de Requalificação Centro Vivo possuem princípios em comum e aconteceram
paralelamente. Nota-se uma coerência dos planos na tentativa de estipular diretrizes e
outros instrumentos urbanísticos e colocá-los em prática, com a finalidade de trazer
melhorias para a população local e o aumento do dinamismo econômico e social do
centro.
A partir dos conceitos trabalhados anteriormente nesta seção (reabilitação,
requalificação, revitalização e renovação urbana), o termo reabilitação se mostra
pertinente no caso das intervenções no centro de Belo Horizonte, uma vez que teve o
cuidado de analisar a população moradora e usuária local, além das dinâmicas econômicas
e sociais da área. Segundo um entrevistado, ex-funcionário da Secretaria Municipal de
Políticas Urbanas e acadêmico, foi recomendado o uso do material levantado no
diagnóstico do Plano como base a ser seguida para as intervenções implantadas no centro,
tanto pelas equipes dentro da secretaria, como para as empresas contratadas para
desenvolverem os projetos.
Constata-se que as propostas em benefício dos pedestres foram ganhando
relevância e impacto nos planos com o passar do tempo: incremento de mobiliário urbano,
melhorias na qualidade paisagística dos percursos, propostas para retomar a vitalidade do
centro a partir da diversidade de usos e atração de pessoas em diferentes períodos do dia.
50
3.5 Terceira fase de estudo - 2009- Atual: Movimento no sentido de alteração no
caráter das intervenções urbanísticas em Belo Horizonte.
O início deste período é marcado pela contratação de empresas para a elaboração
e execução de três intervenções urbanísticas: Requalificação do Barro Preto,
Requalificação das Vias de Pedestre (Hipercentro) e Requalificação de Corredores
Viários (Hipercentro). Percebe-se uma mudança com relação aos tipos de investimentos
realizados na cidade e sua destinação, como será trabalhado ao longo desta seção. O foco
aqui serão as intervenções urbanísticas para a região do hipercentro de Belo Horizonte.
Ressalta-se que esse período foi marcado pela mudança da gerência executiva
municipal, em 2009, com a entrada do prefeito Márcio Lacerda, por dois mandatos (2009-
2012 e 2013-2016). O novo prefeito optou por desvincular os projetos e obras realizados
na sua gestão do nome Programa Centro Vivo, utilizado na gestão do Fernando Pimentel
(2003-2004 e 2005-2008).
3.5.1 Contratação e gerenciamento de projetos e obras de intervenção para o
Hipercentro
As obras para o hipercentro nesse período tiveram a contratação de empresas
para elaboração do projeto e execução. 11 A Secretaria de Políticas Urbanas era a
responsável pelo gerenciamento e realização de alterações e adequações dos projetos de
acordo com as exigências de diferentes setores, como a BHTrans, a Superintendência de
Desenvolvimento da Capital (Sudecap) e a Companhia energética de Minas Gerais
(Cemig).
No ano de 2011 houve um rearranjo nas secretarias municipais (Lei
10.101/2011), tendo sido fundada a Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento
Urbano (SMAPU), vinculada à Secretaria de Desenvolvimento. A SMAPU é ainda
subdividida em seis gerências de 1° nível, que seguem sendo subdivididas até as gerências
de 4° nível. Para fins deste trabalho destaca-se a Gerência de 1° nível de Projetos Urbanos
Especiais (GPUR), responsável pelo gerenciamento de projetos para o Hipercentro.12
11 Em entrevistas foram citadas as empresas B&L e Tectran, vencedoras das licitações. 12 Gerências de 1° nível: Gerência Executiva do Conselho Municipal de Política Urbana (GCPU), Gerência de
Coordenação de Políticas de Planejamento Urbano (GEPU), Gerência de Projetos Urbanos Especiais (GPUR),
Gerência de Legislação e Gestão Urbana (GLGU), Gerência de Coordenação de Estudos Econômicos (GCEC) e
Gerência de Coordenação e Gestão de Instrumentos de Política Urbana (GGPU).
51
No que tange à autonomia técnica da Gerência de Projetos Urbanos Especiais,
a respeito da decisão de quais projetos são prioritários e como devem ser elaborados, foi
relatado que o setor não possui muita liberdade. Essa prioridade é determinada pela
agenda do prefeito e passado à GPUR normalmente por um secretário direto dele.
Já com relação aos projetos em si, primeiramente as empresas vencedoras das
licitações realizavam um diagnóstico propositivo da área e o levantamento topográfico de
toda a área. Nesse momento inicial, a participação do órgão de planejamento urbano
municipal consistia basicamente em cobrar os prazos da empresa e fazer o
encaminhamento dos projetos para a Sudecap, que fazia a verificação do levantamento.
Era também papel da Secretaria de Políticas Urbanas e posteriormente da Gerência de
Projetos Urbanos Especiais orientar as empresas a seguirem o Plano de Reabilitação do
Hipercentro (tratado anteriormente) e orientar sobre o desenho urbano.
Segundo um entrevistado, havia ainda a apresentação do modelo de espaço
urbano consolidado dentro da equipe, “que é um modelo de pedestrialização, com
calçadas largas, menos vagas de estacionamento, maior arborização, segurança e
iluminação. Esses princípios de desenho urbano de habitabilidade, urbanidade. A ideia
era trazer qualidade do espaço para o pedestre na área central”.
Com relação ao financiamento das obras é importante ressaltar o momento
em curso em Belo Horizonte nesse período: a cidade recebeu investimentos da Caixa
Econômica Federal, Governo Federal, além de investimentos diretos de empresas
privadas para a realização de obras de mobilidade urbana, em decorrência da Copa do
Mundo de 2014.
As obras de mobilidade urbana somaram um total de R$ 1.350.700.000 –
52,5% domontante total investido na cidade. Deste valor, 63,34% é destinado a
investimentos em transporte de massa (como BRTs), 34,43% para o sistema viário, e o
restante (2,23%) para a expansão da Central de Controle de Trânsito da BHTrans, tendo
em vista a melhor circulação de veículos. (Filho, Scotti e Motta, 2014).
Muitas dessas obras estavam previstas para o perímetro do hipercentro, que
captou um grande volume de verba, diferentemente do que acontecia no período anterior,
do Programa Centro Vivo. Naquele momento as intervenções urbanísticas eram de caráter
mais local, de menor escala e de orçamento mais baixo. Destaca-se como projeto de maior
complexidade e impacto o do transporte coletivo BRT, que recebeu o nome de “MOVE”
em Belo Horizonte.
52
Abaixo está um mapa com os trechos que receberam projetos dos três
contratos mencionados anteriormente (Hipercentro e Barro Preto) e os trechos com obras
já realizadas. É interessante notar que há uma tentativa de integrar trechos que já haviam
sido propostos desde o programa Caminhos da Cidade e BH Centro -e que foram de fato
requalificados pelo Programa Centro Vivo. As intervenções eram pontuais, quarteirão a
quarteirão e se apresentavam como diversos segmentos e não como uma rede de fato,
como ilustra a imagem a seguir.
Figura 10 - Requalificação de vias na área central - 2012. Fonte: Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento
Urbano (SMAPU)
3.5.1.1 Requalificação das Vias de Pedestres do Hipercentro
Esse projeto compreende diversos trechos de ruas na área central, destacando-
se a rua dos Guaranis e trechos de ruas transversais à ela -Caetés, Tupinambás, Carijós e
Tamoios- como mostra a Figura 11.
Segundo um entrevistado, o que mais diferenciou esse contrato dos anteriores
(rua Carijós, Amazonas, Rio de Janeiro, executados dentro do “pacote” do Programa
Centro Vivo) é a escala, que era muito maior nesse momento. O resultado foi que o
diagnóstico não foi tão refinado, não estava tão atento às peculiaridades de cada
quarteirão especificamente, como se fez anteriormente.
De acordo com o entrevistado o volume de projetos era muito grande e o
desenho urbano perdeu com isso. Ele afirmou ainda que “chegavam 150 projetos de
quarteirão para avaliarmos em duas, três semanas e mandarmos para as empresas
53
revisarem o projeto em 1 mês. (...)Nesses contratos houve uma perda no cuidado de
debruçar sobre o projeto de cada quarteirão específico”.
Do ponto de vista projetual, as propostas elaboradas por esse contrato de Vias
de Pedestres estavam de acordo com as diretrizes que a Gerência de Projetos Urbanos
Especiais havia passado para as empresas. Até então, os projetos deste contrato estavam
sendo feitos sem compatibilização com um projeto concreto do BRT -ambos os projetos
aconteciam independente e paralelamente. “O maior problema aconteceu quando chegou
o projeto do BRT e foi necessária a adequação de acordo com o que havia sido
estabelecido para a implantação do BRT -com as estações, os raios de curvatura das ruas
e as faixas exclusivas”, relatou o entrevistado.
3.5.1.2 Requalificação dos Corredores Viários
Este contrato foi mais complexo que o de Vias de Pedestres, já que era muito
extenso e dependia de definições da BHTrans acerca dos projetos do BRT. “Havia várias
indefinições que faziam com que o contrato não andasse”, afirmou um entrevistado. O
projeto final ficou relativamente simples, com poucas alterações na geometria dos
quarteirões e no sentido de circulação das vias da área central.
Esse foi o projeto em que a grande escala exerceu maior impacto e o prazo
era mais curto. “No final a BHTrans fez o projeto do BRT um pouco independente, a
GPUR passou os projetos para outra empresa (B&L) para adequar o que já tinha sido feito
para a realidade do BRT. Essa empresa refez o desenho de alguns quarteirões para se
adaptar ao MOVE. Então daqueles 150 quarteirões, apenas 10, 12 do BRT foram de fato
feitos”.
54
Figura 11 - Mapa do MOVE - Rotas passando pelo centro de Belo Horizonte. Fonte: Portal BHTrans.
3.6 Considerações sobre o período de 2009 - Atual
O fato de os setores da prefeitura responsáveis pelo planejamento urbano
atuarem principalmente como gestores e analistas dos projetos para o hipercentro traz
algumas consequências para a versão final das propostas. Há diversas normas a serem
seguidas, colocadas por diversos órgãos e o papel das gerências técnicas é encaminhar
cada projeto complementar para o setor responsável da prefeitura para ser aprovado.
As normas são geralmente restritivas (há por exemplo um determinado tipo
de mobiliário urbano, de vegetação e de iluminação a ser utilizado). O entrevistado
conclui: “Ficam bastante engessados os projetos e até por isso eles ficam todos com essa
mesma cara, diferentemente de outras áreas urbanas do Brasil e do mundo onde se dá
liberdade para o arquiteto e urbanista que fazem projetos urbanos um pouco mais
ousados.”
Percebe-se ainda uma grande quantidade de projetos realizados que não foram
executados. Caso sejam retomadas posteriormente, será necessário realizar uma revisão
e adaptação para a situação corrente no centro à época de execução.
Um ponto de destaque nesse período foi o aumento no número de
investimentos públicos e também privados em Belo Horizonte devido à Copa do Mundo
55
em 2014 na cidade. Este mega evento abriu precedentes para a ampliação e consolidação
de um modelo de gestão urbana empresarial e neoliberal, caracterizado pela absorção de
grande volume de verbas públicas e atração de capitais privados (incluindo capital
estrangeiro), visando à inserção competitiva no mercado global.
É possível notar uma mudança no direcionamento das obras de requalificação
em Belo Horizonte. Durante muitos anos a região central recebeu um grande número de
intervenções urbanísticas - especialmente no período do Programa Centro Vivo. Nesta
última fase de estudo o que se percebe é a maior abrangência das intervenções, que
passam a ser propostas em outras regiões da cidade. Um dos entrevistados ressaltou o
aumento de volume de trabalho dos técnicos da Secretaria Municipal Adjunta de
Planejamento Urbano em trabalhos ligados à Operação Urbana Consorciada Antônio
Carlos Leste-Oeste e ao Parque do Onça, na região Nordeste de Belo Horizonte, por
exemplo.
A seguir será apresentada uma tabela com as obras realizadas no Hipercentro
de Belo Horizonte entre os anos de 2003 e 2013.
Quadro 6 - Obras urbanísticas realizadas no hipercentro de Belo Horizonte
- 2003 a 2013
56
4. CONTEXTUALIZAÇÃO: IMPACTOS DAS INTERVENÇÕES NO
HIPERCENTRO DE BELO HORIZONTE
Nesta seção serão discutidos alguns dos impactos das intervenções
urbanísticas no hipercentro de Belo Horizonte, com destaque para a ocorrência ou não da
gentrificação e novas maneiras de apropriação do espaço público.
4.1 Gentrificação no Hipercentro
Para auxiliar na investigação acerca da ocorrência ou não de gentrificação no
hipercentro de Belo Horizonte, funcionários e ex-funcionários da Secretaria Municipal
Adjunta de Planejamento Urbano foram indagados a esse respeito. Abaixo estão trechos
das respostas dadas.
“Uma preocupação quando se faz qualquer melhoria no âmbito urbanístico
é ver a dinâmica do valor da terra, que se altera. A cidade é muito sensível a essas ações
e a gente talvez não tivesse maturidade para desenvolver instrumentos para mitigar os
aspectos negativos atrelados a essas melhorias. Hoje a secretaria já é bem mais
preparada para encarar esse assunto. Hoje nas operações urbanas consorciadas existem
pautas para manter e estimular a diversidade de usos nos espaços, existem discursos
para mitigar os processos de gentrificação e de ampliar o acesso para a maior parte das
pessoas. (...) Não deve haver medo de fazer melhorias. O importante é que tente
implementar ações que produzam acesso a uma quantidade maior de pessoas. Isso é um
desafio, não só para BH, mas em todo o mundo”.
“Sabe o que eu acho? Que falta estudar. Falta a gente entender o que é
gentrificação e se o que na Europa e Estados Unidos eles chamam de gentrificação está
de fato acontecendo aqui no centro de Belo Horizonte. É necessário verificar se a
expulsão dos moradores e trabalhadores de uma área é em função do aumento do preço
do solo e essa área passa a ser ocupada pela classe média– e pelo o que eu vi, não está
em curso nesse caso do hipercentro de Belo Horizonte.
O que se pode observar é a retomada dos espaços públicos do centro pela
classe média, que não utilizava essa área: duelo de Mc’s,e Praia da Estação, por
exemplo. Será que o preço da cerveja é o mesmo? Será que isso pode ser chamado de
algum tipo de gentrificação ou não?”
57
“Vou dar minha opinião: não há nada que prove que a gentrificação está de
fato acontecendo no centro de Belo Horizonte. Não acompanhei os indicadores de perfil
dos moradores, o aquecimento ou não do mercado imobiliário. Eu falo pelo que eu vi
mesmo. Na GPUR [Gerência de Projetos Urbanos Especiais da prefeitura] teve pouca
ou quase nenhuma preocupação em se evitar a gentrificação nos projetos. Você tem um
modelo de desenho urbano que visa à qualidade da calçada, do ambiente urbano. O que
se levantava mais era o tipo de uso do espaço público e se elaborava um desenho para
esse espaço. Isso gera um risco de ter a gentrificação pelo fato de o tema ter sido
ignorado no momento da elaboração dos projetos.
Tem o Diamond Mall [shopping center de alto padrão próximo à Praça Raul
Soares], que na minha opinião tem um potencial gentrificador muito maior que os
projetos de requalificação em volta do Mercado e da Praça Raul Soares. É necessário
saber relativizar isso. Dos projetos que eu acompanhei, como nenhum virou obra não
tem como falar de uma gentrificação. Então se esse tipo de projeto causa gentrificação
ele vai causar mesmo, porque ninguém estudou meios para evitar ou amenizar os efeitos
gentrificadores”.
Pode-se destacar nas respostas dos entrevistados o fato de nenhum deles
acreditar que a gentrificação esteja de fato acontecendo no centro de Belo Horizonte.
Além disso eles apontaram que em meados de 2005 (período em que trabalharam na
Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento Urbano) não se discutia amplamente sobre
a gentrificação, seus efeitos e formas de evitá-la. O foco maior estava no desenho urbano
e nos potenciais benefícios que as intervenções poderiam trazer para a população. No
entanto, mesmo sem esse cuidado específico em mitigar possíveis causadores de
gentrificação, ao que indica, ela não ocorre na área.
Ao que parece, o hipercentro de Belo Horizonte não tem se mostrado alvo de
interesse do mercado imobiliário de alto padrão. Alguns dos motivos já foram abordados
anteriormente, como a Lei n° 9.326/2007, da “Flexibilização de Imóveis” que abre
maiores condições para empreendimentos de habitação de interesse social em detrimento
à habitação para classes de renda mais alta –podemos citar como exemplos os bairros
Buritis e Belvedere, na capital mineira.
Além disso, o centro de Belo Horizonte já é tradicionalmente uma área
destinada a comércio e serviços –principalmente de caráter mais popular- e moradia para
classes de renda baixa e média, com destaque para idosos e estudantes.
58
Em entrevistas com comerciantes locais o que se nota é que muitos deles
optaram por deixar seus boxes no interior dos shoppings populares para abrir um novo
comércio (seja na forma de pequenas lojas ou de stands em saguões de prédios, por
exemplo). De acordo com um dos entrevistados um motivo para essa troca de localização
é a possibilidade de venda dos produtos por valores mais altos que nos shoppings
populares, resultando em maior margem de lucro para o comerciante.
Quanto à alterações no tipo de comércio, o que foi relatado nas conversas
realizadas é que não existe um padrão muito bem definido de comércio que esteja em
êxito ou declínio no hipercentro. As mudanças parecem ocorrer devido às próprias
dinâmicas do comércio: loja de roupa que dá lugar à loja de calçado, onde posteriormente
passa a funcionar um salão de beleza. O que permanece é o público alvo: pessoas de renda
mais baixa e média. Foi apontado ainda que existem locais que atraem mais pedestres que
outros, o que colabora para o sucesso do comércio nessas áreas (foi citado o trecho da
Av. Santos Dumont em direção à Av. Afonso Pena como mais movimentado; já o sentido
que leva à Praça da Estação foi marcado como menos movimentado).
A respeito das mudanças efetivas causadas pelas intervenções de
requalificação e reabilitação do centro, um dos entrevistados aponta que o impacto maior
se deu com a redução de vagas de estacionamento na rua (consequência do alargamento
dos passeios e de propostas de contenção do número de automóveis na área). Segundo
ele, alguns tipos de comércio que dependem de transporte para a carga e descarga dos
produtos (como distribuidoras e lojas de artigos de grande porte, como mesas, cadeiras e
máquinas, por exemplo) apresentaram sinais de queda nas vendas.
Nota-se que existe ainda um estigma de local da violência, degradação e
aglomeração –ideia que busca ser superada com os programas de requalificação e de
segurança pública, como o Olho Vivo, que colocou câmeras em diversos locais - mas que
não mostrou gerar condições suficientemente atrativas para grandes volumes de
investimento do capital privado. O centro é ainda local de passagem e destino de milhares
de pessoas que vêm de municípios periféricos, seja por motivo de trabalho ou de busca
de serviços.
Outro ponto a ser considerado é a escala das intervenções. Os projetos do
programa Centro Vivo eram de pequena escala: requalificação de quarteirões pontuais,
recuperação de praças, melhorias no mobiliário urbano e na condição das calçadas. Esse
tipo de intervenção se mostra mais efetiva no intuito de aumentar a qualidade urbanística
59
para os pedestres e indica não apresentar um impacto significativo na alteração dos tipos
de uso e ocupação do entorno.
Nos últimos anos, os projetos passaram a ter uma escala maior: obras de
infraestrutura viária, como passarelas, expansão de faixas de trânsito e implantação do
sistema de transporte BRT. Entretanto, obras com esse caráter viário não têm se mostrado
como motor de processos de gentrificação no hipercentro de Belo Horizonte.
Contudo cabe aqui levantar a implementação das Operações Urbanas
Consorciadas, que estão em curso na cidade e incluem trechos em áreas centrais,
destacando-se a Operação Urbana Consorciada Antônio Carlos/Pedro I - Leste-Oeste
(OUC- ACLO).
A Operação Urbana Consorciada (OUC) é um instituto jurídico-urbanístico
previsto no Estatuto da Cidade (Lei n° 10.257/2001) que associa o princípio da função
social da propriedade (a propriedade como um direito social) a princípios de ordem
econômica e financeira. A OUC consiste na parceria entre os setores público e privado
por meio de um consórcio com o objetivo de realizar transformações urbanísticas.
No caso da OUC-ACLO, o objetivo “é promover um melhor aproveitamento
da infraestrutura instalada no local, especialmente o sistema de transporte, associado à
reestruturação urbana no entorno imediato do eixo. Esta reestruturação deverá
incrementar a qualidade ambiental e urbanística da área”. (Belo Horizonte, 2016). Um
dos pontos chave dessa Operação Urbana é a proposta de adensamento do entorno de
importantes eixos viários da cidade -incluindo a Avenida Andradas, que passa pelo centro
da cidade, a promoção da vitalidade das atividades econômicas e melhoria dos espaços
públicos.
Abaixo segue um quadro com propostas da OUC-ACLO para o centro da
cidade e região do Barro Preto. Ressalta-se aqui o item referente à “intervenções de
requalificação do espaço público de vias, com ênfase nas calçadas e condições para
pedestres (...)”, incluindo a rua dos Caetés, rua dos Tupinambás, avenida dos Andradas e
Praça Rio Branco, no hipercentro de Belo Horizonte.
Quadro 7 - Parecer de licenciamento Urbanístico da OUC-ACLO.
60
Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte, 2016.
Não é objeto deste trabalho a avaliação da aplicação das Operações Urbanas
Consorciadas, mas se faz necessário salientar seu propósito em gerar melhorias sociais e
realizar uma gestão democrática da cidade -uma vez que prevê a participação popular dos
proprietários, moradores e usuários (Goldenfum, 2011).
No entanto, é necessário destacar a força que a iniciativa privada
normalmente exerce nesses empreendimentos e os desafios impostos à efetivação desses
princípios, frente à busca pelo aumento da margem de lucro pelas empresas envolvidas.
Com relação ao enobrecimento da área e expulsão da população local
original, uma das entrevistadas levantou um ponto interessante: segundo ela “se houvesse
a realização de intervenções no formato de uma Operação Urbana Consorciada na área
seria possível uma modificação mais radical no uso e ocupação da área”.
Retomando a hipótese de realização de uma Operação Urbana Consorciada
no momento das intervenções do Programa Centro Vivo, uma entrevistada acredita que
haveria uma abertura maior para o capital privado, o que poderia gerar consequências no
61
sentido de alterar o caráter mais “popular” observado no centro de Belo Horizonte ao
longo das últimas décadas. Isso se deve ao fato de que empresas poderiam optar por usos
voltados para segmentos de renda mais alta, buscando o retorno financeiro visado.
Contudo, esta é uma hipótese e não há clareza de que ela poderia se tornar real.
4.2 Intervenções e a apropriação dos espaços pela população
Ao longo dos anos, alguns movimentos organizados por grupos da sociedade
no hipercentro de Belo Horizonte vêm ganhando força, especialmente como uma forma
de manifestação à políticas adotadas na cidade. Estes movimentos estão diretamente
relacionados à medidas neoliberais, como as já tratadas neste trabalho.
A inclinação para modelos neoliberais em Belo Horizonte está intimamente
ligada à mudança de um governo municipal democrático popular de esquerda para um
governo liberal-conservador. Em 1993, a eleição de Patrus Ananias pelo PT apontou uma
gestão no sentido de melhorias sociais e colaborou para a eleição posterior de Fernando
Pimentel, do mesmo partido. Ainda na gestão de Pimentel já foi possível observar um
grau de afastamento do ideário social e esse distanciamento se consolidou com o governo
Márcio Lacerda (PSB). Medidas antidemocráticas e antissociais, alinhadas com o
imaginário neoliberal, como o enfraquecimento do Orçamento Participativo (programa
que possibilitou a requalificação da Praça Raul Soares, por exemplo), a redução do poder
dos Conselhos Deliberativos, a limitação do uso de espaços públicos ao ar livre pela
população e a difusão de parcerias público-privadas em diversas áreas, como saúde,
educação e saneamento. (Filho; Scotti; Motta, 2014).
Um icônico exemplo das manifestações sociais e culturais é o Duelo de
MC’s, realizado às sextas feiras à noite, embaixo do viaduto Santa Tereza, desde 2007. O
evento atrai pessoas do movimento hip hop, músicos amadores e profissionais, além de
espectadores de classe de renda baixa e média. Mesmo enfrentando certas dificuldades
em conseguir o alvará de autorização com a prefeitura, o duelo de MC’s se tornou uma
festa reconhecida em Belo Horizonte.
Outro evento realizado no hipercentro que merece destaque é a “Praia da
Estação”, que acontece desde 2009 na Praça da Estação. O local já era usado como palco
para grandes eventos, especialmente após as obras de requalificação, finalizadas em 2007.
No entanto, em 2009 o prefeito Márcio Lacerda decretou a proibição da utilização da
62
praça para eventos -que só aconteceriam com a abertura de licitação e sob o pagamento
de taxas previamente fixadas. (Jayme; Trevisan, 2012)
Como reação à essa medida foi criada a “Praia da Estação - a praça é nossa”,
que foi divulgada na internet da seguinte maneira:
DECRETO Nº 13.798 DE 09 DE DEZEMBRO DE 2009 do nosso digníssimo
prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, proíbe que aconteça qualquer tipo de evento
na Praça da Estação. A pergunta permanece: a quem interessa que os espaços públicos
sejam apenas pontos de passagem e consumo? Se nos é negado o direito de permanecer
em qualquer espaço público da cidade, ocuparemos esses espaços de maneira divertida,
lúdica e aparentemente despretensiosa. Traga sua roupa de banho (bermuda, calção,
biquíni, maiô, cueca), bóias, cadeiras, toalhas de praia, guarda-sol, cangas, farofa e a
vitrolinha… Traga tambores e viola! Traga comida para um banquete coletivo! Onde?
Praça da Estação - Hipercentro de Belo Horizonte. Quando? Sábado, 16/01/2010,
09h30min. Quanto? De graça! (Trecho retirado do artigo “Intervenções urbanas, usos e
ocupações de espaços na região central de Belo Horizonte, produzido por Juliana Jayme
e Eveline Trevisan).
Além de eventos em espaços abertos e públicos como os mencionados acima,
a área central também recebe outros eventos culturais, como os que acontecem no Espaço
Cento e Quatro. O prédio fundado em 1908 - antiga sede da Companhia Industrial de
Bello Horizonte e posteriormente de fábricas têxteis- foi reformado e voltou a ser
utilizado pelo público geral em 2009. Exposições, shows e espetáculos -normalmente
articulados com outros eventos em andamento no centro da cidade- contribuem para a
promoção o dinamismo da área.
Nota-se um movimento em direção a uma maior atração de pessoas no centro,
por diferentes eventos que acontecem no local. É interessante observar ainda que os
frequentadores são diversos, incluindo tanto pessoas de renda baixa como um público de
renda média - que antes não usava a área central com tanta frequência.
Uma ex-técnica da Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento Urbano
(SMAPU) e acadêmica, em entrevista, pontuou que “(...)Existem espaços socialmente
homogêneos e espaços socialmente heterogêneos. Quando a gente vê hoje uma parcela
da população que não usava dos espaços públicos na área central para lazer fazendo uso
deles, aos meus olhos é algo positivo. Os diferentes convivendo.”
63
No entanto, a entrevistada faz um alerta com relação a esses novos usuários
dos espaços do centro da cidade. De acordo com ela, se o público de renda média passar
a inibir o uso desses espaços pelas pessoas que o utilizavam originalmente -população de
renda mais baixa- pode ser que aconteça um tipo de gentrificação que isso e traga
impactos negativos para a área.
64
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho buscou-se fazer um levantamento das intervenções que vêm
sendo realizadas no hipercentro desde a década de 1980 até os dias atuais, analisando o
contexto em que foram implantadas e suas alterações.
Nota-se que muitas das obras realizadas pela prefeitura tinham motivações
viárias- desde o PACE 80, até as obras do Boulevard Arrudas e a implementação do BRT.
Contudo, ideiais de pedestrianização e qualidade do percurso e segurança dos pedestres
foram ganhando força ao longo dos anos e sendo incorporados às obras implantadas no
hipercentro.
Foi possível perceber a influência dos debates em pauta em cada momento
nas medidas incorporadas aos planos para o hipercentro -destacando-se a discussão sobre
valorização do pedestre, medidas para renovar a imagem do centro e a importância da
promoção do marketing nessa área.
Além dos debates, o momento político, o cenário nacional e internacional
também são relevantes nas decisões de planejamento. Exemplo disso foi a Copa do
Mundo de 2014 em Belo Horizonte, que captou grande volume de investimentos e abriu
espaço para investimentos em grande escala- diferentemente do que acontecia em
períodos anteriores. Não podemos deixar de falar do papel fundamental da orientação e
decisões políticas da gestão municipal na implementação de planos urbanísticos.
Com relação à gentrificação, verifica-se o grau de complexidade por trás
deste conceito e a necessidade de considerar as peculiaridades e o contexto do local em
que se deseja estudá-lo. No caso do hipercentro de Belo Horizonte, ao que tudo indica,
esse fenômeno não está se concretizando.
Por fim, como relatou um funcionário da Secretaria Municipal Adjunta de
Planejamento Urbano de Belo Horizonte, “(...)não é só a intervenção física que traz o
sucesso ou não de uma obra, mas também sua apropriação e utilização pelo público. Não
adianta ter apenas um desenho adequado, precisa ter apropriação”. Neste ponto destaca-
se a emergência de movimentos culturais e sociais no hipercentro ao longo dos últimos
anos, que têm colaborado no sentido da promoção da vitalidade e de um espaço mais
heterogêneo, juntamente com medidas para garantir a diversidade de usos e o reforço da
área no âmbito da mobilidade urbana.
65
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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66
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JAYME, Juliana Gonzaga; TREVISAN, Eveline. Intervenções urbanas, usos e
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Lei N° 9.326, de 24 de janeiro de 2007. Dispõe sobre normas para adaptação e
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outras providências.
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67
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Região Metropolitana de Belo Horizonte. Disponível em:
<http://gestaocompartilhada.pbh.gov.br/estrutura-territorial/regiao-metropolitana-de-
belo-horizonte> Acesso em: 13 out. 2016.
68
ANEXO I
DIRETRIZES DO PLANO DE REABILITAÇÃO DO HIPERCENTRO DE
BELO HORIZONTE
Diretrizes gerais:
Dinamizar o uso e ocupação do solo, melhorar o ambiente urbano e valorizar as
áreas públicas do Hipercentro;
Promover reestruturação da sua paisagem urbana através da valorização do
patrimônio cultural urbano e da requalificação dos espaços públicos, adotando,
por exemplo, parâmetros urbanísticos especiais que estimulem a reocupação de
imóveis vazios e a renovação de áreas ambientalmente degradadas;
Ordenar o tráfego de veículos, privilegiando a eficiência do transporte coletivo,
a segurança e conforto dos pedestres e gerar melhoria na qualidade ambiental
pela redução dos níveis de ruído e de poluição atmosférica;
Disciplinar o uso de logradouros públicos, garantindo a diversidade de formas
de apropriação e promovendo melhoria da condição ambiental dos espaços
públicos;
Dinamizar os usos e as atividades urbanas, gerando melhores condições para o
desenvolvimento econômico, estimulando o uso residencial e outros usos
estratégicos que promovam a diversificação das atividades e públicos e a
atração de novos investimentos para a área.
Promover formas de gestão que priorizem a integração de políticas públicas
setoriais, a participação comunitária e construção de parcerias público-privadas,
buscando a cooperação na formulação, implementação e manutenção das
melhorias propostas.
Diretrizes Setoriais:
Gestão e Legislação Urbanística
Aplicar direito de preempção nos quarteirões lindeiros à Rua dos Guaicurus e
outros em avançada situação de deterioração física e ambiental;
69
Indicar áreas para operações urbanas consorciadas e definir para as mesmas a
obrigatoriedade de inclusão do uso residencial, salvo nos casos onde o mesmo
for comprovadamente inadequado;
Criar uma instância técnica, na forma de um escritório ou comitê, para apoiar a
implementação das ações do plano e atender necessidades do público do
Hipercentro;
Institucionalizar o Programa Centro Vivo;
Criação de fórum permanente coordenado pelo Prefeito, com representantes dos
setores público e privado e da sociedade civil – devido ao reconhecimento da
existência de várias instâncias de discussão e articulação de ações do município.
Habitação
Tratar política fiscal com o objetivo de favorecer obras de adaptação para o uso
residencial e recuperação de bens tombados;
Adotar política habitacional específica para a área visando facilitar a obtenção
de recursos junto a agentes financeiros públicos e privados;
Considerar, nos programas habitacionais, a possibilidade de atendimento de
todas as faixas de renda, viabilizando a política pública para a habitação social
para famílias de renda de 0 a 3 Salários Mínimos;
Atenção especial à Rua Guaicurus, Av. Santos Dumont e adjacências, no que se
refere à melhoria das condições de segurança e iluminação.
Apropriação dos Espaços Públicos
Requalificar espaços públicos ambientalmente degradados, buscando a
permanência de formas tradicionais de apropriação e a introdução de novas
atividades que promovam a diversidade socioeconômica e cultural;
Priorizar a área do entorno dos Mercados, da Rodoviária, ao longo dos eixos da
Rua Guaicurus e Avenida Olegário Maciel, no viaduto Santa Teresa e em seu
entorno para projetos de requalificação;
Fortalecer o caráter das áreas de concentração de equipamentos de cultura e
lazer com a realização de eventos na Praça da Estação, Boulevard Arrudas,
Avenida Afonso Pena e Rua da Bahia, Praça Raul Soares, Parque Municipal,
70
Minas Centro e Mercados, sem prejuízos para os moradores das áreas
residenciais vizinhas;
Integrar os programas de assistência e inclusão social da Prefeitura aos projetos
de requalificação dos espaços públicos, de forma a evitar a exclusão de parcelas
vulneráveis da população através de impactos negativos de gentrificação;
Criar novos espaços para atividades culturais;
Otimizar a capacidade polarizadora do Parque Municipal, “democratizando e
atraindo novos usuários através da promoção de eventos (...) no horário do
almoço”;
Criar mecanismos de ocupação de imóveis ociosos ou subutilizados, em parceria
com agentes culturais “(...) que possibilitem e incentivem a ação permanente
desses agentes no Hipercentro”.
Desenvolvimento Econômico
Reforçar o caráter do Hipercentro como referência regional e metropolitana,
através do incentivo às atividades culturais e ao comércio especializado (gemas,
jóias, moda, mercados, etc).
Fortalecer o Programa Municipal de Economia Popular e Solidária, integrando-o
aos shoppings populares e feiras do Hipercentro como ação complementar de
compensação à retirada dos camelôs das ruas;
Fazer um plano de marketing para reverter a imagem negativa do centro;
Incentivar a formação de uma cadeia produtiva voltada para educação, cultura,
turismo e lazer no Hipercentro, fortalecendo as ligações dos espaços públicos,
equipamentos e estabelecimentos que já cumprem ou possam vir a abrigar essas
funções;
Priorizar a volta das instituições públicas municipais para o Hipercentro,
mantendo diálogo com as administrações estadual e federal para que façam o
mesmo. (Contra-ponto: cidade administrativa);
71
Melhorar as condições ambientais, de segurança, de circulação de pedestres, de
acesso ao transporte coletivo, como forma de incentivo ao comércio e à
prestação de serviços.
Acessibilidade e Mobilidade
Implantar intervenções viárias necessárias ao desvio do tráfego de passagem do
Hipercentro;
Priorizar o transporte coletivo em relação ao transporte individual;
Criar faixas, pistas e vias exclusivas para o transporte coletivo, realizando, se
necessário, intervenções viárias;
Criar alternativas de transporte diferenciado para públicos específicos, sem abrir
mão da qualidade do transporte existente;
Priorizar e garantir a segurança e o conforto dos pedestres;
Implantar ciclovias e rotas de caminhamento de pedestres e criar políticas que
incentivem o uso de meios não motorizados;
Ampliar, sempre que possível, os passeios nas ruas com grande movimentação
de pedestre, permitindo apenas trânsito local (EX: triângulo da av Amazonas,
Santos Dumont e Paraná).
Propostas
Gestão
Assegurar caráter democrático e atuação de diferentes agentes, com a criação de
“uma instância gestora com relativa independência administrativa, com recursos
suficientes para promover as articulações necessárias à implementação de ações
intersetoriais e com corpo técnico capacitado para o suporte devido”;
Instituição do Conselho Consultivo do Hipercentro, com representantes do
Poder Público e da Sociedade Civil, para acompanhar a implementação das
diretrizes, propostas e projetos.
Legislação
Ampliação do perímetro da Zona Hipercentral – ZHIP, estabelecida na Lei
7.166/96 (com novo limite semelhante ao limite de atuação deste Plano);
72
Possibilidade de transferir potencial construtivo da Zona Hipercentral para a
Zona Central de Belo Horizonte, como forma de estimular novos
empreendimentos na ZHIP, que hoje conta com um grande número de imóveis
tombados;
Antecipação da isenção anual do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU)
para imóveis tombados , quando houver aprovação de projeto de recuperação do
imóvel (para muitos imóveis a isenção antecipada é fundamental para a
promoção de sua recuperação).
Acessibilidade e Mobilidade Urbana
Intervenções voltadas ao desvio do tráfego de passagem
Complementação do Complexo da Lagoinha
Figura 12 – Proposta de Complementação do complexo da Lagoinha. Fonte: proposta SMURBE/BHTRANS, 2006
73
Intervenções para desvio do tráfego de passagem
Figura 13 – Proposta de intervenções para desvio do tráfego de passagem. Fonte: Praxis, 2007.
Reordenação da Circulação Viária no Hipercentro
Figura 14 – Proposta de reordenação da Circulação Viária no Hipercentro. Fonte: Praxis, 2007.
74
Intervenções voltadas à priorização da circulação de pedestres
Figura 15 – Proposta de intervenções voltadas à priorização da circulação de pedestres. Fonte: Praxis, 2007.
Vias preferenciais para transporte coletivo – Faixas exclusivas
Figura 16 – Proposta de vias preferenciais para transporte coletivo: Faixas exclusivas. Fonte: Praxis, 2007.
75
Vias preferenciais para pedestres e transporte coletivo
Figura 17 – Proposta de vias preferenciais para pedestres e transporte coletivo. Fonte: Praxis, 2007.
Intervenções voltadas ao incentivo aos meios de transporte não motorizados –
Circuitos cicloviários
Figura 18 – Proposta de circuitos cicloviários. Fonte: Praxis, 2007
76
ANEXO II
FOTOS TIRADAS DURANTE A VISITA À CAMPO, REALIZADA NO DIA 20
DE SETEMBRO DE 2016.
19 Edificação usada como estacionamento - uso recorrente no hipercentro.
20 Estacionamento e loja de artigos populares.
77
21 Faixa elevada para pedestres e incrementos paisagísticos no entorno da Praça da Estação.
22 Reforma da antiga Escola de Engenharia da UFMG, localizado à rua Guaicurus, para sediar departamento da
Justiça do Trabalho de Belo Horizonte.
78
23 Apropriação de espaço público na Praça Sete - jogo de dama.
24 Apropriação de espaço público na Praça Sete - música ao vivo.
79
25 Edificação com térreo ocupado por lojas de artigos populares e parte superior do edifício com salas para
aluguel.
26 Edifício Chiquito Lopes, localizado à rua São Paulo, que passou por reforma (empresário Teodomiro Diniz).
81
.
29 Edifícios desocupados e em baixo estado de conservação.
30 Shopping Popular, localizado à rua Caetés.
82
31 Imóvel reformado com anúncio de aluguel. Rua Caetés.
32 Edifícios de uso comercial e serviços - dentista (uso recorrente no hipercentro).
83
33 Grande concentração de pessoas em pontos de ônibus. Lojas de artigo popular e lanchonetes próximas aos
pontos de ônibus.
34 Visão geral da paisagem urbana no hipercentro – edifícios altos, de padrão baixo/médio.