universidade federal de minas gerais instituto de ciências ... · aos meus pais, sérgio e sônia,...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Instituto de Ciências Biológicas
Programa de Pós-Graduação em Parasitologia
Rodolfo Silva Moreira Cezar
ASPECTOS PARASITOLÓGICOS, CLÍNICOS E HEMATOLÓGICOS DE OVINOS
DA RAÇA SANTA INÊS EXPERIMENTALMENTE INFECTADOS POR
Fasciola hepatica
Belo Horizonte
2016
Rodolfo Silva Moreira Cezar
ASPECTOS PARASITOLÓGICOS, CLÍNICOS E HEMATOLÓGICOS DE OVINOS
DA RAÇA SANTA INÊS EXPERIMENTALMENTE INFECTADOS POR
Fasciola hepatica
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Parasitologia do Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, como parte dos requisitos necessários para obtenção do grau de Mestre em Parasitologia. Orientador: Prof. Dr. Walter dos Santos Lima Co-orientadora: Profa. Dra. Cíntia Aparecida de Jesus Pereira Área de concentração: Helmintologia
Belo Horizonte
2016
Orientador
Professor Walter dos Santos Lima
Laboratório de Helmintologia Veterinária, Departamento de
Parasitologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte - MG.
Co-Orientadora
Professora Cíntia Aparecida de Jesus Pereira
Laboratório de Helmintologia Veterinária, Departamento de
Parasitologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte - MG.
Belo Horizonte
2016
Trabalho realizado no Laboratório de Helmintologia
Veterinária e Laboratório de Imunologia e Genômica de Parasito
do Departamento de Parasitologia, Instituto de Ciências Biológicas,
Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte
2016
Instituições que contribuíram para a realização deste trabalho: Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico- CNPq Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de Minas- Gerais-FAPEMIG
Dedico a minha querida família.
Meus agradecimentos ao Programa de Pós-Graduação em
Parasitologia, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade
Federal de Minas Gerais
Agradecimentos especiais:
Ao professor Walter dos Santos Lima, por abrir as portas e me acolher no
Laboratório de Helmintologia Veterinária, por ensinar as dificuldades e a seriedade
de se fazer pesquisa, por confiar e acreditar na minha pessoa, pelas oportunidades
de crescimento e amadurecimento profissional. Por ser um exemplo de profissional,
amante da Parasitologia e verdadeiro mestre, dedicado, dinâmico, atencioso,
conselheiro, entusiasmado pelo saber e com foco nos resultados. Professor que nos
estimula a realizar reflexões diárias sobre as nossas atitudes e aonde queremos
chegar. ―Não quero formar mão de obra, quero que aprenda a pensar‖, ―A última
impressão é a aquela que fica, enquanto muitos dizem que é a primeira‖, ― De onde
não se espera, nada vem mesmo‖, ―Amigo é aquele que conhece os nossos defeitos
e ainda assim, continua ao nosso lado‖. Pessoa que se tornou amiga e, juntamente
com sua família, me recebeu de braços abertos com muito carinho. Meu eterno
muito obrigado pela preciosa orientação recebida durante todo o curso.
À professora Cíntia Aparecida de Jesus Pereira, pela co-orientação durante a
realização desse trabalho. Pessoa metódica, observadora, paciente, cuidadosa,
disponível, interessada e atenciosa. Muito obrigado.
Ao Professor Marcos Pezzi Guimarães pelas conversas, conselhos, ensinamentos e
os incentivos constantes.
Ao Hudson Andrade dos Santos, por estar sempre pronto a ensinar com prazer,
ajudar com muita atenção e paciência, mesmo com tanto trabalho a fazer. Obrigado
pelo apoio e amizade.
Agradeço aos Professores Ricardo Fujiwara e Daniella Bartholomeu do Laboratório
de Genômica e Imunologia de Parasitos pela estrutura disponibilizada. A técnica
Michele e as alunas Denise e Luciana por auxiliarem na utilização do Coulter. Muito
obrigado pelo ajuda, carinho e atenção.
Ao Professor Ricardo Nascimento, por permitir acompanhá-lo nas aulas práticas de
Parasitologia Veterinária e pelos conhecimentos transmitidos.
Agradeço à Sumara e Sibele pela ajuda, carinho, atenção e o apoio durante esse
período de estudo. Pessoas com o coração enorme e que nos tranquilizam com
tanta gentileza.
AGRADECIMENTOS
Tenho muito a agradecer:
A Deus, primeiramente, por ser meu companheiro, por me guiar, por iluminar os
meus passos e os meus caminhos, por me proteger e me guardar.
Aos meus pais, Sérgio e Sônia, por todo o amor, carinho, amizade, compreensão,
paciência e apoio, serei eternamente grato aos seus esforços. ―Na vida as coisas
não acontecem por uma questão de sorte, mas uma questão de escolha e o destino
não é uma coisa que se espera, mas que se busca e conquista‖.
Aos meus irmãos Vinícius e Frederico, pela amizade, pelas conversas, por sempre
estarem ao meu lado e por compartilharem os momentos de alegrias e tristezas.
Aos meus familiares, Tio Antoninho e Tia Ruth, Tia Cristina, Tia Leninha, que
sempre torceram por mim.
Aos amigos de Ouro Branco, Eduardo, Serginho, Renato, Luís Otávio, Mariana,
Priscila e minha querida dindinha Tatiane. Obrigado a todos pela sincera amizade,
coisa rara de se ter.
Aos amigos da Veterinária Magno, Fernando, Mateus e Gabriel pela torcida, por
compreenderem a fase que estou vivendo. Todos temos objetivos e metas a serem
atingidas. Seguimos caminhos profissionais distintos, no entanto a nossa amizade
continua crescendo.
Aos colegas de laboratório Aytube, Vinícius, Wanderley, Lara, Jordana e Olívia, por
compartilharem as dificuldades e as alegrias de se fazer pesquisa.
À turma do mestrado ―Roliça‖, constituída de pessoas e experiências tão diferentes,
que, com suas histórias, tornaram as aulas de Parasitologia mais prazerosas e
interessantes, além de proporcionar boas risadas, festas, churrascos e o bem maior,
o conhecimento compartilhado. Especialmente agradeço a amizade do Bruno
Warley, Daniela Nunes, Mayra, Denise, Ana, Renata, Vanessa, Samira e Vinícius.
A Ivana Rocha, pessoa que tive oportunidade de conhecer através da professora
Hélida Andrade, e que trouxe muita alegria para minha vida, além de ser inteligente,
dedicada e determinada, é um exemplo. Obrigado Hélida, por este presente.
Ao Marcos Malacco, pessoa entusiasmada, profissional sério e dedicado.
Ao Sr. Neri e Afonso pela amizade e o bate papo descontraído.
À Dona Aparecida, por sempre ter uma palavra amiga, por fazer comidas deliciosas
e lembrar de mim sempre. Obrigado Dona Cida.
Ao Waldisio, pelas viagens seguras e tranquilas, além da boa vontade para ajudar
no que for necessário. Muito obrigado.
Aos funcionários da fazenda Josué e João, por colaborarem com boa vontade e
alegria durante o estudo realizado. Iaiá pelas comidas maravilhosas e o carinho.
Aos animais, por me proporcionarem paz, alegria e conhecimento. Principalmente
pela compreensão, mesmo quando não são compreendidos os seus sentimentos.
Obrigado por vocês existirem e serem um dos maiores motivos pelo qual sou
apaixonado pela Medicina Veterinária.
Obrigado a todos que torceram e colaboraram de forma direta e indireta.
Forte abraço!
“Sou perfeito, alegre e forte. Tenho amor e muita sorte, sou feliz e inteligente, vivo positivamente,
tenho paz, sou um sucesso, tenho tudo que peço. Acredito firmemente no poder da minha mente,
porque é Deus no subconsciente.” (Padre Lauro Trevisan)
RESUMO
Fasciola hepatica é um parasito presente nos ductos biliares de diversos mamíferos
e causa grave morbidade e mortalidade, especialmente em rebanhos de ovinos. A
fasciolose está em expansão em todas as regiões do Brasil e, em Minas Gerais, têm
ocorrido relatos de infecção natural em hospedeiros definitivos, como bovinos,
bubalinos, capivaras, e em hospedeiros intermediários, como a Lymnaea (=
Pseudosuccinea) columella. A grande importância econômica da fasciolose está
associada à perda de peso, queda na produção de leite, de carne, de lã e devido a
abortos e gastos com tratamento nos rebanhos de ruminantes. Entretanto, os sinais
clínicos presentes no desenvolvimento da doença nos animais não são
reconhecidos com facilidade pelo técnico ou criador envolvido no sistema de
produção. No Brasil, nos últimos anos, a ovinocultura ampliou-se de norte a sul do
país, sendo a raça Santa Inês predominante nestes sistemas de criação. Por este
motivo, o objetivo desse estudo foi avaliar a evolução da fasciolose em ovinos da
raça Santa Inês experimentalmente infectados, observando os parâmetros
parasitológicos, clínicos e hematológicos. Utilizou-se 14 ovelhas da raça Santa Inês
com dezoito meses de idade, peso médio de 24,5 kg e divididas aleatoriamente em
dois grupos. Grupo 1 com nove animais, inoculados individualmente por via oral com
150 metacercárias de F. hepatica; Grupo 2 com cinco animais controle. Foram
realizadas contagens de ovos por grama (OPG) de fezes e a avaliação da dinâmica
de eliminação de ovos nas fezes a partir dos 55 dias após infecção (dpi), utilizando a
técnica de quatro tamises, exames clínicos e hemograma aos 0, 15, 30, 45, 60, 90,
120, 150, 180, 210, 240, 270, 300, 330, 360, 390 (dpi). Nesse estudo ficou
comprovado que o período pré-patente variou entre 60 e 62 dpi, além disso, ovos
foram eliminados nas fezes durante todo o período estudado. No exame clínico, os
ovinos infectados revelaram prostração, edema submandibular, sensibilidade
hepática dolorosa, taquicardia, taquipnéia, mucosa ocular hipocrômica, perda de
escore corporal e peso. No hemograma foi verificada anemia normocítica,
normocrômica e regenerativa, com leucocitose por neutrofilia e eosinofilia, com
posterior linfocitose. Os achados macroscópicos dos fígados dos ovinos que
morreram revelaram aumento de volume, lóbulos com bordas abauladas, pontos
hemorrágicos distribuídos difusamente pelo parênquima, focos de deposição de
fibrina na superfície do parênquima, focos de necrose com coloração avermelhada
mais escura e presença de parasitos adultos nos ductos biliares.
ABSTRACT
Fasciola hepatica is a parasite found in the bile duct of many mammal
species, causing severe morbidity and death, especially in sheep. Fasciolosis is
expanding throughout Brazil, and in Minas Gerais State it has been reported natural
infection in definitive hosts such as cattle, buffalos and capybaras, as well as in
Lymnaea (=Pseudosuccinea) columella, one of the intermediate hosts. The
economic importance of fasciolosis is associated with weight loss, dropping milk,
meat and wool production, abortion and treatment costs. However, the clinical signs
of this disease are not easily recognized by the owner or technician involved in the
animal production system. In the past few years, sheep farming has been expanding
from north to south in Brazil and ―Santa Inês‖ became the most reared breed.
Therefore, this study aimed to evaluate the evolution of fasciolosis in Santa Inês
sheep experimentally infected with F. hepatica through parasitological, hematological
and clinical parameters. 14 female lambs of Santa Inês breed aged 8 months were
randomly divided into two groups: Group 1 with 9 animals individually orally
inoculated with 150 metacercariaes of F. hepatica; and Group 2 with 5 non-infected
animals. At 0, 15, 30, 45, 60, 90, 120, 150, 180, 210, 240, 270, 300, 330, 360, 390
days after infection (dai) four-sieves-technique was used to count eggs per gram of
feces (EPG) in order to evaluate the dynamics of eggs eliminations in feces, and also
clinical exams and hemogram. The results showed a prepatent period ranging from
60 to 62 dai, with egg elimination during the period observed. Clinical evaluation of
the infected sheep revealed prostration, submandibular oedema, liver sensitivity,
tachycardia, tachypnea, pale conjunctiva, loss of body condition and weight. The
hemogram demonstrated normocytic normochromic and regenerative anemia,
besides leukocytosis with neutrophilia and eosinophilia, with subsequent
lymphocytosis. Macroscopic findings of the livers of two biopsied sheep revealed
increased volume, lobes with curved edges, bleeding points distributed diffusely
throughout the parenchyma, fibrin deposition in the surface of the parenchyma, dark
red-colored necrotic foci, and adult worms in the bile ducts.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Cartão de análise para o método FAMACHA©..............................48
FIGURA 2 Contador hematológico automático (Modelo Bio – 2900 Vet –Bioeasy)..........................................................................................50
FIGURA 3 Fígado do ovino n° 5 infectado com 150 metacercárias de Fasciola hepatica após 300 dias de infecção.................................73
FIGURA 4 Fígado do ovino n° 5 infectado com 150 metacercárias de Fasciola hepatica após 300 dias de infecção.................................73
FIGURA 5 Fígado do ovino n° 5 infectado com 150 metacercárias de Fasciola hepatica após 300 dias de infecção.................................73
FIGURA 6 Fígado do ovino n° 4 infectado com 150 metacercárias de Fasciola hepatica após 330 dias de infecção.................................74
FIGURA 7 Fígado do ovino n° 4 infectado com 150 metacercárias de Fasciola hepatica após 330 dias de infecção.................................74
FIGURA 8 Fígado do ovino n° 4 infectado com 150 metacercárias de Fasciola hepatica após 330 dias de infecção.................................74
FIGURA 9 Fígado do ovino n° 4 infectado com 150 metacercárias de Fasciola hepatica após 330 dias de infecção.................................74
FIGURA 10 Fígado do ovino n° 4 infectado com 150 metacercárias de Fasciola hepatica após 330 dias de infecção.................................75
FIGURA 11 Fígado do ovino n° 4 infectado com 150 metacercárias de Fasciola hepatica após 330 dias de infecção.................................75
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Avaliação do escore da condição corporal dos ovinos...................................................................................................16
TABELA 2 Graus do método Famacha®, colorações das mucosas e hematócritos dos ovinos...........................................................................................47
TABELA 3 Número de ovos por grama de fezes (OPG) dos ovinos da raça Santa Inês infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepática............53
TABELA 4 Parâmetro clínico de ovinos da raça Santa Inês controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica.....................................54
TABELA 5 Parâmetro clínico de ovinos da raça Santa Inês controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica.....................................55
TABELA 6 Índice Famacha© de ovinos da raça Santa Inês controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica.....................................58
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 Frequência cardíaca dos ovinos da raça Santa Inês controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica....................56
GRÁFICO 2 Frequência respiratória dos ovinos da raça Santa Inês controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica....................57
GRÁFICO 3 Escore da condição corporal dos ovinos da raça Santa Inês controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica.................59
GRÁFICO 4 Desenvolvimento ponderal dos ovinos da raça Santa Inês controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica....................60
GRÁFICO 5 Valores médios de hematócrito dos ovinos da raça Santa Inês controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica.................................................................................61
GRÁFICO 6 Valores médios das contagens totais de hemácias dos ovinos da raça Santa Inês controle e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica.................................................................................62
GRÁFICO 7 Valores médios da hemoglobina dos ovinos da raça Santa Inês controle e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica...63
GRÁFICO 8 Valores do volume corpuscular médio dos ovinos da raça Santa Inês controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica.................................................................................64
GRÁFICO 9 Valores de concentração média de hemoglobina dos ovinos da raça Santa Inês controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica.................................................................................65
GRÁFICO 10 Valores da concentração de hemoglobina corpuscular média dos ovinos da raça Santa Inês controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica....................................................66
GRÁFICO 11 Valores médios das plaquetas dos ovinos da raça Santa Inês controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica.................................................................................67
GRÁFICO 12 Valores médios absolutos das contagens totais dos leucócitos dos ovinos da raça Santa Inês controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica....................................................68
GRÁFICO 13 Valores médios absolutos de neutrófilos dos ovinos da raça Santa Inês controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica................................................................................69
GRÁFICO 14 Valores médios absolutos de linfócitos dos ovinos da raça Santa Inês controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica.................................................................................70
GRÁFICO 15 Valores absolutos médio de eosinófilos dos ovinos da raça Santa Inês controle e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica.................................................................................71
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS
Bpm Batimento por Minuto
CC Condição Corporal
CHCM Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média
cm Centímetros
dL Decilitros
DPI Dias após a infecção
FC Frequência Cardíaca
FR Frequência Respiratória
fl Fenolitro
g Grama
EDTA Ácido etilenodiamino tetra-acético
Hb Hemoglobina
HCM Hemoglobina Corpuscular Média
Ht Hematócrito
HE Hematoxilina-Eosina
He Hemácias
ICB Instituto de Ciências Biológicas
IgG Imunoglobulina G
Kg Quilograma
Le Leucócito
MEC Matriz extracelular
Mc Metacercárias
mg Miligrama
mL Mililitro
mm Milímetro
nm Nanômetro
OV Ovino
OPG Ovos por grama de fezes
PPP Período pré-patente
pg Picograma
PL Plaquetas
Rpm Rotações por minuto
Rpm Respiração por minuto
L Microlitro
Μm Micrômetro
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UV Ultravioleta
VCM Volume Corpuscular Médio
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1
2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................... 2 2.1 Aspectos gerais da ovinocultura ....................................................................... 2 2.2 Histórico de Fasciola hepatica ........................................................................... 3 2.3 Taxonomia ........................................................................................................... 3 2.4 Ciclo biológico ..................................................................................................... 3 2.5 Epidemiologia ...................................................................................................... 5
2.5.1 No Brasil ............................................................................................................ 5 2.5.2 Minas Gerais ..................................................................................................... 7 2.6 Patogenia da fasciolose ovina ........................................................................... 8 2.7 Sinais clínicos nos ovinos ................................................................................ 10 2.8 Diagnóstico ........................................................................................................ 14 2.8.1 Diagnóstico parasitológico ........................................................................... 14 2.8.2 Diagnóstico clínico ......................................................................................... 15 2.8.2.1 Famacha ....................................................................................................... 16 2.8.2.2 Escore de condição corporal ......................................................................... 17 2.8.2.3 Ganho de peso .............................................................................................. 17 2.8.2.4 Influência da fasciolose no perfil hematológico de ovinos ............................. 18 2.8.2.5 Leucograma .................................................................................................. 20
3 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 22
4 OBJETIVOS ........................................................................................................... 23 4.1 Objetivos gerais................................................................................................. 23 4.2 Objetivos específicos ........................................................................................ 23
5 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 24 5.1 Obtenção de ovos e miracídios........................................................................ 24 5.2 Origem e infecção experimental de Lymnaea columella por F. hepatica ..... 24 5.3 Obtenção das metacercárias de F. hepatica ................................................... 25 5.4 Infecção experimental dos ovinos da Raça Santa Inês por F. hepatica ....... 26 5.5 Cinética da eliminação de ovos por grama de fezes F. hepatica .................. 26 5.6 Avaliação clínica................................................................................................ 27 5.7 Avaliação hematológica .................................................................................... 31
5.7.1 Coleta de sangue dos ovinos ........................................................................ 31 5.7.2 Contagem diferencial dos leucócitos ........................................................... 32 5.8 Avaliação macroscópica do fígado parasitado por F. hepatica ................... 33 5.9 Análise estatística ............................................................................................. 33
6 RESULTADOS ....................................................................................................... 34 6.1 Avaliação parasitológica .................................................................................. 34 6.1.1 Dinâmica da eliminação de ovos de Fasciola hepatica .............................. 34 6.2 Parâmetros Clínicos .......................................................................................... 35 6.2.1 Frequência cardíaca ....................................................................................... 37 6.2.2 Frequência respiratória .................................................................................. 38 6.2.3 Índice FAMACHA© ......................................................................................... 39 6.2.4 Escore da condição corporal ........................................................................ 40 6.2.5 Desenvolvimento ponderal ............................................................................ 41
6.3 Avaliação hematológica .................................................................................... 43
6.3.1 Hematócrito .................................................................................................... 43 6.3.2 Contagem total de hemácias ......................................................................... 44 6.3.3 Hemoglobina ................................................................................................... 44 6.3.4 Volume Corpuscular Médio ........................................................................... 46 6.3.5 Concentração Média de Hemoglobina .......................................................... 47 6.3.6 Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média .................................... 48 6.3.7 Plaquetas ........................................................................................................ 49 6.4 Leucograma ....................................................................................................... 50
6.4.1 Contagens totais dos leucócitos .................................................................. 50 6.5 Contagem diferencial ........................................................................................ 51
6.5.1 Neutrófilos ...................................................................................................... 51 6.5.2 Linfócitos ........................................................................................................ 52 6.5.3 Eosinófilos ...................................................................................................... 53 6.5.4 Monócitos ....................................................................................................... 54 6.6 Necropsia ........................................................................................................... 54 6.6.1 Avaliação macroscópica ................................................................................ 54 6.7 Taxa de recuperação de F. hepatica ................................................................ 58
7 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 59 7.1 Dinâmica de eliminação de ovos de F. hepatica em ovinos da raça Santa Inês ........................................................................................................................... 59 7.2 Exame clínico .................................................................................................... 60 7.3 Famacha ............................................................................................................. 62 7.4 Escore de condição corporal ........................................................................... 62 7.5 Desenvolvimento ponderal ............................................................................... 63 7.6 Perfil hematólogico ........................................................................................... 65
7.6.1 Volume corpuscular médio ........................................................................... 67 7.6.2 Concentração média de hemoglobina .......................................................... 68 7.6.3 Concentração de hemoglobina corpuscular média .................................... 68 7.6.4 Plaquetas ........................................................................................................ 69 7.6.5 Leucograma .................................................................................................... 69 7.7 Avaliação macroscópica dos fígados .............................................................. 71
8 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 73
9 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 75
ANEXO A1 – Ficha de avaliação clínica.................................................................75
1
1 INTRODUÇÃO
Fasciola hepatica (Linnaeus, 1758) é um trematódeo digenético da família
Fasciolidae que parasita os ductos biliares de diversos mamíferos, incluindo o
homem. É agente etiológico da fasciolose e apresenta distribuição cosmopolita, com
grande importância para a medicina veterinária, principalmente nas criações de
ruminantes domésticos, devido às perdas econômicas ocasionadas, pelas
condenações de fígados em frigoríficos, atraso no crescimento, perda de peso,
diminuição na produção de leite, de carne, de lã, devido à baixa fertilidade, a
abortos, e a gastos com o tratamento do rebanho e morte dos animais (Queiroz et al.
2002, Lima et al. 2009, Dracz & Lima 2014).
No Brasil, a fasciolose está em expansão e é encontrada em todas as
regiões. Em Minas Gerais, os registros do parasito são apresentados de forma
isolada, sendo que alguns municípios do sul do estado são considerados área
enzoótica para a fasciolose bovina. Ultimamente, têm sido relatados novos casos em
municípios antes considerados indenes, indicando novas áreas de transmissão e
disseminação da fasciolose (Lima et al. 2009, Dracz & Lima 2014, Dracz 2016 ).
As infecções por F. hepatica dependem da presença de hospedeiros
definitivos para dispersão dos ovos e de moluscos do gênero Lymnaea sp.,
hospedeiros intermediários que apresentam grande capacidade de colonização de
novos ambientes quando introduzidas naturalmente ou artificialmente. Na medicina
humana, a fasciolose normalmente acompanha a distribuição da doença nos
animais, ocorrendo principalmente em áreas enzoóticas. A transmissão desse
helminto está diretamente relacionada à ingestão de água, vegetação e verduras
contaminadas com a forma infectante do parasito, as metacercárias.
A fasciolose pode manifestar-se sob as formas aguda, subclínica e crônica. A
intensidade dos sinais clínicos varia de acordo com a espécie animal, raça, idade,
estado nutricional, estado imunológico, infecções concomitantes, carga parasitária e
fase de desenvolvimento do parasito. Entretanto, existem outros fatores que podem
contribuir na patogênese dos animais, como condições climáticas, tipo de pastagem
associado ao manejo e taxa de lotação (Mattos et al. 1997, Lima et al. 2009).
Devido às diversas interações que ocorre com o hospedeiro definitivo a
infecção por F. hepatica pode causar mudanças na composição do sangue como:
2
nas contagens dos leucócitos totais e diferenciais, hemácias, concentrações das
proteínas plasmáticas e hepáticas, imunoglobulinas, citocinas e dos minerais. O
objetivo desse estudo foi avaliar o comportamento da fasciolose em ovinos da raça
Santa Inês experimentalmente infectados e observar os parâmetros parasitológicos,
hematológicos e clínicos.
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Aspectos gerais da ovinocultura
Os ovinos estão entre as primeiras espécies de animais domesticadas pelo
homem por serem fonte de alimento, de lã, de leite, de tração e de proteção (couro),
que eram de extrema importância para a sobrevivência humana (Bruna 2015). A
ovinocultura, seja para fins econômicos ou de subsistência, é praticada no mundo
inteiro e chega a, aproximadamente, um bilhão de animais, sendo a espécie com
maior número de raças catalogadas, segundo dados da FAO (2013). A capacidade
de adaptação a diferentes climas, relevos, vegetações, resultado do processo de
domesticação e posterior seleção, é um dos fatores que possibilitaram esse sucesso
de expansão a nível mundial (Bruna 2015).
Inicialmente, a ovinocultura no Brasil foi uma atividade econômica praticada
no Sul do país e posteriormente, implementada e praticada como forma de
subsistência nas regiões Norte e Nordeste do país. Porém, nos últimos anos, vários
criadores e pecuaristas em todas as regiões brasileiras começaram a utilizar essa
atividade como alternativa econômica viável e sustentável na diversificação da
produção. Os investimentos que começaram a ocorrer na ovinocultura justificam-se
pela boa receptividade que a carne de cordeiro tem tido em segmentos da alta
gastronomia, além de ser fonte proteica para populações de baixa renda,
principalmente nas regiões nordeste do Brasil e norte de Minas Gerais. No Brasil
estima-se que o rebanho ovino seja da ordem de 18.410.551 milhões de animais,
distribuídos em todo o território nacional e com maior concentração nas regiões
Nordeste (11.149.336), Sul (4.877.671), Centro-oeste (1.027.552), Sudeste
(700.336) e Norte (655.656), com características distintas em termos de raça e
3
sistema de criação (IBGE 2015). Minas Gerais possui 225.893 mil animais, sendo
que ovinos da raça Santa Inês, oriunda do nordeste do Brasil, e seus cruzamentos
predominam na maioria das criações no estado. Uma das limitações na exploração
econômica da ovinocultura em todo o mundo são as helmintoses, gastrointestinais e
hepática (Lima et al. 2009), destacando a fasciolose, assunto deste trabalho.
2.2 Histórico de Fasciola hepatica
Segundo Resende (1979), tem-se conhecimento da F. hepatica desde o
século IX, com o relato da ―doença do fígado de ovinos, no 1º Tratado de Saúde
Animal do Mundo Árabe‖.
Segundo Andrews (1999), Jean de Brie (1379) publicou um tratado realizado
para o Rei da França, Charles V, sobre gestão e produção de lã em ovinos, quando
mencionou a presença de doença hepática nos animais denominada, na época, de
―doença do apodrecimento do fígado‖, atualmente reconhecida como ―Black
Disease‖. Ainda na mesma revisão, Andrews (1999) relatou que Francisco Redi
encontrou parasitos no fígado de um ovino em 1668, época em que demostrou a
ocorrência de oviposição e realizou a primeira descrição morfológica da forma
adulta.
Frank Nicholls (1755), por sua vez, também observou a "podridão do fígado"
em bovinos, relatando ainda que os ductos biliares estavam bloqueados por ―uma
parede de pedra‖ em volta dos helmintos, como reconhecido nos textos atuais pelo
fenômeno de calcificação. Este mesmo autor também descreve que a confirmação
de Lymnaea truncatula como hospedeiro intermediário de F. hepatica ocorreu
simultaneamente na Inglaterra por Thomas (1882) e na Alemanha por Leuckart
(1882). Segundo o mesmo autor, o desenvolvimento de F. hepatica no hospedeiro
definitivo foi descrito em 1914 por Dimitry Sinitsin em coelhos.
2.3 Taxonomia
Segundo Yamaguti (1961), a espécie Fasciola hepatica pertence ao Reino
Animalia, Filo Platyhelminthes, Classe Trematoda (Rudolphi, 1808), Sub-Classe
Digenea (Van Beneden, 1858), Família Fasciolidae (Railliet, 1895), Sub-Família
4
Fasciolinae (Hassal, 1898), Gênero Fasciola (Linnaeus, 1758), Espécie Fasciola
hepatica (Linnaeus, 1758).
2.4 Ciclo biológico
As formas adultas do parasito são encontradas nos ductos biliares e eliminam
ovos não embrionados nas fezes dos hospedeiros definitivos. No ambiente, o ovo
em contato com água, forma-se no seu interior a larva denominada miracídio, em um
período de oito a 14 dias, dependendo dos fatores ambientais, como a temperatura,
a luminosidade e a oxigenação (Ueta 1980). O miracídio eclode, se locomove
ativamente com o auxílio das placas ciliadas, até encontrar o hospedeiro
intermediário, os moluscos limneídeos, como os do gênero Lymnaea. O miracídio
penetra nas partes moles do molusco, transforma-se em esporocisto, contendo no
seu interior células germinativas que originam outra forma evolutiva, as rédias. As
rédias apresentam abertura bucal, tubo digestivo primitivo, poro de nascimento e
células germinativas que originam as cercárias. Dependendo das condições
ambientais, poderá ocorrer segunda geração de rédias. As cercárias, quando
formadas, saem de dentro da rédia pelo poro de nascimento, podendo alcançar o
meio externo migrando pelo colar do manto. No ambiente aquático, as cercárias
movimentam-se com ajuda de sua cauda até encontrar substrato para fixar-se. Após
a fixação, a cercária, com as secreções das glândulas cistogênicas, transforma em
metacercária, forma infectante para os hospedeiros definitivos. O período da
penetração do miracídio no molusco até a eliminação das cercárias varia entre 50 a
60 dias. Os hospedeiros definitivos se infectam ao ingerirem vegetação ou água
contendo as metacercárias. Após a ingestão, as metacercárias dessencistam-se no
trato gastrointestinal e os parasitos jovens atravessam a parede do intestino
delgado, alcançam a cavidade peritoneal e migram até atingirem o fígado. Após
atravessar a cápsula hepática, os parasitos imaturos migram pelo parênquima
hepático, onde se alimentam de tecidos, restos celulares e sangue. A partir de 45
dias atingem os ductos biliares, alcançando a maturidade. Os ovos começam a ser
eliminados juntamente com as fezes em torno de 60-70 dias (Silva et al. 1994;
Andrews 1999).
5
2.5 Epidemiologia
2.5.1 No Brasil
Na atividade pecuária brasileira, a expansão de F. hepatica ocorre de várias
maneiras. Entretanto, alguns aspectos merecem atenção, como fatores ambientais,
clima da região, índice pluviométrico, temperatura, tipo de relevo, tipo de vegetação
e pastagens, e fatores econômicos como, a comercialização (exportação e
importação) de animais sem fiscalização sanitária adequada, assim como o
desconhecimento da fasciolose por técnicos e pecuaristas (Honer 1979, Serra-Freire
et al. 1999, Lima et al. 2009).
No Brasil, diversos estudos têm sido realizados para avaliar a prevalência de F.
hepatica em ruminantes (Silva et al. 1980, Ueno et al. 1982, Serra-Freire et al. 1995,
Luz et al. 1992, Caldas et al. 1995, Faria et al. 2005, Lima et al. 2009, Dracz et al
2014, 2016). O primeiro relato sobre F. hepatica foi feito por Lutz (1921), que
encontrou o parasito em fígados de bovinos no município de Três Rios, estado do
Rio de Janeiro. A partir de então, os estudos realizados, foram baseados
principalmente na ocorrência e/ou prevalência da fasciolose em bovinos abatidos em
frigoríficos.
Pêcego (1925) realizou um dos primeiros trabalhos no Brasil sobre a presença
da F. hepatica em fígados de bovinos inspecionados em abatedouros no Rio Grande
do Sul. Revelando uma variação nas taxas anuais de 1,9% a 21% de infecção pelo
parasito, no período de 1918 e 1925. Mais tarde, Oliveira (1932) examinou 158.467
fígados de bovinos provenientes de 16 diferentes municípios do Rio Grande do Sul
abatidos em frigorífico, revelando uma taxa de prevalência de 11,8%.
No Estado do Rio de Janeiro, Silva (1936), ao estudar a prevalência de F.
hepatica em bovinos abatidos em matadouros municipais, verificou, em 866.180
bovinos abatidos no período de 1927 a 1935, taxa de infecção de 0,23% (Coelho
2001, Oliveira 2008).
Ribeiro (1949) avaliou condenações de carcaças e vísceras de bovinos em
matadouros do Brasil Central, nos estados de São Paulo, Mato Grosso, Goiás e
zona do Triângulo Mineiro, relatando incidência de 2,9% e 3,4% para os anos de
1946 e 1947 (Dacal et al. 1988, Coelho 2001, Oliveira 2008).
6
Segundo Honer (1979) o problema da fasciolose no país, nessa época, tinha
dois aspectos importantes: um com relação à dispersão, na região centro-sul, onde a
fasciolose ocorria nas criações intensivas de gado de leite, e a outra na região sul,
onde a doença estava presente em rebanhos de criações extensivas de gado de
corte, sendo a região sul, a área que apresentava maior ocorrência no Brasil. Outra
área que começou a chamar atenção foi a região sudeste, no Vale do Paraíba,
estado de São Paulo.
Ueno et al. (1982), com o objetivo avaliar a importância econômica da
fasciolose no estado do Rio Grande do Sul, utilizaram dados obtidos pelo Serviço de
Inspeção Sanitária dos principais matadouros do estado e observaram que as taxas
anuais de fígados condenados por fasciolose variaram entre 12-13% em bovinos e
7% em ovinos.
Santos et al. (2000), no município de Itajaí, estado do Rio de Janeiro,
realizaram estudo helmintológico em animais explorados por pequenos produtores.
No estudo, observou-se a presença de ovos de F. hepatica em 100% dos animais
amostrados, como eqüinos, ovinos e caprinos, explorados em pastejo consorciado.
Os autores relataram ser este o primeiro caso da fasciolose em eqüinos, ovinos e
caprinos da Região Sudeste do Brasil.
Pile et al. (2001) estudaram, no município de Maricá, Rio de Janeiro, a
presença de ovos de F. hepatica nas fezes de búfalos jovens e adultos utilizando a
técnica de Quatro tamises, detectando índice de ocorrência de 2,5%.
Bernardo et al. (2011) avaliaram as perdas econômicas e a porcentagem de
condenação devido a fasciolose no estado do Espírito Santo. Analisando dados
oriundos de um matadouro localizado no município de Atílio Vivácqua, observaram
que a prevalência de condenação aumentou consideravelmente, sendo de 15,24%
em 2006, 23,93% em 2007, 28,57% em 2008 e de 28,24% em 2009, em um total de
110.956 bovinos abatidos nesse período.
Bennema et al. (2014) utilizaram dados georreferenciados da prevalência de F.
hepatica em bovinos abatidos em 1.032 municípios do país, onde fígados foram
condenados por causa do parasito pelo Serviço de Inspeção Federal (MAPA/SIF).
Nesse estudo, em onze estados observou-se pelo menos um animal infectado:
Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará,
Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Entretanto,
7
a prevalência mais elevada da fasciolose foi observada nos estados do Sul, com
presença de focos da doença ao longo do litoral do Paraná e Santa Catarina e no
Rio Grande do Sul.
2.5.2 Minas Gerais
No estado de Minas Gerais o primeiro bovino infectado por F. hepatica foi
necropsiado por Carvalho (1940) em Viçosa, região da zona da mata.
Dacal (1979) realizou um estudo no sudeste do Brasil, identificando
parasitismo por F. hepatica em rebanhos comerciais e em moluscos do gênero
Lymnaea, sugerindo que a população humana, os rebanhos bovinos, ovinos e
suínos de Minas Gerais, particularmente, aqueles próximos do Vale do Rio Paraíba,
estavam sujeitos à infeção pelo parasito.
Caldas et al. (1995) realizaram um estudo no estado de Minas Gerais de 51
municípios pertencentes a seis mesorregiões, por meio de exames
coproparasitológicos de 3086 bovinos distribuídos em 205 propriedades rurais.
Observaram prevalência de 1,49% de F. hepatica para as seis mesorregiões de
Minas Gerais, sendo as prevalências distribuídas em Belo Horizonte (1,80%), Itabira
(0,6%), Divinópolis (1,3%), Itajubá (9,05%), Poços de Caldas (0,26%) e Varginha
(0,51%).
Faria et al. (2000) realizaram um estudo no município de Itajubá, e também
observaram uma das maiores taxas de prevalência do estado, sendo que, das
propriedades estudadas, 47,9%, apresentavam, pelo menos, um animal parasitado.
Os resultados dos exames corpoparasitológicos dos rebanhos leiteiros do município
apresentaram prevalência entre 9 e 13% dos bovinos positivos para F. hepatica.
Coelho et al. (2003), estudando a dinâmica da infecção no hospedeiro
intermediário também em Itajubá, encontraram 1,92% moluscos Lymnaea columella
infectados naturalmente por diferentes estádios evolutivos de F. hepatica. Coelho et
al. (2003), estudando a variação populacional de L. columella e sua taxa de
infecção natural por F. hepatica no município de Itajubá, observou que a população
de moluscos aumentava de junho a novembro e decrescia de dezembro a fevereiro.
Faria et al. (2005), também em Itajubá, estudaram a flutuação na prevalência
da fasciolose em animais cruzados durante 12 meses e observaram que os animais
8
apresentavam ovos de F. hepatica durante o ano inteiro, e a maior postura de ovos
ocorreu entre os meses de março e outubro.
Lima et al. (2009) demonstraram a prevalência da fasciolose hepática em
bovinos de 16 municípios de Minas Gerais, sendo que as cidades que apresentaram
maiores índices foram de Itajubá (70%), Piranguinho, Cachoeira de Minas (40%),
Careaçu e Brasópolis (30%). Ainda no mesmo trabalho, os autores coletaram
moluscos da espécie Lymnaea columella nos municípios, mas, apenas em Itajubá,
encontrou-se infecção com taxa de infecção 2.96%. Tais achados indicam a
possibilidade do surgimento de novas áreas de transmissão e disseminação da
fasciolose.
Dracz & Lima (2014) avaliaram a ocorrência da F. hepatica em fezes de
bovinos e búfalos provenientes dos municípios de São José da Lapa e Pedro
Leopoldo, observando ocorrência de 18,75% para bovinos e 28,73% para bubalinos.
Esse foi o primeiro trabalho a relatar a infecção natural de búfalos no estado de
Minas Gerais.
2.6 Patogenia da fasciolose ovina
As lesões causadas por F. hepatica em fígados de ovinos vêm sendo
relatadas por vários autores (Sinclair 1962, Boray 1967, Dow et al. 1968, Presidente
1975, Rushton & Murray 1977, Dargie 1987, Chauvin 1995, Bostelmann et al. 2000,
Mekroud et al. 2007, Rojas et al. 2015).
Kendall & Parfitt (1962) observaram, em estudos com ovinos, que os estágios
imaturos migravam através da parede intestinal, rompendo camadas mucosa,
submucosa, muscular e serosa, chegando à cavidade peritoneal em 72 horas. Após
os estágios imaturos entrarem na cavidade abdominal, continuam migrando entre
vários órgãos, chegando ao fígado aproximadamente 90 horas após a infecção.
Após a chegada ao parênquima hepático, os estágios imaturos penetram na
cápsula hepática, dando início ao processo de migração, que ocorre de 15 a 45 dias.
As migrações dos estágios imaturos pelo fígado caracterizam a fase aguda da
doença, com destruição do parênquima hepático, dos vasos sanguíneos, dos ductos
biliares, provocando micro hemorragias e trombose. As lesões hepáticas aumentam
de acordo com o desenvolvimento dos parasitos, da abrasão causada pelos
9
espinhos presentes no tegumento, da ação mecânica das ventosas oral e ventral e
da liberação de proteases, bem como a suscetibilidade do hospedeiro.
Os estágios imaturos e adultos, ao longo do ciclo biológico produzem e
liberam grandes quantidades de moléculas denominadas de produtos de
excreção/secreção (ES). Esses produtos contêm enzimas, que auxiliam na
progressão do parasito pelo intestino e parênquima hepático, na destruição das
proteínas intersticiais da matriz, como a fibronectina, a laminina e o colágeno, na
aquisição de nutrientes por catabolização das proteínas do hospedeiro em peptídeos
absorvíveis, na modulação do sistema imune do hospedeiro por clivagem das
imunoglobulinas, redução da atividade dos linfócitos, ativação da via alternativa dos
macrófagos e indução de apoptose (Dixit et al. 2008, Cancela 2008; Escamilla et al.
2016).
No trajeto percorrido pelos estágios imaturos, já foram encontrados restos
celulares, eritrócitos, linfócitos, neutrófilos, eosinófilos e macrófagos. Os casos de
morte do hospedeiro na fase aguda são devido às consequências das migrações
hepáticas realizadas pelos estágios imaturos, que comprometem a integridade do
fígado e causam alterações na composição do sangue dos hospedeiros,
principalmente nos eritrócitos, nos leucócitos e componentes, como as proteínas
plasmáticas, proteínas hepáticas e minerais (Sinclair 1967, Boray 1967, Rushton &
Murray 1977, Dargie 1987, Chauvin 1995, Behm & Sangster 1999, Haçariz et al.
2009 Rojas et al. 2015.).
Nos ductos biliares, os estágios imaturos começam a ingerir sangue e
transformam-se em parasitos adultos, caracterizando a fase crônica da doença.
Enquanto o parênquima hepático recupera-se do processo inflamatório, o epitélio
dos ductos biliares, hepáticos e áreas adjacentes tornam-se inflamados (Sinclair
1967). Nessa fase, a anemia torna-se acentuada devido à intensa espoliação
sanguínea, sendo um dos fatores relacionados à mortalidade do hospedeiro. Os
parasitos adultos provocam descamação e ulceração dos ductos biliares e, como
resposta à irritação mecânica, o organismo modifica a sua estrutura, tornando a
parede dos ductos espessada e hiperplásica resultando numa colangiohepatite
(Sinclair 1967, Dow et al. 1968, Rushton & Murray 1977, Bostelmann et al. 2000).
Isso ocorre devido à infiltração de fibroblastos, que são diretamente responsáveis
pelos processos de fibrose ocorridos no fígado. A hiperplasia dos ductos biliares
10
acentua-se com o decorrer da infecção, atingindo níveis extremos, levando à
necrose desses ductos e ao quadro de hemorragia (Sinclair 1967; Boray 1967, Dow
et al., 1968, Rushton & Murray 1977, Behm & Sangster 1999). Além disso, a
presença dos parasitos nos ductos biliares pode interferir na secreção e drenagem
da bile para o intestino, podendo provocar alteração da absorção de nutrientes. A
fibrose no fígado torna-se grave em infecções mais intensas ou prolongadas, sendo
mais marcante em bovinos quando comparado aos ovinos (Dawes & Hughes 1964,
Ross et al., 1966, Boray 1969, Rushton & Murray 1977).
Os mecanismos envolvidos nas respostas do hospedeiro e as estratégias de
sobrevivência do parasito mostram-se bastante complexos. A patogênese da
fasciolose pode ser compreendida a partir da ingestão das metacercárias, com
densencistamento no intestino delgado, onde ocorre a primeira interação entre o
parasito e os tecidos do hospedeiro definitivo, sendo diretamente associada à
espécie de hospedeiro, à carga parasitária resultante e às características
bioquímicas do parasito durante os diferentes estágios de seu desenvolvimento
(Sinclair 1967, Boray 1967, Rushton & Murray 1977, Dargie 1987, Behm & Sangster
1999).
2.7 Sinais clínicos nos ovinos
A evolução clínica da fasciolose é muito variável e depende da espécie de
Fasciola envolvida na infecção, da carga parasitária, da resposta imune do
hospedeiro, da fase e da duração da infecção, entre outros (Boray 1967, Hawkins &
Morris 1978, Haroun & Hillyer 1986, Behm & Sangster 1999, Rojo-Vázquez et al.
2012).
Sinclair (1962), com o objetivo de avaliar alguns aspectos da patologia clínica
da fasciolose, infectou oito borregos da raça Cross-Kerry com 10 meses de idade e
dois grupos foram formados. O grupo A recebeu 600 metacercárias em dose única
e o grupo B recebeu quatro doses de 150 metacercárias semanalmente. Os animais
infectados apresentaram redução do apetite aos 7 dpi; aos 30 dpi ficaram
prostrados, houve redução na ruminação e na produção de fezes, além de
11
polidipsia; aos 90 dpi apresentaram mucosas pálidas, fraqueza muscular, cabeça
baixa, pelagem opaca, presença de edema submandibular e ascite.
Boray (1967), para estudar os aspectos clínicos em ovinos, infectou 148
animais da raça Merino por F. hepatica. As doses de metacercárias variaram de 200
a 10.000. Observou-se que os ovinos infectados com 200 metacercárias não
apresentaram sinais clínicos e ganharam 5 kg em 175 dias de estudo. Os ovinos que
receberam 500 metacercárias apresentaram ligeira inapetência nas duas primeiras
semanas após a infecção; no entanto, ganharam 4,68 kg nos primeiros 84 dias de
estudo. Dos 15 ovinos infectados com 500 metacercárias, 10 apresentaram anemia
progressiva aos 105 dpi, morrendo ou sendo sacrificados entre os 168 a 273 dpi. As
infecções com 1.000 a 2.000 metacercárias causaram inapetência temporária, perda
de peso entre os 14 e 28 dpi, seguidos de algum ganho entre os 49 e 56 dpi; porém,
após esse intervalo, os ovinos perderam peso gradualmente. Alguns ovinos entre os
56 e 70 dpi apresentaram constipação, ascite e dor abdominal, além das mucosas
oculares apresentarem-se com coloração amarelo-avermelhada. No entanto, alguns
ovinos melhoravam a condição física entre os 70 e 91 dpi, mas, aos 98 dpi, alguns
ovinos apresentavam mucosa ocular pálida, perda de 7 kg de peso, lã opaca que se
desprendia com facilidade, ascite grave e morte, registrada entre os 112 e 182 dpi.
As infecções com 4.000 a 10.000 metacercárias causaram, em todos os ovinos, aos
14 dpi, inapetência, aos 21 dpi, perda de peso, entre os 35 e 42 dpi, anemia
progressiva. A morte de dois ovinos, um infectado com 4.000 metacercárias e o
outro com 6.000, ocorreu entre 28 e 35 dpi. Aos 56 dpi, dor abdominal e ascite,
mucosa ocular com coloração amarelo-esbranquiçada, fezes ressecadas, além de
alguns perderem em média 9 kg de peso antes de morrer, sendo que a perda
máxima chegou a 18 kg. Os ovinos infectados com 100 a 1.000 metacercárias
morreram de fasciolose crônica, os ovinos que receberam carga parasitária superior
a essa, morreram da forma aguda ou subaguda. Os sinais clínicos observados nos
ovinos infectados com 200 a 700 metacercárias foram atribuídos à anemia
progressiva e crônica observada aos 91 dpi. No entanto, nos ovinos que receberam
1.000 metacercárias ou carga superior, os sinais clínicos foram relacionados à
anemia devido à hemorragia em múltiplas áreas do parênquima hepático, provocada
pela migração dos estágios imaturos, e à intensa reparação do tecido hepático, o
12
que pode ter prolongando a migração no parênquima hepático e,
consequentemente, aumentando ainda mais as lesões no fígado.
Presidente et al. (1975) infectaram seis borregos mestiços (Cheviot X Lester),
de seis meses de idade, com carga parasitária variando de 100, 500 e 2.500
metacercárias de F. hepatica e relataram que apenas um ovino infectado com 2.500
metacercárias apresentou, durante o estudo, distensão abdominal, mucosas pálidas
e perda de peso, morrendo aos 105 dpi.
Sinclair (1975) infectou 16 ovinos da raça Clun com 18 meses de idade, e
observou que os ovinos que receberam 1.000 metacercárias de F. hepatica
apresentaram, aos 42 dpi, inapetência e desconforto abdominal; aos 56 dpi, ocorreu
perda da condição corporal; e, aos 91 dpi, perderam 2kg de peso médio. Sugeriu
que a inapetência poderia estar relacionada à falha na síntese de proteína ou devido
à perda de proteína plasmática, pois ocorreu hipoalbunemia.
Berry & Dargie (1976) observaram que os ovinos da raça Blackface com
fasciolose apresentavam sinais clínicos, como inapetência, perda de peso, fraqueza,
palidez das mucosas e na maioria dos casos edema submandibular.
Dargie (1987) associou a falta de apetite nos ovinos infectados à presença
dos parasitos adultos nos ductos biliares, que aparece apenas durante a primeira
fase da infecção aguda grave.
Na fasciolose, encontram-se duas formas de manifestações clínicas bem
caracterizadas. A fase aguda, onde os sinais clínicos característicos são dor
abdominal, perda de peso, anemia, hepatomegalia e febre, resultado das lesões
causadas pela migração dos helmintos imaturos através do parênquima hepático
(Sinclair 1962, Boray 1967, Rushton & Murray 1977, Rojo-Vázquez et al. 2012). Nos
casos de alta carga parasitária, os estágios imaturos podem causar a morte súbita
na fase aguda por hepatite traumática (Boray 1967). Ainda na fase aguda, Rojo-
Vázquez et al. (2012) sugerem que a observação minuciosa do rebanho de ovinos
permite a identificação de outros sinais clínicos, como mucosas pálidas, letargia e
dispnéia quando em movimento, fígado palpável e ascite. Em alguns casos durante
a fase aguda, podem ser evidenciadas perdas de até 25% de um rebanho quando
ocorre surtos (Behm & Sangster 1999). A fase aguda, associada à morte e hepatite
no rebanho de ovinos, deve-se à ingestão de grande número de metacercárias em
um curto período de tempo, segundo Rojo-Vázquez et al. (2012). Admite-se que o
13
maior grau de infeção dos ovinos deve-se a muitos fatores, como os seus hábitos
alimentares, uma vez que estes se alimentam das porções mais baixas da
vegetação, onde há maior concentração de metacercárias, ao contrário dos bovinos
que ingerem a porção mais alta da vegetação.
A fase crônica, por sua vez, é caracterizada pela presença dos parasitos
adultos nos ductos biliares, onde induzem colangite, hiperplasia do epitélio e
extensas áreas de fibrose (Rushton & Murray 1977, Behm Sangster 1999, Rojo-
Vázquez et al. 2012). Na Europa, a fasciolose crônica é a forma mais comum da
doença. A infecção ocorre especialmente no outono e inverno, quatro a cinco meses
após a ingestão de número baixo/moderado de metacercárias. Nestes estudos,
relataram ainda, que a infecção é mais grave em animais desnutridos ou quando as
exigências nutricionais são elevadas, como no final da gravidez ou início da
lactação, onde ocorre perda progressiva da condição corporal (Rojo-Vázquez et al.
2012). A fasciolose crônica é caracterizada por perda de peso, ascite,
desenvolvimento gradual de edema submandibular, anemia, hipoproteinemia,
hipoalbuminemia, elevada atividade enzimática no fígado, eosinofilia e, em cargas
parasitárias muito altas, a infecção pode levar o animal à morte (Behm & Sangster
1999).
Há também a infecção subclínica, com grande importância devido à
dificuldade de se diagnosticar e por causar várias perdas econômicas (Boray 1967,
Sinclair 1972, Berry & Dargie 1976, Hawkins & Morris 1978, Sykes et al. 1980,
Dargie 1987). No entanto, a caracterização das fases da doença em fasciolose
aguda, subclínica e crônica é pouco aplicável na prática, pois diferentes fatores
afetam a evolução dos sinais clínicos da infecção (Rojo-Vázquez et al. 2012). A
manifestação da fasciolose subclínica ocorre de seis a 10 semanas após a ingestão
das metacercárias; em casos fatais, quando presentes, são evidenciados sinais
clínicos uma a duas semanas antes do óbito, tais como letargia, perda de condição
corporal, mucosas pálidas e fígado palpável (Boray 1967, Sinclair 1975, Berry &
Dargie 1976, Hawkins & Morris 1978, Sykes et al. 1980, Dargie 1987). A doença
subclínica é caracterizada por anemia devido à hemorragia hepática ser mais
prolongada do que na doença aguda (Rojo-Vázquez et al. 2012). O grau de anorexia
tem sido associado com a intensidade da infecção, mas não há nenhuma relação
clara entre a carga parasitária e a redução do apetite (Symons 1985, Dargie 1987).
14
No entanto Ferre et al. (1994) relataram que infecções com apenas 20 parasitos
adultos poderiam causar grande redução na ingestão voluntária de alimentos em
cordeiros. Contudo, Anil e Forbes (1980) e Ferre et al. (1994, 1995) atribuíram que
a redução do apetite poderia estar relacionada à função hepática comprometida,
devido ao aumento das concentrações plasmáticas de ácidos biliares e à redução no
fluxo da bile, que contribuíram para as lesões no fígado e conduziram à redução no
metabolismo de glicolipídico.
O comportamento clínico também varia com o tipo de hospedeiro,
apresentando-se a fasciolose de forma bastante distinta. Em situações a campo, os
animais estão em constante contato com o parasito, resultando em sintomas de fase
aguda e crônica associados. A infecção hepática pode ser altamente patogênica,
levando à severa morbidade e à mortalidade dos hospedeiros (Boray 1967). Os
ovinos mostram-se susceptíveis, não adquirem resistência, a mortalidade ocorre
tanto na fase aguda quanto na crônica e encontra-se associada a altas cargas
parasitárias, ocasionando anemia severa, perda das funções do tecido e, em alguns
casos hemorragia em outros tecidos (Boray 1967).
2.8 Diagnóstico
2.8.1 Diagnóstico parasitológico
Diversos autores, entre eles Dennis et al., (1954), Taylor (1964), Happich &
Boray (1969) e Bendezu & Landa (1973), preconizam o exame coprológico como a
forma mais segura para o diagnóstico da fasciolose crônica. O exame coprológico
determina a presença de ovos de Fasciola spp., o que indica a existência de
trematódeo adulto nos ductos biliares.
Várias técnicas para o diagnóstico coprológico da fasciolose encontram-se
descritas na literatura. Segundo Girão & Ueno (1985), no diagnóstico parasitológico
a detecção de ovos nas fezes pode ser feita utilizando-se a técnica de
processamento pela filtração sequencial em dois tamises, ―Flukefinder‖, ou a técnica
de Quatro Tamises Metálicos modificada. Os autores observaram que a pipeta
usada para retirar o excesso de água na placa de petri, resultante da lavagem do
15
tamis ao recolher o sedimento, reteve aproximadamente 3% dos ovos de F. hepatica
e o tamis de 200 malhas/polegada 4,9%.
Abidu et al. (1996), com objetivo de diagnosticar fasciolose hepática em
ruminantes através de estudo comparativo entre a técnica de Girão & Ueno ou
técnica dos quatro tamises com filtro de Visser e ―flukefinder‖, observaram
convergência nos resultados, mas concluíram que tais técnicas poderiam ser
utilizadas como rotina no diagnóstico da fasciolose.
Faria et al. (2008), com o objetivo de avaliar o grau de concordância entre as
técnicas de quatro tamises e de filtração sequencial utilizando 1076 amostras de
fezes de bovinos, observaram que ambas as técnicas possuem 92,7% sensibilidade
e 94,9% de especificidade, sendo as duas técnicas apropriadas para a detecção de
ovos de F. hepatica. No entanto, a técnica de quatro tamises é de fácil realização,
pois o material necessário para os exames são de fácil obtenção, baixo custo de
confecção e de manutenção dos tamises.
Na escolha da técnica empregada para detecção de ovos de F. hepatica, a
eficiência é fator importante, devido à necessidade de resultados confiáveis.
Entretanto, a operacionalização deve ser levada em consideração, na tentativa de
reduzir os custos, o tempo empregado na elaboração dos exames, sem que isso
afete a qualidade dos resultados (Faria et al. 2008).
2.8.2 Diagnóstico clínico
O diagnóstico clínico deve basear-se em vários fatores e não somente nos
sinais clínicos apresentados pelo animal, pois muitos animais apresentam a doença
de forma subclínica. Os sinais clínicos podem variar, dependendo da carga
parasitária, da fase de desenvolvimento dos parasitos e da espécie de hospedeiro
envolvido. Mesmo assim quando os sinais clínicos são evidenciados, não são sinais
patognomônicos, mas apesar disso, são sinais que levam o veterinário a suspeitar
da fasciolose (Urquart et al. 1996, Faria et al. 2005, Lima et al. 2009).
Segundo Rojo-Vazquez et al. (2012), na forma aguda da fasciolose, os ovinos
podem apresentar mucosas hipocrômicas, atividade de pastejo diminuída, relutantes
em movimentar-se e podem ocorrer mortes súbitas de animais que aparentemente
estavam saudáveis. Na fasciolose subclínica, apesar das lesões no fígado, os ovinos
16
podem não apresentar sinais clínicos evidentes, mas quando observados
geralmente são de baixa condição corporal, baixa qualidade da lã e mucosas
hipocrômicas.
A fasciolose crônica é caracterizada por perda progressiva da condição
corporal, emaciação e edemas em algumas partes do corpo, especialmente na
região do abdômen e submandibular. Segundo Rojo-Vazquez et al. (2012), na
Europa, além das mucosas hipocrômicas, algumas mortes podem ser observadas,
especialmente quando a infecção ocorre em momentos como a prenhez ou a
lactação.
Os sinais clínicos na fase crônica são mais evidentes, os animais podem
apresentar emaciação, anorexia, perda de peso, desidratação, icterícia, edema e/ou
ascite, mucosas hipocrômicas, pelo seco e quebradiço, constipação ou diarreia,
distúrbios digestivos e morte em condições de intenso parasitismo, especialmente
em animais jovens (Sinclair 1962, Boray 1969, Murray & Rushton 1977, Sykes et al.
1980, Ferre et al. (1995), Rojo-Vazquez et al. 2012).
2.8.2.1 Famacha
O nome do método é decorrente das iniciais do seu idealizador, o Dr.
François Malan. Malan & Van Wyk (1992) associaram a incidência do Haemonchus
contortus com o hematócrito e correlacionaram os valores do hematócrito com
diferentes colorações de conjuntiva. Com o auxílio da computação gráfica, a partir
da fotografia da mucosa ocular de vários animais, foram estabelecidos 5 graus de
anemia apresentando correlação de 0,8 e confiabilidade de 95% nas infecções por
H. contortus (Malan et al. 2001). As diferentes colorações de conjuntiva,
correspondentes à classificação de 1 a 5 no grau de anemia, variam entre vermelho,
rosa-vermelho, rosa, rosa-pálido e branco. Olah et. al. (2015), utilizando estes
parâmetros, avaliaram o potencial do método de Famacha© em predizer a existência
de outros parasitos hematófagos, especificamente a F. hepatica em ovinos. Os
resultados obtidos revelaram que o método Famacha© pode ser usado para
identificar os ovinos com elevada carga parasitária. Apesar da forte correlação, o
escore Famacha© e a carga parasitária são variáveis que correlacionaram
moderadamente com hematócrito.
17
2.8.2.2 Escore de condição corporal
Machado et al. (2008) relataram que Jefferies (1961), na Escócia, foi quem
idealizou o método de avaliação da condição corporal para ovinos, baseado na
escala de 0 a 5 pontos, o escore de condição corporal variando de muito magra a
muito gorda. Avaliação da condição corporal é medida subjetiva de avaliar o estado
nutricional dos ruminantes por meio da classificação dos animais em função da
cobertura muscular e da massa de gordura. Portanto, o escore de condição corporal
(ECC) é realizado por meio de avaliação visual e/ou tátil, representando uma
ferramenta importante de manejo. O método é rápido, prático e barato, reflete as
reservas energéticas dos animais e auxilia na indicação de práticas a serem
adotadas no manejo nutricional do rebanho. Há diferentes escalas de escores, as
quais variam no conceito, nos pontos de observação e na espécie animal à qual são
aplicados. As notas são dadas aos animais de acordo com a quantidade de reservas
teciduais, especialmente de gordura e de músculos, em determinadas regiões do
corpo, frequentemente associadas a marcos anatômicos específicos, tais como
determinadas protuberâncias ósseas: costelas, processos espinhosos da coluna
vertebral, processos transversos da coluna vertebral, vazio, ponta do íleo, base da
cauda, sacro e vértebras lombares. Os escores extremos, superior ou inferior, são
indesejáveis em qualquer escala e em qualquer espécie animal avaliado
(Rosemberg 1993).
2.8.2.3 Ganho de peso
Segundo Diiwel et al., ( 1972) apenas 38 parasitos adultos são capazes de
causar perda de peso em ovinos parasitados por F. hepatica. Berry & Dargie (1976)
realizaram estudo com ovinos experimentalmente infectados com F. hepatica,
relatando que o ganho de peso pode ser reduzido significativamente em ovinos
infectados com 45 parasitos adultos. Vários estudos têm mostrado que altas cargas
parasitárias, por exemplo acima de 350 vermes, podem causar grave perda de peso
e morte em ovinos adultos (Sinclair 1962, Boray 1969, Berry & Dargie 1976, Hawkins
& Morris 1978, Hawkins 1984).
18
A perda de peso ocasionada por F. hepatica tem várias etiologias distintas,
por exemplo, o aumento dos níveis de ureia plasmática, indicando que a
desaminação de aminoácidos é aumentada dentro do intestino, coincidindo com o
aumento dos níveis de ureia no sangue, a hipertrofia hepática, em consequência da
migração dos estágios imaturos pelo parênquima hepático, e a ingestão de proteínas
pelos parasitos adultos (Berry & Dargie 1976, Sykes et al. 1980).
A outra hipótese seria devido ao aumento na demanda de proteína pelo
desvio fisiológico de aminoácidos para atender aos requisitos de síntese de
proteínas no fígado, na medula óssea, no tecido linfoide decorrentes das
estimulações antigênicas e na passagem de proteínas do sangue para o intestino,
reduzindo a disponibilidade de aminoácidos para crescimento, ganho de peso, lã e
leite (Darge et al. 1979).
O ganho de peso reduzido em ovinos tem duas causas aparentes: conversão
alimentar reduzida e anorexia (inapetência). Ovinos infectados com menos de 200
helmintos adultos não apresentaram anorexia significativa (Sinclair 1975, Berry &
Dargie 1976, Hawkins & Morris 1978, Dargie et al. 1979, Sykes et al. 1980, Ferre et
al. 1994), indicando que o ganho de peso, reduzido nessa fase da infecção é
comprometida devido à conversão alimentar. Em infecções experimentais com dose
única em ovinos, a anorexia coincidiu com a entrada nos ductos biliares entre 42 e
49 dpi (Berry & Dargie de 1976, Dargie et al. 1979, Sykes et al. 1980, Ferre et al.
1994).
Raadsma et al. (2007) mostraram que durante o período experimental todos
os borregos infectados e controles ganharam peso em consequência da alimentação
ser ad libitum e estarem em fase de crescimento. No entanto, quando comparou o
ganho de peso dos borregos infectados em relação aos controles, verificaram perda
de 1,5 Kg em média dos infectados aos 7 dpi e redução significativa aos 14 dpi,
sendo que o rebanho foi incapaz de recuperar peso compensatório durante o estudo
em relação aos controles.
2.8.2.4 Influência da fasciolose no perfil hematológico de ovinos
Os valores hematológicos são amplamente utilizados como valores de
referência para a espécie. No entanto, animais de diferentes raças, idades, sexo,
19
estado fisiológico (lactação, prenhez, reprodução) e local de criação possuem
necessidades nutricionais, energéticas e metabólicas diversas. Além desses fatores,
as helmintoses também podem influenciar nesses valores (Ferreira Neto et al. 1977).
O hemograma é um exame complementar, que fornece ao profissional várias
informações sobre o estado de saúde dos animais. Por essa técnica pode-se avaliar
a resposta do sistema hematopoiético, diagnosticar doenças hematológicas, avaliar
a evolução clínica provocadas em certas doenças, bem como as deficiências
nutricionais, sendo este o motivo pelo qual o exame de sangue é o mais solicitado
na rotina clínica, devido à sua praticidade e utilidade na prática clínica. No entanto, a
anamnese e o exame clínico são essenciais para a interpretação dos dados
hematológicos (Rosemberg 1993).
O hemograma é dividido em duas partes: o eritrograma, que compreende o
número total de hemácias, hematócrito, concentração de hemoglobina, VCM
(volume corpuscular médio), CHM (concentração de hemoglobina média), CHCM
(concentração de hemoglobina corpuscular média), e o leucograma, que avalia as
contagens de leucócitos totais e diferenciais (Ferreira Neto et al. 1977).
A anemia é definida pela redução do número de hemácia, de hemoglobina ou
do hematócrito abaixo dos valores de referência para a espécie. Constitui-se
raramente como uma doença primária, necessitando conhecer a etiologia da anemia
para que o tratamento racional seja empregado, pois ele não é direcionado somente
para anemia, exceto como medida de emergência (Ferreira Neto et al. 1977).
Jennings et al. (1955) observaram que cada F. hepatica poderia ingerir 0,2 mL
de sangue do hospedeiro durante o período de 24 horas. Um ovino pesando 20 Kg e
infectado com 200 metacercárias de F. hepatica, pode perder 4 mL de sangue por
dia e desenvolver algum tipo de anemia.
Alguns pesquisadores como Sinclair 1962, Boray 1967, Presidente et al.
1975, Berry & Dargie, 1976, estudaram a anemia em modelos experimentais e
verificaram que anemia é um sinal clínico marcante dos animais parasitados por
F. hepatica.
Dargie et al. (1979) atribuíram a anemia na fase inicial à hemorragia intra-
hepática, devido à migração dos estágios imaturos pelo parênquima hepático.
20
Sykes et al. (1980) também encontraram significativa redução dos eritrócitos e
hemoglobina em conjunto com maior MCV durante a fasciolose crônica subclínica
em ovinos, em comparação com ovinos não infectados.
Hawkins (1984) sugeriu que a hemoglobina e o hematócrito podem ser
utilizados na previsão da carga parasitária e para indicar a probabilidade de morte
ou sobrevivência dos ovinos infectados. Ao final do estudo, concluiu que a morte
poderia ocorrer em ovinos infectados quando o hematócrito fosse inferior a 15%.
Em contrapartida, Mekroud et al. (2007), trabalhando com 10 borregas do
cruzamento entre Ouled – Djellal x New Zealand de quatro meses de idade e
infectadas experimentalmente com 150 metacercárias de F. hepatica, relataram que,
durante os 140 dias de estudo, não observaram variação no número de hemácias
dos ovinos infectados em comparação as cinco borregas não infectadas.
Martinez-Pérez et al. (2014) relataram que os ovinos infectados com 200
metacercárias de F. hepatica reduziram o número de hemácias e hematócrito aos 14
dpi e observou que, aos 84 dpi, o número voltou a aumentar.
Raadsma et al. (2007), avaliando a resposta imune de borregos infectados,
relataram que o hematócrito durante os 70 dias de estudo foi inferior ao verificado
nos borregos não infectados, e que, aos 63 dpi, observaram queda significativa no
hematócrito dos borregos infectados, 26%, enquanto os borregos não infectados
apresentavam hematócrito acima de 30%.
2.8.2.5 Leucograma
Tem sido bem documentado que a infecção de ovinos por F. hepatica induz
aumento nas contagens médias dos leucócitos totais na circulação e migração de
grande quantidade leucócitos do sangue para o fígado, especialmente de eosinófilos
(Sinclair 1962, Boray 1967, Dow et al. 1968, Rushton & Murray 1977, Sykes et al.
1980, Chauvin et al. 1995, Zhang et al. 2005, Haçariz et al. 2009, Rojas et al. 2015).
No caso da fasciolose em ovinos, o aumento do número de eosinófilos no
sangue está associado a dois momentos distintos da infecção. O primeiro quando os
estágios imaturos estão migrando no parênquima hepático e o segundo quando os
parasitos começam a entrar nos ductos biliares (Chauvin et. 1995, Raadsma et al.
2007). No entanto, a redução do número de eosinófilos no sangue periférico de
21
ovinos infectados pode ser devido à migração dos eosinófilos para o fígado, em
consequência das lesões causadas pelos estágios imaturos (Ruston & Murray
1977).
Presidente et al. (1975) relataram que os borregos infectados aumentaram o
número médio de eosinófilos a partir dos 14 dpi; também observaram dois picos nos
números médios de eosinófilos, o primeiro aos 28 dpi e o segundo aos 42 dpi.
Sinclair (1975) observou que o número médio de eosinófilos nos ovinos
infectados começou aumentar aos 14 dpi e relatou o primeiro pico entre 56 e 70 dpi.
Ruston & Murray (1977) em estudo com ovinos infectados com 400
metacercárias de F. hepatica mostraram que, nas lesões encontradas nos fígados
dos ovinos, a célula predominante é eosinófilo.
Chauvin et al. (1995), com objetivo de avaliar a resposta celular e humoral em
ovinos originados do cruzamento entre Vendeen x Belle Islois infectados com 150
metacercárias de F. hepatica, observaram que o número de eosinófilos no sangue
periférico começou aumentar aos 14 dpi, apresentando pico aos 21 dpi.
Widjajanti et al. (2002) observaram correlação positiva entre o número de
eosinófilos e o número de parasitos recuperados no fígado.
Zhang et al. (2005) observaram aumento bifásico com o primeiro pico nos
números médios dos eosinófilos em ovinos infectados com 250 metacercárias de
F. hepatica aos 28 dpi e o segundo pico entre 63 e 70 dpi.
Şimşek et al. (2006) demonstraram que a eosinofilia pode sugerir a presença
de infecção provocada por helminto, mas a ausência de eosinofilia não pode excluir
a presença desses parasitos.
Raadsma et al. (2007) relataram aumento bifásico de eosinófilos em borregos
infectados, sendo o primeiro pico aos 28 dpi, seguido de redução aos 42 dpi e
posterior pico aos 63 dpi em relação aos borregos não infectados.
Mekroud et al. (2007) observaram que borregas de raça mestiça (Ouled-
Djellbal x New Zealand) infectados com 150 metacercárias de F. hepatica
apresentaram aumento bifásico no número de eosinófilos, o primeiro aos 35 dpi e o
segundo aos 91dpi.
Rojas et al. (2015) relataram a infiltração leucocitária no fígado de ovinos
infectados com 180 metacercárias de F. hepatica, com predomínio de eosinófilos,
mas também observou-se macrófagos, neutrófilos e linfócitos.
22
3 JUSTIFICATIVA
A fasciolose causada por Fasciola hepatica é uma zoonose, com distribuição
cosmopolita e representa grande importância econômica na criação de ruminantes,
especialmente em ovinos, devido perda de peso, queda na produção de leite, de
carne, de lã e devido a abortos e gastos com tratamento. Os ovinos parasitados não
apresentam sinais patognomônicos de fasciolose, podendo os sinais, serem
confundidos com os de outras doenças, incluindo as infecções subclínicas.
Essa helmintose tem sido descrita em todas as regiões brasileiras e, em
Minas Gerais, têm ocorrido, nos últimos anos, relatos de encontros de hospedeiros
definitivos como, bovinos, bubalinos, capivaras e hospedeiros intermediários, como
a Lymnaea (= Pseudosuccinea) columella infectados por F. hepatica. Em situações a
campo, em áreas enzoóticas, os animais estão constantemente expostos à infecção
e seus estágios evolutivos são encontrados no fígado, podendo levar a grave
morbidade e mortalidade dos hospedeiros.
O desconhecimento da doença pelos técnicos e criadores, além da
dificuldade de diagnóstico tanto parasitológico quanto clínico, são fatores que
contribuem para a expansão do parasito. A ovinocultura apresenta um momento
particular no Brasil, com diversificação de subprodutos, importação de animais e
produção orgânica. A raça de ovinos Santa Inês, originária no nordeste do Brasil,
apresenta características específicas, como a boa adaptação às condições tropicais
e subtropicais, o que a torna importante zootecnicamente. Deve-se salientar que um
dos fatores que interfere na exploração econômica dos ovinos são as helmintoses
gastrintestinais e a fasciolose. No entanto, existem poucos trabalhos sobre o
comportamento dos ovinos da raça Santa Inês infectados com F. hepatica, o que foi
objetivo deste trabalho.
23
4 OBJETIVOS
4.1 Objetivos gerais
Observar aspectos parasitológicos, clínicos e hematológicos em ovinos da
raça Santa Inês experimentalmente infectados por F. hepatica.
4.2 Objetivos específicos
a) Acompanhar a dinâmica da eliminação de ovos por grama de fezes (OPG)
dos ovinos da raça Santa Inês infectados experimentalmente por F. hepatica
na fase aguda e crônica da doença.
b) Avaliar os sinais clínicos, escore de condição corporal, ganho de peso dos
ovinos da raça Santa Inês infectados experimentalmente por F. hepatica na
fase aguda e crônica da doença.
c) Acompanhar os valores hematológicos (hematócrito, hemácia, hemoglobina,
volume corpuscular médio, concentração de hemoglobina média,
concentração de hemoglobina corpuscular média, plaquetas, leucócitos totais
e diferenciais) de ovinos da raça Santa Inês infectados experimentalmente por
F. hepatica na fase aguda e crônica da doença.
24
5 MATERIAL E MÉTODOS
5.1 Obtenção de ovos e miracídios
Os ovos utilizados para obtenção de miracídios foram provenientes de fezes
coletadas de ovinos infectados por F. hepatica. As amostras de fezes foram
acondicionadas em sacos plásticos e transportadas em caixas de isopor contendo
gelo até o LABHELVET-ICB/UFMG para separação dos ovos segundo Girão & Ueno
(1985). As amostras de fezes foram homogeneizadas, 2 g foram pesadas e
adicionadas em béquer com água de torneira, posteriormente com auxílio de bastão
de vidro foram maceradas. Em seguida, a mistura foi passada em conjunto de quatro
tamises sobrepostos na sequência de ordem 100, 180, 200 e 250 malhas/polegadas,
com aberturas de 174, 96, 87 e 65 μm, respectivamente. Os ovos de F. hepatica
retidos no último tamis (250 malhas/polegada) foram recolhidos em copo plástico,
utilizando jato de água no sentido oposto ao da lavagem. Esse conteúdo foi
decantado e o sedimento transferido para placa de Petri. Os ovos foram coletados e
contados em microscópio estereoscópico no aumento de 20 X com auxílio de pipeta
de Pasteur e alocados em placa de Petri contendo água e incubados em estufa a
27ºC. Após o 8º dia, as placas foram examinadas diariamente em microscópio
estereoscópio, para acompanhar o desenvolvimento dos miracídios. Quando os
miracídios estavam completamente formados, as placas foram colocadas sob foco
de luz incandescente de 60 watts a 50 cm distância para induzir a eclosão dos
miracídios, que foram utilizados no protocolo abaixo.
5.2 Origem e infecção experimental de Lymnaea columella por F. hepatica
Foram utilizados Lymnaea columella para as infecções experimentais
provenientes do LABHELVET-ICB/UFMG. Os moluscos são mantidos em cubas
plásticas de tamanho 25x 6x 10 cm contendo 500 mL de água desclorada e cinco
placas de isopor na medida de 4x 4x 1x para postura, cobertas com tela de malha de
2 mm de abertura, alimentados com folhas de alface ―ad libitum” e ração
balanceada, segundo Pelegrino e Katz, (1968), adicionado carbonato de cálcio
(CaC03). A infecção dos moluscos foi realizada utilizando espécimes com tamanho
25
de 4 a 5 mm de concha, colocados individualmente em poços de placas de
poliestireno (FALCON® 3047) contendo 2 mL de água desclorada onde foram
adicionados 3 miracídios com auxílio de pipeta de Pasteur, expostas a foco de luz
incandescente de 60 W a 50 cm distância por 24 horas. Ao final desse período, cada
poço foi inspecionado em microscópio estereoscópico 40X para confirmação da
infecção. Posteriormente os moluscos foram transferidos para cubas plásticas de
criação e mantidos como descrito acima.
5.3 Obtenção das metacercárias de F. hepatica
Aos 50 dias após infecção, os moluscos foram transferidos para placa de petri
forradas com papel celofane contendo água desclorada. Diariamente, as placas
foram examinadas em microscópio estereoscópio no aumento de 40 X para observar
a emergência de cercárias e a formação de metacercárias.
Após 72 horas de formadas as metacercárias, foram retiradas do papel
celofane com auxílio de agulha de insulina e transferidas para placas de Petri.
Amostras com 150 metacercárias foram armazenadas em ágar-ágar gepulvert,
segundo Mendes e Lima (2012). Esse processo constitui resumidamente na
utilização de seringas plásticas de 10 mL, cortadas transversalmente na região do
bico e vedado com tampa plástica de tubo Falcon®. Foram pesadas 4 g de ágar-
ágar gepulvert ©Merck Chemicals, Germany, diluído em 100 mL de água aquecida a
70 °C em Becker. Em seguida a solução foi homogeneizada, aquecida em Agitador
Magnético com Aquecimento CT-103 (CIENTEC) na velocidade de 100 rpm, durante
10 minutos, na temperatura de 50°C, para diluição uniforme. No interior da seringa,
no centro foi colocado bastão de vidro com 0,5 cm de diâmetro. Este foi preso à
borda superior da seringa, por tampa plástica com orifício no centro. Posteriormente
a solução de ágar foi distribuída em cada seringa e imersa em caixa de isopor com
gelo. Após o resfriamento do ágar o bastão de vidro foi retirado, e o orifício formado
preenchido com 150 metacercárias com auxilio de pipeta de Pasteur. Em seguida, 1
mL da solução do ágar, foi colocada para vedar o orifício e o material armazenado
a 4 °C, até a utilização.
26
5.4 Infecção experimental dos ovinos da Raça Santa Inês por F. hepatica
Foram utilizadas 14 ovelhas da raça Santa Inês, com idade de dezoito meses,
peso médio de 24,5 kg. Os animais foram identificados com brincos plásticos
numerados e tratados com 200 µg/kg de doramectina (Dectomax- Laboratório Pfizer)
via subcutânea contra helmintos gastrointestinais uma semana antes de realizar a
infecção experimental por F. hepatica.
Os ovinos foram mantidos em uma propriedade localizada no município de
Curvelo-MG (18° 52’ 25.7’’ de Latitude Sul, 44° 36’ 32.4’’ de Longitude Oeste), onde
todo o experimento foi conduzido conforme definido na Resolução Normativa
CONCEA n° 22, de 25 de junho de 2015. Os procedimentos experimentais
realizados receberam aprovação prévia da Comissão de Ética no Uso de Animais
(CEUA-UFMG) sob protocolo número 15/2016.
Os animais foram divididos aleatoriamente em dois grupos. Grupo 1 (G1),
composto de 9 ovinos infectados individualmente com 150 metacercárias de F.
hepatica e o grupo 2 (G2), controle, constituído de 5 ovinos não infectados. Os
animais do G1 foram contidos por imobilização manual e receberam individualmente
por via oral as metacercárias inseridas nas seringas contendo gelatina. Após a
inoculação, os animais foram monitorados durante uma hora para observar a
ocorrência de reações adversas ou regurgitação do inóculo. Durante todo período
experimental de 400 dias, os animais permaneceram alojados em duas baias
coletivas com solário na proporção de um animal por dois metros quadrados. As
baias possuíam piso ripado, de modo que as fezes e a urina não entrassem em
contato com os animais, facilitando a limpeza. As fezes eram recolhidas diariamente,
parte armazenada para análise e o restante incinerado. Os animais de ambos os
grupos foram alimentados com silagem de milho, feno, ração comercial (Guabi, 18%
proteína), sal mineral e água ad libitum.
5.5 Cinética da eliminação de ovos por grama de fezes F. hepatica
Foram realizadas coletas de fezes diariamente a partir de 55 dpi para observar
o período pré-patente e, posteriormente, nos intervalos de 90, 120, 150, 180, 210,
27
240, 270, 300, 330, 360 e 390 dias, para avaliar a cinética de eliminação de ovos por
grama de fezes, como descrita no item 5.1.
5.6 Avaliação clínica
Foram realizados exames clínicos individuais dos ovinos de ambos os
grupos no dia da infecção e aos 15, 30, 45, 60, 90, 120, 150, 180, 210, 240, 270,
300, 330, 360, 390 dias após a infecção (dpi).
Avaliação clínica foi realizada seguindo a sequência dos números dos
animais, com início às 7 horas da manhã e com as seguintes avaliações:
Pesagem dos ovinos individualmente em balança mecânica, para verificar o
ganho de peso. Os ovinos permaneceram em jejum de 12 horas para evitar a
variação de alimentos do sistema gastrintestinal.
Avaliação visual do comportamento, do contorno abdominal e da presença
de edema submandibular. Em seguida, os animais foram contidos manualmente,
para avaliação, das frequências cardíaca e respiratória, da coloração da mucosa
ocular, da condição corporal e da sensibilidade hepática dolorosa. Todos os dados
foram anotados em ficha técnica criada para esse objetivo (ANEXO I).
A frequência cárdica (FC) foi avaliada com auxílio de estetoscópio na região
do coração entre o 2° e o 6° espaço intercostal, à meia altura do tórax. A
auscultação cardíaca foi realizada por um minuto marcado no cronômetro e o
resultado fornecido em batimentos cardíacos por minuto (Kolb 1981).
A frequência respiratória (FR) foi avaliada também com o auxílio do
estetoscópio. Foi auscultada a frequência respiratória na região laríngeo-traqueal por
um minuto marcado no cronômetro e o resultado fornecido em frequência
respiratória por minuto (Swenson & Reece 1996).
A avaliação da mucosa ocular foi realizada por meio do método Famacha®,
descrito por Bath & Van Wyk (2001) (FIGURA 1). Segundo os autores, pela
coloração da mucosa ocular avalia-se o grau de anemia do animal, como
demonstrado na TABELA 1. As diferentes colorações das mucosas oculares,
correspondem à classificação de 1 a 5 no grau de anemia e variam entre vermelho,
rosa-vermelho, rosa, rosa-pálido e branco; sendo que os graus 1 e 2 do Famacha®
28
identificam o animal como saudável, apresentando mucosa ocular bem
vascularizada e com valores de hematócrito superior ou igual a 23%; já os graus 3, 4
e 5 identificam o animal como anêmico, que apresenta mucosa hipocrômica, sendo
o hematócrito menor ou igual a 18%.
Tabela 1 – Graus do método Famacha®, colorações das mucosas e hematócritos dos
ovinos (Bath & Van Wyk, 2001)
Grau de Famacha® Coloração Hematócrito (%)
1 Vermelho robusto >27
2 Vermelho rosado 23 a 27
3 Rosa 18 a 22
4 Rosa pálido 13 a 17
5 Branco <13
29
Figura 1 – Cartão de análise para o método FAMACHA©
A avaliação da condição corporal foi baseada na escala de 0 a 5 pontos,
segundo técnica descrita por Jefferies (1961). A avaliação foi realizada por
palpação das protuberâncias ósseas como demonstrado na TABELA 2:
Fonte: Bath & Van Wyk (2001)
30
Tabela 2 – Avaliação do escore da condição corporal dos ovinos
Escore Avaliação
1 Caquético
Os processos transversos, os processos espinhosos
proeminentes e visíveis. Total visibilidade das costelas, a cauda
está totalmente inclusa dentro do coxal, os íleos e os ísquios
mostram-se expostos. Há atrofia muscular pronunciada, e é
como se houvesse a visão direta do esqueleto do animal
(aparência de "pele e osso").
2 Magro
Os ossos estão bastante salientes, com certa proeminência dos
processos dorsais, dos íleos e dos ísquios. As costelas têm
pouca cobertura, os processos transversos permanecem
visíveis e a cauda está menos inclusa nos coxais (aparência
mais alta). A pele está firmemente aderida no corpo (pele
esticada).
3 Médio
Há suave cobertura muscular com grupos de músculos à vista.
Os processos dorsais estão pouco visíveis; as costelas, quase
cobertas; e os processos transversos, pouco aparentes. Ainda
não há camadas de gordura; a superfície do corpo está macia e
a pele está flexível (pode ser levantada com facilidade).
4 Gordo
Há boa cobertura muscular, com alguma deposição de gordura
na inserção da cauda. As costelas e os processos transversos
estão completamente cobertos. As regiões individuais do corpo
ainda são bem definidas, embora as partes angulares do
esqueleto pareçam menos identificáveis.
5 Obeso
Todos os ângulos do corpo estão cobertos, incluindo as partes
salientes do esqueleto, onde aparecem camadas de gordura
(base da cauda e maçã do peito). As partes individuais do corpo
ficam mais difíceis de ser distinguidas e o animal tem aparência
arredondada. Esse estado só é aceitável para animais
terminados, prontos para o abate.
31
A sensibilidade hepática dolorosa foi avaliada por meio da palpação do 12°
espaço intercostal do lado direito, no quadrante superior da porção posterior. Essa
avaliação permite saber se o fígado está aumentado e se o animal apresenta dor
durante a palpação (Rosemberg 1993).
5.7 Avaliação hematológica
5.7.1 Coleta de sangue dos ovinos
Foram coletados 5 ml de sangue da veia jugular de cada animal no dia da
infecção e aos 15, 30, 45, 60, 90, 120, 150, 180, 210, 240, 270, 300, 330, 360, 390
dias após infecção (dpi) com seringa e agulha estéril (calibre 22G. As amostras
foram acondicionadas em tubos de hemólise contendo anticoagulante EDTA (ácido
etilenodiamino tetra-acético) a 10% devidamente identificado, armazenado em caixa
de isopor contendo gelo, transportado até o LabHelVet/ICB/UFMG e analisado 24
horas após a coleta.
As amostras foram utilizadas para avaliação dos parâmetros hematológicos,
contagens totais dos leucócitos (Le), hemácias (He), hemoglobina (Hb), hematócrito
(Ht), volume corpuscular médio (VCM), concentração média de hemoglobina (CMH),
concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) e plaquetas (PL). As
amostras de sangue foram processadas utilizando o contador hematológico
automático (Modelo Bio – 2900 Vet – Bioeasy) (Figura 2). As precisões nessas
contagens apresentam uma variação de 2% a 5%. O resultado é expresso em
display digital ou por meio de impressora anexa.
32
Figura 2 – Contador hematológico automático (Modelo Bio – 2900 Vet –
Bioeasy)
Fonte: Fotografia do autor
5.7.2 Contagem diferencial dos leucócitos
De cada amostra de sangue foram realizados esfregaços sanguíneos em
lâminas de vidro para contagens diferenciais dos leucócitos, segundo a técnica
descrita por Sinclair (1962). Os esfregaços foram corados pelo método (Panótico
Rápido LB, Laborclin). Posteriormente, foram realizadas as contagens diferenciais
dos leucócitos (neutrófilos, linfócitos, eosinófilos, monócitos e basófilos) utilizando
objetiva de 100x. Foram contadas 200 células em cada lâmina e o número de cada
tipo celular calculado a partir da percentagem encontrada em relação ao número
total de leucócitos, para obter-se o valor absoluto.
33
5.8 Avaliação macroscópica do fígado parasitado por F. hepatica
Durante o experimento, dois ovinos infectados morreram, aos 300 dpi e o
outro aos 330 dpi. Realizou-se as necropsias com os animais colocados em decúbito
dorsal. Com auxílio de uma faca foi feito incisão na linha alba para chegar a
cavidade abdominal e visualizar o fígado. Realizou-se a retirada do órgão por tração
no sentido caudal e secção entre o diafragma e o fígado, liberando-o da cavidade.
O fígado foi colocado em uma bandeja contendo solução fisiológica e realizada
avaliação macroscópica, como lesões, fibroses, presença de fibrina, formato e
tamanho do órgão. Em seguida, os ductos biliares foram abertos usando uma
tesoura, faca para a recuperação dos parasitos e análise da consistência dos
ductos. Todos os dados observados foram registrados em ficha individual.
Os parasitos recuperados foram contados, comprimidos entre duas placas de
vidro e fixados em solução de formol tamponado a 10%.
5.9 Análise estatística
Para a análise estatística dos dados foi utilizado o software GraphPad Prism 5
(GraphPad Inc, EUA). Para verificar a normalidade dos dados, foi utilizado o teste de
Kolmogorov-Smirnov. Para análise entre dois grupos foram utilizados o Test T
Student para dados paramétricos. Além disso, foram utilizados, para determinar as
diferenças significativas entre as médias dos grupos analisados, os testes Two Away
ANOVA, seguido do de Bonferroni (dados paramétricos). As avaliações clínicas
foram realizadas descritivamente.
34
6 RESULTADOS
6.1 Avaliação parasitológica
6.1.1 Dinâmica da eliminação de ovos de Fasciola hepatica
Na TABELA 3 encontram-se os valores médios e o desvio padrão das contagens de
OPG dos ovinos da raça Santa Inês infectados com metacercárias de Fasciola
hepatica. Os primeiros ovos de F. hepatica nas fezes dos ovinos foram observados
aos 60 dpi em três animais, 33,3%; os demais 66,7% tornaram-se positivos aos 62
dpi. Após o período pré-patente, as contagens de OPG aumentaram gradativamente
até os 120 dpi. Em seguida, diminuíram até os 180 dpi, voltando a aumentar aos 210
dpi. Essa oscilação na dinâmica da eliminação de ovos coincide com a chegada
gradativa dos estágios imaturos nos ductos biliares, enquanto adultos já realizam a
postura. Deve-se ressaltar que ocorreu variação individual nas contagens de OPG
dentro do grupo, o que influenciou as contagens médias de OPG. Como pôde ser
observado, aos 330 dpi, os ovinos números quatro, sete e nove (3/9) apresentaram
aumento nas contagens de OPG, enquanto o restante dos ovinos infectados (5/9)
reduziam. Nesse intervalo, o ovino quatro morreu, apresentando contagens de OPG
equivalente a 1296, aumentando significativamente a média do grupo. Aos 390 dpi
todos os ovinos apresentaram aumento no número de OPG, sendo que, a menor
contagem observada foi 74 e a maior, 726.
35
Grupo infectado
N° dos animais
Dpi 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Média ± DP
60 11 12 - - - - - 17 - 4,4 ± 7
62 23 42 39 33 22 13 06 59 10 14 ± 15
90 37 163 521 45 29 99 147 24 254 147 ± 160
120 605 343 582 27 33 231 270 425 125 293 ± 216
150 433 138 350 18 63 125 136 347 297 212 ± 147
180 185 454 268 22 79 97 368 226 373 230 ± 149
210 234 358 661 167 317 415 341 783 419 411 ± 196
240 284 470 631 218 112 527 507 519 401 408 ± 169
270 524 533 495 284 151 210 376 252 143 330 ± 157
300 377 708 262 Ob 208 20 174 94 306 255 ± 201
330 178 233 1296 Ob 46 47 110 246 291 306 ± 410
360 372 177 Ob Ob 60 98 156 372 203 205 ± 123
390 396 233 Ob Ob 74 710 216 726 481 509 ± 464
Média
±
DP
280
±
94
294
±
208
464
±
356
102
±
105
77
±
83
211
±
214
210
±
154
382
±
387
242
±
154
(Dpi) Dias após infecção, (DP) Desvio padrão
6.2 Parâmetros Clínicos
As alterações clínicas avaliadas nos ovinos experimentalmente infectados
com metacercárias de F. hepatica foram prostração, sensibilidade hepática dolorosa,
edema submandibular, taquicardia, taquipnéia, mucosa ocular hipocrômica, perda de
escore corporal e peso.
Como demonstrado na TABELA 4, observou-se prostração, caracterizada por
apatia, em alguns animais infectados ao longo do estudo. Apatia foi verificada no 15°
dpi no ovino nove, aos 30° dpi nos animais cinco e nove, aos 45° dpi nos ovinos três
e seis, ao 60° dpi nos animais quatro, cinco e 10, aos 90° dpi nos ovinos cinco e
seis, aos 150° dpi nos animais três e 10, aos 180°, 210°, 240° dpi no ovino 10, aos
Tabela 3 – Número de ovos por grama de fezes (OPG) dos ovinos da raça Santa
Inês infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica
36
270° dpi nos ovinos três e cinco, no 300° dpi nos ovinos seis e oito e aos 330° dpi
nos ovinos três, sete e oito.
Observou-se sensibilidade hepática dolorosa em seis animais (66,7%) no 15°
dpi; no 30° dpi, esse sinal clínico permaneceu em cinco animais (55%). Após os
45°dpi, diminuiu o número de animais com esse sinal. Somente os animais nove e
10 (22,2%) não apresentaram sensibilidade hepática dolorosa durante o período
experimental. Os demais apresentaram sensação dolorosa em alguma fase do
experimento (TABELA 5).
Edema submandibular somente foi observado no ovino número quatro, aos
270 dpi; no 330 dpi o animal morreu.
(Dpi) Dias após infecção; (Ob) óbito; (-) ausência; (+) presença
Prostração
Grupos
Infectado
N° dos animais
Controle
N° dos animais
Dpi 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
0 - - - - - - - - - - - - - -
15 - - - - - - - + - - - - - -
30 - - - + - - + - - - - - -
45 - + - - + - - - - - - - - -
60 - - + + - - - - + - - - - -
90 - - - + + - - - - - - - - -
120 - - - - - - - - - - - - - -
150 - + - - - - - - + - - - - -
180 - - - - - - - - + - - - - -
210 - - - - - - - - + - - - - -
240 - - - - - - - - + - - - - -
270 - + - + - - - - - - - - - -
300 - - - Ob + - + - - - - - - -
330 - + Ob Ob - + + - - - - - - -
360 - - Ob Ob - - - - - - - - - -
390 - - Ob Ob - - - - - - - - - -
Tabela 4 – Parâmetro clínico de ovinos da raça Santa Inês controles e
infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica
37
(Dpi) Dias após infecção; (Ob) óbito; (-) ausência; (+) presença
6.2.1 Frequência cardíaca
As frequências cardíacas dos ovinos da raça Santa Inês infectados com
metacercárias de Fasciola hepatica e controle estão apresentados no GRÁFICO 1.
As frequências cardíacas médias durante o período experimental apresentaram
oscilações menores no grupo controle em relação aos ovinos infectados. Além disso,
ao final do período experimental, o grupo infectado apresentou as maiores médias
quando comparado ao início do estudo. Foram observadas diferenças estatísticas
entre o grupo infectado e grupo controle aos 15 dpi (p<0,001), 180 dpi (p<0,001),
300 dpi (p<0,001), 330 dpi (p<0,001), 360 dpi (p<0,01) e 390 dpi (p<0,001).
Sensibilidade hepática dolorosa
Grupos
Infectado
N° dos Animais
Controle
N° dos Animais
Dpi 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
0 - - - - - - - - - - - - - -
15 + + + + - + + - - - - - - -
30 + + + - - + + - - - - - - -
45 - + - - + - - - - - - - - -
60 - - + + - - - - + - - - - -
90 - - - + + - - - - - - - - -
120 - - - - - - - - - - - - - -
150 - + - - - - - - + - - - - -
180 - - - - - - - - + - - - - -
210 - - - - - - - - + - - - - -
240 - - - - - - - - + - - - - -
270 - + - + - - - - - - - - - -
300 - - - Ob + - + - - - - - - -
330 - + Ob Ob - + + - - - - - - -
360 - - Ob Ob - - - - - - - - - -
390 - - Ob Ob - - - - - - - - - -
Tabela 5 – Parâmetro clínico de ovinos da raça Santa Inês controles e
infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica
38
6.2.2 Frequência respiratória
No GRÁFICO 2 encontram-se os valores médios das frequências
respiratórias dos ovinos da raça Santa Inês infectados e controles durante o
desenvolvimento de Fasciola hepatica . Observa-se que as frequências respiratórias
até 210 dpi apresentaram valores similares entre os grupos. A partir dos 240 dpi, a
frequência respiratória dos ovinos infectados foi maior que dos controles, com
diferenças estatisticamente significativas até o final do período experimental, com os
seguinte valores: no 240 dpi (p<0,01), 270 dpi (p<0,001), 300 dpi (p<0,001), 330 dpi
(p<0,001), 360 dpi (p<0,001) e 390 dpi (p<0,001).
0 15 30 45 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 390
20
40
60
80
100
120
Infectado Controle
***
***
***
***
***
**
Dias após infecção
Fre
qu
ên
cia
Card
íaca / m
in
Gráfico 1 – Frequência cardíaca dos ovinos da raça Santa Inês controles e
infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica
** p≤ 0,01, *** p≤ 0,001 diferenças estatísticas entre os grupos controle e infectado
39
6.2.3 Índice FAMACHA©
O método de Famacha©, medida indireta para avaliar o grau de anemia por
meio da avaliação da coloração da mucosa ocular, está representado na TABELA 6.
Os índices médios de Famacha© de ambos os grupos apresentaram oscilações
durante o período experimental. Nos ovinos infectados, os índices foram 2, 3, 4 e 5;
já o grupo controle apresentou índices 2 e 3.
No grupo infectado, aos 30 dpi, quatro ovinos apresentaram índice 3 e cinco
índice 4; aos 45 dpi, cinco animais apresentavam índice 3 e três índice 4. Dos 60
aos150 dpi o índice de Famacha© 3 prevaleceu entre os animais infectados. Dos
180 dpi aos 390 dpi ocorreu o inverso: a coloração da mucosa rosa (índice 4) voltou
a aumentar . Aos 300 e 330 dpi, ocorreu a presença do índice 5 nos animais 4 e 5,
que morreram nesse período.
0 15 30 45 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 390
15
30
45
60
Infectado
**
Controle
p 0.001
Dias após infecção
Fre
qu
ên
cia
Re
sp
irató
ria / m
in
Gráfico 2 – Frequência respiratória dos ovinos da raça Santa Inês controles
e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica
** p≤ 0,01, *** p≤ 0,001 representam diferenças estatísticas entre os grupos controle e infectado
40
(Dpi) Dias após infecção; Ob: óbito
6.2.4 Escore da condição corporal
No GRÁFICO 3 encontra-se o escore da condição corporal dos ovinos da
raça Santa Inês distribuídos nos grupos infectado e controle durante o período
experimental com Fasciola hepatica.
No grupo infectado, o índice médio variou entre 2 e 3 ao longo do estudo. No
início do experimento, o índice médio foi 3; aos 15, 30, 150 e 300 dpi (2.4); aos 45
dpi (2.5); aos 60 dpi (2.7); aos 90, 120dpi (2.6); aos 180, 210 e 240dpi (3); 270 dpi
(2.8); 330 dpi (2) e 360 dpi (2.25).
Índice FAMACHA
Grupos
Infectado
N° dos animais
Controle
N° dos animais
Dpi 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
0 3 2 3 2 3 2 2 3 3 2 3 2 3 2
15 3 3 3 2 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
30 4 3 4 4 4 3 3 3 4 3 3 2 2 3
45 3 2 3 4 3 4 3 4 3 2 3 2 2 3
60 3 3 4 4 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
90 3 3 3 4 4 3 3 3 3 2 2 3 2 2
120 3 3 3 3 3 3 3 3 3 2 2 2 3 3
150 3 4 3 3 3 4 3 3 3 2 3 2 2 3
180 3 3 4 4 3 3 4 4 4 3 2 2 2 3
210 3 4 4 4 4 3 3 4 3 3 3 3 3 3
240 3 4 3 4 3 4 3 3 3 3 2 2 3 3
270 2 3 4 4 3 3 4 4 4 3 2 3 3 3
300 4 3 5 5 3 4 4 4 4 3 3 3 3 3
330 4 4 5 Ob 3 3 4 3 4 3 3 2 3 3
360 3 3 Ob Ob 3 4 4 4 3 3 3 3 3 3
390 4 3 Ob Ob 3 4 3 4 3 3 2 2 3 3
Tabela 6 – Índice Famacha© de ovinos da raça Santa Inês controles e
infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica
41
No grupo controle, oscilações no índice médio da condição corporal também
foram observadas, com aumento ao longo do estudo. No 0 e15 dpi (3); 30, 150, 210,
270 e 300 dpi (3.5); 45 e 330 dpi (3.75); 60 e 120 dpi (3.6); 90 dpi (3.2); 180 dpi
(3.4); 240 dpi (3.3); 360 dpi (3.8). Diferenças estatísticas ocorreram entre os grupos
aos 30 (p<0,05), 45 (p<0,05), 120 (p<0,05), 150 (p<0,05), 300 (p<0,05), 330
(p<0,001) e aos 360 dpi (p<0,001).
6.2.5 Desenvolvimento ponderal
No GRÁFICO 4 estão representados os resultados referentes ao peso médio
dos grupos de ovinos controles e infectados. Até os 15 dpi, o peso médio de ambos
os grupos foram semelhantes. Aos 30 dpi, o grupo controle ganhou 3,8 Kg, enquanto
os ovinos infectados perderam 0,9 kg.
0 15 30 45 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 3901
2
3
4
5
Infectado Controle
****
**** * * *
Dias após infecção
Esco
re d
a c
on
diç
ão
co
rpo
ral
Gráfico 3 – Escore de condição corporal dos ovinos da raça Santa Inês
controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica
* p≤ 0,05, *** p≤ 0,001 representam diferenças estatísticas entre os grupos controle e infectado.
42
A partir dos 45 dpi, ambos os grupos continuaram com tendência a ganhar
peso na maioria do período experimental; no entanto, o grupo controle ganhava mais
peso do que o grupo infectado.
No início do estudo, o peso inicial dos ovinos infectados e controle eram 24,5
Kg, ao final do período experimental o peso médio dos ovinos infectados foi 35 Kg e
os do grupo controle 50 Kg, apresentando diferença de 15 Kg. Esse resultado
demonstra o efeito negativo da F. hepatica no desenvolvimento ponderal dos ovinos.
.
0 15 30 45 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 3905
15
25
35
45
55
Infectado Controle
*
p 0.001
p 0.001
Dias após infecção
Pe
so
(K
g)
Gráfico 4 – Desenvolvimento ponderal dos ovinos da raça Santa Inês
controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica
* p≤ 0,05, ** p≤ 0,01, *** p≤ 0,001 representam diferenças estatísticas entre os grupos controle e infectado
43
6.3 Avaliação hematológica
6.3.1 Hematócrito
No GRÁFICO 5 encontram-se os valores médios de hematócrito dos grupos
infectado e controle durante o estudo. Os valores médios dos hematócritos
encontrados nos ovinos infectados ao longo do estudo foram inferiores ao
observados no grupo controle. Além disso, os valores médios do grupo controle
apresentaram menores oscilações ao longo do experimento. Diferenças estatísticas
foram observadas entre os ovinos infectados e os ovinos controles aos 90 (p<0,05),
120 (p<0,01), 270 (p<0,05), 300 (p<0,001), 330 (p<0,05), e 390 (p<0,01) dpi.
0 15 30 45 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 39015
20
25
30
35
ControleInfectado
*** *
***
***
Dias após infecção
Po
rce
tag
em
de
he
mató
cri
to (
%)
Gráfico 5 – Valores médios de hematócrito dos ovinos da raça Santa Inês
controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica
* p≤ 0,05, ** p≤ 0,01, *** p≤ 0,001 representam diferenças estatísticas entre os grupos controle e infectado
44
6.3.2 Contagem total de hemácias
No GRÁFICO 6 encontram-se os valores médios das contagens totais de
hemácias dos grupos infectado e controle.
Durante o experimento ocorreram variações nos valores médios dos
eritrócitos nos grupos estudados. A partir da segunda coleta de sangue, no 15º dpi,
foi observado que o número de hemácias dos ovinos do grupo infectado começou a
reduzir, ficando abaixo do valor encontrado para o grupo controle. Essa diferença foi
verificada em todo período experimental. Houve diferenças estatísticas significativas
aos 30 dpi (p<0,05), e dos 60 dpi até os 390 dpi (p<0,001) nas contagens médias de
hemácias entre o grupo infectado em relação ao controle.
0 15 30 45 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 3900
2
4
6
8
10
12
14
Infectado Controle
*
p 0.001
Dias após infecção
N°
mé
dio
de
He
mácia
s (
x10
6/
l)
Gráfico 6 – Valores médios das contagens totais de hemácias dos ovinos da raça
Santa Inês controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica
* p≤ 0,05, *** p≤ 0,001 representam diferenças estatísticas entre os grupos controle e infectado
45
6.3.3 Hemoglobina
No GRÁFICO 7 encontram-se os valores médios de hemoglobina dos grupos
infectado e controle. A partir da segunda coleta de sangue, no 15º dpi, foi observado
que os valores de hemoglobina dos ovinos do grupo infectado começaram a reduzir,
ficando abaixo dos ovinos do grupo controle. Essa diferença foi verificada em todo
período experimental. Houve diferenças estatísticas significativas entre os grupos
aos 30 (p<0,05), 90 (p<0,05), 120 até 210 dpi (p<0,01), 270 (p<0,001), 300
(p<0,001), 330 (p<0,001), 360 (p<0,001) e 390 (p<0,001) dpi nas contagens médias
de hemoglobina entre o grupo infectado em relação ao controle.
0 15 30 45 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 3900
2
4
6
8
10
12
14
Infectado Controle
* *p 0.01
p 0.001
Dias após infecção
He
mo
glo
bin
a (
g/d
L)
Gráfico 7 – Valores médios da hemoglobina dos ovinos da raça Santa Inês
controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica
* p≤ 0,05, ** p≤ 0,01, *** p≤ 0,001 representam diferenças estatísticas entre os grupos controle e infectado
46
6.3.4 Volume Corpuscular Médio
No GRÁFICO 8 encontram-se os valores médios dos volumes corpusculares
dos grupos infectado e controle. Os valores dos volumes corpusculares médios
(VCM) dos dois grupos apresentaram variações. O grupo infectado apresentou
valores médios superiores ao grupo controle na maioria do período experimental,
ocorrendo diferenças estatísticas aos 60 (p<0,05), 120 (p<0,001), 150 (p<0,01), 180
(p<0,001), 240 (p<0,05), 270 (p<0,001), 300 (p<0,001), 330 (p<0,001) e 360
(p<0,01) dpi.
0 15 30 45 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 39020
25
30
35
40
45
50
*
**
**
ControleInfectado
*** *
***
***
Dias após infecção
VC
M (
fl)
Gráfico 8 – Valores médios dos volumes corpusculares dos ovinos da raça
Santa Inês controle e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica
* p≤ 0,05, ** p≤ 0,01, *** p≤ 0,001 representam diferenças estatísticas entre os grupos controle e infectado
47
6.3.5 Concentração Média de Hemoglobina
No GRÁFICO 9 encontram-se os valores das concentrações médias de
hemoglobina dos grupos infectado e controle durante o período experimental. Os
valores das concentrações médias de hemoglobina dos ovinos infectados e não
infectados foram semelhantes entre o dia 0 até os 60 dpi, variando entre 11,45 a
12,5 picograma (pg). Não foram verificadas diferenças significativas nas
concentrações médias de hemoglobina entre os dois grupos durante todo o
experimento, apesar dos ovinos infectados apresentarem concentrações médias de
hemoglobina superiores a partir dos 60 dpi.
0 15 30 45 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 3908
10
12
14
16ControleInfectado
Dias após infecção
HC
M (
pg
)
Gráfico 9 – Valores das concentrações médias de hemoglobina dos ovinos da raça
Santa Inês controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica
48
6.3.6 Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média
No GRÁFICO 10 encontram-se os valores das concentrações de
hemoglobina corpusculares médias dos grupos infectado e controle. A concentração
de hemoglobina foi semelhante entre os animais dos grupos infectado e controle
durante o estudo. Não houve diferenças estatísticas significativas entre os grupos.
0 15 30 45 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 39020
25
30
35
40
45 ControleInfectado
Dias após infecção
CH
CM
(g
/dL
)
Gráfico 10 – Valores da CHCM dos ovinos da raça Santa Inês controles e
infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica
49
6.3.7 Plaquetas
No GRÁFICO 11 encontram-se os valores médios das plaquetas dos grupos
infectado e controle. Os valores médios das plaquetas apresentaram oscilações em
ambos os grupos infectado e controle. No entanto, não foram verificadas diferenças
estatísticas entre o grupo infectado em relação ao grupo controle durante todo o
experimento.
0 15 30 45 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 3900
100
200
300
400
500
600
Infectado Controle
Dias após infecção
Pla
qu
eta
s (
10
3/
l)
Gráfico 11 – Valores médios das plaquetas dos ovinos da raça Santa Inês
controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica
50
6.4 Leucograma
6.4.1 Contagens totais dos leucócitos
No GRAFICO 12 encontram-se os valores médios das contagens totais dos
leucócitos dos grupos infectado e controle após infecção com metacercárias de
Fasciola hepatica. Os valores do grupo de ovinos infectados permaneceram acima
dos valores encontrados no grupo não infectado dos 15 aos 150dpi. Após esse
período, observou-se diminuição nas contagens totais dos leucócitos do grupo
infectado em relação ao grupo controle até os 390 dpi.
No entanto, não houve diferenças estatísticas significativas nos valores médios
das contagens totais dos leucócitos do grupo infectado em relação ao grupo
controle. Apenas oscilações nas contagens totais de leucócitos de ambos os grupos.
0 15 30 45 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 3905
10
15
20 Infectado Controle
Dias após infecção
Co
nta
ge
m t
ota
l d
e le
uco
cit
os/1
03
L
Gráfico 12 – Valores médios absolutos das contagens totais dos leucócitos dos ovinos da
raça Santa Inês controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica
51
6.5 Contagem diferencial
6.5.1 Neutrófilos
No GRÁFICO 13 encontram-se as contagens absolutas dos números médios
dos neutrófilos dos grupos infectado e controle durante a infecção com
metacercárias de Fasciola hepatica em ovinos da raça Santa Inês.
Durante todo o período experimental não houve diferenças estatísticas
significativas nas contagens de neutrófilos entre os grupos, embora tenha ocorrido
aos 15 e 90 dpi, aumento expressivo nas contagens dos neutrófilos do grupo
infectado.
0 15 30 45 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 3900
2000
4000
6000
Infectado Controle
Dias após infecção
Ne
utr
ófi
los c
élu
las/m
m3
Gráfico 13 – Valores médios absolutos de neutrófilos dos ovinos da raça Santa
Inês controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica
52
6.5.2 Linfócitos
No GRÁFICO 14 encontram-se as contagens absolutas dos números médios
dos linfócitos dos grupos infectado e controle. Durante todo o período experimental
não foram observadas diferenças estatísticas significativas nas contagens dos
linfócitos do grupo infectado em relação ao grupo controle.
0 15 30 45 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 3900
2000
4000
6000
8000
Infectado Controle
Dias após infecção
Lin
fócit
os c
élu
las/m
m3
Gráfico 14 – Valores médios absolutos de linfócitos dos ovinos da raça Santa
Inês controles e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica
53
6.5.3 Eosinófilos
No GRÁFICO 15 encontram-se os valores médios das contagens absolutas
de eosinófilos dos grupos infectado e controle observados no estudo experimental
com ovinos da raça Santa Inês infectados com metacercárias de Fasciola hepatica.
O grupo de ovinos infectados apresentou contagens superiores de eosinófilos
na maioria do período experimental. Observou-se que o grupo infectado apresentou
diferenças estatísticas nessas contagens em relação ao controle aos 30 e 45 dias
após infecção (p<0.05).
0 15 30 45 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 3900
2000
4000
6000
8000
Infectado Controle
*
*
Dias após infecção
Eo
sin
ofi
los c
élu
las/m
m3
Gráfico 15 – Valores absolutos médio de eosinófilos dos ovinos da raça Santa
Inês controle e infectados com 150 metacercárias de Fasciola hepatica
* p≤ 0,05 representa as diferenças estatísticas nas contagens médias absolutas de eosinófilos entre os grupos infectado e controle
54
6.5.4 Monócitos
Durante todo o período experimental não foram verificadas diferenças
estatísticas entre o grupo infectado e controle nas contagens de monócitos.
6.6 Necropsia
6.6.1 Avaliação macroscópica
Aos 300 e 330 dpi, os ovinos números 4 e 5 morreram. Ambos os animais se
apresentavam magros e desidratados. Após a realização da necropsia, observou-se,
na análise macroscópica dos fígados dos ovinos 4 e 5, características comuns,
como o aumento de volume do órgão, lóbulos com bordas abauladas (FIGURA 5),
pontos hemorrágicos distribuídos difusamente pelo parênquima (FIGURA 9), focos
de deposição de fibrina na superfície do parênquima (FIGURA 6,7,8), cicatriz
fibrótica (FIGURA 7) focos de necrose com coloração avermelhada mais escura
(FIGURA 9) e presença de parasitos adultos nos ductos biliares (FIGURA 13).
O fígado do ovino 4 apresentou lesões mais acentuadas e, além das
alterações citadas, foi verificado perda da coloração e arquitetura do parênquima
hepático, com a superfície paretal apresentando ruptura (FIGURA 8) e retração do
parênquima hepático (FIGURA 10), presença de nódulos de coloração amarelo
brancacentos ou vermelho escuro de consistência firme ou encapsulado no
parênquima (FIGURA 12), os ductos biliares com dilatação da luz e espessamento
da parede (FIGURA 11).
55
Figura 3 – Fígado do ovino n° 5 infectado com 150 metacercárias de Fasciola hepatica após 300 dias de infecção. O lobo direito (LD), o
lobo esquerdo (LE); bordas abauladas (ba); áreas de fibrina (fi) e
vesícula biliar(Vb) Fonte: Fotografia do autor
Figura 4 – Fígado do ovino n° 5 infectado com 150 metacercárias de Fasciola hepatica após 300 dias de infecção. Superfície visceral com focos de fibrina (fi), e seta indica
fibrose Fonte: Fotografia do autor
Figura 5 – Fígado do ovino n° 5 infectado com 150 metacercárias de Fasciola hepatica após 300 dias de infecção. Superfície visceral com focos de fibrina (fi) e cicatriz
fibrótica (cf) Fonte: Fotografia do autor
fi
cf
fi
LE
Vb ba ba
fi
LD
56
rp
fi
Figura 6 – Fígado do ovino n° 4 infectado com 150 metacercárias de Fasciola hepatica após 330 dias de infecção. Apresentando áreas com
deposição de fibrina (fi) e ruptura do parênquima hepático (rp). Fonte: Fotografia do autor
Figura 9 – Fígado do ovino n° 4 infectado com 150 metacercárias de Fasciola hepatica após 330 dias de infecção. Ducto biliar hiperêmico,
edemaciado e dilatado. Fonte: Fotografia do autor
Figura 7 – Fígado do ovino n° 4 infectado com 150 metacercárias de Fasciola hepatica após 330 dias de infecção.
Apresentando pontos hemorrágicos (ph) e focos de necrose (n). Fonte: Fotografia do autor
n
ph
Figura 8 – Fígado do ovino n° 4 infectado com 150 metacercárias de Fasciola hepatica após 330 dias de infecção.
Superfície paretal com retração do parênquima hepático (rtp). Fonte: Fotografia do autor
db
e
d
rtp
57
Figura 10 – Fígado do ovino n° 4 infectado com 150 metacercárias de Fasciola hepatica após 330 dias de infecção. Superfície visceral com
áreas de fibrose (setas). Fonte: Fotografia do autor
Figura 11 – Fígado do ovino n° 4 infectado com 150 metacercárias de Fasciola hepatica após 330 dias de infecção. Parasitos (p) adultos no ducto biliar
dissecado. Fonte: Fotografia do autor
p
p p
58
6.7 Taxa de recuperação de F. hepatica
Após abertura dos ductos biliares o número de F. hepatica recuperados dos
fígados dos ovinos 5 e 4 foram, respectivamente, 47 (31,33%) e 56 (37,33%).
59
7 DISCUSSÃO
7.1 Dinâmica de eliminação de ovos de F. hepatica em ovinos da raça Santa
Inês
Na infecção experimental dos ovinos da raça Santa Inês, o período pré-patente
(PPP) variou entre 60 e 62 dias, resultado semelhante aos de Sinclair (1975) e
Martínez-Pérez et al. (2014) que observaram PPP variando de 63 a 64 dias, mas,
diferente dos observados por Presidente et al. (1975) e William J. Foreyt (2009), que
relataram PPP entre 70 e 77 dpi. Deve-se ressaltar que a raça e o número de
metacercárias utilizadas pelos autores citados foram diferentes dos utilizados nesse
trabalho, o que pode ter influenciado os resultados.
As contagens de ovos nas fezes aumentou gradativamente na maioria dos
animais até os 120 dpi, apresentando novo pico aos 210 dpi, mantendo-se positivos
durante todo período experimental. O número de ovos eliminados variou entre os
animais dentro do grupo. A variação inicial das contagens de OPG, provavelmente,
foi devido ao período de migração dos estágios imaturos na cavidade abdominal, no
fígado, até atingir os ductos biliares e tornarem-se maduros, pois a migração no
hospedeiro não ocorre ao mesmo tempo por todos os parasitos.
Durante o estudo, dois ovinos morreram: o número cinco aos 300 dpi,
apresentando 208 ovos nas contagens de OPG, e o número quatro aos 330 dpi,
apresentando 1296 de OPG. Observou-se que, no dia do óbito os ovinos,
apresentaram contagens de OPG distintas, não sendo possível afirmar a relação do
número de ovos presentes nas fezes com a morte. Sinclair (1962) observou que,
quando o pico nas contagens médias de OPG foi de 2.200, o ovino morreu aos 133
dpi; no entanto, relatou que as contagens médias de OPG eram semelhantes à de
outros ovinos do mesmo grupo.
Outro fato observado durante o acompanhamento das contagens de OPG nos
ovinos infectados cinco, seis, sete e oito, é que estes foram os que demonstraram
menores médias de OPG ao longo do estudo. Esse fato sugere que esses animais
podem apresentar maior resistência à infecção, mostrando que, dentro da mesma
raça, a variação genética de cada indivíduo pode influenciar na carga parasitária.
60
Durante todo o período experimental avaliado não houve negativação dos
exames das fezes, mostrando a importância do acompanhamento da dinâmica de
eliminação de ovos nesse estudo, demonstrando que, na natureza, os animais
susceptíveis podem eliminar ovos no meio ambiente por mais de um ano,
contribuindo para o aumento do número de casos positivos em regiões onde a
manutenção do ciclo biológico seja possível, devido à presença de limneideos,
hospedeiro intermediário.
Além disso, a ovinocultura apresenta mercado crescente no Brasil, sendo que
a raça Santa Inês lidera esse mercado e, ainda, revelou-se susceptível a Fasciola
hepatica, apresentando eliminação de ovos contínua e progressiva, o que sugere a
importância de estudar essa associação parasito-hospedeiro.
7.2 Exame clínico
O quadro clínico da fasciolose é variável e depende da carga parasitária, da
resposta imune do hospedeiro, da fase e da duração da infecção, da idade, e do
estado nutricional (Boray 1969, Haroun e Hillyer 1986, Torgerson e Claxton 1998,
Piedrafita et al. 2004, Lima et al. 2004, 2009). Os sinais clínicos observados durante
o período experimental nos ovinos infectados foram edema submandibular,
sensibilidade hepática dolorosa, prostração, desidratação, anemia, perda de peso e
alteração de escore corporal. No entanto, nenhum destes sinais foram observados
em 100% dos animais do grupo infectado, não podendo ser considerado
patognomônicas para fasciolose.
A sensibilidade hepática dolorosa ocorreu em 80% dos animais, iniciando-se
aos 15 dpi e sendo mais frequente, na maioria dos animais, até os 90 dpi,
provavelmente devido à migração das formas imaturas no tecido hepático, levando à
destruição dos hepatócitos, inflamação e necrose. Esse achado foi observado por
Boray (1967) entre 56 e 70 dpi e Sinclair (1975) aos 42 dpi. Neste período, até os 90
dpi, que corresponde à fase aguda da fasciolose, houve à redução gradativa dos
sinais clínicos observados para a maioria dos animais, embora alguns tenham
permanecido com a sensibilidade hepática dolorosa durante todo o período,
coincidindo com a localização dos parasitos adultos nos ductos biliares.
61
O edema submandibular foi observado em um ovino (11.1%) na fase aguda
da infeção. Resultado semelhante ao obtido por Sinclair (1962) em infecção
experimental e por Matanovic et al. (2007) em ovinos naturalmente infectados, que
os atribuíram às migrações no parênquima hepático pelos estágios imaturos com
destruição dos hepatócitos e, consequentemente, à redução nos níveis de albumina.
Tal fato pode ter ocorrido nesse trabalho.
Aos 270 dpi, outro animal na fase crônica da doença apresentou edema
submandibular, coincidindo com a presença dos parasitos nos ductos biliares. A
hipoalbunemia pode ocorrer devido à presença dos parasitos adultos, especialmente
em casos de infecção com alta carga parasitaria (Ibrovic & Gall-Palla 1959, Ugrin &
Skovronski 1959, Sinclair 1962, Thorpe 1965, Ross et al. 1966). O edema
submandibular verificado nesse estudo pode ser atribuído a fasciolose, uma vez
que, nenhum ovino controle apresentou tal sinal clínico. A baixa ocorrência desse
sinal clínico provavelmente foi devido à baixa carga parasitária, de150 metacercárias
de F. hepatica, utilizadas no experimento.
Prostração, caracterizada por apatia do animal, foi um sinal clínico observado
em 89% dos animais durante o período experimental, sendo mais frequente na fase
aguda, e em 66,6 % dos ovinos parasitados. Apesar de frequente, foi um achado
transitório, não ultrapassando 15 dias na maioria dos animais. Na fase crônica,
geralmente esse sinal clínico estava associado à taquicardia, taquipnéia, redução do
número médio de hemácias e hemoglobina, semelhante ao demonstrado em
resposta à infecção por nematóides gastrintestinais em ovinos mestiços da raça
Santa Inês, onde a redução de hemácias e hemoglobina leva a hipóxia, o que
contribuiu para a elevação da frequência cárdica e respiratória (Birgel 2013).
Os aumentos das frequências cardíacas e respiratórias dos ovinos infectados
e controles também podem estar relacionados ao estresse causado pela contenção
mecânica dos animais. No entanto, a frequência cardíaca verificada nos ovinos
infectados foi superior à observada nos ovinos controles, com diferença estatística
significativa. Outro fator a ser considerado segundo Meneses (2013) são pirógenos
exógenos (vírus, bactérias, fungos, protozoários e antígenos) que promovem a
liberação de citocinas, e/ou de pirógenos endógenos presentes em leucócitos,
62
macrófagos, monócitos e células de Kuppfer, que levam aos sinais clínicos como
taquicardia, taquipnéia, prostração, depressão e inibição do apetite.
7.3 Famacha
A coloração da mucosa ocular dos ovinos infectados ao longo do período
experimental variou de rosa ao rosa pálido, enquanto os ovinos controles
apresentaram as mucosas variando de vermelho rosado a rosa. Essa diferença
observada entre ovinos infectados em relação ao grupo controle ocorreu de forma
lenta e progressiva. A explicação para essa variação inicialmente, provavelmente foi
devido à hematofagia dos estágios imaturos durante a migração no parênquima
hepático e à micro-hemorragia no parênquima hepático, semelhante ao
demonstrado por (Dracz 2016). Posteriormente, a redução lenta e progressiva nos
números de hemácia e hemoglobina, pode ter ocorrido devido à chegada dos
estágios imaturos nos ductos biliares ocorrerem de forma gradativa, provocando
espoliação sanguínea e levando à coloração da mucosa ocular ao rosa pálido.
Segundo Olah et al. (2015), o índice de Famacha© pode ser utilizado para
predizer a carga parasitária de ovinos infectados por F. hepatica. Mas ressaltou que
o Famacha© não apresentou correlação com o OPG, apesar da forte correlação
com o número de parasitos adultos recuperados no fígado. Afirmando ainda, que
essas variáveis correlacionaram moderadamente com o hematócrito e, ainda
segundo Mugambi et al. 1997, Vanimisetti et al. 2004, e também Olah et al. 2015,
outros fatores estariam relacionados, como a idade, o sexo, a raça e o estado
fisiológico.
Os resultados do presente estudo revelam que esse método não é confiável
para o acompanhamento e controle dos ovinos infectados por F. hepatica, pois, a
redução das hemácias e hemoglobina ocorre de maneira lenta e progressiva na
fasciolose. Muitos ovinos, quando são diagnosticados por esse método, já
apresentam valores de hematócrito, contagens de hemácias e hemoglobina em
níveis inferiores aos da normalidade, interferindo diretamente no tratamento dos
animais parasitados.
63
7.4 Escore de condição corporal
No inicio do trabalho, os animais dos grupos controle e infectados
apresentaram escore de condição corporal (ECC) semelhante, nível 3, ou seja ,
médio. ECC 3 é caracterizado por cobertura muscular suave com grupos de
músculos à vista. Os processos dorsais são pouco visíveis; as costelas, quase
cobertas; os processos transversos pouco aparentes, sem a presença de camadas
de gordura; e a superfície do corpo é macia e a pele flexível (podendo ser levantada
com facilidade).
A partir dos 15 dpi, houve diminuição gradativa do ECC até os 120 dpi,
quando os animais atingiram o ECC 2,5 (entre magro e médio), sugerindo que, na
fase aguda, existe maior gasto das reservas teciduais, especialmente de gordura e
de músculos, para a manutenção da infecção. Resultado semelhante foi obtido por
Sinclair (1975), que observou, aos 64 dpi, perda da condição corporal nos ovinos
experimentalmente infectados por F. hepatica e que, ao longo do período
experimental, a perda tornou-se evidente. A condição corporal dos ovinos
infectados durante todo o experimento foi inferior à verificada nos ovinos controles.
Segundo Dixit et al. (2008), uma das principais cisteíno proteases secretada
pelos parasitos, a catapsina L, também participa na aquisição de nutrientes pelo
processo de catabolização de proteínas do hospedeiro para peptídeos absorvíveis,
contribuindo para menor condição corporal, o que também pode ter contribuído para
condição corporal inferior dos ovinos infectados em relação aos controles.
Esses resultados diferem de Martinez-Perez et al. (2014), que não
observaram diferença estatística na condição corporal entre os grupos de ovinos
infectados e controles ao longo do período avaliado.
7.5 Desenvolvimento ponderal
Durante o período experimental, o ganho de peso dos ovinos infectados, a
partir de 30 até 180 dpi, foi discreto, apenas 3,4 kg, enquanto os controles, no
mesmo intervalo, ganharam 12,6 kg, quase quatro vezes mais do que o observado
nos ovinos infectados.
64
Esses achados sugerem que a presença dos estágios imaturos migrando no
parênquima hepático e o processo inflamatório desenvolvido no fígado podem ter
contribuído para o ganho de peso inferior dos ovinos infectados em relação aos
controles. Esses dados estão de acordo com vários autores, como Dargie et al.
(1979), que relatam ganhos de peso significativamente menores em ovinos
infectados com 45 parasitos adultos, e com os de Diiwel et al. (1972), que
demonstraram que 38 vermes são capazes de causar perda de peso. Altas cargas
parasitárias, por exemplo, acima de 350 vermes, podem causar grave perda de peso
e morte em ovinos adultos (Boray 1969, Berry & Dargie 1976, Hawkins & Morris
1978, Hawkins 1984).
Posteriormente, dos 120 até 390 dpi, verificou-se ganho de peso moderado
dos ovinos infectados em relação aos controles. O ganho de peso verificado após a
fase aguda sugere a recuperação do parênquima hepático, do processo inflamatório
causado pelas migrações dos estágios imaturos, pois percebeu-se que, até este
momento, os ovinos infectados não apresentavam ganho de peso significativo.
Interessante ressaltar que, no dia 0, a pesagem média revelou 24,5 Kg para ambos
os grupos; ao final do experimento, a pesagem final realizada aos 390 dpi revelou
que os ovinos infectados ganharam 10,5 Kg, ficando com a média final de 35 Kg,
enquanto o grupo controle ganhou 25,5 Kg, ficando com a média final de 50 Kg. A
diferença de ganho de peso final do grupo infectado em relação ao controle são de
15 Kg, ou seja, os ovinos infectados ganharam peso ao longo do experimento, mas,
devido à presença da F. hepatica, os animais não conseguiram expressar o seu
potencial máximo de ganho de peso. Esses resultados são semelhantes aos
encontrados por Boray (1967) que, trabalhando com ovinos infectados com 200
metacercárias de F. hepatica, observou ganho médio de 5 Kg ao longo dos 175 dias;
com 500 metacercárias o ganho médio foi 4,68 Kg em 84 dias; com 1.000 a 2.000
metacercárias a perda de peso iniciou entre 14 e 28 dpi e o ganho de peso ocorreu
entre 49 e 56 dpi; e com 4.000 – 10.000 metacercárias a perda de peso começou a
partir de 21 dpi; e com 56 dpi, a perda de peso chegou a 9 Kg e a perda máxima
observada no experimento foi de 18 Kg.
Os mecanismos que podem afetar o ganho de peso dos ovinos infectados são
vários, na maioria das vezes somam-se e potencializam seus efeitos sendo difícil
65
separá-los. Berry & Dargie (1976) observaram correlação entre o aparecimento e a
gravidade da apatia com a ingestão de alimentos e com o desenvolvimento da
anemia; além disso, observaram aumento dos níveis de uréia plasmática, indicando
a desaminação de aminoácidos aumentada dentro do intestino, coincidente com o
aumento dos níveis de uréia no sangue, sugerindo perda de proteína muscular.
Sykes et al. (1980) relatam que, a hipertrofia hepática, em consequência da
migração dos parasitos imaturos, a ingestão de proteínas pelos adultos, o desvio
fisiológico de aminoácidos para atender aos requisitos de síntese de proteínas no
fígado, na medula óssea e tecido linfoide, decorrentes das estimulações antigênicas,
e a passagem de proteínas do sangue para o intestino, reduz a disponibilidade de
ácidos aminados para crescimento, ganho de peso, lã e leite.
Portanto, o ganho de peso reduzido em ovinos tem duas causas aparentes:
conversão alimentar reduzida e anorexia (inapetência), que pode ser influenciada
pela carga parasitária (Sinclair 1975, Berry & Dargie 1976, Hawkins & Morris 1978,
Dargie et al. 1979, Sykes et al. 1980, Ferre et al. 1994). O mecanismo que causa a
redução do apetite não é bem conhecido. Em infecções experimentais com dose
única, a anorexia coincidiu com a entrada dos parasitos nos ductos biliares entre 42
e 49 dpi (Berry & Dargie 1976, Dargie et al. 1979, Sykes et al. 1980, Ferre et al.
1994).
Nesse trabalho o ganho de peso dos ovinos infectados foi influenciado
significativamente pela infecção por F. hepatica, demonstrando que o parasitismo é
um fator limitante para o ganho de peso.
7.6 Perfil hematológico
Em relação ao perfil hematológico, foram observados valores médios menores
de hemácias, hemoglobina e hematócrito a partir dos 15dpi nos ovinos infectados
em relação aos animais controles e que persistiram durante todo período
experimental. Ao se observar esses parâmetros em conjunto, pode-se verificar
queda mais evidente dos 30 a 120 dpi, período que coincide com a migração dos
estágios imaturos no parênquima hepatico e com a fase aguda. Essas alterações
hematológicas observadas nesse trabalho estão de acordo com a literatura, sendo
66
considerada uma característica importante da doença (Holmes et al. 1968, Saleh
2008, Flynn et al. 2010).
A anemia descrita na fasciolose pode ser devido a uma perda anormal de
células vermelhas, como resultado da migração do parasito pelo parênquima
hepático, que lesiona as células, os vasos, e também devido aos hábitos de
alimentação dos parasitos, conforme descrito por Dargie et al. (1979), que atribuiu a
anemia na fase inicial da infecção à hemorragia intra-hepática, devido à migração
dos estágios imaturos. Martinez-Pérez et al. (2014) demonstraram que ovinos
infectados por F. hepatica apresentavam redução do hematócrito aos 14 dpi,
chegando a 17%; aos 84 dpi, a anemia ainda persistia, embora o valor médio de
hematócrito tenha sido de 24%. Boray (1967) observou que anemia estava
associada à redução de hemácias, que ocorreu entre 28 a 35 dpi. Por outro lado,
Sinclair (1962) mostrou que ovinos infectados não apresentavam redução de
eritrócitos até os 56 dpi. Mekrouk et al. (2007) não verificaram redução no número
de eritrócitos dos ovinos infectados em relação ao controle durante o período
estudado. As diferenças observadas entre os estudos podem ser devido à raça, à
idade dos animais, à infectividade, à genética, à localização dos estágios imaturos, à
capacidade eritrocítica de cada animal e ao período de migração dos estágios
imaturos na cavidade abdominal e no fígado, pois o número de metacercárias
utilizadas pelos autores foi semelhantes à utilizada nesse estudo. O aumento
observado nos valores médios dos eritrócitos dos ovinos infectados em alguns
momentos da infecção pode ser explicado devido à resposta do sistema
hematopoético à infecção, na tentativa de repor o número de eritrócitos (Sinclair
1962, Boray 1967, Martinez-Pérez et al. 2014).
As mortes de dois ovinos aos 300 dpi e 330 dpi têm em comum os valores
médios de hemoglobina, 10,5% e 11,2 %, valores bem inferiores aos ovinos
infectados e controles no mesmo intervalo. Esses resultados fortalecem a hipótese
que a espoliação sanguínea realizada pelos parasitos pode ter contribuído para as
mortes ocorridas no presente estudo. No entanto, o aumento nos valores médios de
hemoglobina verificado nos ovinos infectados aos 330 e 360 dpi sugere que o
sistema hematopoiético ainda consegue repor as células perdidas em consequência
da espoliação sanguínea.
67
Hawkins (1984) também observou que os ovinos que apresentassem o valor
médio de hematócrito inferior a 15 % morriam, sugerindo que o hematócrito poderia
predizer a carga parasitária e o prognóstico do animal.
Durante a revisão de literatura, constatou-se que, os trabalhos realizados
sobre o perfil hematólogico com ovinos infectados experimentalmente ou
naturalmente por Fasciola hepatica, apresentam informações fragmentadas,
incompletas. Este é o primeiro estudo que realiza o acompanhamento periódico do
hemograma completo de ovinos da raça Santa Inês experimentalmente infectados
por F. hepatica.
7.6.1 Volume corpuscular médio
Os valores médios dos volumes corpusculares de ambos os grupos
permaneceram dentro da normalidade, 23 a 48 fentolitro (fl), durante todo o período
experimental. As médias verificadas nos ovinos infectados foram superiores às
médias dos ovinos não infectados. Além disso, as médias dos ovinos não infectados
não oscilaram durante todo período experimental, sendo o valor médio verificado no
dia 0, 31 fl, próximo do observado aos 390 dpi, 33,5 fl.
Nesse estudo, o volume corpuscular médio dos ovinos infectados aumentou,
a partir dos 15 dpi até os 60 dpi, e com diferença estatística (p<0,001) em relação
aos ovinos não infectados na maioria dos intervalos. O aumento discreto, porém
progressivo, no VCM dos ovinos infectados nesse estudo, indica redução no número
de hemácias na circulação e a liberação de reticulócitos pela medula óssea.
Coincidindo com o período da migração dos estágios imaturos no parênquima
hepático, com a presença dos parasitos adultos nos ductos biliares realizando
espoliação sanguínea. Esses resultados demonstram que anemia provocada por F.
hepatica foi do tipo normocítica normocrômica e regenerativa. De maneira
semelhante, outros autores, como Sykes et al. (1980), também encontraram baixos
valores de hemácias e hemoglobina, com aumento no VCM dos ovinos infectados
na fase subclínica em relação aos não infectados, mas não relatam em qual
momento ocorreu o aumento e nem os valores médios. Matanovic et al. (2007)
verificaram que, nos ovinos infectados, os valores médios do VCM, 33,94 fl, foram
68
superiores aos verificados no grupo controle, 30,75 fl, e com diferença estatística.
No entanto, os valores de ambos os grupos estavam dentro da normalidade e no
estudo não foi apontado em quais dias ocorreu à alteração.
7.6.2 Concentração média de hemoglobina
Os valores da concentração média de hemoglobina (CMH) nesse estudo
permaneceram dentro dos parâmetros de normalidade durante todo o experimento,
tanto para os ovinos infectados como para os ovinos não infectados. Esse achado
sugere que hemácias foram substituídas por reticulócitos, que são hemácias jovens
que, no entanto, são maiores e possuem a capacidade de sintetizar 20% a mais de
hemoglobina que a hemácia madura. De maneira semelhante Matanovic et al.
(2007) relataram que o valor médio de CMH de ambos os grupos, infectados e
controle, apresentaram valores semelhantes e dentro da normalidade em infecção
natural por F. hepatica. No entanto, Martinez-Pérez et al. (2014) observou que as
concentrações médias de hemoglobina verificadas nos ovinos infectados foram
superiores às encontradas nos ovinos não infectados e aumentaram a partir de 28
dpi.
7.6.3 Concentração de hemoglobina corpuscular média
A concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) foi semelhante
entre os animais dos grupos infectado e controle durante o estudo. Embora tenha
ocorrido variações das concentrações durante o período experimental, não houve
diferenças estatísticas significativas entre os grupos, diferindo dos resultados de
Matanovic et al. (2007), que relataram que o CHCM nos ovinos infectados foram
menores que o verificado nos ovinos não infectados. No entanto, Martinez-Pérez et
al. (2014) observaram que o CHCM nos ovinos infectados foram superiores aos dos
animais controles.
69
7.6.4 Plaquetas
A partir dos 15 dpi, ocorreu redução na quantidade de plaquetas circulantes à
medida que o período de infecção foi evoluindo, o que sugere o deslocamento
dessas células para o local de migração do parasito para bloquear a perda de
sangue devido ao rompimento de vasos sanguíneos provocado pelo hematofagismo
dos estágios imaturos, ou pela redução na produção de plaquetas pela medula
óssea. Os mecanismos para explicar a alteração no número de plaquetas circulantes
não são bem conhecidos em ovinos infectados com F. hepatica, mas, em ratos,
Baeza et al. (1994) demonstraram a redução no número médio de plaquetas aos 7
dpi, e atribuíram essa observação, à capacidade do parasito em modular a resposta
inflamatória, visto que os ratos que foram vacinados com adjuvante completo de
Freund´s na região peritoneal antes da infecção por F. hepatica não apresentaram
redução no número médio de plaquetas.
7.6.5 Leucograma
Neste estudo, verificou-se que a infecção experimental dos ovinos induziu
aumento nas contagens médias dos leucócitos totais em relação ao grupo não
infectado a partir dos 15 dpi, com pico aos 30 dpi. Os níveis continuaram mais
elevados em relação ao grupo controle até os 150 dpi, e diminuição nas contagens
totais dos leucócitos do grupo infectado em relação ao grupo controle foram
evidenciada até os 390 dpi. Entretanto, não houve diferença estatisticamente
significativa entre os grupos.
Também foi observado um aumento nas médias dos leucocitos diferenciais
como os neutrófilos, linfócitos e eosinófilos em relação ao grupo controle, com
oscilações desses valores durante todo o período experimental. Esses achados
coincidem com o deslocamento dos estágios imaturos através das camadas do
intestino para a cavidade abdominal, com a penetração no parênquima hepático,
com a destruição de hepatócitos e a liberação de substâncias antigênicas, como o
estabelecimento da inflamação no fígado. Sendo que as reduções dessas células no
sangue periférico dos ovinos infectados nesse estudo, em relação ao grupo controle,
provavelmente devido à migração dessas células para o fígado como descrito por
70
vários autores (Sinclair 1962, Meeusen et al. 1995, Tliba et al. 2000, Matanovic et al.
2007).
Além dessa capacidade da F. hepatica em provocar oscilações nos leucócitos
do sangue periférico quando se estabelece no fígado, auxiliado pela secreção de
metabólitos, como complexas proteínas, que ajudam também na aquisição de
requisitos nutricionais, ela também possui a capacidade de interferir nas células do
sistema inume do hospedeiro realizando modulação e/ou evasão (Flynn et al. 2010).
Penny et al. (1996) relataram que as alterações nas contagens diferenciais de
leucócitos pode ser um meio de defesa do organismo contra a Fasciola, os efeitos
obstrutivos, e/ou devido à lesão mediada por complexo antígeno-anticorpo na
medula óssea.
Embora não tenha sido encontrado na literatura acompanhamento do perfil
hematológico de ovinos da raça Santa Inês por um longo período, como o realizado
nesse estudo, durante a infecção com Fasciola hepatica. Encontra-se na literatura
dezenas de trabalhos sobre alterações no perfil hematológico de ovinos infectados
com F. hepatica, com resultados que coicidem ou divergem dos encontrados nesse
trabalho, provavelmente, devido à influência de raça, de idade, de carga parasitária
e do período de acompanhamento da infecção.
Com relação à variação dos leucócitos diferenciais, Chauvin et al. (1995)
relataram aumento na contagem total de leucócitos em ovinos infectados com 230
metacercárias a partir da 3ª e 5ª semana após infecção, mas não observaram
alterações nem variações em neutrófilos, monócitos ou linfócitos. Entretanto, os
eosinófilos começaram a aumentar a partir da 2ª e 3ª semana, com picos de
eosinofilia nas 4ª, 5ª e 6ª semanas e novamente nas 9ª, 10ª e 11ª semanas.
Segundo os autores, esses picos correlacionam-se com a fase de migração dos
estágios imaturos pelo parênquima hepático e com a presença das formas adultas
nos ductos biliares. A eosinofilia também foi descrita por Haçariz et al. (2009) em
ovinos ―Texel x Cheviot‖ a partir da 3ª semana pós infecção.
A eosinofilia é um dos achados mais marcantes descritos na fasciolose.
Entretanto, deve-se ressaltar que ocorre na maioria das infecções helmintícas
(Marques Junior et al. 1983).
71
A contagem absoluta de eosinófilos dos ovinos infectados no presente estudo,
aumentou a partir dos 15 dpi, com diferença estatística significativa aos 30 e 45 dpi,
período coincidente com pico de eosinofilia. Esse aumento significativo antes do
período pré-patente, que ocorreu em torno de 60 dpi, pode estar relacionado à
migração dos parasitos no parênquima hepático, e a presença dos adultos nos
ductos biliares. Os resultados desse trabalho, estão de acordo com os de Sinclair
(1975), Presidente et al. (1975) Chauvin et al. (1995) e Zhang et al. (2005). Já as
reduções no número de eosinófilos no sangue periférico dos ovinos infectados nesse
estudo, em relação aos não infectados, pode estar relacionada com a migração
dessa célula para o sítio inflamatório por processo quimiotático. Como sugerido por
Ruston & Murray (1977), Rojas et al. (2015), que relataram predominância de
eosinófilos em relação a neutrófilos e a macrófagos em lesões nos fígados de ovinos
infectados com F. hepatica. Além disso, a eosinofilia tem sido relatada como sendo
proporcional ao grau de estimulação antigênica (Escamilla et al. 2016).
Nesse trabalho não houve alterações significativas nas contagens de
monócitos e basófilos entre os ovinos infectados e os ovinos não infectados,
resultados semelhantes aos de Matanovic et al. (2007).
7.7 Avaliação macroscópica dos fígados
Neste trabalho, os achados macroscópicos dos fígados de dois ovinos que
morreram na fase crônica da infecção indicaram a gravidade da doença, confirmada
pela hepatomegalia, pelos lóbulos com bordas abauladas, pelos pontos
hemorrágicos distribuídos difusamente pelo parênquima, por focos de deposição de
fibrina na superfície do parênquima, por focos de necrose com coloração
avermelhada mais escura e pela presença de parasitos adultos nos ductos biliares.
Observou-se maior intensidade de necrose contínua na superfície parietal em
relação à superfície visceral; isso se deve principalmente a migração pelos estágios
imaturos. Esses resultados são semelhantes aos observados por (Sinclair 1967,
Dow et al. 1968, Rushton & Murray 1977, Bostelmann et al. 2000).
A migração dos parasitos jovens pelo parênquima hepático é favorecida pelos
produtos excreto-secretados, além da ação mecânica realizada por ventosas e
72
espinhos presentes no tegumento, causando quadro de necrose hepatocelular. As
áreas lesionadas são substituídas por tecido conjuntivo que produzem cicatrizes
fibrosas, principalmente na cápsula hepática (manchas leitosas), apresentando
características de áreas pálidas, assim como observado por Dow et al. 1968,
Rushton & Murray 1977. Esses fatores também contribuem para a hiperplasia dos
ductos biliares verificada nesse estudo, achados similares aos estudos realizados
em ovinos por outros autores como Sinclair 1967,,Dow et al. 1968, Boray 1969,
Behm & Sangster 1999, Bostelmann et al. 2000.
Os pontos hemorrágicos distribuídos no parênquima hepáticoe a deposição
de fibrina observada nesse estudo confirmam que tais lesões são causadas pela
migração, pela alimentação do parasito e pelo surgimento de áreas de lesão,
semelhante aos estudos de (Sinclair 1967, Dow et al. 1968, Boray 1969, Behm &
Sangster 1999, Bostelmann et al. 2000).
A fibrose hepática observada nesse estudo é resultado da infecção por F.
hepatica, visto que a alteração pode ser promovida pelo acúmulo progressivo de
componentes da matriz extracelular (MEC), resultando em substituição da
arquitetura normal do órgão e comprometimento da atividade funcional do fígado,
como descrito por (Bataller & Brenner 2005, Marcos et al. 2011).
Esses achados dão suporte às manifestações clínicas apresentadas pelos
ovinos, demonstrando que a infecção experimental com 150 metacercárais de F.
hepatica foi capaz de causar lesões no fígado, e consequentemente a morte de
alguns ovinos da raça Santa Inês. A associação dos sinais clínicos com esses
achados macroscópicos confirma que os animais morreram na fase crônica da
infecção.
73
8 CONCLUSÕES
O período pré-patente em ovinos da raça Santa Inês infectados com
150 metacercárias variou de 60 a 62 dias.
Após período pré-patente, os ovinos Santa Inês infectados por F.
hepatica eliminaram ovos nas fezes por mais de 12 meses.
Ovinos Santa Inês com fasciolose apresentam sensibilidade hepática
dolorosa durante a palpação hepática, sendo importante a realização
desse procedimento durante a avaliação física para auxílio no
diagnóstico.
Aumento da frequência cardíaca e respiratória por minuto, associadas
com a palidez da mucosa ocular, são observados nos ovinos com
fasciolose, tornando importante a avaliação cardiorrespiratória no
auxílio do prognóstico.
A utilização do método Famacha©, sem associação com outros
parâmetros clínicos não é confiável para o acompanhamento e controle
dos ovinos infectados por F. hepatica.
Os sinais clínicos são mais evidentes entre os 15 e 120 dias após
infecção, sugerindo ser essa a fase aguda da infecção.
Ovinos Santa Inês infectados com 150 metacercárias de F. hepatica
apresentam ganho de peso inferior aos não infectados.
O hemograma dos ovinos Santa Inês com fasciolose demonstra anemia
normocítica, normocrômica e regenerativa, com leucocitose por
neutrofilia e eosinofilia na fase aguda e linfocitose na fase crônica.
74
A infecção com 150 metacercárias de F. hepatica causa morte dos
ovinos da raça Santa Inês na fase crônica.
Os fígados dos ovinos Santa Inês experimentalmente infectados por F.
hepatica apresentam borda abaulada, aumento de tamanho, fibrose,
necrose e fibrina aderida à cápsula hepática.
A taxa de recuperação de F. hepatica em ovinos Santa Inês infectados
com 150 metacercárias está em torno 34%.
75
9 REFERÊNCIAS
ABIDU, M.; SCHERER, P. O.; CARNEIRO, V. S. Estudo comparativo entre
técnicas coproparasitológicas para diagnóstico de Fasciola hepatica em
bovinos. Rev. Bras. Cienc. 1996, v.3 p.1-3.
ANDREWS, S. J. The Life Cycle of Fasciola hepatica. In: Dalton, J. P. Fasciolosis.
Dublin: CABI Publishing 1999, p. 1-29.
ANIL, M. H.; FORBES, J. M. Feeding in sheep during intraportal infusions of
short-chain fatty acids and the effect of liver denervation. J. Physiol. 1980, 298,
p. 407–414.
BAEZA, E.; POITOU, I.; BOULARD, C. Influence of pro-inflammatory treatments
on experimental infection of rats with Fasciola hepatica: changes in serum
levels of inflammatory markers during the early stages of fasciolosis. Res Vet
Sci. 1994, Sep, 57(2): p. 180-7.
BATALLER, R.; BRENNER, D. A. Liver fibrosis. J Clin Invest. 2005 Feb, 115(2), p.
209-18.
BENDEZÚ, P.; LANDA, A. Distomatosis hepática. Epidemiologia y control. Bol.
IVITA 1973, 14:1-32.
BEHM, C. A.; SANGSTER, N. C. Pathology, pathophysiology and clinical
aspects. In: Dalton, J.P. (Ed.), Fasciolosis. CABI Publishing, Oxon, UK, 1999, p.
185–224.
BENNEMA, S. C.; SCHOLTE, R. G. C.; MOLENTO, M. B.; MEDEIROS, C.;
CARVALHO, O. S. Fasciola hepatica in bovines in Brazil: data availability and
spatial distribution. Rev Inst Med Trop Sao Paulo 2014 Jan-Feb; 56(1): 35-41.
BERNARDO, C. C.; CARNEIRO, M. B.; AVELAR, B. R.; DONATELE, D. M.;
MARTINS, I. V. F.; PEREIRA, M. J. S. Prevalence of liver condemnation due to
76
bovine fasciolosis in Southern Espírito Santo: temporal distribution and
economic losses. Rev Bras Parasitol Vet. 2011 Jan-Mar; 20(1): 49-53.
BERRY, C. I.; DARGIE, J. D. The role host nutrition in the pathogenesis of ovine
Fascioliasis. Veterinary Parasitology 1976, Vol.2(4), p.317-332.
BIRGEL, D. B. Estudo da anemia em ovinos decorrente a verminose
gastrointestinal. 2013. Tese apresentada na Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da Universidade de São Paulo, 2013.
BORAY, J. C. Studies on experimental infection with Fasciola hepatica with
particular reference to acute fascioliasis in sheep. Ann Trop Med Parasitol. 1967,
Dec; 61(4): 439-50.
BORAY, J. C.; HAPPICH, F. A. Standardised chemotherapeutical tests for
immature and mature Fasciola hepatica infections in sheep. Aust Vet J. 1968,
Feb; 44(2):72-8.
BOSTELMANN, S. C. W.; LUZ, E.; THOMAZ SOCCOL, V.; CIRIO, S. M.
Histopatologia comparativa em fígados de bovinos, bubalinos e ovinos
infectados por Fasciola hepatica. Archives of Veterinary Science 2000, v.5, p.95-
100.
BRUNA, L. B. Diversidade genética de populações de ovinos Santa Inês no
Meio-Norte do Brasil com marcadores de base única (SNPs). 2015. Dissertação
(Mestrado) apresentada à Universidade Federal do Piauí como parte das exigências
do Programa de Pós-graduação em Genética e Melhoramento, 2015.
CALDAS, W. S.; LIMA, W. S.; CURY, M. C.; MALACCO, M. A. F.; SILVA, R. S.
Prevalência de Fasciola hepatica em bovinos de algumas mesorregiões do
Estado de Minas Gerais. In: IX SEMINÁRIO BRASILEIRO DE PARASITOLOGIA
VETERINÁRIA. Anais. Campo Grande, 1995.
77
CANCELA, M.; ACOSTA, D.; RINALDI, G.; SILVA, E.; DURÁN, R.; ROCHE, L.;
ZAHA, A.; CARMONA, C.; TORT, J. F. A distinctive repertoire of cathepsins is
expressed by juvenile invasive Fasciola hepatica. Biochimie. 2008 Oct;90(10):
1461-75.
CHAUVIN, A.; BOUVET, G.; BOULARD, C. Humoral and cellular immune
response to Fasciola hepatica experimental primary and secondary infection in
sheep. Int J Parasitol. 1995 Oct; 25(10): 1227-41.
COELHO, L. H. L. Variação populacional e Dinâmica de Infecção de Lymnaea
sp. por F. hepatica no município de Itajubá, MG. Instituto de Ciências Biológicas
da UFMG, 2000. 66p. (Dissertação, mestrado em parasitologia), 2001.
COELHO, L. H. L.; LIMA, W. S. Population dynamics of Lymnaea columella and
its natural infection by Fasciola hepatica in the State of Minas Gerais, Brazil. J
Helminthol. 2003 Mar;77(1): 7-10.
COELHO, L. H. L. Lymnaea columella: Dinâmica de populações em Itajubá, MG,
e susceptibilidade à infecção por Fasciola hepatica em associações
simpátricas e alopátricas entre parasito e hospedeiro. 2008. 110 f. Tese
(Doutorado) – Instituto de Ciências Biológicas. Departamento de Parasitologia,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.
DACAL, A. R. C. Susceptibilidade e mortalidade de Lymnaea (Pseudosuccinea)
columella (SAY, 1817) exposta à infecção por miracídios de Fasciola hepatica
(LINNAEUS, 1758). 1979. Dissertação (Mestrado) - Instituto de Ciências Biológicas,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1979.
DACAL, A. R.; COSTA, H. M.; LEITE, A. C. Susceptibility of Lymnaea
(Pseudosuccinea) columella (Say, 1817) exposed to infection by miracidia of
Fasciola hepatica (Linnaeus, 1758). Revista do Instituto de Medicina Tropical de
São Paulo, 1988, v. 30, n. 5, p.361-369.
78
DAWES, B; HUGHES, D. L. Fascioliasis: the invasive stages of Fasciola
hepatica in mammalian hosts. Advances in Parasitology 1964, Volume 2, p. 97–
168.
DARGIE, J. D.; BERRY, C. I.; PARKINS, J. J. The pathophysiology of ovine
fascioliasis: studies on the feed intake and digestibility, body weight and
nitrogen balance of sheep given rations of hay or hay plus a pelleted
supplement. Res Vet Sci. 1979, May;26(3): 289-95.
DARGIE, J. D. The impact on production and mechanisms of pathogenesis of
trematode infections in cattle and sheep. Int J Parasitol. 1987 Feb;17(2): 453-63.
DIXIT, A. K.; DIXIT, P.; SHARMA, R. L. Immunodiagnostic/protective role of
Cathepsin L cysteine proteinases secreted by Fasciola species. Vet
Parasitol. 2008 Jul 4; 154(3-4): 177-84.
DOW, C. J. G.; ROSS, J. G.; TODD, J. R. The histopathology of Fasciola hepatica
infections in sheep. Parasitology 1968, Feb;58(1): 129-35.
DRACZ, R. M.; LIMA, W. D. S. Autochthonous infection of buffaloes and cattle
by Fasciola hepatica in Minas Gerais, Brazil. Rev Bras Parasitol Vet. 2014 Jul-
Sep; 23(3):413-6.
DRACZ, R. M.; RIBEIRO, V. M. A.; PEREIRA, C. A. J.; LIMA, W. D. S. Ocorrência
de Fasciola hepatica (Linnaeus, 1758) em capivara (Hydrochoerus
hydrochaeris) (Linnaeus, 1766) em Minas Gerais, Brasil. Rev. Bras. Parasitol.
Vet. 2016, July/Sept vol.25 no. 3.
ESCAMILLA, A.; BAUTISTA, M. J.; ZAFRA, R. ; PACHECO, I. L.; RUIZ, M. T.;
MARTÍNEZ-CRUZ, S.; MÉNDEZ, A.; MARTÍNEZ-MORENO, A.; MOLINA-
HERNÁNDEZ, V.; PÉREZ, J. Fasciola hepatica induces eosinophil apoptosis in
the migratory and biliary stages of infection in sheep. Vet Parasitol. 2016 Jan
30;216:84-8.
79
FARIA, N. R. Prevalência e dinâmica da infecção por Fasciola hepatica
(Linnaeus, 1975) em bovinos, no município de Itajubá- Minas Gerais. 2000.
73 f. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Ciências Biológicas. Departamento de
Parasitologia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2000.
FARIA, R. N.; CURY, M. C.; LIMA, W. S. Prevalence and dynamics of natural
infection with Fasciola hepatica (Linnaeus, 1758) in Brazilian cattle. Revue Méd.
Vét., 2005, 156, 2, p. 85-86.
FARIA, R. N.; CURY, M.C.; LIMA, W.S. Concordância entre duas técnicas
coproparasitológicas para diagnóstico de Fasciola hepatica em bovinos. Arq.
Bras. Med. Vet. Zootec. [online]. 2008, vol.60, n.4.
FAO ANIMAL PRODUCTION AND HEALTH, FAO. 2013. In vivo conservation of
animal genetic resources. FAO Animal Production and Health Guidelines, n. 14,
Roma, 2013.
FERRE, I.; BARRIO, J. P.; GONZALEZ-GALLEGO, J.; ROJO-VAZQUEZ, F. A.
Appetite depression in sheep experimentally infected with Fasciola hepatica L.
Vet Parasitol. 1994 Oct;55(1-2):71-9.
FERRE, I.; LÓPEZ, P.; GONZALO-ORDEN, M.; JULIAN, M. D.; ROJO-VÁZQUEZ,
F. A.; GONZÁLEZ-GALLEGO, J. The effects of subclinical fasciolosis on hepatic
secretory function in sheep. Parasitol Res. 1995;81(2):127-31.
GIRÃO, E. S.; UENO, H. Técnica de Quatro tamises para o diagnóstico coprológico
quantitativo da fasciolose dos ruminantes. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.
20, n. 8, p. 905-912, 1985.
HAÇARIZ, O.; SAYERS, G.; FLYNN, R. J.; LEJEUNE, A.; MULCAHY, G. IL-10 and
TGF-beta1 are associated with variations in fluke burdens following
experimental fasciolosis in sheep. Parasite Immunol. 2009 Oct;31(10):613-22.
80
HAROUN, E. T.; HILLYER, G. V. Resistance to fascioliasis: a review. Vet
Parasitol. 1986 Mar;20(1-3):63-93.
HAWKINS, C. D.; MORRIS, R. S. Depression of productivity in sheep infected
with Fasciola hepatica. Vet. Parasitol. 1978 Dec 4, p. 341–351.
HAWKINS, C. D. Productivity in sheep treated with diamphenethide at different
times after infection with Fasciola hepatica. Vet Parasitol. 1984 Aug;15(2):117-23.
HONER, M. R. Aspectos da epidemiologia da fasciolose. In: SEMINÁRIO
NACIONAL SOBRE PARASITOSES DE BOVINOS, 1, 1979, Campo Grande. Anais.
Campo Grande: EMBRAPA/CNPGC, 1979. 386p.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 2015. Disponível em: <
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/pecua/default.asp?t=2>. Acesso em: 02 de Outubro
de 2015.
JENNINGS F.W.; MULLIGAN W.; URQUHART G.M. Radioisotope studies on the
anemia produced by infection with Fasciola hepatica. Experimental Parasitology.,
September 1956, Pages 458-468.
KLEIMAN, F.; PIETROKOVSKY, S.; GIL, S. et al. Comparison of two coprological
methods for the veterinary diagnosis of fasciolosis. Arq.Bras. Med. Vet. Zootec.,
2005, v.57, p.181-185.
KOLB, E. Regulação da temperatura corpórea fisiologia veterinária 4 ed. Editora
Guanabara Koogan, 562 p., 1981
LIMA, W. S.; BARÇANTE, J. M. P.; BARÇANTE, T. A.; GUIMARÃES, M. P.;
SOARES, L. R. M. Occurrence of Fasciola hepatica (LINNAEUS, 1758) infection
in Brazilian cattle in the State of Minas Gerais. Rev Bras Parasitol Vet. 2009 Apr-
Jun;18(2):27-30.
LUTZ, A. Sobre a ocorrência de Fasciola hepatica no estado do Rio de Janeiro.
81
Boletim do Instituto Osvaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 1, p. 9 - 13, 1921.
LUZ, E.; GAZDA, C. M.; YADA, R. S. Fasciolose animal no estado do Paraná –
Análise de dados. Arq. Biol. Tecnol, 1992 v.35, p. 777-780.
MACHADO, R.; FRANCINI, R.; BARBOSA, R. T.; BERGAMASCHI, M. A. C. M.
Escore da condição corporal e sua aplicação no manejo reprodutivo de
ruminantes. Circular Técnica. São Paulo, 2008.
MALAN, F. S.; VAN WYK, J. A.; WESSELS, C. D. Clinical evaluation of anemia in
sheep: early trials. Onderstepoort J Vet Res. 2001 Sep;68(3):165-74.
MALAN, F. S.; VAN WYK, J. A. The packed cell volume and color of the
conjunctivae as aids for monitoring Haemonchus contortus infestations in
sheep. In: BIENNIAL NATIONAL VETERINARY CONGRESS, 1., 1992,
Grahamstown, África do Sul. Anais... Grahamstown : South African Veterinary
Association, 1992. V.1. p.139.
MARCOS, L. A.; TERASHIMA, A.; YI, P.; ANDRADE, R.; CUBERO, F. J.; ALBANIS,
E.; GOTUZZO, E.; ESPINOZA, J. R.; FRIEDMAN, S. L. Mechanisms of Liver
Fibrosis Associated with Experimental Fasciola hepatica Infection: Roles of
Fas2 Proteinase and Hepatic Stellate Cell Activation. J Parasitol. 2011
Feb;97(1):82-7.
MARTÍNEZ-PEREZ, J. M.; ROBLES-PÉREZ, D.; BENAVIDES, J.; MORÁN, L.;
ANDRÉS, S.; GIRÁLDEZ, F. J.; ROJO-VÁZQUEZ, F. A.; MARTÍNEZ-VALLADARES,
M. Effect of dietary supplementation with flaxseed oil or vitamin E on sheep
experimentally infected with Fasciola hepatica. Res Vet Sci. 2014
Aug;97(1):71-9.
MATANOVIC, K.; SEVERIN, K.; MARTINKOVIC, F.; SIMPRAGA, M.; JANICKI, Z.;
BARISIE, J. Hematological and biochemical changes in organically farmed
82
sheep naturally infected with Fasciola hepatica. Parasitol Res. 2007
Nov;101(6):1657-61.
MATTOS, M. J. T.; UENO, H.; GONÇALVES, P. C.; ALMEIDA, J. E. M. Seasonal
occurrence and bioecology of L. columella Say, 1817 (Mollusca, Lymnaeidae)
in its natural habitat in Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Medicina
Veterinaria, 1997. v.19 n.6, p. 248-252.
MEKROUD, A.; CHAUVIN, A.; RONDELAUD, D. Variations of biological
indicators as highly presumptive markers for fasciolosis in experimentally-
infected sheep. Revue Méd. Vét., 2007, 158, 8-9, 437-441
MENESES, R. M. Isolamento e caracterização molecular de Anaplasma
marginale de origem congênita e avaliação da virulência em bezerros
experimentalmente infectados. 2013. Dissertação apresentada à Escola de
Veterinária da UFMG como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em
Ciência Animal, 2013.
MURRAY, M.; RUSHTON, B. Hepatic pathology of a primary experimental
infection of Fasciola hepatica in sheep. Journal of Comparative Pathology Volume
87, Issue 3, July 1977, Pages 459-470.
NETO FERREIRA, J.M., VIANA, E. S.; MAGALHÃES, L.M. Patologia Clínica
veterinária. 1 ed., Belo Horizonte: ed., Rabelo e Brasil Ltda, 1977.
OLAH, S.; WYK, J. A.; WALL, R.; MORGAN, E. R. FAMACHA©: A potential tool
for targeted selective treatment of chronic fasciolosis in sheep. Vet
Parasitol. 2015 Sep 15;212(3-4):188-92.
OLIVEIRA, E. L. Prevalência e fatores associados à distribuição da Fasciola
hepatica, Linnaeus, 1758 em bovinos dos Municípios de Careaçu e Itajubá,
Região da Bacia do Rio Sapucaí-Minas Gerais. 2008.100f. Dissertação (Mestrado
83
em Parasitologia). Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2008.
PÊCEGO, O. Fiscalização sanitária de carnes e derivados. Estatística de verificação
e apreensões e a sua importância. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina
Veterinária, 1925, São Paulo, v. 2, n. 8 - 10, p. 375 - 389.
PILE, E.; SANTOS, J. A. A.; PASTORELLO, T.; VASCONCELOS, M. Fasciola
hepatica em búfalos (Bubalus bubalis) no município de Maricá, Rio de Janeiro,
Brasil. Brazil Journal Veterinary Research Animal Science., 2001, São Paulo, v. 1, p.
42 – 43.
PRESIDENTE, P. J. A.; MC CRAW, B. M.; LUMSDEN, J. H. Experimentally
induced Fasciola hepatica infection in White-tailed Deer I. Clinicopathological
and Parasitological Features. Can J Comp Med. 1975 Apr; 39(2): 155–165.
QUEIROZ, V. S.; LUZ, E.; LEITE, L. C.; CÍRIO, S. M. Fasciola hepática
(Trematoda, Fasciolidae: estudo epidemiológico nos municípios de Bocaiúva
do Sul e Tunas do Paraná (Brasil). Acta Biol. Par., 2002, Curitiba, 31 (1, 2, 3, 4):
99-111.
RAADSMA, H. W.; KINGSFORD, N. M.; SUHARYANTA; SPITHILL, T. W.;
PIEDRAFITA, D. Host responses during experimental infection with Fasciola
gigantica or Fasciola hepatica in Merino sheep I. Comparative immunological
and plasma biochemical changes during early infection. Veterinary Parasitology,
2007, Volume 143, Issues 3–4, p. 275–286.
RIBEIRO, P. A. Incidência das causas de rejeição de bovinos no Brasil Central,
prejuízos causados pelas mesmas nos anos de 1946/47. Rev. Fac. Med. Vet.,
1949, S. Paulo — Vol. 4, fase. 1.
84
REZENDE, H. E. B. Retrospectiva da Fasciolose bovina no Brasil. NA. 1° Sem.
Nac. Parasitoses dos Bovinos. (Eds. A. A. H. Beck, et al). Campo Grande,
EMBRAPA, CNPGC. p. 133-143.
REY, L. Fasciola hepatica no Gado do Rio Grande do Sul. Investigações sobre
a possibilidade de ocorrência de casos humanos. Revista Brasileira de
Malariologia, 1957, v. 9, n. 4, p. 473 – 483.
ROJAS, C. A. A.; Ansell, B. R. E.; Hall, R. S.; Gasser, R. B.; Young, N. D.; Jex, A.
R.; Scheerlinck, Jean-Pierre Y. Transcriptional analysis identifies key genes
involved in metabolism, fibrosis/tissue repair and the immune response
against Fasciola hepatica in sheep liver. Parasit Vectors. 2015 Feb 25;8:124.
ROJO-VÁZQUEZ, F. A.; MEANA, A.; VALCÁRCEL, F.; VALLADARES, M. M.
Uptade on trematode infections in sheep. Veterinary Parasitology, 2012, Volume
189, Issue 1, p. 15–38
ROSENBERG, G. Exame clínico dos bovinos. 3. ed. Rio de Janeiro (RJ):
Guanabara Koogan, 1993.
ROSS, J. G.; TODD, J. R.; DOW, C. Single experimental infections of calves with
the liver fluke, Fasciola hepatica (Linnaeus, 1758). Journal of Comparative
Pathology 1966, Volume 76, Issue 1, p. 67-81.
RUSHTON, B.; MURRAY, M. Hepatic pathology of primary experimental
infection of Fasciola hepatica in sheep. Journal of Comparative Pathology, 1977,
Volume 87, Issue 3, p. 459-470
SANTOS, C. S.; SCHERER, P. O.; VASCONCELLOS, M. C.; PILE, E. M.; FREIRE,
L. S.; SANTOS, J. A. A.; SERRA-FREIRE, N. M. Registro de Fasciola hepatica em
eqüinos (Equus caballus), caprinos (Capra hircus) e ovinos (Ovis aries) no
município de Itaguaí, Rio de Janeiro, Brasil. R Bras. Ci. Vet., 2000, v. 7, n. 1, p.
63-64.
85
SERRA-FREIRE, N. M.; BORDIN, E. L.; LESSA, C. S. S.; SCHERER, P. O.;
FARIAS, M. T.; MALACCO, M. A.; CORRÊA, T. C.; TSCHUMI, J. A. Reinvestigação
sobre a distribuição da Fasciola hepatica no Brasil. A Hora Veterinária, 1995,
Edição Extra, n.1, p.19-21.
SERRA-FREIRE, N. M. Fasciolose hepatica no Brasil: Análise Retrospectiva e
Prospectiva. Caderno Técnico Científico da Escola de Medicina Veterinária, ano 1,
n. 1, p. 9 - 70, jul-dez, 1999.
SILVA, I. C.; MULLER, G.; MATTOS, M. J. T.; CASTRO A. L. D.; ALMEIDA, J. E. M.
& UENO, H. Fasciolose - Incidência e importância na bovino e ovinocultura no
RS. Lavoura Arrozeira, 1980, Porto Alegre, v. 33, n. 323, p. 34-42.
SILVA, O. M. C. Parasitoses animais. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, p. 13,
12 jul. 1936.
SILVA, R. E.; LIMA, W. S.; CALDAS, W. S.; CURY, M. C.; MALACCO, A. F.
Primeiro encontro de L. columella (Say, 1817) naturalmente infectada por
estádios intermediários de F. hepatica (Lynnaeus, 1758) na cidade de Itajubá,
MG. Revista de Patologia Tropical, 1994, Supl., v. 23, n. 2.
SCHWEIZER, G.; BRAUN, U.; DEPLAZES, P.; TORGERSON, P. R. Estimating the
financial losses due to bovine fasciolosis in Switzerland. Vet. Rec., 2005, 157, p.
188–193.
SINCLAIR, K. B. Observations on the clinical pathology of ovine fascioliasis. Br.
Vet. J. 1962, v. 118, n.37, p. 37-53.
SINCLAIR, K. B. Pathogenisis of Fasciola hepatica and other liver-flukes.
Helminthol. 1967, v.36, n.2, p. 115-134.
86
SINCLAIR, K. B. The resistance of sheep to Fasciola hepatica: studies on the
pathophysiology of challenge infections. Research in Veterinary Science 1975,
19, p. 296-303.
SYKES, A. R.; COOP, R. L.; RUSHTON, B. Chronic subclinical fascioliasis in
sheep: effects on food intake, food utilization and blood constituents. Res Vet
Sci. 1980 Jan;28(1):63-70.
SWENSON, M. J.; REECE, W. O. Dukes fisiologia dos animais domésticos. 11
ed Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. 855p.
UENO, H.; GUTIERRES, V. C.; MATTOS, M. J. T.; MULLER, G. Fascioliasis
problems in ruminants in Rio Grande do Sul, Brazil. Veterinary Parasitology
1982, Volume 11, Issues 2–3, p. 185-191
UETA, M. T. Infecção experimental de Lymnaea columella por Fasciola
hepatica. Ver. Saúde Públ. de São Paulo 1980, v. 11, n. 1, p. 43 – 57.
URQUHART, G. M. et al. Parasitologia veterinária, 2ª ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogam, 1996.
ZHANG, W. Y.; MOREAU E.; UOPE J. C.; HOWARD C.J.; HUANG W. Y.; CHAUVIN,
A. Fasciola hepatica and Fasciola gigantica: Comparison of cellular response
to experimental infection in sheep. Experimental Parasitology 2005, Volume 111,
Issue 3, p. 154–159.
87
ANEXOS
A1. Ficha de avaliação clínica
AVALIAÇÃO CLÍNICA DOS OVINOS DA RAÇA SANTA INÊS
Animal:
Pelagem:
Peso:
Data:
PARÂMETROS AVALIADOS
Comportamento ( ) normal ( ) prostrado
Inspeção contorno
abdominal
( ) normal ( ) ascite ( ) prenhes ( ) assimétrico
Edema submandibular ( ) ausente ( ) presente
Frequência cardíaca ______/min
Frequência respiratória ______/min
Mucosas Oculares ( ) 1- Vermelho robusto ( ) 3- Rosa ( ) 5- Branco
( ) 2- Vermelho rosado ( ) 4- Rosa pálido
Condição corporal ( ) 1- Caquético ( ) 3- Médio ( ) 5- Obeso
( ) 2- Magro ( ) 4- Gordo
Sensibilidade hepática ( ) ausente ( ) presente