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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CINCIAS DA SADE
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM
MESTRADO EM ENFERMAGEM
INCIDENTES DE SEGURANA RELACIONADOS
TERAPIA MEDICAMENTOSA: PERCEPES DE
PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DE
TERAPIA INTENSIVA
DISSERTAO DE MESTRADO
der Lus Arboit
Santa Maria, RS, Brasil
2014
INCIDENTES DE SEGURANA RELACIONADOS
TERAPIA MEDICAMENTOSA: PERCEPES DE
PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DE
TERAPIA INTENSIVA
der Lus Arboit
Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps Graduao em
Enfermagem (PPGEnf), rea de Concentrao: Cuidado, educao e trabalho
em enfermagem e sade, Centro de Cincias da Sade da Universidade Federal
de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para a obteno do ttulo de
Mestre em Enfermagem
Orientadora: Enfa. Dra. Silviamar Camponogara
Co-orientadora: Enfa. Dra. Tnia Bosi de Souza Magnago
Santa Maria, RS, Brasil
2014
2014
Todos os direitos autorais reservados a der Lus Arboit. A reproduo de partes ou do todo
deste trabalho s poder ser feita mediante a citao da fonte.
E-mail: [email protected]
124
mailto:[email protected]
Dedicatria
Dedico este trabalho ao meu filho Mateus Gabriel e minha esposa Elizandra
pelo amor incondicional, por compartilharem comigo, os sonhos, as
dificuldades, as vitrias e decepes, pelo incentivo, cumplicidade e
compreenso que tiveram comigo durante toda a trajetria que permeou esta
construo.
Amo vocs!
Agradecimentos
Deus, pelo dom da vida, por todas as bnos e por sempre iluminar o meu
caminho, pelos desafios que me proporcionaram crescimento e pela fora para
enfrent-los;
Aos familiares, pelo apoio e incentivo durante toda esta caminhada;
minha orientadora Enfa. Profa. Dra. Silviamar Camponogara, por quem
tenho profunda admirao, respeito e carinho, por compreender os meus
limites, as minhas inquietaes, por me proporcionar novos desafios e pelas
parcerias nesta trajetria. s um exemplo de Mestre a ser seguido;
Enfa. Profa. Dra. Tnia Solange Bosi de Souza Magnago, minha co-
orientadora, pelo apoio, carinho dedicao, compreenso, e auxlio;
Aos professores Luiz Anildo Anacleto da Silva, Carmem Lcia Colom Beck e
Janete de Souza Urbanetto que compuseram a banca Examinadora, pelas
sugestes e discusses construtivas que se delinearam durante a qualificao
e a defesa desta dissertao;
Ao PPGEnf, pela oportunidade de ingressar no mestrado e pela contribuio
ao crescimento na docncia e na profisso;
Aos Docentes do PPGEnf, pelos ensinamentos compartilhados;
Associao Hospitalar de Caridade de Trs Passos, e em especial aos
membros da equipe de enfermagem da unidade de Terapia Intensiva, por
compartilharem suas experincias quanto temtica da segurana do
paciente no uso de medicamentos;
Aos membros do Grupo de Pesquisa Trabalho, Sade, Educao e
Enfermagem, pela vivncia enriquecedora;
Aos colegas da 7 turma do curso de mestrado, pelas trocas de experincias
profissionais e conhecimentos adquiridos;
Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES),
pelo suporte financeiro oferecido como apoio para o desenvolvimento desta
dissertao.
Aos colegas professores e alunos dos cursos de Graduao em Enfermagem da
Universidade Federal de Santa Maria, campus Palmeira das Misses e
Universidade de Cruz Alta campus de Cruz Alta, pelas oportunidades de me
constituir como docente, antes mesmo de concluir o curso de mestrado.
A todos que direta ou indiretamente contriburam para a realizao deste
projeto, embora no tenham sido citados, o meu Muito obrigado!
Hoje Dia de Encontro...
Hoje dia de encontro: encontro com o outro para receber, mas, sobretudo
para dar. No sejamos calados nem falantes, mas sejamos aquele para dar-se
aos outros, aquele que ouve para receber e comungar. As pessoas nem chegam
e j querem ir embora, no perguntam e j querem saber a resposta, no
trabalham e j gastaram tudo, no do amor e querem ser amadas.
Hoje dia de encontro: encontro para perguntar e responder. S ter
lbios para acertar as respostas quem tiver ouvidos para escutar as perguntas.
Hoje dia de encontro: encontro para crescer e repartir com os outros, nossos
sucessos e nossos fracassos. Nossas certezas e nossas ansiedades. Hoje dia
de encontro: encontro pra dizer da ao, da doao, da disponibilidade e do
amor que colocamos em tudo o que fazemos.
Pouco importa o lugar que ocupamos e o papel que desempenhamos. O
que importa que estamos realizando o melhor possvel e dando o melhor de
ns mesmos nesse momento e nesse lugar. No escolhemos o local para servir;
servimos no local onde estamos.
Autor desconhecido.
RESUMO
Dissertao de mestrado
Ps-Graduao em Enfermagem do Programa
Universidade Federal de Santa Maria
INCIDENTES DE SEGURANA RELACIONADOS TERAPIA
MEDICAMENTOSA: PERCEPES DE PROFISSIONAIS DE
ENFERMAGEM DE TERAPIA INTENSIVA
AUTOR: ENF. MDO. ESP. DER LUS ARBOIT
ORIENTADORA: ENFa. DRa. SILVIAMAR CAMPONOGARA
CO-ORIENTADORA: ENFa. DRa. TNIA BOSI DE SOUZA MAGNAGO
Santa Maria, 10 de dezembro de 2014.
Este estudo tem como Objetivos: analisar as percepes de profissionais de enfermagem
atuantes em unidade de terapia intensiva sobre a ocorrncia de incidentes de segurana
relacionados terapia medicamentosa; identificar os fatores que interferem para a ocorrncia
de incidentes de segurana relacionados terapia medicamentosa; conhecer as estratgias
adotadas pelos profissionais de enfermagem atuantes em unidade de terapia intensiva para a
preveno e controle dos incidentes de segurana relacionados terapia medicamentosa.
Mtodo: pesquisa exploratrio-descritiva com abordagem qualitativa, realizada em um
hospital de mdio porte do Sul do Brasil. Entrevistaram-se quatro enfermeiros e 11 tcnicos
de enfermagem da unidade de terapia intensiva adulto. A coleta de dados ocorreu nos meses
de fevereiro e maro de 2014, por meio de entrevista semiestruturada e os dados foram
submetidos Anlise de Temtica. Resultados e discusses: as informaes obtidas junto
aos participantes foram agrupadas em trs categorias: a) percepes de trabalhadores de
enfermagem atuantes em uma unidade de terapia intensiva, sobre a ocorrncia de incidentes
de segurana relacionados terapia medicamentosa; b) fatores que interferem para a
ocorrncia de incidentes de segurana relacionados ao uso de medicamentos em terapia
intensiva; c) estratgias adotadas pelos trabalhadores de enfermagem para reduo dos
incidentes de segurana relacionados ao uso de medicamentos em UTI. Os entrevistados j
ouviram falar sobre o tema, porm demonstram incertezas quanto aos conceitos de incidente
de segurana, evento adverso e erros de medicao. Citam que j vivenciaram alguma
situao de incidentes de segurana com relao terapia medicamentosa e a conduta adotada
consiste na comunicao do evento ao enfermeiro e a intensificao dos cuidados ao paciente,
a fim de minimizar as consequncias do erro e promover o restabelecimento das funes
orgnicas. As rotinas de trabalho, a complexidade do quadro clnico dos pacientes, a
fragmentao do cuidado, a estrutura fsica, a pressa, a sobrecarga de trabalho, falta de
reconhecimento e falta de ateno so alguns dos fatores citados que contribuem, para
facilitar a ocorrncia dos incidentes. No entanto, a passagem de planto, a ateno, a
conferncia da prescrio mdica e dos rtulos da medicao, a identificao do paciente e os
cinco certos da medicao so apontados como fatores humanos que podem auxiliar para
minimizar a ocorrncia destes. A conferncia da prescrio mdica e dos rtulos da
medicao, no administrao de medicamentos em caso de dvidas, identificao adequada
do paciente e da medicao foram citadas como estratgias para a preveno da ocorrncia de
incidentes de segurana. Concluses: evidencia-se a necessidade de aperfeioamento
constante dos trabalhadores, bem como a definio de conceitos e a uniformizao das
condutas diante dos incidentes de segurana. Alm disso, de fundamental importncia a
implantao de um sistema de notificao voluntria em que o profissional no necessite se
identificar, alm do acompanhamento e orientao por parte do enfermeiro aos tcnicos de
enfermagem quanto ao preparo e administrao de medicamentos. Estas so algumas das
aes que se constituem em valiosas ferramentas para a qualificao do cuidado, promovendo
a satisfao dos trabalhadores e a cultura de segurana ao invs da cultura punitiva.
Descritores: Enfermagem. Erros de medicao. Segurana do paciente. Unidades de Terapia
Intensiva.
ABSTRACT
Masters Dissertation
Nursing Pos-Graduation Program
Federal University of Santa Maria
SAFETY INCIDENTS RELATED TO MEDICAL THERAPY:
PERCEPTIONS OF INTENSIVE CARE NURSING PROFESSIONALS`
AUTHOR: ENF. MDO. ESP. DER LUS ARBOIT
ADVISOR: ENFa. DR
a. SILVIAMAR CAMPONOGARA
CO-ADVISOR: ENFa. DRa. TNIA BOSI DE SOUZA MAGNAGO
Santa Maria, December, 10th
, 2014.
This study has as objectives: to analyze the perceptions of intensive care unit nursing
professionals about the occurrence of safety incidents related to the medical therapy; to
identify the factors that interfere positively and negatively for the occurrence of safety
incidents related to the medical therapy; to know the strategies adopted by the intensive care
unit nursing professionals for the prevention and control of safety incidents related to the
medical therapy. Method: exploratory-descriptive research with a qualitative approach,
carried out in a medium-sized hospital in the south of Brazil. The subjects were four nurses
and eleven nursing technicians of an adult intensive care unit. The data collection occurred in
February and March, 2014, through a semi-structured interview and afterwards these data
were submitted to Thematic Analysis. Results and discussions: the information obtained
with the participants was grouped together in three categories: a) perceptions of intensive care
unit nursing professionals about the occurrence of safety incidents related to medical therapy;
b) interfering factors which contribute for the occurrence of safety incidents related to the use
of medications in intensive care; c) strategies adopted by nursing professionals for the
reduction of safety incidents related to the use of medications in ICU. The interviewees
reported having already heard about the topic, however showed uncertainties about the
concepts of safety incidents, adverse events and medication errors. They mentioned having
already experienced some situations involving safety incidents related to the medical therapy;
the adopted action consists of the communication of the event to the nurse and the
intensification of patient care, in order to minimize the consequences of the error and to
promote the reestablishment of organic functions. The working routines, the complexity of the
clinical status of patients, the care fragmentation, physical structure, the hurry, work overload,
lack of recognition and lack of attention are some of the factors mentioned which contribute
for the occurrence of incidents. However, the shift change, the attention, medical prescription
and medication labels check and the patient identification the five medication rights are
pointed out as human factors that can help minimize the occurrence of incidents. The medical
prescription and medication labels check, the non-administration of medication in case of
doubt, the adequate patient and medication identification were mentioned as strategies for the
prevention of the occurrence of safety incidents. Conclusions: it was demonstrated the
necessity of constant update by the professionals, as well as the definition of concepts and the
standardization of procedures in case of safety incidents. Besides, it is utterly important the
implementation of a system of voluntary notification in which the professional does not need
to identify him/herself, and also the support and guidance by the nurse to the nursing
technicians about the preparation and administration of the medication. These are a few of the
actions which represent valuable tools for the improvement of care, thus promoting
professionals satisfaction and also promoting the culture of safety, rather than the punitive
one.
Descriptors: Nursing. Nursing care. Medication errors. Patient Safety. Intensive care units.
RESUMEN
Disertacin de Maestra
Pos-Graduacin de Enfermera Programa
Universidad Federal de Santa Maria
INCIDENTES DE SEGURIDAD RELACIONADOS A LA TERAPIA
MEDICAMENTOSA: PERCEPCIONES DE PROFESIONALES DE
ENFERMERA DE TERAPIA INTENSIVA AUTOR: ENF. MDO. ESP. DER LUS ARBOIT
ORIENTACIN: ENFa. DR
a. SILVIAMAR CAMPONOGARA
CO- ORIENTACIN: ENFa. DRa. TNIA BOSI DE SOUZA MAGNAGO
Santa Maria, 10 de diciembre de 2014,
Este estudio tiene como Objetivos: analizar las percepciones de profesionales de enfermera
actuantes en unidad de terapia intensiva, sobre las ocurrencia de incidentes de seguridad
relacionados a la terapia medicamentosa; identificar los factores que interfieren positiva y
negativamente para la ocurrencia de incidentes de seguridad relacionados a la terapia
medicamentosa; conocer las estrategias adoptadas por los profesionales de enfermera
actuantes en la unidad de terapia intensiva para la prevencin y control de los incidentes de
seguridad relacionados a la terapia medicamentosa. Mtodo: estudio exploratorio, descriptivo
con abordaje cualitativo, realizada en un hospital de porte mediano del Sul de Brasil. Los
sujetos fueron cuatro enfermeros y 11 tcnicos de enfermera de la unidad de terapia intensiva
adulto. La recoleccin de datos ocurri en los meses de febrero y marzo de 2014, por medio
de entrevista semiestruturada, siendo, los datos, sometidos a Anlisis de la Temtica.
Resultados y discusiones: las informaciones obtenidas junto a los participantes fueron
agrupadas en tres categoras: a) percepciones de trabajadores de enfermera actuantes en una
unidad de terapia intensiva, sobre la ocurrencia de incidentes de seguridad relacionados a la
terapia medicamentosa; b) factores que interfieren para la ocurrencia de incidentes de
seguridad relacionados al uso de medicamentos en terapia intensiva; c) estrategias adoptadas
por los trabajadores de enfermera para reduccin de los incidentes de seguridad relacionados
al uso de medicamentos en UTI. Los entrevistados ya oyeron hablar sobre el tema, pero
demuestran incertezas cuanto a los conceptos de incidente de seguridad, evento adverso y
errores de medicacin. Citan que ya vivenciaron alguna situacin de incidentes de seguridad
con relacin a la terapia medicamentosa y a conducta adoptada consiste en la comunicacin
del acontecimiento al enfermero y la intensificacin de los cuidados al paciente, a fin de
minimizar las consecuencias del error y promover el restablecimiento de las funciones
orgnicas. Las rutinas de trabajo, la complexidad del cuadro clnico de los pacientes, la
fragmentacin del cuidado, la estructura fsica, la prisa, la sobrecarga de trabajo, falta de
reconocimiento y falta de atencin son algunos de los factores citados que contribuyen, para
facilitar la ocurrencia de los incidentes. Sin embargo, el cambio de la guardia, la atencin, la
conferencia de la prescripcin mdica y de los rtulos de la medicacin, la identificacin del
paciente y los cinco correctos de la medicacin son apuntados como factores humanos que
pueden auxiliar para minimizar la ocurrencia de estos. La conferencia de la prescripcin
mdica y de los rtulos de la medicacin, en la administracin de medicamentos en caso de
dudas, identificacin adecuada del paciente y de la medicacin fueron citadas como
estrategias para la prevencin de la ocurrencia de incidentes de seguridad. Conclusiones: Se
observa la necesidad de perfeccionamiento constante de los trabajadores, como tambin la
definicin de conceptos y la uniformizacin de las conductas delante de los incidentes de
seguridad. Adems de eso, es de fundamental importancia la implantacin de un sistema de
notificacin voluntaria en que el profesional no necesite identificarse, adems del
acompaamiento y orientacin por parte del enfermero a los tcnicos de enfermera cuanto a
la preparacin y administracin de medicamentos. Estas son algunas de las acciones que se
constituyen en valiosas herramientas para la cualificacin del cuidado, promoviendo la
satisfaccin de los trabajadores y la cultura de seguridad al contrario de la cultura punitiva.
Descriptores: Enfermera. Atencin de enfermera. Errores de medicacin. Seguridad de los
pacientes. Unidades de cuidados intensivos.
LISTA DE SIGLAS
ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria
CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
CAAE Certificado de Apresentao para Apreciao tica
CCS Centro de Cincias da Sade
CDI Centro de Diagnstico por Imagem
CDM Central de Diluio de Medicamentos
CEP Comit de tica em Pesquisa com Seres Humanos
CNS Conselho Nacional de Sade
COFEN Conselho Federal de Enfermagem
COREN Conselho Regional de Enfermagem
CRM Conselho Regional de Medicina
EA Evento Adverso
EM Erro de Medicao
EPS Educao Permante em Sade
EVIDENTIA Revista de Enfermagem Baseada em Evidncia
EV Endovenosa(o)
GAP Gabinete de Projetos
HCTP Hospital de Caridade de Trs Passos
IOM Instituto de Medicina Americano
LILACS Literatura Latino Americana e do Caribe em Cincias da Sade
MS Ministrio da Sade
OMS Organizao Mundial da Sade
PCR Parada cardiorrespiratria
PNSP Programa Nacional de Segurana do Paciente
PPGEnf Programa de Ps-Graduao em Enfermagem
PUBMED US National Library of Medicine National Institutes of Health
PVC Presso Venosa Central
SBC Sociedade Brasileira de Cardiologia
SBTI Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva
SIE Sistema de Informao para o Ensino
SISNEP Sistema Nacional de tica em Pesquisa
SNE Sonda Nasoenteral
SNG Sonda Nasogtrica
SUS Sistema nico de Sade
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UFSM Universidade Federal de Santa Maria
UTI Unidade de Terapia Intensiva
WHO World Health Organization
http://www.nlm.nih.gov/http://www.nih.gov/
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Apresentao dos objetivos especficos do estudo relacionados s categorias
e subcategorias temticas. ................................................................................... 56
LISTA DE APNDICES
Apndice A Roteiro da entrevista ....................................................................................... 115
Apndice B Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) .................................. 116
Apndice C Termo de Confidencialidade ........................................................................... 118
LISTA DE ANEXOS
Anexo A Autorizao Institucional ..................................................................................... 121
Anexo B Parecer Consubstanciado do CEP ........................................................................ 122
SUMRIO
1 INTRODUO ........................................................................................................... 27 1.1 Objetivos ...................................................................................................................... 31
2 REVISO DA LITERATURA .................................................................................. 33 2.1 Processo de trabalho em sade e enfermagem ......................................................... 33 2.2 A segurana do paciente e as implicaes para as instituies de sade ............... 37
2.3 Os Incidentes de segurana relacionados ao uso de medicamentos em terapia
intensiva e as implicaes para a enfermagem ......................................................... 40
3 PERCURSO METODOLGICO ............................................................................. 47 3.1 Tipo de pesquisa .......................................................................................................... 47
3.2 Cenrio do estudo ....................................................................................................... 48 3.3 Populao e participantes do estudo ......................................................................... 49 3.4 Coleta de dados ........................................................................................................... 49 3.5 Anlise dos dados ........................................................................................................ 51
3.6 Consideraes ticas ................................................................................................... 53
4 RESULTADOS E DISCUSSO ................................................................................ 55
4.1 Percepes de trabalhadores de enfermagem atuantes em UTI, sobre a
ocorrncia de incidentes de segurana relacionados terapia medicamentosa ... 57 4.1.1 Incidentes de segurana relacionados terapia medicamentosa: o que dizem os
trabalhadores de enfermagem de UTI ........................................................................... 57
4.1.2 Vivncias de incidentes de segurana e condutas adotadas diante dos mesmos .......... 62
4.2 Fatores que contribuem para a ocorrncia de incidentes de segurana
relacionados ao uso de medicamentos em terapia intensiva ................................... 68 4.2.1 Incidentes de segurana relacionados aos fatores institucionais/organizacionais ........ 70 4.2.2 Incidentes de segurana relacionados aos fatores humanos ......................................... 76
4.3 Estratgias adotadas pelos trabalhadores de enfermagem para reduo dos
incidentes de segurana relacionados ao uso de medicamentos em UTI ............... 80 4.3.1 A busca de conhecimento para preparar e administrar medicamentos como
estratgia para minimizar o risco de incidentes de segurana ...................................... 81 4.3.2 Condutas adotadas no cotidiano de trabalho para evitar/minimizar os incidentes de
segurana relacionados ao uso de medicamentos ......................................................... 86
CONSIDERAES FINAIS ..................................................................................... 95
REFERNCIAS ........................................................................................................ 101
APNDICES ............................................................................................................. 113
ANEXOS .................................................................................................................... 119
1 INTRODUO
O debate sobre questes relacionadas segurana do paciente tem sido cada vez mais
intenso, na atualidade. Neste sentido, os sistemas de sade, em nvel mundial, esto buscando
intervenes para melhorar a qualidade e segurana dos cuidados em sade tendo em vista
que, muitos pacientes no recebem tratamentos recomendados ou sofrem complicaes
evitveis (HYZY; SCALES, 2012).
Com a publicao do relatrio "To err is human", em 1999, pelo Instituto de Medicina
Americano (IOM), a temtica da segurana do paciente se tornou parte integrante das
polticas pblicas de sade com o objetivo de melhorar, continuamente, a qualidade dos
cuidados em sade. Este relatrio denuncia que, somente nos Estados Unidos, entre 44 e 98
mil pessoas falecem, por ano, em decorrncia de erros mdicos (KOHN; CORRIGAN;
DONALDSON, 1999).
A segurana do paciente um tema bastante desafiador no contexto da sade e, na
atualidade, tem gerado debates no mbito mundial. O termo segurana do paciente est
relacionado reduo, a um mnimo aceitvel, do risco de dano desnecessrio associado ao
cuidado de sade (BRASIL, 2013a p. 02). Autores como Camerini e Silva (2011) salientam
que, a segurana do paciente constitui-se em um dos principais parmetros para a qualificao
da assistncia de enfermagem.
A reduo/minimizao de riscos um dos mais srios desafios da enfermagem. Lage
(2010) refere que no podemos trabalhar na iluso de que os doentes deixaro de ser lesados
pelos nossos cuidados. Para tanto, cada vez mais so necessrios profissionais adequadamente
capacitados para proporcionar cuidados qualificados, visando a resolutividade das aes
relativas promoo, recuperao e reabilitao da sade e preveno e tratamento de
agravos sade dos usurios.
Neste contexto, em 2004, a WHO lanou a Aliana Mundial para a Segurana do
Paciente. Este programa apresenta estratgias, diretrizes e metas internacionais, com o
objetivo de disseminar e garantir, em diferentes pases, prticas que viabilizem a segurana
dos pacientes. Esta aliana atua em diferentes segmentos, desde a lavagem de mos, cirurgia
segura, taxonomia, entre outros aspectos ligados ao tema segurana do paciente
(GARROUSTE-ORGEAS, 2012).
28
Em abril de 2013, o Ministrio da Sade (MS), por meio da Portaria N 529, instituiu o
Programa Nacional de Segurana do Paciente (PNSP). Essa iniciativa visa promover uma
maior ateno temtica segurana do paciente em nosso pas. Dessa forma, refora as
instituies de sade, aos profissionais e comunidade a importncia de abordar e promover a
segurana do paciente, visando colaborar para a qualificao dos cuidados em todas as
instituies de sade do pas (BRASIL, 2013a).
De acordo com Runciman et al., (2009) e Brasil (2013a, p. 02) o incidente refere-se
a um determinado evento ou circunstncia que poderia ter resultado, ou resultou, em dano
desnecessrio ao paciente . Neste sentido, o incidente sem dano aquela situao ou
evento que atingiu o paciente, mas no causou dano discernvel. No entanto, o incidente com
dano o prprio Evento Adverso (EA), ou seja, o incidente que resulta em dano ao
paciente (BRASIL, 2013a p. 02).
Neste contexto, entende-se que o uso seguro de medicamentos a inexistncia de injria
acidental ou evitvel durante o uso de medicamentos (BRASIL, 2013b, p.42). O erro de
medicao definido como um evento evitvel, ocorrido em qualquer fase da terapia
medicamentosa, que pode ou no causar danos ao usurio e representa de 65 a 87% de todos
os eventos adversos (GIMENES et al., 2011). O dano est relacionado ao
comprometimento da estrutura ou funo do corpo e/ou qualquer efeito dele oriundo
incluindo-se: doenas, leso, sofrimento, morte, incapacidade ou disfuno, podendo, assim,
ser fsico, social ou psicolgico (BRASIL, 2013a, p. 02).
Assim sendo, acarretam em maiores probabilidades de riscos e srias consequncias
ou complicaes ao paciente. Estas questes so relevantes e impactam, significativamente,
nos ndices de morbidade, mortalidade e no tempo de internao, alm de gerarem
implicaes tico-legais e aumento nos custos hospitalares (AIKEN, et al. 2002; RAFFERTY,
et al., 2007).
Dentre os danos para o paciente pode-se elencar: deformidades fsicas, maior tempo de
internao, prejuzos de carter socioeconmico, social, psicolgico e, at mesmo, o bito.
Para os profissionais, estas ocorrncias podem gerar consequncias de ordem emocional,
ticas e jurdicas. J, para a instituio de sade, podem acarretar em custos relacionados ao
tratamento de tais complicaes, imagem institucional desfavorvel, situaes relacionadas a
processos judiciais, maior nvel de estresse e ansiedade dos funcionrios e demais
colaboradores (MELO, 2007).
Em um estudo recente realizado em um hospital da regio Sul do Brasil, evidenciou-se
um aumento do nmero de incidentes notificados, entre os anos de 2008 a 2012. De 2008 para
29
2009, houve um aumento de 5,8% e de 2009 para 2010 o ndice foi de 7,3%. O aumento mais
significativo foi de 59,8% entre os anos de 2010 para 2011, e de 27,8% referente aos anos de
2011 para 2012 (LORENZINI; SANTI; BAO, 2014).
A capacitao profissional, a vigilncia e a notificao dos incidentes de segurana
constituem-se em estratgias importantes para as diversas profisses da rea da sade, em
especial, a enfermagem, com o intuito de prevenir e identificar os incidentes (HENNEMAN;
GAWLINSKI; GIULIANO, 2012). Um fator importante a se destacar est relacionado
cultura institucional de punio. Em consequncia disso, os profissionais podem sentir-se
acuados e com medo de represlias, omitindo situaes de ocorrncia desses eventos, o que
pode acarretar em subnotificao dos mesmos.
Lage (2010) refere que a no comunicao dos erros pode estar relacionada a fatores
como: medo de litgio, falta de coragem, medo de preocupar o doente, medo do que o doente
possa dizer, perda de prestgio/status, isolamento, falta de apoio, entre outros. Estudo
desenvolvido na Regio Sul do Brasil aponta, como recomendaes importantes para a
melhoria da qualidade da assistncia, as mudanas na cultura organizacional das instituies
para uma cultura de segurana, e na avaliao da ocorrncia de eventos adversos (WEGNER;
PEDRO; 2012).
Esta temtica merece ateno especial, ainda mais quando se trata de Unidades de
Terapia Intensiva (UTI), pois so consideradas importantes por oferecer suporte especializado
de assistncia sade, envolvendo o uso de medicamentos, procedimentos assistenciais,
recursos tecnolgicos e teraputicos de ponta. Estas unidades devem dispor de espao
apropriado e suporte tecnolgico avanado para as intervenes de difcil execuo em
enfermarias comuns, como uso de ventiladores mecnicos, de monitores cardacos, utilizao
de drogas vasopressoras e bloqueadores neuromusculares (FAVARIN; CAMPONOGARA,
2012).
Um aspecto importante relacionado ao cuidado de enfermagem e segurana do
paciente em terapia intensiva est relacionado terapia medicamentosa, pois se constitui em
um dos maiores desafios enfrentados pelos sistemas de sade no mundo inteiro (ORTEGA;
DINNOCENZOM, 2012). O ato de administrar medicamentos se reveste de importncia, na
medida em que exige dos profissionais de enfermagem, conhecimento variado sobre mtodos,
a ao dos medicamentos, vias de administrao, doses, interaes medicamentosas e seus
efeitos colaterais (BECCARIA, 2009).
Assim sendo, a temtica merece ateno especial, por parte dos diversos profissionais
que prestam assistncia ao paciente, nos diferentes espaos de atuao da equipe de
30
enfermagem e, em especial, nas UTIs. Beccaria (2009) destaca, ainda, que a maioria dos
eventos adversos em UTI est relacionada com os procedimentos e medicao, durante o
cuidado de rotina ou no atendimento de emergncia.
Incidentes de segurana com o uso de medicamentos resultam de uma variada
interao de muitos fatores, envolvendo os diversos profissionais que compe a equipe
multidisciplinar, os sistemas de sade e os prprios pacientes. Neste contexto, a
administrao de medicamentos um processo multi e interdisciplinar, que exige
conhecimento tcnico e prtica (BRASIL, 2013b, p. 30).
Os profissionais de enfermagem relizam o preparo e administrao de medicamentos,
e por sua vez, exercem funo importante na preveno dos erros, uma vez que esta pode ser a
ltima barreira antes da administrao do medicamento ao paciente, e, geralmente, seus atos
marcam a transio de um erro previsvel para um erro real (LEUFER; CLEARY-
HOLDFORTH, 2013). Pesquisa recente, realizada em um hospital do Sul do Brasil, aponta
que os erros de medicao esto relacionados com a omisso, erros de dose, erros de horrio e
via de administrao (LORENZINI; SANTI; BAO, 2014).
As drogas utilizadas no tratamento dos pacientes crticos so apontadas como
predisponentes para a ocorrncia de incidentes de segurana, em funo do potencial de risco
que apresentam (SILVA; CARVALHO, 2012). Dentre as classes de medicamentos
frequentemente utilizadas nestas unidades, esto: as substancias vasoativas, antiarrtmicas,
antitrombticos, fibrinolticos, analgsicas, antibiticos, sedativos, entre outras.
Verifica-se um interesse crescente na temtica, pois identificou-se por meio de reviso
bibliogrfica1, a existncia de vrios estudos, realizados em diferentes unidades hospitalares,
que tm explorado este tema, caracterizando os eventos adversos, e apontando as
consequncias para os pacientes. Porm, salienta-se a necessidade de conhecer as percepes
de profissionais de enfermagem no que tange ocorrncia de incidentes de segurana
relacionados terapia medicamentosa nos diferentes espaos de cuidados e, em especial, em
UTIs, no sentido de qualificar a mesma, e, em consequncia, proporcionar cuidados mais
qualificados aos pacientes.
Evidencia-se, assim, que a segurana do paciente em terapia intensiva depende de
vrios aspectos e o enfermeiro tem papel fundamental, podendo contribuir, decisivamente,
para a implementao de aes, com a finalidade de minimizar os riscos e prevenir a
ocorrncia de eventos adversos. Nesse sentido, mais do que um objetivo a ser atingido por
1 Estudos de reviso narrativa e integrativa realizados no ano de 2013, para fundamentar a presente
investigao. Estes estudos esto melhor detalhados no Captulo 2.
31
todos os profissionais da rea de sade, tambm um compromisso da prpria formao
profissional. Oliveira et al., (2014) ressaltam que embora os riscos relacionados aos cuidados
de enfermagem venham sendo abordados amplamente na literatura, torna-se importante
conhecer como eles so percebidos e avaliados pelos profissionais implicados na assistncia
direta ao paciente.
O interesse pelo tema surgiu durante a minha prtica assistencial, baseado em algumas
vivncias do cotidiano assistencial, vindo a aflorar com o ingresso na docncia a nvel
superior e tambm baseado em algumas discusses sobre o cuidado de enfermagem com os
professores e demais colegas de instituies de sade onde atuei. Assim sendo, o presente
estudo justifica-se pela necessidade de sistematizao de dados sobre a temtica, na rea da
enfermagem, evidenciando possveis lacunas que podem ainda ser preenchidas e, quem sabe,
subsidiando os profissionais de sade, dentre esses os enfermeiros, assim como as instituies
de sade, em suas intervenes junto aos pacientes e familiares.
Diante da problemtica exposta, considera-se pertinente o desenvolvimento de um
estudo norteado pela seguinte questo de pesquisa: quais as percepes de profissionais de
enfermagem de terapia intensiva sobre a ocorrncia de incidentes de segurana relacionados
terapia medicamentosa?
1.1 Objetivos
Analisar as percepes de profissionais de enfermagem atuantes em unidade de
terapia intensiva, sobre a ocorrncia de incidentes de segurana relacionados
terapia medicamentosa.
Identificar os fatores que contribuem para a ocorrncia de incidentes de segurana
relacionados terapia medicamentosa.
Conhecer as estratgias adotadas pelos profissionais de enfermagem atuantes em
unidade de terapia intensiva para a preveno e controle dos incidentes de
segurana relacionados terapia medicamentosa.
2 REVISO DA LITERATURA
Este captulo tem a finalidade de problematizar as questes relacionadas ao trabalho,
segurana do paciente e dos incidentes de segurana relacionados ao uso de medicamentos em
terapia intensiva. O item 2.1 discute as questes relacionadas ao processo de trabalho em
sade e enfermagem. No item 2.2 sero abordadas algumas questes relacionadas segurana
do paciente e as implicaes para as instituies de sade e, por fim, mas no menos
importante, apresenta-se, no item 2.3, as questes referentes aos incidentes de segurana
relacionados ao uso de medicamentos em terapia intensiva e as implicaes para a
enfermagem.
2.1 Processo de trabalho em sade e enfermagem
A palavra trabalho deriva do vocbulo latino "TRIPALIU" - denominao de um
instrumento de tortura, formado por trs (tri) paus (paliu). Desse modo, originalmente,
"trabalhar" significava ser torturado no tripaliu. Somente a partir do sculo XIV, o trabalho
comeou a ter o sentido universal que hoje lhe atribumos. Neste sentido, o trabalho possui
uma srie de diferentes significados, de tal modo que o Dicionrio do Michaelis (2012), lhe
dedica mais de vinte definies bsicas e em diversas expresses idiomticas.
O trabalho assume um significado muito particular para cada indivduo singular,
sendo construdo a partir das vivncias subjetivas dos trabalhadores e por meio de tcnicas
particulares desenvolvidas por cada sujeito (DEJOURS, 1992). Com isso, o trabalho extrapola
sua primeira funo, que de prover o sustento pessoal e familiar, na medida em que envolve
mobilizao da subjetividade, inteligncia e criatividade de cada trabalhador (DEJOURS,
2004).
Neste contexto, o trabalho entendido como mediador de integrao social, pelo seu
valor econmico e cultural, influenciando, de maneira muito significativa, o modo de vida do
indivduo, tambm influencia decisivamente na sade fsica e mental (SOUZA; ERNST;
FILUS, 2008). Assim sendo, a atividade profissional no s um modo de ganhar a vida,
34
uma forma de insero social e tambm um fator causador de sofrimento, deteriorao,
envelhecimento e adoecimento dos trabalhadores (GIRONDI; GELBCKE, 2011).
Marx (1984) em sua obra O capital, aborda o processo de trabalho e o processo de
produzir mais-valia com o significado do trabalho para o desenvolvimento do homem. Suas
ideias serviram de base para o chamado pensamento marxista. E assim, vrios autores como
Lukcs, Mszaros, Antunes, entre outros que contriburam com ideias importantes a respeito
dos processos de trabalho (CARVALHO, 2009).
Marx (1984) refere que o trabalho surge a partir de uma necessidade do homem, e para
realiz-lo, se faz necessrio dispor de alguns elementos como: objeto, ferramentas, finalidade,
agente e o produto. Pode-se dizer, tambm, que o trabalho uma necessidade biolgica, por
estar relacionada com a sobrevivncia e a reproduo do ser humano. (MARX, 1984).
Assim sendo, ele decorrente e inerente s atividades e necessidades do ser humano,
pois e vm sendo utilizado, preferencialmente, para o sustento pessoal/familiar, alm dos
aspectos relacionados realizao pessoal/profissional. Porm, observa-se, que um dos
principais causadores de sofrimento, desgaste fsico, psquico e doenas ocupacionais (BECK,
et al., 2009).
O aparecimento da fora de trabalho deu-se dentro das condies histricas do
desenvolvimento do capitalismo, no perodo que Marx chamou de acumulao primitiva. A
partir da, delineavam-se as pr-condies histricas e imutveis para o estabelecimento da
configurao das relaes de trabalho no capitalismo. A fora de trabalho fundamental para
a compreenso da teoria do valor-trabalho, na qual Marx se baseou para desenvolver a
explicao da fonte da mais-valia (CARVALHO, 2009).
Ainda, para o autor, a acumulao primitiva originou uma vasta oferta de mo de obra,
disponvel para o desenvolvimento do mercado de trabalho capitalista e a formao da
chamada classe trabalhadora livre; termo que decorre do entendimento marxista de que a
classe proletariada livre por ter o direito de vender sua fora de trabalho no mercado
(CARVALHO, 2009).
O trabalho nas instituies de sade tem como principal finalidade, a prestao de
cuidados qualificados ao paciente, que necessita de assistncia integral e multiprofissional. A
assistncia que aqui nos referimos visa a resolutividade das aes relativas promoo,
recuperao e reabilitao da sade e preveno e tratamento de agravos sade dos usurios,
articulando-se com as politicas pblicas nas esferas Municipal, Estadual e Federal.
Pires (2009) refere-se enfermagem como uma profisso que est em expanso e
presente em grande parte das instituies assistenciais, prestando cuidados integrais aos
35
pacientes nas 24 horas do dia. Assim sendo, dentro do campo da rea da sade, a enfermagem
ocupa espao importante, por desenvolver suas atividades tanto no ambiente hospitalar,
ateno bsica, instituies destinadas aos cuidados de idosos, escolas, entre outras.
A enfermagem ocupa espao significativo nas reas relacionadas assistncia direta
ao paciente, na gesto da assistncia e servios de sade, ensino e pesquisa. Assim sendo, a
Enfermagem, enquanto profisso nasce da necessidade da sociedade de um cuidado
especializado, requerendo formao cientfica, alm da produo de conhecimento, que
fundamenta a sua prtica, fortalecendo-a como cincia (ALMEIDA; ROCHA, 1986).
As atividades da Enfermagem desenvolvidas nas instituies de sade e,
especialmente, no ambiente hospitalar so diferenciadas, principalmente em relao a outras
profisses da rea da sade. Isso se deve ao carter contnuo, desenvolvido a partir de relaes
interpessoais entre trabalhadores e pacientes. A atuao da Enfermagem possui
particularidades, em especial, nas Unidades de Cuidados Intensivos (BECK, 2001). Estas
unidades so complexas, fechadas, e pela gravidade dos usurios demandam um ritmo intenso
de trabalho equipe de Enfermagem, exigindo qualificao e ateno (STUMM et al., 2009).
Atualmente a categoria composta pelo enfermeiro, tcnico de enfermagem, auxiliar
de enfermagem e pela parteira. Visando o adequado quantitativo de pessoal de enfermagem
nas unidades assistncia a sade, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) publicou, em
2004, a Resoluo 293/2004 que fixou e estabeleceu parmetros para o dimensionamento do
quadro de profissionais de enfermagem nas unidades assistenciais das instituies de sade.
Assim sendo, devem ser consideradas como horas de Assistncia de Enfermagem, por
leito, nas 24 horas dirias: 3,8 horas de Enfermagem, por cliente, nas situaes que requerem
assistncia mnima ou autocuidado; 5,6 horas de Enfermagem, por cliente, na assistncia
intermediria; 9,4 horas de Enfermagem, por cliente, nas unidades semi-intensivas e 17,9
horas de enfermagem, por cliente, nas unidades de terapia intensiva (COFEN, 2004).
Cabe destacar que, uma parcela significativa dos trabalhadores de diversos setores da
economia e tambm da enfermagem sujeitam-se, no raras vezes, a situaes insalubres que
os expem aos diversos riscos sade. Essa sujeio ocorre por diversas razes, dentre elas
destaca-se: a intensificao e precarizao do trabalho, ou seja, das condies de trabalho.
Assim sendo, muitos profissionais devido sua grande importncia para promoo, preveno e
teraputica, sujeitam-se a trabalhar em condies muitas vezes desfavorveis, pois percebem a
necessidade de se manter no mercado de trabalho em funo das necessidades pessoais e
familiares.
36
As questes relacionadas intensificao e precarizao do trabalho nos servios de
sade so situaes importantes, e que merecem uma reflexo mais aprofundada, por parte
dos gestores, profissionais da sade e usurios. Isso se deve ao fato de que quanto maior a
carga de trabalho do sujeito, no caso o trabalhador, seja ele de qualquer profisso, maiores so
as possibilidades de ocorrerem EA.
A intensificao do trabalho consiste ato de trabalhar, ou seja, o grau de dispndio de
energias realizado pelos trabalhadores em uma determinada atividade. Neste sentido, a
intensificao se reporta ao trabalhador individualizado ou a coletividade dos trabalhadores,
pois uma exigncia que eles se empenhem cada vez mais, tanto nos aspectos fsicos,
intelectual ou psquico, ou ainda a combinao dos trs elementos (DAL ROSSO, 2012).
Ao discorrer sobre o tema da intensificao do trabalho, de fundamental importncia
refletir sobre alguns aspectos que podem contribuir, positiva ou negativamente, para o pleno
desenvolvimento da atividade laboral. Dentre estes fatores, Duarte (2010) cita a educao
permanente e as relaes de carter familiar ou extrafamiliar que acompanham o
sujeito/trabalhador no seu dia-a-dia.
Diante disso, percebe-se que a intensificao do trabalho na rea da sade e
principalmente na enfermagem um aspecto vinculado ao cotidiano do trabalho nas
instituies que prestam assistncia a sade. Neste sentido, o tema de fundamental
relevncia e necessita ser re(pensado), tendo como base as formas de gesto e as
caractersticas prprias de cada instituio.
Muitas vezes, estas instituies, no intuito de sanar suas necessidades e minimizar
custos, impe aos funcionrios uma carga de trabalho maior e com isso, a qualidade do
cuidado fica fragilizada. Tendo como base esta conjuntura, torna-se relevante discutir os
aspectos referentes s condies de trabalho versus qualidade da assistncia.
Em termos genricos, a precarizao do trabalho refere-se a um conjunto amplo e
variado de mudanas que acontecem no mercado de trabalho, nas condies de trabalho, na
qualificao dos trabalhadores e direitos trabalhistas, no contexto dos processos de trabalho
das diferentes profisses (FERNANDES; HELAL, 2010). Assim sendo, com as crescentes
mudanas marcadas pela inovao tecnolgica e pelas novas formas de organizao e gesto
do trabalho, muitas vezes, preocupa-se mais com as questes de produo em larga escala de
bens e servios, em detrimento de uma assistncia qualificada nos servios de sade.
Outra situao desfavorvel para a profisso de enfermagem sua diviso em
subcategorias profissionais, o que pode prejudicar, ainda mais, o seu reconhecimento perante
a sociedade. Assim sendo, em muitas instituies brasileiras e de outros pases em
http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/quarelsoc.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/gestrasau.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/gestrasau.html
37
desenvolvimento, esta diviso pode acarretar na disseminao de processos judiciais entre os
profissionais da rea, como por exemplo, processos de desvio de funo. Processos estes que
ocorrem, tambm, por consequncia de uma inverso de papis no cotidiano da enfermagem,
devido intensificao do trabalho nas instituies de sade.
O desafio est em reafirmar a complexidade que integra o ato de cuidar em todos os
nveis de ateno, dada a prpria natureza do processo sade/doena para se construir a
integralidade da ao. Nesta perspectiva, Pereira (2009) refere que se faz necessrio dispor de
profissionais com uma concepo ampliada do cuidado e na significao do trabalho em
equipe, para que se apaguem as diferenas e se consiga falar uma mesma lngua e obter um
mesmo objetivo. Assim sendo, o tema da segurana do paciente de fundamental importncia
para as instituies de sade, profissionais e pacientes, uma vez que que prope medidas para
qualificar os processos de ateno a sade.
2.2 A segurana do paciente e as implicaes para as instituies de sade
O atendimento em sade constitui-se em um processo composto por vrias etapas, que
envolvem uma srie de procedimentos sejam eles relacionados ao diagnstico e tratamento e
executados por diferentes profissionais. Assim, torna-se imprescindvel assegurar a qualidade
e segurana do cuidado no servio de sade (REBRAENSP/RS, 2013).
Com a evoluo da enfermagem, como cincia e prtica social, o enfermeiro passou a
assumir papis no s na assistncia, mas tambm na liderana e na pesquisa. Alm disso,
incorporou, em sua formao profissional, conhecimentos de outros saberes, a exemplo da
cincia da administrao (SILVA; CARVALHO, 2012).
Na atualidade, os servios de sade so considerados ambientes complexos e
vulnerveis, fazendo-nos repensar acerca da necessidade de simplificar os processos de
trabalho, de modo a torn-los mais ticos e seguros, alm de promover uma cultura de
segurana do paciente e manter a qualidade da assistncia. Desse modo, as instituies que
prestam assistncia a sade e, em particular, as unidades de maior complexidade, prescindem
de nveis cada vez mais altos de excelncia no atendimento, visando proporcionar assistncia
livre de riscos e, consequentes danos aos usurios (PELLICIOTTI; KIMURA, 2010).
Neste sentido, como resposta aos fatos e consequncias decorrente de erros humanos,
a Joint Commission International (JCI) instituiu uma srie de medidas, visando a melhoria da
38
qualidade da assistncia a sade nas instituies hospitalares, dentre elas esto as
International Patient Safety Goals (IPSG). Foram elencadas como medidas: 1) Identificar os
pacientes corretamente; 2) Melhorar a comunicao eficaz; 3) Melhorar a segurana dos
medicamentos de alto risco; 4) Assegurar stio, procedimentos e pacientes corretos nas
cirurgias; 5) Reduzir o risco de infeces associadas aos cuidados de sade e 6) Reduzir o
risco do paciente de danos resultantes de quedas (JCI, 2013).
Os pacientes em geral e, em especial, os de Terapia Intensiva apresentam
caractersticas que os tornam mais susceptveis a esses eventos. Isso se deve a uma srie de
fatores, entre eles: o agravamento do quadro clnico, a utilizao de novas tecnologias
diagnsticas e teraputicas, necessidade de maior utilizao de tcnicas invasivas, somado ao
maior contingente de profissionais envolvidos na assistncia e, muitas vezes, dificuldades nos
processos assistenciais (BECCARIA, et al., 2009). Silva (2013) tambm acrescenta a total
dependncia dos pacientes em relao a equipe multidisciplinar.
Alguns dos fatores associados ocorrncia de incidentes de segurana podem estar
relacionados idade avanada; gravidade da doena de base; presena de co-morbidades;
internao em hospitais universitrios; tempo de internao; intensidade e fragmentao do
cuidado; introduo de novas tecnologias; inexperincia; falhas de comunicao e
atendimento de urgncia (WEGNER; PEDRO, 2012).
Deve haver, portanto, maior preocupao por parte dos profissionais e instituies de
sade, no estudo dessas ocorrncias e na proposio de protocolos de identificao de falhas
que permeiam essa atividade, com vistas ao estabelecimento de medidas que previnam sua
incidncia, dentro de um contexto maior de qualidade nos servios de sade. Em muitas
situaes, os profissionais e organizaes de sade acabam por no realizar a notificao do
incidente e nem compartilham com outras instituies suas experincias diante do mesmo.
Assim, os mesmos erros ocorrem, repetidamente, em muitos ambientes e os pacientes
continuam a ser prejudicados por erros que poderiam ser evitados (SILVA, 2012).
Cabe ressaltar que, para alm dos casos de incidentes de segurana evidenciados,
probabilisticamente, h inmeros casos no notificados, tendo em vista alguns fatores:
desconhecimento e/ou falta de programas educativos, dficit de pessoal, processo de trabalho
inadequado, formas de organizao dos servios, disponibilidade de materiais e
equipamentos, cultura de punies e, sobretudo, a evidncia de erros consentidos. Entende-se,
como erros consentidos, o fato de o profissional ser conivente com situaes que,
sabidamente, so prejudiciais ao usurio da assistncia. Pode-se tomar como exemplo, a no
39
lavagem das mos, a administrao de frmacos reconstitudos e no diludos, o uso de
tcnicas de desinfeco desatualizadas, entre outras.
do senso comum que as instituies devem adotar medidas que visem
minimizao desses eventos, visto que a extino dos mesmos quase impossvel, pois, a
mo de obra humana, em diversas situaes do cotidiano, pode falhar. Para, alm disso, o
risco inerente ao, no existe um sistema de atividade humana que seja infalvel, assim
como a ideia de que se pode dar a garantia total de segurana, em qualquer ambiente de
prtica assistencial em sade (PEDREIRA; PETERLINI, 2011).
A no interveno e definio de programas educativos, normatizaes, reelaborao
da organizao dos servios e dos processos de trabalho incidiro em situaes que os
mesmos eventos e falhas do sistema repetem-se, vrias vezes, no mesmo local e em diferentes
locais. Assim sendo, as aes que podem impactar na reduo de incidentes de segurana,
como a implantao de sistemas de notificao, muitas vezes tem implantao lenta nos
servios de sade e em alguns casos no saem do projeto. Isso muitas vezes se deve em razo
de uma cultura punitiva. H de se destacar que h casos de sucesso, porm, esses so
pontuais e no atingem todo o sistema de sade.
Os fatores geradores de incidentes de segurana em sade so multivariados. Dentre
eles pode-se destacar: as caractersticas da instituio de sade, a formao profissional e
oferta de programas educativos, dimensionamento dos profissionais, estrutura fsica,
formao e qualificao profissional, disponibilidade/condies de equipamentos, materiais e
medicamentos, acesso a novas tecnologias e informao, sobrecarga de trabalho, dentre outros
fatores que podem contribuir para a ocorrncia de erros nos processos assistenciais.
Nesse contexto, vale mencionar que os seres humanos so falveis e, portanto, erros
so frequentemente encontrados na assistncia sade. No se pode elimin-los, mas pode-se
minimiz-los ou preveni-los, por meio de estratgias direcionadas ao sistema de medicao
(ORTEGA; DINNOCENZOM, 2012). Ressalta-se a necessidade de profissionais e, em
especial, na enfermagem, em nmero adequado e devidamente instrumentalizados, para as
demandas do cotidiano no ambiente hospitalar, particularmente, nas unidades de intensivismo.
A preveno de erros de medicao (EM) e promoo da segurana do paciente so
questes de extrema relevncia no sistema de sade e envolvem, necessariamente, o paciente,
familiares/cuidadores, profissionais e instituies de sade. Para, alm disso, necessria a
integrao com polticas pblicas que possam direcionar as aes dos diversos profissionais
envolvidos com a terapia medicamentosa, com vistas a aprimorar o sistema de medicao,
incluindo a determinao de estrutura e processos mnimos, que garantam boas prticas e a
40
segurana da populao. A ao inadequada e/ou a omisso, por parte do profissional de
sade, podem expor o paciente a riscos por negligncia, imprudncia ou impercia
(COREN/SP, 2011).
Assim sendo, por mais que as equipes/instituies tenham o intuito de prestar uma
assistncia isenta de riscos e danos, isso nem sempre possvel. Na rea da sade e, em
especial, na enfermagem, so necessrios cursos de formao profissional visando a
excelncia das atividades desenvolvidas em prol do usurio. Pires (2009) complementa
dizendo que a profisso deve ofertar aes especializadas a sociedade, sendo constituda por
pessoal capacitado, dirigidos por um Cdigo de tica e por normas existentes na Lei do
Exerccio Profissional.
2.3 Os Incidentes de segurana relacionados ao uso de medicamentos em terapia
intensiva e as implicaes para a enfermagem
Como citado anteriormente, aqui ser apresentada uma sntese de dois estudos que
tiveram a finalidade de fundamentar a investigao em tela, visando conhecer o que tem sido
produzido e publicado nas bases de dados sobre o objeto de estudo. O primeiro, estudo,
intitulado Enfermagem e segurana do paciente em terapia intensiva: reviso narrativa
objetivou conhecer o que tem sido produzido nos programas de ps-graduao stricto sensu
sobre a ocorrncia de eventos adversos na prtica laboral de enfermagem em unidades de
terapia intensiva.
Trata-se de uma reviso narrativa da literatura2. O levantamento bibliogrfico foi
realizado em maio de 2012, no banco de Teses e Dissertaes do Portal da Coordenao de
Aperfeioamento de pessoal de Nvel Superior (CAPES). Para a busca dos documentos,
utilizou-se os termos enfermagem e segurana do paciente em terapia intensiva no campo
assunto. No foi estabelecido recorte temporal. Aps a leitura e aplicao dos critrios de
incluso e excluso selecionou-se 23 dissertaes e duas teses.
2 Este estudo foi apresentado como trabalho completo no II Seminrio Internacional Tecendo Redes na
Enfermagem e na Sade realizado em Santa Maria no ms de setembro de 2013.
41
O segundo estudo3, trata-se de uma reviso integrativa da literatura que objetivou
analisar as evidncias cientficas sobre a ocorrncia de eventos adversos relacionados
terapia medicamentosa em unidades de terapia intensiva. O levantamento bibliogrfico foi
realizado em maio de 2013, nas bases de dados da Literatura Latino Americana e do Caribe
em Cincias da Sade (LILACS) e US National Library of Medicine National Institutes of
Health (PUBMED). Uutilizou-se os descritores: Enfermagem, Erros de medicao e Unidades
de terapia intensiva. O corpus constituiu-se de 14 estudos, publicados entre 2003 a 2012.
Os resultados dos estudos bibliogrficos supracitados, evidenciam que muitos dos
incidentes de segurana e eventos adversos, na rea da Enfermagem, trazem tona a
visibilidade da profisso, porm com a repercusso de aspectos muito negativos, que no
caracterizam, na totalidade, as aes e importncia desta categoria profissional. Observa-se,
na prtica assistencial, que ocorrem algumas lacunas no atendimento, por razes diversas:
falta de estrutura fsica, materiais e equipamentos, dficit no quadro de pessoal, e
instrumentalizao dos trabalhadores da rea da enfermagem.
Dessa forma, foi possvel obter um panorama sobre a temtica, a qual mostra-se
pertinente e atual, tendo implicaes bastante relevantes para pacientes, profissionais e
instituies de sade. Um grande nmero de EA envolvendo o uso de medicamentos est
relacionado com as etapas de preparo e administrao dos mesmos.
As caractersticas dos frmacos frequentemente utilizadas no tratamento dos doentes
crticos, ou seja, substncias vasoativas, anticoagulantes, antibiticos, sedativos, entre outras,
so apontadas como predisponentes para a ocorrncia de iatrogenias, em razo do potencial de
risco que apresentam (SILVA; CARVALHO, 2012). Desse modo, sendo tais drogas de uso
comum no cotidiano da enfermagem, requerem ateno especial dos profissionais em
qualquer fase do processo, ou seja, da leitura da prescrio avaliao dos seus efeitos,
passando pelo preparo e administrao correta.
Autores como Rodrigues e Oliveira (2010) descrevem que a segurana de um
medicamento inicia com a avaliao do seu inerente potencial de risco, com uma prescrio
adequada (doses, intervalos, horrio, durao), administrao (reconstituies, diluies,
assepsia, horrios, administrao de um ou mais frmacos concomitantemente, uso ou no de
alimentos concomitantes), aquisio (qualidade, boas prticas de fabricao), armazenamento
(umidade, temperatura, tempo de validade), dispensao e termina com a adeso do paciente
ao tratamento. Percebe-se ento, que estas situaes repercutem negativamente para a
3 Manuscrito aceito para publicao na Revista de Enfermagem Baseada em Evidncia (EVIDENTIA),
Granada, Espanha, n. 49, jan-mar/2015.
http://www.nlm.nih.gov/http://www.nih.gov/http://www.nih.gov/
42
visibilidade da enfermagem enquanto profisso, uma vez que, estes os profissionais
frequentemente esto envolvidos no ato de preparar e administrar medicamentos.
Os resultados de um estudo, realizado no ano de 2007, na regio Centro-oeste,
apontam como as principais situaes facilitadoras do erro com drogas endovenosas: o
ambiente de preparo ruidoso (68%), no explicar o procedimento ao paciente (64%) e
administrao de medicamento por ordem verbal (40%). Outro dado importante citado no
mesmo estudo est relacionado fragilidade no armazenamento seletivo e ordenado dos
medicamentos e ausncia de protocolos para todas as drogas injetveis. Para as drogas orais
foram evidenciados erros relacionados ao armazenamento seletivo e ordenado dos
medicamentos, ausncia do registro do medicamento administrado e atraso na administrao
(MELO, 2007).
Pesquisa de 2011, realizada na regio Centro-oeste, foi observado o preparo e
administrao de 350 doses de medicamentos de ao nos sistemas cardiovascular e
respiratrio, evidenciando-se uma taxa media de erros de 67,7% (triturao, diluio e
misturas). Os erros relacionados administrao dos diferentes tipos de frmacos foram
ausncia de pausa e manejo indevido do cateter venoso. A taxa mdia de erros na
administrao foi de 32,64%, sendo que, a ausncia de lavagem do cateter antes, foi o erro
mais comum e o mais incomum foi no lavar o cateter aps a administrao (LISBOA, 2011).
Outra investigao aponta como erros importantes, na etapa do preparo, a ausncia de
troca de agulhas com taxa de erro de 88,77%, no desinfeco de ampola com 80,27% e
limpeza inadequada da bancada onde os medicamentos eram preparados com 77,26%.
Tambm ficaram evidenciados, neste mesmo estudo, erros relacionados ao horrio correto de
administrao com 57,26% e dose errada 6,58%. Ainda encontrou-se uma taxa de erros na
conferncia dos medicamentos de 96,73%. Os aspectos relacionados a flebites e
permeabilidade do vaso no foram observados pela enfermagem em 87,47% e 86,38%.
(CAMERINI; SILVA, 2011).
Em outro estudo, que avaliou o conhecimento de enfermeiros sobre interaes
medicamentosas na UTI, evidenciou-se que houve uma relao de acertos e erros
praticamente de 50%. Os itens que alcanaram maior nmero de respostas corretas foram os
que abordaram as interaes relativas a medicamentos com ao sedativa e analgsica em
86,3%. Os itens que apresentaram maior nmero de respostas incorretas foram os que
abordaram medicamentos de ao anti-infecciosa e anti-hipertensiva (FARIA; CASSIANI,
2011).
43
Em investigao, publicada em 2009, foram registrados 550 eventos adversos sendo:
26 relacionados aos cinco certos na administrao de medicamentos (paciente certo,
medicamento certo, dose certa, via certa e hora certa), 23 a medicaes no administradas,
181 s anotaes inadequadas da medicao, 28 s falhas na instalao de drogas em bomba
de infuso, 17 a no realizao da inalao e oito ao manuseio incorreto de seringas e agulhas
(BECCARIA, et. al., 2009).
Os resultados de outro estudo, realizado na regio Sul do Brasil, indicam que os erros
mais relatados por tcnicos de enfermagem esto relacionados preparao dos
medicamentos, e as justificativas para a ocorrncia de erros evidenciam a sobrecarga de
trabalho e a falta de ateno, articuladas inexperincia de alguns profissionais e s falhas na
estrutura (LOPES, et al., 2012).
Em outra pesquisa, realizada com auxiliares/tcnicos de enfermagem, na regio
Sudeste, os autores apontam que o motivo mais comum que pode levar ao erro de
administrao de medicamentos a sobrecarga de trabalho (55%). Outros motivos apontados
foram: distrao durante o preparo da medicao (42%), dificuldade para entender a
prescrio mdica (9%) e (2%) falta de conhecimento da medicao (ORTEGA;
DINNOCENZOM, 2012).
Publicao realizada em cinco hospitais universitrios verificou a presena de siglas
e/ou abreviaturas em 96,3% das prescries, ausncia do registro do usurio em 54,4%, falta
de posologia em 18,1% e omisso da data em 0,9%. Situao semelhante ocorreu em um
hospital universitrio da regio Sudeste, no ano de 2007, a qual revela que um nmero
significativo de prescries apresentavam-se incompletas, com abreviaturas, e tambm foram
realizadas sob interrupes e distraes dos profissionais que estavam prescrevendo
(GIMENS, et al., 2011).
Estudo internacional, aponta como situaes favorveis para a ocorrncia de erros
relacionados ao uso de medicamentos: escassez de profissionais de enfermagem e pessoal de
apoio, conhecimentos de informtica limitados pela maioria dos mdicos e enfermeiros, a
cooperao limitada entre estes profissionais, insegurana e o medo de enfermeiros na
execuo de projetos de melhorias na instituio, hostilidade dos mdicos para a mudana, e
os custos adicionais para os cursos de formao (BUCHINI, QUATTRIN, 2012).
Por outro lado, os resultados de uma pesquisa realizada nos Estados Unidos da
Amrica (EUA), apontam a prtica do aprendizado baseado na simulao como uma das
alternativas para a diminuio das taxas de erros relacionados ao uso de medicamentos. Neste
estudo, observou-se enfermeiros na etapa de preparo e administrao de medicamentos. De
44
um total de 156 doses, foi identificada uma taxa de erros relacionados administrao de
30,8% e seis erros relacionados dose do frmaco. Aps o treinamento (simulao baseada
no aprendizado) a taxa de erros diminuiu para 4%. Alm disso, este achado foi sustentado ao
longo do tempo, com uma taxa de erro de 6,2%, taxa esta significativamente menor do que
antes da aplicao da tcnica de aprendizado baseada na simulao (FORD et al., 2010).
Em um estudo tambm realizado nos EUA, que teve como objetivo descrever o tipo e
a frequncia de erros detectados pelos enfermeiros de cuidados intensivos, e verificar as
condutas adotadas por esses profissionais, os autores apontam que foram investigados 502
profissionais e que, destes, 184 detectaram 367 erros, num perodo de 28 dias. O nmero de
erros identificados por um enfermeiro variou de 0 a 12, sendo que os erros envolvendo a
administrao de medicamentos foram os mais frequentes (44,4%), seguido por erros
processuais (31,3%). Erros grficos e de transcrio totalizam (15,0% e 2,7%)
respectivamente). O erro de medicao (EM) mais comum, neste estudo, foi administrao
de uma dose incorreta (45,1%). Verificaram-se tambm erros relacionados ao medicamento
errado ou que uma dose de uma determinada medicao prescrita havia sido omitida
(ROGERS, et al., 2008).
Faye et al (2010) corroboram dizendo que essa alta taxa erros de medicao
alarmante e estima-se que, pelo menos 380.000 eventos adversos evitveis (ADEs) ocorrem,
anualmente, devido a erros relacionados ao uso de medicamentos. Esses eventos geraram,
somente em 2006, um custo estimado de US $ 3,5 bilhes. Os autores ainda relatam que,
embora as falhas sejam consideradas de pequeno porte, podem aumentar rapidamente a carga
de trabalho de enfermagem e tornar-se uma fonte de estresse. Alguns desses eventos adversos
esto relacionados com a utilizao de equipamentos, como por exemplo: equipamento
danificado, cateteres defeituosos ou nas tecnologias (uso de um determinado software)
utilizadas na unidade, organizao (o mdico) que cancela o uso de uma medicao, porm
o sistema no acusa o cancelamento, ou (o paciente), quando perde o acesso venoso.
Pesquisa realizada na regio Sudeste, que teve o objetivo de identificar a prevalncia
de erros de medicao em UTI, relatados por profissionais de enfermagem, evidenciou que,
em relao frequncia de erros, obteve-se o relato de nove ocorrncias na fase de preparo
(32,1%) e 19 na fase de administrao (67,9%), totalizando 28 erros de medicao durante as
quatro semanas anteriores coleta de dados. Dos profissionais envolvidos com erros, 66,7%
relataram ter tido preocupaes extras trabalho (financeiras, conjugais, familiares) e 61,1%
desses afirmaram ser cuidadores de crianas (PELLICIOTTI; KIMURA, 2010).
45
Em outro estudo realizado, em 2006, no Estado de So Paulo que tambm versa sobre
administrao de medicao em UTI, os autores evidenciam que dos 52 erros registrados no
perodo de coleta de dados, 12 (23,08%) ocorreram por omisso de dose, 11 (21,15%) por
medicamento errado e 09 (17,31%) por dose errada. O estudo ainda aponta seis erros
(11,54%) relacionados velocidade de infuso inadequada e cinco (9,61%) relacionados
concentrao errada. Encontrou-se ainda quatro erros (7,69%) referentes ao horrio errado,
dois erros (3,85%) de via de administrao e tcnica incorretas e um erro (1,92%) relacionado
administrao de medicamento vencido. 40,40% dos erros envolveram o grupo dos
medicamentos potencialmente perigosos. Verificou-se que 37% dos erros de medicao
ocorreram no turno da tarde, 35% durante a manh e 29% no perodo noturno
(TOFFOLETTO; PADILHA, 2006).
Salazar et al (2011) revelam que 52 pacientes foram vtimas de erros de medicao,
totalizando 66 erros, sendo que 33 % dos pacientes sofreram mais de um erro. Estes erros
esto assim distribuidos: 51% na etapa de administrao, 18% na prescrio e 15% na
preparao. Das falhas relacionadas administrao, 41% referem-se velocidade gesto.
Ainda observou-se 15% de erros relacionados omisso da administrao e 6% por
problemas com a dose administrada (SALAZAR, et al., 2011).
Outra investigao, realizada com profissionais de sade na regio Sudeste revela que
63,02% (75) dos entrevistados j presenciaram algum tipo de erro de medicao, dos quais,
18,60% (24) eram referentes aos erros no processo de administrao, 15,50% (20) aos erros
de dispensao, 10,85% (14) aos erros de prescrio, 7,75% (10) falta de ateno, 3,88% (5)
relataram preparao errada de medicamentos.
Em relao s condutas tomadas frente ocorrncia de erros, 29% (43) se referiram
realizao de comunicao sobre o erro superviso, 15% (23) correo do erro sem
comunicao do ocorrido aos responsveis pelo setor, 9% (14) estavam relacionadas apenas a
aes de acompanhamento do quadro clnico do paciente, e 9% (13) busca de orientao
sobre a conduta a ser tomada. (REIS; COSTA, 2012).
Os resultados do estudo publicado por Ford et al., (2010) sugerem que o mtodo de
ensino-aprendizagem em campo de atuao profissional tem a capacidade de reduzir os erros
evitveis. Alm disso, podem potencialmente resultar em danos ao paciente e tambm
minimizar custos para a instituio.
Assim sendo evidencia-se que a ocorrncia de eventos incidentes de segurana
relacionados ao uso de medicamentos em terapia intensiva permeia diferentes categorias
profissionais da rea da sade, com enfoque maior na medicina, farmcia e, sobretudo, na
46
enfermagem. Isso resulta, na maioria das vezes, em ineficincia do tratamento,
comprometendo a qualidade da assistncia prestada aos pacientes, sinalizando a necessidade
de reviso dos processos de trabalho, afim de uma sistematizao da assistncia e maior
segurana ao usurio.
Sendo os incidentes de segurana de origem multicausal, as aes que visem o seu
controle, tambm precisam ser mltiplas. H de se revisar a definio quantitativa de pessoal,
investir-se em programas educativos, utilizar-se de materiais e equipamentos de qualidade,
rever a organizao do processo de trabalho e, de maneira especial, implementar-se a
sistematizao da assistncia de enfermagem.
No que se refere terapia medicamentosa indispensvel o domnio do conhecimento
da farmacologia e de contedos relacionados aos mtodos de administrao, ao dos
medicamentos, vias de administrao, doses, efeitos txicos e colaterais. Salienta-se a
necessidade de melhorar as prticas de cuidados na utilizao de medicamentos e chamar a
ateno para a importncia de atualizao dos profissionais da sade, incluindo a
enfermagem, a respeito dos medicamentos comumente administrados nas Unidades de
Terapia Intensiva (UTI).
Tambm h a necessidade de ampliar o desenvolvimento de pesquisas sobre o tema,
a fim de explorar com maior nfase a temtica da segurana do paciente, visando
proporcionar uma cultura de segurana manter a qualidade da assistncia minimizando os
eventos adversos advindos da assistncia nos servios de sade.
3 PERCURSO METODOLGICO
Nesta seo, sero descritos o tipo de pesquisa, o cenrio e populao do estudo,
coleta e anlise dos dados da pesquisa, as consideraes ticas, apresentao e discusso dos
resultados e como ser feita a devoluo dos resultados instituio.
3.1 Tipo de pesquisa
Para responder aos objetivos deste estudo, optou-se por um estudo de carter
exploratrio, descritivo com abordagem qualitativa. Os estudos exploratrios, de acordo com
Gil (2008), so aqueles em que o pesquisador se aproxima de uma realidade pouco conhecida.
Assim sendo, procura-se ampliar e esclarecer conceitos e ideias com vistas formulao de
problemas mais precisos ou lacunas que possam ser pesquisadas em estudos posteriores (GIL,
2008).
As pesquisas descritivas, por sua vez, so aquelas que tm como objetivo a descrio
das caractersticas de determinada populao ou fenmeno e buscam levantar as opinies,
atitudes e crenas de uma populao. Por outro lado, a pesquisa descritiva de acordo com
Lakatos e Marconi (2006) pode ser visualizada como a descrio, registro, anlise e
interpretao de fenmenos ou situao mediante um estudo realizado em determinado espao
de tempo, objetivando o seu funcionamento no presente. (GIL, 2008). Trivios (2007, p. 119),
corrobora dizendo que nas pesquisas descritivas pretende-se descrever com exatido os fatos
e fenmenos de determinada realidade.
Entende-se que o mtodo qualitativo se aplica ao estudo dos significados, percepes e
opinies, a cerca de um determinado fenmeno, perpassando pela construo dos
pensamentos e sentimentos humanos (TURATO et al., 2008). Para Minayo (2010), a pesquisa
qualitativa trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspiraes, das crenas,
dos valores e das atitudes, das percepes e das opinies, sob a tica dos atores, sendo ento
produto das interpretaes que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus
artefatos e a si mesmos, sentem e pensam.
48
Esse conjunto de fenmenos humanos entendido, como parte da realidade social,
pois o ser humano se distingue no s por agir, mas por pensar sobre o que faz e por
interpretar suas aes dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes.
Ainda, segundo Minayo (2010), o universo da produo humana engloba as relaes, as
representaes e a intencionalidade e se constitui em objeto da pesquisa qualitativa e,
dificilmente, pode ser explanado em nmeros e referncias quantitativas.
3.2 Cenrio do estudo
O estudo foi realizado na Unidade de Terapia Intensiva Adulto de um Hospital de
mdio porte do interior do Rio Grande do Sul (RS). Trata-se de uma instituio filantrpica
que constitui campo de prtica para os cursos de residncia mdica, cursos de graduao da
rea de sade de uma universidade federal e cursos tcnicos de enfermagem.
uma instituio considerada centro de referncia para as cidades da regio. Conta
com 123 leitos distribudos nas reas de Clnica Mdica, Clnica Cirrgica, Centro Cirrgico,
Unidade de Terapia Intensiva, Urgncia e Emergncia, Obstetrcia, Pediatria, Sade Mental e
Casa da Gestante. Realiza, aproximadamente, 590 internaes/ms, 200 cirurgias/ms e 2.200
procedimentos ambulatoriais/ms.
Ainda dispe de Centro de Diagnstico por Imagem (CDI) realizando exames de
Radiologia, Mamografia, Tomografia, Ecografia, Eco Doppler, Eco Cardiograma, Biopsia de
Prstata e Heptica, exames de eletrocardiograma, endoscopia digestiva alta, cistoscopia,
colonoscopia, gasometria arterial, e Ressonncia Magntica.
Atende ao Sistema nico de Sade e aos demais convnios como: Unimed, IPE, Sadia,
Cabergs, Geap, Sener Sade, Correios, Cisa, Cassi, Caixa e particular. O quadro de pessoal
composto por 234 funcionrios e a equipe de enfermagem conta com 122 profissionais, sendo
17 enfermeiros, 100 tcnicos de enfermagem e cinco auxiliares de enfermagem.
As atividades na Unidade de terapia Intensiva iniciaram-se em maio de 2008 e,
atualmente, a unidade conta com 10 (dez) leitos regulados pela Central de Regulao de
Leitos da Secretaria Estadual de Sade.
Quanto ao nmero de profissionais de enfermagem, a unidade conta com seis
enfermeiros e 21 tcnicos de enfermagem. Os profissionais alocados nos turnos da manh
(07-13 h) e tarde (13-19 h) cumprem uma jornada de trabalho de 36 horas semanais e aqueles
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que desenvolvem suas atividades no perodo da noite (19-07 h) trabalham 12 plantes de 12
horas, ou seja, 12/36 horas.
3.3 Populao e participantes do estudo
A populao do estudo compreendeu a equipe de enfermagem da Unidade de Terapia
Intensiva adulto, nos trs turnos de trabalho. Os sujeitos foram quatro enfermeiros e onze
tcnicos de enfermagem. Como critrios de incluso, elencou-se: ocupar o cargo de
enfermeiro ou tcnico de enfermagem da unidade de terapia intensiva adulto desta instituio,
h pelo seis meses. Dentre os critrios de excluso incluem-se: enfermeiros e tcnicos de
enfermagem com tempo de trabalho inferior a seis meses na unidade, os afastados por motivo
de frias ou licena de qualquer natureza durante o perodo de coleta de dados.
O nmero total de participantes foi definido no decorrer da pesquisa, pela saturao
dos dados, ou seja, quando os dados obtidos apresentarem-se excessivos, na avaliao do
pesquisador, ou quando nada de substancialmente novo aparece, no sendo considerado
relevante persistir na coleta de dados, bem como quando os objetivos forem atingidos.
A avaliao dessa saturao iniciou-se logo que comeou o processo da coleta dos
dados, e foi feita por meio da contnua anlise. A seleo dos participantes foi realizada por
sorteio e estes foram convidados a participar da pesquisa de acordo com a disponibilidade dos
mesmos. Inicialmente foi realizada uma conversa informal, explicado os objetivos do estudo e
aps convidou-se a participar da pesquisa, conforme disponibilidade de data e horrio dos
mesmos.
3.4 Coleta de dados
A coleta de dados foi realizada nos meses de fevereiro e maro de 2014, tendo como
instrumento a entrevista semiestruturada (APNCICE A), pois esta proporciona relativa
flexibilidade, proporcionando exploraes sobre o assunto, mediante as respostas fornecidas
pelos sujeitos da pesquisa. Inicialmente realizou-se a aproximao com o campo, objetivando-
se conhecer o espao e promover a familiarizao com sujeitos.
50
Cabe ressaltar que a aproximao com o cenrio de estudo, iniciou em agosto de 2013,
quando o pesquisador contatou via telefone com a enfermeira coordenadora da UTI, e aps
agendou-se reunio a mesma, com o mdico responsvel pelo servio e coordenador do
servio de enfermagem e representante da direo da instituio. Na oportunidade, o
pesquisador apresentou-se como enfermeiro e mestrando do Programa de Ps-Graduao em
enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria/RS, manifestando o interesse em
realizar a pesquisa naquela Instituio. Foi comentado sobre os objetivos do estudo, bem
como materiais e mtodos a serem utilizados para a coleta dos dados.
Orientou-se sobre os benefcios institucionais com a pesquisa. Foi ressaltado que as
questes relacionadas ao financiamento so de inteira responsabilidade do pesquisador, alm
de outros aspectos relevantes. Na sequencia, o pesquisador comentou que o projeto ainda
estava em fase de elaborao e aps a qualificao, seria enviado cpia do projeto na ntegra
para, posteriormente, a instituio fornecer a autorizao para a realizao da pesquisa.
Para Minayo (2010), a entrevista semiestruturada combina perguntas fechadas e
abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto, sem se
prender as condies prefixadas pelo pesquisador. Assim sendo, foi utilizada como fonte de
dados a entrevista semiestruturada, composta por um roteiro de perguntas abertas permitindo
que o participante fale sobre o tema proposto, sem respostas j fixadas pelo pesquisador
(MINAYO, 2010).
Cabe ressaltar que as entrevistas foram gravadas e aps, transcritas na integra com o
consentimento dos sujeitos, a fim de, obter material rico e fidedigno que pudesse ser,
posteriormente, analisado em profundidade. Essa modalidade parte de certos questionamentos
bsicos, que oportunizam um vasto campo de interrogativas, as quais possibilitam novas
hipteses, que vo surgindo medida que se recebem as respostas do entrevistado
(MOREIRA; CALEFFE, 2006).
Para a realizao das entrevistas os sujeitos do estudo, foram contatados pessoalmente
para agendar horrio e local de encontro. O entrevistado foi convidado a ler e assinar o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE (APNCICE B) e responder as perguntas do
roteiro norteador da pesquisa. As entrevistas foram realizadas em sala reservada, nas
dependncias do hospital, mais precisamente na Unidade de Terapia Intensiva. Ressalta-se
que este local oferecia privacidade para entrevistador e sujeito, garantindo o sigilo das
informaes coletadas. As entrevistas foram gravadas por meio de gravador digital e o seu
contedo transcrito na ntegra para a anlise das informaes.
51
Os sujeitos foram identificados pela letra E (de entrevistado), seguida do nmero
arbico correspondente a sequncia de realizao das entrevistas (E1, E2, E3,...). A coleta dos
dados obedeceu o critrio de saturao temtica. Segundo Turato et al., (2008) a amostragem
por saturao uma ferramenta conceitual frequentemente utilizada em investigaes
qualitativas, em diferentes reas no campo da sade. indicada para estabelecer ou fechar o
tamanho final de uma populao em estudo, interrompendo a captao de novos
componentes.
Para determinar a quantidade suficiente de sujeitos que conduza a saturao dos dados
depende de vrios fatores, como: qualidade dos dados; liberdade quanto ao mbito do estudo;
natureza da informao; quantidade de informao til obtida de cada sujeito participante.
Para a ordem dos entrevistados, foi observada a escala de trabalho e assim colocou-se os
nomes dos trabalhadores em ordem alfabtica e assim foi realizado um sorteio.
Anteriormente a coleta de dados foi realizado um Teste Piloto, para a validao do
questionrio. Entrevistou-se cinco profissionais de enfermagem de um hospital com
caractersticas semelhantes ao cenrio investigado.
3.5 Anlise dos dados
A sustentao terica/metodolgica utilizada para analisar e interpretar os dados desta
pesquisa foi a Anlise de Contedo, que segundo Minayo (2010), consiste em tcnicas de
pesquisa que permitem tornar replicveis e vlidas inferncias sobre dados de um
determinado contexto, por meio de procedimentos especializados e cientficos (MINAYO,
2010, p. 303).
So varias as modalidades de anlise de contedo, sendo escolhida para este estudo a
Anlise Temtica, que segundo a autora acima citada consiste em descobrir os ncleos de
sentido que compe uma comunicao, cuja presena ou frequncia signifiquem alguma coisa
para o projeto analtico visado (MINAYO, 2010, p. 316). Esta tcnica de anlise consiste em
trs fases detalhadas a seguir: a) Pr-Anlise; b) Explorao do Material; c) Tratamento dos
Resultados Obtidos e Interpretao.
A Pr-anlise constitui-se na organizao que corresponde sistematizao das ideias
iniciais a partir da questo norteadora e dos objetivos da pesquisa. Tem por objetivo tornar
operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do
52
desenvolvimento das aes sucessivas, num plano de anlise. Esta fase subdivide-se em trs
novas etapas: a) a leitura flutuante; b) a constituio do corpus; c) a formulao e
reformulao das hipteses e dos objetivos.
A leitura flutuante foi o primeiro contato do pesquisador com os documentos a serem
analisados, no caso, a entrevista semiestruturada. Aps a transcrio das entrevistas realizou-
se uma leitura atentiva, juntamente com o udio, a fim de conhecer o texto deixando-se
impregnar por seus contedos. Na sequencia, procede-se a formulao e reformulao das
hipteses e dos objetivos, visto que esta leitura mais exaustiva do material possibilita uma
compreenso mais aprofundada do material, tendo como parmetro as indagaes iniciais.
A seguinte etapa da Anlise Temtica foi a Explorao do Material que consiste na
transformao dos dados brutos visando alcanar a compreenso do texto, ou seja, extrair a
essncia dos depoimentos dos entrevistados do estudo. Tambm pode-se definir as unidades
de registro, de contexto, segmentos significativos e categorias.
Minayo (2010) refere que a categorizao, nada mais do que, um processo de
reduo do texto s palavras e expresses mais significativas. Assim sendo, realizou-se a
seleo e extrao dos depoimentos mais significativos que compuseram o corpus de anlise
em cada categoria temtica, de acordo com os objetivos delineados para a pesquisa.
Por fim, a ltima fase constitui-se no Tratamento dos Resultados Obtidos e
Interpretao. Nesta etapa comeam a surgir categorias preliminares, sendo a fase de anlise
propriamente dita, quando possvel confirmar ou re-organizar categorias de anlise e
interpretar os achados relacionando-as com a fundamentao terica. Para realizar cada uma
das etapas foi necessrio retornar questo norteadora e os objetivos do estudo, permitindo
sistematizar os resultados obtidos e buscado a construo de conhecimento cientfico sobre o
objeto pesquisado.
Prosseguiu-se, ento, para a fase de interpretao e argumentao da anlise dos
dados, onde foram feitos os ltimos ajustes pa