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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRARIAS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PESCA
RELATÓRIO SOBRE O ACOMPANHAMENTO DE UM CULTIVO
INTENSIVO DE CAMARÃO BRANCO DO PACÍFICO, Litopenaeus
vannamei (BOONE,1931), EM VIVEIROS ESCAVADOS, REALIZADO NA
FAZENDA SANTA ISABEL, NO MUNiCIPIO DE ARACATI - CE
CILENE ANTUNES ALENCAR
Relatório de Estágio Supervisionado apresentado
ao Departamento de Engenharia de Pesca do
Centro de Ciências Agrárias da Universidade
Federal do Ceará, como parte das exigências para a
obtenção do titulo de Engenheiro de Pesca.
FORTALEZA — CEARA AGOSTO/2003
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará
Biblioteca UniversitáriaGerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
A353r Alencar, Cilene Antunes. Relatório sobre o acompanhamento de um cultivo intensivo de Camarão Branco doPacífico, Litopenaeus vannamei (Boone,1931), em viveiros escavados, realizado nafazenda Santa Isabel, no município de Aracati - CE / Cilene Antunes Alencar. – 2003. 39 f. : il. color.
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centrode Ciências Agrárias, Curso de Engenharia de Pesca, Fortaleza, 2003. Orientação: Profa. Dra. Silvana Saker Sampaio.
1. aquicultura. 2. camarão. 3. estágio. I. Título.
CDD 639.2
COMISSÃO EXAMINADORA:
Prof° De Silvana Saker Sampaio OrientadoralPresidente
Prof° MSc José Jarbas Studart Gurgel Membro
Prof° Dr Wladimir Ronald Lobo Farias Membro
Orientador Técnico: Cristiano Cavalcante Maia
Engenheiro de Pesca
VISTO:
Prof° Dr Moisés Almeida de Oliveira Chefe do Departamento de
Engenharia de Pesca
Prof° MSc. Maria Selma Ribeiro Viana Coordenadora do Curso de
Engenharia de Pesca
_AGRADECIMENTOS
A Deus, por permitir mais essa vitoria, pois sem o Seu amor, cuidado e
misericórdia eu jamais teria conseguido.
AOS meus irmãos Jorge, Joe!son, Valdson, Newton e Milene pelo apoio, ajuda e incentivo durante todos esses anos e também aos meus familiares,
A Professora Silvana Saker Sampaio, pela orientação e ajuda fundamental na realização deste trabalho.
Aos Professores José Jarbas Studart Gurgel e Wladimir Ronald Lobo Farias, pelos ensinamentos e participação na análise deste trabalho, corno membros da banca examinadora.
Ao proprietário da Fazenda Santa Isabel, Dr. Gilberto Holanda, por ter me permitido a realização deste estagio e aos funcionários, pelos conhecimentos, apoio e fornecimento de dados para realização deste trabalho, em especial ao gerente administrativo José Gerardo, e aos técnicos Renato e Marcos.
Aos professores do Departamento de Engenharia de Pesca da Universidade Federal do Ceara, pelos ensinamentos indispensáveis a minha formação profissional.
A todos os funcionários do Departamento de Engenharia de Pesca da Universidade Federal do Ceara, em especial a secretária Francisca Leni Góis e a bibliotecária Rosane, peia paciência e ajuda quando necessária ao longo do curso.
A todos os colegas e amigos do curso de Engenharia de Pesca pela convivência nestes anos e em especial a Catarina Laboret e Gleire Rodrigues.
As amigas Alessandra Gurgel e Fatima Karine pela amizade e companheirismo durante todo o curso e peio apoio, incentivo e ajuda na realização deste e de muitos outros trabalhos.
A todos meus irmãos em Cristo Jesus e em especial, ao meu Pequeno Grupo pelas orações e apoio.
A minha turma de formatura Francineuma, Elenice, Karine, Daniele e Janaina por termos vencido mais urna batalha de nossas vidas.
Enfim, a todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram a vencer mais essa etapa em minha vida.
AGRADECIMENTO ESPECIAL
Ao meu amigo Cristiano Cavalcante Male, Gerente de Produção da Fazenda Santa Isabel, peia co-orientação deste trabalho, amizade, apoio, incentivo, paciência e participação fundamental desde o início do meu ingresso no curso de Engenharia de Pesca e a sua esposa Kate Anne Soares pelas converses, atenção e compreensão durante o período de estagio.
SUMARIO
Pagina RESUMO ii
LISTA DE FIGURAS iii
LISTA DE TABELAS iv
1. INTRODUÇÃO
2. CONSIDERAÇÕES GERAIS 3 2.1. Cultivo do camarão marinho no mundo e no Brasil 3 2.2. Potencial do Brasil e do mundo 5
3. ATIVIDADES DO CULTIVO 10 3.1. Berçários 10
3.1.1. Descrição dos berçários 11 3.1.2. Preparação e fertilização dos tanques berçários 11 3.1.3. Recepção e aclimatação das pós-larvas 12 3.1.4. Manejo de rotina 14 3.1.5. Despesca do berçário 15
3.2. Engorda 15 3.2.1. Preparação do viveiro 15 3.2.2. Calagem 16 3.2.3. Enchimento do viveiro e fertilização 17 3.2.4. Estocagem 19 3.2.5. Manejo do viveiro de engorda 19 3.2.6. Aeração mecânica 21 3.2.7. Biometria 22 3.2.8. Alimentação 23 3.2.9. Despesca 26
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 29
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 30
11
RESUMO
Nos últimos 20 anos, a aquicultura é uma das atividades industriais que
mais crescem no Brasil, com o segmento da carcinicultura, ganhando
popularidade. Esta atividade é praticada em todo o pais, sendo o litoral
nordestino considerado ideal para o cultivo, pois apresenta condições
climáticas e hidrobiologicas favoráveis, de modo que, o cultivo pode ser
desenvolvido durante todo o ano. 0 camarão branco, Litopenaeus vannamei,
uma espécie exotica do litoral brasileiro, tendo sido introduzido no Brasil por
volta de 1987, mas sua disseminação so ocorreu entre 1996 e 1997. 0 Brasil
domina o cicio biológico completo dessa espécie e já é considerado o maior
produtor de camarão cultivado no Hemisfério Ocidental, 0 mercado está em
expansão e apresenta uma das maiores rentabilidades do agronegócio. O
desenvolvimento da carcinicultura reflete no mercado de trabalho, devido a sua
ampla capacidade de gerar empregos diretos e indiretos.
Nesse relatório de estágio supervisionado foram acompanhadas as
atividades nos setores de berçário e engorda do cultivo de camarão marinho
Litopenaeus vannamel, na Fazenda Santa Isabel, localizada no município de
Aracati — CE, distante cerca de 170 Km de Fortaleza — CE.
LISTA DE FIGURAS
Página Figura 1. Aclimatação das pós-larvas na Fazenda Santa Isabel,
Aracati CE. 13
Figura 2. Enchimento de um viveiro na Fazenda Santa Isabel, Aracati — CE.
Figura 3. Canal de abastecimento dos viveiros da Fazenda Santa Isabel, Aracati — CE.
Figura 4. Aeradores de palheta em funcionamento na Fazenda Santa Isabel, Aracati — CE.
Figura 5. Biometria dos camarões na Fazenda Santa Isabel, Aracati —CE.
Figura 6. Despesca realizada na Fazenda Santa Isabel, Aracati — CE.
Figura 7. Choque térmico após a operação de despesca na Fazenda Santa Isabel, Aracati — CE.
18
18
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28
LISTA DE TABELAS
Página Tabela 1. Crescimento da carcinicuitura brasileira, entre 1997 e
2001.
Tabela 2. Situação do camarão marinho cultivado em 2002 por estado brasileiro.
Tabela 3. Principais resultados de 2002 e comparação com 2001, referentes ao cultivo de camarão no Brasil.
Tabela 4. Produção mundial de camarão no período 2001/2002.
Tabela 5. Fertilizantes utilizados nos tanques berçários para favorecer ao crescimento de algas.
Tabela 6. Dosagens aproximadas (kg/ha) baseadas na capacidade neutralizadora de produtos empregados na calagem do solo.
Tabela 7. Controle dos parâmetros da qualidade de agua em viveiros de cultivo realizado na Fazenda Santa Isabel, Aracati - CE. 20
Tabela 8. Intervalos da atividade de muda dos camarões peneideos ao longo do seu crescimento em viveiros. 25
IV
6
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9
12
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1
RELATÓRIO SOBRE O ACOMPANHAMENTO DE UM CULTIVO INTENSIVO
DE CAMARÃO BRANCO DO PACIFICO, Litopenaeus vannamei (BOONE,
1931), EM VIVEIROS ESCAVADOS, REALIZADO NA FAZENDA SANTA
ISABEL, NO MUNICÍPIO DE ARACATI — CE
CILENE ANTUNES ALENCAR
1. INTRODUÇÃO
0 Brasil apresenta os maiores potenciais do mundo para o
desenvolvimento da aquicultura, devido ao tamanho do território, ao clima, as
bacias hidrográficas, as águas represadas para geração de energia e ainda aos
8.000 km de costa oceânica tropical, o que corresponde â metade da extensão
costeira da America do Sul. Não se pode afirmar que toda esta área seja
apropriada para a criação de camarões, mas a produtividade media brasileira
chega a 4.000 kg/ha/ano, o que coloca o Pais entre os líderes mundiais em
produtividade (SOUZA-FILHO, 2003; LOMBARDI, MARQUES, 2003).
A criação de camarões marinhos no Brasil tern se expandido
rapidamente nos últimos 20 anos (LOMBARDI, MARQUES, 2003). Presente na
maioria dos estados brasileiros, a aquicultura é hoje uma das atividades que
mais crescem no Brasil, sobretudo a maricultura e piscicultura de água doce
(SOUZA-FILHO, 2003), sendo responsável por urna grande parcela da proteína
animal produzida em várias regiões do mundo (STREIT, LU PC, 2002).
Segundo LEGISLAÇÃO... (2003), uma atividade que se destaca na
maricultura brasileira é a carcinicultura. Este termo 6 empregado
genericamente para referir-se ao cultivo de crustáceos, sejam camarões,
lagostas, caranguejos ou crustáceos microscópicos. Entretanto, seu uso está
mais comumente associado ao cultivo de camarões, que atualmente concentra-
se na espécie exótica, não nativa do Brasil - Litopenaeus vannamei.
A criação de camarões marinhos em cativeiro está ganhando cada vez
mais popularidade no Brasil. A atividade que começou de uma forma tímida e
2
incipiente nos anos 80 na Região Nordeste, hoje se apresenta estabelecida em
escala industrial em vários estados litorâneos do Brasil. Práticas de cultivo
aparentemente simples, mas sofisticadas do ponto de vista técnico e ambiental,
foram desenvolvidas e aprimoradas pelos carcinicultores brasileiros. Essas
inovações na indústria permitiram posicionar o Brasil como lider mundial em
produtividade de camarão, colocando o pais no "ranking" dos 10 maiores
produtores de camarão cultivado do mundo (NUNES, 2001a).
Segundo o SHRIMP EST GENOME PROJECT... (2003), o cultivo de
camarão marinho compreende basicamente duas fases: a larvicultura,
responsável pela produção de larvas, e a engorda, responsável pelo
crescimento do camarão ate a idade comercial. O referido Projeto ainda
informa que de acordo corn a densidade do tanque de engorda e do tipo de
alimentação fornecida, o cultivo de camarões pode ser classificado em três
sistemas principais: extensivo - 1 a 4 camarões/m2, corn alimento natural; semi-
intensivo - 5 a 30 camarões/m2, corn alimento natural e suplementar; e
intensivo - 30 a 120 camarõesirn2, com alimento consistindo exclusivamente
em ração balanceada. Os sistemas extensivo e semi-intensivo são os mais
amplamente difundidos entre os países do terceiro mundo.
O objetivo deste trabalho foi acompanhar e descrever de forma didática
e pratica as atividades realizadas nas áreas de berçário e engorda de um
cultivo de camarão branco, Litopenaeus vannamei, na Fazenda Santa Isabel,
no município de Aracati-CE.
3
2. CONSIDERAÇÕES GERAIS
2.1. Cultivo do camarão marinho no mundo e no Brasil
De acordo corn o SHRIMP EST GENO1V1E PROJECT... (2003), o cultivo
de camarão marinho teve seu inicio na Asia, onde por muitos séculos os
fazendeiros colhiam safras provenientes de viveiros abastecidos por marés. O
cultivo moderno, tal qual como se conhece hoje, surgiu na década de 30,
quando cientistas japoneses iniciaram trabalhos de larvicultura com o camarão
Marsupenaeus japonicus, obtendo as primeiras pós-larvas produzidas em
laboratório.
Nos anos 70, houve a propagação das técnicas de cultivo comercial em
países de regiões tropicais e subtropicais e, a partir de então, a
camaronicultura marinha começou a ganhar uma posição importante no
cenário internacional (NUNES, 2001b). Atualmente, mais de 50 'daises
exploram esta atividade, sendo a Tailândia, o maior produtor de camarão
cultivado do mundo e o Equador, o líder da América do Sul (SHRIMP EST
GENOME PROJECT..., 2003).
Segundo a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE
CAMARÃO (2003), a produção mundial do camarão cultivado em 2001 chegou
a 1,1 milhão de toneladas (t), correspondendo a 30% do volume total registrado
em todo o mundo. Isso significa que apesar do acentuado crescimento da
produção derivada do cultivo, de 215.000 tem 1985 para o nível de 1,1 milhão
de toneladas, o camarão extraído dos mares continua a ter maior peso em
relação à oferta global do produto.
Ainda de acordo com a Associação, o hemisfério oriental é responsável
pela maior parte da produção mundial do camarão cultivado, sendo os
principais produtores, por ordem de importância, Tailândia, China, Indonésia,
Vietnam, India e Bangladesh. Em relação ao hemisfério ocidental, dentre os
países produtores destacam-se o Equador como o mais importante, seguido
pelo Brasil, México, Honduras, Panamá, Colômbia e Peru.
No Brasil, o cultivo de camarão marinho surgiu na década de 70 com a
criação da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte
4
(EMPARN), cujas atividades predominantes incluíam o cultivo das espécies
Farfantepenaeus bra siliensis e Marsupenaeus japonicus (SHRIMP EST
GENOME PROJECT, 2003)
Apesar de M. japonicus ser uma das mais importantes espécies
cultivadas na Asia, ela não se adaptou bem as condições brasileiras,
principalmente em função das baixas safinidades nas zonas de produção.
Desse modo, os produtores foram obrigados a experimentar o uso das
espécies nativas corno Penaeus subtilis, P. schmitti, P. brasiliensis e P.
paulensis em suas fazendas (BARBIERI JÚNIOR, OSTRENSKY NETO, 2002).
Entretanto, segundo CAMARÃO MARINHO (2003), a baixa
produtividade e a pouca lucratividade dessas espécies provocaram a
desativação e a reconversão a salinas de diversas fazendas na região
Nordeste. No Rio Grande do Norte, a area de cultivo foi reduzida de 1.000 ha
para menos de 100 ha, por exemplo.
Por volta de 1987, iniciou-se o cultivo semi-intensivo do camarão branco
do Pacifico, Litopenaeus vannamei, no Estado da Bahia, embora confinado a
um único empreendimento. As técnicas de larvicultura e engorda do L.
vannamei foram mantidas em segredo até 1993, quando as principais
larviculturas no Pais começaram a produzir esta espécie em grande quantidade
(NUNES, 2001b).
Em pouco tempo, o camarão L. vannamei demonstrou seu elevado grau
de rusticidade, crescendo bem em uma grande variedade de condições
ambientais e apresentando níveis de produtividade e de competitividade muito
superiores aos alcançados corn as espécies ate então cultivadas no Brasil
(BARBIERI JÚNIOR, OSTRENSKY NETO, 2002).
Hoje, apesar da espécie responsável pelo grande desenvolvimento da
carcinicultura brasileira ser nativa da costa do Pacifico do Mexico, America
Central e America do Sul, o Pais já possui o completo domínio do seu ciclo
biológico. Durante mais de dez anos, o Brasil importou nauplios, pós-larvas e
reprodutores de L. vannamei de países localizados na costa do Pacifico, como
Equador, Panama, Venezuela, Mexico e Estados Unidos. O domínio do ciclo
reprodutivo e da produção de pós-larvas resultou em auto-suficiência e na
regularização da sua oferta, tornando possível a consolidação da tecnologia de
formação de plantais em cativeiro. Essa situação levou à ruptura da importação
5
de matrizes e reprodutores, que contribuíam para a introdução de
enfermidades, e eram utilizadas em constantes soluções de continuidade na
oferta de pós-larvas, corn reflexos negativos sobre o desempenho da atividade
no Brasil. O surgimento de laboratórios de produção de pós-larva e a
implantação de novas rações balanceadas propiciaram o sucesso do cultivo da
nova espécie (SHRIMP EST GENOME PROJECT, 2003).
2.2. Potencial do Brasil e do mundo
Apesar do Brasil dispor de condições favoráveis para a prática da
carcinicultura em toda a extensão de sua costa, o desenvolvimento dessa
atividade está concentrado na região Nordeste, registrando-se pequenas
iniciativas nas regiões Norte, Sudeste e Sul, principalmente em decorrência das
baixas temperaturas registradas durante o inverno. A viabilização técnica-
econômica da carcinicultura marinha nas regiões supracitadas é obtida através
de 1 ou 2 ciclos de cultivo/ano, diferentemente da região Nordeste, onde o
cultivo é praticamente ininterrupto durante todo o ano, o que permite gerar de
2,5 a 3 ciclos de cultivo/ano. A possibilidade de obtenção de urn maior número
de ciclos na região Nordeste deve-se às temperaturas mais elevadas e
estáveis, características da região (SHRIMP EST GENOME PROJECT, 2003).
De acordo corn a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE
CAMARÃO (2003), as condições naturais do litoral do Nordeste são favoráveis
ao desenvolvimento do camarão cultivado, sendo perfeitamente viável utilizar
os 365 dias do ano para o cultivo, permitindo realizar três ciclos anuais de
produção. Esse indicador põe em evidência as vantagens comparativas da
região em relação aos países produtores da Asia, onde são aproveitados 240
dias, ou apenas dois ciclos anuais de produção.
O potencial da costa brasileira para o cultivo do camarão marinho está
ainda na constatação de que, mesmo com restrições de temperaturas para o
crescimento do camarão durante o inverno, alguns estados das regiões
Sudeste e Sul estão demonstrando a viabilidade técnica e econômica da
produção comercial do Litopenaeus vannamei, com dois ciclos anuais de
produção. Em Santa Catarina, por exemplo, com um sistema a base de
pequenos produtores, alguns empreendimentos vêm obtendo elevada
6
produtividade, o que coloca as regiões Sul e Sudeste em condições de
igualdade com vários países asiáticos e centro-americanos, que são produtores
tradicionais.
Dados de 2001 mostram a existência de 507 fazendas de cultivo de
camarão marinho no Brasil, perfazendo um total de 8.500 ha de area inundada,
sendo que 97% das mesmas estão situadas na região Nordeste, que é
responsável por cerca de 95% da produção brasileira. Em média, a
produtividade de camarões cultivados ultrapassa 4 t/haiano, totalizando cerca
de 40.000 t no ano de 2001, sendo extremamente alta quando comparada com
a area natural que urna espécie necessita para se reproduzir (SHRIMP EST
GENOME PROJECT, 2003).
Na Região Nordeste, a carcinicultura vem se desenvolvendo em ritmo
acelerado desde 1996 quando se consolidou a viabilidade técnica e econômica
do agronegÓcio corn a espécie L. vannamei (Tabela 1).
Tabela 1. Crescimento da carcinicultura brasileira, entre 1997 e 2001.
Itens Anos
1997 1998 1999 2000 2001
Area de viveiros (ha) 3.548 4.320 5.200 6.250 8.500
Produção (t) 3.600 7.250 15.000 25.000 40.000
Produtividade (kg/halano) t015 1.680 2.885 4.000 4.70
Fonte: ROCHA, RODRIGUES (2002).
Segundo LEGISLAÇÃO... (2003), entre 1996 e 2000 o cultivo de
camarão cresceu tanto em area cultivada, quanto em produção total e
produtividade. Nos últimos cinco anos, a area cultivada teve um acréscimo de
95% e a produção total, um aumento extraordinário, da ordem de 768%. Esses
resultados são um reflexo claro do grau de avanço tecnológico ao qual o cultivo
de camarão foi submetido.
Em 2000, a produção foi de 25.000 t, com urna estimativa de 140.000 t
para 2005. Esta produção representaria a geração de divisas da ordem de
US$ 500 milhões, considerando os pregos correntes e de, aproximadamente,
560.000 empregos diretos e indiretos na região de cultivo (GUERRA, 2002).
7
O mercado para o camarão marinho cultivado está em expansão em
todo o mundo e apresenta uma das maiores rentabilidades do agronegócio
internacional. A atividade supera todas as alternativas rurais do Nordeste
brasileiro no quesito geração de renda, transformando-se em uma das poucas
opções econômicas da atividade primaria da região. Quanto à geração de
emprego, so pode ser comparada a fruticultura. Diante desse potencial, a
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) dirige esforços no
sentido de fomentar a atividade, segundo modelos eficientes de exploração,
sob a égide técnica, social, econômica e ambiental (GUERRA, 2002).
Apesar desse cenário promissor, segundo o mesmo autor, a
carcinicultura tem enfrentado incompreensões quanto ao seu desenvolvimento,
relacionadas especialmente aos aspectos ambientais. No âmbito do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), vem sendo elaborada uma resolução
para ordenar o licenciamento ambiental da carcinicultura. As posições
antagônicas geradas no CONAEV1A se referem basicamente à classificação de
áreas de "apicuns" e "salgados" como sendo elementos constituintes de
mangue, e que são consideradas areas de preservação permanente pelo
Código Florestal brasileiro.
Do ponto de vista macroreaional, o Nordeste consolida sua posição de
maior produtor com 96,5% (58.010 t) da produção nacional. 0 Rio Grande do
Norte mantém a liderança da produção brasileira com 18.500 t (30,77%),
seguido pelo Ceará com 16.383 t (27,25%), Bahia com 7.904 t (13,15%),
Pernambuco com 6.792 t (11,30%), Paraiba com 3.018 t (5,02%), Piaui com
2.818 t (4,69%), Sergipe com 1.768 t (2,84%) e Santa Catarina com 1.650 t
(2,74%), para citar apenas os estados que produziram mais de 1.000 toneladas
em 2002. 0 Estado do Ceara confirma o primeiro lugar em produtividade com a
extraordinária quantidade de 7.249 kg/ha/ano, seguido por Pernambuco (6.588
kg/ha/ano), Alagoas (6.116 kg/hafano), Paraiba (5.186 kg/ha/ano), Rio Grande
do Norte (5.152 kg/ha/ano) e Sergipe (5.023 kg/ha/ano), para mencionar
somente os estados cuja produtividade superou os 5.000 kg/ha/ano em 2002
(ROCHA, RODRIGUES, 2002).
O volume produzido em 2002 e os níveis de produtividade alcançados
pelos estados do Brasil estão apresentados na Tabela 2.
8
Tabela 2. Situação do camarão marinho cultivado em 2002 por estado brasileiro.
Estado Número de
fazendas
, Area (ha)
Produção
(t)
Produtividade
(kg/helena)
Participação
por estado
(c)/0)
PA 3 22 78 3.545 0,13
MA 5 155 727 4.690 1,21
PI 12 590 2.818 4.776 4,69
CE 126 2.260 16.383 7.249 27,25
RN 280 3.591 18.500 5.152 30,77
PB 50 582 3.018 5.186 5,02
PE 74 1.031 6.792 6.588 11,30
AL 2 16 100 6.116 0,17
SE 40 352 1.768 5.023 2,94
BA 36 1.710 7.904 4.622 13,15
ES 10 97 20 2.577 0,42
PR 1 50 140 2.800 0,23
SC 41 560 1.650 2.946 2,74
Total 680 11.016 60.128 5.458 100,00
Fonte: ROCHA, RODRIGUES (2002).
O crescimento horizontal do agronegócio do camarão cultivado em
2002, comparado com a acelerada expansão ocorrida no qüinqüênio
1988/2001 (Tabela 3), mostrou um ritmo moderado com 34% de aumento dos
produtores e 29% da area de viveiros em produção. Este incremento,
relativamente moderado, pode ser interpretado como um fator positivo para a
carcinicultura nacional, já que permite melhor planejamento, maior atenção
técnica e controle mais eficiente de sua expansão, facilitando a adoção de
medidas de ordenamento setorial (ROCHA, RODRIGUES, 2002).
O aumento da ordem de 50% da produção nacional 6 um bom resultado,
revelando que boa parte do crescimento foi vertical e deveu-se a melhor
produtividade, cujo crescimento foi de 16% em relação ao ano anterior. Esses
resultados têm consolidado o primeiro lugar do Brasil, entre todos os
produtores do mundo, corn 5.458 kg/ha/ano. Além disso, é possível observar
9
que o vetor tecnológico da carcinicultura brasileira continua sendo aprimorado
e tem se difundido entre um maior número cada vez maior de produtores. As
60.128 t de camarão cultivado, produzidas em 2002, embora possa parecer um
volume modesto em relação à produção da China (310.750 t) e da Tailândia
(260.000 t), colocaram o Brasil como o maior produtor de camarão cultivado do
Hemisfério Ocidental, à frente do Equador e Mexico, que tradicionalmente
ocuparam a primeira e segunda posições (Tabela 4) (ROCHA, RODRIGUES,
2002).
Tabela 3. Principais resultados de 2002 e comparação com 2001, referentes ao
cultivo de camarão no Brasil.
Variáveis levantadas/ano 2001 2002 Variação (%)
Número total de produtores 507 680 34,10
Area total de viveiros em produção (ha) 8.500 11.016 29,60
Produção total (t) 40.000 60.128 50,30
Produtividade média anual (kg/ha/ano) 4.706 5.458 16,00
Fonte: ROCHA, RODRIGUES (2002).
Tabela 4. Produção mundial de camarão no período 2001/2002.
Principais 2001 2002
países
produtores
Produção
(t)
Area em
produção (ha)
Produtividade
(kg/ha/ano)
Produção
(t)
Area em
produção (ha)
Produtividade
(kg/ha/ano)
China 263.203 219.399 1200. 310.750 268.400 1.158
Tailândia 320.000 86.000 3.695 260.000 76.000 3.421
Vietnã 155.000 478.800 324 178.000 699.613 254
Índia 100.000 150.000 667 102.940 157.000 656
Indonésia 99.000 380.000 260 102.000 380.000 268
Bangladesh 63.000 140.000 450 63.164 144.202 438
Brasil 40.000 8.500 4.760 60.128 11.016 5.458
Equador 58.736 90.000 653 57.000 90.000 633
México 40.000 35.000 1.143 38.000 35.000 1.086
Honduras 15.000 14.000 1.071 18.000 16.000 1.125
Outros 109.797 150.000 732 129.146 172.195 900
Total 1.263.736 1.751.699 721 1.319.128 2.049.426 644
10
3. ATIVIDADES DO CULTIVO
3.1. Berçários
A carcinicuitura marinha brasileira vem crescendo progressivamente,
devido a vários avanços tecnológicos, como por exemplo, o uso de
comedouros fixos e de tanques berçário (PEREGRINO, CORREIA, OLIVEIRA,
2002).
Na fase de berçário, primeira etapa da engorda, os camarões são
aclimatados as condições ambientais da fazenda. Se bem conduzida, ao final
de 10 a 20 dias, a sobrevivência pode ser superior a 90% (NUNES, 2001a).
No passado, a carcinicultura marinha brasileira adotava urn sistema
bifásico, constituído de viveiros berçários e viveiros de engorda.
Posteriormente, a atividade adotou a estocagem direta das pós-larvas (sistema
monofásico) e, mais recentemente, voltou ao sistema bifásico com tanques
berçários e viveiros de engorda (PEREGRINO, CORREIA, OLIVEIRA, 2002).
A utilização de tanques berçários, geralmente denominados de "berçário
intensivo", foi uma alternativa criada para melhorar o desempenho das Os-
larvas antes de estocá-las nos viveiros de engorda (PEREGRINO, CORREIA,
OLIVEIRA, 2002).
A função básica do berçário intensivo é recepcionar e estocar
temporariamente as pós-larvas de camarão. Esse ambiente de cultivo
possibilitou melhoras consideráveis na adaptação e aclimatação das pós-larvas
às condições ambientais; no acompanhamento da qualidade das pós-larvas
dos laboratórios; no controle biológico da agua de cultivo minimizando a
presença de patágenos, competidores efou predadores; nas projeções e
estimativas referentes à biomassa do viveiro; no desempenho produtivo das
larviculturas; e na diminuição do impacto do povoamento direto nos viveiros de
engorda, aumentando assim a taxa de sobrevivência final. Além dessas
vantagens, um controle mais intenso foi exercido sobre o fornecimento do
alimento e a nutrição das pós-larvas, resultando em altos níveis de
sobrevivência (AMARAL, ROCHA, LIRA, 2003).
11
3.1.1. Descrição dos berçários
A Fazenda Santa Isabel possui 6 tanques berçários de alvenaria corn
formato circular medindo 8 m de diâmetro. Cada tanque tem volume de 55.000
litros. Neles, as pós-larvas corn 10 a 12 dias de vida (P110-P112) provenientes do
laboratório de larvicultura da empresa Comércio de Pescados Aracatiense
Ltda. (Compescal) são estocadas em uma densidade de estocagem que varia
de 40 a 50 PI/L.
Os 6 tanques berçários são providos de sistema de abastecimento de
água, vinda do canal de abastecimento, e aeragão artificial garantida por urn
soprador de ar de 3,5 CV. A estrutura do berçário ainda possui uma caixa de
coleta, a qual se constitui em uma estrutura de alvenaria situada entre os
tanques e posicionada em um nível inferior ao fundo dos tanques e que se
presta para auxiliar na despesca das pós-larvas dos berçários.
3.1.2. Preparação e fertilização dos tanques berçários
Os tanques berçários intensivos devem ser preparados pelo menos 5
dias antes do recebimento das pós-larvas. Esta preparação consiste
basicamente na limpeza, desinfecção e enchimento do tanque, seguindo da
fertilização da água de cultivo. O enchimento do tanque é realizado corn a água
proveniente dos canais de abastecimento dos viveiros de engorda. Toda a
água de abastecimento deve passar por uma manga de filtração feita com uma
malha de 300 1.1., fixada na torneira do cano de entrada de água do tanque
(NUNES, 2001a).
preparação dos tanques berçários consiste em limpeza com cloro a
200 partes por mil (%0), deixando-o por um período de 24 h, e retirando seu
excesso com água. Em seguida, coloca-se álcool nas paredes e no fundo do
tanque e aguardam-se 2 h para proceder ao abastecimento (LUSTOSA, 2002).
O enchimento deve ser realizado gradativamente, em combinação com
o processo de fertilização química da água, utilizando para isto superfosfato
triplo, uréia, silicato e nitrato de sódio (Tabela 5). A fertilização é realizada no
primeiro dia com o tanque abastecido com água ate 50% do seu volume. No
segundo dia, o tanque é cheio até sua capacidade total, ponto em que a água
12
deve apresentar uma coloração marrom, indicando presença de diatornaceas
(LUSTOSA, 2002).
Tabela 5. Fertilizantes utilizados nos tanques berçários para favorecer ao
crescimento de algas.
Fertilizantes Quantidade por berçário
(rapacidade de 55.000 L)
Ureia (a) 690
Superfosfato triplo (g) 140
Silicato liquido (neutro) (mL) 420
Nitrato de sódio (g) 1.400
3.1.3. Recepção e aclimatação das pós-larvas
O transporte das pós-larvas é realizado do laboratório à Fazenda Santa
Isabel por via terrestre. Os animais oriundos dos laboratórios são
acondicionados em sacos plásticos contendo 1/3 de aqua e 2/3 de oxigênio, em
urn volume médio de 15 L de agua. Cada saco apresenta uma densidade
média 1.000 pós-larvas/L, ou seja, uma media de 15.000 pós-larvas. Os sacos
são acondicionados em caixas isotérmicas, dois por caixa.
Na Fazenda, as pós-larvas são submetidas à aclimatação, um
procedimento que garante indices de sobrevivência elevados após a
estocagem dos camarões nos tanques berçários (Figura 1). A aclimatação
consiste na mistura gradual e continua da água de cultivo corn a agua de
transporte das pós-larvas, até que as mesmas tenham se equilibrado em
termos de salinidade, temperatura e pH da agua. O período da aclimatação
está relacionado com o tamanho e qualidade das pós-larvas e as diferenças de
temperatura e salinidade da água. Após serem aclimatadas as pós-larvas
devem ser sifonadas diretamente para o berçário a uma densidade de
estocagem variando de 15.000 a 30.000 PL/m3 (NUNES, 2001a).
13
De um modo geral, a salinidade deve ser ajustada de 2 a 3 partes
Por mil (%0), a temperatura a uma razão de 1°C e o pH a 0,3 unidade em um
período de 1 h. Para evitar processos de aclimatação muito demorados, é
feito um contato prévio com o laboratório de onde as pós-larvas provêm, de
onde se obtém informações sobre a salinidade, o pH e a temperatura
desejados (LUSTOSA, 2002).
Figura 1. Aclimatação das pós-larvas na Fazenda Santa Isabel, Aracati — CE.
Todo o processo de aclimatação deve ser realizado com água
continuamente oxigenada. Para isso, utilizam-se mangueiras de silicone ou de
borracha acopladas a um cilindro de oxigênio. Quando a salinidade, o pH e a
temperatura da água do tanque de aclimatação se igualarem aos parâmetros
da água do viveiro, a aclimatação estará concluída e as larvas estarão prontas
para iniciar a fase de cultivo nos berçários intensivos. Nos tanques de
aclimatação, é importante observar aspectos como o nível de atividade
natatória, a existência de pôs-larvas com natação desordenada, a presença de
mudas na água etou de larvas mortas e a ocorrência e freqüência de
canibalismo. (BARBIERI JÚNIOR, OSTRENSKY NETO, 2002).
Para não haver canibalismo durante a aclimatação, as pós-larvas
devem ser continuamente alimentadas com pequenas e freqüentes porções de
ração (BARBIERI JÚNIOR, OSTRENSKY NETO, 2002).
Das fases de P19 a P125 (pôs-larvas com 9 a 25 dias), elas devem ser
alimentadas com uma ração apresentada na forma de pequenas partículas
desintegradas contendo 40% de proteína bruta. O alimento deve ser distribuído
14
diariamente por meio de lanços uniformes sobre toda area cultivada por
períodos de 24 h, em intervalos continuos de 2 h, ofertado de forma exclusiva
ou em combinação com biomassa de Artemia consistindo em indivíduos
adultos congelados. Nas alimentações com Artemia e ração, o arraçoamento
deve ser realizado em intervalos continuos de 2 h de forma alternada (Artemia
seguida de ração ou vice-versa). Após um período de cultivo entre 10 e 20 dias
nos tanques berçários, as pós-larvas estão aptas para inicio da etapa de
engorda em viveiros escavados. Neste ponto, os animais são removidos dos
tanques através de um sistema de drenagem, o qual permite a concentração e
captura dos animais. As pós-larvas são transferidas para os viveiros em
bombonas dotadas de aeração constante, acondicionadas a uma densidade de
até 500 animaisiL (NUNES, 2001a).
3.1.4. Manejo de Rotina
Algumas atividades são adotadas rotineiramente a fim de assegurar um
cultivo dentro de padrões de qualidade.
A limpeza do fundo do tanque deve ser realizada duas vezes por dia por
sifonamento (LUSTOSA, 2002) para assegurar um ambiente livre de partículas
que possam contribuir para a contaminação dos organismos.
É importante que se proceda a observação geral das pós-larvas obtidas
por amostragem, incluindo trato digestivo, troca de carapaças, movimento das
pós-larvas, assim corno a qualidade da água (BEZERRA, 2002).
As pós-larvas devem ser alimentadas de 2 em 2 horas, podendo esse
intervalo ser reduzido para até 1 h, se necessário.
A renovação de agua é feita a partir do segundo dia (30% para Plis, 40%
para PI20), podendo chegar até 100% de renovação por dia.
Todos os dias os valores de salinidade, temperatura e transparência de
água devem ser observados corn auxílio de salinõmetro, termômetro e disco de
Secchi, respectivarnente. Os dados são anotados em planilhas individuais, nas
quais devem constar data, estádio larval e alimentação fornecida
15
3.1.6. Despesca do berçário
inicialmente, o tanque berçário deve ser drenado, deixando-se
aproximadamente 30% de seu volume inicial sob regime de intensa aeração.
Em seguida, com auxilio de um puçá, as pós-larvas são despescadas e devem
ser transferidas para um tanque de contagem. Quando o número de pós-larvas
capturadas corn o puçá começar a diminuir, o restante da despesca deverá ser
feito através da drenagem total do tanque. Para isso deve-se utilizar um
recipiente para filtrar a agua e reter as pós-larvas que deverão ser
posteriormente transferidas para o tanque de contagem. A contagem é feita em
5 amostras de 300 mL e o número de pós-larvas calculado com base no
volume de água do tanque onde elas se encontram.
3.2. Engorda
A Fazenda Santa Isabel opera em sistema de engorda intensivo,
caracterizando-se por utilizar densidade de estocagem que varia de 50 a 70
camarões/m2, com um total de 11 viveiros, os quais possuem area que varia de
1 a 5 hectares e profundidade média dei ,50 m, com tempo de cultivo que varia
de 120 a 140 dias.
3.2.1. Preparação do viveiro
A preparação do viveiro deve começar logo após o último cicio de
engorda corn a drenagem total da agua de cultivo. Com o objetivo de eliminar
poças d'água e secar completamente o solo, o viveiro é exposto ao ar e ao sol
(NUNES, 2001a) por aproximadamente 1 semana, até que seja possível
caminhar sobre o viveiro. Caso ainda haja poças ou lama uma desinfecção,
deverá ser feita com uma solução de cloro, obtida pela dissolução de 200 g de
hipoclorito de cálcio em 10 L de agua, que é utilizada para cada 1.000 L de
água empoçada. Esta solução auxilia na eliminação de ovos e larvas de
organismos indesejáveis.
16
Depois se faz a limpeza manual retirando tanto vertebrados (peixes)
quanto invertebrados (crustáceos) ou outros organismos que por ventura
tenham sobrevivido ao esvaziamento do viveiro.
As comportas de adução e drenagem, juntamente corn suas respectivas
telas e tábuas devem ser completamente limpas, removendo cracas e outros
organismos (NUNES, 2001a).
3.2.2. Calagem
Segundo a AVALIAÇÃO... (2002), a cal 6 urn aditivo químico utilizado
para neutralizar a acidez do solo e incrementar a aicalinidade total e dureza
total dos viveiros de aquicultura pobremente tamponados.
A calagem é benéfica nos viveiros com nível de pH abaixo de 6 ou em
viveiros com alcalinidade total baixa. O material de calagem não fertiliza, mas
melhora a resposta da fertilização em viveiros ácidos de baixa alcalinidade
(BARBIERI JÚNIOR, OSTRENSKY NETO, 2002).
O calcário tem a -capacidade de elevar o pH do solo; diminuir a retenção
de fósforo no fundo dos viveiros, aumentando a sua disponibilidade para o
fitopla'ncton; aumentar a quantidade de gas carbônico para a fotossintese;
diminuir a turbidez da água e a quantidade de material em suspensão;
promover o crescimento eiou a manutenção populacional das bactérias
desejáveis no viveiro (BARBIERI JÚNIOR, OSTRENSKY NETO, 2002).
Esses benefícios da calagem sobre a qualidade da água atuando em
conjunto com a fertilização, podem ter urn impacto substanciai na produção das
espécies aquáticas (BOYD, 2001).
Geralmente, os produtos mais utilizados são o calcário calcitic°
(CaCO3), dolomitic° [CaMg(003)2], cai virgem (CaO) ou cal hidratada
[Ca(OH)2j (BARBIERI JÚNIOR, OSTRENSKY NETO, 2002).
As quantidades empregadas durante a calagem devem obedecer
capacidade neutralizadora de cada produto (Tabela 6). A cai virgem é mais
empregada em solos ácidos sulfatados (pH <4,0) e em ambientes degradados
e corn excesso de matéria orgânica. O calcário é o produto mais recomendado
para o uso regular, pois age lentamente ate os níveis adequados de pH além
do manuseio seguro (LUSTOSA, 2002).
17
Na Fazenda Santa Isabel, após o processo de desinfecção, é feita a
calagem, aplicando-se 50% do calcário e, logo em seguida, faz-se a
gradeagem no fundo do viveiro quando os outros 50% são aplicados. A
quantidade é calculada de acordo com o pH do solo.
Tabela 6. Dosagens aproximadas (kg/ha) baseadas na capacidade
neutralizadora de produtos empregados na calagem do solo.
Dosagem (kg/ha)
Calcário Calcário Cal hidratada Cal virgem
calcitic° dolomitic°
6,6 — 7,5 500 450 370 280
6,1 -6,5 1.000 920 740 560
5,6 - 6,0 2.000 1.840 1.480 1.120
5,1 -5,5 3.000 2.750 2.220 1.680
<5,0 4.000 3.670 2.960 2.240
pH
Fonte: LUSTOSA (2002).
3.2.3. Enchimento do viveiro e fertilização
A adubação ou fertilização é um processo que permite adicionar
nutrientes à água a fim de aumentar a produção de plâncton e assim
incrementar a produtividade e o crescimento dos camarões na engorda
(NUNES, 2001c).
Antes do enchimento do viveiro e durante os primeiros 30 dias de cultivo,
dois jogos de teias com malhas de 1.000 e 500 IA devem ser fixadas
seqüencialmente na comporta de abastecimento do viveiro. O manejo da
abertura das malhas está diretamente relacionado com o crescimento dos
camarões ao longo do ciclo. As telas necessitam ser escovadas a cada
bombeamento para evitar o entupimento e o rompimento das malhas
(LUSTOSA, 2002).
Dois tipos de fertilizantes podem ser utilizados: os orgânicos e os
inorgânicos. Os orgânicos (esterco animal) apresentam várias desvantagens se
comparado com os fertilizantes químicos (BOYD, 2001). Na carcinicultura
18
mais utilizada a fertilização inorgânica a base de uréia, superfosfato,
superfosfato triplo e sulfato de amônio.
A fertilização deve ocorrer no período da manhã e em dias ensolarados
e ser iniciada simultaneamente ao abastecimento do viveiro, porém antes da
estocagem. Para inicio da fertilização, o viveiro deve ser parcialmente cheio,
com cerca de 30 cm de lâmina d'água (NUNES, 2001a). Os fertilizantes
químicos devem ser aplicados em combinação a fim de obter um equilíbrio
entre os nutrientes necessários.
Na Fazenda Santa Isabel, depois de abastecido 1/3 do viveiro aplica-se 9
kg de uréia/ha e 10% desse total de superfosfato traio. Após dais dias o viveiro
é abastecido até a metade e aplicam-se 14 kg de uréia/ha e 10% desse total de
superfosfato triplo. Depois de três dias, completa-se o abastecimento até o
nível (Figuras 2 e 3).
A renovação de água é feita para incrementar a produtividade primária e
deve ser suspensa quando a transparência avaliada com o disco de Secchi
apresentar um resultado de 30 a 40 cm.
Figura 2. Enchimento de um viveiro Figura 3. Canal de abastecimento
na Fazenda Santa Isabel, dos viveiros da Fazenda
Aracati — CE. Santa Isabel, Aracati —
CE.
19
3.2.4. Estocagem
Os viveiros d, engorda são estocados com camarões vindos dos
berçários geralmente com idade superior a P120 (pós-larvas com 20 dias de
idade) e um peso corporal de aproximadamente 0,50 g.
A estocagem dos camarões nos viveiros pode ser iniciada logo após a
sua correta preparação, com a constatação de níveis favoráveis de oxigênio
dissolvido, salinidade, pH e transparência. A quantidade total de camarões a
ser liberada no viveiro irá variar conforme as densidades de estocagem
desejadas.
A estocagem 6 feita, normalmente, no período noturno ou no inicio da
manhã, pois as temperaturas são mais baixas evitando assim os riscos de
morte dos animais por estresse.
Após a contagem das pós-larvas, as mesmas são transferidas para uma
caixa de fibra de 500 litros, equipada com aeração constante provida de urn
compressor de ar de 12 V, instalada em um veiculo para transporte até o
viveiro receptor. Chegando no viveiro, inicia-se a aclimatação das pós-larvas
com a água do viveiro até que se igualem os parâmetros limnológicos (pH e
temperatura) e a partir de então iniciar a liberação dos animais através de
sifonamento.
3.2.5. Manejo do viveiro de engorda
0 manejo dos viveiros consiste em diversas atividades diárias durante
todo o período de cultivo, garantido a produção desejada caso sejam
executadas de forma correta (LUSTOSA, 2002). Para que os animais possam
ter urn ambiente seguro para seu crescimento e sobrevivência, é necessário
que se tenha as melhores condições da água.
O acompanhamento dos fatores bioticos e abioticos dos viveiros permite
realizar um manejo alimentar mais eficiente. Quando for constatado algum
parâmetro fora do padrão, 6 sinal de estresse para os camarões, que em
resposta diminuirão o consumo do alimento. Neste caso, enquanto as medidas
corretivas (renovação, utilização de aeradores, calagem, etc) estão sendo
20
realizadas, o fornecimento do alimento pode ser alterado antecipadamente
(AMARAL, ROCHA, LIRA, 2003).
O oxigênio dissolvido na água é uma das variáveis de cultivo de maior
significado, se constituindo em um fator limitante para o crescimento dos
camarões no cultivo (AMARAL, ROCHA, LIRA, 2003).
É importante que se realize um monitoramento diário de alguns
parâmetros físicos e químicos da água dos viveiros para que se possa tomar
decisões de acordo com a variação desses parâmetros.
No período de cultivo na Fazenda, foram realizadas medições diárias de
oxigênio dissolvido e temperatura utilizando-se um medidor de oxigênio portátil,
modelo YS1 55; pH com o auxilio de um medidor de pH Hanna portátil;
salinidade utilizando-se um salinômetro bio-marine modelo ABMTC e
transparência utilizando-se um disco de SecchI.
Tabela 7: Controle dos parâmetros da qualidade de água em viveiros de cultivo
realizado na Fazenda Santa Isabel, Aracati - CE.
Parâmetro Freqüência Horário Equipamento Valores ideais
(vez/dia) (horas)
Oxigênio 6:00, 12:00 e
dissolvido Oximetro 6 a 10
(mg/L) 17:00
6:00, 12:00 e 3 a 9 (variação pH 3 Medidor de pH
17..00 diária <0,5)
Salinidade 2 6:00 e 12:00 Salinômetro 15 a 27
C/00)
Temperatura 6:00, 17:00 e Termômetro e 3 23 a 30
(°C) 24:00 oxímetro
Transparência Disco de 12:00 35 a 45
(cm) Secchi
A qualidade da água inclui todos os fatores físicos, químicos e biológicos
que influenciam o seu uso benéfico. Em relação â aqüicultura, qualquer
característica da água que afete a sobrevivência, reprodução, crescimento ou
21
manejo da população cultivada é uma variável importante na qualidade da
agua (BOYD, 2001).
3.2.6. Aeração mecânica
No Brasil, a utilização de aeradores, introduzida por influência taiwanesa
em meados da década de 90, esta se disseminando rapidamente. A utilização
dos aeradores está trazendo inúmeras vantagens, especialmente com relação
ao aumento da produtividade e da rentabilidade dos cultivos (NUNES, 2000).
Para a ASSOCIAÇÃO DOS AQUICULTORES... (2003), as fazendas de
camarão empregam aeradores por inúmeras razões. Na maioria dos casos, o
objetivo principal é permitir um aumento nas densidades de estocagem para
alcançar produtividades mais elevadas. A segunda razão é prevenir a falta de
oxigênio dissolvido nos viveiros. Os aeradores são também utilizados para
minimizar o risco de introdução de enfermidade em urn determinado
empreendimento, promover a circulação de água para que não haja
estratificação dos viveiros com renovação zero e a redução da região de
acúmulo de sedimentos no viveiro.
Segundo a mesma Associação, os aeradores são introduzidos no viveiro
precedendo a estocagem dos camarões. Neste momento, as areas de
posicionamento já devem ter sido estudadas ou definidas. O sistema de fiação
elétrica, submerso ou aéreo, e o quadro de comando, também já devem estar
prontos para acionamento. Os aeradores são ancorados na area de cultivo por
meio de estacas de madeira introduzidas no piso do viveiro e amarradas ou
inseridas nas argolas de fixação da base do aerador.
O horário e o tempo requerido de funcionamento dos aeradores estão
associados as condições de qualidade de agua e a biomassa estocada. Em
sistemas intensivos (acima de 40 camarões/m2), os aeradores devem ser
ligados principalmente em dias nublados ou chuvosos e durante os períodos
noturnos, quando diminuem ou cessam os processos naturais de oxigenação
da água através da fotossintese. Em horários muito quentes, os aeradores
devem também ser ligados para reduzir possíveis condições de estratificação
térmica da agua.
22
Na Fazenda Santa Isabel são utilizados aeradores de palhetas modelo
B-207, cada um de 2 CV, onde são utilizados 8 CV de aeração por hectare.
(Figura 4).
Figura 4. Aeradores de palheta em funcionamento na Fazenda Santa Isabel,
Aracati — CE.
3.2.7. Biometria
As biometrias são análises periódicas, que devem ser realizadas nos
camarões, em todos os viveiros da propriedade, para a avaliação do
andamento gerai do cultivo (BARBIERI JÚNIOR, OSTRENSKY NETO, 2002).
Os dados obtidos são a principal ferramenta que o técnico dispõe para
monitorar o cultivo sob sua responsabilidade, pois é através deles que é
possível avistar e avaliar se os animais estão crescendo dentro do limite
esperado, se os camarões possuem alguma enfermidade, se há problemas de
manejo no cultivo e se o arraçoamento está ou não sendo bem feito.
A biometria na Fazenda Santa Isabel é feita semanalmente, utilizando-se
uma tarrafa e urna balança (Figura 5). são feitas amostragens aleatórias em
quatro pontos de cada viveiro e o número de camarões capturados é de
aproximadamente 30 camarões por ponto onde cada um 6 pesado e analisado
visualmente quanto as características como, cor, estágio do ciclo de muda,
presença de enfermidades e necroses.
23
As medidas são anotadas em uma planilha especifica de biometria para
avaliação do cultivo. Assim, o produtor poderá conhecer melhor as
características de cada unidade de produção.
Figura 5. Biometria dos camarões na Fazenda Santa Isabel, Aracati — CE
3.2.8. Alimentação
O apetite dos camarões 6 regulado por mecanismos complexos
envolvendo fatores metabólicos, neurofisiológicos e hormonais. Em geral, sob
condições confinadas, o consumo de ração responde as necessidades
metabólicas e as exigências energéticas do animal. A energia é utilizada para
as funções vitais de manutenção dos camarões, como respiração, digestão de
alimentos, excreção e locomoção (NUNES, 2002b).
As bandejas de alimentação ou comedouros são utilizados para
melhorar o controle sob os níveis de consumo alimentar dos camarões e
permitir um monitoramento mais direto das condições de saúde da população
cultivada (NUNES, 2001b).
Os comedouros são distribuídos na razão de 25 a 50 unidades/ha. Para
tanto, os viveiros são divididos em seções quadradas e alinhadas, e nos
vértices de cada urna delas são colocadas as estacas de fixação, afastadas
dos diques de pelo menos 5 a 10 metros. Para viveiros corn area menor ou
igual a 1 ha, a fixação das bandejas-comedouro deve obedecer a um
espaçamento de 10 a 20 metros entre as bandejas (NUNES, 2000).
24
Para confecção dos comedouros, são utilizadas "virolas" de pneus, cuja
elevada densidade dispensa o emprego de chumbadas, onde são colocadas
teias de náilon de 1 mm. Os comedouros são amarrados corn cordões de
náilon para que sejam afixados nas estacas (NUNES, 2000).
Depois da estocagem na Fazenda Santa isabei, colocam-se bandejas
em alguns pontos do viveiro para que se possa fazer o acompanhamento do
consumo de ração pelos indivíduos e desenvolvimento da pós-larva. Nos 10
primeiros dias a ração continua sendo a mesma do berçário (CRi) corn 40% de
proteína bruta, distribuída por voleio em quatro refeições diárias ás 7:00 h,
11:00 h, 15:00 h e 17:00 h. Nos próximos 20 dias, a ração com 40% de
proteína bruta é continuada, mas corn partículas de maior diâmetro (CR2). 0
arraçoamento é feito por meio de lanços manuais conduzidos dos taludes ou
nas áreas mais afastadas corn o auxilio de caiaques. A partir do 29- mês, são
alocadas mais bandejas obedecendo proporcionalmente as densidades de
estocagem de camarão (i.e., 1 bandeja/ha para dada 100.000 camarões/ha) e a
ração passa a ser peletizada contendo 35% de proteína bruta, distribuída 3
vezes ao dia ás 7:00 h, 11:00 h e 15:00 h. A ração é distribuída e monitorada
com auxilio de caiaques. Para ajudar no controle do consumo são utilizados
pequenos medidores chamados pendentes, que marcam a quantidade de
ração que está sendo ofertada diariamente. A ração não consumida 6 coletada
e descartada, pois as propriedades da ração já diminuíram de forma
significativa, e sua permanência no viveiro contribuirá para afetar
negativamente a qualidade de água.
Restos de ração na água podem manter os camarões afastados dos
locais de alimentação. É importante lavar e escovar as bandejas
freqüentemente para evitar o acumulo de material orgânico. Após o término de
cada ciclo de cultivo, as bandejas devem ser transferidas para outras áreas do
viveiro, a fim de permitir a recuperação do solo nos locais onde estas eram
previamente posicionadas (NUNES, 2001d).
Em decorrência de seus inúmeros aspectos positivos, a adoção do
sistema de comedouros fixos tem se apresentado como a opção mais
apropriada às exigências de ajuste alimentar da carcinicultura semi-intensiva,
evitando os fenômenos de sub ou super alimentação, proporcionando uma
melhor conversão alimentar e redução substancial dos custos de produção, via
25
diminuição do desperdício, acarretando em contrapartida, o incremento da
rentabilidade (NUNES, 2000).
O técnico também deve tornar cuidado com a forma de armazenamento
da ração. Os sacos de ração devem ser empilhados em paletes (estrados de
madeira), longe do contato direto corn o chão ou paredes. O empilhamento não
deve exceder a 10 sacos, a fim de não comprometer a integridade física dos
péletes. Os períodos de a-rmazenamento não devem ultrapassar de 3 meses e
as rações devem ser utilizadas dentro de 2 semanas a um mês, após sua
fabricação (NUNES, 2000).
A ecdise é um processo pelo qual os camarões perdem a carapaça
velha (exoesqueleto), formando urn novo exoesqueleto para permitir a
expansão corporal. O novo exoesqueleto possui uma formação delicada que
endurece rapidamente (NUNES, 2002b). A ecdise ocorre ao longo de todo ciclo
de engorda, apresentando uma maior intensidade nas fases inicial e
intermediária do cultivo, quando os camarões apresentam taxas de
crescimento mais elevadas (Tabela 8).
Tabela 8. Intervalos da atividade de muda dos camarões peneideos ao
longo do seu crescimento em viveiros.
Peso do camarão (g) Intervalo da muda (dias)
2 - 5
6 - 9
10— 15
16 —22
23 —40
50 - 70 (fêmea)
50 - 70 (macho)
7 - 8
8 - 9
9-12
12 - 13
14- 16
18 - 21
23 - 30
Fonte: NUNES (2004
Em alguns estádios larvais, os camarões podem sofrer mais de uma
muda por dia. É sempre um processo que envolve urn grande gasto de energia
metabólica e provoca estresse nos camarões, os animals ticam completamente
indefesos e vulneráveis a qualquer ataque de predadores, e até de outros
26
camarões da mesma espécie, não conseguindo sequer se alimentar, uma vez
que todos os seus apêndices alimentares estão moles (BARBIERI JÚNIOR,
OSTRENSKY NETO, 2002).
Segundo os mesmos autores, em época de mudança (virada) de lua,
para quarto crescente ou para quarto minguante, deve-se observar o
comportamento dos camarões, em relação à freqüência de muda e a
diminuição no consumo de ração, que pode ocorrer de forma mais ou menos
sincronizada. Urna vez constatado o fato, o técnico pode diminuir em ate 75% a
quantidade de ração fornecida.
3.2.9. Despesca
As principais vantagens que o camarão cultivado apresenta, em relação
ao capturado na natureza, são justamente a possibilidade que o produtor tem
para controlar o tamanho, a uniformidade dos animais comercializados, seu
frescor e sua qualidade (BARBIERI JÚNIOR, OSTRENSKY NETO, 2002).
Os camarões de cultivo são em grande parte despescados para
comercialização dentro de no máximo 120 dias de engorda, quando atingem
um peso médio de 12 g. Contudo, o momento adequado para realizar a
despesca e, as vezes, um tanto imprevisível. Em algumas situações é mais
vantajoso prolongar a engorda para se alcançar preços mais atrativos no
mercado, mesmo que se acarrete custos operacionais mais elevados e uma
menor rotatividade nos cultivos (NUNES, 2001a). 0 produtor deve sempre ficar
atento as flutuações do camarão nos mercados nacional e internacional, corno
também as tendências de consumo ao longo do ano, visando a maximizar seu
ganho na comercialização (WSTOSA, 2002).
Para se realizar uma despesca, alguns procedimentos devem ser
adotados. Primeiro, 6 necessário realizar uma biometria nos viveiros a serem
despescados. A amostragem deve ser efetuada em diferentes pontos do viveiro
e a percentagem de camarões moles encontrados na população amostrada
não deve ser superior a 10%.
A drenagem do viveiro a ser despescado precisa começar com um ou
preferencialmente, dois dias de antecedência em relação à despesca
(BARBIERI JÚNIOR, OSTRENSKY NETO, 2002).
97
Também é recomendável a suspensão do arragoamento no viveiro um
ou dois dias, pois o estômago muito cheio pode acelerar o processo de reações
enzimáticas, ocasionando escurecimento do cefalotórax, conhecido como
"black spot", pois o mercado não aceita animais com esta característica.
A temperatura elevada também contribui para ocorrência destas reações
por isso as despescas devem ser realizadas de preferência a noite, para
minimizar o estresse dos animais e refletir positivamente sobre a sua
qualidade.
A despesca só deverá começar, de fato, quando o nível de água do
viveiro for inferior a 30% e não deve ocorrer enquanto o gelo (usado para
provocar o choque térmico e a posterior conservação dos camarões) não tiver
chegado à fazenda (BARBIERI JÚNIOR, OSTRENSKY NETO, 2002). É de
extrema importância que as concentrações de oxigênio dissolvido e
temperatura sejam monitoradas com maior freqüência.
Uma rede tipo "bag-net" deve ser fixada na comporta de drenagem. A
Figura 6 ilustra um procedimento de despesca. Os camarões se deslocarão em
direção à comporta de saída arrastados peia correnteza da água e ficarão
aprisionados na rede. Os camarões são coletados em intervalos variáveis para
que não se acumulem, sendo transferidos para tanques de 500 litros contendo
agua com geio e metabissuifito de sódio a um nível máximo de inclusão de 100
parte por milhão (pprn) para receberem o choque térmico (Figura 7). Os
camarões devem ficar imersos nessa solução por no máximo 10 minutos.
Em seguida, os camarões devem ser transferidos para caixas onde
serão pesados e transferidos para caixas isotérmicas corn capacidade para 60
kg. Os camarões devem ser acondicionados em cada caixa em camadas
alternadas de gelo e de camarão. As caixas devem ser vedadas com fita
adesiva e transportadas por caminhões até as unidades de beneficiamento
De acordo com ASSOCIAÇÃO DOS AQUICULTORES... (2003), o
manejo da despesca é tão importante quanto o cultivo propriamente dito.
Assim, o produtor tern a responsabilidade de garantir a melhor apresentação
possível do seu produto, visando a expansão futura do mercado consumidor.
28
Figura 6. Despesca realizada na Figura 7. Choque térmico após a
Fazenda Santa Isabel, operaçáo de despesca
Aracati — CE. na Fazenda Santa Isabel,
Aracati — CE.
Na Fazenda Santa Isabel, a despesca é feita pelo Comércio de
Pescados Aracatiense Lida (Compescal), responsável pelo beneficiamento dos
camarões produzidos.
"29
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Fazenda Santa Isabel cultiva camarão marinho Litopenaeus vannamei
em sistema intensivo bifásico que é o padrão atual de manejo das fazendas do
Ceará e do Nordeste, utilizando aeradores de palhetas corn renovações diárias
de água
A Fazenda está sempre abrindo espaço para novas tecnologias, e
qualquer melhoria no sistema de bandejas usadas na alimentação dos
camarões deve ser aproveitada pra minimizar as perdas que ocorrem
naturalmente a fim de reduzir os custos de produção.
A estrutura física dos viveiros e canais da Fazenda Santa Isabel possui
algumas falhas na parte de engenharia de construção. Os canais de
abastecimento estão subdimensionados e, caso ocorra qualquer emergência,
não será possível atender a demanda necessária. No período do inverno, a
área ficou bastante assoreada e foi necessário providenciar uma dragagem.
Deve-se dar uma atenção especial para a recirculação de água para
aproveitar melhor o alimento natural e diminuir as descargas dos efluentes. No
entanto, para a maior parte dos rios do Nordeste brasiieiro, urna descarga
dessa natureza talvez possa contribuir para promover uma melhoria da
produtividade natural do meio.
O Estágio Supervisionado tem papel fundamental na formação do
Engenheiro de Pesca. Todos os conhecimentos práticos adquiridos durante o
período de estágio na Fazenda Santa Isabel foram de extrema importância
para engrandecer minha vida profissional.
Na verdade, os cultivos de camarão são, de um modo geral,
empreendimentos grandiosos e que envolvem vários setores. O camarão é um
item importante na pauta de exportação do estado do Ceará e assim, é
importante que não se negligencie as boas práticas de manejo para que se
possa conciliar os cuidados que são indispensáveis ao meio ambiente.
30
5. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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