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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA MARÍLIA WILLIANI FILGUEIRA PEREIRA EXIGÊNCIAS DE ENERGIA E PROTEÍNA PARA MANTENÇA E GANHO EM OVINOS MORADA NOVA DE DIFERENTES CLASSES SEXUAIS EM CONFINAMENTO FORTALEZA 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA

PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA

MARÍLIA WILLIANI FILGUEIRA PEREIRA

EXIGÊNCIAS DE ENERGIA E PROTEÍNA PARA MANTENÇA E GANHO EM

OVINOS MORADA NOVA DE DIFERENTES CLASSES SEXUAIS EM

CONFINAMENTO

FORTALEZA

2017

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MARÍLIA WILLIANI FILGUEIRA PEREIRA

EXIGÊNCIAS DE ENERGIA E PROTEÍNA PARA MANTENÇA E GANHO EM

OVINOS MORADA NOVA DE DIFERENTES CLASSES SEXUAIS EM

CONFINAMENTO

Tese apresentada ao Curso de Doutorado em

Zootecnia do Departamento de Zootecnia da

Universidade Federal do Ceará, como parte

dos requisitos para obtenção do título de

Doutor em Zootecnia. Área de concentração:

Nutrição Animal

Orientador: Prof. Dr. Elzania Sales Pereira

FORTALEZA

2017

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Aos meus pais por toda dedicação de

uma vida.

Dedico.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiro a minha força interior, que guia meus pensamentos e atitudes,

dando-me condições para seguir sempre em frente.

À Universidade Federal do Ceará pelo Programa de Pós-graudação em Zootecnia

e ao CNPq pela concessão da bolsa.

À professora Elzania Pereira pela grande oportunidade, sua preciosa orientação, a

imensurável contribuição que me deu para obtenção do meu título de Doutora. Sua

amizade, paciência e ensinamentos na ciência e na vida.

Aos professores Socorro Carneiro, Luciano Silva, Francisco Carvalho e Marcos

Cláudio pelos ensinamentos e contribuição para minha tese de Doutorado.

Aos meus pais William Pereira e Leonês Pereira pela incansável dedicação em

absolutamente tudo para que eu conseguisse chegar até aqui; por serem meus espelhos

de honestidade e perseverança. A minha irmã Mariane Pereira, José Frederico e aos

meus sobrinhos Marina e Victor pelo carinho e torcida.

Ao meu noivo Thiago Araújo por todo amor, compreensão e companheirismo em

todos os momentos. Aos meus sogros Josafá Araújo e Antônia Araújo por me acolher

como filha. Aos cunhados Josemara e Isael pela torcida.

Ao amigo Eduardo Heinzen pelos dois anos de convivência, pela amizade sempre

prestada e disposta.

Aos amigos que foram adquiridos na UFC e ficarão para a vida: Luanda, Davyd,

Aderson e Janiele.

À turma do “andar de cima” pelas boas risadas e momentos de estudo e

desconcentração: Juliana, Mayara, Denise e Thiago.

Aos alunos que participaram da execução do ensaio experimental: Camila,

Larissa, Vinícius, Amanda e Lázaro.

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“Um verdadeiro guerreiro sabe que ao

perder uma batalha está melhorando

sua arte de manejar a espada. Saberá

lutar com mais habilidade no próximo

combate.”

(Paulo Coelho)

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RESUMO

Este estudo estimou os requerimentos de energia e proteína em cordeiros Morada Nova

de três classes sexuais. Foram utilizados 47 animais, distribuídos em delineamento

inteiramente casualizado, em esquema fatorial 3 x 3, três classes sexuais (15 machos

inteiros, 16 machos castrados e 16 fêmeas) e três níveis de restrição alimentar (ad

libitum, 30 e 60%), com PC inicial (PCi) 14,50 ± 0,89 kg. Quatro animais de cada classe

sexual foram abatidos no início do ensaio experimental como grupo referência para

estimativa do peso de corpo vazio (PCVZ) e composição corporal iniciais. Quando o

teste experimental atingiu 120 dias todos os animais foram abatidos. As proporções de

gordura, proteína, cinzas e água (%PCVZ) não foram influenciadas (P > 0,05) pelas

diferentes classes sexuais. As exigências líquida de energia para mantença (ELm) foi

igual (P = 0,1704) entre as classes sexuais 73,0 kcal/kg PCVZ0,75

/dia e a eficiência de

utilização de energia para mantença (km) foi 58%. A energia líquida para ganho (ELg)

foi diferente (P < 0,0001) entre as classes sexuais e aumentou quando os animais

aumentaram o PC. Para animais pesando 15 kg e ganho médio diário de 200 g, a ELg

foi 0,297; 0,304 e 0,411 Mcal/kg PCVZ0,75

/dia para machos inteiros, machos castrados e

fêmeas, respectivamente. A exigência de energia líquida para ganho em fêmeas foi 26%

maior que nos machos inteiros e machos castrados. A eficiência de utilização da energia

para ganho de peso (kg) foi diferente (P < 0,0001) entre as classes sexuais: 32, 27 e 29%

para machos inteiros, machos castrados e fêmeas, respectivamente. Não houve diferença

(P = 0,7783) entre as classes sexuais para o requerimento de proteína líquida para

mantença (PLm), sendo 1,06 g/kg PC0,75

/dia. Estimou-se o valor de 3,46 g/kg PC0,75

/dia

para o requerimento de proteína metabolizável para mantença (PMm). A exigência de

proteína líquida para o ganho de peso (PLg) foi influenciada (P < 0,001) pelas classes

sexuais e descresceu de acordo com o aumento do PC. A eficiência de utilização da

proteína para ganho de peso (kpg) foi diferente (P < 0,0001) entre as classes sexuais,

sendo 28, 18 e 15% para machos inteiros, machos castrados e fêmeas, respectivamente.

As classes sexuais não alteram os requerimentos de energia e proteína para mantença de

cordeiros em crescimento. Diferentes classes sexuais afetam as exigências de energia e

proteína líquida para ganho. Os requerimentos líquidos de energia para ganho aumenta e

o de proteína diminui com o aumento do peso corporal de cordeiros deslanados.

Palavras-chave: Climas quentes. Eficiência de utilização da energia. Energia líquida

para mantença. Proteína metabolizável.

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ABSTRACT

This study estimated the energy and protein requirements of intact male, castrated male

and female Morada Nova lambs. The animals were distributed in completely

randomized design in a factorial treatment structure of 3 x 3 with three sexes (15 intact

males, 16 castrated males and 16 females) and three levels of restriction (ad libitum, 30

and 60%) with an initial body weight (iBW) of 14.50 ± 0.89 kg. Four animals of each

sex class were slaughtered at the beginning of the experimental trial as the reference

group for initial body weight and empty body weight estimation (EBW). When the

experimental test reached 120 days all the animals were slaughtered. The proportions of

fat, protein, ash and water (% EBW) were not influenced (P > 0.05) by sexual classes.

The net requirement of energy for maintenance (NEm) was equal (P = 0.1704) between

sexes at 73.0 kcal/kg EBW0.75

/day with an efficiency of utilization of energy for

maintenance (km) of 58%. The net energy for gain (NEg) was different (P < 0.0001)

between the sexes. For animals weighing 15 kg and that had an average daily gain of

200 g, the NEg was 0.297; 0.304 and 0.411 Mcal/kg EBW0.75

/day for intact males,

castrated males and females, respectively. The net energy requirement for gain in

females was 26% higher than in intact males and castrated males. The energy utilization

efficiency for weight gain (kg) was different (P < 0.0001) between the sexual classes:

32, 27 and 29% for intact males, castrated males and females, respectively. There was

no difference (P = 0.7783) between sexes for the required net protein for maintenance

(NPm) and that amount was 1.06 g/kg BW0.75

/day. A value of 3.46 g/kg BW0.75

/day was

estimated for metabolizable protein maintenance requirements (MPm). The net protein

requirement for weight gain (NPg) was influenced (P < 0.001) by sexual classes and

decreased according to the increase in BW. The efficiency of use of the protein for

weight gain (kpg) was different (P < 0.0001) between the sexes, being 28, 18 and 15%

for intact males, castrated males and females, respectively. Sex did not affect the

maintenance energy or protein net requirement in growing lambs. The net requirements

of energy gain increase and protein requirements decrease with the increase in body

weight of lambs.

Keywords: Energy utilization efficiency. Maintenance energy. Metabolizable protein.

Warm climates.

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LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO I

Figura 1 - Relação entre a produção de calor (Mcal/kg PCVZ0,75

/dia) e consumo de energia

metabolizável (Mcal/kg PCVZ0,75

/dia) para machos inteiros, machos castrados e fêmeas Morada

Nova ....................................................................................................................................... 41

CAPÍTULO II

Figura 1 - Relação entre a proteína retida (g/kg PC0,75

/dia) e o consumo de proteína

metabolizável (g/kg PC0,75

/dia) para machos inteiros, machos castrados e fêmeas Morada Nova

............................................................................................................................................... 64

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LISTA DE TABELAS

CAPITULO I

Tabela 1 - Proporção de ingredientes e composição química da ração experimental ... 32

Tabela 2 - Efeitos de classes sexuais e restrição alimentar sobre o desempenho,

consumo, balanço energético e composição corporal de cordeiros Morada Nova machos

e fêmeas ...................................................................................................................... 38

Tabela 3 - Pesos dos órgãos de machos inteiros, machos castrados e fêmeas Morada

Nova submetidos à restrição alimentar ........................................................................ 40

Tabela 4 - Equações de regressão para estimar o peso de corpo vazio e ganho de peso de

corpo vazio de machos inteiros, machos castrados e fêmeas Morada Nova de 15 a 30 kg

de peso corporal .......................................................................................................... 42

Tabela 5 - Equações de regressão para estimar a exigência de energia para ganho de

peso em machos inteiros, machos castrados e fêmeas Morada Nova de 15 a 30 kg de

peso corporal .............................................................................................................. 43

Tabela 6 - Exigências de energia líquida para ganho de peso (Mcal/kg PCVZ0,75

/dia) em

cordeiros Morada Nova de diferentes classes sexuais .................................................. 44

CAPÍTULO II

Tabela 1- Proporção de ingredientes e composição química da ração experimental ..... 55

Tabela 2 - Efeitos de classes sexuais e restrição alimentar sobre os consumos e retenção

de proteína em cordeiros Morada Nova machos e fêmeas ............................................ 61

Tabela 3 - Equações de regressão para estimar o peso de corpo vazio e ganho de peso de

corpo vazio de machos inteiros, machos castrados e fêmeas Morada Nova de 15 a 30 kg

de peso corporal .......................................................................................................... 62

Tabela 4 - Equações de regressão para estimar a exigência de energia para ganho de

peso em machos inteiros, machos castrados e fêmeas Morada Nova de 15 a 30 kg de

peso corporal .............................................................................................................. 62

Tabela 5 - Equações de regressão para estimar a exigência de proteína para ganho de

peso corporal em machos inteiros, machos castrados e fêmeas Morada Nova de 15 a 30

kg de peso corporal ..................................................................................................... 64

Tabela 6 - Exigências de proteína líquida para ganho de peso (g/dia) em cordeiros

Morada Nova de diferentes classes sexuais ................................................................. 65

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SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................. 12

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 22

CAPÍTULO I............................................................................................................. 27

EXIGÊNCIAS DE ENERGIA PARA MANTENÇA E GANHO EM OVINOS

MORADA NOVA DE DIFERENTES CLASSES SEXUAIS .................................. 27

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 29

2 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................ 31

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 37

4 CONCLUSÃO .................................................................................................... 45

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 46

CAPÍTULO II ........................................................................................................... 50

EXIGÊNCIAS DE PROTEÍNA PARA MANTENÇA E CRESCIMENTO EM

OVINOS MACHOS E FÊMEAS MORADA NOVA .............................................. 50

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 52

2 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................ 54

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 61

4 CONCLUSÃO .................................................................................................... 67

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 68

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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O êxito da exploração de animais ruminantes em regiões tropicais depende

em grande parte do potencial de produção dos animais e da capacidade de adaptação

destes ao ambiente. Neste contexto, pode-se citar como exemplo no Brasil, a

predominância da raça Santa Inês no rebanho nacional, devido a sua resistência e

adaptabilidade às condições ambientais adversas. Outro grupo genético de destaque dos

ovinos deslanados é o Morada Nova, importantes no Nordeste Brasileiro, utilizado para

a produção de carne e pele. São menores, têm taxas de mortalidade mais baixas,

produzem carcaças mais leves, e geralmente são mais tardios ao abate que os animais

Santa Inês. Também a raça Somalis Brasileira, que parece atingir maturidade química

precoce em relação à Santa Inês e Morada Nova (PEREIRA et al., 2014), porém poucos

estudos são disponíveis para esse grupo genético, sendo estes baseados em cruzamentos

para produção de carne.

Embora os rebanhos de ovinos deslanados no Brasil sejam significantes e o

consumo de carne ovina apresente importância na seguridade alimentar, ainda não é

possível formular rações para pequenos ruminantes criados em clima tropical baseadas

nas suas próprias exigências nutricionais porque na literatura mundial as informações

são escassas e no Brasil existem poucas pesquisas em andamento. Assim, o

balanceamento das dietas é realizado com base nas recomendações preconizadas pelos

comitês mundiais de avaliação de alimentos e exigências nutricionais de animais, AFRC

(Agricultural and Food Research Council), ARC (Agricultural Research Council),

INRA (Institut National de la Recherche Agronomique) e NRC (National Research

Council), entre outros, desenvolvidos em países de clima temperado e que expressam as

exigências de ovinos lanados.

A meta prioritária nos estudos em exigências nutricionais é o conhecimento

da ingestão voluntária de nutrientes. Os controles fisiológicos do consumo de alimentos

são complexos, multifatoriais e não existe um consenso de como os ruminantes regulam

esta atividade (FORBES, 2007). Fatores dietéticos, relativos ao animal, ambiente e

manejo são os principais responsáveis pela falta de precisão na predição do consumo de

matéria seca (CMS) (McMENIMAN; DEFOOR; GALYEAN, 2009). Para predizer o

consumo deve-se considerar a ocorrência desses fatores que afetam o consumo

(MERTENS, 1994) e com isso, garantir que ocorra, por meio da dieta ofertada, o

atendimento dos requisitos nutricionais dos animais e, ao mesmo tempo, não haja sobra

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ou desperdício de alimentos, uma vez que a subalimentação afeta a saúde e o

desempenho animal e a superalimentação aumenta os custos e desperdícios

(VALADARES FILHO; PAULINO; MAGALHÃES, 2006; CABRAL et al., 2008;

VIEIRA et al., 2013), além de promover a toxidez causada por alguns nutrientes ou a

contaminação do ambiente (NRC, 2001).

Para melhor entendimento sobre exigências nutricionais de ovinos

deslanados algumas definições e unidades devem ser introduzidas. O termo energia é

definido como sendo aquilo que é capaz de realizar trabalho, pois “energia” deriva do

grego “ergon”, que significa trabalho. A energia não é considerada nutriente, energia é

liberada do alimento uma vez que os constituintes orgânicos (carboidratos, proteínas e

lipídeos) são susceptíveis à oxidação (RESENDE et al., 2006). A energia pode ser

expressa como caloria ou joule. Uma caloria (cal) representa a quantidade de energia

necessária para elevar a temperatura de 1 g de água de 14,5 para 15,5 ºC

(LENHINHGER, 2000). A caloria pode ser ainda expressa como Kcal (1000 cal) ou

Mcal (1000 Kcal). A conversão entre caloria e joule pode ser feita simplesmente,

considerando que 1 cal equivale a 4,184 joules. O calor de combustão ou energia bruta

(EB) equivale ao total de energia liberada quando uma sustância orgânica é

completamente oxidada a dióxido de carbono e água. Energia bruta é função da

composição química da substância, mas não representa qualquer informação a respeito

do valor energético útil do alimento ou da dieta a qual os ruminantes estão submetidos.

Quando o alimento é consumido, parte da energia desse alimento é perdida

nas fezes como energia fecal. A diferença entre a energia bruta (EB) ingerida e a EB

fecal é definida como energia digestível (ED), que representa alguma informação sobre

o alimento, pois representa a energia bruta processada no trato digestório do animal. No

entanto, as perdas energéticas associadas aos processos digestórios são ignoradas,

havendo superestimação para alimentos volumosos e subestimação para alimentos

concentrados. Da mesma maneira, a medida dos nutrientes digestíveis totais (NDT) não

apresenta vantagens ou desvantagens em relação à medida da ED, apenas permite

relacionar a quantidade de matéria digerida com o seu valor energético, inclusive a

proteína (1 kg de NDT equivale a 4,409 Mcal de ED). A energia metabolizável (EM =

ED – Eurinária – Egases) é uma estimativa da energia disponível para o animal,

podendo ser decomposta em energia retida (ER) e calor. A proporção da energia perdida

na urina e em gases é considerada pouco variável em rações bem balanceadas, dessa

forma a EM tem sido calculada como 82% da ED. Como EM pode ser decomposta em

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ER e calor, o valor de energia líquida (EL) do alimento pode ser conhecido, uma vez

que a relação entre a retenção de energia e o consumo de EM é diretamente

proporcional. EL é definida como a energia disponível para a mantença do animal e

para fins produtivos, sendo subdividida em função das diferenças na eficiência

energética, em energia líquida para mantença e energia líquida para produção (NRC,

1985).

As proteínas são definidas como sendo compostos orgânicos de importância

primária, formados por unidades monoméricas denominadas aminoácidos, que contêm

nitrogênio (N). Desta forma, a proteína é normalmente determinada em alimentos e

tecidos corporais a partir da quantificação do teor de N nas amostras, que multiplicado

por 6,25, permite a obtenção da porcentagem PB. O fator de conversão 6,25 foi

proposto, considerando que, em média, as proteínas contêm 16% de N, com isso, a

divisão de 100 por 16 (100/16), obtém-se o valor 6,25. Deve-se salientar que nem todas

as proteínas contêm 16% de N e, neste caso, há um fator de conversão específico e

diferente de 6,25.

Para determinar as exigências nutricionais, o primeiro passo consiste na

mensuração da composição corporal dos animais. Os teores de água, proteína, gordura e

minerais variam durante o crescimento do animal de maneira paralela aos tecidos

muscular, ósseo e adiposo, sendo influenciados pela idade, peso corporal, genótipo,

sexo, tamanho a maturidade e nível nutricional do animal. Dessa maneira, quando o

animal é jovem a composição do ganho tem maiores proporções de proteína e água. À

medida que o animal vai crescendo e atinge o peso à maturidade, a concentração de

gordura aumenta, a proteína estabiliza no corpo vazio do animal e consequentemente a

água diminui. A composição corporal é influenciada pela classe sexual (PAULINO et

al., 2009) em virtude da influência desta no crescimento. Acredita-se que as fêmeas

apresentam menor peso à maturidade, pois possuem menor deposição do tecido adiposo

quando comparadas aos machos, de modo que animais submetidos à castração,

geralmente obtém aumento na gordura corporal.

Os métodos usados para predição da composição corporal são classificados

em diretos e indiretos. O método direto é o mais utilizado e considerado o mais acurado

para conhecimento da composição do corpo do animal. Este método consiste na

separação e dissecação de todas as partes do corpo dos animais e subsequente

determinação dos constituintes físicos e químicos. Os métodos indiretos são divididos

naqueles que permitem estimar a composição corporal nos animais vivos e naqueles que

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estimam a composição a partir da carcaça ou parte dela. O método indireto proposto por

Hankins e Howe (1946) para estimar a composição corporal de bovinos com base no

corte da 9-10-11a costelas, pode ser uma alternativa ao uso do método direto. Em estudo

com ovinos deslanados, Costa et al. (2013) e Maia et al. (2014) utilizaram o método

direto e o método indireto com base na seção da costela para estimar a composição

corporal. Os resultados apresentados nos estudos indicaram que o corte da seção entre a

9ª e 11ª costelas pode predizer a composição de proteína, de gordura e de água da

carcaça de cordeiros deslanados; porém, a equação gerada não refletiu alto grau de

precisão para o teor de cinzas tanto quanto o obtido para os demais constituintes.

As exigências nutricionais dos ruminantes são determinadas a partir do

método fatorial, o qual fraciona as exigências líquidas em mantença, ganho de peso,

gestação, lactação e produção de lã separadamente e depois são somadas (RESENDE et

al., 2008).

A exigência líquida total de energia para mantença tem sido computada

pelos sistemas de exigências nutricionais como a quantidade de energia que é necessária

para atender o metabolismo basal, acrescida de ajustes associados à idade, sexo,

atividades voluntárias e fatores ambientais (NRC, 2007) e nestes últimos, os gastos

energéticos relativos à termorregulação e síntese e excreção de ureia (CANNAS et al.,

2004).

A maioria dos experimentos conduzidos no Brasil para estimativa dos

requerimentos nutricionais utiliza o método do abate comparativo (PIRES; SILVA;

SANCHEZ, 2000; SILVA et al., 2003; GONZAGA NETO et al., 2005, GALVANI et

al., 2008, 2009; COSTA et al., 2013; OLIVEIRA et al., 2014). Em 1959, Garrett e seus

colaboradores popularizaram o uso deste método, no qual os animais são alimentados

com diferentes níveis de energia metabolizável (diferentes relações

volumoso:concentrado) ou com restrições quantitativas. Os requerimentos também

podem ser obtidos a partir da técnica calorimétrica. Uma das diferenças entre estes dois

métodos consiste no fato que no método calorimétrico o consumo de energia

metabolizável (CEM) e a produção de calor (PCl) são mensurados e a energia retida

(ER) é determinada por diferença; já no abate comparativo, o CEM e a ER são

mensuradas e a PCl obtida por diferença.

A exigência líquida de energia para a mantença (ELm) corresponde ao calor

produzido pelo animal quando não há nenhum suporte alimentar para atendimento de

qualquer outra necessidade de energia, assim a PCl pelo animal nesse momento

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representa a quantidade de energia necessária para as atividades de respiração,

circulação, homeotermia e funcionamento dos órgãos e sistemas enzimáticos. Na grande

parte dos experimentos com ovinos deslanados, a ELm foi obtida por meio de regressão

linear entre o logaritmo da PCl e CEM. No entanto, o uso de dados logaritmizados tem

diminuído, sendo sugeridos modelos não lineares exponenciais para descrever a relação

entre PCl e CEM.

Os estudos referentes às exigências nutricionais de ovinos no Brasil ainda

são poucos, principalmente quando se trata de ovinos deslanados. Além disso, os

valores obtidos pelos estudos, de modo geral, são bastante variados (REGADAS FILHO

et al., 2013).

Os principais sistemas mundiais de exigências nutricionais para ovinos

(NRC, 1985; AFRC, 1993; CSIRO, 2007 e NRC, 2007) estabelecem valores únicos

devido ao reduzido banco de dados, por exemplo, o NRC (2007) estabelece o valor de

62 kcal/kg PCJejum0,75

como exigência de ELm. Os requerimentos nutricionais têm sido

comumente estabelecidos em ambientes termoneutros, sem considerar os extremos

climáticos. Dessa maneira, estes requerimentos são mais relevantes durante condições

ambientais ideais ou em estado de conforto, e são, por outro lado, menos adequados

quando os animais são expostos em ambientes quentes (BORGES; CAVALCANTI,

2014).

O peso de corpo vazio (PCVZ) e ganho de peso de corpo vazio (GPCVZ)

são relevantes para a determinação das exigências nutricionais dos animais, entretanto,

sistemas como o NRC (2007) não trazem informações sobre quanto o PCVZ e o

GPCVZ representam do PC e GPC, respectivamente. Por outro lado, em estudos com

bovinos, é possível encontrar tais equações. Para converter o PCVZ e o GPCVZ em

peso corporal no jejum (PCJ) e ganho de peso corporal no jejum (GPCJ), o NRC (2000)

assume os valores de 0,891 e 0,956.

A ELm tem sido estimada conforme o modelo PC = β0 x e β1x CEM

, no qual

CEM corresponde ao consumo de energia metabolizável (Mcal/kg PCVZ0,75

), β0 e β1

equivalem aos parâmetros da regressão e “e” corresponde ao número de Euler. Neste

modelo o β0 corresponde a exigência líquida para mantença, e a partir do método

iterativo determina-se o ponto onde CEM e a PCl se igualam, sendo esse ponto

considerado a exigência de energia metabolizável para mantença (EMm). A partir da

relação entre ELm e EMm estima-se a eficiência da energia metabolizável para

mantença (km), ou seja, km = ELm/EMm. O NRC (2007) adota o valor proposto por

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Cannas et al. (2004), cuja exigência de ELm é 62,00 kcal/kg PCJ0,75

/dia (sem ajustes),

enquanto Salah, Sauvant e Archimèd (2014) sugerem o valor de 71,00 kcal/kg

PC0,75

/dia, estimado a partir de uma meta-análise de ovinos criados em regiões tropicais.

É possível observar na literatura nacional para ovinos deslanados em crescimento as

exigências de energia líquida para mantença de 52,49 e 52,36 kcal/kg PCVZ0,75

/dia para

cordeiros Morada Nova (GONZAGA NETO et al., 2005; COSTA et al., 2013,

respectivamente); 61,50 e 51,93 kcal/kg PCVZ0,75

/dia para cordeiros Santa Inês

(REGADAS FILHO et al., 2011; OLIVEIRA et al., 2014, respectivamente); 57,40

kcal/kg PCVZ0,75

/dia para cordeiros da raça Somális Brasileira (PEREIRA et al., 2014)

e 68,00 para cordeiros sem padrão racial definido (RODRIGUES et al., 2015).

Vários fatores influenciam os requerimentos de energia para mantença

como: nível de consumo (CANNAS et al., 2004), peso à maturidade, idade, classe

sexual e composição corporal (NRC, 2007) e raça (RESENDE et al., 2008). Nas

equações estabelecidas pelo NRC (2007) para cálculo das exigências de energia para

mantença, esse sistema sugere que sejam realizados ajustes para classe sexual, efeito da

idade do animal, atividade em pastejo, temperatura, aclimatação, dentre outros.

Conforme NRC (2007), machos inteiros requerem 15% mais energia que machos

castrados e estes, mais que as fêmeas. Contudo, pesquisas brasileiras indicam resultados

diferentes. Estudos realizados com bovinos (MARCONDES et al., 2010; RODRIGUES

et al., 2016) e ovinos (RODRIGUES et al., 2015) relataram não haver diferença

significativa para exigência de energia para mantença em machos inteiros, machos

castrados e fêmeas.

Valores menores de exigência de energia para a manutenção de ovinos

deslanados podem ser atribuídos às condições de criação, onde os ovinos deslanados

submetidos por muito tempo em condições tropicais, modificaram seus processos

fisiológicos (McDOWELL, 1974; HOPKINS; KNIGHTS; LE FEUVRE, 1978),

possivelmente tornaram-se mais adaptados ao clima quente. A exposição repetida ou

continuada no ambiente quente determina, além da adaptação funcional dos principais

processos fisiológicos, mudanças funcionais ou estruturais que resultam em menores

gastos energéticos para mantença. Nesse contexto, Starling et al. (2005), em estudo com

ovinos da raça Corriedale, observaram correlação significativa e negativa entre a

temperatura ambiental e os hormônios tireoidianos, de modo que quanto maior a

temperatura ambiental, menor a secreção de tiroxina (T4) e triiodotironina (T3). Os

hormônios tireoidianos exercem fortes efeitos sobre o metabolismo energético, de forma

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que o aumento de sua secreção implica na elevação da taxa metabólica, ao passo que

sua redução implica em decréscimo da taxa metabólica (GUYTON; HALL, 2011).

Portanto, em áreas onde a temperatura ambiental efetiva ultrapassa a temperatura crítica

superior da zona termoneutra (estresse por calor), ocorre redução na taxa metabólica dos

tecidos devido à redução na secreção dos hormônios T3 e T4.

Além disso, em ambientes com temperaturas elevadas, a produtividade é

comprometida, uma vez que a ingestão de alimentos é reduzida e, segundo Chilliard e

Bocquier (2000), o consumo voluntário de alimentos é normalmente correlacionado

positivamente com a produção de calor no jejum. As observações de Sano et al. (1999)

registraram decréscimo da frequência respiratória e elevação da frequência cardíaca

quando os animais foram expostos à baixas temperaturas, o que pode resultar em

incremento das exigências energéticas de mantença (BROSH et al., 1998; PUCHALA

et al., 2007). Assim, pode-se inferir que a exigência de energia para mantença é

reduzida em ambientes com temperaturas mais elevadas, justificando menores

exigências de ELm observadas em diversos estudos (GONZAGA NETO et al., 2005;

COSTA et al., 2013; REGADAS FILHO et al., 2013; PEREIRA et al., 2014;

OLIVEIRA et al., 2014) em relação aos valores preconizados pelos sistemas mundiais.

Porém, em estudo meta-analítico, Salah, Sauvant e Archimèd (2014) observaram

resultados diferentes aos já apresentados, sugerindo que animais criados em condições

tropicais aumentam os requerimentos do metabolismo basal em virtude da maior

necessidade de energia para dissipação de calor (CSIRO, 2007).

Os requerimentos líquidos de energia para o crescimento (ELg) consistem

na quantidade de energia depositada nos tecidos, que está em função das proporções de

gordura e proteína no GPCVZ (NRC, 1996). A composição do GPCVZ é determinada

pelo peso relativo ao peso à maturidade do animal, com consequente variação nos

valores energéticos dos tecidos e nos requerimentos dos animais.

Vários fatores como idade, peso, maturidade fisiológica, classe sexual, nível

de alimentação, taxa de ganho de peso e grupo genético, influenciam a ELg. É

considerado por diversos sistemas de requerimentos que o verdadeiro determinante da

composição do ganho é o peso relativo ao peso à maturidade do grupo genético ao qual

o animal pertence. Quando comparados animais de maturidade fisiológica precoce com

animais de maturidade tardia, observam-se maiores conteúdos corporais de gordura e

menores de proteína nos animais de maturidade precoce. Considerando que o estádio de

maturidade fisiológica é importante nos estudos de composição química corporal, as

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exigências energéticas devem ser corrigidas pelo fator de maturidade fisiológica. Para

isto, deveria ser levado em consideração o peso padrão referência (peso vivo de total

desenvolvimento esquelético), que segundo NRC (2007) obtém-se quando a

porcentagem de gordura no corpo do animal atinge 25%. No entanto, essa preconização

é questionável, pois o teor de extrato etéreo é altamente variável na composição do

ganho, sendo influenciado pelo teor de energia metabolizável da dieta. O banco de

dados de ovinos deslanados ainda é pequeno, então não é possível informar o peso à

maturidade. Para obtenção do peso à maturidade é necessário que sejam conduzidas

pesquisas envolvendo curvas de crescimento associadas ao PC e avaliação da

composição corporal de animais, desde o início do crescimento pós-natal até a idade

adulta.

Segundo Chizzotti et al. (2008), as diferenças entre raças sobre a exigência

de ELg se devem principalmente às diferenças no peso à maturidade e na distribuição de

gordura. Além disso, os fatores que influenciam a eficiência de utilização da energia

para ganho de peso (kg) também influenciam a exigência de ELg (GARRETT, 1980).

Portanto, tais diferenças podem também ser decorrentes da composição do ganho

(quantidades de gordura e proteína sintetizadas no corpo vazio do animal). Animais

ruminantes em crescimento deveriam apresentar uma eficiência de utilização da EM

para ganho de 70 a 80%, contudo, o que se tem verificado é uma eficiência menor,

variando de 30 a 60%, demonstrando a dificuldade do animal para alcançar sua máxima

eficiência (RESENDE et al., 2006).

A kg decresce com o avanço da maturidade (NRC, 2007), o que está

relacionado à alteração da composição corporal dos animais. Energeticamente, a

deposição de gordura é mais eficiente do que a de proteína (SAMPELAYO et al.,

1995), em parte devido a maior taxa de renovação da proteína corporal. No entanto,

como a concentração de água é maior nos tecidos proteicos do que no tecido adiposo, a

conversão da EM em ganho de tecido muscular é mais eficiente. Consequentemente, a

eficiência de utilização da EM para ganho decresce à medida que os animais atingem a

maturidade (NRC, 2007). De forma semelhante, o valor de kg é reduzido com o

acréscimo do CEM (FERREL; JENKINS, 1998). Estas diferenças parecem ser mais

facilmente evidenciadas em intervalos amplos de peso.

Os sistemas de avaliação de alimentos e exigências nutricionais vigentes

utilizam o conceito de proteína metabolizável (PM) para determinar as exigências de

proteína para ruminantes. A PM é definida como a proteína verdadeira digerida no

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abomaso e intestino delgado, que disponibiliza aminoácidos para absorção. Os

aminoácidos são oriundos da proteína microbiana ruminal (PBmic), da proteína

dietética não degradável no rúmen (PNDR) e, em menor extensão, da proteína

endógena. O atendimento dos requisitos em PDR e PNDR em ovinos deslanados em

crescimento deve ser levado em consideração, pois se houver deficiência em PDR,

haverá redução do crescimento da microbiota ruminal, com consequente queda no

suprimento de proteína microbiana para o abomaso, aumentando desta forma, a

exigência em PNDR. Entretanto, considerando o papel central da microbiota ruminal

nos eventos digestivos dos animais ruminantes, torna-se conveniente suprir

adequadamente os requisitos em N para crescimento microbiano, pois, caso isso não

ocorra, efeitos negativos sobre a digestão ruminal, o consumo e a produção de ácidos

graxos voláteis poderão ocorrer.

No que se refere às necessidades em proteína para mantença, os

requerimentos diários são aqueles suficientes para repor o nitrogênio metabólico fecal e

urinário, além da perda de proteína pela pele e descamações. Inclui os aminoácidos

necessários para síntese de proteína urinária endógena, para síntese de proteína de

descamação e para síntese de proteína metabólica fecal quando os animais são

alimentados com dietas livres de N. A proteína endógena urinária e as perdas de N

metabólico fecal podem ser interpretadas como duas rotas de excreção endógena de N

oriundo da reciclagem normal de proteína corporal. As perdas de N metabólico fecal

consistem de enzimas digestivas, bile, células descamadas epiteliais e muco. O NRC

(2007) considera o valor de 15,2 g/kg MS/dia de N fecal e nitrogênio urinário endógeno

(NUE) igual a 3,375 + 0,147 × PC g/kg PC. O INRA (1989) estabeleceu requerimento

de proteína metabolizável para mantença (PMm) de 2,51 g/kg PC0,75

e para GMD 0,225

kg/dia. Estas estimativas são menores que as descritas por Wilkerson et al. (1993) de

3,8 g/kg PC0,75

, para bovinos em crescimento. Este valor de PMm é adotado pelo NRC

(2000). O AFRC (1993) estabeleceu PMm como 2,18 g/kg PC0,75

, que é o somatório das

exigências basais de N endógeno e perdas dermais e de pêlo.

No Brasil pouco se conhece sobre exigências de proteína para ovinos

deslanados em crescimento. Para estimativa das perdas endógenas tem sido feita a

plotagem de equações de regressão de consumo de N (g/kg PC0,75

) em função da

retenção de N (g/kg PC0,75

), quando extrapola o consumo de N para zero, o intercepto

negativo do eixo Y é considerado como perdas endógenas. Costa et al. (2013), Regadas

Filho et al. (2011) e Pereira et al. (2016) especificaram requerimentos líquidos de

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proteína para mantença de 1,83 g/kg PC/dia; 1,73 g/kg PC/dia e 0,80 g/kg PCVZ0,75

/dia

para cordeiros da raça Morada Nova, Santa Inês e Somális Brasileira, respectivamente.

As exigências de PM para crescimento corporal (PMg) são determinadas a

partir do conhecimento das exigências líquidas de proteína para crescimento corporal

(PLg) e da eficiência de utilização da PM para crescimento corporal (kpg), sendo a PLg

dependente do acréscimo de proteína corporal depositada (proteína retida).

Vários fatores contribuem para variações nos requerimentos nutricionais de

ovinos. O desenvolvimento de pesquisas direcionadas e disponibilidade de dados

promoverão maior acurácia dos valores de requerimentos obtidos.

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CAPÍTULO I

EXIGÊNCIAS DE ENERGIA PARA MANTENÇA E GANHO EM OVINOS

MORADA NOVA DE DIFERENTES CLASSES SEXUAIS

RESUMO: O objetivo neste estudo foi determinar as exigências de energia em

cordeiros Morada Nova de três classes sexuais. Foram utilizados 47 animais,

distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial 3 x 3, três

classes sexuais (15 machos inteiros, 16 machos castrados e 16 fêmeas) e três níveis de

restrição alimentar (ad libitum, 30 e 60%), com PC inicial (PCi) 14,50 ± 0,89 kg. Quatro

animais de cada classe sexual foram abatidos no início do ensaio experimental como

grupo referência para estimativa do peso de corpo vazio (PCVZ) e composição corporal

iniciais. Quando o teste experimental atingiu 120 dias todos os animais foram abatidos.

As proporções de gordura, proteína, cinzas e água (% PCVZ) não foram influenciadas

(P > 0,05) pelas diferentes classes sexuais. As exigências líquidas de energia para

mantença (ELm) foi igual (P = 0,1704) entre as classes sexuais 73,0 kcal/kg

PCVZ0,75

/dia e a eficiência de utilização de energia para mantença (km) foi 58%. A

energia líquida para ganho (ELg) foi diferente (P < 0,0001) entre as classes sexuais e

aumentou quando os animais aumentaram o PC. Para animais pesando 15 kg e ganho

médio diário de 200 g, a ELg foi 0,297; 0,304 e 0,411 Mcal/kg PCVZ0,75

/dia para

machos inteiros, machos castrados e fêmeas, respectivamente. A exigência de energia

líquida para ganho em fêmeas foi 26% maior que nos machos inteiros e machos

castrados. A eficiência de utilização da energia para ganho de peso (kg) foi diferente (P

< 0,0001) entre as classes sexuais: 32, 27 e 29% para machos inteiros, machos castrados

e fêmeas, respectivamente. As classes sexuais não alteram os requerimentos de energia

para mantença de cordeiros em crescimento. Diferentes classes sexuais afetam as

exigências de energia líquida para ganho, aumentando o requerimento de energia à

medida que o peso corporal de cordeiros deslanados aumenta.

Palavras-chave: Classes sexuais. Composição corporal. Condições tropicais. Energia

retida.

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ENERGY REQUIREMENTS FOR MAINTENANCE AND GAIN IN MORADA

NOVA LAMBS OF DIFFERENT SEXUAL CLASSES

ABSTRACT: The objective in this study was to estimate the energy requirements of

the Morada Nova lambs three sexual classes. The animals were distributed in

completely randomized design in a factorial treatment structure of 3 x 3 with three sexes

(15 intact males, 16 castrated males and 16 females) and three levels of restriction (ad

libitum, 30 and 60%) with an initial body weight (iBW) of 14.50 ± 0.89 kg. Four

animals of each sex class were slaughtered at the beginning of the experimental trial as

the reference group for initial body weight and empty body weight estimation (EBW).

When the experimental test reached 120 days all the animals were slaughtered. The

proportions of fat, protein, ash and water (% EBW) were not influenced (P > 0.05) by

sexual classes. The net requirement of energy for maintenance (NEm) was equal (P =

0.1704) between sexes at 73.0 kcal/kg EBW0.75

/day with an efficiency of utilization of

energy for maintenance (km) of 58%. The net energy for gain (NEg) was different (P <

0.0001) between the sexes. For animals weighing 15 kg and that had an average daily

gain of 200 g, the NEg was 0.297; 0.304 and 0.411 Mcal/kg EBW0.75

/day for intact

males, castrated males and females, respectively. The net energy requirement for gain in

females was 26% higher than in intact males and castrated males. The energy utilization

efficiency for weight gain (kg) was different (P < 0.0001) between the sexual classes:

32, 27 and 29% for intact males, castrated males and females, respectively. Sexual

classes do not alter the energy requirements for growing lambs. Sex classes affect the

net energy requirements for gain, increasing the energy requirement as the body weight

of hair lambs increases.

Keywords: Body composition. Energy retained. Sexual classes. Tropical conditions.

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1 INTRODUÇÃO

Ruminantes são importantes para a agricultura mundial e gestão de recursos

naturais porque desempenham papel importante na seguridade alimentar. A produção

bem-sucedida de pequenos ruminantes em regiões tropicais depende em grande parte do

potencial de produção dos animais (TEDESCHI; CANNAS; FOX, 2010) e da

capacidade de adaptação destes ao meio ambiente.

Os rebanhos ovinos no Brasil são largamente representados por animais

deslanados, entretanto, estudos acerca dos requerimentos nutricionais desses animais

são limitados e inconsistentes. Sabe-se que os requerimentos de energia para mantença

são influenciados pelo genótipo (VALADARES FILHO et al., 2010), espécie (NRC,

2007), condições fisiológicas (AFRC, 1993), temperatura ambiente (NRC, 2000), sexo

(NRC, 2007) e outros. Determinar as exigências nutricionais de cordeiros em condições

tropicais é importante (GALVANI et al., 2014) porque os ovinos deslanados e seus

cruzamentos são comumente usados em sistemas de produção de carne (COSTA et al.,

2013). Além disso, os recursos para alimentação, terra e água potável são limitados ou

escassos em algumas regiões do mundo (TEDESCHI; CANNAS; FOX, 2010), sendo

necessário obter o mínimo de desperdício de energia e nutrientes.

A distribuição dos constituintes do corpo variam e podem resultar em

diferenças nas exigências nutricionais dos animais, sendo essas mudanças também

influenciadas pelo tamanho relativo dos órgãos internos dos animais (VÉRAS et al.,

2001). O nível de ingestão de alimentos altera a proporção destes órgãos com relação à

massa corporal, e sua contribuição para a taxa metabólica do corpo inteiro está

relacionada ao seu tamanho (BURRIN et al., 1990), dessa forma, variações nos

requisitos energéticos são possíveis.

Ovinos deslanados são bem adaptados ao calor (PEREIRA et al., 2014),

porque a diminuição da atividade de hormônios estimulantes do metabolismo reduzem

seu metabolismo basal, diferente do que ocorre com animais criados em clima

temperado. Assim, pode-se inferir que as condições de criação influenciam os

requerimentos nutricionais. Nesse sentido, pesquisas realizadas por Regadas Filho et al.

(2013), Costa et al. (2013) e Oliveira et al. (2014), utilizando ovinos deslanados,

resultaram em especificações divergentes do NRC, o que sugere que mais estudos são

necessários para determinar os requerimentos desses animais.

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30

Diferenças na composição corporal podem ser atribuídas às diferentes

deposições de tecido adiposo. De acordo com ARC (1980), fêmeas contêm mais

gordura e menos proteína, e machos inteiros, menos gordura e mais proteína, em

comparação a animais castrados, quando esses animais apresentam o mesmo peso

corporal. Isso reflete diferenças nas concentrações de energia no corpo, sugerindo

diferentes requerimentos de energia entre as classes sexuais. No entanto, estudos

prévios desenvolvidos com ovinos em crescimento em condições tropicais

(RODRIGUES et al., 2015) revelaram que as necessidades de energia para mantença

não diferem entre os sexos, resultados contrários aos estabelecidos pelo NRC (2007),

onde as diferenças entre os sexos são atribuídas ao peso adulto.

Poucos estudos no mundo avaliam a influência do sexo sobre as

necessidades de nutrientes em ovinos deslanados. Assim, o objetivo neste estudo foi

determinar as exigências de energia e proteína em cordeiros Morada Nova de três

classes sexuais.

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2 MATERIAL E MÉTODOS

Cuidados com os animais

Os cuidados com os animais seguiram de acordo com as diretrizes do

Comitê de Ética em Pesquisa Animal da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza,

Brasil (UFC), número do protocolo (98/2015).

Animais, dietas e procedimentos experimentais

O ensaio experimental foi realizado no Departamento de Zootecnia da

Universidade Federal do Ceará (UFC) em Fortaleza, CE, Brasil (30°43’02’’ S,

33°32’35’’ W).

Quarenta e sete cordeiros da raça Morada Nova, com peso inicial (PCi) de

14,50 ± 0,89 kg, aproximadamente 120 dias de idade, foram utilizados. Primeiro, os

animais foram identificados, everminados e alocados em baias individuais (1,5 m por

1,5 m) com comedouro e bebedouro. Durante o experimento, a temperatura média do ar

máxima e mínima diária foi 31,0°C ± 1,13 e 25,5°C ± 0,78, respectivamente, e a

umidade relativa mínima e máxima foram de 55,9% ± 5,64 e 85,0% ± 4,58,

respectivamente. Os cordeiros foram distribuídos em delineamento inteiramente

casualizado, em esquema fatorial 3 x 3, sendo três classes sexuais (15 machos inteiros,

16 machos castrados e 16 fêmeas) e três níveis de restrição alimentar (ad libitum, 30 e

60%). A oferta de alimentos para os animais dos tratamentos com 30 e 60% de restrição

foi determinada pelo consumo dos animais alimentados ad libitum e sua respectiva

classe sexual. Após período de adaptação de quinze dias, quatro animais de cada classe

sexual foram selecionados aleatoriamente e abatidos para servir como grupo refrência.

A dieta foi formulada para promover ganho de peso médio de 150 g/dia. A dieta

experimental foi constituída de feno de Tifton-85, milho grão moído, farelo de soja,

fosfato bicálcico e premix (Tabela 1).

Os animais foram alimentados duas vezes ao dia às 07:30 e 16:00 h, com o

consumo ad libitum como mistura total, permitindo até 10% das sobras. Alimentos e

sobras foram amostrados e congelados para análise química. Quando o teste

experimental atingiu 120 dias todos os animais foram abatidos.

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Tabela 1 - Proporção de ingredientes e composição química da ração experimental

Ingredientes % na Matéria Seca

Feno de Tifton 85 60,00

Milho grão moído 32,72

Farelo de soja 6,30

Fosfato bicálcico 0,06

Premix mineral* 0,92

Composição química

(g/kg MS)

Ração

Total

Feno de Tifton

85

Milho grão

moído

Farelo de

soja

Matéria seca 907,72 913,40 892,40 910,00

Proteína bruta 169,32 171,50 102,80 508,80

Extrato etéreo 30,77 25,57 43,18 19,32

Matéria mineral 61,93 73,40 13,30 65,90

Fibra em detergente

neutro 438,65 668,20 112,54 134,63

FDNcp1 418,32 644,85 97,89 110,41

Fibra em detergente ácido 201,93 317,54 26,31 102,05

Carboidratos totais 738,00 751,67 840,70 407,90

Carboidratos não-fibrosos 319,67 58,30 728,19 273,30

Nutrientes digestíveis

totais 673,55 - - -

*Composição: Cálcio 22,5% a 21,5%; Fósforo 4,0 %; Enxofre 1,5%; Sódio 5,0 %; Magnésio 1,0%;

Cobalto 11,00 ppm; Iodo 34 ppm; Manganês 1800 ppm; Selênio 10,00 ppm; Zinco 2000 ppm; Ferro 1250

ppm; Cobre 120 ppm; Fluor 400,00 ppm; Vitamina A 37,5 ppm; Vitamina D3 0,5 ppm e Vitamina E 800

ppm. 1Fibra em detergente neutro corrigida para cinza e proteína.

Procedimentos de abate

Antes do abate, o peso corporal no jejum (PCJ) foi medido sendo o PC

depois de 18 h sem consumo de alimentos e água. Os animais foram atordoados

seguindo metodologia de abate humanitário, sangrados, esfolados e eviscerados. O

sangue foi amostrado e pesado. O trato gastrointestinal foi lavado e, após a secagem, foi

pesado. Também foram pesados os demais órgãos (fígado, coração, traquéia + pulmões

+ língua + esôfago, bexiga, rins, trato reprodutivo e baço), partes do corpo (carcaça,

cabeça, sangue e patas) e gorduras (omental, perirrenal e mesentérica). A pele foi

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pesada e amostrada no abate e congelada. A carcaça foi dividida em duas metades

longitudinais idênticas.

Todos os componentes do corpo foram inicialmente congelados a -20 °C,

em seguida, cortados em pedaços pequenos, com um triturador de rosca grande através

de uma placa com furos de 0,32 cm, e misturou-se por duas passagens adicionais

através do moinho. Após moagem, a carcaça e os órgãos foram homogeneizados e

amostras foram coletadas e congeladas. O peso de corpo vazio (PCVZ) foi definido

como o PCJ menos o conteúdo do trato gastrintestinal.

Ensaio de digestibilidade

Para estimar a digestibilidade dos nutrientes, amostras de fezes de cada

animal foram coletadas durante três dias consecutivos a cada 15 dias, nos seguintes

horários: às 8:00 h no primeiro dia, às 12:00 h no segundo dia, e às 16:00 h no terceiro

dia. As amostras das fezes foram pesadas, postas em sacos de plástico, identificadas e

armazenadas a -20 °C até a análise.

A fibra em detergente neutro indigestível (FDNi) foi usada como marcador

para avaliar a excreção da matéria seca fecal, como descrito por (CASALI et al., 2008).

A quantidade de FDNi nas amostras de fezes, sobras, concentrados e feno de capim

tifton 85 foi obtida através de resíduo após 240:00 h de incubação no rúmen de uma

vaca que recebeu dieta à base de feno de capim tifton 85 (60%) e concentrado (40%)

(milho grão moído, farelo de soja, fosfato bicálcico e premix). A incubação foi realizada

usando sacos de nylon com porosidade de 50 µm e uma proporção de 15 mg cm2 de

amostra por saco, totalizando 3,0 g de amostra por g de saco, de acordo com Ørskov e

McDonald (1979). Após incubação no rúmen, os sacos e os resíduos foram lavados com

água limpa até que a sua cor ficasse totalmente clara. Posteriormente, os sacos foram

fervidos durante 1 hora em solução de detergente neutro (VAN SOEST; ROBERTSON,

1985), secos e pesados, e os resíduos que permaneceram depois da extração com a

solução de detergente neutro foram considerados como FDNi (CASALI et al., 2008).

Todas as amostras foram congeladas a -20 °C. A equação NDT = PBd + CNFd +

FDNcpd + (EEd x 2,25) (WEISS, 1999) foi utilizada para calcular os nutrientes

digestíveis totais, em que PBd é a proteína bruta digestível, CNFd são os carboidratos

não fibrosos digestíveis, FDNcpd é a fibra insolúvel em detergente neutro corrigida para

cinzas e proteína digestível e EEd é o extrato etéreo digestível. A energia digestível

(ED) da dieta foi estimada considerando 4,409 Mcal/kg NDT consumido. Para

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converter ED em energia metabolizável (EM) foi utilizada 82% de eficiência (NRC,

2007).

Análises químicas

Alimentos, sobras e amostras de fezes foram secas a 55°C durante 72 h em

estufa com circulação forçada de ar. Subsequentemente, as amostras foram moídas em

tamanho de 1 mm (Wiley moinho, Arthur H. Thomas, Philadelphia, PA, EUA).

Analisaram-se as amostras para a concentração de matéria seca (AOAC, 1990; método

930,15), teor de cinzas (AOAC, 1990; método 924,05), proteína bruta (AOAC, 1990;

método 984,13), extrato etéreo (AOAC, 1990; método 920,39) e fibra em detergente

neutro com alfa-amilase termoestável, sem sulfito de sódio (MERTENS et al., 2002).

Os componentes corporais foram secos a 55 °C durante 72 h em estufa com circulação

forçada de ar. Posteriormente, as amostras foram analisadas para conteúdo de matéria

seca (AOAC, 1990; método 930,15) e, em seguida, a gordura foi extraída com éter de

petróleo em aparelho Soxhlet, durante 12 h (AOAC, 1990; método 920,39). Após

extração com éter de petróleo, as amostras foram moídas em moinho de bola e

analisadas para cálculo dos teores de proteína bruta (AOAC, 1990; método 984,13) e de

cinzas (AOAC, 1990; método 924,05).

Composição Corporal e Retenção de Energia e Proteína

Os conteúdos corporais de gordura (CCG) e proteína (CCP) foram

determinados de acordo com as suas percentagens no corpo vazio. O conteúdo corporal

de energia (CCE) foi obtido de acordo com a equação alométrica [1] (ARC, 1980):

CCE (Mcal) = 5,6405 (kg, CCP) + 9,3929 (kg, CCG), [1]

A equação [2] foi utilizada para estimativa do peso de corpo vazio (PCVZ).

PCVZ = a’ + b’ × PC, [2]

em que PCVZ é o peso de corpo vazio (kg), PC é o peso corporal (kg) e a’ e

b’ são parâmetros determinados a partir da regressão linear.

O ganho de peso de corpo vazio (GPCVZ) foi obtido de acordo com a

equação [3].

GPCVZ = a’ + b’ × GMD, [3]

em que GPCVZ é o ganho de peso de corpo vazio (kg), GMD é o ganho

médio diário (kg) e a’ e b’ são parâmetros determinados a partir da regressão linear.

Requerimentos de Energia para Mantença e Ganho

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O requerimento de energia líquida para mantença (ELm) foi estimado

usando modelo não linear de acordo com equação [4], como sugerido por Ferrell e

Jenkins (1998). O intercepto e o coeficiente angular foram testados para efeito de classe

sexual.

PCl = a’ x eb’ x CEM

+ e, [4]

em que PCl é a produção de calor (Mcal/kg PCVZ0,75

/dia), CEM é o

consumo de energia metabolizável (Mcal/kg PCVZ0,75

/dia), a’ e b’ são parâmetros

determinados a partir da regressão não linear, e é o erro padrão. Para este cálculo foram

utilizados animais em mantença e desempenho.

A EM requerida para mantença (EMm) foi calculada pelo método iterativo,

assumindo o valor em que CEM e PCl são iguais na equação [4]. A eficiência de

utilização da EM para mantença (km) foi computada como ELm/EMm.

Os requerimentos de energia líquida para ganho foram preditos a partir da

adaptação da equação alométrica sugerida pelo ARC (1980) log10 (conteúdo de energia,

kg) = a’ + [b’ × log10 (kg, PCVZ)]. A variável PCVZ foi substituída pelo GPCVZ, a

fim de predizer melhor o ganho específico. Assim, a equação [5] foi utilizada, como

segue:

ELg = a’ × b’ × GPCVZ(b’-1)

, [5]

em que ELg é a exigência de energia líquida para o ganho (Mcal/kg

PCVZ0,75

/dia), GPCVZ é o ganho de peso de corpo vazio (kg), a’ e b’ são parâmetros

determinados a partir da regressão não linear. Este modelo é interpretado como a ER

(Mcal) para 1 kg de GPCVZ. Para o cálculo desta variável, foram utilizados apenas os

animais de desempenho.

A eficiência de utilização de energia para o ganho (kg) foi calculada como

sendo o b’ da regressão linear na equação da energia retida em função do consumo de

energia metabolizável [6], como descrito pelo NRC (2000).

ER = a’ + b’ × CEM, [6]

em que ER é a energia retida (Mcal), CEM é o consumo de energia

metabolizável (Mcal) e a’ e b’ são parâmetros determinados a partir da regressão linear.

O fator 1,13, obtido na relação PCJ/PCVZ, foi utilizado para converter os

requerimentos expressos em kcal/kg PCVZ em kcal/kg PCJ.

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Análises Estatísticas

Os dados foram submetidos à análise de variância, utilizando o

procedimento GLM do software SAS conforme o seguinte modelo estatístico:

Yijk=μ+Si+Rj+Si×Rj+εijk, onde Yijk é a variável dependente ou resposta medida na

unidade experimental (animal) “k” da classe sexual “i” e restrição alimentar “j”; µ é a

média da população ou constante global; Si efeito do sexo “i”; Rj efeito da restrição

alimentar “j”; Si×Rj a interação entre o efeito de sexo “i” e restrição alimentar “j”; e ɛijk

são erros aleatórios não observados. Foi utilizado o teste de Tukey-Kramer para

comparar as médias, adotando-se o nível de significância de 5% de probabilidade (P <

0,05). O mesmo critério foi adotado para as interações entre os efeitos das classes

sexuais e restrições alimentares.

O efeito de sexo foi testado através do PROC NLMIXED para os modelos

não lineares. Em seguida, os modelos lineares foram testados usando o procedimento

PROC MIXED e os modelos não-lineares foram testados com PROC NLIN (SAS Inst.

Inc., Cary, NC).

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Houve efeito significativo (P < 0,05) das classes sexuais e restrição

alimentar sobre o PC final (PCF), PCJ, CMS, CEM, GMD, PCVZ, GPCVZ, ER e PCl.

Houve interação entre as classes sexuais e níveis de restrição alimentar para as variáveis

PCF, GMD, PCVZ e GPCVZ. O balanço de energia foi maior para os machos e

diminuiu quando a restrição alimentar aumentou. A PCl foi maior nos machos

castrados, que não diferiu dos machos inteiros. A restrição alimentar reduziu a PCl

(Tabela 2).

O CMS é variável primordial na determinação das exigências nutricionais,

visto que, define a quantidade de nutrientes ingeridos (MERTENS, 1994) e, portanto,

determina a resposta do animal (VAN SOEST, 1994). Diferenças no CMS podem ser

atribuídas ao sexo, devido às diferenças do peso corporal, assim como observado no

presente estudo, no qual o peso dos machos inteiros foi superior ao peso dos machos

castrados, e estes ao das fêmeas. Ao nascimento, machos têm maior quantidade de

fibras musculares que as fêmeas (GARDNER et al., 2007), o que justifica seu maior

desenvolvimento corporal (NRC, 2007).

A composição química nos animais, em % de PCVZ, não variou (P > 0,05) em

função das classes sexuais (Tabela 2). Isso pode ser explicado porque a composição

corporal modifica concomitante ao crescimento animal (CSIRO, 2007), sendo

influenciada tanto pelo peso à maturidade (NRC, 2000) quanto pelo plano nutricional

(NRC, 2007). O animal atinge a maturidade quando alcança 25% de extrato etéreo no

corpo (NRC, 2007). Porém, isso é questionável, pois o teor de extrato etéreo é altamente

variável na composição do ganho, sendo influenciado pelo teor de energia

metabolizável da dieta (VALADARES FILHO et al., 2010). Dessa forma, o animal

alcança o peso à maturidade quando a proteína estabiliza no corpo vazio (OWENS et

al., 1995). Para obtenção do peso à maturidade é necessário que sejam conduzidas

pesquisas envolvendo curvas de crescimento associadas ao PC e avaliação da

composição corporal de animais, desde o início do crescimento pós-natal até a idade

adulta. Dessa forma, como no presente estudo os requerimentos foram avaliados até os

28 kg de peso corporal, sugere-se que os animais não tenham atingido a maturidade e

por isso a composição corporal não tenha sido influenciada pelas classes sexuais.

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Tabela 2 - Efeitos de classes sexuais e restrição alimentar sobre o desempenho, consumo, balanço energético e composição corporal de cordeiros

Morada Nova machos e fêmeas

Variáveis Classes sexuais Restrição alimentar

1

EPM* P-valor

MI MC F Ad libitum 30% 60% Sex Res Sex×Res

Peso corporal inicial (kg) 14,362 14,686 14,503 14,579 14,578 14,395 0,158 0,711 0,859 0,348

Peso corporal final (kg) 27,399a

23,337b

19,860c

28,813a

24,450b

17,333c 0,308 <,0001 <,0001 0,047

Peso corporal ao jejum (kg) 25,065a

21,377b

18,526c

26,552a

22,582b

15,834c 0,292 <,0001 <,0001 0,072

CMS (kg/dia)2 0,665

a 0,594

b 0,517

c 0,804

a 0,618

b 0,355

c 0,009 <,0001 <,0001 0,367

Desempenho3

GMD (kg/dia) 0,107a

0,071b

0,044c

0,117a

0,080b

0,024c

0,002 <,0001 <,0001 0,029

PCVZ (kg) 21,021a

18,096b

16,089c

22,968a

18,972b

13,268c 0,214 <,0001 <,0001 0,038

GPCVZ (kg)

0,088

a 0,059

b 0,047

c 0,102

a 0,069

b 0,024

c 0,001 <,0001 <,0001 0,015

Consumo e balanço de energia4

ER (kcal/kg PCVZ0,75

/dia) 21,657a

14,893b

14,130b

27,049a

17,972b

5,666c 0,532 <,0001 <,0001 0,856

CEM (Mcal/dia) 1,531a

1,449a

1,254b

1,822a

1,508b

0,905c

0,023 0,0002 <,0001 0,877

PCl (kcal/kg PCVZ0,75

/dia) 132,919ab

141,510a

132,227b

154,118a

144,529b

108,009c

1,527 0,033 <,0001 0,222

Composição corporal

Gordura (% PCVZ) 17,502 17,900 18,885 21,440a

18,891b

13,956c 0,357 0,286 <,0001 0,757

Proteína (% PCVZ) 14,980 15,023 15,116 14,777b

14,574b

15,767a

0,095 0,840 <,0001 0,847

Cinzas (% PCVZ) 3,276

3,281 3,373 3,358

ab 3,124

b 3,448

a 0,051 0,685 0,040 0,837

Água (% PCVZ) 61,974 61,482 60,466 58,143c

60,876b

64,903a

0,296 0,128 <,0001 0,803 MI = machos inteiros; MC = machos castrados; F = fêmeas. 1Ad libitum (AL) ou 30 e 60% níveis de consumo AL.

Sex = classes sexuais; Res = restrição alimentar; *erro padrão da média. 2CMS = consumo de material seca 3GMD = ganho médio diário; PCVZ = peso de corpo vazio; GPCVZ = ganho de peso de corpo vazio. 4ER = energia retida; CEM = consumo de energia metabolizável, PCl = produção de calor. a,b,cMédias seguidas por letras diferentes entre as classes sexuais e restrições alimentares diferem pelo teste de Tukey-Kramer (P < 0,05).

36

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39

A composição corporal variou (P < 0,05) apenas de acordo com a restrição

alimentar (Tabela 2). A concentração de gordura foi maior para os animais alimentados

ad libitum, seguido pelos animais alimentados com 30 e 60% de restrição,

respectivamente. A concentração de proteína foi maior nos animais alimentados com

restrição de 60%, e os animais alimentados ad libitum e 30% de restrição alimentar não

diferiram entre si. As concentrações de cinzas foram significativamente diferentes entre

os grupos alimentados com 30 e 60% de restrição alimentar, mas ambos não diferiram

do grupo alimentado ad libitum. A concentração de água foi maior nos animais

alimentados com 60% de restrição, seguido dos animais alimentados com 30% e

animais sem restrição, respectivamente.

Os teores de água, proteína, gordura e minerais variam durante o crescimento do

animal de maneira paralela aos tecidos muscular, ósseo e adiposo (VÉRAS et al., 2001),

sendo influenciados pela idade (NRC, 2007), peso corporal (AFRC, 1993), genótipo

(VALADARES FILHO et al., 2010), sexo (NRC, 2007), tamanho a maturidade (NRC,

2000) e nível nutricional do animal (NRC, 2007). No presente estudo, os animais

submetidos à menor ingestão de alimentos apresentaram menores teores de gordura em

relação aos de proteína e água na carcaça e vísceras. Esse efeito está diretamente

relacionado à utilização dos ácidos graxos voláteis para atendimento dos requerimentos

prioritários do animal, com menor deposição de ácidos graxos no tecido músculo-

esquelético. Em situações de restrições severas, a ação da insulina poderá estar

diminuída, ativando a enzima lipase hormônio sensível, com efeitos lipolíticos no tecido

adiposo (McDONALD et al., 2010).

Não houve efeito de classe sexual (P > 0,05) sobre os pesos relativos do

sistema respiratório, coração, fígado, rúmen-retículo, omaso, abomaso e intestinos

delgado e grosso (Tabela 3). Houve efeito de restrição alimentar (P < 0,05) sobre os

pesos do fígado, coração e sistema respiratório. Não foi observada interação (P > 0,05)

entre classes sexuais e restrição alimentar para os pesos relativos dos órgãos (Tabela 3).

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Tabela 3 - Pesos dos órgãos de machos inteiros, machos castrados e fêmeas Morada

Nova submetidos à restrição alimentar

(% de PCVZ) Sex Res

1

EPM P-valor

MI MC F AL 30% 60% Sex Res Sex×Res

Coração 0,57 0,60 0,61 0,54b 0,60

ab 0,64

a 0,01 0,190 0,000 0,112

Fígado 1,77 1,78 1,66 1,85a 1,73

ab 1,63

b 0,01 0,153 0,012 0,761

ID 2 2,03 1,98 2,03 1,89 2,10 2,04 0,05 0,929 0,280 0,962

IG 2 1,46 1,48 1,41 1,40 1,42 1,54 0,04 0,739 0,310 0,668

R-R2 2,58 2,63 1,42 2,48 2,61 2,55 0,04 0,059 0,364 0,856

Omaso 0,30 0,29 0,29 0,29 0,30 0,28 0,01 0,764 0,753 0,249

Abomaso 0,48 0,525 0,567 0,483 0,514 0,578 0,01 0,148 0,082 0,820

T. resp.3 2,96 3,09 3,25 2,93

b 2,87

b 3,49

a 0,07 0,234 0,000 0,275

Sex = classes sexuais; Res = restrição alimentar.

MI = machos inteiros; MC = machos castrados; F = fêmeas; 1AL = Ad libitum ou 30 e 60% níveis de consumo em relação a AL; 2ID= intestino delgado; IG.= intestino grosso; R-R= rúmen-retículo; 3T. resp. = Trato respiratório (língua, traqueia e pulmões); a, b, Médias seguidas por letras diferentes entre as restrições alimentares diferem pelo teste de Tukey-

Kramer (P < 0,05).

EPM = erro padrão da média.

O intercepto da regressão exponencial entre PCl e CEM não foi influenciado

pelas classes sexuais (P > 0,05), portanto, ELm foi 73,0 kcal/kg PCVZ0,75

/dia ou 64,0

kcal/ PCJ0,75

/dia (Figura 1). A EMm estimada foi 125,0 kcal/kg PCVZ

0,75/dia

e km foi

58%.

A ELm inclui a energia necessária para a atividade muscular, turnover dos

tecidos e processos metabólicos involuntários (NRC, 1985). No que diz respeito à classe

sexual, o NRC (2000) considera que machos inteiros apresentam exigência de energia

15% superior aos machos castrados e fêmeas de mesmo genótipo. Estudos de Rodrigues

et al. (2015) e Nie et al. (2015) têm proposto ausência de efeito de sexo sobre a ELm.

No presente estudo machos inteiros, machos castrados e fêmeas apresentaram

requerimentos iguais de energia para mantença. O sistema CNCP-S, cujas equações são

adotadas pelo NRC (2007), sugerem valores de correção para requerimentos de

mantença para ovinos, de 1,15 para machos inteiros e 1,0 para fêmeas e machos

castrados.

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Figura 1 - Relação entre a produção de calor (Mcal/kg PCVZ0,75

/dia) e consumo de

energia metabolizável (Mcal/kg PCVZ0,75

/dia) para machos inteiros, machos castrados e

fêmeas Morada Nova

A ausência de efeito de sexo sobre a ELm neste estudo pode estar relacionada à

semelhança na composição corporal e peso dos órgãos metabolicamente ativos

(LAWRENCE; FOWLER, 2002). As partes não-integrantes da carcaça têm efeito sobre

os requerimentos de energia dos animais (FERREL; JENKINS, 1998). Os tecidos

viscerais consomem cerca de 50% da energia destinada para mantença do animas

(VÉRAS et al., 2001), somando cerca de 25% do consumo de oxigênio do animal

(MCBRIDE; KELLY, 1990). No presente estudo foi observada similaridade nos pesos

relativos do fígado, coração e trato gastrintestinal, o que pode explicar os requerimentos

similares de ELm.

O aumento do metabolismo está associado com o aumento da ingestão de

energia (VAN SOEST, 1994). O consumo de energia metabolizável acima dos níveis de

mantença promove acréscimo na produção de calor (CHIZZOTTI et al., 2007),

causando consequente aumento dos requisitos para a manutenção das funções vitais

(WILLIAMS; JENKINS, 2003). As exigências de ELm de 73,0 kcal/kg PCVZ0,75

/dia ou

64,0 kcal/kg PCJ0,75

/dia nesse estudo, foi superior ao valor de 62,0 kcal/kg PCJ0,75

/dia,

valor não ajustado para classe sexual, estabelecido pelo NRC (2007) para ovinos

lanados. Ovinos criados em clima tropical possuem requerimentos de energia líquida

para mantença maior quando comparados àqueles criados em clima temperado

(SALAH, SAUVANT, ARCHIMÈD, 2014), porque em condições de temperatura

elevada, a energia necessária para dissipar o calor do corpo aumenta, o que pode elevar

a necessidade de energia (CSIRO, 2007). Além disso, animais com menor peso corporal

em fase inicial de crescimento possuem maior área superficial do corpo em relação a

y = 0,073 e4,3282x

R² = 0,9598

0,10

0,12

0,14

0,16

0,18

0,20

0,22

0,24

0,10 0,15 0,20 0,25 0,30

PC

l (M

cal/

kg P

CV

Z0,7

5/d

ia)

CEM (Mcal/kg PCVZ0,75/dia)

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animais com maior peso demandando maior quantidade de energia para a manutenção

da temperatura corporal (FERREL; JENKINS, 1985), da mesma forma, a maior

proporção de tecidos metabolicamente ativos aumenta a taxa metabólica diária

(CABRAL et al., 2008).

Os interceptos obtidos a partir das regressões lineares do PCVZ em função

do PC e GPCVZ em função do GMD não diferiram entre as classes sexuais (P > 0,05),

mas houve diferença no coefiente angular (P < 0,05). Dessa forma, foram desenvolvidas

três equações, uma para cada classe sexual, para estimativa do PCVZ e GPCVZ (Tabela

4).

Tabela 4 - Equações de regressão para estimar o peso de corpo vazio e ganho de peso de

corpo vazio de machos inteiros, machos castrados e fêmeas Morada Nova de 15 a 30 kg

de peso corporal

Classes

sexuais Equações alométricas QME

P-valor

Intercepto Slop

MI PCVZ (kg) = -1,7679 + 0,8308 × PC

0,524 0,1574 <.0001 MC PCVZ (kg) = -1,7679 + 0,8482 × PC

F PCVZ (kg) = -1,7679 + 0,8800 × PC

MI GPCVZ = 0,008215 + 0,7636 × GMD

0,004 0,3608 <.0001 MC GPCVZ = 0,008215 + 0,7485 × GMD

F GPCVZ = 0,008215 + 0,8762 × GMD

MI = machos inteiros; MC = machos castrados; F = fêmeas; PC = peso corporal;

PCVZ = peso de corpo vazio;

GPCVZ = ganho de peso de corpo vazio;

GMD = ganho médio diário;

QME = quadrado médio do erro.

Houve efeito da classe sexual (P < 0,001) para ELg e foram obtidas

equações diferentes para cada classe sexual (Tabela 5). Foram observadas diferenças

significativas (P < 0,001) no b' da equação [6], assim kg é diferente entre as classes

sexuais (Tabela 5). Os requerimentos de ELg são apresentados na Tabela 6.

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43

Tabela 5 - Equações de regressão para estimar a exigência de energia para ganho de

peso em machos inteiros, machos castrados e fêmeas Morada Nova de 15 a 30 kg de

peso corporal

Classes

sexuais Equações alométricas QME

P-valor kg

(%) Intercepto Slop

MI ER = 10-0,4503

× PCVZ0,75

× GPCVZ1,0698

0,046 0,8139 <.0001

32

MC ER = 10-0,4503

× PCVZ 0,75

× GPCVZ1,0553

27

F ER = 10-0,4503

× PCVZ 0,75

× GPCVZ0,9899

29

MI = Machos inteiros; MC = Machos castrados; F = Fêmeas;

ER = energia retida; kg = eficiência de uso da energia para ganho de peso;

PCVZ = peso de corpo vazio;

GPCVZ = ganho de peso de corpo vazio;

QME = quadrado médio do erro.

Para cálculo dos requerimentos nutricionais para ganho é necessário

conhecimento da composição dos tecidos ganhos pelos animais, eficiência do uso de

nutrientes e taxa de ganho de peso. Quanto maior a proporção de tecido depositado no

ganho na forma de proteína, maiores serão os requerimentos energéticos dos animais

para o ganho, devido a menor eficiência de uso da EM para deposição de proteína. A

ELg é estimada pela quantidade de energia depositada como matéria orgânica no corpo

do animal (NRC, 1996), e o sexo influencia o teor de gordura no ganho (NRC, 2007).

Fêmeas depositam gordura mais rapidamente, refletindo maiores requerimentos de

energia para o ganho de peso (MARCONDES et al., 2010). Nesse estudo, conforme

tabela 6, por exemplo, para cordeiros pesando 15 kg com ganho de 200 g/d, a ELg foi

0,297; 0,304 e 0,411 Mcal/kg PCVZ0,75

/dia para machos inteiros, machos castrados e

fêmeas, respectivamente. Fêmeas tiveram ELg 26% maior que machos inteiros e

machos castrados, provavelmente devido a distribuição de gordura no corpo.

Energeticamente, a deposição de gordura é mais eficiente do que a de proteína

porque o turnover proteico diário é maior (SAMPELAYO et al., 1995). No entanto, em

razão da redução do crescimento muscular e do aumento do desenvolvimento do tecido

adiposo (GUYTON; HALL, 2011), a ELg aumenta à medida que o PC aumenta (NIE et

al., 2015; RODRIGUES et al., 2015; PEREIRA et al., 2014; COSTA et al., 2013),

assim como observado no nosso estudo.

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44

A eficiência de utilização da energia para o ganho de peso no presente estudo foi

superior nos machos inteiros, seguido das fêmeas e os machos castrados apresentaram a

menor eficiência. As diferentes deposições de gordura e proteína no tecido influenciam

a kg (GARRETT, 1980). A fração de energia depositada como proteína por unidade de

ganho é maior em animais mais jovens (NRC, 2007), dessa forma, menores eficiências

de utilização da energia para o ganho podem estar relacionadas com o elevado custo

energético para deposição de proteína (VERMOREL; BICKEL, 1980), decrescendo

com o avanço da maturidade (NRC, 2007). Aumento no incremento calórico eleva a

PCl e reduz a energia disponível para ganho, reduzindo o valor de kg (RODRIGUES et

al., 2015). Adicionalmente, diferenças nos valores de kg podem ser atribuídas aos

diferentes métodos de estimativa (TEDESCHI; CANNAS; FOX, 2010).

Tabela 6 - Exigências de energia líquida para ganho de peso (Mcal/kg PCVZ0,75

/dia) em

cordeiros Morada Nova de diferentes classes sexuais

PC (kg) PCVZ

(kg) Classes sexuais

Ganho médio diário (g)

50 100 150 200

15 10,69 MI 0,079 0,149 0,222 0,297

15 10,96 MC 0,082 0,155 0,229 0,304

15 11,43 F 0,118 0,216 0,314 0,411

20 14,85 MI 0,100 0,191 0,284 0,380

20 15,20 MC 0,105 0,198 0,293 0,389

20 15,83 F 0,151 0,276 0,401 0,525

25 19,00 MI 0,121 0,230 0,342 0,457

25 19,44 MC 0,126 0,238 0,352 0,468

25 20,23 F 0,181 0,332 0,482 0,631

30 23,16 MI 0,140 0,266 0,397 0,530

30 23,68 MC 0,146 0,276 0,408 0,543

30 24,63 F 0,210 0,385 0,558 0,732

PC = peso corporal;

PCVZ = peso de corpo vazio;

MI = machos inteiros;

MC = machos castrados;

F = fêmeas.

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45

4 CONCLUSÃO

Nosso estudo indicou que os requerimentos de energia líquida para mantença são

semelhantes entre as classes sexuais quando cordeiros Morada Nova são abatidos

jovens. As fêmeas exigem maiores quantidades de energia líquida para ganho de peso

que machos inteiros e machos castrados.

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46

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CAPÍTULO II

EXIGÊNCIAS DE PROTEÍNA PARA MANTENÇA E CRESCIMENTO EM

OVINOS MACHOS E FÊMEAS MORADA NOVA

RESUMO: Objetivou-se estimar as exigências de proteína para mantença e ganho em

cordeiros Morada Nova de três classes sexuais. Foram utilizados 47 animais,

distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial 3 x 3, três

classes sexuais (15 machos inteiros, 16 machos castrados e 16 fêmeas) e três níveis de

restrição alimentar (ad libitum, 30 e 60%), com PC inicial (PCi) 14,50 ± 0,89 kg. Quatro

animais de cada classe sexual foram abatidos no início do ensaio experimental como

grupo referência para estimativa do peso de corpo vazio (PCVZ) e composição corporal

iniciais. Quando o teste experimental atingiu 120 dias todos os animais foram abatidos.

Não houve diferença (P = 0,7783) entre as classes sexuais para o requerimento de

proteína líquida para mantença (PLm), sendo 1,06 g/kg PC0,75

/dia. Estimou-se o valor

de 3,46 g/kg PC0,75

/dia para o requerimento de proteína metabolizável para mantença

(PMm). A exigência de proteína líquida para o ganho de peso (PLg) foi influenciada (P

< 0,001) pelas classes sexuais e descresceu de acordo com o aumento do PC. A

eficiência de utilização da proteína para ganho de peso (kpg) foi diferente (P < 0,001)

entre as classes sexuais. kpg foi 20, 18 e 15% para machos inteiros, machos castrados e

fêmeas, respectivamente. As classes sexuais não alteram os requerimentos de proteína

líquida e metabolizável para mantença de cordeiros em crescimento. Diferentes classes

sexuais afetam as exigências de proteína líquida para ganho, que decresce com o

aumento do peso corporal de cordeiros deslanados.

Palavras-chave: Abate comparativo. Consumo de proteína metabolizável. Gêneros.

Proteína líquida para mantença.

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PROTEIN REQUIREMENTS FOR MAINTENANCE AND GAIN IN MORADA

NOVA LAMBS OF DIFFERENT SEXUAL CLASSES

ABSTRACT: The objective was to estimate protein requirements of intact male,

castrated male and female Morada Nova lambs. The animals were distributed in

completely randomized design in a factorial treatment structure of 3 x 3 with three sexes

(15 intact males, 16 castrated males and 16 females) and three levels of restriction (ad

libitum, 30 and 60%) with an initial body weight (iBW) of 14.50 ± 0.89 kg. Four

animals of each sex class were slaughtered at the beginning of the experimental trial as

the reference group for initial body weight and empty body weight estimation (EBW).

When the experimental test reached 120 days all the animals were slaughtered. There

was no difference (P = 0.7783) between sexes for the required net protein for

maintenance (NPm) and that amount was 1.06 g/kg BW0.75

/day. A value of 3.46 g/kg

BW0.75

/day was estimated for metabolizable protein maintenance requirements (MPm).

The net protein requirement for weight gain (NPg) was influenced (P < 0.001) by the

sexual classes and decreased according to the increase in BW. The efficiency of use of

the protein for weight gain (kpg) was different (P < 0.0001) between the sexes, being 28,

18 and 15% for intact males, castrated males and females, respectively. The sexual

classes do not change the requirements of liquid and metabolizable protein for the

maintenance in growing lambs. Sexual classes affect the requirements of net protein for

gain, which decreases with the increase of the body weight of lambs.

Keywords: Comparative slaughter. Gender. Metabolizable protein intake. Net protein

for manteinance.

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1 INTRODUÇÃO

Os ovinos deslanados são animais produtivos e muito importantes,

principalmente em países em desenvolvimento, mas o conhecimento sobre as exigências

nutricionais desses animais ainda é pouco. Os ovinos da raça Morada Nova, nativos do

Nordeste brasileiro, são muito utilizados para produção de carne e pele. São bem

adaptados às condições de elevadas temperaturas e aos períodos de escassez de

alimentos, que naturalmente ocorrem nessa região, o que propiciou a esses animais

maior depósito de gordura nos órgãos, utilizada como reserva energética (MIRKENA et

al., 2010).

O sucesso produtivo baseia-se em formulações de rações com quantidades

adequadas de energia e proteína, pois o desequilíbrio destes quanto aos seus

requerimentos contribui para redução na produção dos animais ou poluição ambiental, o

que os tornam essenciais na nutrição animal. A proteína verdadeira é o nutriente de

maior custo nos sistemas de produção, assim, é fundamental conhecer as exigências

nutricionais dos animais e cada componente incluído na dieta.

Diferentes proporções de água, proteína, gordura e minerais no corpo

variam de acordo com raça, idade, velocidade de crescimento, sexo e alimentação.

Dessa forma, conhecer a composição química do corpo e a composição do ganho de

peso é primordial para a determinação dos requerimentos nutricionais, pois está

diretamente relacionada à composição corporal. As exigências de proteína líquida para o

ganho dependem da matéria seca livre de gordura, uma vez que é influenciada

principalmente pela composição de ganho de peso, no qual o teor de gordura aumenta e

a proteína corporal diminui com o avanço da idade (ARC 1980; AFRC 1993).

Para atender seus requerimentos de proteína, os ruminantes dispõem de

fontes microbianas e dietéticas, relacionadas ao metabolismo em órgãos viscerais e

tecidos durante o crescimento, sendo a determinação das exigências de proteína líquida

obtida a partir das perdas metabólicas fecais, urinárias, por descamação e retidas no pelo

(NRC, 2000). O NRC (2007) considera diferentes requerimentos de proteína líquida

para mantença entre os sexos, no entanto, resultados de estudos avaliando a influência

de diferentes classes sexuais sobre as necessidades de ovinos ainda são escassos e

imprecisos (NIE et al., 2015, RODRIGUES et al., 2015).

Os requerimentos de proteína de ovinos deslanados ainda são pouco

conhecidos, mas pesquisas recentemente realizadas (RODRIGUES et al., 2015;

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PEREIRA et al., 2016; CUTRIM et al., 2016) indicam resultados discrepantes para

exigências de proteína para cordeiros deslanados.

Assim, o objetivo neste estudo foi determinar os requerimentos de proteína

em cordeiros Morada Nova de diferentes classes sexuais.

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2 MATERIAL E MÉTODOS

Cuidados com os animais

Os cuidados com os animais seguiram de acordo com as diretrizes do

Comitê de Ética em Pesquisa Animal da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza,

Brasil (UFC), número do protocolo (98/2015).

Animais, dietas e procedimentos experimentais

O ensaio experimental foi realizado no Departamento de Zootecnia da

Universidade Federal do Ceará (UFC) em Fortaleza, CE, Brasil (30°43’02’’ S,

33°32’35’’ W).

Quarenta e sete cordeiros da raça Morada Nova, com peso inicial (PCi) de

14,50 ± 0,89 kg, aproximadamente 120 dias de idade, foram utilizados. Primeiro, os

animais foram identificados, everminados e alocados em baias individuais (1,5 m por

1,5 m) com comedouros para alimentos e água. Durante o experimento, a temperatura

média do ar máxima e mínima diária foi 31,0 °C ± 1,13 e 25,5 °C ± 0,78,

respectivamente, e a umidade relativa mínima e máxima foram de 55,9% ± 5,64 e

85,0% ± 4,58, respectivamente. Os cordeiros foram distribuídos em delineamento

inteiramente casualizado, em esquema fatorial 3 x 3, sendo três classes sexuais (15

machos inteiros, 16 machos castrados e 16 fêmeas) e três níveis de restrição alimentar

(ad libitum, 30 e 60%). A oferta de alimentos para os animais nos tratamentos com 30 e

60% de restrição foi determinada pelo consumo dos animais alimentados ad libitum e

suas respectivas classes sexuais. Após período de adaptação de quinze dias, quatro

animais de cada classe sexual foram selecionados aleatoriamente e abatidos para servir

como grupo referência. A dieta foi formulada para promover ganho de peso médio de

150 g/dia. A dieta experimental foi constituída de feno de capim Tifton-85, milho grão

moído, farelo de soja, calcário, fosfato bicálcico e premix (Tabela 1).

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Tabela 1- Proporção de ingredientes e composição química da ração experimental

Ingredientes % na Matéria Seca

Feno de Tifton 85 60,00

Milho grão moído 32,72

Farelo de soja 6,30

Fosfato bicálcico 0,06

Premix mineral* 0,92

Composição química

(g/kg MS)

Ração

Total

Feno de Tifton

85

Milho grão

moído

Farelo de

soja

Matéria seca 907,72 913,40 892,40 910,00

Proteína bruta 169,32 171,50 102,80 508,80

Extrato etéreo 30,77 25,57 43,18 19,32

Matéria mineral 61,93 73,40 13,30 65,90

Fibra em detergente

neutro 438,65 668,20 112,54 134,63

FDNcp1 418,32 644,85 97,89 110,41

Fibra em detergente ácido 201,93 317,54 26,31 102,05

Carboidratos totais 738,00 751,67 840,70 407,90

Carboidratos não-fibrosos 319,67 58,30 728,19 273,30

Nutrientes digestíveis

totais 673,55 - - -

*Composição: Cálcio 22,5% a 21,5%; Fósforo 4,0 %; Enxofre 1,5%; Sódio 5,0 %; Magnésio 1,0%;

Cobalto 11,00 ppm; Iodo 34 ppm; Manganês 1800 ppm; Selênio 10,00 ppm; Zinco 2000 ppm; Ferro 1250

ppm; Cobre 120 ppm; Fluor 400,00 ppm; Vitamina A 37,5 ppm; Vitamina D3 0,5 ppm e Vitamina E 800

ppm.

1Fibra em detergente neutro corrigida para cinza e proteína.

Os animais foram alimentados duas vezes ao dia às 07:30 e 16:00 h, com o

consumo ad libitum como mistura total, permitindo até 10% das sobras. Alimentos e

sobras foram amostrados e congelados para análise química. Quando o teste

experimental atingiu 120 dias todos os animais foram abatidos.

Procedimentos de abate

Antes do abate, o peso corporal no jejum (PCJ) foi calculado como sendo o

PC depois de 18 h sem consumo de alimentos e água. Os animais foram atordoados de

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acordo com metodologia de abate humanitário, sangrados, esfolados e eviscerados. O

sangue foi amostrado e pesado. O trato gastrointestinal foi lavado e, após a secagem, foi

pesado. Também foram pesados os demais órgãos (fígado, coração, traquéia + pulmões

+ língua + esôfago, bexiga, rins, trato reprodutivo e baço), partes do corpo (carcaça,

cabeça, sangue e patas) e gorduras (omental, perirrenal e mesentérica). A pele foi

pesada e amostrada no abate e congelada. A carcaça foi dividida em duas metades

longitudinais idênticas.

Todos os componentes do corpo foram inicialmente congelados a -20 °C,

em seguida, cortados em pedaços pequenos, com um triturador de rosca grande através

de uma placa com furos de 0,32 cm, e misturou-se por duas passagens adicionais

através do moinho. Após moagem, carcaça e órgãos foram homogeneizados e amostras

foram coletadas e congeladas. O peso de corpo vazio (PCVZ) foi definido como o PCJ

menos o conteúdo do aparelho digestivo.

Ensaio de digestibilidade e consumo de proteína metabolizável

Para estimar a digestibilidade dos nutrientes, amostras de fezes de cada

animal foram coletadas durante três dias consecutivos a cada 15 dias, nos seguintes

horários: às 8:00 h no primeiro dia, às 12:00 h no segundo dia, e às 16:00 h no terceiro

dia. As amostras das fezes foram pesadas, postas em sacos de plástico, identificadas e

armazenadas a -20 °C até a análise. A fibra em detergente neutro indigestível (FDNi) foi

usada como marcador para avaliar a excreção da matéria seca fecal, como descrito por

(CASALI et al., 2008). A quantidade de FDNi nas amostras de fezes, sobras,

concentrados e feno de capim tifton 85 foi obtida através de resíduo após 240:00 h de

incubação no rúmen de uma vaca que recebeu dieta à base de feno de capim tifton 85

(60%) e concentrado (40%) (milho grão moído, farelo de soja, calcário, fosfato

bicálcico e premix). A incubação foi realizada usando sacos de nylon com porosidade

de 50 µm e uma proporção de 15 mg cm2 de amostra por saco, totalizando 3,0 g de

amostra por g de saco, de acordo com ØRSKOV e McDONALD (1979). Após

incubação no rúmen, os sacos e os resíduos foram lavados com água limpa até que a sua

cor ficasse totalmente clara. Posteriormente, os sacos foram fervidos durante 1 hora em

solução de detergente neutro (VAN SOEST; ROBERTSON, 1985), secos e pesados, e

os resíduos que permaneceram depois da extração com a solução de detergente neutro

foram considerados como FDNi (Casali et al., 2008). Todas as amostras foram

congeladas a -20 °C. A equação NDT = PBd + CNFd + FDNcpd + (EEd x 2,25)

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(WEISS, 1999) foi utilizada para calcular os nutrients digestíveis totais, em que PBd é a

proteína bruta digestível, CNFd são os carboidratos não fibrosos digestíveis, FDNcpd é

a fibra insolúvel em detergente neutro corrigida para cinzas e proteína digestível e EEd

é o extrato etéreo digestível. A energia digestível (ED) da dieta foi estimada

considerando 4,409 Mcal/kg NDT consumido. Para converter ED em energia

metabolizável (EM) foi utilizada 82% de eficiência (NRC, 2007).

Para calcular a proteína degradável no rúmen (PDR), a síntese da proteína

bruta microbiana (PBM) foi multiplicada por 1,11, que corresponde às perdas por

amônia e reciclagem de nitrogênio (N). Portanto, a proteína bruta microbiana

verdadeiramente digestível (PBMvd) foi calculada pela equação [1]:

PBMvd = 0,64 × PDR, [1]

em que 0,64 é o fator, considerando-se que 80% da proteína microbiana é

verdadeira e sua digestibilidade intestinal é 80% (NRC, 2001) e PDR é a proteína

degradável no rúmen ou proteína microbiana (g/kg GPCVZ).

A proteína não degradável no rúmen (PNDR) foi calculada como sendo a

proteína bruta (PB) ingerida menos a PDR. A PNDR digestível (PNDRd) foi calculada

de acordo com a equação [2], considerando o valor fixo da digestibilidade da PNDR no

intestino delgado de 80%:

PNDRd = PNDR × 0,80, [2]

em que PNDR é a proteína não degradável no rúmen e 0,80 é o valor fixo de

80% da digestibilidade da PNDR no intestino delgado.

O consumo de proteína metabolizável (CPM) foi calculado a partir da soma

da PBMvd e PNDRd, como mostra a equação [3].

CPM = PBMvd + PNDRd, [3]

em que CPM é o consumo de proteína metabolizável, PNDRvd é a proteína

bruta microbiana verdadeiramente digestível e PNDRd é a proteína não degradável no

rúmen digestível.

Para calcular a PDR, foi utilizada eficiência de síntese de proteína bruta

microbiana dos próprios animais experimentais de 47,41; 49,19 e 62,26 g/kg NDT para

os animais consumindo ad libitum, 30 e 60% de restrição alimentar, respectivamente,

baseados na excreção urinária dos derivados de purina (HEINZEN, 2014).

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Análises químicas

Alimentos, sobras e amostras de fezes foram secas a 55 °C durante 72 h em

estufa com circulação forçada de ar. Subsequentemente, as amostras foram moídas com

tamanho de 1 mm (Wiley moinho, Arthur H. Thomas, Philadelphia, PA, EUA).

Analisaram-se as amostras para a concentração de matéria seca (AOAC, 1990; método

930,15), teor de cinzas (AOAC, 1990; método 924,05), proteína bruta (AOAC, 1990;

método 984,13), extrato etéreo (AOAC, 1990; método 920,39) e fibra em detergente

neutro com alfa-amilase termoestável, sem sulfito de sódio (Mertens et al., 2002). Os

componentes corporais foram secos a 55 °C durante 72 h em estufa com circulação

forçada de ar. Posteriormente, as amostras foram analisadas para conteúdo de matéria

seca (AOAC, 1990; método 930,15) e, em seguida, a gordura foi extraída com éter de

petróleo em aparelho Soxhlet, durante 12 h (AOAC, 1990; método 920,39). Após

extração com éter de petróleo, as amostras foram moídas em moinho de bola e

analisadas para cálculo dos teores de proteína bruta (AOAC, 1990; método 984,13) e

cinzas (AOAC, 1990; método 924,05).

Composição Corporal e Retenção de Energia e Proteína

Os conteúdos corporais de gordura (CCG) e proteína (CCP) foram

determinados de acordo com as suas percentagens no corpo vazio. O conteúdo corporal

de energia (CCE) foi obtido de acordo com a equação alométrica [4] (ARC, 1980):

CCE (Mcal) = 5,6405 (kg, CCP) + 9,3929 (kg, CCG), [4]

A equação [5] foi utilizada para estimativa do peso de corpo vazio (PCVZ).

PCVZ = a’ + b’ × PC, [5]

em que PCVZ é o peso de corpo vazio (kg), PC é o peso corporal (kg) e a’ e

b’ são parâmetros determinados a partir da regressão linear.

O ganho de peso de corpo vazio (GPCVZ) foi obtido de acordo com a

equação [6].

GPCVZ = a’ + b’ × GMD, [6]

em que GPCVZ é o ganho de peso de corpo vazio (kg), GMD é o ganho

médio diário (kg) e a’ e b’ são parâmetros determinados a partir da regressão linear.

Requerimentos de Energia para Ganho

Os requerimentos de energia líquida para ganho foram preditos a partir da

adaptação da equação alométrica sugerida pelo ARC (1980) log10 (conteúdo de energia,

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kg) = a’ + [b’ × log10 (kg, PCVZ)]. A variável PCVZ foi substituída pelo GPCVZ, a

fim de predizer melhor o ganho específico. Assim, a equação [7] foi utilizada, como

segue:

ELg = a’ × b’ × GPCVZ(b’-1)

, [7]

em que ELg é a exigência de energia líquida para o ganho (Mcal/kg

PCVZ0,75

/dia), GPCVZ é o ganho de peso de corpo vazio (kg), a’ e b’ são parâmetros

determinados a partir da regressão não linear. Este modelo é interpretado como a ER

(Mcal) para 1 kg de GPCVZ. Para o cálculo desta variável foram utilizados apenas os

animais de desempenho.

Requerimentos de Proteína para Mantença e Ganho

A exigência de proteína líquida para ganho (PLg) foi calculada a partir da

equação [8]:

PR = a’ + b’ × GPCVZ + c’ × ER, [8]

em que PR é a proteína retida (g/kg PCVZ0,75

/dia), GPCVZ é o ganho de

peso de corpo vazio (g/kg PCVZ0,75

/dia), ER é a energia retida e a’, b’ e c’ são

parâmetros determinados a partir da regressão linear. Foram utilizados somente animais

de desempenho para esse cálculo.

A equação [9] foi gerada a partir da proteína retida em função do consumo

de proteína metabolizável (CPM). O intercepto dessa regressão foi considerado como

sendo igual às perdas endógenas e metabólicas de proteína, portanto o módulo do

intercepto foi considerado como a proteína líquida para mantença (PLm, g/kg

PC0,75

/dia). O b’ representou a eficiência de utilização da proteína para o ganho de peso

(kpg).

PR = a’ + b’ × CPM, [9]

em que PR é a proteína retida (g/kg PC0,75

/dia), CPM é o consumo de

proteína metabolizável (g/kg PC0,75

/dia), a’ é o requerimento líquido de proteína para

mantença (g/kg PC0,75

/dia) e b’ é a eficiência de utilização da proteína para ganho (kpg).

Para esse cálculo foram utilizados animais em mantença e desempenho.

O requerimento de proteína metabolizável para mantença (PMm, g/kg

PC0,75

/dia) foi calculado a partir da razão entre o intercepto da equação [10] e o PC0,75

dos animais, de acordo com Wilkerson et al. (1993).

CPM = a’ + b’ × GPCVZ, [10]

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em que CPM é o consumo de proteína metabolizável (g/dia), GPCVZ é o

ganho de peso de corpo vazio (kg/d) e a’e b’ são parâmetros determinados a partir da

regressão linear.

Análises Estatísticas

Os dados foram submetidos à análise de variância, utilizando o

procedimento GLM do software SAS conforme o seguinte modelo estatístico:

Yijk=μ+Si+Rj+Si×Rj+εijk, onde Yijk é a variável dependente ou resposta medida na

unidade experimental (animal) “k” da classe sexual “i” e restrição alimentar “j”; µ é a

média da população ou constante global; Si efeito do sexo “i”; Rj efeito da restrição

alimentar “j”; Si×Rj a interação entre o efeito de sexo “i” e restrição alimentar “j”; e ɛijk

são erros aleatórios não observados. Foi utilizado o teste de Tukey-Kramer para

comparar as médias, adotando-se o nível de significância de 5% de probabilidade (P <

0,05). O mesmo critério foi adotado para as interações entre os efeitos das classes

sexuais e restrições alimentares.

O efeito de sexo foi testado através do PROC NLMIXED para os modelos

não lineares. Em seguida, os modelos lineares foram testados usando o procedimento

PROC MIXED e os modelos não-lineares foram testados com PROC NLIN (SAS Inst.

Inc., Cary, NC).

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os consumos de proteína bruta (CPB), proteína metabolizável (CPM) e a

proteína retida (PR) foram influnciados (P <.001) tanto pelas diferentes classes sexuais

quanto pelos níveis de restrição alimentar (Tabela 2).

Os machos inteiros e os machos castrados obtiveram as maiores médias para os

consumos de proteína bruta e proteína metabolizável, ao passo que as fêmeas obtiveram

as menores. A retenção de proteína foi maior (P <.001) nos machos inteiros, seguido

dos machos castrados e fêmeas. Houve interação (P = 0,0072) entre as classes sexuais e

as restrições alimentares sobre a proteína retida. Os animais alimentados ad libitum

apresentaram os maiores (P <.001) CPB. CPM e PR quando comparados aos animais

alimentados com 30% de restrição alimentar, e esses aos que foram alimentados com

60% de restrição alimentar.

Tabela 2 - Efeitos de classes sexuais e restrição alimentar sobre os consumos e retenção

de proteína em cordeiros Morada Nova machos e fêmeas

Itens

(g/dia)

Sex Res1

EPM P-valor

MI MC F Ad libitum 30% 60% Sex Res Sex×Res

CPB2 11,32

a 10,87

a 10,19

b 13,12

a 11,23

b 7,53

c 1,62 <.001 <.001 0,3420

CPM2 113,1

a 100,9

a 87,51

b 137,3

a 104,3

b 59,9

c 1,32 <.001 <.001 0,3535

PR2 11,09

a 9,16

b 6,14

c 8,50

a 4,49

b 0,56

c 0,22 <.001 <.001 0,0072

Sex = classes sexuais; Res = restrição alimentar.

MI = machos inteiros; MC = machos castrados; F = fêmeas; 1Ad libitum (AL) ou 30 e 60% níveis de consumo em relação a AL; 2CPB = consumo de proteína bruta; CPM = consumo de proteína metabolizável; PR = proteína retida; a, b, cMédias seguidas por letras diferentes entre as restrições alimentares diferem pelo teste de Tukey-

Kramer (P < 0,05).

EPM = erro padrão da média.

Os interceptos obtidos a partir das regressões lineares do PCVZ em função

do PC e GPCVZ em função do GMD não diferiram entre as classes sexuais (P > 0,05),

mas houve diferença no coeficiente angular (P < 0,05). Dessa forma, foram

desenvolvidas três equações, uma para cada classe sexual, para estimativa do PCVZ e

GPCVZ (Tabela 3). Houve efeito da classe sexual (P < 0,001) para ELg, e foram

obtidas equações diferentes para cada classe sexual (Tabela 4).

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Tabela 3 - Equações de regressão para estimar o peso de corpo vazio e ganho de peso de

corpo vazio de machos inteiros, machos castrados e fêmeas Morada Nova de 15 a 30 kg

de peso corporal

Classes

sexuais Equações alométricas QME

P-valor

Intercepto Slop

MI PCVZ (kg) = -1,7679 + 0,8308 × PC

0,5241 0,1574 <,0001 MC PCVZ (kg) = -1,7679 + 0,8482 × PC

F PCVZ (kg) = -1,7679 + 0,8800 × PC

MI GPCVZ = 0,008215 + 0,7636 × GMD

0,004 0,3608 <,0001 MC GPCVZ = 0,008215 + 0,7485 × GMD

F GPCVZ = 0,008215 + 0,8762 × GMD

MI = machos inteiros; MC = machos castrados; F = fêmeas;

PC = peso corporal;

PCVZ = peso de corpo vazio;

GPCVZ = ganho de peso de corpo vazio;

GMD = ganho médio diário;

QME = quadrado médio do erro.

Tabela 4 - Equações de regressão para estimar a exigência de energia para ganho de

peso em machos inteiros, machos castrados e fêmeas Morada Nova de 15 a 30 kg de

peso corporal

Classes

sexuais Equações alométricas QME

P-valor

Intercepto Slop

MI ER = 10-0,4503

× PCVZ0,75

× GPCVZ1,0698

0,046 0,8139 <,0001 MC ER = 10-0,4503

× PCVZ 0,75

× GPCVZ 1,0553

F ER = 10-0,4503

× PCVZ 0,75

× GPCVZ 0,9899

MI = machos inteiros; MC = machos castrados; F = fêmeas;

ER = energia retida;

kg = eficiência de uso da energia para ganho de peso;

PCVZ = peso de corpo vazio;

GPCVZ = ganho de peso de corpo vazio;

QME = quadrado médio do erro.

Não houve diferença estatística (P = 0,3934) para o intercepto da equação

entre CPM e GPCVZ, dessa forma a PMm de 3,46 g/kg PC0,75

/dia é igual entre as

classes sexuais. A metodologia empregada nesse estudo para estimar a PMm baseou-se

no crescimento do animal ao invés do balanço de N (NRC, 2000). O modelo mais

adequado para estimar os requerimentos de PMm inclui o consumo de proteína

metabolizável em vez de PB, uma vez que consumo de PB pode gerar erro de estimação

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por não considerar o valor biológico da proteína e nem a síntese de proteína microbiana

(MARCONDES et al., 2010).

Diferenças nas exigências de proteína metabolizável são atribuídas à

qualidade da dieta (SALAH, SAUVANT, ARCHIMÈD, 2014). Níveis de proteína da

dieta acima de 12,5% na matéria seca, podem contribuir para aumentar os

requerimentos de PMm (MARCONDES et al., 2010). Neste estudo os animais

consumiram dieta com PB% torno de 17%, o que possivelmente influenciou as

exigências de proteína, aumentando a PMm. O efeito do consumo de quantidades

elevadas de proteína tem sido atribuído aos custos de energia para síntese de ureia no

fígado, e a utilização da energia está associada ao catabolismo de aminoácidos

(REYNOLDS et al., 2011). Adicionalmente, altos valores para PMm podem ser

obtidos quando a energia é fator mais limitante que a proteína no rúmen, assim a

reciclagem de N é suficiente para atender o déficit de N (SALAH, SAUVANT,

ARCHIMÈD, 2014). A exigência de PMm estimada no presente estudo de 3,46 g/kg

PC0,75

/dia é superior ao reportado por Gonzaga Neto et al. (2005) e AFRC (1993) de

2,08 g/kg PC0,75

/dia e 2,19 g/kg PC0,75

/dia, respectivamente. Essa diferença pode ser

atribuída a maior eficiência de PLm ou método utilizados por esses autores.

Não houve efeito significativo (P = 0,7783) para o intercepto da equação

entre PR e CPM, logo a exigência de PLm é semelhante entre as classes sexuais, 1,06

g/kg PC0,75

/dia (Figura 1). O resultado obtido para PLm nesse estudo difere de estudos

previamente realizados (REGADAS FILHO et al., 2011; COSTA et al., 2013) com

ovinos deslanados. Mudanças na taxa de turnover proteico estão associadas a variações

nas exigências de proteína líquida para mantença (SALAH, SAUVANT, ARCHIMÈD,

2014), de modo que a redução desses requerimentos ocorre devido ao aumento da

síntese ou a diminuição na taxa de degradação da proteína, em resposta às diferentes

taxas de utilização de aminoácidos (McDONALD et al., 2010). Adicionalmente, maior

percentual de gordura intramuscular implica em metabolismo de proteína mais baixo

por unidade de PC (PEREIRA et al., 2016), resultando em menores exigências

nutricionais de proteína por unidade de peso metabólico. Assim, requisitos de PLm para

ovinos deslanados divergem em função dos diferentes tipos genéticos (GONZAGA et

al., 2005; REGADAS FILHO et al., 2013, COSTA et al., 2013; PEREIRA et al., 2016).

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Figura 1 - Relação entre a proteína retida (g/kg PC0,75

/dia) e o consumo de proteína

metabolizável (g/kg PC0,75

/dia) para machos inteiros, machos castrados e fêmeas

Morada Nova

Observou-se efeito das classes sexuais (P < 0,001) para PLg, sendo PLg

estimada utilizando diferentes equações (Tabela 5). Houve diferença significativa (P <

0,0001) para o b' da equação [9], assim kpg é diferente entre as classes sexuais (Tabela

5). Os requerimentos de proteína líquida para o ganho de peso são apresentados na

tabela 6.

Tabela 5 - Equações de regressão para estimar a exigência de proteína para ganho de

peso corporal em machos inteiros, machos castrados e fêmeas Morada Nova de 15 a 30

kg de peso corporal

Classes

sexuais Equações alométricas QME

P-valor kpg

(%) Intercepto Slop1 Slop2

MI PR = - 5,4355 + 223,94 x

GPCVZ - 33,6765 x ER 20

MC PR = - 5,4355 + 231,11 x

GPCVZ - 33,6765 x ER 0,87 0,8403 <.0001 0,0786 18

F PR = - 5,4355 + 224,49 x

GPCVZ - 33,6765 x ER 15

MI = machos inteiros; MC = machos castrados; F = fêmeas;

PR = proteína retida.

ER = energia retida.

kpg = eficiência de utilização da proteína para ganho de peso.

PCVZ = peso de corpo vazio.

GPCVZ = ganho de peso de corpo vazio.

y = - 1,0579 + 0,153x

R² = 0,7054

-0,4

-0,2

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

0,0 5,0 10,0 15,0PR

(g/k

g P

C0,7

5/d

ia)

CPM (g/kg PC0,75 /dia)

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QME = quadrado médio do erro.

Neste estudo, os cordeiros pesando 30 kg com GMD de 200 g apresentaram

requerimentos de PLg de 12,75; 12,78 e 11,11 g/dia para machos inteiros, machos

castrados e fêmeas, respectivamente. Observou-se que as exigências de PLg

decresceram de acordo com o aumento do peso corporal. Isso pode ser explicado porque

à medida que a deposição de gordura no corpo do animal aumenta, a concentração de

proteína estabiliza (ARC, 1980), refletindo a redução da exigência da PLg em função do

aumento do PC, como apresentado na tabela 6. Diferenças nas taxas de maturidade

corporal geram valores diferentes para PLg (RODRIGUES et al., 2015; GALVANI et

al., 2009).

Tabela 6 - Exigências de proteína líquida para ganho de peso (g/dia) em cordeiros

Morada Nova de diferentes classes sexuais

PC (kg) PCVZ (kg) Classes sexuais Ganho médio diário (g)

50 100 150 200

15 10,69 MI 2,31 8,48 14,57 20,60

15 10,96 MC 2,35 8,56 14,70 20,81

15 11,43 F 2,26 8,79 15,34 21,89

20 14,85 MI 1,57 7,08 12,48 17,81

20 15,20 MC 1,58 7,11 12,56 17,96

20 15,83 F 1,16 6,78 12,41 18,06

25 19,00 MI 0,88 5,77 10,53 15,21

25 19,44 MC 0,86 5,76 10,56 15,30

25 20,23 F 0,14 4,90 9,69 14,49

30 23,16 MI 0,23 4,53 8,69 12,75

30 23,68 MC 0,18 4,48 8,67 12,78

30 24,63 F 0,08 3,12 7,11 11,11

PC = peso corporal.

PCVZ = peso de corpo vazio.

MI = machos inteiros.

MC = machos castrados.

F = fêmeas.

A eficiência de uso da proteína maior nos machos inteiros e menor nas

fêmeas, pode estar relacionado à maior deposição de tecido magro no corpo que machos

inteiros apresentam quando comparados aos machos castrados, e estes às fêmeas

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(BERG; BUTTERFIELD, 1976), assim como observado neste estudo. A proteína

metabolizável inclui os aminoácidos verdadeiramente disponíveis no intestino delgado

oriundos da proteína microbiana verdadeira e da proteína não degradável no rúmen

digestível (AFRC, 1993). A eficiência do uso da proteína metabolizável apresenta

correlação positiva com o valor biológico da proteína (CANTALAPIEDRA-HIJAR et

al., 2015), assim, baixos valores de kpg podem estar relacionados ao desbalanço da

relação proteína:energia da dieta (AWAWDEH et al., 2006).

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4 CONCLUSÃO

O requerimento de proteína líquida para mantença é semelhante entre as

classes sexuais quando cordeiros Morada Nova são abatidos jovens e a exigência de

proteína líquida para ganho diminui com o aumento do peso corporal dos animais.

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