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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
ANA CAROLINE PIRES MIRANDA
CONSTRUÇÃO DE DISPOSITIVOS LEGAIS E AGENTES EM DISPUTA: o debate
em torno do novo Código Florestal Brasileiro
São Luís – MA
Maio de 2016
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
ANA CAROLINE PIRES MIRANDA
CONSTRUÇÃO DE DISPOSITIVOS LEGAIS E AGENTES EM DISPUTA: o debate
em torno do novo Código Florestal Brasileiro
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Ciências Sociais – PPGCSoc/UFMA,
como requisito para obtenção do grau de Doutora em
Ciências Sociais.
Orientador: Prof. Dr. Horácio Antunes de Sant‘Ana
Júnior
São Luís – MA
Maio de 2016
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Miranda, Ana Caroline Pires.
Construção de dispositivos legais e agentes em disputa: o debate em torno
do novo Código Florestal Brasileiro / Ana Caroline Pires Miranda ._ São
Luís,2016.
334f.
Orientador: Prof.Dr. Horácio Antunes de Sant’Ana Júnior.
Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Maranhão, Programa de Pós-
Graduação em Ciências Sociais, 2016.
1.Construção Social – Questão ambiental – Preservação ambiental.
2.Produção agrícola. 3. Código Florestal. I.Título.
CDU 3 : 349.6
4
CONSTRUÇÃO DE DISPOSITIVOS LEGAIS E AGENTES EM DISPUTA: o debate
em torno do novo Código Florestal Brasileiro
ANA CAROLINE PIRES MIRANDA
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Ciências Sociais – PPGCSoc/UFMA,
como requisito para obtenção do grau de Doutora em
Ciências Sociais.
Aprovada em: ____/____/____
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Prof. Dr. Horácio Antunes de Sant‘Ana Júnior
(PPGSOC/UFMA)
_____________________________________________
Profª. Dra. Cindia Brustolin
(DSOC/UFMA)
_____________________________________________
Prof. Dr. Joaquim Shiraishi Neto
(PPGDIR/UFMA)
_____________________________________________
Prof. Dr. Marcelo Domingos Sampaio Carneiro
(PPGSOC/UFMA)
_____________________________________________
Profª. Dra. Maria José da Silva Aquino Teisserenc
(PPGCS/UFPA)
5
AGRADECIMENTOS
Na elaboração de um trabalho acadêmico sempre dependemos da ajuda, do estímulo,
do encorajamento e de sugestões para seguir adiante. Na construção desta tese pude contar
com vários desses incentivos e, muito embora não possa mencionar todos que, de um ou outro
modo, me ajudaram nesta caminhada, gostaria de fazer alguns agradecimentos especiais.
Agradeço de início ao meu orientador Dr. Horácio Antunes de Sant‘Ana Júnior, por
todos os anos de parceria e de ensinamentos – que muito extrapolam os saberes e
conhecimentos acadêmicos – pela confiança depositada e pela leitura sempre crítica e
paciente dos vários rascunhos deste trabalho. Que esta tese, longe de ser um ponto final, possa
significar a continuidade dos diálogos tão produtivos e estimulantes que sempre tivemos.
Agradeço também aos professores da Universidade Federal do Maranhão, em especial,
ao Dr. Marcelo Sampaio Carneiro, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Dr.
Joaquim Shiraishi, do Programa de Pós-graduação em Direito e Dra. Cindia Brustolin, do
Departamento de Sociologia e Antropologia, profissionais quem tive discussões substanciais
por ocasião da qualificação da tese e que, com seus olhares e sugestões, me ajudaram a
dialogar com o material de pesquisa apresentado.
Agradeço ainda aos professores Dr. Stéphane Gueneau, pesquisador do CIRAD e
Maria José de Aquino Teisserenc e Jean-Pierre Teisserenc, professores da Universidade
Federal do Pará, pelas contribuições e sugestões realizadas.
Agradeço à CAPES pela concessão da bolsa de doutorado e pela oportunidade de
participar do Programa Doutorado Sanduíche junto ao Laboratório Eco-Anthropologie et
Ethnobiologie do Museum National d'Histoire Naturelle (MNHN), em Paris, França.
Sou extremamente grata ao professor Dr. Julien Blanc, do Museum National d'Histoire
Naturelle, pela recepção em Paris, pela disponibilidade em discutir aspectos importantes deste
trabalho, pelo auxílio nas questões burocráticas atinentes a realização do meu estágio doutoral
e, ainda, por possibilitar contato com importantes pesquisadores do MNHN para a
continuidade da pesquisa.
Dentre estes pesquisadores, agradeço a Dra. Elise Demeulenaere e Dr. Igor Babou, do
Laboratório Eco-Anthropologie et Ethnobiologie e, em especial, a Dra. Catherine Aubertin,
do Laboratório Patrimoines Locaux et Gouvernance, que levantaram importantes questões
sobre os objetivos e a metodologia do meu trabalho e me levaram a rever meus temas e
recortes de pesquisa.
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Tenho que agradecer àqueles que facilitaram meu trânsito nas instituições de ensino
francesas, em especial ao professor Sylvain Tanquerel, da École des Hautes Études en
Sciences Sociales (EHESS) e a Taouès Lahen, do MNHN.
Agradeço aos gestores e professores do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do
Maranhão, que entenderam a necessidade do meu afastamento das atividades docentes do
instituto, no ano de 2015, e contribuíram para que o mesmo fosse alcançado.
Aos meus amigos, que tornaram esta jornada menos tensa e que me ajudaram de
diferentes maneiras a enfrentá-la, sou eternamente grata. Agradeço a Alessandra Fuji, um
―anjo‖ que me deu um grande empurrão para a conclusão desta tese; a Ana Rita Vidica, com
quem compartilhei as alegrias, descobertas e reflexões que a experiência do doutorado
sanduíche suscita e a Maria Elizia e a Rafael Castanheira, pelas muitas conversas produtivas e
estimulantes.
Agradeço a Jerlane Caldas, pela parceria sincera nos vários momentos desta trajetória
e por não medir esforços para ajudar no que fosse possível e a Cláudia Mendes, pelas palavras
reconfortantes nos momentos oportunos. Estendo os agradecimentos a Leonildes Aguiar,
Neemias Lacerda, Ronaldo Pizzatto, Huérllen Vicente e Inara Fernanda e demais professores
e amigos do IFMA que muito torceram pela conclusão deste trabalho.
Aos amigos do programa da graduação e da pós graduação em Ciências Sociais, que
sempre me estimularam, agradeço a Carla Georgea, Regimeire Maciel, Daisy Damasceno,
Jorge Luiz, Josédla Fraga, Maiâna Roque e Viviane Pedro que, em diferentes momentos me
estimularam a seguir adiante.
Agradeço especialmente a Dayana Delmiro, Lenir Moraes e Karla Suzy, por
compartilharem as alegrias e dificuldades da condição de ―doutoranda‖ e pelos exemplos,
ensinamentos e lições de superação de cada uma, que muito me inspiraram. Sou grata em
especial a Dayana, pelas dicas, apoio necessário e pela torcida na concretização de vários
planos e projetos.
Agradeço a Osmar Moraes, que sempre torceu de forma sincera para que eu não
esmorecesse diante dos obstáculos e por me fazer ver como mais leveza e gratidão os
acontecimentos da vida.
Agradeço por fim aos meus pais, Antonio José Bernardo Miranda e Maria das Graças
Pires Miranda, e meus irmãos, Marco Antônio e Ana Karine, pela ajuda, compreensão e
companhia sempre presentes, mesmo à distância. Obrigada por fazerem parte da minha vida.
7
RESUMO
Considerando que a discussão sobre a questão ambiental no Brasil encontra-se em processo de
reformulação, com reflexos diretos na legislação ambiental nacional, analisa-se nesta tese o
processo legislativo de discussão, votação e aprovação da Lei nº 12.651, de 25 de maio de
2012, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa e revoga o Código Florestal Brasileiro
de 1965. O foco desta análise recai sobre os grupos parlamentares, especialmente deputados
federais e senadores da república. Considerando o debate legislativo como um espaço de lutas
e de disputas, objetiva-se investigar as estratégias e os discursos realizados pelos
parlamentares, que se articularam, formal e informalmente, para que suas teses e visões
alcançassem legitimidade e fossem incorporadas no processo de construção do novo texto
legal. Para alcançar este objetivo, realizamos os seguintes procedimentos: análise histórica do
pensamento ambiental brasileiro e dos principais diplomas legislativos voltados para a
proteção dos recursos florestais editados no Brasil; mapeamento dos agentes e grupos de
pressão que se articularam no Congresso Nacional para a votação do projeto de lei que alterou
o Código Florestal; investigação das principais modificações processadas no texto da lei em
comparação aos Códigos Florestais editados em 1934 e 1965; identificação e análise do
processo de produção e uso do conhecimento científico no debate em torno da revisão do
Código Florestal; análise do papel da mídia no processo de reforma da legislação florestal;
análise dos pronunciamentos dos parlamentares, proferidos no período compreendido ente
2007 e 2015 (53ª e 54ª legislatura) e registrados em notas taquigráficas no site da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal. Utilizou-se como procedimentos metodológicos a revisão
bibliográfica sobre questão ambiental e legislação florestal; pesquisa dos repertórios
biográficos dos deputados federais e senadores junto ao site do Congresso Nacional e do
Senado Federal; análise de estudos, relatórios e pareceres produzidos por instituições e
agências de pesquisa e pelas comissões especiais no âmbito do poder legislativo e análise das
notas taquigráficas dos discursos proferidos pelos parlamentares em plenário. A partir da
abordagem construcionista, concluímos que o Código Florestal Brasileiro foi alterado por
grupos conservadores para se adequar a interesses industriais e empresariais do setor agrícola.
Palavras-chave: Construção Social. Questão Ambiental. Preservação Ambiental. Produção
Agrícola. Código Florestal.
8
RÉSUMÉ
Considérant que la discussion des questions environnementales au Brésil est en cours de
réformation, avec un retentissement direct sur la législation environnementale nationale, on
analyse dans cette thèse le processus législatif de la discussion, le vote et l'approbation de la
Loi nº12.651 du 25 mai 2012, qui prévoit la protection de la végétation indigène et révoque le
Code Forestier Brésilien de 1965. Le but de cette analyse concerne les groupes
parlementaires, notamment les députés fédéraux et sénateurs de la république. Compte tenu
du débat législatif comme un espace de luttes et de conflits, dans lequel différentes arènes se
croisent, l'objectif est d‘investiguer les stratégies et les discours proférés par les
parlementaires qui se sont articulés, formelle et informellement, de sorte que leurs points de
vue atteignent la légitimité et soient incorporés dans le processus de construction du nouveau
texte légal. Pour ce faire, nous avons réalisé les procédures suivantes: l'analyse historique de
la pensée environnementale brésilienne et des principaux éléments de la législation visant à
protéger les ressources forestières éditées au Brésil; identification des agents de et des groupes
de pression qui se sont articulés dans le Congrès National pour le vote sur le projet de loi qui
a modifié le Code Forestier; scrutation des changements majeurs traités dans texte de la loi en
comparaison aux Codes Forestiers édités en 1934 et 1965; identification et analyse du
processus de production et d‘utilisation des connaissances scientifiques dans le débat autour
de la révision du Code Forestier; analyse du rôle des médias dans le processus de réforme de
la législation forestière; analyse des déclarations des parlementaires, proférées entre 2007 et
2015 (53ème
et 54ème
législature) et enregistrées en notes sténographiques sur le site de la
Chambre des Députés et du Sénat Fédéral. On a utilisé comme procédures méthodologiques la
révision bibliographique sur les questions environnementales et la législation forestière;
recherche des répertoires biographiques des députés fédéraux et des sénateurs auprès du site
Web du Congrès National et du Sénat Fédéral; analyse des études, des rapports et des avis
produits par des institutions et des organismes de recherche et des comités spéciaux dans le
domaine du pouvoir législatif, recherches dans des journaux et magazines au sujet de la
modification législative et l'analyse des notes sténographiques des discours proférés par les
parlementaires en séance plénière. À partir de l'approche constructiviste, nous concluons que
le Code forestier brésilien a été modifiée par des groupes conservateurs en fonction des
intérêts industriels et commerciaux du secteur agricole.
Mots-clés: Construction sociale. Questions environnementales. Protection de
l'environnement. Production agricole. Code forestier.
9
ABSTRACT
Considering the discussion of environmental issues in Brazil is in redesign process, with
direct impact on national environmental legislation is analyzed in this thesis the legislative
process of discussion, voting and approval of Law nº. 12.651 of May 25, 2012, which
provides for the protection of native vegetation and repealing the Brazilian Forest Code of
1965. The focus of this analysis lies with the parliamentary groups, especially deputies and
senators of the republic. Considering the legislative debate as a space of struggles and
disputes, in which different arenas to intersect, aims to investigate the strategies and speeches
by parliamentarians who were articulated, formally and informally, so that their views
reached legitimacy and were incorporated into the construction of the new legal text process.
To accomplish this, we perform the following: historical analysis of the Brazilian
environmental thinking and the main pieces of legislation aimed at protecting the edited forest
resources in Brazil; mapping agents and pressure groups that are articulated in the National
Congress for the vote on the bill amending the Forest Code; investigation of major changes
processed in the law compared to the Forestry Code published in 1934 and 1965;
identification and analysis of the production process and use of scientific knowledge in the
debate on the revision of the Forest Code; the role of media analysis in the reform process of
forest legislation; analysis of statements of parliamentarians, delivered in the period being
2007 and 2015 (53rd and 54th legislature) and recorded in shorthand notes on the site of the
House of Representatives and the Federal Senate. It was used as the methodological
procedures literature review on environmental issues and forestry legislation; Search
biographical repertoires of federal deputies and senators from the website of the National
Congress and the Senate; analysis of studies, reports and opinions produced by institutions
and research agencies and special committees in the legislature, research in newspapers and
magazines about the legislative amendment and analysis of shorthand notes of speeches by
parliamentarians in plenary. From the constructionist approach, we conclude that the Brazilian
Forest Code was amended by conservative groups to suit industrial and business interests of
the agricultural sector.
Keywords: Social construction. Environmental Issues. Environmental preservation.
Agricultural production. Forest Code.
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LISTA DE SIGLAS
ABAG Associação Brasileira do Agribusiness
ABC Academia Brasileira de Ciência
AC Acre
ACP Associação Comercial do Paraná
ACRIMAT Associação dos Criadores de Mato Grosso
ACRISSUL Associação dos Criadores do Mato Grosso do Sul
ADP Avoided Deforestation Partners
AGROPOSOJA Associação dos Produtores de Soja do Estado do Mato Grosso
AL Alagoas
AM Amazonas
AMFRO Associação dos Municípios da Fronteira Oeste
AMPA Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão
ANDES Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior
AP Amapá
APEOESP Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo
APP Área de Preservação Permanente
APR MT Associação dos Produtores Rurais do Mato Grosso
ARENA Aliança Renovadora Nacional
ASSOBRASC Associação Brasileira dos Concessionários Scania
BA Bahia
CAPADR Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento
Rural
CCJC Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania
CCTCI Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática
CCULT Comissão de Cultura
CDC Comissão de Defesa do Consumidor
CDEIC Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio
CDHM Comissão de Direitos Humanos e Minorias
CDU Comissão de Desenvolvimento Urbano
CE Comissão de Educação
CE Ceará
CESPO Comissão do Esporte
CFFC Comissão de Fiscalização Financeira e Controle
CFT Comissão de Finanças e Tributação
CIEC Coordenação Interestadual de Ecologistas para a Constituinte
CINDRA Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da
Amazônia
CIRAD Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o
Desenvolvimento
CLP Comissão de Legislação Participativa
CMADS Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
CME Comissão de Minas e Energia
CNA Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
CNM Confederação Nacional de Municípios
CNPQ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente
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CONTAG Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
CPD Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência
CRB Confederação Rural Brasileira
CREDN Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional
CSPCCO Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado
CSSF Comissão de Seguridade Social e Família
CTASP Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público
CTUR Comissão de Turismo
CVT Comissão de Viação e Transportes
DEM Democratas
DF Distrito Federal
DIAP Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar
EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EMBRATER Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural
ES Espírito Santo
ESALQ Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
FAEP Federação da Agricultura do Estado do Paraná
FAMEP Federação das Associações dos Municípios do Estado do Pará
FBCN Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza
FBOMS Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente
e Desenvolvimento
FIEP Federação das Indústrias do Paraná
FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
GO Goiás
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IFFA Imperial Instituto Fluminense da Agricultura
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INESC Instituto de Estudos Socioeconômicos
IPAM Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
ISA Instituto Socioambiental
ITR Imposto Territorial Rural
MA Maranhão
MG Minas Gerais
MNP Movimento Nacional dos Produtores
MP Medida Provisória
MS Mato Grosso do Sul
MST Movimento dos Sem Terra
MT Mato Grosso
NFU National Farmers Union
OCB Organização das Cooperativas Brasileiras
OCEPAR Organização das Cooperativas do Estado do Paraná
ONU Organização das Nações Unidas
PA Pará
PB Paraíba
PDC Partido Democrata Cristão
PDS Partido Democrático Social
PDT Partido Democrático Trabalhista
PE Pernambuco
PEC Proposta de Emenda Constitucional
12
PI Piauí
PIB Produto Interno Bruto
PL Partido Liberal
PL Projeto de Lei
PLP Projeto de lei Complementar
PMN Partido da Mobilização Nacional
PNRA Plano Nacional de Reforma Agrária
PP Partido Progressista
PPB Partido Progressista Brasileiro
PR Partido da República
PR Paraná
PRN Partido da Reconstrução Nacional
PSB Partido Socialista Brasileiro
PSD Partido Social Democrático
PSDB Partido da Social Democracia Brasileira
PT Partido dos Trabalhadores
PV Partido Verde
RJ Rio de Janeiro
RL Reserva Legal
RN Rio Grande do Norte
RO Rondônia
RR Roraima
RS Rio Grande do Sul
SAIN Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional
SC Santa Catarina
SE Sergipe
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SNA Sociedade Nacional da Agricultura
SP São Paulo
SPBC Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
SRB Sociedade Rural Brasileira
TI Terras Indígenas
TO Tocantins
TSE Tribunal Superior Eleitoral
UC Unidades de Conservação
UDR União Democrática Ruralista
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
UICN União Internacional para a Conservação da Natureza
UNE União Nacional dos Estudantes
UNICA União da Agroindústria Canavieira de São Paulo
USP Universidade de São Paulo
WWF World Wide Fund For Nature
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LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Frentes Parlamentares registradas na 53ª Legislatura (2007-2011) 93
Gráfico 2 Frentes Parlamentares registradas na 54ª Legislatura (2011-2015) 93
Gráfico 3 Bancada ruralista na 53ª (2007-2011) e 54ª (2011-2015) legislaturas 108
Gráfico 4 Reeleição dos parlamentares integrantes da bancada ruralista na 54ª
legislatura (2011-2015)
108
Gráfico 5 Quantidade de mandatos exercidos pelos parlamentares da bancada
ruralista incluindo dados da 55ª legislatura (2015-2019)
109
Gráfico 6 Bancada ruralista na 54ª legislatura (2011-2015) segundo filiação
partidária
111
Gráfico 7 Bancada ruralista na 54ª legislatura (2011-2015) segundo unidade da
federação
112
Gráfico 8 Bancada ruralista na 54ª (2011-2015) legislatura por gênero 113
Gráfico 9 Bancada ruralista na 54ª legislatura (2011-2015) segundo nível de
escolaridade
114
Gráfico 10 Cursos superiores dos parlamentares da bancada ruralista na 54ª
legislatura (2011-2015)
115
Gráfico 11 Bancada ruralista na 54ª legislatura (2011-2015) segundo atividade
profissional
116
Gráfico 12 Indicação de atividades rurais exercidas pelos parlamentares da
Bancada ruralista na 54ª legislatura (2011-2015)
117
Gráfico 13 Bancada ambientalista na 53ª (2007-2011) e 54ª (2011-2015)
legislaturas
143
Gráfico 14 Reeleição dos parlamentares integrantes da bancada ruralista na 54ª
legislatura (2011-2015)
143
Gráfico 15 Quantidade de mandatos exercidos pelos parlamentares da bancada
ambientalista incluindo dados da 55ª legislatura (2015-2019)
144
Gráfico 16 Bancada ambientalista na 54ª legislatura (2011-2015) segundo
filiação partidária
145
Gráfico 17 Bancada ambientalista na 54ª legislatura (2011-2015) segundo
unidade da federação
145
Gráfico 18 Bancada ambientalista na 54ª (2011-2015) legislatura por gênero 146
Gráfico 19 Bancada ambientalista na 54ª legislatura (2011-2015) segundo nível
de escolaridade
146
Gráfico 20 Cursos superiores dos parlamentares da bancada ambientalista na 54ª
legislatura (2011-2015)
147
Gráfico 21 Bancada ambientalista na 54ª legislatura (2011-2015) segundo
atividade profissional
148
14
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Principais Bancadas no Congresso Nacional (2011) 91
Quadro 2 Tramitação do PL 1.876/1999 na Câmara Federal (novembro de 1999
a setembro de 2009)
174
Quadro 3 Composição da Comissão Especial destinada a proferir parecer ao
Projeto de Lei nº 1.876/1999
176
Quadro 4 Parlamentares contrários às alterações propostas pelo Senado 189
Quadro 5 Parlamentares favoráveis às alterações propostas pelo Senado 191
Quadro 6 Cronologia do Código Florestal de 2012 194
Quadro 7 Comparação entre os Códigos Florestais de 1934, 1965 e 2012 200
Quadro 8 Artigos da Lei 12.651/2012 vetados pela Presidente da República 201
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Resultado do processo de votação do relatório do Senado Federal na
Câmara dos Deputados
192
Tabela 2 Alcance Territorial das Unidades de Conservação, Terras Indígenas e
Reserva Legal
220
Tabela 3 Aumento cumulativo da receita da agricultura e extração de madeira
dos EUA com o fim do desmatamento, 2012-2013
227
Tabela 4 Resultado da busca ―código florestal‖ no site do Congresso Nacional
(2007-2015)
266
15
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 17
1 A QUESTÃO AMBIENTAL E A CONSTRUÇÃO DA LEGISLAÇÃO FLORESTAL
BRASILEIRA ......................................................................................................................... 33
1.1 Política de proteção florestal no Brasil e desenvolvimento do pensamento ambiental brasileiro 37
1.2 Contexto histórico da legislação ambiental e edição dos Códigos Florestais de 1934 e 1965 no
Brasil ................................................................................................................................................. 49
1.3 A discussão internacional sobre a questão ambiental e os reflexos na elaboração de dispositivos
legais em âmbito nacional ................................................................................................................. 66
2 DISPUTAS E INTERESSES NO CONGRESSO NACIONAL BRASILEIRO:
mapeando os grupos e agentes em confronto no processo de alteração do Código
Florestal ................................................................................................................................... 85
2.1 Processo legislativo no Brasil e a formação de frentes parlamentares e bancadas suprapartidárias
........................................................................................................................................................... 88
2.2 Bancada Ruralista e defesa do agronegócio ................................................................................ 95
2.2.1 Parlamentares identificados como pertencentes à Bancada Ruralista .............................. 105
2.2.1.1 Perfis emblemáticos dos parlamentares da Bancada Ruralista ...................................... 118
2.3 Frente Parlamentar Ambientalista, Bancada Ambientalista e interesses difusos ...................... 139
2.3.1 Parlamentares identificados como pertencentes à Bancada Ambientalista ...................... 142
2.3.1.1 Perfis emblemáticos dos parlamentares da Bancada Ambientalista .............................. 149
3 (DES)CONSTRUÇÃO DO CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO: análise do
processo de reforma da legislação florestal ........................................................................ 161
3.1 Reformas e alterações na Lei nº 4.771/1965: transformações do Código Florestal de 1965 antes
da sua revogação ............................................................................................................................. 166
3.2 Análise do Parecer do Deputado Aldo Rebelo ao Projeto de Lei 1.876/1999 e sua aprovação na
Comissão Especial .......................................................................................................................... 173
3.3 Aprovação da Lei nº 12.651/2012: instrumentos e modificações do Código Florestal de 2012
......................................................................................................................................................... 193
4 OS USOS DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO NO PROCESSO DE ALTERAÇÃO
DA LEGISLAÇÃO FLORESTAL BRASILEIRA ............................................................ 204
4.1 Instituições de pesquisa brasileiras e contribuições para o debate ............................................ 210
4.2 Disponibilidade de terras para a agricultura: estudos e pesquisas nacionais sobre meio ambiente
e produção agrícola ......................................................................................................................... 218
4.3 ―Fazendas aqui, florestas lá‖: instituições internacionais e os interesses na conservação das
florestas tropicais ............................................................................................................................ 226
16
5 CONSTRUÇÃO MIDIÁTICA DO PROCESSO DE ALTERAÇÃO DO CÓDIGO
FLORESTAL ........................................................................................................................ 234
5.1 Revista Agroanalysis e o discurso unidirecional sobre o agronegócio ..................................... 238
5.2 Jornal Valor Econômico e as diferentes perspectivas sobre a alteração da legislação florestal 247
6 PRESERVAÇÃO AMBIENTAL X PRODUÇÃO AGRÍCOLA: os discursos sobre o
Código Florestal no Congresso Nacional ............................................................................ 264
6.1 ―O agronegócio é o único setor que está brilhando neste País‖ ................................................ 268
6.2 ―Há muita boca para alimentar no Brasil e no mundo, e eu nunca vi ninguém produzir no ar‖ 273
6.3 ―O Brasil, de certa forma, é devedor daqueles que suam a camisa na luta do dia a dia para
produzir alimentos‖ ......................................................................................................................... 278
6.4 ―Uma visão técnica, jurídica e agronômica‖ ............................................................................. 283
6.5 ―O Código antiquado era uma espada no pescoço dos agricultores‖ ........................................ 287
6.6 ―Quem são os vilões do meio ambiente?‖ ................................................................................. 294
6.7 ―Nós queremos um desenvolvimento sustentável, um equilíbrio entre produzir e preservar‖ .. 298
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 305
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 311
ANEXO I – PARLAMENTARES INTEGRANTES DA BANCADA RURALISTA
ELEITOS NA 54ª LEGISLATURA (2011-2015)............................................................... 321
ANEXO II – PARLAMENTARES INTEGRANTES DA BANCADA
AMBIENTALISTA ELEITOS NA 54ª LEGISLATURA (2011-2015) ........................... 322
ANEXO III – DEPUTADOS FEDERAIS INTEGRANTES DA FRENTE
PARLAMENTAR DA AGROPECUÁRIA NA 54ª LEGISLATURA (2011-2015) ........ 323
ANEXO IV – DEPUTADOS FEDERAIS INTEGRANTES DA FRENTE
PARLAMENTAR AMBIENTALISTA NA 54ª LEGISLATURA (2011-2015) ............. 325
ANEXO V – AUDIÊNCIAS PÚBLICAS REALIZADAS PELA COMISSÃO
ESPECIAL (2009-2010) ....................................................................................................... 327
17
INTRODUÇÃO
A questão ambiental tem passado por variados processo de reconfiguração,
redefinindo os posicionamentos e discursos de diferentes agentes na arena pública sobre a
temática. Neste contexto e como reflexo desta reconfiguração, a legislação ambiental
brasileira tem sofrido inúmeras modificações, nas quais se percebe que grupos econômicos e
políticos setoriais, que se fazem representar com bastante peso nos espaços decisórios,
buscam sobrepor os seus interesses nesse processo.
Diante dessa constatação, a presente tese busca discutir os posicionamentos
manifestados por ocasião das recentes alterações da legislação ambiental brasileira, tendo
como caso emblemático o processo de discussão, votação e aprovação da Lei nº 12.651, de 25
de maio de 2012, que dispôs sobre a proteção da vegetação nativa e revogou a Lei nº 4.771,
de 15 de setembro de 19651, o Código Florestal Brasileiro.
Entendemos que a identificação dos interesses dos diferentes agentes em disputa,
assim como das lógicas que foram consagradas e legitimadas no processo de alteração do
Código Florestal, possibilita perceber em que medida tais modificações indicam uma nova
forma de regulação dos recursos naturais e, consequentemente, podem vir a influenciar
mudanças significativas no arcabouço jurídico e legislativo que versa sobre matéria
ambiental.
No que se refere especificamente ao processo de discussão e aprovação da lei florestal
brasileira – envolvendo disputas políticas entre detentores de mantados parlamentares,
representantes dos movimentos sociais de defesa do meio ambiente, pesquisadores ligados a
universidades e instituições de pesquisa, representantes das esferas públicas e setores da
iniciativa privada – podemos constatar que regularidades discursivas são frequentemente
acionadas na temática ambiental, assim como são manifestados interesses os mais variados
nesse processo.
Diante dessa diversidade de agentes e grupos atuantes nesta questão, bem como a
pluralidade de argumentos acionados por cada um destes, pretende-se nesta tese focalizar os
posicionamentos, discursos e visões sobre a questão ambiental dos agentes do legislativo
brasileiro, mais precisamente, dos deputados federais e senadores que participaram
ativamente do processo de discussão, votação e aprovação da legislação florestal,
1Destaca-se que a Lei 4.771/1965 refere-se ao segundo Código Florestal na legislação brasileira, sendo o
primeiro instituído pelo Decreto nº 23.793, de 23 de janeiro de 1934.
18
principalmente daqueles vinculados às frentes parlamentares e às bancadas ruralistas e
ambientalistas atuantes no Congresso Nacional.
Centraremos a análise nos perfis e nos discursos dos parlamentares taquigrafados
entre os anos de 2007 e 2015, assim como em materiais produzidos por agências e
instituições de pesquisa sobre a discussão do Código Florestal, em especial estudos,
relatórios e pareceres que fundamentaram as votações legislativas. Também recorreremos,
de maneira subsidiária, à análise dos perfis de alguns senadores que tiveram destacada
atuação na discussão sobre a alteração da legislação.
Deste modo, o objetivo central desta tese é analisar, através das visões sobre meio
ambiente, os discursos e os pressupostos sobre os quais se pautaram os parlamentares para
alteração do Código Florestal, bem como demonstrar como o espaço legislativo produz e
reproduz estruturas de poder. Pretende-se assim identificar quais os pressupostos relativos à
discussão ambiental foram legitimados no debate de alteração legislativa, de que modo os
mesmos foram acionados na discussão sobre a questão ambiental no Brasil e quais foram
censurados e silenciados.
Assim, para alcançarmos os objetivos acima delineados, a pesquisa foi desenvolvida a
partir de algumas etapas e procedimentos, quais sejam: a) o levantamento de material
bibliográfico junto ao banco digital de teses e dissertações da CAPES, com foco em pesquisas
que abordavam aspectos relativos à legislação ambiental, grupos de interesse e bancada
Ruralista no Brasil; b) levantamento e a elaboração do perfil dos principais deputados federais
e senadores identificados como integrantes das frentes parlamentares e bancadas ruralistas e
ambientalistas; c) análise dos principais instrumentos jurídicos modificados na Lei nº
12.651/2012 e comparativo entre os diferentes diplomas legais que abordam a proteção
florestal; d) levantamento e investigação dos estudos mais citados e divulgados durante o
processo de alteração da legislação florestal; e) análise do papel da mídia no processo de
veiculação da discussão sobre a alteração legislativa; f) mapeamento e análise do material
divulgado no site do Congresso Nacional e do Senado Federal no período compreendido entre
2007 e 2015 e g) levantamento e análise dos discursos dos deputados federais e senadores.
Esta última etapa foi realizada com base nos registros das manifestações ocorridas
durante as Sessões Plenárias no Congresso Nacional e do Senado Federal através das notas
taquigráficas disponibilizadas no site do congresso e do senado, com destaque para os
discursos taquigrafados dos parlamentares que mais se pronunciaram por ocasião do processo
de votação e aprovação do Código Florestal.
19
O objetivo da análise destes discursos taquigrafados foi compreender de que modo as
principais temáticas ou categorias chaves identificadas nos discursos dos parlamentares – tais
como desenvolvimento, sustentabilidade, meio ambiente, natureza, propriedade, agricultura,
recursos naturais, dentre outras – foram objeto de disputa por definições conceituais e como
foram operacionalizadas nos diferentes espaços.
Para analisar as disputas travadas e compreender como tais temáticas foram acionadas
no debate público, tomamos emprestada a noção de arena utilizada por Olivier de Sardan2
(1995). Dessa forma, e a partir do referencial citado, buscamos compreender as relações
estabelecidas entre os diferentes agentes – parlamentares, integrantes de movimentos sociais,
pesquisadores e cientistas, dentre outros – como uma arena de disputa, na qual grupos
heterogêneos estratégicos se chocaram no debate, movidos por interesses (materiais ou
simbólicos) dos quais se colocavam como representantes e porta-vozes oficiais.
Assim, no debate em torno do processo de discussão e aprovação da Lei 12.651/2012,
privilegiamos a identificação e analisamos os discursos adotados pelos diferentes agentes nas
arenas públicas, bem como dos recursos utilizados por eles para legitimar seus
posicionamentos e tomadas de decisão, no intuito de obter poder e legitimidade e, sobretudo,
difundir suas visões de mundo como universais.
Embora centremos nossa análise nos debates estabelecidos no espaço legislativo,
buscamos não perder de vista as controvérsias que se configuraram e reconfiguraram no
período supracitado e que extrapolaram este espaço. Assim, considerando que a disputa em
questão engloba também agentes externos ao legislativo – haja vista envolver interesses
ligados ao agribusiness e ao movimento ambientalista nacional e internacional – tentaremos,
na medida do possível, reconstruir esta arena mais ampla de disputas.
Para alcançarmos este intuito, a abordagem construtivista – que privilegia como, em
diferentes arenas públicas, a questão ambiental é construída tanto pela mídia como pela
ciência – será extremamente válida. Esta abordagem permite perceber o processo ativo de
descoberta, nomeação, argumentação, reconhecimento e legitimação dos chamados problemas
ambientais.
Assim sendo, conforme destaca Hannigan (2009), os problemas ambientais passam
por um processo que, longe de serem passivos e evidentes, são construídos socialmente,
2
Conforme Olivier de Sardan (1995, p. 228), ―Le concept d' ‗arène met en jeu ces deux acceptions de ‗pouvoir‘.
Dans une arène, des groupes stratégiques hétérogènes s'affrontent, mus par des intérêts (matériels ou
symboliques) plus ou moins compatibles, les acteur sétant tous dotés de pouvoirs relationnels plus ou moins
inégalement distribués‖.
20
devendo o trabalho sociológico evidenciar o processo de construção de argumentos e
processos de argumentação correspondentes.
Nesse mesmo sentido, Lenoir (1996, p. 84) afirma a necessidade de questionar as
representações pré-estabelecidas sobre o objeto de estudo sociológico, de modo a livrar-se do
peso das definições instituídas e perceber os princípios de classificação implicados no
trabalho social de produção da realidade. Ainda segundo o autor:
Embora um problema social seja, como toda problemática sociológica, o
produto de uma construção, acontece que seus princípios são diferentes. Um
problema social não é somente o resultado do mau funcionamento da
sociedade (...) mas pressupõe um verdadeiro ―trabalho social‖ que
compreende duas etapas essenciais: o reconhecimento e a legitimação do
―problema‖ como tal. Por um lado, seu ―reconhecimento‖: tornar visível
uma situação particular, torná-la como se diz ―digna de atenção‖ pressupõe a
ação de grupos socialmente interessados em produzir uma nova categoria de
percepção do mundo social a fim de agirem sobre o mesmo. Por outro lado,
sua legitimação: esta não é necessariamente induzida pelo simples
reconhecimento público do problema, mas pressupõe uma verdadeira
operação de promoção para inseri-lo no campo das preocupações ―sociais‖
do momento. Em suma, a essas transformações objetivas, sem as quais o
problema não seria levado em consideração, acrescenta-se um trabalho
específico de enunciação e formulação públicas, ou seja, uma operação de
mobilização: as condições sociais de tal mobilização e de seu sucesso
constituem outro aspecto da análise sociológica dos problemas sociais.
A partir das contribuições desses autores, pode-se afirmar que a abordagem
construtivista pretende se afastar da perspectiva de simples identificação e aconselhamento
para localizar e resolver as questões sociais e ambientais, mas, ao contrário, busca perceber as
diferentes teias de significação nas quais se constroem as problemáticas e que envolve
processos específicos de reconhecimento, legitimação e mobilização.
Assim sendo, nesta perspectiva concebe-se que os problemas ambientais não são
condições estáticas, mas sim ―sequência de eventos desenvolvidos nas definições coletivas‖
(HANNIGAN, 2009, p. 100), processos de construção e transformação ativa, na qual são
mobilizados diferentes recursos e para o qual devem ser considerados os argumentos
levantados e o processo de argumentação correspondente. Conforme assinala Hannigan
(2009, p. 102):
Muitos estudos que vem sendo feitos no modelo socioconstrutivista tem
apontado para o papel importante dos profissionais de medicina e cientistas
na construção de argumentos para problemas sociais. Outros têm observado
a importância de empreendedores de políticas ou questões – políticos, firmas
de direito público, funcionários públicos – dos quais as carreiras dependem
em criar oportunidades, programas e recursos de investimentos. Os
argumentadores podem também residir na mídia de massa, principalmente
porque a manufatura de notícias depende de jornalistas, editores e produtores
21
constantemente procurando novas tendências, modas e questões
(HANNIGAN, 2009, p. 102).
Percebe-se, portanto, que existe uma série de fatores e agentes que corroboram com
esta construção dos problemas ambientais, de modo que, ainda segundo Hannigan (2009, p.
99), ―central na construção social das questões e problemas ambientais é a ideia de que eles
não dependem de uma série de critérios fixos, associativos e evidentes‖, haja vista que seu
progresso varia diretamente de acordo com o resultado do sucesso dos atores envolvidos
(como cientistas, industriais, políticos, funcionários públicos, jornalistas e ativistas
ambientais, dentre outros). Nesse processo, os papeis exercidos pela ciência e a mídia são de
fundamental importância, haja vista que vão atrair atenção para o problema ambiental.
Por fim, cumpre destacar alguns fatores necessários para uma construção bem
sucedida de um problema ambiental que, de acordo com Hannigan (2009, p. 117-118), são
seis: o primeiro refere-se à autoridade científica para a validação dos argumentos dos
problemas ambientais por meio de um corpo de dados provenientes das ciências físicas e
biológicas; o segundo refere-se à existência de dois ou mais popularizadores ou
empreendedores dos argumentos, com vistas a reestruturá-los ou reformulá-los para seduzir
editores, jornalistas, líderes políticos e outros formadores de opinião; o terceiro refere-se à
atenção da mídia, onde o argumento relevante é estruturado como real e importante; em
quarto lugar encontra-se a possibilidade de dramatização em termos simbólicos e visuais do
problema ambiental, por meio de imagens que provocam ―atalhos cognitivos‖ que
transformam argumentos complexos em algo compreensível e eticamente estimulante; em
quinto lugar a existência de incentivos econômicos positivos e visíveis para obter ação em um
problema ambiental e, por fim, o sexto fator de sucesso na construção de problemas
ambientais refere-se à existência de um patrocinador institucional que possa assegurar
legitimidade e continuidade para que o mesmo se torne uma agenda política e uma legislação
desejada.
No caso desta pesquisa, percebe-se que no processo de construção da problemática em
torno da reformulação da legislação florestal, os fatores relacionados à autoridade científica, à
ação de empreendedores do processo de reforma do Código Florestal bem como à repercussão
dada pela mídia ao processo de discussão e votação foram fundamentais para a configuração e
reconfiguração da arena de disputas em torno da questão ambiental.
Além destes, deve-se destacar a importância da análise dos discursos e das
representações veiculadas pelos diferentes agentes envolvidos neste debate, o que demanda
22
uma análise das propriedades daqueles que enunciam tais discursos e, ainda, das instituições e
instâncias nos quais os mesmos foram pronunciados ou publicados. Conforme Lenoir (1996,
p.88):
Se é verdade que a força (e o sentido) de um discurso resulta, por uma
grande parte, das características daquele que o faz, é importante também nos
interrogarmos sobre a ―representatividade‖ do porta voz e de sua capacidade
para ―mobilizar a opinião‖. Assim, o estudo deve incidir sobre todas as
formas de mobilização e condições que os tornem possíveis e têm como
efeito credenciar a causa, em particular, junto aos poderes públicos.
Para nos auxiliar nesta reflexão em busca da força e dos sentidos dos discursos
pronunciados por ocasião do processo de votação do Código Florestal, bem como dos porta-
vozes legitimados e capazes de mobilizar outros agentes em torno dessas questões,
recorreremos às contribuições teóricas constantes nas obras de Bourdieu (1996, 1998) e
Foucault (1995, 1999 e 2008).
Assim, utilizamos como princípios de análise as considerações de Bourdieu sobre a
―eficácia simbólica da linguagem na construção da realidade‖ (BOURDIEU, 1996, p. 125) e o
uso da ―linguagem autorizada‖3, que são utilizados para o estabelecimento do consenso sobre
o sentido e para a consagração de uma visão do mundo social, bem como a noção de
―sociedades do discursos‖ (FOUCALT, 1995) e as discussões sobre o governo sobre as
populações, constantes nas discussões sobre ―biopoder‖ e ―biopolítica‖ (FOUCAULT, 1999).
Com base nas ideias de Bourdieu (1996), acreditamos que a análise da constituição do
poder simbólico instituído a partir da linguagem ou das operações de nomeação ou, em outros
termos, sobre aquilo que pode ser dito, a maneira pelo qual pode ser dito e quem tem
legitimidade para dizê-lo, atua como importante forma de compreensão sobre processo de
constituição das causas ambientais e da consequente alteração legislativa verificada.
Segundo o autor, emerge como condição do uso legítimo da linguagem o fato de ela
ser utilizada por pessoas autorizadas a fazê-lo, conhecidas e reconhecidas por sua habilidade
em produzir este discurso, devendo ser pronunciado numa situação legítima e perante
receptores legítimos, ainda que não seja tal discurso compreendido (BOURDIEU, 1996, p.
91).
3 No que concerne à linguagem autorizada, mais do que o discurso, é importante analisar a posição social do
locutor para compreender a eficácia dos discursos. Assim, deve-se considerar que a autoridade que funda a
eficácia performativa do discurso está ancorada em um ser conhecido e reconhecido, que permite impor, ou
melhor, ―se impor como se estivesse impondo oficialmente, perante todos e em nome de todos, o consenso sobre
o sentido do mundo social que funda o senso comum‖ (BOURDIEU, 1996, p. 82).
23
Assim, analisando como se constitui o reconhecimento em torno da questão ambiental,
buscamos identificar como se construiu a autoridade de determinados agentes para se
investirem da função de porta-vozes dessas questões. Em outros termos, procuramos
evidenciar quem são os agentes autorizados a se manifestar, como eles respaldam seus
discursos e quais os meios nos quais serão difundidos no processo de votação e aprovação da
Lei 12.651/2012.
Por outro lado, a despeito de priorizarmos os discursos para a realização desta análise,
não buscamos na linguagem em si o princípio da sua eficácia simbólica, mas sim em todos os
elementos, ou propriedades sociais, daqueles que enunciam os discursos e das instituições que
os autoriza a pronunciá-los. Segundo Bourdieu:
Todos os esforços para encontrar na lógica propriamente linguística das
diferentes formas e argumentação, de retórica e de estilística, o princípio da
sua eficácia simbólica estão condenadas ao fracasso quando não logram
estabelecer a relação entre as propriedades do discurso, as propriedades
daquele que o pronuncia e as propriedades da instituição que o autoriza a
pronunciá-lo (BOURDIEU, 1996, p. 89).
Nesse sentido, destaca-se a importância de realizar um mapeamento dos agentes
públicos que se manifestaram e influenciaram no processo de discussão e alteração legal e da
análise dos seus discursos, com vistas a compreender de que forma são articulados diferentes
recursos (materiais e simbólicos) bem como identificar a quais espaços institucionais estes
agentes estão vinculados.
De outro modo, utilizamos as contribuições de Foucault (1995), na sua obra ―A ordem
do discurso‖, no que se refere ao desvendamento da relação entre as práticas discursivas e os
poderes a ela inerentes. Conforme Foucault (1995, p. 10), ―o discurso não é simplesmente
aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta,
o poder do qual nos queremos apoderar‖.
Partindo desta perspectiva, Foucault examina as diferentes formas de controle e
limitação dos discursos, tendo em vista que em todas as ―sociedades dos discursos‖
(FOUCAULT, 1995, p. 39) a sua produção é controlada, selecionada, organizada e
redistribuída por uma série de procedimentos4.
4 Dentre estes, destacam-se os procedimentos de exclusão (separação, rejeição dos discursos e vontade de
verdade) e interdição (tabu do objeto, o ritual da circunstância, o direito privilegiado ou exclusivo do sujeito que
fala), que bem se expressa na seguinte assertiva: ―sabe-se bem que não se tem o direito de dizer tudo, que não se
pode falar de tudo em qualquer circunstância, que qualquer um, enfim, não pode falar de qualquer coisa‖
(FOUCAULT, 1995, p. 09).
24
A análise desses elementos de controle e seleção dos discursos nos leva a refletir sobre
as condições de funcionamento dos discursos e os efeitos (passageiros ou duradouros5) que a
sua produção exerce, sempre considerando que o discurso está relacionado à procedimentos
ligados a um contexto histórico específico.
Considera-se, também, o poder das instituições que conferem poder ao discurso, ou
seja, a perspectiva de Foucault nos auxilia a perceber os feixes de relações entre instituições,
processos e contextos econômicos e sociais, sistemas de produção de normas e as relações
possíveis entre o campo do poder e o campo do saber.
Nesse sentido, a obra ―Em defesa da sociedade‖ (FOUCALT, 1999) nos fornece
alguns elementos para pensar as novas tecnologias de poder dos Estados modernos – mais
especificamente o biopoder, que se encarrega de gerenciar e controlar a vida das populações –
bem como pensar os reflexos deste tipo de gerenciamento e controle das populações nos
discursos sobre a alteração do Código Florestal.
Assim, a distribuição e apropriação dos discursos – e os poderes inerentes aos mesmos
– está presente no processo de alteração legislativa, no qual diferentes agentes se
manifestaram nesta disputa e utilizaram de diversificadas estratégias argumentativas em prol
da alteração ou manutenção da legislação florestal brasileira, reificando posicionamentos
comuns aos grupos aos quais pertencem e buscando legitimidade e autoridade em diferentes
meios.
Diante desses pressupostos, utilizaremos este referencial teórico no intuito de
problematizar as seguintes questões: O que foi dito pelos parlamentares neste espaço
legislativo sobre a produção agrícola e a preservação ambiental? Os discursos proferidos
pelos parlamentares visam responder a quais necessidades? Quais são os saberes
considerados autorizados para se reportar à discussão sobre a alteração da legislação
florestal? De que forma esses saberes e posições foram incorporados no novo texto legal?
Pretende-se, pois, a partir da produção dos discursos sobre a necessidade de alteração
da legislação florestal, identificar as ideias mais recorrentes e perceber, de que modo, elas são
reveladoras desta luta pela definição da questão ambiental. De igual forma, pretende-se
identificar alguns aspectos relativos às formas de mobilização dos grupos conservadores e
5 Conforme Foucault: Pode-se supor que há, muito regularmente, nas sociedades, uma espécie de desnivelamento
entre os discursos: os discursos que ―se dizem‖ no correr dos dias e das trocas, e que passam com o ato mesmo
que os pronunciou; e os discursos que estão na origem de um certo número de atos novos de fala que os
retomam, os transformam ou falam deles, ou seja, os discursos que, indefinidamente, para além de sua
formulação, são ditos, permanecem ditos e estão ainda por dizer (FOUCAULT, 1995, p. 22).
25
dominantes (AGRIKOLIANSKY; COLLOVALD, 2014), bem como as qualificações e as
propriedades sociais dos agentes que mais se manifestaram neste processo.
Deste modo, para realizaramos a análise acima delineada e apontarmos as
continuidades e rupturas presentes na discussão sobre a questão ambiental, bem como de que
modo estas se refletem na legislação ambiental brasileira, a presente tese foi organizada em
seis capítulos, além da introdução e das considerações finais.
No primeiro capítulo, procuramos identificar algumas bases que possbilitaram analisar
a questão ambiental como uma arena de disputas, na qual difentes agentes concorrem para
definição e construção desse problema (FUKS, 2002).
Procuramos assim evidenciar que existe uma rede de sociabilidade e de agentes
concorrendo para a definição desses problemas, que se constituiu no curso de séculos – e não
apenas nas últimas décadas do século XX. Nesse sentido, será sistematizado como se deu a
formação do pensamento ambiental brasileiro, sem perder de vista a relação desse pensamento
com o contexto internacional.
Para tanto, recorremos às obras de autores de diferentes formações acadêmicas que se
debruçaram sobre a reflexão da problemática ambiental no Brasil, sobretudo de José Augusto
Pádua (2002), que reconstrói as reflexões sobre a destruição ambiental desenvolvidas no país
entre os anos de 1786 e 1888; Warren Dean (2013), que trata da história crítica da exploração
econômica da Mata Atlântica no Brasil ao longo dos séculos e Teresa Urban (1998, 2001),
que aborda a história do movimento ambientalista no Brasil. Recorremos também à
dissertação de mestrado de Keila Maria Resende (2006), que reconstitui historicamente o
processo de formação da legislação florestal brasileira.
Estas obras auxiliaram no processo identificação das ideias ambientais desenvolvidas
por alguns pensadores brasileiros, em diferentes períodos históricos, bem como possibilitaram
realizar uma contextualização sobre a formação da legislação florestal no Brasil.
Essa análise histórica, ainda que resumidamente realizada, evidenciou o caráter
utilitário das primeiras legislações florestais, que eram preservadas primordialmente pelo seu
potencial econômico ou pelo imperativo perseguido pelos regimes militares de segurança
nacional. Contudo, a despeito desse predomínio economicista nos discurso e nas posições
sustentadas, também foi possível identificar a atuação de movimentos ambientalistas que se
constituíam para influenciar e pressionar a edição de leis de caráter
preservacionista/conservacionista.
26
Também identificamos e contextualizamos historicamente os primeiros diplomas
legislativos protetores dos recursos florestais – com destaque para os códigos florestais de
1934 e 1965 (AGLIO, 2012; CUNHA, 2013; DEAN, 2013) – como forma de melhor
dimensionar e analisar, em capítulos seguintes, os enunciados discursivos sustentados por
ocasião do processo de alteração da lei florestal, consolidada na Lei 12.651/2012.
Ainda no primeiro capítulo, traçamos uma síntese da influência da discussão
internacional sobre a questão ambiental na construção da legislação brasileira voltada para o
meio ambiente. Destaque para o papel da Organização das Nações Unidas no processo de
veiculação da crise ambiental (OLIVEIRA, 2005), bem como a adoção, no contexto
doméstico, da política externa na área ambiental nas principais conferências internacionais
sobre meio ambiente e desenvolvimento realizadas no Brasil (PLATIAU BARROS, 2012;
AUBERTIN, 2012).
Já no segundo capítulo, identificamos os principais agentes que, no âmbito do Poder
Legislativo no Brasil, se mobilizaram para que a lei florestal fosse alterada, ainda que em
detrimento dos acordos e tratados internacionais nos quais o Brasil tomou parte.
Assim, procedeu-se a um levantamento dos repertórios biográficos dos deputados
federais e senadores nas 53ª (2007-2011) e 54ª (2011-2015) legislaturas no Congresso
Nacional. Procuramos analisar os perfis biográficos dos parlamentares integrantes das frentes
parlamentares e bancadas ruralistas e ambientalistas, recorrendo a informações publicadas no
site da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, disponibilizadas nos repertórios
bibliográficos pela Câmara dos Deputados (BRASIL, 2007, 2011), no site do Departamento
Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) e demais informações completadas por
matérias jornalísticas na Internet.
A partir da análise dos repertórios bibliográficos disponibilizados, caracterizamos de
maneira geral esses parlamentares, levantando informações sobre composição por partido,
estado da federação, níveis de estudos, atividades profissionais, atividades sindicais, com
destaque para alguns perfis considerados emblemáticos, devido o grau de envolvimento e a
atuação dos deputados federais com a temática das frentes parlamentares ou bancadas
ruralista e ambientalista.
Cumpre de antemão destacar que, a despeito da utilização dessas categorias
aparentemente homogêneas de ruralista e ambientalista, discutimos no trabalho as disputas
internas e coalizões que foram realizadas pelos membros integrantes das mesmas para que os
27
interesses defendidos pelos respectivos grupos fossem alcançados e, no caso desta pesquisa
específica, o processo de alteração e modificação da legislação florestal.
Para tanto, recorremos, sobretudo, aos estudos realizados por Regina Angela Landim
Bruno (2002, 2009), nos quais analisa a identidade e retórica patronal, constituídas a partir das
reações ao processo de reforma agrária na Nova República e as ambivalências presentes no
agronegócio e no ruralismo brasileiro; Janaína Tude Sevá (2008), que em dissertação de
mestrado, investiga de que modo as elites agrárias respondem às pressões nacionais e
internacionais sobre o caráter predatório sobre o meio ambiente e as comunidade que
impactam e Sandra Helena Gonçalves Costa (2012), que em sua dissertação de mestrado
analisa o perfil dos deputados e senadores que compuseram a bancada ruralista no Congresso
Nacional e sua inserção na lógica de produção capitalista da agricultura brasileira.
Estes estudos, apresentados em linhas gerais, identificaram o processo histórico de
construção da retórica patronal no Brasil e ainda evidenciaram o processo de organização de
proprietários e produtores rurais para interferir na política institucional e na alteração das
legislações ambientais e agrárias nacionais, o que nos auxilia a contextualizar historicamente
e socialmente as recentes alterações da legislação florestal.
Além dessas pesquisas, utilizamos também alguns estudos realizados sobre o tema do
ruralismo, agronegócio e grupos de poder e pressão no Congresso Nacional e sobre os
congressistas, dentre os quais chamamos atenção para o artigo publicado por Sonia Regina de
Mendonça (2005), no qual analisa a busca pela hegemonia no patronato rural brasileiro nas
décadas de 1970 e 1990; a dissertação de Giuliana Franco Leal (2012), na qual a autora
procura demonstrar a influência da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária no
debate sobre a reforma agrária no período compreendido entre 1995 e 2001; a tese de Ana
Claudia Diogo Tavares (2012), na qual a autora analisa a atuação dos advogados e assessores
da CNA no âmbito das disputas político-jurídicas no período de aprovação da Constituição
Brasileira de 1988 e das legislações que regulamentaram seus dispositivos e o trabalho de
Eugênia Rosa Cabral (2010) que analisa o poder de pressão do empresariado industrial nos
processos de regulação e configuração política ambiental no Brasil.
Também analisamos, brevemente, a forma de composição das frentes parlamentares e
bancadas suprapartidárias no Poder Legislativo e a defesa dos interesses desses grupos no
espaço político nacional.
Para tanto, recorremos às reflexões realizadas por Odaci Luiz Coradini (2010),
sobretudo as que se referem à atuação e participação dos deputados federais em frentes
28
parlamentares que, segundo afirma, resultam da combinação de variados fatores, dentre ao
quais, interesses específicos, modalidades de engajamento e processos de politização.
De igual forma, nos apoiamos no trabalho de Regina Angela Landim Bruno (2009),
especialmente no que se refere a sua afirmação de que as redes de sociabilidade e de poder
alimentam a construção de identidades e reforçam a existência de laços, viabilizando o êxito
das demandas de alguns grupos e setores no Congresso Nacional.
No terceiro capítulo da tese, discutimos o processo de (des)construção da lei florestal,
por meio da análise dos debates legislativos e do processo de discussão que resultou na
revogação da Lei nº 4.771/1965 e na aprovação da Lei nº 12.651/2012.
Com base nas reflexões expostas na dissertação publicada por Paulo Roberto Cunha
(2013), que analisa os processos que resultaram na criação do mecanismo de compensação da
reserva legal e as modificações sofridas pelo instrumento na Lei Federal nº 12.651/2012, bem
como na tese de doutorado de Ana Claudia Diogo Tavares (2012) que aborda as disputas
político-jurídicas levadas à cabo pelas organizações do patronato rural com vistas a alterar a
legislação trabalhista, agrária e ambiental, identificamos as principais alterações legais pelas
quais passou o Código Florestal de 1965 via resoluções, medidas provisórias, decretos e leis.
Utilizamos como aporte as reflexões constantes na dissertação de Amanda Maria
Campanini Pereira (2013), que aborda os recursos utilizados pelas coalizões ambientalistas e
ruralistas no processo de reforma legal, e a tese de Vitor Acserald (2012), na qual o autor
correlaciona a economia política do agronegócio e a posição dos atores mais envolvidos com
a mesma, no intuito de identificar os interesses, as estratégias e as posições dos parlamentares
envolvidos no processo de modificação da lei florestal.
Dentre essas modificações apontadas pelos estudos acima citados, merece destaque: a
institucionalização das áreas de reserva legal por meio da Lei n 7.511/1986; a proibição de
corte raso de 80% nas propriedades rurais inseridas na Amazônia, através da Medida
Provisória MP 1.511/1996 e a edição do Decreto nº 6.514/2008, que regulamenta a Lei
9.605/1998 (que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente) e que efetivamente estabeleceu sanções e multas a serem
aplicadas em caso das condutas ilegais praticadas contra o meio ambiente.
Tais alterações levaram à ofensiva dos setores ligados a produção rural que, sobretudo
após alguns proprietários rurais serem acionados na justiça ou terem concessão de crédito
negada ante as inobservâncias da legislação ambiental, passaram a contestar a legitimidade do
29
Código Florestal de 1965 e organizaram estratégias de modificação da lei. Esta situação,
portanto, funcionou como um dos fatores de mobilização da classe rural.
Assim buscamos neste capítulo – tendo como referencial a análise das dinâmicas de
mobilização de grupos conservadores (AGRIKOLIANSKY; COLLOVALD, 2014) – o
processo que resultou na adequação da lei florestal aos interesses de grupos particulares, com
destaque para o processo de criação da Comissão Especial no Congresso Nacional, destinada
a analisar as várias propostas de reformulação do Código Florestal, tendo como base o Projeto
de Lei nº 1.876/1999 e composta por 35 deputados federais, dos quais, 22 pertencentes a
frente parlamentar e bancada ruralista.
Além disso, analisamos o relatório apresentado pelo Deputado Federal Aldo Rebelo
(2010), no qual realizamos discussões sobre a noção de natureza e recursos naturais presente
no mesmo, bem como a visão legitimada neste instrumento. Para tanto, utilizamos as obras de
Adorno e Horkheimer (1985) e Vandana Shiva (2000), correlacionando o discurso expresso
no relatório ao trajeto da ciência moderna e a dessacralização da natureza.
Também procedemos a um comparativo entre as principais leis florestais editadas no
Brasil, quais sejam o Decreto nº 23.793/34, a Lei nº 4.771/1965 e a Lei nº 12.651/2012,
sobretudo no que se refere às Áreas de Preservação Permanente (APPs), áreas de Reserva
Legal (RL), áreas consolidadas e punições em casos de descumprimento da lei.
No quarto capítulo, analisaremos o processo de produção de conhecimento científico
no debate em torno da revisão do Código Florestal, por meio da análise de pesquisas
desenvolvidas e publicadas por instituições de pesquisa e organizações não governamentais
que foram citadas durante o processo de alteração da legislação florestal.
Dentre estas pesquisas, identificamos as que questionavam as modificações inseridas
na legislação florestal; as que defendiam as modificações na legislação ambiental e
argumentavam pela possibilidade de conciliar proteção ambiental e produção agrícola; as que
contestavam a existência de maiores limitações impostas pela legislação ambiental diante da
possibilidade de impedir o crescimento da atividade agropecuária no país e ainda as que
defendiam o fortalecimento e endurecimento da legislação com vistas a possibilitar a
estagnação da produção agropecuária nacional e aumentar a divisas de outros países no
comércio internacional.
Utilizamos para fins de nossa análise, sobretudo, os estudos intitulados: ―O Código
Florestal e a ciência: contribuições para o diálogo‖, realizado em conjunto pela Sociedade
Brasileira de Progresso para a Ciência (SBPC) e Academia Brasileira de Ciências (ABC) e
30
publicado em 2011; ―Código Florestal: por um estudo pautado na ciência‖, publicada pelo
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) em 2014; ―O alcance da Legislação
Ambiental e Territorial‖ realizado pelo núcleo de monitoramento por satélite da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária e publicado em 2008; ―A revisão do Código Florestal
Brasileiro‖, realizado por pesquisadores vinculados a Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz – Esalq / USP e publicado em 2011 e ainda a pesquisa ―Farms here, forests there‖,
desenvolvida por Shari Friedman e a empresa David Gardiner & Associates, publicada em
2010 e que contou com apoio das ONGs National Farmers Union (NFU) e Avoided
Deforestation Partners (ADP).
Para o desenvolvimento das reflexões, recorremos à dissertação de Fernando José de
Costa Aglio (2012), que discorre sobre o processo de produção de conhecimento científico e
de tomada de posição política a partir do debate que se estabeleceu em torno da revisão do
Código Florestal Brasileiro, bem como utilizamos como aporte as obras de Foucault (1995) e
Bourdieu (1996) com vistas a analisar o processo de seleção de pesquisas e a disputa pela
representação científica legítima travada entre estes institutos.
A identificação das instituições e órgãos de pesquisa e seus respectivos pesquisadores
e a apresentação dos resultados aos quais chegaram os estudos acima mencionados nos
possibilitam perceber como se deu o processo de seleção e de legitimação dos estudos mais
adequados aos interesses dos parlamentares que participaram da votação do Código Florestal.
Assim, identificamos os conflitos entre órgãos e instituições de pesquisa, bem como o
processo de seleção de conhecimentos científicos realizados a partir dos interesses dos
agentes em disputa.
No quinto capítulo analisaremos o papel da mídia no processo de construção e
veiculação dos argumentos que foram eleitos como legítimos e representativos no processo de
votação do Código Florestal Brasileiro. Para tanto, adotaremos como procedimentos
metodológicos a seleção de algumas notícias veiculadas por revistas digitais que se dedicaram
a dar cobertura ao processo de alteração da lei florestal e, para tanto, tomamos como recorte
temporal os anos de 2011 e 2012.
Assim, foram analisados alguns números das revistas Agroanalysis e a Valor
Econômico, ambas dedicadas à cobertura de notícias voltadas para a economia e negócios –
sendo que a primeira é mais relacionada a assuntos do agronegócio e a segunda dedicada à
veiculação de notícias mais gerais, relativas à política nacional e internacional – com vistas a
perceber de que modo a mídia construiu a problemática ambiental, como foi retratado o
31
debate e as diferentes versões e quais agentes foram acionados para serem citados nessas
reportagens.
Utilizaremos como referencial teórico as obras de Hannigan (2009), que analisa a
mídia e a comunicação ambiental e também recorremos à análise feita por Fernanda Rios
Petrarca (2007), com vistas a perceber a relação entre produção de discursos jornalísticos e
condições sociais que fornecem quadro de referências para os jornalistas na construção das
notícias.
No sexto e último capítulo, nos detemos sobre os depoimentos dos parlamentares
proferidos na tribuna da Câmara dos Deputados, buscando identificar as visões de mundo e os
argumentos defendidos por ocasião do processo de alteração da lei florestal. Tais depoimentos
foram obtidos através de consulta às notas taquigráficas, obtidas junto ao site da Câmara dos
Deputados, compreendendo o período das 53ª (2007-2011) e 54ª (2011-2015) legislaturas.
Procuramos refletir e analisar os discursos dos deputados federais, sobretudo da frente
parlamentar e bancada ruralista, com vistas a perceber de que modo houve uma redefinição e
reorientação de argumentos sobre a questão ambiental durante os debates sobre a alteração e
votação do Código Florestal.
Neste capítulo, analisamos criticamente a formação e constituição do discurso em
torno do agronegócio, que levou a coalização de agentes e a tencionar as alterações do Código
Florestal de 2012 voltadas para a produção agrícola, bem como identificamos como os
discursos sobre a urgência e imediaticidade de aprovação da lei, da vocação agrícola do
Brasil, da pressão do mercado internacional para impedir a produção nacional e o crescimento
do agronegócio dentre outros temas foram acionados e repercutiram na alteração do Código
Florestal.
Adotamos como referencial bibliográfico, sobretudo, as obras de Foucault,
especialmente ―A ordem do discurso‖ (1995) e ―Em defesa da sociedade‖ (1999), no intuito
de compreender o processo de produção e circulação de discursos sobre o tema em análise,
bem como de discutir alguns poderes disciplinadores e normalizadores do Estado, utilizados
no intuito de administrar e gerenciar a vida das populações, o chamado ―biopoder‖. Pretende-
se, no caso em estudo, discutir as implicações deste tipo de poder no processo de exclusão e
silenciamento, por meio do ―racismo de Estado‖, de grupos e seres humanos considerados
como inferiores e a tentativa de alijá-los do processo de discussão legislativa sobre o Código
Florestal.
32
Também utilizaremos as obras de Regina Bruno (2009, 2014), que discutem as
relações sociais e políticas do patronato rural no Brasil e as estratégias de poder do
agronegócio, de Janaína Tudé Sevá (2008), que analisa as formas de enfrentamento político
do patronato rural em torno da questão ambiental, e Alfredo Wagner Berno de Almeida
(2010), que descreve as estratégias acionadas pelos interesses vinculados aos agronegócios
para expandir seu domínio sobre amplas extensões de terra no Brasil.
Utilizamos também os autores Vandana Shiva (2000), Gustavo Esteva (2000), Enrique
Leff (2011), Gustavo Lins Ribeiro (2012) e Eder Jurandir Carneiro (2005) no intuito de
problematizar as noções de desenvolvimento e desenvolvimento sustentável, que se fizeram
presentes nos discursos dos deputados federais, tanto das bancadas e frentes parlamentares
ruralistas e ambientalistas, bem como problematizar a relação do homem com a natureza, e
como são expressas nos discursos dos parlamentares.
Assim, através de trechos selecionados, buscamos neste capítulo compreender como as
discussões sobre estrutura fundiária, agronegócio, produção agrícola, preservação ambiental,
desenvolvimento sustentável e soberania, dentre outros, foram acionadas pelos diferentes
agentes que tomaram parte neste debate púbico para tencionar e propiciar a aprovação do
Código Florestal de 2012.
33
1 A QUESTÃO AMBIENTAL E A CONSTRUÇÃO DA LEGISLAÇÃO FLORESTAL
BRASILEIRA
A questão ambiental, que já atraiu grande repercussão midiática e mobilizou a ação de
diferentes agentes, especialmente nas décadas finais do século passado, tem passado um
processo de reconfiguração e redimensionamento que, no Brasil, tem levado a um processo
ainda em curso de flexibilização da legislação ambiental.
Entendemos por flexibilização o processo de reformulação das leis ambientais
brasileiras de modo a permitir sua adequação aos interesses de grupos empresariais e
industriais, que buscam fomentar o desenvolvimento econômico em detrimento da
conservação e proteção dos recursos naturais.
A título de exemplo de normas que passam por um processo de flexibilização,
mencionamos a tramitação no Congresso Nacional dos projetos de lei PL 5.807/2013, que
dispõe sobre o novo Código de Mineração; o PL 3.729/2004, que flexibiliza as normas de
licenciamento ambiental, e a Proposta de Emenda à Constituição PEC 215, que propõe que as
demarcações de terras indígenas, a titulação dos territórios quilombolas e a criação de
unidades de conservação ambiental passem a ser uma responsabilidade do Congresso
Nacional. Além desses instrumentos, destacam-se:
A medida provisória (MPv) da grilagem (nº458/2009), convertida na Lei
Federal nº 11.952/2009; a polêmica construção da hidrelétrica de Belo
Monte, no Pará (PA) e a MPv. 558/2012, que reduziu o tamanho de oito
Unidades de Conservação na Amazônia – mais de 164 mil hectares (ha.) –
para a viabilização de quatro hidrelétricas. Nesse cenário de desconstrução, é
provável que o processo de revogação do Código Florestal Brasileiro tenha
sido um dos mais emblemáticos (CUNHA, 2013, p. 18).
Assim, percebe-se que ao mesmo tempo em que se verifica uma ampla difusão da
preocupação ambiental – que passou a interessar parcelas significativas da sociedade,
deixando, portanto, de ser exclusiva de grupos identificados com o movimento ambientalista
–, se observa igualmente que, paulatinamente, há um enfraquecimento da legislação protetiva
dos recursos naturais.
Diante deste pressuposto de reconfiguração, que orienta as análises desenvolvidas
neste trabalho, pretende-se identificar quais os processos sociais que possibilitaram esta atual
configuração da questão ambiental no Brasil e da legislação ambiental, sobretudo daquela
relativa aos recursos florestais, bem como quais os grupos sociais que tencionaram e tiveram
proeminência de argumentações consideradas neste processo.
34
Para tanto, partimos da concepção de que a vinculação entre a questão ambiental e a
proteção e preservação dos recursos naturais não está dada aprioristicamente, haja vista a
existência de disputas em torno da própria definição da questão ambiental enquanto um
problema social.
Nestas disputas, diferentes agentes interferem com suas visões de mundo, de modo
que, processos sociais capitaneados por diferentes agentes e interesses fazem com que esta
questão seja retratada a partir de seus parâmetros. Assim, a emergência desta questão
ambiental como um tema público e aparentemente universal, possui, em sua base, a
fundamentação ancorada em interesses particulares e setoriais.
Percebe-se, pois, que a análise da construção de problemas públicos, que são
indefinidamente manipuláveis e artificialmente criados, permite problematizar a atenção
pública a certos argumentos, processos de mobilização e de construção de visibilidade. Neste
sentido, conforme destaca Hannigan (2009, p. 105), os argumentos ambientais são
fundamentais para transformar um problema incipiente em uma questão pública, o que exige
o engajamento dos agentes em uma série de atividades específicas: nomeação do problema,
distinção de outros similares, determinação das suas bases científicas e decisão sobre os
responsáveis pela tomada de ação.
Dessa forma, ao tomar os problemas públicos como socialmente construídos, temos
necessidade de identificar quais são os agentes que concorrem para a construção desses
problemas, a partir dos estágios acima descritos (nomeação, distinção, determinação e decisão
sobre possíveis ações).
Devemos investigar, tanto quanto possível, a pluralidade de agentes que se
manifestaram no processo, os dispositivos performáticos mobilizados para o convencimento
ou priorização de um determinado assunto da vida pública, as negociações realizadas e as
regras de publicidade acordadas, dentre outros. Tal investigação deve considerar as relações
de sociabilidade e os grupos de pressão e ordem de instituição, além de recursos (financeiros,
culturais e humanos) que formam esta arena pública.
Com base nessas formulações, ao tomar a questão ambiental como objeto de análise,
devemos, antes de representá-la como uma problemática universalmente aceita, percebê-la
como uma construção na qual diferentes setores da sociedade, em períodos diversos,
constroem compreensões distintas e extremamente heterogêneas sobre o ambiental.
Ainda sobre esse aspecto de pretensa universalidade, segundo Fuks (2001), a
multiplicidade de sentidos que a questão ambiental possui e os debates em torno da definição
35
desta questão impede que o meio ambiente se constitua em um bem cujo atributo seja a
universalidade. Enquanto lugar de conflito, ele acaba sendo recodificado pelos diferentes
agentes em interação nas relações sociais a partir de diferentes sentido atribuídos. Assim, de
acordo com Fuks:
(...) o meio ambiente como um bem universal e uniforme não existe no
campo das relações sociais. Nem tampouco existe um sujeito universal
preocupado com a proteção ambiental (...). Existem, sim, situações
concretas, passíveis de se transformarem em mobilização de grupos sociais
específicos, que contam com acervos definidos de recursos (simbólicos e
organizacionais) e que falam a partir de percepções, valores, projetos,
necessidades e interesses pertinentes ao lugar que ocupam. Isso significa que
esses grupos atribuem valores próprios, apresentam demandas específicas e
elaboram suas compreensões a respeito do meio ambiente (FUKS, 2001, p.
98).
Ainda segundo Fuks (2001, p. 65), para a análise do meio ambiente como problema
social, são identificadas duas abordagens possíveis. A primeira alega que a preocupação e a
mobilização em torno da proteção ambiental surgem como uma resposta às condições atuais
de degradação do meio ambiente, ou seja, pressupõe que ―os fenômenos sociais vinculados ao
meio ambiente devam ser entendidos à luz das condições objetivas que os geraram‖ (FUKS,
2001, p. 17).
Já a segunda abordagem – adotada pelo autor em suas pesquisas sobre conflitos
ambientais – desloca o foco de atenção das condições objetivas para o processo social de
construção do meio ambiente, ou seja, pressupõe que os problemas ambientais somente se
tornam públicos à medida que são veiculados por indivíduos ou grupos com interesses
específicos. Conforme expõe o autor:
Considerando que a proteção ao meio ambiente não se constitui,
necessariamente, como um conjunto de ações e ideias cujo sentido seja
socialmente homogêneo, mesmo em um contexto de ampla difusão da
preocupação com o meio ambiente, setores diferentes da sociedade
promoveriam compreensões distintas da problemática ambiental (FUKS,
2001, p. 100).
Esta segunda abordagem será utilizada nesta presente análise, tendo em vista que
pretendemos investigar o processo de constituição de versões distintas sobre o meio ambiente
– sobretudo no processo de edição de dispositivos legais – a partir dos interesses e discursos
dos agentes envolvidos no processo de alteração da lei florestal.
Assim, ao considerar a questão ambiental como objeto de construção social, é
necessário perceber como a mesma se tornou uma questão pública, ou seja, como a mesma foi
operacionalizada por diferentes agentes para interpretar determinadas situações, bem como
36
para legitimar suas posições nas mais diferentes arenas (políticas, acadêmicas, jurídicas,
econômicas, dentre outras).
Sem a pretensão de esgotar as possibilidades analíticas que tal empreitada requer,
entendemos ser necessário retomar algumas discussões sobre a construção, sedimentação e
veiculação deste processo lento e difuso de construção do meio ambiente como problema
social e questão pública.
Assim sendo, pretende-se abordar neste capítulo o processo histórico de construção da
questão ambiental e da formação do pensamento ambiental brasileiro, expresso por meio de
políticas de proteção ambiental e na formulação da legislação florestal.
Neste sentido, tentamos identificar alguns argumentos e representações históricas que
foram se formando sobre o meio ambiente no Brasil, o que nos permite analisar a questão
ambiental como um espaço em disputa em torno da definição, das prioridades, das políticas,
da edição de leis, enfim, da emergência, desenvolvimento e transformação desta questão no
debate público.
A partir da revisão de literatura existente sobre o tema, sobretudo Dean (2013), Pádua
(2002), Urban (1998, 2001) e Resende (2010) pretende-se destacar alguns processos sociais e
agentes e suas ideias sobre o meio ambiente, bem como analisar se elas possibilitaram – ou
não – a tomada de decisões políticas no país.
Também serão identificados os primeiros diplomas legislativos protetores dos recursos
florestais – com destaque para os códigos florestais de 1934 e 1965 – com vistas a perceber,
em capítulos seguintes, até que ponto estes instrumentos normativos guardam continuidades
ou rupturas com o mais recente Código Florestal brasileiro aprovado em 2012.
Ainda neste capítulo, pretende-se analisar as alterações verificadas na legislação
ambiental no período posterior à edição da Lei 4.771/1965, buscando perceber o contexto
social, político e econômico que passa a redirecionar a discussão sobre a questão ambiental no
Brasil.
Por fim, cumpre destacar o desafio que se coloca para a realização desta análise
histórica do pensamento das ideias ambientais e da formação da legislação florestal no Brasil.
Conforme destaca Foucault (2008, p. 06), deve-se, o tanto quanto possível, fugir da
historiografia clássica, que busca as continuidades, as estruturas fixas e a irrupção dos
acontecimentos.
Ainda segundo o autor, a história do pensamento e dos conhecimentos, ao contrário da
historiografia clássica, busca multiplicar as rupturas e coloca em questões noções como
37
tradição, desenvolvimento, influência, enfim, problematiza as noções que trazem
intrinsecamente a ideia de semelhança, repetição, continuidade e linearidade.
Assim sendo, a retomada histórica aqui traçada, tomando de empréstimo a perspectiva
de Foucault (2008 p. 04), deve ser realizada de modo que não implique na ―regressão sem fim
em direção aos primeiros precursores, mas a identificação de um novo tipo de racionalidade e
de seus efeitos múltiplos‖.
Entretanto, também seguindo Foucault, não se trata de recusar as sínteses históricas
construídas, mas sim de problematizá-las, mostrar que não se justificam por si mesmas. Trata-
se, assim, de retirá-las da sua auto evidência e discutir que ―são sempre o efeito de uma
construção cujas regras devem ser conhecidas e cujas justificativas devem ser controladas‖
(FOUCAULT, 2008, p. 28).
Assim, com vistas a identificar e analisar a formação do pensamento ambiental e das
primeiras legislações florestais, tentando estabelecer relações entre as legislações editadas em
diferentes períodos históricos e perceber continuidades e rupturas nas ideias que se
convencionou denominar de ambientais é que realizamos este exercício proposto. Tal
exercício, em capítulos posteriores, possibilitará analisar em mais detalhes o campo discursivo
formado em torno dos enunciados e argumentos que possibilitaram a configuração atual da
legislação florestal brasileira.
1.1 Política de proteção florestal no Brasil e desenvolvimento do pensamento ambiental
brasileiro
De maneira geral, ao tentar reconstituir a problemática ambiental numa perspectiva
histórica, a literatura sobre o tema destaca que a década de 1970 é identificada como período
de surgimento das mobilizações em defesa das causas ambientais e das reflexões sobre as
mesmas6.
Contribui para esta associação o fato de que, durante este período, agências e
instituições internacionais de pesquisa e desenvolvimento vinculadas à Organização das
6
Segundo Oliveira (2005, p. 49), ―Lançando um amplo olhar sobre o conjunto de trabalhos existentes sobre a
emergência de mobilizações em defesa de causas ambientais, um aspecto que chama atenção é certo
descompasso entre o recorte estabelecido pela literatura sobre ―movimento ecológico‖ e a existência de
mobilizações bastante antigas em trono de temáticas ambientais. Há uma grande insistência em tal literatura em
se considerar a década de setenta como o marco do nascimento da literatura ambiental. No entanto, podem-se
encontrar manifestações bastante antigas de mobilizações e de grande parte das temáticas atualmente levantadas
pelos ambientalistas que remontam ao surgimento do ‗mundo moderno‘ e aos séculos XVIII e XIX‖.
38
Nações Unidas (ONU), difundiram a noção de ―crise ambiental‖ por meio de relatórios,
encontros, conferências dentre outros.
Tal crise é concebida como a ameaça de exaustão dos recursos naturais, que são finitos
e encontram-se extremamente ameaçados diante dos processos industriais e tecnológicos cada
vez mais agressivos ao meio ambiente. Também está associado à noção de ―crise ambiental‖ o
processo de apropriação indiscriminada de recursos naturais limitados para satisfazer
necessidades humanas ilimitadas7.
Assim, o reconhecimento da chamada ―crise ambiental‖ fez com a questão ambiental
passasse a ocupar, progressivamente, mais espaço nos debates políticos, acadêmicos e
científicos que se intensificaram nas décadas finais do século XX.
Concomitantemente à difusão da ―crise ambiental‖, passou-se a se difundir –
notadamente na Europa Ocidental e na América do Norte – a ideia que associa bem estar,
proteção do mundo natural, luta pela paz e cultivo da espiritualidade, fomentando ―novos
valores‖ na sociedade.
Esses ―novos valores‖, conforme destaca Fuks (2001), foram associados à origem do
movimento ambientalista, que se difundiu posteriormente por vários países do mundo.
Contudo, conforme destaca o autor, é importante perceber que esta é apenas uma dimensão –
ou capítulo – na história do ambientalismo, ―capítulo este, aliás, já encerrado, pois, há algum
tempo, esse tipo de associação deixou de ser um eixo principal do sentido atribuído à proteção
do mundo natural‖ (FUKS, 2001, p. 16).
Nesse sentido, podemos afirmar que a despeito desse processo de publicização da
―crise ambiental‖ e de apego ou valorização da natureza ter se tornado mais intenso nas
últimas décadas do século XX, não se pode considerar este período como ponto de partida das
críticas e mobilizações em defesa das causas ambientais.
A título de exemplo, Oliveira (2008) destaca que há um descompasso entre o recorte
temporal estabelecido pela literatura e a existência de mobilizações bastante antigas em defesa
de causas ambientais. Isso o leva a afirmar que o final da década de 1960 expressa muito mais
o marco da constituição da ―problemática ambiental‖ como objeto de estudo das Ciências
Sociais do que o período de nascimento das primeiras mobilizações concretamente voltadas
para a defesa de tais causas.
7 A esse respeito, o autor Gustavo Esteva (2000, p. 74) destaca que os fundadores da economia encontraram na
escassez a pedra fundamental para toda a sua construção teórica. Assim, a partir desse viés economicista que
vislumbra a escassez a partir de carência, raridade, restrição, necessidade e insuficiência, os grupos humanos nos
quais as premissas não econômicas regem a vida das pessoas são desconsiderados e desvalorizados.
39
Acerca dessas antigas mobilizações em defesa das causas ambientais, Oliveira (2008,
p. 104) pontua:
Cabe salientar diversos trabalhos nos quais se pode observar que o
sentimento de amor à natureza, aos animais e às plantas, à paisagem e à vida
rural é um dos traços constitutivos do processo de emergência e de
desenvolvimento da chamada ―civilização industrial‖, ―capitalista‖ ou
―moderna‖, estando ligados a um complexo de mudanças que estavam em
curso neste período. Do mesmo modo, o aparecimento de manifestações e
movimentos de retorno à natureza, à vida campestre e à vida natural pode ser
observado tanto no antigo regime da França (...) quanto no início do século
XX nos Estados Unidos (...) e, inclusive, no Brasil (...).
Pode-se afirmar ainda que a preocupação com os problemas ambientais é um
fenômeno que acompanha as sociedades humanas em diversos momentos históricos, inclusive
remontando a períodos muito remotos8 e em diferentes países.
No Brasil, Pádua (2002) ressalta que muito antes do que convencionalmente se
identifica como o momento de origem deste debate já é possível encontrar reflexões
consistentes sobre a destruição ambiental.
De igual forma, outros estudiosos (DEAN, 2013; WAINER, 1992; HOLANDA, 1995,
RESENDE, 2010) ao analisarem o processo histórico de colonização do Brasil, descrevem
que a forma de utilização predominantemente exploratória e agressiva de relacionamento das
sociedades com os recursos ambientais gerou algumas reflexões e críticas de intelectuais na
época.
Sobre esses processos exploratórios, tais estudos apontam o caráter patrimonialista e
privatista com o qual são concebidos os recursos naturais, uma vez que os mesmos eram tidos
como propriedade privada, geridos e explorados para atender aos interesses coloniais, e não
para garantir a proteção e preservação da fauna e da flora brasileiras.
Warren Dean (2013), historiador ambiental, ao reconstituir o processo de exploração
das florestas tropicais9, traça o processo altamente agressivo que marca a relação de algumas
8 Conforme destaca Milaré (2007, p. 739): ―De fato, a proteção ambiental, desde os mais remotos tempos, vem
sendo objeto de preocupação, em maior ou menor escala, de todos os povos. Vale lembrar, a título de ilustração,
que noções precursoras sobre diversidade e conservação das espécies animais podem ser encontradas no Gênesis
(Cap. VI e VII). O Deuteronômio (Cap. XX: 19) já proibia o corte das árvores frutíferas, mesmo em caso de
guerra, com pena de açoite para os infringentes‖. 9 Segundo Dean (2013, p. 24): ―A história florestal corretamente entendida é, em todo o planeta, uma história de
exploração e destruição. O homem reduz o mundo natural a ―paisagem‖ – entornos domesticados, aparados e
moldados para se adequarem a algum uso prático ou à estética convencional – ou também, o que é ainda mais
assustador, a ―espaço‖ – planícies desertas aplainadas a rolo compressor e sobre as quais o extremo do
narcisismo da espécie se consagra em edificações‖.
40
sociedades humanas com a floresta, em especial a Mata Atlântica brasileira e algumas
medidas que foram tomadas ou tentadas neste período.
Para o autor, uma questão das mais complexas é a ―capacidade de considerar o mundo
natural como algo mais que um conjunto de utilidades disponíveis, um patrimônio
inerentemente valioso mesmo quando não transformado e inexplorado‖ (DEAN, 2013, p.
133), haja vista que historicamente a visão predominante atribui valor à ―terra nua‖ para a
especulação.
Ao tratar da invasão portuguesa e de outros países da Europa nas terras recém-
descobertas, Dean (2013) chama atenção para o caráter desastroso do comércio do pau-brasil
e para a tentativa de criação de regulamentações capazes de conter a extração indiscriminada
deste produto, que estava levando ao seu desaparecimento.
Conforme destaca Dean (2013, p. 64), em 1965, a Coroa portuguesa, preocupada com
os relatórios e dados sobre a exploração do pau-brasil e, motivados por questões econômicas
para manter o monopólio na extração do produto, em 1605 passou a controlar o corte e criou a
função de guardas florestais. A penalidade estabelecida para a extração ilegal era a morte.
Nesse sentido, conforme prossegue o autor:
Em 1534, a Coroa, considerando a dificuldade de eliminar do litoral os
concorrentes estrangeiros, decretou que todas as árvores de pau-brasil eram
propriedade real e que sua derrubada estava sujeita a concessão, medidas que
continuaram em vigor por mais de três séculos (DEAN, 2013, p. 68).
Em geral, conforme afirma Dean (2013), o governo colonial não dava nenhum valor à
terra e aos recursos sobre ela. No entanto, a despeito de não combater a destruição dos
recursos naturais, havia um esforço público de edição de legislação florestal, como, por
exemplo, as proibições reais do corte do pau-brasil ou esforços de manutenção de suprimento
de madeiras para embarcações.
Assim, no período de 1795 a 1799, pode ser identificada uma série de ordens que se
destinavam a preservar a madeira de valor naval – denominadas pau real ou madeira de lei.
Conforme destaca Dean (2013), as espécies de madeira assim catalogadas deveriam ser
vendidas exclusivamente para os estaleiros navais, existindo levantamentos sobre reservas e
meios de transporte de madeira, além da previsão de punições para incêndios realizados ou
descumprimentos das demais determinações.
Iniciou-se, durante esta década, um breve período em que o governo colonial esboçou
uma preocupação em inspecionar, catalogar e registrar o estado das florestas, assim como a
realização de investigações científicas e elaboração de planos de utilização racional deste
41
recurso. Deve-se destacar, contudo, que tais iniciativas repentinamente tiveram o patrocínio
sustado.
Apesar das proibições, o pau-brasil não deixou de ser explorado à exaustão. Diante
deste esgotamento, outras atividades foram estimuladas para tornar rentável a empreitada de
exploração florestal no período colonial, tal como o ciclo10
do pau-brasil, a introdução da cana
de açúcar e a criação de gado de modo extensivo. Posteriormente, a busca por ouro e
diamante e a introdução de café também foram implementadas para fazer vingar os
empreendimentos ―lucrativos‖, atividades que foram desenvolvidas a custas do trabalho
escravo de origem africana.
Relativamente ao cultivo do café, que levou o Brasil a figurar por anos como o maior
exportador deste produto11
, as técnicas de plantio priorizadas e colocadas em prática
consistiam na derrubada e queimada das matas nativas, sem maiores investimentos em
reaproveitamento dos solos.
Conforme destaca Dean (2013, p. 196), isso se devia ao fato dos proprietários
priorizarem, antes de qualquer coisa, a economia de trabalho e de capital, pouco se
preocupando com a produtividade ou qualidade, e menos ainda com a preservação ou
conservação dos recursos.
Ainda segundo Dean (2013, p. 196) ―o café avançou, portanto, pelas terras altas, de
geração para geração, nada deixando em seu rastro além de montanhas desnudas‖, devastando
faixas de floresta primárias então existentes por toda extensão da Mata Atlântica. Além disso,
deve-se acrescentar que o comércio do café induziu a um grande crescimento demográfico na
região sudeste do país, com a consequente urbanização, industrialização e implantação de
ferrovias, o que causou ainda mais devastação e derrubada de florestas.
Esta exploração, que se perpetrou durante séculos, não ficou totalmente isenta de
críticas e denúncias, conforme afirmado, levando a formação do pensamento crítico ambiental
brasileiro em parte das elites dirigentes do país. Contudo, conforme expõe Dean (2013, p.
10
Os ―ciclos‖ de exportação, tão característicos da história econômica brasileira – em que, por certo tempo,
ainda que de modo ineficiente, um produto é gerado com sucesso com base na fartura da natureza, mas depois
desaparece do comércio mundial à medida que aquela fartura escasseia e que se fracassa em aplicar técnicas
mais eficientes de produção –, em grande parte resultam da iniciativa de combinar capitais e iniciar uma
exploração mais intensiva e livrar-se do parasitismo burocrático (DEAN, 2013 p. 185). Deve-se ainda destacar
que um dos importantes fatores para a ocorrência dos ciclos é a concorrência internacional, vez que diante das
demandas de suprimento do mercado externo, as monocultoras e os fornecedores das mesmas passam por
processos de modificação para gerar mais lucros, com o menor dispêndio de recursos possíveis. 11
Segundo Acserald (2012, p. 43), ―O Brasil ocupou longamente posição peculiar no mercado internacional de
café, pois detinha quase o monopólio de sua oferta mundial – 80% dela em 1906 (...). Por outro lado, esta era a
sua mais importante commodity – 67,2% do valor das exportações do País entre 1920 e 1929‖.
42
236), o caráter patrimonialista se sobressaia nessas denúncias e, muitas vezes, era o elemento
principal dessas críticas à exploração. Como expõe Dean (2013, p. 236):
Isoladas e a princípio inconsequentes, ouviam-se manifestações de desalento
e desconfiança na elite dirigente desde os primeiros anos de vida
independente no país. Note-se que a pessoa considerada mais responsável,
segundo o próprio d. Pedro I, para a reforma política e constitucional da
monarquia, José Bonifácio de Andrada e Silva, era um geólogo formado em
Coimbra que estudara silvicultura em Brandenburgo e trabalhara como
diretor de reflorestamento da costa portuguesa até a invasão francesa. Essa
experiência foi incorporada as suas recomendações à delegação enviada às
cortes e à Assembleia Constituinte no sentido de obrigar os proprietários de
terras a manter reservas florestais em suas propriedades. Conselho sensato ao
qual nenhuma atenção foi dada. A legislatura no novo império, incapaz de
produzir qualquer tipo de lei de terra durante 28 anos, estava ainda menos
preocupada em preservar florestas (DEAN, 2013, p. 236).
Sobre este pensamento crítico, Pádua (2002) – recorrendo a uma análise
historiográfica e procurando reconstituir o pensamento de mais de 50 pensadores que
desenvolveram suas formulações sobre o Brasil no período de 1786 a 1888 – conseguiu
identificar uma elite intelectual que tecia profundas críticas à forma como os recursos naturais
eram gerenciados e utilizados no Brasil.
Pádua (2002) encontrou fortes componentes da crítica ambiental em pensadores como
José Gregório de Moraes Navarro, Nicolau Moreira, José Bonifácio de Andrada e Silva12
,
Joaquim Nabuco, André Rebouças dentre outros, que discutiam em suas obras, de forma
direta, as consequências sociais e ambientais da destruição e esgotamento das florestas, dos
solos, das minas, dentre outros13
. Além disso, ao analisar o conjunto dessas obras, o
historiador destaca dois aspectos que se sobressaem entre esses pensadores.
12
Sobre este autor, escreve Pádua (2002, p. 133) que as preocupações de José Bonifácio com as questões
ambientais não devem ser vistas como um detalhe no conjunto da sua obra, mas sim como elemento básico e que
recorrentemente acompanha o pensamento e os escrito do autor. ―Bonifácio conviveu diretamente com o
processo de gestação de todo um novo universo teórico sobre a dinâmica da natureza que veio a desaguar,
décadas mais tarde, no surgimento formal da Ecologia. Esse universo marcou profundamente seu pensamento,
inclusive no plano político. Mas é importante notar que os escritos de Bonifácio não representaram uma mera
transposição da discussão europeia para o contexto luso-brasileiro, e sim uma interpretação pessoal derivada das
suas próprias reflexões e vivências‖. 13
Ressalte-se que embora exista uma ―tradição intelectual‖ ou ―linhagem de pensadores‖ que discutiam
criticamente as consequências ambientais da exploração perpetrada neste período, não é possível afirmar que
estes autores pertencessem a um bloco monolítico e homogêneo. Além disso, neste período histórico não é
possível falar na proeminência da questão ambiental como objeto científico ou político ou que esta temática
tenha sido objeto de dedicação exclusiva dos intelectuais estudados, haja vista que a maioria dos textos
analisados por Pádua (2002) foi escrita como capítulos, ou trechos de trabalhos relativos à relação da questão
ambiental com as questões econômica, social, tecnológica etc. Exceção feita a José Bonifácio, conforme nota
acima.
43
O primeiro aspecto diz respeito à ausência do que pode vir a ser chamada de ―visão
romantizada‖ da natureza. Assim, não é o sentimento de apego à natureza ou mesmo simpatia
pelo seu valor intrínseco – quer em sentido estético, ético, ou espiritual – que marca as
primeiras formulações teóricas abordando a relação do homem com o meio ambiente no
Brasil.
Ao contrário, segundo Pádua (2002), estes autores denunciam algumas práticas
destruidoras do meio ambiente por elas serem aniquiladoras de recursos importantes para o
progresso social e econômico do país, ou seja, os recursos naturais eram tidos como um
trunfo, que deveriam ser racionalmente geridos. Conforme afirma:
A linhagem dos primeiros críticos ambientais brasileiros, ao contrário, não
praticou - ou fez de forma apenas moderada – o elogio laudatório da beleza e
da grandeza do meio natural brasileiro. Mas ao mesmo tempo não ignorou, e
principalmente, não aceitou sua destruição. O meio natural foi elogiado por
sua riqueza e potencial econômico, sendo sua destruição interpretada como
signo de atraso, ignorância e falta de cuidado. O verdadeiro progresso
supunha a conservação e o uso correto do mundo natural que, por sua vez, só
fazia sentido no contexto deste progresso. A natureza era vista como um
objeto político, um recurso essencial para o avanço econômico e social do
país (PÁDUA, 2002, p. 28).
Dessa forma, ainda segundo o autor, o viés marcadamente progressista,
profundamente enraizado no ideário iluminista herdado do século XVIII, está presente nas
formulações do que pode vir a ser considerado o primeiro esforço coletivo de refletir sobre a
questão ambiental no país.
O segundo aspecto para o qual Pádua (2002) chama atenção após suas análises sobre
as obras desses pensadores é que suas ideias não foram extraídas diretamente de contextos
internacionais e implantadas ou reproduzidas indistintamente no Brasil. Segundo Pádua,
atribuir a discussão sobre destruição ambiental um caráter ―externo‖ ou ―fora do lugar‖ –
como se a mesma não tivesse se desenvolvido no país, mas sim, somente a partir de debates
na Europa ou na América do Norte – é incorrer em uma superficialidade contrariada pelos
estudos historiográficos.
Nesse sentido, para Pádua (2002), afirmar que eram constantes as trocas intelectuais e
comunicações entre pensadores e pesquisadores do Brasil e da Europa dedicados a questão
ambiental no século XVIII e XIX não implica em interpretar que o desenvolvimento desta
discussão no país deu-se de forma subsidiária, importada e condicionada ao interesse externo.
Assim, para o autor, o aparecimento e desenvolvimento da discussão ambiental
tiveram um lugar privilegiado no Brasil, contudo, isso não implica em desconsiderar que as
44
trocas intelectuais, facilitadas pela criação das academias científicas e jardins botânicos ao
redor do mundo14
, bem como com o surgimento das primeiras associações imperiais e revistas
temáticas, possibilitou a qualificação deste debate.
Relativamente às revistas temáticas, pode-se afirmar que, a partir de 1830, publicações
dedicadas a difundir o pensamento crítico sobre a literatura agrícola, o debate econômico
oitocentista, as relações entre os problemas da destruição ambiental e do trabalho servil,
dentre outros temas, funcionaram como meio de reprodução das críticas ambientais calcadas
em questões políticas e econômicas15
.
Além das revistas, as instituições facilitadoras da difusão de ideias, descobertas,
questionamentos e fomento ao diálogo internacional entre os críticos ambientais do período
analisado – dentre elas, as associações de caráter geral e profissional no período imperial16
-
também exerceram esse papel de reprodução de críticas ambientais. Estas associações
acabavam sendo instâncias coletivas de atuação cultural e social nas quais se discutia a
temática ambiental, ainda que de forma minoritária e não hegemônica, haja vista não terem
sido criadas com este objetivo.
De acordo com Pádua (2002), os membros dessas sociedades detinham uma boa
circulação internacional, realizavam viagens constantes e frequentavam instituições altamente
instrutoras, o que os possibilitavam perceber como alarmante o dano ambiental provocado por
mais de um século de atividade econômica intensificada e o aumento da população no país.
Contudo, ainda que o governo apoiasse o intercâmbio de pesquisadores e a criação de
associações profissionais – em parte, tendo em vista a necessidade de controle das questões
nacionais – bem como procedesse à criação de diversos órgãos governamentais especializados
com responsabilidade específica para o manejo dos recursos naturais, várias lutas eram
travadas pelos profissionais da ciência e da tecnologia, dentro do próprio Estado, para fazer
valer suas concepções conservacionistas e ambientalistas.
14
Muitas vezes, as experiências adotadas em um lugar eram anotadas e aproveitadas em outro, independente de
serem em colônias de diferentes potências europeias (PÁDUA, 2002). 15
A título de exemplo, mencione-se a publicação da Revista Agrícola do Imperial Instituto Fluminense de
Agricultura, divulgada a partir de 1869. Conforme Pádua, as ideias veiculadas na revista defendiam a
modernização do mundo rural e continham um conteúdo reformista e cosmopolita, tendo em vista a existência de
reflexões universais e articuladas com o que havia de mais recente na literatura europeia. Conforme o autor: ―É
verdade que a maioria dos seus artigos apresentou um estilo moderado e técnico, mas a visão essencial apontava
no rumo de um país onde o trabalho livre, a pequena propriedade e o cuidado com o território substituiriam o
escravagismo, a grande propriedade e a destruição ambiental‖ (PÁDUA, 2002, p. 250). 16
Entre essas associações imperiais, a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (SAIN), criada em 1827, e o
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IBGE), fundado em 1838, constituem dois exemplos paradigmáticos
desse novo contexto institucional, bem como a Academia Imperial de Medicina, fundada em 1835 (PÁDUA,
2002).
45
Os cientistas empregados por essas novas instituições assumiram suas tarefas
com dedicação, mas seu próprio mandato de eficiência os levou a levantar a
bandeira da conservação. O conceito de contradição estrutural parece aqui
inteiramente aplicável. Funcionários públicos, membros de uma classe
média emergente, geralmente de origem imigrante, passaram a experimentar
uma relação conflituosa com os governos que os empregavam, dominados
como eram pelos grandes proprietários de terra, cujas premências
especulativas, técnicas destrutivas de manejo e zelo por seus direitos de
propriedade iriam constituir barreiras à implementação de políticas
conservacionistas (DEAN, 2013, p. 247).
Assim, percebem-se movimentos no sentido de denunciar e combater a destruição
ambiental no período imperial, contudo, devido a tais contraporem-se aos interesses imediatos
da elite socioeconômica do país e por implicarem uma intervenção em propriedades privadas,
alcançaram poucos resultados práticos.
Muitas das modificações sugeridas pelos pensadores da época – como a
implementação da reforma agrária, o fim do escravismo e a consequente reordenação do
espaço – foram vistas como ameaçadoras e revolucionárias. Por este motivo, os defensores
destas propostas foram prontamente afastados dos espaços institucionais de poder e
silenciados, para que suas ideias não fossem efetivamente aplicadas.
Pode-se mencionar que o único projeto defendido pelos críticos ambientais do Brasil
monárquico e que conseguiu ser implementado foi o reflorestamento da Floresta da Tijuca no
Rio de Janeiro, ocorrido basicamente entre 1862 e 1887 (período em que foram plantados
cerca de 95.000 mudas de árvores de diferentes espécies)17
.
Conforme destaca Dean (2013), os temores da elite do Rio de Janeiro de que a
derrubada das florestas poderia comprometer o abastecimento de água, devido ao secamento
das nascentes, impeliu o governo a iniciar estratégias oficiais de conservação.
Essas estratégias oficiais, expressas pela tentativa de reflorestamento de áreas
degradadas, revelam tanto um ―indício da consciência crescente das elites urbanas em relação
à precariedade de seu ambiente artificial e à necessidade de manejá-lo em favor da
17
Conforme Dean (2013, p. 239): ―Esta foi empreendida em 1862, quando o governo imperial investiu um
modesto nível de recursos em um programa de reflorestamento (...) Apenas em 1856, contudo, é que uma poucas
propriedades foram por fim adquiridas na Tijuca e no monte adjacente das Paineiras. Em 1862, foram entregues
à administração com ordens para replantar a cobertura florestal. Na experiência brasileira, isto foi uma novidade
surpreendente (...) O crédito principal se deve a um proprietário de terra local chamado Manoel Gomes Archer,
que viveu na floresta durante a maior parte desse período e administrou a floresta da Tijuca até 1873,
supervisionando uma força de trabalho que incluía um capataz e cerca de uma dúzia de escravos, que plantavam
e cuidavam das árvores, e uma série de guardas florestais que impedia a derrubada, caçada ou remoção de
quaisquer plantas. Archer se tornou um personagem miticamente heróico para os moradores do Rio de Janeiro –
na verdade para todos os ambientalistas brasileiros. O maciço reflorestado e efetivamente protegido para a
posteridade, um dote vivo, magnificente e inspirador que ainda sobrevive‖.
46
tranquilidade social e, de fato, de seu próprio conforto, segurança e saúde‖ (DEAN, 2013, p.
240), como também uma iniciativa que denotava a necessidade do Estado de controlar o meio
ambiente natural.
Contudo, este projeto chama atenção pelo fato de que a necessidade efetiva de
florestamento não acarreta automaticamente na decisão política de reflorestar. Neste sentido, é
pertinente retomarmos as ideias de Fuks (2001), quando destaca que a questão ambiental não
decorre das condições objetivas de surgimento destes problemas, mas sim, do processo social
de construção, para o qual contribuem diversos agentes que, orientados por diferentes
interesses, utilizam variados recursos para possibilitar que esta questão seja reconhecida
enquanto uma questão pública.
Neste caso de reflorestamento da Floresta da Tijuca no Rio de Janeiro, no qual se
verifica um intenso debate sobre a necessidade efetiva de implementação do projeto, visões
diferenciadas de meio ambiente vão reconfigurando a questão e fazendo ocupar o destaque
nas arenas públicas. Sobre este aspecto, conforme Pádua (2002, p. 221):
É verdade que a questão muito concreta de garantir o abastecimento de água
para a capital representou um fator fundamental na decisão de reflorestar
aquela área (berços das nascentes dos principais rios utilizados pela
população carioca). Essa decisão tornou-se ainda mais premente devido às
sucessivas secas que prejudicaram a vida na cidade, especialmente a grande
seca de 1843. Não se pode esquecer, porém, que constatação dessa
necessidade prática não é condição suficiente para o entendimento da
decisão de reflorestar; desde os tempos coloniais a cidade sofria com esse
tipo de crise e quase nada se fez a respeito. Um decreto de 1817, assinado
por D. João VI, que proibia o corte das matas que rodeavam as nascentes da
Serra Carioca e o trajeto do aqueduto de Santa Tereza, foi completamente
ignorado na prática (...). O entendimento histórico do projeto, dessa forma,
passa por uma interação entre a necessidade concreta da cidade e a
motivação político-intelectual os seus idealizadores.
Dessa forma, para a compreensão deste projeto – bem como dos demais projetos
afeitos a questão ambiental – não se pode desconsiderar a motivação político-intelectual de
seus idealizadores, motivações estas que, muitas vezes, não podem ser tomadas como
destinadas a preservação ambiental única e exclusivamente.
Conforme Pádua (2002, p.221), as florestas das montanhas de Santa Tereza e da
Tijuca tinham um importante significado na vida cultural e artística do país, no entanto, para
além dessas motivações culturais mais gerais, havia a contribuição específica dos intelectuais
do Imperial Instituto Fluminense da Agricultura (IFFA), fundado em 1860.
O IFFA reunia intelectuais, fazendeiros, políticos e outros membros da elite social que
sempre colocavam em pauta as questões rurais e ambientais do Brasil monárquico e que já
47
haviam considerado esta questão. Neste sentido, ao discorrer sobre um dos agentes
responsáveis por este projeto de reflorestamento, Pádua destaca que:
Mesmo antes da criação do Instituto, quando ainda ocupava o lugar de
ministro, Couto Ferraz já manifestava uma avaliação ampla do problema das
florestas (...). Sua decisão de iniciar o processo de reflorestamento, nesse
sentido, foi bastante consciente e inspirada pelo ideário de seu grupo
intelectual. Não se tratava apenas de resolver o problema do abastecimento
de água na capital, mas sim de dar início ao enfrentamento da questão
florestal no Brasil (PÁDUA, 2002, p. 223).
Outro exemplo que pode ser mencionado refere-se aos diálogos e debates travados por
ocasião das secas periódicas no nordeste, que produziam uma situação propícia ao surgimento
de uma crítica ambiental a partir de 185018
. A questão foi construída por vários intelectuais da
capital e, sobretudo, das províncias, aglutinando ideias e propostas para sua resolução. A esse
respeito, escreve Pádua (2002, p. 201):
A grande seca de 1877, efetivamente, revelou-se desoladora, chegando a
provocar uma certa comoção na capital do Império. André Rebouças
publicou A seca nas províncias do Norte, um eloquente opúsculo onde
clamava por apoio às populações que sofriam com o problema, criticando
duramente a inércia e os descasos dos governos (...). Por iniciativa do
mesmo Rebouças, o Instituto Politécnico organizou em outubro de 1877, sob
a presidência do Conde D‘Eu, uma série de concorridos debates sobre a
questão das secas, com a presença da elite da inteligência técnica da Corte.
Essas reuniões, no entanto, nas palavras de Joaquim Alves ―não passaram de
simples palestras entre homens da ciência, nada mais‖. Um plano de cinco
pontos foi apresentado ao governo imperial, como resultado dos debates,
mas nenhum deles chegou a ser executado, ou sequer planejado.
Assim, analisando o panorama da crítica ambiental no norte e nordeste do Brasil, ao
longo do século XIX, Pádua (2002) conclui que, embora tenha mobilizado grande quantidade
de reflexões, poucos resultados efetivos foram alcançados e a situação ambiental e social
decorrente da seca no nordeste se mantinha inalterada.
Estes dois casos, do reflorestamento do maciço da Tijuca e da discussão sobre o
problema da seca no nordeste, são alguns dos exemplos que reforçam o entendimento,
defendido no início deste capítulo, de que as condições de destruição e comprometimento do
meio ambiente, não dão conta, por si só, de propiciar o surgimento de ações voltadas para a
resolução destes problemas.
18
Conforme Pádua (2002, p. 196), ―É impressionante constatar que as primeiras análises técnicas sistemáticas
sobre o problema das secas apenas começaram a aparecer no final de décadas de 1850, não obstante as
devastadoras consequências da grande seca de 1945 (para não falar das anteriores)‖.
48
Neste sentido, conforme Pádua (2002, p. 196), ―a transformação de problemas
ambientais em crítica ambiental não era um processo automático. Em primeiro lugar, existe a
questão da visibilidade mesma do problema‖. Pode-se afirmar, portanto, que a ―descoberta‖, a
denúncia e a crítica sobre os problemas decorrem não necessariamente do surgimento dos
problemas, mas sim, efetivamente, de uma percepção, de um novo olhar para questões que
são pré-existentes.
Antes de surgirem nas arenas públicas, é necessária a existência de toda uma série de
agentes que constroem esta causa como uma problemática social para que a questão ambiental
possa, efetivamente, ganhar visibilidade e espaço e isto não necessariamente tem correlação
com a resolução destes problemas.
Merece destaque, neste contexto, os resultados tímidos obtidos em termos de ações e
políticas, mesmo tais questões sendo discutidas e levadas à cabo por intelectuais que
ocupavam espaços de poder e, em alguma medida, possuíam poder de influenciar as tomadas
de políticas públicas ou mesmo ocupavam cargos altos na esfera administrativa. Conforme
Pádua, ao analisar as consequências concretas de todo este debate:
Vimos que o domínio do viés racionalista e pragmático foi marcante nos
autores analisados. Eles escreviam no intuito de transformar a realidade do
país, inclusive dos seus sertões mais distantes. É surpreendente, desta forma,
a falta de implementação concreta de suas propostas durante todo o período
examinado. A discussão permaneceu restrita ao plano das ideias. Seus
participantes não lograram promover ou influenciar políticas públicas que
impulsionassem o enfrentamento da destruição ambiental, a não ser em
alguns poucos casos, como no excepcionalmente bem sucedido processo de
restauração da Floresta da Tijuca, entre 1861 e 1874 (PÁDUA, 2002, p. 31).
Esta reflexão coloca em evidência que não é necessariamente a gravidade ―objetiva‖
dos problemas que os faz ascender às arenas públicas. Este é um processo de construção
social, que ocorre a partir da articulação dos agentes envolvidos e das estratégias, dos recursos
utilizados e das posições ocupadas.
Assim, conforme destaca Fuks (2002, p. 26) as representações e demandas que
conseguem se impor no debate público são aquelas apresentadas pelos grupos sociais que
possuem os recursos – organizacionais e simbólicos – apropriados para dar visibilidade a
essas questões. Contudo, ainda que estes grupos consigam fazer ascender estas temáticas e
assegurar aceitação pública e política em torno delas, estes problemas não são
necessariamente solucionados.
49
1.2 Contexto histórico da legislação ambiental e edição dos Códigos Florestais de 1934 e
1965 no Brasil
De acordo com Dean (2013), no que concerne especificadamente à legislação florestal,
as primeiras iniciativas voltadas para uma legislação nacional de florestas foram tomadas em
1904, quando o Poder Legislativo do estado do Rio de Janeiro debateu um código rural que
teria obrigado os proprietários particulares a requisitarem permissão de seus conselhos
municipais para derrubar suas matas.
Este código, que não fora aprovado, previa ainda licenças para caçadas, proibição para
o corte de árvores e florestas públicas e ratificava a competência do Estado na conservação
das florestas e na promoção de sua recomposição.
Ainda segundo Dean (2013), em 1907, também se debateram a implementação de
códigos florestais nos estados de São Paulo e Minas Gerais, respectivamente, contudo, as
propostas não foram adiante. Somente no Paraná chegou-se a adotar um código florestal,
porém, nunca fora implementado.
A despeito dessas ausências de codificações, em 1920 o então Presidente Epitácio
Pessoa encaminhou uma mensagem ao Congresso Nacional na qual abordava a necessidade
urgente de preservar e restaurar os recursos florestais, bem como editar medidas mais
repressivas para combater a devastação e desflorestamento. Conforme destaca Resende (2010,
p. 68), o presidente ainda afirmou a necessidade da criação de um conjunto de leis específicas
que tratassem da questão florestal.
Nesse contexto, o Serviço Florestal do Brasil foi criado pelo Decreto 4.421, de 25 de
dezembro de 1921, e regulamentado pelo Decreto 17.042, de 1925. No entanto, apesar do
objetivo de conservação e aproveitamento das florestas e de ter sido regularizado formalmente
em 1925, o SFB ―não tinha respaldo na Constituição de 1891, pois nela nada constava sobre
mata ou sobre a própria palavra árvore‖ (RESENDE, 2010, p. 68).
Além disso, ao mesmo tempo em que as propostas de criação ou implementação de
códigos florestais eram rechaçadas, sobretudo pelos proprietários rurais que temiam a
intervenção em suas propriedades, crescia a devastação perpetrada contra florestas em todo
Brasil.
No que se refere à região sudeste do país, por exemplo, as implantações de indústrias
siderúrgicas na Mata Atlântica, utilizando cada vez mais recursos florestais na queima de
combustível, e a ampliação das ferrovias com locomotivas a vapor, demandavam uma grande
quantidade de lenha, exercendo impactos significativos sobre a cobertura florestal.
50
Algumas iniciativas e denúncias foram realizadas junto aos governos, no entanto, sem
alcançar maior sucesso. Conforme destaca Dean (2013, p. 271), cientistas e técnicos
responsáveis pelas primeiras medidas de conservação das florestas públicas buscavam
informar aos legisladores sobre as campanhas de conservação em outros países, na esperança
de motivá-los a adotar procedimento semelhante.
Com as experiências conservacionistas se acumulando no exterior – tal como a criação
de parques nacionais, dentre eles o de Yellowstone, nos Estados Unidos, em 1872 – os
cientistas e burocratas brasileiros sentiam-se impelidos a participar e a contribuir com
experiência no território nacional. Contudo, somente algumas décadas depois as concepções
conservacionistas encontraram ressonância junto ao poder público.
A partir de 1930 – década que, do ponto de vista ambiental, marca um período de
divisor de águas, com o surgimento dos primeiros códigos de proteção dos recursos naturais
(RESENDE, 2010) – algumas associações passaram a se estruturar e aglutinar integrantes
interessados em discutir as questões ambientais. A maior quantidade de associações que
militavam sobre causas ambientais – embora em número ainda modesto nesta década – passa
a ter mais poder de pressão sobre atos estaduais e governamentais, o que possibilitou a criação
das primeiras leis ambientais no país.
Neste sentido, percebe-se o poder de mobilização e reivindicação dos grupos sociais
que, a depender do contexto social e da conjuntura política, fomentam iniciativas de criação
de políticas públicas e de edição de diplomas legislativos. Este poder de mobilização e
reivindicação dos grupos sociais em torno das causas ambientais encontrou terreno fértil
quando da assim chamada Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas, para ascender ao
poder19
.
Concomitantemente ao aumento do número de associações ambientalistas, também
estava sendo gestada uma nova geração de cientistas conservacionistas20
, que vinculavam
suas preocupações e suas carreiras às do Estado Nação emergente.
Conforme destaca Dean (2013, p. 274), antes de 1930, as associações cívicas haviam
desempenhado um papel menor nas poucas medidas conservacionistas decretadas. No
19
A denominada Revolução de 1930 foi liderada por Getúlio Vargas, chefe político do estado do Rio Grande do
Sul que teve sua campanha presidencial frustrada pelas máquinas do Partido Republicano de São Paulo e de
Minas Gerais. Os políticos agrupados em torno dele defendiam princípios incipientes e muito pouco
revolucionários, embora o novo governo, impelido pela crise econômica mundial, favorecesse medidas
intervencionistas e centralizadoras. Assim, devido ao fato de não promover mudanças estruturais no país, o
caráter revolucionário desta revolução fora bastante questionado. 20
O conservacionismo é uma teoria que, partindo de uma visão biocêntrica do mundo, vê na ação humana,
necessariamente, uma ameaça à conservação dos recursos naturais e uma perturbação ao meio ambiente.
51
entanto, após a Revolução de 1930, diversas organizações envolvidas diretamente com a
conservação parecem ter influenciado a legislação inicial do período Vargas, dentre elas a
Sociedade de Amigos de Alberto Torres21
, os Clubes de Amigos da Natureza, a Sociedade
Geográfica do Rio de Janeiro, a Sociedade de Amigos das Árvores22
e a Sociedade dos
Amigos da Flora Brasílica23
.
Alguns intelectuais que faziam parte da Sociedade Amigos da Árvore – que tinha
como símbolo do movimento um pinheiro (Araucária angustifolia) (RESENDE, 2010) –
participaram ativamente do debate público em prol da criação da legislação ambiental
brasileira, utilizando-se dos meios de comunicação e de sua influência institucional e política
para difundir suas concepções sobre meio ambiente e proteção e conservação ambiental.
Segundo Aglio (2012, p. 28), dentre estes intelectuais, merecem destaque Cândido de
Mello Leitão (que trabalhava como professor de zoologia no Museu Nacional desde 1931,
bem como chefe da cadeira de Biologia Geral na Escola Superior de Agricultura e Veterinária
e no Instituto de Educação), Roquette-Pinto (antropólogo do Museu Nacional desde 1906) e
Alberto Sampaio (botânico do Museu Nacional desde 1905), intelectuais que tinham uma
longa história em comum (pois frequentaram a mesma faculdade de Medicina no Rio de
Janeiro no início do século XX e compartilhavam da mesma formação de história natural).
Ainda segundo o autor:
Esta Sociedade teve papel de destaque na concepção da legislação de
proteção dos recursos naturais e na efetivação do Serviço Florestal Federal,
que atuava como órgão de pesquisa, controle e implementação de florestas
produtivas no Brasil, além de se incumbir da criação, conservação e guarda
de florestas protetoras. Em entrevista concedida à imprensa, o zoólogo Mello
Leitão argumentava como a defesa da fauna, bem como da natureza, era uma
preocupação essencial dos países civilizados. Várias nações possuíam leis de
controle da caça, paralelamente à criação de parques naturais. Citando o
exemplo das leis uruguaias e argentinas, destacava a importância de o Brasil
sintonizar-se com o urgente estabelecimento de práticas de defesa do seu
patrimônio natural. Mello Leitão acreditava que, quando se tratava da
21
Conforme destaca Urban (1998, p.83), o advogado e jornalista Alberto Torres era ativista do movimento
republicano e defendia uma revisão constitucional na qual constasse a inclusão de artigos em defesa do meio
ambiente. Segundo a autora, ―foi um dos principais pensadores da luta republicana e, embora tivesse morrido em
1917, sua obra marcou profundamente a Revolução de 30‖. De acordo com Dean (2013, p. 275), havia mais
células da Sociedade de Amigos de Alberto Torres no final de década de 1930 e os membros dessa associação
assumiam posturas ativas em questões locais de conservação, fornecendo ferramentas e sementes e proferindo
palestras para as escolas. 22
A Sociedade de Amigos das Árvores, fundada em 1931 por Alberto José de Sampaio, diretor do Museu
Nacional, fazia um empenho ativista em prol da causa ambiental entre a elite e atuava em favor da edição de uma
lei florestal e de reformas na agricultura, o que possibilitaria a preservação da floresta primária remanescente
(DEAN, 2013, p. 275). 23
A Sociedade dos Amigos da Flora Basílica possuía 113 sócios fundadores, que incluíam horticultores e
fazendeiros. Tinha como principal objetivo promover a publicação de um novo inventário florístico, mas a
sociedade também agitava a opinião pública em favor das reservas biológicas e do reflorestamento.
52
proteção do patrimônio natural, de interesse público, o Estado tinha o dever
de controlar os usos da propriedade privada. E alertava para o fato de que a
queimada e a derrubada das florestas ainda eram os principais métodos
utilizados na agricultura no Brasil (AGLIO, 2012, p. 29).
Segundo Urban (2001, p. 31), a Sociedade Amigos das Árvores tendo como um dos
principais fundadores Alberto Sampaio, protestou contra o desmatamento no Rio de Janeiro e
convocou a primeira Conferência Brasileira sobre Proteção da Natureza, em 1933.
Essa conferência reuniu delegados de diversos Estados, em sua maioria cientistas e
funcionários do governo, na qual a situação das florestas foi analisada estado por estado e
tinha por objetivo claro pressionar o governo a cumprir as medidas conservacionistas recém
aprovadas pelo Congresso Constituinte e criar um sistema de Parques Nacionais (DEAN,
2013, p. 275).
Diante dessa pressão e motivado pelo interesse de salvaguardar os recursos naturais
enquanto estratégicos para o projeto de integração nacional, o governo Vargas, seguindo as
reivindicações de alguns conservacionistas que fundaram as primeiras associações
ambientalistas do país, decretou, entre maio de 1933 e outubro de 1934, uma série de códigos
para regulamentar o uso da água, a exploração de minas, a prática de caça e pesca e o uso das
florestas. Uma nova Constituição, também promulgada em 1934, encarregava os estados e o
governo central da proteção de ―belezas naturais e monumentos de valor histórico ou
artístico‖.
De forma geral, pode-se mencionar que legislação editada no período Vargas
apresentava preocupações com bens ambientais específicos, ou micro bens, tratados de forma
isolada, contudo, a despeito das críticas, este pode ser considerado um período de
florescimento legislativo no que se refere à temática ambiental. Nesse sentido, conforme
destaca Pereira (apud RESENDE, 2010, p. 75):
A Revolução de 1930 inaugurou um período de grande atividade legislatória,
em todos os ramos do Direito e providencialmente a ―Comissão Legislativa‖,
instituída no Ministério da Justiça, confiou à ―20.ª Sub-Comissão
Legislativa‖, composta de Augusto de Lima (presidente), José Mariano Filho
e Luciano Pereira da Silva (relator), a tarefa de elaborar um anteprojeto de
Código Florestal. Foi a primeira a desincumbir-se, apresentando, em 31 de
outubro de 1931, o trabalho publicado no Diário Oficial de 23 de novembro
do mesmo ano, para receber sugestões.
Deste trabalho, conforme prossegue o autor, resultou o Projeto publicado no Diário
Oficial de 26 de abril de 1933, a seguir transformado em lei, com o Decreto nº 23.793 de 23
de janeiro de 1934. O Código Florestal de 1934, que tratava sobre as matas nacionais e
particulares, com disposições sobre a guarda, preparo de lavouras, cortes e fixava penalidades
53
por crimes e contravenções, bem como o processo para punir os infratores. O instrumento se
apresentava organizado nos seguintes capítulos, dos quais manteve-se com a grafia original: I)
Disposições gerais; II) Da classificação das florestas; III) Da exploração das florestas; IV)
Polícia Florestal; V) Infracções Florestaes; VI) Processo das Infracções; VII) Fundo Florestal;
VIII) Conselho Florestal; IX) Disposições Geraes; Disposições Transitórias.
As disposições gerais, constantes no capítulo I do referido instrumento normativo,
dispõem que:
Art. 1º As florestas existentes no territorio nacional, consideradas em
conjuncto, constituem bem de interesse commum a todos os habitantes, do
paiz, exercendo-se os direitos de propriedade com as limitações que as leis
em geral, e especialmente este codigo, estabelecem.
Art. 2º Applicam-se os dispositivos deste codigo assim ás florestas como ás
demais formas de vegetação, reconhecidas de utilidade ás terras que
revestem.
O capítulo III, intitulado ―Da exploração das florestas‖, subdivide-se em quatro
seções, nas quais se encontram definidas as noções de produtos e subprodutos florestais;
determinam-se proibições e necessidade de licenças para exploração florestal;
regulamentações específicas para usinas, fábricas ou outros estabelecimentos industriais que
se utilizam de fornecimento de carvão e lenha; normas sobre plantio e replantio de espécies
vegetais; exploração em florestas de domínio público; exploração intensiva; exploração
limitada à determinação do Ministério da Agricultura, dentre outros.
Acerca da reserva de áreas nas propriedades particulares, Aglio (2012) destaca que:
O código de 1934 fixou limitações aos proprietários de terras outrora
devolutas. Assim, obrigava os donos de terras a manterem a reserva de 25%
da área de seus imóveis com a cobertura de mata. Era a chamada ―quarta
parte‖, precursora da Reserva Legal. Havia orientação sobre em qual parte
das terras – ―nas regiões de vegetação escassa‖ / ―mattas ainda existentes ás
margens dos cursos dagua, lagos e estradas de qualquer natureza‖ / ―encostas
de morros que sirvam de moldura e sítios e paisagens pitorescas‖ – a floresta
deveria ser preservada. A lei até mesmo incentivava a retirada total das
matas nativas, desde que pelo menos a cota de reserva prevista fosse
replantada (AGLIO, 2012, p. 29).
Percebe-se, pois, uma preocupação intensa com a exploração florestal e a segurança do
fornecimento de madeira, motivo pelo qual este instrumento jurídico é apontado como
eminentemente utilitarista, posto que destinado a reservar madeira para exploração posterior.
O controle e fiscalização desta exploração ficavam a cargo dos delegados regionais e
ou agrícolas (preferencialmente agrônomos ou silvicultores práticos nomeados pelo Ministro
54
da Agricultura) e pelos agentes florestais (guardas ou vigias), vez que neste período ainda não
existiam órgãos especificamente voltados para lidar com a questão ambiental.
Além disso, o código também menciona a existência das ―florestas protetoras‖ para
garantir a saúde de rios e lagos e evitar a ocupação de áreas de risco. Conforme destaca Dean
(2013, p. 276), o crucial é que o novo Código Florestal negava o direito absoluto de
propriedade, proibindo, mesmo em propriedades privadas, o corte de árvores ao longo de
cursos d‘àgua, árvores que abrigavam espécies raras ou que protegiam mananciais.
Além dessas proibições, vedava aos proprietários cortar mais de três quartos das
árvores restantes em sua propriedade e obrigava as indústrias a replantar árvores suficientes
para manter suas operações. Determinava ainda a criação de uma guarda florestal e era
esboçada a base de organização de parques nacionais e estaduais.
A partir desta legislação federal, os estados instalaram conselhos florestais,
estabeleceram algumas reservas por sua própria conta e somente poucos municípios criaram
reservas municipais.
No entanto, a despeito dessa codificação, as falhas no Código Florestal logo se
evidenciaram. Conforme destaca Dean (2013, p. 277), muitas firmas e indústrias se furtavam
à obrigação de reflorestar, contratando empreiteiros independentes, não sujeitos ao Código ou
mesmo os proprietários poderiam extrair madeiras de lei valiosas e alegar que cumpriam a
obrigação de reflorestar deixando que a vegetação rasteira ou secundária se restabelecesse.
Além das falhas na legislação, o contexto político da época também não era favorável
aos avanços, tanto em termos legislativos quanto em termo de fiscalização. A título de
exemplo, a guarda florestal prevista, que deveria acompanhar o andamento e a efetividade do
Código, não chegou a ser efetivamente instalada. Ainda segundo Dean (2013, p. 304):
O principal defeito do código, de fato, era que ele nunca havia sido
cumprido: nunca foram alocados fundos suficientes e, por muitos anos, sua
aplicação era fiscalizada por voluntários, muitos dos quais em busca de
propinas. Suas atribuições então foram transferidas para a polícia civil não
qualificada. Uma multiplicidade de repartições era responsável pela
execução do código. O andamento dos processos era solapado por um novo
código penal, que reduzia os crimes florestais a contravenções, e por
relutância em aceitar uma lei que estava recebendo uma nova redação. Em
1957 houve apenas uma condenação por uma violação desse código!
Segundo Resende (2010, p, 77), a realidade socioeconômica e política da sociedade
brasileira deve ser levada em conta para se compreender o que motivou a não efetivação do
Código de 1934. Conforme afirma, a população estava concentrada próxima à Capital da
55
República, Rio de Janeiro e a terra utilizada basicamente para a cafeicultura e agropecuária
levou a grandes dificuldades para a efetiva implementação deste dispositivo legal.
Além disso, o pensamento predominante era de que os recursos eram vistos como
meios econômicos para o país e de igual forma, o princípio do desenvolvimento econômico-
social, objetivando a racionalização e não a defesa ambiental passava a fazer parte do
cotidiano brasileiro. Tal posicionamento repercutiu nas legislações editadas no período,
inclusive as Constituições Federais. Assim, ―a Constituição de 1934 tratava os bens
ambientais apenas como fonte de riquezas a serem explorados. A Constituição outorgada em
1937, no inciso XIV, artigo 16, deu igual tratamento às florestas da Constituição de 1934‖
(RESENDE, 2010, p. 78). Ainda de acordo com a autora:
Em termos econômicos, este período histórico, voltou suas atenções para a
agricultura, protegendo seus principais produtos de valor econômico como o
café, o açúcar, o algodão e a borracha. Porém este setor da economia, por
estar enfrentando dificuldades, reflexo do mercado agrícola externo, passou
a estimular o desenvolvimento industrial. Neste sentido a política do
Governo de Getúlio Vargas adquiriu um caráter nacionalista intervencionista
e com isto passou a realizar empreendimentos como a construção no Rio de
Janeiro da Usina de Volta Redonda, através da Companhia Siderúrgica
Nacional e da criação da Companhia Vale do Rio Doce, destinada a exportar
minério de ferro, causando grande prejuízo ao meio ambiente e aos recursos
florestais (RESENDE, 2010, p. 79).
O governo Vargas, assim, com o respaldo do exército, conduziu um golpe de Estado
que estabeleceu uma ditadura corporativista. Esse governo decretou algumas medidas
conservacionistas adicionais – tais como o reflorestamento ao longo das faixas de servidão de
ferrovias – motivadas notadamente pela escassez de combustível durante a guerra, contudo,
evidenciava-se uma retração do entusiasmo pela implementação de novas regulamentações
ambientais.
Tal fato, segundo analisa Dean (2013), indica que a intervenção dos conservacionistas,
oriundos, sobretudo, da classe média, tinha sido importante apenas nas campanhas legislativas
de 1933 e 1934. Uma vez interrompida as formas de participação política civil, os cientistas
conservacionistas passaram a não mais exercer influência no círculo próximo a Vargas,
composto essencialmente por oficiais militares.
De modo geral, pode-se afirmar que, apesar da mobilização dos movimentos sociais
que tencionaram a criação de uma legislação ambiental durante a década de 1930, o resultado
final pode ser analisado como desestimulante por aqueles que pleiteavam em prol das
56
questões ambientais, uma vez que a sua principal reivindicação, qual seja, a criação de
parques e reservas24
, foi praticamente ignorada pelos governos.
Diante da crescente insatisfação com o governo de Getúlio Vargas, e com a oposição
de grupos militares, da Ordem dos Advogados do Brasil, do Congresso Brasileiro de
Escritores e a criação de novos partidos políticos, um golpe contra o governo levou a
deposição de Vargas por forças civis e militares de oposição em 2 de outubro de 1945
(RESENDE, 2010, p. 80). O novo presidente – Eurico Gaspar Dutra, um general que tinha
sido sustentáculo da ditadura – não trouxe nenhuma mudança na política de conservação e o
Congresso, que elaborou uma nova Constituição em 1946, não inseriu nela qualquer novidade
relativa às responsabilidades do governo para com o meio ambiente.
As deficiências do Código Florestal de 1934 e a incapacidade do Estado de torná-lo
efetivo nos governos seguintes, assim como a preocupação cada vez mais acentuada com as
questões relacionadas ao desenvolvimento econômico nacionalista, faziam com que as
questões ambientais fossem cada vez menos debatidas pela sociedade civil.
Apesar disso, algumas organizações civis ambientalistas surgiram nas décadas
posteriores. Assim, em 1949, foi constituída a Campanha pela Proteção da Natureza, com uma
diretoria composta de líderes de uma série de entidades profissionais e não-governamentais.
Em 1952, após uma reorganização, este movimento assumiu várias questões
conservacionistas e se juntou a Associação de Defesa da Flora e da Fauna, promovendo
denúncias e protestos, que, contudo, obtiveram reduzido alcance (DEAN, 2013, p. 302).
Em 1958, foi criada a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza (FBCN),
filiada à União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), assumindo a defesa de
parques nacionais e composta por muitos cientistas que atuavam na estrutura estatal. Contudo,
segundo Urban (2001, p. 32), a despeito da FBCN ser formada por importantes nomes do
conservacionismo brasileiro, na década de 1960, somente alguns membros isolados
conseguiram influir nas medidas governamentais destinadas a proteção da natureza, ainda
assim de forma tímida.
A despeito de ser uma questão ainda discutida e capaz de alguma mobilização em prol
de políticas públicas e edição de diplomas legais, o desenvolvimento e a modernização
24
Antes da aprovação do Código Florestal de 1934, as únicas reservas florestais no Brasil eram as do Alto da
Serra, no estado de São Paulo, e Itatiaia, na Serra da Mantiqueira, no extremo oeste do Rio de Janeiro. Somente
dois parques foram criados no governo Vargas, o da Serra dos Órgãos, no norte do Rio de Janeiro, e o de Iguaçu,
as margens das Cataratas no Paraná.
57
apareciam cada vez mais como imperativos que deveriam ser seguidos a qualquer custo para
superar os entraves para o crescimento do país.
Nesse sentido, as décadas de 1950 e 1960 foram marcadas pelo esforço do Governo
em transformar a economia brasileira de agrícola para industrial, que vinha sendo feito,
conforme analisado, desde 1930 (RESENDE, 2012, p. 82). O ―desenvolvimento econômico‖
era entendido como ―políticas de governo que estimulariam a acumulação de capital e a
industrialização, e com isso, um ritmo de crescimento econômico muito mais rápido que
qualquer outro experimentado na história‖ (DEAN, 2013, p. 280) e se sobrepunham ao
estabelecimento de conservação dos recursos naturais. Assim sendo, esta ideia atuou como
justificadora dos atos de exploração da natureza, sobretudo durante meados da década de
1940 a 1960 quando vários foram os projetos com viés desenvolvimentista colocados em
execução.
De modo geral, e considerando o contexto político bastante conturbado, pode-se
afirmar que os sucessivos governos dessas décadas, considerada pela historiografia como a
Segunda República25
(31 de janeiro de 1946 a 01 de abril de 1964) ostentavam políticas
contraditórias em relação à exploração e preservação da floresta.
O papel que assumiu o Estado neste contexto foi primordialmente o de fomentar o
desenvolvimento econômico a qualquer custo. Conforme destaca Dean, ao analisar os
impactos dessas políticas e ações, as propostas governamentais, de modo geral, focalizavam o
mercado externo e por meio da expansão do comércio de madeiras de lei, da transformação do
minério de ferro na matéria prima da indústria pesada e pela construção de estradas e projetos
de hidrelétricas e expansão de redes de transmissão.
Assim, ―o nacionalismo econômico, bem como a escassez de capital privado, levaram
à criação de empresas governamentais de mineração, siderurgia, hidroeletricidade, petróleo e
petroquímica, todas potencialmente muito poluentes‖ (DEAN, 2013, p. 219).
A motivação do governo em implementar políticas e ações voltadas para o
desenvolvimento econômico o levou a aumentar o quadro de servidores públicos, tendo em
vista a necessidade de melhorar a eficiência com a qual os recursos naturais do país eram
explorados. Estes funcionários, a serviço do Estado, defendiam as causas ambientais e
possuíam um forte viés conservacionista.
25
Conforme destaca Resende (2010, p. 83), após a era Vargas, o Brasil teve 8 presidentes: Eurico Gaspar Dutra
(1945-1951); Getúlio Vargas (1951-1954); Café Filho (08/1954-11/1955), Carlos Luz (8-11/1955), Nereu Ramos
(11/1955-01/1956); Juscelino Kubitschek (1956-1961); Jânio Quadros (1961); e João Goulart (1961-1964).
58
Contudo, segundo avaliação de Dean (2013), tanto os poucos representantes dos
movimentos ambientalistas quanto os servidores públicos que atuavam na vertente
conservacionista eram oriundos da classe média, não possuindo vinculação com os interesses
políticos da direita ou da esquerda. Dessa forma, sustenta o autor, estes agentes não percebiam
as discussões relativas à reforma agrária como relacionadas e/ou influenciadas pela temática
ambiental (DEAN, 2013, p. 302).
A tensão entre o governo João Goulart e os interesses agrários gerou uma série de
pressões, com acirramento das tensões e manifestações, não só no campo – com aumento da
violência dos proprietários rurais – mas também nas cidades, com greves de variados setores,
o que levou à sua deposição, em 1964. Ainda segundo Acserald (2012, p. 24):
Associações como a SRB e o Conselhos das Classes Produtoras (Conclap)
comandaram ações para resistirem a ameaças que se supunham ultrapassar a
questão propriamente fundiária. A decisão de avançar no caminho da
redistribuição de terras, apesar da resistência do Congresso em aprovar
emendas à Constituição Federal, levou Goulart a ordenar que a
Superintendência da Reforma Agrária (Supra) elaborasse um decreto para,
nos marcos legais, autorizar a desapropriação de áreas localizadas às
margens de rodovias federais e açudes (...). Poucos dias depois de assinar o
decreto, Goulart estará exilado no exterior.
Com a instauração da ditadura civil-militar em 01 de abril de 1964, os generais
interromperam bruscamente as discussões sobre a reforma agrária, que estavam se iniciando,
exilando centenas de políticos civis e líderes trabalhistas considerados subversivos e
inaugurando um novo modelo de desenvolvimento no país.
Além disso, substituíram os partidos políticos existentes por outros considerados
subservientes e restringiram os direitos civis, limitando ainda mais a possibilidade de criação
de associações e mobilizações, haja vista a constante suspeita de subversão da ordem que
pairava sob qualquer forma de ação cívica coletiva.
No que se refere às discussões sobre a reforma agrária, sobretudo durante o regime
civil militar (01 de abril de 1964 a 15 de março de 1985) e após algumas manifestações
populares, notadamente de setores ligado à Liga Camponesa e à Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura (CONTAG),
o governo brasileiro, tentando minimizar os
impactos dessas manifestações no país, iniciou um processo de reformas institucionais que
levaria a proposição da reforma agrária no país.
Conforme discorre Acserald (2012, p. 23):
Um único projeto de reforma agrária logrou submeter-se à votação no
plenário da Câmara dos Deputados. Apresentada pelo deputado Bocayuva
Cunha em 15 de abril de 1963 e votada em 07 de outubro do mesmo ano, a
59
Emenda Constitucional nº 1 obrigaria o Estado a compensar os donos de
terras desapropriadas com ―indenização justa, mediante títulos da dívida
pública, resgatáveis em prestações sujeitas à correção do valor monetário em
limite não excedente a dez por cento ao ano‖ (...). A emenda foi derrotada
por contar essencialmente com apoio de apenas um grande partido – o do
presidente Goulart.
Além disso, o governo militar cumpriu um papel decisivo no desenvolvimento do
agronegócio, por meio das políticas de financiamento agrário, conforme mencionado. O
Estatuto da Terra, Lei 4.504 de 30 de novembro de 1964, a despeito de preconizar a reforma
agrária, tentou neutralizar os conflitos no campo e, segundo Bruno (2009, p. 213), apesar de
impor limites ao poder do latifundiário, os grandes proprietários de terras e empresários rurais
obtiveram expressivas vitórias durante a elaboração deste instrumento jurídico, condicionando
a lei aos limites de um projeto reformista.
Da mesma forma que a questão agrária passou a ser reduzida à questão agrícola
(ACSERALD, 2012), para os generais, a conservação também deveria ser devidamente
limitada para o atendimento de seus interesses. Assim, a conservação dos recursos naturais
não eram considerada uma questão primordial a ser tratada pelos militares, embora estes
tenham atribuído alguma atenção ao assunto, motivados pela necessidade de garantir a
―segurança nacional‖, a integridade das fronteiras e o fortalecimento do discurso nacionalista
que enfatizava as grandezas naturais do país.
Tendo esta visão como norteadora, a destruição florestal foi diversas vezes abordada
na Escola Superior de Guerra das Forças Armadas. Para além desse discurso militarista, havia
também a necessidade de racionalizar o comércio de madeira, motivo pelo qual as florestas
eram vislumbradas, também, com um viés utilitarista (DEAN, 2013). Neste sentido, a política
florestal implementada pelos governos militares tinha como objetivo o fornecimento de
matéria prima para as indústrias, ―ou seja, uma preocupação eminentemente
desenvolvimentista, incentivando o (re)florestamento com a finalidade de exportar os
‗recursos‘ florestais‖ (TAVARES, 2012, p.65).
É neste passar que são editadas algumas leis ambientais durante o regime civil-militar,
mais precisamente, no decorrer de seus primeiro anos, nos quais se prometia uma
administração efetiva do patrimônio nacional.
Durante anos, grupos de estudo vinham esboçando um substitutivo para o Código
Florestal de 1934 visando a criação de um novo instrumento jurídico destinado à proteção das
florestas. Assim, no ano de 1950 foi remetida ao Congresso Nacional uma proposta de
substituição do Código Florestal de 1934. Contudo, o projeto, que sugeria mudanças pontuais
60
e pequenas reformas no diploma florestal, vagou por mais de uma década, sem resultados
concretos.
Em 1961, quando o país experimentava um curto regime parlamentarista, no qual o
presidente tinha seus poderes restringidos pelo Congresso Nacional, retomou-se a
possibilidade de substituição da lei vigente, quando o então presidente Jânio Quadros
constituiu um grupo de trabalho, coordenado por Osny Duarte Pereira e composto por juristas
e técnicos de diversas instituições, com a missão de reformular o Código de 1934 (URBAN,
1998, p. 225).
Urban (1998) destaca que o grupo de trabalho que se reuniu para revisar o código
florestal era constituído por Osny Duarte Pereira, magistrado e presidente do grupo; Aldemy
Cabral Neiva, procurador do Instituto Nacional de Migração e Colonização; Bernardo Dain,
consultor jurídico do Ministério da Agricultura; Alceo Magnanini, chefe do Setor de Ecologia
Florestal do Centro de Pesquisa Florestal e Conservação da Natureza do Estado da
Guanabara; Roberto Melo Alvarenga, diretor do Serviço Florestal do Estado de São Paulo;
Henrique Pimenta Velozo, chefe do Setor de Ecologia do Instituto Oswaldo Cruz; e Victor
Abdennur Farah, presidente do Conselho Florestal.
Ainda segundo Urban (1998, p. 228), o grupo deveria adotar como diretrizes a
realização dos trabalhos em gabinete, a aprovação de sugestões apenas com o consenso de
todos os integrantes e o acolhimento de contribuição da sociedade civil – incluindo setores de
movimentos ambientalistas e do empresariado rural – apenas após a proposta inicial.
Em entrevista a Alceo Magnanini, um dos componentes do grupo de trabalho acima
mencionado, Aglio (2012) destaca que esta comissão se reuniu semanalmente, durante dois
anos, na biblioteca da Escola Nacional de Agronomia, no Rio de Janeiro e analisou cada item
da lei. Comentando a composição da comissão, Alceo Magnanini destaca:
Era um pessoal que tinha peso. Eu tinha sido secretário executivo da
Campanha Nacional de Educação Florestal. Nós todos fazíamos parte do
Conselho Florestal Federal, aqui no Rio de Janeiro. O Victor era exatamente
o presidente. Ele levou depois o processo, a necessidade ao Janio Quadros e
foi criado o grupo (entrevista com Alceu Magnanini, realizada por AGLIO,
2012, p. 35).
Ainda em entrevista realizada por Aglio (2012, p. 36), Magnanini destacou que, para
avaliar os tópicos da lei, o grupo partiu de uma orientação metodológica, definida pelo
presidente, segundo o critério de função ou utilidade da floresta, contudo, sem descuidar dos
aspectos holísticos relativos à preservação do meio ambiente. Segundo Magnani:
61
A floresta existe ali, mas ela está em equilíbrio com o clima, com as águas,
com a flora, com a fauna e tem que estar em equilíbrio com o homem. O
espírito era de uma lei para a proteção do homem! (...) Tem que ter noções
de ecologia, nós tínhamos conhecimento de fazer uma lei que não era
florestal, era uma lei ambiental. A natureza existe e você tem que viver na
natureza. Estamos lutando para conservar as florestas com toda sua
fisionomia, em determinados pontos que a própria natureza diz o que é app26
.
O que é necessário para você viver na natureza? As app‘s (sic). Qual é o boi
que consegue andar em encostas acima de 45 graus? A lei da gravidade
ninguém muda. O sujeito compra um terreno acima de 45 graus e não pode
fazer nada? Não! Você tá passando por cima da posse da propriedade, mas o
interesse da coletividade prevalece sobre o individual. As app‘s (sic) são um
tributo que o homem paga pelo que a natureza estabeleceu! (entrevista com
Alceo Magnanini, realizada por AGLIO, 2012, p. 36).
Aglio (2012) destaca, com base na entrevista realizada, que a preocupação central era
que o resultado do processo pudesse ser de fácil entendimento para todos, sobretudo para os
que teriam que lidar com o Código Florestal. Esta preocupação deveria se traduzir em um
documento de linguagem mais simplificada possível, para que fosse de fácil divulgação.
Conforme destaca Maganini, ao se referir à intenção do presidente da comissão revisora do
Código:
Desejo que a gente saia do trabalho com uma lei que tenha no máximo
quarenta artigos, porque eu quero que quarenta artigos a gente possa em três
folhas de papel escrever. Eu quero que em todas as estações ferroviárias,
rodoviárias, aeroportos e portos tenham um quadro com a lei florestal do
Brasil, eu não quero que técnico nenhum depois seja consultado, quem vai
executar o código é o homem do campo, a linguagem deve ser acessível a
todo o povo brasileiro (entrevista com Alceo Magnanini, realizada por
AGLIO, 2012, p. 37).
A despeito dessa intenção, a leitura do dispositivo em análise não se apresenta como
de fácil linguagem, muito embora, originalmente, a lei tenha sido editada com poucos
dispositivos27
. Assim, em setembro de 1965 – três anos antes de ser dissolvido pelo Ato
Institucional nº 5 – o Congresso Nacional aprovou o novo Código Florestal Brasileiro (CFB),
que foi sancionado pelo presidente General Humberto de Alencar Castello Branco, como Lei
nº 4.771/1965 (CUNHA, 2013, p. 51).
26
Conforme Machado (2013, p. 158), entende-se por área de preservação permanente – APP – as áreas com
funções específicas e diferenciadas (proteção das águas, montanhas e ecossistemas diferenciados) que devem ser
protegidas de forma continua e duradoura pelo poder público. 27
Conforme será abordado em capítulos posteriores, esta lei florestal aprovada em 1965 foi modificada por
inúmeros decretos, leis e medidas provisórias, o que aumentava o descontentamento e demandas por uma revisão
completa desta lei, o que efetivamente foi feito, a partir de interesses de setores ligados ao agronegócio e que
resultou na revogação deste instrumento.
62
Esta Lei, editada no início da ditadura militar, trouxe novas medidas de intervenção
estatal na propriedade privada, contudo, manteve boa parte dos pressupostos e objetivos do
Código anterior e sua elaboração. De acordo com Resende (2010, p. 87):
O novo Código Florestal definiu claramente duas linhas de política para os
recursos florestais brasileiros. A primeira de proteção, ao estabelecer as
florestas de preservação permanente, reserva legal e as áreas de uso indireto
(Parques Nacionais e Reservas Biológicas) e, a segunda de conservação
através do uso racional, ou seja, a exploração das florestas plantadas e
nativas vinculando o consumo à reposição florestal, o uso múltiplo através
da exploração das áreas públicas (Florestas Nacionais) e privadas, na
obrigação da constituição de serviço florestal nas grandes consumidoras e,
finalmente, pelo incentivo ao reflorestamento através de deduções fiscais.
Além disso, assim como ocorreu com o seu antecessor de 1934, este Código Florestal
levou em conta os conhecimentos científicos de época (AGLIO, 2012; CUNHA, 2013). A
leitura do art. 1º, abaixo transcrito, deixa entrever a semelhança:
Art. 1° As florestas existentes no território nacional e as demais formas de
vegetação, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de
interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de
propriedade, com as limitações que a legislação em geral e especialmente
esta Lei estabelecem.
O texto evitava adentrar em maiores polêmicas e foi considerado um instrumento de
consenso, fato este que se consolidou dada a não efetividade, por questões políticas e sociais,
do referido instrumento legislativo.
Para Aglio (2012, p. 37) merece destaque que estes desses dois processos – o
estabelecimento da ditadura militar e a revisão do Código Florestal – tenham ocorrido
conjuntamente, tendo em vista que este trabalho de revisão, em sua concepção, fora realizado
por uma comissão de técnicos e juristas vinculados a instituições de pesquisa e conselhos
federais e por meio de um processo aberto de consulta, com algumas audiências públicas
realizadas no processo de alteração da lei.
Conforme avaliação de Magnanini (AGLIO, 2012, p. 38), este fato deve ser visto
como uma vitória, pois, na ocasião, a comissão poderia ter cedido aos apelos políticos,
contudo, as decisões tomadas pela comissão tiveram prevalência. Além disso, conforme
destaca, o presidente da Comissão, Victor Abdennur Farah, era simpatizante do Partido
Comunista.
A moeda tem duas faces, você sempre encontra um consultor que diz uma
coisa e outro que diz o que te interessa. Quando você é reto na opinião e
coloca a técnica acima da política, se eles não concordam você é afastado, se
concordam você ganha a história. Nós ganhamos a história! Um comunista
63
que leva uma lei para o ditador Castelo Branco, e ele aprova no tempo da
ditadura, é porque tinha valor (entrevista com Alceo Magnanini realizada por
AGLIO, 2012, p. 38).
De outro modo, outros estudiosos (BENJAMIN, apud CUNHA, 2013) consideram que
somente a certeza da inaplicabilidade ou inexibilidade deste instrumento legislativo explicaria
sua promulgação por um Executivo militarmente ocupado e anticomunista declarado, acusado
de graves violações a diretos humanos e isso tudo sob os auspícios de um Congresso
dominado por uma poderosa oligarquia rural. Conforme Cunha (2013, p. 51):
De fato, considerando este contexto político, causa estranheza esta lei limitar
o exercício dos direitos de propriedade em imóveis rurais e considerar as
florestas e demais formas de vegetação como ―bens de interesse comum a
todos os habitantes do País‖.
Ressalte-se, ainda, que além da certeza, não declarada, da inaplicabilidade da lei pelos
setores produtivos, contribuiu para que a mesma fosse tolerada pelas elites rurais o fato de
que, em 1965, o Brasil ainda não tinha um grande comprometimento de áreas destinadas à
produção agrícola e ao crescimento do agronegócio. Sobre este aspecto, conforme destaca
Figueiredo e Leuzigner (2001, p.01):
Ao ser publicado em 1965, o Código Florestal (Lei federal n. 4.771) oferecia
aos proprietários de terras uma bastante ampla margem para exploração
agrária de seus imóveis. Sua edição, em substituição ao vetusto e
praticamente inaplicado Decreto Federal 23.793, de 23 de janeiro de 1934,
dava-se numa época em que ainda havia áreas contínuas extensas e intocadas
em ecossistemas representativos como o Cerrado, o Pantanal Mato-
Grossense, a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica. Assim, talvez não
tenha sido a certeza de sua inaplicabilidade ou exigibilidade que fez com que
a oligarquia rural não se insurgisse contra a promulgação da nova lei, em
plena ascensão do regime militar, mas sim a relativa inconsistência dos
limites estabelecidos ao direito de propriedade, que, àquela época, ainda
estavam muito longe de serem atingidos.
Assim sendo, prosseguem os autores, os limites da lei, à época de sua edição, pareciam
longínquos e de difícil alcance, contudo, o processo de modernização agrícola, fez com que,
com o passar de tempo, fossem alterados os quadros de proteção dos ecossistemas e os limites
passaram a incomodar as elites agrárias (FIGUEIREDO E LEUZIGNER, 2001).
Pode-se afirmar, dessa forma, que as elites agrárias não tinham a real dimensão dos
impactos da legislação ambiental, em especial a florestal, sobre as suas pretensões de
expansão agrícola e pecuária, daí porque quando da sua edição, não fora combatida de forma
enfática. O patronato rural preferiu centrar suas forças nos debates sobre a reforma agrária e
64
somente quando as implicações da legislação sobre o seu interesses se tornaram mais
evidentes é que organizaram o contra ataque, conforme explanaremos em capítulos seguintes.
Relativamente ao texto da lei, o Código Florestal de 1965 apresentava a seguinte
estrutura: I) Caracterização das florestas e demais formas de vegetação como bens de
interesse comum; II) Preservação e conservação; III) Medidas contra incêndio; IV)
Exploração econômica; V) Incentivo à atividade; VI) Controle e fiscalização; VII) Educação
florestal; VIII) Penalidades; IX) Disposições transitórias e finais.
A despeito de algumas semelhanças, cumpre ressaltar algumas inovações trazidas pela
Lei nº 4.771/1965, dentre elas, o conceito de Reserva Legal e de Áreas de Preservação
Permanente28
. Cumpre destacar que estes institutos são definidos no artigo 1º, § 2º, incisos II
e III, ambos sofrendo alterações posteriores pela Medida Provisória 2.166-67, de 2001.
Conforme texto legal:
Art. 1º, § 2º. Para os efeitos deste Código, entende-se por:
II - área de preservação permanente: área protegida nos termos dos arts. 2º e
3º desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de
preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a
biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o
bem-estar das populações humanas; (Incluído pela Medida Provisória nº
2.166-67, de 2001)
III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse
rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável
dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos,
à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora
nativas; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 2001)
Dean (2013, p. 304) ao comentar alguns dispositivos deste instrumento normativo
destaca que o mesmo ratificava a autoridade do Estado sobre as florestas particulares,
restabelecia penalidades criminais por infrações, estendendo a proteção a outros tipos de
vegetações tais como florestas de galerias e manguezais e simplificava a classificação das
florestas.
Além disso, determinava que as indústrias que consumiam madeira e carvão vegetal
eram obrigadas a criar, no prazo de dez anos, florestas plantadas amplas o bastante para suprir
todas as suas necessidades e isentava a terra florestada de todo tributo e a própria mata, para
fins de tributação, era excluída do total de bens.
28
As Áreas de Preservação Permanente já tinham previsão legal desde a edição da Lei 4.4771/65, e trata-se da
preservação da vegetação em áreas situadas em locais definidos por lei. Já a Reserva Legal foi instituída,
inicialmente, pela Lei nº 7.803, de 18 de junho de 1989, e após inúmeras medidas provisórias, foi incorporada ao
texto do Código Florestal. Ainda com relação a Reserva Legal, as medidas de proteção variavam conforme o
bioma no qual se insere a propriedade rural.
65
Contudo, algumas medidas chamam atenção por seu caráter danoso ao meio ambiente,
por deixar ―brechas‖ para o processo de devastação. Dentre elas, mencione-se:
Abandonava-se o princípio de que os proprietários de terra deviam proteger
os mananciais com cobertura vegetal sem compensação e, em seu lugar,
encarregava-se o Estado de sua consequente desapropriação (...) O governo
também não repudiava a destruição de ―florestas de preservação
permanente‖, embora os casos de ―utilidade pública ou interesse social‖
ficassem sujeitos á aprovação do presidente. A reforma agrária era o único
projeto federal obrigado a respeitar a floresta existente. O proprietário era
autorizado, ―no intuito de aumentar o retorno econômico‖, a cortar sua
última faixa de floresta nativa desde que seu objetivo fosse substituí-la pelo
plantio de arvoredos homogêneos (DEAN, 2013, p. 304).
Percebia-se, por parte do governo, uma espécie de renúncia a proteção dos recursos
florestais, deixando a cargo dos proprietários particulares a incumbência de preservar a
floresta primária e plantar florestas remanescentes – ainda que oferecessem incentivos fiscais
para tanto, que sempre pareciam insuficientes aos proprietários.
Ainda durante o regime civil-militar, além do Código Florestal de 1965, foram
promulgados um novo código de caça e pesca, autorizando a criação de refúgios da vida
selvagem e proibindo a exportação da caça, bem como um decreto-lei que unificou diversas
agências responsáveis por parques e reservas florestais em um único instituto, o Instituto
Brasileiro para o Desenvolvimento da Floresta (IBDF)29
.
Cumpre destacar que este instituto, tendo redigido um relatório de 1969, demonstrava
que apenas três dos parques mais antigos eram efetivamente administrados e mesmo eles
continuavam, em parte, em mãos de particulares e carentes de recursos para possibilitar
investigações científicas. Nenhum parque foi criado durante a década de 1960 (DEAN, 2013,
p. 305).
Na década de 1970, intensificou-se a necessidade de alcançar o desenvolvimento
econômico, de modo que, neste período, a economia brasileira ingressou em um período de
crescimento extremamente rápido, o chamado ―milagre econômico‖, em que as preocupações
ambientais eram desconsideradas. Também caracteriza este período a extrema repressão
provocada pelo regime ditatorial a qualquer forma de manifestação política independente.
29
O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF foi criado pelo Decreto-Lei 289/67, com o
objetivo de formular a política florestal, bem como a orientar, coordenar e executar ou fazer executar as medidas
necessárias à utilização racional, à proteção e à conservação dos recursos naturais renováveis e ao
desenvolvimento florestal do País (SIQUEIRA, 2014). Dentre as críticas feitas a este instituto, merece destaque
o fato de que a sua maior preocupação seria o de incorporar os recursos florestais ao processo produtivo como
objetivo primordial, ficando em segundo plano a defesa das florestas. O IBDF foi extinto por meio da Lei nº
7.732, de 14 de fevereiro de 1989.
66
Concomitantemente ao ―milagre econômico‖ experimentado pelo Brasil, os custos e as
consequências ambientais negativas resultantes do processo de modernização econômica
ingressavam na pauta dos países ―desenvolvidos‖ e suas agências intensificaram em nível
global o processo de fomento e discussões da amplitude e abrangência da ―crise ambiental‖.
1.3 A discussão internacional sobre a questão ambiental e os reflexos na elaboração de
dispositivos legais em âmbito nacional
Conforme afirmado anteriormente, a discussão ambiental em âmbito internacional
ganhou renovado fôlego nas últimas décadas do século XX, após a percepção, difundida por
alguns agentes, estudiosos e diplomatas dos países ditos desenvolvidos30
, de que o
desenvolvimento econômico e o processo de industrialização em larga escala estavam
gerando o que se convencionou de ―crise ambiental‖. Sobre este aspecto, destaca Oliveira
(2005, p. 09):
Atualmente, os problemas ambientais têm sido apresentados ao público em
geral como passíveis de levar a uma ―crise‖ do sistema social como um todo,
uma vez que não se trata simplesmente de questões particulares e privadas
que ameaçam determinados países e camadas da população e, sim, de
problemas que podem conduzir a uma ―crise geral da sociedade‖, que
ameaçam a ―existência do planeta‖ e, assim, a própria ―sobrevivência da
humanidade em seu conjunto‖.
Ainda segundo Oliveira (2005, p. 09), mesmo que ao público geral a proteção
ambiental seja apresentada sob a forma de algo evidente e homogêneo, no confronto com os
atores que participam da produção das causas ambientais, a heterogeneidade é o que mais
chama atenção nesse processo.
Assim sendo, diferentes agentes e instituições internacionais, sobretudo vinculadas à
Organização das Nações Unidas, realizaram um esforço de empreender uma agenda mundial
de reuniões e ações com vistas a difundir não somente esta noção de crise, como possíveis
alternativas que conciliassem o desenvolvimento econômico e a preservação/conservação do
meio ambiente.
30
Consideramos o conceito de desenvolvimento tal como analisado criticamente por Gustavo Esteva (2000, p.
56), para quem a palavra é sobrecarregada de pré-noções ao hierarquizar as diferentes sociedades, dado o seu
contexto de criação com vistas a consolidar a hegemonia norte-americana após a segunda guerra mundial. Nesse
sentido, ―El desarrollo ocupa la posición central de una constelación semántica increíblemente poderosa. (...) La
metáfora del desarrollo dio hegemonía global a una genealogía de la historia puramente occidental, privando a
los pueblos de culturas diferentes de la oportunidad de definir las formas de su vida social‖.
67
Diante desse contexto, pretendemos destacar alguns desses eventos internacionais e
alguns pressupostos e/ou resultados dos mesmos, nos quais as noções acima referidas se
fizeram presentes. Cumpre ressaltar que esses eventos exercem um importante papel na
construção da questão ambiental como uma questão pública, sendo a mesma elaborada a
partir da percepção, valores e projetos das agências realizadoras (FUKS, 2001).
O primeiro desses eventos, orientado pelos pressupostos da teoria de Thomas
Malthus31
(1766-1834) – para quem o crescimento populacional se dava em progressão
geométrica, enquanto os meios de subsistência para atender a população cresciam em
progressão aritmética – foi a reunião denominada ―Clube de Roma‖, em 1968.
Pesquisadores, educadores, economistas, industriais e funcionários públicos de
diferentes países32
do mundo se reuniram para debater assuntos relacionados ao meio
ambiente e à economia internacional, sendo que o relatório resultante desta reunião, intitulado
―Limites do Crescimento: um relatório para o Projeto do Clube de Roma sobre os Dilemas da
Humanidade‖ reeditava este argumento malthusiano.
Este relatório33
, cumpre destacar, obteve uma grande divulgação internacional e,
dentre as suas principais conclusões, constava que o crescimento populacional comprometeria
os recursos naturais e energéticos, causando impactos e gerando poluição intensa.
Neste contexto de reuniões internacionais, a Organização das Nações Unidas realizou,
entre os dias 05 a 16 de junho de 1972, na cidade de Estocolmo, Suécia, a ―Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano‖, também conhecida por ―Conferência de
Estocolmo‖. Esta conferência contou com a participação de 115 países e 250 organizações
não governamentais e organismos vinculados à ONU, tendo como chefe da delegação
brasileira o Ministro do Interior José Costa Cavalcanti34
. De acordo com Cavalcanti, em
Relatório da Delegação do Brasil (1972, p. 03):
31
Cumpre destacar que a ―teoria malthusiana‖ foi incorporada no projeto de Lei 1.876/1999, do deputado Aldo
Rebelo, em 2010, para fundamentar as alterações na legislação florestal brasileira, conforme se analisará em
capítulo próprio. 32
Não foi possível encontrar referências à participação de representantes brasileiros nesta reunião ocorrida em
Roma, Itália, em 1968. 33
Conforme afirma Sant‘Ana Júnior e Muniz (2009, p. 259), ―O relatório do Clube de Roma configura-se como
um alerta significativo, pois é elaborado a partir da iniciativa de agentes sociais identificados com a elite
econômica, intelectual e política do mundo capitalista e, ao demonstrar os limites do crescimento, amplia as
possibilidades de questionamento das bases do sistema produtivo que mantêm este mesmo mundo, gerando
embaraços para os discursos de justificação da necessidade de crescer e desenvolver‖. 34
Conforme ―Relatório da delegação do Brasil à Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
Humano – Estocolmo – 1972‖ (1972, p. 14), a delegação constituída pelo Decreto Presidencial de 24 de abril de
1972, contou os seguintes membros: Chefe da delegação Ministro do Interior José Costa Cavalcanti; subchefe
Embaixador Miguel Álvaro Ozório de Almeida; Delegados – Vice-Almirante Paulo de Castro Moreira da Silva;
Embaixador Carlos Calero Rodrigues; Doutor Henrique Brandão Cavalcanti; Doutor Rubens Vaz da Costa;
Delegados Suplentes – Ministro Espedito de Freitas Resende; Doutor Isaac Kerstenetzky; Primeiro Secretário
68
Como chefe da delegação brasileira, procurei definir a posição de nosso país
no estabelecimento de prioridades conceituais e nas recomendações aos
instrumentos de cooperação internacional. Nesse sentido, e de acordo com as
diretrizes do Excelentíssimo Senhor Presidente Médici, coube-me destacar a
importância das medidas destinadas a aumentar a participação das
populações no processo de desenvolvimento através da redução das
desigualdades sociais e econômicas, e da manutenção de taxas aceleradas de
crescimento.
De acordo com Alceu Magnanini (apud URBAN, 1998, p. 263), a Conferência de
1972 foi uma reunião estritamente governamental, de modo que os posicionamentos dos
representantes do Brasil foi marcado por uma postura extremamente defensiva e com a
exclusão daqueles que manifestavam que a delegação deveria defender interesses mais
conservacionistas. De acordo com Magnanini:
Um ano antes de Estocolmo, foi formada uma comissão, incumbida de
preparar o relatório brasileiro sobre a questão ambiental. Havia
representantes de vários ministérios (...) Eu fiquei com a parte florestal, com
a parte referente à flora. (...) Fui afastado definitivamente da delegação
brasileira, porque adverti o representante do Ministério da Saúde, que
escreverá em seu relatório que o governo brasileiro, para erradicar a malária,
tinha dispersado nos igarapés da Amazônia cento e cinquenta toneladas de
DDT (...) argumentei que o uso do DDT contrariava todos os estudos
técnicos, toda bibliografia especializada. Acabei usando um exemplo
pesado: ―é a mesma coisa que o Brasil ir a um Congresso de Odontologia e
se vangloriar que extraiu quarenta e cinco dentes, usando um porrete como
anestesia‖. Um método pré-histórico. Tiraram essa informação do relatório
brasileiro, mas me tiraram também (URBAN, 1998, p. 264).
Assim, conforme sustenta Alceu Magnanini (apud URBAN, 1998, p. 267), inclusive
com base em sua participação nas reuniões preparatórias e na própria Conferência de
Estocolmo, a qual foi representando o IBDF, a participação do Brasil foi extremamente
defensiva e tímida. Ainda segundo Magnanini, a principal consequência desta conferência foi
a repercussão dada a preocupação das ONGs estrangeiras no país e a ameaça que
representavam à política e à soberania nacional. Foi neste contexto que ―Na Conferência, o
Brasil apresentou friamente um relatório, afirmando que estava tudo controlado, que não
Bernardo de Azevedo Brito; Doutor Aimone Camardella e Doutor Mário Trindade; Assessores Técnicos –
Doutor José Cândido de Melo Carvalho; Doutor Fausto Pereira Guimarães; Doutor Flávio Dionysio de Andrade
Costa; Coronel Adhemar da Costa Machado; Doutor Vinicius Fonseca; Assessores – Segundo-Secretário Luiz
Felipe de Macedo Soares Guimarães; Segundo-Secretário Raphael Valentino Sobrinho; Segundo- Secretário
Mário Grieco; Terceiro-Secretário Washington Luiz Pereira de Sousa Neto e Observadores Parlamentares –
Senador Francisco Accioly Rodrigues da Costa Filho e Deputado José Roberto Faria Lima.
69
havia problema algum, que o país não admitia nenhuma influência exótica‖ (URBAN, 1998,
p. 267).
Assim, o governo ditatorial reagiu com arrogância diante das questões levantadas
neste evento, haja vista que a ideia principal sustentada pelo regime ditatorial – que estavam
atendendo a interesses do empresariado internacional que atuava no Brasil e do próprio
empresariado nacional – era de que os países industrializados queriam impedir o Brasil de
chegar ao patamar de ―país desenvolvido‖. Conforme afirma:
Especulava-se que uma das vantagens comparativas do Brasil consistia
precisamente em sua capacidade ainda integral de absorver a poluição
industrial. ―Que venha a poluição, desde que as fábricas venham com ela‖,
exultava José Sarney, um senador do Nordeste que se tornaria presidente
uma década depois. O representante do governo na conferência apresentou
uma formula populista dissimulada a qual constantemente seria repetida: ―A
pior forma de poluição é a pobreza‖ (DEAN, 2013, p. 307).
Ainda segundo Dean (2013), a desaceleração da economia nacional – motivada pela
crise do petróleo, levando o produto a quadruplicar de preço no final de 1973 – fez com que
os militares lançassem projetos de desenvolvimento ainda mais agressivos ao meio ambiente,
sem se preocupar com os efeitos sociais que poderiam advir dos mesmos. A sondagem de
petróleo na plataforma marinha, programas de biocombustível visando converter cana de
açúcar em álcool combustível, implantação de usinas de energia nuclear (a exemplo de Angra
1 e 2, no Rio de Janeiro), a criação e expansão de usinas hidrelétricas (a exemplo de Tucuruí e
Balbina), a construção da rodovia Transamazônica e a construção de linhas de transmissão
foram alguns dos projetos implementados neste período.
Os desastres ambientais que se seguiram a estes projetos, motivados pela falta de
consideração da variável ambiental na formulação e implementação, não foram suficientes
para convencer os governos a adotarem mecanismo de proteção e revisão das consequências
de se buscar alcançar a meta do desenvolvimento econômico a qualquer preço.
Contudo, a despeito do extremo desprezo com que as preocupações ambientais eram
recebidas pelo governo ditatorial e seus auxiliares tecnocratas, foi criado, em 1973, o primeiro
órgão brasileiro de meio ambiente de atuação nacional, a Secretaria de Meio Ambiente no
âmbito do então Ministério do Interior, bem como foram editadas algumas leis voltadas para a
proteção ambiental35
.
35
Dentre essas leis, menciona-se a Lei nº 6.938/1981, que estabeleceu os princípios e objetivos da Política
Nacional de Meio Ambiente, diferenciando-se das leis anteriormente editadas, pois considerava o meio ambiente
de forma holística e sistêmica e não desarticulada, como os instrumentos jurídicos anteriores. Conforme destaca
Milaré (2007, p. 746) ―A lei 6.938, de 31.08.1981 (...) entre outros tantos méritos, teve o de trazer para o mundo
70
Tal medida – considerada pelos ambientalistas uma fachada para minorar as críticas
internacionais ao governo brasileiro – teve como incumbência o monitoramento e o controle
da poluição, bem como prevenção da extinção de plantas e animais. Aos ambientalistas
encarregados de gerenciar os órgãos recém criados, coube ainda a tarefa de convencer e
persuadir membros influentes das forças armadas ―sobre a conveniência econômica e
estratégica de se aumentar a proteção da natureza‖ (DEAN, 2013, p. 322).
Como se afirmou anteriormente, neste período, pairava uma constante suspeita de que
os países estrangeiros tinham interesse em se apropriar dos recursos nacionais e impedir o
desenvolvimento nacional, de modo que qualquer ajuda internacional à causa ambiental era
vista com extrema desconfiança pelos membros do regime ditatorial.
A década de 1970, em termos de criação de parques ou de proteção aos já criados, não
foi considerada significativa. Segundo Dean (2013, p. 325), ―os decretos declarando os
parques e outros tipos de reservas quase nunca eram acompanhados pela alocação de fundos
para desapropriar propriedades particulares em suas áreas ou mesmo para demarcar seus
limites‖.
Acselrad (2008, p. 227) destaca que a ação governamental neste período fora pautada
pela necessidade de produzir um ―meio ambiente único‖, capaz de garantir as condições
desejáveis para atrair e desenvolver grandes projetos, especialmente nas áreas de mineração,
energia e expansão da fronteira agrícola.
Assim sendo, a preocupação era a de ―constituir um meio ambiente de Estado,
apropriado ao modelo de desenvolvimento expansivo baseado no grande aporte de
financiamentos externos e na montagem em curso de um pesado complexo infra-estrutural‖
(ACSELRAD, 2008, p. 227).
Ainda segundo o autor, nas décadas seguintes – nas quais se observou o delineamento
e agravamento de uma grave crise estatal – a política ambiental brasileira passou por um
processo de decomposição, pulverização e fragmentação, o que foi agravado pela ausência da
transversalidade da questão ambiental nas demais políticas públicas.
Durante este período, no Brasil, são propostas várias políticas de incentivo a
programas de financiamento voltados para o desenvolvimento econômico e, dentre estas,
merece destaque as políticas voltadas para o incentivo à agricultura.
do Direito o conceito de meio ambiente como objeto específico de proteção em seus múltiplos aspectos; o de
instituir o Sistema Nacional de Meio Ambiente, apto a propiciar o planejamento de uma ação integrada de
diversos órgãos governamentais através de uma política nacional para o setor; e o de estabelecer, no art. 14, § 1º,
a obrigação do poluidor de reparar os danos causados, de acordo com o princípio da responsabilidade objetiva
(ou sem consideração da culpa) em ação movida pelo Ministério Público‖.
71
Conforme destaca Acselrad (2012), a criação de instituições de crédito rural – Sistema
Nacional de Crédito Rural – implementado a partir de 1965 e atingindo o seu ápice em 1986,
assegurou que houvesse uma modernização no campo e o aumento da produtividade rural.
Nesse sentido, conforme destaca Acselrad (2012, p. 166), a exemplo do que realizou
no campo industrial, o Estado exerceu um papel determinante na consolidação do agronegócio
no Brasil36
. Importante ainda destacar que as políticas de fomento à agricultura e a expansão
das áreas destinadas à produção – assim como a acentuação da concentração técnica de
capitais – implicaram na ampliação e fusão de interesses de origem agrária, industrial e
bancária (LEAL, 2002) – aumentando o poder de pressão dos grupos economicamente mais
fortes.
Nos anos de 1980, as discussões sobre desenvolvimento econômico e preservação
ambiental ganham novos recursos argumentativos, sobretudo com o advento do conceito de
―desenvolvimento sustentável‖.
A difusão deste termo deveu-se a publicação do Relatório das Nações Unidas
intitulado ―Nosso Futuro Comum‖, em 1987, coordenado pela ex primeira ministra da
Noruega, Gro Brundtland – razão pela qual ficou conhecido como ―Relatório Brundtland‖.
Este documento faz referência ao conceito de ―desenvolvimento sustentável‖ nos
seguintes termos: ―é aquele que satisfaz as necessidades das gerações atuais sem comprometer
a capacidade das gerações futuras de satisfazer as suas próprias necessidades‖. Cumpre ainda
destacar, que além da centralidade dada à polêmica37
categoria de ―desenvolvimento
sustentável‖, o ―Relatório Brundtland‖ enfatizou ainda os graves contornos da ―crise
ambiental mundial‖ (CMMAD, 1991).
No Brasil, os programas governamentais da década de 1980 e a aceitação popular com
relação ao governo ditatorial começaram a declinar, sobretudo devido ao abalo ocasionado
pela frágil situação econômica do país, abuso de autoridade dos militares e a repressão aos
direitos de associação e cidadania.
36
Segundo o autor, ―Como se sabe, a contribuição mais relevante do Estado para impulsionar o agronegócio no
Brasil é, atualmente, a mesma que deu incentivo crucial para o setor desde a década de 1960, a saber: a política
de crédito rural, criada em 1965, com a Lei 4.829, que direcionou recursos públicos e privados de diversas
fontes, a juros controlados, para atividades agrícolas, pecuárias e agroindustriais‖ (ACSERALD, 2012, p. 27). 37
Cumpre destacar a extrema maleabilidade presente no conceito de ―desenvolvimento sustentável‖, fazendo
com que o mesmo possa ser adaptado a interesses por vezes opostos na tentativa de conciliar esferas
inconciliáveis. Neste sentido, conforme afirma Buclet (2011, p. 138): ―se as promessas do desenvolvimento
sustentável são atraentes, existem muitas críticas, às vezes justificadas. Alguns autores vêem-na como a nova
religião dos países ricos, outros como uma nova razão para continuar a exploração do terceiro mundo pelos
países desenvolvidos, e outros ainda como uma utopia pouco clara e irrealista, que não dá conta da complexidade
da economia do mercado. (...) O desenvolvimento sustentável se tornou uma ideia universalmente aceita, e não
existe hoje uma só organização ou instituição que se declare contra ela: conceito proteiforme, cuja definição se
adapta àquele que o estiver usando, o desenvolvimento sustentável perdeu o sentido‖.
72
Tal situação de fracasso econômico agravada pelos constantes escândalos políticos e a
oposição da sociedade civil, fez como os militares ―lenta e gradualmente‖ fossem se retirando
da cena política do país.
Os partidos eram autorizados a se reorganizarem, os sindicatos eram
liberados da sujeição e um presidente civil foi finalmente empossado em
1985. A retirada dos militares – na verdade, um fenômeno continental –
colocava em questão o modelo de desenvolvimento econômico adotado e
durante trinta anos e instigava o debate sobre suas consequências ambientais.
O restabelecimento dos direitos civis, uma imprensa sem censura e a
liberdade de associação possibilitaram o reexame de tais políticas, inclusive
de suas dimensões ambientais inerentes (DEAN, 2013, p. 333).
A retirada do comando dos militares do governo federal, contudo, não concretizou
uma imediata transição para a democracia, de modo que, embora o mandato do último general
presidente expirasse em 1985, o Congresso conseguiu sublimar uma campanha popular em
favor da eleição direta de presidente civil e realizou suas próprias eleições. O vencedor,
Tancredo Neves, morreu quando estava prestes a assumir o cargo e foi sucedido pelo vice-
presidente, José Sarney.
O Poder Executivo continuava a encarar as questões ambientais com desconfiança e a
violência no campo continuava sendo perpetrada pelos proprietários rurais para garantir sua
manutenção no poder na Nova República (BRUNO, 2009).
De todo modo, o fim do regime ditatorial e início do processo de democratização do
Estado trouxeram expectativas de que a participação política seria mais intensa e de que
haveria maior debate e transparência sobre as questões públicas e, nessa conjuntura política e
social, o debate sobre a questão ambiental ganhou força no Brasil.
Sobre este processo, afirma Acselrad (2008, p. 231) que, em meados da década de
1980, um grande número de organizações ambientalistas já havia sido criado, contudo, ainda
segundo o autor, a grande quantidade de organizações, quando comparadas às décadas
precedentes, não exerceu uma grande influência política na população.
No que se refere especificamente aos movimentos ambientalistas, conforme destaca
Dean (2013), alguns desastres38
que obtiveram grande repercussão internacional, funcionaram
38
Destaque para dois desastres ecológicos ocorrido em Cubatão, na década de 1980, reforçando o estigma de
―Vale da Morte‖, atribuído à região, desde a década de 1970. Nesta época, a região já era considerada o maior
polo industrial nacional, quando havia mais de cem fábricas na cidade e quase metade delas de propriedade do
Estado. Em fevereiro de 1984, após um acelerado processo de desflorestamento e de um intenso processo de
povoamento da região, houve uma explosão decorrente de um vazamento de gasolina que levou a morte
estimada de duzentas pessoas. ―Menos de um ano depois, após uma semana de chuvas pesadas mas não
anormais, o parque industrial e as favelas de Cubatão foram assoladas por enchentes e deslizamentos de lama.
Dessa vez, 4 mil moradores perderam suas casas‖ (DEAN, 2013, p. 342).
73
como catalizadores dos movimentos ambientalistas e mobilizaram a ação de determinados
agentes para buscar a adesão de mais adeptos às causas ambientais no Brasil.
Contudo, no que se refere aos movimentos ambientalistas, várias são as modalidades
de concepção e dinâmicas de organização e de atuação (OLIVEIRA, 2005), de modo que,
além de interesses diferenciados, por vezes a forma de financiamento acarretava alterações
significativas nas formas e no alcance das reivindicações.
Segundo Dean (2013), muitas organizações ambientalistas encontravam dificuldade no
que se refere ao financiamento de suas atividades de modo que, contando com poucos
membros, tinham que obter variáveis fontes de receita.
Isso incluía a obtenção de financiamento de indústrias privadas – que viam na
preocupação com a preservação da natureza uma forma de gerar lucros e melhorar sua
imagem institucional por meio de ―campanhas verdes‖ –, de organizações estrangeiras e do
Poder Público.
Estes financiamentos, frequentemente, criavam uma relação de dependência das
organizações ambientalistas que, para obter a consecução de seus projetos práticos39
, tinham
que se adequar, muitas vezes, às agendas e às visões de mundo de seus financiadores.
Assim, em vez de influenciar o governo acabavam sendo por ele influenciadas, ou
então se omitiam no processo de direcionar críticas mais contundentes ao poder público.
Deste modo, motivadas por necessidade de recursos e desejo de influência, tais organizações
acabavam tendo uma limitada capacidade de independência e autonomia.
A título de exemplo, tem-se o caso da Fundação Brasileira para a Conservação da
Natureza (FBCN), que em 1984 foi revitalizada e, contando com pouco mais de mil membros
– o suficiente para ser considerada a maior entidade ambientalista na época – patrocinou uma
Segunda Conferência Brasileira sobre Proteção da Natureza. Sobre este movimento escreve
Dean (2013, p. 349):
A FBCN, entre outras, aceitou contratos com agências ambientais federais e
estaduais para desenvolver planos e realizar pesquisas em reservas florestais.
Sem dúvida, grande parte desse trabalho foi útil na melhoria da qualidade
dos serviços governamentais; esses trabalhos, provavelmente, não seriam
39
Conforme Dean (2013, p. 349), ―Organizações ambientalistas bem-intencionadas, europeias e norte-
americanas, procuravam fortalecer suas congêneres brasileiras na preservação de locais exóticos e na defesa dos
povos indígenas. Uma vez que a imprensa desses mesmos países simultaneamente manifestava horror diante dos
gritantes desastres ambientais do Brasil, entre eles Cubatão e as queimadas da floresta Amazônica, essa
dependência tornava as organizações ambientalistas brasileiras vulneráveis a violentas críticas da direita
nacionalista. Foram acusadas de conspirar para reduzir o nível de desenvolvimento econômico do país, já que
um artigo de fé nacionalista que os países industriais não desejam que o Brasil ingresse em suas fileiras.
Enquanto isso, a esquerda afirmava que grande parte do dano ambiental estava sendo praticado por corporações
multinacionais, que financiavam as organizações ambientalistas visando reabilitar suas imagens‖.
74
realizados de nenhuma outra maneira, dada a falta de pessoal técnico nas
repartições governamentais e do seu quase monopólio dos recursos
financeiros. Mas também turbavam entre ativismo cívico e política oficial,
uma tendência particularmente infeliz durante a ditadura militar e debilitante
num período de reconstrução da sociedade civil. É difícil, por exemplo,
interpretar a pesquisa sobre práticas de pesca, patrocinada pela Petrobrás,
como alguma coisa além de colaboração na melhoria da imagem da empresa,
dado o papel da companhia na degradação de Cubatão e São Sebastião. O
envolvimento desse tipo pode também ajudar a explicar por que a FBCN se
abstinha de posições políticas.
Neste mesmo sentido, ao analisar as organizações não governamentais que atuam na
Amazônia oriental em período mais recente, Buclet (2011) afirma que e eclosão do terceiro
setor, estimulada pelo contexto internacional após a abertura política do país depois da
ditadura, tem levado estas instituições assumirem uma postura cada vez mais técnica e
profissionalizante e menos militante. Nesse sentido, conclui Buclet (2011, p. 147-148):
Aprofundando-se no estudo das ONGs, percebe-se que seu campo de
atuação está estritamente vinculado ao campo do desenvolvimento,
considerando as seguintes relações: primeiro, os seus laços com as agências
de cooperação internacional são evidentes. Sem falar aqui dos financiadores,
é relevante ressaltar que todas as ONGs pesquisadas têm relações diretas
com o exterior: através de seus fundadores (vindos de outros países ou de
outras regiões do Brasil), através das suas ligações com o mundo acadêmico
internacional ou através das relações interpessoais dos seus líderes. Estas
ligações internacionais são construídas em torno da adesão a uma certa
concepção de sociedade. (...) Diante desse vínculo com o campo
internacional do desenvolvimento, pode-se dizer que estas organizações
portam e veiculam valores que podem ser considerados como universais, ou
pelo menos globais.
Dessa forma, econômica e politicamente vulneráveis, as organizações não
governamentais de caráter ambientalista experimentaram dificuldades de interlocução com
seus apoiadores, da mesma forma que enfrentavam dificuldades em serem consideradas
legítimas representantes da sociedade civil, sobretudo, conforme já destacamos, devido ao
caráter heterogêneo que se camufla por trás de interesses propalados enquanto universais.
Apesar dessas críticas e considerações, deve-se destacar, como saldo positivo, que a
criação destes movimentos ambientalistas organizados nas décadas finais do século XX foi
responsável, direta ou indiretamente, pela ampliação no número de parques e reservas
ambientais no Brasil. Segundo Dean (2013, p. 354), tomando como referência a região
sudeste do país e a Mata Atlântica, ―em uma única década, 1981 a 1990, seu número dobrou,
chegando a 250 e sua área quase quintuplicou, de 9.918 para 48.307 km²‖.
Em 1990, com a posse do primeiro presidente eleito pelo voto popular em 30 anos,
Fernando Collor de Mello, as demandas pelo aumento do número de reservas ambientais
75
pareciam ter mais acolhimento por parte do Executivo40
. Cumpre destacar que tal acolhimento
decorre, dentre outros fatores, da presença no governo do ambientalista José Antônio Kroeff
Lutzenberger41
que assumiu o Ministério do Meio Ambiente no período de março de 1990 a
março de 1992 e que tentou trazer para esfera governamental um pouco da sua trajetória como
ambientalista e como cientista e estudioso engajado, bem como seu reconhecimento nacional
e internacional nas causas ambientais.
De acordo com Resende (2010, p. 120), o governo Collor em termos de discursos e
pretensões foi atuante, ao tentar ―viabilizar, em nível interno, os compromissos assumidos a
nível internacional, tanto no que se refere à política ambiental como em outros setores ao
assumir as teses e propostas de desenvolvimento sustentado inspiradas no Relatório
Brundtland‖, contudo, na prática, não houve uma implantação efetiva desses compromissos.
Ainda segundo a autora:
A política ambiental do governo Collor deu continuidade às ações
conservacionistas e de preservação de biomas, com a criação de reservas
ecológicas como a de Tabatinga, Uatuma, Pé Gigante e da Mata Atlântica,
tentando ainda reverter o quadro em relação ao desmatamento da Amazônia
Legal e a questão indígena. Estas questões eram foco de tensão entre a
SEMA e a ala militar do governo, quando no final de 1991, o presidente
Collor demarcou as terras dos Ianomanis, assunto que vinha se arrastando
nos últimos dez anos e que foi considerada uma vitória do movimento
ambientalista. Mas, para que isto ocorresse foi necessário o embate contra a
ala militar que estava instalada na região com o Projeto Calha Norte e o
Programa para o Desenvolvimento da Fronteira da Amazônia Ocidental. Os
argumentos da ala militar eram que as potências estrangeiras pudessem se
instalar no território Ianomani ferindo a soberania e a integração nacional
(RESENDE, 2010, p. 121).
Assim, no que se refere às áreas protegidas, apesar de alguns avanços e das
declarações, proibições, decretos e leis e medidas complementares editadas durante o período
40
Segundo Dean (2013, p. 355), a criação de alguns órgãos federais possibilitou uma maior interlocução entre
pesquisadores, movimentos sociais e governo. Nesse sentido, ―O órgão ambiental federal recém estruturado – o
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), que incorporou o antigo serviço florestal de florestas (o Instituto
Brasileiro do Desenvolvimento Florestal, ou IBDF) – passou para as mãos de uma diretora enérgica, que obteve
da Unesco a declaração de Reserva da Biosfera. Ela também assinou (na sede do S.O.S Mata Atlântica) uma
ordem temporária sustando toda derrubada adicional de árvores nativas da Mata Atlântica. O presidente Collor
de Mello logo assinou um decreto prorrogando indefinidamente esta ordem‖. 41
Conforme Petrarca (2007, p. 121), ao analisar a construção midiática sobre o ambientalista José Lutzenberger,
a imprensa ressalta que o mesmo se destacou na década de 1970-80 por fazer parte do movimento ecológico e ter
liderando as lutas deste movimento; por ter ocupado diferentes postos e cargos – entre eles o de secretário
especial do meio ambiente no governo de Fernando Collor de Melo; por ter recebido vários títulos nacionais e
internacionais, como prêmio Nobel alternativo; pelos projetos que desenvolveu, como a luta contra a utilização
de agrotóxicos, defesa da Amazônia, incentivador da Eco-92, trabalhos de preservação como o projeto, a
execução e a manutenção do Parque da Guarita, do Doca da Tijuca e pelo trabalho científico desenvolvido, com
a publicação de vários livros e artigos em português e em outros idiomas e a realização de várias palestras sobre
a temática ambiental.
76
e que, em tese, garantiriam a efetiva proteção dessas áreas recém criadas, não pode se
verificar sua efetividades, sendo que a maioria das áreas declaradas como reservas e parques
ainda pertenciam à iniciativa privada.
No que se refere à criação de áreas protegidas neste período, cumpre destacar os
desgastes entre o movimento ambientalista, predominantemente conservacionista, e as
comunidades e povos tradicionais, dado à existência de diferentes interesses e percepções de
meio ambiente que se encontravam em jogo e que não eram facilmente ―negociadas‖.
Grande parte desses entraves provinha das dificuldades dos membros das organizações
ambientalistas reconhecerem as práticas e saberes daqueles que não compartilhavam do
mesmo estrato social. A título de exemplo, mencione-se o decreto que proibia toda derrubada
de floresta nativa e que provocou um grande desgaste entre ambientalistas e comunidades
tradicionais, tal como relatado por Dean (2013, p. 356):
[...] a despeito de seus protestos de solidariedade, os ambientalistas não
consideraram nem um pouco a difícil situação dos ocupantes ―tradicionais‖
das reservas. Os fabricantes de canos, os coletores de palmito, os cesteiros
que trabalhavam com bambu e cipós e os cortadores de samambaias gigantes
e sassafrás ficavam todos agora fora da lei.
Havia também falta de uniformidade no que se refere às categorias e formas de criação
de áreas de proteção. Cumpre destacar que a lei que uniformizou as categorias de espaços
territoriais protegido e as normas para sua regularização somente foi editada no ano 2000 –
após um intenso e longo debate legislativo – com a edição da Lei 9.985, de 18 de julho de
2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza42
.
A despeito desses conflitos, a presença deste movimento ambientalista se refletiu na
mobilização destas organizações no momento de pré-constituinte de 1988. De acordo com
Acselrad (2008, p. 232), na atuação do movimento ambientalista na conjuntura de
redemocratização, merece destaque a eleição de alguns militantes deste movimento em 1982,
após a retomada de eleições legislativas livres; a criação, em 1985, do Partido Verde no Rio
42
Conforme destaca Dean (2013, 356), essa fusão de órgãos gerava uma instabilidade estratégia: ―os legislativos
sentiam pouca obrigação em fornecer fundos operacionais para reservas que não haviam sido criadas (...) Além
disso, responsabilidades superpostas e mal definidas geravam confusão, ineficiência e rivalidades. Em âmbito
federal, o Ibama e Ministério do Meio Ambiente, em conflito, eram assolados por constantes mudanças de
diretoria‖. No mesmo sentido, Delduque e Pacheco (2004, p. 13) apontam que as polêmicas em torno do modelo
de conservação a ser adotado no Brasil refletiam o momento político da época, permeado de conflitos
ideológicos e por disputas de poder com vistas a legitimar instituições e categorias com respeito às unidades de
conservação. Além disso, cumpre destacar que o primeiro projeto da lei do SNUC encaminhado ao Congresso
pelo então presidente Fernando Collor de Mello, em maio de 1992, baseava-se na ideia de que a presença
humana representava uma ameaça à conservação da diversidade biológica, ou seja, possuía um caráter
eminentemente conservacionista.
77
de Janeiro e de um organismo político suprapartidário, denominado Coordenação
Interestadual de Ecologistas para a Constituinte – CIEC.
Assim, a eleição para a constituinte, em 1986, refletiu essa organização do movimento
ambientalista e tornou-se um fator de politização do movimento por causas ambientais, que
lutavam para que estas efetivamente ocupassem espaço na nova Constituição (ACSELRAD,
2008, p. 232), o que de fato ocorreu.
Conforme destacam alguns juristas (SILVA, 2007; MILARÈ, 2007; MILARÈ E
MACHADO, 2013), a Constituição Federal de 1988 dá grande destaque à proteção ao meio
ambiente, fato considerado inédito na história das Constituições nacionais, com a inserção no
texto constitucional de 1988 de um capítulo específico destinado ao meio ambiente e menção
em outros capítulos e artigos espalhados pela Constituição. Nesse sentido, destaca o autor
José Afonso da Silva (2007):
As Constituições Brasileiras anteriores à de 1988 nada traziam
especificamente sobre a proteção do meio ambiente natural. Das mais
recentes, desde 1946, apenas se extraia orientação protecionista do preceito
sobre a saúde e sobre a competência da União para legislar sobre água,
floresta, caça e pesca, que possibilitavam a elaboração de leis protetoras
como o Código Florestal e os Códigos de Saúde Pública, de Água e de
Pesca. A Constituição de 1988 foi, portanto, a primeira a tratar
deliberadamente sobre a questão ambiental.
Assim sendo, a Constituição Federal de 1988 inova ao conferir uma ampla proteção
jurídica ao meio ambiente, sendo tal texto saudado como amplamente inovador e
representativo de uma nova etapa na incorporação das discussões ambientais, merecendo
destaque o artigo 22543 do texto legal, com seus respectivos parágrafos e incisos.
Entretanto, as alterações verificadas, por si só, não foram suficientes para ocasionar
grandes alterações conjunturais. Marcada pela presença e pressão dos mais variados grupos de
interesse econômicos e político, o texto final revela mais um acordo possível do que
necessariamente um novo marco no ambientalismo nacional. Segundo Acselrad (2008, p.
234):
Embora a constituição de 1988 tenha consagrado o novo regime democrático
e instituído transformações nas relações internas entre as várias instâncias e
dimensões de poder, ela não configurou uma verdadeira reforma do Estado,
dado que dependia de uma série de leis complementares e não apresentava
os meios de resolver, por exemplo, os problemas centrais de uma nova
estratégia de desenvolvimento.
43
O caput do referido dispositivo aduz que: ―Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações‖.
78
Pode-se afirmar, portanto, que, apesar da modificação do texto constitucional, as
estruturas do Estado Brasileiro não foram capazes de acompanhar as modificações necessárias
para que a implementação das disposições legais pudessem ser efetivadas.
Ressalte-se que no período posterior a promulgação da Constituição de 1988, algumas
importantes leis ambientais foram editadas, entre elas merece destaque a Lei de Crimes
Ambientais44
(Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998) e a Lei que estabelece o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação, de 9.985, de 18 de julho de 2000.
Contudo, apesar da edição dessas leis, o cenário de devastação ambiental vigorava e os
índices de desmatamento continuavam crescentes. Não havia à época de edição das mesmas
um controle efetivo e medidas de fiscalização e punição eficientes, de modo que apenas nas
décadas seguintes foram editadas leis, decretos e mesmo Medidas Provisórias e Resoluções
destinadas a esse fim.
Nesse contexto, ainda que a Lei de Crimes Ambientais (dispondo sobre as sanções
penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente) tenha
sido editada na década de 1990, somente em julho de 2008 a mesma foi regulamentada, por
meio do Decreto 6.514/2008. Desta forma, embora previstas em lei, as sanções e multas não
estavam sendo aplicadas e cumpridas, vigorando a impunidade no que se refere às condutas
lesivas praticadas.
Conforme destaca Pereira (2013, p. 35), ―ao estipular multas no valor entre 50 e 50
milhões de reais às infrações ambientais, como cortar árvores sem autorização e degradar
florestas, esse decreto buscaria, finalmente, tornar efetiva a legislação ambiental‖.
Esta situação é apontada por alguns estudiosos (CUNHA, 2013; PEREIRA, 2013)
como estopim para que houvesse uma articulação dos representantes dos interesses do setor
agropecuário – conforme analisaremos em capítulos seguintes – propiciando a motivação para
que a bancada ruralista no Congresso Nacional considerasse urgente e imediata a necessidade
de discussão e alteração do Código Florestal.
Assim sendo, diante da efetiva possibilidade de aplicação de sanção e imposição de
multas por crimes contra o meio ambiente e infrações administrativas ambientais, articularam-
44
Conforme Resende (2010, p. 128), ―especificamente em relação às florestas, a lei de Crimes Ambientais,
dedicou a Seção II – Dos Crimes Contra a Flora, que está inserido no Capítulo V – Dos Crimes Contra o Meio
Ambiente, albergando a maioria das contravenções florestais do Código Florestal e inserindo outras condutas
tipificadas como crimes e impôs aos infratores penalidades mais rigorosas. Encontra-se nos arts. 38 a 52 os tipos
penais que têm a flora como bem jurídico tutelado‖.
79
se movimentos e estratégias para enfraquecer a legislação ambiental e criar embaraços à
efetiva aplicação das mesmas45
, conforme será analisado em capítulos seguintes.
Relativamente ao Código Florestal de 1965, diversas Medidas Provisórias foram
editadas, com vistas a reverter, ou ao menos interromper, este processo de elevação gradativa
dos índices de desmatamento da Amazônia nos anos finais do século XX. Conforme destaca
Pereira (2013):
Em 1998 foi sancionada a lei de Crimes Ambientais, de autoria do Poder
Executivo. Em 2001, através de uma medida provisória, a área destinada à
reserva legal na Amazônia aumentou de 50% para 80%. Contudo, mesmo
com esses avanços na legislação, outro pico de desmatamento ocorreu em
2004, fazendo com que novas medidas fossem tomadas. Foram editadas a
Lei de Gestão das Florestas Públicas, a Lei da Mata Atlântica e a
regulamentação das infrações e sanções administrativas ao meio ambiente.
Enquanto isso, a tramitação do projeto de reforma no Código Florestal de
1999 encontrava-se vagarosa nas comissões permanentes (PEREIRA, 2013,
p. 12).
De modo geral, é possível afirmar que nas últimas décadas do século XX, é possível
observar um processo de acirramento da disputa em torno da regulação ambiental legítima.
Enquanto determinados grupos ligados ao setor produtivo e com representantes no Congresso
Nacional e no Poder Legislativo viam a legislação ambiental como obstáculo a consecução
dos objetivos desenvolvimentistas, setores ligados ao ambientalismo e com alguns
representantes no Poder Executivo reivindicavam mecanismos mais rígidos de controle
ambiental.
Neste sentido, conforme afirmam Guéneau, Sampaio Carneiro e Toni (2015), a
pressão internacional para que houvesse uma diminuição das taxas de desmatamento na
Amazônia fez com que fossem tomadas algumas medidas, dentre elas de monitoramento e
fiscalização.
Assim, após a divulgação de taxas de recordes de desmatamento na Amazônia
brasileira, o governo federal intensificou a proteção da florestal por meio de medidas de
controle – dentre elas, o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia,
PPCDAM – a criação de novas unidades de conservação e reforço às medidas de controle,
regulação fundiária, operações policiais e aplicação de sanções (GUÉNEAU; SAMPAIO
CARNEIRO; TONI, 2015, p. 224). Ainda segundo os autores:
45
A título de exemplo, mencionamos os estudos realizados por Tavares (2012), nos quais analisa a atuação
político jurídica da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) nas ações ambientais,
trabalhistas e fundiárias, notadamente após a Constituição de 1988.
80
La reprise a la hausse des taux de deforestation entre 2007 et 2008 a conduit
le gouvernement federal a lancer une seconde phase du PPCDAm.
S‘appuyant sur les techniques d‘information satellitaires, qui permettent
d‘obtenir des donnees precises en temps reel sur les lieux ou les forets sont
converties en paturages ou en cultures agricoles, le gouvernement peut
realiser des operations de controle et sanctionner les operateurs qui ne
respectent pas la loi (GUÉNEAU; SAMPAIO CARNEIRO; TONI, 2015, p.
224).
Dentre estas medidas e ações de repressão adotadas, merece destaque a medida de
restrição de acesso ao crédito por criadores de animais de municípios integrantes da ―lista suja
do desflorestamento‖. Conforme os autores, em dezembro de 2007 o então Presidente Luís
Inácio Lula da Silva emitiu um decreto determinando que o Ministério do Meio Ambiente
apresentasse uma lista anual dos municípios mais ameçados pelo desmatamento na Amazônia
para orientar melhor a ação pública46
. Segundo Guéneau, Sampaio Carneiro e Toni (2015, p. 225):
Pour sortir de la liste noire de la deforestation, il faut notamment etablir un
cadastre environnemental des parcelles agricoles, qui mentionne clairement
les zones de reserves legales. Le gouvernement de l‘Etat du Para, ou les
producteurs etaient particulierement touches par cette mesure, a developpe
un programme de ―communes Vertes‖ (―municipios verdes ―) visant a aider
les communes touchees a se mettre en conformite avec la legislation.
Certaines ONG apportent un appui technique aux proprietaires pour la
realisation du cadastre environnemental. Ce programme a connu un certain
succes dans certaines communes, comme celle de Paragominas, ou la
deforestation illegale aurait diminue de 80 % entre 2007 et 2010 (…),
ouvrant la voie a sa replication a une echelle plus ample. Certains auteurs
relativisent cependant l‘effet de ces mesures, soulignant que le volume des
credits a fortement progresse entre 2007 et 2011 en Amazonie, avec un
nombre constant de contrats de credit (…).
Neste sentido, afirmam os autores, graças às políticas públicas adotadas depois de
2004, o desmatamento na Amazônia sofreu uma diminuição. No entanto, é questionável a
durabilidade e continuidade de tais avanços, pelos motivos abaixo elencados.
Inicialmente cumpre destacar que, a despeito dessa diminuição do desmatamento no
bioma amazônico, no bioma do Cerrado brasileiro, graças às atividades pecuárias e de
46
Conforme informações obtidas junto ao site do Ministério do Meio Ambiente
(http://www.mma.gov.br/estruturas/182/_arquivos/ marco2009.pdf; aceeso em 28 de fev. 2016), O art. 2º do
Decreto 6321/2007 determina que o Ministério do Meio Ambiente deve apresentar, anualmente, a lista de
municípios do Bioma Amazônia considerados prioritários para a realização de ações de prevenção e controle do
desmatamento. Com base nisso, foi editada a Portaria 28/08, incluindo 36 municípios e posteriormente a portaria
MMA/2009, que estabelece critérios para o estabelecimento de municípios considerados com desmatamento
monitorado e sob controle, quais sejam: I - possua oitenta por cento de seu território, excetuadas as unidades de
conservação de domínio público e terras indígenas homologadas, com imóveis rurais devidamente monitorados
por meio de Cadastro Ambiental Rural - CAR; II – que o desmatamento ocorrido no ano de 2008 tenha sido
igual ou menor que 40 km2; III – que a média do desmatamento dos anos de 2007 e 2008 tenha sido igual ou
inferior a 60% em relação à média do período de 2004 a 2006.
81
plantação se soja, houve um aumento considerável nas taxas de desmatamento. Adicione-se a
este fato a flexibilização do Código Florestal, as tensões inerentes ao modelo de
desenvolvimento agroexportador adotado no país e a pressão exercida pela bancada ruralista
no Congresso Nacional, que ameaçam os compromissos já assumidos pelo Brasil no cenário
internacional.
Por fim, ressaltam ainda que a redução no crescimento econômico tem levado a uma
diminuição das receitas orçamentárias dedicadas às operações de controle de desmatamento,
comprometendo os avanços alcançados até então pelos institutos de pesquisa e
monitoramento.
Por outro lado, a despeito dos avanços nos processos de monitoramento e fiscalização,
entretanto, podemos afirmar que de modo geral, houve processo de desregulação ambiental e
enfraquecimento das leis, dada a tentativa de adaptá-las a opção de determinados setores em
promover o crescimento econômico a qualquer custo, de modo que os compromissos
assumidos – inclusive internacionalmente – de reduzir os índices de desmatamento e de
regular o uso dos recursos naturais não se verificaram na prática.
Paralelamente a este processo de (des)construção legal, os eventos voltados para a
discussão da questão ambiental em nível internacional – embora crescentes em número de
participantes e de representantes de Estado – também não fomentavam efetivas alterações no
cenário de dilapidação dos recursos naturais.
Neste sentido, cumpre destacar alguns dos grandes eventos internacionais voltados
para a discussão ambiental que ocorreram no Brasil nas últimas décadas, bem como
dimensionar os seus resultados e apontar as principais críticas que receberam.
O primeiro, realizado em 1992, foi a ―Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento‖, na cidade do Rio de Janeiro, que contou com a presença de
172 países, representados por aproximadamente 10.000 participantes, incluindo 116 chefes de
Estado e de Governo (MILARÉ, 2007).
Essa Conferência, mais conhecida como ―Rio 92‖ ou ―Eco 92‖, e também denominada
―Cúpula da Terra‖, abordou vários aspectos relacionados ao meio ambiente e ao
desenvolvimento, bem como iniciou um processo de discussão sobre a relação existente entre
recursos naturais e populações humanas em espaços ambientalmente protegidos.
Houve, a partir desse evento, o fortalecimento e a consolidação da tendência mundial
de incluir nas discussões sobre a temática ambiental aspectos sociais e culturais, que, até
então, eram ofuscadas diante da necessidade de proteção e restauração de ecossistemas e
82
proteção de espécies da fauna e flora. Além disso, a expressão ―desenvolvimento sustentável‖
ganhou grande notoriedade neste evento, passando, a partir de então, a ser utilizada nas mais
diversas esferas.
Algumas críticas foram feitas a este evento e às conclusões a que o mesmo chegou,
dentre elas a de que a Rio 92 não conseguiu deixar um legado de políticas e ações que
efetivamente conseguissem frear o ritmo de devastação dos recursos naturais. Além disso, de
acordo com Dean (2013, p. 378):
A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992, legou para
a posteridade algumas das mais utilitaristas, para não dizer mesquinhas,
concepções sobre o mundo natural dos tempos modernos. A diversidade da
vida foi ali rotulada como ―recursos genéticos‖, as florestas foram
caracterizadas como um recurso renovável e a preservação foi classificada
no verbete de uso sustentável.
O segundo evento internacional, que atraiu ainda mais críticas que o realizado em
1992, foi a ―Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável‖, também
conhecida como Rio + 20, realizada na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 2012.
Apesar da megaestrutura do evento, que contou com a participação de representantes
de 100 países (e com ausência dos chefes de Estado da Alemanha e dos Estados Unidos) e
30.000 participantes47
, a reunião, basicamente, consistiu em renovação de compromissos com
o ―desenvolvimento sustentável‖ assumidos em eventos anteriores. Nesse sentido, conforme
afirma Silva (2013, p. 40):
Durante a Rio + 20 também pode se observar a montagem de
megaestruturas, grandes equipamentos e instalações artísticas e culturais,
que segundo os organizadores teriam o objetivo de promover informação ao
público participante sobre o ―desenvolvimento sustentável‖. Porém,
enxergamos as mesmas como ―grandes palcos‖ para que seja realizada a
―política espetáculo‖ (...), servindo apenas como uma ―cortina de fumaça‖
para que os reais interesses em discussão não venham à tona.
Ainda segundo Silva (2013), chama atenção o fato de que as reuniões realizadas pelas
Organizações das Nações Unidas serem realizadas sem uma prévia avaliação sobre o efetivo
cumprimento dos acordos e os avanços com relação às reuniões anteriores, o que só confirma
a tese de que tratam de eventos voltados para a encenação de discussões críticas sobre o meio
ambiente.
A título de contextualização, a pesquisadora Catherine Aubertin (2012) destaca que a
Conferência Rio+20 foi realizada em um momento de crise econômica mundial – nos quais a
47
Dados obtidos junto ao site http://www.onu.org.br/rio20/tema/rio20/. Acesso em 07 de agosto de 2015.
83
preocupação com a questão ambiental acaba sendo relegada a um segundo plano – e, além
disso, afirma que as discussões sobre o Código Florestal e a usina de Belo Monte
―envenenaram‖ a preparação do evento e causaram certa desconfiança internacional em seus
resultados efetivos.
Nesse sentido, realizando uma análise sobre a efetividade e cumprimento dos acordos
assinados em eventos internacionais, tendo como foco sobretudo a Conferência Rio+20, os
pesquisadores Barros-Platiau, Carvalho e Silva (2012) afirmam que a adesão e a
implementação de tratados internacionais são etapas distintas e complementares, e
dependentes do jogo político doméstico. Assim, afirmam que:
A despeito dos avanços alcançados no combate ao desmatamento na
Amazônia nos últimos anos, a recente reforma do Código Florestal
Brasileiro dividiu setores da sociedade brasileira e tende a dificultar – e, no
limite, impedir – o cumprimento dos compromissos assumidos pelo Brasil
no âmbito das negociações internacionais sobre mudanças do clima. Essa
nítida incoerência entre as políticas externas e doméstica do Brasil tende a
minar a confiança da comunidade internacional em relação ao País,
dificultando que ele assuma a pretendida posição de protagonista nos debates
internacionais sobre o tema, mais especificamente durante a Rio+20
(PLATIAU-BARROS et al., 2012, p. 87).
Além disso, não se pode desconsiderar a posição ambígua e paradoxal do Brasil no
que se refere às questões ambientais. De acordo com Catherine Aubertin (2012, p. 18), ao
mesmo tempo em que se apresenta, no cenário internacional, como defensor e mediador da
causa ambiental, e possui, ―medidas de conservação exemplares no papel‖, as políticas e
práticas legitimadas pelo governo brasileiro demonstram desprezo para com os diretos de
indígenas e povos e comunidades tradicionais48
.
Por fim, cumpre ressaltar que, tal como destaca Aubertin (2012, p. 26), o evento em
questão constituiu-se não em uma conferência sobre meio ambiente, mas sim sobre meio
ambiente e desenvolvimento sustentável, o que deixa claro a posição do país sede do evento
ante a tônica das suas deliberações: repensar um modelo de desenvolvimento que não
alimenta nenhuma crítica sobre o crescimento econômico.
48
Conforme destaca Aubetin (2012, p. 20): ―A violência exercida contra os pequenos camponeses, sindicalistas
e militantes ambientalistas na Amazônia continua extrema, com grandes ecos no exterior. O homicídio de um
casal de extrativistas que denunciava a exploração ilegal de madeira e a compra de terras de uma assentamento
extrativista no sul do Pará, aconteceu em 24 de maio de 2011. No mesmo dia, o Código Florestal era discutido
em sessão na Câmara dos Deputados. O mundo ficou chocado ao ver o desprezo dos ruralistas quanto à notícia
do assassinato. José Cláudio da Silva e Maria do Espírito Santo receberam da ONU, a título póstumo, o prêmio
‗Heróis da Floresta‘, em fevereiro de 2012, título igualmente outorgado ao diretor do Greenpeace Brasil, Paulo
Adario‖.
84
Assim sendo, esta conferência, ocorrida no Brasil no mês de junho de 2012, sem que
acordos e compromissos significativos por parte dos Estados participantes tenham sido
firmados e um mês antes ter sido aprovado o novo Código Florestal brasileiro, evidenciou que
as exigências impostas pelo mercado e pelo sistema capitalista se sobrepõem e tentam
suplantar as medidas mais restritivas de preservação ambiental.
As alterações no Código Florestal exemplificam bem esta situação e demonstram a
opção estatal de lidar com a questão ambiental, vez que se observa uma desregulamentação
legislativa ou, como expõe Acselrad (2008, p. 241), uma ―desconfiguração do arcabouço legal
e normativo que foi construído desde a democratização, tendo por base a Constituição de
1988‖. Prossegue o autor afirmando que:
O que temos presenciado desde o início dos anos 1990, são estratégias
governamentais voltadas para exportar a qualquer custo, justificadas pelos
imperativos do ajuste macroeconômico. Não se vislumbrou nenhuma
iniciativa mais estruturada destinada a limitar os decorrentes mecanismos
predatórios da vida social e do meio (ACSELRAD, 2008, p. 241).
Neste contexto, em que o Estado atua de forma minimalista quando se trata de
assegurar as políticas e a legislação ambiental, os setores ligados ao agronegócio acabam
impondo suas visões de mundo e interferindo na elaboração de dispositivos legais. De forma
articulada a estes interesses, as políticas ambientais passam a se submeter à necessidade de
buscar credibilidade junto ao capital internacional, diminuindo as barreiras e entraves para
que seja obtido o crescimento econômico.
Dessa forma, tal conclusão nos leva a analisar com mais detalhes como se dá esse
processo de construção de leis a partir de interesses setoriais e, no caso em estudo, será
analisado como os grupos de pressão associados ao agronegócio acabaram exercendo
influência no processo de alteração da legislação florestal brasileira, a Lei 12.651 de 25 de
maio de 2012.
85
2 DISPUTAS E INTERESSES NO CONGRESSO NACIONAL BRASILEIRO:
mapeando os grupos e agentes em confronto no processo de alteração do Código
Florestal
As problemáticas passíveis de se tornarem públicas são construídas socialmente e,
neste processo de construção, os grupos sociais e agentes com diferentes interesses e recursos
concorrem para que suas visões e posições prevaleçam. Neste contexto, a utilização dos
recursos – organizacionais e simbólicos disponíveis (FUKS, 2001) – acaba exercendo um
papel preponderante para que a questão, tal como é apreendida e representada pelos agentes,
tenha visibilidade.
Considerando que a questão ambiental e a legislação brasileira que regulamenta o uso
dos recursos naturais encontra-se em processo de (des)construção, objetiva-se discorrer neste
capítulo sobre os grupos sociais e agentes que, no âmbito do Poder Legislativo, se
mobilizaram para tencionar o processo de discussão e alteração da lei florestal, bem como
identificar quais são os pressupostos e interesses motivadores dessas mobilizações.
A análise será centrada nos principais líderes e representantes que expuseram suas
visões sobre produção agrícola e preservação ambiental no Congresso Nacional, mais
precisamente, deputados federais e senadores de diferentes partidos políticos identificados
como pertencentes às frentes parlamentares e bancadas ruralistas e ambientalistas.
Cumpre de antemão destacar que estas duas categorias – ruralistas e ambientalistas –
serão recorrentemente utilizadas em nossas análises, ainda que saibamos dos riscos de
aglutinar, sob termos únicos, agentes e interesses bastante diferenciados entre si. Sobre este
aspecto, recorremos a Mills (1975) para exercitar a ―imaginação sociológica‖ e estimular uma
atitude lúcida em relação às palavras, buscando conhecer a extensão de suas implicações e, ao
mesmo tempo, precisar o sentido que carregam.
Conforme afirma Mills (1975), é necessário manter atenção sobre o nível de
generalidade de cada palavra, bem como é interessante considerar os extremos para lançar
vários olhares e pontos de vista sob a realidade estudada. Tal exercício auxilia uma melhor
percepção do objeto de estudo, bem como possibilita um aperfeiçoamento dos termos do
problema, pois, segundo Mills (1975, p. 229), ―somente conhecendo os vários sentidos dados
à cada palavra, podemos escolher exatamente aquelas com as quais desejamos trabalhar‖.
Neste sentido, buscamos examinar as acepções do termo e composições dos grupos
ruralistas e ambientalistas e, conforme destaca Pereira (2013), ao examinar a tramitação
86
legislativa da reforma do Código Florestal49
, embora aparentemente existam dois polos nesse
conflito, a análise dos interesses defendidos demonstra a existência de diversos segmentos.
Conforme a autora:
Além das divergências internas, tanto a coalização ruralista quanto a
ambientalista envolveu, por exemplo, defensores da agricultura familiar,
pequenos proprietários, trabalhadores rurais, comunidades tradicionais e
atores que até então não tinham ligação com o tema. Como durante o
processo de deliberação a união fez-se necessária para que houvesse uma
soma de forças, as grandes lideranças buscaram construir suas coalizões,
acomodando as representações menores (PEREIRA, 2013, p. 15).
Deste modo, ainda que cientes dos riscos de simplificações e generalizações, adotamos
estas categorias para nos referir aos grupos e agentes que participaram do processo legislativo
de discussão e aprovação da Lei 12.651/2012, tomando como critério de caraterização o
pertencimento formal a determinados grupos de interesse, mas, sobretudo, os discursos e
argumentos defendidos por esses agentes em plenário.
Assim, é a partir dessas categorias que traçaremos o histórico de composição desses
grupos no espaço político brasileiro, assim como tentaremos identificar o perfil dos
parlamentares que, de forma mais recorrente e incisiva, fizeram com que seus
posicionamentos tencionassem o debate no processo de construção da lei florestal.
Contudo, entendemos ser necessário, antes de tratarmos do processo de constituição
histórica desses grupos e da identificação dos parlamentares ruralistas e ambientalistas,
delinear alguns aspectos relativos à organização política institucional no Brasil. Isso requer
que discorramos sobre o Poder Legislativo brasileiro, assim como sobre os processos de
formação de grupos de interesse e pressão no Congresso Nacional.
Cumpre também destacar que o recorte temporal para fins dessa pesquisa restringe-se
aos anos de 2007 a 2015, abrangendo às 53ª (2007-2011) e 54ª (2011-2015) legislaturas dos
deputados federais e dos senadores no Congresso Nacional.
Dentre os principais fatores que condicionaram a seleção deste período, ressalte-se que
durante a 53ª legislatura, mais precisamente no ano de 2009, formou-se a comissão especial
responsável por analisar 11 propostas de alteração do Código Florestal encaminhadas entre os
anos de 1999 a 2010 (resultando no projeto de Lei 1.876/1999, de autoria do deputado federal
49
Segundo Pereira (2013, p. 13), este processo legislativo pode ser considerado excepcional, pois na reforma do
Código Florestal, o Poder Legislativo não foi pautado por qualquer projeto do Poder Executivo, o que contraria a
maioria dos processos de discussão de leis. Conforme afirma, ―a expressiva aprovação do texto base da reforma
no Plenário da Câmara colocou governo e oposição do mesmo lado. (...) O conflito não se deu com a dimensão
governo e oposição, mas defensores ou opositores da proposta rural‖.
87
Aldo Rebelo) e na 54ª legislatura ocorreu, em maio de 2012, a votação da lei que substituiu o
Código Florestal de 1965, processos legislativos que serão analisados no próximo capítulo.
Relativamente aos parlamentares integrantes desta comissão especial, que será melhor
detalhada no capítulo seguinte, temos como deputados federais titulares: Anselmo de
Jesus (PT/RO); Dr. Rosinha (PT/PR); Ernandes Amorim (PTB/RO); Homero Pereira
(PR/MT); Leonardo Monteiro (PT/MG); Luis Carlos Heinze (PP/RS); Moacir Micheletto
(PMDB/PR); Paulo Piau (PMDB/MG); Valdir Colatto (PMDB/SC); Carlos Melles (DEM/MG);
Duarte Nogueira (PSDB/SP); Marcos Montes (DEM/MG); Moreira Mendes (PPS/RO); Ricardo
Tripoli (PSDB/SP); Aldo Rebelo (PCdoB/SP); Rodrigo Rollemberg (PSB/DF); Sarney Filho (PV/MA)
e Ivan Valente (PSOL/SP).
No que concerne à análise do perfil dos principais parlamentares que se posicionaram
neste debate púbico, cumpre ressaltar que as informações foram selecionadas a partir das
biografias disponibilizadas nos Repertórios Bibliográficos da Câmara dos Deputados
(BRASIL, 2007; 2011) bem como nos sites institucionais da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal.
Eventualmente, também buscamos a complementação de algumas informações
indisponíveis nestas fontes junto ao site do Departamento Intersindical de Assessoria
Parlamentar (DIAP), às páginas na Internet mantidas pelos próprios parlamentares bem como
em reportagens e obras que tratam sobre os parlamentares ligados a posse e propriedade de
terras no Brasil (CASTILHO, 2012).
Por fim, destacamos que não constituiu objeto dessa pesquisa uma análise
pormenorizada de todos os parlamentares que se declararam ou foram identificados enquanto
pertencentes às frentes parlamentares e bancadas ambientalistas e ruralistas, tendo em vista
que, sobretudo no que se refere aos setores ligados ao ruralismo, a quantidade de
parlamentares é bastante extensa.
Conforme já mencionado, somente alguns parlamentares serão analisados,
selecionados a partir do teor de suas manifestações nas sessões em plenário e reuniões de
trabalho realizadas no âmbito do Congresso Nacional. Entendemos, contudo, que a
caracterização geral destes deputados e senadores é fundamental para uma melhor
compreensão dos discursos desses agentes, o que será feito no último capítulo desta tese.
88
2.1 Processo legislativo no Brasil e a formação de frentes parlamentares e bancadas
suprapartidárias
Antes de analisarmos o processo de constituição histórica e política dos grupos que se
confrontaram no Congresso Nacional em prol da alteração da legislação florestal,
analisaremos brevemente o processo de constituição jurídica desses grupos, ou seja, quais são
os requisitos legais para as formalizações dos mesmos.
Tomaremos, como ponto de partida, as normas gerais estabelecidas pela Constituição
Federal e posteriormente abordaremos as especificidades relativas a composição destes
grupos, constantes em atos e regulamentos internos no âmbito do Poder Legislativo.
Inicialmente, cumpre destacar que o Poder Legislativo é exercido pelo Congresso
Nacional, composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, com representantes
dos Estados e do Distrito Federal. Compete ao Legislativo, ―representar o povo brasileiro,
legislar sobre os assuntos de interesse nacional e fiscalizar a aplicação dos recursos
públicos‖50
.
A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes de todos os Estados e do
Distrito Federal, estabelecendo a Constituição Federal de 1988 que o número total de
Deputados, bem como a representação por Estado e pelo Distrito Federal, devem ser definidos
por lei complementar, proporcionalmente à população51
.
Já o Senado Federal representa a Federação e compõem-se de representantes dos
Estados e do Distrito Federal, que elegerão três senadores (eleito com dois suplentes), com
mandato de oito anos52
.
Assim, diferentemente do que ocorre nos casos dos deputados federais (que, tanto na
53ª legislatura e na 54º legislatura contava com 513 deputados federais no total, mas
distribuídos em quantitativos diferenciados entre os estados), o número de senadores é fixo:
cada um dos 26 Estados e o Distrito Federal possui o mesmo número de representantes no
Senado (81 senadores).
Com relação ao processo de elaboração das leis, cumpre destacar que o Brasil adota o
sistema bicameral, ou seja, prevê a manifestação das duas Casas – Câmara dos Deputados e
Senado – na elaboração das normas jurídicas.
Isso implica no fato de que, se uma matéria e projeto de lei tem início na Câmara dos
Deputados (que, segundo informações no site oficial, é responsável pela maioria das
50
Dados obtidos junto ao site www2.camara.leg.br. Acesso em 14 de julho de 2015. 51
Art. 45, § 1º, Constituição Federal de 1988. 52
Art. 46, §§ 1º e 3º, Constituição Federal de 1988.
89
proposições legislativas), o Senado fará a sua revisão, e vice-versa (excetuando-se as matérias
privativas de cada órgão). Cumpre ainda destacar que cada projeto de lei possui um relator,
que dá o parecer sugerindo mudanças, aprovando ou rejeitando a matéria em análise.
Ainda segundo site da Câmara dos Deputados53
, cada uma das Casas do Congresso
Nacional possui Comissões Parlamentares, que, por sua vez, exercem funções legislativas e
fiscalizadoras, na forma definida na Constituição Federal e nos seus Regimentos Internos. No
cumprimento de suas funções básicas, tais comissões devem promover debates e discussões
amplos sobre os temas ou assuntos que lhes competem.
Assim, é no âmbito das comissões da Câmara dos Deputados54
que se apresentam e se
estudam os dados, antecedentes, circunstâncias e a conveniência de um determinado projeto
de lei. A função dos membros dessas comissões é emitir uma opinião técnica, por meio de
pareceres, antes do projeto de lei ser levado para apreciação em Plenário para orientar as
discussões.
Para fins desta pesquisa, e no âmbito da Câmara dos Deputados, ressalte-se a
importância da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural
(CAPADR) e da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS),
além da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), principais comissões
pelas quais tramitou o processo de alteração da legislação florestal.
Após a análise e discussão dos projetos de lei no âmbito das comissões e,
posteriormente, sua votação no Congresso Nacional, é necessário ainda que haja a deliberação
do Poder Executivo sobre a lei elaborada, ou seja, compete à Presidente da República
sancionar ou vetar, parcialmente ou totalmente, o instrumento legislativo. Cumpre destacar
53
Dados obtidos junto ao site www2.camara.leg.br. Acesso em 14 de julho de 2015. 54
No âmbito da Câmara dos Deputados, sobre o qual centramos nossas análises para fins dessa pesquisa,
existem, atualmente, 23 comissões, quais sejam: Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e
Desenvolvimento Rural - CAPADR; Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática - CCTCI;
Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania - CCJC; Comissão de Cultura - CCULT; Comissão de Defesa
do Consumidor - CDC; Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência - CPD; Comissão de
Desenvolvimento Urbano - CDU; Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio - CDEIC;
Comissão de Direitos Humanos e Minorias - CDHM; Comissão de Educação - CE; Comissão do Esporte -
CESPO; Comissão de Finanças e Tributação - CFT; Comissão de Fiscalização Financeira e Controle - CFFC;
Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia - CINDRA; Comissão de
Legislação Participativa - CLP; Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - CMADS;
Comissão de Minas e Energia - CME; Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional - CREDN;
Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado - CSPCCO; Comissão de Seguridade Social e
Família - CSSF; Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público - CTASP; Comissão de Turismo -
CTUR e Comissão de Viação e Transportes - CVT (Dados obtidos junto ao site www2.camara.leg.br. Acesso em
14 de julho de 2015).
90
que o veto, contudo, não é absoluto, ou seja, existe a possibilidade de o Congresso Nacional
rejeitar o veto presidencial, mantendo o projeto que votou55
.
Paralelamente a este processo legislativo formal e regulamentado de aprovação das
leis, existe um processo informal de formação de juízos de valor e avaliações que influenciam
o processo decisório.
Neste processo informal, o papel exercido pelos grupos de pressão e interesse é de
grande importância, não somente sobre o processo legislativo e sobre os membros do Poder
Legislativo, mas sobre agentes que estão externos a este espaço, possibilitando com que suas
visões repercutam nas decisões de outros poderes do Estado.
Interessante novamente retomar a ideia da importância da organização de grupos que,
a partir de acervos bem definidos de recursos, falam a partir de ―percepções, valores, projetos,
necessidades e interesses pertinentes ao lugar que ocupam‖ (FUKS, 2001, p. 98), construindo
e apresentando tais questões como universais.
Nestes processos, a inevitabilidade e fatalidade com que são apresentadas as teses
desses grupos de pressão, assim como a radicalização dos discursos, são estratégias utilizadas
pelos agentes que os compõe com vistas à formação de consensos e atendimentos de
demandas.
Assim sendo, dada à importância destes grupos atuantes no Congresso Nacional e nos
processos decisórios e considerando que o processo da aprovação da lei florestal extrapolou as
discussões neste espaço, reverberando nas mais diferentes arenas públicas, compete analisar e
situar como são formados estes grupos de pressão e interesse e quais os principais agentes que
ocupam os mesmos.
Dentre os principais grupos, pode-se mencionar a existência das bancadas e frentes
parlamentares, termos que, comumente, são tomados como sinônimos. No entanto, analisando
regulamentos internos da Câmara dos Deputados, materiais divulgados pelo DIAP e
consultando estudos de pesquisadores que se debruçaram, direta ou indiretamente, sobre a
temática (CORADINI, 2010; PEREIRA, 2013; ACSERALD, 2012), é possível encontrar
diferenças entre os mesmos.
Inicialmente, pode-se afirmar que as bancadas são grupos de pressão e interesse
informalmente estabelecidos, independente de qualquer ato ou regulamento, sendo que seu
55
Conforme destaca Mendes (2011, p. 907), ―A rejeição do veto acontece na sessão conjunta que deve ocorrer
dentro de trinta dias da sua aposição comunicada ao Congresso. Exige-se maioria absoluta dos deputados e
maioria absoluta dos senadores, em escrutínio secreto, para que o veto seja rejeitado‖.
91
processo de constituição se dá a partir da temática em questão e do envolvimento dos
parlamentares com a mesma.
Dentre as bancadas com maior número de parlamentares, encontram-se a bancada
empresarial e a ruralista, que, de acordo com levantamento parcial do DIAP (QUEIROZ,
2011), contava, na 53ª legislatura (2007-2011) com 217 e 153 deputados federais
respectivamente, conforme quadro a seguir:
Quadro 1 – Principais Bancadas no Congresso Nacional (2011)
BANCADA COMPOSIÇÃO TEMAS PRIORIZADOS
Empresarial 217 Reforma dos direitos trabalhistas, terceirização, competitividade,
redução de encargos para o setor, custo Brasil, reforma tributária,
renúncias e incentivos fiscais, creditícios e monetários.
Ruralista 153 Meio ambiente, regulamentação da Emenda Constitucional 81/14
do Trabalho Escravo; regulamentação da aquisição de terras por
estrangeiros, demarcação de terras indígenas e as dívidas de
produtores rurais.
Evangélica 75 União homoafetiva, células-tronco, defesa da família, aborto.
Sindical 51 Defesa dos direitos trabalhistas, sindicais e previdenciários,
manutenção da política nacional de salário mínimo, redução da
jornada de trabalho.
Feminina 50 Igualdade de gênero, ampliação da licença-maternidade,
representação das mulheres em instâncias decisórias, combate à
violência contra as mulheres, reforma política com igualdade de
gênero.
Segurança 23 Maioridade penal, porte de arma, acabar com penas alternativas,
modificar o estatuto do desarmamento e o estatuto da criança e
do adolescente.
Fonte: QUEIROZ, 2011.
Já o termo frente parlamentar refere-se a grupos criados em conformidade com ato
próprio da Câmara dos Deputados, ou seja, são grupos legalmente instituídos, a partir de
critérios e requisitos dispostos em lei.
O ato legal que disciplina os critérios para criação e registro das frentes parlamentares
é o Ato da Mesa nº 69 de 2005. O mesmo foi instituído na 52ª legislatura (2003-2007),
quando houve um aumento significativo no número de frentes parlamentares em comparação
com as legislaturas anteriores56
, levando à necessidade de se definir uma regulamentação
mínima sobre o tema (SENA, 2007).
56
Dados disponibilizados no site oficial da Câmara dos Deputados indicam o número de 113 frentes
parlamentares instituídas na 52ª Legislatura, no período compreendido entre 2003 e 2007.
92
De acordo este instrumento normativo, frente parlamentar é definida como uma
―associação suprapartidária de pelo menos um terço de membros do Poder Legislativo
Federal, destinada a promover o aprimoramento da legislação federal sobre determinado setor
da sociedade‖ e deverão ser registradas contendo o nome com a qual funcionará, a indicação
do representante e divulgação de suas atividades pelas mídias da Câmara dos Deputados (TV,
Rádio, Jornal e página na internet)57
. Segundo informações do DIAP:
O principal critério para registro de frente é reunir assinaturas de um terço
dos membros do Congresso (198 parlamentares) ou o mesmo número de
deputados. Além disso, as frentes devem ser reinstaladas a cada nova
legislatura, procedimento adotado também para as comissões especiais e
comissões parlamentares de inquérito. A exigência se justifica pelo fato de
que alguns parlamentares que aderem às frentes não se reelegem, o que
altera o primeiro requisito de 198 assinaturas. Cada frente precisa ainda
nomear um representante, que será responsável perante a Casa por todas as
informações que prestar à Mesa (SENA, 2007).
Disso decorre que as frentes parlamentares são facilmente demarcadas pela exigência
institucional – sendo possível identificar data de criação e registro, descrição, quantidade de
parlamentares, coordenador ou presidente – ao passo que as bancadas são mais fluídas e de
difícil delimitação, tanto no que se refere a sua criação quanto a sua composição.
Por outro lado, cumpre ressaltar que, diante dos requisitos formais de instalação de
frentes parlamentares, nem todo parlamentar que assina a sua adesão está, necessariamente,
envolvido com o tema da frente parlamentar, pois, como afirma Pereira (2013, p. 19), ―um
membro da frente nem sempre faz parte da bancada relacionada‖.
Isso implica, portanto, na existência de diferentes graus de atuação das frentes
parlamentares, pois, a depender da adesão e da identificação dos seus agentes com a mesma,
elas poderão ter uma atuação mais destacada nas discussões legislativas, ou, ao contrário,
tendem a ter uma atuação ofuscada.
Para fins desta pesquisa e deste comparativo, serão analisadas as atuações da Frente
Parlamentar da Agropecuária e da Frente Parlamentar Ambientalista no âmbito da Câmara
dos Deputados. Antes, contudo, apresentaremos dados gerais sobre as frentes parlamentares
constituídas nas 53ª e 54ª legislaturas.
Conforme informações obtidas junto ao site institucional da Câmara dos Deputados,
cumpre destacar que se observou um aumento de frentes parlamentares formalmente criadas
ou reinstaladas no período compreendido entre 2007 a 2015.
57
Arts. 2º, 3º e 5º do Ato da Mesa nº 69/2005.
93
Assim, entre 2007 e 2011 (53ª legislatura), foram registradas no total 99 frentes
parlamentares: 09 frentes parlamentares no ano de 2010, 19 no ano de 2009, 22 no ano de
2008 e 49 no ano de 2007, conforme gráfico abaixo.
Gráfico 1. Frentes Parlamentares registradas na 53ª Legislatura (2007-2011)
Fonte: www2.camara.leg.br. Acesso em: 15.06.2015
Na 53ª legislatura, cumpre destacar que a Frente Parlamentar da Agropecuária – que
possuía a adesão de 209 deputados e 14 senadores, totalizando 223 parlamentares (PEREIRA,
2013, p. 25) – foi presidida pelo deputado federal Moreira Mendes, enquanto a Frente
Parlamentar Ambientalista58
foi presidida pelo deputado Sarney Filho.
Já no período compreendido entre 2011 e 2015 (54ª legislatura), foram registradas 214
frentes parlamentares: 13 frentes parlamentares registradas no ano de 2014, 43 registradas no
ano de 2013, 38 registradas no ano de 2012 e 120 registradas no ano de 2011, conforme
gráfico abaixo.
Gráfico 2. Frentes Parlamentares registradas na 54ª Legislatura (2011-2015)
Fonte: www2.camara.leg.br. Acesso em: 15.06.2015
58
Não foi possível encontrar, no site da Câmara dos Deputados a lista com os nomes de todos os integrantes da
Frente Parlamentar Ambientalista na referida na 53ª legislatura.
0 10 20 30 40 50 60
Frentes registradas em 2010
Frentes registradas em 2009
Frentes registradas em 2008
Frentes registradas em 2007
0 20 40 60 80 100 120 140
Frentes registradas em 2014
Frentes registradas em 2013
Frentes registradas em 2012
Frentes registradas em 2011
94
A Frente Parlamentar da Agropecuária, presidida pelo deputado federal Luis Carlos
Heinze, contava com 191 deputados federais e 11 senadores, totalizando 202 parlamentares. A
Frente Parlamentar Ambientalista novamente, com a presidência do deputado federal Sarney
Filho, contava com 196 deputados federais e também com mais 11 senadores, totalizando 207
parlamentares.
Relativamente à 54ª legislatura, que abrange o período de votação e aprovação do
Código Florestal, ao procedermos ao comparativo e analisarmos os parlamentares integrantes
de cada uma destas frentes parlamentares indicadas, constatamos que 90 deputados federais
pertenciam conjuntamente tanto a Frente Parlamentar da Agropecuária quanto à Frente
Parlamentar Ambientalista.
Ainda no que tange a este comparativo, cumpre assinalar, de antemão, que o número
aparentemente equilibrado de membros em cada uma dessas frentes parlamentares não levou,
necessariamente, a uma discussão equânime no Congresso Nacional sobre as alterações da
legislação ambiental, conforme será demonstrando nos capítulos seguintes.
Isto reforça o argumento defendido de que não é o quantitativo que determina o grau
de atuação e comprometimento dos membros das frentes parlamentares com as causas
defendidas, mas sim os interesses e as adesões de cada agente.
Nesse sentido, filiamo-nos ao entendimento de Coradini (2010), ao afirmar que ―a
participação em frentes parlamentares está diretamente associada às atividades de expertise e
de politização de interesses organizados‖, e que tal participação ―depende diretamente das
respectivas condições de inserção e dos trajetos sociais e políticos‖ daqueles que as compõem
(CORADINI, 2012, p. 241).
Ainda segundo o autor, contrariamente a concepção que classifica as atividades das
frentes parlamentares como ―corporativismo ou grupos de interesse‖ – em oposição ao que
seria de ―natureza política ou partidária‖ – Coradini defende que a sua criação revela ―uma
configuração específica dos modos de relacionamento entre a atuação de grupos de interesse e
o espaço político‖ (CORADINI, 2010, p. 241). Nesse sentido, afirma que:
Embora, oficialmente, e, inclusive, em termos do senso comum, o objeto por
excelência das frentes parlamentares seja algo como ―problemas
específicos‖, os princípios de delimitação dessa exclusividade ou então de
afinidade com as respectivas posições dos aderentes são muito variados. Via
de regra, em graus diversos, ocorre uma mistura de componentes que inclui
as afinidades regionais, corporativas (setoriais ou profissionais), a inserção
em redes e alianças de mobilização de opinião que podem remontar a
períodos anteriores dos respectivos trajetos sociais e políticos, as relações e
imbricações com interesses organizados e o surgimento e imposição da
95
respectiva ―questão‖ ou de sua redefinição no espaço político, e assim por
diante (CORADINI, 2010, p. 245).
Existe, pois, uma variedade de combinações possíveis que levam determinados
agentes a se filiarem e aderirem a determinadas frentes parlamentares, nas quais interesses
específicos, modalidades de engajamento e processos de politização contribuem para as
diferentes configurações de frentes parlamentares (CORADINI, 2010).
Neste mesmo sentido, Bruno (2009, p. 16) destaca que as diferentes redes de
sociabilidades e de poder entre parlamentares, alimentam a construção de identidade e
reforçam a existência de laços, bem como êxito nas demandas de alguns grupos e setores do
Congresso Nacional.
Disto decorre a necessidade de analisarmos com mais detalhes o processo de
constituição – inclusive histórica – desses grupos de interesse e pressão que extrapolam o
âmbito da institucionalidade e, mais ainda, o perfil dos principais membros que os compõem.
Tal análise será realizada no intuito de elucidar de que modo os agentes das respectivas
frentes parlamentares, mas, sobretudo, das bancadas – ruralista e ambientalista – articularam
suas redes e buscaram legitimar suas visões sobre o debate em torno do código florestal.
2.2 Bancada Ruralista e defesa do agronegócio
Conforme analisamos anteriormente, os termos frentes parlamentares e bancada,
apesar de serem considerados similares, possuem formas de constituição e níveis de adesão
bastante diferenciados por parte dos parlamentares.
Neste item, com base em pesquisas realizadas por estudiosos que se dedicaram ao
tema do ruralismo, agronegócio e grupos de poder no Congresso Nacional (BRUNO, 2002,
2009; CASTILHO, 2012; COSTA, 2012; LEAL, 2002; MENDONÇA, 2005; PEREIRA;
2013; TAVARES, 2012; ACSERALD, 2012), analisaremos o processo de composição da
bancada ruralista e, posteriormente, nos deteremos sobre alguns parlamentares emblemáticos
que compuseram o referido grupo de pressão no âmbito do Poder Legislativo, no período
compreendido entre 2011 e 2015.
De início, cumpre destacar que a bancada ruralista ganhou notoriedade recente, dentre
outros fatores, devido à capacidade dos parlamentares oriundos de setores do patronato rural
de exporem seus posicionamentos no debate sobre o que afirmavam ser as necessárias e
96
inadiáveis alterações da legislação ambiental, na qual se inclui a discussão sobre a alteração
do Código Florestal.
Contudo, a despeito desta recente notoriedade, estudos revelam que a constituição de
grupos de interesse destinados a representar os interesses do setor rural, veicular a retórica em
defesa da propriedade privada (inclusive, com o recurso da violência) e se impor como
legítimos representantes dos interesses nacionais não é um fenômeno recente.
Segundo os autores acima mencionados, apesar de a década de 1980 ser considerada
emblemática no que se refere à organização do patronato rural no Brasil como grupo atuante
no Poder Legislativo, bem antes desse período, associações, instituições e entidades com
poder de pressão na condução das políticas públicas e edição de leis foram criados, ainda que
estas entidades e seus membros não receberessem a denominação de ruralistas59
.
Dentre estas instituições, merece destaque a Sociedade Nacional da Agricultura
(SNA), criada em 1897; a Sociedade Rural Brasileira (SRB), criada em 1919; a Confederação
Rural Brasileira (CRB), criada em 1951; Confederação Nacional da Agricultura (CNA), do
ano de 1964; a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), fundada em 1969; a União
Democrática Ruralista (UDR), criada em 1985, e a Associação Brasileira do Agribusiness
(ABAG), criada em 1993.
Abordando resumidamente cada uma dessas entidades, pode-se afirmar que a
Sociedade Rural Brasileira, conforme destaca Leal (2002, p. 75), surgiu como ―uma
associação civil destinada a criar mecanismos de proteção à cafeicultura e à pecuária
brasileiras, que atravessaram crises internacionais‖.
Ainda segundo a autora, a entidade concentrava-se em São Paulo e seus representantes
eram predominantemente cafeicultores e pecuaristas, embora também contasse com
representantes de bancos e de outras associações comerciais e agroindustriais. Assim,
percebe-se que, apesar de pretender uma representação nacional, a SRB era formada,
sobretudo, por proprietários rurais no eixo sul e sudeste do país.
Dessa forma, a primeira grande associação nacional, com representação de produtores
rurais de diferentes estados e regiões do Brasil, foi a Confederação Rural Brasileira
(ACSERALD, 2012). Ainda sobre a CRB e as transformações que sofreu em sua constituição,
Acserald (2012, p.13) destaca:
59
Conforme assinala Costa (2012, p. 15) ―a autodenominação e identificação como ruralista irrompem com
Ronaldo Caiado e a União Democrática Ruralista – UDR, no bojo da democracia formal e representativa, que
ocorreu durante a Nova República, quando começaram a atuar de forma organizada no Congresso Nacional
(Constituinte 1986-1988)‖.
97
A entidade rural nasceu da iniciativa de seus membros e sem status oficial,
adquirido somente em 1964 por determinação do Decreto Lei 53.517,
assinado na ditadura militar durante o governo Castelo Branco. A CRB foi
transformada então na Confederação Nacional da Agricultura (CNA),
entidade constituída por 27 federações estaduais, integrantes do sistema
corporativista. Em 2001, frente à expansão da criação de animais e, em
especial, da produção de carnes em todo país, a entidade foi rebatizada de
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. Naquele ano, a CNA
divulgou números segundo os quais ela seria integrada por 2.000 sindicatos e
um milhão de associados.
Criada a partir da CRB, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) se
transformou em um dos maiores expoente de representatividade do setor rural no país,
desempenhando um importante papel no processo de renovação nas práticas e na retórica do
segmento rural no país.
Fundada como entidade sindical de terceiro grau (TAVARES, 2012), a CNA é
legitimada a receber recursos advindos de tributos compulsórios cobrados de sua base social,
independente da sua filiação sindical, bem como, devido ao seu caráter sindical e
reconhecimento estatal, possui prerrogativas que conferem à entidade representar os interesses
do setor nas diferentes demandas jurídicas.
Dessa forma, ―as estruturas sindicais de grau superior, como a CNA, também são
convidadas a assumir a fala de seus representados (filiados ou não), em espaços
governamentais de formulação de políticas públicas‖ (TAVARES, 2012, p. 13).
Nesse mesmo sentido, destaca Leal (2002, p. 131), que a CNA ―representa
oficialmente todos os empregadores do setor agropecuário e proprietários de imóveis acima
de dois módulos fiscais de modo que esta representação ampla a credencia a falar em nome do
conjunto dos produtores rurais‖, a despeito de tal representação ampla acarretar um
ofuscamento da heterogeneidade presente na composição do patronato rural no Brasil60
.
Outra importante entidade patronal fundada em 1969 foi a Organização das
Cooperativas Brasileiras (OCB), disputando com a CNA a hegemonia pela representação
patronal.
Conforme destaca Mendonça (2005, p. 03), esta entidade se constitui em umas das
mais recentes e mais politicamente ativas, apresentando algumas características peculiares em
comparação às demais entidades. Segundo a autora, dentre estas especificidades, destaca-se o
60
Sobre este aspecto, conforme destaca Leal ―a despeito de todas as tentativas de algumas associações de
forjarem a imagem de unidade dos ‗produtores rurais‘, sabemos que dentro da fração agrária da burguesia há
enorme heterogeneidade quanto aos setores de produção, composição orgânica do capital e tamanho das
propriedades, entre outros fatores‖ (LEAL, 2002, p. 22).
98
fato de que, no período de 1972 e 1993, a OCB buscou congregar grandes e pequenos
produtores em cooperativas, com o intuito de construir e aprofundar os vínculos da associação
com valores humanitários e, com isso, buscar uma ampla aceitação social (MENDONÇA,
2005).
Conforme destaca Acserald (2012, p. 19), a OCB também teve uma atuação
importante nos espaços de poder do Legislativo, ao ajudar a criar, ainda na década de 1980, a
Frente Parlamentar Cooperativista (1981) e a Frente Parlamentar da Agropecuária (1986), esta
última composta pelas maiores entidades patronais da agricultura (CNA, OCB, SRB) e
destinada a apoiar o lobby setorial da Assembleia Constituinte.
Tais alianças também foram criadas para enfrentar a concorrência com outra entidade
surgida em meados da década de 1980, no processo de crise de representação social
vivenciada no período.
Tal crise de representatividade, de acordo com Mendonça (2005, p. 02), é ocasionada
dentre outros fatores pela distribuição de créditos e subsídios por parte das agências do
Estado, na década de 1980, para o setor rural, contribuindo para uma crescente especialização
da produção e acentuando processos de diferenciação das entidades de representação.
Esta diferenciação, tanto no plano social-econômico, quanto no plano político, levou a
um processo de renovação de lideranças e de retóricas, com vistas a assegurar, sobretudo, a
permanência e/ou inclusão de representantes do patronato rural nas estruturas de poder,
acarretando na crescente segmentação da representação política. Ainda segundo Mendonça
(2005, p. 02):
Neste novo cenário, em que as lideranças das agremiações patronais falavam
a partir de uma agricultura já transformada e afeita às novas necessidades da
acumulação capitalista no país, sua retórica se deslocava do eixo da
―superação do atraso‖ – tal como nos anos 60 –, voltando-se para a
construção/legitimação de uma identidade empresarial dos grandes
proprietários.
Além da construção desta identidade, fazia-se necessário combater qualquer ameaça a
hegemonia econômica deste grupo que, enfim, passara a ser modernizado. A discussão sobre
a reforma agrária para estes setores passa a ser retratada como um atraso, um retrocesso, que
deveria ser combatida de qualquer forma, inclusive com a utilização de métodos violentos
(BRUNO, 2009).
Nesse contexto de crises das velhas agremiações rurais na Nova República, surge
então a União Democrática Ruralista (UDR), uma nova organização civil que, por não
99
depender do Estado e nem da contribuição sindical por ele recolhida para se estruturar,
recorria a outras práticas e discursos para o enfrentamento da questão rural na época.
A UDR, em 1985, liderada por Ronaldo Caiado e Junqueira Junior, surgiu com a
proposta de articular os grandes proprietários de terra (e a consequente exclusão dos pequenos
proprietários, especialmente se suas terras fossem originadas de programas de reforma
agrária) em torno da defesa do direito absoluto de propriedade e do uso da violência como
recurso legítimo contra movimentos populares na garantia de propriedade (BRUNO, 2002,
2009).
Conforme destaca Bruno (2002, 2009), a UDR possuía várias frentes de atuação.
Dentre elas, destaque-se que, no âmbito legal, buscavam brechas na lei para argumentar que
as propriedades de seus associados não poderiam ser consideradas terras improdutivas;
recorriam à violência, por meio da compra de armas, formação de milícias e atentados contra
os trabalhadores rurais e ainda se organizavam enquanto grupo político, a fim de galgar
espaços de representação no Poder Legislativo.
Além dessas frentes de atuação, a UDR utilizava-se da imprensa como palco
privilegiado para que as posições de seus representantes se tornassem públicas. Nesse sentido,
conforme destaca Bruno (2002, p. 37), ―em 1985, quando a reação dos grandes proprietários
ainda era nascente, a imprensa fez apologia da entidade e muito contribuiu para a construção
da imagem de seu presidente, Ronaldo Caiado‖, fazendo com que os atos praticados pelo
movimento, ainda que violentos, fossem legitimados perante a opinião pública.
Segundo a autora, era comum identificar nas reportagens publicadas em jornais de
grande circulação, em meados da década de 1980, o enaltecimento de Ronaldo Caiado, como
símbolo da ―nova política‖, e da UDR, que se tornara ―referência de mobilização e de
organização das classes e grupos dominantes no campo contra as ocupações de terra e na
defesa do direito irrestrito de propriedade‖ (BRUNO, 2002 p. 289).
Apesar de ter sido extinta na década de 1990, a UDR ainda é considerada referência de
prática política e coorporativa, o que pode ser observado pela continuidade de discursos,
práticas e mesmo nas mobilizações patronais, tanto em regiões de assentamento e reforma
agrária, como na atuação dos representantes da bancada ruralista no Congresso Nacional.
Sobre este aspecto, segundo Pereira (2013), com o impeachment do presidente Collor,
o fim da UDR e a saída de Ronaldo Caiado do Congresso Nacional na década de 1990, a base
ruralista sofreu certa instabilidade. Contudo, isso não implicou na saída da cena política
100
nacional e nem o enfraquecimento da lógica de atuação desta entidade no âmbito do
Legislativo.
Assim, como decorrência desta mobilização na década de 1980, foram criadas frentes
parlamentares voltadas para a discussão das questões afetas ao setor e ―em 1995, foi fundada,
com ata assinada por deputados e senadores, a Frente Parlamentar da Agricultura. Em 2002,
foi lançada a frente parlamentar de Apoio a Agropecuária, que em 2008 passou a ser
denominada Frente Parlamentar da Agropecuária‖ (PEREIRA, 2013, p. 25).
Nesse sentido, ainda sobre as continuidades dos discursos e práticas do movimento
gestado pela UDR na década de 1980, Acserald (2012, p. 15) afirma que os ―uderristas‖, na
década de 1990, se engajariam nos espaços da política institucional para, uma vez assegurada
a propriedade privada e afastada a realização da reforma agrária, ―defender uma agenda de
políticas agrícolas capazes de contrabalancear as perdas decorrentes da liberalização da
economia e da política de estabilização monetária‖.
Assim, a UDR é considerada um marco na representação política do patronato rural,
sendo possível constatar uma continuidade de interesses entre o que preconizava esta entidade
e o discurso das atuais principais representantes do setor agrário no país – sobretudo a CNA e
a ABAG – fazendo ainda reverberar sua influência no Congresso Nacional, por meio da
Frente Parlamentar da Agropecuária e da própria bancada ruralista.
Nesse sentido, pode-se afirmar que as disputas internas e fragmentação das instituições
do setor rural, surgidas a partir da extrema crise de representatividade na década de 1980,
auxiliaram na sedimentação dos discursos e no fortalecimento dos objetivos dos produtores
rurais. Inclui-se neste processo, a ampliação de seus canais de negociação e pressão,
incluindo, nesse contexto, a presença e participação direta no Estado, através de
representantes nas mais diferentes esferas de poder.
Como exemplo, mencione-se que tal crise de representatividade, conforme assinalado
anteriormente, propiciou a articulação de diferentes entidades patronais e dentre estas
articulações, destaque para a criação de uma nova entidade a partir da OCB, qual seja, a
Associação Brasileira do Agribusiness (ABAG).
Fundada em 10 de março de 1993 e presidida por um dos diretores da OCB, Ney
Bittencourt de Araújo, a ABAG busca articular interesses e entidades de âmbito financeiro,
industrial, comercial e agrário e acabou por firmar sua hegemonia junto às entidade patronal
por meio do discurso da ―nova agricultura‖ e a necessidade de estabelecer ―novos‖ canais de
representação política.
101
De acordo com informações disponibilizadas na página institucional da entidade, a
ABAG busca ―o equilíbrio nas cadeias produtivas do agronegócio, de modo a valorizá-las,
ressaltando sua fundamental importância para o desenvolvimento sustentado do Brasil‖ e,
além disso, visa alcançar a ―liderança global brasileira na oferta, de forma competitiva, dos
produtos agroindustriais‖ bem como se tonar a ―efetiva entidade de suporte aos elos das
cadeias produtivas do agronegócio‖.
Para alcançar estes objetivos, a entidade busca realizar alianças junto a governo,
iniciativas privadas, entidades de classe e universidades. Essa capilaridade da ABAG e a
imersão nos mais variados setores pode ser constatada através da lista, disponibilizada no site,
dos conselhos e comissões dos quais a ABAG faz parte61
bem como por meio da listagem das
mais de 70 instituições e empresas associadas62
- dentre as quais, encontram-se instituições
61
CONSAGRO - Conselho do Agronegócio (Ministério da Agricultura), nas Câmaras Setoriais: Cadeia
Produtiva de Oleaginosas e Biodiesel, Citricultura; Milho e Sorgo, Financiamento e Seguro do Agronegócio,
Infraestrutura e Logística, Insumos Agropecuários e Negociação Agrícola Internacional; CODEAGRO -
Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios, nas Câmaras Setoriais: Carne Bovina, Carne Suína,
Leite e Derivados e Insumos Agrícolas; Conselhos: Conselho de Administração do Instituto Agronômico do
Paraná (Iapar); Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(Fiesp/Cosag); Conselho Nacional de Política Agrícola (MAPA/CNPA);Conselho Assessor Nacional da
Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa ; Conselho Superior de Estudos Avançados (Fiesp/Consea)
Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Planalto/Consea); Conselho Estadual de Segurança Alimentar e
Nutricional Sustentável (Consea); Conselho Diretor do InpEV; Conselho Nacional da Pecuária de Corte
Conselho Curador da Fealq; Conselho Consultivo da Agrishow; Conselho Superior de Estudos Avançados;
Comissão: Mista Brasil-Alemanha para o Agronegócio; Nacional Pública-Privada Assessora - COPAS (Política
Governamental para Alimentos Seguros) - Secretaria de Desenvolvimento Agropecuária e Cooperativismo
(MAPA/SDA); De Agroindústria – CNI; Comitê: Do Agronegócio da BM&F Bovespa; Gestor do Fundo
Nacional sobre Mudança do Clima (FNMC); Gestor do Fundo Setorial do CMT; Nacional de Integração
Lavoura-Pecuária - Secretaria de Desenvolvimento Agropecuária e Cooperativismo (MAPA/SDA) (Disponível
em: www.abag.com.br. Acesso em: 07 de março de 2016). 62
Adeco Agropecuária Brasil S/A; AGCO do Brasi; Agrifirma Brasil Agropecuária S/A; Agroceres Nutrição
Animal Ltda.; Agroconsult Consultoria e Projetos Ltda.; Agropalma S/A; Algar S.A. Empreendimentos e
Participações; Aprosoja Brasil; Associação Nacional de Defesa Vegetal – ANDEF; ABRAPALMA - Associação
Brasileira de Produtores de Óleo de Palma; Banco Cooperativo Sicredi; Banco do Brasil S/A; Banco Itaú BBA
S/A; Banco Rabobank International Brasil S/A; Banco Santander S/A; Basf S/A; Bayer S/A; Bartira
Agropecuária S/A; Brasilagro Companhia Brasileira de Propriedades Agrícolas; Caixa Econômica Federal;
Caramuru Alimentos S/A; Cargill Agrícola S/A; Cetip S/A – Balcão Organizado de Ativos e Derivativos; Ceres
Consultoria S/C Ltda; CHS do Brasil Grãos e Fertilizantes Ltda.; CNH Latin América Ltda.; Cocamar
Cooperativa Agroindustrial; Companhia de Tecidos Norte de Minas – COTEMINAS; Coopavel Cooperativa
Agroindustrial; Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano – COMIGO; Cooperativa
Central de Crédito do Estado de São Paulo - SICOOB São Paulo; Cooperativa Regional dos Cafeicultores de
Guaxupé Ltda. – COOXUPÉ; Deloitte Touche Tohmatsu Auditores Independentes; Demarest & Almeida
Advogados; Dow AgroSciences Industrial Ltda.; Du Pont do Brasil S/A; Ecoagro ; Elanco Brasil; Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA; Evonik Degussa Brasil Ltda.; FMC Agricultural Products;
Gaia Agro Securitizadora S/A; Gaia, Silva, Gaede e Associados - Sociedade de Advogados ; Globo
Comunicação e Participações S/A; Guarani S/A – Usina Cruz Alta; Ibá - Indústria Brasileira de Árvores;
Innovatech Negócios Florestais; Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias - InpEV; IP
Desenvolvimento Empresarial e Institucional; John Deere Brasil S/A; Justino de Morais Irmãos S/A – JUMIL;
Kepler Weber; Malteria do Vale S/A; Máquinas Agrícolas Jacto S/A; Maubisa Agricultura S/A; Microbiol -
Indústria e Comércio Ltda.; Monsanto do Brasil Ltda.; O Telhar Agropecuária Ltda.; Organização das
Cooperativas Brasileiras – OCB; Pavan Engenharia e Participações LTDA; PricewaterhouseCoopers Auditores
Independentes; Radar Propriedades Agrícolas S/A; Raízen; Reed Exhibitions Alcântara Machado; Santos
102
bancárias, institutos de pesquisa, empresas de televisão, escritórios de advocacia, além de
cooperativas e sindicatos.
Relativamente as pesquisas e estudos realizados por esta instituição, destacam-se as
que tratam sobre ―A percepção dos grandes centro urbanos sobre o agronegócio brasileiro‖
(2013) e ―O eleitor brasileiro e agronegócio‖ (2014), ambas disponibilizadas em formato
digital no site da instituição. Também no intuito de melhorar a imagem do setor para a
sociedade, são divulgados eventos, publicados artigos e apresentados os indicadores de
variação do Produto Interno Bruto, ou seja, são produzidas informações que evidenciam o
segmento como moderno, dinâmico e responsável pela balança comercial do país.
A ABAG, portanto, assume um papel extremamente importante ao veicular a imagem
do agronegócio como um negócio rentável, social e economicamente sustentável e
responsável pelo crescimento e desenvolvimento do país. Nesse sentido, segundo Mendonça
(2005, p.18):
Dessa forma, numa operação simbólica da maior significação, as entidades
patronais agroindustriais ―recriaram‖ o próprio conceito de ―agricultura‖,
imbricando-o à noção, bem mais ampla, de ―agribussiness‖ a qual não mais
se limitaria à atividade agrícola em seu sentido tradicional, porém diria
respeito a todo um processo, vivenciado no país, de rápida tecnificação do
setor rural, responsável por uma primeira ordem de mudanças, que fizeram
surgir e desenvolver, de forma interdependente, todas as atividades
econômicas que, direta ou indiretamente, guardassem algum vínculo com a
agricultura. Este conjunto passaria a integrar um poderoso complexo, assim
definido não somente em termos de seu peso econômico, mas, sobretudo, de
sua influência política. A ―agricultura‖ tornou-se, assim, avalista de um
sistema que respaldaria a existência de uma mega-agremiação, supra-
associativa, ainda que, segundo seus idealizadores, nenhuma das entidades
viesse a deixar de existir.
Assim, pode-se destacar que, com a criação da ABAG na década de 1990 e a difusão
de seu discurso nas décadas seguintes, fundado na modernização e tecnificação da ―nova‖
agricultura, aliado aos discursos de outras entidades que também se empenhavam para
modificar a imagem do atraso e da improdutividade então reinantes sobre agricultura
brasileira, consolida-se uma nova retórica e uma identidade do patronato rural associada ao
agronegócio.
Neto Advogados; Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal – SINDIVEG; Sindicato
Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal – SINDAN; SLC Agrícola S/A; Sollus Gestora de Terras
Ltda.; Syngenta; União da Indústria de Cana–de–Açúcar – UNICA; União dos Produtores de Bioenergia –
UDOP; Usina Alto Alegre S/A – Açúcar e Álcool; Vanguarda Agro S/A (Disponível em: www.abag.com.br.
Acesso em: 07 de março de 2016).
103
Sob o discurso do desenvolvimento econômico, alianças e articulações entre as
diferentes entidades do patronato brasileiro – a despeito das suas especificidades e disputas
internas – são forjadas, o que revela um esforço renovado destes grupos e agentes tanto para
se reproduzir no poder, quanto para construir outra imagem sobre o ruralismo no Brasil,
associada predominantemente à UDR e à CNA, vistas como instituições mais tradicionais.
Conforme destaca Bruno (2009), nesse processo, novos expedientes de ação políticas
são utilizados, como o uso do lobby, de marketing, assessorias de comunicação, além de
utilizarem a imprensa como meio privilegiado para divulgar e difundir as visões de mundo
deste grupo que aparenta e se esforça por parecer coeso (BRUNO, 2009).
No entanto, a despeito desse esforço renovado, Bruno (2002, 2009) chama atenção
tanto para ambivalências existentes entre o propalado discurso do novo e a recorrente
utilização de práticas antigas quanto para as diferenciações internas presentes no patronato
rural.
No que se refere às ambivalências63
, presentes tanto nos discursos quanto nas práticas
do patronato rural brasileiro, ao mesmo tempo em que apregoam ―modernos padrões de
rentabilidade e competitividade, a necessidade de uma visão sistêmica do desenvolvimento, o
uso do lobby e o imperativo da gestão e da qualificação empresarial‖ recorrem à violência
como prática rotineira e aceitável para se reproduzir e garantir a propriedade da terra
(BRUNO, 2002, p. 17). Assim:
A defesa da livre iniciativa e o fortalecimento do mercado convivem com a
exigência de um Estado provedor e protetor, paternalista e assistencialista. A
busca por uma maior institucionalidade coexiste com a cultura do favor, com
as relações oficiosas e com as amizades acima das regras instituídas, e a
contratualidade vive de mãos dadas com o ―fio do bigode‖ e a ―palavra
dada‖ (BRUNO, 2009, p. 14).
É em meio a estas dubiedades, ao apego a propriedade privada e à reinvindicação de
um Estado que atue no interesse destes grupos, que é erigido o discurso do agronegócio.
Segundo Bruno (2009, p. 114), a palavra agronegócio despontou como uma política
unificadora de interesses das classes e grupos dominantes no Brasil, ganhando importância,
63
Para Bruno (2009, p.13), deve-se ―procurar pensar a ambivalência como estruturante que expressa um modo
próprio de ‗ser‘ e ‗fazer-se‘ dos grupos sociais dominantes no campo e se seus porta-vozes, e aponta para um
hábil entrelaçamento de práticas e argumentos aparentemente ilógicos e contraditórios, mas que se completam e
fundamentam mutuamente. Ações e representações que não se orientam tão-somente pela razão econômica; nem
se regem exclusivamente pela razão ‗afetiva‘. Ou seja: um mesmo grupo ou pessoa investe produtivamente e se
orienta por parâmetros de competitividade e de rentabilidade empresarial, mas reproduz o latifúndio alimentador
da noção de direito de propriedade como direito absoluto e sem limites‖.
104
para esses grupos, a necessidade de construir um discurso legitimador de suas práticas e
ideias64
.
Contudo, a despeito de utilizarem o discurso da união, estudos realizados por Bruno
(2009) e Bruno, Sevá e Carneiro (2009) permitem perceber que os proprietários e empresários
do agronegócio não são tão coesos assim. Conforme afirma Bruno (2009, p.121), ―se, de um
lado, comungam a mesma crença sobre possibilidades econômicas e políticas advindas do
agronegócio, de outro, não se sentem fazendo parte, igualmente, do processo‖.
Analisando as nomeações utilizadas pelos porta-vozes do agronegócio e percebendo
como as mesmas podem ser utilizadas para demarcar posições, a autora chama atenção para o
fato de que, nesses processos de representação institucional, a categoria ―nós, o agronegócio‖
quase nunca aparece como identidade, e sim, ―nós, empreendedores‖, ―nós, os modernos
produtores‖ ou ―o empresariado‖.
Assim, conforme destaca Bruno (2009, p. 140), ―a figura e os atributos do
empreendedor se sobressaem, sobretudo quando se trata de reconstruir a imagem do produtor
rural, como o coronel ou o senhor do engenho do passado‖, da mesma forma que a categoria
fazendeiro, por carregar um estigma negativo e uma ligação com o ―tradicionalismo do
passado‖, costuma ser evitada pelos grupos analisados.
Bruno (2009, p. 121) constata a existência de uma demarcação de espaços, nos quais a
noção de atraso e de modernidade seria o traço diferenciador entre aqueles que pertencem ao
agronegócio e aqueles grupos que estão fora do agronegócio65
.
Nesse sentido, afirma que os produtores rurais com atividades restritas unicamente
para a produção e abastecimento do mercado interno ―ora são aliados e fazem parte de um
mesmo processo no qual nada os distingue, ora são excluídos pelos demais‖. Para Bruno
(2009, p. 122):
O lugar ocupado na atividade produtiva é definidor da concepção,
diferenciada, de agronegócio. Situar-se ―dentro da porteira da fazenda‖ ou
―fora da porteira da fazenda‖, de certa forma, define posturas e leituras
diferenciadas sobre o agronegócio. É o principal divisor de águas definidor
do pertencimento ou exclusão e dá origem à discriminação.
64
Segundo foi mapeado por Bruno (2009, p.114) após entrevistar algumas lideranças patronais, o agronegócio é
associado às ideias de: união e geração de riqueza; de modernidade e de um novo desenvolvimento; ao fatalismo
de que não existem outras opções ou alternativas além do agronegócio; ao princípio de valorização de si e
desqualificação do outro e ainda a necessidade de construção de espaços de representação, mediação e interesse. 65
Nas palavras da autora, ―é a noção de atraso e de modernidade que fundamenta a classificação sobre quem
pode e quem não pode pertencer ao agronegócio. Para alguns, por exemplo, o empresário do campo não pode ser
considerado empresário do agronegócio. Para outros, como veremos, os produtores rurais não pertencem ao
agronegócio. E eles, por sua vez, se reconhecem usados pelos demais setores‖ (BRUNO, 2009, p. 122).
105
Aqueles produtores rurais que estão situados ―dentro da porteira da fazenda‖, ou seja,
que têm como mercado o consumo interno e utilizam pouca tecnologia na produção de
alimentos, são frequentemente discriminados pelos setores que formam a cadeia
agroindustrial e as redes de agronegócio.
Por outro lado, também é possível perceber que, em determinados momentos e dadas
as circunstâncias políticas em jogo, esses segmentos discriminados, voltados para a produção
interna, são conclamados a se unirem com aqueles que buscam a exportação da sua produção
em prol dos interesses do agronegócio. Tais momentos ocorrem, sobretudo, no âmbito da
representação de interesses em nível institucionalizado, assim como no processo de alteração
da legislação florestal.
2.2.1 Parlamentares identificados como pertencentes à Bancada Ruralista
Diferentes critérios são estabelecidos por pesquisadores (CUNHA, 2013; COSTA,
2012; CASTILHO, 2012) e institutos de pesquisa (DIAP, INESC) para caracterizar e
identificar quais são os parlamentares que integram ou possam vir a integrar a bancada
ruralista.
Dentre estes, mencione-se o Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC) que, em
estudo realizado por Vigna (2001) sobre a composição da bancada ruralista na legislatura
1999 a 2002 (51º Legislatura), indicou o número de 89 parlamentares e adotou como critério
classificatório a declaração de fonte de renda disponível no site da Câmara dos Deputados.
Segundo o estudo:
O critério utilizado neste trabalho para classificar os parlamentares como
―ruralistas‖ foi baseado na declaração dos deputados sobre suas fontes de
renda, conforme expresso no Repertório Bibliográfico da Câmara dos
Deputados. Foi considerado como componente potencial da Bancada
Ruralista o deputado que declarou, entre as suas fontes de renda, alguma
forma de renda agrícola (VIGNA, 2001, p. 09).
Costa (2012), em pesquisa na qual procede à caracterização dos membros da bancada
ruralista no período de 1995 a 2010, utiliza como instrumentos de caracterização destes
parlamentares, além das informações disponibilizadas pelo DIAP, informações de registro de
terras e declaração de bens patrimoniais declarados.
Conforme afirma a autora, os dados analisados obtidos junto ao Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e a Receita Federal, embora permitam afirmar a
condição de proprietários de terras dos parlamentares ruralistas, são auto declaratórios,
106
portanto, de preenchimento pelos próprios parlamentares. Nesse sentido, apresentam algumas
fragilidades e brechas institucionais que dificultam a total apreensão da realidade patrimonial
dos parlamentares (COSTA, 2012, p. 241).
Outra forma de caracterização dos membros da referida bancada é adotada pelo DIAP
(2011), que classifica como integrante todo parlamentar que ―mesmo não sendo proprietário
rural ou da área de agronegócios, assume sem constrangimento a defesa dos pleitos da
bancada, não apenas em plenários e nas comissões, mas em entrevistas à imprensa e nas
manifestações de plenário‖.
Ainda segundo informações disponibilizadas pelo DIAP (2011), a bancada ruralista,
em comparação a legislatura anterior (53ª Legislatura) teve um crescimento no quantitativo de
membros, considerando tanto o aumento de deputados federais quanto dos senadores.
Levantamento realizado pelo DIAP aponta a reeleição ou eleição de 158
parlamentares que deverão priorizar, a partir de 2011, a agenda do setor
rural. Dos 158 parlamentares ruralistas, 91 são deputados reeleitos e 49
deputados novos. Para fechar a conta, há ainda 18 senadores, sendo dez
atuais com mandato até 2015, seis novos e dois reeleitos que cumprirão
mandato até 2019. Na atual legislatura, o DIAP identifica 120 parlamentares
atuantes na defesa da agenda ruralista, apenas três a mais que a quantidade
da legislatura passada, que contava com 117 representares do setor
empresarial rural (DIAP, 2011).
Cumpre ressaltar que os dados do DIAP apresentam algumas incompatibilidades66
,
inclusive, com a omissão de parlamentares historicamente associados à atividades agrícolas.
Contudo, embora reconheçamos algumas fragilidades no sistema de classificação e nos
critérios adotados tanto pelo DIAP (parlamentar que assume sem constrangimentos os pleitos
da bancada), quanto pelo INESC (declaração de renda agrícola pelos próprios parlamentares)
para a identificação dos integrantes da bancada ruralista, recorreremos aos dados e métodos
destes institutos para fins da nossa análise, fazendo as inserções necessárias.
Assim, utilizaremos neste primeiro momento, de forma combinada, a lista fornecida
pelo DIAP (Anexo I) conjuntamente com as informações de parlamentares integrantes da
Frente Parlamentar da Agropecuária para realizar uma caracterização mais geral do universo
de deputados federais da 54ª Legislatura e, posteriormente, em um segundo momento,
recorreremos a uma análise mais detalhada dos perfis biográficos para caracterizar alguns
parlamentares que consideramos emblemáticos. 66
A título de exemplo, mencione-se que listagem oficial disponibilizada no site do DIAP continha o quantitativo
de 158 parlamentares integrantes da bancada ruralista: 140 deputados federais e 18 senadores. Contudo, uma
análise mais detalhada dos integrantes listados pelo instituto, revelou a duplicidade no nome de um dos
parlamentares da Câmara dos Deputados, de modo que, em realidade, são 139 deputados federais e 18 senadores,
totalizando 157 parlamentares.
107
Recorremos também, subsidiariamente, as informações disponibilizadas por Alceu
Luís Castilho (2012), que, a partir da análise da declaração de bens de políticos entregues ao
Tribunal Superior Eleitoral, analisa a evolução patrimonial e a ligação de políticos nas mais
diferentes esferas – municipal, estadual e federal – com a posse de terras em todo o país.
Ressaltamos que não utilizamos, para caracterização da bancada ruralista, os dados
disponibilizados pelo site oficial da Câmara dos Deputados relativos aos deputados
integrantes da FPA (Anexo III), pois, conforme destacamos anteriormente, nem sempre o
membro da frente parlamentar assume os pleitos da bancada correspondente.
Isto se deve ao fato de que os motivos pelos quais os deputados federais aderem a
determinadas frentes parlamentares são variados e não passam, necessariamente, pela
afinidade temática. Além disso, devido ao número mínimo de membros que as frentes devem
possuir para o respectivo registro, por vezes, laços de amizade, questões partidárias ou até
mesmo possibilidade de visibilidade política exercem mais influência na escolha dos
parlamentares do que os pleitos defendidos nas frentes parlamentares.
Assim, partiremos da listagem elaborada pelo DIAP (2011) para proceder à
caracterização dos deputados identificados com a bancada ruralista, utilizando,
subsequentemente, as informações de biografias constantes tanto no site oficial quanto nos
Repertórios Biográficos da Câmara dos Deputados (BRASIL, 2011).
Especificamente sobre os dados consultados, cumpre destacar que as biografias são
construídas pelos próprios parlamentares, de modo que alguns campos do formulário padrão
dessas fontes encontram-se desatualizadas ou mesmo indisponíveis67
. Contudo, a despeito
dessa incompletude de dados, recorremos às tais biografias e nos filiamos ao posicionamento
de Bruno (2009, p. 17) ao acessá-las, por entender que:
Os dados biográficos são importantes porque expressam a auto identificação
que o parlamentar faz de si próprio, do Congresso Nacional e de seu
universo social, mostram como ele se define e define a sua história pessoal e
pública, e retratam o que ele considera relevante tornar público.
67
As informações constantes nos perfis biográficos dos parlamentares, tanto no site da Câmara dos Deputados
quanto no Repertório Biográfico são: nome; partido; profissão; nascimento; filiação; cônjuge; filhos;
legislaturas; mandatos eletivos; suplências e efetivações; filiações partidárias; atividades partidárias; estudos e
graus universitários; seminários, conferências e congressos; atividades parlamentares – congresso nacional,
câmara dos deputados (comissões permanentes, comissões especiais, comissões temporárias, comissões
externas); conselhos, frentes, grupos parlamentares e outros; atividades sindicais, representativas de classe e
associativas; conselhos; condecorações; obras publicadas; missões oficiais; outras informações. Contudo,
conforme já assinalado, nem todos os deputados informaram ou atualizaram esses dados em seus perfis
biográficos.
108
Na 53ª Legislatura, dos 513 deputados federais eleitos, 80 foram identificados pelo
DIAP como pertencentes à bancada ruralista (BRUNO, 2009, p. 36). Já na 54ª Legislatura,
dos 513 deputados federais eleitos, 139 deputados federais são identificados pelo DIAP como
integrantes da bancada ruralista. Percebe-se, portanto, um aumento de 59 deputados federais,
na bancada mencionada entre uma legislatura e outra.
Gráfico 3. Bancada ruralista na 53ª (2007-2011) e 54ª (2011-2015) legislaturas
Fonte: DIAP, 2011.
Analisando os dados disponibilizados pelo DIAP (2011), quando do levantamento
feito por este instituto no início de 2011, dos 139 parlamentares eleitos e que passaram a
integrar a bancada ruralista na 54ª legislatura (2011-2015), 48 estavam exercendo o seu
primeiro mandato, enquanto 91 foram reeleitos. Assim, com base nesses dados, bem como
utilizando os dados disponibilizados nos perfis biográficos do Congresso Nacional, podemos
afirmar que a taxa de reeleição dos parlamentares da bancada ruralista foi de 65%, conforme
gráfico abaixo.
Gráfico 4. Reeleição dos parlamentares integrantes da bancada ruralista na 54ª legislatura (2011-2015)
Fonte: DIAP, 2011.
16%
84%
53ª legislatura
Deputados da bancada ruralista (2007-2011)
Demais deputados federais (2007-2011)
27%
73%
54ª legislatura
Deputados da bancada ruralista (2011-2015)
Demais deputados federais (2011-2015)
35%
65%
Reeleição 54ª legislatura
Primeiro mandato Reeleição
109
Tal dado evidencia o quanto estes parlamentares possuem experiência e tempo nestes
espaços, o que pode ser caracterizado como um ―enraizamento‖ dos deputados federais no
Congresso Nacional, fortalecendo a criação de laços e de redes de sociabilidade. Conforme
afirma Bruno (2009, p. 21):
Por mais ausentes que possam se apresentar, todos, de um modo ou de outro,
após décadas e décadas de convivência no plenário, nos gabinetes, nos
corredores e nas comemorações, vão construindo e reconstruindo suas redes
de sociabilidade, lealdade, amizade e inimizade.
Nesse sentido, o quantitativo de 65% de deputados reeleitos, bem como a quantidade
de legislaturas que esses parlamentares exerceram ao longo dos anos, possibilita que esses
agentes sempre circulem por este espaço de poder e construam e sedimentem laços e redes
que podem e são acionadas para a consecução de seus objetivos.
Especificamente quanto à quantidade de mandatos eletivos dos parlamentares
integrantes da bancada ruralista e sem considerar se foram sucessivo ou intercalados, tem-se a
seguinte configuração:
Gráfico 5. Quantidade de mandatos exercidos pelos parlamentares da bancada ruralista incluindo dados
da 55ª legislatura
Fonte: www2.camara.leg.br. Acesso em: 15.06.2015
Primeiro mandato 15%
Segundo mandato 27%
Terceiro mandato 18%
Quarto mandato 11%
Quinto mandato 12%
Sexto mandato 11%
Sétimo mandato 4%
Oitavo mandato 1%
Décimo mandato 1%
Quantidade de mandatos parlamenteres
110
Segundo gráfico apresentado, e considerando os dados da 55ª legislatura (2015-
2019)68
dos 139 deputados federais identificados à bancada ruralista: 21 deles estão em seu
primeiro mandato (15%); 37 deputados federais – a maior percentagem dos membros da
bancada ruralista – estão em seu segundo mandato (27%); 25 deputados encontram-se no
terceiro mandato (18%); 15 deputados federais no quarto mandato (11%); 17 parlamentares
no quinto mandato (12%); 16 parlamentares no sexto mandato (11%); 06 deputados federais
no sétimo mandato (4%); um deputado federal exercendo seu oitavo mandato (1%) e um
deputado também exercendo seu décimo mandato (1%). Nenhum deles exerceu nove
mandatos eletivos.
O deputado que mais foi eleito para exercer mandatos na Câmara dos Deputados foi o
parlamentar Inocêncio Oliveira (PR-PE), que exerceu por dez mandatos consecutivos (40
anos). Cumpre destacar que, durante esta trajetória como deputado federal, Inocêncio Oliveira
– que chegou a presidir a Câmara dos Deputados e a assumir a Presidência da República,
algumas vezes, durante a gestão de Itamar Franco quando não havia vice-presidente – teve
uma das suas propriedades rurais auditadas pelo Ministério Público do Trabalho.
Segundo o informativo O Globo, em 2006, Inocêncio Oliveira foi condenado pelo
Tribunal Regional do Trabalho da 16ª Região, no Maranhão, por manter trabalhadores em
condição semelhante à de escravos em sua fazenda. Contudo, no Supremo Tribunal Federal
(STF), o inquérito que o acusava de prática de trabalho escravo foi arquivado.
Relativamente à filiação partidária, a maior parte dos deputados da bancada ruralista é
filiada ao PMDB, que possui 28 parlamentares identificados com a mesma, o que corresponde
ao percentual de 20%. Na sequência, os deputados apresentam filiação ao DEM (22
parlamentares, com percentual de 16%) e PP (22 parlamentares, com percentual de 16%); ao
PSDB (19 parlamentares, com percentual de 14%); PR (14 parlamentares, correspondendo a
10%), PTB (07 parlamentares, com percentual de 5%); PPS e PDT (ambos com 06
parlamentares, com percentual de 4% cada), PSC (05 parlamentares, com percentual de 4%),
PSB (04 parlamentares, com percentual de 3%), PTdoB e PMN (ambos com 02
parlamentares, com percentual de 1% cada) e PRB e PRTB (ambos com 01 parlamentar,
também considerando o percentual de 1% de representação na bancada).
68
Decidimos incluir os dados relativos à 55ª legislatura (2015 a 2019), pois, embora priorizemos as informações
relativas à 54ª (2011-2015) legislatura para a análise do perfil dos parlamentares, entendemos que a inclusão das
informações relativas ao pleito de 2014 reforçam a tese de que há uma continuidade, fortalecimento e
―enraizamento‖, ainda em curso, dos membros componentes desta bancada no Congresso Nacional. Por este
motivo, também mantivemos o mesmo critério – a inclusão de dados relativos à 55ª legislatura – quando da
análise dos parlamentares integrantes da bancada ambientalista.
111
Gráfico 6. Bancada ruralista na 54ª legislatura (2011-2015) segundo filiação partidária
Fonte: www2.camara.leg.br. Acesso em: 15.06.2015
Ainda de acordo com dados sobre a composição da bancada ruralista disponibilizado
pelo DIAP (2011), a despeito de contar com representação de deputados federais de diferentes
partidos políticos (14 num universo total de 22), não foram encontrados deputados federais
filiados a oito partidos políticos, dentre os quais destacamos o PT, PV e PSOL na 54ª
legislatura (entre os senadores, no entanto, parlamentares do PT assumem os pleitos dos
ruralistas, conforme analisaremos em itens seguintes). Segundo Castilho (2012, p. 104), ao
comentar sobre o PMDB e PSBD afirma que:
A presença do PMDB e do PSDB no topos da lista nos permite pensar em
um contraponto com os partidos formados a partir da ARENA, a sigla oficial
do regime militar (1964-1985). Enquanto o PSDB foi formado a partir do
PMDB (e MDB), o PR, o PP e o DEM descendem da ARENA. Vale
observar que o medo da reforma agrária foi um dos deflagradores do golpe
militar, em 1964 – que criou, no ano seguinte, o sistema bipartidário, com
ARENA e MDB.
Ainda acerca dos partidos políticos, Castilho (2012) afirma que, a despeito do PMDB
e do PSDB serem dois dos principais que abrigam políticos proprietário de terras, quase todos
os demais partidos fazem parte do que o autor denomina de ―sistema político ruralista‖, tendo
em vista que mesmo aqueles que surgiram em oposição a esta lógica ruralista e centralizadora
– como o PT – começam a ser tomados por latifundiários.
DEM 16%
PDT 4%
PMDB 20%
PMN 1%
PP 16%
PPS 4%
PR 10%
PRB 1%
PRTB 1%
PSB 3%
PSC 4%
PSDB 14%
PTB 5%
PTdoB 1%
Filiação partidária
112
Com relação à representação de parlamentares da bancada ruralista por unidade da
federação, observamos que, de acordo com os dados disponibilizados pelo DIAP, dos vinte e
seis estados e Distrito Federal, apenas Amapá, Amazonas, Espírito Santo e Rio de janeiro não
possuem deputados federais integrantes da bancada ruralista. No entanto, antes de
apresentarmos a tabulação dos dados, temos que fazer uma ressalva no que se refere ao estado
do Rio de Janeiro, pois estudos de Castilho (2012) demostram que, embora o Rio de janeiro
seja considerado um estado com poucos políticos proprietários de terra, uma família se
destaca no ramo.
O caso de sucesso refere-se a família Picianni, tendo sido Jorge Picianni (PMDB),
presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro entre 2003 e 2010 e seus filhos
Leonardo Picianni (PMDB), eleito deputado federal (e chegando a presidir, com apenas 27
anos, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara) e Rafael Picianni
(PMDB), eleito deputado estadual pelo Rio de Janeiro. Todos são cotistas da empresa
agropecuária Agrobilara (CASTILHO, 2012, p. 137).
Gráfico 7. Bancada ruralista na 54ª legislatura (2011-2015) segundo unidade da federação
Fonte: www2.camara.leg.br. Acesso em: 15.06.2015
Conforme se depreende dos dados levantados, o estado de Minas Gerais foi o estado
com maior representação de deputados no período de 2011-2015, com 27 parlamentares
integrando a bancada ruralista (19%). Na sequência, temos o estado da Bahia, com 17 (12%);
São Paulo e Paraná, com 10 deputados cada (7% cada); Goiás, com 9 deputados eleitos (6%);
Ceará, com 8 deputados eleitos (6%); Rio Grande do Sul, com 7 deputados eleitos (5%);
1%
AL 2% BA
12% CE 6% DF
1%
GO 6%
MA 4%
MG 19% MS
3%
MT 4%
PA 4%
PB 1%
PE 3%
PI 3%
PR 7%
RN 2%
RO 1%
RR 3%
RS 5%
SC 2%
SE 1%
SP 7%
TO 4%
Parlamentares por estado da federação
113
Tocantins com 6 deputados eleitos (4%); Pará, Mato Grosso e Maranhão, com 5 deputados
eleitos cada (4% cada); Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Piauí, com 4 deputados eleitos
cada (3% cada); Roraima, com 4 deputados (3%); Santa Catarina, Rio Grande do Norte e
Alagoas, com 3 deputados eleitos em cada estado (2% cada) e com apenas um deputado eleito
por estado temos Acre, Distrito Federal, Paraíba, Rondônia e Sergipe (1% cada).
No que se refere a questão de gênero, assim como constatou Bruno (2009, p. 33) ao
analisar a 53ª legislatura, há um predomínio de homens na bancada. Segundo a pesquisadora,
dos 80 parlamentares listados naquela legislatura, apenas quatro mulheres compunham a
mesma, quais sejam: Elcione Barbalho (PMDB/PA); Íris Araújo (PMDB/GO); Fátima Pelaes
(PMDB-AP) e Jusmati Oliveira (DEM/BA).
Destas deputadas, apenas Íris de Araújo (PMDB/GO) foi reeleita na 54ª legislatura,
cabendo destacar, conforme Castilho (2012), que a deputada federal – casada com o político
de mesmo nome, Íris Rezende – está, juntamente com o marido, no topo da lista dos políticos
latifundiários brasileiros, com 24 mil hectares declarado ao TSE.
Relativamente ao recorte de gênero, cumpre destacar que, embora se observe um
aumento de 59 parlamentares na bancada ruralista, o número de mulheres continuou
inalterado. Assim, dos 139 parlamentares, apenas quatro são mulheres. Íris Araújo
(PMDB/GO); Aline Corre (PP/SP); Iracema Portela (PP/PI) e Jaqueline Roriz (PMN/DF).
Gráfico 8. Bancada ruralista na 54ª (2011-2015) legislatura por gênero
Fonte: www2.camara.leg.br. Acesso em: 15.06.2015
Homens 97%
Mulheres 3%
Gênero dos parlamentares
114
Relativamente aos estudos e graus universitários, dos 139 parlamentares integrantes da
bancada ruralista na 54ª legislatura, 116 deputados indicaram ter concluído curso superior
(percentual de 83%), 06 declararam ter iniciado e não concluído curso superior (percentual de
4%); 8 declararam ter concluído o ensino médio (percentual de 6%), 5 o ensino fundamental
(percentual de 4%) e 4 parlamentares declararam possuir formação em cursos tecnológico
(percentual de 3%).
Gráfico 9. Bancada ruralista na 54ª legislatura (2011-2015) segundo nível de escolaridade
Fonte: www2.camara.leg.br. Acesso em: 15.06.2015
Dentre estes dados, merece um maior detalhamento quanto aos cursos superiores dos
parlamentares da bancada ruralista69
, conforme gráfico abaixo:
69
Com relação aos critérios utilizados para esta tabulação, ressaltamos que, pelo fato de alguns parlamentares
declararem mais de uma formação (em alguns casos até três cursos superiores concluídos, ou cursos superiores e
cursos técnicos conjuntamente), considerou-se para fins estatísticos a formação mais recente.
Ensino Fundamental
4%
Ensino Médio 6% Ensino Técnico
3%
Ensino Superior Incompleto
4%
Ensino Superior 83%
Nível de escolaridade
115
Gráfico 10. Cursos superiores dos parlamentares da bancada ruralista na 54ª legislatura (2011-2015)
Fonte: www2.camara.leg.br. Acesso em: 15.06.2015
Observa-se que a formação em Direito é a mais frequente, haja vista que dos 139
parlamentares, 40 deputados declararam possuir formação jurídica (percentual de 34%).
Posteriormente, vem o curso de Medicina, com 13 parlamentares (percentual de 11%), o curso
de Engenharia Agronômica, com 12 deputados federias (percentual de 10%), e na sequencia
os cursos de Economia, Engenharia Civil e Administração, todos com 9 parlamentares cada
(percentual de 8%).
Os cursos de Medicina Veterinária e Engenharia Elétrica possuem representação de 04
deputados federais cada (percentual de 3%), seguidos dos cursos de Odontologia, com 3
parlamentares (percentual de 3%) e Comunicação Social e Teologia, ambos com 2
parlamentares cada (correspondente a 2%).
Os cursos de Artes Plásticas, Ciências Contábeis, Comércio Internacional, Engenharia
Mecânica, Filosofia, Gestão Comercial, História, Letras e Pedagogia são representados por
apenas um parlamentar.
Com relação às profissões declaradas pelos deputados federais integrantes da bancada
ruralista, cumpre de início ressaltar a dificuldade de tabulação destes dados, pois são
frequentemente utilizadas várias ocupações e denominações para definir as atividades dos
parlamentares.
Assim, serão realizados alguns agrupamentos, a fim de propiciar uma melhor
visualização das principais ocupações e atividades profissionais listadas pelos parlamentares.
9
1 1 1 2
40
9 12
9 4
1 1 1 1 1
13
4 3 1 2
Cursos superiores
116
Gráfico 11. Bancada ruralista na 54ª legislatura (2011-2015) segundo atividade profissional
Fonte: www2.camara.leg.br. Acesso em: 15.06.2015
Conforme observamos no gráfico, as principais atividades profissionais mencionadas
pelos deputados federais referem-se à advocacia, com 22 parlamentares declarando exercê-la
(13 parlamentares declarando-a como única atividade e 09 deputados que, além de advogados,
são também industriais, administrador de empresa, engenheiros, jornalistas e agropecuaristas
dentre outros).
Como segunda atividade mais mencionada pelos parlamentares encontra-se a de
empresário, correspondendo a 19 parlamentares (que, tomada como atividade isolada,
corresponde a atividade de 10 deputados federais, e, tomando-a em conjunto com outras
atividades, corresponde a atividade de 9 parlamentares).
A terceira atividade profissional mais mencionada pelos deputados federais da
bancada ruralista foi a de Engenheiro Agrônomo, com 12 deputados declarando exercer tal
atividade (5 deputados declarando ser esta sua única atividade e 7 declarando exercê-la
combinada com outra atividade, tal como empresário, pecuarista, agricultor, produtor rural,
economista).
Advogado 17%
Agropecuarista 5%
Autônomo 2%
Bacharel em
Direito 1%
Cafeicultor, Pecuarista
1%
Consultor, Empresári
o Rural 1%
Dentista 2%
Economista 6%
Empresário 15%
Engenheiro Agrônomo
9%
Engenheiro Civil 7%
Engenheiro Eletricista
2%
Funcionário Público
5%
Médico 9%
Médico Veterinário 2%
Religioso (Ministro Evangélico, Padre,
Pastor) 2% Pedagoga
1%
Produtor Rural, Agricultor 3%
Professor Universitário
5%
Professora, Empresária 1%
Radialista 4%
Atividade profissional
117
Relativamente às ocupações relacionadas ao setor rural e analisando os dados relativos
à incidência desses termos, percebe-se que ele é utilizado por 36 parlamentares para
identificar as suas atividades profissionais, conforme abaixo identificado: agricultor (5
deputados federais), agropecuarista (13 deputados federais); empresário rural (1 deputado
federal); extensionista rural/agrícola (2 deputados federais); pecuarista (5 deputados federais)
e produtor rural (10 deputados federais) para definir sua atividade profissional, geralmente
vinculando tais atividades a outras profissões.
Gráfico 12. Indicação de atividades rurais exercidas pelos parlamentares da Bancada ruralista na 54ª
legislatura (2011-2015)
Fonte: www2.camara.leg.br. Acesso em: 15.06.2015
No entanto, a despeito dessas informações, em muitos casos não é possível deduzir a
condição de ruralista somente a partir dos critérios declarados de formação, profissão e
ocupação profissional, sendo necessário recorrer a um detalhamento dos seus perfis a fim de
evidenciar esta relação.
Assim, para fins de complementação destes dados que foram apresentados de forma
mais geral, acreditamos que é importante destacar os perfis biográficos de alguns agentes,
líderes e representantes dos interesses do setor rural e do agronegócio no Congresso Nacional.
Tais informações, conforme já afirmamos anteriormente, estão disponibilizadas no site
do Congresso Nacional bem como nos Repertórios Biográficos da 54ª legislatura – e
complementadas pelas informações disponibilizadas por Castilho (2012) – e acreditamos que,
embora se refiram a uma amostragem, ajudam a dimensionar a composição deste grupo de
pressão no Congresso Nacional.
Agricultor 14%
Agropecuarista 36%
Empresário rural 3%
Extensionista agrícola/rural
5%
Pecuarista 14%
Produtor rural 28%
118
2.2.1.1 Perfis emblemáticos dos parlamentares da Bancada Ruralista
Dentre os parlamentares da Câmara dos Deputados mais representativos da bancada
ruralista e que mais tencionaram o processo de votação da legislação ambiental na 54ª
legislatura (2011-2015), selecionamos os deputados: Abelardo Lupion (DEM/PR), Afonso
Hamm (PP/RS), Celso Maldaner (PMDB/SC), Lael Varella (DEM/MG), Lira Maia
(DEM/PA), Luis Carlos Heinze (PP/RS), Moacir Micheletto (PMDB/PR) e Ronaldo Caiado
(DEM/GO). No âmbito do Senado Federal, selecionamos os perfis dos senadores Blairo
Maggi (PR/MT) e Kátia Abreu (DEM/TO), além de fazermos remissões mais gerais aos
demais senadores que cumpriram mandato até o ano de 2015.
Abelardo Lupion (DEM/PR)
O deputado federal Abelardo Lupion (DEM/PR), um dos fundadores e presidente da
UDR/PR no período de 1987 e 1990, exerceu seis mandatos na Câmara dos Deputados (1991-
1995, 1995-1999, 1999-2003, 2003-2007, 2007-2011 e 2011-2015). Filiado ao partido DEM
desde 2007, já teve filiação partidária pelo PRN (1990 a 1992) e pelo extinto PFL (1992 a
2007). Atualmente, assumiu a presidência da Companhia de Habitação do Paraná, órgão do
governo estadual paranaense.
Declara como atividades profissionais as de agropecuarista e empresário e no item
estudos e graus universitários, indica ter concluído o curso de técnico em contabilidade e
iniciado o curso superior em Direito.
Ainda é possível encontrar informações sobre as obras publicadas do deputado, a
maior parte composta por artigos (sem menção ao local de publicação dos mesmos) que
versam sobre agronegócio, agricultura, crise e mercado internacional. Tais artigos são:
Situação do Agronegócio e do Mercado de Insumos (Abril/2008); Rastreabilidade tem
Anteprojeto Definido (Junho/2008); Rastreabilidade tem Anteprojeto Aprovado
(Junho/2008); Os Bois Piratas e as Perspectivas da Pecuária Bovina (Agosto/2008); Proteção
ao meio ambiente e ciência têm que, necessariamente, caminhar juntos (Outubro/2008); Crise
Financeira Internacional Reduz Crédito e Preços das Commodities e Afeta a Safra de Grãos
(Novembro/2008, 2008/2009); Reforma Agrária e os Índices de Produtividade Propostos
(Dezembro/2008); Produtores do Paraná Colhem a Safra e Plantam a Segunda Safra
(Fevereiro/2009); Municípios Independentes e Fortes (Junho/2009); Agricultor Brasileiro
Quer Trabalhar, Quem Gosta de Confusão é Baderneiro (Julho/2009); Agricultura é Para
Quem Trabalha de Sol a Sol (Março/2010); O Vermelho do Verde e Amarelo (Abril/2010).
119
Constam ainda informações sobre participação em fóruns de debates e eventos
promovidos por entidades de caráter cooperativo e sindical (tais como Organização das
Cooperativas do Estado do Paraná, Federação da Agricultura do Estado do Paraná, Federação
das Indústrias do Paraná, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Associação
Comercial do Paraná), além de Universidades, Prefeituras, Câmaras de Vereadores, Câmara
Federal e Senado Federal.
Com relação às atividades parlamentares, cumpre ressaltar a participação do deputado
federal Aberlardo Lupion nas comissões permanentes de: Agricultura e Política Rural;
Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Regional; Amazônia Integração
Nacional e Desenvolvimento Regional; Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável; Minas e Energia, Direito do Consumidor; Relações Exteriores e Defesa Nacional,
Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado.
Especificamente com relação às comissões especiais, destacamos a participação do
parlamentar nas comissões de: Autogestão do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira;
Trabalho Escravo (PEC nº 534/02); Política Nacional dos Resíduos; Lei de Proteção de
Cultivares (PL nº 1.457/96); Biossegurança (PL nº 2.401/03); Alimentos Geneticamente
Modificados (PL nº 3.884/04), Produção, Comércio e Fiscalização de Sementes (PL nº
6.264/05); Estatuto da Terra (PLP nº 167/00).
Não são listadas as frentes parlamentares nas quais o deputado federal atuou, apenas o
grupo de trabalho Mata Atlântica II e o grupo parlamentar Brasil-Índia.
Relativamente às condecorações, sobrelevam as homenagens prestadas por instituições
militares, tais como Medalhas, Ordem de Mérito e Comendas das Polícias Militares e Corpo
de Bombeiros de diferentes unidades da federação (São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio
Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Brasília dentre outros). Especificamente com relação aos
prêmios e troféus relacionados à área agropecuária, encontram-se no perfil biográfico
indicação aos prêmios Valores da Terra, Paraná, 2009; Mérito ABCZ e Prêmio Máximo para
Criadores da Raça Zebu, 2008.
Por fim, no item final do perfil biográfico, intitulado ―outras informações‖, foi
encontrada referência aos laços de parentesco na política que possui o deputado Abelardo
Lupion, mais especificamente, relativo à trajetória política de seu avô, Moysés Lupion.
Consta no referido documento que:
Seu avô Moysés Lupion foi Governador do Paraná, de 1947 a 1951 e de
1956 a 1961; Senador pelo Paraná, de 1955 a 1956 e de 1961 a 1963;
Deputado Federal Suplente pelo Paraná, de 1963 a 1964, quando teve seu
mandato cassado e os direitos políticos suspensos por 10 anos, por força do
120
Ato Institucional nº 1, de 09 de abril de 1964, publicado no D.O de
10/04/1964 (BRASIL, 2011, p. 20).
Conforme destaca Castilho (2012), Moisés Lupion, avô do deputado e governador do
Paraná logo após o fim do Estado Novo, costumava distribuir terras para seus amigos sem
maiores formalidades – ou seja, sem necessidade de títulos de propriedade – e tampouco
levava em conta a existência de posseiros e proprietários na região. Nesse sentido, afirma que,
―o neto Abelardo Lupion não representa somente a si mesmo – ou os demais pecuaristas, ou
seus financiadores de campanha. É uma história mais longa que desemboca na atuação diária
na Câmara: a de um certo modo de apropriação do território‖ (CASTILHO, 2012, p. 121).
Relativamente a declaração de bens do deputado, e embora tal informação não conste
oficialmente no perfil apresentado por ele, julgamos ser elucidativa a informação que revela
os dados patrimoniais, conforme estudo realizado por Costa (2012, p. 222). De acordo com a
autora:
Seu patrimônio declarado é de R$ 5.898.464.13, inclui ações da ―Sociedade
Brasil Agropecuária‖, ―Pecuária Seletiva BEKA LTDA" e ―Lupion
Administradora de Bens Próprios LTDA‖, duas propriedades rurais cujas
áreas não foram reveladas, ―um terço de terras com benfeitorias – Fazenda
Boa Vista‖ e ―áreas de terra‖ ambas em São José dos Pinhais/PR. O grosso
do seu patrimônio tem origem no crédito em conta ―Pecuária Seletiva BEKA
LTDA" (R$ 3.275.000,00). Abelardo Lupion declara como agropecuarista,
mas não tem nenhum rebanho declarado.
Tais informações acima foram obtidas por Costa (2012) consultando outros dados
oficiais (tal como declaração prestada junto a Receita Federal e ao TRE) haja vista não serem
disponibilizadas, nem nos repertório biográficos nem no site da Câmara dos Deputados,
informações relativas à evolução patrimonial dos parlamentares.
Afonso Hamm (PP/RS)
O deputado federal Afonso Hamm (PP/RS), que informa no perfil biográfico que
possui como atividade profissional declarada a de engenheiro agrônomo, exerce o seu quarto
mandato consecutivo (2003-2007, 2007-2011, 2011-2015 e 2015-2019). Filiado ao PP desde
1995, iniciou a carreira política junto ao PPB, também em 1995.
121
Dados constantes em seu perfil biográfico indicam que o parlamentar exerceu diversos
cargos públicos70
nas esferas municipal, estadual e federal, a maioria deles relacionados a
órgãos de gestão na agricultura (especialmente fruticultura) e pecuária.
Dentre as atividades sindicais e representativas sobressai-se a atuação em associações
de arrozeiros e fruticultores, iniciadas junto ao Clube do Plantio de Arroz, em Bagé, RS
(atuando como coordenador regional no período de 1989 a 1990), Associação de Arrozeiros
de Bagé, RS (exercendo os cargos de tesoureiro, vice-presidente e presidente, ao longo dos
anos de 1991 a 1996), Federações das Associações dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul
(assumindo como diretor técnico nos anos 1994 e 1995) e, por fim, atuando junto ao Comitê
de Fruticultura da Metade Sul do RS (exercendo os cargos de vice presidente e,
posteriormente, presidente do comitê no período compreendido entre 1990-2006).
Não foram citadas as frentes parlamentares nas quais atuou ao longo das suas
legislaturas.
Dentre os conselhos nos quais atuou, é mencionado o Conselho de Desenvolvimento
Rural e Fundo Municipal de Desenvolvimento Rural, Bagé, RS (1997-1998) e atuação como
conselheiro técnico do Clube do Plantio Direto do Arroz do Rio Grande do Sul, Bagé, RS
(1995-1996).
Entre obras publicadas, encontram-se, predominantemente publicações, sobre
produção agrícola, especialmente sobre polos frutícolas e desenvolvimento da fruticultura.
Destaque também para a participação como palestrante em diversos seminários, conferências
e congressos (que somam mais de 70), a maioria feiras e exposições agropecuárias.
Dentre as comissões nas quais tomou parte o deputado Afonso Hamm, destaque para
as Comissões Permanentes de: Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento
Rural; Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional; Desenvolvimento
Urbano; Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado e Turismo e Desporto.
Dentre as missões oficiais listadas pelo deputado, destaque para: representante do
Ministério da Agricultura: Feira Mundial de Alimentação, Alemanha, 1999 (representando o
Ministério da Agricultura); Convenção, Exposição e Conferência Internacional Produce
70
Chefe da empresa Cobagelã, Bagé, RS, 1985-1999; Secretário Municipal, Secretaria Municipal da Agricultura,
Bagé, RS, 1997-1998; Assessor, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Brasília, DF, 1999-2000;
Coordenador Geral de Programas Especiais, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Brasília, DF,
2000-2002; Assessor, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Brasília, DF, 2002; Diretor
Administrativo, EMATER, Porto Alegre, RS, 2003-2005; Diretor Administrativo, Associação Sulina de Crédito
e Assistência Rural - ASCAR, Porto Alegre, RS, 2003-2005; Coordenador, Programa Estadual de Fruticultura,
Porto Alegre, RS, 2003-2005; Membro Titular, Câmara Nacional de Fruticultura, Brasília, DF, 2003; Membro
Titular, Programa Integrado de Frutas, PIF (BRASIL, 2001, p. 26).
122
Marketing, Califórnia, EUA (integrante da Delegação Brasileira); Encontro Nacional de
Fruticultura, Fraiburgo, SC, 2000; Abertura Safra Orgânica, Ipê, RS, 2000; Inauguração do
Instituto Biotecnológico de Reprodução Vegetal, Bagé, 2000; Representante da EMATER do
RS: Missão Gaúcha de Intercâmbio Técnico, Santiago, Chile, 2004; Viagem, Intercâmbio
com o Setor Vitivinícola, Argentina e Chile, 2005; Assembleia Geral do GAFTA, The Grain
and Feed Trade Association, Londres, Inglaterra, 2005.
Chama atenção, no perfil deste parlamentar, o exercício de atividades profissionais, a
participação em associações, comissões e missões oficiais, além de publicação de obras e
participação em eventos relacionados agricultura e a fruticultura.
Celso Maldaner (PMDB/SC)
Celso Maldaner (PMDB/SC), que declarou como profissão as atividades de
economista e empresário, e foi eleito para exercer três legislaturas como deputado federal no
Congresso Nacional (2007-2011, 2011-2015, 2015-2019) e desde o início da carreira política,
em 1980, foi filiado ao PMDB.
Tendo listado a participação em alguns congressos, conferências e seminário, percebe-
se que a maior parte relaciona-se a temas ligados ao empreendedorismo. A título de exemplo,
mencione-se: Fórum Internacional e Fórum Nacional de Experiências Comunitárias, Toledo,
PR, (1995); IV Encontro Internacional de Empreendedores, Foz do Iguaçu, PR (1998);
Programa das Organizações das Nações Unidas em parceria com o Sebrae para o
desenvolvimento de empreendedores, São Miguel do Oeste, SC, (1997); Dale Carnegie
Training, São Miguel do Oeste, SC (2000).
Já com relação às comissões permanentes nas quais tomou parte, cumpre ressaltar as
comissões de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; Constituição e
Justiça e de Cidadania; Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio; Finanças e
Tributação e de Viação e Transportes.
Dentre as comissões especiais, destacamos a participação do parlamentar nas
comissões de Exploração Recursos Terras Indígenas (PL nº 1.876/99), Código Florestal
Brasileiro (PL nº 1.876/99) e Parcelamento do Solo para Fins Urbanos (PL nº 3.057/00).
Dentre as atividades sindicais listadas pelo deputado em seu perfil biográfico, também
não aparece de forma evidenciada a relação do mesmo com as atividades agropecuárias, haja
vista que a maior parte delas relaciona-se a associações municipais (a exemplo, mencione-se a
123
presidência da AMOSC - Associação dos Municípios do Oeste de Santa Catarina, em 1994 e
1995, e da AMERIOS - Associação dos Municípios do Entre-Rios, durante o ano de 2001).
Não foram mencionadas as frentes parlamentares nas quais o deputado atuou, mas sim
os conselhos nos quais tomou parte, quais sejam: Conselho de Desenvolvimento Regional da
Secretaria de Estado do Desenvolvimento Regional, Maravilha, SC (2003-2006) e Conselho
de Sócios da empresa FM Pneus LTDA (desde 1999), os dois na condição de presidente.
As condecorações recebidas pelo deputado federal Celso Maldaner são compostas, em
sua maior parte, por títulos de cidadão honorário e mérito71
, nenhuma delas remetendo, de
imediato, à questão agropecuária.
Lael Varella (DEM/MG)
O deputado Lael Varella (DEM/MG) declara-se como empresário em seu perfil e
indica que exerceu o cargo de deputado federal por sete legislaturas seguidas (1987-1991,
1991-1995, 1995-1999, 1999-2003, 2003-2007, 2007-2011 e 2011-2015). Antes de ser filiado
ao DEM, foi filiado ao extinto PFL, de 1987 a 2007.
Atualmente, o ex-deputado federal Lael Vieira Varella se dedica às suas empresas haja
vista que, dentre as atividades profissionais e cargos públicos ocupados, destaca em seu perfil
o cargo de diretor presidente de algumas empresas72
, dentre elas, Lael Varella Administração
e Assessoria Ltda., Agropecuária Lael Varella Ltda., além da COPEVE, VENAC Pneus e
Mila Transportes Ltda.
Com relação as comissões permanentes nas quais tomou parte o deputado federal Lael
Varella, destacam-se as de: Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural;
Economia, Indústria e Comércio; Finanças e Tributação; Fiscalização Financeira e Controle;
71
Condecorações listadas pelo deputado Celso Maldaner: Título de Benemerência, Liga Regional Oeste de
Capoeira/ LROC-SC, pelo incentivo à prática da capoeira educativa, Maravilha, SC, 2001; Medalha
Comemorativa aos 170 anos da Polícia Militar, concedida pela Polícia Militar de SC, São Miguel do Oeste, SC,
2006; Título de Cidadão Honorário de Maravilha concedido pela Câmara de Vereadores em 26 de julho de 2005.
Resolução número 05/2004 datada de 13 de dezembro de 2004 de autoria do vereador Antonio Bertollo,
Maravilha, SC; Título de Prefeitura Empreendedora pelos serviços prestados pelo prefeito Celso Maldaner ao
desenvolvimento das micro e pequenas empresas e à geração de renda e empregos, conferido pelo Sebrae no ano
de 2001; Título Distinção de Mérito, Câmara Júnior de Maravilha, SC, conferido em 2002; Certificado em
reconhecimento à militância em favor da luta democrática aos ideais do MDB - PMDB nos 30 anos de existência
do partido conferido pelo presidente estadual da JPMDB de SC Gentil Dori da Luz, pelo Presidente da Fundação
Jovem Ulysses Guimarães Valdir Vital Cobalchini e pelo presidente de honra da JPMDB SC, Adélcio Machado
dos Santos, maio de 1996, SC (BRASIL, 2011, p. 161). 72
Conforme informação obtida no site da empresa, a mesma tem atuação em diversas áreas como a venda de
caminhões Scania, de seguros, de pneus, nos setores de transporte, agropecuária e comunicação e ainda investe
na criação de cavalos Mangalarga Marchador (Dados obtidos junto ao site
http://www.empresaslaelvarella.com.br/site/conteudo/detalhe/1. Acesso em 17 de novembro de 2015).
124
Minas e Energia; Seguridade Social e Família; Viação e Transportes e Desenvolvimento
Urbano e Interior.
Já com relação às comissões especiais, destacamos a participação do parlamentar,
como suplente, nas comissões Cerrado Patrimônio Nacional (PEC nº 115/95), Usinas
Hidrelétricas e Produção (PEC nº 361/96) e Comércio e Fiscalização de Sementes (PL nº
4.828/98).
Não foram listados os conselhos, frentes e grupos parlamentares nos quais atuou e, no
que concerne às atividades representativas elencadas no perfil biográfico do deputado federal,
encontram-se a diretoria da Associação Brasileira dos Concessionários Scania –
ASSOBRASC (1980), além da presidência do Sindicato Rural de Muriaé (1981 a 1987).
De modo geral, o perfil biográfico indicado pelo deputado federal Lael Varella revela
além de uma longa trajetória política, uma trajetória como empresário que atua nos mais
diferentes ramos econômicos e negócios, incluindo o da agropecuária.
Lira Maia (DEM/PA)
O deputado federal Lira Maia (DEM/PA) declarou no seu perfil o exercício da
profissão de engenheiro agronômico, exercendo duas legislaturas no Congresso Nacional
(2007-2011, 2011-2015). Antes, da sua filiação ao DEM, foi filiado aos partidos: ao extinto
PFL, de 1993 a 2003, ao PMDB, de 2003 a 2005, e novamente ao PFL de 2005 a 2007.
Atualmente sem mandato parlamentar, o ex-deputado federal tenta se candidatar a
cargos na esfera estadual e municipal, bem como se defender das mais de 14 acusações a qual
responde no Supremo Tribunal Federal73
.
Com formação técnica obtida pelo curso Técnico em Agropecuária e curso superior
em Engenharia Agronômica, muitas das atividades profissionais e cargos públicos listados
pelo parlamentar foram exercidos em órgãos relacionados à questão agrícola74
, tanto em
âmbito municipal quanto estadual.
73
O ex deputado federal Lira Maia é considerado um dos políticos mais investigados pelo Supermo Tribunal
Federal. Conforme informações obtidas em sites, Lira Maia ―é alvo de 13 processos: quatro ações penais (484,
517, 518 e 524) e nove inquéritos (2742, 2762, 2875, 2991, 3036, 3049, 3057, 3058 e 3301). As acusações
envolvem crimes eleitorais, peculato, crime contra o trabalho, contra a administração pública e de
responsabilidade. Prefeito de Santarém (PA) durante oito anos, é acusado de irregularidades em 24 licitações
para a compra de merenda escolar em 2000 naquela cidade. No ano passado, Lira Maia afirmou (...) que ―todos
os processos foram abertos com motivação política‖. ―Tais processos eram uma tentativa de me descredenciar
perante os eleitores.‖ (Dados obtidos junto ao site http://congressoemfoco.uol.com.br/. Acesso em 17 de
novembro de 2015). 74
Atividades profissionais e cargos públicos exercidos pelo deputado federal Lira Maia: Instrutor de
Desenvolvimento Econômico e Social do Pará, Capitão Poço, PA, 1976; Agente de Extensão II, EMATER, Pará,
Maracanã, PA, 1977-1978; Auxiliar de Escrita, Subchefe de Carteira, Banco do Estado de São Paulo S.A,
125
Dentre os seminários, conferências e congressos listados, mencionem-se os que o
deputado teve atuação como palestrante: seminário de Cooperativismo para Dirigentes de
Cooperativas – INCRA, Benevides, PA (1977); Convenção Nacional de Juventude Rural,
Brasília, DF (1982); Convenção Estadual de Juventude Rural EMATER-Pará (1985) e Fórum
de Secretários Estaduais de Agricultura (1990).
As comissões permanentes nas quais o deputado federal Lira Maia tomou parte foram:
Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; Amazônia, Integração
Nacional e de Desenvolvimento Regional; Educação e Cultura e Finanças e Tributação.
Destaque para a participação na comissão especial de revisão do Código Florestal (PL nº
1.876/99).
As frentes parlamentares nas quais atuou o deputado foram: Mista da Informática;
Mista da Pesquisa Brasileira; Mista da Radiodifusão; Mista de Combate à Pirataria e
Sonegação Fiscal; Mista de Defesa do Carvão Mineral; Mista dos Direitos do Contribuinte;
Mista em Defesa da Cultura; Mista para o Desenvolvimento da Indústria Têxtil e de
Confecções.
Com relação às atividades sindicais, representativas de classe e associativas, destacam-
se: sócio do Sindicato dos Produtores Rurais de Santarém (1989), presidente da Associação
dos Municípios de Transamazônica e Santarém-Cuiabá (1999, 2003 e 2004); Diretor, da
Confederação Nacional de Municípios, CNM, Região Norte (2003-2004), Presidente, da
Federação das Associações dos Municípios do Estado do Pará, FAMEP (2004) e sócio da
Cooperativa dos Produtores Rurais de Santarém (2006).
O parlamentar Lira Maia lista uma obra publicada, ―Tecnologia adaptada: debulhar de
grãos‖ (EMBRATER, 1982), e dentre as condecorações recebidas, além de prêmios como
medalhas de mérito legislativo e títulos de cidadão, destacam-se os prêmios Amigo da
Extensão Rural, EMATER (1991), Admissão na Ordem dos Cavaleiros da Produção Rural,
Sindicato Rural de Santarém, SIRSAN, Santarém, PA (1999) e o Diploma de Destaque
Nacional em Desenvolvimento Sustentável, Biosfera (2004).
Belém, PA, 1978-1982; Executivo, Chefe da Área Agrícola do Projeto Tucumã, Construtora Andrade Gutierrez
S.A., Tucumã, PA, 1982- 1986; Secretário Municipal de Agricultura, Prefeitura Municipal de Santarém, PA,
1986-1988; Agente de Extensão Rural, EMATER-Pará, Santarém, PA, 1986-; Secretário de Estado de
Agricultura, Governo do Estado do Pará, Belém, PA, 1989-1991; Diretor, da Confederação Nacional de
Municípios, CNM, Região Norte, 2003-2004; Assessor Especial, Governo do Estado do Pará, Belém, PA, 2005-
2006 (BRASIL, 2011, p. 502).
126
Luiz Carlos Heize (PP/RS)
Já o deputado federal Luis Carlos Heinze (PP/RS), com profissão autodeclarada de
engenheiro e produtor rural, foi eleito para exercer cinco legislaturas no Congresso Nacional
(1999-2003, 2003-2007, 2007-2011, 2011-2015, 2015-2019), tendo se filiado aos partidos
PSD (de 1992 a 1995), PPB (de 1995 a 2003) e PP (2003).
Dentre as atividades profissionais e cargos públicos, destaca a atuação como professor
no Colégio Estadual São Borja e Secretário Municipal de Agricultura (1989). Com formação
superior em Engenharia Agronômica, o único seminário listado pelo parlamentar em seu
perfil foi o ―Simpósio sobre a Crise Mundial dos Alimentos‖, ALRS, Porto Alegre (1995).
As comissões permanentes nas quais o deputado Luiz Carlos Heinze atuou foram as
comissões permanentes de: Agricultura e Política Rural; Agricultura, Pecuária, Abastecimento
e Desenvolvimento Rural; Fiscalização Financeira e Controle; Finanças e Tributação e
Relações Exteriores e Defesa Nacional.
Dentre as comissões especiais, merece destaque a participação nas comissões: Crise
Econômico-Financeira-Agricultura, Alienação de Terras (PEC nº 407-G), Biossegurança (PL
nº 4.828/98 e PL nº 2.401/03), Produção, Comércio e Fiscalização de Sementes (PL nº
6.264/05) e Código Florestal Brasileiro (PL nº 1.876/99).
Não foi listado no perfil biográfico do deputado as frentes parlamentares nas quais
atuou – a despeito de ter sido o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária na 54ª
(2011-2015) – e encontra-se menção a um conselho no qual tomou parte: o Conselho de Ética.
Relativamente às atividades sindicais, representativas de classe e associativas
elencadas pelo parlamentar, destacam-se as atividades estudantis (presidente do Grêmio
Estudantil do Colégio Agrícola, Alegrete, RS, de 1968 a 1969 e do Diretório Acadêmico de
Agronomia Orlando Nóbrega, Santa Maria, RS, de 1972 a 1973) além da presidência da
Associação dos Arrozeiros de São Borja, RS (1988-1990) e vice-presidência da Federação das
Associações de Arrozeiros, Porto Alegre, RS (1989-1990).
Dentre as missões oficiais, destacamos a participação no III Encontro de Produtores,
Cooperativas e Indústrias de Arroz, Montevidéu, Uruguai, no ano de 2000.
Por fim, destacamos também as atividades elencadas no item ―outras informações‖
pelo deputado federal:
Membro da Comissão Central dos Orizicultores Gaúchos no boicote da
comercialização do arroz, 1984, da Comissão de Crédito Rural da FARSUL,
Porto Alegre, RS, 1985-1988, da Comissão Central que organizou o
Tratoraço a Porto Alegre, RS, 1986, e da Comissão Mista Brasil-Argentina
para construção da Ponte Internacional São Borja-São Tomé, 1993-1996.
127
Coordenou a Comissão do Endividamento dos Produtores Rurais Gaúchos,
1987. Participou de lideranças gaúchas do Alerta do Campo à Nação,
Brasília, DF, 1987, e da coordenação do boicote estadual à comercialização,
1988; Defendeu e aprovou, na AMFRO, a contratação de estudos sobre a
orizicultura gaúcha, 1994; Apoiou, incentivou e participou do movimento
Caminhonaço a Brasília, DF, 1995; Liderou a comitiva de prefeitos gaúchos
que foram a Brasília apoiar a bancada ruralista, 1995.
Este último item é revelador da militância do deputado Luiz Carlos Heinze em prol do
setor agropecuário, inclusive com iniciativas de apoio político à bancada ruralista quando da
sua criação, assim como por mobilizações nacionais como ―Tratoraço‖ e ―Caminhonaço‖75
com vistas a chamar atenção para as demandas e reivindicações do patronato rural.
Moacir Micheletto (PMDB/PR)
O deputado federal Moacir Micheletto (PMDB/PR), tendo com atividade profissional
declarada de administrador rural, engenheiro agrônomo e extensionista agrícola, foi eleito
para exercer seis mandatos como deputado federal no Congresso Nacional (1991-1995, 1995-
1999, 1999-2003, 2003-2007, 2007-2011 e 2011-2015). Antes de se filiar ao PMDB (1982), o
parlamentar foi filiado ao extinto ARENA (1973-1980) e ao PP (1981-1982). Cumpre
destacar que o deputado faleceu no exercício do seu sexto mandato, em um acidente de carro,
no dia 30 de janeiro de 2012.
Dentre as atividades profissionais e cargo públicos listados no perfil biográfico,
destaque para o cargo de diretor e proprietário da Rádio Jornal (AM) e Rádio Pitiguara (FM)
de Assis Chateaubriand, além de presidente da Comissão Nacional de Grãos e Fibras, CNA,
Brasília (1993-1996).
Vários são os cursos listados pelo deputado federal Moacir Micheletto em seu perfil,
dentre os quais destacamos: Agronomia (1969-1972), Curso Técnico de Medicina Veterinária
Prática de Pecuária e Zootecnia Geral e de Sanitária Veterinária (1958-1960), Ovicultura,
Fazenda Experimental de Itapetininga (1961); Suinocultura, Fazenda Experimental de
Criação, Sertãozinho, (1961), Técnico Agrícola (1965), Herbicidas (1970), Cooperativismo e
Crédito Cooperativo (1972), Pastoreiro Rotativo Voisin (1972) e Especialização em
Administração Rural (1978).
Com relação à participação do deputado federal em seminários, conferências e
congressos, ressalte-se a participação na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
75
De acordo com Sevá, Bruno e Carneiro (2008), trata-se de mobilizações de rua e ações diretas organizadas por
setores ligados patronato rural e industrial, que se organizam em torno de uma ―agenda agrícola‖ e uma ―agenda
fundiária‖ e buscam, assim, visibilidade e atendimento das suas demandas.
128
(FIESP), com a palestra sobre ―A importância do Seguro da Renda Rural para o
Desenvolvimento do Agronegócio‖ (2008) e a Acadêmica da Faculdade de Ampére
(FAMPER) com a palestra ―Sustentabilidade Ambiental‖ (2008).
As comissões parlamentares na qual atuou foram: Agricultura e Política Rural;
Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; Trabalho, Administração e
Serviço Público; Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática; Defesa do Consumidor,
Meio Ambiente e Minorias; Desenvolvimento Urbano e Interior; Relações Exteriores e de
Defesa Nacional e Turismo e Desporto.
Destaque para as comissões especiais: Preservação do Ambiente (PEC nº 52/03);
Cerrado - Patrimônio Nacional (PEC nº 115/95), Código Florestal Brasileiro (PL nº 1.876/99);
Patrimônio Genético (PEC nº 618/98); Biossegurança (PL nº 2.401/03); Alimentos
Geneticamente Modificados (PL nº 2.905/97); Adição de Farinha de Mandioca (PL nº
4.679/01); Gestão de Florestas Públicas (PL nº 4.776/05); Produção, Comércio e Fiscalização
de Sementes (PL nº 4.828/98); Recursos Genéticos e Produtos Derivados (PL nº 4.842);
Estatuto da Terra (PLP nº 167/00) e da Subcomissão Especial para Tratar da Agroenergia e
Meio Ambiente.
As frentes parlamentares listadas pelo deputado foram: Agropecuária; Ambientalista;
Saúde; Pesca e Aquicultura; Café; Radiodifusão; Desarmamento.
Quanto aos grupos de trabalho, foram elencados, como presidente, atuação nos grupos
Brasil-África do Sul; Brasil-Austrália; Brasil-Croácia; Brasil-Estados Unidos. Já como
membro dos grupos de trabalho, mencione-se Brasil-União Europeia; Brasil-Japão e Brasil-
China.
Já as atividades sindicais, representativas e associativas de classe listadas pelo
deputado federal foram: presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Agronomia,
Passo Fundo, RS (1971-1972); Presidente da Associação dos Engenheiros Agrônomos,
Núcleo Regional de Assis Chateaubriand, PR (1982-1984); Presidente do Sindicato Rural de
Assis Chateaubriand, PR (1983-1986, 1986-1989 e 1989-1992) e Vice-Presidente da
Federação da Agricultura do Estado do Paraná, Curitiba, PR (1988-2002).
Por fim, cumpre listar as missões oficiais nas quais tomou parte:
Representante do setor privado organizado, no grupo permanente do
Subgrupo Oito do MERCOSUL, em viagem oficial ao Paraguai, Uruguai e
Argentina, 1991-1992. Representante da Câmara dos Deputados no
Parlamentarians for Global Action, Caracas, Venezuela, 1993. Viagem ao
Japão, como Diretor-Superintendente da CAMPO, para desenvolvimento e
acompanhamento de projetos técnicos agrícolas entre Brasil e Japão, 1996.
Participante da Reunião de Audiência Pública realizada sob a coordenação
129
da Comissão de Agricultura e Política Rural, Chapecó, SC, 1997;
Participante do Grupo Parlamentar de Amizade Brasil-Croácia, em missão
político-empresarial, em Zagreb, em 2008 (BRASIL, 2011, p. 625).
Percebe-se no perfil listado um esforço por evidenciar a inserção do deputado Moacir
Micheletto em atividades parlamentares, sobretudo grupos de trabalho e missões oficiais,
destinadas a discutir e promover a inserção política empresarial do Brasil nas relações
internacionais.
Ronaldo Caiado (DEM/GO)
Por fim, o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM/GO) foi um dos fundadores e
presidentes da UDR na década de 1980 e exerceu cinco mandatos como deputado federal
(1991-1995, 1999-2003, 2003-2007, 2007-2011 e 2011-2015).
Filiado ao DEM desde o ano de 2007, o deputado já foi filiado ao extinto PFL (1986-
1988), PDC (1989), PSD (1989-1991), PFL (1991-2007) e atualmente exerce o mandato
como Senador da República pelo DEM/GO (2015-2023).
Ronaldo Caiado declara como profissão a de médico, produtor rural e professor, tendo
listado como atividade profissional e cargo público o de auxiliar de Ensino do Departamento
de Ortopedia da UFRJ (1978-1979).
Relativamente aos estudos e graus universitários são listadas várias atividades relativas
à área médica, especialmente ortopedia e traumatologia, quais sejam: curso de graduação em
Medicina (1968-1974), residência médica (1975 a 1976), mestrado em Medicina (1979),
estágios em hospitais no Rio de Janeiro (1972 a 1976), estágio como assistente estrangeiro em
Paris, França (1978 a 1979) e em estágio de atualização em Paris e Montepellier, França
(1985).
Com relação aos congressos, é mencionado em seu perfil: participante do VIII
Congresso Pan-Americano do Colégio Internacional de Cirurgiões, Rio de Janeiro (1975); XX
e XXIV Congressos Brasileiros de Ortopedia e Traumatologia, Rio de Janeiro, RJ (1975) e
Belo Horizonte, MG (1984); V Congresso Brasileiro de Cirurgia da Mão, Rio de Janeiro, RJ,
(1975); XIV Congresso Brasileiro de Cirurgia, Rio de Janeiro, RJ (1976); I Seminário
Brasileiro de Pós-Graduação em Cirurgia, Rio de Janeiro, RJ (1976); Congrès de la Socièté
Française de Chirurgie Ortopèdique et Traumatologie, Paris, França (1977); III Congresso da
Associação Médica de Goiás, Goiânia (1979); II Congresso Brasileiro de Patologia do
Quadril, São Paulo, SP (1984).
130
Relativamente às atividades parlamentares, cumpre ressaltar a atuação do parlamentar
nas comissões permanentes de: Agricultura e Política Rural; Agricultura, Pecuária,
Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR) (e no âmbito desta, na subcomissão
para tratar de renda rural da CAPADR, subcomissão para tratar da rastreabilidade da
CAPADR, subcomissão de pecuária de corte da CAPADR e subcomissão de políticas para o
mercado de fertilizantes da CAPADR); Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática;
Constituição e Justiça e de Cidadania; Desenvolvimento Urbano e Interior; Finanças e
Tributação; Fiscalização Financeira e Controle; Relações Exteriores e de Defesa Nacional;
Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado; Seguridade Social e Família e Viação e
Transportes.
Dentre as comissões especiais nas quais tomou parte o deputado, destacamos as
comissões de Alienação de Terras (PEC nº 58/03); Cerrado - Patrimônio Nacional (PEC nº
115/95); Trabalho Escravo (PEC nº 438/01); Política Nacional dos Resíduos (PL nº 203/91);
Biossegurança (PL nº 2.401/03); Cédula de Produto Agropecuário (PL nº 2.699/97);
Produção, Comércio e Fiscalização de Sementes; Recursos Genéticos (PL nº 4.842/98) e
Estatuto da Terra (PLP nº 167/00).
As Frentes Parlamentares de atuação do deputado federal listadas foram:
Agropecuária; Cooperativismo; Saúde; Pró – Biocombustíveis; Esporte; Municipalista; em
Defesa da Igualdade Racial; Apoio às Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades
Filantrópicas na Área de Saúde; Mista de Apoio à Pesquisa Agropecuária, Científica,
Tecnológica e Transferência de Tecnologia; em Defesa do Voto Aberto; Cristã Brasil - Israel
pela Paz na Terra Santa, Oriente Médio e no Mundo (FRENPAZBRIL); em Defesa da
Infraestrutura Nacional; Mista para o Desenvolvimento da Indústria Têxtil e de Confecções;
de Apoio às Forças Armadas na Amazônia; da Agropecuária - FPA; Mista do Comércio
Varejista; de Logística de Transportes e Armazenagem; da Cadeia Produtiva do Leite - FPCL.
Quando da enunciação das atividades sindicais, representativas e de classe do
parlamentar no perfil biográfico do deputado Ronaldo Caiado é que fica evidenciada a sua
relação com a temática agropecuarista. Conforme consta no repertório, o deputado foi sócio
da Associação Goiana de Criadores de Zebu, da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura e
da Associação Goiana de Criadores de Nelore. Também existe menção ao pelo parlamentar
ter sido Fundador e Presidente Nacional da UDR, Goiânia, GO, e Brasília, DF (1987-1989).
É extensa a lista de condecoração recebida pelo parlamentar, nas quais constam títulos
e diploma de cidadão de diferentes municípios, placas de reconhecimento na área empresarial,
131
prêmios e menções a destaque como político e personalidade do ano, agradecimentos e
homenagens da classe médica, além de troféus e homenagens na área agropecuária.
Dentre estes últimos, destacamos: Troféu de Agradecimento aos serviços prestados ao
Rodeio e ao Agronegócio Nacional, Jaguariúna, SP, maio/2005; Certificado Fórum de
Formação Sindical, São Paulo, SP, 18/2/2005; Homenagem da CNA pela gestão na
presidência da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural,
da Câmara dos Deputados, Brasília, DF, 18/4/2006; Placa de Agradecimento dos Produtores
Rurais pelos Relevantes Serviços Prestados, IV Leilão V8 Nova Índia, Uberaba, MG,
7/5/2006; Troféu Homenagem à Abertura da Colheita do Arroz; Itaqui, RS, 2006, Placa de
Agradecimento pelos Serviços Prestados ao Agropecuarista - Sindicato Rural de Itaberaí, GO,
dezembro/1999, Troféu de Agradecimento pelos Serviços Prestados ao Sindicato Rural de
Cristalina, GO, 6/5/2000, Placa de Homenagem: Reconhecimento por sua Visão
Empreendedora, AEPAGO - Associação das Empresas de Planejamento e Consultoria
Agropecuária do Estado de Goiás, Goiânia, GO, 16/12/2002; Sindicado Rural de Alexânia:
Honra ao Mérito em reconhecimento pelos relevantes serviços prestados em defesa do
produtor rural, Alexânia, GO, 10/12/2005; Troféu Personalidade Pública, FUNDEPEC - GO:
Contribuição ao Desenvolvimento do Agronegócio em Goiás, Goiânia, GO, 22/12/2006;
Político do Ano: Defesa do Produtor Rural, SRR, Goiânia, GO, 2008; Comenda do Mérito
Agropecuário do sistema FAEG/SENAR em Caldas Novas, GO, 4/12/2009 Troféu Mérito
Agronegócio SGPA 2009, referente à 64ª Exposição da Agropecuária do Estado de Goiás,
Goiânia, GO, 15/5/2009.
Por fim, cumpre ainda destacar que o deputado federal – e atualmente senador pelo
estado de Goiás – é considerado um caso dos casos mais bem sucedidos de políticos que
representa um movimento progressivo de conformação do Congresso Nacional às demandas
dos ruralistas (CASTILHO, 2012, p. 122).
Embora tenhamos nos dedicado a análise de dados, sobretudo, de deputados federais,
cumpre destacar algumas informações relativas aos Senadores da República, haja vista que,
segundo informações disponibilizadas por Castilho (2012, p. 21), eles podem ser considerados
os principais proprietário de terras do país. ―Proporcionalmente, ele têm mais bens rurais que
seus suplentes (conhecidos por sua condição de milionários); mais também que os
governadores, deputados federais, estaduais, prefeitos e ex-prefeitos‖.
Com base em levantamentos dos documentos entregues à Justiça Eleitoral e
elaborados pelos próprios políticos ocupantes de cargos políticos entre os anos de 2008 e
132
2010, Castilho (2012) aponta que a quantidade de bens rurais (terras ou empresas) em nome
dos senadores impressiona. A média de hectare por senador são de quase mil hectares para
cada um. Dentre estes latifundiários, destacam-se Blairo Maggi (PR/MT) e Kátia Abreu
(DEM/TO).
Blairo Maggi (PR/MT)
O senador Blairo Maggi (PR/MT), declara como profissão as de empresário e
Agrônomo, graduado pela Universidade Federal do Paraná. Iniciou a vida pública filiado ao
PP e ingressou no Senado Federal como suplente do senador Jonas Pinheiro, em 1994.
Posteriormente, elegeu-se governador pelo estado de Mato Grosso, exercendo dois mandatos
como chefe do Poder Executivo Estadual, nos períodos de 2003 a 2007 e de 2007 a 2010.
De acordo com informações da Secretaria Geral da Mesa do Senado Federal, Blairo
Maggi elegeu-se senador pelo estado de Mato Grosso para exercer seu mandato no período de
2011 a 2019, e, dentre outras comissões, integrou como titular a Comissão de Educação,
Cultura e Esporte; Comissão de Serviços de Infraestrutura e a Comissão de Agricultura e
Reforma Agrária. Já com relação às missões no exterior, o senador participou como
representante do Senado Federal da Convenção do Agronegócio na Alemanha, a ser realizada
pela Bayer CropScience e da Convenção do Agronegócio 2015 nos EUA.
No Brasil, atuou em 2011 na comissão para inspecionar as obras das Usinas do
Complexo do Rio Madeira - Jirau e de Santo Antonio, em Rondônia; em 2012 representou o
Senado Federal no âmbito da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável, Rio+20, no Rio de Janeiro-RJ e em 2013 participou de diligência da
Subcomissão para acompanhar a execução das obras de Belo Monte, nas cidades de Altamira
e Vitória do Xingu/PA.
Considerado um dos empresários mais ricos do mundo, Blairo Maggi ostenta o título
de ―Rei da Soja‖, tendo em vista a sua fortuna de 1,2 bilhão de dólares, o que o coloca no 45º
lugar no ranking de empresário mais rico do Brasil no setor de agronegócio76
. Ainda de
acordo com informações veiculadas pelo site República dos Ruralistas o senador é
responsável por pelo menos metade do desmatamento da Amazônia nos anos de 2003 e 2004
e é o braço político de um império econômico de gigantescas proporções: o grupo André
Maggi, sediado em Cuiabá, holding que controla quatro divisões de empresas ligadas ao
chamado agronegócio, nos setores de plantio; processamento e comércio de grãos; produção
76
Disponível em: http://republicadosruralistas.com.br/. Acesso em: 22 de janeiro de 2016.
133
de sementes; reflorestamento; pecuária; venda de fertilizantes; geração de energia elétrica;
administração portuária; transporte fluvial; exportação e importação. Ainda de acordo com
informações disponibilizadas pelo site, o senador concentra com a sua família terras em
45.115 hectares no estado do Mato Grosso, espalhados por 29 propriedades rurais – das quais
11 são consideradas improdutivas.
De acordo com Castilho (2012, p. 188), Blairo Maggi se tornou o protótipo do político
empresário e é dono de uma biografia ambientalmente controversa: ganhou, no ano de 2006,
pelo movimento ambientalista Geenpeace, o prêmio ―Moto Serra de Ouro‖ e posteriormente,
preocupado com sua reputação internacional e devido a empréstimos obtidos junto a banco
Alemãs e Holandeses, ―esverdeou‖ seu discurso ao declarar que premiaria fazendeiros que
não desmatassem e esboçou medidas contra a expansão da agropecuária.
Ainda segundo informações levantadas pelo site República dos Ruralistas, Blairo
Maggi teve um aumento patrimonial de R$ 33 milhões para R$ 152 milhões entre os anos de
2006 e 2010 e no pleito de 2010 para senador da República, recebeu um total R$ 5.648.397,85
em doações de empresas do ramo agropecuário, agroindústria e do setor. Por fim, cumpre
destacar que o senador é alvo de inquéritos que apuram crime de estelionato e favorecimento
pessoal, prevaricação e crimes contra o meio ambiente e o patrimônio genético.
Kátia Abreu (DEM/TO)
A senadora Kátia Abreu (DEM/TO), atualmente Ministra da Agricultura, é formada
em Psicologia pela Universidade Católica de Goiás e exerce a atividade de pecuarista no
estado de Tocantins. Iniciou sua trajetória política como deputada federal em 1998, cargo que
voltou a ocupar em 2002, sendo escolhida, nesta oportunidade, para presidir a bancada
ruralista no Congresso Nacional. Candidatou-se ao Senado Federal pelo estado do Tocantins
em 2006, sendo reeleita para um novo mandato em 2014.
De acordo com informações disponibilizadas pela Secretaria Geral da Mesa do Senado
Federal, enquanto senadora, Kátia Abreu participou como representante em missões
internacionais em 2012, no VI Fórum Mundial da Água: Tempo de Soluções, em Marselha,
França e também em 2012 atuou na Comissão Externa do Senado Federal na Conferência das
Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável - Rio+20, no Rio de Janeiro – RJ.
Relativamente às atividades sindicais e coorporativas, Kátia Abreu assumiu a
presidência da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária entre os anos de 2008 e
2010, tendo recebido o título de ―Miss Desatamento‖ em 2009 pelo Greenpeace, em virtude
134
da sua defesa intransigente, no Congresso Nacional e na presidência da CNA, dos interesses
da classe (CASTILHO, 2012).
Conforme informações constantes no site República dos Ruralistas, apesar de se
declarar pecuarista, não informou em sua declaração de bens, entregue ao TSE em 2006,
nenhuma criação de animais, nem mesmo maquinário agrícola. Informa também um
patrimônio total de R$ 437.183,19, um aumento considerável do que foi declarado em 2002,
de R$ 209.320,00. Neste sentido, conforme destaca Castilho (2012), embora defasadas, as
declarações entregues ao TSE dão uma dimensão do patrimônio dos políticos brasileiros.
***
Considerando os dados gerais de composição da bancada ruralista e os perfis mais
detalhados dos parlamentares acima identificados, podemos realizar algumas correlações mais
gerais a respeito das atividades parlamentares e das diferentes redes de sociabilidade nas quais
se inserem os parlamentares, deputados federais e também senadores. Sobre estas redes,
conforme destaca Costa (2012, p. 381):
O poder dos políticos que compõe a Bancada Ruralista se materializa na
consolidação de uma rede articulada que aglutina: organizações de
representação dos interesses dos proprietários de terra e organizações de
atividades produtivas (arrozeiros, sojeiros, silvicultores, citricultores,
usineiros, pecuaristas, dentre outras). Envolve relações de parentesco
hierarquizadas em vários níveis municipal, estadual, regional e federal, cujas
tramas de poder inclui cargos desde vereadores e prefeitos até senador da
república.
Relativamente à trajetória dos políticos pertencentes a esta bancada, cumpre ressaltar,
conforme dados apresentados, que estes parlamentares encontrarem-se há vários anos no
Congresso Nacional. A maior parte, conforme analisamos, encontra-se na sua segunda
legislatura, mas é possível encontrar candidatos que já exerceram 10 mandatos como
parlamentares, décadas exercendo o poder em prol de seus interesses empresariais.
Também é importante destacar que as relações de parentesco se fazem presentes entre
estes parlamentares, o que nos leva a afirmar que tanto as propriedades quanto o poder
político são transmitidos com base em relações familiares.
Assim, a título de exemplo, podemos mencionar os casos dos pecuaristas e
latifundiários a seguir: deputado federal Celso Maldaner (PMDB/SC) e o senador Casildo
Maldaner (PMDB/SC), irmãos eleitos pelo estado de Santa Catarina mais que, juntos,
possuem quase 9 mil hectares distribuídos em terras na Bahia e em Mato Grosso; o deputado
135
federal Júlio Campos (DEM/MT) e o senador Jayme Campos (DEM/MT), este último
considerado o terceiro maior latifundiário do país, com 32 mil hectares; o já mencionado caso
da família Piccianni no Rio de Janeiro, com o pai Jorge Picciani (PMDB/RJ), o deputado
federal Leonardo Piccianni (PMDB/RJ) e o deputado estadual Rafael Picciani (PMDB/RJ),
todos pecuaristas; a senadora Kátia Abreu (DEM/TO) e seu filho o deputado federal Irajá
Abreu (PSD/TO), dentre outros casos.
Cumpre ainda destacar ainda o forte viés empresarial e econômico presente nos perfis
dos deputados federais analisados. Tal observação pode ser feita a partir da análise combinada
das principais atividades profissionais indicadas pelos parlamentares da bancada ruralista (a
maioria revelando tratar-se de empresário e alguma outra atividade) bem como por meio da
identificação das atividades sindicais, representativas de classe e associativas, nas quais é
possível constatar a presença de sócio, diretores e presidentes de empresas de administração e
assessoria, construtoras, transportes e também agropecuárias.
Além disso, conforme destaca Castilho (2012), ao proceder a análise das declarações
de renda entregues a Justiça Eleitoral pelos políticos brasileiros entre os anos de 2008 e 2010
e dos dados sobre financiamento das campanhas eleitorais, contatou que, mesmo a despeito
dos dados serem incompletos e revelarem apenas uma pequena parte dos recursos e
patrimônios em nome os políticos e utilizados para financiar as eleições, o montante de
valores monetários movimentados pelo agronegócio na política impressiona.
De início cumpre destacar que os políticos brasileiros obtêm sucesso na atividade
empresarial em diversas áreas. Conforme Castilho (2012, p. 84):
Usinas, frigoríficos, indústrias de alimentos, armazéns, mineradores,
moinhos, madeireiras, serrarias, granjas, mais fazendas. Os políticos
brasileiros eleitos declaram como empresas uma vasta gama de atividades
agropecuárias. São centenas de pessoas jurídicas, cem delas com valor acima
de R$ 1 milhão cada. A soma de todas elas ultrapassa os R$ 650 milhões –
isto com valores defasados.
Quando não são eles próprios os empresários e industriais, as alianças com este setor é
extremamente forte, tão como se pode constatar através do financiamento político de
empresas ligadas ao agronegócio. Ainda segundo levantamento realizado por Castilho (2012,
p. 148), as doações de campanhas para deputados (estaduais e federais) e senadores em 2010
superou os R$ 50 milhões e somente o grupo Friboi (JBS) doou mais de R$ 30 milhões de
reais.
136
Relativamente ao caso da Friboi, dos 55 candidatos a deputados federais apoiados pelo
grupo, 41 foram eleitos e dos 8 candidatos ao senado, 7 conseguiram obter êxito nos pleitos.
Ainda segundo Castilho (2012, p. 151):
É possível identificar uma certa lógica nessas doações. Seja pelo partido ou
pela região em que atuam estes políticos. A empresa investiu pesado nos
candidatos do PTB: entre os deputados federais, candidatos do partido
receberam R$ 4,5 milhões de um total de R$ 8,5 milhões. Não à toa (...), as
bancadas do PTB e do PR estão entre as que mais tem proprietários rurais,
proporcionalmente, no Congresso. Ou seja, existe um fenômenos de
redundância em relação aos eleitos no Brasil. Quem tem mais terra recebe
mais dinheiro – legal – das empresas. E os dois grupos (que se sobrepõe) tem
alto índice de reeleição.
Além da Friboi – que é um caso exemplar – várias outras empresas ligadas ao setor
agropecuário como Bunge Fertilizantes, Cutrale e Cosan doaram milhões de reais para as
campanhas dos parlamentares. Cumpre destacar que um dos relatores do Código Florestal, o
deputado federal Paulo Piau (PMDB/MG) recebeu financiamento de empresas do setor, no
valor de R$ 1,5 milhão, de um total de 2,3 milhões.
Outro aspecto a ser destacado refere-se a existência de corporativismo e engajamento
associativo por parte dos parlamentares integrantes desta bancada. Um grande quantitativo de
parlamentares declara ter exercido ou exercer alguma atividade associativa, quer seja no
âmbito de associações estudantis (como grêmios acadêmicos), quer por meio de participação
em entidades de classe e profissionais (conselhos profissionais) e ainda em entidades
relacionadas à agropecuária (sindicatos e associações rurais), conforme já afirmado
anteriormente.
Outro dado que deve ser destacado refere-se ao tipo de participação dos deputados da
bancada ruralista em atividades parlamentares – tais como comissões, grupos de trabalho,
frentes parlamentares e conselhos.
Embora tenhamos evidenciados os dados de participação relativos ao setor
agropecuário, a análise dos perfis revela uma diversificada adoção de temas e áreas de atuação
por parte dos parlamentares nas comissões permanentes, temporárias e especiais, que
envolvem desde temas relacionados à tributação, educação e cultura, saúde, transporte,
segurança pública, ciência e tecnologia até questões relacionadas à agropecuária, dentre
outras. Conforme destaca Bruno (2009, p.18):
É corrente a ideia de que os parlamentares da Bancada Ruralista preocupam-
se e atuam, quer no Congresso Nacional quer na sociedade civil, quase que
exclusivamente com questões e temas ligados ao rural, à atividade agrícola e
á questão agrária. Não é bem assim que ocorre. Tais parlamentares também
costumam atuar em outras áreas de interesse, não necessariamente restritas à
137
agricultura ou a questões afins, e quase sempre procuram ocupar os espaços
políticos possíveis no Congresso Nacional.
Sob este aspecto, é possível afirmar também que a diversidade de atividades
parlamentares desenvolvidas pelos deputados analisados decorra de uma equivalência entre
área de formação, exercício profissional e cargos públicos ocupados.
Para Coradini (2010, p. 251) existe uma tendência de corporativismo profissional ou
setorial, como se observa no caso dos formados em medicina – em que os graduados em
medicina participam em frentes parlamentares de algum modo ligadas à representação da
prática médica – bem como os formados em algum curso das engenharias, que compõem
frentes parlamentares associadas ao interesse do universo empresarial e também a
determinados setores que envolvem a engenharia como profissão. Acerca dessa tendência,
pontua Coradini (2010, p. 251):
O caso extremo dessas tendências no sentido do corporativismo profissional ou
setorial é representado pelos formados em Agronomia (...). Esse constitui outro
caso exemplar de um fenômeno que pode ter um forte componente de
corporativismo profissional, mas, simultaneamente, e de modo variável
conforme as condições específicas de cada um, a condição de proprietário ou de
empresário rural e, portanto, o corporativismo setorial, pode ter um peso maior
ou menor.
Relativamente às atividades profissionais indicadas pelos deputados da bancada
ruralista, cumpre destacar que isoladamente, a profissão declarada nas biografias disponíveis
nos sites da Câmara dos Deputados e do Senado Federal não evidenciam a condição de
pecuaristas e agropecuaristas dos integrantes desta bancada (COSTA, 2012, p. 71).
Tais informações se tornam mais evidenciadas, também, quando analisados outros
indicadores e variáveis em conjunto. Assim, a análise do indicador de atividades sindicais,
representativas e de classe permite constatar a relação dos parlamentares com o ruralismo,
haja vista que muito parlamentares revelam vínculos com sindicatos, associações e
cooperativas rurais.
As condecorações e homenagens recebidas, conforme analisado nos perfis dos oito
deputados federais selecionados, também fornecem indicadores sobre a inserção destes
parlamentares no universo da agropecuária, quer seja como patrocinadores e apoiadores de
eventos, quer como produtores e criadores de animais.
Sobre este aspecto de identificação e auto identificação com os interesses do
agronegócio, conforme destaca Bruno (2009, p. 31):
Apesar de, em nenhum momento, o agronegócio aparecer como elemento
identificador da profissão do parlamentar, quer como formação, quer como
138
atividade – ninguém se autodenomina ―nós, os empresários do agronegócio‖,
como fazem no embate político – cada vez mais ele constitui referência de
participação em palestras, seminários e homenagens (BRUNO, 2009, p. 31).
Assim, apesar da existência de uma heterogeneidade de agentes implicados nesta
categoria unificada de ruralista, pode-se afirma que apresentam como ponto de convergência
o fato de estarem unidos por interesses econômicos e empresariais, ou, em outros termos, por
interesses do agronegócio.
Discursiva e publicamente – conforme analisaremos em capítulos seguintes – esses
agentes veiculam que a verdadeira vocação do Brasil é o agronegócio e, para sustentar este
discurso, recorrem à tentativa de unificar este setor heterogêneo e diversificado que é o
patronato rural no país.
Neste processo, ainda que circunstancialmente incluam pequenos proprietários rurais e
agricultores familiares, os parlamentares integrantes da bancada ruralista estão efetivamente
voltados para a manutenção e ampliação de seus interesses econômicos e empresariais, o que
perpassa, necessariamente, pela manutenção da propriedade privada e pela ofensiva a
qualquer tentativa que a ameace.
Nesse sentido, pode-se afirmar que o interesse da bancada ruralista no Congresso
Nacional é garantir que os projetos de lei relativos à ampliação dessas garantias associadas à
propriedade rural e à consequente supressão de discussões e projetos de lei que
problematizem o direito absoluto de propriedade.
A este respeito, cumpre as infrações e crimes ambientais perpetrados pelos
parlamentares da bancada ruralista, ou seja, ―deputados e senadores multados pelo IBAMA e
que participaram diretamente das decisões sobre mudanças no Código Florestal Brasileiro‖ 77
.
Conforme se verá em itens seguintes, estes parlamentares foram favoráveis às mudanças na
legislação ambiental, ou seja, em vez de serem impedidos de votar pelo envolvimento direto
na matérias, estes parlamentares não só votaram como exerceram influência direta para que
houvesse uma flexibilização da lei.
77
Com base na sistematização realizada por Castilho (2012, p. 132), tem-se as seguintes informações: senador
Ivo Casol (PP/RO), com um débito de $1,6 milhões – e um patrimônio de mais de R$ 30 milhões – é
considerado recordista de multas do IBAMA; senador João Ribeiro (PR/TO), acusado de manter trabalhadores
em condições análogas a de escravo em suas propriedades no Pará; senador Irajá Abreu (PSD/TO), que recebeu
multas e teve áreas embargada por desmatamento de reservas legais e APPs; deputado federal Joseli Agnolin
(PDT/TO), que teve duas áreas embragadas por destruição da biodiversidade e por projetos de loteamento sem
licença ambiental; deputado federal Reinaldo Azambuja (PSDB/MS), multado por realizar obras poluentes sem
licença ambiental; deputado federal Paulo César Quartiero (DEM/RR), que teve cinco obras embargadas por
destruição de APP, extração de minério da floresta de domínio público e impedimento de recomposição da
floresta, dentre outros.
139
2.3 Frente Parlamentar Ambientalista, Bancada Ambientalista e interesses difusos
A Frente Parlamentar Ambientalista na 54ª legislatura contava com 196 membros
(Anexo IV), ou seja, cinco a mais do que o número de integrantes da Frente Parlamentar da
Agropecuária, com 191 membros.
Retrocedendo ao processo de constituição, no âmbito do Poder Legislativo, das
discussões e ações voltadas para a temática ambiental no Congresso Nacional, considera-se
um marco a fundação do Partido Verde, em 17 de janeiro de 1986.
Conforme destaca Pereira (2013), a propagação de usinas nucleares no Brasil na
década de 1980 fez com que grupos de ecologistas, artistas e intelectuais se unissem para que
os graves problemas ambientais do país pudessem ter visibilidade. Nesse cenário, o Partido
Verde foi criado em 1986, tendo como primeiros articuladores Fernando Gabeira, Alfredo
Sirkis, Domingos Fernandes e José Luiz de França Penna.
Segundo Pereira (2013), em 1998 a mobilização ambiental se intensificou no
Congresso Nacional com o registro da Frente Ambientalista para o Desenvolvimento
Sustentável e o surgimento da Bancada da Amazônia Legal. A Frente Parlamentar
Ambientalista foi novamente registrada nos anos de 2003 e 2007 e, quando da instalação da
Comissão Especial do Código Florestal, o deputado Sarney Filho (PV/MA) – Ministro do
Meio Ambiente de 1999 a 2002 – era o coordenador da frente.
Conforme dados obtidos junto ao site oficial do partido verde, a criação da frente
parlamentar visa possibilitar a atuação de deputados federais e senadores, conjuntamente com
a sociedade civil, no sentido de ―apoiar iniciativas governamentais e não-governamentais que
visem alcançar padrões sustentáveis de desenvolvimento‖78
.
A frente parlamentar é organizada em diversos grupos temáticos, quais sejam água;
cerrado e caatinga; clima; conservação marinha; educação ambiental; empresas e
responsabilidade ambiental; energias renováveis e Biocombustíveis; bem estar dos animais;
florestas e biodiversidade; questões urbanas; resíduos e questões indígenas e populações
tradicionais.
Relativamente aos seus objetivos institucionais, a Frente Parlamentar Ambientalista
apresentou-os sob a forma de um manifesto elaborado em 200779
, dentre os quais destacamos
78
Dados obtidos junto ao site www.frenteambientalista.com. Acesso em 14 de agosto de 2015. 79
MANIFESTO – OBJETIVOS DA FRENTE PARLAMENTAR AMBIENTALISTA: lutar pela correta
implementação da Agenda 21, incluindo as disposições referentes à observância por parte dos países
desenvolvidos das metas de emprego de recursos em ajuda a países em desenvolvimento (Official Development
Assistence – ODA); lutar pela implementação da Convenção sobre Mudanças Climáticas e do Protocolo de
140
―rechaçar qualquer tentativa de impor retrocessos à legislação ambiental‖ e ―lutar pela
aprovação das proposições legislativas que aperfeiçoam a legislação ambiental vigente,
assegurados os ajustes que se fizerem importantes nos textos em discussão no Congresso
Nacional; propugnar pela máxima cooperação entre Estado e sociedade para a solução dos
problemas ambientais‖.
Os objetivos elencados no manifesto desta frente parlamentar evidenciam a grande
quantidade de interesses envolvidos e a diversidade de agentes e de práticas tidas como
ambientais. Conforme destaca Pereira (2013, p. 34) ―a expressividade do setor é mais
fragmentada e, na ausência de um comando unificado, o poder político da classe torna-se
relativo‖.
Relativamente à bancada ambientalista (anexo II) – que por ser bancada, conforme
afirmamos anteriormente, tem um processo de constituição menos formal e, portanto, de mais
difícil delimitação dos seus membros – pode-se afirmar que a mesma não é dotada do mesmo
poder de pressão e influência que possui a bancada ruralista no âmbito do Congresso
Nacional.
Kyoto, bem como pela assunção, por todos os países, dos compromissos neles estabelecidos e, paulatinamente,
negociar normas internacionais mais efetivas do ponto de vista da proteção ambiental, com o intuito de prevenir
e reverter alterações climáticas; lutar pela implementação da Convenção sobre Diversidade Biológica, inclusive
no que se refere à justa repartição de benefícios pelo uso de recursos do patrimônio genético e conhecimento
tradicional associado; lutar pela implementação dos demais acordos internacionais já firmados relativos à
temática ambiental, assim como pela formulação e negociação de outros acordos na área que venham a se fazer
necessários; lutar pela aprovação das proposições legislativas que aperfeiçoam a legislação ambiental vigente,
assegurados os ajustes que se fizerem importantes nos textos em discussão no Congresso Nacional; propugnar
pela máxima cooperação entre Estado e sociedade para a solução dos problemas ambientais; acompanhar a
concepção e o trâmite dos projetos referentes ao plano plurianual, às leis de diretrizes orçamentárias e aos
orçamentos anuais, de forma a assegurar a alocação de recursos orçamentários para ações voltadas a garantir
salvaguardas ambientais nos programas a cargo dos Executivos Municipais, Estaduais e Federal; rechaçar
qualquer tentativa de impor retrocessos à legislação ambiental; conceber instrumentos econômicos que auxiliem
a consecução dos objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente; conceber mecanismos legais com vistas a
assegurar a estrita observância dos princípios da precaução e do usuário-pagador; acompanhar a concepção e a
implementação das diferentes políticas públicas que apresentam interfaces com a questão ambiental, de forma a
assegurar sua compatibilidade com a Política Nacional do Meio Ambiente; acompanhar e trabalhar para a correta
implementação da Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos, da Lei de Crimes Ambientais, da Lei da
Educação Ambiental, da Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação e de todas as demais conquistas
já efetivadas no campo da legislação ambiental; garantir que os recursos da Contribuição de Intervenção no
Domínio Econômico – CIDE incidente sobre a comercialização e importação de combustíveis, instituída pela
Emenda Constitucional nº 33, de 2001, sejam aplicados conforme o previsto na referida emenda, notadamente
em projetos de recuperação ambiental de áreas degradadas pela indústria do petróleo e do gás, e em programas
de infra-estrutura de transportes que visem à redução do consumo de combustíveis; garantir que os recursos
arrecadados com a cobrança pelo uso de recursos hídricos sejam aplicados na bacia hidrográfica em que foram
gerados, em projetos voltados à conservação e melhoria da qualidade ambiental; acompanhar a implementação
das obras públicas e das obras financiadas com recursos públicos, tendo em vista assegurar o cumprimento da
legislação ambiental, inclusive no que se refere ao licenciamento ambiental; atuar como catalisador de demandas
da sociedade em relação a questões ambientais; lutar pela implementação da Convenção de Combate à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (UNCCD) (Dados obtidos junto ao site
www.frenteambientalista.com. Acesso em: 15 de agosto de 2015).
141
Assim, embora alguns integrantes desta bancada tenham sido capazes de tencionar os
debates sobre a alteração do Código Florestal Brasileiro, os principais argumentos levantados
não foram integrados ao texto da lei.
Assim sendo, tendo como parâmetro o resultado do processo de votação das alterações
do Código Florestal Brasileiro, pode-se afirmar que a temática ambiental não foi capaz de
aglutinar os agentes e criar consensos, ainda que circunstanciais, em prol do fortalecimento da
legislação ambiental.
No entanto, conforme destaca Pereira (2013, p. 16), diferentemente do segmento
ruralista, que se destaca por sua capacidade de mobilização no Congresso Nacional, o
segmento ambientalista atua, sobretudo, por meio da mobilização de agentes externos ao
Congresso Nacional, utilizando a mídia como um importante potencializador da sua atuação.
Assim sendo, considerando as redes e articulações externas a este espaço de poder, a
atuação de alguns membros que podem ser identificados como pertencentes a Frente
Parlamentar Ambientalista e, sobretudo, à bancada ambientalista é que garante a visibilidade
das questões ambientais.
Enquanto a bancada ruralista atua mais eficientemente – do ponto de vista do
atendimento de suas demandas – junto aos membros do Poder Legislativo, a bancada
ambientalista consegue se opor a esses projetos haja vista o auxílio do movimento
ambientalista no processo de pressão junto ao poder Executivo. Só dessa forma se consegue
compreender que, neste embate, os ruralistas, detentores dos mais diferentes capitais, tenham
sofrido algum tipo de oposição aos seus projetos nos espaços institucionais de poder.
Segundo Pereira (2013, p. 16), no período pré-decisório de reforma ambiental, as
demandas do segmento ambientalista tiveram mais ressonância do que as da bancada ruralista,
contudo, os membros desta última souberam aproveitar a situação política para fazer com que
suas visões e argumentos se fizessem refletir no momento da aprovação da lei.
Contudo, antes de analisarmos este processo pré-decisório e o processo de discussão
do Projeto de Lei nº 1.876/99, posteriormente convertido na lei 12.651/2012, é necessário
situarmos minimamente os principais agentes que se articularam para que os argumentos da
bancada ambientalista tencionassem o debate.
142
2.3.1 Parlamentares identificados como pertencentes à Bancada Ambientalista
Conforme já destacamos anteriormente, diferentemente da bancada ruralista, são
poucos os estudos especificamente voltados para a articulação e organização da bancada
ambientalista, o que acaba por dificultar o processo de delimitação dos parlamentares que
compõe a mesma. Acreditamos que tal fato decorre, dentre outros fatores, do pouco poder de
pressão deste grupo parlamentar, conforme já afirmamos anteriormente.
Apesar desta dificuldade de delimitação, consideramos algumas informações
disponibilizadas em sites destinados à análise do conflito travado em torno da aprovação do
Código Florestal80
bem como analisamos o perfil e depoimentos de alguns deputados para
listar aqueles que assumem os pleitos associados à preservação e conservação ambiental para
procedermos a identificação destes deputados federais.
Com base nesses dados, sobretudo do site ―congresso em foco‖, podemos afirmar que,
com relação à 53ª legislatura (2007-2011), dos 513 parlamentares do Congresso Nacional, 11
deputados federais pertenciam à bancada ambientalista, quais sejam: Edson Duarte (PV-BA);
Fabinho Ramalho (PV/MG); Fernando Gabeira (PV/RJ); Ivan Valente (PSOL/SP); Jorge
Khoury (DEM/BA); José Paulo Tóffano (PV/SP); Mendes Thame (PSDB/SP); Rebeca Garcia
(PP/AM); Ricardo Tripoli (PSDB/SP); Rocha Loures (PMDB/PR) e Sarney Filho (PV/MA).
Já com relação à 54ª legislatura (2011-2015) e ainda de acordo com dados do site
mencionado, esse número se manteve, com 11 deputados, dos 513 parlamentares,
identificados com a bancada ambientalista, quais sejam: Alfredo Sirkis (PV/RJ); Fabinho
Ramalho (PV/MG); Ivan Valente (PSOL/SP); José Luiz Penna (PV/SP); Mendes Thame
(PSDB/SP); Rebeca Garcia (PP/AM); Ricardo Izar (PV/SP); Ricardo Tripoli (PSDB/SP);
Rosane Ferreira (PV/PR); Siba Machado (PT/AC) e Sarney Filho (PV/MA).
80
Dados obtidos junto ao site http://congressoemfoco.uol.com.br/. Acesso em 28 de setembro de 2015.
143
Gráfico 13. Bancada ambientalista na 53ª (2007-2011) e 54ª (2011-2015) legislaturas
Fonte: congressoemfoco.uol.com.br. Acesso em 28.09.2015.
De acordo com os dados adotados pela equipe de reportagem do site ―congresso em
foco‖, não houve uma alteração no quantitativo de parlamentares que assumiam os pleitos da
bancada ambientalista entre as 53ª e 54ª legislatura, ou seja, manteve-se em dois por cento do
total de 513 deputados federais.
Ainda de acordo com os dados desta instituição e fazendo o cruzamento dos dados,
pode-se afirmar que 06 deputados federais obtiveram a sua reeleição, quais sejam: Fabinho
Ramalho (PV/MG), Ivan Valente (PSOL/SP); Mendes Thame (PSDB/SP); Rebeca Garcia
(PP/AM); Ricardo Tripoli (PSDB/SP) e Sarney Filho (PV/MA). Conforme gráfico a seguir, a
taxa de reeleição dos parlamentares da bancada ambientalista é de 55% (menor, portanto, que
a taxa de reeleição dos ruralistas, que é de 65%).
Gráfico 14. Reeleição dos parlamentares integrantes da bancada ruralista na 54ª legislatura (2011-2015)
Fonte: congressoemfoco.uol.com.br. Acesso em 28.09.2015.
Especificamente quanto à quantidade de mandatos eletivos dos parlamentares
integrantes da bancada ruralista, e incluindo os dados relativos à 55ª legislatura (2015-2019),
tem-se a seguinte configuração: 03 deputados exercendo o seu primeiro mandato (28%); 03
2%
98%
53ª legislatura
Deputados da bancada ambientalista (2007-2011)
Demais deputados federais (2007-2011)
2%
98%
54ª legislatura
Deputados da bancada ambientalista (2011-2015)
Demais deutados federais (2011-2015)
45%
55%
Reeleição 54ª legislatura
Primeiro mandato Reeleição
144
deputados exercendo o seu segundo mandato (28%); 02 deputados federais exercendo o seu
terceiro mandato (17%); um deputado exercendo o sexto mandato (9%); 01 deputado
exercendo o sétimo mandato (9%) e 01 deputado exercendo o nono mandato (9%). Assim, a
maioria dos membros desta bancada encontra-se em seu primeiro ou segundo mandato.
Gráfico 15. Quantidade de mandatos exercidos pelos parlamentares da bancada ambientalista incluindo
dados da 55ª legislatura (2015-2019)
Fonte: www2.camara.leg.br. Acesso em: 30.09.2015
O deputado federal Sarney Filho, atualmente filiado ao PV-MA foi, dentre os
membros da bancada ambientalista, o que exerceu mais mandatos parlamentares, nove no
total. Chama atenção o fato que, desde a 47ª legislatura (1983-1987) até a 55ª legislatura
(2015-2019), o parlamentar ganhou todas as eleições ao cargo de deputado federal nas
legislaturas nas quais concorreu.
Relativamente quanto à filiação partidária dos deputados federais da bancada
ambientalista, e considerando os dados obtidos até a 54ª legislatura (2011-2015), predominam
deputados federais vinculados ao PV, com 06 parlamentares (55%), seguidos de
representantes dos PSDB, com 02 paramentares (18%) e, respectivamente, PSOL, PP e PT,
cada partido com 01 deputado federal (9% cada) identificado à bancada ambientalista.
Primeiro mandato 28%
Segundo mandato 28%
Terceiro mandato 17%
Sexto mandato 9%
Sétimo mandato 9%
Nono mandato 9%
Quantidade de mandatos parlamentares
145
Gráfico 16. Bancada ambientalista na 54ª legislatura (2011-2015) segundo filiação partidária
Fonte: www2.camara.leg.br. Acesso em: 28.09.2015
Com relação à representação de parlamentares da bancada ambientalista por unidade
da federação, observamos que dos vinte e seis estados e Distrito Federal, apenas sete estados
possuem deputados federais vinculados à bancada ambientalista, quais sejam Acre (01
deputado correspondendo a 9%), Amazonas (01 deputado correspondendo a 9%), Maranhão
(01 deputado correspondendo a 9%), Minas Gerais (01 deputado correspondendo a 9%),
Paraná (01 deputado correspondendo a 9%), Rio de Janeiro (01 deputado correspondendo a
9%) e São Paulo (este com 05 deputados federais de três partidos, PV, PSDB e PSOL,
correspondendo a 46%). O gráfico a seguir representa esta proporção.
Gráfico 17. Bancada ambientalista na 54ª legislatura (2011-2015) segundo unidade da federação
Fonte: www2.camara.leg.br. Acesso em: 28.09.2015
No que se refere à questão de gênero, apesar do pouco quantitativo de mulheres na
bancada ambientalista, ainda assim, esta supera, proporcionalmente, a percentagem de
mulheres da bancada ruralista. Assim, na 54ª legislatura (2011-2015), dos 11 deputados
PV 55%
PSDB 18%
PSOL 9%
PP 9% PT
9%
Filiação partidária
AC 9% AM
9% MA 9%
MG 9%
PR 9%
RJ 9%
SP 46%
Parlamentares por estados da Federação
146
federais integrantes da bancada, 02 são mulheres – correspondendo a 18% do total da
bancada.
Gráfico 18. Bancada ambientalista na 54ª (2011-2015) legislatura por gênero
Fonte: www2.camara.leg.br. Acesso em: 28.09.2015
As deputadas federais da bancada ambientalista na 54ª legislatura (2011-2015) foram
Rebecca Garcia (PP/AM) e Rosane Ferreira (PV/PR), nenhuma deles conseguindo se reeleger
e exercer mandatos parlamentares na 55ª legislatura (2015-2019).
Relativamente aos estudos e graus universitários, dos 11 parlamentares integrantes da
bancada ambientalista na 54ª legislatura (2011-2015), 10 deputados federais indicaram ter
concluído curso superior (percentual de 91%), e apenas um declarou ter o ensino fundamental
completo (correspondendo em termos percentuais a 9%).
Gráfico 19. Bancada ambientalista na 54ª legislatura (2011-2015) segundo nível de escolaridade
Fonte: www2.camara.leg.br. Acesso em: 28.09.2015
Dentre estes dados, merece um maior detalhamento quanto aos cursos superiores dos
parlamentares da bancada ambientalista. Dos 10 deputados federais que indicaram ter
Superior completo
91%
Fundamental completo
9%
Nível de escolaridade
Homens 82%
Mulheres 18%
Gênero dos parlamentares
147
concluído curso superior, 03 deles indicaram mais de uma graduação (Ivan Valente PSOL/SP,
Mendes Thame PSDB/SP e Sarney Filho PV/MA) e, assim como fizemos com os
parlamentares da bancada ruralista, consideraremos os cursos mais recentemente realizados
pelos parlamentares para proceder ao levantamento e tabulação de cursos superiores de
integrantes desta bancada. Assim, obteve-se a seguinte configuração:
Gráfico 20. Cursos superiores dos parlamentares da bancada ambientalista na 54ª legislatura (2011-2015)
Fonte: www2.camara.leg.br. Acesso em: 28.09.2015
Dentre os cursos listados, merece destaque que os cursos nas áreas de Ciências
Sociais, especialmente o de Direito, possuem predominância dentre os membros da bancada
ambientalista, fato este que também é comum entre os parlamentares da bancada ruralista.
Assim, 30% dos parlamentares afirmaram ter cursado o curso de Direito, 30% o curso de
Economia, e 10% possui formação superior em Engenharia Mecânica, em Enfermagem, em
Geografia e em História, respectivamente.
Relativamente às profissões listadas pelos parlamentares da bancada ambientalista
cumpre destacar que 02 parlamentares declaram como atividade profissional a de advogados,
02 de economistas, 01 de jornalista, 01 de empresário, 01 de geógrafo, 01 de enfermeira, 01
de musicista e ator, 01 de engenheiro mecânico (e professor universitário), 01 de engenheiro
agrônomo (e professor universitário), conforme gráfico a seguir:
3 3
1 1 1 1
Direito Economia Engenhariamecânica
Enfermagem Geografia História
Cursos superiores
148
Gráfico 21. Bancada ambientalista na 54ª legislatura (2011-2015) segundo atividade profissional
Fonte: www2.camara.leg.br. Acesso em: 28.09.2015
Conforme observamos no gráfico, as principais atividades profissionais mencionadas
pelos deputados federais referem-se às atividades de advogado e economista, sendo que os
dois parlamentares com formação em engenharia se declararam, também, professores
universitários.
De modo geral – e em comparação aos dados relativos aos parlamentares da bancada
ruralista – percebe-se que os únicos percentuais nos quais os parlamentares vinculados à
bancada ambientalista possuem proeminência é com relação à maior proporção de mulheres
na bancada, bem como a maior escolaridade que apresentam os mesmos, com a quase
totalidade dos parlamentares possuindo curso superior.
O levantamento e tabulação destes dados apontam para um reduzido número de
parlamentares da bancada ambientalista (11 em um total de 513), representando apenas 07
estados da federação (19 estados e mais o Distrito Federal não possuíam parlamentares afeitos
a agenda ambientalista) e filiados a pouco partidos políticos (05 em universo de 22 partidos
com deputados eleitos na 54ª legislatura). Além disso, diferentemente do que ocorreu com a
bancada ruralista, entre uma legislatura e outra, não houve o aumento de parlamentares
integrantes da bancada.
Conforme teremos oportunidade de discutir posteriormente, durante os discursos em
plenária, poucos representantes do setor ambientalista manifestaram as teses da sua respectiva
bancada, cabendo ressaltar que alguns deputados federais, ainda que não formalmente
advogado 19%
economista 18%
empresário 9% engenheiro
mecânico 9%
engenheiro agronônomo
9%
enfermeira 9%
geógrafo 9%
jornalista 9%
mucisista 9%
Atividade profissional
149
vinculados à mesma – a exemplo do deputado federal Chico Alencar (PSOL/RJ) – tiveram
participação importante no debate.
Assim sendo, acreditamos que a pouca representatividade dos deputados federais
ambientalistas no Congresso Nacional, a pouca atuação destes nos debates em plenária, as
divergências internas dentro da bancada ambientalista – que culminou com a saída de
importantes integrantes, conforme se apresentará no item seguinte – foram fatores que
propiciaram a fragilização da discussão da questão ambiental no espaço legislativo.
As teses que tiveram proeminência e maior poder de difusão no processo de discussão
do Código Florestal foram, essencialmente, as dos parlamenteares ruralistas, que conseguiram
manter em suspenso suas divergências internas e atuar em bloco para a aprovação da lei de
modo que esta atendesse aos seus interesses e do setor que representavam. Contudo, a
despeito dessas observações, não se pode destacar alguns integrantes da referida bancada que
tencionaram os debates em plenário, conforme se analisará a seguir.
2.3.1.1 Perfis emblemáticos dos parlamentares da Bancada Ambientalista
A despeito do número reduzido e da atuação menos articulada quando comparada à
bancada ruralista, selecionamos os perfis de alguns parlamentares vinculados à bancada
ambientalista para discorremos em mais detalhes sobre os mesmos, quais sejam, os perfis dos
deputados Alfredo Sirkis (PV/RJ), Ivan Valente (PSOL/SP) e Sarney Filho (PV/MA).
Assim, considerando a quantidade e o conteúdo das participações e discursos em
plenária durante o período de votação do Código Florestal, podemos afirmar que estes
deputados federais possuíram uma atuação destacada no processo de discussão e alteração da
legislação florestal brasileira.
Analisaremos também o perfil da senadora Marina Silva (REDE/AC) que, embora não
tenha tido uma atuação tão destacada no que se refere as discussões em plenário, teve
importância no processo de articulação externa junto aos movimentos sociais e à própria
mídia no que se refere a discussão sobre a alteração da legislação ambiental brasileira.
Com o objetivo de melhor compreender seus discursos e posições sustentadas ao longo
do processo legislativo em comento, traçaremos o perfil destes parlamentares com base nos
repertórios biográficos (BRASIL, 2001) e informações disponibilizadas no site da Câmara dos
Deputados, do DIAP e do congresso em foco, conforme já citados.
150
Alfredo Sirkis (PV/RJ)
O primeiro deputado federal analisado, Alfredo Sirkis (PV-RJ), declara como
profissão a de jornalista81
e exerceu, na Câmara dos Deputados, apenas um mandato, referente
à 54ª legislatura (2011-2015). Antes de candidatar-se a deputado federal, exerceu os cargos
eletivos de vereador pelo Rio de Janeiro, nos períodos de 1989-1992, 1993-1996 e 1999-2000.
Recuperando a trajetória política de Alfredo Sirkis e de acordo com informações
obtidas junto ao seu site82
, pode-se afirmar que o ex deputado federal possui um histórico de
militância e atuação junto à questão ambiental.
Na década de 1980, participou do movimento pelas Diretas Já, em 1984, e
posteriormente se dedicou à criação do Partido Verde, em 1986, juntamente com Fernando
Gabeira, Domingos Fernandes e José Luiz de França Penna. No ano seguinte, 1987, atuou na
articulação do PV no plano nacional e em seus vínculos internacionais e em 1988 candidatou-
se pela primeira vez a vereador, sendo o candidato com maior número de votos no Rio de
Janeiro.
Durante a década de 1990, atuou em projetos de criação de áreas protegidas e
tombamento de áreas de preservação permanente, além de elaboração de projetos e de
instrumentos legais – lei orgânica municipal, plano diretor, dentre outros – sendo reeleito
vereador em 1992. Ainda nesta década, mais precisamente no ano de 1994, foi nomeado como
Secretário Municipal de Meio Ambiente e, em 1998, candidatou-se a Presidência da
República pelo PV com o objetivo de divulgar as propostas do partido.
Em 2001, assumiu a Secretaria de Urbanismo e a presidência do Instituto Pereira
Passos (IPP), tendo ainda se candidatado, em 2006, ao cargo de senador da República – sem
obter sucesso em seu pleito – e em 2008 a vereador, sendo eleito pela terceira vez. Em 2010
coordena a pré-campanha presidencial nacional de Marina Silva bem como candidatou-se a
deputado federal, sendo eleito com 72 mil votos.
81
Dentre as atividades profissionais e cargos públicos exercidos, destacam-se: Jornalista, Jornal Libération,
Paris, França, 1973; Jornal Le Monde Diplomatique, Lisboa, Portugal, 1978; Jornais República; Diário de
Lisboa; Diário Popular; Gazeta da Semana, Lisboa, Portugal, 1979; Editor da sessão internacional, Jornal Página
Um, Lisboa, Portugal, 1976; Redator Chefe, Revista Cadernos de Terceiro Mundo, Lisboa, Portugal, 1977;
Repórter, Revista Veja, Rio de Janeiro, RJ, 1983; Roteirista de TV e cinema, TV Globo e Embrafilme, Rio de
Janeiro, RJ, 1987; Secretário Municipal do Meio Ambiente, Rio de Janeiro, RJ, 1996; Vice-Presidente
Executivo, Fundação Ondazul, Rio de Janeiro, RJ, 2000; Secretário Municipal de Urbanismo, Rio de Janeiro, RJ,
2006; Presidente, Instituto Municipal Pereira Passos, Rio de Janeiro, RJ, 2006. 82
Durante o período ditatorial, participou das lutas estudantis de 1968 e durante a década de 1970 teve que seguir
para o exílio por países da América Latina e Europa (Argentina, Chile, França, Portugal), momento em que
começou a atuar como jornalista. Em 1979, volta ao Brasil com a anistia e implementa uma série de projetos de
caráter ambientalista (Dados obtidos junto ao site http://www2.sirkis.com.br/. Acesso em: 29.09.2015).
151
Sendo um dos fundadores do Partido Verde na década de 1986, o deputado manteve-se
filiado ao mesmo até o ano de 2013, quando uma série de desentendimentos – inclusive com o
deputado federal Sarney Filho (PV/MA) – o levou à sua desfiliação. Após a saída do PV
filiou-se ao PSB.
Dentre os cursos e seminários diversos listados no perfil biográfico do deputado no
período de seu mandato83
, é possível constatar as seguintes informações: graduação em
História, pela Universidade Paris 8, Paris, França, 1972; participante da Cúpula Mundial
sobre Baixo Carbono e Reuniões com o governo chinês, em Dalian, Xangai e Pequim, 2011;
participante da 17ª Conferência das Partes Durban, 2011; participante de reuniões em Nova
York, Xangai, Pequim, e Bogotá, 2012; participante do Grupo de Trabalho, Bonn, 2013 e
participante da 19ª Conferência Mudanças Climáticas, Varsóvia, 2013.
Autor de algumas obras que abordam a questão ambiental, em seu perfil é possível
encontrar os seguintes títulos: ―A guerra da Argentina‖. Rio de Janeiro: Record, 1982;
―Corredor polonês‖. Rio de Janeiro: Record, 1983; ―Ecologia urbana e poder local‖. Rio de
Janeiro: Fundação Ondazul, 1999; ―Ecologia urbana e poder local‖. Rio de Janeiro: TIX,
2010; ―Os carbonários‖. Rio de Janeiro: Record, 1979; ―Roleta chilena‖. Rio de Janeiro:
Record, 1981; ―Silicone XXI‖. Rio de Janeiro: Record, 1985 e ―Verde carioca‖. Rio de
Janeiro: Record, 1996.
Relativamente às atividades parlamentares, o deputado federal participou das seguintes
comissões permanentes: Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania; Comissão de
Relações Exteriores e de Defesa Nacional; Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável; Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado. Já no que se
refere às comissões especiais, mencione-se: Resíduos Sólidos (PL nº 203/91); Reforma
Política e Sistema Distrital Misto (PEC 010/95).
No que se refere aos conselhos, frentes e grupos parlamentares, o deputado federal
Alfredo Sirkis menciona em seu perfil a atuação como secretário para América Latina,
Metropolis, RJ e membro da Direção Executiva, International Council for Local
Environmental Initiatives (ICLEI), RJ, 1995-2006; grupo de trabalho Reforma Política e
Consulta Popular sobre o tema.
83
Dados obtidos junto ao site www2.camara.leg.br. Acesso em: 29.09.2015.
152
Ivan Valente (PSOL/SP)
O deputado federal Ivan Valente (PSOL/SP), indica como profissão a de engenheiro
mecânico e professor e atualmente encontra-se no seu sexto mandato como deputado federal
(1995-1999, 1999-2003, 2003-2007, 2007-2011, 2011-2015 e 2015-2019). Antes de ser
filiado ao PSOL, em 2005, o deputado teve filiação partidária pelo PT, de 1980 a 2005.
Tendo concluído o curso de Matemática e de Engenharia, exerceu como atividade
profissional a de professor de escola pública estadual em São Paulo (1970-1971; 1980-1986)
de diretor do Jornal Companheiro (1979-1981) e de representante comercial da empresa
Reveladores Continental (1979-1985).
Dentre os seminários, conferências e congressos listados pelo parlamentar, destaca-se
sua atuação como palestrante nos seguintes eventos: Reform oder Revolutionare Theorie uno
Praxis en Lateinamerika und Europa, Frankfurt, Alemanha (1993); Congressos da
APEOESP, São Paulo (1993); Seminário Nacional da ANDES, São Paulo (1993) e
Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio de Janeiro (1992).
Relativamente às atividades parlamentares, o deputado federal Ivan Valente participou
das seguintes comissões permanentes: Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática;
Constituição e Justiça e de Cidadania; Defesa do Consumidor; Defesa do Consumidor, Meio
Ambiente e Minorias; Educação, Cultura e Desporto; Educação, Cultura; Finanças e
Tributação; Relações Externas e de Defesa Nacional.
Dentre as comissões especiais, destacamos a atuação do parlamentar nas seguintes
comissões: Demarcação das Terras Indígenas (PEC nº 133/92); Parcelamento do Solo para
Fins Urbanos (PL 20/07); Resíduos Sólidos (PL nº 203/91); Institui a Lei de Proteção de
Cultivares (PL nº 1.457/96); Código Florestal Brasileiro (PL nº 1.876/99) e Viabilização dos
Projetos Públicos Federais de Irrigação e Recursos Hídricos.
No que concerne aos conselhos, frentes e grupos parlamentares, o deputado federal
lista a participação no conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica e na frente
parlamentar de Defesa do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia.
Não tendo listado atuação em entidades sindicais, representativas de classe e
associativas, o deputado lista a participação como secretário-geral do Conselho de Engenharia
e Arquitetura, Mauá, SP (1968-1969). Apresenta ainda em seu perfil, como produção
bibliográfica, o livro ―Educação e política públicas (2002), em co-autoria com o Arelano
Liste.
153
Sarney Filho (PV/MA)
O último deputado federal analisado, Sarney Filho (PV/MA), está no seu nono
mandato consecutivo na Câmara dos Deputados, (1983-1987, 1987-1991, 1991-1995, 1995-
1999, 1999-2003, 2003-2007, 2007-2011, 2011-2015 e 2015-2019). Atualmente é filiado ao
PV, desde de 2002. Já teve filiação partidária na ARENA (1978-1979), no PDS (1979-1986) e
no PFL (1986-2002).
Sarney Filho é advogado, com formação superior em Direito e Economia, tendo
exercido como atividades profissionais e cargos públicos o de Secretário para Assuntos
Políticos do Estado do Maranhão (1988-1990) e Ministro de Estado de Meio Ambiente (1999-
2002).
Dentre os seminários, conferências e congressos listados pelo parlamentar a quase
totalidade versa sobre questão ambiental e desenvolvimento sustentável, nos quais o
parlamentar teve atuação mais destacada como palestrante84
.
Relativamente às atividades parlamentares desenvolvidas pelo deputado Sarney Filho,
destaca-se a atuação nas comissões permanentes: Amazônia e de Desenvolvimento Regional;
Constituição e Justiça e de Cidadania; Constituição e Justiça e de Redação; Defesa do
84
Participante: Conferência O Brasil e sua Política Ambiental para o Século XXI, Belo Horizonte, MG, 1999;
Palestrante: Seminário Alternativas ao Desmatamento na Amazônia, Secretaria de Coordenação da Amazônia e
Governo do Estado, Cuiabá, MT, 1999; Seminário sobre Poluição do Sul Catarinense, Tubarão, SC, 1999;
Conferência Política Nacional do Meio Ambiente, Prioridade, Perspectivas e Soluções, Timon, MA, 1999;
CIMEIRA - Encontro dos Chefes de Estado e Governo da América Latina, Caribe e União Europeia, Rio de
Janeiro, RJ, 1999; 50º Congresso Nacional de Botânica e Lançamento do Manual Internacional de Jardins
Botânicos, Blumenau, SC, 1999; Seminário sobre Meio Ambiente e Oportunidades de Negócios, Belo
Horizonte, MG, 1999; Seminário Amapá Sustentável para o Século XXI, Amapá, AP, 1999; Conferência A
Política Nacional do Meio Ambiente, ESG, Rio de Janeiro, RJ, 1999; Conferência Internacional Amazônia no
Terceiro Milênio - Atitudes Desejáveis, Manaus, AM, 1999; Conferência Mundial de Esporte e Meio Ambiente,
Rio de Janeiro, RJ, 1999; Seminário sobre Desertificação e Desenvolvimento Sustentável, PI, 1999; Conferência
das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e à Seca (COP-3), Recife, PE, 1999; Seminário Agenda
Positiva do Maranhão, Sociedade e Estado em parceria na busca de alternativas para o Desenvolvimento
Sustentável, São Luís, MA, 1999; Amazônia: A Cobiça Internacional - Integração e Soberania e Ocupação e
Desenvolvimento, ESG, Rio de Janeiro, RJ, 1999; II Seminário dos Municípios de Interesse Turístico e Meio
Ambiente, Britânia, GO, 2000; Abertura do II Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental - FICA,
Goiânia, GO, 2000; Municipalização do Meio Ambiente, João Pessoa, PB, 2000; Seminário Internacional Gestão
Sustentável da Baía da Guanabara, Rio de Janeiro, RJ, 2000; Seminário Internacional de Direito Ambiental,
Porto Velho, RO, 2000; Conferência sobre Política Nacional de Meio Ambiente, João Pessoa, PB, 2001; XIII
Reunião do Foro de Ministros de Meio Ambiente da América Latina e Caribe, Rio de Janeiro, RJ, 2001;
Conferência Regional Preparatória para a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio de Janeiro,
RJ, 2001; Seminário Mata Atlântica, São Paulo, SP, 2001; Seminário Riscos Ambientais Urbanos, 2003; 1º
Encontro Interparlamentar das Comissões de Meio Ambiente do Rio de Janeiro, 2003; Conferência na III
Encontro Verde das Américas, 2003; Aquecimento Global e a responsabilidade do legislativo, Câmara dos
Deputados, 2007; Congresso Nacional de Direito Ambiental da OAB, Florianópolis, 2007; Seminário, Mudanças
Climáticas: Um Desafio para as Políticas Públicas, promovido pelo Tribunal de Contas da União - TCU, 2009;
Seminário Boas Práticas Ambientais do Poder Legislativo, 2009; Palestra, Meio Ambiente, informação e
conhecimento: a relação com o conceito de soberania; 3º Encontro Nacional sobre Meio Ambiente e Patrimônio
Cultural na Procuradoria Geral da União; Seminário sobre o Ano Internacional da Biodiversidade, 2010;
Seminário Código Florestal: Brasil celeiro do mundo ou realidade socioambiental, promovido pelo Instituto de
Pesquisas da Amazônia - IPAM, 2010.
154
Consumidor e do Meio Ambiente; Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias;
Direitos Humanos; Economia, Indústria e Comércio; Educação, Cultura, Esporte e Turismo;
Fiscalização Financeira e Controle; Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; Relações
Exteriores; Relações Exteriores e Defesa Nacional.
Com relação às comissões especiais, destacamos a participação do deputado federal
Sarney Filho nas comissões: Bacias Hidrográficas Semiárido; Nepotismo (PEC nº 334/96);
Terrenos de Marinha (PEC nº 603/98); Parcelamento do Solo para Fins Urbanos (PL 20/07);
Código Florestal Brasileiro (PL nº 1.876/99); Biossegurança (PL nº 2.401/03); Parcelamento
de Solo Urbano (PL nº 3.057/00); Gestão de Florestas Públicas (PL nº 4.776/05) e SUDAM
(PLP nº 91/03).
Com relação à participação do deputado em conselhos, frentes e grupos parlamentares,
é mencionada no perfil a participação no Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica
e na Frente Parlamentar Ambientalista para o Desenvolvimento Sustentável como presidente.
O parlamentar menciona atuação no Conselho Consultivo da Rede Nacional de
Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (RENCTAS), bem como condecorações nas quais
se evidencia o reconhecimento por sua atuação com a temática ambiental. A título de
exemplo, mencionem-se as ordens de mérito, títulos e medalhas a seguir: Prêmio da Ordem
dos Economistas do Brasil na área de Meio Ambiente (2007); Comenda Verde da Assembleia
Legislativa da Paraíba (2003); Prêmios RENCTAS em reconhecimento ao apoio e dedicação
no combate ao comércio ilegal da fauna silvestre (2001); Green Prize of the Americas (2003);
Amigo da Mata Atlântica (2009); Amigo da Amazônia, conferido pelo Fórum Brasileiro de
ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (2009); Congresso
em Foco: o deputado ficou entre os cinco parlamentares indicados como Destaque em Defesa
do Meio Ambiente (2010).
No que concerne à produção intelectual do parlamentar, também se observa a presença
de títulos que remetem a questão ambiental. Nesse sentido, cumpre mencionar os títulos e os
anos de publicação das mesmas: O planejamento familiar e a nova Constituição do Brasil
(1988); Planejamento familiar na Nova República (1988); Enfrentar a crise do velho e o risco
do novo (1989); Revista Plenarium, artigo Aquecimento global: perspectivas e propostas
(2008); Publicações sobre a Lei Maria da Penha; Sistema Nacional de Unidades de
Conservação, SNUC, e 10 anos da Lei de Educação Ambiental (2009); Revista Consulex,
edição especial sobre o Código Florestal, artigo: Mudanças no Código Florestal: para onde?
(2010); Edições de balanço e avaliação da atividade parlamentar em 2005, 2006, 2007, 2008 e
155
2009; Relatórios de trabalho da Frente Parlamentar Ambientalista (2007, 2008 e 2009);
Código Florestal: Desafios e Perspectivas, de Solange Teles e Sandra Cureau (2010).
As missões oficiais destacadas no perfil do parlamentar igualmente evidenciam a
participação em representações internacionais na temática ambiental, quais sejam:
Representante da Câmara dos Deputados - Integrante da delegação do Ministro da Justiça
Nelson Jobim em visita à Europa (1996); Membro, Grupo de Trabalho em visita à área
indígena Maxacali, Bertópolis e Santa Helena, MG (1998); Representante do Ministério do
Meio Ambiente: Reunião dos Ministros do Meio Ambiente da Região Amazônica, Quito,
Equador (1999); Workshop Conservando Florestas pelo Sequestro de Carbono, Caracas,
Venezuela (1999); Reunião de Ministros de Meio Ambiente e Florestas dos Países
Amazônicos sobre Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, Cochabamba, Bolívia (1999);
Abertura do Fórum Ambiental Brasil-Alemanha (2000); Reunião de Ministros de Meio
Ambiente das Américas, Canadá (2001); I Foro Ibero-Americano de Ministros de Meio
Ambiente, Madri, Espanha (2001); Abertura do Seminário sobre Desenvolvimento
Sustentável na Amazônia, Roma, Itália (2001); Conferência Oceanos e Costas para a Rio+10,
Paris, França (2001); Representante do Parlamento Brasileiro: 58ª Assembleia-Geral da
Organização das Nações Unidas (2003); 15ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro
das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (2009); Conferência das Partes da Convenção-
Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em Cancun, México (2010).
Por fim, cumpre destacar no item ―outras informações‖, destinado à inserção, pelo
parlamentar, de dados relevantes que não se enquadram nos campos formalmente enumerados
no repertório biográfico, o deputado federal Sarney Filho reconstitui sua trajetória política
demarcando a sua militância em prol das causas ambientais.
Assim, são enumeradas as principais lutas nas quais se engajou o deputado, com
destaque especial para a atuação na elaboração e aperfeiçoamento de leis destinadas a regular
a questão ambiental. A título de exemplo, mencionamos alguns trechos do perfil biográfico:
(...) participou da discussão e elaboração do capítulo do Meio Ambiente na
Carta Constitucional. Sua atuação na área socioambiental na Câmara dos
Deputados teve como marca inicial a apresentação pioneira, em 1983, de
Projeto de Resolução que culminou na criação da Comissão de Defesa do
Consumidor, Meio Ambiente e Minorias da Câmara dos Deputados (...).
Teve, ainda, participação decisiva na discussão e votação de proposições
extremamente relevantes para a área ambiental, como as que originaram a
Lei da Política Nacional de Educação Ambiental, da qual foi relator. Lutou
pela aprovação da Lei da Mata Atlântica que ficou parada 12 anos no
Congresso Nacional, da Lei de Crimes Ambientais e pela aprovação do
Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC, entre outras
156
iniciativas. Foi o autor do projeto de lei que depois se transformou na
Política Nacional do Clima, sancionado no início de 2010 (...) Em 1997
criou e coordenou a Frente Parlamentar Ambientalista para o
Desenvolvimento Sustentável, a qual só deixou para assumir o cargo de
Ministro do Meio Ambiente, atuando então como Presidente de Honra da
referida frente. O trabalho de Sarney Filho no Ministério do Meio Ambiente
(1999/2002) foi reconhecido pelas demais pastas do governo por organismos
internacionais e pela sociedade civil organizada. (...) Em 2001, Sarney Filho
fez entrega ao Congresso Nacional da proposta de reforma do Código
Florestal aprovada pelo CONAMA. O documento original, defendido pelo
Ministro, e apoiado por inúmeras organizações não-governamentais,
estabelecia em 80% o percentual de reserva legal a ser preservado nas
propriedades situadas em áreas de floresta na Amazônia legal, e em 35%
para as regiões de cerrado na Amazônia. Mesmo com a pressão contrária da
bancada ruralista que queria diminuir esses percentuais, a posição do MMA
acabou prevalecendo. A posição do ex-ministro mereceu o reconhecimento
de grande parte da sociedade civil e, sobretudo, das organizações não
governamentais. (...) Em 2002 o deputado filiou-se ao Partido Verde.
Liderou ações do partido contra propostas do Executivo e do Legislativo que
ameaçam o meio ambiente, como a aprovação da produção de produtos
transgênicos (OGMs) sem estudo de impacto ambiental, e desde 2008 as
iniciativas de segmentos do setor ruralista que voltaram a pressionar para a
alteração do Código Florestal e outras leis que ameaçam aumentar os
desmatamentos e as queimadas no país (BRASIL, 2011, p. 808).
De modo geral, a análise do deputado federal Sarney Filho revela a existência de uma
preocupação em construir seus posicionamentos e sua trajetória política atrelada à discussão
ambiental. Percebe-se, pois, um esforço em se diferenciar, ao menos discursivamente, em
termos de bandeiras de luta, da atuação atribuída ao seu pai, José Sarney.
José Sarney, quando Presidente da República na década de 1980, fortaleceu os
interesses do setor que hoje compõe a bancada ruralista, tanto ao declarar que a questão
ambiental era um empecilho ao desenvolvimento do país quanto ao recuar e não implementar
o anunciado Plano Nacional de Reforma Agrária no país. Conforme destaca Castilho (2012, p.
62):
Como governador, ele foi inventor da reforma agrária ao contrário, a que
expulsa gente e cria latifúndio (...) 1 milhão de maranhenses migraram por
conta de Lei de Terras, uma lei colonizadora enviada em 1969 por Sarney à
Assembleia Legislativa. Segundo organizações como a Cáritas e sindicatos,
mais de 1,5 milhão de hectares de terra teria ido parar nas mãos de
latifundiários e donos de serrarias.
Conforme destaca Castilho (2012, p. 62), Sarney e sua família foram beneficiários
desta lei, conforme se depreende do envolvimento de Sarney na aquisição de terras da fazenda
Maguary, em Santa Luzia. Além disso, são considerados grandes latifundiários, haja vista a
157
existência de bens patrimoniais como a propriedade de terras e a posse de 38% de uma ilha no
município de Raposa, a ilha de Curupu, em nome de sua filha, Roseana Sarney.
Chama atenção, portanto, que atualmente o deputado Sarney Filho, herdeiro em
patrimonial e político de José Sarney, se coloque como defensor nato das causas ambientais e
da justiça social no país, fazendo frente aos interesses do agronegócio.
Marina Silva (REDE/AC)
A senadora Marina Silva, atualmente do partido REDE/AC, declara como profissões
as de agricultora e professora e tem sua trajetória política associada aos movimentos sociais.
Nascida no Seringal Bagaço, no Acre, formou-se em História pela Universidade Federal do
Acre.
A inserção nas atividades das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) a levou a
realizar um curso de liderança sindical rural, ministrado pelo teólogo Clodovis Boff e pelo
líder seringueiro Chico Mendes – aumentando a ligação dos dois – bem como à participação
de ações dos movimentos dos seringueiros e à fundação, em 1984, da CUT (Central Única
dos Trabalhadores) no Acre.
Sua trajetória política partidária iniciou-se no Partido dos Trabalhadores, quando se
elegeu vereadora (1989-1991). Posteriormente elegeu-se deputada estadual (1991-1995) e em
seguida, elegeu-se senadora, em dois mandatos consecutivos (1995-2003; 2003-2011).
Foi nomeada no governo do presidente Lula da Silva ministra do Meio Ambiente em
2003 e permaneceu no cargo por um mandato. No segundo mandato, em 2008, deixou o cargo
de ministra e retornou ao Senado Federal, em virtude das dificuldades enfrentadas para dar
prosseguimento a agenda ambiental, conforme informado em carta pública.
Sua presença no Senado federal foi marcada pela atuação na questão ambiental.
Conforme informações constantes na sua página oficial:
No Senado, foi a primeira voz a defender a importância de o governo
assumir metas para redução das emissões de gases do efeito estufa. Em
2009, o Planalto anunciou, finalmente, a adoção dessas metas. Também
cobrou do Executivo federal e do Congresso a inclusão da meta brasileira,
com os percentuais para a redução das emissões de gases do efeito estufa até
2020, no Plano Nacional de Mudanças Climáticas, que seria aprovado e
sancionado pelo presidente antes da realização da Conferência de Clima
(COP15), em dezembro de 2009, em Copenhague.
No ano de 2009, deixou o PT e decidiu se filiar, em 2010, ao PV para concorrer à
eleição presidencial neste ano de 2010, na qual ficou em terceiro lugar. Em 2011, Marina
Silva decidiu deixar o PV e se dedicar a criação de um novo partido político a Rede
158
Sustentabilidade, lançada em 16 de fevereiro de 2013, mas que somente foi reconhecida pelo
TSE em 22 de setembro de 2015, motivo pelo qual disputou as eleições presidenciais no de
2014 filiada provisoriamente ao PSB e tendo como candidato a vice presidente Eduardo
Campos (morto em um acidente de avião durante a campanha presidencial, em 13 de agosto
de 2014).
Relativamente ao eu reconhecimento internacional, cumpre destacar que sua atuação
na questão ambiental lhe rendeu diversos prêmios, dentre eles:
(...)―2007 Champions of the Earth‖, o principal prêmio da ONU na área
ambiental. Em outubro de 2008, recebeu das mãos do príncipe Philip da
Inglaterra, no palácio de Saint James, em Londres, a medalha Duque de
Edimburgo, em reconhecimento à sua trajetória e luta em defesa da
Amazônia brasileira – o prêmio mais importante concedido pela Rede WWF.
Em 2009, recebeu o prêmio Sophie da Sophie Foundation, concedido a
pessoas e organizações que se destacam nas áreas ambientais e do
desenvolvimento sustentável, em Oslo, Noruega.
Considerada internacionalmente um dos ícones do movimento ambientalista, no
âmbito interno, fez críticas e participou de algumas ações com vistas a apontar os equívocos
do novo código florestal. Contudo, de modo geral, seus argumentos não obtiveram grande
aceitação no espaço legislativo, do mesmo modo que a atuação da bancada ambientalista no
Congresso Nacional também deu-se de forma tímida, ante as investidas da bancada ruralista.
***
Após a análise do perfil de alguns parlamentares da frente parlamentar ambientalista
deve-se ressaltar – conforme será analisada em momentos posteriores – a articulação de
alguns membros desta bancada com os movimentos sociais e, sobretudo, a mídia.
Esta articulação tinha por objetivo fazer com que as discussões sobre a problemática
ambientais, em especial sobre o Código Florestal, encontrassem eco fora do espaço
legislativo, já que havia quase silenciamento dos discursos da bancada ambientalista no
Congresso Nacional ante a ofensiva e os discursos dos ruralistas, bem mais organizados e
orquestrados dentro deste espaço.
Dentre os parlamentares analisados, a propósito, aqueles que possuem uma atuação
mais vinculada à questão ambiental são os deputados federais Alfredo Sirkis (PV/RJ), Sarney
Filho (PV/MA) e a senadora Marina Silva (REDE/AC). Já Ivan Valente, do PSOL/SP (bem
como o deputado federal Chico Alencar, do PSOL/RJ, que embora não tenha tido seu perfil
analisado, também atua nas subsidiariamente junto aos membros da bancada ambientalista –
159
sempre pertenceu a partidos considerados como portadores de uma discussão de esquerda.
Dentre as questões priorizadas pelo deputado Ivan Valente, destacam-se questões relativas à
valores morais e éticos, movimentos sindicais e questões relativas a educação, não fazendo da
questão ambiental a sua principal bandeira. Assim, pode-se dizer que atua junto à questão
ambiental de forma residual dentro das suas agendas de campanha e de trabalho, muito
embora, ante a carência de deputados e senadores atuantes nesta causa, foi alçado a função de
porta voze dessas causas.
E de fato, a despeito da diversidade de percursos políticos e trajetórias dos quatro
parlamentares analisados, estes foram os parlamentares que realizaram em plenária um
contraponto aos discursos dos parlamentares da bancada ruralista, ou seja, os que mais
tencionaram os debates realizados no Congresso Nacional e problematizaram as teses
apresentadas pela bancada ruralista, que possuíam um discurso muito afinado entre todos os
seus membros.
Nesse sentido, conforme destaca Pereira (2013, p. 16), as bancadas suprapartidárias
analisadas apresentam espaços de atuação diferenciados e, a depender da conjuntura política e
social, tendem a exercer maior ou menor influência nos processos decisórios. Assim,
enquanto a bancada ruralista no Congresso Nacional se destaca por sua capacidade de
mobilização dentro da Casa, a bancada ambientalista buscou alianças externas, inclusive,
junto ao Poder Executivo, via movimentos sociais e campanhas midiáticas sobre a questão
ambiental.
Assim, no período pré-decisório, a bancada ambientalista obteve expressivas vitórias,
haja vista algumas iniciativas do Poder Executivo – que agia sob pressão de grupos
ambientalistas, dentre os quais se incluem, em menor medida, os parlamenteares
ambientalistas – que aumentavam as garantias de preservação ambiental. Justamente esta
capacidade de estes parlamentares ligados a causa ambiental de mobilizarem as suas redes
externas ao Poder Legislativo, especialmente entre os movimentos sociais nacionais e
internacionais, que possibilitou um contra discurso e consequentemente uma situação na qual
a legislação ambiental fosse um pouco mais discutida antes de ser modificada.
Contudo, durante a votação do Código Florestal, e diante de toda a conjuntura política
e econômica existente à época, o menor número de parlamentares adeptos às causas
ambientalistas não conseguiram fazer frente às modificações propostas na lei florestal, tendo
saído derrotados nos processos de votação do novo código. Sem o apoio de grupos
econômicos e empresariais, os membros da bancada ambientalista se viram impossibilitados
160
de reverter este quadro e no processo de votação realizado no dia 24 de abril de 2012, a
bancada ruralista e sua visão sobre a necessidade de produção agrícola se impôs no corpo do
texto legal com o aval da maioria dos deputados federais, conforme será analisado no próximo
capítulo.
161
3 (DES)CONSTRUÇÃO DO CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO: análise do
processo de reforma da legislação florestal
Conforme afirmado, o Código Florestal de 1965, Lei 4.771/1965, logo que foi editado,
não sofreu rejeição por parte do setor rural no país, sobretudo, devido às dificuldades
encontradas para a sua implementação e a consequente não efetividade do mesmo. Assim, a
falta de fiscalização e punição para àqueles que o descumpriam tornavam-no um instrumento
reiteradamente ignorado por parte da classe rural brasileira.
Nesse sentido, Tavares (2012, p. 218), afirma que no contexto de edição do Código
Florestal de 1965 as instituições de representação da classe rural do país – dentre elas a
Confederação Rural Brasileira e a Confederação Nacional da Agricultura– não se insurgiram
contra a legislação aprovada pelo governo ditatorial, dentre outros fatores, pela política
desenvolvimentista adotada naquele momento de expandir a fronteira agrícola do país.
O estímulo governamental para incorporação de novas terras para a produção agrícola
– e o consequente desmatamento – eram práticas estimuladas naquele período, situação que
começou a se alterar quando foram inseridas propostas de alterações na legislação florestal
brasileira. Tais alterações – via resoluções, medidas provisórias, decretos e mesmo leis
posteriores – com vistas a possibilitar a aplicabilidade da lei florestal no país e garantir uma
maior efetividade do Código Florestal, fomentaram iniciativas de grupos e de agentes que
passaram a contestar a legitimidade da lei e a alardear a urgência e necessidade de sua
modificação (PEREIRA, 2013; CUNHA, 2012; TAVARES, 2012).
Dentre estes grupos e agentes, têm atuação de destaque a Frente Parlamentar da
Agropecuária e a bancada ruralista no Congresso Nacional. Dada a sua capacidade de
mobilização e organização tanto junto aos demais membros do Poder Legislativo quanto a
outros grupos fora do espaço legislativo, estes parlamentares conseguiram uma série de
alterações no Código Florestal de modo que este fosse sendo mais adequado aos objetivos e
interesses do setor agropecuário do país.
Embora os parlamentares ligados à frente parlamentar ambientalista sejam em número
maior quando comparados com os parlamentares da Frente Parlamentar da Agropecuária, os
mesmos não possuem engajamento com os objetivos elencados no estatuto da referida frente,
o que nos leva a reafirmar, conforme analisamos em capítulo anterior, que a adesão aos
objetivos e ao setor ligado ao ambientalismo, na maior parte dos casos, é meramente formal.
162
Acresce-se a isso o fato de que os membros que efetivamente se pronunciam
favoráveis às causas ambientalistas nos debates em plenário, a despeito de possuírem
articulação junto a movimentos sociais e membros do Poder Executivo (Ministros, Secretário
e Órgãos e Conselhos Ambientais), possuem reduzida capacidade de articulação junto aos
demais membros do Congresso Nacional. Este é um dos fatores que determinaram uma
reduzida atuação e repercussão de seus argumentos quando dos debates sobre a discussão da
reforma florestal.
Neste processo, não se pode desconsiderar a influência exercida por setores
empresariais e industriais ligados ao agronegócio, que passaram a pressionar e interferir na
implementação de políticas públicas e mesmo na alteração da legislação ambiental. Merece
destaque as alianças com o empresariado industrial, tendo em vista que, conforme destaca
Eugênia Rosa Cabral (2010, p. 160), ―um grande número de estudos mostra que é grande a
participação de representantes de interesses empresariais nos processos de elaboração de leis,
na esfera do legislativo‖, tendo em vista que o poder econômico, político e institucional desse
grupo é canalizado para influenciar o processo de configuração da política ambiental.
Especificamente sobre a participação de representantes do empresariado industrial
nesses processos políticos de produção de regras ambientais no âmbito do legislativo federal,
destaca Cabral (2010, p. 142) que:
A incorporação da questão ambiental à agenda de empresas brasileiras,
especialmente aquelas que atuam no mercado internacional, aumenta a
competitividade destas. Representantes do empresariado industrial, por sua
vez, argumentam que a adequação às normas ambientais pode significar
aumento do ―custo Brasil‖, que se traduz, em outros termos, na diminuição
da competitividade no mercado internacional. Para estes, alguns
instrumentos de regulação significam, em boa medida, excesso de regulação
das atividades econômicas ou regulação ambiental excessivamente restritiva,
a exemplo do licenciamento ambiental e do seguro de responsabilidade civil
por danos ambientais.
Neste contexto de disputas, os projetos de lei ou as propostas de alteração legislativa
de instrumentos já em vigor que guardam convergência com os interesses do empresariado
industrial são objeto de campanhas tendentes a sua aprovação. De modo contrário, quando tais
projetos de lei e de modificação representam ameaças e divergem dos interesses econômicos
destes grupos, as ações políticas são realizadas com vistas a rejeitá-los (inclusive, pressões no
sentido de arquivar o processo de tramitação dos mesmos).
Estas campanhas e ações políticas, conforme destaca Cabral (2010), são
implementadas de forma organizada e sistemática, por agentes de pressão bem articulados.
163
Recursos financeiros e humanos, acúmulo de conhecimento sobre as regras que orientam os
processos, participação em audiências públicas e reuniões de trabalho, encontros oficiais e
extraoficiais com membros individuais da burocracia pública e parlamentares são ações que
fazem parte deste grupo. Neste sentido:
Representantes do empresariado industrial participam do processo de
produção de instrumentos de regulação ambiental com o objetivo de
diminuir o grau de restrição imposto por esses instrumentos, sejam eles
referentes a normas e padrões de qualidade ambiental ou, de outra natureza,
impostos ambientais, subsídios e selos ambientais (CABRAL, 2010, p. 151).
Assim sendo, segundo Cabral (2010), desde 1996 a Agenda Legislativa da Indústria
(ALIN) reúne, anualmente, as principais proposições legislativas em tramitação no Congresso
Nacional e que, se aprovadas, trariam impactos e interfeririam na dinâmica de funcionamento
das indústrias que atuam no Brasil, quer tais impactos sejam positivos ou negativos. A ALIN
tem como objetivo promover um diálogo entre o setor industrial e o Congresso Nacional e,
conforme informações obtidas junto à página oficial:
Elaborada a partir de ampla consulta às federações e associações de
indústrias de âmbito nacional, expõe o pensamento do setor, na forma de
teses, conceitos e prioridades. A Agenda também divulga o posicionamento
da indústria para proposições que afetam a competitividade das empresas.
Retrata, ainda, a prioridade e a linha de conduta do setor industrial ante os
temas em discussão no Congresso Nacional.
Ainda segundo site da ALIN, a Agenda apresenta à sociedade as principais
proposições legislativas em tramitação na Câmara dos Deputados e no Senado Federal que
afetam o desenvolvimento do país, sendo, após a aprovação da Diretoria da Confederação
Nacional da Indústria (CNI), divulgada em evento na sede da confederação na qual são
convidados os presidentes da Câmara dos Deputados e Senado Federal, parlamentares e
presidentes, diretores e executivos das Entidades participantes da construção da Agenda.
No que se refere aos temas prioritários da agenda legislativa da Confederação
Nacional da Indústria, a temática ambiental se faz presente, e as medidas propostas pela
instituição nesta seara têm o intuito de reforçar a retórica de garantia do desenvolvimento
sustentável, da segurança jurídica – obtida através de normas estáveis e de fácil compreensão
e aplicação – e da utilização de parâmetros econômicos na elaboração das normas ambientais.
Especificamente com relação ao Código Florestal, a ALIN defende que:
Código florestal – rediscutir os conceitos preconizados no Código Florestal
para adequá-los aos desafios do desenvolvimento sustentável, contemplando
a complexidade e as diversidades ambientais e socioeconômicas regionais;
considerar os instrumentos de ordenamento territorial existentes (ZEE e
Planos Diretores), principalmente quanto à definição de limites das áreas de
164
Reserva Legal e das Áreas de Preservação Permanente (APP), de modo a
incentivar a descentralização da gestão florestal.
Ao analisar a articulação de interesses do empresariado industrial no processo de
produção e regulação ambiental no período anterior à aprovação do atual Código Florestal,
Lei 12.651/2012, Cabral (2010, p.155) afirma que:
O processo de revisão do Código Florestal tornou-se importante alvo de
pressão de representantes políticos do empresariado, em função da
possibilidade de haver flexibilização das regras em relação à utilização e
exploração das florestas, ao tamanho da Reserva Legal e da Área de
Preservação Permanente – um dos temas mais controversos no meio
empresarial rural.
Desta forma, percebe-se que existe um movimento bem articulado entre os diferentes
agentes no processo de aprovação e modificação de instrumentos de regulação ambiental e,
embora a presença de proprietários de terra no âmbito do Poder Legislativo exerça um papel
importante no processo de alteração da legislação ambiental, não se pode desconsiderar a
influência do setor empresarial, que, ao utilizar os recursos naturais para o fomento de suas
atividades, tem interesse direto no processo de ―flexibilização‖ da legislação ambiental.
Neste sentido, se faz importante destacar algumas reflexões sobre a compreensão das
dinâmicas de mobilização de grupos dominantes e de movimentos sociais conservadores. De
início, cumpre destacar o reduzido número de estudos dedicado ao tema, assim como para os
termos desqualificadores utilizados no léxico científico para se referir aos mesmos (lobbying,
complô, conspiração, mobilizações ocultas, etc.). Conforme afirma Éric Agrikoliansky e
Annie Collovald (2014):
S‘il existe certes des études sur l‘extrême droite et les conservateurs
radicaux, en particulier américains, elles ne représentent que de rares
exceptions insusceptibles de rivaliser face aux bibliographies monumentales
qu‘il serait possible de réunir sur les mouvements féministes, pacifistes et
antinucléraires, antiracistes, de défense des « sans » (papiers, emploi,
logement), environnementaux, régionalistes, altermondialistes, et à toutes les
révoltes des groupes subalternes ou dominés contre l‘oppression de l‘État et
des groupes économiquement et socialement dominants
(AGRIKOLIANSKY; COLLOVALD, 2014, p. 12).
Buscando formular novas pistas sobre como os grupos dominantes – ou grupos
conservadores, reacionários ou contrarrevolucionários – se mobilizam, os autores denunciam
o atalho simplificador, comumente aceito, que atribui ao radicalismo de direita uma tendência
paranoica de grupos em declínio social, bem como a tendência de atribuir aos protestos destes
grupos um caráter patológico.
165
Em sentido contrário, afirmam que é necessário analisá-los utilizando os mesmos
instrumentos de análise aplicados às mobilizações dos movimentos sociais progressistas, ou
seja, é preciso adotar um princípio simétrico de análise. Além disto, destacam a
interdependência entre os movimentos revolucionários e contrarrevolucionários, tanto do
ponto discursivo, quanto no que se refere aos repertórios de ação utilizados. Segundo os
autores, ―est impossible de comprendre la rhétorique réactionnaire sans analyser comment elle
s‘articule aux politiques progressistes qu‘elle entend dénoncer‖ (AGRIKOLIANSKY;
COLLOVALD, 2014, p. 19). Assim sendo é preciso pensar nos espaços de integração entre
esses grupos e nas oportunidades e ocasiões de ação criadas para a mobilização de ambos. Tal
como afirmam:
Si un mouvement peut susciter un contre-mouvement, ce n‘est pas seulement
par un effet mécanique de « réaction », mais aussi parce que le premier
ouvre des opportunités (débat public, attention médiatique au problème,
dissension au sein des autorités,etc.) et des occasions d‘action (contre-
manifestation, blocage des débats législatifs, etc.) pour le second qui lui
permettent de cristalliser des soutiens auparavant diffus et peu mobilisés
(AGRIKOLIANSKY; COLLOVALD, 2014, p. 20).
.
Contudo, a normalização da análise da mobilização conservadora e a utilização de
métodos simétricos de análise não devem conduzir a uma desconsideração das especificidades
das mobilizações dos grupos dominantes. As formas de mobilização destes grupos – e que
puderam ser observadas nesta pesquisa quando da análise das mobilizações dos grupos
ruralistas no Congresso Nacional – incluem pressão sobre autoridades públicas, transferência
de saberes profissionais para legitimar suas demandas; mobilização do savoir-faire para
organizar mobilizações, utilização de suas competências jurídicas a fim de utilizar os recursos
necessários para ingressar na justiça, além da mobilização da opinião pública, através da
utilização de diversas mídias.
Não se pode desconsiderar que as classes superiores e grupos dominantes são
habitualmente integrados ao sistema político, dispõe de representantes que garantem a
representação de seus interesses e ainda ocupam o espaço público e de confrontação com o
Estado (AGRIKOLIANSKY; COLLOVALD, 2014, p. 15). São grupos, portanto, que dispõe
de métodos privilegiados aos centros de decisão, tal como na formação das comissões
especiais de análise do Código Florestal e nas demais mobilizações utilizadas pelos grupos
ruralistas para imporem seus interesses como legítimos.
No entanto, segundo os autores, ainda que dotados de recursos fortes (econômicos,
sociais e políticos), encontram algumas dificuldades para legitimar suas causas. Assim, é
necessário ―analyser les adaptations tactiques qui conduisent ces mouvements à infléchir leurs
166
formes d‘action ou leur discours pour s‘adapter aux contraentes des espaces d‘actions dans
lesquels ils évoluent‖ (AGRIKOLIANSKY; COLLOVALD, 2014, p. 18).
Diante deste cenário e desta disputa – que extrapola as discussões no legislativo –,
pretende-se neste capítulo analisar o processo de legitimação da necessidade de reforma da
legislação florestal levada à cabo pelos grupos ruralistas e os principais aspectos relativos ao
processo legislativo de discussão e aprovação da Lei nº 12.651/2012, que dispõe sobre a
proteção da vegetação nativa e revoga os seguintes instrumentos: a Lei nº 4.771, de 15 de
setembro de 1965, a Lei nº 7.754, de 14 de abril de 1989 e a Medida Provisória no 2.166-67,
de 24 de agosto de 2001.
Neste sentido, apesar de não desconsiderarmos as influências externas exercidas por
instituições de classe, empresariais, movimentos sociais dentre outros, focalizaremos neste
capítulo a análise sobre o processo legislativo de discussão da lei. Cumpre destacar que este
processo tramitou por 13 anos no Congresso Nacional – desde a propositura do Projeto de Lei
nº 1.876/1999 até a aprovação, em 25 de maio de 2012, da Lei nº 12.651/2012 – e envolveu
uma série de projetos de lei, discussões, audiências e reuniões que contaram com a
participação de agentes e grupos de diferentes espaços sociais (político, acadêmico, jurídico,
econômico-empresarial, dentre outros).
No intuito de traçar o histórico deste processo, pretende-se identificar as principais
modificações processadas na lei florestal, analisar os pontos mais polêmicos da atual
legislação e também evidenciar as principais estratégias adotadas pelos grupos envolvidos
neste processo de alteração da lei.
3.1 Reformas e alterações na Lei nº 4.771/1965: transformações do Código Florestal de
1965 antes da sua revogação
Os processos legislativos são percebidos aqui como espaços de lutas e disputas por
classificações legítimas, nas quais interesses de diferentes agentes com competências
específicas buscam interpretar e consagrar a sua visão como legítima (BOURDIEU, 1998, p.
212).
Neste sentido, além de análise do processo de construção histórica da problemática da
legislação florestal e da identificação dos agentes que concorrem para a mesma, cumpre fazer
um breve resgate dos instrumentos legais e normativos que propiciaram que o Código
167
Florestal obtivesse centralidade na agenda política e mobilizasse os agentes em torno de sua
revogação.
De acordo com Cunha (2012, p. 52), logo após a edição do Código Florestal de 1965,
o Congresso Nacional, em 1986, aprovou a Lei Federal nº 7.511/1986, que aumentou a
extensão das APPs e proibiu a transformação de florestas heterogêneas em florestas
homogêneas. Já em 1989, com a Lei Federal 7.803/1989, houve um redimensionamento dos
limites das APPs e a inserção do termo ―reserva legal‖ (RL) no Código Florestal Brasileiro85
.
Quando da sua criação, o termo reserva legal designava as áreas mínimas que cada
propriedade deveria manter como cobertura florestal, sem permissão de corte raso, e os
limites correspondiam a 50% para as regiões Norte e Centro-Oeste e 20% para o restante do
país, incluindo o Cerrado.
Ainda segundo o Cunha (2012, p. 54), em 1991, por meio da Lei Federal nº
8.171/1991, estipulou-se prazo de 30 anos para que os imóveis rurais pudessem cumprir a
obrigação de recompor a vegetação de sua reserva legal, conforme percentuais mínimos
estabelecidos na legislação anterior, bem como estabeleceu a isenção de imposto territorial
rural (ITR) para as áreas de RLs e APPs.
Para além dessas alterações, Cunha (2012) destaca que a primeira medida de grande
vulto, que desencadeou o conflito político em torno do Código Florestal, é a edição da
Medida Provisória (MP)86
1.511/1996 que modificou a redação do artigo 44 do Código
Florestal e inseriu três inovações destinadas a diminuir os índices de desmatamento na
Amazônia, quais sejam:
(...) a) proibição de corte raso de 80% nas propriedades rurais onde a
cobertura arbórea fosse constituída de fitofisionomias florestais; b)
imposição de manejo florestal sustentável de uso múltiplo para utilização de
áreas com cobertura florestal nativa; c) proibição de novas conversões de
florestas para agricultura ou pecuária em propriedades constituídas de áreas
desmatadas em situação de abandono, subutilizadas ou utilização de forma
inadequada segundo a capacidade de suporte do solo (CUNHA, 2012, p. 60).
85
Sobre APPs e RLs na Lei Florestal de 1965, utilizamos a síntese exposta por Lima (2014, p. 10), segundo o
qual ―as áreas de preservação permanente eram responsáveis por preservar os recursos hídricos, a paisagem, a
estabilidade geológica, a biodiversidade, os fluxos gênicos, o solo e o bem estar das populações humanas, a
reserva legal foi estabelecida como necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação dos
processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de espécies de flora e fauna
nativas. Eram dois instrumentos com funções diferentes e complementares: o primeiro, visando a proteger áreas
frágeis, e, o segundo, a conservar a existência das formações vegetais e a garantir a manutenção dos processos
ecológicos relacionados a elas em todo o território nacional‖. 86
Entende-se por medida provisória um diploma legal de competência privativa do presidente da República, com
finalidade de resolver provisória e extraordinariamente situações de relevância e urgência, até que seja ratificada
ou rejeitada em definitivo pelo Congresso Nacional (CUNHA, 2012, p. 59).
168
Segundo Cunha, para que tal medida fosse adotada, alguns acontecimentos
relacionados à temática ambiental na década de 1990 – como a realização da reunião da
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e o lançamento do
programa piloto para a Proteção das Florestas Tropicais no Brasil – possibilitaram que a
região Amazônica, que vinha sofrendo níveis crescentes de desmatamento, ficasse em
evidência.
Nesse mesmo sentido, Platiau-Barros et al. (2012, p. 92) afirmam que o aumento nas
taxas de monitoramento do desmatamento contribuíram para a edição da referida medida
provisória, haja vista que ―no ano de 1995, houve um aumento significativo das taxas
monitoradas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) desde 1998: de 14.896
km² (média de 1993 e 1994) para 20.059 km², a mais alta taxa detectada até o presente‖.
Nesse sentido, cumpre destacar que o peso que a divulgação das imagens do
desflorestamento exerce na discussão sobre a questão ambiental. Conforme destaca Hannigan
(2009), no processo de construção dos problemas ambientais, além da construção e
legitimação do problema em arenas múltiplas, é necessário atrair atenção pública para o
mesmo e torná-lo compreensível – o que é extremamente facilitado pela veiculação de
imagens. Assim:
Um problema ambiental em potencial tem que ser dramatizado em termos
altamente simbólicos e visuais (...) As práticas descuidadas da maioria das
companhias florestais somente se tornaram um problema de ultraje
internacional quando o Greenpeace e outros grupos ambientais começaram a
exibir fotografias dramáticas dos ―desmatamentos‖ (...). Tais imagens
provocam uma espécie de atalho cognitivo, transformando um argumento
complexo em um que é facilmente compreensível e eticamente estimulante
(HANNIGAN, 2009, p. 118).
Conforme já afirmando anteriormente, Guéneau, Carneiro e Toni (2015, p. 224),
também destacam o papel da pressão internacional para que algumas medidas de
monitoramento e fiscalização fossem implementadas pelo governo brasileiro e,
consequentemente, houvesse uma diminuição das taxas de desmatamento na Amazônia.
Nesse sentido, podemos afirmar que essas taxas de desflorestamento divulgadas não
somente pelo INPE, mas também por outras instituições de pesquisa e movimentos
ambientais, aliada à divulgação das imagens do desmatamento e à campanha internacional
contra o desmatamento veiculada pela mídia, possibilitaram aferir a efetividade das políticas
ambientais e, consequentemente, propiciaram que medidas mais efetivas fossem tomadas.
A estas taxas, conforme afirma Cunha (2012, p. 57) deve-se acrescentar a existência
de uma equipe de técnicos especializados em questão florestal que compunham a cúpula do
169
Ministério do Meio Ambiente e, além disso, a estabilização da economia promovida pelo
Plano Real (1994) possibilitou que outros assuntos pudessem receber maior atenção do
governo, o que ocorreu com a questão ambiental, assunto em voga diante da realização da
conferência internacional da ONU, em 1992, no Rio de Janeiro.
Estes fatores possibilitaram a construção do problema ―desmatamento na Amazônia‖
como uma questão a ser tornada pública e, consequentemente, contribui para que medidas
fossem tomadas, não sem a resistência de agentes e grupos que vislumbravam nestas medidas
um comprometimento e uma limitação das suas atividades.
Neste contexto, a Medida Provisória 1.511/1996 levou a imediata indignação dos
ruralistas e de seus representantes no Congresso Nacional, tanto pelo seu teor quanto pelas
inúmeras reedições da mesma nos anos seguintes. Com a superveniência da Emenda
Constitucional (EC) nº 32, aprovada em 11 de setembro de 2001, durante o governo de
Fernando Henrique Cardoso e que manteve em vigor todas as medidas provisórias editadas
pelo Poder Executivo, o teor da medida provisória citada passou a vigorar indefinidamente,
até expressa revogação ou deliberação do Congresso Nacional. Sobre este aspecto, conforme
destaca Cunha (2012, p. 108):
No dia 28 de maio de 2000, o presidente Cardoso, dentro da lógica das
infindáveis renovações de medidas provisórias do Código Florestal, editou a
MPv. 1.956-50/2000 (a 50ª renovação), mas dessa vez incorporando, no
geral, a proposta do CONAMA, cujo texto se manteve edições subsequentes,
finalizando na MPv. 2.166-67, de 24 de agosto de 2001 (67ª reedição), que
vigorou nos anos seguintes, em razão da Emenda Constitucional nº 32.
Relativamente a esta última reedição da Medida Provisória citada, cumpre destacar
que a mesma foi reeditada em uma ação coordenada pelo Conselho Nacional do Meio
Ambiente (Conama) e de vários órgãos ambientais e quando o então deputado federal Sarney
Filho era Ministro de Meio Ambiente.
Nesse contexto de infindáveis reedições de medidas provisórias foi possível ao Poder
Executivo regular a matéria florestal via Medida Provisória87
, o que garantia, do ponto de
vista legislativo, uma relativa estabilidade da matéria. Contudo, no âmbito da situação
87
Segundo a Pereira (2013, p. 43), ―Tal MP manteve-se em vigor por força da Emenda Constitucional (EC) 32
de 2001. É válido ressaltar que a MP vinha sendo reeditada desde 1996. Sua última edição ocorreu 20 dias após a
aprovação final da EC 32, a tempo de ser incluída no conjunto de medidas que continuaram em vigor. Assim,
como não houve deliberação definitiva posterior pelo Congresso Nacional, matérias relevantes do Código
permaneceram disciplinadas pela MP por mais de uma década até a reforma atual. Entretanto, a falta de
deliberação definitiva sobre a matéria não ocorreu devido à ausência de iniciativas legislativas, visto que desde o
envio da MP até a instalação da Comissão Especial, haviam sido apresentados 81 projetos de lei sobre o assunto
e nenhum deles foi transformado em norma jurídica‖.
170
político-administrativa, havia uma grande instabilidade, com a proposição de vários projetos
de lei propostos tendentes a alterar a lei florestal.
Pereira (2013) destaca que neste momento e até antes da instalação da Comissão
Especial, em 2009, destinada a analisar as alterações do Código Florestal, as demandas
ambientalistas encontravam mais ressonância do que as demandas dos ruralistas, contudo, a
edição do Decreto 6.514/2008 acirrou ainda mais os embates entre ambientalistas e ruralistas
e ―aumentou cada vez mais os anseios da bancada ruralista pela reforma do Código Florestal‖
(PEREIRA, 2013, p. 48).
O Decreto 6.514/2008 regulamentava a Lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 (mais
conhecida como Lei de Crimes Ambientais) e estabelecia sanções e multas aplicadas em casos
de condutas lesivas praticadas contra o meio ambiente.
Deste modo, apesar de a Lei de Crimes Ambientais prever as sanções penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, somente em
julho de 2008 as mesmas foram regulamentadas, por meio do referido decreto. Conforme
destaca Pereira (2013, p. 35), ―ao estipular multas no valor entre 50 e 50 milhões de reais às
infrações ambientais, como cortar árvores sem autorização e degradar florestas, esse decreto
buscaria, finalmente, tornar efetiva a legislação ambiental‖.
Este decreto, portanto, pode ser situado no conjunto de ações do Poder Executivo com
vistas a implementar medidas de monitoramento, fiscalização e punição para tornar a proteção
ambiental efetiva88
. Isto ocorreu, pois, embora previstas em lei, as sanções e multas
efetivamente não estavam sendo cumpridas, vigorando a impunidade no que se refere às
condutas lesivas praticadas.
Além dessas medidas, merece destaque a edição da Resolução nº 3.545 do Banco
Central, em 29 de fevereiro de 2008, que passou a exigir comprovante de regularidade
ambiental para a concessão de crédito às atividades agropecuárias no bioma amazônico
(CUNHA, 2013). Tal regularidade incluía a composição de Reserva Legal de modo que era
vedado crédito agrícola aos proprietários que se encontravam em situação de irregularidade.
88
Sobre este processo de fiscalização e punição dos infratores à lei de Crimes Ambientais, Vicente (2013)
destaca tanto a criação do Programa Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia em 2004 até ações de
fiscalização desenvolvidas pelo IBAMA como fundamentais para aumentar a tensão e possibilitar uma ofensiva
dos produtores rurais. Conforme destaca: ―O IBAMA realizou centenas de operações de fiscalização
apreendendo 1 milhão de metros cúbicos de madeira em tora (o que significa uma fila de 500 km de caminhões
carregados de madeira) e foram aplicados 4 bilhões de reais em multas. Essas operações foram planejadas e
monitoradas a partir de um sistema de acompanhamento por satélite, que foi colocado na internet com amplo
acesso à sociedade. (...) Além disso, criou-se um cadastro público com os dados de todos os proprietários rurais
que cometeram crimes ambientais e tiveram suas propriedades embargadas‖ (VICENTE, 2013, p. 29).
171
Foi justamente esta situação que fez com que a bancada ruralista no Congresso
Nacional considerasse urgente e imediata a discussão sobre a reforma do Código Florestal.
Assim sendo, diante da efetiva possibilidade de aplicação de sanção e imposição de multas
por crimes contra o meio ambiente e infrações administrativas ambientais, os parlamentares
ruralistas – muitos deles passíveis de sofrerem estas sanções diante das atividades produtivas
e econômicas praticadas – se mobilizaram para que houvesse uma desconsideração destas
punições.
Neste sentido, cumpre ressaltar também a atuação de instituições associativas neste
debate, em especial a CNA, que passam a contestar as formulações presentes no Código
Florestal inclusive no âmbito judicial. Quando os proprietários de terra passam a ser
acionados judicialmente pelos órgãos ambientais, instituições não governamentais e
Ministério Público para recompor as áreas de reserva legal, surge a ofensiva deste setor
(TAVARES, 2012, p. 156).
Assim, as alterações no Código Florestal levam a uma judicialização destas questões,
com a contestação da constitucionalidade das alterações e uma contestação sobre a perda
econômica e de áreas que poderiam ser destinadas à agropecuária. Dentre as Ações Diretas
de Inconstitucionalidade contra os dispositivos do Código Florestal, Tavares (2012, p. 167)
destaca que:
Nas duas ações que questionavam alterações do Código Florestal de 1965, as
principais argumentações, em síntese, foram: ampliação do conceito de
Reserva Legal pela Medida Provisória 2.166-7; violação do artigo 225 (que
dispõe sobre o meio ambiente) da Constituição Brasileira; violação ou
eliminação do direito de propriedade; violação do princípio da isonomia;
violação do princípio da proporcionalidade, da razoabilidade (e do devido
processo legal), da livre iniciativa e da concorrência; prevalência dos direitos
individuais sobre os sócio-ambientais; violação do princípio da
―irretroatividade‖, como ―desdobramento da segurança jurídica‖;
descabimento de Medida Provisória para regular a matéria.
Diante das medidas rígidas previstas neste decreto, inclusive previsão de multas em
caso de descumprimentos das determinações da Lei – o que incluía a não averbação da
reserva legal e de áreas de preservação permanente – a primeira medida encontrada pelos
parlamentares integrantes do setor ruralista foi pressionar o poder Executivo para que os
prazos do decreto fossem prorrogados. Posteriormente, houve a pressão para que outro
decreto fosse editado, impedindo a aplicação de multas e sanções a desmatadores e a
produtores, ou seja, anistiando-os pelos crimes ambientais cometidos. Nesse sentido,
conforme destaca Pereira (2013, p. 36):
172
Os ruralistas também pleitearam a anistia das atividades consideradas lesivas
ao meio ambiente praticadas até antes da edição do Decreto 6.514.
Alegavam que, além da perda da produtividade ao destinarem parte das
propriedades à conservação ambiental, os custos para recuperar a vegetação
eram muito altos. Defenderam, então, que ao invés de punir com multas
exorbitantes os proprietários irregulares, o governo deveria propiciar auxílios
e incentivos para que eles se adaptassem, como o pagamento por serviços
ambientais. Justificavam que os benefícios de um meio ambiente preservado
são coletivos, de toda sociedade, enquanto os custos para mantê-lo seria do
setor rural.
Tal decreto determinava para início da aplicação das medidas a data de 22 de julho de
2008, contudo, tal prazo fora inúmeras vezes prorrogado, sendo que a penúltima alteração
estabelecia a data de 11 de junho de 2011. Conforme destaca Sauer e França (2001, p. 228),
―esta data limite tencionou sobremaneira o processo e foi usada para apressar a tramitação da
matéria no Parlamento, especialmente devido ao argumento de que os pequenos agricultores
seriam responsabilizados criminalmente caso o Decreto entrasse em vigor‖.
Diante deste argumento, deu-se a ofensiva de setores ruralistas, que se sentiam
prejudicados com a maior proteção aos recursos naturais e utilizavam o discurso de defesa dos
pequenos produtores no intuito de se unificarem enquanto classe e grupo, eliminando,
circunstancialmente, os interesses e recursos diferenciados implicados na categoria produtor
rural.
Nesse sentido, Sauer e França (2011, p. 288) afirmam que estes discursos buscavam
desviar o foco da questão, ou seja, além de utilizarem e se proclamarem porta-vozes dos
pequenos produtores – quando em verdade, estavam mais preocupados com seus interesses
econômicos e políticos – os deputados criminalizavam a legislação em vigor e se isentavam
de qualquer responsabilidade por não cumprirem as determinações do Código Florestal e
ameaçarem a conservação e proteção dos recursos florestais.
Ainda segundo os autores, o argumento de que o descumprimento da legislação se
deve, sobretudo, aos pequenos e médios produtores não se sustenta, pois a área dos
estabelecimentos classificados como de agricultores familiar representa menos de 25% da
área total ocupada pelos estabelecimento rurais89
. Assim sendo:
Com base nos dados do Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR), do
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), o estudo o
IPEA (2011) aponta para a perspectiva de que o maior passivo ambiental
89
Segundo os autores, ―os dados utilizados mascaram uma falsa justificativa, pois 86% - mais precisamente,
84,4% - se referem ao número de estabelecimentos classificados como agricultores familiares (5.175.489
estabelecimentos) pelo Censo Agropecuário, segundo critérios da Lei 11.326, de 2006, e não a área desse
segmento, que representa apenas 24,3% (80 milhões de hectares) da área total dos estabelecimentos (IBGE,
2009a)‖ (SAUER, FRANÇA, 2011, p. 288).
173
deve se concentrar nas grandes propriedades, se tomarmos em conta a área
ocupada por esses imóveis. Isso porque, apesar de representar 65% desses
imóveis, os minifúndios detêm apenas 8% da área total, ou seja, 48,3
milhões de hectares (IPEA, 2011, p. 08). Tanto em relação a área ocupada
pela agricultura familiar como a área total dos minifúndios,
proporcionalmente, o passivo ambiental não está localizado na propriedade
desses agricultores (SAUER, FRANÇA, 2011, p. 289).
É nesse contexto de tensão causada pela efetiva possibilidade de cumprimento da
aplicação de multas e sanções e limitações ao financiamento de produtores que não se
adequavam à lei, e sob o argumento de atender aos pequenos produtores, que a bancada
ruralista e Frente Parlamentar da Agropecuária organizaram sua ofensiva.
Assim, em setembro de 2009, uma Comissão Especial foi criada, nos termos do art.
34, II, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, para analisar as várias propostas de
reformulação do Código Florestal. A base sobre a qual se organizou esta comissão foi o
Projeto de Lei nº 1.876, de 1999, de autoria do deputado Sérgio Carvalho (PSDB/RO). O
relator designado do projeto foi o Dep. Aldo Rebelo (PCdoB-SP).
3.2 Análise do Parecer do Deputado Aldo Rebelo ao Projeto de Lei 1.876/1999 e sua
aprovação na Comissão Especial
O processo de discussão da reforma florestal que culminou com a Lei nº 12.651/2012
teve início oficialmente em 19 de outubro de 1999, quando da proposição do Projeto de Lei nº
1.876, de 1999, de autoria do deputado federal Sérgio Carvalho e outros. No período de
tramitação compreendido entre 1999 e 2009, recebeu como apensos 10 proposições90
, sendo
que um desses projetos, o de maior amplitude, Projeto de Lei nº 5.367/2009, que ―institui o
Código Ambiental Brasileiro, estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente, definindo os
bens que pretende proteger e criando os instrumentos para essa proteção‖, ensejou a criação
de uma Comissão Especial destinada a analisar todas as matérias atinentes a lei florestal.
A tramitação do Projeto de Lei nº 1.876/1999 se deu de forma bastante vagarosa, com
vários arquivamentos91
e rejeições por algumas comissões que deveria passar, tal como se
observa no quadro a seguir apresentado:
90
Projetos de Lei nº 4.524, de 2004, 4.091, de 2008, 4.395, de 2008, 4.619, de 2009, 5.226, de 2009, 5.367, de
2009, 5.898, de 2009, 6.238, de 2009, 6.313, de 2009 e 6732, de 2010. 91
Analisado pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, o projeto de lei
foi rejeitado. Entendeu-se que o PL 1.876/1999, não obstante ter o mérito de tentar corrigir alguns problemas da
legislação em vigor, não equacionava esses problemas. Posteriormente foi rejeitado também pela Comissão de
174
Quadro 02 - Tramitação do PL 1.876/1999 na Câmara Federal (nov. de 1999 a set. de 2009)
Data Resumo da Tramitação
25 nov. 1999 Remetido a Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento
Rural (CAPADR) – Relator: deputado ruralista Moacir Micheletto (PMDB/PR)
31 mar. 2003 Arquivado pelo fim da legislatura (art. 105, Regimento Interno) e desarquivado em
22 de maio de 2003 e remetido à CAPADR, com Micheletto como relator.
02 dez. 2004 PL 4524/2004 – Enio Bacci (PDT/RS) – apensado por decisão do Presidente da
Câmara.
07 dez. 2005 CAPADR aprova parecer do relator pela rejeição do PL 1.876/1999, sob o
fundamento de que deveria prevalecer o substitutivo apresentado pelo próprio
Micheletto na Comissão Mista.
19 jan. 2006 Remetido a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
(CMDAS). Relator: Luciano Zica (PT/SP).
19 abr. 2006 CMDAS aprova parecer do relator pela rejeição do PL 1.876/1999, sob fundamento
que deveria prevalecer a MPv. 2.166-67/2001, criada por diversos setores no
CONAMA.
20 abr. 2006 Remetido a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.
31 jan. 2007 Arquivado pelo fim da legislatura e desarquivado em 12 de julho de 2007.
13 mar. 2008 Remetido a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania – Relator deputado
ruralista Luciano Pizzatto (DEM/PR) – substituído pelo ruralista Paulo Magalhães
(DEM/BA).
11 dez. 2008 Apensado o PL 4395/2008 – Rose de Freitas (PSDB/ES) – por decisão do
Presidente da Câmara.
25 mai. 2009 Apensado o PL 5226/2009 – Leonardo Monteiro (PT/MG) – decisão do Presidente
da Câmara.
04 ago. 2009 Apensado o PL 3567/2009 (Código Ambiental Brasileiro), do deputado ruralista
Valdir Colatto (PMDB/SC) e outros, por decisão do presidente da Câmara.
08 set. 2009 Presidência da Câmara criou a Comissão Especial destinada a analisar e proferir
parecer ao PL 1876/1999 e seus apensos, com fundamento no inciso II, art. 34,
Regimento Interno.
(Fonte: CUNHA, 2013 p. 129)
Conforme destaca Pereira (2013, p. 67), durante todo este período de tramitação, no
qual não foi possível realizar a votação das propostas de lei, os interesses dos setores ligados
ao ambientalismo eram mais contemplados do que os interesses dos grupos ruralistas.
Segundo a autora, havia um controle da discussão pelo Poder Executivo, que, por meio das
Medidas Provisórias editadas, dos Decretos referendados pelo Ministério do Meio Ambiente e
das Resoluções do CONAMA, garantindo, do ponto de vista legal, que a situação sobre a
questão ambiental fosse regulamentada de modo mais protetivo aos recursos naturais92
.
No entanto, esse controle normativo não se fez acompanhar de medidas de fiscalização
e implementação necessárias em todo o país – houve uma melhoria, mas de eficácia limitada,
Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, sendo remetido ao arquivo em 31 de janeiro de 2007 por força
do artigo 105 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Foi desarquivado em 12 de julho do mesmo ano,
após requerimento do Dep. Enio Bacci, momento a partir do qual passou a receber como apensos os demais
projetos de lei (REBELO, 2010, p. 39).
92
A título de exemplo, mencionamos a edição do Decreto 6.514/2008 que dispõe sobre as condutas infracionais
ao meio ambiente e suas respectivas sanções administrativas.
175
com muitas medidas de fiscalização restringindo-se ao bioma amazônico – revelando uma
fragilidade do Poder Executivo que fora bem aproveitada pelos membros do Poder
Legislativo. Neste contexto, a FPA e a bancada ruralistas buscavam encontrar formas de
discussão da matéria florestal no Congresso Nacional, tendo em vista que no Poder
Legislativo o grupo ruralista conseguiria, graças a sua capacidade de mobilização e
articulação neste espaço, reverter o teor das determinações da legislação florestal.
Assim, buscando alcançar este objetivo, foi proposto o Projeto de Lei nº 5.367, de
2009, de autoria do deputado Valdir Colatto e 46 co-autores, sendo o mais abrangente de
todos os projetos apensados93
, que, conforme já afirmado, propunha a instituição do Código
Ambiental Brasileiro e por tal motivo, ensejou a criação de uma comissão especial para
analisar a matéria.
A comissão especial contou com a presidência do deputado federal Moacir Micheletto
(PMDB/PR), sendo nomeados como vice-presidentes, respectivamente, Anselmo de Jesus
(PT/RO) e Homero Pereira (PR/MT), e eleito como relator do projeto o deputado Aldo
Rebelo (PCdoB/SP), que, a princípio, não pertencia a nenhuma das duas frentes envolvidas
(PEREIRA, 2013; CUNHA, 2013).
Relativamente à composição desta Comissão Especial, cumpre destacar que a mesma
contou com 35 deputados indicados pelas lideranças partidárias, entre titulares e suplentes.
93
Conforme o próprio relatório do deputado Aldo Rebelo (2010, p. 42): ―A proposição reescreve a Política
Nacional de Meio Ambiente – PNMA, incluindo a estrutura do Sistema Nacional de Meio Ambiente – Sisnama e
do Conselho Nacional de Meio Ambiente – Conama. Discorre sobre a proteção da sociedade humana, da água,
do solo, do ar e da biodiversidade. Estabelece os instrumentos da PNMA, os critérios para elaboração do
Zoneamento Econômico Ecológico, os critérios para o licenciamento ambiental, as categorias de áreas protegidas
(vegetação ciliar, unidades de conservação, áreas frágeis e reservas ambientais). O projeto de lei aborda também
temas que não são ainda plenamente regrados no ordenamento jurídico brasileiro, como a remuneração por
serviços ambientais e o licenciamento ambiental já mencionado. Dispõe ainda sobre o parcelamento do solo
urbano, em sobreposição à Lei 6.766/1979. Foi apensado ao PL 1.876/1999, em 4 de agosto de 2009. Por sua
abrangência, ensejou a criação desta Comissão Especial‖.
176
Quadro 03 – Composição da Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei
nº 1.876/1999
TITULARES SUPLENTES
Anselmo de Jesus PT/RO Alex Canziani PTB/PR (ruralista)
Dr. Rosinha PT/PR (ambientalista) Asdrubal Bentes PMDB/PA (ruralista)
Ernandes Amorim PTB/RO (ruralista) Assis do Couto PT/PR (ruralista)
Homero Pereira PR/MT (ruralista) Celso Maldaner PMDB/SC (ruralista)
Leonardo Monteiro PT/MG Fernando Marroni PT/RS (ambientalista)
Luis Carlos Heinze PP/RS (ruralista) Paulo Teixeira PT/SP (ambientalista)
Moacir Micheletto PMDB/PR (ruralista) Reinhold Stephanes PMDB/PR (ruralista)
Paulo Piau PMDB/MG (ruralista) Silas Brasileiro PMDB/MG
Valdir Colatto PMDB/SC (ruralista) Zonta PP/SC (ruralista)
Carlos Melles DEM/MG (ruralista) Cezar Silvestri PPS/PR (ruralista)
Duarte Nogueira PSDB/SP (ruralista) Eduardo Sciarra DEM/PR (ruralista)
Marcos Montes DEM/MG (ruralista) Gervásio Silva PSDB/SC
Moreira Mendes PPS/RO (ruralista) Lira Maia DEM/PA (ruralista)
Ricardo Tripoli PSDB/SP (ambientalista) Wandenkolk Gonçalves PSDB/PA (ruralista)
Aldo Rebelo PCdoB/SP Giovanni Queiroz PDT/PA (ruralista)
Rodrigo Rollemberg PSB/DF (ruralista) Perpétua Almeida PCdoB/AC
Sarney Filho PV/MA (ambientalista) Edson Duarte PV/BA (ambientalista)
Ivan Valente PSOL/SP
(Fonte: http://www2.camara.leg.br/ Acesso em: 22.09.2015)
A análise do quadro apresentado, combinando com os dados apresentados no capítulo
anterior, permite afirmar que a maior parte dos parlamentares pertencem à bancada ruralista.
Segundo dados apresentados por Pereira (2013), dentre titulares e suplentes, a Comissão
Espacial foi composta por lideranças partidárias – respeitando-se a proporcionalidade da
representação das bancadas – e apresentava-se, no tocante a representação do setor ruralista e
ambientalista da seguinte forma: 22 representantes ruralistas, 07 representantes
ambientalistas, 04 representantes da agricultura familiar e 02 deputados neutros.
De acordo com dados apresentados pelo DIAP (2011), os parlamentares listados como
integrantes da bancada ruralista perfazem 14 deputados, quais sejam: Alex Canziani
(PTB/PR), Asdrubal Bentes (PMDB/PA), Celso Maldaner (PMDB/SC), Cezar Silvestri
(PPS/PR), Duarte Nogueira (PSDB/SP), Homero Pereira (PR/MT), Lira Maia (DEM/PA),
Luis Carlos Heinze (PP/RS), Marcos Montes (DEM/MG), Moacir Micheletto (PMDB/PR),
Moreira Mendes (PPS/RO), Paulo Piau (PMDB/MG), Valdir Colatto (PMDB/SC) e Giovanni
Queiroz (PDT/PA).
Contudo, buscando complementação de dados na listagem de deputados integrantes da
Frente Parlamentar da Agropecuária e em outras fontes (CUNHA, 2012, PEREIRA, 2012,
CAMARGO, 2010), pode-se afirmar que deputados (Assis Couto PT/PR), Eduardo Sciarra
(DEM/PR), Ernandes Amorim (PTB/RO), Carlos Melles (DEM/MG), Wandenkolk
177
Gonçalves (PSDB/PA), Zonta (PP/SC), Reinhold Stephanes (PMDB/PR), Rodrigo
Rollemberg (PSB/DF) também compõe a referida bancada, ao assumirem, sem
constrangimentos, os pleitos relacionados ao setor rural e ao agronegócio.
Cumpre destacar o caso do deputado federal Erandes Amorim (PTB/RO), embora não
conste como integrante da bancada ruralista pelo DIAP (2011). Conforme afirma Cunha
(2012, p. 145):
Em 2004, na qualidade de ex-senador, Amorim foi preso pela polícia federal,
na ―Operação Mármore‖, acusado de chefiar uma quadrilha envolvida em
desvio de dinheiro público, formação de empresa fantasmas para ganhar
licitações, grilagem de terra e exploração ilegal de minério (...). Em 2008, foi
acusado de ter desmatado ilegalmente 1.674 ha. em Machadinho D‘Oeste-
RO e foi multado pelo IBAMA em R$ 4,1 milhões (...) Sua Excelência
também era réu nas ações civis públicas nºs. 2008.41.00.0066241 e
2008.41.00002172-5 propostas pelo IBAMA, que tramitavam perante a 5ª
Vara Federal de Rondônia em razão dos danos ao meio ambiente, além de
inúmeros outros processos relativos a improbidade administrativa. Como se
não bastasse, o Supremo Tribunal Federal o investigava nos inquéritos nºs.
2801/2009 e 2807/2009, por crime contra o meio ambiente e o patrimônio
genético, além de inúmeros outros inquéritos e processos judiciais de
natureza diversa. Portanto, as regras do Congresso Nacional permitiram que
um cidadão com tais deméritos pudesse participar diretamente da revogação
de uma lei ambiental que transgrediu e da elaboração de um substitutivo que
poderia anistia-lo de algumas infrações.
E, da mesma forma que o deputado Ernandes Amorim tinha interesses diretos em
aprovar uma lei que favorece os interesses da agropecuária e desqualificasse como crimes e
infrações ambientais as práticas danosas contra o meio ambiente, os demais 21 integrantes da
Comissão Especial e pertencentes à bancada ruralista e à FPA tinham interesses particulares,
ligados aos seus negócios e/ou ao dos financiadores de suas campanhas, que orientaram seus
posicionamentos no processo de elaboração do relatório.
Dentre os parlamentares identificados como pertencentes à bancada ambientalista e à
Frente Parlamentar Ambientalista, mencione-se os deputados: Dr. Rosinha (PT/PR), Edson
Duarte (PV/BA), Fernando Marroni (PT/RS), Ivan Valente (PSOL/SP), Paulo Teixeira
(PT/SP), Ricardo Tripoli (PSDB/SP) e Sarney Filho (PV/MA).
Relativamente aos 18 membros titulares, 13 votaram a favor do relatório apresentado
pelo deputado Aldo Rebelo, enquanto 5 foram contrários. Conforme destaca Cunha (2012, p.
142), de maneira geral, há uma simetria e coerência entre os interesses defendidos pelos
parlamentares e os seus posicionamentos quando do processo de votação.
Assim, votaram favoravelmente as proposições de alteração do relatório os deputados
Aldo Rebelo, Anselmo de Jesus, Carlos Melles, Duarte Nogueira, Ernandes Amorim, Homero
178
Pereira, Leonardo Monteiro, Luis Carlos Heinze, Marcos Montes, Moacir Micheletto, Moreira
Mendes, Paulo Piau e Valdir Colatto, e contrários ao mesmo os deputados ambientalistas Dr.
Rosinha, Ricardo Tripoli, Sarney Filho e Ivan Valente, e um ruralista, o deputado Rodrigo
Rollemberg.
A hegemonia da bancada ruralista na Comissão Especial já prenunciava o teor das
alterações propostas e, neste sentido e segundo Pereira (2013, p. 69), ―com uma composição
tão enviesada a favor dos interesses ligados à agricultura, os resultados dos seus trabalhos
poderiam ser antecipados com alto grau de certeza‖.
Relativamente aos trabalhos realizados pela comissão especial, cumpre ressaltar que a
mesma teve a sua reunião de instalação no dia 29 de setembro de 2009 e que foram realizadas
sete reuniões deliberativas ordinárias e trinta e três audiências públicas em 14 estados
brasileiros.
As cidades nas quais se realizaram as audiências públicas, distribuídas em 13 estados e
o Distrito Federal, foram: Assis (SP), Ribeirão Preto (SP), Assis Châteaubriant (PR),
Cafelândia (PR), Colombo (PR), Boa Vista (RR), Brasília (DF), Campo Grande (MS),
Corumbá (MS), Chapecó (SC), Colíder (MT), Imperatriz (MA), Maceió (AL), Manaus (AM),
Novo Progresso (PA), Petrolina (PE), Rio Branco (AC) e Teresina (PI). Relativamente aos
métodos adotados, conforme consta no parecer do deputado federal Aldo Rebelo:
Foram ouvidas as organizações não governamentais estrangeiras
credenciadas no Brasil; as organizações não governamentais nacionais; as
organizações não governamentais locais; os pesquisadores das universidades
e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); as autoridades
dos órgãos ambientais da União, de estados e municípios; governadores,
prefeitos, vereadores; agricultores pequenos, médios e grandes, organizações
representativas da agricultura, como a Confederação Nacional dos
Trabalhadores da Agricultura (Contag), Confederação Nacional da
Agricultura e Pecuária (CNA) e Organização das Cooperativas Brasileiras
(OCB). Foi possível conhecer a diversidade e os desequilíbrios próprios do
País que se revelam no debate do tema ambiental e florestal (REBELO,
2010, p. 05).
Contudo, a despeito da tentativa de representação ampla e diversa, cumpre ressaltar
que estas reuniões e audiências foram realizadas de maneira informal pelos próprios
parlamentares integrantes da comissão – em sua maioria, pertencentes ao grupo ruralista.
Assim, chama atenção o fato de que, além de muitas destas cidades selecionadas
serem pontos chave para o agronegócio, os participantes que estiveram nas audiências tenham
um envolvimento direto com práticas e discursos ligados ao agronegócio. Deste modo, pode-
se afirmar que, ao analisar as cidades escolhidas e visualizar a lista de participantes (Anexo
179
V), a mobilização para as audiências foi orquestrada pelos interesses dos ruralistas, para
privilegiar o agronegócio. Neste sentido, conforme destaca Pereira (2013, p. 72), as reuniões
ocorreram ―nos colégios eleitorais dos membros que se propuseram a coordenar os eventos e
que, obviamente, mobilizaram de forma majoritária os tipos de convidados para o debate‖.
A exceção das audiências realizadas em Brasília – nas quais os participantes eram em
sua maioria gestores públicos e pesquisadores vinculados a institutos de pesquisa e
universidades – as demais audiências foram predominantemente compostas por representantes
de federações e confederações de agricultura, pecuária, indústria e de parlamentares
vinculados a bancada ruralista.
A título de exemplo, mencionemos audiência realizada em 04 de dezembro de 2009,
na cidade de Assis Châteaubriant (PR). Os 37 participantes listados encontram-se divididos da
seguinte forma: 03 deputados estaduais; 02 prefeitos; 02 vereadores; 02 representantes de
cooperativas; 01 representante da associação de municípios do oeste do Paraná; 03
representantes de sindicatos de trabalhadores rurais; 04 representantes de associações
patronais; 03 representantes de empresas ligadas ao agronegócio e 17 agricultores/produtores
rurais. Cumpre ressaltar que nesta última categoria, encontram-se diluídos os grandes
produtores rurais, alguns deles revelando sua formação como engenheiros agrônomos.
Assim como na cidade paranaense, a maioria das audiências ocorreu nos ―colégios
eleitorais dos membros que se propuseram a coordenador os eventos e que, obviamente,
mobilizaram de forma majoritária os tipos dos convidados para o debate‖ (PEREIRA, 2013,
72). Neste mesmo sentido, conforme destaca Cunha (2013, p. 171), ―as audiências públicas
foram parciais, a maioria proposta e conduzida por parlamentares ruralistas e realizadas em
regiões de predominância do agronegócio‖.
Diante desse contexto, a participação dos produtores rurais, por meio de associações,
cooperativas, sindicatos e produtores foi predominante nas audiências realizadas, de modo
que o texto final do relatório apresentado pelo deputado Aldo Rebelo refletia de forma
acentuada as demandas deste setor.
Analisando o teor do relatório de 270 páginas, pode-se afirmar que o mesmo encontra-
se dividido em três partes. A primeira é composta de uma exposição de motivos, contendo 33
páginas, nas quais os pressupostos e fundamentação das ideias desenvolvidas no relatório são
apesentadas94
.
94
Esta exposição de motivos apresenta-se com os seguintes tópicos (em sua maior parte seguidos de uma
citação filosófica, trechos bíblicos, letras de música e trechos de obras de José Bonifácio): Apresentação; A
natureza e os dilemas morais, políticos, ideológicos e comerciais; Josué de Castro contra Thomas Malthus; A
180
Posteriormente, tem-se a apresentação do Projeto de Lei nº 1.876/1999 e os projetos
apensados ao mesmo (quais sejam os Projetos de Lei 4524/2004, 4091/2008, 4395/2008,
4619/2009, 5226/2009, 5367/2009, 5898/2009, 6238/2009, 6313/2009, 6732/2010); uma
descrição sobre a forma de realização dos trabalhos da Comissão Especial e, na sequencia, a
lista de participantes com os resumos das principais falas nas audiências públicas realizadas.
Por fim, tem-se o substitutivo Projeto de Lei nº 1.876/1999, dispondo sobre a proteção
da vegetação nativa e revogando a Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, com a proposição
de um texto legal composto por 53 artigos.
Relativamente ao teor da exposição de motivos, chama atenção, inicialmente, a
dedicatória com a qual Aldo Rebelo (2010) inicia o relatório, ―aos agricultores brasileiros‖.
Considerando que o texto legal trata de uma lei florestal e dadas as polêmicas envolvendo os
principais grupos de influência no Congresso Nacional, esta dedicatória revela, de antemão,
para quem se destina as suas proposições: a um setor da sociedade, no caso os agricultores.
No que se refere às formulações desenvolvidas por Aldo Rebelo, o mesmo destaca que
o Código Florestal de 1965 é uma lei boa, contudo, fora desvirtuado diante das inúmeras
alterações – via decretos, portarias, resoluções, instruções normativas e ―até por uma medida
provisória que virou lei sem nunca ter sido votada‖ (REBELO, 2010, p. 04). Prossegue
afirmando que foram tais alterações tornaram este instrumento uma lei distanciada da
realidade, ―uma caricatura de si próprio, um arremedo de seu espírito original‖ (REBELO,
2010, p. 04).
Ainda segundo o relator, é alarmante a situação de ilegalidade na qual se encontra
90% das propriedades rurais, situação esta narrada em termos dramáticos por Aldo Rebelo ao
descrever que:
Homens do campo, cumpridores da lei, que nunca haviam frequentado os
tribunais ou as delegacias de polícia, viram-se, de repente, arrastados em
processos, acusações e delitos que não sabiam ter praticado. Houve casos de
suicídio, de abandono das propriedades por aqueles que não suportaram a
situação em que foram colhidos (REBELO, 2010, p.04).
No relatório é possível encontrar referências à visão distorcida que a sociedade
brasileira tem sobre os produtores rurais que, segundo Rebelo (2010), são desprezados pelos
cidadãos urbanos e vítimas de injustiças, humilhações e constrangimentos praticados pelos
órgãos públicos e de defesa ambiental.
guerra comercial; Cambises contra o boi no Pantanal; A ideia do santuário Amazônico; As grandes certezas e
incertezas sobre as mudanças climáticas; Proteger a natureza e os seres humanos.
181
Segundo o relator, à luz da legislação então vigente, poderiam ser considerados crimes
ambientais: assentados da reforma agrária; criação de bois na planície pantaneira; produtores
de arroz que cultivam em várzeas e agricultores que cultivam café, maçã e uva em encostas e
topos de morros, dentre outros exemplos de atividades corriqueiramente realizadas.
Ainda segundo o parecer, a imensa maioria dos pequenos e médios produtores pratica
a agricultura de baixo uso de capital e tecnologia, de modo que este é o mais vulnerável às
restrições ambientais, tendo em vista que não conseguem investir em aplicação de ganhos
tecnológicos e de capital o que ganham. Este é o produtor que mergulha na ilegalidade,
segundo dados apresentados pelo parecer do deputado Aldo Rebelo.
Segundo Aldo Rebelo, diante este contexto, as alterações na legislação são propostas
como forma de defender tanto os mais vulneráveis, que praticam uma agricultura e pecuária
para a sua subsistência, quanto o grande proprietário, responsável por tornar a agricultura
competitiva no mercado internacional.
Sobre este aspecto, conforme destaca Rebelo (2010, p. 06), a legislação florestal é um
ônus para os grandes produtores, pois tem elevado o custo da produção na ―realização de
obras, contratação de escritórios de advocacia e renúncia de áreas destinadas à produção‖.
No item intitulado ―A natureza e os dilemas morais, políticos, ideológicos e
comerciais‖, Rebelo (2010, p. 08) argumenta que a visão ambientalista é uma rota de fuga
para os desiludidos de ideologias capitalistas e comunistas e que o fomento ao debate sobre a
meio ambiente pelas ONGs internacionais é uma estratégia utilizada pelas nações ricas tanto
para se apropriarem dos recursos das nações pobres, quanto para impedir que o Brasil se torne
ainda mais competitivo no setor agropecuário.
No item intitulado ―Josué de Castro contra Thomas Malthus‖, Rebelo (2010) sustenta
que a questão de fundo que orienta todas as medidas de proteção ao meio ambiente é baseada
na ideologia malthusiana95
- que fora reconfigurada e adotada pelos países desenvolvidos –
com vistas a restringir o crescimento dos países em desenvolvimento sob o argumento dos
limites do planeta e da ideia da escassez. Trata-se, portanto, de conceber a questão ambiental
95
Conforme relatório (REBELO, 2010, p. 11), ―Thomas Robert Malthus (1766-1834) foi um monge conservador
inglês, autor do Ensaio sobre a População e da proposição segundo a qual a população cresce em proporção
geométrica, enquanto a produção de alimentos avança a taxas aritméticas. Malthus não tinha, à época, nenhuma
evidência que sustentasse sua opinião. Seu propósito era demonstrar que a condição dos pobres era resultado da
lei natural, enraizada na providência divina. Seu objetivo era combater as chamadas Poor Laws (leis de
assistência à pobreza) na Inglaterra. Para ele, o único resultado dessas leis era estimular os casamentos e,
consequentemente, o aumento da população e com isso cortejar maiores catástrofes, como a fome e a redução da
qualidade de vida das classes mais elevadas. Malthus se referia aos pobres como ―excluídos do banquete da
natureza‖ e ‗infelizes que não acertaram um único ponto na grande loteria da vida‘‖.
182
única e exclusivamente como uma ideologia das nações ricas e desenvolvidas para impedir o
crescimento dos países pobres e subdesenvolvidos. Segundo Rebelo (2010, p. 12):
Assim como para Malthus, nos primórdios do capitalismo a questão era
garantir a abundância dos ricos, que poderia ser posta em risco pelo
crescimento populacional, todos os movimentos posteriores, que tentam de
algum modo impor limites ao crescimento mundial, particularmente dos
países pobres, partilham do mesmo princípio.
Prossegue o autor a afirmar que existe um receio mal disfarçado por parte desses
países de que o Brasil possa ter altos níveis de consumo e, com isso, haja uma sobrecarga dos
recursos naturais dos países subdesenvolvidos que são vistos como ―reservas‖ para a
manutenção de padrões de consumo dos países desenvolvidos.
O que os alarma, portanto, não é o seu próprio padrão de vida, baseado no
consumo conspícuo e individualista, mas o que aconteceria com o planeta se
cada chinês, africano, indiano ou brasileiro também quiser ter o seu próprio
veículo e comer 100 gramas de carne por dia. Como não pretendem mudar
seus padrões de vida e de acumulação, propõem limitar o acesso aos recursos
naturais, acabar com o ―almoço grátis‖, exatamente quando os pobres se
aproximam da mesa (REBELO, 2010, p. 13).
No item destinado a discutir a ―A Guerra Comercial‖, Rebelo (2010, p. 10), destaca
que o protecionismo ambiental e o interesse comercial estão presentes nas rodadas de
negociação da OMC e das ações das ONGs.
Especificamente sobre as ONGs, o relator destaca o caráter profissional e
empreendedor das mesmas e que, em realidade, seus compromissos são com os interesses
comerciais dos países da Europa e dos Estados Unidos, com suas ―campanhas milionárias
procuram interditar a infraestrutura – rodovias, ferrovias, hidrovias, portos – destinada ao
crescimento da agricultura, pecuária e mineração‖ (REBELO, 2010, p. 10).
Trata-se, para o relator, de mais um capítulo de guerras comerciais motivadas pela
agricultura. A título de exemplo, menciona casos de protecionismo na produção de açúcar,
banana e, sobretudo, de carne bovina.
As causas para o aumento das pressões contra a expansão da agricultura e pecuária nas
regiões de cerrado e na Amazônia são identificadas ao protecionismo internacional, sobretudo
diante da concorrência dos Estados Unidos, que lideram a produção mundial de álcool, carne
bovina, carne de frango, milho e soja, sendo que, neste último produto, é ameaçado em sua
hegemonia pela produção brasileira.
O caso mais sensível é o da soja, em que os americanos são ao mesmo tempo
o primeiro em produção e o primeiro em exportação. A situação delicada
tem sido tema de preocupação constante do governo dos Estados Unidos.
183
Talvez aí estejam as razões do cerco e das pressões contra a expansão da
soja no Cerrado brasileiro e de sua aproximação dos campos férteis da
Amazônia Legal (REBELO, 2012, p. 19).
Pra deixar ainda mais evidenciado o que considera ser um episódio da guerra
comercial e uma perseguição ao papel de grande produtor mundial que o Brasil possa vir a
ocupar – e já ocupar em alguns produtos, como o caso da soja, já mencionado – Aldo Rebelo
faz o seguinte questionamento:
Se a agricultura, aos olhos das ONGs, é uma atividade agressora do meio
ambiente, e se os Estados Unidos têm uma produção de grãos quase quatro
vezes superior à nossa, é de se supor que, por lógica, agridam muito mais a
natureza. Por que, então, as ONGs internacionais que promovem a tentativa
de aniquilamento da ampliação da agricultura brasileira não se movem
contra a pretensa agressão da agricultura norte-americana à natureza?
(REBELO, 2010, p. 19).
Sobre a pecuária, prossegue o relator afirmando, no item intitulado ―Cambises contra o
boi do pantanal‖96
que é uma perseguição a tradição de boi no pantanal, sendo impraticável
querer criminalizar esta prática na região. Segundo afirma Rebelo (2010, p. 20):
O boi está presente no Pantanal há quase três séculos, criado em pastagem
nativa, sem que se plante um pé de capim, fazendo desse tipo de pecuária a
mais sustentável de tantas quantas se praticam no País. O Pantanal é o bioma
mais preservado e o boi é o seu bombeiro natural, aparando a macega antes
que chegue o Sol e esta sirva de combustível ao incêndio da planície. O boi
pantaneiro viu-se proscrito pelo improviso de legisladores ignorantes do seu
papel ecológico e do seu bioma protegido. Resolveram que o Pantanal é uma
imensa área de preservação permanente da qual o B.taurus deveria ser
banido (REBELO, 2010, p. 20).
Relativamente à Amazônia, cumpre destacar que, tanto no item ―Josué de Castro
contra Thomas Malthus‖ quanto no intitulado ―A ideia do santuário amazônico‖, Aldo Rebelo
retrata esse bioma como um ambiente inóspito, que precisa ser domesticado e normatizado
para servir ao homem.
Aldo Rebelo sustenta posicionamentos que revelam a dicotomia realizada entre
―homem‖ e ―natureza‖ e a desconsideração de outras formas de relacionamentos com os
recursos ambientais que diferem da lógica capitalista e, nesse sentido, Rebelo fundamenta
96
Segundo Rebelo (2010, p. 20), ―Cambises, o imperador da Pérsia, ao invadir o Egito, afrontou a população
local sacrificando o boi Ápis, de sua adoração. O gesto de Cambises buscava transformar o sacrifício de Ápis em
símbolo de seu poder e capacidade de submeter os egípcios ao seu domínio. Cambises hoje não nos chega da
Pérsia, Cambises desembarca no Brasil como portador das bandeiras ecológicas dos países ricos. Ápis já não
vive no Egito, Ápis desfila em Parintins, nas festas do Caprichoso e do Garantido, povoa os campos do Mato
Grosso e do Pará, os folguedos do Bumba-meu-Boi e as festas de vaquejada e de rodeio no Nordeste e em São
Paulo‖.
184
suas conclusões em obras como ―Geografia da fome‖ de Josué de Castro, utilizadas pelo
relator para explicar porque nada existe de mais fantasioso do que a harmonia entre homem e
natureza na região Amazônica. Assim, afirma que:
Se, ao contrário de outras regiões do país, grande parte da região amazônica
conserva-se ainda hoje tal qual foi encontrada pelos colonizadores
portugueses há cinco séculos, isso não se deve à tal harmonia que a
civilização não conseguiu destruir, mas exatamente à hostilidade do meio à
vida e ao desenvolvimento (...). Se os chamados povos da floresta, índios e
caboclos, depois de séculos de luta contra o meio inóspito, ainda ali vivem
como viviam seus antepassados há centenas ou milhares de anos, certamente
não é porque tais povos satisfaçam as condições de vida características
dessas eras passadas, quando se vivia 30 anos em média – mergulhados no
isolamento, completamente dominados pelas forças da natureza,
perambulando nus ou seminus, abrigados em choças insalubres, infestadas
de insetos e fumaça, lutando em condições absolutamente desiguais contra o
meio hostil, que não lhes permite ir além das condições mais rústicas e
primitivas de vida de seus ancestrais (REBELO, 2010, p. 14).
Assim, sobressaí-se para o relator a visão de que a Amazônia oferece obstáculos
geográficos que precisam ser contornados e dominados pela força, vez que a conquista
econômica da região depende de estratégias de luta. Do mesmo modo, ressalta-se a
necessidade de dominação, a ―tentativa de romper as imposições da natureza‖ e ―transformar
todas as coisas da natureza como algo de reproduzível‖ (ADORNO; HORKHEIMER, 1985,
p. 27).
A ideia de ―luta do homem contra a floresta e contra a água‖, luta ―contra o excesso de
vitalidade da floresta‖ (REBELO, 2010, p.14), enfim, de luta contra os recursos da natureza
para ocupar a Amazônia e transformá-la em um território que servisse ao homem, permeia o
relatório apresentado como substitutivo ao Código Florestal de 1965.
Para vencer a força desadorada da natureza ainda em formação, para abrir
brechas nesses cerrados batalhões de árvores inexpugnáveis, seria necessária
uma sábia estratégia do elemento humano. Seria preciso, antes de tudo, que
ele concentrasse as suas forças. Que se agrupasse em zonas limitadas e
desencadeasse nesses pontos estratégicos a luta contra a floresta.
Infelizmente isso não se fez. O povoamento amazônico foi conduzido de
maneira dispersiva, sem nenhuma tática para a luta a ferir-se e, portanto,
previamente condenado ao fracasso (REBELO, 2010, p. 15).
No item intitulado ―As certezas e incertezas sobre as mudanças climáticas‖, o relatório
apresenta que há um consenso sobre as mudanças climáticas no mundo, contudo, que o
mesmo não pode ser dito sobre a influência direta da ação humana neste processo ou, ao
contrário, são decorrentes de processos naturais, ―cujos ciclos podem ser medidos em
centenas, milhares ou milhões anos‖ (REBELO, 2010, p. 27).
185
Acerca dos dados divulgados pelo IPCC (sigla em inglês do Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas da ONU), que em seu IV Relatório Anual, em 2007, afirmou que
a temperatura da superfície da Terra havia definitivamente aumentado e que as atividades
humanas – o chamado efeito antropogênico – foram as principais responsáveis por essa
mudança, Rebelo (2010) levanta alguns questionamentos, dentre eles:
Apesar do grande alarde que se faz em torno e com base nesses números,
respeitáveis cientistas os questionam. Primeiro, porque grande parte do que
se apresenta como ―fatos‖, são, na verdade, estimativas obtidas via métodos
que muitos consideram falhos e subjetivos e projeções de cálculos em
computadores montados a partir de estatísticas não comprovadas (REBELO,
2010, p. 28).
Ainda neste tópico, discorre sobre a inevitabilidade de consequências adversas quando
se busca o progresso e o desenvolvimento, sendo necessário lidar com os impactos positivos e
negativos. Conforme afirma, é necessário fazer um ―intercâmbio de problemas‖, haja vista
que ―nenhum enfrentamento é limpo, no sentido de que seja sem custos sobre outros
problemas ou outros atores‖ (REBELO, 2010, p. 30).
Na sequência, o relator reforça seu posicionamento utilizando-o para se referir aos
problemas gerados pela agricultura e pecuária e pela necessidade de se vislumbrar os
benefícios advindos de tais atividades, conforme abaixo:
O raciocínio acima exposto aplica-se da mesma forma aos benefícios e
prejuízos que a atividade agrícola e a pecuária ensejam para as sociedades
que as praticam. Cada centímetro de solo utilizado determina perdas e
ganhos que devem ser calculados pelo próprio interesse humano. A ação do
homem constrói cidades, rodovias, lagos artificias, produz alimentos, energia
e abre oportunidades de trabalho para as pessoas, melhorando o padrão de
vida da sociedade. Ao mesmo tempo, a mesma ação contribui para a
extinção de formas de vida nas áreas ocupadas, amplia os riscos e a
exposição dos seres humanos, principalmente quando não são adotados
cuidados inerentes ao ofício da transformação da natureza (REBELO, 2010,
p. 31).
No último tópico, ―Proteger a natureza e os seres humanos‖, o deputado expõe que, no
decorrer das atividades, a Comissão Especial elaborou um inventário dos problemas e
desafios colocados na tentativa de compatibilizar ―o compromisso civilizatório da sociedade
brasileira para com o meio ambiente e a necessidade de assegurar ao País e ao povo legítima
aspiração ao progresso e ao pleno desenvolvimento‖ (REBELO, 2010, p. 32).
Com vistas a alcançar este objetivo, denuncia a legislação atual, sobretudo no que se
refere à manutenção das atuais áreas de Reserva legal previstas no Código Florestal de 1965,
186
que fora corrompida e engessada e configura-se em um ―obstáculo‖ para o melhor
aproveitamento da propriedade. Segundo afirma Rebelo:
Pesquisadores que estudaram as consequências ambientais, econômicas,
sociais e administrativas da Reserva Legal nos termos atuais são unânimes
em apontar as precariedades, limites e impossibilidades de sua aplicação em
território continental, diversificado, desigual e carregado de desequilíbrios
como é o caso do Brasil (REBELO, 2010, p. 33).
Cita, assim, pesquisas realizadas por Gerd Sparovek, da Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz, da USP (que embora defenda a atual legislação aponta para
necessidades de revisão no que se refere a conciliação da conservação da vegetação natural e
o desenvolvimento da agropecuária), bem como do engenheiro florestal Sebastião Valverde,
da Universidade Federal de Viçosa, e Sidnei Gonçalves, pesquisador do Instituto de
Economia Agrícola (IEA) do Estado de São Paulo, que criticam a atual lei especialmente no
tocante a reserva legal e as áreas de preservação permanente.
Fazendo um comparativo da legislação brasileira com as legislações ambientais de
outros países, especialmente os países da Europa, o relator afirma que é inconcebível, para
esses países, transformar áreas férteis e produtivas em áreas florestais. Conforme destaca:
Quase nada é proibido, quase tudo é permitido no aproveitamento do solo,
escasso diante da carência de terras para produzir o alimento necessário à
soberania desses povos, provados em guerras e fomes quando não tinham,
dentro do próprio território, o pão de cada dia (REBELO, 2010, p. 34).
Tal visão exposta no relatório encontrou grande ressonância entre os membros da
bancada ruralista no Congresso Nacional – o que se explica, de certa forma, pela presença em
maior número dos parlamentares pertencentes a este grupo. De maneira geral, o relatório
apresenta uma visão na qual a natureza é retratada como ligada a superstição, ao atraso, e,
portanto, precisa ser dominada e submetida aos ditames da ciência moderna.
Nesse sentido, interessante recuperar as ideias de Adorno e Horkheimer (1985, p. 20),
para quem ―os homens querem aprender da natureza é como emprega-la para dominar
completamente a ela e aos homens‖. Segundo os autores, analisando o trajeto da ciência
moderna, o objetivo da mesma é desencantar o mundo e, nesse processo, tudo aquilo que não
passa pelo crivo da calculabilidade e da utilidade torna-se suspeito, e, mais ainda, passa a ser
considerada ilusória e remetida a literatura, e não a ciência.
A natureza – tal como se percebe em alguns trechos do relatório do deputado Aldo
Rebelo, sobretudo no que se refere à região Amazônica – é desqualificada, tida como caótica
e que, portanto, precisa ser manipulada e dominada para servir aos interesses econômicos.
187
Nesse mesmo sentido se posiciona a autora Vandana Shiva (2000, p. 300), que chama atenção
para as alterações e mutações que o termo ―recursos naturais‖97
foi sofrendo ao longo da
história, até se consolidar como algo eminentemente voltado para as satisfações econômicas e
do mercado.
Neste contexto, somente quando o capital e a tecnologia entram em cena é que a
natureza passa a ser vista como algo útil, manipulável e dominada para servir aos interesses
de certos grupos econômicos.
Percebe-se que ainda que a questão ambiental é tratada como uma arma ideológica nas
mãos de nações ricas e desenvolvidas, que tem como único objetivo impedir que o Brasil seja
um concorrente de produtos agropecuários no mercado internacional.
A análise do relatório deixa entrever uma visão favorável à ampliação do agronegócio
no Brasil ao revelar que o Código Florestal de 1965 (Lei nº 4.771/1965) é mais que uma lei
ineficaz, é uma lei injusta e que onera toda a nação, haja vista favorecer os interesses de
nações imperialistas.
De igual forma, o relatório do deputado Aldo Rebelo condena o posicionamento dos
grupos ambientalistas, pois alega que estes estão a serviço de outros países e, portanto,
representam uma ameaça a soberania nacional e à economia brasileira.
Percebe-se, portanto, um parecer que deslegitima as lutas dos movimentos ambientais;
vislumbra a natureza como algo violento que deve ser dominado para servir ao homem;
privilegia a obtenção de lucros através da atividade monocultora e defende que a proteção
excessiva levaria a uma perda de ativos desnecessária e prejudicial para o crescimento do
país.
Cumpre destacar o papel que assumiu o deputado Aldo Rebelo neste debate, tendo em
vista que ele conseguiu articular diferentes setores e agentes em torno da discussão sobre a
necessidade de reforma da legislação ambiental, adotando, para isso, estratégias retóricas,
padrões e estilos de argumentação altamente eficientes. Dentre estas, a utilização de metáforas
militares (―luta contra a floresta‖), o apelo à questão da moral e da justiça (―homens do
campo, cumpridores da lei‖) e a apresentação do pragmatismo ambiental (―perdas e ganhos
que devem ser calculados pelo próprio interesse humano‖).
O relatório foi finalizado em 08 de junho de 2010 e, conforme destaca Cunha (2013, p.
137), diante das críticas e polêmicas relativas ao substitutivo do Código Florestal de 1965 e
97
De acordo com Shiva (2000, p. 300), ―o significado original da palavra ‗resource‘ (recurso em inglês e
também no francês) sugere vida (...). Dessa forma, originalmente o concito enfatizava o poder de auto-
regeneração da natureza e chamava atenção para a sua criatividade prodigiosa‖.
188
após exaustivas negociações com o Poder Executivo, sofreu algumas alterações antes de ser
levado para a votação em plenário no Congresso Nacional.
Assim, diante dessas negociações, o deputado Aldo Rebelo apresentou uma segunda
versão do seu relatório, com algumas modificações, mas que, substancialmente, continuou
mantendo o seu teor e continuou significando um retrocesso do ponto de vista das discussões
ambientais, conforme será analisado no próximo item. Tal versão modificada do relatório foi
votada no dia 06 de julho de 2010. A Comissão Especial apoiou o substitutivo alterado por 13
votos a favor e 05 votos contrários (CUNHA, 2013, p. 140).
Após a apresentação do relatório e de várias discussões realizadas, o texto do projeto
de lei foi aprovado na Câmara dos Deputados e seguiu para o Senado, por onde passou por
quatro Comissões, três delas tendo como relator o Senador Luís Henrique da Silveira
(PMDB/SC) e uma delas tendo como relator o Senador Jorge Viana (PT/AC). Assim, no dia
06 de dezembro de 2011, o Senado aprovou o PL 1.876/99, conhecido no Senado como
Projeto de Lei da Câmara Nº 30 de 2011, com algumas alterações ao projeto original.
Cumpre destacar que o texto fora aprovado em todas as Comissões por maioria dos
votos, sendo que na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária, a aprovação foi unânime,
haja vista a eficácia dos grupos de pressão – dentre os quais se destaca a bancada ruralista –
no intuito de influenciar o processo decisório de modo que este seja favorável aos interesses
do setor, conforme detalharemos em itens posteriores.
Como o texto passou por modificações no Senado, em especial no que concerne as
áreas ocupadas em áreas de preservação permanente (as chamadas áreas consolidadas), voltou
para a Câmara dos Deputados para que fossem examinadas as alterações propostas, para
serem aceitas ou refutadas. Neste segundo momento na Câmara dos Deputados, a relatoria
coube ao Deputado Federal Paulo Piau (PMDB/MG).
O processo de votação na Câmara dos Deputados contou com a participação de 460
parlamentares, dos quais 184 votaram ―sim‖ para as alterações finais no texto aprovado
pelo Senado Federal (apoiado pelo governo e que garantia faixas mínimas de proteção e
recomposição florestal) e 274 votaram ―não‖ as alterações do Senado Federal.
Além dos que se posicionaram na votação, foi registrada duas abstenções (Anthony
Garotinho PR/RJ e Deley PSC/RJ) e não foi contabilizado o voto do deputado Marco Maia
(PT/RS), que encontrava-se presidindo a votação na Câmara dos Deputados e, portanto,
impedido de votar. Assim, em votação realizada no dia 24 de maio de 2012, e conforme
189
informações disponibilizadas pela Coordenação do Sistema Eletrônico de Votação da
Câmara dos Deputados - CENIN, os deputados federais se posicionaram da seguinte forma:
Quadro 04 – Parlamentares contrários às alterações propostas pelo Senado
PARLAMENTAR UF PARLAMENTAR UF PARAMENTAR UF
DEM - 24 PMDB - 71 PMDB - 71
Abelardo Lupion PR Adrian RJ Newton Cardoso MG
Alexandre Leite SP Alberto Filho MA Nilda Gondim PB
Antonio C. M. Neto BA Alceu Moreira RS Odílio Balbinotti PR
Augusto Coutinho PE Alexandre Santos RJ Osmar Serraglio PR
Claudio Cajado BA Antônio Andrade MG Osmar Terra RS
Davi Alcolumbre AP Arthur Oliveira Maia BA Paulo Piau MG
Efraim Filho PB Asdrubal Bentes PA Pedro Chaves GO
Eli Correa Filho SP Benjamin Maranhão PB Pedro Novais MA
Fábio Souto BA Carlos Bezerra MT Professor Setimo MA
Felipe Maia RN Celso Maldaner SC Renan Filho AL
Jairo Ataide MG Danilo Forte CE Rogério P. Mendonça SC
João Bittar MG Darcísio Perondi RS Ronaldo Benedet SC
Jorge Tadeu Mudalen SP Edinho Araújo SP Rose de Freitas ES
Júlio Campos MT Edinho Bez SC Sandro Mabel GO
Lira Maia PA Edio Lopes RR Saraiva Felipe MG
Luiz Carlos Setim PR Edson Ezequiel RJ Teresa Surita RR
Mandetta MS Eduardo Cunha RJ Valdir Colatto SC
Mendonça Filho PE Eliseu Padilha RS Washington Reis RJ
Onyx Lorenzoni RS Fabio Trad MS Wilson Filho PB
Pauderney Avelino AM Fátima Pelaes AP Wladimir Costa PA
Paulo Cesar Quartiero RR Fernando Jordão RJ PMN - 01
Prof Dorinha Rezende TO Flaviano Melo AC Jaqueline Roriz DF
Ronaldo Caiado GO Francisco Escórcio MA PP - 27
Vitor Penido MG Gabriel Chalita SP Afonso Hamm RS
PCdoB - 06 Genecias Noronha CE Beto Mansur SP
Assis Melo RS Gera Arruda CE Carlos Magno RO
Chico Lopes CE Giroto MS Cida Borghetti PR
Evandro Milhomen AP Henrique Eduardo Alves RN Dilceu Sperafico PR
João Ananias CE Hermes Parcianello PR Dimas Fabiano MG
Luciana Santos PE Hugo Motta PB Esperidião Amin SC
Osmar Júnior PI Íris de Araújo GO Gladson Cameli AC
PDT - 17 João Arruda PR Jair Bolsonaro RJ
André Figueiredo CE João Magalhães MG Jeronimo Goergen RS
Ângelo Agnolin TO Joaquim Beltrão AL João Pizzolatti SC
Dr. Jorge Silva ES José Priante PA José Linhares CE
Felix Mendonça Júnior BA Júnior Coimbra TO Lázaro Botelho TO
Flávia Morais GO Leandro Vilela GO Luis Carlos Heinze RS
Giovani Cherini RS Lelo Coimbra ES Luiz Argôlo BA
Giovanni Queiroz PA Leonardo Picciani RJ Luiz Fernando Faria MG
João Dado SP Leonardo Quintão MG Márcio Reinaldo Moreira MG
Manato ES Lucio Vieira Lima BA Mário Negromonte BA
Marcos Medrado BA Luiz Pitiman DF Missionário José Olimpio SP
Marcos Rogério RO Manoel Junior PB Nelson Meurer PR
Oziel Oliveira BA Marçal Filho MS Paulo Maluf SP
Paulo Pereira da Silva SP Marcelo Castro PI Pedro Henry MT
Salvador Zimbaldi SP Marinha Raupp RO Renato Molling RS
Sueli Vidigal ES Marllos Sampaio PI Roberto Teixeira PE
Wolney Queiroz PE Mauro Benevides CE Sandes Júnior GO
Zé Silva MG Mauro Lopes MG Toninho Pinheiro MG
PHS - 01 Mauro Mariani SC Vilson Covatti RS
José Humberto MG Natan Donadon RO
190
Quadro 04 – Parlamentares contrários às alterações propostas pelo Senado (cont.)
Fonte: CENIN, http://www2.camara.leg.br, acesso em 16.01.2016.
PARLAMENTAR UF PARAMENTAR UF PARAMENTAR UF
PPS - 03 PSC - 12 PSD - 35
Arnaldo Jardim SP André Moura SE Moreira Mendes RO
Carmen Zanotto SC Antônia Lúcia AC Nice Lobão MA
Sandro Alex PR Carlos Eduardo Cadoca PE Onofre Santo Agostini SC
PR – 24 Costa Ferreira MA Paulo Magalhães BA
Aelton Freitas MG Edmar Arruda PR Raul Lima RR
Anderson Ferreira PE Lauriete ES Reinhold Stephanes PR
Aracely de Paula MG Leonardo Gadelha PB Sérgio Brito BA
Bernardo S. Vasconcellos MG Mário de Oliveira MG PSDB - 26
Davi Alves Silva Júnior MA Nelson Padovani PR Alfredo Kaefer PR
Dr. Adilson Soares RJ Pastor Marco Feliciano SP Antonio C.Mendes Thame SP
Francisco Floriano RJ Ratinho Junior PR Berinho Bantim RR
Giacobo PR Zequinha Marinho PA Bonifácio de Andrada MG
Inocêncio Oliveira PE PSD – 35 Bruno Araújo PE
Izalci DF Ademir Camilo MG Carlos Alberto Leréia GO
João Carlos Bacelar BA Armando Vergílio GO Carlos Brandão MA
Lúcio Vale PA Arolde de Oliveira RJ Domingos Sávio MG
Maurício Quintella Lessa AL Átila Lins AM Duarte Nogueira SP
Maurício Trindade BA Carlos Souza AM Dudimar Paxiúba PA
Milton Monti SP César Halum TO Fernando Francischini PR
Paulo Feijó RJ Danrlei De Deus Hinterholz RS João Campos GO
Paulo Freire SP Diego Andrade MG Jorginho Mello SC
Tiririca SP Edson Pimenta BA Leonardo Vilela GO
Valdemar Costa Neto SP Eliseus Paiva SP Luiz Carlos AP
PR – 24 Eliene Lima MT Luiz Nishimori PR
Vicente Arruda CE Fábio Faria RN Marcio Bittar AC
Vinicius Gurgel AP Fernando Torres BA Marco Tebaldi SC
Wellington Fagundes MT Francisco Araújo RR Nelson Marchezan Junior RS
Wellington Roberto PB Geraldo Thadeu MG Nilson Leitão MT
Zoinho RJ Guilherme Campos SP Paulo Abi-Ackel MG
PRP - 01 Hélio Santos MA Raimundo Gomes de Matos CE
Jânio Natal BA Heuler Cruvinel GO Reinaldo Azambuja MS
PSB - 09 Homero Pereira MT Rogério Marinho RN
Abelardo Camarinha SP Hugo Napoleão PI Sergio Guerra PE
Alexandre Roso RS Irajá Abreu TO Wandenkolk Gonçalves PA
Antonio Balhmann CE Jefferson Campos SP PT - 01
Domingos Neto CE Jorge Boeira SC Vander Loubet MS
Laurez Moreira TO José Carlos Araújo BA PTB - 01
Mauro Nazif RO José Nunes BA José Augusto Maia PE
Romário RJ Júlio Cesar PI PTdoB - 02
Sandra Rosado RN Junji Abe SP Lourival Mendes MA
Valtenir Pereira MT Manoel Salviano CE Luis Tibé MG
191
Quadro 05 – Parlamentares favoráveis às alterações propostas pelo Senado
Fonte: CENIN, http://www2.camara.leg.br, acesso em 16.01.2016.
PARLAMENTAR UF PARLAMENTAR UF PARAMENTAR UF PARAMENTAR UF
DEM - 02 PSB - 16 PT – 78 PT - 78
Mendonça Prado SE Dr. Ubiali SP Afonso Florence BA Nazareno Fonteles PI
Rodrigo Maia RJ Fernando CoelhoFilho PE Alessandro Molon RJ Nelson Pellegrino BA
PCdoB – 06 Givaldo Carimbão AL Amauri Teixeira BA Newton Lima SP
Alice Portugal BA Glauber Braga RJ André Vargas PR Odair Cunha MG
Daniel Almeida BA Janete Capiberibe AP Angelo Vanhoni PR Padre João MG
Delegado Protógenes SP Jonas Donizette SP Antônio Carlos Biffi MS Padre Ton RO
Jandira Feghali RJ José Stédile RS Arlindo Chinaglia SP Paulo Pimenta RS
Jô Moraes MG Júlio Delgado MG Artur Bruno CE Paulo Teixeira SP
Manuela D`ávila RS Keiko Ota SP Assis Carvalho PI Pedro Eugênio PE
PDT - 07 Leopoldo Meyer PR Assis do Couto PR Pedro Uczai SC
Brizola Neto RJ Luiz Noé RS Benedita da Silva RJ Policarpo DF
Enio Bacci RS Luiza Erundina SP Beto Faro PA Reginaldo Lopes MG
Marcelo Matos RJ Paulo Foletto ES Bohn Gass RS Ricardo Berzoini SP
Miro Teixeira RJ Severino Ninho PE Cândido Vaccarezza SP Rogério Carvalho SE
Reguffe DF PSC – 01 Carlinhos Almeida SP Ronaldo Zulke RS
Sebastião Bala Rocha AP Hugo Leal RJ Carlos Zarattini SP Rubens Otoni GO
Vieira da Cunha RS PSD - 08 Chico D`Angelo RJ Sibá Machado AC
PMDB - 03 Dr. Paulo César RJ Cláudio Puty PA Taumaturgo Lima AC
Elcione Barbalho PA Felipe Bornier RJ Dalva Figueiredo AP Valmir Assunção BA
Geraldo Resende MS Guilherme Mussi SP Décio Lima SC Vanderlei Siraque SP
Raul Henry PE Liliam Sá RJ Devanir Ribeiro SP Vicente Candido SP
PP – 08 Ricardo Izar SP Domingos Dutra MA Vicentinho SP
Aline Corrêa SP Roberto Santiago SP Dr. Rosinha PR Waldenor Pereira BA
Arthur Lira AL Silas Câmara AM Edson Santos RJ Zé Geraldo PA
Eduardo da Fonte PE Walter Tosta MG Erika Kokay DF PTB - 14
Iracema Portella PI PSDB - 22 Eudes Xavier CE Alex Canziani PR
Rebecca Garcia AM Alberto Mourão SP Fátima Bezerra RN Antonio Brito BA
Roberto Britto BA Andreia Zito RJ Fernando Ferro PE Arnaldo Faria de Sá SP
Simão Sessim RJ Antonio Imbassahy BA Fernando Marroni RS Arnon Bezerra CE
Waldir Maranhão MA Carlos Sampaio SP Francisco Praciano AM Celia Rocha AL
PPS - 06 Cesar Colnago ES Gabriel Guimarães MG Jorge Corte Real PE
Arnaldo Jordy PA Eduardo Barbosa MG Geraldo Simões BA Josué Bengtson PA
Augusto Carvalho DF Emanuel Fernandes SP Henrique Fontana RS Magda Mofatto GO
Dimas Ramalho SP Jutahy Junior BA Iriny Lopes ES Nelson Marquezelli SP
Roberto Freire SP Luiz F.Machado SP Jesus Rodrigues PI Nilton Capixaba RO
Rubens Bueno PR Mara Gabrilli SP Jilmar Tatto SP Ronaldo Nogueira RS
Stepan Nercessian RJ Marcus Pestana MG João Paulo Lima PE Sérgio Moraes RS
PR - 01 Otavio Leite RJ João Paulo Cunha SP Silvio Costa PE
Neilton Mulim RJ Ricardo Tripoli SP José Airton CE Walney Rocha RJ
PRB – 10 Rodrigo de Castro MG José De Filippi SP PTC - 01
Acelino Popó BA Romero Rodrigues PB José Guimarães CE Edivaldo Holanda Jr MA
Antonio Bulhões SP Rui Palmeira AL José Mentor SP PTdoB – 01
Cleber Verde MA Ruy Carneiro PB Josias Gomes BA Rosinha da Adefal AL
George Hilton MG Vanderlei Macris SP Leonardo Monteiro MG PV - 09
Heleno Silva SE Vaz de Lima SP Luci Choinacki SC Alfredo Sirkis RJ
Jhonatan de Jesus RR Walter Feldman SP Luiz Alberto BA Antônio Roberto MG
Márcio Marinho BA William Dib SP Luiz Couto PB Dr. Aluizio RJ
Otoniel Lima SP Zenaldo Coutinho PA Luiz Sérgio RJ Henrique Afonso AC
Vilalba PE PSL - 01 Márcio Macêdo SE Paulo Wagner RN
Vitor Paulo RJ Dr. Grilo MG Marco Maia RS Penna SP
PSB -16 PSOL – 03 Marcon RS Roberto de Lucena SP
Ariosto Holanda CE Chico Alencar RJ Marina Santanna GO Rosane Ferreira PR
Audifax ES Ivan Valente SP Miguel Corrêa MG Sarney Filho MA
Jean Wyllys RJ Miriquinho Batista PA
192
Os parlamentares contrários às propostas do Senado votaram ―não‖, portanto,
optaram pelo relatório do deputado Paulo Piau, que, dentre outros aspectos, não previa a
garantia de faixas mínimas de proteção e recomposição florestal, bem como ―anistiava‖
aqueles que infringiram a lei até a data de 22 de julho de 2008 e mantem atividades
agropecuárias em áreas de APPs. Conforme noticiado na página da Câmara dos Deputados:
O texto do relator Paulo Piau mantém as atividades agropecuárias iniciadas
até 22 de julho de 2008 em APPs, mas as demais regras de replantio da
vegetação foram excluídas. A lista do que é APP continua praticamente igual
à já aprovada antes na Câmara. Para quem não desmatou e para as situações
futuras, as faixas de proteção variam de 30 a 500 metros em torno dos rios,
lagos e nascentes (conforme seu tamanho) e encostas de morros. A diferença
em relação ao atual código é que as faixas serão medidas a partir do leito
regular e não do nível mais alto das águas no período de cheias. Na prática,
isso pode diminuir a área preservada (http://www2.camara.leg.br).
Já os que se posicionaram como favoráveis, votaram ―sim‖ às alterações sugeridas
pelo relatório do Senado Federal, finalizado pelo relator Jorge Viana (PT/AC) que, em tese,
previa mais medidas protetivas aos recursos florestais. Contudo, estes foram superados por
90 votos. Estatisticamente, tem-se o seguinte resultado:
Tabela 01 – Resultado do processo de votação do relatório do Senado Federal na Câmara dos
Deputados
Partidos
Políticos
Total de
parlamentares
“Não” às
mudanças
propostas pelo
Senado
“Sim” às
mudanças
propostas pelo
Senado
Abstenções e
ausências
Percentual dos
parlamentares que
rejeitaram o relatório
do Senado Federal
DEM 26 24 2 0 92,3%
PCdoB 12 6 6 0 50%
PDT 24 17 7 0 70,8%
PHS 1 1 0 0 100%
PMDB 74 71 3 0 96%
PMN 1 1 0 0 100%
PP 35 27 8 0 77,1%
PPS 9 3 6 0 33,3%
PR 26 24 1 1 92,3%
PRB 10 0 10 0 0%
PRP 1 1 0 0 100%
PSB 25 9 16 0 36%
PSC 14 12 1 1 85,7%
PSD 43 35 8 0 81,3%
PSDB 48 26 22 0 54,16%
PSL 1 0 1 0 0%
PSOL 3 0 3 0 0%
PT 80 1 78 1 1,25%
PTB 15 14 1 0 93,3%
PTC 1 0 1 0 0%
PTdoB 3 2 1 0 66,6%
PV 9 0 9 0 0%
TOTAL 458 274 184 3 59,8%
Fonte: CENIN, http://www2.camara.leg.br, acesso em 16.01.2016.
193
A orientação aos partidos políticos no processo de votação deu-se da seguinte
forma: PT, PV, PPS, PRB, PSOL indicaram que os deputados votassem ―sim‖ as alterações
propostas pelo Senado. O Governo também era detentor desta mesma posição, ou seja, era
contrário às alterações inseridas pelo deputado Paulo Piau e favorável às indicadas no
relatório do Senador Jorge Viana (PT/AC).
Os partidos PMDB, PSDB, PSD, PR, PTdoB, PRP, PHS, PTC, PRTB, PTB, PSC
foram orientados a votar ―não‖ as alterações do Senado, refutando-as e aprovando o
relatório tal como foi elaborado na Câmara dos Deputados. Já os deputados pertencentes
aos partidos PSB, PCdoB, PP e minorias foram liberados para votar.
Percebe-se, pois, que as duas maiores bancadas da Câmara, PT e PMDB,
conseguiram uma mobilização de seus deputados próxima a unamidade. Apenas um petista
votou contra a orientação da liderança. No PMDB, foram três. Assim, enquanto a quase
totalidade dos deputados do PT votou contra o relatório do deputado Paulo Piau (PMDB-
MG), defendendo o texto do Senado, no PMDB apenas três não seguiram a orientação do
partido.
3.3 Aprovação da Lei nº 12.651/2012: instrumentos e modificações do Código Florestal
de 2012
Diante dos debates em torno da aprovação do Código Florestal de 2012, pretende-se
neste item analisar os instrumentos mais discutidos e as alterações mais polêmicas
processadas na legislação florestal.
Cumpre desde já destacar que várias leis, decretos, medidas provisórias98
alteraram a
matéria ao longo dos anos, de modo que seria impraticável, para os fins propostos neste
trabalho, uma análise detalhada desses diferentes instrumentos.
No entanto, para fins de exposição, destacamos, no cronograma abaixo, os principais
procedimentos que ocorreram durante esse longo processo de alteração, bem como alguns
desencadeamentos posteriores à votação do ―novo‖ Código Florestal, ocorrida em maio de
2012.
98
Dentre as leis que introduziram modificações no Código Florestal de 1965, mencione-se: Leis n° 5.106/66, n°
5.868/72, n° 7.511/86, n° 7.803/89, n° 7.875/89, n° 9.605/98, n° 9.985/00, n° 11.284/06, n° 11.428/06 e n°
11.934/09, MP n° 2.166-67, de 2001, que se encontrava em vigor por força do art. 2º da Emenda Constitucional
n° 32, de 11-09-2001.
194
Quadro 06 – Cronologia do Código Florestal de 2012
ANO LEGISLAÇÕES E PROCEDIMENTOS
1934 Publicado o Decreto 23.793/34 – primeiro Código Florestal do Brasil.
1965 Com a edição da Lei nº 4.771/65, o Código Florestal brasileiro sofre diversas alterações,
com o objetivo de restringir o uso dos bens ambientais.
1986 Para alterar os limites de proteção das matas ciliares, é editada a Lei nº 7.511/86.
1989 Publicada a Lei nº 7.803/89, que cria a Reserva Legal e altera as Áreas de Preservação
Permanente (APPs).
1996 Editada a MPV nº 1.511/96, que restringe a abertura de área em florestas.
1998 Editada a MPV nº 1.736/98, que possibilita, sem restrição, o uso das Áreas de Preservação
Permanente para o cômputo da Reserva Legal.
2000 Editada a MPV nº 1.956/00, que cria a definição atual de Área de Preservação Permanente,
a qual ganha papel de conservação da biodiversidade, além de protetora de recursos
hídricos e solo.
2001 Editada a MPV nº 2.167/01, que restringe a soma da Área de Preservação Permanente com
a Reserva Legal.
Jul/2008 Publicado o Decreto nº 6.514/08, que regulamenta a Lei de Crimes Ambientais e fixa prazo
para averbação da Reserva Legal.
Set/2009 Instalada a Comissão Especial do Código Florestal, como ficou conhecida, para deliberar
sobre o Projeto de Lei nº 1.876/1999 e 10 apensos, elegendo os deputados Moacir
Micheletto (PR) e Aldo Rebelo (SP) presidente e relator, respectivamente.
Jul/2010 Aprovado o relatório do deputado Aldo Rebelo (SP) na Comissão Especial do Código
Florestal. O parecer do relator foi construído com base nos resultados e informações
recolhidos durante as diversas reuniões e audiências realizadas.
Mai/2011 Depois de anos tramitando na Câmara dos Deputados, o projeto do Novo Código Florestal
é aprovado pelo Plenário da Câmara dos Deputados como Emenda Substitutiva Global nº
186. Junto ao texto principal, também foi aprovada a emenda de número 164, que assegura
o uso das Áreas de Preservação Permanente já ocupadas com atividades agrossilvipasstoris,
ecoturismo e turismo rural.
Dez/2011 Sob a denominação de PLC 30/2011 e relatoria do senador Luiz Henrique (SC), o novo
Código Florestal é aprovado no Senado Federal e, em virtude das alterações incorporadas
ao texto, retorna para a análise da Câmara dos Deputados.
Abr/2012 Finalizada a tramitação do PL 1.876/99 no Congresso Nacional, com a aprovação do texto
do relator, o deputado Paulo Piau (MG), na Câmara dos Deputados. Foram retomados
pontos que haviam sido rejeitados pelos senadores, com destaque para os dispositivos que
fixam faixas de Áreas de Preservação Permanente (APPs) em margens de cursos d‘água.
Mai/2012 Sancionado o Novo Código Florestal pela presidente Dilma Rousseff. Ao vetar
parcialmente o texto aprovado pelo Congresso Nacional, Dilma promoveu 32 modificações.
Para evitar uma lacuna legal, foi editada, no mesmo dia, a Medida Provisória (MPV)
571/12, que altera a Lei nº 12.651/12, destacando os pontos vetados pela presidente.
Ago/2012 Após diversas negociações entre Governo, parlamentares e entidades interessadas, é
aprovado na Comissão Mista, destinada a avaliar a Medida Provisória 571/2012, que trata
do novo Código Florestal brasileiro, o relatório do senador Luiz Henrique (SC).
Set/2012 Aprovada a MPV 571/2012 na Câmara dos Deputados. Os parlamentares aprovaram o
mesmo texto elaborado pela Comissão Mista que havia analisado a matéria anteriormente.
Out/2012 Depois de um longo tempo de tramitação no Legislativo, foi aprovada, pelo Senado
Federal, a Medida Provisória (MPV) 571/12, que altera o novo Código Florestal brasileiro.
Sem modificações à proposta da Câmara dos Deputados, o texto segue para a sanção
presidencial.
Out/2012 Sancionada a MPV 571/2012. A presidente Dilma Rousseff decidiu vetar 9 itens do texto
aprovado pelo Congresso Nacional, dentre os quais se destaca a retirada da flexibilização
que os parlamentares queriam para a recuperação de Áreas de Preservação Permanente
(APPs) nas margens de rios.
(Fonte: www.agroanalysis.com.br. Acesso em: 22 de setembro de 2015)
195
Percebe-se, conforme já destacado em itens anteriores e de acordo com a análise do
cronograma acima exposto, que desde a sua edição até julho de 2008, as alterações
processadas na legislação florestal têm a função de aumentar a proteção ambiental, quer por
meio do aperfeiçoamento de institutos já previstos ou pela criação de alguns dispositivos
aptos a alcançar tal objetivo de proteção.
O ano de 2008, mais precisamente, a edição do Decreto nº 6.514/2008, pode ser
tomado como um divisor de águas no processo de discussão da legislação florestal justamente
por ter sido a medida considerada mais drástica – e que atingia de modo mais direto os
investimentos do setor rural no país.
A edição deste decreto, associada a outras medidas consideradas restritivas pelos
grupos ligados ao ruralismo, influenciou as considerações expostas no relatório da Comissão
Especial de Reforma do Projeto de Lei nº 1.876/1999 bem como o texto final da Lei
12.651/2012, considerado o ápice do retrocesso da legislação ambiental do Brasil, até o
presente momento.
Entender este processo de inflexão na legislação ambiental requer que retomemos uma
breve análise das principais modificações que foram sugeridas no relatório do deputado
federal Aldo Rebelo e incorporadas no ―novo‖ Código Florestal.
Dentre as principais modificações, destacamos: i) diminuição do cômputo das áreas de
preservação permanente; ii) a possibilidade de incluir no cálculo do percentual de reserva
legal, para médias e grandes propriedades, as áreas de preservação permanente, tendo como
referência a área total do bem; iii) possibilidade de realizar compensações de reserva legal
fora da propriedade rural, ou seja, em áreas não adjacentes e iv) estabelecimento de ―marco
zero‖ ou anistia para os crimes e infrações administrativas ambientais praticados até a data de
22 de julho de 2008.
Inicialmente podemos afirmar que as áreas de preservação permanente foram previstas
no Código Florestal de 1965 (Lei nº 4.771/1965) na época de sua promulgação. Segundo esta
legislação, já revogada, ―a supressão total ou parcial de florestas de preservação permanente
só será admitida com prévia autorização do Poder Executivo Federal, quando for necessária à
execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou interesse social‖
(Art. 3º, § 1º).
196
Medidas posteriores foram tomadas, dentre elas, a Lei nº 7.511/198699
e a Lei nº
7.803/1989100
, que alteraram a redação da lei 4.771/1965 e, no que se refere às áreas de
preservação permanente, ampliaram o limite de proteção dessas áreas ao estabelecerem
metragens específicas para a proteção da vegetação ao longo dos rios ou de qualquer curso
d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal, a partir da largura dos mesmos.
No atual Código, Lei nº 12.651/2012, apesar das tentativas de diminuição dos limites
(metragens) das APPs, as áreas de preservação permanente continuaram previstas, porém,
diferentemente das duas leis anteriores (Lei nº 7.511/1986 e 7.803/1989), a metragem não se
deu mais a partir do curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal, mas sim a
partir ―das faixas marginais de qualquer curso d‘água natural, desde a borda da calha do leito
regular‖ (art. 4º, Lei nº 12.651/2012).
Além disso, a subtração, na definição, de áreas que eram consideradas de proteção
permanente, a admissão de atividades agrícolas que, antes, não eram praticáveis nessas áreas
abre possibilidades para que a degradação aumente quando comparadas a legislação anterior
(SAUER, FRANÇA, 2011, p. 290).
Já com relação a Reserva Legal, a despeito dos proprietários tencionarem a sua
eliminação da legislação, as normas sobre o seu estabelecimento no interior das propriedades
rurais, contudo, também sofreram uma flexibilização na sua delimitação.
Fazendo uma análise comparativa com os instrumentos legais editados anteriormente,
a Lei nº 7.803/1989 acrescentou ao artigo 44 da Lei nº 4.771/1965 o parágrafo único nos
seguintes termos:
99
De acordo com a redação dada pela Lei nº 7.511/1986, o artigo 2º do Código Florestal de 1965 passou a ter a
seguinte redação: ―Art. 2° Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e
demais formas de vegetação natural situadas: a) ao longo dos rios ou de outro qualquer curso d'água, em faixa
marginal cuja largura mínima será: 1. de 30 (trinta) metros para os rios de menos de 10 (dez) metros de
largura; 2. de 50 (cinqüenta) metros para os cursos d‘água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinqüenta) metros de
largura; 3. de 100 (cem) metros para os cursos d‘água que meçam entre 50 (cinqüenta) e 100 (cem) metros de
largura; 4. de 150 (cento e cinqüenta) metros para os cursos d‘água que possuam entre 100 (cem) e 200
(duzentos) metros de largura; igual à distância entre as margens para os cursos d‘água com largura superior a
200 (duzentos) metros‖ (Lei nº 7.511/1986). 100
De acordo com a redação dada pela Lei nº 7.803/1989, o artigo 2º do Código Florestal de 1965 teve as áreas
de proteção permanente ao longo dos rios aumentada, conforme se verifica abaixo: ―Art. 2º Consideram-se de
preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: a)
ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima
seja: 1) de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura; 2) de 50 (cinqüenta)
metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinqüenta) metros de largura;3) de 100 (cem) metros
para os cursos d'água que tenham de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) metros de largura; 4) de 200 (duzentos)
metros para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;5) de 500
(quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros‖ (Lei nº
7.803/1989).
197
A reserva legal, assim entendida a área de, no mínimo, 50% (cinqüenta por
cento), de cada propriedade, onde não é permitido o corte raso, deverá ser
averbada à margem da inscrição da matrícula do imóvel no registro de
imóveis competente, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos
de transmissão, a qualquer título, ou de desmembramento da área (art. 44,
parágrafo único, Lei nº 4.771/1965).
Posteriormente, a Medida Provisória (MP) 1.511-1996 dentre outras medidas, alterou
este artigo e estabeleceu, dentre outras medidas, a proibição de alteração de destinação da
reserva legal averbada (art. 44, § 1º, Lei nº 4.771/1965), e o aumento da proibição de corte
raso de 50% para 80% das áreas das propriedades constituídas de ―fitofisionomias florestais‖
(art. 44, § 2º, Lei nº 4.771/1965) na região Norte e parte Norte da região Centro-Oeste, que
foram então definidas (art. 44, § 3º, Lei nº 4.771/1965).
Diferentemente das áreas de preservação permanente as áreas de reserva legal, durante
os debates realizados, foram constantemente contestadas e deslegitimadas pela maior parte do
setor rural. Sobre este aspecto, conforme destaca Sauer e França (2011, p. 292),
A diferença na discussão sobre Reserva Legal e Área de Preservação
Permanente foi marcada pela explícita vontade dos representantes do setor
produtivo de acabar com este instituto jurídico. Diferentemente da APP, cujo
discurso da preservação ambiental casava bem com a proteção dos cursos
d´água – mesmo que isso não tenha impedido as tentativas de diminuição
das APPs – para a Reserva Legal esse discurso nem foi cogitado. Ao
contrário, em vários momentos, a Reserva Legal foi tratada como empecilho
à produção, como mera ―finalidade paisagística‖ ou como um ―corpo
estranho‖ na propriedade rural (...) que afeta o lucro (SAUER, FRANÇA,
2011, p. 292).
Deste modo, várias propostas foram feitas junto à Comissão Especial – além da
eliminação das reservas legais, sugeriu-se não mais considerá-las obrigatórias para os
pequenos agricultores familiares e ainda o cômputo das áreas de APPs na de reserva legal –
com vistas, sobretudo, a reconfigurar este instrumento da lei. Conforme relata Aldo Rebelo
(2010, p.241):
Ainda com relação às APPs e RL, outra importante solicitação foi a
regularização das áreas já consolidadas (...). Com relação a APP, não existe
nenhuma previsão e há inúmeras áreas consolidadas localizadas em encostas,
topo de morros, várzeas etc., que precisam de solução. Também foi
solicitado que na recomposição das áreas de reserva legal fosse permitido o
plantio de espécies exóticas, pelo menos em parte da área. Finalmente, é
quase unânime a necessidade de se criarem mecanismos de incentivo e
prêmios para os proprietários que conservarem o meio ambiente. O produtor
precisa receber pelos serviços ambientais que prestar.
198
Relativamente aos processos de formulação do mecanismo de compensação da reserva
legal, Cunha (2013) destaca que desde 1998, a partir da MPv. 1.605-30/1998, o Código
Florestal passou a permitir a averbação de espaços como Reserva Legal fora dos limites do
imóvel dos proprietários.
Tal processo, que ocorreu na tentativa de minimizar a insatisfação do setor rural e
reduzir o déficit de RLs, deveu-se, segundo o autor, a uma demanda de setores do
agronegócio, que possuía um déficit de RL e não queria mais problemas com o órgão
ambiental. Tal modificação, que beneficiava o setor ruralista, foi mantida pela Lei nº
12.651/2012.
Outra inovação da lei nas áreas de Reserva legal e que atende aos interesses dos
produtores rurais refere-se à realização de atividades agrossilvopastoris em encostas e topos
de morro, que eram proibidas na legislação anterior, vigorando no Código Florestal de 2012 a
permissão para a manutenção de atividades nas encostas e topos de morro com inclinação
entre 25º e 45º e com a ressalva de que sejam adotadas práticas de conservação do solo e da
água.
Por fim, com relação à áreas consolidadas – não previstas em nenhum dos Códigos
Florestais anteriores – e à anistia para quem cometeu os crimes ambientais até a data de 22 de
julho de 2008 cabem as seguintes considerações.
Áreas consolidadas são aquelas nas quais existem alguma atividade de agricultura,
pecuária ou mesmo instalação e construção de equipamentos públicos e que, de acordo com as
alterações da Lei nº 12.651/2012, poderão continuar abrigando as mesmas atividades. Assim,
as áreas nas quais vinham ocorrendo alguma dessas atividades até 22 junho de 2008, podem
continuar, como regra, sendo utilizadas pelos proprietários rurais com a mesma destinação
Assim, independentemente das demais características do local e ainda que
irregularmente utilizada, obras, lavouras e pastagens localizadas em APPs e em áreas de RL
deveriam ser preservadas ou conservadas, desde que já existissem até a data de 22 de julho de
2008.
Esta data, conforme já analisamos, foi escolhida por ser o dia em que foi editado o
Decreto 6.514/2008, que regulamenta a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/1998),
estabelecendo as sanções penais e administrativas para punir condutas e atividades lesivas ao
meio ambiente.
Desta forma, este decreto foi utilizado para estabelecer um ―marco zero‖, ―e tudo que
ocorreu, a título de desmatamentos irregulares, anteriormente a ele fica sem efeito se
199
cumpridas algumas condições impostas nesta nova lei‖ (SAUER, FRANÇA, 2011, p. 289).
Ainda segundo os autores:
Conforme foi amplamente denunciado por vários pesquisadores e
movimentos ambientalistas, a introdução do referido conceito criou uma
anistia do passivo ambiental. Quer dizer, a definição de ―Área Rural
Consolidada‖ possibilita legitimar desmatamentos ilegais e degradações
ambientais ocorridos até julho de 2008, incluindo desrespeito às APPs e à
Reserva Legal (SAUER, FRANÇA, 2011, p.289).
Assim sendo, a prática pode ser considerada como uma estratégia para legalizar o
ilegal, ou seja, adequar a lei para que os interesses de um grupo – e não de garantir que o
interesse público, que no caso da lei florestal em análise, é o de estabelecer normas gerais de
proteção da vegetação – seja alcançado.
Nesse sentido, pode-se falar em anistia para aqueles que descumpriram a lei
ambiental, haja vista que, relativamente à temporalidade e a aplicação de multas, a lei que
deverá predominar é aquela vigente na ocasião da ocupação do solo, contudo, deverão ser
suspensos os processos e as multas aplicadas em virtude de infrações ambientais.
Diante das modificações processadas no Código Florestal de 2012, pode-se afirmar
que as regras de modificação do cômputo de APPs e de inclusão das mesmas na área de RL,
bem como a adoção do conceito de área rural consolidada, ameaçam a preservação da
vegetação. Neste sentido, conforme expõem Sauer e França (2011, p. 304):
As propostas acabam consolidando perdas passadas, mantendo riscos ambientais
futuros, como por exemplo, a ampliação de atividades agrossilvopastoris em áreas
de declive acentuado ou provocando erosões, entre outros danos ambientais, ou
mesmo as tentativas de definir faixas de APPs ripárias, somente para rios perenes,
desprotegendo, assim, os cursos d‘àgua intermitentes.
Tais modificações podem ser sistematizadas no seguinte quadro comparativo, no qual
é possível visualizar uma síntese das informações que julgamos mais relevantes e que se
referem à alteração da lei florestal nos três códigos já editados no Brasil.
200
Quadro 07 – Comparação entre os Códigos Florestais de 1934, 1965 e 2012
COMPARAÇÃO ENTRE OS CÓDIGOS FLORESTAIS
Decreto 23.793/34 Lei 4.771/65 Lei 12.651/12
APPs
O conceito não existia,
mas a norma já
determinava que
nenhum proprietário de
terras cobertas de
matas poderia abater
mais de ¾ da vegetação
existente
Proteção da vegetação
ao longo dos rios ou de
qualquer curso d'água
desde o seu nível mais
alto em faixa marginal
Proteção da vegetação em faixas
marginais de cursos d´água
natural perene e intermitente,
excluindo os efêmeros desde a
borda da calha do leito regular;
- Manutenção de atividades
agrossilvipastoris, de ecoturismo
e de turismo rural nas margens
dos rios, desde que consolidadas
até 2008
Reserva
Legal
O conceito não existia
mas a norma já
determinava que
nenhum proprietário de
terras cobertas de
matas poderia abater
mais de ¾ da vegetação
existente
- Na Amazônia Legal:
80% em área de
florestas e
35% em área de
cerrado;
- Demais regiões e
biomas do país: 20%;
(Cálculo de reserva
legal excetua APPs)
- 80% para imóvel em área de
florestas na Amazônia Legal;
- 35% para imóvel em área de
cerrado na Amazônia Legal;
- 20% para imóvel em área de
campos gerais na Amazônia
Legal e nos demais biomas
(Cálculo de reserva legal inclui
APPs)
Área
Consolidada
O conceito não existia O conceito não existia Área de imóvel rural com
ocupação antrópica preexistente
a 22 de julho de 2008, com
edificações, benfeitorias ou
atividades agrossilvipastoris
Punição em
casos de
descumprime
nto da Lei
Detenção de até 3 anos
e multa de até
10:000$000
(em mil-réis)
Pena de 3 meses a um
ano de prisão simples e
multa de 1 a 100 vezes
o salário mínimo
Multas por infrações ambientais
cometidas até 22 de julho de
2008 serão suspensas
Percebe-se, por meio desta rápida comparação, que as modificações ocorridas no
Código Florestal diminuíram a proteção aos recursos naturais e ―premiaram‖ àqueles que
nunca haviam cumprido a legislação por meio da anistia ou perdão das dívidas para aqueles
que não observavam a legislação ambiental.
Tal situação abre precedente para que as leis consideradas desvantajosas sejam
reiteradamente descumpridas por determinados setores e, quando a ameaça de cumprimento
da mesma se fizer sentir com maior intensidade, é possível desconsiderar e ―perdoar‖ as
ilegalidades praticadas. Nesse sentido, conforme afirma Platiau-Barros et al. (2012, p. 95),
No caso brasileiro, não há garantias de que a ―anistia‖ ocorrerá uma única vez. Pelo
contrário, o precedente no direto fiscal e tributário é geralmente o reiterado perdão
de dívidas ou a possibilidade de sua negociação. Cria-se, portanto, um risco de que
novas áreas sob proteção legal continuem a ser ocupadas com a expectativa de que
201
um dia se logre alterar novamente a legislação para que essa infração não seja
passível das punições devidas. É insuficiente a previsão da lei de que ―não haverá,
em qualquer hipótese, direito à regularização de futuras intervenções ou supressões
de vegetação nativa, além das previstas nesta lei‖ (Lei 12.651 de 2012, art. 8º, § 4º).
Ora, basta que se mude novamente a lei ao sabor das novas coalizões, invocando-se
o atual precedente em que a nova lei automaticamente se transformou, bem como o
princípio da isonomia.
A Lei nº 12.651/2012 foi sancionada pela Presidente da República com doze vetos e
trinta e duas modificações – a seguir apresentadas – que, embora tenham diminuído os efeitos
negativos sobre as florestas nativas, não os eliminaram de todo (PLATIAU-BARROS, 2012).
Quadro 08 - Artigos da Lei 12.651/2012 vetados pela Presidente da República
TEMAS ARTIGOS VETADOS
Definição do Código
Florestal
No artigo 1º, que define o objetivo do Código Florestal, a presidente alegou
veto ao texto devido à ausência de precisão "em parâmetros que norteiam a
interpretação e a aplicação da lei". O texto da Câmara havia cortado itens
apresentados no projeto do Senado que reconheciam as florestas e demais
vegetações nativas como bens de interesse comum, com a reafirmação do
compromisso de protegê-las, além de reconhecer a importância de conciliar
o uso produtivo da terra com a proteção das florestas.
Descanso dos solos
A Presidente vetou o inciso XI do artigo 3º, que trata sobre o pousio, prática
de interrupção temporária de atividades agropecuárias para recuperar a
capacidade de uso dos solos. Segundo a justificativa da Presidência, o inciso
não estabelece um período de descanso da terra. Essa ausência, segundo o
texto do "Diário Oficial", impede fiscalização efetiva sobre a prática de
descanso do solo.
Apicuns, salgados e
zonas úmidas
O parágrafo 3º do artigo 4º também foi vetado, segundo o "Diário Oficial".
A regra não considerava apicuns e salgados (planícies salinas encontradas
no litoral que são continuidade dos mangues) como Áreas de Preservação
Permanente (APPs), e excluía ainda as zonas úmidas. O texto da Câmara
passava a considerar margem natural de rios a partir da borda da calha do
leito regular (fio de água) e não mais o nível mais alto dos cursos d‘água
(zonas consideradas úmidas, mas que ficam inundadas nos períodos de
cheia). Margens de rios em
zonas urbanas
O despacho trouxe ainda o veto aos parágrafos 7º e 8º do artigo 4, que se
referem à delimitação das áreas de inundação em rios localizados em
regiões urbanizadas (cidades). De acordo com o projeto da Câmara, a
delimitação seria determinada pelos Planos Diretores e Leis de Uso do Solo
dos municípios. De acordo com a justificativa de veto da Presidência, a falta
de observação de critérios mínimos de proteção ambiental nessas áreas
marginais (que evitariam construções de imóveis próximos a margens de
cursos d‘água, por exemplo) poderia afetar a prevenção de desastres naturais
e proteção de infraestrutura.
202
TEMAS ARTIGOS VETADOS
Uso de reservatórios
artificiais
Sobre a criação de parques aquícolas (criação de espécies aquáticas, como
peixes, crustáceos e outros organismos) e polos turísticos em regiões
próximas a reservatórios artificiais (barragens), o veto se refere ao possível
―engessamento‖ do Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de
Reservatório Artificial‖. Entretanto, deixa em aberto a discussão sobre como
melhor adequar essas atividades.
Desmate autorizado
em florestas da União
e dos municípios
Segundo justificativa da presidente Dilma para vetar os parágrafos 1º e 2º do
artigo 26, que tratam da definição de quais áreas de preservação podem ser
desmatadas de forma legal para uso alternativo do solo (como atividades
agropecuárias), o projeto da Câmara aborda de forma ―parcial e incompleta‖
essas normas. De acordo com o "Diário Oficial", já existem regras
disciplinadas sobre o assunto na Lei Complementar 140, de 8 dezembro de
2011. A norma citada prevê cooperação entre os poderes municipal, estadual
e federal na proteção de paisagens naturais, combate à poluição em qualquer
de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e flora, dando mais
autonomia, por exemplo, aos governos estaduais e/ou municipais em ações
que fiscalizam atividades ilegais de desmate ou caça.
Recomposição de
bacias hidrográficas
No artigo 43, sobre a recuperação de Áreas de Preservação Permanente para
empresas concessionárias de serviço de abastecimento de água e de geração
de energia hidrelétrica, o veto se deu pois ―o dispositivo impõe o dever de
recuperar APPs em toda bacia hidrográfica em que se localiza o
empreendimento e não apenas na área no qual este está instalado‖. De
acordo com o veto, ―trata-se de obrigação desproporcional".
Recuperação das
margens de rios
No artigo 61, que trata das regras de recomposição da vegetação nas beiras
de rio, e que levantou polêmica no Congresso devido à possibilidade de
anistia a quem desmatou antes de 22 de julho de 2008, o veto foi feito
―devido à redação imprecisa e vaga, contrariando o interesse público e
causando grande insegurança jurídica quanto à sua aplicação‖. De acordo
com a publicação no Diário Oficial, o dispositivo ―parece conceder uma
ampla anistia‖ a quem desmatou de forma ilegal até 22 de julho de 2008. A
justificativa da presidente Dilma afirma ainda que tal fato ―elimina a
possibilidade de recomposição de uma porção relevante da vegetação do
país‖. Sobre a recomposição das margens de rios, a justificativa da
presidente informa que ao incluir regras apenas para rios com até dez metros
de largura, ―silenciando sobre os rios de outras dimensões e outras APPs‖, o
texto do projeto da Câmara deixaria uma ―grande incerteza‖ aos produtores
brasileiros.
Conservação dos
biomas brasileiros
No artigo 76, sobre a criação de projeto de conservação e regeneração dos
biomas brasileiros, como a Amazônia e o Cerrado, Dilma vetou alegando
que o dispositivo fere o princípio da separação dos Poderes ao firmar prazo
para que o Chefe do Executivo encaminhe ao Congresso Nacional
proposição legislativa. No projeto da Câmara, previa-se que o governo teria
prazo de três anos, a partir da publicação da lei, para elaborar proposta.
Impacto de
empreendimentos no
meio ambiente
Sobre a criação de um instrumento de apreciação do poder público para
medir possíveis impactos ambientais na instalação de obras, denominado
―Diretrizes de Ocupação do Imóvel‖, apresentado no artigo 77 do projeto da
Câmara, Dilma vetou alegando que o dispositivo foi aprovado sem que
houvesse definição sobre seu conteúdo o que poderia causar "insegurança
jurídica para os empreendedores públicos e privados‖.
Fonte: Garcia, 2012.
203
Como forma de suprir esses dispositivos vetados, houve a edição da medida provisória
nº 571/2012, publicada no Diário Oficial da União no dia 28 de maio do mesmo ano. Esta
medida provisória, tal como determina a Lei, foi encaminhada ao Congresso Nacional para ser
apreciada e votada, cabendo à relatoria, novamente, ao Senador Luiz Henrique da Silveira
(PMDB-SC).
A medida provisória foi convertida na Lei nº 12.727/12, alterando a Lei nº 12.651/12,
novamente sancionada pela Presidente com nove vetos. Na mesma data, para suprir as lacunas
deixadas pelos vetos, foi editado o Decreto nº 7.830/12, em outubro de 2012.
Além disso, a profusão de leis e Medidas Provisórias que se fizeram acompanhar da
aprovação da lei fez com que a mesma sofresse críticas tanto do setor ruralista quanto do setor
ambientalista, embora, o resultado final tenha contemplado os interesses dos ruralistas e, em
certa medida, tenham imbuído a lei com a visão de que o meio ambiente deve se adequar aos
interesses econômicos.
De maneira geral, na correlação de forças, a bancada ruralista e a Frente Parlamentar
da Agropecuária saíram fortalecidas deste processo, vez que foi este grupo quem pautou a
reforma da legislação florestal, utilizando o melhor momento político para intervir no
processo e propor o projeto de lei resultando na aprovação do Código Florestal de 2012.
Além disso, este grupo político conseguiu convencer não apenas o relator do projeto,
mas grupos e setores externos ao Poder Legislativo, de que mudanças legais são necessárias
para dinamizar a economia e garantir os índices de produtividade agropecuária, alardeados
como os principais responsáveis pelo crescimento econômico do país.
Por fim, pode-se mencionar que este grupo se consolidou e ganhou visibilidade no
processo de discussão e aprovação da legislação florestal, de modo que os argumentos
levantados pelo setor ruralista – ainda que com divergência entre seus membros – ganhassem
respaldo e conseguissem ofuscar as críticas feitas pelos ambientalistas.
204
4 OS USOS DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO NO PROCESSO DE ALTERAÇÃO
DA LEGISLAÇÃO FLORESTAL BRASILEIRA
Durante o processo de aprovação e votação da legislação ambiental brasileira os
agentes que participaram do debate recorreram a diferentes fontes de informação e formação
de opinião – estudos, pesquisas, matérias jornalísticas, etc. – para fundamentar seus
posicionamentos e apresentar as suas teses como verdadeiras em detrimento das demais.
No que se refere ao âmbito científico, conforme destaca Hannigan (2009), não se pode
descuidar da importância das descobertas científicas no processo de construção dos problemas
ambientais, sobretudo, no que tange aos argumentadores que promovem um problema
ambiental, transformando-o em uma questão pública.
Segundo o autor, e apoiando-se em estudos de Best (HANNIGAN, 2009, p. 104),
várias questões devem ser levantadas no que se refere aos argumentadores: a quem se
dirigem? Outros argumentadores estão apresentando argumentos rivais? Que preocupações e
interesses o público dos argumentadores trouxe para a questão e como eles moldaram o
respaldo do público em relação aos argumentos? Como a natureza dos argumentados ou a
identidade dos argumentadores afetam o respaldo público?
Estas questões deixam evidenciar que mais importante do que os argumentos em si, é
investigar todo o processo de argumentação, crucial para que problemas ambientais passem a
receber a condição de problema público, ou seja, como progridem de uma descoberta inicial
para implementação (ou não) de políticas públicas. Assim, ainda de acordo com Hannigan
(2009, p. 111), os argumentos ambientais podem ser legitimados quando seus patrocinadores
se tornam legitimados, ou seja, são reconhecidos como fontes legítimas de informação.
Assim, tomando a ciência como uma ―atividade argumentadora‖ (HANNIGAN, 2009,
p. 142) mas dada à impossibilidade de analisarmos em detalhes todos os argumentadores
envolvidos – e legitimados – no debate sobre a alteração da legislação florestal, selecionamos
e analisamos, neste capítulo, alguns estudos apresentados e/ou mencionados pelos
parlamentares nos discursos em plenária, identificando os resultados aos quais os mesmos
chegaram quanto às divergências suscitadas nos espaços institucionais em que foram
produzidos.
O objetivo é perceber o processo de seleção realizado pelos parlamentares que é feito
não só a partir dos resultados apresentados pelas instituições e agentes de pesquisa, mas
também a partir das redes e dos perfis dos pesquisadores. Assim, esses aspectos influenciam
205
no processo de legitimação do conhecimento científico ou deslegitimação, a depender de
quem os enuncia.
Para melhor dimensionarmos este processo de legitimação e representação da
realidade no debate envolvendo a alteração da legislação florestal brasileira, cumpre destacar
alguns aspectos relativos ao uso e produção do conhecimento científico na perspectiva de
Bourdieu (1996, 1998), mais especificamente no que se refere à ―força da representação‖ dos
discursos científicos.
Inicialmente, cumpre destacar as discussões realizadas por Bourdieu (1996) ao afirmar
que as representações contribuem para produzir o que aparentemente elas descrevem ou
designam. Isto se deve ao fato de que, mesmo quando apenas se limitam a dizer com
autoridade aquilo que é, ou então quando apenas se contentam em enunciar o ser, os discursos
científicos, ao nomear, produzem uma mudança. Nesse sentido:
Pelo fato de dizer as coisas com autoridade, ou seja, diante de todos e em
nome de todos, pública e oficialmente, ele as destaca do arbitrário,
sancionando-as, santificando-as e consagrando-as, fazendo-as existir como
sendo dignas de existir ajustadas à natureza das coisas (BOURDIEU, 1996,
p. 109).
O discurso científico não pode, portanto, ignorar esse poder de constituição que
produz na realidade que apenas pretende retratar, tendo em vista que atua ativamente no
estado da luta entre as classificações de modo que mesmo os veredictos ditos como mais
neutros da ciência contribuem para modificar o próprio objeto da ciência.
Acerca desta pretensa neutralidade, conforme Bourdieu (1996) cumpre destacar que as
palavras e os discursos devem ser tomados não em sua aparente neutralidade, mas sim como
se estivessem – e de fato estão – dispostas em luta, na luta permanente pelo estabelecimento
do consenso sobre o sentido, pelo estabelecimento de uma visão do mundo social.
Nesta luta pelo estabelecimento do discurso legítimo merece destaque o processo de
legitimação e autoridade daqueles que enunciam determinados discursos, conforme
assinalamos anteriormente. Assim, ―a eficácia do discurso performativo que pretende fazer
acontecer o que enuncia no próprio ato de enunciá-lo é proporcional à autoridade daquele que
o enuncia‖ (BOURDIEU, 1996, p. 111).
Nesse ritual, o uso da linguagem exerce grande importância, tendo em vista que ela
funda a diferença entre os especialistas e os leigos, legitimando os primeiros e
desqualificando os segundos. Contudo esta linguagem, em conformidade com o que assinala
Bourdieu (1996, p. 82), para ter eficácia plena, depende da posição social do locutor de tal
206
modo que a autoridade que garante e avaliza a eficácia performativa do discurso está ancorada
nas propriedades conhecidas e reconhecidas dos agentes que utiliza tal linguagem.
Estabelece-se, desta forma, a instituição de porta vozes dotados do poder pleno e do
direito de falar e agir em nome do grupo. Segundo Bourdieu (1996), o acesso aos
instrumentos legítimos de expressão está na raiz de toda a diferença entre os ―impostores‖ e o
―porta-voz autorizado‖, uma vez que o enunciado performativo, quando pronunciado por
alguém que não disponha do poder de pronunciá-lo, está condenado ao fracasso.
É ainda Bourdieu (1996) que afirma que não se deve buscar na linguagem, em si, o
princípio da eficácia simbólica de determinados discursos, mas sim em todos os elementos ou
propriedade sociais daqueles que os enunciam.
Assim, emerge como condição do uso legítimo da linguagem o fato de ela ser utilizada
por pessoa autorizada a fazê-lo, conhecido e reconhecido por sua habilidade em produzir este
discurso, devendo ser pronunciado numa situação legítima e perante receptores legítimos,
ainda que não seja tal discurso compreendido. A eficácia simbólica das palavras se exerce,
portanto, apenas na medida em que a pessoa alvo reconhece quem a exerce como podendo
exercê-la de direito.
Feitas essas considerações mais gerais sobre as condições que possibilitam a eficácia
dos discursos, pretende-se, a partir da delimitação de algumas pesquisas e estudos realizados
no processo ou sobre o processo de alteração da legislação florestal, identificar quais agentes
foram legitimados para exporem a ―realidade‖ sobre o processo de revisão da legislação
florestal.
Aglio (2012, p. 31), ao discorrer sobre o processo de produção e uso do
conhecimento científico no debate que se estabeleceu em torno da revisão do Código
Florestal Brasileiro, afirma que ―a atuação de cientistas ou de outras pessoas que tinham
afinidade com a ciência foi essencial para desencadear ações no campo político que vieram
a se configurar na elaboração de instrumentos legais de proteção à natureza‖.
Ainda segundo Aglio (2012, p. 60), existe por parte dos parlamentares que acionam
o conhecimento de determinados especialistas uma estratégia de seleção, com vistas a
recrutar aqueles que possuíam prestígio e credibilidade, além de ―habilidade para lidar com
os recursos políticos e econômicos relacionados ao seu labor‖.
Conforme afirma, o acionamento destes especialistas no campo político depende dos
posicionamentos adotados pelos agentes e pelo grupo ao qual pertencem. Assim, os discursos
207
científicos selecionados coincidem com os discursos políticos, de modo que há uma reiteração
dos argumentos sustentados. Segundo Aglio (2012, p. 81):
A comunidade científica dificilmente tem consenso sobre um mesmo objeto
em discussão, gerando muito mais que definições ―engessadas‖ sobre
conceitos, controvérsias teóricas que complexificam as reflexões,
aumentando assim as possibilidades de caminhos de escolha por uma
definição mais adequada para cada uma diretriz. Por esse motivo, o tomador
de decisão pode utilizar-se do conhecimento científico, reafirmando-o ou
mesmo refutando-o, ou ainda se referindo ao ―dissenso científico‖ para
justificar a sua decisão.
Assim, cada uma das lideranças dos respectivos grupos buscava estratégias para a
fundamentação de suas teses recorrendo a estudos e institutos de pesquisa que respaldassem
seus posicionamentos, o que, de fato, resultou na utilização de variadas fontes de pesquisa e
não ―dissenso científico‖ sobre o debate.
Nesse contexto, enquanto os parlamentares vinculados à frente parlamentar e à
bancada ruralista se apoiavam em estudos que propugnavam a necessidade de reforma na
legislação para aumentar a competitividade internacional do Brasil no setor agropecuário, os
deputados federais vinculados à frente parlamentar e bancada ambientalista ressaltavam a
necessidade de aplicação do Código Florestal de 1965 para que, efetivamente, houvesse uma
maior proteção contra a devastação das florestas.
Conforme destaca Pereira (2013), dentre as estratégias utilizadas por esses grupos no
intuito de reforçar suas visões sobre a reforma da legislação florestal, estava o convite a
acadêmicos, pesquisadores, representantes de ONGs e produtores rurais, além dos consultores
da Câmara dos Deputados e assessores governamentais, para que suas ideias sobre a alteração
ou manutenção do Código Florestal fossem discutidas em reuniões e audiências.
A partir da criação da Comissão Especial, conforme analisado no capítulo anterior, e
―embasados nessas discussões, os parlamentares, assessores e representantes de cada setor
trabalharam na difusão e defesa de suas propostas, como empreendedores da política‖
(PEREIRA, 2013, p. 52), de modo que, neste cenário, os conflitos e disputas pela
representação do conhecimento científico legítimo eram instaurados.
Assim sendo, além do conflito estabelecido entre os deputados federais ligados a
diferentes grupos, não se pode perder de vista os conflitos travados entre órgãos e instituições
de pesquisas que, ou foram instados a se manifestar no debate, ou tiveram suas reflexões
incorporadas pelos parlamentares para fundamentar as teses de seu respectivo grupo e
funcionaram, também, como empreendedores da política ambiental.
208
Considerando que foge aos objetivos deste trabalho realizar um estudo aprofundado
sobre o papel da ciência no processo de discussão e aprovação da Lei 12.651/2012101
e diante
do universo de pesquisas que poderiam ser selecionadas para este fim, escolhemos alguns
estudos representativos, que serão resumidamente apresentados com o intuito de perceber
como esse processo de construção acerca do conhecimento legítimo é realizado.
Utilizamos como critério de seleção, além da menção, pelos parlamentares, destes
estudos nos discursos taquigrafados na Câmara dos Deputados para sustentar seus
posicionamentos, as conclusões a que chegaram os pesquisadores.
Também realizamos uma classificação das pesquisas apresentadas – ainda que
saibamos dos limites de tal tipologia – com o objetivo de melhor sistematizarmos os
resultados e efeitos das mesmas. Assim, dentre as diferentes combinações e classificações
possíveis, realizamos a seguinte classificação abaixo, reunindo as pesquisas e estudos nos
seguintes grupos:
i) Pesquisas e estudos que defendiam modificações na legislação ambiental
com o objetivo de torná-la mais rigorosa do ponto de vista da proteção dos
recursos naturais e conciliável com as atividades agrícolas;
ii) Pesquisas e estudos que questionavam as modificações na legislação
ambiental à partir da necessidade de expansão da agricultura no país
discutiam a disponibilidade de áreas para a atividade;
iii) Pesquisas e estudos que defendiam a adoção de mecanismos mais rigorosos
de controle, com indicações implícitas de impedir a competição do Brasil no
mercado internacional.
No primeiro grupo, consideramos os resultados de pesquisas desenvolvidas pelo
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) (2014) e pela Sociedade Brasileira para
o Progresso da Ciência (SBPC) e Academia Brasileira de Ciências (ABC) (2012).
Relativamente à SBPC e à ABC, cumpre destacar que estas duas instituições
científicas nacionais tiveram grande destaque ao se pronunciaram publicamente sobre as
modificações na legislação, participando de inúmeras reuniões, audiências públicas e debates
e publicizando os resultados a que chegaram.
Justificamos a inclusão do IPAM neste grupo, pois, apesar de ter divulgado os
resultados de suas pesquisas sobre o Código Florestal apenas em 2014 – logo, em momento
101
Com este enfoque, consultar trabalho de dissertação ―Ciência ou senso comum? O uso do conhecimento
científico no discurso político da revisão do Código Florestal Brasileiro‖ (AGLIO, 2012).
209
posterior votação da Lei nº 12.651/2012 – consideramos que a atuação desta instituição
durante os debates foi bem demarcada e também que a sistematização realizada auxilia na
compreensão da necessidade de ampliação da proteção ambiental pela legislação nacional.
No segundo grupo, consideramos duas pesquisas que discutiram as modificações na
legislação ambiental tendo como parâmetro existência de áreas disponíveis para a agricultura
mas que, a despeito do mesmo objeto, chegaram a resultados opostos. Tratam-se dos estudos
realizado pela Empresa Brasileira Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
(MIRANDA et al., 2008), sobre o alcance da legislação ambiental e territorial, e do estudo
desenvolvido por uma equipe de pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq / USP) sobre a revisão do Código Florestal
Brasileiro (SPAROVEK et al, 2011).
Por fim, no terceiro grupo, trata-se de um estudo bastante citado pelos parlamentares
ruralistas para justificar as teorias de conspiração internacional e os ―verdadeiros‖ interesses
dos ambientalistas. Publicado nos Estados Unidos com o título ―Farm here, forest there‖
(FRIEDMAN, GARDINER, 2010) e elaborado com o apoio das instituições National
Farmers Union (NFU) e do Avoided Deforestation Partners (ADP), esta pesquisa defendia a
proteção ambiental com vistas a estagnar o crescimento econômico de países competitivos na
produção de soja, madeira e carne bovina, entre os quais o Brasil.
Tais estudos serão brevemente analisados neste capítulo, haja vista que, conforme
demonstraremos em capítulo posterior, foram acionados pelos parlamentares como forma de
legitimar seus discursos em plenário. Conforme já destacamos, há, por parte destes deputados,
um processo de escolha e nomeação de porta-vozes científicos legitimados para reforçar seus
próprios discursos políticos de modo que é importante delinear, em linhas gerais, o que
demostram tais estudos.
Ao mesmo tempo, pretende-se perceber como são instituídos discursos científicos que,
a despeito de se pretenderem neutros, são usados e instrumentalizam diversas visões de
mundo social e se colocam, intencionalmente ou não, a serviço da defesa de determinadas
visões sobre a relação entre meio ambiente e produção agrícola e pecuária.
Deve-se ainda ressaltar, conforme já fora analisado em capítulos anteriores, que a
questão ambiental, especificamente no que se refere a alteração da legislação florestal, não
surgiu recentemente. Neste sentido, é preciso identificar alguns aspectos que incentivaram a
transformação de alguns problemas ambientais antigos em algo recente.
210
Conforme Hannigan existem alguns ―propulsores‖ - que transforma um problema de
longa data em um argumento científico atual – a serem considerados, dentre eles: a crise de
proporções entre a magnitude real ou percebida de uma condição; as novas metodologias e
instrumentos de pesquisa e de banco de dados, permitindo aos cientistas chegarem a
conclusões antes impossíveis; o caráter holístico do ecossistema global, que, de acordo com o
autor ―significa que o aumento do interesse público e cientifico num problema ambiental
prontamente gera interesse em outro problema inter-relacionado‖ e, por fim, ―o
estabelecimento de programas oficiais de pesquisa, centros e redes podem criar uma estufa
onde a pesquisa de um problema ambiental pode ser bem nutrida‖ (HANNIGAN, 2009, p.
148).
Deve-se destacar, portanto, a existência de toda uma rede que identifica, caracteriza e
classifica as ―ameaças‖ ambientais, processo no qual as instituições de pesquisa internacional
e a realização de conferencias e de colaborações acadêmicas exerce uma grande importância
no processo de ―anunciar novos problemas para o mundo‖ (HANNIGAN, 2009, p. 149).
4.1 Instituições de pesquisa brasileiras e contribuições para o debate
A atuação de instituições de pesquisa brasileiras exerceu um importante papel nos
debates sobre a revisão do Código Florestal. Buscando reforçar sua legitimidade enquanto
produtoras de conhecimento científico e reivindicando participação no debate sobre a
alteração da legislação florestal – embora tal legitimidade não seja inconteste e nem unânime,
como será apresentada posteriormente – essas instituições expuseram suas teses sobre a
preservação ambiental e sobre a produção agrícola também.
O discurso apresentado por estas instituições, dentre as quais destacamos a SBPC e
ABC, além do IPAM, embasava-se no conhecimento advindo, sobretudo, das áreas biológicas
e exatas, e contava com a colaboração de diversos pesquisadores de instituições nacionais que
se dispuseram a contribuir com o debate sobre o processo de alteração da legislação florestal.
A contribuição dessas instituições, de modo geral, visava apresentar críticas a algumas
conclusões constantes no substitutivo da lei florestal do deputado Aldo Rebelo (Projeto de Lei
nº 1.876/1999), bem como apresentar propostas de aperfeiçoamento da legislação, tendo
como parâmetro a possibilidade de conciliação da preservação/conservação ambiental com a
realização de atividades agrícola e pecuária.
211
Inicialmente, cumpre ressaltar os resultados dos estudos realizados pelo Instituto de
Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM. Uma constatação inicial feita pelos pesquisadores
é de que o debate científico no processo de alteração da legislação florestal fora suplantado
pelo debate político.
Assim, no estudo intitulado ―Código Florestal: por um estudo pautado na ciência‖
(2014), coordenado por André Lima, e tendo como pesquisadoras Nurit Bensusan102
e Lian
Russ, além da publicização da constatação de supressão do caráter científico nos debates, é
estabelecido um panorama do estado da arte no tema, bem como são apontadas lacunas
relevantes103
a serem exploradas por pesquisas posteriores.
Do ponto de vista das ciências naturais, o estudo do IPAM conclui, a partir de um
levantamento bibliográfico em diversos portais de artigos e sites de universidades e
instituições de pesquisa, que:
1. As faixas de ripárias (matas ciliares), protegidas como áreas de
preservação permanentes (APP), devem ser mais largas do que a legislação
atual prevê; e 2. As reservas legais são muito importantes como parte de uma
estratégia mais ampla de conservação da biodiversidade e de restauração
florestal em paisagens fragmentadas, críticas ou prioritárias (LIMA et al.,
2014, p. 04).
Prossegue sugerindo algumas recomendações gerais, que, segundo afirmam os
pesquisadores, podem fazer uma diferença significativa na manutenção da cobertura da
vegetação e no que ela deriva, a despeito da diminuição desta proteção perpetrada pelo atual
código. Neste sentido, destacam: i) a necessidade de planejar o uso da terra; ii) a necessidade
de criar ou reforçar mecanismos que possibilitam uma aproximação entre conhecimento
científico e tomada de decisão administrativa e política; iii) a necessidade de aproximar a
sociedade dos resultados da pesquisa (LIMA et al., 2014, p. 48).
Afirmando que os espaços para a aprovação do atual Código Florestal ―revela um
descaso com a própria ciência feita no Brasil‖ (LIMA et al. 2014, p. 10), a pesquisa do IPAM
destaca que resta comprovado que as mudanças na legislação não foram embasadas na falta
102
Conforme informações constantes na plataforma lattes do Cnpq, Nurit Bensusan possui graduação em
biologia pela Universidade de Brasília (1986), pós-graduação em história, sociologia e filosofia da ciência, na
Universidade Hebraica de Jerusalém (1988), graduação em engenharia florestal pela Universidade de Brasília
(1993), mestrado em ecologia pela Universidade de Brasília (1997) e doutorado em educação (2012), na mesma
universidade. Já os demais pesquisadores não possuem seus dados disponibilizados na respectiva plataformas. 103
Conforme destaca o estudo, ―a maior das lacunas das pesquisas que são usadas para dar base científica às
regras de conservação de vegetação no Código Florestal está ligada à escala dos estudos desenvolvidos, tanto
espacial quanto temporal. Diante das limitações do fomento à pesquisa no país, não há muitos estudos de longo
prazo que possam gerar dados mostrando os impactos da destruição da cobertura vegetal sobre os vários aspectos
– água, solos, biodiversidade – nem mesmo no médio prazo‖ (LIMA et al., 2014, p. 42).
212
de argumentos técnicos ou científicos para a manutenção do Código Florestal de 1965, mas
sim, em razões políticas e ideológicas. Segundo o estudo:
É sabido que o que motivou as alterações mais recentes, promovidas até aqui
por iniciativas de representantes de setores da economia rural, não foram
justificativas de ordem científica relacionadas à necessidade ou não de mais
ou menos conservação ambiental ou ecossistêmica. Foram alterações em
padrões de uso e de conservação do solo e da vegetação nativa pautadas por
uma racionalidade essencialmente econômica e ideológica, em reação às
ações legais dos órgãos ambientais que passaram a exigir o cumprimento da
lei (LIMA et al., 2014, p. 51).
Sobre essas justificativas políticas e as polêmicas envolvidas no debate de aprovação
da legislação ambiental, compete recuperar, tanto os resultados aos quais chegaram as
pesquisas realizadas por um grupo de trabalho coordenado pela Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência e Academia Brasileira de Ciências104
, quanto as contestações políticas
feitas a estes resultados.
De início, cumpre destacar que estas duas instituições foram as que mais participaram
e se expressaram durante os debates, tomando parte em reuniões das comissões parlamentares
e divulgando notas em veículos da mídia, por meio de ofício e recomendações, além da
produção de relatórios e estudos técnicos (AGLIO, 2012).
Com vistas a contribuir com o debate sobre as então possíveis alterações do Código
Florestal, as duas entidades declaram que a participação no debate e a elaboração do
respectivo documento deveu-se a uma demanda da sociedade, em particular da comunidade
científica, de fornecimento de dados e argumento técnicos para subsidiar as discussões em
torno da mudança na legislação florestal. Nesse sentido, é afirmado que:
Tanto a legislação original como todas as alterações subsequentes levaram
em consideração os conhecimentos científicos até então disponíveis. No
momento em que se reabre o diálogo acerca da matéria, a comunidade
científica, amparada pela legitimidade de suas mais abrangentes e
representativas associações, solicita que o Congresso Nacional continue a
considerar os avanços científicos e do desenvolvimento tecnológico para o
diálogo sobre a legislação florestal brasileira (SBPC, 2011, p. 04).
Relativamente à metodologia adotada no estudo realizado pela SBPC/ABC, cumpre
destacar que o mesmo foi organizado por um grupo de trabalho constituído por representantes
104
Conforme consta na apresentação do respectivo documento, ―a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), fundadas, respectivamente, em 1916 e 1948, são
entidades representativas da comunidade científica do País, isentas de viés político-partidário e sem fins
lucrativos‖ (SBPC, 2011, p. 04).
213
de diferentes universidades e instituições de pesquisa105
com vistas a levantar informações e
discutir as propostas de alteração do Código Florestal.
Os pesquisadores que o compuseram foram, em sua maioria provenientes das ciências
naturais e exatas106
em detrimento de pesquisadores das áreas de ciências humanas e sociais
(exceção feitas à antropóloga Maria Manuela Ligeti Carneiro da Cunha e ao economista Peter
Herman May).
Dentre os principais pontos levantados pelos pesquisadores que elaboraram este
documento, merece destaque, em resumo:
a) observação quanto à necessidade de planejar o uso adequado da terra de modo a
permitir tanto a preservação e conservação de recursos naturais quanto à capacidade de
sustentação das atividades econômicas;
105
São listadas como instituições que participaram da elaboração do referido documento: Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA); Instituto Butantan; Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE);
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA); Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA); Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG); Ministério do Meio Ambiente
(MMA); Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA); Confederação Nacional dos
Trabalhadores da Agricultura (CONTAG); Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais (SBEF); Sociedade
Brasileira de Silvicultura (SBS); Associação Brasileira de Florestas (ABRAFLOR); Rede Brasileira
Agroflorestal (REBRAF) e as universidades: UNICAMP, UFRJ, UFRPE, UFV e USP (ESALQ) (SBPC, 2011,
p. 06). 106
Conforme consta, compuseram o grupo de trabalho que organizou o documento os pequisadores: Antonio
Donato Nobre (INPA/INPE) – Engenheiro Agrônomo (ESALQ USP), Mestre em Ecologia Tropical (INPA UA),
PhD em Ciências da Terra (UNH – USA); Carlos Alfredo Joly (UNICAMP – BIOTA) – Graduação em Ciências
Biológicas (USP), Mestre em Biologia Vegetal (UNICAMP), PhD em Eco!siologia Vegetal pelo Botany
Department - University of Saint Andrews, Escócia/GB, Post-Doctor (Universität Bern, Suíça); Carlos Afonso
Nobre (INPE – MCT) – Engenheiro Elétrico (ITA), PhD em Meteorologia (MIT-USA), Post-Doctor (University
of Maryland - USA); Celso Vainer Manzatto (EMBRAPA – Meio Ambiente) – Engenheiro Agrônomo (UFRJ),
Mestre em Ciência do Solo (UFRJ), Doutorado em Produção Vegetal (Universidade Estadual do Norte
Fluminense); Elibio Leopoldo Rech Filho (EMBRAPA – Recursos Genéticos e Biotecnologia) – Engenheiro
Agrônomo (UnB), Mestre (MSc.) em Fitopatologia (UnB), PhD. em Life Sciences (University of Nottingham,
Inglaterra), Post-Doctor em manipulação de cromossomos artificiais de levedura (YAC s) (University of
Nottingham/Oxford, Inglaterra); José Antônio Aleixo da Silva (UFRPE – SBPC) – Engenheiro Agrônomo
(UFRPE), Mestre em Ciências Florestais (UFV-MG), PhD e Post-Doctor em Biometria e Manejo Florestal
(University of Georgia- -USA) – Coordenador do GT; Ladislau Araújo Skorupa (EMBRAPA - Meio Ambiente)
– Engenheiro Florestal (UnB), Doutor em Ciências Biológicas (Botânica) (USP); Maria Manuela Ligeti Carneiro
da Cunha (University of Chicago) – Graduação em Matemática Pura, Faculté Des Sciences, França, Doutorado
em Ciências Sociais (UNICAMP), Post-Doctor (Cambridge University, École des Hautes Études en Sciences
Sociales, Collège de France), Livre Docente (USP); Peter Herman May (UFRRJ e sociedade ECOECO) –
Graduado em Ecologia Humana pela The Evergreen State College, Mestre em Planejamento Urbano e Regional
e PhD em Economia dos Recursos Naturais, Cornell University; Ricardo Ribeiro Rodrigues (ESALQ/USP) –
Graduação em Ciências Biológicas (UNICAMP), Mestre em Biologia Vegetal (UNICAMP), Doutor em
Biologia Vegetal (UNICAMP); Sérgio Ahrens (EMBRAPA Florestas) – Engenheiro Florestal (UFPR),
Graduado em Direito (PUC- -PR), Especialização em Management of Forests and Wood Industries pela Swedish
University of Agricultural Sciences, Mestre em Recursos Florestais (Oklahoma State University–USA), Doutor
em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná; Tatiana Deane de Abreu Sá (EMBRAPA –
Diretoria executiva) – Graduada em Agronomia (Escola de Agronomia da Amazônia), Mestre em Soil Science
and Biometeorology (Utah State University), Doutorado em Biologia Vegetal (Ecofisiologia Vegetal)
(UNICAMP) (SBPC, 2011, p. 07).
214
b) menção ao fato do Brasil abrigar a maior biodiversidade biológica no mundo, com
pelo menos 20% das espécies do planeta existentes em território nacional;
c) reafirmação da importância da manutenção e proteção das áreas de preservação
permanente, haja visto o consenso existente entre os pesquisadores de que as áreas
marginais a corpos d‘àgua e os topos de morros ―são áreas insubstituíveis em razão da
biodiversidade e de seu alto grau de especialização e endemismo, além dos serviços
ecossistêmicos essenciais que desempenham‖ (SBPC, 2001, p. 12) e que a diminuição
destas áreas representaria uma grande perda para áreas sensíveis;
d) reafirmação da importância das reserva legal, alertando para o fato de que sua
diminuição comprometeria a continuidade física da floresta, aumentaria o risco de
extinção de espécies, além de acarretar prováveis alterações climáticas;
e) menção à necessidade de restauração dessas áreas com espécies nativas, ―pois o uso
de espécies exóticas compromete sua função de conservação da biodiversidade e não
assegura a restauração de suas funções ecológicas e dos serviços ecossistêmicos‖
(SBPC, 2011, p. 13);
f) contestação da visão errônea de que a manutenção das áreas naturais como APPs e
RLs na propriedade seria um custo adicional e de nenhum retorno para o produtor,
pois essas áreas possibilitam retorno econômico nos sistemas agropecuários ―tendo em
vista sua influência direta na produção e conservação da água, da biodiversidade e do
solo, na manutenção de abrigo para agentes polinizadores, dispersores de sementes e
inimigos naturais de pragas, entre outros‖ (SBPC, 2011, p. 14)
g) constatação de que, em ambientes urbanos, as principais causas de desastres
naturais decorrem da ocupação de várzeas e planícies de inundação natural dos cursos
d‘àgua, de modo que o Código Florestal deveria definir princípios diferenciados para
áreas urbanas sem ocupação consolidada.
Cumpre ainda ressaltar que este estudo insiste na afirmação de que é possível
estimular o aumento da produção e da produtividade agrícola em consonância com a
sustentabilidade do meio ambiente. Para tanto, os pesquisadores explanam que há grande
predominância de terras aptas para lavouras haja vista que o país dispõe de,
aproximadamente, 65% do seu território (5.552.673 km2) em terras com potencial para o uso
agropecuário (SBPC, 2011, p. 21).
215
Destaca ainda tal estudo que são os níveis de manejo – ou seja, baixa utilização de
tecnologias e não a ausência ou limitação de áreas disponíveis – que interferem na definição
do potencial de terras aptas para esse fim e não há ausência de terras.
As reflexões contidas no documento indicam ainda que os avanços científicos e
tecnológicos alcançados pela pesquisa agropecuária nas últimas décadas podem propiciar
aumentos expressivos nos índices de produção e produtividade agrícola. Conforme afirmam
os pesquisadores, é uma questão de escolha optar pela atividade agropecuária nos moldes
tradicionais – que gera uma perda potencial de solo e água – ou planejar o uso da terra e o
manejo do solo com vistas a minimizar as perdas ambientais, sem necessidade de supressão
de APPs e RLs (SBPC, 2011, p. 41).
Ainda a respeito da manutenção de vegetação nas áreas de preservação permanente e
de reserva legal, os pesquisadores que elaboraram o documento afirmam que esta é uma
discussão que transcende a questão puramente ambientalista e ecológica, ―vislumbrando-se,
além do seu potencial econômico, a sustentabilidade da atividade agropecuária‖ (SBPC, 2011,
p. 53).
De modo geral, e fazendo uma reflexão acerca das principais recomendações
constantes no estudo realizado, percebe-se que o discurso das instituições científicas que
integraram o grupo de trabalho organizado pela SBPC e ABC pretendia conciliar os diferentes
interesses em jogo. Assim, ao mesmo tempo em que o estudo levava à necessidade de
ampliação da proteção ao meio ambiente, reconhecia a importância da agricultura na
economia brasileira, insistindo na possibilidade de compatibilidade da produção e
conservação.
Embora destaquem algumas críticas ao substitutivo e as alterações propostas no
Projeto de Lei nº 1.876/1999, os pesquisadores consideram a possibilidade de ―chegar a
decisões pautadas por recomendações com base científica e que sejam consensuais entre
produtores rurais, legisladores e a sociedade civil‖ (SBPC, 2011, p. 16). Nesse sentido, como
contribuições para o aperfeiçoamento da legislação, afirmam que:
Grandes avanços podem ser introduzidos no marco legal adotando-se um
processo de construção solidária das atividades produtivas da ocupação e uso
dos espaços, para a sua adequação à legislação ambiental, inclusive com
medidas de estímulos e incentivos. Esse aprimoramento permitirá a
superação de percepções ultrapassadas – como o infundado conflito entre
produção agrícola e conservação dos recursos naturais – na construção de
novos conceitos colaborativos entre todas as atividades humanas que gerem
em sua sinergia paisagens produtivas e sustentáveis. A revisão da lei deve
também incorporar a evolução socioeconômica, sempre fundamentada no
diálogo, na ciência e na equidade (SBPC, 2011, p. 75).
216
Após a apresentação deste estudo, algumas polêmicas surgiram e foram levantadas,
sobretudo por setores ligados aos empreendimentos agropecuários – representados pelos
parlamentares ruralistas – que o contestaram publicamente, fazendo uso dos meios de
comunicação para tanto.
Algumas críticas foram apresentadas ao estudo pelo fato de, supostamente, os
pesquisadores que tomaram parte no referido grupo de trabalho terem sido financiados por
ONGs internacionais – em especial a WWF e o Greenpeace – além de terem se recusado a
participar de reuniões e audiências convocadas pelos grupos vinculados ao setor ruralista.
Diante dessas acusações e utilizando-se de uma Carta Aberta, a SBPC e a ABC, por
intermédio de seus respectivos presidentes, Helena B. Nader e Jacob Palis, juntamente com o
coordenador do GT José A. Aleixo da Silva, rebateram às críticas e, por seu turno, também
fizeram acusações ao relator do Projeto de Lei, deputado Aldo Rebelo.
Conforme consta na Carta Aberta, datada de 01 de julho de 2011:
É com profundo sentimento de consternação que a Sociedade Brasileira para
o Progresso da Ciência (SBPC), com o apoio solidário da Academia
Brasileira de Ciências (ABC), rebate as acusações veiculadas pela imprensa,
e atribuídas ao deputado federal Aldo Rebelo, de que parte dos
pesquisadores da SBPC foi financiada pelo que chamou de 'lobby
ambientalista formado por organizações como Greenpeace e WWF' para
elaborar sua colaboração técnica-científica ao debate sobre a revisão do
Código Florestal107
.
Nesta carta aberta os presidentes das entidades prosseguem explicando que a SBPC e a
ABC são entidades civis que não possuem vínculo com quaisquer instituições governamentais
ou não governamentais, motivo pelo qual, quando da composição do grupo de trabalho
destinado a analisar o substitutivo proposto, foi decidido que nenhuma ONG, nacional e,
sobretudo, internacional, comporia o mesmo.
Ainda segundo a carta aberta, diante do trabalho técnico-científico proposto, deveriam
tomar parte pesquisadores de ―competência indiscutível‖ e vinculados a instituições nacionais
de ensino e ou pesquisa, o que afirmam ter sido feito.
Referindo-se às despesas e custos da pesquisa realizada, consta na carta aberta que a
participação nas reuniões de integrantes do grupo de trabalho foi custeada pela própria SBPC
107
Comunicado da SBPC e ABC, disponível no site da ACB: http://www.abc.org.br/article. Acesso em 06 de
fevereiro de 2012.
217
e pelas instituições às quais os pesquisadores estão vinculados108
, excluindo-se, portanto,
qualquer possibilidade de financiamento internacional para a elaboração do documento.
Com relação a notícias atribuídas, pela imprensa, a parlamentares vinculados à frente
parlamentar da agropecuária e da bancada ruralista, os presidentes das entidades SBPC e ABC
expuseram, como defesa, que: é inverídica a publicação de que que a "SBPC e ABC iriam
brigar para aprovação do substitutivo", conforme constava no site ―Vermelho‖ do deputado
Aldo Rebelo; e que era falsa a acusação noticiada nos meios de comunicação de que os
pesquisadores integrantes do grupo de trabalho se negaram a participar de um encontro da
bancada ruralista.
Sobre esta última acusação, é exposto na carta que quando do convite recebido pela
Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos
Deputados para audiência pública a se realizar no dia 23/11/2010, o relatório ainda se
encontrava em fase de conclusão no GT, motivo pelo qual os pesquisadores se abstinham de
comparecer na audiência pública.
Ainda expõe que o primeiro convite recebido pelo GT após a conclusão interna do
estudo foi por parte de deputados vinculados a bancada ambientalista, marcada para o dia 23
de fevereiro de 2012, e que só participariam da mesma caso os deputados da bancada ruralista
também fossem convidados, o que, de acordo com a carta aberta, também ocorreu.
Prosseguem os esclarecimentos nos seguintes termos:
Como prova da isenção política da SBPC e da ABC, no dia 25 de abril,
quando ocorreu em Brasília o lançamento do livro "O código florestal e a
ciência: contribuições para o diálogo" a presidente da SBPC e membro da
ABC professora Helena Nader, acompanhada de membros do GT, entregou
exemplares do livro ao deputado Marco Maia, presidente da Câmara dos
Deputados. Em seguida, foram ao gabinete do deputado Aldo Rebelo lhe
entregar o livro e expor as conclusões do GT, em ambiente de total
cordialidade109
.
Assim sendo, ao afirmarem que ―todos os congressistas receberam exemplares do
livro‖ buscam, assim, legitimarem-se – a SBPC e a ABC – como instituição preocupada com
a conciliação de interesses divergentes, a despeito de ter sido envolvida em notícias que
afirmavam a parcialidade do estudo realizado. Sobre este aspecto, reafirmam que:
Nessas audiências, salientou-se o senso comum de que o aporte científico e
tecnológico constitui o melhor fundamento para garantir a sustentabilidade
108
Comunicado da SBPC e ABC, disponível no site da ACB: http://www.abc.org.br/article. Acesso em 06 de
fevereiro de 2012. 109
Comunicado da SBPC e ABC, disponível no site da ACB: http://www.abc.org.br/article. Acesso em 06 de
fevereiro de 2012.
218
econômica, social e ambiental do país. As contribuições propostas pela
ciência brasileira ao diálogo sobre o Código Florestal acompanham a
racionalidade da tendência mundial baseada na sinergia entre produção
agropecuária sustentável e serviços ambientais dos ecossistemas, valorizados
economicamente110
.
Na Carta Aberta destaca-se que melhor seria que, antes de envolverem-se em
polêmicas e divergências de posições, se os argumentos substanciais colocados pela ciência
no debate em pauta fossem examinados e analisados.
Por fim, direcionando-se aos parlamentares que problematizaram os resultados da
pesquisa, em especial ao deputado Aldo Rebelo, a carta aberta consta que a discussão sobre os
resultados da pesquisa é o ―que interessa à Nação e é o que se espera de um legislador
independente, consciente e responsável, que represente os legítimos interesses da
sociedade‖111.
Percebe-se, portanto, diante das acusações e das justificativas apresentadas, que havia
uma grande desconfiança para com a pesquisa e os resultados apresentados pela SBPC e
ABC, desconfiança esta advinda, sobretudo, de setores ligados ao ruralismo. Ao mesmo
tempo percebe-se que, por parte dos presidentes das entidades que assinaram a carta aberta,
existe uma necessidade de reafirmar e reforçar a imparcialidade na obtenção dos dados, na
elaboração da pesquisa e na divulgação de seus resultados.
4.2 Disponibilidade de terras para a agricultura: estudos e pesquisas nacionais sobre
meio ambiente e produção agrícola
Considerando as tentativas de deslegitimação do setor ruralista ao estudo realizado
pelo GT organizado pelas SBPC e ABC, cumpre mencionar um estudo legitimado e
largamente utilizado pelos parlamentares da frente parlamentar da agropecuária e da bancada
ruralista nos debates.
Trata-se de uma pesquisa realizada por pesquisadores vinculados ao núcleo de
monitoramento por satélite da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária112
e intitulado ―O
110
Comunicado da SBPC e ABC, disponível no site da ACB: http://www.abc.org.br/article. Acesso em 06 de
fevereiro de 2012. 111
Comunicado da SBPC e ABC, disponível no site da ACB:
http://www.abc.org.br/article.php3?id_article=1203. Acesso em 06 de fevereiro de 2012. 112
Conforme informações obtidas junto ao site da Embrapa, combinada com dados disponibilizados na
plataforma lattes do CNPq, o estudo foi coordenado por Evaristo Eduardo de Miranda (agrônomo, mestrado e
219
alcance da Legislação Ambiental e Territorial‖ (MIRANDA et al., 2008), iniciado em 2007 e
publicado em 2008.
Conforme expõe os pesquisadores deste Núcleo de Monitoramento, esta pesquisa
surgiu das demandas de diversas instâncias da Presidência da República e do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que solicitaram à Embrapa Monitoramento por
Satélite uma primeira avaliação do alcance territorial113
da legislação ambiental e indigenista
e da disponibilidade efetiva de terras para a agricultura.
Com o objetivo de cartografar e/ou estimar o alcance territorial da legislação
ambiental e indigenista do Brasil – por bioma e por estado – com vistas a apoiar as políticas e
ampliar a governança territorial, os pesquisadores tentaram responder aos seguintes
questionamentos, apresentados logo no início da pesquisa: ―Qual o alcance territorial da
legislação ambiental e indigenista? Quanta terra está legalmente disponível para a atividade
agrícola no Brasil?‖ (MIRANDA et al., 2008).
Relativamente ao alcance territorial das áreas protegidas pela legislação ambiental e
indigenistas, os dados da pesquisa apontam que estas áreas representam ―de forma
inequívoca 27% da superfície do país, restando 73% sobre os quais incidem outros
dispositivos da legislação ambiental (MIRANDA et al., 2008).
No que se refere ao alcance territorial do dispositivo reserva legal o estudo apresentou
que ―as áreas de preservação ambiental destinadas à reserva legal representam um valor
superior ao total das áreas protegidas e juntas, totalizam 4.979.884 km2 ou 58,48%. Ou seja,
doutorado em ecologia pela Universidade de Montpellier - França) e contava na esquipe com os pesquisadores
Carlos Alberto de Carvalho (graduado em Informática pela Universidade Federal de Juiz de Fora - 1997,
especialização em Gestão da Informação no Agronegócio pela Universidade Federal de Juiz de Fora - 2001,
mestrado em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Campinas - Unicamp 2011); Cláudio
Aparecido Spadotto (graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho - UNESP - 1984, mestrado em Agronomia pela mesma Universidade - 1990 e doutorado em Soil
and Water Science - University of Florida - 1999), Marcos Cicarini Hott (graduação em Engenharia Florestal -
1997 e mestrado em Ciência Florestal - 2000 pela Universidade Federal de Viçosa); Osvaldo Tadatomo Oshiro
(graduação em Ciência Computação pela Universidade de São Paulo – 1987 e em Engenharia de Materiais pela
Universidade Federal de São Carlos - 1990, mestrado em Engenharia Mecânica pela Universidade de São Paulo -
1993 e doutorado em Engenharia Mecânica pela Universidade de São Paulo - 1998) e Wilson Anderson Holler
(graduação em Engenharia Cartográfica na Universidade Federal do Paraná e graduação sanduíche: Karlsruhe
Universität - Alemanha em 2006). 113
De acordo com os pesquisadores, o conceito de ―alcance territorial‖ decorre da percepção de que ―existe um
alcance territorial efetivo dos determinismos legais e que este deve ser mapeado, calculado, medido ou estimado.
Essa quantificação, mesmo se imperfeita e passível de aprimoramentos, é fundamental para detectar situações
absurdas, para identificar desequilíbrios setoriais nas políticas territoriais e para favorecer um ordenamento das
terras mais efetivo. Hoje existe uma consciência de que não é correto legislar-se na matéria sem conhecer o
efetivo alcance territorial dos dispositivos propostos em si e em relação a outros já existentes e que incidem
sobre o mesmo território‖ (MIRANDA et al., 2008, s/p).
220
as áreas protegidas mais o dispositivo da reserva legal representam quase 5.000.000 km2 e
bem mais da metade (58%) do território nacional‖ (MIRANDA et al., 2008).
Tabela 02 – Alcance Territorial das Unidades de Conservação, Terras Indígenas e Reserva Legal
KM2 %
UCs + Tis 2.294.343 26,95
Reserva Legal 2.685.542 31,54
Total 4.979.885 58,49
Disponível 3.534.992 41,51
Fonte: MIRANDA et al., 2008
Por fim, relativamente ao mapeamento e cálculo das áreas de preservação permanente
(APPs), o estudo revelou que ―em termos de resultado líquido, foram estimadas em 1.448.535
km2, cerca de 17% do território nacional, as áreas de APPs fora de UCs, TIs e eliminadas as
superposições‖ (MIRANDA et al., 2008). Os pesquisadores ressaltam que tais dados foram
subestimados haja vista que diversas categorias de cálculo de APPs não foram passíveis de
cálculo neste estudo, merecendo considerações e estudos complementares posteriores.
De modo geral, e a título de considerações finais, o estudo realizado pela Embrapa
(2008) conclui que:
Os primeiros resultados indicaram que, em termos legais, aproximadamente
70% do território está legalmente destinado a minorias, a proteção e
preservação ambiental ou indisponível para um uso e ocupação intensivos
dada a existência de outros mecanismos, restrições e condicionamentos
ambientais (planos diretores, conselhos, planos de manejo, comitês gestores
etc). Como na realidade, mais de 50% do território nacional já está ocupado,
configura-se um divórcio entre a legitimidade e a legalidade do uso das
terras e muitos conflitos (MIRANDA et al., 2008).
Aponta ainda que os problemas de ordenamento territorial e uso legal das terras no
Brasil é resultado de um processo de destinação legal de áreas à proteção ambiental e ao uso
exclusivo de algumas populações, em detrimento de promoção das atividades agrícolas
intensivas nessas áreas. Por fim, destaca a necessidade de buscar soluções negociadas para se
alcançar o ―desenvolvimento sustentável‖, haja vista que:
A prosseguir o quadro atual de ilegalidade, de insegurança para as atividades
produtivas, a falta de ordenamento territorial e o confronto entre exigências
ambientais e a legitimidade de demandas sociais e econômicas, todos
perdem. Perde-se também, sobretudo, a perspectiva de qualquer tipo de
desenvolvimento sustentável (MIRANDA et al., 2008).
221
Esta pesquisa, sobretudo diante das suas conclusões de que não há terras disponíveis
para as atividades agrícolas e pecuárias no Brasil, foi bastante utilizada pelos ruralistas, que
fizeram coro à necessidade de modificações na legislação, bem como descartaram a
possibilidade de aumentar a proteção dos recursos naturais.
Com base nos dados apresentados por este núcleo da Embrapa, portanto, chegou-se a
conclusão de que, do ponto de vista da legislação, a maior parte das terras encontravam-se
indisponíveis, pois, ou estavam nas mãos de minorias étnicas ou destinadas a serem unidades
de conservação e áreas protegidas. Colocavam, ainda, em cheque a possibilidade de
crescimento do país devido a esta situação fundiária que levavria as atividades para uma
situação de ilegalidade e/ou de insegurança.
Conforme Girandi e Fanzeres (2010), em reportagem ―O Código Florestal ao arrepio
da ciência‖, publicada na Revista Unesp Ciência, quando questionaram o deputado Aldo
Rebelo, relator do projeto de lei de alteração do Código Florestal, sobre quais estudos teriam
fundamentado as mudanças no Código Florestal, o deputado deu destaque a este estudo
realizado pela Embrapa. Conforme respondeu o deputado à reportagem:
―Nos baseamos em estudos dos consultores da Câmara dos Deputados,
engenheiros florestais, biólogos, e outros especialistas que ajudaram
inclusive na redação da proposta‖ disse. Promovemos audiência no país
inteiro, todos que quiseram se manifestar o fizeram. Agora, não deu para
ouvir pessoalmente esse ou aquele pesquisador. Há muito pesquisadores‖.
Ele disse que ouviu ―especialmente a Embrapa‖ e que um dos pontos mais
polêmicos da proposta teria sido referendado pela área ambiental do
governo. ―A resolução de reduzirmos a mata ciliar nós córregos de 30 para
15 metros foi de acordo com o Ministério do Meio Ambiente‖ disse.
―Também nos baseamos em estudo de legislação comparada, já que não
existe reserva legal em nenhum país do mundo‖ (GIRANDI; FANZERES,
2010, p. 22).
Contudo, cumpre destacar que não se pode falar que esta pesquisa fora endossada por
todos os integrantes da Embrapa, pois, conforme consta no estudo realizado pelo GT da SBPC
e ABC, esta entidade também compõe o quadro de técnicos e pesquisadores e tais resultados
não são apresentados no estudo referido.
Segundo reportagem acima mencionada, este trabalho apresentado pelo núcleo de
monitoramento, além de ter sido criticado por outros pesquisadores, não foi endossado nem
mesmo pela Embrapa. Conforme afirmam Girandi e Fanzeres (2010, p. 23):
“Não há problema, no momento, de falta de terra para expansão da
agricultura e pecuária no Brasil”, afirma Celso Manzatto, chefe-geral da
Embrapa Meio Ambiente. “Mostramos nos últimos 20 anos que é possível
ganhar produtividade sem precisar incorporar novas terras. Não significa,
necessariamente, que vamos ter desmatamento zero. O que o país precisa, e
222
ainda não dispõe, é de políticas de ordenamento do território que apontem
claramente quais são as áreas a serem ocupadas para a produção
agropecuária no futuro.” Procurado pela reportagem, Miranda disse que
sustenta seus dados: ―Há um problema entre o uso efetivo da terra e o que
fala a lei”. Mas afirma que não chegou a ser ouvido na formulação do
substitutivo.
Assim, pode-se afirmar que o posicionamento da Embrapa Monitoramento não é
consensual nem mesmo dentro do instituto, embora tenha sido utilizado como discurso de
verdade pelos parlamentares da bancada ruralista.
Os parlamentares, portanto, assumiram esta tese apresentada pela Embrapa como
irrefutável, utilizando estes dados que, combinados com estudos de outros pesquisadores
internacionais – conforme se discutirá no item seguinte –, provavam a ameaça que o
desenvolvimento e a soberania nacional sofriam.
Cumpre ainda destacar que enquanto os dados do núcleo de monitoramento da
Embrapa – utilizados para fundamentar as teses defendidas pelos ruralistas – informavam que
o território brasileiro e os recursos naturais, do ponto de vista legal, estavam protegidos,
pesquisas desenvolvidas por outras instituições apontavam outros resultados.
Assim, a título de exemplo, mencione-se o estudo realizado por pesquisadores
vinculados a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – Esalq / USP e intitulado ―A
revisão do Código Florestal Brasileiro‖ (2011) que aponta para resultados que se opõem aos
apresentados pela Embrapa.
De autoria de Gerd Sparovek, Alberto Barretto, Israel Klug, Leonardo Papp e Jane
Lino114
, o estudo aponta a importância do Código Florestal para a conservação das
importantes reservas de áreas preservadas ainda existentes no Brasil, problematizando as
supostas restrições impostas pela legislação ambiental ao desenvolvimento.
Conforme consta no referido estudo, essas restrições são utilizadas pelo setor
agropecuário com frequência para justificar a necessidade de reformulação do Código
Florestal brasileiro, bem como para contestar a criação de unidades de conservação,
demarcação de terras indígenas e reconhecimento de territórios quilombolas.
Segundo o estudo, é possível analisar a questão por um prisma diferente, qual seja:
―verificar a possibilidade de as áreas já desmatadas e utilizadas para uso agropecuário
114
De acordo com informações constantes no próprio estudo, Gerd Sparovek é professor da Escola Superior de
Agricultura ―Luiz de Queiroz‖ (Esalq) USP; Alberto Barretto é doutorando da Esalq‑USP e produtor rural; Israel
Klug é agrônomo; Leonardo Papp é mestre em Direito Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina e
Jane Lino é mestranda da Esalq‑USP.
223
poderem, se utilizadas eficientemente em sua totalidade, atender ao desenvolvimento do
setor‖ (SPAROVEK et al., 2011, p. 119).
Os autores argumentam da possibilidade de aumentar as áreas de criação de gado,
mantendo baixos índices de utilização de floresta, ou seja, utilizando as áreas já desmatadas
mas que, em grande parte, são subutilizadas. Segundo os autores:
Evitando comparações com outras regiões como Estados Unidos e Europa
devido à natureza distinta das bases da produção, consideramos uma
projeção a partir do que pode ser feito no Brasil com a tecnologia disponível.
A lotação de 1,14 cabeças por hectare indica um uso muito extensivo da
terra. Mantendo a pecuária não integrada com a agricultura e pensando
apenas na adoção de poucos recursos tecnológicos, a lotação media poderia
facilmente atingir 1,5 cabeças por hectare, e o desfrute do rebanho, 30%. Se
considerarmos alternativas tecnológicas mais intensivas, como a correção do
solo, adubação na formação das pastagens, uso das forrageiras melhoradas,
manejo reprodutivo e sanitário eficientes, estes índices poderiam ser ainda
maiores. Com esses números, o mesmo abate de 40 milhões de cabeças
ocuparia apenas 89 Mha, ou seja, 69 Mha de pastagens deixariam de ser
necessários para alcançar a mesma produção (SPAROVEK et al., 2011, p.
119).
Além disso, conforme argumentam os autores, a liberação dessas áreas de pastagens
subutilizadas, em terras de pouca declividade, que ainda mantêm uma boa fertilidade e já
foram desmatadas – sobretudo no cerrado, principal região de expansão da fronteira agrícola –
possibilitaria duas grandes vantagens para o país: uma maior produtividade na pecuária de
corte e a expansão das lavouras. Conforme destacam:
Na teoria é simples: a pecuária de corte torna‑se mais produtiva (não muito,
não são necessários índices muito elevados) liberando um enorme estoque de
terras férteis, suficiente para dobrar a área atual de nossas lavouras. Melhor
para todos, passamos a ter uma pecuária moderna, eficiente, que no final das
contas vai colocar no mercado um produto de melhor qualidade e com uma
pegada ecológica muito menor no que diz respeito a desmatamento ou
emissão de gases de efeito estufa. Esta mudança abre um enorme espaço
para a expansão da área de soja e milho, atendendo crescentes demandas por
exportação, e da agroenergia baseada na cana. E, o mais importante, sem
derrubar uma arvore sequer! Toda a mudança ocorreria em áreas já
desmatadas, atualmente em uso agropecuário (SPAROVEK et al., 2011, p.
120).
Assim, a pesquisa realizada por Sparovek et al. (2011) busca apontar alternativas para
a necessidade de expansão da agropecuária nacional sem necessidade de desmatamento,
apenas com o bom uso de áreas já convertidas. No entanto, embora destaquem que, na teoria
seja simples desenvolver este raciocínio e implementar essas alternativas, na prática existem
várias dificuldades que impedem a consecução desta medida.
224
Conforme destacam os autores, a maior delas decorre do fato de que a conversão das
florestas em pastagens pouco produtivas ainda é considerado um negócio atraente e rentável
no Brasil, que contribui para o quadro de aumento da devastação.
Relativamente a legislação florestal, Sparovek et al. (2011, p. 120), afirmam que o
argumento de que a imposição de restrições pela legislação ambiental são incontornáveis para
o desenvolvimento do setor agropecuário são falsos e escondem, em verdade, a justificativa
que permite ―a manutenção da ineficiência de alguns setores, e acobertar as reais razões que
levam a continuada expansão de nossa fronteira agrícola‖.
Por outro lado, também destacam que o Código Florestal de 1965 nunca fora
efetivamente implementado, vigorando a situação de irregularidade ou de não conformidade
com o que estabelece a lei tanto nos casos de APP quanto de RL. Sobre essas áreas, afirmam:
Não considerando os topos de morro, que somam aproximadamente 39 Mha
no Brasil e uma subestimativa das APP ao longo das margens dos rios
(riparias, ou matas ciliares) decorrentes da metodologia básica utilizada
nesta análise, numa área total de APP de 100 Mha o déficit é de 43 Mha. Nas
áreas de reservas legais o quadro é igualmente desanimador. Dos 235 Mha
de RL necessários para cumprir o Código, mesmo considerando a hipótese
otimista de todos os fazendeiros destinarem os remanescentes que ainda
existem em suas propriedades para esta finalidade e utilizarem os
mecanismos de compensação local para arrematar o que lhes falta nas
próprias terras, ainda faltariam 42 Mha de vegetação natural para atender as
exigências do Código Florestal (SPAROVEK et al., 2011, p. 120).
As causas dessa não conformidade, conforme indicam os pesquisadores, decorrem de
várias razões, dentre elas as constantes mudanças nas exigências da legislação florestal, a falta
de precisão na definição de alguns mecanismos, a falta de fiscalização para acompanhar o
cumprimento das determinações legais e, por fim, a não aceitação das restrições pelos
produtores rurais.
Diante desse quadro, Sparovek et al. (2011, p. 122) levantam dúvidas sobre a
capacidade econômica de restauração da vegetação natural, diante dos custos envolvidos nesta
empreitada e dos possíveis benefícios implicados. Ainda segundo os pesquisadores,
A conversão de 85 Mha de terras atualmente em uso produtivo em florestas
pode gerar impactos socioeconômicos enormes e o desmatamento de novas
áreas. Provavelmente, não haveria capacidade técnica ou logística
implantada para executar a restauração nesta imensidão de terras,
considerando os prazos curtos.
Apontam os autores que diante dessa impossibilidade de restauração da vegetação
natural e da necessidade de crescimento em área da agropecuária, não é justificável e aceitável
225
a revisão do Código Florestal, assim como de outros mecanismos de preservação da
vegetação natural. Afirmam que:
Em algumas regiões, a falta de opções de desenvolvimento, a ausência de
remuneração pela vegetação natural que excede a exigência legal, a frouxa
fiscalização, a valorização imobiliária de terras desmatadas, a existência de
mercado para produtos de desmatamento (carvão vegetal, madeira) e
aspectos culturais da utilização da terra como reserva patrimonial são,
provavelmente, as razões de fundo que justificam a contínua expansão da
fronteira agrícola no Brasil por meio do desmatamento. A ocupação com
pecuária extensiva destas terras é consequência, e não a causa do
desmatamento (SPAROVEK et al., 2011, p. 122).
Encaminhando-se para as considerações finais da pesquisa, as autores afirmam ainda
que ―aceitar o argumento de que ‗ou desenvolvemos ou preservamos‘ e uma armadilha na
qual não devemos cair‖ (SPAROVEK et al., 2011, p. 123), muito embora, pareça ter sido esta
a tônica adotada pelos responsáveis pela modificação da legislação florestal.
Neste sentido, ressaltam que, enquanto a lógica do Código de 1965 era a da
restauração, a do substitutivo PL 1.876/1999 era a da redução de exigências e ampliação
excessiva dos mecanismos de compensação. Isto foi alcançado graças à redução de exigências
em RL e estendo a possibilidade de compensação em APP. Nesse sentido, conforme afirmam:
Restaurar foi trocado por compensar e exigir menos. Como resultado,
haveria pouca restauração nas áreas em que ocorrem as não conformidades,
e parte importante da enorme área de vegetação natural atualmente não
protegida poderia ser inserida na proteção do Código via compensação de
RL fora das propriedades, mas longe delas. Há também uma moratória de
cinco anos, prorrogável por até mais cinco, para que todos (estados, União,
produtores) se adaptem as novas regras. Neste período não haveria novas
licenças de desmatamento, mas também não haveria punição aqueles que
não cumpriram as exigências da atual legislação no período anterior a
22/7/2008 (SPAROVEK et al., 2011, p. 125).
Diante dessas duas pesquisas realizadas – Embrapa e Esalq – podemos perceber que
conclusões diferentes foram apresentadas pelas respectivas instituição de pesquisa. Enquanto
os dados da pesquisa coordenada por Evaristo Miranda, da Embrapa, afirmavam que, do
ponto de vista da legislação, não há mais áreas disponíveis para a agricultura e pecuária no
Brasil, os dados apresentados pela equipe de pesquisa coordenada por Gerd Sparovek, da
Esalq / USP, vão em sentido contrário ao afirmar que não existe necessidade de revisão da
legislação para o desenvolvimento do setor agropecuário, mas sim, um reordenamento das
áreas já desmatadas e subutilizadas.
Percebe-se, portanto, que, longe de consensos e unanimidades no que se refere as
discussões sobre o Código Florestal brasileiro, foi estabelecida uma arena na qual os
226
diferentes pesquisadores, a partir das suas concepções e interesses sobre conservação
ambiental e produção agropecuária, expuseram suas teses e conquistaram seus defensores e
detratores. Arena esta na qual a ciência e o conhecimento científico são utilizados como
trunfos para o processo de convencimento e legitimação de argumentos ambientais.
4.3 “Fazendas aqui, florestas lá”: instituições internacionais e os interesses na
conservação das florestas tropicais
Além do estudo divulgado pelo núcleo de monitoramento da Embrapa, conforme
analisado, outra pesquisa bastante utilizada para fundamentar os argumentos dos setores
ligados ao ruralismo foi uma pesquisa desenvolvida por Shari Friedman e a empresa David
Gardiner & Associates (2010), com apoio das ONGs National Farmers Union (NFU) e
Avoided Deforestation Partners (ADP).
O estudo publicado nos Estados Unidos intitula-se ―Farms here, forests there‖ e
encontra-se estruturado da seguinte forma: informações sobre os autores115
; resumo
executivo; histórico; estimativa de mudança de produtos de consumo e seus impactos nos
mercados dos EUA – soja, óleo vegetal, carne e madeira; impacto financeiro das
compensações das florestas tropicas; conclusões.
Fazendo uma síntese dos principais pontos levantados pelo documento, pode-se
afirmar que o objetivo explicitado pelos autores é o de compreender ―os impactos potenciais
do desmatamento sobre a agricultura norte-americana e os esforços de conservação
ambientais globais‖ (FRIEDMAN, GARDINER, 2010, p. 04). 115
Conforme consta no referido documento, a empresa David Gardiner & Associates “ajudam a indústria,
organizações sem fins-lucrativos e fundações a solucionar desafios energéticos e climáticos. A DGA possui os
conhecimentos das políticas e regulamentações climáticas e energéticas, assim como as ferramentas e as
estratégias para que as empresas reduzam os níveis de emissões, seus custos e obtenham vantagens de acordo
com políticas existentes ou potenciais. A DGA também trabalha com fundações e ONGs para desenvolver e
buscar estratégias que façam as metas climáticas e energéticas avançarem‖. Relativamente à pesquisadora Shari
Friedman, consta que a mesma é ―presidente da ASF Associates e consultora-chefe da David Gardiner &
Associates. A ASF Associates concentra-se na política de mudança climática e nas estratégias do setor privado.
A Sra. Friedman possui 14 anos de experiência em mudança climática, incluindo o desenvolvimento de políticas,
negociações internacionais e mercados de gases do efeito estufa. Ela tem experiência tanto no governo federal
norte-americano quanto no setor privado. Entre 1995 e 2001, Shari trabalhou com a mudança climática na EPA,
analisando políticas de mudança climática domésticas e a competitividade internacional. Entre 1998 e 2001, ela
fez parte da equipe de negociações dos EUA para o protocolo de Quioto, concentrando-se nas regras para o
comércio em nível de projeto, especialmente o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Em 2001, a Friedman
juntou-se ao Environmental Enterprises Assistance Fund (EEAF), que gerenciou os fundos de participação
acionária privada das empresas ambientais. Shari saiu da EEAF para criar a Opus4, agora ASF Associates. Ela
possui mestrado em políticas públicas obtido na Universidade de Georgetown e bacharelado pela Universidade
de Tufts‖ (FRIEDMAN, GARDINER, 2010).
227
O estudo parte da constatação de que a conservação e a preservação das florestas
tropicais – não só a Amazônia no Brasil, mas também florestas na Indonésia e na Malásia –
têm implicações diretas para os Estados Unidos. Conforme argumentam:
A destruição das florestas tropicais do mundo devido a operações estrangeiras de
extração de madeira, agrícola e pecuária levou a uma expansão surpreendente da
produção de produtos que concorrem diretamente com os produtos dos EUA. Cerca
de 13 milhões de hectares (32 milhões de acres) de florestas são destruídos por ano,
principalmente nos trópicos. Esse desmatamento permitiu a expansão de baixo custo
e larga escala da produção de madeira, gado e agrícola, além de ter causado danos ao
meio ambiente e às comunidades de zonas de mata. Grande parte da expansão da
indústria madeireira e agrícola ocorreu em função de práticas que não seguem os
padrões industriais dos EUA quanto à sustentabilidade, práticas de trabalho e
direitos humanos básicos, proporcionando a essas operações agrícolas estrangeiras
uma vantagem competitiva em relação aos produtores dos EUA (FRIEDMAN,
GARDINER, 2010, p. 01).
Na metodologia, este documento apresenta estimativas de como a redução da
devastação afetaria o mercado mundial, ―levando em consideração as mudanças resultantes na
produção de produtos de consumo sobre terras sem florestas em nações de florestas tropicais,
os Estados Unidos, e outras partes do mundo‖ (FRIEDMAN, GARDINER, 2010, p. 02).
Assim, as estimativas são feitas como base na possível manutenção das áreas de
florestas nos países tropicais e os ganhos que isto representaria para os EUA, haja vista que
tais produtos seriam supridos pelo mercado norte-americano, conforme quadro abaixo
apresentado:
Tabela 03 – Aumento cumulativo da receita da agricultura e extração de madeira dos EUA com
o fim do desmatamento, 2012-2030
Produto Bilhões de dólares de 2008
Soja US$ 34,2 - 53,4
Óleo de palma e substitutos do óleo de palma (óleo de soja, óleo
de semente de algodão, óleo de girassol e óleo de canola)
US$ 17,8 - 39,9
Carne US$ 52,7 - 67,9
Madeira US$ 36,2 - 60,0
Total acumulado US$ 141,0 - 221,3
Fonte: FRIEDMAN, GARDINER, 2010.
Relativamente aos impactos nas compensações, o relatório argumenta que os EUA têm
uma margem de lucro grande ao compensar suas emissões de carbono com o investimento na
conservação das florestas tropicais, pois, além de reduzir os preços das concessões mantem os
preços reduzidos para os pecuaristas, agricultores e silvicultores norte americanos. Neste
sentido, o relatório revela que:
Permitir as compensações florestais internacionais na legislação climática também
afetaria a agricultura e silvicultura norte-americanas. Como essas compensações
228
estão entre os meios mais financeiramente acessíveis para a redução da poluição
climática, elas proporcionariam economias significativas sobre a eletricidade,
combustível, fertilizantes e outros custos de entrada para a agricultura, pecuária e
silvicultura dos EUA (FRIEDMAN, GARDINER, 2010, p. 03).
As 55 páginas são fartamente contempladas por cálculos e seus respectivos gráficos e
tabelas que visam provar que a adoção e efetivação de mecanismos que reduzam o
desmatamento acarretarão ganhos e economias financeiras significativas para os setores
agrícola e madeireiro dos EUA. No entanto, também consta no relatório algumas imagens
significativas e reveladores, dentre elas imagens de povos indígenas, áreas de pastagens e
gado e florestas sendo devastadas, dentre outras.
Esta dramatização, por meio de recursos visuais com auxílios de imagens, gráficos,
tabelas e mesmo fotografias, causam impacto e criam um argumento apelativo para que a
questão retratada – no caso o desmatamento – legitime o documento em análise.
De maneira subsidiária, o relatório discorre sobre os possíveis benefícios sociais para
os países citados no documento, por meio, sobretudo, do aumento das oportunidades de
emprego para a população de países com florestas tropicais.
No item intitulado ―O impacto do desmatamento sobre as pessoas de nações de
florestas tropicais‖116
, o relatório dedica duas páginas – assinadas pelo pesquisador Glenn
Hurowitz – para afirmar que a proteção das florestas proporcionará uma fonte mais
sustentável de empregos nas próprias indústrias extrativas.
O estabelecimento de incentivos de carbono, conforme destaca, faria com que a
produção adotasse rapidamente fontes mais sustentáveis e que, de modo geral, ―proporcionar
incentivos financeiros para a preservação das florestas permitirá que um maior grupo de
pessoas, desde agricultores a proprietários de terras, conserve as florestas que todos nós
116
Após destacar que ―concentra-se nos impactos econômicos do desmatamento, e a conservação florestal‖,
conta a seguinte observação no documento: ―Neste exato momento, muitas pessoas em nações de florestas
tropicais encontram-se diante de uma terrível escolha. Na ausência de incentivos para sua proteção, as florestas
são mais valiosas mortas que vivas. Uma empresa ou agricultor é forçado a pesar lucros financeiros imediatos
provenientes do corte de árvores para extração de madeira, agricultura ou pecuária com os danos causados pelo
desmatamento a suas comunidades, fauna silvestre, água e planeta, assim como a possível perda de valor
financeiro da terra como sequestrador de carbono. Embora o corte e queima de um hectare de floresta tropical
produza apenas terra cultivável com valor de US$ 200 por hectare, muitas pessoas ainda escolhem desmatar,
pois o desmatamento pode, pelo menos a curto prazo, colocar comida na mesa ou elevar os lucros para um
relatório trimestral apresentado aos investidores. Mas, a longo prazo o custo econômico dessa decisão é terrível.
De acordo com preços recentes dos mercados de carbono europeus, o valor de um hectare de floresta tropical
como sequestrador de carbono é de aproximadamente US$ 10.000. A liberação desse carbono na atmosfera por
meio do corte e queima de florestas significa sacrificar a oportunidade de receber esse valor‖ (FRIEDMAN,
GARDINER, 2010, p. 04).
229
precisamos para lutar contra as mudanças climáticas‖ (FRIEDMAN, GARDINER, 2010, p.
04).
Percebe-se que há uma ênfase na ideia de ―bem comum‖ com a proteção e preservação
das florestas, expressa na ideia que todos têm a ganhar com a redução de desmatamentos.
Assim, devido ao sistema obrigatório de redução de carbono, haveria a criação de empregos
bem pagos, tais como ―agentes florestais para patrulhar a floresta, engenheiros florestais para
medir o armazenamento de carbono e até mesmo fabricantes e operadores de satélites para
fornecer o monitoramento do desmatamento‖ (FRIEDMAN, GARDINER, 2010, p. 04).
Após este pequeno espaço dedicado a discutir os impactos sociais nos países
considerados concorrentes diretos dos EUA, dentre os quais o Brasil, o relatório prossegue
argumentando pela necessidade de se preservarem as florestas para que as mesmas não se
transformem em pastagens e produção e não possa, dessa forma, ameaçar a hegemonia
americana no mercado mundial.
São analisados em detalhes as estimativas de mudança de produtos de consumo e seus
impactos nos mercados dos EUA (soja, óleo de palma e seus substitutos, carne bovina,
madeira) bem como as estimativas de ganhos de cada área do setor agropecuário americano,
estado por estado, com o reflorestamento das florestas tropicais.
Por fim, são sistematizadas as principais descobertas da pesquisa, quais sejam:
a) a agricultura e as operações de extração de madeira estrangeiras ilegais e
insustentáveis estão destruindo as florestas tropicais do mundo, produzindo mais
poluição por carbono que todos os carros, caminhões, tratores e equipamentos
agrícolas do mundo juntos;
b) os produtos agrícolas e madeireiros originários do desmatamento tropical estão
depreciando os preços dos produtos de consumo, suplantando os produtos norte-
americanos e tornando mais difícil que os agricultores, pecuaristas e produtores de
madeira dos EUA mantenham sua terra e seus empregos;
c) a proteção das florestas tropicais por meio da política climática alavancará a receita
da agricultora e dos produtores de madeira dos EUA entre US$ 196 bilhões e US$ 267
bilhões até 2030;
d) os principais beneficiados da preservação da floresta tropical incluem os produtores
de carne, madeira, soja e óleo vegetal norte-americanos; a proteção das florestas
tropicais por meio da política climática também reduzirá as preocupações sobre o
impacto ambiental dos biocombustíveis.
230
De modo geral, a divulgação de tal relatório foi recebida com bastantes críticas e
ressalvas, acirrando o tom nacionalista e ufanista presente nos debates no Congresso
Nacional, sobretudo pelas declarações constantes no documento de que ―acabar com o
desmatamento tropical é uma vitória para a competitividade da agricultura dos EUA‖
(FRIEDMAN, GARDINER, 2010, p. 13).
Setores ligados à bancada ruralista e à frente parlamentar da agropecuária, conforme
será examinado com mais detalhes em capítulos seguintes, se insurgiram contra este estudo e
passaram a considerar que a preservação das florestas tropicais implica em maior
produtividade e lucratividade para os Estados Unidos em detrimento da diminuição de áreas
destinadas à expansão do agronegócio no Brasil.
O deputado federal e relator do substitutivo de lei, Aldo Rebelo, revelou, conforme
noticiado em entrevista à revista ―Dinheiro Rural‖117
que: ―Na cabeça deles não passamos de
um fundo de quintal que precisa ser preservado para que eles possam destruir o resto do
mundo com a consciência tranquila e, principalmente, com o bolso cheio‖.
Por outro lado, o jornalista e um dos autores do relatório e parceiro da ONG ADP,
Glenn Hurowitz afirmou que ―os ganhos dos Estados Unidos não significam perdas para o
Brasil118
‖ e, ainda segundo a reportagem, afirmou que as críticas são infundadas, já que o
estudo mostra os ganhos que o Brasil terá com a preservação, na ordem de ―bilhões de
dólares‖.
Percebe-se, conforme destaca Almeida (2010, p. 134), que se está diante de uma
modalidade de apropriação de terras por estratégias empresariais, denominada pelos críticos,
conforme destaca o autor, de ―colonialismo verde‖. Trata-se de processos de incentivo a
―concessão de créditos de carbono a projetos que preservem ou promovam o
reflorestamento‖. Conforme Almeida (2010, p. 135):
De maneira resumida, mas evitando esquematismos, haveria pelo menos duas
grandes estratégias empresariais hoje voltadas para os recursos da natureza, as quais
estão em marcha e são aparentemente contraditórias. Os efeitos de ambas, a despeito
das diferenças dos objetos imediatos entre o ―colonialismo verde‖ e a ―carne verde‖,
convergem para uma maior pressão sobre as terras e as florestas e seus recursos,
cujo resultado mais perceptível é o aquecimento do mercado de terras.
Assim, percebe-se que na discussão sobre a legislação florestal, o tema da produção de
alimentos e da disponibilidade de terras se fez constante, bem mais do que a necessidade
117
Florestas lá, fazendas aqui. Edição 71 Setembro de 2010. Disponível em:
http://revistadinheirorural.terra.com.br/ Acesso em: 28 de setembro de 2015. 118
Florestas lá, fazendas aqui. Edição 71 Setembro de 2010. Disponível em:
http://revistadinheirorural.terra.com.br/ Acesso em: 28 de setembro de 2015.
231
preocupação com a proteção dos recursos vegetais. A questão central que se revela nessas
pesquisas, portanto, diz respeito às formas mais rentáveis de aproveitar a terra e os recursos
naturais e quem deveria/poderia receber por isto.
De modo geral, as pesquisas resumidamente apresentadas neste item, revelam que uma
multiplicidade de agentes que, orientados por percepções de política ambiental, se
manifestaram no espaço científico sobre o tema da reforma da legislação florestal.
A depender dos interesses perseguidos e dos porta-vozes considerados legítimos, as
pesquisas, por sua vez, foram selecionadas para respaldar certas teses e fortalecer os
argumentos que mais se coadunavam as percepções sobre a questão ambiental.
Assim, para os grupo e setores da bancada ruralista, os estudos realizadas pela
Embrapa (2008) – por ser uma empresa pública, caracterizada por avanços científicos e
tecnológicos na área da agropecuária do país – teve grande respaldo e legitimidade, ainda que,
conforme analisamos, nem mesmo dentro do órgão houve consenso sobre os resultados desta
pesquisa. Conforme destaca Pereira (2013, p. 75):
Alguns dados por ela gerados foram intensamente apropriados pela bancada
ruralista, visto que eles apontavam a necessidade de adequação da legislação
ambiental. Assim, uma das ―armas‖ dessa bancada foi o respaldo científico
proveniente da Embrapa, demonstrando que, independente dos interesses
envolvidos, o Código necessitava ser reformulado.
Do mesmo modo, os resultados da pesquisa ―Farm here, forest there‖ serviram para
que, publicamente, a questão ambiental fosse apresentada como um entrave aos interesses da
agropecuária no país, posto que era apresentada como atendendo aos interesses estrangeiros,
especialmente norte-americanos, conforme a leitura do estudo desenvolvido por Shari
Friedman e a empresa David Gardiner & Associates (2010).
Ainda que os estudos da SBPC/ABC (2012) e da Esalq (2011) tentassem corroborar
com a teses de que é possível conciliar o desenvolvimento da agropecuária com a proteção
dos recursos naturais, os mesmos não foram dotados de legitimidade suficiente para que seus
dados e sugestões fossem incorporadas nos debates e, consequentemente, na legislação
florestal.
Nesse sentido, a despeito de ter sido publicada em momento posterior ao debate no
Congresso Nacional, a pesquisa do IPAM (2014) problematiza o fato de que, mais do que um
debate técnico-científico sobre os mecanismos e parâmetros que deveriam pautar a
salvaguarda de serviços ambientais e a produtividade agrícola, vigorou a narrativa de que as
mudanças eram imprescindíveis para não haver prejuízo econômico ao país.
232
A redução de áreas agricultáveis e da produção agropecuária do país, com
subsequentes e inevitáveis influências sobre os preços dos alimentos, foram os temas mais
acionados e que aglutinaram as falas dos setores do ruralismo no espaço legislativo. Tanto os
estudos da Embrapa (2008) quando as revelações constantes no estudo das ONGs norte-
americanas (FRIEDMAN et al., 2011) suplantaram os demais estudos no debate, haja vista a
organização, o poder de articulação e mobilização que realizaram os deputados vinculados ao
setor ruralista para que suas visões pautadas no agronegócio e no nacionalismo vigorassem.
Assim:
A tese da comunidade científica, dos movimentos sociais e entidades da sociedade
civil que defendem melhores práticas, inclusive tecnológicas, para ampliar a
produção, sem necessidade de abertura de mais áreas com vegetação nativa, foi
superada pela pressão política da bancada ruralista (integrada por membros da base
do governo e oposição), que persiste no argumento de que a conservação ambiental
constitui um óbice ao desenvolvimento (LIMA et al., 2014, p. 11).
Não se pode afirmar, contudo, que houve uma desconsideração dos conhecimentos
científicos neste debate, mas sim uma seleção dos mesmos. Entender que a ciência pode ser
adaptada a diferentes interesses e objetivos possibilita que não seja essencializada a produção
de conhecimento como algo neutro e imparcial e possibilita perceber como é possível fazer
diferentes usos, a partir dos interesses que se tem em vista.
O processo de argumentação ambiental acaba sendo mais relevante do que avaliar se
estes argumentos são realmente válidos ou não, ou seja, o processo de construção e validação
de ―verdades‖ e ―realidades‖ sobre a questão ambiental acaba sendo mais rico de significados
do que analisar propriamente estes argumentos. Neste sentido:
Neste modelo negociado de ciência (...) não pode haver a verdade perfeita e
objetivamente verificável, somente uma verdade efetiva, que equilibra a
aceitabilidade científica com o interesse público. Neste contexto, a realidade
científica é clara e socialmente construída para se conformar com um significado
social (HANNIGAN, 2009, p. 158).
Neste sentido, é importante retomamos as observações sobre o papel da ciência na luta
pela definição legítima e pela classificação (BOURDIEU, 1998, p. 113), o que tem mais
relação com as representações mentais e atos de percepção e apreciação, conhecimento e
reconhecimento do que com critérios objetivos oriundos da ―realidade‖.
A ciência que se pretende propor os critérios mais bem alicerçados na realidade, não
deve esquecer que se limita a registrar um estado da luta das classificações, quer
dizer, um estado das relações de força matérias ou simbólicas entre os que têm
interesse num ou noutro modo de classificação e que, como ela, invocam
frequentemente a autoridade científica para fundamentarem na realidade e na razão a
divisão arbitrária que querem impor (BOURDIEU, 1998, p. 115).
233
Desta forma, conforme Bourdieu, o que é instituído é o resultante, num dado
momento, da luta para fazer existir ou ―inexistir‖ o que existe e as representações são
enunciados performativos que pretendem que aconteça aquilo que enunciam.
Assim, tais lutas se estabelecem em torno do ―monopólio de fazer ver e fazer crer, de
dar a conhecer e de fazer reconhecer, de impor a definição legítima das divisões do mundo
social através dos princípios de di-visão‖ (BOURDIEU, 1998, p. 113), de tal forma que
quando são impostas como legítimas ao conjunto de um determinado grupo, concretizam e
tornam ―real‖ o sentido e a unidade do grupo. A esse respeito, postula Bourdieu:
O efeito simbólico exercido pelo discurso científico ao consagrar um estado das
divisões e da visão das divisões, é inevitável na medida em que os critérios ditos
―objetivos‖, precisamente os que os doutos conhecem, são utilizados como armas
nas lutas simbólicas pelo conhecimento e reconhecimento: eles designam as
características em que pode firmar-se a ação simbólica de mobilização para produzir
a unidade real ou a crença na unidade (tanto no seio do próprio grupo como nos
outros grupos) que a prazo, e em particular por intermédio das ações de imposição e
inculcação da identidade legítima tende a gerar a unidade real (BOURDIEU, 1998,
p. 120).
É nesta perspectiva que deve se perceber a seleção das diferentes instituições e agentes
do espaço científico que fundamentaram – intencionalmente ou não – as visões dos dois
principais grupos que se confrontaram nos debates sobre o processo de aprovação da
legislação florestal brasileira. Do mesmo modo, deve-se perceber que, na fundamentação dos
argumentos e das construções sobre a questão ambiental pelos deputados nas discussões em
plenária, seus posicionamentos eventualmente se fundamentam e se reforçam em outras
fontes, quer estas sejam respaldadas pelo conhecimento científico ou não.
Nesse sentido, é necessário anunciar essa construção para o mundo, existindo algumas
maneiras comuns de realizar isso. Conforme Hannigan (2009, p. 149), ―uma maneira comum
de fazer isto é convergir para um fórum público no qual uma mistura de cientistas,
ambientalistas e administradores juntos direcionam as várias dimensões dos problemas
expostos à luz da mídia‖.
Ainda segundo o autor, os argumentos, também podem ser articulados num arena
política – em uma audiência parlamentar ou no Congresso – onde a mídia seguramente fará a
cobertura. Existem ainda as conferências acadêmicas como canal importante de disseminação
dos problemas ambientais, onde os repórteres e jornalistas também se farão presentes para
veicular os ―furos‖ de reportagem. Percebe-se, portanto, a importância da mídia no processo
de divulgação e veiculação das descobertas e construções científicas, conforme analisaremos
no próximo capítulo.
234
5 CONSTRUÇÃO MIDIÁTICA DO PROCESSO DE ALTERAÇÃO DO CÓDIGO
FLORESTAL
De acordo com Hannigan (2009, p. 121), um problema ambiental, para se transformar
em uma política pública, necessita da atenção e da visibilidade dada pela mídia, ou seja, ―sem
a cobertura da mídia, as possibilidades que um problema prévio possa entrar numa arena do
discurso público ou se tornar parte do processo político, são bastante reduzidas‖.
Assim a mídia exerce um papel extremamente importante no processo de construção
dos problemas ambientais e no que se refere às discussões recentes sobre a questão ambiental,
pode-se afirmar que a alteração da legislação florestal foi um dos temas ambientais mais
noticiados pela mídia, nacional e internacional.
Uma variada gama de veículos de comunicação – imprensa escrita, radiofônica,
televisiva e virtual – construiu e divulgou notícias sobre este processo de alteração, cobrindo,
sobretudo, os meses que antecediam as votações mais importantes. Entretanto, não podemos
perder de vista que, a depender de uma série de fatores que influenciam a produção e difusão
das notícias, essas informações, ainda que sobre um mesmo fato, são apresentadas ao público
de diferentes formas.
Considerando estes diferentes fatores – tais como história política da redação, corpo
editorial, perfil dos jornalistas, seções específicas destinadas à notícia, público alvo dentre
outros – buscamos analisar neste capítulo como algumas revistas da imprensa virtual
construíram e retrataram os debates em torno na alteração do Código Florestal.
Pretende-se perceber, sobretudo, quais os agentes que os meios de comunicação
selecionados legitimaram para se pronunciar sobre o debate, como interpretaram as inúmeras
tentativas de votações do projeto – adiadas várias vezes pelos mais diferentes interesses – e
como analisaram as possíveis consequências dos dispositivos legais aprovados ou rejeitados.
Centraremos nossa análise em duas revistas especializadas e voltadas para temas
ligados à economia, quais sejam, a Revista Agroanalysis, da Fundação Getúlio Vargas e de
edição e circulação mensal, e o Jornal on line Valor Econômico, criado a partir da fusão das
organizações do grupo Globo e Folha e que se apresenta sob formato de diário de notícias.
Adotamos como recorte temporal para realizar as pesquisas junto a estes veículos de
informação os anos de 2010, 2011 e 2012, período de intensificação das negociações no
Congresso Nacional e da votação dos projetos de lei submetidos em plenária, logo, o período
no qual a mídia mais se dedicou a divulgar informações sobre o tema.
235
De antemão, cumpre destacar uma divisão de enfoques trabalhados pelas mídias
analisadas: embora ambas possuam um viés direcionado para tratar economia,
desenvolvimento econômico e mercado financeiro, a Agroanalysis é assumidamente
direcionada a agentes e setores ligados ao agronegócio, enquanto o Valor Econômico destina-
se a um público mais geral.
Muito embora tenham matérias disponibilizadas na Internet, boa parte conteúdo das
duas mídias é disponibilizado apenas para assinantes, o que diminui o alcance de suas
reportagens, sobretudo o do Jornal Valor Econômico119
.
Destaque-se ainda que a questão ambiental, nas duas mídias analisadas, não é vista
como um tema principal120
. Destinadas a tratar predominantemente de questões econômicas, a
questão ambiental só é abordada quando possui alguma relação com matérias de cunho
político ou financeiro, não possuindo nenhuma seção especificamente destinada a ela nos
meios de comunicação analisados.
A despeito deste aspecto, procuramos analisar de que forma a construção e divulgação
de notícias ambientais são realizadas, buscando ainda identificar as molduras da mídia121
e
também os esquemas argumentativos122
predominantemente adotados pelos dois editoriais.
Nesse sentido, pretende-se perceber como a questão ambiental é construída e
apresentada ao público, mesmo em canais de comunicação que apresentam um perfil
econômico e financeiro acentuado e, além disso, procura-se identificar quais os métodos
adotados para definir e compreender os problemas públicos e dar sentido às notícias
ambientais veiculadas.
Antes, contudo, de analisarmos o enfoque dado por cada um desses canais de
comunicação às notícias relacionadas ao Código Florestal, cumpre ressaltar alguns aspectos
119
Conforme informações disponibilizadas no site, a revista foi primeiro veículo do país a adotar o modelo do
que ficou conhecido no Brasil como ―paywall poroso‖, em que o conteúdo é fechado para assinantes, mas
leitores que se dispõem a realizar um cadastro têm direito a ler gratuitamente uma quantidade de matérias
mensais. 120
Relativamente a este aspecto, cumpre ressaltar que a imprensa que se auto define ―ambiental‖ destina mais
espaço para apresentar estes e conta com profissionais especializados na área, quando comparado ao jornalismo
―comercial‖. Conforme Petrarca (2007, p. 116), ―essa forma de exercício profissional preocupa-se, não só com o
reconhecimento interno, mas também com o reconhecimento externo ao universo jornalístico, na maioria das
vezes voltada ao reconhecimento pelos grupos ecológicos‖. 121
De acordo com Hannigan (2009, p. 124), ―molduras, como ângulos de notícia, são métodos organizados que
ajudam tanto o jornalista quanto o público a dar sentido às matérias e eventos e a partir daí injetá-los de
significados‖. 122
Entendemos por esquemas argumentativos, de acordo com Petrarca (2007, p. 124) ―o conjunto de argumentos
que os jornais utilizam para expor uma determinada compreensão do problema. (...) Através da análise do
conjunto dos argumentos mencionados e salientados pelos jornais para explorar um determinado tema é possível
apreender o ―esquema argumentativo‖ que permite dar uma definição do assunto‖.
236
relativos à construção midiática das notícias, ou seja, ―o processo geral através do qual a
mídia ‗manufatura‘ as notícias e matérias‖ (HANNIGAN, 2009, p. 121) para transformá-los
em eventos de significação simbólica.
Nesse contexto, assumimos a perspectiva construcionista de Hannigan (2009, p. 124),
para quem ―os construcionistas da mídia têm olhado além da organização social da redação e
focado no processo pelos qual os jornalistas e outros empreendedores culturais desenvolveram
e cristalizaram o significado no discurso público‖. Ainda segundo o autor, este enfoque
privilegia a decodificação dos textos, ou seja, o imaginário visual, a produção de som e a
linguagem na construção social da notícia.
Outro aspecto para o qual Hannigan (2009, p. 123) chama atenção nesta perspectiva
construcionista é para o cuidado com as fontes utilizadas pelos jornalistas para dar forma ao
conteúdo da estória. Assim, conforme afirma:
Os repórteres geralmente se apegam a uma lista de fontes de contato, tidas
como confiáveis e articuladas (...). Fontes confiáveis têm origem em vários
tipos de trabalho, de diferentes níveis de sociedade, mas eles são geralmente
pessoas em papéis oficiais: políticos, cabeças de agências governamentais,
cientistas e outros especialistas. Mesmo quando a mídia solicita um
comentário dos oponentes do status quo, as fontes de notícia são
invariavelmente tiradas da parte executiva das maiores organizações de
movimentos sociais, como Greenpeace e Amigos da Terra.
Cumpre ainda destacar que utilizamos o conceito de notícia como uma realidade
construída, ―na qual os jornalistas definem os significados sociais como parte de seu trabalho
de rotina diária‖ (PETRARCA, 2007, p. 114).
Dessa forma, o processo de construção das notícias é influenciado também, pelo perfil
dos jornalistas, pelo envolvimento ou não que possuem com a temática, pela linha editorial do
veículo de comunicação, etc., de modo que as informações vão sendo moldadas e adequadas
para o atendimento de determinados interesses. Nesse sentido, ainda segundo Petrarca (2007,
p. 114) é preciso atentar para a ―relação entre produção de discursos jornalísticos e condições
sociais que fornecem quadro de referências para os jornalistas na construção das notícias‖.
Não se pode descuidar, portanto, de uma série de redes e relações aos quais estão
submetidos os agentes que fazem parte dessas mídias e como essas relações são acionadas
para que a notícia obtenha uma maior divulgação e poder de influência nas arenas públicas.
Assim, ainda segundo a autora, a influência da mídia é definida não somente pelo fato
de contribuir para a definição da agenda pública, mas também pelo seu poder de sugerir como
os assuntos publicados devem ser vistos e interpretados. Nesse sentido:
237
A imprensa não fornece apenas informações sobre os acontecimentos, ela
também os produz ao privilegiar certas interpretações destes, contribuindo
para fabricar o sentido e uma definição social dos mesmos. A luta simbólica
da imprensa se expressa pelo seu desafio de impor um certo ponto de vista
ou uma certa visão sobre o mundo social como correta ou verdadeira. O
discurso midiático é parte de um processo pelo qual os jornalistas
desenvolvem e cristalizam significados no discurso público. E os meios de
comunicação podem contar com diversos recursos para ―vencerem‖ essa luta
simbólica e imporem significados, principalmente quando concorrem com
outras mídias (PETRARCA, 2007, p. 111).
Tomando como a perspectiva de análise a teoria do construcionismo, podemos afirmar
que os problemas ambientais não são dados como evidentes e objetivos, e que não cabe a
mídia simplesmente retratá-los. Esses problemas são eleitos como importantes, são
transformados em pautas jornalísticas pela mídia – processo em que é possível definir e
consagrar alguns aspectos do problema em detrimento de outros – e seu progresso varia de
acordo com o engajamento dos agentes de diferentes arenas.
As afirmações anteriormente realizadas sobre o papel das representações sociais em
torno das descobertas científicas também são válidas para nos referirmos às construções
sociais no âmbito das notícias ambientais criadas pela mídia, ou seja, as representações dos
veículos de comunicação contribuem para produzir a realidade que aparentemente elas
somente descrevem ou designam (BOURDIEU, 1998).
Não se deve desconsiderar também que essas representações são condicionadas por
elementos que não são dados e objetivos, mas que exercem grande influência sobre o trabalho
dos jornalistas, que atuam em diferentes veículos de comunicação e instrumentos da mídia, e
do público, que consome essas informações. Dentre esses elementos, podemos destacar os
chamados ―quadros de referência‖ ou ―ângulos da notícia‖. Conforme Petrarca (2007, p. 112):
Tais quadros funcionam como instrumentos que permitem organizar e
―enquadrar‖ as questões a serem tratadas pelos jornais e estão relacionados
aos diversos constrangimentos que pesam sobre o jornalismo e sobre os
jornalistas. Assim, a estrutura dos meios de comunicação fornece os ângulos
das notícias, ajudando o jornalista e o público a formar um sentido dos
acontecimentos.
São, portanto, estes quadros de referência – ou constrangimentos que pesam no
construir e divulgar determinadas informações – que fornecem os recursos para a elaboração
das notícias, e que também fornece aos leitores possíveis interpretações da questão retratada.
No entanto, tal como afirma Hannigan (2009, 124), deve-se ter em mente que os
consumidores de notícias (leitores, ouvintes) não aceitam passivamente as molduras da mídia
238
como elas são, ―eles também podem decodificar as imagens da mídia de diferentes maneiras
utilizando estruturas variadas de interpretação‖.
No caso desta pesquisa, que tem como foco o processo de alteração da legislação
ambiental brasileira, especificamente o Código Florestal, pretende-se identificar, como as
notícias sobre essa realidade são construídas.
Nesse contexto, buscamos identificar as controvérsias publicadas por alguns canais de
comunicação e as que foram ocultadas por outros veículos; como a dinâmica do debate foi
apresentada; de que modo as notícias foram expostas; quais as fontes consideradas confiáveis
e legítimas pelas diferentes mídias e quais os agentes selecionados para se manifestar sobre o
processo legislativo.
Considerando que nessa construção de notícias as mesmas sofrem condicionamentos
pelos objetivos que estruturam o projeto editorial de determinadas mídias, não podemos
desconsiderar que sob o termo mídia existem histórias institucionais particulares, linhas
editoriais e interesses peculiares que condicionam a forma de produção e de divulgação das
notícias. Logo, o mesmo conteúdo acaba sendo mobilizado e apresentado de diferentes
formas. Conforme Petrarca (2007, p. 115):
Os jornais, apesar de publicarem um mesmo assunto, possuem interesses
diferentes que conduzem à construção de discursos, muitas vezes, opostos.
Nesse sentido, é possível afirmar que há um campo variado de possibilidades
discursivas e de esquemas argumentativos. A narrativa dos meios de
comunicação sobre a questão ambiental pode ser baseada em diversos
modelos argumentativos (...) A escolha e a seleção dessas narrativas
dependem dos interesses editoriais, das propostas de cada jornal e também
das preferências adquiridas pelos jornalistas no curso de suas trajetórias
biográficas e profissionais.
Feitas essas considerações mais gerais, pretende-se, nos itens a seguir, identificar as
diferentes ―visões de mundo‖, próprias de cada uma das mídias selecionadas, no caso,
Agroanalysis e Valor Econômico, e a forma como abordaram o conteúdo sobre as discussões
na alteração do Código Florestal, sem perder de vista essa perspectiva construcionista, tal
como apresentada.
5.1 Revista Agroanalysis e o discurso unidirecional sobre o agronegócio
A revista Agroanalysis é uma publicação mensal de agronegócio e economia do
Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas e, conforme informações
239
disponibilizadas no site123
, é uma ―Instituição de caráter técnico-científico, educativo e
filantrópico, (...) tendo por finalidade atuar no âmbito das Ciências Sociais, particularmente
Economia e Administração, bem como contribuir para a proteção ambiental e o
desenvolvimento sustentável‖.
Assim, os temas da proteção ambiental e do desenvolvimento sustentável acabam
sendo invocados pelos editores como forma de não contrapô-los ao agronegócio, mas sim,
com o intuito de representá-los como processos inter-relacionados.
A despeito dessa informação, contudo, a análise das reportagens – e os agentes
legitimados pela revista para concederem entrevistas, análises, opiniões – são defensores do
agronegócio enquanto único caminho viável para o desenvolvimento econômico e social do
Brasil. A apresentação das notícias e dos fatos relacionados ao Código Florestal, portanto,
obedece e reproduz este entendimento, tal como se pode observar nos artigos analisados.
Tomando os anos de 2010 a 2012 como parâmetro de busca e pesquisa, identificamos
36 edições da revista Agroanalysis, das quais seis abordam diretamente, em algumas das suas
seções124
, alguns aspectos relativos à alteração da legislação florestal no Brasil.
Em uma dessas edições, a propósito, traz como tema de destaque a Lei 12.651/2012,
mais precisamente a edição do mês de junho de 2012, que tem na capa da revista a chamada:
―Deciframos o Código Florestal‖. Dedicada a uma análise do código recém aprovado –
incluindo a publicação na íntegra do texto da nova lei e da Medida Provisória que foi
publicada para sanar os vetos presidenciais – a revista se propunha a dirimir dúvidas do
produtor agropecuário no Brasil, ou seja, a partir da leitura da reportagem, ―cada produtor vai
entender o que terá de fazer‖.
Cumpre ainda destacar que nestas seis edições analisadas, que traziam alguma
reportagem sobre o código florestal, em quatro delas foi possível constatar, além das matérias
e editoriais no corpo da revista, uma publicação, sob forma de opinião, assinada pelo
presidente da Sociedade Rural Brasileira, Cesário Ramalho da Silva (produtor de grãos e
pecuarista em Minas Gerais e no Mato Grosso do Sul).
Diante das reportagens, constantes nas 06 edições acima mencionadas – mais
especificamente, relativas aos meses de março, agosto e novembro de 2010, junho e julho de
2011 e junho de 2012 – teceremos algumas considerações gerais, buscando identificar a visão
123
Disponível em: www.agroanalysis.com.br. Acesso em: 16 de março de 2016. 124
As seções da revista Agroanalysis são divididas da seguinte forma: Editorial, Abre Aspas, Macroeconomia,
Agrodrops, Mercado e Negócios, Política Agrícola, Conteúdo Especial e Colunas.
240
predominantemente exposta pelos repórteres, colunistas e editores da revista no que se refere
a alteração da legislação florestal.
Inicialmente, destacamos a entrevista na seção ―Abre Aspas‖ do mês de março de
2010, com o então deputado e relator da Comissão Especial que examina o tema na Câmara
dos Deputados, deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB/SP).
Intitulada ―Preservar a natureza sem destruir a produção‖, é possível encontrar nesta
entrevista, em linhas gerais, o posicionamento do deputado quanto as manifestações contrárias
a alteração do Código Florestal. Segundo alega, o Ministério do Meio Ambiente é controlado
por ONGs estrangeiras e que, possui, portanto, ―uma agenda pautada por interesses que não
são os do Brasil‖. A este respeito, destacamos o texto da entrevista realizada por Bruno
Blecher em março de 2010:
Agroanalysis: O senhor está dizendo que as ONGs controlam o Ministério
do Meio Ambiente?
Rebelo: Há muito tempo, lamentavelmente. A grande maioria destas ONGs
são organizações locais. Vendem cursos. Algumas poucas têm sede na
Europa e acesso a financiamento externo e a dinheiro público. Elas estão
entrando nos negócios de crédito de carbono. Esta questão ambiental
transformou-se num grande negócio. No Brasil hoje, você tem áreas onde os
pequenos camponeses estão sendo expulsos, porque são áreas de preservação
ambiental. Por que essas ONGs recebem tanto financiamento? Qual é o
interesse? Ora, temos de um lado uma agricultura forte em um país frágil,
que é o Brasil, e de outro, uma agricultura altamente estatizada, nos países
da Europa (...) Há vários governos, a agenda e a pauta do meio ambiente
vêm sendo empurradas por ONGs. Parece que nós não prestamos contas ao
nosso país e ao nosso governo, mas sim à comunidade europeia, aos EUA e
aos organismos multilaterais. Não que nós não tenhamos que prestar contas,
tudo bem, nós temos responsabilidade com o mundo na questão ambiental.
Mas temos também responsabilidade com o nosso país, com a produção de
alimentos, com a defesa da nossa agricultura e dos agricultores. Eu não
posso fazer nada para que a França pare de subsidiar os seus agricultores,
nem Portugal, nem a União Europeia, nem os EUA. Agora, eu também não
posso, como legislador brasileiro, contribuir para arrebentar com a nossa
agricultura.
Esta tônica, de que as ONGs possuem poder sobre os atos do governo e que a
agricultura brasileira, por se vista como competitiva, é tratada como entrave para os Estados
Unidos e países da Europa – conforme já analisamos, é reiteradamente utilizada por Aldo
Rebelo para deslegitimar as críticas realizadas pelo movimento ambientalista, tanto aos
trabalhos da comissão quanto às mudanças sugeridas para integrar o texto da nova lei.
Trata-se, portanto, de um argumento já consagrado pelo relator, que o utiliza como
defesa contra as críticas dirigidas a comissão e que, segundo o mesmo, tem o único caráter de
241
impedir o crescimento econômico do Brasil e seu crescimento no mercado internacional de
alimentos e commodities.
Relativamente à Amazônia, Rebelo destaca na entrevista que existe um ônus para os
municípios da região amazônica diante da previsão legal de manter 80% da área preservada.
Segundo o deputado trata-se de uma condenação – feita ainda no governo de Fernando
Henrique Cardoso ―via canetada‖ – que impede a produtividade nessas áreas e limita a
população a uma economia de coleta pré-capitalista. Aponta como alternativa a utilização dos
20% de área produtiva, ―preservando o compromisso do País com o meio ambiente e também
preservando o emprego, a renda no campo, a agricultura e a pecuária‖125
.
Ainda nesta edição da revista, cumpre destacar o posicionamento manifestado por
Cesário Ramalho, na seção ―Coluna‖, em artigo intitulado ―Produzir: Reforma do Código
Florestal‖, no qual tece alguns comentários sobre a Comissão Especial e as audiências
públicas realizadas em algumas cidades brasileiras para discutir as alterações da lei.
Além de elogiar o relator Aldo Rebelo e o credenciar como ―profundo conhecedor dos
problemas brasileiros‖, contando com o ―respaldo e respeito do presidente Lula e por isso é
uma autoridade preparada para dar um parecer técnico, independente e confiável‖, destaca a
postura ―intransigente e radical‖ de alguns setores ―com o objetivo de manter uma cortina de
ferro ideológica sobre a questão‖. Por fim, o presidente da SRB expõe algumas sugestões e
propostas para a atualização do Código Florestal.
A segunda reportagem a abordar o tema do Código Florestal data do mês de agosto de
2010, na seção ―Legislação‖ e é intitulada ―Substitutivo vai para a Câmara‖. Na reportagem, é
destacado que a Comissão Especial, presidida pelo deputado Moacir Micheletto (PMDB/PR),
aprovou a versão final do substitutivo do deputado Aldo Rebelo (PCdoB/SP) e que o
substitutivo da lei florestal segue para plenário com votação prevista para novembro de 2010.
Destaca ainda que o texto aprovado regularizará a situação de 90% dos 5,2 milhões
que estariam irregulares, além de apresentar as principais mudanças em discussão, necessárias
ao atendimento da produção de alimentos, fibras e biomassa, com a preservação do meio
ambiente.
O destaque à regularização destas situações fundiárias e à correção de falhas fica
evidenciado em outra reportagem, constante na edição da Agroanalysis datada de novembro
de 2010. Trata-se da seção ―Conteúdo Especial‖, assinada pelo especialista em mercados da
Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Marco Olívio Morato de Oliveira, intitulada
125
BLECHER, Bruno. ―Preservar a natureza sem destruir a produção‖. Mar. de 2010. Disponível em:
www.agroanalysis.com.br. Acesso em: 16 de março de 2016.
242
―Sanando injustiças‖ que, como o próprio nome da reportagem deixa entrever, trata de
argumentar que a lei florestal gerou um débito indevido e injusto para os proprietários rurais e
que nova lei buscava solucionar esta injustiça.
Assim, o autor, apesar de destacar que, conceitualmente, o Código Florestal de 1965 é
considerado um dos mais modernos quando comparado a de outros países, o mesmo é
responsável por criar um grande débito, imputado aos trabalhadores rurais, isto tudo sem
prever pagamentos por serviços ambientais.
Oliveira (2010), além de elogiar a ―esmerada relatoria do deputado Aldo Rebelo‖, se
dedica a sintetizar as principais mudanças e os aspectos relevantes do novo texto, entre eles, a
moratória, áreas consolidadas126
, e considerações sobre a reserva legal e áreas de preservação
permanente.
Enfim, todo o esforço da comissão especial, principalmente de seu relator,
resultou em um texto sóbrio, mais próximo da realidade e com o objetivo de
minimizar as injustiças cometidas na versão anterior, e assim promover a
prática da preservação do meio ambiente. Vale lembrar que o equívoco na
redação anterior não está no conceito que acertadamente aborda
biodiversidade, e, sim, na divisão das responsabilidades e na eficiência
prática de sua aplicação (DE OLIVEIRA, 2010).
Ainda no mês de novembro de 2010, é publicada a coluna assinada por Cesário
Ramalho, presidente da SRB, e intitulada ―A importância do Legislativo‖127
, na qual destaca a
atuação da SRB em trabalhar para eleger parlamentares ligados ao agronegócio e que ―o
Legislativo assumirá, para o bem do Brasil, papel mais representativo do que o próprio
Executivo‖, ou seja, referendando-o como legítimo representante dos anseios da sociedade
brasileira. Conforme afirma:
Foi com entusiasmo que observamos a reeleição dos principais deputados e
senadores vinculados ao agronegócio, bem como a chegada de novas
lideranças do setor no Congresso e de outros parlamentares, que se não têm
raízes históricas com o agro, com o passar do tempo, passaram a se
identificar de maneira mais próxima com o segmento (RAMALHO, 2010).
126
O primeiro dos mecanismos previstos (moratória na supressão de florestas para abertura de novas áreas com
fins agropecuários) tem por finalidade criar condições para definir de modo adequado a forma de preservação e
de ocupação das áreas cobertas por vegetação nativa, inclusive no que tange à melhor utilização das áreas em
que já ocorreu a conversão do solo (...). O relatório propõe também conferir tratamento diferenciado para os
locais onde já são desenvolvidas atividades rurais, especialmente para diminuir a pressão decorrente da grave
situação de insegurança jurídica atual (DE OLIVEIRA, Marco Olívio Morato. Sanando injustiças. Nov. 2010.
Disponível em: www.agroanalysis.com.br. Acesso em: 16 de março de 2016). 127
RAMALHO, Cesário. A importância do Legislativo. Nov. 2010. Disponível em: www.agroanalysis.com.br.
Acesso em: 16 de março de 2016.
243
Percebe-se, pois, como o Poder Legislativo, mais precisamente, os representantes da
bancada ruralista são aclamados pelos colunistas, jornalistas e editores da revista
Agroanalysis. Há um reforço dos argumentos já levantados em outros espaços e arenas
públicas para legitimar os interesses do agronegócio como gerais, quando são interesses de
um grupo social/político específico.
Reforça-se, nas reportagens, a necessidade de centralizar no agronegócio as decisões
políticas do governo, da mesma forma que se percebe referências a questão ambiental de
forma incidental, ou seja, aparece como indissociável nos debates e nas decisões envolvendo a
atividade agropecuária, mas de forma subsidiária à produção de alimentos, considerada um
valor maior. Dessa forma:
A questão ambiental – intrínseca à realidade do agro – entrou na agenda para
não mais sair. O debate público em relação ao tema será cada vez mais
acentuado. Sabemos que é perfeitamente necessário e viável equilibrar
produção com proteção. Precisamos comunicar melhor que sabemos isso. Os
desafios serão cada vez maiores e exigirão discurso único e esforço
concatenado de todos os agentes representativos do setor, sejam eles da
iniciativa privada, da sociedade civil ou autoridades. E para que este objetivo
seja alcançado é que contamos com os parlamentares, que representam a
classe e o produtor rural (RAMALHO, 2010).
No ano de 2011, a edição de junho, traz na capa uma notícia sobre o Código Florestal.
Intitulada ―Controvérsias do Novo Código Florestal‖, a reportagem que se encontra na seção
de ―Política Agrícola‖ é assinada pelo advogado Rodrigo C. A. Lima, gerente geral do
Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais.
Esta reportagem, de junho de 2011, é dedicada a tratar do tumulto e das controvérsias
em torno da legislação florestal, abordando o processo de votação do projeto de lei e do
relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB/SP) sobre o Código Florestal. Além disso, aponta
alguns pontos contraditórios e os que, segundo o entendimento do advogado, não devem mais
sofrer alterações.
Além de tentar desconstruir argumentos contrários que alegam que a nova lei, se
aprovada com base no substitutivo do deputado Aldo Rebelo, poderá vir a aumentar o
desmatamento, prejudicar o cumprimento das metas de redução de emissões de gases de
efeito estufa, causar danos à biodiversidade, fomentar crimes ambientais e criar barreiras ao
comércio, Lima (2011) chama atenção para que o debate ideológico que ganhou força no
processo de discussão está por trás dessas críticas.
Lima (2011) destaca que há muito tempo não se via um debate tão polarizado na
sociedade brasileira, levando a uma verdadeira ―comoção‖ em Brasília. Chama atenção para a
244
necessidade de apartar a ideologia do debate e discute o que consideram os três pontos chave
da nova lei: APPs, Reserva Legal e Regularização das propriedades. A pergunta central,
norteadora da reportagem, é: ―como ficará o agro com o novo Código Florestal?‖.
Por fim, ao final da análise do advogado Rodrigo C. A. Lima, foi inserido um
comentário do Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho
Superior de Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e
professor de Economia Rural da Unesp/Jaboticabal, Roberto Rodrigues. Conforme afirma
Rodrigues:
Qualquer que seja o resultado final das discussões sobre o Código Florestal –
posição do Senado e posterior decisão da presidente Dilma Rousseff –, a
esmagadora vitória por 410 votos contra 64 do relatório do deputado Aldo
Rebelo na Câmara dos Deputados é uma grande ode à democracia. Aquela
Casa do Povo, legítima representante das mais diversas parcelas da
sociedade brasileira, compreendeu a necessidade de segurança jurídica em
um ponto fundamental para o desenvolvimento do País. Ninguém poderia
dizer que foi uma vitória dos ruralistas: eles não chegam nem à metade dos
410 votos; muito menos que seria a derrota dos ambientalistas: eles são
muito mais que os 64 votos. Foi a vitória da democracia, da
institucionalidade, da independência dos poderes. Vai ser complicado fazer
oposição à tamanha maioria democrática.
Nesta mesma tônica, o colunista Cesário Ramalho, presidente da SRB, manifestou seu
posicionamento na edição de julho de 2011, exaltando o resultado da votação e destacando o
caráter democrático presente no processo de aprovação do projeto de lei que altera o Código
Florestal. Ainda segundo seu entendimento, a votação foi apartidária, na qual ―os deputados
decidiram de maneira técnica, independentemente de ser governo ou oposição‖. Também
manifestou a ―visão turva‖ da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que fez críticas ao
processo de votação. Conforme destaca Ramalho (2011):
O que questionamos é: será que a ex-ministra acha que instrumentos de
pressão, como abaixo-assinados, constrangem parlamentares e mudam
votos? Ou será que a ex-ministra quer criar factoides, a fim de confundir a
opinião pública? O placar da votação das mudanças do Código na Câmara,
410 votos a favor e 63 contra, foi uma decisão inquestionável, que refletiu a
consciência dos parlamentares. É muito raro na nossa história um resultado
assim tão significativo. A realidade é que, em seu discurso, parece que a ex-
ministra só pensa na parte ambiental, esquecendo-se que a sustentabilidade,
envolve, impreterivelmente, a parte econômica e a social também. Será que
para a ex-ministra soa racional extinguir atividades centenárias sem pensar
nas graves consequências socioeconômicas que tal medida geraria? Seria
uma total falta de bom senso.
245
Termina a sua coluna destacando que o agronegócio tem o compromisso de produzir
mais degradando menos, ao mesmo tempo em que o ambientalismo, com um discurso vazio e
que só vislumbra um aspecto da sustentabilidade, saiu derrotado no processo de votação.
A última reportagem da revista Agroanalysis no período analisado, dedicado ao tema
do Código Florestal foi a que contou com maior conteúdo, haja visto o processo de votação
ocorrido meses antes no Congresso Nacional. Trata-se da edição de junho de 2012, que se
intitula ―Saiba tudo sobre a nova Lei‖, já mencionada anteriormente, na qual a revista faz uma
análise completa da Lei 12.561/12 e da MP 571/12 – incluindo sua publicação na íntegra.
Por meio da reunião de especialistas de seu corpo editorial para interpretar a nova Lei
e a MP – a matéria principal não foi assinada por nenhum especialista específico – a revista
defende que:
As mudanças na legislação criadas pelo novo Código tiveram o propósito de
obter uma solução integrando os dois pontos fundamentais comentados no
início da matéria (Produção e Meio Ambiente): a necessidade de garantir a
expansão da produção agropecuária e de reduzir o risco de danos ambientais.
Em virtude do clima de confronto criado nos debates que precederam a
elaboração e aprovação da nova Lei, muitas críticas surgiram e vão continuar
surgindo. Entretanto, o novo Código pode ser considerado o passo inicial
para conseguir o compromisso entre as necessidades da produção e do meio
ambiente, desde que: a tramitação no Congresso acabe por consolidar a nova
Lei dentro de um prazo razoavelmente curto, de forma a trazer a estabilidade
e afastar a insegurança dos produtores rurais; sejam criados, igualmente
dentro de um prazo curto, o Programa de Regularização Ambiental (PRA),
garantindo estímulos para que as propriedades possam estar em
conformidade com a lei.
Nesta edição de junho de 2012, além desta matéria principal, na qual é possível
perceber tanto a satisfação com o resultado da votação e das mudanças inseridas no Código
Florestal quanto a preocupação em conseguir consolidar a nova lei e criar o Programa de
Regularização Ambiental, consta a entrevista do pesquisador Gerd Spavorek, na seção ―Abre
Aspas‖.
Gerd Spavorek, que tem seu currículo apresentado no início da entrevista128
,
respondeu questionamento sobre o alinhamento do Código Florestal à tese do desmatamento
128
Na revista Agroanalysis, Gerd Sparovek é apresentando como tendo experiência na análise de sistemas de
produção agropecuária, desenvolvimento rural e planejamento do uso da terra. Informa ainda que coordenou
diversos projetos de pesquisa no governo federal relacionados à avaliação e formulação de políticas públicas nas
áreas de reforma agrária, crédito fundiário, certificação agrícola e sistemas de produção da agricultura familiar.
Na área ambiental, principalmente na interface da agricultura com a conservação, seu currículo apresenta
diversos artigos científicos no campo da modelagem espacial de sistemas complexos. Sua expertise se concentra
em modelagem física, relacionando solos, clima, relevo e localização com as dinâmicas e conflitos territoriais no
espaço agropecuário. Sensoriamento remoto, Sistemas de Informação Geográfica, Bancos de Dados e abordagem
multi e interdisciplinares são ferramentas comuns na sua atividade de pesquisa (2012).
246
zero – o que para Spavorek é uma tese tão extrema quanto defender que todo desmatamento é
necessário para desenvolver a agropecuária no Brasil – bem como sobre a quantidade de
medidas provisórias no texto legal – o que para o pesquisador, aproximou o texto da proposta
de lei apresentada pelo Senado e rechaçada pelos deputados federais.
Além disso, abordou aspectos sobre a falsa dicotomia entre preservar e produzir
alimentos e ainda sobre os pontos positivos e negativos da Lei 12.651/2012 e destacou que
―um dos maiores erros das discussões do Código Florestal foi este. A busca por um ganhador
e um perdedor. Com isto, perdemos todos‖ (SPAVOREK, 2012).
Considerando o conjunto de entrevistas, colunas de opinião, matérias apresentadas e
perfil daqueles que assinam as matérias – majoritariamente presidentes de instituição de
classe, diretores, gerentes e presidentes de institutos econômicos e classistas – pode-se afirmar
que há a adoção de um posicionamento único na revista Agroanalysis.
Assim, de modo geral, os discursos e esquemas argumentativos apresentados cumpre o
direcionamento editorial da revista, ou seja, dá voz ao agronegócio brasileiro, apresenta uma
visão ancorada em ditames econômicos e constrói a questão ambiental como submetida à
produção de alimentos e commodities e ao crescimento e desenvolvimento econômico do
país.
As reportagens analisadas e as colunas de opinião apresentam poucas divergências, ou
seja, apresentam a produtividade do setor rural como imperativo a ser perseguido e a
legislação anterior como injusta, justamente por dificultar esta produção. Nesse sentido, os
agentes que assinam as matérias não fazem menção a existência de posicionamentos
contrários à lei, nem a existência de movimentos sociais ou, quando o fazem, é para
deslegitimar seu pleito.
Assim, a partir das notícias analisadas, é possível afirmar que as reportagens da revista
Agroanalysis constroem as notícias a partir da visão de agentes que detêm trajetória e ligação
com o agronegócio no Brasil e desconsideram posições divergentes.
Não se percebe nas reportagens, portanto, uma tentativa de reconstruir todo o espaço
de discussão e a polêmica em torno da alteração da legislação e de projetos ambientais e
produtivos diferenciados entre si. A controvérsia neste canal de comunicação, quando surge, é
para ser subsumida ao ideal de um determinado setor social e econômico. Pode-se, dessa
forma, afirmar que há uma cobertura parcial do processo de discussão.
Por outro lado, este dado não apresenta maiores surpresas haja vista que a revista clara
e objetivamente assume seus posicionamentos: em prol do agronegócio brasileiro. A proposta
247
editorial, as linhas de abordagem das notícias, os interesses comerciais e o público ao qual se
dirigem influencia os modelos de referência na abordagem do Código Florestal, ou seja,
atrelado aos interesses do agronegócio.
5.2 Jornal Valor Econômico e as diferentes perspectivas sobre a alteração da legislação
florestal
O jornal on line Valor Econômico, segundo seu site129
, publica informações de cunho
econômico, político, financeiro e negocial do país e foi lançada, incialmente, no formato
impresso e posteriormente difundida também na plataforma digital. Apresenta-se sob a forma
de um informativo diário – diferentemente da Agroanalysis, que é mensal – no qual as
notícias, geralmente pequenas, são atualizadas constantemente na sua plataforma digital.
Esse fluxo permanente de atualizações acarretou em um volume maior de informações
disponíveis130
, motivo pelo qual centramos nossa pesquisa nos meses de agosto de 2011 a
dezembro de 2012 (o que ainda implicou em mais de 200 notícias relacionadas no site com o
verbete ―Código Florestal‖).
Selecionamos algumas dessas reportagens e buscamos, neste tópico, apresentar o
processo de construção do debate sobre a alteração da legislação florestal a partir das notícias
veiculadas pela mídia. Cumpre destacar que a mesma veicula algumas pautas ambientais,
contudo, em geral, elas são abordadas desde que possuam interface com a política, economia
e agronegócio vez que não consta nenhuma seção131
do diário dedicada exclusivamente ao
tema meio ambiente.
Assim sendo, de acordo com o que já apontamos anteriormente, a temática ambiental
nessas mídias – não só no Valor Econômico mas também na Agroanalysis – acaba tendo que
disputar espaço com outros assuntos, como política, saúde, educação, etc., de modo que,
quando são mencionadas, são atreladas as suas potencialidades nas atividades econômicas nas
possibilidades de negócios que representam. Nesse sentido, conforme destaca Hannigan
(2009, p. 136):
129
Disponível em: http://www.valor.com.br/. Acesso em 15 de março de 2016. 130
Em muitos casos – sobretudo nos dias de votação ou decisões importantes no Congresso Nacional – um
mesmo assunto é postado várias vezes ao longo dia, com pequenas variações devido às atualizações que surgiam. 131
As principais seções da revista digital Valor Econômico são: Brasil, Política, Finanças, Empresas,
Agronegócio, Internacional, Opinião, Legislação, Carreira, Cultura e Estilo, Valor Data.
248
A mídia, especialmente a imprensa de negócios, tem adotado
acentuadamente um discurso que apresenta o meio ambiente como uma
oportunidade econômica (...) Esta mensagem predominante é que o espírito
empresarial não precisa ser incompatível com os valores ecológicos, ao
contrário, os dois se reforçam mutualmente. Esta visão otimista do meio
ambiente, tem sido tem sido amplificada no corpo em rápida expansão das
histórias promissoras e em prospecção do ―desenvolvimento sustentável‖
(HANNIGAN, 2009, p. 136).
No entanto, a despeito dessa característica das chamadas ―imprensa de negócios‖ ou
―mídia comercial‖ de adoção do discurso que apresenta o meio ambiente como oportunidade
de negócio, sobretudo no que se refere às possibilidades diante do desenvolvimento
sustentável, as notícias sobre o Código Florestal veiculadas no Valor Econômico apresentam
uma diversidade de versões quando comparadas às veiculadas na revista Agroanalysis.
As notícias do Valor Econômico, portanto, apresentam em suas matérias algumas
discussões mais aprofundadas sobre a questão ambiental, buscando, tanto quanto possível,
veicular interpretações de agentes que possuem trajetórias, filiações e discursos diferenciados
daqueles predominantemente atrelados ao agronegócio.
Nesse sentido, e a título de exemplo, na ―seção Opinião‖ do Valor Econômico, no mês
de setembro de 2012, é possível constatar a existência de dois posicionamentos diferenciados
sobre uma mesma questão, qual seja, as consequências e percepções de agentes distintos sobre
alterações da Lei 12.651/2012.
Assim, no artigo ―Novo Código Florestal na estrutura agrária brasileira‖, de 26 de
setembro de 2012, o autor Gerson Teixeira – engenheiro agrônomo e Presidente da
Associação Brasileira de Reforma Agrária – tece críticas ao fato de a mudança do Código
Florestal ter sido realizada com vistas a atender o mercado interno e externo, colocando as
florestas e a biodiversidade do país no circuito da globalização financeira.
Realizando uma reflexão crítica diante do vislumbre da alteração da legislação
ambiental apenas do ponto de vista negocial, Teixeira afirma que ―bens comuns do povo
brasileiro poderão ser oferecidos como alternativa rentista para o capital especulativo
internacional‖.
A despeito da possibilidade do estímulo de prática sustentáveis, o autor chama atenção
que essas novas possibilidades de negócios tendem a blindar o latifúndio improdutivo, que
serão transformados em fábricas de carbono e em repositórios de reserva legal. Conforme
destaca:
De um modo geral, os setores da esquerda ―passaram batido‖ com a
armadilha fundiária e territorial contida no novo Código Florestal aprovado
249
pelo Congresso, fruto das articulações de alguns setores ambientalista e do
capital financeiro, com a referência da bancada ruralista. Trata-se dos
desdobramentos sobre a estrutura agrária, da institucionalização do comércio
sobre as florestas para fins de compensação dos passivos de reserva legal até
2008, e da utilização de áreas protegidas – área de preservação permanente
(APP) e reserva legal (RL) no mercado de carbono (...) Esta opção de
política ambiental via o concurso de instrumentos de mercado tem sido
denunciada por entidades da sociedade civil por institucionalizar a
possibilidade de mercantilização e financeirização do patrimônio natural do
país (TEIXEIRA, 2012).
Percebe-se, pois, a exposição do posicionamento de um agente que tece críticas tanto
ao movimento ambientalista quanto ao setor ruralista, afirmando que a legislação ambiental
recém aprovada pode agravar as já verificadas anomalias na estrutura fundiária do país, diante
do comércio eufemisticamente conhecido como ―prestação de serviços ecossistêmicos ou
ambientais‖. Ressalta, portanto, que questões eminentemente econômicas, voltadas para
atender o mercado, podem vir a fragilizar ainda mais os setores mais vulneráveis no que se
refere à regularização fundiária.
Segundo o autor, tendo como hipótese um latifúndio que, mesmo ―sem gerar ou
produzir 1 grama de alimentos ou de qualquer outro bem tangível estará prestando relevantes
serviços ambientais‖ será considerado como cumpridor sua função social e, portanto, não
poderá ser desapropriado para servir a reforma agrária. Conforme conclui, ―nem mesmo as
mais atentas lideranças da bancada ruralista contavam com um presentinho de tal ordem,
batalhado pelos chamados ambientalistas de mercado‖ (TEIXEIRA, 2012).
Por outro lado, no dia seguinte, 27 de setembro de 2012, na mesma ―seção Opinião‖ a
revista possibilitou que fosse exposto o posicionamento do advogado e produtor rural Antônio
de Azevedo Sodré, no qual destaca os benefícios da nova legislação para o meio ambiente e
para a agricultura.
No artigo intitulado ―Meio ambiente e agricultura no novo Código Florestal‖, Sodré
chama atenção para a posição de destaque do Brasil no cenário internacional no que se refere
a produção de alimentos e que a agropecuária ocupa menos de um terço do território nacional,
que ainda possui 61% de floresta nativa.
Defendendo a nova legislação – que, conforme afirma, embora não seja ideal, trouxe
avanços para os produtores rurais e que por este motivo deve ser defendida e não mais
alterada – o autor destaca os benefícios para o setor rural:
Do ponto de vista da produção de alimentos, os grandes avanços do texto
aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal podem ser
sintetizados da seguinte forma: houve uma adequação das restrições de uso
sobre pequenas propriedades possibilitando sua continuidade; foi
250
reconhecida a necessidade de ressarcir o produtor rural pelo não uso da terra
(...); foi reconhecido o princípio jurídico da inter-temporalidade das leis e,
como consequência, não há obrigatoriedade de recomposição ou instituição
de Reserva Legal quando a supressão da vegetação nativa ocorreu
respeitando a legislação vigente; foi admitida a inclusão das áreas de
proteção permanente (APPs) no cálculo da Reserva Legal que pode ser
instituída no mesmo bioma independentemente de bacia, com utilização de
espécies exóticas (até 50% da área) e em alguns casos frutíferas; ocorreu a
suspensão dos termos de ajuste de conduta - (TACs, implicitamente) e das
multas (explicitamente), com prazo para os produtores se ajustarem a nova
realidade (SODRÉ, 2012).
Percebe-se, pois, a exposição de um posicionamento plenamente favorável à legislação
recém aprovada, tendo em vista que Sodré (2012) parte da posição do produtor rural – que
encontrava-se em débito com o poder público ante as multas aplicadas por órgãos do Poder
Executivo e do Poder Judiciário, que teria a obrigação de recompor as áreas de reserva legal e
de preservação permanente mas que, diante da nova lei, fora agraciado com flexibilização de
algumas exigência, dentre outros benefícios apresentados – para expor seus argumentos.
No que se refere à análise da escolha dos agentes legitimados pela revista Valor
Econômico para exporem seus pontos de vista sobre a nova lei, pode-se afirmar que foi dada a
oportunidade de manifestação a ambos, mesmo reconhecendo as abordagens diferenciadas
apresentadas pelos dois autores – a despeito das duas se referirem ao Código Florestal. Assim,
não foi considerado problemático expor posicionamentos contrários, inclusive, oriundos de
agentes que possuem trajetórias, provém de instituições e detém visões sobre a legislação
diferenciadas entre si.
Este aspecto relativo à construção das notícias ambientais revelado pela revista Valor
Econômico merece destaque, haja vista a unicidade de discursos e posicionamentos
evidenciada na revista Agroanalysis.
Continuando este exercício de nos ater ao processo de reconstituição do debate sobre o
Código Florestal e as diferentes versões, de diferentes agentes, apresentadas no Valor
Econômico, podemos perceber em outras ocasiões situações nas quais foi oportunizado o
contraditório, ou seja, a exposição de pontos de vista e visões de agentes com relativa
diferenciação de posicionamentos e trajetórias.
Embora sob forma de notícias rápidas, de constante atualização e sem maiores
aprofundamentos – a maior parte delas disponíveis na ―seção Política‖ – foi possível perceber,
através das fontes citadas pela mídia, as relações estabelecidas entre diferentes agentes e
instituições no processo de pressão e as estratégias articuladas, pelos diferentes grupos, para
alcançarem maior difusão de seus argumentos.
251
Merece destaque a forma como é construída e retratada a atuação dos movimentos
sociais neste processo de discussão do Código Florestal. De início, cumpre destacar que, tal
como afirma Hannigan (2009), os jornalistas em geral têm uma lista de contatos, considerados
fontes confiáveis e legitimadas, composta geralmente por pessoas que ocupam funções de
visibilidade institucional: políticos, pesquisadores de reconhecidas instituições de ensino e
parte de executivos das maiores organizações de movimentos sociais.
Nesse sentido, na construção das notícias ambientais e buscando dar relevo aos
posicionamentos destes grupos, constantemente é feita menção aos movimentos Greenpeace,
Instituto Socioambiental, Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento
Sustentável, WWF e a Fundação SOS Mata Atlântica, tal como a seguir noticiado:
Movimentos sociais pressionam Dilma por veto ao Código Florestal. Os
movimentos sociais intensificaram as críticas ao novo Código Florestal,
previsto para ser votado em março na Câmara, e pressionarão a presidente
Dilma Rousseff a vetar itens da proposta, se o projeto de lei for aprovado
pelos deputados. Na quinta feira, cerca de 70 entidades da sociedade civil
terão uma reunião com Dilma, como parte das atividades do Fórum Social
Mundial temático, em Porto Alegre. No terceiro dia do fórum social,
organizações como a CNBB, MST, Via Campesina, UNE, WWF e SOS
Mata Atlântica anunciaram mobilizações em todo país para tentar impedir a
votação do novo Código Florestal que foi alterado no fim do ano passado
pelo Senado. Representando o MST e a Via Campesina, João Pedro Stédile
reiterou: ―os movimentos sociais devem pressionar Dilma pelo veto. Vamos
apelar para o brio da presidente, que tem personalidade, para que honre seus
compromissos com as gerações futuras. Vamos fazer ações de massa‖.
Mario Mantovani, da SOS Mata Atlântica, disse que serão feitas 30
mobilizações em 14 estados, que serão intensificadas na véspera do dia
previsto para a votação do novo Código Florestal, em março. Para a
secretaria geral da WWF, Maria Cecília Wey de Brito, o texto do novo
Código brasileiro é incoerente com a Rio+20, conferência da ONU sobre
desenvolvimento sustentável, que será realizada no Rio de Janeiro, em
junho. (...) Marina Silva, ex-ministra de Meio Ambiente e ex-presidenciável,
analisou que a aprovação do atual texto do Código Florestal abrirá
precedente para votação de uma ―enorme agenda de retrocessos‖ e citou
projetos como o da revisão do código mineral e da demarcação das terras
indígenas (AGOSTINI, 2012).
Merece destaque a atuação dos movimentos sociais Greenpeace e SOS Mata Atlântica
no processo de discussão sobre o Código Florestal, tendo em vista que, numericamente, com
base nas reportagens analisadas no período mencionado, as duas são as instituições mais
citadas no que se refere a discussões sobre a questão ambiental e as mais criticadas também
pelos setores ruralistas.
Especificamente ao Greenpeace, a entidade é acusada por parlamentares vinculados às
bancada ruralista de estarem à serviço do capital internacional. Conforme reportagem
252
publicada em agosto de 2011, Vandison Lima (2011a) destaca que o deputado Aldo Rebelo
(PCdoB/SP) e a senadora Kátia Abreu (PSD/TO), em um evento realizado na FIESP em São
Paulo, defenderam o substitutivo aprovado na Câmara dos Deputados e acusam o Greenpeace
de ser uma organização aventureira e arrogante.
Trata-se de uma instituição que incomoda estes grupos, fazendo críticas abertas a
bancada ruralista no Congresso Nacional e buscado outras formas de se contrapor ao domínio
da mesma. Nesse sentido, merece destaque as mobilizações e campanhas realizadas, como a
do ―Desmatamento Zero‖, com vistas a coletar assinaturas e criar uma lei de iniciativa popular
com vistas a se contrapor ao Código Florestal aprovado, que, segundo afirmam seus
dirigentes, ―é a vitória do atraso‖.
Novo Marco é vitória do atraso, diz Greenpeace. O diretor do Greenpeace
no Brasil, Paulo Adário, classificou a aprovação na Câmara dos Deputados
do novo Código Florestal como uma ―vitória do atraso‖, que agrada apenas a
setores conservadores do agronegócio e pode abalar o prestígio do governo
da presidente Dilma Rousseff, caso ela aceite o texto tal como está. ―Os
ruralistas provaram ser o maior partido do Brasil. Derrotaram o governo e se
divorciaram da opinião púbica, já que as pesquisas mostram que a maioria da
população não aprova o novo Código‖, avaliou. A força demonstrada pelos
ruralistas nesta votação – obtiveram 274 favoráveis a 184 contrários – dará
aos mesmos, acredita Adário, confiança para mexer em questões tão ou mais
espinhosas. ―Eles agora vão achar que tem forças para buscar outras
medidas, como a revisão de áreas protegidas e o acesso a recursos naturais
que estão em terras indígenas‖. No plano político, Adário crê que ―è
fundamental que a presidente vete o texto. Tanto em respeito àqueles que a
elegeram como para recuperar respeito no Congresso Nacional. Ela disse
várias vezes que queria o texto como foi aprovado no Senado, sem as
mudanças que a Câmara fez. Pode ser um divisor de águas no mandato
dela‖, opinou (LIMA, 2012b).
Conforme destaca Hannigan (2009), a instituição pode ser tomada como uma
―empreendedora de questões ambientais‖, tendo em vista que apresentam seus argumentos
ambientais nas arenas de disputa, buscam atrair o máximo de atenção para estes argumentos e
funcionam como ―popularizadores‖ de discussões científicas.
Além disso, se colocam a serviços de governos na construção de políticas públicas,
por meio de expertise técnica, resultando tal processo em uma relação sinérgica entre tal
organização ambiental e os formulados de políticas públicas ―que consideram o conhecimento
e a informação produzida pelo Greenpeace e outros, de valor considerável para delimitar suas
posições nos debates de arena pública sobre as questões ambientais‖ (HANNIGAN, 2009, p.
153).
253
Contudo, com base nas reportagens analisadas, a despeito de sua importância e poder
de influência nos debates sobre a questão ambiental, percebe-se que no Brasil o Greenpeace
mesma tem passado por um processo de reestruturação interna, sobretudo após a votação do
Código Florestal brasileiro, com vistas a dar mais agilidade à capacidade dos ativistas e
aumentar o engajamento e participação dos brasileiros nas causas ambientais.
Conforme reportagem do Valor Econômico, o Greenpeace precisa aumentar a
capacidade de contribuição e doações no Brasil, pois, apesar de atuar a vinte anos no país, ―o
braço direito da ONG também precisa elevar as doações no país, que representa hoje uma das
principais vitrines de atuação nas campanhas globais do grupo, mas conta com a metade do
número de colaboradores da vizinha Argentina, por exemplo‖ (BETTINA, 2012a).
Outra instituição que ocupa centralidade nos debates em torno das causas ambientais
em geral, e no processo de votação do Código Florestal mais especificamente, é a Fundação
SOS Mata Atlântica. Conforme afirmado, várias foram as mobilizações e formas de protesto
buscadas pelos movimentos sociais para questionar a legitimidade da nova lei, contudo,
percebe-se que, frequentemente, o jornal Valor Econômico elege como agente autorizado a se
pronunciar sobre as perspectivas dos movimentos ambientalistas os diretores e representantes
da instituição, conforme abaixo:
Manifestantes protestam contra o novo Código Florestal. Um protesto
contra a votação do novo Código Florestal reuniu, na manhã desta quarta
feira, cerca de 1.100 pessoas de todas as partes do país e da América Latina,
no gramado em frente ao Congresso Nacional. A ação faz parte da campanha
nacional #MangueFazaDiferença, que percorreu 35 praias do litoral
brasileiro em defesa das florestas e da preservação das áreas ecológicas. A
campanha, coordenada por uma coligação formada por 163 organizações não
governamentais, escolheu Brasília para o encerramento da campanha.
Segundo o diretor de Políticas Públicas da SOS Mata Atlântica, Mario
Mantovani, o movimento quer demonstrar que existe a preocupação de toda
a sociedade em relação à votação do Código Florestal. ―O que a gente quer
mostrar é que esse ‗papo‘ não é só de ambientalista e ruralista. Tem muito
mais coisa quando se trata de política pública, de interesse nacional. O que a
gente está vendo aqui hoje é uma reação aquilo que os ruralistas dizem que é
um interesse do agronegócio‖, disse. Mantovani defende que o governo atue
no ajuste de questões delicadas do código e que não ceda a pressões
partidárias, permitindo que a base aliada vote um projeto de tal importância
com tanta rapidez. ―Nós queremos fazer com que todos tenham uma
participação, que todos [os movimentos] sejam ouvidos. Não há essa
urgência, essa presa para votar aquilo que é de interesse daqueles que não
querem pagar suas contas [...] que querem simplesmente continuar surfando
em cima deste grande momento brasileiro, que é o agronegócio‖, disse
(AGÊNCIA BRASIL, 2012a).
254
Percebe-se, conforme menciona a reportagem, que o movimento ambientalista fora
organizado por uma coligação formada por 163 organizações não governamentais, sendo que
o representante escolhido como porta-voz do movimento foi o diretor de Políticas Públicas da
Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani. Isto reforça a ideia de que estas instituições
– Greenpeace e SOS Mata Atlântica – são, dentre os movimentos sociais, as considerados
como detendo agentes mais confiáveis e articulados nesta arena.
Relativamente às mobilizações dos movimentos sociais, também foram consideradas
pautas pela mídia Valor Econômico as que ocorreram após o processo de votação na Câmara
dos Deputados. Neste sentido, no bojo do movimento ―Veta Dilma‖, foram noticiadas
(SOUSA, 2012a) a realização de duas manifestações de protesto contra o novo Código
Florestal.
As mesmas pautaram-se pelo clamor pós-votação, e buscavam pressionar a presidente
Dilma Rousseff a vetar o texto aprovado. A primeira das mobilizações que fora noticiada
aconteceu no dia 20 de maio de 2012, em São Paulo, organizada pela Fundação SOS Mata
Atlântica e reunindo cerca de duas mil pessoas no Parque do Ibirapuera. A segunda
manifestação aconteceu em Brasília, no dia 22 de maio, quando algumas centenas de
manifestantes se reunirão no Planalto para pedir o veto total ao Código Florestal.
Estas mobilizações dos movimentos sociais possibilitaram que as notícias sobre o
Código Florestal fossem construídas partir de um viés ―emocional‖ e ―sensacionalista‖,
decorrente do acirramento de visões e perspectivas sobre a nova lei. Assim, muitas dessas
notícias destinadas a retratar a cobertura dos dias de votação utilizavam-se, não raras vezes,
de imagens emblemáticas de manifestantes com faixas ou sendo detidos por autoridades
policiais junto ao texto apresentado.
Por representarem o ―drama‖ da votação, esses eventos foram bastante explorados, e
nesse sentido, nos filiamos ao posicionamento de Petrarca (2007, p. 115) ao se referir ao
campo jornalístico e afirmar que ―a procura incessante por esses ‗acontecimentos
espetaculares‘, ‗furos de reportagem‘ ou por fatos que fogem ao cotidiano e ao habitual,
constituem algumas das características das relações de força e das restrições que estruturam
esse campo‖.
Relativamente à articulação de parlamentares com movimentos sociais ambientalistas,
é possível afirmar que esta relação possibilitou aos deputados federais e senadores da bancada
ambientalista amplificar as discussões levadas à cabo no Congresso Nacional – e que não
conseguiam ecoar com força suficiente neste espaço legislativo.
255
Desta forma, a bancada ambientalista que, conforme analisamos em capítulos
anteriores, não possuía o mesmo poder de influência quando comparada com a bancada
ruralista, encontra uma forma de extensão das suas demandas para que sua intervenção seja
potencializada.
Nesse sentido, pode-se fazer menção à sinergia entre os formuladores oficiais de
políticas públicas e as organizações ambientais que atuam na arena pública e, a título de
exemplo, mencione-se a articulação realizada por senadores com representantes de entidades
ambientais com vistas a estabelecer algumas pautas nas discussões sobre o Código Florestal,
conforme abaixo:
Ambientalistas articulam para adiar a votação do Código Florestal
Ambientalistas iniciaram hoje uma movimentação no Senado para tentar
adiar ao máximo o calendário de votação do projeto de lei do Código
Florestal. Pelo menos sete parlamentares (senadores Aníbal Diniz, Jorge
Viana, Eduardo Suplicy (PT-SP), Pedro Taques (PDT-MT), Lindbergh
Farias (PT-RJ), Marinor Brito (PSOL-PA) e Cristovam Buarque (PDT-DF)
além da ex-senadora Marina da Silva) que pretendem discutir a matéria sem
pressa requerida por senadores da base ruralista se reuniram no gabinete de
Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) com representantes de movimentos sociais
e ambientais, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST),
Greenpeace, a organização WWF, entre outros para analisar as providências
que irão tomar. Aníbal Diniz (PT-AC) ―Quanto menos presa tivermos será
melhor para que possamos construir um código florestal com a menor
margem de erro possível, porque essa é uma questão fundamental não para
os congressistas, mas para toda sociedade‖. Senador Jorge Viana (PT-AC),
relator do projeto na Comissão de Meio Ambiente também concorda com o
colega de partido. Ele reconheceu que há uma insegurança jurídica clara
entre senadores e que precisa ser resolvida. Viana ressaltou ainda que o texto
aprovado pela Câmara contêm erros jurídicos que precisam ser corrigidos
(AGÊNCIA BRASIL, 2011a).
Além disso, destaquem-se outros agentes acionados e espaços nos quais os
parlamentares da bancada ambientalista do Congresso Nacional buscaram para conseguir que
a discussão sobre a alteração da lei também fosse decidida em outras instâncias.
Assim, ao perceber que do ponto de vista numérico e quantitativo dos parlamentares
inclinados a votar contra o substitutivo do Código Florestal realizado pelo deputado federal
Aldo Rebelo e, portanto, diante das reduzidas possibilidades de modificar o quadro final de
votação da lei, os líderes da bancada decidiram investir no poder de influência e pressão junto
a membros do poder Executivo. Além de atuar junto aos Ministérios, também buscaram
―sensibilizar‖ a presidente da República a vetar o texto aprovado.
Ambientalistas farão pressão sobre Dilma. O retorno do Código Florestal à
Câmara dos Deputados, uma vez que foi aprovado com modificações pelo
Senado, na noite de terça feira, deve reiniciar a disputa entre ruralistas e
256
ambientalistas que marcou a tramitação no primeiro trimestre deste ano. O
motivo é que os ruralistas querem alterar pelo menos quatro artigos
aprovados pelos senadores, enquanto os ambientalistas, em menor número,
desistiram de atuar no Congresso e pretendem aprestar à Dilma Rousseff
suas sugestões de veto. (...) Para o deputado Sarney Filho (PV/MA), líder do
PV na Câmara, qualquer alteração no texto que sinalize maior prejuízo ao
ambiente deverá ser vetado pela presidente Dilma Rousseff. (...) O que
mostra que a estratégia agora está no Palácio do Planalto: é convencer Dilma
a vetar os trechos que os ambientalistas consideram equivocados. ―Não há
muito o que fazer, somos minoria. Agora é colocar para a presidente a
responsabilidade‖ (AGÊNCIA BRASIL, 2011b).
Outra agente a qual a mídia noticiou e deu visibilidade às manifestação, é a atual
ministra da Agriculta Kátia Abreu. As notícias envolvendo Kátia Abreu evidenciam que, tanto
por sua atuação como senadora representante da bancada ruralista, quanto pela presidência à
frente da CNA, sempre está à frente das críticas para com a legislação antiga. Neste sentido,
destacamos a reportagem abaixo:
Kátia Abreu lidera a comitiva aos EUA em defesa do Código Florestal. A
presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), a
senador a Kátia Abreu (PSD/TO), lidera comitiva aos Estados Unidos nesta
semana com objetivo de defender, junto à opinião pública americana, o
Código Florestal em análise no Congresso Brasileiro. Oficialmente, a agenda
da CNA envolve também outros assuntos, como atrair investimentos
estrangeiros para o agronegócio e a derrubada de barreiras comerciais. Mas
o Código Florestal foi um dos pontos mais questionados nas conversas
mantidas pela presidente da entidade (RIBEIRO, 2011).
Especialmente no que se refere ao excesso de rigor da legislação ambiental brasileira,
a senadora Kátia Abreu sempre se mostra disposta a responder as críticas recebidas, tanto
nacionalmente como internacionalmente, conforme abaixo:
CNA quer estender ao mundo a “rigidez” ambiental do Brasil. Passado o
debate acalorado sobre a revisão do Código Florestal, a principal entidade
ruralista brasileira prepara-se para lançar um documento mostrando o
tamanho do impacto da produção agrícola europeia caso regras ambientais
vigentes no Brasil fossem aplicadas também àquele continente. O foco da
ação da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária no Brasil (CNA)
está nas chamadas matas ciliares, a cobertura vegetal que margeia os cursos
d‘água. Nos próximos dois meses, técnicos da entidade mapearão, através de
imagens de satélites, propriedades que beiram cinco grandes rios da Europa
– Reno, Danúbio, Tâmisa, Sena, Douro – e simularam quanto os produtores
rurais perderiam em valor bruto de produção se tivessem de dispor de áreas
semeadas para recomposição florestal. A conclusão deste relatório será a
carta na manga da senadora Kátia Abreu (PSD-TO), presidente e mentora da
ideia, a ser puxada sempre que o momento político exigir. (...) ―Os
ambientalistas europeus são os que mais nos cobram, mas viram as costas
para os seus problemas‖, diz Kátia Abreu, referindo-se ao fato de que parte
significativa das florestas da Europa já terem sido derrubadas. ―Neste estudo
não estamos nem levando em conta as reservas legais, porque nós não
257
concordamos com elas. Estamos olhando apenas para as matas ciliares,
porque todo produtor sabe da importância que ele tem‖ (BARROS, 2012a).
Diante do posicionamento exposto, e das diferentes instâncias que a senadora Kátia
Abreu representa – agente pública e representante de instituição classista – a mesma foi
considerada uma das porta-vozes para expressar o posicionamento dos ruralistas nas
reportagens do Jornal Valor Econômico. Percebe-se, portanto, a tentativa da mídia analisada
de manter equilibrada a difusão dos diferentes posicionamentos decorrentes da disputa
legislativa – na Câmara dos Deputados e no Senado Federal – sobre o Código Florestal.
Relativamente à forma como o Valor Econômico retratou as discussões realizadas no
Senado Federal, percebe-se a maioria das reportagens noticia as discussões como menos
tensas quando comparadas as discussões realizadas na Câmara dos Deputados, o que não
implica dizer que foram consensuais ou livres de conflito.
Contudo, a despeito das divergências declaradas entre os dois grupos, em algumas
matérias tentou-se construir a ideia de relativo consenso entre parlamentares ambientalistas e
ruralistas, tal como exemplificado na notícia abaixo:
Código satisfaz ruralistas e ambientalistas. O texto do parecer do senador
Jorge Viana (PT/AC) ao projeto do novo Código Florestal, cuja aprovação
foi concluída ontem pela Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado foi
considerada satisfatória para o Ministério do Meio Ambiente e para o setor
rural (...) Elaborado a quatro mãos por Viana e Luiz Henrique, o texto
resultou de intensa negociação dos relatores com o governo e com os
ruralistas, inclusive a bancada do setor na Câmara dos Deputados. ―A
negociação resultou no isolamento dos radicais dos dois lados e na produção
de um texto equilibrado, que representa a média do pensamento do
Congresso‖, disse Rollemberg (ULHÔA; RITTNER, 2011).
Tal ideal de consenso fora construído com base em notícias nas quais evidenciava-se
uma maior participação de setores externos ao Senado e a Câmara dos Deputados – tais como
juristas, representantes do Ministério Público, ex ministros de meio ambiente, comunidade
científica e integrantes de movimentos sociais e ambientais – que se fizeram presentes em
audiências realizadas.
Nesse sentido, merece destaque a reunião de ex-ministros do meio ambiente no
Senado Federal com vistas a debater o novo Código Florestal e propor que o setor
ambientalista seja mais ouvido nos debates, conforme noticiado abaixo e com reprodução das
falas dos ex ministros José Carlos Carvalho, Marina Silva e Carlos Minc:
Ex-ministros pedem diálogo entre ruralistas e ambientalistas. Os ex-
ministros do Meio Ambiente que compareceram ao Senado para debater o
projeto de novo Código Florestal foram unânimes em defender o diálogo
258
sem disputas entre ruralistas e ambientalistas. Para o ex-ministro José Carlos
Carvalho não adianta o parlamento criar uma legislação com mecanismos de
comandos e controles ambientais sem que o Executivo promova incentivos
econômicos para que, por exemplo, pequenos agricultores tenham condições
de recompor áreas de preservação permanente (APPs). Para a ex-ministra
Marina Silva, só com uma decisão equilibrada será possível aperfeiçoar o
texto da Câmara que, segundo ela, teve os debates prejudicados justamente
pela prevalência de um setor (produtores rurais) em detrimento de
especialistas em meio ambiente. ―Sobre nós há o peso de que somos contra o
desenvolvimento. Estas aqui para dizer que precisamos desconstruir os
rótulos que não ajudam no debate e em uma solução‖. O ex-ministro Carlos
Minc destacou o risco que o Brasil corre de ir na contramão de outros países
que, por força do aquecimento global, adotam medidas de proteção de seus
biomas. Ele ressaltou que uma legislação que facilite o desmatamento vai
comprometer o Brasil, sede da Rio + 20, a Conferência Mundial de Meio
Ambiente (AGÊNCIA BRASIL, 24 de agosto de 2011c).
Também fora noticiado a realização de uma audiência pública conjunta das quatro
comissões do Senado que analisam a proposta de reforma da lei florestal (Constituição e
Justiça, Agricultura, Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente) com juristas, no dia 13 de
setembro de 2011, na qual os mesmos analisaram e apontaram alguns problemas relacionados
a questões constitucionais e legais do texto apresentado.
Dentre as manifestações registradas (ULHOA, 2011a), mencione-se a do sub-
procurador geral da República Mário José Gisi, que relaciona a consolidação das áreas
ocupadas até 2008 com o aumento do desmatamento no país, o professor Paulo Affonso Leme
Machado, especialista em Direito Ambiental, que afirma que o conceito de anistia para o
desmatamento está previsto e chamou atenção para a ―competência concorrente‖ entre União,
Estados e Municípios na questão ambiental e o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
Hermam Benjamim, que defendeu a diferenciação entre grande e pequeno produtor, tal como
prevista na Constituição Federal.
Contudo, apesar desta tentativa de construção de um texto menos polêmico, submetido
a legalidade das normas jurídicas e elaborado em conjunto com maiores negociações e menos
extremismos e resultado num projeto de substitutivo da lei florestal que contemplasse os
anseios tanto dos setores ruralistas quanto dos ambientalistas, o texto final, aprovado em 06
de dezembro de 2011132
, não ficou imune a críticas. Tais críticas foram realizadas pelos mais
132
Conforme destaca reportagem assinada pela jornalista Raquel Ulhôa (2012) da revista Valor Econômico,
―após cerca de 5 horas de discussão e negociações finais entre o relator, Jorge Viana (PT/AC), e a bancada
ruralista, o plenário do Senado aprovou às 22 horas, em votação simbólica, o substitutivo elaborado em conjunto
com o senador Luiz Henrique (PMDB/SC). Houve pedido de verificação nominal dos votos e o placar indicou
59 votos a favor e sete contra o parecer‖.
259
diferentes agentes, entre eles, a própria ex-ministra Marina Silva, participante de algumas
reuniões com os senadores:
Marina Silva critica aprovação do Código Florestal no Senado. A votação
do Código Florestal no Senado, ontem à noite, repercutiu fortemente na
Conferência do Clima das Nações Unidas em Durban, África do Sul. ―O
texto aprovado no Senado reduz a proteção às florestas, anistia desmatadores
e aumenta desmatamento‖ disse a ex ministra do Meio Ambiente em uma
coletiva de imprensa lotada e concorrida. ―O compromisso brasileiro de
reduzir as emissões dos gases do efeito estufa está sendo ameaçado‖
(CHIARETTI, 2011).
Neste mesmo sentido, muitos setores ligados aos movimentos ambientalistas
pronunciaram-se nas reportagens do Valor Econômico (ULHOA, 2011c) destacando que o
texto proveniente do Senado aprofundou pontos já problemáticos identificados no substitutivo
da Câmara dos Deputados, reforçando ilegalidades e aumentando a insegurança jurídica, além
de ampliar os casos de desmatamento.
O mesmo se pode dizer das manifestações com relação ao veto da presidente Dilma
Rousseff ao texto final da lei. Foram várias críticas recebidas, bem como foi intensa a
mobilização por parte de diferentes setores da sociedade, para que a Presidente da República
Dilma Rousseff, vetasse o texto da Lei aprovado pela Câmara dos Deputados.
Dentre essas manifestações de apoio noticiadas, merece destaque a manifestação a
favor dos vetos por parte de empresários133
(CHIARETTI; LIMA; VERA; 2012) e a
Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente134
, enquanto se manifestou
contrários ao veto e favorável à sanção integral do texto, o presidente da presidente da
Confederação Nacional dos Municípios (CNM) Paulo Ziulkoski, sob a alegação de que
―temos 4,4 mil municípios agropecuários no país. A decisão da Marcha, por ampla maioria, é
de pedir para que a senhora que sancione o Código Florestal que foi aprovado na Câmara‖
(SOUSA, 2012b).
133
Segundo reportagem, ―(...) Agora, um grupo de empresários decidiu se posicionar sobre a questão. Em
encontro organizado por iniciativa de Roberto Klabin, presidente da Fundação SOS Mata Atlântica, e José Eli da
Veiga, professor da USP, Pedro Passos, copresidente do conselho de administração da natura, Horácio Lafer
Piva, acionista da Klabim, Paulo Nigro, diretor-presidente da Tetra Pak, e Roberto Lima, membro conselheiro da
Telefônica Brasil, defenderam o veto presidencial‖. 134
De acordo com a revista Valor Econômico: ―A nove dias da decisão da presidente Dilma Rousseff de vetar ou
não o novo Código Florestal, a Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema), que
representa 48 secretarias, autarquias e fundações ambientais, encaminhou documento posicionando-se contra o
texto aprovado por 274 votos na Câmara no fim de abril. Dez das 27 secretarias estaduais de meio ambiente
pediram veto total ao texto – SC, RJ, PE, GO, DF, RO, PA, AP, AC. Outras dez opinaram pelo veto parcial –
AM, AL, CE, PB, RN, SE, ES, MG, PR, RS. E sete não se manifestaram ou se abstiveram. Nesse caso, estão
alguns dos principais Estados produtores do país, como Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além das
novas fronteiras agrícolas – Maranhão, Piauí e Bahia‖ (SOUSA, 2012b).
260
Com relação a este processo, a mídia Valor Econômico identifica tanto o intenso
processo de negociação antes e depois da votação e os principais argumentos levantados por
setores favoráveis e setores contrários aos 12 vetos e 32 alterações ao Código Florestal,
anunciadas no dia 25 de maio de 2012, conforme abaixo noticiado:
Dilma anuncia 12 vetos e 32 alterações no Código Florestal. Dos 84 artigos
do Código Florestal aprovado na Câmara dos Deputados, 12 trechos foram
vetados pela presidente Dilma Rousseff. (...) A presidente fez um total de 32
alterações ao texto: 14 recuperam o texto aprovado pelo Senado, 13
representam ajustes ou adequações de conteúdo do projeto de lei e cinco
dispositivos novos foram incluídos. A decisão de Dilma será publicada no
Diário Oficial de segunda feira, juntamente com uma medida provisória que
será editada para cobrir o ―vácuo legislativo‖ que resultará dos vetos
(VELOSO; SOUSA; EXMAN, 2012).
Após a divulgação dos vetos, os diferentes setores se manifestaram e expuseram suas
críticas ao mesmo. Conforme noticiado, após a divulgação dos vetos ―parlamentares ligados
ao agronegócio deram início ontem a articulações para mobilizar toda bancada ruralista e
derrubar o vetos presidenciais no Congresso‖ (EXMAN; VELOSO; MARTINS, 2012).
Os movimentos ambientalistas também criticaram a decisão da presidente de conceder
anistia a desmatadores e de não ter vetado, integralmente, o texto da Lei 12.651/2012, de
acordo com a reportagem abaixo reproduzida:
Ambientalistas divergem no tom de críticas a veto parcial do código. Alas
do movimento ambientalista divergiram no tom das críticas ao veto parcial
feito pela presidente Dilma Rousseff ao novo Código Florestal. A
organização não governamental WWF afirmou que o governo ―ignorou os
apelos da população‖ ao não vetar integralmente a proposta aprovada pelo
congresso em abril. Enquanto isso, o líder do PV na Câmara, deputado
Sarney Filho (MA), disse que a legenda preferia o veto total, mas afirmou
que Dilma ―cumpriu os compromissos de campanha‖ ao derrubar a anistia
aos desmatadores. A ONG afirmou que somente o veto integral ao texto
possibilitaria a regulamentação da lei atual, ―com a participação real da
sociedade e da comunidade científica‖. Além disso, a WWF-Brasil alerta
que as mudanças no Código Florestal por meio de medida provisória, como
anunciado pelo governo nesta sexta feira, terão que passar pelo crivo do
Parlamento. ―Aonde ruralistas vêm tentado impor retrocessos à sociedade‖
diz em nota da entidade. (...) O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) fez duras
críticas à ―falta de transparência‖ do governo, ao não divulgar todos os vetos
ao Código Florestal. ―De toda forma, pelo pouco divulgado, é possível
afirmar que o retrocesso em termos ambientais foi mantido. A presidência
vetou poucos artigos e manteve no texto uma série de mudanças que
reduzem a proteção ambiental e anistiam aqueles que derrubaram florestas
ilegalmente‖, disse (MARTINS, 2012).
261
Também foram realizadas críticas a Medida Provisória editada para suprir os vetos ao
texto da lei votada na Câmara dos Deputados, tanto por setores ligados ao ambientalismo
quanto a bancada ruralista.
Para representantes dos movimentos ambientalistas, a Medida Provisória não só não
resolveu os problemas da legislação, como ainda os agravou. Segundo o advogado André
Lima, consultor jurídico do SOS Mata Atlântica, a permissão de reflorestar áreas degradadas
com plantas diferentes do bioma local é ―uma desvirtuação do conceito de APP‖ (MARTINS,
2012b) e no mesmo sentido se manifesta o coordenador Política e Direito do Instituto
Socioambiental (ISA), Raul do Valle, para quem esta medida é de responsabilidade da
Presidente da República. Segundo a reportagem:
Para ONGs, MP “piora” a legislação florestal. (...) O coordenador de
Política e Direito do Instituto Socioambiental (ISA), Raul do Valle, afirmou
que as mudanças são de responsabilidade do Palácio do Planalto e que a
presidente Dilma tem que ser responsabilizada pela mudança. ―Nem o
Congresso Nacional, nem a bancada ruralista tiveram a coragem de por isso
no texto. Foi a presidente Dilma Rousseff que colocou isso na MP. Pela
primeira vez em 90 anos de legislação ambiental brasileira nos não teremos
recuperação de áreas ambientalmente sensíveis e isso é palavra da presidente
da República. Isso tem que ficar na conta dela‖, declarou (MARTINS,
2012b).
Os dois grupos questionaram a legalidade tanto dos vetos, quantos da Medida
Provisória e da posterior edição de decreto presidencial para regulamentar estas medidas,
sendo que uma das estratégias utilizadas pelos membros da bancada ruralista para manifestar
a insatisfação e não concordância com as medidas, foi o de ―judicializar a questão‖ e propor
Ações Diretas de Inconstitucionalidade. Neste sentido:
Ruralistas recorrem novamente ao STF contra MP do Código Florestal.
Após uma primeira negativa do Supremo Tribunal Federal (STF) na análise
do mandado de segurança que buscava suspender os efeitos da medida
provisória do Código Florestal, deputados da bancada ruralista recorreram
novamente à Suprema Corte nesta quinta-feira contra a decisão tomada pelo
ministro Luiz Fux, na quarta feira passada. A alegação é de que a presidente
Dilma Rousseff não poderia ter vetado uma lei aprovada e, ao mesmo tempo,
regulamentar o assunto por meio de uma MP. Os parlamentares reclamaram
que o governo restaurou por MP o texto do Código que foi aprovado pelo
Senado e rejeitado pela Câmara e, com isso, teria interferido indevidamente
nos trabalhos do Legislativo. ―O governo quer legislar em cima de algo que
já foi decidido pela Câmara‖, disse Caiado. (...) O mandado foi impetrado
pelos deputados Ronaldo Caiado (DEM-GO), Domingos Sávio (PSDB-MG),
Alceu Moreira (PMDB-RS), Jerônimo Goergen (PP-RS) e Nelson
Marquezelli (PTB-SP) (VELOSO, 2012a).
262
Ainda segundo as reportagens publicadas pelo Jornal Valor Econômico, membros da
bancada ruralista expuseram sua insatisfação com a atitude da chefe do Poder Executivo. O
parlamentar Luiz Carlos Heinze (PP/RS) manifestou ―o sentimento de traição em parte da
bancada que concordou em fazer acordo com governistas na votação do Código e viu suas
conquistas serem anuladas pela caneta de Dilma‖ (VELOSO; MARTINS; SOUSA, 2012),
enquanto ―o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Homero
Pereira (PSD-MT), afirmou que os vetos são um ―golpe‖ ao acordo firmado entre ruralistas e
governistas‖ (VELOSO; MARTINS; PERES).
No mesmo sentido se manifesta o deputado Ronaldo Caiado (DEM/GO), para quem a
decisão é ditatorial e desmoralizante para o Congresso Nacional e que, segundo reportagem, o
defende que ―o direito de veto é uma prerrogativa dela [presidente] e isso não se discute, mas
é arrogante e prepotente. O que me preocupa é como ela vai suprir todos os veto. O decreto
não pode criar [regras]. Se for assim é inconstitucional‖ (VELOSO, 2012b).
Diante do exposto perece-se que as mídias estudadas funcionaram como um
mecanismo não institucional que exerceu um importante papel no processo de tomada de
decisão e de interpretação sobre o processo de votação e aprovação da lei no Congresso
Nacional e sua posterior apreciação pela Presidente da República.
Percebe-se, portanto, a partir da seleção das reportagens expostas, que o jornal Valor
Econômico possibilitou uma maior cobertura do debate em torno das discussões sobre a
modificação legislativa. A partir das reportagens analisadas, pode-se constatar que há um
intercruzamento das arenas – científica, econômica, política, etc. – cabendo a mídia dar
notoriedade e legitimidade aos discursos e visões ―legitimadas‖ do debate ambiental.
Dessa forma, a mídia Valor Econômico possibilita mais espaços para os diferentes
agentes se manifestarem, ou seja, o debate não ficou restrito a apenas a um setor, mas tanto o
segmento ambientalista quanto o ruralista puderam ter seus posicionamentos expostos. A
despeito da linha editorial focada em economia, o meio de comunicação busca ser mais
abrangente na composição das notícias e isto implica em dar espaço para que movimentos
contrários à visão predominante do agronegócio possa se expressar.
Além disso, as reportagens desta revista analisadas fornecem uma dimensão da
dinâmica, das discussões, dos processos de negociação e dos agentes e os que se fizeram
representar nesses processos – parlamentares, movimentos sociais, pesquisadores dentre
outros.
263
Já os jornalistas da revista Agroanalysis, em geral, expõe uma visão bastante uniforme
sobre a questão da alteração da legislação florestal, ou seja, a compreensão do problema parte
do viés econômico e do agronegócio, portanto, as alterações sugeridas pelos representantes da
bancada ruralista no Congresso Nacional são as legítimas modificações. Pouco espaço é dado
para que compreensões distintas possam ser expostas.
Apesar dessas diferenças, a partir da análise dos veículos de comunicação acima
mencionados e procedendo a um comparativo entre as duas mídias, pudemos perceber de que
modo algumas as alianças, redes e negociações são formadas, tanto entre os agentes políticos
de diferentes Poderes do Estado, quanto com agentes externas, sobretudo, cientistas e
integrantes de movimentos sociais.
É possível afirmar, ainda, a existência de uma ligação entre uma visão de mundo de
um determinado grupo social e o que é evidenciado nos textos e que estes últimos não são
apenas expressos por palavras, mas pela forma de abordagem do conteúdo, pelas modalidades
enunciativas diferenciadas adotadas e diferentes estilos de linguagem e de argumentação
consagrados, além de agente legitimados para serem citados como possuindo um discurso
legítimo pelos jornalistas.
Assim, o que procuramos evidenciar neste capítulo é que a notícia ambiental é
socialmente construída por meio de um processo de competição pela legitimação de
argumentos considerados apropriados aos interesses de linhas editoriais, interesses
particulares dos jornais e mesmo condicionantes sociais externos, que vão influenciar os
agentes desta arena de disputa.
264
6 PRESERVAÇÃO AMBIENTAL X PRODUÇÃO AGRÍCOLA: os discursos sobre o
Código Florestal no Congresso Nacional
Conforme analisado ao longo deste trabalho, percebe-se que diversas estratégias foram
acionadas pelos parlamentares para que a alteração da lei florestal se adequasse aos seus
interesses e dos respectivos grupos aos quais estavam vinculados. Dentre estas estratégias,
centraremos nossa atenção neste capítulo às estratégias discursivas.
Nesse sentido, dentre os autores que serviram de aporte para as nossas reflexões,
destacamos as contribuições de Foucault (1995, 1999 e 2008) especialmente no que concerne
aos conceitos de enunciado discursivo, de biopolítica135
e de racismo estatal136
, que serão
desenvolvidos ao longo do capítulo.
Sem pretensões e condições de realizar um esgotamento do referencial teórico
foucaultiano, buscamos utilizar esses conceitos como forma de operacionalizar a análise dos
discursos dos parlamentares que participaram do processo de votação e aprovação do Código
Florestal no Congresso Nacional. Contudo, cumpre de antemão destacar que, a despeito de
nos centramos neste espaço, tentaremos não perder de vista que há um intercruzamento de
espaços que possibilita a produção e a circulação destes discursos.
Inicialmente, portanto, precisamos fazer algumas considerações, ainda que
superficiais, sobre o legado de Foucault, que destinou toda sua obra à reflexão sobre os
discursos e seu funcionamento na sociedade moderna. Nessas reflexões, conforme destaca
Rouanet (1971, p. 12),
Foucault descreve o que vê quando substitui o sujeito por um somatório das
posições gnoseológicas possíveis do sujeito; quando dissolve os conceitos nas regras
para a formação de conceitos; e quando põe de lado as práticas humanas em sua
descrição do mecanismo de apropriação temática de determinados discursos,
enxergando nesses mecanismos um conjunto de normas inerentes ao próprio
discurso. Foucault não inventa um mundo sem sujeitos: descreve, realisticamente,
um mundo em que o sujeito já foi, ou está sendo, submergido pelo discurso.
Nesse sentido, cumpre destacar que, diferentemente de Bourdieu (1998), que trabalha
com os discursos relacionando-os à legitimação dos agentes e dos capitais que portam, para
135
Segundo Bert (2013, p. 115), a biopolítica ―tem por objetivo se encarregar da própria vida dos indivíduos por
meio de um conjunto de mecanismos e de saberes reguladores e corretivos‖. 136
Abordaremos a concepção foucaultiana de racismo, que é entendido pelo autor como ―um corte entre o que
deve morrer e o que deve viver. No contínuo biológico da espécie humana, o aparecimento das raças, a
hierarquia das raças, a qualificação de certas raças como boas e de outras, ao contrário, como inferiores, tudo
isso vai ser uma maneira de fragmentar esse campo biológico que de que o poder se incumbiu; uma maneira de
defasar, no interior da população, uns grupos em relação a outros‖ (FOUCAULT, 1999, p. 304).
265
Foucault (1999, 2008) o discurso, ou dispositivos de poder relacionados ao discurso, não são
necessariamente acionados estrategicamente por quem os enuncia, estando mais relacionados
à procedimentos ligados a um contexto histórico específico. Assim, conforme destaca Bert
(2013), um enunciado discursivo é inicialmente descrito pelo lugar que ele ocupa no espaço
social e na história.
Além disso, deve-se destacar que o discurso é ao mesmo tempo soberano e prisioneiro,
ou seja, ―aquilo ao qual o homem cede (...), que age e pensa por ele, que dita os enunciados
necessários e autoriza os possíveis‖ e também é aquilo que precisa ser ―dominado por um
sistema de interditos‖ (ROUANET, 1971, p. 13). Assim:
Cada discurso tem sua patologia, que é o discurso periférico, banido pelo discurso
hegemônico. Mas é na sociedade moderna, sobretudo, em sua variedade
tecnocrática, que o fenômeno se verifica de forma mais agônica. A razão
tecnocrática só pode funcionar expulsando para os confins da Ordem os discursos
que não podem ser assimilados pela racionalidade vigente. O paradoxo da dinâmica
tecnocrática é que ela se define pelos discursos alternativos, que, no entanto,
precisam ser expulsos. Esses discursos vão sendo pouco a pouco silenciados, até que
o discurso tecnocrático possa ser enunciado sozinho (ROUANET, 1971, p. 15).
No caso em análise nesta tese, e a partir dos discursos selecionados para compor este
capítulo, há uma hegemonia de discursos das organizações do patronato rural. Tais discursos,
expostos em plenária durante o processo de discussão da lei florestal, versaram, sobretudo,
sobre a urgência e imediaticidade da alteração do código florestal para que a vocação agrícola
do Brasil fosse mantida e ampliada, além de temas relativos ao agronegócio; as restrições
desproporcionais exigidas pela legislação; a ciência, tecnologia e modernidade; ao
nacionalismo e soberania nacional diante da pressão das ONGs ambientalistas; o preconceito
sofrido pelo produtor rural (entendido como uma categoria unificada e homogênea, ao menos
no âmbito discursivo) e a sustentabilidade e desenvolvimento sustentável.
Pode-se afirmar que estes discursos expressam a ―razão tecnocrática‖ que, apoiada
num conjuntos de instâncias, vão permitir a produção e circulação desses discursos no
Congresso Nacional e, da mesma forma, vão propiciar um silenciamento, nesta instância, dos
discursos relacionados as demandas ambientalistas. Há, portanto, uma redução, neste dado
contexto social e histórico, do espaço de discussão do novo código neste espaço legislativo.
Contudo, a despeito da maior parte das manifestações em plenário, no Congresso
Nacional, terem sido proferidas por deputados federais vinculados à frente parlamentar e
bancada ruralistas, também foi possível constatar manifestações de parlamentares vinculados
à frente parlamentar e bancada ambientalistas que, de forma menos recorrente e organizada do
que quando comparado aos ruralistas, contestavam as alteração da legislação nos moldes
266
então estabelecidos. E ainda destacavam o silenciamento imposto às teses contrárias as dos
ruralistas.
Para sistematizar estas manifestações, analisando alguns trechos dos depoimentos e
discursos dos deputados das duas frentes e recorremos às notas taquigráficas do Congresso
Nacional relativas ao período de 01/02/2007 a 31/01/2015, que compreendem os discursos
proferidos em duas legislaturas (53ª e 54º legislatura). Privilegiamos os discursos dos
parlamentares que mais enfaticamente se posicionaram nas tribunas da Câmara dos
Deputados, bem como aqueles que foram identificados como pertencentes a uma das duas
bancadas ou frentes parlamentares aqui estudadas.
Cumpre destacar que o período selecionado justifica-se, pois, neste período, sobretudo
entre os anos de 2010 a 2012, o projeto de alteração do Código Florestal sofreu várias
modificações e, portanto, fora mais evidenciado, publicizado e debatido nas diferentes esferas
(tanto internamente ao Poder Legislativo quanto externamente).
Relativamente à forma e aos critérios de busca e seleção destes discursos, utilizamos
como palavra chave o termo ―Código Florestal‖ no site http://www.camara.leg.br/ e de
acordo com as estatísticas do próprio site, no período supra citado (01/02/2007 a 31/01/2015),
foram encontrados 3.049 discursos, classificados nas seguintes fases do discurso: Ordem do
Dia (1.165), Pequeno Expediente (628), Breves Comunicações (575), Grande Expediente
(440), Comunicações Parlamentares (165), Homenagens (48), Comissão Geral (15) e
Abertura (13).
Tendo como critério o ano e o quantitativo de discursos, podemos afirmar que nos
anos de 2011, 2012, 2010 e 2009, respectivamente, foram mais frequentes as manifestações
que continham o termo ―código florestal‖, conforme quadro a seguir:
Tabela 04 – Resultado da Busca “código florestal” no site do Congresso Nacional (2007-2015)
Ano Quantidade de discursos
2015 02
2014 75
2013 151
2012 997
2011 1349
2010 241
2009 174
2008 40
2007 20
(Fonte: www.camara.leg.br. Acesso em: 07 de nov. 2015)
267
Ainda de acordo com os registros estatísticos do site da Câmara dos Deputados, dos
404 deputados federais que utilizaram a tribuna para se manifestar sobre o tema ―código
florestal‖, os 15 parlamentares que mais se manifestaram como autores dos discursos foram:
Valdir Colatto (208); Celso Maldaner (115); Ivan Valente (112); Chico Alencar (99); Luiz
Carlos Heinze (81); Sarney Filho (67); Moreira Mendes (66); Ronaldo Caiado (55); Amauri
Teixeira (50), Duarte Nogueira (49), Domingos Sávio (43), Márcio Macêdo (42), Alfredo
Sirkis (39), Paulo Piau (35) e Edinho Araújo (33). À exceção dos deputados Ivan Valente,
Chico Alencar, Sarney Filho, Márcio Macedo e Alfredo Sirkis, todos os demais são membros
da frente parlamentar/bancada ruralista.
Cumpre ressaltar que, a despeito dessas estatísticas – por ano e por autor – o principal
critério de seleção dos depoimentos adotados neste capítulo foi o teor dos discursos
manifestados. Assim sendo, tomamos estes discursos como locus privilegiado de análise, por
entendermos que os mesmos expressam as disputas travadas em torno da discussão e
aprovação do Código Florestal bem como as visões de mundo dos diferentes grupos que se
manifestaram neste debate.
Assim, pretende-se, ao identificar os temas acima mencionados nos discursos
referidos, levantar os ―efeitos de poder‖ e a ―vontade de verdade‖137
, assim como evidenciar
como as ―regularidades discursivas‖ propaladas nos discursos do setor ruralista – mais
numeroso e organizado que o ambientalista – que condicionaram e canalizaram as discussões
realizadas no espaço Legislativo.
Nesse processo, pretende-se não perder de vista o contexto de produção desses
discursos tendo em vista que, conforme afirma Bert (2013, p. 182) referindo-se a obra de
Foucault: ―os discursos só são analisáveis sob um feixe de explicações que ligam as
instituições, os processos econômicos e sociais, as formas de comportamento, os sistemas de
normas, as técnicas e os tipos de classificação‖.
137
De acordo com François (2000, p. 15), ―Ao por a verdade no centro de seu trabalho, Foucault não pretende,
pois, denunciar os erros, para em seu lugar colocar verdades (...) mas estudar, numa dada sociedade, neste ou
naquele período histórico, como é que algo como a verdade foi aí produzido e extraído, como é que ela funciona,
com que efeitos de exclusão, de invalidação e de desqualificação em face de outros discursos e de outros saberes.
O problema da verdade é menos da sua descoberta que o da sua invenção, da ciência por oposição a ideologia,
que o dos processos de sua produção e do regime de seu funcionamento‖.
268
6.1 “O agronegócio é o único setor que está brilhando neste País”138
O termo agronegócio foi um dos mais citados nos discursos dos parlamentares
analisados. Pode-se afirmar que sua grande ocorrência é reveladora das preocupações que
permearam a alteração da legislação florestal, qual seja, a possibilidade de manutenção e
ampliação deste negócio no país.
De modo geral, a análise realizada sobre os discursos dos membros vinculados direta
ou indiretamente à frente parlamentar/bancada ruralista revela o agronegócio como um
exemplo de empreendimento bem sucedido no Brasil. Esse exemplo, por seu turno, é
encarado como um imperativo a ser seguido e uma realidade incontestável, reveladora de que
o país não tem alternativa de desenvolvimento que não seja investir na produção agrícola e
pecuária.
Nesse sentido, o discurso do deputado ruralista George Hilton (PRB/MG) bem
expressa essa realidade construída de sucesso internacional e de visão empreendedora que
possui o agronegócio no país:
O Brasil é um sucesso internacional na pecuária e na agricultura. Enquanto
ouvimos muitas acusações, o agronegócio brasileiro é um exemplo que é buscado
por outros países (...) A nossa agricultura, a bem da verdade, é o resultado de
uma atividade desenvolvida por verdadeiros empreendedores. Homens e
mulheres que planejam a semeadura; suam de sol a sol, cuidando do crescimento da
lavoura; oram para que o clima seja um aliado; e finalmente festejam, com
merecimento, mais um recorde de produção. O recorde de agora é superado a cada
ano e transforma a visão poética de Pero Vaz de Caminha - "nesta terra, em se
plantando tudo dá" - em uma profecia realizada. (...) Quando se reconhece a
crescente produtividade do agronegócio, percebe-se que a galinha dos ovos de
ouro pode ter mais atenção (GEORGE HILTON, PRB/MG, discurso proferido no
dia 27.02.2014, disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 03.04.2015.
Grifos nossos).
Utilizando de estratégias que extrapolam o espaço legislativo – tais como publicações
em editoriais de revistas e constituição de movimentos ruralistas, como o movimento Sou
Agro139
– estes parlamentares disseminam a representação de que o Brasil é um ―celeiro de
alimentos‖, assim como a preocupação em demonstrar o aumento da produção e da
138
LUIS CARLOS HEINZE, PP/RS, discurso proferido no dia 17.12.2014, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 02.04.2015. 139
De acordo com Bruno (2014, p. 98), o movimento ―Sou Agro‖, contribuiu para a institucionalização de
interesses e fortalecimento da rede de interdependência existente entre os diversos setores patronais. Ainda
segundo a avaliação da autora, o contexto de surgimento do movimento ―Sou Agro‖ decorrem, sobretudo, do
deslocamento do debate sobre a problemática do meio ambiente para o campo da grande política institucional, no
caso, a votação do Código Florestal Brasileiro no Congresso Nacional.
269
produtividade como decorrência não da ampliação da área plantada, mas sim do padrão
tecnológico adotado.
Conforme destaca Sevá, Bruno e Carneiro (2008), essa representação, aliada ao
processo de construção e fabricação da imagem do agronegócio como algo extremamente
benéfico ao país, teve como principal objetivo obter visibilidade no processo de votação do
Código Florestal. Assim, nesse processo, os agentes vinculados ao agronegócio buscaram
tanto apagar a imagem negativa do agronegócio quanto estimular a representação do setor
como expressão da modernidade.
Além disso, alguns aspectos e ideias consensuais no conjunto do patronato rural e
agroindustrial no Brasil foram amplamente disseminadas, quais sejam: i) o suposto da
discriminação contra o setor; ii) o suposto do desconhecimento dos benefício do agronegócio
e iii) o suposto da vocação. Conforme abaixo:
Com relação ao primeiro ponto, argumenta-se que proprietários e produtores rurais
são responsabilizados pela destruição do meio ambiente porque são discriminados
pelas cidades e pelo cidadão. O suposto do desconhecimento é complementar aos da
discriminação e se baseia no argumento de que o agro é discriminado porque
desconhecido. Ou seja, haveria um desconhecimento profundo sobre a agricultura, o
produtor rural e o homem do campo por parte da sociedade urbana. Agregando os
dois, temos a ideia do Brasil como nação que apresenta uma ―incontestável‖ vocação
agrícola (SEVÁ, BRUNO, CARNEIRO, 2008, p. 04).
Esses elementos apontados acima são, portanto, recorrentes nas falas dos deputados
federais ruralistas. Assim, a reafirmação da importância do setor, a despeito do alegado
preconceito e discriminação sofridos, é frequente. O imperativo econômico é afirmado
também em várias falas, que expressam a falta de reconhecimento da população para com os
lucros gerados pela atividade. Conforme afirma o deputado Luiz Carlos Heinze (PP/RS):
O agronegócio é o único setor que está brilhando neste País. Se o Brasil tem as
reservas que tem, se o Brasil conseguiu dar 2 bilhões de superávit é porque o
agronegócio, que é tão combatido pelo outro lado, deu 80 bilhões de superávit na
balança comercial. É graças a esse setor, tão espezinhado por alguns, que se está
sustentando este País! (LUIS CARLOS HEINZE, PP/RS, discurso proferido no dia
17.12.2014, disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso: 02.04.2015. Grifos
nossos).
Nesse mesmo sentido, também se posiciona o deputado ruralista George Hilton (PRB-
MG), ao apontar o viés ideológico presente nas críticas direcionadas ao agronegócio, expressa
de forma irônica e sob a alegação de que seriam enviesadas e baseadas no senso comum:
É quase um senso comum na imprensa o mau conceito que o agronegócio carrega,
infelizmente. "Agricultores são destruidores das matas e ainda descartam os
verdadeiros homens da terra". A visão edílica dos bem-pensantes enxerga os
empresários da terra como invasores, expulsando os bons selvagens do Éden. É
uma pena essa visão ideológica (GEORGE HILTON, PRB/MG, discurso proferido
270
no dia 27.02.2014, disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso: 03.04.2015.
Grifos nossos).
Como forma de contestar essa visão tida como ideológica e falsa, é veiculada a visão
triunfalista do agronegócio, que é constantemente reificada nos discursos parlamentares e
disseminada por diferentes agentes, não só no âmbito interno do Legislativo, conforme já
afirmado.
Esta disseminação, conforme Almeida (2010, p. 102), faz parte das chamadas
―agroestratégias‖, que ―compreendem um conjunto heterogêneo de discursos, de mecanismos
jurídico-formais e de ações ditas empreendedoras‖ e refere-se às estratégias que visam à
expansão do domínio do agronegócio sobre amplas extensões de terra no Brasil.
Ainda segundo Almeida (2010, p. 103), estas agroestratégias visam eliminar possíveis
obstáculos à aquisição, ampliação e legalização das propriedades privadas, bem como
descriminalizar práticas consideradas danosas e lesivas ao meio ambiente e são acionadas
tanto no Judiciário, quanto no Legislativo.
Vigora, portanto, o que se pode denominar de visão triunfalista do agronegócio, com
referências constantes ao PIB, às divisas econômicas criadas, às quantidades obtidas nas
safras e ao valor das exportações, tudo para reafirmar o lugar de destaque do agronegócio na
economia nacional. Nesse sentido se direciona o discurso do deputado ruralista Eleuseus
Paiva (PSD/SP), para quem a importância do agronegócio no país deve ser calculada pelos
seus benefícios econômicos gerados. Conforme questiona, em discurso realizado na plenária
da Câmara dos Deputados para os demais parlamentares:
O que o agronegócio representa para a economia brasileira, para a sociedade
brasileira? Vou dar dados a V.Exa. da situação dos grãos. Como é a produção? Sr.
Presidente, na última década a produção nacional aumentou de 58 milhões de
toneladas para 168 milhões de toneladas. Quase quadruplicamos a produção
nacional em uma década, em uma década e meia, e não aumentamos em quatro
vezes a área produtiva. Isso vem da incorporação de tecnologia pelo setor. Estamos
falando de grãos, de agricultura; e se falarmos da carne a resposta será ainda maior.
Exportávamos 2 milhões de toneladas e hoje exportamos 9 milhões de toneladas, um
aumento de quase cinco vezes em relação ao que tínhamos uma década e meia atrás.
Portanto, Sr. Presidente, o setor de agronegócio representa, sim, na economia
brasileira, um dado extremamente importante. Estamos falando de 800 bilhões
de reais, que é o que representa na balança comercial a agricultura brasileira - 800
bilhões de reais! É isso o que representa na economia brasileira a agricultura deste
País (ELEUSES PAIVA, PSD/SP, discurso proferido no dia 05.03.2012, disponível
em: http://www.camara.leg.br/. Acesso: 03.03.2015. Grifos nossos).
O aumento da área destinada à produção agropecuária é apresentado como um trunfo
nas falas dos parlamentares. Não se considera, tal como na fala do deputado federal Eleseus
Paiva (PSD/SP), que o aumento da área produtiva traz consigo a diminuição de áreas
271
destinadas a recomposição florestal e ao manejo da fauna. A devastação que acompanha o
processo de expansão agrícola é silenciada e interditada nas falas dos parlamentares, ou,
quando surge, é considerado um mal menor diante dos benefícios advindos da realização das
atividades produtivas.
Assim sendo, outro aspecto comum nas falas dos deputados que compõe a bancada
ruralista refere-se ao que eles denominam de construção errônea e já sedimentada sobre o
agronegócio, que o apresenta como danoso e prejudicial ao meio ambiente. Este
desconhecimento ofuscaria o fato de que, segundo os parlamentares ruralistas, este setor é a
salvação do país, a despeito de alguns meios de comunicação e do imaginário social
reiterarem uma percepção sobre o setor rural que não corresponderia à realidade.
Nesse sentido, segundo Almeida (2010), as agroestratégias, nas quais se inserem esses
discursos, caracterizam-se por desconsiderarem a lógica de utilização dos recursos naturais,
de modo que os que defendem esta forma de produção ignoram – ou fingem ignorar – os
efeitos deletérios das mesmas para o meio ambiente. Assim:
Os cálculos, racionais e conscientes, de viabilidade e implementação desses
empreendimentos, mesmo fazendo uso de uma retórica de ―gestão ambiental‖ e de
um ―gerenciamento voltado para a sustentabilidade‖, parecem não estar levando em
conta seu elevado poder de destruição dos recursos naturais. A incorporação
acelerada de imensas extensões de terras tem posto em risco patrimônios tanto
naturais quanto culturais, violando flagrantemente, segundo entidades
ambientalistas, tratados e convenções internacionais (ALMEIDA, 2010, p. 104).
Um aspecto comum encontrado nos depoimentos de setores ligados a indústria e a
produção é a imperatividade com que destacam a necessidade e a dependência do Brasil do
agronegócio. O Brasil, conforme afirmam, precisa ampliar as sua produção de alimentos para
atender ao mercado externo, posto que esta atividade é a verdadeira geradora de divisas e
renda, aumento do PIB, emprego em várias esferas, desenvolvimento em diferentes setores.
Tal imperativo seria comprovado por dados de pesquisas, sobretudo oriundos da CNA,
nos quais o aumento da produtividade do país é crescente, na área de grãos por exemplo,
desde 1970. De igual forma, o desenvolvimento do etanol e do biocombustível colocam o
Brasil, segundo argumentam, numa posição privilegiada, economicamente e ambientalmente,
vez que esta matriz energética é considerada menos poluente quando comparada à gasolina.
Não é mencionado por estes grupos que os empreendimentos monocultores, muitos
deles voltados para a produção de biocombustível, não atendem efetivamente à satisfação das
necessidades alimentícias da população local e nem mundial, além disso, são realizados a um
custo ambiental extremamente alto, com demanda de áreas cada vez maiores e com
esgotamento dos recursos da água e do solo e com comprometimento da fauna e flora.
272
No entanto, ao mesmo tempo em que veiculam esta imagem e minimizam ou tornam
invisíveis os impactos negativo advindos desta forma de produção, os efeitos deletérios deste
grande negócio são denunciados pelos deputados que compõe a frente parlamentar/bancada
ambientalista. Assim sendo, conforme destaca o deputado Ivan Valente (PSOL/SP):
Quando tramitou nesta Casa o debate do Código Florestal, deu-se asas à
bancada ruralista, em nome de uma governabilidade, para que se fizesse aqui um
verdadeiro atentado aos direitos do povo brasileiro em matéria de biodiversidade, de
política agrícola, de política agrária, e assim por diante. E agora se criou asas. Eles querem retomar o trabalho escravo. Estão querendo mudar a legislação
trabalhista no campo, e não querem mais a demarcação das terras indígenas, nem das
áreas quilombolas, nem a criação de Unidades de Conservação, que é o intuito da
PEC 215, ou seja, impedir que o Executivo possa fazê-lo e trazer para a Câmara para
a maioria ruralista fazê-lo. (...) A lógica é a da expansão da fronteira agrícola, é a
lógica da motosserra, é a lógica agroexportadora, sem pensar um novo modelo de
desenvolvimento integracionista preservando culturas, preservando a floresta,
preservando a biodiversidade, caminhando para uma proposta de indústria de
química fina, de indústria farmacêutica, de garantia das nossas florestas, e assim por
diante (IVAN VALENTE, PSOL/SP, discurso proferido no dia 30.04.2013,
disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 31.03.2015. Grifos nossos).
Percebe-se no discurso do deputado a dificuldade de se contrapor a bancada ruralista
no Congresso Nacional, que detêm o discurso hegemônico e apresenta-o sob a forma de
discurso de verdade. A expressão utilizada ―deu-se asas a bancada ruralista‖ revela a
preocupação com o poder deste grupo, passível de se manifestar – pelas condições
econômicas, políticas e sociais determinadas nesta instância – em outras matérias legislativas
que não a ambiental.
Assim, o risco de alteração de leis consideradas contrárias aos interesses deste grupo –
a exemplo, da mineração, licenciamento ambiental, questões trabalhistas e questão indígena –
diante da quantidade de parlamentares ruralistas e das estratégias utilizadas, é factual e
previsível.
Nessa correlação de forças desigual, em que a maioria das matérias propostas pelos
membros da bancada e da frente parlamentar ruralista são votadas pelo grupo de pressão dos
mais numerosos no Congresso Nacional, é patente a falta de repercussão e legitimidade no
espaço legislativo de propostas que contrariam os interesses dos mesmos.
Nesse sentido, o depoimento do deputado federal Amauri Teixeira (PT/BA), no ano de
2013, expressa essa disparidade, que ficou latente na votação do Código Florestal, mas a ela
não se restringe.
A imensa bancada do agronegócio nos derrota na votação do Código Florestal.
Quase todos os projetos que dizem respeito ao agronegócio conseguem passar
aqui. Um projeto de minha autoria, que determinava o rastreamento de vasilhames
de agrotóxicos, foi eliminado na Comissão e Agricultura, Pecuária, Abastecimento e
Desenvolvimento Rural. Não há uma possibilidade nesta Casa de passar nenhum
projeto razoável de contenção do uso de agrotóxicos, em face dessa desproporção
273
(AMAURI TEIXEIRA , PT/BA, discurso proferido no dia 25.04.2013, disponível
em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 05.04.2015. Grifos nossos).
Conforme destacamos em capítulo anterior, não fosse a pressão realizada por outros
grupos sociais e em outras arenas de disputa – em especial, o movimento ambientalista,
noticiado pela mídia nacional e internacional – o silenciamento de vozes contrárias a alteração
da legislação florestal seria ainda maior.
Essa desproporção apontada pelo deputado Amauri Teixeira pode ser constatada no
capítulo III desta tese, quando do processo de votação da lei e da pequena quantidade de
deputados que se insurgiram contra as determinações dos parlamentares ruralistas. Percebe-se,
assim, que nesta instância, a produção e circulação de discursos acabam sendo bastante
direcionada para que as versões e visões oriundas de parlamentares da bancada ruralista
vigore. Não há espaço e nem expressividade para o discurso ambientalista no Congresso
Nacional, que acaba assumindo o papel de ―discurso periférico‖, com reduzidas possibilidades
de atendimento das demandas desse setor.
6.2 “Há muita boca para alimentar no Brasil e no mundo, e eu nunca vi ninguém
produzir no ar”140
As ideias que apresentam o Brasil como possuindo ―vocação‖ para a agricultura, bem
como analogias ao fato de que o país seria o ―celeiro‖ do mundo, são recorrentes nas falas dos
parlamentares que compõem a frente parlamentar/bancada ruralista.
Em vários discursos analisados, proferidos em plenária da Câmara dos Deputados e
destinado aos demais parlamentares, é possível constatar que esta verdadeira vocação estaria
sendo impedida de se desenvolver, tanto devido aos entraves gerados pela legislação
ambiental e trabalhista, quanto pela ação considerada ideológica de grupos ligados aos
interesses internacionais.
Nesse sentido, o discurso do deputado Junji Abe (PSD/SP), parlamentar vinculado à
bancada ruralista, destaca que:
Nós, brasileiros, precisamos reconhecer que a população urbana depende
imprescindivelmente da produção agrícola, depende de nós, depende da agricultura.
Digo isto com o peito cheio de amor pelo Brasil: não existe no mundo país com
tantas favorabilidades para a agricultura. Aliás, desde menino ouço dizer que Deus
foi generoso com este País, que deu a ele a vocação da agricultura. E é por meio
da agricultura que estamos equilibrando o sentido maior da economia. (...) O Brasil
140
ONOFRE SANTO AGOSTINI, PSD-SC, discurso proferido no dia 05.03.2012, disponível em:
http://www.camara.leg.br/.
274
dos brasileiros é o Brasil da agricultura forte, ao lado da cidade, que tanto precisa de
nós (JUNJI ABE, PSD/SP, discurso proferido no dia 20.03.2012, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 09.03.2015. Grifos nossos).
Outro argumento bastante levantado pelos parlamentares integrantes da bancada
ruralista e que reforça o entendimento de que o Brasil possui uma verdadeira vocação
agrícola, o que o condicionaria a produzir para os demais países do mundo, é que a legislação
ambiental é um entrave às pretensões de aumentar os números da exportação de alimentos.
Conforme destaca o deputado Valdir Colatto (PMDB/SC):
Seria a maior greve da história do Brasil se os produtores simplesmente
respeitassem a legislação ambiental brasileira: "A partir de hoje nós vamos
respeitar a lei e diminuir em 40% a produção". Quanto é que o consumidor vai pagar
pela carne, pelo feijão, pelo arroz? Todo o arroz irrigado de Santa Catarina e do Rio
Grande do Sul - 80% da produção, ou seja, cerca de 10 milhões de toneladas -
deixaria de ser plantado, porque está em várzeas, em áreas de preservação
permanente. A maçã de Santa Catarina - por azar agora está frio; houve por lá uma
geada que está acabando com as macieiras - teria que deixar de produzida. Da
mesma forma o café do Espírito Santo e de Minas Gerais, porque é cultivado em
área de preservação permanente (...) Precisamos viabilizar a questão ambiental e
também a produção agropecuária, para garantir o alimento no Brasil.
Simplesmente isso. A demanda por alimentos aumenta, e nós temos que
continuar exportando, porque representa 33% dos empregos que estão aí. Portanto, temos que dar um jeito nessa situação. E quem tem de dar esse jeito é o
Congresso Nacional. Vamos deixar as paixões de lado - ambientalismo, ruralismo,
urbanismo - e dar ao Brasil uma lei que resolva a questão do meio ambiente e a
questão da produção. Os produtores, aqueles que põem a comida na mesa dos
brasileiros, não podem ser tachados de bandidos, de destruidores da natureza, porque
na verdade fazem a coisa mais nobre que há: produzem alimentos (VALDIR
COLATTO, PMDB/SC, discurso proferido no dia 11.11.2010, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 06.03.2015. Grifos nossos).
No mesmo sentido se manifesta o deputado Moreira Mendes (PPS/RO), que
demonstra igualmente a sua preocupação com o mercado internacional e com o mercado
consumidor da produção de alimentos produzidos no Brasil, conforme abaixo:
Vejam que a agricultura e a pecuária do nosso querido e imenso Brasil são
responsáveis por quase 40% das exportações. Nosso País é hoje o segundo maior
produtor de alimentos do mundo (...) Informações da ONU publicadas há cerca
de oito meses dão conta de que em torno de 1 bilhão de pessoas no mundo, o
que representa cinco vezes a população brasileira, passa fome, literalmente.
Essas pessoas não têm o que comer. E o Brasil, hoje, sem aumentar muito a
área ocupada, passa de importador a exportador de alimentos e segundo maior
produtor de alimentos do mundo. Mesmo assim há essa insegurança jurídica no
campo; há o problema das invasões; há uma legislação ambiental retrógrada, uma
colcha de retalhos, emenda em cima de emenda, com um Código Florestal que data
de 1965. Só o Brasil convive com essa figura esdrúxula da reserva legal. Ela não
existe em lugar nenhum do mundo. Mesmo assim querem excluir, porque a lei que
aí está serve para retirar de áreas produtivas e reflorestar. Meu Deus do Céu, onde
está o bom senso? Aonde vamos chegar? O que vai haver de positivo para o meio
ambiente com essa falácia de que aquilo que está produzindo, que está antropizado,
que está derrubado pode contribuir para a preservação do meio ambiente? Isso é
conversa fiada. Isso é um discurso sem fundamento técnico-científico (MOREIRA
275
MENDES, PPS/RO, discurso proferido no dia 30.11.2010, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 08.03.2015. Grifos nossos).
A urgência no atendimento da demanda por alimentos pode ser aproximada do que
Foucault (1999) compreende como o ―biopoder‖ e ―biopolítica‖141
, ou seja, a gestão da vida,
do corpo social, do ser biológico estatizado. O Estado, representado na fala do deputado
Valdir Colatto (PMDB/SC) pelo Congresso Nacional, tem a obrigação de ―dar um jeito‖ na
questão da alimentação da população – nacional e mundial. Do mesmo modo, o deputado
Moreira Mendes (PPS/RO) demonstra sua ―preocupação‖ com a fome mundial,
argumentando, em outras palavras, que o Brasil, diante da situação de perigo biológico
constatada, deve agir para que a vida da população seja assegurada.
Mas é preciso se questionar sobre que vida e de que população está-se buscando
formas de proteção, gestão e saneamento. Para essa nova técnica de poder que se aplica aos
homens espécies – uma biopolítica da espécie humana – e que trata de problemas de
reprodução, natalidade, morbidade, é dado como imperativo que as formas de existência
superiores devem sobreviver ao passo que as inferiores devem ser exterminadas.
De acordo com a linha de raciocínio defendida por Foucault na obra ―Em defesa do
sociedade‖ (1999), há uma necessidade de os Estados modernos exterminarem tudo aquilo e
todo aquele que se interponha aos objetivos políticos de garantir que os considerados
superiores e dominantes de uma determinada sociedade continuem desfrutando das suas
prerrogativas.
Assim, conforme afirma Duarte (2013, p. 51) ―os inimigos deixam de ser considerados
opositores políticos para serem considerados como entidades biológicas. Já não podem ser
apenas derrotados, tem que ser exterminados, pois constituem perigo internos à raça, à
comunidade, à população‖.
Para alcançar este objetivo de extermínio, o chamado ―racismo estatal‖ exerce uma
importante função, haja vista que funciona como mecanismo fundamental do biopoder e
cumpre bem a função de estabelecer ―um corte entre o que deve morrer o que deve viver‖
141
De acordo com Foucault (1999, p. 294) esta tecnologia do biopoder se expressa pela formula ―fazer viver‖ ou
―deixar morrer‖, ou seja, trata-se de um surgimento de um poder que regulamenta processos biológicos e que se
exerce de tal forma que é capaz de suprimir a vida. Ainda segundo Foucault (1999, p. 303), ―esse excesso de
biopoder aparece quando a possibilidade é técnica e politicamente dada ao homem, não só de organizar a vida,
mas de fazer a vida proliferar, de fabricar algo novo, de fabricar algo monstruoso‖. Nessa tecnologia, portanto, é
possível, para um poder político matar, reclamar a morte, mandar matar, dar ordens de matar, expor a morte não
somente os inimigos, mas os próprios cidadãos do Estado. E tal poder – biopoder – se exerce, conforme destaca
Foucault (1999, p. 304), pelo racismo estatal, que, a despeito de não ter sido inventado na época analisada,
passou a apresentar uma outra forma de funcionamento, inserindo-se no Estado moderno, como mecanismo
fundamental de poder.
276
(FOUCAULT, 1999, p. 304). Não se trata somente da morte física da espécie ou da raça, mas
o fato de expor à morte, de multiplicar para alguns o risco de morte ou, ainda, à morte
política, expressa pela expulsão, rejeição e discriminação. Trata-se, portanto, da analisar as
relações de colonização, de pensar o genocídio colonizador e de pensar um projeto de nação
colocado como legítimo e nos discursos e práticas que os legitima a excluir aqueles
considerados inferiores.
No que concerne à análise das falas dos deputados acima destacadas, percebe-se uma
preocupação implícita com a manutenção e reprodução das condições de exportação do país e,
consequentemente, dos grupos responsável pelo fornecimento destes alimentos no mercado
internacional – do qual fazem parte ou estão indissociavelmente ligados, conforme analisado
no capítulo II desta tese.
Assim, pode-se afirmar que estes grupos reivindicam para si a possibilidade de
continuarem tendo os benefícios estatais para perpetuar este corte entre os que devem
continuar existindo e os que, por estarem fora deste mercado de produção, devem ser
exterminados.
A demanda mundial de alimentos, portanto, acresce de força as falas dos deputados
ruralistas e são feitas sob forma de apelo para que se torne perceptível que o Brasil tem todas
as condições de se tornar o maior produtor mundial de alimentos caso a flexibilização da
legislação ambiental seja obtida.
Conforme destaca o deputado ruralista Onofre Santo Agostini (PSD/SC):
Acho, sim, que o Brasil precisa preservar o meio ambiente, mas precisa
também, e acima de tudo, produzir comida. Há muita boca para alimentar no
Brasil e no mundo, e eu nunca vi ninguém produzir no ar. Temos que produzir
na terra. É a terra que vai produzir alimentos, e, por via de consequência, o Código
Florestal aprovado por esta Casa, se não preenche todos os requisitos, se não é o
ideal, Deputados, é o que foi possível votar (...) O produtor brasileiro não suporta
mais, não aguenta mais esse estado de coisas. Vou repetir: preservar o meio
ambiente é importante, mas fazer com que o setor produza cada vez mais
alimentos, sem dúvida nenhuma, é mais importante ainda. Srs. Deputados, vejo
muitos falarem em preservação do meio ambiente. Ouço muito essa conversa, mas é
filosofia e doutrina, é só no papel, na prática não se faz nada. (...). Na prática não se
faz nada. É muita teoria, muita filosofia, muito isso, muito aquilo, mas não vemos os
defensores da preservação ambiental procurarem leis que efetivamente sejam de
interesse do setor ambientalista (ONOFRE SANTO AGOSTINI, PSD/SC, discurso
proferido no dia 05.03.2012, disponível em: http://www.camara.leg.br/. Grifos
nossos).
Percebe-se uma disputa entre as noções de produtividade e de preservação, sendo que
a primeira possui, para os grupos ruralistas, mais legitimidade. Além disso, percebe-se nos
discursos que o setor produtivo, necessariamente, se confunde com o agronegócio.
277
Relativamente a esta noção de produtividade, cumpre destacar que há uma percepção
unidirecional sobre a mesma, haja vista que tudo aquilo que não está ligado ou é resultante da
cadeia de produção do agronegócio é considerado improdutivo.
Essa noção de produtividade, que parte da mensuração de dados relativos ao aumento
do Produto Interno Bruto é insuficiente para perceber outras formas de produtividade, que
passam ao largo do mercado internacional. Trata-se das formas de produtividade que atendem
a pequenos grupos, oriundos da agricultura familiar e de formas de subsistência e que, em vez
de investir na monocultura investe na diversidade de espécies.
A desvalorização e deslegitimação da agricultura familiar pelos deputados federais
analisados e de outros modos de produção de alimentos não voltados para o atendimento de
demandas externas e atrelados ao agronegócio, além de levar a um acirramento das tensões no
campo, cria novos tipos de pobreza.
Sobre este aspecto, conforme destaca Vandana Shiva (2000, p. 308):
É preciso reconhecer que as categorias de produtividade e de crescimento, que foram
consideradas positivas, progressistas e universais, são, na verdade, restritas em seu
caráter político, espacial e temporal. Se observadas do ponto de vista da
produtividade e do crescimento, não da economia, mas da própria natureza, e da
produção de sustento para os seres humanos, essas categorias demonstram ser
ecologicamente destrutivas e uma fonte de desigualdades de classe, de cultura e de
gênero.
Pouco se menciona, conforme já destacado, os impactos ambientais desse tipo de
produção, que se se apresenta como única viável e que possui custos ecológicos altos para os
ecossistemas, por exigir a utilização intensa de recursos e energia.
Cumpre ainda ressaltar que, além deste silenciamento quanto aos custos ambientais
desta produtividade, verifica-se em muitos discursos que essa vocação e grande potencial para
a agricultura propicia uma cobiça internacional, o que, no entender dos parlamentares, molda
a legislação ambiental para se adequar a esses interesses, e não os nacionais. Ou seja, as
repercussões negativas sobre as discussões em torno da legislação florestal é rotulada e
reduzida tão somente a uma ―disputa de mercado‖.
Eu tenho certeza de que o que está havendo hoje não é uma disputa pela
preservação ambiental, mas uma briga e uma disputa de mercado. Nós somos
os maiores produtores do mundo em muitos produtos: suco de laranja, carne de
frango, açúcar e muitos outros produtos. Existem muitos países que não têm mais
para onde crescer, pois já ocupam todas as suas áreas. Nós estamos crescendo não
apenas em área. Para se ter uma ideia, nos últimos 30 anos o Brasil duplicou sua
produção e cresceu apenas 25% nas suas áreas. E 75% desse crescimento foi na base
da produtividade, do emprego de tecnologia. O País cuidou disso. Temos uma
empresa de respeito, gerando tecnologia, chamada EMBRAPA, empresa que o
mundo todo está copiando. Temos hoje a melhor produtividade em muitos produtos,
e o Brasil tem que se convencer disso (LIRA MAIA, DEM/PA, discurso proferido
278
no dia 22.03.2012, disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em
04.03.2015. Grifos nossos).
Cumpre destacar, tal como enfatiza Sevá (2008, p. 13), que ―o debate sobre os usos e
formas da apropriação da natureza também cria uma situação histórica de enfrentamento e
disputas entre ‗modelos‘ de sociedade e visões de mundo‖, de modo que a questão ambiental
passa a ser sentida como urgente e inadiável, não apenas para os grupos ambientalistas, mas
também para os grupos ruralistas.
Assim, é possível identificar nos discursos dos deputados ruralistas remissões, em suas
falas, à necessidade de preservação dos recursos naturais – e mesmo conciliação desta
proteção com a produção agrícola. A despeito desse fato, é possível encontrar, conforme
apontamos no capítulo II desta tese, a presença de vários parlamentares pertencentes à
bancada ou a frente parlamentar ruralista que também se fazem presentes na frente
parlamentar ambientalista, assim como em comissões parlamentares de Meio Ambiente da
Câmara dos Deputados, assim como em outros espaços sobre a questão ambiental no
Congresso Nacional, como o Conselho Nacional de Meio Ambiente (SEVÁ, 2008, p. 13).
Ainda segundo a Sevá (2008), a participação nesses espaços, bem como a inserção na
temática ambiental nos discursos dos parlamentares ruralistas se deve à necessidade de
incorporar novos temas no debate, ressignificar antigas questões e, ainda, se apropriar das
críticas postas pela sociedade e pelo mercado mundial aos danos atribuídos ao agronegócio.
6.3 “O Brasil, de certa forma, é devedor daqueles que suam a camisa na luta do dia a dia
para produzir alimentos”142
No entender dos parlamentares ruralistas, existe um quadro de preconceito
disseminado sobre os produtores rurais, conforme já delineamos anteriormente. Esse
preconceito é apresentado conjuntamente à estratégia da exaltação do produtor rural.
Entendemos que esta exaltação da figura do produtor rural – bem como a
indiferenciação proposital feita entre pequenos, médios e grandes produtores rurais – revela as
estratégias discursivas adotadas pelos deputados pertencentes ao setor ruralista tanto no
sentido de vitimizar os que, em alguns casos, respondem juridicamente e administrativamente
por crimes e danos ambientais, quanto de aglutinar diferentes agentes em uma única categoria,
qual seja, produtor rural.
142
DILCEU SPERAFICO, PP/PR, discurso proferido no dia 06.03.2012, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 08.03.2015.
279
Tal exaltação tem por objetivo diluir as suas especificidades e aglutinar o maior
número possível de agentes em torno da aprovação do novo Código Florestal, que, em
verdade, representa os anseios, sobretudo, dos setores ligados ou financiados pelo
agronegócio, ou seja, os grandes produtores e proprietários rurais.
Assim, a noção de pequeno produtor rural aparece reiteradamente utilizada nos
discursos dos parlamentares, numa tentativa de forjar uma solidariedade entre os diferentes
grupos e, mais ainda, como se a referência aos pequenos produtores cumprisse a função de
―escudo‖ diante das críticas direcionadas ao agronegócio.
Os parlamentares do setor ruralista se colocam à serviço de toda a agricultura
(inclusive a familiar) de modo que em seus pronunciamentos é comum referência ao pequeno
agricultor, ao ribeirinho, ao extrativista, dentre outros. Tais falas expressam, portanto, a
estratégia discursiva, de utilizar o pequeno produtor como justificador de seus discursos.
Contudo, não se pode perder de vista as tensões existentes entre esses diferentes
grupos, que, de certa forma, se refletem nas falas dos representantes destes segmentos rurais.
Nesse sentido, segue-se a intervenção do deputado Zé Geraldo (PT/PA), representante do
Núcleo Agrário do Partido dos Trabalhadores:
Sr. Presidente, não quero aqui defender uma proposta de ambientalismo
fantasiosa e inexequível. A região amazônica, repito, mantém 75% de sua floresta
em pé. Com a regularização das áreas alteradas e a recomposição das áreas de
preservação permanente, daremos um grande passo no sentido da preservação
ambiental. E sabemos que dificilmente, no Brasil, vai-se fazer uma
recomposição de 50%. Nas regiões de Mata Atlântica, por exemplo, mais de 90%
de floresta foram derrubados. E o Governo Federal terá de criar programas para
financiar a recomposição de 20% em outras regiões do País. Portanto, quero me ater
à reforma do Código Florestal, propondo a viabilização do desenvolvimento
ambiental e do desenvolvimento econômico sustentável na região amazônica, no
Norte do Brasil, especialmente no meu Estado do Pará. (ZÉ GERALDO, PT/PA,
discurso proferido no dia 04.03.2011, disponível em: http://www.camara.leg.br/.
Acesso em: 13.03.2016. Grifos nossos).
Trata-se de um posicionamento de um parlamentar que, a despeito de defender a
agricultura familiar e representar a CONTAG, precisa pontuar os problemas que a legislação
atual trás para a agricultura e para os trabalhadores rurais, especialmente na Amazônia
brasileira. Contudo, ao mesmo tempo em que faz críticas ao ambientalismo ―fantasioso e
inexequível‖ não pode ser totalmente associado ao posicionamento dos membros da bancada
ruralista, que utilizam-se dos pequenos produtores quando lhes é conveniente, mas sempre
demarcando os limites dessa defesa.
Para exemplificar, tomamos o discurso do deputado Lira Maia (DEM/PA), que se
coloca como deveras preocupado com aqueles mais vulneráveis às restrições e exigências da
280
legislação florestal, conforme abaixo transcrito, preocupando-se em construir uma estratégia
discursiva na qual escapem das acusações de serem uma elite legislando em causa própria:
Imaginem o caboclo da beira de rio da Amazônia? Vamos autorizar o
Ministério Público mandar aquelas famílias, que residem lá há mais de 300
anos, para longe? Vamos votar o Código Florestal, tendo o cuidado da
consolidação da APP. Do jeito que está, fica, ou seja, não se derruba mais nenhuma
árvore, nem em beira de rio, nem em beira de lago, nem na Amazônia. Mas não
podemos expulsar aqueles que historicamente produzem, que defendem este
País com o que existe de mais nobre: a produção de alimento (LIRA MAIA,
DEM-PA, discurso proferido no dia 20.03.2012, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 21.03.2015. Grifos nossos).
No entanto, apesar de discursivamente a produção agrícola ser tida como um ganho
universal para todos os brasileiros, alguns discursos deixam entrever que não há uma
universalidade de sujeitos representados, a não ser quando defender a união de todos os
produtores – pequenos, médios e grande – for conveniente para o agronegócio. Nesse sentido,
conforme discurso de César Halum (PRB/TO):
É preciso que não só os Parlamentares, mas também o povo brasileiro comecem a
interpretar de uma forma diferente o que representa o agronegócio para o nosso País.
Existe hoje uma política de crescimento da agricultura familiar e que nós
defendemos, mas não se pode querer fazer o crescimento da agricultura
familiar proibindo a expansão do agronegócio, que tem garantido a balança
comercial do Brasil (CÉSAR HALUM, PRB/TO, discurso proferido no dia
27.02.2014, disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 11.04.2015.
Grifos nossos).
No depoimento do deputado, percebe-se que a agricultura familiar deve ser
subordinada ao agronegócio e não pode, de forma alguma, limitar as suas pretensões
expansionistas. Nota-se nesta fala, que é representativa dos parlamentares da bancada
ruralista, que a visão que se tem da agricultura familiar é que a mesma é menos importante,
numa manifestação de menosprezo de outras formas de produção e de sustentação que não
necessariamente passam pelo agronegócio.
Assim, conforme ressalta Bruno (2009), à medida que o agronegócio se consolida
como sinônimo de competitividade e de alternativa para o país, as diferenças e divergências
entre os assim denominados ―produtores rurais‖ – empresários, trabalhadores e pequenos
agricultores – são acirradas.
E as práticas associadas ao passado do ruralismo – patrimonialismo, corporativismo e
clientelismo – continuam atualizando-se no interior desses embates. Ainda segundo Bruno
(2009, p. 193), ―o agronegócio brasileiro mistura a modernidade técnica com atraso das
relações sociais, e o seu modelo reforça a estrutura de dominação das elites‖.
281
Além disso, conforme afirmando anteriormente, a solidariedade buscada pelos
parlamentares ruralistas é apenas em nível de discurso, uma vez que os pequenos produtores
rurais, tão mencionados durante os debates, poucas vezes foram efetivamente ouvidos, mas
muito utilizados na construção dos argumentos. Quando os conflitos se acirravam – como no
exemplo acima, em que a agricultura familiar aparece como óbice ao desenvolvimento do
agronegócio – percebe-se a encenação em trono da categoria única de produtor rural.
Nesse sentido, o discurso do deputado Ronaldo Luci (PT/SC) expressa a necessidade
de serem reconhecidas as diferenças entre esses agentes, que, por isso, demandam políticas e
ações igualmente diferenciadas:
O Código Florestal é uma peça importante para o Brasil. Estamos discutindo a
matéria e queremos que sejam tratados de forma diferente dos representantes
do agronegócio os pequenos agricultores, os assentados da reforma agrária, os
ribeirinhos. É outra a relação social, econômica e cultural. Essas famílias precisam
continuar trabalhando e tendo a proteção do Governo (RONALDO LUCI
CHOINACKI, PT/SC, discurso proferido no dia 29.02.2012, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 26/03/2015. Grifos nossos).
O discurso da deputada ambientalista Janete Capiberibe (PSB/AP), ao se referir a
anistia prometida com a aprovação do novo Código Florestal àqueles que descumpriram as
determinações vigentes à época do cometimento dos crimes e infrações é bem elucidativo no
que se refere ao reconhecimento dessas diferenças:
É falso o argumento de que o substitutivo beneficiaria os pequenos agricultores.
A Comissão Pastoral da Terra - CPT, a Central Única dos Trabalhadores - CUT, a
Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar -
FETRAF, o Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB e o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST manifestaram-se contra essa mentira, sem
que lhes fosse dada atenção. Os agricultores familiares, que compõem a maioria
dos produtores e que produzem a maior parte da nossa cesta de alimentos, os
produtores sérios, os quilombolas, os indígenas, os povos tradicionais, na sua
imensa maioria, não cometeram os crimes ambientais que o substitutivo se
esmera em anistiar. (...) Ao mesmo tempo em que anistia os que cometeram crimes
ambientais, o substitutivo joga no lixo a conduta daqueles que, por décadas,
produzem alimentos, usam o solo, a água, as florestas, os bens comuns de todos os
brasileiros, dentro da legalidade, como age a maioria dos cidadãos e cidadãs deste
nosso lindo País. Que país será este, se um grupo de privilegiados se der o
direito de cometer crimes em benefício próprio, na certeza de que poderão
suprimir, em seguida, a lei que puniu outros e que os puniria? (JANETE
CAPIBERIBE, PSB/AP, discurso proferido no dia 05.03.2012, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 27.03.2015. Grifos nossos).
Assim, os conflitos com as comunidades e povos tradicionais e produtores da
agricultura familiar e o consequente impedimento desses grupos de acessarem aos recursos
naturais – muitas vezes disputados e tomados por empreendimentos do agronegócio,
282
impedindo que estes grupos produzam seu próprio alimento – é minimizado ou mesmo
inviabilizado nas falas dos deputados ruralistas.
Outro aspecto de valorização explorado nos discursos dos parlamentares ruralistas é de
que os ―verdadeiros‖ ambientalistas são os produtores rurais. Percebe-se, portanto, uma
disputa por versões, na qual os ruralistas se autoproclamam conhecedores da realidade e
verdadeiros ambientalistas, postulando que sua forma de produzir, além de avançada e
moderna, é ambientalmente sustentável. Nesse sentido é o discurso do deputado ruralista
Dilceu Sperafico (PP/PR):
Mais do que discursos ambientalistas e rigor da legislação, como o novo Código
Florestal, são perdas e temores reais de adversidades climáticas que motivam e
desenvolvem a consciência ambiental e levam o agricultor às práticas
preservacionistas. Nenhum outro profissional quanto ele depende de chuvas
regulares, solo preservado, água abundante e clima ameno para sustentar a família,
manter a propriedade, pagar dívidas, investir e permanecer na atividade.
Na prática, o produtor rural é o maior interessado na preservação ambiental,
pois sua renda está ligada diretamente ao comportamento da natureza. Ao
cultivar plantas e criar bovinos, suínos, ovinos e aves, o agricultor apenas reproduz,
de maneira controlada e com finalidades econômicas, o processo natural de
multiplicação de espécies vegetais e animais (DILCEU SPERAFICO, PP/PR,
discurso proferido no dia 06.03.2012, disponível em: http://www.camara.leg.br/.
Acesso em: 08.03.2015. Grifos nossos).
Do mesmo modo, se direciona a fala do deputado ruralista Domingos Sávio
(PSDB/MG), para quem são cometidas verdadeiras injustiças contra o produtor rural,
especialmente por parte da população urbana:
Não é novidade para ninguém que o Brasil, de certa forma, é devedor daqueles
que suam a camisa na luta do dia a dia para produzir alimentos, para alimentar
a nossa gente, como eu disse, para garantir a âncora verde deste País e que muitas
das vezes são injustiçados por um País no qual 85% da população hoje vivem
nas cidades. Muitas das vezes querem tratar o produtor rural como um bandido,
como um criminoso, como alguém que está simplesmente destruindo o meio
ambiente. Muito ao contrário. As águas límpidas que ainda restam, sobre as quais
ainda podemos nos curvar na beira de um córrego, encher a própria palma da mão e
beber, estão lá nas propriedades rurais que eu conheço. Nós, produtores rurais,
temos permanentemente uma luta para preservar as águas, as condições
adequadas de produção do solo, a conservação adequada do solo. Mas é claro:
precisamos interagir com a natureza para produzir. Ou alguém pensa que é possível
alimentar um país sem movimentar a terra, sem tratar a terra, sem fazer com que ela
nos dê o sustento? Ao mesmo tempo, nós temos a consciência disso cuidando dela,
para que ela continue sendo a nossa fonte maior de vida (DOMINGOS SÁVIO,
PSDB/MG, discurso proferido no dia 30.04.2014, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 05.04.2015. Grifos nossos).
A noção de ambientalista, portanto, é construída de forma que a crítica direcionada ao
setor rural – de geração de impactos negativos ao meio ambiente – é incorporada e
transformada de modo a inverter os estigmas imputados. Segundo esses discursos, são os
produtores rurais, portanto, os verdadeiros ambientalistas.
283
6.4 “Uma visão técnica, jurídica e agronômica”143
Os discursos ancorados na ciência e tecnologia são respaldados, sobretudo, em
instituições previamente definidas e articuladas aos interesses da bancada ruralista, em um
processo de seleção de argumentos mais favoráveis aos seus interesses. Conforme analisamos
em capítulo anterior, alguns especialistas e pesquisas por eles realizadas foram previamente
selecionados para fundamentar os posicionamentos dos parlamentares em plenária.
Assim, muitos dos discursos dos deputados federais pautaram-se em estudos
científicos e reportagens jornalísticas assinadas por especialistas na área, com a devida
menção à competência técnica para dar autoridade as suas afirmações.
Em muitos casos também, apresentam dados de pesquisa que refutam as teses tidas
como catastróficas e equivocadas, não apenas sobre o tema floresta. A exemplo, divulgam o
resultado da pesquisa sobre aquecimento global, citado pelo deputado ruralista Lael Varella
(DEM/MG):
No momento em que se debate a revisão do Código Florestal, lei desatualizada,
editada há 45 anos e modificada por portarias e MPs sem nenhum debate no
Congresso Nacional, precisamos conhecer as grandes modificações que vêm
ocorrendo nos principais centros de pesquisas científicas internacionais. A
Royal Society acaba de dar uma marcha a ré sobre o aquecimento global
antropogênico. Exatamente, a Royal Society de Londres, principal instituição
científica da Grã-Bretanha, flexibilizou sua posição acerca do aquecimento global
causado pelo homem. Em documento publicado depois da rebelião de mais de 40 de
seus sócios, o novo guia da Royal Society para a mudança climática afirma não
haver certeza sobre o propalado aumento de temperatura prognosticado pela
Sociedade. Trata-se de atualização do documento Climate Change Summary of
Science. O Times informou, segundo a nova posição da Royal Society, que
permanecem "incertezas que provavelmente nunca serão significativamente
reduzidas", esvaziando as profecias que davam por certa e demonstrada
mudança. (...) No mesmo sentido, o atual Código Florestal fica ipso
facto desacreditado, pois é fundamentado nessa corrente de ONGs e de equivocados
cientistas. Além disso, ele vem paralisando e prejudicando a nossa pujante
agropecuária com multas exorbitantes e interdições arbritárias. Urge, portanto,
aprovar sua urgente revisão (LEAL VARELLA, DEM/MG, discurso proferido no
dia 01.12.2010, disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 09.03.2015.
Grifos nossos).
Conforme destacamos no capítulo IV, estudos científicos são utilizados para respaldar
os interesses dos parlamentares, ou seja, há um intercruzamento de diferentes arenas e
instâncias para a produção e circulação de discursos. Nesse sentido, a divulgação do estudo
americano ―Fazendas aqui, florestas lá‖, comentado anteriormente e citado pelo deputado
federal Ronaldo Caiado (DEM/GO) corrobora com a tese, levantada pelos parlamentares, de
143
VALDIR COLATTO, PMDB/SC, discurso proferido no dia 15.02.2012, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 13.03.2015.
284
que são as instituições internacionais as verdadeiras responsáveis pela alteração na legislação
florestal brasileira, conforme abaixo:
O partido de V.Exa., Deputado Homero, teve a sabedoria de mandar traduzir um
documento publicado nos Estados Unidos - todos tiveram acesso a ele - que
diz: "Fazendas aqui nos Estados Unidos e florestas lá no Brasil". Eles
publicaram esse documento, e o partido de V.Exa. mandou fazer a tradução, que
deverá ser distribuída a todos os pares, pois mostra que eles é que têm competência
para produzir soja, carne, milho, sorgo, e que nós temos que ser simples
importadores de comida, que o Brasil deve ser o horto florestal de americanos e
europeus. Está aqui, para todos os senhores verem. Isso não foi feito por nenhum
partido de Oposição, não; isso foi feito pelo Governo americano (RONALDO
CAIADO, DEM/GO, discurso proferido no dia 06.03.2012, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 20.03.2015. Grifos nossos).
Da mesma forma, a qualificação e experiência técnica de muitos deputados federais
que se intitulavam produtores rurais, aparece em seus discursos, como forma de respaldar e
legitimar seus discursos a partir de um olhar de quem conhece a ―realidade‖, o ―Brasil real‖,
sem as ―paixões‖ e ―ideologias‖ comuns nos discursos contrários.
Como exemplos de parlamentares que baseavam-se na sua própria experiência e sua
competência técnica para dar autoridade às suas afirmações, tem-se o discurso do deputado
ruralista Valdir Collato (PMDB/SC):
Eu tenho discutido com técnicos, como técnico que sou, engenheiro agrônomo,
que a dificuldade que nós vamos ter de implantar, na prática, esse Código só
vamos saber após termos definida a Lei nº 12.651, que é o novo Código Florestal.
(...) que impacto vai gerar a implantação desse Código? Quem vai pagar essa conta?
Claro que vão ser os produtores brasileiros. Nós precisamos levar em conta que o
setor produtivo brasileiro é que mantém em pé a economia brasileira na exportação,
na balança, na arrecadação de impostos, um terço dos empregos e por aí afora. Não é
possível estarmos castigando um setor que hoje mantém o Brasil em pé (VALDIR
COLATTO, PMDB/SC, discurso proferido no dia 17.10.2012, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 15.03.2015. Grifos nossos).
Assim, em algumas falas, as atividades profissionais de alguns são acionadas para
legitimar os discursos proferidos, assim como para os credenciar a falar com conhecimento de
causa sobre a situação retratada. Dessa forma, as falas em plenária servem para reafirmar
identidades, bem como reafirmar competências que os habilitam a representar determinados
setores e grupos, tal como o caso do deputado federal Giovani Cherini (PDT/RS):
Como agricultor, como técnico agrícola, como tecnólogo em cooperativismo,
estou muito feliz com os dados da Fundação de Economia e Estatística do Rio
Grande do Sul de que o embarque de soja aumentou em 1 bilhão de dólares, de
julho a setembro, em relação ao mesmo período em 2012, quando houve
seca. (...) No Rio Grande do Sul, a soja vem conquistando antigas áreas de plantio
de arroz e de pasto, especialmente na chamada metade sul do Estado - região em que
eu sou produtor -, que não aparece entre as recomendadas para o plantio de soja.
Desde 2008, nós estamos fazendo o plantio direto, mas só agora a zona sul do
Estado foi inserida no zoneamento do Ministério da Agricultura como área para
plantar soja. O nosso "ouro" vai bem e pode fazer ainda mais pela economia do
285
País. Precisamos, Sr. Presidente, que, acima de tudo, a nossa economia e os nossos
governos, tanto estadual quanto federal, pensem seriamente no que está acontecendo
na nossa agricultura. A questão indígena precisa ser resolvida. Precisamos resolver
definitivamente a questão do Código Florestal, que esta Casa tem debatido muitas
e muitas vezes. Mas, acima de tudo, temos que colocar a agricultura
definitivamente como a prioridade das prioridades da Nação (GIOVANI
CHERINI, PDT/RS, discurso proferido no dia 06.11.2013, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 15.03.2015. Grifos nossos).
Além de recorrem a sua experiência, muitos deputados federais, que destacam sua
qualificação técnica antes de emitirem seus juízos de valor, recorrem ao recurso de citação de
empresas, instituições de pesquisa e mídia com pretensões científica para respaldar suas
opiniões.
Assim, a seleção de dados para serem citados em seus depoimentos é feita a partir de
fontes previamente identificadas como favoráveis aos seus argumentos. Tem-se referência a
revistas e jornais de grande circulação nacional (VEJA, O Estado de São Paulo, Folha de São
Paulo) ou a movimentos e instituições de representação e de pesquisa que guardam
aproximações com os objetivos defendidos pelo agronegócio.
Dentre estas instituições merece destaque a CNA e da EMBRAPA, instituições mais
legitimadas pelos deputados ruralistas para representar a verdade da situação agrícola e da
produção rural no país. Conforme expõe o deputado federal Lael Varella (DEM/MG):
A aprovação do novo texto do Código Florestal, da forma como foi enviado à
Câmara dos Deputados depois de revisto pelo Senado, representará uma redução de
33 milhões de hectares do total de cerca de 220 milhões de hectares ocupados pelas
atividades de produção agropecuária no Brasil. Os dados foram confirmados pelo
assessor especial do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Luiz Antônio de
Carvalho, ao participar do seminário de capacitação do Guia de Financiamento da
Agricultura de Baixo Carbono, na sede da Confederação da Agricultura e Pecuária
do Brasil (CNA), em Brasília. Dados da CNA mostram que essa redução na área
destinada à produção de alimentos no Brasil representará uma perda de 46
milhões de reais no Valor Bruto da Produção (VBP), se considerados preços e
produção constantes. A exigência de replantio das margens de rios, na forma como
está no texto do Código Florestal em discussão na Câmara, reduzirá em 15% o VBP
da atividade agropecuária no Brasil. Esta estimativa de perdas de áreas de produção,
confirmada pelo assessor do Ministério do Meio Ambiente, é a causa da
preocupação demonstrada pela bancada ruralista na Câmara dos Deputados diante
do texto do Código Florestal aprovado pelo Senado (LAEL VARELLA, DEM/MG,
discurso proferido no dia 08.02.2012, disponível em: http://www.camara.leg.br/.
Acesso em: 30.03.2015. Grifos nossos).
Os dados apresentados pela EMBRAPA, no estudo já analisado no capítulo IV desta
tese e que indicam uma possível indisponibilidade de terras para o desenvolvimento e
expansão de atividades agropecuárias, diante da destinação das mesmas às minorias étnicas e
raciais, criação de unidades de conservação e demais áreas legalmente protegidas, são
286
recorrentemente citados como prova de que os dados apresentados devem ser considerados
quando da aprovação do Código Florestal.
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, ocupo a tribuna para comentar o trabalho
intitulado Uma estimativa das demandas adicionais por terras no Brasil, de Evaristo
Eduardo Miranda, cientista da EMBRAPA. Trata-se de minucioso estudo acerca
da ocupação territorial brasileira em todas as suas fases, em termos de agricultura,
pecuária, áreas indígenas e quilombolas, áreas de preservação permanente, de
reserva legal e parques instalados nos 850 milhões de hectares do Brasil.
Esse trabalho, cujos dados são estarrecedores, mostra que, para atender a todas as
demandas de parques nas áreas ambiental, indígena e quilombola, o Brasil precisaria
de 645 milhões de hectares a mais do que tem o seu território. Ou seja, uma área
correspondente ao Uruguai, Bolívia, Peru, Colômbia e Argentina apenas para
satisfazer o que essas áreas ambientais, indígenas e quilombolas necessitam e
reivindicam do território brasileiro. (...) Saber exatamente o que queremos com o
nosso território e fazer com que tenhamos áreas de reservas e parques, mas também
terras destinadas às atividades agrícolas. Por que área agrícola? Porque o Brasil
tem essa vocação e precisa ser respeitado como produtor de alimentos e de
biocombustíveis. É claro que devemos preservar o meio ambiente, mas, na mesma
proporção, precisamos de terras agricultáveis para produzir alimentos e
biocombustíveis (VALDIR COLATTO, PMDB/SC, discurso proferido no dia
19.02.2009, disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 30.03.2015.
Grifos nossos).
Diante da grande repercussão que seus estudos alcançaram entre os parlamentares, o
pesquisador Evaristo Eduardo de Miranda foi homenageado com o prêmio ―Mérito
Agropecuário Deputado Homero Pereira‖, que, conforme fala do deputado Moreira Mendes,
PSD/RO (fala esta reforçada pela mensagem do então ministro da Ciência e Tecnologia na 54ª
legislatura, Aldo Rebelo encaminhada para ser lida em plenário) muito contribuiu no debate
sobre o novo Código Florestal, conforme a seguir:
O primeiro dos homenageados foi o Prof. Dr. Evaristo Eduardo de Miranda,
brilhante técnico da EMBRAPA, que prestou e presta relevantes serviços a este
País - destaco a ajuda que ele nos deu aqui, na Câmara dos Deputados, na orientação
e na discussão daquilo que se transformou em lei: o novo Código Florestal
brasileiro. Natural de São Paulo, Capital, estudou na França, foi e é professor e é
uma das pessoas mais ilustres da nossa EMBRAPA, uma entidade que nos orgulha a
todos (...) Quero destacar uma mensagem recebida do Ministro Aldo Rebelo. S.Exa.
não pôde estar presente, mas a encaminhou a mim, pedindo que fosse lida por
ocasião da solenidade. Quero repeti-la aqui no plenário, Sr. Presidente, para encerrar
esta minha participação como Líder. Diz a mensagem do Ministro Aldo Rebelo: "É
com imensa alegria que parabenizo o ilustre pesquisador Evaristo de Miranda como
primeiro homenageado a receber o Prêmio Mérito Agropecuário Deputado Homero
Pereira, da Câmara dos Deputados. A indicação do seu nome, aprovada por
unanimidade na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e
Desenvolvimento Rural, consolida o seu extenso e importante trabalho científico e
de pesquisas feito em benefício da inovação da agricultura e do povo brasileiro.
Creio que o grande mérito da excelência do pesquisador e amigo é a sua
sensibilidade de incorporar às suas pesquisas o rigoroso conhecimento
científico e tecnológico e a compreensão sobre a condição especial dos
agricultores brasileiros como grandes empreendedores da agricultura nacional e, ainda, a sua preocupação de compatibilizar a proteção dos biomas como
necessária à legítima exploração do território nacional, a fim de ampliar a soberania
alimentar e o bem-estar de todos os brasileiros. Deixo, afinal, o registro de
agradecimento pela contribuição patriótica do brasileiro Evaristo de Miranda ao
287
debate sobre o novo Código Florestal, aprovado após longo e duro embate em defesa
da cidadania do Brasil e da agricultura e pecuária brasileira. Tenho a honra,
portanto, de saudar o pesquisador por mais essa conquista. Parabéns, e sucesso!"
Assina a missiva o Ministro Aldo Rebelo, que foi o grande Relator do novo Código
Florestal (MOREIRA MENDES, PSD/RO, discurso proferido no dia 10.12.2014,
disponível em: http://www.camara.leg.br. Acesso em: 20.03.2015. Grifos nossos).
Esta seleção de agentes que são respectivamente legitimados para servirem de
referência, e também os que são desconsiderados do debate para alguns deputados federais
portanto, reforça os posicionamentos e as relações de sociabilidade entre os parlamentares e
os agentes externos ao Congresso, ligando-os a partir de uma linha argumentativa
previamente definida e que é constantemente reafirmada no plenário, apesar da tentativa de
revestir seus depoimentos de um discurso científico apartidário, imparcial e independente.
6.5 “O Código antiquado era uma espada no pescoço dos agricultores”144
Dentre as questões e ideias mais recorrentemente reafirmadas no Congresso Nacional
pelos parlamentares pertencentes à bancada e frente parlamentar ruralista, encontra-se a ideia
de que ocorre uma verdadeira expropriação da propriedade privada devido às limitações
impostas pela legislação ambiental.
Merece destaque, neste contexto, os discursos dos grupos vinculados à bancada e
frente parlamentar ruralista, sobretudo no tocante a necessidade da produção agrícola e
agropecuária do país não ficar estagnada ante as exigências da legislação ambiental.
Paralelamente a esta ideia, veiculam que este caráter expropriatório da legislação
ambiental brasileira deve-se às exigências do mercado internacional e não são pautadas na
necessidade de preservação ambiental, embora seja este o discurso veiculado pelos
ambientalistas. Assim, conforme afirma o deputado ruralista Lira Maia, do DEM/PA:
Eu tenho certeza de que o que está havendo hoje não é uma disputa pela
preservação ambiental, mas uma briga e uma disputa de mercado. (...) Vamos,
sim, votar um código florestal, porque o último é de 1965, com mais de 16 mil
penduricalhos - resoluções, decretos, não sei mais o quê. Ninguém mais sabe
interpretar o Código Florestal brasileiro. Precisamos ter um novo código, mas um
código responsável (LIRA MAIA, DEM/PA, discurso proferido no dia 22.03.2012,
disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 30.03.2015. Grifos nossos).
Nesta mesma tônica, as reservas legais e áreas de preservação permanente são
ironizadas pelos parlamentares pertencentes à bancada ruralista, haja vista que tal limitação
144
DARCÍSIO PERONDI, PMDB/RS, discurso proferido no dia 11.03.2013, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 15.03.2015.
288
imporia barreiras ao desenvolvimento do agronegócio. Conforme os deputados ruralistas
Moreira Mendes (PPS/RO) e Lael Varella (DEM/MG), respectivamente, essas áreas de
preservação e de reserva legal são tidas como ―esdrúxulas‖ e ―jabuticabas jurídicas‖ ante o
seu caráter limitador:
Nosso País é hoje o segundo maior produtor de alimentos do mundo. (...) Mesmo
assim há essa insegurança jurídica no campo; há o problema das invasões; há uma
legislação ambiental retrógrada, uma colcha de retalhos, emenda em cima de
emenda, com um Código Florestal que data de 1965. Só o Brasil convive com essa
figura esdrúxula da reserva legal. Ela não existe em lugar nenhum do mundo
(MOREIRA MENDES, PPS/RO, discurso proferido no dia 30.11.2010, disponível
em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 09.03.2015. Grifos nossos).
Neste exato momento em que a votação do Código Florestal é adiada por causa de
pressão das ONGs internacionais e de setores do Governo que persistem na
perseguição ao agronegócio, o Brasil tem em seu ativo a maior área preservada do
planeta, ou seja, 61% do seu território. Nenhum país do mundo tem leis com
"jabuticabas" jurídicas de reserva legal e APPs (Áreas de Preservação
Permanente). Certa ONG encomendou um estudo das várias legislações sobre o
assunto, e ficou constatado que essa jabuticaba só existe aqui (LAEL VARELLA,
DEM/MG, discurso proferido no dia 07.03.2012, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 15.03.2014. Grifos nossos).
Especificamente com relação às áreas de preservação permanente, as mesmas foram
intensamente criticadas pelos parlamentares ruralistas por estarem fora da área de produção,
tendo em vista que, conforme argumentam, são extremamente propícias para integrarem o
setor produtivo e são incorporadas em outros países, o que diminui a capacidade produtiva do
Brasil no mercado externo. Nesse sentido, conforme afirma o deputado ruralista Lael Varella
(DEM/MG):
As áreas consideradas de preservação ambiental são altamente produtivas.
Tanto aqui como em todo o mundo, são as mais adequadas às diversas
atividades agrícolas. Podem ser utilizadas sem problemas ambientais, como em
alguns casos vem sendo feito há séculos, e a evolução da tecnologia agrícola permite
a intensificação desses usos com ganhos em produtividade e na conservação dos
recursos naturais. Ao estabelecer uma norma geral e retroativa sobre o seu regime de
uso, sem permitir a cada Estado encontrar a solução adequada às condições de
ocupação do território e de estrutura da propriedade da terra, essa legislação tornou
impossível seu cumprimento. Suas normas ignoram a diversidade, as
desigualdades e os desequilíbrios do País. Se a Câmara não tiver a coragem de
corrigir o texto do Senado, seremos responsabilizados pela abnegada e laboriosa
classe dos produtores rurais e pela população brasileira que sentirá a carestia dos
alimentos. Que a Divina Providência e Nossa Senhora Aparecida, Rainha e
Padroeira do Brasil, nos deem forças e coragem para essa emergência em que
vivemos (LAEL VARELLA, DEM/MG, discurso proferido no dia 08.02.2012,
disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 13.04.2015. Grifos nossos).
Outros parlamentares, como Lira Maia (DEM/PA) destacam em seus discursos que a
legislação, caso seja aprovada mantendo-se a proibição de realizar atividades produtivas em
289
áreas de APP, contraria a realidade já consolidada no país, causando prejuízos e grande monta
a economia nacional:
Só para que o País entenda, áreas de preservação permanente, as APPs, são aquelas
áreas próximas a rios, igarapés, lagos, olhos d'água, topo de morro. Enfim, existe
uma série de conceitos de áreas de APP. Mas nós, que conhecemos a realidade deste
País, não podemos, de forma alguma, votar uma lei que vá dar oportunidade de o
Ministério Público, a Polícia Federal, chegar junto a famílias. Eu vou dar um
exemplo. Na beira do Tapajós, do Amazonas, do Xingu, do próprio Rio São
Francisco, existem famílias produzindo ali há mais de 300 anos. Não são pessoas;
são famílias produzindo ao longo de séculos. E nós estamos para vamos votar
uma lei que autoriza o Ministério Público pedir à Polícia Federal que tire o
produtor dali. Por quê? Porque nós não estamos consolidando área aberta. (...)
O Brasil tem 851 milhões de hectares de terra, dos quais 236 milhões produzem.
Ora, nós não temos um estudo definido sobre o prejuízo que este País vai ter se
parar de plantar em APP aberta. O Ministério da Agricultura calcula em torno de
85 milhões de hectares; o Ministério do Meio Ambiente, em 33 milhões. Enfim, há
vários cálculos. Mais de 30% das áreas produtivas vão deixar de produzir. Aí, nós
vamos pagar um preço alto, porque a agricultura brasileira é quem salva, hoje, o
superávit primário da economia brasileira. Esta é uma reflexão (LIRA MAIA,
DEM/PA, discurso proferido no dia 22.03.2012, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 31.03.2015. Grifos nossos).
No mesmo sentido se manifesta Valdir Colatto (PMDB/SC), insistindo que tal
proibição de utilização de áreas nas margens de cursos d´água contrária a ―história da
civilização humana‖:
A história da civilização humana nos mostra que em qualquer parte do planeta
sempre houve ocupação do homem, na cidade e no campo, às margens dos
cursos d'água, mares, rios, córregos, fontes e nascentes. Por uma razão muito
lógica, para que homens, animais e plantas não vivessem sem água e nem longe
delas. Há quanto tempo existe tecnologia e energia elétrica? Décadas? Séculos? Para
muitos, ainda não chegou sequer a energia elétrica, portanto, foram inteligentes
todos os nossos antepassados que se instalaram às margens das águas por uma
questão de sobrevivência. (...) Hoje, através de uma canetada estamos querendo
mudar o que a enxada levou séculos para construir por meio dos nossos
antepassados, de onde quer que vieram, alemães, italianos, poloneses, russos,
japoneses, negros e índios. O que nos resta é ter juízo e bom senso para buscar o
caminho do equilíbrio entre produção e meio ambiente, levando em conta nosso
Brasil, continente com seus seis Biomas, suas montanhas, seus vales e suas várzeas,
seus rios e mares, culturas, tradições e modelos diferentes que precisam ser
respeitados e tratados com inteligência, aproximando o máximo possível a
legislação ambiental do Brasil real (VALDIR COLATTO, PMDB/SC, discurso
proferido no dia 17.10.2012, disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em:
20.03.2015. Grifos nossos).
Percebe-se, em todos os discursos acima destacados, a contrariedade manifesta pelos
deputados para com as restrições e limites impostos pela legislação florestal para garantir a
proteção de áreas consideradas mais vulneráveis do ponto de vista ambiental por meio do
estabelecimento de APPs. Assim, reforça-se a tese de que os limites da natureza são
subsumidos a necessidade de acumulação e geração de lucro por meio do desenvolvimento de
atividades produtivas.
290
As áreas consideradas de reserva legal, sobretudo os percentuais destinado à
Amazônia Legal (nas quais 80% do imóvel rural deve ser mantida como reserva), também
foram bastante contestados durante os debates que antecederam a aprovação do Código
Florestal de 2012, sobretudo quando os parlamentares recorriam a critérios comparativos com
legislações de outros países, que não determinavam qualquer regulamentação similar.
Conforme destaca Almeida (2010, p. 119), para contornar as interdições nas áreas da
Amazônia Legal, tentativas de diminuição de seu percentual, através de projetos de lei que
tramitam no Congresso Nacional145
, e mesmo desconsideração de alguns estados como
integrantes da mesma (Mato Grosso, Tocantins e parte do Maranhão). Essas unidades da
federação propostas seriam reclassificadas como pertencentes ao cerrado, o que permitiria
triplicar o percentual das áreas passíveis de serem exploradas nos imóveis rurais respectivos.
Muitas críticas também se direcionaram para o que os parlamentares ruralistas
consideram ser uma ―área de sacrifício‖ e ―moeda de troca‖: a região Amazônica. Alegam
ainda que a discussão sobre os usos permitidos e proibidos nessa área estão sendo discutidos
pelas pessoas erradas, que insistem em tratar a região como santuário e se esquecem da
população que lá vive. Nesse sentido é o discurso do deputado Sergio Petecão (PMN/AC):
O Código Florestal persegue e intimida as pessoas, principalmente da região
amazônica. A Comissão Especial tem tido a coragem de trazer o debate à Casa. A
Amazônia é tida como um santuário, mas muitos se esquecem de que ali estão mais
de 20 milhões de pessoas que precisam viver com dignidade. (...) Parabenizo
também os membros da Comissão Especial, que não se curvaram aos ecologistas
que discutem meio ambiente no Armazém do Ferreira, tomando chope, ou em
Copacabana, tomando caipirinha. Queremos discutir a Amazônia com as pessoas
que moram na Amazônia. (SERGIO PETECÃO, PMN/AC, discurso proferido no
dia 10.03.2010, disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 13.04.2015.
Grifos nossos).
O deputado ruralista Moreira Mendes (PPS/RO), por exemplo, denuncia que a forma
como a Amazônia é concebida pelos governantes e pelas ONGs impede a produtividade da
região. Conforme afirma:
Vivemos numa região que tem sido usada como moeda de troca. (...) É preciso que
governantes e ONGs entendam que lá vivem quase 25 milhões de brasileiros (...)
50% da população da Amazônia sem o mínimo necessário para comer, é uma
vergonha. No entanto, a Amazônia continua servindo como moeda de troca. E a
discussão do Código Florestal? "Não podemos ter isso ou aquilo na
Amazônia", dizem. Que história é essa? Será que todos imaginam que nós vamos
continuar vivendo de catar coquinho da floresta e tomar leite da seringueira?
Isso é uma piada! (MOREIRA MENDES, PPS/RO, discurso preferido no dia
27.02.2012, disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 13.03.2015.
Grifos nossos).
145
Conforme Almeida (2010, p. 119), os projetos de autoria do deputado federal Oswaldo Reis (PMDB-TO) e do
senador já falecido Jonas Pinheiro (DEM/MT), em linha geral, expõem que os estados do Tocantins e do Mato
Grosso são prejudicados e não teriam área suficiente para produzir, motivo pelo qual deveriam ser excluídos da
área considerada como Amazônia legal.
291
Percebe-se, na fala dos parlamentares, uma crítica ao poder de determinação, atribuído
às ONGs, sobre os usos permitidos na Amazônia e, mais ainda, uma crítica a outras formas de
produtividade e uso dos recursos naturais – no caso o extrativismo – tratado de forma
pejorativa e irônica.
Trata-se, portanto, de um exemplo – dentre os muitos que poderiam ser citados – da
discriminação de atividades consideradas improdutivas a partir da lógica e do discurso
dominante do agronegócio.
Nesse mesmo sentido, se encaminha a fala do deputado Márcio Junqueira (DEM/RR),
que destaca as potencialidades produtivas da região caso a mesma fosse plenamente integrada
a dinâmica do agronegócio e da monocultura, o que, segundo afirma, a legislação impede e as
ONGs internacionais reforçam a proibição:
Infelizmente, algumas organizações não governamentais, a serviço do capital
internacional, que têm o desejo infinito de manipular o nosso País, referem-se à
Amazônia como se fosse apenas floresta. Errado, a Amazônia tem campos, lavrados,
savanas, florestas intermediárias. (...) Em Roraima, tem-se condição de plantar a
cana, a soja, o milho, o arroz, sem derrubar uma árvore sequer. Talvez o que
incomode os países que se dizem produtores é que em Roraima conseguimos colher
70 sacas de soja em 1 hectare. Recentemente, a Venezuela fez uma experiência e
conseguiu tão somente 10 sacas por hectare. Em Roraima, conseguimos produzir 70
sacas de soja por hectare, com um adendo: a soja de Roraima tem 4% a mais de
proteína, em função do sol, da luz. Nós temos 1 hora a mais de luz em Roraima. Lá,
a nossa cana tem mais sacarina, com mais capacidade de produzir etanol. Por quê?
Porque temos mais luz. Mas só vai saber disso aquele que sair do gabinete, que
andar pelo Brasil. Vai entender o que é uma APP, uma RDS, um PDS. E não vamos
ficar reféns do que a mídia tem transmitido. A Amazônia brasileira tem condição
de produzir e precisa produzir, até porque o País é composto de todo o seu
território. É uma questão de geopolítica. Nós precisamos produzir no Sul, no
Centro-Oeste e no Norte. Portanto, eu quero, de público, dizer muito obrigado a
esses Deputados que fazem história: Aldo Rebelo, Moacir Micheletto, Valdir
Colatto, Anselmo de Jesus, Paulo Piau. A história se encarregará de mostrar que
eles, sim, estavam defendendo o nosso País, eles, sim, queriam, ou melhor, querem,
e nós vamos apoiá-los, que o nosso País seja autossuficiente. Não podemos
concordar, para que fique bem claro no imaginário daqueles que nos assistem, que,
no Norte, sejamos obrigados a comprar o etanol do Sul e do Sudeste. São Paulo
pode produzir etanol; Roraima não pode. O Centro-Oeste e o Sul podem produzir
soja; Roraima não pode. Isso é um equívoco. (...) Nós assistimos agora, com muita
tristeza, à saída da empresa Arroz Acostumado, que plantava arroz em Roraima. Um
conjunto de produtores garantia a alimentação de 3 milhões de brasileiros na Região
Norte. Agora, não contamos mais com a Arroz Acostumado, em função dessa
política ambiental equivocada patrocinada por ONGs. Eu sempre me pergunto, Sr.
Presidente: por que essas ONGs não estão na França, na Inglaterra, na Dinamarca,
na Holanda, onde simplesmente se exauriu toda e qualquer floresta? Por que elas
não têm para esses países um grande projeto de reflorestamento? Eu quero dizer do
alto da tribuna da Câmara dos Deputados a essas ONGs holandesas, americanas,
inglesas, francesas que nós, brasileiros, temos, sim, a capacidade de gerir e o
conhecimento necessário para cuidar do nosso meio ambiente (MARCIO
JUNQUEIRA, DEM/RR, discurso proferido no dia 05.04.2010, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 24.04.2015. Grifos nossos).
292
Também se verificou pressão dos parlamentares pertencentes à bancada ruralista para
a diminuição das áreas de preservação permanente dos imóveis rurais bem como a tentativa
de legalização das atividades já desenvolvidas em áreas proibidas pela legislação ambiental,
as chamadas áreas consolidadas.
Essas tentativas, que acabaram sendo incorporadas, em certa medida, quando da
redação final do texto da lei do Código Florestal, pretendiam, de fato, buscar a legalização de
uma situação que já se observava de fato, ou seja, a desconsideração dos limites e percentuais
definidos ela legislação ambiental. Relativamente às áreas consolidadas, os discursos dos
deputados ruralistas Abelardo Lupion (DEM/PR), Luiz Carlos Heinze (PP/RS) e Marcio
Bittar (PSDB/AC) apontam os seguintes aspectos:
Existe hoje muita gente satanizando o tema. Há muita gente que, quando falamos
em consolidação, nos acusa de radicalismo, que estamos aqui tentando fazer
com que haja anistia, o que é mentira; estão dizendo que estamos nos
preparando para derrubar a Amazônia, é mentira. (...) Se me perguntarem se o
texto é o ideal para a produção e para o meio ambiente, eu diria que é o primeiro
passo que estamos dando para tentar ver qual é o impacto de um Código Florestal na
situação da área rural brasileira (ABELARDO LUPION, DEM/PR , discurso
proferido no dia 14.03.2012, disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em:
20.04.2015. Grifos nossos).
Nós consolidamos as mansões do lago em Brasília, consolidamos mansões à
beira do mar, mas não vamos consolidar essa lavoura? Quantas lavouras de fumo
vamos perder (...)? Quantas pocilgas, quantos aviários, quantos tambores de
leite? Há milhares de famílias no Brasil inteiro, no Norte, no Nordeste, no Centro-
Oeste, no Sul e no Sudeste, em dificuldades. É importante que os colegas
Parlamentares se deem conta disso. Nós consolidamos as mansões dos ricos. Agora
temos de consolidar as pequenas lavouras. Os médios e grandes vão resolver o
problema lá no seu Estado, (...) eles até vão adequar-se. Agora, como ficam os
pequenos produtores do Estado da Bahia, de Rondônia, Santa Catarina, Rio Grande
do Sul, de qualquer Estado brasileiro? (LUIS CARLOS HEINZE, PP/RS, discurso
proferido no dia 06.03.2012, disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em:
08.03.2015. Grifos nossos).
O atual Código Florestal brasileiro é o mais rígido do mundo. Tenho a esperança
de que vamos aprovar um novo Código que venha a permitir a pacificação na área
rural. Apesar dos equívocos publicados pela imprensa, a aprovação do Código vai
beneficiar diretamente o pequeno proprietário, pois quem tem até quatro módulos
estará livre das multas, que, muitas vezes, são três ou quatro vezes mais elevadas
que o valor da terra. É importante destacar que o novo Código não muda
substancialmente nada na minha região, a Região Amazônica. Todos os produtores
rurais da Amazônia brasileira continuarão proibidos de trabalhar em até 80% de sua
área. Não há também, no novo Código, hipótese de anistia ao grande
latifundiário. Há, isso sim, a devolução da segurança jurídica ao produtor rural, que
não será vítima de multas absurdas, baseadas em regras pouco claras (MARCIO
BITTAR, PSDB/AC, discurso proferido no dia 05.03.2012, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 20.03.2015. Grifos nossos).
Assim sendo, a remoção dos então chamados obstáculos jurídico-formais e político-
administrativos pelos parlamentares pertencentes ao setor ruralista, com objetivo de alcançar a
293
expansão do agronegócio no país, tornou-se algo sempre buscado e recorrentemente
explanado pelos parlamentares nas tribunas do Congresso Nacional.
A legislação – não só a ambiental, mas a trabalhista, igualmente – são alvos de
acusações de fomentar a insegurança jurídica e a impossibilidade de produção no meio rural.
Conforme depoimentos abaixo, dos deputados ruralistas Luis Carlos Heinze (PP/RS) e Celso
Maldaner (PMDB/SC) percebe-se a constante insatisfação do setor rural com esses
mecanismos jurídicos:
Temos conhecimento dos problemas por que estão passando milhares de
propriedades brasileiras, em se tratando da clandestinidade. Hoje, em várias regiões
do País, muitos proprietários têm suas propriedades em xeque, diante da
legislação que temos. Precisamos mudar essa realidade. Essa legislação representa
um avanço, não se trata de uma lei feita apenas para o produtor rural (LUIS
CARLOS HEINZE, PP/RS, discurso proferido no dia 08.12.2010, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 15.03.2015. Grifos nossos).
Hoje, infelizmente, 90% de todas as propriedades do País estão fora da lei. Se fosse
o Código original, de 1965... Mas, com as alterações que ele sofreu, está
impraticável. Temos uma insegurança jurídica muito grande hoje no meio rural.
(CELSO MALDANER, PMDB/SC, discurso proferido no dia 07.03.2012,
disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 06.03.2015. Grifos nossos).
Essa insegurança, conforme alegam os deputados, tem como consequência a expulsão
e a própria criminalização do produtor rural, pois é impraticável a produção nos moldes
ditados pela legislação. Cumpre ainda destacar, novamente, que não apenas a legislação
ambiental é identificada como entrave, mas a legislação trabalhista também. Nesse sentido, o
discurso dos deputados ruralistas Ernandes Amorim (PTB/RO) e Luiz Carlos Heinze (PP/RS),
proferido em período já posterior a aprovação do Código Florestal, dá ênfase a esta crítica:
Nosso Código Florestal, na forma como está redigido hoje, só faz emperrar,
diminuir, enfraquecer-se a produção agrícola e a agroindústria, bem como
aumentar o desemprego. Nós precisamos votar algumas mudanças no Código
Florestal. Nós precisamos aprovar essas mudanças no Código Florestal
(ERNANDES AMORIM, PTB/RO, discurso proferido no dia 15.11.2010,
disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 03.03.2015. Grifos nossos).
A questão trabalhista é outro verdadeiro absurdo que nós temos hoje, e
também atinge diretamente os produtores rurais, sem falar nos custos de
produção a que eles são submetidos pelas multinacionais, pelas grandes empresas,
pelas megaempresas, de fertilizantes, de defensivos, de máquinas agrícolas, de diesel
(...) O produtor é explorado em todo sentido da palavra, e ainda há quem venha a
este plenário muitas vezes para criticar os nossos produtores, pequenos, médios e
grandes! (...) É preciso que haja respeito para com a produção e com o produtor!
(LUIS CARLOS HEINZE, PP/RS, discurso proferido no dia 13.05.2013, disponível
em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 15.03.2015. Grifos nossos).
294
Assim, de modo geral, no que tange a propriedade privada, muitas falas dão conta de
denunciar o caráter expropriatório da legislação ambiental brasileira que, perante as demais
legislações ambientais, seria a mais restritiva do mundo. Merece destaque o caráter de
vitimização do produtor rural, conforme alguns depoimentos que revelarem a exploração
sofrida no sentido mais amplo possível, ao mesmo tempo em que reclamam a falta de
reconhecido da sociedade para com os mesmos.
Percebe-se a prevalência do discurso de que a agricultura, a pecuária e a agroindústria,
apesar de representarem a alternativa para o desenvolvimento do país, não são valorizados e
reconhecidos pela sociedade, de modo que os produtores rurais são discriminados. De igual
forma, prevalece nos discursos a ideia de que a legislação e as políticas públicas de cunho
ambientalista contrariam os interesses nacionais, pois, contrariam o desenvolvimento do
agronegócio.
6.6 “Quem são os vilões do meio ambiente?”146
Da mesma forma em que legitimam algumas fontes para serem citadas e utilizadas na
disputa em torno da aprovação do Código Florestal, outras instituições são descreditadas e
seus dados acabam sendo desconsiderados pelos parlamentares da bancada ruralista.
Assim, chama atenção os ataques as ONGs ambientalistas, que, no entender dos
deputados integrantes da bancada ruralista e conforme já analisado em capítulos anteriores,
atuam fundamentalmente em função de interesses internacionais, ou seja, contrários a
ascensão do Brasil no mercado de commodities e produção de alimentos.
Para alguns deputados ruralistas, como Luis Carlos Heinze (PP/RS) e Giovanni
Queiroz (PDT/PA), o discurso ambientalista, além de falacioso, estaria a serviço do
mercado internacional e teria como principal objetivo impedir que a produção agrícola
brasileira se torne uma ameaça no mercado internacional de alimentos e commodities.
Neste sentido, afirmam:
Nenhum país do mundo tem a legislação e a proteção que há no Brasil. Portanto,
mentem aqueles que falam a respeito da matéria que produzimos nesta Casa. Não
estamos atrás do Greenpeace. O Greenpeace vem da Holanda; vão ver o que é a
Holanda. A WWF vem da Inglaterra; vão ver o que é a Inglaterra. Repito: nenhum
país da Europa, nem os Estados Unidos, nem a China, nem o Japão, nem nenhum
país da Ásia tem a proteção que há no Brasil. Estão em jogo interesses
econômicos, comerciais. Mas muitos Parlamentares nesta Casa acabaram aceitando
a provocação que essas ONGs internacionais fizeram contra o povo brasileiro (LUIS
146
VALDIR COLATTO, PMDB/SC, discurso proferido no dia 17.10.2012, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 15.03.2015.
295
CARLOS HEINZE, PP/RS, discurso proferido no dia 15.12.2010, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 13.03.2015. Grifos nossos).
É bom lembrar que a nossa economia só é estável, só é segura como é, graças à
resposta da agricultura e da pecuária, que é o setor que mais emprega, que mais
produz, que mais exporta, que mais contribui para o balanço positivo das
exportações em relação às importações (...) Sempre há um ranço com a
agricultura e com a pecuária, como se nós fôssemos os vilões de tudo o que
acontece de errado neste País. As pessoas às vezes não se lembram de que aquilo
que comem todos os dias, no café da manhã, no almoço, no jantar, e de que roupa
que vestem é resultado da produção, só existem porque alguém está no campo
produzindo. Não é possível que continuem estimulando essa cizânia em quem vive
nas grandes cidades, engravatado em recintos com ar-condicionado, sem a menor
noção do que seja o Brasil real, o Brasil verdadeiro. Não é possível que continuem
estimulando essa cizânia principalmente ONGs de capital estrangeiro, que
manipulam brasileiros desinformados (MOREIRA MENDES, PSD/RO, discurso
proferido no dia 24.10.2012, disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em:
20.03.2015. Grifos nossos).
Vários estudos e pesquisas desenvolvidos por ONGs acabam sendo deslegitimados,
assim como, de modo inversamente proporcional, estudos que denunciam as ações dessas
instituições são veiculados e reproduzidos nos diferentes espaços, com vistas a mobilizar a
opinião dos demais parlamentares e também de agentes externos ao Congresso Nacional.
Nas últimas décadas - e de modo avassalador na mais recente - o
tema ambientalismo vem dando lugar a uma verdadeira psicose, fruto da ação
de poderosas ONGs em busca de mudanças radicais nas relações do homem com a
natureza. Tais organizações obedecem a uma espécie de cartilha internacional
que, utilizando-se da arma psicológica do pânico, tenta convencer que a Terra
não mais suporta produção e progresso. (...) Essas ONGs vêm acenando para a
soberania limitada sobre a nossa Amazônia, bem como de uma governança
internacional. Nesse ritmo, não tardaremos em presenciar a penetração de belonaves
com capacetes azuis da ONU no rio Amazonas, sob o pretexto de preservar o
"pulmão do mundo". (...) Por que os ecologistas fazem tanta zoeira? Como explicar
tamanho devotamento a uma causa aparentemente humanitária? Como encontram
tanto espaço na mídia? Aonde eles querem chegar? Ao fazer propaganda do não
consumismo, não desejam eles "engessar" a expansão agropecuária no Brasil e
empobrecer a nossa população? (LAEL VARELLA, DEM/MG, discurso proferido
no dia 05.12.2012, disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em:
13.03.2015. Grifos nossos).
De modo geral, percebe-se nos argumentos levantados uma tentativa de
desqualificação do discurso daqueles que se colocaram contrários à aprovação do Novo
Código Florestal, rotulando-os como ambientalistas radicais, sem embasamento científico e
manipulados por interesses de instituições ambientalistas internacionais, que objetivam
dificultar o processo de inserção e crescimento do Brasil no mercado internacional.
Além disso, argumentam que os ―fundamentalistas ambientais‖ gostariam de deixar a
lei inalterada, com o intuito de reduzir a área de produção de alimentos em nome de romântica
e inexequível proteção ambiental.
296
Termos como ―linhas de frente‖ e ―trincheiras de luta‖ são empregados e instauram –
ou reificam – uma dicotomia entre os grupos envolvidos nos debates e nas negociações para a
alteração do referido instrumento normativo, quais sejam os ―ruralistas X ambientalistas‖.
Além disso, expressões como ―radicais‖, ―extremistas‖ e ―fundamentalistas‖, bem como
―idealistas‖, ―românticos‖ e ―sonhadores‖ ou, a depender do contexto, ―mal intencionados‖ e
―contrários aos interesses nacionais‖, são frequentemente empregada para referir àqueles
identificados como integrantes do grupo dos ambientalistas e que pensavam de maneira
diferente dos representantes dos produtores, apontando críticas ao Código Florestal.
Ainda merece destaque algumas falas que disseminam o preconceito contra os povos
indígenas, quilombolas e povos e comunidades tradicionais, assim como sobre todos aqueles
que atuam na discussão sobre os direitos étnicos e territoriais e têm, na posse coletiva do
território, uma forma particular de reprodução física, econômica, social e cultural.
Estes direitos, ainda que reconhecidos formalmente, sofrem uma série de tentativas de
inviabilização tanto por ações propostas no Poder Legislativo quanto no Poder Judiciário,
sendo, portanto, cada vez mais ameaçados ante a expansão de projetos agropecuários. A
destruição das terras comunitárias, portanto, cumpre um importante papel no processo de
transformação dos recursos naturais em reservas de matéria prima para o capital especulativo
(SHIVA, 2000, p. 306).
Tais casos são bem exemplificativos do que Foucault (1999) denomina de ―racismo
estatal‖, pois demonstram de que forma age o Estado que, pretensamente deveria se colocar a
serviço do bem viver de todos os seus cidadãos mas que, efetivamente, fazem um corte entre
aqueles que devem ser considerados cidadãos – e portanto, devem continuar se reproduzindo
e sobrevivendo – e aqueles considerados inferiores, e que, portanto, devem ser eliminados.
Conforme já mencionado, os povos e comunidades tradicionais, bem como povos
indígenas, quilombolas e demais grupos étnicos são alvo constante de críticas e preconceitos
por parte dos deputados que compõe a bancada/frente parlamentar ruralista, conforme
discursos abaixo destacados:
A agricultura brasileira hoje é responsável por mais de quase R$ 400 bilhões do
superávit, do saldo que o Brasil tem na balança comercial. A despeito disso,
querem, em função das questões indígenas e das questões quilombolas,
expropriar no caso dos índios e desapropriar no caso dos quilombolas, milhões
de hectares, retirando milhares de produtores rurais da produção. Esses
produtores são explorados também com a questão do Código Florestal.
Recentemente dois Senadores da República fizeram um périplo pela Europa
explicando o Código Florestal brasileiro. Nenhum país do mundo pratica a
expropriação que se faz aqui a título de reserva legal, nem impõe tantas exigências
com relação às questões ambientais, de margens de rios, de APP. Enfim, aqui tudo é
posto na conta dos produtores rurais, que dessa forma são expropriados (LUIS
297
CARLOS HEINZE, PP/RS, discurso proferido no dia 13.05.2013, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 31.03.2015. Grifos nossos).
Na fala do deputado Carlos Heize (PP/RS), percebe-se que os produtores não podem
ser molestados por questões menores, ou por grupos considerados menores e inferiores. São
eles – os produtores rurais – os verdadeiros expropriados e injustiçados pela legislação
florestal.
Nesse mesmo sentido é a fala do deputado Paulo César Quartieiro (DEM/RR),
arrozeiro do estado de Roraima que se elegeu após a derrota judicial no caso da demarcação
da reserva indígena raposa Serra do Sol147
, defendendo o fim do INCRA e do IBAMA e que
declarou guerra aos indígenas devido à questões fundiárias:
Esse setor [ambientalista], tanto na questão ambiental quanto na questão indígena e
dessas ONGs, serve basicamente ao interesse internacional. (...) Hoje, elas não são
mais organizações não governamentais; hoje, elas já são organizações
neogovernamentais. Enfraquecem as nossas instituições, indisponibilizam nossos
recursos naturais através das grandes demarcações, seja por causa indígena, seja por
causa ambiental, seja por questão ética indígena ou quilombola (PAULO CESAR
QUARTIERO, DEM/RR, discurso proferido no dia 14.10.2014, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 20.04.2015. Grifos nossos).
Este preconceito aponta para o fato de que os verdadeiros vilões do meio ambiente, no
entender dos deputados vinculados ao agronegócio, seriam os povos indígenas, povos e
comunidades tradicionais, ONGs ambientalistas e todos aqueles que questionam a expansão
do agronegócio e denunciam os seus resultados negativos e impactos sobre o meio ambiente e
os grupos humanos.
Há um projeto de nação e de cidadania em curso, no qual o próprio direito de
existência desses grupos é contestado, tanto por meio de falas em plenário – conforme
exposto – quanto por meio de ações judiciais e projetos de lei que visam deslegitimar esses
grupos e retirar-lhe alguns direitos já conquistados.
Trata-se, portanto, da legitimação de uma forma de vida e da tentativa de aniquilação –
e porque não dizer genocídio – de grupos considerados como inferiores. Assim, segundo
Foucault (1999), a utilização do conceito de biopoder e a compressão dos mecanismos de
racismo estatal – correlato a este poder – nos auxilia, neste estudo, a perceber de que modo,
147
Conforme destaca Castilho (2012), ―A desocupação da reserva foi determinada pelo STF em 2007. Mas o
futuro deputado [eleito em 2010] não arredou pé. Em maio de 2008, oito índios foram feridos a tiros por
seguranças; outro foi ferio a coronhadas. Os pistoleiros chegaram atirando, sem chance de defesa. Dois dias
depois, Quartieiro foi preso, por porte ilegal de armas (...) Segundo o Superintendente da Polícia Federal em
Roraima, foi encontrado em sua fazenda um verdadeiro arsenal de guerra, com enorme poder de fogo‖.
298
algumas formas de vida são suprimidas e eliminadas, em prol da sobrevivência dos modos de
vida considerados superiores.
Assim, de acordo com Foucault (1999, p. 305), ―a morte do outro, a morte da raça
ruim, da raça inferior (do degenerado, ou do anormal), é o que vai deixar a vida em geral mais
sadia; mais sadia e mais pura‖, contudo, não se trata somente da morte física da espécie ou da
raça, mas o fato de expor a morte, de multiplicar para alguns o risco de morte ou ainda, a
morte política, expressa pela expulsão, rejeição e discriminação.
Percebe-se que as próprias condições de reprodução desses grupos – populações
tradicionais, povos índios, quilombolas, extrativistas, enfim, todos que estão à margem do que
o agronegócio considera produtivo – são contestadas, o que demonstra a existência de um
projeto político direcionado apenas para aqueles considerados os legítimos cidadãos da
sociedade.
6.7 “Nós queremos um desenvolvimento sustentável, um equilíbrio entre produzir e
preservar”148
Presente como argumento legitimador e justificador das ações tendentes a alterar a
legislação florestal, o desenvolvimento foi bastante abordado pelos parlamentares em seus
discursos, sobretudo o termo ―desenvolvimento sustentável‖, com a pretendida busca de
conciliação entre produção e preservação. Nesse sentido, conforme discurso do deputado
Celso Maldaner (PMDB/SC):
Estamos preocupados, porque todos os Parlamentares que são a favor da
mudança do Código Florestal Brasileiro serão taxados de exterminadores do
futuro. Vejam onde chegamos! Exterminadores do futuro! Nós queremos um
desenvolvimento sustentável, um equilíbrio entre produzir e preservar.
Portanto, considero importante a participação do Executivo para que possamos
chegar a bom termo, a fim de defendermos o meio ambiente, mas principalmente os
nossos produtores (CELSO MALDANER, PMDB/SC, discurso proferido no dia
10.03.2010, disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 11/04/2015.
Grifos nossos).
A alegação de que buscam o desenvolvimento sustentável, por meio do equilíbrio
entre produzir e preservar, é recorrentemente reproduzida pelos parlamentares, contudo, ainda
nessas falas deixam evidenciar que a preservação deve ser subjugada à produção de alimentos
148
CELSO MALDANER, PMDB/SC, discurso proferido no dia 10.03.2010, disponível em:
http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 15.03.2015.
299
e à defesa dos produtores rurais. Da mesma forma, se manifesta o deputado federal Stefano
Aguiar (PSB/MG), para quem a defesa do meio ambiente é o mesmo que a defesa da
economia:
Defender a ecologia é defender a economia. O verdadeiro progresso é sustentável,
e o desenvolvimento sustentável é amigo da natureza. Qualquer atividade que não
respeite a natureza deixa atrás de si não o progresso, mas a devastação, a poluição e
a miséria, em nome do enriquecimento de uns poucos. O lema de nosso País é
"Ordem e Progresso". A "Ordem", para gerar o progresso, deveria ser o respeito ao
meio ambiente. Num País ideal, os Ministérios do Desenvolvimento, das Minas e
Energia e da Agricultura deveriam ser subordinados ao Ministério do Meio
Ambiente. Sabemos que estamos longe disso, mas precisamos acordar para essa
realidade antes que o processo de desertificação da Amazônia e da Caatinga se
intensifique, ou a elevação dos oceanos inviabilize alguns bairros em nossas capitais
litorâneas (STEFANO AGUIAR, PSB/MG, discurso proferido no dia 05.02.2014,
disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 18.04.2015. Grifos nossos).
Tal argumentação, portanto, seria um artifício das elites patronais, ao vincular o
imperativo da produtividade, em nome da necessidade de produção de alimentos, à
preservação do meio ambiente, como se fossem processos indissociáveis e indiferenciados.
Contudo, é necessário pontuar alguns aspectos relativos ao termo sustentabilidade, tão
presente nas falas dos parlamentares.
De acordo com Vandana Shiva (2000, p. 314), o conceito original de sustentabilidade
refere-se a ―capacidade que a natureza tem de dar sustento à vida‖. Assim, a sustentabilidade
visa sobretudo manter a integridades dos processos, ciclos e ritmos naturais. Contudo, com o
passar do tempo, este termo foi sofrendo algumas modificações. Segundo a autora:
Nesse novo significado, a sustentabilidade é associada com o próprio
desenvolvimento, e não com a natureza. Não envolve, portanto, um reconhecimento
dos limites da natureza ou a necessidade de aceitá-los ou mantê-los. Ao contrário,
simplesmente significa assegurar o abastecimento contínuo de matérias primas para
a produção industrial, o fluxo constante de um número cada vez maior de
mercadorias, uma acumulação de capital infinita – e tudo isso através da imposição
de limites arbitrários que regulam a natureza (SHIVA, 2000, p. 314).
Nesse contexto, a natureza encontra dificuldades para se regenerar e recompor, haja
vista que o foco não é mais os seus processos e ciclos, mas sim, os do desenvolvimento.
Nesse sentido, há a continuidade de um processo de desenvolvimento até agora
implementado: excludente, concentrador de terras e condicionador do meio ambiente aos
interesses do capital.
Outra expressão e demanda recorrente entre os parlamentares, sobretudo os integrantes
da bancada/frente parlamentar ruralista, foi o termo ―pagamento por serviços ambientais‖.
Apresentada como alternativa de alcançar a conciliação desenvolvimento econômico e
preservação ambiental em alguns discursos, revelavam também a insatisfação dos produtores
300
rurais em ter que preservar áreas importantes e que poderiam ser utilizadas para a produção
(como as áreas de preservação permanente e de reserva legal), sem que fossem ressarcidos,
indenizados ou remunerados por isso. Nesse sentido, o discurso do deputado ruralista Zé Silva
(PDT/MG):
O nosso agricultor, quando ele cuida da natureza - das nascentes, dos rios, dos
córregos -, está produzindo água e ar de qualidade para nós que estamos na cidade.
Então o povo brasileiro tem a responsabilidade de remunerar esses anônimos
heróis brasileiros que são os agricultores e as agricultoras, que nem sempre têm
reconhecido o seu valor (ZÉ SILVA, PDT/MG, discurso proferido no dia
24/10/2010, disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 13.03.2015.
Grifos nossos).
Por outro lado, alguns deputados denunciaram que, com a aprovação da lei nos moldes
propostos, o desenvolvimento sustentável, tal como propalado, seria de difícil consecução,
sobretudo diante das medidas anunciadas para compor o novo texto do Código Florestal.
Assim, segundo destacam Pedro Uczai (PT/SC) e Janete Capiberibe (PSB/AP):
Não é possível imaginar que sustentabilidade no País vai se fazer com esse tipo
de legislação, com esse tipo de posição, que é legitimar aqueles que
desmataram, legitimar e cancelar multas milionárias e favorecer uma visão
produtivista e não uma visão de sustentabilidade - que de um lado passa a produção
de alimentos e de outro passa a preservação. Tem-se que preservar e produzir e
produzir e preservar, e não se utilizar de uma visão produtivista, conservadora,
reacionária para se pensar a sustentabilidade (PEDRO UCZAI, PT/SC, discurso
proferido no dia 06.03.2012, disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em:
13.03.2015. Grifos nossos).
A hegemonia do segmento exportador de commodities agrícolas - soja e gado,
além da madeira - retirou do Código Florestal as dimensões da preservação e
do desenvolvimento sustentável, restringindo-o ao objetivo de apenas um usuário
das terras, águas e florestas. Porém, o Código das Florestas deve incorporar todas as
perspectivas relativas ao potencial das florestas brasileiras. A Amazônia deve
desenvolver-se com outro modelo de produção. (...) Assim, em vez de repetir o
modelo de produção predatório usado no passado, o Brasil pode continuar a produzir
mais com sustentabilidade (JANETE CAPIBERIBE, PSB/AP, discurso proferido no
dia 07.02.2012, disponível em: http://www.camara.leg.br/. Acesso em: 13.03.2015.
Grifos nossos).
Percebe-se, portanto, que o desenvolvimento sustentável, é uma categoria incorporada
discursivamente pelos agentes pertencentes aos dois grupos de pressão no Congresso
Nacional, que disputam sua definição e sua apresentação.
Assim sendo, de modo geral, cumpre destacar que o discurso hegemônico, encontrado
nos pronunciamentos dos parlamentares dos dois grupos aqui analisados – ruralistas e
ambientalistas – é o imperativo do desenvolvimento sustentável a ser buscado.
Para os parlamentares da frente parlamentar e bancada ruralista, esse desenvolvimento
seria alcançado através da intensificação da produção agrícola enquanto que, para os
301
deputados ligados a frente parlamentar e bancada ambientalista, o desenvolvimento adviria da
transformação dos bens ambientais como bens rentáveis.
O estabelecimento do valor e da monetarização das relações e das práticas dá a tônica
dos discursos, sendo a noção de desenvolvimento sustentável apresentada pelos dois grupos
como a fórmula para equacionar interesses econômicos e preservacionistas e/ou
conservacionistas.
Nesse sentido, interessante destacar que ambos os grupos percebem o meio ambiente
como ―recurso natural‖, ou seja, como algo utilitário, manipulável e servindo aos interesses
do desenvolvimento. Conforme destaca Vandana Shiva (2000, p. 307):
O tratamento da natureza como um recurso que só adquire valor através da
exploração em benefício do crescimento econômico, foi essencial para o projeto
desenvolvimentista. Foi também fundamental para a crise do desenvolvimento. Do
ponto de vista filosófico, a ―dessacralização‖ da natureza significou a violação de
sua integridade, através da violação dos limites que teriam que ser mantidos para
que a vida natural pudesse ressurgir e renovar-se.
Qualquer limite torna-se um obstáculo a ser contornado e eliminado para não
atrapalhar as pretensões desenvolvimentistas. Contudo, ignorar esses limites implica em
consequências que, longe de serem tomadas como problemas e acidentes naturais – tais como
desparecimento de floresta, perda da fertilidade de solos, alteração pluvial, assoreamento de
rios, contaminações, etc. – são artificialmente criados por aqueles que estão comprometidos
apenas com seus interesses negociais e empresariais particulares.
Diante da persistência da proclamação do desenvolvimento, em especial do
desenvolvimento sustentável, compete realizar algumas observações sobre essas noções,
utilizando autores que se dedicam a realizar uma genealogia do conceito e expor as
contradições inerentes aos mesmos.
Inicialmente, conforme destaca Esteva (2000, p. 59), ao utilizar o termo
desenvolvimento a maioria das pessoas diz ―exatamente o contrário daquilo que querem
expressar‖. Isto se deve ao fato de que esta categoria é carregada de conotações, uma metáfora
que foi sendo distorcida ao longo da história e que ainda hoje carrega o peso da interpretação
dada por Harry Trumam149
, presidente eleitos dos Estados Unidos em 1949 e que consagra a
divisão do mundo entre desenvolvidos e subdesenvolvidos.
149
Conforme destaca Esteva (2000, p. 59-60), ―No fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos eram
uma máquina produtiva formidável e incessante, sem precedentes na história. Estava, indiscutivelmente, ao
centro do mundo. Era seu senhor. Todas as instituições criadas naqueles anos reconheciam este fato; a própria
Carta das Nações Unidas era uma cópia da Constituição norte-americana. No entanto, os norte-americanos
queriam algo mais. Precisavam deixar totalmente clara sua nova posição no mundo. E queriam consolidar sua
hegemonia e torná-la permanente. Para isso, formularam uma campanha política, em nível global, que
302
Ainda segundo Esteva (2000, p. 61), a palavra, transposta da biologia para as esferas
da vida social – processo mais intensificado nos últimos anos do século XVIII – sofreu uma
―inflação conceitual‖, de modo que tonou-se uma difícil tarefa delimitar com precisão o seu
significado. A despeito dessa dificuldade:
O desenvolvimento ocupa o centro de uma constelação semântica incrivelmente
poderosa. Não há nenhum outro conceito no pensamento moderno que tenha
influência comparável sobre a maneira de pensar e o comportamento humanos. Ao
mesmo tempo, poucas palavras são tão ineficazes, tão frágeis e tão incapazes de dar
substância e significado ao pensamento e ao comportamento.
Associada às palavras crescimento, evolução e maturação, ao utilizar o termo
desenvolvimento acredita-se que sentidos favoráveis serão alcançados, progressos e avanços
serão obtidos. Contudo, conforme denuncia Esteva (2000, p. 65) para ―dois terços da
população mundial, esse significado positivo da palavra ‗desenvolvimento‘ – profundamente
enraizado dois séculos depois de sua construção social – é um lembrete daquilo que eles não
são‖.
Em busca desse padrão evolutivo ocidental, diversos grupos humanos se sujeitam as
prescrições econômicas – fundadas sobre o reinado da escassez150
enquanto carência e
restrição – e acabam sendo desvalorizados, sujeitos a ações e prescrições que teriam por
objetivo levá-los ao desenvolvimento, mas que, efetivamente, levam a uma piora nas suas
formas de vida. Isto se deve, pois, ao fato de que:
O estabelecimento de valores econômicos exige a desvalorização de todas as outras
formas de vida social. Essa desvalorização transforma, em um passe de mágica,
habilidade em carências, bens públicos em recursos, homens e mulheres em trabalho
que se compra e vende como um bem qualquer, tradições em um fardo, sabedoria
em ignorância, autonomia em dependência. Transforma as atividades autônomas e
pessoais, que incorporam desejos, habilidades, esperanças e interação social ou com
a natureza, em necessidades cuja satisfação exige a mediação do mercado
(ESTEVA, 2000, p. 74).
claramente levava sua marca. Criaram até mesmo um emblema apropriado para identificar a campanha. E,
cuidadosamente, escolheram o momento oportuno para lançar ambos: 20 de janeiro de 1949. Naquele mesmo
dia, quando tomava posse o presidente Truman, uma nova era se abria para o mundo – a era do desenvolvimento
(...) Naquele dia, dois bilhões de pessoas passaram a ser subdesenvolvidas. Em um sentido muito real, daquele
momento em diante, deixaram de ser o que eram antes, em toda sua diversidade, e foram transformados
magicamente em uma imagem inversa da realidade alheia: uma imagem que os diminui e os envia para o fim da
fila; uma imagem que simplesmente define sua identidade, uma identidade que é, na realidade, a de uma maioria
heterogênea e diferente, nos termos de uma minoria heterogeneizante e limitada‖. 150
Ainda segundo Esteva (2000, p. 75), ―A ―lei da escassez‖ foi elaborada por economistas para descrever a
premissa técnica de que as necessidades humanas são imensas, para não dizer infinitas, enquanto que seus
recursos são limitados, embora improváveis. A premissa pressupõe a necessidade de escolhas sobre a alocação
dos meios (recursos). Este ―fato‖ define o ―problema econômico‖ por excelência, um problema cuja ―solução‖,
na proposta dos economistas, encontra-se no mercado ou no plano governamental. A percepção popular,
principalmente nas regiões do norte do mundo, até compartilha do sentido técnico da palavra escassez, partindo
do princípio que ela é um truísmo auto-evidente. No entanto, é justamente a universalidade dessa premissa que
não é mais sustentável‖.
303
Nesse mesmo sentido, Ribeiro (2012, p. 196) argumenta pela necessidade de
ultrapassarmos os conceitos reciclados e realizarmos uma crítica maior das atividades de
desenvolvimento. Ao tomar o desenvolvimento como ―a expansão econômica adorando a si
mesma‖, o autor afirma que, na década de 1990, dois discursos relacionados tornaram-se
hegemônicos, quais sejam o do desenvolvimento e da globalização. Ainda segundo Ribeiro,
em vez de uma pretensa inclusão, os termos acima e os processos que geram omitem e
ofuscam os efeitos indesejáveis, porém intrínsecos aos mesmos: a acumulação e expropriação.
Conforme Carneiro (2005), em relação às investigações sobre a chamada ―questão
ambiental‖, vigora, mais precisamente, depois da década de 1990, a ―aconceitualidade‖,
sobretudo no que se refere à noção de ―desenvolvimento sustentável‖.
Para o autor, ao articular a chamada ―crise ambiental‖ o ―desenvolvimento
sustentável‖ encontra limites estritamente econômicos para a sua realização, motivo pelo qual
o ―desenvolvimento autocontraditório do capitalismo tende a produzir o estrangulamento cada
vez mais incisivo das possibilidades de financiamento das ações estatais destinadas ao
provimento e gestão política das condições naturais‖ (CARNEIRO, 2005, p. 30). Dito de
outra forma, o desenvolvimento produz a destruição das condições naturais de que depende,
motivo pelo qual ele é, no entender do autor, ―logicamente insustentável‖. Além do mais,
Carneiro (2005, p. 32) chama atenção para o fato de que:
É evidente que a recusa tácita da ideologia do desenvolvimento sustentável em
discutir os nexos e as relações capitalistas de produção e seus impactos sobre as
condições naturais conduz o pensamento a considerar que tais impactos são o
resultado da ação do ―homem‖ sobre a natureza. Esse silêncio conceitual, essa
censura primordial ubíqua, não explicitamente anunciada, permite tomar como
natural e incontornável a forma especificamente capitalista de apropriação das
condições naturais.
Assim, conforme argumenta Carneiro (2005), o desenvolvimento sustentável é
―logicamente insustentável e desigual‖, haja vista que o desenvolvimento da economia é
autocontraditório. No mesmo sentido, afirma Bruno (2014, p. 92), ao se referir aos setores do
patronato rural, para quem:
As diferentes concepções de sustentabilidade se confundem com os interesses do
agronegócio, seja quando este considera ―a proteção da agricultura‖ como atividade
primeira do desenvolvimento, seja quando reivindica a garantia da
―competitividade‖ e o ―acesso aos mercados‖ como dimensões fundadoras da
sustentabilidade, seja ainda ao associar ―desenvolvimento‖ a ―conservação‖
(BRUNO, 2014, p. 92).
É difícil, portanto, sustentar tais discursos quando se percebe que as práticas, os
valores e os objetivos buscados pelo patronato rural estão associados à degradação do meio
304
ambiente, ao uso de trabalho escravo, à maximização de lucros, à expansão das monocultoras
e ao aumento das áreas de criação animal de forma extensiva, além da desconsideração de
direitos e formas de vida de povos e grupos tradicionais. Tais fatores apontam para a
insustentabilidade do discurso do ―desenvolvimento sustentável‖.
De modo geral, a partir da análise dos discursos sobre as temáticas abordadas –
agronegócio, produção de alimentos, discriminação ao produtor rural, visões técnicas e
―desapaixonadas‖ sobre a alteração da lei florestal, as ONGs e o ataque a soberania do país e
sustentabilidade e desenvolvimentos sustentável – percebe-se que os parlamentares da
bancada ruralistas obtiveram a hegemonia no Congresso Nacional e se apresentaram como
porta vozes dos discursos de verdade sobre a discussão da alteração da legislação.
Conforme destaca Foucault (1995, p. 18), ―essa vontade de verdade assim apoiada
sobre um suporte e uma distribuição institucional (...) tende a exercer sobre outros discursos
(...) uma espécie de pressão e como um poder de coerção‖, de modo que, toda a crítica
realizada a este discurso hegemônico não encontra ressonância nessa instância e nesse espaço
legislativo.
Assim sendo, podemos afirmar que o regime político, econômico e institucional de
produção de verdades pela bancada ruralista buscou sua fundamentação e legitimidade em
outras arenas e instâncias – tal como a arena científica e a mídia, naquilo que não
contrariavam seus interesses – de modo que os discursos produzidos pelos parlamentares
representantes desse grupo conseguiram a legitimação neste espaço legislativo. Esta
legitimação decorre, portanto, da mobilização bem sucedida realizada por este grupo
conservador no Congresso Nacional, em prol da manutenção de seu poder político e
econômico ligados aos interesses ruralistas, para a qual utilizou diferentes formas de
mobilização e pressão.
305
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A questão ambiental, a partir dos anos 1960, foi sendo construída como um problema
público, difundida e veiculada a partir da mobilização de agentes oriundos de diferentes
espaços sociais. Assim, o processo de tornar visível certos problemas ambientais em
detrimento de outros – como a discussão sobre a alteração da legislação florestal – e a
construção do que deve ser considerado como uma problemática ambiental perpassa a atuação
e mobilização de diferentes agentes, pertencentes a arenas igualmente diversas.
Por este motivo, ao focar nossa analise no Congresso Nacional, tentamos não perder
de vista a rede maior de agentes que se fizeram presentes nas discussões, votação e aprovação
da lei 12.651/2012, de modo a privilegiar as ligações entre as lógicas de reconhecimento,
legitimação e mobilização, bem como as estratégias utilizadas no processo de reformulação da
legislação florestal brasileira.
A partir da análise de notas taquigráficas, relatórios, matérias jornalísticas, estudos
científicos, perfis políticos, proposições de projetos de lei, formação e composição das
comissões especiais e da análise dos discursos proferidos pelos congressistas das frentes
parlamentares e bancadas ruralista e ambientalista na 53ª legislatura (2007-2011) e 54ª
legislatura (2011-2015) – período marcado pelas intensas atividades e articulações no
Congresso Nacional –, pudemos constatar a multiplicidades de estratégias acionadas para que
houvesse o reconhecimento da reforma da legislação florestal.
Assim, a partir de visões previamente definidas e articuladas a interesses de
determinados grupos e agentes sociais ligados ao agronegócio, foi sendo construída a
necessidade e urgência de modificação da legislação ambiental.
Não podemos perder de vista que a análise histórica das alterações da legislação
florestal possibilita perceber que as reformulações sempre buscaram atender a interesses
setoriais específicos. Logo, embora em diferentes graus, os Códigos Florestais de 1934, 1965
e 2012 buscaram atender a esses interesses. Contudo, na última versão, votada no dia 24 de
maio de 2012, a reação dos grupos de pressão articulados no Congresso Nacional se fez sentir
com mais força quando comparada aos processos das leis anteriores. Percebemos assim, uma
radicalização dos posicionamentos e das estratégias adotadas pelos parlamentares em defesa
do discurso e do fortalecimento dos interesses ruralistas.
Tal radicalização dos setores ruralistas, que se voltaram para a efetivação e
concretização das alterações no texto legal – a partir do seu entendimento do que seria justo e
306
adequado constar na legislação florestal – pode ser atribuída às ações de fiscalização,
monitoramento e imposição de multas e sanções penais e administrativas aos infratores que
desrespeitavam a legislação florestal que estavam em vigor mas careciam aplicabilidade.
Diante dessas medidas, articulou-se a mobilização dos setores conservadores com
representação no Congresso Nacional.
Muitos dos parlamentares analisados – que se apresentam como ―vítimas‖ das
injustiças da legislação ambiental então vigente – respondiam por crimes e infrações
ambientais, tanto na Justiça quanto junto aos órgãos de fiscalização do Poder Executivo. No
entanto, a despeito de serem incriminados, em vez de se declarem impedidos ou
impossibilitados de participar das comissões de revisão, estiveram diretamente, ao longo de
todo o processo de discussão e alteração da legislação, à frente de comissões especiais e da
relatoria do Código Florestal.
Neste sentido, cumpre destacar que, conforme análise do perfil desses parlamentares,
muitos ou são identificados como empresários e agropecuaristas – usineiros, proprietários ou
sócios de madeireiras, serrarias, frigoríficos, mineradoras, fazendeiros, etc. – ou são
financiados diretamente pelos interesses empresariais e industriais atinentes ao agronegócio.
Cumpre ainda ressaltar que a participação em frentes parlamentares, associadas às
atividades de expertise e politização dos parlamentares, nas quais as diferentes redes de
sociabilidade são acionadas, funcionaram como propulsores de discursos e visões de mundo.
Dessa forma, os parlamentares relacionados ao setor ruralista, foram mais bem sucedidos no
que se refere à aglutinação de interesses, sobretudo no âmbito do Poder Legislativo.
Assim, este grupo político conseguiu convencer não apenas o relator do projeto, mas
outros grupos e setores influentes, internos e externos ao Poder Legislativo, de que mudanças
legais eram necessárias para dinamizar a economia e garantir os índices de produtividade
agropecuária, alardeados como os principais responsáveis pelo crescimento econômico do
país.
Os argumentos sustentados pelos parlamentares ligados aos interesses ruralistas se
fizeram no sentido de possibilitar que suas interpretações sobre a legislação ambiental fossem
legitimadas e possibilitassem a amplificação das demandas dos empresários e industriais
vinculados ao agronegócio, além dos próprios congressistas.
Para tanto, realizavam articulações com os integrantes de instituições representativas
de classe, científicas de órgãos e instituições de pesquisa nacional e internacional, mídia
impressa e digital etc., no intuito de divulgar uma nova imagem da agricultura de grande
307
escala brasileira, que se distancia – ao menos discursivamente – do atraso e da violência
historicamente associadas ao setor rural no Brasil.
Além dessa nova retórica, a menção aos impactos econômicos positivos do
agronegócio, a divulgação de pesquisas científicas que reforçam essas benesses e a tentativa
de unificação das classes e grupos dominantes do setor patronal ruralista no Brasil foram
propalados como elementos legitimadores do discurso em prol da revisão do Código
Florestal.
Essas estratégias desses grupos buscavam ainda a submissão dos agentes políticos do
Poder Executivo aos interesses dos representantes ruralistas no Poder Legislativo. Percebe-se,
portanto, neste processo legislativo uma disputa em torno não só de sentidos atribuídos à
proteção e preservação ambiental, mas, sobretudo, uma disputa entre os Poderes da República
em prol do discurso legitimo e da representatividade dos interesses nacionais.
Assim, deputados e senadores afinados aos discursos e interesses do agronegócio auto
proclamavam-se como os verdadeiros representantes dos interesses nacionais – a despeito
desses interesses serem de grupos específicos – e buscavam de todas as formas eliminar os
empecilhos para que estes interesses fossem alcançados.
Neste contexto, para esse grupo dominante, a desconstrução da legislação ambiental é
um dos principais meios de que dispõem para fomentar o crescimento e a expansão do
agronegócio no país. Assim, buscavam, ao longo deste processo legislativo, impedir que
multas por crimes e infrações ambientais fossem efetivamente aplicadas, sustar o projeto de
reforma agrária e extirpar as exigências constantes na legislação para implantação de projetos
e obras com potencial risco de dano ambiental.
Merece destaque o fato de que, embora tenha se verificado neste processo uma
tentativa de contraposição ao discurso ruralista e do agronegócio, a bancada ambientalista, a
despeito de não ter encontrado expressividade no espaço legislativo, conseguiu articular, junto
a movimentos sociais e agentes pertencentes às instituições acadêmicas e científicas e a parte
mídia, um contraponto a estes discursos, cabendo destacar a atuação da bancada ambientalista
junto aos membros do Poder Executivo.
Entretanto, esta tentativa de contraposição não surtiu maiores efeitos, podendo tal falta
de êxito ser atribuída tanto às contradições e conflitos internos inerentes a este grupo político
no Congresso Nacional, quanto à capacidade de articulação bem sucedida realizada pelos
membros da frente parlamentar e bancada ruralista.
308
Assim, o trabalho de extirpar do ordenamento jurídico uma norma não aplicada, por
meio de uma mobilização conservadora bem articulada, que contou inclusive com reforço em
outras esferas além do Poder Legislativo, não foi uma tarefa argumentativa de difícil
consecução para os grupos ligados ao agronegócio.
Retomando alguns aspectos desta retórica argumentativa e deste processo de
modificação legal levado a cabo pelos setores ligados ao ruralismo, pode-se mencionar a
veiculação e reprodução do discurso da vitimização dos agricultores e produtores rurais e um
esforço de construção de uma nova retórica e prática sobre o ruralismo, o que se verificou não
apenas nas sessões plenárias realizadas no Congresso Nacional.
Além disso, sustentaram a alteração da legislação florestal com base na necessidade de
atender a demanda mundial de alimentos e colocar o Brasil no ápice do sistema mundial no
setor produtivo, entretanto, em realidade, tais discursos visavam garantir formas de
continuidade e de reprodução de grupos específicos, bem como operavam uma cisão e um
corte entre os que devem efetivamente ser incluídos nesse processo produtivo e àqueles que,
por não atenderem a estes ditames de produção, deveriam ser excluídos.
Desta forma, as argumentações privilegiadas foram aquelas afinadas com o discurso
do agronegócio e da produtividade, desconsiderando outras formas de produção que não
sejam voltadas para o mercado internacional. Percebe-se, pois, a tentativa de aniquilação de
outras formas de vida e de outros modos de produção, tentativa esta realizada, conforme
analisamos, dentre outros aspectos, por meio da desqualificação daqueles que se opõe a essas
estratégias.
Paralelamente a este processo de fortalecimento dos grupos articulados ao ruralismo e
ao desmonte da legislação ambiental nacional, percebe-se que há um aumento da impunidade
com relação aos crimes cometidos tanto contra grupos sociais vulneráveis quanto para com o
meio ambiente.
Pode-se afirmar, portanto, que há um processo de legitimação da violência
institucional e legislativa que, além de visar a alterações na legislação ambiental – tendo o
caso do Código Florestal um dos mais emblemáticos – colocam em curso uma série de ações
que visam diminuir ou eliminar a proteção às minorias étnicas e aos recursos naturais.
Percebe-se, pois, que há processos de criminalização dos movimentos sociais haja vista a
percepção de que a proteção do meio ambiente funciona como entraves políticos, jurídicos e
econômicos à expansão dos interesses ruralistas.
309
Por fim, cumpre destacar que, diante dos dados levantados, a atual configuração do
Congresso Nacional, tendo em sua maioria deputados federais e senadores articulados aos
interesses ruralistas, e, portanto, contrários a maiores políticas de expansão da agricultura
familiar e da reforma agrária – é extremamente reacionária. A tentativa destes parlamentares
de comandarem as políticas de produção, a partir do viés que concebe a produção como
voltada majoritariamente para o atendimento do mercado externo – significa um retrocesso no
que se refere aos avanços legislativos obtidos em décadas passadas.
Diante desses aspectos, podemos afirmar que há um enfraquecimento da legislação
ambiental brasileira e que o Código Florestal, por contrariar interesses empresariais e de
grandes proprietários de terra, foi apenas a primeira legislação a sofrer um desmonte de
grande monta e ter sido alterada para se adequar a esses interesses.
A despeito deste estudo se referir a um processo já encerrado – haja vista a aprovação
da Lei 12.651/2012 e ao fato da mesma já produzir seus efeitos – entendemos que as
repercussões dessas discussões continuam reverberando, haja vista os pressupostos
orientadores das alterações da lei florestal também serem acionados para propiciar as
alterações de outro marcos legais, que buscam regular a utilização dos recursos naturais.
Assim, considerando as proposições de alteração legislativa dos Códigos de
Mineração, de projetos de lei de regulamentação dos transgênicos e do licenciamento
ambiental, de projetos que buscam atribuir ao Congresso Nacional a prerrogativa na
demarcação de terras indígenas, de quilombos e de unidades de conservação, além das
disputas travadas em torno da reclassificação do que seria considerado trabalho escravo,
dentre outros exemplos, tem-se um cenário não muito animador para a questão ambiental do
ponto vista tanto da legislação quanto das políticas públicas.
A análise do processo de alteração do Código Florestal Brasileiro realizada nesta tese,
portanto, é bem elucidativo do processo de flexibilização da legislação ambiental brasileira,
que tem sido alterada para se adequar aos interesses de grupos industriais e empresariais, que
concebem os recursos naturais tão somente como fonte de lucro e de acumulação. Além disso,
é um caso exemplar de como valores, projetos e visões particulares sobre o meio ambiente
acabam sendo construídos como universais, quando são voltados para o atendimento de um
determinado setor que, no caso, se volta para o fomento da produção agrícola.
Pudemos constatar, portanto, o processo de construção e de disputa que se manifestou
no texto legal do Código Florestal, que reflete uma disputa que extrapola o espaço legislativo
310
e reverbera em toda sociedade: as tensões existentes entre produção agrícola e preservação
ambiental.
Trata-se, portanto, de um projeto político em curso, no qual são privilegiados
discursos e práticas relacionadas ao agronegócio e excluídos todos aqueles que representem
algum empecilho a estes interesses. Nesse sentido, para estes grupos políticos, a legislação
ambiental deve ser deslegitimada e passar por um processo no qual a diminuição da proteção
seja a tônica, motivo pelo qual investigações futuras, que possam colocar em relevo esta
problemática, podem vir a somar e complementar as análises realizadas nesta tese.
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em: 20 de março de 2016.
320
VICENTE, Iara Souza. O mito do Brasil real, discurso patronal e ideologia: a atuação da
bancada ruralista na votação do novo código florestal. Monografia apresentada ao curso de
Ciências Sociais do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília. Brasília: 2013.
VIGNA, Edélcio. A bancada ruralista: um grupo de interesse. Argumento nº 8. Brasília,
INESC: 2001.
WAINER, Ann Helen. Legislação ambiental brasileira: evolução histórica do Direito
Ambiental. Revista de informação legislativa, Brasília, ano 30, nº 118, abr./jun. 1993.
321
ANEXO I – PARLAMENTARES INTEGRANTES DA BANCADA RURALISTA
ELEITOS NA 54ª LEGISLATURA (2011-2015) ABELARDO LUPION (DEM/PR) - REELEITO JÚLIO CAMPOS (DEM/MT) – NOVO
ADEMIR CAMILO (PDT/MG) – REELEITO JÚLIO CESAR (DEM/PI) – REELEITO
AELTON FREITAS (PSDB/MG) – REELEITO JULIO SEMEGHINI (PSDB/SP) – REELEITO
AFONSO HAMM (PP/RS) – REELEITO JUNIOR COIMBRA (PMDB/TO) – NOVO
ALEX CANZIANI (PTB/PR) – REELEITO JUNJI ABE (DEM/SP) – NOVO
ALEXANDRE SILVEIRA (PPS/MG) - REELEITO LAEL VARELLA (DEM/MG) – REELEITO
ALFREDO KAEFER (PSDB/PR) – REELEITO LAUREZ MOREIRA (PSB/TO) – NOVO ALINE CORREA (PP/SP) – REELEITA LÁZARO BOTELHO (PP/TO) – REELEITO
ALMEIDA LIMA (PMDB/SE) – NOVO LEANDRO VILELA (PMDB/GO) – REELEITO
ANIBAL GOMES (PMDB/CE) – REELEITO LEONARDO QUINTÃO (PMDB/MG) - REELEITO
ANTÔNIO ANDRADE (PMDB/MG) - REELEITO LEOPOLDO MEYER (PSB/PR) – NOVO
ANTONIO IMBASSAHY (PSDB/BA) - NOVO LIRA MAIA (DEM/PA) – REELEITO
ARACELY DE PAULA (PR/MG) – REELEITO LOURIVAL MENDES (PTDOB/MA) – REELEITO
ARNALDO JARDIM (PPS/SP) – REELEITO LÚCIO VIEIRA LIMA (PMDB/BA) – NOVO
ARNON BEZERRA (PTB/CE) – REELEITO LUIZ ARGÔLO (PP/BA) – NOVO
ARTHUR LIRA (PP/AL) – NOVO LUIZ CARLOS HAULY (PSDB/PR) – REELEITO
ARTHUR MAIA (PMDB/BA) – NOVO LUIZ CARLOS HEINZE (PP/RS) – REELEITO
ASDRUBAL BENTES (PMDB/PA) - REELEITO LUIZ FERNANDO FARIAS (PP/MG) – REELEITO
ÁTILA LIRA (PSB/PI) – REELEITO MANDETTA (DEM/MS) – NOVO
AUGUSTO COUTINHO (DEM/PE) - NOVO MARÇAL FILHO (PMDB/MS) – REELEITO
BERNARDO SANTANA (PR/MG) – NOVO MARCELO CASTRO (PMDB/PI) – REELEITO
BETINHO ROSADO (DEM/RN) – REELEITO MARCIO BITTAR (PSC/AC) – NOVO
BILAC PINTO (PR/MG) – REELEITO MARCIO REINALDO (PP/MG) – REELEITO
CARLAILE PEDROSA (PSDB/MG) - NOVO MARCOS MEDRADO (PDT/BA) – NOVO
CARLOS ALBERTO LERÉIA (PSDB/GO) - REELEITO MARCOS MONTES (DEM/MG) – REELEITO
CARLOS BEZERRA (PMDB/MT) - REELEITO MÁRIO DE OLIVEIRA (PSC/MG) – REELEITO
CARLOS MELLES (DEM/MG) – REELEITO MÁRIO NEGROMONTE (PP/BA) – REELEITO
CESAR HALUM (PPS/TO) – NOVO MAURO BENEVIDES (PMDB/CE) – REELEITO
CEZAR SILVESTRI (PPS/PR) – REELEITO MILTON MONTI (PR/SP) – REELEITO
DIEGO ANDRADE (PR/MG) – NOVO MOACIR MICHELETTO (PMDB/PR) - REELEITO DILCEU SPERAFICO (PP/PR) – REELEITO MOREIRA MENDES (PPS/RO) – REELEITO
DIMAS FABIANO (PP/MG) – NOVO NELSON MARCHEZAN JÚNIOR (PSDB/RS) - NOVO
DOMINGOS SÁVIO (PSDB/MG) – NOVO NELSON MARQUEZELLI (PTB/SP) – REELEITO
DUARTE NOGUEIRA (PSDB/SP) - REELEITO NELSON MEURER (PP/PR) – REELEITO
EDINHO ARAÚJO (PMDB/SP) – NOVO NELSON PADOVANI (PSC/PR) – NOVO
EDINHO BEZ (PMDB/SC) – REELEITO NEWTON CARDOSO (PMDB/MG) – REELEITO
EDMAR ARRUDA (PSC/PR) – NOVO ONYX LORENZONI (DEM/RS) – REELEITO
EDUARDO GOMES (PSDB/TO) - REELEITO OZIEL OLIVEIRA (PDT/BA) – NOVO ELIENE LIMA (PP/MT) – REELEITO PAULO CESAR QUARTIERO (DEM/RR) - NOVO
ESPIRIDIÃO AMIN (PP/SC) – NOVO PAULO MAGALHÃES (DEM/BA) – REELEITO
FÁBIO SOUTO (DEM/BA) – REELEITO PAULO PIAUI (PMDB/MG) – REELEITO
FELIX JR. (PDT/BA) – NOVO PEDRO FERNANDES (PTB/MA) – REELEITO
FERNANDO TORRES (DEM/BA) – NOVO PEDRO NOVAIS (PMDB/MA) – REELEITO
GENECIAS MATEUS (PMDB/CE) - NOVO RAIMUNDÃO (PMDB/CE) – NOVO
GERALDO THADEU (PPS/MG) – REELEITO RAIMUNDO MATOS (PSDB/CE) – REELEITO GIOVANNI QUEIROZ (PDT/PA) - REELEITO RAUL LIMA (PP/RR) – NOVO
GIROTO (PMDB/MS) – REELEITO REINALDO AZAMBUJA (PSDB/MS) - NOVO
GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE) – REELEITO RENATO MOLLING (PP/RS) – REELEITO
HÉLIO SANTOS (PSDB/MA) – REELEITO RENZO BRAZ (PP/MG) – NOVO
HENRIQUE EDUARDO ALVES (PMDB/RN) - REELEITO ROBERTO BALESTRA (PP/GO) – REELEITO
HEULER CRUVINEL (DEM/GO) - NOVO ROBERTO BRITTO (PP/BA) – REELEITO
HOMERO PEREIRA (PR/MT) – REELEITO RODRIGO DE CASTRO (PSDB/MG) - REELEITO
INOCÊNCIO OLIVEIRA (PR/PE) - REELEITO RODRIGO GARCIA (DEM/SP) – NOVO
IRACEMA PORTELA (PP/PI) – NOVA RONALDO BENEDET (PMDB/SC) – NOVO
IRAJÁ ABREU (DEM/TO) – REELEITO RONALDO CAIADO (DEM/GO) – REELEITO
IRIS DE ARAÚJO (PMDB/GO) - REELEITA SANDRO MABEL (PR/GO) – REELEITO
JAQUELINE RORIZ (PMN/DF) – NOVA SARAIVA FELIPE (PMDB/MG) – REELEITO
JOÃO CAMPOS (PSDB/GO) – REELEITO SÉRGIO BRITO (PSC/BA) – REELEITO
JOÃO CARLOS BACELAR (PR/BA) - REELEITO SÉRGIO GUERRA (PSDB/PE) – NOVO
JOÃO LYRA (PTB/AL) – NOVO SÉRGIO MORAES (PTB/RS) – REELEITO
JOÃO MAGALHÃES (PMDB/MG) - REELEITO VAZ DE LIMA (PSDB/SP) – NOVO JOÃO MAIA (PR/RN) – REELEITO VICENTE ARRUDA (PR/CE) – REELEITO
JOAQUIM BELTRÃO (PMDB/AL) - REELEITO VILSON COVATTI (PP/RS) – REELEITO
JOHNATHAN DE JESUS (PRB/RR) - NOVO WALTER TOSTA (PMN/MG) – NOVO
JOSÉ CARLOS ARAÚJO (PDT/BA) - REELEITO WELLINGTON FAGUNDES (PR/MT) – REELEITO
JOSÉ LINHARES (PP/CE) – REELEITO WELLINGTON ROBERTO (PR/PB) – REELEITO
JOSÉ NUNES (DEM/BA) – NOVO ZÉ SILVA (PDT/MG) – NOVO
JOSÉ ROCHA (DEM/BA) – REELEITO ZÉ VIEIRA (PR/MA) – REELEITO
JOSUE BENGTSON (PTB/PA) – NOVO ZENALDO COUTINHO (PSDB/PA) – REELEITO
JOVAIR ARANTES (PTB/GO) – REELEITO (fonte: www.diap.org.br. acesso: 15.02.2015)
322
ANEXO II – PARLAMENTARES INTEGRANTES DA BANCADA
AMBIENTALISTA ELEITOS NA 54ª LEGISLATURA (2011-2015)
ALFREDO SIRKIS (PV/RJ) – NOVO
FABINHO RAMALHO (PV/MG) – REELEITO
IVAN VALENTE (PSOL/SP) – REELEITO
JOSÉ LUIZ PENNA (PV/SP) – NOVO
MENDES THAME (PSDB/SP) – REELEITO
REBECA GARCIA (PP/AM) – REELEITO
RICARDO IZAR (PV/SP) – NOVO
RICARDO TRIPOLI (PSDB/SP) – REELEITO
ROSANE FERREIRA (PV/PR) – NOVO
SARNEY FILHO (PV/MA) – REELEITO
SIBA MACHADO (PT/AC) – NOVO
(Fonte: congressoemfoco.uol.com.br. Acesso em 28.08.2015)
323
ANEXO III – DEPUTADOS FEDERAIS INTEGRANTES DA FRENTE
PARLAMENTAR DA AGROPECUÁRIA NA 54ª LEGISLATURA (2011-2015)
Presidente: Luis Carlos Heinze / Total: 191 (*incluindo deputados fora do exercício)
PARLAMENTAR PARTIDO UF
ABELARDO LUPION DEM PR
ADEMIR CAMILO PROS MG
AFONSO HAMM PP RS
AGUINALDO RIBEIRO PP PB
ALBERTO FILHO PMDB MA
ALCEU MOREIRA PMDB RS
ALINE CORRÊA PP SP
ANDERSON FERREIRA PR PE
ANDRE MOURA PSC SE
ANDRÉ ZACHAROW PMDB PR
ANTÔNIA LÚCIA PSC AC
ANTÔNIO ANDRADE* PMDB MG
ANTONIO BALHMANN PROS CE
ANTONIO IMBASSAHY PSDB BA
ARNALDO JARDIM PPS SP
ARNON BEZERRA PTB CE
ARTHUR LIRA PP AL
ARTHUR OLIVEIRA MAIA SD BA
ASSIS DO COUTO PT PR
AUREO SD RJ
BENJAMIN MARANHÃO SD PB
BERINHO BANTIM SD RR
BERNARDO SANTANA DE
VASCONCELLOS*
PR MG
BETO FARO PT PA
BRUNO ARAÚJO PSDB PE
CARLAILE PEDROSA* PSDB MG
CARLOS ALBERTO LERÉIA PSDB GO
CARLOS BEZERRA PMDB MT
CARLOS BRANDÃO* PSDB MA
CARLOS MAGNO PP RO
CARLOS MANATO SD ES
CELSO MALDANER PMDB SC
CESAR COLNAGO* PSDB ES
CÉSAR HALUM PRB TO
CIDA BORGHETTI* PROS PR
CLEBER VERDE PRB MA
DAMIÃO FELICIANO PDT PB
DANILO FORTE PMDB CE
DARCÍSIO PERONDI PMDB RS
DAVI ALVES SILVA JÚNIOR PR MA
DILCEU SPERAFICO PP PR
DOMINGOS SÁVIO PSDB MG
DR. UBIALI PSB SP
DUARTE NOGUEIRA PSDB SP
DUDIMAR PAXIUBA PROS PA
EDINHO BEZ PMDB SC
EDIO LOPES PMDB RR
EDMAR ARRUDA PSC PR
EDUARDO AZEREDO* PSDB MG
EDUARDO BARBOSA PSDB MG
EDUARDO GOMES SD TO
EDUARDO SCIARRA* PSD PR
EFRAIM FILHO DEM PB
ELEUSES PAIVA PSD SP
ELI CORREA FILHO DEM SP
ESPERIDIÃO AMIN PP SC
FÁBIO FARIA PSD RN
PARLAMENTAR PARTIDO UF
FÁTIMA BEZERRA PT RN
FÁTIMA PELAES PMDB AP
FELIPE BORNIER PSD RJ
FÉLIX MENDONÇA JÚNIOR PDT BA
FERNANDO COELHO FILHO PSB PE
FERNANDO FRANCISCHINI SD PR
FLAVIANO MELO PMDB AC
GENECIAS NORONHA SD CE
GERALDO RESENDE PMDB MS
GERALDO SIMÕES PT BA
GIOVANNI QUEIROZ PDT PA
GIROTO PR MS
GIVALDO CARIMBÃO PROS AL
GLADSON CAMELI PP AC
GONZAGA PATRIOTA PSB PE
GUILHERME CAMPOS PSD SP
HÉLIO SANTOS PSDB MA
HENRIQUE FONTANA PT RS
HERMES PARCIANELLO PMDB PR
HEULER CRUVINEL PSD GO
HOMERO PEREIRA* PSD MT
HUGO LEAL PROS RJ
IRAJÁ ABREU PSD TO
JAIME MARTINS PSD MG
JAIRO ATAÍDE DEM MG
JAQUELINE RORIZ PMN DF
JERÔNIMO GOERGEN PP RS
JESUS RODRIGUES PT PI
JOÃO MAGALHÃES PMDB MG
JOÃO MAIA PR RN
JOAQUIM BELTRÃO* PMDB AL
JONAS DONIZETTE* PSB SP
JORGE BOEIRA PP SC
JORGINHO MELLO PR SC
JOSÉ CARLOS ARAÚJO PSD BA
JOSÉ CHAVES PTB PE
JOSÉ HUMBERTO PSD MG
JOSÉ NUNES PSD BA
JOSÉ OTÁVIO GERMANO PP RS
JOSÉ ROCHA PR BA
JOSIAS GOMES* PT BA
JOSUÉ BENGTSON PTB PA
JÚLIO CESAR PSD PI
JÚLIO DELGADO PSB MG
JÚNIOR COIMBRA PMDB TO
JUNJI ABE PSD SP
LAERCIO OLIVEIRA SD SE
LAUREZ MOREIRA* PSB TO
LÁZARO BOTELHO PP TO
LEANDRO VILELA PMDB GO
LELO COIMBRA PMDB ES
LEONARDO QUINTÃO PMDB MG
LEOPOLDO MEYER PSB PR
LINCOLN PORTELA PR MG
LINDOMAR GARÇON* PV RO
LIRA MAIA DEM PA
LUIS CARLOS HEINZE PP RS
LUIZ CARLOS SETIM* DEM PR
324
ANEXO III – DEPUTADOS FEDERAIS INTEGRANTES DA FRENTE
PARLAMENTAR DA AGROPECUÁRIA NA 54ª LEGISLATURA (2011-2015)
(continuação)
PARLAMENTAR PARTIDO UF
LUIZ FERNANDO FARIA PP MG
LUIZ NISHIMORI PR PR
LUIZ NOÉ* PSB RS
LUIZ OTAVIO PMDB PA
MANDETTA DEM MS
MANOEL JUNIOR PMDB PB
MARÇAL FILHO PMDB MS
MARCELO CASTRO PMDB PI
MARCIO BITTAR PSDB AC
MARCIO REINALDO
MOREIRA*
PP MG
MARCOS MONTES PSD MG
MARINHA RAUPP PMDB RO
MAURÍCIO QUINTELLA
LESSA
PR AL
MAURÍCIO TRINDADE PROS BA
MAURO LOPES PMDB MG
MENDONÇA PRADO DEM SE
MOACIR MICHELETTO* PMDB PR
MOREIRA MENDES PSD RO
NAZARENO FONTELES* PT PI
NELSON MARCHEZAN
JUNIOR
PSDB RS
NELSON MARQUEZELLI PTB SP
NELSON PADOVANI PSC PR
NERI GELLER* PP MT
NILTON CAPIXABA PTB RO
ONOFRE SANTO AGOSTINI PSD SC
ONYX LORENZONI DEM RS
OSMAR SERRAGLIO PMDB PR
OSMAR TERRA PMDB RS
PAULO CESAR QUARTIERO* DEM RR
PAULO MAGALHÃES PSD BA
PAULO PIAU* PMDB MG
PAULO PIMENTA PT RS
PEDRO CHAVES PMDB GO
PEDRO EUGÊNIO PT PE
PROFESSOR SETIMO PMDB MA
PROFESSORA DORINHA
SEABRA REZENDE
DEM TO
RAIMUNDÃO* PMDB CE
RAIMUNDO GOMES DE
MATOS
PSDB CE
REINALDO AZAMBUJA* PSDB MS
REINHOLD STEPHANES PSD PR
RENATO MOLLING PP RS
RENZO BRAZ PP MG
RIBAMAR ALVES* PSB MA
ROBERTO BALESTRA PP GO
ROBERTO BRITTO PP BA
PARLAMENTAR PARTIDO UF
ROBERTO DORNER PSD MT
ROBERTO TEIXEIRA PP PE
RODRIGO GARCIA DEM SP
ROGÉRIO PENINHA
MENDONÇA
PMDB SC
ROMERO RODRIGUES* PSDB PB
RONALDO BENEDET PMDB SC
RONALDO CAIADO DEM GO
ROSE DE FREITAS PMDB ES
RUBENS OTONI PT GO
RUI PALMEIRA* PSDB AL
SANDRA ROSADO PSB RN
SANDRO ALEX PPS PR
SANDRO MABEL PMDB GO
SÉRGIO BRITO PSD BA
SERGIO GUERRA* PSDB PE
SILVIO COSTA PSC PE
TAKAYAMA PSC PR
VALDIR COLATTO* PMDB SC
VALDIVINO DE OLIVEIRA* PSDB GO
VALTENIR PEREIRA PROS MT
VANDER LOUBET PT MS
VILSON COVATTI PP RS
VITOR PENIDO DEM MG
WALDIR MARANHÃO PP MA
WALTER IHOSHI* PSD SP
WANDENKOLK
GONÇALVES
PSDB PA
WELLINGTON FAGUNDES PR MT
WILSON FILHO PTB PB
ZÉ SILVA SD MG
ZEQUINHA MARINHO* PSC PA
ZONTA* PP SC
Fonte: www.camara.gov.br. Acesso em 26.02.2015.
325
ANEXO IV – DEPUTADOS FEDERAIS INTEGRANTES DA FRENTE
PARLAMENTAR AMBIENTALISTA NA 54ª LEGISLATURA (2011-2015)
Presidente: Sarney Filho / Total: 196 (*incluindo deputados fora do exercício)
PARLAMENTAR PARTIDO UF
ADRIAN PMDB RJ
AFONSO HAMM PP RS
AGUINALDO RIBEIRO PP PB
ALEX CANZIANI PTB PR
ALEXANDRE ROSO PSB RS
ALFREDO KAEFER PSDB PR
ALFREDO SIRKIS PSB RJ
ALICE PORTUGAL PCdoB BA
AMAURI TEIXEIRA PT BA
ANDRE MOURA PSC SE
ANDRÉ ZACHAROW PMDB PR
ANTÔNIA LÚCIA PSC AC
ANTÔNIO ANDRADE* PMDB MG
ANTONIO BALHMANN PROS CE
ANTONIO CARLOS MENDES
THAME
PSDB SP
ARIOSTO HOLANDA PROS CE
ARLINDO CHINAGLIA PT SP
ARNALDO JARDIM PPS SP
ARNALDO JORDY PPS PA
ARNON BEZERRA PTB CE
ARTHUR OLIVEIRA MAIA SD BA
ASSIS DO COUTO PT PR
ASSIS MELO PCdoB RS
ÁTILA LINS PSD AM
BETO MANSUR PRB SP
BONIFÁCIO DE ANDRADA PSDB MG
CARLAILE PEDROSA* PSDB MG
CARLOS EDUARDO CADOCA PCdoB PE
CARLOS MANATO SD ES
CELSO MALDANER PMDB SC
CESAR COLNAGO* PSDB ES
CIDA BORGHETTI* PROS PR
DALVA FIGUEIREDO PT AP
DAMIÃO FELICIANO PDT PB
DANIEL ALMEIDA PCdoB BA
DEVANIR RIBEIRO PT SP
DIEGO ANDRADE PSD MG
DOMINGOS DUTRA SD MA
DOMINGOS NETO PROS CE
DR. ADILSON SOARES PR RJ
DR. CARLOS ALBERTO PMN RJ
DR. JORGE SILVA PROS ES
DR. PAULO CÉSAR PR RJ
DR. ROSINHA PT PR
DUDIMAR PAXIUBA PROS PA
EDINHO BEZ PMDB SC
EDIO LOPES PMDB RR
EDSON PIMENTA PSD BA
EDUARDO AZEREDO* PSDB MG
EDUARDO BARBOSA PSDB MG
EDUARDO DA FONTE PP PE
EFRAIM FILHO DEM PB
ELCIONE BARBALHO PMDB PA
ERIKA KOKAY PT DF
PARLAMENTAR PARTIDO UF
ESPERIDIÃO AMIN PP SC
EUDES XAVIER PT CE
FÁBIO FARIA PSD RN
FÁBIO RAMALHO PV MG
FELIPE MAIA DEM RN
FERNANDO FERRO PT PE
FERNANDO MARRONI* PT RS
FLÁVIA MORAIS PDT GO
FLAVIANO MELO PMDB AC
FRANCISCO FLORIANO PR RJ
FRANCISCO PRACIANO PT AM
GENECIAS NORONHA SD CE
GERALDO RESENDE PMDB MS
GIVALDO CARIMBÃO PROS AL
GLADSON CAMELI PP AC
GONZAGA PATRIOTA PSB PE
GORETE PEREIRA PR CE
GUILHERME CAMPOS PSD SP
HENRIQUE AFONSO PV AC
HENRIQUE OLIVEIRA* SD AM
HERMES PARCIANELLO PMDB PR
HOMERO PEREIRA* PSD MT
HUGO LEAL PROS RJ
IVAN VALENTE PSOL SP
JAIME MARTINS PSD MG
JAIRO ATAÍDE DEM MG
JANDIRA FEGHALI PCdoB RJ
JANETE ROCHA PIETÁ PT SP
JEAN WYLLYS PSOL RJ
JOÃO ARRUDA PMDB PR
JOÃO BITTAR DEM MG
JOÃO DADO* SD SP
JOÃO MAGALHÃES PMDB MG
JOÃO MAIA PR RN
JOÃO PAULO CUNHA* PT SP
JOÃO PAULO LIMA PT PE
JOAQUIM BELTRÃO* PMDB AL
JORGINHO MELLO PR SC
JOSÉ CARLOS ARAÚJO PSD BA
JOSÉ CHAVES PTB PE
JOSÉ LINHARES PP CE
JOSÉ OTÁVIO GERMANO PP RS
JOSÉ ROCHA PR BA
JOSE STÉDILE PSB RS
JOSUÉ BENGTSON PTB PA
JÚLIO CAMPOS DEM MT
JÚLIO CESAR PSD PI
LAERCIO OLIVEIRA SD SE
LAUREZ MOREIRA* PSB TO
LEANDRO VILELA PMDB GO
LELO COIMBRA PMDB ES
LEONARDO QUINTÃO PMDB MG
LILIAM SÁ PROS RJ
LINDOMAR GARÇON* PV RO
LIRA MAIA DEM PA
326
ANEXO IV – DEPUTADOS FEDERAIS INTEGRANTES DA FRENTE
PARLAMENTAR AMBIENTALISTA NA 54ª LEGISLATURA (2011-2015)
(continuação)
PARLAMENTAR PARTID
O
UF
LUIZ CARLOS PSDB AP
LUIZ COUTO PT PB
LUIZ OTAVIO PMDB PA
MANUELA D'ÁVILA PCdoB RS
MARÇAL FILHO PMDB MS
MARCELO CASTRO PMDB PI
MÁRCIO MACÊDO PT SE
MARINHA RAUPP PMDB RO
MÁRIO DE OLIVEIRA* PSC MG
MARLLOS SAMPAIO PMDB PI
MAURÍCIO QUINTELLA LESSA PR AL
MAURÍCIO TRINDADE PROS BA
MAURO LOPES PMDB MG
MAURO MARIANI PMDB SC
MENDONÇA PRADO DEM SE
MIGUEL CORRÊA* PT MG
MISSIONÁRIO JOSÉ OLIMPIO PP SP
MOACIR MICHELETTO* PMDB PR
NEILTON MULIM* PR RJ
NELSON MARQUEZELLI PTB SP
OSMAR JÚNIOR PCdoB PI
OSMAR SERRAGLIO PMDB PR
OTAVIO LEITE PSDB RJ
OZIEL OLIVEIRA PDT BA
PADRE JOÃO PT MG
PAES LANDIM PTB PI
PAULO MAGALHÃES PSD BA
PAULO TEIXEIRA PT SP
PAULO WAGNER* PV RN
PENNA PV SP
PEPE VARGAS PT RS
PERPÉTUA ALMEIDA PCdoB AC
PROFESSORA DORINHA
SEABRA REZENDE
DEM TO
RAIMUNDÃO* PMDB CE
RAIMUNDO GOMES DE
MATOS
PSDB CE
RAUL HENRY* PMDB PE
REBECCA GARCIA PP AM
REGINALDO LOPES PT MG
REINHOLD STEPHANES PSD PR
RENATO MOLLING PP RS
RENZO BRAZ PP MG
RIBAMAR ALVES* PSB MA
RICARDO BERZOINI* PT SP
RICARDO IZAR PSD SP
RICARDO TRIPOLI PSDB SP
ROBERTO BALESTRA PP GO
ROBERTO BRITTO PP BA
ROBERTO DE LUCENA* PV SP
ROBERTO TEIXEIRA PP PE
RODRIGO MAIA DEM RJ
ROMERO RODRIGUES* PSDB PB
PARLAMENTAR PARTIDO UF
ROSANE FERREIRA PV PR
ROSE DE FREITAS PMDB ES
ROSINHA DA ADEFAL* PTdoB AL
RUBENS OTONI PT GO
RUI COSTA* PT BA
RUI PALMEIRA* PSDB AL
SALVADOR ZIMBALDI PROS SP
SANDES JÚNIOR PP GO
SANDRO MABEL PMDB GO
SARAIVA FELIPE PMDB MG
SARNEY FILHO PV MA
SEBASTIÃO BALA ROCHA SD AP
SÉRGIO BRITO PSD BA
SERGIO GUERRA* PSDB PE
SÉRGIO MORAES PTB RS
SIBÁ MACHADO PT AC
SILAS CÂMARA PSD AM
STEPAN NERCESSIAN PPS RJ
TAKAYAMA PSC PR
TAUMATURGO LIMA PT AC
THIAGO PEIXOTO PSD GO
VALADARES FILHO PSB SE
VALTENIR PEREIRA PROS MT
VANDERLEI MACRIS PSDB SP
VICENTE ARRUDA PROS CE
VICENTE CANDIDO PT SP
VIEIRA DA CUNHA* PDT RS
VILSON COVATTI PP RS
WALDIR MARANHÃO PP MA
WASHINGTON REIS PMDB RJ
WELITON PRADO PT MG
WELLINGTON FAGUNDES PR MT
WILSON FILHO PTB PB
WLADIMIR COSTA SD PA
ZÉ GERALDO PT PA
ZEQUINHA MARINHO* PSC PA
Fonte: www.camara.gov.br. Acesso em 26.02.2015.
327
ANEXO V – AUDIÊNCIAS PÚBLICAS REALIZADAS PELA COMISSÃO
ESPECIAL (2009-2010)
Audiência Pública de 27 de outubro de 2009 – Brasília (DF)
MARCOS MAIA PORTO – Gerente de Meio Ambiente da Agência Nacional de Transportes Aquaviários -
ANTAQ.
MÁRIO MONDOLFO – Superintendente de Infraestrutura Rodoviária da Agência Nacional de Transportes
Terrestres - ANTT.
Audiência Pública de 3 de novembro de 2009 – Brasília (DF)
RAIMUNDO DEUSDARÁ FILHO – Diretor da Área de Gestão dos Empreendimentos de Irrigação e Presidente
em Exercício da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba - CODEVASF.
LUIZ ANTÔNIO PAGOT – Diretor-Geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT.
Audiência Pública de 10 de novembro de 2009 – Brasília (DF)
GUSTAVO RIBAS CURSIO – Pesquisador da EMBRAPA Florestas, de Colombo/PR.
CELSO MANZATO – Chefe da EMBRAPA Meio Ambiente, Jaguariúna/SP.
EDUARDO DELGADO ASSAD – Pesquisador da EMBRAPA Informática, Agropecuária de Campinas/SP.
Audiência Pública de 12 de novembro de 2009 – Brasília (DF)
FÁBIO FELDMANN – Ex-Deputado Federal Constituinte.
JOSÉ CARLOS DE ALMEIDA AZEVEDO – Doutor em Física e ex-Reitor da Universidade de Brasília.
PAULO AFFONSO LEME MACHADO – Doutor em Direito Ambiental e Professor da
UNIMEP – Universidade Metodista de Piracicaba.
Audiência Pública de 13 de novembro de 2009 – Maceió (AL)
JOSÉ MARINHO JÚNIOR – Secretário-Adjunto de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário.
LUCIANO BARBOSA – Presidente da Associação dos Municípios Alagoanos – AMA.
ÁLVARO ARTHUR LOPES DE ALMEIDA – Presidente da Federação da Agricultura e
Pecuária do Estado de Alagoas.
ANTÔNIO VITORINO DA SILVA – Presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de
Alagoas.
FERNANDO JOSÉ MENDES PINTO – Presidente do Instituto para Preservação da Mata Atlântica.
ALEX GAMA DE SANTANA – Secretário Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos de Alagoas.
SÉRGIO TOLEDO – Deputado Estadual de Alagoas.
JUDSON CABRAL – Deputado Estadual de Alagoas.
RUI PALMEIRA – Deputado Estadual de Alagoas.
GILVAN BARROS – Deputado Estadual de Alagoas.
Audiência Pública de 14 de novembro de 2009 – Petrolina (PE)
JÚLIO LOSSIO – Prefeito de Petrolina, Estado de Pernambuco.
JAIRTON FRAGA ARAÚJO – Representante da Prefeitura de Juazeiro, Estado da Bahia.
LUCIANA SANTOS – Secretária de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Estado de Pernambuco.
WALTER YUKIO HORITA – Presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia.
IVAN PINTO DA COSTA – Representante da Federação da Agricultura do Estado da Bahia.
NELSON ANANIAS FILHO – Representante da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA e da
Federação da Agricultura do Estado de Pernambuco.
RITA ROSA DA SILVA – Representante da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de
Pernambuco.
JOSÉ WILSON DE ALMEIDA – Ambientalista.
VITÓRIO RODRIGUES – Ambientalista.
Audiência Pública de 19 de novembro de 2009 – Cuiabá (MT)
JOSÉ GERALDO RIVA – Deputado Estadual, Presidente da Assembléia Legislativa de Mato Grosso.
DILCEU DAL BOSCO – Deputado Estadual de Mato Grosso.
BLAIRO MAGGI – Governador do Estado de Mato Grosso.
LUIZ SCALOPPE – Procurador de Justiça de Defesa Ambiental e da Ordem Urbanística do Estado de Mato
Grosso.
328
RUI PRADO – Presidente da FAMATO.
MAURO MENDES – Presidente do Sistema Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso.
MARIA DA GLÓRIA BORGES DA SILVA – Secretária de Assalariados e Assalariadas Rurais da FETAGRI.
FERNANDO GöRGEN – Prefeito de Querência/MT e Presidente da Associação de Municípios do Baixo
Araguaia.
PERCIVAL MUNIZ – Deputado Estadual de Mato Grosso.
RICARDO ARIOLI – Representante do setor canavieiro/MT.
RUBIMAR BARRETO SILVEIRA – Vice-Presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia de Mato Grosso – CREA/MT.
JOAQUIM PAIVA DE PAULA – Presidente da AMEF.
ROBSON AMORIM MACHADO – Vereador do Município de Juína/MT.
NETO GOUVEIA – Representante dos pantaneiros.
IVANOR MIOTTO – Agricultor.
DENIZ ESPEDITO SERAFINI – Presidente da Associação Brasileira de Propriedades Rurais.
Audiência Pública de 21 de novembro de 2009 – Colíder (MT)
JOSÉ GERALDO RIVA – Deputado Estadual, Presidente da Assembléia Legislativa de Mato Grosso.
DILCEU DAL BOSCO – Deputado Estadual de Mato Grosso.
SILVAL BARBOSA – Governador em Exercício do Estado de Mato Grosso.
CELSO PAULO BANAZESKI – Prefeito do Município de Colíder, Mato Grosso.
NILTON SANTOS – Deputado Estadual de Mato grosso.
VALTER NEVES MOURA – Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Guarantã do Norte/MT,
representante da FETAGRI.
ANA LÚCIA STEFANELLO – Advogada, OAB/MT.
ROGÉRIO RODRIGUES – Secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Município de
Sniop/MT.
MARCELO MAOSKI – Secretário de Meio Ambiente do Município de Apicás/MT.
VICENTE DA RIVA – Presidente do Sindicato Rural de Alta Floresta/MT.
MUNEFUMI MATSUBARA – Produtor rural.
ANTÔNIO CARLOS PEREIRA GALVAN – Representante do Sindicato Rural de Sinop e da Federação da
Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso – FAMATO.
ARNÓBIO VIEIRA DE ANDRADE – Presidente do Grupo de Trabalho do Programa Marcelândia 100% Legal.
ADALBERTO NAVAIR DIAMANTE – Prefeito de Marcelândia/MT.
BETINHO – Presidente do Sindicato Rural de Guarantã do Norte/MT.
ANTÔNIO LUIZ CÉSAR DE CASTRO – Prefeito de Nova Canaã do Norte/MT.
MARCELO DE CASTRO SOUZA – Presidente da Câmara de Guarantã do Norte/MT.
JOÃO SIMONI – Presidente do Sindicato Rural de Colíder/MT.
DANIEL ROBSON DA SILVA – Presidente da Cooperativa Agropecuária Mista Terra Nova Ltda –
COOPERNOVA.
MAURO FERONATO – Presidente do Sindicato das Indústria de Móveis do Norte de Mato Grosso –
SIMONORTE.
HÉLIO PEREIRA DE SOUZA – Assessor Jurídico do Município de Terra Nova do Norte/MT.
Audiência Pública de 22 de novembro de 2009 – Novo Progresso (PA)
(não foi possível fazer o resumo desta audiência).
Audiência Pública de 24 de novembro de 2009 – Brasília (DF)
CARLOS MINC - Ministro de Estado do Meio Ambiente.
Audiência Pública de 26 de novembro de 2009 – Brasília (DF)
SÉRGIO LEITÃO – Diretor de Políticas Públicas do Greenpeace.
RAUL DO VALLE – Coordenador-Adjunto do Programa de Direito e Política Socioambiental do ISA – Instituto
Socioambiental.
LUIZ HENRIQUE GOMES DE MOURA – Representante da Articulação Nacional de Agroecologia - ANA.
ANDRÉ LIMA – Pesquisador do Instituto de Proteção Ambiental da Amazônia – IPAAM.
Audiência Pública de 27 de novembro de 2009 – Campo Grande (MS)
MÁRCIO CAMPOS MONTEIRO – Secretário-Adjunto de Estado de Meio Ambiente, do Planejamento, da
Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul.
329
SÉRGIO SEIKO YONAMINE – Presidente da Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Mato
Grosso do Sul – AGEPAN.
EDUARDO CORRÊA RIEDEL – Vice-Presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Mato
Grosso do Sul – FAMASUL.
ZÉ TEIXEIRA – Deputado Estadual de Mato Grosso do Sul.
VANESSA RIBEIRO LOPES – Presidenta da Comissão Ambiental da OAB, Mato Grosso do Sul.
SOLANGE FÁTIMA SPOSITO – Representante do Instituto Ambiental – IMASUL.
JÁSIO – Agricultor.
ROBERTO – Diretor de Desenvolvimento do Instituto de Meio Ambiente de Mato grosso do Sul.
LUIZ CALVO RAMIRES JÚNIOR – Presidente da Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores e
Consumidores de Florestas Plantadas – REFLORE-MS.
LIONI DE SOUZA FIGUEIRÓ – Engenheiro Agrimensor do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do
Sul – IMASUL.
MAURÍCIO BONIFÁCIO DELALIBERA – Representante da Federação da Agricultura e Pecuária do Mato
Grosso do Sul – FAMASUL.
WILSON MATEUS BRUSMAENO – Participante.
Audiência Pública de 1 de dezembro de 2009 – Brasília (DF)
FRANCISCO DE ASSIS COSTA – Professor Associado do núcleo de altos Estudos Amazônicos (NAEA) e do
Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Pará.
LUIZ CARLOS BALDICERO MOLION – Professor do Instituto de Ciências Atmosféricas da Universidade
Federal de Alagoas.
PAULO YOSHIO KAGEYAMA – Professor da ESALQ - Universidade de São Paulo.
Audiência Pública de 3 de dezembro de 2009 – Cafelândia (PR)
JOSÉ ROBERTO COELHO – Representante do Sindicato Rural de Goioerê, Estado do Paraná.
JOSÉ LINO – Produtor rural.
SILVÉRIO CONSTANTINO – Produtor rural.
GENÉSIO CLEMENTE – Produtor rural.
PEDRO AVANCINI – Produtor rural.
Audiência Pública de 4 de dezembro de 2009 – Assis Châteaubriant (PR)
DALILA JOSÉ DE MELLO – Prefeita do Município de Assis Chateaubriand, Estado do Paraná.
DIRCEU VIEIRA DE PAULA – Presidente da Câmara de Vereadores de Assis Chateaubriand, Estado do
Paraná.
NELSON COSTA – Superintendente-Adjunto das Organizações das Cooperativas do Estado do Paraná –
OCEPAR.
ALFREDO LANG – Presidente da Cooperativa C. Vale, no Estado do Paraná.
VALDEMAR EDUARDO KAISER – Presidente do Núcleo Regional dos Sindicatos Rurais do Oeste do Paraná.
PAULO MACEDO – Representante da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado do Paraná.
APARECIDO JOSÉ WEILLER JÚNIOR – 1º Vice-Presidente da Associação dos Municípios do Oeste do
Paraná.
ROGÉRIO MASSING – Representante da Associação de Câmaras e Vereadores do Oeste do Paraná –
ACAMOP. · ROGÉRIO PASQUETTI – Presidente da Associação dos Produtores Lindeiros ao Parque Nacional
do Iguaçu e Lago do Itaipu, Estado do Paraná.
ÉLIO RUSH – Deputado Estadual do Paraná.
DUÍLIO GENARI – Deputado Estadual do Paraná.
ELTON WETER – Deputado Estadual do Paraná.
ODIR CIVIDINI – Produtor Rural.
LUIZ CARLOS MIOTTO – Produtor Rural e Presidente da Associação dos Suinocultores de Palotina, Paraná.
LOTÁRIO HEIN – Produtor Rural.
CLÁUDIO HOFFMANN – Produtor Rural.
MARIA ELCI VENÂNCIO DA SILVA – Prefeita do Município de Guaíra, Estado do Paraná.
GÉRARD MOSS – Vice-Presidente do Sindicato Rural Patronal da Cidade Gaúcha.
BRAZ REBERTI PEDRINI – Presidente do Sindicato Rural Patronal de Altônia, Paraná.
JOÃO APARECIDO PEGARORO – Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Assis Chateaubriand,
Paraná.
WALTER ANDREI DAL‘BOIT – Produtor Rural de Assis Chateaubriand, Paraná.
LUCILENE DIAS DA SILVA – Produtora Rural de Umuarama, Paraná.
NELSON CARNIEL – Agricultor de São Jorge do Patrocínio, Paraná.
330
ORACI MIAKI – Agricultor de Nova Aurora, Paraná.
ÉDIO HOSDA – Agricultor de Terra Roxa, Paraná.
RICARDO SÍLVIO CHAPLA – Presidente da COPAGRIL de Marechal Cândido Rondon, Paraná.
VALTER PITOL – Presidente da COPACOL.
CASTILLO LUIZ HENDGES – Agricultor.
GUILHERME MOERS – Produtor Rural.
ERNI ARNDT – Agricultor e Produtor Rural de frango de Nova Santa Rosa, Paraná.
ADEMIR GENERO – Gerente do SICREDI, em Palotina, Estado do Paraná.
JOSÉ HENRIQUE OLIVEIRA NETO – Agricultor e Engenheiro Agrônomo em Assis Chateaubriand, Estado do
Paraná.
WILLIAM HOFFMANN – Agricultor.
GERSON ARALDI – Produtor Rural.
ALFREDO MOTTA MARTINS – Agricultor de Assis Chateaubriand, Estado do Paraná.
ALTAIR DE PÁDUA – Agricultor e representante do Sindicato Rural Patronal de Terra Roxa, Paraná.
FERANDO ENGLER – Engenheiro Agrônomo e Produtor Rural.
Audiência Pública de 8 de dezembro de 2009 – Brasília (DF)
REINHOLD STEPHANES –Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA.
Audiência Pública de 10 de dezembro de 2009 – Brasília (DF)
LUIZ CARLOS SILVA MORAIS – Professor do Centro Universitário do Norte Paulista - UNORP.
IVO MELLO – Engenheiro Agrônomo e Primeiro-Secretário da Federação Brasileira de Plantio Direto.
CARLOS EDUARDO FRISCKMANN YOUNG – Professor de Economia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
VITOR HUGO RIBEIRO BURKO – Presidente do Instituto Ambiental do Estado do Paraná.
Audiência Pública de 11 de dezembro de 2009 – Chapecó (SC)
WOLMIR DE SOUZA - Presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos.
ALCEU LORENZON - Diretor-Presidente da Alcaplas.
HILÁRIO COTTSELIG - Presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Santa Catarina,
FETAESC.
ENORI BARBIERI - Vice-Presidente da FAESC.
ELIAS VALMIR BALDISSERA - Presidente do Sindicato da Indústria da Construção e de Artefatos de
Concreto Armado do Oeste de Santa Catarina — SINDUSCON.
MARCOS ANTÔNIO ZORDAN - Presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado de Santa
Catarina no Município de Joaçaba.
MARCOS WEISS - Gerente de Desenvolvimento Ambiental da Fundação do Meio Ambiente do Estado de
Santa Catarina — OCESC.
SILVIO VOLTARIM - Representante das cerâmicas de Santa Catarina.
RICARDO – Vereador
GLAUCO OLINGER - Engenheiro Agrônomo.
SAMANTA PINEDA - Consultora Jurídica da Frente Parlamentar da Agropecuária.
Audiência Pública de 3 de fevereiro de 2010 – Assis (SP)
ÉZIO SPERA - Prefeito do Município de Assis, Estado de São Paulo.
FÁBIO DE SALLES MEIRELLES - Presidente da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo — FAESP.
BRAZ AGOSTINHO ALBERTINI - Presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de
São Paulo — FETAESP.
EDIVALDO DEL GRANDE - Presidente da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo — OCESP.
IVAN CARNEIRO CASTANHEIRO - Promotor de Justiça do Centro de Apoio Operacional Cível e de Tutela
Coletiva de São Paulo.
RICARDO KANTHACK - Diretor do Polo Médio de Paranapanema, da Agência Paulista de Tecnologia dos
Agronegócios — APTA.
MARCOS SAWAYA JANK - Presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar - UNICA.
MAURO BRAGATO - Deputado Estadual de São Paulo.
MARCELO DE SOUZA PECCHIO - Prefeito Municipal de Quatá, Estado de São Paulo, e Presidente do
Consórcio Intermunicipal do Vale do Paranapanema — CIVAP.
NELSON ROBERTO BUGALHO - Promotor do Meio Ambiente do Município de Presidente Prudente, Estado
de São Paulo.
REINALDO CUSTÓDIO DA SILVA - Prefeito do Município de Palmital, Estado de São Paulo.
331
CARLOS ALBERTO MANTOVANI - Presidente da Organização Não-Governamental Entidade Ecológica e
Educacional do Vale do Paranapanema — ENVAPA.
FÁBIO MEIRELLES FILHO - Vice-Presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil
— CNA.
PAULO ARLINDO DE OLIVEIRA - Representante do Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de
São Paulo e Diretor Regional da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral — CATI, da Secretaria de
Agricultura e Abastecimento do Estado.
JOSÉ REINALDO BASTOS - Presidente da Câmara Setorial da Mandioca do Estado de São Paulo e Vereador
no Município de Cândido Mota.
Audiência Pública de 3 de fevereiro de 2010 – Ribeirão Preto (SP)
ARLEN SANTIAGO – Representante da Assembléia Legislativa de Minas Gerais.
ROBERTO SIMÕES – Presidente da Federação da Agricultura e da Pecuária do Estado de Minas Gerais.
EDUARDO ANTÔNIO ARANTES DO NASCIMENTO – Representante da Federação dos Trabalhadores na
Agricultura do Estado de Minas Gerais.
VÍTOR FEITOSA – Presidente do Conselho de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de Minas
Gerais.
JOSÉ CARLOS DE CARVALHO – Secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de
Minas Gerais.
LUCIANO BALDINI – Promotor de Justiça.
PAULO AFONSO ROMANO – Secretário-Adjunto de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Governo do
Estado de Minas Gerais.
MARIA DARCI RICAS – Superintendente Executiva da associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente.
FÁBIO AVELAR – Presidente da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembleia Legislativa
de Minas Gerais.
SEBASTIÃO VALVERDE – Professor da Universidade de Viçosa, Minas gerais.
HUMBERTO CANDEIRAS – Representante da associação dos Municípios Mineiros.
BERNARDO DE VASCONCELLOS – Presidente da Associação Mineira de Silvicultura.
JÚLIO GONÇALVES PEREIRA – Vice-Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas
Gerais.
EUGÊNIO MENDES DINIZ – Presidente do Sindicato Rural de Pará de Minas.
VANDERLEI JANGROSSI – Suplente de Deputado Estadual de Minas Gerais.
Audiência Pública de 5 de fevereiro de 2010 – Manaus (AM)
JOSÉ LOBO – Deputado Estadual do Amazonas.
LUIZ CASTRO – Deputado Estadual do Amazonas.
ADEMAR BANDEIRA – Presidente da Câmara Municipal de Manaus.
ERON BEZERRA – Deputado Estadual e Secretário de Produção Rural do Estado do Amazonas.
MARIO CESAR MANTOVANI – Representante da SOS Mata Atlântica.
MUNIR JÚNIOR – Representante da Federação da Agricultura do Estado do Amazonas.
NILO D‘ÁVILA – Coordenador de Políticas Públicas e representante do Greenpeace.
IZIDRO MATHEUS DE SENA BARROS – Participante.
CÁSSIA FERREIRA DA SILVA – Representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
SÉRGIO GONÇALVES – Participante.
Audiência Pública de 6 de fevereiro de 2010 – Boa Vista (RR)
ALMIR SÁ – Presidente da Federação da Agricultura de Roraima.
SÉRGIO PILLON GUERRA – Representante do Governo do Estado de Roraima.
ERCI DE MORAES – Representante da Assembleia Legislativa do Estado de Roraima.
LUCIANA SURITA DA MOTTA MACEDO – Presidente da Fundação Estadual de Meio Ambiente, Ciência e
Tecnologia – FEMACT.
PAULA ARAUTO – Representante da Secretaria Estadual do Meio Ambiente.
SÍLVIO DA SILVA – Presidente da Sociedade em Defesa dos Índios do Norte de Roraima
– SODIUR.
NELSON MASSAMI ITIKAWA – Representante da Associação dos Arrozeiros de Roraima.
LAERTE THOMÉ – Presidente da Associação dos Produtores da Serra da Lua, Estado de Roraima.
SÍLVIO DE CARVALHO – Presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras no Estado de
Roraima.
CIRO CAMPOS – Representante do Coletivo Ambiental do Lavrado.
FÁBIO ALMEIDA – Presidente do Diretório Regional do Partido Comunista do Brasil – PcdoB de Roraima.
332
GILBERTO MARCELINO – Representante do Município de Caracaraí.
Audiência Pública de 25 de fevereiro de 2010 – Rio Branco (AC)
EDVALDO MAGALHÃES – Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Acre.
EUFRAN AMARAL – Secretário de Meio Ambiente do Estado do Acre.
ASSUERO DOCA VERONEZ – Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Acre.
MARIA SEBASTIANA OLIVEIRA DE MIRANDA – Presidente da Federação dos Trabalhadores na
Agricultura do Estado do Acre.
PATRÍCIA AMORIM REGO – Procuradora do Ministério Público no Estado do Acre.
JÚLIO BARBOSA - Representante do Conselho Nacional dos Seringueiros.
IRANI BRAGA - Representante da Serra do Divisor.
IDALINA ONOFRE - Deputada Estadual pelo Estado do Acre.
LEONARDO CUNHA DE BRITO - Professor do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais Aplicadas e Professor
de Direito Ambiental da Universidade Federal do Acre.
LUIZ CALIXTO - Deputado Estadual pelo Estado do Acre.
AURICÉLIO AZEVEDO - Representante da Reserva Chico Mendes.
INÁCIO KAXINAWÁ - Cacique da terra indígena Caucho.
ADELAIDE DE FÁTIMA - Representante da Associação dos Moradores.
ADAMOR DAS MERCÊS - Vereador de Sena Madureira.
ELDER ANDRADE DE PAULA - Professor da Universidade Federal do Acre.
RAIMUNDO LACERDA DA SILVA - Vereador de Brasileia.
NÉSIA MORENO - Engenheira Florestal.
RONALD POLANCO RIBEIRO - Representante do Tribunal de Contas.
JUDSON FERREIRA VALENTIM - Representante da EMBRAPA.
SÉRGIO BARROS - Produtor Rural.
RAIMUNDO SOUZA DA SILVA - Presidente da SINPASA.
ROSILDO RODRIGUES - Representante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia.
ADOLAR ROSELLA - Representante do Sindicato Rural de Sena Madureira.
Audiência Pública de 1º de março de 2010 – Teresina (PI)
DALTON MACAMBIRA – Secretário de Meio Ambiente do Governo do Estado do Piauí.
CARLOS AUGUSTO MELO CARNEIRO – Presidente da Federação de Agricultura do Estado do Piauí.
LUIZ FERNANDO DE MELO – Engenheiro Agrônomo e membro da Comissão de Meio Ambiente do Estado
do Piauí – CMA.
JOÃO LUZARDO FILHO – Representante da Procuradoria Regional do Trabalho.
FRANCISCO RODRIGUES SOARES – Presidente da Federação Rio Parnaíba, Conselheiro do Conselho
Nacional do Meio Ambiente, representando as ONGs da Região Nordeste.
AVELAR AMORIM – Presidente da Associação dos Engenheiros Agrônomos do Piauí.
CELSO JOSÉ MONTEIRO FILHO – Biólogo do IBGE.
SÉRGIO BORTOLOZZO – Vice-Presidente da Federação da Agricultura do Estado do Piauí.
FLÁVIO MOURA FÉ – Presidente da Comissão de Meio Ambiente da Ordem dos Advogados do Brasil, Piauí.
THEMOSTOCLES FILHO – Deputado Estadual e Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Piauí.
EDSON FERREIRA – Deputado Estadual.
ANTONIO FELIX – Deputado Estadual.
NEMA SOUZA BEZZERA – Funcionária Pública do Tribunal de Justiça de São Luís, Estado do Maranhão.
DIONÍSIO NETO – Representante da Rede Ambiental do Piauí – REAPI.
ANTÔNIO RIBEIRO NETO – Representante da Fundação de Defesa Ecológica do Cerrado.
JOSÉ ANCHIETA ROSAL – Representante dos produtores rurais do sul do Estado do Piauí.
Audiência Pública de 2 de março de 2010 – Imperatriz (MA)
SEBASTIÃO MADEIRA - Prefeito do Município de Imperatriz, Estado do Maranhão.
MARCELO TAVARES SILVA - Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão.
HAMILTON MIRANDA - Presidente da Câmara de Vereadores de Imperatriz, Estado do Maranhão.
WASHINGTON LUIZ CAMPOS RIO BRANCO - Secretário de Meio Ambiente do Estado do Maranhão.
GASTÃO VIEIRA - Deputado Federal e Secretário de Planejamento do Estado do Maranhão.
AFONSO SÉRGIO FERNANDES RIBEIRO - Secretário de Agricultura, Pecuária e Pesca do Estado do
Maranhão.
JADSON MEDEIROS DE LAGO - Secretário-Adjunto do Desenvolvimento Agrário e Presidente do Sindicato
dos Produtores Rurais do Estado do Maranhão.
RAIMUNDO COELHO - Vice-Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Maranhão.
333
FRANCISCO SALES DE OLIVEIRA - Presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado do
Maranhão.
CLÁUDIO AZEVEDO - Representante da Federação das Indústrias do Estado do Maranhão.
CARLOS MARQUES - Presidente do Sindicato Rural de Imperatriz, Estado do
Maranhão.
MARCO TÚLIO DOMINICI - Presidente da Associação dos Criadores do Maranhão.
SABINO SIQUEIRA DA COSTA - Secretário de Desenvolvimento do Município de Imperatriz, Estado do
Maranhão.
VALDINAR BARROS - Deputado Estadual do Maranhão.
DEOCLIDES MACEDO - Prefeito de Porto Franco, Estado do Maranhão.
PENALDON JORGE MOREIRA - Deputado Estadual.
WILSON ARAÚJO DA SILVA - Professor da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA.
SRA. CONCEIÇÃO – Representante de 40 entidades civis de Imperatriz/MA
CARLOS LEE – Representante do Coletivo Arte Alternativa de Imperatriz/MA.
RUBENS FAVAL – Representante do Comitê Amazônia Somos Nós.
DERLISON SAMPAIO – Presidente da associação dos Criadores de Alto Alegre do Pindaré e Amarante do
Maranhão.
LUCIANO VILELA – Representante da Federação da Agricultura do Estado do Tocantins.
RAIMUNDO NONATO – Produtor rural.
MAURONI ALVES CANGUSSU – Produtor rural.
FRANCISCO MARTINS DE SOUZA – Assentado da Reforma Agrária, agricultor familiar.
RODES JEREMIAS – Produtor rural.
GUILHERME MAIA ROCHA – Engenheiro Agrônomo.
VICENTE GOMES DE OLIVEIRA – Produtor rural.
ALBERTO CANTANHEDO – Movimento Social Ambientalista da Amazônia.
ERNO SORVOS – Conselheiro Estadual da OAB.
ALOÍSIO MELO - COOPERVAL
JOÃO OLÍMPIO – Assessor da Prefeitura de Carolina.
FRANKCINATO DA SILVA BATISTA – Professor aposentado da UFMA.
EDMILSON CARVALHO – Representante da ONG Comando Florestal, Ambiental, Guardiões do Verde.
Audiência Pública de 9 de março de 2010 – Corumbá (MS)
RUITER CUNHA DE OLIVEIRA – Prefeito Municipal de Corumbá, Mato Grosso do Sul.
WALFRIDO MORAES TOMÁS – Pesquisador da EMBRAPA.
ROBERTO RICARDO GONÇALVES – Diretor de Desenvolvimento do Instituto de Meio Ambiente de Mato
Grosso do Sul.
RICARDO EBOLI – Vice-Prefeito do Município de Corumbá, Mato Grosso do Sul.
EDUARDO CORREA RIEDEL – Presidente em exercício da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato
Grosso do Sul – FAMASUL.
RAPHAEL KASSAR – Presidente do Sindicato Rural de Corumbá, Mato Grosso do Sul.
MARIA CRISTINA LANZA – Vereadora.
OTÁVIO LACERDA – Pantaneiro.
Audiência Pública de 24 de março de 2010 – Brasília (DF)
JOSÉ WELLINGTON BARROSO DE ARAÚJO DIAS – Governador do Estado do Piauí.
RICARDO EBOLI – Vice-Prefeito do Município de Corumbá, Estado do Mato Grosso do Sul.
WALFRIDO MORAES TOMÁS – Pesquisador da EMBRAPA Pantanal.
JÚLIO BARBOSA DE AQUINO – Presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros do Acre.
Audiência Pública de 29 de março de 2010 – Colombo (PR)
HELTON DAMIN DA SILVA - Chefe-Geral da EMBRAPA Florestas.
JOSÉ ANTÔNIO CAMARGO - Prefeito do Município de Colombo, Estado do Paraná.
JOÃO BOSCO DE VASCONCELLOS GOMES - Pesquisador da EMBRAPA.
GUSTAVO RIBAS CURCIO - Pesquisador da EMBRAPA Florestas.
ALEXANDRE UHLMANN - Pesquisador da EMBRAPA Florestas.
EDILSON BATISTA DE OLIVEIRA – Engenheiro Agrônomo e Pesquisador da EMBRAPA Floresta.
ESTEFANO PALUDZYSZYN FILHO – Pesquisador da EMBRAPA Floresta.
YEDA MARIA MALHEIROS DE OLIVEIRA –
JOSÉ ROBERTO SCOLFORO – Professor e Pró-Reitor de pesquisa da Universidade Federal de Lavras, Minas
Gerais.
334
SEBASTIÃO RENATO VALVERDE – Engenheiro Florestal e Professor da Universidade Federal de Viçosa,
Minas Gerais.
CLÁUDIO MÁRIO MUNDSTOCK – Engenheiro Agrônomo.
SAMANTA PINEDA – Consultora Jurídica para assuntos ambientais da Frente Parlamentar da Agropecuária.
LEONARDO PAPP – Engenheiro de Desenvolvimento Humano da Organização das Cooperativas Brasileiras –
OCB.
ROBERTO GAVA – Presidente da Câmara de Desenvolvimento Florestal da Federação das Indústrias do Paraná
– FIEP.
Audiência Pública de 30 de março de 2010 – Brasília (DF)
RENATO CAIAFFO DA ROCHA – Presidente da Federação das Associações dos Arrozeiros do Rio Grande do
Sul – FEDERARROZ.
DÁRSIO CALAIS – Engenheiro Florestal, representante da Associação Mineira de Silvicultura.
Audiência Pública de 6 de abril de 2010 – Brasília (DF)
FERNANDO GORGEN – Prefeito do Município de Querência, Estado de Mato Grosso.
FERNANDO DE ANDRADE MARTINS – Promotor de Justiça da Comarca de Franca, Estado de São Paulo.
ROBERTO ANDRADE GRECELLÉ – Consultor Técnico em Pecuária e Desenvolvimento Sustentável.
Audiência Pública de 7 de abril de 2010 – Brasília (DF)
CARLOS ADOLFO BANTEL – Engenheiro Florestal, representando o Conselho Federal de Engenharia,
Arquitetura e Agronomia – CONFEA.
ALBERTO ERCÍLIO BROCH – Presidente da Confederação dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG.
Audiência Pública de 13 de abril de 2010 – Brasília (DF)
ROBERTO LUIZ LEME KLABIN – Presidente da ONG SOS Mata Atlântica.
FERNANDO HENRIQUE DA FONSECA – Presidente da Associação Brasileira de Produtores de Florestas
Plantadas – ABRAF.
(Fonte: REBELO, 2010, p.44-227).