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Universidade Federal do Paraná
Leonardo Podolano Garin
Imigração Ucraniana em Curitiba
Curitiba
2010
Leonardo Podolano Garin
A Imigração Ucraniana em Curitiba
Curitiba
2010
Trabalho apresentado à disciplina de
Orientação Monográfica II como requisito
parcial para a obtenção do grau de bacharel
em Ciências Sociais, do curso de Ciências
Sociais, Setor de Ciências Humanas, Letras e
Artes da Universidade Federal do Paraná.
Orientador: Prof. Dr. Márcio de Oliveira.
Resumo
O presente trabalho trata de questões da sociologia através do debate sobre noções de imigração e pertencimento. O trabalho tem como objeto de pesquisa o grupo de imigrantes ucranianos que migraram ao Brasil e se estabeleceram em Curitiba a partir do final do século XIX. O trabalho é dividido em 3 partes. A primeira delas fará uma introdução histórica à temática problematizando as condições políticas entre os países envolvidos mostrando as razões migração. No segundo momento o trabalho apresentará a situação dos imigrantes no Brasil, sua instalação nas colônias ao redor do Estado e a influência da religião no início do processo de sociabilidades entre os ucranianos. Para concluir, a terceira parte o trabalho chega junto com os ucranianos a cidade de Curitiba, mostrando como as organizações buscaram se desvencilhar da igreja para adquirir autonomia e enfrentando novos desafios para se manterem na atualidade. Palavras-chave: Sociologia. Imigração. Curitiba.
Abstract
The present work deals with questions of sociology through the debate on immigration and notions of belonging. The research work focuses on the group of Ukrainian immigrants who migrated to Brazil and settled in Curitiba from the late nineteenth century. The work is divided into 3 parts. The first one will give a historical introduction to the topic, discussing the political conditions among the countries involved and showing the reasons of those whom migrated. In the second part, the work will provide the situation of immigrants in Brazil, its installation in colonies around the state of Paraná and the influence of religion in the process of sociability among Ukrainians. To conclude, the third part of the work comes together with the Ukrainians to Curitiba, how organizations have sought to shake the church to gain independence and ending to face new challenges to remain at the present time. Key words: Sociology. Immigration. Curitiba.
Agradecimentos
Tendo esse trabalho como o final de um ciclo importante para a minha formação enquanto indivíduo e profissional, não posso deixar de agradecer pessoas e instituições que influenciaram diretamente em todo o processo. Primeiramente, agradeço a Universidade Federal do Paraná, pela oportunidade de estudar e ampliar meus conhecimentos. Sendo parte da instituição, agradeço a todos os funcionários que fizeram parte de minha formação. Aos professores das disciplinas de primeiro semestre às de conclusão de curso. Menção especial ao meu orientador, professor Marcio de Oliveira, pela especial dedicação. A quem não só se preocupou em prestar auxílio sobre o tema específico, mas que, além disso, se predispôs de seu tempo a fim de construir um grupo de pesquisa sobre imigração que irá dar frutos em breve. Agradeço também aos meus colegas que estiveram presente nos momentos mais importantes de minha vida. Cito especialmente aos que contribuíram diretamente para meu crescimento, no estudo, no trabalho e no lazer. Não poderia deixar de mencionar nomes importantes como de Daniel Garcia, Augusto Abbate, Walker Hanashiro, Felipe Trovão, Fernando Bonancio, Morgana Laemmle, Michel Yakini, Raquel Almeida, Nelson Trindade, Michele D´aquino, Saulo Teixeira, Tatiana Kaminski, Diógenes Parzianello, Pedro Vieira, Milena Costa, André Forni, Catharina Bertoni, Paulo Mendes, Isla Nakano, Marcelo Peccioli, Claudia Anauate e muitos outros que foram fundamentais durante o processo. E para finalizar, a minha família. Gostaria de agradecer aos meus pais Odi Garin e Mariane Podolano, pela oportunidade de terem me dado uma educação respeitosa e terem me orientado na direção de ser um bom ser humano baseado no respeito e na serenidade. Aos meus irmãos Bruno e Caio, pelo companheirismo e parceria durante anos. As minhas avós Rosine e Marlene pelos conselhos e suportes. Aos meus avôs Girair e João, ambos em memória. A todos os meus tios, em especial Odine Garin, Felipe Podolano e Alexandre Podolano. Agradeço a Melanie Genis e seus filhos por fazerem parte de minha família. Pelo apoio e parceira agradeço a minha mulher Mônica Veiga, que soube compreender a delicadeza do momento monográfico, e ao meu filho Hanu, pela alegria da companhia e pelos momentos marcantes de aprendizagem com simplicidade.
(...) Vim da Ucrânia Valorosa Que foi Russ e foi Rutênia Povo indomável não cala A sua voz sem algemas. Vim das levas imigrantes Que trouxeram na equipagem A coragem e a esperança Em sua luta sofrida, Correu no rosto cansado, Com o suor do trabalho, O quieta pranto saudoso. Vim de berço selvagem Lar singelo à beira D´água No sertão paranaense Milhares de passarinhos Me acordavam nas primeiras Madrugadas da existência Feliz menina descalça, Vim das cantigas de roda, dos jogos de amarelinha, do tempo do “era uma vez...” Por fim ancorei para sempre Em teu coração planaltino Curitiba, meu amor.
Helena Kolody, A Saga
Não a teoria como vontade de verdade, mas a teoria como um conjunto de conhecimentos contestados, localizados e conjunturais, que têm de ser debatidos de um modo dialógico. Mas também como prática que pensa sempre a sua intervenção num mundo em que faria alguma diferença.
Stuart Hall, Da Diáspora
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................................................7
OBJETIVO.................................................................................................................7
JUSTIFICATIVA.........................................................................................................7
1. A IMIGRAÇÃO UCRANIANA NO BRASIL.........................................................11
1.1 LEVANTAMENTO HISTÓRICO E CONTEXTO POLÍTICO................................11
1.2 RAZÕES DA IMIGRAÇÃO..................................................................................17
1.3 A INSERÇÃO DOS UCRANIANOS EM TERRITÓRIO BRASILEIRO................22
1.3.1 NO ESTADO DO PARANÁ..............................................................................26
2. UCRANIANOS NO BRASIL.................................................................................28
2.1 TRABALHO E REPRODUÇÃO SOCIAL NO PARANÁ......................................28
2.1.1 EM CURITIBA..................................................................................................32
2.2 A FORMAÇÃO DAS COLONIAS, SITUAÇÕES SIMILARES.............................33
2.3 GRUPOS UCRANIANOS NO PARANÁ E A INFLUÊNCIA RELIGIOSA............38
3. UCRANIANOS EM CURITIBA.............................................................................45
3.1IMIGRAÇÃO UCRANIANA EM CURITIBA..........................................................45
3.2 AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES UCRANIANAS EM CURITIBA..................49
3.3 DO SURGIMENTO DAS ORGANIZAÇÕES À CONFIGURAÇÃO ATUAL........54
3.3.1ORGANIZAÇÕES DE REPRESENTAÇÃO DA CULTURA UCRANIANA.......55
3.3.1.1 ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS...................................................................55
3.3.1.2 ORGANIZAÇÕES CIVIS...............................................................................56
3.3.2 MANIFESTAÇÕES NA INTERNET..................................................................59
3.3.2.1 BLOGS..........................................................................................................59
3.3.2.2 SÍTIOS NA INTERNET..................................................................................60
3.3.2.3 COMUNIDADES EM SÍTIOS DE RELACIONAMENTO................................61
3.4 UCRANIANOS EM CURITIBA HOJE. DESAFIOS E PERSPECTIVAS..............62
CONCLUSÃO............................................................................................................65
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................67
ANEXOS....................................................................................................................69
7
Introdução
Objetivo
O presente trabalho tem como objetivo compreender a forma com que os
ucranianos ocuparam o território urbano da cidade de Curitiba, no Estado do Paraná,
e como essa ocupação se manifesta atualmente. Para tanto, inicio com o
levantamento histórico da saída dos imigrantes do território originário (ainda não
reconhecido como Ucrânia), passando pelas condições de reprodução econômica e
cultural em solo brasileiro, dando enfoque no processo de chegada à Curitiba, com a
instalação de organizações sociais específicas e representativas dos interesses dos
ucranianos no Brasil. O trabalho se encerra com a problematização do momento e
da organização do grupo ucraniano como um todo em Curitiba.
O levantamento de atividades dos ucranianos será feito a partir da utilização
do conceito de grupo étnico1, considerado enquanto agrupamento não uniforme que
pode ser diferenciado por características culturais específicas, na medida em que
reproduz hábitos da cultura originária. Para encontrar esse grupo étnico,
primeiramente chamado de rutenos e depois de ucranianos, formam realizadas
pesquisas junto a igrejas ucranianas, a grupos folclóricos e outras manifestações
associadas a esse grupo como feiras de comidas típicas e artesanato, todos com
sede na capital paranaense.
Justificativa
O interesse nesse estudo surgiu no momento em que é conhecida a influência
desse grupo étnico no Estado do Paraná e no Brasil, tendo o governo federal, na
pessoa do presidente da república, conferido em lei2 a data de 24 de agosto como
oficialmente destinada à celebração da comunidade ucraniana no Brasil. Esse fato
por si só demonstra a influência desse grupo na cultura brasileira. Que se
característica no Brasil por estar intimamente ligada à agricultura e a religião católica
1 O conceito Grupo étnico é totalizador e deve ser criticado na medida em que massifica indivíduos que tem suas
próprias características e singularidades socioeconômicas, psicológicas e históricas, porém o conceito será utilizado para definir os grupos sociais de uma forma geral porque facilita a visualização do contexto histórico. 2 LEI Nº 12.209, DE 19 DE JANEIRO DE 2010. Institui o dia 24 de agosto como o Dia Nacional da Comunidade
Ucraniana – Lei de autoria do Deputado Federal Angelo Vanhoni – PT.
8
de rito grego3. Sendo 2011 um ano especial por ser a marca dos 120 anos da
primeira migração dos ucranianos ao Brasil.
Para introduzir esse trabalho considero importante dizer que o mesmo
também não deixa de ser fruto de um processo de autoconhecimento. Vou explicar o
que quero dizer com isso. Desde quando optei por estudar os ucranianos fui
convencido da centralidade da questão por compreender que os ucranianos são
parte formadora da estrutura social paranaense. Lógico que essa forma de pensar
não foi facilmente materializada, pelo contrário. Só pude constatar isso na prática, e
a partir do momento em que fui eu mesmo um imigrante, sendo forçado a adquirir o
ponto de vista necessário que me colocou na condição de pensar a complexidade da
problemática na cultura paranaense. Imigrantes são todos aqueles que sofrem com
um processo de mudança e tem como desafio a adaptação e a estruturação de seu
ser em outra cultura. Obviamente eu não comparei a minha experiência exatamente
com a experiência que tiveram aqueles que resolvi estudar, mas não posso deixar
de considerar que os sentimentos de pertencimento e de participação são uma
constante em todos aqueles que “perdem” os padrões de referência pela falta das
condições culturais formadoras da forma de pensar e agir.
Em segundo lugar, além de ser o próprio imigrante, sou filho de imigrantes.
Meu pai deixou o Egito com sua família nos anos 50, devido as dificuldades que
encontravam no país para seguir a crença religiosa que prezavam. O mais
interessante na história de meu pai é que antes mesmo dele ser imigrante, seu avô
já era um. As raízes de minha família têm uma vertente migrante que surgiram muito
antes de meu interesse pelo assunto. O avô de meu pai foi para o Egito, saído da
Armênia no período de repressão e domínio Turco. Foi desta forma que tudo
começou em minha família (pelo menos até a parte que sabemos), e é assim que
comecei a me interessar pela temática. Nas raízes maternas também as mesmas
condições de trânsito familiar. Minha mãe tem raízes ucranianas, porém essa cultura
nunca foi tão sentida quanto a raiz árabe. Ou nunca prestei muita atenção a
respeito.
Entretanto, existiu uma pessoa de minha família materna que por problemas
de saúde não vim a conhecer. Esse era meu avô, por parte de mãe. Dizem meus
familiares que era o próprio admirador da cultura ucraniana. Gostava das tradições
3 A igreja católica de rito grego tem a mesma base de crenças e mesmo centro hierárquico que a igreja católica
de rito latino. Trataremos mais da questão nos capítulos que se sucedem.
9
e, sempre que possível, tentava reproduzir os pratos típicos ucranianos para poder
sentir um pouco da cultura mais de perto. Meu avô era natural do Rio Grande do Sul,
e de acordo com relatos da minha avó, ele passou sua infância na área rural do
Estado, ajudando seus pais no trabalho agrícola. Com o passar do tempo, ele como
muitos outros, optou em migrar para Porto Alegre, onde teve condições de acender
socialmente e constituir família. A família de minha avó também é originaria da
região que atualmente chamamos de Ucrânia, mas sua família resolveu tentar a vida
na cidade de Porto Alegre, capital do Estado, sem passar pelo campo. O começo foi
difícil para eles, mas aos poucos foram se adaptando a cultura local e
desenvolvendo atividades econômicas rentáveis. Ao desaparecimento das raízes
ucranianas na família ela atribui o processo de imigração para a cidade, sendo
resultado de um processo de assimilação que transformou a família em brasileiros.
Provavelmente o único vestígio que ainda guardo da cultura ucraniana é meu
sobrenome (Podolano), sendo que Podolan é uma região da Ucrânia.4
Atualmente não tenho em minha família ninguém que possa representar a
cultura ucraniana ou, pelo menos, falar a respeito dela. Mas quis o destino que eu
me relacionasse com uma descendente de ucranianos, que não possui tantos
hábitos ucranianos quanto gostaria, mas de quando em vez faz uma refeição
tipicamente como faziam seus descendentes. Gosta muito de assistir aos grupos
folclóricos e ver a reprodução da cultura ucraniana.
Assim, não são poucos os motivadores que me levaram a desenvolver um
trabalho nessa área. Também não foram poucos os pontos que me levaram a olhar
para os ucranianos com um carinho especial. A importância desse grupo no Brasil,
no Estado do Paraná e na cidade de Curitiba, além de ser parte integrante da
história de minha família, alimenta minha curiosidade em saber quais são as reais
condições desse grupo étnico em Curitiba na atualidade, cidade que vivo e que fiz
de casa desde 2005, quando deixei São Paulo.
O Brasil como um todo sofre grande influência dos imigrantes em sua
formação cultural e social. Muitas atividades realizadas atualmente são fruto de
trocas culturais realizadas no passado próximo. Alguns grupos podem ter maior
4 Esse fato do sobrenome é marcante porque faz parte de um processo histórico geral no Brasil, que é o
momento de entrada do imigrante no Brasil. Os fiscais que registravam a entrada dos imigrantes muitas vezes não conseguiam reproduzir os nomes e sobrenomes dos imigrantes, fazendo com que processos como o de meu sobrenome fosse algo comum para a época. Outro fato curioso é que meu outro sobrenome (Garin) também sofreu do mesmo problema. Dizem meus familiares que anteriormente o sobrenome era Garinian, tipicamente armênio. Mas por dificuldades de registro e reprodução, tornou-se Garin na chegada ao Brasil.
10
influência que outros, mas nada pode ser dito em relação a isso dada complexidade
social. Além disso, os dados que servem de base para o estudo da imigração no
Brasil também não ajudam, são falhos e apresentam problemas em classificação e
número e por isso não podem ser trabalhados diretamente. Um exemplo dessa
problemática é o resultado de meus sobrenomes e de muitas outras pessoas que
tiveram problemas em seu registro e no registro de sua nacionalidade.
O trabalho observou os ucranianos utilizando três tipos de abordagens
baseadas nas conclusões de Wright Mills em A Imaginação Sociológica. Com foco
no objetivo de um artesanato sociológico, o trabalho permeia história, sociedade e
biografia.
A primeira abordagem foi de ordem conjuntural, histórica, contemplando as
estruturas políticas envolvidas tanto no Brasil quanto na Ucrânia, mostrando como o
processo histórico de construção dos dois países foi fundamental e determinante
para a manutenção das relações sociais envolvidas antes e durante o período
migratório. Tentei igualmente, porém de forma mais tímida, aproximar momentos da
política brasileira como influenciadores diretos de ações e reações de organizações
e indivíduos.
No segundo momento, é a vez da conjuntura social. Dando importância às
questões envolvendo os ucranianos em Curitiba e demonstrando historicamente a
forma como foram surgindo e se desenvolvendo as organizações que representam
os interesses da etnia na cidade. A intenção inicial era apenas analisar a questão da
organização civil dos ucranianos, mas a religião é para esse grupo uma variável
intrínseca.
Na terceira abordagem, o trabalho é ilustrado por indivíduos, que fazem parte
do universo dos ucranianos.
A divisão de abordagens não significa que elas são feitas em separado, pelo
contrário. É na comunhão de todas elas que teremos o resultado desejado.
Dito isto, iniciamos a investigação sobre os ucranianos na cidade de Curitiba. O
trabalho está disposto em três partes. Primeiramente teremos a introdução histórica,
para contextualiza as condições políticas e sócio-econômicas dos países envolvidos,
seguido pelo início do processo migratório. Na segunda parte, a exposição de
algumas problemáticas enfrentadas pelos imigrantes durante o processo migratório
como, a chegada no Brasil, a adaptação e a reprodução social, indicando o
surgimento das primeiras instituições ucranianas em solo brasileiro. O terceiro
11
capítulo é o momento em que trataremos sobre a ocupação urbana de Curitiba pelos
ucranianos, passando pela forma como se organizam na cidade atualmente e suas
perspectivas a cerca do futuro.
1. A IMIGRAÇÃO UCRANIANA NO BRASIL
1.1 LEVANTAMENTO HISTÓRICO E CONTEXTO POLÍTICO
A compreensão do processo de imigração dos ucranianos para o Brasil deve-
se dar através do levantamento histórico. Não jub-julgando o processo como finalista
ou determinista, ou seja, sem tentar encontrar respostas ou sentidos para os
resultados dos processos históricos. A intenção desse trabalho é que seja realizado
o levantamento de dados na medida em que sirva para apontar o contexto onde
existiu e existem as ações e reações dos agentes envolvidos. E que essas ações e
reações possam ser assim analisadas, esclarecendo a intenção dentro da totalidade
do processo migratório.
Dada a dificuldade do processo de obtenção de dados precisos sobre a
história da imigração ucraniana para o Brasil, principalmente no que diz respeito a
primeira fase da imigração, a maioria dos levantamentos realizados para o estudo
dos imigrantes ucranianos foram coletados através de entrevistas, depoimentos e
relatos pessoais. E para que algo substancial pudesse ser extraído desse material,
ele foi relativizado sobre a totalidade de indivíduos e tomado o conceito de “memória
coletiva”5. Desta forma, se pode estimar pelas condições físicas, psicológicas,
econômicas e sociais relacionadas a todo o processo de saída e chegada dos
ucranianos ao Estado do Paraná, até sinalizar sobre o contingente numérico de
imigrantes ucranianos que entraram no país. Faremos uso das teorias já realizadas
nesse sentido a fim de ilustrar o processo de saída dos ucranianos de sua terra natal
e o caminho percorrido, superando desafios e obstáculos da chegada ao Brasil até o
estabelecimento no país.
5 Conceito de Maurice Halbwachs.
12
O movimento migratório ucraniano para o Brasil já foi estudado anteriormente.
Um notório trabalho que é amplamente utilizado entre os pesquisadores da cultura
ucraniana no Brasil é constituído a partir das contribuições da historiadora Oskana
Boruszenko6 e do pesquisador e clérigo, Padre Valdemiro Haneiko7. Segundo
ambos, existiram três momentos marcantes referentes a imigração de ucranianos ao
Brasil. O primeiro momento dar-se-ia ao final do século XIX, precisamente entre os
anos de 1895 e 1897, quando chegaram cerca de 20 mil imigrantes aos portos de
Santos e Paranaguá.
Os imigrantes que chegaram no ano de 1895 fixaram-se em nos arredores de
Curitiba. Os imigrantes dos anos de 1896 e 1897 encaminharam-se para
Prudentópolis e Marechal Mallet respectivamente. O contingente majoritário
presente nesse grupo, do chamado primeiro fluxo migratório, era de pessoas que
viviam da produção no campo. E que foram atraídos, entre outras coisas, pela oferta
de terras e possibilidades de ascensão social. Esses grupos foram os responsáveis
pela formação de núcleos coesos e que até os dias de hoje são reconhecidamente
centros preservadores da cultura ucraniana no Estado do Paraná. Mesmo
atualmente cidades como Prudentópolis e Marechal Mallet utilizam-se da cultura
ucraniana, seja como uma das formas de atrair turismo, e ao mesmo tempo
estimulam a preservar e reproduzir a cultura ucraniana, ou pela própria constituição
da cultura local.
Entre os anos de 1908 e 1914 deu se uma nova entrada maciça de imigrantes
ucranianos, provenientes principalmente da Galícia8. Foram cerca de 18.500
pessoas. Para Boruszenko a motivação desse grupo eram as oportunidades de
trabalho crescentes no Brasil. Sendo o principal motivo a construção da estrada de
ferro São Paulo – Rio Grande do Sul, entre outras obras de infra-estrutura. Esse
período foi dos mais movimentados na região da Ucrânia, calcula-se que por volta
de 700 a 800 mil pessoas deixaram a região no período que vai de 1890 até 1913.
Todavia, a atração presente no sonho americano através do “fazer a América”
com um emprego de maiores ganhos ou até pela possibilidade de ser proprietário de
terra, talvez não tenham sido os únicos motivos do início do segundo processo
migratório. Existia também na região da Galícia uma forte pressão da nobreza em
6 BORUSZENKO, Oskana. Os Ucranianos. Boletim Informativo da Casa Romário Martins. Curitiba. Vol 22.
Número 108. Outubro/1995. 7 HANEIKO, Padre Valdemiro. A imigração Ucraniana no Brasil. 2º edição. 1963. Curitiba. Brasil.
8 Para ver localização da Galícia – Anexos, figura 8.
13
tentar manter os servos trabalhando a força. E faziam isso combatendo entidades
educacionais esclarecedoras como a prosvita9 e seus desdobramentos.
A repressão da nobreza associada ao surgimento de novas formas de
pensar10 juntamente com as propagandas brasileiras de uma nova vida de
oportunidades, se tornaram os motivadores dos fatores de repulsão/atração para os
imigrantes eslavos11. Outra conseqüência do movimento iluminista deu-se quando a
Ucrânia proclamou-se independente em 22 de janeiro de 1919. Independência que
não teve fôlego para sustentar e acabou suprimida pelos russos e poloneses já em
1923, apenas quatro anos depois. Por conta desse processo político constrangedor,
os imigrantes da segunda leva são caracterizados pelo engajamento político.
Entretanto, o maior momento da migração ucraniana ainda estava por vir, que
foi após a segunda guerra mundial. Finda a guerra, estimasse que mais de 200 mil
migrantes deixaram a Ucrânia, sendo cerca de 7 mil em direção ao Brasil12. O
motivo desse processo, de acordo com Burko13, foi que finda a 2º guerra mundial a
União Soviética estava a repatriar todos os cidadãos soviéticos, motivo que
desencadeou uma série de suicídios, de pessoas que preferiam a morte ao invés da
repatriação. Burko defende que, cedendo a pressão da intervenção internacional:
Nos fins de 1945 foi abolida, felizmente, a cláusula da repatriação obrigatória. Sob a proteção jurídica da ONU foi constituída a UNRRA (United Nation Relief and Repatriation Administration) substituída em 1947 pela IRO (International Refugiee Organization). Estes organismos ajudaram a sustentar materialmente todos os refugiados e depois auxiliaram a sua emigração para outros países. A maior parte deles seguiu, então, para os Estados Unidos, Canadá, Brasil, Argentina e outros países sul-americanos, tendo os demais se transferido para a Austrália e Nova Zelândia, Inglaterra e outros países do mundo livre. (Burko, 1963: 41)
A maioria dos imigrantes da terceira leva de ucranianos eram operários,
prisioneiros de guerra, refugiados políticos e soldados.
9 Prosvita é um grupo caracterizado como movimento de intelectuais ucranianos, majoritariamente religiosos, e
que tinha por objetivo a emancipação cultural do trabalhador de classe baixa. 10
Força de novas idéias iluministas – incentivadas pelo Imperador Austro-Húngaro José II, através de políticas educacionais. 11
Juntam-se aos ucranianos os poloneses, que enviaram um contingente populacional de 200.000 pessoas no mesmo período. A região da Ucrânia era dominada por dois impérios, o Polonês e o Austro-Húngaro, com domínio maior do segundo. 12
Número de imigrantes ucranianos registrados entre os anos de 1947-1951 (Boruszenko, 1995). 13
BURKO, Padre Valdomiro. A imigração Ucraniana no Brasil. 2º edição. 1963. Curitiba. Brasil.
14
Apesar dos três grandes contingentes populacionais serem os períodos mais
marcantes na história da imigração ucraniana ao Brasil, as instituições
responsáveis14 em preservar a cultura ucraniana no Brasil tem outra data como
marco inicial do processo migratório. É na data de 23 de agosto de 1891 que é
comemorado o início da imigração ucraniana ao Brasil. De acordo com relatos
históricos o início desse processo acontece quando oitos famílias da região de
Zolotiv, Kiev, se encaminharam para Marechal Mallet no Paraná. Existem ainda
indícios de um movimento migratório anterior a essa data, entre 1876 e 1881, mas
pela falta de precisão dos dados ou até mesmo a ausência de certezas sobre os
mesmos, não podemos afirmar nada no sentido.
Talvez, tudo tenha começado nas pressões e injustiças realizadas
principalmente na região da Galícia, pouco antes do século XVII, quando o local
ainda era dominado pelo Império Polonês. Os nobres e a igreja local se sustentavam
do trabalho do pequeno agricultor dando em troca quase nada. Além disso, os
poloneses donos das terras impunham situações com as quais o trabalhador
escravizado não tinha opção. O senhor polonês também não sofria quaisquer
punições, caso decidisse por matar ou lhe impor corvéia de seis dias por semana.
Com o passar do tempo, a partir de 1772, o Império Polonês perdeu espaço,
e suas terras, assim como sua força, foram incorporadas ao Império Austro-Húngaro
que mudou algumas situações. O momento de maior guinada na história deu-se com
o imperador José II, admirador do ideal iluminista e interessado em propostas
modernizadoras. Através da educação, levou à Galícia uma nova maneira de
pensar, passando a gerir o local de maneira a proporcionar à seus habitantes novas
condições de reprodução social.
Mudança proporcionada pelo imperador foi significativa na medida em que era
explicita a diferenciação no tratamento entre as regiões do império. Dados baseados
no censo de Viena apontam que, comparativamente, a população da região da
Galícia no século XIX tinha menos estudos que outras populações do Império
Austro-Húngaro. Enquanto em todo o Império Austro-Húngaro (excluindo a Galícia)
a média de crianças na escola chegava a 75%, na Galícia esse número chegava a
apenas 15% das crianças. Em 1880 eram 17% dos homens e 10% das mulheres
não analfabetos.
14
SOROTIUK, Vitório. A comunidade ucraniana no Brasil e sua contribuição para o incremento das relações entre Brasil e Ucrânia. Representante da Representação Central Ucraniana Brasileira. www.rcub.com.br.
15
Vale darmos atenção especial à região da Galícia por essa ser a região
localizada no extremo leste do Império Austro-Húngaro, ou limite oriental da Europa,
e se caracterizar por ser berço do grupo étnico que emigrou para o Brasil no final do
século XIX e começo do século XX. Além disso, esse grupo era formado por
indivíduos que prezavam por uma crença religiosa distinta do resto do Império
Austro-Húngaro e por isso possuía hábitos de comemorar datas religiosas e ter
calendário festivo diferente dos outros grupos do Império15. Isso fez com que esse
grupo se destacasse dos demais, assumindo um nome particular que serviu como
forma de diferenciá-los perante os outros. Eram chamados de rutenos. Rutenos era
a forma com que eles auto se denominaram (Andreazza, 1996) e também era o
termo utilizado pelas autoridades do Império Austro-Húngaro para designar a
população de religião uniata16.
A justificativa da criação do termo por parte da igreja foi Rus, nome do local o
qual viviam. Primeiramente eram chamados de Rucêne, e posteriormente de Ruteni.
Se tornando, com o passar do tempo, rutenos. A formação desse grupo de rutenos
se deu através da diferenciação histórica com início por volta do século XVI, ainda
sob domínio do Império Polonês. Quando as classes sociais da região se
diferenciaram cultural e politicamente, sendo a religião parte desse movimento. A
nobreza assimilou o rito latino da Igreja Católica Romana e assumiu a língua
polonesa. Enquanto o estrato dos dominados manteve a língua de origem e esteve
fiel a filiação da Igreja Ortodoxa. Sendo assim, o termo rutenos carrega não só
apenas diferenciação territorial desses grupos, mas econômica, cultural e religiosa.
Talvez seja por conta dessa diferenciação que o Império Polonês se omitiu
em promover mudanças sociais e o desenvolvimento da região, não fornecendo
educação padronizada ou liberdade individual e não permitindo qualquer tipo de
assimilação ou integração por parte dos rutenos ao império polonês, os mantendo a
parte da sociedade civil. A prova disso é que apenas 6% dos rutenos trabalhavam
fora de agricultura na região da Galícia. Nos números referentes a educação, a
mesma situação. O terceiro grau não era uma realidade, e poucos eram os rutenos
que ingressavam na universidade. Daqueles que o faziam, 55% cursavam teologia,
sendo que apenas 9% dos poloneses cursavam o mesmo curso. 15
A crença religiosa é a greco-católica, que era minoria em um país de esmagadora maioria ortodoxa. 16
A religião uniata surgiu enquanto manobra política da Igreja Católica em 1596 para se aproximar das igrejas orientais. Após a União de Brest, para fugir de embates desgastantes com comunidades católicas semelhantes mas que possuíam algumas diferenças nos ritos e nas práticas de comportamento do pároco. A igreja uniata surge para unificar as igrejas católicas do oriente com as igrejas católicas do ocidente.
16
A chegada do Império Austro-Húngaro significou uma mudança significativa,
ainda que tímida, a realidade da Galícia. O processo de mudança foi tímido e
gradativo porque o governo Austro-Húngaro, por mais aberto a idéias
modernizadoras que fosse, teria que negociar com os grandes proprietários da
região da Galícia. A conseqüência da negociação entre as partes resultou em
processos como o fim da escravidão. Porém, mesmo com a abolição dos escravos
em 1948, os rutenos não deixaram de freqüentar as camadas mais baixas da
sociedade. Isto é, os poloneses continuavam donos da terra, e os rutenos servos
oprimidos. Mas é a partir daí que começam as novidades.
Em 1960 o império Austro-Húngaro oficializa a educação obrigatória e
também acena para liberdade de imprensa, levando aos acontecimentos de 1968, a
chamada revolução cultural, com seu principal acontecimento sendo a formação de
uma das principais organizações ucranianas de todos os tempos, o grupo Prosvita.
A Prosvita tinha como objetivo central a redenção social dos camponeses pela
educação. Tendo como principais colaboradores estudantes universitários do curso
de teologia que incentivaram a criação de grupos de leitura para camadas
populares. Pela participação dos estudantes de teologia, a Prosvita teve
conseqüentemente aproximação com a própria igreja.
A Prosvita também foi significativa no campo econômico, criando instituições
de utilidade coletiva como granários, cooperativas, armazéns, bancos de poupança
e empréstimos. Mesmo com esses incentivos e com toda ideologia libertadora
advinda das idéias iluministas, não foram todos os camponeses que aderiram a esse
movimento. Os motivos variam ora por conta da opressão da nobreza local, que era
contra esse grupo, ora pela falta de tradição dos camponeses em aceitar práticas
revolucionárias, como eram vistas as práticas da Prosvita para a época.
Com o passar do tempo, informações sobre as possibilidades de emigrar
chegaram aos rutenos e foram ganhando força. Mesmo com a forte opressão que
sofriam de seus senhores e a ignorância geográfica sobre a existência do continente
americano, alguns indivíduos experimentaram a sorte na empreitada de começar
uma nova vida e se livrar do ambiente opressor rumo à terra livre de senhores.
Foi através da comunicação com os grupos de vanguarda do movimento
migratório que começou a generalizar-se a idéia de migrar. E através das
campanhas migratórias iniciadas pelos países americanos, principalmente Brasil,
17
Estados Unidos e Canadá, que os rutenos realmente materializaram a chance de
começar uma nova vida.
O Brasil, por meio do Governo Federal, ofereceu incentivos fiscais17 reais
para atrair os imigrantes interessados. Contratou companhias de navegação e
confeccionou cartilhas para os imigrantes descrevendo um pouco do que era o
Brasil, muitas vezes em sentido fantasiado. As companhias de navegação também
contribuíram muito, enviando seus agentes para angariar famílias que gostariam de
construir uma nova vida. As companhias e os agentes ganhavam dinheiro para isso
e com esse interesse desenvolviam um bom trabalho nesse sentido e por vezes
fantasiavam ainda mais o já irreal panfleto de promoção da imigração para o Brasil.
De acordo com a teoria migratória de atração e repulsão, os rutenos
começaram a pensar sobre a possibilidade de migração devido à atração pelas
oportunidades que enxergavam de serem senhores de si próprios, trabalhando para
si em sua própria propriedade.
1.2 – RAZÕES DA IMIGRAÇÃO
Antes, gostaria de problematizar um pouco a situação levando em conta o
domínio do Império Austro-Húngaro e a forma não determinada que o território
europeu se encontrava. Alguns Estados modernos ainda não existiam, como é o
caso da Ucrânia, por exemplo. Desta forma, quando analisamos a imigração dos
ucranianos para o Brasil temos que levar em conta a região original do imigrante.
Realmente, ainda não podemos chamá-los de ucranianos por conta da divisão
política do globo. A Ucrânia apenas existiu enquanto país por quatro anos, entre
1918 a 1922, após esse período só conquistou a independência novamente em
1991.
Em consideração a questão política, o mais correto então é defini-los
enquanto grupo étnico, já que eram pessoas que possuíam laços culturais comuns
entre si. Entretanto, mesmo sendo um grupo com mesmas influências culturais não
podemos supor que todo o grupo de imigrantes rutenos compartilhava as mesmas 17
Esses incentivos fiscais variavam de acordo com as políticas estabelecidas para a imigração. Em alguns momentos o Governo subsidiava o preço da passagem, mas os imigrantes ficavam com o dever de pagar novamente ao governo o valor do transporte. O acordo chamava-se “Dívida Colonial”.
18
influências políticas, religiosas e econômicas18. Os relatos históricos revelam que a
maioria dos imigrantes que se endereçaram ao Brasil era da região da Galícia19.
Algo que sem sombra de dúvidas significa algo concreto na avaliação das condições
atuais no que se refere à reprodução cultural dessa etnia no Brasil. Um detalhe
histórico que faz a Galícia ser importante é que, no final do século XIX, justamente
quando o Brasil começou a intensificar a propaganda política para atrair imigrantes:
O território ucraniano estava sob o domínio da Rússia e do Império Austro-Húngaro, e a religião católica da Ucrânia estava reduzida à região da Galícia, sob domínio austríaco. A igreja sofria perseguições da Rússia (ortodoxa), e as condições de vida eram precárias, devido à fraca industrialização, apesar de que, a partir de 1880, na Ucrânia, tem início um surto industrial, cujo capital era, na maioria, estrangeiro, sendo este um motivo para a morosidade do progresso no setor. (Horbatiuk, 1989)
Entretanto, o motivo de alento, o progresso do setor industrial, citado por
HORBATIUK, acabou não chegando à região da Galícia. O que potencializou o
desespero por entre os rutenos porque as condições de manutenção social estavam
se esvaindo, a população não parava de crescer e ainda se mantinha em condições
rurais. O que ocasionou o fim de possibilidades de trabalho, por falta de terras e de
oportunidades de trabalho. Fato que levou a morte por inanição de 50.000 rutenos.
Para se ter uma idéia do impressionante
contingente populacional da Galícia, ver
figura 1 ao lado, baseada em dados de
HORBATIUK.
Esse inchaço populacional não apenas causou mortes, mas também era
motivo de perturbação para os rutenos na Galícia que, juntaram esse aos outros
motivos que já lembrei anteriormente, a fim de tentar uma chance na América.
Outras regiões que devem ser lembradas no que diz respeito a imigração de rutenos
para o Brasil são as regiões da Bukovina e da Transcarpácia20, que não tiveram
tanta importância quanto a região da Galícia21.
18
Muito porque existiam regiões diferentes, entre elas a Galícia oriental e ocidental, a Bukovina, a Transcarpácia, que somaram o que deu origem ao país Ucrânia. 19
Para atender interesses culturais e religiosos a região da Galícia já foi dividida em duas partes, Galícia Oriental(Ucraniana) e Galícia Ocidental(Polonesa). O advento da 1º guerra mundial fez a Galícia unificada novamente. Ver anexo, figura nº 9. 20
Para ver localização dessas regiões – Ver anexo, figura 8. 21
De acordo com Michael Palij (1983:18) 97% dos rutenos que vieram para o continente americano no final do século XIX eram da província da Galícia.
Figura 1. População da Galícia em milhões de pessoas
19
A imigração dos rutenos para o Brasil colocou fatores de repulsão e atração
atuando ao mesmo tempo. Da mesma forma que, principalmente, a região da
Galícia sofria o excesso populacional e a falta de oportunidades de trabalho o Brasil
precisava de mão de obra trabalhadora. É ai que os fatores de repulsão, as
opressões sofridas pelos trabalhadores da Galícia, se encontrarão com os fatores de
atração promovidos pelo governo brasileiro, levando a simbiose repulsão/atração
que caracteriza os processos migratórios. Se pudermos colocar um marco histórico
para o início do processo de atração pelo lado brasileiro, veremos que a presença
da família real no Brasil teve papel impulsionador.
O Brasil nunca havia sido muito prestigiado pela coroa real portuguesa. Mas
os motivos22 que levaram a família real a vir para o Brasil foram esclarecedores para
a necessidade de tornar o local mais produtivo. O Brasil estava mesmo esquecido.
Para ilustrar o impacto da família real no Brasil, basta observar a balança comercial.
Entre 1796 a 1807, período em que a família real passou no Brasil, o valor das
exportações do Brasil para Portugal foi, em média, superior a 3 milhões de libras23.
Em 1808 caiu para 151.880 mil onde se manteve até 1814. Além da economia, outro
esclarecedor dado da situação brasileira era a densidade demográfica da época,
que de acordo com Prado24, não passava de 0,3 habitantes por km². Éramos ao todo
apenas 3 milhões de pessoas, sendo que um terço desse total era de trabalhadores
escravos.
Com a intenção de mudar esse panorama, a coroa portuguesa na figura de
Dom João VI, oficializa em 25 de novembro de 1808 uma nova diretriz para posse
de terras no Brasil. Com esse decreto, todas as pessoas, desde que residentes no
Brasil, portugueses ou não, poderiam se tornar proprietários de terra. Antes apenas
colonos vindos de Portugal poderiam fazê-lo. O governo também define novas
metas para o país, entre elas, diversificar a agricultura, promover o comércio,
fortalecer a segurança nacional e criar uma classe média de homens livres.
Com esses objetivos em mente tem início oficialmente, no Brasil, o período da
criação de colônias25. Juntamente com a idéia de promover o Brasil por parte da
coroa portuguesa, outros elementos também influenciaram diretamente. Entre esses
a pressão da coroa inglesa para que Portugal aprove a abolição da escravatura no
22
O absolutismo Francês impulsionado por Napoleão Bonaparte que chegou com suas tropas até Portugal. 23
SIMONSEN, C. Roberto. História Econômica do Brasil (1500-1820), p. 364. 24
PRADO JUNIOR, Caio. História Econômica do Brasil, p. 101. 25
Sendo a primeira delas a de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, com 2.000 suíços em 1818.
20
Brasil. Em 1826, o Brasil suspende o tráfico negreiro, pelo menos em lei26. Em 1831
Dom Pedro I abdica do trono, é o fim do primeiro reinado e o início do período
regencial no Brasil, ao qual Dom Pedro II de cinco anos de idade ocupa lugar de seu
pai. Instala-se um governo provisório até a maioridade de Dom Pedro II. Durante o
governo provisório, o Brasil passa por momentos importantes enfrentando conflitos
significativos como a Sabinada (Bahia), a Balaiada (Maranhão) e a Guerra dos
Farrapos (Rio Grande do Sul).
Quando alcançou a maioridade, Dom Pedro governou o Brasil do período que
vai de 1840 a 1889, o segundo reinado. Nesse período algumas leis e diretrizes que
foram importantes para o processo de consolidação do Brasil enquanto nação, muito
por conseqüência dos conflitos mencionados acima. No meio dessa nova onda de
conflitos de independência e autonomia econômica, a província do Paraná consegue
a emancipação junto a província de São Paulo em 19 de dezembro de 1853 com
metas de fortificação econômica focada no aumento da exportação de erva-mate e
de madeira que, para tanto, necessitava de uma melhoria na infra-estrutura da
província. Alguns incentivos à imigração se fazem notórios a partir daí.
Em 1850, no segundo reinado, o governo define as terras devolutas (terras
públicas), criando uma repartição geral de terras públicas para promoção da
colonização. Em 1865 pede aos cônsules brasileiros no exterior que paguem a
diferença na passagem dos imigrantes que se encaminhavam aos Estados Unidos.
Medidas que não obtiveram o efeito esperado, até que em 1867 começam os
incentivos ficais e os colonos interessados em migrar poderiam, caso viessem para o
Brasil, ter facilidades no pagamento de seus lotes, a viagem para o Brasil paga,
auxílios na chegada ao país, assim como nos primeiros anos de imigração. Tudo
isso seria debitado do colono que saldaria a sua dívida em prestações anuais a
partir do terceiro ano (Burko).
Em 1880, o Estado do Paraná tinha produção agrícola insustentável, seu
território era muito mal ocupado e não havia instituições sociais que dessem
sustentabilidade para governança. Com grande dependência de Estados vizinhos o
panorama do Estado do Paraná era complicado. Por isso aderiu com imensa força a
campanha em conjunto com o governo Federal que se destinava à atrair
estrangeiros. Além dos interesses econômicos, citados acima, existia também o
26
Sabe-se que apenas entre 1840 e 1850 vieram ao Brasil 50 mil negros como escravos.
21
interesse social. Essa foi a razão da busca de imigrantes não se dar por todo o
globo, mas ter foco nos habitantes do continente Europeu.
Os imigrantes desejados eram então de cor branca e cultura ocidental
européia. O governo desejava o clareamento da pele da população. Além disso,
também buscava a forma de comportamento europeu, trabalhador, perseverante e
honesto.
O Governo Federal procurava um padrão de imigrante, que de preferência
deveria ser família, pagando 120 francos por adulto, 60 por criança de 5 a 10 anos e
30 francos por criança de 2 a 5 anos. O padrão desejado pelo governo era:
1º Casal com filhos ou sem filhos, enteados ou irmãos menores, bem como os seus ascendentes. 2º Viúvo ou viúva, com filhos ou enteados com os seus ascendentes. Devendo sempre ter, neste caso, um homem válido. 3º Avô ou avó com seus descendentes, devendo sempre entre eles haver um homem válido. 4º Unicamente os chefes de famílias e seus ascendentes poderão ser maiores de cinqüenta anos. 5º Os colaterais menores de 21 anos, poderão fazer parte das famílias de que tratam as condições 1º 2 º 3º da presente clausula. (Andreazza, 1996: 14)
Com muitos interesses em mente o Governo começou a campanha para
tornar o Brasil um dos destinos possíveis. O desconhecimento das pessoas sobre o
continente americano era um problema que passou a ser resolvido através de
panfletos governamentais aliados a discursos de atravessadores. Os panfletos
tratavam positivamente todos os aspectos do país. Das condições climáticas à
abundância de recursos naturais. Falavam no sentido de engrandecer os sonhos
das pessoas que não tinham muitas perspectivas sociais, iluminando o caminho
para o futuro brasileiro.
Os incentivos financeiros foram facilitadores. Entre eles estavam: o
pagamento do transporte, pagamento dos custos com alimentação e hospedagem,
além da facilitação no processo de aquisição da terra no Brasil, foram condições
essenciais no que diz respeito a migração para o Brasil de acordo com relatos de
muitos migrantes.
Aparentemente, esse apoio do Governo brasileiro já serviria como pontapé
inicial. Porém, estamos tratando aqui da primeira imigração ucraniana que chegou
ao Brasil, isso significa carência nas condições que atualmente consideramos
básicas. Educação, saúde, transporte, moradia não existiam com o conforto dos dias
22
de hoje. Muitos já sabiam disso e, como tão poucos tinham acesso a essas
“regalias” na Galícia, vinham em busca do objetivo maior que era a posse da própria
terra.
Os incentivos fiscais eram realmente sedutores aos olhos dos imigrantes
europeus. Porém, existiam opiniões contrárias a esse movimento migratório para o
Brasil e uma série de restrições foi imposta pelos países europeus aos emigrantes
que buscavam o Brasil como destino. Isso fez com que o quadro da imigração não
mudasse significativamente mesmo com os incentivos fiscais.
Foi então que o Brasil tornou-se república, o que ocasionou a
descentralização do poder. Esse foi um sensível acontecimento para a dinamização
do processo migratório. Com o advento da proclamação da república os trabalhos de
atração de imigrantes são divididos entre governo federal e governo estadual. O
governo federal inicia esse processo com a doação das terras devolutas aos estados
a fim de deixar por conta deles a organização dos imigrantes, mantendo para si
apenas a coordenação da política migratória. O governo federal atraia o imigrante27
ao Brasil, distribuindo os imigrantes pelos Estados, que por sua vez arcariam com as
despesas de hospedagem, alimentação, transporte e a localização dos imigrantes
em colônias. Com o trabalho coordenado e a instalação de colônias de sucesso o
país, como um todo, começou a receber mais imigrantes.
1.3 – A INSERÇÃO DOS UCRANIANOS EM TERRITÓRIO BRASILEIRO
Estudos que tratam da imigração ucraniana para o Brasil pormenorizam a
importância dos números no que diz respeito a entrada de imigrantes28 no Brasil
Como já introduzi anteriormente, os números existentes nas estatística não ilustram
claramente a proporção de entrada de ucranianos no Brasil. Isso se deve a forma
como foi computada a entrada dos mesmos. Em minha pesquisa encontrei diversos
casos de famílias que não conseguiram mais se encontrar pelo fato de ter sua
nacionalidade ou seu sobrenome adulterado no momento em que migrou para o
27
O governo brasileiro custeou as passagens dos imigrantes de 1890 a 1896 e de 1906 a 1914. 28
Lembrando que outras nacionalidades não têm o mesmo problema. O caso da Ucrânia é diferente porque seu
território estava dividido entre os Impérios, Austro-Húngaro, Polonês e Russo. O que fez com que os imigrantes rutenos fossem registrados em uma dessas nacionalidades.
23
Brasil. A explicação por essa adulteração é passível de dúvidas, e não cabe entrar
nesse tema. O ponto que deve ser esclarecido é apenas a possibilidade do número
de imigrantes ucranianos que entrou no Brasil estar sub-estimado.
Portanto confirmo o que todos os estudiosos do processo migratório de
ucranianos para o Brasil já afirmaram anteriormente, que o processo da imigração
ucraniana no Brasil no que se refere a quantificação dos dados e precisão dos
mesmos, se configura em uma pobre realidade. É lógico que a crítica não deve se
restringir apenas ao governo brasileiro, mas devemos entender o momento que era
vivido, o difícil acesso a informação e as constantes mudanças na configuração
geopolítica do mundo.
O que hoje são chamados de ucranianos, chamavam-se rutenos29(Guerrios,
2007: 6). Esse grupo era identificado no século XVIII pelo império Austro-Húngaro e
Igreja Católica enquanto particular por ter a mesma cultura e compartilhar a religião,
como foi dito anteriormente. Entretanto, mesmo sendo pessoas possuidoras de
mesmos hábitos o contexto histórico não permitia aos rutenos uma auto-avaliação
crítica enquanto participante de um grupo étnico coeso. Foi apenas no momento da
imigração que esse fato ocorreu (Guerios, 2007: 190). O reconhecimento grupal dos
rutenos aconteceu quando em contato com outros grupos de hábitos distintos, nas
viagens de trem e navio, até a chegada ao Brasil e a interação com brasileiros e
outros grupos étnicos já na colônia.
Pela dificuldade na obtenção de dados precisos sobre a história da imigração
ucraniana para o Brasil, a maioria dos levantamentos históricos realizados com essa
intenção se deu através de entrevistas, depoimentos e relatos pessoais. E para que
algo pudesse ter significado contundente a partir desse material, ele foi relativizado
sobre a totalidade de indivíduos, tomando como suporte teórico o conceito de
“memória coletiva” 30. Desta forma podemos generalizou-se sobre as condições
físicas, psicológicas, econômicas, sociais e de gênero relacionadas a todo processo
de migração ucraniana ao Brasil.
Ninguém migra a longa distância sem que exista um impulso, muito subjetivo,
da esfera da esperança, chamado por alguns de ilusão migratória. (Andreazza,
1996: 14). Essa era a primeira condição que igualaria os rutenos, além da cultura. O 29
O termo rutenos era de uso das autoridades do império austro-húngaro na finalidade de identificar a população de religião uniatista. A nomenclatura vem da palavra ruteni, do latim rucene, termo criado pela cúpula papal para nomear católicos eslavos que passaram à católicos uniastas após a união de Brest(1596) momento em que os eslavos romperam ligações religiosas com Constantinopla e aceitaram a autoridade religiosa de Roma. 30
Maurice Halbwachs.
24
impulso. Sofriam as mesmas pressões e tinham as mesmas esperanças depositadas
no futuro. Além disso, o processo migratório não era nada fácil e aproximava-os
novamente pela dor.
Primeiramente porque a quantidade de pessoas que queriam ganhar era
grande. E os migrantes sofriam com atravessadores oportunistas que omitiam
informações e cobravam tributos que não precisavam ser pagos. Tudo começava
nas viagens de trem até a costa italiana, de onde partiam os navios para o Brasil, no
navio seriam mais três semanas de viajem que até o início de uma nova vida. O
processo migratório é a própria ruptura que ganha significado nas palavras de
Choma:
Por isso, não poucos pretendentes à saída da pátria, preparavam a documentação, vendiam o que podiam de suas propriedades, juntando assim algum dinheirinho para custear futuras despesas de viagem. Ficavam na expectativa de receber logo a confirmação de seu transporte pelas companhias marítimas italianas. Para tanto, muitas famílias tinham que se alojar temporariamente nas moradas de parentes, compadres e vizinhos amigos até a ocasião de um embarque. Esse embarque, uma vez autorizado, era feito nas estações ferroviárias da Ucrânia Ocidental e da Polônia com destino à Itália, principalmente ao porto marítimo napolitano. (Choma, 2009: 4)
Após chegar até o navio, começava outro processo. A viajem de navio era
longa, e cada imigrante passou por uma experiência diferente, de traumatizante e
angustiante, para eufórica e excitante, tudo dependia da idade, das condições
familiares e de outros detalhes que singularizam cada momento que vivemos. Em
geral, a classificação dada a viajem transatlântica foi de muita angustia e espera
(Guerios, 2007: 46-48). Existem relatos de muitas mortes durante o percurso,
principalmente das frágeis crianças e pessoas de idade avançada que são sensíveis
a doenças.
Ainda na época em que o Governo brasileiro pagava o transporte dos
imigrantes os barcos encarregados de fazer o transporte transatlântico eram
divididos em três classes. A primeira classe com pessoas em trânsito e que tinham
por razões de viagem o estabelecimento de relações comerciais e/ou motivos
turísticos. Na segunda classe ficavam os imigrantes que dispunham de recurso
financeiro para pagar a própria passagem. E na terceira e última classe iam aqueles
que contavam totalmente com a ajuda do Governo brasileiro. Os navios
comportavam em torno de mil pessoas e o trajeto durava em média 20 dias.
25
A viagem de navio é o começo de uma nova realidade aos imigrantes rutenos,
que após a chegada ao Brasil começam a perceber que toda esperança alimentada
pelos panfletos, agentes das companhias de transporte e atravessadores, começa a
se desfazer aos poucos.
Após desgastantes dias a bordo do navio transatlântico, começa uma nova
fase para esses viajantes, se adaptar ao novo país. Como em todos os países, o
primeiro passo sempre é parar em alguma autoridade política para legalizar a
passagem pelo país. No Brasil, todos teriam que se registrar a fim de possuir o visto
que hes dava a permissão de estada no Brasil.
Todos os imigrantes ucranianos que chegavam ao Brasil, principalmente os
da primeira leva de imigrantes, atracava no Rio de Janeiro, na ilha das flores. Esse
local foi o escolhido pelo governo brasileiro para fazer o cadastro e a contagem dos
imigrantes que chegavam ao Brasil. O Rio de Janeiro era capital do Brasil e a ilha
das flores foi escolhida, dentro outros motivos, por ser considerada estrategicamente
bem localizada. A ilha fica na entrada da baia de Guanabara, muito próxima ao
centro do Rio de Janeiro. Nesse local, também foi instalada a hospedaria do
imigrante, onde os próprios ficavam alojados até a contagem e o encaminhamento
por parte do governo. Os imigrantes ficavam duas semanas hospedados na Ilha das
Flores para avaliações de saúde. Dependendo da classe social do imigrante, esse
não ficava na Ilha das Flores. Eram registrados no escritório de imigração na ilha,
mas após o registro iam buscar hospedarias por conta própria no Rio de Janeiro
(Choma, 2010: 17).
A Ilha das Flores foi onde os imigrantes tinham o primeiro contanto com os
brasileiros que não estavam diretamente relacionados com o processo de migração.
A maioria dos ucranianos que buscam se relacionar com brasileiros era, na maioria
das vezes, com intenções comerciais. Seja a procura de vestuário apropriado às
condições climáticas brasileiras, seja em busca de comida, ou mesmo para ter
alguma informação relevante sobre meios de transporte e hotéis/hospedarias.
Logicamente, a dificuldade com a língua era uma das mais complexas
barreiras que os ucranianos enfrentavam quando chegam ao Brasil. O português era
desconhecido pelos ucranianos e muitos que tentavam estabelecer relações
comerciais com locais eram passados para trás. Os brasileiros se aproveitavam da
ignorância e da necessidade dos ucranianos para cobrar preços que iam muito além
da realidade. Vale lembrar que essa é uma condição imposta pelo meio social. Por
26
outro lado, cabe salientar a liberdade, ou falta de receptividade e preparo, com que o
governo brasileiro recebia os imigrantes. Sem dar instrução ou, até mesmo,
proporcionar condições de conforto, os imigrantes tinham que se expor a fim de
tentar proporcionar a si e a sua família um alento após a desgastante viagem
transatlântica.
1.3.1 No Estado do Paraná
Os imigrantes saiam da Ilha das flores diretamente para seus respectivos
Estados. Dos ucranianos, a maioria partiu para o sul do país. E dos que se
direcionavam para o Paraná31, o destino era o porto de Paranaguá, O trajeto entre o
Rio de Janeiro e o Paraná de barco levara em média dois dias. Após a chegada ao
porto de Paranaguá, o trajeto dos ucranianos era seguir de trem para Curitiba. Os
primeiros imigrantes, anteriormente a chegada dos ucranianos, faziam o trajeto entre
Curitiba e Paranaguá de carroça e a pé. Só depois de algum tempo construiu-se a
linha de ferro32 que faz o percurso Paranaguá - Curitiba, facilitando as coisas.
Depois da chegada à Curitiba, muitos imigrantes iam para hospedarias de
imigrantes, que não eram nada mais que barracões. Alguns desses barracões eram
onde encontramos atualmente a Praça Zacarias, no centro da cidade e a estação de
trem, a rodo-ferroviária. Nesses locais os imigrantes ficavam cerca de uma semana
e recebiam informações sobre precauções com a saúde, explicações sobre a terra
que iriam se dirigir e conheceriam os nomes dos funcionários responsáveis pelo
assentamento onde iriam encontrar seus lotes.
De Curitiba, cada grupo de ucranianos se encaminhou por conta para seus
centros de destinos. Podemos tomar o exemplo dos imigrantes destinados a ocupar
a colônia de Rio Claro, que depois passa a ser conhecido pelo nome de Marechal
Mallet, uma das principais colônias ucranianas. O trajeto era feito de trem, de
Curitiba até a vila de Porto Amazonas, às margens do rio Iguaçu. De barco seguia-
se para o vilarejo de Fluviópolis, também conhecido por Barra Feia. A embarcação
de Porto Amazonas à Fluviópolis levava três dias de viagem por conta da 31
Lembrando que a imigração ucraniana se direcionou para o sul do Brasil, nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e, principalmente, o Paraná. 32
A Estrada de ferro que liga Curitiba à Paranaguá só ficou pronta no ano de 1885.
27
sinuosidade do rio Iguaçu. Depois, o imigrante ainda pegaria uma carroça ou iria a
cavalo ou mula para o lote destinado. Nesse processo o imigrante começa a
enfrentar uma das principais dificuldades do Estado do Paraná, a falta de infra-
estrutura.
Dados ilustrativos da situação paranaense apontam (Maack, 1968: 192) que
em 1890, época da primeira migração ucraniana, o Estado do Paraná contava com
83,41% de sua cobertura vegetal original. A população estava em torno de 249.491
mil pessoas. As estradas eram precárias e a melhor forma de adentrar o Estado se
fazia através dos rios, que só foram ser explorados com o advento da migração e
colonização do Estado. A questão da infra-estrutura se fazia tão central para o
Estado que a colonização era vinculada a Secretaria de Obras Públicas. O Estado
do Paraná só conheceu seu primeiro mapa oficial em 1897, quando o secretário
João Carvalho Filho encomendou o traçado (Guerios, 2007: 104).
O sonho de ser senhor da própria terra incluía uma série de trabalhos que o
imigrante deveria fazer. O constrangimento do imigrante começava com a viajem de
barco, depois a distribuição entre as colônias, até chegar a colônia e perceber que
não existiam lotes de terra demarcados. E por isso eles teriam que esperar em
barracões, auxiliando na abertura de estradas. Para alguns a situação chegou a dois
anos. Dois anos vivendo sobre a lona de um barracão e trabalhando na abertura de
estradas e lotes, não podendo trabalhar para a subsistência, a razão de sua vinda
ao Brasil. Relatos contam que o governo ajudava financeiramente os imigrantes que
não possuíam lote. E a ajuda valia por até um ano após o colono conseguir o lote de
terra. Entretanto muitos colonos reclamavam que a ajuda era insuficiente pois até
limpar o lote da mata virgem, prepará-lo para o plantio e colher, era um processo
que levava mais que um ano. Ainda mais naquela época.
O governo dava os incentivos fiscais e aguardava do imigrante uma postura
pró ativa no tocante a reprodução agrícola e social. E de fato isso aconteceu.
Através da formação de colônias de grupos coesos e próximos a região urbana do
Estado, os agricultores conseguiram uma produção que gerasse sobras para venda.
Mas aí começaram os problemas, não havia mercado consumidor. O excedente era
criado, porém a falta de infra-estrutura não permitia que a produção do campo
atingisse as grandes cidades do Paraná.
Com falta de mercado consumidor, a colônia se tornava dependente de si
mesma. Ai surgem duas organizações centrais na vida da colônia. As vendas e a
28
igreja. As vendas auxiliavam no escoamento da produção, comprando a produção
do colono ou trocando a produção por produtos de sua venda. E a igreja ucraniana,
instituição de essencial influencia na criação de sociabilidade. Foi em torno da igreja
que o colono freqüentou a religião, a escola, o lazer. A igreja direcionava muitas
ações coletivas e proporcionou a sociabilidade necessária para os imigrantes se
tornassem um grupo.
2. UCRANIANOS NO BRASIL.
2.1 TRABALHO E REPRODUÇÃO SOCIAL NO PARANÁ
O resultado do primeiro fluxo migratório para o Brasil é um momento vital na
consolidação da imigração para o país, estávamos vivendo a época da tradição da
“Porta Aberta”33na América(Balhana; Machado; Westphalen, 1969: 157). O Brasil
disputava imigrantes com outros países entre eles, Argentina, Estados Unidos e o
Canadá.
O Brasil foi o pólo da América do Sul que mais recebeu imigrantes
ucranianos, que se encaminhavam para os Estados do Sul e para o Estado de São
Paulo. Apesar de serem todos ucranianos, a distribuição dos ucranianos pelo país
tinha intenções muito diferentes.
Ao contrário de outras regiões do Império, onde a imigração se
destinava a suprir a carência de mão-de-obra na grande lavoura de exportação, no Paraná, a não ser a eventual introdução de trabalhadores para as obras públicas, sobretudo construção de estradas, o problema imigratório foi desde logo colocado no sentido de criar-se uma agricultura de abastecimento. (Balhana op. cit., 1969)
No Paraná, só entre 1871 a 1934 foram 47.730 poloneses, 19.272
ucranianos, 13.319 alemães e 8.798 italianos (Martins, 1955: 77). O contingente
populacional que se encaminha para o Brasil é tão grande que o período que vai de
33
A tradição da “Porta Aberta” na América caracterizava-se pela aceitação de imigrantes de todas as procedências e culturas.
29
1890 até o início da 1º guerra mundial ficou conhecido como “Febre Amarela”. A
“Febre Amarela” é, de acordo com Horbatiuk, um resultado direto dos incentivos
fiscais promovidos pelo governo do Brasil. A “Febre Amarela” pode ser dividida em
dois momentos. O 1º momento que vai de 1890 até 1897, quando o Brasil buscava
pessoas para ocupar o território nacional e iniciar a produção de insumos agrícolas.
E um 2º momento que se inicia em 1906 e termina no começo da segunda guerra
mundial, a necessidade brasileira era de mão de obra para a construção de infra-
estrutura no país.
A tabela abaixo ajuda a ilustrar a situação promovida pela “Febre Amarela”. A
tabela mostra um crescimento populacional bastante significativo em todos os
Estados entre 1900 – 1950, sendo São Paulo com maior número de habitantes.
Considerando apenas a porcentagem de crescimento populacional de cada Estado,
foi o Paraná que alcançou a maior taxa de crescimento populacional no país,
chegando a incríveis 547% no período.
1.379.6161.919.099 2.117.956
3.334.4653.918.112
4.834.575
5.990.605
2.039.735
3.184.0993.594.471
5.888.174
6.736.416
7.717.792
9.798.880
434.813897.455 1.149.070
2.182.713
3.320.689
4.164.821
5.448.823
837.3541.384.753
2.282.279
4.592.188
7.180.316
9.134.423
12.974.699
126.722 249.491 327.136685.711
1.236.276
2.115.547
4.277.763
1872 1890 1900 1920 1940 1950 1960
Número de habitantes dos maiores Estados do Brasil entre 1872 - 1960
Bahia Minas Gerais Rio Grande do Sul São Paulo Paraná
Figura 2 - Dados retirados de História do Paraná, BALHANA (1969)
30
Mesmo com grande representação numérica, as condições iniciais para os
ucranianos no Brasil eram precárias. Algumas passagens acima ilustram a situação.
Resultado disso pode ser visto também nas constantes visitas de líderes ucranianos
e poloneses ao Brasil, as quais relatavam negativamente o país, aconselhando os
futuros migrantes à não procurar o país.
A justificativa para tanto fica por conta do despreparo do governo brasileiro
em esclarecer dúvidas, distribuir eficientemente os ucranianos e a prestar auxílio
quando necessário. A ausência desse procedimento sistemático ocasionou
inconvenientes para os imigrantes.
Em contra partida, olhando pelo lado brasileiro, as condições sócio-
econômicas do Brasil e a estrutura política e social tão pouco permitiam um cenário
diferente. E devemos levar em consideração a inocência dos imigrantes, que
acreditavam em outro mundo, sem exploração e de vida fácil. Estamos falando do
final do século XIX, com fontes de informação precárias, terreno fértil para o
imaginário de idéias fantasiadas.
O que a realidade brasileira mostrava era o fim do sonho, ou melhor, a
realidade. Trabalho era necessário, e muito trabalho havia pela frente. Um exemplo
era justamente as condições de moradia dos imigrantes, que foram obrigados a viver
em barracões quando chegaram ao Brasil. Sobre os barracões, escreve Estanislau
Klobukowski, um dos intelectuais poloneses da Sociedade Geográfica e Comercial
de Lviv que viajou ao Brasil, juntamente com alguns imigrantes eslavos, a fim de
conhecer a situação que viviam os migrantes oriundos de sua localidade:
A hospedaria era uma espécie de paiol(...) Dezenas de
pessoas estavam deitadas umas ao lado das outras. Entramos munidos de lampiões. Cercavam-me, beijando as mãos e as orlas do casaco. Perguntavam e expressavam sua alegria em me rever. “O senhor é um anjo!” “Veio ao nosso meio!” esta atitude partia de homens, mulheres e crianças. Encontravam-se em trajes lamentáveis. (Klobukowski, 1989 apud Guerios, 2007: 60)
O relato de Klobukowski enquanto membro de uma instituição pública da
Galícia significa um ponto importante no trabalho de busca pelo contexto político da
imigração na época. Klobukowski era polonês, funcionário do governo e com
interesses maiores que simplesmente dizer sua opinião. Sua visita, juntamente com
31
outras visitas da intelligentsia34 eslava, representa o primeiro contato formal do
governo na direção de colocar suas opiniões a respeito da migração para o Brasil35.
E para continuar com o plano de atração de imigrantes, o governo brasileiro sabia da
importância desses senhores e de suas opiniões. Uma manifestação inquestionável
dessa importância foi a pronunciação em carta do Ministro da Aviação, Antônio
Olyntho, pedindo esforços do então governador do Paraná, Francisco Xavier da
Silva, para que suas atenções a Klobukowski não fossem desprezadas.
Seduzidos pela propaganda da terra sem senhores, a maioria dos imigrantes
ucranianos buscou o interior do Estado do Paraná. Pelas cidades e vilas se
encontravam dispersas colônias que eram identificadas pelos imigrantes como:
Marechal Mallet (data de instalação da colônia, 1896 – Nome da colônia, Mallet),
Prudentópolis(1896 – Colônias de Prudentópolis, Jesuino Marcondes e Itapará),
Guarapuava(1892 – Colônias de Apucarana, Senador Correia e Cruz Machado),
Lapa(1895 – Colônia Antônio Olyntho), Ivaí36(1907 – Colônia Ivaí) e União da
Vitória(1892 – Colônia General Carneiro).
No final do século XIX, as pessoas tinham acesso a essas colônias apenas
através de charretes e cavalos ou embarcações. A instalação nas colônias não era
fácil. Cabe apresentar alguns números referentes a distribuição dos colonos das
principais colônias com ucranianos no Paraná37 para termos idéia da dimensão da
migração.
34
Expressão utilizada por Guerios para tratar do grupo de intelectuais da Galícia em visita ao Brasil para fins de análise do local. 35
O contexto é muito importante. A visita de Klobukowski teve a intenção de bloquear a migração para o Brasil,
assim surgiram muitas críticas a respeito do processo. Entretanto, as opiniões fazem parte de um processo político e econômico mais amplo. Com a migração, os senhores de terra poloneses da Galícia estavam perdendo a abundância de mão de obra, o que fazia o preço da mesma subir por conta da lei de oferta e procura. Desincentivar a migração eslava significava manter os custos de mão de obra estáticos. 36
Permanecia ao município de Ipiranga até 1961, quando se desmembrou em através da Lei Estadual Nº 4.382 de 10 de junho de 1961. 37
As colônias oscilavam entre – grupo único e coeso (apenas uma etnia) – e grupo diversificado – vários grupos étnicos misturados (Italianos, poloneses, ucranianos, alemães e etc)
32
Figura 3 - O quadro acima foi realizado a partir de dados levantados por Balhana (1969).
Com o tempo o governo brasileiro percebeu que manter as colônias apenas através
de incentivos fiscais não era suficiente. As colônias precisavam de infra-estrutura e
de uma vida social que possibilitasse os colonos a se desenvolver. A emancipação
das colônias girava em torno de diretos humanos como o acesso a economia, a
comunicação e, principalmente no caso dos ucranianos, a possibilidade de culto
religioso38. Essa era uma constante em todas as colônias e por isso exploraremos
esse item no próximo sub-capítulo.
2.1.1EM CURITIBA
Aos que evitaram as mazelas do campo e que optaram por Curitiba, a região da
cidade que se dirigiram foi onde é atualmente conhecido como bairro do Bigorrilho.
Aos arredores de onde se encontra a Praça da Ucrânia, juntamente com a Estátua
do poeta Tarás Chevechenko. Os bairros do Pinheirinho, Abranches, Vila Guaíra,
Portão e Fazendinha também receberam número considerável de imigrantes
(Boruszenko, 1995: 12). Os motivos que fizeram os ucranianos permanecerem em
Curitiba eram dois motivos. Ou porque não eram trabalhadores rurais e não
desejaram se sujeitar as condições de sub-existência do campo, ou porque
possuíam uma habilidade que poderia ser aproveitada na cidade.
Não existem dados que quantifiquem o número de ucranianos que se instalou aos
arredores de Curitiba. Porém se sabe que esse contingente ganhou proporções
significativas no terceiro fluxo migratório, ao final da segunda guerra mundial, onde
38
Para BORUSZENKO a religião é uma característica peculiar do povo ucraniano. Para a autora dos ucranianos no Brasil, 78% são católicos do rito oriental, 4% são ortodoxos e 12% são protestantes.
33
os imigrantes estavam motivados por questões políticas e ideológicas e não
(apenas) por condições de emprego e terra. Juntamente do fluxo imigratório, havia a
migração interna dos ucranianos, agora não mais imigrantes, mas brasileiros
descendentes, filhos e netos de colonos que buscavam melhores condições de vida,
de estudo e de trabalho.
2.2 A FORMAÇÃO DAS COLONIAS, SITUAÇÕES SIMILARES
Nas colônias coesas de mesma etnia, a concentração populacional ajudou na
construção de grupos sociais. Os grupos visavam suprir as carências latentes da
ordem dos diretos humanos. Essa é o principal motivador para compreendermos o
processo que desencadeou o aparecimento de grupos sociais nas colônias de
ucranianos pelo Paraná. Se observarmos os trabalhos já produzidos nessa direção
veremos que teóricos e leigos chegaram a conclusões convergentes sobre isso. As
dificuldades dos imigrantes estão explícitas em todos os trabalhos sobre migração
de ucranianos para o Brasil.
Dos importantes trabalhos acadêmicos que relatam a problemática ucraniana
temos: Padre Burko em A imigração ucraniana no Brasil(1963), onde aparece pela
primeira vez a teoria que divide o fluxo de imigrantes ucranianos para o Brasil em
três grandes momentos; Paulo Horbatiuk que inicia os trabalho de estudo de caso,
com a comunidade de Mallet em A colônia de Mallet(1983); A contribuição valiosa
dos diversos trabalhos da historiadora Oskana Boruszenko, entre eles Os
ucranianos(1995) onde traz toda uma seqüência da migração dos ucranianos para o
Brasil até a instalação dos mesmos; Outra historiadora, orientada por Boruszenko,
Maria Luiza Andreazza contribui com Paraíso das delícias(1996), entre outros
trabalhos, onde faz um estudo sobre o estabelecimento da colônia de Antônio
Olyntho; Também temos o trabalho do antropólogo Paulo Renato Guerios(2007),
Memória, identidade e religião entre imigrantes rutenos e seus descendentes no
Paraná, uma análise da memória coletiva e religião como identidade dos ucranianos
de Prudentópolis.
34
Também podem ser encontrados muitos artigos descrevendo cada momento
dos ucranianos no Brasil. Todos citando as dificuldades vividas pelo povo em seu
acesso e instalação.
Muitas auto-biografias também ajudam nos a relembrar da história vivida
pelos ucranianos. Entre todos eles podemos citar o livro de Dom Efraim B. Krevey,
100 anos dos ucranianos em Ivaí e um de seus filhos(2009), em que o conta da
instalação dos imigrantes no município de Ipiranga, atual Ivaí; E Excertos de uma
história familiar(2009) de Ambrósio Choma, onde o autor descreve dificuldades e
particularidades das colônias de Marechal Mallet e União da Vitória.
De todos esses trabalhos, podemos tirar algumas conclusões generalizantes
que gostaria de pontuar agora e que não só centram sobre as dificuldades da
chegada. Todos os trabalhos também falam das formas de superação dos grupos
para vencer as dificuldades da vida na colônia. Falam de como os grupos se
reinventaram e onde acharam forças para tal.
É consenso entre os pesquisadores que a necessidade de auxilio que o
imigrante precisava era latente e começava tão logo a demarcação de terras ocorria.
O proprietário do lote teria que limpar o terreno com próprio punho. Sem a ajuda de
nenhuma instituição governamental brasileira. Precisavam assim, contar com a
ajuda de companheiros que passavam por mesma situação, trocando favores.
Depois de cortar as grandes árvores, ainda teriam que queimar o solo, para se
desfazer das raízes e deixar a terra realmente preparada para o cultivo. Com a
utilização da queimada, ainda seriam necessários mais alguns meses para que a
terra descansasse e assim se tornar apta para a produção de insumos agrícolas.
Por meio de relatórios podemos observar que o Governo brasileiro não
acompanhava muito esse processo. Um trecho do relatório de CÂNDIDO FERREIRA
DE ABREU em 1889 ilustra um pouco da situação.
Realmente é desanimadora a falta de meios de subsistência durante o primeiro ano de estabelecimento; é o período mais crítico para o imigrante; e se ele não é apoiado, animado durante esse tempo, o desespero invade-lhe o espírito e pode-se considerar perdido todo o sacrifício feito pelo Estado, até então. Para aliviar esse inconveniente, filho unicamente da situação precária em que imigraram, é preciso ter consignação no orçamento, ou um crédito especial de 25.000$000 réis para acorrer às despesas com melhoramentos da viação colonial, a fim de serem empregados nesse trabalho os imigrantes recém-chegados e estabelecidos de pouco tempo. (Horbatiuk, 1983: 167-168)
35
Ainda, após esse complicado estabelecimento existiriam outros problemas a
serem enfrentados. Problemas que o próprio imigrante teve que “ajudar” a
solucionar. O primeiro dos problemas pós-início do plantio era a distribuição dos
produtos. O colono não tinha mercado consumidor nas cercanias das colônias,
então não tinha para quem vender seu excedente de produção. Tinha que negociar.
Foi aí que cresceu em importância uma organização que foi vital para o colono sair
dessa sinuca de bico, as “vendas”. As “vendas” eram pequenos comércios, com uma
variedade mínima de insumos e que estabelecia um contato indireto entre o produtor
e o atravessador que levava os produtos para a cidade. Ou seja, as “vendas”
funcionavam com um dos atravessadores responsáveis pela distribuição da
produção.
O aparecimento das vendas foi uma das soluções para o escoamento da
produção. Era necessário também um local de interação coletiva para suprir as
necessidades de interação social. Aparece assim um elemento comum a todos os
textos que tratam sobre migração ucraniana no Brasil. A igreja que funciona como
um centralizador e organizador da vida social ucraniana e que é fruto também de
uma necessidade de identificação social. A partir dele que ações coletivas são
empreendidas com maior intensidade. Sendo a figura dos padres fundamental nesse
sentido.
Os primeiros imigrantes ucranianos, por serem em número
reduzido, procuraram formar uma vida social com quem pudesse comunicar-se. Por isso, no início da imigração em Mallet, conviveram com os poloneses, que haviam chegado anteriormente, deixando de cultivar sua própria cultura.
Mas, ao chegarem os grupos mais numerosos e alguns padres, desenvolveu-se o conhecimento da cultural nacional ucraniana e conseqüentemente o abandono das obrigações com outros imigrantes e cultivo de sua cultura. (Horbatiuk, 1983: 123)
Os ucranianos quando chegaram ao Brasil, não só se preocupavam com a
reprodução econômica, mas os valores religiosos também eram tidos como
necessidade. Não foram poucas as cartas enviadas à Ucrânia com pedidos para que
padres da igreja católica de rito oriental migrassem para o Brasil com a finalidade de
preservação da crença e de valores.
36
A Ucrânia é um dos poucos países que presa pelo rito oriental. O rito
oriental39 da igreja católica é diferente porque é realizado na língua ucraniana40, que
caracteriza por ser um elemento diferencial da cultura. A presença da religião dos
ucranianos significava mais que apenas a preservação da crença religiosa, era a
própria cultura, símbolo da identidade étnica. Fator que se conectava com a própria
presença dos poloneses no Brasil, muitas vezes compartilhando o mesmo espaço
nas colônias41.
Vale lembrar que a identidade do ucraniano é histórica. Vinha de temos
distantes e se ligava ao Brasil através da religião. O histórico da criação do
sentimento de identidade é bem recapitulado por Guerios, que mostra como os
valores ucranianos foram “descobertos” em uma estratégia do grupo da intelligentsia
em um período anterior aos anos 1800.
Segundo a história da Ucrânia criada por eles, as raízes do “povo ucraniano” estender-se-iam às tribos eslavas que ocuparam a região do rio Dnieper desde o século IX. Ao longo dos séculos, esse povo teria sido usurpado de suas terras por diferentes vagas de invasores. O primeiro grande momento de libertação do “povo ucraniano” teria ocorrido entre os séculos XVI e XVII, quando os cossacos42, heróis-símbolo da “alma” nacional ucraniana, obtiveram pela primeira vez o controle político da “Ucrânia”, propiciando seu “renascimento político e cultural. (Guerios, 2007: 192)
Os membros da intelligentsia utilizaram-se da história dos cossacos da
Ukraina como inspiração para a construção de uma história nacional de seu povo. A
história começou a ser ensinada aos camponeses de origem rutena para transformá-
los em “ucranianos”, formando um grupo com identidade coesa.
Foi a partir daí que os grupos da Prosvita (como citado acima) ganharam
forma e força. E funcionavam como instituição fornecedora de conhecimento aos
rutenos, já que escolas não chegavam a região da Galícia. A Prosvita era gerida em
grande número por padres43, sendo os mesmos essenciais na organização e
manutenção das ações da Prosvita.
39
Também chamado de rito Grego, rito bizantino 40
Apenas na década de 90 que a liturgia foi traduzida para o Português. 41
Polônia e Ucrânia viveram passado de guerra e as diferenças étnicas eram muito valorizadas nessa época. 42
Cossacos eram bandos armados que sobreviviam da caça e pesca. Servos fugidos, escravos e camponeses que desafiam as autoridades políticas locais. Tinham alianças com os turcos e com os tártaros. Atuavam também como mercenários. Pela região que ocupavam ser chamada de Ukraina, com o tempo esses cossacos passaram a se chamar “cossacos ucraínos”. 43
Eram 40 padres entre os 91 responsáveis.
37
Com a Prosvita, entre outros acontecimentos, surgiram também os grupos de
leitura44, mais um elemento que reforçaria a criação de uma identidade nacional. Os
grupos de leitura tiveram uma inserção grandiosa em curto espaço de tempo. Em
1874 eram apenas 2. Em 1886 já se somavam 461 e, em 1908 contava-se 2048
unidades em toda a província. Em resumo, conclui Guerios: “Ao associar-se aos
clubes de leitura, os camponeses associavam-se à nação. E a própria nação crescia
e era formada por essa infra-estrutura em expansão de instituições nas aldeias.”45
Com o passar do tempo, esse grupos de leitura foram tomando várias direções e,
alguns deles, adquiriram autonomia frente a Prosvita. Se emancipando política,
religiosa e economicamente. Porém, as conseqüências da formação desses grupos
na Ucrânia são assunto para outro debate. O fato é que nesse período, pouco antes
a imigração, foi moldada a identidade entre os rutenos que vieram para o Brasil.
Sendo a participação coletiva um elemento de composição dessa identidade.
Os imigrantes que vieram para o Brasil sentiam a emergência do contato com
essa identidade novamente. E a igreja, por ser um elemento aglutinador e prezar
pela língua ucraniana, era o primeiro passo a ser feito. Esforços não foram medidos
e, mesmo com muito desgaste, as colônias passo a passo, foram agraciadas com
suas próprias igrejas. Diz KREVEY sobre a primeira capela de Ivaí:
A primeira capela de Ivaí foi instalada num dos principais e maiores barracões, de madeira bruta e taquara. Já nos primeiros meses após a vinda dos pioneiros ucranianos, o incansável missionário Padre Marquiano Shkirpan osbm, vindo de Prudentópolis no lombo do cavalo, através de Imbituva, então denominada Cupim, visitou seus irmãos e irmãs recém-chegados. Num grande avivamento, alegria e lágrimas, nossos imigrantes pela primeira vez tiveram sua Divina Liturgia, sua homilia e seus santos sacramentos. As confissões foram infindáveis. Praticamente toda a comunidade participou da Sagrada Eucaristia. Inclusive houve batizados.(Krevey, 2009: 35)
Sem sombra de dúvidas, a construção da igreja e a liturgia em rito oriental era um
acontecimento impar para a comunidade ucraniana no Brasil. Se tratando de ser no
meio rural e de um grupo étnico tão específico haveria conseqüências futuras.
O relato acima também fala do transito de religiosos, que começou a se
intensificar com a chegada de novos imigrantes, aumentando a demanda por
clérigos. Cada colônia gostaria de ter seu representante religioso e, a partir daí,
44
Esses grupos serviam mais como grupos de debates, já que poucos sabiam ler. 45
GUERIOS, Paulo Renato. Memória, identidade e religião entre imigrantes rutenos e seus descendentes no Paraná. Pág. 195.
38
começam a intensificar também o envio de cartas ao Metropolita46 pedindo padres
do rito oriental, com justificativas que: os religiosos brasileiros não sabem como
preparar nosso povo para devotar-se à fé Greco – católica. Os ucranianos
precisavam de uma guia que lhes ensinasse a manter-se dentro dos padrões
adequados de existência. Uma autoridade, um expert no modo adequado de viver,
que os entenda e ao mesmo tempo indique o caminho que devem seguir (Guerios,
2007: 141)
Logicamente, essa perspectiva de análise sobre a inserção das comunidades
religiosa dentro dos agrupamentos ucranianos não contempla todos os ucranianos
que vieram ao Brasil. Todos eram necessitados e todos necessitavam de auxílio
para se estabelecer no Brasil, mas nem todos tinham na religião a padrão de
interação social. Não podemos supor que esse movimento religioso tenha sido
homogêneo, por mais que a comunidade ucraniana seja caracterizada por isso.
2.3 GRUPOS UCRANIANOS NO PARANÁ E A INFLUÊNCIA RELIGIOSA
A chegada de clérigos do rito oriental trouxe ao Brasil uma lógica de
organização social que fazia falta aos ucranianos. Foi sim, através da igreja, que
começou a vida social dos ucranianos no Brasil. Digo vida social com identidade
presente, tanto marcada pelo passado recente, quanto pelo processo migratório.
A igreja se transforma no aglutinador das forças produtoras, dando orientação
a ações e fortificando instituições. O que focamos agora é a forma com que a igreja
organizou a vida nas colônias, sendo a aglutinadora de diversas instituições e
veículos de informação que auxiliaram os colonos.
A igreja, por ser uma organização estabelecida e reconhecida por sua
severidade e disciplina, exercia influência direta sobre os colonos. Principalmente
quando esses estavam sendo atingidos por situações como o uso excessivo do
álcool ou tomando opção pela prostituição. Entre outras necessidades, as de ordem
moral eram as que os padres estariam mais aptos a sanar. O caminho para a saída
46
Mesmas funções que um arcebispo, coordena uma arquidiocese que é formada por muitas dioceses.
39
dessas situações era o religioso e o método utilizado pelas igrejas era a restrição e
intervenção em assuntos comuns na colônia.
Muitos repudiavam as atitudes intervencionistas e desejam a saída dos
padres das colônias se manifestando publicamente, o que não ocorreu
freqüentemente. Maior manifestação contrária aos párocos aconteceu em casos
extremos47, porém não surtiram resultados por conta do poder dos clérigos que
também atuavam na política local. Alguns exemplos de cargos ocupados por
clérigos no interior do Paraná seriam: Inspetor de ensino, membro do Diretório
Político Municipal e Chefe Político do Distrito.
A falta de unanimidade no que diz respeito a presença e influência dos padres
foi por conta da centralização dos poderes nas mãos dos clérigos. Guerios expõem
esse ponto com clareza:
Em todas as colônias em que os sacerdotes permaneceram, contudo, eles assumiram um papel central no desenrolar da vida local. Como vimos, os migrantes que escreveram ao Metropolita pediram padres que fossem seus “pastores”, alguém que os guiasse e os mostrasse como viver da forma adequada. Os padres cumpriram esse papel: após a sua chegada, o processo de transformação social acelerada por que os migrantes rutenos passaram nos primeiros anos em que chegaram às fronteiras de colonização no Paraná perdeu parte de seu impulso. O padre tornou-se novamente uma figura central, sob cuja autoridade os colonos se colocaram. (Guerios, 2007: 161)
A primeira obra de importância para qualquer padre era a construção da igreja
da cidade. Essa seria a obra que os clérigos iniciariam os trabalhos de qualquer
colônia. Isso porque com a construção da igreja, a aproximação dos fieis se tornaria
algo palpável. Logo após a construção da estrutura da igreja, começavam os
primeiros grupos de oração, chamados Apostolados da Oração.
Os padres coordenam os trabalhos e por acabarem possuindo uma áurea de
respeito e significado, começam a assumir funções de outros profissionais. Como é
o caso em que se tornam médicos, dada a falta de postos de saúde os padres
faziam da necessidade a possibilidade, se transformando em médicos e receitando
os medicamentos ao mesmo tempo em que davam a benção.
Outro ponto em que as instituições religiosas foram centrais foi a questão da
educação. Os padres, por terem educação culta e serem considerados portadores
47
A não ser em casos extremos como o do Padre Mehaltchuk (Andreazza, 1999).
40
do conhecimento, compartilhavam-no com os fieis. Primeiramente através dos
Apostolados de Oração, e posteriormente aos grupos que se estruturaram, através
da formação das escolas. Os padres iniciavam os trabalhos de professor ensinando
e ajudando as crianças e leigos na leitura, matemática, português, ucraniano e etc. A
igreja aglutinou as funções educacionais e, por ensinar a língua ucraniana, passou a
ser um instrumento de manutenção da cultura ucraniana no Brasil. As missas
também eram realizadas em língua nativa e também era uma forma de aproximação
cultural.
Em algumas colônias esse processo se deu de forma tão complexa e natural
que a igreja se tornou o órgão responsável e reconhecido que (...) congrega a
escola, o lazer, a religião, e passa a funcionar como antídoto de posições políticas
contrárias ao chefe do clã familiar, do coronel ou cadilho. (Brandenburg, 1998: 74)
Aos poucos igreja ganha posição de destaque na sociedade ucraniana e é
através dela que se iniciam outras formas de organização civil dos ucranianos no
Paraná. A porcentagem de ucranianos que foram trabalhar na lavoura, ao final do
grande período migratório para o Brasil, reforça o papel central da igreja. Nada
menos que 80% dos imigrantes ucranianos haviam se direcionado ao ambiente
rural. (Burko, 1963: 78).
Atualmente o número é menor. A mecanização do campo e com foco na
produção de monocultura fez com que a agricultura familiar tivesse dificuldades em
se manter. A aquisição de terras para os filhos e netos também ocasionou a
migração interna e muitos foram parar nas grandes cidades. Todavia esses
migrantes carregavam os hábitos que estavam acostumados no campo para a
cidade. Fazendo a inserção da igreja ucraniana ainda maior, agora na cidade, e
consolidando a igreja católica ucraniana do Brasil como a maior organização
comunitária de cunho religioso e cultural entre os ucranianos. Números atuais
mostram a força dessa instituição: São 25 paróquias e 236 igrejas, com dois bispos
auxiliares, 21 padres diocesanos e 62 padres da Ordem de São Basílio no Brasil e
12 no exterior.
A Igreja Ortodoxa Ucraniana também é notória quando tratamos da cultura
ucraniana no Brasil. Acabei por não a citar anteriormente por não ter foco sobre a
questão religiosa e também porque não encontrei dados relevantes a diferenciação
religiosa nos trabalhos anteriormente estudados. Algumas informações que consegui
sobre isso foram através de entrevistas que apontaram como fator determinante no
41
crescimento da Igreja Ortodoxa Ucraniana no Brasil o menor número de fieis dessa
Igreja que vieram para o Brasil comparado ao número de fieis da Igreja Católica
Ucraniana48.
Contando não apena com o empecilho da limitação numérica, mas de ter
seus fieis em maioria se instalando na cidade, a igreja Ortodoxa Ucraniana do Brasil
não conseguiu render o mesmo que a Igreja Católica, porém se faz presente entre
os descendentes de ucranianos com números interessantes. São 18 igrejas no
Brasil, contando com um contingente de um arcebispo, dois protopresbíteros
mitrados e 8 padres.
A institucionalização da Igreja na vida social acabou por incentivar a vida
política e, posteriormente, a criação de organizações civis. A Prosvita, organização
que veio da Ucrânia para o Brasil através da organização religiosa, é o que temos
registrado como sendo o cerne do crescimento organizacional. A Prosvita se
organizou no Brasil com a mesma proposta como atuou na Ucrânia, estabelecendo
grupos de leitura e incentivando o cooperativismo. Foi na data de 1898 que tivemos
a formalização da primeira unidade da Prosvita (em Curitiba) conjuntamente com a
formação da primeira escola ucraniana de Curitiba. Outras escolas haveriam surgido
no interior do Estado no mesmo ano e um ano antes. Seriam escolas privadas e que
contavam com organização particular para atender as grandes aglomerações
ucranianas nas colônias. A primeira seria na colônia de Rio Claro.
Em 1907 surge realmente um veículo de comunicação significante para os
ucranianos no Brasil. Se trata do jornal periódico Zória (Estrela) com impressão em
Curitiba e tiragem bissemanal de 500 exemplares. Esses jornais começaram a ser
lidos nas reuniões da Prosvita pelo Brasil, os grupos de leitura. O Zória foi o primeiro
responsável à incentivar a participação política dos ucranianos no Brasil. Apontando
a Assembléia Legislativa do Paraná como o caminho. O Zória termina seu curto
histórico em 1910, a mesma data em que surge um novo periódico, o Prapor
(Bandeira), também Bissemanal e impresso em Curitiba, de responsabilidade dos
Padres Basilianos. O Prapor também apóia a inserção dos ucranianos na política do
país.
Contudo, mesmo com o apelo dos periódicos a campanha de inserção dos
ucranianos na política paranaense não surtiu efeito, já que os ucranianos não tinham
48
Na Ucrânia esse número se inverte. Existem mais fieis da Igreja Ortodoxa Ucraniana do que fieis da Igreja Católica Ucraniana.
42
se naturalizado brasileiros ainda. Por outro lado, as organizações ucranianas iam se
desenvolvendo e as instituições da Prosvita se multiplicando, sendo 32 em todo o
Estado já em 191349 (boa parte delas chamava-se Sociedade Taras Shevtchenko50).
Três anos antes, em 1910 as Prosvita, em conjunto com o periódico Prapor,
convocaram uma reunião geral dos rutenos no Brasil. Essa reunião ficou conhecida
como primeira reunião geral dos ucranianos no Brasil, e tinha como objetivo a
formação de uma federação de representação ucraniana, materializando
formalmente junto aos órgãos políticos do Estado do Paraná todas as problemáticas
que envolviam a comunidade ucraniana. Esse congresso colocava em conflito
líderes leigos e padres e, por essa razão, não avançou nos pontos esperados. Isso
porque os líderes leigos, com menos força entre os colonos, não aceitaram reunir
todas as Sociedades de rutenos sob uma mesma representação com medo de dar
mais força aos párocos (Guerios, 2007: 200).
Resultado dessa tensão entre leigos e religiosos foi a tentativa definitiva dos
leigos de acabar com a força da igreja, se associando com forças nacionalistas
brasileiras, como o jornal A República, e denunciando supostas críticas feitas pelo
periódico Prapor às instituições brasileiras. O jornal brasileiro criou reportagens
denunciando as atitudes e opiniões do Prapor, o que gerou um alerta geral na
população brasileira e por pressão, o jornal fechou as portas logo depois. Seu
fechamento proporcionou após algum tempo a criação de dois novos periódicos, um
com o nome Pracia (Trabalho), produzido pelos responsáveis do Prapor, e o
periódico Micionar (Missionário), produzido pelos padres basilianos. (Idem, 2007:
199)
Ao mesmo tempo em que eclodiam novas organizações de ucranianos no
Brasil, o mundo passavam por um processo delicado, juntamente com o Brasil. Em
1914 o Brasil vivia o período da República Velha, ano que conheceu a eleição de um
novo presidente, Wenceslau Bráz. O presidente já assumiria com um problema a
resolver, a Guerra do Contestado51, justamente na fronteira entre Paraná e Santa
Catarina. O ano de posse de Wenceslau Bráz foi o mesmo em que começaria outro
conflito, a Primeira Guerra Mundial. E o presidente decide pelo envolvimento do 49
Mesma data da formação primeira sociedade agrícola cooperativa, em União da Vitória - PR. Ao total foram 14 unidades cooperativas em todo o Estado do Paraná que funcionaram, de acordo com Wolodymyr Galat, na medida em que existiam incentivos governamentais para tal. Também foi formada nesse ano o Movimento Ucraniano das Mulheres do Brasil (que durou até 1964), que tinham papel importantíssimo na educação. Também em 1913 foi criado o “Conselho Escolar” 50
Em referência ao importante poeta, artista e humanista, que viveu de 1814 – 1861. 51
1912-1916
43
Brasil. A Guerra Mundial termina em 1918 e, apesar dos avanços industriais
proporcionados com o fim do conflito, a situação no Brasil não se acalma. Isso se
reflete nas organizações ucranianas. O Governo Federal começa a cercar as
instituições estrangeiras no país e institui em 1920 que escolas estrangeiras
deveriam ensinar Português e história do Brasil.
Por conta do contexto político brasileiro, não vemos nenhum movimento
significativo da comunidade ucraniana até 1922, com o surgimento da mais
importante organização de representação ucraniana, a União Ucraniana52, em União
da Vitório no Paraná. Em 1924 a União Ucraniana lança seu periódico, o Chliborob
(Lavrador), com publicações até os dias de hoje e estabelece em 1930 o início das
atividades do mais antigo grupo folclórico ucraniano no Brasil – Folclore Ucraniano
Barvinok. Entretanto, o ímpeto de crescimento foi desmotivado pelo governo
revolucionário de Getúlio Vargas(1930-1945), que começa a cercar os estrangeiros
no Brasil. Não que as organizações ucranianas tenham sido extremamente
atingidas, mas devemos registrar e, pelo contexto, acreditar que esse movimento
nacionalista ajudou no ostracismo vivido pelos grupos ucranianos no período. De
1924 a 1932 não temos nenhum movimento institucional dos ucranianos, apenas a
construção de algumas igrejas ortodoxas em Curitiba nos bairros do Portão e
Bigorrilho.
Em 1932 é construída uma escola primária em Curitiba. E dois anos depois se
instala o Seminário São Basílio em Curitiba, conhecido como Seminário de Batel53,
importante centro formador de religiosos. Em 1935 é construído outro seminário,
desta vez em Prudentópolis, com capacidade para 250 estudantes. Em contra
partida ao crescimento dos religiosos, no mesmo ano, a União Ucraniana é obrigada
o mudar o nome para escapar de possíveis perseguições e se torna União Agrícola
Instrutiva.
Em 1938, o governo proíbe a circulação de livros estrangeiros e obriga jornais
periódicos a publicarem apenas em português. A justificativa o programa de
nacionalização que temia pela formação de „brasileiros estrangeiros‟ em território
nacional previa evitar o resultado das escolas étnicas. Como explicita as palavras de
RENK sobre as escolas étnicas poloneses no Paraná: 52
A União Ucraniana é a primeira organização civil de ucranianos que faz questão de não se envolver em questões religiosas. Certificando no Estatuto da instituição a escolha pelo respeito e tolerância mútua a todos os credos, optando pela abstenção de qualquer escolha que possam influir na discórdia de sócios em decorrência das diferenças de credo. 53
Atualmente funciona como faculdade de Teologia e Filosofia.
44
Estes estudantes, descendentes de imigrantes, mantinham a memória da pátria de origem dos antepassados, que lhes era apresentada por meio dos ensinamentos na escola étnica. Identificavam-se estes alunos como poloneses nascidos no Brasil, estrangeiros em seu país de origem.(Renk, 2009: 70)
Assim, no ano seguinte o governo também força as cerimônias religiosas a
fazerem o mesmo. Em 1940, o jornal Prasia é proibido de circular. Mesmo período
que começa a Segunda Guerra Mundial(1939-1945). Um acontecimento marcante
do período da Segunda Guerra Mundial ocorreu em Prudentópolis que, de acordo
com relato de Dom Efraim Krevey, a Paróquia de São Josafat se saiu vitoriosa em
um processo judicial envolvendo o clube ucraniano, „Casa do Povo‟, readquirindo a
posse de seu terreno. Nas palavras de Dom Efraim:
Durante a II Guerra Mundial (1939-1945), no decorrer da política nacionalista do presidente Getúlio Vargas, esse Clube foi entregue pelas autoridades à sociedade local brasileira „Clube do Operário‟. Com o término da guerra(maio de 1945), a referida sociedade pensou em apoderar-se em definitivo desta importante propriedade histórica da comunidade ucraniana, mas em vão. Posteriormente, a antiga e já bastante desgastada construção foi demolida e em seu lugar edificado um novo, espaçoso e moderno prédio, que hoje é considerado como o melhor clube sócio-cultural de Prudentópolis, denominado „Clube Social XII de Novembro. (Krevey, 2009: 112)
A Guerra termina e termina também o governo de Getúlio Vargas, que sai
dando lugar à Eurico Gaspar Dutra e a República Nova. Muitas coisas mudam no
Brasil nesse período, uma nova constituição é promulgada, resgatando direitos
individuais.
O novo contexto brasileiro foi positivo no sentido que acabou impulsionando
novas atividades e instituições que contribuíram para o crescimento da etnia no
Brasil, entre os acontecimentos está a presença dos primeiros ucranianos na política
brasileira e a formação de novas organizações.
Os números podem nos ajudar a compreender o contexto que começaremos
a expor a partir da nova configuração na política brasileira. De acordo com
Boruszenko, a população de ucranianos e descendentes no Brasil está em torno de
500 mil pessoas54, sendo que 400 mil estão no Paraná. Número significante se
encontra na capital do Estado, Curitiba, que tem aproximadamente 55 mil pessoas
54
Dados de 1995.
45
(3% da população total). Entretanto, o maior percentual concentrado ainda se
encontra na região das ex-colônias de Prudentópolis (75% da pop. local), Mallet
(60%), Ivaí e Antônio Olyntho – Lapa (45 %), União da Vitória (25%), Rio azul (30%)
e outras com menor expressão.
3. UCRANIANOS EM CURITIBA
3.1IMIGRAÇÃO UCRANIANA EM CURITIBA
O número de colônias espalhadas pelo Estado mostra que os ucranianos têm
influência razoável no Paraná. Utilizando-se do mesmo indicador numérico, temos
que considerar a força da presença desse grupo na capital do Estado, Curitiba.
Atualmente os ucranianos são cerca de 3% da população curitibana, algo em torno
de 55.000 pessoas.
O surgimento de grupos ligados aos ucranianos na capital fez com que o
Governo do Estado e a Prefeitura de Curitiba reconhecessem a importância desse
grupo, marcando seu espaço através de leis de reconhecimento étnico55 e através
da construção de praças e monumentos em espaço público. Assim foram instituídas
a Praça da Ucrânia56 e o Memorial Ucraniano57 em Curitiba. Além de ter, como parte
do calendário regional o dia da memória ucraniana em Curitiba. Também foi
reconhecido pela Assembléia Legislativa o Holodomor58, importante momento da
história ucraniana.
55
Lei 14496 – 11 de agosto de 2004 institui que o Dia da Comunidade Ucraniana a ser comemorado é o dia 24 de agosto de cada ano. Sob o governo de Roberto Requião. 56
Demanda veio a partir das principais organizações ucranianas eram elas: Igreja Católica do Rito Oriental Ucraniano; Igreja Ortodoxa Ucraniana; Clube Ucraíno-Brasileiro e Sociedade dos Amigos da Cultura Ucraniana – que em conjunto com os então deputados estaduais Pe. Valdomiro Haneiko e Rafael Kulisky, conseguiram a oficilização da praça pelo prefeito Gen. Iberê de Mattos. Fonte: www.pessoal.utfpr.edu.br/zasycki/pracaucrania. Consulta no dia 02/12/2010. 57
Inauguração em 26 de outubro de 1995 no governo do prefeito Rafael Greca, em comemoração ao centenário da imigração ucraniana ao Brasil. 58
Holomodor é a fome artificial criada pela URSS na Ucrânia entre os anos de 1932-1933, matando diversas pessoas, principalmente crianças, aniquilando a força de uma geração.
46
O primeiro reconhecimento da comunidade ucraniana em Curitiba por parte
do governo veio na formalização da Praça da Ucrânia59, uma reinvidiação dos
principais órgãos de representação ucraniana de Curitiba e que tem em sua
localização uma importância histórica. A Praça fica no bairro do Bigorrilho e esse
bairro foi acolhedor dos ucranianos já em 1885, a região era conhecida na época
como Largo da Galícia. Porém, não foi apenas no Bigorrilho que os ucranianos se
instalaram. Existe presença marcante de ucranianos também nos bairros Vila
Guaira, Portão, Pinheirinho, Abranches e Fazendinha.
Cada bairro tem uma peculiaridade ligada a cultura ucraniana, símbolos que
marcam a presença desse grupo. Entre as peculiaridades mais marcantes temos:
festas ucranianas com trajes típicos na Vila Guaíra, que conta com a presença do
Grupo folclórico Poltava e a Catedral da Igreja Católica Ucraniana no Brasil. Além da
própria Catedral São João Batista que no ano de 1958 se tornou o espaço que
abriga a sede da Eparquia60 dos ucranianos católicos no Brasil.
Bairros como Portão e Bigorrilho também tem importância religiosa quando se
tornaram sede para as primeiras igrejas ortodoxas no Brasil(1931-1933)61. No
Abranches, fica a capela católica ucraniana mais antiga (1968). Outros bairros
guardam outras memórias. São Inúmeras pela cidade de Curitiba. Todas fruto de
influências diversas. Seja do governo brasileiro ou dos próprios ucranianos e
descendentes. O fato é que, com o passar do tempo, os ucranianos também
começaram a fazer parte do governo brasileiro.
Logo no ano seguinte, em 1946, elegem-se pela Assembléia Legislativa do
Paraná dois senhores que representavam a cultura ucraniana. Eram eles: Dr. Júlio
Buskei eleito pelo PRP(Partido da Representação Popular) e Dr. Pedro Firman Neto
que se elegeu pelo PSD(Partido Social Democrático). Pela força da presença
desses novos políticos, o fim da II Guerra mundial e a nova migração em massa
para o Brasil, ocorre em 1947 a retomada das atividades da União Agrícola
Instrutiva. Também em 1947 aconteceu, na sede da própria da União Agrícola
Instrutiva, a formação do grupo Sociedade dos Amigos da Cultura Ucraniana
(conhecida como TPUK). Em celebração aos 60 dessa instituição Mariano
59
A praça de Ucrânia era primeiramente na praça 29 de março, sendo transferida para a localidade atual pelo Prefeito Rafael Greca. 60
Unidade Territorial administrada por um bispo – Também chamada de Diocese, Bispado, Área Episcopal, Sede Episcopal e Eparca. 61
Ver anexo, figura 6.
47
Czaikowski, Cônsul Honorário da Ucrânia em Paranaguá, descreve no dia 20 de
outubro de 2007 o momento em que a organização se inicia:
Em 6 e 7 de julho de 1947 as lideranças da comunidade ucraniana no Brasil reuniram-se aqui em Curitiba, na Rua Visconde do Rio Branco, 557, esquina com a Rua Martin Afonso, na antiga sede da então União Agrícola Instrutiva, hoje Sociedade Ucraniana do Brasil. Reuniram-se no que chamaram “Всеукраїнський Конгрес в Бразиліі”, Congresso Panucraniano no Brasil, para debater os novos rumos da comunidade, agora já com novo alento, pois a partir de 1946 já era Presidente Eurico Gaspar Dutra, e as perspectivas para os estrangeiros começavam a melhorar. (Czaikowski, Discurso de Homenagem aos 60 anos do TPUK)
Nessa reunião se estabelece o início da Sociedade dos Amigos da Cultura
Ucraniana, notória instituição Ucraniana em Curitiba, que inicialmente se chamaria
„Representação Central dos Ucranianos do Brasil – Sociedade dos Amigos da
Cultura Ucraniana‟ e como uma de suas primeiras funções estabeleceu um
programa radiofônico com a finalidade de disseminar as problemáticas dos
ucranianos rapidamente – fato que propiciou a criação de uma biblioteca auditiva no
TPUK. A força empregada na consolidação da cultura ucraniana em Curitiba
iluminava um futuro promissor. Porém a sociedade civil não caminhou em direção ao
progresso, pelo menos no que diz respeito aos números.
Enquanto a igreja continuou fortificando e articulando suas bases.
Estabeleceu, como já dissemos, em 1958 a Catedral São João Batista, sendo
escolhida como sede da Eparquia dos Ucranianos Católicos do Brasil em 1972,
mesmo ano da consagração de Dom Efraim Krevey para o posto de Bispo coadjutor.
O fato mais marcante ocorre 6 anos depois, quando Dom Efraim Krevey assume os
encargos da Eparquia.
Dom Efraim Krevey foi extremamente ativo em sua gestão, que motivada pelo
Milênio do Catolicismo na Ucrânia(1988), incentivou a criação de diversos grupos
religiosos e artísticos. Entre a construção de dezenas de novas igrejas e a formação
de novos párocos, a Igreja Católica Ucraniana criou e ajudou na manutenção de
notórias instituições como o Centro Cultural para Jovens Ucranianos Católicos e o
Centro Religioso-Cultural Poltava.
Na mesma época em que assumiu Dom Efraim Krevey, em 1977 a igreja
ortodoxa também se movimenta. Assumi a função de administrador para o Brasil o
protopresbítero Nicolas Milus, que reorganiza as paróquias e reativa grupos
48
importantes como a União das Irmandades Femininas e a Liga da Juventude
Ortodoxa Ucraniana.
Era um momento de re-organização da sociedade ucraniana no Paraná. E a
sociedade civil concretiza um sonho. As principais organizações de representação
ucraniana do Paraná se juntam para oficializar um novo grupo de organização
ucraniana. Assim surge em 1985 a Representação Central Ucraina-
Brasileira(RCUB). A RCUB surge com o propósito de representar organizações da
etnia ucraniana frente a outras organizações, governo nacional do Brasil e governo
nacional da Ucrânia. Com isso, novas possibilidades se abrem.
Em 1991 a Ucrânia conquista a independência. Na mesma data é
comemorado o centenário da imigração ucraniana ao Brasil e em comemoração a
cidade de Curitiba ganha o memorial ucraniano, no parque Tinguí, que só é
inaugurado em 1995. Na mesma onda de celebrações o governo brasileiro fecha
acordos econômicos com o governo ucraniano e estabelece um protocolo de
cooperação entre a Universidade Federal do Paraná e a Academia de Ciências da
Ucrânia. Outra forma de comemoração é a oficialização do Museu-Biblioteca
Ucraniano com sede na União Agrícola Instrutiva em 1992.
Politicamente, em 1991, o governo do Estado do Paraná oficializa o idioma
ucraniano como disciplina obrigatória, no lugar do Inglês ou Francês em lei Estadual
(Boruszenko, 1995: 22). Quatro anos mais tarde se instala em Brasília a Embaixada
da Ucrânia e, em Curitiba, ocorre a semana da Ucrânia, na extinta Rua 24horas.
Nos últimos 10 anos, muitas atividades foram feitas pela comunidade ucraniana de
Curitiba, mas nenhuma com proporções tão grandes quando a celebração que
ocorrerá em 2011, e que todas as organizações ucranianas estão participando.
A preocupação de todas as instituições ucranianas está em torno dos
preparativos dos 120 anos da imigração ucraniana para o Brasil. Muitas ações já
estão planejadas e quase todos os eventos de 2010 levaram o selo de celebração
dos 120 anos. Estão sendo planejas atividades de intercâmbio cultural e acadêmico,
ao mesmo tempo em que os governos esperam triplicar o valor do comércio entre os
dois países.
49
3.2 AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES UCRANIANAS EM CURITIBA
As organizações ucranianas surgiram quase em sincronia com a chegada de
seus imigrantes. As primeiras organizações estavam intimamente ligadas com a
igreja, e muitas continuam até os dias de hoje. A igreja teve e tem importância
organizacional na vida dos imigrantes. Parece que a demanda inicial por clérigos da
igreja católica de rito oriental foi especialmente encomendada para iniciar essa
organização, que entre outras possibilidades surgiu em resposta à falta de infra-
estrutura encontrada no Brasil.
O fato é que o habito de organizar a vida tomou conta dos imigrantes, que até
os dias de hoje fazem surgir centros que representam a cultura ucraniana. Sendo o
advento da internet uma importante ferramenta nesse sentido.
O aparecimento da comunidade ucraniana enquanto grupo organizado surgiu
logo após o inicio da migração desses imigrantes para o Brasil. A primeira instituição
que temos registro na capital paranaense é a sociedade Prosvita de Curitiba em
1898. A Prosvita, como disse anteriormente, tinha forte influência da Igreja Católica
de rito oriental e o foco dessa instituição era educacional e instrutiva, com muitos
padres como coordenadores. Do que temos registro, o grupo realizou cursos de
artes e literatura, organizou a 1º Escola Ucraniana e montou uma biblioteca, também
tinha reuniões periódicas chamadas grupos de leitura, que não passavam de
reuniões em que os ucranianos discutiam a política local e a situação de seus
descendentes na Ucrânia. Além disso, também criou um sub-grupo interno chamado
de Movimento Ucraniano Feminino do Brasil62, que tinha por finalidade lapidar um
olhar mais cuidadoso sobre a situação da educação dos ucranianos. A Instituição
Prosvita era muitas vezes chamada de Sociedade Tarás Chevtchenko, em
homenagem ao saudoso humanista ucraniano. Entretanto, não existem registros que
a Prosvita de Curitiba era reconhecida por essa denominação63.
Em 1902 foi construída a primeira Paróquia de Curitiba, foi a Igreja Ucraniana
Nossa Senhora Auxiliadora, que contou com a participação de muitos imigrantes na 62
Muitas mulheres ucranianas se tornaram educadoras, também eram responsáveis em gerir a casa e cuidar dos filhos. 63
Um possível resquício dessa organização pode ser encontrada na Sociedade Ucraniana do Brasil(SUBRAS), que anexou esse grupo a sua organização em 1934. Entretanto, de acordo com o Estatuto da SUBRAS a Sociedade Taras Chevtchenko havia sido fundada em 1908. A hipótese é que a sociedade Prosvita tenha assumido um novo nome em 1908, sendo incorporada pela SUBRAS em 1934, quando essa se transferiu para Curitiba.
50
sua construção e que até os dias de hoje reúne imigrantes ucranianos nas missas
de domingo.
Com a formação dos grupos de leitura, a sociedade ucraniana via a
necessidade de circular suas informações, principalmente sobre a situação das
diferentes colônias de imigrantes que se situavam no interior do Paraná. Foi quando
em Curitiba a sociedade Prosvita organizou o primeiro periódico que se tem registro
na cidade, o Zória (1907), sendo seu primeiro redator o médico ucraniano Stephan
Petrysky, que iniciou sua produção bissemanal com uma tiragem de 500
exemplares. O número era reduzido, porém naquela época a realidade era outra,
poucos imigrantes sabiam ler e escrever. Sendo assim, a produção dos periódicos
era destinada principalmente nos grupos de leitura das Prosvita, espalhadas pelo
Estado do Paraná.
Foi através do jornal que a Prosvita de Curitiba organizou toda a comunidade
ucraniana para o 1º Congresso Ucraniano no Brasil, realizado em Curitiba no ano de
1910. O congresso tinha como principal objetivo a formação de uma representação
central, que defendesse os interesses dos ucranianos frente ao governo federal. Por
divergências, o projeto não saiu do papel.
No mesmo ano de 1910, o periódico Zória conheceu o seu fim.
Proporcionando o surgimento de outros jornais, ambos produzidos pelos padres
basilianos. São eles, o Prapor e o Missionar. O Prapor começou a ser produzido em
Curitiba mas alguns meses depois sua produção foi transferida para Prudentópolis,
onde realmente parecia ter mais razões de circular devido a concentração de
imigrantes ucranianos. Novos períodos surgiram ao mesmo tempo, todos com a
organização da Igreja. Em 1911 os mesmos padres basilianos organizaram o
Missionar, já em Prudentópolis64.
Após o aparecimento desses jornais em 1911, não temos mais registros
ligados ao surgimento de organizações da etnia ucraniana. Lembrando que em 1914
começa a 1º Guerra Mundial situação de alerta em relação aos imigrantes em
território brasileiro e começam a aparecer leis de obrigatoriedade de ensino do
português e da história do Brasil em escolas estrangeiras.
Em 1930 tem início na União Agrícola Instrutiva o grupo de dança folclórica
Barvinok, o mais antigo representante da dança na etnia ucraniana. Apesar de ter 64
Além de estar mais perto dos imigrantes ucranianos, a produção dos jornais Missionar e Prapor se transferiram para Prudentópolis por conta do advento de uma nova companhia gráfica, fundada pela Associação de São Basílio Magno. O Pracia também era produzido pela mesma gráfica. Fonte: Histórico da Gráfica Prudentópolis.
51
inicio em 1930 o grupo Barvinok só é oficializado em 1959, com o Festival Folclórico
e de Etnias do Paraná65.
Entre 1931 e 1934, os bairros do Portão, Bigorrilho e Batel são escolhidos
para abrigar organizações religiosas. Portão e Bigorrilho ganham novas igrejas
ortodoxas enquanto no Batel é construído o seminário São Basílio, local formador de
religiosos e que atualmente abriga uma faculdade de teologia.
Em mais uma contenção de ameaças o Brasil foca sua atenção aos centros
estrangeiros no país, principalmente os Alemães. Os ucranianos continuam se
organizando e em 1934, em uma tentativa de centralizar e fortificar suas forças, a
organização União Ucraniana (fundada em 1922 em União da Vitória) se transfere
para Curitiba com todos seus grupos, incluindo a produção de um Jornal – o
Labrador. Uma hipótese dessa transferência para a capital Paranaense é a tentativa
de aproximação com o Governo do Estado e o afastamento das influências
religiosas, porém não existe nada documentado nesse sentido. Nessa mudança a
União Ucraniana se incorpora a Sociedade Tarás Chevtchenko, assumindo seus
membros, sócios e patrimônios.
Em 1935, devido a intensificação da fiscalização sobre os estrangeiros, a
União Ucraniana muda seu nome social para não sofrer retaliações66 e sua razão
social vira União Agrícola Instrutiva. A natureza do nome, ligado a agricultura, pode
encontrar explicação na atuação econômica que a maioria dos ucranianos estavam
envolvidos, a agricultura. Na época existiam cerca de 14 cooperativas agrícolas pelo
estado do Paraná e, de acordo com entrevistas que realizei com membros da atual
SUBRÁS, a União Agrícola Instrutiva havia boa relação com a Secretária de
Agricultura do Estado do Paraná, sendo um de seus secretários a figura pública de
Pedro Firman Neto, também eleito o primeiro representante da cultura ucraniana na
Assembléia Legislativa do Paraná.
O plano de nacionalização proibiu que as pessoas falassem o idioma
estrangeiro nas ruas, também tiraram os livros estrangeiros de circulação, o que
praticamente decretou o fim das escolas estrangeiras no Paraná.
Com o final da 2º grande guerra o governo de Gaspar Dutra permite a volta das
manifestações étnicas e assim a União Agrícola Instrutiva retoma suas atividades e
chama um congresso para (re)definir coordenadas. E no congresso, realizado na 65
Um dos maiores festivais de Estado do Paraná com realizações anuais até os dias de hoje. O evento a maioria dos grupos folclóricos ucranianos do Brasil. Em 2010 o evento fez aniversário de 49 anos de sua primeira edição. 66
Já que era uma obrigação em lei dos decretos nacionalizadores de Vargas.
52
sede da União Agrícola Instrutiva, foi buscada novamente a centralização da
representação dos ucranianos. Eis que é fundada a Sociedade dos Amigos da
Cultura Ucraniana, o TPUK. Essa instituição surgiu com o objetivo de resgatar e
manter os valores da cultura ucraniana, patrocinando quando possível e auxiliando
de toda forma, apresentações, cursos, palestras ou eventos que mostrassem a
cultura ucraniana ou promovessem o debate sobre.
O TPUK funciona até os dias de hoje e continua com o mesmo propósito tanto
que ganhou um edital federal e foi escolhido com Ponto de Cultura pelo ministério da
Cultura. Assim consegue um financiamento extra para patrocinar as atividades que
se propõem.
Após a criação do TPUK, a etnia ucraniana descansou sobre um período
estagnação generalizada. Não aconteceram mais criações de instituições e também
não foi feito nenhuma evento que tenha modificado as bases de atuação dos
ucranianos no Brasil. Foi que Dom Efraim Krevey assume os encargos da Eparquia
em 1978. O mandato (se é que podemos chamar assim) de Dom Efraim Krevey a
frente da Eparquia trouxe uma nova dinâmica para os ucranianos em relação a
atuação da igreja. No ano seguinte, por coincidência ou não, os ortodoxos também
convocam reunião para sua reorganização. O resultado para os ortodoxos foi a
criação de dois grupos, um de mulheres e um de jovens. A União das Irmandades
Femininas e a Liga da Juventude Ortodoxa Ucraniana.
Enquanto a sociedade religiosa se mexia, a sociedade civil não ficava atrás.
Em 1981, quando jovens e senhores sentiam que era necessário outro grupo
folclórico em Curitiba, algo que tivessem mais proximidade e afinidade, foi criado o
Poltava. Grupo folclórico de dança Ucraniana que logo em seu início teve auxilio da
Igreja Católica Ucraniana para se estruturar. De acordo com entrevistas que realizei,
era a própria Igreja Católica Ucraniana a maior envolvida e interessada na criação
do grupo folclórico. Gostariam de ter um grupo de dança e música ucraniana que
tivesse mais ligação com o lado religioso. A sede do Poltava fica ao lado da sede da
Eparquia, em frente a Catedral São João Batista, na Vila Guaira.
É no ano de 1985 que a comunidade ucraniana enfim ganha uma
representação central. Com que em resposta à sociedade religiosa, a organização
civil ucraniana enfim funda em Curitiba a Representação Central Ucraina-Brasileira,
em presença de diversas entidades como a União Agrícola Instrutiva, a AJUB –
53
Associação da Juventude Ucraíno-Brasileira67, a Sociedade Ucraíno-Brasileira
Unificação (grupo ucraniano de São Paulo), o Clube Ucraíno-Brasileiro e o TPUK.
Atualmente o TPUK é a sede da Representação Central Ucraíno-Brasileira. A
representação central reúne todas as organizações ucranianas no Brasil e em
Curitiba são apenas três delas: O TPUK, o Centro Religioso Cultura Ucraniano
Poltava e a SUBRÁS.
A comunidade ucraniana alcança a marca de 100 anos de sua primeira
migração em 1991, ao mesmo tempo em que o país alcança sua independência. A
data de 24 de agosto (dia da independência da Ucrânia) fica marcada na história do
Paraná em lei e a comunidade ganha do então Prefeito Rafael Greca o Memorial
Ucraniano no Parque Tinguí.
Um ano após o centenário da imigração ucraniana para o Brasil, a União
Agrícola Instrutiva inicia o Museu-Biblioteca da cultura ucraniana, permanentemente
aberto para utilização da sociedade Ucraniana. A construção do Museu-Biblioteca foi
realização de uma das ações da Organização Feminina68, que também era
responsável por divulgar o idioma ucraniano e cuidar de questões relativas a
educação.
Acontece em Curitiba a Semana da Ucrânia em 1995. Nessa data é que é
finalmente inaugurado o Memorial Ucraniano iniciado em 1991. Além do Memorial
acontece uma série de eventos na Rua24h, freqüentado ponto turístico de Curitiba
nos anos 90. Na mesma época instala-se em Curitiba o Consulado ucraniano,
criando um elo permanente entre sociedade ucraniana e a Ucrânia.
Após a instalação do consulado a União Agrícola Instrutiva deixa a razão
social para trás e passa a se chamar Sociedade Ucraniana do Brasil - SUBRÁS. A
mudança de nome veio no sentido de adequar-lo mais ao momento vivido pela
instituição, modernizar-la e ao mesmo tempo atrair interessados.
Dez anos depois o Governo do Brasil, sanciona a lei 12.209 que Institui o dia
24 de agosto como o Dia Nacional da Comunidade Ucraniana no Brasil,
reconhecendo e fortificando os laços entre as duas nações justamente à meados da
67
A AJUB é uma organização de jovens criada em 1982 no advento do quarto Congresso da Juventude Ucraino-Brasileira. Esse grupo se caracteriza pela ausência de sede, não tem vinculo com cidade, igreja ou qualquer outro tipo de grupo. O grupo é gerido por uma comissão organizadora eleita através de suas organizações. O atual presidente se chama Felipe Melnyk Oresten e pertence ao Grupo folclórico Barvinok. Assim sendo, é o Barvinok que organiza os principais eventos da AJUB. 68
Havia Também os departamentos de Cultura e o Lítero-Esportivo. Todos esses tinham eleições a parte da organização geral da União Agrícola Instrutiva.
54
imigração ucraniana completar 120 anos de seu inicia. 2011 também têm o peso de
significar 20 anos de independência para a Ucrânia.
3.3 DO SURGIMENTO DAS ORGANIZAÇÕES À CONFIGURAÇÃO ATUAL
Atualmente Curitiba apresenta diversas formas de manifestação de
representação da cultura ucraniana. Essas manifestações são vistas enquanto
organizações que variam em forma de sua organização estatutária, de interesses e
de participantes. Alguns grupos possuem uma importância maior e tem a
notoriedade por entre os imigrantes ucranianos e pessoas de fora da cultura
ucraniana. A dimensão dessa representação, que será aqui apresentada na forma
de números, serve como parâmetro para termos idéia do contingente populacional
que cada manifestação pode representar. Não pretendo a partir do levantamento
numérico fazer qualquer análise mais aprofundada sobre os números. Apenas
problematizarei a situação atual a partir dos mesmos.
A fim de facilitar o entendimento de todos, as organizações foram separadas
em sub-grupos e esses serão introduzidos brevemente seguidos pela apresentação
das organizações uma por uma. Os sítios da internet possuem seção especial, por
se tratar de outro tipo de interface de relacionamento com o público, o que não cabe
dissertar agora. De qualquer forma, os sítios extrapolam o recorte escolhido pelo
trabalho que é estudar os ucranianos em Curitiba. Sua condição de não-
territorialidade amplia o significado da representação ucraniana, que tem mais da
metade de sua população total brasileira no Estado do Paraná.
Além da variável de territorialidade, também foi notada a condição de
manutenção e alimentação dos sítios e web blogs. Sítios e web blogs que não foram
atualizados até julho de 2010, não entraram na listagem, mesmo tendo informação
pertinente sobre a cultura ucraniana. A justificativa para o (re)corte é a falta de novas
informações e o conseqüente abandono, tanto por parte dos administradores quanto
por parte dos leitores, que implicaria na total ausência de acessos o que tornaria o
instrumento sem propósito.
55
Vale pontuar que minha pesquisa não encontrou nenhuma instituição de
ordem meramente esportiva da cultura ucraniana, apenas grupos esportivos dentro
do setor de jovens, que não tiveram atuação marcante.
3.3.1 ORGANIZAÇÕES DE REPRESENTAÇÃO DA CULTURA UCRANIANA
3.3.1.1 ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS
Igreja Católica Ucraniana do Brasil – Início em 1896
Primeiramente, a organização mais notória para a imigração ucraniana ao longo de
toda história desse grupo no Brasil, a Igreja Católica Ucraniana. Enquanto grupo
religioso, a igreja católica ucraniana possui ampla influência em terras paranaenses
e, mesmo em tempos modernos, vem se expandindo para novos bairros da capital
paranaense e para cidades no interior do Estado, aumentando ainda mais seu
campo de atuação. Um dos grandes responsáveis pela manutenção desse
crescente expansionista nas últimas décadas é o Bispo Emérito Dom Efraim Krevey.
Na figura de Dom Efraim a igreja ucraniana ampliou o número de templos e de
religiosos, mesmo em tempos de retração da Igreja Católica no Brasil. Sua história
no país começa logo em 1886 e atualmente defende números ostentosos, sendo a
maior organização comunitária de cunho religioso e cultural entre os ucranianos.
São 25 Paróquias e 235 igrejas em todo o Estado. E cerca de 10 milhões de fieis ao
redor do mundo, sendo a grande maioria dos imigrantes participam dessa
congregação religiosa. A Igreja Católica Ucraniana do Brasil possui templos em
quase todos os bairros de Curitiba, principalmente os que congregam descendentes
dessa etnia. Mas temos que lembrar que, inicialmente a Igreja Católica Ucraniana
construiu sua força no interior do Estado.
Igreja Ortodoxa Ucraniana do Brasil – Início em 1930
A outra organização religiosa ucraniana, a Igreja Ortodoxa Ucraniana do Brasil
possui dados mais humildes, porém não menos expressivos na cidade de Curitiba
quando se trata da ocupação do território. Os primeiros bairros que receberam
imigrantes na cidade foram Bigorrilho e Portão. O Bigorrilho também chegou a ser
56
conhecido com Largo da Galícia, em alusão à origem desses imigrantes. Outro
nome que foi utilizado para o Bigorrilho foi Bukovyna, também em consideração a
origem dos imigrantes que ocupavam a área. A Bukovyna era a região onde se
concentravam em maior número de fieis da Igreja Ortodoxa, maior congregação
religiosa da Ucrânia. E na Galícia eram católicos. De acordo com entrevistas
realizadas (não existem números para isso) a maioria dos imigrantes católicos foi
para o interior do Estado, enquanto os Ortodoxos ocuparam Curitiba. Como o
número de fieis ortodoxos não era muito expressivo, eles não tiveram tanta
ascensão quando a Igreja Católica Ucraniana. São 18 igrejas ortodoxas no Brasil,
grande parte em Curitiba.
3.3.1.2 ORGANIZAÇÕES CIVIS
SUBRÁS – Fundada em 1922
A Organização civil com maior importância em Curitiba é, sem sombra de dúvidas, a
Sociedade Ucraniana do Brasil – SUBRÁS. Tem uma história riquíssima e está
envolvida em quase todas as manifestações da cultura ucraniana no Brasil. Desde
sua transferência para Curitiba a SUBRÁS foi responsável por inúmeros congressos,
cursos, eventos, estratégica e organizativamente esteve presente na formação de
outros centros de referencia para a comunidade ucraniana como o TPUK e a RCUB.
Além de ser criadora do Barvinok69(1º grupo folclórico ucraniano do Brasil e que
internamente tem uma orquestra de musica ucraniana), do Grupo de Jovens Lítero-
Esportivo, Organização Feminina, o Museu Ucraniano e cursos de línguas.
Atualmente a SUBRÁS possui cerca 300 membros entre pessoas e instituições, seu
corpo administrativo é composto por 25 pessoas, regidas por um estatuto que
acompanha a instituição desde sua criação. A rotatividade de seu corpo
administrativo é bianual. A SUBRÁS é membro da RCUB.
Seu financiamento se dá através do aluguel de imóveis. A SUBRÁS loca seu espaço
para terceiros e assim paga seus tributos. Também esporadicamente recebe
donativos de sócios ou pessoas próximas do grupo. A SUBRÁS ainda produz seu
69
O Barvinok participa de todas as apresentações de dança étnica e culturais de Curitiba, algumas dos Paraná e do Brasil também. Já foi convidado especial em uma série de eventos de dança e cultura ucraniana pelo mundo.
57
periódico, o boletim informativo O Labrador, que sobrevive por meio de donativos e
das propagandas que carrega. Sua produção impressa é de 50 cópias e seu
conteúdo é espalhado pela internet através de newsletters para os membros da
SUBRÁS.
Sociedade Amigos da Cultura Ucraniana TPUK – Fundado em 1947
O TPUK é um grupo destinado a resgatar e manter a cultura ucraniana. Foi criado
como um grupo de cultura e se mantêm assim até os dias de hoje. Possui cerca de
90 membros e tem presente em seu estatuto a rotatividade de seu corpo
administrativo. O atual presidente está em seu segundo mandato, é Marcos Nogas,
neto de um dos fundadores do grupo. Marcos Nogas também é membro da RCUB e
faz parte da comissão de organização para celebração dos 120 anos da cultura
ucraniana no Brasil.
O TPUK se tornou ponto de cultura através do editar aberto pelo ministério da
cultura no ano passado. Tornou-se um centro de referência para a manutenção da
cultura ucraniana no Brasil. A participação do TPUK se faz através da promoção de
cursos, congressos e palestras.
O TPUK também possui um grande acervo de livros e músicas em ucraniano. Além
de disponibilizar de material para cursos de língua ucraniana, anteriormente
orientado pelo senhor Wolodymyr Galat, atual secretário do TPUK e da RCUB.
Atualmente o financiamento do TPUK é o objeto de trabalho da instituição. O que
existe atualmente é uma renda que vem através da locação de um imóvel próximo a
Praça da Ucrânia. A instituição estuda novas possibilidades de investimento visando
a venda do imóvel que atualmente locam.
Grupo Folclórico Ucraniano Poltava – Fundado 1991
O Grupo Folclórico Ucraniano Poltava tem ótima reputação enquanto organização
social. Possui uma ampla base de jovens a qual ensina dança, musica e promove
cursos. O Poltava surgiu como uma ferramenta da Igreja Católica Ucraniana do
Brasil, que na figura de seu Bispo, Dom Efraim Krevey, organizou pessoas a fim de
criar um grupo de música e dança que prestasse mais atenção a religião. A missão
de Dom Efraim foi extremamente bem sucedida e atualmente o Poltava conta com
uma escola de dança infanto-juvenil, um coral, uma orquestra e um grupo de
banduristas.
Uma especificidade do Poltava é sua comunicação virtual e jovem. O grupo possui
um sítio muito atrativo e seu presidente Carlos Valdir Henze Junior é extremamente
58
solícito para perguntas e dúvidas de qualquer interessado. A administração do grupo
é bianual e é escolhida por votação, como diz seu estatuto. O Grupo Poltava é o
mais jovem grupo de cultura ucraniana de Curitiba e tem boa relação com o TPUK.
Representação Central Ucraniana Brasileira – Fundada em 1985
A RCUB é a mais nova organização ucraniana presente em Curitiba. A RCUB é um
antigo sonho da comunidade ucraniana no Brasil que só foi possível em 1985.
Muitos fatores ajudaram para a concretização desse sonho, um deles foi a
emergência de atrair pessoas que quisessem se aproximar com a cultura ucraniana.
A assimilação por parte dos ucranianos na cultura brasileira foi afastando-os
gradativamente da cultura originária de seus pais e avós. Tirando os que ainda
vivem em colônias pelo interior do Paraná, poucos jovens da capital sabem o idioma
ucraniano. A prova maior disso foi a medida de Dom Efraim Krevey em que traduziu
a liturgia para o Português no início dos anos 90, com a permissão da Eparca
(Boruszenko, 1995: 29).
A RCUB é o resultado da somatória de forças da união civil e religiosa a fim de
fortificar a cultura ucraniana e brigar por melhorias e reconhecimento desse grupo no
cenário paranaense e nacional. Umas das ações da RCUB, além de representar
interesses empresariais e comerciais, é a aproximação com indivíduos através da
produção de carteiras70 de nacionalização ucraniana. Essas carteirinhas servem
como identidade para os descendentes de ucranianos visitarem a Ucrânia e
tentarem trabalhar e viver por lá sem a necessidade de visto ou qualquer outra
instancia burocrática. A carteirinha é a carteira de identidade e a carteira de trabalho
na Ucrânia. Para os governos de Brasil e Ucrânia, essa é a única possível para que
os descendentes de ucranianos no Brasil possam interagir com facilidade na
Ucrânia, uma vez que a Ucrânia não autoriza em sua constituição a dupla cidadania.
A produção das carteiras é a única fonte de renda da RCUB, que também deveria
depender de contribuições mensais de organizações filiadas, mas isso não
acontece.
Para confecção das carteirinhas a RCUB depende do Consulado da Ucrânia em
Curitiba, que na figura da senhora Larisa Myronenko, tem auxiliado não apenas a
RCUB, mas todas as instituições que tem ligações com a cultura ucraniana na
70
Ver anexo, figura 10.
59
cidade. A RCUB não possui sede própria, atua nas dependências do TPUK, e o
secretário do TPUK é o mesmo da RCUB, senhor Volodymyr Galat.
A RCUB é a organização que tem maior interesse na comemoração dos 120 da
migração ucraniana para o Brasil. Da mesma forma que o Milênio do Cristianismo na
Ucrânia e o Centenário da Imigração Ucraniana para o Brasil trouxeram mudanças
para o cotidiano dos ucranianos, a comemoração do próximo ano, os 120 anos da
Imigração Ucraniana também pode trazer. E a RCUB quer aproximar descendentes
e interessados à comungar nesse momento.
A RCUB é regida por um estatuto presente desde sua fundação e que prevê
eleições bianuais. A RCUB têm como atual presidente Vitório Sorotiuk, que foi eleito
para o biênio 2009-2010 e que atualmente está em seu segundo mandato.
A RCUB também apóia a iniciativa privada interessa em fazer negócios com a
Ucrânia, e vice-versa71.
3.3.2 MANIFESTAÇÕES NA INTERNET
Uma importante ferramenta nesse sentido são os aglomerados virtuais. São eles os
responsáveis em dar informação à aqueles que utilizam-se da internet. Através
desses grupos os indivíduos podem interagir com mais facilidade, conseguindo
informações precisas, que os levam diretamente aquilo que desejam. Abaixo vemos
uma lista dos mais importantes blogs, sítios e comunidades em sítios de
relacionamento que estão na internet, quantificados a fim de expor sua dimensão e
campo de atuação.
3.3.2.1 BLOGS
Sombra Ucraniana
http://sombra-ucraniana.blogspot.com/ Blog com informações e comentários sobre a
cultura ucraniana. Possui nove seguidores e diversos links.
71
Ver um exemplo de auxílio no anexo 11.
60
Guto Pasko http://gutopasko.blogspot.com/ Blog do diretor do filme Made in Ucrania
onde ele conta relatos sobre suas viagens, atualmente na Ucrânia. Possui 15
seguidores.
Kalena – Arte do sul trazida da Europa
http://kalena-artedosultrazidasdaeuropa.blogspot.com/ Blog que contêm informação
de diversa culturas européias, em especial a ucraniana. Blog com 67 seguidores e
muitos links.
3.3.2.2 SÍTIOS NA INTERNET
Portal Ucraniano
http://www.pessoal.utfpr.edu.br/zasycki/index.html
Sitio bem harmonizado, que traz muitas informações e utilidades para quem tem
interesse sobre a cultura ucraniana. Tem uma média de 40 visitas ao por dia. Gerido
por um autor interessado, sem instituições por trás.
Representação Central Ucraino-Brasileira
http://www.rcub.com.br/index.php. Sitio da RCUB que tem muitas informações sobre
a Ucrânia. O sítio funciona como um centralizador de interesses e informações. Não
tive acesso ao número de usuários diário.
Grupo Folclórico Poltava
http://www.poltava.com.br/index.php?edicao_id=1&menu_id=57. Sitio com
informações sobre o grupo de dança. O sítio também traz muitos links de outros
grupos folclóricos, instituições e blogs da cultura ucraniana.
Grupo Folclórico Barvinok
http://www.barvinok.com.br/Contato.htm Sítio destinado a prestar informações sobre
o grupo de dança.
61
Embaixada da Ucrânia em Brasília http://www.mfa.gov.ua/brazil/port/18151.htm O
sítio traz todas as informações burocráticas necessárias à aqueles que desejam
estabelecer algum tipo de relação com a Ucrânia
Sociedade Ucraniana do Brasil http://sociedadeucraniana.com.br/Subras.aspx
Sítio da SUBRAS que contêm algumas informações sobre o histórico da instituição e
a integra a edição do mês do Jornal Labrador.
3.3.2.3 COMUNIDADES EM SÍTIOS DE RELACIONAMENTO
No facebook – Comunidades
Ucrânia – 50 membros
No Orkut – Comunidades
Brasil-Ucrânia – 4733 membros
Barvinok – 500 membros
Descendentes de Ucranianos BRA– 2613 membros
Ucranianos – 2439 membros
Poltava – 218 membros
Descendentes de Ucranianos – 999 membros
Ucrânia – 321 membros
Ucranianos no Paraná – 310 membros
Made in Ucrania – 169 membros
Nós somos ucranianos – 40 membros
62
3.4 UCRANIANOS EM CURITIBA HOJE. DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Quando iniciei minha pesquisa de monografia, lembro-me bem de um dos
momentos mais marcantes e significativos para mim. Na verdade, foi o momento em
que realmente decidi estudar ucranianos no Paraná.
Fui convidado a assistir a uma palestra sobre as diferenças da cultura
ucraniana nos descendentes no Canadá e no Brasil. A palestra foi feita em língua
ucraniana72, com a tradução simultânea para o Português e ocorreu no TPUK, sendo
o palestrante o senhor Andriy Nahachewsky73, professor da Universidade de Alberta,
Canadá. Nahachewsky também é pesquisador de um dos mais renomeados centros
de estudos sobre cultura e folclore ucraniano no mundo e veio ao Brasil para
pesquisar as colônias e a reprodução dos rituais ucranianos no Brasil. Com o
resultado empírico levantado por Nahachewsky a pesquisa traçou um comparativo
entre as danças típicas ucranianas dançadas no Canadá e as dançadas no Brasil.
Também aproveitou para fazer uma leitura dessa situação.
De acordo com Nahachewsk, os descendentes de ucranianos no Brasil e no
Canadá se comportam de modo diferente e isso está condicionando as
possibilidades para o futuro deles. O pesquisador embasa suas críticas às
características históricas que condicionaram os comportamentos de cada grupo em
cada país, ponto que não vou entrar agora. O fato é que na conclusão da palestra
Nahachewsky disse coisas que muitos não gostaram, mas que a sociedade
ucraniana está enfrentando atualmente. É a falta de produção de imigrantes. Com a
falta de produção de imigrantes, as instituições criadas por esses imigrantes têm que
se re-significar. Caso isso não ocorra, o provável destino da instituição é o
desaparecimento por falta de membros. Isso porque os participantes não são mais
imigrantes, mas descendentes e isso faz muita diferença.
O que perturbou à quase todos os presentes, a maioria idosos, foi a frieza
com que o pesquisador demonstrou sua sobriedade no assunto. Disse
categoricamente que os grupos ucranianos no Paraná deveriam mudar, se
modernizar, ou não estariam mais com atuação significativa no futuro próximo.
Porém, a modernização é uma linha tênue entre o isolamento do resto da sociedade 72
Detalhe, dos + - 100 ouvintes no TPUK, eu era o único que não compreendia o ucraniano e por esse motivo, a tradução simultânea foi especialmente endereçada a mim. 73
http://www.humanities.ualberta.ca/mlcs/staff-nahachewsky.htm
63
civil brasileira ou sua completa diluição. De acordo com pesquisador, a diluição é
gradativa e natural, fruto do processo de assimilação e os representantes da cultura
ucraniana no Brasil não deveriam ficar assustados com esse processo, mas sim com
o congelamento do processo de transformações internas do grupo.
O pesquisador terminou sua fala ilustrando sua idéia. Pediu para que todos
comparassem a cultura ucraniana a um banquete e fez com que imaginássemos que
cada prato do banquete fosse um elemento da cultura ucraniana. Assim, concluiu
dizendo que os grupos ucranianos devem aceitar que os „clientes‟ que participem do
banquete cultural sirvam-se apenas dos pratos da cultura ucraniana queiram, sem
participar de todos os grupos.
O que Nahachewsky disse aquele dia é o grande desafio da comunidade
ucraniana atualmente. Tem que se re-significar, só assim conseguirão renovar-se na
medida necessária para que seus grupos continuem atuando e se desenvolvendo.
De todos os grupos que pesquisei não existe nenhum que atualmente conta com
eleições disputadas para os cargos de diretoria. Pelo contrário, as organizações
lutam para encontrar interessados. Primeiramente porque os cargos são voluntários,
os eleitos não recebem honorários para exercer a função. E em segundo lugar
porque a administração de instituições culturais que
não tem renda que permita expansão e
desenvolvimento significa, administrar para existir e
isso é um trabalho muito duro. E de fato todos
aqueles envolvidos em cargos de liderança dessa
comunidade são visivelmente apaixonados pelo que
fazem e observam aí muita razão para atuar.
De acordo com Marcos Nogas, presidente do
TPUK e membro da RCUB, a comunidade ucraniana
de Curitiba nunca elegeu um representante político
para instituições governamentais. O que mostra a
falta de coesão desse grupo na capital paranaense.
Devidamente assimilada a sociedade curitibana, os ucranianos enfrentam
diversos dilemas. O objetivo do grupo é crescer, preservando as características que
os fazem pertencer a um grupo. Para se desenvolver os ucranianos precisam da
ajuda de pessoas que se identifiquem com a cultura, seja descendente ou não, o
cartaz (ao lado) ilustra muito bem a necessidade de pessoas. O importante agora é
64
a reprodução social da cultura que institucionalmente, pelo menos, não visualiza
desenvolvimento.
Porém, algo pode mudar muito em breve e as
organizações ucranianas estão se movimentando
para isso. É que acontecerá no próximo ano a
comemoração dos 120 da imigração ucraniana para o
Brasil. Para essa data foi criada uma comissão de
organização74, juntamente com uma logomarca (ao
lado), fazendo com que a sociedade civil e religiosa
se engaje para aproveitar o momento que evidência
esse grupo em 2011. O prenuncio da evidência dos
ucranianos no Brasil são as próprias declarações governamentais tanto de Brasil
quanto de Ucrânia.
De acordo com o jornal O Estado de São Paulo75, o Presidente Lula quer triplicar a
balança comercial Brasil – Ucrânia nos próximos anos. De acordo com o presidente
brasileiro a relação entre os dois países tem muito a melhorar nos próximos anos. A
balança comercial entre os países alcançou 1 bilhão de dólares em 2008 e a meta é
que passe dos 3 bilhões no próximo ano.
O aumento da balança comercial significa novos acordos nas relações
comerciais e sociais entre Brasil e Ucrânia. Como por exemplo, a potencializarão
das ações da Alcântara Cyclone Space, a segunda maior companhia binacional do
Brasil inaugurada em dezembro de 2007 no Maranhão em parceria com a Ucrânia.
Esse e outros acordos no comércio, educação, esporte e outras áreas, estão sendo
efetivados pelas duas partes, movimentado as fronteiras de ambos os lados.
Com esse apelo, a sociedade ucraniana visa chamar atenção de interessados
e resgatar descendentes da cultura ucraniana, que sensibilizados com o momento,
retornariam a participar das organizações ucranianas. Tentativa de atrair esse
descendentes vem através de cartazes como esses, criados pela comissão de
organização dos 120 anos da imigração ucraniana.
74
Também foi criado um grupo parlamentar em Brasília para atuar diretamente entre a comunidade ucraniana e os ministérios da Educação, da Cultura e do Turismo, além do Itamaraty, a fim de facilitar os encaminhamentos referentes a comemoração dos 120 anos da Imigração Ucraniana. 75
Matéria de 02 de dezembro de 2009 e visualizada em 20/11/2010 no sítio do jornal O Estado de São Paulo - http://www.estadao.com.br/noticias/economia,brasil-e-uma-oportunidade-para-a-ucrania-afirma-lula,475609,0.htm
65
Em curto prazo, essa é a perspectiva mais oportuna para as organizações
ucranianas atraírem pessoas, renovarem seus quadros e traçarem novas metas
para o futuro com participação na sociedade curitibana.
CONCLUSÃO
O trabalho chega a sua conclusão diante de um momento delicado para a
comunidade ucraniana em Curitiba. Para contextualizar esse momento temos que
retomar um assunto específico que foi introduzido no capítulo 3, quando
apresentamos os desafios e perspectivas dos ucranianos através das conclusões do
professor canadense Andriy Nahachewsky. A problemática levantada pelo professor,
de acordo com minhas pesquisas, já havia sido levantada anteriormente dentro da
comunidade ucraniana no Brasil.
Todos sabem das dificuldades em atrair público interessado em preservar
uma cultura específica, ainda mais um que agrega elementos que não fazem parte
da vida das pessoas que vivem no Brasil.
De qualquer forma, sempre existem interessados. E eles se manifestam de
diversas formas como: comprando ingressos para assistir o Festival Folclórico e de
Etnias que ocorre todos os anos no Guaíra; Indo ao Memorial da Imigração
Ucraniana no dia de São Nicolau; Atendendo as festas ,palestras e cursos da cultura
ucraniana no TPUK ou na SUBRÁS; só para citar alguns exemplos.
O desafio é atrair os interessados para que eles se tornem parte dos grupos.
Se envolvendo física e psicologicamente com a atividade. Porém o trabalho não
pode notar uma pró-atividade dos grupos ucranianos em fazer isso acontecer. Como
o próprio professor Nahachewsky disse, os grupos ucranianos tem que ter mais
medo da estagnação do que da mudança, mesmo que a mudança mude os rumos
dos grupos ucranianos. Esse processo faz parte da história, os grupos não podem
ficar estáticos frente ao que acontece no mundo.
Logicamente, o medo dos membros mais velhos da comunidade ucraniana
em ver todo o esforço de antigamente se tornar algo totalmente diferente na
atualidade, ainda pesa sobre as instituições. A questão da língua e da celebração
das festas como o casamento, a páscoa e o natal, ainda são tabus a serem
66
quebrados ou rituais a serem fortificados. Esses e outros elementos singularizam a
comunidade ucraniana no Paraná, sem dúvida.
Mas o desafio está justamente no diálogo entre a comunidade ucraniana e a
comunidade brasileira. As instituições ucranianas devem admitir e permitir a
existência de um jogo de dupla influência. Onde ambas culturas convivem em
harmonia e no respeito de também representar a outra como parte de si. A
comunidade ucraniana influenciou a cultura paranaense de forma única e suas
personalidades estão na história como prova disso.
A presença na história justifica a caráter ativo desse grupo. A celebração dos
120 da imigração para o Brasil prova que os ucranianos estão em pleno movimento,
e por estar em movimento podem ser direta e indiretamente influenciados pelo meio
social. E é esse o ponto em que o professor Nahachewsky defende, a condição de
se movimentar alimenta a necessidade de reavaliação constantemente das
condições do grupo, para que esse se adapte ao meio social a que se encontra. Isso
não significa perder as características.
A comunidade ucraniana em Curitiba pode se dizer bem representada em
suas organizações e manifestações. E, além de todas as organizações que o
trabalho dá ênfase, não podemos esquecer a importância da internet nesse
contexto.
São muitos sítios que contem material sobre a cultura ucraniana. Para
pesquisar melhor dividimos os materiais da internet em três linhas, blogs, sítios da
internet e comunidades em sítios de relacionamento.
Em relação a número de acessos, a interface com menos importância são os
Blogs. Os blogs não passam de diários que expõem as informações de forma linear
e desorganizada. Raramente tem botões de acesso e são geridos por uma ou
poucas pessoas. Sua repercussão é pequena.
Quase na mesma linha temos os sítios da internet. Que são espaços que
geralmente representam comunidades e são geridos por pouco pessoas e quase
sempre em caráter amador. Dependendo do sítio podemos ver um número bom de
usuários e informações, mas na maioria das vezes elas estão desatualizadas. O que
faz um sítio ter acessos é justamente a quantidade e a qualidade de material que
fica disponível para o usuário, além da importância da instituição.
Além dos blogs e sítios da internet, também temos os sítios de
relacionamento (Orkut, Facebook e outros) que aglutinam interesses, chamada
67
comunidades. Dentre esses sítios de relacionamento selecionei apenas o Orkut e o
Facebook por serem mais populares entre os brasileiros. Podemos ver um número
interessante de pessoas utilizando esses meios, os quais possuem diversos fóruns
que auxiliam na resolução de dúvidas e ajudam a organizar idéias.
Em números são 3 blogs, 6 sítios e 11 comunidades virtuais, sendo 1 no Facebook e
10 no Orkut.
Tendo esses números em mente, o trabalho conclui que a comunidade
ucraniana realmente está em movimento. Não apenas física, mas também
virtualmente através da internet. Existem pessoas interessadas em fazer o grupo
ucraniano crescer e se desenvolver, aumentando sua representação em Curitiba. É
nesse sentido que o presente trabalho encontra sua proposta. Aqui se encontra uma
exposição histórica de todo o processo que atingiu a comunidade ucraniana em
Curitiba. Através da conjuntura política e o surgimento de instituições sociais, em
conjunto com o trabalho de alguns indivíduos, o trabalho termina aqui propondo uma
reflexão sobre passado e presente, alertando para a interdependência dos eventos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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68
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69
ANEXOS
Figura 4 - Imigrantes recém chegados no porto de Paranaguá - PR.
Fonte: www.solovey.com.br Consultado em: 28/11/10 - 23h30
Figura 5 - Imigrantes no transporte marítimo a caminho do Brasil.
Fonte:ww w.solovey.com.br Consultado em: 28/11/10 - 23h30
Figura 6 – 1º Igreja Ortodoxa de Curitiba (1931) Bairro do Portão
Fonte: www.igrejaortodoxa.org.br Consultado em: 28/11/2010 - 23h41.
70
Figura 7 - Mapa das colônias no Estado do Paraná 1820 a 1940.
Figura 8 - Galícia e Bukovina, ao norte da Hungria, entre 1900 -1910.
Fonte: www.freepages.genelogy.rootsweb.com Consultado em: 01/12/2010
71
Figura 9 - Divisão espacial da Galícia de acordo com as fronteiras atuais.
Fonte: HTTP://razontfuerza.mforos.com Consultado em: 06/12/10 ás 23h30
Figura 10 - Propaganda promovida pela RCUB da Carteira de Ucraniano do Exterior
Fonte: Panfleto, material do autor.
72
Figura 11- Propaganda uma empresa de turismo promovendo os 120 anos da imigração ucraniana com um passeio turístico.
Fonte: Panfleto, material do autor.