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.+ UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Departamento de Engenharia Mecânica DEM/POLI/UFRJ ANÁLISE DE UM ATUADOR PARA AILERON DE PONTA DE ASA UTILIZANDO LIGAS COM MEMÓRIA DE FORMA Endryws Medeiros Costa de Moura Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro Mecânico. Orientador: Marcelo Amorim Savi RIO DE JANEIRO DEZEMBRO DE 2019

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.+

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Departamento de Engenharia Mecânica

DEM/POLI/UFRJ

ANÁLISE DE UM ATUADOR PARA AILERON DE PONTA DE ASA

UTILIZANDO LIGAS COM MEMÓRIA DE FORMA

Endryws Medeiros Costa de Moura

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Mecânica da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do título de

Engenheiro Mecânico.

Orientador: Marcelo Amorim Savi

RIO DE JANEIRO

DEZEMBRO DE 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Departamento de Engenharia Mecânica

DEM/POLI/UFRJ

ANÁLISE DE UM ATUADOR PARA AILERON DE PONTA DE ASA

UTILIZANDO LIGAS COM MEMÓRIA DE FORMA

Endryws Medeiros Costa de Moura

PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE

ENGENHARIA MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO MECÂNICO.

Aprovado por:

________________________________________________ Prof. Marcelo Amorim Savi, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Fábio da Costa Figueiredo, D.Sc.

________________________________________________ Prof. Thiago Gamboa Ritto, D.Sc.

RIO DE JANEIRO

DEZEMBRO DE 2019

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ii

DEDICATÓRIA

Dedicado para: Meu pai, Liberato; Minha mãe, Jaciara; Minha noiva, Isabelle; e Meu diretor espiritual, Pe. Alan Vieira.

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iii

AGRADECIMENTO

Agradeço à Deus em primeiro lugar, e a todos aqueles que em maior ou menor

grau contribuíram para minha formação acadêmica e pessoal.

Em especial aos meus pais, sem os quais não estaria neste mundo, mas também

pelos incentivos, bem como toda forma de apoio material e afetivo.

Ao professor Marcelo A. Savi que com seus conselhos sempre oportunos me

auxiliaram na formação acadêmica desde o meu segundo período nesta universidade, mas

que com seu exemplo de vida também moldou o meu modo de ver o mundo através das

não-linearidades da natureza.

Aos meus colegas de laboratório que me ajudaram a cada dificuldade

encontrada, em especial, Pedro Leal e Raphael Santana, com os quais colaborei durante

o período de iniciação científica, e que de alguma forma culminou neste trabalho.

Aos colegas Alex, Arantes, Dimitri, Eduardo, Elisa, Guilherme, Larissa,

Matheus, Paula, Pedro Caetano, Phablo, Renato, Rubens Akira, Vandré, Vanderson e

Virgílio, que com suas conversas tornaram os dias mais alegres e produtivos.

A minha noiva Isabelle, que nestes últimos momentos se juntou a minha vida,

me acalmando a cada vez que meus códigos davam errado, e me dando forças para

prosseguir.

Por fim, não poderia deixar de citar o Seminário São José, na pessoa do Pe.

Douglas, pois foi lá, em 2011, que toda a minha perspectiva de vida foi moldada pelos

anos que passei nesta casa, sob a tutela dos padres Sérgio e Demétrio, donde, de maneira

especial, gostaria de citar meus irmãos de turma: Alex, Edis, Fillipe, João, Jorge, Júlio,

Leandro, Raphael, Ricardo, Rodrigo e Pedro, cujos conselhos, conversas, brigas e

reconciliações me auxiliaram a chegar neste momento de minha vida.

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iv

“Ad Maiorem Dei Gloriam” (Para maior glória de Deus)

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v

RESUMO

A morfagem de estruturas é um conceito que busca otimizar as diferentes condições de

voo. O uso de novos materiais tem motivado uma série de pesquisas que possam tornar as

aeronaves mais seguras, leves e eficientes. Nesse contexto, destacam-se as ligas com

memória de forma que são ligas metálicas capazes de recuperar sua forma inicial através

da imposição de carregamentos mecânicos e/ou térmicos devido às transformações de fase

que ocorrem no material. Este trabalho utiliza ligas com memória de forma para promover

a morfagem de asas alterando a posição dos ailerons de ponta de asa, parte responsável

pela promoção do movimento de rolagem de um avião. O estudo é aplicado a uma asa de

aeromodelo e o resultado é comparado com o procedimento clássico que utiliza

servomotor. A modelagem matemática considera um modelo constitutivo com cinética de

transformação de fase assumida para descrever o comportamento termomecânico das ligas

com memória de forma. A aerodinâmica da asa é analisada a partir do método dos painéis.

A análise experimental apresenta boa concordância entre o método clássico de atuação e

o que utiliza ligas com memória de forma, mostrando uma variação satisfatória na

configuração da asa. Os resultados sugerem que a utilização desses materiais é promissora

para promover a atuação de ailerons, bem como de outras partes do avião.

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vi

Abstract

Morphing structures is concept that seeks to optimize different flight conditions. The use

of new materials has motivated a number of researches to create a more safe, lighter and

efficient aircrafts. In this context, we highlight the shape memory alloys that are metallic

alloys capable of recovering their initial shape through the imposition of mechanical

and/or thermal loads due to the phase transformations that occur in the material. This work

uses shape memory alloys to promote wing morphing by altering the position of the wing

tip ailerons, responsible part for promoting the rolling motion of an airplane. The study is

applied to a model, and the result is compared to the classic servomotor procedure.

Mathematical modeling considers the constitutive model with assumed phase

transformation kinetics to describe the thermomechanical behavior of shape memory

alloys. Wing aerodynamics is analyzed using the panel method. The experimental analysis

shows good agreement between the classical method of actuation and the actuation using

shape memory alloys, showing a suitable variation in the wing configuration. The results

show that the use of these materials is promising to promote the performance of ailerons

as well as other parts of the plane.

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vii

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1

1.1 Organização do trabalho ................................................................................ 2

LIGAS COM MEMÓRIA DE FORMA ................................................................. 3

2.1 Atuadores com memória de forma ................................................................ 7

ESTRUTURAS AERODINÂMICAS ADAPTATIVAS ....................................... 9

3.1 Morfagem de estruturas aeroespaciais usando SMAs .................................. 13

3.2 O Método dos Painéis .................................................................................. 18

MODELO CONSTITUTIVO PARA SMAS ......................................................... 23

4.1 Mola helicoidal com memória de forma ...................................................... 25

4.2 Verificação do modelo matemático ............................................................. 27

MODELAGEM DO SISTEMA PROTÓTIPO ..................................................... 32

5.1 Equações de equilíbrio ................................................................................. 33

5.1.1 Torque devido a força peso .............................................................. 34

5.1.2 Torque devido aos atuadores com memória de forma ..................... 35

5.1.3 Torque devido as forças aerodinâmicas ........................................... 36

ANÁLISE EXPERIMENTAL .............................................................................. 39

ANÁLISE PARAMÉTRICA ................................................................................ 46

7.1 Seleção do ângulo de ataque ........................................................................ 46

7.2 Análise paramétrica das molas de SMA ....................................................... 49

CONCLUSÕES .................................................................................................... 55

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 57

APÊNDICE A ................................................................................................................ 60

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viii

APÊNDICE B ................................................................................................................. 63

ANEXO I ........................................................................................................................ 65

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ix

Lista de Figuras

Figura 1:Teste de DSC para fio de SMA. Adaptado de [3]. ............................................. 4

Figura 2: Testes de tensão realizados em fio de SMA. Adaptado de [4] ......................... 5

Figura 3: Diagrama de fase. Adaptado de [3]. .................................................................. 5

Figura 4: Diagrama Tensão-Deformação-Temperatura para ligas de SMA [5]. .............. 6

Figura 5: Desenho esquemático de uma asa de avião, onde são evidenciados os conceitos

de aerofólio e corda (c). Adaptado de [11]. ...................................................................... 9

Figura 6: Forças aerodinâmicas atuando sobre um aerofólio. ........................................ 10

Figura 7:Esquema demonstrativo da variação do coeficiente de sustentação com o ângulo

de ataque de um aerofólio. Adaptado da referência [11]. ............................................... 11

Figura 8: Classificação dos tipos de morfagem em asas. Adaptado de [12]. ................. 12

Figura 9: Número de trabalhos presentes na base SCOPUS de 2010 a 2018. ................ 13

Figura 10: Número de patentes presentes na base SCOPUS de 2010 a 2018. ............... 14

Figura 11: Esquema do modelo de atuação apresentado pelo programa smart wing [5].

........................................................................................................................................ 15

Figura 12: Protótipo desenvolvido por Leal & Savi [8]. ................................................ 16

Figura 13: Mecanismo proposto por Karagiannis et al. [14] .......................................... 17

Figura 14: Sistema para modificação do formato da asa proposto por Emiliavaca et al

[15]. ................................................................................................................................ 18

Figura 15: Domínio e notação utilizada para a resolução do escoamento potencial. ..... 20

Figura 16: Discretização do aerofólio em painéis, e demonstração ............................... 21

Figura 17: Comparação Numérico-Experimental para fios de SMA. Linha cheia em preto

representa valores numéricos e a linha vermelha com pontos representa os pontos

experimentais. ................................................................................................................. 28

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x

Figura 18: Comparação numérico-experimental para C = 6,2. Linha cheia em preto

representa valores numéricos e a linha vermelha com pontos representa os pontos

experimentais. ................................................................................................................. 30

Figura 19: Comparação numérico-experimental para C = 7,6. Linha cheia em preto

representa valores numéricos e a linha vermelha com pontos representa os pontos

experimentais. ................................................................................................................. 30

Figura 20: Comparação numérico-experimental para C = 10,2. Linha cheia em preto

representa valores numéricos e a linha vermelha com pontos representa os pontos

experimentais. ................................................................................................................. 31

Figura 21: Apresentação do sistema protótipo utilizado neste estudo. Em destaque: 1 –

Molas de SMA em configuração antagônica, 2 – Servomotor SG90, 3 – Giroscópio, e 4

– Arduino UNO R3. ....................................................................................................... 32

Figura 22: Apresentação do ponto de giro (O). .............................................................. 33

Figura 23: Desenho esquemático da configuração das molas de SMA no modelo

conceitual adotado na análise. ........................................................................................ 33

Figura 24: Modelo simplificado da parte atuada. ........................................................... 35

Figura 25: Representação esquemática dos ângulos máximos utilizados nesta análise. 36

Figura 26: Momento da parte móvel devido as forças aerodinâmicas atuando sobre a asa

x Ângulo do aileron para diversos ângulos de ataque, com �∞ = 1 m/s....................... 37

Figura 27: Momento da parte móvel devido as forças aerodinâmicas atuando sobre a asa

versus ângulo do aileron para diversos ângulos de ataque, com V∞ = 5 m/s ............... 37

Figura 28: Momento da parte móvel devido as forças aerodinâmicas atuando sobre a asa

versus ângulo do aileron para diversos ângulos de ataque, com V∞ = 10 m/s. ............ 38

Figura 29: Aparato experimental atuado por servomotor. Vista frontal à esquerda, e lateral

à direita. Em destaque: 1 – chip ACS712, 2 - chip MPU6050, e 3 – servomotor. ......... 39

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xi

Figura 30: Dimensões e informações mais relevantes do servomotor SG90. ................ 40

Figura 31: Curva experimental obtida pelo módulo MPU6050 para atuação do aileron

promovida pelo servomotor. Pontos experimentais são apresentados na forma de pontos

em vermelho; linha preta contínua apresenta curva tomada a partir dos dados

experimentais pelo método dos mínimos quadrados, para auxiliar a visualização dos

dados. .............................................................................................................................. 41

Figura 32: Aparato experimental na configuração que utiliza molas de SMA. Em

destaque: 1 – Molas de SMA em configuração antagônica, 2 - chip MPU6050, e 3 – chip

ACS712. ......................................................................................................................... 42

Figura 33: Curva experimental obtida pelo módulo MPU6050 para atuação do aileron

promovida por molas de SMA aquecidas com Heat Gun. Pontos experimentais são

apresentados na forma de pontos em vermelho; linha preta contínua apresenta curva

tomada a partir dos dados experimentais pelo método dos mínimos quadrados, para

auxiliar a visualização dos dados.................................................................................... 43

Figura 34: Setup experimental utilizado na promoção do aquecimento das molas de SMA

por efeito Joule. Em destaque: 1 – Molas de SMA em configuração antagônica, 2 - chip

MPU6050, 3 – chip ACS712, e 4 – Fonte de bancada. .................................................. 44

Figura 35: Curva experimental obtida pelo módulo MPU6050 para atuação do aileron

promovida por molas de SMA aquecidas com corrente elétrica (fonte de bancada). Pontos

experimentais são apresentados na forma de pontos em vermelho; linha preta contínua

apresenta curva tomada a partir dos dados experimentais pelo método dos mínimos

quadrados, para auxiliar a visualização dos dados. ........................................................ 44

Figura 36: Comparação entre as curvas experimentais ajustadas................................... 45

Figura 37: Análise da variação do coeficiente de sustentação para diversos ângulos de

ataque com �∞ = 1m/s. .................................................................................................. 47

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO · MPU6050, 3 – chip ACS712, e 4 – Fonte de bancada. ..... 44 Figura 35: Curva experimental obtida pelo módulo MPU6050 para atuação do

xii

Figura 38: Análise da variação do coeficiente de sustentação para diversos ângulos de

ataque com V∞ = 5 m/s. ................................................................................................. 47

Figura 39: Análise da variação do coeficiente de sustentação para diversos ângulos de

ataque com �∞ = 10 m/s. ............................................................................................... 48

Figura 40: Momento gerado pelas forças aerodinâmicas para um ângulo de ataque de 2 ∘

........................................................................................................................................ 49

Figura 41: Variação angular do aileron a partir do ponto inicial, para Temperatura SMA

1 com 288K e temperatura SMA 2 variando a partir de 288K, para �∞ = 1 m/s. ........ 51

Figura 42: Variação angular do aileron a partir do ponto inicial, para Temperatura SMA

1 com 288K e temperatura SMA 2 variando a partir de 288 K, para �∞ = 5 m/s. ....... 52

Figura 43: Variação angular do aileron a partir do ponto inicial, para Temperatura SMA

1 com 288K e temperatura SMA 2 variando a partir de 288K, para �∞ = 10 m/s. ..... 53

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xiii

Lista de Tabelas

Tabela 1: Comparação entre a performance de diversos atuadores. Adaptado de [6]...... 7

Tabela 2: Parâmetros adotados na simulação numérica para fios de SMA .................... 28

Tabela 3: Parâmetros adotados na simulação numérica para molas de SMA ................ 29

Tabela 4: Informações a respeito das molas de SMA utilizadas na análise numérica. .. 50

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1

INTRODUÇÃO

Aeronaves voam em diversos regimes, representados por diferentes velocidades

e altitudes. As asas podem assumir diferentes ângulos de ataque, varredura e envergadura.

O formato de uma asa é escolhido a fim de obter o melhor desempenho em situação de

cruzeiro, tendo em vista ser o regime em que a aeronave se encontra na maior parte do

percurso. Com isso, as demais condições de voo, como pouso e decolagem, acabam por

possuir valores quase ótimos.

Neste cenário, utilizam-se partes móveis para alterar a geometria da asa de modo

a promover uma adaptação a cada uma das fases do voo, bem como a situações adversas.

A ideia é promover variações nos elementos móveis acarretando alterações benéficas nas

propriedades aerodinâmicas, tornando as aeronaves mais eficientes e com uma maior

manobrabilidade. Esse conceito é conhecido como morfagem da estrutura, sendo

essencialmente bioinspirada, imitando o voo de pássaros.

Ailerons são partes móveis presentes nos bordos de fuga de aeronaves de asa fixa

e estão localizados próximo às pontas das asas. A finalidade principal é a promoção do

controle do movimento de rolagem, inclinação lateral em relação ao eixo longitudinal da

aeronave. Sua atuação é comumente realizada por atuadores que possuem uma relação

força-deslocamento linear, sendo de simples utilização. Não obstante, o desafio por

redução do peso embarcado motiva a busca por novos materiais, mais leves e eficientes,

o que torna o tema relevante sob o ponto de vista científico e tecnológico.

Os materiais inteligentes constituem uma alternativa viável para promover a

morfagem de estruturas aeronáuticas. Dentro dessas possibilidades, as ligas com memória

de forma (SMAs) constituem uma importante classe de materiais com capacidade de

promover grandes deslocamentos ou forças. Esses materiais metálicos possuem a

habilidade de recuperar sua forma original ao serem submetidos a um carregamento

termomecânico apropriado [1].

Este trabalho propõe a utilização de um mecanismo composto por duas molas de

SMA em configuração antagônica, para a atuação de um aileron de ponta de asa. Um

protótipo é construído a partir de uma asa de aeromodelo com a finalidade de estabelecer

uma comparação entre a atuação promovida por um servomotor (método clássico) e a

promovida pela utilização de molas de SMA (método proposto). Uma modelagem

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2

matemática é feita considerando o modelo constitutivo proposto por Brinson [2], para

descrever o comportamento termomecânico dos atuadores de SMA. As forças

aerodinâmicas são avaliadas por meio do método dos painéis. O estudo numérico avalia

a atuação de ailerons submetidos a escoamentos à jusante, para diversas velocidades.

1.1 Organização do trabalho

Este trabalho é apresentado em nove capítulos. Após esta introdução, o Capítulo

2 apresenta uma discussão sucinta a respeito das ligas com memória de forma,

apresentando seus fenômenos e principais variáveis utilizadas em sua análise. Na

sequência apresenta-se uma discussão sobre a aplicação dessas ligas como atuadores.

O Capítulo 3 apresenta um panorama geral do problema aerodinâmico,

apresentando seus principais conceitos, bem como a introdução à filosofia da morfagem.

Ao final, apresenta-se uma revisão de literatura acerca do uso das ligas com memória de

forma na morfagem de aeronaves, bem como uma pequena apresentação do método dos

painéis.

Na sequência, o Capítulo 4 apresenta o modelo constitutivo utilizado para ligas

com memória de forma e sua extensão para molas helicoidais. O Capítulo 5 apresenta a

equação de equilíbrio da asa atuada, considerando um problema quase-estático.

Nos Capítulos 6 e 7 são apresentados e discutidos os resultados experimentais e

numéricos, respectivamente. Por fim, no Capítulo 8 são apresentadas as conclusões gerais

deste estudo e sugestões para trabalhos futuros.

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3

LIGAS COM MEMÓRIA DE FORMA

As ligas com memória de forma (shape memory alloys – SMAs) pertencem a

uma classe de ligas metálicas classificada como inteligentes devido a sua habilidade única

de retornar a sua forma original, quando submetidas a um carregamento termomecânico

apropriado. Essas ligas possuem duas fases cristalográficas distintas: austenita e

martensita. A martensita é a fase que, livre de tensões, é estável a baixas temperaturas

podendo ser induzida tanto por tensão quanto por temperatura. Quando é induzida por

temperatura, ela é conhecida como martensita maclada (twinned), e possui 24 variantes,

caracterizadas por diferentes orientações cristalográficas. Quando a martensita é induzida

por carregamento mecânico, as variantes da martensita maclada são reorientadas em uma

única variante, alinhada a orientação do carregamento, chamada martensita demaclada

(detwinned). A fase austenítica é estável apenas a altas temperaturas, possuindo apenas

uma variante.

A transformação de fase martensítica é o que justifica a recuperação da forma

apresentada pelas SMAs. Tal transformação ocorre em uma faixa de temperaturas que

varia conforme a composição química. Quatro temperaturas características de

transformação devem ser definidas: As, temperatura onde tem início a transformação

martensita→austenita; Af, temperatura onde tem fim a transformação

martensita→austenita; Ms, temperatura onde tem início a transformação

austenita→martensita; e por fim, Mf, temperatura em que a transformação

austenita→martensita chega ao fim. A obtenção dessas temperaturas características é

usualmente realizada a partir de uma análise térmica diferencial (DSC), conforme

apresentado na Figura 1.

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO · MPU6050, 3 – chip ACS712, e 4 – Fonte de bancada. ..... 44 Figura 35: Curva experimental obtida pelo módulo MPU6050 para atuação do

4

Figura 1:Teste de DSC para fio de SMA. Adaptado de [3].

O teste do DSC consiste em submeter o material a uma programação controlada

de variação de temperatura, sendo aquecida e resfriada. Durante o aquecimento ocorre a

transformação da fase martensítica para a austenítica, por meio da absorção de calor,

gerando um pico na curva de aquecimento, de onde podem ser obtidas as temperaturas As

e Af, ao serem traçadas linhas tangentes no início, e no fim do pico, respectivamente.

Durante o resfriamento ocorre a transformação inversa devido a uma transição

exotérmica, de onde podem ser obtidas as temperaturas Mf e Ms, utilizando o mesmo

procedimento.

No entanto, as temperaturas de transformação de fase também são dependentes

do carregamento aplicado, e seus valores devem ser obtidos para diferentes níveis de

tensão, o que torna necessária a realização de ensaios de tensão-deformação para

diferentes temperaturas, gerando curvas como as apresentadas na Figura 2.

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO · MPU6050, 3 – chip ACS712, e 4 – Fonte de bancada. ..... 44 Figura 35: Curva experimental obtida pelo módulo MPU6050 para atuação do

5

Figura 2: Testes de tensão realizados em fio de SMA. Adaptado de [4].

A partir da avaliação das tensões críticas de transformação para diferentes

temperaturas é possível construir uma curva tensão crítica-temperatura, denominado

diagrama de fases, conforme apresentado na Figura 3.

Figura 3: Diagrama de fase. Adaptado de [3].

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO · MPU6050, 3 – chip ACS712, e 4 – Fonte de bancada. ..... 44 Figura 35: Curva experimental obtida pelo módulo MPU6050 para atuação do

6

As SMAs possuem dois fenômenos típicos, definidos a partir da temperatura: o

efeito pseudoelástico, a altas temperaturas; e o efeito memória de forma, a baixas

temperaturas. A Figura 4 ilustra os dois fenômenos. O efeito pseudoelástico que ocorre a

altas temperaturas e tem por característica a presença de um laço histerético, associado a

uma dissipação de energia, bem como a capacidade de atingir grandes deformações. O

efeito memória de forma pode ser entendido a partir do deslocamento do laço histerético,

característico do efeito pseudoelástico, à medida que a temperatura diminui. Pode-se

perceber que ao cessar o carregamento mecânico, existe uma deformação residual que

pode ser eliminada com o subsequente aumento da temperatura.

Figura 4: Diagrama Tensão-Deformação-Temperatura para ligas de SMA [5], cujas cores representam a fase do material: verde, a fase martensita maclada; azul, a fase martensita

não maclada; e vermelho a austenítica.

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7

2.1 Atuadores com memória de forma

O uso das ligas com memória de forma como atuadores está intimamente ligado

ao fato de serem mais leves que os atuadores clássicos, possuindo uma atuação mais suave

e silenciosa que os demais, além de possuírem a capacidade de recuperar grandes

deformações. A Tabela 1 apresenta uma comparação entre diversos tipos de atuadores,

incluindo as ligas com memória de forma, representadas pela liga NiTi (Nitinol). Por

meio desta comparação, observa-se que as ligas com memória de forma são mais

adequadas para aplicações de baixa frequência e que exijam grandes deformações e

forças, tornando-as promissoras para a substituição de atuadores hidráulicos, atualmente

utilizados na morfagem de estruturas aeronáuticas.

Tabela 1: Comparação entre a performance de diversos atuadores. Adaptado de [6].

Tipo de atuador Tensão (MPa)

Deformação (%)

Eficiência (%)

Banda de Frequências

(Hz)

Trabalho Específico (J /cm�)

Potência Específica ( W /cm�)

SMA (NiTi) 200 10 3 3 10 30

Piezelétrico (Monocristal)

300 1,7 90 5800 2,55 15000

Músculo Humano 0,007 – 0,8 1 – 100 35 2 – 173 0,035 0,35

Hidráulico 20 50 80 4 5 20

Pneumático 0,7 50 90 20 0,175 3,5

Piezo cerâmico 35 0,2 50 5000 0,035 175

As ligas com memória de forma possuem, em comparação com os atuadores

hidráulicos, uma tensão mecânica de atuação 10 vezes maior. Além disso, possuem uma

potência específica maior. No entanto, as SMAs possuem uma deformação menor em se

tratando do material em formato de fio, o que pode ser solucionado ao utilizá-lo em outras

configurações, como molas. Outra desvantagem dessas ligas é possuir uma resposta

associada a baixa frequência, tendo em vista a convecção natural, responsável pelo seu

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resfriamento. Essa desvantagem pode ser mitigada a partir da utilização de métodos

alternativos de arrefecimento.

Dentre as possibilidades de atuadores com memória de forma, três deles são mais

comumente encontrados na literatura: elemento com memória de forma bidirecional (two-

way shape memory effect) [7]; elemento com memória de forma em contraposição com

uma mola elástica (bias) [8]; e elementos com memória de forma em posições antagônicas

[9] [10].

Outro fator importante é o formato do elemento de atuação. Para obter forças

elevadas e pequenos deslocamentos pode-se utilizar fios. Para aplicações que exijam

grandes deslocamentos e forças menores, a utilização de molas é preferível. Outras

geometrias, como barras, podem ser utilizadas para obter grandes rotações e torques

elevados, bem como a utilização de lâminas, utilizadas em alterações de geometria

específicas.

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9

ESTRUTURAS AERODINÂMICAS ADAPTATIVAS

Considere uma asa de aeronave conforme apresentado na Figura 5. A análise da

aerodinâmica de asas pode ser dividida em duas partes: o estudo dos aerofólios, seção da

asa tomada por meio de um plano paralelo ao plano xz, levando em consideração uma asa

infinita; e o estudo realizado ao longo do eixo longitudinal da asa, avaliando a

modificação de fatores geométricos no eixo y.

Figura 5: Desenho esquemático de uma asa de avião, onde são apresentados os conceitos de aerofólio e corda (c). Adaptado de [11].

A análise dos aerofólios considera que a velocidade do escoamento à jusante

(��) é paralela a ele [11]. Modelos de aerofólio foram desenvolvidos pelo Comitê

Nacional para Aconselhamento sobre Aeronáutica (National Advisory Committee for

Aeronautics – NACA), agência espacial norte-americana que antecedeu a NASA. Esses

modelos são classificados em algumas séries, dentre as quais existe a de quatro dígitos,

apresentada na forma MPXX, sendo M o tamanho máximo da câmara dividido por cem,

P a posição em que a câmara possui seu valor máximo, dividido por 10, enquanto XX

representa a espessura máxima do aerofólio dividida por 100. Todos esses valores são

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computados com relação ao tamanho da corda (�); sendo, portanto, valores

adimensionais.

A análise fundamental da aerodinâmica inclui a distribuição de pressão (agindo

em uma direção normal à superfície), bem como as tensões de cisalhamento (agindo

tangencialmente à superfície). A integração dessa pressão ao longo da asa define a força

aerodinâmica R, e um momento M, agindo no centro de pressão do aerofólio,

normalmente a uma distância � 4� a partir do bordo de ataque.

A força resultante sobre o aerofólio pode ser dividida em duas componentes:

uma perpendicular a velocidade do escoamento à jusante (��), denominada sustentação;

e outra paralela à ��, denominada arrasto, Figura 6. A força de arrasto faz resistência ao

movimento da aeronave. A força de sustentação é a componente que permite que uma

aeronave se mantenha em voo, sendo dependente do ângulo de ataque.

Figura 6: Forças aerodinâmicas atuando sobre um aerofólio.

A Figura 7 mostra a dependência da força de sustentação com relação ao ângulo

de ataque por meio da apresentação da variação do coeficiente de sustentação (��), número

adimensional que mostra a capacidade de um perfil em gerar sustentação. Pode ser visto

que, ao aumentar o ângulo de ataque, a aeronave tem sua capacidade de sustentação

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aumentada, até ser atingido o coeficiente de sustentação máximo (�����), a partir do qual

ocorre o stall, perda total da capacidade de sustentação do perfil.

Figura 7: Esquema demonstrativo da variação do coeficiente de sustentação com o

ângulo de ataque de um aerofólio. Adaptado da referência [11].

O ângulo de ataque em aeronaves de asa fixa só é alterado a partir de movimentos

de arfagem, como em pousos e decolagens. Desta forma, esse ângulo é escolhido para

obter a maior eficiência no regime de cruzeiro, situação em que a aeronave se encontra

na maior parte do voo. Com isso, os demais regimes de voo possuem uma eficiência mais

baixa, o que torna necessário a utilização de mecanismos de mudança de forma que

mitiguem este problema.

A morfagem de aeronaves tem por objetivo alterar a geometria das asas,

adaptando as mesmas, a diferentes condições de voo. No entanto, não existe uma

alteração mínima que configure a mudança como uma morfagem. Sofla, Meguid et al

[12] dividiram os conceitos de morfagem em três classes: as variações que ocorrem no

plano da asa, as que ocorrem fora do plano da asa e, por fim, ajustes no aerofólio. A

Figura 8 apresenta, de maneira esquemática, tal classificação.

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12

Figura 8: Classificação dos tipos de morfagem em asas. Adaptado de [12].

Dentre as alterações no plano da asa encontram-se a de envergadura, no

comprimento da corda, e no ângulo de envergadura. A mudança na envergadura altera o

tamanho das asas, aumentando consideravelmente a sustentação por meio do crescimento

da área sob a atuação da força de sustentação. A variação no comprimento da corda ocorre

normalmente por meio da utilização de superfícies móveis nos bordos de fuga e ataque.

A mudança de envergadura é utilizada como recurso para aviões que chegam a

velocidades supersônicas, evitando a região de grande densidade de energia provocada

pelas ondas de choque, descrita pelo cone de Mach. Tal mecanismo é de difícil construção

e instalação, tendo em vista que, todos os esforços aerodinâmicos atuantes sobre a asa

devem ser suportados pelo mecanismo de pivotamento, tornando o dispositivo pesado.

Fora do plano da asa podem ocorrer mudanças de forma devido a esforços de

torção ou de flexão. Esforços de flexão podem gerar flexão ao longo da corda, ou na

lateral da asa, conforme pode ser visualizado na Figura 8. Por outro lado, esforços de

torção ao longo da corda geram assimetria entre a parte superior e inferior do aerofólio.

Por fim, a morfagem gerada por um ajuste no aerofólio é a que busca alterar as

propriedades aerodinâmicas da asa por meio da mudança de forma do aerofólio, sem que

ocorram grandes modificações em sua linha neutra. Um exemplo deste tipo de morfagem

é a mudança da espessura do aerofólio, com consequente aumento do tamanho da corda.

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3.1 Morfagem de estruturas aeroespaciais usando SMAs

As ligas com memória de forma possuem um grande potencial para serem

aplicadas na morfagem de estruturas aeroespaciais devido a sua capacidade de gerar

grandes deformações e forças. Diversos trabalhos tem sido realizados nesta área, como

aponta a pesquisa realizada na base SCOPUS, que conta com artigos de periódicos e

congressos além de patentes norte-americanas, a partir das seguintes palavras chave:

“shape memory alloy” (liga com memória de forma) e “morphing wing” (asa com

mudança de forma). Os resultados dessa busca encontram-se ilustrados nas Figuras 9 e

10.

Figura 9: Número de trabalhos presentes na base SCOPUS de 2010 a 2018.

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Figura 10: Número de patentes presentes na base SCOPUS de 2010 a 2018.

Dentre os primeiros trabalhos que buscaram utilizar ligas com memória de forma

para realizar a morfagem de asas encontra-se o programa smart wing, encomendado pelo

AFRL (Air Force Research Lab – Laboratório de Pesquisas da Força Aérea Norte

Americana) como parte do projeto DARPA (Defense Research Projects Agency –

Departamento de Defesa dos Estados Unidos). Esse trabalho buscou desenvolver

mecanismos baseados na utilização materiais inteligentes que melhorassem o

desempenho aerodinâmico de aeronaves militares. Um esquema das fases do projeto, bem

como suas principais realizações, pode ser visto na Figura 11.

O programa foi dividido em duas fases. Na primeira fase, que se estendeu de

janeiro de 1995 a fevereiro de 1999, mecanismos de atuação foram acoplados a

superfícies móveis a fim de substituir os atuadores convencionais e obter geometrias que

apresentassem parâmetros ótimos para a maior variedade de regimes de voo. Nessa fase,

concentraram-se esforços em atuadores de baixa frequência baseados em ligas com

memória de forma para alterar a configuração dos ailerons da aeronave.

Na segunda fase, que se estendeu de janeiro de 1997 a novembro de 2001,

superfícies de controle sem dobradiças e com contornos suaves foram incorporadas nos

bordos de ataque e de fuga de uma asa do modelo, enquanto atuadores convencionais

utilizando motores elétricos foram acoplados nos bordos de fuga da outra asa. Além do

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pioneirismo, a grande importância deste programa está relacionada ao fato de ter

mostrado que materiais inteligentes, em especial as ligas com memória de forma, podem

ser utilizados na fabricação de atuadores que fornecem desempenhos aerodinâmicos

ótimos em várias condições de voo.

Figura 11: Esquema do modelo de atuação apresentado pelo programa smart wing [5].

Uma outra abordagem adotada por diversos pesquisadores e desenvolvedores é

a de dividir a asa em subsistemas, estudando-os separadamente por meio da proposição

de soluções para cada um deles, integrando-os posteriormente em um único sistema.

Nesse sentido, os casos mais comumente utilizados são os que promovem a variação da

curvatura por meio da flexão ao longo da corda e, consequentemente da câmara. Tal

modificação ocasiona uma alteração do comprimento da corda.

Leal & Savi [8] desenvolveram um estudo numérico-experimental para a atuação

de flaps com a utilização de um dispositivo com memória de forma em configuração do

tipo bias. Diferentes configurações foram investigadas: atuadores concorrentes,

colineares e paralelos. Um aparato experimental baseado no modelo concorrente foi

construído conforme mostrado na Figura 12, onde o fio de SMA está em configuração

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concorrente com uma mola elástica de restituição. Os resultados experimentais possuem

boa concordância com o modelo numérico.

Figura 12: Protótipo desenvolvido por Leal & Savi [8].

Ko, Bae et al [13] analisaram um dispositivo multiatuado para promover uma

alteração do comprimento da corda da asa por meio da utilização de um flap com vários

elementos. Estudos considerando, três e seis partes foram avaliados mostrando uma

variação suave da curvatura. A atuação foi promovida por elementos de SMA explorando

a memória de forma bidirecional (two way). De uma maneira geral, as conclusões

apontam que, para realizar uma atuação em múltiplos estágios, são necessários vários

elementos de atuação, uma vez que apenas um não conseguiria promover um movimento

contínuo para cada estágio do flap.

Karagiannis, Stamatelos et al [14] desenvolveram um mecanismo que gera uma

assimetria entre a curvatura das partes superior e inferior do aerofólio, a partir do bordo

de fuga de uma aeronave. Tal mecanismo utiliza fios de SMA em configuração

antagônica, acoplados à parte interna da estrutura do flap. Esse dispositivo possui três

seções: uma fixa; e as outras fixadas por meio de um pino. A atuação é realizada por três

fios com memória de forma na superfície superior, e duas na inferior conforme

apresentado na Figura 13.

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Figura 13: Mecanismo proposto por Karagiannis et al [14].

Emiliavaca, Araújo et al [15] propuseram uma configuração em quatro seções,

de modo a obterem uma variação suave na curvatura do aerofólio. Tal configuração,

utiliza molas de SMA em configuração antagônica. Essa montagem permitiu a otimização

da atuação e do tempo de retorno, bem como da relação de força entre os atuadores tendo

em vista que, quando um atuador é ativado, o seu antagônico retorna mais rápido do que

se fosse utilizado um elemento elástico em configuração do tipo bias o que promoveria

um retorno com força aproximadamente constante.

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Figura 14: Sistema para modificação do formato da asa proposto por Emiliavaca et al [15].

3.2 O Método dos Painéis

A fim de quantificar a influência das forças aerodinâmicas sobre o aileron,

adota-se o método dos painéis. Tal método utiliza a formulação de escoamento potencial,

que divide o escoamento incompressível ao redor de corpos imersos em um fluido

Newtoniano em duas regiões distintas: a camada limite, que se encontra localizada

próxima ao corpo; e a esteira, localizada na região à montante deste. Ambas as regiões

são caracterizadas por serem profundamente influenciadas pela viscosidade e pela

existência de vorticidade não nula. Fora dessas regiões, a influência da viscosidade pode

ser desprezada, e o escoamento é caracterizado por um campo de vorticidade nula.

Tomando a integral de linha numa região simplesmente conexa (sem “buracos”

em seu interior), ao longo de uma linha arbitrária C, a circulação ao longo dela pode ser

definida conforme apresentado pela seguinte equação.

Γ ≡ � � ∙ ��

= � (� �� + � �� + � ��)

(1)

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onde v = (v, u, w) corresponde a velocidade do escoamento ao longo da linha l.

Pelo teorema de Stokes, pode-se reescrever a Equação 1 da seguinte maneira:

Γ ≡ � � ∙ ��

= � (� ∙ ���)

(2)

onde o vetor vorticidade é definido como � = � × �.

Para a região sobre a qual a influência da viscosidade é desprezível, considera-

se o escoamento como irrotacional, ou seja, � = � × � = �. Desta maneira, ao aplicar

esta condição de irracionalidade na Equação 2, o campo de velocidades pode ser descrito

através da função escalar � (potencial de velocidade), de tal maneira que:

� = ∇� (3)

Sendo a equação da continuidade para o escoamento incompressível:

∇ ∙ � = 0 (4)

Substituindo a Equação 3 na Equação 4, obtêm-se a equação de Laplace,

conforme apresentado abaixo:

∇�ϕ (�) = 0 (5)

Esta EDP (Equação Diferencial Parcial) necessita de duas condições de

contorno: uma para a superfície do corpo, e outra no infinito. A condição de contorno

para a superfície do corpo é a condição de impenetrabilidade, descrita pela Equação 6. A

condição de contorno distante do corpo (no infinito) é a de que a velocidade do

escoamento tende a velocidade do escoamento à jusante do corpo, conforme descrito pela

Equação 7, onde � = (�, �) para um escoamento bidimensional, e �� é a velocidade do

escoamento incidente sobre o corpo, à jusante.

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� ∙ �� =��

��= 0 (6)

lim�→�

(∇ϕ − ��) = 0 (7)

Para analisar o aerofólio, considere um corpo bidimensional de superfície ��

imerso numa região V com superfície exterior ��, como apresentado na Figura 15. O

campo de escoamento irrotacional e incompressível é resolvido pela equação de Laplace

(Equação 5), sujeita as condições de contorno (Equações 6 e 7). Essas condições de

contorno são aplicáveis a �� e ��, respectivamente. A normal n é exterior ao volume de

interesse V, limitado pelas superfícies �� e ��.

Figura 15: Domínio e notação utilizada para a resolução do escoamento potencial.

O escoamento potencial ao redor do corpo �� pode ser descrito pela Equação 8,

cujo desenvolvimento foi realizado por [16].

ϕ(P) = −1

2π � σ ln(�) ��

��

−1

2π � μ

∂�(ln(�))��

�����

+ ϕ�(�)

(8)

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onde � é a intensidade da fonte, e � a intensidade do dipolo.

Deve-se perceber da Equação 8 que, as velocidades induzidas são da ordem de

1�� , ou seja, tendem a zero para pontos muito distantes de ��. Sendo assim, essa equação

satisfaz automaticamente a condição representada pela Equação 7. Aplicando a Equação

8, na Equação 7, obtêm-se a condição de contorno de Neumann, que utiliza um fluxo

normal à superfície S� (fronteira sólida).

�1

2π� σ∇(ln(�) ��

��

−1

2π� μ∇ �

∂�(ln(�))� ��

��� ��

+ ∇ϕ� (�)� ∙ � = 0 (9)

Desta maneira, consegue-se satisfazer a condição de contorno de que o

escoamento em um ponto distante do corpo analisado não sofra a influência da presença

do mesmo, no entanto, para satisfazer a condição de impenetrabilidade para toda a

fronteira do corpo, de modo analítico, é bastante complicado. Desta maneira, opta-se pela

utilização de um método numérico conhecido como o método dos painéis [17], de forma

que ambas as condições de contorno sejam satisfeitas em pontos discretos ao longo da

superfície, denominados pontos de controle.

Para utilizar esta solução numérica, a fronteira �� é dividida em pequenos

segmentos, retos ou curvos, chamados de painéis. Cada painel possui o seu respectivo

ponto de controle, localizado em seu centro, conforme apresentado na Figura 16.

Figura 16: Discretização do aerofólio em painéis, e demonstração das superfícies de controle.

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Tomando a geometria discretizada em N painéis ao longo da superfície do corpo,

a condição de impenetrabilidade pode ser descrita, para o caso em que a intensidade das

singularidades é constante ao longo de cada painel, da seguinte maneira:

⎩⎪⎨

⎪⎧� μ� �−

1

2π� ∇(

∂��ln(�)�

��

����

���

���

+

� σ�

���

�1

2π� ∇(ln(�))��

��

�� ⎭

⎪⎬

⎪⎫

∙ �� = −∇ϕ� ∙ �� (10)

Esta equação equivale a equação de Neumann, e é utilizada no método dos

painéis para determinar a intensidade das singulares escolhidas. Tendo escolhido as

singularidades, bem como suas intensidades, a fim de modelar a superfície, este

procedimento irá resultar em um sistema de equações algébricas lineares.

Neste trabalho, o cálculo das forças aerodinâmicas considera o software XFLR5,

desenvolvido na plataforma XFOIL, do grupo de Mark Drela do Massachussets Institute

Technology (MIT), em 1998. Este é um software livre que utiliza o método dos painéis,

aplicando o método de Katz & Plotkin [17], conforme apresentado acima.

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MODELO CONSTITUTIVO PARA SMAs

O comportamento termomecânico das ligas com memória de forma pode ser

descrito pelo modelo constitutivo proposto por Brinson [2], Brinson & Huang [18], e

Bekker & Brinson [19]. Este modelo baseia-se na definição de uma equação cinética de

transformação de fase. Essa ideia foi inicialmente proposta por Tanaka & Nagaki [20] e

considera, além da deformação (�) e temperatura (�), uma variável interna (�) usada para

representar a fração volumétrica martensítica. A relação constitutiva pode ser expressa

em forma de taxas, da seguinte maneira:

�̇ = ��̇ + Ω �̇ + Θ �̇ (11)

onde �̇, �̇, �̇ e �̇ são as taxas de variação de tensão, deformação, fração martensítica, e

temperatura, respectivamente. �, � e �, são propriedades do material, representando, o

módulo de Young, o coeficiente de transformação de fase, e o coeficiente de expansão

térmica do SMA.

Brinson [2] propõe que a fração volumétrica de martensita (�) seja dividida em

duas partes: fração volumétrica induzida por temperatura (��); e a fração volumétrica

induzida por tensão (��), de tal forma que � = �� + ��, o que leva a uma reformulação da

equação constitutiva, que pode ser escrita como apresentado na Equação 12.

�̇ = ��̇ + Ω� ��̇ + Ω� ��̇ + Θ �̇ (12)

Uma propriedade importante a ser definida é a deformação residual máxima, � =

��. Para isso, considera-se um teste realizado a partir de um material inicialmente na fase

martensítica, ��� = 0, e ��� = 0, e com as seguintes condições iniciais: �� = �� = 0.

Com isso, após um processo de carregamento mecânico à temperatura constante, chega-

se a �� = 1 , �� = 0, � = �� (�� < � < ��). De modo que, para o material livre de

tensões (� = 0), tem-se:

Ω� = −��� (13)

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O módulo de Young do material é diferente para cada uma das fases, sendo ��

o módulo de elasticidade da fase martensítica, e �� o da austenítica. Desta forma, pode-

se escrever a seguinte regra das misturas.

�(�) = �� + �(�� − ��) (14)

A fim de determinar a fração volumétrica martensítica, dois parâmetros devem

ser definidos, de modo a descrever os pontos inicial e final da transformação induzida por

tensão. Desta forma, ���� representa a tensão crítica em que se inicia tal transformação de

fase, e ���� a tensão em que ocorre o fim da transformação. Desta maneira pode-se

descrever a cinética da transformação de fase definindo equações para a evolução da

fração volumétrica de martensita, apresentadas na sequência.

Inicialmente, considera-se a reorientação da fase martensítica. Para � > �� e

������ + ��(� − ��) < � < ��

���� + ��(� − ��), as frações volumétricas são:

�� =

1 − ���

2��� �

���� − ��

�� �� − ������ +

1 + ���

2

(15)

�� = ��� −

���

1 − ���(�� − ���)

Para � < �� e ������ < � < ��

����, tem-se:

�� =

1 − ���

2��� �

���� − ��

�� �� − ������ +

1 + ���

2

(16)

�� = ��� −

���

1 − ���(�� − ���)

onde define-se:

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Para �� < � < �� e � < �� : ��� =�� ���

�{�������� − ���� + 1}

(17)

Caso contrário: ��� = 0

Além disso, �� e �� são propriedades do material obtidas por meio do diagrama

de fase, e descrevem a relação entre a temperatura e a tensão crítica necessária para

induzir transformação de fase por tensão.

Para a transformação de fase martensita-austenita, a fração volumétrica é

definida como:

�� =

���

2{��� ��� �� − �� −

���� + 1}

(18)

�� =

���

2{��� ��� �� − �� −

���� + 1}

Além disso, �� e �� são definidas por:

�� =�

�� − ��

(19)

�� =�

�� − ��

4.1 Mola helicoidal com memória de forma

A descrição de molas helicoidais com memória de forma pode ser feitas a partir

de hipóteses simplificadoras que consideram que a transformação de fase se dá de forma

homogênea ao longo da seção transversal do fio (Savi & Braga [21]; Aguiar, Savi et al

[22]; Enemark, Santos et al [23]). Para isso, considera-se que o comportamento a torção

obedece a equação constitutiva apresentada a seguir,

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�̇ = ��̇ + Ω �̇ + Θ �̇ (20)

onde �̇ e �̇ são respectivamente a taxa de tensão de cisalhamento e a taxa de deformação

de cisalhamento. Além disso, � é o módulo de cisalhamento do material que, assim como

o módulo de Young para o caso em que o esforço axial, é calculado a partir de valores

distintos para a fase martensítica e austenítica de modo que, utilizando-se uma relação

similar a descrita pela Equação 14, obtêm-se a seguinte equação,

�(�) = �� + �(�� − ��) (21)

que descreve o módulo de cisalhamento em função da fração martensítica ( � ), calculada

conforme as Equações 15 - 19.

A relação entre a força longitudinal, �, e a distribuição de tensão por

cisalhamento, �, é expressa por:

� =

4 �

� � � �� ��

(22)

onde D é o diâmetro da mola, e r é o raio do fio com o qual a mola é fabricada.

A deformação por cisalhamento (�) é distribuída linearmente ao longo da seção

transversal do fio, conforme se segue:

� =

2 �

� �� � � (23)

Substituindo a Equação 20 na Equação 22, obtêm-se:

�̇ =

4�

�� ���̇ + Ω �̇ + Θ �̇�����

(24)

Substituindo o resultado presente na Equação 23, na Equação 24:

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�̇ =

4 �

�� ��

2 �

� �� � �̇ + Ω �̇ + Θ �̇� ����

(25)

Integrando a Equação 25, obtêm-se a equação que descreve o comportamento

das molas de SMA, conforme apresentado na Equação 26.

�̇ =

���

8��� �̇ +

���

12Ω �̇ +

���

12Θ �̇ (26)

Tomando � =���

���� (constante elástica da mola), e � =

� (índice de mola), a

Equação 26, pode ser reescrita da seguinte maneira:

�̇ = ��̇ + �

���

12�

Ω

� �̇ + �

���

12�

Θ

� �̇ (27)

4.2 Verificação do modelo matemático

Os dados experimentais obtidos por Tobushi, Iwanaga et al [24] para fios de

NiTi foram obtidos para ensaios realizados em três temperaturas distintas: 333K, 353K,

e 373K. Os testes experimentais consideram carregamento/descarregamento mecânicos

em espécies mantidas sob temperaturas constantes. Os espécimes utilizados são de NiTi,

possuindo 0,75mm de diâmetro, e 110mm de comprimento.

Os dados experimentais encontrados por [24] são comparados com os resultados

numéricos obtidos por meio do script numérico baseado no modelo de Brinson [2], para

os dados apresentados na Tabela 2. Os resultados podem ser visualizados na Figura 17,

na qual, os resultados experimentais estão representados pela linha vermelha com pontos,

enquanto o modelo numérico está representado por uma linha preta em cheio.

Esta comparação é apresentada para as três temperaturas presentes em [24], de

modo que: acima à esquerda é apresentada a comparação para a temperatura de 333K;

acima à direita para 353K; e abaixo, para 373K.

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28

Tabela 2: Parâmetros adotados na simulação numérica para fios de SMA.

�� (���) �� (���) � (%) � (���)

57,0 42,0 0,05 0,32

�� (���) �� (���) �� (���) �� (���)

34,6 65,3 8,5 9,0

�� (�) �� (�) �� (�) �� (�)

285 295 320 333

Figura 17: Comparação Numérico-Experimental para fios de SMA. Linha cheia

em preto representa valores numéricos e a linha vermelha com pontos representa os pontos experimentais.

De maneira similar, é realizada a comparação numérico-experimental para molas

fabricadas com fios de SMA. Esta comparação é realizada entre o script baseado no

modelo apresentado na Seção 4.1, e o trabalho desenvolvido por Na, Ryu et al [25].

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29

No trabalho de Na, Ryu et al [25] um modelo para um atuador de dois estágios

é proposto, de modo que, o material é analisado em dois momentos distintos: no primeiro,

este se encontra em sua fase completamente martensítica, ou seja, � < ��; e na outra, em

sua fase completamente austenítica, à saber, � > ��.

Em seus testes, An, Ryu et al [25] utilizaram um fio de NiTi da Dynalloy Inc

(�� = 70∘� ) com diâmetro de 381�m. Todas as molas foram fabricadas com 10 espiras

ativas, sendo mantidas nessa configuração por uma hora a 400∘C, a fim de memorizarem

tal formato. Foram fabricadas molas com três índices diferentes: 6,2, 7,6 e 10,2.

Tabela 3: Parâmetros adotados na simulação numérica para molas de SMA.

�� (���) �� (���) � (%) � (���)

18,2 6,98 0,05 0,32

�� (���) �� (���) �� (���) �� (���)

72,4 114,0 8,5 9,0

�� (�) �� (�) �� (�) �� (�)

288,17 294,35 333,5 347,12

As comparações numérico-experimentais são apresentadas nas Figuras 18 - 20,

para os índices 6,2, 7,6 e 10,2. Nestas figuras são apresentados os resultados para a

temperatura em que a fase martensítica é estável, à esquerda, e a direita, para a

temperatura em que a fase austenítica é estável.

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30

Figura 18: Comparação numérico-experimental para C = 6,2. Linha cheia em preto representa valores numéricos e a linha vermelha com pontos representa os pontos

experimentais.

Figura 19: Comparação numérico-experimental para C = 7,6. Linha cheia em preto representa valores numéricos e a linha vermelha com pontos representa os pontos

experimentais.

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Figura 20: Comparação numérico-experimental para C = 10,2. Linha cheia em

preto representa valores numéricos e a linha vermelha com pontos representa os pontos experimentais.

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32

MODELAGEM DO SISTEMA PROTÓTIPO

Este capítulo apresenta a modelagem matemática utilizada para descrever o

processo de morfagem de uma asa protótipo. Considera-se a morfagem de um aileron de

ponta de asa, cujo protótipo é apresentado na Figura 21 21. O modelo matemático utiliza

uma geometria simplificada, como apresentado na Figura 22. Tal formulação considera a

asa como infinita. Sendo assim, a análise é realizada por meio do estudo de um aerofólio.

Figura 21: Apresentação do sistema protótipo utilizado neste estudo. Em destaque: 1 – Molas de SMA em configuração antagônica, 2 – Servomotor SG90, 3 – Giroscópio, e 4 –

Arduino UNO R3.

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33

5.1 Equações de equilíbrio

Um modelo simplificado é proposto para descrever a morfagem da estrutura. O

modelo divide o aerofólio em duas partes conectadas por um pino, localizado no ponto

O, conforme apresentado na Figura 22.

Figura 22: Apresentação do ponto de giro (O).

A morfagem é realizada pela atuação de duas molas com memória de forma em

configuração antagônica, Figura 23. Sua atuação promove o movimento de giro em torno

do ponto O, cujo raio de giro ��� é apresentado na Figura 22.

Figura 23: Desenho esquemático da configuração das molas de SMA no modelo conceitual adotado na análise.

A parte à esquerda é considerada fixa, e a parte a direita representa o aileron. O

movimento realizado pelo aileron depende dos esforços que estão atuando sobre ele.

A fim de capturar os efeitos de cada um dos momentos atuando sobre o aileron,

é proposta uma equação de equilíbrio de momentos em torno do ponto O, desprezando os

efeitos de inércia. Tal procedimento foi adotado por Leal & Savi [8] e Silva [5] que

consideram torques gerados pela força peso (��), pelas forças aerodinâmicas (��), e por

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34

ambas as molas de SMA (����� e �����

). Sendo assim, obtêm-se a seguinte equação de

equilíbrio em relação ao ponto O:

�� + �� + �����+ �����

= 0 (28)

A seguir discute-se cada um dos termos da equação de equilíbrio.

5.1.1 Torque devido a força peso

Para avaliar o torque devido a força peso considera-se que o peso da parte móvel

é constante e seu braço de alavanca corresponde a distância entre o centro de gravidade

da parte móvel e o ponto O. Sendo assim, a formulação que descreve o torque devido a

força peso é apresentada a seguir.

�� = �̅ cos (�) ��� (29)

onde �� é a massa da parte atuada; g a aceleração da gravidade; �̅cos(�) representa a

posição do centro de gravidade, na qual � é o ângulo que a extremidade do aileron faz

com a horizontal, e �̅ é a posição do centro de gravidade da parte móvel.

O centro de gravidade da parte móvel é calculado a partir das aproximações

geométricas apresentadas na Figura 24, cujo cálculo pode ser encontrado no APÊNDICE

A.

�̅ =

56

147ℎ� (30)

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35

Figura 24: Modelo simplificado da parte atuada.

Substituindo a Equação 30 na Equação 29, obtêm- se a equação que descreve o

torque devido a foça peso atuando sobre a parte móvel, como descrito abaixo.

�� =

56

147ℎ�cos (�) ��� (31)

5.1.2 Torque devido aos atuadores com memória de forma

O cálculo das forças provocadas pela atuação das molas com memória de forma

em configuração antagônica sobre o aileron são calculadas conforme a Equação 27,

baseada nas discussões apresentadas na Seção 4.1.

Multiplicando a força obtida por meio da Equação 27, pelo seu braço de alavanca

(distância entre o centro de gravidade da parte móvel e o ponto O), obtêm-se o torque

devido a mola de SMA em forma de taxas.

�̇��� = ���̇ + �

���

12�

Ω

� �̇ + �

���

12�

Θ

� �̇� ��� (32)

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36

5.1.3 Torque devido as forças aerodinâmicas

Um aerofólio NACA 0012 cuja superfície móvel tem sua junta à 7/8 do bordo

de ataque é analisado, em conformidade com o protótipo apresentado na Figura 21. Tal

análise compreende uma variação de 30° do aileron, sendo 15° no sentido horário, e 15°

no sentido anti-horário, conforme apresentado na Figura 25.

Figura 25: Representação esquemática dos ângulos máximos utilizados nesta análise.

Este trabalho analisa três velocidades de escoamento a jusante: 1 m/s, 5 m/s, e

10 m/s, apresentadas nas Figuras 26, 27 e 28. Observe que as diversas linhas representam

o momento gerado sobre o aileron para um ângulo de ataque específico.

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Figura 26: Momento da parte móvel devido as forças aerodinâmicas atuando sobre a asa x Ângulo do aileron para diversos ângulos de ataque, com �� = 1 m/s.

Figura 27: Momento da parte móvel devido as forças aerodinâmicas atuando sobre a asa versus ângulo do aileron para diversos ângulos de ataque, com V� = 5 m/s.

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Figura 28: Momento da parte móvel devido as forças aerodinâmicas atuando sobre a asa versus ângulo do aileron para diversos ângulos de ataque, com V� = 10 m/s.

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39

ANÁLISE EXPERIMENTAL

Neste capítulo são apresentados os resultados obtidos com o aparato

experimental, construído com o objetivo verificar a aplicabilidade da utilização de molas

SMA na atuação de um aileron de ponta de asa. Este aparato é baseado em projetos de

aeromodelo, e busca apresentar geometrias características compatíveis com os modelos

que o inspiraram. Sendo assim, como primeira forma de atuação, utiliza-se um

servomotor SG90, comumente utilizado para a atuação de partes móveis, em aeromodelos

de baixa velocidade. O aparato atuado por servomotor pode ser visto em suas vistas

frontal e lateral na Figura 29.

Figura 29: Aparato experimental atuado por servomotor. Vista frontal à esquerda, e lateral à direita. Em destaque: 1 – chip ACS712, 2 - chip MPU6050, e 3 – servomotor.

O servomotor SG90 é um motor leve e com alta potência de saída, ao ser levado

em consideração o seu peso e tamanho, sendo capaz de girar 180 graus, sendo 90 em cada

sentido, podendo entregar até 2,5 Kg.cm, segundo sua folha de dados (Datasheet),

fornecida pelo fabricante, o que o torna uma escolha acertada no que se refere a

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aplicações em que se necessita uma boa relação de compromisso entre peso e força

entregue pelo elemento de atuação. As informações mais relevantes a respeito do

servomotor utilizado podem ser encontradas na Figura 30.

Figura 30: Dimensões e informações mais relevantes do servomotor SG90.

A atuação do aileron por meio do servomotor acima apresentado, foi realizada

com a utilização de um Arduino Uno R3 como controlador. Foram tomados dois dados

importantes: o ângulo em que o aileron se encontra, e a potência necessária para realizar

sua variação angular.

O ângulo é medido por meio da utilização de um chip MPU6050, que conta com

um acelerômetro e um giroscópio de alta precisão (16 bits). Já a potência elétrica é medida

com a utilização do chip ACS712 que realiza medições por meio do efeito Hall. Tal efeito

está relacionado com o surgimento de um campo magnético perpendicular à direção da

corrente, causado pelo surgimento de uma diferença de potencial em um condutor

elétrico.

A fim de obter dados que contemplassem todo o espectro de ângulos que o

aileron deve alcançar, realiza-se uma rotina em que o servomotor faz com que o aileron

gire a partir do ângulo 0º até o ângulo de 15º no sentido horário, e posteriormente gire o

aileron no sentido anti-horário até o ângulo de -15º.

Enquanto o servomotor promove o giro do aileron, os módulos MPU6050, e

ACS712 tomam dados a cada 30 ms. Por meio dos dados obtidos dessa maneira, a Figura

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41

31 apresenta a variação angular sofrida pelo aileron ao ser atuado pelo servomotor

segundo a rotina acima descrita.

Figura 31: Curva experimental obtida pelo módulo MPU6050 para atuação do aileron promovida pelo servomotor. Pontos experimentais são apresentados na forma de pontos

em vermelho; linha preta contínua apresenta curva tomada a partir dos dados experimentais pelo método dos mínimos quadrados, para auxiliar a visualização dos

dados.

As medidas de corrente e tensão elétricas não apresentaram variações

significativas, de modo que, as mesmas se mantiveram praticamente constantes em torno

de 0,4 mA, e 5V, respectivamente. Sendo assim, o consumo energético aproximado é de

2mW.

Para a atuação por meio de molas SMA adota-se uma configuração antagônica,

conforme apresentado no modelo matemático descrito no Capítulo 5. As molas utilizadas

possuem um diâmetro de 6,6 mm, e são construídas a partir de um fio com 1,1 mm de

diâmetro, tendo 10 espiras ativas.

Utiliza-se o efeito memória de forma para realizar a atuação do aileron de duas

maneiras distintas: a primeira promove a transformação de fase por meio do aquecimento

da mola por convecção forçada. Neste procedimento é utilizada uma Heat gun como fonte

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42

de calor. A segunda faz uso do efeito Joule, promovido pela passagem de corrente elétrica

pela mola, que devido a sua resistência interna transforma energia elétrica em energia

térmica. Neste procedimento é utilizada uma fonte de bancada como fonte de corrente.

A Figura 32 apresenta o aparato experimental em sua configuração, para o uso

de molas de SMA.

Figura 32: Aparato experimental na configuração que utiliza molas de SMA. Em destaque: 1 – Molas de SMA em configuração antagônica, 2 - chip MPU6050, e 3 –

chip ACS712.

Para o caso em que é utilizada a heat gun para a promoção do aquecimento da

mola por convecção, a seguinte rotina é realizada: inicialmente aquece-se a mola que

promove o giro no sentido horário, até que o aileron atinja o ângulo de 15º;

posteriormente desloca-se a heat gun para a posição em que apenas a mola que promove

o giro no sentido anti-horário é aquecida. Este ciclo é repetido diversas vezes, de modo

que apenas um dos ciclos intermediários é apresentado na Figura 33.

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43

Figura 33: Curva experimental obtida pelo módulo MPU6050 para atuação do aileron promovida por molas de SMA aquecidas com Heat Gun. Pontos experimentais são apresentados na forma de pontos em vermelho; linha preta contínua apresenta curva tomada a partir dos dados experimentais pelo método dos mínimos quadrados, para

auxiliar a visualização dos dados.

Para o caso em que é utilizada a fonte de bancada como elemento promotor do

aquecimento, uma tensão elétrica de 3V, bem como uma corrente de aproximadamente

0,86 A são utilizadas. Sendo assim, a potência utilizada para promover esta atuação é de

aproximadamente 2,58 W. A Figura 34 apresenta a fonte de bancada utilizada, cujos

dados discutidos acima podem ser visualizados em seu display.

O procedimento aqui adotado é similar ao que é realizado para o aquecimento

por convecção. Inicialmente aplica-se corrente elétrica sobre a mola que promove o giro

no sentido horário, até que o aileron atinja o ângulo de 15º. Posteriormente, remove-se a

alimentação desta mola, e aplica-se corrente elétrica sobre a mola que gira o aileron no

sentido anti-horário, até que este atinja o ângulo de -15º. Esse ciclo é repetido diversas

vezes, sendo apresentado na Figura 35, apenas um dos ciclos intermediários.

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44

Figura 34: Setup experimental utilizado na promoção do aquecimento das molas de SMA por efeito Joule. Em destaque: 1 – Molas de SMA em configuração antagônica, 2 - chip

MPU6050, 3 – chip ACS712, e 4 – Fonte de bancada.

Figura 35: Curva experimental obtida pelo módulo MPU6050 para atuação do aileron promovida por molas de SMA aquecidas com corrente elétrica (fonte de bancada).

Pontos experimentais são apresentados na forma de pontos em vermelho; linha preta contínua apresenta curva tomada a partir dos dados experimentais pelo método dos

mínimos quadrados, para auxiliar a visualização dos dados.

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A Figura 36 apresenta a comparação entre as curvas experimentais ajustadas, de

modo que pode-se verificar que a utilização das molas SMA em configuração antagônica

apresentam uma resposta similar a obtida pela atuação promovida pelo servomotor.

Figura 36: Comparação entre as curvas experimentais ajustadas.

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ANÁLISE PARAMÉTRICA

Após verificar experimentalmente a similaridade da utilização de molas de SMA

em configuração antagônica na atuação de ailerons com o procedimento clássico que faz

uso de servomotor, este capítulo apresenta uma análise paramétrica da atuação promovida

por molas de SMA. Esta análise considera a estrutura submetida a um escoamento à

jusante.

Inicialmente analisam-se dados de sustentação promovidos pela variação

angular do aileron para diversos ângulos de ataque o que permite encontrar o melhor

ângulo de ataque para o modelo analisado. Posteriormente, são apresentados os resultados

da análise da atuação promovida por molas de SMA para diversos coeficientes de mola

(C).

7.1 Seleção do ângulo de ataque

Nesta seção são analisados os valores obtidos segundo o método dos painéis

apresentado na Seção 3.2, a fim de encontrar o ângulo de ataque cujo movimento de

rolagem é possível para a maior quantidade de ângulos dos ailerons. Essa análise é feita

para três velocidades: 1m/s, 5 m/s, e 10 m/s. A análise leva em consideração o coeficiente

de sustentação promovido sobre o aileron para ângulos que variam entre 15º à 15º, e

ângulos de ataque variando entre 0º e 13º.

As Figuras 37 - 39 apresentam os resultados obtidos por meio da utilização do

software XFLR5 apresentado na Seção 5.1.3 para as velocidades de 1, 5 e 10 m/s.

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Figura 37: Análise da variação do coeficiente de sustentação para diversos ângulos de ataque com �� = 1m/s.

Figura 38: Análise da variação do coeficiente de sustentação para diversos ângulos de ataque com V� = 5 m/s.

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Figura 39: Análise da variação do coeficiente de sustentação para diversos ângulos de ataque com �� = 10 m/s.

A partir desses resultados pode-se concluir que ao aumentar o ângulo de ataque,

a sustentação também aumenta, desconsiderando os efeitos de stall (perda de

sustentação). Além disso, com o aumento do ângulo de ataque perde-se a

manobrabilidade requerida para que ocorra o movimento de rolagem, já que para ângulos

negativos do aileron (giro no sentido anti-horário) não se tem mais a presença do

coeficiente de sustentação negativo para ângulos de ataque superior a cinco graus.

A fim de obter uma boa relação custo benefício entre a sustentação promovida

pelo ângulo de ataque e a boa manobrabilidade no movimento de rolagem, toma-se o

ângulo de 2º para análise, sendo suas curvas de momento da parte móvel apresentadas na

Figura 40. Nesta figura, o momento é tomado no bordo de fuga, por ser o ponto em que

o esforço é máximo. É possível notar que com o aumento da velocidade do escoamento à

jusante ( �� ), o momento gerado pelas forças aerodinâmicas também aumenta, o que

acresce o esforço necessário para realizar a atuação do aileron.

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Figura 40: Momento gerado pelas forças aerodinâmicas para um ângulo de ataque de 2∘.

7.2 Análise paramétrica das molas de SMA

Nesta seção apresenta-se uma análise paramétrica de molas de SMA usadas na

atuação. Consideram-se molas com diferentes diâmetros de fio e os mesmos números de

espiras e diâmetro. Realizam-se simulações numéricas com o objetivo de verificar a

atuação de cada uma delas em asas submetidas a escoamentos à jusante. Tal análise é

realizada para uma geometria idêntica a apresentada na Seção 6, tomando um ângulo de

ataque de 2º, tal como definido na Seção 7.1.

As informações a respeito dos diâmetros de mola utilizados nesta análise podem

ser encontradas na Tabela 4.

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Tabela 4: Informações a respeito das molas de SMA utilizadas na análise numérica.

Índice de mola ���� ���� N° de espiras ativas

4 6,6 mm 1,65 mm 10

5 6,6 mm 1,32 mm 10

6 6,6 mm 1,1 mm 10

7 6,6 mm 0,942 mm 10

8 6,6 mm 0,825 mm 10

9 6,6 mm 0,734 mm 10

10 6,6 mm 0,66 mm 10

11 6,6 mm 0,6 mm 10

12 6,6 mm 0,55 mm 10

A análise verifica o caso em que a mola de SMA 1 se encontra em temperatura

ambiente, e a mola de SMA 2 é aquecida até ser atingido o ângulo de 15º. Para a

velocidade de 1 m/s, observa-se que todas as molas conseguem realizar a variação angular

desejada, conforme apresentado na Figura 41. Para índices de mola menores, a variação

de temperatura que promove a atuação é muito pequena, o que ocasiona dificuldade para

realizar um controle mais preciso de variação angular, sendo preferida a utilização de

molas com índices maiores.

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Figura 41: Variação angular do aileron a partir do ponto inicial, para Temperatura SMA 1 com 288K e temperatura SMA 2 variando a partir de 288K, para �� = 1 m/s.

Para a velocidade de 5 m/s percebe-se que é necessário promover uma maior

variação na temperatura da mola 2 para realizar a mesma variação angular. Nesse cenário,

índices de mola maiores não conseguem oferecer a variação angular requerida de 15º. As

curvas para esta velocidade podem ser vistas na Figura 42.

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Figura 42: Variação angular do aileron a partir do ponto inicial, para Temperatura SMA 1 com 288K e temperatura SMA 2 variando a partir de 288 K, para �� = 5 m/s.

Para a velocidade de 10 m/s apenas as molas com menores índices de mola

conseguem entregar alguma variação angular, de modo que, apenas a mola com C=4 e 5

conseguem promover a variação de 15º. As curvas para esta velocidade são apresentadas

na Figura 43.

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Figura 43: Variação angular do aileron a partir do ponto inicial, para Temperatura SMA 1 com 288K e temperatura SMA 2 variando a partir de 288K, para

�� = 10 m/s.

Desta forma, pode-se constatar que quanto maior o diâmetro do fio, mantendo

fixos os diâmetros da mola e seu número de espiras ativas, maior é a capacidade de

atuação para uma mesma variação de temperatura. Assim, a primeira escolha de mola

para realizar a atuação do aileron nas velocidades aqui apresentadas seria a mola cujo

índice é 4, pois entrega a variação angular requerida, independente da velocidade.

Entretanto, para baixas velocidades, como pode ser visto na Figura 41, sua atuação ocorre

com uma variação de temperatura de 0,1K, o que torna pontos intermediários difíceis de

serem obtidos, causando dificuldades no que concerne à manobrabilidade da aeronave a

baixas velocidades.

Por outro lado, a mola cujo índice é 12, obtêm uma curva suave para baixas

velocidades, mas não consegue entregar grandes variações angulares em velocidades

intermediárias (Figura 42). Sendo assim, a busca por uma mola cujo índice apresente uma

boa relação de compromisso entre sua capacidade de atuação, e seu diâmetro se faz

necessária.

Desta maneira, ao observar as curvas pertencentes a mola que utiliza um fio de

diâmetro 1,1 mm, percebe-se que, para a velocidade de 1 m/s esta consegue entregar a

variação angular requerida com uma variação de temperatura de 0,5K. Para a velocidade

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de 5 m/s esta entrega uma variação angular de 15 graus, com uma variação de temperatura

de 15,0 K, e por fim, para uma velocidade do escoamento à jusante de 10 m/s, é obtida

uma variação angular de 14 graus, com variação de 62,0 K na mola de SMA 2, que mesmo

não sendo a variação angular requerida, ainda é capaz de promover o movimento de

rolagem.

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CONCLUSÕES

A proposta deste trabalho é avaliar a capacidade de atuação de ailerons por meio

da utilização de ligas com memória de forma. A atuação é feita por meio de um sistema

de molas antagônico que utiliza molas helicoidais com memória de forma.

A análise experimental mostra que a utilização do sistema de atuação proposto

apresenta boa concordância com o resultado obtido com o método clássico, que utiliza

servomotor. Os testes são realizados considerando a variação de temperatura tanto por

aquecimento por convecção quanto por efeito Joule.

Simulações numéricas são realizadas para três velocidades diferentes (1, 5 e 10

m/s) utilizando o método dos painéis. O software XFLR5 é utilizado para levantar as

curvas do coeficiente de sustentação pelo ângulo do aileron para diversos ângulos de

ataque, de onde conclui-se que para um ângulo de ataque de dois graus obtêm-se a melhor

relação entre sustentação e manobrabilidade, no que concerne ao movimento de rolagem

da aeronave. Uma análise paramétrica é desenvolvida para o ângulo de ataque escolhido,

analisando curvas de ângulo do aileron versus momento provocado pelas forças

aerodinâmicas.

A análise paramétrica mostra que a mola que oferece uma variação angular

satisfatória e suave é a de constante de mola igual a 6. Para a velocidade de 1 m/s esta

consegue entregar a variação angular de 15 graus com uma variação de temperatura de

0,5K. Para a velocidade de 5 m/s, esta entrega igualmente uma variação angular de 15,0

graus com uma variação de temperatura de 15,0 K, e por fim, para uma velocidade do

escoamento à jusante de 10 m/s, é obtida uma variação angular de 14,0 graus, com

variação de 62,0 K na mola de SMA

A partir dos resultados apresentados conclui-se que a utilização das ligas com

memória de forma é promissora para promover a atuação de ailerons, bem como de outras

partes do avião.

Considerando o escopo do trabalho apresentado, existem duas sequências

naturais para trabalhos futuros: a aplicação de um controle de variação angular por meio

de um controle ativo de temperatura; e a realização de testes experimentais em túnel de

vento. Testes em voo também são de grande interesse.

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Por fim, a utilização da configuração apresentada neste trabalho pode ser

utilizada em um voo teste com aeromodelo, a fim de validar, tanto os resultados

numéricos obtidos neste trabalho, quanto os possíveis trabalhos futuros acima descritos.

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APÊNDICE A

Tomando por hipótese que a parte móvel pode ser descrita geometricamente como

dois triângulos isósceles cujas bases são idênticas, conforme apresentado na figura

abaixo:

Figura A.1: Modelo simplificado do aileron.

Tomando o triângulo à esquerda, podemos obter o valor de sua base da seguinte

maneira:

1

7ℎ� = � × cos (�)

(A.1)

� =ℎ�

7 × cos (�)

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Figura A.2: Triângulo retângulo utilizado para obtenção do valor da base dos

triângulos retângulos.

b

2= a × sen(θ)

(A.2)

b =2

7 h� × tg(θ)

Tendo obtido todas as dimensões importantes para o cálculo do centro de

gravidade da parte móvel, pode-se obtê-la por meio da expressão:

x� =x�� A� + x����A�

A� + A� (A.3)

onde:

x�� =2

1

7× h� =

2

21h� (A.4)

x���� =1

7h� +

1

6

7× h� =

9

21h� (A.5)

A� =b ×

17 h�

2=

�27 h� × tg(θ)� ×

17 h�

2=

h�� × tg(θ)

49

(A.6)

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A� =b ×

67

h�

2=

�27 h� × tg(θ)� ×

67 h�

2=

6 h�� × tg(θ)

49

(A.7)

Substituindo A.4 – A.7 em A.3, obtêm-se que x� =��

���h�.

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APÊNDICE B

Toda a análise realizada pelo XFLR5, tomando o caso bidimensional é entregue

na forma de parâmetros adimensionais que devem ser posteriormente convertidos para

suas respectivas grandezas, a fim de que se possa utilizá-los na equação de equilíbrio

descrita na Seção 5.1.

Inicialmente deve-se definir as grandezas essenciais, a saber:

massa = [M] = [kg]

comprimento = [L] = [m] (B.1)

tempo = [T] = [s]

Essas grandezas tornam possível a descrição das conseguem descrever as

grandezas físicas envolvidas no fenômeno, sendo elas:

ρ = �kg

m�� = �M

L��

v = �m

s� = �

L

T�

c = [m] = [L] (B.2)

F = ���.�

�� = �

�.�

��

M = �kg. m�

s� = �

M. L�

T�

Onde � é a densidade volumétrica do corpo, � a velocidade do escoamento, � o

comprimento da corda, � a força, e � o momento.

Para a força de arrasto, pode-se definir o coeficiente de arrasto (��) como:

C� =F�

12 ρv�A

(B.3)

Onde � é a área sobre a qual a força de arrasto está atuando.

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De maneira similar, pode-se definir o coeficiente de sustentação (��) como:

C� =F�

12

ρv�A (B.4)

E por fim, define-se o coeficiente que é utilizado no cálculo do momento que a

parte móvel faz ao ser carregada pelas forças aerodinâmicas (���),

C�� =F��

12 ρv�A

(B.5)

Sendo assim, a força que age na parte atuada pode ser escrita em função dos

parâmetros do fenômeno como:

F�� =1

2ρv�AC�� (B.6)

Tomando o pior caso possível, ou seja, o que esta força atua de forma concentrada

na ponta da parte atuada, pode-se contabilizar o momento gerado pela ação das forças

aerodinâmicas da seguinte maneira:

M������� =1

2ρv�AC�� �

1

7c� (B.7)

Tendo em vista que o aileron descrito neste texto tem seu início em � =�

� da corda.

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ANEXO I

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