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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA-PPGP MÁRCIA FERNANDA SILVA MACÊDO GALVÃO A INTERVENÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO NO ACESSO A MEDICAMENTOS NO RIO GRANDE DO NORTE: UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DAS POLÍTICAS NACIONAIS DE MEDICAMENTO E DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA. Natal 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA-PPGP

MÁRCIA FERNANDA SILVA MACÊDO GALVÃO

A INTERVENÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO NO ACESSO A MEDICAMENTOS NO

RIO GRANDE DO NORTE: UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DAS POLÍTICAS

NACIONAIS DE MEDICAMENTO E DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA.

Natal

2013

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MÁRCIA FERNANDA SILVA MACÊDO GALVÃO

A intervenção do poder Judiciário no acesso a medicamentos no Rio Grande do Norte: uma

análise sob a ótica das Políticas Nacionais de Medicamento e de Assistência Farmacêutica.

Dissertação apresentada no processo avaliativo de Defesa de Dissertação do Mestrado na área de Administração, do Programa de Pós-Graduação em Gestão Pública da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGP/UFRN). Orientador: Dr. Hironobu Sano

Natal

2013

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MÁRCIA FERNANDA SILVA MACÊDO GALVÃO

A intervenção do poder Judiciário no Acesso a medicamentos no Rio Grande do Norte: uma

análise sob a ótica das Políticas Nacionais de Medicamento e de Assistência Farmacêutica.

Dissertação apresentada no processo avaliativo de Defesa de Dissertação do Mestrado na área de Administração, do Programa de Pós-Graduação em Gestão Pública da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGP/UFRN), composta pelos seguintes membros:

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________ Profº Dr. Hironobu Sano

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Orientador

_________________________________________________________ Profº. Dr. Antonio Sérgio Araújo Fernandes

Membro Interno- UFRN

_________________________________________________________ Profº Dr. Marco Antônio Carvalho Teixeira

Membro Externo-FGV

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RESUMO

O presente estudo objetivou avaliar a inserção dos princípios das Políticas Nacionais de Medicamentos-PNM e da Assistência Farmacêutica-PNAF no julgamento de ações judiciais envolvendo medicamentos. Para atender tal anseio, a coleta dos dados foi realizada no sítio eletrônico do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte-TJ-RN, no ano de 2012. Obteve-se 115 decisões judiciais, as quais foram analisadas, a fim de calcular os Indicadores de Monitoramento de demandas judiciais e realizar a análise de conteúdo proposta por Bardin (2006). Os resultados demonstraram que: a) 100% das decisões foram favoráveis ao autor, b) 76% das decisões tinham solicitações pelo nome comercial do medicamento, c) apenas um medicamento (eculizumabe) não tinha registro na ANVISA, d) 36% dos medicamentos estavam presentes na lista de medicamentos padronizados no SUS, sendo 16% do bloco de atenção básica e 20% do componente especializado, e) 76% das decisões apresentavam a solicitação de pelo menos 01 medicamento não padronizado. Com relação ao processo de descentralização da PNM e da PNAF observa-se comprometimento desse princípio no momento das decisões judiciais, por constatar que municípios e estados são frequentemente obrigados a adquirir medicamentos de responsabilidade de outro ente federativo ou de outras unidades terciárias como CACONS e UNACONS. A análise de conteúdo revelou que o argumento dos juízes mais utilizados no momento de proferirem suas decisões foi o de que o direito a saúde é reconhecido pela legislação brasileira como um direito fundamental, devendo ser garantido pelo Estado a todos os seus cidadãos. Dessa forma, a saúde é superior a restrições orçamentárias dos entes federativos, os quais são solidariamente responsáveis pelas demandas judiciais, independente do medicamento solicitado pertencer ou não a um bloco de financiamento específico da assistência farmacêutica. Diante de tais dados, observa-se que há lacunas na decisão judicial no que diz respeito à inserção e menção dos princípios da PNM e da PNAF, gerando, portanto necessidade de um maior diálogo entre os poderes executivo e judiciário a fim de que possam considerar relevante a efetividade e aplicação de tais princípios para minimização das conseqüências negativas do fenômeno da judicialização da saúde.

Palavras-chaves: Judicialização, Medicamentos, Políticas Públicas, Assistência

Farmacêutica.

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ABSTRACT

The present study aimed to evaluate the inclusion of the principles of the National Medicines Policy - PNM and the Pharmaceutical assistance - PNAF in the prosecution of lawsuits involving medicines. To fulfill this necessity , data collection was performed on the website by the Tribunal Rio Grande do Norte - TJ –RN ( Rio Grande do Norte Court) , in 2012 . It was obtained 115 judgments, which were analyzed in order to generate Monitoring Indicators from lawsuits and conduct content analysis proposed by Bardin (2006). The results showed that : a) 100 % of the decisions were favorable to the author , b) 76 % of decisions were requests by the trade name of the drug , c) only one drug (eculizumabe) had not granted by ANVISA , d) 36 % of drugs were present in the list of standard medicines in SUS , 16 % of primary care block and 20 % of specialized component , e) 76 % of the decisions presented the request of at least 01 non-standard medicine. With regard to decentralization of PNM and PNAF we observed a commitment to this principle at judicial decisions, to see that municipalities and states are often forced to buy medicines of responsibility from another federal entity or other tertiary units as CACONs and UNACONS. The content analysis revealed that the argument from the judges used when you utter their decisions was that the right to health is recognized by Brazilian law as a fundamental right and should be guaranteed by the State for all its citizens. So, health is more than budgetary constraints of federal entities, which are severally liable for lawsuits , regardless the medication requested belongs or not to a particular block of a pharmaceutical assistance funding. Given these data, it is observed that there are gaps in the judgment when it comes to the insertion of the words and principles of PNM and PNAF, creating then the need for greater dialogue between the executive and judicial, so that they may consider relevant the effectiveness and application of such principles to minimize the negative consequences of the phenomenon of health judicialisation. Keywords: Judicialisation, Medicines, Public Policy, Pharmaceutical Care.

Keywords: Judicialization,Medicines,Public Policy,Pharmaceutical Care.

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“Dedico este trabalho aos meus pais: Francisco de Sales Macêdo e

Maria de Fátima Silva Macêdo, ao meu esposo: Diogo Felipe de

Vasconcelos Galvão e ao meu irmão: Márcio Fernando Silva

Macêdo, os quais nunca mediram esforços para eu ser feliz e

conquistar os meus sonhos. Meu eterno reconhecimento, gratidão e

amor”.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Francisco de Sales Macêdo e Maria de Fátima Silva Macêdo, que

acreditaram no meu potencial e investiram na minha formação intelectual, dando-me sempre

amor, força, coragem e perseverança para seguir em frente e nunca desistir de conseguir o

que eu desejava. Obrigada por me dar o maior de todos os presentes: a educação e o

exemplo de vida. Lembrar de vocês diariamente impulsiona-me a buscar sempre ser uma

pessoa melhor.

Ao meu esposo Diogo Felipe de Vasconcelos Galvão que sempre está ao meu lado,

incentivando-me a buscar os meus sonhos e compreendendo a minha ausência e dedicação

para com essa dissertação. Nos melhores e mais difíceis momentos dessa batalha acadêmica,

a sua força, amor e bom humor me mostraram que é possível dividir o tempo e conquistar o

almejado. Meu agradecimento e amor.

Ao meu irmão Márcio Fernando Silva Macêdo pelo companheirismo, amizade, amor e

dedicação, os quais sempre serão mútuos.

A todos os meus familiares e amigos, de forma bem especial Ana Cássia, Graça

Galvão e Gilson Freire por me incluírem em suas orações e por festejarem comigo as minhas

vitórias e me apoiarem nas minhas desilusões, meu muito obrigado.

Aos meus amigos do mestrado profissional, com os quais desenvolvi atividades que

não só desenvolveram o meu intelecto, mas também o censo de coletividade e amizade. Não

posso deixar de destacar os amigos: Débora, Solange, Hideljundes, Elane, Fernando os quais

foram essenciais para que o mestrado fosse desempenho da melhor forma e com o máximo

de aprendizado. De forma especial quero agradecer a Anne Emília pela sua amizade e

companheirismo em todas as etapas dessa dissertação.

Ao Estado do Rio Grande do Norte e de forma específica ao Hospital Infantil Maria

Alice Fernandes, o qual permitiu que essa oportunidade de mestrado profissional se

concretizasse.

Ao meu orientador: Hironobu Sano, meus sinceros agradecimentos pela oportunidade

de desfrutar dos seus ensinamentos. Obrigada por acreditar no projeto de forma a também se

encantar pelas nuances da judicialização da saúde. Espero continuar com essa parceria de

aprendizado e pesquisas por muitos anos, se assim permitir.

Aos docentes que participaram das disciplinas ministradas durante a jornada letiva do

mestrado profissional, meu reconhecimento e admiração. De forma peculiar, a professora

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Maria Arlete, professores Luciano Sampaio, Antônio Sérgio, Miguel obrigada por

compartilhar comigo a imensidão de conhecimento que vocês possuem.

Ao Programa de Pós Graduação em Políticas Públicas da UFRN pela organização e

profissionalismo que foi exercido no mestrado profissional PPGA.

A todos que direto ou indiretamente contribuíram para que eu me tornasse mestre em

políticas públicas pela UFRN, minha gratidão.

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“A miséria é de quem a sofre; a responsabilidade, porém, cabe a todos nós”.

Florestan Fernandes

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SUMÁRIO

1.PARTE INTRODUTÓRIA ................................................................................................. 16

2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 22

2.1 Fenômeno da Judicialização ............................................................................................... 22

2.2 Diretrizes da Política Nacional de Medicamento frente às decisões judiciais ................... 28

2.3 Política Nacional de Assistência Farmacêutica e as demandas judiciais ........................... 35

2.4 Acesso a medicamentos no Sistema Único de Saúde por via judicial................................ 43

2.5 Compras de medicamentos por entes públicos após decisão judicial ................................ 48

2.6 Experiências inovadoras adotadas por entes públicos diante da crescente a demanda por

medicamentos... ...................................................................................................................... ..51

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................................... 55

3.1 Plano de Coleta e Análise dos Dados ................................................................................ 55

3.1.1. Indicadores de Monitoramento das demandas judiciais relacionados com princípios da

PNM e PNAF ........................................................................................................................... 56

3.1.2 Análise de Conteúdo das Decisões Judiciais envolvendo medicamentos. ...................... 59

3.2 Considerações éticas ........................................................................................................... 61

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 62

4.1 Indicadores de Monitoramento das demandas judiciais relacionados com princípios da

PNM e PNAF ........................................................................................................................... 62

4.1.1 Proporção de Medicamentos prescritos pelo nome genérico .......................................... 63

4.1.2- Proporção de Medicamentos registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária-

ANVISA.................................................................................................................................63

4.1.3 Proporção de medicamentos por componente do bloco de financiamento da Assistência

Farmacêutica. ............................................................................................................................ 65

4.1.4 Proporção de ações judiciais que demandam ao menos um medicamento que esteja fora

do bloco de financiamento da assistência farmacêutica. .......................................................... 67

4.1.5 Monitoramento das demandas judiciais do Rio Grande do Norte por ente estatal

acionado no processo. ............................................................................................................... 69

4.2 Análise de conteúdo das decisões judiciais ........................................................................ 70

4.2.1 Responsabilidade Solidária.............................................................................................. 71

4.2.2 Limitação orçamentária ................................................................................................... 73

4.2.3 Saúde é um direito fundamental de todos e dever do Estado .......................................... 76

4.2.4 O cidadão tem direito a Integralidade da Assistência Terapêutica .................................. 78

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4.2.5 O fornecimento de medicamentos envolve o Princípio da Dignidade Humana .............. 79

4.2.6 Condições socio-econômicas do demandante ................................................................. 80

4.2.7 Medicamentos demandados versus PNM e PNAF .......................................................... 82

4.2.8 Direito de decidir ............................................................................................................. 86

4.2.9 Aplicação de multa cominatória e bloqueio de verbas públicas ...................................... 88

4.2.10 Honorários Advocatícios ............................................................................................... 89

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 91

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 95

APÊNDICE A– INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ........................................ 110

APÊNDICE B – INSTRUMENTO DE COLETA PARA ANÁLISE DE CONTEÚDO

DAS DECISÕES JUDICIAIS: SUBCATEGORIAS. ....................................................... 111

APÊNDICE C - INSTRUMENTO DE COLETA PARA ANÁLISE DE CONTEÚDO

DAS DECISÕES JUDICIAIS: UNIDADES DE CONTEXTO. ....................................... 112

ANEXO 01 - INDICADORES DE AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO DAS

DEMANDAS JUDICIAIS DE MEDICAMENTOS .......................................................... 114

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LISTA DE ABREVIATURAS

AF Assistência Farmacêutica

AGU Advocacia Geral da União

AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

ATC Classificação Anatômico Terapêutico e Químico

BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações

CACON Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia

CAP Coeficiente de Adequação de Preço

CAMEDIS Câmara Permanente Distrital de Mediação de Saúde

CF Constituição Federal

CGU Controladoria Geral da União

CIB Comissão Intergestora Bipartite

CID Código Internacional de Doenças

CIRADS Comitê Interinstitucional de Resolução Administrativa de Demandas da

Saúde.

CIT Comissão Intergestores Tripartite

CMED Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos

CODES Coordenação de Demandas Estratégicas do Sistema Único de Saúde

CONASS Conselho Nacional de Secretários de Saúde

DCB Denominação Comum Brasileira

DCI Denominação Comum Internacional

DF Distrito Federal

DP Defensoria Pública

DPU Defensoria Pública da União

DPU/RN Defensoria Pública da União no Estado do Rio Grande do Norte

DST Doenças Sexualmente Transmissíveis

EUA Estados Unidos da América

FTN Formulário Terapêutico Nacional

HIV Vírus da Imunodeficiência Humana

LRF Lei de Responsabilidade Fiscal

LME Laudo de Solicitação, Avaliação e Autorização de Medicamento do

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Componente Especializado da Assistência Farmacêutica

MAC Média e Alta Complexidade

MS Ministério da Saúde

NAT Núcleo de Assessoria Técnica

PCDT Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas

PE Pernambuco

PF Preço de Fábrica

PGE/RN Procuradoria-Geral do Estado do Rio Grande do Norte

PGMN/RN Procuradoria-Geral de Natal

PMVG Preço Máximo de Venda ao Governo

PNAF Política Nacional de Assistência Farmacêutica

PNM Política Nacional de Medicamentos

PU/RN Procuradoria da União no Estado do Rio Grande do Norte

RENAME Relação Nacional de Medicamentos Essenciais

RESME Relação Estadual de Medicamentos Essenciais

REMUME Relação Municipal de Medicamentos Essenciais

RN Rio Grande do Norte

RJ Rio de Janeiro

SCJ Sistema de Controle Jurídico

SESAP Secretaria Estadual da Saúde Pública

SIASG Sistema Integrado de Administração de Serviços Gerais

SP São Paulo

SRP Sistema de Registro de Preço

STF Supremo Tribunal Federal

SUS Sistema Único de Saúde

TJ Tribunal de Justiça

UTI Unidade de Terapia Intensiva

UNACON Unidades de Assistência de Alta Complexidade

UNICAT Unidade Central de Agentes Terapêutico

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: ARGUMENTOS CONTRÁRIOS À JUDICIALIZAÇÃO DE POLÍTICA PÚBLICAS. .............. 25

QUADRO 2: ARGUMENTOS FAVORÁVEIS À JUDICIALIZAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS .............. 26

QUADRO 4: CONSIDERAÇÕES ENVOLVENDO A JUDICIALIZAÇÃO DO ACESSO A MEDICAMENTOS E

OS PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DA PNM. ....................................................................................... 28

QUADRO 3: RESPONSABILIDADES DO FINANCIAMENTO, AQUISIÇÃO E DISPENSAÇÃO DOS

MEDICAMENTOS ENVOLVIDOS NOS BLOCOS DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA DO SUS. ........... 39

QUADRO 5: INDICADORES DE INTERESSE PARA O ESTUDO ......................................................... 57

QUADRO 6: OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA ....................................................................... 60

QUADRO 7: AVALIAÇÃO DAS DEMANDAS JUDICIAIS ENVOLVENDO MEDICAMENTOS PLEITEADOS

NO RIO GRANDE DO NORTE, 2012. ............................................................................................ 69

QUADRO 8: INFERÊNCIA DA ANÁLISE DE CONTEÚDO A RESPEITO DA RESPONSABILIDADE

SOLIDÁRIA ENTRE OS ENTES FEDERATIVOS. ............................................................................... 72

QUADRO 9: INFERÊNCIA DA ANÁLISE DE CONTEÚDO A RESPEITO DA LIMITAÇÃO ORÇAMENTÁRIA

ALEGADA PELOS ENTES FEDERATIVOS. ...................................................................................... 74

QUADRO 10: INFERÊNCIA DA ANÁLISE DE CONTEÚDO A RESPEITO DO DIREITO FUNDAMENTAL A

SAÚDE. ....................................................................................................................................... 76

QUADRO 11: INFERÊNCIA DA ANÁLISE DE CONTEÚDO A RESPEITO DO DIREITO A INTEGRALIDADE

DA ASSISTÊNCIA TERAPÊUTICA. ................................................................................................ 78

QUADRO 12: INFERÊNCIA DA ANÁLISE DE CONTEÚDO A RESPEITO DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE

HUMANA. .................................................................................................................................. 79

QUADRO 13: INFERÊNCIA DA ANÁLISE DE CONTEÚDO A RESPEITO DA CONDIÇÕES

SOCIOECONÔMICAS DO DEMANDANTE. ...................................................................................... 80

QUADRO 14: INFERÊNCIA DA ANÁLISE DE CONTEÚDO A RESPEITO DOS MEDICAMENTOS

DEMANDADOS PELOS CIDADÃOS. ............................................................................................... 82

QUADRO 15: INFERÊNCIA DA ANÁLISE DE CONTEÚDO A RESPEITO DO DIREITO DE DECIDIR DO

PODER JUDICIÁRIO. .................................................................................................................... 86

QUADRO 16: INFERÊNCIA DA ANÁLISE DE CONTEÚDO A RESPEITO DA POSSIBILIDADE DE

APLICAÇÃO DE MULTA COMINATÓRIA E BLOQUEIO DE VERBAS PÚBLICAS PELO PODER

JUDICIÁRIO. ............................................................................................................................... 88

QUADRO 17: INFERÊNCIA DA ANÁLISE DE CONTEÚDO A RESPEITO DA APLICAÇÃO DE

HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. ................................................................................................. 89

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 3: ANÁLISE DA DEMANDA JUDICIAL NA TOMADA DE DECISÃO PARA O FORNECIMENTO DE

MEDICAMENTOS. ........................................................................................................................ 34

FIGURA 1: BLOCOS DE FINANCIAMENTO DA SAÚDE ................................................................... 37

FIGURA 2: FATORES QUE INFLUENCIAM O FENÔMENO DA JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE. ............. 42

FIGURA 4: FLUXO DO PROCESSO INTERNO DA SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE. ................... 45

FIGURA 5: FLUXO DO PROCESSO SOLICITANDO MEDICAMENTO APÓS ENTRADA NA CONSULTORIA

JURÍDICA ................................................................................................................................... 46

FIGURA 6: TRAJETÓRIA DOS USUÁRIOS DO SUS QUE REQUEREM MEDICAMENTOS POR VIA

JUDICIAL EM PERNAMBUCO-PE. .............................................................................................. ..47

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1: INCIDÊNCIA DAS SUBCATEGORIAS CONTIDAS NAS AÇÕES JUDICIAIS ENVOLVENDO OS

ENTES FEDERATIVOS DO RIO GRANDE DO NORTE NO ANO DE 2012. .......................................... 71

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1: ESTIMATIVA DE RECURSOS ALOCADOS PARA AQUISIÇÃO DE MEDICAMENTOS PELO

SUS EM 2008....................................................................................................................40

TABELA 2: INDICADOR DE MONITORIZAÇÃO DE DEMANDAS JUDICIAIS RELACIONADO COM

BLOCOS DE FINANCIAMENTO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA...........................................65

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1.PARTE INTRODUTÓRIA

A Constituição Brasileira de 1988 surgiu em um período histórico onde a garantia da

democracia e dos direitos humanos adquiriu grande ênfase nas discussões políticas e sociais,

refletindo diretamente na concepção adotada pós Constituição para as questões relativas à

saúde, educação, moradia, trabalho, previdência social, proteção à maternidade e à infância,

assistência aos desamparados, segurança, lazer, alimentação e transporte. A partir de então, a

saúde passou a ser instituída como um direito fundamental, a ser prestada por uma rede

regionalizada, hierarquizada, organizada de acordo com diretrizes e princípios de equidade,

universalidade, descentralização, atendimento integral e participação da comunidade. Nesse

contexto, o novo modelo adotado para a saúde brasileira é efetivado com a criação do Sistema

Único de Saúde – SUS.

Diante dessa abordagem, tornar a saúde um direito universal proporcionou avanços, os

quais trouxeram consigo grandes desafios para gestão pública brasileira. Experiências

internacionais como do Reino Unido, Nova Zelândia, Canadá, Noruega e África do Sul, que

também apresentam sistema universal de saúde, revelam que não há garantia do direito à

saúde, mas sim aos seus serviços apenas. Assim, a amplitude dos direitos constitucionais

adquiridos no Brasil, evocados através de ações e serviços que promovem integral promoção,

proteção e recuperação da saúde, permite que os cidadãos ao se depararem com ineficiência

da prestação dos serviços públicos ora garantidos legalmente, optem por outros mecanismos

para se fazer cumprir os seus direitos. Uma das formas é recorrer ao poder judiciário para que

o mesmo se posicione diante da omissão dos entes federativos na efetivação das políticas

públicas de saúde, processo esse intitulado por judicialização da saúde.

Ao analisar o estudo de Tate e Vallider (1995) a respeito da judicialização, Carvalho

(2004) concluiu que para existir esse fenômeno é preciso que se tenham elementos como a

democracia, a separação de poderes e a inefetividade das instituições majoritárias. Nessa

perspectiva, a judicialização das políticas públicas, no Brasil, instalou-se com grande

amplitude e facilidade no decorrer dos anos. Diferentes são as motivações para que isso

aconteça, dentre elas estão as inconsistências e contradições legais e normativas do Sistema

Único de Saúde (SUS), as distorções das políticas públicas, a ineficiência do executivo em

cumprir com suas atribuições, como também as legislações que não mais atendem a

necessidades atuais da sociedade (BAPTISTA et al., 2011). Diante de tais circunstâncias

cresce o número de demandas judiciais requerendo o direito à saúde.

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O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) divulgou um estudo revelando que no ano de

2011, tramitavam no judiciário brasileiro mais de 240.980 processos envolvendo as demandas

na saúde (BRASIL, 2011e), sendo a maior parte delas, para solicitar medicamentos

(SANTANA et al., 2011; VENTURA, 2010).

Uma evolução do crescimento das solicitações judiciais pleiteando medicamentos

pode ser evidenciada ao verificar que em 2005, o Governo Federal através do Ministério da

Saúde gastou R$ 2,5 milhões para atender 387 ações judiciais; em 2007, o gasto passou para

R$ 15 milhões destinados ao atendimento de aproximadamente três mil ações; em 2008, as

despesas alcançaram R$ 52 milhões (MACHADO et al., 2011) e em 2011, foram 7.200 ações,

que somaram R$ 243 milhões (SEGATTO, 2012). Ao considerar os valores financeiros

despendidos para cumprir esse tipo de demanda judicial da União e de nove Estados

brasileiros, a Advocacia Geral da União-AGU (BRASIL, 2013b), verificou que os gastos com

o atendimento desses processos representaram, apenas no ano de 2010, a quantia de quase 1

bilhão de reais.

Por conseguinte, o processo da judicialização do acesso a medicamentos apresenta

justificativas e críticas para sua realização. Para as primeiras, alega-se que a demanda é

coerente e justa, em virtude do desabastecimento eminente, da falta de atualização das listas

de padronização de medicamentos em vigor no SUS, da saúde ser soberana em detrimento aos

limites orçamentários constitucionais (MACHADO, 2010a; PEREIRA et al., 2010). Além

disso, declara-se que esse fenômeno é um mecanismo legal de se avaliar a efetividade e

eficácia das políticas públicas de acesso a medicamentos e assim implementar as mesmas

quando possível e cabível. Um exemplo desse afirmação, aconteceu em 1990, período em que

os medicamentos para HIV/AIDS eram apenas obtidos através da via judicial e com o

decorrer dos anos e diante do aumento da demanda de solicitações, foram enquadrados em

programas estratégicos do governo e atualmente são disponibilizados gratuitamente

(BRASIL, 2005a). Tal acontecimento corrobora com o fato da judicialização ser necessária

para que se cumpram de fato e de direito as políticas públicas de saúde, especialmente quando

o poder Executivo não consegue cumprir com suas responsabilidades (VIERA; ZUCHII,

2007).

Entretanto, o segundo grupo de estudiosos acredita que a imposição judicial pode

acarretar prejuízos à saúde como um bem coletivo, uma vez que impedem a alocação racional

dos escassos recursos públicos (BARROSO, 2009; COSTA; BORGES, 2010), além de

interferir no planejamento das ações de saúde (SANTOS, 2006). Outro aspecto a ser

considerado nesse contexto de críticas é que as decisões judiciais precisam ser respaldadas

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com critérios que vão além de fundamentações dos dispositivos constitucionais e das Leis

Orgânicas da Saúde: Lei 8.080/90 e Lei 8.142/90, pois se torna emergente que sejam também

respeitadas a Política Nacional de Medicamentos- PNM e a Política Nacional de Assistência

Farmacêutica- PNAF, já que são elas as norteadoras do acesso a medicamentos pelo SUS, não

podendo então ser negligenciadas nesse processo (BORGES; UGÁ, 2010).

A PNM apresenta importantes diretrizes que precisam ser consideradas no processo de

judicialização da saúde, especialmente: adoção de Relação de Medicamentos Essenciais

(RENAME), regulamentação sanitária de medicamentos, reorientação da assistência

farmacêutica com foco na descentralização das atividades, promoção do uso racional de

medicamentos, garantia da segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos. Da mesma

forma a PNAF apresenta aspectos relevantes, os quais são principalmente voltados para a

responsabilização dos entes federativos sobre financiamento, aquisição e dispensação de

medicamentos gratuitamente à população de acordo com blocos de financiamento.

Dessa forma, vários ditames legais e burocráticos precisam ser analisados no momento

de se proferir uma decisão judicial seja ela para deferir ou indeferir o medicamento solicitado,

visto que de acordo com esse julgamento poderá haver a dispensação de um medicamento

capaz de salvar uma vida ou por outro lado pode-se liberar um item com capacidade de

comprometer o planejamento orçamentário do ente federativo, devido ao elevado custo, como

também colocar em risco a saúde do paciente, quando se tratar de medicamentos sem registros

sanitários no Brasil.

Em face do exposto, observa-se que o debate a respeito da judicialização do acesso a

medicamentos no Brasil apresenta muitos parâmetros conflitantes e divergentes entre

pesquisadores, os quais merecem ser esclarecidos e debatidos entre governantes, judiciário,

sociedade. Fato esse que torna urgente e necessária a sistematização das informações sobre as

demandas judiciais nas diferentes regiões brasileiras, a fim que se possa facilitar a discussão

do problema (PEPE et al., 2010) e a compreensão das justificativas e conseqüências desse

fenômeno.

Por conseguinte, a relevância do tema vai além da importância de se conhecer os

impactos do fenômeno da judicialização na implementação das Políticas de Saúde; ultrapassa

o entendimento das consequências que uma relação desarmônica entre o Poder Judiciário e a

Administração Pública pode causar na gestão dos recursos públicos, pois coloca em foco a

concretização da democracia e da legitimidade, de um Poder interferir nas atividades do outro

e agir em Políticas Públicas de saúde.

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Nesse sentido o problema de pesquisa é: O poder judiciário considera os princípios da

Política Nacional de Medicamentos (PNM) e da Política Nacional de Assistência

Farmacêutica (PNAF) no julgamento de ações que envolvem o acesso a medicamentos?

O entendimento desse questionamento permitirá a compreensão do conflito que se

trava entre políticas envolvendo medicamentos e o processo da judicialização, visto que de

acordo com a legislação existem prerrogativas nacionais que devem ser respeitadas e

seguidas: utilização dos medicamentos padronizados no Sistema Único de Saúde, os quais

deverão ter registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), sendo prescritos

de acordo com a denominação comum brasileira (DCB), com priorização da utilização dos

medicamentos genéricos. Além disso, existem os blocos de financiamento da Assistência

farmacêutica que prevê de forma descentralizada a aquisição e distribuição de medicamentos

pela União, Estados e Municípios, conforme o tipo e a classificação do medicamento.

Considerando a importância da investigação dessas prerrogativas para o cumprimento

e efetividade da PNM e da PNAF e sendo a judicialização um fenômeno com grande impacto

aos cofres públicos e em evidência nos dias atuais, tem-se como objetivo de pesquisa:

Avaliar a inserção dos princípios das Políticas Nacionais de Medicamentos e da

Assistência Farmacêutica no julgamento de ações judiciais envolvendo o acesso a

medicamentos no Rio Grande do Norte.

Para cumprir tal avaliação, será necessário:

a) Analisar indicadores de monitoramento de demandas judiciais relacionados

com princípios da PNM e da PNAF.

b) Investigar o conteúdo das argumentações jurídicas utilizadas para respaldar a

decisão do processo judicial quanto ao deferimento de medicamentos.

A escolha pelo Estado do Rio Grande do Norte pode ser justificada por motivos

técnicos, científicos e sociais. Para embasar a justificativa científica, primeiramente foi

realizada uma pesquisa na literatura através das fontes de busca: Portal de Periódicos Capes,

na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) e no Scielo, a fim de se

identificar os principais estudos sobre demandas judiciais que requeriam medicamentos.

Observou-se, diante de tal pesquisa, que na área de judicialização do acesso a medicamentos

há inúmeros estudos, contudo os existentes ainda são insuficientes para possibilitar a

caracterização e a compreensão dos impactos do deferimento das demandas que acontecem

nos Municípios, Estados e Federação brasileira simultaneamente.

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De forma mais detalhada, a pesquisa demonstrou que o Sudeste, seguido do Sul,

apresenta o maior número de trabalhos envolvendo a caracterização dessa demanda judicial,

revelando que os mais prevalentes em número de trabalhos desenvolvidos são os seguintes

Estados: Rio de Janeiro (MESSEDER et al., 2005; BORGES, 2007; FERREIRA, 2007; REIS

JUNIOR, 2008; SANT’ANA, 2009; FIGUEIREDO, 2010; BORGES; UGÁ, 2010;

SANTANA et al., 2011; ALVES; SILVA, 2012; LIMA, 2012), Santa Catarina (PEREIRA,

2007; VIEIRA; ZUCHHI, 2007; BOING, 2008; SILVA, 2008; LEITE et al., 2009; LEITE;

MAFRA, 2010; RONSEIN, 2010; PEREIRA et al., 2010; CUNHA, 2011, BOING et al.,

2013) e São Paulo (MARQUES; DALLARI, 2007; MARQUES, 2008; CHIEFF, 2008;

CHIEFF; BARTATA, 2009,2010; LOPES et al., 2010; CAMARGO, 2011; MACEDO et al.,

2011).

Por outro lado o Centro-Oeste (SANT’ANA, 2009; DELDUQUE; MARQUES, 2011;

PROVIN, 2011; ROMERO, 2008), Nordeste (VASCONCELOS, 2010; RODRIGUES, 2011;

PEREIRA, 2011; SILVA, 2012b; MARÇAL, 2012) e Norte (LIMA, 2009) ainda são

incipientes em suas pesquisas. No Nordeste, apenas o Piauí, Ceará, Pernambuco e Rio Grande

do Norte estão contemplados com a caracterização das demandas por medicamentos através

do poder Judicial, fato que demonstra a necessidade de se aprofundar essa temática, em

especial nas Regiões onde as pesquisas são escassas e insuficientes.

No contexto nacional brasileiro, o Rio Grande do Norte está em 6º lugar em número

de solicitações judiciais pleiteando medicamentos na esfera federal (BRASIL, 2013b),

entretanto carece de estudos que possibilitem melhor compreensão da judicialização do acesso

a medicamentos. Corroborando com essa necessidade de se estudar esse fenômeno, em

revisão bibliográfica realizada por Franco (2010) a respeito do acesso a medicamentos e

judicialização da saúde no Brasil, o autor relatou a importância de aumentar o número de

pesquisas nessa área, a fim de melhor avaliar políticas de incorporação de tecnologias do

SUS, bem como para refletir sobre a política de acesso ao Sistema Único de Saúde.

Diante de tal cenário, o desenvolvimento da presente pesquisa nesse Estado fornecerá

dados que permitirão qualificar o diálogo e o debate entre os Poderes Executivo e Judiciário, a

respeito dos princípios das políticas públicas envolvendo o acesso a medicamentos no SUS no

contexto da judicialização, beneficiando não só a gestão pública, mas especialmente para

sociedade.

Para atingir o objetivo proposto, esta dissertação apresenta-se dividida em 5 secções.

A primeira delas é composta pela introdução, a qual apresenta o contexto em que a

judicialização das políticas públicas de saúde estão inseridas, bem como a problemática da

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pesquisa, que envolve diretamente o processo de judicialização do acesso de medicamentos

no Sistema Único de Saúde, a Política Nacional de Medicamentos e a Política Nacional de

Assistência Farmacêutica. Além disso, foi apresentada a argumentação teórico-empírica que

respalda o desenvolvimento desta pesquisa, demonstrando a relevância do estudo e a

importância de se cumprir os objetivos elencados.

Na parte seguinte, expõem-se o referencial teórico construído a partir da revisão da

literatura e subdividido em cinco tópicos, os quais abordaram: o fenômeno da judicialização e

suas interfaces sejam elas negativas e positivas; os conceitos e problematização da efetividade

da Política de Assistência Farmacêutica, bem com da Política Nacional de Medicamentos no

contexto da judicialização; o acesso a fármacos pelo Sistema Único de Saúde através da via

judicial; as compras públicas de medicamentos por ordem judicial e por fim foram abordadas

as principais experiências inovadoras e de sucesso envolvendo o processo de judicialização.

Esses temas procuraram situar o leitor no contexto atual da problemática desse fenômeno no

Brasil, correlacionando-o com as políticas públicas de saúde envolvendo medicamentos, para

que a partir dessa leitura se pudesse entender o objetivo e a justificativa desta pesquisa.

Na terceira secção foram apresentados os procedimentos metodológicos utilizados na

realização desta pesquisa tais como: tipo de estudo, universo da pesquisa, caracterização da

amostra, instrumentos utilizado para coletar e analisar os dados e considerações éticas. De

forma detalhada foram apresentados os Indicadores de Monitorização de demandas judiciais e

a forma de realização da análise de conteúdo preconizada por Bardin (2006).

A quarta parte dessa dissertação envolve os resultados e a discussão das análises

realizadas, os quais foram obtidos de forma a alcançar os objetivos elencados nesse estudo.

Por fim, têm-se as considerações finais abordando a conclusão que se obteve da análise sobre

a inserção dos princípios da PNM e PNAF nas decisões proferidas pelo Tribunal de Justiça do

Rio Grande do Norte, bem como as possíveis pesquisas a serem exploradas partindo dos

resultados alcançados.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Fenômeno da Judicialização

A origem do fenômeno da judicialização pode ser encontrada nos primórdios da

história da independência dos Estados Unidos da América, no momento em que se emergia a

necessidade de um modelo político democrático após longos períodos totalitários, de guerra e

de desrespeito aos cidadãos (TATE; VALLINDER, 1995; AGUIAR, 2007). A sociedade

passou a pleitear por justiça, democracia, segurança dos direitos coletivos através de uma

constituição e também começou a requerer a presença de um representante legal que na

presença de conflitos entre sociedade e governo, apaziguasse os impasses existentes. É nesse

momento que o Judiciário ganha poder, prestígio e visibilidade na sociedade (ARANTES,

1999a).

Os anseios da população em busca da democracia emergem em um momento histórico

importante para a ampliação do poder judicial, marcado por: a) Tribunal Constitucional sendo

adotado por países ocidentais democráticos para controlar demais poderes, b) queda do

comunismo no Leste Europeu, c) fim da União Soviética, d) definição do judiciário moderno

com base nos Estados Unidos e na França, com a definição de separação de poderes, e)

colapso do socialismo real, f) implantação do capitalismo, g) evidenciação mundial da revisão

judicial implantada pelos Estados Unidos, h) sofisticação dos mecanismos de controle

jurisdicional, i) disseminação do conceito dos direitos humanos, j) constitucionalização dos

direitos fundamentais, l) necessidade de solidez jurídica para implantação do novo modelo de

desenvolvimento de Estado não intervencionista, m) Estados Liberais na Europa e nos

Estados Unidos, n) neoliberalismo, o) litigância processual, p) mudança da atuação

jurisprudencial dos tribunais ao atuarem nas ocasiões onde o Legislativo e Executivo foram

omissos (CARVALHO, 2004; ARANTES, 2004). Como conseqüência, a atuação do poder

judiciário frente ao descumprimento ou omissão da legislação em vigor leva aos Países a

conhecerem a judicialização.

No contexto Brasileiro, as motivações para o aumento do poder judiciário frente às

políticas públicas, seguem as tendências dos demais países que buscam por modelos mais

democráticos de gestão (VIANNA et al., 1999). O marco para democracia brasileira é

reconhecido pela promulgação da Constituição - CF de 1988, a partir da qual os direitos

sociais foram conquistados, garantiu-se o controle da constitucionalidade e independência dos

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poderes. A partir de então, o processo de judicialização se inicia, levando questões sociais

para serem resolvidas na esfera judicial ao invés de serem tratadas nas instâncias tradicionais

que envolvem o legislativo e o executivo (PEIXINHO, 2008; BARROSO, 2009), e ainda,

mediante esse fenômeno passa-se a transferir ao judiciário a responsabilidade e efetividade

dos direitos constitucionais (VIANNA et al, 1997).

Vale salientar, entretanto, que antes da CF 1988 alguns acontecimentos contribuíram

para a expansão do poder judiciário no Brasil. Um deles foi durante a liderança de Vargas em

1930, período em que os brasileiros conheceram um modelo corporativo que culminou com o

desenvolvimento de uma nova legislação social, a qual trouxe consigo conflitos especialmente

trabalhistas e eleitorais. É nesse contexto que o poder judiciário se expandiu a fim de

apaziguar conflitos e manter a ordem social e política. Outro marco histórico importante foi o

surgimento do Ministério Público em meio à desconfiança das instituições político-

representativas e o anseio por regimes democráticos, em 1970. Nos anos 80, iniciou-se o

reconhecimento legal da existência de direitos difusos e coletivos, sendo marcado por Ações

Civis Públicas-ACP (ARANTES, 1997).

Com a expansão do poder Judiciário, instaura-se no Brasil a judicialização das

políticas públicas. O termo judicialização é polissêmico (MACIEL E KOERNER, 2002), fato

que gera conflitos no momento de se analisar a temática. Os primeiros autores a inserirem

conceitos a esse respeito foram Tate e Vallinder (2005) na obra The Global Expansion of

Judicial Power. Posteriormente, outros estudiosos apresentaram suas interpretações e

considerações quanto à nomenclatura a ser adotada no momento em que se referissem ao

papel exercido pelo Judiciário na garantia de direitos individuais dos cidadãos (CARVALHO,

2004; VIANNA et al., 1997; PEIXINHO, 2008). Em termos conceituais para presente

dissertação, a judicialização das políticas públicas refere-se à transferência de direitos da

tomada de decisão da legislatura e do executivo para o âmbito de atuação dos juízes, os quais

são levados a se pronunciar com base na constituição mediante provocação de um terceiro

(TATE; VALLINDER, 2005).

As condições brasileiras para instauração desse fenômeno foram estudadas por

Carvalho (2004), o qual teve como base os norteadores da judicialização encontradas por Tate

e Vallinder (1995): Democracia, Separação dos poderes, Direitos políticos, o uso dos tribunais

pelos grupos de interesse, o uso dos tribunais pela oposição, inefetividade das instituições

majoritárias. O autor concluiu que no caso brasileiro essas condições estão presentes, fazendo

com que haja aumento expressivo das ações judiciais, justificadas como uma forma de

participação da sociedade civil. Contudo, Zauli (2011) indica que outros fatores também

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contribuíram para a ocorrência de uma maior ascendência do poder Judiciário sobre o sistema

político brasileiro:

(i) em primeiro lugar, a promulgação de uma Constituição cujas as características deram espaço para irradiação dos princípios e valores constitucionais por todo o sistema jurídico e consequente releitura do Direito infraconstitucional e das decisões dos poderes Legislativo e Executivo à luz da Constituição, a qual integram enunciados abertos, indeterminados e plurissignificativos; (ii) a ampliação do elenco de intérpretes da Constituição por meio da ampliação do número de atores legitimados para propor ações de constitucionalidade; (iii) as novas garantias de independência do poder Judiciário e do Ministério Público; (iv) os novos mecanismos de acesso ao poder Judiciário; (v) descompasso entre os valores e orientações predominantes no âmbito das instituições majoritárias (ZAULI, 2011, p.02).

Nesta conjuntura de contribuições e facilitadores, não se pode deixar de mencionar

que o contexto político-histórico brasileiro envolvendo a crise econômica no final do século

XX, a ampliação do controle social, a ineficácia das políticas macroeconômicas e a crise

social foram importantes para o crescimento do número de demandas judiciais

(VERBICARO, 2008). Corroborando com tais argumentos, Alencar (2011) esclarece que com

normas constitucionais permissivas, legislativo omisso e o executivo falho em suas

atribuições, permite que o poder dos juízes seja incrementado e ainda mais presente na

sociedade.

Observa-se, portanto, que várias são as contribuições para o desenvolvimento da

judicialização, processo que embora recente no mundo, afeta, cada vez mais, diferentes

componentes da sociedade, sejam setores como a educação, saúde, infraestrutura ou órgãos

públicos e privados; havendo implicações diretas na gestão pública e orçamentária dos

envolvidos. Nessa perspectiva surge o interesse de vários pesquisadores brasileiros em

aprofundar o conhecimento nessa temática (CASTRO, 1993; SADEK; ARANTES, 1994;

ARANTES, 1997,1999a,b, 2002; ARANTES; KERCHES, 1999; VIANNA et al.,1999;

SADEK, 2001; MACIEL; KOERNER, 2002; SADEK; CAVALCANTI, 2003; CARVALHO,

2004; VIANNA; BURGOS, 2005; LOPES, 2005; COUTO; ARANTES, 2006; VIANNA et

al., 2007; KOERNER et al., 2007; MOTTA; RIBEIRO, 2007; VERONESE, 2008;

TAYLOR, 2008; DA ROS, 2008), para que sejam esclarecidos as melhores estratégicas de se

entender e conviver com a judicialização.

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Diante dessa abordagem científica a respeito da temática, observa-se que alguns

autores são favoráveis ao aumento da influência do poder judiciário por entender que isso

repercute diretamente em um maior controle político, enquanto que outros estudiosos

acreditam que fere o princípio democrático a exacerbação desse poder, já que é exercido por

membros não eleitos pelo voto e por quem não tem controle externo (OLIVEIRA, 2005) ou

ainda defendem que o judiciário não age na prevenção de conflitos, atendem apenas uma

pequena parte da população ciente de seus direitos e que tem condições de buscar o judiciário

para fazer suas exigências legais (AGUINSKY; ALENCASTRO, 2006). De forma sintética,

os argumentos contrários e favoráveis à judicialização de políticas públicas foram

apresentados em estudo de Engelmann e Cunha Filho (2013) (Quadro 1 e 2).

Quadro 1: Argumentos Contrários à Judicialização de Política Públicas.

Perfil do argumento Exemplos representativos

Princípio da separação dos poderes e

legitimidade política dos poderes Executivo e

Legislativo para definirem políticas

Esse argumento aduz, em linhas gerais, que a

política de saúde pública, devido à sua relevância e ao

seu profundo impacto orçamentário, deve ser

elaborada e executada pelos órgãos representativos, ou

seja, pelos poderes Executivo e Legislativo. Assim

sendo, os juízes não teriam a legitimidade conferida

aos poderes eleitos para promover essa alocação de

recursos. Defensor desse argumento: Beserra (2005)

Racionalização da administração pública

Essa linha de crítica à judicialização da saúde

afirma que o poder Executivo e o poder Legislativo

estão em melhores condições políticas de definir e

implementar a política de saúde pública. Isso porque

os legisladores, assim como os integrantes do

Ministério da Saúde, contam com ampla equipe de

técnicos e assessores, os quais podem lhes fornecer as

informações necessárias para a melhor distribuição de

recursos. Já os juízes, que se ocupam apenas de lides

individuais, não têm uma dimensão do todo, ou seja,

não estão capacitados, devido à sua posição no espaço

político, a promover uma política de distribuição de

recursos. Defensores desse argumento: Gouvêa

(2003); Barcellos (2006), entre outros.

Argumento do “tiro pela culatra” Os juízes, ao conceder medicamentos ou

tratamentos médicos gratuitos aos que os pleiteiam

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judicialmente, iludem-se ao pensar que estão atuando

no sentido de distribuir recursos aos mais necessitados

e de reduzir as desigualdades sociais. Nesses casos, o

poder Judiciário estaria, na verdade, aumentando estas

desigualdades, pois não estaria concedendo recursos

aos menos favorecidos, mas, sim, àqueles que

possuem o capital socioeconômico para procurar

advogados e reivindicar seus direitos frente ao poder

Judiciário. Assim, investimentos públicos estariam

sendo desviados dos realmente desprovidos de

quaisquer recursos em favor integrantes da classe

média organizada. Defensores desse argumento:

Barroso (2009); Tavares (2002); Silva e Terrazas

(2011).

Argumento da reserva do possível no

orçamento público

O argumento da reserva do possível é a

antítese do aforisma popular segundo o qual “a saúde

não tem preço.” Esse argumento invoca a necessidade

de enfrentar o trade off entre eficiência e distribuição,

pois, se o poder Judiciário tentar resolver todos os

problema de saúde pública, o Estado iria à falência e

deixaria de investir em outras áreas consideradas

relevantes, como educação, segurança e lazer.

Defensores desse argumento: Dworkin (2005); Nunes

Júnior (2009).

Argumento da isonomia/equidade

Essa concepção defende que todos os

cidadãos devem ser tratados igualmente, o que

significa tratar a todos com igualdade de respeito e de

consideração. Segundo os que defendem esta linha, o

poder Judiciário brasileiro rompe com esse princípio,

pois, ao tentar dar tudo a todos, acaba dando tudo a

alguns e nada a outros. Defensores desse argumento:

Barzotto (2003); Ferraz e Vieira (2009)

Fonte: Engelmann e Cunha Filho, 2013.

Quadro 2: Argumentos Favoráveis à Judicialização de Políticas Públicas

Perfil do argumento Exemplos representativos

Princípio moral – dignidade da pessoa

humana

Esse argumento coloca o princípio da

dignidade da pessoa humana como um meta-princípio

absoluto, acima, portanto, de quaisquer considerações

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acerca da ordem econômica ou da eficiência. Sendo

assim, ocorrendo conflito de interesses entre o direito

à saúde de um cidadão e razões de ordem financeira

do Estado, deve a lide ser resolvida, inexoravelmente,

em favor do primeiro. Defensores desse argumento:

diversos ministros do Supremo Tribunal Federal

(STF), em especial Celso de Melo (vide Pet. 1 246,

voto do Min. Celso de Mello, Pet. 1 246, j.

18.set.2002).

Argumento nacionalista – contra a

“importação” da doutrina da reserva do possível.

Os defensores dessa tese aduzem que o

argumento da reserva do possível, que teve origem em

uma decisão do Tribunal Constitucional alemão,

simplesmente não se aplica ao Direito brasileiro. É

que a Constituição brasileira, ao contrário da alemã,

possui densa eficácia normativa, e cria obrigações

específicas ao Estado, às quais correspondem direitos

subjetivos dos cidadãos. Sendo assim, não é possível

que os entes federativos restrinjam a aplicabilidade

daquilo que a Constituição determinou. Defensor

desse argumento: Nunes Júnior (2009).

Neoconstitucionalismo – da Constituição

depreendem-se direitos subjetivos, exigíveis

judicialmente.

O neoconstitucionalismo propõe que direitos e

obrigações podem ser extraídos diretamente da

Constituição nacional, sem intermédio de diplomas

legislativos secundários. Assim, quando a

Constituição brasileira afirma que “a saúde é

obrigação de todos e dever do Estado”, gera-se,

conforme a interpretação neoconstitucionalista, um

direito subjetivo por parte dos cidadãos, sem que seja

necessário editar uma lei para tornar esse direito

exigível perante os tribunais. Defensores desse

argumento: Frischeisen (2000).

Argumento da ponderação de princípios

Segundo esse argumento, as lides judiciais em

que se requer a concessão gratuita de medicamentos

ou de tratamento médico envolve uma ponderação de

dois princípios relevantes: de um lado, o bem-estar e a

saúde dos cidadãos e, de outro, as prerrogativas

orçamentárias do Estado. Constatando o embate entre

princípios nesses termos, boa parte da literatura

especializada tem afirmado que, nesses casos, deve

sempre prevalecer o direito à vida e à saúde do

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cidadão – ambos mais importantes do que os

“interesses financeiros secundários do Estado”.

Fonte: Engelmann e Cunha Filho, 2013.

Perante as argumentações dos defensores ou críticos da judicialização que se instalou

nos tribunais brasileiros, não se pode deixar de relatar que a compreensão do impacto desse

fenômeno na implementação de políticas públicas e na harmonia entre os poderes

governamentais é um desafio que só mesmo a avaliação criteriosa permitirá mensurar.

2.2 Diretrizes da Política Nacional de Medicamento frente às decisões judiciais

A Política Nacional de Medicamentos (PNM) representa as normas e regras para o

acesso a medicamentos no Brasil, incluindo nesse contexto as exigências do cumprimento de

suas diretrizes e propostas. Apresenta, portanto importantes princípios que precisam ser

considerados quando se envolver medicamentos e SUS, tais como: a) adoção de Relação de

Medicamentos Essenciais (RENAME), b) regulamentação sanitária de medicamentos, c)

reorientação da assistência farmacêutica, d) promoção do uso racional de medicamentos, e)

desenvolvimento científico e tecnológico, f) Promoção da Produção de Medicamentos, g)

Garantia da Segurança, Eficácia e Qualidade dos Medicamentos, h) Desenvolvimento e

Capacitação de Recursos Humanos. Alguns desses princípios estão diretamente relacionados

ao processo judicial envolvendo a solicitação de medicamentos (Quadro 4).

Quadro 3: Considerações envolvendo a judicialização do acesso a medicamentos e os princípios e diretrizes da PNM.

Princípio e Diretrizes da PNM

Considerações envolvendo a judicialização do acesso a medicamentos e a PNM.

1-Reorientação da

assistência farmacêutica

A assistência farmacêutica passa a ser reorientada para a

descentralização das suas atividades, responsabilizando

Municípios, Estados e União por grupos de medicamentos

específicos para cada esfera. Dessa forma, quando um dos

entes púbicos não cumprem suas atribuições quanto ao acesso

a medicamentos à população, surgem demandas que podem

ser conduzidas a justiça, a fim de se obter o tratamento

medicamento prescrito. Salienta-se, contudo, que os juízes

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podem direcionar a sentença judicial para a esfera

administrativa responsável por essa demanda segundo as

políticas públicas em vigor, ou ainda podem considerar

existência de responsabilidade solidária entre Municípios,

Estados e União, onde os três seriam igualmente responsáveis

pelo pleito.

2-Adoção de Relação de

Medicamentos Essenciais

(RENAME)

Os medicamentos disponibilizados a população de gratuita

pelo SUS estão inseridos em listas padronizadas. A RENAME

apresenta-se como a relação nacional de medicamentos

padronizados no SUS. A partir dela, pode-se originar, diante

das particularidades dos entes federativos, a Relação Estadual

de Medicamentos Essenciais (RESME) e a Relação Municipal

de Medicamentos Essenciais (REMUME). As listas de

medicamentos padronizados no SUS adotam a denominação

genérica para os princípios ativos dos medicamentos. Essa

medida permite que exista livre concorrência entre as

diferentes indústrias farmacêuticas, com consequente

obtenção de melhores preços nas compras públicas. Dessa

forma, as prescrições médicas inseridas em processos judiciais

podem apresentar solicitações de medicamentos: genéricos, de

referência ou similares, os quais apresentam preços distintos,

mesmo se tratando do mesmo princípio ativo. Sendo assim, a

PNM prioriza o uso de medicamentos prescritos com

denominação genérica e já padronizados no SUS.

3-Regulamentação sanitária

de medicamentos.

Os medicamentos para serem comercializados no Brasil

necessitam apresentar regumentação sanitária verificada pela

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Sendo

assim, tal característica se torna um aspecto crucial na análise

de decisões judicias que apresentam solicitação, por meio de

prescrição médica, de medicamentos sem registro em órgão

sanitário brasileiro.

4- Garantia da Segurança,

Eficácia e Qualidade dos

O poder Executivo ao promover a seleção de medicamentos

para serem padronizados no SUS, utiliza variados critérios,

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Medicamentos tais como: custo/benefício, dose/efetividade, risco/benefício e

efetividade/eficácia. Assim, existem medicamentos

disponibilizados no mercado farmacêutico que não

apresentam superioridade terapêutica quando comparados

com os disponíveis no SUS. Dessa forma, os medicamentos

ao serem prescritos e solicitados judicialmente precisam ser

seguros, efetivos e de qualidade superior aos demais

tratamentos.

Torna-se notório mencionar que a reorientação da Assistência Farmacêutica, presente

dentro das diretrizes da PNM, é marcada pela descentralização das atividades assistenciais,

responsabilizando os entes federativos no âmbito do SUS de forma específica. Nessa

perspectiva, a União é responsável, dentre outras atribuições, por promover a revisão e

atualização periódica da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME).

A última atualização dessa relação de medicamentos aconteceu no ano de 2012, sendo

realizada de forma a ampliar o conceito de medicamentos essenciais (BRASIL, 2012b).

Incluiu, em sua relação, vacinas, insumos e medicamentos para doenças raras e complexas,

passando de 550 para 810 itens (PORTAL DA SAÚDE, 2013). A sua próxima revisão está

prevista para acontecer em 2014, visto que a RENAME sofre revisões e atualizações a cada

dois anos, a fim de que se possam atender as exigências das mudanças no perfil nosológico da

população brasileira.

Diante dessa necessidade de atualizações constantes, em 2005, por meio da Portaria nº

1.254, de 29 de julho, foi instituída a Comissão Técnica e Multidisciplinar de Atualização da

RENAME – COMARE, que tem por missão rever os medicamentos mais adequados às

necessidades da maioria dos cidadãos. As atividades dessa comissão apresentam grande

impacto para as políticas de saúde, pois é a partir das atividades desempenhadas pela

COMARE que se incorpora novas tecnologias aos tratamentos medicamentosos no SUS.

Destarte, não se pode deixar de mencionar que o Brasil perante tantas demandas

judiciais por medicamentos, requer adequação e atualização eficaz das propostas feitas pela

PNM, a fim de que tratamentos para doenças raras, de descobertas recentes possam também

estar inseridas e incorporadas no Sistema Único de Saúde, de forma a contemplar o maior

número de pessoas necessitados de tratamento medicamentoso (DINIZ et al, 2012).

Atualmente a RENAME é composta por: a) Relação Nacional de Medicamentos do

Componente Básico da Assistência Farmacêutica; b) Relação Nacional de Medicamentos do

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Componente Estratégico da Assistência Farmacêutica; c) Relação Nacional de Medicamentos

do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica; d) Relação Nacional de Insumos

Farmacêuticos; e e) Relação Nacional de Medicamentos de Uso Hospitalar. Percebe-se,

portanto, que esse documento integra a padronização de medicamentos do Sistema Único de

Saúde e como tal respeita e segue as diretrizes e princípios desse sistema:

I - universalidade: garantia aos usuários do acesso ordenado aos medicamentos de forma universal e igualitária para o atendimento da integralidade da assistência à saúde com base nas necessidades de saúde da população; II - efetividade: garantia de medicamentos eficazes e/ou efetivos e seguros, cuja relação risco-benefício seja favorável e comprovada a partir das melhores evidências científicas disponíveis na literatura, e com registro aprovado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA); III - eficiência: garantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapêutica aos usuários com os menores custos para o SUS; IV - comunicação: garantia de comunicação efetiva entre os gestores de saúde sobre o processo de incorporação de medicamentos na RENAME e divulgação ampla, objetiva e transparente dos medicamentos ofertados à população pelo SUS; V - racionalidade no uso dos medicamentos: as condições de uso dos medicamentos devem seguir as orientações dos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) e/ou das diretrizes específicas publicadas pelo Ministério da Saúde e do Formulário Terapêutico Nacional (FTN) como estratégia para a promoção do uso racional dos medicamentos nos serviços de saúde e na comunidade;e VI - serviços farmacêuticos qualificados: garantir a oferta de medicamentos com qualidade e de forma humanizada aos usuários do SUS. (BRASIL, 2012).

Salienta-se, também que na RENAME, a listagem dos medicamentos respeita a

Denominação Comum Brasileira – DCB e quando essa é ausente admite-se a Denominação

Comum Internacional-DCI. Assim, não há citação a medicamentos de referência ou similares,

descreve-se os itens por nomes genéricos dos princípios ativos. A definição dessas

terminologias pode ser encontrada na Lei nº 9.787, de 10 de fevereiro de 1999:

Medicamento de Referência – produto inovador registrado no órgão federal responsável pela vigilância sanitária e comercializado no País, cuja eficácia, segurança e qualidade foram comprovadas cientificamente junto ao órgão federal competente, por ocasião do registro;

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Medicamento Similar – aquele que contém o mesmo ou os mesmos princípios ativos apresenta a mesma concentração, forma farmacêutica, via de administração, posologia e indicação terapêutica, preventiva ou diagnóstica, do medicamento de referência registrado no órgão federal responsável pela vigilância sanitária, podendo diferir somente em caracteristicas relativas ao tamanho e forma do produto, prazo de validade, embalagem, rotulagem, excipientes e veículos, devendo sempre ser identificado por nome comercial ou marca. Medicamento Genérico – medicamento similar a um produto de referência ou inovador, que se pretende ser com este intercambiável, geralmente produzido após a expiração ou renúncia da proteção patentária ou de outros direitos de exclusividade, comprovada a sua eficácia, segurança e qualidade, e designado pela DCB ou, na sua ausência, pela DCI (BRASIL, 1999).

Contudo, a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais não se apresenta como

caráter obrigatório de oferta nos serviços públicos, apenas define fármacos que poderão

compor a relação de medicamentos financiáveis pelo programa de Assistência Farmacêutica

do SUS. Sendo assim, Estados e Municípios apresentam autonomia para versarem sobre a

seleção de sua padronização. Entretanto, salienta-se que a variedade de medicamentos

ofertada entre os próprios Municípios de uma mesma região e País poderá comprometer a

uniformidade dos serviços da saúde, já que confundirá a sociedade a respeito de quais

medicamentos estarão disponíveis gratuitamente nos postos de saúde (VIEIRA, 2010).

Dessa forma, a União exerce importante atividade ao nortear os seguimentos que os

Estados e Municípios devem seguir quanto as suas padronizações de medicamentos.

Entretanto, não apenas a União tem a responsabilidade quanto às listas padronizadas de

medicamentos a ser disponibilizada a população. Os Municípios e Estados também precisam

adotá-las. De forma específica os Municípios podem instaurar a Relação Municipal de

Medicamentos (REMUME), que representa uma lista de medicamentos formulada com base

na RENAME, que atende as necessidades da população municipal. Quando em nível local, o

ente federativo não formula suas próprias relações de medicamentos, nem investe em

infraestrutura informatizada de assistência farmacêutica com respectivo controle de estoque, a

consequência direta é o direcionamento dessa demanda administrativa para via judicial, a qual

poderá ser direcionada para o Estado correspondente, para União ou ainda para o próprio

Município e com isso pode desresponsabilizar a esfera responsável por fornecer o

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medicamento, descumprindo as exigências da Política de Assistência Farmacêutica

(MESSEDER et al., 2005; ALVES; SILVA, 2012a).

Porém, quando existe a lista padronizada e os médicos não a respeitam ou não a

conhecem, em especial aqueles do serviço privado, receitando medicamentos não

padronizados, há descumprimento não só da PNM, mas também desrespeito as diretrizes do

SUS. Sendo assim, observa-se que a maioria da demanda judicial poderia ser evitada caso

houvesse observância às diretrizes e princípios do SUS, a políticas de oncologia e a utilização

da RENAME (VIEIRA; ZUCHI, 2007).

Desse modo a padronização de medicamentos é de grande importância para execução

da Política Nacional de Medicamentos, como também para Política de Assistência

Farmacêutica no SUS. Todavia conhecer apenas essa lista de medicamentos não basta,

precisa-se compreender informações mais detalhadas dos medicamentos: utilização, formas

de administração, efeitos adversos, recomendações ao paciente, contra-indicações, tendo

desse modo um guia para melhor prescrever para os pacientes do SUS, segundo o que foi

padronizado.

Nessa perspectiva, o SUS disponibiliza o Formulário Terapêutico Nacional, no qual há

todos esses dados e pode ser utilizado pela equipe médica para adequarem as condutas

terapêuticas conforme exigências do SUS (BRASIL, 2010a). Esse formulário permite

comparar as informações dos medicamentos padronizados com aqueles que ainda não o são,

para que se possa garantir segurança, eficácia e qualidade no tratamento escolhido para cada

paciente. Características essas que regem a escolha dos princípios ativos padronizados nas

listas oficiais do governo.

Porém, sabe-se que novos medicamentos são lançados no mercado farmacêutico

constantemente e devido ao seu curto período de tempo no mercado, ainda não tiveram sua

atividade farmacológica comparada com superioridade frente aos padronizados no SUS.

Outro aspecto pertinente é que a Lei nº 6.360/76 estabelece normas para o registro de

medicamentos no Brasil pela ANVISA e afirma que aqueles não cadastrados nessa agência

não poderão ser comercializados ou vendidos. Assim, esse é um critério crucial no momento

da análise judicial envolvendo medicamentos novos no mercado farmacêutico brasileiro, pois

podem existir solicitações de fármacos que não apresentam nem segurança na utilização nem

tampouco superioridade terapêutica quando comparados com os já padronizados no SUS.

O estudo de Figueiredo (2010) analisa a tomada de decisão para o fornecimento de

medicamentos por demanda judicial, a partir da aferição do registro sanitário do medicamento

pleiteado (Figura 3).

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Figura 1: Análise da demanda judicial na tomada de decisão para o fornecimento de medicamentos. Fonte: Figueiredo, 2010. Legenda: Uso off label: acontece quando o medicamentos tem indicação não aprovada no Brasil.

Faz-se mister o poder Judiciário analisar criteriosamente os pedidos de acesso a

medicamentos, observando a existência de tratamentos alternativos previsto no SUS para a

condição patológica do paciente reivindicante como também a verificação da inserção dos

princípios das políticas de medicamentos nas decisões judiciais (PEPE et al, 2010). Assim,

deverão ter prioridade no deferimento das ações, os medicamentos indispensáveis para a

manutenção da vida do indivíduo, os produzidos no Brasil, os genérico, de menor custo e de

eficácia comprovada (BARROSO, 2009).

Diante desse contexto envolvendo a atividade jurisdicional, Temporão (2009, p.2)

afirma que:

Está nas mãos do Judiciário brasileiro a responsabilidade de julgar casos em que, em muitas vezes, prescrições médicas privilegiam medicamentos extremamente caros em situações em que o SUS oferece remédios eficazes para o mesmo tipo de tratamento a custo muito mais compatível. Impressiona e preocupa como a pressão pela incorporação de procedimentos experimentais, produtos não registrados no país, tecnologias sem forte consenso entre especialistas, que envolvem milhares

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de desdobramentos judiciais, têm distorcido a imagem da gestão do SUS, incorretamente tratada como dificultadora do acesso a procedimentos e medicamentos. Transferir para o SUS a responsabilidade por atendimento realizado fora de suas normas operacionais pode gerar conseqüências como a desregulação do acesso assistencial, perda da integralidade e redução de controle e avaliação da atenção prestada (TEMPORÃO, 2009, p.2).

Portanto, a Política Nacional de Medicamentos precisa ter suas diretrizes efetivadas no

âmbito do SUS e respeitadas nas decisões judiciais que requerem acesso a medicamentos

(BORGES; UGÁ, 2010).

2.3 Política Nacional de Assistência Farmacêutica e as demandas judiciais

O direito a saúde no Brasil foi conquistado pela promulgação da Constituição 1988 e a

partir de então se tornou: dever do Estado, direito fundamental, universal, integral, igualitária

e gratuita (BRASIL, 1988). Sendo assim, cabe ao poder público, diante dessa premissa,

possibilitar que as políticas de saúde assegurem o acesso aos medicamentos de forma

igualitária e integral (BRASIL, 1990b).

Ao se relacionar Assistência Farmacêutica e o acesso integral a medicamentos no

SUS, torna-se válido compreender a conceituação de integralidade, a qual pode ser entendida

através da Lei Nº. 12.401, de 28 de abril de 2011, a qual rege que:

“Art. 19-M. A assistência terapêutica integral a que se refere a alínea d do inciso I do art. 6º consiste em: I - dispensação de medicamentos e produtos de interesse para a saúde, cuja prescrição esteja em conformidade com as diretrizes terapêuticas definidas em protocolo clínico para a doença ou o agravo à saúde a ser tratado ou, na falta do protocolo, em conformidade com o disposto no art. 19-P. “Art. 19-P. Na falta de protocolo clínico ou de diretriz terapêutica, a dispensação será realizada: I - com base nas relações de medicamentos instituídas pelo gestor federal do SUS, observadas as competências estabelecidas nesta Lei, e a responsabilidade pelo fornecimento será pactuada na Comissão Intergestores Tripartite; II - no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, de forma suplementar, com base nas relações de medicamentos instituídas pelos gestores estaduais do SUS, e a responsabilidade pelo fornecimento será pactuada na Comissão Intergestores Bipartite; III - no âmbito de cada Município, de forma suplementar, com base nas relações de medicamentos instituídas pelos

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gestores municipais do SUS, e a responsabilidade pelo fornecimento será pactuada no Conselho Municipal de Saúde.” (BRASIL, 2011c)

Nessa perspectiva de integralidade da assistência a saúde, a Política Nacional de

Assistência Farmacêutica (PNAF) surge como parte integrante da Política Nacional de Saúde,

envolvendo por isso, um conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da

saúde. Dessa forma, a Assistência Farmacêutica no SUS representa:

(...) o conjunto de ações desenvolvidas pelo farmacêutico, e outros profissionais de saúde, voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto no nível individual como coletivo, tendo o medicamento como insumo essencial e visando o acesso e o seu uso racional. Envolve a pesquisa, o desenvolvimento e a produção de medicamentos e insumos, bem como a sua seleção, programação, aquisição, distribuição, dispensação, garantia da qualidade dos produtos e serviços, acompanhamento e avaliação de sua utilização, na perspectiva da obtenção de resultados concretos e da melhoria da qualidade de vida da população (...) (BRASIL, 2004 p. 1).

Diante dessa amplitude de atividades a serem desenvolvidas pela Assistência

Farmacêutica no SUS, a PNAF expõe importantes eixos estratégicos para melhor condução do

acesso a medicamentos na rede pública de saúde:

IV- descentralização das ações, com definição das responsabilidades das diferentes instâncias gestoras, de forma pactuada e visando a superação da fragmentação em programas desarticulados; (...) VII- utilização da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), atualizada periodicamente, como instrumento racionalizador das ações no âmbito da assistência farmacêutica; VIII- pactuação de ações intersetoriais que visem à internalização e o desenvolvimento de tecnologias que atendam às necessidades de produtos e serviços do SUS, nos diferentes níveis de atenção; (...) XI- construção de uma Política de Vigilância Sanitária que garanta o acesso da população a serviços e produtos seguros, eficazes e com qualidade XII- estabelecimento de mecanismos adequados para a regulação e monitoração do mercado de insumos e produtos estratégicos para a saúde, incluindo os medicamentos; XIII- promoção do uso racional de medicamentos, por intermédio de ações que disciplinem a prescrição, a dispensação e o consumo (BRASIL, 2004 p. 1).

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Corroborando com tais eixos estratégicos e visando o fortalecimento da gestão

pública, a Portaria n°399/GM de 22 de fevereiro de 2006, estabelece as responsabilidades de

cada ente federativo dentro da assistência à saúde. Dessa forma, o custeio da saúde brasileira é

realizado concomitantemente pelos entes públicos, sendo financiada através dos blocos: 1)

atenção básica, 2) média e alta complexidade, 3) vigilância à saúde, 4) assistência

farmacêutica e 5) gestão do SUS (Figura 1).

Figura 2: Blocos de Financiamento da saúde

De forma específica o bloco de Assistência farmacêutica inicialmente foi instituído

por quatro componentes: Componente Básico da Assistência Farmacêutica; Componente

Estratégico da Assistência Farmacêutica; Componente de Medicamentos de Dispensação

Excepcional e Componente de Organização da Assistência Farmacêutica (BRASIL, 2006b).

Entretanto, este último foi retirado do bloco de financiamento pela Portaria nº 204/2007 e o

Componente Excepcional que também era denominado de “Alto Custo” passou a ser chamado

de Componente Especializado a partir da Portaria GM/MS n° 2.981/2009.

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Para compreender o funcionamento dos blocos de financiamento da Assistência

Farmacêutica no SUS, faz-se necessário entender quais tipos de medicamentos compõem cada

bloco de forma distinta, conforme a Portaria nº698/2006.

O primeiro deles é o bloco de atenção básica, o qual envolve a aquisição de

medicamentos para atender aos programas de hipertensão, diabetes, asma, rinite, saúde

mental, saúde da mulher, combate ao tabagismo, com também envolve a aquisição de

medicamentos essenciais padronizados (BRASIL, 2006b).

De acordo com a Portaria n°4.217/2010 o financiamento do componente básico é de

responsabilidade das três esferas de gestão, devendo, portanto cada ente aplicar valores

mínimos para aquisição de medicamentos: no caso a União é de R$5,10 por habitante/ano,

Estados, Distrito Federal e municípios de R$1,86 por habitante/ano. Mas, alguns

medicamentos do componente básico, como Insulina Humana 100UI/mL, Insulina Regular

100UI/mL, contraceptivos e insumos para o programa saúde da mulher são financiados

diretamente pelo Ministério da Saúde, o qual também é responsável pela aquisição e

distribuição dos mesmos. Assim, observa-se que:

Art. 10. A execução do Componente Básico da Assistência Farmacêutica é descentralizada, sendo de responsabilidade dos Municípios, do Distrito Federal e dos Estados, onde couber, a organização dos serviços e a execução das atividades farmacêuticas, entre as quais seleção, programação, aquisição, armazenamento (incluindo controle de estoque e dos prazos de validade dos medicamentos), distribuição e dispensação dos medicamentos e insumos de sua responsabilidade (BRASIL, 2010f).

Contudo, existem programas relacionados à Assistência Farmacêutica na Atenção

Básica relevantes ao acesso de medicamentos no SUS, mas que não são financiados pelos

recursos destinados ao Componente Básico. Dentre eles estão o programa da farmácia

popular, o “Saúde não tem preço” e o programa Hiperdia, os quais aumentam a

acessibilidades dos cidadãos aos tratamentos medicamentosos necessários.

O segundo componente é o Estratégico, o qual tem seus fármacos adquiridos e

distribuídos pelo Ministério da Saúde. Essa nomenclatura é devida por esse componente

financiar programas de saúde estratégicos, tais como: Anti-retrovirais do programa

DST/AIDS, Sangue e Hemoderivados; Controle do tabagismo, Imunobiológicos, Alimentação

e Nutrição, e para controle de endemias focais como a Tuberculose, Hanseníase, Malária,

Leishmaniose, Chagas, Cólera, Influenza (BRASIL, 2006a; PORTAL DA SAÚDE, 2013).

Enquanto que o terceiro componente é o Especializado, que tem por definição:

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O Componente Especializado da Assistência Farmacêutica é uma estratégia de acesso a medicamentos no âmbito do Sistema Único de Saúde, caracterizado pela busca da garantia da integralidade do tratamento medicamentoso, em nível ambulatorial, cujas linhas de cuidado estão definidas em Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas-PCDT publicados pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2009a, p. 02).

Para existir dispensação de medicamentos que são contemplados pelo Componente

Especializado é necessário que o paciente possua: Laudo para a Solicitação, Avaliação e a

Autorização de Medicamentos do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica

(LME), prescrição médica contendo as informações exigidas na legislação vigente e todos os

documentos solicitados nos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT), de acordo

com a doença e o medicamento solicitado (BRASIL, 2009a). Tais informações são muito

importantes, pois pode ocorrer de o medicamento receitado ser padronizado no SUS, dentro

desse componente especializado e mesmo assim o paciente não ter acesso, pois para o

paciente ser atendido precisa-se que o medicamento solicitado seja para patologia cadastrada

no PCDT, pois caso seja uma patologia divergente, o medicamento não terá liberação

autorizada.

Dessa forma, existem três blocos da Assistência Farmacêutica com responsabilidades

de financiamento, aquisição e dispensação dos medicamentos divididas e compartilhadas

entre as esferas governamentais: União, Estados e Municípios (Quadro 3).

Quadro 4: Responsabilidades do financiamento, aquisição e dispensação dos medicamentos envolvidos nos Blocos de Assistência Farmacêutica do SUS.

BLOCO DE

FINANCIAMENTO FINANCIAMENTO AQUISIÇÃO DISPENSAÇÃO

Componente Básico União, Estados,

Municípios

Estados e

Municípios

Estados e Municípios

Componente Estratégico União União Estados e Municípios

Componente

Especializado

Grupo 1A União União Estados

Grupo 1B União Estados Estados

Grupo 2 Estados Estados Estados

Grupo 3 União, Estados e

Municípios Municípios Municípios

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O último componente chama atenção em virtude de apresentar claramente a

distribuição da responsabilidade dos medicamentos de acordo com as três esferas de gestão do

SUS, separando a competência de cada ente de acordo com a complexidade da patologia,

capacidade de fornecimento integral do tratamento e pelo equilíbrio financeiro entre os entes

envolvidos. Nesse sentido os Municípios ficam responsáveis por medicamentos essenciais, a

União por aqueles usados para doenças de maior complexidade, impacto financeiro e

envolvidas em tratamentos que não obtiveram êxito com a primeira e/ou segunda escolha

terapêutica; e por fim os Estados são responsáveis por medicamentos usados por patologia de

menor complexidade quando comparados com o da União (BRASIL, 2009b, 2010d).

Salienta-se, porém, que os medicamentos representados pelo Grupo 3 do componente

especializado foram incorporados ao Componente Básico da Assistência Farmacêutica, com

aquisições e dispensações sob responsabilidade dos Municípios. Sendo assim, apenas os

grupos 1 e 2 compõem o elenco de medicamentos que, para serem dispensados requerem,

dentre outros documentos, o Laudo para Solicitação de Medicamentos – LME (BRASIL,

2009ª). Além dessa particularidade, não se pode deixar de mencionar o impacto financeiro

que esse componente causa aos cofres públicos. Em 2008, segundo dados de Vieira (2010),

representou 52% dos gastos pelo SUS em processo de aquisição de medicamentos de acordo

com os blocos de financiamento (Tabela 1).

Tabela 1: Estimativa de recursos alocados para aquisição de medicamentos pelo SUS em 2008.

Componente da AF

Estimativa de recursos alocados em 2008 (R$) União Estado Município SUS %

Básico 893.867.530,89 330.999.913,80 330.99.913,80 1.555.867.358,49 22,3 Estratégico 1.775.572.620,73 -- -- 1.775.572.620,73 25,4 Especializado 2.298.944.351,08 1.350.173.666,51 -- 3.649.118.017,59 52,3

TOTAL 6.980.557.996,81 100 Fonte: Adaptação de Vieira (2010).

Assim, os recursos financeiros são predeterminados e destinados aos entes federativos

de acordo com cada componente da Assistência Farmacêutica, seja o da atenção básica, o

estratégico ou especializado. Dessa forma, os gestores públicos municipais, estaduais e

federais são conduzidos a traçarem estratégias para melhor gerir esse orçamento destinado

para aquisição de medicamento, já que a demanda por melhores condições de saúde são cada

vez mais emergente e os direitos a medicamentos gratuitos estão legalmente instaurados pela

Constituição e por Leis complementares.

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Além disso, faz-se também necessário que a prestação de serviços de saúde tenha

planejamento e organização administrativa, para que os cidadãos não fiquem desprovidos de

assistência médica e farmacêutica e assim não tenham que buscar na justiça o direito de

adquirir o medicamento pleiteado (MARQUES, 2008).

Nesse contexto de assistência integral e gratuita pelos entes federativos e a

possibilidade da judicialização da saúde, BOING et al. (2013) verificou em seus estudos que

dentre os medicamentos que acarretaram maior custo aos entes federativos em ações judiciais,

estão os antineoplásicos, compreendendo 77% do volume financeiro movimentado pela

SES/SC no atendimento das ações entre 2000 e 2006. Contudo, essa classe de medicamentos

apresenta uma política de saúde específica, conhecida como Política Nacional de Atenção

Oncológica, através da qual os medicamentos oncológicos são disponibilizados gratuitamente

a população.

Entretanto, vale mencionar que tais medicamentos não estão citados em nenhum dos

blocos de financiamento da Assistência Farmacêutica do Sistema Único de Saúde, já que não

há padronização de tratamento estabelecida por portaria, em tabela SIA/SUS ou pactuada.

Segundo a Portaria da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde

(PT/SAS/MS) nº. 2.439/2005 e Portaria SAS/MS nº. 741/2005, a atenção oncológica é

financiada com recursos do Bloco da Atenção de Média e Alta Complexidade – MAC.

Portanto, o Ministério da Saúde repassa regularmente os recursos financeiros - MAC aos

estados e municípios que apresentam gestão plena e/ou aderidos ao Pacto pela Saúde, de

acordo com os critérios da Programação Pactuada e Integrada-PPI pactuados e aprovados na

Comissão Intergestores Tripartite – CIT - e Bipartites – CIB.

Segundo a portaria n° 3.536 GM/MS de 02/09/98, o valor de pagamento estabelecido

em tabela do Ministério da Saúde para o procedimento já contempla inclusive os

medicamentos utilizados em concomitância à quimioterapia. Compete desse modo, às

Unidades terciárias de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) e aos Centros de Alta

Complexidade em Oncologia (CACON) adquirir e dispensarem os medicamentos prescritos e

padronizados em seus serviços. Entretanto, sob a alegação de que o valor estabelecido na

tabela do SIA/SUS é insuficiente para cobrir o custo de diversos medicamentos oncológicos,

principalmente os recém-lançados no mercado, com patente ainda em vigor, esses órgãos não

adquirem medicamentos com esse perfil, gerando com isso demandas judiciais. Assim,

observa-se que inexiste relação de medicamentos antineoplásicos no SUS, não havendo

dispensação desses fármacos diretamente para o paciente nem pelo Ministério da Saúde, nem

tampouco pelas Secretarias de Saúde Municipais ou Estaduais. (BRASIL, 2012c).

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Nesse contexto, as dificuldades na execução da Política Oncológica, bem como os

diferentes obstáculos para implementação da Política de Assistência Farmacêutica são

considerados fatores que influenciam o fenômeno da judicialização da saúde (MARÇAL,

2012) (Figura 2).

Figura 3: Fatores que influenciam o fenômeno da judicialização da saúde. Fonte: Marçal (2012).

Além dessas influências para a judicialização do acesso a medicamentos, ressalta-se

que existem outras regulamentações que garantem expressamente o acesso gratuito a

medicamentos, das quais se destacam: a Lei n. 10.741/2003, Estatuto do Idoso, que dispõe:

Art.15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos. § 2o Incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos, gratuitamente, medicamentos, especialmente os de uso continuado, assim como próteses, órteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação (BRASIL, 2003, p. 03).

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E o Estatuto da Criança e do Adolescente, que afirma:

Art. 11. É assegurado atendimento integral à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, garantido o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde. § 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente àqueles que necessitarem os medicamentos, próteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação (BRASIL, 1990a, p. 2-3).

Sendo assim, diante das fundamentações legais que garantem aos cidadãos o acesso a

medicamentos de forma gratuita e integral, a implementação e efetividade dos eixos

estratégicos da Política Nacional de Assistência Farmacêutica surgem como mecanismo de

auxiliar a condução das demandas judiciais pelos gestores públicos de forma a minimizar os

transtornos oriundos desse fenômeno.

2.4 Acesso a medicamentos no Sistema Único de Saúde por via judicial

Muitos cidadãos que precisam de medicamentos não disponibilizados pela rede de

saúde pública não sabem como agir ou a quem recorrer, para solicitar o medicamento ou

ainda não reconhecem a via judicial como ferramenta para legitimar o direito à saúde

(MARQUES, 2008). Contudo, o parecer nº 810/2012 AGU/CONJUR-MS/HRP apresenta

todos os elementos probatórios mínimos para a prolação de decisões judiciais, a fim de

esclarecer quais são os documentos necessários que fundamentem uma decisão judicial

baseada nos princípios do SUS e nas políticas públicas de saúde.

Diante dessa perspectiva, há várias medidas judiciais para a solicitação de

medicamentos, sendo as mais usuais o mandado de segurança e a antecipação de tutela. A

antecipação de tutela apresenta mais possibilidades de sucesso do pedido do que o Mandado

de Segurança, pois é uma medida que se pode impetrar contra todos os entes federativos em

uma mesma ação, característica conhecida como litisconsórcio passivo. Enquanto que o

Mandado de segurança, apesar de possível, requer que a ação seja ajuizada somente contra o

órgão ou sujeito infrator, além de precisar ter a prova que a autoridade pública impediu o

exercício de um direito líquido e certo do cidadão (SOUZA; MURARO, 2011). Ações como

essas são ajuizadas e prevêem uma resposta dos juízes em caráter de urgência.

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Essas medidas podem ser realizadas por meio de advogados, Defensoria Pública, essa

de forma integral e gratuita se comprovada hipossuficiência, e Ministério Público, sob ótica

da defesa do interesse da coletividade. Dessa forma, os cidadãos apresentam diferentes formas

de buscar auxílio para o cumprimento dos seus direitos e precisam ficar atentos ao

cumprimento da decisão judicial ao serem proferidas.

Salienta-se, porém que a existência da decisão favorável ao demandante não implica

diretamente na obtenção imediata do medicamento solicitado, já que não é raro o

descumprimento ou demora de tais sentenças por parte dos entes públicos. Nesses casos, o

delito de desobediência é considerado de baixa potencialidade, sendo uma infração penal de

menor potencial ofensivo (BRASIL, 1995), encontrando-se tipificada no art. 330 do Código

Penal Brasileiro.

Dessa forma, a fundamentação utilizada pelo juiz para se fazer cumprir a decisão

judicial, poderá apresentar diferentes exigências aos entes públicos, conforme relatou

Ordacgy (2013):

Dessa forma, é necessário que o Poder Judiciário utilize-se de todo poder de coerção que a sua função e a legislação lhe disponibilizam, adotando as medidas pertinentes, quais sejam: busca e apreensão dos medicamentos ou materiais cirúrgicos; aplicação de elevada multa pessoal e diária a incidir sobre a autoridade responsável pelo descumprimento da ordem judicial, nos termos do art. 14, p.u., do CPC; responsabilização por improbidade administrativa, passível de apenação com a perda do cargo público, suspensão dos direitos políticos, proibição de contratar com a Administração Pública e dever de indenização pelos prejuízos eventualmente verificados; e, em última análise, responsabilização criminal pelas omissões perpetradas quanto ao descumprimento do provimento jurisdicional antecipatório ou final, inclusive com a prisão em flagrante da autoridade responsável pela prática, em tese, do delito de desobediência (ORDACGY, 2013, p.05).

Diante disso e com a finalidade de demonstrar a complexidade da judicialização do

acesso a medicamentos, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) (BRASIL,

2011a) elaborou o fluxo do processo para respostas às demandas judiciais individuais (Figura

4 e 5), o qual pode ser aplicado para maioria das decisões com exceção da Ação Civil Pública,

já que essa atende a demandas coletivas.

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Figura 4: Fluxo do Processo Interno da Secretaria Estadual de Saúde. Fonte: Brasil, 2011a.

Diante do fluxo do processo judicial apresentado, observa-se que depois de a

Secretaria de Saúde fornecer o medicamento, o processo deve ser enviado à Consultoria

Jurídica para que a mesma possa avaliar se os elementos para defesa estão presentes, tais

como: presença de protocolos clínicos terapêuticos preconizados no SUS para o uso do

medicamento solicitado e o código internacional de doenças (CID) presente; citação da

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responsabilidade de cada ente federativo frente ao medicamento solicitado; justificativas pela

não dispensação do medicamento pelo SUS. Só em seguida é que o processo segue para

Procuradoria Geral do Estado (PGE) para posteriormente ser enviada à Vara responsável para

se avaliar o mérito da questão. O juiz frente às argumentações propostas irá avaliar se o

paciente ganhou ou não, em primeira instância, o direito a ter seu tratamento continuado

através da ordem judicial (Figura 5).

Figura 5: Fluxo do processo solicitando medicamento após entrada na Consultoria Jurídica

Fonte: Brasil, 2011a.

Caso o juiz exija que o ente federativo forneça o medicamento de forma contínua ao

paciente, o gestor público poderá recorrer da decisão e usar de suas argumentações técnicas e

jurídicas para pleitear uma segunda avaliação do caso pela justiça. Nessas circunstâncias,

pode-se recorrer ao tribunal de justiça, na tentativa de se ter um posicionamento contrário ao

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proferido na primeira instância. E se ainda a decisão não for aceita pelo réu da ação, o mesmo

poderá recorrer da decisão, dependendo do caso, ao Superior Tribunal de Justiça ou Supremo

Tribunal Federal. O fenômeno inverso também é possível, ou seja, os pacientes que não forem

atendidos em seu pleito na primeira decisão poderão recorrer a outras instâncias. De forma

sintética, Marçal (2012), traça uma trajetória dos usuários do SUS que requerem

medicamentos por via judicial (Figura 6).

Figura 6: Trajetória dos usuários do SUS que requerem medicamentos por via judicial em Pernambuco-PE.

Fonte: Marçal, 2012.

Diante de todo esse ordenamento burocrático, não se pode deixar de mencionar que se

o medicamento estivesse disponível no SUS, todo esse trâmite e burocracia seriam

dispensados, deixando todos os envolvidos aptos para exercer outras atividades, talvez de

maior relevância e urgência.

Para Figueiredo et al. (2010) o execução das atividades da Assistência Farmacêutica

poderia minimizar alguns dos danos aos cofres públicos ocasionados pela judicialização do

acesso a medicamentos, já que a AF envolve o abastecimento dos medicamentos nas

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Unidades de saúde e também está relacionada com a análise das informações técnicas dos

medicamentos nos processos judiciais. Dessa forma, o farmacêutico é o profissional

responsável por verificar algumas características dos processos judiciais: a) se o medicamento

solicitado na prescrição médica tem registro no país; b) se indicação clínica de registro do

fármaco coincide com a do receituário médico; c) se existe alternativa terapêutica já oferecida

pelo SUS; d) se o medicamento solicitado possui evidência científica para a indicação clínica

prescrita, além de e) disponibilizar a justificativa técnica para o não fornecimento do fármaco

pleiteado pela via administrativa.

Ante o exposto, a dispensação de medicamentos por via judicial envolve critérios

burocráticos e por isso o tempo se torna um dos fatores limitantes para o cumprimento da

decisão judicial pelos entes federativos. Desse modo, em casos de descumprimentos da ordem

judicial, poderá existir como consequência a aplicação de sanções administrativas e penais aos

gestores e/ou órgãos públicos.

Entretanto, uma das maneiras de se diminuir a aplicação das penalidades e atender as

exigências judiciais é realizando o planejamento público ser realizado por uma equipe técnica

fortalecida com Assistência Farmacêutica atuante, Consultoria Jurídica Experiente e

Procuradores Gerais comprometidos com a saúde Pública. Portanto, os gestores investir na

área farmacêutica de forma que haja efetivo comprometimento na logística da dispensação de

medicamentos padronizados aos cidadãos (MARQUES, 2008).

2.5 Compras de medicamentos por entes públicos após decisão judicial

Para compreender o processo de aquisição de medicamentos no Brasil por via judicial,

faz-se necessário entender primeiramente quais são as exigências presentes na Constituição

que regem a compra de bens no serviço público. Nesse sentido, a Lei nº 8.666/93, conhecida

por Lei das Licitações e Contratos, apresenta-se como uma ferramenta para padronizar as

normas e regras para se vender e comprar no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios. De acordo com essa legislação, as licitações públicas

apresentam importantes características:

A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da

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publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos (BRASIL, 2010e, p. 01).

No decorrer dos tempos, algumas inovações foram implementadas no processo de

compras públicas, dentre elas o pregão eletrônico. Esta modalidade de licitação proporciona a

compra de produtos com menores preços e com rapidez e agilidade na aquisição do item,

visto que através do sistema informatizado existe o confronto direto entre os preços oferecidos

pelos interessados em vender ao serviço público (FERNANDES, 2003).

O aspecto da agilidade das compras públicas se torna ainda mais relevantes quando se

trata de adquirir medicamentos solicitados por via judicial, pois nesses casos existem prazos

para que os mesmos sejam fornecidos ao usuário ditados por ordem judicial. Nesta

perspectiva, além do pregão eletrônico, outro sistema que auxilia esse processo é o Sistema de

Registro de Preços (SRP), por meio do qual o preço firmado pelo vencedor da licitação fica

registrado e válido por um ano, podendo o órgão solicitar os quantitativos estimados de

acordo com sua necessidade. Entretanto, essa ferramenta regulamentada pelo Decreto nº

7.892/2013 ainda é limitada as compras adquiridas pela União, ficando o Estado e Munícipio

sem o auxílio desse sistema.

Em nível federal, as compras públicas têm ainda outro diferencial, já que existe a

adoção do Sistema Integrado de Administração de Serviços Gerais-SIASG e do Comprasnet

na gestão de suas compras. Através do comprasnet é possível ter acesso livre aos pregões,

consultar atas, cotações eletrônicas, catálogo de materiais, sessões públicas; além disso,

podem-se acessar publicações, legislações e informações a respeito do SIASG, esse representa

uma ferramenta útil e informatizada para operacionalizar diversos serviços, como o de

licitações e contratos.

Entretanto, apesar de todas essas mudanças para dar celeridade ao processo de

aquisição de medicamentos, as formas mais utilizadas para adquiri-los em tempo hábil e

cumprir o prazo estabelecido por decisão judicial é fazendo a compra por dispensa de

licitação, a qual poder se aplicada em situações restritas, tais como:

Nos casos de emergência ou de calamidade pública, quando caracterizada urgência de atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou particulares, e somente para os bens necessários ao atendimento da situação emergencial ou calamitosa (...) (BRASIL, 1993, p. 14-15).

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Existe, portanto justificativa legal para que a primeira aquisição para atendimento da

determinação judicial seja feita fundamentada nesse dispositivo. Entretanto, para as compras

subsequentes, a dispensa de licitação não se aplica, devendo a administração instaurar

procedimento licitatório sempre que houver possibilidade de competição (BRASIL, 2011b).

Nos casos em que a competição for inviável, tem-se a inexigibilidade da licitação,

fundamentação essa utilizada na seguinte situação:

Para aquisição de materiais, equipamentos, ou gêneros que só possam ser fornecidos por produtor, empresas ou representante comercial exclusivo, vedada a preferência de marca, devendo a comprovação de exclusividade ser feita através de atestado fornecido pelo órgão de registro do comércio do local em que se realizaria a licitação ou a obra ou o serviço, pelo Sindicato, Federação ou Confederação patronal, ou, ainda, pelas entidades equivalentes (BRASIL, 1993, p. 17).

Mesmo existindo ou não a licitação pública para adquirir medicamentos através da via

judicial, torna-se relevante dentro deste contexto orçamentário-legal esclarecer alguns tópicos:

a) existe Preço Máximo de Venda ao Governo (PMVG), o qual é aplicado a todos os

medicamentos adquiridos por via judicial e para aqueles que são submetidos ao Coeficiente de

Adequação de Preço (CAP), sendo anualmente atualizado. O CAP compõe o cálculo do

PMVG e pode ser considerado um desconto mínimo obrigatório para venda de alguns

medicamentos para o governo, dentre eles: os medicamentos pertencentes ao programa do

componente especializado da assistência farmacêutica, programa de DST/AIDS, programa de

sangue e hemoderivados, e medicamentos antineoplásicos; b) há o Preço de Fábrica (PF) que

é aplicado aos demais medicamentos comprados pelo governo, sendo sempre superior ao

PMVG.

Sendo assim, para aquisições de medicamentos solicitados judicialmente, faz-se

necessário que os processos de compra sejam homologados até o preço máximo fixado pela

ANVISA, que no caso é representado pelo PMVG (BRASIL, 2006c). Inobservado esse preço,

a administração pública estaria negligenciando uma determinação para as compras públicas

adquiridas por ordem judicial.

Perante as exigências e normas constitucionais envolvidas no processo de compras

públicas de medicamentos, um dos mecanismos para agilizar o cumprimento da decisão

judicial é a realização de estudos de caracterização da demanda (MIRANDA; OLIVEIRA,

2012). Pois, dessa forma seria possível compilar a lista de medicamentos mais solicitados

judicialmente, os quais previamente seriam lançados em pregões eletrônicos, a fim de que ao

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se ter a solicitação judicial não houvesse a dispensa da licitação justificada pela emergência

da causa (MIRANDA; OLIVEIRA, 2012).

Assim, com a compra dos medicamentos demandados judicialmente sendo realizada

através de licitações públicas, seria possível diminuir as possibilidades de se adquirir produtos

com preços supervalorizados. Ao passo que o excesso de dispensas de licitação, evidenciaria a

falta de planejamento estratégico e de estudos voltados para aumento da eficiência e

efetividade das compras governamentais.

2.6 Experiências inovadoras adotadas por entes públicos diante da crescente a demanda

por medicamentos.

Vários são os Estados e Municípios com experiências inovadoras frente à crescente

demanda judicial da saúde. Experiências de sucesso no Brasil merecem destaque nesse

contexto de acesso a medicamentos por via judicial, visto os resultados dessas inovações na

minimização dos impactos que a judicialização proporciona.

Neste sentido, uma proposta pioneira foi à criação do Núcleo de Assessoria Técnica

(NAT) pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ) em parceria com a

Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil no ano de 2009. O NAT representa um núcleo

onde os juristas podem ter acesso a laudos técnicos a respeito dos pleitos envolvendo a saúde,

sem ter, no entanto, a obrigatoriedade de realizar tal solicitação. Essa medida vai de encontro

à necessidade do poder judiciário em ter auxílio técnico para analisar especificidades do

pedido envolvendo medicamentos (CASTRO, 2012).

Sendo assim, o NAT adquiriu credibilidade dentre os juristas, os quais apresentam

como pontos positivos: segurança maior ao se posicionar na decisão, os advogados dos pleitos

não tem acesso ao NAT, o que evita interferências; consideraram que essa parceria é uma

iniciativa benéfica, pois por meio do laudo emitido tem-se a certeza que o item solicitado se

apresenta disponível no SUS, se tem registro na ANVISA, se está corretamente solicitado

conforme patologia e tempo de duração (CASTRO, 2012).

Entretanto, críticas a esse núcleo estão focadas especialmente no seu funcionamento

limitado a horários comerciais, não havendo expediente 24 horas, finais de semana e feriados.

Essa reinvindicação é pertinente já que as solicitações independem do dia e horário. Outro

ponto importante que os juristas questionam é a possibilidade de protecionismo do Estado,

pois os servidores que compõe o NAT são deste ente federativo e assim poderiam usar o

núcleo para benefício próprio (CASTRO, 2012), o que violaria a isonomia da justiça em agir

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de forma independente. Além dessas críticas, observa-se que o NAT do Rio de Janeiro tem

suas atividades restritas à capital, o que limita o atendimento das necessidades dos juizados do

interior (FERREIRA; COSTA, 2013).

Assim sendo, observa-se que o Núcleo de Assessoria Técnica apresenta-se como um

avanço na tentativa de racionalizar a judicialização, mas se reconhece também a necessidade

de constantes melhorias na sua estrutura e em seu dinamismo para que não se tenha seu

ideário deturpado ou que seja considerado apenas um mecanismo a mais para proporcionar

morosidade ao processo de aquisição de medicamentos e insumos pela via judicial.

Nesta perspectiva, outros tribunais do Brasil implantaram o NAT, tais como

Pernambuco, Paraná, Espírito Santo, Mato Grosso e Piauí. Nesse último Estado há um grande

diferencial, que reside no fato de ter dentre os componentes da equipe técnica, os profissionais

de associações de trabalhadores da área da saúde, como também dos próprios tribunais de

justiça.

Iniciativas semelhantes a essas estão sendo tomadas em outras regiões do Brasil, como

é o caso da Câmara Técnica de Saúde no Mato Grosso do Sul, da Comissão de Análise de

Solicitações Especiais em Ribeirão Preto (SP) e do Comitê de Suporte Técnico-Consultivo às

Decisões Judiciais na área da saúde em Minas Gerais, todos eles com propostas de subsidiar a

justiça com informações técnicas.

Em São Paulo houve a instituição de dois grupos especializados: 8ª Subprocuradoria

da Procuradoria Judicial e Coordenação de Demandas Estratégicas do Sistema Único de

Saúde (CODES), os quais através da comunicação entre si geraram um sistema informatizado

para o controle das ações judiciais, denominado “Sistema de Controle Jurídico” (SCJ). Esse

sistema permite a geração de relatórios informatizados, disponíveis ao judiciário, sendo

possível fazer o cruzamento de diferentes dados relacionados com o processo judicial, tais

como: medicamento requerido e seu respectivo laboratório farmacêutico, advogado envolvido

no pleito, médico prescritor, lista oficial do SUS, protocolos terapêuticos, possibilitando com

o decorrer das análises a identificação de possíveis fraldes no momento de aquisição de

medicamentos, como também a atualização das listas padronizadas pelo SUS (YOSHINAGA,

2011).

Assim, as instituições públicas precisam investir cada vez mais em tecnologias e

métodos de rastrear os dados das demandas judiciais, para que se possam diferenciar as

demandas legítimas daquelas patrocinadas por redes criminosas que barganham o aumento da

prescrição médica de um medicamento de alto custo, de produção exclusiva e não

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incorporado pelo SUS, fazendo com que o orçamento público seja destinado para corrupção e

má malversação do dinheiro público SUS (YOSHINAGA, 2011).

Ainda em São Paulo outra medida evidenciada é a tentativa de se aumentar a aquisição

de medicamentos por meio da via administrativa frente à judicial, de forma que o cidadão ao

procurar a Defensoria Pública tenha o apoio técnico de profissionais da saúde cedidos pelo

Estado para esclarecer questionamentos a respeito do medicamento requerido. As informações

passadas a população podem versar sobre a lista oficial de medicamentos padronizados no

SUS, regulamentação sanitária, alternativas terapêuticas, unidades de saúde responsáveis pela

aquisição e dispensação de fármacos de forma gratuita e por via administrativa. Trabalho

semelhante a esse é desenvolvido pelo Comitê Interinstitucional de Resolução Administrativa

de Demandas da Saúde (CIRADS), no Rio Grande do Norte, sendo um importante

instrumento para a solução de conflitos da saúde, conforme afirma da Defensoria Pública da

União (DPU):

A solução administrativa dos conflitos da saúde é viabilizada por meio da análise, pelo CIRADS, dos casos concretos em que o assistido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) não tenha recebido o devido atendimento pelo referido sistema, a fim de identificar tanto os casos em que o pleito pode ser atendido administrativamente, evitando a sua judicialização, quanto aqueles em que se pode conciliar em ações judiciais já em curso, nas hipóteses em que o tratamento de saúde (fornecimento de medicamentos, insumos, materiais e serviços de saúde) esteja previsto no âmbito do SUS e não tenha sido prestado, bem como naquelas hipóteses em que, por algum motivo, o médico tenha indicado tratamento diverso dos que são oferecidos pelo SUS (DPU, 2013, p.01).

Um dos membros do CIRADS é a Defensoria Pública da União (DPU), a qual

demonstra-se atuante nas propostas de melhorias dos conflitos existentes no fenômeno de

judicialização, por promover a ampliação da comunicação e parcerias entre o judiciário e o

executivo. Dentre suas propostas recentes estão: Câmara Permanente Distrital de Mediação de

Saúde (CAMEDIS) em Brasília, atendimento de todas as demandas ajuizadas relacionadas ao

diagnóstico, tratamento e reabilitação de pacientes com câncer no Estado de Alagoas,

cooperação com o projeto SUS Mediado no Município de Mossoró (RN) com incentivos de

acordos extrajudiciais para acesso a saúde. Muitas dessas propostas e iniciativas citadas

seguem as recomendações realizadas pelo Conselho Nacional de Justiça a partir da

Recomendação 31/2010, a qual sugere:

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Aos Tribunais a adoção de medidas visando a melhor subsidiar os magistrados e demais operadores do direito, para assegurar maior eficiência na solução das demandas judiciais envolvendo a assistência à saúde (...) Resolve: Recomendar aos Tribunais de Justiça dos Estados e aos Tribunais Regionais Federais que: a) até dezembro de 2010 celebrem convênios que objetivem disponibilizar apoio técnico composto por médicos e farmacêuticos para auxiliar os magistrados na formação de um juízo de valor quanto à apreciação das questões clínicas apresentadas pelas partes das ações relativas à saúde, observadas as peculiaridades regionais (BRASIL, 2010b, p. 1-2).

Outrossim, tais medidas citadas também são reflexo de debates e discussões

levantadas pelo Fórum Nacional do Judiciário para monitoramento e resolução das demandas

de assistência à saúde, criado pela Resolução nº 107, de 06 de abril de 2010. Espera-se,

portanto, que outras regiões do Brasil possam atender as recomendações de melhorias no que

diz respeito ao atendimento das demandas judiciais na área da saúde e assim permitam o

surgimento de novas estratégias para avaliação desse processo de judicialização e assim

possam ser firmadas entre os entes públicos e a sociedade uma parceria que privilegie a

dignidade da saúde dos cidadãos.

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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O estudo pode ser considerado descritivo e exploratório quanto aos objetivos,

documental em seu delineamento, retrospectivo no que pese o período de análise e qualitativo

em relação à coleta e análise dos dados (GIL, 2002; VERGARA, 2006).

O universo da pesquisa foi composto por jurisprudências demandando medicamento a

Municípios e/ou Estado do Rio Grande do Norte, as quais foram proferidas em 2ª instância

por desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJ/RN) no período de

2012. A escolha por esse objeto de análise foi motivada pelas seguintes características: a) o

Tribunal de Justiça do RN apresenta decisões proferidas na íntegra podendo ser consultadas

eletronicamente, com livre acesso, b) os pleitos ao serem analisados em segunda instância

apresentam assim maior riqueza de detalhes e de aprofundamento no caso quando

comparados com os da primeira instância; c) o ano de 2012 foi escolhido por ser o último ano

que o site do tribunal de justiça dispunha de dados no momento da coleta das informações.

3.1 Plano de Coleta e Análise dos Dados

Para realização da coleta de dados foi realizado um levantamento bibliográfico a

respeito das metodologias utilizadas para alcançar objetivos semelhantes ao do presente

estudo, obtendo-se os estudos de Santana (2009); Macêdo, 2010, Macêdo et al (2011) e

Leitão (2012), os quais também utilizaram fontes secundárias de dados para estudar o

processo de judicialização.

Após essa etapa, os dados documentais da pesquisa foram obtidos pelo site do

Tribunal de Justiça do RN, o qual oferece a opção de consultas processuais e, por conseguinte

consultas às jurisprudências. Através dessa fonte de dados é possível encontrar as decisões

judiciais almejadas por diferentes opções de busca, dentre as quais: a ementa, inteiro teor,

número do processo, classe, órgão do processo, relator, data e origem do documento, seja o

tribunal de justiça, turma de recursos ou ambos. Optou-se por utilizar a ferramenta ementa,

com o nome de busca sendo “medicamento” com refinação da pesquisa pelo ano de 2012.

Após esse processo, obteve-se 163 ações judiciais que atendiam aos critérios de busca

predeterminados.

Em seguida, foram aplicados os critérios de inclusão e exclusão do estudo, a fim de

selecionar para etapa seguinte apenas as unidades de análise de interesse. Para isto, foram

selecionados, como critérios de inclusão:

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a) Jurisprudências com decisões proferidas após o processo passar por análise de duas

instâncias julgadoras, tendo sido impetradas a partir de 01 de janeiro de 2012 e

decididas até o final desse ano.

b) Jurisprudências originadas de ações movidas por pacientes que, no processo judicial,

interpuseram ações judiciais para receber medicamentos por meio de processos contra

a Secretaria Estadual de Saúde de Saúde Pública do Rio Grande do Norte- SESAP-RN

ou contra Secretarias Municipais de Saúde do RN.

Após a análise dos critérios de inclusão foram analisados os de exclusão:

a) Decisões judiciais que não dizem respeito à demanda por medicamento.

b) Jurisprudências sujeitas ao regime de segredo de justiça.

c) Processos pesquisados eletronicamente que não continham os dados referentes aos

tipos de medicamentos pleiteados nas ações.

Aplicados os critérios de inclusão e de exclusão, foram selecionadas 115 decisões

judiciais. Cada uma delas recebeu um número, a fim de sistematizar a coleta de dados, como

também para facilitar o rastreio de informações quando necessário.

Para cumprir os objetivos específicos dessa dissertação a coleta e análise dos dados

foram realizadas em dois momentos distintos: o primeiro deles envolveu a construção e

análise de indicadores de monitoramento de demandas judiciais relacionados com princípios

da PNM e da PNAF. E o segundo momento, a investigação do conteúdo segundo técnica de

Bardin (2006), a fim de analisar as argumentações jurídicas utilizadas para respaldar a decisão

do processo judicial quanto ao deferimento de medicamentos.

3.1.1. Indicadores de Monitoramento das demandas judiciais relacionados com

princípios da PNM e PNAF

Os indicadores para as demandas judiciais que pleiteiam medicamentos foram obtidos

do Manual de Indicadores de Monitoramento de Demandas Judiciais proposto por Pepe

(2011). Tal escolha se deu em virtude da possibilidade de se comparar os resultados

encontrados na presente análise com diferentes locais e/ou entre diferentes épocas do mesmo

local, visto que é uma técnica que apresenta cálculos de indicadores padronizados, com

conceitos teóricos definidos. Além disso, tais indicadores já foram utilizados para compor o

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objetivo da dissertação de Lima (2012), sendo essa metodologia avaliada positivamente pelo

autor.

Esse Manual apresenta 26 indicadores, do quais 11 têm características processuais, 10

com informações médico-sanitárias e 05 com dados político-administrativos das ações

judiciais (Anexo 01). A partir da análise dos objetivos presentes nesse estudo e dos conceitos

e métodos de cálculos de cada indicador, selecionou-se quatro indicadores de interesse

(Quadro 5) pois apenas eles estão relacionados com os princípios da Política Nacional de

Medicamentos e da Política Nacional de Assistência Farmacêutica.

Quadro 5: Indicadores de interesse para o estudo

Indicador 01: Proporção de medicamentos prescritos pelo nome genérico

CONCEITO CÁLCULO Relação dos indicadores com a

PNM e PNAF. Expressa a distribuição percentual de medicamentos prescritos pelo nome genérico, identificados no conjunto das ações judiciais, no local e período de estudo. Considera-se nome genérico o utilizado na Denominação Comum Brasileira ou Denominação Comum Internacional, conforme a Resolução RDC ANVISA nº 30/2010 e a Lei 9787/99 (BRASIL, 2010c; BRASIL, 1999)

(Número de medicamentos prescritos pelo nome genérico/ número total de medicamentos prescritos) x 100. Para isso foi necessário saber quantas decisões judiciais apresentavam o medicamento sendo solicitado por nome genérico.

A PNM e PNAF têm como princípio e eixo estratégico respectivamente a adoção da RENAME, a qual apresenta. todos os fármacos designados por sua denominação genérica.

Indicador 02: Proporção de medicamentos registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CONCEITO CÁLCULO Relação dos

indicadores com a PNM e PNAF.

Expressa o percentual dos medicamentos com registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), no local e período de estudo. Considera-se medicamento registrado na Anvisa aquele cuja composição, apresentação farmacêutica e indicações terapêuticas são definidos no registro.

(Número de medicamentos em acordo com o registro na Anvisa / número total de medicamentos requeridos nas ações judiciais) x 100.

De acordo com a PNM todos os medicamentos comercializados no Brasil precisam ter registro sanitário emitido pela ANVISA.

Indicador 03: Proporção de medicamentos, por componente do bloco de Financiamento da Assistência Farmacêutica

CONCEITO CÁLCULO Relação dos indicadores com a

PNM e PNAF. Expressa a distribuição percentual de medicamentos por componente do bloco de financiamento da Assistência Farmacêutica

(Número total de medicamentos nas ações por componente do bloco de

Dentre os eixos da PNAF, está a aquisição de medicamentos. Desse modo, a

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(AF), requeridos nas ações judiciais, no local e período de estudo. Entende-se por componente do bloco de financiamento da Assistência Farmacêutica as listas de financiamento pactuadas nas instâncias decisórias do Sistema Único de Saúde entre as esferas de governo. A pactuação na Comissão Intergestores Tripartite (CIT) deu origem aos atuais componentes de financiamento: Componente Básico do Bloco de Financiamento da Assistência Farmacêutica, Componente de Medicamentos Estratégicos e o Componente Especializado da Assistência Farmacêutica

financiamento da AF/ número total de medicamentos requeridos nas ações judiciais) x 100.

responsabilização de cada gestor nesse processo, bem como a presença da descentralização da PNM e PNAF pode ser visualizada por meio da definição dos blocos de financiamento da Assistência Farmacêutica, os quais englobam a padronização de medicamentos do SUS.

Indicador 04: Proporção de ações judiciais que demandam ao menos um medicamento que esteja fora dos componentes do bloco de financiamento da assistência farmacêutica

CONCEITO CÁLCULO Relação dos indicadores com a

PNM e PNAF. No conjunto de ações judiciais estudadas, expressa o percentual de ações que demandam ao menos um medicamento que não conste em qualquer componente de financiamento da Assistência Farmacêutica (AF), no local e período de estudo.

(Número de ações que demandam ao menos um medicamento que não conste nos componentes do bloco de financiamento da AF/ número total de ações judiciais) x100

A PNM e a PNAF preconizam a utilização da RENAME como instrumento delimitador da lista de medicamentos padronizados no SUS, os quais estão inseridos nos blocos de financiamento da Assistência Farmacêutica.

Fonte: Adaptação de Pepe et al (2011).

Desse modo, para obtenção da frequência dos indicadores de monitoramento da

demanda judicial relacionados com PNM e PNAF foi elaborado um instrumento de coleta de

dados (Apêndice 01) que permitisse atender as exigências dos cálculos de cada variável. Os

dados coletados foram pautados em algumas características dos medicamentos, tais como:

denominação genérica do princípio ativo, registro na ANVISA, presença em blocos de

financiamento da Assistência Farmacêutica.

Após devidamente coletados, os dados foram tabelados e armazenados em planilhas de

Excel para posterior aplicação dos mesmos nos cálculos das frequências requeridas nos

indicadores de monitorização das demandas judiciais.

Tais informações também foram utilizados para avaliar umas das diretrizes da PNM e

PNAF que é a descentralização das atividades entre União, Estado e Municípios. Isso foi feito

verificando os percentuais de decisões deferidas que obrigavam o Estado e/ou os Municípios a

dispensarem os medicamentos solicitados judicialmente. Para que em seguida, fosse analisado

se os medicamentos deferidos eram ou não padronizados no SUS e se positivo em qual dos

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blocos da assistência farmacêutica estava presente. Com a execução desta etapa foi possível

verificar se estava acontecendo a responsabilização dos medicamentos aos entes federativos

conforme rege a PNM e a PNAF.

3.1.2 Análise de Conteúdo das Decisões Judiciais envolvendo medicamentos.

Para analisar as argumentações dos juízes foi utilizada a análise de conteúdo segundo

as técnicas de Bardin (2006). Tal opção se deu especialmente por ser essa autora a mais citada

no Brasil em pesquisas que abordam análise de conteúdo como técnica de análise de dados

(MOZZATO; GRZYBOYSKI, 2011). Além disso, em seus trabalhos apresenta as possíveis

técnicas utilizadas na análise de conteúdo, sendo a análise categorial a escolhida por lidar com

desmembramento do texto em unidades, e em categorias segundo reagrupamentos analógicos.

Para tanto, Bardin (2006), organiza a análise de conteúdo em três fases:

1) Pré-análise, que é a fase em que se organiza o material a ser analisado com o

objetivo de torná-lo operacional, sistematizando as ideias iniciais. Nesse momento, se realiza

leituras flutuantes, escolhas e preparação dos documentos a serem analisados, bem como a

formulação de indicadores, hipóteses e objetivos.

2) Exploração do material, representa a etapa da descrição analítica, que submete o

material escolhido a um estudo aprofundado, orientado pelas hipóteses e referenciais teóricos.

Nessa etapa, são realizadas diferentes ações: a) processo de codificação dos argumentos

utilizados pelos juízes, a fim de formular categorias e subcategorias de análises, b) busca de

unidades de registro, as quais correspondem ao segmento de conteúdo a considerar como

unidade base, visando a contagem das freqüências encontradas e c) unidades de contexto, que

representam as unidades de compreensão para codificar a unidade de registro; sendo portanto

o segmento da mensagem, útil para compreender a significação exata da unidade de registro.

A seleção dessas unidades de contexto é realizada na medida em são feitas as análises das

subcategorias em cada decisão judicial.

3) Tratamento dos resultados, inferência e interpretação, que se destina ao tratamento

dos resultados, no qual se exige análise reflexiva e crítica.

Desse modo, na fase pré-analítica foi realizado levantamento bibliográfico prévio em

busca de publicações com técnicas de análises semelhantes, sendo possível encontrar os

estudos brasileiros de Santos et al. 2011, Marques; Dallari (2007) e Stamford; Cavalcanti

(2012) e as dissertação de Boing (2008) e Marques (2011), Leitão, 2012, Silva (2008). Nessa

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60

fase ainda foram realizadas leituras flutuantes nas 115 decisões judiciais selecionadas como

universo da pesquisa.

Após o cumprimento dessa fase, iniciou-se a exploração do material. Para tanto foi

realizada a busca de elementos essenciais para realização da análise de conteúdo, tais como:

a) área temática, b) categorias c) subcategorias, d) unidades de registro (Quadro 6).

Quadro 6: Operacionalização da pesquisa

Área Temática

Categorias Subcategorias Unidades de Registro

Palavras relacionadas

Judicialização do Acesso a

medicamentos

Réu

Responsabilidade Solidária

Solidariedade Litisconsórcio facultativo, Pol Passivo, Responsabilidade solidária.

Limitação orçamentária Reserva do Possível

Responsabilidade Fiscal, Legalidade Orçamentária, Previsão Orçamentária, Escassez de recursos.

Demandante

Saúde é um direito fundamental de todos e dever do Estado

Direito á saúde Direito Fundamental, Dever do Estado, Dever constitucional, Direitos e Garantias.

O cidadão tem direito a Integralidade da Assistência Terapêutica

Integralidade Assistência Farmacêutica, Individual, Coletiva.

O fornecimento de medicamentos envolve o Princípio da Dignidade Humana

Dignidade Humana

Direito a Vida, Digna, Direito Social.

Condições socio-econômicas do demandante

Condições socioeconômicas

Condições financeiras, Recursos Financeiros, Pessoa Carente, Hipossuficiente.

Medicamentos demandados

Medicamento UNICAT, Bloco da Assistência Farmacêutica, Procedimentos Licitatórios, Licitação, Prescrição Médica.

Juiz

Direito de decidir Separação de Poderes

Autonomia dos Estados-Membros.

Aplicação de Multa cominatória

Multa Multa comunitoria, astreintes

Honorários Advocatícios Honorário Defensoria Pública, Advogados.

Após a definição desses elementos deu-se continuidade a exploração do material na

busca de encontrar as unidades de contexto relacionadas com cada subcategoria definida.

Posterior a leitura exaustiva das decisões judiciais foram elencadas as diferentes mensagens

contidas nas decisões judiciais que representavam as unidades de registro definidas.

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Em posse dessas informações, realizou-se o tratamento dos resultados, inferência e

interpretação. Para chegar a essa etapa foi necessária a formulação de indicadores, os quais

foram criados a partir da análise e interpretação das unidades de contexto, previamente

selecionadas. Salienta-se, contudo, que os indicadores foram encontrados na fase final da

análise de conteúdo, pois Bardin (2006), em sua metodologia, permite que isso aconteça, já

que em alguns casos, torna-se necessário que seja feito um aprofundamento de todas as

ferramentas dessa análise antes de sua formulação.

Mesmo se tratando de uma análise de conteúdo com número expressivo de decisões

judiciais, julgou-se inoportuno, para a presente análise, a utilização de técnicas de

amostragens, visto que se pretendeu analisar a totalidade das ações inseridas no escopo do

estudo, pois se percebeu que cada decisão apresenta peculiaridade e solicitações diversas, as

quais não poderiam deixar de ser analisadas.

3.2 Considerações éticas

O presente estudo respeitou as considerações éticas de pesquisa, por meio do

seguimento das diretrizes propostas pela Portaria 196/96, visto que os dados analisados são

secundários e disponíveis em sítio eletrônico de fácil acesso para toda a população, não sendo,

portanto necessária a submissão desse projeto ao Comitê de Ética para que o mesmo pudesse

ser realizado.

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62

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados e discussão foram apresentados em dois blocos: o primeiro relacionado

aos indicadores de avaliação e monitoramento das decisões judiciais e suas interfaces e o

segundo envolvendo a análise de conteúdo das decisões judiciais analisadas. Ambos, obtidos

com o objetivo de responder ao problema de pesquisa que envolveu o questionamento da

inserção dos princípios de políticas públicas de saúde, PNM e PNAF, nas decisões do poder

judiciário onde se pleiteavam medicamentos. Para atingir esse objetivo, valorizou-se a adoção

de parâmetros padronizados para coleta de dados, a fim de manter o rigor metodológico e

assim responder ao que se pretendeu.

4.1 Indicadores de Monitoramento das demandas judiciais relacionados com princípios

da PNM e PNAF

A análise das decisões judiciais mostrou que as 115 ações foram favoráveis aos

autores, deferindo, portanto, a solicitação dos medicamentos conforme prescrição médica.

Desse modo, 100% dos acórdãos foram favoráveis ao autor da ação. Outros estudos revelam

que em outras localidades do Brasil, o deferimento desses pedidos também têm percentuais

elevados: 89% no Rio de Janeiro, em 2005 (BORGES; UGÁ, 2010), 90,3% em São Paulo no

ano de 2007 (MARQUES; DALLARI, 2007).

Em publicação recente de uma revisão sistemática da literatura envolvendo países da

América Latina, observou-se que as decisões dos tribunais na maioria dos casos, favoráveis

aos autores, seja na Colômbia (75% -87 %), Costa Rica (89,7 %) ou no Brasil (70 % -100 %)

(REVEIZ et al., 2013).

No contexto nacional brasileiro, o Rio Grande do Norte está em 6º lugar em número de

solicitações judiciais pleiteando medicamentos na esfera federal, sendo antecedido apenas dos

Estados: Santa Catarina (1º), Rio Grande do Sul (2º). Minas Gerais (3º), Rio de Janeiro (4º),

Mato Grosso do Sul (5º) (BRASIL, 2013b). Demonstrando, com isso que a população do Rio

Grande do Norte está buscando alternativas complementares para garantir o direito à saúde de

forma integral.

Diante disso, faz-se necessário que sejam avaliados indicadores de monitoramento de

demandas judiciais relacionados com princípios da PNM e da PNAF para que a partir deles se

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possa analisar a inserção dos princípios dessas duas políticas públicas no contexto da

judicialização do acesso a medicamentos no Rio Grande do Norte. Assim sendo, as subseções

seguintes permitirão que esse objetivo específico seja atingido.

4.1.1 Proporção de Medicamentos prescritos pelo nome genérico

Os resultados demonstram que os medicamentos estavam prescritos, em sua maioria,

pelo nome comercial, sendo indicador da proporção de medicamentos prescritos pelo nome

genérico de apenas 24%. Santana et al. ( 2011) encontrou um percentual equivalente (29,6%),

enquanto que nos resultados de Rosein (2010), apenas 8,5% dos processos foram facultados o

fornecimento de medicamentos genéricos. Diante de tais percentuais, vale ressaltar que 100%

das prescrições médicas envolvidas no Sistema Único de Saúde deveriam estar prescritas pelo

nome genérico, para haver consonância com a PNM e com a Lei Federal nº 9.787/1999 na

forma do seu art. 3º, essa prevê que:

As aquisições de medicamentos, sob qualquer modalidade de compra, e as prescrições médicas e odontológicas de medicamentos, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS, adotarão obrigatoriamente a Denominação Comum Brasileira (DCB) ou, na sua falta, a Denominação Comum Internacional (DCI) (BRASIL, 1999, p.01).

Desse modo, assim como as prescrições médicas e odontológicas, as compras

públicas de medicamentos também são efetuadas através da denominação genérica dos

princípios ativos, não sendo possível a escolha ou predileção por determinadas marcas ou

nomes comerciais. Desse modo, as prescrições médicas sendo prescritas com a denominação

comum brasileira (DCB) ou com a denominação comum internacional (DCI) favorece que os

medicamentos solicitados sejam adquiridos com ampla concorrência de mercado quanto aos

preços, evitando dessa forma que os cofres públicos sejam onerados de forma indevida e

evitável.

4.1.2- Proporção de Medicamentos registrados na Agência Nacional de Vigilância

Sanitária-ANVISA

A pesquisa mostrou que apenas um medicamento, dentre os 177 solicitados, não

apresentava registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Desse modo, 99,4% dos

medicamentos pleiteados judicialmente eram registrados em órgão sanitário brasileiro. Dados

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da literatura revelam que as decisões judiciais contendo medicamentos sem registro no Brasil

apresenta variação de 1,4% a 9,6% (Pepe et al., 2010), tendo o Rio Grande do Norte valores

abaixo desses indicados, no ano de 2012.

O medicamento pleiteado, mesmo sem registro em órgão sanitário brasileiro, foi o

eculizumabe, conhecido comercialmente por Solaris. Esse fármaco está envolvido com o

deferimento da ação judicial mais cara do mundo, pelo SUS, o equivalente a R$ 800 mil reais

(BRASIL, 2012h). De acordo com os dados do parecer 817 de 2012 da Controladoria Geral

da União (CGU) esse medicamento não tinha registro na ANVISA, não apresenta

recomendação de incorporação no SUS e nas Agências de Saúde da Escócia e do Canadá,

além de poder apresentar graves efeitos colaterais aos pacientes. No entanto, esse argumento

não foi o bastante para impedir o deferimento desse medicamento, por via judicial.

Dessa forma, o fornecimento de medicamentos sem o seu devido registro nos órgãos

sanitários por meio de determinação judicial obriga a Administração Pública a: a) fornecer um

medicamento sem comprovação pelo controle sanitário brasileiro de segurança, eficácia e

qualidade e b) comprar medicamentos que não estarão sujeitos às normas de fixação de preço

da ANVISA (BRASIL, 2012). Além disso, para Angell (2007) os pedidos judiciais para o

fornecimento de um medicamento ainda sem registro podem também ser parte de estratégia

de pressão da indústria farmacêutica para a aprovação de seu produto pela autoridade

reguladora.

Diante de tais constatações, o Conselho Nacional de Justiça-CNJ por meio da

Recomendação nº 31 de 30 de março de 2010 exigiu que fossem adotadas medidas que

subsidiassem os magistrados e demais operadores do direito à assegurar eficiência nos

problemas envolvendo demandas judiciais da saúde. Além disso, determinou que:

b.2) evitem autorizar o fornecimento de medicamentos ainda não registrados pela ANVISA, ou em fase experimental, ressalvadas as exceções expressamente previstas em lei (BRASIL, 2010b, p. 01).

Respaldando tal fundamento o Art.19T da Lei 8080/1990 alterada pela Lei 12.401 de

28 de abril de 2011, que trata do pagamento de medicamentos não autorizados pela ANVISA

e afirma que:

Art. 19-T. São vedados, em todas as esferas de gestão do SUS: (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011) I - o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento, produto e procedimento clínico ou cirúrgico experimental, ou de uso não autorizado pela Agência Nacional

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de Vigilância Sanitária - ANVISA; (Incluído pela Lei nº 12.401, de 2011) II - a dispensação, o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento e produto, nacional ou importado, sem registro na Anvisa.(BRASIL, 1990b).

Assim, tanto o profissional prescritor quanto o magistrado devem atentar para a

existência de registro do medicamento na Anvisa, para que se possa garantir o acesso da

população a medicamentos seguros, eficazes, eficientes. Contudo, vale ressaltar que a falta de

registro em órgãos de vigilância sanitária não é exclusivamente justificada pela falta de

comprovação de efetividade do princípio ativo, podendo existir casos onde se tem

medicamentos inovadores, especialmente para doenças raras, que não estão sendo

comercializados ou produzidos no Brasil por não terem tido concluído seu processo de

registro na Anvisa, cuja tramitação é demasiadamente morosa (GANDINI et al., 2010),

impedindo desse modo que se faça generalizações a respeito do tema, sem antes avaliar os

casos e os medicamentos pleiteados.

4.1.3 Proporção de medicamentos por componente do bloco de financiamento da

Assistência Farmacêutica.

A política Nacional de Assistência Farmacêutica-PNAF é composta por blocos de

financiamentos, os quais são representados pelos componentes padronizados no SUS: da

atenção básica, estratégico e especializado. Observou-se que, das decisões judiciais

analisadas, 36% dos medicamentos solicitados estão presentes na lista de medicamentos

padronizados nesses blocos de assistência, sendo 16% relativos ao bloco de atenção básica e

20% ao componente especializado, conforme dados da Tabela 2.

Tabela 2: Indicador de monitorização de demandas judiciais relacionado com blocos de financiamento da assistência farmacêutica.

BLOCO DA AF N %

Atenção Básica 29 16

Estratégico 00 00

Especializado 35 20

TOTAL 64 36

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Ao comparar os dados com a literatura brasileira constata-se grande discrepância entre

os estudos quanto à proporção de medicamentos padronizados no SUS que estão presentes

nas solicitações judiciais. Pesquisa no Rio de Janeiro identificou que 57,4% dos

medicamentos eram padronizados no SUS (SANT’ANA, 2009), já em São Paulo foram

encontrados três proporções diferentes: 62% segundo Vieira e Zucchi (2007), 33,8%

conforme Macedo et al. (2011) e 23% de acordo Chieffi e Barata (2009). Para Leitão (2012),

que realizou a pesquisa no Tribunal de Justiça da Paraíba, apenas 28,86% constavam nas

listas oficiais de padronização do SUS.

Contudo, alguns argumentos podem ser utilizados para justificar essas diferenças entre

os resultados, como: a) o período de realização do estudo, b) as constantes atualizações das

listas oficiais, nas quais cada vez mais se acrescentam mais fármacos a fim de atender as

novas exigências da saúde da população, e c) incongruência entre a lista de medicamentos

padronizadas em cada estado com o perfil epidemiológico da população.

Dessa forma, o dado que mais se aproximou da presente análise foi o de Macedo et al

(2011), no qual 14,3% dos medicamentos solicitados através da via judicial estavam previstos

no componente da atenção básica, 19,5% no bloco especializado de assistência farmacêutica e

zero no componente estratégico.

Tal resultado é semelhante a outros estudos no que se refere a prevalência do

Componente Especializado da Assistência Farmacêutica frente aos demais blocos da

assistência farmacêutica (MESSEDER et al., 2005; SANTOS et al., 2006; VIEIRA;

ZUCCHI, 2007; PEREIRA et al., 2007; ROMERO, 2008).

Não se pode deixar de mencionar, que para se adquirir administrativamente

medicamentos desse bloco de financiamento, não basta a prescrição médica, é necessário que

o paciente se enquadre em Protocolos Clínicos Terapêuticos previamente estabelecidos pelo

SUS, o que implica em dizer que os fármacos disponibilizados como componente

especializado são exclusivos para as patologias e terapêuticas específicas. Sendo assim, se

para um determinado paciente for prescrito um desses medicamentos, mas o mesmo não

apresentar a doença elencada nos protocolos do SUS, não haverá atendimento da prescrição

médica por via administrativa. Tal medida visa coibir a utilização de medicamentos de forma

indiscriminada para patologias onde não se tem comprovação científica para utilização.

Nesse contexto, dentre os estudiosos se tornou consenso que a utilização da via judicial

para o fornecimento de medicamentos presentes nas listas oficiais públicas é uma forma

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legítima de garantir o pleno exercício do direito à assistência individual terapêutica (PEPE et

al., 2010; MESSEDER et al., 2005; VIEIRA; ZUCCHI, 2007, PANDOLFO et al., 2012).

Desse modo, o indicador Proporção de medicamentos, por componente do bloco de

Financiamento é capaz de lançar dados que precisam ser analisados de forma a se traçar

estratégias no RN para se diminuir o número de medicamentos padronizados no SUS que são

solicitados por via judicial.

4.1.4 Proporção de ações judiciais que demandam ao menos um medicamento que esteja

fora do bloco de financiamento da assistência farmacêutica.

A Proporção de ações judiciais que demandaram ao menos um medicamento que

estivesse fora dos componentes do bloco de financiamento da assistência farmacêutica foi de

76%, o que corresponde a 87 ações judiciais. Diferentemente do indicador da Proporção de

medicamentos por componente do bloco de financiamento da Assistência Farmacêutica, esse

utilizou o número de decisões judiciais e não mais o número de medicamentos presentes nas

solicitações judiciais.

O presente resultado não se distancia dos encontrados nos estudos que utilizaram

metodologia semelhante (SANT’ANA, 2009; LIMA, 2012), os quais também evidenciaram

que a maioria das decisões judiciais envolvem medicamentos não padronizados.

De forma específica, quando se avalia os medicamentos não padronizados no SUS,

verificou-se que o grupo de medicamentos chamado medicamentos antineoplásicos ou

oncológicos foi o mais solicitado (41 vezes). Quando se compara esse dado com as demais

solicitações judiciais, constata-se que esse tipo de medicamento foi também o mais prevalente

frente aos medicamentos pleiteados, sejam eles padronizados ou não no SUS. Resultado esse,

também encontrado por Leitão (2012) ao analisar o caso do Estado da Paraíba.

Os medicamentos antineoplásicos, de forma específica, precisam de ensaios clínicos e

de comprovação científica antes de serem deferidos, visto que Vieira e Zucchi (2007)

evidenciaram que do gasto total com judicialização do acesso a medicamentos em seus

estudos, 75% foram destinados à aquisição desses fármacos, apesar da ausência de evidência

técnico-científica suficiente que justificasse a sua utilização.

O SUS apresenta a Política Nacional de Oncologia, a partir da qual se tem unidades

terceirizadas autorizadas a padronizar, adquirir, prescrever e dispensar os medicamentos

oncológicos necessários a população de forma gratuita. Silva (2012b) identificou que falhas

na execução e transparência dessa política podem gerar aumento das demandas judiciais

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solicitando esse tipo de fármaco, implicando desse modo na sobrecarga dos cofres públicos

dos entes governamentais de forma inesperada. Ainda segundo o autor, 28,70% das ações no

Rio Grande do Norte que requereram medicamentos oncológicos em nível federal

apresentaram valores acima de R$ 200.000,00.

Ao avaliar os dados coletados, observou-se que os antineoplásicos mais solicitados

foram: transtuzumabe (11 solicitações) sendo o mais prevalente, seguido de rituximabe (08

solicitações), de ranibizumabe (05 solicitações) e teriparatida (05 solicitações). O

transtuzumabe, conhecido comercialmente por Herceptin é um anticorpo monoclonal

utilizado no câncer de mama HER-2 positivo, tipo extremamente agressivo, podendo custar

aos cofres públicos até R$ 9.454,57 por frasco. Dados da AGU revelam que o transtuzumabe

solução injetável está dentre as 20 demandas que apresentaram maior custo para atendimentos

de ações judiciais no ano de 2011, sendo equivalente a R$ 4.928.036,30 (BRASIL, 2013b).

Diante dessas constatações, Vieira (2013) realizou um estudo, onde centralizou em

Centros de Referência Específicos as aplicações do Transtuzumabe obtido através da via

judicial. Nesses centros existia controle rigoroso do estoque e do desperdício desses

medicamentos, fato que gerou uma economia de R$ 1.336.345,17 aos cofres públicos, no

período de setembro de 2009 a junho de 2010.Estudos como esse podem ser difundidos para

outras regiões do Brasil, incluindo o Rio Grande do Norte, por ser uma forma de validar a

metodologia utilizada e também de avaliar o impacto dessa iniciativa em outras regiões.

O segundo medicamento mais solicitado foi o rituximabe, o qual não apresenta

evidências científicas para sua utilização seguindo Lopes et al. (2010). Nessa perspectiva, é

relevante frisar a proximidade entre laboratórios farmacêuticos, médicos e escritórios de

advocacia (YOSHINAGA 2011, CAMPOS NETO et al., 2012, ANGEL, 2007), na inserção

de novas tecnologias no mercado farmacêutico e nas prescrições médicas.

Da mesma forma, muitos medicamentos com novas tecnologias, recém-lançados no

Brasil ainda não possuem comprovação científica que demonstrem superioridade terapêutica

quando comparados com os medicamentos já utilizados no SUS como também podem ainda

apresentar carta patente, impossibilitando a livre concorrência, com consequente obtenção de

preços mais elevados por serem únicos no mercado (PEREIRA, 2011).

Diante de tais reflexões, observa-se a complexidade do processo de judicialização do

acesso a medicamentos e a importância não só da efetividade dos princípios e diretrizes das

Políticas Nacionais, seja ela de Medicamentos ou de Assistência Farmacêutica, mas também a

inserção dessas prerrogativas no momento de julgar o deferimento de medicamentos.

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4.1.5 Monitoramento das demandas judiciais do Rio Grande do Norte por ente estatal

acionado no processo.

A análise dos indicadores de avaliação e monitorização de demandas judiciais

permitiram a obtenção de dados importantes para se estudar a descentralização das PNM e da

PNAF no contexto da judicialização do acesso a medicamentos no Rio Grande do Norte.

Observou-se que nas 115 demandas judiciais analisadas, aos serem divididas pelo ente estatal

envolvido no processo judicial, a maior parte delas foram impetradas contra o Estado do Rio

Grande do Norte (100 solicitações), seguida dos Municípios (12 solicitações) e em menor

quantidade as ações judiciais que acionaram simultaneamente o Estado e algum dos

Municípios do RN (03 solicitações). Os Municípios envolvidos individualmente com

solicitações judiciais analisadas em segunda instância foram: Currais Novos (06 ações

judiciais), Mossoró (05 ações judiciais) e Pau dos Ferros (01), já os que dividiram o pleito

com o Estado foram: Mossoró (02 ações) e Natal (01 ação). (Quadro 7).

Quadro 7: Avaliação das demandas judiciais envolvendo medicamentos pleiteados no Rio Grande do Norte, 2012.

RÉU

Número de

demandas

judiciais

Medicamentos solicitados por via judicial

TOTAL

Padronizados no SUS Não padronizados no SUS.

AB

Fabs

EST

Fabs

ESP

Fabs

Antineoplásicos

Fabs

Outras

ATC

Fabs

Estado do RN 100 16 0 32 39 52 139

Municípios do RN 12 13 0 03 1 18 35

Estado do RN +

Municípios do RN

03 0 0 0 1 02 03

TOTAL 115 29 0 35 41 72 177

64 113

Legenda: AB – Componente da Atenção Básica da Assistência Farmacêutica, EST- Componente Estratégico da

Assistência Farmacêutica, ESP- Componente Especializado da Assistência Farmacêutica, CACON- Centros de

Alta Complexidade em Oncologia, UNACON- Unidades de Assistência de Alta Complexidade, Fabs-

Frequência absoluta. ATC-Classificação Anatômica, Terapêutica e Química dos medicamentos pleiteados.

Após a distribuição das ações judiciais de acordo com o ente estatal acionado no

processo judicial, foi verificado que as 115 decisões judiciais envolviam 177 medicamentos.

Esses medicamentos no contexto da PNM e da PNAF deveriam seguir as seguintes diretrizes

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que envolvem a descentralização das ações assistências: medicamentos padronizados no SUS

do componente da atenção básica são prioritariamente atendidos pelos Municípios, já os do

componente especializado devem seguir os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas,

podendo ser financiados pelos Estados ou pela União variando de acordo com o tipo de

medicamento analisado e, por fim, os medicamentos do componente estratégico são

financiados pela União. Existem ainda os antineoplásicos, os quais deveriam ser dispensados

pelo CACONS e UNACONS de cada região, já que não estão inseridos no componente de

financiamento da assistência farmacêutica, mas sim no de média e alta complexidade (MAC).

Sendo assim, os medicamentos para serem dispensados pelas redes públicas de saúde,

deveriam estar englobados dentro da padronização oficial dos medicamentos do SUS e

respeitando as diretrizes de descentralização preconizada (MARQUES, 2008).

Entretanto, tais características não são atendidas em plenitude nas decisões judiciais

proferidas no Rio Grande do Norte no ano de 2012, pois observa-se que os Municípios

também apresentam demandas de medicamentos do componente especializado da AF (03),

bem como de medicamentos não padronizados (19), dentre os quais se encontra os

antineoplasicos (01).

De forma semelhante, o Estado do RN também apresentou demandas envolvendo a

atenção básica (16), antineoplásicos (39) e outros medicamentos fora da padronização oficial

do SUS (52). Diante de tais constatações, assim como foi encontrado no estudo de Messeder

(2005) e Vieira (2007), existem decisões judiciais onde os municípios são frequentemente

obrigados a fornecer medicamentos de responsabilidade estadual, e ao Estado por sua vez,

compelido a fornecer medicamentos da atenção básica, que é de responsabilidade municipal.

Fato esse agravado pela não responsabilização das CACONS e UNACONS nos processos

judiciais envolvendo medicamentos antineoplásicos. Dessa forma, o processo de

descentralização das atividades assistênciais fica prejudicado ao passo que as diretrizes que

fornecem o alicerce para sua sustentação não são seguidos em sua totalidade.

4.2 Análise de conteúdo das decisões judiciais

Diante da formulação da área temática, das categorias e subcategorias, buscou-se nas

decisões analisadas as unidades de contexto que pudessem representá-las. Sendo possível,

encontrar a incidência dos argumentos mais utilizados pelos juízes no momento de se

posicionar frente à demanda pelo acesso a medicamentos.

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71

Nesse contexto, a incidência das subcategorias contidas nas 115 ações judiciais

envolvendo os entes federativos do Rio Grande do Norte no ano de 2012 foram apresentadas

no Gráfico 1.

Gráfico 1: Incidência das subcategorias contidas nas ações judiciais envolvendo os entes federativos do Rio Grande do Norte no ano de 2012.

Legenda: A-Responsabilidade Solidária, B-Limitação orçamentária, C-Saúde é um direito fundamental

de todos e dever do Estado, D- O cidadão tem direito a Integralidade da Assistência Terapêutica, E- Princípio da

Dignidade Humana, F- Condições socio-econômicas do demandante, G- Medicamentos demandados, H- Direito

de decidir, I- Aplicação de Multa cominatória, J- Honorários Advocatícios.

Observa-se que as subcategorias mais mencionadas nas decisões judiciais foram: 1)

Saúde é um direito fundamental de todos e dever do Estado (citado em 107decisões/93%), 2)

Limitação orçamentária dos entes públicos (citado em 90 decisões/78,3%), 3)

Responsabilidade Solidária (citado em 86 decisões/74,8%) e 4) Condições socio-econômicas

do demandante (citado em 84 decisões/73%).

Diante de tal resultado, surge-se a necessidade de aprofundar a análise de conteúdo, de

maneira a obter as unidades de contexto e indicadores relacionados. Dessa forma, as

subseções seguintes permitirão fazer inferências de cada subcategoria estudada, a fim de

atingir o objetivo proposto no presente estudo.

4.2.1 Responsabilidade Solidária

A responsabilidade solidária entre os entes federativos indica cooperação técnica da

União, Estado e Municípios para a prestação da assistência farmacêutica integral aos

cidadãos. Diante das unidades de contexto analisadas foi evidenciado que não há distinção da

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72

responsabilidade entre os entes federativos quanto à obrigação de ofertar o medicamento ao

demandante (Quadro 8). Tal argumentação esteve presente em 86 decisões judiciais (74,8%).

.

Quadro 8: Inferência da análise de conteúdo a respeito da responsabilidade solidária entre os entes federativos.

Subcategoria Indicador

Responsabilidade

Solidária

Não há distinção dos entes federativos quanto a obrigação de ofertar o

medicamento ao demandante.

Unidades de Contexto

Sendo o SUS composto pela União, Estados-membros e Municípios, é

de reconhecer-se, em função da solidariedade, a legitimidade passiva de

qualquer deles no pólo passivo da demanda.

Constata-se a existência de um regime de responsabilidade solidária

entre as pessoas políticas para o desempenho de atividades voltadas a

assegurar o direito fundamental à saúde,

Não existe subordinação, concorrência ou subsidiariedade entre as

esferas federal, municipal e estadual; aliás, qualquer uma delas responde

autonomamente pela proteção à saúde individual.

É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios: cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia

das pessoas portadoras de deficiência.

O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e

instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração

direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, constitui

o Sistema Único de Saúde (SUS).

As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada

e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo

com as seguintes diretrizes: descentralização, com direção única em

cada esfera de governo.

O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com

recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes.

Não existe subordinação, concorrência ou subsidiariedade entre as

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73

esferas municipal e estadual, aliás, qualquer uma delas responde,

autonomamente, pela proteção à saúde individual.

O julgamento das ações judiciais envolvendo a saúde no RN em segunda instância está

de acordo com o entendimento do Supremo Tribunal Federal-STF a respeito da

responsabilidade solidária. O STF tem reconhecido que cada um dos entes é responsável pela

totalidade da prestação de saúde requerida (BARBOSA; SARLET, 2010) e que o Estado

deve fornecer gratuitamente medicamentos ou tratamentos médicos aos cidadãos carentes.

Questões orçamentárias são, quando comparadas com o direito à vida e à saúde, quase que

irrelevantes (ELGELMANN; CUNHA, 2013), assim não se justificaria descumprir a decisão

judicial com a alegação que a responsabilidade seria de outro ente.

Contudo, alguns aspectos precisam ser considerados no que se refere à

responsabilidade solidária, pois como o pleito pode ao mesmo tempo ser solicitado àss três

esferas gestoras, pode ocorrer duplicidade no recebimento do medicamento, indefinições

quanto ao local de estocagem e dispensação do mesmo; além de repercussões negativas

quando se avalia a efetividade da Política Nacional de Medicamento e da Política Nacional de

Assistência Farmacêutica, pois essas determinam as responsabilidades independentes de cada

ente para com os medicamentos. Nesse ponto, pode acontecer do Estado do Rio Grande do

Norte estar assumindo medicamentos que seriam responsabilidade dos Municípios ou da

União ou vice-versa e ter como resultado o comprometimento indevido dos recursos que

deveriam ser direcionados para suas atividades.

Além desse aspecto, dentre os princípios do SUS, da PNM e PNAF estão a

descentralização, hierarquização e regionalização das ações de saúde, os quais precisam ser

aplicados e efetivados para obtenção de melhores resultados das Políticas Públicas. Entretanto

o entendimento dos tribunais é que a repartição de atribuições havida entre as três esferas de

gestão, não pode ser imposta em detrimento do direito à saúde do indivíduo (MACHADO;

DAIN, 2012), como também não deve o ente eximir-se da responsabilidade de assegurar a

saúde aos pacientes, alegando ser responsabilidade de outro ente federado, pois o Sistema

Único de Saúde é composto pela União, Estados e Municípios (MARTINS, 2008), sendo

financiado com recursos do orçamento da seguridade social dos três.

4.2.2 Limitação orçamentária

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74

As ações judiciais têm consequências orçamentárias importantes, em especial por se

tratar de ações consideradas urgentes e que não podem aguardar os processos licitatórios para

aquisição dos medicamentos solicitados. Entretanto, a limitação financeira ora imposta pelos

Limites de Responsabilidade Fiscal - LRF requer do gestor um planejamento árduo de como

utilizar as verbas disponíveis para a saúde, visto que a escassez dessas não está sendo

considerada como justificativa para o indeferimento das demandas judiciais por

medicamentos, mesmo envolvendo tratamentos de elevado custo (Quadro 9). Essa alegação

foi mencionada em 90 decisões judiciais (78,3%),

Quadro 9: Inferência da análise de conteúdo a respeito da limitação orçamentária alegada pelos entes federativos.

Subcategoria Indicador

Limitação

orçamentária

Os recursos financeiros escassos não são motivo para indeferimento da

demanda.

Unidades de Contexto

Em relação à suposta violação aos princípios da legalidade orçamentária

e da reserva do possível, não se afiguram cabíveis, face à

obrigatoriedade de que sejam garantidos, na forma prescrita pela

Constituição, os direitos à vida e à saúde, valores superiores aos

albergados por aqueles princípios.

Sabe-se que há possibilidade de remanejamento de despesas de outras

áreas para atendimento prioritário de política relacionada a preceito

fundamental, razão pela qual não se faz presente qualquer ofensa à

legalidade orçamentária.

Reforça a obrigação do Estado à política de gestão de aplicação de

recursos mínimos para as ações e serviços públicos de saúde.

Em relação à alegação de ofensa ao art. 167 da CF, compete ao ente

público comprovar a inexistência de dotação orçamentária para o

cumprimento da determinação judicial,

Embora a previsão orçamentária seja feita para as despesas ordinárias,

devem os entes federados suportar gastos não previamente identificados,

mas de sua responsabilidade, como o fornecimento de medicamentos de

alto custo aos cidadãos necessitados.

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75

Assim, ao analisar a subcategoria da limitação orçamentária e suas unidades de

contexto, visualiza-se a presença da citação da reserva do possível. Isto equivale dizer que o

governo não apresenta condições financeiras para atender as demandas judiciais e ao mesmo

tempo respeitar as limitações impostas pela LRF e proteger os direitos coletivos à saúde

expressos no orçamento público. Para Médici (2010), a utilização desse argumento poderia

ser justificado quando:

(a) vetar uma prestação que não está incluída na tabela de procedimentos, medicamentos, órteses, próteses e materiais do SUS; (b) negar o acesso aos recursos públicos de uma pessoa protegida por um plano ou seguro saúde, em que a prestação requerida está contratualmente garantida por este plano, segundo o contrato e as normas vigentes na Agência Nacional de Saúde e; (c) bloquear o acesso de um pedido de financiamento a serviços não essenciais ou supérfluos pelo erário público, sob o argumento de que não são necessários para a saúde de um indivíduo (MÉDICI, 2010, p.86).

De um lado a Corte Constitucional Brasileira ressalta a impossibilidade da utilização

indiscriminada da evocação da Reserva do Possível pelos entes federativos, já que deve ser

mantido o direito às condições mínimas necessárias a uma vida digna dos cidadãos

(MACHADO; HERRERA, 2010; PEREIRA, 2010; MEDICI, 2010; SOUZA; MURARO,

2011), do outro, contudo também não se pode ignorar a limitação orçamentária, nem

tampouco omitir a existência da Lei de Responsabilidade Fiscal que os Municípios, Estados e

União têm que cumprir (HAUSCHILD, 2010). Para os juízes, esse impasse entre aceitar a

reserva do possível do gestor ou acatar a necessidade do paciente é ainda mais complexo, já

que se reconhece que existe muitas pessoas desassistidas pelas políticas públicas, mas também

há desvios da corrupção, aplicação indevida de verbas públicas e orçamentos restritos para

determinadas áreas essenciais, como é o caso da saúde (FERRAZ; VIEIRA, 2009).

No caso do Rio Grande do Norte, nas unidades de contexto foi possível visualizar

relatos, nos quais se tinha o recurso da reserva do possível sendo apontado pelo Estado na

tentativa de se eximir da obrigação de fornecer o medicamento anteriormente deferido em

primeira instância.

Contudo, para se desobrigar dessa responsabilidade assistencial, o ente federativo teria

que provar inexistência de dotação orçamentária para o cumprimento da decisão judicial, o

que não foi feito em nenhuma das decisões judiciais analisadas. Tal constatação, de acordo

com Bertagnolli (2012), revela um mascaramento da omissão do Poder Pública na esfera

administrativa frente às necessidades da população.

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76

Desse modo, para que haja alegação do princípio da reserva do possível, faz-se

necessário que se comprove tal informação. Além disso, diante da escassez orçamentária

defendida por tantos gestores, cabe aos secretários de saúde pleitear mais investimentos

financeiros, com base no levantamento dos custos das demandas judiciais que foram

obrigados a atender (BRASIL, 2011a). Precisa-se também rever os principais gastos públicos

da gestão e em quais programas há possibilidade de reduções, remanejamentos ou ainda, quais

são as prioridades do planejamento estratégico do Estado.

Assim, o presente estudo revela que a limitação orçamentária não pode ser óbice a

impedir a concretização do direito fundamental à saúde, em especial quando não se comprova

a existência da reserva do possível.

4.2.3 Saúde é um direito fundamental de todos e dever do Estado

O direito à saúde é reconhecido pela legislação brasileira como um direito

fundamental que deve ser garantido pelos Estados a todos os seus cidadãos (Quadro 10). Tal

afirmação apresenta respaldo constitucional e está presente em 107 decisões (93%) proferidas

por juízes do Rio Grande do Norte no ano de 2012, em segunda instância.

Quadro 10: Inferência da análise de conteúdo a respeito do direito fundamental a saúde.

Subcategoria Indicador

Saúde é um direito

fundamental de

todos e dever do

Estado

O Estado deve garantir a saúde dos cidadãos, já que se trata de um

direito fundamental

Unidades de Contexto

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante

políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e

de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços

para sua promoção, proteção e recuperação.

Na saúde torna-se impossível ter sua proteção postergada.

A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado

prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.

O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e

execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de

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riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições

que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para

a sua promoção, proteção e recuperação.

As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm

aplicação imediata.

O direito a saúde trata de direito personalíssimo que, portanto, não se

transmite aos herdeiros.

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e

à propriedade.

O dispositivo constitucional não pode significar apenas uma norma

programática, mas deverá surtir seus efeitos concretos, devendo o Estado

implementar políticas públicas capazes de transformar a realidade dos

destinatários da norma, garantindo a todos o direito à saúde digna e

eficaz.

São direitos sociais: a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer,

a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância,

a assistência aos desamparados, na forma da Constituição Federal de

1988.

Trabalhos com metodologias semelhantes, também apresentaram como ideia central

mais prevalente entre os juízes, a de que é dever do Estado à garantia da saúde e da vida

(BOING, 2008; LEITÃO, 2012).

Dessa forma, por se tratar de um direito fundamental, o entendimento é que a saúde

deve se sobrepor a qualquer justificativa que venha a ser contrária à sua promoção. Fato

evidenciado nas Unidades de Contexto encontradas nas decisões judiciais analisadas, nas

quais há embasamento constitucional que envolve o direito à saúde, bem como conclama a

importância de dados concretos através de políticas públicas, a fim de que o dispositivo

constitucional não signifique apenas uma norma programática. Assim, o poder judiciário

diante das decisões proferidas envolvendo o acesso a medicamentos, requer que o poder

legislativo e executivo, legisle e execute, respectivamente, políticas públicas capazes de

garantir a saúde digna e eficaz à população.

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78

4.2.4 O cidadão tem direito a Integralidade da Assistência Terapêutica

O conceito da integralidade da Assistência Terapêutica pode apresentar diferentes

interpretações, mas no que se refere ao entendimento dos juízes, os mesmos compreendem

que esse princípio engloba todas as ações de saúde, incluindo a dispensação de medicamentos

prescritos (Quadro 11). Tal constatação pode ser encontrada em 41 decisões analisadas no

presente estudo (35,7%).

Quadro 11: Inferência da análise de conteúdo a respeito do direito a Integralidade da Assistência Terapêutica.

Subcategoria Indicador

O cidadão tem

direito a

Integralidade da

Assistência

Terapêutica

O conceito de integralidade engloba todas as ações de saúde, inclusive

farmacêutica.

Unidade de Contexto

As ações e serviços de saúde devem ser desenvolvidos pelo Estado, de

forma integrada, embora descentralizada, através de um sistema único.

Ao SUS compete a integralidade da assistência à saúde, seja individual

ou coletiva.

Na assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção,

proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações

assistenciais e das atividades preventivas, está incluída a execução de

ações de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica.

A formação de uma rede regionalizada, hierarquizada, com acesso universal,

igualitário e integral é dever do Estado e tem embasamento a partir da formulação dos

princípios e diretrizes do SUS. Assim, não se tem como distanciar a integralidade da

assistência do princípio da universalidade, que preconiza que todos sejam atendidos

igualmente. Partindo desses pressupostos, o poder judiciário vem sendo confrontado a

respeito do paradoxo entre universalidade e integralidade existente nas decisões judiciais, já

que alguns estudos concluem que a judicialização gera individualização da demanda em

detrimento do coletivo (SARTÓRIO, 2004), gerando com isso privilégio para aqueles que

recorreram a justiça para garantir o auxílio necessário, além de aprofundar as iniquidades no

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acesso à saúde (SANTOS, 2006; VIEIRA; ZUCCHI, 2007; DALLARI, 2007; MARQUES,

2008; BARATA; CHIEFFI, 2009).

No presente estudo, o argumento de privilégios individuais em detrimento dos direitos

coletivos como motivação para indeferir as demandas solicitando medicamentos por via

judicial não foi aceito pelos juízes. Segundo Marques e Dallari (2007), em estudo de

metodologia semelhante conclui mediante suas análises que o direito de todos os indivíduos à

saúde deve ser garantido integralmente, a despeito de questões políticas, orçamentárias ou

entraves burocráticos.

Entende-se, portanto que a promoção da saúde a grande parcela da população por meio

de políticas públicas, não exime o Estado da responsabilidade de individualmente atender aos

cidadãos em suas necessidades. Dessa forma, a morte de um só indivíduo, por falta de

assistência e tratamento medicamentoso no SUS, não pode ser justificada pelos governantes

com a alegação de que as verbas públicas são prioritariamente aplicadas no atendimento da

coletividade, pois é consenso que a saúde é um bem maior e para o poder judiciário do Rio

Grande do Norte, ao SUS compete à integralidade da assistência à saúde, seja individual ou

coletiva.

4.2.5 O fornecimento de medicamentos envolve o Princípio da Dignidade Humana

A república federativa do Brasil, constitui-se em estado democrático e apresenta

dentre os seus fundamentos o princípio da Dignidade Humana, o qual é ferido nas decisões

judiciais quando da omissão no fornecimento de medicamentos que podem auxiliar a

recuperação da saúde de um cidadão (Quadro 12). Tal fundamento foi citado em 28 decisões

judiciais (24,3%) como sendo respaldo do judiciário para deferirem o pleito

Quadro 12: Inferência da análise de conteúdo a respeito do Princípio da Dignidade Humana.

Subcategoria Indicador

O fornecimento de

medicamentos

envolve o Princípio

da Dignidade

A omissão do Estado no fornecimento de medimentos fere a

dignidade humana.

Unidade de Contexto

O bem em discussão é a vida, com o seu respectivo direito à saúde e a

dignidade da pessoa humana, assegurados constitucionalmente, bem este

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80

Humana de valor imensurável (...)entre dois valores em conflito, o direito à vida e

à saúde e o direito do ente público de bem gerir as verbas públicas, deve

prevalecer o bem maior.

Omitindo-se em garantir o direito fundamental à saúde viola-se o dever

constitucional erigido nos dispositivos constitucionais e

infraconstitucional invocados e atenta contra à dignidade da pessoa

humana e à vida,

A dignidade da pessoa humana deve ter primazia sobre os princípios de

direito financeiro e econômico, diante da não oponibilidade da reserva

do possível ao mínimo existencial.

O direito à saúde está dentre os pilares que sustentam o mínimo existencial,

apresentando por isso um grau de fundamentalidade próprio para gerar direitos subjetivos a

todos os cidadãos (TORRES, 1995).

Dessa forma, limitar a sobrevivência do indivíduo pela falta do fornecimento do

tratamento medicamentoso confronta não só o direito à saúde, mas também o princípio da

dignidade humana. Perante tal argumento, se torna incontestável que o Estado do RN deve

zelar pelo princípio da dignidade humana, adotando estratégias para que não haja

desabastecimento dos medicamentos de responsabilidade de cada ente federativo dentro dos

critérios estabelecidos pelos blocos de Assistência Farmacêutica.

4.2.6 Condições socio-econômicas do demandante

Todos são iguais perante a lei, entretanto, no processo judicial envolvendo o acesso a

medicamento, a condição socioeconômica do demandante contribui para o deferimento da

ação (Quadro 13). Nessa subcategoria, observou-se uniformidade nas argumentações dos

juízes, sendo, portanto mencionadas apenas três unidades de contexto presentes em 84

decisões judiciais (73%).

Quadro 13: Inferência da análise de conteúdo a respeito da condições socioeconômicas do demandante.

Subcategoria Indicador

A condição socioeconômica do demandante contribui para o

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Condições

socioeconômicas do

demandante

deferimento de ações judiciais que pleiteiam medicamentos

Unidade de Contexto

É obrigação do Estado (União, Estados-membros, Distrito Federal e

Municípios) assegurar às pessoas desprovidas de recursos financeiros o

acesso à medicação ou congênere necessário à cura, controle ou

abrandamento de suas enfermidades, sobretudo as mais graves.

É dever do Estado, fornecer, ao cidadão carente, sem ônus para este,

medicamento essencial ao tratamento de moléstia grave,

É dever do Estado, prestar toda assistência necessária aos que precisam

de medicamentos imprescindíveis à sua saúde, ainda que gratuito, se

estes não podem provê-los.

O fato da condição socioeconômica do demandante ser importante para o deferimento

de medicamentos por via judicial tem gerado conflitos entre estudiosos. Ao passo que se tem

deferimentos para cidadãos com a declaração de baixas condições financeiras, há também

grande número de cidadãos que recorrem à justiça através advogados particulares como seus

representantes legais e tem prescrições médicas provenientes de serviços privados de saúde

(CHIEFF; BARATA, 2009; BOING, 2008).

Além disso, para os estudiosos Chieff e Barata (2009), esses aspectos vão em

confronto com o princípio da equidade, presente no SUS, visto que há privilégios de uns

adquirem medicamentos em detrimentos de outros que não tiveram a mesma oportunidade de

ter o acesso à justiça, seja por falta de conhecimento, condições econômicas para contratar

advogados particulares ou ainda por dificuldade em buscar as defensorias públicas mais

próximas de sua região para representar seus direitos na justiça. Nesse contexto, Boing (2008)

constatou que o maior número de ações é impetrada por munícipes de cidades com melhores

condições socioeconômicas, indicando desse modo que a busca pelos direitos à saúde por

meio de ações judiciais são influenciadas diretamente por esse critério.

Reforça-se, contudo, a importância da necessidade de clareza do poder judiciário em

transparecer os critérios utilizados para o deferimento das demandas judiciais, já que não se

pode dividir a aplicação das diretrizes do SUS, tais como universalidade e integralidade

apenas para a parte da sociedade com condições socioeconômicas mais baixas, pois do

contrário, o poder judiciário estaria escolhendo para quais parcelas da população seria cabível

as leis constitucionais e as políticas públicas de saúde.

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82

4.2.7 Medicamentos demandados versus PNM e PNAF

Na análise de conteúdo envolvendo a subcategoria de medicamentos demandados

versus a PNM e a PNAF, percebe-se que os medicamentos são deferidos, pelo judiciário,

conforme prescrição médica, sendo percebida a menção dos princípios da Política Nacional de

Medicamentos e da Política Nacional de Assistência Farmacêutica (Quadro 14) em 57

decisões judiciais analisadas (49,6%).

Quadro 14: Inferência da análise de conteúdo a respeito dos medicamentos demandados pelos cidadãos.

Subcategoria Indicador

Medicamentos

demandados versus

PNM e PNAF

Os medicamentos são deferidos conforme prescrição médica, sendo

percebida a menção aos princípios da PNM e da PNAF em parte das

decisões judiciais.

Unidade de Contexto

O apelante tentou solicitar o medicamento junto à UNICAT na época da

propositura da ação, mas não obteve êxito.

O remédio solicitado ainda não está incluído na portaria seguida por

aquele órgão.

Ainda que o medicamento pleiteado esteja sendo fornecido

administrativamente, não se pode descartar a hipótese de uma eventual

falta, o que não é improvável, fato que pode acarretar sérios riscos à

saúde da apelada

Competiria ao Ente público indicar outro medicamento que tivesse o

mesmo princípio ativo para o tratamento da enfermidade da apelada, o

que incorreu, ônus que lhe competia.

O Estado do Rio Grande do Norte foi intimado para esclarecer se a

medicação oferecida pelo sistema público seria ineficaz ou imprópria

para o quadro clínico do paciente, tendo o ente público se quedado inerte

Quem possui capacidade e competência para definir e precisar qual o

meio necessário e eficaz a atingir a cura do enfermo são os profissionais

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83

da medicina, e não o poder público, que apenas deve garantir a

assistência à saúde e zelar para que sua execução ocorra de forma

universal e integral.

Um dos medicamentos fazia parte do Componente Básico da Assistência

Farmacêutica, como previsto na Portaria nº 4.217/00, e que estava sendo

providenciada uma licitação de medicamentos para 2012. Logo, não há

como o beneficiário esperar a conclusão deste procedimento para usar os

medicamentos que necessita.

Imperioso registrar a supremacia da avaliação do profissional de

Medicina, responsável pelo acompanhamento e tratamento da doença,

no que se reporta à espécie do medicamento prescrito, não sendo

recomendável ao Magistrado suplantar o entendimento do expert, para

autorizar o uso de medicamentos diversos.

Deve ser cumprida a decisão, independentemente (...) de abertura de

procedimento licitatório.

O medicamento que deve ser dispensado é aquele indicado pelo

profissional médico, e não o disponibilizado pelo SUS, que, pelo que se

extrai dos autos, tem menor eficiência para o tratamento da doença que

acomete o autor.

O medicamento solicitado foi indicado por profissional qualificado,

como sendo o único eficaz no seu tratamento, estando impossibilitado a

escolha de qualquer outro.

Não tem pertinência a alegação de afronta ao disposto no art. 244, do

Código Civil, já que a medicação solicitada pela apelada não foi pela

mesma escolhida, precedeu de prescrição médica.

Quanto à utilização de outros medicamentos, constantes na lista do SUS,

mas não prescritos pelo médico, tenho o entendimento que não se pode

perder de vista a dificuldade que se tem em aferir-se, com segurança, se

o medicamento, embora com o mesmo princípio ativo, vá produzir no

paciente a mesma eficácia que produziria aqueles receitados pelo médico

especialista.

Impossível à Administração Pública intervir nas indicações clínicas,

substituindo medicamentos e procedimentos de acordo com seus

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84

interesses, por lhe faltar suporte científico para tanto e pôr em sério risco

a sobrevivência do paciente.

Em casos excepcionais, a importação de medicamento não registrado

poderá ser autorizada pela ANVISA, quando adquiridos por intermédio

de organismos multilaterais internacionais, para uso de programas em

saúde pública pelo Ministério da Saúde.

Perante os dados encontrados na análise de conteúdo, evidencia-se que a prescrição

médica é decisiva no momento do judiciário decidir qual o medicamento será deferimento: o

de referência ou o genérico. A PNM e a PNAF preconiza que seja priorizado medicamentos

com denominação genérica ao invés de fármacos de referência, pois esses geralmente

apresentam custos mais elevados e não tem livre concorrência de preços entre indústrias

farmacêuticas.

As políticas públicas que envolvem medicamentos, seja a PNM ou a PNAF, não afasta

a importância da prescrição médica para o recebimento de fármacos pelo SUS, apenas

estabelecem critérios que precisam ser obedecidos e conceitos que merecem ser respeitados.

Conforme foi registrada nas Unidades de Contexto, a argumentação do poder

judiciário, pela qual se afirma não ter como aferir com segurança se os medicamentos com o

mesmo princípio ativo e disponível no SUS produziriam o mesmo efeito do que os que foram

solicitados judicialmente; não é cabível quando se avalia as políticas estudadas nessa

dissertação. Pois, de acordo com a interpretação dos princípios dessas legislações não se pode

ter no mercado farmacêutico, mediante registro em órgãos sanitários, medicamentos

ineficazes sendo comercializados no Brasil.

Ainda nessa perspectiva, de acordo com os dados encontrados, alguns juízes se

posicionam defendendo que o medicamento que deve ser dispensado é aquele indicado pelo

profissional médico, enquanto que outros acreditam ser possível o Ente público indicar um

medicamento distinto, mas que tivesse o mesmo princípio ativo para o tratamento da

enfermidade da apelada.

Diante de tal constatação, e segundo as políticas públicas que envolvem o acesso a

medicamentos, torna-se mais aceitável que o argumento do segundo grupo de juízes, o qual

permite que o gestor público verifique dentre a sua padronização a disponibilidade do mesmo

princípio ativo do medicamento pleiteado. Entretanto, nas decisões em que houve essa

possibilidade de substituição, os entes federativos do Rio Grande do Norte não se

manifestaram a respeito.

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De forma semelhante, outros aspectos das políticas públicas analisadas são

importantes, tais como registro em órgãos sanitários e fornecimento de medicamentos com

qualidade, eficácia e segurança aos pacientes. Assim, os medicamentos sem registro junto à

ANVISA, bem como os que têm recomendação na prescrição médica para indicação diferente

da que é aprovada pelos órgãos sanitários, ao serem solicitados requerem que se avalie os

potenciais riscos ao usuário e as respectivas responsabilidades de quem contribuiu para que o

medicamento sem estudos que comprovem a sua utilização segura, no Brasil, chegasse até o

paciente (BOING, 2008).

Nesse contexto, ressalta-se a relevância do auxílio técnico antes da formulação da

decisão final pelos juízes, os quais podem solicitar pareceres médicos e farmacêuticos, caso

existam dúvidas de competência técnica, relacionadas à análise cuidadosa da prescrição

medicamentosa. Dessa forma o ente federativo não poderá ficar inerte a essa solicitação de

parecer técnico, negando ou omitindo informações a respeito de esclarecimentos a respeito da

efetividade dos medicamentos padronizados em sua lista oficial. Da mesma forma não se

justifica aceitar que os gestores públicos não possuam uma equipe multiprofissional

responsável por planejar e organizar o atendimento dos pleitos das demandas judiciais, já que

esses demandam grande parte do orçamento público de cada ente federativo.

Nesse contexto, outro aspecto a se considerar é que a via administrativa muitas vezes é

buscada antes da via judicial, e mediante negativa de auxílio nessa esfera e para preservar o

direito fundamental à saúde recorre-se ao poder judiciário. Algumas justificativas para isso

acontecer podem envolver a falta de estoque dos medicamentos, planejamentos logísticos

farmacêuticos precários, processos licitatórios com execução lenta e ainda a presença de

patologias sem alternativas terapêuticas em listas padronizadas.

Assim, os governantes precisam traçar estratégias para melhorar a interlocução com os

usuários do Sistema Único de Saúde, proporcionando maior transparência dos medicamentos

que estão disponíveis no estoque da central de abastecimento farmacêutico do Estado e dos

Municípios e, dessa forma, facilitar esclarecimentos de quais são os mecanismos

administrativos para aquisição de fármacos no SUS, tentando com isso diminuir o processo

de judicialização e aumentar a acesso da população ao tratamento das patologias que a

comete.

Nessa perspectiva, conclui-se a partir dos dados obtidos com a subcategoria:

medicamentos demandados versus PNM e PNAF que a necessidade dessas políticas públicas

serem mais debatidas no âmbito executivo e judiciário, já que são elas as norteadoras do

acesso a medicamentos no sistema de saúde brasileiro.

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No caso do Estado do Rio Grande do Norte existe a Unidade Central de Agentes

Terapêuticos (UNICAT), responsável por dispensar os medicamentos atendidos por via

judicial e os do componente especializado da Assistência Farmacêutica. Há também o Comitê

Interinstitucional de Resolução Administrativa de Demandas da Saúde-CIRADS, a partir do

qual se há a tentativa de solucionar administrativamente os conflitos da saúde. As ferramentas

utilizadas por essas duas unidades para gerenciar as demandas judiciais do RN precisam ainda

ser estudadas, para que se possa avaliar o impacto das suas atividades no orçamento público

do Estado, como também verificar o diálogo das mesmas com o poder judiciário.

4.2.8 Direito de decidir

O poder judiciário enfrenta conflitos quanto à sua legitimidade de decidir a respeito de

políticas públicas, como pressuposto de violação do princípio da separação entre os três

Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. O judiciário de fato não foi eleito pelo povo, não

tendo, com isso, a responsabilidade de atender às demandas da população definindo

prioridades legislativas, envolvendo a saúde e consequente a gestão financeira dos Estados,

Municípios e União. Entretanto, diante do presente resultado observa-se que os tribunais se

tornaram uma alternativa para se efetivar a direito a saúde (Quadro 15). Assim sendo, os

juízes mencionam em 48 decisões judicias (41,7%) a possibilidade do poder judiciário atuar

frente às necessidades da população para o acesso a medicamentos.

Quadro 15: Inferência da análise de conteúdo a respeito do direito de decidir do poder judiciário.

Subcategoria Indicador

Direito de decidir

Os tribunais se tornaram uma alternativa para se efetivar a direito a

saúde

Unidade de Contexto

O Poder Judiciário não pode ficar inerte diante da recalcitrância do

Estado, colocando em risco os direitos fundamentais à saúde, em

decorrência de meros entraves burocráticos.

É possível a intervenção do Poder Judiciário na implementação de

políticas públicas nas hipóteses de inércia ou abusividade

governamental.

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Os direitos à vida e à saúde prevalecem ante qualquer outro valor, assim

deve ser afastada qualquer tese relativa a violação do princípio

fundamental de separação de poderes.

Não há a ingerência, apenas está o Judiciário tutelando direito e as

garantias fundamentais do cidadão portador de doença grave e detentor

da condição de hipossuficiente, os quais são assegurados

constitucionalmente.

Os pedidos de suspensão são examinados isoladamente, não se

estendendo os seus efeitos e as suas razões a outros casos, por se tratar

de medida tópica, pontual, restringindo-se ao caso específico.

O Judiciário não se imiscuiu na esfera do Poder Executivo, restringindo-

se a dar efetiva prestação jurisdicional, ancorada em dispositivos legais e

constitucionais, determinando que seja cumprido o dever de

fornecimento do medicamento de que necessita a apelada.

Não devendo dito direito ser negado, sob o pálio de que tal proceder

macula o princípio da autonomia dos Estados-membros, por competir a

cada Estado dispor sobre as suas próprias políticas públicas; ou o da

separação dos poderes, diante da ingerência do Judiciário em decisão

que não lhe é afeta, como à destinação de recursos específicos do

Estado.

Os juízes ao se pronunciarem a respeito de demandas envolvendo medicamentos, sem

considerarem as políticas públicas, arriscam-se em atuar além dos limites estruturais do

sistema jurídico, já que o poder responsável por decidir a respeito de política é o legislativo

(CAMPILONGO, 2000, 2002). Costa e Borges (2010) ainda complementam essa ideia com a

defesa da falta de legitimidade do poder judiciário em intervir na política, principalmente

porque para ser legítimo precisaria ser transparente e claro quanto aos critérios utilizados para

deferir o pleito.

Entretanto, através dos discursos dos juízes, observa-se que a motivação para o

julgamento dessas ações não é o conflito entre os poderes para saber qual deles é o

responsável pela decisão a respeito da resolutividade do pleito, mas sim a impossibilidade de

um poder ficar inerte quando os demais falham em suas atribuições. Diante de tal

possibilidade e da crescente demanda da judicialização da saúde, gera-se duas hipóteses que

precisariam ser avaliadas por estudos posteriores: a) quanto mais se tem o poder jurídico

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intervindo na efetividade de políticas públicas, ao mesmo tempo existe legislativo omisso em

relação a atualização das políticas em vigor e b) o crescimento da judicialização do acesso a

medicamentos é proporcional a inefetividade das atividades exercidas pelo poder executivo na

Assistência Farmacêutica do Estado.

4.2.9 Aplicação de multa cominatória e bloqueio de verbas públicas

O poder judiciário através das decisões judiciais limita o prazo para o realização da

sentença. Havendo o descumprimento da mesma, o réu sofrerá as penalizações impostadas,

que pode ser desde o pagamento de multas até o bloqueio de verbas públicas (Quadro 16). Tal

ferramenta foi utilizada e mencionada em 21 decisões judiciais (18,3%).

Quadro 16: Inferência da análise de conteúdo a respeito da possibilidade de aplicação de multa cominatória e bloqueio de verbas públicas pelo poder judiciário.

Subcategoria Indicador

Aplicação de Multa

cominatória e

bloqueio de verbas

públicas.

A multa por descumprimento e o bloqueio de verbas públicas são

medidas encontrada para que a decisão judicial seja efetivada de

imediato.

Unidade de Contexto

A jurisprudência desta Egrégia Corte de Justiça vem entendendo a

possibilidade de bloqueio de verbas públicas com vista a garantir o

direito a saúde.

A jurisprudência do Colendo STJ tem o entendimento de que o juiz, de

ofício ou a requerimento da parte, pode fixar as denominadas astreintes

contra a Fazenda Pública, com o objetivo de forçá-la ao adimplemento

da obrigação de fazer no prazo estipulado

Diante do posicionamento dos juízes frente ao seu direito de decidir a respeito de

solicitações envolvendo a saúde, de aplicar multas, de bloquear verbas públicas e de se fazer

cumprir o pagamento de honorários sucumbenciais, Engelmann e Cunha Filho (2013) indicam

que existem argumentos dos juízes defendendo o posicionamento de que os Tribunais opõem

autoridade do poder judiciário à autoridade do Executivo na organização da gestão pública.

Nessa perspectiva, os valores das multas podem chegar a ser superior ao custo do

tratamento solicitado, dependendo do inadimplemento da obrigação de fazer no prazo

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estipulado pelo juiz. Em estudo de Rosein (2010) foi observado que o Estado de Santa

Catarina teve curtos prazos para cumprir a ação judicial e, para os casos de descumprimento

foram aplicadas multas diárias, que variaram de R$3,00 a R$38.000,00.

Assim, vale ressaltar a importância de estudos que avaliem o grau de inadimplência

dos entes federativos para com as decisões judiciais, haja vista que o que está sendo julgado é

a vida de um paciente, e a morosidade no cumprimento da decisão pode comprometer a saúde

do demandante. Também se torna pertinente às avaliações de quanto o Estado despendeu nas

compras públicas de medicamentos por não realizarem os processos licitatórios e

planejamento farmacêutico para atender as demandas judiciais.

4.2.10 Honorários Advocatícios

Os custos processuais pela parte sucumbente, que perde a ação, são aplicados

conforme a legislação em vigor, sendo rigorosamente respeitados pelo judiciário. Salienta-se,

contudo que existe a Súmula 421 do STJ onde se classifica indevido os honorário

sucumbenciais à Defensoria Pública, sendo esse o único argumento utilizado pelo poder

judiciário para exonerar o ente estatal de pagar as custas processuais quando perdem a ação

(Quadro 17). Das 115 decisões analisadas, 22 delas (19,1%) envolveram pacientes que

recorreram a justiça por meio de Defensorias Pública e que tiveram as custas processuais

cobradas aos entes públicos.

Quadro 17: Inferência da análise de conteúdo a respeito da aplicação de Honorários sucumbenciais.

Subcategoria Indicador

Honorários

Advocatícios

Os honorários advocatícios não são devidos quando o demandante

utiliza os serviços da Defensoria Pública para representá-lo.

Unidade de Contexto

No que tange a Súmula 421 do Superior Tribunal de Justiça, aos

honorários sucumbenciais, que são indevidos os honorários advocatícios

à Defensoria Pública quando oriundos de condenação contra a Fazenda

Pública Estadual.

Diante do exposto, ao investigar o conteúdo das argumentações jurídicas utilizadas

para respaldar a decisão do processo judicial quanto ao deferimento de medicamentos

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observou-se que o argumento dos juízes mais utilizados no momento de proferirem suas

decisões foi o de que o direito a saúde é reconhecido pela legislação brasileira como um

direito fundamental, devendo ser garantido pelo Estado a todos os seus cidadãos (93%).

De forma mais detalhada, a ordem decrescente dos demais indicadores envolvidos nas

ações judiciais analisadas foram: a) os recursos financeiros escassos não são motivo para o

indeferimento da demanda (78,3%), b) não há distinção dos entes federativos quanto a

obrigação de ofertar o medicamento ao demandante (74,8%), c) no processo judicial a

condição socioeconômica do demandante contribui para o deferimento da ação (73%), d) os

medicamentos são deferidos, pelo judiciário, conforme prescrição médica, estando presente a

menção dos princípios da Política Nacional de Medicamentos e da Política Nacional de

Assistência Farmacêutica em parte das decisões judiciais (49,6%), e) o Judiciário não pode

ficar inerte de modo a colocar em risco a saúde dos cidadãos (41,7%), f) o princípio da

integralidade da assistência engloba todas as ações de saúde, incluindo a dispensação de

medicamentos prescritos (35,7%), g) o princípio da dignidade humana é ofendido quando

existe omissão no fornecimento de medicamentos que podem auxiliar a recuperação da saúde

de um cidadão (24,3%), h) os honorários advocatícios não são devidos quando o demandante

utiliza os serviços da Defensoria Pública para representá-lo (19,1%) e i) umas das maneiras

encontradas pelo Judiciário para acelerar a obediência da sentença é a aplicação de multas e

também o bloqueio de verbas públicas (18,3%).

Conclui-se, portanto, que a saúde é superior a restrições orçamentárias dos entes

federativos, os quais são solidariamente responsáveis pelas demandas judiciais, independente

do medicamento solicitado pertencer ou não a um bloco de financiamento específico da

assistência farmacêutica. Diante de tais dados, observa-se que há lacunas na decisão judicial

no que diz respeito à inserção e menção dos princípios da PNM e da PNAF, gerando, portanto

necessidade de um maior diálogo entre os poderes executivo e judiciário a fim de que possam

considerar relevante a efetividade e aplicação de tais princípios para minimização das

conseqüências negativas do fenômeno da judicialização da saúde.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A saúde no Brasil é um direito fundamental de competência dos três entes federativos.

Fato esse respaldado pela Constituição Federal e concretizado com a definição dos princípios

e diretrizes do Sistema Único de Saúde-SUS, dentre os quais se destaca a universalidade,

integralidade, equidade com rede regionalizada e hierarquizada. Tais características garantem

aos cidadãos que o direito à saúde seja adquirido por todos, bem como permite que nos casos

onde haja omissão na prestação da assistência à saúde seja levada aos tribunais de justiça a

necessidade pleiteada, através do fenômeno da judicialização da saúde. Desse modo, o acesso

a medicamentos pelo SUS está englobado dentro desse direito e apresenta como norteadores

da sua dispensação a Política Nacional de Medicamentos e a Política Nacional de Assistência

Farmacêutica.

Assim, o presente estudo objetivou avaliar a inserção dos princípios dessas duas

políticas no julgamento de ações judiciais envolvendo o acesso a medicamentos. Para tal

foram analisadas 115 decisões judiciais proferidas em segunda instância pelo TJ-RN, as quais

apresentaram a solicitação de 177 medicamentos. Observou-se que 100% dessas ações

judiciais foram favoráveis ao autor, precisando reformar a sentença em 15 delas, apenas para

exonerar o ente federativo de pagar os honorários advocatícios à defensoria pública.

De forma peculiar as decisões foram avaliadas em duas vertentes para que se pudesse

cumprir o objetivo geral do presente trabalho, a primeira envolvendo indicadores de

monitoramento de demandas judiciais relacionados com princípios da PNM e da PNAF e

segunda a análise de conteúdo das argumentações jurídicas utilizadas para respaldar a decisão

do processo judicial quanto ao deferimento de medicamentos.

Assim, atendendo ao primeiro escopo, os resultados demonstraram que os

medicamentos estavam prescritos, em sua maioria, pelo nome comercial (76%), sendo

conflitante com a PNM que rege que todos os medicamentos solicitados através do SUS

tenham denominação genérica. Quanto ao registro na ANVISA dos fármacos pleiteados, tem-

se que a maioria das solicitações apresentava medicamentos registrados nesse órgão de

vigilância sanitária (99,4%), com a exceção de uma ação judicial que solicitou o medicamento

chamado por eculizumabe, conhecido comercialmente por Solaris, o qual necessita de ensaios

clínicos e comprovação científica antes do seu deferimento e utilização.

Assim, não houve indeferimento das solicitações em virtude do não seguimento de

algumas prerrogativas da PNM; ressalva-se, portanto a relevância de que sejam levados em

consideração no momento do deferimento não só os critérios burocráticos e processuais, mas

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também que sejam exigidas as comprovações dos dados sanitários e de segurança da

utilização do medicamento.

Quanto ao aspecto de padronização promovida pela Política de Assistência

Farmacêutica, verificou-se que 36% dos medicamentos solicitados estão presentes na lista de

medicamentos padronizados no SUS, sendo 16% equivalente ao bloco de atenção básica e

20% referente ao componente especializado. Ainda nesse contexto, voltando-se agora para o

número de decisões avaliadas, observou-se que 87 das 115 ações judiciais (76%) apresentava

a solicitação de pelo menos 01 medicamento não padronizado.

Ao analisar as sentenças envolvendo os medicamentos não padronizados, detectou-se

que o grupo de medicamento mais frequente foi o de agentes antineoplásicos, sendo o

Transtuzumabe (11 solicitações), o medicamento oncológico mais requerido nos pleitos. Essa

classe de fármacos não está presente em listas oficiais de fármacos do SUS, já que possuem

política pública específica e por isso não estão inseridos em blocos de financiamento da

Assistência Farmacêutica.

Os medicamentos antineoplásicos apresentam dispensação e financiamento pelo

CACON ou o UNACON, assim a responsabilidade da falta desses medicamentos ou

deficiência de algum tipo dispensado, deveria ser requerido para essas unidades e não ao

Estado e Municípios do Rio Grande do Norte. Medidas inovadoras estão sendo realizadas em

outros Estados a fim de minimizar os custos especialmente com essa demanda oncológica,

conduzindo e centralizando em unidades hospitalares o recebimento e administração desses

fármacos demandados judiciais, evitando com isso o desperdício e a má utilização dos

recursos públicos.

Diante disso, questiona-se se os medicamentos não padronizados solicitados no RN

estão relacionados com a precariedade ou ausência de Relações Estaduais e Municipais de

Medicamentos Essenciais padronizados, com a falta de atualização das listas oficiais, com a

existência de doenças raras sem alternativa no SUS ou ainda se esse número de decisões está

sofrendo influência da indústria farmacêutica para requerer medicamentos novos no mercado.

Estudos mais aprofundados com a resolução desses questionamentos são necessários para se

compreender a dimensão das causas do elevando número de ações judiciais requerendo

medicamentos não padronizados no SUS.

Outro aspecto importante que corrobora com tais questionamentos é o fato de que no

Rio Grande do Norte, em algumas demandas judiciais os municípios são obrigados a fornecer

medicamentos de responsabilidade estadual, e o Estado por sua vez, é compelido a fornecer

medicamentos da atenção básica, que é de responsabilidade municipal. Dessa forma, o

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processo de descentralização das atividades assistenciais fica prejudicado ao passo que as

diretrizes que fornecem o alicerce para sua sustentação não são seguidos.

Após tais considerações, observou-se os resultados envolvendo o segundo objetivo

específico, o qual retratou a análise de conteúdo das decisões judiciais. Nessa perspectiva,

verificou-se que de acordo com o entendimento dos juízes, em relação às subcategorias

relacionadas ao réu, a escassez orçamentária dos entes federativos não está sendo considerada

como justificativa para o indeferimento das demandas judiciais. Em diferentes decisões

judiciais houve relatos que o Estado do Rio Grande do Norte utilizou o recurso da reserva do

possível para tentar se eximir da obrigação de fornecer o medicamento anteriormente deferido

em primeira instância, apesar de não provar a inexistência de dotação financeira para o

cumprimento da decisão judicial. Desse modo, os gestores precisam ser transparentes em

relação à aplicação das verbas públicas e justificar por meio de dados concretos o que tanto

alegam: recursos limitados.

Diante de tais fundamentações, não há como contestar o direito à saúde,

constitucionalmente adquirido, nem a supremacia desse direito frente às limitações

orçamentárias dos entes públicos. Entretanto se prima que as políticas públicas utilizadas

como ferramentas para se efetivar a saúde para todos, tais como a PNM e a PNAF, sejam de

fato respeitadas pelos gestores e mencionadas nas decisões judiciais, priorizando o justo e a

saúde dos cidadãos de forma segura e sustentável.

Uma das maneiras que os gestores poderiam contribuir para isso, seria evitar o

desabastecimento dos medicamentos padronizados no SUS e atualizar a sua lista de

medicamentos essências, pois dessa forma estaria zelando pelo princípio da dignidade

humana. Em contrapartida, o judiciário poderia colaborar para melhorar a condução desse

fenômeno, ao rever o seu posicionamento quanto à responsabilidade solidária entre os entes

federativos, principalmente quando o medicamento for padronizado no SUS e existir um

bloco de financiamento específico para o custeio do item pleiteado.

Contudo, reconhece-se que as políticas públicas são elaboradas visando atender a

grande parcela da população, entretanto é importante ressaltar que apesar dos cidadãos

recorrerem à justiça de forma individual e existir o argumento dos gestores públicos que o

atendimento dessas demandas comprometem os recursos para a coletividade, entende-se,

mediante os resultados que, a promoção da saúde a grande parcela da população não exime o

Estado da responsabilidade de individualmente atender aos cidadãos.

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Da mesma forma, apesar das decisões analisadas identificarem influência das

condições socioeconômicas dos demandantes no deferimento do pleito, o Sistema Único de

Saúde, gerido pelos Municípios, Estados e União, considera todos iguais perante a lei através

do princípio da equidade, então se deve ter cautela ao analisar essa fundamentação no

momento da decisão judicial.

Assim, todos os cidadãos podem utilizar a justiça a fim de obter seus direitos,

inclusive para o acesso a medicamentos, requerendo para isso, sobretudo uma prescrição

médica, a qual deveria ser avaliada criteriosamente por uma comissão técnica para avaliar os

critérios sanitários, terapêuticos, de custo-efetividade, e de financiamento dos medicamentos

solicitados, considerando nessa análise os critérios evocados pela PNM e PNAF.

Desse modo, conclui-se a partir dos indicadores de monitorização de demandas

judiciais e dos discursos dos juízes na análise de conteúdo, que a PNM e a PNAF tem seus

princípios inseridos em parte das decisões judiciais analisadas no Rio Grande do Norte, em

2012. Precisando, contudo, que ambas as políticas sejam mais bem debatidas e exploradas no

contexto de judicialização do acesso a medicamentos tanto pelo judiciário quanto pelo

executivo. E o diálogo entre esses dois poderes deve visar, em especial, medidas inovadoras,

semelhante as que estão acontecendo em outros Estados e Municípios brasileiros que já

conseguem mencionar os benefícios através de redução de custos para o governo e melhor

gestão farmacêutica para toda população.

Finalizando a análise, tem-se que os objetivos do presente estudo foram alcançados,

entretanto surge a motivação para avançar nas análises da judicialização da saúde e de forma

específica do acesso a medicamentos oncológicos, os quais representaram o grupo mais

prevalente nas solicitações e com grande impacto financeiros para os gestores, necessitando

por isso de medidas mais emergentes a fim de que esse processo não comprometa a

continuidade da assistência farmacêutica prestada a toda população. Nesse sentido, há uma

agenda de pesquisas a serem exploradas partindo das hipóteses geradas pelos resultados do

presente estudo, possibilitando com isso a melhor compreensão do fenômeno da

judicialização no Rio Grande do Norte, Estado tão carente de estudos nessa área.

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APÊNDICE A– Instrumento de coleta de dados

ELEMENTOS ESTRUTURAIS DO PROCESSO

DADOS PROCESSUAIS:

Réu(s): 1-União 2-Estado

3-Município

( )

Obs.: podem ser mais de um réu.

Dispositivo do acórdão 1-Confirmação da decisão 1ª instância 2-Reforma total da decisão 1ª instância 3-Reforma parcial da decisão 1ª instância

( )

Objeto da reforma parcial da decisão 1ª instância 1-Dispensa de Despesas advocatícias 2-Mudança para medicamento genérico ou similar 3-Outros:_________________________________

( )

DO OBJETO DO PEDIDO:

1-Número de medicamentos

solicitados

( )

2-Medicamentos solicitados 3- Genérico 4-

ATC

5-ANVISA 5-Bloco de Financiamento

Med.01 ( )sim ( )não ( ) ( )sim ( )não ( ) 1 ( )2 ( )3

Med.02 ( )sim ( )não ( ) ( )sim ( )não ( ) 1 ( )2 ( )3

Med.03 ( )sim ( )não ( ) ( )sim ( )não ( ) 1 ( )2 ( )3

Med.04 ( )sim ( )não ( ) ( )sim ( )não ( ) 1 ( )2 ( )3

Med.05 ( )sim ( )não ( ) ( )sim ( )não ( ) 1 ( )2 ( )3

Med.06 ( )sim ( )não ( ) ( )sim ( )não ( ) 1 ( )2 ( )3

Med.07 ( )sim ( )não ( ) ( )sim ( )não ( ) 1 ( )2 ( )3

Med.08 ( )sim ( )não ( ) ( )sim ( )não ( ) 1 ( )2 ( )3

Med.09 ( )sim ( )não ( ) ( )sim ( )não ( ) 1 ( )2 ( )3

Med.10 ( )sim ( )não ( ) ( )sim ( )não ( ) 1 ( )2 ( )3

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APÊNDICE B – Instrumento de coleta para análise de conteúdo das decisões judiciais:

subcategorias.

Subcategorias 01 02 03 04 05 06

Responsabilidade Solidária A

Limitação orçamentária B

Saúde é um direito fundamental de todos e dever do Estado C

O cidadão tem direito a Integralidade da Assistência Terapêutica D

O fornecimento de medicamentos envolve o Princípio da Dignidade

Humana

E

Condições socio-econômicas do demandante F

Medicamentos demandados G

Direito de decidir H

Aplicação de Multa cominatória I

Honorários Advocatícios J

LEGENDA: “X” significa presença na decisão judiciais da subcategoria em análise.

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APÊNDICE C - Instrumento de coleta para análise de conteúdo das decisões judiciais:

unidades de contexto.

Subcategorias

Responsabilidade Solidária

Unidades de Contexto:

1-

2-

3-

Limitação orçamentária

Unidades de Contexto: 1-

2-

3-

Saúde é um direito fundamental de todos e dever do Estado Unidades de Contexto: 1-

2-

3-

O cidadão tem direito a Integralidade da Assistência Terapêutica Unidades de Contexto: 1-

2-

3-

O fornecimento de medicamentos envolve o Princípio da Dignidade Humana Unidades de Contexto: 1-

2-

3-

Condições socio-econômicas do demandante Unidades de Contexto: 1-

2-

3-

Medicamentos demandados

Unidades de Contexto: 1-

2-

3-

Direito de decidir Unidades de Contexto: 1-

2-

3-

Aplicação de Multa cominatória Unidades de Contexto: 1-

2-

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113

3-

Honorários Advocatícios Unidades de Contexto: 1-

2-

3-

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ANEXO 01 - Indicadores de avaliação e monitoramento das demandas judiciais de

medicamentos

Dimensão 01: Características sócio-demográficas do autor da ação judicial – características da população

em relação aos aspectos sociais e demográficos

Indicador 1 Renda familiar mensal per capita

Indicador 2 Proporção da população por faixa etária

Indicador 3 Proporção da população por ocupação

Indicador 4 Proporção da população por município de domicílio do autor

Dimensão 02: Características processuais das ações judiciais – aspectos que se encontram em

conformidade com as leis nacionais e locais

Indicador 1 Proporção das ações judiciais por representação do autor da ação

Indicador 2 Tempo mediano de decisão liminar ou antecipação de tutela na primeira instância

Indicador 3 Tempo mediano da intimação da instância da saúde

Indicador 4 Tempo mediano de entrega do medicamento

Indicador 5 Proporção de concessão da liminar ou antecipação de tutela

Indicador 6 Proporção de ações judiciais com exigência judicial para a concessão da liminar ou

antecipação de tutela

Indicador 7 Proporção de sentenças favoráveis ao autor

Indicador 8 Proporção de acórdãos favoráveis ao autor

Indicador 9 Razão de demandas extrajudiciais

Indicador 10 Razão das ações judiciais coletivas

Indicador 11 Proporção de ações judiciais impetradas por tipo de réu da ação

Dimensão 03: Características médico-sanitárias das ações judiciais – aspectos relativos ao corpo de

conhecimentos das Ciências da Saúde.

Indicador 1 Proporção de medicamentos por subgrupos terapêutico/farmacológico/ substância química

Indicador 2 Proporção de medicamentos prescritos pelo nome genérico

Indicador 3 Proporção de prescrições que utilizam exclusivamente o nome genérico

Indicador 4 Proporção de medicamentos requeridos que figuram nas listas de medicamentos essenciais

vigentes

Indicador 5 Proporção de ações judiciais contendo documentos adicionais, que não a prescrição de

medicamentos

Indicador 6 Proporção de medicamentos com força de recomendação Classes I e IIa na indicação

terapêutica

Indicador 7 Proporção de diagnósticos principais, por categoria diagnóstica

Indicador 8 Proporção de pacientes com cadastro na instância de saúde, anterior a demanda judicial

Indicador 9 Razão de gasto de medicamentos demandados

Indicador 10 Proporção de medicamentos demandados com alternativa terapêutica no Sistema Único de

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Saúde

Dimensão 05: Características político-administrativas das ações judiciais – aspectos relacionados às

competências executivas, administrativas e econômicas da Administração Pública.

Indicador 1 Proporção de medicamentos registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária

Indicador 2 Proporção de medicamentos, por componente do bloco de financiamento da Assistência

Farmacêutica

Indicador 3 Proporção de ações judiciais que possui ao menos um medicamento prescrito para

indicação de uso off label

Indicador 4 Proporção de ações judiciais que demandam ao menos um medicamento que esteja fora

dos componentes do bloco de financiamento da assistência farmacêutica

Indicador 5 Proporção de ações judiciais que demandam ao menos um medicamento do Componente

Especializado da Assistência Farmacêutica

Fonte: Pepe(2011).