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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS LUCIANA MATIAS DE SOUZA TERCEIRO SETOR: uma análise dos convênios inadimplentes ou impugnados contidos no porta da transparência Natal 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

LUCIANA MATIAS DE SOUZA

TERCEIRO SETOR: uma análise dos convênios inadimplentes ou impugnados contidos no porta da transparência

Natal 2015

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LUCIANA MATIAS DE SOUZA

TERCEIRO SETOR: uma análise dos convênios inadimplentes ou impugnados contidos no portal da transparência.

Monografia apresentada ao curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, como pré-requisito à obtenção do grau de Bacharel em Ciências Contábeis.

Orientadora: Profª. Ma. Maria Aparecida do Nascimento Cavalcanti

Natal 2015

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LUCIANA MATIAS DE SOUZA

TERCEIRO SETOR: uma análise dos convênios inadimplentes ou impugnados contidos no portal da transparência

Trabalho de Monografia apresentada ao curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como pré-requisito para obtenção do grau de Bacharel:

COMISSÃO EXAMINADORA

________________________________________________ Profª. Ma. Maria Aparecida do Nascimento Cavalcanti

Orientadora

_______________________________________________ Profa. Ma. Lis Daiana Bessa Taveira

Membro avaliador

_________________________________________________ Prof. Me. Marke Geisy da Silva Dantas

Membro avaliador

Aprovado em: 23 de junho de 2015

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Aprender é a única coisa de que a mente

nunca se cansa, nunca tem medo e nunca

se arrepende.

Leonardo da Vinci (1452-1519)

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a DEUS, inicialmente, origem de tudo e guia de nossas vidas.

No âmbito familiar, agradeço, em especial, a minha mãe, Lúcia, pela estrutura

familiar disponibilizada, amor, paciência e educação que sempre me proporcionou; e

a todos os meus familiares pelos momentos de descontração e alegria.

Agradeço ao meu esposo, Tiago, pelo amor, carinho, dedicação, incentivo e

compreensão, não só durante nossa convivência até o momento, como

especificamente durante a realização do curso.

Agradeço ao corpo docente do curso, em especial as professoras Maria

Aparecida do Nascimento Cavalcanti e Gilmara Mendes da Costa Borges, por terem

contribuído intelectualmente com a realização deste trabalho.

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo central o debate acerca da inadimplência e

impugnação de convênios firmados entre entidades sem fins lucrativos do terceiro

setor e administração pública federal, sobretudo, àqueles relacionados aos

Ministérios da Educação, Saúde e Desenvolvimento Social e Combate à Fome. A

justificativa para a escolha do tema consiste em sua contemporaneidade, bem como

na expectativa de contribuir para o âmbito acadêmico. A metodologia de pesquisa

empreendida segue natureza qualitativa, com pesquisa do tipo descritiva na qual se

utilizou do método de análise de conteúdo, permitindo identificar as variáveis que

envolvem um processo de impugnação. Desse modo, foi possível verificar que os

processos, em sua maioria, constam da lista de inadimplentes por falha na

prestação de contas e ainda que o órgão com maior volume de convênios

impugnados é o Ministério da Saúde. Observou-se ainda que há grande volume de

recursos vinculados à região norte, sobretudo nos estados da Amazônia e Roraima.

Entende-se que a finalidade das entidades beneficiadas com esses convênios é

comprometida, uma vez que elas são listadas como inadimplentes perante a

Controladoria Geral da União, o que as impossibilita de firmar novos convênios e

receber repasse de verbas públicas. Novos estudos devem ser realizados, a fim de

dar maior aprofundamento ao tema, buscando, por exemplo, as dificuldades

encontradas por essas entidades em atender as exigências dos órgãos

financiadores.

Palavras-chave: Terceiro Setor. Convênios. Poder Público. Entidades Sem Fins

Lucrativos.

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ABSTRACT

This work was aimed at the debate about the default and appeal of agreements

signed between nonprofits third sector and federal government, especially those

related to the Ministries of Education, Health and Social Development and Hunger

Alleviation. The rationale for the choice of subject lies in its contemporary and hoping

to contribute to the academic environment. The research methodology undertaken

following qualitative with descriptive research in which it was used content analysis

method, allowing to identify the variables that involve a challenge process. Thus, it

found that the processes, mostly contained in the default list for failure accountability

and although the body with higher volume of disputed agreements is the Ministry of

Health. It was also noted that there is great volume features linked to the northern

region, particularly in the states of Amazonia and Roraima. It is understood that the

purpose of the organizations benefiting from these agreements is compromised,

since they are listed as delinquent before the Comptroller General of the Union, that

makes it impossible to enter into new agreements and receive transfer of public

funds. Further studies should be conducted in order to give greater depth to the

subject, seeking, for example, the difficulties encountered by these entities meet the

requirements of funding agencies.

Key words: Third Sector. Covenants. Public Power. Nonprofits

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Classificação Internacional de Organizações Sem Fins Lucrativos.. 18

Quadro 2 – Diferenças entre Fundação e Associação ........................................ 22

Quadro 3 – Instrumentos utilizados na execução de transferências de recursos

da União............................................................................................ 31

Quadro 4 – Normas Regulamentadoras de celebração de convênios, contratos

de repasse ou termos de parceria e transferência de recursos........ 33

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Relação de Estado com quantidade de convênio ................................... 36

Figura 2 – Volume de recursos por Estado .............................................................. 37

Figura 3 – Convênios inadimplentes segundo o Órgão Concedente ....................... 37

Figura 4 – Volume de recursos por Órgão Concedente ........................................... 39

Figura 5 – Convênios inadimplentes com relação ao motivo do impedimento ........ 39

Figura 6 – Volume de recurso por Motivo do Impedimento ...................................... 40

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Comparação volume de recursos, quantidade de convênios e região....40

Tabela 2 – Comparação Valor do convênio e Valor da contrapartida .......................41

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 12

1.1 Objetivos .............................................................................................. 15

1.1.1 Objetivo Geral ....................................................................................... 15

1.1.2 Objetivos Específicos ............................................................................ 15

1.2 Justificativa ........................................................................................... 15

1.3 Estrutura do tabalho............................................................................... 16

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................ 17

2.1 Formação Conceitual do Terceiro Setor no Brasil …............................ 17

2.2.1 Associações .......................................................................................... 20

2.2.2 Fundações ............................................................................................ 21

2.3 Instrumentos de Transferências de Recursos ...................................... 22

2.3.1 Convênios, Contratos de repasse e termos de parceria ...................... 23

2.4 Gestão Social e Terceiro Setor ............................................................ 25

2.5 Ferramentas de Controle ..................................................................... 30

3 METODOLOGIA ................................................................................... 34

3.1 Tipologia da Pesquisa .......................................................................... 34

3.2 População e Amostra ........................................................................... 35

4 ANÁLISE DOS DADOS......................................................................... 42

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 42

REFERÊNCIAS .................................................................................... 43

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1 INTRODUÇÃO

A sociedade civil é composta por três setores, o Primeiro Setor é

representado pelo Governo/setor público, emprega bens públicos para fins públicos,

responsável pelas questões sociais e o Segundo Setor está representado pelas

empresas com fins lucrativos, ou seja, empresas privadas com atividades lucrativas.

Terceiro Setor surgiu diante da carência do Poder Público em atender

questões culturais, científicas, filantrópicas, ambientais, entre outras, contribuindo

para chegar a locais onde o Estado não consegue, possuindo um papel fundamental

na sociedade. É constituído por organizações sem fins lucrativos e não

governamentais, fundações e institutos empresariais, associações comunitárias,

entidades assistenciais e filantrópicas; assim como várias outras instituições sem

fins lucrativos.

Diante desse cenário, uma sistemática estatal mais colaborativa passa a

ganhar destaque, um Estado fomentador, que vai a busca de parcerias a fim de

realizar suas competências públicas, fazendo com que as entidades do terceiro setor

sejam coparceiras na disseminação das políticas públicas assistenciais garantidas

na Constituição de 1988.

Com isso há, cada vez mais, crescimento das entidades sem fins lucrativos e

seu maior reconhecimento por parte do Governo, exigindo uma maior preocupação

em relação ao seu controle e gestão, tendo em vista que para que haja a

continuidade da organização é necessário que a mesma obedeça aos aspectos

legais que a regem.

Alguns fatores colaboraram para o crescimento do terceiro setor, como: maior

conscientização da sociedade em geral em relação aos problemas sociais e a

importância do papel que desenvolvem as entidades sem fins lucrativos, maior apoio

da mídia a essas organizações, a crise do setor público e o reconhecimento por

parte do Governo da importância dessas entidades, maior participação das

empresas nas causas sociais, etc.

Diante disso e com o intuito de reconhecer as ações relevantes que precisam

ser prestadas de maneira cotidiana à sociedade através do terceiro setor, existe uma

quantidade significante de dispositivos legais no Brasil que tratam do tema. Dentre

eles, pode-se considerar que existem regulamentações legais específicas que

concedem uma série de imunidades ou isenções tributárias e previdenciárias,

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possibilitando que as entidades sem fins lucrativos sejam beneficiadas por repasses

públicos.

Mesmo sendo criadas com objetivos sociais destinados a sociedades em

geral, muitas entidades sem fins lucrativos têm sua credibilidade questionada, no

que diz respeito às suas receitas, como são aplicadas e a forma como são

controladas e registradas.

Elemento importante nesta questão é o Cadastro de Entidades Privadas Sem

Fins Lucrativos Impedidas (CEPIM), regulado por meio do Decreto nº 7.592/11, o

qual foi implantado como forma de aperfeiçoamento de ferramentas anteriores,

consiste em um banco de informações que é mantido pela Controladoria Geral da

União, atualizado periodicamente, com a finalidade de consolidar a relação das

entidades privadas sem fins lucrativos que se encontram impossibilitadas de

celebrar convênios, contratos de repasse ou termos de parceria com a

administração pública federal, bem como também não podem receber transferências

de recursos

Estas ações visam principalmente a divulgação dos números envolvidos

nestas entidades, sejam quantitativos ou qualitativos e servem também para dar

mais transparência na verificação dos recursos aportados. Apesar do grande avanço

dado no processo de prestação de contas ainda é constante a busca por

mecanismos que possam servir de controle de eficácia da aplicação desses

recursos repassados para estas instituições.

Apesar da criação de regulamentações que possibilitem ao Estado um maior

controle e transparência da utilização dos recursos repassados a estas

organizações, verifica-se que estas iniciativas ainda não são suficientemente

eficazes para evitar o uso indevido de tais recursos, tendo em vista o grande número

de entidades que não prestam contas corretamente dos valores aportados pelos

órgãos governamentais.

Contudo, não é incomum que o poder público passe a notar irregularidades

praticadas no terceiro setor, como o desvio de verbas, descumprimento de

finalidades, etc. Assim, a partir de 2013 foi decretado pela presidência da república a

divulgação da listagem das entidades que possuíam alguma irregularidade e que,

portanto, se encontrariam inaptas para a celebração de convênios com órgãos

públicos, bem como seriam impossibilitadas de receber o repasse de verbas dos

mesmos.

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Dessa forma, a partir de 31 de janeiro de 2013, todas as entidades privadas

sem fins lucrativos cujos convênios, contratos de repasse ou termos de parceria

passaram a constar como inadimplentes ou impugnados no Sistema de Convênios

(SICONV) e no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal

(SIAFI) sendo, devidamente, inseridas no Cadastro de Entidades Privadas Sem Fins

Lucrativos Impedidas (CEPIM). Essas medidas de controle foram adotadas pelo

Estado como forma de dar transparência aos valores e uso dos recursos aportados.

Para tanto, esta pesquisa tem por objetivo uma breve reflexão sobre Terceiro

Setor, mais especificamente, responder a seguinte problemática: Qual o perfil dos

convênios impugnados ou inadimplentes firmados entre entidades sem fins

lucrativos e administração pública federal?

1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo Geral

O presente trabalho objetiva analisar o perfil dos convênios impugnados ou

inadimplentes firmados entre entidades sem fins lucrativos e administração pública

federal.

1.2.1 Objetivos Específicos

Para se atender o objetivo geral abordado, faz-se necessário atingir os

seguintes objetivos específicos:

Identificar os mecanismos legais que tratam das exigências de prestação de

contas das entidades sem fins lucrativos;

Verificar as fontes de financiamentos dos convênios inadimplentes.

Analisar as características dos convênios inadimplentes ou impugnadas no

SICONV e SIAFI.

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1.2 Justificativa

Estudos voltados para o terceiro setor têm demandado interesse nos últimos

anos (GUSMÃO, 2005; LUCA, 2008; WETZEL, 2010; ASFORA, 2012;

FERNANDES, 2012; ARAUJO, 2013). Seja no tocante a contribuição e

representatividade deste na sociedade seja, de maneira mais particular, buscando

comparar as características das entidades que o compõem com as demais

instituições que fazem parte do setor econômico do país.

Pesquisas recentes, na área de contabilidade têm buscado analisar as

características das prestações de contas dessas entidades, sobretudo no tocante ao

atendimento às exigências legais. No entanto, alguns resultados demonstram que

mesmo havendo exigência legal, muitas entidades não têm apresentado sua

prestação de contas de forma íntegra e tempestiva (AMARAL, 2006; SILVA, 2007;

OLIVEIRA, 2009; OLIVEIRA; DURÃS, 2014; FIGUEIRÔA, 2013).

Assim, ao não atender as exigências de accontability, as entidades do terceiro

setor, sobretudo aquelas que transacionam com o setor público, podem vir a sofrer

sanções previstas na legislação vigente. Dentre essas punições está prevista a

interrupção de repasses de recursos públicos para a entidade, o que pode

comprometer a continuidade de muitas organizações, sobretudo, aquelas que

mantêm maior dependência desses recursos.

Dessa forma, é importante montar um cenário onde seja possível analisar o

motivo que levam as entidades não prestarem contas ou as demais circunstâncias

que as caracterize com inadimplentes perante aos órgãos de controle e fiscalização.

Nesse sentido, o presente trabalho se justifica por buscar analisar o perfil dos

convênios firmados entre entidades sem fins lucrativos com entes públicos,

constantes do cadastro do SICONV e SIAFI. Ao levantar preliminarmente as

características desses convênios, o trabalho visa contribuir com futuras discussões

acerca dos motivos que levam os órgãos de controles a impugnar determinadas

prestações de contas.

Ademais, as pesquisas sobre prestações de contas, embora recorrentes, não

têm buscado traçar um perfil desses convênios. Sendo necessário conhecer sua

estrutura financeira, fontes de financiamentos, volume e destinação de recursos

entre outras, para assim, se buscar meios de aperfeiçoar o uso dos recursos

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públicos e quem sabe direcionar para aquelas como maior capacidade de

gerenciamento.

1.3 Estrutura do trabalho

Este trabalho está disposto em cinco capítulos. Contendo, inicialmente, a

parte introdutória, a qual contempla uma contextualização, apresentação do

problema e dos objetivos, e justificativa para o estudo, além deste tópico com a

estrutura geral do trabalho.

Os capítulos seguintes compreendem o referencial teórico, o qual foi

desenvolvido de forma a apresentar a revisão da literatura sobre as temáticas

consideradas pertinentes à proposta do estudo. A metodologia do estudo, onde são

descritos o universo e amostra da pesquisa, o procedimento de coleta de dados e o

método empregado para a consecução dos objetivos.

Por fim, apresenta-se a análise e a discussão dos resultados, além das

considerações finais, onde são apresentados os resultados da pesquisa e as

sugestões para trabalhos futuros.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O seguinte capítulo apresenta a revisão da literatura pertinente e necessária

ao desenvolvimento do trabalho. Nele serão expostos os seguintes tópicos:

Formação conceitual do Terceiro Setor no Brasil; Natureza Jurídica das

organizações do Terceiro Setor; Instrumentos de transferências de recursos;

Gestão Social e Terceiro Setor; Ferramentas de controle.

2.1 Formação conceitual do terceiro setor no Brasil

O Terceiro Setor não é propriamente um conceito ou uma realidade nova,

como bem explorado por Salamon (1998, p. 10). Segundo o autor, a atividade

filantrópica tem origens históricas mais antigas em lugares como a China e o Japão,

bem como na Europa Ocidental, que é algo anterior ao regime comunista. No Brasil

a atividade do Terceiro Setor tem origem nos movimentos religiosos e as questões

do seu desenvolvimento e identidade normalmente possuem associações com a

dinâmica do Estado brasileiro.

O Terceiro Setor pode ser definido de várias formas, mas a melhor forma de

começar a fazê-lo é registrar que sua principal característica distintiva talvez seja a

singularidade. Existe uma variedade muito grande destas organizações, assim

como, uma enorme variedade de conceitos, que serão aqui apresentados.

O termo terceiro setor, na visão de Hudson (2002), trata de todas as

organizações que se fundamentam em um objetivo social em vez da geração de

lucro, que são independentes do Estado, e que passam a reinvestir todo seu saldo

financeiro nos serviços que oferecem ou na própria organização.

O Terceiro Setor pode ser conceituado ainda como sendo “o conjunto de

organismos, organizações ou instituições dotadas de autonomia e administração

própria que apresentam como função e objetivo principal atuar voluntariamente

junto à sociedade civil visando seu aperfeiçoamento” (PAES, 2001).

Já alguns autores, defendem a formatação do conceito a partir da exclusão,

uma vez que não se trata nem de uma organização governamental, nem de

interesse privado. Mauro e Naves (1999) definem o Terceiro Setor como um

“autêntico terceiro pilar” que lida com atividades espontâneas não governamentais e

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não lucrativas, que podem ou não receber colaboração dos outros setores, mas que

tem por fundamento a realização do benefício geral da sociedade.

Quanto à tentativa de classificação e mapeamento do setor, nem sempre há

um consenso, mas a principal fonte de orientação às classificações em geral é a

International Classification of Nonprofit Organizations (ICNPO) (Classificação

Internacional das Organizações Não Lucrativas). De acordo com Lopes (2005), foi

um trabalho desenvolvido com a participação do Departamento de Estatística da

ONU e do Centro de Estudos da Sociedade Civil da Universidade John Hopkins, a

fim de identificar a atuação do terceiro setor no contexto dos países.

A ICNPO organiza a diversidade das organizações em grupos e subgrupos,

conforme área de atuação e atividade desenvolvida tem uma classificação,

originalmente, composta por doze grupos que foi expandida para dezesseis. No

Quadro 1 consta adaptação da ICNPO elaborada pelo Diagnóstico do Terceiro

Setor de Belo Horizonte (CAOTS, 2006), a qual é utilizada internacionalmente.

Quadro 1 – Classificação Internacional de Organizações Sem Fins Lucrativos

(continua) Grupo 1 Cultura Grupo 8 Desenvolvimento e Habilitação

11 cultura e artes

81 desenvolvimento econômico, social e

Comunitário

Grupo 2 Comunicação e Mídia

82 habitação

21 comunicação e mídia

Grupo 9 Emprego e Capacitação

Grupo 3 Esporte e lazer

91 emprego e capacitação

31 lazer e recreação

32 clubes de serviços Grupo 10 Defesa de Direitaos e Atuação Política

101 entidades de defesa de direitos civis

Grupo 4 Educação e Pesquisa

102 serviços jurídicos e de proteção legal

41 educação de 1° e 2° graus

103 entidades de atuação política

42 educação superior

43 educação alternativa e de adultos Grupo 11 Intermediários Filantrópicos e Promoção de

44 organizações de apoio a instituições de

Voluntariado

ensino superior

111 intermediários filantrópicos

45 outras instituições de educação

112 promoção de voluntariado

46 pesquisa

Grupo 12 Atividades Internacionais

Grupo 5 Saúde

121 atividades internacionais

51 hospitais e reabilitação

52 sanatórios Grupo 13 Religião

53 casas de repouso e de saúde

131 associações, congregações e organizações

54 saúde mental e pronto-socorro psiquiátrico

Religiosas

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Grupo 6 Serviços Sociais Grupo 14 Sindicatos e Associações Profissionais de

61 assistência social

Empregadores, de Empregados e de Autônomos

62 emergências

141 associações e sindicatos profissionais

63 geração e manutenção de renda

142 associações de negócios

Grupo 7 Meio Ambiente e Animais Grupo 15 Organizações de Benefícios Mútuos

71 meio ambiente

151 entidades de previdência privada

72 animais

73 nutrição, alimentos e agricultura Grupo 16 Outros

Fonte: Adaptado de CAOTS (2006, p. 57-59)

Esta classificação tem sido adotada em diversos estudos com o propósito de

gerar dados comparáveis (IBGE, 2002; 2005).

O conceito de Terceiro Setor não está avesso às criticas, muito pelo contrário

um dos mais citados autores que vem a fazer contradição aos conceitos atribuídos

ao tema, está na figura de Montaño, que apresenta quatro debilidades para esse

conjunto de conceitos.

A primeira delas está na origem do próprio termo, quando se suscita se seria

ele mesmo o “terceiro setor”. Para Montaño (2007), o termo teria vindo para elucidar

a dicotomia do que seria público e do que seria privado, no entanto se

consideramos o Terceiro Setor como a parcela que cabe a sociedade civil,

historicamente ele deveria apresentar-se como primeiro. A segunda fragilidade

aponta a definição (ou a não definição) dos grupos que compõem o setor, pois não

é possível ainda chegar a um acordo sobre quais entidades – privadas, não

governamentais, sem fins lucrativos, autogovernadas, de associação voluntária, etc.

– verdadeiramente, participam do mesmo.

A terceira crítica é feita quanto à forma como é apresentado pelo próprio

conceito de Terceiro Setor, pois ele antes de esclarecer vem a confundir, pois ao

invés de focar em um único “setor” da sociedade, mixa diversos sujeitos, que se

apresentam como contrários e contraditórios a si mesmos – como organizações de

cunho formal e informal, voluntárias e individuais, etc.

Como quarta debilidade conceitual, traz a questão do caráter não

governamental, autogovernado e não lucrativo, que não parece caracterizar

legitimamente a generalidade dessas entidades, já que existem parcerias e

terceirizações condicionadas por políticas de governo. Além disso, o caráter de não

lucratividade não se verifica, já que estas entidades acabam se beneficiando com

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isenção de impostos, melhoria de imagem e propaganda, ou seja, existe o fim

lucrativo, mesmo que indireto, segundo o pensamento do citado autor.

Logo após sua apresentação do que seriam as debilidades do conceito de

Terceiro Setor, Montaño (2007, p. 58-59), explica que este não reúne em si, o

mínimo consenso sobre sua origem, composição ou características, o que apenas

torna-o um conceito ideológico em vez de algo concreto.

Apesar de todos os conceitos aparentarem dividir o mesmo cerne filosófico,

ou seja, a definição do setor como sendo não governamental, autogovernado e não

lucrativo, considera-se que a grande dificuldade está em aplicar conceitos aqui

apresentado, uma vez que algumas organizações acabam por se aproximarem mais

do governo, enquanto outras pendem para o mercado. Isso nos leva a concluir que

a multiplicidade dos conceitos só acontece por conta da multiplicidade de

organizações que vêm compor o setor.

2.2 Natureza jurídica das organizações do terceiro setor

A natureza jurídica das organizações do Terceiro Setor encontra-se no

Código Civil (BRASIL, 2002), onde relaciona as pessoas jurídicas de direito privado

como sendo as associações, as fundações, as organizações religiosas e os partidos

políticos:

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:

I – as associações;

II – as sociedades;

III – as fundações;

IV – as organizações religiosas;

V – os partidos políticos.

2.2.1 Associações

Segundo o art. 5º, da XVII a XXI, da Constituição Federal, de 1988, promulga

validade às associações com fins lícitos, sem que haja a intervenção do Estado para

possibilitar ou validar seu funcionamento.

O Código Civil, em seus arts. 53 a 61, traz regulamentação que deve ser

aplicada às pessoas jurídicas de direito privado que se caracterizam como

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associações, entendem-se que a constituição jurídica destas se dá pela união de

indivíduos que devem se organizar para finalidades não econômicas

Em primeira instância, o grupo de interesse na constituição de uma

associação e demais indivíduos alinhados à causa devem convocar, por meio de

todos os veículos disponíveis, tais como correspondências, telefonemas, mensagens

eletrônicas, etc., reunião a fim de debater necessidades ou não na constituição de

uma pessoa jurídica, missão, objetivos, etc.

Sendo assim, uma associação civil se constitui então por meio de uma

assembleia geral, que consiste em uma reunião de pessoas para uma finalidade

determinada, que seria, neste caso a constituição da dita associação. Deste modo,

os participantes desta assembleia serão configurados então como os membros

fundadores da associação.

2.2.2 Fundações

São organizações sem fins lucrativos, as quais podem ser públicas ou privadas.

São instituídas a partir da destinação de um patrimônio com a finalidade de servir a

uma causa. Não é necessária a reunião de várias pessoas para constituí-la, como

no caso das associações. No caso das fundações públicas estas são entidades de

personalidade jurídica de direito público, sem fins lucrativos, criadas por autorização

legislativa para o desenvolvimento de atividades de interesse público (educação,

cultura e pesquisa, entre outras). Para fins deste guia são abordadas somente as

fundações privadas.

A fundação privada consiste em uma pessoa jurídica que é constituída por

meio de um patrimônio destinado por uma pessoa que pode ser física ou jurídica de

direito privado, para que sua finalidade seja social e determinada.

O código civil e também o código de processo civil doutrinam sobre a criação

da fundação, que deve se dar sempre de maneira decorrente da iniciativa de quem

lhe instituiu, podendo ser concebida de dois modos: por escritura pública ou por

testamento.

Em tais documentos deve estar descrita a dotação de bens livres,

especificando e clarificando quais seriam as finalidades destinadas a estes e, como

item opcional, um modo em que se dê sua gestão. A constituição da fundação

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somente poderá voltar-se às finalidades de cunho religioso, moral, cultural ou

assistencial.

Assim, é possível determinar ainda a existência de algumas distinções

básicas entre fundação e associação, que são demonstradas conforme o Quadro 2.:

Quadro 2 – Diferenças entre fundação e associação

FUNDAÇÃO ASSOCIAÇÃO

Fundamentação legal contida nos artigos 62 a 69 do Código Civil.

Normas legais embasadas nos artigos 44 a 61 do Código Civil.

Instituída por meio de escritura pública ou testamento. Seu estatuto e demais atos constitutivos estão condicionados à prévia aprovação do Ministério Público.

Estabelecida em decisão de Assembleia Geral, transcrita em ata própria com elaboração de Estatuto.

Existência de patrimônio doado à entidade pelos instituidores, com aprovação do Ministério Público, é condição essencial para sua criação.

É constituída por pessoas, facultada a existência de patrimônio, para sua criação.

Finalidade perene, de natureza religiosa, moral, cultural ou de assistência, indicadas pelo instituidor.

A finalidade é pré-estabelecida pelos sócios fundadores e pode ser alterada.

Registros legais e formas de administração mais burocratizadas.

Registros legais e formas de administração mais simplificadas.

As normas utilizadas pelo instituidor e fiscalizadas pelo Ministério Público

Associados deliberam livremente quanto à gestão da entidade.

Fonte: TCU, 2012, p. 10

2.3 Instrumentos de transferências de recursos

O financiamento público de uma instituição do terceiro setor pode ocorrer de

duas maneiras: diretamente, por meio de transferências orçamentárias; e,

indiretamente, por meio de incentivos fiscais e renúncias tributárias. Com o objetivo

de operacionalizar e formalizar as transferências, são utilizados quatro tipos de

instrumentos jurídicos, citados por Carvalho Neto (2008, p. 11) em seu estudo:

convênios, contratos de repasse, termos de parceria e contratos de gestão. A

comprovação da regular aplicação dos recursos transferidos deve ser feita perante o

órgão ou a entidade que repassou os recursos.

2.3.1 Convênios, contratos de repasse e termos de parceria

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Os convênios são caracterizados como uma das alternativas mais tradicionais

para que a sociedade civil participe na execução das atividades públicas.

Rossi e Castro Junior (2006) explicam que o convênio trata-se de uma

ferramenta de cooperação onde existem interesses convergentes, uma vez que

todos os componentes são direcionados a um mesmo propósito, o de servir ao

interesse público.

Deste modo, prosseguem os autores que o mesmo pode ser firmado entre

entidades públicas, envolvendo ainda pessoas jurídicas de direito privado – terceiro

setor, e se apresentando como uma das mais comuns maneiras de assegurar a

participação da sociedade civil no empreendimento de atividades públicas.

Sendo assim, o convênio é o modo que pelo qual ocorre, de maneira efetiva,

o repasse dos recursos financeiros a fim de auxiliar as ações públicas que são

desenvolvidas em integração, de modo que o texto constitucional, nos mais diversos

dispositivos, determina a adoção desta ferramenta e colaboração.

De acordo com o Decreto nº 8.180/13, contrato de repasse é instrumento

administrativo, de interesse recíproco, por meio do qual a transferência dos recursos

financeiros se processa por intermédio de instituição ou agente financeiro público

federal, que atua como mandatário da União.

Segundo Di Pietro (2002) com a utilização dos contratos administrativos como

forma de repasse, com a dispensa de licitação, é preciso que o administrador

mantenha total atenção, por conta da necessidade de um controle rigoroso sobre

interesses que podem divergir entre as partes, tal como os que foram pactuados em

cláusulas de convênios. Algumas das divergências que o autor aponta são:

Em contrato os interesses podem ser opostos e contraditórios ao passo que

no convênio tendem a ser recíprocos. O autor exemplifica como o contrato de

compra e venda, quando o vendedor tem a intenção de alienar o bem a fim de

angariar o melhor valor, ao passo que o comprador deseja adquiri o bem pagando o

menor valor possível. No convênio, por sua vez todos os participantes envolvidos

desejam a mesma coisa.

Entes conveniados mantêm objetivos institucionais comuns e sua reunião por

meio do convênio acontece com a finalidade de atingi-los. Tal como uma

universidade pública, que tem como objetivo o ensino, pesquisa e prestação de

serviços, celebra um convênio com entidade pública ou privada a fim de realizar um

estudo, um interesse que tange ambas as partes;

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No convênio os partícipes têm como objetivo obter resultados comuns, isto é,

qualquer finalidade que desejam terá como resultado um bem ou serviço que

favorecerá todos os envolvidos, fator que não é atribuído ao contrato;

Ainda no convênio é possível notar que a colaboração é um elemento mútuo,

podendo assumir uma série de formas, tal como o repasse de verbas, utilização de

equipamentos, recursos humanos, etc. Assim, no convênio não se cogita o preço ou

remuneração, constituindo uma cláusula clara nos contratos;

Tal diferença ainda culmina em outra, quando trata-se do contrato o valor

pago para remuneração integra o patrimônio da entidade, tornando-se irrelevante

para o repassador com a utilização que seria feita do mesmo. Ao passo que no

convênio, uma vez que o conveniado recebe o valor, o mesmo torna-se vinculado à

utilização prevista no ajuste, de modo que se um sujeito particular recebe verbas

públicas por conta do convênio, tal valor não perde a natureza de dinheiro público,

somente podendo ser utilizado para as finalidades do convênio;

Nos contratos, fica exposto que vontades se opõem, porém, não se agregam,

contudo, destas culminam a terceira espécie, tal como vontade contratual, resultante

e não soma, de modo que os convênios, assim como consórcios, bem como

vontades se agregam, atuam de maneira paralela, a fim de atingir interesses e

objetivos comuns.

Regulamentado pelo Decreto Federal n° 3.100/99, alterado pelo Decreto

Federal nº 7.568, de 16/09/2011, O Termo de Parceria reúne características dos

Contratos e Convênios tradicionais. Tem efeito jurídico similar ao Contrato de

Gestão, definido na Lei Federal n° 9.637, de 15/05/98.

É nesse documento que deverão constar os objetivos, indicadores, metas e

demais informações referentes ao planejamento e que servirão de subsídios para as

atividades de controle. Previsto no art. 9° da Lei federal n. 9.790/99, o termo de

parceria é um “instrumento passível de ser firmado entre o Poder Público e as

entidades qualificadas como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público

destinado à formação de vínculo de cooperação entre as partes, para o fomento e a

execução das atividades de interesse público previstas no art. 3º desta Lei.”.

Contudo, a partir de 27 de julho de 2015 entrará em vigor A Lei federal n.

13.019, de 31 de julho de 2014 que ficou conhecida como “Marco Regulatório das

Organizações da Sociedade Civil”, a qual criou dois novos modelos de parceria entre

o Estado e as entidades do terceiro setor: o ‘Termo de Colaboração’ e o ‘Termo de

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Fomento’. Essas duas modalidades de parceira foram criadas para substituir os

convênios, que a passarão a ser usados apenas em parcerias celebradas entre duas

ou mais entidades públicas, sendo estes os novos instrumentos jurídicos que

permite o repasse de subvenções para as entidades sem fins lucrativos.

Com a entrada em vigência da nova lei, passam a existir no Brasil as

seguintes modalidades de parceria entre a Administração Pública e o terceiro setor:

Contratos de Gestão, Termos de Parceria, Termos de Colaboração e Termos

Fomento.

2.4 Gestão social e terceiro setor

O tema da gestão social tem sido alvo de constantes estudos, com o intuído

de evidenciar a importância das questões sociais para o Estado, principalmente no

que se refere à forma de formular a implementação das políticas públicas. Na

concepção de Tenório (1998), a definição para gestão social está ligada a presença

do Estado focada aos cidadãos por meio das políticas sociais, como participante no

processo de elaboração dessas políticas.

Para Botrel, Araújo e Pereira (2010), a gestão social se desenvolve no âmbito

da esfera pública, na qual se sobressaem as organizações públicas não estatais e o

interesse público da sociedade, além de proporcionar condições à emancipação dos

indivíduos, baseando-se na democracia deliberativa, na formação da consciência

crítica de seres humanos dotados de razão.

No entanto, ocorre que o tema da gestão social não pode ser reduzido à

simples associação à gestão de políticas sociais, indo além ao discutir aspectos que

possibilitam uma gestão democrática e participativa na formulação das políticas

públicas (TENÓRIO, 2008).

Assim, nota-se que:

[...] pensar em gestão social é pensar além da gestão de políticas públicas, mas sim estabelecer as articulações entre ações de intervenção e de transformação do campo social, que é uma noção mais ampla, e que não se restringe à esfera público-governamental, como vemos a exemplos das ações de responsabilidade social e do crescimento do terceiro setor. (GOMES et al., 2008, p. 59).

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Nota-se que a gestão social tem o condão de buscar uma aproximação entre

a administração pública e a comunidade, inserindo, interesses uníssonos

aprimorados e aprofundados através de avanços democráticos significativos,

contribuindo para a consolidação dos princípios constitucionais estabelecidos pela

constituição cidadã de 1988, garantidora e protetora dos direitos do povo.

O terceiro setor tem gerado diversas discussões a respeito de suas práticas e

de seu papel na sociedade, muitas vezes divergentes no que tange à satisfação das

necessidades da população, que por sua vez, podem não ser contempladas pelo

Estado ou pelo mercado. De acordo com Barros e Santos (2010), não é difícil

perceber a disseminação de organizações que se voltam a variados campos da vida

humana associada, seja dedicando-se à atividade solidária produtiva, seja em

atividades filantrópicas ou de caridade.

Durante algum tempo o termo administração não era utilizado quando se fazia

referência às organizações do terceiro setor, segundo Hudson (2002) isso se deu

por volta da década de 1970. Fez-se necessária uma adaptação, quando essas

organizações passaram a se mostrar mais “profissionais”, no entanto essas práticas

de cunho profissional não podem ser impostas, ao contrário, se faz necessária à

observação das nuances que distinguem essas organizações, ditas de terceiro setor.

É a partir dos estudos de Guerreiro Ramos no ano de 1983, que Serva (1997)

faz uma separação entre a racionalidade instrumental, voltada a maximização dos

recursos e lucros, ao cálculo, ao desempenho e ao êxito dos resultados (finais),

entre outros elementos mensuráveis da administração; e, a racionalidade

substantiva, está voltada ao entendimento, aos valores, a autorrealização e a

autonomia, todos os elementos ligados à ética e definidores do indivíduo. Diante

desses antagonismos, torna-se necessária a existência de organizações que

proporcionem aos indivíduos condições de assumirem a direção de suas vidas

(BARROS, SANTOS, 2010).

Como dito por Hartley (2004), compreender a natureza de um fenômeno e

suas especificidades passa pela apreensão do seu contexto. Assim, parte de uma

abordagem teórico-empírica fundamentada em estudos acerca da origem do

terceiro setor, bem como da sua conceituação e manifestação além, de apresentar

elementos da racionalidade instrumental e substantiva como forma a elucidar e

justificar as ações da entidade observada pela pesquisa.

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Como explica Salamon (2003) o cenário altamente competitivo e globalizado

contemporâneo, demanda das empresas privadas outros tipos de atitudes e

posturas que vão além do mero lucro, exigindo destas uma necessidade de

demonstrar uma responsabilidade social mais elevada, assim como as OSFL’s

(Organizações Sem Fins Lucrativos), reconhecem que necessitam de

competitividade em seus processos gerenciais.

Mark (2002) por sua vez, ressalta que gestores passam a lançar sobre o

mercado uma ótica inovadora, que permite enxergar tal tendência, considerando

ainda suas empresas de maneira que ultrapassem os limites setoriais, visando na

colaboração, à alternativa ideal de fomentar aprendizado organizacional e ainda

abarcar vantagens competitivas através do compartilhamento de esforços.

Austin (2001) acredita que é preciso ainda considerar que esforços políticos

que se apresentam quando se repensa sua representação, e ainda da importância

de governos para as empresas privadas, é possível notar que não existe mais a

possibilidade de delegar somente ao Estado a total responsabilidade sobre o terceiro

setor.

O autor alega que isto por conta de forças econômicas, que encontram cada

vez mais OSFL’s em busca de recursos econômicos por parte do governo e os

encontram cada vez mais limitados, ao passo que enxergam na cooperação de

empresas privadas, um suprimento de renda para suas demandas.

Austin (2001) ressalta ainda as forças sociais, que se compõem pela

sociedade, uma vez que esta passa a notar a amplitude dos problemas sociais que

enfrenta, bem como que estes chegam a suprimir as capacidades das instituições e

da economia das organizações, com e sem fins lucrativos que, isoladamente

encontram dificuldades em lidar com estes.

Sagawa (2000) explica que tanto para as empresas privadas quanto para o

terceiro setor, as ações cooperativas podem oferecer inúmeros benefícios. O autor

lembra que o relacionamento, contudo, somente será possível quando parte dos

dois lados o reconhecimento sobre suas necessidades e o modo como as mesmas

podem ser atendidas com a firmação do vínculo.

Austin (2001) enfatiza um potencial lucrativo quando se refere à cooperação

entre empreendimentos de natureza lucrativa e não lucrativa, informando que estes

podem construir vantagens que ultrapassam objetivos tangíveis que foram

estabelecidos de maneira individual por cada um.

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Fischer (2002) explica que o firmamento de relações intersetoriais podem

suprir às necessidades de ambas as partes, especialmente das empresas privadas,

no sentido de ampliar e solidificar suas funções e medidas relacionadas à

responsabilidade social, onde os valores intangíveis, tal como o capital social, os

padrões éticos e a cultura, tornam-se relevantes para a avaliação do desempenho

organizacional.

Em publicação do Tribunal de Contas da União (TCU, 2012) o terceiro setor

passa a ser conceituado como uma expressão de linguagem que se traduz do

idioma inglês, vindo de Third Sector, de origem norte-americana, sendo utilizada

junto ao enunciado “Non profit organization”, sendo que a tradução final constitui em

“Terceiro Setor – Organizações Sem Fins Lucrativos”.

Ainda segundo a publicação, para definir o terceiro setor é possível identificá-

lo como uma área pertencente e relacionada à resolução de questões de cunho

social, ao passo que o primeiro setor figura como o governo, que por sua vez

representa do Estado; o segundo setor que se representa por meio do setor privado,

onde a responsabilidade administrativa paira sobre os meios produtivos e zela por

desejos e demandas individuais.

Para além, contudo, ainda o segundo setor, perante a elevação de carências

e ameaças do Estado, por exemplo, de falência, também tende a abarcar para si as

questões sociais, o que se traduz no terceiro setor, que passa a ser representado na

figura de cidadãos que se reúnem em formatos de organizações sem finalidades

lucrativas, que não possuem caráter governamental e que se direcionam para a

resolução de problemas sociais, obtendo a finalidade de geração de serviços de

natureza pública.

Neste contexto, pode-se afirmar que a Sociedade Civil distingue-se do

Estado, mas, ao se motivar pela promoção dos interesses coletivos, também se

distancia da lógica de mercado. Tal condição, característica do Terceiro Setor, induz

a conhecidos conceitos segundo os quais serem não governamental e sem fins

lucrativos não traz imunidade às influências estatais ou a condicionamentos sociais.

Desse modo, no terceiro setor os órgãos passam a se configurar como

corporativos, isto é, geram mercado de trabalho, tem capacidade de influir sobre a

legislação e ainda condicionar os orçamentos públicos e privados. Em suma, os

componentes do terceiro setor passam a se tornar responsáveis pelos problemas do

poder, interferindo a favor dos interesses dos atores envolvidos.

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Porém, como se distinguem em um setor individualizado e encontram-se

permeados pela negação de obtenção de lucro e poder vindo do Estado, tais

organizações não governamentais, dados seus estatutos, passam a subsidiar-se por

meio de conceitos que transpõem os valores utilitários, uma vez que, em princípio se

formam de maneira consistente perante as formas de solidariedade social

tradicionais.

Ainda segundo informações do TCU (2012), existem nestas relações ainda

alguns laços interpessoais, de modo que se nota que algumas modalidades antigas

de iniciativas sociais independentes, que se encontra em estudos históricos,

culturais ou antropológicos, possuem um surgimento moderadamente instituído e

agregado ao terceiro setor, como as Organizações Não Governamentais (ONGs),

que se configuram todas como de cunho filantrópico e sem declarar finalidades

lucrativas.

Segundo dados divulgados pelo IBGE, em 2005 estavam registradas 338 mil

Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos, que empregavam 1,7

milhão de pessoas em todo o País, com salários médios mensais de R$ 1.094,44. O

tempo médio de existência dessas instituições era de 12,3 anos e o Sudeste

abrigava 42,4% delas. Essas instituições são, em geral, de pequeno porte, e 79,5%

(268,9 mil) delas não possuem sequer um empregado formalizado.

Deste modo, é possível notar que tradições tendem a se perpetuar,

transfigurando-se, mas mantendo-se ativas acerca de suas novas condições,

podendo ainda influencias e alterar as maneiras de desenvolvimento que foram

concebidas inicialmente em determinado local.

As entidades filantrópicas então se encontram atualmente modificadas,

tornando evidente certa revitalização de suas maneiras tradicionais de praticar a

solidariedade social, interagindo com seu ambiente de maneira inovadora,

promulgando a conjugação das incertezas em esperanças, de maneira que seus

objetivos se encontrem em harmonia com as dinâmicas praticadas pelos

movimentos sociais, especialmente na atuação, elaboração e monitoramento de

políticas públicas.

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2.5 Ferramentas de controle

Deste modo, cabe explicar sobre o Sistema de Gestão de Convênios e

Contratos de Repasse do Governo Federal (SICONV) que consiste em uma

ferramenta eletrônica capaz de integrar e processar as informações acerca das

transferências de recursos partindo do governo federal para os órgãos públicos e

privados sem fins lucrativos.

O repasse então ocorre através de contratos e de convênios que se destinam

a executar programas, projetos e ações de interesse comum, incluindo a formação

de instituições de ensino superior.

O que deve ser feito contrato a contrato, convênio a convênio em todos os

setores abarcados pelo SICONV. O próprio Governo Federal (2015) anunciou

algumas alterações neste processo de gestão, ao passo que o SICONV, lembrando

que o mesmo é gerenciado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

(MPOG), passa a apresentar novas funcionalidades.

Como explica a publicação, tais funções consistem na comprovação de

exercício de atividades por parte das entidades privadas sem fins lucrativos, bem

como o registro das irregularidades dos convênios e ainda o acompanhamento e

fiscalização dos convênios, contratos de repasses e termos de parceria. Tais

modalidades foram inseridas no sentido de cumprir os decretos nº 7.568, 7.592 e

7.641.

O posicionamento da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação

(SLTI) acerca destas modificações, determina que a implementação de tal módulo

de acompanhamento e fiscalização oferece ao SICONV a oportunidade de atender

todo o ciclo de transferências voluntárias, obtendo condições ainda de facilitar a

gestão do ciclo para os ministérios, uma vez que formalizando, celebrando,

executando e acompanhando e fiscalizando, os dados serão inseridos em um

sistema comum.

Deste modo, cabe ainda explicar que o SICONV foi criado no ano de 2008

com a finalidade de oferecer transparência e publicidade nos convênios e contratos

de repasse, bem como inserir termos nas parcerias celebradas entre União com os

estados, municípios, Distrito Federal e com entidades privadas sem fins lucrativos. A

publicação do Governo Federal explica ainda que “Antes da implantação do sistema,

as auditorias, por exemplo, não eram feitas por meio digital” (BRASIL, 2015).

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Sendo assim, segundo publicação da Controladoria Geral da União (CGU,

2014) os repasses do governo federal podem ser compreendidos como

“transferências de recursos da União” que são conceituadas como:

[...] instrumentos celebrados pelos órgãos e entidades da Administração Pública Federal com órgãos ou entidades públicas (administração estadual, distrital, municipal) ou privadas sem fins lucrativos para a execução de programas, projetos e atividades de interesse recíproco que envolvam a transferência de recursos financeiros oriundos do Orçamento Fiscal e da Seguridade Social da União. (p. 13)

A mesma publicação explica a existência de dois tipos possíveis de

transferências, são elas:

a) Transferências Voluntárias: que consistem nos recursos financeiros

repassados pela União, direcionados a estados, municípios e Distritos

Federal, por meio da celebração de convênios, acordos, ajustes e

demais instrumentos, com a finalidade de atender realização de obras

ou serviços de interesse comum.

b) Transferências de Recursos a Entidades sem Fins Lucrativos: que são

os recursos financeiros repassados pela União para as entidades sem

fins lucrativos por conta de convênios, acordos, ajustes ou demais

instrumentos, sendo que a finalidade é a mesma, em obras ou serviços

de interesse da sociedade.

Os tipos de instrumentos que doutrinam estes repasses são explicados pela

CGU, conforme demonstrado no Quadro 3.

Quadro 3 - Instrumentos utilizados na execução de transferências de recursos da União

(continua) TIPO CARACTERÍSTICA

Contrato de repasse

Instrumento administrativo por meio do qual a transferência dos recursos financeiros se processa por intermédio de instituição ou agente financeiro público federal, atuando como mandatário da União.

Convênio

Acordo ou ajuste que disciplina a transferência de recursos financeiros de dotações consignadas nos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União e tem como partícipe, [...] órgão ou entidade da administração pública federal, [...] órgão ou entidade da administração pública estadual, distrital ou municipal, [...] ou ainda, entidades privadas sem fins lucrativos, [...].

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Termo de cooperação

Instrumento por meio do qual é ajustada a transferência de crédito de órgão ou entidade da Administração Pública Federal para outro órgão federal da mesma natureza ou autarquia, fundação pública ou empresa estatal dependente.

Termo de parceria

Instrumento jurídico previsto na Lei 9.790, de 23 de março de 1999, para transferência de recursos para Organizações Sociais de Interesse Público (OSCIPs).

Contrato de prestação de serviços (CPS)

Instrumento jurídico que regula a prestação de serviços realizada pela mandatária da União a favor do concedente, [...].

Contrato administrativo de execução ou fornecimento (CTEF)

Instrumento jurídico que disciplina a execução de obra, fornecimento de bem ou serviço, regulado pela Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, e demais normas pertinentes à matéria, tendo como contratante o ente que figura como convenente.

Fonte: CGU, 2014, p.17

Sendo assim, existem três etapas que concernem o repasse de verbas do

governo federal. A primeira abarca o momento onde a proposta é apresentada, se

estendendo até o Termo de Convênio, tal etapa é responsável pela análise do Plano

de Trabalho e das condições para a celebração de convênios e contratos de repasse

que poderão ser cumpridas pelos convenentes ou contratados.

A etapa seguinte acontece por meio da fase de execução do projeto,

envolvendo a aplicação dos recursos e ainda a fiscalização por parte do concedente

(governo federal) e de órgãos de controle determinados por este. A terceira e última

etapa desta gestão consiste então na prestação de contas da utilização e aplicação

destes recursos repassados ao convênio.

Outro elemento importante nesta questão é o Cadastro de Entidades Privadas

Sem Fins Lucrativos Impedidas (CEPIM), que consiste em um banco de informações

que é mantido pela Controladoria Geral da União, regulado por meio do decreto nº

7.592/11, com a finalidade de consolidar o relacionamento das entidades privadas

sem fins lucrativos que se encontram impossibilitadas de celebrar convênios,

contratos de repasse ou termos de parceria com a administração pública federal,

bem como também não podem receber transferências de recursos.

Sendo assim, o CEPIM agrega os dados de maneira acessível, apontando os

campos: CNPJ; nome da entidade; dados do convênio; motivo do impedimento.

Deste modo o cadastro da entidade permite uma visualização do total de entidades

que são impedidas, facilitando a consulta por nomes ou CNPJ.

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Assim, na consolidação dos dados e tradução para uma linguagem técnica

para uma acessível e compreensível, o CEPIM passou a elevar o grau de

transparência acerca deste tema. Para além, a fim de manter sua fidedignidade, o

cadastro ainda indica o motivo do impedimento, possibilitando que o usuário

aprofunde sua consulta junto ao órgão que declarou o impedimento.

Deste modo, além de ser uma fonte referencial para os órgãos da

administração pública federal a fim de prevenir a celebração dos convênios,

contratos de repasse ou mesmo os termos de parceria e transferências de recursos

para as entidades sem fins lucrativos declaradas impedidas, o CEPIM consiste

também um instrumento de transparência para a sociedade de maneira geral.

As normas que regulam tais impedimentos de celebração de convênios,

contratos de repasse ou termos de parceria e transferência de recursos para as

entidades privadas sem fins lucrativos estão demonstradas no Quadro 4.

Quadro 4 – Normas Regulamentadoras de celebração de convênios, contratos de repasse ou termos de parceria e transferência de recursos.

INSTRUÇÃO NORMATIVA STN Nº 1, DE 15 DE JANEIRO DE 1997.

Disciplina a celebração de convênios de natureza financeira que tenham por objeto a execução de projetos ou realização de eventos e dá outras providências.

PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 507, DE 24 DE NOVEMBRO DE 2011.

Esta Portaria regula os convênios, os contratos de repasse e os termos de cooperação celebrados pelos órgãos e entidades da Administração Pública Federal com órgãos ou entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos para a execução de programas, projetos e atividades de interesse recíproco, que envolvam a transferência de recursos financeiros oriundos do Orçamento Fiscal e da Seguridade Social da União.

DECRETO Nº 6.170, DE 25 DE JULHO DE 2007.

Dispõe sobre as normas relativas às transferências de recursos da União mediante convênios e contratos de repasse, e dá outras providências.

DECRETO Nº 7.568, DE 16 DE SETEMBRO DE 2011.

Altera o Decreto no 6.170, de 25 de julho de 2007, que dispõe

sobre as normas relativas às transferências de recursos da União mediante convênios e contratos de repasse, o Decreto n

o 3.100, de 30 de junho de 1999, que regulamenta a Lei

no 9.790, de 23 de março de 1999, e dá outras providências.

DECRETO Nº 7.592, DE 28 DE OUTUBRO DE 2011.

Determina a avaliação da regularidade da execução dos convênios, contratos de repasse e termos de parceria celebrados com entidades privadas sem fins lucrativos até a publicação do Decreto n

o 7.568, de 16 de setembro de 2011, e

dá outras providências.

Fonte: Elaborado pela autora.

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3 METODOLOGIA

O presente trabalho fez o levantamento convênios inadimplentes firmados

entre entidades sem fins lucrativos e administração pública federal, que se

encontram atualmente listados no CEPIM. O propósito é traçar um perfil destes

levando em consideração a unidade federativa, órgão concedente, motivo do

impedimento, valor do convênio e valor da contrapartida; sobretudo as relacionadas

aos Ministérios da Educação, Saúde e Desenvolvimento Social e Combate a Fome,

que se encontram atualmente listados no CEPIM, estes dados são atualizados

diariamente, dessa forma cabe informar que a listagem foi retirada no dia 02/03/2015

e iniciado o tratamento dos dados.

3.1 Tipologia da pesquisa

Para alcance dos objetivos propostos no estudo foram analisados os dados

dos convênios, relacionadas aos Ministérios da Educação, Saúde e

Desenvolvimento Social e Combate à Fome, relativos aos dados publicados no dia

02/03/2015.

Lakatos e Marconi (1996, p. 15) definem que “Pesquisar não é apenas

procurar a verdade; é encontrar respostas para questões propostas, utilizando

métodos científicos”, através desta ótica é possível notar que a pesquisa é algo mais

ampla do que se imagina em um primeiro momento. A pesquisa não se identifica

apenas como um processo de investigação, ou um modelo simplório de inquirição,

sua finalidade é possuir uma compreensão mais profunda sobre o tema levantado e

sobre a questão que direciona a pesquisa.

Para Santos e Candeloro (2006) a pesquisa de natureza qualitativa é aquela

que permite o levantamento de dados subjetivos, informações pertinentes ao

universo a ser investigado.

Desta forma, a natureza escolhida para a criação deste trabalho é qualitativa,

buscando assim, levantar todas as informações teóricas a fim de se chegar à

conclusão. A pesquisa eleita seguiu a metodologia descritiva, que, segundo Gil

(2008), consiste na descrição das características de determinada amostra,

fenômeno, universo ou experiência de pesquisa.

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Este tipo de pesquisa firma uma relação entre as variáveis de um objeto de

estudo que se encontra em análise, tais variáveis que, por sua vez se associam à

classificação, medida e/ou quantidade que são passíveis de alterações perante o

processo empreendido (GIL, 2008).

3.2 População e amostra

O rol de convênios analisadas foi extraído do sítio eletrônico Portal da

Transparência, mantido pela Controladoria-Geral da União, no dia 02/03/2015, onde

inicialmente havia a população de 4325 convênios com entidades sem fins

lucrativos, destes foram retirados as informações relativas aos convênios vinculados

aos Ministério da Educação, Ministério da Saúde e Ministério do Desenvolvimento

Social e Combate à Fome, reduzindo a 735 convênios; como as informações no

CEPIM são atualizadas diariamente, cada um destes foi acessado no período de

17/05 a 21/05/2015 para obter informações detalhadas, após essa análise, foram

excluídos 108 convênios, destes 82 não estavam com as informações disponíveis no

cadastro, e 26 não era possível acessar, chegando a amostra de 627 convênios à

serem analisadas.

Com base nas informações coletadas, foram analisados os dados referentes

à UF, Órgão Concedente, motivo do impedimento, valor do convênio e valor da

contrapartida.

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36

4 ANÁLISE DOS DADOS

Analisando a Unidade da Federação no qual o convênio teve origem observa-

se, a partir da Figura 1, que dos 627 convênios analisados, 81 é proveniente do

estado de São Paulo. Em seguida, encontra-se o Distrito Federal, com 62 convênios

firmados, Rio de Janeiro e Bahia com 42 e 41, respectivamente. Somando a isso,

ressalta-se que 92 dos convênios são oriundos dos estados da região Norte.

Figura 1 – Relação de Estado com quantidade de convênio

Fonte: Dados da pesquisa

Analisando a distribuição de convênios por região, observa-se que a região

Nordeste apresenta o maior volume de convênios, seguida da região sudeste. O

fato de essas duas regiões apresentarem maior número de estados e maior

população, respectivamente, pode estar influenciando a retenção de recursos por

elas.

Ainda tomando como base a análise dos Estados, verifica-se na Figura 2 que

o Estado que obteve o maior resultado de disponibilização de recursos foi o

Amazonas, com total de R$ 125.379.754,90; seguido do Roraima que soma o valor

de R$ 121.717.130,57; em terceiro lugar está o Estado do Rio de Janeiro, o qual

recebeu o valor total de 90.182.883,64; ao passo que o estado que recebeu menos

recursos foi o Piauí que recebeu o valor de R$ 441.256,09.

7 2

28

9

41

23

62

10 4

38 34

6

22 20

32

25

7

19

42

10 16

12

21 15

33

81

8

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO

Qu

anti

dad

e d

e C

on

vên

ios

Estados

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37

Figura 2 – Volume de recursos por Estado

Fonte: Dados da pesquisa

Conforme apresentado na Figura 2, os Estados do Amazonas e Roraima

juntos totalizam mais de R$ 245 mil, o que corresponde a mais de 30% de todos os

recursos disponibilizados. Esse valor substancial é superior ao somatório dos

valores recebidos pelas regiões Nordeste, Centro-oeste e Sul juntas. Por outro lado,

a região norte é apenas a segunda colocada no número absoluto de convênios

recebidos.

Os resultados da Figura 3 apresentam os percentuais dos convênios

inadimplentes relacionados aos Órgãos Concedentes, nele podemos observar que o

órgão que mais firmou convênios que se tornaram inadimplentes foi Ministério da

Saúde, com 59% dos convênios, seguido do Ministério da Educação, com 39% dos

convênios, em terceiro lugar encontra-se o Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome com o total de 2% dos convênios inadimplentes.

0,00

20.000.000,00

40.000.000,00

60.000.000,00

80.000.000,00

100.000.000,00

120.000.000,00

140.000.000,00

AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO

Vo

lum

e d

e R

ecu

rso

s

Estados

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38

Figura 3 – Convênios inadimplentes, segundo o órgão concedente

Fonte: Dados da pesquisa

Dada essa constatação, suscita-se a possibilidade desse órgão não ter

critérios efetivos de acompanhamento da prestação de contas, ou ainda não haver

mecanismo de avaliação eficiente que possibilite um maior controle sobre as

instituições que recebem seus recursos.

Analisando a relação entre os Órgãos Concedentes e o volume de recursos

liberados, pode-se verificar, na Figura 4, que apresenta a seguinte sequência: O

Ministério da Saúde liberou o total de R$ 612.662.252,23, a seguir o Ministério da

Educação com o montante de recurso no valor de R$ 113.642.542,20, por último

destaca-se o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome resultando

no valor de R$ 7.746.750,91.

39%

59%

2%

Órgão Concedente

MINISTERIO DA EDUCACAO

MINISTERIO DA SAUDE

MINISTERIO DO DESENV. SOCIAL E COMBATE A FOME

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Figura 4 – Volume de recursos por órgão concedente

Fonte: Dados da pesquisa

Buscando analisar o motivo dos impedimentos, verifica-se que o de maior

quantidade de impedimento refere-se a irregularidade na prestação de contas

(atraso, omissão ou impugnação) o qual possui o percentual de 40% dos convênios

analisados, seguido do motivo Instauração de TCE, com 36% dos convênios

inadimplentes. Somando a isso, ressalta-se que 24% dos convênios são oriundos

dos demais motivos, conforme demostrado na Figura 5.

Figura 5 – Convênios inadimplentes com relação ao motivo do impedimento

Fonte: Dados da pesquisa

113.642.542,20

612.662.252,23

7.746.750,91

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO MINISTÉRIO DA SAÚDE MINISTÉRIO DO DESENV. SOCIAL ECOMBATE A FOME

Vo

lum

e d

e r

ecu

rso

s

Órgão Concedente

1% 1%

36%

16%

40%

6%

INEXECUÇÃO DO OBJETO (TOTAL OUPARCIAL)

INSCRICAO POR DECISAO DO T.C.U.

INSTAURAÇÃO DE TCE

IRREGULARIDADES NA EXECUÇÃO

IRREGULARIDADES NA PRESTAÇÃO DECONTAS (ATRASO, OMISSÃO OUIMPUGNAÇÃO)MOTIVO NÃO ESPECIFICADO

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Ainda levando em consideração o motivo do impedimento, verifica-se,

conforme na Figura 6, que o motivo com maior liberação de recursos foi o

Irregularidades na Prestação de contas, seja por atraso, omissão ou impugnação,

no qual recebeu o valor total de R$ 439.546.444,81; seguido do motivo de

irregularidades na execução, que soma o valor de R$ 138.105.792,36; à medida

que o de menor valor de recursos está no motivo Inexecução do objeto (total ou

parcial).

Figura 6 – Volume de recurso por Motivo do Impedimento

Fonte: Dados da pesquisa

Diante dessa comprovação, move-se a hipótese de não ter critérios efetivos

no acompanhamento das prestações de contas, antes de serem apresentadas na

sua versão final.

Tabela 1 – Comparação volume de recursos, quantidade de convênios e região.

Região Quantidade de convênios Volume de recursos

Sul 55 21.579.988,82

Norte 92 346.467.153,11

Centro Oeste 102 119.435.074,59

Sudeste 167 159.560.258,39

Nordeste 211 87.009.070,43

Total 627 734.051.545,34 Fonte: Dados da pesquisa

0,00 200.000.000,00 400.000.000,00

INEXECUÇÃO DO OBJETO (TOTAL OU PARCIAL)

INSCRICAO POR DECISAO DO T.C.U.

INSTAURAÇÃO DE TCE

IRREGULARIDADES NA EXECUÇÃO

IRREGULARIDADES NA PRESTAÇÃO DE CONTAS(ATRASO, OMISSÃO OU IMPUGNAÇÃO)

MOTIVO NÃO ESPECIFICADO

Volume de Recurso

Tip

o d

o im

pe

dim

en

to

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Na tabela 1, pode-se verificar novamente que a região que possui maior

volume de recursos é a Norte, em contra partida é a segunda menor em quantidade

de convênios, demonstrando que apesar de obter uma das menores quantidades

nestes, estes possuem valores elevados. O fato dessa região possuir o menor PIB,

de acordo com o IBGE 2011, pode ter influenciado no volume de recursos

disponibilizados. Ao passo que a região Sul, possui menores quantidades de

convênios e volumes de recursos.

Tabela 2 – Comparação Valor do convênio e Valor da contrapartida.

Valor do convênio Valor da contrapartida

1° Quartil 56.000,00 0,00

2º Quartil 200.000,00 0,00

3° Quartil 654.000,00 571,00 Fonte: Dados da pesquisa

Utilizando a análise de quartis para comparar os valores dos convênios e

valores das contrapartidas, observa-se que no primeiro quartil, onde demonstra o

valor do conjunto que delimita os 25% menores, encontra-se o valor de R$

56.000,00 para o valor dos convênios, ao passo que o valor da contrapartida está

em valor zero; no segundo quartil, que separa os 50% menores dos 50% maiores

valores, verifica-se o valor de R$200.000,00 para o valor dos convênios, enquanto o

valor da contrapartida continua zero; já no terceiro quartil está o valor de

R$654.000,00, ou seja, estão entre os 25% valores maiores, em correspondência

ao valor da contrapartida no qual os valores são superiores a R$571,00, conforme

demonstrado na Tabela 2.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o impedimento na celebração de convênios às entidades sem fins

lucrativos são impossibilitadas de receber qualquer tipo de transferência de recursos

enquanto as irregularidades detectadas não forem resolvidas, ainda que existam

convênios celebrados com as entidades, ou mesmo parcelas pendentes para

liberação, os mesmos são suspensos até segunda ordem quando a situação for

regulamentada. Isto ocorreu após a CGU identificar uma série de escândalos com

estas entidades, gerando a publicação, por parte da Presidência da República, de

decreto que determina a criação do Cadastro de Entidades Privadas Sem Fins

Lucrativos Impedidas (CEPIM). A lista então envolve a participação dos Ministérios e

detecta as irregularidades nos convênios, tais como desvio de recursos, omissão de

prestação de contas ou descumprimentos de contratos.

Através das pesquisas realizadas, a fim de compor o presente trabalho, foi

possível notar que diversas políticas foram e são criadas no sentido de tentar

democratizar a sociedade, fomentando a inclusão social nos mais diversos âmbitos

educacionais, culturais, do trabalho, saúde, etc. e, assim resultar em bons índices de

inclusão social nas estatísticas brasileiras. São programas criados exaustivamente

no sentido de facilitar o repasse de verbas e firmação de convênios entre entidades

sem fins lucrativos e poder públicos, a fim de oferecer um subsídio governamental

que assegure a atuação destas entidades e possibilite sua atuação social.

No sentido, inverso verifica-se que as entidades sem fins lucrativos começam

a apresentar alguns atos de corrupção de seus propósitos sociais, inserindo-se na

listagem ‘negra’ da CGU e impossibilitando-se de firmar convênios com os órgãos

públicos.

Conclui-se este trabalho com a crença de que os objetivos geral e específicos

foram alcançados, assim como a problemática de pesquisa solucionada

parcialmente. Como não era de intento, o assunto não fora esgotado, houve sim o

passo inicial e estímulo para o aprofundamento do tema, que pode ocorrer através

de estudos posteriores com pesquisa empírica, podendo assim corroborar ou não as

informações, por ora, esplanadas, analisando, por exemplo, as dificuldades

encontradas por essas entidades em atender às exigências dos órgãos

financiadores.

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44

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