universidade federal do rio grande do norte … · - mas a misericórdia do senhor é de eternidade...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
JEANE GABRIELLA COSTA
SERVIÇO SOCIAL E ASSISTÊNCIA A PESSOA COM DEFICIÊNCIA NA APAE-
NATAL: demandas, limites e possibilidades do exercício profissional do assistente social
NATAL-RN
2017
JEANE GABRIELLA COSTA
SERVIÇO SOCIAL E ASSISTÊNCIA A PESSOA COM DEFICIÊNCIA NA APAE-
NATAL: demandas, limites e possibilidades do exercício profissional do assistente social
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Departamento de
Serviço Social da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte –
UFRN como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em
Serviço Social.
Orientadora: Ms. Anna Luíza
Lopes Liberato Alexandre Freire
NATAL-RN
2017
Catalogação da Publicação na Fonte.
UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA
Costa, Jeane Gabriella.
Serviço social e assistência a pessoa com deficiência na APAE -Natal:
demandas, limites e possibilidades do exercício profissional do assistente
social/ Jeane Gabriella Costa. - Natal, RN, 2017.
67 f.
Orientadora: Profa. Me. Anna Luíza Lopes Liberato Alexandre Freire.
Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de
Serviço Social.
1. Assistência social - Pessoa com deficiência - Monografia. 2. Exercício
profissional - Assistente social - Monografia. 3. Serviço social - Fazer
profissional - Monografia. I. Freire, Anna Luíza Lopes Liberato Alexandre. II.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/BS/CCSA CDU 364-056
Dedico este trabalho a minha mãe
(Maria Aparecida Silva Costa) e
aminha avó (Maria Salomé da
Silva), pelo amor, cuidado e
carinho em minha criação, que
foram fundamentais na construção
dos valores e princípios que
estabeleci em minha vida.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, a DEUS! Em sua infinita misericórdia e sabedoria, Ele me sustenta e
sem o Seu amparo eu não teria chegado até onde cheguei. Agradeço a Deus por todas as bênçãos
e vitórias concedidas em minha vida, por renovar a fé a cada dia em meu coração e por estar
sempre presente guiando os meus passos e iluminando o meu caminho. Deus é fiel e Suas
promessas vem sendo cumpridas em vida. Sou grata a Deus por tudo! Cada benção, cada vitória,
são para a honra e glória de Deus.
A minha mãe, Maria Aparecida, exemplo de força e coragem, que apesar das inúmeras
dificuldades já enfrentadas na vida, sempre se manteve forte graças a Deus. Agradeço a minha
mãe por todo ao apoio durante toda a minha vida, pelo carinho, compreensão, amor, cuidado e
por estar sempre ao meu lado. Não são todas as mães que sabem educar e amar ao mesmo
tempo, mas posso dizer que a minha mãe, e sou imensamente grata a ela.
Ao meu pai João Batista, por estar presente em minha vida fazendo o melhor que pode.
Apesar do seu jeito impaciente e inquieto, procura fazer o seu melhor a cada dia.
A minha avó Maria Salomé, outro exemplo de força e coragem, que também soube se
manter firme e forte diante das adversidades da vida, que não foram poucas, mas graças a Deus
foram superadas. Agradeço a minha avó por desde sempre cuidar de mim junto com a minha
mãe. Sou imensamente grata a minha avó pelas orações de cada dia e pelo amor, cuidado e
atenção de sempre.
Ao meu avô Sebastião Tomaz (In memória). Apesar de não ter tido a oportunidade de
conhece-lo, agradeço imensamente por todos os princípios, valores e carinho passados para a
minha mãe, que foram repassados para mim.
A minha avó Francisca Amália e ao meu avô Paulo Xavier (In memória). Agradeço
por todo o carinho, toda a atenção e por todos os ensinamentos e momentos de alegria
proporcionados em minha vida.
A minha irmã Juliana Beatriz, por trazer alegria para minha vida desde sempre.
Agradeço pelo carinho, amor e atenção, pelos momentos divertidos, pelas conversas, por estar
presente em minha vida, tornando os meus dias mais felizes.
Ao meu namorado, Andrier Marcos, por toda atenção, amor e companheirismo. Por
estar sempre disposto a me ajudar nos momentos em que preciso, sempre presente e ao meu
lado. Agradeço por ser atencioso, dedicado e por todo o auxílio que tens me dado até hoje.
A minha amiga e irmã Fátima Ismael, pela amizade de anos e por todo o apoio e
palavras em todos os momentos, inclusive nessa fase de elaboração do TCC. Agradeço por sua
amizade verdadeira e por sua atenção durantes todos esses anos de amizade.
A Ruth Vieira, amiga da universidade que se tornou uma irmã e levarei para a vida.
Foram inúmeros momentos compartilhados, fazendo com que a nossa amizade se tornasse
verdadeira e se fortalecesse a cada dia. Agradeço por todo o apoio e por sua amizade.
A Joanielly Kelly, Cibele Simão e Luana Brenda, amigas da universidade as quais
compartilhei diversos momentos. Foram muitos aprendizados adquiridos na universidade, nas
nossas confraternizações, com sorrisos sinceros que jamais esquecerei.
A minha orientadora acadêmica do TCC professora Ms. Anna Luíza Lopes Liberato
A. Freire, pela compreensão, por todos os ensinamentos e todo o apoio durante todo o período
de elaboração do TCC, assim como na disciplina ministrada.
A minha orientadora acadêmica de estágio professora Dra. Maria Célia Correia
Nicolau, por toda a atenção, pelos ensinamentos passados, e por todo o apoio e dedicação
durante o ano de estágio, bem como na disciplina ministrada.
A minha orientadora de campo de estágio, a assistente social Nilma Pereira de Lima
dos Santos, pelo companheirismo e dedicação, por toda a atenção e aprendizados passados no
estágio supervisionado na APAE.
A professora Ms. Jussara Keilla Batista do N. Almeida, pela atenção, dedicação e
momentos produtivos na disciplina ministrada e por ter aceitado o convite para fazer parte da
banca examinadora.
A todos, o meu muito obrigada!
- Não te mandei eu? Esforça-te, e tem bom ânimo; não pasmes, nem te espantes: porque o
Senhor teu Deus é contigo, por onde quer que andares. Josué 1:9.
- O Senhor te ouça no dia da tua angústia; o nome do Deus de Jacó te proteja. Salmos 20: 1
- O Senhor é o meu pastor: nada me faltará. Salmos 23: 1
- O Senhor é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? O Senhor é a força da minha
vida; de quem me recearei? Salmos 27: 1
- Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. Salmos 46: 1
- Porque este Deus é o nosso Deus para sempre; Ele será nosso guia até a morte. Salmos 48:
14.
- Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto. Salmos 51: 10.
- Ouve, ó Deus, o meu clamor; atende à minha oração. Desde o fim da terra clamo a ti, por estar
abatido o meu coração; leva-me para a rocha que é mais alta do que eu. Salmos 61: 1-2.
- Certamente que a salvação está perto daqueles que o temem, para que a glória habite em nossa
terra. Salmos 85: 1.
- Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará. Direi do
Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei. Salmos 91: 1 - 2.
- Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome.
Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios. Salmos
103: 1-2.
- Mas a misericórdia do Senhor é de eternidade a eternidade sobre aqueles que o temem, e a sua
justiça sobre os filhos dos filhos. Salmos 103: 17.
- Louvai ao Senhor, porque Ele é bom, porque a sua benignidade é para sempre. Salmos 107:
1.
- Louvai ao Senhor. Louvai servos do Senhor, louvai o nome do Senhor. Seja bendito o nome
do Senhor desde agora e para Sempre. Salmos 113: 1-2.
- Amo ao Senhor, porque Ele ouviu a minha súplica. Porque inclinou para min os seus ouvidos;
portanto invoca-lo-ei enquanto viver. Salmos 116: 1.
- Louvai ao Senhor todas as nações, louvai-o todos os povos. Porque a sua benignidade é grande
para conosco e a verdade do Senhor é para sempre. Louvai ao Senhor. Salmos 117: 1-2.
- Bem-aventurados os que trilham caminhos retos, e andam na lei do Senhor. Salmos 119: 1.
- Na minha angústia clamei ao Senhor, e Ele me ouviu. Salmos 120: 1.
- Elevo os meus olhos para o monte: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor,
que fez o céu e a terra. Salmos 121: 1-2.
- O Senhor te guardará de todo o mal: Ele guardará a tua alma. O Senhor guardará a tua entrada
e a tua saída, desde agora e para sempre. Salmos 121: 7-8.
- Os que confiam no Senhor serão como o monte de Sião, que não se abala, mas permanece
para sempre. Salmos 125: 1.
- Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que edificam; se o Senhor não guardar
a cidade, em vão vigia a sentinela. Salmos 127: 1.
- Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos! Salmo 128: 1
- O temor do Senhor é o princípio da ciência: os loucos desprezam a sabedoria e a instrução.
Provérbios 1: 7.
- Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento.
Reconhece-o em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas. Provérbios 3: 5-6.
- Filho meu, atenta para as minhas palavras: às minhas razões inclina o teu ouvido. Não as deixe
apartar-te dos teus olhos: guarda-as no meio do teu coração. Porque são vidas para os que as
acham, e saúde para o seu corpo. Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração,
porque dele procedem as saídas da vida. Provérbios 4: 20-23.
- O lábio de verdade ficará para sempre, mas a língua mentirosa dura só um momento.
Provérbios 12: 19.
- Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Eclesiastes: 3: 1.
- Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus: eu te esforço, e
te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça. Isaías 41: 10.
- Eis que farei uma cousa nova, e agora sairá à luz: porventura não a sabereis? Eis que porei um
caminho no deserto, e rios no ermo. Isaías 43: 19.
- Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei cousas grandes e firmes, que não sabes.
Jeremias 33: 3.
- As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos; porque as suas
misericórdias não têm fim. Novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade! Lamentações 3:
22-23.
- Então os Justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir,
ouça. Mateus 13: 43.
- E tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis. Mateus 21: 22.
- Respondeu Jesus, e disse-lhe: o que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois.
João 13: 7.
- Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará,
e vós estareis tristes; mas a vossa tristeza se converterá em alegria. João 16: 20.
- Assim também, vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso
coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará. E naquele dia nada me perguntareis.
Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu nome, ele vo-lo
há de dar. João 16: 22-23.
- Mas quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. I Coríntios: 13:10.
- Sejam vossos costumes sem avareza, contendando-vos com o que tendes; porque ele disse:
Não te deixarei, nem te desampararei. Hebreus 13: 5.
- Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo,
purificai os corações. Tiago 4:8.
- Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará. Tiago 4:10.
- E ao anjo da igreja que está em Filadélfia escreve: Isto diz o que é santo, o que é verdadeiro,
o que tem a chave de Davi; o que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre. Eu sei as tuas
obras: eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar: tendo pouca força,
guardas-te a minha palavra, e não negaste o meu nome. Apocalipse 3: 7-8.
“Fechei os olhos e pedi um favor ao vento: Leve tudo que for desnecessário. Ando cansada de
bagagens pesadas... daqui para frente levo apenas o que couber no bolso e no coração”. Cora
Coralina.
“Todas as manhãs ela deixa os sonhos na cama, acorda, e põe sua roupa de viver”. Cora
Coralina.
“E guardemos a certeza pelas próprias dificuldades já superadas, que não há mal que dure para
sempre”. Chico Xavier.
“Tudo o que pudermos fazer no bem, não devemos adiar... É indispensável que o bem se
propague... Uma atitude positiva desencadeia outras. O amor contagia. Chico Xavier.
“A oração induz à paz e produz estabilidade emocional, geradora de saúde integral. Joanna de
Ângelis.
“A tua ansiedade ou o teu receio não alterarão o curso das horas. Aguarda o que há de suceder,
sem que te imponhas sofrimento desde a véspera. Joanna de Ângelis.
“Não permita que o comportamento dos outros tire a sua paz” Dalai Lama.
“Abra seus braços para as mudanças, mas não abra mão de seus valores”. Dalai Lama.
“Se você não pode ajudar os outros, pelo menos não os prejudique”. Dalai Lama.
“Felicidade é quando o que você pensa e o que você faz estão em harmonia”. Mahatma Gandhi.
“Compreender que há outros pontos de vista, é o início da sabedoria”. Campbell.
“Viver é um rasga-se e remendar-se”. Guimarães Rosa.
“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega
e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem...” Guimarães Rosa.
“A arte existe, para que a realidade não nos destrua” Friedrich Nietzsche.
“A vida necessita de ilusões... então para viver, necessitamos de arte a cada momento”.
Friedrich Nietzsche.
“A simplicidade é o último grau de sofisticação” Leonardo da Vincci.
“Leves serão dos nossos passos, se doces forem os nossos pensamentos”. Frida Kahlo.
“Caminha e o caminho se abrirá”. Gassho.
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo, analisar o trabalho do assistente social na Política de
Assistência Social, considerando a assistência ao deficiente realizada Associação de Pais e
Amigos dos Excepcionais – APAE/Natal, observando-se as demandas, limites e possibilidades
do exercício profissional do assistente social. A pesquisa foi realizada a partir da experiência
de estágio curricular obrigatório, por meio da qual foi possível conhecer e aprofundar a
discussão em torno da referida política, como um direito do cidadão, previsto na Constituição
Federal de 1988. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica acerca do tema em pauta.
Dessa forma foi possível constatar que é necessário ao profissional de serviço social realizar a
articulação das dimensões da profissão, o código de ética profissional e o projeto ético-político
para que seu trabalho seja crítico, propósito e capaz de construir alternativas concretas na busca
da superação da ordem societária atual, neoliberal, que impõem inúmeras restrições de direitos
aos usuários da política de assistência social no âmbito das políticas sócias estatais e com
rebatimentos no terceiro setor.
PALAVRAS CHAVE: Assistência social, pessoa com deficiência, exercício profissional do
assistente social.
ABSTRACT
The objective of this study was to analyze the job of the social service in the Social Assistance
Policy, considering the assistance to the deficiency person in the Association of Parents and
Friends of the Exceptional - APAE / Natal, observing the demands, limits and possibilities of
the professional exercise of the social assistant. The research was carried out from the
experience of the compulsory curricular traineeship, through which it was possible to know and
deepen the discussion about to indicate policy, as a citizen's right, foreseen in the Federal
Constitution of 1988. The methodology used was the bibliographical research about the topic
at hand. In this way, it was possible to verify that it is necessary for the Social Service
professional to articulate the dimensions of the profession, the code of professional ethics and
the ethical-political project so that their work is critical, purposeful and capable of to construct
concrete alternatives in the search for overcoming of the current neoliberal corporate order,
which impose innumerable restrictions of rights to the users of the social assistance policy at
the scope of the social policies of the state and with refutations in the third sector.
KEY WORDS: Social assistance, deficiency person, professional exercise of the social
assistant.
LISTA DE SIGLAS
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ONU – Organização das Nações Unidas
CRI – Centro de Reabilitação Infantil
CORDE – Subcoordenadoria para Inclusão da Pessoa com Deficiência
CONADE – Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência
CNAS – Conselho Nacional de Serviço Social
OMS – Organização Mundial de Saúde
LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social
PNAS – Política Nacional de Assistência Social
SUAS – Sistema Único de Assistência Social
ONG – Organização não Governamental
SUS – Sistema Único de Saúde
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 – POPULAÇÃO COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL ......................................18
GRÁFICO 2 – HOMENS E MULHERES COM ALGUM TIPO DE DEFICIÊNCIA NO
BRASIL ....................................................................................................................................19
GRÁFICO 3 – ESTADOS BRASILEIROS COM O MAIOR E O MENOR ÍNDICE DE
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, DE ACORDO COM A POPULAÇÃO RESIDENTE.......20
SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................16
2. A ASSISTÊNCIA A PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL ................................................................. 19
2.1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E FILANTROPIA: UMA DISCUSSÃO SOBRE OS DIREITOS NOS MARCOS DO
CAPITALISMO ..................................................................................................................................... 20
2.2 UM BREVE HISTÓRICO DA POLÍTICA DE ASSITÊNCIA A PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL: OS
MARCOS LEGAIS ................................................................................................................................. 31
3. O SERVIÇO SOCIAL E O FAZER PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NA ASSOCIAÇÃO DE PAIS E
AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS – APAE/NATAL ....................................................................................... 35
3.1 APAE/NATAL: CARACTERIZAÇÃO, HISTÓRICO E ATENDIMENTO A PESSOA COM DEFICIÊNCIA .. 36
3.2 O ATENDIMENTO A PESSOA COM DEFICIÊNCIA: DEMANDAS PARA O SERVIÇO SOCIAL ............. 42
3.3 OS LIMITES E POSSIBILIDADES AO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL: UMA REFLEXÃO SOBRE
AS DIMENSÕES DA PROFISSÃO E O PROJETO ÉTICO POLÍTICO PROFISSIONAL ....................................46
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................................51
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................54
ANEXOS ................................................................................................................................................58
16
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho que tem por título: Serviço Social e Assistência a Pessoa com Deficiência
na APAE-Natal: demandas, limites e possibilidades do exercício profissional do assistente
social, tem como objetivo, analisar o trabalho do serviço social na Política de Assistência
Social, destacando a assistência a pessoa com deficiência na Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais – APAE/Natal, observando as demandas, limites e possibilidades do exercício
profissional do assistente social. Os motivos que levaram a escolha do tema foram a experiência
adquirida no estágio supervisionado em Serviço Social na instituição mencionada, bem como,
todos os conhecimentos que foram adquiridos no período da graduação.
O Serviço Social compreende uma profissão que está presente em vários espaços sócio-
ocupacionais, contribuindo de forma significativa, para a viabilização e garantia de direitos dos
usuários que solicitam os serviços dos diferentes espaços. A política de assistência social
compreende um desses espaços de atuação do assistente social, sendo a mesma reconhecida
pela Lei de Orgânica da Assistência Social (LOAS) como direito do cidadão e dever do Estado.
De acordo com a Constituição Federal de 1988, a assistência social faz parte do tripé da
seguridade social, junto com a previdência social e a saúde.
O Conselho Nacional de Assistência social (CNAS), aprovou no ano de 2004 a Política
Nacional de Assistência Social (PNAS), e como sendo parte da proteção social, esta política
busca o acolhimento de pessoas. A PNAS, cujos princípios e diretrizes estão de acordo com a
Lei de Orgânica da Assistência Social (LOAS), viabilizou a implementação do Sistema Único
de Assistência Social (SUAS). A PNAS é uma política pública, sendo então de responsabilidade
do Estado. A política pública traz a garantia de melhores condições de vida para a população
com deficiência. A política social pública permite aos cidadãos acessar bens e serviços
necessários à sua vida em sociedade em várias dimensões como, o social, o econômico, o
cultural, o político, o ambiental, dentre outros, voltada para uma perspectiva de concessão de
direitos. De acordo os Parâmetros legais que regem a assistência social, a política de assistência
social vem sendo regulamentada pelo governo federal, com a aprovação do CNAS, através da
PNAS e do SUAS. Dentro da política de assistência social, encontram-se políticas de assistência
a pessoa com deficiência, foco de discussão deste projeto, bem como, políticas de proteção a
outros segmentos.
A política de assistência social vem a ser uma política ampla que constitui um espaço
de atuação do Serviço Social, e dentro desta política, podemos destacar política de assistência
17
a pessoa com deficiência, foco de discussão deste projeto conforme já foi citado, que apesar de
ter obtido maior visibilidade com o Estatuto da Pessoa com Deficiência, ainda necessita de uma
atenção maior, tendo em vista que ainda há muitos desafios a serem enfrentados para que a
população com deficiência tenha uma vida mais digna. O Estatuto da Pessoa com Deficiência
é uma legislação recente, corresponde a Lei Brasileira de Inclusão 13.146, de 06 de julho de
2015, e por ser uma legislação nova, ainda é conhecida por poucos.
O trabalho do assistente social na política de assistência social, constitui-se um trabalho
de extrema importância, tendo em vista que, busca garantir a viabilização e efetivação de
direitos dos usuários por meio de programas, projetos e políticas sociais. O projeto ético político
do Serviço social vem sendo desenvolvido em uma perspectiva voltada para atender as
necessidades da classe trabalhadora. Sobre o exercício profissional do assistente social, tanto
no âmbito da assistência como nas demais áreas de atuação, se faz necessário realizar uma
análise da realidade a qual o usuário está inserido, considerando a estrutura e conjuntura da
sociedade, para que seja compreender determinada realidade e ter uma resposta devidas para as
demandas que que emergem dessa realidade. De acordo com o CFESS (2011) a equipe de
trabalhadores deve ser composta por uma equipe multiprofissional, que trabalha para dar
respostas as demandas da realidade, como será melhor analisado nos capítulos a seguir.
Dentro da política de assistência social, está a política de assistência a pessoa com
deficiência, com o objetivo de amparar aos usuários que dela necessitam. Para o enfrentamento
das necessidades dessa população, existem tanto instituições estatais como é o caso do Centro
de Reabilitação Infantil – CRI, como também as instituições filantrópicas da sociedade civil,
como é o caso da Associação de Pais e amigos do Excepcionais – APAE, na qual realizei o
estágio supervisionado, em que destacarei neste projeto, demandas, limites e possibilidade do
fazer profissional do Serviço Social na referida instituição. A APAE é uma instituição sem fins
lucrativos, com registro no CNAS e certificado de filantropia, como será visto nos próximos
capítulos.
Os assistentes sociais nas instituições filantrópicas especializadas no atendimento à
pessoa com deficiência, assim como na APAE, lutam a cada dia para garantir a viabilização e
garantia de direitos, entretanto essas instituições, devido ao sistema vigente neoliberal, não
abarcam toda a demanda, sendo necessário selecionar no momento os que mais necessitam,
pois no neoliberalismo, o Estado é mínimo para as políticas sociais, que são focalizadas e
seletivas.
18
A aproximação com este tema veio através do estágio supervisionado em Serviço Social
que por sua vez, compreende um momento importante a ser vivido na graduação, levando em
consideração que, o graduando tem a possibilidade de presenciar a prática profissional,
associando ao conteúdo apreendido na graduação e analisando situações cotidianas trazidas
pelas demandas que chegam até o profissional. A partir daí o estudante começa a compreender
melhor o exercício profissional do assistente social, podendo levar conhecimentos adquiridos e
experiência para a sua atuação profissional, ao ser inserido no mercado de trabalho.
Sobre a referência bibliográfica utilizada para o desenvolvimento deste trabalho, foram
utilizados autores trazendo discussões sobre a proteção social e seguridade social, como:
Boschetti (2012), que também discute sobre as políticas sociais; Mota (2009); Sposati (2013) e
Di Giovanni (1998). Trazendo discussões sobre políticas sociais, foram utilizados autores
como: Bhering (2009); Yazbek [S.D.]; Chiachio (2011) e Dallago (2007). Sobre o Tema
relacionado as instituições filantrópica e o terceiro setor foram utilizados autores como:
Montaño (2003); Alencar (2009); Cisne [S.D.] e Andrade (2012). Abordando a questão da
pobreza, exclusão social e lutas de classes, foram utilizados autores como: Yazbek (2006);
Alves [S.D.] e Martins (2003). Trazendo discussões sobre o fazer profissional do assistente
social e sobre a profissão em si, foram utilizados autores como: Nicolau (2005); Iamamoto
(2009/2011/2012); Guerra (2009/2013); Yazbek (2009) Faleiros (2014); Teixiera e Braz
(2009). Além dos relevantes autores utilizados para fundamentar este trabalho, foram utilizados
também documentos e livros que contribuíram para a análise dos marcos legais que foram
importantes para grandes conquistas da população com deficiência, bem como documentos
legais relacionado a profissão de assistente social.
A relevância acadêmica deste estudo, se dá pela sua contribuição para pesquisas
desenvolvidas sobre o tema em questão, tendo em vista a importância do debate sobre a
assistência a pessoa com deficiência. Já a relevância social se refere a contribuição para um
maior esclarecimento da sociedade sobre a temática em questão, levando em consideração a
importância do debate sobre o tema como um auxílio para a garantia de melhorias na vida da
população com deficiência.
O estudo está dividido em dois capítulos. O primeiro aborda a questão da assistência a
pessoa com deficiência no Brasil. Há uma discussão sobre a assistência social e a filantropia no
contexto do modo de produção capitalista, que gerou mais pobreza e desigualdade social com
o seu surgimento, e do sistema neoliberal. O capítulo mostra um resgate do surgimento dos
sistemas proteção social, bem como das políticas sociais. Observa-se também, um resgate dos
19
principais marcos históricos que foram fundamentais para a conquista de direitos, da cidadania
e da inclusão social da pessoa com deficiência.
O segundo capítulo, aborda o fazer profissional do assistente social na Associação de
Pais e Amigos dos excepcionais – APAE/Natal. O capítulo mostra um relato geral sobre a
instituição, trazendo a caracterização da instituição como uma instituição sem fins lucrativos
inserida no terceiro setor, bem como seu histórico e o trabalho desenvolvido com a pessoa com
deficiência. Em seguida, o capítulo aborda o fazer profissional do assistente social, trazendo as
demandas que chegam para o Serviço Social na instituição, bem como os limites e as
possibilidades para a concretização do fazer profissional. O capítulo mostra também a
caracterização da profissão do Serviço Social enquanto trabalho, fazendo uma análise articulada
com as dimensões da profissão e com o projeto ético-político profissional.
Como metodologia, foi utilizado o levantamento bibliográfico de dados, bem como, a
inserção de conhecimentos adquiridos no estágio supervisionado em Serviço Social na
APAE/Natal. As situações presenciadas no cotidiano de trabalho do Serviço Social na APAE,
foram de fundamental importância para o desenvolvimento deste trabalho, bem como, toda a
bibliografia pesquisada com relação ao tema.
2. A ASSISTÊNCIA A PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL
No Brasil, se tem constatado na última década, avanços no que se refere a assistência e
a garantia de direitos para a pessoa com deficiência. Entretanto, ainda há um longo caminho a
percorrer para que esses avanços possam ser suficientes para garantir melhores condições de
vida a essa população. Apesar dos avanços conquistados, ainda há muito o que se se conquistar,
o que não se constitui uma tarefa fácil, levando em consideração a conjuntura atual da
sociedade.
Com base no documento da Presidência da República denominado Avanços das
Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência (2012), ultimamente, o Brasil tem avançado
significativamente no que diz respeitos a promoção de direitos através das políticas públicas.
Através desses avanços, relacionados a conquista de direitos das pessoas com deficiência
conforme será melhor abordado nos tópicos a seguir, a população com deficiência vem
conquistando aos poucos o seu espaço na sociedade, adquirindo assim uma maior visibilidade,
contribuindo para que essas conquistas e avanços tenham a possibilidade de aumentar, apesar
de, em tempos atuais, diante da conjuntura neoliberal, seja uma tarefa difícil.
20
2.1 ASSITÊNCIA SOCIAL E FILANTROPIA: UMA DISCUSSÃO SOBRE OS
DIREITOS NOS MARCOS DO CAPITALISMO.
O modo de produção capitalista gerou, a partir do seu surgimento, mais desigualdade
social e a pobreza para a sociedade. Diante disso, os sistemas de proteção social, foram
fundamentais para amenizar as desigualdades sociais oriundas do capitalismo. Atualmente, as
políticas sociais, amparam parte da população que necessita, entretanto, não são suficientes para
abarcar toda a demanda, levando em consideração que, a conjuntura neoliberal não permite.
Com base em Boschetti (2012), os sistemas de proteção social estão diretamente ligados
ao surgimento da questão social e tiveram origem na Europa Ocidental no contexto da
Revolução Industrial, se expandindo após a Segunda Guerra Mundial. A autora afirma que,
esses sistemas de proteção social, não conseguiram emancipar a humanidade do sistema
capitalista, entretanto, modificaram a questão da desigualdade social entre as classes sociais no
decorrer do século XX, através de sistemas de direitos e deveres. Acerca do que define um
sistema de proteção social, a autora afirma que:
[...] um sistema de proteção social não é somente a justaposição de
programas e políticas sociais, nem tampouco se restringe a uma política
social, o que significa dizer que as políticas sociais não constituem, em
si mesmas, um sistema de proteção social. O que o configura é o
conjunto organizado, coerente, sistemático e planejado de políticas
sociais que garantem a proteção social por meio de amplos direitos,
bens e serviços sociais, nas áreas de emprego, saúde, previdência,
habitação, assistência, educação. A composição dos sistemas de
proteção social varia de um país para o outro, a seguridade social
(previdência, saúde, assistência social) constitui o núcleo duro em
praticamente todas as nações. (BOSCHETTI, 2012, p.756).
Os sistemas de proteção social de uma sociedade, tem como objetivo acolher as pessoas
que necessitam de auxílio para sua sobrevivência. De acordo com Giovanni (1998), “não existe
sociedade humana que não tenha desenvolvido algum sistema de proteção social” (Giovanni,
1998, p.9). Seguindo as concepções de Sposati, no Brasil, a proteção social se insere em um
contexto de seguridade social, ou seja, “no conjunto de seguranças sociais que uma sociedade,
de forma solidária, garante seus membros” (SPOSATI, 2013, p.663). De acordo com a autora,
a assistência social no Brasil se define como uma política pública de proteção social que atua
por um sistema único federativo que é o Sistema Único de Assistência Social – SUAS.
Devido a conjuntura neoliberal, os sistemas de proteção social no Brasil, não dão conta
de acabar com as desigualdades sociais, apenas amenizam o problema. Na sociedade capitalista,
desigual, em que há uma concentração de riquezas nas mãos de poucas pessoas enquanto parte
21
da população não dispõe sequer do mínimo para sobreviver, os sistemas de proteção social são
fundamentais para auxiliar essa parcela da população a ter a garantia de condições dignas de
vida, direitos assegurados, sem que lhes falte o necessário para sua sobrevivência, contribuindo
para amenizar a desigualdade social, apesar de não serem capazes de acabar com as
desigualdades existentes na sociedade capitalista. Boschetti afirma que:
O reconhecimento dos direitos sociais e, sobretudo, sua universalização
nos sistemas de proteção social capitalista, seja em forma de bens e
serviços, seja em forma de prestações sociais monetárias, possibilitaram
a melhoria das condições de vida, certa redução das desigualdades
sociais e certa socialização do fundo público, mas seguramente não
desmercantilizam as relações sociais, que continuam regidas pelas
relações capitalistas fundadas na socialização da produção e
apropriação privada de seus resultados. (BOSCHETTI, 2012, p.758).
De acordo com Behring (2009), não é possível afirmar ao certo quando surgiram
especificamente as primeiras ações que foram realmente reconhecidas como políticas sociais,
pois, a autora afirma que “como processo social, elas se gestaram na confluência dos
movimentos de ascensão do capitalismo com a Revolução Industrial, das lutas de classe, e do
desenvolvimento da intervenção estatal” (BEHRING, 2009, p. 47). De acordo com a autora,
essas políticas objetivavam o controle social através de uma assistência mínima fundamentada
na caridade e em ações filantrópicas, sem uma concepção de direito. Levando em consideração
o surgimento das políticas sociais no Brasil, Behring (2009) mostra que, elas também não
surgiram em uma concepção de direito, entretanto faz-se necessário observar a formação social
brasileira, que ocorreu de forma exploratória, em que se iniciou então a dependência do Brasil
as decisões e influências do mercado mundial, situação que não se modicou nem mesmo após
independência política do Brasil de Portugal. Mota afirma que:
As políticas de proteção social, nas quais se incluem a saúde, a
previdência e a assistência social, são consideradas produto histórico
das lutas do trabalho, na medida em que respondem pelo atendimento
de necessidades inspiradas em princípios e valores socializados pelos
trabalhadores e reconhecidos pelo Estado e pelo patronato. (MOTA,
2009, p.1).
Apesar de existirem políticas sociais que amparem a sociedade, essas políticas não
abarcam toda a população, levando em consideração que, no sistema neoliberal, vigente em
nossa sociedade, as políticas são focalizadas e seletivas, selecionando sempre “dos pobres, o
mais pobre”. Analisando o neoliberalismo, pode-se perceber que corresponde a diversos ideias
políticos e econômicos que objetivam a participação mínima do Estado na economia. De acordo
com Cisne [S.D.], o objetivo principal do neoliberalismo se fundamenta no processo de
desregulação do Estado referente a economia, e também com a desresponsabilização do Estado
22
com as políticas públicas. As políticas são focalizadas e seletivas, há uma série de critérios para
ter acesso, em que o mais necessitado dentre os necessitados é selecionado. Nesse contexto, as
políticas sociais ao invés de acabar com a desigualdade social, não o fazem, pois devido a essa
concepção do neoliberalismo de participação mínima do Estado na economia e de
desresponsabilização do mesmo com as políticas públicas, as mesmas acabam por apenas
amenizar um pouco o problema, sem resolve-lo por completo. De acordo com Dallago:
[...] as políticas sociais na concepção neoliberal, ao invés de diminuir
as desigualdades sociais aumentam ainda mais o abismo social, fazendo
consequentemente crescer a dependência de enormes segmentos
populacionais. (DALLAGO, 2007, p.5).
Na sociedade capitalista, em que predominam a pobreza e a exclusão social, os sistemas
de proteção social são fundamentais na vida da população para auxiliar na garantia de sua
sobrevivência. Há a necessidade de se desenvolver políticas públicas que auxiliem na
sobrevivência da população que necessita, tendo em vista o caráter excludente e desigual que o
sistema capitalista de produção impõe a sociedade. De acordo com Andrade 2012, “as políticas
sociais são um fenômeno associado à emersão da ordem burguesa, diga-se, ao modo produção
e reprodução social capitalista”. (ANDRADE, 2012, p.70). As políticas sociais surgem para
diminuir as sequelas ocasionadas pelo sistema capitalista.
De acordo com Yazbek [S.D], as políticas sociais correspondem a iniciativas do Estado
para o enfrentamento da situação de pobreza e exclusão ocasionada pelo sistema capitalista de
produção. Faleiros (2014) afirma que, a exclusão se define como negação da cidadania e da
garantia de direitos. A pobreza vai evidenciar as pessoas que, de modo permanente ou
transitório, se encontram “privados de um mínimo de bens ou mercadorias necessárias à sua
reprodução à sua conservação e reprodução social”. (Yasbek, 2006, p.23). A pobreza e a
subalternidade acabam por fazer com as pessoas sejam excluídas da sociedade.
Segundo Martins (2003), a sociedade que inclui as pessoas, é a mesma que exclui. Na
realidade o autor fala que existe uma inclusão perversa, ou seja, um método precário e
subalterno dessas pessoas serem incluídas na sociedade, em que o desenvolvimento econômico
vai criar um desenvolvimento social que se encontra abaixo de suas possibilidades, e com isso,
a desigualdade social continuará sendo reproduzida. Martins afirma que:
No fundo, a luta contra a exclusão, pela centralidade de ‘conceito’ na
teoria e na prática, é uma luta conformista: toma os integrados na
sociedade como referência privilegiada para definir o destino das
vítimas extremas dessa sociedade (MARTINS, 2003, p.45).
23
De acordo com o Conselho Federal de Serviço Social – CFESS, a pobreza e a deficiência
caminham juntas. O CFESS faz essa afirmação, devido a Região Nordeste, considerada como
sendo uma das mais pobres do país, apresentar o maior índice de pessoas com deficiência entre
os Estados brasileiros, se comparado com a sua população residente, de acordo com dados do
último CENSO do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE realizado em 2010.
Dados do CENSO, apontam que no Brasil, 23,9% da população total possui algum tipo de
deficiência, levando em consideração a população residente tanto em áreas urbanas, quanto em
áreas rurais, conforme mostra o gráfico 1. O gráfico mostra também que da população total da
Região Nordeste que não possui nenhum tipo de deficiência, corresponde ao valor percentual
de 76,1% da população.
GRÁFICO 1 – População com Deficiência no Brasil
FONTE: IBGE, (2010).
O Censo do IBGE mostra ainda a porcentagem relativa a quantidade de mulheres e
homens que apresentam algum tipo de deficiência. Observou-se que, do percentual total de toda
a população do Brasil que possui algum tipo de deficiência, 26,5% corresponde ao percentual
de mulheres, e 21,2% corresponde ao percentual de homens, o que nos faz perceber que, o
número de mulheres com algum tipo de deficiência no Brasil, é maior que o número de homens,
23,9
76,1
Porcentagem da população com deficiência no Brasil
População brasileira com algum tipo de deficiência
População brasileira sem nenhum tipo de deficiência
24
conforme mostra o gráfico 2. Pode-se observar no gráfico também, que o número total de
homens e mulheres sem nenhum tipo de deficiência no Brasil, é de 52,3%.
GRÁFICO 2 – Homens e Mulheres com Algum Tipo de Deficiência no Brasil
FONTE: IBGE, (2010).
O Censo demográfico do IBGE mostra ainda as informações relativas a porcentagem
dos Estados com maior e menor número de pessoas com deficiência no Brasil. Nessa análise,
foi constatado que, Rio Grande do Norte, corresponde ao Estado que apresenta o maior número
de pessoas com algum tipo de deficiência, relacionado a sua população residente, com 27,86%
da população. Levando em consideração a questão do Rio Grande do Norte apresentar esse
maior percentual entre os Estados brasileiros, nos remete a analisar que, há a necessidade do
Estado se debruçar sobre essa realidade de maneira a dar conta das demandas que emergem
dessa população com deficiência, tendo em vista que, ainda há um longo caminho a percorrer
no sentido de garantir melhores condições de vida para essa população. Já o estado de Roraima,
dentre todos os Estados brasileiros, corresponde ao menor número de pessoas que apresentam
algum tipo de deficiência, também relacionado a sua população residente, com 21,26% da
população, como explicita o gráfico 3.
26,5
21,2
52,3
Percentual de homens e mulheres no Brasil com algum tipo de deficiência
Mulheres no Brasil com algum tipo de deficiência
Homens no Brasil com algum tipo de deficiência
Homens e mulheres no Brasil sem nenhum tipo de deficiência
25
GRÁFICO 3 - Estados Brasileiros com o Maior e o Menor Índice de Pessoas com
Deficiência, de Acordo com a População Residente
FONTE: IBGE, (2010).
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 2011, que se encontram
na página da Organização da Nações Unidas (ONU), se nos referirmos a população mundial,
cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo possuem algum tipo de deficiência. A ONU mostra que,
em cada 7 pessoas no mundo, 1 possui alguma deficiência, o que diz respeito a um número
extremamente relevante. A ONU afirma ainda que, 80% da população com deficiência no
mundo, residem em países que ainda estão em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.
No ano de 2004, o Conselho Nacional de Assistência social – CNAS aprovou a Política
Nacional de Assistência Social – PNAS, que compreende parte do sistema de proteção social
brasileiro, e objetiva o acolhimento de pessoas. De acordo os Parâmetros legais que regem a
assistência social, a política de assistência social vem sendo regulamentada pelo governo
federal, com a aprovação do CNAS, através da PNAS e do SUAS.
72,1478,74
27,8621,26
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Rio Grande do Norte (Estado brasileiro commaior ídidice de pessoas com deficiência)
Roraima (Estado brasileiro com menor ídidicede pessoas com deficiência)
Percental dos Estados brasileiros com o maior e o menor índice de pessoas com deficiência, de acordo
com a população residente
População do Estado sem nenhum tipo de deficiência
População do Estado com algum tipo de deficiência
26
A política de Assistência Social compõe o tripé da seguridade social, junto com a saúde
e a previdência social, como vem descrito na Constituição Federal de 1988, também conhecida
como Constituição Cidadã, por ser um marco na conquista dos direitos sociais, que foram
alcançados através de muitas lutas por parte dos movimentos sociais e da população como um
todo. Com base na Constituição de 1988, a saúde é universal, a previdência social é garantida
ao cidadão mediante contribuição compulsória e a assistência social é garantida para quem dela
necessitar. De acordo com Yasbek:
A assistência é, pois, como as demais políticas do campo social,
expressão de relações sociais que reproduzem os interesses em
confronto na sociedade. Reproduzem, portanto, a exploração, a
dominação e a resistência, num processo contraditório em que se
acumulam riqueza e pobreza. E a acumulação da pobreza na sociedade
brasileira põe em questão os limites das políticas voltadas a seu
enfrentamento e a necessidade de aproximação ao universo de exclusão
e subalternidade dos que buscam as instituições sociais que atuam no
âmbito assistencial. (YAZBEK, 2006, p. 22).
No Brasil, com base na LOAS, a política de assistência social é realizada através de um
conjunto integrado de ações, que envolvem iniciativas tanto do Estado, quanto da sociedade
civil. Essas iniciativas que vem por meio da sociedade civil, correspondem as organizações e
instituições sem fins lucrativos. E é nesse contexto do neoliberalismo que está inserida atuação
das instituições filantrópicas que compõe o terceiro setor. A assistência social deve garantir ao
usuário, o atendimento das necessidades básicas, a garantia dos direitos sociais e o acesso as
demais políticas públicas, igualdade de direitos, informação acerca dos programas, projetos e
serviços oferecidos, além de respeito ao usuário. O Art. 1º da Lei Orgânica da Assistência
Social, sobre a garantia da assistência social para o cidadão afirma que:
A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de
Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais,
realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa
pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades
básicas. (BRASIL, Lei 8.742, 1993).
A política de assistência a pessoa com deficiência no Brasil, está inserida dentro da
política de assistência social, que por sua vez é uma política bastante ampla e constitui espaço
sócio-ocupacional do assistente social. O Conselho nacional de Assistência Social (CNAS),
levando em consideração o previsto no Art. 18, incisos I, II, IV, da Lei 8.742 de 7 de dezembro
de 1993 ou Lei Orgânica da Assistência Social, resolve aprovar a Política Nacional de
Assistência Social (PNAS), instituída pela Resolução nº 145 de 15 de outubro de 2004. A PNAS
tem o objetivo de amparar aos usuários que dela necessitam. Para o enfrentamento das
27
necessidades dessa população, existem tanto instituições estatais como é o caso do Centro de
Reabilitação Infantil – CRI1, como também as instituições filantrópicas da sociedade civil,
como é o caso da Associação de Pais e amigos do Excepcionais – APAE2, na qual realizei o
estágio supervisionado em Serviço Social. A APAE é uma instituição sem fins lucrativos, com
registro no Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS e certificado de filantropia3.
Apesar de existir um amparo através das políticas sociais para a população com
deficiência no Brasil, ainda não é suficiente para garantir que toda a população seja assistida.
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 272, traz que a assistência social será prestada a
quem dela necessitar, entretanto, na prática não é o que realmente acontece, levando em
consideração que no sistema neoliberal4, vigente em nossa sociedade. Com a APAE não é
diferente, a instituição não consegue abarcar toda a demanda que chega até ela, há casos em
que é necessário aguardar em uma fila de espera, entretanto a questão não é dizer que a
instituição é boa ou ruim, mas que o sistema não dá condições da instituição acolher toda a
demanda de uma vez, não depende exclusivamente da instituição, conforme será melhor
descrito nos próximos tópicos.
As políticas sociais têm sua trajetória marcada pela filantropia. Segundo Chiachio, “a
filantropia sempre esteve presente no desenvolvimento das políticas sociais, brasileiras e sua
participação na prestação de serviços sociais é reconhecida constitucionalmente” (CHIACHIO,
2011, p. 58). Ou seja, a filantropia, através das políticas sociais, vai auxiliar aqueles que que
necessitam, assim sendo, a política social pública vai garantir que a população em situação de
vulnerabilidade5 tenha acesso aos bens e serviços necessários para viver em sociedade.
1 Centro de Reabilitação Infantil – CRI: Instituição estatal que presta assistência a crianças e adolescentes com deficiência, localizada em Natal/RN. 2 A APAE/natal está localizada na Rua dos Potiguares, número 58, DixSept Rosado, Natal/RN. Sobre o funcionamento da instituição, o horário de funcionamento é de segunda-feira a sexta-feira, das 07:30 ás 11:30 e das 13:30 à 17:30. A instituição funciona neste mesmo local há 52 anos. 3 A APAE/Natal é uma instituição sem fins lucrativos que possui certificado de filantropia. O certificado de filantropia diz respeito a uma certificação, fundamentada na Lei 12.101 de 27 de novembro de 2009, concedida as instituições sem fins lucrativos, que são vistas como instituições beneficentes de assistência social, que prestam serviços relacionados a assistência social, saúde e educação, como vem descrito no art. 1º da referida Lei, que traz ainda que, essa certificação regula os procedimentos de isenção de contribuições para a seguridade social. 4 O estado neoliberal corresponde a um conjunto de ideais políticos e econômicos que priorizam a participação mínima do Estado na economia. No neoliberalismo as políticas sociais são focalizadas e seletivas, deixando de atender a toda a população, para atender apenas que são considerados mais (necessitados entre os necessitados). 5 Vulnerabilidade: situação de fragilidade, de insegurança.
28
As instituições sem fins lucrativos objetivam, em certa medida, dar resposta a parcela
da população que vive em situação de pobreza e exclusão social, contribuindo para a garantia
de direitos, a cidadania e a inclusão social dessas pessoas. Essas instituições prestam assistência
a população, de forma gratuita, contribuindo para que essas pessoas tenham acesso aos bens e
serviços essenciais para sua sobrevivência e estão incluídas no terceiro setor, que de acordo
com Alencar, é considerado um setor “não-governamental, não-lucrativo e esfera pública não
governamental” que vai se fundamentar “pelo conjunto de organizações da sociedade civil
consideradas de interesse público” (ALENCAR, 2009, p.8). Em seu Art. 3º, a LOAS prevê o
que caracteriza uma instituição de assistência social sem fins lucrativos:
Consideram-se entidades e organizações de assistência social aquelas
sem fins lucrativos que, isolada ou cumulativamente, prestam
atendimento e assessoramento aos beneficiários abrangidos por esta
Lei, bem como as que atuam na defesa e garantia de direitos. (BRASIL.
Lei 8.742, 1993).
Estas instituições sem fins lucrativos, devido ao contexto neoliberal, não dão conta de
abarcar toda a demanda que chega para si, sendo necessário na maioria das vezes, solicitar que
o usuário aguarde em uma fila de espera, até surgir uma nova vaga6. Entretanto, isso não
significa que a instituição seja incompetente quanto ao seu trabalho, pois não depende
exclusivamente da instituição, o sistema neoliberal, não permite a universalidade no
atendimento, não dá condições para que as instituições sem fins lucrativos abarquem toda a
demanda. As restrições impostas pelo neoliberalismo, não permitem que os direitos sejam
garantidos em sua plenitude, fato que se agrava quando o serviço é ofertado por instituições
dessa natureza e não pelo Estado.
Uma das maiores contradições que podemos constatar é que as instituições sem fins
lucrativos contam com doações e convênios por parte do Estado para se manterem e não estão
inseridas na sociedade apenas em um contexto de benemerência, mas como executoras de
projetos e de políticas que compõem o sistema de seguridade social brasileiro. Iamamoto afirma
que:
A sociedade civil é reduzida a um conjunto de organizações – as
chamadas entidades civis sem fins lucrativos –, sendo dela excluídos os
órgãos de representação política, como sindicatos e partidos, dentro de
um amplo processo de despolitização” (IAMAMOTO, 2009 p. 29).
6 Essa questão de vagas limitadas, pode-se observar também na APAE. Todos os dias chegam diversos usuários na instituição em busca de atendimento. Entretanto, a instituição não tem possibilidade de atender a toda a demanda, sendo necessário solicitar que o usuário aguarde em uma fila de espera até ter um profissional com horário disponível para o atendimento.
29
As instituições sem fins lucrativos fazem parte do terceiro setor7. De acordo com
Andrade (2012), o terceiro setor, a partir da década de 1990, passou a ser mais presente em
debates políticos sociais da sociedade brasileira como um todo. O autor mostra que, o Estado
passa a ficar mais distante de suas ações e intervenções sociais, e essas demandas que o Estado
deixa de cumprir, vem sendo assumidas por parte da sociedade civil, onde estão incluídas as
instituições sem fins lucrativos. Iamamoto afirma que:
O chamado "terceiro setor", na interpretação governamental, é tido
como distinto do Estado (primeiro setor) e do mercado (segundo setor).
É considerado como não governamental, não lucrativo e voltado ao
desenvolvimento social; daria origem a uma "esfera pública não
estatal", constituída por 'organizações da sociedade civil de interesse
público'. (IAMAMOTO, 2012, p.58)
A APAE é uma instituição filantrópica e como tal, faz parte do terceiro setor. O terceiro
setor diz respeito a um setor não governamental, sem fins lucrativos. É composto por um
conjunto de entidades sem fins lucrativos que correspondem as organizações da sociedade civil.
Iamamoto (2012) aponta que a sociedade civil é voltada para um viés de solidariedade,
incluindo-se em um processo de despolitização, deixando de lado a questão dos conflitos e
tensões de classe. A respeito do terceiro setor, a autora afirma que fazem parte do mesmo:
[...] as tradicionais instituições filantrópicas; o voluntariado e
organizações não governamentais: desde aquelas combativas que
emergiram no campo dos movimentos sociais, àquelas com filiações
político-ideológicas as mais distintas, além da denominada "filantropia
empresarial". Chama atenção a tendência de estabelecer uma identidade
entre terceiro setor e sociedade civil. Esta passa a ser reduzida a um
conjunto de organizações — as chamadas entidades civis sem fins
lucrativos —, sendo dela excluídos os órgãos de representação política,
como sindicatos e partidos, dentro de um amplo processo de
despolitização. A sociedade civil tende a ser interpretada como um
conjunto de organizações distintas e "complementares", destituída dos
conflitos e tensões de classe, onde prevalecem os laços de
solidariedade. (IAMAMOTO, 2012, p. 58).
Montaño (2003) afirma dos anos 80 para os anos 90, houve uma mudança de caráter
com relação aos movimentos sociais e as ONGs articuladas a esses movimentos. O autor mostra
que a partir dos anos 90 passou a existir o que se chama de parceria, que o mesmo se refere
como sendo uma articulação com o Estado. “Desta maneira, os movimentos sociais, “deixam
lugar a um terceiro setor, que desenvolve uma participação em parceria com o Estado”
(MONTAÑO, 2003, p. 146). As instituições filantrópicas que fazem parte do terceiro setor,
7 O primeiro setor corresponde ao governo; o segundo setor diz respeito ao privado; o terceiro setor é
composto por organizações sem fins lucrativos e não governamentais.
30
contam com convênios e doações para manterem o seu funcionamento. Esses convênios, se
tratam dessas parcerias entre o setor público e o privado. Uma vez que, o Estado não assume as
responsabilidades com as políticas sociais, a sociedade civil passa a assumir tais
responsabilidades e o Estado passa a financiar essas ações da sociedade civil, ou seja, as
instituições do terceiro setor estão para suprir uma necessidade que deveria ser de total
responsabilidade do Estado. Montaño mostra essa crítica sobre a real função do terceiro setor e
afirma que:
Assim sendo, essa chamada “parceria” não é outra coisa senão o repasse
de verbas e fundo público no âmbito do Estado para as instâncias
privadas, substituindo o movimento social pela ONG. E essa verdadeira
transferência de recursos públicos para setores privados não ocorre sem
uma clara utilidade política governamental. O Estado é, portanto,
mediante a legislação (leis como do “voluntariado”, do “terceiro setor”,
das “Oscips”, das “parcerias”) e repasse de verbas, um verdadeiro
subsidiador e promotor destas organizações e ações do chamado
“terceiro setor” e da ilusão do seu serviço. (MONTAÑO, 2003, p. 146).
Montaño faz uma articulação do terceiro setor com a questão social, afirmando ser esse
setor uma “a configuração de uma nova modalidade de trato à questão social” (MONTAÑO,
2003, p. 187). O autor afirma se tratar de uma nova expressão da questão social, se refere a isso,
como sendo o fenômeno escondido por traz do que chamamos de terceiro setor, em que a
responsabilidade do setor público, é transferida para o setor privado. Montaño expõe que:
Na verdade, a “questão social” – que expressa a contradição capital-
trabalho, as lutas de classes, a desigual participação na distribuição de
riqueza social – continua inalterada; o que se verifica é o surgimento e
alteração, na contemporaneidade, das refrações e expressões daquela.
O que há são novas manifestações da velha questão social.
(MONTAÑO, 2003, p.187).
Os profissionais do Serviço Social inseridos nas instituições sem fins lucrativos,
desenvolvem seu trabalho lutando a cada dia para tornar possível a viabilização e garantia de
direitos, através dos serviços socioassistenciais, programas, projetos e políticas sociais,
entretanto essas instituições, devido neoliberal, não conseguem abarcar toda a demanda. Há
também dentro das instituições, a questão da correlação de forças, toda instituição é fruto da
correção de forças e do embate de interesses distintos. Há a necessidade de se inserir nesse
processo de disputas para poder se chegar as mudanças. No cotidiano de trabalho de uma
instituição filantrópica, é visível a questão da correlação de forças existente, que será melhor
explicada nos tópicos a seguir. Além dos embates entre as distintas áreas profissionais, há a
questão da articulação com o Estado, por meio dos convênios que auxiliar no funcionamento
da instituição.
31
2.2 UM BREVE HISTÓRICO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA A PESSOA COM
DEFICIÊNCIA NO BRASIL: OS MARCOS LEGAIS.
Os avanços conquistados até hoje pela população com deficiência no Brasil,
relacionados a conquista de direitos e melhorias nas condições de vida, foram possíveis por
meio de muitas lutas, reivindicações e demandas levantadas pelos movimentos sociais. Todo
esse esforço por parte da população, contribuiu para que as ações voltadas para a população
com deficiência, saíssem do mero assistencialismo e de atos de caridade, e passassem para a
concepção de direito garantido.
De acordo com as informações do documento da Secretaria de Direitos Humanos e da
Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, intitulado: História
do Movimento Político das Pessoas com Deficiência no Brasil (2010), no decorrer do século
XX foram surgindo iniciativas que eram voltadas para a pessoa com deficiência no Brasil,
entretanto, o documento mostra que, apenas a partir da década de 1970 foi que realmente surgiu
na sociedade brasileira, o movimento das pessoas com deficiência, pois foi a partir daí que a
população com deficiência começou a tomar parte de suas lutas. O documento afirma ainda
que, no período que antecede a década de 1970, as únicas ações que eram destinadas as pessoas
com deficiência, se delimitavam na educação, na caridade e no assistencialismo.
Tomando ainda o documento mencionado como referência, no decorrer do século XX,
surgiram iniciativas por parte da sociedade civil que eram voltas para a população com
deficiência no Brasil, dentre essas iniciativas destaca-se as Associações de Pais e Amigos dos
Excepcionais – APAEs, associação a qual traz consigo, um movimento social denominado
Movimento Apaeano8. Todas essas lutas por avanços que vem sendo conquistados, tem como
objetivo não só a garantia de direitos e melhorias nas condições de vida da população com
deficiência, como também, a busca por respeito de parte de uma ampla parcela da sociedade
em que ainda predomina o preconceito, a falta de respeito e a discriminação para com esse
grupo de pessoas.
Dentre os marcos legais conquistados pela população com deficiência no Brasil, está o
Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei Brasileira de Inclusão 13.146, de 06 de julho de 2015),
que trouxe uma maior visibilidade e garantia de direitos e melhores condições de vida para as
8 Movimento apaeano: Define-se como um movimento que é constituído por pessoas com deficiência, pais, amigos, voluntários, profissionais e instituições parceiras público/privadas; que objetivam promover a garantia de direitos, a cidadania e a inclusão social da pessoa com deficiência.
32
pessoas com deficiência, mesmo assim, ainda são necessárias condições para que essa
população tenha uma vida com o acesso aos direitos que lhes garantam mais dignidade, tendo
em vista que ainda enfrenta muitas barreiras e desafios, como a questão do preconceito, da falta
de respeito, da dificuldade por diversas vezes de ter acesso a serviços públicos de direito a todo
cidadão, dificuldade em conseguir tratamento de saúde adequado, tendo por diversas vezes os
direitos negados. A inclusão social e a cidadania da pessoa com deficiência, bem como a
liberdade e igualdade de direitos, são direitos garantidos pelo Estatuto da Pessoa com
Deficiência, o qual assegura que:
É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência
(Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a
promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das
liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua
inclusão social e cidadania. (BRASIL. ESTATUTO DA PESSOA
COM DEFICIÊNCIA, ART. 1º).
Apesar do Estatuto entrar em vigor, muitas pessoas e estabelecimentos em sua grande
maioria ainda não seguem a legislação, desrespeitando os direitos da população com
deficiência. A falta de divulgação do Estatuto entre a população por parte do Estado, é uma
situação que contribui bastante para que os direitos não sejam respeitados, pois ainda há uma
grande parcela da população que desconhece a legislação. Há também a questão que o estado
precisa enxergar melhor as demandas que surgem por parte dessa população, com o objetivo
que a população com deficiência possa ser melhor assistida, proporcionando uma vida mais
digna. Com base na Organização da Nações Unidas – ONU, o que contribui para que a
população com deficiência seja invisível perante boa parte da sociedade, é a falta de estatísticas,
o que é considerado pela ONU, um grande obstáculo no que se refere ao planejamento e
implementação de políticas públicas que venham a auxiliar a população com deficiência para
que possam ter melhorias em suas condições de vida.
Contribuindo para esses avanços, ocorreram no Brasil, quatro conferências nacionais da
pessoa com deficiência. As Conferências nacionais das pessoas com deficiência representam
grandes marcos legais que contribuíram de forma significativa para que essa população
ganhasse uma maior visibilidade perante a sociedade. Essas discutiam questões relacionadas a
garantia de direitos de melhores condições de vida para a população com deficiência, fazendo
com que as pessoas enxergassem e respeitassem essa população.
A I Conferência nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência no Brasil, cujo tema
principal foi a acessibilidade, ocorreu no ano de 2006 e significou um avanço relevante no que
33
se refere a garantia dos direitos da pessoa com deficiência. De acordo com o documento da
Presidência da República intitulado Avanços das Políticas Públicas para Pessoas com
Deficiência (2012), a I Conferência nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência no Brasil
é considerada um marco histórico, social e político. O foco principal desta conferência foi
questão do compromisso com a acessibilidade, em que contou com a mobilização tanto por
parte da sociedade, quanto por parte do governo. Conforme o mesmo documento, sobre a I
conferência nacional:
Foi um importante espaço institucionalizado de participação social e
política, com a representação da sociedade civil e do poder público,
oriundo das três esferas de governo, e consolidou o modelo de gestão
participativa das políticas sociais direcionadas às pessoas com
deficiência. (BRASIL, 2012, p.22).
Ainda de acordo com o mesmo documento citado, no ano de 2008 ocorre a II
Conferência nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, que teve sede em Brasília. Assim
como a primeira conferência, também foi um marco no que diz respeito aos avanços nos direitos
da população com deficiência no Brasil. O foco central desta segunda conferência foi a questão
do avanço na participação, na inclusão e no desenvolvimento. O documento da Presidência da
República acerca dos avanços das políticas públicas para pessoas com deficiência traz que:
A realização de uma conferência nacional no ano de 2008 não foi mero
acaso. Em setembro de 2007, o então Presidente Luiz Inácio Lula da
Silva havia lançado a Agenda Social de Inclusão das Pessoas com
Deficiência, como um primeiro grande esforço governamental para
impulsionar a inclusão das pessoas com deficiência e a promoção da
acessibilidade em nível nacional. A ideia era possibilitar que a
sociedade civil tomasse pleno conhecimento das ações contidas no
programa e colaborasse com sugestões de aprimoramento mediante
propostas a serem apresentadas durante a II Conferência, contribuindo
para forjar políticas baseadas na participação social. (BRASIL, 2012, p.
25).
Nesse mesmo ano de 2008 em que ocorre a II Conferência dos Direitos da Pessoa com
Deficiência, passa a fazer parte da legislação brasileira, a Convenção da Organização das
Nações Unidas – ONU com relação aos direitos da pessoa com deficiência, o que acarretou em
um avanço significativo com relação ao respeito com os diretos humanos. O documento da
convenção reafirma a luta pela inclusão social, pela cidadania e pelos direitos da pessoa com
deficiência, para que essa população venha a ter igualdade de oportunidades perante a
sociedade, garantindo assim melhorias nas condições de vida, bem como a dignidade da pessoa
com deficiência. De acordo com o documento da convenção:
34
Pessoas com deficiência são, antes de mais nada, PESSOAS. Pessoas
como quaisquer outras, com protagonismos, peculiaridades,
contradições e singularidades. Pessoas que lutam por seus direitos, que
valorizam o respeito pela dignidade, pela autonomia individual, pela
plena e efetiva participação e inclusão na sociedade e pela igualdade de
oportunidades, evidenciando, portanto, que a deficiência é apenas mais
uma característica da condição humana. (BRASIL, 2012, p. 13).
No ano de 2012, ocorre então a III Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com
Deficiência, que foi realizada em Brasília. De acordo com o relatório final dessa III conferência,
assim como as duas anteriores, também representou um grande avanço com relação aos direitos
da população com deficiência no Brasil, tendo como foco central, a questão das novas
perspectivas e desafios advindos com a Convenção sobre os Direitos da Pessoa com deficiência
da ONU.
A IV Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência foi realizada em
Brasília no ano de 2016. De acordo com o texto base dessa IV conferência, da mesma forma
que as anteriores, também representou um grande avanço e teve como foco principal a questão
dos desafios que envolvem a implementação da Política da Pessoa com Deficiência, bem como
uma abordagem com relação aos Direitos Humanos. Além desses marcos legais que
objetivaram a garantia de direitos, a cidadania e a inclusão social da pessoa com deficiência, há
também órgão estatais especializados para atender as demandas dessa população.
Dentre esses órgãos, dentro da Secretaria do Estado da Cidadania e justiça no Brasil,
pode-se destacar a Subcoordenadoria para Inclusão da Pessoa com Deficiência – CORDE9. O
documento da Secretaria de Direitos Humanos e da Secretaria Nacional de Promoção dos
Direitos da Pessoa com Deficiência, intitulado: História do Movimento Político das Pessoas
com Deficiência no Brasil 2010 traz que, a criação da CORDE compreendeu um avanço muito
importante com relação aos direitos da pessoa com deficiência. Dentre os órgãos de amparo e
assistência a pessoa com deficiência no Brasil, pode-se destacar o Conselho Nacional dos
Direitos da pessoa com Deficiência – CONADE10. De acordo com o texto base da IV conferência
nacional dos direitos da pessoa com deficiência, o CONADE foi criado no dia 1º de junho de 1999,
9 CORDE: A CORDE é uma subcoordenadoria do Estado, cujo objetivo compreende “apoiar e promover o
desenvolvimento de programas que levam em conta a participação social e política da Pessoa com Deficiência
através de suas organizações representativas e de iniciativas comunitárias”. (Página da CORDE). 10 CONADE: O CONADE foi criado pelo governo e “é um órgão superior de deliberação colegiada, criado para
acompanhar e avaliar o desenvolvimento de uma política nacional para inclusão da pessoa com deficiência e das
políticas setoriais de educação, saúde, trabalho, assistência social, transporte, cultura, turismo, desporto, lazer e
política urbana dirigidos a esse grupo social”. (Página do CONADE).
35
através do Decreto 3.076/1999. Com base no relatório final da III conferência nacional dos direitos da
pessoa com deficiência, sobre a definição do CONADE:
O Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conade)
é um órgão superior de deliberação colegiada, criado para acompanhar
e avaliar o desenvolvimento de uma política nacional para inclusão da
pessoa com deficiência e das políticas setoriais de educação, saúde,
trabalho, assistência social, transporte, cultura, turismo, desporto, lazer
e política urbana dirigidos a esse grupo social. O Conade faz parte da
estrutura básica da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República (SDH/PR). (BRASIL. RELATÓRIO FINAL DA III
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS DIREITOS DA PESSOA COM
DEFICIÊNCIA, p. 13).
Portanto, como pode-se observar, houveram diversos marcos legais que contribuíram
para os avanços nos direitos da população com deficiência no Brasil, como as conferências da
pessoa com deficiência, a convenção, a implementação do Estatuto da Pessoa com Deficiência,
entretanto, mesmo com todos esses avanços, a população com deficiência ainda sofre bastante
com o preconceito e a falta de respeito por parte da sociedade. Apesar de ter ocorrido uma
melhora significativa com relação a garantia de direitos, a cidadania e a inclusão da pessoa com
deficiência após a implementação da Lei Brasileira de Inclusão, mais conhecida como Estatuto
da pessoa com deficiência, ainda não foi suficiente para que essa população possa viver
tranquilamente e ter uma vida mais digna. O Estatuto ainda é desconhecido por alguns, e a falta
de conhecimento faz com que parte da população não tenha a ideia dos direitos que possuem,
sendo necessária uma melhor divulgação da legislação.
Uma outra questão importante se refere as dificuldades encontradas para que a
população em pauta seja inserida no mercado de trabalho. Parte da população com deficiência
no Brasil é economicamente ativa e está inserida nos mais variados campos de trabalho. Há a
garantia por lei de vagas de trabalho destinadas a pessoas com deficiência, entretanto, são
poucas, ainda, as oportunidades destinadas a essa parcela da população. Há a necessidade de o
Estado enxergar melhor essas dificuldades enfrentadas, tomando iniciativas que venham a
auxiliar essa população, para que sua situação de vida venha a ter melhorias.
3. O SERVIÇO SOCIAL E O FAZER PROFISSIONAL DO ASSISTENTE
SOCIAL NA ASSOCIAÇÃO DE PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS –
APAE/NATAL.
O Serviço Social compreende uma profissão que está presente em vários espaços sócio
ocupacionais, contribuindo de forma significativa, buscando estratégias, que serão abordadas
no decorrer deste capítulo, para a viabilização e garantia de direitos dos usuários, por meio dos
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serviços socioassistenciais, programas e projetos organizados e operacionalizados através das
políticas sociais, dos usuários que solicitam os serviços nos diferentes espaços sócio-
ocupacionais. O Código de ética do Assistente Social, em seu Art.8, Alínea d, prevê que, é
dever do assistente social: “empenhar-se na viabilização dos direitos sociais dos usuários,
através dos programas e políticas sociais”. Nesse sentido, “os (as) assistentes sociais trabalham
com as mais diversas expressões da questão social, esclarecendo à população seus direitos
sociais e os meios de ter acesso aos mesmos”. (IAMAMOTO, 2009, p.31). A autora afirma que:
As estratégias para responder à questão social têm sido tensionadas por
projetos partidários e político-institucionais distintos, que presidem a
estruturação legal e a implementação das políticas sociais públicas
desde o final dos anos oitenta, e convivem em luta no seu interior.
(IAMAMOTO, 2009, p. 20).
Um dos campos de atuação do serviço social com usuários portadores de necessidades
especiais, compreende as instituições sem fins lucrativos, como é o caso da APAE. Os tópicos
a seguir mostrarão como se dá a atuação do Serviço Social na APAE, no trabalho como os
usuários portadores de necessidades especiais. Será abordado também, quais são as demandas
postas ao Serviço Social, bem como, os limites e as possibilidades do assistente social em seu
cotidiano profissional, com relação as dimensões da profissão e ao projeto ético político.
3.1 APAE/NATAL: CARACTERIZAÇÃO, HISTÓRICO E ATENDIMENTO A
PESSOA COM DEFICIÊNCIA.
A APAE caracteriza-se como uma instituição sem fins lucrativos que compreende parte
do terceiro setor. A instituição trabalha com atendimento a pessoas com deficiência física,
mental, atendendo usuários com deficiência intelectual e múltipla deficiência. A APAE por ser
caracterizada uma instituição filantrópica, possui registro no Conselho Nacional de Assistência
Social (CNAS) e certificado de filantropia.
Existem outras instituições que atuam prestando atendimento a pessoas com deficiência,
tanto relacionadas a esfera estatal, como é caso do Centro de Reabilitação Infantil (CRI); como
também existem outras instituições filantrópicas como é o caso da Associação de Orientação
ao Deficiente (ADOTE).
De acordo com a tipificação dos serviços socioassistenciais (2009), com relação a
classificação por nível de complexidade, os serviços da APAE classificam-se no nível de
37
proteção social especial de média complexidade11, pois presta atendimento a pessoas com
deficiência em centro especializado fora do ambiente domiciliar dos usuários. O Estatuto da
pessoa com deficiência, mostra o que caracteriza uma pessoa com deficiência:
Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual,
em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas. (BRASIL. ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA,
ART. 2º).
Para o atendimento a esse público na cidade de Natal-RN, foi criada a APAE12 por meio
do clube de pais e mestres da clínica pedagógica professor Antônio Carrilho fundada
provisoriamente em suas dependências, no dia 31 de outubro de 1959, desenvolvendo trabalhos
com crianças excepcionais. Em 1962 é criada a Federação Nacional das APAEs (FENAPAES)
em São Paulo, a partir de então a APAE Natal, teve que ser organizar para adquirir os padrões
necessários para o seu reconhecimento legal. Nesta época a instituição funcionava através de
recursos provenientes de doações e de eventos para angariar fundos.
A construção da sede própria foi conseguida mediante doação do terreno e também dos
recursos para construção. Na década de 1980, a instituição entra em uma séria crise financeira.
Para que fosse possível realizar suas atividades, a estratégia adotada foi eleger a primeira dama
do Estado à senhora Vilma Maia para o cargo de presidente da APAE Natal, a partir de então
foram conseguidos convênios com o município, o Estado e o Governo Federal e também houve
um aumento dos eventos beneficentes. Em 1986 estabeleceu-se convênio com a Legião
Brasileira de Assistência (LBA) com as secretarias de educação do Estado e do município e a
11 De acordo com a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (2009, p.3-4), existem três níveis de
complexidade. O primeiro nível de complexidade corresponde a Proteção Social Básica, que se refere ao Serviço
de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF); ao Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos; e
ao Serviço de Proteção Social Básica no domicílio para pessoas com deficiência e idosas. O segundo nível de
complexidade corresponde a Proteção Social Especial de Média Complexidade, que se refere ao Serviço de
Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI); ao Serviço Especializado em Abordagem
Social; ao Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade
Assistida (LA), e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC); ao Serviço de Proteção Social Especial para
Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias; ao Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua. O
terceiro nível de complexidade corresponde a Proteção Social Especial de Alta Complexidade, que se refere ao
Serviço de Acolhimento Institucional, nas seguintes modalidades: abrigo institucional, Casa-Lar, Casa de
Passagem; Residência Inclusiva; ao Serviço de Acolhimento em República; ao Serviço de Acolhimento em Família
Acolhedora; ao Serviço de Proteção em Situações de Calamidades Públicas e de Emergências.
12 A APAE/natal está localizada na Rua dos Potiguares, número 58, DixSept Rosado, Natal/RN. Sobre o funcionamento da instituição, o horário de funcionamento é de segunda-feira a sexta-feira, das 07:30 ás 11:30 e das 13:30 à 17:30. A instituição funciona neste mesmo local há 52 anos.
38
secretaria do trabalho e do bem-estar social. Em 1988 a APAE Natal foi registrada no Conselho
Nacional de Assistencial social (CNAS) e recebeu o certificado de filantropia (APAE).
A partir de uma organização de amigos, parentes e profissionais na busca do
reconhecimento dos diretos das pessoas com deficiência, iniciou a prestação dos serviços de
educação, saúde e assistência social em espaços que se denominou APAEs e que se expandiram
para diversos Estados do Brasil. Devido a sua mobilização e expansão convencionou-se chamá-
lo de “Movimento Apaeano”, que atualmente congrega 23 FENAPAES e mais de 2 mil APAEs
em todo o país, que proporciona atenção integral a 250.000 pessoas com deficiência, com
objetivo de promover a defesa dos direitos da cidadania da pessoa com deficiência e a sua
inclusão social.
A APAE/Natal atua prestando assistência a pessoas com deficiência em grau leve
intermediário e de maior gravidade. A instituição se caracteriza como uma Organização Não
Governamental – ONG. Conta com uma equipe de profissionais que desenvolvem um excelente
trabalho na instituição, objetivando melhorias nas condições de vida da pessoa com deficiência.
A missão da APAE/Natal corresponde a: “promover e articular ações de defesa de
direitos, prevenção, orientação, prestação de serviços e apoio à família, direcionados à melhoria
da qualidade de vida da pessoa portadora de deficiência e à construção de uma sociedade justa
e solidária”. (APAE/NATAL). A garantia de direitos, da cidadania e a inclusão social da pessoa
com deficiência fazem parte do compromisso da APAE com a pessoa portadora de deficiência.
O Serviço social contribui de forma significativa para a consolidação dessa cidadania. O III
princípio fundamental do Código de Ética do Assistente Social prevê a: “Ampliação e
consolidação da cidadania, considerada primordial de toda a sociedade, com vistas à garantia
dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras”. Desta maneira, se faz necessário
ter o compromisso com o processo de consolidação e ampliação da cidadania em relação aos
usuários.
Para o atendimento a pessoas com deficiência, a instituição conta com o trabalho de uma
equipe multiprofissional que desenvolve um trabalho interdisciplinar. Há uma equipe de
profissionais diversificada, mas que se reúne articulando conhecimentos gerais de cada área de
atuação, para que seja possível resolver de maneira qualificada, determinadas situações de cada
usuário. O trabalho interdisciplinar também vem descrito no Código de ética do Assistente
Social, que prevê, em seu Art.º 10, Alínea d, que é dever do assistente social: “incentivar,
sempre que possível, a prática profissional interdisciplinar”. De acordo com os Parâmetros para
a Atuação dos Assistentes Sociais na Política de Assistência Social, do CFESS:
39
A atuação interdisciplinar requer construir uma prática
políticoprofissional que possa dialogar sobre pontos de vista diferentes,
aceitar confrontos de diferentes abordagens, tomar decisões que
decorram de posturas éticas e políticas pautadas nos princípios e valores
estabelecidos nos Códigos de Ética Profissional. A
interdisciplinaridade, que surge no processo coletivo de trabalho,
demanda uma atitude ante a formação e conhecimento, que se evidencia
no reconhecimento das competências, atribuições, habilidades,
possibilidades e limites das disciplinas, dos sujeitos, do reconhecimento
da necessidade de diálogo profissional e cooperação. (CFESS, 2009,
p.26).
Com base no CFESS, acerca do trabalho interdisciplinar, levando em consideração as
atribuições privativas do assistente social, o trabalho entre equipes, cujas mesmas atuam com
interdisciplinaridade, merece ser destacado. O CFESS mostra que, é bastante comum encontrar
assistentes sociais, os quais articulam atividades com outros profissionais, entretanto, há a
necessidade de acabar com a visão equivocada de que, a partir do momento em que uma equipe
desenvolve ações articuladas, acaba por criar uma identidade com os outros profissionais,
contribuindo para desfazer as suas atribuições. O CFESS mostra isso como pensamento
equivocado, pois são justamente as diferenças que existem entre as especializações, que
permitirão que a atribuição de unidade a equipe, o que servirá para enriquece-la, através da
troca de conhecimentos para chegar a solução de uma determinada demanda, bem como, manter
as diferenças existentes em cada especialização. Este trabalho auxilia no bom funcionamento
da instituição. De acordo com o CFESS:
[...] o trabalho coletivo não impõe a diluição de competências e
atribuições profissionais. Ao contrário, exige maior clareza no trato das
mesmas e o cultivo da identidade profissional, como condição de
potenciar o trabalho conjunto. (CFESS, 2012, p.64).
Sobre o trabalho da equipe de profissionais, cada profissional que trabalha na
instituição, desenvolve atividades específicas com os usuários, que correspondem a sua área de
atuação. Os horários de atendimento dos usuários são previamente agendados, havendo a
possibilidade de ser atendido um usuário de cada vez, ou em determinadas situações, o
atendimento pode ser realizado em pequenos grupos ou até mesmo em grupos maiores. A
APAE atua com habilitação e reabilitação; e também com a parte pedagógica no centro de
atendimento especializado.
Os profissionais que desenvolvem o trabalho na instituição são: assistente social,
pedagogo, terapeuta ocupacional, arte-educador, psicopedagogo, psicólogo, educador físico,
médico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, dentista, psicomotricista. Sobre os atendimentos
prestados na instituição, compreendem na parte clínica: audiometria, apoio psicossocial,
40
brincando e aprendendo, fisioterapia motora e respiratória, fonoaudiologia, hidroterapia,
ludoterapia, odontologia, pediatria, psicologia, psicomotricidade, serviço social, terapia
ocupacional e psicopedagogia; e na parte pedagógica os atendimentos compreendem: expressão
e linguagem, matemática no cotidiano, sala de leitura, “contação de estória”, laboratório de
informática, grupo de dança e de capoeira, banda marcial, coral, recreação, oficina de serigrafia
e futsal.
A instituição disponibiliza também curso de informática para os usuários e possui
também um projeto extra que encaminha alguns usuários para o mercado de trabalho
proporcionando uma maior independência na vida deles. Os usuários têm um prontuário
contendo informações pessoais e xerox dos documentos, bem como, informações sobre o
tratamento realizado.
A APAE, por ser uma instituição sem fins lucrativos, possui um convênio com a
Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência (SEMTAS); com o Sistema Único de Saúde
(SUS); e com as Secretarias de Educação do Estado e do Município. O Estado e o município,
contribuem também cedendo profissionais para trabalharem na instituição. A instituição conta
com profissionais cedidos13, voluntários14 e contratados15. Devido a questão dos convênios e
doações, a instituição necessita encaminhar avaliações sobre o seu funcionamento.
Para a Secretaria de Assistência Social é encaminhada uma avaliação exigida
mensalmente, contendo informações a respeito da instituição, tais como: quem foi atendido, se
o serviço realmente está acontecendo, que é o usuário atendido e informações a respeito desse
usuário. Há também um levantamento interno na instituição, realizado no fim do ano, que é
encaminhado para a SEMTAS, para a vara da infância, para a promotoria de justiça e para a
Federação da APAEs.
A manutenção da instituição exige recursos mais do que chegam através dos convênios.
Por se constituir uma instituição sem fins lucrativos, se mantem através dos convênios e
doações, e estes recursos não têm sido suficientes para garantir os pagamentos de todos as
despesas inerentes ao funcionamento da instituição.
13 Profissionais cedidos: Profissionais que foram aprovados em um concurso público, e o órgão competente por esses profissionais, dá permissão para que os mesmos desenvolvam suas funções em determinada instituição. 14 Profissionais voluntários: Profissionais que se disponibilizam a atuar em uma determinada instituição, para auxiliar no funcionamento da instituição, sem a obtenção de um salário. 15 Profissionais contratados: Profissionais que atuam na instituição mediante contrato de trabalho e salário.
41
No cotidiano de funcionamento da instituição, há também a questão da correlação de
forças. De acordo com Alves Et. al., a correlação de forças vem a ser a forma como diversos
segmento, “interagem em função do seu poder, em determinada sociedade, ou setor da
sociedade”. (ALVES ET. AL. [S.D], p.17). Os autores corroboram com Yasbek (2005),
afirmando que, “a criação dos direitos sociais no Brasil foi resultante da luta de classes, que,
por sua vez, expressa a correlação de forças em que o Estado é pressionado a garantir esses
direitos” (ALVES ET. AL. [S.D], p. 6). Toda instituição é fruto da correlação de forças, do
embate de interesses distintos dentro da instituição. Na APAE é possível visualizar essa questão
da correlação de forças entre o Estado e a Instituição. A APAE está sempre buscando melhorias
por meio de convênios e parcerias com o Estado. Umas das contribuições que vem do setor
público se refere aos profissionais que o Estado cede para trabalharem na instituição. O
problema é que não é algo certo, em que a qualquer momento, os profissionais podem ser
solicitados de volta, o que dificulta a continuidade do trabalho e prejudica o tratamento dos
usuários. A instituição é comprometida em buscar condições melhores de atendimento,
entretanto, dificuldades como essa, surgem constantemente.
As instituições estão inseridas em um processo de luta de classes, há toda uma questão
de hegemonia política, de disputa de poder, é um palco de luta de classes, em que há a questão
dos interesses e opiniões distintos de cada profissão, além da luta para que o Estado possa
enxergar mais a instituição através das parcerias e convênios. É necessário se inserir nesse
processo de disputa, para chegar as mudanças, ou seja, é preciso lutar a cada dia e buscar
benefícios que auxiliem o funcionamento da instituição. A atuação do Serviço Social está
inserida nesse processo de correlação de forças que faz parte da sociedade capitalista. De acordo
com Faleiros:
O Serviço Social implica uma relação com sujeitos particulares numa
estrutura capitalista. No entanto, essa relação se faz também em
contextos particulares, principalmente em instituições onde há
contradições, inscrevendo-se o próprio Serviço Social nesses conflitos
e contradições. (FALEIROS, [S.D.] p. 716-717).
Além dos embates com o Estado por busca de melhores condições para o funcionamento da
instituição, há também, dentro das próprias instituições, contradições existentes entre as distintas
profissões com relação aos seus diferentes posicionamentos, bem como, contradições existentes
também, entre os profissionais de uma mesma profissão, tal qual o Serviço Social, por se
posicionarem de formas distintas, com relação a uma determinada situação do cotidiano
profissional. As demandas que chegam até a instituição, também entram nesse processo de
42
correlação de forças, levando em consideração que, há questão já dita dos embates do Estado e
das próprias contradições dentro da instituição. Faleiros afirma que:
As demandas por serviços sociais ou políticas sociais expressam as
desigualdades econômicas, de inclusão/exclusão social, de dominação
de gênero, de relações de poder e violência nos conflitos familiares, de
relação com o crime, com o uso de drogas, com a enfermidade, com a
precarização das condições sociais e familiares. São demandas
complexas tanto por efetivação de direitos como por cuidados
específicos que exigem dos profissionais a análise das relações gerais e
particulares dessas condições e do poder de enfrentá-las, o que implica
trabalhar a correlação de forças. (FALEIROS, [S.A.], p. 708).
Essas demandas que chegam até a instituição, que solicitam os serviços
socioassistenciais, expressam justamente a desigualdade social existente na sociedade, a
pobreza e a exclusão social provenientes do sistema capitalista de produção e do neoliberalismo.
As políticas sociais amenizam essa situação de desigualdade, entretanto, para que se tenha
realmente um trabalho qualificado, há a necessidade de que haja profissionais que analisem de
uma forma geral, as condições de enfrentamento dessas demandas, que de acordo com Faleiros
[S.D.], vai implicar trabalhar a correlação de forças.
3.2 O ATENDIMENTO A PESSOA COM DEFICIÊNCIA: DEMANDAS PARA
O SERVIÇO SOCIAL
Os assistentes sociais nas instituições filantrópicas especializadas no atendimento à
pessoa com deficiência, como é o caso da APAE, lutam a cada dia para garantir a viabilização
e garantia de direitos, por meio dos serviços socioassistenciais, dos projetos, das políticas
sociais, entretanto essas instituições, devido ao contexto neoliberal, não tem possibilidade de
abarcar toda a demanda. O profissional de Serviço Social, trabalha em seu cotidiano, com as
mais variadas expressões da Questão social. Sobre o que vem a ser a questão social, Iamamoto
define como:
A questão social é indissociável da forma de organização da sociedade
capitalista, que promove o desenvolvimento das forças produtivas do
trabalho social e, na contrapartida, expande e aprofunda as relações de
desigualdade, a miséria e a pobreza. Esta é uma lei estrutural do
processo de acumulação capitalista. A questão social diz respeito ao
conjunto das expressões das desigualdades sociais engendradas na
sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do
Estado. Tem sua gênese no caráter coletivo da produção, contraposto à
apropriação privada da própria atividade humana — o trabalho -, das
condições necessárias à sua realização, assim como de seus frutos. É
indissociável da emergência do "trabalhador livre" que depende da
venda de sua força de trabalho com meio de satisfação de suas
necessidades vitais. A questão social expressa, portanto, desigualdades
43
econômicas, políticas e culturais das classes sociais, mediatizadas por
disparidades nas relações de gênero, características étnico-raciais e
formações regionais, colocando em causa amplos segmentos da
sociedade civil no acesso aos bens da civilização. (IAMAMOTO, 2012,
p. 48).
Iamamoto aponta que, o Serviço Social “é uma especialização do trabalho da sociedade,
inscrita na divisão social e técnica do trabalho social, o que supõe afirmar o primado do trabalho
na constituição dos indivíduos sociais”. (IAMAMOTO, 2009, p. 10). A autora aponta que, o
exercício profissional do assistente social é fundamentado pela compra e venda do “trabalho
especializado” do assistente social, sendo o mesmo um trabalhador assalariado. O Assistente
social trabalha diretamente com a questão social. A origem da questão social está diretamente
ligada com o surgimento da sociedade capitalista. Iamamoto mostra que:
[...] o Serviço Social tem na questão social a base da fundação como
especialização do trabalho. Questão social aprendida como o conjunto
das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura que,
tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o
trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos
seus frutos se mantém privada, monopolizada por uma parte da
sociedade. (IAMAMOTO, 2011, p. 27).
O assistente social é regulamentado como profissional liberal, entretanto não é
caracterizado como profissional autônomo por não possuir todas as condições necessárias para
desenvolver seu trabalho, sendo necessário vender a sua força de trabalho em troca de um
salário. Apesar disso, o Serviço Social possui uma relativa autonomia no desenvolvimento de
suas atribuições. Iamamoto aponta que:
Na defesa de sua relativa autonomia, no âmbito dos espaços
ocupacionais, esse profissional conta, a seu favor, com sua qualificação
acadêmico-profissional especializada, com a regulamentação de
funções privativas e competências e com a articulação com outros
agentes institucionais que participam do mesmo trabalho cooperativo,
além das forças políticas das organizações dos trabalhadores que aí
incidem. (IAMAMOTO, 2009, p.14-15).
Mesmo vendendo a sua força de trabalho a um patrão, o assistente social dispõe de uma
relativa autonomia em seu espaço de trabalho, para tomar decisões que envolvam o seu trabalho,
pois é um profissional qualificado, capacitado e regulamentado, dispondo de atribuições
privativas e competências estabelecidas nos parâmetros profissionais. Yasbek afirma que:
Assim sendo, embora o Serviço Social tenha sido regulamentado como
profissão liberal no Brasil, o assistente social não tem se configurado
como profissional autônomo no exercício de suas atividades, não
dispondo do controle das condições materiais, organizacionais e
técnicas para o desempenho de seu trabalho. No entanto, isso não
significa que a profissão não disponha de relativa autonomia e de
44
algumas características que estão presentes nas profissões liberais como
a singularidade que pode estabelecer na relação com seus usuários, a
presença de um Código de Ética, orientando suas ações, o caráter não
rotineiro de seu trabalho, a possibilidade de apresentar propostas de
intervenção a partir de seus conhecimentos técnicos e, finalmente, a
Regulamentação legal da profissão (Lei n. 8.662 de 7 de junho de 1993
– que dispõe sobre o exercício profissional, suas competências,
atribuições privativas e fóruns que objetivam disciplinar e defender o
exercício da profissão – o Conselho Federal de Serviço Social - CFESS
e os Conselhos Regionais de Serviço Social -CRESS). (Yasbek, 2009,
p. 11-12).
Nicolau afirma que, o profissional especializado em Serviço Social, “vende sua força de
trabalho em troca de um salário, nas instituições que demandam e requisitam sua atuação
profissional” (NICOLAU, 2005, p. 162). A autora aponta que, para que essa força de trabalho
possa se transformar em trabalho, é preciso utilizar os meios necessários que levem a sua
efetivação, que correspondem a venda de “um conjunto de instrumentos técnicos operativos,
conhecimentos e habilidades, histórica e socialmente construídos e reconhecidos como parte de
sua força de trabalho”. (NICOLAU, 2005, p. 162). Os assistentes sociais, são caracterizados
como trabalhadores assalariados, por intermédio de um contrato de compra e venda da força de
trabalho. Nicolau afirma que:
Os assistentes sociais inserem-se no mercado de trabalho como
trabalhadores assalariados – de fato – pela via da produção em serviços
sossioassistenciais, em instituições governamentais, empresariais,
entidades filantrópicas e organizações não-governamentais, mediados
por um contrato de compra e venda de sua força de trabalho que, a
exemplo de qualquer mercadoria, tem valor de uso e de troca. A força
de trabalho passa a ter um valor de uso no processo de trabalho das
instituições contratantes, sendo, portanto consumida em função do
atendimento a uma determinada necessidade humana, cujo efeito é ser
útil como trabalho ou atividade em sua forma de consumo privado.
(NICOLAU, 2005, p 163).
No que se refere ao trabalho do assistente social com a pessoa com deficiência na APAE,
atuam na instituição duas assistentes sociais, uma no turno da manhã, e outra no turno da tarde.
A respeito das condições de infraestrutura e condições materiais de trabalho, o Serviço Social
dispõe de uma sala própria de atendimento, garantindo assim uma relativa autonomia dentro da
instituição, e garantindo também uma maior privacidade no atendimento com o usuário, além
de garantir também, o sigilo profissional. O serviço social é o setor no qual o usuário vai
primeiramente ao chegar na instituição, considerado como porta de entrada. Os usuários são
acolhidos pelo serviço social, e posteriormente são encaminhados para as demais áreas da
instituição.
45
Ao chagar na instituição, o usuário é encaminhado ao Serviço Social para ser verificada
a possibilidade de ser inserido na instituição. Primeiramente é realizada uma triagem com o
Serviço Social, Médico e Psicólogo, entretanto para que possa ser agendado o médico e o
psicólogo, o assistente social realiza primeiramente a entrevista social, faz o diagnóstico social,
e após esse diagnóstico, os demais profissionais são agendados. Caso o usuário chegue e não
tenha disponível vagas para o atendimento solicitado, ficará em uma fila de espera e a partir do
momento em que o atendimento for disponibilizado, o Serviço Social entra em contato para
informar. Se houver a necessidade do usuário inserido ser desligado da instituição, o Serviço
Social prepara um relatório de desligamento.
Na APAE - natal, o Serviço Social foi inserido na década de 1980. As funções do
Serviço Social na instituição correspondem ao acolhimento do usuário; triagem; realização da
anamnese social, laudos, relatórios e pareceres; bem como o acompanhamento das famílias. O
trabalho desenvolvido pelo Serviço Social é bastante relevante, tendo em vista que busca a cada
dia, viabilizar a garantia e efetivação dos direitos dos usuários, fazendo os mesmos
compreenderem que não é questão de favor, mas um direto que os mesmos possuem, de terem
as suas necessidades atendidas.
Sobre as demandas que chegam a instituição, são tanto espontâneas quanto por
encaminhamento. As demandas espontâneas chegam através de mães ou responsáveis que tem
filhos com algum tipo de deficiência e ouviram falar, por outras pessoas que já conhecem a
instituição, sobre os serviços disponibilizados. As demandas por encaminhamento, vem de
usuários de outras instituições, que alegam não ter vaga, não dispor do atendimento solicitado,
ou até mesmo por interrupção de um determinado atendimento na instituição que encaminhou.
Esses casos de interrupção de um atendimento, na instituição que encaminhou, ocorre com uma
maior frequência em casos vindos do CRI, levando em consideração que a instituição passa por
constantes paralisações.
Na instituição, chegam usuários vindos de Natal e de várias outras cidades do Estado do
Rio Grande do Norte em busca de atendimento. A maioria está inserida em um contexto de
pobreza e vulnerabilidade social. A pobreza corresponde a umas das expressões da questão
social. Para ter acesso aos serviços da instituição, o usuário necessita ter a deficiência, e é
analisada também a questão da renda, pois o objetivo é prestar assistência a pessoas em situação
de pobreza, que necessitam daquele atendimento para evoluir, e não tem condições financeiras
de arcar com as despesas de um tratamento. Essa realidade revela a situação concreta de vida
dessa população.
46
O trabalho desenvolvido pelo Serviço Social na instituição é um trabalho muito
relevante e fundamental, pois a partir da análise realizada primeiramente pelo assistente social,
será definido se o usuário atende ou os critérios para ser inserido na instituição. É preciso deixar
o usuário ciente de que o atendimento que ele recebe na instituição é um direito que possui, e
não um favor prestado. Não se deve levar em consideração afinidades com familiares para
inserir ou permitir que permaneça um usuário na instituição. Há a necessidade de ser ter um
olhar sem preconceito e sem distinção de pessoas e sem levar em consideração qualquer relação
existente entre o assistente social e o usuário, em conformidade com o que vem descrito no Art.
6º, Alínea b do Código de Ética Profissional do Serviço Social, onde aponta que, é “vedado ao
assistente social: aproveitar-se de situações decorrentes da relação assistente social-usuário,
para obter vantagens pessoais ou para terceiros”. É preciso avaliar cada situação com um olhar
criterioso, agindo com honestidade para que a avaliação seja realizada com competência e
qualidade.
O Serviço Social na instituição tem como prioridade, a garantia do atendimento com
qualidade, de acordo com os parâmetros que regem a política de assistência social. Acolhe o
usuário ao chegar na instituição, analisa cada situação criteriosamente, realizando as devidas
orientações e fazendo todos os encaminhamentos que se fizerem necessários. O Serviço Social
busca atender da melhor maneira possível cada usuário que chega até a APAE, trabalhando de
acordo com os ideais do projeto ético-político, buscando a cada dia priorizar o atendimento da
classe trabalhadora, seguindo princípios que compõem o código de ética profissional,
respeitando o sigilo profissional, atendendo aos usuários sem qualquer forma de preconceito.
3.3 OS LIMITES E POSSIBILIDADES AO TRABALHO DO ASSISTENTE
SOCIAL: UMA REFLEXÃO SOBRE AS DIMENSÕES DA PROFISSÃO E O
PROJETO ÉTICO POLÍTICO.
A partir do momento em que pensamos na profissão do Serviço Social, podemos
destacar a extrema importância que tem o desenvolvimento do seu trabalho. O assistente social
na assistência luta pela viabilização e efetivação dos direitos dos usuários, deixando-os cientes
de que os mesmos possuem direitos a determinados serviços, retirando a concepção de favor e
fortalecendo o conceito do direito assegurado. O assistente social tem por obrigação trabalhar
tratando os usuários sem nenhuma forma de preconceito. Sobre o perfil do assistente social na
assistência, o CEFES (2011) afirma que, não se deve atender o usuário com práticas
conservadoras, ou seja, há a necessidade de respeitar o usuário, agindo de uma maneira que não
venha a constrange-lo ou faze-lo passar por situação vexatória.
47
Sobre o exercício profissional do assistente social, tanto no âmbito da assistência como
nas demais áreas de atuação, se faz necessário realizar uma análise da realidade a qual o usuário
está inserido, analisar a estrutura e conjuntura da sociedade, para que seja possível compreender
determinada realidade e ter uma solução devida para as demandas que chegam e necessitam de
respostas. De acordo com o CFESS (2011) a equipe de trabalhadores deve ser composta por
uma equipe multiprofissional, atuando de forma ampla para dar respostas as demandas da
realidade. De acordo com Guerra (2009), “A necessidade de atuarmos sobre a realidade é o que
nos conduz ao conhecimento. Não obstante, para intervir, é preciso conhecer, para o que há que
se ter procedimentos adequados” (GUERRA, 2009, p.4). Há a necessidade de se ter um
conhecimento amplo da realidade, para se chegar a uma intervenção qualificada.
De acordo com Guerra (2013), o exercício profissional do assistente social se
fundamenta em várias dimensões que “se autoimplicam, se autoexplicam e se determinam entre
si”. (GUERRA, 2013, p.45). A autora mostra que essas dimensões irão caracterizar
historicamente, o modo de ser da profissão, que é realizado no cotidiano de trabalho. Dentre
essas dimensões, a autora destaca a dimensão técnico-operativa, a qual mostra como sendo a
dimensão pela qual a profissão é “conhecida e reconhecida”, de onde surge a imagem social da
profissão, bem como sua autoimagem, a dimensão que dá “visibilidade social” à profissão.
Segundo Guerra:
Tais dimensões, dado o nível de complexidade da própria realidade
social, na qual o assistente social atua, bem como das sequelas da
chamada questão social, as quais fornecem objetos de intervenção
profissional, também se complexificam e se aperfeiçoam, pois é
somente assim que a profissão se torna capaz de dar respostas
qualificadas às diferentes e antagônicas demandas que lhe chegam.
Apesar do reconhecimento de que as dimensões só existem em relação
umas ás outras, a dimensão técnico-operativa é a forma de aparecer da
profissão, pela qual é conhecida e reconhecida. Dela emana a imagem
social da profissão e sua autoimagem. Ela encontra-se carregada de
representações sociais e da cultura profissional. É a dimensão que dá
visibilidade social à profissão, já que dela depende a resolutividade da
situação, que, às vezes, é mera reprodução do instituído, e em outras
constitui a dimensão do novo. (GUERRA, 2013, p.46).
Apesar de Guerra destacar a dimensão técnico-operativa, deixa claro que a mesma por
si não é suficiente para dar as devidas “respostas qualificadas à realidade social”. Desta maneira,
compreende-se que as dimensões teórico-metodológica e ético-política, também são
fundamentais para que se possa ter respostas qualificadas para as demandas que surgem no
cotidiano de trabalho do assistente social.
O assistente social luta diariamente em seu cotidiano profissional, com diversas
expressões da questão social, que trazem demandas distintas que necessitam de respostas. As
48
dimensões investigativa e interventiva da profissão devem fazer parte da atuação do assistente
social, para que seja possível compreender determinada realidade, e assim poder obter respostas
para as demandas que chegam, intervindo na realidade do usuário e resolvendo determinada
situação. De acordo com Guerra (2009, p. 14), “A dimensão investigativa está intrinsecamente
relacionada com a dimensão interventiva, e a qualidade de uma implica a plena realização da
outra”. De acordo com as concepções da autora, a partir do momento em que realizamos uma
entrevista, estamos exercitando a dimensão investigativa da profissão, pois nesse procedimento
passamos a analisar, a investigar, a buscar informações que auxiliem na resolução de uma
determinada demanda. Além da entrevista, a autora também destaca como exercício da
dimensão investigativa, os estudos sociais, laudos e pareceres.
O projeto ético político do Serviço social vem sendo desenvolvido em uma perspectiva
voltada para atender as necessidades da classe trabalhadora. De acordo com Teixeira e Braz,
“Desde os anos 1970, mais precisamente no final da década, o Serviço Social brasileiro vem
construindo um projeto profissional comprometido com os interesses das classes trabalhadoras”
(TEIXEIRA e BRAZ, 2009, p.12). O projeto ético político do Serviço Social teve o seu início,
foi se desenvolvendo e o seu processo de construção ainda se encontra em desenvolvimento.
Os autores afirmam que:
Pode-se localizar aí a gênese do projeto ético político, na segunda
metade da década de 1970. Esse mesmo projeto avançou nos anos 1980,
consolidou-se nos anos 1990 e está em construção, fortemente
tensionado pelos rumos neoliberais da sociedade e por uma nova reação
conservadora no seio da profissão na década que transcorre.
(TEIXEIRA e BRAZ, 2009, p.13).
Com base ainda nos autores, o avanço do projeto ético-político fundamentou-se na
construção de vários elementos, dentre esses elementos, o Código de Ética profissional. Dentre
os elementos construídos nesse processo, está também a da Lei de Regulamentação da Profissão
e as Diretrizes Curriculares. Conforme foi citado, o projeto ético-político ainda se encontra em
desenvolvimento, com o comprometimento com a classe trabalhadora, batendo de frente com os
ideais do neoliberalismo que predominam em nossa sociedade. Atualmente, diante da sociedade
desigual decorrente do capitalismo e do sistema neoliberal, vem a ser uma tarefa difícil a
questão da consolidação do projeto ético-político profissional. De acordo com os conceitos de
Iamamoto, “a centralidade do projeto ético-político profissional que vem sendo construído
requer remar na contracorrente, andar no contravento, alinhando forças que impulsionem
mudanças na rota dos ventos e das marés na vida em sociedade”. (IAMAMOTO, 2011, p.141).
É preciso articular estratégias que possam contornar as dificuldades. Acerca do projeto
profissional, Iamamoto aponta que:
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O projeto ético-político profissional expressa a perspectiva hegemônica
impressa ao Serviço Social-brasileiro. Tem suas raízes nas forças
sociais progressistas e está fundado nas reais condições sociais em que
se materializa a profissão. Em outros termos, a operacionalização do
projeto profissional supõe o reconhecimento das condições sócio-
históricas que circunscrevem o trabalho do assistente social na
atualidade, estabelecendo limites e possibilidades à plena realização
daquele projeto. (IAMAMOTO, 2012, p.44 – 45).
O sistema neoliberal e a sociedade capitalista impõem diversos limites para que a
atuação profissional seja exercida com qualidade, seguindo os ideais da profissão. No caso da
APAE, a questão imposta pelo neoliberalismo, com políticas focalizadas e seletivas, com a
necessidade de atender primeiramente uma parte dos usuários, tendo os demais que aguardar
em fila de espera, dentre diversas outras questões, limitam e dificultam o trabalho profissional
do assistente social. Apesar das dificuldades impostas, busca-se estratégias através das políticas
sociais, que contornem a situação para lidar com as diversas expressões da questão social.
Iamamoto mostra que:
As estratégias para fazer frente à questão social têm sido tensionadas
por projetos sociais distintos, que convivem em luta no seu interior, os
quais presidem a estruturação e a implementação das políticas sociais
públicas e dos serviços sociais atinentes aos direitos legais inerentes aos
poderes do Estado - legislativo, executivo e judiciário. Vive-se uma
tensão entre a defesa dos direitos sociais, a privatização e a
mercantilização do atendimento às necessidades sociais, com claras
implicações nas condições e relações de trabalho do assistente social.
(IAMAMOTO, 2012, p. 54).
Para desenvolver um atendimento qualificado, o assistente social deve buscar
estratégias, com o aparato dos serviços socioassistenciais, das políticas sociais, dos programas
e projetos, que possibilitem uma saída para as situações, por diversas vezes inusitadas, do
cotidiano profissional, analisando detalhadamente cada situação, bem como, a realidade que
aquele usuário está inserido, desenvolvendo seu trabalho com base nas dimensões da profissão,
em consonância com o projeto ético-político profissional.
É necessário que o assistente social identifique as demandas que chegam até a
instituição. A partir do momento em que as demandas forem identificadas, será então possível
analisar os limites e articular possíveis estratégias para o enfrentamento dessa determinada
demanda que venha a surgir no cotidiano profissional. Esse processo citado corresponde a uma
das competências profissionais do assistente social, que conforme prevê o CFESS-CRESS, se
refere a:
Identificação das demandas presentes na sociedade, em especial aquelas
que se materializam no âmbito da Política de Assistência Social,
visando a formular respostas profissionais para seu enfrentamento, em
50
uma perspectiva de totalidade, que revele as possibilidades e limites de
seu atendimento pela ação profissional. (CFESS-CRESS, 2011, p.10).
A partir do momento em que as demandas são identificadas, há necessidade de fazer
uma análise, avaliando quais são os limites para o fazer profissional e quais as possibilidades
para que aquela determinada demanda seja respondida. Dentro de uma instituição sem fins
lucrativos como a APAE, instituição em referência, existem desafios postos ao assistente social
que são frequentes em seu cotidiano de trabalho, conforme observado na instituição.
Dentre esses desafios, se observa por exemplo: a dificuldade de realizar um trabalho
qualificado diante de um contexto neoliberal, em que as políticas sociais são focalizadas e
seletivas; há também o agravante do modo capitalista de produção, que é desigual e gera cada
vez mais pobreza na sociedade, fazendo com cresça a cada dia o número de usuários que
necessitem procurar auxílio das políticas sociais na instituição, sem atendimento imediato para
todos.
Há também a questão de dificuldades financeiras na instituição, uma vez que os
convênios e parcerias não são suficientes para manter o pleno funcionamento da instituição,
interferindo diretamente no atendimento ao usuário, por exemplo: O Estado cede profissionais
para trabalharem na instituição, entretanto após um período de tempo acaba solicitando
novamente alguns desses profissionais e a instituição em alguns momentos não dispõe de
recursos para a contratação de um profissional, e isso também dificulta o fazer profissional do
assistente social de forma eficaz, por não poder fazer todos os devidos encaminhamentos dentro
da instituição, tendo que encaminhar o usuários para procedimentos dentro da rede
sociassistencial.
Essa questão do encaminhamento para procedimentos em outras instituições gera um
outro desafio, que corresponde a questão da dificuldade de articulação com a rede
socioassistencial, que também se configura como um limite, levando em consideração que,
existem atendimentos que necessitam de um exame prévio para serem iniciados, entretanto se
torna um procedimento lento e demorado até esse usuário conseguir esse exame através do
Sistema Único de Saúde – SUS, e isso contribui para que o atendimento seja interrompido, não
dependendo do profissional em si ou da instituição.
Outro desafio que também se observa, é a questão da falta de informação por parte dos
usuários, que na maioria das vezes não têm conhecimento dos direitos que possuem, tampouco
dos programas, projetos e políticas sociais que podem ser inseridos.
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Diante de todos esses desafios citados postos ao fazer profissional, há a necessidade do
assistente social buscar articular estratégias, fundamentadas no projeto ético-político
profissional, que tragam respostas para essas demandas e que ultrapassem esses desafios
citados.
Muitos dos desafios enfrentados pelo Serviço Social na instituição, são postos pelo
sistema neoliberal, pelo sistema capitalista, que não permitem a universalidade no atendimento.
Há a necessidade de o assistente social pensar de forma imediata, articular uma solução para
aquela demanda, como por exemplo: se está faltando um profissional na instituição, é preciso
pensar rápido e já ter em mente um outro profissional em uma outra instituição para fazer o
encaminhamento afim de que o usuário não fique sem uma resposta.
Com relação a falta de informações por parte dos usuários quanto aos seus direitos, caso
o assistente social constate isso, deverá o mesmo democratizar informações dentro da
instituição para que os usuários possam ter acesso e sejam devidamente inseridos nos programas
projetos e políticas sociais que lhes auxiliem.
A questão da democratização de informações é prevista no código de ética profissional
do assistente social, que em seu Art. 5º, Alínea c, afirma que é dever do assistente social:
“democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis no espaço institucional,
como um dos mecanismos indispensáveis à participação dos usuários. São estratégias que
precisam ser pensadas e articuladas em conformidade com as dimensões da profissão e com o
projeto político profissional.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, a partir do que foi analisado, entendemos que a política social é direito do
cidadão e dever do estado, vem descrito na LOAS. Um grande avanço na conquista e garantia
dos direitos sociais para a população brasileira, ocorre a partir da promulgação da constituição
de 1988, trazendo a assistência social como parte do tripé da seguridade social, composto
também pela saúde e pela previdência. Se buscou, analisar o trabalho exercido pelo Serviço
Social na Política de Assistência Social, com destaque para a assistência à pessoa com
deficiência na APAE/Natal, com uma análise voltada para as demandas, limites e possibilidades
do exercício profissional do assistente social.
A APAE é uma instituição sem fins lucrativos que desenvolve um trabalho competente,
tendo como meta principal, promover a garantia dos direitos, da cidadania e da inclusão da
pessoa com deficiência. As instituições sem fins lucrativos, que pertencem ao terceiro setor,
52
surgem devido a conjuntura neoliberal que traz a desresponsabilização do Estado com as
políticas sociais. Sabe-se que, a conjuntura neoliberal não permite a universalidade no
atendimento, não há condições de abarcar toda a demanda, as políticas sociais são focalizadas
e seletivas e toda essa questão afeta as ONGs e com a APAE não é diferente.
Observou-se que, no Brasil, se tem constatado na última década, diversos avanços no
que se refere a assistência e a garantia de direitos para a pessoa com deficiência. Entretanto,
ainda há um longo caminho a percorrer para que esses avanços possam ser suficientes para
garantir melhores condições de vida a essa população.
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, a APAE/Natal se mantém forte e lutando a
cada dia para promover a garantia dos direitos, da cidadania e da inclusão social da pessoa com
deficiência, buscando acolhe-los e atendê-los da melhor maneira possível. O trabalho da
instituição é sério e competente, pois auxilia de forma relevante no desenvolvimento e evolução
do portador de deficiência, proporcionando uma vida mais independente e com mais liberdade
para esses usuários, trabalho esse em que o Serviço Social se faz presente de forma significativa.
A realização do estágio supervisionado em Serviço Social na APAE, foi extrema
importância e contribuiu de forma significativa para a elaboração deste estudo. Ter o contato
com o fazer profissional do Serviço Social na instituição, com os usuários e suas famílias, torna
possível uma melhor compreensão da prática e do cotidiano profissional do assistente social, o
que se constitui como uma experiência enriquecedora, contribuindo para uma melhor apreensão
da prática institucional e do fazer profissional do assistente social.
A respeito do exercício profissional do assistente social observou-se, independente de
ser no âmbito da assistência ou das demais áreas de atuação, se faz necessário analisar a
realidade a qual o usuário está inserido, analisar a estrutura e conjuntura da sociedade, para que
seja possível compreender determinada realidade e ter uma solução devida para as demandas
que chegam e necessitam de respostas.
Portanto, se conclui que, o Trabalho do Serviço Social é fundamental em todo esse
processo da instituição, pois há o real comprometimento com o usuário. Sabe-se que para poder
atender o usuário conforme sua real necessidade, é preciso ter um conhecimento adequado sobre
a política de assistência social, bem como dos parâmetros legais que regem a política de
assistência.
53
O Projeto Ético Político do Serviço Social vem sendo desenvolvido em uma perspectiva
voltada para atender as necessidades da classe trabalhadora, e há a necessidade de considerar a
importância do conhecimento adequado sobre o Projeto Ético-político Profissional, cujo avanço
fundamentou-se em elementos como o Código de Ética Profissional, a Lei de Regulamentação
da Profissão e as Diretrizes Curriculares, levando em consideração que, sem esse conhecimento
adequado, não há possibilidade de o assistente social desenvolver um trabalho qualificado.
54
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social. Contribuições do Conjunto CFESS-CRESS ao debate sobre definição de
Trabalhadores da Assistência Social. Versão Final. Brasília, Março. 2011.
CFESS - CRESS. Parâmetros para a atuação de assistentes sociais na política de
assistência social. Brasília. 2009.
BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – CNAS. RESOLUÇÃO
Nº 109, DE 11 DE NOVEMBRO DE 2009. Aprova a Tipificação Nacional de Serviços
Socioassistenciais. Brasília, DF, DOU 25.11.2009.
58
1. ANEXOS
INSTRUMENTAIS DO SERVIÇO SOCIAL NA APAE
ANAMNESE SOCIAL PRIMEIRA PARTE
59
ANAMNESE SOCIAL SEGUNDA PARTE
60
ANAMNESE SOCIAL TERCEIRA PARTE
61
CONTROLE DE TRIAGEM
62
PRÉ-MATRÍCULA
63
FICHA DE ACOMPANHAMENTO DE MATRÍCULA
64
DECLARAÇÃO
65
ENCAMINHAMENTO SECRETARIA DE MOBILIDADE URBANA (SEMOB)
66
ENCAMINHAMENTO PARA INSTITUIÇÕES
67
RELATÓRIO DE ESTUDO DE CASO
68
RELATÓRIO DE DESLIGAMENTO