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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ – DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
DO CERES CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-
BRASILEIRA
EDINEIDE MOREIRA DOS SANTOS
LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE: TRATAMENTO DADO ÀS QUESTÕES AFRICANAS E AFRO-BRASILEIRAS
ANTES E APÓS 2003
CAICÓ-RN 2016
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EDINEIDE MOREIRA DOS SANTOS
LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE: TRATAMENTO DADO ÀS QUESTÕES AFRICANAS E AFRO-BRASILEIRAS
ANTES E APÓS 2003.
Trabalho de Conclusão de Curso – Artigo Científico – apresentado à Coordenação do Curso de Licenciatura em História, ministrado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em cumprimento às exigências para a obtenção do título de Especialista. Orientador (a): Prof. Ms. Rosenilson da Silva Santos.
CAICÓ-RN 2016
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LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE: TRATAMENTO DADO ÀS QUESTÕES AFRICANAS E AFRO-BRASILEIRAS
ANTES E APÓS 2003.
Edineide Moreira dos Santos1 Rosenilson da Silva Santos2
RESUMO
O presente trabalho busca perceber o tratamento dado aos africanos nos livros didáticos de História do Rio Grande do Norte antes e depois da Lei 10.639/03. A lei 9.394/1996, conhecida como Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), modificada pela 10.639/2003, estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para “incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e cultura afro-brasileira” que também foi alterada pela lei 11.645/2008, lei essa que acrescenta além da História e cultura afro-brasileira a cultura indígena. A aprovação destas leis implica na necessidade de abordar a temática em voga aos currículos do Ensino Fundamental e Médio das escolas da rede publica e privada de todo o país. Nesse contexto procuramos problematizar nessa pesquisa como a temática era abordada nos livros didáticos de História do Rio Grande do Norte antes de 2003 e após a promulgação da referida lei, já que o livro didático ainda é um instrumento muito utilizado entre professores e alunos no processo ensino aprendizagem. Nosso corpus de análise é constituído por seis livros didáticos de História do Rio Grande do Norte, ambos do Ensino Fundamental I (que compreende do 1º ano 5º ano), quatro deles publicados em 1984/1994, período este anterior à lei entrar em vigor, e dois deles em 2011 e 2012, no período que precede a lei 10.639/2003. Como suporte metodológico utilizamos o método qualitativo, para através das análises verificarmos como a temática era tratada e se realmente após a lei ela é contemplada. Dessa forma constatamos que antes da lei, os livros de História do Rio Grande do Norte já traziam de forma superficial, silenciosa ou até oculta a história e a cultura dos afrodescendentes, mostrando apenas o que foi a escravidão, os maus tratos aos quais africanos e seus descendentes foram acometidos em sua trajetória de vida aqui no Brasil. Depois da lei observamos uma maior preocupação dos livros didáticos de História do Rio Grande do Norte em tratar a questão com maior ênfase, muitos deles começando pela própria capa, quando aparece o processo de miscigenação e a presença do negro como um construtor também da cultura do Estado.
Palavras-chave: Lei nº 10.639/03. Lei n° 11.645/08. Livros Didáticos de História do Rio Grande do Norte. Afro-brasileiros.
1 Edineide Moreira dos Santos, [email protected], Aluna do Curso de Pós-graduação Lato
Sensu em História e Cultura Africana e Afro-brasileira. Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), turma de 2016. 2 Rosenilson da Silva Santos, [email protected], Professor do Departamento de
História – UERN-ASSÚ.
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TEXTBOOKS OF HISTORY OF RIO GRANDE DO NORTE: TREATMENT GIVEN TO AFRICAN AND AFRO-BRAZILIAN ISSUES BEFORE AND AFTER 2003.
ABSTRACT
The present study seeks to understand the treatment given to Africans in textbooks of history of the Rio Grande before and after the law 10,639/03. The law 9,394/1996, known as the Law of Guidelines and Bases of education (LDB), modified by 10,639/2003 establishes the guidelines and bases for national education, to "be included in the official curriculum of the education network the obligation to subject Afro-Brazilian history and culture "which was also amended by law 11,645/2008, this law which adds in addition to Afro-Brazilian history and culture indigenous culture. The approval of these laws implies the need to address the subject in vogue to elementary and high school curricula of public and private schools across the country. In this context, we are looking for several questions in this research as the theme was discussed in textbooks of history of the Rio Grande before 2003 and after the enactment of the Act, since the textbook is still a widely used instrument between teachers and students in the teaching learning process. Our corpus of analysis consists of six books of the history of Rio Grande do Norte, both of elementary school I (comprising the 1º year 5º year), four of them published in 1984/1994, this period before the law comes into force, and two of them in 2011 and 2012, in the period that precedes the law 10,639/2003. Methodological support using qualitative method, for through the analyses we check how the theme was treated and if after the law she is contemplated. Thus we see that before the law, the history of Rio Grande do Norte already brought so superficial, silent or even hides the history and culture of Afro-descendants, showing only what was slavery, the ill-treatment to which Africans and their descendants were affected in its trajectory of life here in Brazil. After the law we observed a greater concern of the textbooks of history of Rio Grande do Norte in dealing with the matter with greater emphasis, many of them starting with the cover itself, when the process of miscegenation and the presence of black as a constructor of the culture of the State. Keywords: Law n°. 10,639/03. Law n° 11,645/08. Textbooks of history of Rio Grande do Norte. Afro-Brazilians.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 6
2. LIVRO DIDÁTICO: EM BUSCA DE POSSÍVEIS DEFINIÇÕES 9
2.1. AS LEIS 10.639/03 E 11.645/08 COMO MARCOS PARA A
EDUCAÇÃO BRASILEIRA 14
2.2. ANTES DE 2003: HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-
BRASILEIRA NOS LIVROS DE HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO
NORTE 16
2.3. APÓS 2003: HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-
BRASILEIRA NOS LIVROS DE HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO
NORTE 22
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 26
REFERÊNCIAS 27
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1 INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objeto de estudo problematizar como os Livros
Didáticos de História do Rio grande do Norte tratam das questões relacionadas à
história africana e afro-brasileira.
Como recorte temporal elegemos o período compreendido entre os anos de
1984 a 2012, recorte este justificado pelas fontes, sendo estas duas datas
correspondentes aos anos de publicação do primeiro e último livro didático de
História do Rio Grande do Norte a serem usados para a pesquisa. O período
recortado abrangeu uma curta duração, porém, interessante, uma vez que
compreendeu o contexto precedente e posterior à Lei Federal 10.639/03, que
estabelece a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira e
Africana em todos os níveis da educação brasileira, como forma de perceber que
alterações nos livros didáticos podem ser verificadas após a aprovação da referida
lei.
Mediante a aplicação da Lei 10.639/03, consideramos nossa proposta
relevante para a sociedade estudantil, visto que é de extrema importância o estudo
sobre o livro didático da História do Rio Grande do Norte merecendo, pois, ser
levado além dos muros da academia. Isso favorecerá a elaboração de uma maior
conscientização social, como também o crescimento da área em que está inserido e
por isso merece ser reconhecido.
A abordagem dessa temática surgiu a partir de interesses pessoais, quando,
em nossa trajetória estudantil e profissional, percebemos lacunas e conceitos
estereotipados a respeito dos africanos e afro-brasileiros, mais especificamente na
história da África e Afro-brasileira de forma geral. E foi através dessa experiência e
com embasamento nas leituras durante o decorrer do curso de Especialização que o
tema nos chamou à atenção.
Ademais, o presente trabalho justifica-se na perspectiva de que nossos
alunos e colegas de trabalho possam refletir e desconstruir (pré) conceitos
pejorativos ou estereotipados acerca dos africanos e afro-brasileiros, o que
contribuirá para o autorreconhecimento e valorização histórica dos mesmos.
Em um plano geral o livro didático vem sendo trabalhado como fonte para
investigar as questões relacionadas ao Ensino de História africana e afro-brasileira.
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No entanto, tentamos problematizá-lo de uma forma inovadora na medida em que
usamos especificamente manuais de História do Rio Grande do Norte para pensar
como os tais livros vem tratando da História da África e dos Afro-brasileiros, tendo
como eixo problematizador a lei anteriormente mencionada.
Com base nos interesses e nas leituras que realizamos, tanto em nossa
experiência docente como nas disciplinas da Especialização, chegamos a algumas
indagações acerca do tema abordado, Como os autores de livros didáticos
apresentaram os africanos e afro-brasileiros nos manuais de História do Rio Grande
do Norte no contexto anterior à promulgação da Lei? Quais as preocupações e
definições da Lei em relação aos livros didáticos? E por fim, que mudanças
ocorreram nos livros didáticos após a aprovação da Lei?
Quanto ao respaldo bibliográfico situamos a pesquisa no âmbito dos estudos
históricos sobre o Rio Grande do Norte e o ensino de história no e do referido
Estado. Para isso, discutimos utilizando autores que trabalham a historiografia do
Estado, como também com autores que abordam a temática africana nos livros
didáticos de História, além da produção acadêmica já existente, tais como as obras
publicadas por Denise Mattos Monteiro e Marlene da Silva Mariz, em textos que as
mesmas desenvolvem um balanço da historiografia norte-rio-grandense, Elza Nadai,
Circe Bittencourt e outros mencionados nas referências.
As autoras supracitadas, em especial Denise de Mattos Monteiro, dividem a
historiografia do Rio Grande do Norte em três fases. A primeira, em relação direta
com “historiadores” vinculados ao IHGRN – Instituto Histórico e Geográfico do Rio
Grande do Norte, fundado em 29 de março de 1902, tida pela autora como
“Clássica”, desenvolveu uma escrita da história preocupada em fundar uma
identidade potiguar e, por isso, tratou de amenizar ou ocultar os conflitos sociais.
Essa fase da nossa historiografia teve mais vigor durante os primeiros 70 anos do
século XX e entre seus principais nomes, estão Tavares de Lyra, Rocha Pombo e
Câmara Cascudo, autores de muito prestígio na produção didática ainda hoje. A
segunda fase, batizada por Mattos de “Acadêmica” diz respeito ao ínterim dos anos
1970 e 1980 e guarda relação direta com o processo de afastamento dos
professores do Departamento de História da UFRN (Campus Natal) para a pós-
graduação. Nesse período se destacam as colaborações de autores da Sociologia,
Economia e Ciência Política para a História do Rio Grande do Norte.
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A terceira e última fase, que não recebe um nome em específico no texto de
Mattos, pelas suas características é possível chamá-la de “Profissional”, já que se
conecta com o processo através do qual o ingresso na carreira docente nos
Departamentos de História da UFRN se deu, exclusivamente, através de concurso
público, que sublinham as qualidades intelectuais, formação acadêmica e titulação
dos candidatos, o que se verifica no Rio Grande do Norte a partir dos anos 1990.
O estudo sobre o livro didático de História vem ganhando destaque ao longo
dos tempos. Partindo desse pressuposto, os mesmos exercem um relevante papel,
tendo em vista seu caráter de desenvolver habilidades, competências que
posteriormente são transformadas em conhecimentos, facilitando a compreensão
dos educandos nos conteúdos curriculares. Desse modo, eles vêm sofrendo
variações de acordo com as mudanças ocorridas na sociedade, nos currículos e até
mesmo de acordo com as produções acadêmicas. Podemos citar estudos realizados
com base no livro didático de História como fonte em nível de Brasil, sobretudo a
partir da década de 1980 a exemplo citamos, Circe Bittencourt, Laurence Hallewell.
Tendo como tema o livro didático de História em relação com as questões
africanas, também já é possível vislumbrar trabalhos acerca da temática, muito
embora seja em outras regiões do País. Referimo-nos às contribuições de Maurício
Barbosa Reis (2007), que desenvolveu um estudo analisando o processo de ruptura
e permanência dos manuais que tratam de conteúdos relacionados à África e
história afro-brasileira com a adoção das Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação surgida em 2003.
Outro trabalho importante para embasar a pesquisa está relacionado aos
impactos que a Lei Federal 10.639/03 trouxe nos livros didáticos destinados ao
ensino fundamental, investigado por Gláucia Ruivo Murinelli (2009).
Também na mesma vertente, temos o trabalho de Fernando Santos de Jesus
(2012) que contemplou a temática buscando investigar a representação do negro no
livro didático de História do Brasil após a Lei 10.639/03. Outro trabalho muito
relevante e bem próximo à temática em questão aparece no estudo desenvolvido
por Maria Luzinete Dantas Lima, intitulado: “Lei 10.639/03 - Obrigatoriedade do
Ensino de História da África e Afro-brasileira na Educação Básica: Experiência
através de projetos interdisciplinares em Escola da Zona Rural de Macaíba/RN”.
Este trabalho procurou comprovar a ausência e/ou superficialidade dessas temáticas
e a existência de preconceitos e discriminações, bem como as causas e
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consequências de tais atitudes. E assim, embora o trabalho de Maria Luzinete
apresente um teor de relato de experiência, em alguns aspectos trouxe grandes
contribuições para o delineamento do nosso estudo.
2 LIVRO DIDÁTICO: EM BUSCA DE POSSÍVEIS DEFINIÇÕES
As discussões sobre o livro didático de História ocorrem, embrionariamente,
desde o processo de Independência (1822), principalmente no que diz respeito aos
programas e currículos de História. Afinal, a definição da galeria dos nossos heróis e
grandes feitos, assim como os conceitos de Pátria, de nação, povo e cidadão
estiveram presentes nas origens dessa disciplina.
No entanto, a formalização da preocupação com os livros didáticos em nível
nacional, somente se inicia com a Legislação do Livro Didático, criada em 1938 pelo
Decreto-Lei 1006 (ROMANATTO, 2009).
São várias as definições a respeito do que venha ser uma obra didática. De
acordo com o senso comum, ela se define como aquela que traz os conteúdos de
forma sucinta e os tornam compreensíveis para os que dele fazem uso, utilizando-se
de uma linguagem simples com estratégias adequadas ao grau de compreensão de
seus leitores.
Só na década de 1970 que essa discussão ganhou novos horizontes e nela o
papel do livro didático não estava restrito apenas aos seus aspectos pedagógicos.
Em seu entorno circulava o fato dele se configurar como uma importante mercadoria
e seus custos ainda influenciavam na possibilidade de acesso a ele por parte de um
de certo contingente da população escolarizada.
Segundo Richaudeau (1979, apud OLIVEIRA et al, 1984, p. 11) pesavam as
discussões e os critérios relacionados ao seu “aspecto político e cultural isso na
medida em que reproduzia e representava os valores da sociedade em relação à
sua visão da ciência, da história, da interpretação dos fatos” e do próprio processo
de transmissão do conhecimento.
Essas definições vêm se modificando ao longo dos tempos, assim como, uma
crescente preocupação em analisar o livro didático (LD), nos estudos acadêmicos, já
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que ele é um instrumento impresso bastante familiar nos estabelecimentos de
ensino no Brasil que auxiliam no processo de ensino e aprendizagem.
Neste sentido Choppin, (2004, apud MORENO, 2012, p. 717-740) ressalta:
Pode-se entender por livro didático apenas os livros que foram escritos ou manufaturados para o fim de serem “utilitários na sala de aula” tendo, portanto, um caráter instrumental, onde professores e alunos o utilizam para que novos conhecimentos sejam adquiridos e ou transformados no processo de aprendizagem. É assim que os livros didáticos se tornam uma ferramenta de “suporte privilegiado”, neles são apresentados conteúdos educativos, ou habilidades que um grupo social acredita que sejam necessários transmitir a outras gerações.
A política do livro didático vem acompanhando o desenvolvimento do mundo
contemporâneo. Se antes os conteúdos e as metodologias eram de total
responsabilidade do professor, na contemporaneidade, com a democratização do
ensino e com as realidades que ela produziu, esses conteúdos, assim como os
princípios metodológicos, passaram a ser veiculados pelos livros didáticos de uma
forma mais crítica, contextualizada e dinâmica que, de certa forma, vem assumindo
um papel importante no campo da educação, tanto como instrumento de trabalho do
professor, quanto como uma ferramenta, a qual boa parte dos estudantes brasileiros
tem acesso, o que antes não se constituía enquanto uma realidade.
Outro elemento que observamos com o desenvolvimento dessa nova política
do livro didático é a preocupação de ampliar o interesse dos educandos na
aprendizagem através de estratégias dentre as quais as elaboradas pela área de
marketing se destacam.
Quanto à questão da análise, o livro didático também é visto como uma
mercadoria. Assim já dizia o editor Monteiro Lobato (1923, apud HALLEWELL, 2005,
p. 337) na primeira metade do século XX: “O bom negócio é o didático”. E um
grande mentor para que esta mercadoria tornasse-se lucrativa foi a complexa
relação com o Estado, quando da implantação de seus projetos educacionais, onde
o mesmo, ao mesmo tempo, incentivador, controlador, organizador e comprador das
obras didáticas tornando-as instrumento de regulação e controle das práticas
educativas.
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No contexto de inovação da política do livro didático, surge o PNLD3 -
programa criado em 1985 pelo Governo Federal que consiste na distribuição gratuita
de livros didáticos para os alunos das escolas públicas de Ensino Fundamental e
Médio de todo o país.
O PNLD é de responsabilidade do Ministério da Educação (MEC) e é gerenciado
pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), baseando-se nos
princípios da livre participação das editoras privadas e da livre escolha por parte dos
professores.
O PNLD foi aperfeiçoado em 1995, adquirindo um componente novo: a
análise e a avaliação prévia do conteúdo pedagógico com a criação do Guia de
Livros Didáticos – sinopse de cada publicação, classificada de acordo com a
qualidade do conteúdo –, no qual o professor pode avaliar o livro mais adequado às
características de sua região, de seus alunos e ao processo pedagógico de sua
escola. A ideia do PNLD é a melhoria da qualidade do ensino, considerando que o
livro constitui um dos mais importantes suportes pedagógicos no trabalho do
professor. ( Guia de Livros Didáticos: PNLD 2014).
Além do PNLD a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei
9.394 de 1996, afirma que é dever do Estado com a educação escolar pública, o
atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas
suplementares de material didático-escolar, ou seja, os objetivos da lei em questão
se conectam com os interesses do Programa Nacional do Livro Didático.
No campo específico da História, os materiais escolares vêm despertando,
sobretudo a partir da década de 1990, interesse crescente entre os pesquisadores.
Isso é bem visto na tese de Circe Maria Bitencourt, intitulada “Livro Didático e
Conhecimento Histórico: Uma história do saber escolar”, defendida na Universidade
de São Paulo em 1993. Tal obra constitui-se em um marco relevante para que a
temática se expandisse e chegasse às mesas de debates.
Segundo Bittencourt, “Fazer a história da leitura implica em rever o problema
do livro e seu caráter ambíguo” (1993, p. 5), já que muitas vezes informa, auxilia,
mas também pode aumentar a uniformidade do pensamento, principalmente quando
divulga determinadas crenças, normas, regras de procedimentos e valores, ou seja,
3 MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete PNLD (Programa Nacional
do Livro Didático). Dicionário Interativo da Educação Brasileira - Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2001. Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/pnld-programa-nacional-do-livro-didatico/>. Acesso em: 01 de mar. 2016 às 20h35min.
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o livro pode também criar as diferenças, posto que, a leitura que se faz nele ou dele,
nunca é única, depende muito de o leitor absolver ou não suas informações.
Por mais contraditória que seja a leitura de um livro didático, é fundamental
para o historiador compreender a dimensão dos fatos que esse objeto pode trazer.
Também nesse contexto de conflitos e contradições, está inserida a
instituição escola. É nela que os livros didáticos com maior intensidade são usados,
interpretados e discutidos. No entanto, esta instituição, como nos lembra Bittencourt
(1993), é contraditória e abriga no seu interior o conflito e a dominação, pois o
ecletismo é predominante. Mesmo assim, ainda é considerado um lugar de produção
do conhecimento e resistência a projetos hegemônicos.
Observamos, porém, que as funções do livro didático alteraram-se bastante
no transcorrer do tempo. De um manual de apoio ao trabalho docente assumiu lugar
de destaque na prática pedagógica, de certa forma, guiando o ensino das disciplinas
escolares.
Conforme o MEC (Ministério da Educação e Cultura), os livros didáticos
tendem a apresentar não uma síntese dos conteúdos curriculares, mas um
desenvolvimento desses conteúdos; a se caracterizar não como um material de
referência, mas como um caderno de atividades para expor, desenvolver, fixar e, em
alguns casos avaliar o aprendizado; desse modo, tendem a ser não um apoio ao
ensino e ao aprendizado, mas um material que condiciona, orienta e organiza a ação
docente, determinando uma seleção de conteúdo, um modo de abordagem desses
conteúdos, uma forma de progressão, em suma, uma metodologia de ensino no
sentido, amplo da palavra. (BRASIL, 2001, p. 29)
Atualmente, em sua maioria, as obras didáticas são escritas por profissionais
com experiência no Ensino Fundamental e Médio, e não mais por nomes ilustres,
como ocorreu no final do século XIX e início do século XX, das renomadas
enciclopédias. Concomitante a essa inovação observamos uma crescente
profissionalização da área de História quando começam a surgir os cursos
superiores e, com eles, o incentivo à pesquisa, diminuindo significativamente o
tempo de utilização dos livros no espaço escolar. É nesse contexto, que a História
tem conhecido relevantes alterações do ponto de vista metodológico, visto que, foi
ao longo do século XX, que historiadores inovaram seus temas de estudo, fizeram
uso de fontes até então “adormecidas”, ou seja, os historiadores deixaram de ver
apenas aqueles fatos marcados pela cultura do enaltecimento à história política.
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Neste sentido, foram muitas as inovações perceptíveis no livro didático de
História, tendo em vista os enormes avanços tecnológicos introduzidos pela
Informática, que revolucionou praticamente toda a estrutura do mesmo. Foi neste
contexto de mudanças, inovações e em observação a livros de História que
detectamos a tentativa de algumas coleções tentarem se desvincular da História
Factual, centrada em fatos políticos e estruturada em periodizações rígidas e, em
situações distantes da realidade do aprendiz.
Nos livros publicados mais recentemente, os tratamentos dos temas são
atuais, contextualizados, acompanhados de uma rica gama de ilustrações
adequados à faixa etária dos alunos e com a proposta de atividades que expressam
uma nova vertente de pesquisa na História, especialmente no que diz respeito à
interface com outros campos do conhecimento, como por exemplo: a História da
Educação, a História Biográfica e a Psicologia da Aprendizagem (ZAMBONI, 2000).
Podemos encontrar, em sua bibliografia, textos utilizados, como os de Circe
Bittencourt, Ciro Flamarion Cardoso, Darcy Ribeiro, Laura de Mello e Souza, Eric
Hobsbawm. Também podemos encontrar nas suas bibliografias textos utilizados de
autoria de Mary Del Priori, que está na proa da pesquisa histórica e do Ensino de
História na atualidade.
Ainda há livros didáticos que tentam retratar uma história diferente, vista de
outra forma, ora pelo lado cultural, ora pelas lutas de classes, mas que ainda deixam
muito a desejar, apesar de sua colaboração na desconstrução de perspectivas que
antes eram tidas como verdades absolutas, principalmente no que diz respeito ao
modelo de história de base eurocêntrica.
Quanto à organização dos conteúdos, a maioria dos livros ainda segue uma
linha cronológica e, na maioria das vezes, é interessante ao professor buscar outras
fontes de complementação dos temas discutidos em sala. Observando a estrutura
de alguns livros didáticos, percebemos que sua escrita é fácil de ser compreendida,
há imagens que auxiliam na compreensão do conteúdo em questão, boxes de
informações com palavras que possivelmente os alunos não conhecem.
As fontes escritas são grandes e boas de lerem. A partir do que foi exposto
podemos concluir que o livro didático vem melhorando com o tempo, porém
necessita de mais fontes para auxiliar o professor e aos educandos no processo de
ensino-aprendizagem.
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2.1 AS LEIS 10.639/03 E 11.645/08 COMO MARCOS PARA A EDUCAÇÃO
BRASILEIRA
Segundo o IBGE( Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em pesquisa
realizada no ano de 2010, o Brasil é considerado o segundo maior país negro do
mundo, com percentuais significativos de pessoas de origem afrodescendente e
indígena, o que confirma a tese da participação desses grupos na formação do povo
brasileiro, composição esta não livre de conflitos, principalmente aqueles oriundos
em torno da questão da cor.
Apesar da importância cultural que africanos e indígenas tem na sociedade
brasileira, ou que deveriam ter, observamos um esquecimento desses povos no
Brasil, que se configura como uma falta de interesse por parte de uma sociedade
que, até 2003, não enxergava de maneira formal, a história e a cultura desses povos
como contribuintes para formação do povo brasileiro.
Observamos que várias foram as lutas, embates e debates para que a
temática africana se tornasse mais presente em sala de aula e, consequentemente,
se transformasse em lei. Dentre os vários períodos, nos anos de 1930, a Frente
Negra Brasileira4 “elegeu como um de seus compromissos a luta por uma educação
que contemplasse a História da África e dos povos negros e combatessem práticas
discriminatórias sofridas pelas crianças no ambiente escolar.” Posteriormente, no
ano de 1978 o Movimento Negro Unificado (MNU) – defendeu a “inserção da história
da África e do Negro no Brasil, no currículo escolar do país”. Essas duas datas e os
contextos a que elas se referem, são bastante relevantes para a nossa pesquisa, e
demonstram que as leis recentemente aprovadas têm uma história a ser contada e
que remete ao início do século XX. Desse longo processo de lutas, resulta a Lei n°
10.639 de 09 de janeiro de 2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), Lei n° 9.394/96, tornando obrigatório o ensino da história
e da cultura africana e afro-brasileira.
4 Sua fundação data de 16 de setembro de 1931 como Frente representante dos interesses dos negros no Brasil. Pensando na maneira de publicar suas ideias lançou um jornal próprio, a voz da Raça, no ano de 1933. Em 1936 tornou-se partido político, mas mantendo-se como uma importante entidade de representação dos afro-brasileiros, no campo sócio-político, Em 1937, com o estabelecimento do Estado Novo, foi extinta por ordem do então presidente da república, Getúlio Vargas. Disponível em: <http://marconegro.blogspot.com.br/2005/09/frente-negra-brasileira.html>. Acesso em 10/03 2016 às 08h22min.
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A aprovação da referida Lei n° 10.639, de 09 de janeiro de 2003, criou suporte
legal para que professores possam trabalhar os “princípios de promoção da
igualdade” em seu ambiente de trabalho, desconstruindo conceitos estereotipados
acerca dos africanos, e dos afro-brasileiros, buscando valorizar e respeitar culturas,
cores, religiões e reconhecendo através da educação as contribuições africanas em
nossa sociedade, presentes nos aspectos sociais, econômicos, políticos e religiosos.
Nesse interstício de tempo e pelos motivos acima apontados o ano de 2003 é
considerado um momento ímpar para a Educação brasileira. Além da criação da lei
10.639, surgiram várias secretarias que favoreceram ainda mais para a
implementação da Lei. Podemos citar a Secretaria Especial de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR)- que representa o negro em âmbito
nacional e internacional e levou a questão do mesmo como uma prioridade para as
pautas de Políticas públicas do País, dentre outras que também favoreceram o
enaltecimento dessas políticas para que o reconhecimento da diversidade étnico-
racial se tornasse uma realidade.
Contudo, ao considerar que o Brasil é um país marcado pela diversidade
ético-racial, surgiu também a necessidade de ampliação desse diálogo. E mais uma
vez o dispositivo que trata da temática sofreu alterações dentro da LDB, agora pela
Lei n° 11.645/08, estendendo a obrigatoriedade do “estudo da história e cultura afro-
brasileira e indígena” em todos os estabelecimentos de Ensino Fundamental e
Médio públicos e privados, de todo o país. Assim a lei passou a vigorar com a
seguinte redação:
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. § 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos
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indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.( Constituição da República Federativa do Brasil de 1988).
A redação da lei nos faz confirmar a importância da mesma para a educação e para
a sociedade brasileira uma vez que se propõe a reconhecer as contribuições que
índios e afro-brasileiros deram à história brasileira.
Também observamos, que a implantação da lei 10.639 e sua alteração
através da 11.645/08, são vias legais que colaboram para a desconstrução do
ensino de história sob a perspectiva eurocêntrica, bem como para que asiáticos
sejam vistos como agentes exclusivos da construção da nação, de oportunizar
narrativas através das quais os educandos possam perceber que afro-brasileiros e
índios fizeram parte da formação do Brasil, e, também se percebam a si como parte
dessa formação.
São as duas leis muito importantes e, certamente, o diagnóstico sobre suas
consequências na educação e na sociedade só poderá ser feito em longo prazo, no
entanto, já decorridos treze anos da aprovação da Lei 10.639 é possível
caminharmos no sentido de analisar os avanços por ela viabilizados, bem como os
desafios que temos pela frente. Uma possibilidade para que isso seja feito é através
da investigação dos manuais didáticos, considerando-os como ferramentas
elementares no dia-a-dia em sala de aula, largamente utilizados pelos professores
de História e através do qual é possível identificarmos como o tema vem sendo
tratado pelos autores.
Para esta pesquisa escolhemos, especificamente, livros de História do Rio
Grande do Norte, como já apontamos no início deste texto, trilhando um caminho
metodológico que preza pela comparação entre os manuais publicados em períodos
anteriores a aprovação da lei e aqueles que vieram a público após 2003.
2.2 ANTES DE 2003: HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA
NOS LIVROS DE HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE.
A análise a ser realizada daqui por diante segue um perfil esquemático e
obedece à organização cronológica das publicações. Neste sentido, o primeiro deles
17
tem por título” Rio Grande do Norte”, livro analisado, selecionado e indicado pelas
secretarias de Educação das Unidades Federais à Fundação Iane Freire e Maria
Aparecida de Queiroz, e tem como autora Solange Maria de Magalhães. A obra foi
reimpressa por dez vezes de 1971 a 1984.
Esta obra é organizada em cinco unidades, a primeira delas tem por título:
“Onde você mora, no Brasil”, e é composta por dois textos que identificam a
localização geográfica do Estado do Rio Grande do Norte. Já a segunda unidade
apresenta um número de cinco textos e tem como chave de desenvolvimento a
preocupação em torno do quê torna os lugares diferentes entre si. A terceira propõe
a leitura de quatro textos que tratam de como os homens trabalham. Já na
penúltima unidade, versa, por meio de dois textos, sobre o governo, e, por último,
seis textos, na quinta unidade, tratam do povoamento do território que hoje conforma
o Estado em questão.
A capa deste livro merece uma atenção especial, nela é possível observar a
imagem do Forte dos Reis Magos5, ícone- mor na representação do início do
processo de colonização, é uma chave para entendermos que o livro apresenta uma
leitura eurocêntrica de nossa história. Isso se confirma no sumário. Os diversos
tópicos a que correspondem os textos e capítulos do livro não apresentam
elementos que nos permitam pensar a miscigenação que caracteriza a formação
social de nosso Estado, desde o processo de colonização dos espaços que se
tornariam seus territórios até os dias de hoje.
No decorrer da narrativa encontramos duas imagens de bonecas de sisal
(p.31), ambas situadas em um texto intitulado: “Como os homens trabalham”. As
bonecas de sisal, normalmente feitas a partir de fibras vegetais e palhas, também as
de tecidos, remetem ao período em que as escravas atravessavam o Atlântico a
bordo dos navios que as transportavam para as Américas. Para que seus filhos
brincassem, e mesmo como forma de fabricar amuletos de proteção, as futuras
escravas teciam essas representações humanas usando palhas de alimentos e
retalhos de suas próprias roupas. Trançavam-nas, aglutinando as partes através de
nós e sem costura alguma, as bonecas não possuem demarcação de olhos, nariz
nem boca, e podem ser percebida como símbolo de resistência, tendo ficado
conhecidas como Abayomi, termo que significa “Encontro precioso”, em Iorubá, uma
5 Sentinela de pedra erguida à entrada da barra, relíquia de lembranças históricas, marco da
colonização portuguesa no Rio Grande do Norte.
18
das maiores etnias do continente africano cuja população habita parte da Nigéria,
Benin, Togo e Costa do Marfim6.
Apesar de essas bonecas serem elementos culturais de conexão entre a
África e o Brasil, na obra em análise nenhuma menção a isso é feito. Pelo contrário,
mesmo quando os ícones da presença e cultura africanas são usados é o trabalho e
a história da colonização que ocupam as páginas do livro.
Outra imagem que pode chamar atenção do leitor/aluno é a do Palácio
Potengi (p.33), construção neoclássica que remete ao século XX, localizado na
Praça 7 de setembro, na cidade de Natal e que funcionou como Assembleia
Provincial e, posteriormente, como sede do governo estadual até a década de 1980.
No livro foram registrados, talvez coincidentemente, transeuntes afro-brasileiros à
frente de sua imponente fachada. Porém, na construção da narrativa, nenhuma
problematização foi feita com relação à presença afro-brasileira no Rio Grande do
Norte.
Já na discussão sobre a colonização (p.37), os negros são mencionados,
enquanto sujeitos que participaram da expedição que partiu da Paraíba para
conquistar o território a norte. Mesmo assim, quando a bandeira do Estado do Rio
Grande do Norte é exposta e seus símbolos explicados, percebemos, na narrativa,
uma completa ausência de qualquer elemento que mostre a colaboração dos afro-
brasileiros na formação de nossa sociedade, por mais que saibamos que em nome
da cana que, na parte de baixo, forma um laço, muitos foram torturados,
aprisionados, escravizados e mortos; na atividade da pesca, representada no centro
da bandeira, muito se aprendeu com os índios comedores de camarões que aqui
viviam antes e durante o contato com os europeus. Os mesmos que teciam o
algodão nativo pré-contato, também representado na dita bandeira.
A análise a seguir corresponde ao volume I da coleção” Nossa gente... Nossa
história” de Marlúcia Galvão Brandão refere-se a 3° série, e trata da História do Rio
Grande do Norte no recorte de tempo específico que vai da “Da civilização indígena
até a expulsão dos holandeses da capitania do Rio Grande do Norte”.
Como fizemos acerca do livro anterior, começamos a análise deste a partir de
sua capa. Ela nos mostra a forma do mapa atual do Rio Grande do Norte e em seu
6 VIEIRA, Kauê. Bonecas Abayomi: Símbolo de resistência, tradição e poder feminino. In: Afreaka.
Disponível em: <http://www.afreaka.com.br/notas/bonecas-abayomi-símbolo-de-resistência-tradição-e-poder-feminino>. Acesso em: 01 de Maio de 2016.
19
interior, imagem bastante turva de negros, navegantes. Homens brancos e índios
aguardam em terra a chegada do barco.
O sumário apresenta sessenta e quatro textos e nele palavras como “cultura,
índios, homem branco” são recorrentes, mas em nenhum momento há referência a
nenhum termo relacionado ao continente africano, aos africanos ou aos afro-
brasileiros.
No primeiro Capítulo (p.15) intitulado: “Você gosta de ouvir história?”, há uma
gravura na qual aparecem um homem branco, diante de um computador, outro
preparando a terra ainda com um instrumento artesanal, um índio portando arco e
flecha e homens negros trabalhando em engenhos de açúcar. Embora a referida
gravura represente diferentes formas de trabalho e sujeitos sociais diversos não há
uma discussão sobre os mesmos. A imagem apresenta-se descolada do texto.
No capítulo há uma fala poética, que chamou nossa atenção: “Nela (na
história) as pessoas nasceram, amaram, lutaram, sofreram, trabalharam,
exploraram, foram exploradas, felizes ou infelizes, pobres ou ricas, viveram e
morreram”. No entanto, “as pessoas” aparecem com uma expressão genérica, não
chega a identificar os explorados, pobres e assassinados.
Uma ressalva deve ser feita em relação ao capítulo intitulado “Todo povo tem
cultura” (p.42), no qual há uma apresentação de práticas e costumes indígenas.
Já no texto que fala sobre “A sociedade do Branco começa a se estruturar”
(p.56), faz menção ao negro, não de forma a considera-lo como Seres Humanos e
sim como alguém que precisava vir para a Capitania já na condição de escravos.
No capítulo “A sociedade da Capitania do Rio Grande do Norte (p.57), há uma
gravura onde aparecem as características de uma sociedade estratificada”. Nela
estão presentes os índios, colonizadores montados a cavalo e, ao fundo, dois
escravos transportando, secundados ainda por uma figura feminina e negra que, no
quintal da Casa Grande serve alimentos aos galináceos.
Mesmo que mais uma vez a linguagem pictórica usada no livro apresente os
africanos escravizados, eles são limitados às fronteiras da imagem e não chegam a
mergulhar no texto escrito, onde sua presença é silenciosa. Por fim, na parte final do
capítulo, ao sublinhar as classes que formavam a sociedade do Rio Grande, há uma
rápida referência aos homens livres, aos índios e aos escravos. Nessa ordem, os
afro-brasileiros compõem um grupo que é, naturalmente de escravos. A condição da
escravidão aparece-lhe como imanente e não como tendo lhe sido imposta.
20
A exemplo dos outros capítulos, o que recebe por título a palavra “Cunhaú” na
página 69, apresenta uma gravura de um engenho de cana de açúcar e nele alguns
negros escravizados, mas nada é discutido no texto sobre a vida dos escravos
naquele que foi durante muito tempo o mais importante, talvez porque único, da
capitania.
Por último, o capítulo “Forte de Guaraíras Revanche” (p.74), além de ser
silencioso com relação a índios e afro-brasileiros, apesar do termo Guaraíras ser
nome de uma lagoa em volta da qual viviam muitos índios potiguaras, em citação
importante à nossa problemática, afirma-se que os “Portugueses decid [iram] mudar
a história,” desta forma o poder de mudar é mais uma vez atribuído aos europeus
enquanto outros grupos étnicos nem mencionados são.
No volume I, como acima apontamos, a narrativa encerra-se no período da
chamada “expulsão” dos holandeses. O livro no qual damos continuidade a nossa
análise, o volume II, o recorte de análise se estende: “Da Recolonização da
capitania do Rio Grande do Norte o Golpe de 1930”. A exemplo do que ocorre no
volume I, na capa do volume II o mapa do Rio Grande do Norte tem espaço
privilegiado. No seu interior aparece o Forte dos Reis Magos, como também a figura
do homem branco e de personagens aparentemente índios em uma canoa
(elemento da cultura indígena).
Neste volume, apesar de uma grande quantidade de textos, apenas dez
problematizam a figura do negro. E como foi mencionado, anteriormente, sempre de
forma superficial.
No transcorrer dos textos observamos outras passagens que colocam a figura
do negro escravo em evidência, mas em nenhum momento o tema é aprofundado,
os heróis presentes na narrativa são homens de pele clara e as formas de
resistência dos homens e mulheres escravizadas ao domínio destes não são
apresentadas.
Já no capítulo que trata das “Mulheres na luta contra a escravidão” (p.53),
quando era de se esperar referências ao modo como as mulheres negras se
posicionaram contra a escravidão, as personagens que aparecem em destaque são
a da escritora Nísia Floresta, que condenava os senhores de escravos e as
violências cometidas por estes em relação aos seus escravos e Maria Madalena
Antunes Pereira, cujas crônicas narravam e criticavam as atrocidades que as
sinhazinhas ordenavam contra suas mucamas. Embora haja referência aos escritos
21
destas duas mulheres, não negras, os textos por elas produzidos não aparecem no
capítulo, ou seja, o livro não possibilita que o leito/professor possa trabalhar, a partir
do próprio livro, com os textos de autoria das autoras mencionadas.
Já nos textos que tratam das “Leis abolicionistas”, os africanos e seus
descendentes aparecem agradecendo aos senhores pelas cartas de alforria que os
liberta, como se estas fossem fruto de um favor e não das resistências e lutas, bem
como do pensamento e sensibilidades de uma época. De forma muito superficial
ainda apontam o caráter enganador, demagógico e paliativo das leis brasileiras
relacionadas aos escravos e a população deles descendentes de forma geral. É
importante destacar, ainda, que o tema da abolição na província ocupa apenas três
parágrafos no livro inteiro (p.56).
Quanto ao capítulo que trata do “Trabalho escravo” (P.57) as condições em
que este mesmo trabalho era exercido também não são narradas. Por outro lado,
uma gravura demagógica e freyriana apresenta a possibilidade das mães escravas
poderem circular livremente pela Casa Grande em companhia de seus filhos,
também escravos.
A última passagem que nos chamou a atenção foi no texto da página 58 que
aborda o tema: “Escravo é explorado, Senhor de escravo quer indenização? Essa
não!”. A ênfase mais uma vez recai sobre os senhores, insatisfeitos com a abolição
que se aproxima e com os sinais de decadência do Império.
A obra Rio Grande do Norte Estudos Sociais e Geografia, de autoria de José
Lacerda, Maria Cristina, e Marlúcia Galvão apresenta um aspecto que diferencia
esta obra dos livros até agora analisados: a formação acadêmica de seus autores.
Dos quatro que a assinam, apenas uma tem formação na área de História, os
demais atuam na Geografia. Seu título carrega uma marca da educação do Brasil do
período da Ditadura Militar, a reunião de Estudos da História e da Geografia na
conformação de uma área chamada “Estudos Sociais”.
Um traço presente neste manual, recorrente em dois dos já analisados, é a
referência, na capa, ao mapa do Rio Grande do Norte. Neste aparece com maior
visibilidade o Oceano Atlântico, alguns índios e, até agora inédita, a figura do
vaqueiro e a prática da pecuária bovina. Ainda estão presentes a vegetação
predominante no Estado, o Forte dos Reis Magos, barcos e um engenho e, de forma
muito pouco expressiva, os negros.
22
No sumário estão evidentes as doze unidades nas quais o livro foi dividido.
Como nas demais análises, em apenas duas páginas há referências aos afro-
brasileiros, destaca as imagens cruéis e as narrativas expressam os maus tratos
físicos e psicológicos pelos quais passavam os escravos, por outro lado, são poucas
as linhas que falam das formas de resistências.
Uma passagem que nos chamou a atenção foi a menção feita a algumas
comunidades quilombolas do Rio Grande do Norte, que ainda resistem. São elas:
“Negros do Rosário (Caicó), Boa Vista (Parelhas), Riacho (Currais Novos), Capoeira
(Macaíba), e Bom Jesus e Pegas (Portalegre)” (p.29) ·.
Quanto à Abolição os textos são apresentados de uma forma muito
superficial, dando a entender que foi um ato de bondade dos senhores do Brasil,
como no livro acima analisado também aparece.
Enfim, o que observamos em comum nos manuais anteriormente analisados,
ou seja, nos livros didáticos de História do Rio Grande do Norte antes da aprovação
da Lei n° 10.639/2003 foi uma gama de textos e ícones que pouco se preocupou
com a temática africana e afro-brasileira.
E quando apareceram, mesmo que escassamente, a referência à temática,
ocorreu de forma superficial, silenciosa ou até oculta, prevalecendo às abordagens
de estereotipagem e desconsideração da figura do negro dentro da sociedade norte-
riograndense.
2.3 APÓS 2003: HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA NOS
LIVROS DE HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE
De forma semelhante ao que fizemos na seção anterior deste texto,
“passearemos” por manuais didáticos de História, que têm como característica
comum o fato de dedicarem-se à História do Rio Grande do Norte e terem sido
publicados no ano ou após 2003, portanto, no contexto de aprovação ou após da
Lei, 10.639/03, que oficializa a obrigatoriedade, em todos os níveis da educação
formal brasileira, do Ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira.
O primeiro deles é de Aristotelina Rocha e Lemuel Rodrigues. A capa desta
primeira obra já nos já refletir um pouco mais sobre o processo de miscigenação e
23
igualdade racial. A imagem que ilustra são representadas cinco crianças, sendo que
duas das quais são negras. Uma delas, aparentemente, está fazendo a leitura de um
mapa múndi para as demais.
O sumário é dividido em quatro unidades. Cada uma delas é ilustrada por
uma gravura, destas, duas nos chamaram a atenção. A unidade III (P.75), “De olho
na Independência”, quando Dom Pedro, ao “Proclamar a Independência,” aparece à
figura de dois negros, um logo à frente, em um cavalo, e o outro mais atrás, no chão.
A outra imagem corresponde à unidade IV(P.101), nela o mapa do Rio Grande do
Norte é apresentado por duas crianças, uma de pele clara e outra de pele escura.
Na unidade I, “Minhas lembranças, nossas Histórias” (P.7), os afro-brasileiros
aparecem em algumas imagens, muito embora, no texto sua presença seja lacunar.
No entanto algo nos deixa entrever que ele ocupa um lugar no espaço. Ainda no
mesmo capítulo, é registrada uma fotografia do ano de 1935, especificamente da
usina de Beneficiamento de algodão Alfredo Fernandes, localizada na cidade de
Mossoró/RN. Em frente à usina observamos a figura de negros. No texto, descrito
como operários. No decorrer das páginas, aparece a figura de uma criança negra
com acesso às novas tecnologias (computador).
São poucas as passagens da narrativa onde os afro-brasileiros são
mencionados. Somente nos itens “Leia e Navegue” aparecem sugestões de leitura
sobre os mesmos. O texto apresenta um mapa muito relevante, mostrando as
comunidades negras rurais do Estado.
Paulatinamente, diferente do que ocorrem nos livros publicados antes de
2003, os remanescentes africanos vão aparecendo. O Estado não é mais um
território de descendentes de europeus, comunidades negras e seus representantes
vão sendo mencionados, documentos para análises e mesmo um cartaz-convite
referente a uma exposição, que tem por título: “Quilombolas”, realizada na
“Fundação Cultural Capitania das Artes” aparece na obra. Ademais, a capoeira é
apresentada como uma dança herdeira de práticas desenvolvidas pelos escravos.
Em um dos itens, “Saiba Mais!”, o dia 20 de novembro é relembrado como o
dia Nacional da Consciência Negra. Já na seção “Leia Mais” a luta dos negros pela
abolição e a referência a esta no “Auto da Liberdade”, espetáculo de dança, música
e teatro, realizado na cidade de Mossoró/RN, são apontados como elementos de
nossa herança cultural. Podemos perceber que os afro-brasileiros, pelo menos nas
indicações de leitura sugeridas pelos autores, aparecem com mais força.
24
De todos os livros analisados até agora, o de Carlos Noronha, Rio Grande do
Norte, cultura e cotidiano, merece atenção especial, primeiro por que integra uma
coleção, formada pelo volume dedicado à História, que no título já quebra com os
termos recorrentes nos livros desta disciplina, tais como “economia, sociedade e
política”, uma vez que o autor utiliza como subtítulo dois conceitos muito em voga
nas pesquisas em História, especialmente entre as investigações da História
Cultural, na contemporaneidade: “cultura e cotidiano”. O outro livro que integra a
coleção é o de Geografia, também do mesmo autor, que, inova mais uma vez ao
usar dois conceitos, também em evidência, especialmente, nas pesquisas da
Geografia Cultural, “cultura e lugar”.
Ao darmos atenção aos títulos, percebemos que o autor, Carlos Noronha, não
parte dos conhecimentos, históricos e geográficos já petrificados, oriundos de
pesquisas já superadas pelos estudos mais recentes.
Além desse aspecto chamativo e, muito embora, se diga que um livro não
possa ser julgado pela capa, não se pode negar que ela é uma boa porta de
entrada. No volume dedicado a História, alvo de nosso olhar mais atento. O Bumba
Meu Boi, o Maracatu e, aparentemente, a Dança do Espontão servem de inspiração
para a identidade visual da capa, ou seja, todas as expressões pictóricas remetem à
heranças culturais afro-brasileiras. Capa e título, portanto, criam uma expectativa em
relação ao conteúdo da obra.
O volume dedicado à Geografia também chama atenção, pelo título, mas
também pelas ilustrações de sua capa. Às referências a nossa geografia fogem da
caracterização repetitiva de uma flor ressequida, aparecem carnaubeiras muito
verdes, diferentes relevos, que vão desde a areia da praia até formações serranas.
As atividades de navegação e pesca também são referenciadas, ambas
desenvolvidas por afro-brasileiros. Na capa ainda aparece uma mulher negra
carregando objetos (cerâmicos) sobre a cabeça.
No sumário, o livro de história é subdividido em doze capítulos nos quais, no
transcorrer das narrativas, aparecem elementos da cultura africana, muito embora,
em determinadas ocasiões isso pudesse ser mais bem explorado, um exemplo disso
encontramos na sessão “Explorando a História” (p. 11) quando se faz menção à
Militana Salustino do Nascimento como cantora de versos e a maior romanceira do
Brasil, mas em nenhum momento a mesma é citada como afrodescendente.
25
Peca, portanto, a obra por continuar por silenciar sujeitos que poderiam ser
tidos por nossos alunos como importantes personagens na história do país. No caso
de Dona Militana, do nosso Estado, já que a mesma era natural da cidade potiguar
São Gonçalo do Amarante.
No capítulo 2 (p.17-24), “Cidadania e Administração”, através de figuras, são
expostos alguns artigos do ECA (Estatuto da Criança e Adolescente). Tais figuras
mostram crianças afro-brasileiras como tendo direito ao lazer, à educação, a uma
alimentação saudável e moradia digna.
Há um capítulo específico para tratar de temas da história africana e suas
ressonâncias, de uma forma mais direta, em nível de Brasil (p.64), como também em
relação ao Rio Grande do Norte (p.158). Tal capítulo faz menção aos Temas
Transversais, de modo especial ao tema “Pluralidade Cultural”.
Na discussão sobre a pecuária e sua introdução nos sertões da capitania (p.
87), observamos os negros trabalhando na moagem da cana de açúcar nas
fazendas.
No decorrer da narrativa, já no contexto da formação do Império do Brasil (p.
115) sob “O governo de Dom Pedro II”, os escravos aparecem como ensacadores
de café bem como em um breve relato sobre o fim do tráfico internacional de
escravizados para o Brasil e na referência a Lei Bill Aberdeen (1845) que autorizava
os ingleses a prender qualquer navio suspeito de transportar escravos no oceano
Atlântico. Nesse mesmo contexto, o texto apresenta uma imagem de um selo
comemorativo ao 1º centenário da Lei do Ventre Livre emitido em 1971.
No contexto do RN, na “Sessão você sabia?” (p.116), faz-se um breve
comentário acerca do movimento abolicionista de comunidades rurais de
afrodescendentes chegando a mencionar que a “presença de descendentes de
africanos no Rio Grande do Norte marcou fortemente a cultura do Estado”, o que
pode ser observado nos festejos e folguedos presentes em várias cidades do
mesmo.
Por fim, na discussão sobre a cultura do Rio Grande do Norte (p.157), os
povos de origem africana são rapidamente citados, como tendo colaborado para a
formação da cultura do Estado, sendo os Autos populares: Boi-Calemba, Fandango,
Chegança, Espontão, provas disso.
Uma coisa bastante interessante do livro é que, na parte final (p.167),
aparecem sugestões de sites, livros e filmes. Dentre elas são sugeridas duas leituras
26
complementares a respeito da temática africana, são elas: Ganga Zumba e Histórias
africanas para contar e recontar.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta pesquisa, buscamos verificar como a Lei 10.639/2003 repercutiu nos
livros didáticos de História do Rio Grande do Norte e em que medida isso ocorreu. A
escolha por trabalhar com os referidos exemplares antes e depois da lei foi feita,
sobretudo, com vistas a observarmos os avanços no que diz respeito à abordagem
da temática história e cultura afro-brasileira, já que tivemos uma historiografia tão
voltada para a cultura do enaltecimento dos personagens europeus.
Nos exemplares com publicação antes da lei, não observamos a temática de
forma explícita. Silenciaram elementos dos demais grupos étnicos que contribuíram
para a formação do que hoje é o Brasil (em especial os afro-brasileiros), tendo em
vista que esse é o nosso objeto de estudo. Quando alguma menção foi feita,
apareceu de forma a considerá-lo como seres que, por natureza, já nasciam
escravos, bastava ser oriundo da África, ou seja, ao problematizarmos a temática,
observamos que a presença do negro no recorte escolhido, principalmente nos livros
anteriores à Lei, os afro-brasileiros são recorrentemente apresentados, apenas, na
condição de escravos.
Dificilmente temas relacionados à história e cultura afro-brasileiras foram
aprofundados. Muitas vezes, elementos simbólicos aparecem nas imagens, mas nos
textos as menções são ausentes, ou seja, sujeitos que colaboraram para a formação
do que hoje chamamos de nação brasileira foram representados de maneira
equivocada e superficial ou então nem representados foram.
Constatamos também que, mesmo após a lei 10.639/03 embora presente,
ainda é escassa a abordagem das temáticas, muito ainda se tem a discutir e a
desconstruir.
27
REFERÊNCIAS
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28
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