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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA, GESTÃO DE NEGÓCIOS E MEIO AMBIENTE
MESTRADO EM SISTEMAS DE GESTÃO
LEONARDO PAIVA DE OLIVEIRA DE AZEVEDO CAMPOS
MEGAEVENTO PARA QUEM? UMA ANÁLISE DOS IMPACTOS DOS JOGOS OLÍMPICOS RIO 2016 NO TERRITÓRIO DA LAGOA RODRIGO DE FREITAS SOB O
PRISMA DE DISTINTOS STAKEHOLDERS LOCAIS
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Organizações e Estratégia. Linha de Pesquisa: Sistema de Gestão pela Responsabilidade Social.
Orientador:
Prof. Fernando Oliveira de Araujo, Dr.Eng. Universidade Federal Fluminense
Niterói 2016
2
Ficha Catalográfica
C 198 Campos, Leonardo Paiva de Oliveira de Azevedo.
Megaeventos para quem? Uma análise dos impactos dos jogos
olímpicos Rio 2016 no território da Lagoa Rodrigo de Freitas sob o
prisma de distintos stakeholders locais / Leonardo Paiva de Oliveira
de Azevedo Campos. – Niterói, RJ, 2016.
112 f.
Orientador: Fernando Oliveira de Araújo. Dissertação (Mestrado em Sistema de Gestão) – Universidade Federal Fluminense. Escola de Engenharia, 2016. Bibliografia: f. 95-100.
1. Jogos olímpicos. 2. Rio de Janeiro (RJ). 3. Gestão
de stakeholder. I. Título.
CDD 796.48
4
AGRADECIMENTOS
A minha mãe, Vera, por todo amor, amizade, carinho, compreensão, apoio e incentivo
na minha formação e em todas as etapas de minha vida. Meu amor e meu exemplo.
A minha namorada, Juliana, por compreender as ausências nos finais de semanas e no
relacionamento, sendo cúmplice nesta etapa tão importante.
Ao meu orientador, professor Fernando de Araujo, por me dar um choque de realidade e
por acreditar não só em mim, mas que juntos poderíamos construir um projeto em um curto
espaço de tempo. Ele fez a diferença e a faz. Professor inquestionável que levarei por toda a
vida e com quem aprendi que precisamos transformar indicadores de esforço em indicadores
de resultado.
Ao Raynne Freitas por me estender a mão e auxiliar com seus conhecimentos, sem ao
menos me conhecer.
Ao Guilherme Miziara por ser um grande amigo e por compartilhar as aflições em
fechar esta etapa.
Aos professores Carlos Lidizia e Eduardo Vilela por toda cooperação na jornada
acadêmica.
Aos professores de todos os módulos do curso por participarem comigo dessa
experiência.
À equipe do curso de Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal
Fluminense por todo carinho e atenção ao longo do curso, em especial, a colaboradora
Bianca Feitosa.
Aos entrevistados neste trabalho pela compreensão, disponibilidade e atenção. Em
especial, aos vendedores de coco que compartilharam gratuitamente seus cocos na Lagoa
Rodrigo de Freitas sob o sol forte.
À Colônia de Pescadores Z-13 por me receber muito bem, em especial, deixo meus
sentimentos pelo falecimento do presidente, Pedro Marins, que faleceu durante esta
pesquisa.
A todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuem para o meu crescimento
profissional, em especial, meus amigos.
Ao Comandante Rene Alonso que me apresentou ao BOPE (Batalhão de Operações
Especiais), sendo tal equipe fonte de inspiração: missão dada é missão cumprida.
A Deus por ser o maior responsável por toda essa jornada dentro e fora do mestrado.
5
RESUMO
Os mega-eventos, um dos segmentos de megaprojetos, podem ser compreendidos
como uma das mais relevantes iniciativas políticas da era moderna, pois promovem
impactos transformadores na população e no local onde ocorrem, de acordo Horne &
Whannel (2016). Sendo assim, os mega-eventos, segundo Zhai et al. (2009), apresentam
maior investimento, maior complexidade, diversidade de stakeholders e sofrem influências
mais amplas em comparação a projetos simples. Neste sentido, buscou-se promover uma
sinergia entre a diversidade de stakeholders com os impactos transformadores provenientes
dos efeitos do mega-evento, culminando no objetivo deste estudo: analisar os efeitos
provenientes do megaevento, Jogos Olímpicos Rio 2016, no território da Lagoa Rodrigo de
Freitas, sob o prisma de distintos stakeholders durante a realização dos referidos Jogos. Para
realizar esta análise, primeiramente, foi realizado o levantamento de dados secundários
através da revisão da literatura especializada, utilizando o método webibliomining e
proknow-c. Em seguida, foi realizado o levantamento de dados primários através de
observação participativa e entrevistas realizadas em todo o território da Lagoa Rodrigo de
Freitas, objeto deste estudo. Estas entrevistas apresentaram duas abordagens: questionários
focalizados nos transeuntes e questionários focados nos empreendimentos. Ao todo, 71
respondentes participaram das entrevistas que apresentou uma abordagem qualitativa.
Todavia, cabe destacar que para a análise dos dados primários aventados foram usados os
métodos de estatística descritiva e análise de conteúdo. Após os resultados obtidos através
do tratamento dos dados e confrontação entre os primários e secundários, pode-se verificar
que a heterogeneidade dos stakeholders locais da Lagoa Rodrigo de Freitas produziu
percepções distintas sobre os Jogos Olímpicos, influenciando diretamente no gerenciamento
do próprio megaevento. Sendo assim, realizar o gerenciamento dos stakeholders locais, pode
contribuir para a melhor efetividade dos resultados pretendidos dos megaprojetos, gerando
benefícios a até, porventura, um legado.
Palavras-chave: Megaprojetos. Mega-eventos. Gestão de Stakeholder. Jogos Olímpicos.
Rio 2016.
6
ABSTRACT
Mega-events can be understood as one of the most important political initiatives of the
modern era, as it promotes transformative impacts on the population and the place where
they happen, according to Horne & Whannel (2016). Thus, the mega-events, according to
Zhai et al. (2009), need higher investment, greater complexity, diversity of stakeholders and
suffer broader influences compared to simple projects. In this sense, we sought to promote a
synergy between the diversity of stakeholders and the transformative impacts of the mega-
event, culminating in the objective of this study: analyze the effects of the mega-event,
Olympic Games Rio 2016, in the territory of Rodrigo de Freitas Lagoon, under the prism of
different stakeholders during the accomplishment of these Games. In order to perform this
analysis, we first carried out the survey of secondary data through a review of the
specialized literature, using the method webibliomining and proknow-c. Then, the primary
data were collected through participatory observation and interviews conducted throughout
the territory of Rodrigo de Freitas Lagoon, the object of this study. These interviews
presented two approaches: questionnaires focused on passers-by and questionnaires focused
on entrepreneurship. In all, 71 respondents participated in the interviews that presented a
qualitative approach. However, it should be noted that for the analysis of the primary data,
the methods of descriptive statistics and content analysis were used. After the results
obtained through data processing and confrontation between primary and secondary, was
verified that the heterogeneity of the local stakeholders of Rodrigo de Freitas Lagoon
produced distinct perceptions about the Olympic Games, directly influencing the
management of these mega-event. Therefore, managing the local stakeholders can contribute
to the effectiveness of the desired results of megaprojects, generating benefits to, perhaps, a
legacy.
Keywords: Megaprojects. Mega-events. Stakeholder Management. Olympic Games. Rio
2016.
7
LISTA DE FIGURAS
Figura 01- Estatísticas Oficiais dos Jogos Rio 2016..............................................................15
Figura 02 - Mapa de Realização dos Jogos da Rio 2016 .......................................................17
Figura 03 – A Área da Lagoa Rodrigo de Freitas...................................................................18
Figura 04 – Cercamento do Espelho D’água na Fonte da Saudade…....................................19
Figura 05 – Restaurante Fechado no Parque dos Patins….....................................................19
Figura 06 – Cercamento da Academia da Terceira Idade na Parte do Leblon…...................19
Figura 07 – Cercamento da Colônia de Pescadores Z-13 no Parque dos Patins....................20
Figura 08 – Restaurante Sem Quaisquer Clientes à Noite no Parque dos Patins...................20
Figura 09 – Cercamento do Restaurante La Gôndola no Parque dos Patins..........................22
Figura 10 – Casa Suíça no Corte do Cantagalo…..................................................................22
Figura 11 – Estrutura Metodológica do Estudo......................................................................26
Figura 12 - Nuvem das Palavras-Chave dos Artigos Pesquisados….....................................30
Figura 13 – Distribuição das Publicações Encontradas nas Bases por Ano...........................31
Figura 14 – Sumarização das Etapas da Pesquisa: Vertente Empírica...................................49
Figura 15 – Procedimentos Metodológicos da Coleta de Dados Primários...........................53
Figura 16 – Fragmentação da Lagoa Rodrigo de Freitas em Microrregiões..........................56
Figura 17 – Distribuição de Nível de Escolaridade em Relação ao Gênero...........................61
Figura 18 – Distribuição dos Entrevistados pela Relação que Apresentam com a Lagoa
Rodrigo de Freitas...................................................................................................................61
Figura 19 – Conhecimento sobre os Possíveis Impactos Gerados na Lagoa Rodrigo de
Freitas com a Realização dos Jogos Olímpicos......................................................................63
Figura 20 – Opinião sobre a Organização Eficaz das Olimpíadas na Lagoa Rodrigo de
Freitas.....................................................................................................................................66
Figura 21 – Distribuição sobre Sentimento de Felicidade com a Lagoa Rodrigo de Freitas
Sendo Palco de Atividades das Olimpíadas 2016...................................................................66
Figura 22 – Distribuição sobre Benefícios Gerados ao Entrevistado com a Lagoa Sendo
Palco de Atividades das Olimpíadas 2016..............................................................................67
Figura 23 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto a Localização na Lagoa Rodrigo de
Freitas.....................................................................................................................................69
Figura 24 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto por Categoria.................................70
Figura 25 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto a Formalização e Tempo de Atuação
8
na Lagoa Rodrigo de Freitas...................................................................................................71
Figura 26 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto ao Número de Funcionários..........72
Figura 27 – Percepção dos Entrevistados sobre as Consequências do Megaevento no
Cotidiano do Negócio.............................................................................................................73
Figura 28 – Distribuição sobre o Aumento no Volume de Vendas do
Empreendimento.....................................................................................................................74
Figura 29 – Certificado do Curso de Noções Básicas de Manipulação de Alimentos do Sr.
Ofir..........................................................................................................................................75
Figura 30 – Quadra Esportiva Sendo Utilizada para as Instalações do Remo do Clube de
Regatas do Flamengo no Corte do Cantagalo.........................................................................77
Figura 31 – Distribuição sobre Benefícios Gerados ao Entrevistado com a Lagoa Sendo
Palco de Atividades das Olimpíadas 2016..............................................................................76
Figura 32 – Distribuição das Questões sobre a Relação Entre a Organização do Jogos
Olímpicos e a Comunidade Local...........................................................................................79
Figura 33 – Distribuição Sobre a Construção de Relação entre a Organização do Jogos e a
Comunidade Local..................................................................................................................80
Figura 34 – Distribuição sobre Sentimento de Felicidade com a Lagoa Rodrigo de Freitas
Sendo Palco de Atividades das Olimpíadas 2016...................................................................81
Figura 35 – Matéria da Revista Época sobre Jogos Olímpicos Rio 2016 antes da
Realização...............................................................................................................................82
Figura 36 – Matéria da Revista Época sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 após a
Realização...............................................................................................................................82
Figura 37 – Matéria do Site DW sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 antes da
Realização...............................................................................................................................83
Figura 38 – Matéria do Site DW sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 após a
Realização...............................................................................................................................83
Figura 39 – Reforma da Colônia de Pescadores Z-13............................................................86
Figura 40 – Espaço do Campo de Beisebol a Ser Revitalizado..............................................86
9
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 - Estruturação das Diretrizes Iniciais da Pesquisa................................................29
Quadro 02 - Estruturação do Protocolo Final da Pesquisa.....................................................31
Quadro 03 – Total de Publicações Selecionadas por Periódicos............................................32
Quadro 04 – Revisão da Literatura na Base Web of Science e Scopus..................................34
Quadro 05 – Comparação entre Projetos Simples e Complexos............................................37
Quadro 06 – Sistema de Categorias das Características de Megaprojetos………….….…...38
Quadro 07 – Requisitos Sensíveis ao Gerenciamento de Megaeventos.................................42
Quadro 08 – Categorias vs. Práticas de Gestão de Stakeholders............................................55
Quadro 09 – Escolaridade vs. Localidade em que o Entrevistados Residem.........................62
Quadro 10 – Principais Mudanças Positivas e Negativas no Cotidiano dos Entrevistados....64
Quadro 11 – Principais Consequências Positivas e Negativas Comuns ao Cotidiano dos
Empreendimentos e dos Transeuntes......................................................................................84
Quadro 12 – Práticas de Gestão de Stakeholders Percebidas nas Partes Interessadas da Lagoa
Rodrigo de Freitas...................................................................................................................88
10
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
BAB - Banco de Artigos Bruto
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
DW - Deutsche Welle
GPI – Grandes Projetos de Investimento
Lagoa – Lagoa Rodrigo de Freitas
MP – Megaprojetos
MPI – Megaprojetos de Infraestrutura
OE – Objetivo Específico
PMERJ - Polícia Militar do Estado do Rio De Janeiro
PMI – Project Management Institute
PPP - Parcerias Público-Privadas
ProKnow-C - Knowledge Development Process Constructivist
Rio – Rio de Janeiro
SESGE - Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos
UFF – Universidade Federal Fluminense
11
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...............................................................................................................13
1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS..............................................................................13
1.2. FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA................................................15
1.3. OBJETIVOS............................................................................................................23
1.3.1. GERAL..........................................................................................................23
1.3.2. ESPECÍFICOS..............................................................................................23
1.4. QUESTÕES-PROBLEMA.....................................................................................23
1.5. RELEVÂNCIA DO ESTUDO................................................................................24
1.6. DELIMITAÇÕES DO ESTUDO...........................................................................25
1.7. ESTRUTURA METODOLÓGICA.......................................................................25
1.8. ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO............................................................................27
2. REFERENCIAL TEÓRICO.........................................................................................28
2.1. PESQUISA BIBLIOMÉTRICA.............................................................................28
2.2. MEGAPROJETOS..................................................................................................36
2.2.1. MEGAEVENTOS.........................................................................................41
2.3. STAKEHOLDERS..................................................................................................43
2.4. APRECIAÇÃO CRÍTICA DA LITERATURA E CORRELAÇÃO COM OS
OBJETIVOS DA PESQUISA………………...……………...…………………..47
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA…………………..…...49
3.1. INCORPORAÇÃO DE DADOS SECUNDÁRIOS…………………………......49
3.2. CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA…………..……........………………………50
3.3. TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS……………...…………………..…...…52
3.3.1. ENTREVISTAS……….…..........……………………………..………...…54
3.4. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS……………………......……58
3.5. LIMITAÇÕES DO MÉTODO………………………..………………………….59
4. ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS RESULTADOS……….………………….………60
4.1. ANÁLISE E DISCUSSÕES DAS PERCEPÇÕES DOS TRANSEUNTES.......60
4.1.1. ANÁLISE DO PERFIL DOS TRANSEUNTES........................................60
4.1.2. ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DOS TRANSEUNTES SOBRE O
MEGAEVENTO...............................................................................................63
4.2. ANÁLISE E DISCUSSÕES DAS PERCEPÇÕES DOS
EMPREENDIMMENTOS......................................................................................68
12
4.2.1. ANÁLISE DO PERFIL DOS EMPREENDIMENTOS............................68
4.2.2. ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS SOBRE O
MEGAEVENTO..............................................................................................73
4.3. ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE TRANSEUNTES E
EMPREENDIMENTOS.........................................................................................84
4.4. CONFRONTAÇÃO DOS RESULTADOS COM A REVISÃO DA
LITERATURA........................................................................................................87
5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE NOVOS ESTUDOS.........................................91
REFERÊNCIAS....................................................................................................................95
APÊNDICE 1: Diário de Bordo.........................................................................................101
APÊNDICE 2: Questionário Transeuntes........................................................................102
APÊNDICE 3: Questionário Empreendimentos..............................................................104
APÊNDICE 4: Trocas de E-mails do Restaurante Arab................................................106
APÊNDICE 5: Revista Época - Na Lagoa e no Aterro, os Excluídos da Olimpíada
Aparecem.............................................................................................................................108
APÊNDICE 6: Revista Época - Rio 2016, uma Olimpíada para ficar na memória.....110
APÊNDICE 7: Site Alemão DW - Imprensa europeia destaca desânimo com a Rio
2016......................................................................................................................................111
APÊNDICE 8: Site Alemão DW - Opinião: Jogos Olímpicos libertam o Rio...............112
13
1. INTRODUÇÃO
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Os megaeventos, tais como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, são ocasiões
únicas que, todavia, podem deixar marcas permanentes na sociedade. Conforme afirma
Müller (2015), o megaevento, além de atrair milhares de visitantes e ter alcance mundial,
demanda significativos investimentos em infraestrutura, que geram impactos sobre o
ambiente construído e a comunidade local.
Os megaeventos estão intimamente ligados aos grandes projetos de infraestrutura que
visam à reformulação urbana. Segundo Oliveira (2011), os megaeventos podem ser
percebidos como estratégia deliberada de crescimento econômico e social, pois
compartilham de alguns elementos em comum: a) atração de investimentos; b) alavancagem
do turismo; c) ações urbanas pontuais; e d) o acionamento de parcerias público-privadas
(PPP).
Eventos de grande porte, em especial os esportivos, são considerados um dos
segmentos de megaprojetos. Segundo Flyvbjerg (2014), os megaprojetos são
empreendimentos complexos que custam normalmente na ordem de bilhões de dólares,
demandam muitos anos para se desenvolver e executar, envolvem múltiplos stakeholders
(partes interessadas) e são transformacionais, na medida em que afetam milhões de pessoas.
Os megaprojetos também podem ser denominados tecnicamente de projetos de capital
(ROMERO & ANDERY, 2016), além de possuírem outros termos que podem ser
verificados na literatura especializada: grandes projetos; grandes projetos de
Desenvolvimento; GPI – grandes projetos de investimento (VAINER & ARAÚJO, 1992),
além de MPI – megaprojetos de infraestrutura (ZENG et al., 2015).
Estes projetos, usualmente, estão orientados aos setores de mineração e energia,
caracterizados por uma complexa demanda de tecnologia e sólida gestão de processos,
conforme Romero e Andery (2016). No entanto, os megaprojetos (MP) podem ser
vislumbrados em várias áreas: infraestrutura, fusões e aquisições, defesa territorial, plantas
de processamento industrial, tecnologia da informação, viagens espaciais, iniciativas
empresariais, sistemas administrativos e grandes eventos. Cada vez mais, os MPs têm sido o
modelo preferido de entrega para produtos e serviços por uma gama de organizações e
setores (FLYVBJERG, 2014).
Vale ressaltar, segundo Flyvbjerg (2014), que os megaprojetos não são apenas versões
14
ampliadas de projetos menores, tratam-se de empreendimentos completamente diferentes no
que tange à natureza, prazos de entrega, complexidade e participação das partes interessadas.
Todavia, as divergências vão além, especialmente, no que se refere à complexidade social,
pois envolve o gerenciamento de muitos atores - executores do projeto - e múltiplos
stakeholders, tanto de caráter público e privado, gerando conflitos de interesses
(AALTONEN & KUJALA, 2010).
Para Freitas (2016), a magnitude e complexidade deste tipo de projeto o deixa mais
suscetível a riscos em relação aos demais projetos de menor porte, notadamente, no que se
referem aos riscos sociais, englobando especialmente os stakeholders.
De acordo com o PMBoK (PMI, 2013), os stakeholders são pessoas, grupos ou
organizações que podem impactar ou serem impactados pela implementação de um projeto
ou evento, sendo necessário desenvolver estratégias de gerenciamento apropriadas para o
engajamento e a comunicação eficaz dessas partes, tanto nas tomadas de decisões, quanto na
execução.
De acordo com Zeng et al. (2015), os grandes projetos podem ser vislumbrados
como posicionamento estratégico para o estímulo da economia nacional e para o
desenvolvimento social. Neste sentido, os megaeventos, sendo os Jogos Olímpicos uma das
principais referências mundiais, devem ser pensados como megaprojetos, pois apresentam
propósitos e práticas de gerenciamento que se assemelham. Vale evidenciar também,
conforme Zimbalist (2015), que os grandes eventos requerem investimentos através de uma
gama de megaprojetos de infraestrutura – transporte, energia, rede hoteleira e comunicação –
para serem realizados com eficácia.
Os desafios de se gerenciar um grande evento não são puramente técnicos, implicam
também em como estruturar um contexto que abranja e dialogue com as várias partes
interessadas que percebem a iniciativa sob distintos prismas socioculturais. O gerenciamento
dos stakeholders se faz necessário em projetos globais especialmente quando executados em
ambientes institucionalmente exigentes (AALTONEN et al., 2008; AALTONEN, 2010).
Sendo assim, a compreensão clássica de sucesso em projetos e eventos, conforme
Jugdev e Muller (2005), que vincula fortemente ao atendimento das expectativas de escopo,
tempo e custo, pode ser considerada ineficaz para os dias atuais. Esta perspectiva não
considera os aspectos que permeiam os riscos sociais, no que se refere aos múltiplos
stakeholders, e os possíveis impactos, enfatizando somente os critérios técnicos.
Segundo Vargas (2016), diante da pressão de um contexto de mudanças e cenários
improváveis, é preciso viabilizar processos estruturados e lógicos capazes de lidar com
15
eventos que se caracterizam pela novidade, complexidade e dinâmica ambiental. Logo, saber
interpretar a atitude e gerenciar os stakeholders representam um elemento central das boas
práticas de gerenciamento de projetos (ARAUJO et al., 2015).
Os Jogos Rio 2016, realizados na cidade do Rio de Janeiro e sendo a primeira edição
da Olimpíada e Paralimpíada na América do Sul, representaram uma possibilidade de
transformação na sociedade, impactando a vida de milhões de indivíduos. A Figura 01
oferece um panorama das principais estatísticas relacionadas aos eventos.
Figura 01- Estatísticas Oficiais dos Jogos Rio 2016
Fonte: Cidade Olímpica (2016)
1.2 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA
Os megaeventos, como os Jogos Olímpicos, têm sido questionados a respeito dos
impactos que geram e dos investimentos econômicos que necessitam. Segundo Zimbalist
(2015), faz-se necessário avaliar como os megaeventos podem promover algum tipo de
16
benefício ou retorno econômico à comunidade local, especialmente, àqueles que possuem
menores condições sociais.
De acordo com Flyvbjerg (2016), os Jogos Olímpicos realizados ao longo da década
2004-2014 custaram em média 8,9 bilhões de dólares, não incluindo transporte, aeroporto e
infraestrutura hoteleira, que muitas vezes custam mais do que os jogos em si. Logo, a cidade
anfitriã, neste caso o município do Rio de Janeiro, precisa passar por uma série de
transformações que sejam capazes de viabilizar a realização da Olimpíada.
Algumas medidas, no entanto, impactam de forma negativa nos stakeholders, pois
podem provocar: deslocamento espacial de uma comunidade; desvio de recursos sociais para
a construção de espaços e estruturas; e a criação de infraestruturas que não tenham uso
efetivo após os jogos (ZIMBALIST, 2015). Neste sentido, as práticas de gerenciamento de
projetos, no que tange a gestão de stakeholders, devem ser analisadas a fim de estarem
alinhadas com a intenção de gerar benefícios para a comunidade local.
Os Jogos Rio 2016 foram realizados em distintas localidades geográficas da cidade
anfitriã, Rio de Janeiro, de 05 a 21 de agosto, a Olimpíada (objeto do presente estudo), e de
07 a 21 de setembro, a Paralimpíada.
A Olimpíada, segundo o site oficial Rio 2016 (2016), envolveu 42 modalidades
esportivas, 306 provas, 37 arenas e 205 países. Apesar de toda estrutura deste evento se
ramificar por toda macrorregião do Rio de Janeiro, alguns bairros se destacam, concentrando
as competições: Deodoro, Copacabana, Barra da Tijuca, Maracanã e Lagoa Rodrigo de
Freitas, conforme ilustra a Figura 02.
17
Figura 02 - Mapa de Realização dos Jogos da Rio 2016
Fonte: Meirelles (2014, p.58).
A magnitude e complexidade deste megaevento engloba uma gama de vários atores
que compõe as partes interessadas e que possuem diferentes interesses. Todavia, segundo
Clark et al. (2016), um foco excessivo no megaevento possibilita facilmente ignorar o micro,
isto é, as comunidades locais que são impactadas pelo evento. Sendo assim, para se
aprofundar em uma análise sobre o gerenciamento de stakeholders, faz-se necessário uma
melhor compreensão sobre o território no qual ocorreu a Rio 2016, segmentando-o em
microrregiões.
Cada microrregião apresenta um elevado número de atores que formam uma
comunidade local que foi impactada com a Olimpíada. Fragmentar o megaprojeto em áreas
menores pode possibilitar uma análise mais consolidada sobre o objeto de estudo. Logo, a
microrregião selecionada para devido fins de estudo foi a Lagoa Rodrigo de Freitas (Figura
03).
18
Figura 03 – A Área da Lagoa Rodrigo de Freitas
Fonte: Google Earth (2016)
A Lagoa Rodrigo de Freitas, além de ser considerada um dos cartões postais da cidade
do Rio de Janeiro, é um espaço de interligação entre vários bairros da zona sul da cidade
(Humaitá, Jardim Botânico, Gávea, Leblon, Ipanema e Copacabana), apresentando uma
heterogênea comunidade local com indivíduos de diferentes culturas e posições sociais. Vale
também ressaltar que a própria Lagoa foi cenário dos jogos, sendo arena para algumas
competições e também abrigando algumas casas temáticas das delegações.
Para receber as competições de remo e canoagem de velocidade, a Lagoa Rodrigo de
Freitas, um monumento tombado pelo município e também em nível federal 1 , sofreu
transformações necessárias, no espelho d’água e seu entorno, para viabilizar os jogos.
Todavia, essas mudanças desencadearam uma série de consequências que devem ser
analisadas. Para evidenciar estes impactos, foram registradas algumas imagens, conforme as
Figuras 04, 05, 06, 07 e 08:
1 PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO. Bens Tombados. Disponível em
<http://www.rio.rj.gov.br/web/irph/bens-tombados >. Acesso em: 30 jul. 2016.
19
Figura 04 – Cercamento do Espelho D’água na Fonte da Saudade
Fonte: Leonardo Campos em 26 de julho de 2016.
Figura 05 – Restaurante Fechado no Parque dos Patins
Fonte: Leonardo Campos em 26 de julho de 2016.
Figura 06 – Cercamento da Academia da Terceira Idade na Parte do Leblon
Fonte: Leonardo Campos em 26 de julho de 2016.
20
Figura 07 – Cercamento da Colônia de Pescadores Z-13 no Parque dos Patins
Fonte: Leonardo Campos em 26 de julho de 2016.
Figura 08 – Restaurante Sem Quaisquer Clientes à Noite no Parque dos Patins
Fonte: Leonardo Campos em 26 de julho de 2016.
Neste sentido, os registros fotográficos corroboram como o cercamento na Lagoa
21
Rodrigo de Freitas para a realização dos Jogos Olímpicos modificou a paisagem e o dia a dia
dos indivíduos e empreendimentos locais. Cabe destacar, segundo a SESGE - Secretaria
Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos, as cercas foram instaladas como medida
de segurança a pedido do comitê organizador Rio 2016 a fim de gerar proteção2. Todavia, a
compreensão sobre este cercamento desperta outras percepções:
Empreendimentos (Figuras 05 e 08) – muitos empreendimentos foram
impactados de forma negativa com o cercamento, pois não tinha trânsito de
pessoas por essas áreas. Sendo assim, muitos ficavam fechados em horário de
expediente, devido à falta de clientes;
Colônia de Pescadores (Figura 07) – a colônia Z-13 ficou impossibilitada de
utilizar a Lagoa para a pesca, uma vez que a própria lagoa estava cercada;
Clubes de Remo (Figura 04) – os principais clubes, Flamengo, Botafogo e
Vasco da Gama não podiam utilizar o espelho d’água, logo, os alunos e atletas
de remo dos referidos clubes não podiam treinar.
Transeuntes e praticantes de esporte (Figura 06) – com a trajetória da ciclovia
modificada e o cercamento, inclusive da academia da terceira idade, vários
indivíduos tiveram o seu dia a dia impactados, diminuindo a circulação de
pessoas pela Lagoa Rodrigo de Freitas.
Ainda a título de ilustração, em conversa com o Sr. Carlos, proprietário do restaurante
La Gondola, o entrevistado reiterou o impacto negativo que cercamento da Lagoa Rodrigo
de Freitas ofereceu no cotidiano do seu estabelecimento, provocando um isolamento
geográfico e diminuindo drasticamente a quantidade de clientes. O empresário ainda
ressaltou a dificuldade para abastecer o próprio empreendimento. A Figura 09 ilustra a
situação do restaurante:
Figura 09 – Cercamento do Restaurante La Gôndola no Parque dos Patins
2 FOLHA DE SÃO PAULO. Trecho da Lagoa é cercado com grades de 2,5 metros para provas da Rio-2016.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/esporte/olimpiada-no-rio/2016/07/1794794-trecho-da-lagoa-e-
cercado-com-grades-de-25-metros-para-provas-da-rio-2016.shtml> Acesso em: 30 jul. 2016.
22
Fonte: Leonardo Campos em 04 de agosto de 2016.
Os Jogos Olímpicos Rio 2016 provocaram na Lagoa Rodrigo de Freitas um oximoro3:
em um mesmo contexto é possível averiguar áreas vazias e impactadas de forma negativa
devido ao cercamento; e por outro prisma, áreas que obtiveram grande circulação de
pessoas, estimulando a movimentação nos estabelecimentos localizados próximos ao Baixo
Suíça, casa de hospitalidade do governo suíço que funcionou duante a Olimpíada e
Paralimpíada. Tal efeito está ilustrado na relação das Figuras de 04 a 09 com a Figura 10.
Figura 10 – Casa Suíça no Corte do Cantagalo
Fonte: Leonardo Campos em 17 de agosto de 2016.
Sendo assim, é possível compreender que a Lagoa Rodrigo de Freitas foi fragmentada
3 Segundo Loregian (2012), oximoro pode ser caracterizado por ser uma figura de pensamento que harmoniza
dois conceitos opostos, formando assim um terceiro conceito, que dependerá muito da interpretação de quem
estiver lendo.
23
em zonas dicotômicas, na quais, os indivíduos são impactados de maneiras distintas e podem
possuir percepções diferentes em relação ao megaevento. Este efeito, segundo Clark et al.
(2012), de priorizar o macro em relação ao micro em grandes projetos e não analisar a
heterogeneidade dos territórios e seus stakeholders, pode reduzir a capacidade de gerar
benefícios a comunidade local, até mesmo, impactar de maneira deletéria um possível
legado.
1.3 OBJETIVOS
1.3.1. GERAL
O presente estudo tem como objetivo analisar os efeitos provenientes do megaevento,
Jogos Olímpicos Rio 2016, no território da Lagoa Rodrigo de Freitas, sob o prisma de
distintos stakeholders durante a realização dos referidos Jogos.
1.3.2. ESPECÍFICOS
Identificar quais foram as práticas de gerenciamento de stakeholders aplicadas nos Jogos
Olímpicos Rio 2016, no que se refere o território da Lagoa Rodrigo de Freitas;
Identificar quais são as percepções sobre o evento entre os variados stakeholders -
estabelecimentos formais, informais, comunidade de pescadores, transeuntes e turistas -
durante a realização dos Jogos Rio 2016;
Verificar se existem percepções distintas entre os stakeholders do megaprojeto;
Identificar as consequências geradas pelos Jogos Rio 2016 na Lagoa Rodrigo de Freitas
e avaliar se estas consequências se relacionam com as possíveis práticas de
gerenciamento de stakeholders utilizadas;
Propor aprimoramentos nas práticas de gerenciamento de projetos, no sentido de
contribuir para melhor efetividade dos resultados pretendidos;
Consolidar lições aprendidas visando ao compartilhamento dos ensinamentos de um
aludido caso de sucesso em megaeventos.
1.4 QUESTÕES-PROBLEMA
Observando o contexto e considerando os objetivos supracitados, as seguintes
questões-problemas são foco de investigação deste trabalho:
Quais foram os principais impactos (positivos e/ ou negativos) percebidos por distintos
24
stakeholders durante a realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016 na Lagoa Rodrigo de
Freitas?
Quais foram as práticas de gerenciamento de stakeholders adotadas nos Jogos Olímpicos
Rio 2016, com base na percepção da comunidade local da Lagoa Rodrigo de Freitas em
relação ao megaevento?
As práticas de gerenciamento de stakeholders adotadas consideram a heterogeneidade de
públicos constituintes dos distintos territórios?
Na perspectiva dos stakeholders, os Jogos Olímpicos Rio 2016 deixaram um legado para
a comunidade local da Lagoa Rodrigo de Freitas?
Quais as lições aprendidas sobre boas práticas em gerenciamento de stakeholders em
megaeventos?
1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO
Esta pesquisa busca produzir uma literatura especializada sobre um tema relevante e
contemporâneo relacionado ao gerenciamento de megaprojetos: a gestão dos stakeholders,
evidenciando a importância de se analisar a heterogeneidade das partes interessadas.
Em termos empíricos, explora-se o caso de um dos megaeventos de maior referência
no planeta: os Jogos Olímpicos Rio 2016, através do estudo das potencialidades e limitações
das práticas de gerenciamento de projetos, compartilhando importantes aprendizagens
provenientes da complexidade, magnitude e heterogeneidade da atuação do projeto.
Diante dos questionamentos que os megaeventos têm sofrido, relacionados aos
elevados montantes de investimentos necessários, os impactos que produzem na população
local e se concebem benefícios aos envolvidos; este estudo vislumbra analisar o método de
gerenciamento de projetos no que se refere à gestão de stakeholders. Sendo assim, contribuir
para a racionalização dos recursos de maneira mais eficaz - maximizando resultados - e mais
eficiente - reduzindo custos - na implantação de megaprojetos.
Além de discutir a importância de se realizar a análise sobre a heterogeneidade de
stakeholders e percepção de sucesso vinculada às boas práticas de gestão, esta pesquisa visa
a estimular formas mais sustentáveis e colaborativas de trabalho e comunicação em mega
eventos. Nesse sentido, este estudo ainda pode ser inspirador para outras organizações do
segmento de megaprojetos.
1.6 DELIMITAÇÕES DO ESTUDO
25
A pesquisa está delimitada territorialmente à cidade do Rio de Janeiro, mais
especificamente a Lagoa Rodrigo de Freitas, e temporalmente de julho a novembro de 2016.
A análise do caso é particularmente de um evento global que aconteceu na cidade carioca: os
Jogos Olímpicos Rio 2016, atendo-se ao período da Olimpíada e não considerando as
Paralimpíada. O foco desta pesquisa engloba somente a visão da comunidade local da Lagoa
Rodrigo de Freitas e outras partes interessadas, não contemplando a perspectiva do comitê
gestor do megaevento Rio 2016.
Vale ressaltar que os resultados apresentados não constituem um diagnóstico total
sobre o gerenciamento de stakeholders ou a respeito do segmento de megaprojetos e
megaeventos, no entanto, tais resultados podem servir como inspiração para estudos futuros,
a fim de contribuir para o desenvolvimento do tema em questão.
1.7 ESTRUTURA METODOLÓGICA
A estrutura metodológica, aplicada para execução deste trabalho, consiste em etapas
seriadas e distribuídas em duas vertentes: uma empírica e outra teórica que se
complementam e se confrontam para responder aos objetivos propostos, conforme ilustra a
Figura 11.
Figura 11 – Estrutura Metodológica do Estudo
26
Fonte: Adaptado de Araujo (2011).
A primeira etapa, vertente teórica, baseia-se na revisão de literatura, através da
realização de pesquisas em fontes bibliográficas e eletrônicas, com a finalidade de
apresentar um embasamento teórico sobre os temas abordados. Nesta etapa, são analisadas
os princípios e requisitos de mega eventos e de gerenciamento de stakeholders. O resultado
esperado desta etapa é um modelo teórico que seja aplicável a vertente empírica.
A vertente empírica se baseia na identificação, coleta, análise e divulgação dos
dados, através do emprego de questionários na Lagoa Rodrigo de Freitas com os
empreendimentos formais, informais, comunidade de pescadores, clubes e transeuntes,
objetivando identificar e analisar as práticas de gestão de stakeholders utilizadas pela Rio
2016.
A última etapa abrangerá a conclusão que vislumbra responder as questões-problema
e a realização de aprimoramento no que tange o gerenciamento de projetos.
1.8 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO
Este trabalho está estruturado em 5 capítulos distribuídos da seguinte maneira:
27
Capítulo 1 - Apresenta a introdução com as considerações iniciais, a descrição da
situação problema da pesquisa, os objetivos (geral e específicos), as questões-
problema, a relevância do estudo, delimitações do estudo, estrutura metodológica e,
por fim, a estrutura metodológica.
Capítulo 2 - Oferece a fundamentação teórica do tema abordado neste trabalho com
os conceitos, definições e características sobre megaprojetos, megaeventos e
gerenciamento de stakeholders. Neste capítulo será possível produzir uma discussão
mais sólida sobre os assuntos mencionados. Expõe a revisão da literatura e análise
dos textos com base na bibliografia publicada em periódicos de âmbito nacional
indexados na base SciELO e em periódicos de contexto internacional nas bases
Scopus, ISI Web of Science, com a finalidade produzir uma discussão mais sólida
sobre os assuntos mencionados.
Capítulo 3 – Descreve a metodologia proposta para a vertente empírica, com
embasamento na revisão da literatura técnico cientifica. Neste sentido, para uma
análise sobre a problemática desta pesquisa, se utiliza uma abordagem quantitativa
para a coleta de dados. No entanto, vale destacar que a análise dos dados primários é
embasada por uma análise de conteúdo e estatística descritiva.
Capítulo 4 – Apresenta as etapas da pesquisa de campo e, posteriormente, a análise e
discussão de resultados. Este capítulo confronta o levantamento bibliográfico
realizado com a pesquisa em campo, identificando similaridades e divergências no
que se refere as práticas de gerenciamento de stakeholders.
Capítulo 5 – Conclusões da pesquisa sobre as questões aventadas e sugestões de
estudos futuros.
28
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Este capítulo apresenta os principais fundamentos teóricos que embasam o
desenvolvimento do presente estudo e que sustentarão o entendimento sobre os resultados
obtidos através desta pesquisa.
Neste sentido, o capítulo apresenta quatro seções: levantamento bibliográfico,
megaprojetos, mega eventos, gerenciamento de stakeholders. Além de apresentar tais temas,
buscar-se-á identificar e estabelecer sinergia entre eles.
2.1 PESQUISA BIBLIOMÉTRICA
O levantamento bibliométrico, conforme Silva & Costa (p. 108, 2015), “compreende
o estudo relativo às técnicas e métodos para o desenvolvimento de métricas para
documentos e informações, visando associar estatísticas à pesquisa bibliográfica”. Neste
sentido, o levantamento bibliométrico torna-se um instrumento relevante para a estruturação
sólida do referencial teórico.
Para a pesquisa bibliométrica, realizada no recorte temporal de julho a setembro de
2016, foram selecionadas três bases de dados: Scopus (Elsevier); Scielo (Scientific
Electronic Library Online) e ISI Web of Science (Thomson Reuters Scientific). A escolha
por essas bases de dados deve-se pela multidisciplinaridade e disponibilidade de conteúdo
que possuem, sendo importantes fontes de referenciais técnico-científicos.
O tema stakeholders possui uma ampla aplicabilidade na literatura especializada,
perpassando variadas áreas do conhecimento, desde a medicina até a engenharia. Logo, para
os devido fins da pesquisa, o assunto stakeholders será abordado através de uma amostragem
que se relacione com a macro temática: megaprojetos.
Portanto, a elaboração de um núcleo básico de artigos referentes a uma amostragem
será construída através do método webibliomining. Segundo Costa (2010), este método
consiste em uma garimpagem de texto na rede web com a finalidade de se organizar um
referencial bibliográfico inicial acerca de um determinado tema.
O método webibliomining, conforme Costa (2010), apresenta seis etapas: (1)
Definição da amostra da pesquisa; (2) Pesquisa na amostra, com as palavras-chave; (3)
Identificação dos periódicos com o maior número de artigos sobre tema; (4) Identificação
dos autores com o maior número de publicações; (5) Levantamento da cronologia da
29
produção, identificando os períodos de maior número produção; (6) Seleção dos artigos para
a composição do núcleo de partida.
Sendo assim, a sistematização das etapas referentes ao webibliomining inicia-se com
a definição das palavras associadas às temáticas megaprojetos e stakeholders, inserindo a
utilização de operadores booleanos: OR e AND, não sendo incorporado o operador NOT.
Cabe ressaltar que esta pesquisa ficará restrita aos artigos provenientes de periódicos peer
reviewd que abranjam os idiomas português e inglês.
Logo, o Quadro 01 apresenta a seguinte estruturação com base nos temas da pesquisa:
Quadro 01 - Estruturação das Diretrizes Iniciais da Pesquisa
Tema da pesquisa Operadores booleanos
Palavras associadas à
stakeholders
Mega eventos OR
Stakeholders
Mega events Stakeholders
AND
Palavras associadas a
megaprojetos
Megaprojetos OR
Mega projetos
Megaprojects Mega projects
Protocolo Inicial 1: ("mega eventos" OR "stakeholders") AND ("megaprojetos" OR "mega projetos")
Protocolo Inicial 2: ("mega events" OR "stakeholders") AND ("megaprojects" OR "mega projects")
Fonte: o autor (2016).
Através do protocolo inicial 1, não foram encontrados resultados na Base de
Periódicos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Em
seguida, foi aplicado o protocolo inicial 2, que gerou um resultado com 45 artigos,
representando o banco de artigos bruto (BAB), conforme Vilela (2012).
Todavia, fez-se necessário verificar a existência de possíveis lacunas entre as
palavras-chave e a temática proposta, a fim de analisar a maior quantidade possível de
artigos que serviam para o embasamento desta pesquisa. Sendo assim, foi realizado um teste
de aderência das palavras-chave que pertence ao método ProKnow-C. Segundo Vilela
(2012), este teste consiste em selecionar dois artigos do BAB, cujos títulos estejam em
adequação com o tema da pesquisa. Em seguida, analisou-se se as palavras-chave utilizadas
pelos autores dos dois artigos possuíam aderência com as palavras-chave usadas para a
construção do Banco de Artigos Bruto, com a intenção de verificar se havia um alinhamento
entre as palavras ou se era necessário readequá-las.
Seguindo com o teste de aderência das palavras-chave, para este foram selecionados
os dois artigos que possuíam maior aproximação com cada uma das temáticas da pesquisa:
megaprojetos, mega eventos e stakeholders, totalizando seis artigos.
30
Vale ressaltar que o método ProKnow-C (Knowledge Development Process –
Constructivist), oriundo da Universidade Federal de Santa Catarina, apresenta similaridade
com o webibliomining. Conforme Ensslin et al. (2010), este método trata-se da
sistematização do processo de busca e seleção de artigos sobre um determinado tema,
aplicando o uso de técnicas de análise bibliométrica a fim de construir um portfólio
bibliográfico que atenda aos objetivos da pesquisa.
Neste sentido, após averiguar os arquivos selecionados, de acordo com Silva &
Costa (2015), os resumos destes artigos foram destacados e processados no Wordle
(www.wordle.net), gerando a seguinte nuvem de palavras:
Figura 12 - Nuvem das Palavras-Chave dos Artigos Pesquisados
Fonte: Wordle (2016).
Diante do teste de aderência das palavras-chave e do quadro 01, foi possível verificar
a existência de lacunas no protocolo inicial 1 e 2, como por exemplo, não considerar a
pluralidade de grafia e de sinônimos da palavra “megaprojetos”. Por conseguinte, faz-se
necessário readequar as diretrizes iniciais da pesquisa com base em Peng et al. (2012) e
Freitas (2016), além de integrar a utilização de frases completas através de (“ ”) e de
truncaturas (*) que permitem pesquisar várias palavras com o mesmo radical ou raiz,
conforme ilustra o Quadro 02.
31
Quadro 02 - Estruturação do Protocolo Final da Pesquisa
Tema da
Pesquisa Palavras-chave Operadores booleanos
Megaprojetos Palavras associadas a
megaprojetos
("mega construction proj*" OR "mega proj*" OR "mega-
proj*" OR "megaproj*" OR "major proj*" OR "big proj*"
OR "large scale proj*")
AND
Stakeholders
Palavras associadas à
megaeventos
("mega-event*" OR "megaevent*" OR "mega event*" OR
"major sport* event*")
OR
Palavras associadas à stakeholders ("stakehold*")
Protocolo
Final:
("mega construction proj*" OR "mega proj*" OR "mega-
proj*" OR "megaproj*" OR "major proj*" OR "big proj*"
OR "large scale proj*") AND ("mega-event*" OR
"megaevent*" OR "mega event*" OR "major sport*
event*" OR "stakehold*")
Fonte: o autor (2016).
O protocolo final foi aplicado às bases de dados, obtendo o seguinte resultado
parcial: 89 artigos na ISI Web of Science (Thomson Reuters Scientific); 123 artigos na
Scopus (Elsevier); e nenhum artigo na Scielo (Scientific Electronic Library Online),
totalizando 212 documentos a serem analisados.
Na Figura 13, apresenta-se o total de artigos encontrados em cada base e
segmentados pela ocorrência de publicações em cada ano. Cabe ressaltar que um artigo pode
ser disponibilizado, simultaneamente, nas duas bases analisadas.
Figura 13 – Distribuição das Publicações Encontradas nas Bases por Ano
Fonte: O autor (2016)
32
É possível verificar através do gráfico do Quadro 06, a evolução da produção
científica relativa ao tema. Vale destacar, que nesta análise, os artigos sobre o referido
assunto iniciaram-se no ano de 1996, embora os anos de 1998 e 2000 não apresentem
produção de conteúdo. Todavia, a partir do ano de 2008, os artigos com aderência ao tema
começaram a possuir um crescimento considerável, tendo como ápice o ano de 2015.
Conforme os métodos webibliomining e Proknow-C, foram selecionados somente
artigos de periódicos em inglês ou português, não considerando outros tipos de documentos,
como comunicações em eventos, dissertações ou teses. Do novo banco de artigos brutos,
representados por um universo de 212 artigos, foram destacados: 20 artigos da ISI Web of
Science (Thomson Reuters Scientific) e 13 artigos da Scopus (Elsevier). Para esta seleção,
foram atendidos os seguintes critérios, segundo Martens et al. (2013) e Freitas (2016):
Artigos completos – disponibilidades através do Periódicos CAPES e nos idiomas inglês
e português;
Tema – aderência ou permeando as macro temáticas: megaprojetos e stakeholders;
Palavras-Chave – presença ou similaridade com “megaprojetos” e “mega eventos” e/ou
“stakeholders”;
Abordagem do Artigo - discussão conceitual ligado ao tema, estudos de caso e práticas
adotadas em megaprojetos;
A averiguação dos artigos selecionados ocorreu com base nos títulos e resumos,
analisando também os artigos com maior relevância para a pesquisa, autores com maiores
números de publicação e periódicos com destaque ou aderência ao tema. Entre os
periódicos, vale realçar, os que obtiveram destaque: International Journal of Project
Management com 7 artigos e o Project Management Journal com 3 artigos.
Quadro 03 – Total de Publicações Selecionadas por Periódicos
Periódico Qtd WebQualis Área de Avaliação CAPES ISSN
International Journal Of Project
Management 7
A1 Administração, Ciências
Contábeis e Turismo 0263-7863
A2 Engenharias III
Project Management Journal 3 B1 Engenharias III 8756-9728
Cities 2 A1 Planejamento Urbano e Regional
/ Demografia 0264-2751
Journal Of Management In
Engineering 2 - - 0742-597X
Journal Of Engineering And
Technology Management - JET-M 1
A1 Administração, Ciências
Contábeis e Turismo 0923-4748
A1 Engenharias III
33
Journal Of Environmental
Management 1 A1 Engenharias I 0301-4797
Habitat International 1 A1
Planejamento Urbano e Regional
/ Demografia 0197-3975
A2 Engenharias I
International Journal Of Urban And
Regional Research 1 A2 Interdisciplinar 1468-2427
Energy Policy 1
A2 Administração, Ciências
Contábeis e Turismo
0301-4215 A2 Engenharias III
A2 Interdisciplinar
B1 Engenharias I
Journal Of Civil Engineering And
Management 1 B1 Engenharias I 1392-3730
Journal Of Construction Engineering
And Management 1 B1 Engenharias I 0733-9364
Project Management Journal B1 Engenharias III 8756-9729
Project Management Journal B1 Engenharias III 8756-9730
Public Administration And
Development 1 B1
Administração, Ciências
Contábeis e Turismo 0271-2075
International Journal Of Managing
Projects In Business 1
B2 Administração, Ciências
Contábeis e Turismo 1753-8378
B4 Engenharias III
Change Management 1 - - 2327-798X
Construction Economics And
Building 1 - - 2204-9029
Construction Innovation 1 - - 1471-4175
Corporate Social Responsibility And
Environmental Management 1 - - 1535-3958
Eurasian Geography And Economics 1 - - 1538-7216
European Planning Studies 1 - - 0965-4313
Geoforum 1 - - 0016-7185
International Journal Of Energy
Economics And Policy 1 - - 2146-4553
Journal Of Infrastructure Systems 1 - - 1076-0342
Political Studies Review 1 - - 1478-9302
Fonte: O autor (2016).
O Quadro 03 também exibe a classificação Qualis/CAPES (sucupira.capes.gov.br)
que o periódico apresenta. Esta classificação, que passa por processo de atualização
anualmente, ocorre de acordo com a área de avaliação na qual o periódico pode ser
enquadrado. Vale destacar que o mesmo periódico, ao ser classificado em duas ou mais
áreas distintas, pode receber diferentes avaliações, representando mais de um estrato
indicativo de qualidade4: A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5, C. Neste sentido, foram selecionadas
as áreas dos veículos que possuíam mais aderência com o tema desta pesquisa, vislumbrando
4 COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR. Classificação da
produção intelectual. Disponível em: <http://www.capes.gov.br/avaliacao/instrumentos-de-apoio/classificacao-
da-producao-intelectual>. Acesso em: 12 set. 2016.
34
a submissão de artigos inspirados na pesquisa. Para averiguar a classificação desses
periódicos junto a CAPES foi utilizado o ISSN de cada veículo, a fim de elaborar o Quadro
03.
Após analisar os periódicos, foi construído o Quadro 04, englobando os 33 artigos
selecionados e seguindo a referida classificação: autor, título, ano, número de citações e
base. Destaca-se que os artigos estão distribuídos em ordem cronológica decrescente.
Quadro 04 – Revisão da Literatura na Base Web of Science e Scopus
Autor Título Ano Periódico N°
Citações Base
van Fenema, Paul
C.; Rietjens,
Sebastiaan; van
Baalen, Peter
Stability & reconstruction operations as mega
projects: Drivers of temporary network
effectiveness
2016
International
Journal of Project
Management
0
Web
Of
Science
Clark, Julie; Kearns,
Ade; Cleland, Claire
Spatial scale, time and process in mega-
events: The complexity of host community
perspectives on neighbourhood change
2016 Cities 0
Web
Of
Science
Grabher, Gernot;
Thiel, Joachim
Projects, people, professions: Trajectories of
learning through a mega-event (the London
2012 case)
2015 Geoforum 1
Web
Of
Science
Molloy, Eamonn;
Chetty, Trish
The Rocky Road to Legacy: Lessons from the
2010 FIFA World Cup South Africa Stadium
Program
2015
Project
Management
Journal
1
Web
Of
Science
Mazur, Alicia K.;
Pisarski, Anne
Major project managers' internal and
external stakeholder relationships: The
development and validation of measurement
scales
2015
International
Journal of Project
Management
0
Web
Of
Science
Mok, Ka Yan; Shen,
Geoffrey Qiping;
Yang, Jing
Stakeholder management studies in mega
construction projects: A review and future
directions
2015
International
Journal of Project
Management
10
Web
Of
Science
Fahri, Johan;
Biesenthal,
Christopher;
Pollack, Julien; et
al.
Understanding Megaproject Success beyond
the Project Close-Out Stage 2015
Construction
Economics And
Building
0
Web
Of
Science
Williams, Nigel L.;
Ferdinand, Nicole;
Pasian, Beverly
Online Stakeholder Interactions in the Early
Stage of a Megaproject 2015
Project
Management
Journal
0
Web
Of
Science
Hu, Yi; Chan,
Albert P. C.; Le,
Yun
Understanding the Determinants of Program
Organization for
Construction Megaproject Success: Case
Study of the Shanghai Expo Construction
2015
Journal of
Management In
Engineering
0
Web
Of
Science
Mazur, Alicia;
Pisarski, Anne;
Chang, Artemis; et
al.
Rating defence major project success: The
role of personal attributes
and stakeholder relationships
2014
International
Journal of Project
Management
6
Web
Of
Science
Gezici, Ferhan; Er,
Serra
What has been left after hosting the Formula
1 Grand Prix in Istanbul? 2014 Cities 0
Web
Of
Science
Van de Graaf, Thijs;
Sovacool, Benjamin
K.
Thinking big: Politics, progress, and security
in the management of Asian and European
energy megaprojects
2014 Energy Policy 9
Web
Of
Science
Davies, Andrew;
Mackenzie, Ian
Project complexity and systems integration:
Constructing the London 2012 Olympics and
Paralympics Games
2014
International
Journal of Project
Management
12
Web
Of
Science
35
Chang, Artemis;
Chih, Ying-Yi;
Chew, Eng; et al.
Reconceptualising mega project success in
Australian Defence: Recognising the
importance of value co-creation
2013
International
Journal of Project
Management
11
Web
Of
Science
Priemus, Hugo Mega-projects: Dealing with Pitfalls 2010 European Planning
Studies 12
Web
Of
Science
Kim, Seon-Gyoo Risk Performance Indexes dnd Measurement
Systems for Mega Construction Projects 2010
Journal of Civil
Engineering And
Management
11
Web
Of
Science
Toor, Shamas-ur-
Rehman; Ogunlana,
Stephen O.
Beyond the 'iron
triangle': Stakeholder perception of key
performance indicators (KPIs) for large-scale
public sector development projects
2010
International
Journal of Project
Management
73
Web
Of
Science
Zhai, Li; Xin,
Yanfei; Cheng,
Chaosheng
Understanding the Value of Project
Management From a Stakeholder's
Perspective: Case Study of Mega-
Project Management
2009
Project
Management
Journal
14
Web
Of
Science
Ray, Subhasis A Case Study of Shell at Sakhalin: Having a
Whale of a Time? 2008
Corporate Social
Responsibility
And
Environmental
Management
10
Web
Of
Science
Warner, M Consensus' participation: an example for
protected areas planning 1997
Public
Administration
And
Development
13
Web
Of
Science
Shokri, S., Ahn,
S., Lee, S., Haas,
C.T., Haas, R.C.G.
Current status of interface management in
construction: Drivers and effects of
systematic interface management
2016
Journal of
Construction
Engineering And
Management
1 Scopus
Sierra,
R.G., Sarmiento,
A.Z.
Hydropower megaprojects in Colombia and
the influence of local communities: A view
from prospect theory to decision making
process based on expert judgment used in
large organizations
2016
International
Journal of Energy
Economics And
Policy
1 Scopus
Martin, Nigel;
Evans, Megan; Rice,
John; et al.
Using offsets to mitigate environmental
impacts of major projects:
A stakeholder analysis
2016
Journal of
Environmental
Management
0 Scopus
Hu, Y., Chan,
A.P.C., Le, Y., Jin,
R.-Z.
From Construction Megaproject Management
to Complex Project Management:
Bibliographic Analysis
2015
Journal of
Management In
Engineering
4 Scopus
Bon, B.
A new megaproject model and a new funding
model. Travelling concepts and local
adaptations around the Delhi metro
2015 Habitat
International 1 Scopus
Randeree, K.
Reputation and mega-project management:
Lessons from host cities of the olympic
games
2014 Change
Management 0 Scopus
Müller, M. After Sochi 2014: Costs and impacts of
Russias Olympic Games 2014
Eurasian
Geography and
Economics
8 Scopus
Jennings, W. Governing the games: High politics, risk and
mega-events 2013
Political Studies
Review 3 Scopus
Doucet, B.
Variations of the entrepreneurial city: Goals,
roles and visions in rotterdam's kop van zuid
and the glasgow harbour megaprojects
2013
International
Journal of Urban
And Regional
Research
6 Scopus
Al Nahyan,
M.T., Sohal,
A.S., Fildes,
B.N., Hawas, Y.E.
Transportation infrastructure development in
the UAE: Stakeholder perspectives on
management practice
2012 Construction
Innovation 1 Scopus
36
Lambert,
J.H., Karvetski,
C.W., Spencer,
D.K., (...), Ditmer,
R.D., Linkov, I.
Prioritizing Infrastructure Investments in
Afghanistan with Multiagency Stakeholders
and Deep Uncertainty of Emergent
Conditions
2012
Journal of
Infrastructure
Systems
19 Scopus
Pokharel, S. Stakeholders’ roles in virtual project
environment: A case study 2011
Journal of
Engineering and
Technology
Management -
JET-M
6 Scopus
Teo,
M.M.M., Loosemor
e, M.
Community-based protest against
construction projects: The social determinants
of protest movement continuity
2010
International
Journal of
Managing Projects
In Business
6 Scopus
Fonte: O autor (2016).
Logo, através do levantamento bibliográfico realizado, será estruturado um
embasamento teórico capaz de suportar as temáticas desta pesquisa e promover sinergia
entre elas: megaprojetos, mega eventos e stakeholders em projetos.
2.2 MEGAPROJETOS
A demanda por megaprojetos, nos mais diversos segmentos, conforme Kardes et al.
(2013), têm viabilizado uma gama de transformações no mundo: crescimento populacional,
urbanização, desenvolvimento tecnológico, enriquecimento e infraestrutura capaz de
viabilizar os confortos da vida moderna. Segundo He et al. (2015), embora seja uma
temática atual, os estudos sobre projetos complexos ainda são muito restritos.
De acordo com Kardes et al. (2013), o tema megaprojetos necessita de estudos
específicos, pois este assunto é resultado da expansão das redes globais de negócios,
envolvendo o aumento no número de colaboradores nesta área e a complexidade de gestão
deste tipo de empreendimento. Conforme Peng et al. (2012), este tema, ainda, apresenta
complexidade e singularidade únicas, possibilitando a existência de múltiplas compreensões.
Para Flyvbjerg (2014), os projetos de grande escala, também denominados mega
projetos de infraestrutura, possuem aplicação nos mais diversos setores: infraestrutura, água
e energia, tecnologia da informação, plantas industriais, cadeias de suprimento, sistemas
administrativos governamentais, reestruturação urbana, exploração espacial e grandes
eventos.
Conforme evidenciados pela literatura especializada de Flyvbjerg et al. (2016);
Grabher e Thiel (2015); He et al. (2015); Molloy e Chetty (2015); Lopez del Puerto et al.
(2014); Kardes et al. (2013), os megaprojetos estão ramificados por todos os continentes:
37
Expo Shanghai 2010; Rodovia Durango-Mazatlán; Aeroporto Internacional de Pequim;
Hidrelétrica Three Gorges Dam na China; Galileo, navegação via satélite na Europa; Copa
do Mundo da FIFA 2010 na África do Sul; os Jogos Olímpicos de Londres em 2012, Copa
do Mundo FIFA 2014 e os Jogos Olímpicos Rio 2016 realizados no Brasil.
Os megaprojetos, segundo Flyvbjerg (2014), têm sido o modelo preferido por
empresas para a entrega de produtos referentes a bens e serviços. Dulcet (2013), vai além,
afirma que os megaprojetos representam espaços urbanos nos quais estratégias
empreendedoras foram implementadas, referindo-se a transformação que eles produzem ao
local e à comunidade.
Conforme Zhai et al. (2009), megaprojetos apresentam maior investimento, maior
complexidade, diversidade de stakeholders e sofrem influências mais amplas em
comparação a projetos simples.
Quadro 05 – Comparação entre Projetos Simples e Complexos
Dimensões de
Complexidade Projeto Independente
Projeto de
Complexidade
Moderada
Projeto de Alta
Complexidade Megaprojetos
Tamanho 3-4 membros na equipe 5-10 membros na
equipe
>10 membros na
equipe
Múltiplas equipes
diversificadas
Tempo <3 meses 3-6 meses 6-12 meses Vários anos
Custo <$250 K $250k–$1 M >$1 M Milhões a Bilhões
Cronograma/
Orçamento Flexível Pequenas Variações Inflexível Agressivo
Contratos Direto Direto Complexo Alta Complexidade
Compreensão
do Problema e
Oportunidade
de Solução
Definido e claro. Fácil
compreensão
Definido e não tão
claro. Parcialmente
compreensível
Definido, mas
ambíguo. Não
clarificada
Indefinida e incertezas.
Indefinida e sem
precedentes.
Requerimentos
de Riscos Compreensível, direto
Compreensível,
instável
Baixa compreensão,
volátil Incertezas, envolvimento
Implicações
Políticas Nenhuma Pequena
Grande, impacta no
propósito do projeto
Ampla, impactando no
propósito de múltiplas
organizações, regiões e
países
Comunicação Direta Desafiadora Complexa Árdua e altamente
complexa
Gestão de
Stakeholders Direta
2-3 grupos de
stakeholders
Múltiplos grupos de
stakeholders com
conflitos de interesse
Múltiplos stakeholders
heterogêneos:
organizações, regiões,
países, órgão regulatórios
Mudanças
Organizacionais
Unidade única de
negócios.
Empresa familiar.
Sistema único de TI
2-3 unidades de
negócios. Processos.
Sistemas de TI
Várias empresas com
processos. Sistemas
múltiplos de Ti
Múltiplas Organizações,
estados, países. Novo
transformador de riscos
Desafios
Comerciais
Sem desafios. Baixa
prática comercial
Moderada prática
comercial
Inovação comercial e
nova cultura de
práticas
Novo comércio e cultura
de práticas
Nível de Risco Baixo Moderado Alto Altamente elevado
38
Restrições
Externas Sem influência externa
Influência de alguns
fatores
Metas principais
dependem de fatores
externos
Sucesso do projeto
depende em grande parte
dos fatores externos:
organizações externas,
Estados, países,
reguladores
Integração Sem problemas de
integração
Pequeno esforço para
integração
Cuidado significativo
para integração
Grande esforço de
integração, porém,
desconhecido
Tecnonologia Aprovada e
compreendida
Comprovada, mas
nova para organização
Imatura, complexa e
fornecida por
colaboradores
externos
Altamente complexa,
inovadora e sem
antecedentes na
engenharia
Complexidade
de Tecnologia
da Informação
Desenvolvimento
aplicado, integrada e
entendida facilmente
Desenvolvimento
aplicado, integrada e
utilizada amplamente
Desenvolvimento
aplicado, integrada e
difícil compreensão
Múltiplos sistemas
complexos a se
desenvolver e a serem
integrados
Fonte: Adaptado de Kardes et al. (2013) e Hass (2009).
Hu et al. (2015), Mazur et al. (2015), Chang et al, (2013), Zhai et al. (2009)
ratificam as divergências entre os megaprojetos e projetos simples: (a) orçamento superior a
500 milhões de dólares; (b) grande grau de complexidade, incerteza, ambiguidade e
interfaces dinâmicas; (c) envolvimento de tecnologia e períodos longos de execução; (d)
elevada atração de interesse público e político; e/ou (e) definidos mais por efeitos do que por
soluções.
Peng et al. (2012) detalha as características dos megaprojetos que podem ser
sistematizadas em dois grandes blocos, propriedades internas e externas, apresentando 21
indicadores.
Quadro 06 – Sistema de Categorias das Características de Megaprojetos
Categoria Característica
Principal N° Indicadores específicos Descrição
Propriedades
Internas
Objetivo 1 Número de objetivos Multi propósitos ou propósito único
2 Nível dos objetivos Propósitos estratégicos ou táticos
Ciclo de vida 3 Restrição de cronograma Duração do projeto
Custo e Requisito de
Desempenho
4 Fundos número de investimento e tempo de retorno
do capital
5 Orçamento, recursos
restritos Restrição dos orçamentos e dos recursos
6 Custo de gerenciamento Custo de gerenciamento da informação e
da comunicação
7 Recursos Humanos Investimento em recursos humanos
8 Ativos Fixos Investimento em ativos fixos
9 Relacionamento prioritário
restrito
Relacionamento prioritário restrito as
atividades específicas do projeto
10 Escala e nível de
performance Grande ou pequeno, alto ou baixo
11 Grau de mutação de
desempenho
Desempenho do projeto conduzido ao
propósito original ou não
12 Riscos Projeto tem risco alto ou baixo
13 Incertezas Incertezas causadas por diversos efeitos
39
Departamentos
envolvidos e
habilidades
profissionais
14 Stakeholders Número ou a relação com fornecedores e
outras partes interessadas
15 Interação dos participantes Comunicação entre os setores da gestão do
projeto e as partes interessadas
16 Escala do Projeto Escala do Projeto
17 Complexidade técnica Multidisciplinaridade, qualidade do
investimento em tecnologia, etc
18 Complexidade A estrutura do projeto ou a complexidade
das etapas de execução
Propriedades
Externas
Interação entre
megaprojetos e o
ambienta externo
19 Abertura do Projeto Impacto da economia e do ambiente social
no projeto
20 Impacto no ambiente
externo
Impacto dos megaprojetos na economia e
no ambiente social
21 Implicações Políticas Impacto da política nos megaprojetos
Fonte: Adaptado de Peng et al. (2012).
Segundo He et al. (2015), os megaprojetos de infraestrutura ou construção
apresentam uma complexidade necessária que se manifesta através de seis áreas: (1)
tecnologia (2) organização; (3) objetivo; (4) ambiente; (5) cultura; e (6) informação.
Verifica-se que estas áreas estão em alinhamento com as características propostas por Peng
et al. (2012).
A alta tecnologia complexa (1), em empreendimentos de grande porte, está atrelada
aos processos e operações no gerenciamento destes projetos, de forma a facilitar a utilização
e desenvolvimento de conservação de energia, novos materiais, tecnologia limpa e promover
maior interação entre os atores do projeto, conforme He et al. (2015); e Chang et al. (2013).
A complexidade organizacional (2) compreende a equipe direta que executará o
projeto, a estrutura organizacional com suas burocracias e os demais departamentos. O
contexto organizacional é um fator relevante para a fluidez ou estagnação das operações do
projeto de acordo Van Fenema et al. (2016) e He et al. (2015).
A complexidade relativa ao objetivo (3) do projeto, segundo He et al. (2015) e
Mazur et al. (2014) é normalmente causada pela grande quantidade de atividades, recursos
limitados, vários requisitos e o envolvimento de vários participantes, o que pode dificultar o
alinhamento e execução de variadas metas, oriundas dos objetivos do projeto.
A complexidade ambiental (4) refere-se às forças externas que podem impactar os
megaprojetos: natural, política, mercado e órgãos regulatórios, de acordo com He et al.
(2015). Todavia, o ambiente também engloba a variedade e diversidade de stakeholders que
participam ou são impactados com o projeto. (MAZUR et al., 2015).
A complexidade cultural (5) está associada à pluralidade cultural dos indivíduos da
equipe e da diversidade de perspectivas da mentalidade humana, que se manifesta como
confiança na equipe, flexibilidade cognitiva, inteligência emocional e pensamento sistêmico.
40
Além destes, a complexidade cultural pode ser segmentada em três níveis: cultura nacional e
cultura industrial que dialogam com ambiente externo à organização e cultura
organizacional que engloba o ambiente interno (HE et al. 2015; BROCKMANN E
GIRMSCHEID, 2008).
A complexidade informacional (6), segundo Williams et al. (2015) e He et al. (2015)
está relacionada a capacidade de viabilizar uma comunicação eficaz entre o time gestor do
megaprojeto e entre este time e os stakeholders, através de processos, sistemas de
informações e ferramentas tecnológicas. A comunicação é um fator relevante, pois
possibilita analisar as percepções das partes interessadas sobre o projeto.
Neste sentido, é possível observar que o modelo tradicional de gerenciamento de
projetos, evidenciado na literatura, que preconiza tempo, custos e qualidade técnica, não
comporta todas as singularidades e complexidades dos grandes empreendimentos, conforme
Fahri et al. (2015). Faz-se necessário analisar e gerenciar outros indicadores para a execução
de megaprojetos: segurança, utilização eficiente dos recursos, satisfação dos stakeholders,
gestão dos riscos e redução de conflitos e disputas, afirmam Toor e Ongulana (2010).
Vale ressaltar, que Kardes et al. (2013) realça a importância de se analisar e
gerenciar os aspectos sociais que podem ser compreendidos, segundo Zeng et al. (2015),
como os impactos que permeiam as partes interessadas e o ambiente. O gerenciamento dos
stakeholders torna-se um aspecto fundamental para as boas práticas de gestão de
megaprojetos, implicando em ser um possível critério de sucesso em grandes
empreendimentos, conforme Zhai et al. (2009).
Os megaprojetos, de acordo come Mok et al. (2015) e Jia et al. (2011), apresentam
três funções básicas para o desenvolvimento de uma sociedade: satisfazer necessidades
humanas, sociais e econômicas; divulgar e elevar a imagem do país ou região; e fornecer
infraestrutura para grandes eventos.
Neste sentido, os megaeventos, também considerados megaprojetos, apresentam um
ambiente multi-projeto, isto é, com vários projetos individuais que englobam: transporte,
alojamento e infraestrutura desportiva, mídia e instalações médicas, sistemas de informação,
comunicação e segurança, conforme Müller (2014) e Randeree (2014).
Segundo Clark et al. (2016), no que diz respeito à escala, os Jogos Olímpicos podem
ser considerados a maior representação do segmento de megaeventos. Sendo assim, os
eventos de grande escala podem ser compreendidos como estruturas capazes de promover
mudanças em uma região, impactando diferentes partes interessadas, afirma Randeree
(2014). Logo, dentro deste contexto, é importante analisar como ocorre o gerenciamento de
41
stakeholders em eventos de grande porte.
2.2.1 MEGAEVENTOS
O governo da África do Sul descreveu a Copa do Mundo da FIFA 2010 como um
dos maiores projetos de investimento em infraestrutura realizados no país, com o propósito
explícito de acelerar o crescimento e o desenvolvimento local, segundo Molly e Chetty
(2015). Essa afirmação corrobora a similaridade dos megaeventos com os megaprojetos e os
impactos que proporcionam.
Neste sentido, hospedar um megaevento, de acordo com Horne & Whannel (2016),
pode ser entendido como uma das mais relevantes iniciativas políticas da era moderna, pois
promovem impactos transformadores da população e do local.
Segundo Flyvbejrg et al. (2016), Randeree (2016), Müller (2015), Molloy & Chetty
(2015), Müller (2014), Gezici e Er (2014) e Jennings (2013), os megaeventos podem ser
compreendidos como expos, cúpulas políticas, convenções, festivais, Jogos Olímpicos de
Verão e Inverno, Copa do Mundo de Futebol, Rugby World Copa, Fórmula 1 e Super Bowl.
A organização e planejamento de um megaevento, de acordo com Grabher e Thiel
(2015), como os Jogos Olímpicos, envolvem várias organizações especializadas na execução
que são encarregadas de assegurar os custos do megaprojeto, concluir as infraestruturas,
negociar com várias partes interessadas e gerenciar o dia a dia do evento.
Os megaeventos, embora sejam considerados megaprojetos, são implementados por
um curto e específico período de tempo, separando-os de outras atividades turísticas e
divergindo do próprio conceito de projetos complexos, conforme Gezici e Er (2014).
Todavia, vale realçar, que a infraestrutura essencial capaz de viabilizar estes megaeventos
necessitam de vários anos para serem construídas.
Segundo Müller (2015), há quatro dimensões que devem ser consideradas a respeito
de receber um megaevento em uma dada localidade: capacidade de atrair visitantes, alcance
imediato, custo e impactos transformadores.
Conforme Müller (2015), de um lado há a atratividade turística e o alcance imediato
que os megaeventos proporcionam, do outro, há os custos de se sediar e viabilizar um
megaevento que podem chegar a centenas de milhões, se não a bilhões de dólares. Segundo
Randeree (2014), os altos custos dos eventos de grande porte estão relacionados à
infraestrutura necessária para hospedar o evento, como transporte, telecomunicações,
42
eletricidade e hospedagem, mas também, com os custos diretos de se organizar o próprio
espetáculo, como os salários dos profissionais envolvidos, segurança ou arenas para
realização das competições.
Fourie e Gallego (2011) afirmam que os megaeventos podem produzir benefícios
tangíveis: infraestrutura e retorno econômico, e benefícios intangíveis, difíceis de serem
mensurados: orgulho nacional, patriotismo e visibilidade do local sede.
Gezici e Er (2014) ainda afirmam que os eventos globais são construtores de imagem
para as cidades que os recebem, podendo viabilizar a atração de investimentos internacionais
para a própria localidade e aumento do turismo. Já Müller (2014), acrescenta que a
divulgação da imagem é uma das principais consequências positivas para localidades
emergentes, como China, Índia, África do Sul e Brasil.
Cabe destacar, de acordo com a NBR ISO 20121:2012 (Sistemas de Gestão para a
Sustentabilidade de Eventos - Requisitos com Orientações de Uso), cada vez mais os
eventos de pequeno a grande porte devem ser pensados e estruturados de forma sustentável,
a fim de viabilizarem um legado positivo após suas realizações. Conforme Oliveira (2016), a
NBR ISO 20121:2012, além de mitigar os impactos potencialmente negativos, fornece
orientações capazes de maximizar o engajamento dos processos de inclusão social e
responsabilidade: social, ambiental, econômica, da ética e da transparência, por meio de um
gerenciamento mais sustentável e efetivo.
Neste sentido, além de se buscar construir eventos mais sustentáveis, segundo
Randeree (2014), o gerenciamento de megaprojetos ou megaeventos deve possuir ações
estratégicas capazes de construir uma boa reputação do evento para a comunidade local e
para as outras partes interessadas. Logo, Müller (2015) destaca que o negligência de
determinados requisitos sensíveis ao gerenciamento de megaevento, pode produzir
consequências negativas:
Quadro 07 – Requisitos Sensíveis ao Gerenciamento de Megaeventos
Requisitos Descrição Consequência
Promessas de benefícios
potencializadas Superestimar os efeitos positivos do evento
Remanejamento de recursos
Perda de confiança com os cidadãos
Subestimação dos custos Orçamento real > orçamento planejado
Remanejamento de recursos
Lucratividade duvidosa
Baixa qualidade de construção
Orçamento deficitário
Evento como prioridade Prioridades do evento tornam-se as
prioridades da localidade
Necessidades do evento restringem-se as
necessidades de infraestrutura
Infraestrutura de grandes dimensões
(possíveis "elefantes brancos")
Infraestrutura inacabada
43
Riscos tomados como
públicos Riscos públicos para benefícios privados
Os fundos públicos são limitados ou sem
benefícios públicos
Lucratividade duvidosa
Exceção a regra Suspensão do Estado de Direito regular
Deslocamentos
Redução da supervisão pública
Participação pública limitada
Foco elitista Distribuição desigual dos recursos Paisagem urbana irregularmente desigual
Gentrificação5
Evento como solução
Megaeventos tornam-se aparentemente
soluções rápidas para os desafios de
planejamento local
Evento determina as prioridades de
financiamento
Ignorando os processos do gerenciamento
regular
Desperdício de recursos no evento como
alavanca para o desenvolvimento urbano
Fonte: Adaptado de Müller (2015).
Jennings (2013) realça que os megaeventos podem ainda provocar déficits
democráticos, excessos de custo e uma possível redistribuição dos recursos econômicos do
setor público para as empresas privadas. Sendo assim, Jennings (2013) questiona sobre
quem ganha e quem perde com organização de grandes eventos.
Diante das possíveis consequências negativas, de acordo com Randeree (2014), o
gerenciamento de megaeventos deve contemplar ações estratégicas participavas, isto é,
propiciar um contexto capaz de estimular a participação e colaboração das várias partes
interessadas.
As partes interessadas, segundo Gezici e Er (2014), devem ser informadas dos riscos
que os grandes eventos carregam e que estes podem ocorrer. Esta interação com os
stakeholders é uma forma de legitimar o próprio evento e gerenciar as expectativas.
Segundo Clark et al. (2016), o megaevento tem a capacidade de remodelar o espaço
físico, reconfigurando as relações sociais e influenciado a forma como a população local e o
lugar são compreendidos.
2.3 STAKEHOLDERS
A natureza complexa e incerta dos megaprojetos requer um gerenciamento eficaz dos
stakeholders, a fim de suportar os múltiplos interesses das partes interessadas e evitar
conflitos, de acordo com Mok et al. (2015). Todavia, antes de aprofundar uma análise sobre
o assunto em questão, faz-se necessário entender o próprio conceito de stakeholder.
Segundo Slinger (1999), a palavra stakeholder foi utilizada pela primeira vez, em
5 Segundo Lauriano (2015), um dos princípios da urbanização é promover o desenvolvimento de uma
localidade. Todavia, este desenvolvimento pode produzir a valorização de um local, através de novos pontos
comerciais ou novos edifícios, afetando negativamente a população de baixa renda local e favorecendo outras
faixas de renda. Sendo assim, há uma estreita relação entre urbanizar e enobrecer. Gentrificar.
44
1963, por Marion Doscher em um relatório de planejamento no Instituto de Pesquisa de
Stanford (atualmente, SRI International). Na ocasião, o termo em debate foi usado com o
intuito de fazer menção as pessoas envolvidas em todas relações de um negócio e possuía
um embasamento oriundo da economia. Vale destacar, de acordo com Torres (2013), as
palavras inglesas stake (interesse e participação) e holder (aquele que possui) ao serem
aglutinadas formaram o sentido da palavra stakeholder: indivíduo ou grupo que possui
interesse ou participação em um negócio.
No entanto, desde 1963, o conceito sobre stakeholders tem sido contornado e
reformulado, apresentando novas discussões e definições. Conforme ratifica Freeman
(2010), na área da administração, o stakeholder de uma organização é qualquer grupo ou
indivíduo que pode afetar ou ser afetado pela realização dos objetivos da própria
organização. Já na área de gerenciamento de projetos, de acordo com o PMBoK (PMI, 2013)
e Mazur e Pisarski (2015), o conceito de stakeholder refere-se a um indivíduo, grupo ou
organização que pode afetar, ser afetado, ou sentir-se afetado por uma decisão,
atividade, ou resultado de um projeto ou megaprojeto. Logo, os stakeholders podem
ser: fornecedores, clientes, funcionários, investidores, sociedade e governo.
Neste sentido, segundo Mazur e Pisarski (2015), os stakeholders podem ser
classificados como internos ou externos a organização que executa o megaprojeto. Internos
são os indivíduos ou grupos pertencentes as organizações responsáveis pelo projeto. Já os
externos podem ser compreendidos como a comunidade local e outros atores que possuem
interesse ou são impactados com o megaprojeto.
As partes interessadas também podem ser categorizadas quanto a participação que
possuem no megaprojeto: stakeholders organizacionais, compreendem os executivos, líderes
de linha, funcionários e sindicatos; stakeholders de produto, englobam os clientes,
fornecedores, governos e público em geral; e os stakeholders de mercado de capitais que
podem ser acionistas, investidores, credores e bancos. (MAZUR e PISARSKI, 2015),
Por último, as partes interessadas podem apresentar uma terceira classificação:
primários ou secundários. De acordo com Mazur e Pisarski (2015), Al Nahyan et al. (2012)
e Winch (2004), no que se refere aos stakeholders primários, estes podem ser qualquer
indivíduo contratualmente envolvido com o projeto, como por exemplo os financiadores,
engenheiros, fornecedores, patrocinadores e clientes diretos. Já a classificação secundária
compreende as partes interessadas que são envolvidas indiretamente pelo megaprojeto e não
possuem alguma formalização através de contrato, tais como moradores e empreendimentos
45
locais, além de agências reguladoras.
Vale ressaltar que os indivíduos, tanto das partes interessadas assim como das
organizações, estão inseridos em um contexto mais amplo e podem ter relações tanto com a
própria organização do projeto quanto entre si. Este contexto resulta em um cenário
complexo de concorrência de interesses e que, simultaneamente, exige cooperação os
stakeholders, de acordo com Williams et al. (2015).
Para Al Nahyan et al. (2012), as partes interessadas possuem múltiplos interesses e
múltiplos papéis. Todos estão agrupados em um grande grupo pertencente ao megaprojeto,
apresentando um macro interesse comum, no entanto, podem não compartilhar
necessariamente de um objetivo comum.
Sendo assim, conforme Al Nahyan et al. (2012), as múltiplas partes interessadas
externas podem influenciar nas várias etapas de um projeto. Logo, o gerenciamento dos
stakeholders deve ser iniciado ainda durante as fases de concepção e planejamento do
megaprojeto, objetivando: a comunicação eficaz, a partilha de conhecimentos e tomada de
decisões em conjunto com as partes interessadas. Assim, segundo Mazur e Pisarski (2015), a
gestão das partes interessadas deve viabilizar a relação interpessoal entre os gestores do
projeto e os stakeholders, estimulando o diálogo entre eles.
O gerenciamento das partes interessadas é uma das áreas sensíveis da gestão de
megaprojetos, pois pode mitigar os riscos do projeto e promover a multiplicidade dos
benefícios relacionados aos próprios stakeholders, segundo Mazur e Pisarski (2015).
O gerenciamento dos stakeholders deve alinhar variados valores, visões e objetivos
específicos do megaprojetos com as diferentes posições das partes interessadas,
contemplando estratégias distintas e específicas, podendo produzir resultados diferentes
Doucet (2013).
Segundo Mazur e Pisarski (2015), o gerenciamento dos stakeholders diz respeito a um
processo que envolve uma série de etapas: identificar as partes interessadas; definir um
modelo de gestão capaz de promover interação com as partes interessadas e categorizá-las
para definição de estratégias; envolver-se e criar engajamento com os stakeholders; e manter
a relação para viabilidade do projeto. Já para Mok et al. (2015), o gerenciamento das partes
interessadas deve ser contemplado sob quatro prismas: (1) interesses e influências das partes
interessadas; (2) gestão de partes interessadas durante o processo; (3) métodos de análise das
partes interessadas; e (4) engajamento das partes interessadas.
O engajamento das partes interessadas é uma maneira de salvaguardar o interesse
público, conforme Mok et al. (2015). Sendo assim, embora as partes interessadas, muitas
46
vezes, não tenham uma autoridade ou representatividade formal no projeto, os stakeholders
podem gerar conflitos e criar resistências, afetando o desenvolvimento do projeto. Neste
sentido, Ng et al. (2012) apresenta três elementos que podem estimular o engajamento das
partes interessadas em megaprojetos: (a) identificar as entidades que possuem influência e os
demais stakeholders; (b) definir as possíveis restrições e preocupações no que se refere ao
processo de engajamento das partes interessadas; e (c) elaborar estratégias específicas de
engajamento.
A gestão ineficaz das partes interessadas pode apresentar as seguintes consequências:
menor probabilidade de êxito no projeto; reduzir a satisfação dos stakeholders com os
resultados do megaprojeto; impactar negativamente o projeto, inviabilizando a geração de
benefícios; e criar obstáculos para a colaboração das partes interessadas junto à gestão,
afirma Mazur e Pisarski (2015).
Conforme Clark et al. (2016), o não envolvimento das partes interessadas no
gerenciamento do megaprojeto pode ser considerado um fator de risco à execução do
projeto, pois interfere na entrega de resultados, minimizando e suprimindo os benefícios que
podem ser gerados. Logo, Mok et al. (2015) afirmam que se faz necessário desenvolver
ferramentas de gestão capazes de promover a colaboração com os stakeholders,
aprendizagem social, compartilhamento dos objetivos do projeto e das informações e
proporcionar processos éticos, a fim de manter a equidade.
Warner (1997) já afirmava que a participação da comunidade local é fundamental para
a execução eficaz de projetos. Segundo ainda Warner (1997), o gerenciamentos dos
stakeholders deve proporcionar a interação entre os indivíduos, baseando-se em duas
premissas: (a) alcançar o consenso entre as partes interessadas para negociar e estabelecer
um acordo com os executores do projeto; e (b) capacidade em estimular os heterogêneos
stakeholders em contribuir efetivamente para os processos do projeto.
Sendo assim, o próprio Warner (1997) sugere um modelo de gestão mais inclusivo e
participativo, contemplando o envolvimento da população local e as influências políticas.
Pokharel (2011) ainda corrobora que o desenvolvimento de um modelo de gerenciamento de
stakeholders precisa alinhar os vários objetivos referentes as diferentes partes interessadas.
Por conseguinte, a comunicação eficaz e a gestão de relacionamento podem ser
consideradas estratégias-chave para alcançar o sucesso de um megaprojeto no que tange o
gerenciamento de stakeholders, conforme Chang et al. (2013). Já para Zhai et al. (2009), os
valores ou benefícios de um projeto de grande escala podem apresentar múltiplas dimensões,
47
todavia, estas dimensões devem ser coordenadas pelas demandas distintas dos stakeholders
heterogêneos que englobam o megaprojeto.
Conforme Chang et al. (2013) e Zhai et al. (2009), os benefícios dos projetos de
grande porte podem ter funções explícitas: as infraestruturas e eventos que proporcionam; e
implícitas: a experimentação cognitiva e emocional que produzem. Contudo, estes
benefícios explícitos e implícitos podem provocar percepções distintas nas partes
interessadas de um projeto. Neste sentido, a aplicação ou não das práticas referentes ao
gerenciamento de stakeholders internos e externos pode influenciar fortemente nos valores e
benefícios percebidos, impactando no desenvolvimento do projeto de grande escala.
2.4 APRECIAÇÃO CRÍTICA DA LITERATURA E CORRELAÇÃO COM OS
OBJETIVOS DA PESQUISA
O referencial teórico foi construído com o intuito de criar um suporte aos objetivos
estabelecidos na pesquisa, a fim de compreender os conceitos, mapear as percepções e
estabelecer sinergias entre os temas: megaprojetos, megaeventos e stakeholders.
Conforme verificado através da literatura, os megaprojetos, segundo Flyvbjerg (2014),
têm sido o modelo preferido por empresas para a entrega de produtos referentes a bens e
serviços, promovendo transformações nas localidades nas quais são aplicados.
Compreendidos também como projetos complexos, os megaprojetos, de acordo com Dulcet
(2013), promovem uma nova significação dos espaços urbanos.
Neste sentido, os megaeventos, como os Jogos Olímpicos Rio 2016, apresentam
similaridades com os megaprojetos, pois viabilizam mudanças nas comunidades onde são
realizados. De acordo com Horne & Whannel (2016), hospedar um evento de grande porte
pode ser entendido como uma das mais relevantes iniciativas políticas da era moderna, pois
promovem impactos transformadores na população e no local.
Warner (1997) já afirmava que a participação da comunidade local é fundamental para
a execução eficaz de projetos. A comunidade local pode ser percebida como um dos
stakeholders de um megaprojeto. Sendo assim, segundo Mazur e Pisarski (2015), os
stakeholders são indivíduos ou grupos que possuam alguma aderência, interesse ou aspecto
de direito em um determinado projeto, podendo contribuir ou serem impactados pelos
resultados do projeto.
Logo, o gerenciamento de stakeholders é uma das áreas sensíveis da gestão de
megaprojetos, pois pode mitigar os riscos do projeto e maximizar os benefícios relacionados
48
às próprias partes interessadas, segundo Mazur e Pisarski (2015). Neste sentido, a revisão da
literatura possibilita entender como o gerenciamento das partes interessadas é representado
no estado da arte e como este estado pode ser retratado na realidade.
Vale realçar que o gerenciamento de stakeholders envolve uma gama de elementos:
social; cultural; ambiental; político; econômico, incluindo o turismo; esportivo; psicológico;
físicos, como a infraestrutura local, rede hoteleira, estádios e renovação urbana; informação
e conhecimento; e símbolos, memória e história, fundamentais a construção dos
megaeventos, representando a complexidade e pluralidade da temática em questão.
49
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA
Este capítulo visa a oferecer o procedimento sistemático necessário para obter as
soluções das questões-problema propostas nesta pesquisa, conforme Gray (2012). Sendo
assim, a Figura 14, inspirada em Freitas (2016), ilustra de forma resumida as etapas da
pesquisa no que se refere a vertente empírica. Cabe destacar que a Figura 14 é um
desdobramento da Figura 11, na qual está representada toda a metodologia deste estudo.
Figura 14 – Sumarização das Etapas da Pesquisa: Vertente Empírica
Fonte: Adaptado de Freitas (2016).
3.1 INCORPORAÇÃO DE DADOS SECUNDÁRIOS
A revisão da literatura, através do levantamento bibliométrico, foi realizada a fim de
estruturar os conceitos, características, metodologias e práticas referentes ao gerenciamento
de stakeholders em megaprojetos, especialmente, no segmento de megaeventos. Sendo
50
assim, foram selecionados artigos, com base nos títulos e resumos, em português e inglês
que possuíam aderência às temáticas propostas.
Através da base de artigos, foram definidas e analisadas as práticas que contemplam o
gerenciamento de stakeholders, sendo fundamentais para a elaboração dos roteiros das
entrevistas futuras.
3.2 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA
De acordo com os conceitos estabelecidos por Oliveira et al. (2016), Prodanov e
Freitas (2013), Gray (2012) e Ensslin et al. (2010), buscou-se uma metodologia capaz de
viabilizar as respostas para as questões-problema da pesquisa. Sendo assim, é possível
categorizar o método da seguinte maneira:
Natureza do objetivo.
o Pesquisa Explicativa: nesta pesquisa busca-se identificar quais são as práticas
que contribuem para o gerenciamento de stakeholders em megaprojetos, em
especial, megaeventos.
o Pesquisa Descritiva: este estudo tem como finalidade uma análise sobre o
gerenciamento de stakeholders, como este ocorre, quais são as características,
quais impactos podem ocorrer, de forma a descrever este fenômeno.
Lógica da pesquisa.
o Processo dedutivo: este processo possibilita, conforme Gray (2012), elaborar
um conjunto de princípios e ideias que podem ser testadas pela observação
empírica ou experimentação.
Abordagem do problema.
o Pesquisa qualitativa: o estudo em questão baseada na análise e na descrição
de dados, com a adoção de técnicas do gerenciamento de stakeholders em
megaprojetos, na categoria de megaeventos, aplicadas à pesquisa em ciências
sociais aplicadas.
Coleta de dados.
51
o Primários: levantamento de dados através de entrevistas presenciais
realizadas entre os dias 18 de agosto e 26 de setembro, portanto durante a
realização dos Jogos Rio 2016, para análise do fenômeno de estudo e
proposição de relação entre as variáveis. Cabe destacar que foram feitos
esforços para entrevistar presencialmente todos os estabelecimentos formais e
informais do entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas (45 empreendimentos
entrevistados), bem como entrevistas com transeuntes, como moradores,
turistas e praticantes habituais de esportes na região (22 transeuntes
entrevistados). Cumpre-se destacar ainda que à época de realização dos
Jogos, o clima psicológico da população do Rio de Janeiro foi, em grande
medida, de acolhimento e alegria, apesar da insatisfação anterior proveniente
das muitas intervenções de obras para mobilidade e transformação da cidade,
sem falar na instabilidade institucional apresentada pelo país, em geral, e pelo
Estado do RJ, em particular. Nesse sentido, reconhece-se a possibilidade de
que a atmosfera positiva tenha, de alguma forma, incorporado algum grau de
subjetividade nas respostas obtidas. Por outro lado, considerando-se a
representatividade e quantidade de respondentes, tem-se presente que
eventuais vieses estão atenuados.
o Secundários: levantamento bibliográfico e análise de documentação técnica
referente à temática.
Métodos.
o Observação aberta e participante: este instrumento possibilita uma maior
interação in loco do pesquisador com o contexto social, buscando gerar dados
através da observação e escuta de indivíduos.
o Entrevistas semiestruturadas e questionários: foco em coletar dados primários
que somente a observação aberta e participante não é capaz de gerar.
o Análise de conteúdo: abordagem selecionada para realizar inferências sobre
os dados obtidos através dos questionários e entrevistas realizados em campo.
o Estatística descritiva: descrição das características das pesquisa, através de
histogramas e outras tipos gráficos.
Instrumentos.
o Registros fotográficos: documentos visuais que retrataram o dia a dia do
52
território na Lagoa Rodrigo de Freitas no período de realização dos Jogos
Olímpicos Rio 2016 e auxiliaram para a evidenciação do problema de
pesquisa e estruturação do estudo.
o Gravações das entrevistas: ferramenta necessária para que não haja perda de
informação durante a própria entrevista.
o Diário de bordo: registros diários sobre o desenvolvimento e acontecimento
das atividades de pesquisa em campo durante a realização dos Jogos Rio
2016 (Diário completo encontra-se no apêndice 1).
o Tablet e smartphone: o primeiro foi utilizado para a aplicação dos
questionários das entrevistas, promovendo dinamismo e organização a
pesquisa. O segundo foi usado para os registros fotográficos e gravação dos
áudios das entrevistas presenciais.
o Camisa pesquisador: foram confeccionadas 3 unidades de camisas com o
logotipo da Universidade Federal Fluminense (UFF) e a seguinte
identificação: pesquisador. A camisa também foi pensada como uma maneira
de aumentar o engajamento dos possíveis entrevistados em participar da
pesquisa, além de identificar o próprio pesquisador.
Resultado da pesquisa.
o Pesquisa Aplicada: a referida pesquisa vislumbra contribuir com a adição de
novos conhecimentos para a aplicação na prática e novos questionamentos a
fim de fomentar novos estudos.
3.3 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS
Segundo Flick (2013), na pesquisa social há três maneiras de se coletar de dados:
fazendo perguntas às pessoas, observando-as ou estudando documentos. O próprio autor
ainda ressalta a relevância de se combinar diferentes métodos de coleta de dados, a fim de
construir um embasamento sólido. Sendo assim, neste estudo, buscou-se utilizar mais de um
instrumento para a coleta de dados.
Para facilitar a compreensão das fases da pesquisa, foi elaborado um modelo dos
procedimentos metodológicos, conforme ilustra 15:
53
Figura 15 – Procedimentos Metodológicos da Coleta de Dados Primários
Fonte: Adaptado de Araujo e Altro (2014).
A Figura 15 representa o detalhamento das etapas 3 e 4 da Figura 14, estabelecendo a
metodologia utilizada na coleta de dados primários.
Primeiramente, ocorre o levantamento de dados secundários oriundos da revisão da
literatura e que embasam a construção dos roteiros (apêndices 2 e 3) para as entrevistas.
Vale ressaltar que esta etapa está contemplada e detalhada no capítulo 2 deste estudo, no
qual se pode compreender conceitos, características e fenômenos que embasam a temática:
gerenciamento de stakeholders em megaprojetos.
Após esta etapa, são realizadas as coletas de dados referentes as fontes primárias. Esta
fase compreende as seguintes ações: elaboração do roteiro da pesquisa, aplicação do roteiro
em uma pré-testagem, entrevistas na Lagoa Rodrigo de Freitas, análise da coleta de dados e,
por fim, identificação dos fatores críticos no que se refere a gestão de stakeholders em
megaeventos. Sendo assim, os questionários são aplicados à indivíduos que compõe a
comunidade local da Lagoa Rodrigo de Freitas ou as partes interessadas desta localidade.
54
A terceira e última etapa retrata a consolidação do estudo, resultando em reunir os
achados da pesquisa através do registro documental e elaboração das lições aprendidas. Vale
destacar que o procedimento global da pesquisa que envolve as três etapas tem como
finalidade promover conclusões teóricas e empíricas.
3.3.1 ENTREVISTAS
Uma entrevista, de acordo com Gray (2012), é uma conversa, organizada e com uma
metodologia entre pessoas na qual uma cumpre o papel de pesquisador. Conforme ainda este
mesmo autor, as pesquisas podem apresentar cinco abordagens: estruturadas,
semiestruturadas, não diretivas, direcionadas e entrevistas com conversas formais.
Neste sentido, a entrevista semiestruturada é utilizada para o levantamento dos dados
primários, pois se julga ser a mais eficaz no contexto desta pesquisa. As entrevistas
semiestruturadas, segundo Flick (2013), são métodos que apresentam um guia de perguntas
que cobrem um escopo, e os entrevistadores podem se desviar da sequência de perguntas. As
entrevistas semiestruturadas são usadas para coletar dados para análise qualitativa, de acordo
com Gray (2012).
As pesquisas semiestruturadas podem ser compreendidas como o cerne na obtenção de
dados primários deste estudo. Todavia, vale destacar que outros métodos também foram
utilizados, como a observação aberta participante.
Sendo assim, cabe realçar que, anterior a execução da pré-testagem e da aplicação dos
questionários, ocorreu uma observação do campo, Lagoa Rodrigo de Freitas, no intuito de
promover o levantamento de algumas evidências empíricas. Nesta etapa anterior à realização
ampliada da pesquisa, foi possível estabelecer: conversas informais com transeuntes e
estabelecimentos, envidar registros fotográficos e desenvolver reconhecimento
pormenorizado do território da Lagoa, suas nuances, e o seu entorno. Consequentemente,
neste primeiro contato, foi possível compreender a necessidade de fragmentar o território da
Lagoa em zonas menores e perceber que alguns indivíduos ficavam desconfortáveis em
comentar sobre os efeitos provenientes dos Jogos Rio 2016 no seu cotidiano.
O reconhecimento do espaço geográfico da Lagoa Rodrigo de Freitas e os registros
fotográficos realizados auxiliaram na confecção dos roteiros. Logo, foram elaborados dois
roteiros cujas perguntas possuem como base o Quadro 08:
55
Quadro 08 – Categorias vs. Práticas de Gestão de Stakeholders
Categorias Autores Práticas
Partes Interessadas
Gou et al. (2014); Jia
et al. (2011); Jordhus-
lier (2015); Kytle e
Ruggie (2015); Liu et
al. (2016); Mok et al.
(2015); Sami (2013);
Shi et al. (2015); Teo
e Loosemore (2010);
Mapeamento do perfil social da população local
Divisão da população de acordo com o perfil social
Elaboração de ações com base no perfil e demandas sociais
Desenvolvimento de parcerias com entidades locais para ações
sociais integradas
Comunicação com os stakeholders locais é feita estritamente
através da gestão social
Ações e projetos são desenvolvidos o mais próximo possível
ao público alvo
Participação em reuniões e conselhos comunitários
Estabelecimento de constante diálogo entre a gestão social e
lideranças comunitárias
As obras em locais críticos, sob a perspectiva de instabilidade
social e violência, são acompanhadas pelo mediador da
comunidade
Canal de comunicação direta entre a comunidade e a
organização
Promoção de acesso à cultura, lazer e entretenimento
Diálogo com entidades públicas
Medidas assecuratórias
Comunicação de obra com todos os impactos causados pela
implementação do megaprojeto de acordo com a área afetada
Comitê de gestão de crise
Mobilização social antes da operacionalização da obra
Econômica
Gou et al. (2014);
Kytle e Ruggie
(2005); Liu et al.
(2016); Shi et al.
(2015); Teo e
Loosemore (2010);
Medidas para permitir a operacionalização de empresas e
comércios no site do projeto
Fonte: Adaptado de Freitas (2016).
O Quadro 08 contempla as práticas de gerenciamentos de stakeholders que envolvam
os stakeholders. Este Quadro é uma adaptação da pesquisa de Freitas (2016), na qual o
referido autor realizou um levantamento, confrontando as prática encontradas na literatura
científica com as práticas encontradas no estudo de caso.
Com o suporte do Quadro 08, o primeiro roteiro proposto foi com foco nos transeuntes
da Lagoa Rodrigo de Freitas, constituído por 20 perguntas abertas e fechadas segmentadas
em 3 seções.
O segundo roteiro já focaliza nos empreendimentos formais e informais ou
associações também localizados na Lagoa Rodrigo de Freitas, sendo constituído por 28
perguntas abertas e fechadas segmentadas em 3 seções.
Ambos roteiros propostos, que estão disponibilizados nos apêndices 2 e 3 deste estudo,
56
possuem 3 seções de perguntas nesta ordem que representam: identificação social; práticas
de gerenciamento de stakeholders aplicadas ao dia a dia do respondente; e percepção de
satisfação com a realização do megaevento. Todas as seções possuíam perguntas abertas e
fechadas. Cabe realçar que o território da Lagoa Rodrigo de Freitas foi fragmentado em 7
áreas: Fonte da Saudade, Curva do Calombo, Corte do Cantagalo, Lado de Ipanema, Lado
do Leblon, Lado do Jardim Botânico e Lado Jardim Botânico/Parque dos Patins, a fim de
contemplar a totalidade do espaço. A Figura 16 ilustra as microrregiões:
Figura 16 – Fragmentação da Lagoa Rodrigo de Freitas em Microrregiões
Fonte: Adaptado do Google Maps (2016).
Vale destacar, conforme evidenciado na literatura através de Mazur e Pisarski (2015),
Al Nahyan et al. (2012) e Winch (2004), que os roteiros elaborados tem como foco os
indivíduos ou empreendimentos que estejam na qualidade de stakeholder:
Stakeholders externos – englobam as partes interessadas que não compõem as
57
organizações executoras do megaevento Rio 2016;
Stakeholders de produto – envolvem os clientes, fornecedores, governos e
público em geral;
Stakeholders primários ou secundários – os impactados direta e indiretamente
pelo megaevento.
Após a elaboração dos roteiros de pesquisa, estes foram avaliados e validados junto ao
orientador. Posteriormente, foi submetido a avaliação de um pesquisador com a titulação de
mestre e com conhecimentos específicos na área. Sendo assim, foram realizadas as
alterações necessárias ou incorporação de novas perguntas.
Em seguida, o instrumento foi submetido a uma pré-testagem com dois
estabelecimentos e com dois transeuntes, a fim de verificar a consistência e a validação do
referido instrumento. A pré-testagem tem a finalidade de averiguar os níveis de
compreensão e entendimento das perguntas, disposição da ordem das perguntas e formas de
abordar o entrevistado para assim, mapear oportunidade de melhorias, conforme Flick
(2013), Gray (2012) e Bardin et al. (2000).
Neste sentido, a pré-testagem ocorreu no dia 17 de agosto de 2016 e foi realizada em
duas microrregiões da Lagoa Rodrigo de Freitas: Lado Jardim Botânico e Parque dos Patins,
sendo direcionadas a dois estabelecimentos - Caipirinha & Filé e Quiosque do Índio – e a
dois transeuntes. Através da pré-testagem foi possível avaliar que os roteiros das entrevistas
foram construídos de maneira equivocada, pois os entrevistados ficavam ansiosos em
comentar sobre o que achavam da Olimpíada e não em responder as perguntas do roteiro.
Sendo assim, foi coerente realizar algumas modificações:
Perguntas abertas: passaram a iniciar o questionário após a seção de
identificação social. Assim, o entrevistado realizava um grande
brainstorming 6 , possibilitando uma aproximação e uma empatia entre o
pesquisador e o entrevistado.
Escala Likert: inicialmente, a escala apresentava a seguinte medição: 0, 1, 2, 3,
4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, na qual 0 era um indicador negativo ou menos favorável e
10 positivo ou mais favorável. Todavia, esta escala gerou confusão aos
entrevistados. Sendo assim, fez-se necessário minimizar a escala (de 0 a 5),
tornando-a mais simplificada: (1) discordo totalmente; (2) discordo; (3) não
6 Segundo Gary (2012) e Jarvis (1995), o brainstorming é uma técnica para gerar e refinar ideias, priorizando
que a quantidade de ideias produzidas é mais importante do que a qualidade. Vale realçar que não há ideias
certas ou erradas e sim as que possuem mais aderência ou não ao propósito que se deseja.
58
discord/concordo; (4) concordo; e (5) concordo totalmente.
Vocabulário: foi necessário realizar adequação, pois o vocabulário apresentado
estava técnico, o que ocasionava um distanciamento do entrevistado ou a não
compreensão da pergunta, uma vez que a comunidade local da Lagoa Rodrigo
de Freitas apresenta um diversificado nível de escolaridade.
Abordagem ao entrevistado: a própria abordagem estava técnica, ocasionando
distanciamento do entrevistado ou até mesmo provocar uma percepção de
superioridade do pesquisador. Neste sentido, foi adotada uma postura menos
técnica, com uma linguagem mais simples e objetiva.
3.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS
Devido aos múltiplos métodos utilizados nesta pesquisa, foi adotada uma
fundamentação lógica que consiste, neste caso, o estudo de caso, entrevistas e pesquisas de
levantamento, atrelados às perspectivas do pesquisador. Esta fundamentação é denominada
triangulação, conforme Yin (2015) e Gray (2012).
Sendo assim, o tratamento dos dados brutos obtidos através das entrevistas foram
sistematizados, a fim de gerar um conteúdo e informações relevantes à pesquisa. Todavia,
isto não é suficiente. Logo, foi utilizada umas das abordagens mais comuns à análise de
dados qualitativos, de acordo com Gray (2012): a análise de conteúdo.
A análise de conteúdo é “um método empírico para a descrição sistemática e
intersubjetivamente transparentes das características substanciais e formais das mensagens”
(Früh, 1991, p.25). A análise de conteúdo é pode ser considerada uma das abordagens
dedutivas de análise qualitativa. (GRAY, 2012).
Segundo Berg (2006), a análise de conteúdo também funciona como testagem de
hipótese e sugere três fases: (1) elabore uma hipótese bruta com base em observação dos
dados; (2) pesquise os dados para encontrar casos que não se alinhem à hipótese; e (3) se
forem encontrados casos negativos, reformule a hipótese. Já para Bardin et al. (2000), a
análise de conteúdo possui quatro etapas: a codificação, categorização, interpretação e
inferência.
Além da análise de conteúdo, também foi usado o método de estatística descritiva para
discussão dos resultados. Segundo Gray (2012), este método consiste em descrever as
características básicas de um estudo, utilizando uma análise gráfica. O referido autor ainda
ressalta que este método pode favorecer a uma comunicação eficaz dos dados, através de um
59
formato gráfico prontamente acessível.
A análise estatística dos dados se faz necessária como estratégia para melhor estruturar
as informações relevantes à pesquisa. Neste sentido, Flick (2013) e Kromrey (2006)
corroboram sobre a importância da análise quantitativa: “é um procedimento estritamente
orientado para o objetivo, que visa à ‘objetividade’ dos seus resultados por meio de uma
padronização de todos os passos na medida do possível, e que postule uma verificação
intersubjetiva como a norma central para a garantia da qualidade.”
3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO
Em relação ao levantamento bibliométrico, pode ocorrer a omissão de alguma palavra-
chave importante ou a inserção de algum conectivo de forma equivocada. Sendo assim,
alguns artigos podem não ter sido localizados, logo, não passando por uma análise que
permitisse a seleção desses artigos. Vale ressaltar, também, que uma busca mais ampla em
outras bases de dados poderia sugerir periódicos diferenciados capazes de promover uma
abordagem distinta ao estudo.
Outras limitações deste trabalho podem estar enraizadas nas percepções do
pesquisador. Embora haja uma metodologia sólida que suporte esta pesquisa, em algumas
etapas do processo metodológico, a subjetividade do pesquisador se faz presente, como na
seleção de artigos, de acordo com Paiva Júnior et al., (2011). Neste contexto, a subjetividade
é representada como uma atividade interpretativa necessária à pesquisa.
Por fim, ainda no que tange o universo deste estudo e devido ao fato de a pesquisa ter
sido realizada durante a realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016 – evento que observou
forte apelo emocional (para o bem e para o mal) de grande parte da população do Rio de
Janeiro, esta pesquisa contemplou, durante as entrevistas, momentos em que os
entrevistados se exaltaram de forma negativa e também considerou a memória destes
entrevistados. Sendo assim, podendo haver perda de informações ou exagero no conteúdo
externado.
60
4. ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS RESULTADOS
Neste capítulo, são analisados e discutidos os resultados obtidos através das entrevistas
realizadas na Lagoa Rodrigo de Freitas, a fim de embasar a parte empírica deste estudo.
As entrevistas foram segmentadas em dois tipos de roteiro: transeuntes e
empreendimentos (apêndices 2 e 3). Tal divisão se fez necessária para buscar especificidade
sobre as informações relevantes à investigação, além de preconizar uma interação e
colaboração eficaz com os entrevistados. Neste sentido, foram realizadas 71 entrevistas,
sendo divididas: 24 questionários de transeuntes, contemplando 02 questionários na pré-
testagem e 22 questionários aplicados no período dos Jogos Olímpicos; e 47 questionários
de empreendimentos, englobando 02 questionários de pré-testagem e 45 aplicados.
Neste sentido, a fim de analisar os dados levantados, este capítulo está estruturado em
quatro seções: (1) análise e discussões das percepções dos transeuntes; (2) análise e
discussões das percepções dos representantes dos empreendimentos; (3) análise comparativa
entre transeuntes e empreendimentos; (4) confrontação dos resultados com a revisão da
literatura e conclusões.
4.1 ANÁLISE E DISCUSSÕES DAS PERCEPÇÕES DOS TRANSEUNTES
4.1.1 ANÁLISE DO PERFIL DOS TRANSEUNTES
A primeira amostra contempla os transeuntes, representando 22 questionários
respondidos. As entrevistas foram aplicadas ao longo de todo o território da Lagoa Rodrigo
de Freitas entre os dias 19 a 22 de agosto do corrente ano, portanto durante a realização dos
Jogos Olímpicos Rio 2016.
Em termos de categorização dos respondentes, houve uma distribuição quanto ao
gênero, sendo 09 mulheres e 13 homens. Conforme a Figura 17, é possível verificar a
distribuição do gênero em relação ao nível de escolaridade.
61
Figura 17 – Distribuição de Nível de Escolaridade em Relação ao Gênero
A Figura 17 ilustra que mais de setenta e sete por cento dos entrevistados possuem no
mínimo ensino superior, podendo ainda apresentar especialização stricto ou lato sensu.
Neste sentido, foi analisado também a relação entre o entrevistado e a localidade, podendo
ser: transeunte, morador ou trabalha pela região. A Figura 18 retrata esta divisão:
Figura 18 – Distribuição dos Entrevistados pela Relação que Apresentam com a Lagoa Rodrigo de Freitas
62
Quase metade dos entrevistados estavam de passagem pela Lagoa Rodrigo de Freitas,
seja praticando esporte, somente transitando ou desfrutando da localidade como ponto
turístico/ equipamento público de lazer. Sendo assim, foi feita uma análise comparativa do
nível de escolaridade do entrevistado com a localidade em que o respondente reside na
cidade do Rio de Janeiro ou outro município, de acordo com o quadro o Quadro 09:
Quadro 09 – Escolaridade vs. Localidade em que o Entrevistados Residem
Escolaridade Entrevistado Bairro
Da 5a à 8a série do Ensino
Fundamental (antigo ginásio)
1 Duque de Caxias
2 Campo Grande
Ensino Médio (antigo 2o grau)
3 Vila Isabel
4 Jacarepaguá
5 Copacabana
Ensino Superior
6 São Gonçalo
7 Nova Iguaçu
8 Tijuca
9 Méier
10 Tijuca
11 Tijuca
12 Lagoa
13 Ipanema
14 Copacabana
Especialização
15 Ilha do Governador
16 Copacabana
17 Lagoa
18 Fonte da Saudade
19 Jardim Botânico
20 Humaitá
Mestrado ou mais 21 Humaitá
22 Lagoa
Através do Quadro 09, é possível averiguar que os respondentes que possuem no
mínimo ensino superior ou mais residem na parte nobre do Rio de Janeiro, a Zona Sul. Além
disto, os bairros que contornam a Lagoa apresentam os residentes com maior nível de
escolaridade. Logo, é possível observar que as pessoas que habitam estes bairros possuem
mais condições de apresentar uma renda financeira elevada. Em contraposição, os
indivíduos com menor nível de escolaridade residem em sua maioria na Zona Oeste, Zona
63
Norte, ou Baixada Fluminense, reforçando a dicotomia econômica entre classes sociais que
existe entre as Zonas Norte e Sul da cidade do Rio de Janeiro.
Vale destacar, que os indivíduos residentes em Copacabana não se consideram como
moradores da região da Lagoa Rodrigo de Freitas e que setenta e sete por cento dos
entrevistados frequentam a lagoa há mais de 3 anos.
4.1.2 ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DOS TRANSEUNTES SOBRE O MEGAEVENTO
Após a análise do perfil dos transeuntes respondentes, essa seção avalia a percepção
do entrevistado em relação ao consequências do megaevento, no que se referem às práticas
de gerenciamento de stakeholders e aos possíveis benefícios produzidos pela realização dos
jogos olímpicos.
Foi evidente que os jogos olímpicos modificaram o cotidiano da Lagoa Rodrigo de
Freitas, conforme reiterado em conversa com um dos entrevistados, Sr. Daniel, morador do
próprio bairro Lagoa Rodrigo de Freitas, na qual ele confirma que a localidade estava mais
movimentada e com mais policiamento, no entanto, ficou apreensivo com o caos que a
realização dos jogos poderia gerar como, por exemplo, o trânsito. Sendo assim, foi
perguntado aos entrevistados se antes dos inícios das competições da Olimpíada na Lagoa
Rodrigo de Freitas, eles tiveram conhecimento sobre os possíveis impactos que ocorreriam
no seu dia a dia, de acordo com a Figura 19:
Figura 19 – Conhecimento sobre os Possíveis Impactos Gerados na Lagoa Rodrigo de Freitas com a
Realização dos Jogos Olímpicos
64
Faz-se relevante observar que ocorreu uma distribuição igualitária de cinquenta por
cento entre as resposta. Metade da amostra estava informada sobre as possíveis mudanças
que ocorreriam na Lagoa em detrimento da realização das competições olímpicas, levando a
crer que houve uma comunicação ineficaz dos eventuais contratempos que poderiam ser
produzidos. Os respondentes que informam possuir ciência sobre os fatos, comentaram que
os principais meios foram: jornal, internet, propagandas do governo e o boca a boca, ou seja,
transferência de informação através do uso falado da língua portuguesa, no caso. Além
disso, eles destacaram o assunto: tentativa de despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas,
como o mais abordado pelas mídias citadas.
Contudo, foi questionado aos entrevistados se eles sofreram algum impacto no seu
cotidiano com a utilização da Lagoa Rodrigo de Freitas como palco de competições
olímpicas, de acordo com o Quadro 10:
Quadro 10 – Principais Mudanças Positivas e Negativas no Cotidiano dos Entrevistados
Positivos Negativos
Clima Festivo Trânsito
Projeção da cidade e do país Cercamento
Sensação de segurança Desvios na ciclovia
Movimentação Turística
Algumas áreas de lazer
interditadas (parque de
crianças, academia de idosos
e quadras poliesportivas)
Despoluição da lagoa Estacionamento do parque
dos patins fechado
Policiamento Impedimento de ir e vir
Sensação de problemas
suspensos, como a crise
econômica e política no Brasil
e no Estado do RJ
Despoluição da lagoa
Impedimento para trabalhar
Fonte: autor (2016)
O Quadro 10 ilustra as palavras que foram mencionadas pelos entrevistados e
apresentam aderência tanto com os impactos positivos como os negativos. Para isto, foi
pensado em uma análise explicativa de conteúdo, que, segundo Flick (2013), busca
promover o contexto estrito da palavra, definição etimológica de cada palavra no texto, com
o contexto amplo, abordagem que extrai o sentido das palavras através de informações além
do texto.
65
Ainda sobre o Quadro 10, o ponto positivo mais comentado pela amostra,
representando vinte e dois por dos entrevistados, foi a sensação de segurança na Lagoa
Rodrigo de Freitas e o policiamento ostensivo. Contudo, a palavra “cercamento” foi o
aspecto negativo que mais apareceu entre os questionários de transeuntes, representando um
terço dos respondentes. Vale destacar que o cercamento também é um dos motivos da
interdição de algumas zonas de lazer na Lagoa, pois provocou o isolamento destas áreas, em
especial, na Fonte da Saudade, espaço conhecido como Baixo Bebê, e no Parque dos Patins.
O tema “despoluição da lagoa” aparece, simultaneamente, tanto como característica
positiva e negativa, podendo ser observado como: um benefício gerado para a realização dos
jogos olímpicos ou falha de gestão do megaevento que não conseguiu entregar o que foi
combinado. Destaca-se ainda que na amostra, a despoluição prevalece como um aspecto
negativo, uma ação não realizada.
Apesar do surgimento de impactos negativos que causaram mudanças ao dia a dia dos
indivíduos que frequentam a Lagoa Rodrigo de Freitas e as adjacências, setenta e sete por
cento dos respondentes informaram que o cotidiano continua normal ou foi modificado para
melhor. Esta compreensão é possível devido algumas causas contempladas pelos
respondentes: (a) os aspectos negativos existem, mas são temporários, além de necessários
para a realização dos jogos; (b) os respondentes acreditavam que a organização da
Olimpíada seria bem pior do que foi apresentado, sendo suportável as modificações
temporárias; (c) a Copa do Mundo de 2014 já foi um ensaio para as transformações
ocasionadas pelas Olímpiadas, logo, a população já dispunha de uma percepção prévia sobre
as mudanças; e (d) a sensação da cidade do Rio de Janeiro estar segura, clima festivo e com
turistas de todo o mundo, auxiliaram na superação dos aspectos negativos ou em uma
sensação de que os problemas estavam suspensos por um período.
Sendo assim, fez-se necessário avaliar qual a percepção da amostra sobre a
organização dos Jogos Olímpicos Rio 2016 na Lagoa Rodrigo de Freitas. A Figura 20
apresenta a esta percepção:
66
Figura 20 – Opinião sobre a Organização Eficaz da Olimpíada na Lagoa Rodrigo de Freitas
É possível averiguar, conforme a Figura 20, que setenta e sete por cento da amostra
considerou a organização do evento eficaz, apesar de existirem impactos negativos. Cabe
ressaltar também que este resultado pode estar atrelado ao fato que os entrevistados
esperavam um evento desorganizado, sendo assim, o mínimo de organização ocorrida pode
ser julgado como um processo eficaz.
Diante da satisfação dos respondentes com a organização do megaevento, foi
questionado sobre o nível de felicidade que eles apresentavam no período de realização da
Olimpíada, de acordo com a Figura 21:
Figura 21 – Distribuição sobre Sentimento de Felicidade com a Lagoa Rodrigo de Freitas Sendo Palco de
Atividades da Olimpíada 2016
67
Novamente é possível observar que setenta e sete por cento dos entrevistados estavam
satisfeitos com a realização do evento. Este efeito pode ser percebido, em especial, pelo
clima festivo proporcionado pelos Jogos Olímpicos Rio 2016, conforme mencionou a
respondente Patrícia Lacerda, moradora do bairro Humaitá: “Já estou com saudades das
Olimpíadas, poderia ter todo ano”. Todavia, os entrevistados também foram questionados se
a organização da Lagoa Rodrigo de Freitas como palco das atividades dos Jogos Rio 2016
produziram benefícios para eles, de acordo com a Figura 22.
Figura 22 – Distribuição sobre Benefícios Gerados ao Entrevistado com a Lagoa Sendo Palco de Atividades da
Rio 2016
Apesar dos respondentes acharem a organização do evento eficaz e estarem contentes
com a realização do mesmo, sessenta e três por cento dos entrevistados discordam ou não
conseguem perceber quais o benefícios gerados a partir da Lagoa Rodrigo de Freitas, sendo
utilizada como arena das competições da Olimpíada. O alto percentual de indivíduos
contentes não acompanha a percepção do entrevistado em relação aos benefícios, podendo-
se dizer que são quase inversamente proporcionais.
Sendo assim, os critérios relacionados a uma boa execução da Olimpíada, podem não
passar por uma análise de benefícios que devem ser produzidos pelo megaevento à
comunidade local, segundo a percepção dos entrevistados. Neste sentido, alguns indivíduos
da amostra apresentaram dificuldade em informar qual o legado que fica dos Jogos
Olímpicos Rio 2016 para a Lagoa e para a cidade do Rio de Janeiro. Contudo, sessenta e
68
oito por cento dos respondentes informaram que haverá um legado tangível: a infraestrutura
– transporte, boulevard olímpicos e os parques olímpicos, e intangível: divulgação global da
Lagoa Rodrigo de Freitas e da cidade do Rio de Janeiro.
Ressalta-se sobre os sessenta e oito por cento dos respondentes que informaram que
haverá legados dos jogos olímpicos, somente 03 indivíduos mencionaram que “a prática
esportiva e o fomento ao esporte” ficará como legado tanto para a Lagoa como para a
cidade.
Através da pesquisa realizada com os transeuntes é possível verificar que os Jogos
Olímpicos Rio 2016 despertaram compreensões e sentimentos distintos na comunidade
local. As pessoas estavam felizes com a Olimpíada, mas não conseguiam observar
benefícios produzidos pelo megaevento, conforme mencionou o Sr. Almir que trabalha pela
região: é um evento para quem pode pagar e não para o povão. No entanto, o Sr. Eudes,
morador do bairro Jardim Botânico, contrapõe: os jogos impulsionaram o turismo na cidade
e deixou-a mais movimentada, todavia, há um preço que precisamos pagar para receber a
Olimpíada.
4.2 ANÁLISE E DISCUSSÕES DAS PERCEPÇÕES DOS EMPREENDIMENTOS
4.2.1 ANÁLISE DO PERFIL DOS EMPREENDIMENTOS
A segunda amostra contempla as instituições e empreendimentos formais e informais,
representando 45 questionários respondidos. As entrevistas foram aplicadas também em
todo espaço geográfico da Lagoa Rodrigo de Freitas entre os dias 19 de agosto a 19 de
setembro de 2016, durante a realização dos Jogos Olímpicos.
Cabe destacar que as entrevistas se estenderam além do período olímpico e até mesmo
ultrapassando o período Paralímpico, pois muitos estabelecimentos fecharam e somente
retornaram após a Paralimpíada ou com a finalização de todo o evento. Além deste
contratempo, cabe informar que alguns estabelecimentos não retornaram o contato
presencial, telefônico ou online estabelecido pelo pesquisador, inviabilizando a realização da
entrevista.
Neste sentido, em termos de categorização dos entrevistados referentes aos
empreendimentos, houve uma distribuição dos entrevistados de acordo com a área em que
estão localizados na Lagoa Rodrigo de Freitas. A Figura 23 ilustra esta distribuição
69
Figura 23 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto a Localização na Lagoa Rodrigo de Freitas
Através da Figura 23, observa-se uma concentração de entrevistados no Corte do
Cantagalo e, em seguida, no Parque dos Patins. Estas áreas são as que mais congregam
estabelecimentos na Lagoa, logo, a ocorrência no maior número de entrevistas. Essas zonas
podem ser consideradas como os principais pontos de lazer da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Vale mencionar que a iniciativa Lagoa Presente, programa do Governo do Estado com a
Fecomércio RJ7 de policiamento militar ostensivo em toda a Lagoa Rodrigo de Freitas, tinha
a sua base localizada no estacionamento do Parque dos Patins, no entanto, com o cercamento
deste estacionamento, a base da iniciativa foi deslocada para o Corte do Cantagalo.
Após a análise de localização dos empreendimentos, foi pesquisada a categoria dos
estabelecimentos entrevistados, conforme a Figura 24:
7 BRUM, A.; DINIZ, P. Operação Segurança Presente. Disponível em: <http://www.fecomercio-
rj.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=13854&tpl=printerview&sid=96> Acesso em: 01 out. 2016.
70
Figura 24 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto por Categoria
Os Quiosques de Cocos são os mais recorrentes estabelecimentos encontrados e estão
distribuídos por toda extensão da Lagoa Rodrigo de Freitas. Vale realçar que os vendedores
de coco em sua grande maioria estão há mais de 15 anos atuando na localidade. Outro
destaque são os restaurantes, dos 7 entrevistados, 4 estão localizados no Parque dos Patins e
os outros 3 no Corte do Cantagalo, ratificando que estas zonas, além de oferecerem lazer,
são consideradas áreas gastronômicas da Lagoa.
Em seguida, buscou-se verificar o tempo de atuação dos negócios na Lagoa Rodrigo
de Freitas em relação a formalização do próprio estabelecimento junto a prefeitura do
município do Rio de Janeiro, conforme ilustrado na Figura 25:
71
Figura 25 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto a Formalização e Tempo de Atuação na Lagoa Rodrigo
de Freitas
De acordo com a Figura 25, mais de oitenta e cinco por cento dos empreendimentos
estão há mais de cinco anos funcionando na Lagoa Rodrigo de Freitas. Vale realçar que
grande parte dos oitenta e cinco por cento apresentam uma média de 22 anos de atuação na
Lagoa, com destaque para: Pedalinhos Klein com 50 anos; Clube de Regatas Vasco da
Gama com 66 anos; Botafogo de Remo, conhecida como Sacopã, com 76 anos; Clube de
Regatas do Flamengo com mais de 80 anos; e a Colônia de Pescadores Z-13 com mais de
100 anos.
Em relação a formalização dos estabelecimentos, somente 02 empreendimentos
entrevistados eram informais, um carrinho de cachorro-quente e uma carrocinha de pipoca.
Este baixo número de informais tem como causa o policiamento ostensivo que ocorreu
durante a Olimpíada, inibindo a prática comercial de vendedores não formalizados que
poderiam ter as mercadoria apreendidas.
A última análise em relação ao perfil destes entrevistados compreende o porte do
estabelecimento no que se refere a quantidade de funcionários que possui. Sendo assim, a
Figura 26 representa o porte de cada empreendimento pesquisado:
72
Figura 26 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto ao Número de Funcionários
Pode-se depreender da Figura 26, uma grande concentração de negócios que
possuem nenhum ou até 03 funcionários. Esta percepção corrobora que a grande maioria dos
empreendimentos da Lagoa Rodrigo de Freitas, quiosques de coco e barraquinha de venda
de alimentos, são de profissionais autônomos que adquiriram uma licença junto à Prefeitura
para realizarem venda de seus produtos ou são negócios familiares com até 3 colaboradores,
no quais trabalham esposa e esposo ou país e filhos.
Em destaque, apresenta-se como empreendimentos de médio à grande porte com
mais de 16 funcionários: os restaurantes Arab (Parque dos Patins) e Palaphita Kitch (Corte
do Cantagalo); Clube de Regatas do Flamengo (Leblon) e Clube Botafogo de Remo (Curva
do Calombo); Colônia de Pescadores Z-13 (Parque dos Patins); e iniciativa Lagoa Presente,
representada pela PMERJ - Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (base temporária no
Corte do Cantagalo).
73
Através da pesquisa de perfil, é possível averiguar a heterogeneidade dos
empreendimentos analisados, apresentando portes, serviços, tempo de atuação e localização
distintos. Todavia, as consequências da Olimpíada também podem apresentar um caráter
heterogêneo sobre os estabelecimentos.
4.2.2 ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS SOBRE O
MEGAEVENTO
Após a análise do perfil dos empreendimentos respondentes, evidenciando uma
heterogeneidade entre estabelecimentos, essa seção avalia a percepção do responsável pelo
estabelecimento em relação ao consequências dos jogos olímpicos, no que se refere as
práticas de gerenciamento de stakeholders e aos possíveis benefícios produzidos pela
realização do megaevento.
A organização para os Jogos Olímpicos Rio 2016 promoveu várias mudanças no
cotidiano da Lagoa Rodrigo de Freitas muito antes da realização das próprias competições,
entre 05 de agosto a 18 de setembro. Conforme reitera o Sr. Marcelo, treinador do time de
remo do Vasco da Gama, que as atividades do clube sofreram alterações desde o mês de
junho de 2016, como o não funcionamento da escolinha de remo, pois não tinham permissão
de utilizar o espelho d’água da Lagoa.
Neste sentido, foram realizadas perguntas, abertas e fechadas, para avaliar qual a
percepção dos entrevistados sobre a consequências do megaevento no cotidiano do
estabelecimento, conforme a Figura 27:
Figura 27 – Percepção dos Entrevistados sobre as Consequências do Megaevento no Cotidiano do Negócio
74
A Figura 27 ilustra o equilíbrio em relação às percepções positivas e negativas quanto
ao megaevento. Vale salientar que dos 21 respondentes que afirmaram que os jogos
olímpicos impactaram de forma positiva no cotidiano da Lagoa Rodrigo de Freitas, mais de
setenta e cinco por cento estão localizados na Curva do Calombo e Corte do Cantagalo.
Somente 01 respondente está localizado no Parque dos Patins.
Dentre os principais aspectos mencionados como positivo pelos 21 respondentes estão:
o policiamento, aumentos de pessoas circulando na Lagoa Rodrigo de Freitas e incremento
nas vendas. Em relação as vendas, a Figura 28 retrata este cenário.
Figura 28 – Distribuição sobre o Aumento no Volume de Vendas do Empreendimento
As vendas não foram percebidas como o principal fator positivo, pois a maior parte
dos estabelecimentos não obtiveram aumentos consideráveis. No entanto, segundo o gerente
do Palaphita Kitch, Sr. Werneck, o movimento e as vendas aumentaram consideravelmente,
sendo um dos melhores momentos desde a fundação do empreendimento, localizado no
Corte do Cantagalo ao lado do estabelecimento temporário Baixo Suíça.
Apesar de também ser mencionado como fator negativo por 1 respondente, o Baixo
Suíça foi percebido como uma ação positiva. Também conhecida como Casa Suíça, este
empreendimento atraiu milhares de pessoas, apresentando filas com tempo de espera de
aproximadamente 1 hora e 30 minutos. Dado o sucesso deste empreendimento, ele polarizou
um aumento significativo de pessoas circulando pelo Corte do Cantagalo e usufruindo dos
estabelecimentos próximos. O Sr. Roberto, garçom do estabelecimento Balkon, ratifica que
75
os eventos promovidos pela Casa Suíça movimentaram o mês de agosto que costumava ser
fraco, pois trouxeram turistas e gringos para esta área.
Além dos destaques positivos mencionados por esses empreendimentos de maior
porte, os estabelecimento de profissionais autônomos com até 3 pessoas, comentaram da
satisfação em ter a Olimpíada na Lagoa Rodrigo de Freitas, conforme reitera o Sr. Ofir,
único vendedor formal de milho da Lagoa: há bastante estrangeiros circulando e ainda
tivemos cursos para ajudar no atendimento ao cliente. O Sr. Ofir ainda fez questão de
mostrar o certificado de noções básicas de manipulação de alimentos adquirido, como retrata
a Figura 29:
Figura 29 – Certificado do Curso de Noções Básicas de Manipulação de Alimentos do Sr. Ofir
Fonte: Leonardo Campos em 20 de agosto de 2016.
Em contraposição a percepção positiva, 20 entrevistados informaram que o
megaevento produziu impactos negativos. Dos 20 respondentes, sessenta e cinco por cento
estão localizados no Parque dos Patins, Jardim Botânico e Fonte da Saudade. Ainda sobre
estes 20 respondentes, 5 estão instalados no Corte do Cantagalo, incluindo um dos
estabelecimentos informais, o carrinho de cachorro-quente. De acordo com o próprio
vendedor deste negócio, Sr. Arnaldo, o movimento na Lagoa está melhor, mas está mais
difícil de trabalhar, uma vez que houve o aumento da fiscalização através da PMERJ.
Dentre as razões dos impactos negativos promovido à Lagoa Rodrigo de Freitas, o
76
principal efeito mencionado é o cercamento que ocorreu em algumas parte lagoa,
desencadeando uma série de prejuízos: (a) inviabilidade de utilizar o estacionamento do
Parque dos Patins; (b) reduziu a circulação de pessoas, consequentemente, diminuindo as
vendas; (c) alguns estabelecimentos ficaram incapacitados de funcionar; (d) outros
empreendimentos precisaram ser deslocados do seu lugar de origem para continuarem
funcionando; (e) algumas áreas ficaram praticamente desertadas, sem movimentação de
pessoas. Vale ressaltar que as principais áreas atingidas com o cercamento foram: Fonte da
Saudade, Parque dos Patins e parte Leblon, mais especificamente, ao redor do Clube de
Regatas do Flamengo.
Dentre os aspectos negativos, um dos empreendimentos que teve grande impacto
devido ao cercamento foi a Colônia de Pescadores Z-13. A colônia, que possui mais de 100
anos de existência, foi completamente cercada, mantendo-a isolada. Os pescadores, depois
de muita negociação com o comitê organizador dos jogos, conseguiram ter acesso à colônia
e a própria lagoa para pescar somente no horários das 20 horas até as 05 horas. Todavia, esta
ação não foi suficiente, pois os pescadores não conseguiam estacionar os caminhões
próximos à colônia, para realizar a retirada dos peixes e armazená-los no gelo.
Muitos pescadores, por morar longe ou até mesmo em outros municípios, decidiram
paralisar as atividades, ficando afastados da colônia e sem pescar por um período de até 03
meses. Em um primeiro momento, os pescadores informaram que o comitê organizador do
Jogos Olímpicos Rio 2016 tinha apresentado um plano de contingência, no qual, os
pescadores seriam reaproveitados em atividades da Rio 2016, com o intuito de possuírem
uma verba extra até voltarem a pescar. Contudo, esta iniciativa não foi implementada e,
consequentemente, alguns pescadores passaram por problemas financeiros. Cabe destacar,
segundo os próprios pescadores, que não houve alguma contrapartida por parte do comitê
organizador para mitigar este problema pontual.
O restaurante Arab, localizado no Parque dos Patins, também foi um dos
empreendimentos que tiveram profundos prejuízos com o cercamento. De acordo com a
proprietária do restaurante Arab, Sr. Vivian, o número de cliente diminuiu drasticamente
com o cercamento do parque e do estacionamento próximo, destinado às delegações de remo
e aos funcionários do comitê Rio 2016, afetando, indiretamente, 35 famílias de funcionários
do Arab que depende do restaurante para sobreviver. A empresária, diante desta situação,
informou que ocorreram várias desistências de reservas para o período olímpico, inclusive,
uma reserva para 120 pessoas da Federação Internacional de Canoagem (verificar apêndice
4).
77
Além disso, ainda sobre o restaurante Arab, a proprietária corrobora que teve
dificuldades de até mesmo abastecer o próprio restaurante. Através de entrevistas realizadas
com 02 músicos que tocam semanalmente no Arab (as entrevistas na seção de transeuntes),
eles informaram que devido a baixa de clientes, eles ficaram temporariamente sem emprego,
pois, segundo os próprios músicos, a relação custo e benefício não era viável para realizar as
apresentações durante este período.
Outro empreendimento que sofreu impactos negativos, foi a escola de remo do Clube
de Regatas do Flamengo, segundo o próprio gerente deste departamento, Sr. Edson, as
instalações referentes ao remo foram deslocadas para uma tenda no Corte do Cantagalo,
prejudicando as atividades de treinamento e a escola de remo. Cabe destacar, que as
instalações deslocadas do Flamengo foram implementas sobre uma quadra esportiva
utilizada pelos transeuntes da Lagoa Rodrigo de Freitas, logo, prejudicando também a
comunidade local. A Figura 30 ilustra este procedimento:
Figura 30 – Quadra Esportiva Sendo Utilizada para as Instalações do Remo do Clube de Regatas do Flamengo
no Corte do Cantagalo
Fonte: Leonardo Campos em 20 de agosto de 2016.
Em relação aos 04 entrevistados que se apresentaram como indiferentes a percepção
das consequências oriundas do megaevento, eles não se posicionaram de forma sólida entre
os efeitos positivos e negativos. Estes empreendimentos estão distribuídos da seguinte
maneira: Parque dos Patins, Leblon e dois no Corte do Cantagalo. Para estes respondentes, o
número de pessoas circulando na Lagoa Rodrigo de Freitas teve um aumento considerável,
todavia não influenciou no número de vendas, mantendo de formal normal o atendimento.
78
Estes entrevistados ressaltam que qualquer efeito positivo ou negativo seria temporário na
localidade.
Embora muitos empreendimentos percebam as consequências negativas provenientes
da operação dos Jogos Olímpicos Rio 2016, alguns estabelecimentos consideram estes
aspectos como necessários a realização das competições. Sendo assim, mesmo com os
impactos que geraram prejuízos, estes estabelecimentos consideraram-se beneficiados com
os jogos, conforme a Figura 31:
Figura 31 – Distribuição sobre Benefícios Gerados ao Entrevistado com a Lagoa Sendo Palco de Atividades da
Olimpíada 2016
Sendo assim, a Figura 31 ilustra um pequeno contraste em relação a Figura 27. Cabe
destacar que o Complexo Lagoon de entretenimento é um caso à parte nesta pesquisa. O
Lagoon, um dos maiores estabelecimentos que possui cinemas, restaurantes e casa de
espetáculos, foi alugado pelo comitê organizador dos jogos olímpicos para ser arena das
competições de remo. Logo, devido aos objetivos da pesquisa, este estabelecimento não foi
contemplado.
Diante das percepções negativas ou positivas estabelecidas, foram propostas 05
questões para verificar o nível de interação da comunidade local com o comitê organizador
dos Jogos Olímpicos Rio 2016, conforme ilustra a figura 32:
Figura 32 – Distribuição das Questões sobre a Relação Entre a Organização do Jogos Olímpicos e a
79
Comunidade Local
Mais de quarenta por cento dos entrevistados (questão 1), informaram ter
participado de pelo menos 2 reuniões a respeito da realização do megaevento na Lagoa
Rodrigo de Freitas. Complementando a questão 1, as questões 02 e 03 foram realizadas e
analisadas separadamente de maneira proposital. Pois buscou-se entender se houve
transparência no comunicado das possíveis consequências, tanto de caráter benéfico como
prejudicial, provenientes da realização dos Jogos Rio 2016 aos empreendimentos.
Vale ressaltar que as questões 02 e 03 envolvem a percepção do respondente em
compreender o que significaria um efeito positivo ou negativo para o seu negócio. Sendo
assim, é possível que algum entrevistado tenha participado de uma reunião e não tenha
entendido como um determinado impacto pode influenciar no próprio negócio, tanto para
gerar bônus ou ônus.
Dos 45 entrevistados, pouco mais da metade informou saber dos impactos positivos
(questão 02) que aconteceriam ao estabelecimento em virtude da ocorrência da Olimpíada.
Em relação aos efeitos positivos, os próprios respondentes comentaram que foram
informados sobre: grande quantidade de turistas circulando na Lagoa Rodrigo de Freitas,
aumento das vendas e o policiamento ostensivo.
Em relação aos impactos negativos (questão 03), dos 45 entrevistados, apenas
quarenta e quatro por cento informaram saber sobre os efeitos negativos provenientes da
realização do megaevento. Segundo estes quarenta e quatro por cento, as consequências que
80
eles tiveram conhecimento foi a respeito do cercamento e seus desdobramentos:
estacionamento do Parque dos Patins inviabilizado, academia da terceira idade na parte
Leblon inutilizável, parque infantil na Fonte da Saudade isolado sem acesso, impacto visual
das grades ao redor da própria lagoa e obstrução visual para assistir as competições
olímpicas de remo em algumas partes da Lagoa. Segundo a Sra. Vivian do empreendimento
Arab, o comitê informou sobre o cercamento, mas não como seria este processo.
As questões 02 e 03 revelam que há algum equívoco no processo de comunicação
dos gestores do megaeventos com as partes interessadas da Lagoa Rodrigo de Freitas, pois
mais de cinquenta e um por cento dos entrevistados informaram não obter conhecimento
sobre os efeitos negativos ou positivos que poderiam ocorrer em virtude da realização do
evento.
A questão 04 ilustra que há uma falha nas práticas de gerenciamento de stakeholders
do megaevento, pois quase noventa por cento dos respondentes informaram em que nenhum
momento a opinião deles foi contemplada no planejamento de organização dos jogos
olímpicos. Sendo assim, é possível observar que as medidas tomadas foram unilaterais, não
abrangendo a comunidade local.
A questão 05 corrobora um equívoco no processo de comunicação do megaevento e
também de uma prática de gerenciamento de stakeholders ineficaz, não havendo um canal
direto de comunicação com o comitê organizador, que poderia ser representando por um
indivíduo ou por um grupo que pudessem atender aos empreendimentos.
Neste sentido, foi perguntado aos entrevistados se eles acreditavam que um
relacionamento foi estabelecido entre os organizadores do megaevento Rio 2016 com a
comunidade local da Lagoa, conforme retratado na Figura 33.
Figura 33 – Distribuição Sobre a Construção de Relação entre a Organização do Jogos e a Comunidade Local
Através da Figura 33, é possível averiguar que mais de setenta por cento dos
81
respondentes não percebem a construção de um relacionamento entre as partes interessadas
referentes à Lagoa Rodrigo de Freitas e o comitê organizador, ressaltando uma deficiência
nas práticas de gerenciamento de stakeholders.
Embora seja perceptível as evidências de falhas no gerenciamento dos stakeholders e
de impactos negativos provenientes do megaevento, mais de setenta e cinco por cento dos
entrevistados afirmaram estar felizes com a realização dos jogos olímpicos Rio 2016 na
Lagoa Rodrigo de Freitas, como ilustra a Figura 34:
Figura 34 – Distribuição sobre Sentimento de Felicidade com a Lagoa Rodrigo de Freitas Sendo Palco
de Atividades da Olimpíada 2016
O clima festivo e a euforia de celebrar o evento podem influenciar na percepção dos
entrevistados, sobrepondo-se as consequências negativas que ficam em segundo plano.
Sendo assim, apresentando uma grata surpresa sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 para a
cidade e para o mundo. No entanto, cumpre-se destacar, que esta análise representa uma
percepção distinta das expectativas apresentadas, antes do início da Olimpíada, pelos meios
de comunicação nacionais e estrangeiros. Sendo assim, as Figuras 35, 36, 37 e 38 (apêndices
5, 6, 7, e 8) ilustram essa antítese: expectativas pré-evento versus percepções pós-evento.
82
Figura 35 – Matéria da Revista Época sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 antes da Realização8
Fonte: Revista Época (2016).
Figura 36 – Matéria da Revista Época sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 após a Realização9
Fonte: Revista Época (2016).
8 Material completo disponibilizado em: <http://epoca.globo.com/esporte/noticia/2016/08/na-lagoa-e-no-
aterro-os-excluidos-da-olimpiada-aparecem.html>. Acesso em: 24 ago. 2016. 9 Material completo disponibilizado em: <http://epoca.globo.com/esporte/olimpiadas/noticia/2016/08/rio-
2016-uma-olimpiada-para-ficar-na-memoria.html> Acesso em: 24 ago. 2016.
83
Figura 37 – Matéria do Site DW sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 antes da Realização10
Fonte: DW (2016).
Figura 38 – Matéria do Site DW sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 após a Realização11
Fonte: DW (2016).
10 Material completo disponibilizado em: <http://www.dw.com/pt-br/imprensa-europeia-destaca-desânimo-
com-a-rio-2016/a-19219192>. Acesso em: 24 ago. 2016. 11 Material completo disponibilizado em: <http://www.dw.com/pt-br/opinião-jogos-ol%C3%ADmpicos-
libertam-o-rio/a-19487677>. Acesso em: 24 ago. 2016.
84
Todavia, após o término dos Jogos Olímpicos, a impressão deixada pelo próprio
megaevento superou as expectativas negativas, sendo retratada pela imprensa nacional e
internacional, conforme as Figuras 36 e 38.
Vale destacar uma análise comparativa entre as Figuras 35 e 36, Revista Época
(imprensa nacional), e entre as Figuras 37 e 38, canal televisivo alemão DW - Deutsche
Welle (imprensa internacional), pois trata-se de percepções distintas de um mesmo veículo
de comunicação, apresentando expectativas negativas, antes da realização do evento, e
sentimento de superação, pós Jogos Olímpicos. As matérias na íntegra encontram-se nos
respectivos apêndices: 5, 6, 7 e 8.
4.3 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE TRANSEUNTES E EMPREENDIMENTOS
A análise das percepções dos empreendimentos é mais complexa do que a dos
transeuntes, pois envolve mais variáveis. Todavia, ambas análises viabilizam informações
que convergem para uma mesma compreensão.
Tantos os empreendimentos como os transeuntes citaram consequências positivas e
negativas que impactam concomitantemente os dois, conforme o Quadro 11:
Quadro 11 – Principais Consequências Positivas e Negativas Comuns ao Cotidiano dos
Empreendimentos e dos Transeuntes
Positivos Negativos
Segurança Cercamento
Clima Festivo Trânsito
Divulgação da cidade Estacionamento do parque
dos patins fechado
Movimentação Turística
Algumas áreas de lazer
interditadas (parque de
crianças, academia de idosos
e quadras poliesportivas)
Infraestrutura Impedimento de ir e vir
Movimento na Lagoa Fragmentação da Lagoa
Despoluição da Lagoa não
realizada
Fonte: autor (2016)
As consequências negativas provenientes dos jogos olímpicos são temporárias,
entendendo-se que com o término dos jogos, elas deixem de existir nos meses subsequentes.
O cercamento foi mencionado por ambos perfis como o principal impacto negativo
85
provocado pelo Jogos Olímpicos Rio 2016, pois desencadeou uma série de outros impactos.
Cabe salientar, segundo os entrevistados, a Lagoa Rodrigo de Freitas está fragmentada em
zonas de maior movimento, Corte do Cantagalo e zonas com menor concentração de
pessoas, Parque dos Patins.
As consequências positivas, algumas são efêmeras como o clima festivo promovido
pelo megaevento, no entanto, algumas são permanentes como a infraestrutura criada para
realização dos jogos. O policiamento ostensivo foi e a movimentação turística na Lagoa
foram os aspectos benéficos mais comentados pelos respondentes.
Neste sentido, surge o entendimento sobre o legado que os Jogos Olímpicos Rio 2016
podem deixar para a comunidade local da Lagoa Rodrigo de Freitas, impactando os
estabelecimentos e indivíduos. Cabe destacar que vários entrevistados, tanto no perfil de
transeuntes como de empreendimentos, questionaram a possibilidade de haver um legado a
longo prazo.
No entanto, vale realçar a diferença das percepções entre os respondentes Os
transeuntes são mais influenciados pelo clima eufórico promovido pelo megaevento do que
os transeuntes. Neste sentido, as consequências negativas podem ficar em segundo plano. Já
para os empreendimentos que tiveram consequências negativas, ficando incapacitados de
funcionar normalmente ou teve uma redução no número de clientes, o clima eufórico dos
jogos não é capaz de reduzir o nível de insatisfação com a Olimpíada.
Através das entrevistas, é possível observar uma necessidade maior dos
empreendimentos em estabelecer um relacionamento com o comitê organizador do
megaevento do que os transeuntes. Pois os benefícios gerados, podem vir a ser legados e
impactar toda uma comunidade local. Para a construção deste relacionamento é necessário
uma comunicação eficaz entre os gestores de megaprojetos e as partes interessadas através
de práticas eficazes de gerenciamento de stakeholders.
Neste sentido, cabe realçar os benefícios gerados pelos Jogos Olímpicos Rio 2016, que
podem atingir as pessoas e empreendimentos da Lagoa Rodrigo de Freitas. Algumas
consequências positivas não necessariamente foram promovidas pelo comitê organizador da
Rio 2016, mas por outros atores que formam as partes interessadas da Olimpíada do Rio.
Sendo assim, pode-se citar, segundo os entrevistados, como legado constituído: (a) o
acesso ao metrô localizado perto do Corte do Cantagalo; (b) a estrutura de raias no espelho
d’água da lagoa para os praticantes de remo dos Clubes próximos, além de incentivo a
variados esportes aquáticos; (d) certificação da Lagoa Rodrigo de Freitas como atração
turística da Cidade do Rio de Janeiro e divulgação da localidade para o Brasil e o mundo; e
86
(e) restauração da Colônia de Pescadores Z-13 por emissoras de televisão da Áustria e da
Suíça (Figura 39).
Figura 39 – Reforma da Colônia de Pescadores Z-13
Fonte: Leonardo Campos em 26 de setembro de 2016.
Durante as entrevistas, alguns respondentes comentaram sobre um possível legado
que a Casa Suíça deixaria para a Lagoa Rodrigo de Freitas: após a Paralimpíada, a área na
qual o Baixo Suíça estava instalado antigo campo de beisebol localizado no Corte do
Cantagalo, seria revitalizado e entregue à prefeitura do município do Rio de Janeiro com
melhoria de estrutura e do sistema de drenagem. Até o mês de novembro de 2016, o referida
obra não tinha sido realizada, conforme a Figura 40.
Figura 40 – Espaço do Campo de Beisebol a Ser Revitalizado
Fonte: André Sztjan em 16 de novembro de 2016.
87
4.4 CONFRONTAÇÃO DOS RESULTADOS COM A REVISÃO DA LITERATURA
De acordo com os estudos realizados é possível observar uma complementariedade
entre os dados levantados na revisão da literatura com os dados obtidos através da pesquisa
empírica. Sendo assim, buscando respostas que sustentem os objetivos deste trabalho.
Conforme evidenciado na revisão da literatura, segundo Hu et al. (2015), Mazur et al.
(2015), Chang et al, (2013), Zhai et al. (2009), um megaprojeto, neste caso retratado pelo
megaevento Jogos Olímpicos Rio 2016, apresentam as seguintes características: (a)
orçamento superior a 500 milhões de dólares; (b) grande grau de complexidade, incerteza,
ambiguidade e interfaces dinâmicas; (c) envolvimento de tecnologia e períodos longos de
execução; (d) elevada atração de interesse público e político; e/ou (e) definidos mais por
efeitos do que por soluções.
Neste sentido, na análise realizada no território da Lagoa Rodrigo de Freitas pôde-se
verificar e presenciar as seguintes características: (1) grande grau de complexidade,
incertezas, ambiguidade e interfaces dinâmicas, uma vez que várias percepções distintas
foram apresentadas pelos stakeholders entrevistados; (2) atração de interesse público e
político, todavia, de forma deficiente, pois muitos entrevistados sentiram-se prejudicados
com a realização da Olimpíada; e (3) mais efeitos do que soluções, como uma das promessas
não serem realizadas: despoluição da lagoa (solução), em contraposição, houve uma
divulgação da Lagoa Rodrigo de Freitas para o Brasil e o mundo (efeito).
Segundo Müller (2015), os megaeventos esportivos proporcionam, de um lado, uma
atratividade turística e um alcance imediato, do outro, custos de se sediar e viabilizar a
Olimpíada que pode chegar a centenas de milhões, se não a bilhões de dólares. Estes
entendimentos foram verificados através das entrevistas, especialmente, no caso dos
transeuntes, pois muitos informavam a movimentação turística na Lagoa e na cidade como
um aspecto positivo, mas questionavam sobre os altos gastos para os jogos olímpicos, que
estes gastos poderiam ser destinados a outras áreas de maior relevância: como saúde e
educação.
De acordo com Grabher e Thiel (2015), a organização e planejamento de um
megaevento, como os Jogos Olímpicos, envolvem várias organizações especializadas na
execução que são encarregadas de assegurar os custos do megaprojeto, concluir as
infraestruturas, negociar com várias partes interessadas e gerenciar o dia a dia do evento.
Neste sentido e com base no Quadro 08, buscou-se analisar quais das práticas de
gerenciamento de stakeholders foram contempladas na gestão da Olimpíada Rio 2016, no
88
que se refere ao espaço geográfico da Lagoa Rodrigo de Freitas. Logo, resultando no Quadro
12.
Quadro 12 – Práticas de Gestão de Stakeholders Percebidas nas Partes Interessadas da Lagoa Rodrigo de
Freitas
Práticas de Gestão de Stakeholders Verificado através da
Pesquisa Empírica
Mapeamento do perfil social da população
local Não percebido
Divisão da população de acordo com o
perfil social Não percebido
Elaboração de ações com base no perfil e
demandas sociais Não percebido
Desenvolvimento de parcerias com
entidades locais para ações sociais
integradas
Sim percebido
Comunicação com os stakeholders locais é
feita estritamente através da gestão social Não percebido
Ações e projetos são desenvolvidos o mais
próximo possível ao público alvo Percebido Parcialmente
Participação em reuniões e conselhos
comunitários Sim percebido
Estabelecimento de constante diálogo
entre a gestão social e lideranças
comunitárias
Percebido Parcialmente
As obras em locais críticos, sob a
perspectiva de instabilidade social e
violência, são acompanhadas pelo
mediador da comunidade
Não percebido
Canal de comunicação direta entre a
comunidade e a organização Não percebido
Promoção de acesso à cultura, lazer e
entretenimento Não percebido
Diálogo com entidades públicas Sim percebido
Medidas assecuratórias Não percebido
Comunicação de obra com todos os
impactos causados pela implementação do
megaprojeto de acordo com a área afetada
Percebido Parcialmente
Comitê de gestão de crise Não percebido
Mobilização social antes da
operacionalização da obra Não percebido
Fonte: Autor e Adaptado de Freitas (2016).
O gerenciamento eficaz de stakeholders, segundo Chang et al. (2013), apresenta como
estratégias-chave a comunicação dinâmica e a gestão de relacionamento para alcançar o
sucesso do megaevento. Já para Zhai et al. (2009), os valores ou benefícios de um projeto de
grande escala podem apresentar múltiplas dimensões, todavia, estas dimensões devem ser
89
coordenadas pelas demandas distintas dos stakeholders heterogêneos que englobam o
megaprojeto, neste estudo, retratado pelos Jogos Olímpicos Rio 2016.
Conforme Chang et al. (2013) e Zhai et al. (2009), os benefícios dos projetos de
grande porte podem ter funções explícitas: as infraestruturas e eventos que proporcionam; e
implícitas: a experimentação cognitiva e emocional que produzem. Contudo, estes
benefícios explícitos e implícitos provocaram percepções distintas concomitantes nas partes
interessadas localizadas na Lagoa Rodrigo de Freitas. Apesar dos entrevistados
apresentarem um sentimento de euforia em virtude da realização dos jogos olímpicos, alguns
questionavam se haveria algum benefício para a Lagoa com o término do evento.
Após analisar quais as práticas de gerenciamento de stakeholders foram utilizadas
segundo a percepção das partes interessadas, foi analisado as possíveis consequências
geradas por falhas na gestão de um território relevante para a realização do megaevento.
Sendo assim, conforme o Quadro 07 – Requisitos Sensíveis ao Gerenciamento de
Megaeventos – adaptado de Müller (2015), uma série de consequências podem comprometer
o gerenciamento de um megaevento, impactando nos benefícios entregáveis. Neste sentido,
foi observado quais requisitos estavam presentes na pesquisa ocorrida na Lagoa Rodrigo de
Freitas:
Superestimar as promessas de benefícios;
Perda de confiança com os cidadãos;
Riscos públicos para benefícios privados;
Necessidades do evento restringem-se as necessidades de infraestrutura
Infraestrutura inacabada;
Deslocamentos;
Participação pública limitada;
Paisagem urbana irregularmente desigual;
Ignorar os processos do gerenciamento regular;
Desperdício de recursos no evento como alavanca para o desenvolvimento
urbano.
Segundo Müller (2015), há quatro dimensões que devem ser consideradas a respeito
de receber um megaevento em uma dada localidade: capacidade de atrair visitantes, alcance
imediato, custo e impactos transformadores. Logo, pormenorizando esta compreensão, é
possível observar que a Lagoa Rodrigo de Freitas contemplou estas quatro dimensões:
90
atraindo diversos turistas, promovendo um clima festivo pela região, sofrendo investimentos
como a saída do metrô no Corte do Cantagalo e modificando o cotidiano, tanto de forma
positiva e negativa, dos indivíduos e empreendimentos.
Conforme explicitado por Clark et al. (2012), o macro é priorizado em relação ao
micro em vários megaprojetos, o que pode acarretar uma análise deficiente da
heterogeneidade dos territórios e de seus stakeholders, reduzindo a capacidade de gerar
benefícios a comunidade local, até mesmo, impactar de maneira deletéria um possível
legado. Este efeito é devidamente percebido nos Jogos Olímpicos Rio 2016, no que tange a
Lagoa Rodrigo de Freitas.
Sendo assim, a confrontação dos dados primários e secundários viabilizam estruturar
um arcabouço de informações necessárias a responder as questões-problema aventadas neste
estudo.
91
5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE NOVOS ESTUDOS
O referido estudo apresenta uma contribuição sobre a análise de stakeholders locais na
gestão de megaprojetos, especialmente, no que se refere a megaeventos. Neste sentido, foi
estabelecido como objetivo central: analisar os efeitos provenientes do megaevento, Jogos
Olímpicos Rio 2016, no território da Lagoa Rodrigo de Freitas, sob o prisma de distintos
stakeholders durante a realização dos referidos Jogos.
Para realizar a análise do objetivo principal deste estudo, foram constituídos 06
objetivos específicos que foram respondidos no decorrer desta pesquisa. Através da revisão
da literatura (capítulo 2), foram encontradas 12 práticas de gerenciamento de stakeholders
utilizadas na gestão de megaprojetos. Após este levantamento, foi confrontado se estas
práticas, oriundas do conhecimento científico, eram aplicadas na vertente empírica: gestão
dos Jogos Olímpicos Rio 2016 com base na percepção da comunidade local da Lagoa
Rodrigo de Freitas.
Sendo assim, o primeiro objetivo específico (OE) a ser elucidado foi a identificação de
06 práticas de gerenciamento de stakeholders contempladas na gestão da Olimpíada na
Lagoa Rodrigo de Freitas:
Desenvolvimento de parcerias com entidades locais para ações sociais
integradas;
Ações e projetos são desenvolvidos o mais próximo possível ao público alvo;
Participação em reuniões e conselhos comunitários;
Estabelecimento de constante diálogo entre a gestão social e lideranças
comunitárias;
Diálogo com entidades públicas;
Comunicação de obra com todos os impactos causados pela implementação do
megaprojeto de acordo com a área afetada.
Cumpre-se destacar que a implementação de algumas práticas foram percebidas de
maneira parcial, conforme indicado no Quadro 12.
Através das práticas aplicadas e das práticas que não foram implantadas no
gerenciamento de stakeholders no território da Lagoa Rodrigo de Freitas, é possível verificar
que uma série de consequências foram desencadeadas, impactando de forma distinta cada
stakeholder - transeuntes, turistas, estabelecimentos formais, informais, comunidade de
pescadores, clubes esportivos e iniciativas de segurança - envolvido no megaevento.
92
Cabe destacar a fragmentação territorial que ocorreu na Lagoa, produzindo dois polos
dicotômicos: a região do Parque dos Patins e a região do Corte do Cantagalo. Esta divisão
corroborou e promoveu a existência de percepções distintas sobre a realização do evento na
localidade, especialmente, no que se refere aos estabelecimentos. A análise sobre esta
fragmentação viabilizou responder o segundo OE estabelecido.
De um lado, no Parque dos Patins, o cercamento da lagoa e do estacionamento
impactou no baixo número de clientes nos estabelecimentos localizados acolá ou, em alguns
casos, no fechamento do empreendimento durante a Olimpíada, a fim de minimizar os
prejuízos. Vale realçar que muitos empreendimentos vivenciaram, durante os Jogos Rio
2016, o pior momento de funcionamento e de vendas desde a abertura do negócio na Lagoa.
Por outro lado, os estabelecimentos, localizados no Corte do Cantagalo, verificaram um
crescimento no número de vendas e na circulação de turistas por essa área. Alguns
estabelecimentos comentaram de se tratar do melhor período de vendas na Lagoa.
Além dos empreendimentos, os transeuntes também apresentaram uma percepção
diferente, apesar de mencionarem impactos negativos oriundos da realização dos jogos,
pode-se dizer que os transeuntes estavam suspensos em relação aos impactos negativos
provenientes dos jogos, em virtude de um sentimento eufórico e festivo que se instalou pela
cidade.
É nítido que os Jogos Olímpicos Rio 2016 produziram distintas percepções nos
heterogêneos stakeholders locais – transeuntes, turistas, estabelecimentos formais, informais,
comunidade de pescadores, clubes esportivos e iniciativas de segurança - da Lagoa Rodrigo
de Freitas, indo ao encontro do terceiro OE. Estas percepções distintas podem influenciar
diretamente nos possíveis benefícios a serem percebidos, tais como: o metrô e a
infraestrutura construída na localidade; divulgação da Lagoa Rodrigo de Freitas como
equipamento público de lazer e ponto turístico; a estrutura de raias no espelho d’água da
lagoa para os praticantes de remo dos Clubes próximos, além de incentivo a variados
esportes aquáticos; e restauração da Colônia de Pescadores Z-13.
A princípio, é possível definir estas benfeitorias como um legado viabilizado pelo
megaevento à Lagoa Rodrigo de Freitas. Todavia, somente com o passar do tempo,
diminuindo o clima de euforia, ficará nítido se a própria comunidade local conseguiu
construir um entendimento sobre estes benefícios serem um legado proveniente dos Jogos
Olímpicos. Cabe destacar, sob uma análise da mídia nacional e internacional e de presença
de público nas competições, os Jogos Olímpicos Rio 2016 foram um sucesso indiscutível.
93
No entanto, cabe uma análise mais sólida a respeito do clima eufórico e festivo que
instalou-se na cidade, devido a realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Este clima pode
influenciar nas percepções dos stakeholders locais, potencializando os possíveis benefícios e
minimizando os questionamentos sobre os impactos negativos dos jogos. Neste sentido, para
compreender de forma mais assertiva qual o nível de influência deste fator na percepção dos
stakeholders locais à respeito dos benefícios gerados pelos Jogos Olímpicos Rio 2016,
sugere-se uma nova pesquisa empírica com os transeuntes e empreendimentos da Lagoa
Rodrigo de Freitas a fim de verificar se o grau de satisfação em relação ao evento se mantem
ou muda conforme o passar do tempo.
É perceptível que os megaeventos, detentores de complexidade e magnitude, são
grandes produtores de impactos na localidade na qual ocorrem. Todavia, foi possível
compreender que um megaevento raramente produzirá somente benefícios ou somente
prejuízos. Em sua maioria, os megaprojetos promovem, mutuamente, impactos positivos e
negativos no que se referem aos stakeholders locais e as suas múltiplas e distintas
percepções. Sendo assim, clarificando o quarto OE, faz-se necessário que a gestão de um
megaevento seja pensada e acompanhada por práticas de gerenciamento de stakeholders, a
fim de viabilizar uma execução efetiva do megaprojeto.
Vale destacar que o próprio entendimento sobre projetos complexos e como gerenciá-
los vem se consolidando nos últimos anos e carece de aprofundamento através de outros
vieses além da gestão dos stakeholders. Sendo assim, estabelece-se aqui uma centelha para
futuros estudos a respeito da temática projetos complexos.
Ainda sobre as distintas perspectivas de análise sobre o tema em questão, também se
faz necessário realizar pesquisas com o Comitê Organizador Rio 2016 para analisar através
da percepção dos gestores do megaevento, como se desenvolveu a compreensão e aplicação
das práticas de gerenciamento de projetos no que tange a gestão de stakeholders.
O presente estudo consolida como aprendizado a relevância de se analisar a
heterogeneidade entre stakeholders locais, pois as partes interessadas podem possuir
múltiplas e distintas percepções. No entanto, para este fim, é necessário desmembrar o
macro diagnóstico sobre um megaprojeto em micro núcleos, assim como ocorreu neste
estudo: a fragmentação, neste caso, territorial de uma das áreas de competição dos Jogos
Olímpicos Rio 2016, a Lagoa Rodrigo de Freitas, em 7 microrregiões de análise: Parque dos
Patins, Leblon, Ipanema, Jardim Botânico, Corte do Cantagalo, Curva do Calombo e Fonte
da Saudade.
94
A fragmentação de um megaprojeto/megaevento em núcleos menores possibilita
compreender intimamente a heterogeneidade entre as partes interessadas locais e analisar
com solidez quais as práticas de gerenciamento de stakeholder devem ser aplicadas,
contribuindo para a melhor efetividade dos resultados pretendidos.
95
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33, n. 3, p. 537–548, abr. 2015.
YIN, R.K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 5ª edição. Porto Alegre: Bookman,
2015.
ZHAI, Li; XIN, Yanfei; CHENG, Chaosheng. Understanding the value of project
management from a stakeholder's perspective: Case study of mega‐project
management. Project Management Journal, v. 40, n. 1, p. 99-109, 2009.
ZIMBALIST, A. Circus Maximus: the economic gamble behind hosting the olympics
and the world cup. Washington, DC: Brookings Institution Press, 2015.
101
APÊNDICE 1
Diário de Bordo
Data Ação Descrição
26/jul
Observação do
Campo - evidências
empíricas + conversas
informais
Caminhei do Baixo Bebê (Fonte da Saudade) via Jardim Botânico até o Parque
dos Patins. Conversei informalmente com alguns estabelecimentos. O
empreendimento de brinquedos infláveis foi bem solicito e conversou comigo.
Informaram que quando voltasse com a entrevista, fariam a mesma comigo. Fiz
registros com fotos.
04/ago
Observação do
Campo -evidências
empíricas
Caminhei do Parque dos Patins via Ipanema até Baixo Bebê (Fonte da
Saudade). Fiz registros com fotos.
07 a 19
Elaboração e
atualizações do
questionário
O questionário sofreu várias atualizações sendo debatidas com o Orientador,
Prof. Fernando Araujo, e Co-Orientador, Raynne Suzano até chegarmos a
versão 8 e final.
17/ago Pré testagem do
questionário
Pré testagem com 4 questionários (2 empreendimentos (Caipirinha & Filé e
Quiosque do Índio) + 2 transeuntes) No parque dos patins até jardim botânico,
sentido baixo bebê.Com a pré testagem pode se avaliar que o questionário
estava construído de maneira equivocada, pois o entrevistado fica na ansiedade
de comentar o que está achando da Olimpíada. Neste sentido, foi mais coerente
passar as perguntas abertas para uma primeira parte do questionário,
permitindo que o entrevistado realizasse um verdadeiro brainstorming.
Mudamos a escala (0 a 10) que estava gerando confusão. E deixamos o
vocabulário menos técnico.
19/ago Pesquisa de campo Início da pesquisa de Campo. Começando pela Fonte da saudade em direção
Parque dos Patins. Pessoas curtindo a Lagoa e eum clima amistoso e festivo.
20/ago Pesquisa de campo A arena das olímpiadas é dentro do Lagoon e precisa de ingresso para entrar,
ou seja, sem a participação da comunidade ao redor.
21/ago Pesquisa de campo
Bastante chuva pela manhã e horário do almoço. Parque dos Patins desertos.
Dona Nilza mudou completamente o discurso de quando fiz a observação em
04 de agosto. Na ocasião ela achou que eu era da Prefeitura e elogiou muito a
Olimpíada. Mas hoje no dia da pesquisa, ela descontruiu toda essa questão,
informando ser o pior momento em 18 anos de Lagoa.
22/ago Pesquisa de campo Lagoa vazia. Vários empreendimentos fechados. Parque dos patins deserto.
24/ago Pesquisa de Campo Entrevista no Arab de Copacabana
18/set Pesquisa de Campo
Voltei a Lagoa para realizar mais pesquisa. Foco: Fonte da Saudade, Corte do
Cantagalo e Lado do Leblon (Flamengo). Consegui entrevistar
empreendimentos que não tinha coneguido falar antes ou que não tinham
aceitado realizar a entrevista, por exemplo, o Albanir vendedor de coco. Já
tinha abordado-o mas ele não aceitou. Na ocasião da entrevista, foi muito
simpático e conversou bastante, talvez porque ele já não estivesse mais cercado
e com isso os clientes voltaram. Quase 25 estabelecimentos entrevistados.
19/set Pesquisa de Campo
Voltei a Lagoa para conversar com 3 estabelecimentos específicos: Clubes de
Remo do Flamengo, Botafogo e Vasco. Consegui falar com oBotafogo pela
manhã. No Flamengo fui na tenda que tinha no Corte do Cantagalo e me
informaram para ir na sede. Lá informaram que não poderiam ajudar no
momento, só depois do dia 23, quando voltaria ao normal a estrutura de remo.
Consegui a entrevista por email. No Vasco, fui na hora do almoço e precisei
voltar a tarde por volta das 16h. Entrevista riquíssima e mostra contraponto
com a do Botafogo.
26/set Pesquisa de campo -
Colônia de Pesca
Depois de de vários contatos, tentativas de achá-los e imprevistos, como o
falecimento do presidente da colônia Pedro Marins, consegui entrar na colônia
e entrevistá-los (ver audio e fotos). Valeu muito e o interessante que consegui
conversar com eles no primeiro dia que todos realmente voltaram. A grade
ainda estava lá, cercando-os. Eles precisaram soltar a parte de baixo da grade
para abrir uma greta e conseguirem passar. Mas a dificuldade continuava, mas
estavam felizes de conseguir voltar e sem ser no horário de 20h as 05h da
manhã.
102
APÊNDICE 2
Questionário Transeuntes
DADOS PESSOAISCÊ E SMÍLIA1. Nome (opcional): 2. E-mail (opcional):
3. Seu sexo:( ) Feminino. ( ) Masculino.
4. Ano de nascimento:
5. Informe a sua escolaridade:
( ) Da 1a à 4a série do Ensino Fundamental (antigo primário).
( ) Da 5a à 8a série do Ensino Fundamental (antigo ginásio).
( ) Ensino Médio (antigo 2o grau).
( ) Ensino Superior.
( ) Especialização.
( ) Mestrado ou mais.
( ) Não estudou.
6. Local da Lagoa onde foi respondida a pesquisa:
( ) Fonte da Saudade
( ) Curva do Calombo
( ) Corte do Cantagalo
( ) Lado de Ipanema
( ) Lado do Leblon
( ) Lado do Jardim Botânico
( ) Lado Jardim Botianico/Parque dos Patins
7. O(a) respondente é:
( ) Morador(a).
( ) Trabalha pela região. ( ) Transeunte.
( ) Turista.
( ) Outros. Qual?
8. Reside na cidade do Rio de Janeiro, qual bairro?
9. Não reside na cidade do Rio de Janeiro, qual Cidade/UF/País?
10. Quanto tempo frequenta a Lagoa Rodrigo de Freitas:
( ) visitante pontual ( ) até 06 meses. ( ) 06 meses até 01 ano. ( ) de 01 ano até 03 anos. ( ) 03 anos ou mais.
PARTE 1: Práticas aplicadas
11. Como está o seu dia a dia com a realização das Olímpiadas?
12. Você foi afetado com a utilização da Lagoa Rodrigo de Freitas como palco de atividades da Rio
2016? De forma positiva ou negativa? No que afetou você?
13. Caso tenha sofrido algo negativo, houve alguma contrapartida para diminuir esses efeitos por parte
do Comitê Organizador?
14. Qual legado a Olimpíada deixará no seu dia a dia? E para a Lagoa Rodrigo de Freitas e para a
cidade do Rio de Janeiro?
15. Você teve algum conhecimento sobre coisas boas e/ou ruins que aconteceriam a Lagoa Rodrigo de
Freitas devido a Olimpíada 2016?
( )Sim ( )Não
16. Sobre o que ficou sabendo?
PARTE 02: percepção de sucesso.
103
1 – Discordo Totalmente / 2 – Discordo / 3 – Não opino / 4 – Concordo / 5 – Concordo totalmente
Utilize a escala acima para responder as questões de n°16 até 18:
17. A operação da Olimpíada na Lagoa Rodrigo de Freitas foi bem executada pelo Comitê?
1 2 3 4 5
18. Você é beneficiado com a Lagoa sendo palco de atividades das Olímpiadas 2016?
1 2 3 4 5
19. Você está feliz com a Lagoa sendo palco de atividades das Olímpiadas 2016?
1 2 3 4 5
20. Tem alguma informação complementar que gostaria de dizer? Observações Adicionais.
APÊNDICE 3
Questionário Empreendimentos
104
DADOS DA EMPRESA:CÊ E SUA FAMÍLIA1. Nome Empreendimento: 2. E-mail (opcional):
3. Tempo de atuação na Lagoa:
( ) menos de um ano ( ) de 1 até 3 anos ( ) de 3 até 5 anos ( ) mais de 5 anos ( )Temporário:
4. Em qual área da Lagoa está localizado o seu empreendimento?
( ) Fonte da Saudade ( ) Curva do Calombo ( ) Corte do Cantagalo ( ) Lado de Ipanema ( ) Lado do Leblon (
) Lado do Jardim Botânico ( ) Lado Jardim Botânico/Parque dos Patins
5. Setor e Ramo de Atividade:
Setor: ( ) Comércio ( ) Serviços ( ) Outros. Qual?
Ramo: Qual?
6. Tipo de empreendimento:
( ) Formal ( ) Informal
7. Número de funcionários:
( ) Nenhum ( ) Até 03 ( ) De 04 a 06 ( ) De 07 a 10 ( ) De 11 a 15 ( ) De 16 até 49 ( ) De 50 até 99
funcionários ( ) Acima de 99 funcionários.
8. Nome do entrevistado:
9. Qual seu cargo na empresa:
( )Proprietário ( ) Diretor ( ) Gerente ( ) Supervisor ( )Outro: Qual?
10. Informe a sua escolaridade:
( ) Da 1a à 4a série do Ensino Fundamental (antigo primário).
( ) Da 5a à 8a série do Ensino Fundamental (antigo ginásio).
( ) Ensino Médio (antigo 2o grau).
( ) Ensino Superior.
( ) Especialização.
( ) Mestrado ou mais.
( ) Não estudou.
PARTE 1: Práticas aplicadas
11. Como está o seu dia a dia com a Lagoa sendo utilizada como palco de atividades da Olimpíada 2016?
12. O seu negócio foi afetado com a utilização da Lagoa Rodrigo de Freitas na Olimpíada 2016? De
forma positiva ou negativa? No que afetou?
13. Caso seu negócio tenha sofrido alguma ação negativa, houve alguma contrapartida para diminuir
esses efeitos por parte do Comitê Organizador?
14. Você fez alguma solicitação ao Comitê Organizador? Qual seria? Foi atendido?
15. Qual legado a Olimpíada deixarão no seu dia a dia? E para a Lagoa Rodrigo de Freitas e para a
cidade do Rio de Janeiro?
16. Você foi informado pelo Comitê Organizador sobre as coisas BOAS que aconteceriam para o seu
negócio durante os jogos?
( )Sim ( )Não
17. Você foi informado pelo Comitê Organizador sobre as coisas RUINS que aconteceriam para o seu
negócio durante os jogos?
( )Sim ( )Não
18. A sua opinião foi considerada em algum momento no planejamento das ações para realização dos
jogos da Rio 2016 na Lagoa Rodrigo de Freitas?
( )Sim ( )Não
19. Você participou de alguma reunião para falar sobre a Olimpíada da Rio 2016?
105
( )Sim ( )Não
20. Caso a sua resposta tenha sido “SIM” para a pergunta anterior. De quantas reuniões participou?
( ) 01 reunião ( ) de 02 a 06 reuniões ( ) de 06 a 10 reuniões ( ) mais do que 10 reuniões
21. Existe algum canal direto de comunicação com a organização dos jogos para informações sobre a
Olimpíada?
( )Sim ( )Não. Se respondeu “sim”, qual?
PARTE 02: percepção de sucesso.
1 – Discordo Totalmente / 2 – Discordo / 3 – Não opino / 4 – Concordo / 5 – Concordo Totalmente
Utilize a escala acima para responder as questões de n°22 até 27:
22. A operação da Olimpíada na Lagoa Rodrigo de Freitas foi bem executada pelo Comitê?
1 2 3 4 5
23. Você é beneficiado com a Lagoa sendo palco de atividades da Olimpíada 2016?
1 2 3 4 5
24. Você está feliz com a Lagoa sendo palco de atividades da Olimpíada 2016?
1 2 3 4 5
25. O volume de vendas do seu empreendimento teve um aumento com a realização da Olimpíada?
1 2 3 4 5
26. Seus clientes ficaram satisfeitos com a realização da Olimpíada na Lagoa?
1 2 3 4 5
27. A relação estabelecida entre a população local (empreendimentos, clubes, moradores, trabalhadores
e outros) da Lagoa e o Comitê Organizador da Olimpíada (Prefeitura e Rio 2016) antes e durante os
jogos foi positiva?
1 2 3 4 5
28. Tem alguma informação complementar que gostaria de dizer? Observações Adicionais.
APÊNDICE 4
Troca de e-mails sobre o cancelamento de reserva da Federação Internacional de Canoagem: e-mail 1
106
Fonte: Sra. Vivian, proprietária do restaurante Arab (2016).
Troca de e-mails sobre o cancelamento de reserva da Federação Internacional de Canoagem: e-mail 2
107
Fonte: Sra. Vivian, proprietária do restaurante Arab (2016).
APÊNDICE 5
Matéria - Revista Época: Na Lagoa e no Aterro, os Excluídos da Olimpíada Aparecem
108
Autor: Rodrigo Turrer em 15/08/2016
Disponível em: http://epoca.globo.com/esporte/noticia/2016/08/na-lagoa-e-no-aterro-os-excluidos-da-
olimpiada-aparecem.html
O instrutor de windsurfe Gustavo Carilo já treinou uma centena de atletas da vela. Treinador há 40 anos, seus
pupilos ganharam campeonatos sul-americanos e participaram de Jogos Olímpicos. A última atleta olímpica a
passar por suas mãos foi Patrícia Freitas, velejadora brasileira que está competindo na Olimpíada do Rio de
Janeiro. Na tarde do domingo (14), em vez de estar nas arquibancadas montadas na Marina da Glória para as
competições de vela, Gustavo estava nas areias da Praia do Flamengo, a poucos metros da enorme grade que
separa o espaço reservado para as pessoas com ingresso da Rio 2016 daqueles que não têm. “Eu preferi não
participar, sabe? Até porque, daqui dá para ver quase do mesmo jeito ou até melhor”, afirmou Gustavo. “Quem
comprou ingresso comprou. Não custava nada abrir este espaço para atletas antigos e principalmente para os
mais jovens, que nunca mais vão ter a chance de ver os esportes tão de perto. Não tem melhor momento para
incentivar o esporte do que este.”
Assim como Gustavo, a atleta Ana Paula Marques também preferiu ficar nas areias da Praia do Flamengo. Ela
e os familiares de um dos competidores, Ricardo Winicki, o Bimba, 6º lugar no windsurfe. Todos viram o
atleta velejar das areias da Praia do Flamengo. “Ah, não tinha ingresso, ia ser difícil de entrar, muita muvuca,
preferi ficar aqui sentada com o pessoal”, diz Ana Paula. A mulher de Bimba, Paula Newlands, também
escolheu ficar do lado de fora da arena montada na Marina da Glória. “Achei muito complicado para entrar, a
distância para quem vê da praia ou da arquibancada é quase a mesma, a fila ia ser muito grande. Foi mais pelo
sossego mesmo”, diz Paula.
As razões são as mais variadas, mas uma coisa é certa: a Olimpíada do Rio não é exatamente o evento mais
inclusivo do mundo. Ingressos caros, público desengajado, organização incapaz de estimular a participação de
quem não comprou ingresso. São inúmeros os motivos. O resultado tem sido uma Olimpíada bonita de ver pela
televisão, mas com algumas arenas vazias e parte da população alienada do evento.
No Aterro do Flamengo, onde os domingos costumam ser preenchidos por peladas encarniçadas,
churrasquinhos e dezenas de pessoas com cadeiras de praia e caixas de isopor com cerveja, nada mudou.
Mesmo com provas de vela acontecendo a alguns metros de distância, poucos se interessavam. Foi o caso da
vendedora Maria Conceição Batista dos Santos, de 47 anos. “Eu queria participar de verdade, estar lá no vôlei
e no handebol, torcendo pelo Brasil, mas é caro demais. Pobre não tem vez. Então resolvi vir aqui na praia”,
afirma Maria Conceição. Ela mora no Rio de Janeiro há 25 anos. Todo fim de semana vem à Praia do
Flamengo. “Eu digo que esta é a minha praia. Conheci meu marido aqui. Minha filha quase nasceu aqui. Por
isso fiquei feliz quando soube que ia dar para ver alguma coisa da Olimpíada.”
O marido de Conceição, o comerciante José Vital, de 48 anos, esperava mais. “Eu não gostei que cortaram
minha praia no meio com essa grade”, afirma José Vital. “Podiam ter colocado um telão aqui na praia, para
pelo menos a gente saber o que estava acontecendo, já que com o preço do ingresso não dá para ver nada.”
Todo fim de semana, Vital e Conceição se deslocam de Campo Grande para a Praia do Flamengo, “a mais
bonita do Rio, porque é a nossa praia”, diz Vital. Quando ele soube que o Rio sediaria os Jogos, em 2009,
gostou da ideia. “Achei que seria ótimo para o Rio, a cidade ia ficar maravilhosa, mas eu tenho dúvidas agora.
Como vai ser depois da Olimpíada? A Força Nacional vai ficar nas ruas? Agora é legal. O Rio está em alta.
Mas até quando vai durar isso?”
Essa é uma preocupação comum à maioria das pessoas, satisfeitas ou não com o resultado da Olimpíada. A
falta de recursos públicos ameaça a continuidade das obras de melhorias levadas a cabo na cidade nos últimos
anos. “Agora está cheio de policiamento, tudo funcionando direito, ninguém é assaltado, o transporte está
ótimo, mas e depois?”, diz a aposentada Marli Soares. “Isso daí é uma fachada. Pintaram de uma cor bonita
para os gringos verem, colocaram umas placas para os gringos não verem as favelas, é só enfeite.” Moradora
de Santa Teresa há mais de 40 anos, ela diz que todo fim de semana vem para a Praia do Flamengo com a
família. “Olha lá, eles cortaram metade da minha praia para fazer isso daí”, diz Marli, apontando para a cerca
que divide a área destinada aos portadores de ingresso. “Quando o Rio foi escolhido como sede, eu protestei,
porque não queria isto daqui, sabia que não ia servir para nada.”
Quem não tem ingresso mas quer participar tenta se virar como pode para tentar tirar uma casquinha da
Olimpíada no Rio de Janeiro. Não que seja fácil. Mesmo com muitas modalidades olímpicas sendo disputadas
109
ao ar livre, barreiras, painéis e a distância são empecilhos comuns para quem tenta improvisar para assistir aos
Jogos. Na Lagoa Rodrigo de Freitas, a paisagem idílica onde atletas disputam competições de remo e
canoagem é entrecortada por alambrados metálicos e cercas de aço que separam portadores e não portadores de
ingressos. Do lado de fora, muitas pessoas tentavam ver os eventos em pequenas áreas à margem da Lagoa ou
dependurados nas grades de ferro. “É difícil ver, não é? Dessa distância já não daria para ver nada, eles ainda
colocaram uns painéis na linha de chegada, para ninguém ver mesmo”, afirma José Roberto Conceição, que
tentava ver a classificatória nos 1.000 metros de canoagem pelos buracos entre a grade. “É só para acabar com
a diversão. Assim não tem Olimpíada 0800”, diz ele, em referência à gíria carioca para coisas gratuitas.
APÊNDICE 6
110
Matéria - Revista Época: Rio 2016, uma Olimpíada para ficar na memória
Autor: Cristina Grillo em 21/08/2016
Disponível em: http://epoca.globo.com/esporte/olimpiadas/noticia/2016/08/rio-2016-uma-olimpiada-para-ficar-
na-memoria.html
Com sete medalhas de ouro, seis de prata e seis de bronze, o Brasil teve seu melhor desempenho em Jogos
Olímpicos desde sua primeira participação, na Antuérpia, em 1920. A última medalha conquistada, com a
vitória da seleção de vôlei masculino, colocou o país em 13º lugar no ranking da Rio 2016 – um resultado
abaixo do pretendido pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), que esperava terminar a Olimpíada em 10º
lugar. O bom resultado não esconde uma realidade: grande parte do sucesso de nossos atletas dependeu mais de
esforço pessoal que do apoio do Estado.
Foram dias emocionantes. O choro da judoca Rafaela Silva ao conquistar o ouro; a multidão carregando o
barco das velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze, com as duas comemorando lá no alto; o jogador de vôlei
Lucarelli, o caçula da seleção, beijando os pés do líbero Serginho, o decano do time; o boxeador Robson
Conceição caindo de joelhos ao fim da luta que lhe deu o alto do pódio são algumas das cenas que não se
apagarão de nossas mentes.
Foram também dias em que cariocas e visitantes se reencontraram com uma cidade que andava meio
maltratada. O Boulevard Olímpico recuperou a zona portuária; o Parque Olímpico, se bem aproveitado no
futuro, poderá se tornar outro grande ponto de atração no Rio. Houve melhorias inegáveis em termos de
mobilidade na cidade.
Houve excessos em alguns momentos – era desnecessário vaiar o atleta francês Renaud Lavillenie quando ele
disputava com o brasileiro Thiago Braz o ouro no salto com vara. Mas, de modo geral, nossa torcida também
merece ouro. Onde mais uma esgrimista japonesa que acerta um golpe é saudada entusiasticamente com gritos
de “sushi, sushi”? Ou, na falta de por quem torcer, gritar freneticamente “juiz, juiz” para incentivar o único
brasileiro dentro do ringue de boxe? Ou ainda, diante do time chinês atordoado com a equipe americana de
basquete, gritar entusiasmadamente “vamos virar, China”, quando o time asiático perdia por quase 50 pontos?
Foram sete anos de espera pela Olimpíada. Foram 16 dias de recordes, vitórias, derrotas, alegrias. Uma
temporada inesquecível, que nos dá vontade de dizer: fica, Rio 2016, não vai embora, não.
APÊNDICE 7
111
Matéria - Site Alemão DW: Imprensa europeia destaca desânimo com a Rio 2016
Autor: Luisa FreyGrillo em 27/04/2016
Disponível em: http://www.dw.com/pt-br/imprensa-europeia-destaca-desânimo-com-a-rio-2016/a-19219192
A cem dias dos Jogos Olímpicos de 2016, o megaevento esportivo no Rio de Janeiro ganhou destaque na
imprensa europeia nesta quarta-feira (27/04). Um dos principais aspectos destacados foi a atual crise
econômica e política enfrentada pelo Brasil, que afeta o ânimo em relação aos Jogos.
O jornal alemão Die Welt lembra o "júbilo" na América Latina quando a cidade maravilhosa foi escolhida para
sediar o evento, em 2009. "Mas hoje o coração do Rio bate diferente. O êxtase transformou-se em desilusão; a
euforia, em desânimo", escreve o jornalista Jens Hungermann. Ele aponta a crise econômica e política como
motivo para a mudança de clima em relação aos Jogos.
"Inicialmente vistos como uma benção, os primeiros Jogos Olímpicos estão ameaçando se tornar uma maldição
para a cidade-sede em estado de choque", escreve o britânico The Guardian, seguindo a mesma linha do Die
Welt. Entre os problemas que abalam a expectativa dos cariocas e dos brasileiros em relação aos Jogos estão o
processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que dividiu o país, o maior escândalo de corrupção da
história do Brasil e a mais acentuada queda do PIB em décadas, afirma o The Guardian.
O italiano Corriere della Sera, por sua vez, começa falando dos Jogos com otimismo, dizendo que,
diferentemente da Copa do Mundo de 2014, desta vez o Brasil não está despreparado – com 98% da
infraestrutura olímpica pronta, segundo dados oficiais.
"Os contornos dos Jogos, no entanto, seguem sendo um enigma", pondera o jornal. "Quem está acompanhando
a confusão da política brasileira vai se perguntar quem será o chefe de Estado a declarar abertos os 31ºs Jogos
da era moderna [...] Justamente por esse motivo, a contagem regressiva dos cem dias cai em certo
desinteresse."
O Le Monde afirma que, a cem dias da cerimônia de abertura, em 5 de agosto, o atraso de algumas obras, como
a Linha 4 do metrô, "fonte habitual de ansiedade do Comitê Olímpico Internacional, não é nem de longe o
único desafio que o Rio terá que superar".
Zika, Guanabara e ciclovia. Várias das publicações apontam o atual surto de zika como algo que pode ter um
efeito negativo sobre o megaevento esportivo. O Le Monde afirma que o vírus provocou "uma espécie de
histeria global", levando turistas a cancelarem suas viagens e preocupando atletas. O The Guardian afirma que
se trata da "pior crise de saúde na região de que se tem lembrança".
A maioria dos jornais também menciona a queda de um trecho da ciclovia Tim Maia, que deixou dois mortos
na semana passada. O Die Welt, por exemplo, classifica o desastre ocorrido a tão poucos dias dos Jogos
Olímpicos como um "sinal devastador". A obra deveria ser parte do legado olímpico.
Além da queda do trecho da ciclovia, o The Guardian cita o dado revelado nesta semana de que 11 operários
morreram nas obras da Rio 2016 – comparados a oito na Copa do Mundo de 2014 e nenhum nos Jogos
Olímpicos de Londres, em 2012.
A Baía de Guanabara também é citada como exemplo de fracasso dos preparativos. O jornal britânico destaca
que o local, que será palco de competições de vela, "fede a excrementos". O Corriere della Sera, por sua vez,
aponta a despoluição do local antes dos jogos como uma das promessas que o Rio não conseguirá cumprir.
Após chamar a baía de "cloaca", o tabloide alemão Bild traz uma montagem de um cartão postal do Rio de
Janeiro com as palavras Grüße aus Rio de SCHANDiero (algo como "Saudações do Rio Vexameiro", fazendo
um trocadilho com a palavra Schande, que significa vexame ou vergonha).
O jornal também destaca a queda de uma parte da ciclovia e a morte de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas.
"Ainda mais dramática é a qualidade da água na área das competições de vela, a linda Baía de Guanabara",
afirma a reportagem, intitulada "Cem dias antes dos Jogos – e ainda há mil problemas".
APÊNDICE 8
112
Matéria - Site Alemão DW: Opinião: Jogos Olímpicos libertam o Rio
Autor: Astrid Prange em 21/08/2016
Disponível em: http://www.dw.com/pt-br/opinião-jogos-ol%C3%ADmpicos-libertam-o-rio/a-19487677
Welcome to hell – bem-vindos ao inferno: com essa saudação, ainda em fins de junho policiais protestavam no
Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. Sua inquietante mensagem era: não vamos cuidar para a segurança
de vocês, pois há meses não recebemos salário.
Os espectadores dos Jogos Olímpicos não se deixaram intimidar por essas boas-vindas. Pelo contrário:
centenas de milhares de turistas e atletas ousaram entrar no inferno da metrópole brasileira. Apesar do medo do
terrorismo, apesar do zika, apesar da criminalidade.
E – milagre! – eles se sentem bem. Eles desfrutam da hospitalidade e cultura brasileiras, das praias e da
natureza – e dos primeiros Jogos na América do Sul.
O Rio de Janeiro simboliza céu e inferno, na mesma medida. Nenhuma outra cidade do Brasil reúne em si, em
tamanha proporção, contradições e contrastes tão extremos: taxas de assassinato assustadoramente altas frente
a frente com uma irrefreável alegria de viver.
As temperaturas no inferno do Rio já vão baixando. Delegações e turistas deixam a cidade, só na segunda-feira
(22/08) são esperados 85 mil passageiros no aeroporto. Depois dos Jogos Paralímpicos, em setembro a chama
olímpica se apaga definitivamente.
Porém, mesmo que após os Jogos os problemas da cidade permaneçam os mesmos de antes, mesmo que a
criminalidade, caos do trânsito, hospitais desmoronando e policiais sub-assalariados sigam marcando o
quotidiano carioca, a cidade mudou: uma nova autoconfiança tomou conta de seus cidadãos.
É o justo orgulho de, sob as circunstâncias mais difíceis, ter realizado o maior evento esportivo do mundo, com
mais de 10 mil atletas e 500 mil espectadores. É a satisfação de, após anos dos distúrbios causados pelas
grandes obras, reconhecer um novo rosto da cidade. E é a alegria pelo reconhecimento mundial desse ato de
força organizatório, esportivo e social.
Os Jogos Olímpicos libertaram o Rio. Libertaram do difundido complexo de inferioridade brasileiro de que no
exterior tudo funcione melhor do que no próprio país. Libertaram do trauma de que a pobreza e a violência
minam a beleza da cidade. Libertaram-no da ilusão de que os visitantes estrangeiros, sobretudo da Europa e
dos Estados Unidos, se comportem sempre melhor do que os próprios conterrâneos.
Os nadadores americanos não contavam com essa nova autoconfiança. Eles fracassaram deploravelmente com
sua estratégia de simular um assalto – fato alegadamente quotidiano no Rio –, para assim desviar a atenção da
própria má conduta. O incidente é mais constrangedor ainda, por partir justo de atletas olímpicos um
comportamento tão desleal perante seus anfitriões.
Também o Comitê Olímpico Internacional (COI) precisa repensar. Enquanto houver em seus quadros membros
como Joseph Hickey, que vendem ingressos ilegalmente e a preços exorbitantes, o comitê coloca em jogo sua
autoridade. Ao que parece, no inferno do Rio as coisas são mais justas do que no céu olímpico do COI, o qual
se deleita na Suíça com lucros não tributados, enquanto exige que os contribuintes brasileiros compensem os
déficits com seus impostos.
Assim como a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, também os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro
desmascararam a dupla moral dos supostos guardiães do espírito olímpico e da lealdade esportiva: eles estão
muitos anos-luz distantes dos celestiais ideais olímpicos. Obrigado, Rio, e bem-vindos ao mais maravilhoso
inferno do planeta!