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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E TURISMO
DEPARTAMENTO DE TURISMO
CURSO DE TURISMO
VINÍCIUS DA CRUZ VIEIRA
FESTAS RAVE E TURISMO: FATORES MOTIVACIONAIS DOS
FREQUENTADORES DE FESTIVAIS DE MÚSICA ELETRÔNICA
NITERÓI
2013
VINÍCIUS DA CRUZ VIEIRA
FESTAS RAVE E TURISMO: FATORES MOTIVACIONAIS DOS
FREQUENTADORES DE FESTIVAIS DE MÚSICA ELETRÔNICA
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao
Curso de Graduação em Turismo do Departamento
de Turismo da Universidade Federal Fluminense,
como requisito final de avaliação para obtenção do
grau de Bacharel em Turismo.
Orientador: Prof. Msc. Bernardo Lazary Cheibub
NITERÓI
2013
VINÍCIUS DA CRUZ VIEIRA
FESTAS RAVE E TURISMO: FATORES MOTIVACIONAIS DOS
FREQUENTADORES DE FESTIVAIS DE MÚSICA ELETRÔNICA.
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao
Curso de Graduação em Turismo do Departamento
de Turismo da Universidade Federal Fluminense,
como requisito final de avaliação para obtenção do
grau de Bacharel em Turismo.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________________
Presidente: Prof. Msc. Bernardo Lazary Cheibub. - Orientador
Universidade Federal Fluminense
__________________________________________________________
Membro: Profª. Msc. Valéria Lima Guimarães
Universidade Federal Fluminense
__________________________________________________________
Membro:
NITERÓI
2013
A todos aqueles que conseguem sentir o poder e a
energia da música, seja ela qual for; e também á
aqueles que, achando loucura ou não, apoiaram a
escolha desse tema.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço a Deus por ter me dado foco, força e fé para enfrentar
os muitos desafios e barreiras que encontrei durante o projeto.
Aos meus pais, Helio e Dalva, que sempre me apoiaram em todos os momentos e
de todas as formas, incentivando meus estudos desde o colégio até o final da minha
faculdade.
À Ariel Porto, que esteve ao meu lado durante toda a minha pesquisa, ouvindo
minhas reclamações, desânimos e medos. Sem o incentivo dela, talvez eu tivesse
até desistido de ir ao festival pesquisado.
Aos meus companheiros de festival (que conheci no dia da viagem), Rafael de
Andrade, Leonardo Menezes, Pedro Záu e Lélis Yamaguti, em especial esse último
que foi quem me convidou na véspera do evento para embarcar de carona com
aquele grupo de desconhecidos que salvou minha viagem.
Aos meus colegas e amigos da turma 1.09 que sempre me incentivaram a falar
sobre algo que eu tivesse tamanha paixão como tenho pelas festas rave.
A todos os professores que, direta ou indiretamente, me ajudaram nesta pesquisa e
ao longo de toda a faculdade.
A todos os familiares que sempre torceram por mim, em especial meus primos
Thiago Wentzel e Rodrigo Wentzel, que contribuíram com muitas ideias e fontes
relacionadas ao tema; e a minha tia Célia Wentzel que, como boa professora que é,
foi peça indispensável no meu desenvolvimento educacional.
"E aqueles que foram vistos dançando foram
julgados insanos por aqueles que não podiam
escutar a música.”
Friedrich Nietzsche
RESUMO
O projeto pretende observar e analisar diferentes motivações do turista que vai a
festivais de música eletrônica (mais especificamente o festival O Mundo Imaginário),
objetivando entender o que o leva a buscar esse tipo de evento, em detrimento de
outros que poderiam ser mais acessíveis, baratos ou frequentes. Este estudo
dialoga com campos de estudo como comportamento do consumidor, antropologia,
sociologia, etnografia, lazer, eventos, dentre outros, em uma tentativa interdisciplinar
de pesquisa. O campo investigado foi o festival O Mundo Imaginário, que ocorreu
em outubro de 2012, na cidade de São Thomé das Letras, Minas Gerais. O período
de pesquisa compreendeu o ano de 2011, quando se iniciou o projeto que deu forma
aos estudos a serem realizados no ano posterior, inclusive com a pesquisa de
campo no evento. Por fim, no primeiro semestre de 2013, foi realizada a etapa final
deste trabalho, com a análise dos resultados obtidos com a investigação, o que nos
levou a algumas conclusões, como o perfil básico do turista, seu histórico em festas
rave, viagens ligadas a elas, e suas motivações para irem às mesmas.
Palavras-chave: Festivais de música eletrônica; Festa; Lazer; Turismo.
ABSTRACT
The project aims to observe and analyze different motivations of tourists that goes to
electronic music festivals (more specifically the festival "O Mundo Imaginário") in
order to understand what takes its visitors to pursue this type of event, at the
expense of others who could possibly be more accessible, affordable and frequent.
This study speaks to fields of study such as consumer behavior, anthropology,
sociology, ethnography, leisure, events, among others, in an attempt interdisciplinary
research. The field of research was the festival “O Mundo Imaginário”, which
occurred in October 2012, in São Thomé das Letras, Minas Gerais. The period of
research included the year 2011, when had started the project that formed the
studies to be conducted in the next year, where was conducted a field survey during
the event. Finally, in the first half of 2013, was held the final stage of this work,
analyzing the results obtained with the investigation, which led us to some
conclusions, as the basic profile of the tourist, its history in rave parties, trips related
to them, and their motivations to go to them.
Keywords: Electronic music festivals, Party, Leisure, Tourism.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Linha do tempo sobre dados históricos do Psy Trance................................ 24
Figura 2: Decoração do palco principal no festival O Mundo Imaginário......................26
Figura 3: Pesquisa de campo.......................................................................................33
Figura 4: Mapa ilustrativo e distâncias aproximadas....................................................34
Figura 5: Line up do palco principal..............................................................................35
Figura 6: Infraestrutura do festival................................................................................36
Figura 7: Área de acampamento...................................................................................37
Figura 8: Mapa mental para definição dos perfis de participantes................................40
Figura 9: Dados sobre o perfil do frequentador do festival............................................41
Figura 10: Principais centros emissores de público para o festival...............................42
Figura 11: Número de Incidências e percentual de motivações do turista....................43
Figura 12: Banheiros precários e inacabados...............................................................48
Figura 13: O contorcionista dançarino...........................................................................50
Figura 14: Fogueira na primeira noite de evento...........................................................51
Figura 15: Dançando no palco Woodtsock....................................................................52
Figura 16: Momentos antes da chuva intensa...............................................................55
Figura 17: Nascer do sol no segundo dia de evento.....................................................56
Figura 18: A vibe da rave fazendo todos dançarem......................................................58
Figura 19: Espaço para descanso (Chill Out)................................................................59
Figura 20: Dentro da pista principal...............................................................................63
Figura 21: Visão do DJ para a pista..............................................................................64
Figura 22: A música fora dos palcos.............................................................................66
Figura 23: Filas imensas na entrada.............................................................................69
Figura 24: Ravers pegando carona no caminhão para irem embora............................70
Figura 25: Ravers dançando e tirando fotos.................................................................74
Figura 26: Raves a céu aberto, herança de Woodstock...............................................78
Figura 27: Pista de Dark Trance...................................................................................80
Figura 28: Dança na lama.............................................................................................84
Figura 29: Mãe e filha no festival..................................................................................85
Figura 30: Decoração com temática religiosa...............................................................88
Figura 31: Pintura corporal com Urucum......................................................................89
Figura 32: Tatuagem no ombro.....................................................................................90
Figura 33: Hippie vendedor de artesanatos..................................................................92
Figura 34: Alguns dos artesanatos vendidos durante o evento....................................93
Figura 35: Texto exposto no palco principal.................................................................97
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................10
2 A MÚSICA ELETRÔNICA E A EXPERIENCIA TURÍSTICO-FESTIVA........13
2.1 LAZER E FESTA.........................................................................................13
2.1.1 Turismo de Eventos e Turismo Festivo....................................................18
2.2 O PSYTRANCE...........................................................................................21
2.3 OS FESTIVAIS DE MÚSICA ELETRÔNICA...............................................25
2.3.1 O Início das Raves no Brasil....................................................................28
3 O MUNDO IMAGINÁRIO E AS MOTIVAÇÕES............................................32
3.1 FUGA DA ROTINA......................................................................................45
3.2 DIVERSÃO..................................................................................................48
3.3 CONTATO COM A NATUREZA..................................................................52
3.4 ESPIRITUALIDADE.....................................................................................56
3.5 MÚSICA E DANÇA......................................................................................60
3.6 CONHECER NOVOS LUGARES................................................................67
3.7 STATUS E PRESTÍGIO...............................................................................72
3.8 MOVIMENTOS DE CONTRA-CULTURA....................................................76
3.9 SENSO DE COMUNIDADE.........................................................................81
3.10 DIVULGAÇÃO E APRECIAÇÃO ESTÉTICA.............................................87
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................94
REFERÊNCIAS.................................................................................................98
APÊENDICE A - ROTEIRO DAS ENTREVISTAS..........................................104
APÊNDICE B - ENTREVISTA COM YG ALBUQUERQUE, DJ DE MÚSICA
ELETRÔNICA E EMBAIXADOR DA CIDADE DE NITERÓI NO RIO MUSIC
CONFERENCE................................................................................................104
APÊNDICE C – DEMONSTRATIVO DAS RESPOSTAS OBTIDAS..............108
10
1 INTRODUÇÃO
O trabalho aqui apresentado almeja, por meio da análise das festas rave,
mais especificamente o festival O Mundo Imaginário, identificar e analisar as
motivações dos turistas que frequentam esse tipo de evento. Desta forma, pretende-
se, através dos resultados obtidos, aperfeiçoar o trabalho dos profissionais de
eventos ligados às festas rave que ao conhecerem melhor os interesses de seu
público, poderão focar seus esforços durante o planejamento e organização dos
festivais, priorizando os pontos que mais atraem turistas para estes eventos,
maximizando, assim, a demanda do público por eventos como estes, e
consequentemente, desenvolvendo a oferta, através da criação de mais festivais,
todos organizados de forma profissional e regulamentada, de acordo com os
conhecimentos que o estudo do turismo pode proporcionar.
A escolha do tema se justifica pelo crescente tendência do turismo de eventos
no Brasil, conforme reportagem do Jornal do Brasil em novembro de 2012, citando
uma pesquisa intitulada O Mercado de Congresso no Brasil, produzida pela Eventos
Expo Editora, que alega que, em 2012, o mercado de eventos apresentou
crescimento de 78% em relação a 2011, ano em que o setor trouxe de divisas para o
país cerca de R$ 32 bilhões, valor esse que, por sua vez, foi 70% superior ao ano de
2010 (JORNAL DO BRASIL, 2012).
Ainda sobre o ano de 2012, a 9ª Pesquisa Anual de Conjuntura Econômica do
Turismo (PACET), realizada pela Fundação Getúlio Vargas, aponta que as
empresas organizadoras de evento cresceram 23,3%, aparecendo à frente de
agências de viagens que tiveram crescimento de 21,9% e promotores de feiras, com
aumento de 14,9%. As conclusões desta pesquisa apontam que no Brasil, “nos
últimos oito anos, o número de eventos internacionais aumentou de 28 para 360.
Isso dá ao país o quinto maior crescimento na captação de eventos internacionais
em todo o mundo, superando países como Itália, França, Alemanha e Reino Unido.”
(PORTAL BRASIL, 2013). Ainda segundo a FGV, este crescimento se deve à
exposição positiva que o país vem tendo em decorrência dos megaeventos que já
ocorreram ou estão confirmados para ocorrer, como os Jogos Militares, O Rio+20, a
Copa do Mundo e as Olimpíadas.
11
Desta forma, agências produtoras de festivais de música eletrônica também
têm sido atraídas por este cenário progressista em que o país se encontra em
relação aos grandes eventos. O site Psicodelia.org enfatiza este cenário promissor,
dizendo que “somente em 2011, o país recebeu mais de 500 apresentações de
bandas, cantores e grupos internacionais - seja em shows individuais ou nos
grandes festivais realizados em solo brasileiro. O aumento foi de 116% em
comparação a 2010, quando os brasileiros puderam acompanhar cerca de 230
shows.” Na mesma reportagem, publicada no início do ano de 2012, falam sobre um
claro exemplo desta atração que o país vem oferecendo para os profissionais deste
setor: a criação de uma filial brasileira da ID&T1, produtora de um dos mais famosos
festivais de música eletrônica do Mundo, o Tomorrowland2. Esta multinacional dos
eventos firmou naquele ano uma parceria com a Playcorp, agência que atua há 28
anos na criação e organização de alguns dos maiores eventos do Brasil, e juntas
prometeram “promover por aqui os principais festivais do portfólio da ID&T e realizar
iniciativas que incentivem a troca de conhecimento e experiências no universo
musical. Além disso, esta parceria trará para um evento inédito e exclusivo, cujo
nome será One Rio; e ainda uma edição brasileira do Mysteryland, o festival mais
tradicional da empresa, com 18 anos de história, contando hoje com mais de 60 mil
visitantes. Fatores como estes são os responsáveis pela escolha deste tema para a
pesquisa, que pretende ser responsável pela divulgação de informações que
propiciem para os profissionais de eventos, comunicação, marketing, entre outros
setores envolvidos na realização de festivais como estes, um melhor entendimento
dos fatores que atraem os turistas. As conclusões obtidas fornecerão um
conhecimento sobre seu público alvo que poderá ajudar a desenvolver o segmento
de festivais de música eletrônica, que possuem grande relevância para o setor de
eventos, como se pode perceber na citação feita por Chiaverini (2009), repórter e
escritor do livro Festa Infinita: o entorpecente mundo das raves, em seu site de
promoção do mesmo, a respeito das festas rave:
1 Empresa holandesa fundada em 1992 e responsável pela organização dos mais conceituados
festivais de música eletrônica do mundo. (PSICODELIA.ORG, 2012) 2 Festival de música eletrônica que acontece uma vez por ano na cidade de Boom na Bélgica. Esse
festival é considerado o maior de música eletronica do mundo. O festival é famoso por sua decoração, que envolve fogos de artifício, fontes de água e contos de fadas. (ENTRE SONHOS E ENCONTROS, 2013)
12
Apenas no Brasil atrai cerca de 500 mil jovens por mês. No ano de 2007 foram 1.400 festas, promovidas em sítios, praias desertas e clareiras no meio do cerrado. Raves que chegam a reunir 30 mil pessoas em modernos rituais de êxtase coletivo. (CHIAVERINI, 2009)
Por fim, os resultados obtidos poderão desmistificar a polêmica que envolve
estes festivais, que são vistos por boa parte da sociedade civil com preconceito,
devido à falta de conhecimentos aprofundados sobre eles, somado a um
sensacionalismo criado por parte da mídia que, através de reportagens de cunho
pejorativo, fez com que muitos vejam as festas rave como algo sem sentido, sem
objetivos e ideologias, sendo considerados até mesmo prejudiciais aos seus
participantes e à sociedade.
Este documento será segmentado em quatro capítulos, incluindo a introdução
e as considerações finais. No capítulo 2, abordaremos a relação entre os festivais de
musica eletrônica, o turismo e o segmento de eventos. Nele, será contada a história
deste tipo de festa, suas origens no Brasil e no mundo, seus principais estilos
musicais, entre outras questões. Serão ainda apresentados dados sobre a cena
eletrônica nacional e mundial, e sobre a relação entre lazer e turismo, com foco em
eventos de entretenimento, não só de musica eletrônica, mas festividades em geral.
No capítulo 3, cujo tema será a pesquisa de campo realizada no festival O
Mundo Imaginário, descreveremos a vivência do pesquisador no festival, através de
uma narração com inspiração etnográfica, fazendo citações a tudo que foi ouvido e
observado durante estes dias em o autor esteve presente no referido evento e na
cidade onde este foi realizado: São Thomé das Letras. Falaremos também sobre as
hipóteses motivacionais definidas no inicio do estudo, e compararemos as visões
antes e depois da pesquisa, explicitando quais hipóteses se confirmaram, quais não
foram mencionadas durante o festival e eventualmente, quais foram acrescentadas
durante ele.
13
2 A MÚSICA ELETRÔNICA E A EXPERIÊNCIA TURÍSTICO-FESTIVA
Neste capítulo, faremos uma introdução com o objetivo de proporcionar
melhor entendimento do que sejam os festivais de música eletrônica, o objeto de
estudo deste trabalho. A principio, abordaremos o tema lazer, definindo-o e
segmentando-o, através de teorias de autores ligados a esta área, e dando
exemplos que relacionam esta atividade com os festivais de música, sejam
eletrônicos ou não. Será salientada também a importância de cada uma das formas
de lazer, dentro das divisões propostas pelos autores aqui estudados. A seguir, nos
aprofundaremos em uma das muitas formas existentes de lazer: a festa. Dentro
deste, falaremos sobre a relação do homem com o ato de festejar, através da
história da civilização, e como isto influencia em sua qualidade de vida e equilíbrio
para a pesada rotina na qual muitos vivem.
Por fim, descreveremos um estilo específico de festa, as raves. Falaremos
sobre a história destes eventos desde sua criação, passando pelas adaptações
ocasionadas por características de culturas locais diversas, definindo pontos como o
estilo musical mais comum nestes eventos, a forma de realização dos mesmos e
como se fez o processo da chegada e desenvolvimento deste no Brasil.
2.1 LAZER E FESTA
Atualmente, a maioria dos seres humanos vive em um constante ritmo de vida
acelerado, devido a situações que vão, desde suas jornadas de estudo e trabalho
até a ocupação e preocupação proporcionadas pelas obrigações sociais e familiares.
Para manter o equilíbrio mental e psicológico, é importante que busquemos
momentos de lazer, conforme exposto e assegurado pela própria Constituição
Federal Brasileira de 1988 que, no capítulo dois, artigo sexto, declara que “são
direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer
[...] na forma desta Constituição.” Seja qual for a atividade escolhida, é importante
que se reserve um tempo para a fuga da rotina. Magnani (1988) aponta que é
possível que se disponibilize este tempo, que pode variar de acordo com as culturas
e as classes, mas que em todas elas se faz presente:
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É bem verdade que nas atuais condições de vida dos trabalhadores nos grandes centros urbanos, seu tempo, energia e recursos são, em grande parte, utilizados para assegurar a sobrevivência. No entanto, sempre sobra disposição, um tempinho e uns trocados para o baile ou circo, no sábado à noite, para a partida de futebol das manhãs de domingo, a sinuca no fim de tarde, a festa de aniversário ou casamento de algum colega e às vezes até para uma rapidíssima excursão à Aparecida do Norte, ou então a Praia Grande, na festa de Iemanjá. (MAGNANI, 1998, p. 19)
É importante notar que o lazer não deve ser visto de forma generalizada,
como sendo igual para todo cidadão. Cada pessoa tem sua individualidade e suas
preferências, e isso engloba suas escolhas sobre o que considera lazer. Para
alguns, uma caminhada ecológica pode ser um momento prazeroso e revigorante,
enquanto para outros pode ser exaustivo e desagradável. Cada um pode e deve
definir suas preferências neste quesito, buscando sua satisfação e
consequentemente, formando sua própria identidade, que os levará a fazer parte de
grupos específicos que têm os mesmos interesses e “ocupações” em seus
momentos de lazer, conforme Cheibub (2009, p. 21) demonstra ao dizer que “o lazer
pode, portanto, ser tempo/espaço para manifestações „livres‟ em que as primordiais
„funções‟ sejam elas a busca pelo prazer e pelo vínculo social – a sociabilidade
identitária”. Tendo em vista a importância do lazer para o homem, podemos seguir
para a definição de lazer, conforme o que apontam os acadêmicos. Em uma
descrição clássica de Dumazedier (1973), o lazer é definido da seguinte forma:
Um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou ainda para desenvolver sua formação desinteressada, sua participação social voluntária, ou sua livre capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais (Dumazedier 1973, p. 34 APUD CHEIBUB, 2009, P. 17).
Anos depois, o mesmo autor afirma que o lazer na sociedade pode ser
dividido em três categorias, sendo elas a função de descanso, onde o lazer age
como um reparador das deteriorações físicas e nervosas provocadas pelas tensões
resultantes das obrigações cotidianas e do trabalho; a função do divertimento,
recreação e entretenimento, a qual tem com objetivo compensar os estresses do
cotidiano e fugir da rotina, através do divertimento; e por fim, a função de
desenvolvimento, onde o lazer atua “como forma de desenvolvimento pessoal e
social, incita a adotar atividades ativas na utilização de fontes diversas de
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informação, suscita os comportamentos livremente escolhidos e que visem ao
completo desenvolvimento da personalidade” (DUMAZEDIER, 2004 apud ALVES:
RAIMUNDO, 2009, p.11). Em alguns casos, essas formas podem ocorrer
mutuamente, sendo tanto uma oportunidade de descansar, como um momento de
diversão e de desenvolvimento pessoal, cultural e social.
Um exemplo disso é o caso de nosso estudo, as festas rave, que podem ser
consideradas um exemplo desses momentos de lazer que são um misto das três
funções apresentadas no parágrafo anterior. Em uma festa deste estilo, os
participantes chegam a passar não apenas horas, mas até mesmo dias, nos quais
inúmeras atividades podem ser feitas, e cada uma delas pode se enquadrar em um
dos estilos de lazer dos quais Dumazedier nos fala. Atentemos para o seguinte
exemplo: um destes ravers3, em um momento de descanso entre a apresentação de
um DJ4 e outro, ou mesmo durante a viagem que o leva de suas cidades até o local
do evento, podendo ser feita de ônibus, avião ou carro, aproveita para descansar,
observar a paisagem, se distrair das preocupações cotidianas e recuperar as
energias gastas durante a semana. Esse mesmo participante, pode em outro
momento retornar à pista e se divertir de diversas formas, seja conversando com
alguns de seus amigos, seja dançando ao som do estilo frenético da música
eletrônica, ou simplesmente observando tudo que ocorre ao redor e ouvindo o som
ali presente. Por fim, esse turista hipotético pode participar de oficinas, workshops,
sessões de cinema ou palestras, atividades culturais que frequentemente ocorrem
nos grandes festivais e podem abordar temas que vão desde sustentabilidade
ambiental até a prática do respeito às diferenças entre as pessoas. Temas como
esses são importantes para o desenvolvimento do cidadão, aprimorando as
condições não só da sua qualidade de vida, como a de todos que pertencem à sua
comunidade. Este exemplo demonstra que em uma mesma festa podemos
encontrar as três formas de lazer: o descanso, o divertimento e o desenvolvimento.
3 Ravers: termo utilizado por muitos autores que tratam do universo das festas rave. Se refere aos
indivíduos que tem costume de frequentar estes eventos. 4 DJ, Deejay ou Disc Joquei, é o artista profissional que seleciona e roda as mais diferentes
composições, previamente gravadas para um determinado público alvo, trabalhando seu conteúdo e diversificando seu trabalho em radiodifusão em frequência modulada , pistas de dança de bailes, clubes, boates e danceterias.
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Nenhuma destas funções pode ser considerada mais importante do que as
demais, bem como geralmente não ocorrem de forma estanque. Todas têm sua
importância e utilização em momentos específicos, e devem ser tratadas com a
mesma atenção. Sendo assim, durante este trabalho, todas serão apontadas em
momentos propícios. Sobre a função de descanso, falaremos em uma seção
denominada “fuga da rotina”, que é umas das hipóteses motivacionais apontadas
pelos frequentadores destes festivais; sobre o divertimento, há também uma seção
específica, chamada “diversão”, também no capítulo que descreve as hipóteses
analisadas durante a pesquisa. Sendo assim, fica faltando a função de
desenvolvimento, que por não ter um tópico específico para tratar de seu tema, terá
maior atenção do que as demais por enquanto. Para ser mais preciso, trataremos
agora da relação entre o lazer, as festas e o desenvolvimento pessoal e social que
estas atividades podem proporcionar.
Chiaverini (2009, p. 227) aponta que as festas sempre provocaram um
impacto social, e que este fenômeno não é recente, sendo estudado por sociólogos
que apontam que “esse rompimento com a rotina por meio das festas, que sempre
aconteceu na história da humanidade, tem um papel importante na manutenção do
mundo organizado”. O autor faz uma descrição a respeito do caos criado na
sociedade em tempos tão competitivos como os atuais, e da busca pelo oposto
deste caos, que é feita pelos participantes de alguns tipos de festas, principalmente
aquelas em que o contato entre os participantes se dá durante um período de
tempo mais prolongado, como é o caso das festas rave:
A vida em sociedade cria um sentimento generalizado de individualismo que aos poucos corrói a noção de coletividade. Cada um se importa apenas com seu quintal, com seu emprego, com sua família, e sente-se diferente e separado de seu bairro, de sua cidade, de seu país. Isso cria atritos na ordem coletiva, e em casos extremos, ameaça a união social [...] numa festa, no momento em que todos dançam juntos, rezam juntos ou mesmo assistem juntos ao discurso do padrinho do noivo, a individualidade se enfraquece enquanto o sentimento de união e pertencimento se intensifica. A noção de coletividade, indispensável para a vida em sociedade, é reforçada. O que há nesses momentos é um grupo. Um grupo de ravers, um grupo de fiéis ou um grupo de amigos do noivo.(CHIAVERINI, 2009, p. 228)
Segundo Amaral (1998, p. 08), a festa “é capaz de, conforme o contexto,
diluir, cristalizar, celebrar, ironizar, ritualizar ou sacralizar a experiência social
particular dos grupos que a realizam”. A autora afirma ainda que a festa é capaz de
17
desenvolver o sentido de cidadania e consciência de comunidade de seus
participantes. Da mesma forma, Balandier (1985 apud BUENO, 2008, p. 53) atribui
às festas uma importância em três pontos de vista, sendo eles entendidos como
culturais, “por colocar em cena valores, projetos, artes e devoção; como modelo de
ação popular e como produto turístico capaz de revitalizar e revigorar muitas
cidades”. Para exemplificar citações de autores que comprovam a existência nas
festas de cada uma das três importâncias citadas acima, podemos tomar inicialmente
o caso da importância cultural, muito presente nas festas rave, conforme citado por
Abreu (2007 apud Violin, 2010, p. 770), que diz que estes são “eventos que
apresentam características rituais contemporâneas na esfera do lazer e rompem
com a normalidade do cotidiano, sendo „um teatro do ritual‟ em que a música e a
dança praticadas pelos indivíduos presentes são símbolos que ressaltam sua
cultura”. Do ponto de vista da ação popular, Viveiros (2002) afirma que toda festa é
um ato coletivo, visto que envolve a participação de um grupo, e este é o critério
que o diferencia de um espetáculo. Temos como exemplo as festas populares muito
presentes no Brasil, que contam com maciça participação do povo, sem distinção de
raça, credo ou classe social. Isso pode ser expresso nas palavras de Bueno (2012,
p. 01), que em um artigo sobre o carnaval brasileiro e outras festividades populares
em nosso país, afirma que “na festa a despesa não é utilitária e a sociedade vê nela
uma fonte de energia e criação e, enquanto manifestação cultural comunitária possui
uma dimensão social que, no jogo das cores, ritmos, bailados e comidas, cria um
distanciamento do tempo da realidade”. A mesma autora faz ainda a seguinte
afirmação:
As festas brasileiras constituem, inegavelmente, um cenário importante e atraente da cultura e ocupam um lugar privilegiado que favorece a sociabilização através da convivialidade festiva. Seu forte apelo aos sentidos atrai e envolve tanto a comunidade quanto o visitante. Nesse sentido, algumas festas brasileiras que vivenciam uma verdadeira explosão do imaginário em momentos criativos de uma plasticidade rica e atraente como, por exemplo, as festividades do Boi-Bumbá de Parintins no Amazonas e as comemorações do Divino em Pirenópolis em Goiás entre outras, fazem crescer o fluxo de visitantes. (BUENO, 2012, p. 01)
Essa citação, além de salientar a presença da cultura e da participação
comunitária e a consequente socialização que as festas proporcionam aos seus
participantes, nos serve ainda como gancho para uma reflexão sobre o terceiro
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ponto de vista que Balandier aponta em relação às festas: o produto turístico capaz
de revitalizar e revigorar muitas cidades. Sobre esta questão, dedicaremos uma
seção especial tendo em vista que, por se tratar de um trabalho científico voltado ao
turismo, é relevante o aprofundamento sobre o impacto positivo e revitalizante que as
festas, que fazem parte de um segmento que alguns estudiosos do setor definem
como “turismo festivo”, podem causar para as cidades que as recebem.
2.1.1 Turismo de Eventos e Turismo Festivo
Para compreendermos a importância do conhecimento das motivações dos
frequentadores do festival O Mundo Imaginário e de outras festas rave, é importante
que entendamos também a importância do turismo de eventos em geral. A princípio,
é relevante saber o que exatamente significa um evento, do ponto de vista
acadêmico e principalmente para os profissionais do setor.
Segundo Coutinho & Coutinho (2007, p. 03), “um evento pode ser
considerado um mix de atividades e serviços, com diversos fatores que promovem a
prática da atividade turística e pode alavancar economicamente uma cidade, um
bairro, uma rua.”. Já do ponto de vista de Goidanich (1998, p. 09), essa atividade
representa um “acontecimento criado e planejado para ocorrer em um lugar
determinado e com espaço de tempo pré-definido. Tem finalidades específicas,
visando a apresentação, conquista ou recuperação do público-alvo”. Há várias
formas de eventos, que vão desde atividades religiosas, passando por outras ligadas
à empresas e por fim, chegando ao tema principal deste estudo: os eventos ligados
ao entretenimento. Esta atividade, somada ao desenvolvimento do turismo ao longo
da história, criou um segmento econômico que vem se tornando cada dia mais forte,
com uma parcela crescente do mercado turístico. Este segmento é conhecido como
turismo de eventos, e segundo Ignarra (2003), têm suas origens localizadas em
períodos remotos da história da humanidade, sendo presente em relatos que
remontam o período do Império Macedônico, conforme podemos observar a seguir:
No governo de Alexandre, o Grande, na Ásia menor, eram registrados grandes eventos que atraíam visitantes de todas as partes do mundo. Na região do Éfeso, onde hoje se situa a Turquia, eram registrados mais de 700 mil visitantes para apreciarem apresentações de mágicos, de animais amestrados, de acrobatas e de outros artistas. Eram os primeiros registros do turismo de eventos. (IGNARRA, 2003, p. 03)
19
Esta afirmação é controversa, visto que o turismo enquanto atividade
profissional, planejada e organizada, é muito mais recente do que o citado acima,
remete às primeiras viagens de Thomas Cook, em meados do século 19. Sendo
assim, o turismo de eventos, seria ainda posterior à data acima, sendo criado
apenas no século 20, e tendo seu boom no fim deste e início do século 21. O termo
mais apropriado no trecho de Ignarra talvez fosse “viagens para eventos”, o que
ocorreria de forma menos organizadas do que o turismo em si. De qualquer forma, o
turismo de eventos nos dias atuais tem sido cada vez mais valorizado por muitos
destinos turísticos consagrados e também por destinos potenciais, que dão seus
primeiros passos no setor e encontram no segmento uma boa perspectiva de
crescimento. Coutinho & Coutinho (2007, p. 06) confirmam esta premissa quando
dizem que “organizar ou sediar eventos tem se tornado uma forma de os países
promoverem a sua imagem, de se apresentarem ao mundo e de gerarem lucros
para a cidade ou região anfitriã”. Estas autoras afirmam ainda que a captação e
promoção de eventos no mundo fazem com que este setor seja considerado o que
mais fornece retorno econômico e social para os países e cidades que os recebem,
e que a tendência é que “nos próximos anos haverá a explosão de festivais (música,
cinema, arte, entre outros), eventos esportivos, de comemoração histórica e de
feiras” (p. 06). Essa hipótese vem sendo confirmada no Brasil, tendo em vista que
em um período de 10 anos, mais precisamente entre 2007 e 2016, ocorrem ou vão
ocorrer mega eventos como três edições do Rock in Rio, O Rio+20, a Jornada
Mundial da Juventude, os Jogos Mundiais Militares, A Copa do Mundo de Futebol e
as Olimpíadas. Isso sem citar é claro os festivais de música, que segundo Gibson &
Connel (2005, apud Dias, 2012, p. 17) são “os que maiores níveis de crescimento
têm apresentado, tanto em ocorrências como em participantes”. Dentre estes
festivais, que segundo Dias (2012, p. 17) representam algo que “alguns autores
apelidam de music & festival tourism” estão os ligados à música eletrônica, tema do
estudo que aqui desenvolvemos. Esse conjunto de eventos injeta valores
consideravelmente altos na economia das cidades e países envolvidos, confirmando
a teoria descrita no parágrafo a seguir:
Existe, portanto, uma relação muito forte entre eventos e turismo, o que reflete diretamente no desenvolvimento econômico de uma região. A captação e realização de eventos têm sido consideradas atividades que
20
geram grande expansão sócio-econômica em todo o mundo, trazendo benefícios para todas as partes envolvidas. Na verdade, a promoção de eventos se funde à atividade turística, através de ações interligadas à economia do município sede. (COUTINHO & COUTINHO, 2007, p. 03)
Existem outras questões que tornam os eventos importantes para o destino,
trazendo legados de várias espécies, não se restringindo apenas aos econômicos.
Estes legados podem ser estruturais, culturais, sociais, entre outros, conforme
exposto por Bahl (2004), que diz que os eventos podem gerar renda, negócios,
empregos, e mobilizar comunidades e prestadores de serviços de diversos níveis.
Da mesma forma, Melo Neto (2004, p. 13) acrescenta que “o evento amplia os
espaços para a vida social e pública e conduz as pessoas para a experimentação
conjunta de emoções”. Conforme o destino ganha experiência com a realização de
eventos e consequentemente, o desenvolvimento do turismo em geral, maior é a
tendência de que os próximos eventos gerem impactos para o local. Estes impactos
podem ser positivos, caso o planejamento e a implantação dos projetos seja bem
realizada; ou negativos, caso não se observem fatores como as condições de
infraestrutura para atender aos turistas e não atrapalhar a rotina dos moradores. No
trecho abaixo, o autor fala sobre um dos possíveis pontos positivos, maximizados
pela capacidade do destino fornecer seus serviços e estrutura, sem depender de
outras cidades, estados, regiões ou países:
Entre os positivos encontra-se o efeito do aumento da renda no destino turístico. Os gastos dos turistas nos lugares visitados representam recursos novos que estão entrando na economia local, cujo efeito será tanto maior quanto menor for a necessidade dessas localidades de importar bens e serviços para atender aos turistas. (IGNARRA, 2003, p. 151)
São muitos os fatores que fazem com que os turistas decidam ir a um determinado
evento. Segundo Gagno (2009, p. 35), de maneira geral todos esses fatores levam a um
mesmo objetivo: “a perspectiva de satisfazer suas expectativas. Para isso, o evento
deve ser minuciosamente preparado, pois não é um produto tangível que pode ser
testado e consertado de acordo com as necessidades”. No caso do festival O Mundo
Imaginário, a dinâmica da cidade onde este foi realizado pode ser considerada um
fator importante para atrair os cerca de cinco mil participantes. A cidade de São
Thomé das Letras com seus pouco mais de seis mil habitantes, fica
aproximadamente à mesma distância dos três dos principais centros emissores da
21
região sudeste, sendo eles as capitais dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e
Minas Gerais, que se localizam respectivamente á 350, 329 e 304 quilômetros da
cidade onde o festival ocorreu.
Este destino recebe turistas durante todo o ano, mas é durante o período das
férias de julho e de um evento tradicional da cidade, a Festa de Agosto,
anteriormente conhecida como Festa da Colheita, onde o movimento na cidade
aumenta em cerca de 60%, segundo a Secretaria de Turismo e os donos de
pousadas do município. Pousadas estas que totalizam 55, com diárias para casais
que variam de R$80 a R$120, podendo haver alterações de valores durantes os
feriados e a alta temporada. A cidade conta ainda com 10 áreas de camping, as
quais foram os principais meios de hospedagem utilizados pelos ravers durante o
festival analisado.
Esta infraestrutura, somada à razoável proximidade das grandes metrópoles
da região sudeste, aos atrativos naturais e culturais da cidade e aos eventos nela
realizados, são fatores mais específicos do que o descrito por Gagno (2009).
Contudo, temos outros ainda mais diretos, relacionados diretamente ao festival: são
as motivações do turista que freqüenta festas rave, e são essas motivações que
analisaremos no próximo capítulo. Antes, falaremos um pouco sobre o que são as
festas rave e seus componentes, como o estilo musical conhecido como psy-trance,
tema da seção a seguir.
2.2 O PSY TRANCE
Nesta seção, descreveremos um dos estilos musicais mais comuns em festas
rave, conhecido como psy trance. Violin (2010) apresenta-nos uma definição técnica
do estilo, conforme abaixo:
O estilo musical psy trance, o mais tocado nos eventos de música eletrônica durante anos, se caracteriza pela batida rítmica entre 135 e 165 bpm (batidas por minuto) e uma melodia composta de sintetizadores e programas musicais digitais que permitem ao DJ produzir músicas interminavelmente. (VIOLIN, 2010, p. 04)
22
Na atualidade, este é o estilo mais frequentemente tocado em festas rave,
bem como suas vertentes, das quais podemos indicar o Full on (vertente mais
melódica); o Progressive Trance (mais calma, o som vai progredindo em número de
elementos adicionados à música); o.Dark Trance (de carácter sombrio, com
amostras de som macabros como: gritos, risadas, sons de animais e interjeições).
Cada uma destas apresenta outras segmentações, que por sua vez podem
apresentar outras ainda mais específicas, sendo muito difícil precisar quais são as
diferenças entre cada uma. Alguns autores e estudiosos da música eletrônica se
baseiam na velocidade das batidas presentes no som (o numero de BPM, ou
batimentos por minuto); outros analisam de acordo com elementos presentes na
música, que vão desde batidas firmes e menos frequentes no estilo conhecido como
minimal5, até gritos e sons macabros no dark psy trance. Há ainda aqueles que
dizem que o psy trance sequer pode ser segmentado. Entretanto, não nos
focaremos nessa questão, pois não é o objetivo desta pesquisa. Seguiremos com
um resumo sobre a história do ritmo, desde o início da música eletrônica, até os dias
atuais.
Há uma série de versões que descrevem o processo de desenvolvimento
musical que levou à criação do psy trance. Utilizaremos a versão do autor Tomás
Chiaverini, jornalista e autor do livro Festa Infinita – O entorpecente mundo das
Raves (2009), que aborda temas relacionados à musica eletrônica e seus
respectivos festivais:
Na época do surgimento das primeiras raves na Inglaterra, o som predominante era o house
6, que acabava de surgir na cidade norte-
americana de Chicago, e que é responsável por muitas das características atuais da música eletrônica. O estilo evoluía partir de uma vertente underground daquela disco music que embalara Travolta nos sábados à noite e espalhou-se principalmente pelos clubes gays dos Estados Unidos, chegando à Europa pouco tempo depois. Sustentado por batidas surdas e aceleradas, o house foi criado para provocar reações físicas no organismo humano, levando quem o escutasse a ter poucas opções a não ser render-se ao ritmo, mesmo que apenas num movimento sutil de cabeça. (CHIAVERINI, 2009, p. 47)
5 Minimal = estilo de música eletrônica, geralmente considerado como o sub gênero minimalista
derivado do Techno. É caracterizado pela repetição de batidas e sons, ou seja, pelo uso de um minimo de elementos de composição. Normalmente associado a sons de origem organica, como pulsação, canto de passaros ou quais quer elementos sonoros repetitivos. 6 House = estilo musical surgido em Chicago, nos Estados Unidos, na primeira metade da década de
1980. A origem do nome se deu devido a esse novo estilo de Dance Music que surgia e começava a ser tocada na casa noturna chamada Warehouse.
23
Após estes primeiros informativos sobre o estilo musical denominado de
House, o autor segue falando sobre o rápido crescimento que a música eletrônica e
sua totalidade de gêneros sofreram durante as décadas de 80 e 90. Crescimento
este que culminaria no estilo do qual este capítulo trata:
Anos depois, já no começo dos anos 1990 e dessa vez em solo europeu, a música eletrônica sofreu um novo salto evolutivo, que não foi tão considerado pelos freqüentadores de clubes, mas que seria de vital importância para o universo raver. Usando as bases do techno e do house, e adicionando elementos aéreos a fim de criar um efeito hipnótico que levasse os ouvintes a estados alterados de consciência, alguns Djs e produtores criaram o trance
7, ou traduzindo para o português, transe.
Depois de muito viajar o mundo, o trance daria origem ao estilo mais ouvido nas raves brasileiras, o psy trance. (CHIAVERINI, 2009, p. 48)
Como explicito por Chiaverini (2009), o psy trance foi criado através de um
somatório de características de outros estilos de música eletrônica, aliados às
influências culturais de alguns locais e momentos, dentre os quais o autor cita como
principal deles o estado de Goa, “um dos menores e mais ricos estados da Índia,
que na década de 1970 havia se tornado a Meca dos viajantes libertários e dos
hippies” (CHIAVERINI, 2009, p. 50). Segundo ele, este lugar com fama de “terra
prometida da contracultura” atraiu muitos jovens europeus durante as décadas de
setenta e oitenta. Esta mesma contracultura será abordada mais profundamente em
capítulos posteriores deste nosso trabalho.
Chiaverini (2009) afirma que dentre estes jovens, muitos eram
freqüentadores, Djs ou produtores da música eletrônica que ao chegarem à Índia, se
impressionaram e influenciaram pelo que viram. Começaram então a registrar tudo
para posteriormente utilizar estes elementos no estilo musical que viria a ser criado,
conforme podemos ver na passagem a seguir, onde o autor evidencia essa ação:
A primeira coisa que os Djs urbanóides fizeram foi ligar os gravadores e começar a capturar tudo aquilo, a transferir os sons da Índia para as DAT (digital audio tapes) – umas fitinhas cinza, um pouco menores que as
7 Trance = gênero de música eletrônica que apresenta entre 130 e 160 batimentos por minuto,
possuindo partes melódicas de sintetizador e uma forma musical progressiva durante a composição,
seja de forma crescente ou apresentando quebras. Algumas vezes vocais também são utilizados.
24
outrora comuns fitas cassete, usadas para gravar som com alta qualidade. Eles registravam tudo: citaras, mantras e crianças falando híndi, e depois misturavam às bases eletrônicas do trance europeu, dando início a um estilo que ficaria conhecido como goa trance, depois psychedelic trance, ou psy trance. (CHIAVERINI, 2009, p. 51)
O DJ e jornalista Rocha (2006), em uma matéria denominada Já dançou
trance?, publicada na Revista Época, afirma que a década de noventa revelaria
Israel como sendo um dos países que apresentaria os principais artistas da música
eletrônica nos próximos anos, principalmente no início do século seguinte. Ele afirma
que através de um acordo de vistos entre Índia e Israel, uma legião de jovens
israelenses passaram a viajar para a Índia, e consequentemente, frequentar as
raves de Goa. Esse intercâmbio cultural e musical fez com que Israel se tornasse um
dos países com maior impacto do psy trance no cotidiano da população. Segundo o
mesmo autor, naquele país o estilo em questão toca com frequencia nas rádios, e os
Djs são reconhecidos e aclamados nas ruas por crianças e fãs. Entre os DJs
citados, alguns são reconhecidos a nível mundial, participando inclusive de muitos
festivais no Brasil, como Infected Mushroom, Skazi, Astrix e Astral Projection. Nesta
mesma reportagem, a Revista Época, divulgou uma linha do tempo com um resumo
dos principais fatos marcantes na história do ritmo em questão, conforme pode ser
observado na figura 1:
Linha do Tempo – Dados Históricos do Psy Trance
1991
Misturando ritmos eletrônicos e climas hipnóticos, produtores e deejays
europeus como Sven Vath e Jam & Spoon inventam o trance. O gênero
logo se subdivide.
1993 Youth, ex-baixista da banda pós-punk Killing Joke, lança o primeiro selo
de trance psicodélico, o Dragonfly. O estilo psy dá os primeiros passos.
1996
O Astral Projection é o primeiro grupo israelense a se tornar conhecido
na cena internacional do psy trance. A banda ainda continua em
atividade no mundo inteiro.
A partir
de 2000
Os últimos seis anos podem ser chamados de a era da dominação
israelense, liderada por Skazi, Infected Mushroom e Astrix. O som é
hipnótico e psicodélico.
Figura 1: Linha do tempo sobre dados históricos do Psy Trance. Fonte: Elaboração própria baseada em ROCHA, 2006.
25
Para finalizar esta seção, citamos novamente Chiaverini (2009), que fala sobre como o ritmo se fixou de tal forma que se tornou, segundo o autor em questão, não apenas um simples gênero musical, sem muito influenciar na personalidade daqueles que o apreciam, mas sim uma filosofia, um estilo de vida:
Hoje, o ritmo tornou-se tão popular que acabou dominando o termo que antes designava o estilo europeu. Atualmente, a palavra trance é geralmente usada como uma abreviação não apenas do som, mas também de toda a cultura que acompanha o psy trance. Em sua forma mais tradicional, ainda encontrada em algumas poucas raves e festivais, a “cultura trance” baseia-se nos princípios da PLUR
8 de paz, amor, união e
respeito. (CHIAVERINI, 2009, p. 51)
2.3 OS FESTIVAIS DE MÚSICA ELETRÔNICA
Quando pensamos em eventos de música eletrônica, podemos verificar a
existencia de diversos tipos de eventos, desde aqueles de menor porte, realizados
em boates e casas noturnas em geral, até outros de grandes proporções, realizados
a céu aberto, conhecidos como festivais open air. Pesquisaremos e analisaremos
apenas esta segunda opção, por acreditar que este se trata de um evento
diferenciado, que consequentemente atrai um público igualmente diferenciado, mais
abrangente e heterogêneo do que provavelmente poderíamos encontrar caso nosso
foco fosse outras opções.
Antes de falar melhor sobre as raves open air, vale a pena ressaltar que esta
tendência de transcender e socializar através da música, apesar de atualmente
apresentar um panorâma revisitado, moderno, eletrônico e informatizado, é algo que
segundo alguns autores nos leva aos tempos remotos, conforme afirma Chiaverini
(2009), no texto abaixo:
Há estudiosos que defendem a tese de que algo muito parecido com as raves acontecia em cavernas pré-históricas. Segundo estudos do arqueólogo inglês Steven Mithen, por exemplo, mesmo antes de desenvolver a linguagem, homens de Neandertal (parentes próximos do Homo Sapiens) usavam rituais coletivos de transe musical como forma de socialização, comunicação e até de seleção para primitivos encontros amorosos. E, durante toda a história da humanidade, povos diversos se reuniram e ainda hoje se reúnem para mergulhar em estados de transe, alcançados pela combinação de música, alteradores de consciência e longos períodos de dança. (CHIAVERINI, 2009, p. 44)
8 Iniciais das palavras em inglês para paz, amor, união e respeito (peace, love, union, respect).
26
Nos festivais dos tempos modernos é comum que ocorram em locais
cuidadosamente selecionados, com equipamentos e decoração especificas (figura
2), em inumeros países do mundo, como na Austrália, África do Sul ou Índia,
conforme exposto por Abreu (2005).
Figura 2: Decoração do palco principal no festival O Mundo Imaginário. Fonte: Autoria própria.
Na Índia, podemos dizer que foi um dos países que através de muitos
elementos de sua cultura, principalmente de cidades como Goa, influenciaram
fortemente estes festivais, atribuindo a eles uma série de características marcantes,
como exposto por Chiaverini (2009, p. 51), ao dizer que “além de ser o ponto de
origem da música que logo se tornaria a base do universo raver, Goa foi a principal
responsável por outra característica das festas atuais: eventos ao ar livre” (p. 51). É
comum que estes eventos ocorram em lugares cercados pela natureza, geralmente
distantes das partes mais urbanas das metrópoles, ou mesmo em cidades
afastadas, muitas vezes no interior ou em zonas rurais, conforme pode ser
observado em um dos muitos trabalhos sobre o tema realizados por Posi (2009):
Geralmente, ocorrem em lugares abertos e extensos em fazendas, sítios, chácaras, e praias. Lugares com bonitas paisagens naturais, afastados dos grandes centros urbanos. Também podem ocorrer em áreas verdes mais próximas às grandes cidades ou em áreas urbanas mais isoladas e com menor ocupação. (POSI, 2009, p. 41)
27
Este fator por si só já nos leva a observar potenciais hipótese de motivação,
como a fuga da rotina ou o desejo de buscar contato com a natureza. Essas
hipóteses serão analisadas em capítulos posteriores, por enquanto retornaremos à
explicação sobre o que são os festivais.
Outra característica marcante destes grandes eventos de música eletrônica é
o seu período de duração. Segundo Violin (2010, p. 01), “as festas rave são aquelas
que duram mais de 12 horas e se realizam longe do perímetro urbano, embora seus
atores sejam jovens urbanos impulsionados pela música eletrônica”. De fato, elas
ocorrem com um mínimo de 12 horas ininterruptas, mas há ainda uma imensa
quantidade de casos que se estendem não apenas por horas, mas sim por dias.
Estes festivais de longa duração tem sido tido progressiva frequencia, atraindo
grandes demandas turísticas e se tornando verdadeiros mega eventos, com
infraestruturas cada vez mais elaboradas. Um dos casos mais famosos no Brasil é o
Festival Universo Paralello, que durante muito tempo ocorreu anualmente, sempre
no período de virada de ano, iniciando nos últimos dias de dezembro e terminando
apenas nos primeiros dias de Janeiro. A partir do ano de 2009 até os dias atuais,
passou a ter periodicidade bienal. A edição de número 12 ocorrerá entre os dias 27
de dezembro de 2013 e 04 de janeiro de 2014, na praia de Pratigí, localizada no
município de Ituberá, no estado da Bahia. Abaixo, podemos ver alguns dados sobre
uma das edições passadas do evento:
É o caso do festival Universo Paralello, realizado pelos irmãos Dario e Juarez Petrillo (o deejay Swarup), de Brasília. A última edição
9 levou cinco
mil pessoas por oito dias para o sul da Bahia, onde foi montada uma minicidade com cibercafé, apresentações de música regional, teatro, cinema e até mesmo uma unidade de reciclagem de lixo. „Em oito dias, não tivemos nenhuma ocorrência de violência, não aconteceu uma briga,‟ afirma Dario. (ROCHA, 2006, p. 02 )
Além desse evento, existem outros que ocorrem frequentemente, alguns
menos conhecidos, outros famosos no Brasil e mesmo no mundo. Neste trabalho,
apresentaremos uma pesquisa realizada em um festival novo, de um nucleo que já
realizava pequenas festas de musica eletrônica, mas se lançava pela primeira vez
na empreitada de realizar um evento para mais de mil pessoas. O festival em
9 Edição número 10, realizada no Reveillon de 2008 – 2009.
28
questão foi O Mundo Imaginário, ocorrido no mês de outubro de 2012, na cidade de
São Thomé das Letras, no estado de Minas Gerais, que abordaremos no próximo
capítulo, de número três. Dito isto, seguiremos para a próxima seção, onde
apresentaremos uma síntese da história destes festivais no Brasil, desde suas
primeiras edições no final da década de oitenta, até os dias atuais.
2.3.1 O Início das Raves No Brasil
As festas rave já ocorrem no mundo desde o final da década de 70, conforme
exposto por Anunciação (2005, p. 01), que nos diz ainda que “dentre as múltiplas
narrativas que se encarregam de datar o surgimento das raves, a versão que mais
se destaca conta que essa festa nasceu nas praias de Goa, na Índia”. Chiaverini
(2009, p. 44) prefere se basear no modelo que se concretizou e é a base para os
festivais ainda ocorrentes nos dias atuais. O autor deixa isto claro ao dizer que “algo
semelhante a um movimento raver como conhecemos hoje, entretanto, ocorreu na
década de 80, na Inglaterra. Foi uma espécie de desdobramento da cultura dos
clubes de música eletrônica, e seu início propriamente dito está perdido em meio á
relatos passionais e desencontrados”. Já em relação à chegada das raves em nosso
país, os dados remontam ao final da década de 80, sendo suas primeiras edições
realizadas na Bahia, coincidentemente no mesmo estado onde duas décadas a
seguir começaria a ser realizado o Universo Paralello, atualmente o maior e mais
famoso festival brasileiro, conforme dito na seção anterior. Violin (2010) transcreve
um trecho em que Cavalcante (2005) descreve os primórdios das festas rave no
Brasil:
No Brasil, foi na região de Trancoso, na Bahia, que começou a cena das festas rave, quando no final da década de 1980 recebeu estrangeiros que frequentavam essas festas em outros lugares do mundo e vieram para o Brasil em busca de paisagens naturais belas para a realização dos eventos. Na década seguinte, apareciam as primeiras festas do século XX e começo dos XXI, reunindo nos festivais mais de 20 mil pessoas que ocorriam ao longo do ano nas principais metrópoles do país. (Cavalcante, 2005 apud VIOLIN, 2010, p. 01)
Neste trecho, podemos perceber um fator que atraiu os produtores deste tipo
de evento para o Brasil: as belas paisagens naturais, não só da Bahia, como do
29
restante do país. Rapidamente esta inovadora tendência se espalhou pelos quatro
cantos do Brasil, havendo grandes festivais em estados como Bahia, Maranhão, Rio
de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, entre outros. Esta crescente demanda
criou algo que chamamos de megaraves, onde participam do evento milhares de
pessoas, e não mais centenas, como nas primeiras edições, nas chamadas festas
conceito10. Posi (2009) indica que a primeira megarave no país foi um evento
chamado Fusion, que em sua terceira edição, realizada em agosto de 1998, reuniu
em torno de oito mil pessoas. Essa informação é descrita em um de seus trabalhos
sobre o tema, mas originalmente são dados de uma pesquisa de Castro (2004, p.
48), onde há ainda alegações de que naquele evento haviam “diversas atrações
como bungee jumping, três pistas de dança, chill out11 com banda de jazz, sala de
vídeo-game, apresentação de maracatu, e muitos deejays”.
Como o passar do tempo estas megaraves foram crescendo de tal forma que
muitos de seus participantes antigos passaram a se incomodar, dizendo que o
evento perdeu o foco e os ideais, e que passaram a ser freqüentados por pessoas
que não tinham um mínimo de comprometimento com tudo que era incentivado por
lá, como o respeito às diferenças e à natureza. Esses participantes, dentre os quais
alguns produtores, saudosos do velho estilo de festejar rave, começaram a produzir
festas de música eletrônica onde o público era restrito a pequenas quantidades de
participantes, em geral atingindo no máximo 500 pessoas, majoritariamente amigos
ou conhecidos dos organizadores. Estes eventos, com suas primeiras edições
acontecendo no ano de 1998, não tinham outra forma de divulgação que não o boca
a boca, e eram chamados de privates12, conforme afirma Posi (2009, p. 49).
Porém, os grandes festivais continuavam a ocorrer, crescer e se espalhar
pelo país. Muitos nomes se tornaram famosos, e um desses nomes era o de Rica
Amaral, produtor da Xxxperience, apresentado por Chiaverini (2009) no fragmento
abaixo, onde o autor fala sobre a dimensão que esse festival rapidamente assumiu:
Era uma edição da XXxperience, rave produzida por Rica Amaral, um ex-dentista que se tornou DJ e acabou fundando um dos maiores núcleos de festa no mundo, com eventos que chegam a reunir cerca de 30 mil pessoas
10 “Festas pequenas, que procuram manter um clima semelhante ao dos primeiros eventos do tipo.”
(CHIAVERINI, 2009, pg. 16) 11
Espaço existente em muitos festivais, onde se tocam músicas calmas, com o objetivo de relaxar, descansar, meditar ou mesmo dormir. 12
Derivado da palavra privado, festas com pequenas quantidades de participantes.
30
em sítios do interior de São Paulo. A festa de Rica se tornaria um dos principais motores do mercado raver brasileiro, que alcançaria seu pico em 2007, com aproximadamente 1.400 festas ao ar livre no ano, cerca de vinte por semana apenas no estado de São Paulo.” (CHIAVERINI, 2009, p. 20)
Logo a seguir, Chiaverini (2009) segue falando sobre o festival em questão,
apontando um momento onde provavelmente este atingiu seu apogeu no país. Ele
diz que “dois anos após a primeira edição, a Xxxperience havia se tornado uma das
maiores festas do país ao lado da Fusion. Em 1999, a rave passou a viajar em turnê
pelo Brasil, e edições com 5, 8, 10 mil pessoas tornaram-se comuns” (p. 97). No ano
seguinte, o festival Universo Paralello, criado naquele ano de 2000, pelos irmãos
Alok e Swarup, passou a atrair em todo período de Reveillon “cerca de 10 mil
pessoas para uma praia cartão-postal no sul da Bahia” (p. 15). Estes números já
parecem surpreendentes, mas não são o limite: Posi (2009) afirma que no ano de
2002 “as megaraves aconteciam diversas vezes no ano, reunindo de 5 a 15 mil
pessoas” (p. 49). E voltando aos dados fornecidos por Chiaverini (2009), ainda
focando no festival Xxxperience, os números se tornam ainda mais impressionantes:
Em 2006, na edição de dez anos, em Itu, a festa alcançou um público recorde de 30 mil pessoas e tornou-se a maior rave do mundo. A No Limitis
13 não divulga dados financeiros, mas, se contarmos com ingressos a
50 reais em média, e com 30 reais de gastos no bar por pessoa, chegaremos a um faturamento bruto de 2,4 milhões de reais na festa com maior público. Entretanto, a média de participantes da Xxxperience gira em torno de10 mil pessoas, o que, segundo a estimativa, deixa o faturamento bruto beirando os 800 mil reais. (CHIAVERINI, 2009, p. 99-100)
Para concluir, o autor afirma que “em 2008 houveram oito edições, produzidas
em cinco estados e até á bordo de um navio. O público médio foi de 10 mil pessoas,
com investimentos chegando a um milhão de reais. Estima-se que o giro de capital
tenha passado de 2,5 milhões em algumas dessas festas” (CHIAVERINI, p. 129).
Esses e outros números são essenciais no entendimento da importância do estudo
que desenvolvemos aqui, pois eventos desta magnitude representam grandes
oportunidades profissionais para aqueles que trabalham ou pretendem trabalhar com
o setor de eventos no país e no mundo. Para desenvolver este estilo de evento, o
primeiro e um dos mais importantes passos é entender a motivação dos turistas, que
13 Produtora do festival Xxxperience.
31
viajam para outras cidades, estados ou países em busca de festivais cada vez
maiores e melhores. É quando iniciamos o capítulo três, onde falaremos sobre a
experiência que o pesquisador teve durante sua pesquisa de campo realizada no
festival O Mundo Imaginário, e consequentemente, os dados que obteve através das
entrevistas e observações realizadas.
32
3 O MUNDO IMAGINÁRIO E AS MOTIVAÇÕES
O presente trabalho envolve segmentos como comportamento do consumidor,
antropologia, sociologia, lazer, eventos, entre outros, numa tentativa interdisciplinar
de pesquisa. Nossa pretensão é analisar hipóteses de motivação do turista que
freqüenta festivais de música eletrônica open air14, mais especificamente „as festas
rave15. Segundo Rocha (2006) este tipo de evento apresenta uma combinação de
pistas lotadas, violência zero e lugares cercados por paisagens naturais. O autor
afirma ainda que estes eventos seguem animando milhares de fãs brasileiros e tem
força e popularidade para durar anos. No caso deste estudo, foi escolhido analisar o
festival O Mundo Imaginário, objetivando entender o que leva seus frequentadores a
buscar este tipo de evento, em detrimento de outros. Além desta questão principal,
temos alguns objetivos específicos, como entender a ideologia ligada ao festival em
questão e a possibilidade de fazer um paralelo entre as motivações verificadas e o
que o profissional do setor de eventos envolvido pode fazer de modo a aperfeiçoar
estruturalmente estes festivais, de posse de conhecimentos sobre as motivações
que levam os turistas a tais eventos. Para Lemos (2001) apud Gagno (2009) alguns
motivos influenciam uma pessoa a despertar o desejo de fazer turismo, tais como:
aprimorar-se em sua profissão, participar de eventos, visitar parentes, divertir-se
com um grupo de amigos, fazer negócios ou, simplesmente, descansar. No caso
deste estudo, podemos dizer que os motivos principais são heterogêneos, podendo
incluir mais de uma das variáveis acima, como a participação em eventos ou a
diversão com amigos. É importante ainda diferenciar motivos, que são os expostos
acima, de motivação, que correspondem a outras questões, conforme McIntosh
(1995), que divide motivação em quatro as categorias, sendo elas: motivadores
físicos, relacionados à saúde do corpo e da mente, através de esportes e a busca
pelo prazer e relaxamento; culturais, com o objetivo de ver e conhecer novas
culturas; pessoais, onde se buscam relações sociais, conhecer novas pessoas e
visitar parentes ou amigos; e de status e prestígio, relacionados ao desejo de
reconhecimento e atenção de outros, estimulando seu ego.
14Festas que acontecem a céu aberto.
15Derivado do verbo “to rave up”: festejar, divertir-se (dicionário inglês/português Michaelis).
33
Com relação ao festival escolhido para a pesquisa de campo, O Mundo
Imaginário, algumas hipóteses foram levantadas, dentre as quais estavam questões
culturais (pertencer a algum grupo social ou comunidade que tenha tradição neste
tipo de evento); sociais (em algumas “tribos urbanas”, frequentar essas festas pode
trazer prestígio para os participantes); profissionais (DJ‟s e produtores podem se ser
atraídos por possíveis trocas de informações e desenvolvimento de network);
espirituais (alguns destes festivais sofrem influência de religiões budistas, hindus
e/ou indígenas, e muitos deles contam com atividades como meditação e yoga);
ambientais (a maioria das festas raves preza por ideais de sustentabilidade, fuga do
ambiente urbano e contato direto com a natureza); ou com fins de entretenimento.
Havia ainda a possibilidade de se identificar outros fatores que poderiam servir de
motivação, o que de fato veio a ocorrer durante a etapa realizada no evento.
A pesquisa que envolveu a análise de livros, artigos, fontes de informações na
internet e por fim, o trabalho de campo realizado no festival escolhido, se iniciou no
ano de 2011, com o projeto que deu forma aos estudos a serem realizados no ano
posterior. Ao fim de 2012, foi implantada uma pesquisa de campo no evento citado (
figura 3); já no primeiro semestre de 2013, foi realizada a etapa final do
trabalho com a análise dos resultados obtidos com as pesquisas, que levaram as
conclusões sobre as motivações dos entrevistados durante o evento, em uma
abordagem com inspiração etnográfica.
Figura 3: Pesquisa de campo. Fonte: Autoria própria.
34
A pesquisa de campo, de natureza quantitativa e qualitativa, do tipo
descritiva e exploratória, foi realizada entre os dias 12 e 14 de outubro, no distrito de
Sobradinho, a cerca de cinco quilômetros do centro da cidade de São Thomé das
Letras, Minas Gerais, onde ocorreu o festival O Mundo Imaginário (figura 4). Esta
cidade atrai naturalmente uma considerável demanda turística, demanda esta que é
conceituada por Cooper (2001 apud Gagno 2009, p.10) como “referente à
motivação, derivada da palavra motivar, que significa fazer uma pessoa agir de certa
maneira ou estimular seu interesse”. Esta demanda é criada por razões diversas,
como a existência de cerca de 30 atrativos turísticos, onde os principais são oito
cachoeiras e algumas grutas. Wilson Carvalho, o secretário de turismo da cidade,
diz que "as belezas naturais da cidade junto com as construções de pedra chamam
a atenção dos turistas”.
Figura 4: Mapa ilustrativo e distâncias aproximadas.
Fonte: BARBOSA, 2012.
Segundo a Organização Mundial de Turismo (2001, s.p.), “o processo da
tomada de decisões de cada indivíduo envolve suas atitudes, percepções,
personalidade e experiências prévias”. Podemos concluir então que além dos
35
atrativos que a cidade proporciona, outros fatores são essenciais para que o turista
opte por visitá-la. Somado a isto, deve haver algo que o faça crer que suas
experiências na mesma atenderão às suas expectativas, direcionadas por suas
percepções e experiências anteriores. De modo a aumentar a possibilidade desta
escolha, os eventos possuem um papel essencial na tomada de decisão do turista,
podendo fazer a diferença entre a escolha deste destino ou outro semelhante.
Desta forma, a organização do evento que aqui estudaremos fez uma grande
divulgação, elevando em muito a expectativa dos ravers¸ para os quais foi prometida
uma festa que contaria com 90 DJ's e 20 bandas (figura 5), tocando em quatro pistas
com estilos musicais diferentes, sendo duas de música eletrônica (Trance Stage e
Goa Stage), uma de reggae e rock psicodélico (Tributo Woodstock) e uma com som
ambiente, para descanso (Chill Out).
Figura 5: Line up do palco principal. Fonte: SITE OFICIAL O MUNDO IMAGINÁRIO, 2012.
No site oficial do evento, eram anunciadas ainda atividades culturais,
artesanais, ambientais e artísticas; espaço de cura xamânica; praça de alimentação;
36
bares; guarda volumes; feira de artesanato local e regional; posto médico;
segurança; decoração diferenciada e única; espaço para camping; transporte da
cidade para o evento; estacionamento; duchas e sanitários; e acompanhamento de
uma equipe de impacto ambiental antes, durante e depois do evento (figura 6).
Figura 6: Infraestrutura do festival. Fonte: SITE OFICIAL O MUNDO IMAGINÁRIO, 2012.
Cerca de três mil pessoas estiveram no evento durante o primeiro dia
(PORTAL G1 SUL E MINAS, 2012) e mais de 300 barracas de camping foram
montadas (figura 7). No momento de maior movimento do evento, por volta do fim de
tarde do sábado, segundo dia de festa, chegaram a estar presentes cinco mil
pessoas, das quais a grande maioria estava também acampando, o que nos leva a
teoria de que o número de barracas pode ter chegado quase ao dobro do que havia
no primeiro dia. Segundo Yin (2003) há diversas formas de se recolher dados para
trabalhos como este aqui desenvolvido, e cada uma dessas formas tem seus
próprios procedimentos metodológicos. Entre as formas que o autor cita, podemos
indicar a pesquisa em documentos e publicações, a análise de estatísticas em
arquivos, as entrevistas e os método de observação direta e observação
37
participante. Neste trabalho, utilizamos alguns destes métodos, sendo eles:
documentos e publicações; entrevistas; e observação participante.
Figura 7: Área de acampamento. Fonte: Autoria própria.
Estes métodos foram selecionados devido à necessidade de interação entre o
pesquisador e o entrevistado, de modo a obter uma percepção mais aprofundada
sobre as motivações dos participantes, captando detalhes que poderiam
eventualmente passar despercebidos em caso de utilização de outros métodos,
como a aplicação de formulários ou questionários. Foi definido então que por meio
de entrevista atenderíamos melhor a esta necessidade, baseado no que podemos
ler no trecho a seguir:
A entrevista, nas suas diferentes aplicações, é uma técnica de interação social, de interpretação informativa, quebrando assim isolamentos grupais, individuais, sociais; pode também servir à pluralização de vozes e à distribuição democrática da informação. Em todos estes ou outros usos das Ciências Humanas, constitui sempre um meio cujo fim é o inter-relacionamento humano (Medina, 2002, p. 8 apud CAPUTO, 2010, p. 10).
A observação participante, que segundo Yin (2003) dá ao pesquisador a
oportunidade de registrar os acontecimentos em tempo real e de retratar o contexto
de um evento, através de procedimentos que podem ser formais ou informais, foi
realizada ao longo de todo o evento. Durante o primeiro dia, foram observados
38
alguns pontos de interesse para este trabalho, como o comportamento dos
participantes e os primeiros indícios que nos levariam a traçar um esboço de seu
perfil, tentando segmentá-los para posteriormente realizar a pesquisa onde seriam
escolhidos aleatoriamente alguns participantes que seriam entrevistados, sendo no
mínimo 02 frequentadores que estivessem pela primeira vez em uma festa rave; 02
que já frequentaram uma ou mais edições que originaram o festival O Mundo
Imaginário; 03 que estivesse pela primeira vez em um evento produzido por aquele
núcleo; 03 que nunca haviam viajado antes para um festival de música eletrônica;
03 que viajam constantemente; 03 que viajam esporadicamente; 01 idealizador do
festival estudado; 01 organizador de festas rave; e por fim, 02 profissionais em
atuação naquele evento (DJs, ambulantes, vendedores de artesanato, vendedores
de alimentos e/ou bebidas, entre outros). A amostra recolhida superou o
planejamento inicial, que previa 20 entrevistas: no total, foram realizadas 34, e
dentre os segmentos que se almejava entrevistar, somente um não foi encontrado: o
idealizador do festival.
O formulário aplicado nas entrevistas se encontra disponível no Apêndice A;
no Apêndice B, está disponível uma entrevista realizada com o DJ YG Albuquerque,
embaixador da cidade de Niterói no Rio Music Conference, evento realizado
anualmente na cidade do Rio de Janeiro, com palestras, mesas redondas e
workshops com temas ligados à música eletrônica e ao mercado que esta
movimenta. Esta ultima entrevista, realizada durante o evento citado acima,
objetivou conhecer a percepção de quem participa das festas rave de forma
profissional, ligada diretamente à música. Por fim, nos anexos temos as perguntas
utilizadas nas entrevistas realizadas durante o festival; uma entrevista com Yg
Albuquerque, DJ de musica eletrônica e embaixador de Niterói no evento Rio Music
Conference; e uma tabela contendo informações sobre todos os entrevistados
durante o festival.
A impossibilidade de encontrar o idealizador, conforme exposto no parágrafo
anterior, se deve dentre outros motivos aos inúmeros imprevistos que a produção do
evento encontrou, dentre os quais podemos enfatizar as fortes chuvas que fizeram
com que a única estrada de terra que levava ao evento ficasse coberta de lama,
levando ao atolamento de pelo menos dois dos caminhões que levariam bebidas ao
evento, fazendo com que o abastecimento de itens básicos como água ficasse
comprometido, chegando a ficar sem sequer uma garrafa durante algum tempo. Isto
39
foi suficiente para gerar uma revolta no público, que reclamava ainda das condições
precárias de saneamento, como no caso dos “chuveirões” instalados para que os
ravers tomassem banho, que além de serem muito poucos para aquelas cerca de
cinco mil pessoas, ainda apresentavam muitos problemas de funcionamento,
levando ao fechamento de alguns deles por tempo indeterminado.
Estas insatisfações, somadas á muitas outras, fizeram com que os
organizadores evitassem ao máximo dar entrevistas ou mesmo prestar
esclarecimentos, visto que nem mesmo estes conheciam na íntegra a proporção dos
problemas, que a certa altura já contavam inclusive com uma fatalidade de
proporção muito maior do que as descritas até aqui: juntamente com as fortes
chuvas, caíam muitos raios na área de camping durante aquele segundo dia de
evento, e um desses raios atingiu uma das muitas barracas de camping montadas
no local, ferindo cinco pessoas, das quais uma delas, o estudante Flávio Muniz de
Abreu, de apenas vinte e três anos, não resistiu aos ferimentos e veio a falecer em
um hospital da região, após ser removido do festival já em estado grave (PORTAL
G1 SUL DE MINAS, 2012). Esta tragédia foi o marco que fez com que o clima de
festa mudasse completamente e como não poderia deixar de ser, viesse a ser
interrompida pouco tempo depois, um dia antes do planejado. Sendo assim, tornou-
se impossível entrar em contato com os produtores e idealizadores deste festival,
tanto durante a realização deste, como no período posterior, visto que eles evitavam
falar pessoalmente sobre o assunto, respondendo apenas em forma de uma nota
oficial no site do evento, pedindo desculpas e prestando esclarecimentos sobre as
situações aqui descritas.
Voltando a explicação sobre a metodologia aplicada durante a pesquisa, foi
decidido realizá-las com os diferentes perfis de participantes descritos neste
capítulo, para obter um resultado mais abrangente e heterogêneo, podendo mapear
de forma mais eficaz as diferentes motivações que os levam a tais eventos. As
pesquisas foram gravadas com o auxilio de um aplicativo de gravação em um
telefone celular, para posteriormente serem transcritas e utilizadas nesta analise que
veremos nas próximas seções. Essas pesquisas tiveram como base algumas
perguntas filtro, que levariam a outras, de acordo com o perfil no qual o entrevistado
fosse enquadrado. O modelo a seguir (figura 8) representa esta primeira etapa das
perguntas, que levariam a definição do participante como parte de um dos oito
grupos predefinidos:
40
Figura 8: Mapa mental para definição dos perfis de participantes.
Fonte: Elaboração própria.
Entre as conclusões que chegamos com esta pesquisa, podemos citar que o
perfil mais comum entre os frequentadores entrevistados durante o festival “O
Mundo Imaginário” era composto por 59% de homens e 41% de mulheres, que se
encontravam em sua grande maioria (mais precisamente 62% deles) na faixa etária
entre 18 e 25 anos, sendo a idade média de 22 anos, a mínima de 18 e a máxima de
39. Dentre estes participantes, 32% já haviam frequentado mais de 20 festas rave,
enquanto por sua vez 23,5% deles estavam tendo sua primeira experiência neste
tipo de evento. A maioria estava acampando (56%) e quase a totalidade dos
participantes (91%) pretendiam continuar frequentando festivais de música
eletrônica. Já em relação ao número de viagens realizadas com o objetivo principal
de ir à uma festa rave, a amostra se demonstrou bem variada, havendo um número
semelhante de pessoas que viajaram entre 02 e 05 vezes (12%); entre 06 e 10
(17,5%); mais de 10 (17,5%) e aqueles que nunca viajaram (15%). Porém, neste
quesito o perfil mais presente foi o daqueles que realizavam sua primeira viagem
41
para um evento deste estilo, representando 38% do total de ravers entrevistados. Na
figura 09, podemos ver essas informações de forma mais completa.
SEXO
MASCULINO FEMININO
20 14
FAIXA ETÁRIA
ENTRE 18 E 25 ANOS ENTRE 26 E 35 ANOS MAIS DE 35 ANOS
21 09 04
FREQUENCIA EM FESTAS RAVE
1ª VEZ DE 02 A 05 DE 06 A 10 DE 11 A 20 MAIS DE 20
08 05 06 05 11
FREQUENCIA DE VIAGENS PARA FESTAS RAVE
NUNCA
VIAJOU 1ª VEZ DE 02 A 05 DE 06 A 10 MAIS DE 10
05 13 04 06 06
MEIO DE HOSPEDAGEM UTILIZADO
CAMPING CASA DE
AMIGOS MORADOR
HOTEL /
POUSADA N.D.A.
19 02 06 05 02
PRETENSÃO DE IDA A OUTROS FESTIVAIS
SIM NÃO
31 03
Figura 9: Dados sobre o perfil do frequentador do festival. Fonte: Elaboração própria.
Os viajantes ali presentes eram oriundos de diversas localidades, sendo os
principais núcleos emissores do país o próprio estado de Minas Gerais, com 38%
dos participantes, seguido pelo Estado de São Paulo, com 26%; Rio de Janeiro com
21%; e Bahia, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Goiás, ambos com 3%. Também
com 3% de aparições, aparece a opção “outro país”, o que demonstra que mesmo
42
38%
26%
21%
3%3%3%3%3%
MG SP RJ BA ES GO RS Outro País
um festival de médio porte e em sua primeira edição, como no caso O Mundo
Imaginário, pode movimentar não apenas o turismo doméstico, como também
internacional (figura 10).
Figura 10: Principais centros emissores de público para o festival. Fonte: Elaboração própria.
A principal motivação apresentada pelos entrevistados foi a fuga da rotina,
encontrada em 18 entre as 102 respostas obtidas (foram realizadas 34 entrevistas,
onde cada participante poderia escolher até três motivações, o que totalizou 102
respostas). Em seguida, as demais ocorrências foram as seguintes, da maior para a
menor: música e dança; diversão; conhecer novos lugares; contato com a natureza;
senso de comunidade; espiritualidade; movimentos de contracultura; status e
prestígio; e por fim, divulgação e apreciação estética. Estes dados confirmam a
heterogeneidade de motivações, o que nos leva a concluir que o público busca os
festivais com objetivos específicos bem discrepantes em relação aos outros
participantes, havendo casos de pessoas que foram juntas, mas por razões
completamente opostas. O número de citações de cada motivação, bem como o
percentual que cada uma destas representa, pode ser observado na figura 11:
43
HIPÓTESES MOTIVACIONAIS NUMERO DE
INCIDÊNCIAS PERCENTUAL
Fuga da rotina 18 17,64%
Música e dança 15 15,68%
Diversão 10 14,71%
Conhecer novos lugares 14 13,74%
Contato com a natureza 16 09,80%
Senso de comunidade 09 08,82%
Espiritualidade 07 06,87%
Movimentos de contracultura 06 05,88%
Status e prestígio 04 03,92%
Divulgação e apreciação estética 03 02,94%
Total 102 100%
Figura 11: Número de Incidências e percentual de motivações do turista. Fonte: Elaboração própria.
As entrevistas foram gravadas em áudio, com exceção de 09 entre as 34
realizadas, que não puderam ser gravadas devido a sua realização muito próxima às
caixas de som nas pistas principais, onde o som muito elevado atrapalhava a
audição e consequentemente, a análise das entrevistas em um momento posterior.
Além disto, foram também anotados todos os detalhes pertinentes em um caderno
de campo, no qual o pesquisador registrava tudo o que considerava importantes na
fala dos participantes, bem como outros dados perceptíveis apenas através da
observação de gestos e alterações de voz. Esta observação deve ser feita de forma
extremamente atenta, pois conforme Malinowski (1978) é importante estar atento a
toda e qualquer forma de movimentação que venha a ocorrer no momento da
observação ou das entrevistas, captando não só as mensagens verbais, como
também às não verbais.
Segundo Velho (1978) é de grande importância que o pesquisador saiba
observar com imparcialidade o objeto estudado, estranhando o familiar, por mais
que o antropólogo ou pesquisador se considere parte do grupo estudado. Este foi
um dos grandes desafios encontrados durante esta pesquisa de campo: posicionar-
44
se de forma imparcial e impessoal, mesmo sendo frequentador e admirador destes
festivais durante os anos que antecederam este trabalho.
A investigação foi efetuada a partir de entrevistas semi-estruturada, que
segundo Triviños (1987), tem como característica questionamentos básicos,
apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa.
Posteriormente a estes questionamentos, outros podem surgir, seguindo uma lógica
menos definida e imutável, dando um tom quase informal às entrevistas. Este
modelo se adequa melhor ao público que foi estudado, deixando-os mais a vontade
em relação ao tema e ao entrevistador. Quanto aos resultados, a metodologia
utilizada foi descritiva.
Esta pesquisa é relevante para o melhor entendimento dos fatores que
atraem os frequentadores, servindo de base teórica para os profissionais da area de
eventos, comunicação, marketing, entre outros setores envolvidos na realização de
festivais como este. As conclusões obtidas fornecerão maior conhecimento sobre
seu público alvo, podendo assim ajudar a desenvolver este segmento de grande
relevância para o setor de eventos, como se pode perceber na citação feita por
Chiaverini (2009), repórter e escritor do livro Festa Infinita: o entorpecente mundo
das raves, em seu site de promoção do mesmo, a respeito das festas rave:
Apenas no Brasil atrai cerca de 500 mil jovens por mês. No ano de 2007 foram 1.400 festas, promovidas em sítios, praias desertas e clareiras no meio do cerrado. Raves que chegam a reunir 30 mil pessoas em modernos rituais de êxtase coletivo. (CHIAVERINI, 2009)
Os resultados obtidos são também importantes para desmistificar a polêmica
que envolve estes festivais, que são vistos por boa parte da sociedade civil com
preconceito, devido à falta de conhecimentos aprofundados sobre eles, somado a
um sensacionalismo criado por parte da mídia, que através de reportagens de cunho
pejorativo, fizeram com que muitos vejam estes eventos como algo sem sentido,
objetivos e ideologia, sendo considerados até mesmo prejudiciais aos seus
participantes e à sociedade. A seguir, analisaremos as hipóteses definidas
anteriormente à pesquisa de campo, bem como as que surgiram durante a aplicação
desta segunda etapa.
45
3.1 FUGA DA ROTINA
Entre as diversas hipóteses levantadas previamente à pesquisa, a primeira
imaginada pelo pesquisador foi a fuga da rotina. Em parte, isso se deve ao fato de
que o mesmo possuía suas próprias experiências nestes eventos, nos momentos
em que os freqüentava sem fins acadêmicos, onde sua principal motivação era esta.
Outro possível motivo que o levou a formular esta teoria foi o fato de ter estudado
muito sobre este tema ao longo de todo o seu período de graduação, nas mais
diversas disciplinas. Além disso, é de conhecimento de grande parte da sociedade o
fato de que o ser humano precisa de momentos de fuga do cotidiano, para esquecer
por alguns momentos de suas exaustivas jornadas de trabalho, da vida corrida nas
grandes metrópoles, de onde vem a grande maioria dos freqüentadores deste tipo
de evento.
Balandier (1985) já frisava a questão do homem ser constantemente assolado
por essa sensação de aprisionamento à rotina. O autor afirma que vivemos em uma
espécie de casulo invisível, onde somos constantemente bombardeados com
influências sonoras, visuais e táteis da realidade em que vivemos durante a maior
parte de nossos dias. Segundo ele, é importante que o homem contemporâneo
encontre formas de se desvencilhar delas por alguns momentos, de modo a manter
uma boa qualidade de vida, aprendendo assim a controlá-las e não as deixar minar
sua liberdade.
Ao freqüentar eventos como este, o turista busca exatamente esse
rompimento com o óbvio, o comum, o rotineiro que se torna cada vez mais presente
na vida da grande maioria dos seres humanos. Momentos como estes o livram
ainda, mesmo que por um curto período de tempo, de preocupações diversas como
contas a pagar, tarefas a fazer, problemas familiares e principalmente, questões
ligadas ao trabalho, como o medo do desemprego ou a já existência dele. Sobre
essa fuga da rotina e das preocupações cotidianas, Bueno (2008) afirma que “o
tempo vivido na festa é um tempo extraído do cotidiano porque cria um envolvimento
que permite um distanciamento das preocupações, especialmente aquelas
decorrentes do trabalho e/ou medo subjacente de perdê-lo” (p. 52).
Outra questão muito explorada nos estudos relacionados ao turismo é a do
lugar incomum. Conhecer novos lugares ou rever outros pouco freqüentados sempre
foi um potencial motivador para os turistas em geral. Bolson (2004, P. 01) aponta
46
que esse interesse é inerente à grande parte dos seres humanos, muitas vezes
motivados por fatores como a rotina. Segundo esta autora, “o cotidiano cansa, pois
repetir por anos e anos o ritual de acordar, tomar café, estudar ou trabalhar,
almoçar, ter horas vagas e dias certos para o lazer, dormir leva as pessoas a
buscarem novas experiências”. Essa busca por lugares desconhecidos não é uma
atividade recente: remete a muitos anos atrás, nos primórdios das primeiras
excursões de Thomas Cook, ou até mesmo em períodos anteriores, onde os
deslocamentos com esse objetivo já existiam, porém de forma não tão organizada e
profissional. Apesar de não ser uma atividade nova, é correto afirmar que é
crescente; com o passar dos anos, cada vez mais o homem pós-moderno sente a
“necessidade” de expandir seus horizontes, em diversos pontos de vista, sejam
geográficos, visuais ou culturais. A questão que trata de conhecer novos lugares
será abordada com maior profundidade em uma seção posterior a esta. No
momento, nos ateremos a questão do local onde estas festas ocorrem, que em
quase todos os casos, são lugares distantes do perímetro urbano. Vejamos o que
Abreu (2005) diz sobre estes locais:
No caso do modo de festejar rave, a peculiaridade do local onde se realiza a caracteriza e a diferencia de outros eventos de música eletrônica que acontecem na cidade. A procura por espaços que não participam das atividades cotidianas da vida metropolitana colabora para construir um mundo temporário dentro do mundo habitual, dedicado à pratica de uma atividade especial, extraordinária, ainda que possa ser regular. (Abreu, 2005 apud POSI, 2009, p. 85)
Abreu (2005 apud POSI, 2009, p. 85) afirma ainda que “a preferência dos
ravers por espaços ao ar livres e com elementos naturais contrapõem-se
imediatamente ao cenário das atividades regulares da vida urbana”. Esta é
justamente a premissa que leva tantos viajantes a buscar este tipo de evento:
festejar o novo, o incomum, o lugar que traz a possibilidade de viver experiências
extraordinárias, que fogem do que provavelmente ocorreria em outros tipos de
evento, mais próximos de onde a maioria dos ravers vive, trabalha e passa seus
dias.
Chiaverini (2009) é mais um autor que aborda a questão do lugar incomum
onde estes eventos ocorrem, deixando claro que quanto mais exóticos foram eles,
quanto mais afastados forem dos centros urbanos, maior o sentimento de mistério,
aventura e consequentemente, fuga da rotina. Isso se deve ao fato de que se
47
embrenhar por estradas de terra desconhecidas e se enfiar em festas que durariam
até o dia seguinte é algo totalmente fora dos padrões das atividades realizadas por
estes jovens urbanos em seu cotidiano.
Durante a pesquisa de campo, haviam momentos em que alguns
participantes entravam em um estado de profunda introspecção que todo aquele
ambiente atípico proporcionava. Poderíamos ainda ver pessoas concentradas,
olhando para o palco e dançando lentamente, como se estivessem em outro mundo,
perdidos em algum lugar dentro de suas próprias mentes. Havia por exemplo um
rapaz de dreadlocks dançando e sorrindo sozinho, sem desgrudar os olhos do palco,
totalmente alheio á tudo e á todos. Não parecia sequer se importar com seus
ombros que a julgar pela cor avermelhada, quase roxa, deveriam estar ardendo
graças às queimaduras de sol. Posteriormente, este mesmo homem foi entrevistado,
fornecendo um relato sobre sua experiência em estar ali, distante do cotidiano. Ele
descreveu um fator importante de ser observado: o impacto que aquela experiência
incomum exercia sobre aqueles aos quais por ela passavam, e posteriormente
retornavam a suas atividades normais, em seus locais de origem. Ele atestava que
ao sair de sua zona de conforto e se atirar em uma aventura como esta, o viajante
se vê diante de uma realidade diferente da que presencia diariamente, onde
necessidades básicas como alimentação, higiene e local adequado para passar a
noite não são preocupações, estavam sempre ao alcance das mãos, diferente do
que pode ocorrer nestes eventos, principalmente nos que sofrem incidentes como no
caso do festival O Mundo Imaginário, onde a chuva, o frio e a infraestrutura precária
(figura 12) causou transtornos e dificuldades para todos, fazendo com que muitos
desistissem de permanecer no local e se retirassem antes do previsto. Ao retornar
para suas casas, estes turistas passam por um período onde dão mais valor a tudo
que têm, passando até mesmo a de certa forma apreciar a rotina. Isso pode ser
observado no relato abaixo:
Acho que o próprio ato de estar aqui já é o meu motivo. Veja bem, eu poderia estar em casa, tranqüilo, confortável, comendo a comida da minha empregada, deitado no sofá ouvindo musica e olhando pro teto. Mas no final do dia, o que isso acrescentaria na minha vivência neste mundo? Seria só mais um dia de rotina, como muitos outros, tudo igual, mais um tempo que se perde vendo a idade chegar. Quando se vem em um lugar desses, em uma festa dessas, é disso que se foge: do óbvio, do repetitivo, do sem sal da vida. Sabemos que a rotina faz parte da vida de todo ser humano, mas ela pode ser minimizada, quebrada em alguns momentos, para que a vida tenha graça! (Respondente 8, 26 anos, São João Del Rey -MG)
48
Figura 12: Banheiros precários e inacabados. Fonte: Autoria própria.
Muitos estudiosos e profissionais do turismo percebem nesta motivação uma
das mais frequentes entre os viajantes em todo o mundo, em todos os segmentos de
turismo. Não é de se surpreender que no caso dos festivais de música eletrônica
ocorreria o mesmo. Através dos resultados obtidos na análise da pesquisa de campo
realizada, pudemos concluir que esta hipótese, que foi a primeira a ser pensada em
relação a esta pesquisa, foi efetivamente confirmada. Podemos ainda acrescentar
que devido a grande quantidade de menções feitas pelos participantes
entrevistados, esta motivação foi provavelmente a mais frequente entre as
estudadas neste artigo. Porém, há muitas outras que apareceram juntamente a esta,
ou mesmo separadas. A seguir, segue uma delas, que também apareceu inúmeras
vezes durante a pesquisa de campo: a diversão.
3.2 DIVERSÃO
Em um evento desta natureza, parece óbvio alegar que um dos principais
motivadores é a diversão. A diversão por si só, ou acompanhada de outros fatores
motivacionais, leva dezenas de turistas a buscarem este tipo de evento, onde podem
49
festejar e curtir um extenso período de entretenimento, que como visto em
momentos anteriores desta pesquisa, pode durar dias.
O divertimento, seja ele alcançado através de eventos de entretenimento ou
qualquer outra atividade de lazer ou mesmo ócio, é vital para o ser humano. Esta
premissa já é conhecida há muito tempo. Gerações passadas lutaram para
conquistar esse direito, que hoje em dia é garantido pela própria constituição
brasileira. Arendt (2007) faz essa afirmação ao dizer que “assim como o trabalho e o
sono, o divertimento constitui parte do processo vital da sociedade e seu consumo é
realizado através da recepção passiva do divertimento.” (2007 apud POSI, 2009 p.
52 - 53). Outra citação que diz respeito a essa essencialidade do divertimento nos
dias atuais é feita pelo mesmo autor, no fragmento abaixo:
Os produtos necessários à diversão servem ao processo vital da sociedade, ainda que possam não ser tão necessários para sua vida como o pão e a carne. Servem, como reza a frase, para passar o tempo, e o tempo vago que é „matado‟ não é tempo de lazer, estritamente falando – isto é, um tempo em que estejamos libertos de todos os cuidados e atividades requeridas pelo processo vital, e livres portanto, para o mundo e sua cultura – ele é antes um tempo de sobra, que sobrou depois que o trabalho e o sono receberam seu quinhão. (ARENDT, 2007: apud POSI, 2009 p. 52 - 53)
Essa necessidade se torna cada vez mais essencial, visto que o mercado de
trabalho e a vida urbana seguem um ritmo de crescente aceleração, que faz com
que a necessidade de buscar um equilíbrio entre o trabalho e a diversão, entre o
dever e o direito, aumente consideravelmente. Esta constatação pode ser
encontrada no trecho em que Adorno & Horkheimer (1985, p. 113) diz que “a
diversão é o prolongamento do trabalho sob o capitalismo tardio. Ela é procurada
por quem quer escapar ao processo de trabalho mecanizado, para se pôr de novo
em condições de enfrentá-lo”.
Em festivais de música eletrônica não poderia ser diferente. É enorme a
quantidade de pessoas que buscam essa forma de divertimento, intensa e
duradoura, tendo em vista que comparado a muitos outros estilos de evento, as
raves têm um prazo de duração muito mais extenso. Nestes festivais não existem
regras para a diversão; não há padrões de dança, de comportamento, de jeito de
andar e de se vestir. Durante o festival analisado houve um momento em que havia
uma aglomeração em torno de um local, como se todos observassem algo. Era um
rapaz que em uma espécie de contorcionismo, colocava uma perna atrás da cabeça
50
e pulava, parecendo dançar (figura 13). Todos que observam se divertiam muito,
aplaudiam, riam e tentavam imitar, todos sem sucesso. Depois de um tempo, o
“dançarino” se cansou da exibição exótica e voltou à posição normal, juntando-se à
multidão que pulava e dançava, como se não houvesse mais nada no mundo além
da música.
Figura 13: O contorcionista dançarino. Fonte: Autoria própria.
Assim são as festas rave. Na grande maioria delas, é raro encontrar
participantes julgando atitudes de conhecidos ou mesmo desconhecidos, quando
estas se referem à diversão da pessoa. É fácil ver gente dançando e até se jogando
na terra ou na lama que muitas vezes se forma em grandes quantidades, devido às
chuvas que podem eventualmente cair no local. É comum também ver pessoas
dançando das mais diversas formas, desde os mais introspectivos até os mais
empolgados, como no caso abaixo, onde um entrevistado exacerba sua empolgação
naquele momento:
Esse lugar é doidera demais véi, é surreal, olha esse pessoal todo pulando igual maluco! Ninguém sabe mais aonde tá, que horas são, não querem saber de nada! E eu não fico atrás não mano, tô lá na pista direto desde que cheguei, não parei nem pra almoçar ainda. Só parei agora pra falar com você e descansar um pouco, e daqui a uns minutos já vou estar lá no meio sequelando de novo! É isso que vale, curtir cada momento! A vida é uma só, ninguém é de ferro, temos direito a diversão de vez em quando, não acha? (Respondente 9, 25 anos, Diadema – SP)
51
Através da observação participante no festival, pudemos perceber pessoas
fazendo seus próprios shows, seja dançando, cantando ou tocando algum
instrumento, quase sempre despretensiosamente. Pudemos observar rodas de
violão ao redor da fogueira que foi feita logo na primeira noite (figura 14), para
proteger a todos do frio intenso da cidade de São Thomé (naquela noite, a
temperatura chegou a atingir 16 graus, havendo momentos em que chegou a chover
granizo).
Figura 14: Fogueira na primeira noite de evento. Fonte: Autoria própria.
O mesmo violão poderia ser encontrado em diversos pontos e momentos da
festa, fazendo a alegria daqueles que queriam ouvir um som mais leve, no intervalo
entre aquelas batidas intensas e pesadas do psy-trance. Já no último dia do festival,
no já abandonado palco de rock psicodélico, algumas pessoas comuns subiram e
resolveram cantar, tendo como público apenas seus próprios amigos, e
eventualmente um ou outro desconhecido que parava para observar a cena. O
objetivo era claramente a diversão deles próprios e de quem mais pudesse se
interessar. Sem fins muito além da diversão, sem interesse em demonstrar que tem
talento musical ou algo assim. Aqueles amigos e desconhecidos que faziam parte da
platéia contribuíam aplaudindo, brincando, dizendo pra saírem de lá, que estavam
espantando os últimos “sobreviventes” do festival. Juntamente com seus
companheiros, até o próprio pesquisador se sentiu contagiado e se juntou a esta
minúscula platéia, de menos que 20 pessoas, e não apenas assistiu esta
52
apresentação improvisada, como participou ativamente dela, subindo no palco e
cantando abraçado com aquelas pessoas que sequer conhecia (figura 15). Assim
como eles, se divertiu muito e pode sentir na íntegra a razão deste ser considerado
um dos fatores que levou muitas pessoas até aquele local.
Figura 15: Dançando no palco Woodtsock. Fonte: Autoria própria.
3.3 CONTATO COM A NATUREZA
Não se pode falar em festas rave sem falar também de contato com a
natureza. A maioria destas festas é realizada em locais arborizados, cercados por
montanhas, cachoeiras, praias ou outros. Há claro, algumas que ocorrem em
lugares que fogem a esse padrão, como aquelas que seguem o modelo tradicional
que se tornou frequente em Londres, nas primeiras raves britânicas, antes mesmo
do surgimento do psy-trance, onde estes eventos eram realizados em locais
fechados, conforme descrito por Chiaverini (2009, p. 45) quando afirma que estas
primeiras raves “aconteciam em galpões, em sítios nos arredores de Londres ou em
squats, prédios abandonados invadidos e transformados em espécies de cortiços”.
Já no momento atual da musica eletrônica, o mais comum é o que foi citado
no início desta seção, característica que será abordada ao longo dela. Para ser mais
específico e não englobar todos os estilos de musica eletrônica, abordaremos
53
apenas as raves open air, que são o tema deste estudo, cuja prioridade na escolha
do local difere de outros eventos da musica eletrônica, que por sua vez são focados
em diferentes segmentos, como no caso dos eventos onde a música tocada é
house, que desde a época de sua criação na cidade de Detroit, passando pelas
raves londrinas e chegando aos dias atuais, conforme narrado por Chiaverini (2009),
tem nos clubs16 seu principal local de realização. Com as festas rave, onde o estilo
musical mais frequente é o psy-trance, conforme já dito em capítulos anteriores, é
quase uma exigência que haja o maior distanciamento possível dos centros urbanos,
dos cenários cinzentos, do ambiente artificial, ou a “selva de pedra”, como disseram
alguns dos entrevistados durante a pesquisa de campo realizada no festival O
Mundo Imaginário. Chiaverini (2009) se aprofunda na questão que diferencia os dois
tipos de estilos musicais e seus respectivos locais de realização, e salienta que há
ainda diferenças de perfil entre seus frequentadores:
Pessoas que nunca haviam sequer pensado na hipótese de se enfurnar numa casa noturna para ouvir techno e house começavam a aderir ao fenômeno das raves. Nos clubes, era necessário enfrentar horas de fila, ter um visual compatível com a tribo dos demais frequentadores, e uma vez porta adentro era preciso ficar naquele ambiente claustrofóbico, cheirando a cigarro e sendo abalrodado por estranhas figuras sem camisa. (CHIAVERINI, 2009, p. 97)
A informação de que os festivais open air de psy trance priorizam locais
cercados por verde é confirmada por diversos autores, dentre os quais podemos
citar Posi (2009), que também fala sobre a questão discutida acima: a diferença
entre estes eventos e os voltados a outros segmentos da musica eletrônica:
O local da festa é mais valorizado quanto mais exuberante e diversificada for a natureza circundante. Os espaços mais procurados são os que conjugam campos, florestas, riachos, lagos, cachoeiras, praias e até grutas e cavernas, diferentemente de outros eventos de música eletrônica que acontecem nas cidades. (POSI, 2009 p. 41)
16 Locais de entretenimento, que normalmente opera até tarde da noite. Geralmente são distinguidos
de bares, pubs ou tabernas pela inclusão de uma pista de dança e uma cabine de DJ, onde este toca música eletrônica, disco, house, hip hop, R & B, rock, reggae, pop, e outras formas de dance music.
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Para Bruhns (2005, p. 133 apud SANTOS ALVES; RAIMUNDO, 2009, p. 13)
a experiência de contato com a natureza se torna mais distante para o indivíduo
urbano, “afastando as sensibilidades das pequenas emoções do cotidiano, como
uma simples chuva, que já não constitui uma aventura, sendo percebida ou
tornando-se apenas um ruído nos compartimentos fechados do trabalho”. Esta
afirmação é encontrada em um artigo de Santos Alves & Raimundo (2009, p. 02),
onde os autores exploram a relação do homem com a natureza, afirmando que este
contato se torna prazeroso e traz experiências que fogem à temática vivenciada
diariamente pelos indivíduos. Eles afirmam ainda que “o contato com uma paisagem
totalmente diferente da habitual faz com que sejam manifestados por meio de ações,
os sentidos e os sentimentos que o indivíduo urbano tem em relação a esse meio
que está vivenciando”, e concluem que esta experiência fora dos padrões cotidianos
pode propiciar visões diferenciadas, e consequentemente relações diferenciadas
com este ambiente, de forma mais intima do que normalmente se poderia obter nas
grandes cidades.
Durante os dias em que passamos acampados no festival em meio à natureza
que atraiu tantos turistas, podíamos entender um pouco do que eles sentiam. De
fato aqueles momentos nos faziam sentir como se fossemos parte do planeta, da
natureza, nos fazendo querer preservar e celebrar a mesma. Afinal, em tempos de
intensa depredação ambiental e urbanização desenfreada, são poucas as
oportunidades em que temos o privilégio de ver e sentir a “mãe natureza”. Isso sem
dúvida é digno de celebração.
Naqueles dias, esta natureza demonstrou toda sua força e violência, através
de intensas chuvas (figura 16), que em determinado momento se tornaram chuvas
de granizo e se somavam á raios que assustavam a todos e chegavam a atingir a
área de camping. Em uma destas quedas de raio no solo do festival, ocorreu uma
grande fatalidade: o falecimento de um estudante, conforme descrito no inicio do
capítulo de número três.
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Figura 16: Momentos antes da chuva intensa. Fonte: Autoria própria.
Mas a mesma natureza que nos agredia, também dava seus espetáculos,
como o que ocorreu na manhã seguinte à madrugada onde a tragédia ocorreu.
Naquela manhã, por volta das cinco e meia, todos os presentes pararam para
contemplar o nascer do sol por trás das montanhas (figura 17). Foi um espetáculo
sensacional, não havendo quem não percebesse. Até mesmo o DJ abaixou o som
por alguns segundos para dar espaço ao principal astro, literalmente falando,
daquele momento. Podíamos ver muita gente aplaudindo, sorrindo e pulando. Era a
natureza mostrando ser uma das principais atrações do festival.
São várias as reflexões e sentimentos que os freqüentadores podem ter ao
fim destas experiências em festivais de música eletrônica e em todas é possível
notar que os turistas que vão a estes locais cercados pela natureza, saem
satisfeitos, renovados e interessados em retornar ou a buscar outros eventos em
locais semelhantes, que possam lhes proporcionar o mesmo contato e sentimento
de respeito que ali vivenciaram.
56
Figura 17: Nascer do sol no segundo dia de evento. Fonte: Autoria própria.
Esta fidelização do cliente é algo que sempre é buscado e valorizado pelos
profissionais de turismo, dentre eles os profissionais de eventos. Dito isso,
passemos à próxima hipótese motivacional, a ser analisada na próxima seção.
3.4 ESPIRITUALIDADE
Falaremos agora de um tema complexo e de certa forma polêmico, quando se
trata do objeto deste estudo que objetivamos, que é a motivação do turista em
festivais de musica eletrônica. Ao falar em espiritualidade nas festas rave, devemos
ter cautela para não tomar rumos voltados diretamente à religião e sim ao estado de
espiritualidade, conforme explicaremos melhor adiante. Nas festas rave¸ podemos
perceber momentos que de certa forma se assemelham á rituais religiosos, como
afirma Chiaverini (2009, p. 185) ao citar uma frase do DJ Alok, que diz que um
festival deste tipo é “uma forma de resgatar um vínculo ritualístico, uma ligação com
o sagrado, com o mistério, que é inerente ao ser humano e que está cada vez
menos presente na sociedade contemporânea”. Estas características que se
assemelham à rituais religiosos não estão presentes apenas nos eventos que
estudamos neste trabalho, como também podem ser encontrados em diversos tipos
de festa, conforme podemos perceber no trecho a seguir:
57
Toda festa, mesmo quando puramente leiga por suas origens, tem certos traços de cerimônia religiosa, pois sempre tem por efeito aproximar os indivíduos, pôr em movimento as massas e suscitar, assim, um estado de efervescência, as vezes até de delírio, que não deixa de ter parentesco com o estado religioso. (DURKHEIM, 2008, p. 221)
Porém, o objetivo principal desta seção é falar de algo mais amplo e
abrangente, menos objetivo do que as religiões propriamente ditas. Aqui, o termo
utilizado foi espiritualidade, por se tratar de uma observação sobre um estado de
espírito, onde o indivíduo em análise usufrui do ambiente criado nestes eventos para
buscar o bem estar psicológico e mental. Esse bem estar pode ser alcançado por
uma série de quesitos separadamente, ou pelo somatório deles. A soma desses
quesitos, que incluem o local onde o evento é realizado (como já visto
anteriormente, é sempre desejado que seja um lugar cercado por natureza), o tipo
de musica, o nível de solidariedade, confraternização e hospitalidade dos demais
freqüentadores, entre muitos outros fatores, levam a um estado de espírito que é
descrito no parágrafo abaixo:
O amanhecer revelava um espetáculo de descobertas: a paisagem, a decoração, os amigos. Nessa fase da rave os olhares das pessoas dançando se encontram e se cruzam por toda a parte, são esses olhares penetrantes, de reconhecimento e aceitação, que articulam uma comunicação intensa entre os presentes. Também não existem mais rodas de amigos na pista, os limites do primeiro grupo já haviam se rompido, dança-se para qualquer direção – e em muitas delas – todos sorriem e se reconhecem como membros que estão fazendo uma grande festa. Todos dançam com todos, e esse ato de compartilhar é sinal de uma aliança forte. Há uma sensação de confraternização e encontro generalizado, e certa satisfação pela participação na construção dessas emoções. (ABREU, 2005, p. 44 - 45).
Esse estado de espírito é resumido por muitos autores e frequentadores do
universo raver, através de uma palavra: vibe. Diversos autores que tratam do
assunto conhecem e citam com freqüência esse termo. Uma destas autoras, Posi
(2009, p. 94), afirma que “a existência da vibe é outro indício da dimensão do
sagrado existente nas raves, expressão utilizada para identificar a alegria e o
conforto, produzidos pela confraternização grupal”.
58
Figura 18: A vibe da rave fazendo todos dançarem. Fonte: Autoria própria.
Um dos locais onde a vibe pode ser sentida com mais intensidade é no
espaço voltado para o relaxamento, meditação e descanso, presente na grande
maioria das raves de médio e grande porte, conhecido como chill out (figura 19).
Segundo Chiaverini (2009, p. 13) “o chill out (algo como “esfriar”, em inglês) é o local
de descanso das raves, onde a música é mais calma; há esteiras no chão e
almofadas para largar o corpo moído pela pista principal”. É neste local que foi
realizada boa parte das entrevistas durante a pesquisa de campo deste trabalho. Lá,
os empolgados frequentadores aproveitavam para desacelerar um pouco e reunir
energias para as próximas sessões de dança que se estendiam por horas, em frente
aos palcos. É lá que aproveitavam para conversar, conhecer novas pessoas, se
organizarem, planejarem quais sets17 assistiriam a seguir, e comentar sobre suas
impressões do evento até então.
17 Conjunto de músicas gravadas em uma determinada ordem, sem interrupção, produzidas por DJs,
que utilizam aparelhos específicos para fazer a transição de uma música a outra sem que haja diferença na velocidade e união das batidas.
59
Figura 19: Espaço para descanso (Chill Out). Fonte: Autoria própria.
Era nesse momento que o pesquisador entrava, se apresentando e coletando
informações sobre o tema pesquisado, muitas das quais citando a vibe e os demais
conceitos ligados à espiritualidade. Abaixo, segue um destes relatos:
Mano, olha ao seu redor! Isso aqui não se explica! Só gente como eu, você, e esses conhecidos e desconhecidos, que um dia se aventuraram a pisar nesse solo, conseguem entender na integra o que é, o que sentimos! É muito mais do que festejar apenas. É uma energia que vai além disso, que nos renova, que nos faz transcender de tudo que existe lá fora em nossas vidas, uma força invisível e intangível que lava a alma e leva embora tudo de ruim e pesado que nos atrasa, que suga nossa motivação de viver. Porque é isso que buscamos, viver, e não somente sobreviver! Enfim, o motivo é esse, a elevação do espírito, a absorção de uma energia boa que faz valer a pena toda a batalha que a babilônia te impõe durante os dias comuns! (Respondente 8, 26 anos, São João Del Rey - MG)
Apesar de o chill out ser o local mais propício para a manifestação da
espiritualidade em uma festa rave, ela não se restringe apenas a este local. Pode
também ser observada a todo o tempo, seja em algum canto mais silencioso ou em
plena pista principal, onde o som do psy trance também pode levar os
freqüentadores a intensos momentos de reflexão e instrospeção. Houve por
exemplo, durante o festival pesquisado, um momento onde poderíamos perceber
60
uma mulher parada, de olhos fechados, movendo apenas a cabeça no ritmo da
música, parecendo estar em um estado próximo de um transe. De tempos em
tempos, soltava um sorriso contido, que logo se transformava em risada, e
repentinamente voltava à seriedade. A maior parte do tempo ela permanecia de
olhos fechados, com o rosto voltado hora para o céu, hora para o chão. Era comum
presenciar momentos como este, onde participantes atingiam níveis de introspecção
ou meditação em diversas escalas, em visíveis demonstrações de espiritualidade.
Durante o projeto que levou a este trabalho, antes da realização da pesquisa de
campo, ainda não nos era perceptível que a espiritualidade pudesse ser uma das
motivações para a ida aos festivais. Como antigo freqüentador destes eventos, o
pesquisador sabia da existência desta vibe, mas não havia parado para pensar que
ela por si só pudesse ser considerada um fator motivacional. Todavia, durante as
entrevistas percebemos que ela pode sim ser um potencial motivador, aparecendo
em alguns casos somado á outros fatores, e em outros sendo percebidos
separadamente, como a única opção informada pelos entrevistados.
Algumas vezes, certas motivações podem ser mais discretas e fugir ao olhar
do pesquisador nos momentos iniciais, como foi no caso desta seção. Já em outros
casos, elas são tão óbvias que ficam explícitas em cada momento da festa, em cada
minuto da viagem e em cada palavra dos entrevistados. Este é o caso da próxima
hipótese de estudo.
3.5 MÚSICA E DANÇA
Como não poderia deixar de ser, a música e a dança serão analisadas nesta
seção, por serem potenciais motivadores para o turismo de eventos e
consequentemente, a experiência turística em festivais de música eletrônica ou de
outras vertentes musicais. Autores como Dias (2012, p. 31) relacionam a importância
da música em nossas vidas com a crescente massificação do turismo ligado a
eventos musicais, conforme podemos verificar no trecho em que este diz que “a
música é algo importante na nossa vida, sendo transversal a toda a população, pelo
que não é de espantar que seja um importante setor de atividade, gerador de
milhões de Euros anuais e um forte empregador”. O autor prossegue citando Gibson
& Connel (2005) e descrevendo um termo onde expressa de forma mais objetiva o
que analisamos no caso dos festivais de música. Este termo é conhecido como
61
music tourism e se refere ao “tipo de turismo onde se viaja, pelo menos em certa
medida, devido à música” (p. 39). Este segmento, apesar de não ser reconhecido
oficialmente por órgãos como a OMT, é de fácil entendimento e percepção. Ainda de
acordo com Gibson & Connel (2005, p. 16 apud Dias, 2012, p. 39), engloba um
“cluster18 de possíveis turistas, atividades, locais, atrações, trabalhadores e eventos
que utilizam recursos musicais para fins turísticos”. Dentro deste segmento há uma
subvertente exposta por Horner & Swarbrooke (2005, p. 371): segundo eles, existe
“um desejo crescente para participar em concertos e festivais de música”. É na
análise destes festivais, mais precisamente os de música eletrônica e na motivação
diretamente ligada à música e a dança, que nos ateremos neste momento.
Antes mesmo do grande boom da música eletrônica em geral e das festas
raves, alguns autores já previam que o advento da tecnologia levaria a música a
uma nova era, adaptada às possibilidades que as novas ferramentas informatizadas
nos propiciavam desde então. No trecho abaixo, podemos constatar uma dessas
previsões:
Muitos autores que tratam de música sugerem que estamos prestes a ingressar numa era de grande liberdade, na qual as restrições inegavelmente sufocantes da música artística européia estão se despedaçando, e a liberdade musical será atingida através do uso de instrumentos altamente sofisticados, capazes de gerar pleromas de sons
19.
(Steward, 1987, p. 22)
Ao utilizar o termo pleromas de som, o autor tenta demonstrar que esta nova
forma de música seria capaz de levar seus ouvintes a atingirem níveis específicos
de alteração de consciência e emoções. Esses níveis podem ser alcançados através
de diversos estilos de música, conforme podemos perceber nas palavras de Queiroz
& Pereira (2000, p. 15), onde a música aparece tendo como uma “qualidade
intrínseca, relaxar a sensorialidade humana, por satisfazê-la, e com isso conduz as
pessoas a um estado receptivo e sensível, em especial quanto às emoções”. Na
seqüência, os mesmos autores afirmam que “a musica relaxa nossos sensores –
não apenas a audição, e sim todos eles – e predispõe nossos sentidos para a
18 Conjunto de atrativos com destacado diferencial turístico, dotado de equipamentos e serviços de
qualidade, com excelência gerencial, concentrado num espaço geográfico delimitado. 19
O termo grego pleroma significa plenitude e indica uma condição de existência em que a plenitude mais completa do ser e da consciência é alcançada, chegando a um estado considerado divino, o que alguns autores chamam de “estado de omega”.
62
comunicação e a troca. Assim, a pessoa se abre à disposição de um conteúdo
(emocional) presente no ambiente ou em sua própria interioridade” (QUEIROZ &
PEREIRA, 2000, p. 16). Da mesma forma, complementando a idéia de que a música
pode influenciar nas sensações e experiências das pessoas, Campbell (2006, p. 83)
acrescenta que a música pode ser responsável por regular os hormônios que levam
o ser humano ao estado de estresse. Segundo ele, “os anestesistas relatam que o
nível de hormônios ligados a estresse no sangue declina significativamente nas
pessoas que ouvem música ambiental relaxante – substituindo, em alguns casos, a
necessidade de medicação”. Razões como estas levam viajantes de muitos locais
do mundo para os festivais, principalmente aqueles que são moradores de regiões
potencialmente estressantes, como as grandes metrópoles que com seus
constantes engarrafamentos, violência e rotina desgastante, causam transtornos
emocionais e psicológicos em muitos de seus habitantes. Sendo assim, é comum
encontrar nos festivais de música eletrônica relatos como este a seguir, falando
sobre os benefícios que a música e eventos relacionados à ela podem gerar:
Tá na cara que a música é uma das minhas principais motivações, assim como a de grande parte da „massa‟ aqui. É ela que nos faz esperar esse tempo todo na fila, depois de longas viagens, passando calor, carregando um monte de “tralha”. Mas no final, ela nos recompensa de forma justa, nos traz novas energias, nos incentiva e fortalece. Quem não aprende com a música não é? É por isso que trouxe minha filha pequena para cá, o que quero ensinar pra ela aqui é que a música me ensinou muito, sempre foi muito importante para o meu crescimento como ser humano, da minha infância até hoje. (Respondente 3, 37 anos, São Paulo - SP)
Chiaverini (2009) faz um apontamento que nos faz perceber que além da
música, há outro fator relacionado á ela que atrai tantos outros frequentadores para
os festivais. Ele diz que “para muitos ravers, o estado de consciência resultante
desse mergulho no som está próximo àquele encontrado por certos povos que usam
a dança e a música em rituais religiosos” (p. 103). Sim, a dança atrai tanto quanto ou
até mais turistas para as raves do que a própria música. Esta necessidade que o ser
humano tem de dançar surgiu muito antes do homem moderno, conforme podemos
observar na entrevista de Lívia, uma antiga frequentadora de festas rave, citada por
Abreu (2005):
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O estudo dos primórdios da civilização mostra a ligação entre a dança e a busca espiritual. Dessa forma, a dança deixa de ser simples movimento e passa a ser ferramenta para ampliar a capacidade sensorial e de compreensão do mundo. (ABREU, 2005, p. 127)
A mesma entrevistada se aprofunda nesta questão, desta vez focando no
estilo que conhecemos como psy-trance, afirmando que “quando dançamos trance
psicodélico, estamos acima de tudo, alinhando o corpo e a alma, construindo a auto-
imagem do corpo, e destruindo todas as energias negativas.” (ABREU, 2005, p. 127)
Estas características da dança na música eletrônica criam um ambiente diferenciado
nas raves, podendo gerar sensações e emoções muito adversas entre cada
participante, conforme podemos observar na figura 20.
Figura 20: Dentro da pista principal. Fonte: Autoria própria.
Foi assim no festival O Mundo Imaginário, onde poderíamos encontrar
pessoas que demonstravam estar em um estado de humor bastante introspectivo,
olhos fechados, danças lentas, muitas vezes não acompanhando a velocidade do
som que se ouvia naqueles momentos; por outro lado, haviam também aqueles que
apresentavam expressões muito menos contemplativas, mais empolgadas, pulando
para todos os lados, batendo palmas, gritando. Amigos se abraçavam, casais se
beijavam, estranhos pareciam tentar se comunicar com o DJ, como se quisessem
64
lhe dizer algo, mesmo que este estivesse focado apenas em sua aparelhagem de
som (figura 21).
Figura 21: Visão do DJ para a pista. Fonte: Autoria própria.
Era contagiante ver isto. Sentíamos uma energia tão forte circulando ali que
era quase impossível ficar parado. Um exemplo destas formas de comportamento
durante a dança era um casal que foi entrevistado durante o segundo dia de evento,
aqui identificados como respondente 10 (um capoeirista de 27 anos, morador de
Salvador) e respondente 11 (a namorada do respondente anterior, de 24 anos,
moradora de Goiânia). Este casal se conheceu em uma rave chamada Playground,
no ano de 2011 em Goiânia, onde se apaixonaram, mantiveram contato e desde
então sempre que podiam viajavam para algum festival que fosse acessível para os
dois, que moravam distantes um do outro. Eles disseram já ter viajados juntos para
mais de cinco festivais, dentre eles o Universo Paralello, a pedidos do respondente
10, morador da Bahia, estado onde ainda ocorre o evento.
Durante a observação participante, pudemos perceber que cada um deles
dançava de uma forma: ele sempre muito empolgado, pulando, gritando e
conversando com alguns outros rapazes que estavam por perto; já ela, dançava
discretamente, a cabeça estendida e fixa em direção ao palco, escondida atrás de
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seus óculos escuros provavelmente para não ser interrompida por ninguém que
pudesse atrapalhar seu ritual de dança. Constantemente paravam de dançar para
conversar e ficarem juntos, e curiosamente nestes momentos a dança dos dois se
tornava uma espécie de mistura entre o que ele fazia antes, e o que ela fazia.
Instantes depois, durante as entrevistas, eles deram sua opinião sobre a dança,
conforme transcrito a seguir em de um dos trechos da conversa:
(Entrevistador): - Vocês responderam aqui que têm três motivações para virem á este festival, mas que entre elas, música e dança era a principal. Qual é o motivo desta ser a mais importante? (Respondente 10): - Bem, a dança sempre fez parte da minha vida, desde garoto. Aprendi cedo a jogar capoeira, que é sempre bom lembrar, antes de ser um instrumento de defesa pessoal, é uma dança. Até hoje jogo, dou aulas para crianças e adolescentes da minha cidade... (Respondente 11): - Você tinha que ver que lindo, aqueles gurizinhos dançando, aprendendo a tocar os instrumentos, é de arrepiar! (Respondente 10): - È, é, dá uma sensação legal ver que eles estão aprendendo a ter disciplina, a maioria não falta uma aula sequer! E isso é ótimo, porque eles poderiam estar gastando esse tempo com drogas ou assaltos, mas optaram pela música e a dança. Tenho certeza de que assim se tornarão pessoas melhores. (Entrevistador): - Muito interessante! Parabéns pelo projeto, com certeza isto transforma a vida deles, a sua e a da sua cidade! (Respondente 11): - Com certeza, tenho muito orgulho e apoio muito essa iniciativa! Mas então, respondendo sua pergunta, a dança e a música também fazem parte da minha vida, assim como ele cresci cercado por elas. Fiz aulas de violão, canto, vários estilos de dança, mas atualmente pratico só o zouk20 mesmo. Meu pai diz que é meu remédio, que se eu ficar uma ou duas aulas sem ir, até meu humor muda: fico irritada, ansiosa, desconcentrada... (Respondente 10): - Comigo acontece o mesmo com a capoeira, acho que a dança é uma forma de utilizar suas energias em algo produtivo e prazeroso, pra não ter que usa-las de formas e em horas erradas... (Entrevistador): Para não descontar essa energia em outras pessoas né? (Respondente 11): - Isso mesmo, e a música complementa essa experiência, me relaxa, mergulho de cabeça nela, desligo do resto do mundo por uns instantes. É por isso que viemos aqui, porque é um dos poucos lugares que me propicia essa sensação de fusão tão intensa entre o corpo, a música e o ambiente. (Respondente 10): - Falou tudo, é exatamente essa a questão, por isso há tempos estamos nas raves pelo país afora! E vamos continuar indo, não foi a primeira nem será a ultima! É isso, viva a música que nos une, nos faz crescer e viver em paz! (Respondente 10): Viva, um salve para ela, a salvação para as muitas aporrinhações do dia a dia! (risos)
20 Zouk, que significa "festa", é uma dança muito praticada no Caribe , mais frequentemente nas ilhas
de Guadalupe, Martinica e San Francisco. Assim como o merengue, o zouk é dançado trocando-se o peso basicamente na cabeça dos tempos musicais.
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Relatos como estes eram comuns no Mundo Imaginário, bem como também
são em muitos outros festivais pelo Brasil afora. Além deles, pudemos ainda
observar a relação entre a música e os freqüentadores da rave, relação esta que se
fazia presente nas atitudes dos participantes ou em momentos e lugares ao longo de
todo o evento. Em nossa ultima volta pelo lugar, vimos grupos de pessoas sentadas
em roda, tocando violão e flauta, cantando e batucando em qualquer coisa que
pudesse fazer um som, que apesar de sempre despretensioso, era de qualidade,
tanto que fazia com que os curiosos ao redor se aglomerassem cada vez mais. Em
uma dessas rodas, o entrevistador pensou em conversar com os integrantes, que de
tão sincronizados, pareciam uma banda de verdade (figura 22). Porém, preferiu não
falar nada para não interromper e cortar o clima de energia positiva daquele instante.
Dessa forma, pudemos usufruir mais momentos da motivação descrita nesta seção.
Figura 22: A música fora dos palcos. Fonte: Autoria própria.
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3.6 CONHECER NOVOS LUGARES
Por ser uma pesquisa ligada ao turismo, este trabalho não poderia deixar de
fora esta hipótese motivacional, que como era de se imaginar, apareceria durante a
aplicação dos questionários na pesquisa de campo. Conhecer novos lugares é algo
que sempre moveu turistas para inúmeros locais, e em muitos casos, para eventos.
Não é exagero dizer que este fator é um dos que levou a criação do turismo como o
conhecemos, enquanto atividade profissional, remunerada e planejada, conforme
podemos perceber na definição da própria Organização Mundial do Turismo, que
descreve o setor dizendo que este “compreende as atividades que realizam as
pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes a seu entorno
habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer,
negócio ou outras” (OMT, 1994, s.p.). Almeida (2005, p. 04) afirma que “há duplo
sentido, mesmo inconsciente, no deslocamento para conhecer novos lugares. O
movimento interior realiza-se dos esforços intelectual e emocional e do querer do
viajante, para que exteriorize desejar conhecer o outro e conseqüentemente mais a
si, talvez o maior feito”.
Conforme poderemos observar nesta seção, o fato de conhecer novos
lugares pode ser tanto um fim, como um meio de atingir objetivos mais específicos,
como conhecer outras pessoas, culturas e até conhecer melhor a si mesmos.
Diversos autores tratam da importância desta motivação para o ser humano. Um
deles é o navegador e escritor Klink (2000, p. 35) que afirma que “um homem
precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos
faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que
nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e
simplesmente ir ver”. E como veremos a seguir, esta busca por novos lugares é algo
que os ravers apreciam bastante.
Nos eventos de música eletrônica, a maior parte dos frequentadores não são
moradores do entorno e na maioria das vezes, nem sequer da cidade onde o evento
ocorre. Posi (2009, p. 43) ao falar sobre estes festivais de música eletrônica diz que
“apesar de serem realizadas em áreas rurais, seus frequentadores são
exclusivamente jovens urbanos, principalmente moradores de áreas metropolitanas
e cidades globais”. Estes jovens buscam experiências únicas, em locais muito
68
diferentes dos que estão acostumados em seus cotidianos, mesmo que estes sejam
de difícil acesso. Podemos verificar essa afirmação no trecho a seguir:
O isolamento do local onde as festas ocorrem e a própria viagem rumo àquele território desconhecido, àquele templo hedonista erguido a céu aberto, também fazem parte do distanciamento da realidade. Todos que participam do festival escolheram se afastar do cotidiano, ato evidenciado pela disposição de passar trinta horas enfurnados num ônibus. (CHIAVERINI, 2009, p. 230)
Como afirmado pelo autor, muitos participantes se utilizam de ônibus para
chegar aos festivais, sejam convencionais ou fretados especialmente para levar o
público para os eventos. Há diversas agências de viagens que vendem pacotes de
transporte rodoviários que podem incluir bebidas, alimentos e é claro, muita música
eletrônica pelo caminho. Os participantes escolhem este meio de transporte por
questões diversas, como a indisposição a dirigir longas distâncias no retorno às suas
casas após horas de exaustiva, porém prazerosa, celebração da música eletrônica
vivenciadas durante os festivais. Mas há também uma grande quantidade de ravers
que prefere chegar á estes locais de carro, de modo a se sentirem mais à vontade
para irem embora quando desejassem, seja por razões de cansaço, emergências
médicas ou outros motivos. Isso ocorre pois as excursões de ônibus geralmente
chegam no inicio do evento e retornam apenas após o término do mesmo.
Durante a pesquisa realizada no festival O Mundo Imaginário, optamos por
esta segunda opção, indo de carro em um percurso que durou cerca de sete horas
para ir, e posteriormente mais sete horas para voltar. As estradas que encontramos
eram rústicas, arenosas e esburacadas, e para piorar estavam cobertas de lama,
decorrêntes das fortes chuvas que caíram durante aqueles dias. Nas proximidades
do local onde ocorreria o festival, se formavam extensas filas de carro (figura 23),
dos quais alguns ficavam atolados, dificultando ainda mais a passagem dos demais.
69
Figura 23: Filas imensas na entrada. Fonte: Autoria própria.
O fato é que independente do meio de transporte utilizado, seja ele carro,
ônibus ou até mesmo carona em um caminhão (figura 24), a maioria dos
participantes não se incomodava com estas dificuldades de acesso. Afinal, esta
etapa de chegada ao evento, quando se passava por estradas desconhecidas, já era
um momento de fuga da rotina que tantos desejavam. Era uma experiência que
fugia ao padrão da normalidade em seus cotidianos. Desta forma, estes viajantes
apreciavam esta experiência, curtindo cada momento deste trajeto cercados de
expectativas durante o trecho de ida, ou relembrando o que de bom ocorreu no
festival, durante o retorno para suas cidades. Afinal, muitos buscavam justamente
conhecer novos lugares, o que inclui não só o local da realização do evento como as
estradas que levam a ele e o entorno que o cerca, os quais em muitos casos
apresentam diversos atrativos turísticos. No caso de São Thomé das Letras, cidade
onde foi realizado o festival tema de nosso estudo, poderíamos encontrar inúmeras
cachoeiras, rios, trilhas para caminhadas ecológicas, entre outros atrativos naturais.
Além disso, o centro da cidade possuía bares, restaurantes e pequenas casas de
show, onde a noite a movimentação era sempre grande.
70
Figura 24: Ravers pegando carona no caminhão para irem embora. Fonte: Autoria própria.
Esta cidade é conhecida por ser um destino turístico que atrai turistas
alternativos, com um perfil halocêntrico¸ que segundo Lohmann e Netto (2008 apud
NUNES, 2012, p. 31), “são aqueles que querem descobrir novos destinos,
explorando culturas estrangeiras e com espírito de aventura”. Sendo este o perfil do
turista mais frequentemente encontrado na cidade, bem como da mesma forma este
padrão é majoritário entre os frequentadores de festas rave, é natural que se
encontre esta motivação entre os participantes do festival estudado. Estes ravers
dificilmente se incomodam com o trajeto da viagem, bem como também não vêem
problemas em sair de sua zona de conforto para vivenciar experiências fora dos
padrões cotidianos, seguindo a risca o que Klink (2000, p. 35) sugere para os
viajantes. Segundo ele, estes devem “conhecer o frio para desfrutar do calor. E o
oposto. Sentir a distancia e o desabrigo para estarem bem sobre o próprio teto”.
Durante a pesquisa de campo, um dos entrevistados afirmou ter vindo do Uruguai,
convidado por alguns amigos brasileiros que também estavam presentes no festival.
Este turista, que veio exclusivamente para o evento e após o término deste
retornaria para Colonia Del Sacramento, sua cidade natal, fez uma declaração que
exemplifica o que foi falado neste parágrafo, conforme podemos observar a seguir:
71
Eu não vejo o menor problema em passar horas em um carro, onibus ou mesmo avião para chegar aos festivais que me interesso. Já viajei para outros países mais distantes do que o Brasil em busca de festas deste tipo, como a India. Acredito que nem a viagem, nem nada mais, deveria nos incomodar aqui. Vi algumas pessoas reclamando do frio que está fazendo, mas e daí? Para mim é um pouco mais facil pois minha cidade tem temperaturas baixas, mas mesmo que não tivesse eu estaria aproveitando da mesma forma, valorizando estes momentos que me fazem perceber o quanto nossas vidas são confortaveis durante os dias normais. Quando chego aqui, quero mesmo é dormir na grama, tomar banho frio, conhecer gente nova e que pensa e vive diferente de mim. Isso me torna um ser humano capaz de enxergar além da visão minimalista que eu poderia ter se vivesse toda a minha vida sem sair da minha cidade. (Respondente 19, 26 anos, Colonia Del Sacramento - Uruguai)
Relatos como estes foram frequentes durante aqueles dias. Apesar de haver
reclamações sobre o frio e a falta de algumas condições basicas para o mínimo
conforto dos participantes, conforme afirmado pelo uruguaio entrevistado, até os que
reclamavam sabiam que aquelas dificuldades acrescentariam algo em suas vidas.
Muitos seguiam a idéia de que naquele momento poderiam estar vivendo uma
situação preocupante ou desconfortável, mas depois lembrariam e ririam destes
momentos. Poderíamos ouvir que “tem vezes que é difícil, tipo no Universo Paralello,
que estouraram alguns canos e ficamos um tempo sem água. Na hora foi um sufoco,
mas nos saímos bem e hoje em dia rimos muito, lembrando do quanto nos
divertimos.” (Respondente 11, 24 anos, Goiânia - GO). Outra participante contou que
ao voltar de um festival que durou cinco dias, fez uma parada com o ônibus de
viagem que a levava de volta pra casa e ao se deparar com um espelho, objeto que
não via desde que entrou no evento, levou um susto ao ver seu estado, cheia de
lama e com a pele rosa, muito queimada de sol, mas que ao mesmo tempo se sentiu
“feliz por ter vivido esta sensação de desapego e conhecido um lugar novo e
inesquecível.” (Respondente 24, 23 anos, Ouro Branco – MG).
Para concluir, vale ressaltar que esta motivação por viagens buscando
conhecer localidades e culturas novas, traz ao turista um sentimento de inovação e
vanguardismo, os fazendo sentir como se fossem autênticos gate keepers, que
segundo Castro (2009, p. 02) são aqueles turistas que “são pioneiros, descobrindo
um destino, e mesmo que involuntariamente fomentam o desenvolvimento turístico
desse local, normalmente transformando-o no oposto do que os atraiu”. De posse do
conhecimento sobre o que foi dito nesta seção, podemos fazer uma relação com o
tema a ser estudado na seção a seguir, que trata de status e distinção.
72
3.7 STATUS E PRESTÍGIO
Falaremos a seguir de uma das quatro categorias, que segundo McIntosh
(1995) apud Cooper (2001), segmentam a motivação do turista. Esta categoria se
refere ao status e prestígio, onde segundo o autor, o turista busca atender seu
desejo de reconhecimento e atenção dos demais, estimulando seu ego. No caso das
festas rave, aqueles que buscam estes eventos por este motivo são em geral
integrantes de um mesmo perfil, cada vez mais presente nas mega raves do Rio de
Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e outras metrópoles, mas ainda é minoria nos
festivais mais distantes e menos famosos, como o que analisamos neste trabalho.
Abaixo, há um texto que descreve este perfil:
Há, ainda, um segundo grupo que se destaca entre os ravers. Ele é geralmente maior nas megaraves, que atraem jovens de tribos diversas, mas seus componentes estão cada vez mais se infiltrando nas festas conceito. Eles não são vegetarianos, não querem saber de religiões orientais e não pregam nada além do culto ao corpo. Usam cabelo raspado ou bem curto, calça jeans e desfilam sem camisa, exibindo músculos depilados, estufados de maltodextrina
21, sem uma grama de gordura. As
meninas usam bota plataforma, calças que embalam as curvas à vácuo e tops justos transbordando de silicone. (CHIAVERINI, 2009, p. 16 - 17)
Através da observação participante e de uma análise do discurso dos
entrevistados, poderíamos perceber no festival O Mundo Imaginário que havia certo
preconceito, muitas vezes discreto, outras nem tanto, por parte dos demais
freqüentadores com relação a este grupo específico. Porém, ainda que seus ideais e
comportamentos não fossem bem vistos pelos demais, não chegavam a ser
discriminados. Afinal, um dos ideais apoiados nestes eventos é o respeito às
diferenças, e isso é levado a sério pela quase totalidade dos adeptos da música
eletrônica. O que ocorria com relação á eles eram algumas criticas, onde se alegava
que estes não são engajados política e filosoficamente como supostamente seríam
os demais frequentadores. Podemos perceber isto através do discurso de um dos
entrevistados, que apresenta uma visão negativa com relação a este comportamento
encontrado atualmente em muitos festivais.
21 Carboidrato complexo, proveniente da conversão enzimática do Amido do Milho. É usado como
suplemento alimentar para os praticantes de atividades físicas como musculação ou atletismo.
73
Sei que hoje em dias as coisas mudaram, não se tem mais os mesmos ideias que eu tinha quando era mais jovem. Não há mais aquela coisa que havia nos 80, como as criticas ao sistema. Quer dizer, isso ainda existe, mas acho que não como naquele tempo. Alguns de nós viveram a ditadura, sabiam mesmo como protestar, inclusive através da música. Mas o fato é que hoje muita gente vem aqui por apenas por status, só pra dizer que veio, pra dar inveja em que não foi, postando fotos no Facebook. Não vejo problema em fazer isso, pra mim a questão só começa a incomodar quando esse se torna o único objetivo, o que é um grande desperdício em um evento deste estilo. (Respondente 3, 37 anos, São Paulo - SP)
Polêmicas a parte, o que nos interessa nesta seção é exatamente o grupo
que busca as raves por questões de status e distinção. São várias as características
que podem ser inseridas dentro deste fator motivacional. Alguns dos freqüentadores
são atraídos, por exemplo, pela presença de pessoas bonitas nos festivais. Sejam
homens ou mulheres, podemos verificar todos os perfis, de rockeiros(as) à
“patricinhas” e “mauricinhos”, de neo-hippies à fisiculturistas, mas que geralmente
são pessoas que chamam atenção por diversos motivos. Abaixo, há uma descrição
sobre estes frequentadores:
Eram, em sua maioria, jovens bem cuidados, de boa aparência e exibindo físicos saudáveis. As meninas, em especial, destacavam-se pela beleza. Mesmo embaixo dos dreadlocks ou pinturas flúor, mesmo exibindo roupas pouco convencionais e tatuagens, por vezes de gosto duvidoso, eram poucas as garotas que não chamavam a atenção pela beleza. (CHIAVERINI, 2009, p. 226)
Para muitos frequentadores destes e de outros estilos de evento, estar
cercado de pessoas bonitas lhes fornece a sensação de status, fazendo com que se
sintam privilegiados e talvez, até os faça terem a sensação que são igualmente
bonitos. Este sentimento de pertencimento e semelhança aos demais é algo que é
digno de ser analisado, pois mesmo não aparecendo explicitamente durante as
entrevistas, era facilmente percebido em conversas informais com os participantes,
ou mesmo apenas através da observação destes, como podemos perceber no
trecho a seguir.
Vou ser bem sincero contigo truta, não me ligo muito nesse negócio de transcendência, de “amiguinhos” da natureza, dos animais e coisa e tal. Nada contra quem é dessa turma não, mas isso não mexe comigo, não vou ficar fazendo um papel que não me identifico. Tô aqui pela festa mesmo, porque meus manos vieram, porque lá em Sampa essas raves rolam direto e me acostumei a ir com eles. Lá é tudo festão mesmo, grande igual aqui,
74
as vezes até maior! Mas é um outro estilo, é mais urbano, e acho que até prefiro assim, como já disse não curto muito mato, grama! Mas a galera lá da minha cidade vai ficar doida quando souber que vim aqui, com tanta mina maravilhosa, em um festival tão doido desses, sei que sentirão inveja quando eu voltar! (Respondente 9, 25 anos, Diadema - SP)
Outros motivos podem estar presentes como o fato de que ao retornar para
suas cidades de origem, estes participantes poderão exibir fotos (figura 25), vídeos,
depoimentos próprios e alheios que comprovem suas experiências durante o evento
e a viagem. Segundo a percepção destes turistas, o sentimento de “inveja” que
causam aos que não puderam ir é algo que os fazem sentir bem e coloca-os,
conforme dito por alguns dos entrevistados, em um patamar de superioridade em
relação a seus amigos e conhecidos.
Figura 25: Ravers dançando e tirando fotos. Fonte: Autoria própria.
Um dos entrevistados, o respondente 28, um senhor de 38 anos, forneceu um
relato interessante sobre a questão de status e fotografias. Ele acompanhava a
respondente 27, sua filha de 18 anos que apesar de já ter freqüentado outras raves,
nunca havia viajado para um evento deste estilo, muito menos em outro estado,
como no caso do festival O Mundo Imaginário. Ela, além de levar algumas amigas
de sua idade, decidiu convidar também seu pai, que apesar de ser muito “festeiro”,
como ambos disseram, não era um admirador deste tipo de festa. Através deste
convite, ela esperava tranqüilizá-lo, e com sorte retirar o preconceito e temor que ele
possuía em relação aos festivais que geralmente são divulgados na mídia de forma
75
negativa. Durante a entrevista, ele assumiu que naquele momento, no segundo dia
de festival, sua visão sobre o evento já havia mudado, e ele percebia que muito do
que tinha ouvido falar até então era “sensacionalismo, ou na melhor das intenções,
exagero”. Com relação à motivação dos freqüentadores, ele disse que os motivos
possam ser variados, e que em relação à sua filha, sua opinião era a seguinte:
Na verdade, na verdade mesmo, nem sei se ela gosta tanto desta festa. Acho que ela vem mais por influencia das amigas, que estas sim parecem ser grandes fãs, do que por conta própria. Digo isso porque fiquei observando o dia inteiro, e vi que elas mais tiram fotos e conversam entre si, do que dançam, se foca na música. É, acho que é bem por aí: no fundo ela quer mostrar para as outras amigas que não vieram que esteve aqui, que a decoração era bonita, que as montanhas eram verdes, e que ela é privilegiada por ter vindo. Coisa de adolescente, é comum, já fiz coisa parecida na idade dela! (Respondente 28, 39 anos, Volta Redonda - RJ)
Já durante a entrevista com a própria respondente 29, o discurso parecia o
oposto, muito mais voltado para outras motivações, sendo as três principais citadas
a música, o contato com a natureza e a apreciação estética. Este último fator, no
qual nos aprofundaremos em uma das seções seguintes, foi o mais próximo a um
ponto em comum entre o que o pai e a filha afirmaram sobre sua motivação. Na
seção correspondente a esta motivação, veremos um trecho de seu relato sobre
isto. Já com relação á status e distinção, pouco foi falado. O máximo que a
entrevistada deu a entender nesse sentido foi quando afirmou que sua única
reclamação naqueles dias era a dificuldade de divulgar em tempo real na internet as
fotos tiradas com as amigas durante aquele fim de semana, devido ao sinal fraco de
celular no local: “é quase impossível encontrar sinal aqui. Á cada tentativa de postar
uma foto no Instagram22 tenho que ir pro outro lado da fazenda. Mas tudo bem, pelo
menos as fotos estão lindas, estão me rendendo muitos likes!” (Respondente 27, 18
anos, Volta Redonda - RJ).
O fator de motivação estudado nesta seção não era esperado pelo
pesquisador antes de sua pesquisa de campo, pois contrastava com outras
características que podem ser consideradas quase como antônimos desta. Uma
dessas características será o tema da seção a seguir.
22 Aplicativo para celulares que serve para “tirar fotos, adicionar filtros para fazê-los parecer retro, e
em seguida, compartilhá-los com sites como Twitter, Flickr, Tumblr e Facebook.(BUSINESS INSIDER, 2010)
76
3.8 MOVIMENTOS DE CONTRA CULTURA
Nas últimas décadas do século XX, o mundo presenciou o crescimento de um
movimento que se alastrou rápida e intensamente, influenciando gerações em todos
os países, dentre os quais o Brasil. Esse movimento ficou conhecido como
contracultura, e tinha como objetivo a contestação do sistema vigente na sociedade
naquele período. No Brasil, teve seu auge nos anos 60 e 70, motivado
principalmente pela insatisfação dos jovens, que se viam privados de diversas
formas de liberdade, principalmente a de expressão, fato este decorrente do regime
militar que o país vivia. Castelo Branco (2005, p. 66) fala sobre as mudanças que
ocorriam nesta época, dizendo que “os anos sessenta vêem emergir a filosofia do
drop out23, cuja maior expressão será o movimento hippie, mas ao mesmo tempo,
por outro lado, vastos setores jovens se propõem nas mais diferentes regiões do
planeta, a participar do drop in da política mundial”.
Ainda sobre este tema, Brito (2011) afirma que “esse medo de um sistema
massificante vai levar muitas jovens a não aceitar um enquadramento e passam a
viver uma vida paralela, marginal à ordem mundial industrializada, vão buscar
construir um mundo no subterrâneo, ou no underground24”. Foi exatamente isso que
ocorreu: os jovens começaram a buscar uma forma de criarem uma sociedade
alternativa, com valores diferentes dos que eram comumente praticados não só no
Brasil como em outras localidades no mundo, principalmente em algumas das
maiores potências imperialistas, como os Estados Unidos da América. Emerge então
uma juventude politizada, com filosofias que pregavam a paz e o amor, e ao mesmo
tempo incentivavam a luta pelos direitos, dentre os quais o direito de escolher como
viver, como se portar, como se vestir e o que ouvir. Enfim, almejavam a liberdade em
todas as suas esferas.
Alguns autores como Pereira (1988), defendem que esta filosofia se perdeu
ao longo das décadas e atualmente não existe mais, conforme exposto abaixo:
O movimento hippie, a música rock, uma certa movimentação nas universidades, viagens de mochila, drogas, orientalismo e assim por diante.
23 Derivado do verbo to drop out, que em português significa algo como jogar fora. Foi um movimento
que pregava o desapego material, tendo os hippies como seus principais representantes. 24
Segundo Brito (2011), essa é a expressão mais comum para designar as atitudes da juventude contrária à ordem estabelecida.
77
E tudo isso levado a frente com um forte espírito de contestação, insatisfação, de experiência, de busca de uma outra realidade, de um outro modo de vida trata-se, então de um fenômeno datado e situado historicamente e que, embora muito próximo de nós, já faz parte do passado. (PEREIRA, 1988, p. 20)
Contudo, mesmo os que concordam com essa opinião têm consciência de
que apesar de não existir mais exatamente da forma como acontecia nas décadas
de 60 e 70, essa filosofia de vida ainda permanece em atividade, só que de forma
mais discreta. Deve-se reconhecer que esse conjunto de mudanças que
movimentaram o mundo nesta época teve um impacto tão grande que apesar de
ocorrer em escala menor, perdurou durante as décadas seguintes, influenciando
gerações em diversos sentidos, sejam eles políticos, culturais, ideológicos, entre
outros. Entre estes segmentos, é possível identificar uma forte influência musical e
comportamental que o movimento implantou nas gerações desde aquela época até
os dias atuais, já na segunda década do século XXI. Diversos autores falam sobre o
processo conhecido como “tribalização”, gerado por esse movimento e influenciado
diretamente por grupos culturais criados na época do boom da contracultura,
conforme abordado no texto abaixo.
Tudo nesse conjunto de mudanças na década de sessenta no Brasil, contribui para a tribalização dos jovens. É possível destacar nesse conjunto que as identidades se constroem segundo as aproximações físicas propiciadas pela musica, pelas danças, e também pela partilha de informações de revistas dirigidas a esse novo segmento consumidor. (QUEIROZ, 2006, p. 226)
Um desses grupos é composto pelos jovens que se inspiram na ideologia
hippie, se autodenominando neo-hippies. Estes indivíduos são frequentemente
encontrados em festivais de música eletrônica conforme atestado por Chiaverini
(2009). Ele afirma que “entre os ravers não são poucos os que se inspiram
abertamente no movimento hippie. Também não são poucas as festas e festivais
que tentam resgatar algo de Woodstock – evento que, em 1969, atraiu meio milhão
de jovens para três dias de música.” (CHIAVERINI, 2009, p. 246)
O festival citado acima é mundialmente conhecido até hoje, sendo lembrado
historicamente como um marco da música ligada à contracultura. Há centenas de
festivais ao redor do mundo que tentam copiar ou apenas se inspirar em Woodstock,
e mesmo no Brasil é possível encontrar muitos deles. As raves, principalmente as
78
edições open air, aqueles festivais que duram dias e ocorrem a céu aberto (figura
26), é um dos estilos de evento que mais se aproximam do padrão ideológico e
filosófico que ocorreu em Woodstock. O som é diferente: mais moderno, tecnológico,
mesclando a simplicidade de sons gravados diretamente de elementos da natureza,
com as batidas intensas e mecânicas das quais falamos no capítulo 2. Em suma, é
possível perceber relações entre estes eventos e os que ocorriam nas décadas de
60 e 70.
Figura 26: Raves a céu aberto, herança de Woodstock. Fonte: Autoria própria.
Esta percepção se torna ainda mais fácil quando observamos festivais
ocorridos na Europa, berço das festas rave, conforme verificado nas palavras de
Rocha (2006):
Na Europa, o trance psicodélico surgiu como uma manifestação de contracultura, uma espécie de vertente neo-hippie dentro da música eletrônica. Até hoje, o caráter lá fora permanece alternativo. As festas são freqüentadas por legiões que vivem em trailers e ganham a vida vendendo roupas e acessórios nos eventos. (ROCHA, 2006)
Se hoje as raves ainda preservam parte deste espírito de contracultura, nos
anos iniciais, nas primeiras edições em Londres, muitas das quais acontecendo
clandestinamente, eram ainda mais sinônimos de rebeldia e oposição ao sistema. O
DJ André Meyer, um dos pioneiros em psy trance no Brasil, passou uma temporada
79
na Inglaterra se especializando no ritmo que apenas se iniciava por aqui, mas que
naquele país já se tornava uma tendência, ainda que apenas entre as festas
alternativas. O repórter e escritor Chiaverini (2009) apresenta um relato sobre a
visão que Meyer teve sobre a cena eletrônica inglesa na época dos primeiros
eventos de psychedelic trance, e torna evidente o fato de que essas festas eram
alvo de preconceito, por parte das autoridades e da sociedade em geral:
Quando André Meyer25
chegou a Londres, as raves já não eram bem vistas pelas autoridades, e para evitar batidas policiais o local das festas só era divulgados horas dos Djs tomarem seus lugares nos palcos dos galpões abandonados. Antes da internet, a propaganda era feita no boca a boca ou por linhas telefônicas secretas. Alguns organizadores usavam um sistema de mensagens telefônicas: as instruções de como chegar às festas eram gravadas horas antes do evento. (CHIAVERINI, 2009, p. 49)
Todo esse clima de contracultura existente tanto nas raves do passado,
quanto nas do presente, faz com que muitos turistas busquem estes eventos.
Podemos constatar esta afirmação através da análise das entrevistas realizadas
durante o festival O Mundo Imaginário. Muitos dos seus frequentadores
demonstravam abertamente um descontentamento em relação a outras formas de
evento, que segundo alguns relatos, atraem um público diferente do que estes
participantes gostariam de encontrar naqueles locais:
Eu não quero frequentar festas desse povinho “da moda” sabe? Essa coisa de patricinha, mauricinho, nunca foi do meu gosto! Muito pelo contrário, sempre fui underground. Enquanto minhas amiguinhas de colégio ouviam Spice Girls, eu ouvia heavy metal; enquanto pediam barbies de natal, eu pedia camisas do Guns n‟ Roses, Iron Maiden, Black Sabbath. E é isso que continuo buscando aqui nestes festivais, principalmente no Dark Trance: uma alternativa ao que a sociedade dita que você tem que ouvir, comprar, como se comportar. (Respondente 2, 20 anos, Resende - RJ)
Como podemos conferir no relato da respondente 2, uma das atribuições
deste festival que a atraiu foi o estilo musical conhecido como Dark Trance. Esse
estilo caracteriza-se por apresentar efeitos curtos e rápidos, batidas que variam de
140 a 200 batimentos por minuto, e sons macabros de filmes como gritos, risadas,
sons de animais e interjeições. Ideologicamente, demonstra o excesso de
informação atual em forma de música, causando subliminarmente um lado sombrio e
25 Considerado um dos DJs precursores da música eletrônica no Brasil. Em 1994, na cidade de
Atibaia (SP), organizou uma das primeiras raves urbanas no país.
80
pesado do século XXI, em que a sociedade apresenta um comportamento repetitivo,
consumista, de rotina e alienação. Esta definição já nos dá um sinal da relação deste
estilo com a contracultura, sendo tão underground que é encontrado com dificuldade
até mesmo em festas rave. Estes dados incentivam ainda mais aqueles que
apreciam este ritmo, pois se sentem mais diferenciados do que os próprios
companheiros ravers que preferem o psy trance ou o progressive trance, estilos mais
presentes dentro da maioria dos festivais. É como se apreciassem a alternatividade
dentro da própria alternatividade, como se fizessem parte de um perfil ainda mais
específico dentro de outro (os ravers, neste caso) que já pode ser considerado um
grupo que foge à tendência massiva da música internacional. É interessante para o
profissional de eventos ter a capacidade de observar este e outros segmentos, de
modo a abrir espaço para que mais pessoas possam se interessar por seu evento.
No caso do festival pesquisado, havia uma pista especifica para este segmento, que
estava sempre cheia e bem comentada entre os participantes (figura 27).
Figura 27: Pista de Dark Trance. Fonte: Autoria própria.
Ainda falando sobre contracultura, há outros fatores a serem observados. Um
deles é o fato de que muitos participantes buscam eventos que não sigam a lógica
capitalista, de consumo desenfreado que podemos verificar em diversos tipos e
festas ao redor do mundo, como nas boates ou night clubs, onde cada item vendido
81
possui valores de venda muito elevados. Para muitos adeptos da contracultura, o
alto consumo de itens de elevado custo em qualquer forma de evento pode ser
considerado uma forma de exibicionismo, de tentativa de mostrar superioridade, de
se colocar em um patamar de status financeiro superior aos demais. Sendo assim,
alguns festivais buscam controlar os preços, ou vender apenas produtos essenciais
para o conforto básico de seus participantes, como no caso do festival descrito a
seguir:
O dinheiro praticamente não tem valor no Burning Man
26, já que os únicos
produtos comercializados são gelo e café. O restante, de acordo com as regras do evento, tem que ser levado por cada um. E, se no meio do deserto faltar algum item essencial, a solução é o escambo. (CHIAVERINI, 2009, p. 57)
Mesmo que possa significar, em uma visão cartesiana, uma diminuição dos
lucros, seguir padrões diferenciados como no caso do Burning Man pode ser uma
boa estratégia a ser adotada pelos profissionais do setor de eventos, de modo a
fidelizar este público que busca festas com diferenciais neste quesito. Ainda
comentando o fragmento de texto de Chaverini (2009) referente ao festival Burning
Man, podemos perceber outra característica das festas rave: ao afirmar que nestes
eventos pode haver uma forma de “escambo”, o autor evidencia uma forma de
relacionamento amistoso entre os participantes, onde o objetivo é a satisfação dos
interesses de ambos. Esse dado pode nos revelar a uma espécie de união entre
eles, conforme pregado por muitos festivais, dentro dos ideais de P.L.U.R, onde a
letra “U” é referente à palavra union, ou em português, união. Esta união será
abordada mais profundamente na seção a seguir.
3.9 SENSO DE COMUNIDADE
O conceito do qual falaremos agora provavelmente está entre os mais
marcantes nos festivais e consequentemente, foi um dos que mais apareceu durante
as entrevistas realizadas na etapa da pesquisa de campo. Este conceito se refere ao
sentimento de comunidade, união e fraternidade que circula nos festivais. Essa
26 Evento de música, arte e contracultura que acontece anualmente durante o feriado do dia do
trabalho americano, entre a ultima semana de agosto e a primeira de setembro, no Deserto de Black Rock, no estado de Nevada. O evento dura uma semana e tem uma média de 10 mil participantes.
82
característica é representada por uma sigla muito utilizada no mundo raver,
conforme podemos observar abaixo em uma citação que descreve sua origem:
Numa dessas festas, que reuniu mais de 5 mil pessoas num galpão abandonado do Queens, um DJ chamado Frankie Bonés, inspirando-se no espírito das raves inglesas, resolveu parar a música por alguns instantes e fazer um discurso. Falou sobre paz, amor, união, valores que mais tarde seriam resumidos numa palavra formada por suas iniciais em inglês (Peace, Love, Union, Respect). Até hoje, ravers de todo o planeta usam as quatro letras para resumir as bases de sua cultura. (CHIAVERINI, 2009, p. 49 - 50)
Chiaverini (2009, p. 226) é um dos autores que aborda profundamente este
tema, como poderemos perceber ao longo desta seção, em diversas de suas
citações. Ele afirma que geralmente nas festas rave, “as pessoas parecem membros
de uma mesma aldeia, e por isso conversam, brincam e riem, e é possível encontrar
muitos conhecidos se encontrando e se abraçando a todo o tempo”. O mesmo autor
afirma ainda que nestes eventos as pessoas são como “milhares de almas que não
param de se movimentar e de interagir em completa harmonia. São pessoas
estranhas, diferentes entre si, mas que respeitam as diferenças porque quase todos
carregam mentes abertas” (CHIAVERINI, 2009, p. 191).
Nesta ultima citação podemos perceber um fator importante no entendimento
desta unidade. Este fator é o respeito às diferenças, que é quase uma regra nos
festivais de musica eletrônica aos quais estudamos neste trabalho. Seja qual for o
estilo, modo de se vestir, de dançar ou de se portar dos frequentadores, eles logo
percebem que podem ficar á vontade para serem eles mesmos, agindo da forma
que desejam sem se sentirem julgados pelos demais. Até mesmo os que não são
tão apreciadores da filosofia raver¸ como os abordados na seção anterior, que
tratava de status e distinção, têm seu espaço garantido nos festivais, e são
respeitados independentemente de qualquer coisa. Quanto mais antigo no universo
raver for o participante, mais ele entende e respeita essa questão. Portanto, se
encontramos alguém nestes eventos que não segue à risca esse sentimento de
respeito às diferenças, é provável que seja alguém que ainda não conhece bem o
universo estudado por nós neste trabalho, possivelmente sendo um de seus
primeiros festivais, geralmente trazidos por outros frequentadores mais antigos que
querem de certa forma ensinar a eles sobre a filosofia de comunidade incentivada
nestes eventos. Devido a tolerância a todos os estilos, podemos verificar nestes
83
eventos a presença de pessoas das mais variadas tribos urbanas, como podemos
conferir a seguir:
Numa rave, tudo é mais intenso. Homens e mulheres usam chapéus coloridos, camisetas com estampas de divindades indianas e calças largas de retalho costurado. A influência hippie é constante, mas há espaço para todo tipo de extravagância, como os cabelos espetados no estilo punk, batas góticas pretas e roxas, e shortinhos jeans justos, combinando com minúsculos biquínis coloridos. E não é raro encontrar ravers realmente fantasiados, de fadas, duendes ou sapos.” (CHIAVERINI, 2009, p. 229 - 230)
Não é apenas na indumentária utilizada que podemos enxergar a
heterogeneidade do público. Através da mesma observação participante que nos faz
perceber o que abordamos na citação anterior, veríamos as mais diversas formas de
dança, desde algumas coreografadas e ensaiadas até as mais “livres”, que podem
aparecer de formas diferentes e mesmo opostas. Poderíamos observar pessoas
dançando empolgadamente, pulando pra lá e pra cá, gritando e abraçando
participantes próximos; por outro lado, também eram visíveis alguns casos de
participantes que se entregavam a níveis de profunda introspecção, mergulhando
dentro de suas próprias mentes, fazendo leves movimentos com a cabeça ou com
os braços, em uma espécie de transcendência psicodélica, termo dos qual deriva o
estilo musical tão presente nestes festivais, o psy trance27.
Essas pessoas diferentes entre si, de lugares, idades e classes sociais
distintas, ao chegarem a festivais como O Mundo Imaginário, durante alguns dias se
propõem a serem uma espécie de unidade, a coexistirem em harmonia uns com os
outros e ainda com o meio que os cerca. Isto inclui a própria natureza, desde os
carrapatos que podíamos encontrar em certas áreas do camping no festival em
questão, até as aves que vez ou outra pousavam naquele local, passando ainda
pelo vento, pelo sol e até pelas fortes chuvas. Conforme descrito na frase anterior,
até mesmo com a chuva os participantes estabeleciam fortes relações, contatos
diretos que iam desde danças a céu aberto debaixo de intensas quantidades de
água que caíam do céu para “lavar a alma”, como diziam alguns dos entrevistados,
até os momentos posteriores ao fim desta chuva, onde boa parte daquele terreno
arenoso se transformava em lama, que ao contrário do que possa parecer, não
27 Psy = psicodélico ; trance= transcendência.
84
representava um transtorno para a maioria dos participantes. De certa forma, eles
até curtiam esta situação, havendo inclusive casos onde além de dançar sobre a
lama (figura 28), alguns participantes mergulhavam nela. Pode parecer loucura, mas
como os próprios ravers defendem, nestes festivais toda forma de loucura é válida e
não deve ser julgada.
Figura 28: Dança na lama. Fonte: REVISTA TRIBUS, 2012.
Pode-se afirmar que a maior parte dos freqüentadores destes eventos,
principalmente os mais assíduos, são jovens em geral de classe média, conforme já
afirmado em outras seções deste trabalho. Mas esse clima de paz, amor e união faz
com que diversos outros perfis de freqüentadores busquem os festivais, havendo
casos de mães que levam seus filhos pequenos para ter seus primeiros contatos
com o universo raver desde cedo. Chiaverini (2009, p. 249) foi um dos autores que
observou isso em suas pesquisas, afirmando que “o clima de paz e amor, a
atmosfera neo-hippie de comunhão e convivência pacífica acabam permeando as
relações entre os ravers. Isso encoraja muitos pais a levarem os filhos pequenos
para o centro dessa aventura sensorial”. Dentre essas pessoas, uma das
entrevistadas durante esta pesquisa explicou sua razão para levar sua pequena filha
de apenas quatro anos (figura 29), para o festival.
85
Não vejo problema algum em trazer minha filha. Muito pelo contrário, não é a primeira vez que faço isso, nunca tive problemas e aconselho que outras mães façam o mesmo. Sei que ela é muita nova e não entende metade do que esta festa representa, mas só de sentir a energia positiva que emana de tantos de nós neste lugar, tenho certeza de que ela se sente contagiado. Esse lugar não é como outros tipos de festa eu jamais a levaria. Aqui eu me sinto a vontade e segura para trazê-la Claro que têm coisas aqui que não espero pra ela no futuro, mas com o passar do tempo vou ensinando a ela o que tem de positivo e negativo, assim como em muitos outros lugares que ela poderia freqüentar. (Respondente 3, 37 anos, São Paulo - SP)
Figura 29: Mãe e filha no festival. Fonte: Autoria própria.
Durante o festival pesquisado, houve diversos momentos em que esta
atmosfera de união e fraternidade se fez presente explicita ou implicitamente. O
pesquisador pode observar que esse sentimento era uma via de mão dupla: ele
ajudava algumas pessoas, conhecidas ou desconhecidas, que por sua vez davam
sequência a esta corrente, até que porventura o ajudado fosse o próprio
pesquisador. Podemos exemplificar citando o momento em que o respondente 01,
um dos seus companheiros naquela viagem, teve sua barraca inundada com as
fortes chuvas que caiam naquele dia, fato que se deve também aos ventos intensos
que fizeram com que a estrutura metálica que dava suporte a esta não aguentasse e
quebrasse. Em meio a esta situação, o pesquisador o convidou para se abrigar
dentro de sua barraca para que aguardassem a chuva diminuir e pudessem ver se
haveria alguma possibilidade de conserto para a barraca quebrada. Com a ajuda de
um guarda chuva, ajudou ainda a fazer a transferência de algumas coisas de uma
86
barraca para a outra, de modo a tentar diminuir a quantidade de itens molhados,
dentre as quais roupas que demorariam um bom tempo para secar, visto que o clima
estava muito frio. Por fim, emprestou um par de meias para ele, pois todas as que o
rapaz tinha ficaram molhadas e inutilizáveis naquele momento. Após o término das
chuvas, o que ocorreu foi o contrario: o pesquisador foi ajudado por desconhecidos,
que se uniram a ele na tarefa de retirar a água que caiu dentro de sua barraca,
juntamente com a lama que foi levada para dentro durante o entra e sai realizado na
transferência de roupas de uma barraca para a outra durante a chuva. Outros
desconhecidos, que estavam se retirando do festival antes do imaginado, ainda
doaram colchonetes que seriam deixados para trás, juntamente com uma lona que
poderia ser utilizada para proteger a barraca em caso de uma nova chuva.
Segundo Chiaverini (2009), essas ações refletem não apenas na experiência
do turista naquele momento, como também em sua personalidade e em sua visão
sobre o mundo fora do evento, no momento em que retornam para suas vidas
cotidianas. No trecho a seguir, ele fala sobre as mudanças que podem ocorrer em
alguns destes frequentadores, influenciados pelo que vivenciam durante festivais
como este que é tema de nosso estudo:
Ao vivenciar esses momentos de felicidade e comunhão, os indivíduos passam a acreditar na possibilidade de outra organização social, mais liberal e agradável: ravers deixam os cabelos virarem dreads, param de comer carne e fundam uma ecovila; ou apenas passam a respeitar mais o vizinho, que afinal, se estivesse numa rave, poderia ajudá-lo a costurar um furo na lona da barraca.” (CHIAVERINI, 2009, p. 229)
Em praticamente todos os festivais de música eletrônica do Brasil e do
mundo, é possível perceber atitudes positivas como as descritas nesta seção. Há
sempre esse clima de fraternidade onde as pessoas se preocupam umas com as
outras. No festival O Mundo Imaginário, podíamos encontrar gente oferecendo
carona para quem quisesse ir embora por não ter mais condição de permanecer
sem barraca; pessoas emprestando dinheiro para quem perdeu todo o que tinha na
chuva; ou ainda ajudando os outros a consertar barracas; entre outras ações do tipo.
Concluindo, podemos afirmar que este é um dos fatores que leva uma considerável
quantidade de turistas a frequentar este tipo de evento, para se sentirem parte desta
comunidade, desta tribo que sabe festejar de forma coletiva, o que torna a
experiência da viagem e do evento ainda mais agradável para todos.
87
3.10 DIVULGAÇÃO E APRECIAÇÃO ESTÉTICA
Nesta seção, trataremos de temas relacionados à arte, que segundo Geertz
(2003, p. 178) é “a produção consciente, ou arranjo de cores, formas, movimentos,
sons ou outros elementos de uma forma que toca o sentido da beleza não apenas
do ponto de vista contemplativo, daqueles que a observam, como também
profissional, daqueles que a produzem”. Porém, aqui utilizaremos um termo mais
específico: a estética. Este conceito é discutido há séculos, sendo citado por autores
como Kant (1790, p. 145-146), que diz que “toda a intuição possível para nós é
sensível, e assim, o pensamento de um objeto em geral só pode converter-se em
nós num conhecimento, por meio de um conceito puro do entendimento, na medida
em que este conceito se refere à objetos dos sentidos”. Esta sensibilidade descrita
pelo autor é referente à estética da qual falamos. O mesmo aponta ainda outra
questão relevante para uma reflexão inicial que nos levará ao que será descrito
nesta seção: como reconhecer o que é o belo, quando se trata de arte? Segue
abaixo o trecho no qual o autor opina sobre esta pergunta:
O juízo de gosto tem a ver com objetos dos sentidos, mas não para determinar um conceito dos mesmos para o entendimento. Por isso, enquanto representação singular intuitiva referida ao sentimento de prazer, ele é somente um juízo privado; e nesta medida ele seria limitado, quanto à sua validade, unicamente ao indivíduo que julga: o objeto é para mim um objeto de complacência, para outros pode ocorrer diversamente; cada um tem seu gosto. (KANT, 1995, p. 235)
Através desta afirmação, ele demonstra que a concepção sobre o que o belo
é subjetiva e particular, podendo ser o ideal de beleza completamente oposto no
entendimento de cada pessoa. Chauí (1995) também se utiliza do conceito criado
por Kant, e em cima deste desenvolve a idéia de que sendo a criação de algo belo a
finalidade de uma obra de arte, há três pontos que podem ser considerados “os
pilares sobre os quais se erguerá uma disciplina filosófica: a estética” (p. 407).
Esses pontos utilizados como medidores para definir a obra de arte são a própria
beleza da obra; a inspiração do artista que a criou; e por fim, a interpretação do
público que a aprecia. Ter esse entendimento de que a beleza pode estar em
diversas formas de arte, não somente nas mais clássicas e eruditas, como também
nas artes populares, é essencial para entender a motivação dos turistas que
88
frequentam festas raves com fins de divulgação de seus trabalhos artísticos ou
apreciação estética.
Baxandall (1972 p. 40 apud Geertz, 2003, p. 156) aponta que “parte da
bagagem intelectual com a qual um homem ordena sua experiência visual é variável,
e grande parte desta bagagem variável é culturalmente relativa, no sentido de que é
determinada pela sociedade que influenciou a experiência de vida deste homem”.
Desta forma, podemos concluir que pessoas que passaram por experiências de vida
distintas, vivendo em locais e tendo círculos sociais e influências culturais não
apenas diferentes, como muitas vezes opostas, consequentemente tendem a ter
visões heterogêneas sobre a arte e sobre o que é belo, conforme escrito no início
deste capítulo. Isso é comprovado nas palavras de Ianni (1987, p. 31) que diz que
“são várias as diferenças entre a cultura burguesa, dominante, erudita, oficializada,
oficial, por um lado, e a popular, folclórica, rústica, periférica, subalterna, por outro.
Diferem quanto às linguagens, temas, graus de elaboração, esferas de circulação,
alcance, aceitação”. Este mesmo autor acredita que nenhum destes dois modelos de
cultura pode ser considerado homogêneo; eles próprios se subdividem, criando
múltiplas segmentações.
Ao entrar em uma festa rave podemos perceber a existência de algumas
dessas segmentações da cultura e da arte popular, expressa em artesanatos
manuais, pinturas em tecido, efeitos visuais com luzes coloridas, esculturas com
temática psicodélica ou fazendo referências à divindades de religiões como o
budismo ou o hinduísmo (figura 30).
Figura 30: Decoração com temática religiosa. Fonte: Autoria própria.
89
Posi (2009) fala sobre esta tendência artística nos festivais de música
eletrônica, onde segundo ela, “são recorrentes referências à aliens e ao espaço
sideral, a imagem de deuses hindus, à tecnologia avançada ocidental, à idéia de
energia cósmica, imagens psicodélicas e uso de cores fluorescentes” (p. 42). Da
mesma forma, esta autora cita Abreu (2005 apud POSI, 2009, p. 80) que indica que
os ravers apreciam uma estética que privilegia “desenhos (como os fractais), figuras
(como de deuses hindus ou da energia cósmica), uso extensivo de tatuagens e de
piercings, e cores fluorescentes que os identifica em qualquer parte do mundo”.
Muito presente também são as esculturas e pinturas indígenas, como as pinturas
corporais feitas com materiais como urucum (figura 31).
Figura 24: Mãe e filha no festival.
Fonte: Autoria própria.
Figura 31: Pintura corporal com Urucum. Fonte: Autoria própria.
Estas características o parágrafo anterior se somam á outros fatores
existentes nestas festas, atraindo a atenção de turistas que as procuram para
observar esta arte e aproveitarem na íntegra a experiência única que a combinação
de artes visuais e sonoras os proporciona. Anunciação (2010) diz que a combinação
da estética e música psicodélica, “funciona como um mecanismo sinestésico de
auxilio a busca dos participantes por um determinado estado de espírito” (p. 06).
Aprofundando nossa análise sobre a forma de estética aqui discutida chegaremos a
90
um estilo artístico conhecido como arte psicodélica, criada durante o movimento de
contra cultura nos anos de 1960. As artes psicodélicas estampavam desde cartazes
de shows até gibis, e eram desenvolvidas a partir dos diversos estados psicodélicos
da consciência, não apenas através da indução de drogas psicoativas, como era
comum na época. Dentre os diferentes autores existentes no movimento, um dos
mais reconhecidos é Alex Grey, que apresenta obras onde se misturam o sagrado e
o transcendental. Este estilo é frequentemente encontrado em festas rave¸ não
apenas na decoração como também nas vestimentas de seus participantes,
conforme exposto por Posi (2009, p. 79) ao afirmar que os frequentadores “possuem
também sua „marca registrada global‟, que os diferencia de outros agrupamentos
juvenis. De maneira geral, se vestem com um estilo psicodélico, usam roupas
coloridas, adereços fluorescentes, tendem a valorizar a moda e a bodyart, através
das tatuagens e dos piercings”.
Figura 32: Tatuagem no ombro. Fonte: REVISTA TRIBUS, 2012.
Dessa forma, alguns destes participantes se sentem como sendo uma parte
viva e ambulante da arte existente nestes locais, bem como observam os demais
freqüentadores como sendo “obras” semelhantes à sua, como se aquele local fosse
uma grande exposição de tatuagens, cores, adereços e estilos. Podemos observar
isto nas palavras do respondente 29, tatuador da cidade de Belo horizonte:
91
Como já te disse, trabalho com body art. Esse sem dúvida é um motivo para eu estar aqui. Estou buscando inspiração, vendo tattoos de vários estilos, do old school até as mais vanguardistas. Aqui tem desenhos do país inteiro, ou até do mundo, é uma oportunidade de desenvolver meus conhecimentos sobre o que faço, conseguir novas idéias, fazer novos contatos profissionais e porque não, conseguir novos clientes? (Respondente 29, Belo Horizonte – MG, 28 anos)
O caso descrito na citação anterior se refere a uma pessoa que não apenas
está apreciando a arte, como também é produtor dela. Esse é outro fator que
podemos nestes eventos: neles, não encontramos apenas apreciadores de arte;
também estão presentes produtores e artistas de várias categorias, como
tatuadores, pintores, escultores, hippies que fazem artesanatos, atores circenses,
entre outros. No festival O Mundo Imaginário, encontramos um hippie (figura 33)
vindo do estado do Espírito Santo, que pegou carona com um grupo de rapazes
vindos de sua cidade. Estes rapazes o trouxeram na caçamba de uma picape e
assim como ele, não tinham certeza se este artista das ruas conseguiria entrar no
festival, pois não havia comprado ingresso e nem tinha dinheiro para isto. Ainda
assim aquele homem resolveu arriscar, para pelo menos tentar vender sua arte na
entrada do evento, durante as longas filas que provavelmente aguardariam os
participantes. Por sorte, conseguiu acesso ao festival depois de conversar com
algum membro do staff, o qual não soube identificar nem descrever. Este hippie, que
chamaremos de respondente 06, deu um depoimento falando sobre seus motivos
para ir até lá:
A vida do hippie é essa, meu velho. Vim aqui expor meu trabalho, minha arte! E é claro, vim também conhecer a arte daqui, lá pros lados da minha praia também se ouve falar desse lugar, e é por isso que eu vim. A música? Não conheço bem e nem gosto muito, prefiro forró. Mas toda essa pintura de pano, esses filtros dos sonhos... ah, é massa demais! (Respondente 06, 34 anos, Vitória - ES)
Ele prossegue falando sobre o valor que os participantes daquele festival
davam à sua arte, que nas ruas muitas vezes “passa despercebida ou é olhada com
ar de desprezo”. Segundo ele, essa oportunidade “é incrível, ver e fazer parte dessa
mistura de visões e idéias, onde se respeita a arte que não é bem aquela que
aparece na televisão” (Respondente 06, 34 anos, vitória – ES). Segundo o artista, o
evento serviu não apenas para vender seus artesanatos, como também para
92
conhecer outras formas de arte semelhantes à sua, trocar experiências e conseguir
inspiração para suas próximas obras.
Figura 33: Hippie vendedor de artesanatos. Fonte: Autoria própria.
São muitos os hippies que podem ser encontrados nestes festivais, mas essa
não é o único grupo que se sente atraída pelas festas rave e as oportunidades
comerciais que estas podem proporcionar. Na reportagem a seguir, tirada de um site
de notícias da internet, podemos constatar a insatisfação dos índios da tribo Pataxó
Imbiriba, ao saber da suspensão do 303 Art Festival28, na cidade de Trancoso, no
sul do Estado da Bahia:
Membros da tribo Pataxó Imbiriba aliaram-se em protesto aos organizadores da festa rave Art Festival, marcada para o período de 29 de dezembro deste ano e 2 de janeiro de 2011, em uma fazenda em Trancoso, no Sul do Estado, porque o juiz André Strongensk, de Porto Seguro, determinou a suspensão da festa. Os índios, que iam vender suas peças artesanais na rave, reclamam da perda de oportunidade. Cinco mil pessoas são esperadas no evento, entre elas 1,5 mil estrangeiros. (ANUNCIAÇÃO, 2010)
28 Festival realizado pela mesma produtora responsável pelo Universo Paralello.
93
Casos como o do tatuador mineiro, do hippie capixaba e dos índios baianos
demonstram a pluralidade de interesses ligados à apreciação estética e divulgação
de trabalhos artísticos presente nos eventos que aqui estudamos, e nos fazem
entender o motivo deste fator motivacional ser acrescentado a este trabalho após as
pesquisas de campo, mesmo não tendo sido previsto durante o período que
compreendeu as pesquisas a distancia, anteriores aos dias do festival. Afinal, a arte
popular rústica e excêntrica dessas festas (figura 34) não pode ser ignorada, pois
têm sua importância da mesma forma como aquelas que são consideradas clássicas
e eruditas. O trecho a seguir fala sobre a força que esta forma de arte contém:
O que há bastante, na cultura do povo, é sentido de vida. Pode ser que falte alguma coisa. Vida é que não falta. E vida no sentido de trabalho, criação, compaixão, ódio, amor, remorso, resignação, fatalismo, assombro, assombração, feitiço, encantamento, paganismo, companheirismo, movimento, luta, revolta. É assim que a vida se transforma em liberdade. É assim que se movimentam as gentes e as coisas, as idéias e as criações. Transformada em liberdade, a vida funda a cultura, a inventiva, o milagre da criação. (IANNI, Octavio, 1987, p. 32)
E é assim que chegamos ao fim da última motivação encontrada durante as
pesquisas. Ultima, porém não menos importante, principalmente tendo em vista que
do ponto de vista do turismo, a arte sempre teve e sempre terá participação
indispensável entre os fatores que levam ao deslocamento de turistas para diversos
locais.
Figura 34: Alguns dos artesanatos vendidos durante o evento. Fonte: Autoria própria.
94
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Além das motivações expostas no capítulo 3, algumas outras foram
estipuladas durante a etapa do pré evento, na formulação do projeto inicial desta
pesquisa. Porém, ficaram de fora em um momento posterior, por não serem citadas
em momento algum durante as entrevistas. Dentre estas hipóteses, temos o
“desenvolvimento de network profissional” e o “uso de substancias psicoativas”, das
quais explicaremos a seguir o porquê de sua não inclusão no relatório final.
Com relação à primeira opção, ela foi definida devido ao fato do pesquisador
imaginar que estes eventos pudessem ser um meio que estimulasse o contato entre
profissionais do setor, sejam eles produtores, DJs, ou outros profissionais que de
alguma forma pudessem se conhecer durante a realização do festival, e agregarem
valor uns aos outros através da troca de conhecimentos sobre suas respectivas
atividades, criando uma rede de relacionamentos que pudesse levar à criação de
semelhantes eventos no futuro. Esta hipótese foi descartada ao ser percebido que
apesar de haver sim este tipo de relacionamento durante o tempo que os
profissionais se encontravam na rave em questão, isto se dava de forma informal e
despretensiosa, e nenhum destes frequentadores ia ao evento com este fim
específico. Este contato ocorria por acaso, e caso deixasse de acontecer, não faria
muita diferença para os presentes. O mais próximo que se encontrou deste contato
planejado foi no caso de uma motivação que não foi pensada inicialmente, mas
surgiu durante a realização da pesquisa de campo: a “divulgação e apreciação
estética”. Esta divulgação veio para suprir a necessidade de citar o pouco vínculo
com fins profissionais encontrado durante as entrevistas, nas quais concluímos que
os participantes frequentam as raves com fins majoritariamente ligados ao lazer.
Já com relação ao “uso de substâncias psicoativas”, que incluem não
somente as drogas ilegais tão lidas/ouvidas em noticiários sobre festas rave, como
também as drogas legais - como o álcool, a cafeína e medicamentos -, pensamos
nesta hipótese por saber que estas substâncias são muito presentes nos festivais de
música eletrônica, bem como também em qualquer outro tipo de festival. Desta
forma, não poderiam deixar de ser citados, e por isso pensamos na possibilidade do
aparecimento destes como uma motivação para os frequentadores. Contudo, este
pensamento não se concretizou, não havendo sequer uma citação a esta hipótese,
95
mesmo por parte daqueles que faziam uso de alguma destas substancias durante a
realização de suas entrevistas, o que revela que não deixaram de citar esta
possibilidade por vergonha, receio ou coisa parecida, visto que era evidente que a
utilizavam. A conclusão que podemos chegar é que estas substâncias não são um
fim, e sim um meio de atingirem objetivos diversos, muitos dos quais presentes
neste trabalho. Por exemplo, havia aqueles que utilizavam o álcool para se sentirem
mais extrovertidos e desta forma, auxiliarem em suas motivações principais, como a
diversão. Havia também aqueles que usavam drogas alucinógenas, tanto com fins
recreativos, quanto para atingir estados de alteração de consciência que facilitassem
por exemplo na motivação relacionada à espiritualidade. Havia ainda aqueles que
utilizavam substancias estimulantes, como cafeína (presente em energéticos) ou um
comprimido de ecstasy, droga ilícita muito frequente nestes festivais, conhecida por
manter o usuário “ligado”, como diziam alguns entrevistados, durante horas. Desta
forma, foi decidido não criar um tópico específico para falar desta motivação, pois
ela está presente de forma indireta em meio à outras motivações presentes neste
trabalho.
No terceiro capítulo, chegamos as conclusões sobre o que o freqüentador de
festas rave procura. Mas aqui cabe uma reflexão: de que forma podemos aproveitar
estes resultados? Uma possibilidade é a de usar essas informações adquiridas para
oferecer aos freqüentadores eventos com estas características, atraindo-os para
localidades onde tais festas possam ser implantadas, maximizando a demanda
turística e minimizando fraquezas e ameaças encontradas através da aplicação de
uma matriz SWOT. Porém, o objetivo principal deste trabalho não é buscar um
aumento quantitativo; e sim qualitativo. Afinal, propor que uma festa deste tipo se
preocupe apenas com fins mercadológicos, se focando exclusivamente no lucro e no
capitalismo exacerbado iria contra a própria “ideologia” destes festivais. Se o
profissional de eventos age desta forma, pode causar impactos negativos sobre a
sustentabilidade ambiental, social e econômica destas festas. Como um evento que
tem como fonte de inspiração festivais como Woodstock poderia se voltar apenas
para os lucros que este pode oferecer? Desta forma, quando falamos em ofertar
qualidade, propomos que os produtores conheçam as motivações do público para
que possam sempre investir em ações que mantenham presentes essas
características, mantendo o bem estar dos frequentadores e fornecendo uma
experiência prazerosa para o cliente.
96
No caso estudado durante esta pesquisa, tivemos um claro exemplo de como
a visão ambiciosa de algumas produtoras pode impactar negativamente no olhar do
turista. Os produtores do festival O Mundo Imaginário, ao perceber que a procura
por ingressos no período anterior a data da realização do evento era maior do que a
carga que o local escolhido poderia comportar, se viram diante de duas
possibilidades: manter o planejamento inicial e realizar o evento de forma adequada,
porém com menos lucro do que teriam se pudessem vender mais ingressos; ou
mudar de local para um espaço maior, mesmo sem ter tempo hábil para as
adaptações necessárias. Escolheram a segunda opção, e o resultado foi um evento
com dificuldades de acesso, infraestrutura precária, oferta de alimentos e bebidas
insuficiente, e cerca de cinco mil participantes insatisfeitos, deixando o evento muito
antes do previsto.
Acreditamos que ações opostas a estas, embasadas nos conhecimentos
adquiridos através desta pesquisa, resgatem e/ou mantenham o espírito e a vibe
que os saudosos frequentadores dos primeiros festivais tanto apreciam, e criem
condições para que o turismo se desenvolva de forma "saudável" e sustentável,
podendo ser aplicadas práticas como o turismo de base comunitária, onde o evento
traz benefícios para os turistas, os profissionais do setor e as comunidades locais,
estimulando a melhoria da qualidade de vida, desenvolvendo econômica e
culturalmente o local e sua população, gerando infraestrutura, renda e empregos,
temporários ou definitivos, diretos e indiretos.
Por fim, anseia-se que os conceitos, dados e resultados apresentados aqui
sirvam de norteadores aos diversos setores ligados à atividade turística e a outras
pesquisas relacionadas ao tema em questão. Esperamos que por meio deste
trabalho, os profissionais ligados ao turismo, aos transportes, eventos e outras áreas
possam entender mais profundamente as razões que levam viajantes do país e do
mundo a se lançarem na estrada, em busca de novas aventuras em raves cada vez
mais inovadoras.
Para concluir este trabalho, segue uma foto tirada de um cartaz pendurado no
palco principal (figura 35) e a seguir, transcrevo um pequeno texto que circula na
internet, de autor desconhecido, onde se fala sobre as festas das quais estudamos
ao longo desta pesquisa:
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Figura 35: Texto exposto no palco principal. Fonte: Autoria própria.
Na rave ninguém vai de salto alto, ninguém quer ser maior do que ninguém. Na rave todo mundo tem os pés no chão, todo mundo é igual. Na rave ninguém conversa muito; o silêncio, ou melhor, a música, fala por tudo e todos. Na rave a galera não pula pra aparecer; pula porque a vibe interna é tão grande que a única maneira de por pra fora é pulando, dançando. Na rave a “galera” não fecha o olho porque está com sono ou cansado; fecha pra sentir a música pulsar melhor, sentir a vibe pulsar dentro de si. Na rave você não vê ninguém brigando porque derramou bebida no outro, porque esbarrou quando estava dançando ou porque pisou no pé do outro sem querer. Na rave a galera diz "foi mal!" e cada um continua na sua “balada”. Numa rave, por algumas horas, todos são um só, todos numa só batida, uma tribo, várias tribos, todas juntas. Mais do que juntas, unidas. (Autor desconhecido)
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APÊNDICE A – ROTEIRO DAS ENTREVISTAS
IDENTIFICAÇÃO
Idade:
Sexo:
Cidade/UF:
SOBRE A MÚSICA ELETRÔNICA
Como conheceu a música eletrônica?
Quando conheceu a música eletrônica?
O que te atrai na música eletrônica?
SOBRE OS FESTIVAIS
Como conheceu os festivais?
Quando conheceu os festivais?
O que te atrai nos festivais?
EXPERIÊNCIAS PASSADAS
Quantas vezes já foi á um festival de música eletrônica?
Quantas vezes já viajou para um festival de música eletrônica?
MEIOS DE HOSPEDAGEM
Onde está hospedado?
Por que escolheu este meio de hospedagem?
VISÃO
Sobre a motivação dos freqüentadores?
Sobre o que representa o festival?
APÊNDICE B - ENTREVISTA COM YG ALBUQUERQUE, DJ DE MUSICA
ELETRÔNICA E EMBAIXADOR DA CIDADE DE NITERÓI NO RIO MUSIC
CONFERENCE
VV – Vinícius Vieira
YA – Yg Albuquerque
IDENTIFICAÇÃO
> Nome: Yg Albuquerque
> Idade: 22 anos
> Sexo: Masculino
> Cidade/UF: Niterói/RJ
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SOBRE A MÚSICA ELETRÔNICA
VV – Como e quando você conheceu a música eletrônica?
YA – Conheci através de rádios e festas, aquelas mais ditas comercias. Porém,
depois fui me aprofundando e descobri que ainda não a conhecia de verdade, talvez
ainda não a conheça totalmente até hoje. Só um certo tempo de extrema vivência
possibilita que se tenha total conhecimento desse gênero.
VV – Entendo, de fato é um estilo musical muito amplo, acho que levaria anos
para conhecermos na íntegra cada detalhe. E o que mais te atraiu nela?
YA – Acho que o fato de ser o único gênero com linguagem mundial, onde podemos
alcançar gostos do mundo todo com uma única track bem feita.
SOBRE OS FESTIVAIS
VV – Como e quando você conheceu os festivais?
YA – Conheci através da minha profissão mesmo. Comecei a frequentar pelos
backstages de DJs amigos que estavam no lineup.
VV – O que te atrai nestes eventos?
YA – As múltiplas formas de se agradar um mesmo publico e o fato de ser um lugar
geralmente sem preconceitos em relação á musica lá trabalhada.
VV – Em sua opinião, quais os pontos positivos e negativos em relação a
outros tipos de festa?
YA – Entre os pontos positivos, é um tipo de festa que une muitas tribos; glorifica
DJs do cenário, por serem em sua maioria festas grandes e com ótima estrutura
técnica; e divulga a musica eletrônica ainda mais. Já ente os negativos, hoje vemos
que muitos festivais mais “comerciais” viraram bagunça. O perfil do público mudou
muito e muitas festas passaram a ser ambientes para usuários de drogas
inconscientes do que estão fazendo, tornando a pista um ambiente pesado e sem
propósito, difícil de ser trabalhado pelo DJ.
EXPERIÊNCIAS PASSADAS
VV – Quantos festivais de música eletrônica você já frequentou até hoje?
YA – Não vou saber exatamente, mas já se passou dos 50 (risos).
VV – Quantas viagens você já realizou em busca de festivais?
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YA – Muitas viagens, mas a maioria não em busca deles, e sim tendo eles como
meu ambiente de trabalho.
VV – Você costuma viaja apenas para o evento em si ou busca conhecer
outros atrativos turísticos do local?
YA – Geralmente “bato e volto”: vou, toco, curto e volto.
CARREIRA
VV – O que te motivou a se tornar um DJ?
YA – O imenso prazer de orquestrar todo e qualquer tipo publico. Não existe
sensação melhor do que a de uma pista respondendo positivamente ao seu set.
VV – Quais foram as principais dificuldades que você passou durante sua
carreira?
YA – As “pernadas” que sempre tomamos de produtores, outros DJs e profissionais
da noite. Nossa profissão ainda não é regulamentada e não temos direitos
trabalhistas, possibilitando assim que tomemos voltas, calotes e “pernadas”.
VV – O que te motivou a seguir em frente?
YA – O fato de amar o que faço e não estar nesse ramo por “modinha”, buscando
sexo ou outras regalias.
VV – Você teve incentivo e apoio de amigos, familiares ou outros profissionais
do setor?
YA – Isso sempre! Óbvio que há certa preocupação com o fato de ser autônomo,
mas obtive um crescimento bem consistente em pouco tempo, despreocupando
muitos deles.
VV – Porque escolheu tocar música eletrônica?
YA – Escolhi este estilo justamente por ser um gênero de linguagem mundial onde
posso agradar diversas culturas com um único set.
VV – Quais as vertentes da E-music que você costuma tocar?
YA – Recentemente comecei minha carreira como produtor musical e com isso
comecei a ver me trabalho por um ângulo mais critico e exigente. Sempre toquei
house e sempre com uma vertente bem pesada dele. Atualmente tenho produzido e
tocado Dutch-House, um gênero derivado do house clássico, mas com pegadas
mais rítmicas, consistentes o suficiente para se classificar como pesada, mas ao
mesmo tempo sutil.
107
VV – Como surgiu a oportunidade de se tornar embaixador de Niterói no Rio
Music Festival?
YA – Foi um convite feito pela própria conferência. Na verdade, até hoje não sei ao
certo os critérios deles para me selecionar, mas 2014 será o terceiro ano
consecutivo que faço parte desse tão importante evento para a cultura da música
eletrônica nacional.
VV – Qual foi o evento que você mais gostou de tocar e por que?
YA – Nossa, não tenho um evento que mais gostei, foram muitos e cada um com
seus momentos. Um que foi muito marcante mas não digo o melhor, foi o 4 Elements
no Espírito Santo onde a pista era dentro da piscina de um parque aquático
sensacional e o palco era dentro da boca de um jacaré gigante (risos).
VV – Há algum festival em que você sonha em tocar?
YA – Acho que o Ultra Music Festival (UMF) é um sonho a ser realizado!
MEIOS DE HOSPEDAGEM
VV – Quando viaja para algum festival que dure mais de um dia, onde você
costuma se hospedar?
YA – Geralmente fico em hotéis acordados entre minha agência e o contratante do
evento.
VV – Por que você prefere utilizar este meio de hospedagem?
YA – Prefiro este por ser o mais seguro, sou amparado por um contrato e nunca é
algo que passarei “perrengue”.
MOTIVAÇÃO
VV – Na sua opinião, quais são as motivações que levam a maior parte do
público à estas festas?
YA – Hoje isso é bem relativo, varia muito do gênero e foco do festival. Claro que
nos mais undergrounds e conservadores o publico prioriza os DJs do lineup e as
músicas executadas, mas em outras mais “comercias” infelizmente vejo a droga e o
ambiente "liberado" um motivação maior para o público.
VV – E em relação a você, quais são suas principais motivações para
freqüentar este tipo de evento?
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YA – Sempre buscar novas têndencias de músicas apresentadas pelos DJs nestes
eventos, em seus diversos estilos.
VV – O que representa a música eletrônica e os festivais para você, e qual a
importância deles na sua vida?
YA – Eles representam uma maneira de manter a musica eletrônica viva e longe de
preconceitos. Afinal, eu vivo música eletrônica, sobrevivo dela e com ela!
APÊNDICE C – DEMONSTRATIVO DAS RESPOSTAS OBTIDAS
Nº Sexo Faixa
Etária
Número de
Raves
Número de
Viagens
para Raves
Meios de
Hospedagem
Pretensão
de retorno
01 M 18 – 25 1ª vez 1ª vez Camping Sim
02 F 18 – 25 11 - 20 1ª vez Camping Sim
03 F + 35 + 20 + 10 Casa de
Amigos Sim
04 M 26 - 35 + 20 + 10 Morador Sim
05 F + 35 1ª vez Nunca
viajou Morador Não
06 M + 35 1ª vez 1ª vez N/A Sim
07 M 18 – 25 1ª vez 1ª vez Camping Sim
08 M 26 - 35 + 20 06 - 10 Camping Sim
09 M 18 – 25 02 – 05 1ª vez Camping Sim
10 M 26 - 35 + 20 06 - 10 Pousada Sim
11 F 18 – 25 + 20 06 - 10 Pousada Sim
12 M 18 – 25 06 – 10 1ª vez Camping Sim
13 M 18 – 25 02 - 05 Nunca
viajou Morador Sim
14 F 18 – 25 06 – 10 1ª vez Casa de
Amigos Sim
15 F 26 - 35 11 – 20 02 - 05 Camping Sim
16 F 18 – 25 02 – 05 1ª vez Camping Sim
109
17 M 18 – 25 06 – 10 02 - 05 Camping Sim
18 M 26 - 35 + 20 + 10 Camping Sim
19 M 26 - 35 + 20 + 10 Camping Sim
20 F 18 – 25 06 – 10 Nunca
viajou Morador Sim
21 M 26 - 35 + 20 06 - 10 Camping Sim
22 F 18 - 25 1ª vez Nunca
viajou Morador Não
23 M 18 - 25 1ª vez Nunca
viajou Morador Sim
24 F 18 - 25 11 – 20 06 - 10 Pousada Sim
25 F 18 - 25 11 – 20 + 10 Camping Sim
26 M 18 - 25 02 – 05 1ª vez Camping Sim
27 F 18 - 25 06 – 10 1ª vez Pousada Sim
28 M + 35 1ª vez 1ª vez Pousada Sim
29 M 26 - 35 + 20 + 10 Camping Sim
30 M 18 - 25 11 - 20 02 - 05 Camping Sim
31 F 26 - 35 + 20 06 – 10 Camping Sim
32 F 18 - 25 02 - 05 1ª vez Camping Não
33 M 18 - 25 06 – 10 1ª vez Camping Sim
34 M 18 - 25 + 20 + 10 - -